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A FEIRA LITERÁRIA COMO RECURSO MOTIVADOR PARA O ENSINO DO
GÊNERO CORDEL EM SALA DE AULA
GOMES, Francisco Albertino1 MARTINS, Marcela Tarciana Cunha Silva2
RESUMO
A literatura de cordel é uma ferramenta valiosa para o desenvolvimento de habilidades de leitura escrita e oralidade, principalmente na área de humanas, sendo assim, o presente trabalho teve como objetivo realizar uma Feira Literária de Cordéis que proporcione aos alunos a vivência desses gêneros textuais, na 3ª série do Ensino Médio da Escola Estadual Professor José Olímpio Maia na cidade de Brejo do Cruz-PB. Assim, buscou-se compreender a função social da Literatura de Cordel que independentemente da temática escolhida, atua como veículo de propagação de valores culturais tradicionais pertinentes ao povo de uma região, mostrando que o gênero textual Cordel dentro das salas de aula de Ensino Médio é de grande importância para a formação de leitores. O atual estudo pode ser compreendido como uma pesquisa de campo, descritiva com abordagem quantitativa e qualitativa, por levar a entender processos em que se desenvolve o objeto de estudo. Foi realizada uma Feira Literária de Cordéis que proporcionou aos alunos a vivência com esses gêneros textuais, onde puderam confeccionar seus próprios textos e ilustrações, desenvolvendo em alguns, talentos ainda não desenvolvidos. Trabalhar com cordel mexe diretamente com emoções, e isto se faz cada vez mais necessário, tanto para atingir os objetivos didáticos, como o desenvolvimento das habilidades de leitura, escrita e oralidade, quanto de realização profissional, dado que o fardo do trabalho tende a render bons frutos que nos fortalece a continuar tentando fazer da educação uma possibilidade de transformação social. Palavras-chave: Literatura. Cordel. Leitura. Escrita. Habilidades.
ABSTRACT
Cordel literature is a valuable tool for the development of reading and writing skills, especially in the humanities area, therefore, the present work aimed to hold a Cordel Literary Fair that provides students with the experience of these textual genres, in the 3rd grade of High School at the State School Professor José Olímpio Maia in the city of Brejo do Cruz-PB. Thus, we sought to understand the social function of Cordel Literature which, regardless of the chosen theme, acts as a vehicle for the propagation of traditional cultural values relevant to the people of a region, showing that the textual genre Cordel within the high school classrooms is of great importance for the training of readers. The current study can be understood as a field research, descriptive with a quantitative and qualitative approach, as it leads to understand processes in which the object of study is developed. A Cordel Literary Fair was held
1 Doutorando em Ciências da Educação pela Veni Creator Christian University 2 Professora Orientadora Colaboradora da Veni Creator Christian University
1
that provided students with the experience with these textual genres, where they could make their own texts and illustrations, developing in some talents not yet developed. Working with cordel directly affects emotions, and this is increasingly necessary, both to achieve didactic objectives, such as the development of reading, writing and speaking skills, as well as professional achievement, given that the burden of work tends to pay off good fruit that strengthens us to continue trying to make education a possibility for social transformation. Keywords: Literature. Cordel. Reading. Writing. Skills.
INTRODUÇÃO
A tradição da literatura popular é muito antiga e permanece viva mesmo com
o surgimento da tradição literária culta, escrita. Comumente denominada de
literatura de cordel, esta é uma forma de comunicação universal que surgiu na
Europa com a imprensa e, a partir de então, se difundiu. Um dos traços mais
pertinentes desse gênero é o fato de ser um tipo de poesia narrativa e de caráter
popular, já que os cordelistas contam através dos versos, as histórias com riquezas
de detalhes incomparáveis.
Dentre a diversidade de gêneros discursivos orais e escritos, sugeridos nos
Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) de Língua Portuguesa para o trabalho
com a leitura literária, encontra-se o cordel, gênero poético que compartilha com
outros gêneros (músicas, cinema, teatro, filmes) uma relação dialógica. Pois, como
bem ressalta Lopes-Rossi (2012, p.162) “é muito comum nesse gênero à referência
a textos e a discursos passados e presentes, por meio de marcas explícitas ou não”.
A literatura de cordel conquista cada vez mais a atenção de leitores diversos,
sobretudo na escola, pelo fato de proporcionar uma aproximação do educando a
cultura popular. Nesse sentido, o trabalho com a leitura ligada a esse tipo de
produção artística oferece mais oportunidade de observar e compreender o mundo à
sua volta, o que possibilita ao aluno um ganho maior de autonomia, de outras
possibilidades de aquisição do conhecimento.
A presença do cordel em sala de aula pode favorecer a percepção da
riqueza desta produção cultural e reflexão mais aprofundada sobre problemas que
instigam o preconceito, dentre eles o linguístico, disseminado na sociedade.
Especialmente, em relação às falas regionais, a escola precisa encarar essa
questão, como parte de um objetivo educacional mais amplo de educação para o
respeito às diferenças.
2
Discorremos sobre a questão do ensino da Literatura, a leitura do texto
literário e de que forma a escola vem tratando dessa área do conhecimento.
Atentamos para a questão da escolarização de leitura, como as instâncias existentes
na escola podem influenciar e construir o letramento dos alunos, o simples espaço
da sala de aula é considerado no contexto da pesquisa. Abordamos ainda o papel
do professor como mediador perante a construção do letramento literário.
Apresentamos a realização da oficina literária para produção de cordéis e
xilogravuras para exposição na Feira Literária produzida pelos alunos e professoras,
valorizando assim a confecção dos alunos. Dessa forma, objetivou realizar uma
Feira Literária de Cordel que proporcione aos alunos a vivência desses gêneros
textuais, na 3ª série do Ensino Médio da Escola “Professor José Olímpio Maia” na
cidade de Brejo do Cruz-PB.
METODOLOGIA
O atual estudo pode ser compreendido como uma pesquisa de campo,
descritiva e com abordagem quantitativa e qualitativa, por levar a entender
processos em que se desenvolve o objeto de estudo. A escolha desse tipo de
pesquisa se justifica por ser mais adequado para compreender as contribuições que
a literatura popular de cordel pode trazer para o processo de ensino aprendizagem
na formação de leitores.
Para Malhotra (2011, p.106), a pesquisa descritiva “é um tipo de pesquisa
que tem como principal objetivo o fornecimento de critérios sobre a situação
problema enfrentados pelo pesquisador e sua compreensão”. Conforme aponta
Minayo (2001), a pesquisa qualitativa preocupa-se com uma realidade que não pode
ser quantificada, respondendo a questões muito particulares, trabalhando com um
universo de significados, crenças e valores e que corresponde a um espaço mais
profundo das relações, dos fenômenos que podem não ser reduzidos à
operacionalização de variáveis.
A presente pesquisa foi realizada na Escola Estadual de Ensino Médio
Professor José Olímpio Maia, localizada na cidade Brejo do Cruz-PB. Participaram
da pesquisa trinta e dois alunos da 3ª Série “A” Noturno da escola já mencionada
anteriormente, equivalendo a 95% do total, além de 02 professoras da turma
pesquisada, sendo 01 professora de Língua Portuguesa e a outra de Arte.
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A Feira Literária foi realizada em etapas, sendo a primeira etapa a escolha
dos cordéis para os alunos recitarem; a segunda etapa foi a produção de cordéis
pelos alunos, a releitura por eles e a correção por parte do professor; e a terceira
etapa foi a exposição dos cordéis produzidos no evento.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
A prática da feira é uma estratégia de instigar os alunos a ter um
conhecimento abrangente com base na leitura e oportuniza o uso da linguagem em
diversas situações, valorizando e aperfeiçoando a oralidade, além de despertar no
aluno o gosto pela leitura e pela escrita.
Não há dúvidas de que, na sociedade em que vivemos, urge a necessidade
de que essa dicotomia apontada por Freire deixe de existir e que o letramento seja
um direito de todos. Somente quando a leitura da palavra ensinada na escola fizer
sentido para o aluno e encontrar sentido em sua leitura de mundo teremos
resultados mais favoráveis no diz respeito ao ensino da língua materna no Brasil.
Somente quando isso acontecer, teremos cidadãos mais aptos de usarem a palavra
como instrumento de transformação social rumo a uma sociedade que faça ouvir a
voz daquele que constrói a sua história e pouco espaço tem para gozar dos seus
bens: o povo.
Nessa perspectiva, as práticas de letramento estarão mergulhadas no
emaranhado de relações nas quais o aluno está inserido, fazendo parte do seu
contexto social vivido e pressupondo uma visão sobre o que é linguagem verbal.
Partindo da premissa de que a unidade básica da linguagem verbal é o texto, o
aluno do Ensino Médio deve, por excelência, ser considerado um produtor de textos
“aquele que pode ser entendido pelos textos que produz e que o constituem como
ser humano. O texto só existe na sociedade e é produto de uma história social e
cultural, único em cada contexto (...) o homem visto como um texto que constrói
textos” conforme os PCN de Arte (BRASIL, 2002, p. 139).
Uma das atividades que contemplam esse perfil de trabalho com a
linguagem, favorecendo o letramento na escola é, sem dúvida, o trabalho com
literatura de cordel em sala de aula. Além de colocar o aluno com uma gama de
informações sobre o contexto sócio-político-cultural da sua região, permitindo que
ele desenvolva sua capacidade de interação com o lido e conheça diversas formas
4
de expressar o mesmo assunto, além de permitir que ele consiga emitir juízos de
valor sobre sua realidade com mais consistência.
Segundo Tennina (2013, p. 11) “a palavra sarau não é recente. Diversas
músicas, romances, cartas, crônicas e memórias do século XIX, da Europa e da
América, fazem referência a essas luxuosas reuniões de amigos”. Assim, a
realização da feira literária nas escolas permite uma educação cidadã através da
literatura, como defende Candido (2017, p. 153), “a literatura tem sido um
instrumento poderoso de instrução e educação”.
Os alunos apresentaram os cordéis produzidos nas oficinas realizadas.
Nessa ação o educando tornou-se agente ativo da pesquisa, onde junto ao
pesquisador, planejou uma programação para a realização da Feira Literária de
Cordel. Dessa forma, o que foi produzido nas oficinas foi apresentado nesse evento,
abaixo segue alguns exemplos da produção confeccionada e exposta (Figura 1, 2 e
3).
Se queremos que nossos alunos do Ensino Médio sejam leitores proficientes
e autores de variados tipos de textos, precisamos muni-los de instrumentos
necessários para tal. O letramento dos educandos que concluem a educação básica
pressupõe o domínio dos diversos gêneros do discurso. Assim, o trabalho com
esses gêneros na sala de aula é requisito para um consistente ensino da língua
materna. Com certeza os alunos que mostram pouca habilidade nos testes e
exames sobre o ensino da língua materna e letramento apresentam dificuldades em
diferenciar os gêneros e utilizá-los.
Figura 1 – Ilustrações produzidas na oficina – Aluno 1.
5
FONTE: Pesquisador (2019)
Figura 2 – Ilustrações produzidas na oficina – Aluno 2.
FONTE: Pesquisador (2019)
Figura 3 – Ilustrações produzidas na oficina – Aluno 3.
FONTE: Pesquisador (2019)
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Para encerrarmos os trabalhos da oficina, decidimos conjuntamente fazer a
culminância com algumas apresentações de narrativas cordealísticas. Os
estudantes envolvidos foram auxiliados por outros professores, no caso da
arrumação do cenário, uma professora de artes, bem como o pessoal da secretaria
da referida escola.
Dentre os cordéis escolhidos, citamos: Literatura de Cordel, Bem-vindo à
Paraíba, ambos de Francisco Diniz, que conceitua essa arte poética, e por fim o
Cordel Confissão de Caboclo, de Zé da Luz, que apresenta uma narrativa
encantadora, cuja mensagem central é a importância do ato de aprender a ler.
O ensino da língua irá ao encontro de uma leitura crítica da palavra, pois não
se reduz à simples utilização de gramáticas, livros didáticos e dicionários, com
conteúdos engessados e programados, direcionados para uma aula-monólogo onde
apenas o professor fala e os alunos recebem, como se fossem depósitos vazios e o
ensino gramatical é um fim em si mesmo. Sobre isso, Freire (2007) nos indica um
caminho quando afirma que
A regência verbal, a sintaxe de concordância, o problema da crase, o sincletismo pronominal, nada disso era reduzido por mim a tabletes de conhecimentos que devessem ser engolidos pelos estudantes. Tudo isso, contrário, era proposto curiosidade dos alunos de maneira dinâmica e viva, no corpo mesmo dos textos, ora de autores que estudávamos, ora deles próprios, como objetos a serem desvelados e não como algo parado, cujo perfil eu descrevesse (FREIRE, 2007, p. 16).
Essa leitura crítica da palavra proposta aqui pressupõe uma relação
dialógica da palavra, compreendendo o ensino da língua como processo, sempre
relacionado ao ato de descoberta do aluno. Privilegia a ação discursiva, o texto e a
palavra do aluno no lugar de palavras e noções gramaticais fragmentadas. Objetiva
um aluno crítico, cuja linguagem é instrumento não só de interação, mas de
transformação social.
Acostumados ao olhar da literatura tida como erudita, os sujeitos envolvidos
no desenvolvimento desta oficina, apesar de pouca familiaridade com este tipo de
gênero textual, não demonstraram dificuldade para reconhecer no cordel elementos
que permitem a sua classificação como representante da literatura e da poesia
brasileira, que abarca para além dos tidos como grandes nomes da literatura
brasileira, os poetas populares, que através de seus versos cantam e contam,
7
principalmente, a alma do povo nordestino, e por que não dizer, do povo paraibano,
em especial.
No Quadro 1, temos a percepção de qual foi à contribuição da Feira Literária
para os participantes 57% disseram que a temática da feira foi excelente, 38% foi
adequada e 5% achou razoável; quantos aos objetivos 44% disseram que foram
alcançados de forma excelente durante o evento, 39% de forma adequada e 17% de
forma razoável. De acordo com a impressão em relação à Feira 50% tiveram uma
excelente impressão, 31% adequada e para 19% foi razoável; 35% acharam
adequado e 10% diz ter sido razoável.
A leitura do texto literário constitui uma atividade sintetizadora, permitindo ao indivíduo penetrar o âmbito da alteridade sem perder de vista sua subjetividade e história. O leitor não esquece suas próprias dimensões, mas expande as fronteiras do conhecido, que absorve através da imaginação e decifra por meio do intelecto. Por isso, trata-se também de uma atividade bastante completa, raramente substituída poroutra, mesmo as de ordem existencial. Essas têm seu sentido aumentado, quando contrapostas às vivências transmitidas pelo texto, de modo que o leitor tende a se enriquecer graças ao seu consumo (ZILBERMAN, 2009, p. 17).
Candido (2017) ressalta que a literatura tem uma função social e uma função
psicológica. Todo ser humano em algum momento de sua vida necessita da fantasia
e a literatura vem suprir essas necessidades de variadas formas como o conto, a
parlenda e o cordel.
Quanto ao cumprimento do cronograma do evento, o Quadro 1 mostra que
52% acham ter sido excelente, 34% adequado ao que foi estimado e 14% acredita
ter sido razoável; o conteúdo trabalhado para 53% foi excelente, 35% foi adequado,
10% foi razoável e 2% acharam insuficiente. As produções de cordéis e xilogravuras
realizadas durante as oficinas foram excelentes para 79%, adequadas para 19% e
apenas 1% achou insuficiente.
Para Fonseca (2014, p. 56) “um evento literário que ocorre no espaço
escolar é diferente de outros que ocorrem em outros espaços da cidade, justamente
porque a escola tem um papel formativo que deve prevalecer”. Dessa forma,
acredita-se que a reflexão e análise dos efeitos de uma Feira de Literária no espaço
escolar é um campo teórico a ser potencialmente explorado e aplicado com mérito
como estratégia de formação de leitores, pela perspectiva do letramento literário.
De acordo com a exposição e as apresentações feitas 68% acharam
excelentes, 18% acharam adequadas e 14% acharam razoáveis, demonstrados no
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Quadro 1, assim como, a metodologia utilizada para 47% foi excelente, 39%
acharam adequadas e 14% acharam razoáveis para o que foi proposto. A
organização do ambiente para realização do evento foi para 40% excelente, para
39% adequada e para 21% foi razoável. Quanto a participação da comunidade
escolar na Feira Literária, 68% acharam excelentes, 18% adequada, 11% razoável e
2% achou insuficiente.
Para Candido (2017) a obra literária atua em nosso subconsciente de forma
que não percebemos trazendo situações que nos remetem ao pensar sobre, a criar
caminho de superação a reavaliar nossas atitudes. Situações que nos leva a um
crescimento enquanto pessoa humana.
Sobre o nível de aprendizagem pessoal através da Feira Literária, 30%
acharam que foi excelente, 38% acharam adequada, 30% acredita ter sido razoável
e 2% achou insuficiente. Entendemos que o ensino da Literatura no Ensino Médio é
desafiado a se ajustar a um novo contexto e ao aparecimento de um perfil de
estudante pertencente agora à uma sociedade que baseia seu funcionamento no
uso dinâmico e variado da linguagem, com a presença constante dos meios de
comunicação e implantação de novas tecnologias. Sabemos da importância do texto
literário na escola para a formação de sujeitos críticos e reflexivos, “uma vez que
pela leitura temos acesso a novas ideias, novas concepções de mundo, das
pessoas, da intervenção dos grupos em nosso meio social” segundo Candido (2017,
p. 41).
Reconhecemos que, em muitos casos, a relação entre o indivíduo e a leitura
literária não é incentivada na família, pensando mais especificamente nos alunos
ingressantes no ensino médio, em especial aqueles que não apresentam um
repertório significativo de leitura, a escola passa a ser o espaço fundamental para
esse processo de formação de leitor, ainda que tardio.
Quadro 2 – Avaliação das atividades desenvolvidas na Feira Literária de Cordel.
Atividades Desenvolvidas
FREQUÊNCIA
Excelente % Adequado % Razoável % Insuficiente %
Temática da Feira Literária
16 57% 11 38% 02 2% - -
Os objetivos da Feira foram alcançadas
13 44% 12 39% 04 17% - -
Sua impressão com relação a esta
14 50% 09 31% 06 19% - -
9
Feira Literária Cumprimento do cronograma da programação da Feira Literária
15 52% 10 34% 04 14% - -
Conteúdo (s) trabalhado (s) na Feira Literária
15 53% 10 35% 03 10% 01 2%
Produção de cordéis
23 79% 05 19% - - 01 2%
Exposição e Apresentação dos cordéis
19 68% 06 18% 04 14% - -
Metodologia utilizada pelos alunos apresentadores dos cordéis
13 47% 12 39% 04 14% - -
Organização do ambiente de realização da Feira Literária
12 40% 11 39% 06 21% - -
Participação da comunidade escolar na Feira
19 68% 06 18% 03 11% 01 2%
Seu nível de aprendizagem na Feira Literária
09 30% 10 38% 09 30% 01 2%
FONTE: Dados da pesquisa (2019)
O exemplo de literatura representado pelo poema de cordel promove a
curiosidade, primeiramente, e também proporciona o despertar para a leitura literária
de forma prazerosa, fazendo com que a compreensão da linguagem da poesia e dos
seus sentidos seja construída num contexto de acolhimento.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A ideia de valorizar a cultura popular esteve presente na escolha deste tema
porque vivenciamos realidades diferentes durante a prática pedagógica na Escola
Professor José Olímpio Maia na cidade de Brejo do Cruz-PB, campo da pesquisa.
Procurou-se compreender a função social da Literatura de Cordel que
independentemente da temática escolhida, atua como veículo de propagação de
valores culturais tradicionais pertinentes ao povo de uma região através de uma
Feira Literária que foi realizada na escola com os alunos sujeitos da pesquisa.
A Feira Literária de Cordéis foi uma forma agradável de dar o primeiro passo
a essas mudanças, mas é bom ressaltar que a escola onde desenvolvemos a
10
pesquisa é tida como referência em educação, e que, diga-se de passagem, é
nordestina e nem sempre faz uso da sua cultura e de seu folclore com a importância
que deveria ter. O destaque da produção literária de cordel é a facilidade de
apreensão da linguagem de forma diversificada e até mesmo lúdica, onde o aluno
passa a ser protagonista de sua aprendizagem e seu desenvolvimento parte de seu
próprio crescimento na leitura e na escrita, favorecido pelo letramento, importante
fator para o crescimento de um cidadão crítico e reflexivo.
No desenvolvimento de nosso trabalho, constatamos que a prática de ensino
e o ensino são grandes desafios, para novas metodologias que possam tornar as
aulas de leitura e produção textual menos enfadonha, bem como a utilização de
novos meios para tornar o ensino aprendizagem uma atividade de várias funções e
de conhecimentos, para o aluno e para o professor, enfocando a prática da leitura e
do letramento. Observamos que não é comum a utilização do gênero textual Cordel
em sala de aula, é ainda muito pouco utilizado para o espaço que temos durante as
aulas de literatura e produção textual.
E por fim, trabalhar com a Literatura de Cordel em sala de aula, mais
propriamente nas aulas de literatura e produção textual, deve fazer parte dos
projetos de educadores com o intuito de tornar as aulas agradáveis durante a
formação de nossos educandos visando torná-los pensadores, através dessas
práticas de leitura e letramento que proporcionem ao aluno, momento de agradável
aprendizagem.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais: Arte. Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1998. ______. Base Nacional Comum Curricular – Documento preliminar. MEC. Brasília, DF, 2017. ______. Orientações curriculares para o Ensino Médio. Secretaria de Educação Básica. Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, 2002. (volume 1). CANDIDO, A. O direito da literatura. 8ª edição rev. e ampl. São Paulo: Duas Cidades, 2017. FONSECA, V. Introdução às Dificuldades de Aprendizagem. Porto Alegre: Artmed, 2014.
11
FREIRE, P. Professora sim, tia não: cartas a quem ousa ensinar. São Paulo: Olho D’Água, 1997. LOPES-ROSSI, M. A. G. et al. Projeto Observatório/UNITAU: Competências e habilidades de leitura: da reflexão teórica ao desenvolvimento e aplicação de propostas didático-pedagógicas. Taubaté: Universidade de Taubaté, 2012. MALHOTRA, N. K. Pesquisa de marketing: uma orientação aplicada. Trad.: Montigelli Jr.. N. e Farias. AA 3. ed, 2a reimpressão. Porto Alegre: Bookman, 2011. MINAYO, M. C. de S. (org.). Pesquisa Social. Teoria, método e criatividade. 18 ed. Petrópolis: Vozes, 2001. TENNINA, L. Saraus das periferias de São Paulo: poesia entre tragos, silêncios e aplausos. Estud. Lit. Bras. Contemp, 2013. ZILBERMAN, R. A escola e a leitura de literatura. IN: ZILBERMAN, R.; RÖSING, T. M. K. (Orgs.). Escola e leitura: velha crise, novas alternativas. São Paulo: Global, 2009.
12
CONHECIMENTO DOS PROFESSORES EM TORNO DA DINÂMICA DE GRUPO
NA PERSPECTIVA DE UTILIZAÇÃO EFICAZ NO PROCESSO CONDUTOR DA
APRENDIZAGEM
SILVA, Milton Dantas da1
MARTINS, Marcela Tarciana Cunha Silva2
RESUMO
A dinâmica de grupo em sala de aula tem sido um instrumento que necessita de atenção, no tocante a seu estudo, em se tratando de utilização pelos professores. Muito se fala sobre o termo, porém ainda continua a dificuldade entre professores no sentido de conduzir suas aulas dada a falta de atenção dos alunos para se predisporem à aprendizagem dos conteúdos trabalhados. Isto exige do professor um desdobramento maior de suas potencialidades para que haja atração, motivação e os alunos possam estar ligados ao que o professor está transmitindo. Este artigo teve por objetivo verificar o conhecimento e importância da dinâmica de grupo na visão do professor para uma aprendizagem significativa, na Escola Municipal José Nunes de Figueiredo. Foi realizada pesquisa de campo, descritiva, e de abordagem quantitativa e qualitativa, como ambiente de aprendizagem. Em seguida foi feita a leitura de dados relacionando-os à teoria em autores que a este conteúdo se referem. Os professores pesquisados possuem sua capacidade de conceituar/definir a dinâmica de grupo em consonância com sua vivência em sala de aula, buscando a eficácia necessária à aprendizagem de seus alunos. Eles se utilizam da dinâmica como forma estratégica para alcance de resultados, reconhecendo a necessidade de aprofundamento a respeito do tema. Na pesquisa para o referido artigo foi possível perceber o nível de conhecimento e o resultado que traz a dinâmica de grupo, quando compreendida, em sala de aula. Palavras-chave: Dinâmica de grupo. Conhecimento. Aprendizagem. Professores. ABSTRACT The group dynamics in the classroom has been an instrument that needs attention, regarding its study, when it comes to use by teachers. Much is said about the term, but there is still a difficulty among teachers to conduct their classes given the lack of attention of students to be predisposed to learning the contents worked on. This requires the teacher to further develop his potential so that there is attraction, motivation and students can be connected to what the teacher is transmitting. This article aimed to verify the knowledge and importance of group dynamics in the teacher's view for meaningful learning, at José Nunes de Figueiredo Municipal School. Field research, descriptive, with a quantitative and qualitative approach, was carried out as a learning environment. Then, data were read relating them to the theory in authors who refer to this content. The teachers surveyed have the ability to conceptualize / define group dynamics in line with their experience in the classroom, seeking the necessary effectiveness for their students' learning. They use dynamics
1 Doutorando em Ciências da Educação pela Veni Creator Christian University 2 Professora Orientadora Colaboradora da Veni Creator Christian University
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as a strategic way to achieve results, recognizing the need to deepen the topic. In the research for that article, it was possible to perceive the level of knowledge and the result that the group dynamics brings, when understood, in the classroom. Keywords: Group dynamics. Knowledge. Learning. Teachers.
INTRODUÇÃO
Este artigo adentra ao fenômeno grupal em sala de aula, buscando a sua
conceituação/conhecimento sobre o dinamismo na aprendizagem como elemento
fortalecedor da práxis pedagógica, no contexto da aprendizagem que seja realmente
significativa no mundo contemporâneo. Para isso foi estabelecida a consonância
entre professor e o fenômeno grupal na realização da observação na Escola
Municipal José Nunes de Figueiredo em Ouro Branco-RN, onde professores
conduzem turmas, utilizando-se da dinâmica de grupo.
Atualmente muito se fala sobre a dificuldade que existe entre professores no
sentido de conduzir suas aulas dada a falta de atenção dos alunos para se
predisporem à aprendizagem dos conteúdos trabalhados. Isto exige do professor um
desdobramento maior de suas potencialidades para que haja atração, motivação e
os alunos possam estar ligados ao que o professor está transmitindo.
Assim, este instrumento, dinâmica de grupo, torna-se alvo de atenção neste
artigo no sentido de ser lançado um olhar mais aprofundado que favoreça descobrir
sua eficácia no contexto da aprendizagem tão massacrada pela falta de atenção,
muitas vezes, dos alunos que chegam à escola com uma carga de informações
sugeridas pela sociedade do conhecimento tecnológico.
Na atuação do professor em sala de aula, a presença de aspectos inerentes
ao dinamismo é algo que não se pode perder de vista, já que todo o processo de
aprendizagem ou se torna significativo ou será algo colocado para uso sem alcançar
sua verdadeira identidade que é a apreensão de conteúdos.
Neste modo de pensar está presente a confirmação de Freire (1989),
mostrando que nenhuma ação de aprendizagem pode prescindir de uma reflexão
sobre o homem e de uma análise sobre suas condições culturais. Acontece em
sociedade e não no isolacionismo. Isto tudo se faz por ser o homem um ser de
raízes espaço-temporais e este entrelaçamento pode ser vivido na dinâmica de
grupo. Assim se expressa:
14
Este ser temporalizado e situado, ontologicamente inacabado - sujeito por vocação, objeto por distorção – descobre que não só está na realidade, mas também que está com ela. Realidade que é objetiva, independente dele, possível de ser reconhecida e com a qual se relaciona. (FREIRE, 1989, p.62)
Além disso, nas relações, o caminho das descobertas se faz, adentrando o
eu em consonância com o coletivo e favorecendo o verdadeiro encontro com o
prazer do estar desmistificando a sombra do não aprender tão presente na
concepção de muitos que se lançam no mundo da participação comunitária e que
necessita de um mínimo de apreensão do mundo letrado.
Tendo claro que a meta para a aprendizagem se concretiza na certeza de
que a pessoa é essencialmente um ser para os demais, um ser em relações, Freire
(1989), adentra ao universo da natureza humana, construindo sua trajetória em torno
do aprender como processo de troca de saberes, já que todos têm sua visão de
mundo e estrutura psíquica definida na individualidade que integra a coletividade.
O homem é um ser de relações; está no mundo e com o mundo. Se apenas estivesse no mundo não haveria transcendência nem se objetivaria a si mesmo. Mas como pode objetivar-se, pode também distinguir entre um eu e um não-eu. Isto o torna um ser capaz de relacionar-se; de sair de si; de projetar-se nos outros; de transcender. (FREIRE, 1989, p. 30).
Uma primeira característica que se pode observar, neste contexto, é a
reflexão em torno do homem e sua realidade e sua tendência em captar esta mesma
realidade, transformando-a em objeto de seu conhecimento. É aí que se encontra o
aspecto do ser cognoscente e do objeto cognoscível, estrutura capaz de dar a
consistência do aprender e realizar a transformação necessária para o progresso do
homem como sujeito de sua própria condução de aprendizagem.
Há, aqui, a presença de um ato educativo compartilhado, ou seja,
conhecimentos se cruzam na medida em que os sujeitos se identificam em seu
protagonismo e adentram ao universo das relações de maneira que se constituem
agentes de relação dialógica: sujeitos e mundo. Dá-se, então, neste sentido, a base
do processo interativo e co-participativo de criação entre sujeitos.
Assim, o objetivo que se define é verificar o conhecimento e importância da
dinâmica de grupo na visão do professor para uma aprendizagem significativa.
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Diante das reflexões realizadas, a priori, justifica-se este olhar investigativo
da ação dinâmica em sala de aula para que seja possibilitada a atuação do
professor com maior empenho e certeza de que o processo de aprendizagem seja
bem realizado.
METODOLOGIA
Neste artigo, trilhamos o caminho da técnica com pesquisa de observação em
campo, do tipo descritiva, percebendo-se a necessidade de um envolvimento mais
apurado entre pesquisador e professores, numa postura de colaboração e
desprendimento que favoreçam a participação ativa no momento pesquisado.
Neste sentido, Gil (2002) apresenta que, em estudos de campo, a análise de
dados é facilitada pela utilização de questionários e formulários, possibilitando a
qualificação daquilo que é pesquisado.
A pesquisa que embasa o presente artigo aconteceu com 12 professores, em
conformidade com a direção da Escola Municipal José Nunes de Figueiredo em
Ouro Branco-RN, ambiente pesquisado. Assumiram a postura de interlocutores
respondentes e, após coletados os dados, para preservar a identidade, foram
transcritas as respostas na identificação com letras e números – P1, P2, P3, P4, P5,
P6, P7, P8, P9, P10, P11, P12. Os dados quantitativos foram analisados por meio de
percentuais e expostos por meio de tabela.
ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Tendo recorrido a aspectos relacionados à conceituação/definição sobre a
dinâmica de grupo, e concebendo a natureza da interação dos saberes, transcrevo a
seguir o entendimento em torno do que compreendem conceitualmente sobre a
dinâmica de grupo no Quadro1. Em relação a este conceito foi possível perceber
uma variedade de respostas. Estas respostas condizem com o experimento do
próprio pesquisador em momentos de estudo e vivência da temática, bem como de
alguns autores que à dinâmica se referem.
Quadro 1 – Percepção dos professores da Escola Municipal José Nunes de Figueiredo sobre a dinâmica de grupo.
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PROFESSORES UNIDADE DE SIGNIFICAÇÃO P1 É algo que envolve os movimentos do corpo das pessoas que
realizam atividades juntas. P2 Entendo que é uma ferramenta do estudo de grupos e também
um termo geral para processos grupais. P3 É uma atividade que possibilita a harmonia e a concentração
das pessoas envolvidas através da ação e movimento que produz interação e estimula para o desenvolvimento de algo.
P4 Algo que se dá no coletivo P5 É um sistema de grupo onde facilita a aprendizagem e a
socialização das pessoas. P6 É movimento que traz a facilitação da aprendizagem e a
socialização dos indivíduos. P7 Dinâmica de grupo, como favorece o nome, é estudo dinâmico,
movimentado com pessoas e condução de um orientador. P8 Dinâmica de grupo é algo estimulador para a introdução e/ou
trabalhar conteúdos, contribuindo para a interação do grupo. P9 É um modo de estudo de grupos
P10 Movimento estimulador de grupo para alcançar seus objetivos de maneira mais leve.
P11 É uma maneira de fazer acontecer a interação entre pessoas e suas formas de conduzir o tempo da aprendizagem.
P12 É uma forma de renovar a metodologia usada em sala de aula para melhor alcançar resultado na aprendizagem.
FONTE: Dados da pesquisa (2019)
A palavra “movimento” aparece de forma contundente (P1, P3, P6, P7, P10),
porém há de se notar que, atrelada ao termo, está a visão de movimento no entorno
de “corpo”, isto é, uma conceituação que se restringe ao movimento físico. Neste
sentido, pode-se inferir que a linguagem proferida pelos pesquisados é uma
linguagem de cunho palpável, não verbal onde aparecem as expressões corporais
como trata Minicucci (2002, p. 280), dizendo:
Todo recurso a outro instrumento que permita ou favoreça o contato com o outro é classificado pelo termo genérico de comunicação não verbal. Pertencem a esse tipo de comunicação os gestos, as expressões faciais, as posturas. Mesmos os silêncios, as ausências no interior de certos contextos podem se tornar significativos e carregados de mensagens para o outro e, segundo as situações, ora podem ser percebidos pelo outro como expressões de coragem, ora como omissões ou covardias.
Harmonia e concentração se apresentam como alvo dos pesquisados em
sua conceituação do termo dinâmica de grupo; isto se dá pelo fato de serem
instrumentos condutores do desenvolvimento da aprendizagem em suas salas de
17
aula e que, através do dinamismo, sentem a prática da harmonia entre seus
conduzidos, bem como a concentração destes em relação ao tempo de disposição
para a aprendizagem em sala.
Dentre as várias compreensões significativas pesquisadas, aqui se destaca
a dinâmica de grupo como atividade que contribui para a interação, para a
socialização dos grupos, o que justifica seu uso em momento de condução dos
conteúdos em sala de aula. Minicucci (2002) a este respeito diz que o grupo se
integra principalmente pela atuação eficaz da liderança e, ainda, cita como fator
preponderante desta interação/socialização grupal, a comunicação autêntica, o alto
grau de coesão e a permeabilidade de fronteiras.
É, neste sentido, que se pode pensar o estabelecimento de linguagem
comum entre os envolvidos na dinâmica de grupo, quando recorrem a símbolos e
códigos próprios. Nesta unidade provocada pela interação, sustenta-se a base do
grupo que é a comunicação interna, num restabelecimento, também, das relações
interpessoais. A maior parte dos pesquisados se referem à dinâmica como
ferramenta de estudo de grupos. Traz para o seio da questão a necessidade que as
pessoas têm em lançar mão de aparatos que sirvam para aprofundar o
conhecimento daquilo que se quer levar para o ser aprendiz no percurso da sala de
aula. Assim, mais uma vez, a ludicidade vem à tona como mostra Rau (2012, p.152):
Cabe aos profissionais que atuam nos cursos de pedagogia buscar metodologias que considerem a ludicidade como um recurso para aprendizagens específicas, resgatar os jogos tradicionais e estimular a confecção de brinquedos com recursos oferecidos pela natureza, como palha, areia, água, pedras etc., elementos fundamentais para o desenvolvimento sensorial.
Forma de renovação de metodologia para facilitação de aprendizagem
também aparece na conceituação da dinâmica de grupo como algo muito pertinente
entre os professores pesquisados. Eles mostram que nesta renovação está a maior
possibilidade de observação do docente em torno dos alunos. A este respeito Lima
(2009) relaciona a escola ao uso da dinâmica de grupo, dizendo que a escola do
futuro, por certo, encontrará soluções para que a acumulação de experiências de
cada homem vivido chegue às novas gerações, diretamente. E, ainda, mostra que a
dinâmica de grupo, como nova forma metodológica, permitirá total circulação de
informações.
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Todos os professores pesquisados se utilizam desta metodologia e o fazem
com a mesma frequência, o que demonstra ser um grau elevado de uso,
favorecendo dizer que a dinâmica de grupo é um instrumento que muito possibilita o
encontro dos objetivos de seus condutores em consonância com o desejo de
apreensão de conteúdo dos participantes.
Apesar de fazerem uso da dinâmica de grupo com frequência, mostram que
há, também, a necessidade de uso com mais intensidade para que se abram
caminhos durante a realização de aulas, porém apresentam que, necessariamente,
a dinâmica de grupo não é o centro da atenção; ou seja, o conteúdo da aula é o
centro que precisa deste aparato para seu maior dinamismo. Ela é um aparato
(instrumento) que pode favorecer o alcance de objetivos, porém, é necessário
pensar no conteúdo trabalhado no momento; isto é, não se pode colocar, em
primeiro plano, a dinâmica (instrumento metodológico) em detrimento do principal
que é o conteúdo a ser vivenciado por ocasião da condução da aula.
