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A Historia do Integralismo e de Plínio Salgado (jornalista; mov. integralista; rev. 1938; cand. pres. Rep. 1955; dep. fed. PR 1959-1963; dep. fed. SP 1963-1974.) Plínio Salgado nasceu em São Bento do Sapucaí (SP) no dia 22 de janeiro de 1895, filho de Francisco das Chagas Esteves Salgado e de Ana Francisca Rennó Cortez, oriundo de uma família católica de raízes políticas conservadoras. Seu pai, farmacêutico de profissão, foi coronel da Guarda Nacional, chefe político de São Bento desde o início da República e, profundo admirador de Floriano Peixoto, cultivou o sentimento nacionalista em seus filhos. Sua mãe foi professora da Escola Normal de sua cidade. Seu avô paterno, Manuel Esteves da Costa, de origem portuguesa e formação antiliberal, emigrou para o Brasil por razões políticas após estudar humanidades em Coimbra. Seu avô materno, Antônio Leite Cortez, nascido na Espanha, foi professor de letras clássicas e político do Partido Conservador do Império. No Brasil, os dois ligaram-se por casamento a tradicionais famílias paulistas. Mariana Salgado César, sua avó paterna, pertencia ao tronco quatrocentão dos Cerqueira César. Sua avó materna, Matilde Sofia Rennó, era descendente de Pero Dias, um dos fundadores da cidade de São Paulo. Após aprender as primeiras letras com sua mãe, Plínio Salgado iniciou o secundário no Externato São José, em sua cidade natal. Primogênito da família, foi obrigado a interromper os estudos em 1911, com a morte de seu pai, quando cursava humanidades no Ginásio Diocesano de Pouso Alegre (MG). Ainda em 1911 retornou ao seu estado, estabelecendo-se na cidade de São Paulo, onde permaneceu por dois anos, vivendo com escassos recursos e prosseguindo sua formação intelectual como autodidata. Datam dessa época suas primeiras leituras de filosofia, pedagogia e psicologia. Aos 17 anos, segundo suas próprias palavras, sentiu-se "fascinado pelo materialismo histórico ao ler as obras de Gustave Le Bon, Ludwig Büchner, Ernst Haeckel e Lamarck". Em 1913 regressou a São Bento, tornando-se mestre-escola e trabalhando ocasionalmente como agrimensor. Em 1916, juntamente com Joaquim Cortez Rennó Pereira, seu futuro cunhado, fundou o semanário Correio de São NÚCLEOS INTEGRALISTAS DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO Visite nosso portal: www.integralismorio.org [email protected] A HISTÓRIA DO INTEGRALISMO

A História do Integralismo e de Plínio Salgado

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A Historia do Integralismo e de Plínio Salgado (jornalista; mov. integralista; rev. 1938; cand. pr es. Rep. 1955; dep. fed. PR 1959-1963; dep. fed. SP 1963-1974.) Plínio Salgado nasceu em São Bento do Sapucaí (SP) no dia 22 de janeiro de 1895, filho de Francisco das Chagas Esteves Salg ado e de Ana Francisca Rennó Cortez, oriundo de uma família católica de ra ízes políticas conservadoras. Seu pai, farmacêutico de profissão, foi coronel da Guarda Nacional, chefe político de São Bento desde o início da República e , profundo admirador de Floriano Peixoto, cultivou o sentimento nacional ista em seus filhos. Sua mãe foi professora da Escola Normal de sua cida de. Seu avô paterno, Manuel Esteves da Costa, de origem portuguesa e for mação antiliberal, emigrou para o Brasil por razões políticas após est udar humanidades em Coimbra. Seu avô materno, Antônio Leite Cortez, nas cido na Espanha, foi professor de letras clássicas e político do Partido Conservador do Império. No Brasil, os dois ligaram-se por casament o a tradicionais famílias paulistas. Mariana Salgado César, sua avó paterna, pertencia ao tronco quatrocentão dos Cerqueira César. Sua avó ma terna, Matilde Sofia Rennó, era descendente de Pero Dias, um dos fundado res da cidade de São Paulo. Após aprender as primeiras letras com sua mãe, Plín io Salgado iniciou o secundário no Externato São José, em sua cidade nat al. Primogênito da família, foi obrigado a interromper os estudos em 1 911, com a morte de seu pai, quando cursava humanidades no Ginásio Dioc esano de Pouso Alegre (MG). Ainda em 1911 retornou ao seu estado, estabel ecendo-se na cidade de São Paulo, onde permaneceu por dois anos, vivendo c om escassos recursos e prosseguindo sua formação intelectual como autodida ta. Datam dessa época suas primeiras leituras de filosofia, pedagogia e p sicologia. Aos 17 anos, segundo suas próprias palavras, sentiu-se "fa scinado pelo materialismo histórico ao ler as obras de Gustave L e Bon, Ludwig Büchner, Ernst Haeckel e Lamarck". Em 1913 regressou a São Bento, tornando-se mestre-e scola e trabalhando ocasionalmente como agrimensor. Em 1916, juntamente com Joaquim Cortez Rennó Pereira, seu futuro cunhado, fundou o semanár io Correio de São

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Bento. Além de suas funções como professor e jornal ista, dedicou-se às atividades culturais da cidade, tendo sido diretor de um grupo de teatro e. de um clube de futebol, supervisor do Tiro de Gu erra e membro do Gabinete Português de Leitura. Em um de seus primeiros discursos, pronunciado em 1 916 por ocasião das comemorações do aniversário da Independência, exalt ou as virtudes do nacionalismo e dos povos guerreiros, afirmando: "Br asileiros"! Precisamos amar nossa pátria até o delírio, e entre as duas pa lavras de Dom Pedro (Independência ou morte!) optar sempre pela indepen dência. Em seguida, após elogiar a Alemanha de Bismarck, declarou: "Ben ditos os povos que desaparecem lutando porque a guerra é forte e digna e os seus nomes não morrerão jamais." Suas crônicas no Correio de São Bento revelaram um escritor de talento, logo reconhecido por intelectuais como José Bento M onteiro Lobato, que tratou de publicá-las em sua Revista do Brasil. Alg umas foram também transcritas no Correio Paulistano. Nesse período, S algado dedicou-se ao aprofundamento de seus estudos de filosofia, intere ssando-se sobretudo pela obra de Herbert Spencer. Em 1918 iniciou suas atividades políticas, particip ando da fundação do Partido Municipalista - organizado por líderes de 1 6 cidades do vale do Paraíba em oposição ao Partido Republicano Paulista (PRP) -, e pronunciando diversas conferências em defesa das co munidades locais e da autonomia dos municípios. Nesse mesmo ano, todavia, quase morreu vítima da ep idemia de gripe espanhola que assolou o Brasil. Ainda em 1918, já restabelecido, casou-se com Maria Amália Pereira, enviuvando menos de um ano depois, quando sua prime ira e única filha contava com apenas 16 dias de nascida. Transtornado com a morte de sua mulher, voltou-se para a religião, adotando uma con cepção espiritualista do mundo através da leitura das obras do filósofo a nti-spenceriano Raimundo de Farias Brito e do pensador católico Jac kson de Figueiredo. Em 1919 publicou seus dois primeiros livros, Thabor, u ma coletânea de poemas líricos, sociais e religiosos, e A boa nova, uma co nferência sobre a vida de Jesus. Em 1920, durante a campanha do Partido Municipalist a para as eleições locais, Salgado foi preso após um tiroteio com a po lícia. Obtendo sua liberdade, mudou-se em seguida para São Paulo, onde , através de seu amigo, o jornalista Nuto Santana, conseguiu o empre go de suplente de revisor no Correio Paulistano, órgão oficial do PRP . Na literatura: o movimento modernista e a campanha nacionalista. Durante a década de 1920, Plínio Salgado dedicou-se essencialmente às atividades literárias, tornando-se um escritor de r enome. Sua atuação política foi praticamente inexpressiva ao longo de todo esse período, desenvolvendo-se sempre à margem de grupos oligárqu icos paulistas. Um ano depois de sua chegada a São Paulo, Salgado p assou a trabalhar na redação do Correio Paulistano, por solicitação de P aulo Menotti del Picchia, então redator-chefe do jornal e um dos pri ncipais divulgadores

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das novas tendências estéticas, por quem foi influe nciado a dedicar-se à prosa e a abandonar a poesia parnasiana. Em fevereiro de 1922, participou discretamente da S emana de Arte Moderna, tendo alguns poemas lidos no Teatro Municipal de Sã o Paulo por Ronald de Carvalho. Não aderiu de imediato, entretanto, ao mo vimento modernista, parecendo mesmo temer essa tendência ao escrever, n o final de 1922, que "as revoluções de arte moderna serão um perigo para os povos sem cultura, agirão como elemento dissolúvel, em vez de construt or, desorientarão completamente os 'novos' e corresponderão para o se nso estético das turbas a um movimento de anarquia e regresso." Os dois anos seguintes foram, segundo seu próprio d epoimento, um período de "experiência do estilo moderno". Assinou então d ezenas de crônicas e ensaios, que em 1927 seriam reunidos e publicados n o volume Discurso às estrelas. No final de 1924, ao lado de intelectuais como Cândido Mota Filho, ligou-se a uma facção dissidente do PRP que rompera com o presidente de São Paulo, Washington Luís. Demitiu-s e então do Correio Paulistano e passou a trabalhar no escritório do ad vogado e empresário Alfredo Egídio de Sousa Aranha, onde permaneceu por dois anos. Durante esse período, escreveu artigos sob o pseudônimo de Pinus no jornal O Estado de São Paulo. Em janeiro de 1926, publicou seu primeiro romance, O estrangeiro, no qual descreveu a saga de um imigrante e sua luta para en raizar-se em uma nova sociedade, a hipocrisia das elites paulistanas e a vitalidade e o nacionalismo latente de homens simples, como o cabo clo Zé Candinho e o mestre-escola Juvêncio. O romance foi muito bem aco lhido - sua primeira edição esgotou-se em 20 dias -, sendo considerado p or alguns críticos como a primeira obra de ficção moderna escrita no B rasil. Ao lado de Cassiano Ricardo, Cândido Mota Filho e M enotti del Picchia, foi um dos ideólogos da tendência nacionalista do m odernismo - denominada Movimento Verde-Amarelo - lançada ainda nesse ano e m oposição à corrente primitivista, que se afirmara a partir do Manifesto pau-brasil, de Oswald de Andrade. Com esse movimento, segundo Salgado, "i niciei a campanha nacionalista que já manifestava uma tendência const rutiva, depois da fase irreverente de destruição no campo literário e da a narquia intelectual em que nos lançáramos". O grupo tornou-se conhecido pr incipalmente pelos artigos publicados no Correio Paulistano e na Revis ta Novíssima, do Rio de Janeiro. Em 1927, apresentou sua primeira interpretação polí tica da sociedade brasileira em Literatura e política, uma coletânea de artigos publicados no Correio Paulistano. Seguindo muito de perto Albe rto Torres e Francisco Oliveira Viana, Plínio Salgado denunciou nesse livr o o caráter artificial do regime republicano, o "desequilíbrio entre a ide ologia liberal e a realidade do país" e os principais mecanismos do si stema democrático. O sufrágio universal, por exemplo, foi considerado co mo principal entrave à "organização das elites dirigentes, por processos s eletivos". Apontou também o que chamou os equívocos da oposição libera l, afirmando que "as oposições brasileiras inserem em seus programas que stões puramente formais... detêm-se no considerar as piores ou melh ores formas de democracia quando devemos cogitar da própria salvaç ão da democracia com o imprimir-lhe um sentido novo e consentâneo com as r ealidades históricas e sociais". Revelou-se também anticosmopolita e apolo gista de um Brasil agrário, defendendo a concepção de que o processo d e formação histórica

