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A EXTENSÃO CULTURAL NOS MUSEUS Edgar Süssekind de Mendonça Técnico de Educação

A extensão cultural nos museus - Edgar Süssekind de Mendonça

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Livro sobre educação, politica e museologia.

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A EXTENSÃO CULTURAL NOS MUSEUS

Edgar Süssekind de Mendonça Técnico de Educação

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Ministério da Saúde e EducaçãoMUSEU NACIONAL

A EXTENSÃO CULTURAL NOS MUSEUS

Edgar Süssekind de MendonçaTécnico de Educação

1946IMPRENSA NACIONAL

Rio de Janeiro – Brasil

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"Nossa principal missão nesta casa (Museu Nacional), hoje, é tratar de difundir em nosso povo uma parte daquilo que ele precisa pra vir a ser o que merece”

(Roquete-Pinto – Discurso na sessão comemorativa do Centenário do Museu Nacional)

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“O domínio das fôrças naturais, dantes precário e escasso, torna-se preocupação absorvente, pela investigação deliberada da ciência. Experimenta-se, por todos os aspectos, uma nova técnica de viver.”

(Lourenço Filho – Prefácio a “Educação para uma civilização em mudança” de W. H. Kilpatrick).

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SERVINDO DE PREFÁCIO

Criada a Secção de Extensão Cultural no Museu Nacional do Rio de Janeiro, quis sua

diretora, D. HELOISA ALBERTO TORRES, olhar benevolamente para o meu passado de

cooperação pessoal em vários empreendimentos análogos. Daí a proposta do meu nome para aquela

Secção, feita ao Sr. Ministro da Educação, que, para atender-lhe, requisitou-me ao Ministério em

que trabalho (Ministério da Agricultura), promovendo outrossim, “ex-officio”, a minha

transferência para o corpo de técnicos de educação. Entendem as leis que tal transferência não se

pode satisfazer com títulos e documentos sôbre atividades especializadas; daí um concurso de

provas e uma monografia regulamentar; esta que se vai ler.

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A EXTENSÃO CULTURAL NOS MUSEUS

EDUCAÇÃO SUPLETIVA – No panorama educacional do Brasil, se o contemplamos do

ponto de vista alteado pelas possibilidades técnicas da divulgação cultural em nossos tempos, bem

diminuta é a área ocupada pela educação escolar, intencional, sistemática, como a queiram

denominar, dilatando ou restringindo um pouco seu domínio. Mesmo a boa nova estatística, que nos

tem trazidos ultimamente o Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos, falando-nos pela voz

autorizada de LOURENÇO FILHO1, não atenua senão de leve a impressão de que, no Brasil,

principalmente, a escola é o caso-exceção, num plano total de educação popular.

A palavra oficial denomina supletiva ao conjunto da educação que pretende suprir as faltas

cometidas pelas instituições comuns de ensino em relação aquela parte da população que

frequentou ou poderia ter frequentado a escola. Ora, invertendo a posição dos termos, colocando,

como é lógico a parte dentro do todo, o que devemos chamar supletiva será a instrução ministrada

dentro da escola, pois esta, sim. É que é o apêndice – nobre apêndice, não resta dúvida – do

organismo inteiro que é a educação da população toda do país...

No Brasil-presente, agora que estão falando os números2 também não julgamos ser de boa

norma terminológica referir o maior ao menos, continuando a chamar o conjunto mais vasto de

educação extra-escolar, para chamar educação tout-court, à pequenina parte privilegiada, a das

aulas e dos exames, que se deveria designar educação intra-escolar, para que o termo educação,

sem mais nada, designasse o todo.

EXTENSÃO CULTURAL – É dentro desse amplo conceito de educação generalizada que

vamos considerar a obra de extensão cultural; desta é que cabe aos museus papel insubstituível e, de

certo modo, preponderantemente, não só pelas suas características funcionais como por direito de

antiguidade.

1 LOURENÇO FILHO: Tendências da educação brasileira, Rio, 1940.2 M.A. TEIXIEIRA de FREITAS: O que dizem os números sobre o ensino primário, Rio, 1934

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De princípio, temos que distinguir entre duas noções um tanto embaralhadas pela

ambiguidade de denominação. Compreende-se por extensão cultural: 1.º) aquela porção maior de

um verdadeiro conjunto educacional, a porção que, por assim dizer, sobra do âmbito escolar (e que

melhor se denominaria difusão cultural se nesse termo, não estivessem incluídas também escolas,

cujo ensino sistematizada se quer justamente destacar do processo educativo que estamos

pretendendo definir; ou atividades extra-escolares, expressão que teria o inconveniente, já por nós

apontado, de dar importância exagerada à escola no conjunto da tarefa educacional) ; 2.º) o conjunto

das atividades suplementares a uma instituição qualquer de cultura, escola ou não escola, que a

articulam com o conjunto compreendido no caso 1.º é o que apenas considerando a alternativa

escola, costuma-se denominar atividade extra-classe.

Tal ambiguidade se reflete, sobretudo, nas questões em que entra em conta a idade do

educando. Habituados como estão os educadores a pensar em termos de escola, supõem sempre o

adulto presente quando se fala em extensão cultural, por ser este o fregues quase exclusivo da

educação supletiva, com a qual se confunde o sentido (1.º) de extensão cultural. É, sem dúvida, o

adulto a preocupação maior e mais característica da tarefa aqui considerada; tanto mais agora

quando, à luz das conclusões fundamentais de THORN_DIKE e sua escola, não se situa mais o

climax do aprendizado necessariamente na infância ou adolescência. Reportamos o leitor ao

trabalho que sobre o assunto escreveu o técnico de educação Prof. PASCHOAL LEMME ³3,

definindo precisamente o ponto de vista moderno sobre tão momentosa questão.

EXENSÂO CULTURAL NOS MUSEUS – Entretanto, em relação aos museus, isto é, em

relação às atividades que se somam às suas, específicas, de museus restrito-senso, a clientela da

extensão cultural abrange todas as idades. Seria elucidativo um quadro de dupla entrada, por idade e

por instituição (ensino sistemático e assistemático), em que figurassem com suas relações de

proximidade, as várias modalidades de ensino largo-senso, tais como: 1) para crianças e

adolescentes em escola, com os vários tipos clássicos de ensino primário e secundário, mais ou

menos especializados; 2) para adultos em escola, desde o ensino elementar de adultos às extensões

universitárias, sem esquecer as Universidades Populares; 3) para adultos, adolescentes e crianças

sem escola, toda a profusão de instituições mais ou menos ligadas, ou possíveis de ligar, à obra de

educação generalizada.

3 PASCOAL LEMME: Educação de adultos, Monografia para o concurso de técnico de educação do Ministério

de educação e saúde, Rio, 1938

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Destinando, porém tempo e espaço regulamentares ao tema, por definição delimitado,de

uma monografia, apenas fazemos referência a semelhante quadro de classificação, que, no entanto,

localizaria o domínio da extensão cultural nos museus traçando-lhe as articulações e cooperações

mais ou menos imediatas.

Relações entre museu e escola – Focalizando esse domínio, consideraremos em primeira

plana as relações Museu-Escola, a partir de dois pontos antagônicos; a escola e o museus em sua

concepção tradicional, para, acompanhando a evolução de ambas as instituições, arrastadas pelo

progresso técnico que se processa em crescente velocidade nos últimos decênios, aproximarmo-nos

de um ponto limite de coincidência, já que essa evolução das escolar e dos museus veio operando

em múltiplas interações, num sentido comum de ampla convergência de esforços para a educação

generalizada, tanto nas escolas como nos museus dos nossos dias.

1. A partir da escola – É clássica, em matéria de pedagogia, a libertação, cada vez mais

pronunciada e proclamada, do ensino escolar de sua antiga subordinação aos interesses exclusivos

da classe letrada; a sua adaptação crescente ao ambiente social mais ou menos democratizado, se

não no domínio político, pelo menos nesse domínio, tão ao parecer apolítico, do ensino, nas nações

progressivas; a unificação do dualismo aristocrático do pensamento e do trabalho, a principio

esboçada na fórmula “classicização do ensino profissional e profissionalização do ensino clássico”,

e, atualmente, corporificada em escolas comuns, escola-única, onde se aprende visando uma

realidade que não separa ideia concebida da idéia realizada; e finalmente, nesses suplementos das

extensões culturais, que servem para confirmar e atestar a comunhão, mais projetada que efetivada

(diga-se de passagem), da vida e das aulas. Vêde como a escola se exterioriza, como ela transborda

do âmbito restrito das suas salas de aula e, até mesmo, de seus gabinetes e laboratórios, para seus

museus, seus auditórios, seus parques... Galga uma escala ascendente em semelhante deistenção de

valores sociais acumulados: 1.º)atividades extra-curriculares... 2.º) atividades extra-classe... 3.º)

atividades extra-escolares.

A matéria tem sido suficientemente ventilada em bibliografia recente; vê-la-emos tão

somente junto a cada caso particular.

2. A partir do museu – Foi longa a caminhada dessa adaptação crescente de instituições,

como os museus, outrora segregados por estreita definição de seus propósitos culturais, a uma

sociedade renovada pela técnica. De lojas de curiosidades,ou, para usar a expressão mais franca, de

hospitais ou cemitérios de coisas 4, chegaram a ser, ou pretender ser, a síntese objetiva onde se

sumariam, a princípio as maravilhas e raridades, e depois a exemplificação representativa da

natureza e sociedade circundantes.

4 F. Vênancio Filho: A educação e seu aparelhamento moderno, S. Paulo, p.128

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Que poder interpretativo para escolher o que das acumulações passadas, deva ser reservado

para a contemplação presente! E que poder quase divinatório o de marcar com o índice da

perenidade, a serviço do futuro, este ou aquele aspecto na alucinante profusão da atualidade! Disse-

o, na sua frase iluminada de sempre, Anísio Teixeira 5: “trata-se de difundir a cultura humana, mas

de fazê-lo com inspiração, enriquecendo e vitalizando o saber do passado com a sedução, a atração,

o ímpeto do presente.”

Escolha-se um museu qualquer de longa existência; repete-se nele a mesma história de suas

transformações sucessivas; cada fase corresponde ao modo de cada geração compreendê-lo, tanto é

verdadeira observação de Francis Taylor 6de que “cada geração se viu forçada a interpretar esse

termo impreciso – museu – de acordo com as exigências sociais da época”.

A não se dar o caso de um certa etapa corresponder especificamente a um dado tipo de

museu, qualquer museu que evolua percorre, em linhas gerais, a sucessão seguinte (reparar que o

critério da evolução é o aumento de comunicabilidade com o público, que se torna cada vez menos

especializado): I) coleções exclusivamente para uso de iniciado; II) cursos de altos estudos, ou

sobre matéria especializada, a principio para o pessoal do museu, depois para candidatos ao ofício e

alguns poucos interessados, e, enfim, para um público seleto porém indiscriminado; III)

vulgarização das pesquisas, resultado vitorioso da penosa pregação de alguns poucos inovadores,

ainda mal vistos pelos colegas, que, em sua maioria, confundem vulgarização com vulgaridade; IV)

em conseqüência de semelhante publicidade externa, aparecem os pequeninos sintomas de

publicidade interna: letreiros, inteligíveis a todos, mostruários atraentes, material expressivo, quanto

mais freqüente mais representativo; como que o museus interpreta-se a si mesmo para depois ser

interpretado pelos outros...; V) os objetos, se bem que convenientemente publicados, estão soltos,

mentalmente falando, daí a intervenção do material complementar, principalmente de natureza

gráfica, que vem ocupar o seu devido lugar nas salas e mostruários, unificando o material exposto;

VI) está, então, preparado o palco para a grande função vitalizante dos museus, que é a

preponderância de suas preocupações de ensino: mas o museu ainda é do tipo estático, o material

está guardado em vitrinas fechadas, e que se acha fora delas, mas no qual é proibido tocar, ainda

não funciona, no sentido próprio, físico, da palavra; mas já se movimenta mentalmente ao impulso

de sua arrumação esquemático-funcional; por outro lado os museus vão ter a escola, cedem-lhe,

emprestam-lhe, doam-lhe, num transbordamento pletórico, o seu material a mais- a escola é o seu

principal agente de ligação com a vida lá de fora; VII) depois, criam toda a exuberância

comunicativa da extensão cultural, não digo que dispensando as escolas, mas excedendo-as na obra

comum da educação generalizada; VIII) por fim (etapa não atingida por tantos...), no museu tudo 5 Anisio Teixeira: Educação para a democracia, S. Paulo, 1936, p.1546 Francis Taylor: “Museum in a changing world”, The Museum Journal, vol. 40, Londres, 1938

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funciona, no duplo sentido físico e mental da palavra: e surgem os museus dinâmicos.

Tão oportuno foi esse enriquecimento de função social dos museus, somado às duas funções

específicas, a de preservar e a de investigar, que recebeu surto imprevisto o seu prestígio junto ao

público, pelo contrário que se estabeleceu entre eles e a porção mais numerosa da população local.

Autoridades insuspeitas, porque não pedagogos e sim técnicos de museus, entre as quais

destacamos Paul M. Rea7, reconhecem ser “bastante significativo que a grande expansão dos

museus”, na civilização atual, “tenha coincidido com a realização das suas obrigações educativas

para com o povo.”

A preponderância do fator educativo nos museus chega mesmo a alarmar Carlo E.

Cummings8, que longe está de poder ser acoimado de passadista; eis o seu grito de alarma: “Os

espécimes reais – isto é, sem transmutação pedagógica – começam a ter cada vez menos

importância, e a recuar cada vez mais para o fundo do quadro, a ponto de, em alguns casos

extremos, desaparecerem por completo! Os mostruários tornam-se cem por cento educativos e

perdem quase totalmente o seu caráter objetivo, que, afinal de contas, foi como iniciaram sua vida.”

T.R. Adam9, pelo contrário, exulta com a significação social desse amplo aprendizado pelo

museu e chega a inquirir se, diante da sua ação educativa mais desimpedida que a da escola,

“devem os museus se contentar em suplementar apenas os intrumentos de educação já existentes, ou

declarar-se uma instituição inicial de educação popular.”

Não foi, pois, em exagero de turista, mas em comedimento de técnico que o Prof. Venâncio

Filho10, no seu relatório de excursão aos Estados-Unidos da América, afirmou que, nesse país, “tem-

se a impressão de que os museus vivem a serviço da educação.”

Chegará breve a época em que não terá razão de ser nem mesmo a distinção de intencional

dada à educação pela escola para diferenciá-la da fornecida esporadicamente fora dela; basta,

apenas, que os museus e instituições congêneres dêm expressão regulamentar a uma situação de

fato, e proclamem a sua decisão de agir deliberadamente, intencionalmente, no processo educativo.

Nos Estados-Unidos, mil e um requisitos de organização social já foram conseguidos no

sentido dessa ampla compreensão da educação de todos por todos os órgãos em condições de fazê-

lo. Embora no Brasil e em outros países que, como ele, “não tem sabido tirar partido das

possibilidades educativas” das grandes invenções modernas, ainda seja por demais patente a

defasagem da técnica em relação a cetas situações sociais ou políticas que as desvirtuam, não

julgamos prematuro destinar marcada influência à ação combinada da escola com os agente extra-

escolares de cultura na obra da educação nacional, a começar pelo setor da extensão cultural nos

7 Paul M. Rea: “The fuction of Museums”, Proc. Of the American Association of Museums, 1912, p. 528 Carlo E. Cummings: East is East anda West is West, 1940, p. 2659 T. R. Adam: The Civic Value of Museums, New York, 1937, p. 1010 F. Venâncio Filho: “Relatório de excursão aos Estados-Unidos” Boletim de Educação Pública, Julho de 1935, Rio,

p.52

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museus de mais próximas operações, e que escolhemos para a nossa documentação.

Foi mesmo porque acreditamos nas possibilidades adaptativas do nosso sistema escolar a um

programa gradativo de difusão cultural, capaz de fazer recair também sobre os nosso patrícios os

benefícios da técnica a serviço da educação, que escolhemos semelhante tema para esta monografia,

a qual, não pretendendo trazer novidade sobre o assunto, nem mesmo encará-lo sob novo aspecto,

vale, entretanto, por um programa de ação, que se sabe exequível e se espera estar próximo de

realização.

Influência Recíproca das Escolas e Museus – Não tem sido das mais cordiais a recepção

feita pelas escolas a esse recém-chegado no ensino – o museu-, espécie de nouveau riche a quem se

olha um tanto de soslaio. No congresso da Museums Association, reunido na cidade de Leeds, em

1936, a questão da boa vizinhança mereceu especial atenção dos congressistas, tendo sido mesmo

lançado um apelo aos responsáveis pelos empecilhos – horários e programas exaustivos –

cultivados pela escola em detrimento da ação dos museus e outros órgãos de preparação intelectual;

apelo para que, daquela data em diante, fosse o museu considerado sócio solidário na tarefa

educativa, e não apenas – honra de ele declinava – sócio benfeitor...

Tem, assim, pleno cabimento que insistamos no ajustamento maior do conjugado Museu-

Escola, enunciando algumas das principais resultantes de sua influência recíproca.

I. Os museus devem à escola:

a) comunicabilidade crescente entre o material exposto e o público – resultante do conceito

essencial do ensino pela escola. Letreiros, gráficos, ilustrações de todo tipo, didaticamente

concebidos, tornando acessível à mentalidade dos observadores comuns o que outrora se reservava

para uso exclusivo dos especialistas.

b) ampliação da coleta de exemplares, do raro e maravilhoso para o comum e familiar – a

boa pedagogia substitui o rumo “do concreto para o abstrato”, “do simples para o complexo”, por

esse outro: “do próximo para o distante”, “do comum para o incomum”, adotando o princípio

estatístico da maior frequência da amostra, no rol dos valores regionais, como critério da

representatividade do exemplo. Esse realismo evitara, todavia, que se caia no prosaismo, mas não

deixará de obedecer ao preceito de ensino renovado consubstanciado nas seguintes palavras que

Roquette-Pinto escreveu em relação ao ensino da natureza11: “ a história natural das maravilhas deve

ceder lugar à história natural das banalidades”.

c) unificação do material pertencente a um mesmo conjunto natural ou social – é o princípio

pedagógico dos complexos “relativamente totais”, que fornecem temas para os “projetos” da escola

renovada. Os museus, em sua missão de conter uma concentração de cultura multifacetada,

ncessitam, para não apresentarem feição por demais dispersiva, cuidar da “coerência” de suas

11 Roquette-Pinto: “A história natural dos pequeninos.” A Educação, Rio, maio de 1926, p. 769.

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amostras, naturalmente esparsas: utilizará, para tanto, recursos complementares, tais como quadros

sinóticos, mapas, gráficos, com que, respectivamente, agrupará, localizará e articulará as peças

expostas, que devem “funcionar” juntas; sobreleva aqui o emprego da fotografia, para representação

indispensável das peças ainda ausentes ou impossíveis de expor.

d) ecologia dominando taxonomia – os mostruários recompõem, em miniatura uma região

“ajuntando na desordem natural os elementos de estudo que o método antigo separava.” É o

acréscimo de ambiência física e social aplicável a toda espécie de museus, e que corresponde ao

princípio didático da “globalização”. Para melhor corresponde às prerrogativas dos dois últimos

itens, o Museu de Birmingham faz preceder cada uma de suas secções de uma sala, ou simples

mostruário, que, em escala reduzida, porém aumentada indicação das relações funcionais de todo o

material exposto, servem com o que de prefácio explicativo ao que se vai pormenorizadamente

contemplar.

e) renovação dos temas de visitas escolares – para assinalar as transformações que

solidariamente se deram nos temas de aulas e de visitas aos museus, repercutindo no estique do

material exposto, Grace F. Ramsey12 registra um exemplo expressivo: em 1900, várias turmas

realizaram, no Americam Museusm of Natural History, de Nova-York, um estudo comparativo do

esqueleto dos mamíferos; já em 1937, entretanto, uma turma levou a efeito sucessivas visitas, para ,

tomando como motivo inicial um acontecimento de grande repercussão na época – o vOo dos

aviadores soviéticos por sobre o Polo Norte – estudarem a fisiografia das regiões árticas e os

costumes dos esquimós.

f) psicopedagogia aplicada aos museus – a influência da escola sobre os museus tem, nesse

assunto, o maior número de casos. Se lhe somarmos os ensinamento da psicologia da publicidade,

teremos quase todo o fundamento psicológico em que se baseiam as relaçoes de um museu moderno

para com o seu variadíssimo público. Esse grau de variedade, justamente, é que tem dificultado

concluirem-se preceitos de aplicação prática generalizada, legitimando resultados que poderiam ser

aqui descritos. O intrincado problema que constitui a essência de um capítulo de pedagogia a

escrever-se, “a pedagogia dos museus”, precisamente porque esta se pauta nas peculiaridades de

cada tipo de público, por sua vez pautadas nas peculiaridades de cada situação local, está a exigir

inquéritos e controle estatístico em grande colheita de dados, porquanto, sem tal pergaminho de

legitimidade, não se lhe permitirá entrada na nobiliarquia pedagógica... Não prescinde de

experiência direta, colhida na prática com o público dos museus, releguei-o, por isso, ao capítulo

das sugestões.

