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6 ARQTEXTO 16 A EXPOSIÇÃO DE 1908 OU O BRASIL VISTO POR DENTRO THE 1908 EXHIBITION OR BRAZIL SEEN FROM WITHIN Margareth da Silva Pereira Tradução português-inglês: Rafael Saldanha Duarte 1

A EXPOSIÇÃO DE 1908 OU O BRASIL VISTO POR DENTRO THE … · 6 ARQ TEXTO 16 A EXPOSIÇÃO DE 1908 OU O BRASIL VISTO POR DENTRO THE 1908 EXHIBITION OR BRAZIL SEEN FROM WITHIN Margareth

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A EXPOSIÇÃO DE 1908 OU O BRASIL VISTO POR DENTROTHE 1908 EXHIBITION OR BRAZIL SEEN FROM WITHIN

Margareth da Silva PereiraTradução português-inglês: Rafael Saldanha Duarte

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O Brasil vive hoje um novo momento de afirmação de sua importância no plano internacional e tem se visto diante do desafio de organizar uma série de eventos de grande porte. Contudo, a história do país e de suas cidades exibem, desde o século XIX, momentos e situa-ções comparáveis. A abertura dos portos (1808) e a pro-clamação da Independência (1922) – ao representarem o fim do pacto colonial – deram início à inserção do Brasil em uma rede de relações com diferentes continentes e povos e delinearam um campo de lutas econômicas e po-líticas no interior do qual o país passou a dar visibilidade a si próprio como, a cada vez, reatualizar sua identidade.

A realização da Exposição Nacional de 1908 e as comemorações do primeiro centenário da abertura dos portos do país ao livre comércio foi um momento forte nesse processo. O evento pode ser considerado como o grand finale de um primeiro tempo de interações econô-micas e culturais do Brasil com um mundo cada vez mais urbano e cosmopolita, que teve nas reformas do Rio de Janeiro, entre 1903 e 1906 uma das suas maiores expres-sões. No início do século XX as autoridades municipais e federais, ainda mais confiantes com as potencialidades do país, não restringiriam o programa de transformação e modernização da imagem nacional à arquitetura, ao ur-banismo e ao paisagismo na Capital Federal. Em 1908 o desafio seria mais ambicioso: celebrar o próprio comércio e desenvolvimento do país, realizando, ao mesmo tempo, um “inventário” do Brasil para os próprios brasileiros.

Nos seus três meses de abertura, a exposição foi vi-sitada por mais de um milhão de pagantes, muitos deles oriundos de diferentes pontos de um território em grande parte sequer conhecido pelos demais brasileiros. Todos os estados da Federação organizaram pavilhões ou estandes exibindo seus avanços culturais e econômicos em álbuns, fotografias ou catálogos. Além disso, o Governo Federal e a Prefeitura do Distrito Federal também se fizeram repre-sentar, construindo importantes pavilhões e mostrando o desenvolvimento de seus serviços públicos.

Mas se o balanço que o país fazia de si próprio em 1908 mostrava-se surpreendente, mais ainda o é a consta-tação de que inúmeras das nossas instituições atuais foram concebidas e moldadas nos espaços efêmeros dessas mostras do passado. Das palavras aos comportamentos: é a própria cultura do século XX ou os desafios de hoje que se encontram aí delineados em sua força e em seus limites, em seus sonhos e capacidade realizadora, em suas con-quistas efêmeras e em seus valores duradouros.

ENSINANDO A OLHAR O MUNDO Olhar, comparar, julgar: esses atos que nos parecem

tão comuns foram, na verdade, objeto de um longo e

Brazil is currently experiencing a new period of affir-mation of its international importance and finds itself faced with the challenge of organising a series of large-scale events. However, the history of the country and its cities has displayed comparable periods and situations since the 19th century. The opening of the ports (1808) and the proclamation of independence (1822) represented the end of the colonial pact and began Brazil’s insertion into a network of relationships with continents and peoples to define a field of economic and political struggles in which the country increasingly began to review its own identity.

The organisation of the National Exposition of 1908 and the commemorations of the first centenary of the ope-ning of the country’s ports to free trade with different na-tions was a powerful moment in this process. The event can be seen as the grand finale to a first period of Brazil’s economic and cultural interactions with an increasingly urban and cosmopolitan world, of which the remodelling of Rio de Janeiro from 1903 to 1906 was one of its most glamorous expressions. At the start of the 20th century, municipal and federal authorities, increasingly confident about the country’s potential, did not confine the program-me of transforming and modernising the national image to works of architecture, urbanism and landscaping in the Federal Capital. The challenge in 1908 would be more ambitious: to celebrate the trade and development of the country itself, organising at the same time an “inventory” of Brazil for Brazilians themselves.

During the three months that it was open, the exibition was visited by more than one million paying visitors, many coming from different parts of a territory hardly known by other Brazilians. All the states in the Federation organised pavilions or stands displaying albums, photographs or ca-talogues of their cultural and economic progress. The Fede-ral Government and the Federal District Council were also represented, building important pavilions and demonstra-ting the development of their public services.

But if the country’s account of itself in 1908 was surpri-sing, even more so is the evidence that many of our current institutions were conceived and modelled in the temporary spaces of these past exhibitions. From words to behaviour, the actual culture of the 20th century or the challenges of today can be found outlined there in their strength and limits, in their dreams and ability to achieve them, in their temporary achievements and their enduring values.

TEACHING HOW TO LOOK AT THE WORLDLooking, comparing, judging: actions that seem so com-

mon were in fact the object of a long and intensive pro-cess of education of meanings and above all visions, de-veloped particularly throughout the 19th century. Knowing

1 Aquarela abertura dos portos - Coleção Elyseo Belchior.1 Watercolor of the opening of Brazilian ports to foreign trade.

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6 intenso processo de educação do sentidos e, sobretu-do da visão, desenvolvido particularmente ao longo do século XIX. Saber ver por imagens e sobretudo, ensinar a ver foi uma construção cultural compartilhada por dife-rentes sociedades no Ocidente – dentre as quais o Brasil.

Esse culto à imagem se manifestou em uma produção iconográfica diversificada e que impulsionaria a criação de diferentes procedimentos técnicos. Dos grandes pano-ramas circulares, os primeiros desses dispositivos óticos voltados para a educação visual das massas, que se impu-seram nas primeiras décadas do século XIX, rapidamente passou-se à circulação mais ágil oferecida pelos álbuns pitorescos, daguerreotipias, fotografias e, décadas mais tarde, pelas estereotipias, pelos bilhetes postais e pelo ci-nematógrafo.

Dentre os diversos modos de olhar, comparar e julgar, as Exposições Universais, talvez tenham sido dos mais efi-cientes. Estas grandes feiras representaram um dos mais importantes espaços educativos da cultura do século XIX, ensinando as novas massas urbanas a observar cidades, povos, culturas e também a hierarquizá-los a partir de uma visão única e evolucionista de desenvolvimento e história.

Desde o fim do século XVIII, a França havia começa-do a realizar exposições nacionais de indústria e comér-cio, impulsionada pelo desejo de conhecer suas próprias produções e de igualar-se ao desenvolvimento industrial inglês. Contudo, uma exposição comparativa “universal”, isto é, uma feira que servisse de termômetro das ativida-des manufatureiras, industriais e comerciais de diferentes países só se realizaria pela primeira vez em 1851, em Londres, em um vasto edifício que passaria a ser conheci-do como o Palácio de Cristal.

A partir de então, as Exposições Universais se instituem como grandes eventos mundiais regulares o que sinaliza em que medida o exercício de olhar, comparar e julgar já havia se difundido e se consolidado como uma prática social de grande parte dos habitantes das cidades. A cir-culação vertiginosa de imagens passou, assim, a se fazer sentir também em outros campos e as comparação entre hábitos culturais e cenas urbanas de diferentes regiões não só foi inevitável como tornou-se “natural”: do interior da África aos Balcãs, dos subúrbios de Glasgow ou Liver-pool aos jardins do Plater em Viena, do modo de vida dos marajás ao rito do chá no Japão ou ao uso dos narguilés em Istambul.

Olhar o mundo e, em seguida, classificá-lo fez com que a arquitetura e a imagem das cidades fossem vistas como um “retrato” das civilizações e dos povos. O clímax dessa leitura das culturas através de objetos e edifícios se fixa na segunda metade do século XIX. Através da linguagem estilística adotada em cada contexto e país – greco-ro-

how to see through images, and above all teaching how to see, were cultural processes shared by different western societies, including Brazil.

This cult of the image was demonstrated in the wide-ranging iconographic production that would boost the cre-ation of various technical procedures. It was a swift move from the large circular panoramas, the first of these optical devices aimed at education of the masses, which were imposed in the early decades of the 19th century, to the more agile circulation offered by picture albums, daguer-reotypes, photographs and, decades later, by stereotypes, picture postcards and cinematography.

