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A história devastadora das indústrias petrolíferas e bancárias na guerra privatizada de Angola. “OS HOMENS DOS PRESIDENTES”: VERSÃO DO REALIZADOR Um Relatório da Global Witness Protagonistas principais JACQUES CHIRAC e JOSÉ EDUARDO DOS SANTOS Co-protagonista BORIS YELTSIN como ele próprio • Participação especial de GEORGE W BUSH e DICK CHENEY • Baseada numa ideia original de CHARLES PASQUA e JEAN-CHARLES MARCHIANI o Falta de transparência pela maioria da INDÚSTRIA INTERNACIONAL PETROLÍFERA E BANCÁRIA Introduzindo a noção de “DIVULGUE O QUE PAGA” Sem classificação: sem censura pela COMUNIDADE INTERNACIONAL Estreia Mundial a partir de Março de 2002 Global Witness apresenta...

A história devastadora das indústrias petrolíferas e ... · Petróleo para Angola. Adoptar uma política de auditorias independentes e transparentes a programas sociais, que tenha

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A história devastadora dasindústrias petrolíferas e bancáriasna guerra privatizada de Angola.

“OS HOMENS DOS PRESIDENTES”: VERSÃO DO REALIZADOR Um Relatório da Global WitnessProtagonistas principais JACQUES CHIRAC e JOSÉ EDUARDO DOS SANTOS

Co-protagonista BORIS YELTSIN como ele próprio • Participação especial de GEORGE W BUSH eDICK CHENEY • Baseada numa ideia original de CHARLES PASQUA e JEAN-CHARLES MARCHIANIo Falta de transparência pela maioria da INDÚSTRIA INTERNACIONAL PETROLÍFERA E BANCÁRIA

Introduzindo a noção de “DIVULGUE O QUE PAGA”Sem classificação: sem censura pela COMUNIDADE INTERNACIONAL

Estreia Mundial a partir de Março de 2002

Global Witness apresenta...

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Os Homens dos Presidentes

Recomendações

As Empresas Petrolíferas devem:

● Adoptar uma política de transparência total. Istoimplica:

. Publicar as contas sobre a totalidade dos impostos eoutros pagamentos aos governos de todos os paísesonde operam. Para além da informaçãoactualmente disponível nos relatórios das empresassubsidiárias, a informação a publicar deveráreflectir os pagamentos líquidos feitos àsautoridades nacionais de cada país onde operam edeverá ser incluída nos relatórios anuaisconsolidados da empresa-mãe e nos relatóriosanuais para as autoridades de investimentos.

. Os dados devem ser apresentados localmente, nalíngua nacional de cada país onde a empresa temoperações, para além de na língua do país deorigem da empresa.

. As empresas-mãe devem tornar públicos os nomes elugares de registo de todas as empresas subsidiáriase os países onde realizam as suas actividades.

● Abraçar uma posição unificada de inteiratransparência relativa a pagamentos aos governosnacionais por parte de todas as empresas no sectorpetrolífero, em todos os países onde operam.

● Facilitar a publicação do estudo do Diagnóstico doPetróleo para Angola.

● Adoptar uma política de auditorias independentes etransparentes a programas sociais, que tenha emconta o objectivo e os custos do projecto.

Os Bancos Comerciais envolvidos em empréstimos apaíses com graves problemas de corrupção (como Angola)devem:

● Publicar todos os detalhes dos empréstimosproporcionados, incluindo detalhes de quantiasentregues, beneficiários, taxas de juro, datas devalidade e propósito do empréstimo.

● Certificar-se de que existem sistemas internoscapazes de prevenir empréstimos que violem oslimites de empréstimos acordadosinternacionalmente, tal como o limite de milhões de dólares para acordado entreAngola e o FMI.

● Esclarecer que medidas foram tomadas paraverificar que os gastos actuais correspondemàqueles previstos e indicados nos documentos dobanco e insistir para que tais gastos possam serverificados, fazendo disso uma condição necessáriapara o concedimento do empréstimo.

● Diagnosticar e implementar mecanismos paraassegurar transparência fiscal em empréstimosinternacionais em conjunção com instituiçõesmultilaterais de crédito. Isto implicacondicionalidade na atribuição do empréstimo:empréstimos devem ser aprovados quando o uso deempréstimos anteriores tenha sido verificado eaprovado por um comité reconhecido; a formacomo os fundos são utilizados deve sermonitorizada e as irregularidades punidas atravésda não atribuição de empréstimos futuros.

● Assegurar que qualquer empréstimo futuro aAngola seja pagável através de uma viagovernamental única com fiscalização apropriada,em vez da actual situação onde existem umavariedade de vias paralelas.

● Adoptar imediatamente as directrizes de anti-lavagem de dinheiro de Wolfsberg. Os signatários deWolfsberg – particularmente ABN Amro, Citibanke Société General que já emprestam dinheiro aAngola – não devem conceder nem colaborar naconcessão de nenhum empréstimo se alguma daspartes não demonstrar inteira transparência quantoaos fins e gestão desse empréstimo.

● Bancos como o Lloyds Bank de Londres, queadministra o Trust de Cabinda, devem publicaractualizações regulares detalhando os recursos dosTrusts e respectivos encargos.

Agências de Crédito-Exportação Bilateral devem:

● Impor transparência total por parte de todos osparticipantes como condição para futuros acordosde crédito à exportação.

Os Governos Nacionais devem:

● Assegurar que as suas empresas petrolíferasnacionais adoptam critérios de transparência totalnas suas operações no estrangeiro. Os governosnacionais devem exigir-lhes que adoptem umaposição comum de força nesse campo. Os governosfrancês e americano em particular, devemincentivar as suas indústrias petrolíferas a praticartransparência. Na qualidade de exploradoresprincipais no off-shore de Angola, a apatia total daTotalFinaElf, Chevron e Exxon neste aspecto élamentável.

● Insistir para que os reguladores financeiros dasbolsas internacionais obriguem legalmente asempresas a submeter nos relatórios de contas dogrupo e das subsidiárias todos os pagamentos feitosa governos nacionais.

● Insistir para que as suas agências de financiamentoà exportação ajam de forma transparente parapoderem criar acordos de crédito, e para que atransparência no que respeita a parceiros ebeneficiários seja um requisito imprescindível paraa concessão de fundos.

● Avançar rapidamente com o processo de “expor eenvergonhar” para isolar instituições que escondeme branqueam dinheiro ilegal e também identificar econfiscar bens de regimes corruptos e com falta detransparência.

O Governo de Angola deve:

● Implementar imediatamente uma política detransparência respeitante ás receitas e despesasgovernamentais. O governo deve também darexplicações sobre as receitas controladas e gastas noestrangeiro, em orçamentos paralelos e/ou pelapresidência.

● Aceder ao pedido da sociedade civil para prestaçãode contas e aumento dos gastos sociais.

● Publicar imediatamente os resultados dodiagnóstico do sector petrolífero e permitir tambémao FMI a publicação desses dados.

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Os Homens dos Presidentes

O FMI deve:

● Tornar públicos e acessíveis os resultados doPrograma Monitorizado, principalmente oesperado relatório da KPMG sobre o diagnósticodo sector petrolífero.

A comunidade internacional deve:

● Instaurar investigações nacionais adequadas sobre acompra de influências na atribuição de acesso àsreservas de petróleo e desvio de receitas por parteda indústria petrolífera angolana; colaborar com ainvestigação francesa sobre o Angolagate. Quemsabia o quê e quando?

● Insistir para que a indústria petrolífera e o mundodas finanças implementem uma política detransparência total respeitante ás receitas eempréstimos a Angola e a outros regimes corruptose neo-autoritários.

● Providenciar um mandato para requerer ao FMI,uma análise retrospectiva das receitas do petróleodesde como parte de um esforço internacionalpara identificar e repatriar o capital estataldesviado, após o escândalo Angolagate, e insistirpara que o FMI torne pública a informação obtidacom o Programa Monitorizado.

● Fazer com que os actuais esforços de paz da ONU,concentrados no financiamento da guerra pelaUNITA se ampliem para incluir também a falta detransparência nas receitas governamentais dopetróleo para assim avançar o processo de paz e adesmobilização. A ONU deve também incluir asociedade civil na implementação de qualqueracordo de paz.

● Reconhecer que a definição de comportamentoaceitável por parte das corporações implica práticasde negócio transparentes e a apresentação deinformação sobre pagamentos a governos nacionaise aos cidadãos desses países. Programas reguladoresfuturos e códigos voluntários de conduta terão quepassar a incluir como “parte interessada” apopulação geral do país, em cujo nome se exploramos recursos territoriais. A sociedade civil tem direitoa receber informação adequada para poder pedircontas aos governantes sobre a administração dos“seus” recursos. Chegou a hora de passar do debatesobre a responsabilidade social das empresas àprestação de contas por parte das corporações.

O grupo dos G, UE, OCDE e a Nova Parceria para oDesenvolvimento Africano (New Partnership for ÁfricanDevelopment – NEPAD) devem:

● Acabar com os acordos secretos entre governos emultinacionais, e iniciar a publicação de normascontratuais definindo e legislando um conjunto deregras para a “boa prática” de empreendimentosmultinacionais, estruturando condições financeirastransparentes com os governos em questão. Estainiciativa requer que para o G e outrasorganizações, seja uma prioridade fazer com queconstitua um requisito legal para as autoridadesreguladoras nacionais, a transparência total dasempresas e dos pagamentos aos governos nacionais.

Índice

Recomendações

Os Homens dos Presidentes – introdução

Primeira Parte: O Escândalo

História de um saque estatal e de uma guerra privatisada – resumo

Angolagate – a história completa

Pierre Falcone e a Sofremi

A rede da Brenco e os negócios com Angola

O império de negócios de Gaidamak

Os negócios e as ligações da Brenco noutros países

A quem pertencem os biliões nesta conta?

O Angolagate alcança os Estados Unidos?

Começam as buscas e detenções

Jean-Christophe Mitterrand

Jacques Attali

Angolanos ligados ao Angolagate

O Presidente E. dos Santos confirma suspeitas sobre o Angolagate

Parte Dois: A Cumplicidade das Empresas Petrolíferas

Introdução

Progresso da indústria petrolífera angolana

As dez principais empresas petrolíferas em Angola

Práticas correntes nas declarações de pagamento de impostos

Diálogo com as empresas

Rabo de elefante ou elefante? – a realidade das contribuições dasempresas petrolíferas para as receitas do estado angolano

O FMI em Angola

Progressos até à data

Programas sociais de empresas

Responsabilidade social das empresas – sentimento genuíno ousimples relações públicas?

Regulando a divulgação de pagamentos

Riscos de cumplicidade

A verdade sobre o pagamento de impostos ao governo angolano em –mais um caso de desaparecimento de fundos?

Cumplicitómetro

A cumplicidade das empresas petrolíferas – conclusão

Parte Três: O Financiamento

Introdução – empréstimos internacionais a Angola

A torneira do crédito continua aberta …

Novos empréstimos desde Dezembro de

Princípios Wolfsberg – directivas contra o branqueamento dedinheiro para a banca privada

Fechar a lavandaria dos ditadores

Conclusão

Referências

Agradecimentos

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Os Homens dos Presidentes– introdução

OS HOMENS DOS PRESIDENTES é oresultado de dois anos de investigações eapresenta uma actualização dacampanha a favor de transparência totalnos sectores bancário e petrolífero. Dá

prosseguimento às revelações iniciadas em Dezembro de com o relatório Um Despertar Cru, sobre o mecanismo de saqueestatal generalizado em Angola.

Ponto fulcral deste tema é a enorme discrepância: oempobrecimento progressivo do país durante quase quatrodécadas de guerra civil foi acompanhado pelo aumento dasreceitas do petróleo. Apesar de receber cerca de - biliões dedólares da venda do petróleo no ano passado (cerca de %das receitas do estado), o desenvolvimento social e económicode Angola continuou a deteriorar. Três quartos da populaçãoé actualmente forçada a viver em pobreza absoluta commenos de um dólar por dia; uma em cada três criançasangolanas morre antes dos cinco anos de idade e criançamorre agora cada três minutos devido a doenças evitáveis edesnutrição ( por dia); a esperança média de vida é deapenas anos; e cerca de , milhões de civis foram forçadosa abandonar as suas casas desde que a guerra recomeçou emJaneiro de .

As receitas, cada vez maiores, do petróleo foram desviadaspara os orçamentos paralelos do estado sombra. Ainformação que emerge de economistas envolvidos na análisedo sector petrolífero angolano, sugere que , biliões dedólares em receitas e empréstimos bancários – quase um terçodas receitas estatais – terão desaparecido durante o ano de. Apesar de o montante exacto das verbas desaparecidasser discutível – a informação sobre empréstimos e pagamentosrevelada neste relatório sugere que esta quantia poderá sersubstancialmente inferior à real – este valor contrastamarcadamente com os milhões de dólares que a ONUconseguiu juntar a muito custo para alimentar cerca de milhão de refugiados dentro de Angola totalmentedependentes de ajuda alimentar internacional.

As investigações da Global Witness sobre estas verbasdesaparecidas culminaram na descoberta do método usadopelos funcionários governamentais para ganhar dinheiro como processo de compra de material bélico a preços exagerados,chegando a lucrar com praticamente todos os artigosconsumidos na luta contra a UNITA. Foi descoberta aexistência de uma conta de bilião de dólares nas IlhasVirgens Britânicas ligada a este processo; entre os signatáriosda conta encontram-se dois indivíduos que circulam nas altasesferas da vida pública angolana.

Apesar de a Global Witness não negar que a maioria dosmembros do governo angolano deseja uma paz genuína, éevidente que o caos político e económico que a guerra civilcriou foi deliberadamente usado pela elite dirigente para seenriquecer. Enquanto isso, o conflito tem sido apontado comocausa da incapacidade do estado angolano em cuidar dos seuscidadãos. A morte do líder sociopático da UNITA, JonasSavimbi, a de Fevereiro de talvez represente o fimdesta desculpa; a comunidade internacional deve aproveitaresta oportunidade para pedir contas ao governo angolanosobre a utilização das receitas do petróleo.

‒ é uma sequência do casoAngolagate que veio à luz em França a finais do ano .Revela que aquilo que começou como o exercício legítimo dodireito a auto defesa por parte de um governo reconhecidointernacionalmente que se via ameaçado por forças rebeldes,se tornou numa apropriação e branqueamento a grandeescala de bens estatais, através de orçamentos paralelos,compras de armamento a preços exagerados e endividamento

“[Pergunta:Acha que vai haver paz em Angola?] Não. Eu já deixei de acreditar

através da hipotecação da produção petrolífera futura. Aculpabilidade e cumplicidade de intervenientes políticos eeconómicos em França e Angola chegou aos escalões maisaltos; entrevêem-se laços significantes com a actualadministração norte-americana, Israel, Rússia, Europa eprincipalmente com um grupo de pressão no ParlamentoEuropeu.

O recente e espectacular desmoronamento da Enronconstitui uma lição clara sobre os perigos da rede de “comprade influência”: as doações políticas da Enron compraram asubstancial reformulação da política nacional de energia euma diminuição de regulamentação. É, por isso, impossívelnão nos preocuparmos com a “assessoria” procurada atravésdas principais doações para a campanha eleitoral de GeorgeW Bush (subsequentemente devolvidas) por um empresaalegadamente fulcral no Angolagate. Se o impacto dessacompra de influência pode ser tão severo para os empregadose investidores americanos – teoricamente uma audiênciadoméstica – imagine-se o seu efeito no povo da remotaAngola.

‒ estabelece a cumplicidade das multinacionaisde petróleo que operam em Angola nos abusos económicosda elite governamental por optarem pela não publicação dasquantias pagas ao estado angolano. Estas empresas afirmamque não se querem envolver na política dos países ondeoperam; no entanto o facto de decidirem ocultar informaçãosobre os pagamentos feitos ao estado, quando esta informaçãopoderia ser facilmente publicada (e isso acontecenormalmente nos países desenvolvidos) constitui por si só umadeclaração política.

Segundo a lei angolana, “todos os depósitos dehidrocarbonetos líquidos ou gasosos … pertencem ao povoangolano” ; é por isso vergonhoso que não se permita aosseus donos saber – e são activamente impedidos de descobrir– quanto valem os “seus” recursos. Ao não “publicar asquantias que pagam”, as empresas petrolíferas estão ademonstrar uma diferença de comportamento que seriainaceitável no Norte e que impossibilita os cidadãos angolanosde pedir contas ao seu governo sobre as receitas provenientesdos recursos que se supõe serem administrados em nome dapopulação em geral. Em vez disso, as receitas petrolíferas sãodesviadas em negócios escuros de compra de armas e outrasmercadorias.

Apesar da oposição das empresas petrolíferas e do governoangolano à apresentação pública de contas, a Global Witness

Os Homens dos Presidentes

O país de rastos. O efeito devastador da guerra privatizadade Angola.

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nisso.Veja, a guerra aqui em Angola é como um emprego … O governo não faz

tem o prazer de apresentar essa informação pela primeira vez,respeitante ao ano . A ChevronTexaco e a TotalFinaElfocupam os primeiros lugares da lista de contribuidoresocultos: estas duas empresas são também famosas por serecusarem a tomar parte em discussões sobre transparência. Épreocupante o facto de, tal como demonstram os dados, entreo Ministério do Petróleo e o Ministério de Finanças haveruma discrepância de cerca de milhões de dólares,indicando que o dinheiro desaparecido em faz parte deuma sequência prolongada de abuso económico.

‒ , debruça-se sobre aforma como o sector bancário internacional temproporcionado paraísos offshore para bens e tem recebidopagamentos lucrativos por facilitar, sem grandes dificuldades,a concessão de empréstimos garantidos pelas reservas depetróleo. Os empréstimos assegurados pelas reservas depetróleo representam uma fonte adicional do estado de obterde receitas pouco transparentes. As investigações levadas acabo pela Global Witness sugerem que o governo angolanocontraiu empréstimos num valor superior a , biliões dedólares através da hipoteca da futura produção de petróleo ataxas de juro altíssimas entre Setembro de e Outubro de. Estes empréstimos foram concedidos por vários bancossem garantia alguma de que essas verbas seriam usadas paraos fins indicados nas aplicações. Se estes dados foremcorrectos, a estimativa de , biliões de dólares desviados podeestar muito abaixo da verdadeira quantia. Os bancosinternacionais obviamente deram pouca importância ao factode excederem largamente o limite de milhões de dólaresacordados com o FMI para o ano de . Agências deCredito à Exportação do Norte são culpadas de uma falta decuidado similar: o dinheiro público de países do norte está aser usado para garantir acordos financeiros de exportaçãopouco responsáveis, em países altamente corruptos e semincluir qualquer cláusula de transparência.

Apesar desta necessidade urgente de abertura etransparência no sector dos recursos naturais no que respeita apagamentos a regimes autoritários, nota-se uma falta depressão extraordinária por parte da comunidadeinternacional. Angola, por exemplo, registou um afastamentoem grande escala de políticas externas objectivas viradas parao país: reconhecendo a importância da produção de petróleofutura, os esforços diplomáticos têm no mínimo evitadoimportunar e, no pior caso, têm mesmo colaborado nasoperações dos seus interesses industriais. O relacionamentopolítico com o governo angolano tem-se concentradoresolutamente nas sanções à UNITA com o objectivo deforçar o grupo a respeitar as suas obrigações de acordo com oProtocolo de Lusaka de . Apesar de esse esforço ter sidolouvável – na realidade a Global Witness contribuiu de formaimportante ao expor o financiamento da UNITA através docomércio de diamantes, e continua agora a promover oProcesso Kimberley para resolver o problema dos diamantesno conflito – a comunidade internacional falhou ao nãoexaminar as falhas por parte do governo, incluindo a sua claraincapacidade em garantir as necessidades básicas mínimas àsua população devido a corrupção.