2. A Escola deve aos museus:

a) documentação objetiva intensificada – pois a expressão do pensamento nos museus não é

12 Grace F. Ramsay: Educational Work in Museums of the United State, New Yokr, 1938, p.76

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propriamente a palavra, senão a coisa, expressa pela palavra, mas obrigatoriamente presente. É a

retribuição da colaboração explicativa da escola na feitura dos letreiros, gráficos e guias de

coleções. Por documentação objetiva, compreenda-se também documentação gráfica, reprodução do

objeto por desenho ou fotografia, pois o de que se trata, nessa dívida da escola para com o museu, é

da substituição da noção puramente verbal pela imagem sensorial, realização longamente

amadurecida do Orbis Picturis de Commenius... Claro está que, só na ausência do objeto real, se

pede a representação pela imagem, pois esta, por mais fielmente que seja reproduzida, registra tão

somente o aspecto morfológico da realidade, não supre a integralidade objetiva do exemplar,

mormente necessária se se trata de tomá-lo como material de experiência. É noção por todos

admitida, mas que cumpre lembrada. Melo-Leitão13 tratando dos pontos essenciais da metodologia

da História Natural, com a sobriedade do homem de pesquisa, não achou superflúo dizer que

“reconhece a utilidade das boas figuras, quando, porém não haja objeto para a demonstração.” Certa

vez, debatendo no Instituo de Estudo Brasileiros a palestra de Venâncio Filho sobre a “Função

educativa dos museus”, Jônatas Serrano14, seu companheiro de exaltação do cinema educativo,

reclamou não ter o conferencista dado ao cinem um papel dominador nas atividades culturais do

museus, e, mais do que isso, a capacidade de substituí-lo vantajosamente.”Só o cinema” - são

palavras de Jônatas Serrano - “só o cinema resolve completamente o problema que os museus de

longe estão procurando solucionar. O cinema resolve aspectos do problema, que o museus, mesmo

dinâmicos, não resolvem”. Sim, a sucessão das fases todas de um acontecimento, a simultaneidade

de todas as particularidades morfológicas de um conjunto só a fotografia animada as reproduz; mas

o notável debatedor há de convir que, para o domínio experimental da documentação objetiva ( e é

essa a maior contribuição didática do museu a da escola) se é verdade que o cinema ganha em

variedade, o museu o sobrepuja em integralidade, apanágio da materialidade com que

insubstituivelmente, apresenta as suas amostas. Nos “museus escolares” ( tipo de que só

indiretamente aqui tratamos) a primeira característica é justamente essa – a de deve cada amostra

servir para a observação, se não experimentação, por parte do aluno.

b) visualização do ensino – aqui a função dos museus é subsidiaria de todo o vasto domínio

da fotografia aplicada, desde as ilustrações fotomecânicas até as projeções fixas e animadas. Ainda

o homem moderno não se deu conta, em toda plenitude, da revolução metodológica e emocional

quotidiana e aos momentos superiores em que fixa a móvel realidade para melhor conhecê-la e

melhorá-la. Nos domínios do ensino, então, a multiplicação do exemplário disponível para as aulas

e palestras foi simplesmente assombrosa.15 Um dos sintomas mais expressivos da falta de

13 C. De Mello Leitão: Methodologia da História Natural, Shola, Rio de Janeiro, Janeiro de 1930, p.1214 Jônatas Serrano: “Debate sobre a conferência “Função Educativa dos Museus”, de F. Venâncio Filho. Estudos

Brasileiros, Rio, 1939, p. 6615 Há referências minuciosas ao melhor aproveitamento didático da documentação fotográfica em trabalho anterior do

autor publicado com o título “Ensino e Cultura”, Estudos Brasileiro, Rio, maio-junho de 1940, p.675

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incorporação das projeções fixas e animadas ao ensino está no esforçarem-se ainda tantos

professores para que os alunos nomeiem exemplos, como se vivêssemos ainda na era pré-

fotográfica, isto é, quando a exigüidade relativa do documento visual tornava tarefa precípua da

escola o procurá-lo; mas agora, que ele prolifera na banalidade de ótimas fotografias, nas ilustrações

sem conta das revistas e compêndios e nas exibições cinematográficas que inundam os domínios

culturais que circundam a escola – que amplidão desimpedida para se exercitarem as abstrações

fecundas, porque ricamente exemplificadas, não se abre às possibilidades espirituais do ensino! Ora,

a benemérita função dos museus, nesse particular, foi a de ter aproveitado e sistematizado, antes da

escola e em muito para ela, os recursos inestimáveis da visualização.

c) enriquecimento da exemplificação – quer pelo exemplar exposto, quer mediante os

recurso gráficos (sobretudo fotográficos) de que sistematicamente se utilizam, aí temos uma das

maiores contribuições didáticas dos museus. Se atentarmos, então, para a verdadeira ruminação

mental com que a maioria das nossas escolas opera o aproveitamento da sua batida e rebatida

listinha de exemplos, mirando-os e remirando-os, de diante para trás e de trás para diante, e às vezes

mesmo de cabeça para baixo nas acrobacias dos testes, ou em questionários objetivos à moda deles,

poderemos aquilatar da soma de lucros que a instrução escolar auferirá quando se vier abastecer a

farta, nesse arsenal de exemplificação renovada e apropriada, que os museus vão colher diretamente

no patrimônio natural e social da pátria.16

d) sistematização das matérias de ensino – é nas escolas primárias que a assistência dos

museus mais se realça, pela correspondência que as grandes divisões de suas matérias de ensino

apresentam com cada qual dos tipos clássicos de museu: assim, os quatro conjuntos, primordiais e

sucessivos, em torno dos quais se agrupam as atividades da escola primária, ou sejam: Natureza –

Homem – Trabalho – Sociedade, relacionam-se estreitamente com Museu de História Natural,

Museu de Tecnologia, ou de Artes e Indústrias, Museu de Belas Artes, Museu de História e

Geografia. São as “humanidades primárias” na feliz expressão empregada por Delgado de

Carvalho17, a que se seguem as “humanidades” propriamente ditas da escola secundária. Nesta,

porém, a predominância desvirtuadora dos aspectos formais e convencionais foi tamanho, que os

quatro conjuntos acima referidos só a muito custo podem ainda ser distinguidos; em torno deles,

porém, gravita a parte substancial do ensino secundário, também devedora, aos museus, da ampla

exemplificação, adequada a cada qual daqueles conjuntos. A pedagogia norte americana, a que se

deve principalmente a vitalização da escola contemporânea, ainda mais ajustou o conjugado Museu-

Escola, com o estabelecer, para as atividades básicas de ambos, essa lúcida introdução que foi

compediada em duas novas disciplinas: General Science e Social Science. Não traduzimos os seus

16 Sobre a renovação da exemplificação escolar, ver do autor “Testes”, Estudos Brasileiros, Rio, novembro-dezembro de 1939, p.232

17 C. Delgado de Carvalho: Sociologia e educação, 1934 p.61

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nomes para não lembrar os desvirtuamentos que o “especialismo” de uns e o pedantismo de outros

lhes introduziram em nossos meio escolares, tornando-as duplicatas extravagantes nos currículos, e

privando os educandos da sua instrutiva adequação à vida quotidiana, com o que, no ambiente

educativo norte-americano, as duas iniciações científicas, fecundamente combinadas, dão tamanho

cunho de naturalidade aos ensinamentos tanto das escolas como dos museus.

e) método histórico no ensino – a contribuição dos museus, aqui como nos outros itens, não

foi nem direta nem isolada: foi o critério evolucionista, com profundas raízes no ensino e na

filosofia moderna (inspirados da psicologia genética que daria bases científicas à pedagogia

renovada), que ditou a necessidade didática de considerar, no ensino de uma noção qualquer, as

etapas anteriores pelas quais a compreensão humana transitou para atingir àquela noção, simples

etapa contemporânea de uma caminhada que ainda continua. A forma tradicional de compreender os

museus – como o refúgio das coisas que sobraram ao fluxo e refluxo dos tempos – é uma prova de

que o critério histórico, que entra em sua definição, tem sido fundamental em suas atividades,

inclusive as mais recentes, no setor da extensão cultural. Influa o mais possível no aprendizado

escolar de todos os graus; desde o primário, para o qual fornece o rico cabedal das civilizações

primitivas; passando pelo secundário, cujos compêndios se modernizam com a interpretação

gradativa da evolução das invenções e descobertas; até o grau superior, onde a investigação e a

própria criação científica estão a exigir o respeito pelo método histórico, entre nós proclamado, em

belo capitulo da sua Vulgarização do Saber, por Miguel Osório de Almeida18 e que mereceu de W.

Ostwald19 a confissão de haver sido “o mais positivo estimulante que agiu sobre a sua carreira.”

f)cultura primitiva e popular integrada no ensino – Fernando de Azevedo20, com justa razão,

orgulhava-se de haver, em sua Reforma do Ensino no Distrito Federal, consagrado a prática desse

princípio da escola nova: o culto das artes populares. Anísio Teixeira poderia gabar-se,

semelhantemente, de haver sistematizado na escola o respeito pelas danças e músicas populares,

como elementos capazes de fixar a educação nas camadas profundas da psiquê nacional. A

etnografia, servindo a esse ideal da escola progressiva tomou mesmo nos museus estrangeiros mais

aparentados com a escola da denominação mais familiar, mais expansiva, de folksculture. Na

Escandinávia assumiram os museus regionais a comunicativa feição de museus ao ar livre, o que

lhes consente estabelecer comunhão permanente das classes cultas com a vida do povo, restituída

por inteiro em pequenas vilas expostas a observação estudiosa até com seus habitantes

trabalhando...Essa documentação viva se prolonga pelas escolas regionais, onde as atividades

locais, a maneira dos museus, constituem centro de interesse e de campanha pela ascenção das

classes populares.

18 Miguel Osório de Almeida : Vulgarização do Saber, 1931 p.18319 Wilhelm Ostwlad: Les grand hommes, tradução francesa, 1912 p.820 Fernando de Azevedo: Novos caminhos e novos fins 1931, p.199

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A criação de museus escolares a que o museu empresta ou cede material de exposição ou – o

que é mais aconselhável do ponto de vista pedagógico – a que assiste tecnicamente, ensinando a

colecionar e exibir o material colhido pelo aluno: a colaboração com as atividades extra-escolares

sobretudo proporcionando campo de atividade organizado para as excursões; o estímulo para a

formação de associações escolares, que não só promoverão visitas ao museu, como realizarão

reuniões a que o museu forneça temas e material consentâneos com a sua especialidade; todas essas

são as modalidades sobejamente conhecidas da influência dos museus sobre as escolas.

Sumariadas assim, no domínio da educação sistemática as relações Museu-Escola, passemos

a uma rápida consideração da outra face da educação; a educação assistemática ou supletiva.

AÇÃO SUPLETIVA DO MUSEU - 1. Na educação escolar – No sumário que fizemos das

influências recíprocas do museus e da escola, fácil seria distinguir vários exemplos dessa ação

supletiva. Quase todos se referem aos graus primário e secundário comum e especializado. Não

porque nesse setor haja mais oportunidades do que no do ensino de grau superior; mas é que neste,

dois motivos contribuem para afrouxar tais laços de reciprocidade: o primeiro é afeição de

monopólio, que ainda conservam as carreiras clássicas para que diplomam as nossas escolas

superiores, monopólio esse que as segrega do convívio das demais instituições do ensino para

adultos são tão marcadamente democráticas em outros meios de cultura. Diga-se de passagem que

esses resíduos do aristocratismo bacharelesco se vem ultimamente reduzindo entre nós por obra

desse espécie de artigo 91 do ensino superior que é admissão de aluno livres, ouvintes ou

irregulares como os queiram chamar; atraída em grande parte para estudos especializados pela ação

realmente republicana dos concursos para cargos públicos, ultimamente realizados onde o diploma

fala menos alto do que as provas, essa clientela espontânea vem abrindo e consolidando pequeninas

brechas na resistência dos cursos superiores em se desmonopolizarem.

O segundo motivo é que o ensino superior mormente quando se aloja em Universidades cria

autarquicamente pro domo sua, órgãos de suplementação cultural, representados pelas “extensões

universitárias.” Poderíamos lembra que em outros países as extensões universitárias vitalizam as

faculdades e academias justamente porque tiram do ensino superior aquele caráter aristocrático,

estabelecendo articulações com toda espécie de atividade cultural direta ou indiretamente

interessada na vida profissional; a começar pelo intercâmbio com os museus, a cujas palestras de

vulgarização fornecem público e professores.

Cursos de alta cultura; algumas atividades sociais e culturais promovidas pelo menos nas

maiores capitais do nosso país, por associações como a benemérita “Casa do Estudante” e, em seus

melhores momentos pelos “diretórios” acadêmicos; o regime de “seminário”, em algumas cadeiras,

com estímulo de iniciativa individual para as primeiras tentativas; a pressão crescente da atmosfera

técnica que domina a nossa época, e condensa o abstratismo fofo de velhas bacharelices; por outro

Page 17: A extensão cultural nos museus - Edgar Süssekind de Mendonça

lado, a generalização de cultura, provocada pela mesma técnica, com seus inventos de divulgação

da palavra e da imagem ditando o confinado âmbito do profissionalismo; a rica e vivaz proliferação

de escolas especializadas de cursos simplificados ou reduzidos mas que entregam o diplomado á

própria realidade da vida profissional, constituindo concorrentes niveladoras das tradicionais

escolas superiores – eis, além de outros, seguros índices da adaptação progressiva dos nossos cursos

de grau superior a esse regime de comunhão intelectual e social, para que convergem os esforços,

até então desarticulados, da extensão universitária e da extensão cultural nos museus e instituições

afins.

Por caberem á extensão universitária funções paralelas ás da educação supletiva em relação

aos cursos superiores, sobra para os museus e instituições análogas, terreno apropriado a muita ação

ainda. Discriminar quais sejam, seria detalhar variadíssimos casos de desajustamentos que se situam

na faixa de terreno que medeia entre o ensino universitário e o mundo profissional para que aquele

ensino promete preparar os seus diplomados. Admitindo mesmo notável melhoria no ensino

experimental, que inegavelmente se vem implantando em nossos cursos técnicos, ainda assim

caberia aos museus notável função supletiva, como repositórios que são de exemplos selecionados

dia a dia no próprio seio das profissões; o que, embora em pequeníssima escala em nosso país, lhe

confere funções de intermediário indispensável entre o ensino e a produção. Até na França, que não

prima por semelhante atualização das tarefas realísticas de seu ensino, H. Le Chatelier21 se ocupa

detidamente da questão e frisa a necessidade de conviver o aluno universitário, ao tempo em que

frequenta os cursos, num ambiente de ciência aplicada qual o que constituem as oficinas, fábricas

laboratórios, etc. Os quais devem possuir um museus da especialidade como representante

educativo, autorizado e informado, que lhes sirva tanto de propaganda como de processo aquisitivo

de seus melhores operários. Nestes museus, o universitário conjugará a sua cultura, marcadamente

abstrata, ao concretismo das aplicações, onde se processa, para a sua mentalidade de futuro líder

profissional, o reagrupamento dos estudos parciais da ciência pura em torno desse complexo real

representado pelo produto industrial que tem em mira.

2. Na educação extra-escolar – o principal característico da ação educativa dos museus é,

entretanto, poder ser considerado o órgão por excelência da educação extra-escolar. Reúne, em seu

setor de extensão cultural, aos recursos próprios da linguagem objetiva, os recursos em ascensão

maravilhosa, das invenções modernas, entre as quais sobressaem o cinema e o rádio. É a fonte por

excelência do “ensino visualizado” capaz das mais rápidas assimilações por qualquer tipo de

público. Compartilha com a escola, já o vimos, o tratamento sistemático da educação infantil, e,

adstrito, como terá que ser por muitos anos ainda, a não tratar diretamente com as populações

rurais, quase todas as crianças urbanas acabarão por usufruir dos seus benefícios, complementares

21 H. Le Chatelier , Science et Industrie, Paris, 1925, p.231

Page 18: A extensão cultural nos museus - Edgar Süssekind de Mendonça

aos da escola. Em breve, porque o museu vai transformando a sua carranca antiga em expressões de

divertida comunicabilidade, atrairá também a adolescência, cuja vontade de auto-instrução, quando

não embotada pela escola, tem sua satisfação na concorrência ainda plenamente vitoriosa do cinema

e do livre, e , fora do Brasil, das publicações periódicas e do rádio.

Fica-lhe, porém, a multidão dos adultos que não tiveram, ou tiveram insuficiente, a escola, e

que – quando as suas condições de animais pensantes ainda resistem ao peso que os chumba à

realidade econômica de toda hora – são os maiores amigos das instituições educativas do gênero

museu modernizado pelo cinema e pelo rádio, retribuindo, com dedicação comovedora, o esforço

do educador-vulgarizador que os salvou na penúltima hora. Temos a nossa experiência pessoal: quer

nas escolas noturas do Distrito Federal (“Julio de Castilhos”, “Gonçalves Dias”, “Manuel Cícero”,

“Orsina da Fonseca”), quer em pleno recinto da Feira de Amostras de 1935, onde, na administração

Pedro Ernesto- Anísio Teixeira, comentamos para um público desse gênero filmes instrutivos,

tivemos em contato rápido, porém sumamente expressivo, ocasiões inesquecíveis da nossa vida de

professor. Cabe aqui também lembrar, como experiência pessoal, a nossa iniciativa no também

lembrar, como experiência pessoal, a nossa iniciativa no Instituto de Educação do Distrito Federal,

quando dirigido pelo Prof. Lourenço Filho onde, na qualidade de professor de Ciências,

promovemos entre as alunas, em ensaio de auto-governo, as denominadas “reuniões culturais”, de

que há minuciosa referência em Sociologia e Educação de C. Delgado de Carvalho22 : a semente da

educação extra-classe, que aí lançamos em meio sistemático de ensino para a classe média, e que aí

não criou raízes embora vigorosamente germinada, teria sido, supomos, mais bem sucedida se

lançada no terreno virgem das classes proletárias...

Não são só os professores do povo que sentem essa receptividade maior dos aluno sui-

generis, genuínos representantes de sua classe, para tudo o que se lhes proporcione de favorável a

sua ascensão social pela ciência: também o reconhecem os técnicos do trabalho científico quando se

põem em contato com o mesmo público, em sua maioria saído do povo, a que se costuma chamar de

alunos “de preparação irregular”. Valha o testemunho de um sábio, isento de sentimentalismo, W.

Ostwald, 23, que teve, por várias vezes, ocasião de se externar sobre esses valores sociais

espontaneamente formados, filhos espúrios de uma época de acelerada preparação profissional,

porém filhos diletos de um ensino ainda a organizar-se em moldes amplamente democráticos, os

quais, justamente porque são assim, forma o público mais típico da educação supletiva que incumbe

aos museus encabeçar. A propósito do mais célebre e obre dos representantes desse grupo de

homens de formação irregular – Faraday – a quem os séculos XIX e XX devem os maiores

benefícios só porque calhou assitir um dia a um curso popular lecionado por Davy, foi que Ostwald

assim se expressou: “Cabe agora indagar do preparo secundário que teve Farady, pois nunca cursou 22 C. Delgado de Carvalho: Sociologia e educação, 1934 pp. 207-21023 Wilhelm Ostwlad: Les grand hommes, tradução francesa, 1912 p.91

Page 19: A extensão cultural nos museus - Edgar Süssekind de Mendonça

escola secundária regular e representa o tipo de homem para quem, hoje, na Alemanha, e com

grande prejuízo da nação, a vida se torna particularmente dura; é o tipo de homem de preparação

irregular. Minha experiência pessoal levou-me a tratar com especial carinho dessa espécie de

estudiosos, toda vez que me foi dado encontrá-los. As nossas escolas superiores se fecham para os

que tem necessidade de aprende e que não seguiram, até o exame final, a rotina prescrita para os

preparatórios; essa mania os priva, e, juntamente com eles, o povo alemão de um batalhão de

recrutas que certamente, forneceria proporção de generais muito maior que os alunos comuns.”

Para o Brasil, calculou Afrânio Peixoto24 o prejuízo que sofre nosso patrimônio cultural com

a exclusiva coleta de valores nas classes privilegiadas da fortuna, numa conta de probabilidade onde

10% da população, com 1% de bem-dotados, têm que suprir quase toda a necessidade intelectual do

país, bem precisada de colher os 9% de bem-dotados que a previsão estatística nos garante haver no

resto que não vai à escola...

