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www.congressousp.fipecafi.org Custo-benefício da Substituição de Insumo Químico por Biológico no Cultivo da Soja LUANA BIANCHIN MOZZAQUATRO Universidade Federal de Santa Maria MARIVANE VESTENA ROSSATO Universidade Federal de Santa Maria JULIANO CARLOS RADDATZ Universidade Federal de Santa Maria Resumo A agricultura se mostra uma importante prática, sendo a maior e mais antiga atividade humana. Com o crescimento populacional e a crescente demanda por alimentos, fez-se da utilização da mecanização e de insumos químicos importantes aliados na produtividade e controle de pragas e doenças. Atrelado a isso, a intensa aplicação destes insumos nas áreas agrícolas tem ocasionado impactos negativos aos compartimentos ambientais. Considerando que a utilização dos insumos é necessária para o controle de pragas e doenças e, que os insumos biológicos podem ser usados como substitutos aos químicos, com finalidade de manter a produtividade e reduzir os impactos ambientais negativos, elaborou-se a análise custo-benefício dessa substituição. O estudo realizado foi qualitativo, descritivo, e fez uso da entrevista semiestruturada e da análise documental, como procedimentos técnicos. A análise custo-benefício permitiu evidenciar, dentro da perspectiva da preservação do meio ambiente e saúde humana, maiores benefícios. Com relação aos custos associados à utilização, o estudo revelou a importância relacionada à utilização dos insumos biológicos é maior, comparada à utilização dos químicos. No estudo relativo aos insumos (Intrepid 240 SC e Vir Control SF) determinados para a Análise Custo-Benefício, os custos relativos à aplicação do Intrepid 240 SC se revelaram maiores em comparação ao Vir Control SF. Tais resultados permitem concluir que tanto no aspecto ambiental, quanto no aspecto econômico, os insumos biológicos mostraram-se serem mais viáveis que os químicos. Porém, observou-se que, ainda não é possível executar um manejo totalmente biológico, uma vez que, ainda não há herbicidas biológicos para todo o cultivo da soja, sendo necessário fazer uso dos insumos químicos. Palavras chave: Insumos químicos, insumos biológicos, análise custo-benefício.

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Custo-benefício da Substituição de Insumo Químico por Biológico no Cultivo da Soja

LUANA BIANCHIN MOZZAQUATRO

Universidade Federal de Santa Maria

MARIVANE VESTENA ROSSATO

Universidade Federal de Santa Maria

JULIANO CARLOS RADDATZ

Universidade Federal de Santa Maria

Resumo

A agricultura se mostra uma importante prática, sendo a maior e mais antiga atividade

humana. Com o crescimento populacional e a crescente demanda por alimentos, fez-se da

utilização da mecanização e de insumos químicos importantes aliados na produtividade e

controle de pragas e doenças. Atrelado a isso, a intensa aplicação destes insumos nas áreas

agrícolas tem ocasionado impactos negativos aos compartimentos ambientais. Considerando

que a utilização dos insumos é necessária para o controle de pragas e doenças e, que os

insumos biológicos podem ser usados como substitutos aos químicos, com finalidade de

manter a produtividade e reduzir os impactos ambientais negativos, elaborou-se a análise

custo-benefício dessa substituição. O estudo realizado foi qualitativo, descritivo, e fez uso da

entrevista semiestruturada e da análise documental, como procedimentos técnicos. A análise

custo-benefício permitiu evidenciar, dentro da perspectiva da preservação do meio ambiente e

saúde humana, maiores benefícios. Com relação aos custos associados à utilização, o estudo

revelou a importância relacionada à utilização dos insumos biológicos é maior, comparada à

utilização dos químicos. No estudo relativo aos insumos (Intrepid 240 SC e Vir Control SF)

determinados para a Análise Custo-Benefício, os custos relativos à aplicação do Intrepid 240

SC se revelaram maiores em comparação ao Vir Control SF. Tais resultados permitem

concluir que tanto no aspecto ambiental, quanto no aspecto econômico, os insumos biológicos

mostraram-se serem mais viáveis que os químicos. Porém, observou-se que, ainda não é

possível executar um manejo totalmente biológico, uma vez que, ainda não há herbicidas

biológicos para todo o cultivo da soja, sendo necessário fazer uso dos insumos químicos.

Palavras chave: Insumos químicos, insumos biológicos, análise custo-benefício.

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1 Introdução

Com o crescimento populacional, buscam-se alternativas para redução dos impactos

negativos da produção de alimentos e entre elas está uma agricultura mais sustentável. A

agricultura sustentável é considerada a principal responsável pela segurança alimentar, já que

visa garantir o alimento com qualidade ao longo do tempo (Campos et al., 2019) e tem como

papel fundamental o cumprimento da manutenção e continuidade dos agrossistemas (Skaf et

al., 2019).

A agricultura sustentável faz-se necessária, já que será necessário dobrar ou até

triplicar a produção agrícola nos próximos anos (Nações Unidas, 2013 como citado em

Campos et al., 2019). Esse crescimento deverá vir de rendimentos mais altos em produções e

áreas já existentes, levando em consideração a preservação ambiental e a segurança alimentar

(Archana Singh, 2014; Fountain & Wratten, 2013; Kumar, 2013; Tilman et al., 2002 como

citado em Campos et al., 2019), pois um problema enfrentado é que a maior parte da terra

cultivável já está sendo usada (Archana Singh, 2014; Fountain & Wratten, 2013; Kumar,

2013; Tilman et al., 2002 como citado em Campos et al., 2019).

Como coloca Gassini et al. (2013 como citado em Campos et al., 2019), o

crescimento dos rendimentos nas produções agrícolas foi promovido pela chamada Revolução

Verde, sendo que atualmente o crescimento está estabilizado e, uma das razões são os danos

causados por pragas e doenças. Devido às inúmeras pragas e doenças que afetam as culturas

(Campos et al., 2019), faz-se necessário, no cultivo, a utilização de defensivos agrícolas para

que ocorra uma boa produtividade.

No entanto, a utilização indiscriminada de insumos químicos tem levado a muitos

problemas, entre eles, danos ambientais, toxicidade para organismos não-alvo, toxicidade em

humanos, presença de resíduos agroquímicos em alimentos e diminuição da eficácia dos

produtos químicos após o desenvolvimento de resistência a pragas (Aktar et al., 2009 como

citado em Campos et al., 2019).

Nesse sentido, ter a possibilidade de uma mudança de utilização de insumos agrícolas

químicos por insumos agrícolas menos agressivos, como os insumos biológicos, reduziria os

impactos ambientais negativos (Narcisa-Oliveira et al., 2018). Considerando o enorme

impacto ambiental dos sistemas de produção agrícola convencionais, e o crescimento

populacional, exige-se que a produtividade agrícola aumente (Campos et al., 2019; Skaf et al.,

2019).

Quando se considera que a população vem crescendo e a maior parte das áreas

cultiváveis já está sendo utilizada, medidas que busquem o desenvolvimento da produção de

grãos de forma sustentável e que garantam o atendimento a essa demanda de forma segura,

continuada e com os melhores índices de aproveitamento das áreas, concomitantemente à

preservação ambiental, são necessárias (Campos et al., 2019).

Entre as culturas agrícolas, a cultura da soja tem se destacado, já que ocupa uma área

de 33,89 milhões de hectares de terra, sendo que o Brasil ocupa o segundo lugar no ranking

de maior produtor mundial (Embrapa, 2018).

Considerando a realidade e a interação que há entre agricultura, meio ambiente,

sociedade e economia, buscou-se nesta pesquisa responder a seguinte questão-problema: qual

o custo-benefício da substituição de insumos químicos por biológicos no cultivo da soja?

