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ISBN 978-85-68242-46-9 Trabalho Inscrito na Categoria de Artigo Completo 287 EIXO TEMÁTICO: (X) Acessibilidade e Mobilidade Urbana ( ) Arborização Urbana ( ) Espaços Livres de Uso Público ( ) Geração de Renda e o Desenvolvimento Sustentável ( ) Gerenciamento de Resíduos Sólidos Urbanos ( ) Gestão de Riscos e Desastres Urbanos ( ) Gestão Qualitativa de Obras Públicas ( ) Governança Pública ( ) Habitação e a Gestão de Territórios Informais ( ) Participação Popular e o Direito à Cidade ( ) Planos e Projetos Urbanísticos ( ) Políticas Públicas e o Meio Ambiente ( ) Rios Urbanos e a Infraestrutura Verde ( ) Saneamento Ambiental A Evolução do Traçado Urbano E da Malha Viária de Campo Mourão – Pr The Urban Layout And The Street Pattern Evolution Of Campo Mourão – Pr El Entorno Urbano Y El Patrón De La Calle Evolución De Campo Mourão - Pr Yara Campos Miranda Mestranda em Engenharia Urbana, UEM, Brasil [email protected] Alexandro Gasparini Larocca Mestrando em Engenharia Urbana, UEM, Brasil [email protected]> Bruno Luiz Domingos De Angelis Professor Doutor, UEM, Brasil. [email protected]

A Evolução do Traçado Urbano E da Malha Viária de Campo ... · RESUMO Campo Mourão é uma cidade de médio porte, localizada na região centro-oeste do Paraná, que devido ao

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287

EIXO TEMÁTICO: (X) Acessibilidade e Mobilidade Urbana ( ) Arborização Urbana ( ) Espaços Livres de Uso Público ( ) Geração de Renda e o Desenvolvimento Sustentável ( ) Gerenciamento de Resíduos Sólidos Urbanos ( ) Gestão de Riscos e Desastres Urbanos ( ) Gestão Qualitativa de Obras Públicas ( ) Governança Pública ( ) Habitação e a Gestão de Territórios Informais ( ) Participação Popular e o Direito à Cidade ( ) Planos e Projetos Urbanísticos ( ) Políticas Públicas e o Meio Ambiente ( ) Rios Urbanos e a Infraestrutura Verde ( ) Saneamento Ambiental

A Evolução do Traçado Urbano E da Malha Viária de Campo Mourão – Pr

The Urban Layout And The Street Pattern Evolution Of Campo Mourão – Pr

El Entorno Urbano Y El Patrón De La Calle Evolución De Campo Mourão - Pr

Yara Campos Miranda Mestranda em Engenharia Urbana, UEM, Brasil

[email protected]

Alexandro Gasparini Larocca

Mestrando em Engenharia Urbana, UEM, Brasil [email protected]>

Bruno Luiz Domingos De Angelis

Professor Doutor, UEM, Brasil. [email protected]

