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A geometrização de temas abstratos e figurativos era a marca principal do Art Déco – estilo das primeiras décadas do século XX, com amplo espectro geográfico, e de releitura de várias culturas

exóticas. (ROITER, 2010, p.20)

Cinema Curzon (1936), de Hurley Robinson e Cinema Orinda (1941), de A. A. Cantin.

A geometrização de temas abstratos e figurativos era a marca principal do Art Déco – estilo das primeiras décadas do século XX, com amplo espectro geográfico, e de releitura de várias culturas exóticas.

(ROITER, 2010, p.20)

Maior ilha flúvio-costeira do mundo, Marajó, na Amazônia brasileira, teve diversas fases de desenvolvimento, antes da chegada dos colonizadores portugueses. (ROITER, 2010, p.19)

Considerada a mais importante, e que se estenderia de 400 a 1350, a fase Marajoara deixou um rastro de inúmeros artefatos, finamente decorados: urnas funerárias, bancos, esculturas, vasos, tangas e adereços, em pedra, terracota, cerâmica e argila. (ROITER, 2010, p.19)

MANOEL SANTIAGO (1897-1987): Marajoara, 1927. Óleo sobre tela. Rio de Janeiro, Museu Nacional de Belas Artes.

A arte brasileira entra em sintonia com este momento, e forma-se um grupo de criadores explorando esse filão. Da literatura à música, da arquitetura às artes aplicadas: surgem os Nativistas. (ROITER, 2010, p.19)

Desde o inicio do século XX, em 1901, Eliseu Visconti (1866-1944), recém-chegado das aulas com Eugène Grasset, na França, dedica muito de seu tempo de pintor já consagrado às artes decorativas,

apresentando diversos modelos de vasos, capas de livros, almofadas, selos, etc. (ROITER, 2010, p.21)

ELISEU VISCONTI (1866-1944): (1) Vaso em porcelana pintada, decorado como flores de maracujá, 1902.

(2) Logotipo para “Arte brasileira”

Na sala de escultura, da Exposição, o visitante encontra, em uma mesa 14 objetos de cerâmica, vasos e pratos, pintados pelo Sr. Elisêu Visconti, queimados e esmaltados nas oficinas dos Srs. Ludolff & Ludolff, em Jeronimo de Mesquita. É a maior novidade do Salão, esta parcela de louváveis esforços em artes aplicadas à indústria. Objetos fabricados com material do país e artisticamente ornamentados com elementos da nossa natureza. O Sr. Visconti estilizou para isso folhas e flores do Brasil, umas indígenas e outras aclimadas.

Não ficou aí o artista: na forma de alguns vasos e nos respectivos temas decorativos se inspirou em contornos e ornatos de objetos de uso dos nossos aborígenes. Nos desenhos de um dos potes há evidentes derivações da louça primitiva do Amazonas.

O Museu Nacional possui valiosa coleção dos cerâmicos de Marajó e Pacoval, cujos desenhos (alguns coloridos) constam dos Arquivos daquele estabelecimento. O Sr. Visconti

não copiou, nem imitou servilmente. Em tudo respira originalidade, nenhuma preocupação de convencionalismo, nem pieguice.

A. V. SALÃO DE 1903. CERÂMICA. A Noticia, Rio de Janeiro, 7-8 set. 1903, p. 3.

De extremo refinamento são as criações do paraense Theodoro Braga (1872-1953), quase que inteiramente dedicadas à vertente nacionalista do Art Déco brasileiro. São pinturas, tapetes, e sobretudo vasos em metal, verdadeiras proezas técnicas (ROITER, 2010, p.21)

THEODORO BRAGA (1872-1953): Pranchas d'A Planta Brazileira ... -Composições decorativas a partir de ornamentaçoes da 'Cerâmica de Marajó'.

THEODORO e MARIA BRAGA: Conjunto de obras da Exposição Geral de Belas Artes de 1927

(1) Yapoanã, tapete inspirado na Victoria Régia, feito pela Fábrica de Tapetes Santa Helena, SP;

(2) Mangueira em flor, projeto para tapeçaria;

(3) Caraná, coluna inspirada na Palmeira Amazônica, executada por Vicente Larocca;

(4) e (5) Jarro e vaso em madeira de guatambu,executados por Domenico Businelli;

(6) Projeto de tapete com motivos marajoara;

(7) Almofada com relevo em couro, motivos marajoara.

Foto de Carlos Peruta, Rio de Janeiro, 1927.

A 'Casa Marajorara' de Theodoro Braga, anos 1930. Fachada principal decorada com motivos desenhados pelo próprio artista e projetada por Eduardo Kneese de Mello.

