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A EXPERIÊNCIA DE M INAS GERAIS NA GESTÃO DO INSUMO ENERGIA ELÉTRICA COM FOCO NA SUSTENTABILIDADE E NA QUALIDADE DO GASTO PÚBLICO GABRIELA DE AZEVEDO LEÃO JESSÉ SIDNEY SILVA LÍVIA COLEN DINIZ M ICHELE M IA ROCHA KINOSHITA

A EXPERIÊNCIA DE MINAS GERAIS NA GESTÃO DO INSUMO ENERGIA ... · garantidora do desenvolvimento econômico, tecnológico e social do país. Todavia, o surgimento de uma preocupação

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A EXPERIÊNCIA DE MINAS GERAIS NA GESTÃO DO INSUMO ENERGIA ELÉTRICA COM FOCO NA SUSTENTABILIDADE E NA QUALIDADE

DO GASTO PÚBLICO

GABRIELA DE AZEVEDO LEÃO JESSÉ SIDNEY SILVA

LÍVIA COLEN DINIZ MICHELE MIA ROCHA KINOSHITA

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Painel 49/150 Compras públicas e gestão logística: inovações e contribuições para a eficiência no Estado de Minas Gerais

A EXPERIÊNCIA DE MINAS GERAIS NA GESTÃO DO INSUMO

ENERGIA ELÉTRICA COM FOCO NA SUSTENTABILIDADE E NA QUALIDADE DO GASTO PÚBLICO

Gabriela de Azevedo Leão

Jessé Sidney Silva

Lívia Colen Diniz Michele Mia Rocha Kinoshita

RESUMO

O Estado de Minas Gerais, alinhado à promoção do desenvolvimento sustentável,

procura conciliar o desenvolvimento e a preservação ambiental, sendo um dos focos de trabalho a otimização da gestão do insumo energia elétrica. Tendo em vista a

necessidade de aprimorar o gasto público e, consequentemente, eliminar o desperdício de energia elétrica, foi implantado o Programa de Gestão Energética Estadual (PGEE), no qual são previstas diretrizes e políticas de economia de energia

a serem adotadas por todos os órgãos e entidades do Poder Executivo Estadual. Cabe destacar que o PGEE está alinhado à política estadual de compras

sustentáveis, a qual busca fomentar a inclusão de critérios sustentáveis nas aquisições e contratações públicas como forma de utilizar o poder de compra do Estado para induzir o uso racional de recursos. Diante do exposto, este artigo visa

evidenciar a experiência do Estado de Minas Gerais na gestão do insumo energia elétrica, por meio da contextualização do PGEE e da política estadual de compras sustentáveis, bem como da apresentação das ações implementadas para o combate

ao desperdício de energia e dos resultados obtidos. Palavras-chave: Sustentabilidade. Gestão Energética. Energia Elétrica. Qualidade

do Gasto.

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INTRODUÇÃO

O insumo energia elétrica se tornou um recurso indispensável no dia a dia

da sociedade, sendo considerada um importante fator de produção. Além de

proporcionar conforto e segurança para a população, a energia é importante

garantidora do desenvolvimento econômico, tecnológico e social do país.

Todavia, o surgimento de uma preocupação com as consequências do

desenvolvimento atual na realidade futura, coloca em patamar de destaque o fato de

que o uso excessivo da energia elétrica pode acarretar em impactos negativos ao

meio ambiente e comprometer recursos imprescindíveis, o que reforça a

necessidade e a importância da promoção do desenvolvimento sustentável.

Neste contexto, vale ressaltar o conceito de desenvolvimento sustentável

desenvolvido pela Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento

(CMMAD), também chamada de Comissão de Brundtland, que sistematiza: “[...]

desenvolvimento sustentável é aquele que atende às necessidades do presente sem

comprometer a possibilidade das gerações futuras de atenderem as suas próprias

necessidades” (CMMAD, 1988 apud BARBIERI, 1997).

A Comissão afirma, ainda

Em essência, o desenvolvimento sustentável é um processo de

transformação no qual a exploração dos recursos, a direção dos investimentos, a orientação do desenvolvimento tecnológico e a mudança institucional se harmonizam e reforçam o potencial presente e futuro, a fim

de atender às necessidades e aspirações humanas. (CMMAD, 1988; p.49 apud BARBIERI, 1997, p.25)

O conceito de desenvolvimento sustentável moderno considera, ainda, a

chamada tripartição da sustentabilidade ou tripé da sustentabilidade (Triple Bottom

Line). Tal conceito, inicialmente desenvolvido pelo britânico John Elkington (2012),

consiste na ideia de que o desenvolvimento sustentável se sustenta em três

dimensões: econômica, social e ambiental.

Em se tratando de energia elétrica, destaca-se a importância da gestão

deste insumo rumo à eficiência energética. Entende-se como eficiência energética a

busca por alternativas que visam combater o desperdício de energia, juntamente à

formulação de políticas e projetos que reduzam seus custos e melhorem a eficiência

de processos e equipamentos, minimizando os impactos ambientais causados pela

geração, transmissão e distribuição de energia.

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Uma grande forma de combate ao desperdício de energia se dá pela

substituição de equipamentos ineficientes energeticamente – como reatores e

lâmpadas utilizados em iluminação – por equipamentos economizadores aliada à

promoção de programas educacionais que visam despertar nos cidadãos a

importância do uso inteligente de energia elétrica.

Neste sentido, ciente de seu poder de compra, o Estado de Minas Gerais

tem se empenhado no uso racional de recursos, promovendo a inclusão de

requisitos de sustentabilidade nas compras públicas, com vistas a minimizar os

impactos causados pelos produtos e serviços contratados e buscando fomentar o

mercado a oferecer equipamentos cada vez mais eficientes.