Na dinâmica de grupo está o aspecto lúdico: o brincar que muito favorece a
apreensão de conteúdos, facilitando o maior grau de percepção pelas crianças
acompanhadas por estes professores. Neste sentido, pode-se observar o que diz
Priotto (2008, p. 15):
Brincar é uma forma de comportamento infantil e geralmente traz implícitas as primeiras noções do partilhar, aceitar e se divertir. O ato de brincar adquire diferentes significados durante a vida, mas durante a adolescência torna-se expressão pública da palavra interação e a manifestação verdadeira do conceito de liberdade.
É assim que os professores pesquisados se identificam em relação a este
questionamento, defendendo o ato de dinamizar as suas salas de aula como algo
que tem sua essência no brincar que torna agradável o momento do ensino
aprendizagem das crianças e possibilita interatividade tanto das próprias crianças
quanto dos conteúdos estudados no momento. Ainda neste ponto, Estácio (2011, p.
19) chama a atenção:
É possível destacar o lugar do brincar para além de uma simples atividade; trata-se de uma atividade/necessidade humana que apresenta forte presença de processos subjetivos que o brincar envolve seja na família ou na escola. Isto é um jeito de refazer de viver o impossível. Brincando, a criança aprende a ser, se humaniza, subjetiva seus desejos, comunica,
19
situa-se e é situada pelo outro, apropria-se do seu fazer, agindo, atuando e construindo suas aprendizagens no ambiente no qual está inserida.
Do ponto de vista didático, Lima (2009) diz que a dinâmica de grupo visa à
superação de percalços de diversas origens, mesmo enfrentando tabus e arcaísmos
que impedem a maturação cooperativa do ser humano. Ainda diz que é evidente que
o ideal do educador seria a existência de condições estruturais que facilitassem o
treinamento desta cooperação.
Neste aspecto, deve-se inferir que a frequência de utilização da dinâmica de
grupo está na mesma direção em que é mostrada a natureza de aprendizagem
significativa com a recomendação do uso de organizadores prévios; essa é uma boa
estratégia para que haja a manipulação da estrutura cognitiva; isto se dá para que,
sendo apresentados antes do próprio material a ser aprendido, sejam âncoras para
sustentáculo de uma nova aprendizagem, de fato, significativa. Uma vez que o
interesse maior se constitui em identificar a dinâmica de grupo na prática dos
professores e descobrir caminhos que deem suporte ao seu uso como facilitadora de
aprendizagem significativa, este questionamento se dá na objetivação do uso das
dinâmicas no cotidiano de suas aulas.
Reportando-se ao conceito de dinâmica de grupo, os professores apontam
que utilizam a dinâmica quando vão dar início aos conteúdos, ou seja, a dinâmica
utilizada como motivação para atrair a atenção dos alunos num contexto de atração
inicial. Esta utilização se dá como uma predisposição para a aquisição do conteúdo
que se quer vivo naquele momento. Numa direção a este respeito, Perraudeau
(2009) apresenta que, no contexto da sala de aula, ajudar o aluno a melhorar sua
atenção passa mais pela prática de atividades variadas que favoreçam a solicitação
desse tipo de função, do que pelos dispositivos de conscientização a priori.
Nesta variação de atividades, aí está a dinâmica de grupo como introdução
de conteúdos. De certo, encontrará suporte para adentrar no conhecimento que o
professor deseja repassar num dinamismo próprio de motivação/predisposição.
“Quando a turma não está entrosada” é também uma resposta sobre a utilização
deste conceito.
Na fala dos pesquisados, isso se ratifica:
20
P3: “sempre elaboro alguma dinâmica que favoreça o entrosamento da turma; principalmente dinâmicas que precisem de mais atenção e concentração com palavras que vêm dos colegas... e precisem dar continuidade, como por exemplo, uma continuação de uma história”. P5: “Eu organizo dinâmicas que trazem leveza e desejo de participar, entrosando uns com os outros de maneira espontânea e prazerosa. Dinâmicas que levem a brincar, a sorrir e a trocarem ideias livremente”. P9: “Quando faço dinâmicas com eles, fico mais tranquila, porque vejo mais entrosamento. Eles gostam da atividade e começam a falar mais e se unir mais uns aos outros”.
Neste sentido, observa-se em Freire (2014) que o educador precisa educar
constantemente sua capacidade de brincar com as situações de aprendizagem; ele
precisa educar sua capacidade de rir de seus próprios erros, ajudando os outros a
fazerem o mesmo. Brincar e rir são qualidades da criança e estão internamente nos
professores até os nossos dias. Essa atividade de brincar, jogar, rir com as
situações de aprendizagem são instrumentalizadas pelo exercício da reflexão
cotidiana sobre a prática.
Ainda, em se tratando deste uso da dinâmica nesta conceituação, o P6 diz:
“Quando a indisciplina é grande, utilizo dinâmicas para acalmar as crianças”. Nota-
se a utilidade da dinâmica de grupo de uma maneira mais abrangente do que se
pensa; o movimento pessoal-interno, a interatividade entre as pessoas, o aconchego
entre as partes possibilita resolução de conflitos.
Esta atividade (dinâmica de grupo) se faz um grande instrumento de
participação, o que significa dizer que se transforma num elemento importantíssimo
de desenvolvimento da personalidade infantil no seu fazer, criar, mover-se,
experimentar e viver, aprendendo com a realidade. Para Wallon (1980), a essência
na educação infantil está no aprender a encontrar a verdade, atuando sobre a
realidade. Esta calma esperada pelo professor encontra resposta na diversidade de
ações realizadas em sala de aula, principalmente, em se tratando de técnicas de
sensibilização que produzem o efeito necessário ao descanso do conflito próprio da
faixa etária infantil.
Ainda em relação ao conceito de utilidade da dinâmica, informalmente, o P8
falou: “quando pretendo obter conhecimentos prévios, lanço mão de dinâmicas que
exijam a expressão oral para saber o que eles trazem de conhecimentos anteriores
que me ajudarão a encontrar as respostas necessárias em forma de atividades em
minhas aulas”.
21
Em se tratando de conhecimentos prévios é importante pensar na visão de
mundo que trazem as crianças para os bancos escolares. São conhecimentos
adquiridos no dia a dia de seus lares, dos grupos de amigos, dos meios eletrônicos,
dos ciclos de amizades diversos que se apresentam durante o processo de sala de
aula. São os ditos subsunçores que Ausubel (1963) denomina de mapas
conceituais, de maneira substantiva e não arbitrária.
Especificando mais o resultado da questão ao serem questionados em torno
da prática da dinâmica de grupo e sua conceituação, 33,33% dela se utilizam para
promover a socialização/interação do grupo; 33,3% para facilitar o aprendizado/o
entendimento do conteúdo, e 33,33% para desenvolver habilidades (Tabela 1).
Destes, 33,3% se referem à socialização/interação do grupo, dando para se
observar que há uma grande relação entre o conteúdo da formação e a unidade das
pessoas que ali estão presentes. Isso tanto pelo professor, quanto pelos alunos
acompanhados nas salas de aula; isto é, alunos e conteúdos estando em sintonia,
pelo que se detém, será um grande passo na consecução de objetivos a serem
alcançados.
Tabela 1 – Utilização da dinâmica de grupo, conceituada pelos(as) professores (as)
da Escola Municipal José Nunes de Figueiredo.
VARIÁVEIS N %
Socialização/interação do grupo 04 33,3
Aprendizado/Entendimento do conteúdo 04 33,3
Desenvolver habilidades 04 33,3 Fonte: Dados da Pesquisa, 2019. .
Apresentam este dado como algo que se faz elemento primordial para que
suas aulas se conduzam de maneira eficiente e eficaz. Utilizam a dinâmica de grupo
para que seja facilitada a socialização/interação, acreditando, assim, que, turma
inteirada, condução bem tratada. Em outros momentos visualizados, fora o
questionamento, nota-se, nas falas colocadas em comum, que a interação é algo
almejado pelo fato de fazer com que o grupo se torne maleável e bem definido no
momento da formação.
Neste sentido, a dinâmica de grupo, como já se revela em sua
nomenclatura, sugere movimento que saia do individualismo e adentre ao mundo
22
das relações, em interatividade, o ser e o mundo, como diz Freire (1989), refletindo
que o homem está no mundo e com o mundo, e isto o torna um ser capaz de
relacionar-se; de sair de si; de projetar-se nos outros; de transcender. Pode
distinguir órbitas existenciais distintas de si mesmo.
É assim, portanto, que se percebe a preocupação, no grupo de professores
pesquisado, em harmonizar o grupo num contexto de interação onde seja possível
trabalhar de maneira que a sintonia de todos possa trazer resultados significativos,
além de conteúdos programados.
Dos pesquisados, 33,3% relataram, na Tabela 1, que utilizam a dinâmica de
grupo para que o conteúdo aplicado nos momentos em salas de aula sejam bem
recebidos, e, assim, se tornem bem fixados na estrutura mental destes envolvidos
no processo de aprendizagem. Acreditam que a maneira de condução das turmas,
em uma metodologia atraente e dinamizadora, possibilitará a cada participante no
processo de aquisição de algum conteúdo, descobrir a melhor maneira de atrelar o
conhecimento recebido ao conhecimento prévio já acumulado em sua base de
conhecimentos adquiridos ao longo do tempo.
Neste contexto, conteúdos serão colocados, mas serão recebidos,
dependendo da forma como são trabalhados e isso ratifica o que diz Santos (2013,
p. 54), tratando da aprendizagem significativa:
Cada aprendiz faz uma filtragem dos conteúdos que têm significado ou não para si próprio. Eis por que é essencial não somente fazer uma seleção de conteúdos logicamente significativos, mas sondar os interesses e experiências dos alunos, para que os conteúdos sejam psicologicamente significativos.
Pelo que se vê, cada participante do processo grupal atua de acordo com
sua estrutura mental, porém necessita de alguém que possa fazer a relação do que
existe já pronto nesta estrutura e apresente algo que lhe seja prazeroso para que os
conteúdos sejam bem recebidos e, ao mesmo tempo, tornem-se significativos. Pode-
se perceber que, como sugere Perraudeau (2009), a prática do professor determina
um pouco a aprendizagem comprometida. São apresentados aspectos com
condições mais amplas, determinando o ato de aprender, em polos
interdependentes: individual, social e contextual.
23
O aluno, em seu polo individual, apresenta condições que passam pela
cognição, cujas funções se retratam ao desenvolvimento do pensamento em seus
aspectos lógicos como a ação de comparar, ordenar, classificar etc, bem como
aspectos infralógicos como o situar-se no tempo e no espaço. Passa também pelo
componente conativo, ou seja, condição de autoconfiança, imagem que faz de si
mesmo e imagem que espera ter através dos outros indivíduos, e da motivação que
influencia seu grau de inserção na tarefa. Um outro componente importante de se
pensar neste contexto individual é o componente afetivo, investimento e vínculo que
o aluno estabelece com a escola.
Em polo social e contextual é onde está a presença do professor com sua
capacidade de mobilizar seus alunos em torno de situações motivadoras e
significativas. O meio direto da escola como proponente de ações de extração,
aperfeiçoamento e transformação de realidades vividas. Ainda nesta referência,
observa-se que, a apreensão dos conteúdos colocados, no momento da condução
das aulas, está na direção do que afirmam Moreira e Masini (2011), mostrando que
a formação de conceitos consiste essencialmente de um processo de abstração dos
aspectos comuns essenciais de uma classe de objetos ou eventos que variam
contextualmente. Estes conteúdos, a princípio, oferecidos aos aprendizes, passam
por uma relação de concretude e abstração que possibilitam fazer a assimilação, de
maneira que os conduzidos se tornam sujeitos da ação de diferenciação do novo
conceito em relação a outros conceitos previamente aprendidos.
Chamar a atenção para o foco daquilo que se faz como professor é sempre
um desafio, e é, também, sempre estimulador no sentido de busca de aparatos que
a este objetivo se coadunem. É, neste sentido, que os professores falando desta
busca de conteúdos sempre se reportam à utilização da dinâmica de grupo para
motivar à atenção, isto é, trazer a turma para determinado foco e este se estabeleça
como sujeito da apreensão daquilo que o momento favorece.
Lima (2009), fala a este respeito, mostrando que a predisposição dos
indivíduos no grupo é algo significativo, pois, quando está predisposto a mudar de
comportamento e atitude, o grupo é a melhor forma de efetuar esta mudança. Muitas
vezes os alunos chegam à sala de aula, num clima de mesmice e sem predisposição
para aquilo que vai ser dirigido no momento e, com a dinâmica utilizada pelo
professor, começam a aparecerem falas, gestos, reações, num clima de
envolvimento próprio da dinâmica de grupo.
24
Em relação aos que se referem ao desenvolvimento de habilidades, 33,3%,
na Tabela 1, como motivo para a aplicação da dinâmica de grupo, percebe-se que
os alunos chegam ao grupo, ainda de maneira apática, ou seja, sem dar a devida
atenção ao que o professor pretende realizar com a turma. Para isso se faz
necessária a compreensão do conceito de dinâmica por ele obtido, utilizando-se de
recursos que favoreçam a empatia de todos. Lima (2009), diz que um indivíduo
apático ou não participante leva o grupo todo ao constrangimento e contribui para
desfazer a coesão grupal; por isso mesmo, a necessidade de um condutor capaz de
se condescender com os tidos mais humildes e a eles se achegar com um recurso
provável de diminuição de apatia.
A dinâmica de grupo precisa sempre de um condutor para que, de fato,
alcance o resultado esperado mediante aquilo a que se destina. No caso dos
envolvidos nesta investigação, os próprios professores são estes condutores da
dinâmica utilizada em cada momento. Para isso, necessário se faz que ele
apresente algumas habilidades específicas para tal, favorecendo o bom
desenvolvimento da dinâmica pretendida.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Depois da análise de dados referentes à conceituação/utilização da dinâmica
de grupo no processo de aprendizagem significativa na prática dos professores,
percebe-se que é preciso continuar explorando os dois conteúdos: aparatos e
essência da dinâmica. Isto deve ser feito numa via de interação mútua, pelo fato de
haver, ainda, um longo caminho a ser trilhado em torno de conceitos não
interpretados de maneira devida.
Na constante busca de significados para aquilo que deseja influir na
internalidade dos grupos e, posteriormente, na exterioridade pretendida, professores
se lançam nas metodologias que satisfaçam desejos tanto próprios quanto daqueles
que estão no território de formação proposta pela Escola, e, na consciência de que
os ditos “aprendizes” vêm de uma formação anterior, na célula familiar e possuem
uma estrutura cognitiva própria, lançam-se também nas verdades construídas ao
longo do tempo, pois sabem que os conceitos estão a todo tempo sendo
trabalhados, pois são representações de experiências sensoriais do indivíduo.
25
Neste contexto de conceituação e realização do fenômeno grupal em sala de
aula e a realização do momento dinâmico de apresentação de conteúdos e interação
dos participantes, pode-se perceber a práxis comunicativa do grupo (sala de aula)
como ambiente fortalecedor de laços e, consequentemente, transformador do
momento de aprendizagem significativa.
A dificuldade existente entre professores na condução de suas aulas se torna
elemento amenizado, pois o atrativo humano-material das técnicas, por ele
utilizadas, favorece a chegada de conteúdos com mais significação e formas
próprias de atrair a atenção dos alunos.
Este fazer dinâmico torna-se, por excelência, algo atrativo e contribui para o
aprofundamento e favorecimento da eficácia tão almejada no contexto da
aprendizagem; isto significa dizer que os professores trazem sua definição de
dinâmica de grupo pela prática e pelos resultados obtidos em sua realização.
REFERÊNCIAS
ESTÁCIO, M. M. S. Um olhar sociológico sobre a criança e o brincar. Coleção dissertações e teses do CCHLA-UFRN, Edufrn, 2011. 142 p. FREIRE, M. Educador, educa a dor. 4ª edição. Editora Paz e Terra. São Paulo, 2014 FREIRE, P. Educação e mudança. 15ª edição. Rio de janeiro. Editora Paz e Terra, 2009. GIL, A.C. Como elaborar Projetos de Pesquisa. São Paulo: Editora Atlas S.A, 2010. 5ª edição. 184 p. LIMA, L. O. Dinâmicas de grupo na empresa, no lar e na escola. Grupos de treinamento para a produtividade. 3ª edição. Editora Vozes, 2009. Petrópolis, RJ. MINICUCCI, A. A dinâmica de grupo: Teorias e Sistemas. 5ª edição, São Paulo: Atlas, 2002. MOREIRA, M. A. e MASINI, E. A. F. S. Aprendizagem significativa: a teoria de David Ausubel. São Paulo, Editora Moraes, 1982.
26
PERRAUDEAU, M. Estratégias de aprendizagem: como acompanhar os alunos na aquisição dos saberes/Michel Perraudeau. Tradução Sandra Loguercio – Porto Alegre: Artemed, 2009. 240 p. RAU, M. C. T. D. Educação Infantil: práticas pedagógicas de ensino e aprendizagem. Curitiba: intersaberes, 2012, 318 p. SANTOS, J. G. F. Aprendizagem significativa: Modalidade desde Aprendizagem e o papel do professor. 5ª edição, Porto Alegre, 2013. Editora Mediação, 96 p.
27
AVALIAÇÃO DO TRABALHO PEDAGÓGICO NA ÓTICA DOS PAIS E
RESPONSÁVEIS DA CRECHE FRANCISCA PEREIRA LUCIANO EM
PARELHAS-RN
MONTENEGRO, Rúbia Kátia Azevedo1
MARTINS, Marcela Tarciana Cunha Silva2 RESUMO
O artigo teve como objetivo identificar a importância da creche para a comunidade local e verificar se o trabalho educativo realizado na instituição atende ao que é esperado pelos pais. O desenvolvimento dos trabalhos pedagógicos da Creche Francisca Pereira Luciano para que destacássemos a instituição como espaço educativo, no município de Parelhas/RN. Para tanto, a pesquisa foi de campo, de forma descritiva, sendo utilizados métodos indutivo, monográfico e estatístico. Para a coleta de dados, a técnica de observação direta extensiva se fez necessária, utilizando como instrumento de pesquisa um questionário, contendo perguntas abertas e fechadas. Durante o desenvolvimento do trabalho percebe-se a importância da creche para a comunidade local, através da busca por matrículas e frequência assídua dos que já estão matriculados, destacando assim o trabalho educativo de excelência realizado na instituição e que é esperado pelos pais. Ao final, verificou-se que a creche é um espaço de socialização e interação, e tem como função cuidar e educar e que a mesma não substitui a família, logo as duas são instituições que se complementam e assim devem ser compreendidas. Constatou-se, ainda, que o trabalho educativo da creche deve criar condições para as crianças conhecerem novos sentimentos, valores, ideias, costumes e papeis sociais.
Palavras-chave: Creche. Aprendizagem. Interação. ABSTRACT
The article aimed to identify the importance of the childcare center for the local community and to verify if the educational work carried out at the institution meets what is expected by the parents. The development of the pedagogical works of the Childcare Center Francisca Pereira Luciano so that we could highlight the institution as an educational space, in the municipality of Parelhas / RN. For this, the research was field, descriptively, using inductive, monographic and statistical methods. For data collection, extensive direct observation technique was necessary, using a questionnaire as a research instrument, containing open and closed questions. During the development of the work, the importance of the childcare center for the local community is perceived, through the search for enrollments and the frequent attendance of those who are already enrolled, thus highlighting the excellent educational work carried out at the institution and which is expected by parents. In the end, it was found that the childcare center is a space for socialization and interaction, and has the function of caring and educating and that it does not replace the family, so the two are institutions that complement each other and thus must be understood. It was also found that the educational work of the childcare center must create conditions for children to know new feelings, values, ideas, customs and social roles. Keywords: Childcare center. Learning. Interaction.
1 Doutoranda em Ciências da Educação pela Veni Creator Christian University 2 Professora Orientadora Colaboradora da Veni Creator Christian University
28
INTRODUÇÃO
Ao longo dos últimos anos, tem crescido a consciência coletiva acerca das
necessidades educativas das crianças de zero a três anos de idade e as creches
têm se consolidado como tempo e espaço construído culturalmente para possibilitar
a ampliação das experiências, assim como o desenvolvimento das potencialidades
cognitivas, estéticas, sociais e relacionais da criança. A creche é, então, concebida e
valorizada por sua função formadora da criança como sujeito histórico e cultural.
Sabe-se que a educação infantil, primeira etapa da educação básica, tem como
finalidade o desenvolvimento integral da criança até seis anos de idade, entretanto o
que ocorre, algumas vezes, é que as instituições destinadas às crianças menores de
três anos, como, por exemplo, as creches, operam muito mais como abrigos de
crianças do que como instituições de ensino, não cumprindo efetivamente o seu
papel educativo (BRASIL, 2017).
O direito da criança à Educação Infantil está incluído no Inciso IV, do artigo
208, da Constituição Federal do Brasil (BRASIL, 1988, p. 89), o qual explicita que: "o
dever do Estado com a Educação será efetivado [...] mediante garantia de
atendimento em creches e pré-escolas às crianças de zero a seis anos". Este direito
é reafirmado no Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA, no artigo 53: “a
criança e o adolescente têm direito à educação, visando ao pleno desenvolvimento
de sua pessoa, preparo para o exercício da cidadania e qualificação para o
trabalho”.
A escolha do objeto de estudo é oriunda das indagações advindas do
cotidiano escolar, situações que diariamente são questionadas principalmente pela
sociedade, como um todo, sobre a importância da educação infantil nas instituições
escolares. Como professora da Educação Básica participamos dessa realidade
diariamente, o que possibilitou perceber que a educação infantil, primeira etapa da
educação básica, possui um papel indispensável na formação da criança e, por
outro lado também, que muitas instituições escolares, a família e toda a sociedade
em geral, ainda não compreendem a grande contribuição que a educação infantil
propicia para o desenvolvimento físico, mental, social, físico, criativo da criança
(BRASIL, 2017).
O artigo apresenta os autores pesquisados para dar aporte às ideias
referenciadas. Procura avaliar o trabalho pedagógico da Creche na ótica dos pais e
29
responsáveis, para o desenvolvimento social, emocional, físico, criativo e cognitivo
das crianças, destacando a importância da creche como espaço educativo.
Desta forma, compreendemos que investigar e pensar, em grande medida
organizar o espaço e os ambientes das creches é uma obrigação quando se
defende a garantia dos plenos direitos das crianças. Assim, a relevância desta
pesquisa está na possibilidade de compreender de forma ao mesmo tempo ampla e
minuciosa a dinâmica de funcionamento da Creche Francisca Pereira Luciano do
município, e na ação pedagógica da instituição de Educação Infantil, onde possamos
definir se o ambiente é um espaço educativo ou apenas um depósito para as
famílias deixarem suas crianças.
METODOLOGIA
Tendo em vista a natureza do objeto de investigação escolhido, quer seja
aspectos que identificam como a creche está inserida na comunidade em seu
entorno, cabe dizer que a abordagem da pesquisa, que busca uma melhor
compreensão da problemática estudada é quantitativa e qualitativa; isto “porque
acreditamos que para apreender com fidedignidade determinada situação é
necessário o uso tanto de dados estatísticos e quantitativos, como também da
obtenção e análise de dados qualitativos”, conforme destaca Gamboa e Goldemberg
(2007).
Quanto ao procedimento técnico é uma pesquisa de campo, desenvolvida
pelo método indutivo que, de acordo com Lakatos (2006), partindo de dados
particulares, suficientemente constatados, infere-se uma verdade geral ou universal,
não contida nas partes examinadas, ou seja, que fornece diversas informações
sobre o papel da creche na formação da criança.
O trabalho foi realizado na Creche Municipal Francisca Pereira Luciano,
fundada no ano de 1988, localizada à Rua Irene Bezerra Duarte, nº 473, bairro Cruz
do Monte, na zona sul do município de Parelhas-RN. É uma instituição mantida pelo
poder público e administrado pela Secretaria Municipal de Educação, funcionando
em prédio próprio, em horário integral.
Com relação aos objetivos, a pesquisa se classifica como descritiva, pois,
segundo Vergara (2007), tem como finalidade primordial a descrição das
características de determinada população ou fenômeno ou, então, o
30
estabelecimento de relação entre variáveis, isto é, descreverá as formas e
metodologias adotadas para conhecer a importância da creche como espaço
educacional.
O método de procedimento utilizado foi o monográfico, no qual realizou-se um
estudo com pais e responsáveis pelas crianças matriculadas na creche, com a
finalidade de obter as opiniões a respeito do objeto de estudo. Para Vergara (2007),
qualquer caso estudado em profundidade pode explicar outros ou todos os
semelhantes. Este método detalha o objeto da pesquisa que é a creche como
espaço educacional, o qual pode dar um direcionamento a futuras pesquisas. E o
estatístico que segundo Martins (2002), permite obter, de conjuntos complexos,
representações simples e constata se essas verificações simplificadas têm relações
entre si. Através dos dados em percentuais, pode-se medir a opinião dos
pesquisados sobre o tema proposto.
ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Iniciamos os estudos pelos alunos matriculados na Creche, que são
oriundos de diversos bairros, para tanto destaca-se os que residem no Bairro Ivan
Bezerra (46%), onde a creche está situada, e no Cruz do Monte (37%), Maria
Terceira (8%0, Centro (5%) e (1%) da zona rural.
A creche iniciou o ano letivo de 2019 com 121 crianças matriculadas
distribuídas em 05 (cinco) turmas, funcionando em tempo integral, das 07h30min às
16h30min, horário integral, com faixa etária distribuída de 07 meses a 03 anos e 11
meses, divididos em salas do Nível I, II e III. Com relação à sua estrutura física, a
instituição encontra-se em bom estado de conservação em virtude da recuperação
que é feita no início de cada ano letivo, e futuramente passará a funcionar em um
prédio do Proinfância, que está sendo construído próximo à Creche.
Na brinquedoteca há uma variedade de brinquedos, jogos educativos,
brinquedos de montar e de encaixe, fantoches, dedoches, aventais para contação de
histórias e quebra-cabeças. No entanto, a mesma não funciona atualmente por falta
de um profissional. A creche também dispõe de mais de 300 (trezentos) livros
paradidáticos. Todos estes materiais estão disponíveis para que possamos ofertar
os cuidados de educar, cuidar e brincar de nossas crianças. As salas de aula são
constituídas com material para os cuidados convenientes a cada nível de ensino.
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A creche conta com alguns recursos advindos da Prefeitura Municipal
através do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de
Valorização dos Profissionais da Educação (FUNDEB) como merenda escolar,
acervo literário e livro didático para o professor através do Programa Nacional do
Livro Didático (PNLD). É uma instituição mantida pelo poder público e administrado
pela Secretaria Municipal de Educação.
As crianças são advindas de famílias de classe baixa em que a maioria
ganha um salário mínimo, as mães são domésticas, costureiras, os pais serventes,
agricultores, marceneiros, mecânicos, pescadores, pedreiros, vigilantes e
trabalhadores das diversas cerâmicas existentes na nossa cidade. Com a ajuda da
direção da creche convidamos os pais e/ou responsáveis para a reunião de
explanação sobre o projeto e sua importância. Foi planejado um momento
descontraído com cartão de boas-vindas e chocolate, logo após exibiu-se slides com
atividades realizadas pelas crianças em sala para ilustrar os objetivos do projeto que
é entender se a creche é depósito de crianças ou espaço de desenvolvimento
infantil.
Com ajuda da pesquisadora, das professoras e da direção foi realizada a
aplicação do questionário com os pais e/ou responsáveis, na busca de coletar dados
pertinentes ao trabalho realizado na creche, sua importância para a família e como a
creche influência no desenvolvimento das crianças.
A partir dos questionários levantamos os dados, no tocante à renda familiar,
onde os pais se posicionaram da forma que está compilado os dados a seguir. Para
alcançar as referidas rendas, os pais disseram que trabalham em cerâmica, "bicos3",
diaristas, pescaria, manicure, pensionistas, dentre outras. No tocante a renda
familiar dos pais e/ou responsáveis pelas crianças, onde percebe-se que 67% vivem
com 1 (um) salário mínimo, 9% se mantem com uma renda maior que um salário
mínimo e, 24% sobrevivem com uma renda menor que um salário, o que remete aos
problemas sociais vivenciados pela sociedade atual.
Quanto aos dados do questionário social, vemos que a maioria 97% são do
gênero feminino e apenas 3% masculino. Prevalece a faixa etária entre 17 a 24 anos
(65%); seguida de 27% entre os 25 a 31 anos, sendo que 06% estão entre 32 a 38
anos e apenas 03% tem entre 39 a 45 anos. Quanto a religião, a que se destaca é a
3 Atividades remuneradas sem vínculo empregatício, autônomo.
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católica com 47% das pessoas, seguida da protestante com 44%, tendo apenas
02% de espíritas e 08% dizem não ter religião definida. O grau de escolaridade
oscila entre fundamental completo e ensino médio completo, sendo que 09% só tem
fundamental incompleto, 20% possuem fundamental completo, 31% com ensino
médio incompleto, 46% com ensino médio incompleto, destacando que apenas 02%
tem ensino superior completo e 02% com superior incompleto, o que denota a
realidade da educação brasileira.
Percebe-se que a grande maioria (97%) são de mulheres, o que relacionamos
a isso às mulheres serem as chefes de família, encabeçando os afazeres
domésticos e criação de filhos. Meira (2012) considera tais mudanças
correspondentes às transformações sociais e também ao surgimento do feminismo.
Confirmando essa concepção, o Documento Curricular do Rio Grande do Norte
(BRASIL, 2018) ressalta que os cuidados direcionados à criança somente pela figura
materna, vêm sendo contestados, pois esta tem a possibilidade de buscar cuidados
alternativos como a creche, por exemplo.
Um aspecto que chamou a atenção na pesquisa foi o fato de mães, mesmo
ocupando-se de atividades domésticas, optarem por colocar seus filhos na creche.
Isso corrobora a revisão teórica de Piccinin (2012) ao afirmarem existir um segmento
de mães que, mesmo não trabalhando fora do ambiente doméstico, buscam os
serviços da creche como meio de socialização para seus filhos.
Questionados sobre a quantidade de pessoas que moram em cada família,
percebemos que 50% das pessoas disseram que moram com 3 (três) pessoas, 48%
moram com 4 (quatro), outros 1% mora entre 8 (oito) a 10 (dez) pessoas. As famílias
contam com vários membros, condicionando a uma baixa renda per capita. Como
tantas outras instituições, a família é também produzida histórica e culturalmente,
modificando sua estrutura, sua função e seu significado social conforme a época e a
localidade. A esse respeito, Bock (2011, p. 248) postula:
Vamos percebendo que a família, como a conhecemos hoje, não é uma organização natural, nem uma determinação divina. A organização familiar transforma-se no decorrer da história do homem. A família está inserida na base material da sociedade ou, dito de outro modo, as condições históricas e as mudanças sociais determinam a forma como a família irá se organizar para cumprir sua função social.
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Já Lacan (2012) define família como a relação simbólica e estrutural que liga
as pessoas entre si num projeto de vida, e é como vemos as famílias atuais em
nosso meio.
Ao perguntarmos sobre a participação em Programas Sociais, 80% disseram
que recebem benefício e 20% não recebem. Segundo Barros (2011) o Brasil sempre
esteve entre os mais desiguais na distribuição de renda do mundo, ocupando o alto
do ranking das nações, contudo a partir do início dos anos 2000, apresenta evidente
progresso em seus indicadores econômicos e sociais, sobretudo em relação à
concentração de renda e pobreza, procedendo a uma significativa transformação em
suas características distributivas, sendo a desigualdade na distribuição de renda e
os seus prováveis resultados sobre a pobreza assunto de diversos estudos no
Brasil.
Para Rocha (2016), a extrema desigualdade na distribuição de renda
provoca uma dinâmica socioeconômica própria que a associa à persistência da
pobreza absoluta. Nos últimos anos nota-se uma conscientização por parte do
Governo e da Sociedade em relação ao cenário da desigualdade social e econômica
do país, compreendendo, portanto, para Camargo (2014) há uma necessidade
urgente de reverter essa situação, criando mecanismos de participação e controle
social, programas, projetos e ações que indique um movimento de transformações
positivas.
Quanto à assistência médica responderam, ainda, que 91% possuem cartão
do SUS (Sistema Único de Saúde), facilitando a assistência médica. O SUS é um
dos maiores sistemas públicos de saúde do mundo, sendo o único a garantir
assistência integral e completamente gratuita para a totalidade da população,
inclusive aos pacientes portadores do HIV, sintomáticos ou não, aos pacientes
renais crônicos e aos pacientes com câncer. A Rede Ambulatorial do SUS é
constituída por 56.642 unidades, sendo realizados, em média, 350 milhões de
atendimentos ao ano. Esta assistência estende-se da atenção básica até os
atendimentos ambulatoriais de alta complexidade (BRASIL, 2002).
Perguntamos se possuem casa própria ou alugada, percebemos que a
maioria dos pais vive em moradia própria. Sendo 60% tem casa própria, 36% casa
alugada/apartamento e 4% vivem em casa alugada. Todos moram na zona urbana
com exceção de uma família que mora na zona rural. Quanto ao acesso a internet,
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temos 95% famílias com acesso à rede mundial de computadores e apenas 5%
não tem acesso.
A Constituição Brasileira (1988) declara que todos têm direito, para si e sua
família, a uma habitação, entendida essa como um espaço físico de dimensão
adequada, em condições de higiene e conforto que preserve a intimidade pessoal e
a privacidade familiar. Não é apenas um direito subjetivo à moradia propriamente
dito, nem também é um direito subjetivo privado que permita a qualquer indivíduo
exigir do outro que lhe proporcione habitação, ou que lhe permita apropriar-se de
qualquer coisa alheia, ou, mesmo, ocupá-la. Por fim, não se configura como um
direito subjetivo público que justifique o comportamento de apropriação ou de
ocupação em relação ao Estado ou em relação aos imóveis do Estado.
O direito à moradia apenas integra um dever político imposto ao Estado no
sentido deste adotar providências tendentes à realização, à prestação do direito de
habitação própria, objetivo de cada cidadão.
Sobre os motivos de matricular a criança na creche, a grande maioria 69%
responderam que matricularam por causa do trabalho; 45% estudam e precisam
deixar os filhos na creche; 38% responderam que precisam realizar os afazeres
domésticos e deixam as crianças na creche para que possam realizar as tarefas;
28% dizem que deixam na creche para poderem dormir um pouco mais, para cuidar
dos avós que estão sob sua responsabilidade ou apenas porque se sentem
cansadas.
Perguntados sobre o trabalho pedagógico realizado na creche, 33%
responderam que o trabalho é bom; 69% acreditam ser ótimo e apenas 01% disse
ser regular o trabalho pedagógico desenvolvido na instituição. Compreendemos a
Educação Infantil como parte integrante e importante do processo de construção de
identidade, autonomia e até mesmo saberes. É nesse cenário onde as crianças
constroem suas experiências de vida, e é a partir da interação com outras pessoas
que elas aprendem a mostrar a que vieram, a compartilhar e a viver em sociedade,
utilizando o contexto educativo como um espaço de trocas e compreensões, e
evidenciando a importância do coletivo, relacionando-se e comunicando-se com o
mundo a sua volta.
É importante se reconhecer a relevância da creche como contexto coletivo de educação e, sobretudo compreender a criança como um ser social, cultural e histórico que possui uma trajetória e uma bagagem cultural, que
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vem se aprofundando desde o momento de seu nascimento e faz desta um ser social, sujeito de necessidades e desejos (COUTINHO, 2012, p. 23).
Portanto, é na potencialidade desse convívio e de diversas formas de
socializações que se proporcionam novas formas de crescimento e de vivências da
infância de forma plena e prazerosa de um ambiente que respeite sua singularidade
e torne-se significativo. Sabemos que os profissionais da educação precisam estar
qualificados para o segmento que trabalham. Cortella (2010) afirma que, para se
alcançar a qualidade social na educação, é preciso uma sólida base científica, capaz
de oferecer uma formação crítica de cidadania e desenvolver a solidariedade de
classe social. Uma escola orientada nessa perspectiva deve selecionar e apresentar
conteúdos que possibilitem aos alunos uma compreensão de sua própria realidade e
seu fortalecimento como cidadãos e, ao mesmo tempo, prepará-los para transformá-
la na direção dos interesses da maioria social.
Assim, os pais e/ou responsáveis veem diversas qualidades nas professoras
de seus filhos, onde as mais citadas foram: atenciosa 58%, prestativa 43%,
carinhosa e amável 48%, compreensiva 55%, comunicativa 30%, capacitada,
inteligente e amiga 14%.
A abordagem do papel da afetividade num contexto de desenvolvimento
integral da criança pretende, de modo geral, identificar a relação dos vínculos
afetivos socialmente construídos no contexto escolar e o sucesso de uma
aprendizagem mediada pelo adulto. Nota-se que,
o processo educacional não é um processo isolado; é constituído conjuntamente por professores e educandos na interação e com vínculo na afetividade, na participação, na cooperação de ambos, construindo-se e acomodando-se, assim, a aprendizagem (GIANCATERINO, 2017, p. 74).