Among the various modes of seeing, comparing and judging, the Universal Expositions were perhaps the most efficient. These large fairs represented one of the most important educational spaces in 19th-century culture, tea-ching the new urban masses how to look at cities, peoples and cultures and also to evaluate them from a single, evo-lutionist view of development and history.

Since the late 18th century, France had begun to or-ganise national trade and industry expositions driven by the desire to discover its own output and set itself on a le-vel with English industrial development. But a comparative “universal” exposition, that is, a fair that serves as a gauge of the manufacturing, industrial and commercial activity of different countries would only be organised for the first time in 1851, in a huge building in London that became known as Crystal Palace.

Universal Expositions have since then established the-mselves as regular major world events, indicating how much the exercise of looking, comparing and judging has been disseminated and consolidated as a social practice of the majority of city dwellers. The dizzying circulation of images then began to be felt in other fields, and the com-parison of cultural customs and urban settings of different regions was not just inevitable but became ‘natural’: from the Glasgow or Liverpool suburbs to the gardens of Plater in Vienna, from the lives of the Maharajas to the tea cere-mony in Japan or the use of hookahs in Istanbul.

Looking at the world and then classifying it led to the architecture and images of cites being seen as a “portrait” of civilisations and peoples. The climax of this reading of cultures through objects and buildings was consolidated in the second half of the 19th century. Each country’s level of civility, cosmopolitanism and progress was judged through the stylistic language adopted: Greco-Roman, Gothic, Mo-orish, Turkish... or through its technological development. It might even be said that the idea of an Universal Exposition and particularly this comparative assessment of peoples and cultures would consolidate new social practices and a new trio of terms: Displaying, Admiring, Consuming.

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2 Museu da República.2 Republic Museum.

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3 Museu da República.3 Republic Museum.

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mana; gótica, mourisca, turca... – ou do desenvolvimento tecnólogico exibido, julgava-se o seu nível de civilidade, cosmopolitismo e progresso. Na verdade, pode-se dizer que a idéia de Exposição Universal e sobretudo esse jul-gamento comparativo de povos e culturas veio consolidar novas práticas sociais e um novo trinômio: exibir, admirar e consumir.

Durante os grandes eventos que se tornam as Exposi-ções Universais, os próprios países – primeiro em estan-des e pouco a pouco em pavilhões isolados – passaram, assim, a exibir produtos e invenções em diferentes áreas, ampliando ainda mais as possibilidades de compara-ções e atraindo, evidentemente, admiração e também adeptos e consumidores. Pode-se dizer que nessas feiras estreitavam-se contatos e intercâmbios entre autoridades, técnicos, artistas e cientistas, e pouco a pouco consolida-va-se uma mentalidade liberal atenta às invenções mas, também, voraz no consumo de novidades.

Mostrar – o que e como – já havia se tornado uma arte, mas os relatórios de autoridades revelam que também ali-menta a economia. De fato, as comparações do ponto de vista cultural, se insinuariam a partir de 1855, na Ex-posição Universal de Paris, quando os países participan-tes também passaram a exibir seus avanços no campo das artes. Diversas escolas de desenho existentes hoje no mundo e, entre nós, os próprios Liceus de Artes e Ofícios, seriam criados no Rio e em São Paulo, com o objetivo agora de formar e desenvolver a manualidade e o gosto dos artesãos, capacitando-os a responder às demandas de um mercado de objetos manufaturados ou industriali-zados cada vez mais competitivo.

O Brasil participou de todas as Exposições Universais realizadas durante quase um século, primeiro somente na Europa e depois também nos Estados Unidos: de início reunindo seus produtos em algumas vitrines (Londres, 1851 e 1862; Paris, 1855 e 1867) e mais tarde construin-do jardins e edifícios admiráveis (Paris, 1889; Chicago, 1893; Saint Louis, 1904; Nova Iorque, 1939).

Desde 1861, quando organizou a mostra preparatória da Exposição Universal de 1862 em Londres, o governo brasileiro passou a realizar exibições “nacionais” com o objetivo de pré-selecionar os produtos e realizações da indústria local que iriam representar o país. Na cultura do século XIX a palavra indústria não possuía o significa-do que tem hoje e, assim, à medida que as Exposições Universais foram ficando cada vez maiores, exibir as re-alizações da indústria de uma nação significava mostrar o trabalho dos seus habitantes nos mais diversos campos: do mecânico ou manual ao moral e intelectual.

Por sua vez essas realizações tão diferenciadas passa-ram a ser divididas em classes, gêneros e tipos de ativida-

During the big events that become the Universal Exhibi-tions, the countries themselves – firstly in stands and then gradually in isolated pavilions – moved on to display pro-ducts and inventions from different areas, further extending the possibilities for comparison and, of course, for admi-ration, and attracting followers and consumers. It could be said that these fairs tightened contacts and exchanges between officials, technicians, artists and scientists, and that there was a gradual consolidation of a liberal mindset alert to new inventions but also eager for consumption of novelties.

Displaying had now become an art, but reports from the authorities reveal that it also feeds the economy. Inde-ed, cultural comparisons began to creep in from the 1855 Universal Exposition in Paris, when participating countries also began to display their achievements in the arts. Se-veral of today’s design schools would be created in the world, and in Brazil, including the Liceus de Artes e Ofícios in Rio and Sao Paulo, aimed at training and developing the abilities and taste of craftspeople to enable them to res-pond the demands of an increasingly competitive market for manufactured goods or processed products.

Brazil took part in all the Universal Expositions for al-most a century, firstly just in Europe and then in the United States as well. It began by assembling its products into a few showcases (London, 1851 and 1862; Paris, 1855 and 1867) and later built admirable gardens and buildings (Pa-ris, 1889; Chicago, 1893; Saint Louis, 1904; New York, 1939).

Since organizing the preliminary exhibition in 1861 for the Universal Exhibition of 1862 in London, the Brazilian government had started to hold “national” exhibitions to pre-select the products and achievements of local indus-try that would represent the country. The word “industry” would not have the same meaning in nineteenth-century culture that it has today, and so with the increasing size of Universal Exhibitions, displaying a nation’s industrial achievements meant showing the work of its inhabitants in a wide range of fields: from the mechanical or manual to the moral and intellectual.

These achievements were so diverse they began to be divided into classes, genres and types of activity. In Brazil, but also in the more distant regions of the planet, all the provinces and later the federal states began to take part in these displays, internalizing their reasons for classification of human activities and creating their identities based on a hierarchy of peoples and cultures divided into “civilized” or “uncivilised”, “advanced” or “backward”, “developed” or “developing.”

From this classifying and evolutionary viewpoint we can understand the pride of the new Brazilian republic and

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6 des. No Brasil, mas também nas mais longínquas regiões do planeta, todas as províncias e depois os estados da federação passaram a participar dessas mostras, inte-riorizando suas lógicas de classificação das atividades humanas, criando suas identidades a partir de uma hierar-quia dos povos e culturas em “civilizados” ou “bárbaros”, “adiantados” ou “atrasados”, “desenvolvidos” ou “em de-senvolvimento”.

É a partir da ótica classificatória e evolucionista que podemos entender o orgulho da jovem república brasilei-ra e dos cariocas em afirmar, com as obras de reformas da Capital Federal implementadas no governo Rodrigues Alves: o Rio civiliza-se!

O caráter efêmero dessas mostras que atraiam multi-dões como se vê paulatinamente foram instituindo formas de percepção de si e do outro duradouras. Por outro lado, a partir dos anos 1870 o gigantismo que adquiriram estas mostras do trabalho e da civilização “universal” fez com que cada vez mais se colocasse o problema do que pre-servar ao término de cada evento e passou-se ainda a avaliar qual o seu impacto ou contribuição para o próprio desenvolvimento urbano.

Vazios urbanos e áreas limítrofes das cidades após abrigarem as Exposições Universais dão origem, assim, a bairros inteiramente novos e os edifícios ou áreas de diver-são remanescentes passam a acolher instituições, museus ou serem integrados nos circuitos turísticos. Pavilhões também são pensados para serem desmontados e remon-tados em outras cidades e, dentro de uma lógica onde tudo se comercializa, muitos edifícios são projetados e constru-ídos até mesmo para serem vendidos para outros países.

A INTERNACIONALIZAÇÃO DO BRASILA internacionalização dos contatos entre diferentes

regiões do mundo e a organização de um sistema de inter-câmbio, impulsionada pelo liberalismo econômico, como vemos, tiveram nas Exposições Universais seu motor e a participação do Brasil foi um dos termômetros da interna-cionalização econômica e cultural do país.

Entretanto, se as primeiras páginas da história da glo-balização puderam ser escritas ainda no século XIX, isso só seria possível pelo desenvolvimento sem precedente dos serviços de transporte e, sobretudo, de comunicações. Circular e comunicar são atividades que dão suporte ao próprio processo de intercâmbio econômico entre nações e à criação de práticas sociais e culturais compartilhadas, malgrado as singularidades de cada país.