Sem o apoio de uma aliança internacional a favor demudança, as empresas petrolíferas que funcionam no paísficam numa posição difícil – mesmo que queiram agir deforma correcta e publicar os pagamentos feitos ao governoangolano, sofrem represálias por parte daqueles que têminteresse em manter o status quo. É significante o facto de quequando a BP anunciou que iria adoptar uma política detransparência recebeu imediatamente uma resposta violentapor parte da Sonangol, através de uma carta confidencial queapresentamos mais à frente neste relatório, e que demonstra oaparente desprezo com que o governo encara este tema. Éevidente que uma empresa sozinha não pode dar esseimportante passo, o que obriga a um esforço conjunto,racional e bem coordenado por parte das principais empresasque operam no país, as quais, segundo as respectivas sonantes

declarações de missão corporativa, são todas parceirasdedicadas ao desenvolvimento igualitário e justiça social. Acomunidade internacional deve actuar decisivamente paragarantir que todas as empresas possam concorrer em pé deigualdade, tornando obrigatória a publicação dos pagamentosa governos por parte das multinacionais no sector de recursosem todos os países onde operam. Isto pode facilmente ser feitoatravés da inclusão obrigatória dessas verbas nos relatóriosanuais aos principais reguladores financeiros internacionais.

A comunidade internacional deveria também identificar econgelar os bens saqueados de Angola depositados noestrangeiro, para serem repatriados mais tarde. Este relatóriorevela como o sistema de saque e branqueamento dos bensestatais tomou uma dimensão global. A destruição do WorldTrade Centre, criou um clima de urgência para confrontar otráfico de armas, o crime internacional e o branquamento defundos. Essa mesma resolução para procurar e confiscar osbens de grupos terroristas, deve ser também aplicada contraos mecanismos usados pelos governos corruptos e neo-autoritários para saquear os bens estatais.

Tal como escreveu o Presidente do Banco Mundial JamesWolfensohn após de Setembro de , “ponto fulcral paraa prevenção de conflitos e consolidação da paz devem ser asestratégias de promoção de coesão e inclusão social,garantindo a todos a oportunidade de emprego, evitandoassim na sociedade grandes diferenças de rendimento quepossam pôr em causa a estabilidade social, permitindo aosmais pobres o acesso à educação, saúde e serviços básicoscomo água potável, saneamento e poder”.

A publicação de todos os pagamentos a governosnacionais por parte das empresas de recursos naturais, é umrequisito necessário para se conseguir um desenvolvimentojusto e igualitário, e para impedir o aproveitamento descaradoda desordem politica para lucros pessoais. Este relatórioconstitui um desafio a todas as partes envolvidas, para avançarcriativamente e encarar as forças que estão por detrás de anosde guerra civil angolana, no sentido de obter contas fiscaisabertas da riqueza petrolífera angolana para que esta possafinalmente beneficiar os verdadeiros donos.

Os Homens dos Presidentes

Indicadores sociais em AngolaPopulação 12.4 milhões Esperança de vida 48.9 anosOrçamento nacional US$5.1 biliões de dólaresPNB per capita (constante 1995 US $) US$233

CriançasPopulação com menos de 15 anos 48%Taxa de mortalidade infantil nos menores de 1 ano 12.4%Taxa de mortalidade infantil nos menores de 5 anos

masculino 20.9%feminino 19.2%

Taxa de matriculação escolar, Ensino Primário 37.5%Menores de 5 anos de idade a sofrer de desnutrição 35%Crianças com deficiências de peso 42%

(14% grave)

Estatísticas relativas à pobrezaPopulação a viver em pobreza absoluta e relativa 82.5%Taxa de mortalidade materna em 1996 1.9%População sem acesso a água potável 62%População sem acesso a saneamento adequado 56%População sem acesso a cuidados de saúde 76%Pessoas que necessitam de auxílio alimentar 3.2 milhõesTaxa de desnutrição grave (estimativa) 13%Pessoas deslocadas no próprio país (estimativa) 3.5 milhõesTaxa de desemprego 80%Taxa de alfabetização nos adultos 42%

Minas terrestresVítimas de deficiências causadas por minas terrestres 86.000

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O Escândalo

História de um saqueestatal e de uma guerraprivatizada – resumo

APÓS O RELATÓRIO Um Despertar Crude Dezembro de , a Global Witnessprosseguiu com as investigações sobre ofinanciamento da máquina bélicaangolana. O resultado revela como um

direito legítimo de auto defesa contra a UNITA setransformou numa conspiração que envolve as mais altasesferas políticas e individuais em Angola e não só, pararoubar as riquezas do país através de comissões ocultasrelacionadas com acordos de compra de armas a preçosexagerados, financiados com empréstimos garantidos pelaprodução petrolífera.

As investigações indicaram que certos indivíduosbeneficiam financeiramente com o processo de aquisiçãode material militar, e com praticamente todos os artigosconsumidos na guerra contra a UNITA. Isto leva a umaconclusão preocupante: a desordem política e social e umaausência total de transparência nas receitas petrolíferasgovernamentais, são as condições necessárias para ofuncionamento deste sistema de comissões ocultas e desviode fundos. Após a morte do líder da UNITA, JonasSavimbi, o desejo de alcançar a paz parece ter recebidoum grande impulso e esta oportunidade deve seraproveitada por ambas as partes no conflito. O actualcessar-fogo é a primeira indicação de que as negociaçõespara a paz poderão tornar-se uma realidade. Contudo,ainda não é claro como é que se alcançará uma pazgenuína. Ao continuarem a instabilidade e o conflito, ariqueza de Angola continuará a ser desviada através deuma variedade de centros e corporações off-shore, graçasao sistema bancário global, enquanto a grande maioriados despojados em Angola fica à mercê de caridadeinternacional.

Os Homens dos Presidentes revela um escândalointernacional que abrange um processo global de controlodo petróleo e a natureza predadora dos sistemasinternacionais bancário e financeiro. A variedade dejogadas sujas mencionadas nesta secção demonstra aforma como a comunidade internacional procurouvantagens mútuas na situação de falta de transparência dogoverno angolano para garantir fornecimentos futuros depetróleo. Do ponto de vista dos interesses petrolíferos, éum sucesso, mas tem sido um desastre para os cidadãosangolanos, que pagam um preço devastador pelo acessoaos recursos que estão a ser explorados em seu nome.

Uma ilustração do saque estatal emAngola?

Angolagate é o nome dado pelos media franceses einternacionais ao escândalo que envolveu, entre outrascoisas, a detenção em Dezembro de de Jean-Christophe Mitterrand, filho do ex-presidente francêsFrançois Mitterrand. A revista Fortune Magazinecomentou, “os escândalos de corrupção franceses são, pornorma, muito complicados” e, até ao momento, oescândalo discutido pela imprensa implica apenasalegações de compra de influência, tráfico de armas eabuso da confiança pública por parte de uma redecomplexa de indivíduos durante o fornecimento de armasa Angola entre e .

As investigações da Global Witness revelaram

informação adicional que, juntamente com o materialpublicado, não deixa dúvidas de que o caso Angolagate eos eventos relacionados de / são apenas umapequena parte de um escândalo internacional muito maisvasto que envolve figuras importantes dos negócios e dapolítica internacional. Na realidade, a verdadeira históriaincide sobre a privatização da guerra em Angola e aorganização do saque estatal numa escala comparável aode Mobutu e Abacha. Até que ponto chega este escândaloe que outros líderes políticos internacionais estãoimplicados é difícil de determinar. No entanto, tal comoexplicou Philippe de Villiers, ex-vice presidente do partidoRassemblement pour la France (RPF) do antigo ministrodo interior francês Charles Pasqua, “posso confirmar deforma bem explicita que o caso Mitterrand-Pasqua[Angolagate] é um caso de estado muito sério comramificações intercontinentais …”

Esta secção introdutória apresenta um resumo e umabase para o caso global e explora as implicaçõesinternacionais mais extensas. A história completa começana secção intitulada “Angolagate – a história completa”. AGlobal Witness gostaria de salientar que não está a tentarculpar nenhuma das partes e que os indivíduos que sãonomeados ainda não foram julgados por nenhum tribunal.No entanto, convidamos desde já essas pessoas implicadasa clarificar as suas acções.

Os Homens dos Presidentes

nada pelo povo angolano. Eles ficam com o dinheiro para as escolas e para os

A África é vista pela França como ‘terra-de-ninguém do ponto de vista judicial que, emnome de interesses políticos mútuos, será sereternamente uma terra de crimes sempunição.’

Reuters, citando um editorial do Le Monde,Dezembro 200292

PARTE I : O ESCÂNDALO©

Panos Pictures / Anders

Promessas quebradas. Terá E. dos Santos feito o seu “melhorpara Angola”, tendo em conta a corrupção que rodeia asreceitas do petróleo e os empréstimos garantidos comexploração petrolífera futura?

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O Escândalo

O início de compra de influência francesaem Angola.

Em , apesar de ter ganho as eleições de oPresidente dos Santos estava a perder a guerra contra aUNITA que tinha voltado ao conflito armado após aderrota eleitoral, e que nessa altura controlava cerca de% do país. O governo não tinha armas nem finançaspara lhe fazer frente.

O pedido de ajuda de Eduardo dos Santos foi dirigidoa contactos favoráveis dentro da presidência francesa deMitterrand em Paris. Isto parecia trazer a solução para acrescente paranóia francesa acerca do controlo total dosector petrolífero angolano por parte dos EUA, após adecisão da administração americana de Bill Clinton decortar o apoio à UNITA. Havia no entanto um obstáculono caminho da ajuda francesa ao governo angolano,devido ao facto de o Presidente Mitterrand estar no seusegundo mandato a compartilhar o poder com o governode centro-direita do Primeiro-ministro Edouard Balladur.Qualquer ajuda militar do governo francês a Angola teriaque ser aprovada pelo ministro da defesa francês que naaltura era um dos principais apoiantes da UNITA emParis. Os canais oficiais de apoio encontravam-se assimfechados.

Segundo se alega, Jean-Christophe Mitterrandapresentou então o empresário Pierre Falcone para darsolução a este problema. Falcone encabeçava um grupo deempresas sob o nome de “Brenco International”, aomesmo tempo que exercia as funções de “assessor chave”para a Sofremi, uma empresa de exportação de segurançaque era controlada pelo Ministério do Interior francês,que na altura era chefiado pelo Ministro Charles Pasqua.

A equipa de Pasqua viu imediatamente a oportunidadede fazer frente ao domínio americano no petróleo deAngola. Segundo a imprensa, apesar de Falcone ter sidoenvolvido graças à ala política francesa de esquerda, eraagora apoiado pela Direita através da equipa de Pasqua, eficou encarregado de proporcionar uma solução para asnecessidades financeiras e de armamento de Angola, coma condição de os fornecimentos não partiremdirectamente de França.

De acordo com numerosos artigos na imprensafrancesa, Falcone formou então uma sociedade com oemigrante empresário Russo Arkadi Gaidamak (quetambém se escreve “Gaydamac”). Em conversa telefónicacom a Global Witness, Gaidamak afirmou que nessaépoca, ele e Falcone viajaram a Angola onde lhes foramentregues passaportes diplomáticos angolanos, o que lhespermitiu operar como autênticos oficiais angolanos.Durante essa conversa e em artigos de imprensaanteriores, Gaidamak afirmou que o objectivo dessacolaboração estava relacionado com o concedimento deempréstimos a Angola garantidos com o petróleo, e negouque tivessem estado envolvidos no fornecimento de armas.Durante uma conversa posterior com a Global Witness,Gaidamak admitiu que tinham sido fornecidas armas,embora tenha negado o seu envolvimento directo. A suajustificação para essa acção foi que os acordos tinham sidofeitos com um governo legítimo.

Artigos na imprensa francesa descrevem uma série decontractos supostamente organizados por Falcone eGaidamak, para o fornecimento de armas a Angoladurante e , totalizando cerca de milhões dedólares. Foram publicados documentos com pormenoresde certos aspectos destes contractos e apesar de parecerque contêm a assinatura de Falcone, Gaidamak faz-senotar pela sua ausência.

Segundo o L’Express, Falcone e Gaidamak eram “otandem que forneceria armas ao regime de Angola” epara isso, eles tomaram “o controlo de uma empresa,ZTS-Osos, com sede na Eslováquia.” O jornal refere-se aarmas incluindo “tanques, mísseis, helicópteros, veículos

de combate e de transporte de tropas, todosmanufacturados na Rússia”, entregues após contractos de e , e que as negociações “tinham lugar em Parise o dinheiro passava pelo Banque Paribas na capitalfrancesa.”

O Banque Paribas, que foi comprado e faz agora partedo grupo BNP-Paribas, foi também um dos principaisbancos envolvidos na concessão de empréstimos a Angolagarantidos pelas reservas de petróleo. Segundo Gaidamak,tanto ele como Falcone tinham recebido controlo sobre osfundos provenientes desses empréstimos, exercendo assimas funções de verdadeiros representantes do governoangolano. Será que algum dos empréstimos concedidopelo Banque Paribas foi usado para obter armas seguindoos parâmetros mencionados antes? Quer a resposta sejaou não afirmativa, isso levanta outra questão: tendo emconta os riscos bancários associados com empréstimos nãopagos, porque razão estava o Banque Paribas disposto aconceder empréstimos substanciais a um governo que naaltura estava longe de ter a sua sobrevivência garantida?

Será que Angola fez um bom negócio?

Não se pode dizer com certeza que os contratosrepresentam um bom negócio para Angola. Não se duvidaque nesta altura o governo recebeu armamento dequalidade suficiente para mudar o rumo do conflito,permitindo-lhe voltar a uma posição de igualdade com aUNITA o que, por sua vez, levou aos acordos doprotocolo de Lusaka em . No entanto, o tema dofornecimento de armas e outras mercadorias a Angoladurante a década de tem recebido acusações de falta dequalidade. Estas acusações vão desde a importação decarne podre, com a única finalidade de pagamento decomissões, à entrega de tanques de guerra e outroequipamento pesado, cuja qualidade era tão baixa quetinham que ser retirados do navio com correntes etransportados directamente para “cemitérios de tanques”nos arredores de Luanda.

A situação em África

O tipo de situação acima descrita não é comum apenasem Angola. Investigações levadas a cabo pela GlobalWitness em vários pontos do continente africano onde háconflitos, sugerem que em muitos casos os negócios dearmas constituem um mau negócio se se tiver em conta aqualidade e o preço do artigo. Por exemplo, em váriosacordos foram fornecidas armas que valem apenas umafracção do valor pago. Numa ocasião, o governo emquestão pagou aproximadamente % do valor nominaldo contrato e recebeu depois armas no valor de % dovalor nominal do contrato, gerando imediatamente umlucro de % no acordo. Como se isso não fosse suficiente,os fornecedores arranjaram depois financiamentoadicional por parte de vários bancos, garantidos pelosrendimentos da extracção de recursos naturais, pelorestante valor do contrato. Estes fundos adicionais,totalizando % do valor nominal do contrato, foramadicionados aos % de lucro no pagamento inicial.

Os Homens dos Presidentes

hospitais e põem-no nos bolsos.A eles não importa porque se os filhos

A cena que se desenrola perante os nossosolhos é esmagadora. No coração do Estado[França], as redes socialista e neo-gaulistauniram forças para se enriquecer ao facilitar avenda de armamento pesado russo a um paísdevastado pela guerra e pela miséria.

Reuters, citando um editorial do Le Monde,Dezembro 200292

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O Escândalo

Como resultado, o país em questão obteve armamento novalor de um quarto daquilo que pagou, gerando enormeslucros para todos os envolvidos nos acordos.

Mais além do Angolagate – tráfico dearmas após /

As investigações da Global Witness revelaram que pelomenos um outro contracto de fornecimento de armas foiorganizado com a ZTS-Osos em ou . Apesar dea data do contracto ser incerta, é possível que estecontracto, de um valor aproximado de milhões dedólares, tenha sido acordado aproximadamente na mesmaaltura em que o Paribas concedeu o empréstimo de milhões de dólares, a de Setembro de .

É interessante que a assinatura de Gaydamac (assimescrito) parece ter sido incluída junto com a de Falcone nocontracto de / com a ZTS-Osos, como se pode verna página . Fontes fidedignas revelaram que era muitoraro Gaidamak assinar documentos. No entanto com baseem existentes provas documentais, a assinatura de Falconeparece ser genuína; se assim for, então Gaidamak, nomínimo deve explicar como é que o seu nome aparece nodocumento.

As investigações revelaram também que para além dearmas, um modo semelhante de financiamento efornecimento tem sido usado para comida, medicamentose outros serviços requeridos pelo governo angolano parauso na guerra. Uma das vias utilizadas para fornecergéneros alimentares e medicamentos às forças armadas deAngola é a subsidiária da empresa Brenco Internationalde Falcone, chamada Empresa Angolana de DistribuiçãoAlimentar (CADA), a qual, segundo consta, conseguiu omonopólio de fornecimento às Forças Armadas de Angola(FAA) por um período de cinco anos.

Angolagate e processos legais

Após uma série de investigações judiciais,mencionadas mais à frente neste relatório, PierreFalcone foi detido em de Dezembro de . Asua detenção e as interrogações e buscas levadas acabo nos escritórios e residências de outrosindivíduos alegadamente envolvidos no escândalo,fizeram com que se falasse na imprensa de umAngolagate. Personagens proeminentes incluindoJean-Christophe Mitterrand, Jacques Attali, antigoconselheiro do Presidente Mitterrand e primeirodirector do Banco Europeu para a Reconstrução eDesenvolvimento, e outros indivíduos menosconhecidos foram depois detidos e acusados devários delitos. Durante , tanto o antigo Ministrodo Interior Francês Charles Pasqua como o seubraço direito, Jean-Charles Marchiani, foramformalmente advertidos e interrogados sobre o caso;estes últimos parecem não ter sido formalmentedetidos por usufruírem de imunidade ao seremmembros do Parlamento Europeu.

Foi passado um mandato internacional decaptura com o número , referente aArkadi Gaidamak em de Janeiro de . Noentanto, Gaidamak parece usufruir agora daprotecção de Israel. Segundo fontes beminformadas, ele continua a viajar livremente entreAngola e Israel, América do Sul e Reino Unido.

Após numerosos apelos legais, Falcone foifinalmente posto em liberdade em de Dezembro de, após ter passado exactamente um ano na prisão.Saiu após pagamento de uma fiança de milhões defrancos franceses (.. dólares), um valor dezvezes superior à fiança mais alta de sempre em França.O Nouvelle Observateur mencionou que o Tribunal deRecurso reduziu a fiança de Falcone para milhões deEuros (.. dólares) , que segundo referiu amesma publicação, será paga pela empresa estatal depetróleo angolana Sonangol, para demonstrar asolidariedade de Angola para com Falcone.

O Grupo Brenco e as ligações com osEUA

Artigos do Arizona Republic e da Newsweek Magazinesugeriram que Falcone está bem visto nos EUA e quetem fortes ligações com a elite política norte-americana.No final de , Falcone comprou uma mansãoimensa em Paradise Valley, Arizona, por uma supostaquantia de , milhões de dólares, sendo esse o preçomais alto jamais pago por uma propriedade privada nahistória do Arizona. Entrevistas no Arizona Republic comindivíduos que afirmam conhecer de perto Falcone e asua bela esposa boliviana Sonia, sugeriram que eleslevavam uma vida de sonho, frequentando as festas daelite do Arizona e gastando quantias substanciais emvários empreendimentos filantrópicos.