A partir desta problemática, o estudo buscou analisar o custo-benefício da substituição

dos insumos químicos por biológicos no cultivo de soja no Estado do RS, no ano agrícola de

2019, identificando os prováveis impactos ambientais associados à utilização dos insumos.

Considerando que os insumos biológicos podem substituir os insumos químicos

(Embrapa, 2019) e que têm por finalidades manter a produtividade e reduzir os impactos

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negativos causados ao meio ambiente e ao ser humano, a análise do custo e do benefício

associado se justifica.

A análise custo-benefício associada à substituição dos insumos químicos por

biológicos vem fornecer, principalmente sob a perspectiva da preservação do meio ambiente e

da saúde humana, um aporte para que se continuem os estudos relativos aos benefícios do uso

de insumos biológicos na produção agrícola.

De maneira geral, os resultados irão oferecer aos produtores rurais informações para

que avaliem a possibilidade de desenvolver uma produção menos agressiva ao meio ambiente

e à própria saúde. Da mesma forma, trazem uma contribuição para à sociedade, ao fornecer

evidências de que a utilização de insumos biológicos promove uma maior preservação ao

meio ambiente e também um possível caminho para a segurança alimentar. E, para a área do

conhecimento social e humano, evidenciam a utilidade e contribuição das ferramentas e

metodologias utilizadas para se analisar os custos e benefícios da substituição, bem como se

identificar e avaliar prováveis impactos ambientais.

2 Contabilidade Rural: Ativos Biológicos e Produtos Agrícolas

A Contabilidade Rural possui como objetivo principal o estudo e controle das

entidades rurais, tem seu tratamento contábil regido pela NBC TG 29 (R2), de 2015. Esta tem

como objetivo estabelecer o tratamento contábil dos ativos biológicos e produtos agrícolas,

servindo também de apoio para gestão e contabilização do patrimônio das entidades rurais.

Sua aplicabilidade se dá na produção agrícola até o ponto de colheita dos produtos advindos

dos ativos biológicos (CFC, 2015).

A contabilização de itens relacionados com as atividades agrícolas, como: ativos

biológicos (exceto plantas portadoras), produção agrícola no ponto de colheita e, subvenções

governamentais são apresentadas pelo primeiro item da norma (CFC, 2015). A classificação

do produto soja em ativo biológico corresponde a plantação da soja; produto agrícola é o grão

da soja colhido e os produtos resultantes do processamento ocorrem após a colheita do grão.

A mensuração dos ativos biológicos deve ser realizada por meio do valor justo

reduzindo as despesas de vendas, no reconhecimento inicial e no final de cada período de

competência (CFC, 2015). Exceto quando o ativo biológico deve ser cotado pelo mercado e

este não o tem disponível e as alternativas para mensurá-lo não são confiáveis, assim deve-se

mensurar a custo reduzindo qualquer depreciação e perda por irrecuperabilidade acumuladas

(CFC, 2015).

Para que seja possível a mensuração desses ativos, se faz essencial a utilização da

ferramenta contábil, que ainda possui baixo nível de utilização por parte dos produtores.

Conforme, Crepaldi (2012) cita sobre a pouca utilização da contabilidade rural associado ao

fator mentalidade conservadora por parte da maioria dos agropecuaristas, que baseiam a

tomada de decisão nas experiências adquiridas ao longo do tempo.

3 Insumos Químicos na Agricultura

A revolução contemporânea e o crescimento do agronegócio no Brasil geram

empregos e contribuem significativamente no Produto Interno Bruto – PIB (Cepea, 2019).

Junto ao crescimento do agronegócio, cresceu a utilização de insumos químicos e, embora a

sua utilização tenha beneficiado a produção agrícola, seu uso indiscriminado levou a

problemas, incluindo danos ambientais, toxicidade para organismos não-alvo, toxicidade à

saúde humana e a diminuição da eficácia dos produtos químicos, após o desenvolvimento de

resistência das pragas (Kumar, 2012 como citado em Campos et al., 2019). Conforme Kato

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(2012), os insumos químicos devem ser utilizados com responsabilidade já que o uso

consecutivo e/ou inapropriado, além de causar desgastes no solo, contamina águas superficiais

e subterrâneas, causando o desequilíbrio no bioma que a cultura está inserida.

Levando-se em consideração toda a cadeia produtiva da soja e a utilização de insumos

químicos, foi instituída em 11 de julho de 1989, a Lei Federal nº. 7.802, que traz a

classificação dos agrotóxicos como sendo os produtos e os agentes resultantes dos processos

físicos, químicos ou biológicos, sejam eles, desfolhantes, dessecantes, estimuladores e

inibidores de crescimentos, os quais são destinados para os setores de produção,

armazenamento e beneficiamento de produtos agrícolas com a finalidade de alterar a

composição da fauna e flora (Brasil, 1989).

Os agrotóxicos são classificados quanto ao seu potencial de periculosidade ambiental

(PPA) e toxicológica em classes I, II, III e IV. No PPA, a classificação I equivale à produto

altamente perigoso ao meio ambiente e IV produto pouco perigoso ao meio ambiente (Lei n.

7.802, 1989). E, na classe toxicológica, I é considerado extramente tóxico e IV pouco tóxico

Santos, 2014).

Levando-se em consideração que a utilização de insumos químicos é necessária para

que ocorra a produção, uma vez que existem aproximadamente 67.000 espécies de

organismos que podem afetar as culturas (Ross e Lembi, 1985 como citado em Campos et al.,

2019), uma das alternativas encontradas é a substituição de insumos químicos por biológicos.

Sua utilização é capaz de reduzir os impactos negativos sobre o meio ambiente, entre outros

benefícios (Campos et al., 2019).

4 Insumos Biológicos na Agricultura

Os insumos biológicos são contemplados ao lado dos químicos e classificados como

agrotóxicos no Decreto nº 4.074, de 4 de janeiro de 2002, que regulamentou a Lei no 7.802, de

11 de julho de 1989.

As pesquisas sobre insumos biológicos englobam desde a seleção de microrganismos

até o desenvolvimento de inoculantes microbianos (Embrapa, 2019), sendo que o trabalho

iniciado por Döbereiner em 1950 permitiu o desenvolvimento de um bioinsumo, formulado

com bactérias que fixam o nitrogênio no solo, substituindo a aplicação de fertilizantes

nitrogenados, que é um poluidor de águas subterrâneas e um potente gás do efeito estufa

(Globo Rural, 2018). Os bioinsumos resultaram em impacto ambiental e econômico positivos,

pois resultaram numa economia de R$ 43,2 bilhões, em 33,9 milhões de hectares da

leguminosa, na safra 2016/17 (Globo Rural, 2018).

Atualmente a Embrapa mantém um banco de germoplasma microbiano (Embrapa,

2019) e possui cerca de 3,7 mil bactérias e 50 fungos micorrízicos arbusculares depositados.

Desenvolve, também, insumos biológicos e treinamentos para a academia e profissionais. A

mesma é reconhecida mundialmente pela alta diversidade de bactérias fixadoras de nitrogênio

(Agrobiologia, 2019).

Além da Embrapa, em novembro de 2007, foi fundada a Associação Brasileira das

Empresas de Controle Biológico (ABCBio), que tem por finalidade congregar as empresas

produtoras e comerciantes de produtos biológicos para controle de pragas, além de procurar

defender a regulamentação, o fortalecimento e a representatividade desse segmento no

mercado.

