A Fé Como Ferramenta Importante No Tratamento de Dependentes Químicos (ARTIGO D20112011) - Dr. Florêncio L. de Lima

Embed Size (px)

Citation preview

  • A f como ferramenta importante

    no tratamento de dependentes

    qumicos.

    Florncio L. de Lima

    RESUMO Este trabalho pretende lanar luz sobre como a f pode atuar como coadjuvante

    benfico no tratamento de dependente de substncias qumicas psicoativas. Procurou-se atravs, de fundamentao terica embasada em pesquisas bibliogrfica e literria de outros profissionais que tiveram respostas positivas no uso da f no tratamento de abuso de substncias psicoativas, afirmar que a f realmente uma ferramenta poderosa no tratamento de tais indivduos. Este artigo se faz necessrio tendo em vista os bons resultados no tratamento de dependentes qumicos e da significante taxa de recuperao de tais pacientes que possuem f e pela escassez de material que rena e analise os aspectos positivos do emprego da f como aio no tratamento de abuso de drogas.

    Palavras chave: Dependentes qumicos, F, Psiquiatria.

    1. INTRODUO A f e a razo apesar de serem consideradas por muitos como antagnicas, assim

    como a religio e a cincia, esto ambas coexistindo e resistindo em batalhas nos coraes dos homens por compartilharem este mesmo espao. Difcil encontrar pessoas que fizeram as pazes entre esses segmentos da psique. Uma sempre tentou estabelecer o seu espao em detrimento da outra, mesmo quando lutavam pelo mesmo fim. Este comportamento tem sido notado a muito por estudiosos, filsofos e cientistas. mile Durkheim, disse em livre traduo, no seu livro As Regras do Mtodo Sociolgico, em 1895, que a f e a cincia no se misturam, pois, como leo e gua, o sagrado no miscvel com o profano. Este artigo questiona tal dicotomia.

    Durante o renascimento, os filsofos iluministas reforaram essa ciso com seu

    antropocentrismo e rejeio aos dogmas medievais, extirpando os resqucios dos fundamentos cristos das escolas catlicas. Mas o que colocaram neste espao e trono? O materialismo? O niilismo? O homem perdeu seu valor e sentido. Tornou um erro

  • qumico-biolgico, uma aberrao viva diante do cosmo inerte e grandioso. Perdeu sua funo, seu lugar. A realidade absoluta do materialismo tornou-se um fardo insuportvel, com reflexos funestos nas geraes subseqentes.

    Hoje o homem busca dar significado a existncia sem Deus, na qual o homem no passa de uma roda na engrenagem. Sem sentido o ser humano alimenta-se da nica via de escape, a fuga da realidade, que passa por um mundo fantstico de experincias, drogas, absurdos, pornografia, uma experincia final elusiva, e de loucura. Este escape para o mundo no racional das drogas e substancias psicoativas que o nico que oferece alguma esperana, ainda que v, tem sido cultuada na literatura, na arte e na msica, no teatro e no cinema, na televiso e na cultura popular, atraindo e destruindo uma gerao inteira. Um inimigo moderno de insanidade, violncia e autodestruio.

    O apstolo Paulo, afirma em sua carta aos Hebreus, que a f o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que no se vem. Sendo assim, o cientista tambm procura, com meios diferentes, provar aquilo que ainda no viu, mas apenas elucubrou em sua mente, portanto, dentro da razo cientfica h de se ter um pouco de f. E debaixo da mscara do pseudo-atesmo, sempre se escondeu um corao que partiu em busca de um objetivo maior. E h objetivo maior que compreender e se ligar a Deus?

    A importncia da f reconhecida no apenas nos crculos religiosos, mas recentes pesquisas contemporneas tm mostrado que importante a crena em um objetivo transcendente para a cura de doenas do corpo e da mente. So inmeros os estudos que apontam para isso, no somente nas mdias cientficas, como tambm nas revistas de circulao para o grande pblico. Um estudo emprico conduzido e documentado por Parfrey, na Irlanda, mostrou que indivduos que se declaravam como cticos ou que no se interessavam em assuntos com temtica espiritual se mostravam

    mais inclinados ao alcoolismo. Adlaf e Smart, no Canad encontraram fenmeno semelhante no comportamento de jovens em relao a drogas.