Sonia de Falcone administra Essanté, uma empresaregistada no Utah especializada em produtos de beleza

Os Homens dos Presidentes

O Angolagate continua …O barco “Anastasia”, apreendido nailha Gran Canária em Fevereiro de por posse dedocumentação falsa e por não ter declarado toneladas dearmas e explosivos destinados a Angola.

© EFE / Elvira U

rquijo A.

adoecerem levam-nos para a Namíbia ou para a África do Sul, e as crianças

Uma lição em transparência – quemregista contas assim?As investigações da Global Witness identificaram a existência deuma conta bancária número 15468991- existente no chamado“First Virgin Bank” nas Ilhas Virgem britânicas (IVB). Esta contaconteve entre 1 e 1,1 biliões de dólares durante 2001, tendo comosignatários dois indivíduos que circulam nas mais altas esferas davida pública angolana.A verdadeira identidade do “First Virgin Bank”constitui um mistério. (Para mais informação ver A quem pertencemos biliões desta conta? – página 22.)

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O Escândalo

e saúde e ultimamente também em produtos cujoobjectivo é aumentar o prazer sexual. A empresa foiincorporada em Delaware em Abril de ,constando Sonia e Pierre Falcone na lista dosdirectores. A Essanté está também ligada ao grupoBrenco no que respeita a accionários e endereçoscomuns, tanto no Reino Unido como em empresasholding nas Ilhas Virgem britânicas. Segundo aNewsweek Magazine e o Arizona Republic, e com base emarquivos federais de fundos eleitorais, a Essanté doou. dólares para a campanha eleitoral de GeorgeW. Bush. Esta doação foi devolvida em Janeiro de e o Arizona Republic num artigo citou a Newsweek “essedinheiro foi devolvido para evitar perguntas sobre atentativa de compra de influência por parte de umcomerciante internacional de armamento naadministração de Bush.” O Arizona Republic comentouque o porta-voz da família Falcone, Jason Rose,“zombou de tal insinuação”. O artigo da Newsweek emJaneiro de referia-se à doação de Falcone e àdetenção deste em Dezembro de na França.

A publicação norte-americana In These Timescontribuiu para o aumento da polémica sobre a doaçãoda Essanté para a campanha de Bush. Num artigointitulado “O vizinho comerciante de armas”, apublicação In These Times publica afirmações de SoniaFalcone afirmando que “o marido dela não tinhaligações com a Essanté e que a contribuição política daEssanté provinha de lucros corporativos.” O artigoprossegue “mais significantemente, a Essanté, tiveraprejuízo nos sete anos prévios e não possuía lucros parafazer contribuições políticas.” O artigo apresentadepois comentários feitos pelo legendário agente derelações públicas de Hollywood, Lee Solters, quesupostamente afirmou que a Essanté tinha gasto osprimeiros seis anos e milhões de dólares paradesenvolver a sua gama de produtos. As vendas tinhamapenas começado de uma forma séria em Setembroúltimo, após uma festa de lançamento que durou trêsdias no Hotel Paris em Las Vegas. In These Timesconclui citando uma fonte descrita como“familiarizada com a família”, com “a empresa[Essanté] chegou longe com a generosidade de Pierre,mas após alguns anos ele gostaria de ver alguns lucros.Isso não lhe agrada nada, mas devido ao amor que tempela esposa, ele fá-lo com um sorriso no rosto.”

Se a Newsweek não tivesse levantado a questão dadetenção de Pierre Falcone e da doação da Essantéserá que o dinheiro teria sido devolvido pelo comité dacampanha de Bush? Segundo o In These Times, “oPartido Republicano devolveu a doação após adetenção de Pierre, – “para evitar dar a impressão deagir de má fé,” segundo um comunicado do ComitéNacional Republicano.”

Segundo a Swissinfo, um site de Internet suíçosobre assuntos suíços, em de Março de ,“autoridades judiciais do cantão Genebra [...]lançaram outra investigação sobre branqueamento dedinheiro alegadamente relacionado com o tráfico dearmas para Angola.” O artigo descreve como estainiciativa “dava continuação a uma investigaçãoanterior sobre branqueamento de dinheiro tambémrelacionada com o tráfico de armas para Angola quetinha sido iniciada pelo Procurador Supremo deGenebra, Bernard Bertossa, em Janeiro [].”

Segundo a Swissinfo, como parte dessa investigação,“vários bancos de Genebra receberam ordens derevelar se alguns indivíduos ou entidades incluídas nalista [uma lista de indivíduos e empresas enviada aoProcurador de Genebra pelos investigadores franceses]tinham contas neles.” Prosseguia, “ se assim fosse, osfuncionários deveriam requerer estratos bancáriosdesde , altura em que tinham entrado em vigorleis suíças referentes a branqueamento de fundos.” Deacordo com Swissinfo, “um dos mais destacados nomesna lista era o do antigo Ministro do Interior Francês,Charles Pasqua, e o seu filho Pierre Pasqua. ODeputado Europeu Jean-Charles Marchiani e SoniaFalcone, esposa do alegado negociante de armas PierreFalcone, estão também na lista.” Não se pretendeinferir que Sonia Falcone esteja sob investigaçãojudicial ou que tenha cometido ilegalidades –presumivelmente a listagem estará relacionada com ainvestigação em curso sobre o seu marido.

Mais ligações norte-americanas – ondehá fumo há fogo?

Pouco antes da detenção de Falcone em Dezembro de, as investigações judiciais em França levaram aum raid ao apartamento da secretária de Falcone.Segundo artigos na imprensa francesa, osinvestigadores encontraram disquetes, contendoquantidades significantes de documentos compormenores das actividades, contractos e cartasrelacionados com as actividades de Falcone em Angola.Uma vez que estas disquetes forneciam informação deprimeira qualidade que levou às primeirasinterrogações, e em certos casos, a detenções de entreoutros, Jean-Christophe Mitterrand, Jacques Attali,Charles Pasqua e Jean-Charles Marchiani, é lógicosupor que a informação que contêm é consideradapelos juízes investigadores como sendo de confiança.

Entre estes documentos, está alegadamente umacarta descoberta pelos investigadores, convidando oentão candidato a presidente da América, George WBush para um encontro com o presidente angolanoEduardo dos Santos no rancho de Falcone no Arizona.A Global Witness pensa que este encontro não serealizou, apesar de não se saber ao certo porquê. Noentanto, tendo em conta a aceitação por parte dacampanha eleitoral de Bush dos fundos doados pelaEssanté até serem publicamente confrontados,podemos assumir que o encontro talvez não tenha tidolugar devido a problemas de agenda e não por falta deconfiança em Falcone ou da sua iniciativa.

Num artigo da publicação francesa La NouvelleObservateur, publicado no final de Dezembro de ,aparecia implícita outra forte ligação entre Falcone e afamília Bush. A revista sugere que para além dofinanciamento da campanha eleitoral, Laura Bush eSonia Falcone são amigas. Entretanto, a publicação InThese Times, sugere que tal relacionamento teráacontecido mais devido aos conhecimentos ligados aosenador Bundgaard, do estado de Arizona, e aosfundos doados para a campanha de Bush do que aqualquer amizade real. Independentemente da

Os Homens dos Presidentes

Chefe da Brenco, Pierre Falcone. Uma personagem no centro doAngolagate.

vão estudar para o estrangeiro. Eles usam as pessoas para combater na

© U

nknown

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O Escândalo

realidade de qualquer relacionamento entre as duasfamílias, não é difícil imaginar que Falcone estaria emposição de organizar um encontro com o futuropresidente dos Estados Unidos.

Parece provável, no entanto, que a potencial influênciade Falcone não se tenha limitado a doações políticas paraa campanha de Bush. Segundo a publicação In These Timeshouve um encontro em Junho de entre Falcone e trêsexecutivos de alto nível, não nomeados, da empresaPhillips Petroleum Corporation, uns cinco meses antes dadetenção de Falcone em Paris. A Phillips PetroleumCorporation controla % do bloco , em Angola,obtidos em , mas as negociações em relação a essaquota já estavam bastante avançadas por ocasião doalegado encontro entre Falcone e a empresa. Segundo oartigo, a Phillips recusou-se a pronunciar-se sobre omesmo.

A Global Witness tentou obter esclarecimentos sobre opapel, se é que teve algum, desempenhado por Falcone naaquisição da quota da Phillips no bloco . BryanWhitworth, Vice-presidente e Assessor Geral da Phillips,respondeu em Janeiro de , afirmando que ele nãotinha conhecimento de nenhum encontro em Scottsdaleem Junho de , mas que tinha sim havido um encontroem Setembro e outro posteriormente em Washington emOutubro de , “para determinar se a Phillips queria ounão utilizar o Sr. Falcone como consultor […] tendo-seconcluido que o Sr. Falcone não deveria representar aPhillips.” A carta refere ainda que “o Sr. Falcone nunca foiempregado da Phillips Petroleum Company nemrepresentou a Phillips de forma alguma.” Claro que estaresposta levanta a questão de porque é que estava a serconsiderada a hipótese de o Sr. Pierre Falcone poder vir aser um possível consultor, e porque razão chegaram àconclusão de que ele não era a pessoa mais indicada paraocupar esse cargo?

Michael Austin, um amigo da família Falcone combase no Arizona e dono do Website que apoia Falconeescreveu num E-mail enviado à Global Witness, “Pierrerecebe muitas receitas relativos ao bloco da Exxonlocalizado dentro das fronteiras de Angola.” Tendo emconta as aparentes reuniões entre Falcone e a Phillips, e ofacto de a ExxonMobil ser operadora do bloco emAngola, a ExxonMobil deveria esclarecer que papeldesempenha ou desempenhou Falcone no bloco . AExxonMobil deveria principalmente esclarecer se tevetambém reuniões com Falcone, e se este últimodesempenhou algum papel de consultoria ou de mediaçãona aquisição da licença para explorar o bloco . A GlobalWitness solicitou esclarecimento à ExxonMobil em deJaneiro de , mas até ao momento ainda não obteveresposta.

Após a detenção de Falcone em Dezembro de , ojornal Sunday Times deu a entender que poderiam existirligações entre o vice-presidente Dick Cheney, na suaqualidade de PCA da empresa de serviços petrolíferosHalliburton, e o escândalo Angolagate. O jornalcomentou que “na sua qualidade de Secretário da Defesa,Cheney tinha sido um apoiante declarado da UNITA …encontra-se agora na intrigante posição de terrecentemente liderado uma empresa que procurava obtercontractos com o “inimigo” mortal da UNITA.” Segundoo Sunday Times, durante a campanha eleitoral americanaCheney, terá aparentemente sido “acusado de usar os seuscontactos da época em que era Secretário da Defesa paraconseguir contractos para a sua empresa[Haliburton].”

Devido às sugestões do Sunday Times de que as“autoridades francesas [ligadas à investigação do casoAngolagate] estão a examinar as actividades de váriasempresas petrolíferas que fornecem a Angola a maiorparte das receitas vindas do estrangeiro – incluindo aHaliburton Co,...” levanta-se uma questão fulcral: seráque Pierre Falcone teve algum papel importante na

obtenção de contractos por parte da Haliburton? O vice-presidente Cheney deveria esclarecer imediatamente osucesso da Haliburton em Angola.

O escândalo da Enron demonstra claramente que acompra de influência é um grave problema nos EUA. Éinteressante como a doação de . dólares deKenneth Lay, PCA da Enron, é tão similar à de Falcone(. dólares). Vimos o quanto a Enron conseguiuobter através da sua “doação” – que esperava conseguirFalcone, e mais importante ainda, o que teria obtido se asua detenção não tivesse obrigado ao reembolso dodinheiro? É urgente levar a cabo uma investigaçãocompleta e rigorosa nos Estados Unidos sobre asramificações do Angolagate. É claramente positivo, paraas legítimas preocupações internas dos EUA, que asactuais investigações sobre a Enron conduzam a umalimpeza e a pôr ponto final aos esforços por parte deempresas, de comprar influência em Washington. Noentanto, devido às dificuldades da população angolana,que sofrem quase anos de guerra, e à importânciaestratégica que representa para os EUA devido à riquezados seus recursos, é necessário no mínimo umainvestigação exaustiva. Que sabiam os principaisintervenientes e quando o souberam?

Armamento e dívida à Rússia

Fontes sugerem um grande envolvimento russo na ZTS-Osos, a empresa com base na Eslováquia, fornecedora dearmas envolvida no Angolagate; incluindo empresas russasde produção de armamento como accionistas (Ver secçãoInteresses estatais russos na ZTS-Osos – página ).

Segundo vários artigos na imprensa, Falcone eGaidamak estiveram ambos envolvidos nos acordos de para renegociar a dívida angolana de , biliões dedólares com a Rússia. Segundo um artigo publicado emGenebra por Le Temps em Fevereiro de , “em , opar [Gaidamak e Falcone] negociou a reaquisição dadívida angolana para com a Rússia: esta receberia ,biliões de dólares em vez dos biliões de dólares que ogoverno de Luanda lhe devia.” O jornal prossegue, “osangolanos aceitaram devolver essa quantia graças àsreceitas provenientes do petróleo.” Comentando sobres osparticipantes no acordo, o jornal mencionou “empresassuíças participaram na operação: Glencore, em Zug,negociou o petróleo; Paribas (Suiça), juntamente comoutros bancos, disponibilizou o dinheiro prometido porAngola.”

O papel desempenhado por Falcone e Gaidamak nestaoperação não é claro. No entanto, Le Temps comentou que“Pierre Falcone estava encarregado de distribuir asreceitas provenientes da reaquisição da dívida entredignitários angolanos enquanto Gaidamak fazia o mesmona parte russa.” Tanto Falcone como Gaidamak fizeramcomentários sobre estes acordos, e Falcone sugeriu quetinha apenas ganho uma modéstia quantia “inferior a milhões de dólares,” pelos serviços prestados –ironicamente, uma quantia próxima daquela que foipreciso pagar como fiança em de Dezembro de .Gaidamak vangloriou-se: “na realidade, eu cheguei até asupervisionar as relações entre Rússia e Angola,defendendo os interesses de ambas as partes.”

Seja qual for a verdade neste caso, é claro que o FMIse preocupa com aquilo que na realidade terá acontecido.Em Dezembro de , o FMI ainda não tinhaconseguido obter nenhum esclarecimento sobre esteassunto, nem em Luanda nem em Moscovo. Chegou omomento, não só para que os governos de Angola eRússia serem transparentes em relação a este assunto, mastambém para que todos os bancos que participaram nosempréstimos financiados pelo petróleo a Angola desde, abram o jogo sobre o que sabem sobre esta situação.

Os Homens dos Presidentes

guerra… Na maior parte do tempo, as pessoas não esperam nada do governo

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O Escândalo

A ligação francesa

Vários artigos pormenorizadosda imprensa francesa levam oleitor à conclusão de que noinício do programa definanciamento e fornecimentode armas em / descritoanteriormente, um certonúmero de altos oficiais ligadosaos círculos do então presidenteMitterrand e do partido doPrimeiro-ministro Balladur,estavam perfeitamente aocorrente do que se passava.

Há várias questões que secolocam. Que aconteceu apósterminar o mandato dopresidente Mitterrand? Até queponto e quando tomouconhecimento destes factos osucessor de Mitterrand, JacquesChirac? Estas perguntas têmgrande relevância uma vez queos empréstimos continuaram aser concedidos, juntamentecom os fornecimentos de armase de outros serviços a Angola, jáno período do mandato deChirac.

Falcone escreveu pessoalmente ao presidente Chirac em e em . Estas cartas continham descriçõespormenorizadas de projectos em curso. As fontes afirmamainda que durante a visita do presidente Chirac a Angolaem , realizou-se em Luanda, pelo menos uma reuniãoentre Chirac e dos Santos, na qual Falcone esteve presente.

Outro ponto preocupante relaciona-se com alibertação em de três pilotos franceses que tinhamsido feitos prisioneiros na Bósnia em . Segundoartigos na imprensa, o General Gallois, que era oprincipal negociador, tinha já assegurado a libertação dospilotos, quando foi obrigado a terminar as negociaçõesantes de as completar. Algumas semanas depois,Gaidamak entrou em cena para “assegurar” a liberdadedos pilotos, o que fez com que estes chegassem a Paris nasvésperas da conferência de paz post-Dayton sobre aBósnia presidida pelo recentemente eleito presidenteChirac.

Segundo Le Monde, o antigo presidente da câmara deregião de Var, Jean-Charles Marchiani, condecorouGaidamak com a Ordem de Mérito, como agradecimentopela sua participação na libertação dos reféns.” Noentanto, um artigo do jornal Le Monde em Janeiro de salientava que o General Gallois lamentava a existência de“negociações paralelas” e afirmava que ele “nãocompreendeu a razão da intervenção de Gaidamak eMarchiani depois da sua, pois não serviu para nada.Conseguiram apenas retardar a libertação dos reféns.”

Num artigo sobre a acusação de Jean CharlesMarchiani em de Maio de , Le Monde comunicouque, “o antigo presidente da câmara de Var está tambémsob suspeita de ter recebido compensação financeira pelaatribuição da condecoração Ordre Nationale du Mérite em a Gaidamak, a qual teria sido atribuída com oconsentimento do Presidente da República JacquesChirac.” Le Monde salientou que Marchiani negouvigorosamente todas as alegações feitas contra ele.

Tendo em conta artigos recentes sobre corrupção e ocaso Travelgate durante o período em que Chirac foipresidente da câmara de Paris, qualquer possívelenvolvimento de Chirac, ou o seu conhecimento sobre otráfico de armas e o saque estatal em Angola, constituigrande preocupação. Até hoje, o presidente Chirac tem-se

esquivado a todas as perguntasrelacionadas com o período emque foi presidente da câmara,citando imunidade presidencial.Isto leva, por exemplo, à situaçãobizarra no caso Travelgate, em queoutros membros da família Chiracforam chamados a responder aperguntas feitas pelos juízesinvestigadores, enquanto que opróprio presidente pode guardarsilêncio.

Chegou o momento daverdade

A essência da corrupção emAngola é que em vez de quantiasrelativamente pequenas, oubenefícios pessoais insignificantescomo era característico noTravelgate, deparamo-nos compilhagem estatal do nível deMobutu e de Abacha. Esteprocesso tem estado intimamenteligado ao desenrolar da guerra emAngola e tem sido perpetuadopelas elites nas mais altas esferascom o objectivo de obter benefícios

pessoais e políticos. Cabe à população de Angola pagar oterrível preço – que inclui mais de . mortos entre e , cerca de crianças mortas por dia dedoenças curáveis, um quarto da população deslocada emais de um milhão de cidadãos que dependeminteiramente de auxílio alimentar de emergência . Estascondições, apesar do cessar-fogo, parecem mais provávelque se deteriorem até começarem a melhorar.

É imperativo tomar decisões a nível internacional paragarantir que os eventos e as acções referidos nestedocumento não se voltem a repetir. Parte deste processode mudança poderia muito facilmente ser posto emprática através das acções recomendadas neste relatóriocom um mínimo de esforço ou sacrifício por parte dequalquer interesse corporativo ou nacional, excepto paraaqueles que efectivamente lucram com o estado sombraangolano.

Neste aspecto, é necessário que os líderes responsáveisdigam a verdade sobre aquilo que sabem a respeito dofornecimento de armas e financiamento da máquinabélica angolana. Por exemplo, o presidente Chirac vaienfrentar o eleitorado Francês em e o processodemocrático na França não pode tolerar este contínuoocultar de informações vitais necessárias para desvendarestes eventos, principalmente quando a falta deinformação diminui a capacidade dos angolanos de pedirao seu governo que preste contas pelas suas acções. Opreço que os angolanos pagam pelos interesses políticos epetrolíferos internacionais em Angola é demasiado alto.