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RESUMO Campo Mourão é uma cidade de médio porte, localizada na região centro-oeste do Paraná, que devido ao acentuado êxodo rural da década de 1980, obteve uma expansão acelerada em sua malha urbana. Assim, o estudo busca analisar a evolução do traçado urbano e do sistema viário da urbe, por meio de bibliografia, análises de documentos obtidos e elaboração de mapas cartográficos. Objetiva-se entender a influência proporcionada pelo aumento populacional no formato e dinamismo da cidade, bem como o diagnóstico da atual situação do seu sistema viário. Constatou-se por meio do levantamento realizado, a evolução, no que tange seu território e sistema viário. Entretanto, uma vez que a mesma foi planejada visando a utilização do método de malha ortogonal, é possível verificar a ocorrência de prejuízos a sua expansão, haja visto que novos loteamentos não seguem este modelo devido a terrenos declivosos, bem como prejuízos a malha viária, que não possibilitam deslocamento eficiente no sentido em que a urbe atualmente está se expandindo. PALAVRAS-CHAVE: Planejamento Urbano. Ocupação territorial. Mobilidade Urbana. ABSTRACT Campo Mourão is a medium-sized city, located in the central-western region of Paraná, which, due to the strong rural migration that occurred in the 1980s, obtained a rapid expansion of its urban infrastructure. Considering that, this study intends to analyze the evolution of the urban layout, together with its streets pattern, through literature reviews, analysis of obtained documents and preparation of cartographic maps. The objective is to comprehend the influence caused by the increase of population on the arrangement and dynamic of this city, with the analysis of the current situation of its streets pattern. It is verified by this study the evolution concerning its territory and streets pattern. However, since this city was planned adopting the method of orthogonal grid, it is possible to verify the occurrence of expansion problems, given the fact that new housing developments do not follow this model due to the declivity of surrounding areas, disarranging the streets network, providing inefficient street arrangement in the direction which this city is currently expanding. KEYWORDS: Urban Planning. Territorial Occupation. Urban Mobility. RESUMO Campo Mourão es una ciudad de tamaño mediano, ubicada en la región centro-occidental de Paraná, que gracias a la fuerte migración rural que se produjo en la década de 1980, obtuvo una rápida expansión de su infraestructura urbana. este estudio pretende analizar la evolución del trazado urbano, junto con su patrón de calles, a través de revisiones bibliográficas, análisis de documentos obtenidos y elaboración de mapas cartográficos. El objetivo es comprender la influencia que causa el aumento de la población en el ordenamiento y dinámica de esta ciudad, con el análisis de la situación actual de su patrón de calles. Se verifica por este estudio la evolución de su patrón de territorio y calles. Sin embargo, ya que esta ciudad fue planeada adoptando el método de rejilla ortogonal, es posible verificar la ocurrencia de problemas de expansión, dado el hecho de que los nuevos desarrollos de viviendas no siguen este modelo debido a la declividad de las áreas circundantes, Proporcionando un arreglo de calles ineficiente en la dirección que esta ciudad está expandiendo actualmente. PALABRAS-CLAVE: Planificación urbana. Ocupación Territorial. Movilidad urbana

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1 INTRODUÇÃO

O elevado crescimento populacional verificado em Campo Mourão a partir da década de 1980,

ocasionou transformações espaciais, decisivas no processo de reestruturação da malha

urbana, acarretando em uma ocupação expansiva, diferindo do projeto inicial da urbe.

Conhecer os primórdios da ocupação das cidades auxilia no estudo e diagnóstico das causas

dos problemas locais. Dessa forma, é possível adquirir importantes informações referentes a

experiências passadas, aumentando a possibilidade de acertos ao se remediar situações atuais.

(VALLE JUNIOR; PASCOALETTO, 2012).

De acordo com Endlich (2011) a história e a dinâmica social dos centros urbanos auxilia em

modificações de planos já elaborados, sendo essencial para a qualidade de vida dos citadinos.

As cidades paranaenses, em geral, surgem com o intuito de proporcionar moradias e incentivar

a ocupação dos centros urbanos pela população rural, perfazendo projetos com preços baixos

e utilizando-se de sistemas geométricos, devido aos menores custos e maior aproveitamento

do terreno.

Esta tendência foi observada em Campo Mourão, sendo adotada a malha ortogonal no

planejamento urbano. De acordo com Mascaró (2003), o sistema simétrico melhor aplica-se a

terrenos planos e com declividade baixa, aspectos estes observados na urbe local.

Entretanto, esta tipologia possui aspectos conflitantes quando em terrenos declivosos,

dificultando a ocupação do solo urbano, que atualmente apresenta crescimento em áreas

onduladas, ocasionando problemas no planejamento de novos lotes e infraestrutura urbana,

principalmente no que tange ao sistema viário.

