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A Grande Lacuna

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Autor: Richard Stearns Editora: Garimpo Editorial O Evangelho significa muito mais do que a salvação de indivíduos. Significa uma revolução social. Talvez aí resida a grande lacuna do meu e do seu evangelho. http://is.gd/fW9p0N

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Page 1: A Grande Lacuna

A GRANDE LACUNAA o m i s s ã o q u e c o m p r o m e t e a m i s s ã o

Richard Stearns

São Paulo

Tradução de Fabiano Medeiros

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Page 3: A Grande Lacuna

Dedicatória ............................................................................................ 13

Agradecimentos .................................................................................... 15

Prefácio ................................................................................................. 19

Apresentação ........................................................................................ 21

Prólogo .................................................................................................. 27

P R I M E I R A PA R T EA grande lacuna do meu evangelho — e talvez do seu

C A P Í T U L O 1: Uma grande lacuna no todo.......................................... 35

C A P Í T U L O 2: Um covarde para Deus .................................................. 45

C A P Í T U L O 3: Falta-lhe uma coisa ......................................................... 57

S E G U N D A PA R T EA lacuna cresce

C A P Í T U L O 4: Os imensos pilares da compaixão e da justiça ........... 77

C A P Í T U L O 5: Os três maiores mandamentos ...................................... 89

C A P Í T U L O 6: Uma grande lacuna em mim ......................................... 99

C A P Í T U L O 7: A vara em sua mão ....................................................... 115

T E R C E I R A PA R T EUma grande lacuna no mundo

C A P Í T U L O 8: O maior desafio do novo milênio ............................... 125

C A P Í T U L O 9: Cem aviões a jato em colisão ....................................... 135

C A P Í T U L O 10: O que há de errado com esse cenário? ..................... 143

C A P Í T U L O 11: Preso em palpos de aranha ....................................... 155

C A P Í T U L O 12: Os cavaleiros do Apocalipse ..................................... 163

C A P Í T U L O 13: Aranhas, aranhas e mais aranhas ........................... 183

C A P Í T U L O 14: Finalmente, as Boas Notícias .................................... 193

SUMÁRIO

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Q U A R T A PA R T EUma grande lacuna na igreja

C A P Í T U L O 15: Um conto de duas igrejas ........................................... 203

C A P Í T U L O 16: A Grande Omissão ..................................................... 213

C A P Í T U L O 17: Alheios à maior crise humanitária

de todos os tempos .................................................... 221

C A P Í T U L O 18: Fazendo morrer o sonho americano......................... 235

C A P Í T U L O 19: Dois por cento de dois por cento .............................. 243

C A P Í T U L O 20: Uma carta à igreja dos Estados Unidos ................... 255

C A P Í T U L O 21: Por que já não somos tão populares ......................... 261

C A P Í T U L O 22: Um conto de duas igrejas reais ................................. 267

Q U I N T A PA R T EPreenchendo a grande lacuna

C A P Í T U L O 23: O que você vai fazer a respeito? ................................ 279

C A P Í T U L O 24: Quantos pães você tem? ............................................ 287

C A P Í T U L O 25: Tempo, talento e tesouro ............................................ 295

C A P Í T U L O 26: Um monte de sementes de mostarda ........................ 313

Notas ................................................................................................. 319

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PREFÁCIO

LER AS HISTÓRIAS e os relatos de Richard Stearns me fez lembrar o período emque fui presidente da Visão Mundial no Brasil, os muitos lugares em que andeipor esse país afora conhecendo pessoas e suas experiências, e os projetos dedesenvolvimento sustentável desenvolvidos pela organização. Uma lembrançamarcante é a de um grupo no Centro-Oeste que, com apoio da Visão Mundial,organizou uma cooperativa agrícola. As pessoas desse grupo haviam sido resga-tadas do trabalho escravo e estavam reconstruindo a vida com dignidade, solida-riedade e esperança.

A lacuna no Evangelho percebida por Stearns — o Reino de Deus que deveriaser realidade aqui e agora para pobres, enfermos, enlutados, crianças, viúvas,órfãos, estrangeiros — é a perda da perspectiva de que somos iguais. A igualdadeé uma palavra-chave para fé cristã; pressupõe responsabilidade mútua entre oscristãos, transformando a comunidade cristã num relacionamento tal que todostrabalhem para o bem de todos. A ideia presente nesse conceito e no livro deRichard Stearns é a de que, na medida em que nos vemos como iguais, entende-mos que a dignidade usufruída por um deve ser usufruída por todos, o que, pordefinição, constrange-nos à solidariedade.