Os Homens dos Presidentes

Chirac e dos Santos. Quando é que os presidentes e osseus homens abrirão o jogo ?

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“Esse cavalheiro [Falcone] tratou de assuntosdelicados com o consentimento das autoridadesfrancesas e que tiveram grande utilidade para Angola.As suas acções foram interpretadas por nós como umgesto de confiança e de amizade do estado francês e,por este motivo, o meu governo tomou decisões quepermitiram um crescimento espectacular nacooperação com a França no campo do petróleo etambém económica e financeiramente.”

Presidente dos Santos, confirmando os interesses franceses,por detrás das actividades de Falcone e não só.

porque nunca viveram de maneira diferente. E mesmo que aqueles que

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O Escândalo

Angolagate – a históriacompleta

ANGOLAGATE SURGIU nos mediainternacionais com a detenção de Jean-Christophe Mitterrand, filho do ex-presidente francês François Mitterrand,em de Dezembro de . O

encarceramento de Jean-Christophe Mitterrand surgeapós a anterior detenção de de Dezembro de domenos conhecido Pierre Falcone, mencionado no relatóriode Dezembro de da Global Witness Um Despertar Crucomo membro da “oiligarquia” angolana.

A história começou em quando Jonas Savimbi e aUNITA renunciaram aos compromissos assumidos nosacordos de Bicesse em Maio de , ao não conseguir avitória nas primeiras eleições nacionais de Angola. AUNITA recomeçou a luta armada com sucesso devido aofacto de muitas das unidades de elite não terem sidodesmobilizadas e continuarem totalmente armadas eoperacionais. Em contraste, as forças armadas do governo(as FAA) tinham sido desmobilizadasdesproporcionalmente e estavam portantocomparativamente mais fracas . A UNITA tinha pelaprimeira vez conseguido cercar e ocupar grandes cidades,capturando cinco das dezoito capitais provinciais, numadas etapas mais brutais da guerra civil que decorria há játrinta anos. A ONU calcula que morreram cerca de. civis entre e devido aobombardeamento de cidades ou indirectamente por causade minas ou fome.

Na época, devido ao colapso do seu principal apoiante,a União Soviética, o governo não possuía as finanças nemo armamento necessários para dar a volta à situação. NaPrimavera de , a guerra estava a decorrer mal para ogoverno do presidente Eduardo dos Santos e a UNITAcontrolava grandes partes do país e parecia que iaalcançar a vitória. Segundo o jornal Le Monde, para podervirar a sorte a favor do MPLA, o presidente José Eduardodos Santos decidiu apelar às simpatias socialistas francesasda presidência de François Mitterrand. O antigo peritofrancês em assuntos do Sul da África, Jean-BernardCurial, foi contactado em Paris e foi-lhe pedido que viesseimediatamente a Luanda.

Na visita, Curial deparou com uma situação militardesesperada. No entanto, conseguir ajuda para Luandanesta altura de necessidade, não era tarefa simples,segundo o Le Monde. A presidência de centro-esquerdade Mitterrand atravessava o seu segundo período decoabitação com o governo de centro-direita de EdouardBalladur. Como seria possível obter ajuda governamentaloficial francesa, quando essa ajuda iria requerer na alturao consentimento do Ministro de Defesa francês FrançoisLeotard, que na altura tinha fama de ser um dos maioresapoiantes da UNITA em Paris?

Após o seu regresso, Curial encontrou-se com o filhodo presidente, Jean-Christophe Mitterrand, em Paris.

Nessa altura já Jean-Christophe havia deixado o posto de“conselheiro para África” do palácio Elysée. Apesar de jánão poder ajudar directamente, Mitterrand sugeriu aCurial que entrasse em contacto com Pierre Falcone, quechefiava um grupo de empresas sob o nome de “BrencoInternational”, com sede em Paris. Falcone era tambémum dos principais conselheiros da da “Sofremi” (a“Empresa Francesa para a Exportação de Bens, Sistemas& Serviços”), que era uma organização mista do sectorprivado e estatal, funcionando sob os auspícios doMinistério do Interior francês, na altura encabeçado peloministro do interior Charles Pasqua.

O pedido de ajuda não podia aparecer em melhor

esperam algo, se falarem sobre isso são mortas ou castigadas. Por isso as

Os Homens dos Presidentes

Pierre Falcone e a SofremiSofremi é a sigla francesa da “Empresa Francesa de Exportação deBens, Sistemas e Serviços”. Foi fundada em 1986, sob a jurisdição doMinistério Francês do Interior, que na altura era chefiado por CharlesPasqua, que tinha sido nomeado pelo então primeiro-ministro, JacquesChirac.125

A Sofremi foi fundada para dar projecção aos serviços doMinistério do Interior Francês no ramo da segurança, e para negociarcontractos de venda de equipamento de comunicações e desegurança, a forças policiais estrangeiras.126 Esses negócios só sepodiam realizar entre a Sofremi e o governo, ou instituições estatais depaíses alvo, e qualquer acordo daí resultante requeria a autorizaçãofinal do CIEEMG (Comissão Interministerial para o Estudo doComércio de Material de Guerra.126) Esta abordagem cautelosa tinhacomo objectivo garantir que a Sofremi não se envolveria no tráficoilegal de armas. Desde a sua fundação, as actividades da Sofremivariaram consideravelmente, incidindo principalmente na AméricaLatina e no Médio Oriente.

Segundo o Le Monde, Pierre Falcone tornou-se num dos principaisconselheiros da Sofremi, entre 1989 e 1997, após a sua apresentação àempresa através de um intermediário de Philippe Melchior, que era naaltura o director. 127Depois das eleições de Março de 1993, o recém-chegado ministro do interior, Pasqua, substituiu Melchior por BernardPoussier. Poussier continuou como director da Sofremi até 1997.127

A 14 de Dezembro de 2000, Poussier foi chamado a comparecerperante os juízes que investigavam o caso Angolagate. Segundo o LeMonde, foi mais tarde detido e enviado para a prisão de La Santé emParis, sob acusações de “abuso de benefícios sociais, abuso deconfiança, compra de influência, e compra de influência agravada.”81,128

Poussier foi posto em liberdade em 12 de Janeiro de 2001.As alegações contra Poussier parecem incidir sobre um pagamento

de cerca de um milhão de francos em dinheiro (167.000 dólares)129

feito por Pierre Falcone 81 a Poussier em 1998. Numa entrevista com oLe Monde em 17 de Janeiro de 2001, Poussier esclareceu “era [odinheiro] um empréstimo “de honra” de um amigo a quem confio osmeus problemas. Por isso logo que me avisaram no banco que o saldoda minha conta era negativo, eu falei com ele. Ele então deu-me odinheiro para eu depositar na minha conta.” 130

Poussier insistiu também que a Sofremi não misturava os seusinteresses com os de Pierre Falcone. Ele disse,“nunca esteve envolvida[a Sofremi] de forma alguma com a venda de armamento russo. Dequalquer forma, nessa altura o Sr. Falcone dedicava-se mais afinanciamentos na indústria petrolífera.” 130

A 28 de Outubro de 1997, após as eleições, Henry Hurrand foinomeado como novo chefe da Sofremi. Introduzido por Lionel Jospin,para limpar a empresa, este despediu imediatamente Poussier. Segundoo Le Monde, ele ficou surpreendido ao ver que o nome de Falcone“aparece em absolutamente todos os contractos.” 127 Le Monde insinuaque o novo director chegou à conclusão que as comissões pagas aFalcone eram “excessivas”, e esta pode ser uma das razões para que aSofremi tivesse prejuízos entre 1996 e 1997. 127

A 9 de Janeiro de 2001, Le Figaro entrevistou Henry Hurand. Umadas primeiras acções como chefe da Sofremi foi levar a cabo umaauditoria independente.“O ponto mais significativo era a omnipresençade Pierre Falcone,” 131 acrescentando,“a regra geral era que para cadamercado deveria haver um representante diferente, mas a partir de1992, Falcone tornou-se o único representante da Sofremi. Isto éabsolutamente anormal. Ele recebeu quantias escandalosas por cadaoperação.” 131 Ao ser-lhe colocada a questão de corte dorelacionamento entre a Sofremi e Falcone em 1997, ele disse,“apóstomar a minha decisão, tivemos uma longa conversa. Eu acho que elenão compreendeu a minha determinação. Na realidade eu penso queele estava convencido de que nada mudaria, de que os amigos dele oprotegeriam sempre e que ele estava acima da lei.” 131Quando se lheperguntou que queria dizer com “os amigos dele”, Hurand replicou,“estou convencido que durante todos estes anos, Falcone terá dadograxa a toda a gente.” 131

Em Fevereiro de 2001, a Sofremi deixou de existir e foi substituídapor uma nova estrutura dentro do Ministério do Interior chamadaCivipol, que já não estará envolvida na venda de armas.127

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O Escândalo

altura, devido à política de Pasqua de promulgação dosinteresses franceses em África. Desde o início dos anosnoventa que a política dos Estados Unidos para comAngola se ia gradualmente transferindo da UNITA parauma abertura maior com o governo angolano. Pareciamuito claro para Pasqua e para a sua equipa que osinteresses petrolíferos dos EUA estavam na origem destamudança. Apesar de a empresa americana Chevrondominar já a produção de petróleo angolana, sentia-seque esta mudança política traria ainda mais benefíciospara as empresas americanas, ameaçando seriamente asambições petrolíferas francesas na região. Por outraspalavras, era altura de mudar a posição francesa eaproximar-se mais do MPLA. Após a detenção de Jean-Christophe Mitterrand em Dezembro de , o peritoem assuntos africanos e ex-chefe da polícia militar, PaulBarril, confirmou que o fornecimento de armas a Angolaconstituía parte de uma estratégia para conseguir acesso auma parte significativa da produção petrolífera angolana.

Existem diferentes versões sobre o primeiro encontroentre Jean-Christophe Mitterrand e Pierre Falcone.Segundo o seu advogado, Mitterrand encontrou pelaprimeira vez Pierre Falcone após a sua saída do palácioElysée, mas segundo Le Monde, um antigo empregado deFalcone afirmou que a primeira visita de Mitterrand aosescritórios de Brenco International, que nessa altura sesituavam em Avenue Montaigne em Paris, ocorreuantes de Julho de ; por outra palavras, quando Jean-Christophe Mitterrand era ainda conselheiro sobre Áfricade seu pai. Fontes indicam que terá sido um tal Sr.Jallabert, na altura o responsável pelos assuntosinternacionais da empresa francesa de armamentoThomson CSF, quem apresentou os dois ainda no tempoem que Jean-Christophe trabalhava no palácio Elysée.

Segundo o Le Monde, cerca de uma semana depois doprimeiro encontro, Pierre Falcone contactou Curial para oinformar que podia ajudar. As coisas aceleraram-se.Segundo o Le Monde, a de Novembro de , o primeiroacordo com o governo angolano parece ter sidofinalizado. Este primeiro acordo, por um valoraproximado de milhões de dólares, incluía a entrega atémeados de Dezembro de , de munições, obuses de

morteiro e várias peças de artilharia.Isso era apenas oinício. Segundo uma reportagem do Le Monde, em deAbril de , o grau de envolvimento de Falcone comLuanda foi bastante aumentado através de uma “emenda”ou novo acordo no valor de cerca de milhões dedólares. Neste caso, o acordo incluiria tanques e aviõesde combate. Nos finais de , segundo o Le Monde,Pierre Falcone tinha estado envolvido em vendas de armasa Angola num valor total de milhões de dólares.

Fontes indicam que apesar de o valor nominal destescontractos atingir os milhões de dólares, uma partesignificativa desta encomenda de armas foi entregue muitomais tarde.

Segundo Le Monde, o contacto angolano de Falcone emParis era Elísio de Figueiredo o qual se tornou no “terceiroembaixador angolano” em Paris através de um pedidoformal do presidente dos Santos, para além doembaixador oficial e do representante da UNESCO.

Este acordo pouco ortodoxo permitiu a Figueiredo, quetinha previamente sido embaixador em Paris,desempenhar o papel de embaixador ambulante, sempasta, e actuar como intermediário do presidente.

Os Homens dos Presidentes

Esquerda: Cópia da carta,publicada pelo LeMonde, enviada a Elísiode Figueiredo,indicando o seu papelde intermediário. Apósacusações de que tinharecebido US$ milhõesde dólares da Brenco,Figueiredo abandonouFrança. Entretanto,regressou e continua nasua posiçãode”Embaixador”.

Direita: Contracto devenda de armas da ZTS-Osos no valor de US$milhões de dólares deNovembro de ,publicado pelo LeMonde, sugerindo que onegócio foi assinado emParis (repare noendereço, AvenueMontaigne,correspondente nestadata ao endereço daBrenco, visível por cimada assinatura deFalcone em nome daZTS-Osos.)

A monumental embaixada de Angola na Avenue Foch – uma das maisfinas avenidas de Paris.

pessoas continuam a sofrer porque não podem fazer nada” –homem deslocado, início de

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O Escândalo

Apresentação de Arcadi Gaidamak –Ele faz parte da Brenco?

Segundo informações, Pierre Falcone não tratoudeste processo sozinho. Falcone parece ter-seassociado a Arkadi Gaidamak, um emigrante russoque tinha vivido suficiente tempo em Israel paraadquirir passaporte israelita antes de passar a residirem França. Le Monde sugere que Gaidamak sejuntou à empresa de Falcone, Brenco, e juntostornaram-se representantes da fábrica eslovaca dearmamentos, ZTS-Osos, que forneceu a maiorparte do armamento a Angola.

Um aspecto interessante desta fase da operação éa ausência da assinatura de Gaidamak nosdocumentos publicados pelo Le Monde, o que parecesugerir que Gaidamak não estava envolvido nestesfornecimentos. Gaidamak confirmou à GlobalWitness numa conversa telefónica que tinha estadoenvolvido com Pierre Falcone nesta altura, mas quea tarefa deles consistia apenas em conseguir ofinanciamento de empréstimos garantidos com aprodução de petróleo e a sua concessão através dobanco francês, Banque Paribas. Ele negaveementemente que esta operação tenha algo a vercom o fornecimento de armas a Angola. Noentanto, numa conversa posterior, Gaidamakconfirmou que de facto tinham sido fornecidas armas,embora negue qualquer envovimento directo. A suajustificação foi que estas transações tinham sidoorganizadas com um governo legítimo.

Mas nem tudo são rosas!

Embora parecesse que estas transações solidificassem aposição de Pierre Falcone e Arkadi Gaidamak emLuanda, ocorreram alguns percalços. A deNovembro de , o braço direito de Charles Pasqua,Jean-Charles Marchiani, alegadamente visitou Luandapara concluir aquilo que Le Monde refere como um“acordo global” – um acordo com o presidente dosSantos que abrangeria todas as áreas e que servirianão só de base para os futuros fornecimentos de armase financiamento de empréstimos garantidos pelopetróleo, mas beneficiaria também os interesses denegócios franceses.

O momento escolhido para a visita de Marchianiparece ter desequilibrado o jogo. Devido àproximidade das eleições presidenciais em França,marcadas para Maio de , começaram a aumentaras tensões entre Jacques Chirac, que pensava ser ofuturo presidente francês e Charles Pasqua. Segundo oLe Monde, Chirac estava há muito tempo convencido deque Pasqua apoiaria oficialmente o seu rival, EdouardBalladur. O jornal prossegue, “se isso acontecesse, terAngola na mão seria um importante trunfo,” e dandoforça ao argumento prossegue declarando, “comoresultado, e uma vez que Pasqua ofereceu o seu apoio aBalladour, os apoiantes de Chirac forneceraminformações vitais ao departamento françês de finançassobre as actividades de Falcone e Gaidamak. Asinvestigações subsequentes das Finanças constituemainda hoje um ponto de controvérsia. Segundo o LeMonde, “apesar de as armas não terem passado pelaFrança, o Departamento das Finanças está a usar estefacto para recuperar impostos não pagos, uma vez queeles insistem que o acordo se fez em Paris.” No entantoAllain Guilloux, o advogado da Brenco em Paris,parece ter afirmado que os acordos foram assinadosem Luanda.

O congelamento de contas bancárias

Fontes sugerem que a brigada fiscal francesa confiscoucerca de . documentos em vários escritórios epropriedades relacionadas com Gaidamak e Falconedurante rusgas no princípio de .De acordo comLe Monde, a primeira rusga aos escritórios da Brencoem de Dezembro de parece ter causado oencerramento por parte dos serviços fiscais franceses,da conta da Brenco número Q na sucursal doBanco Paribas na rue d’Antin, Paris, a finais de .

Um artigo anterior no Le Monde afirmou que umaconta na sucursal do banco Paribas, pertencente àZTS-Osos foi congelada em Dezembro de . Nãofoi possível ainda determinar se os dois casosmencionados se referem à mesma conta ou a duascontas diferentes.

Le Monde explicou noutro artigo que “um inquéritofiscal” sobre a conta da ZTS-Osos no Paribas resultouno “encerramento desta …em Dezembro de ”.Le Monde explicou que o inquérito fiscal revelara“transacções com Angola através de um intermediárioda empresa estatal Sonangol, que remunerou a ZTS-Osos através de uma conta aberta em Paris numasucursal do Paribas em .” Segundo esse artigo,“Falcone e Gaidamak, que retinham uma procuraçãona conta, não declararam as receitas.” No entantofontes indicaram que isto pode apenas representar umasimplificação do interesse por parte da brigada fiscalfrancesa nas actividades de Falcone e Gaidamak.Aparentemente, foram feitas visitas de controlo porparte da Brigada Fiscal em e , e em ,foram descobertas cerca de contas bancáriasdiferentes.

A finais de , o serviço fiscal francês exigiu àBrenco um pagamento de impostos retroactivos de umtotal de .., francos franceses (aprox. milhões de dólares), o qual, se com êxito, será omaior pagamento retroactivo de impostos jamais pagoem França. Uma factura fiscal de milhões dedólares num volume de comércio de cerca de milhões de dólares parece exageradamente alta: ouserá que isso indica que os valores do comércio comLuanda durante este período teriam sido bastante maisaltos do que está documentado, ou que osfornecimentos substanciais de material teriamcontinuado após ?

Os Homens dos Presidentes

2001a “Viemos embora por causa da fome e da guerra …nós éramos

© REA

Arkadi Gaidamak (esquerda) e amigos. A sua vertiginosa acumulação de riquezacontinua a despertar atenções.

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O Escândalo

O castelo de areia começa adesmoronar-se

Apesar de a detenção de Pierre Falcone ter recebidovasta cobertura nos media franceses, só depois dadetenção de Jean-Christophe Mitterrand em deDezembro de é que a história do Angolagate setornou notícia a nível internacional. O que teráfalhado na operação de Falcone e Gaidamak para levarà detenção e até ao encarceramento na prisãoparisiense de La Santé, de numerosos indivíduos deprestígio?

Apesar de tanto Gaidamak como Falcone teremsido investigados previamente, esses inquéritos nãochegaram a converter-se em acusações formais. Osnumerosos artigos deixam claro que ambos tinhamaliados políticos de peso. Apesar de as fontes e osartigos indicarem que a Brigada Fiscal demonstroupersistência nas investigações, estas foramimobilizadas pela oposição política. Na verdade, sódepois de se descobrirem dados adicionais sobrealegada ilegalidade em investigações não relacionadascom o caso, é que começou a desaparecer a resistênciapolítica.