Segundo.Biderman et al (2008), a licitação sustentável seria

uma solução para integrar considerações ambientais e sociais em todos os estágios do processo da compra e contratação dos agentes públicos (de

governo) com o objetivo de reduzir impactos à saúde humana, ao meio ambiente e aos direitos humanos. A licitação sustentável permite o atendimento das necessidades específicas dos consumidores finais por

meio da compra do produto que oferece o maior número de benefícios para o ambiente e a sociedade.

As compras sustentáveis, por sua vez, estão diretamente relacionadas ao

conceito de qualidade do gasto público, que é entendido como a utilização de

recursos da forma mais racional possível, permitindo a consecução do planejamento

traçado, visando a concretização do padrão de desenvolvimento desejado. Sendo

assim, qualidade do gasto público não se refere apenas a gastar pouco, mas sim a

gastar bem e de forma adequada.

Destaca-se, assim, que o Estado de Minas Gerais tem desenvolvido

iniciativas voltadas à sustentabilidade das aquisições e contratações públicas, que

estão alinhadas à ampliação da qualidade do gasto público. Em se tratando de

eficiência energética, desponta-se o Programa de Gestão Energética Estadual –

PGEE.

Este trabalho, então, visa evidenciar a experiência do Estado de Minas

Gerais, na gestão do insumo energia elétrica, por meio da apresentação do PGEE e

da política estadual de compras sustentáveis, bem como da apresentação das ações

implementadas para o combate ao desperdício de energia e dos resultados obtidos.

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Quanto à metodologia utilizada para desenvolvimento deste estudo foi

realizada pesquisa de caráter descritivo e exploratório, consolidando dados

qualitativos e quantitativos sobre o tema, por meio de pesquisas bibliográficas e

observação in loco.

Assim, inicialmente será apresentado o Programa de Gestão Energética

Estadual, seu histórico e ações desenvolvidas. Posteriormente, será abordada a

política de compras públicas sustentáveis do Estado de Minas Gerais,

contextualizando as iniciativas desenvolvidas. E, por fim, serão apresentados os

resultados obtidos pelas ações do PGEE e seus impactos no Estado.

O PROGRAMA DE GESTÃO ENERGÉTICA ESTADUAL – PGEE

Após a realização de estudos que apontaram para a necessidade de se

reduzir o gasto com energia elétrica, o Estado de Minas Gerais publicou o Decreto no

43.696, de 11 de dezembro de 2003, que dispõe sobre a otimização da demanda e

do consumo de energia elétrica no âmbito da Administração Pública Direta e Indireta

do Poder Executivo.

Este Decreto determinou a realização de análise técnica dos contratos de

fornecimento de energia elétrica em vigor à época e nos casos de ausência de

formalização, determinou aos órgãos e entidades a celebração de contratos com as

concessionárias; a fixação de horários de expediente dos órgãos e entidades; a

instituição de Comissões Internas de Conservação de Energia – CICE, para

implementar, acompanhar e divulgar medidas efetivas de utilização racional de

energia elétrica; a coordenação de políticas de otimização energética pela Secretaria

de Estado de Planejamento e Gestão – SEPLAG.

Diante da competência atribuída à SEPLAG, em parceria com a

Companhia Energética de Minas Gerais – CEMIG, foi implantado o Programa de

Gestão Energética Estadual – PGEE, que definiu as diretrizes de racionalização do

consumo de energia elétrica a serem adotadas pelas instituições do Poder

Executivo.

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Além disso, foram realizados cursos de capacitação e de formação das

CICE’s, com a distribuição de manual de treinamento, que contemplava informações

sobre as edificações públicas; a estruturação e atribuições das CICE’s; como

conhecer a instalação; os controles dos índices; dentre outros.

O PGEE, inicialmente, buscou acompanhar as adequações necessárias

nas contratações realizadas pelos órgãos e entidades cujas edificações eram

atendidas em média tensão. O trabalho consistia na análise da adequação da

estrutura tarifária e da demanda contratada, visando optar pela melhor modalidade

tarifária: convencional e horo-sazonal.

A modalidade convencional caracteriza-se pela aplicação de tarifas de

consumo de energia elétrica e demanda de potência, independentemente das horas

de utilização do dia e dos períodos do ano. Enquanto, a horo-sazonal caracteriza-se

pela aplicação de tarifas diferenciadas de consumo de energia elétrica e de

demanda de potência, de acordo com os postos horários, horas de uti lização, e os

períodos do ano (CEMIG, 2011).

E, para os órgãos e entidades cujas edificações eram atendidas em baixa

tensão, a determinação foi analisar, juntamente com a concessionária, a viabilidade

de migrarem para média tensão. Essas ações voltadas à ve rificação da contratação

em média ou baixa tensão visavam promover uma expressiva redução no gasto com

energia elétrica pelos órgãos e entidades, com o foco na melhor maneira de se

contratar o insumo.

Com o objetivo de alcançar maior aderência dos órgãos e entidades ao

programa, o Estado de Minas Gerais, por meio do Decreto n° 44.063, de 01 de

julho de 2005, que altera o Decreto n°43.696/03, determinou a atribuição de meta

de redução de despesa com energia elétrica aos órgãos e entidades, bem como

definiu que os contratos de fornecimento deveriam ser revistos, no máximo, a cada

dois anos.

A partir de outubro de 2005 a SEPLAG passou a receber, de maneira

estável, os dados da utilização de energia dos órgãos e entidades do Poder

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Executivo Estadual diretamente da concessionária 1 . Isso possibilitou um grande

avanço na análise dos dados, bem como na identificação dos órgãos e entidades

com maior potencialidade de redução do gasto.

O PGEE tem analisado, ainda, outros requisitos que impactam no custo

com o insumo energia elétrica, tais como: estrutura tarifária horossazonal , cobrança

de energia reativa2 e o pagamento de ICMS.

Ao longo dos anos, o PGEE vem aprimorando suas ações ao buscar

também maior eficiência e sustentabilidade nas compras públicas, por meio de

atualização das especificações técnicas do Catálogo de Materiais e Serviços –

CATMAS 3 do Estado de Minas Gerais, em parceria com o Centro Federal de

Educação Tecnológica de Minas Gerais – CEFET/MG.

