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F F O O L L H H A A I I N N F F O O R R M M A A T T I I V V A A N N º º 2 2 4 4 - - 2 2 0 0 1 1 1 1 A Fé, o Tejo e as gentes O Círio de Chelas e a Procissão de Nossa Senhora da Atalaya Rogai por nós (estandarte da Igreja do Convento de Chelas) Domingo; o último do mês de Agosto, neste ano de 2011. Um dia soalheiro, quente, luminoso, como se o “céu” exultasse de alegria e, na luz que inunda Lisboa, se juntasse aos Homens na veneração à Mãe de Deus. Talvez este dia seja um sorriso nos lábios e uma expressão de Amor da Virgem, olhando ternamente para estes peregrinos…

A Fé, o Tejo e as gentes O Círio de Chelas e a Procissão ... · Nas horas de aflição, sempre os homens se voltaram para a Deus e para a protetora Virgem, Mãe de Deus e Mãe

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A Fé, o Tejo e as gentes

O Círio de Chelas e a Procissão de Nossa Senhora da Atalaya

Rogai por nós (estandarte da Igreja do Convento de Chelas)

Domingo; o último do mês de Agosto, neste ano de 2011. Um dia soalheiro, quente, luminoso, como se o “céu” exultasse de alegria e, na luz que inunda Lisboa, se juntasse aos Homens na veneração à Mãe de Deus. Talvez este dia seja um sorriso nos lábios e uma expressão de Amor da Virgem, olhando ternamente para estes peregrinos…

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O sorriso franco do Major Marcello Borges acolhe à entrada da Igreja do Convento de Chelas, hoje, um espaço ocupado pelo Arquivo Geral do Exército e pelo Arquivo Histórico Militar, o grupo de fiéis. Entre a sua edificação e a actualidade, páginas de história e de fé aqui se escreveram. Foi pela boca do Major Marcello, em notas de orgulho e entusiasmo que se deu a conhecer as venturas e desventuras deste lugar. O Convento, antigo edifício monástico, terá sido inicialmente um templo romano, do princípio do séc. VII a.C. Consta que, por volta do ano 665 (reinado do Visigodo Recesvinto), lhe foram confiadas as relíquias de S. Félix. No séc. IX, o Rei de Leão e das Astúrias, Afonso III, o Magno, tomou Lisboa aos Mouros, datando de então, a entrega ao Convento de Chelas das relíquias de Santo Adrião e de sua mulher Santa Natália. O edifício sofreu obras sucessivas, sendo as mais importantes, realizadas no reinado de D. Afonso Henriques que ordenou a sua reedificação, sendo entregue posteriormente aos Templários e de D. Manuel I, destacando-se o seu Portal, estilo Manuelino. Os azulejos enxaquetados, de padrão, de albarrada e de figura avulsa enxaquetados decoram as arcadas, paredes e corredores. Os tons harmoniosos dos azuis, ocres e amarelos, tecem figuras diversificadas.

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Respira-se serenidade

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Depois do terramoto de 1755 a maioria da igreja é reconstruída e enriquecida com valiosa obra de talha dourada. Após a abolição das Ordens Religiosas, nos finais do séc. XIX é aqui instalada a Fábrica de Pólvora. Num incêndio, ocorrido em 1923, quando servia como armazém de algodão, muita da sua riqueza foi destruída. Remonta a este tempo, aliás, o salvamento das chamas, por uma moradora local, da imagem de Nossa Senhora da Atalaya, um pequeno ícone com cerca de quinhentos anos. Com base no culto prestado a Nossa Senhora da Atalaya, venerada por inúmeras paróquias e freguesias das duas margens do Tejo, decorreu, neste dia 28 de Agosto, uma vez mais, a maior procissão fluvial existente em Portugal, dando continuidade a uma tradição de muitos séculos.

Mas voltemos ainda ao Convento de Chelas e às palavras do Major Marcello… Aqui se conjugam as dimensões espirituais e materiais do Homem. Aqui se entrelaçam os planos esotéricos e terrenos. Aqui se revive o misticismo e a simbologia do número. Quantas vezes repetido nas parábolas, nas histórias e nas fábulas, nas artes, nas ciências… Nos claustros, sete colunas. No centro, na zona de jardim interior, a água, outrora, jorrava num lago que assume a forma da Cruz de Cristo, a Cruz Templária. A ornamentá-lo, novamente a simbologia do número na referência à Santíssima Trindade. É um outro olhar sobre a beleza do espaço que convida à reflexão e à renovação interior, num processo de elevação espiritual, tal como o ar ascendente que circula continuamente, de forma helicoidal, no jardim dos claustros. O homem ambiciona, eleva-se, transcende-se continuamente, cortando as amarras que o prendem ao plano material e sensitivo, através da meditação, da interiorização, da fé que busca aumentar, na procura de respostas para as suas inquietações. Por isso, um olhar atento revela a dialética existente entre o Homem e o Divino nestes claustros carregados de tanto simbolismo.

