A FORMAÇÃO DO PSICÓLOGO ESCOLAR

7/31/2019 A FORMAO DO PSICLOGO ESCOLAR

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A FORMAO DO PSICLOGO ESCOLAR E AEDUCAO NO TERCEIRO MILNIO

Maria Cristina Rodrigues Azevedo Joly*

Universidade So Francisco

ResumoFaz-se necessrio caracterizar a atuao do Psiclogo Escolar frente s demandas socioeducacionais do

prximo milnio; portanto, esse artigo visa analisar a formao desse profissional numa perspectiva histrica

buscando repensar seu papel e compromisso social. Identificam-se grandes reas de trabalho possveis na

Psicologia Escolar, no somente em instituies formais de ensino desde a Educao Infantil at a

Universidade, mas tambm em diferentes espaos educacionais que visem promover o desenvolvimento e

aprendizagem dos indivduos. Focalizam-se, tambm, as Universidades, as Associaes e Entidades de Classe

enquanto segmentos profissionais formadores desses profissionais, responsveis por sua constante atualizaoe pelo exerccio crtico e tico da profisso.

Palavras-chave: atuao, profisso e tica

THE SCHOOL PSYCHOLOGIST FORMATION AND THE 3RD MILLENNIUMEDUCATION

AbstractIt has been necessary to define the School Psychologist action in front of the social educational demands to

the next millennium, and this article will analyze this professional formation in a historical perspective trying

to think about its identity and social compromise. We can identify major possible work areas in the School

Psychology, not only in Schools since the child education through the University, but also in any educational

space to promote the people developmert 'and learning. We are focusing also on the professional associations

responsible for the formation, constant actualization and professional ethics.Keywords: action, profession and ethics

A Psicologia enquanto cincia, formao e mercado de trabalho tem sido, principalmente na

ltima dcada, tema de interesse de pesquisadores e estudiosos nacionais e internacionais

(Gonalves, 1994; Yukimitsu, 1999).

Faz-se necessrio repensar, principalmente, a formao do psiclogo visando ao

desenvolvimento de habilidades cientficas, tericas e prticas, que lhe capacitem para atuar

profissionalmente na identificao, interveno e soluo de problemas de relevncia social para a

realidade do terceiro milnio. Segundo Gonalves (1999), urgente uma reformulao curricular

dos cursos de Psicologia tornando-os um conjunto harmnico de reas de conhecimento integradase interdisciplinarmente aplicadas e relacionadas realidade sociocultural.

No tocante Psicologia Escolar, voltada para a anlise e interveno em contextos educacionais

e entendida como rea de aplicao da Psicologia, na medida em que o reconhecimento legal das

reas de especializao no se encontra definido, a formao, de acordo com resultados de

investigaes recentes, deve estar pautada tanto na relao saber-poder-fazer equilibrada, que

viabilize um crescimento significativo no conhecimento, quanto na dimenso do saber ser, arti-

* Mestre e Doutora em Psicologia Escolar pela Universidade de So Paulo. Docente da Universidade SoFrancisco e assessora de instituies educacionais de ensino como psicloga escolar.


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culando o profissional ao compromisso social, aos padres ticos e valores que nortearo uma

prtica adequada e colocaro o psiclogo escolar como um agente social e cultural de mudanas

(Wechsler, 1996; Pfromm Netto, 1996; Gonalves,1999). Alm disso, discutir-se um novo

paradigma para a formao do psiclogo escolar implica, segundo Guzzo (1999), analisar-se como

vem sendo formado e como tem atuado esse profissional no Brasil, comparando-se essas

informaes a dados de outros pases nos quais o psiclogo escolar tem um espao reconhecido no

sistema educacional com papis e funes bem definidas e diferenciadas.

Focalizando-se as reas especficas de atuao, a Psicologia Escolar est a servio de todos os

que so educados ou influenciam o processo de desenvolvimento do educando sob todos os

aspectos, considerando-se, de modo geral, o processo ensino-aprendizagem baseado no

desenvolvimento motor, cognitivo, emocional e social, a estrutura curricular, a orientao e

formao continuada de professores e o estabelecimento de parcerias com as famlias desde a

Educao Infantil ao Ensino Universitrio.