    2. HISTRICO DO TRATAMENTO DE DEPENDNCIA QUMICA PELA F A prtica do tratamento de dependentes qumicos fundamenta se na corrente

    protestante devido ao seu pioneirismo nesta prtica, atuando desde a segunda grande guerra na reabilitao de seus pacientes. Destacam se os trabalhos conduzidos em Nova York e em Chicago. Deve-se citar o trabalho da igreja catlica nos anos 60, poca marcada por uma forte crise de identidade, abuso de drogas e sexo livre, resultantes dos

  • movimentos contra culturais como o Hippie e Beat Generation. Tais fatos podem ser conferidos nos trabalhos de Brown e Gorsuch.

    Sempre que o indivduo atacado em sua crena, fundamentos e valores h uma fuga da realidade movida pelo uso de drogas, sendo assim, o vnculo religioso firma a identidade e o sentido existencial, mostrando-se eficiente em minimizar o abuso em entorpecentes. Alm disso, a reconstruo do conjunto de valores e essncia tem se mostrado mais eficiente diante de uma conexo religiosa conferindo sentido e orientao alm de mitigar risco de recadas, fato observado em diversas pesquisas conduzidas em 1999 por Pullen e outros.

    Observou-se, em um estudo conduzido por Day e outros no ano de 2003, os pacientes que freqentavam as reunies dos narcticos annimos em associao com a prtica espiritual obtinham mais xito em atingir e manter a abstinncia do que aqueles que apenas freqentavam as reunies do NA. Em outra pesquisa, Turner e outros, tambm obtiveram resultados semelhantes. visto que alm do puro e simples bem emocional que as msicas, oraes e viglias, provm, h um fator significativo de melhora tanto fsica, psicolgica e espiritual nesses pacientes.

    No Brasil um trabalho bastante completo conduzido por Carvalho e Cotrim em 1992 define um paralelo entre a ausncia de prtica religiosa e o uso de drogas. Foi observado que dos 16.117 entrevistados aqueles que possuam convico religiosa e prtica espiritual, mesmo fora das dependncias da sede religiosa, apresentavam como valor pessoal, o no uso de entorpecentes. Portanto no apenas a freqncia religiosa nos templos que garantem a liberdade fora das drogas, mas um caminhar ntimo e profundo dentro da espiritualidade que firma o indivduo.

    Segundo Freston, em 1994, afirma que o movimento evanglico no Brasil marcado por trs ondas. A primeira com a chegada da Congregao Crist e a Assemblia de Deus, entre os anos 1950 e 1960. Na segunda onda instalam-se trs grupos: Quadrangular, Brasil para Cristo e Deus Amor, isto nos idos de 1970. A ltima onda, em 1980, solidifica o movimento protestante com a entrada das igrejas Universal do Reino de Deus e a Internacional da Graa de Deus. E em cada uma dessas ondas, notou-se um declnio constante do uso de drogas onde estas igrejas realizam seus trabalhos de preveno e reabilitao antidrogas.

    O American Journal of Sociology, por meio de seus pesquisadores, Miller e Stark, em 2002, declaram que a populao de jovens do sexo feminino possui um salutar ndice menor de uso de drogas, ao mesmo tempo afirma, que nesta populao

  • verificado um maior nmero de indivduos que declaram algum vnculo com a espiritualidade.

    O que espanta os pesquisadores modernos, psiquiatras e socilogos que a f atua com um escudo protetor na vida dos jovens que tiveram desde a primeira infncia educao religiosa, aponta e comprova Boys, em 1981 atravs de uma pesquisa cujo resultado escapa da racionalidade cientfica, pois esse ensino de f est temporalmente longe dos turbulentos anos em que o mundo se abre aos novos pberes.

    3. O USO DE DROGAS COMO ALVIO DO VAZIO ESPIRITUAL Antes de iniciarmos o discurso sobre o uso de substncias psicoativas para alvio

    da angstia e declnio espiritual, precisamos compreender como as drogas penetraram na cultura e sociedade.