Não foi outra a convicção que inspirou a Roquete-Pinto25 as admiráveis palavras que

pronunciou por ocasião do Centenário do Museu Nacional, em 1918, e cujo final escolhemos para

epígrafe do presente trabalho:

“Escola que ensina a todos, escola que ensina tudo. Os professores do Museu não

falam para algumas dezenas de ouvintes agasalhados numa sala: falam para toda gente, para os que

sabem e para os que ignoram... acima disso, um museu, em país de formação étnica não definida,

onde as massas populares têm as admiráveis faculdades nativas em grande parte anuladas pela bruta

ignorância em que se debatem, deve ser, antes de tudo, casa de ensino, casa de educação.

O museu Americano de História Natural de New York tem esta divisa: “For the

people, for Education, for Science”. Reparai onde a ciência pura, sem fins pedagógicos, foi ai

colocada, sem mágua dos seus cultores...

Nossa principal missão nesta casa, hoje, é tratar de difundir em nosso povo uma

parte daquilo que ele precisa para vir a ser o que merece.”26

SUGESTÕES

Fase preparatória – Não precisamos insistir sobre o caráter fragmentário deste capítulo. O

contrário implicaria em afirmar a desnecessidade, para consolidar as sugestões que se seguem, de

longo e sistemático lidar com os problemas que tais sugestões comportam. Mesmo nos Estados-

Unidos, T.R. Adam27 reconhece que os museus se encontram ainda em fase preparatória, em plena

24 Afrânio Peixoto: “Programma minimo”, Bol. De Educação Pública. Rio, junho de 1932, p.2525 E. Roquete-Pinto: “Discurso no Centenário do Museu Nacional,” Arquivos do Museul Nacional, Rio, 1918, vol. 32,

p.2726 O grifo é nosso.27 T.R. Adam: The civic Value of Museums, New York, 1937, p.10

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experimentação e sondagem, a fim de entrar em contato efetivo com as necessidades educacionais

do seu público. Não esqueçamos que as extensões culturais representam tentativa de ligação entre

instituições que, nos moldes tradicionais, formavam blocos consolidados porém esparsos; o cimento

que as veio unir ainda não formou pega...

Experiência de Museus Estrangeiros – Nesse particular, portanto, faltam-nos os resultados

estrangeiros, falta-nos mesmo o limite a atingir em nossa longa e apenas iniciada caminhada

nacional.28 Aliás, em matéria de exeqüibilidade, atentar muito para soluções e tentativas estrangeiras

não passa, muitas vezes, de melancólico aumento da lista já tão longa das coisas que não podemos

fazer... A Europa, essa ainda nos consola com o empeços tradicionais que, no assunto extensão

cultural dos museus, tem que vencer: nela, por conseguinte, foi que preferimos colher conselhos,

lendo o que nos foi possível a respeito do que realizam e projetam museus ingleses, franceses e

escandinávios, estes últimos particularmente interessantes pela simpleza dos recursos que sabem

aproveitar; e aqueles, demonstrando um apressado empenho em vencer vários empecilhos clássicos

para acompanhar um tanto o ritmo acelerado dos seus velozes irmãos de língua; sobre os franceses,

faltou-nos documentação recente; não encontramos material de informação suficiente sobre a Itália,

Espanha e U.R.S.S. Portugal, rico manancial de vida e arte popular e regional, modelo assimilável

em comunhão secular, foi também modelo nosso em incúria e dispersão de seu documentário

nacional. Dos maravilhosos museus alemães, a não ser os de Munique e Dresda, vulgarizados em

nossa literatura especializada, impediu-me estudá-los e o desconhecimento da língua. Fora da

Europa, a Argentina e o Uruguai deram-nos bons exemplos em seus museus pedagógicos29; o

México deu-nos lição de lúcido regionalismo, digno de citação em revistas e bibliografias norte-

americanas. Quanto aos Estados Unidos...seria citar o século XXI para quem, como nós, tem o seu

século XX descontado de reacionarismos... Na vertigem de suas realizações e possibilidades em

matéria de educação generalizada, console-se-nos a vontade de aplicar semelhantes energias

também à nossa gente com o sadio prazer de admirá-los e a confiante esperança de que aquilo que

esse feliz povo, jovial e comunicativamente vai realizando para as melhorias do seu mundo, virá a

ser um dia também par as melhorias de todo o mundo.

Enquanto não atinamos com as lentes de redução que, dos museus norte-americanos, nos

forneçam imagem que se venha formar em nossa retina, ficaremos adstritos, mesmo neste capítulo

de sugestões, a programas mínimos para serem exequíveis. Regulamentos que se vão

28 O limite máximo de 50 páginas datilografadas imposto a esta Monografia e a escassez de tempo – 35 dias, dos queias 25 foram empregados em consulta a livros – não permitiram a elaboração de pequeno apanhado histórico das realizações, mais ou menos sistematizados, até à presente data levadas a efeito por museus públicos e particulares do Rio de Janeiro. Ocupariam lugar destacado as realizações de longa data devidas ao veterano Museu Nacional, as quais, no setor da extensão cultural que ora nos ocupa, culminaram na criação do Serviço de Assistência ao Ensino, seguido da recente instalação de uma Secção de Extensão Cultural. Far-se-iam também elogiáveis referências às atividades de divulgação cultural devidas às atuais direções do Museu Nacional de Nelas-Artes e Museu Histórico Nacional.

29 Orestes Araujo: El Museu y Biblioteca Pedagogicos de Montevideo, Montevideo, 1918.

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modernizando, orçamentos que, se em que irregularmente se vão aproximando do indispensável,

intercâmbios culturais de boa vizinhança, e outros fatores menores já permitem que não sejam

utópicas muitas intenções de melhoria. Mesmo assim, como a administração dos museus e de outras

instituições culturais no Brasil vivem sempre beirando acanhadas restrições legais e orçamentárias,

enquanto não possuírem tais instituições o desafogo do patrimônio próprio, cumpre lembrar que as

mediadas que em seguida serão sugeridas foram de preferência aquelas que menos dependem de

modificações nas condições regulamentares e orçamentárias vigentes.

Aumento de freqüência – 1. Publicidade pela imprensa – É questão primordial, essa de

frequência, interessando à própria dignidade do museu. Mòrmente à sua Secção de Extensão

Cultural, a quem também incumbem funções de propaganda e publicidade. Em países de adiantada

educação pública, os técnicos de museus entendem que, nem aos museus nem a quaisquer outras

instituições de trabalho social incumbe criar a procura pelo público, máxime um público de adultos,

já subentendendo organizada pela escola a procura (bastante formal, é verdade) pelas crianças e

adolescentes. A verdadeira função dos museus, dizem os entendidos, é satisfazer essa procura

sempre e quando ela se apresente. Nas condições do nosso meio, sem hábito de museu, mesmo nas

escolas, julgamos ser prerrogativa dos museus provocar semelhante procura. Neste, como noutros

casos, a que se referem as nossas sugestões, só trataremos, é óbvio, de medidas que, ao que nos

conste, não hajam sido ou estejam em vias de ser postas em realização. Assim, a publicidade pela

imprensa, rádio, cinema, etc., quer em campanha de publicidade sistemática, quer ocasionalmente

noticiando solenidades comemorativas, conferências, cursos, visitas de personalidades de destaque,

excursões, etc., ficará excluída de referência, embora plenamente dentro do programa. Caberia,

talvez, breve referência a certas formas sugestivas de publicidade – concursos, entrevistas,

inquéritos – ou essa outra, martelante, das frases-convites, publicadas em lugar certo por jornais

londrinos, onde, em duas ou três linhas, formula-se uma pergunta, de interesse geral do público,

sobre a especialidade do museu, explorando, quando possível, questões momentosas, e cuja resposta

só será dada ao interessado em visita em dia determinado ao museu e diante do objeto exposto que

se relacione com o caso.

2 Guias-convites – Estabilizando esse tipo passageiro de pergunta solta, sem sacrificar-lhe a

sugestividade, aconselha-se a feitura de guias-convites – pequenos folhetos, ou simples folhas

dobradas, contendo uma coleção de questões afins, com respostas prometidas numa visita ao museu,

indicada a posição do material exposto em que tais respostas estão contidas. Se, em lugar do

folheto, fosse o cartaz, colocado nas proximidades da entrada do museu, e – forma de propaganda

muito aceita – houvesse respostas premiadas, teríamos que dar as noras de precursor ao Barão de

Drummond, o qual, salvo as consequências do “jogo do bicho”, merece elogios pela boa iniciativa

de expor no portão de entrada cada dia, alguns dos “inquilinos” do seu Jardim Zoológico, “em

Page 22: A extensão cultural nos museus - Edgar Süssekind de Mendonça

pessoa” ou “em efígie”, no que se revelou mestre de psicologia da propaganda para as coisas da

natureza.

Com caráter mais duradouro, esses guias-convites poderão tomar a forma de fascículos,

formar uma série, denominada, por exemplo: “Conheça o seu Museu”. Não basta que os museus

pertençam ao público, é preciso também que o público se dê conta de semelhante direito de

propriedade.

Melhor ainda seria se tais publicações assumissem caráter periódico; a regularidade de

circulação proporcionaria assinaturas, ou, até mesmo, (não viesse isso escandalizar os melindres de

certa compreensão do oficialismo), anúncios, rigorosamente selecionados e afins com a

especialidade do museu.

3. Órgãos das extensões culturais - Se obedecerem a direção esclarecida, e abrangerem

mais amplos horizontes culturais, acabariam por tornar-se legítimo órgão da extensão cultural do

respectivo museu.

Mais um passo, desta vez maior: sejam o órgão comum das extensões culturais de várias

instituições congêneres, contendo a variedade de assuntos que suas especialidades comportarem,

mantendo, entretanto, a unidade de servirem à causa da educação popular, no seu mais amplo

sentido e realizarão em parte o que os poderes público deixaram de realizar: o reaparecimento da

Revista Nacional de Educação, o único fruto do idealismo de Roquete- Pinto que não chegou a

amadurecer... E que, no entanto, foi tão ricamente servido de boa seiva, que M. À. TEIXEIRA DE

FREITAS30 , outro brasileiro que bem sabe o que sonha, incluiu entre os sete maiores deveres de um

plano nacional de educação popular,

4. Publicidade para recém-chegados — Numeroso público de museus se compõe de

recém-chegados, do interior e de fora do país. Por que não entrar em entendimento com os editores

de guias de estradas de ferro, companhias de navegação, turismo ? E, para compensar os óbices do

oficialismo, por que não aproveitar as prerrogativas oficiais e utilizar os próprios bilhetes de

passagem, entradas de espetáculos, etc., à maneira da propaganda que já se faz pelos selos do

correio ?

5. Funcionamento à noite — O funcionamento dos museus fora dos horários comuns e

principalmente à noite, sabemo-lo dispendioso, mas como fugir por mais tempo ao indisfarçável

compromisso de um programa que inclui destacadamente a educação de adultos, e de adultos que

estão ocupados de dia ?

6. O raro e o maravilhoso como chamariz — Nesse afã de aumentar a clientela, justifica-se

o recurso ao raro e maravilhoso, volta ao passado que será fase apenas introdutória, louvável termo

de transição para o gosto habitual de um público que, em sua grande maioria, não está ainda em

30 M.A. Teixeira de Freitas: Resposta a um inquérito, em Educação Superior de E. Sousa Campos, 1940, p.426

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condições intelectuais de compreender o princípio pedagógico de que objeto de museu deve ser

comum para ser representativo. Quantos mesmo, da minoria dos entendidos, não pensarão, de si

para consigo, que museu, sem o predomínio das raridades, pode ser muito pedagógico mas é muito

pouco museu. . . A título precário, aceite-se a transigência : também nas bibliotecas populares se

aconselha, como chamariz, a literatura sensacionalista, sem a qual muita gente não adquiriria o

hábito da leitura, que depois se orientará convenientemente.

7. Cooperação de associações culturais — A metodização da frequência, segundo opinião

de todos os autores que li sobre o assunto, encontra seu máximo cooperador nas associações

culturais de finalidades não especializadas, onde a ação combinada com os museus conta com

visitantes já organizados. Entre nós, para nos limitarmos a público de adultos e informação

pessoal, lembro os exemplos da Associação Brasileira de Educação, Sociedade de Amigos da

Natureza, Sociedade de Amigos de Alberto Torres, Associação Cristã Feminina, Woman's Club,

Sociedade Brasileira de Cultura Inglesa, para citar aquelas que têm realizado ou incluem em seus

programas visitas sistemáticas aos nossos museus. É campo que sugerimos à propaganda

organizada das secções de extensão cultural em busca de aumento de frequência. Claro está que os

museus podem organizar seus próprios clubes para essa finalidade, ou associações que a incluam

em seus mais amplos programas, como, por exemplo, a Associação de Amigos do Museu Nacional,

já criada entre nós, imitando iniciativa análoga de EDRÍOND PERRIER no Musée d'Histoire Naturelle,

de Paris. Poderíamos citar exemplos estrangeiros de que, para valorizar o título de sócio, concedem-

se-lhes e aos filhos privilégios de visitas especiais ; tem sido assunto repetidamente tratado em.

reuniões anuais, por exemplo, da Museums Association, da Inglaterra. Tal medida, porém,

dificilmente, se aplicaria a museus do nosso tipo oficial.

ACESSIBILIDADE — 1. A situação do Museu — A topografia acidentada do Rio de Janeiro, maravilha dos olhos, não desperta a mesma admiração em matéria de trânsito. . . Dentre os nossos grandes museus, dois estão otimamente situados : o Museu Histórico Nacional e o Museu Nacional de Belas Artes ; seguem-se, em acessibilidade decrescente : o Museu do Departamento Nacional da Produção Mineral (ex-Serviço Geológico), o Museu Comercial, o Museu de Anatomia Patológica do Instituto Osvaldo Cruz e o Museu da Cidade, sendo este último um caso de extremismo isolacionista que não conseguimos interpretar. Quanto ao Museu Nacional, na Quinta da Boa Vista, as imponências naturais e tradicionais de que se rodeia e em que mergulha, são razãd bastante para não lhe sugerirmos mudança. Como, além disso, ocupa posição isolada, porém em centro de bairro populoso — tanto assim que M. A. TEIXEIRA DE FREITAS projetou nesse local o Instituto de Cultura Popular — parece-nos que o melhor alvitre a sugerir, dada a impossibilidade atual de ter condução própria, será a de tentar resolver o seu problema de condução, entrando em entendimento com a companhia concessionária de ônibus para que u~a de suas linhas passe pela porta do Museu, mediante troca de benefícios que possibilite uma solução, que constituirá bom exemplo do que podem as prerrogativas oficiais em combinação com os interesses particulares. O sacrifício inicial da companhia seria compensado pelo Museu pondo em ação seus recursos de propaganda oficial e até de louvor público para uma empresa particular que, dessa forma, estivesse servindo à educação nacional.

2. Incentivo a doações — A acessibilidade e o aumento de frequência, que ela facilita, valem

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ainda como justificativa (falando por si só ou mesmo alegada. . .) de doações e legados, base das

realizações estrangeiras, de que, entre nós, apenas os museus de belas-artes e de história

timidamente e raras vezes tomam o gosto. Na ausência de pessoas ricas que se dêm ao estudo das

ciências físicas e naturais, ou que sejam, pelo menos, dotadas de maior curiosidade por elas, só uma

ampla publicidade em torno dos benefícios sociais dos museus (e do nome dos doadores. . . ), além

da propaganda indireta do numeroso público que se lhes deve crear, poderão lembrar aos detentores

de fortuna no Brasil seus compromissos para com a coletividade. Reconhecemos que se infringem

muitas vezes os preceitos da sistemática distribuição dos objetos e sua consequente catalogação nos

museus quando se dá a uma de suas salas ou coleções o nome do doador, mas, mesmo assim, não

deixamos de compreender que se lance mão de tal recurso para estimular doações ; são, portanto,

exemplos dos mais compreensíveis os do Museu Histórico Nacional e Nacional de Belas-Artes.

Problema mais difícil, todo museólogo o reconhece, é, em matéria de ofertas e doações, o saber não

aceitá-las. . .

INSTALAÇÕES — Mas não basta convidar o público a entrar no museu e facilitar-lhe a visita ;

ficam faltando ainda duas obrigações de boa propaganda : animá-lo a demorar-se e lembrar-lhe que

deve voltar. São questões ligadas ao assunto de instalações.

1. Adaptação do prédio —• Como prédio, postas de lado as normas da arquitetura

funcional e exagerando as vantagens de monumentalidade e tradicionalismo, realmente dignas de

serem levadas em conta, pode-se dizer que os museus do Rio de Janeiro foram relativamente bem

aquinhoados. O Museu Histórico Nacional tem boas possibilidades de ampliação ; o de Belas-

Artes e o do Departamento da Produção Mineral podem contar com a próxima remoção para prédio

próprio das escolas com que atualmente coabitam ; e o Museu Nacional está presentemente

recebendo, graças aos esforços de sua atual direção, vultosos reparos que o adaptarão às exigências

de há muito compreendidas e reclamadas para corresponder ao prestígio que sobre a cultura

brasileira exerce a secular instituição.

2. Salas pequenas — Há, ultimamente, no que respeita sobretudo a museus de ciências,

forte corrente de opinião favorável à divisão de quase todas as grandes salas e galerias em

compartimentos menores, onde o espaço disponível é aumentado por embu-timento dos

mostruários, onde a diversidade do material pode receber mais especializada distribuição e ser

evitada a monotonia, meio ótimo de cultura para os germes dessa verdadeira doença que é a fadiga

dos museus.

3. Boas instalações — Para rápida referência ao problema das instalações internas,

resumamos os conselhos de um especialista, A. R. PENFOLD 31 :

1) a maioria dos museus têm salões grandes demais ; coisas demais para se ver ;

31 A R. Penfold: “ A Modern Museum of Applied Science”, The Museums Journal, 1911, p.50.

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enfadam e aborrecem o visitante comum e fazem com que não repita a visita ;

2) a iluminação é invariavelmente pouco satisfatória ;

3) os processos de exposição, dos mostruários até os letreiros, são pouco atraentes ;

4) má ventilação e falta de acomodações para descanso ; “as galerias de arte e os museus

são as únicas instituições do mundo que pressupõem que os seus frequentadores estudam em pé".. .;

5) a porcentagem dos objetos expostos e dos guardados em estoque de reserva precisa ser

invertida.

Aconselha-se, portanto: separação fundamental do material do Museu em duas coleções: 1.°)

coleção exposta ao público, em apresentação simples, lógica e atraente, como se fosse sempre

destinada a público sem conhecimentos especiais do assunto. CARLO CUMMINGS32 escreve mesmo :

"como se a média da idade do público fosse 12 anos. . ." ; 2.°) coleções de reservas, organizadas e

catalogadas para estudo.

Isso quer dizer :

1) necessidade de grandes acomodações para armazenagem das coleções de reserva ;

2) exposição permanente restrita ;

3) material complementar, sobretudo para ciências, constante de filmes, diapositivos,

modelos, gráficos, estampas, dioramas, etc.;

4) coleções reservadas ao grande público, total ou parcialmente sujeitas a variações

periódicas ;

5) exposições especiais de vez em quando.

Em nosso meio, um educador que se tem superiormente preocupado com os benefícios que

podem trazer à educação os recursos da técnica, F. VENÂNCIO FILHO 33, assim sintetizou as suas

conclusões sobre instalações indispensáveis a um museu moderno :

1) percurso o mais económico, de forma que seja possível ver-se tudo o que há sem fazer

duas vezes o mesmo caminho;

2) plantas iniciais, acompanhadas de gráficos e esquemas claríssimos e estéticos,

despertando a curiosidade e convidando à visita;

3) roteiros bem visíveis e expressivos ;

4) arrumação ampla, sem amontoados, com circulação fácil e livre, lógica e exata ;

5) catálogos bem feitos, em linguagem simples e nítida, ao alcance de qualquer

entendimento ;

6) uso de todos os recursos modernos de visualidade e até auditividade : cartogramas,

coloridos ou luminosos, estereogramas, mapas de toda espécie, projeções fixa e animada,

especialmente nos fenómenos apresentados em movimento, acionado o dispositivo pelo simples 32 Carlo E. Cummings: East is East and West is West, 1940, p.26533 F. Venâncio Filho: “Função Educativa dos Museus.” Estudos Brasileiros, Rio, maio-junho de 1939, p.50

Page 26: A extensão cultural nos museus - Edgar Süssekind de Mendonça

contato de botão eléírico, pela mão do observador.