Para isso, foi firmado convênio de Cooperação Técnica com esta

instituição, visando promover a redução nos gastos e a cultura do não desperdício,

com a revisão das especificações técnicas de equipamentos elétricos comprados

pelo Estado de Minas. Foi verificada uma série de itens com especificações técnicas

incompletas e/ou equivocadas, além de estarem e em desacordo com normas do

Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia – INMETRO e com os

critérios do Selo PROCEL.

O PROCEL é o Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica,

criado pelo governo federal, que buscar promover a racionalização do consumo de

energia elétrica. Dentro deste programa, foi criado o Selo PROCEL que tem por

objetivo orientar o consumidor no ato da compra, indicando produtos que

apresentam os melhores níveis de eficiência energética dentro de cada categoria,

proporcionando assim economia na sua conta de energia elétrica. Também estimula

a fabricação e a comercialização de produtos mais eficientes contribuindo para o

desenvolvimento tecnológico e a preservação do meio ambiente (CEMIG, 2003).

1 O envio dos dados ficou suspenso no período de 2007 a 2010, em decorrência da mudança do sistema de faturamento da CEMIG.

2 Energia reativa é aquela que não produz trabalho e, quando cobrada pela concessionária na fatura, indica problema no banco de capacitores.

3 O CATMAS permite a catalogação dos materiais e serviços destinados às atividades da

Administração Pública Estadual, com a finalidade de identificar, classificar, codificar e catalogar o material de consumo, o material permanente, os serviços, inclusive obras, com especificações padronizadas e atributos de desempenho e acompanhamento. Todos os bens e serviços adquiridos

pelos órgãos ou entidades do Estado de Minas Gerais devem estar previamente catalogados.

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O PGEE continua realizando as ações de acompanhamento das faturas

de energia elétrica dos órgãos e entidades, buscando identificar unidades com

potencialidade para redução expressiva do gasto com este insumo, sejam por meio

de alteração contratual seja por identificação da necessidade de troca dos

equipamentos elétricos. Além disso, o Estado de Minas vem alcançando avanços no

que se refere às ações voltadas para as compras sustentáveis, o que será retratado

a seguir.

A POLÍTICA MINEIRA DE COMPRAS PÚBLICAS SUSTENTÁVEIS

A partir de iniciativas de sustentabilidade, tais como o PGEE, o Estado de

Minas Gerais consolidou sua política de compras públicas sustentáveis, fortalecendo

iniciativas já existentes e promovendo novos estudos para inclusão da

sustentabilidade em suas aquisições e contratações.

No Estado de Minas Gerais, considera-se compras e aquisições

sustentáveis uma política pública que representa uma nova forma de agir do Estado,

que passa a compreender a influência de seu poder de compra no mercado, sendo

capaz de induzir um novo padrão de consumo e otimizar suas compras, no sentido

de adquirir produtos e serviços com um número ainda maior de benefícios para a

Administração e para a sociedade em geral.

Cabe destacar que as compras sustentáveis foram legitimadas pela

recente alteração na Lei Geral de Licitações e Contratos (Lei Federal no 8.666, de 21

de junho de 1993), trazida pela Lei Federal no 12.349, de 15 de dezembro de 2010,

que incluiu a “promoção do desenvolvimento nacional sustentável” como um dos

objetivos a serem alcançados pelo processo licitatório.

Desta forma, surge uma mudança de parâmetros em relação ao

significado da proposta mais vantajosa nas contratações públicas. De acordo com

Justen Filho (2012, p.11), a vantagem de uma contratação não deve ser

fundamentada apenas quanto à eficiência economia direta, mas deve-se considerar

o impacto de longo prazo acarretado pela contratação,

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Em decorrência das inovações legislativas que têm sido realizadas, uma

contratação dotada de “vantajosidade” não deve mais ser fundada apenas em critérios de eficiência econômica direta e imediata. É preciso haver também uma análise da contratação como um todo e dos impactos a serem

produzidos em longo prazo.

Os impactos de uma contratação sustentável referem-se ao seu potencial

de ganho de eficiência e de economia, com redução significativa de custos, a qual

necessita de um maior distanciamento temporal e da capacidade de prospecção a

longo prazo, para a visualização de seus resultados (FREITAS, 2011, p.28), como é

o caso de produtos economizadores de água e energia.

Histórico da Política

A origem das licitações sustentáveis, no Estado de Minas Gerais, ocorreu

em 2007, com o projeto Fomentando Compras Públicas Sustentáveis no Brasil

(CPS-Brasil), desenvolvido pela instituição Governos Locais pela Sustentabilidade

(ICLEI) em parceria com o Centro de Estudo em Sustentabilidade (Gvces), da

Fundação Getulio Vargas (FGV). Representado pela SEPLAG, o Estado de Minas

Gerais, junto ao CPS-Brasil, desenvolveu uma metodologia especifica para

aplicação do projeto, na qual foram selecionados vinte produtos para estudos de

inclusão de sustentabilidade, dentre os quais: os grupos de materiais de escritório,

equipamentos de informática, obras de pavimentação, refeições (delegacias,

penitenciárias e hospitais públicos) e medicamentos (ICLEI, 2009, p.1-3).

Despontando quanto à promoção da sustentabilidade na gestão pública,

Minas Gerais adotou uma série de medidas especificas para a inclusão da

sustentabilidade em suas contratações. Sem a intenção de esgotar o assunto, serão

apresentados abaixo algumas iniciativas relacionadas a inovações sustentáveis nas

aquisições públicas.

Obras Públicas Sustentáveis:

Como uma das principais ações em prol da inclusão de critérios eficientes

de sustentabilidade nas obras públicas do Estado de Minas Gerais, foi assinado, no

ano de 2008, entre o Estado de Minas Gerais e o Banco Mundial, o Manual de

Obras Públicas Sustentáveis, elaborado no âmbito do Programa de Parceria para o

Desenvolvimento de Minas Gerais II.