Nesse contexto, é importante ressaltar a busca por alternativas para redução dos

impactos negativos na produção de alimentos e entre elas está uma agricultura mais

sustentável, o que é possível com o desenvolvimento e a utilização de insumos biológicos ou

bioinsumos na produção alimentícia (Campos et. al, 2019). Os insumos biológicos ainda

permitem maior segurança alimentar (Campos et. al, 2019).

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5 Agricultura Sustentável e Segurança Alimentar

A agricultura sustentável tem como papel fundamental desempenhar a manutenção dos

agroecossistemas. É essencial que a agricultura sustentável seja capaz de recuperar o solo e

reduzir a contaminação direta e indireta dos biomas por meio de estratégias como o uso de

biopesticidas e biofertilizantes, diversidade e rotação de culturas e o uso de substâncias

microbianas (Campos et al., 2019). Já a segurança alimentar visa garantir o alimento com

qualidade ao longo do tempo (Skaf et al., 2019).

A agricultura sustentável difere da agricultura tradicional ou industrializada em termos

de uso do solo e agrotóxicos, rendimentos de cultura e impactos ambientais (Campos et al.,

2019). Enquanto o modelo tradicional é caracterizado pela alta dependência de insumos

químicos que causam contaminação (Pretty & Pervez Bharucha, 2015), o modelo de

agricultura sustentável é baseado na eficiência aprimorada do uso de agroquímicos, por meio

do Manejo Integrado de Pragas (MIP), procurando reduzir os impactos negativos ao meio

ambiente, produzindo alimentos de qualidade, permitindo a segurança alimentar. (Alam et al.,

2016; Lechenet et al., 2014).

A intensificação de recursos e técnicas menos agressivas ao meio ambiente veio com o

objetivo de tentar amenizar os impactos negativos da agricultura, uma vez que se busca

constantemente o aumento da produtividade com insumos químicos (Foley et al., 2005;

Millennium Ecosystem Assessment, 2005; Egli et al., 2018 como citado em Rega, Helming &

Paracchini, 2019). Apesar de possibilitar aumento dos rendimentos em terras agrícolas, a

intensificação de seu uso na agricultura, causa uma grande pressão ambiental e uma ameaça à

biodiversidade (Foley et al., 2005; Millennium Ecosystem Assessment, 2005; Egli et al., 2018

como citado em Rega, Helming & Paracchini, 2019).

Uma das estratégias encontradas nessa busca de recurso está no controle biológico, o

qual se utiliza de inimigos e produtos naturais presentes no meio ambiente (Bissinger & Roe,

2010 como citado em Campos et al., 2019). A sua utilização visa não somente o controle de

pragas, mas também a recuperação do bioma, o qual a cultura está inserida (Bissinger & Roe,

2010 como citado em Campos et al., 2019).

6 Avaliação de Impactos Ambientais (AIA)

No Brasil, a primeira lei na esfera federal a abordar o tema ambiental é datada de

1981, na qual apresenta-se os fins e mecanismos de formulação, aplicação e dá outras

providências sobre a Política Nacional do Meio Ambiente (Brasil, 1981).

A Lei nº. 6.938 de 1981 veio explicitar a AIA como uma das formas para se alcançar a

política de meio ambiente nacional. O Conselho Nacional do Meio Ambiente - CONAMA,

em sua Resolução nº 001/86, art. 1º, definiu impacto ambiental como

[...] qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio

ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante das

atividades humanas que, direta ou indiretamente, afetam:

I - a saúde, a segurança e o bem-estar da população;

II - as atividades sociais e econômicas;

III - a biota;

IV - as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente;

V - a qualidade dos recursos ambientais.

Para se realizar a AIA deve-se seguir uma metodologia, ou seja, um conjunto de

normas que variam de acordo com o fator ambiental considerado (Cremonez et al., 2014). Os

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métodos precisam ser flexíveis, aplicáveis em qualquer fase do processo e revisados

constantemente (Cremonez et al., 2014).

Dentre as metodologias de AIA encontra-se a Rede de Interação. As redes de interação

buscam estabelecer relações de precedência entre ações de um empreendimento e os impactos

por ele causados, sejam de primeira ou segunda ordem (Carvalho & Lima, 2010 como citado

em Cremonez et al. 2014).

As redes de interação estabelecem relação do tipo causa-condição-efeito, pois a partir

do impacto inicial, pode-se retratar o conjunto de ações desencadeadas (direta ou indireta),

permitindo uma visualização dos impactos e suas inter-relações (Pimentel e Pires, 1992).

Além disso, permitem o cruzamento interdisciplinar, já que em uma mesma cadeia pode-se

analisar os efeitos de impactos sobre flora, fauna, solo, água, ar, microorganismos e ser

humano (Erickson, 1994 como citado em Cremonez et al. 2014).

Entre as principais vantagens desse método está o fácil entendimento dos impactos

secundários e indiretos e a possibilidade de introdução de parâmetros estatísticos, que

permitem estimativas futuras das possíveis modificações (Cremonez et al. 2014). Além disso,

visa orientar as condições a serem propostas para o gerenciamento dos impactos identificados,

recomendando medidas mitigadoras que possam ser aplicadas desde o momento de efetivação

das ações provocadas pelo empreendimento e propor soluções de manejo, fiscalização e

controle ambientais (Cremonez et al. 2014).

7 Análise Custo-Benefício (ACB)

A ACB, de acordo com Silva e Salvado (2015), é uma ferramenta analítica

quantitativa essencial para estimar os benefícios econômicos dos projetos e a eficiente

alocação de recursos. David, Ngulube e Dube (2013, p. 2) consideram que a ACB “é uma

abordagem sistemática para estimar as forças e as fraquezas de alternativas que satisfaçam as

transações, as atividades ou os requisitos funcionais de um negócio ou de uma atividade”,

sendo utilizada como técnica para determinar as opções que possuem melhor abordagem para

adesão e prática em termos de ganhos de trabalho, tempo e custo (David, Ngulube & Dube,

2013).

A ACB fornece uma estrutura econômica para avaliar a viabilidade de um projeto

(International Records Management Trust, 2006 como citado em David, Ngulube & Dube,

2013). Para elaborar a ACB dois fatores devem ser considerados: o custo e o benefício,

devem-se reconhecer também os custos não quantificáveis ou intangíveis, pois podem

impactar nos custos gerais (Silva & Salvado, 2015). Já os benefícios são os retornos esperados

de um projeto (Silva & Salvado, 2015). A maioria dos benefícios é articulada em termos de

melhorias ou economia de custos e podem ser quantificáveis (tangíveis) e não quantificáveis

(intangíveis), podendo gerar benefícios secundários (Silva & Salvado, 2015).

A ACB neste estudo permitiu analisar na substituição de insumos químicos por

biológicos, os custos associados à utilização de insumos químicos, bem como à utilização dos

insumos biológicos, assim como, os benefícios associados, com respeito ao aspecto

ambiental.

8 Metodologia

O estudo caracteriza-se, quanto à abordagem do problema, como qualitativo; quanto

aos objetivos, como descritivo; e, quanto aos procedimentos técnicos, como de levantamento

e análise documental.

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Segundo Richardson (2015, p. 79 como citado em Marconi & Lakatos, 2017), o

enfoque qualitativo difere-se do quantitativo por não fazer uso de “um instrumental estatístico

como base do processo de análise de um problema”. Este estudo buscou analisar a utilização

de insumos químicos e biológicos na cultura da soja, considerando diversas variáveis, com o

objetivo de realizar a ACB da substituição de insumos químicos por biológicos e, nesse

porém, não se utilizou de instrumental estatístico como base no processo de análise.

A classificação da pesquisa em descritiva deve-se ao fato de descrever características

específicas da cultura da soja, especialmente no que diz respeito ao uso de insumos biológicos

em substituição aos químicos, além de descrever os custos e benefícios associados.

