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N6TULAS E NOTICIAS GEOL6GICAS A GEOLOGIA DO CONTINENTE AFRICANO NO CONGRESSO INTERNACIONAL DE GEOLOGIA DE 1948 (XVIIl.a SEssAo -LONDRES) o Congresso Internacional de Geologia (XVIIl. a Sessao) reuniu em Londres, em 1948, os delegados de mais de 80 parses, em mimero de 1.400, constituindo uma prova indiscutivel do interesse, no momento presente, pelo desenvolvimento das cien- cias geologicas. Revela ainda a estreita cooperaC;ao existente, neste campo de actividades, entre os cultores, quer da ciencia pura, q uer das suas numerosas aplicac;6es a vida do Homem, que do solo e subsolo tira os seus principais recurs os. Proponho-me nesta notfcia dar conhecimento dos assuntos tratados referentes a geologia do Continente Africano que, no dizer do representante do Governo Ingles, Lord Viscount Addison, noseu discurso inaugural, e 0 continente onde se esta promovendo 0 maior conhecimento neste dominio, para gran des pIanos de desenvolvimento ptojectados, que dele care- cern e dependem fundamentalmente. Tres comiss6es permanentes de estudos geologicos espe- cialmente africanos tiveram as suas reuni6es simultaneamente com 0 Congresso: a AssociaC;ao dos Servic;os Geologicos Africanos, a Comissao da Carta Geologica Internacional de Africa e a Comissao de Distribuic;ao do Sistema de Gondwana (K:lrroo). cuios resultados indico em seguida.

A GEOLOGIA DO CONTINENTE AFRICANO NO CONGRESSO ... · os nossos territórios, o resumo que se segue dessas discussões. A) - Precâmbrico ... em 1947, a subcomissão de Geologia,

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N6TULAS E NOTICIAS GEOL6GICAS

A GEOLOGIA DO CONTINENTE AFRICANO NO CONGRESSO INTERNACIONAL DE GEOLOGIA

DE 1948 (XVIIl.a SEssAo -LONDRES)

o Congresso Internacional de Geologia (XVIIl.a Sessao) reuniu em Londres, em 1948, os delegados de mais de 80 parses, em mimero de 1.400, constituindo uma prova indiscutivel do interesse, no momento presente, pelo desenvolvimento das cien­cias geologicas.

Revela ainda a estreita cooperaC;ao existente, neste campo de actividades, entre os cultores, quer da ciencia pura, q uer das suas numerosas aplicac;6es a vida do Homem, que do solo e subsolo tira os seus principais recurs os.

Proponho-me nesta notfcia dar conhecimento dos assuntos tratados referentes a geologia do Continente Africano que, no dizer do representante do Governo Ingles, Lord Viscount Addison, noseu discurso inaugural, e 0 continente onde se esta promovendo 0 maior conhecimento neste dominio, para gran des pIanos de desenvolvimento ptojectados, que dele care­cern e dependem fundamentalmente.

Tres comiss6es permanentes de estudos geologicos espe­cialmente africanos tiveram as suas reuni6es simultaneamente com 0 Congresso: a AssociaC;ao dos Servic;os Geologicos Africanos, a Comissao da Carta Geologica Internacional de Africa e a Comissao de Distribuic;ao do Sistema de Gondwana (K:lrroo). cuios resultados indico em seguida.

SGP
Referência bibliográfica
Boletim da Sociedade Geológica de Portugal, Vol. VIII, Fasc. III, 1951.

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I)-ASSOCIAÇAo DOS SERVIÇOS GEOLÓGICOS AFRICANOS

foi esta Associação criada em 1929, no Congresso Inter­nacional de Geologia realizado em Pretória (XV Sessão), com o fim de coordenar toda a investigação geológica dos dife­rentes territórios e dela fazem parte todos os Chefes dos respectivos Serviços.

Até à data deste Congresso a actividade da Associação traduziu-se em várias reuniões e em algumas publicações, todas com grande interesse para a geologia africana.