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do país foi determinado, em última instância, pelo conflito entre o litoral (reduto da influência européia) e o hinterl and (núcleo da verdadeira cultura brasileira). A luta de classes s eria apanágio das sociedades economicamente adiantadas, urbanas e ind ustriais da Europa e, conforme frisou, provocada "exclusivamente pelo mal urbano, a centralização industrial e a fascinação das cidades ". Considerou, entretanto, que o Brasil não poderia permanecer à m argem da situação mundial. O conflito entre o fascismo e o comunismo - sobre os quais se absteve de firmar um julgamento definitivo - já apa recia, em sua opinião, como o centro das disputas na Europa. “Ambos, profu ndamente materialistas, decretam a falência da democracia - ou triunfa o imperialismo econômico baseado no ‘nacionalismo’ no ‘fascismo’, na ‘ditadura militar’, ou vence o imperialismo polític o da III Internacional.” Julgando prematura a organização de novos partidos no Brasil, preconizou, em termos práticos imediatos, uma ação de soerguime nto espiritual e moral dentro das tradições do povo brasileiro, re ferindo-se ao verde- amarelismo como "a Grande Véspera de um definido pe nsamento nacional". Também em 1927, em co-autoria com Cassiano Ricardo e Menotti del Picchia, Salgado compôs O Curupira e o carão, livro-programa da "revolução da Anta", denominação que sugerira em homenagem ao mam ífero-totem dos tupis. Esse movimento, que o próprio Salgado definia como sendo a "ala esquerda do verdeamarelismo", seria revidado com sarcasmo pe la Revista de Antropofagia, lançada em 1928 por Oswald de Andrade . Com o grupo da Anta, Salgado dedicou-se ao estudo da cultura indígena nu ma tentativa de estabelecer as autênticas origens da nacionalidade, tendo inclusive aprendido a língua tupi com seu amigo Raul Bopp, pa ra estudar com maior profundidade os temas nativos. Nessa fase, produziu um conjunto de artigos de exaltação ao índio, voltados para os mit os da terra, da raça e do sangue, com a perspectiva de que "a nossa formaç ão espiritual brasileira tem por base a completa destruição dos í dolos europeus e o despertar das energias adormecidas no recesso do sa ngue e da alma do Brasil". As origens da AIB Em fevereiro de 1928, Plínio Salgado foi eleito dep utado estadual na legenda do PRP, tendo contado, assim como Menotti d e Picchia, com o apoio do presidente de São Paulo, Júlio Prestes. Particip ou de um movimento de intelectuais ligados ao PRP, conhecido como Ação Re novadora Nacional, que, entretanto, dissolveu-se sem alcançar o objeti vo desejado, porque, segundo Salgado, o próprio partido "desinteressava- se completamente pelas questões doutrinárias". Permanecendo vinculado ao PRP, na campanha para as eleições presidenciais de março de 1930 apoiou a candidatura de Júlio Pres tes, patrocinada oficialmente pelo presidente Washington Luís contra a candidatura oposicionista de Getúlio Vargas, lançada pela Alian ça Liberal. Logo após a vitória de Júlio Prestes, Salgado aceitou o convi te de Sousa Aranha para viajar ao exterior como preceptor de seu filho , Joaquim Carlos. Assim, em 26 de abril de 1930, antes de concluir se u mandato de deputado estadual, deixou o país rumo ao Oriente Médio e à E uropa. Iniciou a viagem visitando o Egito, a Palestina e a Turquia, e percorreu em seguida cerca de oito países da Europa. A passag em pela Itália representou, sem dúvida, um momento decisivo para s ua futura carreira

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política. Durante um mês, observou de perto a exper iência fascista, que o influenciou profundamente, e, após um encontro com o ditador italiano Benito Mussolini, escreveu a um amigo no Brasil diz endo que um "fogo sagrado" entrara em sua vida. "Volto para o Brasil, disposto a organizar as forças intelectuais esparsas, coordenaras dando- lhes uma direção, iniciando um apostolado." Sobre a aplicação do mode lo fascista ressalvou que "não é exatamente esse regime que precisamos aí , mas é coisa semelhante". Em Paris, concluiu o romance O esperad o - que seria publicado no Brasil em 1931 - e redigiu o esboço de um manifesto político com a intenção de lançá-lo imediatamente após sua c hegada ao Brasil. Alguns anos mais tarde, resumiria dessa forma suas impressões da viagem: "Vira a renovação política da Turquia, o fascismo n a Itália, lera uma vasta literatura comunista que circulava em Paris, estudara a social-democracia alemã, examinara a pequenina Bélgica, me ditara no Egito sobre o imperialismo inglês, observara a anarquia dos esp íritos na Espanha e a nova ordem em Portugal, e tudo me mostrava a morte de uma civilização, o advento de uma nova etapa humana." Após quase seis meses de viagem, em 4 de outubro de 1930 Salgado retornou ao Brasil, exatamente no dia seguinte à deflagração do movimento revolucionário contra o presidente Washington Luís. A rebelião fora articulada pelos dirigentes da Aliança Liberal o pe los "tenentes" - designação dada aos jovens oficiais do Exército que haviam liderado os movimentos revolucionários da década de 1920 -, nos meses que se seguiram às eleições presidenciais. Durante a insurreição, p ublicou dois artigos no Correio Paulistano em defesa do governo federal, criticando o que identificava como a orientação liberal-democrática do movimento. Após a deposição de Washington Luís em 24 de outubro, o Co rreio Paulistano foi depredado e vários de seus companheiros foram preso s. Salgado não foi, todavia, visado pelo interventor federal em São Pau lo, o tenente João Alberto Lins de Barros, permanecendo em liberdade. No período que se seguiu, adotou rapidamente uma at itude favorável ao Governo Provisório, chefiado por Vargas, ligando-se à Legião Revolucionária de São Paulo, fundada em meados de n ovembro por João Alberto, Miguel Costa e outros "tenentes", com o ob jetivo de imprimir um sentido próprio à revolução e combater o liberalism o ortodoxo da Constituição de 1891. Em fevereiro de 1931, em carta a Augusto Frederico Schmidt, Salgado comunicou sua intenção de criar um jornal com o apo io financeiro de Sousa Aranha. "É o que nesse momento se pode fazer. Nesse instante, eu me sinto imensamente desamparado de elementos materiais para qualquer ação política." No dia 3 de março seguinte, o Manifesto da Legião Revolucionária, redigido por Plínio Salgado com bas e no documento elaborado em Paris, foi divulgado pelo O Jornal, do Rio de Janeiro. Defendia, entre outras teses, o Estado centralizado e forte, ao lado de um Poder Judiciário autônomo e unificado e de um Le gislativo de técnicos e não de políticos; a nacionalização de alguns seto res da economia, a eleição indireta do presidente da República e a org anização das classes pelo Estado. O manifesto teve extraordinária reperc ussão entre os intelectuais, sendo considerado por Oliveira Viana um "documento de uma importância vital para a nação". Viajando em seguida para o Rio de Janeiro com o obj etivo de "formar uma corrente de opinião em defesa dos ideais do manifes to", Plínio Salgado

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conseguiu atrair um grupo de estudantes e intelectu ais integrado, entre outros, por Augusto Frederico Schmidt, José Madeira de Freitas, Raimundo Padilha, Francisco de San Tiago Dantas e Lourival F ontes, muitos dos quais se tornariam futuros dirigentes da Ação Integ ralista Brasileira (AIB). Paralelamente, tentou também estreitar suas relaçõe s com os círculos tenentistas do Rio, reunindo-se, no dia 31 de março , com o ministro da Justiça Osvaldo Aranha, em encontro marcado por Sou sa Aranha, primo do ministro. Em abril, compareceu ao Congresso das Leg iões, no qual foi discutido o plano de Aranha para a criação de uma o rganização de âmbito nacional de suporte ao Governo Provisório. A essa a ltura, a Legião Revolucionária de São Paulo desenvolvia intensa opo sição aos grupos tradicionais na política paulista, defrontando-se, porém, com sérias dificuldades para se firmar como movimento organiza do, a exemplo das demais legiões fundadas nos estados. Durante o cong resso, alguns delegados contestaram a participação de Salgado em virtude da oposição que fizera ao movimento armado de 1930, levando-o a se retirar sob protesto. Em junho de 1931, o jornal A Razão foi fundado em S ão Paulo por Sousa Aranha, tendo como principais redatores Salgado e S an Tiago Dantas. O jornal destacou-se por uma intensa campanha contra a convocação de uma assembléia constituinte, reivindicada pelas forças políticas tradicionais de São Paulo - principal centro de oposição ao novo regime - e também por grupos dirigentes dos estados de Minas e Rio Grande do Sul. No auge da campanha contra a constituinte, Salgado escreveu di versos artigos exaltando a liderança de Vargas e conclamando-o a s e tornar "o bom tutor desse povo infantil". Entretanto, subjacente ao apoio que prestava ao Gov erno Provisório, havia fundamentalmente o interesse em evitar um retorno a o regime político da Primeira República. Em suas "Notas políticas", redigidas diariamente a partir de julho, Plínio Salgado fixou os princípios doutrinários de sua futura ação política. Segundo Hélgio Trindade "alguns temas, ta is como o antiliberalisrno e o nacionalismo foram bem definid os, enquanto outros permaneceram num nível intuitivo e vago, como por e xemplo a organização do Estado". Assim, ao se referir ao "Estado integra l" num de seus artigos, Salgado definiu-o de forma abstrata como " o conjunto de forças materiais morais e intelectuais... impondo uma fina lidade humana aos povos". Adiantou porém que esse Estado seria corpor ativo, unipartidário e basicamente semelhante ao "Estado fascista", defend endo que "o que há de essencial na doutrina fascista é perfeitamente acei tável como concepção do Estado." No final de 1931, a Legião Cearense do Trabalho - m ovimento fundado pelo tenente Severino Sombra - havia conseguido em pouco s meses de existência uma extraordinária penetração, congregando cerca de 15 mil adeptos. Outra organização identificada como antiliberalismo, o mo vimento monarquista Ação Imperial Patrionovista, desenvolvia intenso tr abalho de arregimentação política. Em Minas, o jornalista Olb iano de Melo lançara as bases do Partido Nacional Sindicalista. Esses mo vimentos, todavia, não possuíam qualquer vínculo com o Governo Provisório, diferenciando-se, portanto, das legiões revolucionárias. No início de 1932, decepcionado com a indefinição i deológica do regime, Salgado idealizou a criação de um centro de estudos , visando congregar os

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intelectuais e líderes políticos identificados com as idéias fascistas. A primeira reunião para a organização da Sociedade de Estudos Políticos (SEP) foi realizada em fevereiro de 1932, na sede d o A Razão. Na ocasião foi discutida e aprovada a carta de princípios da S EP, sob a forma de nove postulados, redigidos por Salgado. O documento coincidia em linhas gerais com o manifesto legionário e propunha uma re organização da sociedade brasileira a partir do seguinte princípio : "Somos por um ideal de justiça humana, que realiza o máximo de aproveit amento dos meios de produção em benefício de todos, sem atentar contra o princípio da propriedade, ferido tanto pelo socialismo como pelo democratismo, nas expansões que aquele da à coletividade e este ao indivíduo." A SEP chegou a contar com 148 membros, a maioria de les antigos companheiros de Plínio Salgado da jovem guarda líte ro-perrepista, intelectuais do Rio com quem estabelecera contato a pós a Revolução de 1930, estudantes da Faculdade de Direito de São Pau lo e elementos da Ação Imperial Patrionovista, como por exemplo Sebastião Pagano. O ideário da organização foi também difundido em Minas e no Cear á por intermédio de Olbiano de Melo e do tenente Severino Sombra. Nessa mesma época, Salgado organizou uma tômbola em benefício da Cruz Vermelha , sendo processado por jogo fraudulento e apelidado pela imprensa de "Plín io Tômbola." Em 23 de maio de 1932, a sede do jornal A Razão foi incendiada por estudantes adeptos do movimento constitucionalista, durante as violentas manifestações que marcaram a visita de Osvaldo Aran ha, já ministro da Fazenda, a São Paulo. No dia seguinte, Salgado propôs em assembléia da SE P a criação de uma "nova comissão técnica, denominada Ação lntegralist a Brasileira", destinada a "transmitir ao povo em uma linguagem si mples os resultados dos estudos e as bases doutrinárias" da organização . Apesar da oposição de Cândido Mota Filho, que insistiu na manutenção d o caráter cultural da entidade, a proposta foi aprovada pela maioria. Em junho, o manifesto redigido por Salgado para divulgar publicamente a A ção Integralista Brasileira (AIB) foi aprovado em assembléia geral d a SEP, mas a publicação do documento foi adiada em virtude do im inente confronto armado entre São Paulo e o Governo Provisório. A eclosão da Revolução Constitucionalista, em 9 de julho de 1932, impediu também a realização de um encontro entre Salgado, O Ibiano de Melo e Severino Sombra, marcado para o dia seguinte, no Ri o. Segundo Olbiano de Melo, os três líderes estavam dispostos, na época, a unificar suas atividades em torno de "um mesmo e único partido". Diferentemente de Plínio Salgado, Severino Sombra aderiu à Revolução Constitucionalista, sendo preso e exilado em Portugal. Mais tarde as di vergências entre ambos se aprofundariam, levando-os ao rompimento político . O Manifesto de outubro e sua doutrina Em 7 de outubro de 1932, logo após a capitulação da s forças constitucionalistas, foi divulgado em São Paulo o d ocumento que ficou conhecido como Manifesto de outubro, que marcou a f undação oficial da AIB como movimento político independente. O integralismo de Plínio Salgado fundamentava-se em valores morais e