As bases do sistema contemporâneo de comunicação e circulação de indivíduos, produtos, bens e informação foram construídos em ritmos quase sincrônicos a esse sistema de interações e construções culturais. Até o século

the people of Rio in affirming through the restoration works in the Federal Capital implemented by the Rodrigo Alves government: Rio is civilizing itself!

The temporary nature of these exhibitions attracting the crowds has repeatedly been seen to establish long-lasting perception of the self and others. On the other hand, the massive scale of these displays of work and “universal” ci-vilization since the 1870s has increasingly raised the ques-tion of what to keep after the end of each event and made it necessary to assess its impact or contribution for urban development itself.

After housing Universal Expositions, urban spaces and regions on the outskirts of cities thus become the origin of entirely new districts and the remaining buildings or amu-sement areas begin to house institutions and museums or become part of the tourist circuit. Pavilions are also plan-ned to be dismantled and reassembled in other cities and, within a logic in which everything is commercialised, many buildings are designed and even built to be sold to other countries.

THE INTERNETIONALISATION OF BRAZILThe internationalisation of contact between different

regions of the world and the organisation of an exchange system boosted by economic liberalism were driven by Uni-versal Expositions, as we can see, and the participation of Brazil was one of the gauges of the economic and cultural internationalisation of the country.

However, if the first pages in the history of globalisation could still be written in the 19th century, it would only be possible through the unprecedented development of trans-port and, particularly, communications services. Circula-tion and communication are activities that support the ac-tual process of economic exchange between nations and the creation of shared social and cultural practices, despite the individualities of each country.

The basis of the contemporary system of communication and circulation of people, products, goods and informa-tion was constructed in a rhythm almost synchronised with this system of cultural interaction and construction. Prior to the 19th century, the regions of the planet had never kno-wn such a network of economic and cultural exchange that could cross seas and oceans and penetrate the inner re-gions of the five different continents. The expansion of road networks in the first half of the 19th century was followed by the development of sea and coastal transport.

By the mid 19th century the railways had been establi-shed and a system of communication constructed with the invention of the postage stamp in England in 1840 and its rapid international recognition (Brazil would be the third country, after Switzerland, to adopt it in 1843). Commer-

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XIX, as regiões do planeta não haviam conhecido uma rede de trocas econômicas e culturais tão estreita capaz de cruzar oceanos e mares, embrenhando-se pelo interior das terras dos cinco diferentes continentes. Na primeira metade do século XIX observa-se a expansão das redes de estradas e caminhos, seguidas pelo desenvolvimento dos transportes marítimo e de cabotagem.

Em meados do século XIX firma-se o desenvolvimento ferroviário e o sistema de comunicação se estrutura com a invenção do selo postal na Inglaterra em 1840 e seu rápido reconhecimento internacional (o Brasil, após a Suíça, seria o terceiro país a adotá-lo, em 1843). As trocas comerciais dão, assim, um duplo salto, graças às garantias sólidas na troca de correspondências e às redes de transporte e circulação que permitem fazer circular cartas, amostras, pedidos, con-tatos, produtos. Se quisermos tecer paralelos pode-se dizer que este período, também designado como o da Segunda Revolução Industrial, é aquele que torna as Exposições Uni-versais as grandes vitrines culturais e de negócios.

Ora, o desenvolvimento da economia brasileira ao longo do século XIX vinha construindo seu lugar dentro destas redes econômicas em larga escala. Paralelamen-te vinha se desenhando o papel relevante dos serviços postais para o próprio crescimento econômico, impulsio-nando, ainda, a expansão da telegrafia, desde 1852 com as primeiras experiências de transmissão telegráficas. Entre a Exposições de Viena em 1873 e a de Paris de 1878, os países economicamente mais ativos já haviam construído novas sedes para seus serviços postais, inclusi-ve o Brasil, que inaugura o seu primeiro edifício especial-mente construído para esse fim, na rua 1° de Março.

A organização de Exposições Universais no continente americano – primeiro na Filadélfia, e na virada do século XIX em Chicago e Saint Louis – deslocariam, contudo, o foco do desenvolvimento econômico do cenário europeu, o que de certo modo também favoreceria o Brasil. Os pavi-lhões brasileiros começaram a atrair a atenção do público desde 1889, em Paris. Contudo, é neste novo arranjo de forças transnacionais que engenheiros brasileiros se notabi-lizaram nas exposições realizadas nos EUA, primeiro com a premiação de Francisco Marcelino de Souza Aguiar em Chicago e, depois, com o projeto para o pavilhão do Brasil em Saint Louis (que seria remontado no Rio como sede do Senado Federal – o Palácio Monroe, hoje destruído).

Assim, esta terceira onda de expansão econômica e tecnológica provocada pelo desenvolvimento da eletri-cidade, da telefonia e, pouco a pouco, do automóvel, acelera a internacionalização da economia nacional. Entretanto, é de um ponto de vista americano que intelec-tuais e autoridades brasileiras se vêem e a própria moder-nização do país.

cial trade thus takes a double leap forward thanks to firm guarantees of mail exchange and transport networks that allow circulation of letters, samples, orders, contacts and products. If one wanted to draw parallels, it could be said that this period, also known as the Second Industrial Re-volution, is what turns the Universal Expositions into major showcases of trade and culture.

The development of the Brazilian economy throughout the 19th century was taking place within these large-scale economic networks. Alongside the significant role of the de-velopment of postal services, economic growth was given further impetus by the expansion of telegraphy following the first experiments in telegraph transmission in 1852. Be-tween the Vienna Exposition of 1873 and the Paris Expo-sition of 1878, the more economically active countries had built new bases for their postal services, including Brazil, which opened its first building especially constructed for this purpose on Rua 1º de Março.

The organisation of Universal Expositions on the Ame-rican continent, firstly in Philadelphia, and at the turn of the century in Chicago and St Louis, would shift the focus of economic development from the European setting in a way that would also favour Brazil. Brazilian pavilions had begun to attract public attention since 1889 in Paris, but in this new arrangement of transnational forces Brazilian engineers would become recognised in the expositions in the USA, firstly with the prize awarded to Francisco Marce-lino de Souza Aguiar in Chicago and then with the design for the Brazilian pavilion in St Louis (which would be re-constructed in Rio as the Federal Senate Building - Palácio Monroe, now destroyed).

So the third wave of economic and technological ex-pansion caused by the development of electricity, the tele-phone and the motor vehicle accelerates the internationali-sation of the domestic economy. But it is from an American point of view that Brazilian intellectuals and authorities see themselves and the modernisation of the country.

Within this context the expansion of the Mail and Te-legraph services becomes a valuable strategic task. They have to contribute to a dual process of unifying Brazil by creating regular networks through agencies and service posts spread throughout the country and continuing the faster integration of an increasingly large and more esta-blished Brazil with an economic system and an ever more international borderless network of trade and exchange.

GLOBALISATION AND PAN-AMERICANISMThe 1908 National Exposition was the seventh national

exposition organised in Rio de Janeiro. It represented the peak and also the start of a questioning of the classifi-cation process of countries whose parameters had been

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6 Nesse contexto, os Correios e Telégrafos e a expansão de seus serviços passam a ser uma tarefa estratégica e que exige ser valorizada. Eles deveriam contribuir em um duplo processo: unificar o Brasil criando redes regulares de contato através de agências e postos de serviço dis-tribuídos por todo o território e continuar a integrar mais rapidamente esse Brasil cada vez mais concreto e vasto como sistema econômico à uma rede sem fronteiras de comércio e trocas, cada vez mais internacional.

GLOBALIZAÇÃO E PAN-AMERICANISMO A Exposição Nacional de 1908 foi a sétima exibição

nacional realizada no Rio de Janeiro. Ela representou o auge mas também o início do questionamento de um pro-cesso classificatório de países cujos parâmetros haviam sido construídos a partir de um conceito eurocêntrico de cultura. Por outro lado, ao comemorar o centenário da Abertura dos Portos ao livre comércio, ela celebrava a própria cultura capitalista e industrial que firmara suas bases durante o século XIX.

Entretanto, ela marca também uma inflexão ao propi-ciar a realização de um inventário do país não para ser exibido para fora de suas fronteiras, mas para os próprios brasileiros. É a partir desse “Brasil em exposição” que o país passa a ser visto de dentro e uma visão “interna” também começa a ganhar forma e, mais do que isso, a definir com mais clareza políticas conseqüentes para o país e suas cidades e regiões.

Na verdade, a proclamação da República e, sobre-tudo, as reformas urbanas da Capital Federal realizadas pelo Ministério de Viação e Obras Públicas e pela Prefeitu-ra do Distrito Federal, marcaram novos tempos na história do país. Juntamente com os mecanismos simplistas de exi-bição e leitura do desenvolvimento dos países instituídos com as Exposições Universais, a modernização da arqui-tetura da área central e do Porto do Rio de Janeiro era percebida como se o Brasil inteiro subitamente houvesse modernizado o conjunto de suas instituições e a própria mentalidade e os hábitos dos seus habitantes.