Gonçalves, Rothfus e Morato (2012) analisam que o ambiente urbano possui elevado

dinamismo. Assim, torna-se difícil a adoção de práticas administrativas e de planejamento que

correspondam perfeitamente a realidade, ocasionando, por vezes, legislações que não regem

de maneira eficiente aspectos infraestruturais imprescindíveis a população, como moradia,

locomoção, entre outras.

A utilização errônea do plano diretor como ferramenta eficiente nos centros urbanos é

comumente observada nas cidades brasileiras. Além disso, os responsáveis pela elaboração do

plano, em geral, preocupam-se apenas com subsistemas isolados. No entanto, de acordo com

Barczak e Duarte (2012) uma vez que o ambiente urbano deve ser tratado como um

organismo, regido por diversos mecanismos, estes quando integrados, podem otimizar e

proporcionar melhor convívio para os cidadãos.

Nota-se carência de estudos no âmbito do processo de formação das cidades e de seus

sistemas. Estes, ao serem contemplados de maneira ampla e efetiva, auxiliam em futuras

decisões, além de identificar e minimizar possíveis erros e exaltar as atitudes corretas outrora

adotas, servindo de embasamento para os projetos de futuros profissionais.

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Por fim, objetiva-se o estudo da evolução da malha urbana e do sistema viário de Campo

Mourão, de forma a estabelecer relação entre o crescimento populacional e o dinamismo da

cidade, objetivando elaborar um diagnóstico da atual situação do município, principalmente

no que se refere ao sistema viário.

2. METODOLOGIA

Realizou-se uma busca em bibliografias especializadas sobre a temática. Posteriormente,

foram obtidas imagens e informações sobre o crescimento de Campo Mourão, disponibilizadas

por meio da Secretaria de Planejamento do Município, além de uma visita ao museu Municipal

de Campo Mourão.

Também utilizou-se imagens do software Google Earth® para elaboração de mapas temáticos

com o auxílio do software Qgis ®, visando melhor compreensão da evolução da morfologia e

da malha viária da urbe.

A partir destes dados, foi possível elaborar uma evolução da malha urbana e do sistema viário

de Campo Mourão, bem como do diagnóstico de sua situação atual.

3. CARACTERIZACÃO E LOCALIZAÇÃO DE CAMPO MOURÃO

Campo Mourão está localizado na região Centro-Oeste do Estado do Paraná (figura 1),

abrangendo uma área de 787,55 km2 com população estimada em 92.930 habitantes, sendo

considerada como cidade polo da região, tendo a agricultura e prestação de serviços como as

principais atividades econômicas. (IBGE, 2015).

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Figura 1: Localização da cidade de Campo Mourão – PR.

Fonte: AUTORIA PRÓPRIA, 2016.

A malha urbana do município corresponde a aproximadamente 20 km2, formada a partir de

104 bairros, com projetos de expansão para outras áreas ainda não habitadas. (BATISTA,

CORDOVIL, 2012).

O clima da região do município é definido, segundo a Classificação Climática de Köppen-Geiger

como Cfa subtropical úmido mesotérmico, com verões quentes e geadas pouco frequentes,

tendência de concentração das chuvas nos meses de verão; sem estação seca definida e média

das temperaturas dos meses mais quentes é superior a 22 ºC e a dos meses mais frios é

inferior a 18 ºC (CAVIGLIONE et al. 2000).

Presente no terceiro planalto paranaense, na subunidade denominada Planalto de Campo

Mourão, apresenta dissecação baixa com declividade predominante entre 6-12%. O relevo

possui gradiente de 360 metros com altitudes variando entre 480 (mínima) e 840 (máxima)

metros em relação ao nível do mar. As formas predominantes são topos aplainados, vertentes

retilíneas e côncavas na base e vales em calha, modeladas em rochas da Formação Serra Geral,

por meio de processos de aplainamento e dissecação fluvial, apresentando relevo suavemente

ondulado (MINEROPAR, 2006).