Fotografia reproduzida em Illustração Brasileira, 15., n. 26, jun. 1937.

Vai ao limite, idealizando com o arquiteto Kneese de Mello um “Retiro Marajoara” em São Paulo, nos anos 1930 (ROITER, 2010, p.21)

Dois aspectos do interior da 'Casa Marajorara' de Theodoro Braga, anos 1930.

[…] painel de utilizações possíveis dos temas, desde arquitetura até a decoração interior. Tudo se integra: pisos, grades, móveis, papéis de parede, luminárias, objetos, etc.

(ROITER, 2010, p.21)

Ao lado, O Instituto do Cacau, Salvador/BA, fachadas principal e lateral, projeto de Alexander Buddeüs, 1932-34.

Em baixo, Interior do Salão de Exposições, em estilo 'Neo-marajoara'.

Pedro Correia de Araújo (1881-1955), autor do imponente pórtico do Edifício Itahy (av. Nossa Senhora de Copacabana, 252, Rio), marco inquestionável da presença de inspiração indígena no Art Déco brasileiro, construído em 1932. (ROITER, 2010, p.21)

Pedro Correia de Araújo (1881-1955), autor do imponente pórtico do Edifício Itahy (av. Nossa Senhora de Copacabana, 252, Rio), marco inquestionável da presença de inspiração indígena no Art Déco brasileiro, construído em 1932. (ROITER, 2010, p.21)

Lá vamos encontrar uma índia–sereia–cariátide em cerâmica policromada dando boas-vindas aos visitantes sobre a porta principal do prédio, envolvida em frutos do mar e dos rios amazônicos, como algas,

caranguejos, cavalos marinhos e estrelas do mar. (ROITER, 2010, p.21)

JOSÉ MARIA DE MEDEIROS (1849-1926): Iracema, 1884.

Óleo sobre tela, 167,5 x 250,2 cm.Rio de Janeiro, Museu Nacional de Belas Artes.

No auge da saison parisiense, entre 10 e 25 de julho de 1925, no templo modernista da Avenue Montaigne – o Théâtre des Champs-Elysées [...] – realiza-se a temporada do balé Légendes, Croyances et Talismans des Indiens de l’Amazone, numa adaptação do livro de mesmo nome do artista pernambucano Vicente do

Rego Monteiro (1899-1970) (ROITER, 2010, p.24)

[...] acaba motivando Vicente a editar, ainda em 1925, um álbum de gravuras com 300 exemplares, Quelques Visages de Paris, onde os principais pontos turísticos da cidade são tratados à maneira marajoara. (ROITER, 2010, p.24)

“Loja do mais rico marchand da França. É pena que ele não ponha preço nos quadros”.

De Estrasburgo, na França, August Herborth (1878-1968) aporta no Rio no início dos anos 20 e durante dez anos produz cerca de 500 pranchas, em aquarela, guache e nanquim, explorando a temática marajoara em todas as áreas da arquitetura, decoração interior e design. (ROITER, 2010, p.25)

Praça Raul Soares (antiga Praça 14 de Novembro), Belo Horizonte/MG, inaugurada em 1936.

[Herborth] Foi convidado pela prefeitura de Curitiba para projetar calçadas em pedra portuguesa empregando os motivos apresentados nos álbuns, muitas até hoje preservadas. (ROITER, 2010, p.26)

[...] dessa leva de estrangeiros chegando ao Brasil e dispostos a explorar nossa seiva nativa até os limites, desponta como símbolo o português Fernando Correia Dias (1893-1935). Associado à Companhia

Cerâmica Brasileira, Correia Dias logo desenvolve uma extensiva gama de artefatos [...], sempre inspirado pelos temas indígenas.(ROITER, 2010, p.25)

Para a residência de Guilherme Guinle, no Rio de Janeiro, desenha uma piscina com azulejos repetindo desenhos indígenas, encimada por imensa figura de muiraquitã (um talismã marajoara em forma de

batráquio), de onde jorrava caudalosa fonte (ROITER, 2010, p.25)

CULTURA SANTARÉM: Muiraquitã, escultura em forma de rã.Pedra verde óbido.Rio de Janeio, Museu Nacional/UFRJ.

É inevitável lembrar de Tarsila do Amaral, que só descobre o Brasil na Paris nos anos 1920, depois das aulas com Léger e Lothe. (ROITER, 2010, p.25)

(1) CARLOS HADLER (1885-1945): Dois aspectos doSalão Marajoara, 1938.Decoração de Baile de Carnaval realizada pelo artista na cidade de Rio Claro, São Paulo.

(2) Fantasias de Carnaval, Baile do Theatro Municipal/RJ, 1942.Fonte: Illustração Brasileira, 20, n. 83, mar. 1942.