Até este ponto, o leitor poderá pensar que a históriado Angolagate é uma história de finanças, fuga deimpostos e fornecimento de armas durante e – tal como foi apresentada pelos meios decomunicação franceses. No entanto, a Global Witnessacredita que a verdadeira história do financiamento daguerra em Angola vai bem mais além de e , enão se limita a interesses angolanos e franceses; talvezchegue mesmo ao âmago da política internacional deinteresses petrolíferos. As secções seguintes fornecemdetalhes sobre estes eventos.

A história dos “grandes ouvidosfranceses em Angola”

Segundo o L’Express, um informante anónimo forneceuum testemunho pormenorizado ao juiz Marc Brisset-Foucault, relacionado com um acordo secretoenvolvendo esforços da empresa francesa“Communication et Systémes” (CS) para exportarequipamento de intercepção (os “grandes ouvidosfranceses” do artigo) para Angola; no entanto, oL’Express não sugeriu que tivessem sido feitas acusaçõesformais neste campo. Parece provável que as rusgasde de Maio de aos escritórios de Falcone e dovice-presidente da CS, o Ex-General Claude Mouton,como consequência das provas do do informante,tenham proporcionado informações significativas maisrecentes sobre as operações mais vastas de Falcone. Éinteressante salientar que, em Julho de Moutonpassou a ocupar o posto de director da BrencoFrance.

A rusga aos escritórios da CS parece ter originadoum confronto entre a polícia e Raymond Nart (que nãoestá sob investigação), ex-subchefe dos serviços secretosfranceses DST, que desempenhava na altura as funçõesde chefe das relações internacionais da CS. Foi Nartquem mais tarde forneceu uma carta de testemunho(ou seja de idoneidade de carácter) para ArkadiGaidamak durante o processo de difamação destecontra a publicação francesa La Lettre du Continent emSetembro .

Alegadamente, este acordo envolvia dois tiposdiferentes de equipamento de intercepção decomunicações: o sistema “Murene” usado parainterceptar telemóveis do tipo GSM, e o sistema maissofisticado, “Menta”, usado para interceptar telefonesvia satélite. Outro relatório acrescenta maispormenores sobre este equipamento; para além da

sua capacidade para interceptar telefones via satélite, osistema Menta tem a capacidade de fornecer pontos detriangulação, permitindo a localização dedeterminados utentes desse telefones – um atributomuito útil ao governo angolano nos seus esforços delocalizar Jonas Savimbi no mato.

L’Express comunicou que este segundo acordo,apesar de ter sido aprovado pelo Ministério da Defesafrancês, foi realizado sem ter sido aprovado pelaComissão Interministerial para o Estudo do Comérciode Material de Guerra (CIEEMG), cuja aprovaçãoconstitui um requisito obrigatório para a exportação dematerial militar delicado. L’Express indicou tambémque uma quantia de milhões de dólares desaparecera,e que “sem dúvida, a estrutura deste acordo nãopermitia o pagamento de comissões ocultas”. ClaudeMouton negou qualquer ilegalidade e até hoje, aGlobal Witness não tem conhecimento da publicaçãode qualquer comentário por parte de Falcone sobreeste assunto.

Um caso sem ligação conduz aoAngolagate

Em Novembro de , os juízes investigadoresPhilippe Courroye e Isabelle Prévost-Desprezherdaram a investigação de um caso de suspeita delavagem de dinheiro em Marrocos. ,

Esta investigação cedo os encaminhou na direcçãode Allain Guilloux, um conhecido advogadoespecializado em assuntos fiscais. ,

Guilloux tinha na sua lista de clientes muitaspersonalidades conhecidas. Entre eles Jean-ClaudeMery que, antes de morrer gravou a agora famosacassete de vídeo contendo acusações de corrupçãorelacionadas com o mandato de presidente da câmarade Paris de Jacques Chirac. Le Monde informou queGuilloux teria representado também Gaidamak eFalcone, segundo parecedepois de , para tratardo assunto das contas congeladas no BanqueParibas,(Ver secção O congelamento das contas bancárias –página ). Segundo Le Monde, no seguimento dasdescobertas pelos investigadores de ficheiros noescritório de Guilloux, relacionados com o casoBrenco/Paribas, a polícia da Brigada Fiscal efectuanovas rusgas às instalações da Brenco.

As disquetes e a queda dos poderosos

Segundo o Le Monde, uma das rusgas foi realizada emSetembro de ao apartamento da secretária dePierre Falcone, Isabelle Delubac, , que segundodescobriram os investigadores, tinha escondido cercade disquetes de computador por ordem de Falcone.As disquetes continham pormenores de todos osacordos realizados entre a Brenco e Angola desde até , listas de nomes de vários indivíduos eempresas e pormenores relativos a pagamentosespecíficos.

Estas disquetes, juntamente com outras fontes deinformação, proporcionaram aos juízes motivos paramais investigações, que por sua vez isso levaram abuscas em várias instalações e ao interrogatório devários indivíduos cujos nomes estavam nas disquetes.Em certos casos, estes procedimentos originaram ainstauração de processos a alguns indivíduos acusadosde vários delitos. Antes de discutir as detenções e asacusações feitas pelos juízes investigadores, a próximasecção apresenta mais pormenores sobre negócios comAngola.

Os Homens dos Presidentes

agricultores mas tudo foi levado pelo governo ou pela UNITA. Se as FAA não

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O Escândalo

A rede da Brenco e osnegócios com Angola

QUE TRAMAVAM Falcone eGaidamak? O grupo deempresas Brenco, PierreFalcone, o seu relacionamentocom Arkadi Gaidamak e aempresa com sede naEslováquia, ZTS-Osos, têm sido

objecto de muita especulação na imprensa desde querebentou o escândalo Angolagate nos finais de . Estasecção junta estas fontes e proporciona informaçõessuplementares.

A principal empresa-mãe do grupo Brenco, pareceter sido a Brenco International, que tinha a mesmasede que a Brenco-France, em vários endereços emParis. Em Dezembro de , a publicação Liberationdeu uma ideia do possível número de subsidiárias daBrenco e a sua localização em várias partes do mundo.É provável que não seja uma lista completa, masincluía:

Brenco Trading Ltd na Ilha de Man, Reino Unido;Brenco Investments em Montreal, Canada; Brenco Ltdem Londres, Reino Unido; Brenco Coren SA emBogotá, Colômbia; e subsidiárias não nomeadas naBirmânia e Argentina. O artigo menciona operaçõesda Brenco na Colômbia, Guiné, Madagáscar, Rússia eKazaquistão.

Algumas informações têm sugerido que a Brenco éuma subsidiária da ZTS-Osos, enquanto que outrastêm sugerido o contrário. Apesar do facto de parecerhaver uma ligação entre as duas empresas, asinvestigações da Global Witness não puderamdescobrir provas documentais que estabelecessem umaligação formal entre elas. No entanto, segundo o LeMonde, durante , tanto Gaidamak como Falconeeram signatários da conta bancária da Brenco númeroQ na sucursal do Paribas na rue d’Antin.

Durante os primeiros contractos de armamentoentre a ZTS-Osos e Angola em e , BrencoFrance situava-se em Avenue Montaigne em Paris. Éinteressante o facto de este endereço e os números detelefone e fax da Brenco estarem incluídos no contractoinicial de milhões de dólares com a ZTS-Osos,juntamente com a assinatura de Falcone, sugerindoque havia laços fortes entre Brenco e ZTS-Osos. Ocarimbo da ZTS-Osos, ao lado da assinatura deFalcone, contém a legenda “Negócios Russo-Angolanos”.

Em Dezembro de , L’evenement du Jeudi publicouuma cópia deste primeiro contracto entre a ZTS-Osose Angola que inclui uma descrição do materialfornecido:

30 tanques T-62, fabricados entre 1961 e 1972, canhão de115mm, alcance 500 km.

40 veículos blindados BMP-2 com 4 mísseis anti-tanque,canhão de 75mm e uma metralhadora de 7.62mm.

24 howitzers, 2S1 Gvozdika, fixas em chassis de tanques,manufacturadas em 1970.

Peças de artilharia M-46 (130mm).18 peças de artilharia DCA ZU-23/2 (23mm).12 lançadores múltiplos de rocketes classe P.50 lançadores de granadas anti pessoal AGS-17 Plamya

(30mm)250 metralhadoras ligeiras RPK.500 morteiros PKM.150 bazucas Schmel.

5,500 kalashnikoves: 7.62 mm AKM e 5.45 mm AK-74,com lançador de granadas fixo na parte inferior daarma.

13 milhões de munições (7.62mm).750,000 munições (5.45mm).10,000 granadas ofensivas e defensivas.21,000 granadas (30 e 40mm).5,000 obuses de morteiro (82mm).50,000 30 mm obuses de penetração em blindagem.10,700 projecteis (115, 122 e 130mm).1,500 MPB detonadores, B429 e B90.

De acordo com L’evenement du Jeudi, especialistasmilitares sugeriram que esta aquisição seria suficientepara armar uma divisão motorizada de . homens.No entanto, o jornal sugere que as munições nãoseriam suficientes para abastecer uma ofensivaprolongada, o que implica outros contractos, e no finalde , tal como foi mencionado, o valor total doscontractos com Angola alcançou alegadamente os milhões de dólares. ,

O artigo do L’evenement du Jeudi referiu-se a outroartigo anterior, publicado dois meses antes, acerca deum carregamento de camiões russos para Angola,afirmando, “L’evenement du Jeudi explicou ascircunstâncias em que Gaidamak e Falconevenderam... camiões russos para Angola, iguais aos queusa o exército russo”. O jornal prossegue, “já naaltura mencionamos o contrato [contrato dearmamento no valor de milhões de dólares – o temadeste último artigo] entre a Rússia e Angola. O jornalmenciona que quando o primeiro artigo foi publicado“Falcone e Gaidamak” negaram veementemente estarenvolvidos, insistindo que ambos sentiam repugnânciapelo tráfico de armas.

Os Homens dos Presidentes

viessem de dia para as batidas, vinha a UNITA de noite.A certa altura, não

O que se terá passado por detrás das portas fechadas da sede daBrenco na prestigiosa Avenue Kléber em Paris?

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O Escândalo

No decorrer do artigo, após publicar os detalhes docontrato de armas no valor de milhões de dólares, oqual demonstrava que Falcone parecia comercializararmas, Falcone terá dito “uma pessoa tem que ler nasentrelinhas desse contrato”, e “viemos socorrer umgoverno legal, o do presidente Eduardo dos Santos.Temos a moral do nosso lado”. Apesar de o artigosugerir que Gaidamak continuava a negar terconhecimento do contrato, citou palavras que lheforam atribuidas “se esse contrato existe, deve notarque ajudou a trazer a paz. Isso é o que interessa”.

Após os contratos de e , a sede da Brencopassou para o prestigioso endereço Avenida Kléber,em Paris, ao lado da embaixada da Argentina, e a curtadistância da embaixada angolana na Avenida Foch.

Paris como local de assinatura doscontratos?

Até agora a imprensa tem levantado questõesrelacionadas com o tráfico de armas para Angola em e . A imprensa tem também mencionado ofacto de a Brenco, Falcone e Gaidamak terem sidoinvestigados pelo não pagamento de impostosreferentes a esses contratos.

É importante que se repare nas caracteristicasnitidamente francesas do primeiro contrato por milhões de dólares que enfraquecem a teoria que astransações foram levadas a cabo em Angola. Para alémde o documento estar escrito em francês, terá tambémsido enviado para Elísio de Figueiredo, sediado emParis. O endereço da Brenco da altura aparece nocontrato, juntamente com o nome de Pierre Falcone,assinado em baixo da inscrição “Pela ZTS-Osos”. ,

São estes aspectos colectivos do documento,juntamente com informação vinda de certas fontes,que sugerem que o contrato terá provavelmente sidoassinado na França. Presumivelmente, estes factoresexplicam os esforços da brigada financeira eminstaurar processos pelo não pagamento de impostos.

Outro contracto da ZTS-Osos comAngola – Gaidamak junta-se à equipa?

A Global Witness pode agora revelar a existência deoutro contracto com o valor de .. dólares, coma data de /. É possível que este contracto tenhasido organizado aproximadamente na mesma altura doacordo de de Setembro de entre o BanqueParibas e a Sonangol para um empréstimo de milhões de dólares, que incluía a empresa petrolíferaGlencore International AG, a qual se comprometia aextrair uma quantia específica da produção de petróleofutura para pagar o empréstimo.

Em conversa telefónica com a Global Witness,Gaidamak salientou que tanto ele com Pierre Falconepassaram a ter cidadania angolana e receberampassaportes diplomáticos, passando posteriormente aser “signatários das contas” que tinham sido abertas noBanque Paribas para os processos de empréstimosgarantidos com o petróleo. Gaidamak afirmou queele e Falcone tinham recebido controlo de uma partesignificativa dos fundos obtidos através dosempréstimos, que eram na realidade, parte doorçamento de estado de Angola, obtido e gasto fora doterritório angolano. No decorrer desta primeiraconversa, Gaidamak salientou o aspecto financeiro doseu relacionamento com o governo angolano, negandoo envolvimento de armas.

O acordo de armamento de / contémdiferenças estilísticas diferentes do contracto anterior. Amais óbvia é a mudança da língua para português.Desta vez o contracto termina “Pela ZTS-Osos” e osnomes de ambos Pierre J. Falcone e Arcady Gaydamac(assim escrito) aparecem no documento. Junto a estesnomes, estão as assinaturas. Algumas fontes sugeremque Gaidamac muito raramente, ou quase nuncaassina documento algum. No entanto a assinaturajunto ao nome Pierre J Falcone parece ser genuína se acompararmos com a assinatura original contida nosimpressos fiscais anuais das empresas de Falcone comsede no Reino Unido.

Os Homens dos Presidentes

Acima: Acordo de empréstimo da Banque Paribas àSonangol em Setembro de , no valor de US$milhões de dólares, tendo como fiador receitasprovinientes de produção petrolífera futura.

tínhamos quase nada para comer, por isso decidimos fugir pela mata …” –Pessoa

Negócio de armas da ZTS-Osos em / novalor de US$ milhões dedólares. A assinatura deFalcone no contracto(abaixo) parece ser igual àdo relatório apresentado àCompanies House noReino Unido (esquerda).

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O Escândalo

deslocada dentro do próprio país, Província do Bié b “Por um lado a Unita ameaçava

O logótipo no selo da empresa neste documento jánão é “Negócis Russo-Angolanos,” agora tem a novalegenda “Vrutky Slovakia” Desta vez, a lista decompras inclui carros de combate e de transporte depessoal, está escrita em português [títulos adicionadospela Global Witness] e inclui:

Artigo Quantidade Custo/Unidade(US$) Custo Total (US$)

Carros de Combate BMP-2 35 350.000,00 12.250.000,00BMD 30 153.000,00 4.590.000,00

Transporte de Tropas & Cargas?RAL 4320 100 65.000,00 6.500.000,00?RAZ 260 ND 200 59.125,00 11.825.000,00??AZ Cavalo mecanico 10 80.000,00 800.000,00

Os pontos de interrogação indicam as partes em que o texto está ilegível (ver embaixo).

O documento menciona equipamento adicional (verem baixo). Apesar de parte do texto estar pouco claro,podem distinguir-sefacilmente artigoscomo “T/ ET”, referindo-se atanques. Nestes artigosnão aparece o preçomas apenas um zero,o que pode sugerirque apesar destesartigos estaremdisponíveis, nenhumfoi comprado nestaocasião.

O valor total dosartigosencomendados foi de.. dólares,mas o total dafactura foi.. dólares.A quantia de.. foiadicionada entre osdois totais. Não éclaro a que se refere essa quantia, mastalvez fosse a comissão no valor de quase um quarto dovalor da encomenda.

Não é claro se o empréstimo de milhões de dólaresdo Banque Paribas foi utilizado para financiar estecontracto. No entanto, uma vez que os fundos geradospelos empréstimos garantidos pelo petróleo, nos quaisparticipou o Paribas, foram usados pelo governo parafinanciamento de armas em e , e uma vezque Gaidamak e Falcone, segundo disse Gaidamak, setinham tornado signatários autorizados das contas doParibas respeitantes aos empréstimos concedidos, nãose pode excluir a possibilidade de que pelo menos partedos milhões de dólares concedidos tenha sido usadapara financiar esta compra de armas. O BanqueParibas deveria fornecer informação aos juízes a cargoda investigação sobre o que sabe sobre a organizaçãodestes empréstimos, e que outros contractos se tenhamrealizado. Deveria também fornecer informação sobreo papel desempenhado por Gaidamak e Falconedurante as negociações dos empréstimos e no controlodas subsequentes contas.

Será que o programa de fornecimento dearmas constituiu um bom negócio paraAngola?

Para dar uma resposta definitiva a uma pergunta destasnão basta simplesmente comparar a lista de pedidos e ovalor dos contractos, efectuados com a ZTS-Osos ououtros dos fornecedores de armas a Angola É tambémimportante considerar a idade dos artigos e a suacondição, para determinar o seu verdadeiro valor. Porexemplo, alguns dos fornecimentos incluiram tanques comquarenta anos de idade [não estamos a referir-nos aqui aarmamento fornecido pela ZTS-Osos], os quais nãooferecem grande vantagem táctica e podem até ser umadesvantagem em situações de guerra móvel moderna.

No passado, fontes em Angola falaram da existência decemitérios de material, cheios de tanques e outro materialbélico, nos arredores de Luanda. Longe de terem sidovítimas da guerra, estes artigos parecem ter sido trazidosem camiões para o lugar do seu descanso final, poisencontravam-se em tal estado que não puderam sair dos

navios pelos seus próprios meios. Isto significaque uma quantidade de comerciantes de armastrouxe para Angola uma série de artigostotalmente inúteis, sobretudo devido às comissõesdisponíveis áqueles que estavam envolvidos nonegócio.

Após investigações adicionais em outrospontos em conflito na África, a Global Witnessdescobriu que têm sido fornecidas armas a preçosexagerados, e em certos casos os países emquestão receberam armamento com um quartoou um quinto do valor que lhe era atribuído.Nestes exemplos, as enormes margens de lucropermitiram o pagamento de luvas a todos os queestavam envolvidos no negócio e este foi oprincipal motivo para a realização de taisnegócios.

Interesses estatais russos na ZTS-Osos

Num artigo publicado a de Janeiro de , aCTK Publications, com sede na República Checa,anunciou que existem significantes interessesestatais russos por detrás da ZTS-Osos. Se isso for

verdade, estas ligações ajudam a explicar melhor asramificações dos interesses em Angola e na sua riquezapetrolífera e seriam consistentes com a aparentedisposição da Rússia em renegociar a dívida angolana de. biliões de dólares. Tais ligações poderiam tambémsugerir que a política deplorável do presidente Putin defomentar a venda de armamento a África, pode narealidade ter sido iniciada ainda no regime de Yeltsin.

Segundo um jornalista da CTK Publications, o registoestatal de empresas eslovaco indica uma mudança denome na “ZTS-Osos Martin” para “Osos Vrutky”, emDezembro de . Isto explica a mudança do logótipo noselo verificada no contracto posterior (que apresentamosna página ), e apoia a teoria de que este documento éposterior ao período de /, ao qual a imprensafrancesa denominou Angolagate. Segundo a CTKPublications, % da nova entidade pertence a empresaseslovacas (sem constarem nomes) e a empregados da OsosVrutky, e % à firma checa Marden. O artigo incluicomentários atribuídos ao director-geral da Osos-Vrutky,Jan Valenta, que consta ter dito que “cerca de % dasacções da Osos Vrutky ...empresa ...pertencem (assimescrito) às empresas russas de armamento Kurganmash eRosoboronexport.” Valenta terá afirmado que “cerca de% das acções da ZTS-Osos Vrutky pertencem àempresa estatal russa de exportação de armasRosoboronexport,” e % à empresa russa Kurganmash.