Assim, reuniu a primeira vez, em Kigoma (Tanganyka), em 1931, tendo sido os resultados e uma carta da parte central do Continente, objecto de uma monografia do Instituto Geológico da Universidade de Lovaina; em seguida reuniu em Paris (1933), em Moscou (1937, com o Congresso Internacional, XVII Sessão), em Tervuren (1947) e em Bruxelas e Paris (1948-49), única sessão a que compareceu um delegado por­tuguês.

Em 1935 foi publicada pela mesma Associação uma Bibliografia Geológica da África Central.

Durante o Congresso de Londres (1948) teve esta Asso­ciação uma actividade notável, reunindo em 4 sessões espe­ciais (25, 27, 28' e 30 de Agosto), estando nelas representados quase todos os Serviços Geológicos Africanos, participando 53 membros do Congresso e tendo havido 109 comunica­ções e intervenções durante os respectivos trabalhos, dos quais serão publicados 50, nos Comptes Rendas do Con­gresso.

Os Serviços Geológicos das Províncias Ultramarinas por­tuguesas não tiveram qualquer representante, tendo o Minis­tério enviado um único delegado, o Eng.o J. Bacelar Bebiano, então Presidente da Junta das Missões Geográficas e de Investigações Coloniais, que não pôde infelizmente tomar parte acti~a nas discussões por não estar a par dos estudos deta­lhados ali realizados.

Os trabalhos da Associação são em seguida resumida­mente descritos:

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1. 0_ BUREAU INTERNACIONAL.

foram eleitos: - Presidente Honorário, Sir E. Bailey; Presidente, Dr. f. Dixey; Secretário, f. Blondel (que de h"á muito vem exercendo o cargo).

2.° - PROPOSTA PARA A PREPARAÇÃO DE UMA CARTA TECTÓ­

NICA E CARTA DOS JAZIGOS MINERAIS DO CONTINENTE

AFRICANO.

Por unanimidade dos delegados presentes foi aprovada a proposta do Dr. N. R. Junner (Grã-Bretanha) para que o SeCre­tário da Associação promova a realização destas cartas, visto a competência pelo mesmo revelada na elaboração da Carta Geológica Internacional do mesmo continente.

3. ° - NOTícIAS E SíNTESES.

A Associação tinha antecipadamente pedido aos Serviços Geológicos Africanos notícias, sob forma reduzida, do estado actual da geologia dos seus territórios, que a maior parte dos delegados presentes apresentou.

Para o Ultramar português essas notícias-sínteses foram enviadas pelas Províncias da Guiné (autoria do Prof. Carríngton da Costa) e Angola (f. Mouta) mas não estando presentes os seus autores foram aquelas discutidas pelos geólogos das colónias vizinhas.

O conjunto destas notícias, representando o estado da geologia do continente africano em 1948, será publicado nos Comptes Rendus do Congresso.

4.° - BIBLIOGRAFIA DA ÁFRICA CENTRAL.

foi comunicado que será publicado um complemento, referente ao Congo Belga e a expensas suas, à Bibliografia já dada à estampa pela Associação (1937).

5.° - DISCUSSÕES GERAIS.

A Associação tinha proposto para discussão nesta r:eunião do Congresso certos problemas que no decorrer da elabo-

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ração da Carta Internacional foram· gradualmente surgindo. Julgamos de interessar, visto de uma maneira geral afectarem os nossos territórios, o resumo que se segue dessas discussões.

A) - Precâmbrico - O Prof. Holmes (Orã-Bretanha) deu conta dos resultados obtidos na determinação da idade das rochas precâmbricas africanas, tendo como base os métodos radio-activos, e as consequências que se podem tirar sob a disposição das difrentes zonas orogénicas.

Este valioso trabalho de extraordinário interêsse e que será publicado nos C. R.. foi sujeito à discussão, tendo parti­cipado nesta a maior parte dos geólogos presentes.