Com o crescimento da solidariedade, nós nos damos conta de nossa responsa-bilidade para com todo segmento da humanidade que pudermos alcançar. Issoacontece porque, gradativamente, percebemos a imagem de Deus em todo serhumano e, assim, percebemos que nossa responsabilidade para com o próximotem a mesma dimensão de nossa responsabilidade para com os irmãos. Isso tornaa pregação do Evangelho uma demonstração de amor sem discriminação. Maisdo que um discurso, o Evangelho é demonstração de um amor eterno pelo serhumano a ponto de resgatá-lo da pobreza, da exclusão, da escravidão, da injusti-ça, não importando o preço.

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Assim pensa a Visão Mundial, assim pensamos nós. A Igreja deve abrir oReino de Deus para o mundo e deve mudar o mundo com o Reino de Deus. Agrande lacuna é um desafio urgente a nos envolvermos, a lutarmos pelo bem-estardas crianças e de suas famílias; queremos ver meninos e meninas protagonistasdas próprias histórias. É um incentivo a trabalharmos por estruturas e sistemastransformados que possibilitem acesso a oportunidades e direitos à terra, ao tra-balho e à renda, à moradia, à saúde e à educação. Quanto mais nos envolvermos,mais promoveremos justiça, mais transformaremos a realidade e a vida de quemprecisa de plenitude e abundância.

Lembre-se: Jesus de Nazaré é a raiz, é o broto da raiz de Jessé. Ele é o Senhor dacasa de Davi e veio para livrar o oprimido das mãos do opressor.

ARIOVALDO RAMOS

Filósofo, teólogo e escritor

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Mas o anjo lhes disse: “Não tenham medo. Estou lhes trazendo

boas-novas de grande alegria, que são para todo o povo.”

LUCAS 2.10

PRÓLOGO

RAKAI, UGANDA, agosto de 1998

O nome do garoto era Richard, o mesmo que o meu. Sentei no interior de suaprecária cabana de sapé, escutando sua história, narrada em meio às lágrimas deum órfão cujos pais haviam morrido de aids. Aos 13 anos, Richard estava tentan-do criar, por conta própria, seus dois irmãos mais novos naquela pequena chou-pana sem água corrente, sem eletricidade e mesmo sem camas para dormirem.Não havia nenhum adulto na vida deles — ninguém que se importasse com eles,os alimentasse, os amasse ou lhes ensinasse a se tornar homens. Tampouco haviaalguém para abraçá-los ou para lhes cobrir na cama durante a noite. Sem conside-rar os irmãos, Richard estava sozinho, como nenhuma criança deveria estar. Ten-to imaginar meus filhos abandonados nesse tipo de privação, tendo de se sustentarpor conta própria, sem pais para protegê-los — mas está aí algo que não consigovisualizar.

Eu não queria estar lá. Eu não tinha de estar lá, tão distante de minha zona deconforto — não naquele lugar em que crianças órfãs vivem sozinhas em seu tor-mento. Ali, a pobreza, as doenças e a sujeira tinham rosto, com olhos que de novose voltavam para nós, fitando-nos fixamente, e eu tinha de ver, cheirar e tocaro sofrimento dos pobres. Aquele distrito em especial, Rakai, é conhecido como omarco zero da pandemia da aids em Uganda.

1 Ali, o vírus mortal havia ceifado

suas vítimas na escuridão, durante décadas, sempre à espreita para atacar sorra-teiramente. O suor me escorria aos poucos pelo rosto, assentado ali, meio sem

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jeito, com Richard e seus irmãos, enquanto uma equipe de filmagem captava cadalágrima — minha e deles.

Mil vezes viver na proteção da minha bolha, aquela que, até aquele momento,envolvia com segurança minha vida, minha família e minha carreira. Ela conse-guia deixar de fora coisas difíceis como essa, isolando-me de qualquer coisa quefosse muito indigesta ou desconcertante. Quando essas coisas invadiam o meumundo, coisa rara, era possível trocar de canal, virar a página do jornal, fazer umcheque e manter os pobres distantes o bastante para garantir a minha segurança.Mas não em Rakai. Lá “coisas como essa” tinham rosto e nome — até o mesmoque o meu, Richard.