O sucesso obtido pelos pavilhões brasileiros na Expo-sição Universal de 1893 em Chicago e na Exposição Uni-versal de Saint-Louis em 1904, além do acúmulo de me-dalhas e prêmios que os expositores passaram a ganhar em cada exposição, contribuiu para construir o clima de otimismo em relação ao crescimento do país durante a primeira década do século XX. Parecia, dessa forma, que o Brasil tinha encontrado o seu próprio rumo para alavan-car o seu desenvolvimento.

Favoreceram esse sentimento positivo ainda dois outros fatores: a reconstrução, com sucesso, do pavilhão do Brasil na Exposição de Saint-Louis no Rio de Janeiro, batizado

constructed based on a Eurocentric concept of culture. On the other hand, by commemorating the centenary of the Opening of the Ports to free trade, it celebrated the actual capitalist and industrialist culture whose bases had been established during the 19th century.

But it also marks a change in encouraging organisa-tion of an inventory of the country that was not for display beyond its borders but for Brazilians themselves. Based on the exposition of Brazil the country will begin to be seen from within and an ‘inner’ view of the Brazil will also start to take shape, together with clearer definition of relevant policies for the nation and its cities and regions.

Indeed, the proclamation of the Republic, and particu-larly the urban modifications to the Federal Capital car-ried out by the Ministry of Roads and Public Works and the Federal District Council, marked a new period in the country’s history. As a result of the simplest mechanisms of display and reading of the development of countries with established Universal Expositions, the modernisation of the architecture in the central and port areas of Rio de Janeiro was perceived as if the whole of Brazil had magically mo-dernised its institutions and the actual mindset and customs of its inhabitants.

The success of the Brazilian pavilions at the 1893 Uni-versal Fair in Chicago and in St Louis in 1904, together with the accumulation of medals and awards by exhibitors at each exposition, contributed to the construction of a cli-mate of optimism in relation to the country’s growth during the first decade of the 20th century. It seemed as if Brazil had found its own way of ramping up its development.

Two other factors added to this positive feeling: firstly the successful reconstruction in Rio de Janeiro of the Bra-zilian pavilion from the St Louis Exposition, christened the Palácio Monroe; secondly the organisation of the 3rd Pan-American Conference in 1906, also in the Federal Capital, on the premises of the recently reconstructed pavilion. Both events reignited discussions about how the new economic period the country was experiencing was in less than “five years Brazil better known than in the four centuries of its existence”.

This mixture of Pan-American feelings and “mild patrio-tic joy” can be seen in Kosmos magazine, with comments on its pages about how much, on the occasion of the event in the Unites States,

“our economic strengths were defined as comparable with the old countries of other continents, seen to be perfect in our industrial products, huge in the expansion of our agri-culture, wonderful in the products of our nature, so as to pla-ce Brazil in such an advantageous situation in which it could well be said we are the winners at the giant fair.”

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como Palácio Monroe; e a realização da III Conferência Pan-Americana de 1906, também na Capital Federal, nas próprias dependências do pavilhão recém construído. Ambos eventos reativavam as discussões sobre o novo momento econômico do país que vinha fazendo com que em menos de “um lustro se tornasse o Brasil mais conheci-do do que nos quatro séculos que tem de existência”.

Esse misto de sentimento pan-americanista e “suave alegria patriótica” podia ser acompanhado na revista Kosmos que comentava em suas páginas o quanto, por ocasião do evento nos Estados Unidos,

“desenharam-se as nossas forças econômicas, dignas de ombrear com as dos velhos povos dos outros continentes, manifestando-se perfeitas em nossos artefatos industriais, enormes na expansão de nossa agricultura, maravilhosas nos produtos de nossa natureza, de sorte a colocar o Brasil em tal situação de avantajamento, que na gigantesca feira bem se pode afirmar – fomos nós os vencedores.”

A idéia da exposição nacional surgiu no Congresso de Expansão Econômica, em 1905, por sugestão da impren-sa e foi acatada pelo Congresso Nacional, que votou o orçamento para sua realização em julho de 1907. Destina-da “a marcar no caminho dos séculos o primeiro estágio da vida do Brazil no mundo civilizado”, quatro grandes ramos da atividade nacional deveriam ser contemplados – agricultura, indústria, pecuária e artes liberais.

Mas os brasileiros, conheciam eles o Brasil? A pergun-ta era pertinente na medida em que a exposição de Saint-Louis retirara o país da doce ilusão e do conforto da sua posição periférica revelando a fecunda atividade e os pro-gressos de vários setores da industria nacional, do quais só se falava em tons de piada. Os brasileiros pareciam mais se interessar “pelo que vai por além-mar do que o acontecido dentro das raias do nosso vastíssimo território”. Se a Exposição de Saint Louis foi uma “maravilha” para o estrangeiro, era preciso confessar “que talvez fossemos nós mesmo os mais maravilhados.”

É a constatação de que o país ignorava as suas pró-prias conquistas e as suas potencialidades, em quase um século de Independência que explica a rapidez e o entu-siasmo com que foi montada a Exposição Nacional de 1908. A comemoração do centenário da abertura dos portos foi o pretexto para compor o “retrato” da nação.

OS PREPARATIVOS Os preparativos da Exposição Nacional começaram

sob a presidência de Afonso Pena sob a tutela do seu Ministro da Indústria, Comércio, Viação e Obras Públicas, Miguel Calmon du Pin e Almeida. Em outubro de 1907,

The idea of a national exposition thus arose at the 1905 Congress of Economic Expansion on the suggestion of the press and was accepted by the National Congress, which voted a budget for its completion in July 1907. In-tended, in the words of the time, to “mark the path though the centuries of the early stages of life of Brazil in the civi-lised world”, four major fields of domestic activity were to be considered – agriculture, industry, livestock and liberal arts.

But did the Brazilians know Brazil? The question was relevant in that the St Louis exposition had removed the country from the fond illusion of its comfortable periphe-ral position and revealed fertile activity and progress in various sectors of domestic industry, which had previously only been spoken of jokingly. Brazilians seemed more inte-rested in “what is going overseas than what is happening in our enormous territory”. If the St Louis exposition was a “wonder” for others, it had to be admitted that “perhaps we could be the most marvellous”.

The fact that the country ignored its own successes and even more so its potential during almost a century of inde-pendence, explains the speed and enthusiasm with which the National Exposition was organised in 1908. The com-memoration of the centenary of the opening of the ports was the pretext for constructing a “portrait” of the nation.

THE PREPARATIONS

Preparations for the National Exposition began under the presidency of Afonso Pena, supervised by his Minis-ter of Industry, Trade, Roads and Public Works, Miguel Calmon du Pin e Almeida. In October 1907, the minister formed an executive committee of 41 members presided over by the Engineer Antônio Olyntho dos Santos Pires, ex-Minister of Roads and teacher at the School of Mines in Ouro Preto. It was also decided that in terms of logistics all the transport costs for exhibited objects would be paid by the Federal Government and delegates were sent to all states of the Federation to promote the event.

Mindful of the impact of the exhibition for the develop-ment of the city, Minister Miguel Calmon analysed various locations for hosting the event. It should be noted that the Federal District Council was headed by the engineer Colo-nel Francisco Marcelino de Souza Aguiar, who as a dele-gate and recipient of honours and awards at the Chicago and St Louis expositions had accumulated considerable experience at organising this type of exhibition.

Several sites in the city were therefore analysed and re-jected, either for being too small or for locational reasons or because operational costs: the as yet unconstructed lan-dfill site of the new Port, Campo de São Cristovão and the Quinta, Campo de Santana, Russel and Santa Luzia

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6 o ministro formou uma comissão executiva composta por 41 membros tendo como presidente o engenheiro Antônio Olyntho dos Santos Pires, ex-Ministro da Viação e profes-sor da Escola de Minas de Ouro Preto. Decidiu-se que do ponto de vista logístico, todos os gastos com os transporte dos objetos que deveriam ser expostos seriam pagos pelo Governo Federal e, a fim de promover o evento, foram enviado delegados a todos os estados da Federação.

Cioso do impacto da mostra para o desenvolvimen-to da cidade, o Ministro Miguel Calmon analisou vários locais para sediar o evento. Deve-se notar que à frente da Prefeitura do Distrito Federal estava o próprio coronel-engenheiro Francisco Marcelino de Souza Aguiar, que, como delegado e recebedor de honras e prêmios nas exposições de Chicago e Saint-Louis, acumulava grande experiência na organização desse tipo de mostra.

