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EFICÁCIA DOS EXERCÍCIOS DE ESTABILIZAÇÃO DINÂMICA N A DIMINUIÇÃO DAS DORES LOMBARES
Fernanda Cerveira A.O. Fronza
INTRODUÇÃO
As modificações físicas incluindo alterações biomecânicas, músculo-esqueléticas e fisiológicas
características da gestação, produzem várias adaptações na mulher que culminam com sobrecargas em
algumas estruturas em detrimento de outras, levando a queixas frequentes neste período que são as
dores lombares. Esta dinâmica em maior ou menor grau se observa nas gestantes, o que produz
impactos ao sistema de saúde com gastos para este fim, mas pouco ainda se tem realizado para
predizer e atenuar este tipo de desconforto, intensificado nos 2 últimos trimestres de gestação.
Os números que expressam este relação entre dor lombar e gestação são bem característicos.
WANG et al (2005) desenvolveram estudo com 10. 000 por um ano e verificaram nos Estados Unidos
uma prevalência de 68,6% das gestantes com algum tipo de lombalgia durante a gestação. No Brasil,
CECIN et al. apud MARTINS e SILVA (2005) e encontraram que o risco relativo das gestantes em
apresentar dores nas costas é quase 14 vezes maior que o de mulheres não grávidas. Outro estudo
conduzido por MARTINS e SILVA (2005) no Estado de São Paulo encontrou uma prevalência de
gestantes com algias na coluna vertebral e pelve de aproximadamente 80%, sendo esta dor mais
freqüente e mulheres jovens.
A dor lombar é uma queixa freqüente entre as gestantes e a alta incidência deste algia tem sua
explicação comumente vinculada ao aumento do péso corporal e em função do deslocamento anterior
do centro de gravidade do corpo. Em termos biomecânicos, a evolução é rápida e tem-se em poucos
meses um aumento de péso de 25% do total da massa corporal, além do deslocamento anterior do
centro de gravidade. Simultaneamente, a estabilidade da pelve é diminuída como uma preparação para
parto normal através da interação de estrógeno, progesterona e relaxina que atuam sobre os ligamentos
das articulações pélvicas, tornando-os menos tensos para permitir um aumento da amplitude de
movimento em as articulações e causando instabilidade na região. Esta instabilidade é maior nos
bípedes, em função do aumento de suporte de peso na pelve que pode gerar sobrecargas numa simples
caminhada, culminando com uma alta incidência de dor na região lombar durante a gravidez
(OSTGAARD, 1996; NOVAES, 2006)
Estas modificações induzem a mulher a fazer adaptações na sua postura para compensar a
mudança de seu centro de gravidade, sendo este processo individual e vinculados a necessidades muito
peculiares como a força muscular, extensibilidade das articulações e fadiga . Em linhas gerais, observa-
se na maioria das gestantes uma tendência a acentuação das curvas fisiológicas lombares e torácicas
amplia-se base de sustentação quando os pés se distanciam, as escápulas se dirigem para trás, a região
cervical da coluna alinha-se para frente (MANTLE e PONDEN, 2002)
Algumas relações encontradas com as dores lombares foram destacadas por SKAGGS et al
(2007) em que 80% das mulheres que experimentam dor lombar dormiam menos de 4 horas por noite.
A perturbação no sono tem demonstrado estar associado às dores lombares com impacto negativo sobre
a qualidade de vida destas gestantes. Nas mulheres que engravidam a mudanças envolvidas na forma e
tamanho das o corpo já envolvem dor e dificuldade em dormir e mesmo que estas não sofram de dores
lombares. SCIALLI (1999) ainda associam esta lombalgia nas gestantes com altos índices de
afastamento do trabalho, inabilidade motora e depressão.
GUTKE et all (2008) relatam que a estabilidade prejudicada devido a alteração da pelve
deveconvertida em estratégias de tratamento com exercícios de estabilização específicos, que tem
mostrado eficazes para diminuir os sintomas durante a gravidez quando relacionados as dores lombares
gestacionais bem como no pós-parto. A importância de ativação dos músculos estabilizadores e
ativação e co-ativação dos músculos específicos como o transverso do abdômen, oblíquo internos,
multífidos, músculos do assoalho pélvico e o diafragma têm sido cada vez mais estudados na população
geral, como ressalta MØRKVED et al (2007).
