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22 INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS Nº 148 – DEZEMBRO/2014 DIVULGANDO A PESQUISA DISPONIBILIDADE DE FÓSFORO NO SOLO E RESPOSTA DA SOJA AO FERTILIZANTE APLICADO NO SULCO DE SEMEADURA CIRO ANTONIO ROSOLEM; ALExANDRE MERLIN. Revista Brasileira de Ciência do Solo, v. 38, n. 5, p. 1487-1495, 2014 A fixação de fósforo em solos tropicais pode ser diminuída sob plantio direto. Nesse caso, o fertili- zante pode ser aplicado na superfície do solo, o que melhora o rendimento operacional pela diminuição do reabasteci- mento da semeadora com fertilizantes. Em longo prazo, fontes de P menos solúveis podem ser viáveis. Nesse experimento, foram estudados o efeito da aplicação de P em superfície, tanto de fosfato solúvel (superfosfato triplo - SFT) como de fosfato de rocha reativo (Arad - FR), sobre as formas de P no solo e a disponibilidade para a soja, em combinação com a aplicação de P solúvel nos sulcos de semeadura, em um experimento de longa duração, no qual a soja foi cultivada em rotação com a braquiária (Brachiaria ruziziensis). Os fertilizantes fosfatados foram aplicados na superfície de um solo com histórico de aplicações de P, nas doses 0 e 80 kg ha -1 . Amostras de solo foram tomadas até 60 cm de profundidade, e o P do solo foi fracionado. A soja foi cultivada com 0, 30 e 60 kg ha -1 de P 2 O 5 como superfosfato triplo aplicado no sulco de semeadura. As produtividades médias de soja foram maiores com a aplicação de P na superfície do solo, independentemente da fonte de P, mas a resposta dependeu de aplicação de P no sulco (Figura 1a). Quando nenhum P foi aplicado em cobertura, a soja respondeu à aplicação do SFT no sulco até 26 kg ha -1 , mas a adição de P, tanto em cobertura como no sulco, superou as diferenças de produção de soja. Teores de fósforo nas folhas de soja estavam abaixo dos níveis limite (2,0-5,0 g kg -1 ) quando nenhum P foi aplicado, mas foram superiores quando o P foi aplicado em cobertura e pelo menos 13 kg ha -1 foram aplicados nos sulcos (Figura 1b). Conclusões: 1. Ambos os fertilizantes aplicados em superfície aumen- taram o P disponível nas camadas superiores do solo e as formas moderadamente lábeis, orgânica e inorgânica, de P no perfil do solo, provavelmente como resultado do apodrecimento radicular. 2. Embora a soja tenha respondido ao SFT e ao FR aplicados na superfície do solo, as doses mais baixas de P solúvel aplicadas no sulco de semeadura são eficazes no fornecimento de P para a soja. 3. O fertilizante fosfatado deve ser aplicado como fertilizante de arranque, mesmo quando o solo recebeu adubações fosfatadas acumuladas. 4. Em solos tropicais, com um histórico de fertilização fosfatada, fontes de P solúveis podem ser substituídas por fosfatos naturais reativos aplicados na superfície do solo. A operação de seme- adura pode ser agilizada pela redução da taxa de P aplicada ao sulco de semeadura em relação às doses que são empregadas atualmente. Figura 1. Rendimentos de soja (a) e concentrações foliares de P (b) afe- tados pela aplicação de fertilizantes fosfatados na superfície do solo e no sulco de semeadura. FR = 80 kg ha -1 de P 2 O 5 como fosfato de rocha reativo Arad; SFT = 80 kg ha -1 de P 2 O 5 como superfosfato triplo. Os valores 0, 30 e 60 representam kg ha -1 de P 2 O 5 aplicado no sulco de semeadura como SFT. Barras sobre as colunas mostram o resultado do teste LSD (p < 0,05). Sem P Fosfato de Superfosfato rocha (FR) triplo (SFT) Fertilizante fosfatado aplicado na superfície do solo P nas folhas de soja (g kg -1 ) 3 2 1 0 3.500 2.500 1.500 500 Produtividade da soja (kg kg -1 ) P (kg ha -1 ) 0 30 60 (a) (b)

