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8 A gestão do estágio supervisionado na unidade de ensino: dilemas, desafios e possibilidades Maria Cecília Peixoto Brandão Rodrigues de CarvalhoCarla Cristina Lima de Almeida ** Maria Helena de Jesus Bernardo *** Jurema Alves Pereira**** * Assistente Social, Mestre em Serviço Social, Professora Assistente do Departamento de Fundamentos Teórico-Práticos do SS. Foi Diretora da FSS/UERJ e atualmente é Coordenadora de Estágio e Extensão (Gestão 2010 a 2015). E-mail: <[email protected]> ** Professora adjunta do Departamento de Fundamentos Teórico-Práticos do Serviço Social da FSS/UERJ, pós-doutorado no Núcleo de Estudos de Gênero PAGU; doutorado em Ciências Sociais pela Unicamp; especialista em Saúde Pública pela ENSP/FIOCRUZ. E-mail: <[email protected]>. *** Graduada em Serviço Social, Especialista em Saúde Mental, Mestre em Serviço Social, Assistente Social do Núcleo de Atenção ao Idoso da UnATI/UERJ, preceptora de residência multiprofissional em Saúde do Idoso, Professora do Curso de Especialização em Geriatria e Gerontologia da UNati/UERJ e Professora-assistente epartamento de Fundamentos Teórico- Práticos do Serviço Social da FSS/UERJ. E-mail: <[email protected]>. **** Graduada em Serviço Social, Mestre em Tecnologia Educacional nas Ciências da Saúde pela Universidade Federal do Rio de Janeiro; Especialista em Serviço Social e Saúde pela UERJ; doutoranda do Programa de Pós Graduação em Políticas Públicas e Formação Humana (PPFH) da UERJ. Assistente Social da Coordenação de Estágio e Extensão da FSS/UERJ. E-mail: <[email protected]> miolo_Livro_servico_social.indd 173 miolo_Livro_servico_social.indd 173 4/11/2014 18:00:09 4/11/2014 18:00:09

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A gestão do estágio supervisionado na unidade de ensino: dilemas, desafi os e possibilidades

Maria Cecília Peixoto Brandão Rodrigues de Carvalho∗Carla Cristina Lima de Almeida **

Maria Helena de Jesus Bernardo ***

Jurema Alves Pereira****

* Assistente Social, Mestre em Serviço Social, Professora Assistente do Departamento de Fundamentos Teórico-Práticos do SS. Foi Diretora da FSS/UERJ e atualmente é Coordenadora de Estágio e Extensão (Gestão 2010 a 2015). E-mail: <[email protected]>** Professora adjunta do Departamento de Fundamentos Teórico-Práticos do Serviço Social da FSS/UERJ, pós-doutorado no Núcleo de Estudos de Gênero PAGU; doutorado em Ciências Sociais pela Unicamp; especialista em Saúde Pública pela ENSP/FIOCRUZ. E-mail: <[email protected]>.*** Graduada em Serviço Social, Especialista em Saúde Mental, Mestre em Serviço Social, Assistente Social do Núcleo de Atenção ao Idoso da UnATI/UERJ, preceptora de residência multiprofi ssional em Saúde do Idoso, Professora do Curso de Especialização em Geriatria e Gerontologia da UNati/UERJ e Professora-assistente epartamento de Fundamentos Teórico-Práticos do Serviço Social daFSS/UERJ. E-mail: <[email protected]>.**** Graduada em Serviço Social, Mestre em Tecnologia Educacional nas Ciências da Saúde pela Universidade Federal do Rio de Janeiro; Especialista em Serviço Social e Saúde pela UERJ; doutoranda do Programa de Pós Graduação em Políticas Públicas e Formação Humana (PPFH) da UERJ. Assistente Social da Coordenação de Estágio e Extensão da FSS/UERJ. E-mail: <[email protected]>

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Trajetória da Faculdade de Serviço Social da UERJ: 70 anos de história

Introdução

Não há como tratar do assunto estágio sem pensarmos a concepção profi s-sional que o atravessa. O Serviço Social se constrói social e historicamente, com um sentido político a partir de seu movimento de interferência junto à realidade e, com esses contornos, requer uma formação implicada com os processos sociais dos quais faz parte. O estágio é o mediador, o ponto de articulação por onde vislumbramos nossos maiores desafi os e formulamos nossas mais difíceis promessas.

Segundo informações do Jornal Práxis, o tema sobre estágio supervisio-nado foi o mais discutido no Projeto ABEPSS Itinerante 2012, de modo que a entidade elegeu-o como objeto de debates para o período 2013-2014 nas diversas regiões do país (CRESS/RJ, março-abril 2014).

De tal modo, que suspeitamos ser este um dos aspectos mais delicados e controversos do processo de formação profi ssional, o que é reforçado com o lançamento pelo conjunto CFESS-CRESS nos últimos anos de muitos documentos, resoluções e normativas em torno de diretrizes para o estágio.

Este artigo tem por objetivo relatar os desafi os cotidianos da gestão das atividades de estágio na Faculdade de Serviço Social da UERJ, na medida em que acreditamos ainda na formação como processo; na importância da interlocução com os espaços profi ssionais, por mais precários que se mos-trem; além de nos reconhecermos como sujeitos implicados na construção de respostas sempre provisórias, mas instituintes de novas realidades nos diversos contextos. Buscamos nesse texto, na medida do possível, conside-rando o tempo da refl exão, os registros disponíveis e a memória dos sujeitos que produziram esse lugar, mostrar o trabalho coletivo transformado no que somos hoje e no que ainda vislumbramos ser. Partilhamos da compre-ensão de que essa é uma experiência que guarda muitas camadas históricas ao longo desses setenta anos, que, às vezes, se mostram bem evidentes, outras nem tanto.

Nosso objetivo não é outro, a não ser afi rmar nossa crença num pro-cesso formativo aberto, com suas contradições e utopias, que aposta nos sujeitos alunos, professores e assistentes sociais como produtores ativos dessa realidade.