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religiosos e num ideal nacionalista sintetizado no próprio lema da AIB: "Deus, Pátria e Família". A frase inicial do manife sto, "Deus dirige os destinos dos povos", assinalou a adoção de um princ ípio de fé, que definia o progresso moral como a finalidade superio r do ser humano: "O homem deve praticar sobre a terra as virtudes que o elevam e o aperfeiçoam... o trabalho e o sacrifício em favor d a Família, da Pátria e da Sociedade". Hélgio Trindade considerou fundament al na doutrina integralista o ideal de uma sociedade harmoniosa. " Os homens e as classes", dizia o documento, "podem e devem viver e m harmonia. É possível ao mais modesto operário galgar uma elevad a posição financeira ou intelectual". Sob esses aspectos doutrinários, observou ainda Hél gio Trindade, "o integralismo aproxima-se muito mais dos fascismos c onservadores - o português (salazarismo), o espanhol (Falange Espanh ola), e o belga (rexismo), do que do espiritualismo vago do fascism o italiano ou do agnosticismo nacional-socialista alemão". A começar pelo próprio nome, identificava-se com o integralismo português - movi mento político nacionalista, católico e antiliberal, fundado em 19 14 por Antônio Sardinha -, que propôs instaurar em Portugal uma no va monarquia, até se declarar dissolvido em 1933. O nacionalismo que defendia possuia um sentido mais cultural e político do que econômico e, em termos culturais, Salgado op unha-se acima de tudo ao cosmopolitismo. Tal como se encontrava definido no Manifesto de outubro, sua proposta nacionalista "visava afirmar o valor do Brasil e de tudo o que é útil e belo no caráter e nos costumes brasileiros". Em termos políticos, considerou a organização jurídico -política do "Estado liberal" como o entrave fundamental à unidade nacio nal. Segundo enfatizou no manifesto, "o Brasil não pode realizar a união í ntima e perfeita de seus filhos, enquanto existirem estados dentro do E stado, partidos políticos fracionando a nação, classes lutando cont ra classes, indivíduos isolados exercendo ação pessoal nas decisões do gov erno, enfim, todo e qualquer processo de divisão do povo brasileiro". Assim como no conjunto de suas obras doutrinárias, Salgado desferiu no documento violentas críticas ao capitalismo e ao co munismo, embora não colocasse em questão os fundamentos econômicos do s istema capitalista, mas seus aspectos liberais, seu "individualismo des enfreado" e sua "indiferença criminosa pelos operários e a pequena burguesia". Opunha-se também ao comunismo como solução para a questão soc ial, combatendo sua concepção materialista de vida, que apresentava, se gundo suas palavras, o "agravante de reduzir todos os patrões a um só e es cravizar o operariado a uma minoria de funcionários cruéis, recrutados to dos na burguesia". No final do manifesto, definiu como objetivo básico do movimento a implantação do "Estado integral". Diferentemente do "Estado liberal" e de seu "falso" sistema de representação, baseado nos p artidos políticos e no princípio do sufrágio universal, o "Estado integral " permitiria a representação efetiva dos interesses reais e partic ulares, a partir da organização dos brasileiros em "classes profissiona is". Por esse sistema, assinalava o documento, "cada brasileiro se inscrev erá na sua classe", e "cada uma de per si" elegerá "seus representantes n as câmaras municipais, nos congressos provinciais e nos congressos gerais" , os quais, por sua vez, elegerão os poderes executivos correspondentes a cada instância. Dessa forma, tal como nos regimes fascistas, a orga nização do "Estado integral" teria como base o princípio corporativist a, embora não se

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constituísse, pelo menos teoricamente, como institu ição moderadora da sociedade e seu sistema de valores. Nesse ponto, co mo observou Hélgio Trindade, a concepção de Estado de Salgado era dife rente da de Miguel Reale, o segundo teórico de importância do integral ismo, para quem o "Estado é fim enquanto representa o ideal comum". A teoria integralista sintetizada no Manifesto de o utubro, foi posteriormente desenvolvida por Plínío Salgado em d iversos livros doutrinários, dos quais os mais importantes foram A psicologia da revolução, O que é o integralismo, ambos publicados em maio de 1933, e A quarta humanidade, publicado em 1934. Nessas obras, Salgado apresentou sua visão de unive rso e de homem e uma interpretação global da história da humanidade, a f im de situar a missão histórica do integralismo. Sua filosofia da história apoiava-se numa concepção evolucionista baseada no confronto entre o conceito materialista e o espi ritualista, e dividida em quatro idades, positivas ou negativas, espiritua listas ou materialistas. Na primeira idade - denominada human idade politeísta - espiritualismo e materialismo apareceram de forma c ombinada, sem que um prevalecesse sobre o outro. A vitória da concepção espiritualista teria dado origem à segunda humanidade - monoteísta - que se desenvolveu historicamente na Idade Média. A partir do Renascim ento, os princípios liberais teriam legitimado a liberdade de competiçã o, o individualismo desenfreado e a busca da riqueza como finalidade ún ica do ser humano. O materialismo configurava-se, portanto, como o princ ípio fundamental da terceira humanidade, dando sentido à civilização bu rguesa-capitalista. O triunfo da concepção materialista no século XIX ter ia subvertido inteiramente as tradições e os valores morais, leva ndo o homem a uma situação de miséria, sofrimento e caos. Dissociado da religião, o trabalho deixara de ser um "atributo de homem", par a se transformar numa mercadoria. O trabalhador teria se tornado um apênd ice da máquina, perdendo inclusive o controle da propriedade de seu s instrumentos de trabalho para os grandes empresários, os "argentári os", preocupados apenas em obter riquezas. De acordo com seu esquema de interpretação da histó ria, o Brasil foi situado no contexto da terceira humanidade - a huma nidade ateísta. Apenas no período colonial "o Brasil fora realmente brasil eiro, realmente nacionalista... pois Portugal estava tão longe de n ós que tratávamos de viver uma vida em separado. Uma vida espontânea, bá rbara e selvagem". A independência teria permitido a supremacia do Brasi l "formal" sobre o Brasil "real", ou seja, o domínio e a opressão de u ma elite cosmopolita do litoral sobre as populações sertanejas do interi or, divisão que se constituía no problema básico da nação. Salgado considerava o integralismo como uma "revolu ção espiritual" que abrangeria não só o Brasil, mas "todo o complexo pa norama universal", inaugurando um novo período na história do homem: a quarta humanidade, denominada humanidade integralista.

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A primeira fase da AIB (1932-1934) A Ação Integralista Brasileira progrediu lentamente nos primeiros meses que se seguiram à sua fundação. Em São Paulo, no fi nal de 1932, após três meses de ativa propaganda, o núcleo integralista co ntava com apenas 50 membros, alguns deles pertencentes à Ação Imperial Patrionovista, que, entretanto, logo em seguida abandonariam a AIB. Em Minas, na Bahia e no Ceará, a organização foi la nçada oficialmente ainda em 1932, graças aos contatos de Plínio Salgad o com intelectuais e líderes políticos desses estados. Em Pernambuco, a AIB contou com o apoio inesperado de estudantes da Faculdade de Direito de Recife, através de um manifesto assinado entre outros acadêmicos por Álva ro Lins, embora as adesões mais significativas tenham sido as do padre Hélder Câmara(futuro D. Helder Câmara) e do "tenente" Jeová Mota, sucess or de Severino Sombra no comando da Legião Cearense do trabalho. Em dezembro de 1932, Salgado enviou Pedro Carneiro Leães Sobrinho e Antônio Giudice a diversas capitais do país, com o objetivo de acelerar a formação de núcleos integralistas. Apesar disso, o núcleo do Distrito Federal seria fundado apenas em abril de 1933. Por outro lado, já nos primeiros meses de 1933, um pequeno grupo de católicos, estimulados pela tomada de posição de Al ceu Amoroso Lima, secretário-geral da Liga Eleitoral Católica (LEC), aderiu à AIB. Em seguida, visando às eleições de maio de 1933 para a Assembléia Nacional Constituinte, Salgado propôs aos dirigentes da liga que reconhecessem a AIB como partido oficial da Igreja Católica. A LEC, entretanto, recusou a proposta, limitando-se a apoiar os nomes de alguns candidatos integralistas como Jeová Mota. Segundo Laurita Raja Gabaglia, Salgado advertiu então Alceu Amoroso Lima e o padre Leonel Franca que "desta vez triunfará a LEC, em outra eleição triunfarão os com unistas, e, finalmente, triunfaremos nós". Em 23 de abril de 1933, a AIB realizou o primeiro d esfile público integralista, com a participação de cerca de 40 mem bros que percorreram as ruas de São Paulo com o uniforme de camisas verd es e a braçadeira com a letra grega maiúscula sigma, símbolo matemático e scolhido como emblema da organização por significar "soma" ou "integral". Após o desfile, Salgado presidiu uma convenção dos integralistas de São Paulo, na qual foi lançada a candidatura de Miguel Reale à Assembl éia Nacional Constituinte. Realizado o pleito, a AIB recebeu cer ca de dois mil votos, não elegendo nenhum candidato, mas conseguiu se faz er representar na Constituinte, com a eleição de Jeová Mota na legend a da LEC, que disputou apenas no Ceará. A formação das "bandeiras integralistas", em julho de 1933, deu novo impulso ao movimento. A "bandeira" que se dirigiu p ara o Norte foi liderada por Plínio Salgado e por Gustavo Barroso, escritor e membro da Academia Brasileira de Letras (ABL), recém-converti do ao integralismo. Durante dois meses a caravana percorreu o litoral d o Nordeste, promovendo debates e conferências em quase todas as capitais d a região. Por sua vez, Miguel Reale chefiou uma "bandeira" em direção ao S ul, fundando novos núcleos no Paraná, em Santa Catarina e no Rio Grand e do Sul. No trajeto de volta, Salgado visitou ainda Vitória e Campos (R J), e, em 27 de agosto, liderou a primeira marcha integralista no D istrito Federal, à frente de cem militantes. No dia 8 de outubro, a pr etexto da chegada de

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Gustavo Barroso à capital paulista, liderou uma nov a marcha, reunindo dessa vez mais de oitocentos integralistas. Em novembro, por ocasião da abertura dos trabalhos na Constituinte, Salgado decidiu instalar a sede nacional da AIB no Rio de Janeiro, transferindo-se de São Paulo. Nos meses seguintes, dedicou-se basicamente aos preparativos do I Congresso Nacional da AIB, ma rcado para fevereiro de 1934, em Vitória. Nesse meio tempo, ampliou sua liderança sobre o movimento e sobre as direções dos grupos integralis tas locais e regionais, confiadas a triunviratos, abrindo caminh o para sua designação como dirigente do integralismo. Durante o congresso , realizado entre 28 de fevereiro e 4 de março de 1934, Salgado foi elei to chefe nacional da AIB, derrotando as pretensões de Severino Sombra e sua proposta de uma direção colegiada, composta por Salgado, o próprio Sombra e Olbiano de Melo. Além disso foi instituída uma estrutura organ izativa burocrática e hierarquizada, em substituição ao arremedo de organ ização improvisado em 1933. O chefe nacional Plínio Salgado seria o único chefe nacional da AIB até sua extinção, em 2 de dezembro de 1937. Tal como os chefes dos partido s fascistas europeus dispunha legalmente pelos estatutos da entidade do poder total e indivisível do movimento integralista. Os estatutos, aprovados em 1934 no congresso de Vit ória, afirmavam explicitamente que o "chefe nacional dirigirá e com andará todo o movimento em todas as províncias através dos depart amentos nacionais" e que em cada departamento "o chefe nomeará para auxi liá-lo um secretário nacional sob sua imediata fiscalização". Salgado po ssuía também o direito exclusivo de nomear os membros do Conselho Nacional , um órgão de funções meramente consultivas, e os dirigentes da AIB em ca da estado, denominados chefes provinciais. Ainda em 1934, Salgado criou um a nova "província" - a Província do Mar para os marinheiros e brasileiros residentes no exterior. Seu primeiro ato como chefe nacional foi a designaç ão, em 4 de março de 1934, dos chefes provinciais e dos secretários dos departamentos nacionais: Everaldo Leite (Organização Política), M iguel Reale (Doutrina), José Madeira de Freitas (Propaganda), J . Rodolfo Josetti (Cultura Artística), Gustavo Barroso (Milícia) e Be lmiro Valverde (Finanças). Dispunha também de um Gabinete Civil e Militar, subdividido em vários serviços: a Casa Militar e o Comando de T ropas de Serviços Especiais - responsável por sua proteção -, o secre tariado, o jornal oficial Monitor Integralista - para divulgação de s uas resoluções -, os serviços de imprensa e os serviços de relações e xteriores. Os estatutos de 1934 consideravam sua pessoa "intan gível" e sua função "perpétua". Nenhum integralista poderia comentar qu alquer "ato do chefe