Os estudos ainda são escassos ao abordar as gestantes, principalmente no tocante a atenuação
de sintomatologia dolorosa, onde os exercícios podem tornar-se uma importante ferramenta para este
fim. As recomendações mais atuais do American Colege of Ginecologist and Obstetrician para atividades
físicas com gestantes datam do ano de 2002 e desde então, dentro da atividade física supervisionada,
tem surgido outras alternativas de exercícios para lidar com as questões provenientes das alterações da
gestação, mas ainda pouco exploradas e publicadas. Os exercícios de estabilização são estratégias que
tem sido bem empregada e com bons resultados em indivíduos com dores lombares, porém pouco se
sabe sobre a sua aplicabilidade com gestantes. Objetivo deste estudo é, portanto, investigar se os
exercícios de estabilização dinâmicos são efetivos para a diminuição dos desconfortos lombares no 2
últimos trimestre de gestação quando comparados a um protocolo de exercícios gerais.
2. REVISÃO DE LITERATURA
O período gestacional gera um impacto biomecânico da cintura pélvica que por sua vez torna-se
instável devido a frouxidão ligamentar da articulação sacro ilíaca e da sínfise púbica em função do
hormônio relaxina. Esse processo tem inicio durante o 4 mês gestacional e continua até o 7 mês. Apos
este período ocorre apenas um pequeno aumento de mobilidade, com média de 5 mm no sentido
transversal e supero - inferior à sínfise púbica.Embora não exista uma correlação estatística entre o
aumento da frouxidão ligamentar e a dor pélvica durante o período gestacional, mas há uma correlação
assimétrica da frouxidão ligamentar da articulação sacro ilíaca e a dor pélvica durante a gravidez
(LEE,2004).
OSTGAARD (1996) destaca que existem dois tipos diferentes de dores referenciadas pelas
gestantes: as dores lombares e as dores na pelve posterior. A dor lombar é bastante constante durante
toda a gravidez e ocorre com uma frequência de cerca de 10% das mulheres, não esta necessariamente
relacionada com a gravidez pode retornar com o fim da gravidez, causa diminuição da amplitude de
movimento na coluna lombar, dor à palpação dos músculos eretores da espinha. A dor pélvica posterior
parece aumentar sua freqüência no início da gravidez e permanecer constante em um nível mais
elevado de aproximadamente 35% durante a gestação. Pode ainda haver a combinação entre os dois
tipos de sintomatologia. A figura abaixo ilustra as regiões de acometimento dos dois tipos de dor.
Figura 1 : Regiões de acometimento dos diferentes tipos de dores: A significa dor na pelve posterior e B para dor lombar (PERKINS et al,1998)
As dores lombar e pélvica posterior apresentam características diferentes, conforme descrição
na Tabela 1
TABELA 1: Características da dor lombar e dor pélvica posterior (PERKINS et al,1998)
CARACTERÍSTICAS DOR LOMBAR DOR PÉLVICA POSTERIOR
Localização da dor Dor sobre e ao redor da coluna lombar com ou sem irradiação para perna ou pé
Dor unilateral ou bilateral nos glúteos e lombar, distal ou lateral a coluna lombar, pode irradiar região posterolateral coxa, ocasionalmente para o joelho e raramente a panturrilha Não se irradiar para o pé
Limitações funcionais
relacionadas com a dor
A dor é prolongada com sensação de peso podendo ocorrer em pé ou sentada.
Dificuldade / dor com atividades como virar na cama, subir escadas, correr, caminhar, sair de automóveis e levantar de cadeiras baixas, flexão e torção do tronco, entrar e sair de uma banheira
Características clínicas
A dor pode assemelhar episódios de dor lombar experimentadas antes da gravidez; Músculos eretores espinha com espasmo protetor à palpação
Teste de provocação de dor pévica posterior é negativo.