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1. Trajetória histórica do Estágio na Faculdade de Serviço Social

Estamos acostumados a narrar essa história. A década de 80, que tanto res-soou os barulhos da sociedade brasileira, abrigando projetos institucionais, políticos e sociais democráticos, foi também o tempo de imprimir novos contornos pedagógicos, políticos e administrativos para a Faculdade de Ser-viço Social da UERJ. Fruto desse processo surge a Coordenação de Estágio, inicialmente vinculada ao Departamento de Prática, constituindo-se até os dias de hoje uma das raras experiências de gestão acadêmica das atividades de estágio em toda a UERJ.

Foi a partir da reforma curricular de 1993 que ocorreu uma reformulação administrativa, acompanhando os rumos acadêmicos que se vislumbravam para a formação na UERJ. A busca pela superação entre teoria e prática, ainda muito marcada nos currículos dos anos 80, levou a unidade acadê-mica a extinguir o Departamento de Prática, criando o Departamento de Fundamentos Teórico-Práticos do Serviço Social e Departamento de Polí-tica Social, de modo que ambos passaram a se responsabilizar pela oferta de duas disciplinas de estágio supervisionado considerando-se a indissocia-bilidade entre teoria e prática. Com isso, a Coordenação de Estágio passou a se constituir num setor independente dos Departamentos e diretamente vinculado à Direção da Unidade. Esse deslocamento está em consonância com as mudanças no âmbito da formação profi ssional, como bem registra a citação abaixo de Iamamoto

A superação dessa dissociação teoria-prática está no contexto da implemen-tação das Diretrizes Curriculares, o que contribuirá também para a ruptura com a tradicional crítica de desarticulação entre teoria e prática, conceituada como “falsos dilemas” (IAMAMOTO, 1994b apud LEWGOY, 2010).

A Coordenação de Estágio é constituída com a responsabilidade de imple-mentar e articular tudo o que for necessário para a realização do estágio curricular dos alunos da Faculdade de Serviço Social, tendo como preocupa-ção fundamental pensar e encaminhar uma política de estágio em consonância com as diretrizes da formação profi ssional do Curso de Serviço Social. É o setor da Faculdade de Serviço Social que tem por competência possibilitar e

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acompanhar a inserção dos alunos nas instituições campos de estágio, captar e analisar as áreas a cada semestre, bem como primar pelas melhores condições de realização das disciplinas de Estágio Supervisionado, a partir da organização dos grupos, que, na FSS/UERJ, se encontram vinculados às áreas temáticas dos espaços profi ssionais onde estão inseridos os nossos alunos.

Para tanto, a Coordenação deve estar em permanente diálogo com os Departamentos e Coordenação de curso contribuindo para a avaliação, pla-nejamento e tomada de decisões em torno dessa modalidade da formação profi ssional, entendendo-se a articulação indissociável entre teoria e prática.

Estes procedimentos têm sido discutidos no interior da Unidade ao longo de todos esses anos. Muitos desses momentos estão registrados em documentos específi cos (CALDEIRA; VASCONCELOS, 2000; SILVA, 2003; CESAR, 2006) e outros fazem parte da memória de seus agentes, deixando seus legados no que hoje entendemos ser a experiência de estágio na FSS/UERJ.

Tal estrutura acadêmica administrativa singular na universidade, todavia, acaba por ser invisibilizada como instância organizativa e de gestão, o que traz alguns prejuízos no pleito das questões relacionadas ao estágio, desde infraestrutura até garantia de procedimentos político-acadêmicos. Sendo assim, a Faculdade propôs, em 2007, a junção entre o Núcleo de Extensão − normatizado pela Sub-Reitoria de Extensão (SR- 3) – e a Coordenação de Estágio, compondo a atual Coordenação de Extensão e Estágio (CEE).

O conjunto das modalidades de ações extensionistas – cursos, projetos, eventos, Programas – se relaciona com o sentido formativo e social do fazer profi ssional presente no estágio supervisionado. Desse modo, as articula-ções entre Universidade e Sociedade viabilizadas pela extensão constituem campo fecundo para o estágio. Ao mesmo tempo este, na medida em que canaliza as necessidades identifi cadas na realidade social e busca respostas conjuntas, numa vivência que é social, política e técnica, fomenta as práti-cas de extensão universitária.

A extensão é, pois, uma mediação necessária entre a instituição universitária e a sociedade, estimulando a sua democratização. Possibilita soldar víncu-los entre conhecimento e realidade e oxigena o processo de aprendizagem. Torna-se um ‘radar’ sensível para identifi car as lacunas no campo do conhe-

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cimento e necessidades sociais que demandam um investimento acadêmico (IAMAMOTO, 2000, p. 72).

Por essas razões, no referido ano, a Faculdade de Serviço Social entendeu que a criação da Coordenação de Extensão e Estágio seria uma estratégia acadêmica capaz de “fortalecer a prática extensionista e o estágio supervi-sionado, seja nas suas especifi cidades, seja nos seus pontos de interseção” (GAMA; DUARTE; CESAR, 2007).

A partir de 2009, com a implementação da Política Nacional de Estágio (PNE) pela Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social (ABEPSS), um novo contexto normativo é construído pelas entidades representativas da profi ssão, levando à Coordenação de Extensão e Estágio a se debruçar sobre seus documentos produzidos nos anos de 1999 e 2006. Considerando a consonância entre as diretrizes apresentadas no debate mais amplo da categoria e o acúmulo existente na FSS/UERJ (políticas de estágio 1999 e 2006), foram identifi cados pequenos ajustes a serem efetua-dos na política interna frente à PNE.

Esse movimento de avaliação, contudo, recuperou discussões por serem feitas no âmbito da Faculdade, num processo contínuo de amadurecimento e aprendizagem. Assim, destacamos como um dos aspectos que devem receber prioridade a mobilização dos sujeitos (professores, alunos e assis-tentes sociais) em torno dos instrumentos de avaliação do estágio, no que diz respeito tanto à disciplina quanto ao conjunto de procedimentos que envolvem a relação entre universidade e experiência profi ssional por meio dessa atividade. Além deste, reafi rmamos a necessidade de novas estratégias para o estágio de fi nal de semana, que, embora tenha merecido tratamentos diversos ao longo do tempo, ainda está longe do formato que idealizamos.

No que tange à articulação entre Unidades acadêmicas e entidades profi ssionais, a Coordenação de Extensão e Estágio (CEE) busca, desde a sua origem, manter uma interlocução com outras unidades acadêmicas de Serviço Social e nossas entidades profi ssionais, em particular o Conselho Regional de Serviço Social (CRESS\7ª Região) e a Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social (ABEPSS).