Segundo os estatutos da Associao Brasileira de Psicologia Escolar - ABRAPEE (1991),

"entende por psiclogos escolares e educacionais aqueles profissionais, que devido a sua

preparao universitria em Psicologia e experincias subseqentes nas reas escolar

e/ou educacional, trabalham para melhorar o processo ensino-aprendizagem no seu

aspecto global (cognitivo, emocional, social e motor) atravs de servios oferecidos a

indivduos, grupos, famlias e organizaes" (p. 1).

Dessa forma, segundo Witter (1977) e Maluf (1994), o exerccio profissional do psiclogo

escolar determinado pela influncia de variveis decorrentes de sua prpria formao e opo

terica e caracterizado pelas seguintes possibilidades de atuao a nvel preventivo: Especialista

Educacional: aplicar conhecimentos psicolgicos na escola, concernentes ao processo ensino-aprendizagem, ao desenvolvimento humano, s relaes interpessoais e integrao famlia -

comunidade - escola atravs de atuao em equipe interdisciplinar dentro da escola, assim como

administrar conflitos sociais em relao ao sistema de ensino e ao planejamento curricular geral a

nvel de macro sistema educacional;Assessor e Consultor: prestao de servios diretos e indiretos

aos agentes educacionais e orientando programas de apoio administrativos e educacionais como

profissional independente; Ergonomista: desenvolver estudos e analisar as relaes homem-

ambiente fsico- material quanto ao processo ensino-aprendizagem e produtividade educacional;

Eclogo: desenvolver programas visando qualidade de vida e aos cuidados indispensveis s

atividades acadmicas; Modificador de Comportamento: implementar programas para alterar

comportamentos e hbitos mal adaptados no contexto escolar, alm de desenvolver habilidadesbsicas para aquisio de conhecimento e desenvolvimento humano;Avaliador: atuar no somente

na avaliao do processo ensino-aprendizagem usando e validando instrumentos e testes

psicolgicos adequados e fidedignos, mas tambm fornecer subsdios para o replanejamento e

reformulao do plano escolar, ajustes e orientaes equipe escolar, avaliao da eficincia dos

programas educacionais; Pesquisador: pesquisar dados sobre a realidade da escola em seus

mltiplos aspectos visando desenvolver o conhecimento cientfico.

Considerando-se pois as caractersticas da atuao escolar do psiclogo, Witter (1999) apresenta

vrios estudos que foram realizados com o intuito de determinar quais aspectos deveriam ser

priorizados na formao desse profissional. Segundo Gonalves (1999), as seguintes reas de estudo


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foram destacadas como prioritrias: Aprendizagem e Desenvolvimento Humano, Educao

Especial, Avaliao Psicoeducacional, Organizao e Funcionamento Escolar, Tcnicas de

Aconselhamento, Tcnicas de Modificao do Comportamento e Organizao e Administrao de

Servios. Apesar dessas disciplinas serem oferecidas pela maioria dos cursos de graduao

existentes no pas, a formao insuficiente para o exerccio da profisso, pois, alm do domnio da

tcnica atravs das informaes acadmicas forneci das, a capacitao para a prtica essencial.

Esta oportunizada principalmente atravs dos estgios supervisionados, em geral, presentes

apenas no ltimo ano com carga horria pequena frente demanda e abrangncia de questes de

carter tico, social e educacional a serem discutidas visando uma atuao do Psiclogo Escolar em

equipe multidisciplinar com uma viso interdisciplinar do processo de aprendizagem e aquisio de

conhecimento adequada nossa populao escolar com toda a sua diversidade social, econmica,

cultural, geogrfica e tnica (Maluf, 1994; Witter, 1999; Gomes, 1999).