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O referido Manual recomenda:

A construção sustentável tem como objetivo aplicar esses mesmos princ ípios ao processo de planejamento e execução de obras, propondo

soluções aos principais problemas ambientais de nossa época, buscando explorar menor quantidade de matéria e energia, causar menos poluição e produzir menos resíduos, respeitando e zelando pelas pessoas envolvidas

[...]. (SISEMA, 2008, p. 3-4)

O Manual refere-se ao fato de que os requisitos para uma construção

sustentável devem estar presentes desde o estudo de viabilidade técnica, passando

pela escolha do terreno e execução da obra, até a manutenção e conservação da

construção, de forma em que, a partir de estudos detalhados, se torna possível

tornar um empreendimento mais sustentável em cada fase da obra, analisando

aspectos e impactos ambientais (DRUMOND, et al., 2012, p.18).

O Decreto Mineiro de Compras Públicas Sustentáveis

No final de 2012, foi publicado o Decreto Estadual de Compras

Sustentáveis em Minas Gerais (Decreto no 46.105, de 12 de dezembro de 2012),

contendo as principais diretrizes de sustentabilidade para aquisição de bens,

serviços e obras pela administração pública de órgãos e entidades do Estado. Neste

sentido, o Estado buscou consolidar as práticas de sustentabilidade já existentes e

institucionalizá-las, além de promover estudos visando explorar novas oportunidades

de atuação na matéria de sustentabilidade nas compras, ainda não trabalhadas.

O Decreto em questão apresenta uma listagem de critérios que poderão

ser observados no momento da definição do objeto e das obrigações contratuais,

sempre preservando o caráter competitivo do certame e a economicidade da

contratação.

Os critérios de sustentabilidade elencados pelo Decreto, e que foram

estipulados em seu art. 4o, são os seguintes:

Art. 4o Consideram-se critérios de sustentabilidade: I – economia no

consumo de água e energia ; II – minimização da geração de resíduos e destinação final ambientalmente adequada dos que forem gerados; III –

racionalização do uso de matérias-primas; IV – redução da emissão de poluentes e de gases de efeito estufa; V – adoção de tecnologias menos agressivas ao meio ambiente ; VI – utilização de produtos atóxicos ou,

quando não disponíveis no mercado, de menor toxicidade; VII – utilização de produtos com origem ambiental sustentável comprovada; VIII – utilização

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de produtos reciclados, recicláveis, reutilizáveis, reaproveitáveis ou

biodegradáveis compostáveis; IX – utilização de insumos que fomentem o desenvolvimento de novos produtos e processos, com vistas a estimular a utilização de tecnologias ambientalmente adequadas; X – maior vida útil e

menor custo de manutenção do bem e da obra ; XI – maior geração de empregos, preferencialmente com mão de obra local; XII – preferência para materiais, tecnologias e matérias-primas de origem local; e XIII – fomento às

políticas sociais inclusivas e compensatórias. (MINAS GERAIS, 2012) (Destaque nosso)

A norma também atribui à SEPLAG a responsabilidade de coordenar uma

série de estudos técnicos em famílias de compras específicas, os quais poderão ser

realizados em conjunto com outros órgãos e entidades da Administração Pública,

conforme a natureza dos materiais, serviços e obras. Estes estudos irão instituir

critérios de sustentabilidade de forma mais especifica e prática e deverão ser

consolidados na forma de Manuais de observação obrigatória pelos órgãos e

entidades.

O Manual de Sustentabilidade para Especificação Técnica de Lâmpadas

e Reatores, que será apresentado na seção seguinte, foi um dos frutos dos estudos

estipulados pelo Decreto e busca legitimar e institucionalizar, em todos os órgãos e

entidades da Administração Pública do Poder Executivo estadual, a adoção de

critérios sustentáveis para a família de lâmpadas e reatores.

A EXPERIÊNCIA DE MINAS GERAIS NA GESTÃO ENERGÉTICA

O PGEE, desde sua criação, teve o intuito de otimizar a uti lização de

energia pelos órgãos e entidades através de orientações, direcionamentos, ações e

controle sobre os recursos econômicos e materiais para redução do consumo e

custo de energia.

Desde o inicio do programa em 2003, a Coordenação do PGEE vem

realizando ações em parceria com a CEMIG, e outras entidades e instituições, a fim

de aprimorar sua atuação nas análises das faturas e dos contratos dos órgãos e

entidades, bem como em outras medidas para a redução do gasto com este insumo

de forma eficiente e sustentável.

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Conforme citado anteriormente, em 2007 foi realizada a revisão das

especificações técnicas constantes no CATMAS de diversos equipamentos elétricos

comprados pelo Estado de Minas Gerais, como fruto da parceria firmada com o

CEFET/MG. Ainda, por meio desta parceria fo ram produzidas cartilhas e manuais

com orientações técnicas quanto à aquisição de equipamentos elétricos, destinadas

aos gestores responsáveis pelas compras públicas.

Neste sentido, em 2010, o PGEE publicou no site institucional da

SEPLAG o primeiro Manual de Especificação Técnicas para Lâmpadas e Reatores,

assim como a primeira cartilha com dicas de economia de energia elétrica na

iluminação para órgãos públicos, elaborados pelo CEFET/MG.

Em se tratando do acompanhamento das contratações de energia elétrica

pelos órgãos e entidades do Estado, tem-se que, nesse mesmo ano, foi publicada a

Nota Técnica no 01/2012, a qual contém orientações quanto à Resolução no

414/2010 da Agência Nacional de Energia Elétrica – ANEEL, que trouxe algumas

mudanças relacionadas às condições de fornecimentos gerais de energia.

Tal Nota Técnica informa aos servidores estaduais sobre os critérios

utilizados para análise adequada dos contratos de fornecimento de energia elétrica

entre as distribuidoras e os órgãos e entidades do Estado de Minas Gerais, além de

orientar quanto à procedência para se ter uma demanda contratada adequada, tal

como optar por uma estrutura tarifária horo-sazonal economicamente viável, além de

trazer informações relativas à cobrança de incidência de energia reativa nas faturas

e à cobrança de ICMS.