    Elohim, a palavra utilizada para designar as divindades ou o nome dos criadores do homem. Elohim ao criar o homem, ps-lhe uma tarefa, cultivar a terra. importante, aqui salientar, a relao estreita da raiz etimolgica da palavra cultura e da palavra humano com a terra. Sabe-se que a palavra humano, vem do verbete em latim hmus, que nada mais que barro, terra frtil, por isto, Deus fez o homem do barro. J a palavra cultura, vem de colere no latim, que significa cultivar e cultivar amassar o barro, trabalhar a terra. Por tanto, a primeira tarefa do homem, segundo a histria bblica, trabalhar sua natureza, o barro, para que ela lhe produza frutos, para alimento do corpo e da alma.

    Como de conhecimento pblico, o homem caiu, caiu por uma desobedincia que lhe abriu as portas da percepo, revelando a nudez do homem e da mulher, que antes no envergonhavam de seus corpos. A rvore do Conhecimento abriu o ser humano para um novo estado de conscincia, retirando-lhe a inocncia ednica, despertando-lhes a sexualidade de modo que outrora no havia visto, e encheu o corao com medo da punio que o aguardava. Ado e Eva comeram do fruto e ficaram alterados, sendo este fruto a primeira substncia psicoativa. Este despertar tirou o paraso de dentro do homem.

    O que muitos desconhecem que houve uma segunda queda, que se no fosse a atuao do Criador, o gnero humano estaria terminantemente corrompido. "E viu Deus que o caminho de todo ser vivente se havia corrompido sobre a Terra. E isto s dito depois da queda dos anjos, que se misturaram com a carne humana, conforme o livro dos comeos relata no captulo 6 verso 4: Naqueles dias estavam os nefilins na terra, e

  • tambm depois, quando os filhos de Deus conheceram as filhas dos homens, as quais lhes deram filhos.

    Por este tempo, aps a morte de Caim, que foi assassinado por Lameque, o mau, os filhos de Caim continuaram a se multiplicar na Terra. De Lameque, o mau, nasceu um filho chamado Genun. Quando Genun era ainda uma criana, Satans entrou nele e lhe deu dons de encantamento, de tal modo que ele se tornou capaz de produzir instrumentos musicais de chifres. Fabricou trombetas, instrumentos de cordas de vrios tipos e sons, tambores, atabaques, cmbalos, liras, harpas, e flautas de vrios tipos, e os tocava o tempo todo, o dia inteiro. Quando Genun tocava, Satans entrava nas msicas e por meio delas enchia o corao de homens e mulheres de seduo e os enlevava com os sentidos das formas e belezas. E pela primeira vez, a cultura humana servia a sat.

    Assim, Genun convocava grupos de homens e mulheres, filhos de Caim, para ouvi-lo tocar. Enquanto o ouviam, seus corpos se enchiam de fogo e ardiam de desejo, e assim se inflamavam em atos sexuais sem precedentes. Genun tambm aprendeu com Satans a seduzir atravs de bebidas, flores e frutos. Dessa forma, reunia os grupos em casas de bebedeira e os estimulava lascvia e orgia. E ali se embriagavam em seus desejos e de bbados caam.

    A corrupo da natureza humana cresceu tanto que Genun passou a dizer-lhes que no havia mais nenhuma restrio para a prtica da promiscuidade sexual, a tal ponto que os irmos e irms se possuam, as mes tinham relaes com seus filhos

    prediletos e os pais desvirginavam as prprias filhas, de modo que nasciam filhos de incesto em todas as casas e o sentido de famlia se dilua da Terra. A permissividade sexual de Woodstock no se comparava em nvel perverso deste bacanal dos tempos bblicos. Tudo regado a muito lcool e drogas.

    A palavra bacanal nos remete a Baco, deus do vinho e das orgias rituais, o Dionsio dos gregos. sabido que, nas festas de Baco, era usada uma preparao de vinho imerso em trigo e deixado para descansar por vrios dias, resultando numa mistura fortemente alucingena que abrasava ainda mais as festas do deus. No mundo moderno, nos idos de 1938, a psilocibina foi descoberta e isolada nos fungos superiores dos gneros "Psilocybe", "Panaeolus" e "Conocybe" o que abriu novamente as portas da percepo para a Gerao Beat mergulhar num oceano de psicodelia, orgia e loucura, jamais vista antes na histria humana. Ser que Baco no seria o Genun dos textos Bblicos? Talvez esta pergunta no tenha resposta, mas a afirmativa bem plausvel.