Agravamento da dor por atividade de impacto ou extremos de amplitude quadril e coluna Posturas prolongada perto dos limites amplitude de movimento para de agravamento de dor do quadril e coluna (ex: sentado no computador) Episódios de dor aguda precipitada por dor nas atividades acima referidas, com pico de dor algum tempo após o evento precipitante Teste de provocação de dor pélvica posterior é positivo Pode estar associada com dor sínfise púbica
OSTGAARD (1996) destaca um teste utilizado para diferenciar os tipos de dores e reconhecer
aquela originária da região pélvica posterior. O procedimento consiste em posicionar a gestante em
decúbito dorsal, com uma mão o avaliador flexiona o joelho da gestante e aplica uma força sutil em
direção ao fêmur e com a outra estabiliza a pelve no membro inferior contralateral que deve estar
estendido. Apésar de não se determinar qual estrutura anatômica a dor se origina, este teste demonstrou
uma sensibilidade de 81% e especificidade de 80%.
Figura 2: Teste irritativo para dor pélvica posterior (OSTGAARD,1996).
GUTKE et all (2008) desenvolveram um estudo de coorte prospectivo em gestantes para
investigar a associação da função muscular e nos subgrupos com lombalgia em 4 grupos em relação à
gravidez: sem dor lombar, dor pélvica posterior, dor lombar e dor combinada. Nos resultados viu-se que
de um total de 301 gestantes, 116 mulheres não tinham dor lombar, 33% (n = 99) tinham dor pélvica
posterior, 11% (n = 32) tinham dor lombar e 18% (n = 54) tinham combinado dor lombar e pélvica
posterior. Em relação a função muscular, viu-se que os flexores do tronco nas gestantes que tinham dor
pélvica posterior tinham apresentavam fraqueza, indicando uma associação positiva entre um o
desequilíbrio músculo-esquelético e o quadro álgico.
SKAGGS et al (2007) investigou em 599 mulheres a prevalência de dor lombar e constatou que
67% do total da população estudada relataram dor e 21% relataram dor de intensidade severa em uma
escala numérica, como a escala visual analógica de dor, onde acima de 8 já se considerava dor intensa.
Importante, 85% das mulheres inquiridas percebida que não tinham sido oferecido tratamento para os
seus distúrbios osteomusculares.
A sobrecarga resultante da gestação não é capaz de produzir alterações patológicas
significativas nas gestantes. As discopatias degenerativas são incomuns entre esta população, a
escoliose raramente é afetada pela gravidez, a espondilolistese grave quando preexistente a gestação
pode, por razões biomecânicas, se tornar um problema ao final da gestação em função da frouxidão dos
ligamentar como uma preparação para o parto normal. As mulheres grávidas devem evitar a hiperlordose
na sua tentativa de equilibrar o aumento da o crescente peso do útero (OSTGAARD,1996)
Algumas medidas podem ser utilizadas na tentativa de prevenir ou minimizar estes tipos de
dores. PERKINS et al (1998) apontam algumas, destacando que em primeiro lugar, é importante que as
mulheres mantenham uma boa postura, evitando sobrecargas mecânica desnecessárias e estresse
sobre a coluna lombar. Em segundo lugar, um programa de exercícios que melhore a resistência e
flexibilidade de suporte aos tecidos moles e estruturas. Durante as atividades executadas pelas
gestantes, indica-se que estas que estas o façam na postura neutra da coluna mantendo inclusive o
mesmo posicionamento de pelve e coluna para fazer da mesma forma os movimentos padrões diários.
Na literatura ainda são escasso os estudos que abordem protocolos de exercícios adequados
para gestantes, principalmente aquele que objetivam reduzir as dores lombares. De acordo com ARTALL
et all (1999) a dor lombar pode ser reduzida melhorando-se a resistência e o controle dos músculos
inseridos na coluna e na pelve.
A SOGC (Society of Obstetricians and Gynaecologists of Canada) juntamente com a CSEP
(Canadian Society for Exercise Physiology) (2003) estabeleceram diretrizes para a prática clínica de
exercícios durante a gravidez e o período pós-parto considerando a segurança para a execução dos
exercícios e as alterações fisiológicas e biomecânicas inerentes a este período.