Neste sentido, o PGEE, tem concentrado esforços na análise dos

contratos e no uso adequado do insumo pelos servidores, realizando estudos sobre

a situação de cada órgão e entidade e orientando quanto às melho res práticas.

Diante disso, seguindo diretrizes da ANEEL, foram realizadas análises das faturas

de energia em Baixa Tensão (BT) e Média Tensão (MT).

Na BT, embora o consumo e custo por unidade seja relativamente

reduzido, é preciso considerar o alto número de unidades prediais atendidas (total

de 7.425 unidades), o que exige um acompanhamento rigoroso. Para redução deste

custo, o PGEE vem conscientizando servidores públicos estaduais em palestras

sobre os equipamentos eficientes com baixo consumo de energia e vida úti l maior,

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evidenciando que a substituição dos itens ineficientes pode minimizar a geração de

resíduos4.

Já, na MT, com um total de 260 unidades prediais, é possível executar as

mesmas ações aplicadas na BT e, além de promover a aquisição de energia elétrica

por menor preço, com a contratação da demanda mais próxima possível do

executado e de acordo com a modalidade tarifária mais viável economicamente.

Ressalta-se que a contratação adequada de energia elétrica em média

tensão tem influência positiva e direta na proteção ao meio ambiente. Neste

contexto, tem-se que, as distribuidoras da energia, ao repassarem à ANEEL uma

informação incorreta quanto à demanda contratada – ou seja, apresentando uma

demanda superior à capacidade atual do sistema – forçam um investimento indevido

na expansão da geração, transmissão e distribuição de energia, o que pode implicar

em impactos ambientais negativos. Dessa forma, a ANEEL exige que as

distribuidoras repassem a demanda correta de consumo de seus clientes, visando

cumprir um importante objetivo da Agência: o planejamento para que não falte

energia no Brasil nos anos futuros.

Sendo assim, a análise mensal das faturas e dos contratos formalizados

pelos órgãos e entidades, além de averiguar se a demanda contratada está o mais

próximo possível do consumo real da unidade, impacta diretamente no repasse de

informações da distribuidora para a ANEEL.

Ademais, por meio deste acompanhamento é possível tomar as tratativas

cabíveis quanto ao gasto com energia, tendo em vista que o custo incidirá sempre

sobre o maior valor registrado (seja ele o valor contratado ou o utilizado), com uma

tolerância de apenas 5%, conforme exemplos abaixo:

a) Se a unidade contrata 100KW e uti liza apenas 50KW, pagará também

pelos 50KW não utilizados. Desta forma, a demanda contratada estará

inadequada;

4 Redução de descarte de lâmpadas e reatores.

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b) Se a unidade contrata 100KW e utiliza 150KW, pagará pelos 50KW

utilizados a mais (ultrapassagem de demanda), cuja tarifa é três vezes

mais cara. Consequentemente, a demanda contratada estará

inadequada.

c) Se a unidade contrata 100KW e utiliza 95KW, ela pagará pelos 5KW

não uti lizados. Contudo, devido à tolerância de 5%, a demanda

contratada estará adequada.

d) Se a unidade contrata 100KW e uti liza 105KW, a demanda contratada

estará adequada, devido à tolerância dada.

Conforme explicitado, uma importante ação do PGEE é realizar a análise

de faturas dos órgãos e entidades com vistas a identificar aumentos de custos

indevidos decorrentes da contratação não adequada de demanda e/ou de tarifa ou,

ainda, devido à existência de cobrança de energia reativa.

Findadas as análises, é atribuição da Coordenação do PGEE o contato

com os órgãos e entidades estaduais a fim de informar a situação e indicar quanto

às ações necessárias para adequação do contrato.

A relevância dessa ação pode ser evidenciada por meio do resultado

obtido com a análise de faturas em MT dos contratos de fornecimento de energia, no

período de 2011 a 2014, no qual foi alcançada expressiva economia, após aplicação

das orientações repassadas pela Coordenação do PGEE. A Tabela 1 apresenta a

economia alcançada por algumas unidades do Estado.

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Tabela 1: Economia registrada em unidades de órgãos e entidades estaduais

Órgão Ações indicadas pelo

PGEE

Economia Registrada (R$)

2011 2012 2013 2014

IMPRENSA OFICIAL

Manutenção do banco de capacitores

(Energia Reativa)

94.204,73 89.480,36 84.569,20 84.569,20

FUNED

Redução da Demanda Contratada

(Deixou de pagar o que não consumia)

– 58.504,75 87.410,05 66.539,57

SEDS

Redução da Demanda Contratada

(Deixou de pagar o que não consumia)

78.734,79 104.213,09 62.953,41 48.784,81

FHEMIG

Aumento Demanda Contratada (Deixou de pagar ultrapassagem)

11.116,37 13.738,37 8.598,62 7.882,36

Subtotal 184.055,89 265.936,57 243.531,27 207.775,94

Total de economia gerada nas 117 unidades dos órgãos estaduais trabalhadas pelo PGEE

1.396.429,95 2.793.385,20 2.605.721,11 2.527.679,56

Fonte: CEMIG/PGEE, 2015.

A Tabela 1 demonstra, portanto, que, apenas por meio das alterações

contratais indicadas no âmbito do PGEE, nas 117 unidades prediais trabalhadas,

Minas Gerais foi capaz de gerar uma economia de mais de R$9,3 milhões para os

cofres estaduais, entre 2011 e 2014, corroborando com a busca pela qualidade do

gasto público. Ressalta-se que foram destacados os resultados obtidos pela

Imprensa Oficial do Estado de Minas Gerais, pela Fundação Estadual Ezequiel Dias

(FUNED), pela Secretaria de Estado de Defesa Social (SEDS) e pela Fundação

Hospitalar do Estado de Minas Gerais (FHEMIG), por terem alcançado os maiores

valores relativos de economia.