Os procedimentos didáticos do professor expressam a forma com que ele
entende o processo de aprendizagem, bem como o papel dos alunos e os fatores
que mantêm influência nesse processo. O trabalho docente é carregado de uma
função social, pois, quando realizado competentemente, através de uma ação
mediadora, oportuniza ao aluno relacionar os acontecimentos e situações a sua
volta e buscar ações e atitudes que possam transformar o meio em que vive. Esse
processo reflexivo organiza a dimensão afetiva do ser humano ao possibilitar a
percepção de pertencer à realidade (MARINHO, 2017).
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Compreendemos que é necessário construir uma escola verdadeiramente
democrática, ou seja, que efetivamente assegure aos alunos a aprendizagem, e que
possua condições organizacionais e pedagógicas que possibilitem isso.
Destacamos como os pais e/ou responsáveis veem as qualidades da gestora da
instituição pesquisada. Assim, os pais e/ou responsáveis veem diversas qualidades
na gestora da instituição, onde as mais citadas foram: atenciosa 47%, prestativa
52%, carinhosa e amável 71%, compreensiva 63%, comunicativa 65%, capacitada,
inteligente e amiga 18% e 11% disseram que ela às vezes possui essas qualidades.
Compreendemos que é necessário construir uma escola verdadeiramente
democrática, ou seja, que efetivamente assegure aos alunos a aprendizagem, e que
possua condições organizacionais e pedagógicas que possibilitem isso.
Desse modo, considerando que o gestor escolar ocupa papel relevante no
dia a dia da escola, pois a ele cabe organizar o trabalho pedagógico que contribua
para uma aprendizagem efetiva por parte dos alunos bem como gestar as diversas
demandas impostas em relação aos aspectos administrativos, financeiros, humanos
das escolas da rede pública, entendemos ser necessário conhecer e analisar a
legislação que trata da sua atuação, bem como os programas e projetos que têm por
finalidade promover a formação do gestor escolar.
O índice de participação dos pais e/ou responsáveis nas reuniões realizadas
na instituição, sendo que 72% dizem que participam das reuniões, 19% dizem não
participar e 12% participam as vezes das reuniões. A reunião de pais é um
importante instrumento de aproximação entre a família do aluno e a escola, e é
fundamental para que os pais se aprimorem como educadores dos filhos e
compartilhem com os professores e outros pais, as dificuldades, desafios e soluções
da educação.
As escolas brasileiras realizam reuniões em determinados períodos do ano
para conversar com os pais sobre o desenvolvimento, comportamento e participação
em dos alunos em sala de aula. A Lei de Diretrizes e Bases nº 9.394/96, deixa clara
a importância da participação dos pais no ambiente escolar “a educação abrange os
processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana”.
A família como primeira instituição social formadora da criança, também é
responsável por promover o convívio social, o qual deve ter início no ambiente
familiar. É necessário que família e escola caminhem juntas, com interação mútua,
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buscando se adaptar às mudanças necessárias, para uma eficácia na educação e
no aprendizado.
Diante disso, os pais e/ou responsáveis questionam dias que não há aulas,
por diversos motivos, sendo alguns deles: morte de pessoa relacionada à creche ou
a educação da localidade, falta de material de consumo, água, merenda, professor
entre outros, sendo que 92% acham ruim quando não tem aula e 11% acha que
tanto faz não ter aula. Um dos aspectos fundamentais para a qualidade do trabalho
pedagógico na educação infantil é a rotina das crianças e adultos nas escolas
infantis, creche e pré-escola, pois, sabe-se da necessidade da sua existência na
organização da instituição, entretanto, esta não pode ser ‘rotineira’, vazia, sem
significado para as crianças de 0 a 5 anos (BRASIL, 2010).
Os resultados da percepção dos pais e/ou responsáveis sobre o
desenvolvimento físico, criativo, cognitivo, emocional da criança depois que
frequenta a creche. Nos primeiros três anos de vida a criança desenvolve
capacidades cognitivas devido ao interesse que manifesta pelo mundo que a rodeia
e à sua necessidade de comunicação (TAVARES et al., 2017). Por volta dos quatro
meses à criança já é capaz de se concentrar no que vê, toca e ouve, sem perder o
controle.
Aos dois anos a criança é capaz de ordenar e de guardar objetos pessoais,
de construir torres de sete cubos, de identificar três a cinco desenhos, de examinar e
de agarrar pequenos objetos. O egocentrismo Piagetiano (apud PAPALIA, 2011) é
uma das características presentes na criança da primeira infância, a criança desta
idade não tem capacidade para se colocar no ponto de vista do outro e não entende
a sua visão, pois a sua compreensão está centrada em si mesma.
O contexto de creche é um contexto privilegiado na promoção do
desenvolvimento da criança, salientando-se aqui o papel do educador de infância
como o principal responsável. Investir tempos de qualidade, estar disponível para as
crianças, respeitá-las enquanto pessoas e valorizar as suas formas de comunicação
únicas, são princípios educativos essenciais (PORTUGAL, 2010). É preciso
estabelecer uma relação de parceria entre escola e família, considerando que existe
uma relação de reciprocidade, uma vez que sem as crianças não há trabalho e, sem
este, não há a oferta dos serviços de educar, cuidar e brincar.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este trabalho analisou a contribuição da Educação Infantil da Creche
Francisca Pereira Luciano no município de Parelhas/RN, para o desenvolvimento
social, emocional, físico, criativo e cognitivo das crianças, destacando a importância
da creche como espaço educativo, como ficou claro nas respostas obtidas nos
questionários realizados durante a pesquisa.
A Creche Francisca Pereira Luciano é de grande importância para a
comunidade escolar já que muitos precisam deixar seus filhos para trabalhar ou
estudar, ou mesmo, para que essas crianças tenham oportunidades de desenvolver
seus vários aspectos de aprendizagem. Sabendo que o trabalho educativo da
creche é ainda melhor do que o esperado pelos pais e/ou responsáveis e o quanto
ao desenvolvimento social, emocional, físico, criativo e cognitivo das crianças é
realizado através do planejamento pedagógico das professoras junto ao apoio
pedagógico, favorecendo uma aprendizagem significativa aos discentes. Podendo
ser comprovado através dos relatórios das crianças registrados nos diários de
classe, confirmando assim que a creche proporciona o desenvolvimento dessas
habilidades propostas nos documentos norteadores da educação infantil.
A Creche referenciada vem superando muitos desafios, todavia ainda é
preciso ir além dos avanços teóricos e legais. Para ser colocado em prática são
necessários maiores cuidados específicos na educação infantil como: estrutura
apropriada nos municípios que permita fiscalizar o cumprimento da legislação e
planejamento curricular da creche; investimento na qualificação dos profissionais;
conscientização dos pais e comunidade quanto à importância de conhecer e
acompanhar o plano curricular das creches; e por fim disponibilizar materiais
apropriados e de qualidade para essa faixa etária da educação infantil.
Assim, podemos afirmar através desta pesquisa, que a Creche Francisca
Pereira Luciano nos dias atuais, não é apenas um depósito ou lugar para as
crianças de pais que não tem onde as deixar para suas inúmeras tarefas diárias, e
sim, um espaço de desenvolvimento infantil onde elas têm a oportunidade de
adquirir habilidades e competências adequadas a sua idade conforme expostas nos
documentos norteadores da Educação Infantil que é à base do planejamento
pedagógico das instituições.
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AFETIVIDADE E HUMANIZAÇÃO NAS SALAS DE AULA: Instrumentos necessários para a aprendizagem efetiva
Maria Verônica Borba da Silva1
Marcela Tarciana Cunha Silva Martins2 RESUMO O presente artigo expõe a dicotômica relação entre afetividade e aprendizagem a partir de um ambiente pedagógico democrático. Abordamos aqui de que maneira a gestão democrática é capaz de propiciar um universo afetivo dentro do processo de ensino e aprendizagem e as consequências dessa abordagem na vida do educando, assim como, na sociedade em que encontra-se inserido. Portanto, objetivou discorrer sobre a importância da afetividade dentro do processo de ensino aprendizagem, ressaltando a importância de um ambiente escolar democrático e considerando todas as partes envolvidas no processo de construção de conhecimento e cidadania do aluno. Foi realizada uma revisão literária relacionada com a afetividade, humanização e aprendizagem, a fim de verificar, nas discussões dos autores, como ocorre a interação entre os envolvidos no espaço escolar. A falta de afetividade em salas de aulas leva a formação de um ambiente desarmônico, de enfretamentos e de pouco aprendizado, pois o aluno não se sente motivado em assistir uma aula em que não foi criado um laço de afetividade e por sua vez o professor tende a demonstrar que o ensino é unilateral. É importante que o gestor, a escola e a educação, como um todo, sejam agentes transformadores, que participem de um processo humanizado de educação e não sejam apenas meros reprodutores de saber, pois a educação contribui também para a autoformação da pessoa ensinando-a como se tornar um cidadão. Palavras-chave: Afetividade. Gestão democrática. Gestão humanizada. ABSTRACT This article exposes the dichotomous relationship between affectivity and learning from a democratic pedagogical environment. We approach here how democratic management is capable of providing an affective universe within the teaching and learning process and the consequences of this approach in the student's life, as well as in the society in which he is inserted. Therefore, it aimed to discuss the importance of affectivity within the teaching-learning process, emphasizing the importance of a democratic school environment and considering all parties involved in the process of building the student's knowledge and citizenship. A literary review related to affectivity, humanization and learning was carried out in order to verify, in the authors' discussions, how the interaction between those involved in the school environment occurs. The lack of affection in classrooms leads to the formation of an unharmonious environment, of confrontations and little learning, as the student does not feel motivated to attend a class in which an affection bond has not been created and the teacher in turn tends to to demonstrate that teaching is unilateral. It is important that the manager, the school and education, as a whole, are transforming agents, who participate in a humanized process of education and are not just mere reproducers of knowledge, as education also contributes to the self-formation of the person teaching them how to become a citizen.
1 Mestranda da Veni Creator Christian University 2 Professora Orientadora Colaboradora da Veni Creator Christian University
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Keywords: Affectivity. Democratic management. Humanized management. INTRODUÇÃO
O presente artigo nos traz a reflexão da qualificação da interação que ocorre entre os
envolvidos no espaço escolar, numa abordagem que insere a afetividade como elemento
essencial ao processo ensino-aprendizagem. A humanização da escola é, ao mesmo tempo,
processo e produto, nascida e conquistada num projeto de determinação e lutas de educadores
transformadores. Como processo, é a ação diária nas escolas, nas aulas, nas reuniões, no
trabalho pedagógico, para fazer valer os princípios da igualdade, da convivência fraterna, da
reciprocidade, da solidariedade ativa, para a promoção de um mundo mais justo e humano. Como
produto, é o espaço novo da educação do homem ativo que aprendeu a viver junto aos seus
semelhantes, na empreitada da formação e da produção social.
Humanizar é ter um olhar atento ao próximo e na sala de aula é perceber que o aluno e suas
particularidades, inquietações. Segundo Trentin (2014, s/p): “Humanizar é tornar-se humano,
adquirir novos hábitos mais apropriados sob o prisma da ética e da moral distanciando-se da
ignorância, estupidez, desamor... É educar-se sendo mais benévolo, enfim, evoluir o “eu espírito”.
Para Bazzara (2006, p. 8) humanizar é acreditar nas potencialidades dos alunos:
Humanizar é crer, é confiar no ser humano. É estar disposto, permanentemente, engrandecendo em todos e em cada um de nossos alunos, a globalidade de suas potencialidades, isto é, aumentar neles o potencial de inteligência, de sensibilidade, de solidariedade e de ternura que se esconde em sua humanidade.
Segundo Paulo Freire é necessário educar a partir de uma prática humanizadora e a escola
deve e pode gerir essa prática para que o aluno desenvolva sua potencialidade. Dessa forma o
referido autor ressalta que:
O sonho pela humanização, cuja concretização é sempre processo, e sempre devir, passa pela ruptura das amarras reais, concretas, de ordem econômica, política, social, ideológica etc., que nos estão condenando à desumanização. O sonho é assim uma exigência ou uma condição que se vem fazendo permanente na história que fazemos e que nos faz e refaz. (FREIRE, 2001, p. 99)
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Humanizar é acolher e tornar o humano mais humano. A escola precisa ser referência de
esperança e humanização. Percebemos, a partir da análise do referencial teórico, que esse
processo afetivo depende do meio em que está inserido para se consolidar e este deve ser um
ambiente escolar democrático, pois, a gestão e suas práticas administrativas não acontecem de
forma isolada, estão contextualizadas de acordo com as condições históricas nas quais vivem a
sociedade, fazendo-se necessário que o gestor esteja engajado, atento a todos os aspectos que
envolvem a gestão escolar, tanto os administrativos quanto os pedagógicos para que atinjam sua
principal finalidade a formação de seres humanos, propiciando que estes se apropriem da cultura
e dos conhecimentos produzidos pela sociedade.
Segundo Lacerda (2011), ter foco no pedagógico, saber trabalhar em equipe, comunicar-se
com eficiência, identificar a necessidade de transformações e estimular a promoção da
aprendizagem dos profissionais que trabalham são algumas das competências que um gestor
deve ter.
Uma escola em que a equipe gestora oferece condições organizacionais, pautadas em
princípios operacionais e pedagógicos, que favoreçam um bom desempenho de professores e
alunos e que fortaleça a afetividade em sala de aula, tende a obter sucesso na aprendizagem dos
alunos. Cunha (2010, p.41) acredita que “a escola é um lugar privilegiado para a socialização,
onde as relações afetivas possuem substancial valor. O aluno possui a necessidade de conviver,
estabelecer relações, adquirir conhecimento”. É na escola que a criança tem a oportunidade de
socializar mais, criar laços afetivos com outras crianças, com os professores e com a própria
escola.
A afetividade nas relações estabelecidas no contexto escolar entre professor e aluno são temas discutidos e analisados há muitos anos por vários estudiosos que acreditavam ter nesse sentimento a chave para uma educação eficaz e duradoura, capaz de transformar os indivíduos e torná-los, consequentemente, cidadãos preparados para conviver com as adversidades do mundo (MEDEIROS, 2017, p. 1166).
Diante dessa sociedade contemporânea, com fortes mudanças e desafios que faz com que
famílias e escolas se distanciem, pois muitas vezes os pais precisam trabalhar em mais de um
emprego para o sustento da família, as crianças ficam, dessa forma, desassistidas e isso reflete
nos resultados dos processos avaliativos. Assim, questiona-se: De que forma a afetividade e a
humanização nas salas de aula podem contribuir para uma aprendizagem efetiva? Acredita-se
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que um olhar diferenciado, humano e atento a realidade do educando poderá contribuir para uma
aprendizagem efetiva, uma vez que ficará mais a vontade para expor suas dificuldades e
limitações.
Mediante exposto esta pesquisa bibliográfica, apresenta relevância por informar as
concepções de diferentes autores sobre a afetividade e humanização nas salas de aulas e assim
analisar seus efeitos e implicações na prática educativa. Além disso, contribui para novas
possibilidades investigativas a partir das contextualizações dos pesquisadores da área. A escola é
um espaço de socialização de saberes e enfrenta diversos desafios, que precisa de reais
mudanças a fim de mostrar que seu papel é de formar sujeitos críticos, ativos, participativos e
conhecedores de seus direitos e deveres. Portanto, a educação é direcionada para a cidadania e
não para individualidades e competições. Contudo, é necessário que exista uma relação entre
professor e aluno pautada no respeito, com motivação, pois só assim haverá êxito nos objetivos
propostos pela escola, que seriam o desenvolvimento integral dos educandos.
Nessa perspectiva, objetivo deste artigo foi discorrer sobre a importância da afetividade dentro
do processo de ensino aprendizagem, e ressaltar a importância de um ambiente escolar que seja
democrático esse espaço afetivo, sabendo considerar todas as partes envolvidas no processo de
construção de conhecimento e cidadania do aluno.
A IMPORTÂNCIA DA AFETIVIDADE NO PROCESSO DE APRENDIZAGEM
A falta de afetividade em salas de aulas leva a formação de um ambiente desarmônico, de
enfretamentos e de pouco aprendizado, pois o aluno não se sente motivado em assistir uma aula
em que não foi criado um laço de afetividade e por sua vez o professor tende a demonstrar que o
ensino é unilateral. Por opção ou vocação, se incubem em ser artifício promovedor da
aprendizagem ao longo dos tempos, mas se apresentam sem paixão pelo ofício pela arte de
compartilhar ou até mesmo em fazer parte da história da vida dos seus alunos. É perceptível de
forma clara e precisa que alguns posicionamentos por parte de alguns professores na falta de
afeto para com os seus discentes, que absorto em atribuições que generalizam a sua arte de
ensinar, coloca em risco democraticamente a evolução coletiva do processo. É inquietante a
premissa de que o tecnicamente correto desfavoreça o conjunto da coletividade. Em cumprimento
ao que foi forjado ao longo período formador do professor, de forma claramente estampada no
exercício, não foi instigado ferozmente à proporcionalidade do sentimento.
45
Para Bonfim:
Se a educação não conseguir promover a construção do conhecimento por meio do afeto, do respeito às dificuldades e aos sentimentos do aluno, não será à base do autoritarismo e do castigo que formará cidadãos coerentes. Pois o afeto entre educador e educando é como uma semente lançada em terra fértil: germina numa rapidez surpreendente e produz frutos de qualidade (2010, p. 9).
A falta de afetividade prejudica diretamente o discente, pois é através do afeto que
sentimentos como: confiança, respeito, admiração e autoestima são construídos e esses
sentimentos são capazes de despertar no aluno o prazer em estar na escola, o prazer em
aprender. Segundo Bonfim, o autoritarismo e os castigos podem afetar o aluno de forma negativa,
pois inibiria esse desejo de frequentar a escola, dificultando assim sua aprendizagem.
Numa releitura dos pressupostos da abordagem histórico-cultural, assume-se que as
relações que se estabelecem entre o sujeito (aluno) e os objetos do conhecimento (conteúdos
escolares) são marcadamente afetivos, sendo que sua qualidade (aversiva ou prazerosa)
depende, no mesmo sentido, do processo de mediação vivenciado pelo aluno, em sala de aula –
onde se destaca o trabalho pedagógico do professor (Wallon, 1968; 1989; Vygotsky, 1998).
Objetivando a análise das dimensões afetivas identificadas nas práticas pedagógicas e a
partir de dados sobre a história de vida de crianças, adolescentes e jovens, pretendia-se identificar
as experiências afetivamente marcantes do trabalho pedagógico de professores considerados
inesquecíveis, e suas possíveis implicações. Wallon (1968; 1989) e Vygotsky (1998) enfatizaram
a íntima relação entre afeto e cognição, superando a visão dualista de homem. Além disso, as
ideias dos dois autores aproximam-se no que diz respeito ao papel das emoções na formação do
caráter e da personalidade: quando a mente vê, o corpo sente. Criar uma imagem mental
enquanto professor oportuniza de forma dimensional o favorecimento do exemplo a ser seguido,
isso encanta o aluno, e propicia ao interlocutor (professor, mediador e facilitador da aprendizagem)
o embasamento necessário na construção pluralizada do cognitivo do aluno aprendiz.
Saltani reforça os pensamentos de Wallon e Vygotsky quando afirma que:
O professor (educador) obviamente precisa conhecer a criança. Mas deve ser conhecida não apenas na sua estrutura biofisiologica e psicossocial, mas, também, na sua interioridade afetiva, na sua necessidade de criatura que chora, ri, dorme, sofre e busca constantemente compreender o mundo que a cerca, bem como o que ela faz na escola (1997, p. 73).
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É necessário estabelecer uma relação intima e amigável com o aluno, pois, embora o
compromisso maior da escola esteja ligado à transmissão de conhecimento, percebemos que “as
relações afetivas se evidenciam, pois a transmissão do conhecimento implica, necessariamente,
uma interação entre pessoas. Portanto, na relação professor-aluno, uma relação de pessoa para
pessoa, o afeto está presente" (Almeida, 1999, p. 107), mas, para que essa relação torne-se real,
o docente precisa encontrar na escola um ambiente que propicie essa ligação, pois
a democratização começa no interior da escola, por meio da criação de espaços nos quais professores, funcionários, alunos, pais de alunos etc. possam discutir criticamente o cotidiano escolar. Nesse sentido, a função da escola é formar indivíduos críticos, criativos e participativos [...] (OLIVEIRA; MORAES; DOURADO, 2012, p. 10).
Desta forma, embora alguns professores ainda acreditem que no âmbito acadêmico seu
papel é excluir as emoções do processo educacional, julgamos que isso é um engano, pois não
se deve considerar uma pessoa apenas como ser racional. A afetividade e o
ensino-aprendizagem é uma influência favorável na relação professor-aluno-objeto de
conhecimento, pois essa relação pode minimizar o fracasso escolar por falta de apoio nas
dificuldades que a vida impõe. Freire (1996, p. 141) já defendia a relação entre a afetividade e a
construção do conhecimento, descartando, como falsa, “a separação radical entre seriedade
docente e afetividade”. Para o autor, o fazer docente é uma junção entre decisões científicas e
políticas no que concerne à educação, mas essas decisões não estão isentas da influência de
emoções. Nesse contexto, Medeiros (2017, p.1166) ressalta que:
A afetividade torna-se, sem dúvida, um dos fatores relevantes na prática pedagógica do professor, pois facilita e contribui para a aprendizagem dos alunos e deixa o professor mais seguro diante de sua turma, que o respeitará e devolverá em troca absolutamente tudo que receber de seu professor: seja algo bom, seja algo ruim, pois os alunos costumam ter seu professor como exemplo a ser seguido. Assim, o papel da afetividade na relação professor e aluno e sua implicações na aprendizagem for baseada na afetividade, obviamente, tanto o professor como os alunos terão mais facilidade de construir valores essenciais para uma boa convivência em sociedade e de entendimento das diferenças comuns a todo ser humano.
Mediante exposto, compreende-se que a afetividade é um fator significativo no
desenvolvimento da criança, e que deve ser revista dentro da sala de aula e no contexto escolar,
pois a ausência desta pode resultar no fracasso escolar.
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A GESTÃO DEMOCRÁTICA COMO FACILITADORA DE UMA APRENDIZAGEM MAIS
HUMANA
A gestão escolar democratizada é um ícone que alicerça o desempenho apoiador no
fortalecimento da afetividade entre o olhar humanizado do professor em sala de aula, para isso,
ela deve estar integrada a todo o ambiente escolar, tendo, em suas atitudes e posturas, um ponto
de vista que leve em consideração aspectos que considerem o humano, o social, o educativo das
relações pessoais e levem em consideração, também, a afetividade. Segundo Bosi (2000, p.
84-85) o olhar do gestor deve ser:
Um olhar ativo, de um prestar atenção [...] é muito importante prestar atenção no outro, em seus saberes, dificuldades, angústias, em seus momentos em fim, um olhar atento, sem pressa, que acolha as mudanças, as semelhanças, e diferenças, um olhar que capte antes de agir.
Essa afirmação pressupõe que é necessário saber ouvir, no sentido, de saber se colocar no
lugar do outro e tudo isso está presente na afetividade, isso nos leva a uma reflexão sobre o papel
do gestor escolar como agente humanizador, não apenas numa perspectiva democrática, mas
numa direção que possa superar a situação desumanizante que muitas vezes se pode observar
nos projetos políticos pedagógicos.
Por muito tempo no Brasil a gestão educacional esteve embasada na premissa administrativa
empresarial. As produções acadêmicas buscam a superação desse enfoque, ou seja, se tem
olhado para a gestão escolar como um conceito novo, assentado sobre a idealização e prática
mobilizadora do humano como sujeito coletivo e edificador de estratégias de gestão mais
humanizadas e humanizadoras. Para Luck (2006, p.43) “a gestão permite superar a limitação da
fragmentação e da descontextualização e construir, pela óptica abrangente e interativa, a visão e
orientação de conjunto, a partir da qual se desenvolvem ações articuladas e mais abrangentes”,
ou seja, é ela a responsável por fazer com que todos os envolvido com o processo da educação:
gestores, coordenadores, pais e alunos, sintam que seus interesses estão sendo levados a sério e
que sua participação é significativa para o meio. Luck fortifica essa ideia ao afirmar que:
O desempenho de uma equipe depende da capacidade de seus membros de trabalharem em conjunto e solidariamente, mobilizando reciprocamente a intercomplementalidade de seus conhecimentos, habilidades e atitudes com vistas a realização de responsabilidades comuns. Em essas condições, de pouco
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adiantaria o talento de pessoas nelas atuantes, uma vez que pessoas talentosas nem sempre formam esquipes talentosas. (2006, p. 97)
O trabalho em equipe é fundamental para o bom desenvolvimento escolar, por isso, a escola
precisa de um gestor que mobilize o conjunto e o faça se desenvolver com harmonia, para isso, é
importante que o gestor tenha consciência de sua responsabilidade, estando apto a novos
desafios, sendo o sujeito que atue e promova momentos de reflexão. Além disso, deve estar
aberto ao diálogo e, principalmente, estabelecendo metas e estratégias que visam a participação
de todos os envolvidos no ambiente escolar para que educação seja humanizadora. Segundo
Matos:
As atitudes, os conhecimentos, o desenvolvimento de habilidades e competências na formação do gestor da educação são tão importantes quanto a prática de ensino em sala de aula. No entanto, de nada valem estes atributos se o gestor não se preocupar com o processo de ensino/aprendizagem na sua escola. Os gestores devem também possuir habilidades para diagnosticar e propor soluções assertivas às causas geradoras de conflitos nas equipes de trabalho, ter habilidades e competências para a escolha de ferramentas e técnicas que possibilitem a melhor administração do tempo, promovendo ganhos de qualidade e melhorando a produtividade profissional. O Gestor deve estar ciente que a qualidade da escola é global, devido à interação dos indivíduos e grupos que influenciam o seu funcionamento. (2012, s/p).
É o gestor que possui a dialogicidade dentro do meio escolar, por está direto e indiretamente
ligado a todos os âmbitos, ele é capaz de revelar as qualidades e precariedades da escola, logo,
ele tem condições, e deve ter habilidade para promover atividades que superem os empasses
que surgem no processo de desenvolvimento de sua escola, segundo Luck:
O gestor deve incluir, criar e comunicar uma visão compartilhada, ganhar a confiança e o comprometimento organizacional , utilizar as competências da organização, desenvolver as equipes da organização e motivá- las. O líder participativo envolve os outros e compartilha a liderança com a comunidade escolar (2012, p. 30).
O gestor educacional possui uma visão geral e ampla da eficiência da escola. Ele integra
setores, para que o planejamento das atividades tenham resultados satisfatórios. Através dele é
possível perceber se sua escola terá uma equipe que desenvolve sentimentos positivos, a
exemplo de respeito e confiança. Segundo Libâneo (2004, p. 217):
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Muitos dirigentes escolares foram alvos de críticas por práticas excessivamente burocráticas, conservadoras, autoritárias, centralizadoras. Embora aqui e ali continuem existindo profissionais com esse perfil, hoje estão disseminadas práticas de gestão participativa, liderança participativa, atitudes flexíveis e compromisso com as necessárias mudanças na educação.
É fundamental que o gestor educacional atenda ao multiculturalismo da sociedade
contemporânea e que além de administrar suas ações, saiba respeitar as diferenças, dialogar,
ouvir e aceitar opiniões contrárias às suas. Sendo assim, a gestão democrática pressupõe, de
acordo com Ferreira (2004, p.1242):
Respeito, paciência e diálogo como encontro de idéias e de vidas “única forma superior de encontro” dos seres humanos, os únicos seres vivos que possuem esta condição e possibilidade e que não a utilizam. [...] Diálogo como uma generosa disposição de abrir-se ao “outro” que irá “somar” compreensões convergentes ou divergentes no sentido da construção da humanização das relações. [...] Diálogo como a verdadeira forma de comunicação humana, na tentativa de superar as estruturas de poder autoritário que permeiam as relações sociais e as práticas educativas a fim de se construir, coletivamente na escola, na sociedade e em todos os espaços do mundo, uma nova ética humana e solidária. Uma nova ética que seja o princípio e o fim da gestão democrática da educação comprometida com a verdadeira formação da cidadania.
A escola como espaço educativo Os estudantes necessitam aprender a viver em grupos, o que exige cuidados específicos
consigo, com o meio e com os outros, no que se refere ao estudo, à aprendizagem, ao
cumprimento de suas tarefas. Participar da gestão democrática da escola significa usar o espaço
escolar como um recurso de educação para todos, comunidade, pais, professores e estudantes,
na perspectiva do “aprender a viver juntos”, de tal forma que os espaços públicos e particulares
possam ser respeitados, de “modo ativo”, ou seja, no sentido de agir a favor de um modo mais
satisfatório de vida para todos.
O que mais caracteriza a escola é ela ser um espaço educativo, o que implica do seu ponto
de vista, que é mais importante que seus membros aprendam a viver e responsabilizasse
democraticamente do que exerçam uma administração democrática. Em última instância,
exercitar a gestão democrática na escola é uma forma de ensinar e aprender. Conforme afirma
Luckesi (p. 15, 2007): “A própria sala de aula é um lugar de gestão e, principalmente, de
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aprendizagem da gestão democrática, não só da escola, mas da vida. Exercitar a gestão
democrática na escola é uma forma de ensinar e aprender”.
Hoje, em termos de humanidade, após termos passado por muitas peripécias,
compreendemos que o fundamento da ética tem a ver com a relação conosco mesmos, com o
outro e com o meio ambiente, em conjunto. O respeito ativo (participativo) em relação a nós
mesmos, ao outro e ao meio ambiente é que dá base para uma ação eticamente adequada. Isso
significa cuidar de nós mesmos, simultaneamente, cuidando do outro e do meio onde vivemos. O
que leva a ter presente que eu, o outro, o grupo e o meio são elementos fundamentais a serem
considerados para que nossa conduta ética seja adequada. Não importa ter presente somente o
eu, somente o outro ou somente o grupo, ou somente o meio ambiente, mas, ao mesmo tempo, o
eu, o outro, o grupo e o meio ambiente. Dessa forma, “o mais importante na vida escolar não é o
ganhar ou o perder, mas o aprender a ser e o aprender a viver juntos, para o bem-estar de si
mesmo e do outro, com qualidade” (LUCKESI, 2007, p. 15).
Existem coisas óbvias às quais devemos estar atentos em nossa prática de educar para o
bem de si, dos outros e do meio, tais como: conservar o espaço físico, conservar a limpeza, cuidar
dos jardins (quando eles existem); não apelidar os outros, não desqualificar os outros para
parecermos melhor que eles.
Há experiências que são menos óbvias e que podem e devem ser cuidadas para que a
gestão democrática e participativa chegue à escola, como meio de aprendizagem. A primeira
delas é “professor ensinar bem e educando estudar bem”. Essa é uma experiência revolucionária,
na medida em que ensinar bem significa, do lado do educador, estar comprometido com o
educando em sua necessidade de aprender; significa não abrir mão dele na primeira dificuldade
com a qual se depare, no primeiro impasse, no primeiro resultado insatisfatório; ao contrário,
significa investir nele, de tal forma que efetivamente ele aprenda, na medida em que, na escola, o
que importa é aprender. Sobre isso, Canário (2006, p. 34) afirma: “o bom professor precisa ter
disponibilidade para saber escutar os alunos e, assim, aprender com eles”, Voltamos a observar
aqui nesse trabalho, que a tarefa está longe de ser simples e fácil e se faz necessário muito mais
que força de vontade, precisa comprometimento, amor e zelo pelo que se faz.
Por outro lado, o educando necessita aprender que “qualquer coisa” não serve como
expressão de uma efetiva e qualitativamente significativa aprendizagem; necessita aprender que
professor (a autoridade) não tem o direito de dispensá-lo de suas tarefas, que necessitam ser
realizadas com a melhor qualidade possível, pois, segundo Farfus (2011, p. 32): “Cada pessoa é
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responsável por um pequeno espaço que forma a teia social e, à medida que uma dessas
pessoas não estiver em sintonia com as outras, o sistema todo fica desalinhado, desequilibrado”,
logo, todo e qualquer estudante tem direito ao conhecimento.
Uma escola é o que são seus gestores, os seus educadores, os pais dos estudantes, os
estudantes, e a comunidade. A “cara da escola” decorre da ação conjunta de todos esses
elementos. E isso tudo ultrapassa eleições para os gestores e as Comissões decisórias que
possam ser estabelecidas na escola. Essas atividades são importantes, mas irrisórias diante do
que se pode fazer educativamente para a cidadania (experiência de cuidar de si, do outro e do
meio, ao mesmo tempo). Gerir democrática e participativamente a escola significa usar de todas
as oportunidades que ela oferece tanto para realizar práticas quanto para aprender condutas com
elas. Mais importante do que os resultados práticos imediatos da gestão democrática é a
aprendizagem para a vida pessoal e social. Afinal, a escola não é uma oficina produtiva, mas sim
um lugar de aprendizagem e desenvolvimento. O mais importante na vida escolar não é o ganhar
ou o perder, como ocorre na política partidária ou na vida cotidiana da sociedade; porém, sim, o
aprender a ser e o aprender a viver juntos, para o bem estar de si mesmo e do outro, com
qualidade.
Abdian e Oliveira (2013) mencionam que a escola devem conter novas práticas escolares e
que apresentem um papel transformador nas relações que medeiam as pessoas, instituindo,
dessa forma, novas concepções e novas relações para um novo ideal de constituição social.
Nesse processo, o educador tem um papel fundamental de estar ajudando os pais, a
comunidade, a si mesmo e aos educandos a agirem, cada vez mais de forma adulta, ou seja,
sem lamúrias, mas na busca de soluções efetivas. Nesse processo, necessitamos ter claro que
“acender um fósforo” é mais significativo que “lamentar a escuridão”. A lamentação não ajuda a
arredar um pé do lugar; o que ajuda é tomar a realidade em nossas mãos e agir a partir dela e
com ela, na busca de soluções. Para Farfus:
As competências necessárias para o desempenho da função de pedagogo estão cada vez mais refinadas, não basta apenas o domínio de conteúdos correlacionados à área educacional, mas é fundamental, também, o conhecimento de gestão de pessoas e gestão organizacional, a fim de que seja possível o bom desempenho da função (2011, p. 82).
Logo, o papel do professor não deve se condicionar apenas a transmissão de conceitos,
mas o de transformador de conhecimentos em objetivos, deve ser mediador e instigador de
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curiosidades, deve estimular seu protagonista. Neste cenário, Farfus (2011, p. 82) enfatiza
que:
As competências necessárias para o desempenho da função de pedagogo estão cada vez mais refinadas, não basta apenas o domínio de conteúdos correlacionados à área educacional, mas é fundamental, também, o conhecimento de gestão de pessoas e gestão organizacional, a fim de que seja possível o bom desempenho da função.
O papel do professor não está condicionado ao que sabe, pois vai muito mais além do
que transmitir de conceitos. Seu papel é ser mediador e instigador dos conhecimentos trazidos
pelo educando, de forma que consiga construir, na sua sala de aula, um ambiente de
socialização e organização de conceitos. De acordo com a CEDAC (2013, p. 59):
Em uma escola pode não haver biblioteca, refeitório ou laboratório, mas a sala de aula sempre existirá, pois é o coração da vida escolar. Entretanto não basta sua simples existência: é necessário que seja organizada para potencializar a aprendizagem de todos e para construir uma identidade positva de estudantes que pensam e constroem saberes.
A valorização dos conhecimentos prévios dos alunos é considerada uma estratégia
motivacional e que desperte, cada vez mais, o interesse dos alunos pelos conteúdos e pela
busca de saberes. Sobre isso, Canário (2006, p. 34) afirma que: “o bom professor precisa ter
disponibilidade para saber escutar os alunos e, assim, aprender com eles”.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Discutir Gestão democrática é pensar na relevância social desse processo, é acreditar em
uma escola construída a partir do coletivo, e de um coletivo com propósitos honestos,
responsáveis e democráticos que visam o bem e o desenvolvimento da mesma. Entretendo, ficou
claro a partir de nossa análise teórica, que buscar uma escola democrática é um processo que
requer bastante autonomia escolar, já que o enfatiza a descentralização de poder. O gestor, os
professores e todos os envolvidos devem estar conscientes de que a educação não é meramente
uma reprodução de conhecimentos engessados, é um processo muito mais amplo que requer
envolvimento também afetivo, pois como vimos no inicio do artigo, é o afeto que move o
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conhecimento, cuidar da escola, gostar da escola e se envolver com ela é fator primordial para o
aprendizado. Esse cuidado deve fruir em todos os componentes do meio escolar, só assim
teremos uma escola humana, que valoriza o aluno como homem/ser e não como uma máquina
reprodutora de conhecimentos.