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no exercício de suas funções", sob pena de expulsão . Salgado criou rituais minuciosamente prescritos com o objetivo de infundir entre os militantes um sentimento de obediência e submissão à sua autoridade, e, ao mesmo tempo, de refrear as pretensões de lideran ça de certos dirigentes integralistas. Pelo menos um deles, Gust avo Barroso, chegou a rivalizar em prestígio com Salgado, mas seria conti do com habilidade até a extinção da AIB, em dezembro de 1937. De acordo com os Protocolos e Rituais da AIB de 193 6, todo novo militante integralista deveria prestar solenemente e diante d o retrato do chefe nacional um juramento que incluía as seguintes pala vras: "Juro por Deus e pela minha honra trabalhar para a Ação Integralista Brasileira, executando sem discutir as ordens do chefe nacional e dos meus superiores". Em todas as sedes integralistas era obrigatória a presença de um retr ato de Salgado e, em todas as reuniões e solenidades, os militantes deve riam homenageá-lo exclamando três vezes a palavra Anauê, que na língu a tupi significava um grito de guerra e um gesto de saudação. Os militant es deveriam saudar-se uns aos outros com um simples Anauê, enquanto os di rigentes tinham direito a dois Anauê e Deus poderia ser saudado com quatro Anauê, mas apenas pelo chefe nacional. O culto a Salgado també m era intenso entre as crianças e os adolescentes inscritos na organização da juventude integralista, conhecidos como os plinianos. Os mili tantes, de um modo geral, compraziam-se no extenso cerimonial da AIB. Como o próprio Salgado explicaria em 1938 numa carta a Vargas, "todos os s acrifícios são compensados por coisas simples facilmente compreens íveis - o uniforme, o gesto simbólico... (os integralistas) adoram essas coisas ao ponto do delírio." Além dos rituais, Salgado valeu-se de suas inegávei s qualidades de orador para ser reconhecido como o chefe onipotente do mov imento. Entretanto, segundo Hélgio Trindade, uma distância enorme se es tabeleceu entre a imagem difundida por seus adeptos e sua atuação con creta como homem de ação, a julgar pelos depoimentos de seus colaborado res mais próximos. Rui Arruda, membro do Gabinete do Chefe Nacional, criti caria particularmente sua inércia, em entrevista dada em 1969, ao afirmar que a maior qualidade que possuía era "o seu maior defeito como chefe: o excesso de inteligência... Ele vai ponderar o ônus que uma ati tude pode dar e acaba por tomar a pior solução: não fazer nada." A atuação de Salgado como chefe da AIB revelaria, p ortanto, uma contradição básica entre sua grande capacidade de i nfluenciar as massas através de discursos eloqüentes e sua timidez em tr açar os rumos concretos do movimento que liderava. A ascensão da AIB e o confronto ideológico com as e squerdas (1934-1935) Após o congresso de Vitória, os organismos então in stituídos foram rapidamente articulados e dezenas de jornais foram fundados, entre os quais A Ofensiva, o mais importante, publicado no R io de Janeiro a partir de 17 de maio de 1934.

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Nesse ano, Salgado dedicou-se a uma intensa campanh a de doutrinação, realizando diversas viagens e conferências e atrain do estudantes e intelectuais para as fileiras integralistas. Por ou tro lado, foram criadas escolas de alfabetização para jovens, escol as noturnas para adultos, creches em favelas, garantindo para as uni formizadas fileiras da AIB milhares de novos quadros. Em maio e junho de 1 934, Salgado liderou desfiles integralistas no Rio e em São Paulo, que r euniram aproximadamente quatro mil e três mil militantes, r espectivamente. A AIB começava então a se projetar como a primeira organi zação de massas no Brasil, alcançando grande penetração tanto entre as classes médias urbanas como também entre certos segmentos da class e trabalhadora, num momento em que o ciclo revolucionário, inaugurado e m outubro de 1930, parecia ter chegado ao seu termo com a promulgação da nova Constituição e a eleição de Vargas, pelo Congresso, à presidência da República, em julho de 1934. Na ocasião, em artigo publicado em A Ofens iva, Salgado criticou a nova Constituição como "a firme evidência de inca pacidade de organizar-se para o bem nacional, inerente à liberal democrac ia". O crescimento da AIB em 1934 gerou, em contrapartid a, uma reação mais organizada de partidos de esquerda contra o espectr o do fascismo, representado pelo integralismo. Ao longo desse ano, o Partido Comunista Brasileiro, então Partido Comunista do Brasil (PCB) , criou inúmeros grupos antifascistas, seguindo as recomendações da III Internacional Comunista, ou Komintern, para a formação de uma gra nde frente nacional, democrática e antiintegralista. No início de setemb ro, Salgado viajou ao Sul do país para uma série de conferências em cidad es do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, visando as eleições l egislativas de outubro de 1934. A campanha eleitoral nesse segundo semestr e foi bastante tumultuada pelos confrontos de rua que ocorreram en tre os integralistas e seus adversários de esquerda, registrando-se alguns incidentes sangrentos, o mais grave no dia 7 de outubro, na pr aça da Sé, em São Paulo. Visando comemorar o segundo aniversário da f undação da AIB, Salgado decidira promover uma manifestação espetacu lar na capital paulista, convocando inclusive integralistas de out ros estados. O PCB, por sua vez, conclamou diversas organizações de esq uerda e sindicatos operários a comparecerem ao mesmo local da concentr ação afim de manifestarem repúdio à AIB e ao fascismo. Segundo “ A Ofensiva”, o tiroteio, que resultou na morte de cinco pessoas, s ó terminou quando Salgado ordenou aos integralistas que se retirassem do local. Realizado o pleito, os candidatos da AIB todos esco lhidos por Salgado receberam cerca de 40 mil votos, mas apenas um, Joã o Carlos Fairbantes, candidato à Assembléia Legislativa de São Paulo, co nseguiu eleger-se. Jeová Mota, chefe provincial do Ceará, conquistou u ma cadeira da Câmara dos Deputados, mas ainda na legenda da LEC. No início de 1935, em meio ao clima de radicalizaçã o política e de agravamento das tensões sociais, o governo Vargas e nviou à Câmara um projeto de lei de segurança nacional. A orientação conservadora do governo não deixava margens de dúvida quanto ao ver dadeiro alvo de Vargas: a anunciada frente de oposição - a Aliança Nacional Libertadora (ANL), que estava sendo articulada pelos comunistas , pelos "tenentes" de esquerda e por_ elementos apartidários. Compreenden do que, se aprovada, a nova legislação poderia ser igualmente utilizada co ntra a AIB, em 23 de janeiro de 1935 Salgado divulgou em São Paulo um ma nifesto de repúdio a essa possibilidade, recebendo nas semanas subseqüen tes a solidariedade de

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magistrados, parlamentares e escritores. Seus esfor ços para resguardar a AIB foram parcialmente bem sucedidos. Assim, quando em 4 de abril a Lei de Segurança Nacional foi promulgada, proibindo, em um de seus dispositivos, a existência de grupos armados, as mi lícias integralistas já haviam sido abolidas formalmente por Salgado, qu e substituíra o Departamento Nacional de Milícia pelo Departamento Nacional de Educação Moral e Cívica. Além disso, o artigo que propunha a interdição do uso de uniformes, tambores e clarins foi suprimido do text o final. Nos meses que se seguiram, Salgado radicalizou ao e xtremo seu discurso anticomunista, visando, em particular, a ANL, lança da em 30 de março, tendo como presidente de honra Luís Carlos Prestes. Em seu livro Carta aos camisas-verdes, publicado em 1935, afirmou ser o integralismo "o único inimigo do comunismo", e dirigiu-se aos liber ais e comunistas em tom ameaçador: "Ireis pagar-me em breve... É precis o que a liberal-democracia saiba que somos a única força nacional, que somos audazes e que estamos dispostos a morrer". Após o fechamento da ANL, por decreto de Vargas, em 13 de julho de 1935, vários grupos integralistas seguiram à risca as pal avras de advertência de seu líder, colaborando com a polícia na persegui ção aos comunistas e adeptos da organização. Em agosto de 1935, Salgado fez um balanço do movime nto em mensagem dirigida aos chefes provinciais, informando que a A IB contava na época com um deputado federal, quatro deputados estaduais , 1.123 grupos organizados em 548 municípios e quatrocentos mil ad eptos. Seu fortalecimento se dera principalmente nos estados d o Sul - sobretudo entre as populações semi-rurais de ascendência ital iana ou alemã -, em São Paulo, no Distrito Federal, no estado do Rio, e m Minas Gerais, Espírito Santo, Alagoas e Ceará. Os integralistas c ontavam também com o apoio de personalidades de prestígio nacional, como o ex-presidente Epitácio Pessoa, e oficiais das forças armadas, sob retudo da Marinha. Embora não filiados formalmente, o general Pantaleã o Pessoa, chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, e o coronel Newton Cavalcanti eram abertamente simpáticos à AIB, o que conferia à orga nização certa influência sobre o governo. Vargas, por sua vez, ma ntivera até então uma atitude de neutralidade em relação ao integralismo, limitando-se a aprovar discretamente as restrições impostas à AIB pelos governadores do Paraná e de Santa Catarina. Em 7 de outubro de 1935, cerca de 40 mil integralis tas, liderados por Salgado, realizaram pela primeira vez em Blumenau ( SC) a cerimônia da "Noite dos tambores silenciosos", em comemoração ao aniversário de fundação da AIB e em protesto contra a extinção da milícia. A cerimônia, incorporada às comemorações oficiais da AIB, seria realizada nos anos seguintes de acordo com um ritual rigorosamente pad ronizado. Segundo a orientação contida nos Protocolos e Rituais, sua ce lebração se daria simultaneamente em todas as sedes integralistas do país, sob a presidência do "integralista mais pobre, mais humil de, que representará o chefe nacional". A manifestação de Blumenau reavivou a oposição dos integralistas a Vargas, colocando-o de sobreaviso. Em princípios de novembro, a AIB envolveu-se na crise entre o estado do Rio Grande d o Sul e o governo federal a propósito da sucessão fluminense. Nesse c ontexto, segundo Robert Levine, "o governo provocou a estratégia" qu e levou à aprovação