Isso já é querer mais do que um museu modernizado : ê quase pretender um museu

dinâmico. Valha como incentivo para não se parar nos programas mínimos. .. quando já se atingiu

um programa mínimo...

MOSTRUÁRIOS — A maior parte das sugestões acima dizem respeito aos mostruários, e, com

efeito, é através de seus mostruários, e muitas vezes exclusivamente através deles, que os museus

falam a sua linguagem característica, não fossem eles a instituição especializada na "arte e ciência

de dar informações visuais".

A ideia de mostruário, surgida e desenvolvida para a proteção dos objetos expostos contra a ,ação

das intempéries e da cubica, tem sido a grande responsável pela sensação de coisa morta que

domina o conceito mais generalizado de museu. A técnica da visualiidade, socorrendo-se das artes

gráficas, do desenho e sobretudo da fotografia, mercê de seus progressos espantosos na nossa

época, ensinou-nos a articular o objeto exposto com o mundo a que pertence (ou, melhor, pertenceu.

. .). E isso não só quanto à amb: ência exigida pelo predomínio crescente da Ecologia sobre a Taxo-

nomia na técnica dos museus, como também, numa Taxonomia ampliada, ensinando-nos a articular

o objeto exposto •— com a ajuda de quadros sinóticos, mapas, esquemas, gráficos em geral — ao

complexo conceituai de que faz parte, no espaço e no tempo. Assim, um objeto exposto em museu

moderno passa a ser o centro j de convergência de um conjunto de informações, e o museu, por sua

vez, deixa de ser apenas o que lhe chamou JOSÉ VERÍSSIMO34 "UMA AMPLA LIÇÃO DE COISAS", PARA

SER UMA DOCUMENTADA E NÃO MENOS AMPLA LIÇÃO DE FATOS.

Desçamos ao terreno das possibilidades regimentais e financeiras do nosso meio. As

administrações são as primeiras a conhecer e aceitar o conceito renovado de museu, mas são

também as primeiras a conhecer de perto as dificuldades insanáveis que se opõem à sua pronta

realização: como, portanto, e por onde se deve começar a aplicação eficiente de tais noções ao

nosso caso ? Ternos repetido —• e o nome sugestões o lembra — que seria preciso considerar

concretamente os mil e um problemas técnicos e administrativos para se ter ânimo, já não digo

direito, de aconselhar. Tanto quanto, em nossa posição, menos de crítico que de auíodidata que se

colocou na situação do público, podemos opinar, parece-nos que se pode escolher, no conjunto do

museu, coleções mais apropriadas a receberem experiências de modernização, à moda das escolas

experimentais para as tentativas de novos processos pedagógicos, a fim de que, com mais

autonomia e menos responsabilidade da administração superior, sejam como que pontos de apoio

para progressos gradativos de conjunto. Veremos adiante como, no caso dos museus, se prestam

admiravelmente a semelhantes experiências parciais as salas e exposições especiais. As sugestões,

34 "Discurso de inauguração das novas coleções do Museu Paraeaae Emílio Goeldi", em Boi. do Museu Paraense

Emílio Goeldi, 1896, p. 5.

Page 27: A extensão cultural nos museus - Edgar Süssekind de Mendonça

que aqui se fazem para aspectos isoláveis da melhoria dos museus, devem ser tomadas como

aplicáveis paulatinamente a esses terrenos de limitadas tentativas.

l — Arrumação - Dois critérios podem presidir à arrumação dos objetos numa coleção : o

analítico e o sintético. Em obediência ao primeiro, os objetos são agrupados de acordo com os

elementos comuns, tendo em vista a finalidade, a estrutura etc., que o estudo individual de cada

aspecto estabelece. Deste modo, para tomarmos um exemplo de coleção etnográfica, certa sala {ou

mostruário) conterá instrumentos de música; outra, utensílios; outra, obietos rituais, e assim por

diante, já o critério sintético reunirá os objetos, de finalidade, estrutura etc., diversas, aos demais

obietos de determinada região, época etc,; dai o ser este critério (chave da organização dos museus

regionais, das chamadas períod rooms) também conhecido por critério geográfico ou histórico,

conforme o caso. No exemplo que aqui consideramos, ao primeiro critério se costuma denominar

etnológico (pelo aspecto abstrato que assume a análise dos atributos de cada objeto), e, ao segundo,

etnográfico (pelo aspecto descritivo que leva em conta conjuntos cujos elementos guardam entre si

relações externas de coexistência e simultaneidade, isto é, de espaço e tempo, isolada ou reunida-

mente considerados). Para tomarmos exemplo bem diverso, numa coleção de quadros, os dois

critérios podem estar subentendidos na arrumação por escolas ou países e na arrumação por assunto.

Admitindo que um museu exiba todos os.seus objetos em uma única coleção, dificilmente se

poderia sugerir a predominância um ou outro critério de distribuição, dadas as vantagens que,

menos do ponto de vista didático, ambos apresentam. Pensamos, todavia, que a ordem sistemática

do critério analítico se presta mais ao estudo concatenado de material tendo em vista salientar o

aspecto natural ou econômico-sociaí : assim, plantas medicinais, ani-mais nocivos à agricultura,

plantas ou animais dessa ou daquela família, material de alimentação deste ou daquele povo

primitiva instrumentos guerreiros dos negros ou dos índios de certas regiões. etc. Mas é

imperdoável a falta de reconstituição de uma flora oo fauna local, das múltiplas e recíprocas

relações dos seres entre si e com os agentes mesológicos de uma dada região, a vida quotidiana de

certa tribo, a fase de cultura dessa tribo em dada época. Para remediar um tanto os efeitos anti-

didáticos da unilateralidade de critério, oferecem-se vários recursos : citaremos o emprego, em

coleção arrumada pelo critério geográfico, de letreiros de diferentes cores, cada uma servindo para

assinalar correspondência de modalidades funcionais. Numa visita à coíeção de material indígena,

onde é desaconselhável dividir ampla documentação de determinada tribo, o visitante interessado

por instrumentos de música, por exemplo, depois de examinar na referida tribo os objetos marcados

por letreiros de certa cor, poderá deter a sua atenção sobre o mesmo da mesma cor. Desculpem-nos

a particularização dessas referêa-assunto em mostruários de outras tribos, guiando-se pelos letreiros

cias banais, mas quem já procurou satisfazer curiosidade especializada de visitante em grandes

coleções arrumadas por um único critério compreenderá semelhante insistência em assunto que de

Page 28: A extensão cultural nos museus - Edgar Süssekind de Mendonça

perto diz respeito à boa eficiência pedagógica das visitas a museu. As necessidades, porém, da

extensão cultural em atender efica: prontamente o seu público heterogéneo, estão a requerer que o

museu possua mais de uma coleção de cada género de material para que ambos os critérios de

arrumação possam ser utilizados.

2 — Letreiros — Abrangendo, mesmo com o olhar da previsão, um distante futuro, a menos

que os museus sejam substituídos por irreconhecível sucedâneo, vemo-los sempre constituídos

essencialmente por uma coleção de objetos separados, verdade é que em graus diferentes e

decrescentes de separação. Por isso, a neccssidade lógica de estabelecer relações mentais entre os

elementos do material exposto se impõe como complemento corretivo, digno de receber as

melhores atenções, principalmente em se tratando da interpretação pedagógica dos museus,

primeiro passo da tarefa de extensão cultural. Para tanto, pela sua capacidade de imiscuir-se e

adaptar-se a minudências objetivas, nada melhor que os letreiros, abrangidos em todas as suas

modalidades multiformes, desde a papeleta simplesmente escrita até as transparências, até mesmo

essa novidade dos letreiros falados que as Feiras-Mundiais ultimamente realizadas nos Estados

Unidos e na França tão sensacionalmente utilizaram. Os letreiros omnipresentes (e às vezes

abusivamente omniscientes. . .) são a malha de articulação interpretativa posta como um manto de

subjetividade sobre a crueza objetiva dos museus. O difícil está em conservar a transparência do

manto. .

O Prof. HERBERT HAWKINS35, na sua minuciosa exposição das vantagens dos letreiros, chega

ao extremo de uma boutade : "uma coleção de amostras sem letreiros adequados é menos útil que

uma coleção de letreiros sem amostras" ! Mas Carlo E. Cummings36 que, no seu delicioso livro já

por nós várias vezes citado, não se deixaria vencer nesse terreno de boutades a respeito de

mostruários, lembra, em sentido oposto, a definição-epigrama de um membro da Smithsoniann

ínstitution : "um museu consiste numa série de letreiros cuidadosamente preparados, cada qual deles

ilustrado por uma amostra apropriadamente escolhida”...

O de que não resta dúvida é que, mais uma vez, nesse caso de letreiros, o museólogo tem

que resolver um problema de conciliação de antinomias : os objetos não prescindem de explicações

permanentes e os objetos precisam de ser vistos. . . E vistos com a atenção não desviada pela

concorrência dos letreiros. Tem-se sugerido que as indicações explicativas dos mostruários se

limitem a números que correspondam a letreiros no texto dos guias. Mas estes são de dificultosa

renovação constante, apesar da edição em folhas soltas, e sempre ficaria faltando a presteza, o

imediatismo, a simultaneidade do letreiro junto ao objeto.

Nesse particular de simultaneidade de informação, nada melhor que o recurso fonográfico

35 HERBERT HAWKINS, citado por R. Merrifiel em "Cultural Anthropology in the Museum”, The Museums Journal, 1940, p. 191,

36 Carlo E. Cummings: East is East and West is West, 1940, p .265

Page 29: A extensão cultural nos museus - Edgar Süssekind de Mendonça

do letreiro falado. Mas — e a simultaneidade dos sons atendendo juntamente a curiosidades

múltiplas ? Esperemos que a técnica nos dê sons individualmente dirigidos, ia que os nossos órqãos

auditivos não são dotados da seletividade unidirecional dos nossos olhos...

3 — Material complementar — Quanto ao material complementar de visualização,

fornecido pelo desenho, pela fotografia e suas aplicações, é dificílimo generalizar sugestões a

respeito : justamente o que define pedagogicamente semelhante material é a individualização do seu

emprego, ajustando-se a cada caso de per si. Sobre o assunto tivemos oportunidade de organizar um

programa de desenho, elaborado a pedido da Diretora do Museu Nacional, Professora Heloísa

Alberto TORRES, destinado à preparação de funcionários para a elaboração do material de ilustração

gráfica acima referido. Neste programa incluíram-se princípios de ordem geral sobre o assunto, não

permitindo o espaço deste trabalho exemplificação que só valeria se fosse ilustrada, numerosa e

variada.

Voltemos ao material de mostruário e sala de museu a que temos chamado de complementar,

pela sua função em relação ao material fundamental, que são os objeíos expostos. A documentação

fotográfica atenuará a rigidez de sistematização a que obrigam as contingências de uma coleção de

museu ; por exemplo, dada a preferência, numa arrumação, ao critério analítico ou siníé-tico, ou, em

certas coleções, ao critério geográfico ou histórico, cada objeto poderá ser acompanhado de

fotografias de outros objetos que lhe sejam correlates em função natural ou social, no tempo e no

espaço.

Que dizer, então, da representação da ambiência, hoje julgada quase indispensável em

museu que não pretenda um merecido lugar entre as relíquias de um museu de museus ? Não

esqueçamos a advertência de que o ótimo frequentemente é o inimigo do bom : para museus

privados de recursos que permitam fiel ambientação dos seus exemplares, faça^se com que figure

nos mostruários ao menos o ambiente imediato, primeiro passo de uma marcha que ainda não se

executou, mas cuja cadência se anuncia. No próprio meio norte-anuírícano, no "Field-Museum" de

Chicago, há coleções expostas sem as riquezas de exibição de outras do mesmo Museu, mas nas

quais, todavia, as aves estão poisadas em seus galhos, os répteis se mostram em caixas baixas, para

dar a impressão de que rastejam etc.

Nem sempre é possível a pujança ambiental dos dioramas, bela palavra errada que exprime assim

mesmo dominadora conquista dos museus pela arte cenográfica de outros tempos. As maravilhas do

cinema colorido, servidas a mais por esse assombro da nossa época que é o desenho animado,

haviam de obrigar o esta-ticismo congénito dos museus a sacrificar fortunas por essa obra--prima de

síntese fixista que são os dioramas. Como admiravelmente se ajustam à técnica expositiva dos

museus ! Vasta restauração de um conjunto natural ou social, a sua espetaculosa encenação atrai a

todos, para, depois, irresistivelmente, reter a atenção mais descuidosa nos primeiros planos, de

Page 30: A extensão cultural nos museus - Edgar Süssekind de Mendonça

minudências realísticas. Não nos animamos a aconselhar a sua dispendiosíssima execução em

nossos museus, e muito menos a sua edição barata, que seria caricatura... Mas fiamos em que, com

ampla publicidade em torno do sensacionalismo que a sua novidade ainda desperta entre nós, se

consiga promover a cooperação generosa dos nossos pintores e cenógrafos. Ainda não indagamos

de orçamentos, mas supomos que os recursos da ampliação fotográfica, da fotomontagem já entre

nós oficialmente utilizada na Feira de Amostras com estimulante sucesso, venham breve constituir

grandes possibilidades para que os nossos museus fiquem em dia com a técnica de exibição

contemporânea. Por ora, um diorama soa a nossos ouvidos como mera exaltação utópica, como uma

ambição da ordem de grandeza de um planetário que, qual a sorte grande, sai apenas para os

outros... Desvirtuados, certamente que não; mas, em proporções reduzidas, conservando as

perfeições qualitativas, parece-nos que não seria coisa irrealizável tanto um planetário como um

diorama. Que, esperando-os, não adiemos o emprego desde já amplamente aconselhável das

fotomontagens.

COLEÇÕES ESPECIAIS - O melhor alvitre, para atender às exigências didáticas de conveniente

exibição dentro de nossas possibilidades financeiras, é não utilizar o material todo de uma dada

especialidade numa única coleção. Além da coleção padrão, destinada aos especialistas, e que

contém os espécimes originais (semelhantes considerações se aplicam a qualquer tipo de museu,

mudadas as denominações), além das duplicatas mais perfeitas ou mais raras para possíveis

substituições (coleção de reserva) ou organizadas com marcada orientação didática (coleção de

estudos), o material que sobra, ou o material periodicamente selecionado da coleção padrão para

uso temporário deve ser utilizado na organização de coleções para o grande público. Nessas

coleções é que se pode e deve obedecer ao maior número possível de preceitos pedagógicos, nestes

incluindo as boas normas da psicologia da publicidade; nelas, o material complementar de

interpretação deve ser abundante, entrando tudo pelos olhos ; entrelacem-se, em mútua

intensificação didática, os critérios analítico e sintético ; correspondências históricas e geográficas

se reforcem, em interferências fecundas ; e transborde, ainda, dessas coleções, material e desejo de

irradiar cultura para outras coleções paralelas, de oportunidade, móveis e mutáveis por excelência.

É por tal forma imperiosa essa receita de rejuvenescimento dos museus que, mesmo em falta

de salas para exposições especiais, julgamos que as coleções especiais, temporárias ou permanentes,

se devem organizar na própria sala das coleções comuns, onde se podem destinar mostruários para

isso, ou, até mesmo, fazer ressaltar os objetos selecionados para a mostra parcial que se tem em

vista, por meio de letreiros adrede preparados, setas, iluminação, arrumação intencional e outros

recursos de momento.

EXPOSIÇÕES ESPECIAIS — Onde a fartura de material não seja tanta que permita

desdobramentos de coíeções, recorra-se ao alvitre de organizar, com o próprio material da coleção

Page 31: A extensão cultural nos museus - Edgar Süssekind de Mendonça

de reserva, ou mesmo da coleção padrão,- exposições especialmente destinadas a fazer sobressair

um tema escolhido sistematicamente ou ao sabor das oportunidades. Nada que melhor se adapte ao

espírito de extensão cultural dos museus, que essa flexibilidade de exposições, paralela da

flexibilidade dos programas da escola renovada: não só permite desimpedimento dos liames de

perenidade uni tanto massiça da velha concepção de museu, abrindo frestas ao arejamento

pedagógico, como sugere correlações entre domínios aparentemente dispares e articulações com

outros órgãos de cultura dos museus e de outras instituições congéneres.

l — Com material de geologia — Tomando para exemplo co-íeções de geologia, feitas as

naturais reduções para um público não especializado, aconselharíamos o plano seguido no New

Musettm of Practical Geology, de Londres., onde há duas divisões principais : l) geologia geral do

país, dividido este em regiões sob o ponto de vista estraíigráfico ; 2) geologia económica e

mineralogia, associadas as amostras às formas de ocorrência, e figuradas em destaque as amostras

de minérios, que se arrumam por matéria prima fornecida à indústria. Além da profusão de mapas,

cortes e toda sorte de gráficos, nas partes livres das paredes ostenta-se rica messe de fotografias

ilustrando as indústrias correlatas. Em prateleiras superpostas, formando alta pilha, logo na entrada,

a sucessão cronológica dos terrenos, e, com indicação aproximada de escala das profundidades, a

coluna geológica. Referidos a esse índice milionar, por meio de números bem visíveis, os fósseis de

cada horizonte estratigráfico; faltando para maior sugestão do público leigo, um gigantesco

mostruário de relógio — de relógio geológico, acertado para a marcação do tempo em divisões de

milhares e milhares de séculos, — cujo ponteiro, de idade em idade sucessiva, se adiantaria de um

passo. Que sugestiva popularização da noção real do tempo, falando por várias fornias concordantes

contra o preconceito antropocêntrico vulgar de um mundo principiado ha alguns mil anos !.. .

Naquela pilha, jã quase na superfície, as formações contemporâneas do homem primitivo exibiriam

(para o público que as veria, era galerias alteadas sobre a sala) material das primeiras culturas da

espécie, o que, juntamente com a feição econômica da coleção, emprestará ao conjunto um quê de

vivacidade, quase sempre ausente das coleçoes de geologia. Estas, nos museus modernizados,

também não prescindem da nota humana.

2 — Com material de etnografia — No Museu Nacional, as coleções de etnografia e

antropologia — que têm merecido o elogio entusiasta de notabilidades mundiais, chegando a serem

dadas Domo modelo para museus estrangeiros pela autoridade de um Nordenskiöld — teriam novos

motivos para as suas realizações de ampliação de cultura no complemento dessa salas e exposições

especiais. E ainda melhor corresponderiam aos desejos formulados pelo grande reformador do

ensino de Geografia no Brasil, C. Delgado de Carvalho, que, na sua Sociologia e Educação37,

opinou que se desse maior desenvolvimento aos assuntos indígenas em nossos cursos secundários,

37 C. Delgado de Carvalho. Sociologia e Educação, 1934, p.107

Page 32: A extensão cultural nos museus - Edgar Süssekind de Mendonça

para que os alunos possam estabelecer relações altamente instrutivas entre um suficiente material de

civilização primitiva e o seu equivalente atual, fiel aos princípios da pedagogia genético-funcional

de Dewey ; assim, ver-se-iam preenchidas as lacunas dos programas de história e geografia, onde

tão parcamente é lembrada a evolução das culturas populares no país.

Pena foi que não tivéssemos tido tempo para citar aqui a típica contribuição das coleções do

nosso Museu Nacional demonstrando e, assim como no estrangeiro e especialmente nos países

escandinavos e na Alemanha, vem preponderando na instrução comum o tratamento dos assuntos

relacionados à Folkculture no seu sentido moderno, isto é, de certa cultura humana que eleva os

habitantes de uma dada região às proporções de entes civilizados, teríamos que descrever, assim, as

coleções da sala de Etnografia Sertaneja. Na Inglaterra, esses estudos tomam nas escolas maior

Bonificação didática porque representam um longo desenvolvi-aento da noção que, no País cie

Gales, se denomina diwylliant gwerin e que exprime um conjunto de preceitos e operações de

produção local. Cabe, aqui, apenas essa ligeira referência que, se mais desenvolvida, evidenciaria a

contribuição dos museus à pedagogia regionalizada, ao heimatkunde dos alemães, que poderíamos

traduzir pelo termo regionalística 38, princípio fecundo, senão básico, de realismo escolar.39

O que se disse, no caso da nossa cultura indígena, poder-se-ia lambem dizer em relação à

cultura negra no Brasil, sua contribuição para a nossa civilização material e espiritual; e, mais ainda,

em relação aos documentos de superior significação brasileira fornecidos pela vida quotidiana da

nossa gente mestiça, tão lucidamente elevada à dignidade do Museu Nacional, na "Sala Euclides da

Cunha" (de Etnografia Sertaneja) pelo sábio patriotismo de Roquette-Pinto. Seria também aqui o

lugar adequado para sugerirmos que fosse incluído nas coleções do Museu, principalmente entre o

material destinado a mais frequentes visitas populares, os documentos da vida quotidiana do povo

português, preferentemente os que ilustram a contribuição que nos trouxeram; assim não

continuariam a faltar, como até agora, no principal Museu do Brasil, fator tão precípuo dos nossos

hábitos e costumes populares, essas fontes portuguesas donde jorram águas formadoras por

excelência da complexa, porém tranquila caudal da civilização brasileira.