B) - Correlação dos Sistemas l(aragwe-Ankole-l(avirondo­-Nyanza - Verificada a impossibilidade de uma perfeita corre­lação, no estado actual dos conhecimentos, em grande número de territórios, foi fixado para a folha 5 da Carta Internacional que os três sistemas em discussão sejam representados pela mesma cor com símbolos diferentes.

C) - O problema na A. O. P. das formações do Akwa­pimiano, Birrimiano e Buemiano - As séries locais da A. O. f. foram consideradas equivalentes dos sistemas anteriormente descritos para o Togo e Costa do Ouro, mas em resultado dos estudos realizados recentemente (M. Roques) verifica-se certas diferenças na sua sucessão cronológica.

O assunto, para a folha 4 da Carta Internacional, foi solucionado considerando a sua sucessão clássica na Costa do Ouro, com notas precisando as alterações que os geólogos da A. O. f. julgam dever introduzir às suas idades, colocando o Akwapimiano muito mais baixo e o Buemiano como podendo ser já Câmbrico.

A mesma solução foi adoptada, depois da discussão, para a folha 5.

O) - Correlação do l(undelungo Superior- Waterberg­-Matsaps - foi proposta a sua correlação e posta à discussão a sua idade, considerada por uns pré-silúrica, por outros devónica e ainda carbónica.

Após discussão, foi deliberado representar na folha 5 os dois sistemas com a mesma cor, ficando a idade por

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definir (?) e em nota será indicada a divergência que existe a este respeito.

E) - Tilites - O facto de existirem no Continente Afri­cano numerosas formações glaciárias (tilites) tem levado por vezes a correlações de afloramentos separados por longas distâncias, tendo sido discutido o seu valor.

Este problema interessa especialmente à Província de Angola dada a importância e variedade com que ali se apresentam estas formações, em mais do que um sistema. No esboço que elaborámos para a folha 5, apresentado nesta reunião, foi possível já individualizar-se a tilite do Sistema do Bembe.

f) - Estromatólitos - O importante problema sobre a presença de estruturas especiais, conhecidas por Estromatólitos, de que certos tipos (Collenia, Conophyton, etc.) têm um desen­volvimento apreciável nas formações acima do Complexo fundamental, foi igualmente posta em discussão.

Certos geólogos consideram que não se trata propria­mente de fósseis mas de estruturas devidas à actividade de certos organismos, que não devem portanto ser consideradas como fosséis característicos embora podendo caracterizar deter­minadas fácies.

Na ausência de outros fósseis, julga-se poder utilizá-los logo que apareçam formações de importantes massas dolomí­ticas com estromatólitos.

Devido à complexidade de tais impressões foi proposto por A. Jamotte (Congo Belga) e aceite por unanimidade, que o estudo destas formas seja confiado a paleontólogos especiali­zados, devendo a União Internacional de Paleontologia tomar conhecimento do problema.

Este assunto também interessa especialmente à Colónia de Angola, onde recentes descobertas destas estruturas foram feitas pelo Eng.o Vasconcellos nas formações dolomíticas do Sistema do Bembe, nos seus diferentes afloramentos (Congo, Alto Zambeze e Sul de Angola); constituiu objecto de uma comunicação deste engenheiro ao Congresso, mas que infeliz­mente não foi apresentada ou discutida nessa reunião especial da Associação.

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Também o autor destas linhas encontrou recentemente (1948) estruturas de origem semelhante (Algas azuis?) nas formações do Sistema do Karroo.

G)-Rijt- Valleys- Com base em três importantes comu­nicações sobre este problema, foi aberta a discussão, que ocupou uma sessão completa e nela participaram os geólogos das colónias orientais à quem principalmente interessa.

H) - Divisões do Pleistocénico - No 1.0 Congresso Pan­-Africano de Pré-história, que se realizou em Nairobi (Kenya), em 1947, a subcomissão de Geologia, Paleontologia e Climato­logia, de que o autor fez parte, emitiu um voto para ser apresen­tado neste Congresso Internacional, recomendando o emprego e nomenclatura das divisões ali fixadas para o Pleistocénico em todos os territórios africanos, à excepção do litoral medi­terrânico.

