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. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Educação & Tecnologia a r t i g o a r t i g o a r t i g o a r t i g o A formação do aluno pesquisador A formação do aluno pesquisador A formação do aluno pesquisador A formação do aluno pesquisador 1 (The development of the research-student) 1 Este trabalho foi realizado na disciplina O Laboratório Aberto de Ciência, Tecnologia e Arte: um ambiente de aprendizagem orientado a projetos, ministrada pelo Prof. Paulo C.S. Ventura, em 2007, e é parte de dissertação em desenvolvimento no Mestrado em Educação Tecnológica do CEFET-MG. 2 Graduada em Biblioteconomia pela UFMG, Professora da Educação Infantil da rede educacional privada de Belo Horizonte, Mestranda em Educação Tecnológica no CEFET- MG. [email protected]. 3 Graduada em Pedagogia pela UEMG, Pós Graduada em Metodologias do Ensino Fundamental, Vice-Diretora Pedagógica da rede educacional privada de Belo Horizonte, Mestranda em Educação Tecnológica no CEFET-MG. [email protected]. 4 Graduada em Pedagogia pelo Unicentro Newton Paiva, Graduada em Fonoaudiologia pelas Faculdades Metodistas Izabela Hendrix, Professora do Ensino Fundamental da rede educacional privada de Belo Horizonte, Mestranda em Educação Tecnológica no CEFET- MG. [email protected]. 5 Professor dos Cursos de Engenharia do CEFET MG, Doutor em Educação - Av. Amazonas, 7675, Bairro Nova Gameleira, BH/MG - CEP.: 30510-000. [email protected]. Eliana Ulhôa 2 Mayra Miranda Araújo 3 Vanessa Nagem Araújo 4 Dácio Guimarães Moura 5 O presente trabalho aborda resultados de pesquisa realizada sobre a formação do aluno pesquisador desde o Ensino Médio. Mostra que é grande a necessidade da formação de alunos capazes de selecionar as informações e de realizar pesquisas. Analisa a realidade das feiras de ciências na atualidade e a sua importância na capacitação dos alunos para a realização da pesquisa científica. Além disso, analisa as condições reais que os alunos do Ensino Médio possuem para a realização de pesquisas e apresenta proposta para melhoria dessas condições. Palavras-chave: Feiras de ciências; aluno pesquisador; Metodologia de Projetos. Key words: Science fairs; research-student; Project Methodology. 1 INTRODUÇÃO Uma das criticas que se tem feito à escola tradici- onal é a de estar se limitando a formar alunos para domi- nar determinados conteúdos e não alunos que saibam pensar, refletir, propor soluções sobre problemas e ques- tões atuais, trabalhar e cooperar uns com os outros. Tem-se defendido a idéia de que a escola tem o papel de formar seres críticos e participativos, cons- cientes de seu papel nas mudanças sociais. O mundo atual, com tantas mudanças e novas demandas, exige, dos indivíduos, habilidades e atitudes diferentes das observadas em épocas anteriores. Diversos autores assinalam a contribuição das tecnologias da informação e comunicação na forma- ção de novas posturas frente ao processo ensino- aprendizagem. Esse processo não se satisfaz mais com a informação transmitida pelo professor, mas prioriza o conhecimento construído pelos alunos. As facilidades e a rapidez com que hoje é pos- sível ter acesso à informação criaram a necessidade de se trabalhar na formação de um sujeito crítico e participativo, consciente de seu papel numa socieda- de em constante transformação. O cidadão deste sé- culo não pode mais ignorar o que se passa no mun- do, necessita se inserir de maneira adequada no mun- do social, necessita saber pensar, refletir sobre tudo o que chega até ele através das novas tecnologias de informação e comunicação, saber pesquisar e seleci- onar as informações para, a partir delas e da própria experiência, construir o conhecimento. Bachelard (1996) afirma que toda cultura cien- tífica deve começar por uma catarse intelectual e afetiva e que devemos duvidar, questionar tudo que nos chega e o que temos dentro como saber. Ele se refere ao “espírito científico” como sendo uma carac- terística do ser que esteja apto a construir o conheci- mento científico. Voltadas para esses objetivos, diversas experi- ências têm sido empreendidas, como, por exemplo, o projeto de Miguel Nicolelis, cientista brasileiro, eleito em 2004, pela Scientific American, como um dos 20 líderes mundiais em pesquisa científica. Ele Recebido em: 18/09/2008; Aceito em: 30/10/2008. Educ. Tecnol., Belo Horizonte, v. 13, n. 2, p. 25-29, maio./ago. 2008