No que tange a hidrografia, Campo Mourão é banhado pelos rios Mourão, rio do Campo e Km

119, pertencentes à bacia hidrográfica do Rio Ivaí, tributário do Rio Paraná. O Rio Mourão, o

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qual atravessa o Município de sul a norte, é o de maior importante local, devido a sua vazão

oferecer o maior potencial hídrico para empreendimentos hidrelétricos.

Segundo a EMBRAPA (2007), possui formações rochosas areníticas e basálticas e sua

decomposição local origina Latossolos Vermelhos, Nitossolos Vermelhos, Neossolos Litólitos e

Argissolos. Porém, a predominancia é o latossolo roxo, de textura argilosa, profundo, muito

fértil, de grande aptidão para sustentar intensa atividade agrícola.

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES

Campo Mourão, teve suas terras leiloadas pela Companhia Melhoramentos do Paraná, que, na

época, oferecia financiamentos com juros baixos, para incentivar a ocupação populacional do

estado e o plantio do café (REGO; MENEGUETTI, 2008) .

Em meados de 1940, o Topógrafo Eugenio Zaleski foi convidado para demarcar as terras de

onde seria o Distrito de Campo Mourão (SIMIONATTO, 2007). O modelo de malha urbana

adotado foi o sistema ortogonal (Figura 2) também conhecido por quadriculas ou xadrez,

sendo amplamente utilizado nas cidades brasileiras.

Figura 2: Planta do patrimônio de Campo Mourão - PR datada de 1945

Fonte: SECRETARIA DO PLANEJAMENTO DE CAMPO MOURÃO, 2016.

Este sistema, segundo Mascaró (2003) é indicado apenas para terrenos planos com baixa

declividade, devido ao fato que exige lotes regulares. Além disso, os custos reduzidos estão

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associados a terrenos com a forma mais quadrada possível, pois nestes, as casas podem ser

projetadas visando a melhor orientação solar.

Ferrari (1979) defende que os lotes planos facilitam a implantação de uma rede viária do tipo

tabuleiro de xadrez ou grelha, uma vez que esta estrutura simplifica o processo de

desmembramento, propiciando com que os planejadores consigam seguir o modelo, conforme

a expansão urbana.

A quadricula, de acordo com o mesmo autor, além disso, pode servir para uniformização

estética e uso racional dos espaços, permitindo a hierarquização de ruas.

Entretanto, Duarte e Serra (2003) afirmam que as ruas retas oferecem desvantagens quanto a

possibilidade de canalização de ventos e, ocasionalmente, ofuscamento da visão de motorista

no trânsito de veículos em determinados horários, pela luz do sol. Além disso, Lamas (2004)

salienta, que este traçado, pode tornar-se monótono, necessitando o emprego de outros

elementos como praças e parques.

A priori, o plano piloto de Campo Mourão, em sua região central, previu o dimensionamento

de terrenos grandes e retangulares, com a designação de avenidas principais espaçosas e uma

praça central. Assim como outrora, reside na praça central, a primeira igreja da urbe,

denominada Catedral de São José, demonstrando certa preocupação de seu planejador com os

aspectos paisagísticos da cidade.

Este padrão observado é comum a diversos centros urbanos, haja visto que de acordo com

Bovo e Andrade (2012) monumentos religiosos são os primeiros a serem construídos na

formação de um novo agrupamento populacional, aspecto este advindo culturalmente,

observado desde os primórdios das cidades.

Popularmente conhecida como praça da Catedral, encontra-se na maior cota hipsometrica da

urbe, considerada um divisor de aguas entre as sub-bacias de Drenagem do Rio km 119 e o Rio

do Campo, sendo que o último é utilizado para a captação de agua para a população (BOVO;

ANDRADE, 2012).