Esta proposta foi apresentada pelo Dr. L. S. B. Leakey (Kenya) e, apesar da discordância de alguns geólogos presentes, foi aceite, devendo ser submetida ao Conselho do Congresso.

I).- Sistema do Kalahari - Pelo Dr. L. S. B. Leakey (Kenya) foi dado conhecimento da sua recente visita ao NE. de Angola onde, em conjunto com o Chefe da Prospecção Geológica da Companhia dos Diamantes de Angola, pôde verificar que as areias deste Sistema devem ser consideradas post-acheulenses.

Esta atribuição foi confirmada pelo Dr. B. J. Wayland (Bechuanalândia) que durante os trabalhos realizados nos últimos cinco anos tem encontrado provas irrefutáveis.

Por alguns geólogos não acharem ainda precisamente definido o Sistema do Kalahari na Africa Central, foi proposto que se recomendasse ao Congresso a criação de uma Comissão encarregada de fazer a «mise-au-point» dos problemas relativos à definição do sistema.

Por estas observações se verifica o interesse que na geologia de uma grande parte da área da Província de Angola pode representar o estudo de arqueologia pré-histórica e quanto se impõe o seu reconhecimento geral, que o autor propôs ao regressar do Congresso de Nairobi, onde tomou parte como delegado da Província, de harmonia com os votos ali emitidos.

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foi oportunamente proposto pelos Serviços de Minas de Angola ao Ministério das Colónias o contrato do jovem arqueó­logo Camarate França, para esta realização, que não foi auto­rizado; as visitas do Abade Breuil e do Dr. L S. B. Leakey aos trabalhos da Companhia dos Diamantes e a seu convite e expensas, permitiram as conclusões já publicadas e cuja síntese, como acabamos de referir, foram igualmente presentes ao Con­gresso de Londres.

6. o - DISCUSSÕES ESPECIAIS.

Pela Associação foram também apresentados três assuntos especiais· para serem discutidos:

. A) - Origem das Carbonatites; B) - As correlações das escalas estratigráficas do Uban­

gui e Baixo Congo; C) - As formações da «cuvette» central congolesa: sua

composição, estratigrafia e idade. Só a primeira pôde ser discutida e com base nas comu­

nicações importantes dos Dr. W. Pulfrey (Kenya), Dr. A. M. Mac Oregor (Rodésia do Sul), Dr. K. A. Davies (Uganda), e Dr. J. W. Brandt (Africa do Sul),

7. 0 - CONTRIBUIÇÕES PESSOAIS SOBRE A GEOLOCIA DA ÁfRICA.

Um número importante de contribuições referentes à geologia do Continente Africano foi apresentado ao Congresso e estas agrupadas nas várias sessões da Associação.

Os trabalhos sobre a geologia do Ultramar português constituem uma importante contribuição, sendo de notar prin­cipalmente as que se referem a Angola, na quase totalidade elaborados pelo pessoal dos Serviços de Oeologia e Minas, ao passo que os das restantes províncias foram levados a efeito pelos investigadores da Metrópole, embora sobre materiais ali colhidos pelos Serviços ou Missões.

Damos em seguida os seus títulos.

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Angola:

C. fREIRE DE ANDRADE - Summary on the geoLogy of Northern Lunda-AngoLa.

J. B. BEBIANO, M. MONTENEGRO DE ANDRADE, C. TEIXEIRA

e E. S. LANE - Contribution to the geoLogy of the asphaLtic-coaL deposits of AngoLa.

L. CAHEN e f. MOUTA - Le l(arroo du Congo Belge et de L' AngoLa.

f. MOUTA - Carte GéoLogique InternationaLe de L' Afrique (reuille n.o 5) - Notice Explicative et carte.

f. MOUTA e M. MONTENEGRO DE ANDRADE - Les intrusions de doLerites dans Le l(arroo de L' Est de L' AngoLa.