Assim, foram analisados e descartados diversos terre-nos na cidade, ora por serem muito pequenos, ora por questões locacionais, ora pelos custos da operação: a área aterrada e ainda não construída no novo Porto, o Campo de São Cristovão e a Quinta, o Campo de Santana, as Praias do Russel e de Santa Luzia. Em fins de 1907, o próprio ministro decidiu-se pela região da Praia da Saudade, onde dois edifícios pertencentes à esfera federal poderiam ser aproveitados, reduzindo os custos. O primeiro era o da Escola Militar, em estado de aban-dono à época, e o segundo o da projetada Universidade do Brasil, cuja pedra fundamental havia sido lançada em 1881, mas que permanecia inacabado.

A área de 182.000m2, compreendida entre a Praia da Saudade e a Praia Vermelha, e situada entre o mar e a montanha, oferecia um aspecto pitoresco e sua escolha já apontava para a valorização da orla como espaço de lazer. Uma nova frente de urbanização acabaria, assim, sendo “criada” graças a novos aterros hidráulicos na área e, do ponto de vista do acesso, a um esquema de trans-portes que contava com os novos bondes elétricos da Light and Power e modernas barcas da Companhia Cantareira, construindo-se para tanto um ancoradouro.

Antes mesmo que o plano geral da exposição estives-se decidido, foram iniciadas as obras de infra-estrutura. Durante um curtíssimo período de hesitações, uma primeira proposta para a ocupação da área da Praia da Saudade chegou a ser estudada pelo Dr. Buarque de Macedo e vei-culada pela imprensa, mas seria rapidamente abandona-da. O projeto aprovado pela comissão entre setembro e outubro de 1908 começou por mudar a localização e dar maior grandiosidade à porta de acesso ao recinto pro-priamente dito da Exposição Nacional. Sua concepção foi confiada ao arquiteto René Barba, que inspirou-se na Porta Triunfal da Exposição Universal de 1889, em Paris.

beaches. At the end of 1907, the minister himself decided on the region of Praia da Saudade, where the two perma-nent federal buildings could be used, reducing costs. The first was the Military School, in a state of neglect at the time, and the second was the planned University of Brazil, whose foundation stone had been laid in 1881, but which remained unfinished.

The 182,000 m² area between Praia da Saudade and Praia Vermelha, situated between the sea and the moun-tain offered a picturesque view and its choice already pointed to appreciation of the shore as a leisure area. A new area of urbanisation would therefore be “created” with new landfills in the area and, from the point of access, the transport scheme featuring the new Light and Power trams and modern boats belonging to the Cantareira Com-pany, requiring the construction of moorings.

Work began on the infrastructure even before the ove-rall exhibition plan had been decided. During a very short period of hesitation, the initial proposal for occupation of the Praia da Saudade area was studied by Dr. Buarque de Macedo and published in the press, but was soon abando-ned. The project approved by the committee in September and October 1908 began by changing the location and paying greater attention to importance of the National Ex-position site access gate, designed by the architect René Barba based on the Triumphal Gateway to the 1889 Uni-versal Exposition in Paris.

The group was structured by an imposing access some 30 m wide and 560 m long, known as Avenida dos Es-tados – now part of Avenida Pasteur. Starting from the Monumental Gateway, the avenue led visitors to the old Military School building, totally restored as the Pavilion of Industries. The perspective was crowned by an illumina-ted fountain consisting of planes of water and fountains forming a huge Château d eau or reservoir built with the modern technology of reinforced concrete.

At the beginning of the avenue the old University be-came the Palace of the States and was adapted to receive representations from several states in the Federation. A suc-cession of grass and gardens ran along the axis, punctua-ted by squares and streets, housing isolated pavilions. Two ring roads skirted the slopes of the Urca and Babilônia hills and a small railway was built inside for public transport.

From January to June 1908, architects, masons, carpen-ters, mechanics, plasterers, plumbers, electricians, tilers, wall painters and artist painters transformed the construc-tion site into a swarm of workers and craftsmen, as recor-ded in the memoirs of Ferreira da Rosa, allowing construc-tion of the National Exposition setting as an enchantment.

The National Exposition opened on August 11 and re-mained open to the public until November 15 1908, with

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Um imponente eixo com 30 metros de largura e 560 metros de extensão, a chamada Avenida dos Estados – hoje parte da Avenida Pasteur – estruturava o conjunto. Partindo da Porta Monumental a avenida levava os visi-tantes até o edifício da antiga Escola Militar, totalmente re-formada para receber o Pavilhão das Indústrias. Coroava a perspectiva uma fonte luminosa, composta por planos d’água sinuosos e chafarizes, formando um gigantesco Château d eau – isto é, um reservatório – construído com a moderna tecnologia do cimento armado.

Situado no início da avenida, o edifício da antiga Uni-versidade passou a ser chamado Palácio dos Estados e foi adaptado para receber as representações de diversos estados da Federação. Ao longo do eixo, sucediam-se gramados e jardins, entrecortados por praças e ruas, aco-lhendo os pavilhões isolados. Duas vias de contorno mar-geavam as encostas dos morros da Urca e da Babilônia e uma pequena via férrea foi construída para a locomoção do público, internamente.

Arquitetos, pedreiros, carpinteiros, mecânicos, estuca-dores, bombeiros, eletricistas, ladrilheiros, pintores “de liso” e artistas pintores transformaram o canteiro de obras de janeiro a junho de 1908 em um formigueiro de operá-rios e artífices, como registra Ferreira da Rosa em suas me-mórias, permitindo a construção do cenário da Exposição Nacional, como um “encantamento”.

A Exposição Nacional foi inaugurada em 11 de agosto e esteve aberta ao público até 15 de novembro de 1908, recebendo investimentos maciços do Governo da União, da Prefeitura do Distrito Federal e dos estados.

A EXPOSIÇÃO DE 1908 E SEUS CONSTRUTORES“Parece-nos, ainda, um sonho esse inesperado apa-

recimento da pequenina cidade de palacetes nos areais da Urca...” A revista Kosmos traduzia assim o sentimento de deslumbramento em relação às obras realizadas para a Exposição Nacional. Mais de trinta novas construções haviam surgido na esplanada entre a Praia da Saudade e a Praia Vermelha entre janeiro e agosto de 1908, quando a feira abriu suas portas. O responsável direto por este feito havia sido José Mattoso Sampaio Correa, Inspe-tor Geral das Obras Públicas, designado pelo Ministro Miguel Calmon como Presidente Honorário da Exposição e engenheiro-chefe da Comissão Construtora.

Sampaio Correa realizou uma obra arrojada na Expo-sição, introduzindo em quase todos os edifícios sob sua responsabilidade a nova técnica do cimento armado em paredes, estruturas e moldagens. Introduziu também siste-mas complexos de adução e bombeamento d’água utili-zando ainda uma outra tecnologia que apenas começava a generalizar-se no Rio de Janeiro: a energia elétrica.

substantial investments from the National Government, the Federal District Council and the states.

THE 1908 EXPOSITION AND ITS BUILDERS “The appearance of the little town of palaces on the

sands of Urca still seems like a dream…” was how Kos-mos magazine translated the sense of wonder surrounding the construction works for the National Exposition. More than thirty new buildings had appeared on the esplana-de between Praia da Saudade and Praia Vermelha from January to August 1908, when the fair opened its gates. The person directly responsible for this feat had been José Mattoso Sampaio Correa, the General Inspector of Public Works designated by Minister Miguel Calmon, Honorary President of the Exposition and chief engineer of the Buil-ding Committee.

Sampaio Correa carried out enterprising work at the Exposition, introducing the new technique of reinforced concrete for the walls, structures and mouldings of almost all the buildings he was responsible for. He also introduced complex water supply and pumping systems using another technology that had only recently become common in Rio de Janeiro: electricity.

The Building Committee consisted of four engineers and two architects, and faced various technical problems. So-metimes it was the foundation stones and concrete coating for building the wharfs, the stability of the construction of the Palace of Industries, supply to the Château d’eau to enable a constant flow of water to the Fountains, or the electric lighting of the Monumental Gateway. Sometimes it involved definition of sites to house pavilions that had not initially been programmed, such as the Fire Brigade, and the Press. However, nothing required so much attention as the short-notice change of location and design of the Portu-guese Pavilion while still guaranteeing dimensions compa-tible with those of the original project to be able to house the showcases and material that had been sent by ship.

Sampaio Correa received many official honours and compliments in the press for his work. The two architects from the Building Committee were also singled out. In addi-tion to the Monumental Arch, René Barba also devised the new facades for the Pavilion of Industries and the Sugarlo-af Restaurant, the most elegant of the Exposition. Francisco Isidoro Monteiro was responsible for the João Caetano Theatre and adaptation of the Palace of the States.

THE RHETORIC OF THE PAVILIONSIn addition to the Federal District and Portugal, the only

guest country, four federal states would build their own pa-vilions – Bahia, Minas Gerais, São Paulo and Santa Cata-rina. Modernisation of the country and certain federal and

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4 - Palácio dos Estados, edifício onde foram exibi-dos os produtos de diversos Estados da Federação e de Repartições Públicas do Governo Federal. 4 Palácio dos Estados, the building where the products of various states and of the Public Offices of Federal Government were displayed.