A Formação Do Aluno Pesquisador

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Educação e Investigação

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A formação do aluno pesquisadorA formação do aluno pesquisadorA formação do aluno pesquisadorA formação do aluno pesquisador1111

(The development of the research-student)

1 Este trabalho foi realizado na disciplina O Laboratório Aberto de Ciência, Tecnologia e Arte: um ambiente de aprendizagem orientado a projetos, ministrada pelo Prof. Paulo C.S.Ventura, em 2007, e é parte de dissertação em desenvolvimento no Mestrado em Educação Tecnológica do CEFET-MG.2 Graduada em Biblioteconomia pela UFMG, Professora da Educação Infantil da rede educacional privada de Belo Horizonte, Mestranda em Educação Tecnológica no CEFET-MG. [email protected] Graduada em Pedagogia pela UEMG, Pós Graduada em Metodologias do Ensino Fundamental, Vice-Diretora Pedagógica da rede educacional privada de Belo Horizonte,Mestranda em Educação Tecnológica no CEFET-MG. [email protected] Graduada em Pedagogia pelo Unicentro Newton Paiva, Graduada em Fonoaudiologia pelas Faculdades Metodistas Izabela Hendrix, Professora do Ensino Fundamental da redeeducacional privada de Belo Horizonte, Mestranda em Educação Tecnológica no CEFET- MG. [email protected] Professor dos Cursos de Engenharia do CEFET MG, Doutor em Educação - Av. Amazonas, 7675, Bairro Nova Gameleira, BH/MG - CEP.: [email protected].

Eliana Ulhôa2

Mayra Miranda Araújo3

Vanessa Nagem Araújo4

Dácio Guimarães Moura5

O presente trabalho aborda resultados de pesquisa realizada sobre a formação do aluno pesquisadordesde o Ensino Médio. Mostra que é grande a necessidade da formação de alunos capazes deselecionar as informações e de realizar pesquisas. Analisa a realidade das feiras de ciências naatualidade e a sua importância na capacitação dos alunos para a realização da pesquisa científica.Além disso, analisa as condições reais que os alunos do Ensino Médio possuem para a realizaçãode pesquisas e apresenta proposta para melhoria dessas condições.

Palavras-chave: Feiras de ciências; aluno pesquisador; Metodologia de Projetos.Key words: Science fairs; research-student; Project Methodology.

1 INTRODUÇÃO

Uma das criticas que se tem feito à escola tradici-onal é a de estar se limitando a formar alunos para domi-nar determinados conteúdos e não alunos que saibampensar, refletir, propor soluções sobre problemas e ques-tões atuais, trabalhar e cooperar uns com os outros.

Tem-se defendido a idéia de que a escola temo papel de formar seres críticos e participativos, cons-cientes de seu papel nas mudanças sociais. O mundoatual, com tantas mudanças e novas demandas, exige,dos indivíduos, habilidades e atitudes diferentes dasobservadas em épocas anteriores.

Diversos autores assinalam a contribuição dastecnologias da informação e comunicação na forma-ção de novas posturas frente ao processo ensino-aprendizagem. Esse processo não se satisfaz mais coma informação transmitida pelo professor, mas priorizao conhecimento construído pelos alunos.

As facilidades e a rapidez com que hoje é pos-

sível ter acesso à informação criaram a necessidadede se trabalhar na formação de um sujeito crítico eparticipativo, consciente de seu papel numa socieda-de em constante transformação. O cidadão deste sé-culo não pode mais ignorar o que se passa no mun-do, necessita se inserir de maneira adequada no mun-do social, necessita saber pensar, refletir sobre tudoo que chega até ele através das novas tecnologias deinformação e comunicação, saber pesquisar e seleci-onar as informações para, a partir delas e da própriaexperiência, construir o conhecimento.

Bachelard (1996) afirma que toda cultura cien-tífica deve começar por uma catarse intelectual eafetiva e que devemos duvidar, questionar tudo quenos chega e o que temos dentro como saber. Ele serefere ao “espírito científico” como sendo uma carac-terística do ser que esteja apto a construir o conheci-mento científico.