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Conhecido um pouco do Convento, retorna-se à Igreja…

Singelamente, aos pés do altar está colocada a imagem antiquíssima de Nossa Senhora da Atalaya, num modesto andor de madeira, enfeitado por flores vermelhas, amarelas e brancas. Encontra-se protegida por uma campânula a fim de a preservar de eventuais ocorrências no seu percurso rio abaixo, até ao Montijo. É uma imagem serena da Virgem.

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Tradicionalmente, teria um Menino nos braços, tal como as demais representações da Mãe de Deus, evocadas sob o nome de Nossa Senhora da Atalaia. Esta imagem não tem o Menino que se perdeu no incêndio já referido. Permanece contudo com as vestes originais de pura seda bordada a fios de prata. Sobre esta imagem fala-nos emocionado o Prof. Doutor Fernando de Carvalho Rodrigues, neto da pessoa a quem foi entregue a imagem, passados trinta e três anos sobre o flagelo das chamas. Fala sobre a imagem, sobre a fé do povo de Lisboa, sobre os Círios e sobre a reactivação do Círio de Chelas, da Alfândega e da Moita, em 2007, chamado Círio da Fundação.

Teto da sacristia da Igreja S. Félix Bordado

Parte-se em cortejo até ao cais da Marina de Lisboa no Parque das Nações

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O varino Baía do Seixal, da Câmara Municipal do Seixal, pertença do acervo do seu Ecomuseu acolhe a imagem e os acompanhantes, transportando-os nas águas do Tejo, tal como há séculos atrás.

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Inicia-se, aqui e assim, a maior procissão fluvial realizada em Portugal. É uma tradição retomada em 2007 (Círio da Fundação) mas que remonta ao longínquo ano de 1503. Grassava então em Lisboa uma enorme epidemia, dizimando a população. Em desespero, voltou-se o povo para a fé, recorrendo à protecção da Senhora da Atalaya. Ao santuário da Aldeia Galega, se deslocaram, atravessando o rio, com círios acesos e fervorosas orações. Aí ficaram em vigília e preces toda a noite. Nas horas de aflição, sempre os homens se voltaram para a Deus e para a protetora Virgem, Mãe de Deus e Mãe dos Homens e aos seus cuidados maternais entregaram a sua sorte. A peste cedeu. Milagre! E anualmente passaram a vir agradecer a graça concedida, atribuindo a salvação das gentes, à imagem venerada e à sua intercessão. O círio1 de Chelas é realizado de dois em dois anos, sendo a sua organização levada a cabo por APAETT – Associação de Proprietários e Arrais das Embarcações Típicas do Tejo e apoiada pela ANMPN – Associação Náutica da Marina do Parque das Nações e a MPN – Marinha Parque das Nações.

1 Os círios encontram-se no litoral, sobretudo de Setúbal a Coimbra e são a designação dada a confrarias populares que anualmente se deslocam a um santuário em cumprimento de uma “promessa antiga”. Os devotos dirigem-se ao velho local de culto, ou santuário, e constituem uma delegação da povoação cumprindo a “promessa antiga” em nome de todos. Transportam consigo a imagem religiosa que veneram, bem como o guião e as bandeiras onde constam o nome da povoação e do santuário. O Círio integra ainda outras características, como o ritual das três voltas ao templo; as arrematações (de bandeiras e de fogaças); as procissões (algumas sem a presença do pároco); os anjos que cantam as loas; a lavagem simbólica na “fonte santa”; a eleição (garantida com um ano de antecedência) de juízes, festeiros, mordomos ou comissões que, segundo regras de outrora, se responsabilizam pela continuidade do culto; os “ex-votos”; os “registos”; os festins alimentares; os gaiteiros; a dança; as romarias.