Atualmente, são diversos os fóruns construídos pela categoria em torno da questão do estágio, dos quais buscamos participar, a exemplo das reuniões

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da Comissão de Formação do CRESS: das Ofi cinas regionais e nacionais da ABEPSS; dos Fóruns de Supervisão de Estágio, tanto regionais como estaduais e nacionais, organizados pelas entidades profi ssionais; em que pudemos apresentar a Política de Estágio da Faculdade de Serviço Social e trocarmos experiências com outras unidades acadêmicas, como as escolas de Serviço Social da Universidade Federal Fluminense (UFF), da Univer-sidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), entre outras.

A articulação com o Conselho Regional de Serviço Social tem se inten-sifi cado nos últimos anos, sendo um marco para isso a criação de algumas normas com relação ao estágio que envolve uma sistemática troca de informações sobre alunos, supervisores e campos de estágio da unidade acadêmica por semestre, além de declarações de comprovação do estágio realizado pelos alunos e fi scalização da determinação da carga horária máxima destinada à supervisão de campo pelos assistentes sociais. Essas ini-ciativas foram implementadas nos últimos quatro anos, evidenciando uma preocupação com o controle e fi scalização de uma atividade que apresenta a confl uência de muitos elementos da atuação profi ssional, particularmente no que diz respeito às condições de trabalho dos assistentes sociais.

Nesse sentido, podemos afi rmar que os Conselhos profi ssionais constituem hoje agentes importantes e indutores nas políticas acadêmicas das unidades de ensino, o que, no caso da UERJ, se não chega a constituir um estranha-mento do ponto de vista da direção social e política da formação profi ssional, provoca necessários ajustes diante do acúmulo que a unidade construiu no encaminhamento de suas ações de estágio. Exemplo dessa situação pode ser buscado nos projetos de extensão que acolhem alunos de estágio em nossa unidade e que, devido a sua dinâmica, tem comportado um quantitativo de estudantes superior ao estabelecido pelas normatizações das entidades.

A coordenação das inúmeras necessidades que compõem a organização do estágio supervisionado na formação dos alunos de serviço social envolve, portanto, hoje, não apenas um processo constante de revisão dos conteúdos acadêmicos conduzidos no âmbito das unidades de ensino, mas também um diálogo permanente com os agentes da organização profi ssional, que assumiram historicamente um importante papel na afi rmação do projeto ético-profi ssional no Serviço Social.

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2 O estágio na formação profi ssional dos Assistentes Sociais

O Estágio Supervisionado em Serviço Social, elemento fundamental da formação profi ssional do assistente social, é uma atividade curricular obriga-tória regulamentada no Parecer n.º 412/82 de 4/8/82 do Conselho Federal de Educação, sem o qual o aluno não poderá graduar-se. Trata-se de um processo didático-pedagógico que se consubstancia pela “indissociabilidade entre estágio e supervisão acadêmica e profi ssional” (ABESS/CEDEPSS, 1997, p. 62), um dos princípios das diretrizes curriculares para o curso de Serviço Social. Caracteriza-se pela atividade teórico-prática, efetivada por meio da inserção do (a) estudante nos espaços sócio-institucionais nos quais trabalham os (as) assistentes sociais, capacitando-o (a) nas dimensões teórico-metodológica, ético-política e técnico-operativa para o exercício profi ssional (ABEPSS, 2009, p.14).

O processo de estágio objetiva habilitar o aluno para o desenvolvimento de atividades teórico-práticas supervisionadas em instituições públicas, pri-vadas, Ongs prestadoras de serviços sociais indicadas pela Faculdade de Serviço Social e conveniadas com a UERJ. Objetiva ainda subsidiar a parti-cipação dos alunos em programas e projetos, buscando o desenvolvimento de atividades que impliquem a compreensão, problematização, investigação e ação sobre determinada temática com a qual trabalhe o assistente social. O estágio supervisionado constitui-se, assim, condição essencial da formação do Assistente Social, pois representa um dos momentos síntese do curso, onde se realiza o exercício da articulação teoria e prática, imprescindível à leitura crítica da realidade e à proposição de ações profi ssionais nos diversos campos de inserção do Assistente Social.

Daí emerge a histórica discussão sobre a relação teoria e prática, o paralelismo entre o ‘saber e o fazer’ como contrapontos de um mesmo processo empreen-dido no meio acadêmico. Em prejuízo à formação do aluno, a dicotomia entre teoria e prática é claramente percebível na estruturação e organização dos cur-sos de graduação, em que se percebe uma divisão em elementos considerados teóricos, a serem ministrados durante o curso, e o momento da prática, que seria o estágio. Contudo, esses elementos – saber e fazer – caminham paralela-mente, não são polos independentes, sobretudo considerando-se a necessidade de o saber sedimentar o fazer (LEWGOY, 2010, p. 166).

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As refl exões de Alzira Lewgoy contribuem também para desmistifi car a ideia de que essa tendência à dissociação entre teoria e prática localiza-se apenas no campo do exercício profi ssional. Essa é uma questão que nos desafi a, pois no contexto em que vivemos, há uma crescente precarização do Ensino Superior e dos espaços sócio- ocupacionais do assistente social, com predomínio da produtividade e do pragmatismo. A relação entre teoria e prática é ameaçada a não se concretizar, o que nos exige um constante investimento na formação profi ssional, tanto de estudantes de graduação como na formação continuada de profi ssionais.

3 O compromisso com os alunos que trabalham e os dilemas do estágio de fi nal de semana

A realização de estágio supervisionado em projetos de extensão está pre-vista desde que asseguradas as exigências contidas nas demais modalidades de estágio. A indissociabilidade do tripé ensino, pesquisa e extensão deve ser incentivada na medida em que reforça a função social da universidade, amplia as condições para uma formação articulada à realidade social, pro-piciando elementos críticos e criativos que estimulem novos projetos de trabalho. De acordo com a Política Nacional de Estágio (ABEPSS, 2009):

O Estágio em Extensão nos cursos de serviço social historicamente é desen-volvido como estratégia de aproximação da academia com a realidade social, busca-se nessas experiências o aperfeiçoamento de práticas profi ssionais em campos diversifi cados, geralmente envolvendo atividades de ensino e pes-quisa. (ABEPSS, 2009, p.37)

A modalidade de estágio em projetos de extensão permite ainda assegurar a realização da formação profi ssional de alunos trabalhadores que não dis-ponham de condições para a realização de estágio durante a semana. Nessa perspectiva, a relação orgânica dos professores com a experiência profi ssional favorece o suporte acadêmico, intensifi cando a aprendizagem do aluno.