5 Projeto do edifício que acolheu a exposição preparatória para escolher os produtos do Estado de São Paulo que seriam enviados à Exposição de 1908. Projeto do engenheiro Hipólito Gustavo Pujol Junior.5 Project of the building that housed the exhibition preparatory to choose the products of the State of Sao Paulo, which would be sent to the Exhibition of 1908. Project done by the engineer Gustavo Hipolito Pujol Junior.

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A Comissão Construtora era composta por quatro en-genheiros e dois arquitetos e se desdobrou, enfrentando diferentes problemas técnicos: ora tratava-se do enroca-mento e vedação em cimento da construção do cais, da estabilidade da construção do Palácio das Indústria, do abastecimento do Chateu d’eau para permitir o constante fluxo e nível de água dos chafarizes ou da iluminação elé-trica da Porta Monumental, ora tratava-se da definição de terrenos para acolher pavilhões inicialmente não progra-mados como o do Corpo de Bombeiros e o da Imprensa. Nada, entretanto exigiu tanta atenção como resolver, em tempo hábil, a mudança de local e projeto do Pavilhão de Portugal, garantindo, entretanto, dimensões compatíveis com as do projeto primitivo para poder receber as vitrines e o material que já havia sido expedido em navio.

Sampaio Correa recebeu inúmeras homenagens ofi-ciais e elogios na imprensa por seu trabalho. Os dois arquitetos da Comissão Construtora também se notabili-zaram. René Barba, além do Arco Monumental também concebeu as novas fachadas do Pavilhão das Indústrias e o Restaurante do Pão de Açúcar, o mais elegante da Ex-posição. Francisco Isidoro Monteiro, além da adaptação do Palácio dos Estados, foi o responsável pelo edifício do Teatro João Caetano.

A RETóRICA DOS PAVILHõES Além do Distrito Federal e de Portugal, único país con-

vidado, quatro estados da federação construíram pavi-lhões próprios – Bahia, Minas Gerais, São Paulo e Santa Catarina. A modernização do país e de certos setores administrativos federais e municipais podia também ser atestada em vários outros edifícios como os Pavilhões dos Estados, o das Indústrias, o dos Correios e Telégrafos, o do Corpo de Bombeiros, o da Inspeção de Matas e Flo-restas, o do Jardim Botânico e até mesmo na presença discreta do edifício da Assistência Municipal.

Certos ramos da atividade industrial ou econômica também se fizeram presentes afirmando seu desenvolvi-mento em requintados pavilhões – como o da fábrica de tecidos Bangu (projeto em estilo mourisco do diretor da empresa José Villas Boas) ou o da Sociedade Nacional da Agricultura, em estilo renascença (construído pelo en-genheiro Souza Reis, secretário da instituição).

No campo artístico, o desenvolvimento, refinamento e atualização do país podia ser medido na produção exibida no Pavilhão das Artes Liberais, que expunha plantas e maquetes dos edifícios da exposição e a obra de artistas como os irmãos Bernardelli, Visconti, Batista da Costa, Rodolfo Amoedo, Belmiro de Almeida, Nicolina Vaz de Assis, Ernesto Giradet, entre outros.

No Pavilhão Egípcio, o maestro Alberto Nepomuceno,

municipal administrative sectors could also be seen in seve-ral other buildings, such as the Pavilions of the States, Indus-tries, Mail and Telegraphs, the Fire Brigade, the Forests and Woodland Inspectors, the Botanical Gardens and even the discreet presence of the Municipal Assistance building.

Certain branches of industrial or economic activity were also present, confirming their development in sophisticated pavilions – such as the Bangu textiles factory (a Moorish design by the company director, José Villas Boas) or the National Agriculture Society , in a renaissance style (built by the engineer Souza Reis, the institution secretary).

The country’s development, refinement and modernisa-tion in the field of the arts could be measured by the work displayed in the pavilion of the Liberal Arts, with an exhi-bition of the exposition building plans and models and the work of artists like the Bernardelli brothers, Visconti, Batista da Costa, Rodolfo Amoedo, Belmiro de Almeida, Nicolina Vaz de Assis, Ernesto Giradet.

In the Egyptian pavilion the conductor Alberto Nepo-muceno, head of the National Institute of Music, had run a campaign in favour of singing in the national language, but organised concerts honouring recognised European composers such as Rimski-Korsakov, who died in 1908, and the modern composer Claude Debussy.

The 870m2 Teatro João Caetano was an imposing part of the group and its green and gold internal decoration de-vised by the bold fantasy of Raul Pederneiras, was celebra-ted for its originality. Its large, pleasant, perfectly designed practical and comfortable space, staged various plays by Arthur Azevedo.

In all the works for the 1908 National Exposition the contracted architects intended the architectural langua-ge of their buildings to emblematise the importance of each state, the “industry” of its population or its economic strength. However, four buildings stood out for being not just almost face to face or side by side but also for their messages of magnificence, sobriety, elegance, monumen-tality, luxury or rusticity, seeming at times complementary but above all contrasting, if not contradictory.

Immediately after passing through the Monumental Ga-teway, the visitor would be surprised by the pavilions of Bahia and Minas Gerais, both from the architect Rafael Rebecchi. The former, occupying 450m2, was in an Italian renaissance style with its 38-metre height and three floors crowned by a dome featuring a sculpture of the goddess of Victory holding a laurel wreath. On the ground floor a sculptural group allegorically represented the state of Bahia, and on the first landing an allegory of the state capital could be seen with the figure of Catarina de Pa-raguassú. It was built by the director of the Polytechnic School of Bahia, the engineer Arlindo Fragozo.

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6 à frente do Instituto Nacional de Música, vinha fazendo uma campanha em prol do canto em língua nacional, mas organizou concertos homenageando reconhecidos com-positores europeus como Rimski-Korsakov, que faleceu em 1908, e o moderno Claude Debussy.

O Teatro João Caetano se impunha no conjunto com seus 870m2 e sua decoração interna em tons de verde e ouro, idealizada pela fantasia audaz de Raul Pederneiras, foi celebrada pela sua originalidade. Em seu espaço bas-tante vasto, agradável, perfeitamente delineado, prático e confortável foram encenadas várias peças de Arthur Azevedo.

Em todas as obras da Exposição Nacional de 1908 os arquitetos contratados buscavam que a linguagem arquite-tônica de seus edifícios emblematizasse a importância de cada estado, a “indústria” de sua população ou a própria pujança econômica. Entretanto, quatro edifícios se sobres-saíram, não apenas por estarem quase frente a frente ou lado a lado, mas também por que suas mensagens de magnificência, sobriedade, elegância, monumentalismo, luxo ou rusticidade, mostravam-se em alguns casos com-plementares mas, sobretudo, contrastantes, senão contra-ditórias.

Apenas ultrapassando a Porta Monumental o visitante já se surpreendia com os pavilhões da Bahia e de Minas Gerais, ambos projetados pelo arquiteto Rafael Rebec-chi. O primeiro, com área de 450m², exibia estilo Renas-cença Italiana e com seus 38 metros de altura em três pavimentos era coroado com uma cúpula destacando-se uma escultura da deusa Vitória, com uma palma de louros nas mãos. No térreo, um grupo escultórico representava alegoricamente o estado da Bahia em seu conjunto e no primeiro patamar, via-se a alegoria da própria capital do estado e a figura de Catarina de Paraguassú. Foi constru-ído pelo diretor da Escola Politécnica da Bahia, o enge-nheiro Arlindo Fragozo.

O pavilhão de Minas Gerais, além de possuir área sig-nificativamente maior, com seus 650m² e com sua torre de 62 metros de altura encimada por um foco luminoso, pon-tuava a importância política de Minas Gerais na relação de forças políticas da 1a República. O próprio presidente do Estado fizera os desenhos iniciais do edifício. Aqui, no desenvolvimento de projeto, Rebecchi adotara o que era uma revolução na época – um edifício sem estilo definido – que, no entanto, impunha-se pela riqueza e elegância de sua ornamentação. A imprensa, ao comentar o pavi-lhão de Minas Gerais, sublinhava como o edifício soubera simbolizar duas virtudes capitais dos mineiros: a altivez serena e a modéstia afável, mas na verdade parecia, in-diretamente, criticar o pavilhão do estado de São Paulo, em sua exuberância estilistica e em seu monumentalismo.