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O Escândalo

massacrar os aldeãos, por outro lado as tropas ameaçavam-nos com a morte

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O império de negóciosde GaidamakA imprensa francesa descreveu comoGaidamak começou o seu negócio em Parisatravés da fundação de uma empresa deserviços de tradução. Muito se tem faladodesde então da sua extensiva riqueza e darapidez como foi gerada.

Gaidamak está listado como o ChefeExecutivo de uma holding do Luxemburgochamada Finegos International SA, 56ambémcomo Director, juntamente com o seu filho,Alexandre Gaidamak, de uma outra holdingdo Luxemburgo, Pivoine SA56 A famíliaGaidamak também parece estar ligada a umnúmero de empresas com sede em Londres.Estas incluem: Monarch Fiduciary Ltd,Mondiale Property Ltd e MondialeManagement Ltd39 Até há pouco tempoatrás, todas estas empresas com sede emLondres estava localizadas em 8 CarlosPlace.A Mondiale Management Ltd épropriedade de uma holding registada emJersey, de nome,Tuderose39 A função e aparticipação de Tuderose não estãoesclarecidas.

Outras duas empresas de Londres, SonusLtd e Europitex Ltd, também parecem estarligadas, pois partilham directorias eaccionários, com as empresas acimareferidas40 Em “Notas do RelatórioFinanceiro” da Europitex em 1998, o “Sr.A.Gaidamak” aparece como sendo “a partecontroladora da empresa”.Tanto a Sonus Ltdcomo a Europitex Ltd foram dissolvidas emMarço e Julho de 2001, respectivamente, eAlexandre Gaidamak deixou de ser directorda Mondiale Property Ltd a 24 de Abril de2001.40 Arkadi Gaidamak tornou-se umfugitivo devido a um mandato de capturainternacional emitido em 11 de Janeiro de2001.

Apesar de o estatuto e a função dealgumas empresas que parecem ter ligaçõesa Gaidamak, directamente ou indirectamente

através do seu filho Alexandre, não estaremmuito claras, algumas parecem estarenvolvidas em investimentos imobiliários. Noseu portfólio de propriedades, está entreoutras, um bloco de apartamentos naexclusiva área de Mayfair em Londres,vendido no final de 2000. Algumas fontessugeriram também que Gaidamak tem bensimobiliários substanciais em Kensinghton,outra área exclusiva de Londres. 56 Emdocumentos do tribunal do seu processolegal contra a ONG francesa Survie,Gaidamak aparece como residindo no ReinoUnido, em “3 A Kensington Garden No 8.”41

Gaidamak em IsraelEm 1998 em Israel, Gaidamak mudoulegalmente o seu nome para Arye Barlev. Noprincípio de 2000, o suplemento do jornalde Tel Aviv, Yedi’ot Aharonot’s Leshabat,afirmou que 15% das acções da empresapública de Israel, África Israel, que eramcontroladas pelo empresário Lev Levievtinham sido adquiridas por Gaidamak.14

Segundo parece, Gaidamak havia sidoapresentado a Leviev em 1999 por DaniYatom, ex-chefe dos serviços secretosisraelitas Mossad42. Segundo o Ha’aretz, emJaneiro de 2002, Gaidamak vendeu de novoa sua parte a Leviev por 75 milhões dedólares, a mesma quantia que ele tinhapago.43

Numa declaração à bolsa, em Janeiro de2000, a África Israel terá declarado queGaidamak “é proprietário de numerosaspropriedades imobiliárias na EuropaOcidental e de vários outros negócios deinfraestruturas, investimentos imobiliários eenergia.”A declaração acrescenta,“a decisãodo Sr. Leviev de vender algumas das acçõesao empresário internacional ArkardyGaydamak (assim escrito) foi tomada devidoàs vantagens que isso implicaria, e quepoderiam contribuir para uma melhorrealização dos objectivos corporativos daempresa. Leviev acredita que a empresapode alcançar objectivos a nível internacionalno campo da energia, bens imobiliários einvestimentos, através da sociedade comGaidamak.” 14 Poucos meses depois, ogoverno de Angola anunciou que concedia atítulo exclusivo a venda de diamantes do paísà empresa de Leviev. Não se sabe que papelGaidamak terá desempenhado, se é queesteve envolvido, na concessão da produçãode diamantes de Angola a Leviev.

Após esta primeira notícia, a amizadeentre Gaidamak e Leviev parece ter-sealastrado a outros sectores de negócios,incluindo a produção de fertilizantes e deurânio no Kazaquistão, e possíveis aventurasfuturas na produção de ouro44. Merecedorade referência especial é o caso da aquisiçãodo complexo químico de tratamento deTselina, conhecido como Kazsabton, que foialegadamente uma das empresas-chave naprodução de armas nucleares na UniãoSoviética.42,44 Dadas as informações queGaidamak vendeu de novo a Leviev a suaquota na África-Israel, não se sabe secontinua a reter na sua pasta osinvestimentos conjuntos Leviev/Gaidamak noKazakistão.

Voos altos com Arkadi Gaidamak.

Em baixo à esquerda: Carlos Place – um doscentros da rede de interesses empresariaisde Alexandre Gaidamak

Em baixo à direita: Gaidamak avança emMayfair. A sua pasta de posses inclui agorapropriedades prestigiosas em Londres.

© REA

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Esta última fabrica o mesmo tipo de veículo blindadopara transporte de pessoal mencionado nos contractosde / e / (BMP-s e BMP-s). CTK salientoutambém que Valenta “negou que a ZTS-Osos Martin,ou a Osos Vrutky negociassem em armamento, apesarde, afirmou, a Osos Vrutky possuir uma licença paraesse tipo de comércio desde .

A CTK não conseguiu obter confirmação por partede nenhuma das empresas russas sobre a respectivaparticipação na Osos Vrutky, e a Kurganmash negou-se a divulgar o nome dos proprietários. No entanto,documentos oficiais do governo eslovaco referem queem Maio de , ,% da ZTS-Osos Martin foivendida à empresa estatal russa Specvnestekhnika, quefoi precursora da empresa Rosvoruzhenye, que por suavez um dos dois percursores da empresa estatal dearmamento russa Rosoboronexport, mencionada antescomo detentora de % das acções da Osos Vrutky.,

Segundo os jornalistas da CTK, outra perspectiva é-nosapresentada pela revista russa, Moskopvskye Novosti, queem Dezembro de , parece ter publicado a notíciada compra de ,% das acções da ZTS-Osos em ,pelos serviços secretos russos, através daSpecvnestekhnika.

Se forem verdade as insinuações de que há umsignificante interesse por parte das empresas estataisrussas de produção de armas na ZTS-Osos, issoimplica conhecimento, e talvez aprovação, deactividades da empresa e dos seus associados emAngola por oficiais governamentais russos de alto nível.A actual administração russa deve esclarecer o quesabe acerca dessas actividades.

Falcone e Gaidamak dedicam-se àdívida de , biliões de dólares deAngola à Rússia

Segundo vários artigos na imprensa, Falcone eGaidamak estiveram envolvidos num acordo derenegociação da dívida angolana para com a Rússia de, milhões de dólares, em que a Rússia receberia .biliões através de financiamento obtido com osempréstimos garantidos pelo petróleo.

De acordo com Le Temps, um inquérito judicial comsede em Genebra sobre este tema, resultou nocongelamento em Abril de cerca de milhões dedólares. Le Temps, comunicou que, “o inquérito que serealiza em Genebra permitiu reconstruir os caminhosseguidos por metade do produto desse acordo; isto é[os primeiros ] milhões.” Le Temps prosseguiu, “emvez de ser depositado a favor do estado russo, que emteoria era o dono da dívida, a maior parte da quantiafoi depositada em contas bancárias de altosfuncionários dos dois países.”

O jornal Le Temps divulgou comentáriosaparentemente atribuidos a uma fonte próxima dogoverno angolano, segundo os quais “as contas dosdignatários do regime, algumas das quais estão agoracongeladas em bancos suíços, contêm “dinheirooficial” que estes dignatários foram incubidos de“transportar” em nome do governo”

O Le Temps faz referência a “Vitaly Malkin, umbancário que figura entre os dez “oligarcas” maispróximos a Yeltsin, que possuía uma procuraçãoreferente a uma conta no USB, em nome de umaempresa chamada Abalone Investments Ltd”. O jornalprossegue, “esta conta, número CO – , foialegadamente usada como recipiente dos fundosoriginários da compra da dívida.”

De acordo com o Le Temps, “Vitaly Malkin eraalegadamente accionista da Abalone, juntamente comoutros dois personagens envolvidos no caso [o negócioda dívida], o comerciante de armamento Pierre

Falcone, e o bilionário russo Arkadi Gaidamak.” Asugestão do Le Temps, relativa ao relacionamento denegócios entre Gaidamak e Pierre Falcone na AbaloneInvestments Ltd é interessante, tendo em conta asdeclarações do primeiro numa entrevista com LeParisien, em que terá afirmado, “Pierre e eu nuncaestivemos associados em nehuma empresa.” EmDezembro de , um comunicado de imprensa doRossiyskiy Kredit Bank mencionava, “a recentementeeleita junta do banco reuniu-se e elegeu Arkadiy [assimescrito] Gaidamak como presidente da junta do banco.O anterior presidente da junta, Vitaly Malkin, passa aser seu delegado”.

Como comentário final, Le Temps comentava, “umapessoa com conhecimento detalhado da investigaçãosugere que o acordo da readquisiçao da dívidaangolana à Rússia pode ter sido usado para financiar acampanha de reeleição de Boris Yeltsin em .”

CADA, filial da Brenco, é a chave para osfornecimentos médicos e alimentaresdas FAA

Em , o jornal angolano Angolense, publicou umartigo sobre a CADA (Empresa Angolana deDistribuição Alimentar), sugerindo que esta empresaaté então desconhecida, era de facto uma operaçãoconduzida por vários generais (não forneceu nomes)das FAA. O artigo afirmava que o contracto obtidopela CADA tinha um valor de milhões de dólares,e tornava a empresa no único fornecedor de alimentosàs forças armadas durante um período de anos.

No entanto, as investigações da Global Witnessrevelaram que CADA pertence ao grupo de empresasBrenco de Falcone e não está ligada a generaisangolanos. CADA parece ter tomado controlo de todosas fornecimentos alimentares, médicos e de uniformesàs Forças Armadas Angolanas (FAA). André de Fiori,director da sucursal da CADA em Londres, conhecidacomo Companhia Angolana de Distribuição AlimentarLimited (CADA Ltd), apresenta um esclarecimentointeressante sobre esta questão numa carta escrita em.

A carta está escrita em papel timbrado da Argo (verpágina ao lado, em cima), uma empresa com sede em SãoPaulo, Brasil. O Sr. de Fiori explica que a Argo érepresentante oficial no Brasil do “Grupo Brenco.”Esclarece ainda que a empresa é “um grupoempresarial com sede na Europa [Brenco Trading Ltd

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se não os seguíssemos! A situação tornou-se insuportável …” – Pessoa deslocada dentro

Encontro de Yeltsin com dos Santos. Será que Yeltsin concordou em reestruturar adívida angolana à Rússia?

© A

FP

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– BTL – a holding tem sede em Londres,enquanto que a Brenco France – a sedeadministrativa – está localizada em Paris]especializado em operações querequerem engenharia financeira ecomercial em “países difíceis””.Explicou que, “a Brenco tem funcionadocom sucesso em países como a China,Mainland (assim escrito),Cazakistan(assim escrito), Rússia,Bulgária, Colômbia, México eVenezuala (assim escrito).”

De Fiori acrescenta ainda, “uma dassuas [da Brenco] empresas off-shore,CADA …assinou recentemente umcontracto de abastecimento com umacorporação estatal angolana, e será aempresa que fará a aquisição dosartigos e depois passará a factura aosangolanos. A Argo desempenha o papelde grupo negociador, coordenando aencomenda e as negociações de vários artigos emnome da CADA.”

De Fiori concluiu dizendo que a CADA passaria“cartas de crédito confirmadas à vista, com base emmeios de pagamento e garantias concedidas pelaBrenco…”

Num artigo de de Janeiro de ligando oescândalo “Kremlingate” a Angola, o diárioportuguês Público fez também comentários sobre aCADA. Para tentar determinar o papel da CADA emAngola, o Público fez várias perguntas específicas àpresidência angolana. Apesar de vários esforçosrealizados no sentido de obter respostas, incluindovários faxes, chamadas telefónicas e emails, não obteveresposta às perguntas.

O Público enviou também, entre outras, perguntas aAndré de Fiori director da CADA Ltd. Não foirecebida nenhuma resposta, excepto um comentárioem como a CADA abastecia a empresa estatalangolana Simportex.

Fontes dentro da indústria internacional de génerosalimentares fornecem também uma perspectivainteressante relativamente aos privilégios concedidos àCADA nas suas operações em Angola. Um dosprincipais problemas encontrados pelas empresas dealimentação em Angola foi o aumento exagerado dos

preços de bens na parte angolana daimportação em qualquer acordo comercial; problema que é, até certo ponto,moderado pela presença da empresa suiçaSGS encarregada de proporcionar aquilo aque se chama, “Relatório Limpo deConclusões.” Isto consiste num processo deverificação para assegurar que os produtosfornecidos são de suficiente qualidade equantidade para justificar o preço pago.Segundo certas fontes, as importações daCADA não estão sujeitas a esta fiscalização.Numa ocasião, um representante daCADA/ARGO declarou, “não se preocupecom a SGS, porque nós não precisamos denenhum Relatório Limpo de Conclusões.”

As empresas de produtos alimentaresinformaram já a SGS sobre esta situação.

Global Witness pede urgentemente à SGSpara tornar público aquilo que sabe sobre asoperações da CADA em Angola.

Os documentos da Companies House demonstramque a CADA Ltd em Londres, está situada em Queen Anne Street, London W. A CADA Ltd foicriada em , e de Fiori consta como Director. Aempresa está listada como subsidiária de uma empresachamada Copper Financial Inc, localizada em Tortola,Ilhas Virgens Britânicas; esta ultima parece ter sidofundada por um tal Henry Guderley, que tambémaparece como secretário de empresa da CADA Ltd.com sede em Londres. Guderley aparece tambémcomo secretário de empresa na lista da Companies Houseem várias outras empresas afiliadas à Brenco com sedeno Reino Unido: Brenco Ltd; Essante Ltd; Invest TimeLtd; Clearhall Ltd; Classdene Ltd; Brenco AviationLtd.

As pesquisas na Companies House não revelaramexistir ou ter existido uma empresa chamada BrencoTrading Ltd, apesar da referência de De Fiori a estenome como empresa holding (de participação ) doGrupo Brenco. No entanto, a Brenco Trading Ltdestava listada em Douglas, na Ilha de Man em . Apublicação onde consta a Brenco Trading Ltd, indicaque tanto a Clearhall Ltd como a Invest Time Ltd sãosociedades filiais. Ambas as empresas estão registadasna Companies House em Londres. Outra BrencoTrading Limited está localizada em Tortola, Ilhas

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Abaixo: Ficheiros da CADA Ltd na Companies House mostram a detenção de acções da empresa, a função de Henry Guderley como secretário e deFiori como director. A notar: a morada do accionista é a mesma que a de Brenco Trading Ltd, uma empresa accionista da Essante Ltd (verpágina ).

do próprio país, Província do Huambo b “Se a UNITA te apanhasse a cozinhar,

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provavam a comida e se tivesse sal acusavam-te de estares do lado do

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Os negócios e as ligações daBrenco com outros paísesA cobertura dada pela imprensa, principalmente depois dadetenção de Pierre Falcone em 1 de Dezembro de 2000,dá uma ideia sobre os outros negócios de armas queparecem estar relacionados com Brenco. Para além dofacto de os negócios da Brenco se estenderem a paísesdesde a Colômbia e México, até à China e Kazaquistão, talcomo disse André de Fiori da Argo na sua carta de 1998(Ver secção CADA, filial da Brenco, é a chave para osfornecimentos médicos e alimentares das FAA – página 19), aBrenco, ou alguns componentes das operações daBrenco/ZTS-Osos parecem estar ligadas a negócios dearmas e outro equipamento na Birmânia, Camarões e noCongo-Brazaville.

A empresa da Brenco, Setraco, entra emacordos com SLORC na BirmâniaEm 1992, a empresa depetróleo francesa Totalfinalizou o contracto para ogasoduto Yadana naBirmânia, segundoinformações, com aassistência de uma filial daBrenco, Setraco, queforneceu 24 helicópteros daera soviética à SLORC, àjunta militar da Birmânia. 58

Os helicópteros foramrecondicionados em Varsóviae fornecidos, após o fracassona tentativa de conseguirhelicópteros do Vietname.Na altura, o cartão denegócios de Jean Pichon,director da Setraco emRangoon (e ex-adido militarna embaixada da França emBanguecoque), continha nãosó o endereço da empresano Vietname e em Viena, mastambém o “escritório francêsde liaison”, situado nomesmo endereço da Brenco France, que na altura era 56Avenue Montaigne, Paris.

A posição oficial polaca é que estes helicópteros foramentregues directamente, sem a necessidade deintermediários. No entanto, um diplomata polaco na alturadisse,“os birmaneses pagaram-nos com dinheiro da Total.”59 Isto não sugere que a Total pagou directamente peloshelicópteros, mas que a SLORC usou os pagamentos dobónus de assinatura da Total para o acordo do gasodutode Yadana, possivelmente misturados com fundosderivados do envolvimento da SLORC no comérciointernacional de heroína, e que estes pagamentos eramdepois feitos através de uma conta bancária de joint-venture em Singapura.

Thierry Desmarest, PCA do grupo TotalFinaElf deveriaesclarecer até que ponto está informado sobre ospreparativos relacionados com o fornecimento dehelicópteros ligado ao projecto do gasoduto Yadana.

Transacções com os Camarões No início de 1994, o país Camarões estava envolvidonuma disputa territorial com a Nigéria devido à áreapetrolífera Bakassi. Segundo uma notícia da AFP publicadaem Jeune Afrique, uma carta do Pierre Falcone paraEdouard Mfoumou Akame, que era então o ministro-adjunto à Presidência dos Camarões, sugere que a ZTS-

Osos obteve um acordo para fornecer armamento aosCamarões.60

Segundo a publicação La Lettre du Continent, a carta deFalcone em 24 de Março de 1994 em papel comcabeçalho da “ZTS-Osos” apresenta detalhes sobre aaquisição do armamento, supostamente avaliado em71.608.700 de dólares. O acordo incluía: 19,6 milhões dedólares em mísseis terra-ar IGLA-IE; 9,3 milhões de dólarespor três helicópteros de combate;“Faktoria” mísseis anti-tanque no valor de 6,27 milhões de dólares e 2,29 milhõesde dólares pelos lançadores desses mísseis; mísseis anti-tanque “Métis” no valor de 5,4 milhões de dólares mais 1,9milhões de dólares pelos tubos de lançamento dessesmísseis; munições no valor de 6,28 milhões de dólares;10,000 Kalashnikovs no valor de 2,7 milhões. 61 A listaparece ter sido aumentada mais tarde com a inclusão demais material bélico incluindo lança-foguetes por um preçode 495.000 dólares.61 O valor total dos artigos na listaatinge 54,24 milhões de dólares, o que sugere que outrosartigos foram incluídos ou que foi paga uma comissão

elevada.De acordo com La Lettre du

Continent, Falcone enviou uma segundacarta a 11 de Abril de 1994 a Akame,pedindo confirmação da transferênciade 1.513.300 para a ZTS-Osos,cortesia do banco Moskva.61 Numaterceira carta a Akame (que na alturajá era Ministro das Finanças dosCamarões), com data de 3 de Maiode 1994, alega-se que Falconeescreveu,“ficamos felizes por saberque já receberam a sua encomenda, ecomo sabem, estamos inteiramente aoseu dispor se precisarem mais tardede algum apoio logístico.” O artigoprossegue – como auxiliar dememória, Pierre Falcone fala a Akameda ““nossa conta” Menatep no Bank ofNew York.”61

Note-se que foi retirada a licençaao banco russo Menatep em Maio de1999 62e, em Agosto de 1999, após ochamado escândalo do Bank of NewYork, o banco estava a serabertamente acusado pela imprensa

de ter servido para branquear dinheiro russo em contasestrangeiras. 63,64 Cerca de 99% dos accionistas do Menatepvotaram a favor de abrir falência em 1999. 64

Transacçoes com o Congo-BrazzavilleDe acordo com La Lettre du Continent, em 15 de Junho de1995, Martin Mberri, então Ministro de Estado naRepública do Congo, responsável pelo desenvolvimento eplaneamento regional, escreveu a Arcadi Gaydamak (assimescrito), a quem se referiu como “director da empresaZTS-Osos65.” Mberri manifestou o seu interesse emadquirir 150 camiões Ural,“com a condição de que nosenvie rapidamente o texto do contracto final …”65.Segundo o artigo, foi redigido um contracto para aaquisição de 100 camiões Ural 420, 25 camiões cisternaUral 420 para transporte de água e 25 camiões Ural 420para transporte de combustível.”