Nota-se a tendência destes padrões, nas demais cidades dessa região, onde a Companhia

Melhoramentos do Paraná realizava projetos pautados em dois aspectos principais, sendo,

situar-se no espigão (caso de Campo Mourão) e/ou junto a linha férrea construída, como é

observado em Maringá, Umuarama, Paiçandu, Mandaguari entre outras cidades (REGO;

MENEGUETTI, 2008).

Inicialmente, o sistema viário da urbe foi planejado a partir de cinco avenidas principais, sendo

elas, Avenida Capitão Indio Bandeira, que é o divisor das sub-bacias, Manoel Mendes de

Camargo, Goioerê, Irmãos Pereira e José Custódio de Oliveira. Ambas homenageiam os

fundadores da cidade, excetuando-se a Goioerê, a qual foi denominada por fornecer o

caminho a esta cidade vizinha (SIMIONATTO, 2007).

A partir de 1943, Campo Mourão obteve emancipação de Guarapuava – PR, passando a ser

distrito de Pitanga. Torna-se município apenas em 1947, por meio da Lei 02/47 de 1947,

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sancionada pelo governador Moysés Lupion. Sua expansão ocorreu exacerbadamente, sendo

que em 1953 (figura 3), observa-se que a malha urbana já ultrapassava o projeto inicial.

Figura 3: Cidade de Campo Mourão em 1953, o traçado vermelho indica o projeto inicial realizado em 1945

Fonte: SECRETÁRIA DO PLANEJAMENTO DE CAMPO MOURÃO, 2016 (adaptada pelos autores).

A rede viária da época restringia-se a ruas sem pavimentação, onde Campo Mourão

apresentava apenas uma estrada principal de ligação intermunicipal, sendo esta a atual saída

para Tuneiras do Oeste – PR.

Todavia, nota-se que o formato de quadricula é mantido. A ideia inicial de grande parte dos

planejadores da época, é que ao se implantar a malha viária e urbana desta tipologia, a cidade

poderia estender-se indefinidamente conforme seu crescimento, onde as vias encontrariam as

pequenas ruas e terminariam em avenidas (VALLE JUNIOR; PASCOALETTO,2012).

No início da década de 1970, ocorreu uma transformação paisagística na malha urbana, pois os

espaços públicos da igreja matriz, passam a englobar características propriamente ditas de

praças e áreas livres de lazer. (BOVO; ANDRADE, 2012). Esta década é marcada também pela

revitalização das avenidas principais da região central, com o plantio de árvores nos canteiros.

Com a expansão urbana desencadeada na década de 1980 (Figura 4), marcada pelo êxodo

rural, ocorreram modificações significativas, onde os lotes que anteriormente apresentavam-

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se com até 900 m2, passaram a ser menores e padronizados, e as vias, que no projeto inicial

eram largas, estreitaram-se, acarretando em modificações no ambiente urbano de Campo

Mourão. (MORIGI; MORIGI, 2013).

Ainda na mesma década, consorciadamente ao crescimento urbano, nota-se o início de

atividades industriais na mesorregião, a partir do decrescimento da cultura de café, que até

meados de 1970 era incentivada por políticas públicas. Muito disso dá-se pelo surgimento da

Cooperativa Agroindustrial Mourãoense (COAMO) no município, sendo que até hoje possui

grande representatividade econômica na mesorregião de Campo Mourão. Estes dois fatores

consolidaram o êxodo rural, transformando a população do município em predominantemente

urbana (BATISTA; CORDOVIL, 2012).

Figura 4: Foto aérea de Campo Mourão datada de 1980, com destaque em vermelho ao traçado inicial, em

amarelo a Perimetral Tancredo Neves e em azul o surgimento do bairro Lar Paraná.

Fonte: SECRETARIA DE PLANEJAMENTO DE CAMPO MOURÃO – PR, 2016. (Adaptado pelos autores)

Outro fator importante no discernimento das mudanças ocorridas na malha urbana local dá-se

com o surgimento de novos bairros, como o Lar Paraná, aumentado a malha viária e a

implementação de várias outras estradas, facilitando a evacuação da produção agrícola local, e

o comercio de bens e serviços.