Em relação aos procedimentos técnicos adotados, o estudo é de levantamento e

documental. O levantamento se deu através de entrevistas semiestruturadas, realizadas junto a

um profissional especializado da área de Fitotecnia, com formação superior em Agronomia.

Também foram realizadas entrevistas semiestruturadas junto aos fornecedores dos insumos, a

fim de buscar o preço de venda dos mesmos. Por meio de análise de documentos como laudo

técnico, bulas dos insumos químico e biológico substituto, escolhidos para a análise, a ACB

foi realizada. Além dos procedimentos técnicos utilizados, para realizar AIA foi utilizada a

metodologia da Rede de Interação, uma vez que esta metodologia permite uma visualização

dos impactos e suas inter-relações.

Para que fosse possível elaborar a ACB associada ao uso de insumos biológicos em

substituição aos químicos, observou-se a necessidade da construção de um cenário para o

cultivo da soja. Este, foi construído por um professor, Doutor em Fitotecnia, com vínculo à

Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). A escolha e convite a esse profissional deram-

se em consideração ao seu currículo Lattes, por conveniência e acessibilidade (ser docente da

UFSM).

A partir da construção do cenário (considerando clima, solo e relevo), o estudo buscou

identificar os insumos químicos e biológicos substitutos utilizados na cultura da soja, por

meio de entrevista semiestruturada, com a construção de um laudo técnico. Este laudo levou

em consideração a quantia demandada dos insumos e a dosagem por hectare, o número e as

datas das aplicações. Também viabilizou o levantamento dos custos junto as empresas, custos

estes repassados aos produtores quando efetuam a compra dos insumos, permitindo uma

análise mais realista do mercado.

Os dados coletados foram tabulados em planilha eletrônica, calculados e organizados

em quadros comparativos, que permitiram uma melhor visualização. Sequencialmente,

determinou-se um insumo químico e um substituto biológico para realizar a AIA. Considerou-

se a inviabilidade de se contemplar todos os insumos químicos para os quais existem insumos

biológicos substituto para se realizar a AIA pela compreensão de que o meio ambiente é

constituído por vários compartimentos, sendo considerado multidisciplinar. Haveria a

necessidade de se contar com a disponibilidade e conhecimentos técnicos específicos de

vários profissionais, e de diversas áreas associadas, para que a AIA, contemplando os

insumos, se concretizasse, assim como para a ACB.

Entre as limitações do estudo registra-se a dificuldade para levantar todos os insumos

biológicos, uma vez que, alguns são produzidos nas próprias fazendas e, outro, como o

herbicida, ainda não há substituto, apenas produtos em teste.

Outra dificuldade encontrada foi referente a elaboração da AIA, uma vez que, a

identificação e a avaliação dos impactos ambientais exigem conhecimentos técnicos de vários

especialistas nas áreas. Atrelado a isso, não se conseguiu elaborar a AIA de todos os insumos

químicos e biológicos substitutos utilizados na cultura da soja.

Nesse sentido, foi determinado o insumo químico Intrepid 240 SC e o biológico

substituto, Vir Control SF, para promover a AIA e a ACB. Tal determinação levou em

consideração que os insumos controlam a lagarta Spodoptera, uma vez que essa ataca nas

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inúmeras etapas do cultivo, independente das intempéries climáticas, conforme orientação do

especialista em Fitotecnia/UFSM.

9 Análise e Discussão dos Resultados

Para o alcance de uma melhor produtividade agrícola, é necessário levar em

consideração algumas características como o solo, o relevo e o clima da região, sendo

importante que o produtor, ao escolher a cultura que melhor se adapte às peculiaridades da

região, considere tais fatores. Assim, construiu-se um cenário, considerado adequado ao

cultivo da soja, que levou em consideração características propícias para o cultivo do grão,

como as evidenciadas no Tabela 1.

Tabela 1. Características da propriedade para o cultivo da soja. FATORES DESCRIÇÃO

Área 1 Hectare.

Solo Corresponde ao Ultisol de acordo com a classificação do Soil Taxonomy. (Soil, 2014).

Relevo Mediamente ondulado.

Clima Subtropical sem estação seca e com verão quente (Alvares et al., 2013).

Fonte: Autores.

O estudo também levou em consideração pragas e fungos que atacam a cultura da soja,

como a lagarta (Spodoptera), o percevejo (Heteroptera), a mancha parda (Septoria glycines) e

a ferrugem asiática (Phakopsora pachyrhizi). Foram definidas as espécies para a realização do

estudo, com respeito aos insumos químicos e biológicos substitutos a serem aplicados. E, um

outro fator que foi levado em consideração foi a semente a ser utilizada, sendo considerada a

NS 5959 PRO. A mesma qualidade de semente foi considerada tanto no manejo com insumo

químico, quanto no manejo com insumo biológico.

A criação deste cenário possibilitou a simulação e a comparação do manejo, bem

como a identificação dos insumos químicos e biológicos substitutos utilizados na produção

dessa espécie de soja.

9.1 Insumos químicos e biológicos substitutos - cultivo da soja

Baseado nas particularidades do cenário criado pelo Engenheiro Agrônomo

entrevistado, na literatura de Santos, Marion e Segatti (2009) e nas informações já

referenciadas, foram estabelecidas as etapas do plantio, entre elas, preparo do solo, plantio e

adubação, adubação, tratamento fitossanitário (1ª, 2ª, 3ª, 4ª, 5ª e 6º aplicação) e colheita.

O estudo baseou-se na escala fenológica da soja, constituída dos estádios vegetativos,

entre eles, emergência (VE), Cotilédone (VC), Segundo nó (V2), Quarto nó (V4) e Enésimo

nó (VN); e os reprodutivos, Início do florescimento (R1), : Pleno florescimento (R2), : Início

da formação das vagens (R3), Plena formação das vagens (R4), Início do enchimento das

sementes (R5), R6: Pleno enchimento das sementes (R6), Inicio da maturação (R7) e Plena

maturação (R8) (Agrolink, 2016).

Com o cenário definido e as etapas do manejo apresentadas, foi possível identificar os

insumos químicos e os biológicos substitutos, em qualidade e quantidade, utilizados em cada

etapa referida na escala fenológica do processo produtivo da soja (Tabela 2).

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Tabela 2. Insumos químicos e biológicos substitutos - qualidade e quantidade.

Etapa Descrição

Insumo

Químico

(Qualidade)

Insumo

Químico

(Quantidade)

Insumo

Biológico

Substituto

(Qualidade)

Insumo

Biológico

Substituto

(Quantidade)

Preparo de

solo

Correção de solo Calcário 2 t/ha Calcário 2 t/ha

Limpeza

Crucial + 2.4D 3l/ha + 2,5l/ha não há produto

registrado -

Zethamaxx 0,5 l/ha não há produto

registrado -

Plantio e

adubação Plantio

NS 5959 PRO 50 kg/ha NS 5959 PRO 50 kg/há

5.20.20 (N-P-K) 250 kg Cama de aviário 2 ton

Adubação

Cobertura Cloreto de

potássio 100kg/ha

Pó de rocha rico

em potássio 3 ton

Adubação foliar Seed Dry 2g/kg de

semente Aloe fértil Plus

300 ml por

100 kg de

semente

Tratamento

fitossanitário

(1ª aplicação)

Contra as plantas

daninhas Glifosato Pradok 3 l/ha

não há produto

registrado -

Contra a lagarta

(Spodoptera) Intrepid 500 ml/ha VIR Control sf 50 g/há

Contra as manchas

fúngicas (Septoria

glycines)