A fixação de fósforo em solos tropicais pode ser diminuída ......aplicação do SFT no sulco até 26 kg ha-1, mas a adição de P, tanto em cobertura como no sulco, superou as

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Page 1: A fixação de fósforo em solos tropicais pode ser diminuída ......aplicação do SFT no sulco até 26 kg ha-1, mas a adição de P, tanto em cobertura como no sulco, superou as

22 INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS Nº 148 – DEZEMBRO/2014

DIVuLGANDO A PESQuISA

dispoNiBilidade de fÓsforo No solo e resposta da soJa ao fertilizaNte aplicado No sulco de semeadura

CIRO ANTONIO ROSOLEM; ALExANDRE MERLIN. Revista Brasileira de Ciência do Solo, v. 38, n. 5, p. 1487-1495, 2014

A fixação de fósforo em solos tropicais pode ser diminuída sob plantio direto. Nesse caso, o fertili-zante pode ser aplicado na superfície do solo, o que

melhora o rendimento operacional pela diminuição do reabasteci-mento da semeadora com fertilizantes. Em longo prazo, fontes de P menos solúveis podem ser viáveis.

Nesse experimento, foram estudados o efeito da aplicação de P em superfície, tanto de fosfato solúvel (superfosfato triplo - SFT) como de fosfato de rocha reativo (Arad - FR), sobre as formas de P no solo e a disponibilidade para a soja, em combinação com a aplicação de P solúvel nos sulcos de semeadura, em um experimento de longa duração, no qual a soja foi cultivada em rotação com a braquiária (Brachiaria ruziziensis).

Os fertilizantes fosfatados foram aplicados na superfície de um solo com histórico de aplicações de P, nas doses 0 e 80 kg ha-1. Amostras de solo foram tomadas até 60 cm de profundidade, e o P do solo foi fracionado. A soja foi cultivada com 0, 30 e 60 kg ha-1 de P2O5 como superfosfato triplo aplicado no sulco de semeadura.

As produtividades médias de soja foram maiores com a aplicação de P na superfície do solo, independentemente da fonte de P, mas a resposta dependeu de aplicação de P no sulco (Figura 1a). Quando nenhum P foi aplicado em cobertura, a soja respondeu à aplicação do SFT no sulco até 26 kg ha-1, mas a adição de P, tanto em cobertura como no sulco, superou as diferenças de produção de soja. Teores de fósforo nas folhas de soja estavam abaixo dos níveis limite (2,0-5,0 g kg-1) quando nenhum P foi aplicado, mas foram superiores quando o P foi aplicado em cobertura e pelo menos 13 kg ha-1 foram aplicados nos sulcos (Figura 1b).

Conclusões:1. Ambos os fertilizantes aplicados em superfície aumen-

taram o P disponível nas camadas superiores do solo e as formas moderadamente lábeis, orgânica e inorgânica, de P no perfil do solo, provavelmente como resultado do apodrecimento radicular.

2. Embora a soja tenha respondido ao SFT e ao FR aplicados na superfície do solo, as doses mais baixas de P solúvel aplicadas no sulco de semeadura são eficazes no fornecimento de P para a soja.

3. O fertilizante fosfatado deve ser aplicado como fertilizante de arranque, mesmo quando o solo recebeu adubações fosfatadas acumuladas.

4. Em solos tropicais, com um histórico de fertilização fosfatada, fontes de P solúveis podem ser substituídas por fosfatos naturais reativos aplicados na superfície do solo. A operação de seme-adura pode ser agilizada pela redução da taxa de P aplicada ao sulco de semeadura em relação às doses que são empregadas atualmente.

Figura 1. Rendimentos de soja (a) e concentrações foliares de P (b) afe-tados pela aplicação de fertilizantes fosfatados na superfície do solo e no sulco de semeadura. FR = 80 kg ha-1 de P2O5 como fosfato de rocha reativo Arad; SFT = 80 kg ha-1 de P2O5 como superfosfato triplo. Os valores 0, 30 e 60 representam kg ha-1 de P2O5 aplicado no sulco de semeadura como SFT. Barras sobre as colunas mostram o resultado do teste LSD (p < 0,05).

Sem P Fosfato de Superfosfato rocha (FR) triplo (SFT)

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