Assim, até certo ponto, independente dos rigores e convencionalismos que devem presidir às

coleções de estudo e pesquisa, as salas e exposições especiais, em contato direto com o público,

viriam a ser o domínio mais próprio da extensão cultural dentro dos museus.

Por intermédio delas, a extensão cultural serviria ouírossim às suas obrigações para com o

público, estabelecendo ligações entre o palco das generalidades e os bastidores das especialidades,

isto é, relacionando a opinião pública com os profissionais do Museu, selecionando-lhes, para futura 38 Temos o grato dever de lembrar que essa feliz denominação nos foi sugerida, quando assistia a palestra nossa, na

Associação Brasileira de Educação, sobre regionalização do ensino primário pelo grande escritor Alberto Rangel, em 1926

39 Esse aspecto da escola popular está desenvolvido em artigo nosso publicado com o título “A escola regional”, A Educação, junho, 1926.

Page 33: A extensão cultural nos museus - Edgar Süssekind de Mendonça

compreensão da obra e provável colaboração na mesma, vocações que em sua grande maioria se

perderiam, como atualmente acontece.40 Dotado de tais apêndices apreensores, os museus passam a

ser o maior estabelecimento auxiliar de educação artística e científica, aíe/ier, oficina e laboratório,

primários para estreia de futuros trabalhadores e aperfei-çoadores dos já iniciados no campo ainda

tão despovoado das nossas atividades intelectuais, MIGUEL OSÓRIO DE ALMEIDA41 insistiu sobre

essa função, entre nós ainda preponderante, dos institutos de educação assistemática para a classe

média, por enquanto não atingindo as classes populares, o que só permite às parcelas de população

mais favorecidas da fortuna preencherem quase todas as poucas possibilidades de instrução

científica escolar. Indiretamente embora, M. ARROJADO LISBOA, espírito prático," porém não

praticista, cujas preocupações de cientista-industrial se volveram para a educação nos últimos anos

de sua vida, soube marcar o papel de agentes de ligação entre os homens de formação intelectual

irregular e os institutos oficiais de produção científica, que compete a instituições como os museus,

e exprimiu como se segue tal modalidade do problema : "a dura experiência conduziu-nos a esse

ilogismo : temos sido forçados a estabelecer uma série de institutos de pesquisa científica, como

Manguinhos, Butantan, etc., sem que os nacionais possam se instruir convenientemente nas ciências

básicas indispensáveis a esses estudos especializados. Para sairmos dessa dificuldade, temos tido

necessidade de dispender um esforço enorme para instruir alunos das nossas escolas profissionais

com o fim de adaptarmos os seus conhecimentos às exigências da ciência em vista, ou lançamos

mão de amadores sem suficiente base científica".42

Tudo isso está a reclamar um sistema de iniciação e aperfeiçoamento científicos sem a

rigidez sistemática dos cursos universitários. Melhor aparelhados os museus de possibilidades de

ensino — e o desdobramento de suas funções de intensa vulgarização solidariamente com as suas

funções primordiais de conservação e pesquisa visa o melhor aparelhamento para tal desiderato —

esses poderosos órgãos de educação assistemática contribuirão em muito para ajustar as peças da

preparação de equipes nacionais capazes de corresponder às exigências que a tecnização da vida

civilizada fatalmente está impondo às nações que não querem desaparecer. Está visto que, partindo

do assistematismo para o sistematismo, isto é, fazendo a sua marcha em sentido tal que o preparo

para carreiras profissionais se derive prontamente do programa desinteressado que é primordial nos

museus, estes e outros estabelecimentos análogos de educação popular terão confundido a sua tarefa

de extensão cultural com a das extensões universitárias. Estas, nas faculdades clássicas de ensino

superior (ou profissional complementar, como mais propriamente se chamariam} se deveriam

incumbir das funções paralelas de adaptar a rigidez acadêmica às contingências de

40 Em 1925, em estudo sobre a personalidade de Freire Alemão, publicado em o Mundo Literário, outubro, p.488, tivemos ocasião de desenvolver esse ponto de vista.

41 Miguel Osório de Almeida: Vulgarização do Saber, Rio, 1931, p.23542 M. Arrojado Lisboa: “Falhas do nosso ensino”, Schola, junho,1931, p.137

Page 34: A extensão cultural nos museus - Edgar Süssekind de Mendonça

profissionalização extensiva da nossa produção. Mas é justamente porque, na realidade, tais

extensões universitárias agravam ainda, entre nós, o aristocraíismo das faculdades e academias,

promovendo ensino para universitários sele-cionados, que mais se impõe a premência de substituí-

las no mister descurado pelos museus, servidos que sejam estes de ativas extensões culturais.

Detenhamo -nos ainda um pouco nesse longo parênteses que o desdobramento das funções do

museu pira o público nos fez abrir em consequência do desdobramento de suas coleções e

exposições. Não se pense que, servindo ao preparo médio dos homens de formação irregular para

orientá-los para os nossos estabelecimentos de pesquisa e produção científica e artística, os museus

devam perder as funções culturais que os diferenciam, para cima, da tarefa universitária. Mais uma

vez nos valeremos de ROQUETTE-PINTO43 para transcrever a sua opinião sobre assunto que sempre

mereceu seus patrióticos desvelos : "Convém deixar bem claro", disse o ex-Diretor do Museu

Nacional em resposta a inquérito sobre o problema universitário no Brasil, "convém deixar bem

claro, por via das dúvidas, que os institutos essencialmente consagrados à pesquisa científica,

superior, tais como o Museu Nacional, do Rio de Janeiro, o Instituto de Butantan, em São Paulo, e

outros chamados a fazer parte do complexo universitário, não deverão, em hipótese alguma,

prejudicar a sua elevada finalidade, transformando-se em simples escolas das chamadas superiores

do tipo corrente. Eles poderão dar às universidades algo de mais valioso. Como casas de ensino,

cabe-lhes antes de mais nada o aperfeiçoamento e a especialização dos mestres. Sem perder

absolutamente o seu caráter, preencherão destarte as funções novas que se lhes pede, uma vez

dotados dos novos órgãos necessários".

Não lhes poderíamos desconhecer essas altas funções ; estão situadas, porém, na outra face

da extensão cultural dos museus, face que, por temperamento, talvez, ou por preferências

ideológicas, menos nos sentimos obrigados a encarar nesta monografia. Aliás, por todas as citações

aqui feitas de Roquette-Pinto, a começar pela que_ tomamos para epígrafe, e por toda a sua longa e

fecunda atuação em benefício da generalização da cultura pelo povo, não é essa face a que o Mestre

mais se compraz em fitar quando vê, nos museus, os grandes agentes da educação popular.

Fechado o parênteses, voltemos ao assunto das exposições especiais.

A temporariedade dessas exposições, somada à nova perspectiva com que nelas se considera

o material disponível, perspectiva de pontos de vista continuamente renováveis, dá-lhes um quê de

improviso, de frescor e de vivacidade, capazes de quebrar o cos-corão do velho modelo imutável de

museu, para apresentá-lo aberto ao apetite público. Imagem puxa imagem : um convite ao público

para .visitar as coleções dos museus em bruto, isto é, antes dessa preparação do seu substancioso

material, afigura-se-nos como se, para os convidados de um jantar, se trouxesse para a mesa o

estoque cru da dispensa ao invés dos pratos do menu. Que, em suas exposições especiais, a

43 Roquete-Pinto: “Resposta inquérito da Associação Brasileira de Educação sobre o Problema Universitário Brasileiro

Page 35: A extensão cultural nos museus - Edgar Süssekind de Mendonça

substanciosa documentação objetiva dos museus tenha as virtudes convidativas de um prato do día,

embora possa durar várias semanas. . .

Exposições especiais no estrangeiro — Por sua própria natureza flexíveis, as exposições

especiais se apresentam sob as mais ::; versas formas : tanto podem ter a grandiosidade de unia

"Exposição de Aeronáutica", como a que foi realizada no interior do South Kensington de Londres,

como apresentar-se reduzida a uma simples vitrina externa, colocada na entrada do museu,

ostentando aos transeuntes o chamariz de uns poucos objetos periodicamente renováveis, tal como

as Museum Windows de certos museus ingleses (Leeds, Hereford etc.), em torno das quais se

prepara, na imprensa e no rádio, sugestiva publicidade.44

No Rio de Janeiro — Nessas exposições especiais, há ampla liberdade de ensaio para-os

mais variados processos da arte de exibir. O mesmo se dirá quanto aos assuntos : poderíamos

sugerir uma longa série deles, em torno dos quais o material, relativamente parado dos nossos

museus, se poderia animar ; que o leitor, por si, organize mentalmente algumas dessas exposições

neste ou naquele museu do Rio de Janeiro, e terá uma antevisão do quanto a obra de extensão

cultural pode movimentar-se quando livre de empeços praxísticos, o que lhe demonstrará que não

são exclusivamente de ordem financeira os sintomas de paralisia de alguns dos nossos órgãos de

cultura. . . Mesmo porque, sem sair desta Capital, podemos registrar como altamente promissor

nesse sentido o surge et ambula de uma instituição que de perto conhecemos como dos mais

inveterados paralíticos : o Museu Nacional de Belas Artes (que durante quase um século viveu

faquiricamente estático e insensível sob o nome hierático de Pinacoteca da Escola Nacional de

Belas Artes) 45 vem ultimamente realizando uma movimentação de suas obras de arte e uma ativa

articulação com escolas, associações e particulares para manter sempre cheio o cartaz de sua

entrada pública, que pode ser considerado um exemplo daquilo que vai aqui sugerido. O nosso

veterano Museu Nacional foi, na verdade, o que deu o primeiro passo nesse sentido, mas, depois,

limitou-se a repeti-lo sob a forma de exposições comemorativas, de que se pode citar como

admirável exemplo a do centenário de José Bonifácio ; sem deixar de enaltecer a significação

cultural e civíca desse gênero de exposições especiais, almejaríamos que fosse acompanhado de

outras frequentes, ditadas não só pela solenidade de datas centenárias, mas pelas diuturnas

exigências de movimentação das coleções para maior uso e benefício públicos.

EXEMPLOS DE EXPOSIÇÕES ESPECIAIS — No Museu Nacional (para concretizar em exemplos

exequíveis as nossas sugestões), dentro das próprias salas da coleção de Zoologia, poderia ser

organizada, entre muitas outras, uma exposição de aves canoras do Brasil. Mesmo sem recorrer a

exemplares vivos (recurso por demais distanciado do nosso conceito comum de museu), sele-

44 The Museums Journal, vol.34 p. 10745 Ver do autor Contra a Congregação da Escola Nacional de Belas Artes, 1920, onde vêm denunciados esse e outros

vícios de organização já remediáveis naquela época.

Page 36: A extensão cultural nos museus - Edgar Süssekind de Mendonça

cionar-se-iam em mostruários destacados, alguns espécimes da coleção, que o público observaria

com atenção mais concentrada, ouvindo ampliações fonográficas dos cantos mais fáceis de gravar

em disco. Em seguida, seria o público convidado para assistir a projeções fixas e animadas sobre o

assunto, enriquecidas de roteiros, falados a viva-voz ou em discos, onde, junto a cada espécie

referida, fossem citados trechos da nossa literatura relacionados com o assunto; aí estariam

presentes o bem-te-vi que assustou Ceci, na bela página de José de Alencar, e a graúna de asas

menos negras que os cabelos de Iracema ; de José de Alencar passaríamos a Monteiro Lobato, com

o tíco-tíco e o chopim do seu conto-fábula; sem esquecer, está claro, o sabiá de Gonçalves Dias — é

verdade que não mais cantando nas palmeiras... Uma dezena mais de citações escolhidas,

conjugando o material de uma coleção de museu com a sugestão evocativa dos nossos escritores

inspirados na natureza brasileira. Possibilidades vão surgindo dos recursos técnicos disponíveis : a

sessão de cinema se iniciaria com essa maravilhosa apoteose — a "Alvorada" do Escravo de Carlos

GOMES — gorgeante dos cantos dos nossos pássaros "sob o céu do Paraíba", e terminaria com o

mistério lendário que o génio musical de Vilas-Lobos fez evolar-se do canto do uirapuru.

Para certo tipo dessas exposições, os museus reservariam uma sala, a sala das crianças.

Autores há que preferem coleções comuns para todas as idades, variando apenas o grau de

interpretação do professor-guia. Assim, porém, não pensa o "Smithsonian Institute", que, das altas

esferas científicas que domina, não se desdoura em possuir o seu recanto infantil, assim descrito por

GRACE RAMSEY46 : "pássaros canoros em amplos viveiros, aquários e terrários dispostos de forma

tal que mesmo as criancinhas mais pequenas os possam ver. Prateleiras superiores suficientemente

baixas para ficarem ao alcance dos pequeninos visitantes. Letreiros atraentes para a compreensão

infantil, nos quais foram omitidos todos os nomes latinos, com uma única exceção que

mencinaremos depois. "As maiores e as menores aves de rapina", "ninhos e ovos exquisitos",

"como os animais se escondem" (e não mimetismo protetor. . .). O único letreiro em latim acha-se

colocado por baixo do seu minúsculo possuidor, que é um beija-flor : Rhamphomicton

microthynchum, letreiro que servirá como a melhor explicação de não se usarem outros letreiros em

latim".

Para as crianças, no entanto, têm as escolas e os museus outros meios de atendê-las: que os

museus do Rio de Janeiro, em colaboração com as escolas, preparem coleções para os vadadíssi-

mos museus escolares, ou por cessão e empréstimo de material, ou por organização de material

colhido pelos alunos, sob as vistas dos professores. O problema — criança — pode, pois, sem

necessitar salas e exposições oficiais especializadas, receber a solução indicada pelo Presidente da

Museums Association, ERIC MAC-LAGAN: acha essa autoridade que, da mesma forma que as

crianças repelem a literatura com íema escolhidinho para elas, preferindo adaptações de-obras mais

46 GRACE RAMSEY : Educational Work in Museums of ths United Siates, 193S, "p. 116.

Page 37: A extensão cultural nos museus - Edgar Süssekind de Mendonça

gerais, também querem o museu de todos, competindo à boa pedagogia dar-lhes orientadores

capacitados, os quais, na opinião do autor citado, devem ser professoras primárias especializadas

para tais funções ; sem a necessidade de salas especiais, claro está que seria bastante aconselhável a

realização dê exposições temporárias, com assuntos e apresentação acessíveis à infância.

O próprio, porém, das exposições especiais, de que estamos aqui longamente tratando pela

sua especial adaptação à função educativa dos museus, é estabelecer o contato destes museus coia o

grande público, atingindo camadas não organizadas por escolas ou associações culturais. Cornpete-

lhes talvez, em ação futura continuada, organizar, no que for possível, essa clientela sumamente

heterogénea, porém característica do público dos museus, que é a multidão dispersa dos visitantes

avulsos.

MATERIAL — Colheita — Mais uma vez lembramos que as presentes sugestões se referem à

porção por assim dizer suplementar da atividade dos museus, com referências indiretas apenas à sua

tarefa primordial de preservação e pesquisa. A colheita de material, por exemplo, constitui vasto

assunto de museu, mas porque seja capítulo por demais conhecido da obra de extensão cultural

realizada ou realizável nos museus e já tenha merecido, entre nós, cuidados e soluções a nosso ver

perfeitamente adequadas, servindo de assunto a folhetos de divulgação e artigos de revistas mais ou

menos especializadas, dispensa maiores tratamentos. Apenas lembraremos uma troca mais

intensificada entre os museus do Rio de Janeiro e os museus estaduais, regionais e escolares, a que

prestam colaboração e assistência, servindo-se dos mesmos para o enriquecimento de suas coíecões

didáticas, medida essa já posta em "ática de há muito pelo Museu Nacional, quando com a fundação

de seus serviços de Assistência ao Ensino, aceitou o princípio de que deve organizar os museus

regionais e escolares com o material por estes colhido. Cabe, todavia, um apelo mais repetido a

associações como à União dos Escoteiros do Brasil, Touring Club, Automóvel Clube, Centro dos

Excursionistas, Foto-Clube, Sociedade dos Amigos da Natureza etc., as quais, em contato

costumeiro com a natureza e a gente do país, em variadas regiões, podem somar às benemerências

de sua ação social mais esta de contribuir para o património dos museus. Fique também aqui

assinalada, no que concerne à intensificação da documentação gráfica auxiliar, a preciosíssima

colaboração da parte dos fotógrafos amadores ; realizem-se ou promovam-se, de combinação com

as associações profissionais, concursos periódicos para premiar os melhores registradores de

documentação fotográfica, a começar pelas melhores fotografias tiradas dos próprios objetos

pertencentes às coleções dos ínuseus. Se é preciso citar exemplos dessa colaboração em países

estrangeiros, entre institutos oficiais e iniciativas particulares, basta lembrar o apelo dirigido por A.

F. Bucknell, Secretário do Institute of British Photographers,47 para que os poderes públicos na

Inglaterra promovessem a coleta e conservação dos negativos e cópias fotográficas, que

47 A. F. BUCKNELL ; artigo em The Musewns Journal, vol. 41, 1940, p. 153.

Page 38: A extensão cultural nos museus - Edgar Süssekind de Mendonça

"representam um rico repositório e inquérito da vida nacional nos dois últimos séculos." Para termo

de comparação: o Victoria and Albert Museum, de Londres, possui uma coleção sistemática de

fotografias, que, em 1936, montava a 200.000 documentos.

Por deveres de ofício, professor que sou de Ciências Físicas e Naturais que não pode

compreender como existam, em nossas escolas, máquinas de projeção sem o complemento de

documentação fotográfica (em diafilmes ou qualquer outro meio de colecionar essa documentação

original ou reproduzida em ilustrações), de longa data venho pensando em sistematizar semelhante

género de exemplado. Para tanto, organizei, sob a denominação de Enciclopedia Brasileira pela

Imagem, material não limitado a assuntos da minha especialidade profissional, mas que, eni

colaboração com outros professores e demais autoridades em cada assunto, abranja todas as

manifestações da terra e da gente brasileiras, que possam interessar a um plano de divulgação

cultural. Quando, no Recenseamento de 1940, vi à frente dos serviços a competência e dedicação

invulgares do Prof. J. Carneiro Felipe, anímei-me a procurá-lo para que incluísse no plano desse

tombamento do nosso património a coíeta sistemática de documentação fotográfica, a qual, por se

tratar de serviço oficial, se poderia estender à reprodução de ilustrações e outros documentos

existentes em repartições públicas e instituições particulares de difícil acesso a todo público ;

aceitas em princípio a vantagem e oportunidade de seme-lhante recenseamento fotográfico, onde a

aguda visão do sábio Diretor viu possibilidades que me haviam escapado, a impossibilidade no

momento de requisitar pessoal estranho às repartições especializadas foi motivo para que não se

houvesse levado a efeito a minha colaboração apenas projetada. Em palestra que tive ocasião de

realizar, a convite do benemérito Instituto de Estudos Brasileiros, sobre um maior aproveitamento,

em nosso ensino de todos os graus, das conquistas da técnica moderna em matéria de divulgação

cultural, voltei a tratar miudamente do assunto ; ocuparia excessivo espaço na presente monografia,

e, por isso, reportamos o leitor ao resumo publicado pelo órgão do referido Instituto, sob o título

"Ensino e Cultura".48 Nesse setor, pode-se sugerir uma ação combinada dos museus do país com o

Instituto Nacional do Cinema Educativo, o qual, embora sem o sistematismo do plano que

imaginamos, vem produzindo preciosa coleção de diafilmes sobre alguns aspectos do nosso

patrimônio cultural.

2 — Especialização — Como bem define Everardo Backheuser49: "A expansão que o tempo

imprime ao material do museu" entra em equilíbrio "com a força coercitiva da exiguidade de área

disponível". Donde a necessidade de um museu especializar-se.