Aproach Prima 300 ml/ ha Bacillus subtilis 2 l/há

LI 700 100 ml/ha

Tratamento

fitossanitário

(2ª aplicação)

Contra a lagarta

(Spodoptera) Dimax SC 40 ml/ ha VIR Control sf 50 g/há

Contra a Ferrugem

Asiática (Phakopsora

pachyrhizi)

Vessarya 500 ml/ha Bacillus subtilis 2 l/há

Tratamento

fitossanitário

(3ª aplicação)

Contra o percevejo

(Heteroptera) Talstar 100 EC 250 ml/ha

Chromobacterium

subtsugae 3 l/há

Contra a Ferrugem

Asiática (Phakopsora

pachyrhizi)

Aproach Prima 300 ml/ ha Bacillus subtilis 2 l/há

LI 700 100 ml/ha

Tratamento

fitossanitário

(4ª aplicação)

Contra a lagarta

(Spodoptera) e o

percevejo

(Heteroptera)

Intrepid + Talstar

100 EC

250 ml/ha +

300 ml/ha

VIR Control sf +

Chromobacterium

subtsugae

50 g/ha + 3

l/há

Contra a Ferrugem

Asiática (Phakopsora

pachyrhizi)

Aproach Prima 300 ml/ ha Bacillus subtilis 2 l/há

LI 700 100 ml/ha

Tratamento

fitossanitário

(5ª aplicação)

Contra a lagarta

(Spodoptera) e o

percevejo

(Heteroptera)

- - Aloe Extratos

vegetais 500 ml/há

Contra a Ferrugem

Asiática (Phakopsora

pachyrhizi)

- - Calda Bordalesa

(Cobre) 1 l/há

Tratamento

fitossanitário

(6ª aplicação)

Contra a lagarta

(Spodoptera) e o

percevejo

(Heteroptera)

- -

VIR Control sf +

Chromobacterium

subtsugae

50 g/ha + 3

l/há

Contra os fungos - - Bacillus subtilis 2 l/há

Colheita - - - - -

Fonte: Autores.

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Uma vez que os insumos foram identificados, as dosagens e o número de aplicações

definidos, pôde-se apurar os custos de produção para o agricultor, associados à utilização de

tais insumos. Ressalta-se, em observação ao evidenciado na Tabela 2, que no manejo

biológico são necessários dois controles fitossanitários a mais que no manejo químico.

9.2 Apuração dos custos dos insumos químicos e biológicos

Os custos foram obtidos junto às empresas que comercializam e fornecem insumos

químicos e/ou biológicos, adubos, fertilizantes e sementes, utilizados no cultivo da soja. A

tabela 3 revela os custos associados à utilização dos insumos químicos para o cultivo da soja

NS 5959 PRO, em 1 ha.

Tabela 3. Custo do cultivo da soja - insumos químicos.

Etapa Período Descrição Qualidade Quantidade

Custo

unitário

R$

Custo

total

R$

Preparo de

solo

Ago. Correção de solo Calcário 2 t/ha 100,00t 200,00

Set. Limpeza

Crucial + 2.4D 3 l/ha + 2,5

l/ha

19,13/l +

15,05/l

57,39 +

36,65

Pré-plantio Zethamaxx 0,5 l/ha 137,58/l 68,79

Plantio e

adubação

Início de

nov.

Plantio NS 5959 PRO 50 kg/ha 4,93/kg 246,70

Adubo 5.20.20 (N-P-K) 250 kg 1,41/kg 352,00

Adubação

VC Cobertura Cloreto de potássio 100 kg/ha 1,62/kg 161,80

V4 Adubação foliar Seed Dry 0,002 kg/kg

de semente 155,22/kg 0,31

Tratamento

fitossanitário

(1ª aplicação)

V4 Contra as plantas daninhas Glifosato Pradok 3 l/ha 12,57/l 37,71

V4/VN Contra a lagarta (Spodoptera) Intrepid 240 SC 0,5 l/ha 95,10/l 47,55

V4/VN Contra as manchas fúngicas

(Septoria glycines)

Aproach Prima 0,3 l/ ha 153,86/l 46,16

LI 700 0,1 l/ha 69,67/l 6,97

Tratamento

fitossanitário

(2ª aplicação)

R1/R2 Contra a lagarta (spodoptera) Dimax SC 0,04 l/ ha 130,00/l 5,20

R1/R2 Contra a Ferrugem Asiática

(Phakopsora pachyrhizi) Vessarya 0,5 l/ha 176,31/l 88,16

Tratamento

fitossanitário

(3ª aplicação)

R2/R3 Contra o percevejo

(Heteroptera) Talstar 100 EC 0,25 l/ha 99,00/l 24,75

R2/R3 Contra a Ferrugem Asiática

(Phakopsora pachyrhizi)

Aproach Prima 0,3 l/ ha 153,86/l 46,16

LI 700 0,1 l/ha 69,67/l 6,97

Tratamento

fitossanitário

(4ª aplicação)

R3/R4 Contra a lagarta (Spodoptera)

e o percevejo (Heteroptera)

Intrepid 240 SC +

Talstar 100 EC

0,25 l/ha +

0,3 l/ha

95,10/l +

99,00/l

23,76 +

29,70

R3/R4 Contra a Ferrugem Asiática

(Phakopsora pachyrhizi)

Aproach Prima 0,3 l/ ha 153,86/l 46,16

LI 700 0,1 l/ha 69,67/l 6,97

Tratamento

fitossanitário

(5ª aplicação)

R4/R5 Contra a lagarta (Spodoptera)

e o percevejo (Heteroptera) - - - -

R4/R5 Contra a Ferrugem Asiática

(Phakopsora pachyrhizi) - - - -

Tratamento

fitossanitário

(6ª aplicação)

R5/R6 Contra a lagarta (Spodoptera)

e o percevejo (Heteroptera) - - - -

R5/R6 Contra os fungos - - - -

Colheita R8 - - - - -

Total 1.339,32

Fonte: Autores.

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Observa-se pela Tabela 3 que a utilização de insumos químicos não está sendo

realizada nas etapas 5 e 6 do tratamento fitossanitário, bem como quando inicia-se a fase de

colheita, uma vez que, os insumos químicos exigem menor número de aplicações em relação

aos insumos biológicos, pois esses têm maior controle sobre as pragas e as doenças. Além

disso, a fase da colheita não exige a utilização de insumos.

Os dados evidenciados na Tabela 3 permitem identificar que os custos associados à

utilização dos insumos no manejo químico totalizam em R$1.339,32. A Tabela 4 revela os

custos levantados e associados à utilização dos insumos biológicos substitutos para o cultivo

da soja NS 5959 PRO, em 1 ha.

Tabela 4. Custo do cultivo da soja - insumos biológicos substitutos.

Etapa Período Descrição Qualidade Quantidad

e

Custo

unitário

R$

Custo

total

R$

Preparo de

solo Ago. Correção de solo Calcário 2 t/ha 100,00/t 200,00

Preparo de

solo

Set.