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PERCEPÇÃO DOS PROFESSORES SOBRE LEITURA E PRODUÇÃO
TEXTUAL NOS ANOS FINAIS DA ESCOLA DAURA RIBEIRO EM PEDRO
REGIS-PB
RODRIGUES, Marilene1 MARTINS, Marcela Tarciana Cunha da Silva2
RESUMO
O presente artigo teve como objetivo verificar como está sendo desenvolvida a prática docente do componente curricular de Língua Portuguesa, referente ao trabalho com os gêneros textuais na perspectiva multimodal, na Escola Daura Ribeiro da Silva, no município de Pedro Régis/PB. Foi realizada uma pesquisa descritiva, de campo e com abordagem qualitativa. Como instrumentos de coleta de dados optou-se pela aplicação de questionários para os professores, para identificar como está sendo desenvolvida a prática pedagógica dos docentes. Constatou-se, de acordo com os docentes, que há alguns entraves na disciplina Língua Portuguesa: falta de leituras dos discentes, dificuldades de interpretar e produzir textos coerentes por falta de conhecimentos prévios, e por não ter entendimento de gramática nos aspectos de concordância, pontuação, ortografia, coesão e coerência. Para tanto é necessário uma política educacional voltada para esse aspecto, viabilizando uma formação continuada dos docentes, fornecendo recursos para que eles viabilizem um estudo com os discentes, na perspectiva de leitura e produção textual, para que os educandos sejam bons leitores e produtores de textos em todas as modalidades. Assim se faz necessário o ensino da leitura a partir de uma abordagem estratégica, proporcionando situações de interação entre texto e leitor na perspectiva de uma boa produção textual.
Palavras- chave: Gêneros multimodais. Leitura. Produção textual.
ABSTRACT This article aimed to verify how the teaching practice of the Portuguese Language curriculum component is being developed, referring to the work with textual genres in a multimodal perspective, at the Daura Ribeiro da Silva School, in the municipality of Pedro Régis / PB. A descriptive, field research with a qualitative approach was carried out. As instruments of data collection, we chose to apply questionnaires for teachers, to identify how the pedagogical practice of teachers is being developed. It was found, according to the teachers, that there are some obstacles in the Portuguese language discipline: lack of readings by the students, difficulties in interpreting and producing coherent texts due to a lack of prior knowledge, and for not having an understanding of
1 Doutora em Educação pela Veni Creator Christian Unuversity, Flórida, USA. 2 Professora Orientadora Colaboradora da Veni Creator Christian University
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grammar in the aspects of agreement, punctuation, spelling, cohesion and coherence. Therefore, it is necessary an educational policy focused on this aspect, enabling the continuous training of teachers, providing resources for them to enable a study with students, in the perspective of reading and textual production, so that students are good readers and producers of texts. in all modalities. Thus, it is necessary to teach reading from a strategic approach, providing situations of interaction between text and reader in the perspective of a good textual production. Keywords: Multimodal genres. Reading. Text production
INTRODUÇÃO
Nos dias atuais percebemos que a leitura e, consequentemente, uma
eficaz produção textual estão se tornando uma prática defasada nas nossas
escolas, os alunos parecem não gostar de ler e encaram a leitura de um texto
ou livro como, muitas vezes, um castigo. Diante dessa realidade há a
necessidade de repensar a metodologia aplicada, visando uma educação de
qualidade.
O professor deve compreender que ensinar exige várias competências e
saberes. “O educador democrático não pode negar-se o dever de, na sua
prática docente, reforçar a capacidade crítica do educando, sua curiosidade,
sua insubmissão” (FREIRE, 2011, p. 28). Isso requer que o professor seja
também um sujeito crítico, nutrido de habilidades e conhecimentos, para
aguçar a curiosidade do educando e satisfazê-la.
Ensinar implica em termos respeito e tolerância ao conhecimento dos
educandos, ter humildade ao conhecimento que possuímos, acreditar que a
mudança é possível e buscar meios para que ela se concretize. Nesses termos
se faz necessário que o educador ministre suas aulas, e que as mesmas
possam tornar os educandos sujeitos letrados, capazes de interagir
socialmente através das práticas sociais que segundo Soares (2010), o
surgimento de novos termos faz parte da necessidade que a sociedade tem
para nomear coisas e objetos para que realmente eles existam, assim, a
palavra “letramento” nasceu para caracterizar aquele que sabe fazer uso do ler
e do escrever, que responde às exigências que a sociedade requer nas
práticas de leitura e de escrita do cotidiano.
57
Na concepção de um Letramento que possa contribuir com o
desenvolvimento dos educandos, buscamos suporte teórico através dos
gêneros textuais presentes em nossa vida que são muitos e conceituamos
através dos estudos de muitos estudiosos que se dedicaram a esta temática
dos quais destacamos o renomado Bakhtin (2000) quando diz que gêneros são
tipos relativamente estáveis de enunciados e a riqueza e variedade dos
mesmos são infinitas e com a necessidade e a evolução da tecnologia, os
gêneros vão surgindo de uma forma inovadora e que precisamos nos adequar
a eles para compreendê-los e utilizarmos de maneira eficaz na nossa prática
profissional e pessoal.
Mediante exposto, o objetivo foi verificar como está sendo desenvolvida a
prática docente do componente curricular de Língua Portuguesa, referente ao
trabalho com os gêneros textuais na perspectiva multimodal. A pesquisa se
justifica pelo fato de que os educandos da escola pesquisada não tem
correspondido com as metas estabelecidas pelo (MEC) através das avaliações
de grande escala. Diante dessa realidade é que nos propusemos encontrar os
motivos pelos quais os educandos não estão respondendo afirmativamente a
estas avaliações, motivo pelo o qual deu-se a inquietude de realizar esta
pesquisa, pois sabendo quais as causas que estão impedindo esse processo
poderíamos contribuir para que a escola possa desenvolver estratégias que
possibilitem o desenvolvimento dos educandos nesse aspecto.
METODOLOGIA
Observando a natureza do objeto de investigação escolhido, quer seja
aspectos que identificam como a escola está presente na vida das pessoas,
esta pesquisa classifica-se como descritiva, pois o objetivo foi descrever as
causas pelas quais os discentes não estavam respondendo satisfatoriamente
as avaliações de grande escala. Segundo Gil (2006, p. 44) “pesquisa
descritivas têm como objetivo primordial a descrição das características de
determinada população ou fenômeno ou estabelecimento de relações entre
variáveis”
Quanto aos procedimentos é uma pesquisa de campo, realizada pelo
método indutivo, pois segundo Gil (2006, p. 72), “os estudos de campo
58
procuram muito mais aprofundamento das questões propostas do que a
distribuição das características da população segundo determinadas variáveis”.
Quanto à abordagem do problema a pesquisa é qualitativa, pois
almejávamos compreender as causas pelas quais os educandos não estavam
correspondendo de maneira satisfatória ao letramento na perspectiva da
avaliação do IDEB.
Na abordagem qualitativa, o cientista objetiva aprofundar-se na compreensão dos fenômenos que estuda – ações dos indivíduos, grupos ou organizações em seu ambiente ou contexto social –, interpretando-os segundo a perspectiva dos próprios sujeitos que participam da situação, sem se preocupar com representatividade numérica, generalizações estatísticas e relações lineares de causa e efeito. (GUERRA, 2014, p. 11)
A pesquisa foi realizada na Escola Municipal de Ensino Fundamental
Daura Ribeiro da Silva na cidade de Pedro Régis na Paraíba, com a de dois
professores de Língua Portuguesa da referida escola. A escolha desta escola
decorreu da facilidade de acesso da autora aos estudantes deste
estabelecimento e à disponibilidade da Direção e das Professoras, do
componente curricular de Língua Portuguesa, no sentido de facultar toda a
logística necessária à coleta dos dados.
Após realizada a aplicação dos questionários com os professores, foi feita
a transcrição e análise dos dados e para preservar a identidade foram
atribuída a sigla (P) para os professores.
Quanto ao procedimento ético, vale destacar que a pesquisa esta em
concordância com os princípios éticos de investigação, fundamentados de
acordo com a legislação vigente e normas regulamentadas da pesquisa
envolvendo seres humanos e seguiu as exigências da Resolução Conselho
Nacional de Saúde (CNS) 466/2012, sobre a ética em pesquisa onde envolvem
pessoas.
ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
O estudo de texto aqui elencado vai tratar das respostas dos
professores, dadas através dos questionários, referentes aos aspectos de
leitura, interpretação, produção e letramento, os quais servirão para se analisar
com está sendo trabalhado o estudo de texto na perspectiva de envolver o
59
letramento, e através do mesmo mostrar as habilidades e competências dos
educandos.
No aspecto referente às dificuldades encontrada na leitura e
interpretação os professores relataram que: PA - As dificuldades apresentadas
pelos alunos são falta de hábito de leitura, falta de atenção, a falta de
conhecimento de mundo, isto atrapalha, pois segundo ele não se pode
interpretar um texto sem os conhecimentos necessários, ou seja, sem ter uma
boa base. PB- Para o meu embasamento teórico precisaria de mais tempo,
pois em virtude de ter dois vínculos acabo me cansando e o rendimento não flui
como deveria.
Diante das respostas dos professores se percebe que os educandos da
escola pesquisada precisam se dedicar a leitura e ter uma atenção especial
com os textos, para adquirirem conhecimentos necessários para uma boa
interpretação textual. Quanto ao fato do PB elencar que precisa mais de tempo
para adquirir embasamento teórico, ele não falou das dificuldades dos alunos e
sim das dificuldades dele. Sabemos que esse tempo para se preparar com
embasamento teórico é necessário para todos os professores, porém alguns
ficam sobrecarregados e o tempo de dedicação aos estudos fica a desejar,
onde se faz necessário uma reorganização na carga horária se desejarem uma
educação de qualidade.
No aspecto referente à dificuldade na leitura e interpretação vimos que
será necessária uma mudança na prática pedagógica para tentar sanar essas
dificuldades apresentadas pelos alunos da escola pesquisada.
Faz-se necessário buscar novas formas de ensinar, com metodologias diferenciadas, no sentido de promover o envolvimento e o interesse do aluno pelo texto. Acredita-se que tal envolvimento poderá contribuir para a promoção de uma leitura crítica do aluno, fazendo-o interpretar textos, formar sua própria opinião e despertar o seu interesse pelos estudos de Língua Portuguesa, tornando mais efetivas as suas produções escritas e promovendo um discurso mais coerente e significativo. (PACHECO; ATAIDE, 2013, p. 02).
Os autores Pacheco; Ataide (2013) nos orientam nessa busca de
mudança de metodologia, é preciso uma metodologia diversificada, onde os
alunos se interesse pelo texto e possa contribuir com uma boa leitura e
desperte o interesse na perspectiva de uma boa compreensão, mas para que o
professor possa diversificar a sua metodologia é necessário propor a ele um
60
bom planejamento e recursos adequados para diversificar a sua prática
pedagógica.
O trabalho docente é um trabalho intelectual; requer autonomia e consciência crítica para analisar o que acontece com o ensino (dentro e fora da sala de aula) e o modo como o contexto social mais amplo se relaciona com a função social do trabalho docente, tendo como finalidades educativas pretendidas e sua concretização, pois o ensino é uma atividade teórico - prática transformadora da realidade. Ou seja, o ensino é práxis (FRANCO, 2012, p. 90).
Diante da afirmação de Franco (2012) percebe-se o quão importante e
eficaz é o trabalho do professor e sua contribuição para que haja uma
transformação na sociedade e nela os envolvidos, alunos e professores,
possam interagir de maneira satisfatória em busca de uma concepção de vida
significativa para todos.
No aspecto da leitura e interpretação dos gêneros multimodais quanto às
dificuldades e/ou facilidade de se trabalhar eles relataram que: PA - Vê esses
tipos de textos multimodais como uma ferramenta que o ajuda a despertar no
aluno a consciência de que diferentes recursos do texto coatuam na
compreensão de sentidos. PB - Não vê dificuldades, pois se o planejamento for
bem elaborado fica fácil o entendimento.
Quanto às dificuldades ou facilidades de trabalhar os gêneros
multimodais vimos através das respostas dadas pelos professores que esta
modalidade textual ajudará na compreensão textual e especificamente quando
se tem um planejamento bem elaborado.
[...] essas novas maneiras de relacionamento com as informações e com a tecnologia podem transformar a relação pedagógica, pois por essa formação digital, alunos conseguem interagir com muitas informações ao mesmo tempo, impingindo a necessidade de práticas pedagógicas que tragam maior relação com as TDIC. (KNUPPEL 2016, p.66)
A escola precisa rever a sua metodologia de trabalho e, especificamente
na prática de leitura e escrita, pois se faz necessário aliar as práticas escolares
de leitura e escrita ao uso da tecnologia, ao fascínio e à facilidade que os
adolescentes e jovens possuem em relação ao uso comunicativo dos
ambientes virtuais.
Quanto à dedicação dos alunos a leituras diversas a terem menos
dificuldades nas interpretações eles responderam que: PA Com certeza
61
aqueles que se dedicam às diversas leituras trazem consigo o conhecimento
de mundo, o gosto pela leitura e consequentemente não sentirão dúvidas ao
interpretar textos de diferentes multimodalidade. PB - Dificuldades sempre
existem, mas quando se tem o hábito da leitura a interpretação fica mais fácil.
Nesse aspecto os educandos que tem o hábito da leitura apresentam
menos dificuldades, pois a leitura desenvolve a capacidade intelectual e o faz
interagir com o ambiente no qual está inserido, entretanto aqueles que se
dedicam a diversas leituras apresentam um conhecimento de mundo mais
elaborado e isso contribui para que eles interpretem melhor os textos propostos
pelos professores, pois quanto mais se lê mais conhecimentos se adquirem
para formação pessoal e intelectual do educando. Diante disso é necessário
incentivar a prática leitora em todos os ambientes.
[...] Não só a escola, mas a biblioteca pública, os museus, os centros de lazer, os hospitais, os centros de transportes, os condomínios, as fábricas, os sindicatos, as empresas, os jornais podem promover e refletir sobre o papel extraordinário que determinadas práticas leitoras, como contação de histórias, círculos de leitura, conversas “afiadas” com autores, editores, desempenham na produção de uma experiência polifônica com textos (YUNES, 2014, p. 56).
As reflexões supracitadas nos esclarece que a prática leitora informa e
forma o indivíduo para o mundo, por isso é preciso despertar a motivação para
leitura. Todo aluno deve ser convencido das vantagens de saber e poder ler.
Dessa forma, se o aluno tomar conhecimento dos benefícios e utilidades que
aquela leitura traz, até mesmo para o seu dia a dia, com certeza o aluno terá
prazer em ler.
No aspecto referente à indicação de leituras e a apresentação das
leituras realizadas em roda de conversa ou outra forma de apresentação eles
responderam que: PA - Indica leituras e cobra a apresentação em roda de
conversa ou debate. PB - Sim. E são requisitos para obtenção de notas. Uma
das propostas é ler e entregar o resumo interpretativo.
Referente às indicações de leituras os professores indicam as leituras e
cobram de diversas formas, exemplificadas como roda de conversa, debate e
resumo interpretativo. Nesse aspecto percebemos que os professores
participantes dessa pesquisa estão trabalhando sim a leitura, resta saber se os
alunos absorvem o sentido das leituras realizadas.
62
A leitura é, portanto, fundamental para a participação ativa e crítica do indivíduo na sociedade, principalmente pelo bombardeio diário de informações proporcionado pela mídia, especialmente pela Internet. (SILVA; COSTA; RIBEIRO; ALVES: 2013, p. 43).
Diante do que nos relata os autores citados, é preciso uma melhoria na
qualidade de ensino, criando condições para o entendimento crítico dessa
linguagem presente em nossa sociedade, cada vez mais influenciada pelos
meios de comunicação, buscando através da mesma compreender os
elementos essenciais para que haja uma melhoria significativa referente a
leitura e interpretação textual.
Concernente à apresentação se os alunos sentem-se a vontade para
apresentar as leituras realizadas eles responderam que: PA - Diz que nem
sempre, pois aqueles que não têm o hábito da leitura ficam tímidos e as vezes
se recusam a falar, porém aqueles que gostam de lê geralmente se deleitam
nos conteúdos dos textos. PB - diz que não, pois eles sentem vergonha. Há
alguns que não tem problemas, mas sempre há os que se rejeitam
Referente ao aspecto de desenvoltura dos educandos nas
apresentações das leituras realizadas, eles são tímidos e por isso se recusa a
fazer à apresentação da leitura, essa timidez é uma consequência da falta de
preparação, ou seja, eles sentem dificuldades de se posicionar diante da
leitura, pois os que gostam de ler apresentam com desenvoltura. Diante disso é
que os autores Ferreira; Horta (2015) fazem uma distinção entre os problemas
de aprendizagem segundo eles:
[...] a distinção entre os problemas de aprendizagem da leitura gerais e específicos. As atividades gerais são resultantes de fatores exteriores ao individuo ou inerentes a ele. No primeiro caso podem derivar de situações desfavoráveis à aprendizagem normal da leitura, tais como: relações familiares perturbadas, meio sócio-econômico e cultural desfavorecido, pedagogia e didáticas inadequadas, entre outras. No segundo caso, quando se trata de alguma deficiência(s) manifesta(s). As dificuldades específicas na aprendizagem da leitura assentam ao nível do plano cognitivo e neurológico, não existindo uma razão evidente para as alterações que se observam no ato de ler. (FERREIRA; HORTA, 2015 p.02)
Corroboramos com os autores supracitados, pois na prática pedagógica
nos deparamos com estudantes que apresentam esses níveis de dificuldades,
onde no primeiro caso são situações desfavoráveis a aprendizagem
ocasionadas na família, no meio social e até mesmo na escola quando a
63
metodologia aplicada não favorece a aprendizagem. No segundo caso pode
haver evidências que dificulte essa aprendizagem por problemas neurológicos
e se não forem solucionados esses estudantes levará essas dificuldades para
toda vida e quando chega aos anos/séries mais elevados, sentem vergonha,
timidez, isso resultado de um problema de aprendizagem que não foi
solucionado no tempo hábil e acaba prejudicando o desempenho dos
estudantes inseridos nesse cenário.
Em se tratando da produção textual no aspecto das dificuldades
encontradas os professores disseram que: PA - As dificuldades que os alunos
enfrentam quando vão produzir um texto são inúmeras, como a falta de base,
pois se produz muito pouco no decorrer do ensino fundamental, muitos alunos
não tem noção do que seja a coesão e coerência e por aí se vai. PB -
Dificuldades na concordância e na pontuação.
No aspecto referente a dificuldades de produzir textos elencadas pelos
professores observamos que se faz necessário uma reorganização e
monitoramento para que os conteúdos de grande relevância para produção de
textos sejam aplicados adequadamente e estas dificuldades sejam sanadas.
De acordo com as respostas dos professores os alunos sentem dificuldades de
escrever por falta de conhecimentos gramaticais, alimentação temática e a
utilização correta da coesão e coerência, porém são conhecimentos
necessários aos professores para que os mesmos orientem os alunos na sua
aprendizagem. Segundo Ribeiro (2015, p. 06) “As teorias sobre coesão, já
descritas pela literatura, embora não sejam suficientes para resolver os
problemas de coerência que aparecem nos textos dos alunos, deverá ser
conhecidas por todos os professores de Língua Portuguesa”.
Sobre a participação dos alunos no levantamento dos conhecimentos
prévios sobre uma temática em estudo eles relataram que: PA - Quando é uma
temática conhecida a participação é muito boa, porém quando desconhecem o
assunto, ficam em silêncio. PB - Não encontra objeção em participar.
Observando as respostas dos professores vimos que antes de uma
produção textual é necessário oferecer aos educando a alimentação temática
precisa da proposta de produção, pois se não entendem que a temática da
produção textual torna-se quase que inviável produzir um texto coerente.
64
Diante disso é que a BNCC, no eixo referente à produção de texto sobre
alimentação temática nos informa que é preciso:
Selecionar informações e dados, argumentos e outras referências em fontes confiáveis impressas e digitais, organizando em roteiros ou outros formatos o material pesquisado, para que o texto a ser produzido tenha um nível de aprofundamento adequado (para além do senso comum, quando for esse o caso) e contemple a sustentação das posições defendidas (BRASIL, 2017, p.75).
A BNCC (2017) orienta que a produção de texto, seja realizada após um
estudo do tema proposto, de acordo com este documento é necessário
selecionar informações e dados de fontes confiáveis para que o texto escrito
tenha veracidade diante do meio social em que circula, a produção de texto
realizada pelos estudantes precisa ser monitorada pelo professor na
concepção de atender as exigências da sociedade atual e o aluno possa
desenvolver as suas habilidades de escritor com mais eficiência.
No aspecto referente à dedicação dos alunos na atividade de produção
textual eles disseram que: PA - A maioria deles se dedicam sim. PB: Uma
parcela sim.
Vimos através das expostas dos professores que há uma dedicação dos
alunos na atividade de produção, o que já é um bom começo, portanto é
preciso que os professores do componente curricular de Língua Portuguesa
planejem as atividades de produção com mais frequência, buscando incentivá-
los a participar para que haja textos mais significativos produzidos pelos
alunos.
O êxito do aluno como leitor e produtor de textos só se torna possível com o domínio dos gêneros escolares (saber tomar notas, fazer resumos, resenhas etc.). É por meio deles que os conteúdos curriculares são estudados. Um texto, dependendo da temática que aborda, pode ser empregado por mais de um professor para os objetivos de aprendizagem estabelecidos em sua disciplina, possibilitando diferentes olhares sobre um mesmo objeto, um processo, um fato, um conceito. Os gêneros escolares promovem e estimula um amplo diálogo sobre o assunto veiculado pela escrita, um diálogo com o texto e com outros textos, no qual o aluno, na sua condição de aprendiz, se torna um interlocutor privilegiado. (ALVES; LEITE, 2018, p. 14)
As autoras supracitadas na sua reflexão nos mostra que para o docente
fazer um trabalho onde os educandos possam assimilar com êxito o estudo da
leitura e produção textual, ele precisa compreender melhor a amplitude tanto
65
do ler quanto do escrever no seu campo de atuação e o seu papel como
mediador nesse processo, portanto as autoras Alves; Leite (2018), ainda faz
referência da importância de se realizar um estudo através dos gêneros
textuais, ressaltando a relevância da diversidade textual e como o aprendiz se
torna um interlocutor privilegiado nesse processo.
A respeito dos textos multimodais se eles ajudam como suporte para
uma boa produção textual, eles relataram que: PA - Sim, os textos multimodais
ajudam muito e ele utiliza muito em sua prática com os alunos. PB - Sim, para
ele toda forma de leitura é importante.
Observando as respostas dos professores vimos que os gêneros
multimodais é uma modalidade textual bastante útil para compreensão e
produção textual. “A composição de textos multimodais não é uma tarefa
restrita a um grupo privilegiado de web-designers, mas amplia-se para toda a
sociedade que faz uso de textos virtuais ou impressos” (PREDIGER; KERSCH,
2013, p.214).
Os textos multimodais fazem parte do cotidiano de todas as pessoas,
que tendo clareza ou não dos mesmos, os utilizam no seu cotidiano, pois as
pessoas usam os textos virtuais sejam escritos ou orais, por isso não é tarefa
de um grupo privilegiado e sim da maioria da sociedade atual, ou seja, a
sociedade da era digital.
No aspecto se as redes sociais ajudam para que os alunos adquiram
alimentação temática para produção de seus textos. Eles disseram que: PA -
Ajuda bastante, principalmente se eles não tem conhecimento. PB - Sim. As
redes sociais quando bem utilizadas são ótimos mecanismos de produção
textual.
As redes sociais têm ajudado aos alunos a adquirirem alimentação
temática para produzirem textos mais coerentes. Diante disso, devem-se
explorar as redes sociais para que os alunos possam desenvolver, cada vez
mais, a competência leitora e a partir dela produzir textos mais significativos.
A tecnologia, se bem utilizada, pode revelar-se um recurso atrativo para estimular a formação de leitores e escritores competentes, pois fica evidente seu forte apelo motivacional entre os jovens, que mais ainda do que pessoas de outras faixas etárias, são usuários permanentes. (COUTO, 2016, p. 02)
66
Couto (2016) orienta para que o educador seja mais ativo na busca de
alternativas que reforcem o uso da tecnologia no contexto escolar podendo
incluir na sua metodologia o uso desse recurso, pois pode ser uma estratégia
eficaz no processo de ensino aprendizagem da leitura e escrita, pois segundo
Rojo (2012, p.125) a tecnologia “[...] tem gerado impactos nos modos de ler e
produzir textos”, e, consequentemente é um meio de disseminação da leitura,
produção e socialização de textos multimodais.
A respeito das competências menos atingidas na produção textual os
professores relataram que: PA - Falta de coerência, questões ortográficas e
gramatical, e as vezes fogem do tema proposto. PB - Falta de coerência,
coesão e questões ortográficas.
As competências menos atingidas elencadas pelos professores nos
mostra que a escola precisa de ter um olhar voltado para o componente
curricular de Língua Portuguesa, pois se faz necessário um trabalho cuidadoso
nesse aspecto para se ter melhores resultados e cidadãos mais competentes.
Percebemos, assim, que os mecanismos de coesão textual são os elementos linguísticos responsáveis pela estruturação da sequência superficial do texto, enquanto que a coerência é a harmonia de sentido do texto, de modo que não haja nada ilógico, contraditório, desconexo. E, assim, torna-se de extrema importância que o aluno conheça estes mecanismos para que sua produção seja compreendida pelos outros leitores é sempre importante na hora de produzir um texto se colocar no papel do leitor, imaginar que aquele texto vai estar em uma revista em um jornal ou livro, assim terá uma visão critica a respeito de si mesmo enquanto escritor. (CHIAPPINI, 2008, p.98)
É necessário, ainda, que o docente propicie momentos de leitura e,
simultaneamente, mostre aos alunos os elos conectivos presentes em um texto
e a sua importância na produção de significados e o quanto é imprescindível
ser coeso e coerente nas suas produções, na perspectiva de ser cada vez mais
cuidadoso nas suas escritas, pois sabemos que a leitura é um veículo condutor
para uma escrita bem elaborada.
No aspecto referente se os alunos são capazes de responder ao
letramento na sociedade atual eles relataram que: PA - Uma parte sim. PB - Há
alguns que são muito bons, porém outros deixam a desejar.
Sabendo que ser letrado é saber fazer uso das práticas sociais e, diante
das respostas dos professores temos um bom começo, porém é preciso que o
67
letramento atinja 100% da sociedade atual, principalmente aqueles que estão
buscando conhecimentos através da escola, pois estamos inseridos em uma
sociedade cada vez mais competitiva e seletiva, precisamos que os alunos
sejam os melhores.
O letramento não está restrito ao sistema escolar, (...) mas cabe a ele fundamentalmente, levar seus alunos a um processo ainda mais profundo nas práticas sociais que envolvem a leitura e a escrita. Saber ler e escrever várias palavras, não é o bastante para capacitar os indivíduos, surge então, a necessidade de se letrar os sujeitos envolvidos no processo de aprendizagem, e o educador deve estar capacitado e atualizado para responder às mudanças da sociedade, que se reflete em todos os setores, principalmente no setor educacional. (JUSTO; RUBIO, 2013, p.13).
Segundo as autoras supracitadas o Letramento dá-se em todos os
âmbitos da sociedade, porém é responsabilidade da escola cuidar para que os
seus educandos, possam interagir na sociedade atual utilizando o letramento
de forma que corresponda com as mudanças sociais de forma satisfatória.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Através dos dados fornecidos pelos professores observa-se que há
alguns entraves, a exemplo de: falta de leituras dos discentes, dificuldades de
interpretar e produzir textos coerentes por falta de conhecimentos prévios, e
por não ter entendimento de gramática nos aspectos de concordância,
pontuação, ortografia, coesão e coerência. Portanto, é necessário uma política
educacional voltada para esses aspectos, proporcionando uma formação
continuada dos docentes fornecendo recursos, para que eles viabilizem um
estudo com os discentes na perspectiva de leitura e produção textual a partir
dos anos iniciais e dando continuidade ao longo da vida escolar desses
discentes para que os mesmos cheguem aos anos finais sendo bons leitores e
produtores de textos em todas as modalidades, pois ainda há muitas
dificuldades dos educandos em se apresentar em público e expor suas ideias,
participar dos debates e etc. Diante das dificuldades eles se recusam a
participar das atividades realizadas em sala de aula.
68
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69
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OS MOVIMENTOS SINDICAIS, (des) MOBILIZAÇÃO DE CLASSES e CONQUISTAS DE DIREITOS: Reflexões e contribuições coletivas.
THE SYNDICAL MOVEMENTS, (GIVE) MOBILIZATION OF CLASSES AND CONQUEST OF RIGTHS: Reflections and collective
contributions.
José Humberto Lucas Filho1 Maria Eliene Januário de Farias2
E-mail: [email protected] E-mail: [email protected]
RESUMO Este artigo tem por objetivo geral apresentar as formas pelas quais os sindicatos se movimentam dentro das lutas sociais em prol dos direitos dos trabalhadores no Brasil. A proposta tem por objetivos específicos descobrir como funciona um sindicato, verificar as necessidades da categoria e identificar estratégias exitosas e sua aplicabilidade. Para tanto, foi realizada uma pesquisa bibliográfica, através de um levantado de referencias teóricas sobre o papel social do sindicato como uma organização de classe/categoria no século XXI. A partir da análise de dados foi possível perceber a importância das mobilizações classistas. Seus resultados são apresentados, a partir da construção de uma consciência coletiva, onde se galgam melhores condições de trabalho e valorização profissional. Logo, um dos maiores desafios do sindicato na atualidade é manter as garantias trabalhistas e promover uma participação mais efetiva. Enfim, por meio de todo o estudo realizado e das concepções apresentadas, foi possível confirmar que o sindicato se torna mais forte, mais combativo e independente de pressões políticas, quando seus membros agem com coletividade e crença no poder transformador que possuem, fomentando um processo de inclusão e valorização profissional. PALAVRAS-CHAVES: Movimento Social; Sindicato; Valorização Profissional; Luta
de Classes.
ABSTRACT The general objective of this article is to present the ways in which unions move within social struggles in favor of workers' rights in Brazil. The proposal has the specific objectives of discovering how a union works, checking the needs of the category and identifying successful strategies and their applicability. To this end, a bibliographic research was carried out, through a survey of theoretical references on the social role of the union as a class / category organization in the 21st century. From the data analysis it was possible to perceive the importance of class movements. Its results are presented, based on the construction of a collective conscience, where better working conditions and professional valorization are achieved. Therefore, one of the union's greatest challenges today is to maintain labor guarantees and promote more effective participation. Finally, through all the study carried out and the concepts presented, it was possible to confirm that the union becomes stronger, more combative and independent of political pressure, when its members act with collectivity
1 Professor de Língua Portuguesa e Língua Inglesa na rede municipal de Brejinho/PE. Professor da Faculdade Vale do Pajeú (FVP). Especialista em Língua portuguesa pela FAFOPAI. Mestrando em Ciências da Educação pela Absoulute Christian University, Flórida/USA. 2 Professora de Língua Portuguesa e Língua Inglesa na rede municipal de Brejinho/PE. Especialista em Língua, Linguística e Literatura.
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and belief in the transformative power they have, fostering a process inclusion and professional development. KEY-WORDS: Social Movement; Labor union; Professional Increase in value;
Classes struggle.
INTRODUÇÃO
A história dos movimentos sociais de forma mais ampla datam do século XVII
na Europa e, somente a partir do final do século XIX e início do século XX, foram
surgindo movimentos de lutas trabalhistas, que começavam, ainda de forma muito
tímida, a se manifestar em prol das possibilidades que existiam naquele momento
para a incursão na agenda politica de direitos trabalhistas. Assim, estes movimentos
progrediram ao ponto de tornarem-se conglomerados de movimentos sindicais que
passam a representar parcelas da classe trabalhadora com demandas diferentes em
diversos países. Logo, torna-se imprescindível compreender o processo de
conquista dos direitos sociais, não se trata apenas de lutar por melhores salários,
direito de greve, etc., mas também, pela qualidade de vida de seus participantes.
Diante dos dilemas e das dificuldades apresentadas pelos trabalhadores ainda no
século XXI, é preciso ainda perceber como funciona a manutenção dos direitos
destes trabalhadores frente as mudanças continuas da economia e dos tratados
políticos, em especial da realidade brasileira.
Portanto, buscou-se reunir informações com o propósito de responder ao
seguinte problema de pesquisa: Qual o papel social dos sindicatos diante das lutas e
conquistas como movimento de classe? Diante da necessidade de mobilização e de
reconhecimento do papel fundamental do sindicato, sua clientela e sua função
social, se faz importante verificar a qualidade das organizações sociais coletivas,
com intuito de fomentar sua função basilar, além de identificar quais outras funções
o sindicato pode promover aos seus filiados, que não reivindicações laborais.
Justifica-se, portanto, esta análise, para expor os ideais de transformação e
organização social.
Esse estudo tem por finalidade realizar uma pesquisa através da revisão
bibliográfica no momento em que se fez uso de materiais já elaborados: livros,
artigos científicos, revistas, documentos eletrônicos e enciclopédias na busca e
alocação de conhecimento sobre o papel social coletivo dos sindicatos suas lutas e
72
conquistas sindicais, correlacionando tal conhecimento com abordagens já
trabalhadas por outros autores.
O problema foi direcionando a pesquisa para as áreas sociais e de direitos
trabalhistas, correlacionadas aos movimentos de classe e ainda a pesquisa como
pesquisa bibliográfica, sendo este a análise do papel social coletivo dos sindicatos
de forma geral como formas de identificar e apresentar as lutas e conquistas
sindicais. O presente trabalho tem como objetivo geral apresentar a importância do
papel social coletivo dos sindicatos como movimentos de classe, explorando e
apresentando as lutas e conquistas sindicais, com a finalidade de mostrar a
vantagem da participação sindical e das conquistas de direitos classistas no estudo
sobre a função social de um organismo sindical na luta por direitos coletivos.
MOVIMENTOS SINDICAIS: PERSPECTIVAS E FUNÇÃO SOCIAL
Os movimentos sindicais caracterizam-se pela organização de um grupo
organizado de trabalhadores que tem por função primeira conquistar melhores
oportunidades laborais, assim como também, a conquista de direitos sociais
coletivos. Tem por função basilar dar voz aos trabalhadores no que se refere aos
direitos socioeconômicos, profissionais e políticos de seus associados. Silva (2012),
afirma que o sindicato se assemelha a uma pessoa jurídica de direito privado
comparando-se a uma associação de indivíduos congregados visando um fim
coletivo, comum. O movimento classista também serve de instrumento de oposição
às ideologias dominantes, formando cidadãos críticos e transformadores da
sociedade onde vivem.
Lazzareschi (2009), afirma que o sindicato age como um organismo político,
sua origem baseia-se no sindicalismo. Neste contexto, tal mobilização objetiva lutar
pelas garantias de uma melhor qualidade laboral e de direitos socioeconômicos da
classe trabalhadora. Fica claro que o campo de atuação sindical é a defesa dos
profissionais dos diversos setores da economia. O mais preocupante, contudo, é a
constatação de que a bandeira de luta classista não está sendo bem compreendida
pela classe trabalhista. Não é exagero afirmar que segmentos sindicais, às vezes
perdem seu poder de atuação coletiva, fugindo do seu papel de luta coletiva para
uma luta individualizada. Assim, preocupa o fato de uma organização de classe não
conseguir exercer sua função social, isto porque, sua função basilar não é apenas
73
lutar por melhores condições salariais, mas também, promover o pensamento crítico
de seus filiados.
A autora citada acima deixa claro que o papel primário do sindicato é
aglutinar indivíduos que buscam um ideal coletivo. Desta forma, o papel primário
deste organismo político social, como um movimento de base trabalhista é
realmente lutar pela melhoria da qualidade laboral de uma classe. Esse é o motivo
pelo qual a participação ativa junto aos movimentos sindicais faz-se extremamente
necessária.
De acordo com Borges & Mourão (2013), o papel do sindicato no Brasil ainda
anda a passos lentos. Seus membros ainda possuem uma visão corporativista, ou
seja, ainda pensam o sindicato como uma instituição que realiza apenas ações
assistencialistas. Este pensamento é resquício da visão transmitida pelo regime
militar de épocas passadas. As autoras deixam claro, que os motivos do
pensamento assistencialista sobre o movimento sindical é resultado de ações
deficitárias por parte do poder público, deixando faltar para os cidadãos saúde,
educação, segurança, lazer, enfim, uma sociedade mais justa, igualitária e
harmoniosa.
Conforme verificado no livro de Lazzareschi, pode-se dizer que o conceito e o
objetivo social do sindicato advêm de concepções organizacionais políticas. Não de
políticas partidárias, mas sim, de políticas de ações voltadas às realizações sociais
coletivas. Trata-se inegavelmente de lutas que possuem uma ideologia
socioeconômica. Seria um erro, porém, atribuir apenas a luta de classe a uma luta
meramente salarial. Assim, reveste-se de particular importância a luta pela liberdade
de pensamento, transformando o trabalhador em um indivíduo crítico e
transformador da sociedade.
Sob essa ótica, ganha particular relevância as concepções de Borges e Mourão
acerca do tema apresentado, que as relações existentes entre sindicato e
sindicalizados, muitas vezes não passem de ideologias puramente assistencialistas,
transformando o movimento de luta pelos direitos sociais coletivos, em um mero
grupo assistencialista, promovendo ações que deveriam ser de instituições
governamentais. Daí sua função, também promover ações de cidadania para seus
representados. As autoras deixam claro que: "[...] o papel do sindicato ainda
influencia a atualidade brasileira, pelo menos em parte, na recenticidade do
restabelecimento da democracia". (BORGES; MOURÃO, 2013, p.97).