Voltadas para esses objetivos, diversas experi-ências têm sido empreendidas, como, por exemplo,o projeto de Miguel Nicolelis, cientista brasileiro,eleito em 2004, pela Scientific American, como umdos 20 líderes mundiais em pesquisa científica. Ele

Recebido em: 18/09/2008; Aceito em: 30/10/2008. Educ. Tecnol., Belo Horizonte, v. 13, n. 2, p. 25-29, maio./ago. 2008

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tem em vista tornar a pesquisa científica um agentede transformação social no Brasil, apresentando essepensamento no artigo “Ciência e cidadania”, publica-do na Scientific American Brasil (ed. 59, abr. 2007).Para esse cientista,

O Brasil está caindo num fosso educacional. Se não

mudarmos de atitude, não haverá mais volta. Sem

investir no potencial humano, é melhor esquecer a

idéia de fazer o Brasil crescer.

Esse projeto investe na educação infanto-ju-venil visando à formação científica.

Experiências mais pontuais também se destacamcomo, por exemplo, o trabalho realizado pelo Colé-gio São Domingos, no estado de São Paulo, com acriação da disciplina de Metodologia de Pesquisa noEnsino Médio. Segundo a coordenadora, a intenção éque o estudante aprenda a fazer pesquisas mais apri-moradas, com mais qualidade. Ela justifica a criação dadisciplina:

Num futuro próximo, serve de instrumento para a

pesquisa universitária. Os alunos chegam à graduação

despreparados porque ficam muito focados em decorar

textos e fórmulas para o vestibular.

Uma experiência importante que visa cumprircom esse objetivo de formação do pesquisador são asfeiras de ciências. Bochinski (1996) relata as experiên-cias vividas com feiras de ciências, nas quais se procuraaplicar o método científico. Os alunos são estimuladosa realizar projetos científicos e a exporem os mesmosnas feiras. Segundo a autora, as feiras permitem que oaluno tenha uma experiência concreta, hands-on, econhecimento em um campo de estudo independente.Além disso, o aluno faz uso de suas próprias idéias oude um tópico preparado pelo instrutor para investigarproblemas científicos que lhe interessem. Nessa experi-ência, são seguidas as etapas do método científico.

Moura (1995) relata que o CEFET–MG vem, tam-bém, desenvolvendo, desde 1977, um tipo de feira de-nominada de Mostra Específica de Trabalhos e Apli-

cações (META), com apresentação de projetos e traba-lhos práticos desenvolvidos por alunos de seus cursostécnicos de 2º grau e cursos de Engenharia. SegundoMoura, a partir da Mostra de 1993, os trabalhos passa-ram a ser classificados nas seguintes categorias: traba-lhos explicativos (ou didáticos), voltados para o objeti-vo de ilustrar, aplicar, mostrar os princípios científicosde funcionamento de certos objetos, máquinas, meca-nismos e sistemas; trabalhos construtivos, relacionadosà construção de algo com objetivo de introduzir umainovação e, por último, os trabalhos investigativos, quese referem à pesquisa em torno de problemas e situa-ções do mundo, buscando soluções para os mesmos.Os trabalhos investigativos são aqueles do tipo apre-sentados nas feiras de ciências tradicionais.

Moura (1995) refere-se também à implantaçãono CEFET-MG do LACTEA – Laboratório Aberto de

Ciência, Tecnologia e Arte com o objetivo de promo-ver a realização permanente de projetos e trabalho prá-ticos por parte dos alunos dos cursos de engenharia,constituindo um tipo de mostra permanente de proje-tos. É interessante destacar que, segundo relato domesmo autor, os tipos de projetos mais realizados pe-los alunos no âmbito do LACTEA são o explicativo e oconstrutivo. Projetos do tipo investigativo, justamenteo tipo que estimula a pesquisa científica, têm sidomuito pouco realizados pelos alunos.

Parece-nos importante analisar as possíveis razõespara esse fato apontado por Moura. Podemos pergun-tar: o que pode estar desestimulando os alunos a pro-curarem a pesquisa? Seria o fato de não se sentirem pre-parados para realizá-la? Ou seria devido a questões rela-cionadas a vocação? Relacionado a isso, poderíamos di-zer que as feiras de ciências, na atualidade, têm cumpri-do esse papel de estimular o aluno a fazer pesquisa?