Limpeza

não há produto

registrado - - -

Pré-plantio não há produto

registrado - - -

Plantio e

adubação

Início de

nov. Plantio

NS 5959 PRO 50 kg/ha 4,93/kg 246,70

Adubo orgânico 2 ton 130,00/t 260,00

Adubação

VC Cobertura Pó de rocha rico

em potássio 3 ton 60,00/t 180,00

V4 Adubação foliar Aloe fértil Plus

0,15 ml por

50 kg de

semente

48,00/l 7,20

Tratamento

fitossanitário

(1ª aplicação)

V4 Contra as plantas daninhas não há produto

registrado - - -

V4/VN Contra a lagarta (Spodoptera) Vir Control SF 0,05 kg/ha 850,00/kg 42,50

V4/VN Contra as manchas fúngicas

(Septoria glycines) Bacillus subtilis 2 l/ha 4,00/l 8,00

Tratamento

fitossanitário

(2ª aplicação)

R1/R2

Contra a lagarta (spodoptera) Vir Control SF 0,05 kg/ha 850,00/kg 42,50

Contra a Ferrugem Asiática

(Phakopsora pachyrhizi) Bacillus subtilis 2 l/ha 4,00/l 8,00

Tratamento

fitossanitário

(3ª aplicação)

R2/R3 Contra o percevejo

(Heteroptera)

Chromobacteriu

m subtsugae 3 l/ha 4,00/l 12,00

R2/R3 Contra a Ferrugem Asiática

(Phakopsora pachyrhizi) Bacillus subtilis 2 l/ha 4,00/l 8,00

Tratamento

fitossanitário

(4ª aplicação)

R3/R4 Contra a lagarta (Spodoptera)

e o percevejo (Heteroptera)

Vir Control SF+

Chromobacteriu

m subtsugae

0,05 kg/ha

+ 3 l/há

850,00/kg

+ 4,00/l

42,50 +

12,00

R3/R4 Contra a Ferrugem Asiática

(Phakopsora pachyrhizi) Bacillus subtilis 2 l/ha 4,00/l 8,00

Tratamento

fitossanitário

(5ª aplicação)

R4/R5 Contra a lagarta (Spodoptera)

e o percevejo (Heteroptera)

Aloe Extratos

vegetais $0,5 l/ha 51,02/l 25,51

R4/R5 Contra a Ferrugem Asiática

(Phakopsora pachyrhizi)

Calda Bordalesa

(Cobre) 1 l/ha 18,00/l 18,00

Tratamento

fitossanitário

(6ª aplicação)

R5/R6 Contra a lagarta (Spodoptera)

e o percevejo (Heteroptera)

Vir Control SF+

Chromobacteriu

m subtsugae

0,05 kg/ha

+ 3 l/ha

850,00/kg

+ 4,00/l

42,50 +

12,00

R5/R6 Contra os fungos Bacillus subtilis 2 l/ha 4,00/l 8,00

Colheita R8 - - - - -

Total 1.181,90

Fonte: Autores.

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Observa-se, através da Tabela 4, que para algumas etapas do cultivo da soja, como é o

caso do preparo do solo, não existem insumos biológicos registrados que possam ser

utilizados em substituição aos insumos químicos. Também que os custos totais associados ao

cultivo da soja, considerando as etapas envolvidas, importam em R$1.181,90.

A partir do levantamento dos custos associados ao cultivo da soja com a utilização de

insumos químicos e dos biológicos, constata-se que o custo total com os insumos químicos

para o cultivo de 1 ha de soja corresponde a R$ 1.339,32 e que para cultivar essa mesma área,

fazendo o uso de insumos biológicos seriam gastos R$ 1.181,90. Portanto, haveria uma

economia de custos na ordem de 13,31%, R$ 157,42, comparando-se tais valores.

9.3 AIA

Entre os insumos químicos e os biológicos substitutos, determinou-se um insumo

químico e um biológico substituto, conforme já mencionado neste estudo, escolheu-se entre

os insumos químicos o inseticida Intrepid 240 SC e, entre os biológicos, o inseticida Vir

Control S.F, ambos para o controle da lagarta Spodoptera, para se proceder a AIA, bem como

a ACB.

Inicialmente foi analisada a bula de cada um dos insumos escolhidos e, a partir das

informações que ali continham, foram determinadas as principais recomendações associadas à

aplicação dos insumos e que se constituem em norteadores importantes para a realização da

AIA (Tabela 5). Entre as informações utilizadas, estão as classificações, modo de ação,

condições climáticas para aplicação e precauções para uso.

Tabela 5. Informações das bulas - Intrepid 240 SC versus Vir Control SF.

Informações da bula Insumo químico

Intrepid 240 SC

Insumo biológico

VIR Control SF

Classificação toxicológica III - Produto Moderadamente Tóxico IV - Produto Pouco Tóxico

Classificação do PPA III - Produto perigoso IV - Produto pouco perigoso ao

meio ambiente

Modo de ação Acelerador de ecdise, não sistêmico Ingestão

Condições

climáticas

para

aplicação

Tempe- ratura igual ou inferior a 30ºC horas frescas - fim de tarde

Umidade

relativa do ar acima de 50%. umidade relativa de 50%

Vento calmo (entre 2 e 10 km/h) -

Precauções durante o uso

Não manuseie ou aplique o produto sem os

Equipamentos de Proteção Individual (EPI)

recomendados.

- Utilizar o produto conforme

recomendações do fabricante.

- Utilizar EPI. Manter pessoas,

principalmente crianças e

animais domésticos longe do

local de trabalho.

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Precauções após a aplicação

- Antes de retirar os equipamentos de proteção

individual (EPI), lave as luvas ainda vestidas

para evitar contaminação.

- Os equipamentos de proteção individual

(EPIs) recomendados devem ser retirados na

seguinte ordem: touca árabe, óculos, avental,

botas, macacão, luvas e máscara.

- Tome banho imediatamente após a aplicação

do produto.

Retirar a roupa contaminada e

lavar-se cuidadosamente após

manuseamento.

Intervalo de segurança

7 dias

Não determinado devido a não

determinação de LMR para este

ingrediente ativo. Recomenda-

se esperar a secagem completa

da calda

Se utilizar EPI Não é esperado risco à saúde humana. Não é esperado risco à saúde

humana.

Se não utilizar EPI

Elevado risco à saúde humana, Caso ocorra

contato acidental da pessoa com o produto,

siga as orientações descritas em primeiros

socorros e procure rapidamente um serviço

médico de emergência.

Risco leve

Fonte: Autores.

Importa registar que a classificação toxicológica contida nas bulas é elaborada a partir

da Portaria nº 03 de 1992. Essa é baseada em uma escala que vai de I (Produtos

Extremamente Tóxicos) à IV (Produtos Pouco Tóxicos). O insumo químico Intrepid 240 SC,

é considerado moderadamente tóxico, encontrando-se na classe III, enquanto o biológico, Vir

Control SF encontra-se no último nível (IV), sendo considerado pouco tóxico à saúde.

A classificação do PPA, também baseia-se em uma escala de I (Produto altamente

perigoso ao meio ambiente) à IV (Produto pouco perigoso ao meio ambiente). O Insumo

químico Intrepid 240 SC é considerado um produto perigoso ao meio ambiente, enquanto o

insumo biológico Vir Control SF é considerado pouco perigoso ao meio ambiente.

O modo de ação refere-se a como o produto age sobre a praga ou doença que atinge a

cultura agrícola (Santos, 2014). Essa ação pode ser, por contato, que é caracterizado pela

absorção do insumo na pele do inseto, que ocorre ao aplicar o Intrepid 240 SC; e por ingestão,

que caracteriza-se pela penetração do pesticida no organismo por via oral, que é o que ocorre

com o Vir Control SF.

Já com respeito às condições climáticas para aplicação, referem-se ao momento ideal

para aplicar o insumo, levando em consideração a obtenção de melhores resultados para o

combate às pragas e para evitar contaminação do meio ambiente e ser humano.

As precauções durante e após a aplicação são instruções para que ocorra o mínimo de

contaminação possível para quem está manuseando e aplicando o insumo na lavoura. O

intervalo de segurança tem o mesmo objetivo, evitar o máximo possível de contaminação e os

Equipamentos de Proteção Individuais (EPI’s) são essenciais para a redução dessa

contaminação.