  • 4. TRATAMENTO DE REABILITAO COM EMPREGO DA ESPIRITUALIDADE

    Os problemas em decorrncia ao uso de drogas deixaram de ser um delito e passaram a ser mais bem compreendidos como um caso de sade publica. Segundo Pessini, em 1999, afirma que nos ltimos anos houve uma escalada no uso de drogas e conseqentemente surgiu um nmero mais expressivo de casas de reabilitao. E h ainda uma lacuna entre a oferta de apoio em o crescente nmero de viciados.

    Muitas dessas casas de apoio atuam como instituies gratuitas ou sem fins lucrativos apenas dependendo do trabalho dos moradores e voluntrios para manterem o sustento das casas e os produtos de necessidade bsica.

    O tratamento para a reabilitao requer uma estrutura multidisciplinar complexa. Destaca-se aqui o papel do psiquiatra dispondo de medicao de apoio a desintoxicao alm de outros meios farmacolgicos para teraputica das comorbidades associadas ao uso de drogas. Alm do psiquiatra faz se necessrio apoio psicolgico para manuteno e reintegrao do usurio a sociedade servindo como guia para a famlia do dependente. No menos importante a reconstruo dos fundamentos da f do interno que foi abalada em seus alicerces muitas vezes destrudos pelos sofismas e crenas perigosas associados a comunidade usuria de substncias psicoativas. Como disse o pesquisador Renan Antnio da Silva importante associar o trabalho grupal para que cada dependente saiba levar uma vida em comunho e para o conhecimento de que ele no o nico a sofrer com o vcio acometido em sua vida e que a espiritualidade ligada a unio, pode fortificar laos para um tratamento eficaz e duradouro. No Brasil, segundo Ribeiro (2004), o estado no tem ajudado as instituies que prestam rduo tratamento dos dependentes qumicos ou alcolicos, deixando esse peso apenas nos ombros de seus membros. Apesar do descaso das autoridades estatais constitudas muitas instituies tm conseguido bons resultados atravs do trabalho voluntrio. Este o caso da Pastoral da Sobriedade, da igreja Catlica, que atua tanto na preveno como na recuperao da dependncia qumica, apesar de seu potencial de atendimento limitado em vista do crescente aumento da penetrao das drogas na sociedade.

  • 5. A BUSCA DE DEUS E AS DROGAS Joo, o evangelista, define Deus como sendo o Verbo, mas que Verbo seria este?

    Para respondermos esta pergunta temos que ir a um dos mais icnicos trechos da Bblia, onde Deus se apresenta a Moiss. Neste segundo livro de Moiss captulo 3 verso 13 o libertador dos hebreus pergunta a Deus quem Ele o . Note que h outras passagens bblicas que buscam a reflexo sobre esta questo, adjetivando o Criador, porm nesta passagem vemos que o prprio Deus faz sua introduo. Veja o que diz o verso 13 e 14 Ento disse Moiss a Deus: Eis que quando eu for aos filhos de Israel, e lhes disser: O Deus de vossos pais me enviou a vs; e eles me perguntarem: Qual o seu nome? Que lhes direi? Respondeu Deus a Moiss: EU SOU O QUE SOU. Disse mais: Assim dirs aos olhos de Israel: EU SOU me enviou a vs.. A lngua original em que foi escrita tal sentena, o EU SOU apenas uma nica palavra, que pode ser transliterada por Yod Heh Vah Heh ou simplesmente usamos o tetragrama YHWH. Por isto muitos

    religiosos chamam Deus de Jeov, Iav, Jav, Jah... Entre outros termos... Em seu evangelho Joo comea No princpio era o Verbo, e o Verbo estava

    com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princpio com Deus. Todas as coisas foram feitas por intermdio Dele, e sem ele nada do que foi feito se fez. Nele estava a vida, e a vida era a luz dos homens; Que Verbo seria este que o evangelista, fala se no aquele que faz a ligao entre todas as coisas que existem. O Verbo aqui o SER, porm como dito antes, em sua lngua original possui pessoalidade, o EU do EU SOU.