Além da análise das faturas, o PGEE identificou, ainda, que a iluminação

em prédios públicos apresenta participação expressiva no consumo de energia,

correspondendo a mais de 30% do valor da fatura. Com isso, o Estado de Minas

Gerais buscou aprimorar a compra de equipamentos eficientes, visando a redução

do consumo (kWh) com i luminação e, consequentemente, os custos com energia

elétrica no Poder Executivo Estadual.

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Em 2011, novamente em parceria com o CEFET/MG, foram identificados

os itens de material de lâmpadas registrados no CATMAS para revisão das

especificações técnicas, tendo em vista que os itens cadastrados possuíam

especificação incompleta, sem a identificação de eficiência mínima, lumens/watts,

vida útil mínima da lâmpada, índice de reprodução de cores, dentre outros.

Após análise de 308 itens, o PGEE indicou a suspensão para compra, no

CATMAS, de 307 itens, e a criação de 42 itens para substituir os suspensos . A

Tabela 2, apresenta os resultados desta revisão, com os respectivos tipos de

equipamentos analisados.

Tabela 2: Relatório Quantitativo de Itens Analisados, Suspensos e Criados no CATMAS, em virtude dos estudos realizados no âmbito do PGEE.

Tipo de Equipamento Itens

Analisados Suspensos para

compra Criados para substituir

os suspensos

Incandescentes 91 91 -

Fluorescente Compacta 58 58 16

Fluorescente Tubular 44 44 7

Vapor Sódio 10 9 11

Vapor Mercúrio 12 12 -

Vapor Mista 10 10 -

Vapor Metálica 14 14 -

Sub Total 239 238 34

Reatores 69 69 8

Sub Total 69 69 8

Fonte: PGEE, 2011

Neste sentido, destaca-se que até o momento do estudo o CATMAS

continha um número expressivo de itens ineficientes e obsoletos ativos para

aquisição. A partir da suspensão dos itens, os órgãos e entidades ficam impedidos

de adquiri-los, devendo, obrigatoriamente, optar pelos produtos eficientes,

garantindo a eficácia da política de revisão de especificações técnicas promovida

pelo PGEE.

Os resultados da parceria com o CEFET/MG, portanto, promoveram a

sustentabilidade nas compras e aquisições do Estado de Minas Gerais, de forma

que, até abril de 2012, praticamente 100% das lâmpadas adquiridas pelo Estado já

possuíam a especificação sustentável correta.

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No ano de 2013, o Estado, por meio do PGEE, foi convidado a participar

do projeto Cidades do Futuro, promovido pela CEMIG, e que conta com a

participação de instituições de pesquisa tais como a Universidade Federal de Minas

Gerais (UFMG) e o CEFET/MG. O objetivo do projeto é o uso eficiente da energia

dentro de unidades prediais, por meio da instalação de medidores inteligentes –

equipamentos que enviam os dados sobre o consumo de energia do imóvel para um

centro de medição.

Esse sistema permite identificar pontos de desperdício e avaliar a

eficiência dos equipamentos instalados. Com essas informações, o gestor pode

tomar as medidas cabíveis de forma mais célere, inclusive sugerindo a troca de

equipamento, caso o consumo esteja exagerado ou o mesmo esteja obsoleto.

Houve, então, a implantação deste projeto na cidade de Sete Lagoas, em

seis unidades dos seguintes órgãos e entidades: Administração de Estádios de

Minas Gerais (ADEMG); Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG) e Secretaria de

Estado de Educação (SEE).

Ainda no âmbito deste projeto, o PGEE identificou que uma combinação

de lâmpadas e de reatores eficientes poderia ser utilizada para reduzir o consumo e

o custo de energia elétrica nas unidades consumidoras tanto em baixa tensão,

quanto em média tensão. Diante disso, foram levantadas as lâmpadas e reatores

adquiridos até então pelo poder público, e identificados os quesitos da combinação

eficiente que eram considerados nas aquisições, tais como: índice de reprodução de

cores, fluxo luminoso, temperatura de cor, vida útil mínima.

Com o levantamento acima citado, verificou-se ainda que os órgãos e

entidades continuavam a comprar equipamentos com especificações

desatualizadas, sem levar em consideração as mudanças de tecnologia e do

mercado, considerando apenas o custo de aquisição do equipamento.

Com base nessa visão, o programa realizou os cálculos sobre o custo e a

quantidade de lâmpadas necessárias para uma jornada de 20.000 horas.

Evidenciando que, apesar de o custo da lâmpada LED ser superior às demais, sua

vida útil é superior e seu consumo energético é inferior, quando comparado com os

demais tipos de lâmpadas. Tais custo se encontram destacados na Tabela 3:

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Tabela 3: Custo aquisição de equipamento, somado a uma jornada de 20.000 horas

Tipo Lâmpada

Watt Lumens Vida

útil (h) Quant. Lamp.

Custo Aquisição

Lâmp. p/20.000 h

(R$)

Custo vida Útil 20.000

h (R$)

Total (R$) (Vida útil + aquisição Lâmpada)

Fluorescente compacta

23 1.600 10.000 2 9,86 230,00 239,86

Incandescente 100 1.600 750 27 24,86 1.000,00 1.024,84

Fonte: PGEE, 2013

Percebe-se, portanto, que a troca da lâmpada incandescente, comumente

adquirida no Estado até o ano de 2012, se comparada com a fluorescente compacta

de 23 watss, atualmente adotada, pode gerar uma economia de até 77% por

lâmpada em uso, além de evita o descarte desnecessário de cerca de 25 lâmpadas

no meio ambiente.

Devido à importância e ao impacto positivo gerado pela realização de tais

diagnósticos, em 2014, foi realizado o treinamento “Metodologia para Diagnóstico

Energético”, em parceria com a CEMIG, cujo objetivo foi apresentar aos órgãos e

entidades as diretrizes para um melhor entendimento acerca dos principais dados e

informações sobre iluminação, climatização, gerenciamento de energia em

instalações elétricas, bem como apresentar orientações para implementar ações de

gestão em eficiência energética.