Após análise das bulas, partiu-se para a realização da AIA. Embora, esteja-se

trabalhando com probabilidades de ocorrências de impactos ambientais, foram considerados

para a análise, os compartimentos água, solo, fauna, flora e ser humano. Foram

desconsiderados os compartimentos microorganismos e ar, uma vez que esses exigem maiores

e melhores conhecimentos técnicos sobre a potencialidade de impactos ambientais.

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As atividades impactantes foram definidas como a aplicação do insumo químico

Intrepid 240 SC e a aplicação do insumo biológico Vir Control SF, e estão representadas na

Figura 1. Registra-se que as análises e hipóteses foram baseadas nas especificações e

informações das respectivas bulas. Também, que a Rede de Interação é elaborada por níveis,

ou seja, conforme vão transcorrendo os níveis, menor é a concentração dos componentes dos

insumos.

Entre as informações da bula, está que o insumo químico Intrepid 240 SC pode ser

aplicado por via terrestre ou aérea, a qual traz recomendações sobre sua aplicação por meio de

aeronaves, sendo necessário respeitar a metragem mínima de 500 metros para povoado e 250

metros para mananciais de água para uso humano ou animal.

Além disso, para realizar as análises foi considerado que os insumos químicos

possuem classificação de III para PPA, enquanto que os biológicos possuem classificação IV,

sendo os químicos mais agressivos. Importante lembrar que impacto ambiental é

compreendido como qualquer mudança nas propriedades físicas, químicas e biológicas do

meio ambiente, resultante da atividade humana.

Figura 1. Rede de Interação Fonte: Autores.

Os impactos que podem ser causados em ambos os manejos estão representados em

cada nível pelas letras do alfabeto.

No 1º nível, letra “a”, apresentaram-se os possíveis impactos sobre a fauna. Uma vez

que o insumo tem por finalidade o controle da lagarta, podem ocorrer também impactos sobre

seus inimigos naturais, esse representado por um 2º nível, letra “f”. E em um 3º terceiro nível,

letra “m” o ser humano, ao ser levado em consideração a segurança alimentar.

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As possíveis alterações sobre a flora são apresentadas no 1º nível, letra “b”. As

possíveis alterações podem ocorrer tanto na planta da soja, quanto no entorno da lavoura, se

não forem respeitadas as instruções determinadas pela bula, entre elas, condições de vento,

umidade relativa do ar e temperatura. Essas alterações podem ser causadas pelo insumo

químico e pelo biológico, mesmo que o biológico seja de menor periculosidade para o meio

ambiente. Como consequência disso, apresenta-se no 2º nível, pela letra “h”, a possibilidade

de ocorrência de alterações na saúde humana, caso estas plantas fossem utilizadas na

alimentação, banhos e infusões, uma vez que após a aplicação há um período de carência,

para o insumo químico de 7 dias e, para o biológico até a secagem da calda (algumas horas).

Assim, o impacto do insumo biológico é bem menos significante para a saúde humana em

relação ao manejo químico. O mesmo fato pode ocorrer com a fauna, representada pela letra

“g”, caso estas plantas fossem comidas por animais que ali habitam ou de animais em

confinamento. Pode-se ainda ocorrer, em um 3º nível, letra “n”, ao ser humano, caso se

alimente de animais possivelmente contaminados.

Ainda, podem ocorrer alterações no solo, este representado pela letra “c”, no 1º nível,

se o insumo entrar em contato com o solo e, alterar as composições química, física e

biológica do mesmo. Por meio da lixiviação, podem ocorrer impactos de 2ª ordem (letra “i”).

Essa lixiviação pode ocorrer após uma forte chuva e a água, possivelmente contaminada,

entrar em contato com água de rios, córregos, riachos e reservatórios. A possível

contaminação da água pode refletir, em um 3º nível, na fauna, letra “p”. Uma vez que possa

ocorrer contaminação do rio, córrego ou riacho, os animais que ali habitam podem também

contaminar-se e, ainda, pode ocorrer a contaminação de animais que bebem dessa água. Em

um 4º nível, letra “t”, o ser humano poderá ser impactado negativamente ao se alimentar de

animais possivelmente contaminados. Voltando-se ao 3º nível, letra “o”, poderá ocorrer a

contaminação do ser humano, caso utilize a água possivelmente contaminada. Ainda em 3º

nível, letra “q”, existe a possibilidade de ocorrência da contaminação da flora, irrigada pela

possível água contaminada, resultando, em um 4º nível, letra “u”, na contaminação do ser

humano, caso faça uso da flora poluída.

O possível impacto sobre a água, nível 1, letra “d”, pode ocorrer por meio da

aplicação. A aplicação pode ser terrestre e/ou com aeronaves agrícolas. O possível impacto

negativo, pode ocorrer se não forem seguidas as orientações da bula, entre elas, a

recomendação de temperatura, ventos e umidade relativa do ar. Por via aérea, para aplicação

de insumos químicos, ainda é necessário seguir outras recomendações, como não executar a

aplicação em áreas situadas a uma distância inferior a 500 metros de povoados e de

mananciais de captação de água para abastecimento público e de 250 metros de mananciais de

água, moradias isoladas, agrupamentos de animais e vegetação suscetível a danos. Em um 2º

nível, letra “j”, podem ocorrer possíveis alterações de caráter negativo sobre a saúde humana,

por meio da utilização de possíveis águas contaminadas. Ainda, em segundo nível, possíveis

alterações na flora, letra “k”, e fauna, letra “l”, podem ser identificadas. Em ambos os casos,

podem ocorrer reflexos sobre a saúde humana, letras “r” e “s”, ao fazer uso de plantas ou de

animais possivelmente contaminados.

E, em 1º nível, letra “e”, à saúde humana, caso o ser humano que promove o manejo e

a aplicação não siga as orientações da bula sobre manuseio, utilização dos EPI’s de forma

correta e pós manejo do produto, pode ocorrer a contaminação. Essa contaminação ao utilizar

insumos químicos pode se dar nos olhos, pele, sistema respiratório, sistema digestivo e

sistêmico, enquanto o biológico pode ocorrer nos olhos, pele, sistema respiratório e sistema

digestivo, sendo menos agressivo, e não comprovado ainda, em testes de laboratório.

Observa-se pela descrição dos impactos ambientais e pelo desencadeamento dos

impactos em níveis, que o ser humano é quem sofre as consequências da atividade

impactante, sendo essa, a condição necessária para que um fato, ou uma atividade, seja

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considerado um impacto ambiental. Ou seja, é o homem que promove a atividade e é ele que

sofre as consequências.

A partir dos custos apurados e da AIA com a utilização do insumo químico Intrepid

240 SC e do insumo biológico Vir Control SF, realizou-se a ACB da substituição.

9.4 ACB

A ACB levou em consideração os custos e os benefícios associados à substituição do

insumo químico Intrepid 240 SC pelo biológico Vir Control SF. Com o levantamento dos

custos associados à aplicação do insumo químico e o biológico no cultivo de 1 ha de soja,

pôde-se mostrar que há uma economia significativa de aproximadamente 13,31% no manejo

biológico.

Na elaboração da AIA, observou-se um desencadeamento dos impactos associados ao

manejo químico e biológico semelhantes. Porém, observou-se que enquanto o insumo

biológico têm sua classificação toxicológica em IV, sendo pouco tóxico, o químico é

classificado como III, sendo moderadamente tóxico. E na classificação quanto ao PPA, o

biológico é IV, ou seja, pouco perigoso ao meio ambiente, enquanto o químico é III, sendo

considerado perigoso ao meio ambiente. Apesar de serem semelhantes no desencadeamento

de impactos negativos em rede, os impactos ambientais causados pela utilização do insumo

químico mostram-se mais significativos em relação aos impactos ambientais negativos

associados à utilização do insumo biológico.