A experiência da unidade de ensino tem revelado a necessidade de cria-ção das condições institucionais de suporte à realização dos projetos de extensão na modalidade de estágios supervisionados de fi nais de semana, no sentido de garantir espaço, locomoção, alimentação, recursos materiais

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e humanos (assistentes sociais supervisores e professores) para a efetivação do mesmo, o que exige o envolvimento de todos os setores da universidade.

Cabe salientar que dada a condição de curso noturno e a existência de estudantes trabalhadores, há uma importante demanda por realização de estágios nos fi nais de semana – ilustrado pela Tabela 1 abaixo –, o que, asso-ciado a pouca oferta de instituições e projetos com funcionamento nesse horário, representa um investimento prioritário da unidade acadêmica. Para tanto, destaca-se a necessidade de inserção de assistentes sociais vinculados à Coordenação de Extensão e Estágio no sentido do fortalecimento de par-cerias institucionais, acompanhamento dos estagiários no campo, expansão de projetos de extensão para áreas emergentes de atuação do serviço social, capazes de absorver as demandas de estágio nos fi nais de semana.

Do ponto de vista dos estudantes, grande parte inserida no mercado de trabalho, verifi ca-se também que a precarização do trabalho acarreta novos condicionantes para a conciliação com os estudos e, especialmente, com a atividade de estágio. Em face do quê, ainda não conseguimos gerir respostas satisfatórias, tais como oferta de bolsas de estudo, pesquisa, extensão e está-gio compatíveis com as necessidades dos alunos, algumas vezes chefes de família. A Universidade, nesse aspecto, carece de uma política de assistên-cia estudantil, que inclusive assegure as necessidades dos alunos dos cursos noturnos – tais como creches, alojamentos entre outras − apesar de ter sido a primeira universidade a implantar o sistema de cotas no Brasil.

Tabela 2. Alunos com demandas por estágio de fi nal de semana, segundo semestre e ano letivos: FSS/UERJ, 2011 – 2013-2

Ano/Período Quantidade de alunos com demandas para EFS

2011 10

2012/1 12

2012/2 05

2013/1 12

2013/2 08

Fonte: Arquivos da Coordenação de Estágio e Extensão, FSS/UERJ.

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Observamos que nos últimos anos é apresentada uma demanda de alu-nos por estágios de fi nal de semana em torno de 10% do total de alunos em estágio. Com exceção da turma 2012/2, considerada atípica, as demais turmas apresentam uma média de dez a doze alunos que trabalham de segunda à sexta das 8 às 17h, com demanda para estágio no fi nal de semana. São alunos que, em sua maioria, não realizam outras atividades discentes na universidade. Cabe mencionar que, além dessas demandas por estágios novos, há um quantitativo de alunos de outros períodos que retornam para o estágio e necessitam de vagas de fi nais de semana.

Os dados apresentados a seguir foram levantados a partir do Sistema de Informações de Estágio da Coordenação de Estágio, especifi camente das pautas internas das turmas de estágio supervisionado, entre os anos de 2008 e 2013.

Nos últimos cinco anos a situação do Estágio Final de Semana tem apre-sentado importantes oscilações. A cada semestre temos em torno de trinta alunos inseridos em campos nos fi nais de semana, sendo que a partir do segundo semestre de 2012 há uma queda gradativa de alunos nesses está-gios, conforme evidencia o Gráfi co 1.

Gráfi co 1. Alunos em estágio de fi nal de semana, segundo semestre e ano letivos: FSS/UERJ, 2008/1 – 2013-2

Fonte: Dados da Coordenação de Extensão e Estágio da FSS/UERJ.

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A fi m de verifi carmos as demandas de novos estagiários nesta modali-dade tomamos os dados dos estudantes que ingressaram em estágio I. Tais dados foram coletados a partir das pautas internas das turmas de estágio, onde selecionamos estágios de fi nais de semana por períodos. Assim, de acordo com o Gráfi co 2, temos:

Gráfi co 2. Alunos em estágio de fi nal de semana, nível I , segundo semestre e ano letivos: FSS/UERJ, 2008/1 – 2013-2

Fonte: Dados da Coordenação de Extensão e Estágio da FSS/UERJ.

Os dados revelam uma variação de novos estagiários ao longo do tempo, com picos registrados nos segundos semestres de 2009 e 2010, como tam-bém no primeiro semestre de 2008. Tais informações requisitariam uma pesquisa específi ca, que elucidasse os motivos destas diferenças. Além disso, nos últimos dois anos há uma diminuição no ingresso de novos alunos em Estágio de fi nal de semana, indicando a crescente difi culdade de absorção dessa demanda, tendo em vista que se mantém nos registros da Coordena-ção a solicitação dos alunos por esses estágios.

Observamos que, ao longo do tempo estudado, três campos têm sido res-ponsáveis por absorver todas as demandas de alunos para estágio nos fi nais de semana, a saber: GEFEP1, Sal da Terra e PESCCAJ2, conforme demons-tra a tabela 1.

1 GEFEP – Grupo de Formação de Educadores Populares.2 PESCCAJ − Projeto Educação, Saúde, Cultura e Cidadania com Crianças, Adolescentes e Jovens.

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TABELA 2. Alunos em estágio de fi nal de semana por semestre e ano letivos, segundo campos de estágio: FSS/UERJ, 2008/1 - 2013/2

CAMPO 2008.1 2008.2 2009.1 2009.2 2010.1 2010.2 2011.1 2011.2 2012.1 2012.2 2013.1 2013.2

GEFEP 11 11 17 18 17 18 16 18

13 9 3 ------

SAL DA TERRA

8 6 3 8 9 13 11 3

------ ------ ------ -------

PESCCAJ 9 11 9 7 4 4 3 3

6 5 4 4

Hosp. Nova Iguaçu

----- ----- ---- ---- ---- ----- ----- ---- 2 2 4 3

Hosp. Andaraí

------ ------ ------ ------ ------ ------- ------- -------

----- -----

2 2

APABB ------ ------ ------ ------ ------ ------- ------- -------

----- ----- 1 1

Fonte: Dados da Coordenação de Extensão e Estágio da FSS/UERJ.