50% do valor do contracto seria financiado através deuma entrega de petróleo com uma “garantia de entregaemitida pela República do Congo e apoiada pela ElfCongo.” O artigo conclui,“os advogados de Pierre Falconee Arkadi Gaidamak protestaram ao departamento definanças, afirmando que este contrato não fora levado acabo”65. Em vista da falta de transparência neste assunto, aTotalFinaElf deveria esclarecer o que sabe sobre esteassunto.

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Virgens Britânicas, no mesmo endereço da CopperFinancial Inc, a empresa de participação na CADALtd em Londres – não está claro que relação existeentre a Brenco Trading Ltd na Ilha de Man e aempresa do mesmo nome nas Ilhas Virgens Britânicas.

Liquidação da Brenco France

Tal como de Fiori descreveu na sua carta de ,Brenco France desempenhou um papel chave naadministração do grupo. Segundo fontes ligadas àadvocacia em Paris, esse facto não passoudesapercebido àqueles que estavam interessados emque as investigações sobre o Angolagate tivessem um fimrápido. Segundo um advogado, “a Brenco France foiposta sob “liquidation judiciare”, [isto é, abriu falência]em de Fevereiro de , e segundo se consta,desapareceram grandes quantidades de documentos daempresa,” criando mais um ponto de confusãoprocessual para os juízes investigadores. A GlobalWitness visitou os escritórios da Brenco France emParis em várias ocasiões, e a falta evidente deactividade, incluído correio não recolhido, pareceapoiar estes comentários. A Global Witness tambéminspeccionou arquivos referentes à empresa na França,e Brenco France aparece na lista como estando sob“Liquidation Judiciaire du //, constandocomo “Liquidateur” SCP Girard Levy, de Paris.”

O Angolagate alcança osEstados Unidos?

ADETENÇÃO e o encarceramento dePierre Falcone em Dezembro de causou estranheza na alta sociedade doArizona onde, segundo a publicaçãoArizona Republic, Pierre Falcone e a sua

esposa e ex Miss Bolívia, Sonia, desfrutavam de umareputação de filantropos vastamente ricos e residentes empart-time. O Arizona Republic fez várias perguntas sobre afonte da sua riqueza, referindo-se ao facto de terempodido “levar a cabo a compra da casa mais cara[alegadamente por , milhões de dólares] na história doArizona.” Segundo o jornal, Al Molina, um conhecidojoalheiro local e confidente de Falcone declarou, emresposta ao escândalo, “estou muito aborrecido com o queestá a acontecer neste momento … Conhecendo ohomem, é difícil para mim acreditar que ele faria algo quenão seja ético.”

O Arizona Republic apresenta uma imagem de“filantropia e charme,” juntamente com os amigos eassociados que parecem saber muito pouco acerca dafamília Falcone. Tal como o jornal afirma, “até a posse dapropriedade parece intrigante. Essa residência foipropriedade durante vários anos de uma empresa dasIlhas Virgem britânicas, Gabrielle Investments Ltd, a qualnão é possível encontrar. O proprietário da sua novaresidência de , milhões de dólares, na base damontanha Camelback, SPEP LLC, é um trust com oendereço nas Ilhas Turks & Caicos, British West Indies.”

Sonia de Falcone é presidente e co-fundadora/directora da Essanté Corporation, umfornecedor de géneros alimentares para a saúde eprofiláticos, com sede em Utah e incorporada emDelaware em de Abril de . A empresa diz ter umamissão: “a palavra Essanté (francês) traduzida paraportuguês significa “a essência da saúde total.” Esta é aminha missão, trazer uma saúde vibrante ao mundoatravés da terapia de alimentação integral.” Tudo parecerazoável e é mesmo uma tarefa admirável. EssantéCorporation até tem o privilégio de ter ao seu dispor osconhecimentos de relações públicas da The Lee Solters

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governo.A minha irmã foi espancada apenas porque tinha em casa sal que

A quem pertencem os biliõesnesta conta?As investigações da Global Witness identificaram também aexistência de uma conta bancária, número 15468991, abertano chamado “First Virgin Bank” nas Ilhas Virgem britânicas(IVB). Consta-se que esta conta teve depositados cerca de1,1 biliões de dólares em 2001 tendo como signatários duasaltas individualidades angolanas.56

A verdadeira identidade do “First Virgin Bank” continua aser um mistério. Os inquéritos feitos junto do Inspector deBancos, Empresas Trust e Gerentes de Empresas nas IVB,tiveram como resposta,“First Virgin Bank não está licenciadoao abrigo do artigo lei de 1990 sobre Bancos e EmpresasTrust, para levar a cabo operações bancárias dentro ou foradas Ilhas Virgem”. Se este “banco” não tem licença paraoperar como banco, então o que é? Fontes sugeriram que aexplicação mais provável era que seria uma conta bancáriaaberta com o nome de “First Virgin Bank”, aberta num bancolegítimo das IVB.As autoridades das Ilhas Virgem britânicasdeveriam investigar imediatamente a verdadeira natureza daconta.

Tendo em conta também o relacionamento único entreas IVB e o Reino Unido, é necessário que as autoridadesrelevantes no RU tomem as medidas adequadas paraassegurar que as autoridades das IVB levem a cabo umainvestigação de fundo. Esta medida é essencial dado que oscontribuintes internacionais auxiliam o desenvolvimento deAngola. O não cumprimento deixaria as IVB perigosamenteexpostas novamente como sendo considerada jurisdição “nãorespeitadora” dos termos da OCDE no que diz respeito àtentativa de “limpeza” dos paraísos de impostos offshore.

É também necessário, enquanto se discute a influência doReino Unido neste campo, que as autoridades do ReinoUnido e das IVB forneçam toda a informação e assistêncianecessária às investigações francesas sobre o Angolagate. Istoé particularmente importante, devido à miríade de empresasligadas à Brenco que estão localizadas nas IVB.

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Company, uma agência de Beverly Hills, cuja lista declientes anteriores e actuais incluem Frank Sinatra,Barbara Streisand, Michael Jackson, Bob Hope e TheHarlem Globetrotters.

O Website da Essanté proporciona “biografiascorporativas” daqueles cuja missão é ajudar SoniaFalcone na sua missão. Junto com a descrição e a fotodo vice-presidente de marketing, Arthur T. Chester,está um resumo e a foto de Henry Guderley, chefe dasfinanças, descrito como “certificado como Membro doInstituto de Contabilistas no Reino Unido,especializado em Comércio Internacional.”

Infelizmente o Website não informa o leitor sobre opapel de Guderley como secretário de empresa devárias outras empresas do império Falcone (Ver secçãoCADA, uma filial da Brenco, é a chave dos fornecimentosalimentares e médicos das FAA – página ).

Henry Guderley é também o secretário de empresada Essante Ltd sedeada em Londres, situada em Queen Anne Street, London W. Sonia Falcone, deParadise Valley, Arizona, aparece como directora únicada empresa. A participação por acções é ainda maissurpreendente: Sonia Falcone aparece como detentorade uma acção ordinária, sendo a detentora da outraacção a Brenco Trading Limited, de TridentChambers, PO Box , Road Town, Tortola, IlhasVirgem britânicas; este endereço pertence também aCopper Financial Inc, que está listada comoproprietária da CADA Ltd (parte da rede da Brencoem Angola), da qual Guderley é também o secretárioda empresa.

De acordo com um Website suíço sobre questões delavagem de dinheiro, o procurador público deGenebra, Bernard Bertossa iniciou investigações emJaneiro de no sentido de determinar se existiamfacilidades bancárias para indivíduos e empresas cujosnomes estavam na lista de procura de informações.“Sonia Falcone” foi um dos nomes alegadamenteincluído na lista, embora seja importante salientar quenão há qualquer sugestão de que esta tenha sido orpossa vir a ser, acusada dequalquer delito assim comonão está sob investigaçao. Outros nomesalegadamente contidos na lista incluem o ex-ministrodo interior francês, Charles Pasqua, o seu filho PierrePasqua, e Jean-Charles Marchiani. No momentodesta publicação estas investigações estão ainda adecorrer.

tinha comprado no Kuito … Isto aconteceu no final de Fevereiro e nós

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Os ficheiros da EssanteLtd na CompaniesHouse mostram SoniaFalcone como directora,Brenco Trading Ltdcomo accionista e HenryGuderley comosecretário de empresa.A notar: Henry Guderleyexerce também asfunções de secretário deempresa na CADA Ltd eBrenco Ltd.

Acima: Queen Ann Street – a morada na qual está registadaBrenco Ltd, CADA Ltd, Essante Ltd e outras empresas.

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O EscândaloCompra de influência ao estilo EUA?

Em Janeiro de , o Arizona Republic deu a notícia dadevolução dos . dólares que haviam sido doadospela Essanté para a campanha de Bush, grande partedessa quantia fora alegadamente entregue alguns diasapós a vitória eleitoral do presidente Bush. O jornalcitou o porta-voz da família Falcone, Jason Rose,dizendo que “qualquer insinuação de que o casalestava a tentar comprar influência é infeliz, falsa eincorrecta.”

In These Times relatou que esta doação tinha sidofeita em dois pagamentos; primeiro um de .dólares em Maio de , e depois um de . emNovembro de . É interessante que depois dopagamento de Maio, Scott Bundgaard, senador local eapoiante de Bush, conseguiuque Sonia fizesse parte de umgrupo selectivo que se iriaencontrar com o candidatoBush, na sua chegada aoaeroporto de Phoenix.

Sonia Falcone afirmou que asdoações eram para “aumentar aconsciência latina no PartidoRepublicano.” Na altura, elaafirmou que Pierre Falcone nãoestava ligado à Essanté e que asdoações eram financiadas peloslucros da corporação. De facto, aempresa fora incorporada emDelaware a de Abril de comSonia e Pierre Falcone na lista dedirectores.

Le Figaro noticiou que entre os ficheiros encontradosnas disquetes da Brenco, encontradas noapartamento da secretaria de Pierre Falcone pelosjuízes que investigavam o caso, onde havia referênciasa pagamentos da Brenco a várias contas codificadasem vários bancos tais como o UBS na Suiça, o BankLeumi em Tel Aviv e o Banque Rothschild no Mónaco,incluindo uma conta chamada “Essante.”

O InThese Times sugere que a verdadeira fonte dadoação da Essanté para a campanha de Bush foi opróprio Pierre Falcone. Segundo uma fonte anónima,“a empresa [Essanté] tem avançado muito graças àgenerosidade de Pierre, mas depois destes anos elegostaria de começar a ver lucros. Não lhe agradamuito, mas ele fá-lo com um sorriso no rosto devido aoamor que tem pela esposa.”

Compra de influência da Enron – seráque a doação de Falcone segue umpadrão?

Sob a barragem de críticas na imprensa global, parecebastante claro que as doações políticas da Enron, ,milhões de dólares em total (% para osrepublicanos) durante os últimos anos compraramsubstancial influência política. É de salientar os. dólares que a empresa deu a George W Bushdurante a sua carreira política, desde o início comogovernador do Texas até à sua eleição como presidentedos EUA. Dois membros do gabinete de Bush- osecretário do comércio, Donald Evans, e o procurador-geral, John Ashcroft – tiveram que se dissociar de

investigações em curso por terem recebido cerca de. dólares em doações políticas da Enron. OPCA da Enron, “Kenny Boy” como chamava opresidente Bush ao seu grande amigo Kenneth Lay,deu pessoalmente a Bush . dólares.

O vice-presidente Dick Cheney, confrontado coma ameaça de litígio civil para quebrar o silênciosobre o escândalo da Enron, também parece terfortes ligações com a empresa. Parece que osvínculos que unem o chefe da Enron Lay e o vice-presidente Cheney remontam ao tempo em queCheney era PCA da empresa de serviçospetrolíferos Halliburton, quando ambos estavamsedeados em Houston, Texas. Quando Cheneyvoltou para o governo como vice-presidente, eleficou responsável pelo chamado “NationalEnergy Policy Development Group,” que tinhacomo tarefa organizar as políticas de energia do

presidente – cujo resultado está representado numprojecto de lei que agora está perante o Congresso.

Cheney teve seis reuniões com Lay e outrosexecutivos da Enron para discutir o plano energéticode emergência da América: o resultado foi que, talcomo informou o jornal britânico The Observer, o plano“contém pontos detalhados, todos “virtualmenteidênticos às posições defendidas pela Enron” –preocupadas principalmente com a diminuição deregulamentos e aumento de capacidade …”. OWashington Post comenta que Cheney e outros oficiaisimportantes da administração de Bush, tambémtentaram pressionar o governo da Índia de formaagressiva a favor da Enron, relacionado com astentativas da empresa em vender a sua participaçãonum projecto de uma central de energia. A empresaqueria arrecadar , biliões de dólares com a venda,apenas semanas antes de ter aberto falência.

Os Homens dos Presidentes

decidimos ir embora…” – Pessoa deslocada dentro do próprio país, Província do Bié b “Os

A moral do caso Enroné que desacredita asregras do jogo. Expõe acorrupçãoinstitucionalizada napolítica dos EstadosUnidos – uma troca casualde dinheiro e poder queparece ser a marcaregistada de Bush.

Julian Borger em ‘Bush, thecorporations’ flag-carrier,’The Guardian, Janeiro200276

Bush e Cheyney defendem os interesses da América, mas por que meios? O quesabem sobre Pierre Falcone, e desde quando?

© A

FP

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O Escândalo

Angolagate e o escândalo da Enron – pornatureza, o mesmo problema?

Se alguma coisa ficou clara com o escândalo da Enron,foi que a capacidade de compra de influência e dealcançar benefícios estratégicos com a mudança delegislação não está restrita a países até agora atingidospelo escândalo Angolagate. O costume de compra deinfluência está bem vivo no seio do sistema político dosEUA.

A Enron levanta outras questões sobre o nível deinfluência que Pierre Falcone pensaria alcançar atravésda sua doação. Salta à vista o facto de a doação dochefe da Enron, Kenneth Lay de . dólares paraa campanha de Bush ser um valor tão similar à deFalcone. Se a Enron conseguiu figurar na vanguardada agenda política e legislativa da equipa de Bush, queesperava a família Falcone com a sua doação? Após a“devolução” da sua doação, a administração tem agorarazões para negar qualquer interesse – mas qual seria asituação se Newsweek não tivesse chamado a atençãopara os problemas associados com esta doação?

Parece no entanto que a potencial influência deFalcone não se ficou apenas por doações políticas paraa campanha de Bush. In These Times informa quehouve uma reunião entre Falcone e três oficiaisexecutivos de alto nível, anómimos, da PhillipsPetroleum Corporation em Junho de , cerca decinco meses antes da detenção de Falcone em Paris.

Phillips Petroleum Corporation possui hoje uma quotade % no Bloco , em Angola, concedida em ,mas para a qual já estavam adiantadas as negociaçõesquando a reunião com Falcone teve lugar. O artigoafirmava que a Phillips se tinha recusado a comentarsobre o encontro.

O vice-presidente executivo e assessor geral BryanWhitworth respondeu aos inquéritos da Global Witnessem Janeiro de , afirmando que não recordavanenhuma reunião em Scottsdale em Junho, mas tinhahavido uma em Setembro e outra complementar emWashington em Outubro de “para determinarpara determinar se a Phillips iria usar o Sr. Falconecomo consultor […] foi concluído que o Sr. Falconenão representaria a Phillips”. Então porque razão tinhasido Pierre Falcone escolhido como possível candidatoa consultor, e porque razão tinha a Philips decididoque ele não era a pessoa indicada para o cargo depoisdas reuniões?

Um amigo de Pierre Falcone no Arizona, queestabeleceu um Web site apoiando as actividadesdeste, informou que “Pierre recebe bastantes receitasdo Bloco da Exxon, localizado dentro do territóriode Angola.” Apesar de ser difícil interpretar overdadeiro significado desta declaração, tendo emconta as reuniões entre Falcone e a Phillips, é lógicoperguntar até que ponto tem conhecimento aExxonMobil das actividades de Falcone com respeitoao bloco . Terão havido encontros entre a Exxon eFalcone, e será que este desempenhou alguma funçãode assessoria, facultando a aquisição da licença deoperação do bloco ? A ExxonMobil recusou-se aresponder a perguntas.

Em Dezembro de , pouco depois da detençãode Pierre Falcone em Paris, o Sunday Times do ReinoUnido, manifestou a opinião de que o Angolagate estariadirectamente relacionado com os Estados Unidos. Ojornal sugeria que a investigação francesa sobreAngolagate começava a debruçar-se sobre as actividadesde várias empresas envolvidas em Angola, incluindo aantiga empresa do vice-presidente Cheney, aHalliburton.

O jornal também insinuou que haveria possíveisligações entre Falcone e Bush comentando, “Falcone

tinha suficiente confiança com o Bush para organizarum encontro entre o candidato presidencial e um dosseus contactos, o presidente marxista de Angola, JoséEduardo dos Santos. Foi anunciado nos noticiáriosfranceses da semana passada [a ultima semana deDezembro de ] que o encontro não chegou arealizar-se, e que a verdadeira dimensão dos contactosentre Bush e Falcone não é conhecida.”

E prosseguia, “Angola foi brevemente mencionadadurante a campanha eleitoral americana quandoCheney, que se demitiu do posto que ocupava naHalliburton em Julho [], foi acusado de usar osseus contactos da época em que era secretário dadefesa para conseguir contractos para a suaempresa.” Certamente que a Halliburton tem tidobastante êxito em Angola. O jornal declara ainda que“na sua qualidade de secretário da defesa, Cheneytinha sido um apoiante declarado da UNITA …encontra-se agora na intrigante posição de terrecentemente liderado uma empresa que procuravaagressivamente obter contractos com o “inimigo”mortal da UNITA.” Isto faz-nos perguntar comopoderia a Halliburton, chefiada por um conhecidoapoiante da UNITA, ter conseguido tanto êxito emAngola?