P. DE VASCONCELLOS - La géoLogie généraLe du Haut Zambeze.

P. DE V ASCONCELLOS - GéoLogie des sys/emes anciens dans Le Nord-Ouest de L' AngoLa (Congo Occidental).

P. DE VASCONCELLOS - Sur La découverte d' A Lgues fossiles dans Les terrains anciens de L' AngoLa.

M. MONTENEGRO DE ANDRADE - Contribucion aL estudio de Las Traquiandesitas deL ALto-Zambeze.

Cabo-Verde:

J. B BEBIANO e J. M. P. SOARES -Notes on some senonian fossils from S. NicoLau IsLand, ArchipeLago of Cap Verto

Guiné:

J. CARRÍNGTON DA COSTA - Notes on the stratigraphy and tedonics of Portuguese Guinea.

A. SOUSA TORRES - Une formation phosphatée à Bissau (Guiné Portuguaise).

Moçambique:

A. V. T. PINTO COELHO - A brief contribution to the study of the Magnetite Ore Deposits of R.uo (Mila ng e) , Portugease East Africa.

A. V. T. PINTO COELHO e J. A. N. BRAK-LAMY - GeneraL reatures of the «Brown Granites» of PortWJ"eilSf' Facd A frim

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II) - COMISSÃO DA CARTA GEOLÓGICA INTERNACIONAL DE ÁFRICA

1.0 - TRABALHOS REALIZADOS.

foi lido e aprovado o relatório do Secretário geral, M. f. Blondel, dando conta dos trabalhos realizados até à data, da preparação e publicação das 9 folhas em que se divide.

Folha n.o 1 - publicada em Maio de 1936, foi já apresen­tada aos Congressos anteriores.

Folha n.o :? - apesar de estarem delimitadas as manchas em 1940, apenas foi publicada em 1948.

Folha n.o 3-publicada em 1947. Folha n.o 4 -~em impressão à data do Congresso. Folhas n.O

S 5 e 9 -- apresentadas em esboço e sujeitas às rectificações que os trabalhos do Congresso introduzirem.

falta apenas publicar as folhas n.o 6 (Este e Oeste afri­cano) e n.o 8 (Centro Sul e Sul) que se esperam estejam con­cluidas para o próximo Congresso.

2.° - APOIO FINANCEIRO.

O relatório dá também conhecimento do apoio finan­ceiro obtido para a publicação da Carta, possível pela impor­tante contribuição da frança e territórios ultramarinos, da Bélgica e Congo Belga, sendo necessário novas contribuições pelos países interessados.

O Ministério das Colónias, pela sua Junta das Missões Geográficas e de Investigações Coloniais, enviou recentemente para este fim 50.000$00.

3.° - RENOVAÇÃO DOS MEMBROS DA COMISSÃO.

foi aprovado por unanimidade:

A) - Por morte do Prof. Lacroix, o nome do Prof. De Margerie para Presidente da Comissão;

B) - Manter como Vice-Presidentes Sir E. Bailey e Prof. fourmarier;

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C) - Para Secretário Geral M. F. Blondel em substituição do Prof. De Margerie;

D) - Tendo até à data deste Congresso os membros da Comissão sido escolhidos por nomeação e tendo-se verificado numerosas substituições, passam os seus membros a ser restri­tamente os Directores dos vários Serviços Geológicos Africa­nos ou geólogos escolhidos pelo seu conhecimento especial dos problemas africanos.

As Colónias Portuguesas foram representadas nesta comis­são de 1922 a 1933 pelo Prof. E. Fleury e de 1933 até ao último Congresso pelo autor.

III) - COMISSÃO DE DISTRIBUIÇÃO DO SISTEMA DE GONDWANA (KARROQ)

Pelo secretário da Comissão Dr. S. Haughton (África do Sul) foi apresentado um relatório, já publicado nos «Com­ptes Rendus» do Congresso (Part I - General Proceedings­págs. 192-206).