Originalmente, o Círio é uma manifestação da religião popular podendo ser atribuída a sua origem a rituais arcaicos e tribais. Os Círios do santuário de Nossa Senhora da Atalaia, de que há notícias desde o século XVI (remetendo algumas delas para períodos muito anteriores), continuam ativos, reunindo-se numa grande procissão, no último fim-de-semana deAagosto. A Igreja Católica assume esta manifestação religiosa e acolhe na igreja local, santuário dedicado a Nossa Senhora da Atalaia, os vários círios que aqui acorrem.

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Mas voltemos ao momento do embarque da imagem no varino…

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Colocada no interior da embarcação imagem e estandartes, acomodam-se os passageiros. Soltam-se as amarras e larga-se Tejo dentro. Acompanha o varino, uma lancha da Polícia Marítima e uma outra onde viaja o representante da Capitania do Porto de Lisboa, Comandante Matos Nogueira, Adjunto do Capitão do Porto.

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Uma guarda de honra à delicada imagem que transportamos. Numa embarcação mais pequena, batizada de “Ana Paula” viajam repórteres e o Prof. Doutor Fernando Carvalho Rodrigues.

Ficamos a ver Lisboa afastar-se pouco a pouco.

A maré vai alta de quatro metros e fortes correntes, segundo informação do arrais, mas o Tejo parece dormir placidamente sob um sol quente e um céu de uma única tonalidade azul. A bordo, o Almirante Saldanha vai saciando as perguntas curiosas sobre marés, navegação, tipos de barcos do Tejo e a avidez de saber mais sobre a fé que nos move neste dia. A tudo responde com a sabedoria de uma vida sobre as águas e a serenidade de uma crença madura no divino. A um tempo fala de razão, a outro da transcendência das coisas e do sentir dos Homens. Ao largo, desfraldam-se as velas. Enfuna-as uma brisa suave.

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O tempo corre devagar, ao sabor das águas brandas, dos casarios que mal se distinguem, das gaivotas que esvoaçam aqui e ali e dos flamingos que se equilibram além, na Ilha do Rato. Parece rumarmos ao encontro do abraço que o Cristo-Rei oferece a Lisboa e aos Homens:” No meu regaço, encontrareis conforto…”

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Ao fim de aproximadamente duas horas de viagem, espera-nos o momento de recebermos, nestas águas calmas, o Cirio irmão, transportado no “Boa Viagem”. Passados alguns minutos, sulcando lentamente às águas, do lado da Moita lá vem ele… Surge na linha do horizonte arrastando imensas embarcações à sua volta… dizia-se: “Vem lá! É aquele! Estou a vê-lo!” O entusiasmo crescia, os binóculos apontavam para Sul, as palas dos chapéus ajustavam-se na testa, os óculos de sol refletiam os raios do sol esplêndido, a grandiosa Estrela reproduzia espelhos na água com permanentes mudanças de silhuetas… Entre nós, no “Baía do Seixal”, fervilhava-se de excitação. Todos queriam descortinar o desconhecido. “Onde vem a Senhora?” “Vem à proa, vem segura…” Ninguém resistiu a ficar sentado, contrariando algumas indicações simples e precisas das regras de segurança da navegação, anteriormente dirigidas pelo arrais. Os dois varinos, “Baía do Seixal” e “Boa Viagem” aproximaram-se, tanto, mas tanto, que se teve a ilusão de que as, duas imagens, em casta cumplicidade; sorriram… sentiram que um dos desejos estava já concretizado, o seu encontro no rio. O povo acenava em ambas as embarcações… tantas saudações… alguns já velhos conhecidos destes ambientes marítimos, mas todos com a mesma sensação de alegria. Os sorrisos não disfarçavam o momento extasiante… Porventura, um dos mais emotivos deste cortejo fluvial. Estes minutos de aproximação do Círio da Moita com o de Chelas, as manifestações de carinho e alegria, transmitiram uma emoção tal, que marcará, para sempre, os corações dos peregrinos. Os dois Círios fundiram-se num só. E lá seguimos em frente…

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Já com a outra margem saudando-nos, a procissão fluvial integra muitas outras embarcações que pouco a pouco se aproximaram. Emociona ver o Tejo ponteado de varinos, de botes e fragatas, de canoas adornadas. Diviso alguns nomes e as águas enchem-se de significado… “Deolinda Maria”, “Primavera”, “Quim Zé”, “Salvaram-me”, “Gavião dos Mares”, “Senhora do Cabo”, “Lusitano”, “Senhor dos Aflitos”, “Beleza do Montijo”, ”Marta Filipa”…e muitos outros. Destacam-se o “Alcatejo”, o varino da Câmara Municipal de Alcochete e o “Boa Viagem” da Câmara Municipal da Moita, que transporta o outro Círio, a outra imagem.