74
Um movimento social de base classista é importante porque serve de objeto de
pressão do trabalhador. Seu objetivo é apresentar e representar uma classe no que
tange aos direitos coletivos. A exploração do trabalho humano em troca de um
salário é fruto do sistema capitalista, e por isso, fornece subsídios bastante robustos
para que haja união de indivíduos, com interesses comuns de lutar por um bem de
toda uma categoria. Tal movimento se enfraquece quando seus filiados passam a
não acreditar nas conquistas possíveis, não tomando partido quando se pretende
realizar uma mobilização de massa. Conforme explicado acima, uma das virtudes da
agremiação sindical é dar voz ao que, os trabalhadores apontam como uma
bandeira de luta, defendendo os interesses sociais, econômicos e políticos. Tem-se,
por exemplo, o sindicato dos professores, dos bancários, motoristas, entre outros,
que lutam por melhores condições de trabalho para seus filiados,
consequentemente, fazendo com que a sociedade seja um espaço de proposição e
luta.
Como se sabe, o trabalhador ao se filiar ao sindicato, pode desejar principalmente se utilizar dos serviços assistenciais da associação sem que, necessariamente o sindicato seja concebido como um instrumento de reivindicação e sem que, por outro lado, o ato de sindicalização possa ter um significado mais profundo em termos de disposição para a participação em ações coletivas. (RODRIGUES, 2009, p.122).
O autor deixa claro que o foco principal das lutas sindicais, concentra-se no
seu filiado. Este movimento sindical tem por objetivo servir de instrumento de
mobilização social reivindicatório. Por esse motivo, se faz necessário aglutinar
trabalhadores para que as garantias laborais se deem com a participação de todos
os membros, pois, desta forma, o poder de pressão será maior e as conquistas mais
facilmente alcançadas.
Portanto, torna-se evidente que a participação em um agrupamento de uma
classe trabalhista faz com que seus membros se tornem mais fortes. Vê-se, pois,
que as lutas e conquistas são processos coletivos e vitórias globais. Logo, é
indiscutível o fato que a participação efetiva em um sindicato promove a aquisição
de direitos e a permanência desses mesmos direitos trabalhistas depende da união
de seus membros.
75
Podemos conceituar os movimentos de classes na atualidade como sendo
movimentos históricos. Então, é preciso analisar e entender quais foram suas
principais mudanças ao longo do tempo. Certamente se trata de mudanças de
paradigmas sociais, de lutas classistas e de transformação social. Segundo
Nogueira (2005, p.83-84) "[...] chamadas de "correntes sindicais" são elas: "Unidade
Sindical", "Corrente dos Autênticos" e um terceiro grupo [...] ligados ao Ministério do
Trabalho e ao Governo".
Como bem nos assegura Nogueira (2005), pode-se dizer que na atualidade, os
movimentos sindicais passam por três pontos de vista. Neste contexto, fica claro que
as correntes sindicais mais atuantes no sistema de classes, são as mais
independentes. O mais preocupante, contudo, é constatar que uma terceira via é
estruturada por indivíduos ligados ao governo. Não é exagero afirmar que estes
representantes classistas em todo esse processo, não defendem a classe dos
trabalhadores, mas, sim, o patrão. Assim, preocupa o fato de que as conquistas
adquiridas com muitas lutas se tornem obscuras, isto porque a classe patronal quer
se perpetuar no poder e extinguir os direitos trabalhistas em detrimento do capital.
A estrutura e a formação dos processos classistas se articulam e se completam
sob três perspectivas. Trata-se inegavelmente de que a luta de classe seja uma luta
coletiva e não apenas dos representantes sindicais. Seria um erro, porém, atribuir a
alguma tendência (ou corrente), os avanços e conquistas dos trabalhadores. Assim,
reveste-se de particular importância a mobilização. Sob essa ótima, ganha particular
relevância um movimento sindical independente e autônomo, que vise a realização
dos anseios e preze pela valorização do trabalhador.
Pode-se dizer que o ponto alto das manifestações de classe se deu nas
décadas de 50 e 60, época esta que eram dominados pelos então "comunistas”.
Neste contexto, para Sousa (1993) fica claro que um dos principais objetivos do
sindicato era esforçar-se para valorizar o trabalho e o trabalhador, sua função social
e sua participação na construção de um mundo mais justo. O autor deixa claro que
os agentes de transformação social, também tinham uma preocupação clara com os
problemas globais e não apenas, com questões salariais.
Conforme mencionado acima, observa-se que as tendências apresentadas
anteriormente, assim chamadas, também, de correntes sindicais, são as mais atuais
no processo de estruturação sindical, comparado aos processos de lutas de classes
das décadas anteriores. Essa comparação será feita em dois momentos. No primeiro
76
será usado o período das décadas de 50 e 60, período este recheado de
manifestações trabalhistas, luta por direitos, salários, trabalhos dignos e
correspondendo a uma etapa do processo de estruturação classista; o segundo
considerará o intervalo de algumas décadas como forma de projetar o futuro.
Segundo Sousa (1993, p. 270): "Os sindicalistas eram agentes transformadores [...]
levando os trabalhadores a terem um papel mais positivo". Desta forma, o autor
deixa claro que a participação nas lutas sociais é necessária, não apenas nas
questões salariais, mas também, nas sociais.
Os movimentos sindicais na atualidade, possuem um papel de extrema
importância para a classe dos trabalhadores em geral. Sua principal função é
apresentar seu real papel e seu verdadeiro objetivo para toda uma classe. Caso
contrário, ficará fadada ao anacronismo, isto é, fica apenas no papel e sua prática
ficará anulada por questões burocráticas e políticas Não se trata de apresentar as
funções extra-classistas do sindicato, mas sim, fazer com que seus indivíduos façam
parte mais efetivamente de sua classe. Lamentavelmente, alguns representantes
sindicais fazem uso indevido do poder que possuem em representar sua classe,
agindo em benefício próprio. Conforme explicado acima, deve-se levar em conta
qual é o verdadeiro papel de um sindicato na atualidade, como, por exemplo, era o
que faziam os sindicatos nas décadas passadas, lutar pelos direitos coletivos dos
trabalhadores e não, apenas, por ações individuais.
O primeiro foco de análise deve ser a liderança de sua categoria: os sindicatos. A resposta aí é simples. Ao contrário do que muita gente parece pensar o sindicato dos trabalhadores em educação não tem como função primordial pensar no bem do Brasil e na melhoria de qualidade de nossa educação. Seu interesse é pela defesa dos seus filiados. Não é sindicato dos alunos: é o sindicato dos professores, dos funcionários. E é absolutamente natural que assim o seja, aliás, e não há aqui nenhuma condenação a esse papel. (LOSCHPE, 2014, p.72).
O autor deixa claro, que o papel de um sindicalista é realmente lutar pela
melhoria da qualidade laboral de uma classe, em especial, a classe docente. Esse é
o motivo pelo qual, a participação ativa aos movimentos de classe se faz necessária.
A função social do movimento sindical e do seu líder sindical é, além de defender os
interesses coletivos, fazer com que seus filiados acreditem no poder de
77
transformação que os sindicatos podem proporcionar transformações essas de
cunho salarial, social, intelectual, cultural, entre outras.
Sendo assim, faz-se necessário entender que o sindicato é uma organização
coletiva, que tem por função social, proteger e garantir os direitos dos trabalhadores
em geral. Podemos perceber conforme citado acima que esse quadro remete a uma
classe organizada que serve para transformar as ações promovidas pelo sindicato,
assim como, transformar a sociedade. Não é exagero afirmar que esse tema vem
tomando um grande espaço nas instituições democráticas como um importante
instrumento de esclarecimentos e conquistas coletivas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O desenvolvimento do presente estudo possibilitou uma análise conceitual
sobre definição e o papel de transformação social do sindicato como um movimento
de mobilização de classe, proporcionando aos seus associados uma ação mais
transformadora e crítica perante os desafios enfrentados na luta classista, além
disso, observou-se que o sindicato serve para a promoção e a conquista de direitos
laborais, além de ser usado como um instrumento de pressão social. Sua
importância está explicitada na luta de classe, a partir da aglutinação de seus
membros, da sua mobilização em prol de um objetivo comum, a conquista de
melhores condições de trabalho e a promoção de uma melhor qualidade de vida
para seus membros. Essas mudanças têm trazido enormes desafios para a ação sindical. As
respostas a essa questão, bem como a compreensão de seu significado para a
atuação dos trabalhadores não é consensual, sendo fonte de debates em âmbitos
diversificados da sociedade.
Assim, pode-se dizer que à atividade sindical se coloca, principalmente nas
ações trabalhistas sempre se pautaram pela demanda de acesso a bens e poder
públicos e privados para o trabalhador nacional. Por isso, o sindicato tem encontrado
muitas dificuldades para enfrentar a globalização da sociedade. É, nesse sentido,
que ganha relevância a discussão e reflexão sobre estudos nessa área e seus
impactos na realidade brasileira.
78
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
LAZZARESCHI, N. Sociologia do trabalho. Curitiba: iesde, 2009. BORGES, L. O; MOURÃO. L. (orgs.) O trabalho e as Organizações: Atuações a partir da Psicologia. Porto Alegre: Artmed, 2013. LOSCHPE, G. O que o Brasil quer ser quando crescer? E outros textos sobre educação e desenvolvimento. 1ª. ed. Rio de Janeiro: Objetiva, 2014. NOGUEIRA, M. G. Supervisão Educacional: A questão política. 3ª. ed. Rio de Janeiro: Loyola, 2005. RODRIGUES, L. M. Partidos e Sindicatos: Escritos de Sociologia Política. Rio de Janeiro: Biblioteca Virtual de Ciências Humanas, 2009. SILVA, H. B. M. D. Direito Coletivo do Trabalho: Curso de Direito do Trabalho Aplicado. 2ª. ed. Rio de Janeiro - RJ: Elsevier, v. 7, 2012. SOUSA, R. S. A. D. Contracorrenteza. Brasília: Thesaurus, 1993.
79
AS POLITICAS EDUCACIONAIS BRASILEIRAS: A DEMOCRATIZAÇÃO,
DESCENTRALIZAÇÃO E AUTONOMIA NOS SISTEMAS MUNICIPAIS DE
ENSINO.
Mabel Galdino Bezerra1
RESUMO Este trabalho é um projeto de análise crítica com relação aos processos de criação das politicas públicas em educação no Brasil. Assim, as reformas que ocorreram ao longo da história da educação brasileira reduziram as políticas públicas aleis e decretos que pouco tiveram aplicabilidade na prática. Assim este estudo objetiva compreender como se da a democratização, descentralização e autonomia nos sistemas municipais de ensino através das políticas educacionais brasileiras. Assim, este recorte de cunho bibliográfico com perspectiva descritiva desenvolve o estudo da arte da temática em voga e faz uma análise das políticas e seus impactos na democratização, descentralização e autonomia dos sistemas municipais de ensino. A análise nos desvela que a descentralização educacional diante das políticas educativas surgem do Estado que através da avaliação em larga escala divulga a sociedade civil a qualidade das escolas públicas brasileiras, no entanto, ele informa mas poucas são as soluções para tais problemas deixando assim os municípios sem autonomia para determinadas medidas que em seu contexto educacional. Palavras – chave: Educação, Políticas Públicas, Democratização.
1 Mestre em Educação pela Universidad CLAEH - Uruguay. Especialista em Inspeção Educacional e Graduada em Pedagogia ambas pela Universidade Federal de Alagoas. Professora das Redes Pública Municipal e Estadual de Ensino. Supervisora Educacional. Inspetora Educacional. Email: [email protected]
80
ABSTRACT This work is a critical analysis project in relation to the creation of public policies in education in Brazil. Thus, the reforms that have occurred throughout the history of Brazilian education have reduced legal public policies and decrees that had little applicability in practice. Thus, this study aims to understand how democratization, decentralization and autonomy occur in municipal education systems through Brazilian educational policies. Thus, this bibliographic cut with a descriptive perspective develops the study of the art of the current theme and makes an analysis of the policies and their impacts on the democratization, decentralization and autonomy of the municipal education systems. The analysis reveals that the decentralization of education in the face of educational policies arises from the State which, through large-scale evaluation, discloses to civil society the quality of Brazilian public schools, however, it informs but there are few solutions to such problems, thus leaving municipalities without autonomy for certain measures than in their educational context. Keywords: Education, Public Policies, Democratization.
INTRODUÇÃO
Este artigo é o resultado de uma análise entre a implantação do Sistema
Municipal de Ensino, considerando a democratização, descentralização e autonomia
municipal como categorias centrais. Trata-se de uma pesquisa descritiva com
abordagem conceitual baseada no estudo bibliográfico, onde são adotadas as
discussões promovidas de diversos autores da literatura nacional e internacional que
se tornaram importantes referências para a área educacional e que têm contribuído
para o aprofundamento das categorias identificadas nesta pesquisa. Nesse sentido,
a problemática em questão está relacionada à garantia de que a escolha da
bibliografia tenha sido feita dentro de um universo de estudo que consiga de fato
representar o estado da arte, além de primar pela qualidade, abrangência e
significância desta temática em voga.
É dentro deste contexto e, determinada pelas diversas realidades que
compõe o cenário educacional brasileiro, que se dá a formulação das políticas
educacionais e sua implementação.
As mudanças constitucionais de 1988 e as que passaram a ser
implementadas no decorrer dos anos 1990 marcaram um projeto reformista nas mais
diversas áreas como saúde, previdência social e também na educação. Pelo
esgotamento do paradigma de centralização do setor público consolida-se o
81
consenso na ideia de descentralização; um processo descentralizador, como
transferência do poder decisório às instâncias subnacionais (estados e municípios),
expressa a tendência democratizante participativa ao mesmo tempo a modernização
gerencial da gestão pública.
1.1 Democratização, Descentralização e Autonomia: nortes comuns aos
sistemas de ensino municipal
Democratização e descentralização foram temas suscitados pelos grupos
organizados e presente nas atuais políticas sociais, para solucionar os problemas
relacionados à centralização do poder. As políticas democratizantes visavam à
diminuição das hierarquias existentes no processo educacional. Dentre as questões
levantadas, o discurso descentralizante teve maior dimensão a partir da queda do
regime ditatorial, com a promulgação da Constituição Federal - CF de 1988, a
aprovação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - LDBEN de 1996 e a
incessante luta dos profissionais da educação e organizações educacionais que
vislumbram a escola como espaço transformado e transformador, preocupados com
um conjunto de medidas que visassem a melhor qualidade da educação.
Uma reflexão importante a ser feita, a partir desse movimento pela democratização dos espaços educacionais, passa pelo debate de que a importância de se instaurar o processo de participação, logo no início dos anos de 1980, é explicável, se considerarmos que havia uma necessidade emergente de combater os resquícios de gestão autoritária do Estado, que ainda se encontrava presente em todas as instâncias da vida política e social (ABRANCHES, 2006, p. 45).
Sendo assim, a participação de todos os envolvidos nesse processo deve ser
considerada como uma das iniciativas que devem estar no cerne das discussões
sobre democratização.
A CF de 1988 apontou mudanças necessárias na gestão da educação, com
vistas a imprimir-lhe qualidade. Do conjunto dos dispositivos constitucionais sobre
educação, pode-se induzir que a ideia de qualidade apontada no texto constitucional
diz respeito ao caráter democrático, cooperativo, planejado e responsável da gestão
educacional, orientado pelos princípios arrolados no art. 206 da mesma, que
determina: “VI- gestão democrática do ensino público, na forma da lei; VII- garantia
de padrão de qualidade” (BRASIL, 1988).
82
Diante do exposto, no que tange à administração do sistema municipal de
ensino é a legitimação dos princípios da democratização, descentralização e
autonomia. Estes princípios norteia a focalização, flexibilização e a mobilização.
Conforme Freitas (1998), a focalização sinaliza a prática da seletividade na
atuação do Estado e a concentração deste em determinadas áreas e problemas.
Ainda de acordo com o autor (1988) a flexibilização, denotada na Lei, orienta a
criação e garantia de uma intencionalidade dotada de mecanismos e instrumentos
legais, técnicos e burocráticos que possibilitem o rompimento da rigidez formal das
estruturas do sistema de ensino e de sua gestão. A mobilização, segundo Teixeira
(2004), dirige a ação gestora do Estado no sentido de fomentar o envolvimento ativo
dos indivíduos, das comunidades, das organizações sociais e dos setores produtivos
da sociedade na implementação das políticas educacionais.
1.2 Elementos para uma Análise da Democratização da Educação
A democratização da educação pública tem se apresentado como um grande
desafio político, social e, necessariamente, educacional, pois se tem visto a
intensificação das discussões do papel essencial da escola pública na formação dos
indivíduos e seu impacto no desenvolvimento social e econômico do país.
No entanto, é preciso que se tenha cuidado ao se definir os processos como
democráticos ou não democráticos, pois os vários discursos e práticas presentes na
sociedade contemporânea estão cheios de generalizações onde muitos se
consideram “democratas” e que tão somente isso não significa que estejam
efetivamente praticando a democracia de fato.
A esse respeito Coutinho (2000) afirma que mesmo o liberalismo que traz
como uma de suas marcas políticas o discurso democrático, historicamente tem
mostrado que sua visão democrática está baseada na “ideia de liberdade privada, de
liberdade entendida como direito privado, como direito de usufruir na esfera privada
os bens que os indivíduos constroem privadamente” (p. 13). Afirma ainda que até o
início do século XX os próprios liberais se opõem à democracia e para isso, procura
elucidar pensamentos de autores liberais como Constant, que defende que a
liberdade democrática é liberdade do mundo antigo onde todos discutem e debate,
no entanto, a democracia moderna consiste em fruir na esfera privada aquilo que os
indivíduos constroem para si mesmos.
83
O que se ressalta também ao longo de décadas é que o crescente processo
de democratização tem se chocado com a apropriação dos mecanismos de poder.
Dessa forma, tais mecanismos podem estar disfarçados por discursos
descentralizantes que procuram envolver um número crescente de pessoas nas
tomadas de decisões, nas organizações e construções de sujeitos coletivos, mas
que contrastam com um Estado em que um número pequeno de pessoas ainda é
detentor do poder e que direciona todo o processo a partir de uma lógica
economicista e burocratizante.
A democratização só se realiza plenamente na medida em que combina a socialização da participação política com a socialização do poder, o que significa que a plena realização da democracia implica a superação da ordem capitalista, da apropriação privada não só dos meios de produção, mas também do poder do Estado, com a consequente construção de uma nova ordem social, de uma ordem social socialista. De uma ordem onde não haja apenas a socialização dos meios de produção, mas também a socialização do poder (COUTINHO, 2000, p. 17).
Portanto, a sociedade brasileira, assim como parte das sociedades latino-
americanas, tem vivenciado diversos processos de transição de regimes autoritários
para sistemas representativos. Tais sociedades apresentam como características
serem altamente dependentes, parcialmente modernas e com regimes autoritários
que perduraram ao longo de várias décadas.
1.3 Elementos para Análise da Descentralização da Educação
Muito tem se discutido sobre democratização da educação pública,
decorrente da busca por sua descentralização e autonomia como um dos pontos de
partida para a mudança qualitativa da educação. Além disso, outros fatores são
indispensáveis para prover as condições efetivas da descentralização e autonomia,
tais como não pensar a educação enquanto aparelho burocrático estatal e prover as
condições efetivas de participação que não podem estar só no discurso legalista,
garantindo condições de tempo, espaço, recursos e efetiva autonomia.
As políticas e os processos de tendências descentralizadoras tiveram início
no Brasil, em meados da década de 80, durante a transição democrática ocorrida no
país que, a despeito das sucessivas crises, introduziu a perspectiva democrática
como pano de fundo no panorama político nacional. Novos cenários se desenharam,
84
embasados na expectativa de construção de uma democracia participativa,
necessária para a retomada do desenvolvimento econômico e social.
Ribeiro (2002) evidencia que nas últimas décadas o movimento de
descentralização pode ser visto, de uma parte, como resultante da crise fiscal do
Estado; de outra, como reação ao autoritarismo presente na sociedade brasileira.
Considera que, embora este movimento esteja apontando para o fortalecimento da
capacidade decisória das instâncias subnacionais – estados e municípios –, não é
visível que tal processo esteja sendo acompanhado da democratização das relações
entre Estado e sociedade e entre os diferentes segmentos sociais.
No entanto, no Brasil, a descentralização das políticas educacionais passa a
ser concebida como uma poderosa arma no seio do processo de democratização e,
na definição de Draibe (1998), uma estratégia de consolidação de direitos e
extensão da cidadania à massa da população, ocupando lugar central na agenda
política a partir de meados dos anos 1980.
Segundo Abreu (2002, p. 16) esta discussão leva necessariamente a
considerar que:
Entre os critérios que devem ser adotados para avaliar a medida em que um processo de descentralização está contribuindo para a construção de uma ordem democrática, dois são fundamentais: participação popular e controle social. Quanto ao primeiro critério, trata-se de analisar o processo decisório para se identificar quem ou que forças sociais participam da tomada de decisões. São especialmente decisivos o processo eleitoral e a questão da constituição dos conselhos setoriais – ou seja, como se dá a representação nesses conselhos (se os setores populares estão adequadamente representados) e como neles se exerce o poder decisório. Quanto ao controle social, seu exercício depende do acesso às informações necessárias à gestão, e da transparência dos processos de gestão e tomada de decisões.
Sendo assim, pela forma como as políticas públicas para educação são
formuladas e implementadas, uma proposta descentralizadora se apresenta de
maneira democrática ou não. E isto depende se esta acarreta ou não um nível de
participação dos sujeitos sociais de uma dada sociedade nos processos decisórios e
o pluralismo de concepções que estão subjacentes a este processo. Do contrário,
pode se mostrar efetivamente centralizadora e conservadora caso não favoreça a
ampla participação e possua uma visão unívoca e centralizada de certos grupos e
pessoas.
85
2 Elementos para uma análise conceitual de Autonomia Educacional
A discussão sobre autonomia pode ser reportada ao pensamento de Bobbio
(1986) onde afirma que para se ter uma definição mínima de democracia, a
presença de um elevado número de cidadãos com direito de participação direta ou
indireta nas tomadas de decisões coletivas, não são suficientes para o bom
funcionamento do Estado democrático. Para ele, então é fundamental outra
condição:
(...) é preciso que aqueles que são chamados a decidir ou a eleger os que deverão decidir sejam colocados diante de alternativas reais e postos em condição de poder escolher entre uma e outra. Para que se realize esta condição é necessário que aos chamados a decidir sejam garantidos os assim denominados direitos de liberdade, de opinião, de expressão das próprias opiniões, de reunião, de associação, etc. — os direitos à base dos quais nasceu o estado liberal e foi construída a doutrina do estado de direito em sentido forte, isto é, do estado que não apenas exerce o poder sub lege, mas o exerce dentro de limites derivados do reconhecimento constitucional dos direitos "invioláveis" do indivíduo (BOBBIO, 1986, p. 20).
A partir do estudo de diversas realidades Barroso analisa o conceito de
autonomia mostrando que há certo hibridismo na regulação e no funcionamento dos
sistemas educativos, sendo este
o resultado de uma lógica aditiva de introdução de mudanças nos princípios e normas que regulam o sistema educativo e que sua efetivação como política educacional é permeada por uma visão utópica que está além de uma simples alteração normativa e administrativa das competências e dos modos de gestão da escolar, defendendo o modelo de “autonomia construída” em oposição ao de “autonomia decretada” (BARROSO 2007, p. 68).
A esse respeito pode se remeter às contribuições tecidas por Licínio Lima
acerca da autonomia escolar, que apresenta importantes elementos da atual
dimensão do debate dessa temática no contexto das transformações que passam a
educação em nível global. O autor expressa que
A crescente importância do chamado gerencialismo (...) na administração pública e, especialmente, na administração da educação, cujos pilares assentam em princípios da "nova gestão pública" e em perspectivas da "administração pública empresarial" (...) representa um relevante elemento a ter em consideração e uma possível chave para a compreensão das aludidas variações em termos do conceito de autonomia. A par de outros (descentralização, participação, cidadania), o conceito de autonomia vê radicalizado o seu caráter polissêmico, sendo sujeito a um complexo
86
processo de ressemantização capaz de fazer adquirir não apenas novos significados, mas também significados já em ruptura com a sua historicidade e com as suas articulações privilegiadas com as teorias da democracia como participação (LIMA, 2006, p. 08).
A autonomia é um conceito que emerge com grande centralidade nos
discursos políticos, na legislação educacional concernente e no meio acadêmico, se
revelando em meios a profundas ambiguidades e contradições e “assumindo
frequentemente uma dimensão retórica em face de orientações e ações que
obstaculizam o exercício da autonomia das escolas em termos minimamente
substantivos” (LIMA, 2006, p. 06). No entanto, inversamente tem se mostrado como
um conceito que, apesar de ser muito alardeado como princípio doutrinário, ainda se
percebe um profundo distanciamento entre a retórica, a normatização e sua
implementação de fato.
Ao se fazer presente também nas orientações dos organismos internacionais
(a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico - OCD e Banco
Mundial - BM, dentre outros) demonstra-se que o seu sentido mais comunitário e de
sua democratização como fruto do autogoverno das unidades locais está cada vez
mais distante, pois se afirma mais o seu sentido de imposição consentida em
detrimento da autonomia construída. A esse respeito, Lima (2006) também revela
que, dessa forma:
O conceito de autonomia é desprovido de sentido político substantivo e não significa mais autogoverno, soberania, capacidade de se dirigir segundo regras próprias e em graus variados; significa, ao invés, algum grau de liberdade de execução, adaptação local e operacionalização contextualizada das orientações produzidas por outrem, mesmo assim de forma tutelada e fortemente regulamentada, através da sujeição a normas processuais com origem no exterior, e acima, de cada escola concreta. Esta concepção de autonomia da escola, de tipo marcadamente operacional ou procedimental, contribui para a salvaguarda do tradicional poder da administração central e da sua ordem própria, ou seja, assegura a autonomia do centro e remete as escolas para uma condição politicamente e administrativamente periférica e subordinada (p. 09).
A discussão acerca da autonomia não se fez somente presente nas
determinações legais e nos discursos governamentais. Sua reivindicação deriva da
luta de variadas pessoas e instituições que não deixaram perder o sopro da
democratização da educação e de sua possível construção coletiva. Pois, a sua
busca emergiu e emerge da vontade de tornar a periferia num centro de novas
87
tomadas de decisões, tornando o poder político não somente como instrumento de
autoridade e barganha da administração central.
3 Descentralização, Participação e Autonomia Pós-Constituição Federal de
1988 e LDBEN de 1996
A CF de 1988 traz em si um discurso democratizante associado à
necessidade de descentralização. No entanto, essa determinação não é suficiente
para se garantir um Estado democrático caracterizado pela participação social nos
processos decisórios e no desenvolvimento de políticas sociais equalizadoras das
desigualdades sociais.
A atual Carta Magna ao recolocar a importância da participação dos governos
traz em si a necessidade de efetivação do princípio da democratização e a ruptura
com os processos autoritários e clientelistas.
Segundo Ribeiro (2002) no final dos anos de 1980 a nova Constituição do
país tinha como mola propulsora a criação de condições para a descentralização
das políticas públicas e preconizava a formação de regime federativo num sistema
cooperativo. Neste período o processo de descentralização era compreendido como
um imperativo para resolver ou pelo menos atenuar a crise fiscal e financeira do
país, para enfrentar os encargos das dívidas públicas (interna e externa) e também
para reduzir o tamanho do Estado, principalmente do poder executivo.
A descentralização do poder público, diferente da desconcentração, exige mais requisitos quais sejam 1- a capacidade técnica que habilita a discussão das políticas e consequente deliberação, e, 2- um rearranjo tributário, uma vez que ao poder de decisão deve corresponder uma autonomia financeira que possibilita implementar o que for deliberado. Rearranjo tributário, no caso da Reforma de Estado no Brasil, porque a descentralização se reveste, na maioria dos casos, da forma de municipalização. E uma das razões que leva ao Governo a defender a descentralização como uma das principais saídas é o fato de que a crise que o capitalismo atravessa manifesta-se no Brasil, entre outras formas, na crise fiscal. E esta se caracteriza, entre outras coisas, pela diminuição da receita tributária e redução das transferências de recursos ao município por outras esferas de governo, e que se vê agravada pela incidência da política de juros altos sobre as dívidas dos Municípios e dos Estados para com a União (RIBEIRO, 2002, p. 95-96)
A CF de 1988, em seu artigo 18, estabelece que “a organização político
administrativa da República Federativa do Brasil compreende a União, o Distrito
88
Federal, os Estados e os Municípios todos autônomos, nos termos desta
constituição”, definindo o município como ente federativo, pressupõe-se que foi
facultado a este a emissão de normas e o estabelecimento de políticas, viabilizando
com isso a implantação de um regime de colaboração e não se estar mais atrelado a
um sistema hierárquico entre as três esferas de poder.
Assim, compete ao município autônomo, no Capítulo IV, art. 30: “I- legislar
sobre assuntos de interesse local; II- suplementar a Legislação Federal e a Estadual
no que couber; VI- manter, com a cooperação técnica e financeira da União e do
Estado, programas de educação pré-escolar e de ensino Fundamental”.
Com essa nova definição, os municípios passaram a ter mais liberdade
político administrativa, pois tanto a CF como LDBEN garantem ao município a
possibilidade para criarem seu próprio SME, expresso tanto no art. 211: “A União, os
Estados, o Distrito Federal e os municípios organizarão em regime de colaboração
seus Sistemas de Ensino” quanto no art. 8º da LDBEN: “A União, os Estados, o
Distrito Federal e os Municípios organizarão em regime de colaboração, os
respectivos sistemas de ensino”.
Assim, com tais respaldos jurídicos, os Municípios passaram a poder criar seu
próprio sistema de ensino, de caráter não obrigatório, mas sim sendo uma forma de
ganhar mais autonomia no que se refere à educação de sua jurisdição, pois a lei
também prevê que o município pode aliar-se ao Estado, para criar um sistema único
ou manter-se agregado a este, dependendo da necessidade do município. Na
LDBEN em seus artigos 8º e 11º, estabelece que pode haver tal união entre os
Estados e Municípios para decidirem a criação de um mesmo sistema educacional.
Em consonância com a Carta Magna, a LDBEN, art. 8º, regulamenta o
processo de institucionalização dos sistemas de ensino e sua forma de organização.
Conforme Sarmento (2005), a criação do sistema municipal de ensino é uma
questão relacionada ao pacto federativo no Brasil, indo além da política de
municipalização, acentuada nos anos 1990, que afirma autonomia do município.
A LDBEN de1996, no seu art. 11, define as incumbências dos municípios:
I – organizar, manter e desenvolver os órgãos e instituições oficiais dos seus sistemas de ensino, integrando-os às políticas e planos educacionais da União e dos Estados; [...] III – baixar normas complementares para o seu sistema de ensino;
89
IV – autorizar, credenciar e supervisionar os estabelecimentos do seu sistema de ensino; [...] Parágrafo Único. Os Municípios poderão optar, ainda, por se integrar ao sistema estadual de ensino ou compor com ele um sistema de educação básica.
A criação do SME é uma opção política que exige dos responsáveis pela
educação local assumirem a inteira responsabilidade da organização e da
explicitação das estruturas, dos fins e valores da educação local. É uma decisão
exigente em competência técnica e compromisso político com a educação de
qualidade e com o envolvimento dos educadores e dos cidadãos.
Assim, a lei do SME não pode servir como subterfúgio para o não
atendimento das exigências e normas que qualificam a educação e como evasiva
para o não atendimento a padrões de qualidade referentes a funcionamento de
escolas, formação de professores, provisão de equipamentos ou a outros quesitos
mínimos ao trabalho escolar.
Por outro lado, segundo Werle, Thum e Andrade (2008), o município que criar
o seu SME não terá, de uma forma definitiva, às questões educativas solucionadas.
Regulamentação, adendos, supressões, explicitações dos termos da lei que criou o
SME podem ser feitas e devem ocorrer nas localidades em que a educação é uma
responsabilidade conscientemente construída e enfrentada.
Conforme Werle, Thum e Andrade (2008), a ação de instituir o SME exige um
esforço consciente de problematização dessas mesmas práticas e de criação de
uma proposta que fecunde a situação, expanda as características e valores locais e
seja capaz de contemplar não apenas a dimensão legal, mas a local e a pedagógica.
Em relação a autonomia político administrativa dos sistemas municipais de
ensino no texto da LDBEN/1996, Duarte (2003), apresenta um duplo movimento:
possibilita a União, aos estados e municípios a livre organização de seus sistemas
de ensino (art. 8º, § 2º) e estabelece, apenas para os municípios, a atribuição de
integração de seus órgãos e instituições oficiais as políticas e planos educacionais
da União e dos Estados (art. 11, inciso I). A lei garante a autonomia do sistema de
ensino, mas em conformidade com as diretrizes educacionais nacionais e estaduais.
Os elementos fundamentais para a construção de um sistema municipal de
ensino com princípios democráticos constituem-se na efetiva participação dos
segmentos sociais que constituem o Conselho Municipal de Educação – CME,
90
representado por profissionais da educação, comunidade escolar e comunidade
local, que participam das deliberações.
Teixeira (2001, p. 38) considera que: “A participação é um instrumento de
controle do Estado pela sociedade, portanto, de controle social e político:
possibilidade de os cidadãos definirem critérios e parâmetros para orientar a ação
pública”, especialmente, os Conselhos Municipais de Educação.
No Brasil, por exemplo, a participação dos cidadãos se dá à medida que são
formados conselhos, colegiados, comissões de representação, como também nas
escolhas dos representantes do legislativo e executivo em suas diferentes
instâncias, ambos os resultados refletem o nível de organização e visão política de
cada localidade ou região.
Os problemas que dizem respeito à convivência dos sujeitos, e a relação
desses com a sociedade, passam a ser questões coletivas, cuja solução deve ser
buscada em conjunto através da participação dos envolvidos. De maneira
abrangente, participação política refere-se à ação dos sujeitos na busca de
minimizar problemas que estão relacionados aos interesses coletivos ou individuais.
Portanto, no âmbito educacional dos municípios, é o Conselho de Educação
que pode constituir o espaço privilegiado para a participação dos diversos
segmentos sociais no tocante às discussões e decisões relacionadas ao processo
educativo.
De acordo com Oliveira (2006), a constituição de sistemas municipais de
ensino pode ser um instrumento democratizante capaz de contribuir para a melhoria
da qualidade do ensino, porém, é preciso atentar para a sua forma: como é
implementado, em que circunstancias e em que condições.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A breve contribuição deste trabalho no âmbito das ciências da educação é
uma nova percepção de que a educação brasileira vem se estruturando em
categorias centrais edificadas na democratização, descentralização e autonomia.
Essas categorias é o que norteia os sistemas municipais, a gestão e suas principais
determinações legais. A análise dos resultados nos mostra que a relação entre
descentralização e democratização nas tomadas de decisões é direta, sendo
91
defendida como uma oportunidade de se dar um novo significado às formas de
gestão das instâncias públicas.
A institucionalização de um sistema de ensino é marcada pela legitimação do
município enquanto ente federado autônomo que, em termos educacionais, passa a
ter a prerrogativa de determinar seus próprios rumos e por abrir um leque de
possibilidades para agilizar o funcionamento de suas instituições educacionais,
trazendo a perspectiva de maior proximidade à sua realidade educacional, criando
normas próprias e adequadas ao seu contexto sócio educacional.
Portanto, percebe-se que as políticas democratizantes visam à diminuição
das hierarquias existentes nesse processo onde o poder decisório, para os que a
planejam com autonomia e a partir de sua realidade local, qualifique a ação
educativa local e a sua rede de atendimento.
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93
A IMPORTÂNCIA DA UTILIZAÇÃO DE JOGOS DIDÁTICOS COMO
METODOLOGIA FACILITADORA DA APRENDIZAGEM NO ENSINO
DE MATEMÁTICA
Robertta Mayollinny Gonçalves de Arruda Medeiros 1
RESUMO
A aquisição dos conteúdos de Matemática, para 90% dos estudantes, é apontada corriqueiramente pelos estudantes como uma tarefa complicada. Os jogos elaborados pelos estudantes, sob minha orientação no projeto 10COMPLICA na escola da Rede Estadual da cidade de Riacho das Almas – PE, tendo como sujeitos 42 estudantes na disciplina de Matemática, abordando conteúdos escolhidos por eles. Sendo uma pesquisa de caráter qualitativo, os dados foram coletados a partir de vídeos-gravações e diário de bordo, a qual foi dividida em Categorias A e B; onde a Categoria A: os estudantes participam do jogo pelo aprendizado e na categoria B: os estudantes ao mesmo tempo que se divertem e aprendem o conteúdo. Foram utilizados dois critérios de análise dos dados a relação entre a contribuição do jogo para o entendimento e a sua certificação como material didático; e observar o interesse dos estudantes através da sua aplicabilidade. Após a análise observou que o uso de jogos como metodologia facilita a aprendizagem no Ensino Médio de Matemática, pois o seu uso em sala de aula é de extrema relevância para o aprendizado dos estudantes, uma vez que o ensino da matemática, por meio de jogos, pode transformar as atividades que para muitos é algo chato em fonte de aprendizagem, curiosidade, diversão, conhecimento, desenvolvimento matemático e lógico. Certificando que o uso de jogos didáticos em sala de aula é importante para que os estudantes tenham uma boa assimilação dos conteúdos matemáticos mais complexos.