As well a occupying a significantly larger area of 650m2 and with a 62-metre tower topped by a light sour-ce, the Minas Gerais pavilion pointed to the political im-portance of Minas Gerais in the play of power in the 1st Republic. The president of the state himself had done the initial drawings for the building. Here, Rebecchi had deve-loped the project by adopting a revolutionary approach at the time – a building with no defined style – which, however, made an imposing presence through the wealth and elegance of its ornamentation. Press comments on the Minas Gerais pavilion emphasised how the building knew how to symbolise the capital virtues of the state’s inhabi-tants: quiet pride and affable modesty, while the State of São Paulo pavilion seems to be criticised for its stylistic exuberance and monumentality.

The São Paulo representation was the most acclaimed by visitors, and the products from different areas of the state occupied several buildings, particularly two wings on two floors at the Pavilion of the States. Besides showing the state’s agricultural production and natural resources, the stands, showcases and kiosks also displayed textiles, machinery, leather products, ceramics, models of buildings and even a huge 11-meter panorama by the photographer Valério with a view of the state capital. But it was the pavi-lion built especially by the São Paulo state government for the National Exposition that caused greatest visitor impact.

Dominating the main square, this pavilion was the bi-ggest and most luxurious of the event. Designed by senior figures in São Paulo architectural scene at the time, Ra-mos de Azevedo and Ricardo Severo, it was executed by the architect Domiziano Rossi. The 1500m2 building was even bigger than the Federal District pavilion. It had an exhibition wing, but was intended mainly for official acti-vities, with a main hall for receiving Brazilian and foreign dignitaries and delegations, a ballroom and conference areas. The pavilion was profusely decorated with sculptu-res and decorative reliefs and was topped by no less than 12 domes. It was considered the most beautiful building at the National Exhibition, winning a contest sponsored by the Jornal de Commércio. Its opulence allows it be seen as the ultimate expression of the grandiloquent language attained by half a century of National and Universal exhi-bitions.

In contrast to São Paulo, the state of Santa Catarina at-tracted attention for its simple pavilion as a modest chalet built with 150 species of timber from the region, evoking the homes of immigrants and settlers. Noting the excessive Europeanization of the architecture of some of the buil-dings the Exhibition Journal recorded that certain natio-nal feelings had only been roughly sketched out: “Santa Catarina can say to the other states (...) ‘ your palaces

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6 Pavilhão Santa Catarina.6 Santa Catarina Pavilion.

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6 A representação de São Paulo foi a mais aclama-da pelo público e os produtos enviados pelos diversos participantes do Estado ocuparam vários edifícios e, so-bretudo, duas alas em dois pavimentos do Pavilhão dos Estados. Os estandes, vitrines e quiosques do estado, além de mostrar sua produção agrícola e seus recursos naturais, também exibia tecidos, máquinas, artefatos em couro, cerâmica, maquete de edifícios e até mesmo um grandioso panorama com uma vista de sua capital – o chamado panorama do fotógrafo Valério, com onze metros de extensão. Entretanto, era o pavilhão cons-truído especialmente pelo governo do Estado de São Paulo para a Exposição Nacional que causava o maior impacto nos visitantes.

Dominando a praça principal o pavilhão era o maior e mais luxuoso do evento. Projeto de Ramos de Azevedo e Ricardo Severo, figuras eminentes da arqui-tetura paulista da época, foi executado pelo arquiteto Domiziano Rossi. O edifício, com 1.500m2 era maior até mesmo que o Pavilhão do Distrito Federal e possuía uma ala expositiva mas destinava-se, sobretudo, às ativida-des oficiais, reunindo a sala de honra para receber as autoridades e delegações brasileiras e estrangeiras, o salão de festas e as áreas destinadas às conferências. O pavilhão era profusamente decorado com esculturas e relevos ornamentais e era coberto por nada menos que 12 cúpulas. Foi considerado o mais belo da Exposição Nacional, vencendo um concurso promovido pelo Jornal do Commércio. Com sua opulência, pode ser visto como a expressão máxima da linguagem grandiloqüente que a arquitetura das exposições Universais e Nacionais al-cançara em meio século.

Contrastando com São Paulo, Santa Catarina chamava a atenção pela sua simplicidade. Seu pavilhão era um modesto chalet construído com 150 espécies de madeira da região, evocando as residências dos seus imigrantes. Observando a europeização excessiva da arquitetura de alguns edifícios o Jornal da Exposição registrava um certo sentimento nacional que apenas se esboçava:

“Santa Catarina pode dizer aos outros estados (...) ‘seus palácios vieram do estrangeiro, ao passo que, em minha casa modesta, tudo é meu, tudo saiu do meu próprio seio, tudo é filho de minha pouca fortuna e do meu honrado trabalho.”

APRENDENDO SOBRE O BRASIL E A CAPITAL FEDERALO prefeito Francisco Marcelino de Souza Aguiar

nomeou uma comissão para organizar a forma de apre-sentação dos expositores do Distrito Federal. Foi decidida a construção de um pavilhão específico para a mostra da prefeitura, sendo que os demais expositores ocuparam

came from abroad, while in my modest home, everything is mine, everything came from my own heart, everything is a child of my small blessings and my honourable work’. “

LEARNING ABOUT BRAZIL AND THE FEDERAL CAPITALThe mayor, Francisco Marcelino de Souza Aguiar, ap-

pointed a committee to organize the presentation of the Federal District exhibitors. It was decided to build a special pavilion for the city council exhibition, with the remaining exhibitors occupying several buildings such as the Palace of the States and the Palace of Industries. The Botanical Gardens built a stand to show its own collection, and the Forest, Gardens, Planting, Fishing and Hunting Inspectora-te also held a special exhibition, occupying approximately 1,400m². The exhibitions as a whole occupied more than 4,000m².

The Federal District pavilion occupied about 1,100m² and was designed by the engineer Francisco Oliveira Pas-sos, who was also responsible for Rio de Janeiro Municipal Theatre. This was a sober building with the façade orna-mentation confined to a few reliefs, featuring the municipal coat of arms and the symbol of the republic – a female head. The building was crowned by a rotunda covered by a transparent dome. Its two floors showed the municipal administration’s most recent projects, focusing on primary and vocational education, health, hygiene and public as-sistance, and other urban improvements. The second floor was reserved for balls and receptions.

Apart from the elegance of the modernized classic sty-le of the architecture, attention was also focused on statis-tics. Under the organisation of Bulhões de Carvalho much data about the city and municipal services were shown, while the General Board of Statistics, an agency linked to the Federal Government, also displayed charts, maps and texts, providing a comprehensive picture of the country in figures and allowing analysis of imbalances of growth for the first time since the proclamation of the Republic.

A Notícia newspaper summed up the 1908 National Exhibition by noting that Rio de Janeiro had experienced the joy of thousands of people at first hand, “passing throu-gh lovely avenues by the seaside, or visiting the luxurious halls with such glorious displays of Brazilian energy and strength...”

LOOKING, STROLLING, LEARNING

Such a beautiful thing, an opulent combination of lights, until yesterday, we could only see it through the elegance of magazine pages... Yesterday Rio de Janeiro saw it first hand; noted the collective joy of maybe sixty-thousand people, walking through lovely avenues by the seaside, or visiting the

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luxurious halls with such glorious displays of Brazilian energy and strength… Cantareira and especially the Botanical Gar-dens have made the greatest efforts to serve the huge crowds passing through the monumental gateway of our Exposition minute by minute.

A Notícia newspaper’s report from the exhibition ope-ning may have been the feelings of locals and the thousan-ds of visitors during the three months that it remained open. The material appearing daily in the Rio press, together with the affordable entry price, made the National Expo-sition into a success.

The symphony concerts in the Egyptian Pavilion intro-duced young audiences to a mixed repertoire of classical music. Even before the opening, the Jornal de Commércio reported, a real musical education is intended with these concerts, which promise to be most interesting in terms of musical performance, choice of pieces, or the soloists.

The Exposition Theatre also included several Brazilian and foreign companies presenting comic operas and mu-sical concerts, in a clear aim at forming local taste. Visi-tors could also take part in battles of flowers and confetti, watch riding competitions, be captivated by the electric lighting in some of the pavilions or wonder at the domes-tic, Japanese and English fireworks. They could also go skating, watch the cinematographer Segreto or enjoy the wonderful view of the Bay, leaning over the railings in the Amusements Sector or at the two Restaurants – the Sugar-loaf and the Rustic.

More than one million people attended the 1908 Na-tional Exposition, and it brought in 11,286 exhibitors from Brazil and a further 671 from Portugal, definitively putting Brazil face to face with itself and the challenge of defining its place within an increasingly globalized and complex culture.

vários edifícios, como o Palácio dos Estados e o Palácio das Indústrias. O Jardim Botânico construiu um quios-que próprio para mostrar sua coleção, e a Inspetoria de Matas, Jardins, Arborização, Caça e Pesca também rea-lizou uma exposição especial que ocupava aproximada-mente 1.400m². Todas as exibições reunidas ocuparam mais de 4.000m².