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pela Câmara dos Deputados, em 20 de novembro, da mo ção apresentada pela minoria parlamentar de oposição, solicitando o fech amento da AIB. A crise entre a AIB e o governo foi, porém, sustada pela eclosão, nos dias seguintes, do Levante Comunista em Natal, em R ecife e no Rio de Janeiro. No dia 24 de novembro, Salgado encontrava- se em Pesqueira (PE) em trânsito para Recife, quando foi informado do le vante ocorrido em Natal no dia anterior. Realizava então uma viagem p elo Nordeste, iniciada em Salvador, onde participara do Congresso Integral ista da Bahia. Diante do acontecimento inesperado, antecipou seu regresso ao Rio e telegrafou a Vargas, colocando à sua disposição cem mil "camisas -verdes" para o combate aos revoltosos. O fracasso da insurreição, dominada rapidamente pelas tropas legalistas, deu novo alento à repressã o contra os comunistas, fortaleceu as tendências autoritárias d o governo e beneficiou imediatamente os integralistas. Não foi por acaso q ue o coronel Newton Cavalcanti, conhecido simpatizante da AIB, foi prom ovido a general no dia 30 de novembro seguinte. Salgado, por sua vez, colocou de lado a animosidade com o governo e reorientou os rumos da AIB para uma linha de colabo ração com o poder estabelecido. Em sua Carta deNatal, de 1935, dirigi da a todos os integralistas, declarou-se apreensivo com os milita ntes exaltados, cuja ação escapava de seu controle. O "ano verde" (1936) Em 1936, o "ano verde" do integralismo, Salgado imp rimiu uma reorientação estratégica à AIB, transformando-a de fato em parti do político e conduzindo-a a seu ponto máximo de influência. Redigiu em janeiro o manifesto-programa da organiza ção, tendo em vista as eleições municipais de março, e, principalmente, as eleições presidenciais, marcadas para janeiro de 1938. O doc umento ratificou formalmente o abandono da via revolucionária de tom ada do poder, claramente enunciada no Manifesto de outubro, contr ariando as declarações de 1932, quando afirmara que os integralistas estar iam "proscritos espontaneamente da falsa vida política da nação até o dia em que formos um número tão grande que restauraremos pela força n ossos direitos de cidadania e pela força conquistaremos o poder da Re pública". Em março de 1936, teve lugar em Petrópolis o II Con gresso Nacional da AIB, considerado por Hélgio Trindade como um marco na transformação do movimento integralista em partido político. Nas eleições municipais realizadas em alguns estado s nesse mesmo mês, a AIB conseguiu uma importante vitória, capitalizando o clima de anticomunismo existente no país: elegeu 24 prefeito s e mais de quinhentos vereadores em Santa Catarina, São Paulo, Ceará, Ala goas, totalizando cerca de 250 mil votos. No dia 4 de abril, Salgado publicou um artigo em A Ofensiva enfatizando a natureza democrática da organização integralista e seu apoio a Vargas, que "nesse momento crítico defende nossos lares, no ssa propriedade, nossas tradições cristãs e nossa liberdade".

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Em 11 de abril, casou-se em segundas núpcias com Ca nnela Patti, filha de um fazendeiro paulista e presidente do departamento feminino do núcleo integralista de Taquaritinga (SP). Dez dias mais ta rde, diante de três mil integralistas reunidos no bairro carioca do Méi er, reafirmou sua condição de líder absoluto da AIB ao anunciar a exp ulsão de vários integralistas, alegando a violação de seus votos de obediência ao chefe nacional. Nos meses subseqüentes, reiterou a legalidade e o c aráter legítimo do integralismo, a fim de obstar o pedido de cancelame nto de registro da AIB, impetrado pelo Partido Trabalhista em fevereir o de 1936. Em 19 de junho, o Tribunal Superior de Justiça Eleitoral neg ou a solicitação mas exigiu que a AIB realizasse modificações em sua est rutura organizativa, para que pudesse ser plenamente reconhecida como pa rtido democrático. Em 16 de junho, Salgado reuniu no Rio de Janeiro os líderes nacionais integralistas para anunciar as alterações no sistem a burocrático interno de organização e um amplo remanejamento de cargos. Os secretários nacionais foram destituídos de suas funções, com ex ceção de Belmiro Valverde e de Rodolfo Josetti, e nomeados para um n ovo órgão, o Conselho Supremo, criado em lugar do Conselho Nacional e com as mesmas atribuições meramente consultivas. Os seis departamentos que já existiam receberam a designação de secretarias nacionais, e foram criada s ainda as secretarias de Arregimentação Feminina e dos Plinianos, de Impr ensa, de Relações com o Exterior e de Assistência Social. O Departamento de Organização Política transformou-se em Secretaria Nacional das Corporações e dos Serviços Eleitorais, com as atribuições de desenvol ver a atividade sindical e tratar do alistamento eleitoral dos mili tantes e simpatizantes da AIB, tendo em vista a campanha à sucessão presid encial de 1938. Dois novos órgãos foram criados para cumprir as determin ações da Justiça Eleitoral: Câmara dos 40, formada por "personalidad es de alto valor moral e intelectual", e as Cortes do Sigma, o mais import ante organismo de representação da AIB, integrado pelos dirigentes da cúpula da organização. Com a recomposição de junho de 1936, S algado fortaleceu sua autoridade sobre o conjunto do movimento, cortando com habilidade a ascensão de Gustavo Barroso. Em setembro de 1936, a maré montante do integralism o sofreu um pequeno e inesperado refluxo. No início do mês, o então gover nador da Bahia, Juraci Magalhães, ordenou a invasão da sede da AIB em Salv ador e a prisão dos principais dirigentes integralistas no estado. Em s eguida, os governadores de Santa Catarina, Espírito Santo, Ala goas e Paraná também determinaram o fechamento dos centros integralistas em seus estados, enquanto o governador Carlos de Lima Cavalcanti pro ibiu o porte de camisas verdes em Pernambuco. Salgado replicou imediatamente, criando o Conselho Jurídico Nacional para orientar e defender a AIB junto à Justiça, e convoc ando a primeira reunião das Cortes do Sigma para o dia 17 de outubr o. Determinou ainda a realização simultânea, no Rio de Janeiro, do Congre sso Parlamentar das Províncias Meridionais e do Congresso Nacional Femi nino. Em 18 de outubro, dia do encerramento da reunião da s Cortes do Sigma, Salgado pronunciou um discurso destinado a ter gran de repercussão. Diante de aproximadamente dez mil pessoas reunidas no bair ro carioca do Méier, lançou uma declaração de guerra aos governadores de estados que “pretendem aviltar o governo central da nação" e fi nalizou com as seguintes palavras: "No momento em que a dignidade da nação está

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atingida, os camisas-verdes sabem a quem apelar; às forças armadas da nação". Em 10 de dezembro, compareceu à sessão de encerrame nto da Convenção Sindical dá AIB, realizada no Rio de Janeiro, na qu al foi discutido e aprovado um programa de reivindicações econômicas e uma campanha de sindicalização em todo o país. Entretanto, ao contr ário de Jeová Mota, chefe do Serviço Sindical Corporativo, Salgado não deu maior ênfase às atividades sindicais. A campanha presidencial e o golpe de estado de nove mbro de 1937 Em janeiro de 1937, logo após o lançamento, em 30 d e dezembro de 1936, da candidatura oposicionista de Armando Sales, governa dor de São Paulo, à presidência da República pelo Partido Constituciona lista, Plínio Salgado iniciou os preparativos para a disputa do cargo, su bordinando, a partir de então, todas as atividades da AIB a esse objetiv o estratégico. No dia 14 desse mês, ordenou o alistamento eleitoral obrig atório dos integralistas, ameaçando de expulsão os militantes recalcitrantes. No dia 26 seguinte, criou o cargo de chefe arquiprovincial para as sete circunscrições em que dividia o país, reunindo cada uma de duas a quatro "províncias" integralistas. Em 9 de abril, lançou formalmente a campanha eleito ral da AIB, anunciando a realização de um plebiscito para a escolha do can didato integralista à presidência da República. Ainda nesse mês, institui u uma nova cerimônia oficial, as "Matinas de abril", em comemoração ao a niversário da primeira marcha pública realizada quatro anos antes em São P aulo. Seu ritual estabelecia que os militantes de cada centro integr alista deveriam se perfilar numa praça pública no dia 23 de abril de c ada ano a fim de prestarem uma homenagem silenciosa ao sol nascente. Na noite de 22 de maio, após um mês de intensos pre parativos e propaganda pelos jornais e rádios, o plebiscito integralista f oi iniciado. Na manhã do dia seguinte, pouco antes do encerramento da con sulta, Salgado pronunciou o discurso intitulado "Salvemos a democr acia", ressaltando o método "democrático" de escolha do candidato da AIB e condenando o "caciquismo político" dos governadores de estados, bem como o "exercício de fraude através das máquinas administrativas". Tr atava-se no caso de uma crítica indireta às candidaturas de Armando Sal es e de José Américo de Almeida, essa última lançada oficialmente no dia 25 de maio numa convenção de governadores realizada no Rio de Janei ro. Alguns dias mais tarde, entretanto, o capitão Jeová Mota rompeu publ icamente com a AIB, denunciando o caráter fascista e antidemocrático de certos aspectos de sua doutrina e organização, bem como a indiferença por uma "intensa ação proletária sindical". Em 5 de junho, Plínio Salgado formou a Câmara dos Q uatrocentos, embrião da futura Câmara Corporativa, escolhendo os compone ntes do novo órgão entre militantes das mais diversas profissões e "pr ovíncias" integralistas. Em 11 de junho, Everaldo Leite, chef e da Junta Executiva Nacional para a Campanha Eleitoral, comunicou às Co rtes do Sigma, solenemente instaladas no Instituto de Música, no R io de Janeiro, a vitória de Salgado no plebiscito de maio, por 846.5 54 votos contra 1.397

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dados a Gustavo Barroso e 164 atribuídos a Miguel R eale. Em 12 de junho, Salgado aceitou formalmente sua candidatura à presi dência da República com um discurso conhecido pelo título "Cristo e o E stado integral", que concluiu com as seguintes palavras:"Por Cristo me l evantei; por Cristo quero um grande Brasil; por Cristo ensino a doutrin a da solidariedade humana e da harmonia social; por Cristo luto; por C risto vos conclamo; por Cristo vos conduzo; por Cristo batalharei". No dia seguinte, liderou um desfile de 25 mil integralistas pela ave nida Rio Branco, no Rio de Janeiro, na maior demonstração de força até então realizada pela AIB na capital federal. Em 14 de junho, Gustavo Barroso, Miguel Reale, Ever aldo Leite e outros integralistas reuniram-se com o presidente Vargas e seu ministro da Justiça, José Carlos de Macedo Soares, para comunic ar o lançamento da candidatura de Salgado. O presidente agradeceu a vi sita com uma mensagem simpática à AIB, declarando que o movimento integra lista o "impressionava satisfatoriamente", pois jamais havia criado "nenhu ma dificuldade para com o meu governo". Até aquele momento Vargas conse guira manter uma atitude de aparente neutralidade em relação à suces são presidencial, embora houvesse fortalecido ainda mais seu poder di scricionário através de uma série de intervenções em diversos estados. Nos meses seguintes, José Américo de Almeida, o can didato que apoiava "oficiosamente", radicalizou sua campanha eleitoral , conferindo-lhe um tom considerado esquerdizante por alguns e sendo po r isso gradativamente abandonado pelo governo. SALGADO, Plínio Em junho de 1937, a campanha à sucessão presidencia l ganhou novo impulso devido à suspensão do estado de guerra, que substit uíra o estado de sítio em vigor desde o Levante Comunista de novembro de 1 935. A campanha integralista estendeu-se por todo o país, sendo con stituídos em menos de dois meses, segundo a revista Anauê, cerca de quatr o mil comitês pró-Plínio Salgado. Esses comitês desenvolveram maciça propaganda de caráter acentuadamente anticomunista e ressaltaram também o trabalho de assistência social realizado pela AIB. Trataram ain da de obter recursos para a campanha financeira da organização, denomina da Empréstimo do Sigma, arrecadando um total de 96 contos, segundo A Ofensiva. Essa quantia era, sem dúvida, irrisória se comparada com a ajuda mensal de 50 contos que a AIB recebia mensalmente do governo ita liano através de sua embaixada no Rio, segundo revelação do conde Ciano que mais tarde veio a público. A AIB utilizou largamente os novos meios de comunic ação de massa - rádio e cinema para sua propaganda eleitoral, transmitind o semanalmente um programa de rádio no Rio e em Niterói, e organizand o dezenas de sessões de cinema em núcleos integralistas para a projeção de documentários produzidos pela Sigma-Film, companhia fundada e dir igida por Fritz Kummert Júnior.