Palavras-chave: Jogos Didáticos, Ludicidade, Ensino de Matemática.
INTRODUÇÃO
Quando falamos em novos métodos de ensino, sobretudo com relação a matemática,
encaramos um desafio singular. Primeiro por que as formas pelas quais a matemática é vista
no sistema escola passa por uma longa cultura de distanciamento da disciplina por parte dos
alunos, e em segundo lugar com relação aos métodos retrógrados de ensino da matemática.
1 Mestranda do Curso de Ciencias da Educação do Instituto - UNIEDUC, [email protected]
94
Este artigo pretende mostrar como técnicas diferenciadas de ensino da matemática podem ser
uma ferramenta eficaz no combate aos baixos índices de aprendizagem com relação a
disciplina.
Várias metodologias estão sendo abordadas como um auxílio no desenvolvimento de
ensino, a exemplo das atividades lúdicas, com o intuito de provocar a atenção dos estudantes e
apresentar aprendizagem significativa.
Com o uso de atividades lúdicas o ensino faz-se mais interativo, desta forma o
estudante deixa de ser apenas um receptor de “notícias” transmitidas pelos docentes,
permitindo que seja um estudante ativo no decorrer das aulas; e como consequência passa a
ter maior interesse pela disciplina (SOARES et al., 2010). As atividades lúdicas podem ser
divididas na utilização do jogo educativo ou do didático como recurso metodológico. É
fundamental evidenciar que o jogo educativo objetiva ensinar certo conteúdo, porém o jogo
didático traz como base revisar um determinado conteúdo.
De acordo Godoi et al. (2010), a utilização do jogo didático auxilia ao trabalho em
grupo na sala de aula, como também permite uma melhor interação entre o docente e o
estudante e ampliar as habilidades, contribuindo a uma melhor aprendizagem. Como também,
o jogo é incentivador, já que atrai a “curiosidade” provocando o interesse dos estudantes,
contribuindo a um melhor entendimento dos conteúdos dos mais simples aos complexos
(SOARES, 2008).
O jogo didático aborda algumas características, uma delas é possível perceber que,
igualmente outros jogos, o jogo didático tem que expor regras. Conforme Soares (2008) as
regras criam um acordo “social” entre os integrantes que estão participando do jogo. Contudo,
para impedir que o estudante se atente ao jogo por entretenimento, ignorando o lado do
conteúdo matemático trabalhado com a sua aplicação, é preciso que tenham regras mínimas e
que não sejam complexas. Dessa forma, recomenda-se a construção de jogos didáticos
partindo de jogos conhecidos e o mais importante que estejam presentes no dia a dia dos
estudantes, favorecendo a sua aplicabilidade, contribuindo que o conteúdo matemático seja a
finalidade de sua aplicabilidade.
Tendo em vista que o ensino de Matemática seja capaz de ser abordado de uma forma
mais prazerosa e dinâmica, como também proporcionar bons resultados adquiridos pelos
estudantes partindo da utilização de jogos didáticos, no decorrer do projeto 10COMPLICA,
foi viável aplicar a prática exibida neste trabalho abrangendo jogos didáticos.
A partir da necessidade de proporcionar aos estudantes circunstâncias que contribuam
o entendimento de conteúdos matemáticos e da certificação de jogos como material didático,
95
além de analisar o nível de interesse dos estudantes pela aplicabilidade de jogos como
ferramenta de ensino, a ideia foi desenvolver jogos didáticos, elaborados pelos estudantes
abordando conteúdos de matemática em turmas do 1º ano do ensino médio em uma escola da
cidade de Riacho das Almas-PE.
METODOLOGIA
Visto que essa pesquisa qualitativa, teve o intuito de assimilar o processo de
aprendizagem através da estratégia criada, consideramos ser necessária uma abordagem de
pesquisa qualitativa, já que se importa com dados da realidade, uma vez que não podem ser
quantificados (SILVEIRA; CÓRDOVA, 2009). Segundo Minayo (2001) a pesquisa
qualitativa advertida pelo motivo do seu empirismo e também a sua abrangência emocional.
Quanto a sua natureza aplicada, se planejou propor conhecimentos para realização prática,
levados a solução de problemas característicos, abrangendo interesses locais e verdades.
O estudo foi realizado com estudantes do 1° Ano do ensino médio, com a faixa etária
de 15 anos, de uma escola da rede estadual, localizada na zona urbana do município de
Riacho das Almas – PE. Tendo como sujeitos 42 estudantes da turma “A”, na disciplina de
Matemática, abordando conteúdos escolhidos por eles, o projeto veio a ser desenvolvido após
uma das palestras na escola onde mostrou que cerca de 75% dos estudantes estavam com
dificuldade na disciplina de matemática.
Coletamos os dados a partir de vídeo-gravações em todos os momentos da elaboração
dos jogos, com os seguintes momentos: solicitou-se aos estudantes que se dividissem em
grupos e cada grupo elaborassem jogos didáticos a partir de jogos já conhecidos, envolvendo
o conteúdo escolhido por eles. No segundo momento, na semana seguinte reservei um tempo
curto da aula, para poder observar como estava o andamento da elaboração do jogo, visto que
os estudantes estavam com algumas dificuldades na elaboração do jogo, foi criado um grupo
no WhatsApp para facilitar a comunicação entre professora e alunos. Após um mês de
elaboração dos jogos os estudantes apresentaram o projeto no auditório da escola e realizou a
aplicação dos jogos, também foi solicitado aos estudantes que elaborassem diário de bordo.
Segundo Porlán (2004), o diário de bordo tem sua aplicabilidade no relato dinâmico
das aulas, pois as escritas pautadas e específicas dos fatos cotidianos possibilitam o progresso
das competências constatadas. Dessa forma é uma ferramenta de trabalho fundamental para o
96
apontamento de investigação-ação. A investigação-ação concebe a análise dos problemas
práticos vivenciados pela atuação cotidiana dos docentes (ELLIOTT, 1978).
Para analisar os dados se utilizou categorias elaborada pela autora, sendo divididas em
A e B, onde a Categoria A: os estudantes participam do jogo pelo aprendizado e na categoria
B: os estudantes ao mesmo tempo que se divertiam também estavam em busca de aprender o
conteúdo. Foram utilizados dois critérios de análise a relação entre a contribuição do jogo
para o entendimento e a sua certificação como material didático; e observar o interesse dos
estudantes através da sua aplicabilidade.
DESENVOLVIMENTO
A aquisição dos conteúdos de Matemática, na maioria das vezes, é apontada pelos
estudantes tal como uma tarefa complicada. Algumas implicações podem motivar esse
bloqueio dos estudantes em aprender Matemática, a mais notável é a persistência dos docentes
em abordar metodologias que não provoca nos estudantes o interesse, a dedicação de aprender
os assuntos abordados em sala de aula, como consequência não possibilita uma aprendizagem
significativa dos conteúdos Matemáticos.
De acordo os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN+):
[...] a simples transmissão de informações não é suficiente para que os alunos elaborem suas ideias de forma significativa. É imprescindível que o processo de ensino-aprendizagem decorra de atividades que contribuam para que o aluno possa construir e utilizar o conhecimento (PCN+, 2000, p. 90).
Assimilar este processo didático apontado nos métodos de ensino e aprendizagem
precisa da habilidade dos docentes. De acordo Cabrera (2007), processo da aprendizagem tem
proporcionado uma preocupação entre os estudiosos da área, os quais percebem que não
existe uma maneira estabelecida, instruída de esclarecer a dificuldade de aprender os
conteúdos trabalhados. A percepção de como o estudante adquire conhecimentos e quais
pontos deste método de aprendizagem podem ser analisados por recursos metodológicos em
pretensão de uma aprendizagem significativa são etapas notáveis para a elaboração e
introdução de práticas de ensino.
97
Acredita, assim como Kishimoto (1996), que o docente deve analisar o uso de
metodologias pedagógicas aplicando em sua prática aquelas que agem nos segmentos da
aprendizagem, uma vez que não devem ser desprezados quando o objetivo é a adequação de
conhecimentos por parte do estudante. Observa que o jogo contribui o aprendizado pelo erro,
porque não há imposição, tornando então um ambiente apropriado para investigação e a busca
de soluções (KISHIMOTO, 1996).
O jogo, necessita que o docente tenha o domínio ao conteúdo, a fim de que a atividade
a ser aplicada se torne atrativa, sem perder a relevância do conteúdo. O jogo didático é aquele
elaborado com o intuito de possibilitar certas aprendizagens, distinguindo-se do material
pedagógico, por abranger a perspectiva lúdica (Cunha, 1988). Corroborando Cunha (2012)
afirma que:
[...] os jogos didáticos, quando levados à sala de aula, proporcionam aos estudantes modos diferenciados para aprendizagem de conceitos e desenvolvimento de valores. É nesse sentido que reside a maior importância destes como recurso didático (CUNHA, 2012, p. 95).
Os benefícios da implantação de jogos no ambiente de ensino e aprendizagem,
segundo Grando (2001), são o princípio e aperfeiçoamento de conceitos de difícil assimilação;
atuação frequente do estudante na estruturação do seu respectivo conhecimento; socialização
entre estudantes e a compreensão do trabalho em equipe, além de incentivar os estudantes a
participarem da aula. Como o referido autor Miranda (2001) afirma que, por intervenção do
jogo didático, diversas finalidades podem ser alcançadas, referentes à socialização,
motivação, criatividade e cognição.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A experiência de fazer o projeto 10COMPLICA foi algo inovador, pois se percebeu o
desempenho de cada participante, onde eles tiveram uma experiência de aprendizagem na
criação dos jogos e durante a aplicação que foi onde se colocou em prática o que aprenderam
durante a criação dos jogos. Como relata o grupo A4: “A nossa intenção para com o jogo foi
transformar a matemática que para muitos é algo complicado em algo divertido e assim
torná-la fácil e interessante”. Se enquadrando então na categoria B, onde os estudantes ao
mesmo tempo que se divertiam também estavam em busca de aprender o conteúdo. Como a
98
maioria dos estudantes observam a matemática como uma disciplina de difícil entendimento,
o intuito da aula didática e lúdica é que os estudantes tenham uma nova perspectiva perante o
conteúdo ensino aprendizagem sobre matemática.
Notou-se que a maioria dos estudantes descreveram o jogo como uma boa
possibilidade de recurso didático para serem usados em sala de aula e que os mesmos
aprenderam com o jogo, como por exemplo o grupo A2 relatou: “O uso dos jogos em sala de
aula é um suporte metodológico adequado a todos os níveis de ensino fazendo assim com que
os jogadores criem uma situação imaginária que permite ir além do próprio conhecimento”.
Se adequando na categoria A, pois os estudantes participam do jogo pelo aprendizado. O
docente, segundo Cunha (2012, p. 92), “é um gerador de situações estimuladoras a
aprendizagem [e essas situações são] a força motora”.
Corroborando com o posicionamento acima a partir das escritas obtidas no diário de
bordo, o grupo A1 que elaborou o jogo MULTIDIVISORES, relatou: “Durante a
apresentação para toda a escola, percebemos que uma grande parte dos estudantes que
participaram dos jogos não tinham conhecimento dos assuntos múltiplos e divisores, então
elaboramos uma explicação para todos os estudantes explicando esses assuntos antes do
jogo. Logo, percebemos que o nosso jogo estava ajudando os alunos a aprenderem este
assunto de forma mais divertida e isso foi comprovado por vários alunos após a
apresentação”. Sendo assim, após os estudantes jogarem, foi notado que as notas melhoraram
consideravelmente, concluindo que a aprendizagem “brincando” é um dos mais eficientes
meios de se poder aprender. Na categoria B os estudantes ao se divertir também buscavam
aprender o conteúdo.
Visto que como tantos resultados positivos, foi comprovado que realmente os jogos
matemáticos ajudam na aprendizagem com cálculos mentais e divisões. Como por exemplo o
grupo A3 relatou: “Em relação ao MATDVISION tivemos o prazer de ser um dos jogos mais
escolhidos pelos alunos e nos surpreendemos, pois, o nosso jogo tem como tema a divisão
com cálculos mentais, que por sua vez é considerado difícil”. Na categoria A, pois mais uma
vez eles buscam o aprendizado. Segundo Soares (2008, p. 7), “o benefício do jogo está nessa
possibilidade de estimular a exploração em busca de resposta e em não se constranger quando
se erra”.
Com a elaboração do jogo CORRIMÁTICA, do grupo A2, foi visto que os estudantes
tinham gostado e estavam jogando diariamente, com o passar do tempo aconteceu outra
palestra e o percentual de dificuldade com o raciocínio logico teria diminuído de 75% pra
35%, como relata o mesmo: “Ficamos gratos por ter ajudado os estudantes a se interessarem
99
mais”. Se enquadrando na categoria A, eles estavam em busca de novos conhecimentos.
Jogos se mostram um indispensável recurso didático, permitindo o entendimento do conteúdo
abordado; contribuindo o docente a fortificar o processo de ensino e aprendizagem, uma vez
que ele provoca o interesse no estudante. Os jogos foram além da escola e foram apresentados
na I FEIRA DE CIÊNCIAS DO AGRESTE PERNAMBUCANO.
Se percebe que os docentes formados ou mesmo os formados recentemente ao
vivenciarem com a realidade nas escolas, se esbarram com acontecimentos que não foram
vistos no decorrer do curso de formação, como por exemplo casos complicados como chamar
a atenção do estudante para o conteúdo que está sendo trabalhado em sala de aula. Logo, o
jogo como uso de recurso didático auxilia a atrair atenção ou interesse do estudante que cada
vez se mostra mais disperso das aulas, como também permite a ter um entendimento ao
conteúdo estudado.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A investigação partiu da preocupação de ter sido observado que os estudantes traziam
consigo um certo grau de dificuldade em matemática do ensino fundamental. Abordando
conteúdos que os estudantes tinham uma maior dificuldade, mostrando que é preciso de novas
metodologias para facilitar a aprendizagem no ensino de matemática.
Portanto, abordamos um projeto chamado, 10COMPLICA sendo trabalhado a
elaboração de jogos didáticos para facilitar a aprendizagem dos estudantes. Com o intuito de
possibilitar a importância dos jogos no processo de ensino e aprendizagem, facilitando ao
docente a função de transmitir o conteúdo abordado. Segundo Carraher & Schilemann (1988),
"não precisamos de objetos na sala de aula, mas de objetivos na sala de aula, mas de situações
em que a resolução de um problema implique a utilização dos princípios lógico-matemáticos a
serem ensinados" (p. 179). Em contrapartida, com o projeto observou-se que o jogo promoveu
um espaço no qual os estudantes conseguiram trocar conhecimentos, no decorrer das
aplicações dos jogos, de maneira que as dúvidas podiam ser esclarecidas. O jogo também
permitiu aos estudantes avaliarem suas dificuldades em relação aos conteúdos matemáticos.
Dessa maneira, se evidencia o papel do jogo como método para auxiliar no processo de ensino
e aprendizagem no ensino de matemática.
Certificando que o uso de jogos didáticos em sala de aula é importante para que os
estudantes tenham uma boa assimilação dos conteúdos matemáticos mais complexos. Em
100
função disso pode criar possibilidades permitindo o convívio e comunicação entre o estudante
e o docente, oportunizando o andamento e instigação para aprender. Fiorentini e Miorim, em
sua pesquisa publicada no Boletim SBEM-SP (ano 4 - nº 7) defendem que:
Ao aluno deve ser dado o direito de aprender. Não um 'aprender' mecânico, repetitivo, de fazer sem saber o que faz e por que faz. Muito menos um 'aprender' que se esvazia em brincadeiras. Mas um aprender significativo do qual o aluno participe raciocinando, compreendendo, reelaborando o saber historicamente produzido e superando, assim, sua visão ingênua, fragmentada e parcial da realidade. (FIORENTINI E MIORIM, SBEM-SP, ano 4 - nº 7).
Desta forma, o jogo pode se encaixar perfeitamente como um recurso para que isto
ocorra e nem sempre o material mais adequado é aquele visualmente mais bonito e/ou aquele
pronto e acabado, inúmeras vezes quando o jogo é construído ou reformulado pelo aluno
oferece uma aprendizagem mais efetiva e prazerosa. A partir do momento que o estudante
enxergar o ato de aprender como algo interessante ao invés de tedioso e sem significado, este
fará parte da sua lista de preferências. Sendo assim, os resultados reforçam o papel das
atividades inovadoras no processo de ensino e aprendizagem, saindo das metodologias
tradicionais. Os jogos precisam estar integrados na metodologia dos docentes, já que é uma
ferramenta relevante de ensino, como foi pesquisado. Cabe destacar que os jogos não repõem
outros métodos de ensino, eles servem de apoio para o docente, como também incentivam os
estudantes a uma participação mais dinâmica na aprendizagem.
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A CAPACIDA DE TRABALHO DOS ASSISTENTES SOCIAIS NO ÂMBITO DA SAÚDE PÚBLICA
Valnice de Moraes Rolim1 Klaussia Maria Cavalcanti de Sousa2
RESUMO
O Índice de Capacidade para o Trabalho vem se tornando um importante instrumento para se mensurar como profissionais, em qualquer área de atuação, vêem sua capacidade para o exercício de sua função, neste sentido muitos profissionais que atuam no âmbito da saúde pública, enfrentam em seu dia a dia diversos obstáculos e dificuldades que acabam refletindo significativamente no modo de trabalhar, e na forma como a assistência à saúde é prestada a população, especialmente as de classes menos favorecidas. Pensar a saúde como o bem-estar biopsicossocial e físico é estimular práticas assistenciais que contemplem de forma efetiva esse preceito. Todavia, diante da precariedade como vem se mostrando a saúde pública no Brasil, aumentou-se a demanda de ações por parte do Assistente Social, que não só vislumbra a garantia dos direitos sociais a população, como também tem se inserido na garantia dos direitos inerentes ao acesso fundamental e irrestrito a saúde. Diante do exposto, o presente estudo traz como objetivo principal realizar uma revisão literária sobre a capacidade para o trabalho de Assistentes Sociais que atuam na saúde pública. Desta forma, para alcançar o objetivo proposto, adotou-se como método a pesquisa bibliográfica em artigos científicos, como também em livros de autores que versam a temática adotada. Ao fim da revisão foi possível concluir que o índice de capacidade para o trabalho de assistentes sociais que atuam na saúde pública podem estar sendo prejudicados diante da sobrecarga que vão além da capacidade do trabalhador em respondê-las de modo positivo no seu trabalho, mediante a pouca autoridade de decisão, a dependência de medidas de promoção à saúde do paciente por parte dos gestores, além do compromisso de atendimentos por outros profissionais de saúde, causando assim, limitações no fazer profissional e exaustão mental em decorrência aos atendimentos limitados. Palavras-Chave: Assistente Social. Capacidade de Trabalho. Saúde Publica.
1Assistente Social pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Cajazeiras (FAFIC). Mestranda em Saúde
Pública pela Absolute Christian University. Email: [email protected] 2Assistente Social pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Cajazeiras (FAFIC). Mestranda em Saúde
Pública pela Absolute Christian University. Email: [email protected]
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ABSTRACT
The Capacity Index for Work has become an important instrument to measure professionals, in any area of activity, see their capacity for exercise of their function, in this sense many professionals working in the field of public health, face in their day by day several obstacles and difficulties that end up reflecting significantly in the way of working and in the way in which the health assistance is provided to the population, especially of the less favored classes. To think of health as biopsychosocial and physical well being is to stimulate welfare practices that effectively contemplate this precept. However, given the precariousness of public health in Brazil, the demand for action by the Social Worker, which not only envisions the guarantee of social rights for the population, but also has been inserted in the guarantee of inherent rights to fundamental and unrestricted access to health In view of the above, the main objective of the present study is to carry out a literary review on the work capacity of Social Workers working in public health. In order to reach the proposed objective, the bibliographic research method was adopted in scientific articles found in databases such as Scielo, Lilacs and Google academic. At the end of the review it was possible to conclude that the index of work capacity of social workers working in public health may be affected, since the social demands of the work environment have physical and mental consequences to the same, such overloads are very besides the worker's ability to respond positively to their work, through the lack of decision-making authority, dependence on management measures for the health of the patient, and the commitment of other health professionals, thus limitations in professional doing and mental exhaustion due to limited attendance. Keywords: Social Worker. Work Capacity. Public health.
INTRODUÇÃO
A capacidade para o trabalho é o princípio do bem estar laboral, podendo
ser entendido como a capacidade física e mental, apresentada pelo profissional,
para execução das tarefas, a partir das exigências do trabalho. Estudos demonstram
que a capacidade para o trabalho não permanece satisfatória por toda vida, sendo
que alguns fatores, tais como o ambiente ocupacional e o estilo de vida influenciam
de maneira importante nos mais variados contextos laborais (TUOMI, 2005).
No Brasil, os estudos sobre capacidade para o trabalho iniciaram após a
tradução e adaptação do questionário Índice de Capacidade para o Trabalho (ICT)
para uso no País. Foram feitas algumas alterações no texto do instrumento visando
garantir o entendimento das questões e para poder ser autoaplicável desde que a
escolaridade mínima fosse a quarta série do ensino fundamental (TUOMI, 2005).
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Avaliar a Capacidade para o Trabalho pode ser o caminho para melhorar a
qualidade da assistência promovida pelos Assistentes Sociais que atuam na saúde
pública, tendo em vista que, ao se mensurar esta capacidade poderão ser
detectadas às dificuldades e os problemas que possivelmente poderão afligir o
profissional e, consequentemente, refletir no seu desempenho para o trabalho.
O Sistema de Saúde brasileiro vem enfrentando graves problemas,
comprometendo a qualidade e resolubilidade dos serviços. É notório que a
sociedade brasileira vem enfrentando/sofrendo uma série de dificuldades, restrições
e sucateamento das políticas públicas, mesmo diante de uma Constituição Federal
que assegura, ainda que em tese, a garantia dos direitos aos cidadãos. A política de
saúde como não poderia ser diferente, diante da conjuntura vigente, vem sendo
operacionalizada de forma precária, relegando em segundo plano as demandas
apresentadas pela população usuária (GUERREIRO; BRANCO, 2011).
Diante disto, os assistentes sociais que atuam na área de saúde se veem
compelidos a atuarem em um contexto totalmente adverso perpassado, pela
escassez, precarização, focalização e seletividade das políticas públicas, em
especial da política de saúde, exigindo-se assim, um trabalho ainda mais consistente
e complexo da assistência social usuária (MENDES, 2013).
São inúmeros os fatores que se colocam como barreiras na prática do
assistente social, mas que jamais devem se tornar entraves intransponíveis, uma
vez que, é preciso que estes profissionais estejam cada vez mais cientes do seu
papel como mediador das políticas públicas em geral, principalmente, as inerentes a
saúde da população, pois neste setor a população tem sofrido bastante com a falta
de efetivação de ações as quais promovam melhorias na qualidade da vida das
pessoas e ao efetivo cumprimento dos direitos que lhes são assistidos (LACERDA,
2014).
Fortalecer o exercício dos direitos sociais não é só é um caminho para
alcançar ações verdadeiramente comprometidas com a vida das pessoas, mas
como também é o caminho para que os profissionais venham a compreender a sua
importância, o seu verdadeiro papel neste espaço, nesse campo de atuação usuária
(MIRANDA et al., 2017).
Diante do exposto, o papel do assistente social torna-se indispensável, e de
fundamental importância, principalmente por se inserir no contexto da universalidade
dos direitos fundamentais dos cidadãos, devendo assim intervir sob as dificuldades
105
sociais que limitam a capacidade do indivíduo na efetivação dos direitos sociais
usuária (LACERDA, 2014).
No âmbito da saúde, não é diferente, tendo em vista que o assistente social
intervém frente as dificuldades encontradas pelos indivíduos ao acesso universal e
integral a saúde pública usuária (COSTA; MADEIRA, 2013). O que se tem defendido
é que essa intervenção social é de extrema importância, visto que o preceito básico
que assiste os indivíduos, nos mais variados estados de saúde, atendidos em
hospitais e nos centros de referência e atenção psicossocial (CREAS, CRAS, CAPS)
é a recuperação da saúde, visando assim o tratamento adequado do paciente para
melhoria de sua saúde e reintegração ao convívio familiar e social usuária
(MENDES, 2013).
Sabendo-se quão importante é o trabalho do Assistente Social no âmbito
dos direitos fundamentais e do direito à saúde, esse trabalho tem como objetivo
realizar uma revisão literária sobre a capacidade para o trabalho de Assistentes
Sociais que atuam na saúde pública, na possibilidade de ampliar as discussões em
torno desta temática, haja vista ser um tema pouco discutido, mas que merece
atenção, tendo em vista que, a capacidade do trabalhador para idealização do seu
trabalho é imprescindível para a qualidade da assistência, uma vez que as
condições de trabalho as quais os trabalhadores são submetidos refletem e
interferem significativamente na sua prática, podendo trazer consequências
negativas ou positivas, dependendo de todo o contexto em que o profissional está
inserido.
A ATUAÇÃO DO ASSISTENTE SOCIAL NO ÂMBITO DA SAÚDE PÚBLICA
O profissional com formação em Serviço Social atua, historicamente, nas
múltiplas faces da questão social. A ideia clientelista de atividades benevolentes
vem se modificando através de debates da categoria que se repensa a profissão,
pelas exigências do mercado de trabalho, por produtividade, inovação no
atendimento e respostas às demandas do trabalho coletivo em Serviço Social e com
outros profissionais (PIANA, 2009).
É diante destas transformações, na relação entre instituições e profissionais,
que se determinam as formas de enfrentar os problemas no cotidiano. Algumas de
maneira pré-estabelecidas, outras especificamente hierarquizadas. Visto que a ação
106
de Serviço Social está associada às condições objetivas sobre as quais se
desenvolve sua prática profissional. A este respeito, Iamamoto (2010, p. 18) afirma
que:
O ponto de partida para análise do Serviço Social é o de que a profissão, sendo histórica e socialmente condicionada, se configura e se recria no âmbito das relações entre estado e a sociedade, frutos de determinantes macrossociais que estabelecem limites e possibilidades ao exercício profissional.
A autora foca sua atenção no cenário onde se desenvolve a prática do
Assistente Social, cuja identificação é fundamental no sentido de verificar os limites
e possibilidades postos ao profissional.
Cabe, assim, ao Assistente Social no âmbito da sua profissão, não limitar
apenas ao cumprimento burocrático de horário. E sim, ter ação e competência para
propor os seus projetos, defender suas qualificações e funções no seu campo de
trabalho. O Assistente Social deve ir além das rotinas institucionais, buscando
aprendizado em sintonia com a realidade. De acordo com Iamamoto (2010, p. 20):
O Serviço Social Brasileiro, nas últimas décadas, redimensionou-se e renovou-se no âmbito da sua interpretação teórico-metodológica e política, num forte embate com o tradicionalismo profissional e seu lastro conservador, adequado criticamente a profissão às exigências do seu tempo, qualificando-a academicamente, como revela a produção acumulada nas últimas duas décadas do século anterior.
É, a partir dessa perspectiva de renovação teórico-metodológica, que se tem
aprovação através do Conselho Federal da Educação, de 15 de agosto de 1982, do
currículo mínimo para o Curso de Serviço Social. O Serviço Social também fez um
radical giro na sua dimensão ética, através da normatização do Código de Ética de
1986, que estabeleceu princípios e valores humanistas, guias para o exercício
cotidiano (IAMAMOTO, 2010).
Ressalte-se, também, a regulamentação do Sistema Único de Saúde (SUS),
que se deu a partir da década de 1990, no Brasil, e trouxe significativas mudanças
tecnológicas, organizacionais e políticas, que passaram a exigir novas formas de
organização do trabalho no campo da saúde, provenientes da hierarquização,
descentralização e democratização, princípios deste sistema (BARROCO, 2010).
107
Estas mudanças imprimiram novas características aos processos de
trabalho das diferentes profissões que atuam nesta área, entre elas a do Serviço
Social, exigindo dos Assistentes Sociais o domínio das particularidades e dos
fenômenos singulares da questão social na dimensão da saúde, em níveis
municipal, regional e nacional.
Nesta direção e considerando a formação generalista dos Assistentes
Sociais e sua inserção na área da saúde, definida a partir das condições históricas
sob as quais a saúde pública se desenvolveu no Brasil e das mudanças no Sistema
Único de Saúde, é importante pontuar que o trabalho dos Assistentes Sociais não se
realiza independente do contexto histórico, político e social que o determinam e o
definem. Ao contrario, tem nas conjunturas socioeconômicas, política e institucional,
suas possibilidades e limites (FRAGA, 2010).
No âmbito da saúde, tendo em vista a operacionalização do trabalho e a
efetivação do projeto ético-político profissional, o Assistente Social desenvolve seus
processos de trabalho mediando o acesso e a garantia das condições necessárias
ao alcance da saúde individual e coletiva, bem como, aos bens e serviços
indispensáveis para a sua materialização e dos demais direitos sociais. A saúde
emerge como direito universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção,
proteção e recuperação, com responsabilidade atribuída ao Estado e devendo ser
garantida mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução de risco de
doenças e de outros agravos (CARVALHO, 2013).
De acordo com as notas introdutórias do livro Serviço Sociais e Saúde,
Bravo (2007, p.) destaca que:
A categoria dos Assistentes Sociais na atualidade tem sido fundamental na defesa da Seguridade Social pública e na luta pela implementação do Sistema Único de Saúde – SUS publico universal e de qualidade. O Projeto Ético-Político do Serviço Social construído pela categoria profissional, desde meados dos anos setenta, rompe com a herança conservadora da profissão e tem profundas relações com as proposições da Reforma Sanitária Brasileira.
É neste sentido que as diversas expressões da Questão Social colocam
limites e desafios de intervenção para o Assistente Social, exigindo um exame
atento das relações que se processam no mundo do trabalho, particularmente, em
instituições que lidam com o binômio saúde-doença, onde as contradições e as
108
mazelas de uma sociedade com elevados níveis de exclusão social emergem com
força (CARVALHO, 2013).
As demandas que se fazem presentes cotidianamente no Serviço Social dos
Hospitais resultam de processos que são originários de questões sociais
diversificadas. Essa realidade é tão comum que se naturaliza e se banaliza no dia-a-
dia dos serviços de saúde em geral. Porém, nos hospitais particularmente, decorrem
de determinantes que passam ao largo da vivencia, tanto dos sujeitos que
demandam os serviços quanto dos próprios profissionais, independente da formação
e das unidades de saúde em que prestam serviço. São essas manifestações da
questão social que fazem parte do cotidiano dos serviços de saúde em geral,
traduzindo-se em demandas que muitas vezes não conseguem ser viabilizadas, seja
por deficiência do serviço em nível local, seja por deficiência do sistema de saúde
como um todo (BARROCO, 2010).
Essas demandas extrapolam as questões referentes às doenças e aos
agravos, porque reflete as mazelas que o capitalismo produz e que se traduzem em
necessidades de todas as ordens, tanto em relação às pessoas que usam o sistema
de saúde, quanto em relação ao próprio sistema que incide em nível micro as
questões societárias. Portanto, o Serviço Social reproduz-se como uma
especialização do trabalho por ser socialmente necessário. Porem, apesar do
redimensionamento teórico-metodológico e político que vem ocorrendo na profissão,
sintonizando com os novos tempos há alguns profissionais que estão no exercício
de sua prática e nem sempre buscam requalificar-se (PAULO NETTO, 2010).
Neste sentido Iamamoto (2010, p.37) evidencia que:
O processo de descentralização das políticas sociais públicas, com ênfase na sua municipalização – requer dos Assistentes Sociais – como de outros profissionais – novas funções e competências. Estão sendo requisitadas e devem dispor de competência para atuar na esfera da formulação e avaliação de políticas, assim, como do planejamento e gestão, inscritas em equipes interdisciplinares que tencionam a identidade profissional.
Essa competência se expressa num perfil profissional relacionada a uma
rigorosa fundamentação teórico-metodológica e técnico-operativa; ao planejamento
e registro sistemático das atividades de trabalho; a preocupação investigativa sobre
a realidade do usuário e sua problemática; a proposição de respostas qualificadas e
109
críticas às demandas postas; perfil político estratégico que tenha como fundamento
a garantia da universidade do acesso e sua ampliação; socialização de informações
relevantes a problemática dos usuários.
ÍNDICE DE CAPACIDADE PARA O TRABALHO E O ASSISTENTE SOCIAL
A capacidade para o trabalhado pode ser entendida como “os recursos
humanos relacionados às demandas física, mental e social do trabalho,
administração, cultura organizacional e ambiente de trabalho”. O Índice de
Capacidade para o Trabalho (ICT) foi desenvolvido pelos pesquisadores finlandeses
Tuomi, Ilmarinen, Jankola, Katajarinne e Tulkki, do Instituto Finlandês de Saúde
Ocupacional, com o propósito de acompanhar empregados municipais em processo
de envelhecimento, tendo como principal objetivo medir as perdas de capacidade de
trabalho, e também desenvolvendo métodos de intervenção para promover e
prevenir perdas do desempenho laboral (TUOMI et al.,2005).
Segundo a equipe multidisciplinar finlandesa que desenvolveu o ICT, a
ferramenta possibilita mensurar “quão bem está, ou estará, um trabalhador neste
momento ou num futuro próximo, e quão bem ele pode executar o seu trabalho, em
função das exigências, de seu estado de saúde e capacidades físicas e mentais”.
Tuomi et al. (2005) consideram a auto percepção do trabalhador de sua capacidade
para o trabalho tão importante quanto a avaliação de especialistas.
Com esse estudo inicial, Tuomi et al. (2005) trazem uma nova abordagem
onde o próprio trabalhador é o centro do estudo e possui a autonomia de perceber
sua condição de trabalho, fazendo um comparativo com seu melhor estado de
produtividade durante a vida, possibilitando prognosticar de forma precoce a perda
de capacidade do trabalho.
No Brasil, os primeiros trabalhos desenvolvidos utilizando o ICT começaram
na Universidade de São Paulo, de acordo com Moreira (2013), pesquisadores e
estudantes de pós-graduação de diversas universidades fizeram a tradução e
adaptação para que o questionário pudesse ser aplicado nos trabalhadores
brasileiros, coordenado pela Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São
Paulo (USP).
Desta forma, aplicou-se um tipo de pré-teste tentando manter a linguagem
mais próxima possível do questionário validado pelos autores finlandeses. Para
110
melhorar a interpretação e compreensão das perguntas, exigiu-se que os
entrevistados tivessem estudado minimamente até a quarta-série do ensino
fundamental. Posterior a distribuição da primeira edição do questionário, no ano de
1996, o ICT foi validado no Brasil publicado e traduzido por Frida Marina Fischer.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) demonstra uma série de
preocupações com a questão da diminuição da capacidade laboral dos
trabalhadores. Costa (2009) descreve que a importância dessa preocupação, pois a
diminuição gradativa da eficácia do trabalhador pode gerar conflitos nas exigências
do trabalho.
As qualidades psicométricas, ou seja, validade e confiabilidade do estudo
avaliados no Brasil, publicadas por Martinez et al. (2009) utilizaram o coeficiente
ômega de McDonald, que tem como base a proporção da variância comum em
teste. Neste estudo, os pesquisadores concluíram que a versão do questionário ICT
no Brasil mostra-se adequada, com base na consistência interna do ICT,
evidenciada através de teste-reteste, e também a validade interna é comprovada
através de correlação entre os resultados subjetivos do ICT e as avaliações clínicas
do estado de saúde da capacidade funcional.
Conceituando, o ICT é um instrumento complexo que demonstra a influência
entre as atividades físicas e mentais, a avaliação subjetiva da saúde e da
competência laboral dos trabalhadores levando em conta suas condições sociais e
organizacionais particulares. (TUOMI et al., 2005).
Vale lembrar que, de acordo com Meira (2008), a ferramenta é transversal e
envolve aspectos subjetivos distintos, portanto, não é tratada como unanimidade
entre profissionais da área da saúde, pesquisadores, legisladores, institutos de
pensão e reabilitação de trabalhadores, empregadores e os próprios trabalhadores,
por ser uma tarefa difícil mensurar a capacidade do trabalho.
Segundo Tuomi et al., (2005) há três níveis de recomendação sugeridos a
partir do resultado da capacidade de trabalho ótima, boa, moderada e baixa:
O primeiro é que se a capacidade para o trabalho é excelente, deve-se
explicitar ao trabalhador quais fatores do ambiente do trabalho e ao estilo de vida
que estariam relacionados à manutenção ou à deterioração da saúde. Além disto, o
encorajamento às práticas que estimulem a saúde do trabalhador é recomendado.
Já no segundo nível a capacidade de trabalho é moderada, recomenda-se
incentivar as iniciativas do trabalhador para a promoção sua capacidade (por
111
exemplo, dieta adequada, exercício físico, sono e repouso, atividades sociais, outros
passatempos e estudos). Neste nível, o trabalhador pode necessitar de reabilitação
médica.
O terceiro e último nível diz que a capacidade de trabalho é baixa, deve ser
estabelecida a reabilitação da saúde. Deve-se avaliar se a capacidade pode ser
restaurada corrigindo-se os riscos encontrados no ambiente de trabalho e
remodelando sua organização de modo a torná-lo mais eficiente.