    O que um Verbo? Dentre outras coisas um verbo um ente gramatical que designa ao, estado ou fenmeno da natureza. Por exemplo, quando digo Eu como a uva quem realiza a ao de comer o Eu, o sujeito da orao, mas quando digo, Eu sou Florncio, neste caso o sujeito no realiza a ao, aqui quem faz essa lig-ao o prprio Verbo Ser. Portanto, Deus o Verbo SER. O dnamo que faz tudo que existe SER. Em outras palavras, Ele, como VERBO, nos liga a tudo que existe! POR ISSO O VERBO SER UM VERBO DE LIGAO. Algo que a religio, por ser a tentativa do homem se ligar a Deus, nunca ir conseguir, pois DEUS que se liga ao homem! Neste contexto, DEUS como o olho, pois quem olha no v o prprio olho, mas se voc refletir ver, nem que seja num espelho. A imagem e semelhana! Algo que sempre esteve patente aos olhos, mas insistimos em dizer e duvidar da existncia! Enfim... Sou, logo existo..

    A sabedoria disto reside em enxergar que tudo que existe passa pelo SER, pelo VERBO, como disse Joo ... sem ele nada do que foi feito se fez. Perceba que o

  • Verbo no um ente gramatical morto, mas o ato puro, a ao primordial, como disse Joseph Campbell, Isto s, tu!. Mas qual o propsito de SER?

    As drogas abrem portas para estados alterados de conscincia da mesma maneira que o fruto do conhecimento fez com o primeiro homem e mulher, permitindo acesso ao oculto e desligando-os da realidade e verdade para qual o homem foi criado. Um destes estados particularmente perigoso, a Fuso do Ego tambm conhecida como Destruio (ou diviso) mltipla do ego, esta pode causar danos irreversveis a psique conseqentemente mudar de modo permanente a viso da realidade distorcendo-a, o que nos casos mais graves desencadeiam a esquizofrenia ou estados paranicos.

    Segundo Danilo Baltieri, o consumo de maconha pode produzir sintomas parecidos com quadros esquizofreniformes em indivduos que j esto em risco para o desenvolvimento da doena esquizofrenia, devido ao fato que esses usurios j teriam prvias alteraes cerebrais funcionais ou susceptibilidade gentica.

    Entretanto, a experincia mstica tambm pode levar a estados transcendentes de conscincia, porm diferentemente das drogas e religio (como prtica ritualstica morta e mecnica) extremamente benfica, no destruindo o SER, o EU SOU existente no ntimo. Sigmund Freud, em sua obra O Mal-estar na Civilizao diz, ao expressar o relato de um amigo sobre a verdadeira fonte da religiosidade, esta consiste num sentimento peculiar, que ele mesmo jamais deixou de ter presente em si, que encontra confirmado por muitos outros e que pode imaginar atuante em milhes de pessoas. Trata-se de um sentimento que ele gostaria de designar como uma sensao de eternidade, um sentimento de algo ilimitado, sem fronteiras ocenico, por assim dizer. Esse sentimento, acrescenta, configura um fato puramente subjetivo, e no um artigo de f; no traz consigo qualquer garantia de imortalidade pessoal, mas constitui a fonte da energia religiosa de que se apoderam as diversas Igrejas e sistemas religiosos, por eles veiculado para canais especficos e, indubitavelmente, tambm por eles exaurido. Acredita ele que uma pessoa, embora rejeite toda crena e toda iluso, pode corretamente chamar-se a si mesma de religiosa com fundamento apenas nesse sentimento ocenico.

    6. CONCLUSO Vimos que a busca sincera pela espiritualidade e no simplesmente o ritual

    religioso vazio pode prevenir a entrada no mundo das drogas, bem como, ajuda o dependente qumico na rdua tarefa de deixar para trs o mundo decadente do vcio. O

  • meio espiritual oferece recursos sociais de reestruturao, conhecida tambm como religao com o divino, com foras que o fiel acredita ou deposita sua confiana ou tambm em uma nova rede de amizades, ocupao do tempo livre em trabalhos voluntrios, atendimento psicolgico individualizado, valorizao das potencialidades individuais, coeso do grupo, apoio incondicional dos lderes religiosos, sem julgamentos e, em especial entre evanglicos, a formao de uma nova famlia, foi o que disse o pesquisador Renan Antnio da Silva.

    Os valores do meio espiritual se mostram fortes contra o mundo corrupto e cruel das drogas permitindo que o indivduo se ligue a foras maiores, ocupando sua mente com pensamentos saudveis sobre si mesmo e o ambiente que o cerca, atuando como um escudo protetor evitando que as drogas o alcance ou ainda como espada, importante arma na luta pela vida sem drogas.