Este relatório indica os trabalhos realizados até ao Con­gresso Internacional de Geologia de Moscou de 1937 (Moscou, VoI. VI -1940) e entre 1937-1947, sobre os territórios abran­gidos pelo antigo Continerite de Gondwana, cujas formações constituem o importante Sistema do Karroo.

Quanto à Província de Angola, a comunicação feita pelo autor em colaboração com o geólogo L. Cahen dá, para 1948, o estado dos conhecimentos sobre este sistema (« Le Karroo du Congo Belge et de I' Angola»). comunicação que será publicada in extenso nos C. R. do Congresso.

O estudo dos fosseis recolhidos está sendo empreen­dido pelo Prof. R. Marliere (Ostracodos e Filopodos) e Prof. C. Teixeira (Peixes e Vegetais) tendo sido por este último publicadas algumas notas.

O relatório não se refere aos trabalhos executados na Província de Moçambique que foram levados a efeito ultima­mente e publicados já alguns resultados (geologia e paleon­tologia).

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foi verificado na sessão que todos os membros indivi­dualmente nomeados na Comissão de 1937 tinham falecido e que a Comissão se encontrava sem Presidente, fazendo dela parte também os Chefes de todos os Serviços Geológicos.

Nestas condições foi deliberado entregar o assunto da reeleição da Comissão ao Conselho do Congresso.

* * *

finalmente, resta referir a ausência neste Congresso de representantes dos Serviços Geológicos das duas maiores Províncias Ult'ramarinas Portuguesas: Angola e Moçambique. No entanto, estas receberam desde o início da organização do Congresso (1938) convites especiais para nele participarem, quer pelo Comité Organizador, quer posteriormente pela Asso­ciação dos Serviços Geológicos Africanos, quer ainda pela Comissão da Carta Geológica Internacional de África, visto esta tencionar apresentar ali, como apresentou, a minuta da folha n.o 5 e 9, que lhes diziam respeito.

O autor, como delegado das Províncias Ultramarinas Portuguesas nesta Comissão Internacional, pretendeu, mesmo sem qualquer encargo para a fazenda Nacional, comparecer, mas nenhum despacho ou autorização mereceu o seu pedido oficial nas estâncias superiores.

O Ministério das Colónias teve um único representante oficial no Congresso, o Eng.o J. Bacelar Bebiano, à data Pre­sidente da Junta das Missões Geográficas e de Investigações Coloniais. Apesar da sua indiscutível competência .nesta ma­téria compreende-se claramente a impossibilidade de poder participar em todas as discussões, detalhadas e especiais, que se realizaram e sobretudo promover o esclarecimento de certos pontos, o que teria sido de grande interesse e que por vezes foi feito pelos geólogos das colónias vizinhas.

Julgamos ter dado clara indicação de quanto o problema da geologia do Continente Africano está em foco e quanto ele interessa ao mundo científico e económico (problemas

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de minas, hidrologia, solos, engenharia civil, etc.). Os orga­nismos a quem naturalmente compete manter um estudo efectivo e o levantamento da carta geológica, não sendo possível possuir serviços privativos como a maior parte dos territórios africanos já possuem, são "Os Serviços de Minas e estes estão ou desprovidos (como actualmente Angola) ou deficientemente dotados de pessoal para este fim.

Em 1943 o Prof. Carríngton da Costa deu mais uma vez a público uma resenha sobre problemas geológicos coloniais em que detalhadamente se mostra o estado de atrazo em que se encontra o estudo da geologia de todas as nossas províncias ultramarinas (1).

À falta de actividade, quer no campo da exploração mineira, quer no campo da geologia, podemos atribuir sem dúvida o reduzido número de diplomados com o curso de engenharia de minas saídos das nossas escolas superiores; nos últimos 10 anos no Instituto Superior Técnico o maior número saído foi de 9 (1946-1947) mas este número baixou para 2 por várias vezes (1939-1940, 1942-1943, 1948-1949).