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A principal tônica da campanha de Plínio Salgado fo i, sem dúvida, o anticomunismo, sobretudo após o malogrado atentado à bala que sofreu no dia 18 de julho, em São Paulo, quando assistia a um desfile integralista. Salgado escapou ileso, mas várias pessoa ficaram fe ridas no tumulto que se seguiu ao tiroteio. No dia seguinte, de volta ao Rio, onde permaneceria o resto da campanha, denunciou um comp lô comunista para matá-lo, responsabilizando um grupo de judeus russo s pelo frustrado atentado. Nas semanas subseqüentes, foram registrados novos c onflitos de rua entre integralistas e comunistas e ataques a sedes da IAB no Espírito Santo e em Santa Catarina. A partir do início de agosto, Sa lgado passou a denunciar sistematicamente o perigo de um golpe de Estado comunista e a infiltração de "agentes de Moscou" entre os que apo iavam as candidaturas de José Américo e de Armando Sales. Em 15 de agosto um comício integralista em Campos ( RJ) foi interrompido por um tiroteio que resultou em 13 mortos e em deze nas de feridos. Três dias depois, Salgado interditou temporariamente o p orte de camisas verdes e dos distintivos integralistas, a fim de evitar as "provocações comunistas". Em 28 de agosto o capitão Olímpio Mourão Filho, che fe do Serviço Secreto da AIB, apresentou-lhe um documento para "estudo in terno" sobre a ação dos comunistas e a reação dos integralistas numa in surreição simulada. Salgado rejeitou sua formulação e vetou a distribui ção do documento às milícias integralistas. Paralelamente, Vargas també m agitava os meios políticos com o espectro do comunismo e, em comum a cordo com o ministro da Guerra, Eurico Gaspar Dutra, e o chefe do Estado -Maior do Exército, Pedro Aurélio de Góis Monteiro, intensificou em set embro as articulações para a implantação de um Estado autoritário através de um golpe de força. A participação de Plínio Salgado nos preparativos d o golpe seria descrita por ele próprio numa carta enviada a Vargas em 28 d e janeiro de 1938, relatando que em setembro de 1937 fora procurado po r Francisco Campos, o qual, dizendo-se autorizado pelo presidente, "me en tregou o original de um projeto de uma constituição que deveria ser outo rgada, num golpe de Estado ao país". No dia seguinte, segundo a mesma c arta, Salgado voltou a encontrar-se com Francisco Campos na casa de Amaro Lanari, declarando-se em princípio favorável ao projeto de constituição c orporativista que lhe fora apresentado, embora julgasse suficiente "apena s algumas reformas na Carta de 34", notadamente a substituição do sufrági o universal pelo voto corporativo e a ampliação dos poderes de intervençã o do Estado na vida econômico-financeira do país. Após essas observaçõe s preliminares, manifestou-se favorável ao golpe de Estado como sol ução para a crise nacional. Em 30 de setembro de 1937, o general Dutra anunciou a descoberta de uma trama comunista para a derrubada do governo, esboça da no documento intitulado Plano Cohen. Tratava-se, na verdade, do documento elaborado pelo capitão Mourão Filho apresentado a Salgado - q ue, apropriado pelo general Góis Monteiro, fora utilizado como pretexto para acelerar os preparativos do golpe. Por motivos óbvios, Salgado não denunciou a farsa montada pelo governo, apressando-se em manifestar s eu apoio irrestrito a Vargas e à reinstauração do estado de guerra, conce dida pelo Congresso em 19 de outubro.

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No dia 5 de outubro, segundo depoimento de Olbiano de Melo, Plínio Salgado reuniu os membros da Câmara dos 40, no Rio de Janeiro, e revelou os planos de Vargas. De acordo com a mesma fonte, c onseguiu na ocasião demover a posição da ala sindicalista - representad a por Miguel Reale, o próprio Olbiano de Melo e outros-,que teria se mani festado inicialmente favorável à denúncia do Plano Cohen e a uma aliança com Armando Sales e José Antônio Flores da Cunha, governador do Rio Gra nde do Sul, para deter a conspiração. Prevaleceu afinal a posição de "neut ralidade" em relação ao golpe, sustentada por Salgado, que no dia seguin te revogou a resolução contra o porte das camisas verdes e dos distintivos integralistas, baixada em agosto. Em meados de outubro, Plínio Salgado teve um encont ro secreto com o presidente na casa de Renato da Rocha Miranda, memb ro da Câmara dos 40, e, segundo Robert Levine, agente do governo infiltr ado na AIB a pedido de Vargas. Segundo a versão do próprio Salgado, Vargas deixara tacitamente subentendido na ocasião que o integralismo seria a base do novo regime, e prometera inclusive a nomeação de um dirigente inte gralista para o cargo de ministro da Educação. Em 28 de outubro, acompanhado do chefe de polícia d o Rio de Janeiro, Filinto Müller, Salgado teve um encontro com o gene ral Dutra no Ministério da Guerra. Em 1º. de novembro, liderou u m desfile de milhares de "camisas-verdes" e dezenas de oficiais do Exérci to fardados, visando dar uma demonstração de força do movimento. Vargas prestigiou o desfile passando em revista as colunas integralistas de uma sacada do palácio do Catete e tendo a seu lado os generais Newton Cavalc anti, comandante da Vila Militar, e Francisco José Pinto, chefe do Gabi nete Militar da Presidência da República. Assistindo ao desfile de uma amurada do Hotel Glória, Salgado calculou em 50 mil o número de mani festantes, embora o governo tenha divulgado extra-oficialmente uma esti mativa de 17 mil manifestantes. Na noite de 19 de novembro, Plínio Salgado anunciou a retirada de sua candidatura à presidência da República e o apoio do s integralistas a Vargas e à forças armadas "na luta contra o comunis mo e a democracia anárquica, e para proclamar os princípios de um nov o regime". Na manhã de 10 de novembro, cinco dias antes da data marcada pa ra a ofensiva golpista e sem aviso prévio a Salgado, Vargas ordenou o cerc o do Congresso, consumando rapidamente o golpe de Estado. À noite, anunciou em transmissão radiofônica a decretação do Estado Novo e a promulgação da Constituição elaborada por Francisco Campos, mas nã o fez qualquer referência ao integralismo, contrariando assim as e xpectativas de Salgado. A extinção da AIB e o Levante Integralista Em 11 de novembro de 1937, Plínio Salgado reconhece u a nova Constituição e, cumprindo provavelmente um acerto efetuado com o s articuladores do golpe, extinguiu formalmente o caráter político da AIB, mantendo-a apenas como sociedade cultural, esportiva e beneficente. N o dia seguinte

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publicou uma pequena nota em A Ofensiva assegurando que a organização integralista não seria afetada pela nova ordem jurí dico-política do país. Em 20 de novembro, segundo sua carta a Vargas, já m encionada, o ministro da Justiça Francisco Campos comunicou-lhe pessoalme nte a intenção do governo de fechar a AIB, mesmo com o caráter de soc iedade civil. Salgado tentou em vão impedir a consumação da medida lançan do apelos a Góis Monteiro e a Vargas, com quem avistou-se novamente em Petrópolis( RJ). Em 25 de novembro, liderou no Rio de Janeiro o último desfile integralista que, conforme o anterior, foi também passado em rev ista pelo chefe do governo. Em 2 de dezembro Vargas baixou o decreto de dissolu ção dos partidos políticos, atingindo diretamente a AIB através do a rtigo que proibia o funcionamento de sociedades civis com a mesma denom inação com que se haviam registrado como partidos políticos. Em, prot esto contra a medida, o general Newton Cavalcante pediu demissão do coman do da Vila Militar. Em 4 de janeiro de 1938, Salgado registrou a AIB co m uma nova denominação - Associação Brasileira de Cultura - e designou a s i próprio seu presidente. O impasse entre o governo e os integral istas permaneceu, no entanto, inalterado. O governo reclamava a efetiva e completa dissolução da AIB, exigindo que Salgado renunciasse à condição de chefe nacional do s integralistas. Ainda em janeiro, Plínio Salgado decidiu assumir os riscos de um levante armado contra Vargas, cuja idéia, segundo o relato de Olbiano de Melo, partira de Belmiro Valverde, Gustavo Barroso e do p róprio Olbiano de Melo. O movimento recebeu a adesão de oposicionista s liberais como Otávio Mangabeira, o ex-governador do Rio Grande do Sul, J osé Antônio Flores da Cunha, exilado na Argentina, e o coronel Euclides F igueiredo, chefe militar da Revolução Constitucionalista de 1932. O historiador Hélio Silva revelou que na fase inicial da conspiração Sa lgado encontrou-se mais de uma vez com Otávio Mangabeira no Hotel Glór ia do Rio de Janeiro. O almirante Nuno Barbosa de Oliveira e Silva, um do s implicados na conspiração, afirmaria mais tarde que o próprio Sal gado apresentara o coronel Euclides Figueiredo a um grupo de oficiais integralistas como o responsável pela direção militar do movimento no Ri o de Janeiro. Em 28 de janeiro de 1938, Salgado tentou ainda uma composição com Vargas, enviando-lhe a carta já mencionada, na qual condici onou a aceitação da pasta da Educação ao reconhecimento por parte do go verno dos direitos mínimos da AIB à vida legal. Em fevereiro, tentou e m vão reaproximar-se de Vargas por intermédio de Rosalina Coelho Lisboa, num momento em que uma série de medidas repressivas contra os integral istas já havia sido determinada pelo governo. Ele próprio foi intimado a depor em Niterói, em 16 de fevereiro, sobre as atividades da AIB desenvolvidas em Petrópolis. A primeira tentativa de revolta ocorreu no dia 11 d e março, mas foi imediatamente frustrada pela ação da polícia contra o grupo encarregado de ocupar a rádio Mayrink Veiga, no Rio de Janeiro, e de transmitir a ordem do início do levante. Mesmo assim, houve um c omeço de ação na Marinha, que resultou na prisão de vários integrali stas e na posterior instauração de um inquérito. Salgado permaneceu alg uns dias escondido no Rio de Janeiro, refugiando-se depois em São Paulo. No dia 17 de março, a

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notícia do levante foi afinal divulgada pelo govern o, juntamente com a informação de que três mil punhais com a cruz gamad a, procedentes da residência de Salgado, haviam sido apreendidos pela polícia. Após a frustrada tentativa de 11 de março, a chefia do movimento armado foi entregue ao general José Maria Castro Júnior em conseqüência da prisão do coronel Euclides Figueiredo e de Otávio M angabeira. A coordenação do levante no Rio prosseguiu sob a dire ção de Belmiro Valverde, e a principal operação - o assalto ao pal ácio Guanabara e o aprisionamento do chefe do governo - foi confiada a o tenente Severo Fournier, ex-ajudantede-ordens do coronel Figueired o. Em meados de abril, o chefe de polícia do Distrito Federal, Filinto Müller, negou publicamente a existência de uma orde m de prisão contra Salgado, eximindo-o de qualquer responsabilidade no frustrado levante de 11 de março. Este permaneceu escondido em São Paulo , mantendo-se em contato com o grupo de conspiradores do Rio através de um genro, José Loureiro Júnior. O movimento armado irrompeu na madrugada de 11 de m aio, resultando em completo fracasso devido às falhas de organização e à deserção, na última hora, da maioria dos integralistas comprometidos co m a ação. O tenente Severo Fournier e seus homens chegaram a penetrar n o palácio Guanabara, mas não conseguiram vencer a precária resistência d e Vargas, de seus familiares e de um pequeno grupo de defensores, sen do derrotados duas horas depois, quando o general Dutra chegou com ref orços. Os planos de ocupação de duas estações de rádio, do Ministério d a Marinha e de ataques às residências de várias autoridades também fracass aram, devido à inoperância e à indecisão dos grupos de assalto int egralistas. Os revoltosos conseguiram apenas aprisionar o coronel Canrobert Pereira da Costa, chefe do gabinete do ministro da Guerra, gen eral Dutra, e transmitir uma mensagem pela rádio Mayrink Veiga qu e, segundo consta, teria sido ouvida por Salgado em São Paulo e comemo rada com o maior entusiasmo. A revolta fracassada de 11 de maio selou o destino da AIB. A maioria dos implicados foi presa, embora a vaga repressiva não tenha sido tão violenta como a desfechada contra os comunistas apó s o levante de novembro de 1935. Ao contrário do que se poderia es perar, Plínio Salgado não foi detido nem incluído na denúncia feita em 19 de agosto de 1938 pelo procurador do Tribunal de Segurança Nacional, Himalaia Virgulino, contra os líderes da revolta. Salgado absteve-se de qualquer aparição pública, pe rmanecendo em São Paulo sob a proteção do interventor federal no esta do, Ademar de Barros. Em janeiro de 1939, foi detido na capital paulista e solto três dias depois. Em fevereiro seguinte, prestou depoimento à polícia, eximindo-se de qualquer responsabilidade no levante. Quinze ano s mais tarde, em entrevista publicada no jornal O Globo, daria sua v ersão definitiva sobre os acontecimentos de maio de 1938, cometendo uma sé rie de equívocos como, por exemplo, o de incluir Eduardo Gomes na conspira ção - e tecendo acusações infundadas a Severo Fournier. Segundo sua versão, Belmiro Valverde fora instigado por Fournier a precipitar a deflagração do levante, sem o assentimento do general Castro Júnio r, chefe do movimento. Afirmaria ainda que o seu "setor" seria em São Paul o, e que só teve conhecimento da antecipação na própria noite da rev olta.