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O surgimento da via que atualmente é denominada Perimetral Tancredo Neves melhorou o

deslocamento da urbe. A mesma é considerada, na hierarquização, como uma via arterial, pois

tem o intuito de retirar o trânsito pesado de caminhões do centro da cidade.

O rio do Campo e o rio Km 119, foram por muito tempo limitantes naturais do crescimento da

malha urbana mourãoense, perfazendo com que sua expansão ocorresse no sentido leste

oeste. Entretanto, com o passar dos anos, estas barreiras foram superadas, e no cenário atual,

é possível observar a ocupação ao longo da bacia destes corpos hídricos (BATISTA; CORDOVIL,

2012).

4.1 MALHA URBANA E SISTEMA VIARIO ATUAL

Atualmente, Campo Mourão enfrenta dificuldades para a implantação de novos

empreendimentos seguindo o formato de quadriculas, haja vista que este exige terrenos

planos, e por consequências da à expansão urbana, os locais dos disponíveis apresentam

relevos que variam de suavemente ondulado a ondulado.

Consequentemente, observa-se que o tamanho dos lotes sofre reduções drásticas, e, segundo

o plano diretor do município (2014), dependendo da zona em que o loteamento encontra-se,

são aceitos lotes de até 125 m2. Ferraudo, Louzada Neto e Ferreira (2010) afirmam que a

especulação imobiliária aliada a um mau planejamento ocasionam terrenos em que não se

considera a qualidade de vida dos indivíduos.

Novos bairros estão em ascensão em terrenos com declividade acentuada, haja visto que os

limites, anteriormente marcados pelas bacias do rio do Campo, e rio Km 119, atualmente

encontram-se ocupados, acarretando sérios problemas ao planejamento. De acordo com

Mascaró (2003) o emprego da quadricula em locais declivosos deve ser evitado, sendo

adequado planejar os lotes de acordo com a topografia do local.

No sistema viário, (figura 5) as avenidas principais da urbe funcionam como arteriais, de

acordo com a classificação proposta pelo DNIT (2010), haja visto que possuem mão dupla e

proporcionam a mobilidade urbana para o centro e demais atividades cotidianas, com

ausência de preferenciais, o que caracteriza trânsito rápido, onde a velocidade máxima

permitida é 50 km/h.

As demais vias do centro de Campo Mourão podem ser classificadas como coletoras devido ao

fato de interligarem as arteriais; possuírem menor tamanho e transferirem o trânsito para as

vias arteriais (DNIT, 2010).

Ainda, a urbe conta com a Perimetral Tancredo Neves, com a finalidade de evitar o fluxo de

caminhões e veículos de passagem no centro da cidade. Esta também possui características de

vias arteriais, haja visto que interliga o trânsito para rodovias importantes da região, como a

saída para Maringá (BR 317), Cascavel (BR369) e Guarapuava (BR 487).

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Figura 5: Hierarquização das vias da região central de Campo Mourão

Fonte: AUTORIA PRÓPRIA, 2016.

A diferença entre as avenidas principais de Campo Mourão e a Perimetral Tancredo Neves é o

formato em que ambas se encontram. Enquanto as avenidas possuem rotatórias para o

controle do trânsito na zona central, a perimetral conta com semáforos que, na prática, são

dessincronizados, dificultando a mobilidade do local.

As rotatórias empregadas na região central da cidade, apesar do formato, não possuem esta

função, sendo utilizadas como retornos, visando facilitar cruzamentos e interseções entre as

vias coletoras e arteriais.