Também foi considerada a quantidade de produto que é utilizada em ambos os

manejos, pois utilizam-se 500 mililitros na 1ª aplicação e 250 mililitros na 2ª aplicação do

Intrepid 240 SC, resultando no total de 2 aplicações; e, do insumo biológico Vir Control SF

utilizam-se 50 gramas, realizando 4 aplicações durante o ciclo do cultivo da soja. Os 500

mililitros do Intrepid 240 SC são equivalentes a 550 gramas, logo 250 mililitros equivalem à

275 gramas. Uma vez que são feitas duas aplicações, este equivale a 825 gramas. Com relação

à utilização do Vir Control SF, utilizam-se 50 gramas por aplicação, apesar de serem feitas

quatro aplicações, essas correspondem à aproximadamente 24,3% do insumo químico

utilizado, já que o total de insumo biológico corresponde a 200 gramas.

A Tabela 6 apresenta a ACB do insumo químico Intrepid 240 SC e do insumo

biológico Vir Control SF.

Tabela 6. Análise Custo Benefício - Intrepid 240 SC versus Vir Control SF.

Descrição Insumo químico

Intrepid 240 SC

Insumo biológico

Vir Control SF

Benefícios

(ambiental)

- Se utilizar os EPI’s corretamente, considera-

se que pode não impactar a saúde humana de

forma negativa;

- Menor número de aplicação, o agricultor

entra em contato três vezes com o insumo,

pois exige-se três aplicações;

- Se utilizar os EPI's corretamente, considera-se

que não ocorrerão danos a saúde humana;

- Maior número de aplicação, o agricultor entra

em contato quatro vezes com o insumo, pois

exige-se quatro aplicações;

- Se não utilizar os EPI’s, pode ocorrer danos à

saúde humana, mas não há comprovação;

- Menor quantidade demandada para aplicação

em relação ao químico, resultando em menor

impacto negativo aos compartimentos

ambientais, fauna, flora, água, solo e saúde

humana;

- Classificação de toxicidade e PPA menor que

o químico, classe IV, em ambas as

classificações.

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Custos

(econômicos)

- Maior quantidade demandada para aplicação

em relação ao insumo biológico, resultando

em maior impacto negativo sobre os

compartimentos ambientais fauna, flora, água,

solo e saúde humana, o que implica em

maiores gastos com a sua recuperação;

- Custo com insumos para 1 ha de soja

cultivada, considerando as duas aplicações

demandadas: R$ 71,31.

- Custo com insumos para 1 ha de soja

cultivada, considerando aos quatro aplicações

demandadas: R$ 170,00

Fonte: Autores.

Observa-se, em relação ao insumo químico Intrepid 240 SC, possíveis benefícios

associados à saúde humana, quando faz-se o uso dos EPI’s. Em relação aos custos, uma

economia na ordem de R$ 98,69 em relação ao biológico Vir Control SF. Já, com a aplicação

do insumo biológico Vir Control SF observa-se benefícios atrelados à saúde humana, menor

quantidade de insumos depositada no meio ambiente e, classificação de toxicidade e PPA

menor em relação ao químico.

Ressalta-se que o estudo não teve por preocupação avaliar e comparar a produtividade

alcançada a partir da utilização dos insumos, o que promoveria uma ACB mais fidedigna.

10 Conclusão

O uso indiscriminado de insumos químicos nas culturas agrícolas tem gerado impactos

negativos ao meio ambiente, bem como à saúde humana. Assim, a possibilidade da

substituição de insumos químicos por insumos menos agressivos, como os biológicos, é um

caminho a ser buscado. Nesse contexto, o estudo perseguiu o objetivo geral de analisar o

custo-benefício da substituição de insumos químicos por biológicos no cultivo de soja no

Estado do RS.

Os resultados do estudo trouxeram evidências de que são vários os insumos

comercializados e utilizados na cultura da soja, sendo eles classificados para cada finalidade.

Do levantamento realizado, observou-se que não existem, ainda, insumos biológicos

substitutos para todos os insumos químicos existentes, o que impossibilita um manejo

totalmente biológico, porém, já pode-se realizar um manejo integrado e menos agressivo ao

meio ambiente.

A partir do conhecimento dos insumos químicos utilizados no cultivo da soja e dos

insumos biológicos, em substituição, apuraram-se os custos associados para ambos os

manejos. Para a elaboração da análise de impactos ambientais e custo-benefício, foi

selecionado o insumo químico Intrepid 240 SC e o biológico substituto, Vir Control SF. Esses

foram escolhidos, levando em consideração uma praga que ataca a soja em várias fases de

desenvolvimento da planta. A apuração dos custos relativos ao manejo biológico revelou que

sua utilização é mais econômica em relação à utilização dos insumos químicos, quando

considera-se a sua totalidade.

Além disso, a igualdade da unidade de medida do Intrepid 240 SC e do Vir Control

possibilitou concluir que, apesar do insumo biológico exigir duas aplicações a mais, menor

quantidade do insumo foi depositada no meio ambiente. Ao se fazer duas aplicações do

Intrepid 240 SC, liberam-se 825 gramas do mesmo ao meio ambiente e, ao se fazer quatro

aplicações do Vir Control SF, liberam-se 200 gramas.

A AIA permitiu concluir que os insumos biológicos são menos impactantes ao meio

ambiente apesar da Rede de Interação do insumo biológico demonstrar um desdobramento de

impactos ambientais semelhante ao do insumo químico. Pois, de acordo com a classificação

da Portaria Nº 03 de 1992, sob a perspectiva de toxicidade e da Lei nº 7.802 de 1989, para

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PPA, o insumo biológico Vir Control SF encontra-se no nível IV, enquanto que o químico

Intrepid 240 SC, encontra-se no nível III.

Além disso, a bula do insumo químico Intrepid 240 SC contém maior quantidade de

advertências e recomendações quando comparada à bula do insumo biológico Vir Control.

Entre elas encontra-se, a distância mínima em caso de aplicação aérea e, carência de 7 dias

para entrar em contato com a área de aplicação.

A AIA trouxe evidências de que ao se utilizar os insumos biológicos em substituição

aos químicos, os impactos ambientais negativos causados aos compartimentos ambientais são

menos agressivos e de menor potencialidade. Dessa maneira, ao se realizar a ACB, além da

redução dos custos no manejo biológico em relação ao manejo químico, pode-se visualizar

benefícios tanto ao meio ambiente, quanto à saúde-humana. Em relação aos custos, além da

economia 13,31% no manejo biológico, pode-se citar, possíveis economias quando se

consideram as multas ambientais e custos atrelados a possíveis complicações à saúde humana.

Em relação aos benefícios, se utilizados EPI’s, a não ocorrência de danos à saúde; se não

utilizados, há possibilidade de danos, mas ainda sem comprovação. Além disso, identifica-se

menor impacto negativo ao meio ambiente, uma vez que, menor quantidade do insumo

biológico Vir Control SF é depositado ao meio ambiente em relação ao químico Intrepid 240

SC e, classificação de toxicidade e PPA menor que o químico, classe IV, em ambas as

classificações.

Para estudos futuros, sugere-se que seja avaliada a produtividade da soja ao utilizar os

insumos químicos e os insumos biológicos substitutos. Feito isto, pode-se elaborar uma

análise de viabilidade econômico-financeira.

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