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Ainda segundo sua versão, "Severo Fournier, o insti gador, fugiu a pretexto de buscar reforços, deixando no chão oito cadáveres de companheiros". Como se sabe, Fournier só abandonara o palácio Guanabara quando sua missão já estava inteiramente perdida. Em maio de 1939, um ano após o Levante Integralista , Salgado reuniu em São Paulo um pequeno grupo de correligionários para lançar uma proclamação, conhecida corno o Manifesto de maio, n o qual recomendou aos integralistas que se abstivessem de "quaisquer agit ações subversivas e de manifestações de caráter político, perturbadoras da ordem pública". Justificou sua posição referindo-se à "gravidade se m precedentes" do movimento internacional e aos perigos externos que ameaçavam o Brasil, concluindo o documento com um apelo à unidade nacio nal e ao respeito às autoridades constituídas. O manifesto foi distribuí do à imprensa pela Agência Nacional e publicado no dia seguinte pelos grandes jornais. No final de maio, foi novamente detido por imposiçã o do general Dutra e recolhido à fortaleza de Santa Cruz, onde permanece u preso até o dia 22 de junho, quando embarcou para Portugal como exilad o político. O exílio em Portugal Durante o exílio em Portugal, Plínio Salgado ditou aos integralistas, através de cartas e manifestos enviados ao Brasil, uma orientação indefectível de apoio ao governo Vargas. Desde sua chegada a Lisboa, em julho de 1939, procu rou recompor suas relações com o governo brasileiro por intermédio de Rosalina Coelho Lisboa e outros emissários. Subordinou a partir de então sua atuação e influência políticas ao objetivo de reabilitar-se p erante o governo. Assim, ao lançar sua primeira diretiva aos integral istas, em setembro de 1939, preveniu-os contra qualquer tomada de posição em relação à Segunda Guerra Mundial, diante do desconhecimento, por part e da opinião pública, dos desdobramentos da política externa brasileira. Em agosto de 1940, recebeu em Lisboa a visita do ge neral Francisco José Pinto, que teria manifestado, em nome de Vargas, su a intenção de contar com a colaboração dos integralistas no governo. Na ocasião ficou acertado que Gustavo Barroso, que também se encontrava em Li sboa, representaria Salgado nos entendimentos com Vargas. No decorrer d e 1941, Barroso teve alguns encontros com o chefe do governo brasileiro, que resultaram apenas em pequenos favores a integralistas que se encontra vam em situação difícil em virtude dos, acontecimentos de 1938. Em 7 de setembro de 1941, Salgado lançou outro mani festo aos integralistas, assinalando a "confusão caótica" da situação mundial e o "fantasma do bolchevismo" e suas ,,máscaras mais di versas", numa alusão indireta à aliança da União Soviética com as democr acias ocidentais contra a Alemanha e a Itália. Reiterou mais uma vez seu apoio incondicional a Vargas, procurando demonstrar a afi nidade existente entre o integralismo e a doutrina política do Estado Novo ao afirmar que "os

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fundamentos ideológicos da doutrina integralista sã o, em parte, os mesmos que inspiraram a Constituição de 10 de novembro de 1937... Uma a uma das aspirações integralistas estão sendo realizadas pelo Estado Novo". E citou, como exemplo, o fortalecimento do p oder central, a extinção dos partidos regionais, a supressão do suf rágio universal, a restrição das autonomias estaduais, as leis de ampa ro aos trabalhadores e outros pontos do programa integralista. Segundo Ros alina Coelho Lisboa, muitos integralistas não se conformaram com os term os do manifesto, enquanto outros duvidaram de sua autenticidade. Var gas elogiou o documento na presença de Gustavo Barroso, mas proib iu sua divulgação pela imprensa. Por ocasião da declaração de guerra do Brasil à Ale manha e à Itália, em agosto de 1942, Salgado enviou telegramas de solida riedade a Vargas e ao general Dutra, ministro da Guerra. No Brasil, vária s personalidades integralistas também enviaram um telegrama de apoio à decisão do governo, que, no entanto, foi proibido de ser publicado pelo s jornais. A descoberta posterior do envolvimento de integralist as em atividades de espionagem alemã provocou um recrudescimento das me didas repressivas do governo contra os membros da extinta AIB. Em 15 de novembro de 1943, Salgado redigiu novo man ifesto de apoio à política panamericana do Brasil e de protesto contr a as acusações de que mantinha vínculos com a Alemanha e a Itália fascist a. Em dezembro de 1944, já às vésperas da vitória dos países aliados, pronunciou uma conferência em Coimbra, Portugal, na qual, segundo Jarbas Medeiros, teria empregado pela primeira vez o conceito de democraci a cristã como a síntese de seu pensamento. Na conferência, denomina da "O conceito cristão de democracia", considerou o totalitarismo nazi-fas cista como um "desvio", equiparando-o ao totalitarismo dos Estado s comunistas. Os contatos de Salgado com Vargas prosseguiram até o final do Estado Novo, por intermédio de Rosalina Coelho Lisboa, mas não se traduziram em nenhuma concessão política significativa ao movimen to que defendia e liderava. A redemocratização de 1945 e seu regresso ao Brasil A participação do Brasil no esforço de guerra das n ações aliadas desde 1942 e a ampliação dessa ajuda em junho de 1944 com o envio da Força Expedicionária Brasileira (FEB) à Itália criaram de antemão condições favoráveis para uma mudança do regime autoritário i nstituído em 1937. Em fevereiro de 1945, diante do iminente final da S egunda Guerra Mundial e das pressões desencadeadas internamente por setor es do Exército e pelas forças de oposição, Vargas anunciou a breve realiza ção de eleições presidenciais, dando início ao processo de redemocr atização do país. Em março seguinte, em entrevista à agência de notíc ias United Press, Plínio Salgado declarou seu propósito de mobilizar os integralistas para uma participação efetiva na nova etapa da vida polí tica brasileira. Em

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abril Vargas anistiou os adversários do Estado Novo , inclusive os integralistas e os comunistas. Decidindo não voltar de imediato ao Brasil, Salgado escreveu uma carta a Raimundo Padil ha, com instruções para a reorganização do movimento integralista sob a forma de partido político, de acordo com a nova legislação eleitoral . No mês de julho, lançou um documento sobre a reorga nização partidária denominado "Manifesto-diretiva", enumerando os prin cípios genéricos que norteariam o ingresso dos integralistas num partido político. Reafirmou a validade da doutrina integralista e, recapitulou se us postulados fundamentais, sem mencionar todavia o corporativism o, a defesa do partido único, a rejeição do sufrágio universal e outros po ntos assinalados até então nos principais documentos da AIB. Fez também um breve relato da atuação da AIB na década de 1930, pretendendo justi ficar a adoção do uniforme de camisas verdes e dos demais símbolos e rituais como um antídoto contra os nazistas do Sul do país, que tam bém tinham seus uniformes e rituais. Tratava-se, segundo afirmou, d e "nacionalizar brasileiramente tais elementos e impedi-los de form ar quistos raciais que poderiam ser utilizados pelo imperialismo nazista". Em 18 de agosto de 1945, desembarcou afinal no Bras il, após seis anos de exílio em Portugal. Da fundação do PRP à campanha presidencial de 1955 Em 26 de setembro de 1945, ao lado de Raimundo Padi lha e de outros antigos dirigentes integralistas, Plínio Salgado fu ndou o Partido de Representação Popular (PRP), adotando, assim, as me smas iniciais do extinto Partido Republicano Paulista. Embora fosse a personalidade de maior destaque da nova agremiação, não assumiu de i mediato a presidência do PRP, que foi ocupada provisoriamente por Adauto de Alencar Fernandes. Em 3 de novembro, o primeiro diretório nacional ele geu Fernando Cochrane - ex-membro da Câmara dos Quatrocentos - presidente nacional do PRP. Salgado tentou mobilizar seus antigos correligionár ios em torno do novo partido, mas, como ele próprio reconheceria, "nem t odos os integralistas se inscreveram..., embora muitos continuassem fiéis a nossa doutrina em outros partidos". Nas eleições de 2 de dezembro de 1945, o PRP apoiou a candidatura do general Dutra à presidência da República e concorre u à Assembléia Nacional Constituinte em 11 estados, sofrendo entre tanto uma fragorosa derrota em seu primeiro teste eleitoral ao obter ap enas 95 mil votos em todo o país. O fracasso dos integralistas foi minim izado parcialmente pela eleição de Godofredo da Silva Teles, que conco rreu na legenda do Partido Social Democrático (PSD) e do general Dutra , eleito presidente da República com uma ampla margem de votos sobre o bri gadeiro Eduardo Gomes, candidato da oposição liberal reunida em torno da U nião Democrática Nacional (UDN).

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Em 27 de outubro de 1946, na II Convenção Nacional do PRP, realizada no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, Plínio Salgado foi eleito presidente do partido, cargo em que se manteria até a extinção dos partidos políticos pelo Ato Institucional nº.2 (AI-2) em 27 de outubro de 1965. No discurso que então pronunciou ao aceitar sua indica ção, evocou o passado da AIB, seu ideário nacionalista e espiritualista e o patriotismo dos integralistas, que "não transigiram com o golpe de Estado de 37, ao ponto de terem sido os únicos brasileiros que derramaram seu sangue para restaurar a liberdade". Negou qualquer colaboração com o golpe, declarando ainda que recusara o convite para chefia r o Ministério da Educação por não concordar com o caráter totalitári o da Constituição do Estado Novo. Ao contrário do que certamente ocorrer ia na década de 1930, dispensou a solenidade de juramento de fidelidade a o chefe nacional, explicando que a "fase crítica da nacionalidade que exigiu, num grave instante histórico, a assinatura de um compro misso solene é uma fase ultrapassada". Apesar de ressaltar a identidad e dos princípios do PRP com a doutrina integralista, frisou que o parti do não era um ressurgimento da AIB sob uma nova sigla, lembrando a diretiva que enviara aos integralistas em 1945, ainda no exílio, no sent ido de não se reabrir a AIB, e seu desejo de que apenas "vivesse e perdur asse a própria essência da doutrina inspiradora daquele grande mov imento". Apesar do carisma de Salgado, o PRP conseguiria fir mar-se apenas como um pequeno partido, com votações que raramente ultrapa ssariam o índice de 5% do eleitorado nos pleitos realizados no período com preendido entre 1945 e 1965. Em 1948, Salgado participou da Conferência Internac ional das Conversações Católicas, realizada em San Sebastián, Espanha. Em 1950, durante a campanha para a sucessão do presidente Dutra, aliou -se à UDN, apoiando dessa vez a candidatura do brigadeiro Eduardo Gomes , após entendimentos firmados com José Eduardo do Prado Kelly. Todavia, com a vitória de Vargas, conseguiu firmar um acordo com o novo presi dente, garantindo um apoio discreto do PRP à sua gestão. Em outubro de 1952, fundou a Confederação dos Centr os Culturais da Juventude, com objetivo de preparar, por meio de co nferências e cursos, "uma nova geração, iluminada pela consciência dos d everes e das responsabilidades, esclarecida sobre o problema com unista". Segundo afirmaria mais tarde, a criação de mais de quinhent os centros culturais nos três anos que se seguiram representou de sua pa rte um "esforço sobrenatural pela salvação de minha pátria das garr as da Rússia soviética". Em fevereiro de 1953, fundou o jornal A Marcha, um semanário voltado basicamente para o combate ao comunismo. Em 21 de março de 1955, o PRP lançou oficialmente a candidatura de Plínio Salgado à sucessão de João Café Filho, que assumira o governo em agosto de 1954, com o suicídio de Vargas. Foi o segundo pa rtido a apresentar um candidato próprio à sucessão presidencial, rejeitan do, assim, a fórmula de uma candidatura suprapartidária de "união nacion al" proposta pela UDN em contraposição à candidatura de Juscelino Kubitsc hek, oficializada pelo PSD em fevereiro. A indicação de Salgado foi denunc iada pela UDN como uma manobra de Kubitschek para dividir os votos de seu candidato, Juarez Távora. Salgado refutou a acusação, mas posteriorme nte, em entrevista à socióloga Maria Vitória Benevides, o próprio Juscel ino confirmaria ter solicitado pessoalmente sua participação no pleito.