Analisando o histórico das feiras de ciências, épossível observar uma distorção ou conflito em rela-ção aos objetivos das mesmas, tal como descrito porWanderley (1999). Moura (1995) destaca que, nos anos60, início das feiras de ciências no Brasil, no CECIMIG,prevalecia a concepção de um ensino de ciências comênfase no processo de investigação científica:

[...] possibilitar ao aluno a vivência do processo de

investigação científica e a compreensão da sua

importância [...] buscando-se contribuir para a

formação do espírito científico do aluno.

Acabou-se, dessa forma, gerando um estereóti-po dos chamados “passos” ou “etapas” do propalado“método científico”, como: a observação do fenôme-no, a formulação e o teste de hipóteses, a coleta, clas-sificação e análise de dados e a conclusão da experi-ência. Porém, não se observava, por parte dos alu-nos, uma postura que se poderia atribuir realmenteao pesquisador. Nas feiras, os alunos pareciam, mui-tas vezes, treinados em “recitar” esses “passos” duran-te a exposição de seus trabalhos.

Após esse período, as feiras acabaram perden-do ímpeto e muitas foram desativadas. Muitos auto-res relacionaram esse fato às dúvidas sobre os objeti-vos do ensino das Ciências com grandes discussõessobre as ênfases no processo e nos resultados, junta-mente com as reflexões sobre o real significado do“método científico” e do próprio saber científico.

Hoje, as feiras de ciências voltaram com novosapelos e novas demandas, conforme assinalado porWanderley (1999). Pode-se identificar uma relação en-tre essa retomada das feiras e o movimento, de âmbitointernacional, de incentivo a exposições, mostras, fei-ras e museus interativos de Ciência e Tecnologia.

Tal como apontado por Moura (1995), o mun-do atual, caracterizado pelas mudanças e conquistascientíficas e tecnológicas em um ritmo vertiginoso,não pode atribuir unicamente à escola a função deinformar e educar o cidadão, pois essa apresenta uma

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acentuada inércia, com características específicas deseu ritmo educacional. Nesse contexto, as feiras deciências apresentam-se como uma contribuição paraa formação desse cidadão.

Além disso, as feiras de ciências oferecem ou-tras contribuições, como prática educativa, como sejaa promoção da integração de dois ou mais compo-nentes curriculares na construção do conhecimento.

Wanderley (1999), em sua dissertação de mestrado,procurou mostrar os problemas decorrentes da tradicio-nal ênfase na “formação do pequeno cientista” e discutiusobre as origens e limitações dessa proposta. Procurouem seu trabalho estabelecer novas diretrizes pedagógicase metodológicas que pudessem sustentar a realização defeiras de ciências no contexto dos dias atuais, em conso-nância com as demandas educacionais de uma socieda-de em permanente transformação.

Wanderley (1999) buscou fundamentar as ba-ses para uma nova proposta de realização de feiras deciências enquanto espaço pedagógico favorável aaprendizagens múltiplas, tanto de seus participantesquanto de seus visitantes.

Hoje, já não há lugar para o enfoque exageradona formação do cientista mirim. Porém, observa-se, tam-bém, uma crescente diminuição do interesse pela for-mação do pesquisador, do cientista. Essa formação, comoenfatizam diversos autores, é também importante comopossibilidade de escolha para o indivíduo do novo mi-lênio. Relacionamos essa questão à reflexão propostapor Weber (1963) quando fala sobre a vocação que oindivíduo tem ou não tem para a Ciência. Essa vocaçãodeve ser respeitada se se quer formar verdadeiros pes-quisadores. Daí, a relevância que adquire o tema da for-mação do aluno pesquisador, buscando-se compreen-der os motivos que têm levado os alunos a optarem poroutros caminhos, verificando em que medida pode serpossível e desejável a realização de um projetointerdisciplinar destinado à formação do aluno pesqui-sador já a partir do Ensino Médio, favorecendo a for-mação do futuro cientista, do futuro pesquisador.

Com base nesses pressupostos teóricos, foi re-alizada pesquisa de campo para avaliar a posição dealunos de Ensino Médio frente à proposta de realiza-ção de projetos de pesquisa.

2 PESQUISA DE CAMPO

Foi escolhido para pesquisa de campo o Colé-gio Logosófico González Pecotche, uma instituição darede particular de ensino de Belo Horizonte, ondeforam aplicados questionários e realizado grupo focalcom alunos do Ensino Médio.

O questionário foi realizado com o objetivode verificar o conceito, a visão dos alunos em relaçãoà pesquisa, verificar de que modo realizam uma pes-quisa e que relações fazem entre essa atividade e asua formação profissional futura. Foi verificado tam-bém o grau de participação dos alunos nas feiras deciências realizadas pela escola.