Em linhas gerais, as gestantes previamente sedentárias devem iniciar exercícios aeróbios com
15 minutos de duração, três vezes por semana, passando gradativamente para 30 minutos, quatro vezes
por semana. Objetivos razoáveis para a prática desse tipo de exercício envolvem bom condicionamento
físico durante toda gravidez, sem haver a intenção de atingir o máximo de aptidão ou o treino para
competição. As diretrizes não limitam a prática para as mulheres atletas de elite e aquelas com
necessidades especiais ressaltando apenas a necessidade de acompanhamento médico especializado e
supervisão de profissional do exercício físico clínico (SOGC/ CSEP,2003).
As atividades aeróbias devem ser escolhidas considerando a diminuição do risco de perda de
equilíbrio e trauma fetal. Além disso, períodos de aquecimento e volta a calma devem fazer parte das
sessões. Há menos evidência sobre o trabalho de força muscular durante a gravidez. Algumas mulheres
podem apresentar hipotensão em razão da compressão da veia cava pelo útero gravídico, e exercícios
na posição supina devem ser evitados após a 16ª semana. O trabalho de resistência abdominal pode ser
dificultado pela diástase do músculo reto e pela fraqueza da musculatura abdominal (SOGC/ CSEP,
2003).
O controle da intensidade dos exercícios aeróbicos inclui o uso da freqüência cardíaca de
reserva, já que durante a gravidez a freqüência cardíaca de repouso está cerca de 10 a 15 bpm maior
sugerindo-se um ajuste na zona alvo convencional. Outras formas de monitoramente da atividade
incluem o “talk-test”, em que a mulher estará numa intensidade adequada se consegue manter uma
conversa enquanto se exercita. Caso isto não seja possível, a intensidade deve ser reduzida. Durante o
exercício, a mulher também pode usar uma escala visual, para a determinação da intensidade. Na
gestação, sugere-se uma percepção de esforço entre 12 e 14 na Escala de Borg. (SOGC/ CSEP, 2003).
Em gestações sem complicações, as diretrizes recomendam que todas mulheres devem ser
incentivadas a participar de programas de exercícios aeróbios e de condicionamento muscular, como
parte de um estilo de vida saudável. Mulheres com gravidezes complicadas são desencorajadas quanto
à participação em programas de exercícios (SOGC/ CSEP,2003)
A tabela abaixo ilustra as principais contra indicações absolutas e relativas para a prática de
exercício em gestantes de acordo com a SOGC/ CSEP (2003), são:
TABELA 2 : Contra indicações absolutas e relativas para gestantes, SOGC/ CSEP (2003)
VLEEMING et al (2008) destacam nas Diretrizes Européias para Tratamento da Dor Pélvica
Posterior a importância do conhecimento de estabilidade para a prática de exercícios com intuito de se
CONTRA-INDICAÇÕES ABSOLUTAS CONTRA-INDICAÇÕES RELAT IVAS
- Ruptura de membranas - Trabalho de parto prematuro - Hipertensão induzida pela gravidez - Incompetência cervical - Restrição de crescimento fetal - Gestação de três bebês ou mais - Placenta prévia após a 28ª semana - Sangramento persistente no 2º ou 3º trimestre -Diabetes tipo I descompensada, moléstia da tiróide, ou outras complicações cardiovasculares, respiratórias ou sistêmicas graves.
- Aborto espontâneo prévio - Nascimento prematuro prévio - Alteração cardiovascular de leve a moderada - Alteração respiratória de leve a moderada - Anemia (Hb <100g/L) - Distúrbio alimentar ou má nutrição - Gravidez de gêmeos, após a 28ª semana - Outras condições médicas significativas
abordar os desconfortos gerados pela gestação.Segundo o autor, a estabilidade estática e dinâmica em
todo o corpo são alcançadas quando o sistema ativo (músculos), passivo (ligamentos, cápsulas,tendões)
e controle neuromotor trabalham em conjunto para transferência de carga. A estabilidade funcional seria
definida como
“a fixação efetiva das articulações para cada carga com demandas específicas em relação a função da
gravidade, coordenação muscular e forças ligamentares, para produzir uma força de reação eficaz nas
articulações sob novas condições de perturbação. A estabilidade ótima é alcançada quando o equilíbrio
entre o desempenho (o nível de estabilidade) e esforço é otimizado.”