Menos de sessenta dias antes eu era o diretor-executivo da Lenox, a maisavançada indústria de utensílios de mesa dos Estados Unidos, produzindo evendendo artigos de luxo para pessoas com condições de adquiri-los. Eu viviacom minha mulher e cinco filhos em uma casa de dez dormitórios em umterreno de 10 hectares

2 nos arredores da Filadélfia. Eu ia trabalhar de Jaguar

todos os dias, e minhas viagens de negócios me levavam a lugares como Paris,Tóquio, Londres e Florença. Eu voava de primeira classe e me hospedava nosmelhores hotéis. Era respeitado em minha comunidade, frequentava uma igre-ja de classe média-alta de excelente reputação e fazia parte do conselho daescola cristã em que meus filhos estudavam. Eu era um dos “caras legais” —seria até possível dizer um “garoto-propaganda” da vida cristã bem-sucedi-da. Nunca tinha ouvido falar de Rakai, o lugar onde minha bolha estouraria.Mas, em apenas sessenta dias, Deus virou minha vida de ponta-cabeça, e elajamais seria a mesma.

De um modo totalmente inesperado, oito meses depois, fui contatado pelaVisão Mundial, a organização cristã de desenvolvimento e assistência social,durante uma busca por um novo presidente. Por que eu? Não foi algo que tivesseprocurado para mim. Por sinal, seria possível dizer que eu estava muito ocupadocom meus próprios interesses quando o telefone tocou aquele dia. Mas aquelachamada telefônica fora planejada havia 24 anos. Em 1974, aos 23 anos de idade,no alojamento do meu curso de pós-graduação, ajoelhei-me ao lado da cama edediquei a vida a Cristo. Não estamos falando aqui de nenhuma decisão semimportância para mim, e só aconteceu depois de meses de leitura, de estudo, deconversas com amigos e do importante testemunho de Renée, a moça que maistarde viria a ser minha mulher. Embora na época eu soubesse muito pouco sobreas implicações daquela decisão, de uma coisa eu sabia: nada seria igual outra

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vez, porque eu tinha feito uma promessa de seguir a Cristo — não importando oque acontecesse.

O homem que não compraria porcelana...

Vários meses depois de me converter, fiquei noivo de Renée. Ao planejarmos nossocasamento e nossa vida juntos, ela sugeriu que fôssemos a uma loja de departamen-tos para cadastrar nossa lista de utensílios de porcelana, cristal e prata. Minharesposta cheia de justiça própria mostrava de que forma minha fé recém-descobertaestava sendo integrada à minha vida: “Enquanto houver crianças morrendo defome no mundo, não vamos ter porcelanas de primeira, artigos de cristal, nembaixela de prata.” Talvez você consiga enxergar o senso de ironia de Deus quando,mais ou menos vinte anos depois, tornei-me presidente da empresa americananúmero 1 em utensílios de mesa. Assim, quando atendi àquela chamada telefônicada Visão Mundial, em janeiro de 1998, eu sabia que Deus estava do outro lado dalinha. Era a voz dele que eu ouvia, não da pessoa que me estava recrutando:

Rich, você se lembra daquele homem cheio de ideais em 1974, tão apaixo-

nado pela causa das crianças famintas do mundo que até se recusava a

fazer uma lista de casamento em uma loja de departamentos? Dê uma boa

olhada em si mesmo agora. Você percebe o que se tornou? Mas Rich, se você

ainda se importa com aquelas crianças, tenho um trabalho que quero que

você execute.

Em minhas orações ao longo das semanas anteriores à minha nomeação comopresidente da Visão Mundial, implorei que Deus enviasse “outra pessoa em meulugar”, muito à semelhança do que Moisés havia feito. Sem dúvida alguma, trata-va-se de um erro. Eu não era uma madre Teresa. Lembro-me de orar pedindo queDeus me enviasse a qualquer outro lugar, “mas, por favor, Deus, não aos pobres— não à dor e à alienação que resultam da pobreza e das enfermidades; não lá”.Não era lá que eu queria estar.

Contudo, lá fui eu, o novo presidente da Visão Mundial, enviado por umaequipe bem informada para receber um “batismo de fogo” em meu novo chama-do, com uma equipe de filmagem para documentar cada momento.

Bob Pierce, fundador da Visão Mundial, orou certa vez: “Que o meu coração secomova pelas coisas que comovem o coração de Deus.” Mas quem realmente quer se

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deixar comover? Será isso algo que devemos pedir a Deus? Não oramos justamentepara que Deus não entristeça nosso coração? Mas quando examino a vida de Jesus,percebo que ele era, como descreveu Isaías, “um homem de dores e experimentadono sofrimento” (Is 53.3). O coração de Jesus sempre se movia de compaixão quandoencontrava um coxo, um enfermo, uma viúva e um órfão. Tento imaginar o coraçãopartido de Deus quando hoje lança seu olhar sobre o mundo dilacerado pelo qualmorreu. Certamente, a história de Richard parte seu coração.