A capacidade para o trabalho pode ser influenciada pelo estado geral de
saúde física e mental do indivíduo e também por questões específicas do trabalho
como os aspectos organizacionais, interferindo na motivação e na satisfação
pessoal e as adequações relacionadas às atividades do trabalho, como possíveis
mediadores de lesões ou desgastes indevidos (SILVA JÚNIOR et al., 2011).
Para Meira (2004, p. 42)
As pessoas podem ser motivadas para o bem ou para o mal, fazendo aparecer o melhor ou o pior do que elas têm. Se as pessoas não estão motivadas a fazer alguma coisa ou alcançar uma meta, pode-se convencê-las a fazer algo que elas preferiram não fazer, mas a menos que estejam prontos a assumir as atitudes e os valores do motivador, os comportamentos não serão permanentes.
Outro fator importante reporta-se ao fato de que todo profissional,
independente da área de atuação, deve ser consciente da sua capacidade para o
trabalho, pois, quando se tem essa percepção torna-se viável a adoção de medidas
interventivas de saúde visando melhorar esta capacidade para o exercício de sua
função, quando está não for ou não estiver satisfatória (SILVA JÚNIOR et al., 2011).
Segundo Martinez et al. (2010), quando o profissional apresenta uma
excessiva carga de trabalho, poder-se-á perceber que esta condição é um potencial
indicador de que existe uma disvirtuação do processo entre o profissional e o
ambienta de trabalho, pois quando há essa excedência, provavelmente o ritmo e
intenso e, em consequência destes fatores, a qualidade da assistência ou da
prestação do serviço torna-se prejudicada interferindo com isso na forma com este
profissional se relacionará com a equipe de trabalho, com as demandas do serviço,
uma vez que apresentará fortes desgastes físico com psíquico.
112
Neste contexto, é de suma importância de avaliar a capacidade para o
trabalho, de modo a evitar tais desgastes que, de início poderá não trazer graves
consequências, mas que, ato contínuo, situações conflitantes e erros, péssima
qualidade de assistência poderão vir a ocorrerem.
. Por assim ser, a capacidade para o trabalho tem seu conceito respaldado na
ótica da percepção individual de demandas no trabalho e o enfrentamento das
mesmas diante da sua aptidão ou não para o exercício de sua profissão. Sob esta
ótica, o ICT se torna uma ferramenta de suma importância na identificação dos
riscos à saúde que o trabalhador está susceptível quando existe um desequilíbrio
entre a saúde, os recursos pessoais e as demandas no trabalho (FERNANDES;
MONTEIRO, 2016).
Em alguns estudos de caráter epidemiológico, o estresse psicossocial no
âmbito do trabalho foi apontado como sendo um fator primordial. O estudo foi
mensurado via instrumentos de demanda-controle ou desequilíbrio esforço-
recompensa na expolicitação dos efeitos adversos na saúde. Além disso, Andrade;
Monteiro (2007) revelaram que estressores de ordem biopsicossocial provocam
relativos impactos que irão influenciar na capacidade do trabalho para o exercício da
sua função. Consoante os autores, o risco de uma limitada capacidade para o
trabalho foi superior para pessoas com alta demanda e baixo controle no trabalho
(odds ratio – OR = 5,62; intervalo de 95% de confiança IC95%: 3,55; 8,89) e com
elevado desequilíbrio entre esforço e recompensa (OR = 3,78; IC95%: 2,60; 5,51).
O estudo também identificou que os trabalhadores com capacidade limitada
para o trabalho percebem o seu ambiente de trabalho como particularmente
estressante. No presente estudo, a correlação entre os baixos escores do ICT e a
maior necessidade de recuperação após o trabalho remete à observação de Sluiter
et al. (2009), segundo a qual a necessidade de recuperação reflete os efeitos a curto
prazo da carga de trabalho, que em sua repetição afetam a saúde dos trabalhadores
e, neste sentido, tendem a reduzir a capacidade para o trabalho.
Pesquisas sobre a estrutura dimensional do ICT têm chegado a diferentes
resultados. No Brasil, Martinez et al., (2010) em estudo com trabalhadores do setor
elétrico identificaram, por meio de componentes principais, três fatores com
autovalores maiores do que 1, explicando 57,9% da variância total (20,6%, 18,9% e
18,4% para o 1o, 2o e 3o fatores, respectivamente). Renosto et al. (2009)
investigaram a estrutura dimensional do ICT em profissionais de enfermagem e
113
identificaram, utilizando-se de componentes principais, dois fatores explicando a
estrutura dimensional do ICT em oito países, e apenas um fator em dois países.
No estudo de Martinez et al. (2010), o primeiro fator agrega os itens apreciação
das atividades diárias; sentimento de estar ativo e alerta; e esperança para o futuro
que representa a dimensão “recursos mentais”, o segundo fator é composto pelos
itens capacidade para o trabalho atual comparada com a melhor de toda a vida;
capacidade para o trabalho em relação às exigências físicas do trabalho; e
capacidade para o trabalho em relação às exigências mentais do trabalho, que
representa a percepção do trabalhador quanto à sua capacidade para o trabalho. O
terceiro fator reúne os itens: número atual de doenças diagnosticadas pelo médico;
perda estimada para o trabalho devido às doenças; faltas ao trabalho por doenças
nos últimos 12 meses; e prognóstico próprio sobre a capacidade para o trabalho
daqui a dois anos, relativos à presença de doenças e restrições decorrentes do
estado de saúde.
No que diz respeito aos profissionais, dentre vários problemas, merece
destacar a sobrecarga de trabalho imposta pelo ritmo acelerado de atendimentos e
condições adversas do ambiente de trabalho decorrente de vários fatores, podendo
citar dentre estes, o déficit de recursos humanos e de recursos materiais,
provocando nos profissionais muitas tensões e ansiedade, culminando assim com o
adoecimento dos mesmos, como é o caso do assistente social, que é um mediador
das questões sociais e faz valer os direitos dos pacientes no que se refere à
promoção da saúde (CORDEIRO; ARAÚJO, 2015).
Assim, as demandas sociais advindas do ambiente de trabalho trazem
consequências físicas e mentais ao assistente social, tais sobrecargas estão muito
além da capacidade do trabalhador em respondê-las de modo positivo no seu
trabalho, mediante a pouca autoridade de decisão, a dependência de medidas de
promoção à saúde do paciente por parte dos gestores, além do compromisso de
atendimentos por outros profissionais de saúde, causando assim, limitações no fazer
profissional, exaustão mental em decorrência aos atendimentos limitados
(QUEIROZ; SOUSA, 2012).
Acredita-se que tal realidade venha contribuir de maneira significativa com a
situação atual de saúde/doença dos assistentes sociais observada na rotina diária
deles e dos serviços, caracterizada entre outros problemas, pelo absenteísmo e pelo
número crescente da força de trabalho com capacidade para o trabalho
114
comprometida, seja pela idade (capacidade funcional), ou por doenças: crônicas,
adquiridas no trabalho, relacionadas ao trabalho, por acidentes em serviço ou outros
fatores, como por exemplo, seu estilo de vida (MOROSINI, 2009).
No cenário brasileiro os serviços de saúde, em sua maioria, são marcados
por inúmeros problemas que afetam tanto as demandas destes serviços, quanto os
profissionais que atuam no mesmo. Em relação às demandas, problemas tais como
falta de leitos, falta de profissionais e medicamentos são comuns nas unidades
hospitalares de urgência e emergência, o que não isenta outros serviços de saúde,
como os Centros de Referências e de Assistência Psicossocial, que muitas vezes
apresentam escassez em vários aspectos (ROSSO, 2014).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir desta revisão literária, conclui-se que o contexto de crise na saúde
pública e as novas formas de precarização e intensificação do trabalho repercutem
diretamente nas condições e relações de trabalho do assistente social e, por
consequência, na sua saúde física e mental, interferindo diretamente na sua
capacidade para o trabalho.
A mitigação dos fatores de risco é de suma importância para aprimorar a
capacidade para o trabalho e a qualidade de vida dos trabalhadores. Quanto mais
soberana for a qualidade da saúde física e mental dos trabalhadores, melhores são
as condições do estado de saúde geral, o que contribui para a melhora da
capacidade para o trabalho.
O estímulo às mudanças no estilo de vida e à organização do trabalho, por
meio de ajustes administrativos no ambiente de trabalho, são de fundamental
importância. Durante a idealização e desenvolvimento de medidas para resguardar a
capacidade para o trabalho é importante abordar a saúde em sua integralidade e
alguns aspectos devem ser considerados, como: a prevenção das doenças
musculoesqueléticas, que afetam vários aspectos da capacidade para o trabalho; o
fomento às atividades sociais; a questão do trabalho em turnos; o controle do
estresse relacionado com o ambiente psicossocial do trabalho; a prevenção e o
tratamento da dependência de álcool; e o incentivo ao controle do peso e à prática
de atividade física. Os trabalhadores, principalmente os mais velhos, devem ser
incentivados a participar de programas regulares de atividades físicas com
115
exercícios de alongamento, aeróbicos, caminhadas e treinamento para o
autocuidado postural.
É importante destacar como limitação desta revisão a impossibilidade de
comparação dos dados obtidos com os de trabalhadores de outros países, devido à
heterogeneidade dos achados e às particularidades que a legislação trabalhista
brasileira apresenta em comparação as de outros países. Além disso, a
representação de toda população trabalhadora no Brasil ficou comprometida por
ainda faltar à investigação sobre diversas categorias profissionais em relação à
capacidade para o trabalho.
Diante do exposto, os resultados desta revisão podem servir para embasar a
elaboração de políticas públicas voltadas para a promoção da capacidade para o
trabalho e redução dos afastamentos e aposentadorias precoces. O investimento em
melhores condições de trabalho, em todas as fases da vida do trabalhador,
repercute não apenas em sua saúde, mas também no trabalho, uma vez que haverá
um menor número de afastamentos temporários e permanentes69. Um dos maiores
desafios é aprender a administrar as questões do local de trabalho associadas ao
envelhecimento da força de trabalho.
A manutenção da capacidade para o trabalho tem consequências positivas na
determinação da saúde, bem-estar e empregabilidade dos trabalhadores, com
benefícios para as organizações e para sociedade em função de seus impactos
sobre a produtividade, absenteísmo e sobre os custos sociais decorrentes das
pensões por incapacidade e da assistência às doenças. O ICT é um instrumento de
preenchimento rápido e simples, com baixo custo, e que permite ser utilizado no
nível individual e coletivo, identificando precocemente alterações e subsidiando
informações para direcionamento de medidas preventivas.
As questões sobre capacidade para o trabalho no Brasil, apesar de relevantes
no atual contexto de transição demográfica e de modificação no mundo do trabalho,
ainda carecem de maior atenção. Há necessidade de implementar pesquisas sobre
o tema no Brasil, incluindo: (a) estudos com desenho longitudinal para avaliar
variações, determinantes e consequências da capacidade para o trabalho, bem
como para avaliar o resultado de medidas de intervenção, (b) estudos para
avaliação das propriedades psicométricas da versão brasileira do ICT e (c) estudos
para validação dos pontos de corte para categorização do escore do ICT.
116
Há necessidade de disseminação do conhecimento junto aos diversos atores
(trabalhadores, profissionais de saúde e segurança no trabalho, gestores e
empregadores) envolvidos com a problemática, de forma que a temática seja
incorporada à realidade concreta do mundo do trabalho.
117
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FAMÍLIA E ESCOLA: UMA RELAÇÃO QUE COMPLEMENTA A
EDUCAÇÃO INTEGRAL *Maria José Isaac de Macêdo **Sebastião Soares da Silva ***Amanda Micheline Amador de Lucena
Resumo Destacamos aqui a importância do vínculo família-escola como elemento agregador na formação humana, fator preponderante para o crescimento social, moral, intelectual, afetivo e espiritual do ser dentro da proposta da educação integral, que preconiza a Educação Humanizadora. Assim, objetivou-se analisar a percepção dos estudantes e de seus familiares sobre o envolvimento familiar na vida escolar dos filhos. Para isso, foi realizada uma pesquisa de campo envolvendo familiares e estudantes do Ensino Médio da EREM Leobaldo Soares da Silva, situada no interior de Pernambuco. Constatou-se que a referida escola tem a intenção de fortalecer o vínculo com os familiares dos estudantes e consequentemente a formação do jovem na sua integralidade. Nesse contexto, a instituição educacional tem proporcionado oportunidades à família para participar ativamente de ações que envolvem a vida acadêmica do seu filho, e trabalhado no sentido de sensibilizar as famílias para que estas reconheçam a importância da sua participação nos eventos da escola, contudo o cotidiano atarefado dos pais e/ou responsáveis, muitas vezes afasta a atenção e compromisso que a família deveria ter na formação integral do estudante. Nesse contexto, faz-se necessário analisar de uma forma holística os efeitos que a presença/ausência da família pode ocasionar na vida escolar do filho, levando em conta que não é apenas responsabilizar a família ou a escola pelo insucesso dos jovens, mas, sobretudo deve-se lembrar que, tanto esta como aquela, são instituições que podem influenciar o comportamento e desenvolvimento dos jovens. A escola, como uma Instituição que oferece a educação sistemática, deve continuar estreitando laços com a família, buscando fortalecer um vínculo que acentue a possibilidade de desenvolver habilidades e competências nos jovens que vão além do desenvolvimento intelectual destes. Palavras-Chave: Estudantes, Pais, Desenvolvimento integral. __________________ 1. Mestranda em Ciências da Educação pela Veni Creator University/Cetec. 2. Mestre em Ciências da Educação. 3.Orientadora, professora da Veni Creator University/Cetec.
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Abstract We highlight here the importance of the family-school bond as an aggregating element in human formation, a major factor for the social, moral, intellectual, affective and spiritual growth of the being within the proposal of integral education, which advocates Humanizing Education. Thus, this study aimed to analyze the perception of students and their families about family involvement in their children's school life. For this, a field research was conducted involving family members and high school students of EREM Leobaldo Soares da Silva, located in the interior of Pernambuco. It was found that the said school intends to strengthen the bond with the students' relatives and consequently the formation of the young person in its entirety. In this context, the educational institution has provided opportunities for the family to actively participate in actions that involve the academic life of their child, and worked to sensitize families so that they recognize the importance of their participation in school events, however the busy daily life of parents and/or guardians, often removes the attention and commitment that the family should have in the integral education of the student. In this context, it is necessary to analyze in a holistic way effects that the presence/absence of the family can cause in the school life of the child, taking into account that it is not only to hold the family or the school responsible for the failure of young people, but above all it should be remembered that, both this and that, are institutions that can influence the behavior and development of young people. The school, as an institution that offers systematic education, must continue to strengthen ties with the family, seeking to strengthen a bond that accentuates the possibility of developing skills and competencies in young people who go beyond their intellectual development. Keywords: Studentes, Parents, Integral development. 1. INTRODUÇÃO Conforme Werneck (2006), o conhecimento humano inicia-se desde a infância quando a criança em contato com os adultos começa a aprender quer por imitação ao repetir gestos, bem como por expressões faciais e palavras com quem convive. Houve um momento na história da humanidade que não havia escola, o conhecimento era repassado pela tradição através da família e pela experiência. Em dado momento, a educação na sua forma incipiente não era institucionalizada como nos dias atuais, entretanto, em todo momento existia a preocupação com o processo de transmissão de conhecimento e cultura. No decurso da história o ensinar e o aprender passou a ser incumbências da escola, sendo assim, o bom ensino que deve ocorrer não é apenas um armazenamento de informações, mas como formação de referenciais WERNECK, , p. .
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Conforme Bueno (2013), a educação na escola formal é uma prática intencional, uma vez que ela é pensada e planejada dentro de uma sistematização conforme a ideologia que o Estado estabelece. E, ainda que na família ocorra à educação intencional ela não tem o mesmo caráter planejado, sistematizado como a que se oferece na escola. Segundo Silva e Araújo , a família é a primeira instância de convivência do ser humano, e as escolas são complementos à educação recebida pela família p. 11). Dessa forma, o tema se justifica pela constante inquietação que existe quanto ao estreitamento dessa relação como instituições que são pilares no conjunto da sociedade, que devem cooperar com fins a promover uma educação moral e intelectual. Neste contexto, o presente estudo parte da seguinte problemática: De que forma os estudantes e seus pais percebem a participação familiar e sua importância no desenvolvimento integral do ser ? Conforme Oliveira e Araújo (2010), a escola e a família devem caminhar juntas na busca de superação das dificuldades para melhorar a convivência no ambiente educativo e, por conseguinte a aprendizagem. Vale ressaltar que é preciso criar meios para que a família perceba a importância que ela representa na construção do desenvolvimento do jovem e que, atuando junto com a escola, é possível contribuir de forma decisiva para a formação do (a) seu (sua) filho (a) em todas as áreas da vida. A ação integrada dessas instituições (escola e família) contribui para uma aprendizagem significativa e de qualidade. Esta parceria é necessária para promover o crescimento intelectual e social do educando, produzindo estudantes comprometidos e ativos, bem como cidadãos competentes e generosos. Diante do exposto, objetivou-se analisar a percepção dos estudantes e de seus familiares sobre os fatores que afastam os familiares da vida acadêmica dos estudantes e qual a importância do envolvimento familiar na vida escolar dos filhos.
2. MARCO TEÓRICO 2.1 A Educação Familiar Conforme Santana (2015), desde a antiguidade foi forjada uma concepção de família, à qual tinha na figura do pater famílias a representação do poder
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familiar, essa se tornou uma prática exclusiva do homem, e a mulher, por sua vez, era criada para desempenhar as obrigações de casa p. . Nesse contexto o relacionamento entre pais e filhos foi marcado pelo poder do chefe que se valia de violência no tratamento com estes p. . No transcorrer da história, a família passou a apresentar novas formações, e o século XX) trouxe em seu bojo significativas mudanças na instituição familiar. De acordo com Nobre e Sulzart (2018), a palavra família na sua concepção tradicional se definia como conjunto de pessoas ligadas pelo grau de parentesco entre si, convivendo na mesma casa formando um lar, formada pelo pai e mãe, unidos pelo casamento ou união de fato, este é o modelo de família nuclear ou elementar. No entanto, a configuração atual denota a abertura de possibilidades para além de um único modelo de família. Isso significa que a instituição familiar se adequou aos novos tempos, a contemporaneidade trouxe mudanças na cultura, com novos hábitos e costumes, produzindo evolução nos tipos de relacionamentos. Para Santana (2015), a instituição familiar se adequou às novas exigências. A partir disso, apareceram novas conjunturas de família, de modo que, atualmente, a aludida instituição pode ser constituída por pessoas que moram no mesmo lugar, a fim de construir um lar, baseado apenas nos vínculos afetivos, independente de matrimônio já que foi reconhecida pela constituição federal a união estável como forma de entidade familiar, porém, é importante salientar que junto a essas inovações na sociedade atual, aumentou também o número de separações, divórcios, assim como crianças concebidas fora do casamento ou união estável, dentre outros, de modo a interferir diretamente na estrutura familiar de cada indivíduo (SANTANA, 2015, p. 2). Segundo Oliveira e Araújo (2010), é oportuno priorizar o objeto de estudo que investiga um dos segmentos sociais mais importantes, a relação que se dá entre os pais e os professores, materializado no binômio família e escola, estes que são os principais contextos de desenvolvimento do ser humano.
A família é considerada a primeira agência educacional do ser humano e é responsável, principalmente, pela forma com que o sujeito se relaciona com o mundo, a partir de sua localização na estrutura social. Educação e escola têm uma relação estreita, apesar de esta não configurar uma relação de dependência, pois há uma distinção entre a educação escolar e a educação que ocorre fora da escola (OLIVEIRA; ARAUJO, 2010, p. 100). Ainda conforme Oliveira e Araújo (2010), a família tem a responsabilidade da formação social e moral do indivíduo, pois é no grupo familiar que se dá a
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educação primária, a denominada educação doméstica, sendo esta que estabelece o modelo de criança que deseja formar para o desempenho de seus papeis sociais, sua tarefa principal consiste em orientar o desenvolvimento e aquisição de comportamentos considerados adequados, em termos dos padrões sociais vigentes em determinada cultura p. . Sendo assim, um dos principais papeis da família é a socialização da criança. 2.2 A Educação Escolar Segundo Dessen e Polonia (2007), no que concerne ao ser humano, a escola constitui um contexto diversificado de desenvolvimento e aprendizagem, por ser um local que reúne diversidade de conhecimentos, atividades, regras e valores p. 25). É nesse ambiente multifacetado que os indivíduos processam o seu desenvolvimento global. Sendo que em função dos estágios de desenvolvimento do aluno se dá o processo de construção de laços afetivos e preparo para inserção na sociedade.
A escola emerge, portanto, como uma instituição fundamental para o indivíduo e sua constituição, assim como para a evolução da sociedade e da humanidade. Como um microssistema da sociedade, ela não apenas reflete as transformações atuais como também tem que lidar com as diferentes demandas do mundo globalizado. Uma de suas tarefas mais importantes, embora difícil de ser implementada, é preparar tanto alunos como professores e pais para viverem e superarem as dificuldades em um mundo de mudanças rápidas e de conflitos interpessoais, contribuindo para o processo de desenvolvimento do indivíduo (DESSEN; POLONIA, 2007, p. 25). Pensar na educação pressupõe um exercício constante de reflexão, nesse aspecto discorremos sobre como a escola desempenha seu papel formativo na atualidade, é fato que a instituição educativa é o espaço que propicia conhecimento científico, liberdade, equidade e cidadania (OLIVEIRA et al, 2013, p.145). Dessa forma, entendemos que a escola abre caminhos para a construção de uma sociedade justa, democrática e equitativa, pois forma pessoas conscientes, livres p. 145), com capacidade de compreender por si mesma a realidade do seu tempo. Conforme Bueno (2013), a função da escola é trabalhar com o conhecimento científico, promover ao aluno o acesso ao saber sistematizado, à ciência e a cultura por meio de uma ferramenta chamada currículo. Uma vez que a escola se constitui
125
por ser o lugar de socialização do saber sistematizado, [...] não se trata, pois, de qualquer tipo de saber. Diz respeito ao conhecimento elaborado e não ao conhecimento espontâneo, fragmentado (BUENO, 2013, p. 354). A escola atual também se encontra frente a inúmeros desafios, dentre eles, fazer a mediação que visa à humanização do homem. Nesse papel de humanização, que aproxima o homem a sua humanidade, é preciso que a escola forme o homem não apenas para sua inserção no mercado de trabalho, mas também para que seja um sujeito crítico e criativo p. . O modelo adotado na atualidade pela Secretaria de Educação do Estado de Pernambuco é a filosofia de Educação Interdimensional, essa perspectiva conforme Gomes (2017), traz a proposta curricular do Programa de Educação Integral, que configura-se como política pública que visa à melhoria da qualidade do Ensino Médio através da Educação )ntegral e em tempo integral p. . 2.3 A Parceria Escola e Família De acordo com Nobre e Sulzart (2018), o processo de socialização por muito tempo foi feito por duas instituições básicas: a família e a igreja, sendo que as duas estavam baseadas na moral e na ética. A terceira era a escola p. , esta, incumbida de transmitir os conhecimentos gerais da humanidade diante de uma a realidade social que é complexa, dinâmica e plural. Segundo Dessen e Polonia , escola e família constituem dois contextos de desenvolvimento fundamentais para a trajetória de vida das pessoas (p. 1). Por isso ser importante destacar as contribuições destes contextos para o desenvolvimento humano, sendo desafiador articular esses dois contextos na prática profissional e pesquisa empírica.
A escola e a família compartilham funções sociais, políticas e educacionais, na medida em que contribuem e influenciam a formação do cidadão. Ambas são responsáveis pela transmissão e construção do conhecimento culturalmente organizado, modificando as formas de funcionamento psicológico, de acordo com as expectativas de cada ambiente (DESSEN; POLONIA, 2007, p. 22). Nessa análise Dessen e Polonia (2007), enfatizam a necessidade de aplicar esforços para melhor compreender as relações família-escola, na garantia de
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espaços efetivos para a aprendizagem e o desenvolvimento humano. As autoras defendem que a integração entre escola e família tem despertado o interesse de pesquisadores, já que os ambientes familiar e escolar são descritos como contextos de desenvolvimento humano. A família atua como agente socializador, relacionada às configurações de rede social de apoio aos vínculos cujas implicações são determinantes para o desenvolvimento humano. Em seguida a escola é destacada como um contexto de desenvolvimento, priorizando uma reflexão sobre sua função social, as suas tarefas e papéis na sociedade contemporânea, especificamente no que diz respeito ao cenário político-pedagógico DESSEN; POLONIA, 2007, p. 22). E ainda, surge a gestão do espaço educativo com a função de estimular o envolvimento entre a família e a escola. De acordo com Oliveira e Araújo (2010), a escola é uma instituição que tem como função a socialização do saber sistematizado, ou seja, do conhecimento elaborado e da cultura erudita, (...) proporcionar a aquisição de instrumentos que possibilitam o acesso ao saber elaborado ciência e aos rudimentos bases desse saber p. . Colabora para a aquisição do saber culturalmente organizado e às áreas distintas de conhecimento, pela inclusão no mundo cultural mediante o ensino das ciências, das linguagens, dos símbolos, englobando a educação geral. Conforme Oliveira e Araújo (2010), o ambiente escolar exerce um poder de orientação sobre os pais para que estes possam educar melhor os filhos e estes, por sua vez, possam frequentar a escola. Nesse enfoque ganha status a crença de que uma boa dinâmica familiar é responsável pelo bom desempenho do aluno, e que é preciso a escola construir uma parceria com a família, uma vez que essa atitude se torna elemento chave no processo de aprendizagem.
3. MARCO METODOLÓGICO O presente trabalho configura-se como pesquisa básica de caráter descritivo que envolve levantamento bibliográfico e pesquisa de campo. Segundo Gil (2008), as pesquisas descritivas têm como objetivo primordial a descrição das características de determinada população ou fenômeno. Uma de suas peculiaridades está na utilização de técnicas padronizadas de coleta de dados.
127
A pesquisa de campo foi desenvolvida em turmas do Ensino Médio Semi-integral na modalidade regular no turno diurno da Escola Estadual de Referência em Ensino Médio Leobaldo Soares da Silva em Barra de Guabiraba - PE, a qual oferece também Educação de Jovens e Adultos no turno noturno, e fica localizada à Av. João Ferreira Júnior, S/N, Bairro Nova esperança. O total de estudantes matriculados em 2019 contabilizou 120 estudantes do 1º Ano, 114 estudantes de 2º Anos e 66 estudantes dos 3º Anos e 71 estudantes de Educação de Jovens e Adultos. A amostra pesquisada foi representada por sujeitos pertencentes à comunidade da escola, totalizando 30 estudantes das turmas dos 1º Anos do Ensino Médio Semi-integral e 30 pais e/ou responsáveis (família dos estudantes) que participaram da pesquisa. É importante pontuar que os sujeitos que participaram do estudo foram previamente orientados quanto aos objetivos da referida pesquisa. Para preservar a identidade dos respondentes, optou-se por codificar por letras e números cada sujeito participante. Os instrumentos de pesquisa utilizados foram questionários semiestruturados. Os dados obtidos através dos questionários foram abordados de forma quali-quantitativa sendo consideradas todas as respostas dos sujeitos pesquisados. 4. RESULTADOS E DISCUSSÕES
Segundo Dessen e Polonia (2007), para compreender o desenvolvimento humano e seus impactos na vida das pessoas, é necessário focalizar o contexto familiar e o escolar e suas inter-relações. No espaço educativo deve-se estimular o envolvimento entre a família e a escola, sendo assim foi perguntado aos familiares dos estudantes e aos estudantes se a EREM Leobaldo Soares da Silva promove palestras ou eventos, no sentido de averiguar se a escola estreita os laços entre escola e família. Os resultados estão apresentados no Gráfico 1. Gráfico 1. Indicação dos familiares e estudantes da EREM Leobaldo Soares da Silva a respeito da instituição promover eventos com objetivo de aproximar a família da escola. Barra Guabiraba-PE, 2019.
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Fonte: Dados da pesquisa de campo (2019) Observa-se que 77% dos familiares dos estudantes e 60% dos estudantes que participaram da pesquisa indicaram que realmente a escola promove palestras e/ou oficinas para aproximar a família da escola. Isso significa que os estudantes e seus responsáveis têm consciência de que a escola vem tentando estimular a família para participar da vida estudantil do filho. Em análise ao calendário anual da escola foi verificado que a escola promove seis encontros com a família dos estudantes. Além da gestão informar que convida os familiares para participar dos eventos vivenciados na escola. Segundo Heineck (2016), na pós-modernidade vivemos em uma sociedade tida como líquida e, nesse aspecto, a família aparece como uma instituição mutante, apresentando configurações próprias a cada sociedade e momento histórico. Dessa forma, ao longo do tempo a participação da família no contexto escolar tendeu a se modificar, de modo que o conceito de participação no contexto da escola atual é algo recorrente, fundamentando a escola no contexto de democracia. Foi perguntado aos familiares e aos estudantes se a família comparece às reuniões, palestras e/ou oficinas promovidas pela EREM Leobaldo Soares, com o intuito de averiguar se realmente há uma participação efetiva e se essa participação é importante. Os resultados estão apresentados nos Gráficos 2 e 3.
Sim Não Raramente
77%
3%20%
60%
0%
40%
Escola promove aproximaçao com a famíliaFamília Estudantes
129
Gráfico 2. Indicação dos familiares dos estudantes e estudantes da EREM Leobaldo Soares da Silva a respeito da participação nas reuniões, palestras e/ou oficinas realizadas pela Instituição. Barra Guabiraba-PE, 2019.
Fonte: Dados da pesquisa de campo (2019) Observa-se que 80% dos estudantes que participaram da pesquisa afirmaram que a família participa dos encontros na escola e 40% da família confirmou tal participação. Constata-se, portanto, que há a participação da família nos eventos da escola, embora não em todos. A presença na escola e na vida escolar dos estudantes por parte dos pais e/ou responsáveis é um elemento preponderante para o desenvolvimento dos mesmos, o estar presente é uma demonstração para o jovem de que eles estão sendo acompanhados e que sua escolaridade é compartilhada por pais e educadores, fato que pode gerar mais confiança, mais incentivo e logo melhorar o desempenho escolar. Neste sentido, buscou-se entender a percepção de pais e estudantes da escola estudada no que se refere a importância de participar das reuniões/projetos desenvolvidos pela referida escola (Gráfico 3). Gráfico 3. Indicação dos familiares dos estudantes e estudantes da EREM Leobaldo Soares da Silva a respeito da importância da participação da família nos encontros proporcionados pela escola. Barra Guabiraba-PE, 2019.
Sim Não Raramente
40%
3%
57%
80%
0%20%
Participação da família nas reuniões, palestras e/ou oficinas promovidas pela escola
Família Estudantes
130
Fonte: Dados da pesquisa de campo (2019) No Gráfico 3, verifica-se que 97% dos familiares afirmaram que é importante participar dos momentos que a escola proporciona à família e 93% dos estudantes concordaram que é importante essa participação. Percebe-se claramente que os estudantes concordam que os momentos de encontros proporcionados pela escola para a família são importantes. Algumas justificativas dos estudantes foram destacadas, como: E 2. É importante os pais participarem das reuniões para que estejam sabendo do que acontece na escola e do nosso comportamento também . E . Para que eles acompanhem o que acontece na escola . E . Porque é importante a escola ter uma boa relação com os pais e é produtivo . E . A família quando começa a participar desses momentos na escola faz com que o aluno participe mais na escola . E . É sempre bom os responsáveis por nós saber o que estamos fazendo dentro da escola, saber o que estamos aprendendo . Os familiares pesquisados também concordam que os momentos de encontros proporcionados pela escola para a família são importantes, os que justificaram, alegaram que quando têm tempo acham importante participar dos encontros proporcionados pela escola, pois ficam sabendo o que está acontecendo na sala de aula, como está o comportamento do filho e seu desenvolvimento nos estudos. Nesse sentido, destacam-se as justificativas apresentadas por alguns pais: F . Porque sabemos o desenvolvimento do nosso filho e da escola .
Sim Não Raramente
97%
0% 3%
93%
0% 7%
Importância da participação da família nas reuniões, palestras e/ou oficinas promovidas
pela escolaFamília Estudantes
131
F . Acho importante quando tenho tempo . F . Para saber o que acontece na escola . F Sim, porque sempre é bom está por dentro do que acontece na escola . É relevante destacar que os pais têm prazer em vir à escola, esse fato implica em saber o que acontece na instituição de ensino, permitindo conhecer o contexto escolar, isto é, como se dá a vivência entre os sujeitos, como a gestão e os educadores têm conduzido o processo, como os estudantes convivem, podendo até indagar os entes responsáveis pela escola sobre várias questões. No entanto, a correria do dia a dia inviabiliza a constante presença dos educadores familiares na escola, mas eles gostam de vir quando podem. Ressalta-se a importância da escola abrir espaço para a comunidade se fazer mais presente na vida do educandário, de modo que a união família e escola possa resultar em êxito do processo de aprendizagem e desenvolvimento dos estudantes. Nesse aspecto, Almeida (2014), afirma que a relação entre a escola e a família é importante para a educação e o desenvolvimento humano, esse envolvimento apresenta aspectos positivos porque impactam diretamente na aprendizagem e no desenvolvimento do estudante. Foi perguntado aos familiares e aos estudantes se no ambiente familiar são debatidas questões sobre assuntos relacionados à escola. As respostas estão apresentadas no Gráfico 4. Gráfico 4. Indicação dos familiares e estudantes da EREM Leobaldo Soares da Silva a respeito de haver conversas no ambiente familiar sobre o que acontece na escola. Barra Guabiraba-PE, 2019.
132
Fonte: Dados da pesquisa de campo (2019) Observa-se no Gráfico 4 que, ainda que não seja efetivo o debate sobre questões escolares no ambiente familiar, há uma preocupação da família com a vida escolar do filho. Embora os familiares aleguem que não têm tempo para esses debates, 30% responderam que debatem questões relacionadas à escola no ambiente doméstico e 67% responderam, raramente. Os familiares descreveram que incentivam o filho a respeitar todos os colegas e profissionais da escola, (sociabilidade), a preservar o patrimônio público (formação ética) e a estudar para se dar bem na vida (protagonismo juvenil), como podemos observar nas justificativas abaixo: F . O estudo é a única saída para quem é da roça . F . Só conversamos às vezes porque somos muito ocupados . F . Conversamos sobre as matérias, professores, a convivência, etc . F . Não tenho tempo, mas oriento a fazer os deveres e não quebrar nada na escola e respeitar todos . Os estudantes que concordaram que o debate no ambiente familiar existe foram 40% e os que responderam que raramente esses debates acontecem foram 53%. Seguem abaixo algumas justificativas: E . Sempre quer saber como você está na escola e o que aprendeu E . Fala de respeito sempre, respeitar professores e alunos . E 7. Estão sempre falando que tem que respeitar os professores . E . Às vezes, porque meus pais trabalham muito .
Sim Não Raramente
30%
3%
67%
40%
7%
53%
Debates sobre questões relacionadas à escola no ambiente doméstico
Família Estudantes
133
Os familiares demonstram confiança na escola e poucos são os que falam das questões relativas a mesma, até porque há na sociedade a crença de que a escola é uma das instâncias basilares na vida humana, de modo que há apoio à política de gestão e as ações que a instituição adota. Essa relação se torna uma via de mão dupla, em que a família espera que a escola solucione as dificuldades de aprendizagem dos alunos, por sua vez, a escola espera da família um suporte para que as dificuldades sejam resolvidas ALME)DA, , p. . Com a intenção de averiguar se a família e os estudantes estão satisfeitos com a escola, foi perguntado aos sujeitos que participaram da pesquisa qual o nível de satisfação com a escola. As respectivas respostas estão apresentadas no Gráfico 5. Gráfico 5. Indicação dos familiares e estudantes da EREM Leobaldo Soares da Silva em relação ao grau de satisfação com a escola. Barra Guabiraba-PE, 2019.
Fonte: Dados da pesquisa de campo (2019) Nota-se que a família está satisfeita com a escola, embora não seja o mesmo pensamento dos estudantes. A justificativa dos familiares e dos estudantes que responderam bom afirmaram que os professores ensinam muito bem e que há muita coisa boa na escola. Tanto os familiares quanto os estudantes que responderam médio não estão muito satisfeitos com a escola devido à falta de climatização nas salas de aula. E . O ensino da escola é bom o único problema é o calor .