Contudo, o exacerbado número de veículos da urbe, que em 10 anos (2010/2015) aumentou

em 50% , atingindo atuais 34.861 automóveis (IBGE, 2015), faz com que este sistema

apresente dificuldades de locomoção aos citadinos, haja visto que as vias não suportam a

quantidade de automóveis, e os estacionamentos são escassos, bem como a ocorrência de

congestionamentos, tornando-se cotidianos na vida dos cidadãos.

De acordo com Souza e Raia Junior (2015) formatos geométricos estruturadores do sistema

viário devem ser cuidadosamente planejados, sendo que, ao se implantar um mecanismo que

não satisfaz a necessidade dos moradores, após implementado, torna-se difícil sua

readequação, acumulando problemas de mobilidade urbana.

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No município de Campo Mourão, evidencia-se que as vias foram projetadas em uma época

onde era inimaginável a utilização efetiva e exacerbada de veículos nos centros urbanos.

Outro aspecto negativo é que estas proporcionam fluidez apenas no sentido leste oeste, que é

oposto ao atual crescimento, dificultando a mobilidade nas regiões de maior expansão atual da

urbe. Entretanto, é possível a implantação de medidas mitigatórias a este fato, visando

proporcionar melhor facilidade a locomoção urbana.

Uma possibilidade seria a implantação de sinaleiros nas principais ruas que interligam a cidade

nos novos ambientes urbanos, o que facilitaria a mobilidade em outros sentidos. Scaringella

(2001) indica o uso de semáforos inteligentes, que se programados adequadamente,

proporcionam melhoria no transito, além de não possuem custos elevados, ao se comparar

com outros mecanismos.

Quanto a ausência de estacionamentos na região central, políticas públicas acabaram por

transformar a Avenida José Custódio de Oliveira, destinando apenas uma única faixa de

rolagem e ambos os lados com estacionamentos, dificultando a locomoção e visibilidade em

horários de pico.

Outras alterações também foram realizadas na Avenida Capitão Índio Bandeira, por meio da

retirada do canteiro central, com estacionamento transversal e transformando-o em

estacionamento duplo em ambos os lados da via.

Entretanto, essas medidas não são suficientes para atender a atual frota de veículos, sendo

que, uma solução para isto, seria a implantação de estacionamentos rotativos, que de acordo

com Paradela et.al. (2015) são uma solução paliativa que visa proporcionar o uso do espaço

público pelo maior número de pessoas.

Contudo, torna-se evidente a necessidade de incentivos a utilização de outros meios de

locomoção nas cidades brasileiras; adoção de um sistema de transporte coletivo eficiente e

construção de ciclovias, sendo medidas que podem vir a melhorar a mobilidade urbana. Além

disso, futuros planejadores devem pensar na cidade como um todo, podendo desta maneira

auxiliar em políticas públicas que visem melhorar a qualidade de vida dos cidadãos.

5. CONCLUSÃO

Por meio de análise comparativa das imagens do traçado inicial e atual de Campo Mourão,

evidencia-se que a cidade cresceu significativamente, o que atualmente ocasionou problemas

a urbe, como a dificuldade da mobilidade urbana consorciada ao mau planejamento de novos

lotes, acarretando sérios problemas aos citadinos mouraoenses.

O formato ortogonal aplicado a malha urbana possui dificuldades de adaptação a terrenos de

declive maior, recomendando-se o emprego de outras técnicas nestes locais, visando melhorar

o uso e ocupação do solo da urbe.

O sistema viário, encontra-se esgotado e com sérios problemas relacionados a mobilidade

urbana, sendo importante a adoção de práticas simples, como a implantação de

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estacionamentos rotativos e sinaleiros para melhorar a trafegabilidade nos horários de maior

trânsito na região central da cidade.

Ainda, recomenda-se paulatinamente o aprofundamento de estudos na área visando a

obtenção de outros métodos que visem melhorar a trafegabilidade e a implantação de novos

loteamentos na urbanos

AGRADECIMENTO

Agradecemos a CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) pelo

apoio financeiro.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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