Os resultados obtidos com a análise do questi-onário foram os seguintes:

a) a profissão de pesquisador ainda é vista commuitas restrições. Apesar de alguns alunos gos-tarem da pesquisa em si, não se declaram dis-postos a dedicar seu tempo sem garantia deum retorno, fazendo afirmações como “o in-vestimento do Brasil nessa área é muito bai-

xo” (expressão de aluno no grupo focal);b) apesar da grande maioria dos alunos afirmar sa-

ber realizar pesquisa, o real conceito de pesqui-sa só foi esclarecido durante o grupo focal;

c) verificou-se que a maioria dos alunos optapela participação na feira de ciências em fun-ção da nota. A possibilidade de aprofundarem um assunto e o gostar de pesquisar tam-bém foram fatores muito votados.

O Grupo Focal foi realizado com 10 alunosdiscutindo sobre questões relacionadas com a ativi-dade de pesquisa. A análise das discussões permitiudeduzir as conclusões seguintes:

a) para os alunos, pesquisar é saber, aprofundarmais em um determinado assunto. Acreditamque é necessário consultar muitas fontes paraa obtenção de vários pontos de vista;

b) os alunos realizam as pesquisas de duas formas:1) Com o objetivo de satisfazer o professor

e cumprir com o dever escolar, enten-dendo a pesquisa como copiar e colar daInternet.

2) Entendendo a pesquisa como um traba-lho mais elaborado. Consideram que apesquisa deve ser realizada por alunosmais velhos, sendo necessário mais “ma-turidade”. Quando é desenvolvido umprojeto maior e mais envolvente, a pes-quisa é realizada com mais cuidado.

O projeto interdisciplinar “Trilhos Marinhos”foi muito mencionado pelos alunos como um mode-lo de pesquisa. Ele é realizado no 2º ano do EnsinoMédio envolvendo as disciplinas de Biologia, Geo-grafia e História e tem a duração de dois trimestres.Os alunos realizam o trabalho de campo em uma praiado litoral capixaba6. Trata-se de um projeto de traba-lho realizado pelos alunos com a orientação das pro-fessoras envolvidas, desenvolvido com base naMetodologia de Projetos. Para Oliveira (2006, p.42)o trabalho com projetos é baseado na problematizaçãoe o aluno torna-se sujeito de seu próprio conheci-

6 Maiores detalhes sobre esse projeto estão registrados na dissertação de mestrado da professora Cacilda Lages Oliveira: Significado e contribuições da afetividade, no contextoda Metodologia de Projetos, na Educação Básica, defendida em 2006, no CEFET-MG.

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mento, investiga, registra dados, formula hipóteses,toma decisões para resolver um problema. AMetodologia de Projetos é aplicada com um caráterinvestigativo.

Foi questionado aos alunos o porquê eles reali-zam a pesquisa nesse projeto de Biologia de forma di-ferente. A resposta confirma que o trabalho de campopropicia maior envolvimento e gosto pelo estudo:

[...] mas, a pesquisa do projeto de Biologia despertava

mais interesse, porque a gente ia lá, ia coletar nicho,

ia ter que ir atrás, ia acompanhar o que acontecia

com as coletas que a gente fez, então envolvia muito

mais [...]

Moura (1993) relaciona esse tipo de atividadecom a proposta que tem sido definida como hands-on, termo inglês que significa mãos ligadas, ou colo-car a mão-na-massa. Usaremos esse termo significan-do a ação de manipular, manusear, lidar, etc. Um tra-balho com essa característica parece propiciar maiorenvolvimento e participação dos alunos. Levar essaproposta para dentro das atividades escolares podesignificar um modo de incluir os fatores afetivos, deprazer e estímulo, aliados ao desenvolvimento docognitivo. As feiras e exposições de ciências podemser um modo de apoiar e incentivar essa idéia dentroda escola, contribuindo para atenuar o hábito de secolocar, nas escolas em geral, as atividades experi-mentais sempre em segundo plano, sendo apenas re-alizadas se não prejudicarem o desenvolvimento doprograma de conteúdo pré-estabelecido.

Percebe-se, na fala dos alunos, uma busca pelolúdico em suas tarefas escolares, tratando a pesquisacomo uma forma de aprender mais prazerosa com osrecursos tecnológicos, o computador e a Internet, quegostam de utilizar.