Nascendo compósito, sintoma das exigências pouco definidas do meio intelectual da época,

o Museu Nacional, por exemplo, foi vendo as suas secções gradativamente se autonomizando, até o

ponto de quebrar-se a unidade da instituição com o nascimento, à sua ilharga, do Museu Histórico 48 Edgar Süssekind de Mendonça: “Ensino e Cultura”, Estudos Brasileiro, Rio, março-junho,1940,p.66349 Everardo Backheuser: “Museus Escolares”, em Estudos Brasileiros, março-junho, 1940, p.54

Page 39: A extensão cultural nos museus - Edgar Süssekind de Mendonça

Nacional, em 1922. Dada a tendência da opinião mais generalizada em nossa época de transferir o

interesse, da história natural para a física, de "Darwin e Huxley para Faraday", como já dizia urna

revista de vulgarização científica para a Inglaterra de 1870, já tarda a criação no Rio de Janeiro de

um Museu Nacional de Tecnologia, corporizando realizações que o Museu Nacional não mais

comporta em sua especialização crescente nos domínios da História Natural. Os assuntos mais

propriamente de Geografia, que, por assim dizer, sobram dos limites antropogeográficos e

Biográficos respectivamente abrangidos por suas secções de Etnografia e Geologia, exigirão em

breve instituição específica, mormente agora que os estudos geográficos vêm tão aceleradamente

progredindo pela ação do Instituto Nacional de Geografia e Estatística. Já quanto aos temas

folclóricos, mesmo quando abrangidos pela expressão mais lata de folk-culture, não sugeriríamos a

legitimidade da criação de um museu especializado, porquanto achamos que deva ser intimamente

ligado à antropobiologia e antropossociologia, como as entende o Museu Nacional, e que é

justamente assim que o folclore recebe o tratamento de cunho mais acentuadamente cultural. Que

fecunda e venerável missão a do nosso Museu Nacional ! Alma-Mater dessa plêiade de nóveis

instituições, manter-se em ampla colaboração com as ati-vidades cada vez mais especializadas de

cada qual. E, de todas elas, virá a contribuição comum, regionalizada, por um Museu da Cidade

bem compreendido, que será a focalização local do esforço museológico geral, desde que exerça o

seu papel de museu regional de grande tipo.

Admitindo as especializações ditadas pelo natural desenvolvimento de um museu, não nos

esqueceremos, por contraposição, de referir o caso de especializações prematuras, de que é exemplo

expressivo a origem do nosso atual Museu Nacional de Belas--Artes : nascendo a coleção oficial de

obras de arte integrada na então Academia Real e depois Imperial de Belas Artes, passou a

constituir a Pinacoteca da Escola Nacional de Belas Artes, realizando enfim especialização de

funções há muito aconselhada50; a Academia Real, porém, nascera antes de tempo, substituto des-

falcadíssimo do Museu de Artes e Ofícios que seria mais consentâneo com a época, mal de origem

que ainda hoje se reflete nos limites por demais aristocratizados de seu exclusivo interesse pelas

arfes maiores, com o que exclui de suas coleções toda essa produção do povo, altamente

significativa, que são as chamadas aríes menores, em relação às quais as Belas-Artes ocupam

apenas a porção apical de toda a imensa pirâmide da produção artística. Mesmo no domínio das

belas-artes, o nosso Museu especializado ainda consagra exclusivismos : quase que exclui a

arquitetura, que, no entanto, dada a exiguidade de espaço, poderia figurar em restituições e

maquetes, em documentação fotográfica ; esta última, no caso da arquitetura, se serviria do relevo

do estereoscópio. Quando, em 1931, fui convidado para secretário da Escola Nacional de Belas-

Artes pelo então diretor Lúcio Costa, cuja mocidade idealizou a reforma anti-convencionalista dessa 50 Embora publicado em 1920, o trabalho do autor Contra a Congregação da Escola Nacional de Belas-Artes contém

várias das sugestões ainda hoje cabíveis sobre maior divulgação da cultura artística no Brasil.

Page 40: A extensão cultural nos museus - Edgar Süssekind de Mendonça

instituição, que ainda não se havia desdobrado em Escola e Museu, — combináramos que, como

secretário, eu teria funções de organização na obra de extensão cultural no ensino das belas-artes;

estive, então, na iminência de levar a efeito ampla utilização da dia-esfereoscopía para a

documentação artística acima sugerida.

Quanto ao Museu Histórico Nacional, instituído, é óbvio, para se relacionar com o

patrimônio integral da nossa história — a julgar pela dosagem de suas amostras ainda compreende a

História em seu estrito senso político-militar, carregando a nota monárquica naquela dosagem e

patenteando, na sua propensão para o raro e o custoso, um preciosismo que contraria o princípio de

preferência pelo característico, isto é, pelo mais frequente em cada época, consoante a boa norma

museoiógica. Desejamos que a recente criação do Museu Imperial de Petrópolis, oportuna

lembrança, venha aliviar os encargos aristocráticos do Museu Histórico Nacional, permitindo-lhe

interesse equitativo por todo o património histórico do país. São, efetivamente, notáveis

demonstrações da erudita operosidade de sua direção, servida de eficientes auxiliares, as numerosas

melhorias que de ano em ano vêm sendo ali inauguradas. Cabe, assim, exprimir O' desejo de que,

junto às novas salas especializadas que estão em construção, se reservem outras onde se venha a dar

guarida à documentação, expressiva por excelência, de toda essa patriótica atividade centralizada no

Brasil pelos Mauás, OTTONIS, MARIANO PROCÓPIOS E REBOUÇAS, além dos contemporâneos

SANTOS DUMMOND, OSVALDO CRUZ e SATURNINO DE BRITO, para só citar os maiores dentre os

mortos.

Não tivemos tempo para visitar o Museu da Cidade ; este tem a sua especialidade controlada

pelo caráter sintético, regional, de sua finalidade.

RECURSOS AUXILIARES — Sangue novo dos museus, os recursos da técnica moderna em

matéria de auditividade e visualidade. . . O rádio, em seu aspecto de difusão cultural, mantém um

domínio à parte, dificilmente adaptável à vida interna dos museus; o que não impede, já se vê,

ampla colaboração desses museus, extra-muros, nas possibilidades educativas da rádio-difusão. Em

matéria de uso interno, a técnica do rádio nos interessa pelos seus recursos de amplificação, como

complemento da fonográfica. Vimos, no exemplo característico de uma exposição sobre aves

canoras do Brasil, o seu precioso auxílio. Não se trata de exemplo adrede escolhido para demonstrar

a colaboração da fonografia nos museus ; as suas possibilidades são das mais amplas no domínio

daquelas exposições especiais. Deram mesmo origem a uma denominação sugestiva : A voz dos

museus, para semelhante melhoramento introduzido em alguns museus estrangeiros (nos Estados-

Unidos, por exemplo), onde, junto ao material exposto respectivo, ouvem-se, provenientes de

aparelhos fonográficos postos em funcionamento por um visitante qualquer, rugidos de animais

selvagens, coaxar de rãs, zumbidos de insetos, ruídos imperceptiveis aos nossos ouvidos que,

presentes na natureza, a lâmpada trioda amplia, e as notas de instrumentos de música primitivos, e

Page 41: A extensão cultural nos museus - Edgar Süssekind de Mendonça

os cantos populares. . . Temos, nas coleções etnográficas do nosso Museu Nacional, um "caso" que

está a reclamar excepcionalmente tais recursos de divulgação sonora : é o "bastão musical" de

certa tribo, indeterminada, dos nossos índios, o qualf hoje condenado à muda segregação de uma

vitrina fechada ao público, poderia exibir as suas notas, cujos incomparáveis encantos maravilham

os poucos que puderam gozar o privilégio de ouvi-las.

l — Cinema nos museus — A colaboração do cinema nos museus é assunto de vasta

literatura especializada e tem sido tratada com relativa abundância por autores patrícios, podendo o

Rio de Janeiro orgulhar-se, nesse particular, de obra pioneira no Museu Nacional; queremos nos

referir à iniciativa de cultura generalizada, também esta, devida à mesma individualidade

privilegiada de RoQUETE-PINTO, que se soube servir de documentação cinematográfica em sua

colaboração como naturalista na obra de RONDON, em época que coincide com as primeiras

tentativas estrangeiras nesse género de documentação científica. Seu prestigioso nome aíuaímente

na direção da organização oficial especializada que criou, o Instituto Nacional de Cinema Educativo

(INCE), é penhor de que o Museu Nacional pode inscrever-se nos primeiros lugares da lista

numerosa dos favorecidos por tão benemérita instituição.

"Museu Animado" — Estimulado pelas realizações do INCE, não nos parece utópico um

programa de colaboração com os museus do Rio de Janeiro por parte de seus cineastas, incluindo

mesmo uma série de filmes, de alguns poucos minutos de duração, a que provisoriamente

denominamos de Museu Animado, onde o material em exposição nos museus fornecerá o tema

puro, central, em torno do qual a técnica cinematográfica tecerá toda uma trama de variações.

Citemos a esmo alguns exemplos possíveis de longa série, fácil de imaginar e talvez de realizar : —

teremos a cadeirinha, carregada por dois escravos, em plena rua carioca do século XVIII, que

motiva urna rápida reconstituição histórica em torno daquele documento que o cinema fixou nurna

das salas do Museu Histórico Nacional, e depois animou e trouxe para o seu local e a sua época... E

o vaso de cauim dos nossos índios, deixando o mostruário do Museu Nacional em que dorme, ei-lo

que vem ocupar o seu lugar de honra na festividade guerreira em que se sacrifica o prisioneiro, ao

mesmo tempo em que se ouvem, pelas possibilidades do cinema sonoro, os versos do Y-Juca-

Pirama, de GONÇALVES DIAS : "em fundos vasos de alvacenta argila // ferve o cauím ; // enchem-se

as copas, o prazer começa, // reina o festim". . .

Já de há muito integrado o cinema na vida do Museu Nacional, — que possui bela sala de

projeções em estilo marajoara —, será fácil tarefa para a Secção de Extensão Cultural, recentemente

aí criada, tornar mais frequente e sistemático o seu funcionamento. As possibilidades de projeção

nas salas mesmas das coleções, com inegáveis vantagens para a movimentação das mesmas, (sem

necessidade de escurecer a sala graças ao recurso da tela de vidro fosco) , parecem-me relegáveis a

uma segunda etapa do programa.

Page 42: A extensão cultural nos museus - Edgar Süssekind de Mendonça

Documentação cinematográfica — A execução de tais filmes, orientados quanto ao assunto

pelos técnicos do Museu, será da alçada do INCE. Mas, como bem assinala uma das maiores

autoridades nacionais em matéria de cinema educativo, JÔNATAS SERRANO 51, os museus podem,

por si mesmos, realizar filmes documentários, ou, conforme suas próprias expressões : "O cinema

resolve aspectos do problema, que os museus, mesmo dinâmicos, não resolvem. Deve ser posto a

serviço dessa causa, que é a dos museus e que é educativa por excelência, para que as iniciativas

oficiais e particulares facilitem a organização das cinemotecas, ou anexas a museus ou autónomas,

nacionais e regionais, era qiie tudo seja fixado — o aspecto da flora e da fauna típicas de cada

região, o falar do povo, as dansas características, todo o folclore. Adiante conclui o preclaro

educador : "Não devemos perder de vista esses aspectos mais educativos dos museus, que é dar a

prova consciente da obra humana, no tempo e no espaço, e fixá-la para que outros a colham e

apreciem no exato valor. E a própria documentação, que colhermos, será a niais preciosa dos

museus futuros."

Nessa ordem de idéias — generalizar a linguagem do museu em documentação de grande

escala — o cinema se mostra incomparável de recursos ; a História é uma Geografia em evolução, e

quando uma nacionalidade, como a nossa, se constitui a nossos olhos, tateando em suas bases e

rumos, atravessando aspectos que talvez já sejam fases'esvaeceníes, na instabilidade sobretudo da

nossa miscigenação cultural, o Museu desempenha ação fixadora de imprevisível significação

futura. No Brasil, um momento de epopéia — a luta sertaneja de Canudos, que motivou o maior

livro do continente : Os Sertões, de EUCLIDES DA CUNHA, verdadeiro tratado de antropogeografíca

e antropossociologia brasileiras — esse momento de epopéia tem seus atores e cenários

imortalizados na literatura, mas talvez se extinguindo para as possibilidades da documentação

objetiva, que os resguardaria para a contemplação e estudo de todos os tempos. Já não digo em

relação aos atores em plena reconsíítuição de cenas da epopeia sertaneja, (ah ! EUCLIDÊS DA Cunha,

a pobreza dos teus patrícios é tão triste como a ineficácia do teu verbo, lido por alguns mas não

seguido por nin-guém. . .). Mas, ao menos, a fixação dos cenários, flora, fauna, e hábitos e costumes

de tipos humanos ainda lá vivendo. Teria a técnica do cinema assunto digno de suas possibilidades,

sendo fácil à técnica de museu orientar cientificamente o filme, cujo roteiro ralado seriam as

expressões insubstituíveis, em citações sincronizadas, de Os Sertões. Desculpe-nos o leitor mais

uma referência pessoal às atívidades do autor, para o que deve levar em conta que está lendo uma

prova de habilitação profissional, onde se procura reforçar a palavra que sugere com a ação, ou

projeío de ação, em longa e contínua preocupação em torno de assuntos correlates. A ideia, acima

exposta, de pôr o cinema a serviço da documentação visualizada de Os Sertões, foi por nós lançada

51 JÔNATAS SERRANO : "Debates sobre a conferência Função educativa dos museus", de F. Venâncio Filho", Estudos Brasileiros. Rio. 1939. p. 64.

Page 43: A extensão cultural nos museus - Edgar Süssekind de Mendonça

em sessão do Grêmio Euclides da Cunha52 e teve pronta aceitação dos Profs. Raja GABAGLIA e

BERNARDINO JOSÉ DE SOUSA, presentes à reunião, de ROQUETE-PINTO, a quem, pouco depois, a

comunicamos, ouvindo-lhe promessas de aquisição do filme para o Instituto que dirige, e de

PAULINO FRANCO DE CARVALHO, então diretor do Serviço Geológico e Mineralógico, que se

prontificou a ordenar estudos geológicos na região de Canudos, com.o que garantia a execução do

filme por técnicos em cinematografia do Ministério da Agricultura ; o falecimento deste saudoso

cientista, ocorrido meses depois, veio adiar a iminente execução do filme documentário que se

intitularia : "O cenário d'Os Sertões".

4 — Televisão — E a televisão ? O ''Metropolitan Museum", de Nova-York, já a incorporou

ao seu plano educativo, iniciando o preparo do material a irradiar, escolhido em suas coleções ; a

Travelling Education Exhibit53 foto-irradia material fornecido pelo Museu de Cincinatti. Pleno

século Vinte e Um. . .

FUNCIONAMENTO — "Museus dinâmicos" — Colhido, sele-cionado e exposto o material,

trata-se agora de pô-lo a funcionar. Para a concepção antiga, material de museu bastava existir —

existir e persistir. O seu tratador especializado revelava no noine oficial — conservador — o ideal

estático que encarnava. Depois, os mostruários se encheram da buliçosa profusão de setas, letreiros

sobre letreiros, diagramas, rnapogramas, gráficos de toda espécie, mapas de todo tamanho,

desenhos e fotografias, e, na parada dos museus, os objetos expostos como que se perfilaram em

posição de sentido à espera da ordem iminente de marcha... E' a posição que ainda mantêm os

museus brasileiros. Dois deles, que saibamos, se avantajaram aos demais nessa movimentação em

estado latente, que ê o prenúncio da movimentação visível, do funcionamento do material exposto,

dos museus dinâmicos que ainda não possuímos. Esses dois são : o Museu Paulista, na colina do

Ipiranga, onde, em longa continuidade de cultura e carinho, AFONSO DE. TAUNAY, seu grande

Diretor, valendo-se das virtudes reconstituidoras da pintura e da escultura, realizou obra de

objetividade e simbolismo, que resume, em síntese inesquecível, "todos os aspectos da formação de

nossa nacionalidade," para empregar expressões de VENÂNCIO FILHO 54. E o Museu Nacional, em

suas colecões de antropologia e etnografia, e em certos aspectos de outras, onde é modelar o

consórcio da especialização científica com o interesse geral da cultura.

O fato, porém, é que os museus do Rio de Janeiro, provavelmente ainda por longo tempo,

funcionarão apenas na imaginação complementar de alguns de seus visitantes, e nas melhorias de

interpretação pedagógica, que os especialistas, em colaboração com os professores, vão

conseguindo fazer para alguns interessados e para o público em geral... a interessar.

52 Esse plano foi, em resumo, publicado em Revista Acadêmica, 1937, sob o título "Euclides da Cunha lido ao povo".

53 Citado em artigo editorial de Museums News, New York, 1940, p.554 F. VENÂNCIO FILHO : "Função educativa dos museus". Estudos Brasileiros, Rio, 1939, A educação e seu

aparelhamento moderno. S. Paulo, 1941

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2 — Metodização das visitas — Para certa parcela dos frequentadores de museu, nada ou

quase nada tem que fazer a Secção de Extensão Cultural : são estes as "pessoas de casa", a clientela

do pessoal técnico dos museus : mas estes são colaboradores, ou possíveis colaboradores, e não

fregueses. . . Os demais visitantes, ou são visitantes isolados, ou grupos de visitantes mais ou menos

organizados, a começar pelas turmas escolares. Nestas, entretanto, maior regularidade de

organização no grupo nem sempre implica maior interesse nos elementos constitutivos. E hoje

princípio admitido pelos que se preocupam com o problema do público de museu, que os grupos

que fornecera a melhor parcela dos frequentadores de museu, melhor mesmo do que as escolas (cuja

influência sobre a vontade dos alunos é mais imposta do que aceita), são as associações culturais.

Mas a clientela característica, e, portanto, a mais considerável para a obra de extensão cultural,

ainda é a multidão esparsa dos visitantes avulsos. Há, entretanto, um meio de conciliar os benefícios

da organização em associações cora a vivacidade e interesse desses frequentadores espontâneos : é

incluir certa regularidade, certo grau de sistematização e agregação nessa "população" incoerente, a

custa de um hábil emprego do aparelhamento clássico dos museus : guias, orientadores, material

gráfico, toda a sorte de indicações e sugestões, e até mesmo horários que permitam mais ampla

visitação, mas obriguem ouírossim a concentração dos visitantes, ou parte deles, em pontos e

ocasiões previamente estabecelecidos. Sobre visitas de turmas escolares, ouçamos um testemunho

cujo valor não precisamos encarecer :

"...Tenho, por curiosidade, assistido ao desandar de algumas escolas pelas galerias do Museu

Nacional. Que tristeza ! Todo mundo vai andando, vai olhando, vai passando. .. como um fio dágua

passa numa lâmina de vidro engordurada. Quem quiser aprender num museu, deve primeiro

preparar-se para a visita. Aquilo é apenas o atlas; o texto deve ir com o estudante." (ROQUETE-

PlNTO) 55

Não se pode reclamar mais incisivamente a metodização das visitas a uin museu. Programa

definido do que se vai ver, interesse crescente dos que vêem, capacidade pedagógica — técnica e

emocionalmente falando — dos que fazem ver.

3 — Orientadores de museus — É indispensável uma visita prévia às coleções pelo

professor da turma, seguida da comunicação à direção do museu dos assuntos que mais interessam à

turma, para que possam entrar em função os recursos de exibição disponíveis. Para que todos os

alunos possam prontamente observar e fazer perguntas livremente, as turmas não devem ser

numerosas. Infelizmente sofrem os museus dessa alternativa de frequência : ou vasante, situação do

lá vem um, ou invasão torrencial. Daí a necessidade de pessoal próprio, de técnicos que sejam

verdadeiros intérpretes de objetos 56, junto aos professores das turmas, que são os instrutores de

55 E. ROQUETE-PINTO : "A história natural dos pequeninos", A Educação, Rio, 1925, Seixos Rolados, Rio, 1927, p. 41

56 NITA M, FELDMAN : "The Museum teacher", citado em Educaíional Work in Museums of the United States, 1938, p.

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assuntos. Seccionem-se as turmas numerosas, com o que se consegue canalizar a enchente ;

prolongue-se, a custa de informações oportunas, a permanência dos visitantes isolados, alimentando

os reservatórios, e ter-se-á conseguido equilibrar a freqíiência aos museus, condição favorável ao

seu bom aproveitamento didátíco.

A atuação, hoje clássica, desses intérpretes de objetos (orientadores de museus, ou museum

instructors nos Estados Unidos, e museum demonstractors na Inglaterra), levou a distinguir três

tipos de turmas, designadas, na Inglaterra, conforme o caso, por self-conducted (só professores de

turmas), museum-conducled (só orientadores) e museum-aided (professores assistidos de

orientadores ). No Museu Comercial de Philadelphia, tão numerosas são as turmas que o visitam,

exigindo ainda por cima execução de demonostrações, que foi preciso apelar para um recurso

engenhoso : somente alguns alunos selecionados de cada turma vêm certas dependências do Museu,

e estes alunos, depois de aprenderem as demonstrações, levam material para repeti-las diante dos

colegas, em grupos formados no próprio recinto do museu ou na escola. Mas essa solução é pouco

adequada à maioria dos casos de enchente, :szendo-se necessária grande cópia de material

disponível ; há várias outras medidas, mais fáceis de tomar, para enfrentar o problema, cujo sintoma

mais comum é a chamada fadiga dos museus, de que dão mostras frequentes as turmas numerosas.