Os três campos citados possuem em comum o fato de desenvolverem ações junto à comunidade, com dinâmicas que favorecem a confi guração do estágio nos fi nais de semana, além de estarem vinculados à assessoria de professores da FSS/UERJ e um deles é desenvolvido pela assistente social lotada na CEE. Com exceção do GEFEP, destacamos que, a partir de 2010, contexto de discussão na categoria da PNE/ABEPSS, há uma progressiva diminuição dos alunos nos projetos, tendo em vista a adequação ao critério de 10h da carga horária do assistente social por cada estagiário. Conside-rando a falta de ampliação de novos postos de trabalho nesses campos, houve um impacto signifi cativo na oferta de vagas de estágio.

Não observamos ao longo do tempo uma ampliação das áreas de está-gio, bem como alterações entre os professores que acompanham o estágio nos fi nais de semana, permanecendo praticamente os mesmos até hoje. Conforme sinalizado nos documentos sobre o Seminário de Estágio reali-zado na FSS/UERJ em 2006, uma característica desses campos é a falta de estrutura. Há um número reduzido de assistentes sociais nos campos, pou-cos professores oferecem experiências de estágio para os fi nais de semana e

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também falta de estrutura na Universidade no que se refere a transporte de alunos, salas para reuniões, infraestrutura para trabalho nos fi nais de semana nas unidades, ajuda de custo, como lanches, almoços, entre outros.

Desse modo, o investimento que passamos a fazer tendo em vista a pouca oferta de projetos de extensão na unidade foi o reforço dos projetos já existentes e a busca de parcerias com instituições externas, conforme mostra a tabela 2.

Nos anos de 2012 e 2013 conseguimos vagas em hospitais federais, pois consideramos que na saúde ampliam-se as experiências de assistentes sociais em serviços de emergência com atuação de profi ssionais nos fi nais de semana, em regime de plantão. Cabe destacar que a existência do Curso de Especialização em Serviço Social na Saúde (CESSS) na FSS/UERJ, que anualmente absorve assistentes sociais que trabalham na área, oportunizou um importante canal de aproximação com possíveis supervisores, tendo sido abertas vagas em algumas dessas instituições.

Considerando o fato de nos constituirmos como uma faculdade que ofe-rece curso noturno, cabe-nos primordialmente a organização de estágios de fi nal de semana em quantidade e qualidade adequadas às demandas existentes. A seguir, passamos a discutir os desafi os cotidianos da gestão de estágio na FSS/UERJ, envolvendo um balanço das atividades desenvolvidas no período de 2010 a 2013.

4 A gestão do estágio nos anos 2010 e a articulação com os espaços sócio- ocupacionais dos assistentes sociais: um balanço

Como demonstrado nos itens anteriores, com a implementação da Política Nacional de Estágio (ABEPSS, 2009), a unidade de ensino por meio de sua coordenação, enfrentou um período profícuo de revisão e atualização de sua política interna, na perspectiva de articular as bases que estruturam o processo de estágio.

Esse processo incluiu a criação da comissão de estágio com represen-tação de cada segmento (professores, supervisores e discentes), além de membros da própria coordenação. Dentre as tarefas programadas por esta comissão, foram estabelecidas como metas iniciais, a leitura, discussão e debate dos documentos institucionais que orientavam as atribuições previs-

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tas pelos alunos, professores, supervisores e a CEE. Em seguida, a comissão iniciou um trabalho de revisão dos instrumentos de avaliação da disciplina de estágio supervisionado e de campo, agregando o material já sistemati-zado pela FSS/UERJ (CALDEIRA; VASCONCELOS, 2000).

A partir dessa revisão documental, a CEE, com o intuito de recompor as bases para nova conformação da comissão de estágio (interrompida com a greve geral da UERJ em 2012) e socializar os resultados desse trabalho, elaborou e montou um material informativo para os supervisores, que con-tinha a PNE, as orientações gerais do estágio curricular, roteiros de planos de estágio e projeto de intervenção, bem como de relatórios de estágio. Esse material foi distribuído para todos os supervisores de campo da unidade durante os anos de 2012 e 2013.

A perspectiva esperada por essa ação era a de contribuir para o fortaleci-mento dos laços entre a FSS/UERJ e as instituições, por meio da informação sobre os processos que afetavam diretamente o estágio. A estratégia visava discutir os novos parâmetros apontados pela política e construírem em con-junto ações de balizamento e reorganização dos campos, problematizando as eventuais reações ou demandas por fl exibilizações, considerando, sobre-tudo, os avanços e a relevância da PNE na qualifi cação desses processos.

Dentre esses processos, destacamos a defi nição de carga horária de supervisão por assistente social (Resolução CFESS 533/2008) como um dos pontos mais polêmicos enfrentados pela CEE, pois, apesar de represen-tar um grande avanço acerca do debate sobre atribuições e competências profi ssionais e do caráter pedagógico, ético e político inscrito no processo de supervisão, identifi camos muitas outras questões que se colocavam em cena, impactos que difi cultavam a condução dos projetos existentes, e não repercutiam no aprimoramento das atividades, bem como resistências diver-sas dos campos.

A CEE se debruçou sobre essa questão, assumindo a necessidade de revisão dos campos, de alocação de alunos por profi ssional, avaliação e remanejamento de estagiários, entre outras ações e, em parceria com o CRESS, pôde revisitar diversos campos e reorganizar os planos de estágio dessas instituições.

O compromisso adotado pela CEE nesse contexto foi o de considerar as difi culdades institucionais para os rearranjos necessários, identifi cando

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e acompanhando as situações de forma muito próxima e cuidadosa, mas sem se eximir da defesa dos compromissos coletivos consagrados pela PNE, assim como pelas resoluções e campanhas do CFESS que tratam sobre está-gio supervisionado e formação profi ssional.