Bom Médio Razoável
87%
13%0%
43%54%
3%
Nível de satisfação com a escolaFamília Estudantes
134
E 23. Não é boa suficiente por causa que o calor é muito grande E 19. Gosto daqui porque me mudou, mudou a minha vida, fiz novos amigos e perdi a timidez . E O ensino dos professores é ótimo, mas o calor atrapalha demais . F . O ensino é bom e todos gostam do meu filho . F 19. Meu filho diz que o ensino é bom, mas passa muito calor . Embora o Gráfico 5 apresente um percentual de 43% de satisfação do estudante com a escola, fica evidente nas justificativas que esse resultado se dá devido à falta de climatização nas salas de aula. Apesar da família e dos estudantes compartilharem da insatisfação em relação ao calor, mostram-se satisfeitos com o ensino/aprendizagem ofertado pela escola. Portanto, a justificativa apresentada para insatisfação refere-se a um problema de estrutura física, e não da proposta pedagógica adotada pela escola. Os sujeitos afirmaram que a escola é boa, que faz diferença em suas vidas, que socializa e integra as pessoas, os professores contribuem de forma positiva para seu crescimento intelectual, social, psicológico. Há, no entanto, algumas reflexões com implicações negativas no que concerne a questões de infraestrutura do prédio, fator que interfere no cotidiano escolar do aluno. Conforme Sá e Werle (2017), as escolas de educação básica no Brasil englobando escolas públicas, privadas, rurais e urbanas não são consideradas adequadas, de modo que 44% das escolas contam com apenas água, sanitário, energia, esgoto e cozinha. E, que apenas 0,6% apresentam condições consideradas adequadas que proporcionavam aos estudantes infraestrutura capaz de atingir os propósitos de uma educação de qualidade. Foi perguntado aos familiares e aos estudantes se eles têm conhecimento da Proposta da Educação Integral adotada pela EREM Leobaldo, com o objetivo de saber do envolvimento de fato da família na vida escolar do filho. As respostas estão apresentadas no Gráfico 6. Gráfico 6. Indicação dos familiares e estudantes da EREM Leobaldo Soares da Silva em relação ao conhecimento da Proposta da Educação de Pernambuco adotada pela escola. Barra Guabiraba-PE, 2019.
135
Fonte: Dados da pesquisa de campo (2019) Diante do exposto no Gráfico 6, observa-se que 60% dos familiares e 77% dos estudantes conhecem a Proposta da Educação Integral adotada pela escola, que prima pela formação integral do ser visando uma educação humanizadora. A família demonstra ter pouco conhecimento das questões de ordem filosóficas e pedagógicas que norteiam o contexto educacional, fato comum ao contexto social, em que a família confia seu filho/a à escola creditando a esssa instituição o cuidado e o zelo pelo seu ente querido. Embora vivam essa realidade na prática, há certo desconhecimento das questões dessa ordem, o interesse maior é que a escola esteja funcionamdo e atenda as demandas esperadas para ela. Gomes (2017) afirma que Do ponto de vista filosófico, a proposta curricular das EREMs é pautada na perspectiva da Educação Interdimensional, a qual reconhece o sujeito em suas diversas dimensões e propõe que as práticas pedagógicas e formativas ocorridas no interior das escolas considerem o desenvolvimento do ser humano em todas as dimensões – cognitiva, afetiva, sentidos e espiritual, como alternativa para o exercício da autonomia, da cidadania e do protagonismo juvenil. (GOMES, 2017, p. 138). A proposta da Educação Integral tem como premissas a Pedagogia da Presença, a Eucação para Valores e o Protagonismo Juvenil. Vai além da preocupação com o desenvolvimento intelectual do estudante, preocupa-se com o jovem na sua integralidade. Sendo assim, é importante ressaltar que nem todos os estudantes e principalmente, os familiares pesquisados têm conhecimento que a escola oferta uma educação humanizadora que forma jovens autônomos, solidários e produtivos.
Sim Não Parcialmente
60%
3%
37%
77%
0%
23%
Conhecimento sobre a Proposta da Educação Humanista Adotada pela Escola
Família Estudantes
136
5. CONCLUSÕES Com essa análise, procuramos contribuir para um debate que busque sensibilizar a família de que sua participação na vida escolar do estudante é fundamental para o desenvolvimento integral deste, contrariamente ao que muitos
pensam, não é apenas a criança que precisa da presença dos pais em sua vida acadêmica,
os adolescentes e jovens também precisam. Aqui, são apresentados dados que conduzem a um repensar o papel da escola na atualidade que, na condição de Instituição, tem como função a socialização do saber sistematizado. Tem também a responsabilidade de conduzir o processo educativo do ser humano e buscar articular a família ao seu projeto de fazer educação, por compreender a importância social que a família desempenha no seio da sociedade. Nesse sentido, a defesa da união da família com a escola, se dar no intuito de melhorar o ensino aprendizagem do estudante, bem como contribuir para sua transformação. A EREM Leobaldo Soares da Silva adota a Proposta da Educação Integral de Pernambuco, que tem como princípio filosófico a Educação Interdimensional. Ao proporcionar eventos que integram família e escola, a referida Instituição busca uma educação de qualidade onde só pode ser realmente efetivada com essa parceria. No entanto, percebe-se também que, mesmo estudantes e familiares reconhecendo a importância da participação da família na vida escolar do filho, o cotidiano atarefado dos pais e/ou responsáveis, muitas vezes, afasta a atenção e compromisso que o seio familiar deveria oferecer na formação do jovem na sua integralidade. O grande desafio é criar meios para que a família, tendo consciência da sua importância e do papel que representa na construção e no desenvolvimento dos seus filhos, dedique um tempo para efetivar uma parceria escola/família, e reconheça que sem a presença da família, a escola dificilmente conseguirá ofertar uma formação integral ao estudante. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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139
A SÍNDROME DE BOURNOUT E A EDUCAÇÃO
José Carlos do Nascimento¹ Marina Soares de Albuquerque Cavalcanti da Silva1
Paula Albuquerque Rodrigues1 Amanda Micheline Amador de Lucena2
RESUMO
O Ministério da Saúde do Brasil caracteriza a síndrome de Burnout como um distúrbio psíquico de caráter depressivo, procedido de esgotamento físico e mental intenso decorrente da tensão emocional crônica do trabalho e, não obstante, isso tem gerado inúmeros casos de absenteísmo docente. Diante disso, buscou-se com este trabalho identificar a percepção dos docentes sobre o seu ambiente de trabalho e sua interação com os membros da comunidade escolar associando se tais informações podem dar indícios que estes profissionais apresentam sintomas relacionados a síndrome de Burnout. O Estudo configura-se como uma pesquisa descritiva com abordagem quantitativa. O campo de pesquisa foi a Escola Municipal João Heráclio Duarte, que oferta os anos iniciais e finais do ensino fundamental, localizada na zona rural do Município de Passira-PE, no Sítio Varjadas. conta com um total de 289 educandos matriculados no ano de 2020, e tem em seu quadro 22 docentes sendo que participaram do estudo 11 docentes. Embora distante de ser uma avaliação especializada, através dos dados obtidos no referido estudo pode-se inferir que expressivos percentuais de docentes indicaram ter (mesmo que eventualmente) sintomas relacionados a síndrome de Burnout, e isso deve ser melhor avaliado. Contudo, fez-se necessário trazer para o âmbito escolar e seus atores informações sobre a Síndrome de Burnout, suas causas, principais sintomas, formas de tratamento etc, pois assim poderemos auxiliar para minimizar ou erradicar quadros graves dessa síndrome. Ter a consciência dos fatores que lhes conduzem a processos de adoecimento possibilitam ao profissional buscar tratamento prévio, podendo esse profissional reverter e evitar o avanço da síndrome e ou de outras doenças psicossomáticas. Palavra-chave:Exaustão;Relações interpessoais; Doenças do Trabalho.
ABSTRACT
The Ministry of Health of Brazil characterizes the Burnout syndrome as a psychic disorder of a depressive character, resulting from intense physical and mental exhaustion due to the chronic emotional tension of the work and, nevertheless, this has generated countless teaching absenteeism. Therefore, this work sought to identify the perception of teachers about their work environment and their interaction with members of the school community, associating whether such information can give evidence that these professionals have symptoms related to Burnout syndrome. The Study is configured as a descriptive research with a quantitative approach. The research field was the João Heráclio Duarte Municipal School, which offers the initial and
140
final years of elementary education, located in the rural area of the Municipality of Passira-PE, at SítioVarjadas. it has a total of 289 students enrolled in 2020, and has 22 faculty members, 11 of whom participated in the study. Although far from being a specialized assessment, through the data obtained in that study it can be inferred that expressive percentages of teachers indicated (even if eventually) symptoms related to Burnout syndrome, and this should be better evaluated. However, it was necessary to bring information about the Burnout Syndrome, its causes, main symptoms, forms of treatment, etc. to the school and its actors, as this way we can help to minimize or eradicate serious cases of this syndrome. Being aware of the factors that lead to illness processes allows the professional to seek prior treatment, and this professional can reverse and prevent the progress of the syndrome and or other psychosomatic diseases. Keywords: Exhaustion; Interpersonal relationships; Occupational
diseases________________________
¹ Mestrando(a) em Ciências da Educação pela VeniCreatorChistianUniversity; 2Professora do CETEC/VeniCreatorChistianUniversity;
1. Introdução
Desde 1999 e com base na lei nº 3048 da Previdência Social enquadra a
síndrome de Burnout como doença do trabalho. (BRASIL, 1999). Os principais
sintomas são fadiga extrema, perca de interesse pelo trabalho e atividades
comuns, e quadros depressivos. É indicado pelo Ministério da Saúde que o
tratamento de tal síndrome seja feito por meio de intervenções psicossociais,
acompanhamento farmacológico, e em casos extremos, utilizar-se de
fármacos.
Segundo Laydmilla (2016) a síndrome de Burnout tem sido considerada
como uma das principais causas do “afastamento de profissionais da
educação, e consequentemente, a responsável pelo aumento da evasão de
profissionais dos seus ambientes de trabalho.” Contudo, uma das maiores
dificuldades para iniciar o tratamento referente às doenças ocupacionais, é que
em geral,esses tipos de doenças não são tratadas com a importância devida,
fazendo com que o indivíduo muitas vezes procure o tratamento tardiamente e
sinta-se solitário nesta luta contra esses problemas.
O profissional quando acometido pela síndrome de Burnouté atingindo
não apenas nas suas relações profissionais, mas também nas relações
pessoais. Os professores e profissionais da educação comumente vem sendo
expostos a situações de alto grau de estresse, que são por recorrentes vezes
141
causadas pelas relações professor-educando, professor - gestão e ambiente
físico que envolve o âmbito educacional. O trabalho docente traz consigo uma
responsabilidade histórica social, uma vez queo professor muitas vezes tem se
deparado com problemas que perpassam as suas responsabilidades enquanto
mediador do conhecimento, frequentemente, intervindo em causas familiares, e
relações pessoais dos educandos. Outrora, esse professor muda seu
posicionamento tendo que exercer a função de avaliador, e questionador
trazendo consigo um desconforto diante das situações vividas no ambiente
educacional.
A prática pedagógica atribui competências que o profissional da
educação deve exercer em sua rotina para conseguir manter o equilíbrio no
desenvolvimento de seu trabalho, conduzindo suas aulas de forma que consiga
um rendimento satisfatório para ambas as partes. Neste contexto, manter-se
em um ambiente equilibrado e saudável é fator imprescindível quando se
almeja um processo de ensino aprendizagem eficientes.Larusso (1997),
adverte para a importância de buscar o equilíbrio emocional e afirma que:
Saúde mental é o equilíbrio emocional entre o seu interior e as vivências externas. É ter a capacidade de administrar a própria vida e as suas emoções dentro de um ambiente ou mundo de mudanças e ao seu redor sem perder o valor do real. É ser capaz de ter controle de suas próprias ações sem perder a noção de tempo e espaço. Saúde mental é estar de bem consigo e com os outros. Aceitar as exigências da vida, saber lidar com boas emoções e também com as desagradáveis: alegria e tristeza, coragem e medo, amor e ódio, serenidade e raiva, ciúmes, culpa e frustração. Reconhecer seus limites e buscar ajuda quando necessário (LARUSSO, 1997, p. 78).
A saúde mental está relacionada com a maneira que cada indivíduo vive
os momentos de sua vida, cada um é responsável pelo seu bem-estar em
todos os seus momentos de êxitos e conflitos. Cada pessoa está inserida em
um cotidiano no qual as diferenças existem, logo cada um tem que cuidar de
suas individualidades, construindo e preservando a sua saúde, que segundo a
Organização Mundial de Saúde - OMS (1947) “é um estado de completo bem-
estar físico, mental, social e não constituído somente da ausência de uma
doença ou enfermidade.”.
A Síndrome de Burnout está ligada geralmente com malefícios à saúde,
segundo Lalande (2011, p.126) síndrome é “um grupo especial e habitual de
sintomas mórbidos, (...) um fato patológico a considerar em si, a distinguir e
142
denominar abstração feita dascausas quaisquer que elas sejam que possam
produzir”.
Os primeiros indícios da Síndrome de Burnout são datadas de 1970, nos
Estados Unidos, em busca de respostas ao afastamento de trabalhadores que
apresentavam muitos atestados médicos gerando uma preocupação em suas
respectivas áreas de trabalho. (LAYDMILLA, 2016).
Como a mesma está ligada a profissionais que lidam diretamente com
pessoas, ou seja, setor de serviços de forma intensa e exaustivamente, é
reconhecida pelo esgotamento profissional e foi descoberta pelo psicanalista
Freundenberger. O Ministério da Saúde do Brasil caracteriza a Síndrome como:
Um distúrbio psíquico de caráter depressivo, procedido de esgotamento físico e mental intenso decorrente da tensão emocional crônica do trabalho. Esta Síndrome está ligada a profissionais que lidam diretamente com pessoas deforma intensa e exaustivamente. É definida por alguns autores como uma consequência do estresse profissional. O termo Burnout é uma composição de BURN= queima e OUT= exterior, que significa em português: combustão completa. É a doença que queima a vocação, é uma síndrome de pessoas que trabalham, com pessoas, ex: psicólogos, professores, enfermeiros, agentes penitenciários etc. O termo é utilizado hoje por especialistas da saúde mental, em estados avançados de estresse, cuja causa é o ambiente de trabalho (BRASIL, 2019).
O pedagogo, ao longo de sua profissão, tem que ir se adaptando à sua
nova jornada de trabalho, ampliando a sua carga horária para garantir uma
renda confortável com as suas necessidades, muitas vezes sendo obrigado a
ministrar aulas em múltiplos horários, e em escolas diferentes e por vezes
distantes de suas residências. Estes mesmos profissionais têm a necessidade
de ampliar seus conhecimentos e informações fora da escola, fazendo com que
também se tornem estudantes nos momentos que seriam reservados ao seu
descanso ou laser.
Com a sobrecarga de seu trabalho e defasagem das condições do
mesmo (como a falta de material, de recursos didáticos e de um ambiente
favorável), da própria desvalorização e o desrespeito com o profissional da
educação, que afeta suas atividades, se torna vítima do seu próprio cotidiano, o
que desencadeia uma série de incômodos, podendo resultar naSíndrome de
Burnout.
143
A evolução desta doença é lenta, podendo levar alguns anos para que
se manifestem os primeiros sintomas. Estas manifestações dependem dos
fatores individuais, ambientais e de como as pessoas se encontram, qual a sua
clientela, os conflitos e onde está inserida a escola, se é num bairro pobre,
violento, de classe média ou alta.
Burnout foi o nome escolhido: em português, algo como “perder o fogo”“perder a energia”, ou “queimar (para fora) completamente” (numa tradução mais direta). É uma síndrome através da qual o trabalhador perde o sentido da sua relação com o trabalho de forma que as coisas já não importam mais e qualquer esforço lhe parece ser inútil (CODO, 2012, p. 238).
O cotidiano do profissional de educação é marcado por muita agitação,
por muitos conflitos e problemas. Um exemplo simples é ajudar aquele
educando que está passando por problemas em casa e consequentemente
dificuldade no aprendizado. Cada educando tem sua individualidade, suas
necessidades e muitas vezes o profissional precisa ser pai, mãe, psicólogo,
assistente social e, acima de tudo, professor.
Na tentativa de solucionar ou minimizar os problemas que mais afetam a
aprendizagem do estudante, o professor, por muitas vezes têm se deparado
com obstáculos como: não receber o apoio do coordenador, ou do diretor e
muito menos de alguns pais. Então esses profissionais se veem sozinho e com
responsabilidades outras, o que, acrescida à falta de tempo para se dedicar
mais aos educandos e sua vida pessoal, e ainda, os baixos salários, a falta e
precariedade de recursos materiais nas escolas entre outros, se torna uma
avalanche sobre o mesmo, levando-o a um esgotamento físico e, sobretudo,
mental. Diante disso, buscou-se com este trabalho identificar a percepção dos
docentes sobre o seu ambiente de trabalho e sua interação com os membros
da comunidade escolar associando se tais informações podem dar indícios que
estes profissionais apresentam sintomas relacionados a síndrome de Burnout.
2. MARCO TEÓRICO
Pouco conhecida no ambiente educacional e até mesmo nos espaços de
saúde, síndrome de Burnout é considerada uma descoberta recente, para
Laydmilla (2016):
144
Diagnosticada a primeira vez em 1974-1975 nos Estados Unidos, a síndrome de Burnoutfoi descrita por Herbert J. Freudenberger, psicanalista de Nova York, que começou a se auto avaliar quando percebeu que estava sentindo um esgotamento total seguido de sentimento de fracasso e exaustão. Nesse momento ele notou que sentia necessidade de afastar-se de seus pacientes, isolando-se de todos com quem se relacionava, tanto profissionalmente, quanto socialmente.
Conforme Carlotto e Câmara (2004), após refletirem as visões de
diversos autores, citam que Freudenberger completou em 1997 seus estudos
incluindo em sua definição o comportamento de fadiga, depressão,
irritabilidade, aborrecimento, sobrecarga do trabalho, rigidez e inflexibilidade
como sintomas latentes da síndrome.
No Brasil, ainda existe poucos estudos sobre a síndrome, a mesma foi
citada pela primeira vez por França (1987), assim como citado por Carlotto
(2012) na Revista Brasileira de Medicina.
Na década de 90 surgiram as primeiras teses que abordavam o tema Burnout, mas o aspecto mais relevante foi em 1996 quando houve a Regulamentação da Previdência Social, incluindo a síndrome Burnout como agente patogênico causador de doença profissional. (LAYDMILLA, 2016).
De acordo com Benevides-Pereira (2013), em função do
desconhecimento de alguns profissionais que apresentavam níveis
consideráveis de Burnout, a síndrome é tratada como sendo um quadro de
estresse ou depressão.
O Brasil não se distancia da realidade de outros países com incidência
de Burnout, tendo em vista que, existe um grande número de trabalhadores
afastados por esse transtorno(LAYDMILLA, 2016), o que demonstra mais uma
vez a falta de estrutura e preocupação com o professor e os funcionários da
educação, elevando-se a um processo de cultura educacional enraizada nas
suas práticas.Assim como afirma Araújo et al. (2005, apud CARDOSO et al.
2012), a categoria docente é uma das mais expostas a ambientes conflituosos
e de alta exigência de trabalho.
No Brasil a educação apresenta grandes problemas no que se refere à
saúde do professor e suas condições de trabalho, contribuindo para o
desencadeamento de síndromes e transtornos emocionais. Conforme Carvalho
145
(2014) argumenta, “alguns estressores são típicos da natureza da função e
outros ocasionados pelo contexto onde se realiza essa função”.
A história docente no Brasil veio sofrendo alterações que contribuem
para a despersonalização dos profissionais da educação. Faber (1991 apud
CARLOTTO 2002) pontua que a severidade do Burnout entre os profissionais
de ensino já é atualmente superior à dos profissionais de saúde, o que coloca o
magistério como uma profissão de alto risco.
O professor é exposto a diversas situações cotidianas, acarretando
assim assumir diversos papéis dentro e fora do ambiente escolar, sendo
obrigado a lidar com questões de cunho emocional, social, e ainda conflitos em
relação as expectativas dos pais, gestores e sociedade. Muito mais que apenas
mediador do conhecimento na sala de aula, o professor passa a figurar como
instituição familiar para alguns educandos, fazendo com que os mesmos
tragam as suas mazelas pessoais e depositem nesses profissionais.
Nessa sua trajetória docente muitos fatores potencializam o
desenvolvimento do problema e esgotamento dos profissionais, podemos
elencar aqui alguns deles: não existência de suporte psicológico no ambiente
de trabalho, precariedade das estruturas físicas, falta de material para
execução das atividades, excessos de educandos no espaço de sala de aula,
entre outros.
Outro ponto sempre presente nas bibliografias pesquisadas é a
desvalorização do profissional de educação por seus gestores, que mesmo
tendo conhecimento das rotinas estressantes desses profissionais por vezes
fazem cobranças exacerbadas, reverberando em mais sobrecarga emocional.
Os efeitos do stress excessivo refletem-se também, de modo geral, na sociedade. Uma sociedade saudável e desenvolvida requer a somatória das habilidades dos seus cidadãos. Se o stress está muito alto no país, ou na comunidade, os adultos podem se tornar frágeis, sem resistência aos embates e dificuldades da vida. (LIPP E MALAGRIS 2011 p. 475-489).
Para Selye (1956) quando o profissional acometido pela Síndrome de
Burnout toma consciência do seu estado de saúde ele já está quase chegando
a exaustão. O mesmo autor apresenta o desenvolvimento do estresse em três
fases.
146
A primeira fase segundo (SELYE apudLIPP, 2011, p.18) refere-se ao
alerta. Em seguida entra na segunda fase, fase está em que a resistência se
inicia, sofrendo uma adaptação, em que o organismo procura a homeostase
interna. Aqui o indivíduo passa a sofrer de um grande cansaço e desgaste. E
por fim, chega à exaustão, que é o momento em que o organismo deixa de
produzir estratégias de defesa, e assim, manifesta as sérias doenças, como o
Burnout.
Consoante a Lazarus e Folkman (1984 apudLIPP, 2011, p.18) as
atividades cognitivas utilizadas pelo indivíduo para interpretar eventos
ambientais, são fundamentais no processo do stress. Os autores pontuam que
esse ambiente, se não estiver saudável, é um fator contribuinte para o
desencadeamento do estresse, assim, volta-se a questão do ambiente
educacional em que o professor atua. E que, por conseguinte traz falhas na
gestão organizacional, que também contribuem para manifestações do
estresse em professores.
O estresse é um processo vital e fundamental onde pode ser dividido em dois tipos, ou seja, quando passamos por mudanças boas, temos o estresse positivo e quando atravessamos alguma fase negativa, estamos vivenciando o estresse negativo. (SELYE, 1956, P.67).
O desgaste profissional ao qual as pessoas estão submetidas
diariamente, é um potencial gerador de doenças crônicas, assim como é
possível constatar nos estudos supracitados nessa pesquisa. Os modelos
expostos são responsáveis pelos seguintes fatores: agentes estressantes de
natureza diversas (física, biológica, mecânica, social, etc.), como conjunto de
características pessoais (tipos de personalidade, modos de reação ao estresse
etc.), um conjunto de consequências relacionados à saúde do indivíduo
(doenças cardiovasculares, perturbações psicológicas etc.) e da organização
(absenteísmo, acidentes, produtividade, performance etc.).
Para Posen (1995) “os sintomas físicos do estresse mais comuns são:
fadiga, dores de cabeça, insônia, dores no corpo, palpitações, alterações
intestinais, náusea, tremores e resfriados constantes”. Outros sintomas são
apresentados através do pensamento que podem ser representados de forma
compulsiva e obsessiva, levando em consideração a angústia e a sensibilidade
emocional, tornando o sujeito agressivo e violento.
147
Antigamente o setor industrial era tido como o maior protagonista dos
altos índices de estresse no trabalho. Hoje, estudos voltados para essa área
mostram que profissionais ligados a educação, a saúde, executivos e
profissionais liberais com características no aspecto organizacional do trabalho
e com elevada capacidade de autogerenciamento de suas carreiras tem
apresentado os mais altos níveis de adoecimento.
Sendo assim é possível observar que os fatores que geram os riscos à
saúde e ao sofrimento psíquico estão crescendo cada vez mais, devido às
exigências que são impostas aos profissionais, que muitas vezes ultrapassam
sua capacidade de adaptação.
O sofrimento psíquico do profissional é percebido com certa clareza,
quando o trabalho deixa de ser motivo de prazer, bem-estar, satisfação, sentir-
se útil, passando a ser lugar de dor, sofrimento e cansaço. As condições de
trabalho inadequadas, baixa remuneração, prejudicam o bem-estar e a
satisfação no ambiente de trabalho. Os sintomas psíquicos, nomeados como
“mentais” e “emocionais”, estão relacionados à diminuição da concentração,
memória, confusão, ansiedade, depressão, frustração, medo e impaciência.
3. MARCO METODOLÓGICO
A pesquisa foi desenvolvida sob uma perspectiva descritiva. A priori foi
constituído suas bases teóricas por meio de levantamento bibliográfico, sendo
posteriormente coletados dados através de questionários e esses dados foram
abordados numa perspectiva qualiquantitativa. Segundo Triviños (2008), as
pesquisas do âmbito educacional visam descrever de forma profunda os
indivíduos, e suas características pessoais e dos espaços em que estejam
inseridos, sendo assim, pode-se afirmar que o método descritivo é adequado a
estudos como esse.
O estudo foi desenvolvido na Escola Municipal João Heráclio Duarte,
que oferta os anos iniciais e finais do ensino fundamental, localizada na zona
rural do Município de Passira-PE, no Sítio Varjadas. Conta com um total de 289
educandos matriculados no ano de 2020, e tem em seu quadro 22 docentes e
participaram do estudo 11 professoras (es).
148
Esses profissionais foram previamente contactados, informados sobre o
objetivo do estudo e selecionados àqueles que se disponibilizaram a responder
ao questionário. Termos de permissão/participação foram encaminhados e
assinados pelos mesmos. Faz-se necessário dizer que todos os indivíduos
participantes desse estudo foram informados que os dados obtidos seriam
utilizados unicamente para fins de pesquisa e, que suas identidades seriam
preservadas.
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES
Quando falamos em comportamento e saúde mental do profissional de
educação, a questão a ser discutida é sobre como as relações entre o
profissional, ambiente de trabalho, e vida pessoal são equilibradas. Uma
construção humanizada dessas relações deve ser comprometida com as
perspectivas humanistas do profissional, e de seu entrono. Deve-se vislumbrar
como meta, a construção de espaços receptivos, e que prezem pelo bem-estar
de todos os atores envolvidos, de forma a priorizar a empatia e sobretudo, o
respeito.
Partindo então desta perspectiva, mergulhamos no universo que
circunda um recorte dos profissionais da educação lotados na Escola Municipal
João Heráclio Duarte, indagando-os sobre seus sentimentos e interação
enquanto participadores ativos do movimento escolar da mesma. Dos sujeitos
participantes do estudo 64% declararam-se sendo do gênero feminino e 55%
atuam nos anos finais do ensino fundamental. Do total de respondentes, 64%
afirmaram trabalhar em dois turnos.
Quanto a percepção dos docentes no que se refere à questões
emocionais e físicas que estão ligadas ao ambiente de trabalho, constatou-se
pelas respostas dos sujeitos que algumas emoções “negativas” que são
vivenciadas no ambiente de trabalho, mesmo não acontecendo diariamente,
podem gerar danos psicológicos para esses profissionais (Gráfico 1)
Gráfico 1. Indicação dos docentes da Escola Municipal João Heráclio Duarte
sobre suas emoções e a correlação com o trabalho docente. Passira – PE,
149
2020.
Fonte: Dados da pesquisa de campo (2020)
Constata-se no Gráfico 1 que 100% dos profissionais respondentes
algumas vezes se sentem esgotados ao fim da jornada diária de trabalho.
Podemos também verificar que um número expressivo desses profissionais
(64%) liga o seu desgaste físico e mental ao trabalho, o que também reverbera
em um número preocupante (45%) desses profissionais que sentem-se
decepcionados.Isso nos dá margem para reflexão sobre as oscilações
emocionais ligadas as cargas demandadas pela profissão na rotina escolar.
Para Codo (2012) existem três eixos que caracterizam a incidência da
síndrome de Burnout e outras doenças de aspecto mental, são elas: A
exaustão emocional, que é descrita como o momento em que os trabalhadores
sentem que não podem dar mais de si mesmos a nível afetivo. Percebem
esgotados a energia e os recursos emocionais próprios, devido ao contato
diário com os problemas.; Despersonalização, que é desenvolvimento de
sentimento e atitudes negativas e de cinismo às pessoas destinatárias do
trabalho (usuários/clientes) endurecimento afetivo, “coisificação” da relação;
por fim, a Falta de envolvimento pessoal no trabalho, uma tendência de
“evolução negativa” no trabalho, afetando a habilidade para a realização do
trabalho e o atendimento, ou contato com as pessoas usuárias do trabalho,
bem como a organização.
Os dados relativos a concepção dos docentes sobre si, suas relações
pessoais, competências e motivação encontram-se no Gráfico 2 e pode-se
0% 0% 0% 0%
45%
100%
73%64%
27%
55%
0%
27%36%
73%
EmocionalmenteDecepcionado
Esgotado ao Fim daJornada
Fadigado pela Manhã Desgastado peloTrabalho
Frustrado
Emoções dos docentes
Diariamente Algumas vezes Nunca
150
perceber a maioria desses sujeitos (55%) indicaram que algumas vezes
vivenciam situações estressantes ao trabalhar com pessoas (Gráfico 2).
Gráfico 2. Indicação dos docentes da Escola Municipal João Heráclio Duarte
sobre suas emoções e despersonalização em relação ao trabalho docente.
Passira – PE, 2020.
Fonte: Dados da pesquisa de campo (2020)
A motivação é um fator que serve de mola propulsora para desenvolver
muitas das ações de nosso cotidiano pessoal e profissional e neste sentido é
importante que todo profissional se sinta motivado a desenvolver suas
atividades laborais. Na contramão dessa perspectiva, observa-se que 45% dos
sujeitos que participaram da pesquisa afirmaram que por vezes sentem-se tão
desmotivados que chegam a questionar suas capacidades enquanto
profissionais, capacidades essas que estão diretamente relacionadas ao
processo de ensino que por sua vez interfere no processo de aprendizagem.
Além disso, um grupo que representa 45% desses docentes indicaram que por
vezes se sentem no limite das suas capacidades, fato que associado a outros
sintomas deveria ser melhor investigado por profissionais habilitados.
Com relação ao ambiente de trabalho e a forma de interagir com as
pessoas no ambiente profissional, todos os docentes que participaram do
estudo percebem o seu ambiente de trabalho, ou seja a Escola Municipal João
Heráclio Duarte como sendo um local agradável para desenvolver seu trabalho
docente (Gráfico 3).
0% 0% 0% 0%
55%45%
36%45%45%
55%64%
55%
Me Sinto EstressadoTrabalhando com Pessoas
Me Sinto no Limite dasMinhas Possibilidades
Me Sinto Mais Duro com asPessoas
Minha Desmotivação meFaz Questionar Minhas
Competências
Emoções e despersonalização
Diariamente Algumas vezes Nunca
151
Gráfico 3. Indicação dos docentes da Escola Municipal João Heráclio Duarte
sobre seu ambiente de trabalho e as interações com pessoas correlacionada
com o trabalho docente. Passira – PE, 2020.
Fonte: Dados da pesquisa de campo (2020)
Um ambiente agradável é citado em diversas bibliografias como sendo
uma das maneiras de minimizar os sintomas causadores de doenças
psicossomáticas. Dos sujeitos respondentes, 64% indicaram que
frequentemente (diariamente) se importam com os problemas de outras
pessoas no trabalho, esse mesmo percentual(64%) consideram possuir
habilidades para lidar facilmente com as pessoas no ambiente de trabalho, algo
que é imprescindível para o ambiente escolar.
O manejo com os problemas advindos das interações no trabalho não é
uma tarefa fácil. Compreender o momento em que nossa mente e nosso corpo
precisam de auxílio médico especializado é primordial para o tratamento
precoce de diversas doenças. No Gráfico 4 apresenta-se Destaca-se o
percentual de profissionais que afirmaram já terem procurado suporte médico
por apresentarem sintomas psicológicos (45%), contudo a maioria dos
professores respondentes (82%) afirmaram que mantém a calma para lidar
com os problemas no trabalho.
Gráfico 4. Indicação dos docentes da Escola Municipal João Heráclio Duarte
sobre aspectos relacionados seu manejo com os problemas que envolve o
trabalho docente. Passira – PE, 2020.
64% 64%
100%
36% 36%
0%0% 0% 0%
Posso Entender as Pessoas noTrabalho Facilmente
Me Importo com os Problemas dasPessoas no Trabalho
Considero Meu Local de Trabalhocomo um Ambiente Agradável
Ambiente de trabalho e envolvimento pessoal
Diariamente Algumas vezes Nunca
152
Fonte: Dados da pesquisa de campo (2020)
Sabe-se que estimular os profissionais resulta num melhor desempenho
de suas atividades, e mesmo um total de 100% dos sujeitos terem afirmado
que o ambiente de trabalho é agradável, apenas 36% ainda expressaram que
por vezes (e não frequentemente) se sentem estimulados após o
desenvolvimento de suas atividades. A rotina escolar e os problemas que
permeiam esse ambiente, exigem dos atores educacionais lidar com várias
responsabilidades profissionais e também pessoais. Sobre isso, Codo afirma
que:
Essa é a vida do professor, é exercer uma missão de tempo integral. O resultado de tudo isso não poderia ser outro, um sofrimento psíquico, a exaustão emocional e a despersonalização. Não tendo alternativa, se sentindo esgotado, desenvolve um sentimento de baixa autoestima profissional e de impotência porque, por mais que faça, não consegue fazer tudo que tem vontade ou acha que deveria fazer. Não quer largar a escola. Não quer largar a família. É pelos dois que está brigando. Então se protege se afastando, hipoteticamente (ou impotentemente?), do afeto que o trabalho lhe exige e que a família lhe cobra. Finge que não sente. Se desmotiva, e sofre. Assim lança mão de um recurso, a despersonalização (CODO, 2012, p. 13).
Além de uma jornada dupla, muitas vezes tripla e cansativa de trabalho,
muitos dos profissionais que atuam na área de educação vivem em constante
conflito consigo mesmo, sem poder se dedicar à família, por passar muito mais
tempo na escola, ou seja, trabalhando em período integral, o que gera
desconfortos pessoais e afastamento do convívio familiar.
64%
82%
0%
36%
18%
45%
0% 0%
55%
Me Sinto Estimulado Após Trabalharcom Alunos e Professores
Tenho Muita Calma para Manejar osProblemas no Trabalho
Já Procurei um Médico porApresentar Sintomas Psicológicos
Manejo com problemas no âmbito escolar
Diariamente Algumas vezes Nunca
153
Destaca-se que a falta de informação sobre a Síndrome de Burnout
impede de detectar a incidência de diversos sintomas que se apresentam de
forma lenta, impossibilitando-os de buscar ajuda em tempo hábil para que as
consequências não se agravem e reflitam em maior grau na vida pessoal e
profissional das pessoas acometidas (CODO, 2012).
É de conhecimento geral que o profissional, independentemente da área
que atue, não deve deixar que os problemas de origem pessoal afetem seu
desempenho, assim como, não devem deixar que as problemáticas
profissionais o limitem ou interfiram em sua vida pessoal. Essa dualidade vivida
reverbera em um enorme desgaste emocional, o qual impacta na vida pessoal
e/ou profissional.
5. CONCLUSÕES
É conclusivo que são os mais diversos os fatores que desencadeiam a
Síndrome do Burnout, e além disso sugere-se que maioria dos profissionais da
educação desconhecem ou não sabem reconhecer os sintomas dessa
síndrome.
Criar consciência dos limites que determinados atos praticados no
contexto educacional devem ter para que se construa um ambiente saudável
para execução do trabalho são primordiais, e possibilitam ao profissional
segurança na lida diária. De modo geral, é necessário o reconhecimento dessa
síndrome enquanto doença que deve ser combatida de forma eficaz.
É cada vez mais latente a necessidade de debater esse tema, e que o
mesmo seja amplamente divulgado. Seja por meio de palestras, mídias
impressas ou digitais, é importante que essa informação chegue a diversos
espaços, principalmente no escolar, fazendo com que um grande número de
pessoas adquira a consciência da real dimensão do problema que afeta esses
profissionais.
Com todos os confrontos vivenciados pelo profissional de educação, não
é difícil que o estado de exaustão emocional seja alcançado, que é
simplesmente uma sensação de esgotamento, desânimo geral, apatia, e
154
diminuição expressiva da energia vital, que desencadeiam a Síndrome de
Burnout.
Embora distante de ser uma avaliação especializada, através dos dados
obtidos no referido estudo pode-se inferir que expressivos percentuais de
docentes indicaram ter (mesmo que eventualmente) sintomas relacionados a
síndrome de Burnout, e isso deve ser avaliado. Contudo, fez-se necessário
trazer para o âmbito escolar e seus atores informações sobre a Síndrome de
Burnout, suas causas, principais sintomas, formas de tratamento etc, pois
assim poderemos minimizar ou erradicar quadros graves dessa síndrome. Ter
consciência dos fatores que lhes conduzem a processos de adoecimento
possibilitam ao profissional buscar tratamento prévio, podendo esse
profissional reverter e evitar o avanço da síndrome e de outras enfermidades.
Possibilitar a esses profissionais abertura para expressar seus
sentimentos é uma das maneiras de reconhecer as problemáticas que tolhem
sua caminhada profissional. Comunicar mais e melhor sobre a Síndrome de
Burnout e outras doenças dessa natureza é a maneira mais efetiva de alcançar
esses profissionais com o tratamento.
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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