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No “Gavião dos Mares”, o arrais atento à direção dos ventos…

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Atraca-se no Montijo. Primeiro o “Baía do Seixal”. Depois o “Boa Viagem”.

A população aguarda. Reverenciam-se as imagens da Senhora da Atalaia.

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O “Baía do Seixal” afasta-se…

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Saem em procissão até ao transporte rodoviário que as levará ao encontro de todos os outros Círios no

santuário.

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Chegados à povoação de Atalaia, somos surpreendidos pelas ruas engalanadas. Pelas centenas de pessoas, dispostas ao longo das ruas principais, aguardando há horas pelo ponto alto dos festejos: a procissão. No alto, bem no alto, ergue-se o santuário; tão alto que se diz avistar Sesimbra, Sintra e até mais além, em dias límpidos, Nas suas imediações pequenos acampamentos, lembrando os romeiros antigos, cumprindo a tradição. Perto, a confraria “Círios de Olhos D´Água” denunciando nos tachos e panelas as refeições confecionadas durante o dia.

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À frente da Igreja de Nossa Senhora da Atalaia, um adro enorme e uma escadaria que desce até ao Cruzeiro. Rompe-se caminho por entre os fiéis para entrar. Estava-se no final da prece do Círio do Alto Estanqueiro, Círios aguardam a vez de entrar. Muitos são trazidos por Ranchos Folclóricos outros acompanhados por fanfarras de bombeiros, como Sesimbra e Montijo.

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Queimam-se velas e fazem-se oferendas. São o reconhecimento de graças alcançadas em horas de sofrimento e aflição. Quando as dificuldades da vida, fazem os Homens buscar auxílio, em desespero no Divino. São ritos e rituais cujas origens se perdem na bruma do tempo. São manifestações da confiança depositada numa força maior que não na vulnerabilidade humana. São marcas de fé que se expressam em gestos simbólicos de doação… velas da altura do pai, da mãe, do filho… corações de cera, cabeças de cera… adornos em ouro (fios, pulseiras, brincos)… ramos de noiva… em todos eles, a mesma entrega; dou o melhor que tenho, porque é tudo quanto tenho.

Apresentadas todas as preces, aspergidos Círios e fiéis com água benta, forma-se a procissão conjunta que irá percorrer algumas ruas engalanadas com flores e colchas às janelas. O cortejo composto pelos Círios de Azóia, Quinta do Anjo, Círio Novo, Círio da Fundação do Centro Náutico Moitense, Círio dos Olhos d´Água, Círio de Chelas, Círio de Atalaia (Rancho Folclórico de Juventude Atalaiense), Círio da Fonte da Senhora de Alcochete de Alcochete (Rancho Folclórico de Danças e Cantares), Círio de Alto Estanqueiro (Rancho Folclórico e Etnográfico), atravessará o recinto da feira, por entre barracas de petiscos e carrosséis ruidosos, numa permeabilização do religioso e do profano. Deter-se á no Cruzeiro em voltas cadenciadas, enquanto os lábios sussurram as promessas aqui trazidas no coração.

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Voltará ao Santuário, recolhendo as imagens à Casa-Mãe, entrando não de frente para o altar, mas de frente para o povo. A Senhora que se despede das gentes. As gentes que dizem adeus à Senhora.

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É a despedida.

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Rebentam foguetes no ar. Canta-se a fé na Virgem, Senhora de Atalaia…

Nesse altar de Luz Senhora da Atalaia

Dai-nos Tu Jesus Nossa Mãe amada

Com o vosso olhar

Com o vosso sorriso Vinde-nos guiar

Para o Paraíso

Dentro de dois anos, o Círio de Chelas voltará. Até lá, a imagem de Nossa Senhora de Atalaia permanecerá na Igreja do Convento de Chelas, o Major Marcello continuará a velar por ela, o Prof. Doutor Fernando Rodrigues de Carvalho a contar a história que lhe revelou os Círios e o Almirante Saldanha a amar o Tejo. Este Tejo que também é nosso. Que separa, mas que une. Que foi ontem e é hoje. O Tejo que deslumbra pela abundância das suas manifestações. O Tejo também presente na Fé e na Vida. O Tejo das gentes. Rio vivo, cenário multicultural, multifacetado e com múltiplas oportunidades de ser descoberto, desfrutado e continuar sempre novo…

Tejo, o nosso rio…

Ana Paula Pinto

Carlos Vitorino