4.1 O processo de captação de vagas e os processos seletivos

O processo de trabalho de captação de vagas envolve a equipe da CEE por todo o semestre, inclusive no período de recesso acadêmico. Inclui desde a avaliação dos campos novos com visita institucional e defi nição do plano inicial de estágio proposto pela instituição; a abertura de convênio com a universidade, abrangendo setores específi cos da UERJ e da instituição pro-ponente; até a manutenção e/ou ampliação de vagas nos campos já avaliados previamente pelo professor e CEE.

O Cetreina é o setor da UERJ responsável pela normatização dos estágios externos por meio da celebração de convênios e termos de compromisso dos alunos, assegurando os direitos dos estagiários e deveres das instituições, segundo a legislação vigente (Lei nº 11.788 de 25/9/2008). Isso demanda o investimento da CEE na aproximação permanente no sentido de construir um processo de trabalho comum, o que nem sempre é possível em face das especifi cidades de cada setor. Especialmente a demora na efetivação dos convênios, em alguns casos com extensos processos burocráticos, traz difi -culdades para a concretização das parcerias buscadas junto aos assistentes sociais e para a inserção de estudantes nos campos em concomitância com o período letivo, conforme nossa política de estágio prevê.

As vagas consideradas regulares têm sido ofertadas em quantidade supe-rior às necessidades dos alunos em estágio. A CEE oferta uma média de 50 vagas regulares de estágio por semestre, com uma ocupação, pelos alunos da FSS/UERJ, de aproximadamente 30 vagas, contemplando a maioria das demandas de estágio nos períodos. Contudo, nem todas as vagas ofertadas são ocupadas, por variáveis relativas ao perfi l do corpo discente e às suas características socioeconômicas.

“Espero conseguir um estágio que preferencialmente tenha bolsa em razão do valor das passagens, alimentação, etc. ...” (aluno quinto período)

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“Quanto à quantidade de vagas disponíveis, tanto para o fi nal de semana quanto nos dias de semana, minhas expectativas são quanto às áreas e vagas disponíveis [...]. Em caso de conseguir estágio remunerado na área [...] posso pensar na possibilidade de deixar o emprego” (aluno quinto período)

“Gostaria muito que o estágio fosse remunerado, pois talvez não consiga conci-liar meu estágio interno complementar com o curricular” (aluno quinto período)

As estratégias metodológicas de divulgação dos processos seletivos têm sido alvo de avaliação constante por parte da equipe da CEE, no sentido de identifi car os limites e possibilidades do formato atual. Reconhecemos que há algumas difi culdades no controle mais efetivo acerca da ocupação das vagas, de modo a não deixarmos vagas ociosas e paradoxalmente a existência de alunos sem estágio.

As vagas são captadas por meio de solicitações diretas aos supervisores, por meio eletrônico e telefônico, quando é construída uma planilha de con-trole e monitoramento. São socializadas pela mala direta para os alunos e cartazes fi xados em mural da CEE.

Há a realização também de visitas institucionais para abertura de campos novos com a sistematização de relatório de avaliação das condições éticas e técnicas, tanto com relação à postura profi ssional como por parte da insti-tuição que precisa oferecer as condições necessárias para prestação de um serviço de qualidade profi ssional, conforme preconizado pelo Código de Ética Profi ssional do Serviço Social de 1993.

Os processos seletivos são variados e seguem, em sua maioria, padrão específi co e estabelecido pela organização institucional. O que observamos no período foi a importância e necessidade de a CEE debater mais pro-fundamente sobre os processos seletivos e contribuir para uma vinculação mais orgânica entre as demandas de estágio da instituição e da unidade de ensino. Identifi camos que algumas instituições procuram alunos em período de estágio mais avançados, em virtude de maior experiência, e costumam exigir conteúdos por vezes incompatíveis com os períodos dos mesmos, especialmente o aluno de estágio I.

A questão do calendário da universidade também implica um constante trabalho intra e extrainstitucional. Isso porque nem sempre há confl uência entre as demandas de início de estágio com a organização das instituições,

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haja vista as diferenças de datas entre o período letivo e o semestre. Essa rea-lidade exige uma aproximação muito intensa com os campos e supervisores, de modo a garantir a entrada dos alunos em estágio, sem comprometer a dinâmica institucional e a indissociabilidade entre a supervisão acadêmica e de campo.

4.2 Sobre o estágio não-obrigatório

A CEE tem, ao longo dos anos, identifi cado a necessidade de maior entrosa-mento e debate com o Cetreina acerca do estabelecido na legislação federal e nos parâmetros defi nidos pela ABEPSS, especialmente em relação ao está-gio não obrigatório.

Para o Serviço Social, o estágio não obrigatório confi gura um terreno denso e tenso entre as demandas do mercado, condições socioeconômicas dos alunos e as exigências pedagógicas. Caracteriza-se por um tema que merece profundo debate, sobretudo no contexto da precarização das condi-ções de trabalho, da substituição de mão de obra e do desconhecimento de seus resultados na formação profi ssional (ABEPSS, 2009, p. 27). A ABEPSS assume essa discussão e fomenta a premência das unidades de ensino incor-porarem em seus projetos pedagógicos o devido acompanhamento dessa modalidade de estágio.

Pois, se para a Lei nº 11.788 de 25/9/2008, o estágio não-obrigatório é defi nido como “aquele desenvolvido como atividade opcional, acrescida a carga horária regular e obrigatória”. Para a ABEPSS, o estágio não-obriga-tório também é defi nido como “um processo didático-pedagógico que se consubstancia pela indissociabilidade entre estágio e supervisão acadêmica e profi ssional (ABEPSS-CEDEPSS,1997, p. 62).

A CEE da FSS/UERJ vem tentando acompanhar e monitorar as situações de estágio curricular não-obrigatório juntamente com o Cetreina, buscando mapear o perfi l de alunos inseridos nessa modalidade de estágio, suas expec-tativas e o perfi l das instituições, com destaque para as ações desenvolvidas, se pertinentes ao currículo do Serviço Social e se são supervisionadas por assistentes sociais da instituição. Esse acompanhamento tem sido realizado na medida em que os alunos buscam a CEE para orientações e retirada de documentação. Em algumas situações, temos buscado transformar o estágio

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não obrigatório em curricular obrigatório, a partir do contato e da avaliação da CEE. Já o Cetreina faz um acompanhamento mais regular no momento de assinatura dos convênios e na renovação dos mesmos.