Ainda neste ano, foi oferecido o treinamento para implantação da Agência

Virtual de Atendimento (AGV). Trata-se de ferramenta disponibilizada pela CEMIG

para o poder público, com o objetivo de tornar a comunicação entre concessionária e

os órgãos e entidades mais ágil e sistemática. A AGV permite a solicitação de

serviços online, ganhando agilidade nos processos, bem como o registro de

protocolo de solicitação. Antes, as demandas dos órgãos e entidades eram

realizadas por meio de ofício para a concessionária, não havendo assim um

atendimento tão célere.

Por fim, ainda em 2014, foi realizada a atualização do antigo manual de

especificação técnica, em consonância com as diretrizes do art. 8o do Decreto

Estadual no 46.102/2012. Neste novo manual, intitulado Manual de Sustentabilidade

para Especificação Técnica de Lâmpadas e Reatores, foram atualizadas as

especificações técnicas e inseridas dicas de boas práticas sustentáveis de uso e

consumo de energia.

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O caso da Secretaria de Estado de Defesa Social (SEDS)

A Secretaria de Estado de Defesa Social (SEDS), conforme dados obtidos

da CEMIG, é o quarto maior órgão consumidor de energia elétrica pertencente ao

Poder Executivo. Com o objetivo de promover a redução do gasto com este insumo,

a Coordenação do PGEE e a SEDS selecionaram o Complexo Penitenciário de

Segurança Máxima – CPSM, localizado em Contagem MG, para realização do

projeto piloto.

Neste trabalho foram identificadas 1.770 lâmpadas ineficientes instaladas

no Complexo. Diante disso, foi proposta a substituição de tais aparelhos por outras

1.681 lâmpadas eficientes, promovendo a redução de custo e de consumo (kW e

kWh); e, de sobrecarga da subestação. Além disso, a alteração seria capaz de

minimizar as substituições das lâmpadas, tendo em vista que os novos modelos

possuem um tempo de vida estimado de 10.000 horas, frente às antigas com a vida

útil estimada entre 2.000 e 4000 horas.

Com a implantação desse projeto, obteve-se um resultado significativo em

relação à demanda de energia (kW) e do consumo. A Tabela 4, abaixo, apresenta o

custo de iluminação do Complexo utilizando-se as 1.770 lâmpadas antigas e o custo

estimado do sistema com a instalação das 1.681 lâmpadas eficientes.

Tabela 4: Demanda e consumo necessários para manter o sistema de lâmpadas x sistema com lâmpadas eficientes.

Custo de funcionamento de 30 dias com lâmpadas antigas

Demanda 141 kW Consumo 71.156 kWh Total

R$ 9.046,31 R$ 12.628,08 R$ 21.674,39

Custo de funcionamento com 30 dias de lâmpadas eficientes

Demanda 46 kW Consumo 22.193 kWh Total

R$ 2.929,19 R$ 3.772.89 R$ 6.702,08

Fonte: PGEE/2014

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Neste sentido, destaca-se que, a partir da eficientização do sistema de

iluminação do Complexo, pode ser alcançada uma economia total de mais de 30%

em termos de recursos financeiros.

Com base no projeto implantado no Complexo Penitenciário de

Segurança Máxima – CPSM, o PGEE apresentou à SEDS uma proposta para

eficientização de outras 166 unidades sob sua gestão. Em parceria com técnicos do

órgão, foram levantados os dados de demanda e consumo de energia elétrica das

lâmpadas e geladeiras ineficientes em utilização nas referidas unidades.

A partir de tal levantamento, foi possível identificar que as lâmpadas

ineficientes apresentam um custo mensal equivalente a R$ 543 mil, o que

representa um montante anual de mais de R$ 6,5 milhões do orçamento da

Secretaria. Havendo a substituição das lâmpadas, seria possível chegar a uma

redução da demanda anual em 41.376 kW, o do consumo em 17,24 MWh,

consequentemente diminuindo os custos com energia em cerca de R$ 4,4 milhões.

Até a conclusão deste trabalho, a implementação do diagnóstico de

eficiência energética das demais unidades da SEDS encontrava-se em fase de

aprovação do escopo do projeto pela CEMIG.

CONCLUSÃO

Atualmente o PGEE realiza a gestão energética por meio do

acompanhamento de 7.669 instalações, pertencentes a 50 órgãos e entidades da

Administração Direta e Indireta do Poder Executivo estadual, totalizando um custo

anual de R$88,7 milhões para os cofres públicos com a contratação do insumo

energia elétrica.

A partir da continuidade das iniciativas do Programa, almeja-se, para os

anos de 2016 e 2017, alcançar a redução do gasto público na contratação de

energia em até 21%, totalizando uma economia de cerca de R$ 18.9 milhões.

Para o alcance da meta planejada, propõe-se alguns focos de atuação

específicos para o Estado de Minas Gerais, visando ampliar e consolidar as ações

do PGEE, em especial:

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A continuidade dos diagnósticos energéticos e das análises pa ra

adoção de especificações técnicas sustentáveis com a consequente

utilização de equipamentos elétricos eficientes – redução estimada em

8,5% (R$ 7.6 milhões);

A implantação de um projeto dedicado especialmente às instalações de

Baixa Tensão – redução estimada em 9% (R$7.8 milhões);

Continuidade do trabalho de adequação dos contratos de Média

Tensão – redução estimada de 4% (R$3.5 milhões).

É possível concluir, portanto, que por meio da instituição do PGEE, o

Estado de Minas Gerais tem avançado na gestão energética e na promoção da

sustentabilidade, juntamente ao não desperdício de energia. Todavia, ainda existem

muitas áreas não alcançadas e muito a se avançar.