Tanto o estudo geológico da Metrópole, que possui ainda como -carta fundamental a Carta Geológica 1/500.000 de 1899, como o das províncias ultramarinas, com territórios cuja área é mais de 22 vezes superior ao continente, oferecem um vasto campo de trabalho e preparação para os engenheiros de minas portugueses.

Na primeira Conferência do Império Colonial Português e única, que se realizou em 1936, foi este problema exposto e aprovadas as bases da organização dos Serviços Geológicos e Hidrológicos nas Col6nias; propostas e pareceres ali for­mulados constituem dois grossos volumes publicados pelo Ministério das Colónias em 1936 (2).

Os anos vão passando e tão importantes problemas ficam

(1) J. CARRíNGTON DA COSTA - Problemas Geológicos Coloniais­BoI. Soe. GeaI. de Portugal- VaI. II, fase. I, 1943.

(2) Ministério das Colónias - Primeira Conferência Económica do Império Colonial Português - Pareceres, Projectos de Decretos e Votos­II VaI. (págs. 273-274, 338-349). 1936.

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sem solução, ou, acidentalmente, com soluções provisórias que' os não resolvem dentro das normas e critério para tal exigidos. Entretanto, nos países à volta dos nossos territórios do Ultra­mar esses estudos desenvolvem-.se, prosseguem, organizam-se reuniões, congressos, trabalhos de cooperação internacional, para os quais pouco podemos contribuir por falta de ele­mentos.

É desnecessário, por tão freq uentes, citar casos concre­tos do que afirmo.

Lisboa, 31 de Julho de 1950.

FERNANDO MOUTA

(Engenheiro I. S. T.)

III CONGRESSO DE ESTRATIGRAFIA E DE GEOLOGIA CARBONIFERAS

De 25 a 30 de Junho de 1951 teve lugar em Heerlen, Holanda - patrocinado pela Fundação Geológica dos Países Baixos e pelo «Bureau» Geológico da região mineira - o III Congresso de Estratigrafia e de Geologia Carboníferas, em que participou número elevado de cientistas de diversas nacio­nalidades.

Portugal não enviou, como acontecera nos dois ante­riores congressos, qualquer representante.

Os assuntos de discussão do . Congresso abrangeram problemas variados: Estratigrafia, Paleogeografia, Sedimento­logia, Paleontologia e Geologia aplicada na indústria mineira.

Além das sessões para apresentação de comunicações, houve uma «Conferência de Mesa Redonda» sobre a oportu­nidade de dividir o Sistema Carbónico nos Sistemas Mississi­piano e Pensilvaniano.

O programa do Congresso foi completado com uma excursão de sedimentologia, tendo Haia como centro.

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CONGRESSO LUSO-ESPANHOL DE MÁLAGA (1951)

foi a cidade de Málaga a escolhida pela Associação Espanhola para o Progresso das Ciências para a realização do próximo Congresso Luso-Espanhol, que se efectuará de 8 a 14 de Dezembro do ano corrente.

O tempo é escasso. Todavia, os cientistas portugueses - dirijo-me especialmente aos sócios da Sociedade Geoló­gica de Portugal - não deixarão de fazer o esforço possível para que a nossa contribuição marque, de facto, um avanço destacado no estudo dos poblemastratados.

Os originais das comunicações devem ser enviados, até 10 de Outubro, para a secretaria da Associação Portuguesa para o Progresso das Ciências ..

XIX SESSÃO DO CONGRESSO GEOLÓGICO INTERNACIONAL - ALGER, 1952

Está anunciada para o próximo ano a XIX Sessão do Congresso Geológico Internacional, que deverá reunir em Alger, de 8 a 15 de Setembro.

Os assuntos escolhidos para serem postos na ordem do dia dos trabalhos do Congresso são os seguintes:

1) O Ante-Câmbrico da África; correlações com as outras regiões do Mundo.