Em janeiro de 2013, por meio de mapeamento realizado pelo Cetreina, identifi camos duas instituições com seis alunos envolvidos. Os alunos pertenciam a períodos variados com a predominância do quarto e quinto períodos, ou seja, próximos ao período de estágio obrigatório e sem o pleno cumprimento das disciplinas consideradas básicas (Fundamentos do Ser-viço Social e Ética, que em nossa grade curricular encontram-se no quinto período). Identifi camos que os alunos em sua maioria ingressaram em está-gios externos sem bolsa e permaneciam no estágio não-obrigatório com conciliação de carga horária e preservação da bolsa.

A gestão atual da CEE avalia que é necessário realizar um debate na FSS/UERJ e demais órgãos da universidade que lidam e/ou geram con-vênios de estágio, na perspectiva de problematizar o lugar do estágio na formação profi ssional, os impasses diante das condições de vulnerabilidade dos alunos e as exigências mercadológicas dadas pela conjuntura atual.

É fundamental estabelecer uma sistemática nesse processo de acompanhamento que contemple não apenas o mapeamento e as orientações acadêmicas, mas, sobretudo, que seja prevista pelo projeto político-pedagógico da unidade, o que implica pensar nas dimensões edu-cativas, éticas, técnico-operacionais, teórico-metodológicas, e nos limites e desafi os do trabalho docente.

4.3 Os atores do processo e os espaços coletivos

Durante o período, com o intuito de maior aproximação com os diferentes atores do processo de estágio, optamos por criar algumas estratégias coletivas junto aos alunos inscritos no período anterior ao estágio; e realizar reuniões periódicas com professores da disciplina e com os supervisores.

Em relação ao contato com os discentes, a CEE preparou e acom-panhou os alunos da turma de quinto período para ingresso no estágio no semestre seguinte, a partir do levantamento do número de alunos aptos à realização do estágio e do conhecimento de suas demandas e expectativas a partir de Formulário de Consulta. Tais contatos sistemáticos permitiram

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o debate sobre o processo de estágio, sua relevância na formação, além de estabelecer um acompanhamento pedagógico continuado.

As turmas variavam em torno de 50 alunos no total com predominância do gênero feminino e moradores das áreas da baixada fl uminense e zona oeste. Cerca de 10% destes eram alunos trabalhadores (como já demons-trado) e 30% não estavam inseridos em outras atividades acadêmicas. Os alunos inseridos correspondiam a 70% e prevalecia a participação em proje-tos de iniciação científi ca e estágio interno complementar.

As expectativas dos alunos são diversas e repousam em sua maioria na articulação teórico-prática, na potencialidade do campo para a formação, na concepção de supervisão e na integração com a faculdade. As preocupações e dúvidas giram em torno da carga horária: mínimo para aprovação, como se dá a distribuição da carga horária no campo, se há acúmulo de carga horária para os semestres posteriores; entre outras.

É importante destacar que a carga horária prática é realizada conco-mitantemente ao acompanhamento da disciplina de Estágio e, portanto, durante todo o período letivo. O aluno pode exceder o quantitativo de carga horária de estágio, desde que devidamente acompanhado pelos supervisores (acadêmico e de campo) e previsto em plano de estágio.

As demandas por campos de estágio são inespecífi cas, mas identifi camos interesses mais dirigidos para os projetos de extensão coordenados por professo-res da FSS/UERJ e pelos campos próprios, considerando a proximidade física e pedagógica com a Faculdade, e para áreas temáticas ou políticas com maior inserção sócio-ocupacional do AS, tais como as áreas da saúde e assistência.

Atualmente (2013/2), as áreas de estágio supervisionado em que estão inseridos os alunos da FSS/UERJ estão caracterizadas conforme o disposto na Tabela 3 a seguir.

As reuniões com os professores apontaram, em sua maioria, a necessi-dade de aprofundamento de pontos centrais da PNE, tais como o estágio não-obrigatório, o formato das disciplinas de estágio e a organização de turmas, as ferramentas de avaliação, as estratégias de capacitação do super-visor, dentre outros. Como sugestão, foi estabelecida para a gestão seguinte, a fi xação de um calendário de reuniões periódicas com os supervisores aca-dêmicos, para discussão desses e outros pontos.

Em relação à articulação com os campos são relatadas difi culdades relacionadas à precarização do trabalho docente e à distância territorial

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entre os campos e a unidade de ensino, exigindo grandes deslocamentos sem o suporte regular do transporte institucional. Entretanto, diversas fer-ramentas e dispositivos têm sido criados pelos professores, tais como, aulas abertas, cursos de extensão em políticas setoriais específi cas, atividades pro-gramadas nos espaços sócio-ocupacionais, ofi cinas, entre outras.

Cabe aqui ressaltar que as estratégias de integração docente-assistencial têm sido extremamente valorizadas pelos segmentos envolvidos, quanto a sua potencialidade, e destacadas pelos sistemas de avaliação das disciplinas realizados pela FSS/UERJ em 2012 e 20133.

Como diretriz da política de estágio da FSS, as disciplinas de estágio são organizadas com até quinze alunos e de acordo com as áreas temáticas em que as instituições encontram-se atuando. Acreditamos que desse modo o

3 Referimo-nos aqui aos relatórios referentes aos Conselhos de Classe realizados nos anos de 2012 e 2013.

TABELA 3. Alunos inseridos, segundo áreas de de estágio supervisionado: FSS/UERJ, 2013/2

Áreas N. alunos

Educação 10

Assistência Social/sócio jurídico 13

Controle Social na Saúde 06

Saúde da Criança e da Mulher 07

Saúde Mental 05

Serviço Social e Política Urbana 10

Diversidade Sexual, Políticas e Direitos 05

Trabalho e Previdência/Saúde do Trabalhador 10

Direitos Humanos, Gênero e Etnia 04

Terceira Idade 11

Saúde Coletiva I 16

Saúde Coletiva II 15

Fonte: Dados da Coordenação de Extensão e Estágio da FSS − UERJ.

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professor pode realizar melhor acompanhamento das experiências práticas e desenvolver uma refl exão crítica a partir das mesmas. Além disso, essa forma de organização favorece a articulação com as áreas de estudo dos docentes, bem como entre ensino, pesquisa e extensão. Essa lógica deve ser incor-porada no planejamento da carga horária docente, que deverá incorporar as ações desenvolvidas junto aos supervisores no campo a fi m de refl etir a dinâmica real do trabalho do professor na disciplina de estágio.