Unia autoridade no assunto, M. Harrison57, aconselha que, após curta dissertação, dê-se a cada aluno

uma pequena série de questões a resolver por si só, utilizando o material exposto ; a visita a cada

secção termina por unia discussão geral de tudo o que foi observado. Seria mais aconselhável a

visita cada dia a uma secção, mas o recurso acima exposto, dada a exiguidade de ocasiões que as

escolas concedem ao trabalho fora de suas aulas, vale por divisão em capítulos de um livro que,

como o museu, se tem de ler quase sempre de urna assentada. . . Outros entendidos no assunto,

talvez por demais incrédulos a respeito das medidas anti-dormitivas ao alcance dos museólogos,

chegam, a aconselhar jogos de museus, a fim de entreter os alunos que começam a dar mostras de

cansaço, ou os menos interessados, agentes perturbadores da eficiência da excursão ; tais jogos são

constituídos geralmente por cartões contendo perguntas a serem respondidas, ou lacunas a serem

preenchidas, após consulta ao material exposto ; fala-se mesmo em puzzles e quebra-cabeças ... o

que seria descabida imitação ou inais um caso de incompreensão do processo dos testes. . .

Quer-nos parecer que o melhor recurso para evitar a fadiga dos museus, nas visitas

escolares, ainda é desenvolver o hábito do museu à custa de maior objetivação do ensino e

intensificação das atividades extra-classe ; o que não exclui, antes favorece, a cada vez maior

adaptação das coíeções visitadas ao gosto de seus jovens visitantes, tornando-as dignas da

curiosidade das crianças, o que é também uma forma de torná-las mais dignas cio interesse de

todos. O "fio d'água (da sugestiva imagem de Roquete-Pinto) passando sobre uma lâmina de vidro

21057 M. Harrison: “The museum and the child”, The Museums Journal,1940, p.267

Page 46: A extensão cultural nos museus - Edgar Süssekind de Mendonça

engordurada" — traduz bem a falta de poder aderente do público, mas o en g or duramente da

lâmina refere-se também à camada isolante que cumpre retirar dos mostruários de museu . . .

Variado programa de ação este que visa intensificar a comunhão do público com os museus ;

ajudado pelas novas capacidades publicitárias de reclame e revolvimento mais extenso se não mais

profundo das camadas populares, trazidas à nossa época pelo cinema, a fotomontagem, a

rotogravura, o rádio, o automóvel; desajudado, porém, por esses agentes da técnica moderna,

quando, o que tanto sói acontecer, embotam e anulam a emotividade pública. Diante do quotidiano

trepidante da atuaiiciade, o museu ainda será por muito tempo anacrónico convite de parada para

contemplações mais serenas e mais profundas. Comparado àqueles concurrentes de divulgação

cultural, que envolvem em manto deslumbrante a multidão quase hipnotizada, o velho tecido dos

museus, com a malha larga de seus espécimes Isolados, e rasgões de continuidade em sua dificílima

continuidade de exemplificação — mesmo que os sirzam com a trama sutil das interpretações

didãticas — perde na con-currência inexorável, mas tem sobre os concurrentes da atenção pública a

vantagem de não ter avesso. . . Impossível e ilusório isolá-lo de seu tempo. A sua comunhão com o

público é, como para os outros agentes de cultura generalizada, campo para exercitar-se essa

pedagogia das massas, capítulo moderno de inter-psicologia aplicada, que nos habituamos

infelizmente a só ver escrito em termos de propaganda e publicidades políticas. . .

4 — A pedagogia dos museus - Nos limites puramente culturais, a que se restringe a nossa

atenção, o problema apresenta características muito próprias, bastando lembrar que, ao lado dos

processos de comunicabiíídade, que lhe são comuns com a propaganda política, o cunho objetivo

que assume, por definição, o ensino popular ministrado pelos museus, dá-lhes à propaganda esse

atributo diferencial ; são a propaganda da fidelidade. . ,

Por isso, nos seus domínios, faz-se necessária uma fase preparatória de estudo analítico dos

interesses próprios e a serem despertados em cada tipo de público, estudo que carece de inquéritos

sobre os assuntos preferidos, a sua dosagem eni cada grupo, sobre a relativa receptividade dos

elementos — alunos inais diversificados etc. etc., tudo isso a exigir ainda um longo período

introdutório de pesquisas pedagógicas. Devendo levar em conta as demoras que entre nós invalidara

a aplicação de providências sistemáticas (quando estas «ao se dão com a simultânea tolerância de

medidas provisórias, mais ou menos simplistas, que as venliarn resguardar de prematura aplicação

coníra-produceníe) sugerimos também que, prosseguindo-se embora no estudo metódico da

pedagogia dos museus, não fique o grosso das medidas mais urgentes à espera ilusória do étimo. . .

Comece a tarefa pdo emprego de normas que tenham aceitação incontestável ou já generalizada.

Por exemplo : ninguém espera desbancar de suas funções específicas esses agentes de alta eficácia

nas relações público-museu, que são os guias das coleções. O seu reinado tem sido longo, e, por

isso, são banais os requisitos a que devem obedecer. Lembramos apenas que não lhes faltem as

Page 47: A extensão cultural nos museus - Edgar Süssekind de Mendonça

plantas do edifício e das salas, com roteiro de visita integral e não repetida, indicado por setas ; a

redução dos quadros sinóíicos e dos mostruários-prefácio (de que tratamos na p, 7), e, sempre que

possível, seus mapas e gráficos mais gerais. É de grande conveniência, que tais guias sejam dotados

de índices, sistemáticos e alfabéticos, ricos de referências, agrupando objetos de coíeções diferentes

que, todavia, se correspondem funcionalmente ; que sejam redigidos em estilo sugestivo e não

intimaíivo, e sempre enxuto de atavios e redundâncias ; variado nos tipos de composição gráfica

para indicar hierarquia de valores ; questões complementares ; referências bibliográficas. Para

satisfazer à necessidade de estarem em dia corn a última arrumação dos museus, aconselham-se

guias parciais, para mais frequente e menos custosa reedição. Reunidos convenientemente, darão os

guias das coleções, os guias das secções e o guia geral do museu. Recursos financeiros para a

publicação ? Na deficiência das verbas oficiais, um entendimento da direção cora revistas

especializadas ou de divulgação cultural que publiquem, página a página, este ou aquele guia

parcial. Até anúncios. . . Pois só uma coisa, nesse assunto, deve ser terminantemente proibida : um

museu sem guia !

CURSOS E CONFERÊNCIAS — Cabe à extensão cultural, sempre sob o controle da direção do

museu, auxiliar a realização de conferências e cursos promovidos pelo pessoal técnico ; essa

assistência se manifesta em proporcionar-lhes documentação didática, sugerir-lhes melhorias

pedagógicas, cuidar de sua publicação e propaganda, adaptá-los ao seu plano de vulgarização. Mas

a sua tarefa própria é a organização de cursos e conferências por pessoas de casa ou estranhas,

representando essa realização, de caráíer mais definitivo do que as preleções diárias junto às turmas

que percorrem as coíeções, o coroamento das atividades da extensão cultural em torno do

património do museu.

Pelo seu assistematismo relativo, as palestras isoladas, mais do que as seriadas, são mais

consentâneas com a índole das extensões culturais. Quanto ao assunto de umas e de outras,

principalmente das palestras isoladas, ainda não se inquiriu entre nós sobre as preferências do

público ; a experiência estrangeira recomenda, para adultos sem escola, que os assuntos iniciais

ainda guardem um pouco do tom, não digo maravilhoso, porém incomum, tanto esse género de

assistência tem entranhado o velho conceito de museu loja de curiosidades e tanto é verdade que,

apenas para iniciados, realismo não se confunde com prosaismo.

Com a continuação, pode-se deixar de lado semelhantes chamarizes ; o que será tanto mais

fácil quanto se possa substitui-los por palestras ligadas aos interesses profissionais de cada grupo.

Para adultos escolarizados, a prática estrangeira manda dar preferência a assuntos de

interesse geral, que tenham, entretanto, sugestiva exemplificação nas coleções, e, em seguida, o

tratamento direto dos próprios objetos dos mostruários. Mais especificadamente : além das

referências direías ao material de primeira mãof que confere a sua nota de objetivídade ao ensino

Page 48: A extensão cultural nos museus - Edgar Süssekind de Mendonça

dos museus, terão aqui seu lugar adequado noções gerais, tais como ambiência histórica para obras

de arte, geográfica para flora e fauna etc. Em países onde os compêndios e material escolar em geral

são farta e nacionalisticamente ilustrados, aconselha-se maior referência a objeíos do museu que

ainda não hajam sido figurados nessas publicações de larga divulgação ; embora, entre nós, já

venham apa-recendo livros escolares e de vulgarização regularmente ilustrados (e é de lastimar que

as nossas publicações periódicas ilustradas, com raras exceções, se percam totalmente na

frivolidade, no con-vencionalismo de encomenda e na cópia servil do estrangeiro), sugerimos que

não se evite, e antes se procure aproximar, as demonstrações objetivas do ensino dos museus das

ilustrações dos compêndios e dos assuntos do currículo escolar.

Seria, se não descabido, longo em demasia, descriminar os múltiplos exemplos de palestras

e cursos apropriados a tais realizações, mesmo que, por tradição e adequação, sejam tais exemplos

de superior significação. Não deixaremos, todavia, de lembrar quão útil seria uma troca constante

de conhecimentos entre o pessoal dos museus e o pessoal docente das escolas, para orientação

pedagógica daquele e documentação objetiva do segundo ; também cursos internos de preparação

de voluntários de museus e seus futuros orientadores, sem já falar na articulação com atividades da

extensão universitária e extensões culturais de outras instituições congéneres. Realizadas durante as

exposições especiais, devem as preleções assumir estreita ligação com as finalidades nestas

colimadas. Resulta de todo esse esforço coordenado uma verdadeira divulgação dirigida da obra

especíalízaa de cada museu.

Obra de propaganda, no seu melhor sentido, naquele sentido que, intensificando a aceitação

pública, também procura a eficiência maior e maior facilidade de articulação entre a instituição em

apreço e o ambiente a que serve. Museu e público generalizado são noções tão correlatas que,

quando falte ao primeiro condições de contato estreito com o segundo, deve a direção se socorrer de

providências complementares para a satisfação desse desiderato: assim, museus, como o Museu

Nacional, que razões relevantes fizeram localizar longe do centro da cidade, devem dispor, nesse

centro ou próximo dele, de local, próprio ou cedido, onde realizar freqiientemente cursos e

conferências de sua própria iniciativa ou em colaboração com institutos oficiais e associações

particulares de cultura. Não importa de tal forma concentrar na sede toda atividade dos museus, que

se chegue a deliberadamente reduzi-la para não prejudicar a unidade de local. Museu é unidade

espiritual, e não meramente física, e, como tal, não teme divisionismos em suas intalacões

materiais...

Pessoal Especializado em Extensão Cultural — Dentre os cursos de museu, destacam-

se, por sua finalidade intimamente relacionada com o tema desta monografia, os cursos de

preparação do próprio pessoal a que se incumbe a tarefa de extensão cultural dentro e fora do

museu.

Page 49: A extensão cultural nos museus - Edgar Süssekind de Mendonça

Se bem que com programa homogéneo de curso, são bem variadas as categorias de seus

frequentadores; desde o voluntário ao profissional de tempo integral, desde o funcionário efetivo da

casa até o professor primário do interior, todos cabem na obra de extensão cultural intra e extra-

muros, porquanto ela abrange desde a valorização pedagógica do material mais especializado até a

organização de pequeninas coleções individuais pela boa vontade mais distante, A quantidade e

qualidade das pessoas que atenderão ao fcnvite daqueles cursos é que delimitarão o seu programa.

Isso, principalmente, para museus de grande variedade de coleções, pois, para outros mais

homogêneos em suas especialidades, tais como o Museu Histórico e o de Belas-Artes, são

plenamente aceitáveis cursos de Museologia de programa prefixado, como os que, com positivo

sucesso, se estão realizando em nosso meio. Em se tratando apenas de delineamentos gerais,

podemos transcrever como exemplo, a lista de finalidades estabelecidas pela "Museum Asso-

ciation":

Programa (parte que interessa à extensão cultural)

5 — Relações dos museus com a educação e a pesquisa:

a) Classes em visita.

1 — organização de visitas escolares; relações com as autoridades lo-do ensino; relações

com professores; relações com instituições, etc.

2 — tipos de palestras e aulas para crianças de diferentes idades.

3 — relações das palestras dos museus com os cursos escolares, etc.

b) Conferências (guide lecturer's works), incluídas as escolas destilariam a organizações

sociais, homens de negócio.

c ) Guias.

d) Cooperação com o rádio.

e) Demonstrações com projeções fixas e animadas.

f) Coleções escolares; equipamento e organização.

g) Cooperação com institutos de alta cultura e associações locais.

h) Registro e publicação dos trabalhos do museu.

Para complemento, a exemplo do que há muito se faz no "Muséum National d'Histoire

Naturelle", de Paris, aconselharíamos cursos de desenho, ou, melhor, de expressão gráfica, visando

a ilustração de trabalhos de pesquisa e divulgação em ciências físicas, naturais e sociais. Ern

apêndice, juntamos o programa para o curso de auxiliares de naturalista do Museu Nacional, que em

1940, a pedido da Diretoria Prof. HELOÍSA ALBERTO TORRES, tivemos ensejo de organizar. Como se

vê, tanto desse programa como nos itens acima transcritos, cabe ampía variedade de aspectos em

semelhantes cursos, por mais específicas que sejam as suas finalidades. Na falta de órgão

especializado — e que, no Rio de Janeiro, seria o extinto Museu Pedagógico Central, criado pela

Page 50: A extensão cultural nos museus - Edgar Süssekind de Mendonça

Reforma Fernando de Azevedo (extinto justamente quando, sob a di-reção de escol de EVERARDO

BACKHEUSER, mais prometia...) cumpre aos museus desta cidade acumular funções pedagógicas às

suas já absorventes funções profissionais; caberia, portanto, sugerir-lhes que, a exemplo do que fez

o Diretor do Museu Pedagógico Central, quando se cuidou de orientar a remodelação dos museus

escolares do Distrito Federal, fosse anexado aos cursos de orientadores um consultório permanente,

para esclarecimento e resolução dos variados problemas concretos que ocorrem na prática do ofício.

Cumpre também distinguir entre pessoal executante e orientadores propriamente ditos, a que

incumbe a dupla função de realizar e aconselhar. Especificamente para estes são os requisitos

seguintes, que os entendidos no assunto afirmam convir à personalidade que deve demonstrar

possuir o realizador e coordenador da tarefa que ora nos interessa; escolhemos dois autores

altamente indicados para opinar, pois ambos exerceram as atribuições sobre que aconselham e

exararam suas opiniões em obras espe-ciliazadas. Transcrevemo-las como confirmações valiosas à

nossa convicção de que a eficiência, se não mesmo a implantação, dos serviços de extensão cultural

nos museus depende das condições pessoais de entusiasmo pela causa da educação popular que

venham a ter os incumbidos de semelhante tarefa, ao par de uma compenetração de seus deveres

funcionais em grau bastante elevado para não esmorecer ante a falta de recursos orçamentados e os

entraves burocráticos.

Eis a opinião de NITA M. FELDMAN: "O docente deve possuir essa personalidade professoral

necessária para despertar energias paradas, estimular atividades adormecidas, manter o interesse e

desafiar a atenção dos alunos".58

E a opinião de GRACE FISHER RAMSEY: "Existem outros museus que cuidaram de preparar o

seu pessoal encarregado das tarefas educativas, bem preparado e treinado acadêmica e

pedagogicamente. O preparo académico exigido nesses museus é um certificado de curso expedido

por um college (curso secundário) acompanhado de experiência de ensino. Esta experiência nem

sempre é exigida, porém sempre influi para a preferência do candidato, a não ser quando se dá o

caso de o diretor do Museu desejar, ele mesmo, orientar essa forma de preparação didática. Como

complemento do preparo académico exigido, a maioria dos direto-res de museu julga que nada

equivale em importância ao fato de possuir o professor o tipo de personalidade adequado. Sempre

que se verifica o caso de estar um museu levando a efeito a sua tarefa educacional, é porque nesse

museu a seíeção do pessoa! docente visivelmente dependeu mais do grau de personalidade do que

do mero preparo académico. Os instrutores de museu devem ser não só pessoas de real cultura e

bom treinamento, como possuírem larga visão e incomum soma de iniciativa. Devem ser capazes de

pensar com clareza e exprimir-se de forma sugestiva e atraente. Devem ser suficientemente

dinâmicos para despertar tanto o interesse como o pensamento daqueles a que instruem de modo tal

58 Nita M. Feldman: “The Museum teacher” citado em Educational Work in Museums of the United States

Page 51: A extensão cultural nos museus - Edgar Süssekind de Mendonça

que todos eles se tornem colaboradores ativos na tarefa comum. Devem ser trabalhadores que criam

e agem como pioneiros, continuamente imaginando e apresentando novos métodos. Devem possuir

conhecimentos de psicologia e saber ir ao encontro do homem e da mulher de tipo médio, do

público comum, tanto quanto das turmas escolares. Devem estar sempre prontos a perceber as

necessidades especiais de cada grupo e alertas para tirar partido de todas as possibilidades de uma

situação. Devem compenetrar-se de que os métodos educativos são mutáveis e que o ensino baseado

em material de museu requer planificação imaginosa. Devem estar habilitados a saber distinguir

valores educativos numa exposição de museu e como essas possibilidades podem ser adaptadas ao

trabalho que exigem grupos de diferentes níveis mentais, levando em conta que a tarefa que têm em

vista deve ser baseada nos recursos das coleções. Considerável soma de iniciativa se faz mister para

pôr em ação os diversos processos de apresentação do material exposto de modo que cada grupo

possa receber o melhor tipo de ensino".59

ENSAIOS PSICO-PEDAGÓGICOS —Selecionando o pessoal da extensão cultural dos museus,

prepararemos o pessoal habilitado não só para a execução de um programa de emergência, como

para a elaboração de programas que se irão aperfeiçoando à medida que se forem estabelecendo em-

bases objetivas as condições da equação público-museu. Ou por concurso, ou, melhor, por curso, à

maneira do que vem realizando o DASP, apurar-se-ão honestamente as capacidades do pessoal

especializado para as novas funções. Os requisitos pessoais, reclamados pelos dois autores norte-

americanos acima citados, estão a pedir que seja num curso, em estreita convivência com os

selecionadores, que se apurem os requisitos dos selecionados no próprio ambiente em que virão a

trabalhar. Além do que, será em colaboração com o pessoal técnico e administrativo dos museus, e,

sob a orientação do Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos, que tais funcionários, uma vez

selecionados, terão que colher, em tarefa diuturna, es dados e proceder aos ensaios psico-

pedagógicos que o problema da extensão cultural está a reclamar.

Capítulo até o presente quase inédito de inter-psicologia, tentar resolver o conjugado público

— museu da forma mais vantajosa para a coletividade: eis o que se espera de futuros inquéritos e

observações diretas, estatisticamente controlados. As condições econômico-culturais que se têm de

enfrentar no Rio de Janeiro serão fatores de correção para menos, com que se deve entrar na solução

do problema nosso, local, em confronto com os museus estrangeiros que tomarmos para termo de

comparação. Basta, para julgarmos de semelhante necessidade de redução, considerar o pessoal que

se incumbe da obra de extensão cultural no Museu de Cleveland, que damos para amostra:

Pessoal técnico e administrativo:, l curator, funcionário do Departamento Nacional de

Educação, e mais 15 funcionários de tempo integral, pertencentes ao mesmo Departamento; vários

supervisors das classes semanais, destinadas às escolas particulares e suburbanas, exposições

59 Grace Fisher Ramsey: Educational Work in Museums of the United States, 1938, p.209

Page 52: A extensão cultural nos museus - Edgar Süssekind de Mendonça

circulantes, ati-vidades de clubes, exibições cinematográficas. Pessoal para as pesquisas

pedagógicas, compreendendo 2 psicologistas, de tempo integral, l assistente e vários auxiliares, de

tempo parcial. Secretaria a arquivo, com 3 funciona--rios. Pessoal educacional: 2 ou 3 professores,

designados pelo Cleveland Board of Education: são os museum instructors, agentes de ligação entre

os museus e as escolas.

É de notar, porém, que dois fatores de correção para mais in-tervêem no nosso meio: a

menor concorrência da educação escolar era matéria de ensino objetivo e o fato, auspicioso para as

nações de pequeno orçamento cultural, de coincidirem, na concepção moderna pedagógica de que o

comum sobreleva o incomum nos museus, a maior eficácia didática do material com a sua maior

facilidade de aquisição...