Atualmente, portanto, faz-se necessrio repensar no somente a formao do Psiclogo, mas o

papel das instituies de ensino. Possibilitar que a aprendizagem das habilidades bsicas esteja

inserida num contexto cultural e histrico com fins sociais pode ser uma das principais metas a

serem atingidas para garantirmos educao de qualidade aos nossos alunos para o prximo milnio

(Anderson, 1991; M yers, 1992; Cioffi, 1992; Joly, 1999).

O rpido progresso da cincia e da tecnologia, alm das constataes sobre o cenrio

educacional, determina, segundo Alencar (1992), que o ensino deve estar voltado para preparar o

aluno para questionar, refletir, mudar e criar a partir do melhor aproveitamento de seu talento e

potencial, observando-se um consenso crescente entre pesquisadores de vrios pases quanto

necessidade de se criarem condies mais favorveis ao desenvolvimento da criatividade.

A literatura indica a necessidade de ampliar-se o espao escolar para o desenvolvimento da

criatividade, preparando o aluno para o mundo de amanh, buscando solues para os problemasfuturos, ensinando-o a pensar criativamente e a construir um autoconceito positivo (Alencar, 1992;

Nogueira, 1992; Wechsler, 1993).

Segundo Perkins (1992), o ensino atual deve estar voltado para a aquisio, compreenso e

aplicao de um conhecimento genrico vida prtica do aluno, garantindo-lhe a possibilidade de

exercer ativamente seu papel enquanto profissional e cidado.

Monson & Monson (1994) indicam a necessidade de redefinio dos currculos escolares a fim

de que se voltem para, a aprendizagem interdisciplinar, atravs do uso de mltiplas estratgias para

aquisio do conhecimento e processamento da informao disponvel em nossa sociedade

globalizada deste final de sculo.

Focalizar o aluno como participante ativo do processo ensino-aprendizagem, segundo Weinstein& Mayer (1986), tem sido uma constante nas pesquisas educacionais recentes. As evidncias

obtidas sugerem que os efeitos do ensino e a aprendizagem adquirida dependem muito do

conhecimento que o aluno j possui, de como ele prioriza o conhecimento, de quais estratgias de

aprendizagem utiliza e de como o aluno processa o novo conhecimento adquirido, principalmente

se considerarmos que esse aluno ser o profissional responsvel pela formao de outros - profes-

sores e alunos num futuro prximo.

Guthrie & McCann (1997) acreditam que no apenas o envolvimento dos alunos com sua

prpria aprendizagem, em termos de motivao, curiosidade, mobilizao emocional, autocontrole,

persistncia e reconhecimento das suas necessidades, mas, tambm, a utilizao de estratgias


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efetivas de participao deste aluno em sala de aula, considerando-o como parceiro no processo,

criam um contexto instrucional que favorece a aquisio e o crescimento constante de sua

competncia geral. Esta proposta, para ser efetiva, implica no estabelecimento de conexes vitais

entre atributos cognitivos, motivacionais e sociais do aluno e o contedo educacional a ser

ensinado, a saber: (1) integrao interdisciplinar do currculo a partir de temticas transversais; (2)

utilizao de estratgias para aprendizagem, tais como observao, pesquisa, compreenso,

interpretao, composio, anlise e organizao de dados, visando possibilitar o desenvolvimento

da ateno, participao, colaborao, pensamento lgico, generalizao e aplicao da apren-

dizagem; (3) integrao entre atividades educacionais em situao escolar que promovam e

suportem o desenvolvimento cognitivo, social e motivacional do aluno e sua conseqente aplicao

prtica.

Neste contexto educacional de formao do Psiclogo Escolar e dos novos parmetros

curriculares para o ensino, deve-se focalizar tambm a ampliao de seu campo de atuao do

ensino fundamental Universidade com a promulgao da LDB - Lei no. 9394/ 96, tanto como

assessor quanto como pesquisador, principalmente na rede pblica de ensino, refletindo o

surgimento de novos espaos e tempos educativos.