Moura (1993) aponta a proposta depotencializar a dimensão lúdica na educação escolarnão somente na perspectiva dos primeiros anos dainfância, mas contemplando a natureza humana emsua plenitude. Ele procura caracterizar o papel doelemento lúdico como ingrediente da vida do serhumano, incluindo-o na educação nos seus diversosníveis. O conceito geral de lúdico é entendido comoalgo dotado de características gerais como: é agradá-vel e produz prazer; possui motivação intrínseca, nãohá objetivos extrínsecos; promove entretenimento,engajamento, envolvimento.

As manifestações dos alunos corroboram essaidéia, como:

A pesquisa é importante porque a gente foge um

pouco daquela forma de só aula. Pesquisar na Internet,

eu acho que é uma forma de lazer. Você muda um

pouco seu ritmo para fazer alguma coisa que gosta.

Aí aprende fazendo uma coisa que você gosta, sem

aquela obrigação de exercício.

No grupo focal, no debate dirigido para avali-ar o que os alunos pensam da feira de ciências pro-

movida pela escola, se participam e como são realiza-dos os seus trabalhos, pôde-se verificar que a maioriaparticipa para obter pontos nas disciplinas:

Eu acho que todo mundo aqui faz por causa dos

pontos de exercício. Se não tivesse ponto o povo ia

fazer ‘pros coco’, meio largado, e por valer ponto, o

povo faz com mais interesse.

Foram apresentados outros motivos para a par-ticipação nas feiras, mas pôde-se perceber que o fatormais importante é o prazer de realizar o que gostam,atividades com as quais ficam envolvidos e, assim,aprendem mais.

Foi observado, também, que os trabalhos são,em sua maioria, do tipo construtivo e explicativo (oudidático), sendo poucos os trabalhos do t ipoinvestigativo.

Um aluno que apresentava um excelente ren-dimento escolar e nunca participou da feira de ciên-cias, justificou sua conduta analisando o sistema edu-cacional, que os obriga a dedicar sua vida escolar, emtempo integral, ao vestibular. O sucesso no vestibularé a meta de toda escola sobrevivente em nossa socie-dade, levando à valorização de uma educação livrescae baseada na memória, impedindo que se invista maisem projetos e pesquisas que favoreçam a aprendiza-gem dos alunos e valorizem a satisfação pessoal.

3 CONCLUSÃO

Com a realização dessa pesquisa pôde-se con-cluir que os alunos não realizam pesquisas científicaspor não saberem realizá-las e por não contarem com oapoio e orientação dos docentes. Quando esses desen-volvem projetos, os alunos ficam envolvidos e interes-sados em realizar pesquisas de forma mais séria.

Consideramos que é papel da escola favore-cer a formação de cidadãos conscientes e atuantes,possibilitar o desenvolvimento da capacidade depensar, raciocinar, descobrir e resolver problemas,de forma envolvente e que possibilite a satisfaçãointerna de seus alunos. Para isso, é fundamental arealização de atividades de pesquisa e de projetosem geral.

A realização de pesquisas, de projetos do tipoinvestigativo, com base nos padrões científicos, requerum preparo e capacitação da escola, dos docentes e dosalunos. A feira de ciência pode ser uma forma de promo-ver esse tipo de investigação, possibilitando o desenvol-vimento de projetos que sejam interessantes e instigantespara os alunos. Essas atividades podem contribuir paraestimular os alunos a se tornarem pesquisadores.

Como apontado por Moura (1993) essas ativi-

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dades, entendidas como aplicação da Metodologia deProjetos, possibilitam o envolvimento de fatores edu-cacionais importantes como: o prazer, a satisfação, amotivação, o ajustamento, a part icipação, acriatividade e a geração de idéias. Como afirmaHernández (1998), os projetos propiciam o desen-volvimento de habilidades para a resolução de pro-blemas, a articulação de conhecimentos adquiridos,o desenvolvimento da criatividade, da autonomia eda colaboração.

4 ABSTRACT

The present work approaches the results ofresearch conducted on the development of theresearch-student since high school. It shows thereis a great need for the development of students whoare capable of selecting information and conductingresearch. It also analyses the reality of currentscience fairs and their relevance in quali fyingstudents for the conduction of scientific research.Furthermore, it analyses the actual conditionsavailable to high school students for conductingresearch and present s a proposa l for theimprovement of such conditions.

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