A estabilidade difere da força, definida como a capacidade de um músculo de exercer ou resistir
a tensão, sendo o controle ativo da estabilidade da coluna alcançado por meio da regulação da tensão
dos músculos ao do tronco. Quando instabilidade está presente, existe um incapacidade para manter o
alinhamento correto da coluna vertebral e, portanto uma insuficiência na musculatura para gerar tensão
fim de estabilizar a coluna vertebral (FARIES e GREENWOOD, 2007).
FARIES e GREENWOOD (2007) destacam que os exercícios de estabilização têm como maior
objetivo a coordenação da cadeia cinética (muscular, esquelética, e sistema nervoso), para reforçar o
sinergismo e função do desta musculatura central. Segundo o autor, parece não existir um conjunto ideal
de exercícios para todos os indivíduos, mas há sugestões gerais para os exercícios que enfatizam
estabilização do tronco com a coluna neutra, embora também enfatizando a mobilidade dos quadris e
joelhos. São também importantes no trabalho com gestantes enfatizar exercícios que melhorem a
circulação de membros inferiores, mobilidade,exercícios de percepção corporal, fortalecimento de
membros superiores e inferiores, bem como da musculatura paravertebral e exercícios que incentivem a
musculatura do períneo.
Um programa de exercícios que objetive reduzir os desconfortos gerados pelas dores lombares
deve enfatizar ação dos multífidos durante o período gestacional em função da inibição destes em
quadros de instabilidades (RICHARDSON et al, 2007); deve reestabelecer o mecanismo de contenção
da articulação sacroilíaca quando o sacro esta em posição de nutação e obter o melhor posicionamento
de ossos e ligamentos, alem de restabelecer a força muscular que auxilia neste mecanismo de
contenção e restaurar a resistência, compressão e a nutação sacral (báscula anterior do sacro em
relação ao ilíaco).Na posição neutra em ortostatismo o sacro esta levemente (mas não totalmente) em
nutação,e este posicionamento permite uma maior absorção da sobrecarga do corpo e também e o local
mais eficiente para transferência de carga entre o quadrante superior e inferior do corpo (LEE,2004)..
3. METODOLOGIA
Este estudo apresenta um delineamento experimental verdadeiro que se caracteriza pela
seleção aleatória de grupos equivalentes para o início da pesquisa, sendo do tipo pré teste/pós teste de
grupos randomizado com o propósito de determinar o grau de mudança produzido pela intervenção
(THOMAS e NELSON, 2002).
A hipótese conceitual do estudo é que os exercícios de estabilização dinâmica são mais efetivos
na redução de dor e desconfortos lombares do que os exercícios preconizados pelo American College of
Obstetricians and Gynecologists (ACOG).
3.1 População e Amostra
3.1.1 População
A população do estudo será composta por gestantes no segundo e
terceiro trimestre da cidade de São Paulo
3.1.2 Amostra
A amostra do estudo será formada por 100 mulheres no segundo e
terceiro trimestre de gestação que realizam exames de pré-natal uma Unidade
Básica de Saúde de São Paulo
3.2 Critérios de exclusão
Gestantes com patologias lombares prévias a gravidez (hérnias,
espondilólises, espondilolisteses), obesas, gestantes no primeiro trimestre,
atletas, gestantes com contra-indicação para a realização de exercícios segundo
o SOGC/ CSEP (2003) e mulheres que apresentarem dores pélvicas posteriores
ao exame irritativo.
3.3 Procedimentos
As gestantes que forem selecionadas a partir dos critérios impostos pelo estudo
deverão assinar um termo de consentimento livre e esclarecido para registrar a sua
participação formal no estudo.
Na primeira etapa do estudo as mulheres deverão responder ao questionário de
Owestry que se constitui no instrumento auto-administrado utilizado para mensurar a
incapacidade dos pacientes com lombalgia. O questionário consiste de 10 itens que
avaliam o nível de dor e as limitações das diversas atividades da vida diária como
atividade física, dormir, cuidados pessoais, vida sexual, vida social e viagens. Ao final do
questionário, existe um índice que interpreta resultado deste, onde cada uma das 10
categorias a pontuação de escolha varia de zero a cinco totalizando 50 pontos que seria
o índice máximo de 100%. Os resultados são obtidos somados os pontos assinalados
em todas as questões e calculando-se a proporção destes em relação aos 50 pontos
totais.