Considerando-se como ensino fundamental, segundo a LDB, a educao infantil, o ensino

fundamental (1- a 8 srie) e o ensino mdio, cabe destacar a programao e avaliao de ensino,

estrutura curricular, projetos educacionais, estratgias de aprendizagem, avaliao visando

construo de um projeto pedaggico que possa ser assumido pelos agentes educacionais de cada

escola e favorea a interface desta com a famlia e a comunidade, formao continuada de

professores, orientao educacional e profissional, elaborao de programas especiais voltados para

dificuldades de aprendizagem e a incluso de alunos com necessidades especiais ao ensino regular

so atribuies que legitimam a prtica em Psicologia Escolar, atribuindo ao psiclogo escolartarefa de grande responsabilidade - favorecer a formao de pessoas crticas, criativas e atuantes em

seu meio, considerando-se o momento histrico atual e conscientes de seu papel de atores dessa

histria (Oel Prette,1999; Novaes, 1999).

No tocante ao ensino superior, Witter (1999) analisa as diferentes possibilidades de atuao do

psiclogo escolar dentro das Instituies de Ensino Superior segundo os artigos e disposies da

LOB, a saber: docente, pesquisador, orientador de bolsistas de iniciao cientfica e alunos de

programas de ps-graduao lato e strictu sensu, assessor educacional para planejamento,

implementao e avaliao de projetos e programas educativos destinados aos docentes, discentes e

comunidade em geral, assessor na administrao acadmica, produtor e consumidor crtico da

cincia e tecnologia, psiclogo nos Servios de Orientao ao Estudante, agente modificador dacultura, dentre outras.

De acordo com o exposto anteriormente, ficam implcitas na LDB inmeras possibilidades de

atuao do Psiclogo Escolar desde a educao infantil at a Universidade, destacando-se para tanto

que imprescindvel e urgente a capacitao tica, flexvel e competente desses profissionais nos

cursos de graduao, assegurando-se universidades de qualidade e estabelecendo-se como metas a

ps-graduao e a pesquisa num processo de formao continuada, a fim de que possam

desempenhar adequadamente e com excelncia esses mltiplos papis e funes, pois apesar de

haver produo cientfica razovel no Brasil, segundo Gomes (1999), sua aplicao prtica ainda

precria, requerendo-se desenvolver polticas e estratgias mais eficientes.


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Alm das Universidades, as associaes e entidades de classe tm-se preocupado muito com a

qualidade de atuao dos profissionais na rea de psicologia. A ABRAPEE, por exemplo, no

tocante especificamente Psicologia Escolar, desde sua fundao oficial em 1991, tem sido um

agente de mudanas que investe: na profissionalizao do psiclogo escolar, incentivando a criao

de uma legislao que garanta a existncia de servios psicolgicos na escola apoiados em uma

conduta tica e atualizada; na organizao, atravs do Informativo ABRAPEE, Revista de

Psicologia Escolar e Educacional, Congressos Nacionais e Internacionais, Seminrios, Jornadas,

Palestras, de canais de divulgao da produo cientfica na rea e experincias relevantes que

possam contribuir para a formao continuada dos psiclogos escolares; no intercmbio entre os

profissionais; fomentando a criao de um banco de dados sobre pesquisas e estudos referentes s

diferentes reas de atuao da psicologia escolar; organizando um registro nacional sobre os psi-

clogos escolares e educacionais brasileiros, recuperando e preservando a histria da psicologia

escolar no pas; estimulando e apoiando a formao de ncleos regionais.

Todas essas preocupaes anteriormente destacadas com a formao e o exerccio profissional

do psiclogo escolar so significativas pelo crescente aumento de profissionais atuando nessa

especialidade aliado s reais necessidades do cenrio educacional brasileiro quanto formao de

indivduos crticos e competentes para serem agentes de mudanas e gerao de novos contextos de

vida nas sociedades do sculo XXI.

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Recebido em 16/11/2000

Aprovado em 15/01/2001

Rua Luiz Galdim, 106 Village Visconde de ltamarac 12378231 - Valinhos/SP e-mail: [email protected]

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