Exemplifi ca-se pela experiência da UERJ, que revela a preocupação de faci-litar o aprofundamento do debate sobre as diferentes expressões da questão social; por isso, as disciplinas de estágio supervisionado estão divididas em grupos, por área temática, o que não signifi ca tomar uma das expressões da questão social de forma isolada ou fragmentada. Elas se caracterizam por ser interdepartamentais e determinam, a cada semestre, a participação propor-cional de professores de cada departamento a partir das demandas dos alunos e do mercado. Trata-se de uma estratégia político-administrativa adotada pela unidade de ensino para efetivação da articulação e transversalidade pedagó-gica (LEWGOY, 2010, p. 111).

Nas reuniões com os supervisores foram debatidos os desafi os e as expec-tativas do processo de supervisão, o envolvimento do supervisor no processo de formação do aluno e a relação entre os campos de estágio e a unidade de ensino. Destacaram a disponibilidade dos campos para essa vinculação mais orgânica, parecendo haver o reconhecimento da contribuição do processo de estágio e da aproximação com a faculdade como importante recurso de atua-lização e construção coletiva de estratégias de enfrentamentos institucionais.

A supervisão parece se reconfi gurar, portanto, enquanto elemento inte-grante do processo de trabalho e não como comumente se coloca um “sobre trabalho”. Superar os traços voluntaristas, o entendimento de que se trata de mais uma atribuição dentre muitas outras ou que sua realização pres-cinda de um planejamento e sistemática, constitui um desafi o tanto para os supervisores quanto para as unidades de ensino. A oportunidade única do assistente social de garantir em seu espaço de trabalho atividades de estágio em um viés pedagógico cria um ambiente propício para releitura de reali-dade e, por conseguinte, de possibilidades.

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Por outro lado, as unidades de ensino precisam considerar as inúmeras e complexas difi culdades institucionais e não realizar requisições acadêmicas despropositadas e alheias à realidade de trabalho do profi ssional. Há que se considerar que o contexto atual das condições de trabalho, o agravamento das expressões da questão social e as demandas de mercado por uma forma-ção mais instrumental têm impacto deletério sobre os campos e o estágio propriamente dito (SANTOS e ABREU, 2011).

Sobretudo, os dilemas da formação profi ssional se apresentam também nas respostas possíveis encontradas pelos assistentes sociais no seu cotidiano de atuação e requerem investimentos acadêmicos mediados com a leitura da dinâmica do trabalho em seus diferentes contextos. Desse modo, a inter-locução da universidade com os espaços sócio-ocupacionais traz desafi os a serem coletivamente enfrentados, sendo o estágio uma excelente oportuni-dade para isso. Por meio dele, mas para além dele, há uma gama enorme de estratégias, como assessorias, ofi cinas sistemáticas, projetos conjuntos, cursos que podem dar sentido às nossas intenções de uma formação que não dissocie a teoria e a prática.

Conclusão

Ao longo do tempo, a experiência de estágio na formação profi ssional da Faculdade de Serviço Social da UERJ tem demonstrado ser este um campo de intensos dilemas e proposições. O envolvimento com o estágio seja na condição de professor da disciplina, supervisor de campo, estagiário, gestor ou funcionário nos remete a um conjunto de relações imbricadas, de tal modo que cada uma dessas posições tem implicações importantes sobre as outras.

Por esse motivo, a gestão desse eixo da formação encontra o desafi o de articular sujeitos que, embora tão relacionados, se movem em seus contextos específi cos e sofrem incidências de seus campos de atuação que precisam constantemente ser analisadas, requerendo respostas para as diversas situ-ações que se apresentam. Logo, as escolhas e defi nições a serem tomadas precisam ser estabelecidas pelos coletivos variados que compõem a expe-riência de estágio.

Em que pesem as preocupações nos debates da profi ssão relativas à relação teoria-prática, como expresso nas Diretrizes Curriculares, o tema

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permanece restrito ao âmbito do conjunto de disciplinas de estágio, não adquirindo o patamar de transversalidade na formação profi ssional.

Por outro lado, a interlocução entre os sujeitos é outro desafi o, na direção da construção de um projeto formativo, via estágio supervisionado, que vise à superação das dicotomias na produção do conhecimento/intervenção pro-fi ssional. Acreditamos que a extensão e o investimento nos campos próprios de estágio (serviços vinculados à universidade ou organizados a partir dos projetos de extensão dos docentes), com a ampliação de assistentes sociais nesses campos, constitua uma oportunidade de afi nar de forma mais orgâ-nica nossas intenções e práticas.

O artigo problematizou, dentre outros aspectos, a questão do estágio de fi nal de semana que tem confi gurado muitos dilemas para a gestão. Em rela-ção à captação dessas vagas, vários fatores devem ser observados, contudo, destacamos que as maiores difi culdades repousam, sobretudo, nas condi-ções objetivas e subjetivas para o exercício profi ssional, particularmente no campo da saúde (potencial área para estágio de fi nal de semana). Tal evidên-cia reforça a necessidade da Faculdade de Serviço Social e da Coordenação de Estágio e Extensão construírem estratégias em conjunto, abrindo novos projetos de estágio coordenados por assistentes sociais diretamente lotados na coordenação e por professores extensionistas que articulem as atividades de extensão ao estágio.

Ao fi nal, a conclusão desse artigo nos deixa uma sensação de êxito quanto aos objetivos propostos, pois resgata uma história relevante e de complexo registro. Os desafi os são muitos, os dilemas recorrentes, mas as possibilida-des nos retroalimentam.

Referências

ABESS/CEDEPSS. Diretrizes gerais para o curso de Serviço Social. Cadernos ABESS. nº 7. São Paulo: Cortez, p. 58, 1997.ABEPSS. Política Nacional de Estágio da Associação Brasileira de Ensino e Pes-quisa em Serviço Social. Brasília, 2009.CALDEIRA, Alany; VASCONCELOS, Ana Maria de. Política de Estágio da FSS/UERJ: Rio de Janeiro: FSS/UERJ, 1999-2000.

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Trajetória da Faculdade de Serviço Social da UERJ: 70 anos de história

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