Com vistas à intensificação do Programa e à promoção contínua de

melhorias na gestão energética, no uso sustentável dos recursos e na ampliação da

qualidade do gasto público, será preciso, dentre outras ações propostas:

Melhoria das negociações dos contratos de fornecimento de energia

com as distribuidoras, aproveitando as oportunidades do mercado

nacional de energia;

Alinhamento com órgãos e entidades do Poder Público estadual quanto

aos procedimentos para adequação contínua dos contratos de

fornecimento de energia elétrica, inclusive em relação ao tramite

burocrático interno das alterações contratuais;

Priorização de novos focos de trabalho em parceria com a Secretaria

de Estado da Educação (SEE), que atualmente configura-se como a

maior consumidora de energia do Estado;

Realizar a atualização periódica dos itens de materiais elétricos ativos

no CATMAS, a fim de manter a eficiência energética das

especificações técnicas, dentro dos padrões de eficiência estipulados

pelo PROCEL;

Fomentar a formalização de parcerias institucionais com entidades de

ensino e pesquisa;

Fortalecer e buscar novas parcerias com a CEMIG.

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Além das propostas elencadas acima, frise-se que o campo da gestão

energética, atrelada à sustentabilidade, sofre frequentes alterações devido aos

rápidos avanços tecnológicos, cujos resultados acarretam em produtos e serviços

cada vez mais eficientes, o que por sua vez torna altamente necessário que

programas tais como o PGEE sofram constantes revisões e aperfeiçoamentos.

Finalmente, vale ressaltar a importância da relação entre a eficientização

energética e a promoção e antecipação de soluções concernentes à problemática

ambiental.

Por meio do desenvolvimento de iniciativas e projetos na área de compras

públicas sustentáveis reflete-se a tendência de se fazer políticas que corroborem

com a promoção do desenvolvimento sustentável, consolidando um novo meio de se

executar políticas públicas: por meio do poder de compra governamental. Passa-se,

então, a levar em conta o poder de influência do Estado no domínio econômico, de

forma que, os agentes públicos passam a contribuir para a consolidação de

atividades produtivas que melhorem a eficiência no uso de produtos e recursos

naturais, reduzindo o impacto sobre o meio ambiente.

É possível afirmar, portanto, que o Estado de Minas Gerais tem buscado

intensificar suas ações a fim de atrair a atenção dos diversos atores públicos para a

importância e a necessidade de se almejar melhorias na eficiência da gestão das

despesas com insumo energia elétrica, de forma que o Poder Público seja capaz de

alocar, proporcionalmente, cada vez menos recursos em despesas correntes e

maiores valores em investimentos e políticas públicas.

REFERÊNCIAS

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COMPANHIA ENERGÉTICA DE MINAS GERAIS, Manual de Instalações Elétricas Residenciais – RC/UE – 001/2003. Belo Horizonte, 2003. Disponível em: <www.cemig.com.br>. Acesso em: Abril 2015. COMPANHIA ENERGÉTICA DE MINAS GERAIS, Manual de Gerenciamento de Energia. Belo Horizonte, 2011.

ELKINGTON, John. Sustentabilidade: Canibais com Garfo e Faca. São Paulo: M. Books, 2012. FREITAS, Juarez. Sustentabilidade: Direito ao futuro.Belo Horizonte, 2011. Ed. Fórum, 1a edição. ICLEI. Governos Locais pela Sustentabilidade, Escritório de Proje tos no Brasil. Estudos de Casos, Minas Gerais promove compras públicas sustentáveis, 2009. Disponível em: <http://archive.iclei.org/fi leadmin/user_upload/documents/LACS/Portugues/Programas/Compras_Publicas_Sustentaveis/MinasGerais.pdf>. JUSTEN FILHO, Marçal. Desenvolvimento nacional sustentável: contratações administrativas e o regime introduzido pela lei 12.349. Informativo Justen, Pereira, Oliveira e Talamini, Curitiba, no 50, abril, 2011. Disponível em <http://www.justen.com.br//informativo.php?&informativo=50&artigo=528&l=pt>. Acesso em: 16 abr. 2014. MARQUES, M. C. S. (Coord); HADDAD, J. (Coord); MARTINS, A. R. S (Coord). CONSERVAÇÃO DE ENERGIA: Eficiência Energética de Equipamentos e Instalações. 3a Ed. Eletrobrás/PROCEL EDUCAÇÃO, Universidade Federal de Itajubá. Itajubá, 2006. MINAS GERAIS, Decreto no 43.696, de 11 de dezembro de 2003. Dispõe sobre a otimização da demanda e do consumo de energia elétrica no âmbito da Administração Pública Direta e Indireta do Poder Executivo. MINAS GERAIS, Decreto no 44.063, de 01 de julho de 2005. Altera o Decreto no 43.696, de 11 de dezembro de 2003, que dispõe sobre a otimização da demanda e do consumo de energia elétrica no âmbito da Administração Pública Direta e Indireta do Poder Executivo. MINAS GERAIS, Decreto no 46.105 de 12 de dezembro de 2012. Estabelece Diretrizes para a Promoção do Desenvolvimento Sustentável nas Contratações Realizadas pela Administração Pública Estadual, nos termos do Art. 3o da Lei Federal no 8.666, de 21 de Junho de 1993. Imprensa Oficial Minas Gerais, Belo Horizonte, MG, n.232, 13 dez. 2012, cad. 1, p. 1-2. Disponível em: http://jornal.iof.mg.gov.br/xmlui/handle/123456789/81379 ROCHA, (Leonardo Rocha Rivetti, Guia de Gestão energética, CEMIG distribuição, 2013).

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___________________________________________________________________

AUTORIA

Gabriela de Azevedo Leão – Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão de Minas Gerais.

Endereço eletrônico: [email protected]

Jessé Sidney Silva – Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão de Minas Gerais.

Endereço eletrônico: [email protected]

Lívia Colen Diniz – Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão de Minas Gerais.

Endereço eletrônico: [email protected]

Michele Mia Rocha Kinoshita – Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão de Minas Gerais.

Endereço eletrônico: [email protected]