A escava visual de dor (EVA) será utilizada como parâmetro para quantificar a
intensidade da dor no paciente, sendo um instrumento importante para se verificar o
comportamento do sujeito durante a intervenção de maneira mais fidedigna de acordo
com o grau de melhora ou piora da dor. Para utilizar a EVA o avaliador deve questionar
o paciente quanto ao seu grau de dor sendo que 0 significa ausência total de dor e 10 o
nível de dor máxima suportável pelo indivíduo.
As gestantes serão avaliadas quanto ao tipo de dor referida, sendo o teste
descrito por OSTGAARD (1996) que diferencia as dores lombares das dores pélvicas
posteriores. No teste de provocação de dor pélvica posterior,o avaliador posiciona a
gestante deitada em posição supina, pedindo-lhe que realize a flexão de uma perna e a
extensão da outra no solo.O fêmur da perna flexionada ficará na vertical e a avaliador o
pressionará no sentido do solo,estabilizando a pelve simultaneamente. O teste será
considerado positivo quando a gestante sentir dor na região sacroilíaca homolateral no
momento em que o fêmur for pressionado e também quando apresentar dor ao virar na
cama à noite, sensação de peso na região glútea profunda e confirmação do local da dor
em indicação apropriada em um desenho da figura humana com registro na região
sacroilíaca. Para o teste de provocação da dor lombar, o avaliador solicitará à gestante
que fique na posição ortostática com os pés unidos, realizando a flexão do tronco até o
momento que as pernas iniciem a flexão, sendo considerado positivo se a gestante
referir dor lombar durante esse movimento, se for observada diminuição da amplitude de
movimento e na presença de dor à palpação da musculatura espinhal desta região que
confirme a dor na região lombar do desenho da figura humana apresentada. Serão
investigadas neste estudo somente aquelas gestantes com dor lombar, sendo o teste
utilizado como diagnóstico diferencial para a triagem das mesmas.
As mulheres deverão continuar sua rotina de atividades na UBS normalmente,
diferindo apenas na execução de exercícios localizados, sendo mantida a mesma base
aeróbia para todas, preconizada pela ACOG. Serão formados 2 grupos selecionados
randomicamente com n=50 gestantes, sendo um grupo controle com exercícios
recomendados pelo ACOG e um grupo teste com exercícios de estabilização dinâmica.
O protocolo de exercícios será aplicado por 3 meses,por 2 vezes por semana,
sendo uma avaliação composta pelo questionário de Owestry e EVA realizada no início
da intervenção e outra reavaliação ao final deste período.
Os exercícios de flexibilidade e força não são descritos pela ACOG, sendo
mencionada a escassez de estudos que estabeleçam protocolos. Ainda assim, a diretriz
orienta que sejam executados exercícios de força com baixas cargas e várias repetições
sendo esta uma opção segura e eficaz durante a gravidez. Desta forma, os protocolos
dos exercícios para os grupos teste e controle terão a mesma base, diferindo apenas nos
exercícios a serem realizados.