2) O Paleozóico norte-africano e as suas correlações. 3) Mecanismo da deformação das rochas; influênci~

sobre as concepções tectónicas. 4) Topografia submarina e sedimentação actual. 5) Os Pre-Hominídios e os Homens fósseis. 6) A génese das rochas filonianas (com exclusão dos

filões metalíferos). 7) Desertos actuais e antigos.

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8) A Hidrogeologia das reglOes áridas e sub-áridas. 9) As contribuições da Geofísica para a Geologia.

10) A génese dos jazigos de ferro. 11) Origem dos jazigos de fosfato de cálcio. 12) Questões diversas de Geologia Aplicada (com exclu­

são do Petróleo). 13) Questões diversas de Geologia Geral.

Haverá dois Symposiums, um sobre o ferro, outro sobre o Sistema de Gonduana. Terão, além disso, reuniões durante o Congresso a «Associação dos Servi ços Geológicos Afri­canos », a «União Paleontológica Internacional» e o «Comité Internacional para o estudo das Argilas ».

Estão previstas numerosas excursões, antes e depois do Congresso.

As línguas oficiais do Congresso são o Inglês, o Alemão, o Espanhol, o francês, o Italianu e o Russo.

Quer pelo número e. categoria dos participantes que reúnem, quer pelos problemas discutidos, os Congressos Geo­lógicos figuram entre as mais importantes assembleias cien­tíficas internacionais. A eles concorrem geólogos de todo o mundo.

É de esperar que Portugal tenha no próximo Con­gresso representação condigna, já que no último - Londres, 1948 -, embora tomassem parte nele, oficialmente, alguns portugueses, não houve uma Delegação Nacional do nosso País. O Ministério das Colónias enviou um delegado seu - o Eng.o J. Bacelar Bebiano -. O Ministério da Economia que, pelo chamado Serviço de fomento Mineiro mandou três representantes - o Eng.o J. G. ,dos Santos, o Dr. J. Martins da Silva e o Dr. J. c. Neiva - pelos Serviços Geológicos de Por­tugal, paradoxalmente, apenas enviou um - o geólogo Dr. G. Zbyszewski - . As Universidades portuguesas não tiveram, no referido Congresso, qualquer representação oficial.

Se existisse uma delegação representativa do nosso País no Congresso de Londres não teria, certamente, deixado passar

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a oportunidade de propor, em ligação com a representação brasileira, a adopção da língua portuguesa como língua oficial dos Congressos, pelas mesmas razões por que foi adoptada a língua russa, proposta pelos delegados da U. R. S. S.

Esta e outras razões de prestígio nacional, levam- me a apelar para o Governo da Nação no sentido de que a nossa representação no próximo Congresso' seja convenientemente escolhida e organizada com a necessária antecipação.

Visto tratar-se de um Congresso Geológico, parece-me que esta representação deverá ser chefiada por um geólogo­que esteja ao corrente dos problemas mais importantes da geologia, quer do Continente e das Ilhas Adjacentes, quer dos Territórios Ultramarinos - e incluir delegados das Univer­sidades, dos Serviços Geológicos de Portugal, da Junta de Investigações Ultramarinas e da Sociedade Geológica de Portugal.

Deste modo, em vez de representantes isolados de servi­ços ou instituições - alguns dos quais só nestas ocasiões mostram interesse pela geologia - haverá uma Representação Nacional, oficialmente acreditada junto da organização do Congresso, à qual competirá coordenar os trabalhos a apre­sentar, tomar parte nas resoluções finais do Congresso, mos­trar, em suma, a presença do nosso País naquela assembleia científica.

Por resoluções tomadas em Londres, a XX Sessão do Congresso (1956) está projectado q ue será realizada em Delhi.

Porque não propor a candidatura do nosso País para a realização do XXI Sessão do Congresso. Geológico Inter­nacional, que deve efectuar-se em 1960?

C. TEIXEIRA.