    7. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

    ADLAF, E.N.; SMART, R.G. Drugs use and religious affiliation feelings, and behavior. British Journal of Addiction p.163-171, 1985.

    BOYS MC. The stand point of religious education. Religious Education 1981;76(2):128-41.

    BROWN, E.M. The religious problematic of the Juvenile addict. In: Harms, E. Drugs and Youth: The Challenge of Today. New York: Pergamon Press, p. 222-234, 1973.

    BUCHER, R., FARES, A. T., PELEGRINI, R., OLIVEIRA, R. M., CARMO, R. A. A avaliao qualitativa dos atendimentos a usurios de drogas. Revista ABP-APAL, 1995.

    CARVALHO V.; COTRIM BC. Atividades extra-curriculares e preveno ao abuso de drogas: uma questo polmica. Ver. de Sade Pblica, 1992.

    CASTEL, S.; FORMIGONI, M. L. O. S. Escalas para avaliao de tratamentos de dependncia de lcool e outras drogas. Revista de Psiquiatria Clnica, 1999.

    DAY, E.; WILKES, S.; COPELLO, A. Spirituality and clinical care: Spirituality is not everyones cup of tea for treating addiction. British Medical Journal. 2003.

    DERMATIS H; SALKE M; GALANTER M.; BUNT G. The role of social cohesion among residents in a therapeutic community. J Subst Abuse Treat. 2001.

    DURKHEIM, mile. As regras do mtodo sociolgico. 4 Edio, Lisboa: Presena, 1991.

    GALANTER M. Healing through social and spiritual affiliation. Psychiatr Serv. 2002.

  • ______. Spirituality and the health mind: science, therapy, and the need for personal meaning. New York: Oxford University Press; 2005

    GEORGE, L. K.; ELLISON, C. G.; LARSON, D. B. Explaining the relationship between religious involvement and health. Psychol Inq. 2002.

    FRESTON, P. Breve histria do pentecostalismo brasileiro. Em A. Antoniazzi & C. L. Mariz (Orgs.). Nem anjos, nem demnios. Petrpolis: Vozes, 1994.

    GORSUCH, R.L. Religious aspects of substance abuse and recovery. Journal of Social Issues. p. 65-83, 1995.

    MARQUES, A. C. P. R., Buscatti, D., & Formigoni, M. L. O. S. (2002). O abandono no tratamento da dependncia de lcool e outras drogas: como diminuir este fenmeno? Jornal Brasileiro de Dependncia Qumica.

    MILLER, A. S.; STARK R. Gender and religiousness: Can socialization explanations be saved? American Journal of Sociology 2002.

    MILLER L.; DAVIES, M.; GREENWALD, S. Religiosity and substance use and abuse among adolescents in the National Comorbidity Survey. Journal of the American Academy of Child and Adolescent Psychiatry, 2000.

    NEFF, J. A; SHORKEY, C.T; WINDSOR, L. C. Contrasting faith-based and traditional substance abuse treatment programs. J Subst Abuse Treat. 2006.

    PARFREY, P.S. The effect of religious factors on intoxicant use. Scandinavian Journal of Social Medicine. p. 135-40, 1976.

    PESSINI, L. Drogas: o holocausto silencioso. O Mundo da Sade, 1999.

    PULLEN, L.; Modrcin-Talbott, M.A.; West, W.R.; Muenchen, R. - Spiritual high vs high on spirits: is religiosity related to adolescent alcohol and drug abuse? Journal of Psychiatric and Mental Health Nursing, 1999.

    REZENDE, M. M. Centros universitrios de ateno toxicodependentes, cidade de So Paulo. Actas do 5 Congresso Nacional de Psicologia da Sad. Lisboa, 2004

    RIBEIRO, M. Organizao de servios para o tratamento da dependncia do lcool. Revista Brasileira de Psiquiatria, 2004.

    SILVA, V. G. (2007). Neopentecostalismo e religies afro-brasileiras: significados do ataque aos smbolos da herana religiosa fricana no Brasil contemporneo.

    SULLIVAN, W. P. It helps me to be a whole person: the role of spirituality among the mentally challenged. Psychosocial Rehabilitation Journal, 1993.

  • TURNER, N.H.; O'Dell, K.J.; Weaver, G.D. - Religion and the Recovery of Addicted Women. Journal of Religion and Health, 1999.