EXERCÍCIOS DO GRUPO CONTROLE (10 a 12 repetições em 2 séries)
1-ABDOMINAL
Posição inicial: Gestante posiciona-se em decúbito dorsal, pelve neutra, joelhos
flexionados com os pés apoiados no solo e alinhados com o quadril e os braços
cruzados sobre o abdome
Movimento:Inspirar e realizar a flexão do tronco até o momento de retirada das
escapulas do solo; Voltar a posição inicial lentamente com expiração tranquila
2- ABDOMINAL COM EXPIRAÇÃO FORÇADA:
Posição inicial: Gestante sentadas
Movimento:Inspiração profunda seguida de expiração forçada produzindo isometria de
abdominais
3- MINI-AGACHAMENTOS
Posição inicial: Gestante em pé encostadas em uma parede com os pés paralelos na
linha do quadril
Movimento:Flexão de quadril e joelhos
4-FORTALECIMENTO DE GLÚTEOS
Posição inicial: Gestantes em pé com os membros superiores apoiados no encosto de
uma cadeira
Movimento:Extensão do quadril em pequenas amplitudes
5- PONTE COM EXPIRAÇÃO FORÇADA
Posição inicial: Gestante posiciona-se em decúbito dorsal, pelve neutra, joelhos
flexionados com os pés apoiados no solo e alinhados com o quadril
Movimento: Ponte (elevação do quadril)
6-POSIÇÃO DE 4 APOIOS
Posição inicial: Gestante em 4 apoios
Movimento: Aumentar a cifose e retornar a posição neutra
7- FLEXÃO DE BRAÇOS NA PAREDE
Posição inicial: Gestante em pé com ligeira inclinação posicionada de frente para a
parede com os dois braços apoiados nesta
Movimento: Flexão de braços
8- REMADA EM DUPLAS
Posição inicial: Gestantes devem ficar em duplas, posicionando-se sentadas uma de
frente para outra com as mãos dadas
Movimento:Cada gestante deverá puxar a parceira para o seu lado
9- PUXADA EM DUPLA
Posição inicial: Gestantes devem ficar em duplas, posicionando- se uma sentada e a
outra em ortostatismo atrás da parceira com as mãos dadas
Movimento:A gestante que está sentada puxa as mãos da parceira baixo e a
companheira tenta resistir ao movimento.
10-FORTALECIMENTO DE MUSCULOS ADUTORES EM DECÚBITO LATERAL
Posição inicial: Gestantes posicionam-se em decúbito lateral
Movimento:Elevação do membro inferior que está em próximo ao solo.
11- FORTALECIMENTO DO TRÍCEPS SURAL
Posição inicial: Gestantes posicionam-se em pé
Movimento: Elevação do corpo retirando o calcâneo do solo.
EXERCÍCIOS DO GRUPO TESTE (ESTABILIZAÇÃO) (10 a 12 repetições em 2 séries)
1- EXERCÍCIOS ESTABILIZADORES NA POSIÇÃO DE DECÚBITO DORSAL
Posição Inicial: Gestante posiciona-se em decúbito dorsal, pelve neutra, joelhos
flexionados com os pés apoiados no solo e alinhados com o quadril. Braços paralelos
ao tronco com as palmas das mãos para baixo. Manter a cabeça confortavelmente
apoiada (se necessário utilizar uma almofada embaixo da cabeça para melhor
alinhamento da cervical)
Movimento: Inspirar e expirar elevando uma das pernas flexionando o quadril
(mantendo ângulo 90-90/ posição cadeira). Inspirar e expirar e acionar os músculos
estabilizadores da pelve e do tronco ao retornar lentamente o pé ao solo.Repita para o
outro lado.
2- ESTABILIZADORES EM DECÚBITO LATERAL
Posição Inicial: Gestante posiciona-se em decúbito lateral, pelve neutra quadril e
joelhos flexionados a 90º, braço de baixo estendido acomodando a cabeça (se
necessário colocar uma almofada entre o braço e a orelha),braço de cima com a palma
da mão apoiada no solo a frente do peito.
Movimento: Inspirar abduzindo levemente a perna de cima mantendo o ângulo de 90º
de joelhos e quadril,expirar e acionar os músculos estabilizadores da pelve e do tronco
fazendo uma extensão do quadril, inspirar e retornar a posição inicial.
3- QUADRUPEDIA COM ELEVAÇÃO DE MEMBROS INFERIORES
Posição Inicial: Gestante na posição de 4 apoios com os braços paralelos com as mãos
apoiadas no solo na mesma linha dos ombros; coxofemoral a 90 graus; coluna e pelve
neutra
Movimento: Inspirar tranquilamente, expirar acionando os músculos estabilizadores da
pelve e do tronco estendendo o quadril e o joelho. Inspirar tranquilamente flexionando o
quadril e voltar à posição inicial.
4- QUADRUPEDIA COM ELEVAÇÃO DE MEMBROS SUPERIORES
Posição Inicial: Gestante na posição de 4 apoios com os braços paralelos com as mãos
apoiadas no solo na mesma linha dos ombros; coxofemoral a 90 graus; coluna e pelve
neutra
Movimento: Inspirar tranquilamente, expirar acionando os músculos estabilizadores da
pelve e do tronco estendendo o membro superior. Inspirar tranquilamente trazendo o
membro superior de volta à posição inicial. Manter a pelve neutra.