Quanto a inquéritos objetivos e conclusões positivas a respeito de fatos inter-psicológicos

que regulam a pedagogia dos museus, abalançarmo-nos a dá-los por contra própria, seria, como já.

tivemos ocasião de dizer, afirmar a dispensabilidade da observação direta em matéria tão

fundamentalmente imediatista. Nossa experiência pessoal estriba-se em longa continuidade de

preocupação, entremeada de tentativas, sobre problemas análogos de generalização de cultura,

observados ao vivo em suas contingências e precaí-ços e que, com alguma boa vontade, se podem

enquadrar nos domí-da extensão cultural que constituem o tema desta monografia. Límitamo-nos,

assim, a juntar em apêndice uma resenha de tarefas por nós cumpridas com mais sacrifício pessoal

que benefício coletivo, a que se seguem publicações contendo opiniões pessoais sobre o assuntofem

datas irregularmente distanciadas e que pretendem valer pela constante preocupação que denotam

de servir à causa da educação popular e maior aproveitamento dos recursos da técnica de

divulgação na obra de estender ao maior número a cultura científica de alguns poucos.

Apenas a título de informação, transcrevemos, em seguida, alguns resultados estrangeiros

sobre ensaios psico-pedagógicos ligados ao tema desta monografia e que nos foi dado consultar.

O. E. FITZJOHN: 10 minutos antes de terminar as visitas que fez ao Museu de Cleveland,

acompanhando turmas de crianças de cerca de 12 anos, distribuiu impressos contendo listas de

questões que podiam ser respondidas com o que haviam observado no museu. Alguns alunos,

reconhecidamente retardados, se emparelharam com a média dos demais, fato que o autor atribuí

aos efeitos do ensino visualizado e objetivo sobre aquela espécie de alunos. 60

T. R. ADAM: certo de que a independência intelectual e física dos visitantes de museu torna

extremamente difícil a medida quantitativa do seu processo cultural, conclui tjue, do ponto de vista

educativo, as estatísticas de frequência pública aos museus, ou, melhor, da sua clientela, não podem

ser comparadas com os algarismos referentes a uma escola ou curso.”61

Museum-School Relations Committees of Progessive Education Association — essa 60 A.E. Fitzjohn: The Museum and the Child, 1941, p.293.61 T. R. Adam: The Civic Value of Museums, New York, 1937, p.13

Page 53: A extensão cultural nos museus - Edgar Süssekind de Mendonça

instituição tem promovido inquéritos sistemáticos e enviado questionários aos visitantes de museus,

arrolados em seus fichários, sobre resultados das visitas que fizeram as coleções cujo material é

conhecido dos experimentadores.62

GRACE FISHER RAMSEY — enviou pelo correio, a muitos visitantes de museus, questionários

sobre interesses, a fim de agrupar os interesses semelhantes e classifica-los por frequência.63

EDWARD ROBINSON — empregou processo semelhante no seu curso de Psicologia da

Universidade de Yale .64

KATHERINE GIBSON — tomando alunos previamente classificados por testes de inteligência,

na escola, verificou, pelo confronto com testes equivalentes aplicados no final das visitas a museu,

que os atrasados, pertencentes à última classe (Z), forneceram resultados bem acima do esperado, e

concluiu: 1.°) vantagem do uso de material concreto para a construççao de imagens mentais

complexas nas crianças; 2.°) adequação do material concreto ao ensino dos retardados. Põe dúvidas

sobre os resultados dos testes de inteligência, pois quem sabe se as crianças classificadas na classe

Z seriam mais bem sucedidas se, na aplicação dos testes na escola, não se visem privadas das

condições de visualização, objetividade e desembaraço em que saíram mais bem sucedidas no

museu? 65

MARGUERITE BLOOMBERG — comparou objetivãmente vários processos de ensino,

aplicados a uma visita a determinado museu, com turmas classificadas por testes, e chegou às

seguintes conclusões: 1.°) desvantagem da apresentação de material em excesso; 2.°) entusiasmo

nem sempre representa aproveitamento, ..; 3.) vantagem do emprego de processos de visualização,

mormente quando acompanhados de desenho pelos alunos; 4.°} vantagem de preparação prévia da

turma sobre os temas da visita; 5.°) vantagens de "menos instrução da parte do professor e mais

poder de investigação da parte do aluno."66

ARTHUR W. MELTON, NITA GOLDBERG FELDMAN e CHARLES V. MASON — prosseguindo

em suas observações psicológicas sobre o ensino nos museus, esses autores realizaram estudos no

"Buffalo Museum of Science", auxiliados pela "Carnegie Corporation". Sobre a boa escolha do

orientador, eis algumas das vantagens que afirmam ter encontrado em muitos casos estudados

experimentalmente: preparo prévio, pessoalmente realizado ou por pessoa de sua confiança, do

material das coíeções a visitar com os alunos, o que exige conhecimento díreto dos recursos do

museu; deve o orientador satisfazer aos seguintes requisitos: "ser um professor bem treinado e

experimentado, que possa com facilidade e presteza adaptar-se aos vários níveis de instrução de

62 Citado em Museums News, New York, 1938, p.6663 GRACE FISHER RAMSEY : Educstional Work in Museums of the United States 1938, p. 43.64 Edward S. Robinson: “Exitx the Typical Visitor”, Journal of Adult Education, citado na nota 2, p.1365 Katherine Gibson: “An Experiment in Measuring Results of 5th Grade Schools Visits to an Art Museum”, Shcool

and Society, dezembroo de 1930, p.23566 Marguerite Bloomberg: “An Experiment in Museum Instruction”, New Series of the American Association of

Museums, 1929, p.236

Page 54: A extensão cultural nos museus - Edgar Süssekind de Mendonça

seus clientes (alunos e outros visitantes) e estar sempre alerta a todas as possibilidades educativas

do material e dos mostruários do museu".67

É interessante notar que a mesma Carnegie Corporation acaba de enviar ao Rio de Janeiro,

para estudos no nosso Museu Nacional, técnicos também do Buffalo Museum, entre os quais o

conhecido autor do livro aqui várias vezes citado East is East West is West, CARLO E. CUMMÍNGS. O

título dessa obra, diga-se de passagem, um tanto enigmático, fizera-nos supor que o autor se referia

à adaptação essencial dos museus à sua ambiência física e social — o leste é o leste e o oeste é o

oeste. . . Mas tivemos a supresa de, logo às primeiras páginas, verificar as intenções mais modestas

do título, aliás correspondendo muito bem aos propósitos do livro, isto é, indicar o que pode e deve

ser imitado pelos museus nas Feiras Internacionais (World Faits): Museu é Museu e Feira é Feira. . .

Embora sem base estatística, M. HARRISON68 estudou o problema do orientador no caso

especial em que acompanha turmas de alunos em visita a museu, concluindo que o próprio

professor da turma é por demais familiar para despertar interesse a principiantes, não iniciados

ainda na compreensão de um museu. Por outro lado, um guia comum de museu não sabe descer ao

nível dos alunos. Aconselha, portanto, que professores primários se dediquem à função de

orientadores-auxiliares, pois darão o melhor material donde se deva recrutar o pessoal necessário a

tal serviço. Sugerimos semelhante estágio de professores primários em nossos museus; sabemos

que, atualmente, encontraríamos resistências da administração do ensino do Distrito Federal,

contrária ao "desvio" do pessoal docente das escolas primárias; lembramos que o Departamento de

Educação Nacionalista poderia entrar em entendimento com a Secretaria de Educação do Distrito

Federal e a direção dos Museus, a principiar pelo Serviço Municipal dessa especialidade, pois com

semelhantes estágios se iniciaria em boas bases concretas o abrasileiramento da nossa instrução

primária. Enquanto esse entendimento não se faz, conte-se com a boa vontade da iniciativa

particular.

ARTICULAÇÃO E Ação EXTERNA — Para terminar, voltemos ao setor mais amplo, e dos mais

expressivos, da extensão cultural dos museus: a sua articulação com outros órgãos de extensão

cultural. Já fizemos várias referências ao assunto, quando tratamos da ação conjugada dos museus

com as extensões universitárias, com as atividades extra-classe, com as escolas, com as associações,

etc. Quanto à articulação com os órgãos especializados do próprio museu em que funciona e com os

agentes de divulgação, tais como jornais, revistas e outras formas de publicidade impressa, como

cinema, rádio, etc., só unilateralmente dela tratámos, referindo a ação que têm, ou poderiam ter,

esses agentes de divulgação sobre a atividade interna dos museus, e não a ação que o museu deve

exercer sobre esses agentes. De fato, seria desconhecer o ambiente e franca colaboração que deve

existir entre serviços de uma mesma instituição, mormente os que lidam constanteniente com o 67 Citado na nota 4, p.24168 Morse Harrison: The Museum and the Child”, The Museums Journal, 1941.

Page 55: A extensão cultural nos museus - Edgar Süssekind de Mendonça

público, como no caso em apreço, afirmar que a tareia educacional, ou pelo menos de extensão

cultural, não afeta a todo o estabelecimento.

MORSE A. CARTWRIGHT69 , com autoridade de diretor da American Association for Adult

Education, em trabalho que de perto condiz com o nosso tema, The place of the Museums in Adult

Education, escreve: "é primordial compreender-se que todas as ati-vidades de um museu são

educativas, rotuladas ou não com termos de educação" só assim, insiste CARTWRIGHT, "se pode

compreender a integração dos museus na educação de adultos." FRANGIS H. TAYLOR" 70 mostra-se

igualmente incisivo : "a função educativa de um museu não é apenas tarefa para o pessoal

especializado em educação, porém um desafio a todos aqueles que trabalham no museu."

EXTENSÃO CULTURAL E DEMOCRACIA — Debatendo, o ano passado, no Instituto de Estudos

Brasileiros, o tema "Ensino e Cultura", tivemos ocasião de traçar um plano de aproveitamento

cultural dos formidáveis agentes de divulgação da palavra escrita e falada e da imagem (jornais,

revistas, fonógrafo, rádio, projeções fixas e animadas) tão anàrquicamente exercendo em nosso

meio a sua ação de agentes espontâneos de ensino generalizado, se não já de educação. Repetindo,

em resumo, as mesmas considerações, em sessão do Instituto Brasileiro de Cultura, tivemos a

satisfação de ser escolhido para organizar, em ação combinada cora a Associação Brasileira de

Imprensa e a Federação Brasileira de Rádio-Difusão, um plano de extensão cultural para essas

entidades, vasado nos moldes que havíamos proposto. Embora apenas traçado em suas linhas gerais,

a transcrição ocuparia espaço demasiado no corpo desta monografia, motivo pelo qual reportamos o

leitor à revista em que foi publicado71. Pedimos atenção especial para o papel do museu nesse plano,

e que abrange a documentação objetiva e consequente abrasileiramento da obra de divulgação

cultural por nós visada. Tem o Instituto Brasileiro de Cultura ouvido com crescente interesse

sugestões nossas para que secunde a obra benemérita de aproveitar a técnica moderna de divulgação

em benefício da educação popular, a que, em geral, têm entre nós desservido; obra benemérita

iniciada no Brasil pela inolvidável Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, em 192472, e atualmente

capitaneada pelo Instituto Nacional do Cinema Educativo, seguido por algumas instituições oficiais

e particulares, entre as quais, a nosso ver, merecem destaque a Associação Brasileira de Educação, o

Museu Nacional de Belas-Artes, o Instituto Nacional de Música, a Associação dos Artistas

Brasileiros, o Instituto de Estudos Brasileiros, a Casa do Estudante do Brasil, unia ou outra estacão

de rádio-difusão (Radio Jornal do Brasil, "Biblioteca do Ar" da Rádio Mayrink Veiga, estações da

Prefeitura e do Ministério da Educação), e, mais de perto tocando o nosso terna, o Museu Nacional,

69 Morse A Cartwright: The Place of the Museum in Adult Education, citado em Adult Education in British Museums, de Margaret Scherer

70 Francis Taylor: “Museum in a Changing World, The Museum Journal, vol. 40, p.11571 Edgar Süssekind de Mendonça: “Ensino e Cultura”, Estudos Brasileiros, Rio, 1939, p.66572 Edgar e Carlos Süssekind de Mendonça: “O que o Brasil tem feito pela Rádio- Cultura”, Rádio, 1924

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criando, primeiro, um Serviço de Assistência ao Ensino da História Natural, depois a nunca assaz

elogiada Revista Nacional de Educação, e, finalmente, a Seção de Extensão Cultural.

Espera-se que, em breve, apareçam em público os resultados das cogitações sobre o

momentoso tema que as criou, elaborados pelos dois órgãos especializados da Prefeitura do Distrito

Federal e do Ministério da Educação e Saúde.

Ainda em sessões repetidas do Instituto Brasileiro de Cultura, a que depois de 1935 fomos

obrigados a restringir a nossa ação de educador, temos tido oportunidade de referir várias outras

possibilidades de os museus exercerem a sua ação externa sobre a nossa educação popular; citamos,

entre outras, a de promover maior fidelidade de motivos e acessórios junto às artes, a começar pela

arte cénica (exemplo: intervenção etnográfica na montagem da nossa ópera por excelência, O

Guarani, onde as intenções tão profundamente brasileiras de CARLOS GOMES e JOSÉ DE ALENCAR

são perturbadas por infidelidades escandalosas de indumentária, cenários, etc. ); facilitar, sob a

fornia de consultório técnico, documentação exata para obras artísticas e literárias, que versem

temas nacionais; promover a articulação dos museus entre si para a sistematização e amplo

arquivamento da documentação gráfica sobre a terra e a gente do Brasil (plano da Enciclopédia

Brasileira pela Imagem, cuja execução já iniciamos em várias escolas secundárias desta Capital );

ação combinada do Museu da Cidade com outros museus e associações, a começar pelo Instituto

Histórico e Touring Clube do Brasil, para a confecção de um mapa turístico-cultural do Rio de

Janeiro; estender o plano sugerido por E. Roquete-Pinto, em 192473, de colocar placas explicativas

nas arvores dos nossos logradouros públicos, aplicando-o a varias outras oportunidades de dirigir a

atenção de todos no sentido de uma maior comunhão espiritual com as coisas do nosso património

natural e social.

Talvez haja quem estranhe a ampliação que estamos dando ao tema desta monografia

regulamentar, para, no limite de suas 50 páginas datilografadas, envolver os Museus do Rio de

janeiro, pelo aproveitamento de diferentes oportunidades, na obra de vulgarização que, a nosso ver,

é a tarefa primordial dos seus serviços de extensão cultural. Semelhante modo de entender é, sem

dúvida, sintoma de ansiedade pessoal, de nossa ansiedade por estender, imediatamente, sem

delongas de sistematismos e projetadas perfeições, os privilégios da cultura ao maior número

possível de patrícios. Questão de temperamento ou questão de compreensão do nosso regime

republicano sob a sua forma necessariamente democrática? Tendemos para a segunda alternativa, se

bem que não pretendamos atenuar o fator subjetivo, pois foi por convicções as mais sistemáticas

que demos fundamentação democrática ao planejamento e execução da presente monografia, sobre

tema tão propício quanto o da extensão cultural dos museus do Rio de Janeiro, que é justamente a

sua ação mais nitidamente social. Esquecidos do povo, teríamos, nos limites mais serenos das salas

73 E. Roquete-Pinto: “A história natural dos pequeninos”, reproduzido de A educação, 1935, em Seixos Rolados 1927

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de museu reservadas a minorias, o nosso tema tratado com mais ordem, tanto na concepção como

no estilo. ..

Mas é que desejamos que, também para os Museus do Rio de Janeiro, possam em breve ser

válidos os ideais expressos nas seguintes palavras de um dos apóstolos da educação renovada pela

democracia:

"Mais que proventos materiais, uma melhor filosofia atrairá homens e mulheres, de energia e

de caráter, a fim He libertarem a educação do cativeiro interno e a fim de permitir que a educação

despida de preconceitos, realize a sua tarefa ingente. Porque só assim libertada, e assim apoiada, a

educação se mostrará em toda a sua pujança: uma estratégia e um poder criador de civilização mais

elevadas." W. H. KILPATRICK74

CONCLUSÕES

Delimitada assim, no condicionamento econômico-social que a envolve e em suas linhas

gerais, a área da extensão cultural dos museus do Rio de Janeiro, e indicadas as suas articulações

com outras instituições congéneres — delimitação e articulação que constituem o tema principal da

presente monografia — poderemos focalizar, à guisa de conclusões, os seguintes itens:

1 — Cabe aos museus, por direito de antiguidade e ampla adequação, desempenhar papel precípuo

num plano de educação nacional, mormente se esse plano, para corresponder especificamente às

condições sui-generis da nossa situação cultural, der dimensões preponderantes à chamada

educação assistemática.

2 — Para cumprir a sua missão educativa, o museu tem que se organizar internamente, de forma

que as atividades de extensão cultural não entrem em. conflito com as atividades primordiais de

pesquisa e preservação que aí se exercem concomitantemente, mas, pelo contrário, lhes tragam o

estímulo da publicidade e finalidades sociais desdobradas.

3 — Para tanto, devem os museus do Rio de Janeiro criar órgãos de extensão cultural, a que

subordinem os planos de sua reorganização; dentre os recursos a empregar para que tal plano

harmonize o que já existe com o que deverá haver, sobrelevam o desdobramento das coleções, com

a criação de algumas especialmente didãticas, e a realização de exposições especiais,

periodicamente renováveis.

4 — Externamente, a extensão cultural nos museus deve definir as suas relações com os órgãos

clássicos do ensino, que são as escolas, procurando desenvolver em si e nessas escolas todas as

modalidades originadas de sua recíproca influência.

5 -— Tanto como órgão de educação sistemática como assistemática, o museu desempenhará as

suas funções de primeira plana por intermédio de um tipo de ensino que se poderia chamar ensino

por participação.74 W. H. Kilpatrick: Educação para uma civilização em mudanã, tradução de Noemi Silveira, com prefácio de M. B.

Lourenço Filho. 1933, p.122

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6 — Em nosso meio, para que essa participação se dê eficientemente, é preciso criar primeiro a

consciência de sua necessidade, desenvolvendo na escola o ensino objetivo, o justo equilíbrio entre

o concreto e o abstrato, enriquecida a exemplificação regionalizada e muitíssimo mais utilizados os

processos de ensino visualizado; fora da escola, num sistemático aproveitamento dos novos agentes

de generalização de cultura (ilustrações, rádio, cinema, etc.), atraindo o grande público para os

museus, que é onde esse aproveitamento se fará em condições mais propícias. Em suma, cumpre em

nosso meio à extensão cultural nos museus cuidar dessa preliminar indispensável: criar e

desenvolver o hábito do museu.

7 — Tanto para essa função pedagógica, lato sensu; em relação ao grande público, como para a

função pedagógica, stricto sensu, de elaborar um ensino em função das peculiaridades de um

determinado museu, a extensão cultural precisa contar com um corpo de funcionários

especializados no ramo de conhecimentos aplicados que se poderia denominar de pedagogia dos

museus.

8 - Essa pedagogia dos museus se comporá de muitos dos novos preceitos da psicologia da

publicidade e propaganda, que, quando não desvirtuados a serviço político, estão cooperando para

diminuir a desfa-sização tão prejudicial à nossa época entre a educação e o progresso técnico da

atualidade.

9 — Essa pedagogia dos museus, capítulo era elaboração de interpsicologiaresultante flexível dos

dois conjugados Museu-Escola e Museu-Público, vemo-la modelada, em suas linhas gerais, pela

interação desses dois polos — o imediatisiao e o sistematismo — cada qual de per si extremado, e

que cumpre àquela pedagogia justamente conciliar.

10 — Para tanto, a extensão cultural nos museus, por intermédio de seus

funcionários especializados — e paralelamente às suas atividades provisoriamente empíricas —

procederá a inquéritos e demais formas de pesquisas psico-pedagógícas, que virão orientar as suas

atividades definitivas.

11-— Por enquanto, concluir sobre essas atividades definitivas é prejulgar resultados ainda

longínquos, é contrariar a natureza objetiva dos estudos que técnicos de educação irão realizar, sob

o controle imediato das direções dos museus e de órgãos especializados tais como o Instituto

Nacional de Estudos Pedagógicos.

12 — Assim integrados em sua ação presente e futura, os museus da Capital da República virão a

ser agentes ativos e oportunos de obra mais ampla — a democratização da cultura, democratização

essa que, em conclusão, julgamos ser, ao mesmo tempo, condição e finalidade essenciais da obra de

extensão cultural nos museus.

Page 59: A extensão cultural nos museus - Edgar Süssekind de Mendonça

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