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Durante a campanha eleitoral, Salgado criticou veem entemente o apoio dado pelo Partido Socialista Brasileiro (PSB) a Juarez T ávora e sua posição ambivalente em relação aos comunistas, atraindo, se m dúvida, um número considerável de votos que, de outra forma, iria nat uralmente para o candidato udenista. Concorrendo sem companheiro de chapa, nas eleições de 3 de outubro de 1955 Plínio Salgado obteve 714 mil votos, ou seja, 8% da votação total. Embora situando-se muito aquém do terceiro colocado , Ademar de Barros (26%), sua pequena votação foi decisiva para a vitó ria de Juscelino Kubitschek (36%) sobre Juarez Távora (30%). A vitória de Kubitschek e de João Goulart, candidat o à vice-presidência, foi imediatamente contestada pela UDN. Os líderes u denistas mais radicais, como Carlos Lacerda, desencadearam intens a campanha contra a posse dos eleitos, enquanto a direção do partido re solveu levar o caso à Justiça Eleitoral, argumentando que os candidatos v itoriosos não haviam alcançado a maioria absoluta. Nas forças armadas, c hefes militares, como o almirante Carlos Pena Boto, também tornaram paten te seu inconformismo com o resultado do pleito. Em 5 de outubro, ante os primeiros sinais da crise político-militar, Salgado divulgou um manifesto declarando seu propós ito em reconhecer como "legítimo o governo que a Justiça Eleitoral der com o eleito". Em 22 de outubro, subscreveu o manifesto assinado pelos pres identes do PSD, Ernâni Amaral Peixoto, do Partido Social Progressista (PSP ), Ademar de Barros, e de outros partidos menores, contestando a tese da m aioria absoluta levantada pela UDN. Posteriormente, apoiou o movimento militar desfecha do em 11 de novembro pelo ministro da Guerra demissionário, general Henr ique Teixeira Lott, contra o presidente em exercício Carlos Luz, emposs ado três dias antes em substituição a Café Filho, que se afastara do gover no por motivo de doença. Lott classificou sua intervenção como um mo vimento de retomo à ordem constitucional, ameaçada pelo próprio Carlos Luz em virtude de suas ligações com os adversários de Kubitschek e de seu suposto envolvimento na conspiração contra sua posse. A Câmara dos Deput ados legitimou no mesmo dia a ação de Lott, com os votos dos três dep utados da bancada do PRP, declarando o impedimento de Carlos Luz e a pos se no governo do vice-presidente do Senado Nereu Ramos. Dez dias mais tar de, Lott voltou a mobilizar o Exército para impedir o retorno do pres idente Café Filho, em intervenção que foi novamente legitimada pela Câmar a. Após a crise de novembro, Salgado manteve conversaç ões sigilosas com o líder do PSD, José Maria Alkmin, assegurando, segun do o historiador John Foster Dulles, seu apoio ao governo Kubitschek em t roca do não-reconhecimento do governo soviético por parte do Br asil e da manutenção da ilegalidade imposta ao PCB. O acordo resultou ai nda em sua nomeação para a direção do Instituto Nacional de Imigração e Colonização (INIC), logo após a posse de Kubitschek em 31 de janeiro de 1956. O INIC permaneceria sob controle dos integralistas até 196 2, quando foi incorporado à Superintendência da Política de Refor ma Agrária (Supra), criada naquele ano pelo então presidente J oão Goulart.

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Na Câmara Federal: de 1959 a 1974 Em outubro de 1958, Plínio Salgado foi eleito deput ado federal pelo Paraná na legenda do PRP com mais de 50 mil votos, assumindo o mandato em fevereiro de 1959. Em agosto de 1961, por ocasião d a crise provocada pela renúncia do presidente Jânio Quadros e o veto dos m inistros militares à posse do vice-presidente João Goulart, tomou posiçã o em defesa da sucessão constitucional, expressa em uma carta envi ada ao ministro da Guerra, marechal Odílio Denis, e lida no plenário d a Câmara em 28 de agosto pelo senador do PRP Guido Mondim. Nesse mesm o dia, foi designado líder do PRP e membro da comissão mista encarregada de emitir parecer sobre o impedimento de Goulart, solicitado pelos mi nistros militares. No dia seguinte, a comissão manifestou-se favorável à posse de Goulart, sugerindo entretanto a instituição do regime parlam entarista como solução de compromisso para a grave crise político-militar que se instalara no país. Diante da posição do Congresso e da resistênc ia oferecida pelo governador do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola, e o comandante do III Exército, sediado em Porto Alegre, general José Mac hado Lopes, os ministros militares aceitaram a fórmula conciliatór ia do parlamentarismo e abriram caminho para a posse de Goulart, ocorrida afinal em 7 de setembro de 1961. Durante o governo de Goulart, Salgado aliou-se à UD N e ao PSD na luta contra as chamadas reformas de base nos termos pret endidos pelo governo. Foi o autor de um projeto de reforma agrária e de u m projeto de criação de um ministério de turismo, sem conseguir entretan to a aprovação da Câmara. Em outubro de 1962, por ocasião do 30º aniversário de fundação da AIB, proferiu um discurso na Câmara afirmando a identida de de princípios entre o PRP e a doutrina integralista. Nas eleições legis lativas realizadas ainda nesse mês, foi reeleito deputado federal com 37 mil votos, agora por São Paulo, sempre na legenda do PRP. Nos primeiros meses de 1964, em meio ao agravamento das tensões sociais e políticas no país, intensificou sua oposição ao gov erno Goulart. Em 19 de março, foi um dos oradores da Marcha da Família com Deus pela Liberdade, realizada em São Paulo com a participação de cerca de trezentas mil pessoas, em protesto contra o governo. Apoiou o movimento político-militar de 31 de março de 1964, que depôs João Goulart, e a eleição, pelo Congresso, do gener al Humberto Castelo Branco como chefe do governo, em 11 de abril seguin te. Com a extinção do PRP e dos demais partidos políticos, decretada pelo AI-2 em outubro de 1965, e a posterior reorganização partidária, filio u-se ao partido governista, a Aliança Renovadora Nacional (Arena). Nessa legenda candidatou-se à reeleição em novembro de 1966 e sai u-se vitorioso com cerca de 19 mil votos, sendo conduzido na legislatu ra iniciada em fevereiro do ano seguinte ao cargo de vice-líder de seu partido na Câmara. Após a decretação do Ato Institucional nº. 5 (AI-5) em dezembro de 1968, Plínio Salgado ressurgiu inesperadamente no cenário político nacional. Em maio de 1970, já durante o governo do general Emíli o Garrastazu Médici, manifestou-se a favor da censura prévia aos jornais diários e do controle

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ideológico do ensino das ciências sociais e biológi cas, tendo sido o relator do projeto encaminhado pelo ministro da Jus tiça, Alfredo Buzaid - antigo dirigente integralista -, estabelecendo a ce nsura prévia a periódicos e livros considerados pornográficos. Seg undo Carlos Castelo Branco, sua sugestão para estender a censura aos jo rnais diários não foi, entretanto, aceita por Buzaid. A censura à imprensa, instituída de fato pelo AI-5, em 1968, continuou a ser rigidamente aplicada durante o governo Médici, tanto através de ordens precisas a redações dos jornais, como da cen sura prévia a algumas publicações como O Estado de São Paulo, Opinião e V eja. Em outubro de 1970 Salgado foi reeleito para o seu último mandato na Câmara. Em 1971 ocupou os cargos de membro da Comissão de E ducação e Cultura e suplente da Comissão de Finanças, participando aind a da comissão especial para integração dos povos da comunidade de língua p ortuguesa. Em outubro de 1972, por ocasião do 40º. aniversário de fundação da AIB, anunciou o lançamento do Movimento de Renovação Nac ional (Morena), visando arregimentar a mocidade brasileira em nova cruzada de redenção nacional. Já no final de seu mandato, em resposta a um jornalista que lhe indagara sobre o sucesso do integralismo no Brasil, afirmou: "Veremos. Veja quem são os homens que estão no poder. A maior ia pertence ao nosso partido e ainda hoje obedece aos princípios pelos q uais lutamos e defendemos", citando como exemplo o ministro Alfred o Buzaid, "um de nossos fiéis companheiros de luta". Em 3 de dezembro de 1974, em discurso de despedida na Câmara, anunciou que abandonaria suas atividades públicas, colocando um ponto final à sua controvertida carreira política. Plínio Salgado foi membro da Academia Paulista de L etras e do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo. Faleceu em São Paulo no dia 7 de dezembro de 1975. José Loureiro Júnior, seu genro, foi dirigente da AIB na década de 1930 e deputado federal por São Paulo na legenda do PRP de 1955 a 1959. Além dos livros mencionados publicou, ao longo de s ua vida, mais de 70 obras. Dentre seus trabalhos literários destacaram-se aind a O cavaleiro de Itararé (1933), A voz do Oeste (1934), Geografia se ntimental (1937), Nosso Brasil (1937), Sete noites de Joãozinho (1940 ), Vida de Jesus (1942), O rei dos reis (1946), Primeiro Cristo! (19 46), A tua cruz, senhor (1946), A imagem daquela noite (teatro relig ioso, 1947), Direitos e deveres do homem (1948), O poema da fortaleza de Santa Cruz (1948) e São Judas Tadeu e São Simão Cananita (1950). Publicou ainda os seguintes trabalhos em suas Obras Completas (20 v., 1956): Oriente, Pio IX e o seu tempo, Roteiro e crô nica de mil viagens, Críticas e prefácios, Contos e fantasias, Sentiment ais, Como nasceram as cidades do Brasil, Viagens pelo Brasil. Mais tarde publicou Poemas do século tenebroso (1961), e, sob o pseudônimo de Eze quiel, Trepandé (romance, 1972). Publicou também as obras político- filosóficas O sofrimento universal (1934), Despertemos a nação (1 935), A Doutrina do Sigma (1935), Palavra nova dos tempos novos (1936), Páginas de combate (1937), A aliança do sim e do não (1943), A mulher no século XX (1946), Conceito cristão de democracia (1946), Madrugada do espírito (1946), O

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integralismo brasileiro perante a nação (1946), Men sagem às pedras do deserto (1947), Extremismo e democracia (1948), O r itmo da história (1949), Discursos (1949), Espírito da burguesia (19 51), Livro verde da minha campanha (1956), Reconstrução do homem (1957) , O integralismo na vida brasileira (1958), Discursos na Câmara dos Dep utados (1961), Como se prepara uma China (1962), Instrução moral e cívica (1964), História do Brasil (1969), 13 anos em Brasília (1973) e A crise parlamentar. A seu respeito e sobre o integralismo destacam-se a s obras Plínio Salgado (1936), editada por Miguel Reale e Rui Arruda, Plín io Salgado and brazilian integralism 1932-1938, de Elmer R. Broxso n (tese de doutorado), Integralismo, o fascismo brasileiro da década de 30 (1974), de Hélgio Trindade, "As classificações de Plínio - uma anális e do pensamento de Plínio Salgado", de Ricardo Benzaquen de Araújo in Revista de Ciência Política (Rio nº. 3, vol. 21 - setembro de 1978) e Ideologia autoritária no Brasil 1930-1945 (1978), de Jarbas Medeiros, O i ntegralismo de Plínio Salgado - forma de regressividade no capitalismo hi pertardio (1978), de José Chasin, e 1938: terrorismo em campo verde (197 1), de Hélio Silva.

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