5- FLEXÃO DE COLUNA
Posição Inicial: Gestante em decúbito dorsal, pelve neutra, joelhos flexionados com os
pés apoiados no solo e alinhados com o quadril. Braços paralelos ao tronco com as
palmas das mãos para baixo. Manter a cabeça confortavelmente apoiada (se
necessário utilizar uma almofada embaixo da cabeça para melhor alinhamento da
cervical)
Movimento: inspire tranquilamente, expire acionando os músculos estabilizadores da
pelve e do tronco e flexione sutilmente a coluna cervical, deslize as costelas em direção
ao quadril flexionando a coluna torácica e elevando os braços do solo na altura dos
ombros.
6- PONTE
Posição Inicial: Gestante em decúbito dorsal, pelve neutra, joelhos flexionados com os
pés apoiados no solo e alinhados com o quadril. Braços paralelos ao tronco com as
palmas das mãos voltadas para baixo.
Movimento: Inspirar e expirar acionando os músculos estabilizadores da pelve e do
tronco iniciar o movimento articulando a pelve em retroversão (por ação dos oblíquos) e
continuar articulando seqüencialmente a coluna até o apoio sobre os ombros mantendo
o quadril em extensão (evitando uma hiperextensão lombar).Inspirar, expirar e descer
lentamente articulando a coluna seqüencialmente iniciando pela região torácica até
retornar a posição inicial (manter a pelve neutra)
7- FLEXÃO LATERAL DE COLUNA
Posição Inicial: Gestante sentada sobre os ísquios no solo com a coluna alinhada,
pelve neutra, joelhos flexionados e pernas cruzadas.
Movimento: Inspirar e expirar acionando os músculos estabilizadores da pelve e do
tronco elevar um braço acima da cabeça (manter as escapulas estabilizadas) fazer
uma flexão lateral da coluna e manter os ísquios alinhados e apoiados.
8- EQUILÍBRIO EM PÉ
Posição inicial: Gestante em pé com os pés afastados na largura do quadril; buscando
o apoio da borda externa dos calcanhares, cabeça do 5º e 1ºmetatarsos. (peso
distribuído entre esse três apoios).
Movimento: Transferir o peso corporal para um dos pés; lentamente elevar o pé sem
carga do solo até que a coxa fique paralela e horizontal ao solo, mantendo a pelve
neutra.
9- ELEVAÇÃO E DEPRESSÃO DA CINTURA ESCAPULAR
Posição inicial: Gestante sentada sobre os ísquios com joelhos flexionados pernas
cruzadas, braços relaxados ao lado do corpo.
Movimento:
1 a. Elevar a escápula levando os ombros em direção às orelhas;
1b. Deprimir a escápula distanciando os ombros das orelhas.
2 a. Braços elevados em frente ao tronco;afastar os ombros em protração das
escápulas;
2 b. retornar a posição inicial com as escápulas (retração)
10-CHUTE LATERAL
Posição Inicial: Gestante em decúbito lateral, pelve neutra quadril e joelhos estendidos,
braço de baixo estendido acomodando a cabeça. (se necessário colocar uma almofada
entre o braço e a orelha), braço de cima com a palma da mão apoiada no solo a frente
do peito.
Movimento: Inspirar, abduzir levemente a perna de cima, expirar e acionar os músculos
estabilizadores da pelve e do tronco fazendo uma flexão do quadril, pés em dorsiflexão
inspirar e estender o quadril com os pés em flexão plantar. Manter a pelve neutra.
BIBLIOGRAFIA
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ANEXO 3
EXERCÍCIOS DE ESTABILIZAÇÃO
1- EXERCÍCIOS ESTABILIZADORES NA POSIÇÃO DE DECÚBITO DORSAL
2- ESTABILIZADORES EM DECÚBITO LATERAL
3- QUADRUPEDIA COM ELEVAÇÃO DE MEMBROS INFERIORES
4- QUADRUPEDIA COM ELEVAÇÃO DE MEMBROS SUPERIORES