Duas pilhas de pedra bruta, bem do lado de fora da porta, marcam as sepulturasdos pais de Richard. Fico transtornado de pensar que todos os dias ele tem depassar por elas. Ele e os irmãos devem ter assistido primeiro ao pai e depois à mãemorrerem de modo lento e horroroso. Não sei até se não eram os meninos que osalimentavam e davam banho neles em seus últimos dias. Como quer que tenhasido, Richard, mesmo sendo uma criança, é agora o chefe da casa.

Criança chefe de família... palavras que nunca deveriam vir associadas dessamaneira. Luto com esforço por entender essa nova “expressão”, uma expressãoque se refere não somente à difícil situação de Richard, mas a de outras dezenasde milhares (até mesmo milhões) de crianças. Recebi informações de que há 60 milórfãos somente em Rakai, 12 milhões na África Subsaariana.

3 Como isso pode ser

verdade? Mesmo sem graça, perguntei a Richard o que ele espera ser quandocrescer, uma pergunta ridícula para uma criançaque perdeu a infância. “Médico”, disse ele, “assimposso ajudar pessoas que têm a doença.”

— Você tem uma Bíblia? — perguntei.Ele correu para o outro quarto e retornou com seu

livro estimado com páginas de beira dourada.— Você sabe ler? — insisti.— Gosto muito de ler o livro de João, porque diz

que Jesus ama as crianças.Aquilo me arrasou, e minhas lágrimas começaram a rolar. “Perdoa-me, Se-

nhor, perdoa-me. Eu não sabia.” Mas eu sabia. Eu sabia sobre a pobreza e osofrimento no mundo. Eu tinha consciência de que havia crianças morrendodiariamente de fome e de falta de água potável. Eu também sabia da aids e dosórfãos que ela deixava para trás, mas tinha mantido essas coisas fora de minhabolha de isolamento e decidido olhar em outra direção.

Mas aquele viria a ser o momento que me definiria pelo resto dos meus dias.Era para Rakai que Deus queria que eu me voltasse. A tristeza que senti aquele dia

“Que o meu coração

se comova pelas coisas

que comovem o

coração de Deus.”

ORAÇÃO DE BOB PIERCE,FUNDADOR DA VISÃO MUNDIAL

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foi substituída por arrependimento. Apesar do que a Bíblia me havia declaradode maneira tão inequívoca, eu havia fechado os olhos para os pobres. Agora meucoração estava tomado de ira, primeiro em relação a mim mesmo; depois, emrelação ao mundo. Por que a história de Richard não estava sendo contada? Namídia eram pródigos os dramas das celebridades, as atualizações do mercado deações e os interrogatórios do processo de impeachment de Bill Clinton. Mas ondeestavam as manchetes e as capas de revista que punham a África em destaque?Doze milhões de órfãos, e nem mesmo um deles notado?

Mas o que me revoltava ainda mais era a seguinte pergunta: onde estava aigreja? Isso mesmo, onde estavam os seguidores de Jesus Cristo em meio talvez àmaior crise humanitária de nossos tempos? Com certeza a igreja devia ter dadoimportância a esses “órfãos e [...] viúvas em suas dificuldades” (cf. Tg 1.27). Ospúlpitos por todo o mundo não deveriam estar inflamados de exortações paraque as pessoas acorressem às linhas de frente da compaixão? Não devem hojeestar em chamas dessa mesma maneira? As igrejas não deveriam estar fazendotrabalhos de alcance comunitário com o objetivo de cuidar de crianças em tama-nho desespero e necessidade? Como pode a enorme tragédia desses órfãos sersufocada por cânticos de adoração nas centenas de milhares de igrejas por todoo nosso país? Sentando em uma cabana em Rakai, lembro do pensamento queinvadiu minha mente: “Como pode ser que descuidemos disso de forma tãotrágica, quando até mesmo estrelas do rock e astros de Hollywood parecementender tão bem a situação e prestar tanta atenção?”

Dez anos mais tarde, eu descubro. Tem faltado algo fundamental em nossacompreensão do Evangelho.

A palavra “evangelho” significa, literalmente, “boa notícia”. Jesus declarou queveio “pregar boas novas aos pobres” (Lc 4.18). Mas que boa notícia, que evangelho aigreja tinha para Richard e para seus irmãos em Rakai? Que “boas novas” o povode Deus trouxe para os 3 bilhões de pobres do mundo?

4 Que “evangelho” foi visto

na África pelos 12 milhões de órfãos da aids?5 E aqui uma pergunta para você: “Que

evangelho a maioria de nós tem abraçado no século 21?”A resposta acha-se no título deste livro: um evangelho com uma grande lacuna.

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