O pavilhão do Distrito Federal possuía cerca de 1.100m² e fora desenhado pelo engenheiro Francis-co Oliveira Passos, também autor do projeto do Teatro Municipal do Rio de Janeiro. O edifício caracterizava-se pela sobriedade, e os ornamentos da fachada se limita-vam a alguns relevos, destacando-se as armas municipais e o símbolo da República – uma cabeça feminina. Uma rotunda coroava o edifício, sobre a qual se elevava uma alta cúpula transparente. Nos seus dois pavimentos foram exibidas as obras recentíssimas da administração muni-cipal, voltadas para a educação primária e profissional, saúde, higiene e assistência pública, além de outros me-lhoramentos urbanos. O segundo pavimento foi reservado aos bailes e às recepções.

Para além da elegância da arquitetura em estilo clás-sico modernizado, o outro foco de atenções foram as es-tatísticas. Sob o comando de Bulhões de Carvalho foram mostrados muitos dados da cidade e dos serviços munici-pais. Ao mesmo tempo, a Diretoria Geral de Estatística, órgão afeito ao Governo Federal, também exibiu diversos pictogramas, mapas e textos do país, fornecendo, pela primeira vez desde a proclamação da República, um vasto retrato do país em números, possibilitando, inclusive, a constatação das assimetrias de seu crescimento.

Como sintetizou o jornal A Notícia, na Exposição Na-cional de 1908 o Rio de Janeiro viu ao vivo e observou a alegria em conjunto de milhares de pessoas, “passando por encantadoras avenidas à beira mar, ou percorrendo os luxuosos salões em que a energia e a força brasileiras ostentavam gloriosamente...”

VER, FLANAR E INSTRUIR-SE

Coisa assim tão bella, combinação tão opulenta de luzes, até hontem, só nos fora dado ver na polidez de paginas de revistas... Ontem o Rio de Janeiro viu ao vivo; observou a alegria de conjuncto de talvez sessenta mil pessoas, passe-ando por encantadoras avenidas à beira mar, ou percor-rendo os luxuosos salões em que a energia e a força brasi-leiras ostentavam gloriosamente... quer a Cantareira, quer, principalmente, a Jardim Botanico empregaram o maximo de esforço em servir a estupenda onda de gente que, de minuto em minuto, invadiu a monumental porta de nossa Exposição.

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67 Planta baixa do 1o pavimento do Palácio dos Estados mostrando as áreas ocupadas pelos expositores do Distrito Federal e Estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraiba, Minas Gerais, Alagoas , Bahia , Piauí, Ceará, Sergipe, espírito Santo, Rio Grande do Norte, São Paulo, Rio de Janeiro, entre outros.7 First floor plan of the Palácio dos Estados showing areas occupied by the expositor of Distrito Federal and by the folowing States: Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraiba, Minas Gerais, Alagoas , Bahia , Piauí, Ceará, Sergipe, espírito Santo, Rio Grande do Norte, São Paulo, Rio de Janeiro, among others.

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8 Planta baixa do 2o pavimento do Palácio dos Estados mostrando as áreas ocupadas pelos expositores do Distrito Federal e Estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Mato Grosso, Rio Grande do Sul, Pará e Amazonas.8 Second floor plan of the Palácio dos Estados showing areas occupied by the expositors os Distrito Federal and by the folowing States: Rio de Janeiro, São Paulo, Mato Grosso, Rio Grande do Sul, Pará and Amazonas.

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6 O jornal A Notícia registrou, na abertura da Exposi-ção, o que talvez tenha sido o sentimento dos cariocas e dos milhares de visitantes durante os três meses em que esteve aberta a mostra. As matérias veiculadas diaria-mente na imprensa carioca, além dos preços módicos da entrada, fizeram da Exposição Nacional um sucesso.

Os concertos sinfônicos, realizados no Pavilhão Egípcio, introduziram as jovens platéias a um repertório variado e erudito. “É uma verdadeira educação musical o que se visa com esses concertos, que prometem ser do mais alto interesse, quer como execução, quer como escolha de peças, quer como solistas.”, comentava o Jornal do Commércio, antes mesmo da inauguração.

Com um intuito claro de formar o gosto local também se exibiram no Teatro da Exposição várias companhias brasi-leiras e estrangeiras, produzindo óperas cômicas, varieda-des e também concertos de música. Os visitantes podiam ainda participar das batalhas de flores e de confete, as-sistir aos concursos hípicos, se encantar com a própria iluminação elétrica de vários pavilhões ou se maravilhar com os fogos de artifícios de fábricas nacionais, inglesas e japonesas. Podiam também patinar, assistir ao cinema-tógrafo Segreto ou apreciar a maravilhosa vista da Baía, debruçando-se nas balaustradas do Setor de Diversões ou nos dois restaurantes – o do Pão de Açúcar e o Rústico.

Freqüentaram a Exposição Nacional de 1908 mais de um milhão de pessoas, e ela reuniu 11.286 exposito-res brasileiros e outros 671 portugueses. Definitivamente, colocou o Brasil diante de si próprio e do desafio de de-senhar o seu lugar dentro de uma cultura cada vez mais globalizada e complexa.

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BIBLIOGRAFIA

Ory, Pascal. Les Expositions Universelles de Paris. Paris: Ed. Ram-say, 1982.Union Centrale des Arts. Le livre des Expositions Universelles. Paris: Ed. des Arts Décoratifs, 1983.Aimone, Linda, e Carlo Olmo. Les Expositions Universelles 1851-1900. Paris: Belin, 1993.Chalet-Bailhace, Isabelle. Paris et ses expositions universelles. Paris: Ed. du Patrimoine, 2008.Neves, Margarida de Souza. As vitrines do progresso. Rio de Janeiro: PUC, 1986.Pereira, Margareth da Silva. “Uma arqueologia da modernidade brasileira – A participação do Brasil nas Exposições Universais.” em Revista Projeto 139, 1991.Pesavento, Sandra Jatahy. Exposições Universais: espetáculos da modernidade do século XIX. São Paulo: HUCITEC, 1997.Levy, Ruth. Entre Palácios e Pavilhões, a arquitetura efêmera da Exposicão Nacional de 1908. Rio de Janeiro: EBA, 2008.Correa, José Mattoso Sampaio. Relatório dos trabalhos executa-dos durante os anos 1907 e 1908 apresentado ao Ministro da Indústria, Viação e Obras Públicas. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1909.Diretoria Geral de Estatística. Boletim Comemorativo da Ex-posição Nacional de 1908. Rio de Janeiro: Tip. da Estatística, 1908.Kosmos. Revista Artística, Scientifica e Literaria. Rio de Janeiro: Anno 1907.Kosmos. Revista Artística, Scientifica e Literaria. Rio de Janeiro: Anno 1908.Ministério da Indústria, Viação e Obras Públicas: Relatório apresentado ao Presidente da República dos Estados Unidos do Brasil pelo Ministro Miguel Calmon Du Pin e Almeida. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, vol. 1, 1909.Rio de Janeiro, Guia da Exposição Nacional -1908. Rio de Ja-neiro: José Salerno, 1908.

BIBLIOGRAPHY

Ory, Pascal. Les Expositions Universelles de Paris. Paris: Ed. Ram-say, 1982.Union Centrale des Arts. Le livre des Expositions Universelles. Paris: Ed. des Arts Décoratifs, 1983.Aimone, Linda, and Carlo Olmo. Les Expositions Universelles 1851-1900. Paris: Belin, 1993.Chalet-Bailhace, Isabelle. Paris et ses expositions universelles. Paris: Ed. du Patrimoine, 2008.Neves, Margarida de Souza. As vitrines do progresso. Rio de Janeiro: PUC, 1986.Pereira, Margareth da Silva. “Uma arqueologia da modernidade brasileira – A participação do Brasil nas Exposições Universais.“ in Revista Projeto 139, 1991.Pesavento, Sandra Jatahy. Exposições Universais: espetáculos da modernidade do século XIX. São Paulo: HUCITEC, 1997.Levy, Ruth. Entre Palácios e Pavilhões, a arquitetura efêmera da Exposicão Nacional de 1908. Rio de Janeiro: EBA, 2008.Correa, José Mattoso Sampaio. Relatório dos trabalhos executa-dos durante os anos 1907 e 1908 apresentado ao Ministro da Indústria, Viação e Obras Públicas. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1909.Diretoria Geral de Estatística. Boletim Comemorativo da Ex-posição Nacional de 1908. Rio de Janeiro: Tip. da Estatística, 1908.Kosmos. Revista Artística, Scientifica e Literária. Rio de Janeiro: Anno 1907.Kosmos. Revista Artística, Scientifica e Literária. Rio de Janeiro: Anno 1908.Ministério da Indústria, Viação e Obras Públicas: Relatório apresentado ao Presidente da República dos Estados Unidos do Brasil pelo Ministro Miguel Calmon Du Pin e Almeida. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, vol. 1, 1909.Rio de Janeiro, Guia da Exposição Nacional -1908. Rio de Ja-neiro: José Salerno, 1908.