É essencial que os indivíduos e empresas principais,que aparentam ter ligações com Pierre Falcone,esclareçam a natureza do seu relacionamento com ele.Vimos as implicações de compra de influência no casoda Enron, onde se obtiveram enormes lucros para osaltos executivos à custa de enormes perdas públicas, eonde se chegou a originar nova legislação para proveitoúnico da empresa em detrimento de funcionários eaccionistas públicos. Se o impacto da compra deinfluência pode ser tão severo para os funcionários deempresas dos Estados Unidos – uma audiência local –imagine o efeito na população de Angola, que já sofredécadas de conflito, instabilidade e saque estatal emgrande escala. Todas as partes envolvidas deveriamesclarecer desde quando e até que ponto, estão a parda situação.

As secções seguintes oferecem pormenores acercade interrogações formais, e por vezes da e detenção deindivíduos alegadamente no centro do escândaloAngolagate. O leitor deve ter em conta que o que vai leraqui consiste em informações que foram publicadaspelos media internacionais, aos quais foramacrescentadas dados obtidos através de investigações.

Os Homens dos Presidentes

Eu admito que ao me dar dinheiro, Falconepensava mais cedo ou mais tarde pedir-mepara o apresentar a pessoas que lhe poderiamser úteis. Cada vez que me dava dinheiro eusabia que me estava a ligar mais ao Sr.Falcone.

Jean-Noël Tassez comentando em 15 deDezembro de 2000, sobre o seu relacionamentocom Pierre Falcone, publicado no Le Monde89

crimes agora são meticulosos e nunca ficam por metade! Eu não sei como são

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O Escândalo

Começam as buscas edetenções

EM 29 DE NOVEMBRO de , abrigada fiscal da policia fez uma rusga àcasa de Jean-Charles Marchiani, queagora é deputado do parlamento europeu(DPE) pelo partido de Charles Pasqua,

Rassemblement pour la France (RPF). Simultaneamente,os juízes a cargo da investigação juntamente cominvestigadores do conselho geral de Hautes-de-Seinerealizaram buscas no domicílio de Charles Pasqua (queagora é também DPE), e na sede do partido de Pasqua, oRPF.

Segundo o Liberation, os artigos confiscados na casa deMarchiani, juntamente com informação contida nas disquetes de Falcone, conduziu os investigadores a JacquesAttali, um ex-conselheiro do presidente FrançoisMitterrand e do primeiro director do Banco Europeu deReconstrução e Desenvolvimento (EBRD). As mesmasfontes de informação provocaram também interesse emJean-Christophe Mitterrand. Como consequência, Attalie Mitterrand foram interrogados pelos investigadoresentre de Novembro e de Dezembro de .

Em de Dezembro de , Pierre Falcone foi“examinado” pelos juízes Courroye e Prévost-Desprez.

Nesse mesmo dia foi acusado de “tráfico ilegal de armas,fraude fiscal, abuso de benefícios sociais, abuso deconfiança e compra de influência,” e foi enviado para aprisão de La Santé em Paris.,

Arkadi Gaidamak e o seu mandatointernacional de captura

Ao mesmo tempo, Arkadi Gaidamak recebeu ordem decomparecer perante os juízes investigadores, mas nãocompareceu. De acordo com a imprensa francesa, a deDezembro de foi-lhe passado um mandatointernacional de captura.

A de Dezembro de , Le Monde publicou umaentrevista com Gaidamak, que aparentemente teve lugarno Dorchester Hotel em Mayfair, Londres. Naentrevista, Gaidamak declarou que o sistema judicialfrancês e as autoridades fiscais o perseguiam há anos. Eleafirmou que Londres tinha sido a sua residência habitualnos últimos dez anos e que, apesar de pagar anualmentecerca de seis milhões de francos franceses de impostos àsautoridades britânicas, este facto não parecia suficientepara convencer as autoridades francesas de que já nãoresidia em França.

Gaidamak queixou-se abundantemente dasautoridades investigadoras e deu uma imagem de servítima de persiguição, insistindo sempre era inocente dequalquer acto ilegal. Para dar força aos seus argumentos,salientou a sua tendência em processar por difamação.Concluindo, Gaidamak declarou que estaria preparadopara se encontrar com o juiz Courroye desde que, “ele megaranta que vou ser tratado de forma correcta. Demomento,” ele salientou, “isso não acontece.” Estaentrevista apresenta a extraordinária situação em que umatestemunha num processo judicial dita as condições emque estaria disposto a ser interrogado.

Pouco tempo depois da entrevista, fontes sugeriramque Gaidamak saíra do Reino Unido para Israel, o qualpossui nacionalidade Israelita. Parece que após a suapartida, Gaidamak continuou a viajar internacionalmente,visitando Angola pelo menos duas vezes e uma vez umpaís da América do Sul. Rumores recentes sugerem queterá mesmo recentemente visitado o Reino Unido, talvez afinais de Novembro de .

O caso do mandato internacional de captura contraGaidamak é algo confuso. Tal como se mencionou, aimprensa francesa declarou que o mandato tinha sidaemitido em de Dezembro de . Se, de facto, omandato foi emitido nesta data, devemos perguntar-noscomo é que Gaidamak pôde estar presente na entrevistaem de Dezembro no Dorchester Hotel em Londres, semque as autoridades britânicas tenham entrado em acção.As investigações da Global Witness revelaram que de factoum mandato de captura número foi emitidopelo Tribunal de Grande Instance de Paris a de Janeirode . Aparentemente foi emitida uma segundanotificação “com o fim de deter” e “de extraditar” ArkadiGaidamak a de Janeiro de . Esta última notificaçãofoi enviada a todos os países membros da Interpol.

Uma pergunta chave: por que razão Israelnão cumpre o mandato de captura deGaidamak?

Deixando de lado os acordos de extradição em vigor,podem existir duas possíveis razões para esta situação. OuIsrael simplesmente não está a cumprir com as suasobrigações de membro da Interpol, uma situaçãoclaramente inaceitável, ou a entrega do mandato sofreuatrasos – excessivamente longos, segundo parece. Podehaver demoras devido ao facto de os mandatos de capturaserem enviados por canais diplomáticos. O cenário actualé impraticável porque permite ao cavalo escapar-se antesde se fechar a porta do estábulo, principalmente após osacontecimentos de de Setembro de . Tal processoparece não ser adequado para os objectivos a atingir,devendo portanto ser remodelado.

Mais detenções e acusações relacionadascom o Angolagate

Após a detenção de Falcone em de Dezembro de ,os juízes da investigação continuaram a interrogar, acusare deter indivíduos envolvidos no escândalo Angolagate. Osseguintes indivíduos são mencionados no contexto dasalegações que foram publicadas contra eles, e aparecempela ordem cronológica das interrogações feitas pelosjuízes investigadores. Devemos recordar que nenhumdestes indivíduos foi declarado culpado em tribunal.

A primeira vítima ligada ao caso Falcone?

Le Monde levantou a possibilidade de Thierry Imbot, filhodo General Imbot, ex-director dos Serviços SecretosExternos Franceses (DGSE), pode ter sido vítima doemergente escândalo Angolagate. Imbot, que tinha sidooficial do DGSE, morreu numa queda misteriosa dajanela do seu apartamento a de Outubro de . Oseu nome estava alegadamente numa disquete como“consultor para a China” da Brenco International. O LeMonde alega que Imbot recebeu . dólares em cincoprestações entre e através de uma conta noNations Bank em Virgínia nos Estados Unidos. Os juízesda investigação parecem ter requerido uma cópia dorelatório policial sobre a morte, que concluía que estatinha sido um acidente.

Os Homens dos Presidentes

Parece ter sido posta em marcha umamáquina infernal, que ameaça não pouparninguém: nem a direita, nem a esquerda, nemmesmo os juízes investigadores.

Le Figaro citado no The Times a 16 de Janeiro de200182

as outras guerras mas cá matar só já não chega! É necessário massacrar!

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O Escândalo

Mesmo que sobrevivas, a recordação vai ficar gravada em ti..” – Pessoa deslocada dentro

Expansão da investigação – possível doaçãode fundos ao RPF, partido do ex-ministrodo interior Charles Pasqua

O partido Rassemblement Pour la France, ou RPF,fundado por Charles Pasqua, foi também implicado nainvestigação. Tanto Pasqua como o seu antigo adjunto noMinistério do Interior, Jean-Charles Marchiani, sãoactualmente Deputados no Parlamento Europeu pelo RPF,e Pasqua já declarou a sua intenção de se candidatar àseleições presidenciais de .

Tal como dissemos anteriormente, a primeira indicaçãode que os investigadores estavam interessados no RPF foidada pelas rusgas da brigada fiscal à sede do partido e àsresidências de Pasqua e Marchiani a de Novembro de., Segundo o Le Figaro, os juízes estavamparticularmente interessados nas transacções financeirasreferentes à campanha do RPF nas eleições europeias de. Num artigo separado, Le Figaro anunciou que “ojuiz Courroye, que havia requerido à comissão para ocontrolo dos gastos eleitorais para confiscar documentosrelacionados com a campanha eleitoral do RPF em Junhode para as eleições europeias, receberá ainda hoje setecaixas de documentos. O magistrado está a verificarminuciosamente se o negociante de armas Pierre Falconefinanciou directa ou indirectamente a campanha dopartido de Charles Pasqua”. Le Figaro prosseguia,“Pasqua, que já foi chamado a depor, negou sempre essassugestões, tal como o seu leal braço direito, o antigopresidente da câmara, Jean Charles Marchiani.”

O misterioso “Robert”

A de Janeiro de , a pedido do juiz Courroye, aCommission Nationale des Comptes de Campagne (CNCC)congelou as contas financeiras da campanha eleitoral de do RPF. Segundo o Le Monde, esta acção foitomada, alegadamente, devido a uma carta de Falconepara o presidente dos Santos, na qual o primeiro informaque a sua empresa Brenco, tinha pago a quantia de. dólares (de um total de , milhões de dólares) aum tal “Robert”.

Mas quem é este “Robert”? uma possível respostachega-nos através de um artigo no Le Canard Enchaîné deDezembro , no qual se sugere que na agendaelectrónica de Falcone aparece o nome de “Robert” juntoa vários números de telefone pertencentes a Marchiani.

Segundo o L’Express, foi precisamente a famosa “ListaBrenco” [documentos nas disquetes] queencaminharam os juízes nesta direcção. “Robert” émencionado em várias ocasiões neste documento. Noentanto, os números de telefone deste misterioso “Robert”correspondem aos da residência de Marchiani em Paris, aoseu telemóvel e ao seu escritório na câmara da região Var[Marchiani ocupara o cargo de presidente da câmara deVar]. O jornal sugere uma possível razão para o interessede dos juízes nesse “Robert”. A lista indicava duastransferências para “Robert”, em Novembro de de. dólares, seguido de outra no início de de. dólares. L’Express concluía “interrogado emNovembro de sobre possíveis transferências feitas porPierre Falcone, a resposta do ex-presidente da câmara foiclara: “Eu jamais recebi quaisquer fundos da Brenco ou deFalcone.”

O L’Express menciona uma carta de inícios de deFalcone para dos Santos, encontrada numa das disquetes, que supostamente declara sob o item ,intitulado “Robert”:

“Chegou-se a um acordo político. Fizemos umadiantamento pessoal de . dólares. […] Elesesperam mais uns ou milhões de francos, isto é,aproximadamente ou , milhões de dólares. […]Acreditamos que este dinheiro deve ser usado na sua

Os Homens dos Presidentes

O filho do antigo presidente francês, Jean-Christophe Mitterrand(também conhecido pela alcunha,“Papa-m’a-dit”, ou “O papá disse-me”), foi preso em 21 de Dezembro de 2000, e permaneceu na prisãoLa Santé em Paris. Foi acusado de “cumplicidade no tráfico ilegal dearmas, compra de influência envolvendo um funcionário público, abusode benefícios sociais, e compra de influência agravada.”86, 87

Alega-se especificamente que Mitterrand recebeu 1,8 milhões dedólares da Brenco, pagos numa conta suiça entre 1993 e 1998.86

Segundo o Le Figaro, a maior parte deste dinheiro foi paga em 1997 e1998.88 Mitterrand afirma que 700.000 dólares lhe pertenciam e nãoeram provenientes da Brenco. É também acusado de ter recebidooutras transferências de dinheiro e dois relógios, cujo valor foiestimado em 3.000 e 15.000 francos franceses.86, 89

O Le Monde fornece mais detalhes sobre estes pagamentos. Ojornal sugere que as faladas 26 disquetes demonstravam que foramfeitos quatro pagamentos pela Brenco International Trading Ltd emcontas pertencentes a Mitterrand no Banque Darrier em Genebra,Suiça.90

Mitterrand afirma que os pagamentos eram pela sua consultadoria,permitindo a Pierre Falcone estabelecer crédito necessário paraAngola, garantido com produção de petróleo futura; por outraspalavras, isto sugere que se tratou de pré-financiamento com petróleo,ou hipoteca, que é o tipo de acordo descrito anteriormente (Versecção Empréstimos internacionais a Angola – página 51). Segundo o LeMonde, Mitterrand declarou “nunca fui informado sobre a venda dematerial bélico, pelo sr Falcone, ao regime angolano”. O Sr Jean PierreVersini Campinchi, advogado de Mitterrand, afirmou que, segundoinformações,“neste momento, os juizes não possuem nem um início dequalquer prova”90. Após a sua detenção, as autoridades suíçascongelaram as contas de Mitterrand em 26 de Dezembro de 2000.91

Apesar da Global Witness salientar o facto de Mitterrand não tersido declarado culpado de nenhum delito, as explicações publicadasnão fazem sentido. Por que razão Mitterrand foi pago durante 1997 e1998 por um financiamento organizado em 1993 e 94? Terá prestadooutros serviços mais tarde ao qual se referem estes pagamentos, e seesse for o caso, quando é que Mitterrand foi pago pelos serviçosprestados em 1993 e 1994? Se prestou outros serviços adicionais, queserviços foram esses? Não podemos ignorar as declarações deMitterrand, mas é claro que, na altura desta publicação, essasafirmações levantam outras questões sobre o seu alegadoenvolvimento neste assunto.

A 2 de Janeiro de 2001, depois de ter passado o Natal e aPassagem de Ano na prisão, foi-lhe estipulada uma fiança deaproximadamente 700.000 dólares.93 Infelizmente, talvez devido aocongelamento da conta na Suiça, ele não pode efectuar o pagamento epermaneceu na prisão93 até 11 de Janeiro de 2001, data em que a suamãe, Danielle Mitterrand, pagou a fiança exigida. Segundo consta, elaterá afirmado,“trouxe o dinheiro para pagar o resgate.” 94

Jean-Christophe Mitterrand

Terá ele mesmo feito o que seu pai lhe disse?©

AFP

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O Escândalo

do próprio país, Província do Huambo b “O problema foi que quando a Unita chegou

totalidade para a campanha das eleições europeias. É porisso muito importante facilitar a disponibilidade destesfundos, porque isso garantiria o início imediato de umverdadeiro lobby operacional dentro do ParlamentoEuropeu.”,

Marchiani negou categoricamente ser ele o misterioso“Robert”, declarando: “eu estava encarregado, no gabinetede Charles Pasqua, de velar pelos interesses e pelasegurança da França, e também de fomentar contactoscom serviços estrangeiros.” E prosseguiu, “a mimpessoalmente, nem o presidente dos Santos, nem PierreFalcone me fizeram um adiantamento de .dólares.” Negou também ter recebido quaisquer fundosda Brenco.

Em de Maio de , Marchiani foi acusado de“abuso de propriedade da empresa e de intercâmbio defavores.” Le Monde conclui que estas acusações serelacionam com os pagamentos feitos a “Robert.”

O parlamento europeu deveria imediatamente ordenaruma investigação sobre a identidade de “Robert” paradescobrir o “verdadeiro lobby operacional dentro doParlamento Europeu.” Depois dos excessos da Enron anível de compra de influência, e mesmo os do Angolagate,nem o processo democrático, nem o povo de Angolapodem pedir menos do que isso.

A investigação incide sobre Pasqua

O interesse dos juízes em Pasqua incide sobre várias áreas,que parecem estar relacionadas com fontes de fundos paradeterminadas actividades políticas. Por exemplo, aentrevista de Pasqua em de Novembro de com osjuízes, incidiu sobre um empréstimo de milhões defrancos franceses que ele tinha pedido “para preencher umvazio nas finanças” do RPF. Segundo o Le Monde, Pasquaexplicou que o dinheiro veio para ele em vez de irdirectamente para o partido, porque ele “estava maisactivo do que o RPF.” Ele foi interrogado sobre aestrutura do empréstimo, que segundo ele, se repartia daseguinte forma: . francos franceses directamente dasua conta poupança, milhão de francos de RobertAssadourian, um cirurgião de Marselha, e , milhões defrancos de Marthe Mondolini, uma residente do Gabão.

A de Janeiro de , Philippe de Villiers, o antigovice-presidente do partido de Pasqua, o RPF, foientrevistado, a seu pedido, pelos juízes investigadores.

Villiers confirmou que tinha saído do RPF em Julho de devido à “falta de transparência na contabilidade” dopartido. Uns dias antes ele tinha dito, “as dúvidas que euexpressei num clima de pouca vontade para compreender,parecem agora ser justificadas.” Não é claro que tipo deinformação terá fornecido aos juízes, no entanto, ao sair dasua entrevista de horas ele terá dito “posso confirmar deforma explícita que o caso Mitterrand-Pasqua [Angolagate] éum assunto de estado muito sério, com ramificaçõesintercontinentais e desenvolvimentos inesperados.”

Segundo o Le Monde, “os investigadores estãointeressados em alguns beneficiários da generosidade daBrenco...” O jornal prossegue, “os investigadores estãointrigados com uma transferência de , milhões de francos(. dólares) efectuada a de Julho de àAssociação “France-Afrique-Orient (AFAO)”. Le Mondeconcluía, “eles [os investigadores] parecem partilhar ateoria de que estes fundos, vindos de uma conta no bancode Genebra La Cantrade Ormond Burrus, foram de factousados para financiar o partido presidido por CharlesPasqua, Rassemblement pour la France.

Num artigo sobre a indiciação em de Maio de de Jean-Charles Marchiani, o Le Monde anunciou queMarchiani “estava sob suspeita de ter recebido .dólares”, e citamos, “no decurso de operações realizadascom o estado angolano e os empresários Pierre Falcone eArkadi Gaidamak.” O jornal acrescentou, “o antigo

Os Homens dos Presidentes

Jacques AttaliApós o seuinterrogatórioinicial com osjuízes dainvestigação em 30de Novembro de2000, JacquesAttali ficou sobcustódia da políciaem 7 de Março de2001, e foiinterrogado denovo pelos juízesno dia seguinte96

De acordocom Liberation,“Jacques A” estavana lista de cerca de300 nomescontidos nas 26disquetes, queteriam sido alvo dagenerosidade daBrenco.97 Asecretária dePierre Falcone, Isabelle Delubac, alegadamente confirmou que setratava de Jacques Attali.97 Segundo o Liberation, Delubac explicou queAttali era “um conhecido” de Falcone, que “telefonavafrequentemente.”97 No entanto, não pode explicar os comentários[contidos nas disquetes],“Jacques A. 50.000 US de BAI”, e “BAIACA,200.000 $”, ambos aparentemente relacionados com actividades deJulho de 1998.97

Devido à falta de esclarecimentos, é impossível confirmar osignificado correcto destas anotações. No entanto, talvez se possadeduzir da primeira anotação “Jacques A. 50.000 US de BAI” que serefere às siglas do Banco Africano de Investimentos (Angola). Éinteressante que a Brenco de Pierre Falcone é detentora de 4% dasacções deste banco (Ver secção Banco Africano de Investimentos (BAI) –página 30). 98 Alega-se que Attali é proprietário de uma empresa deconsultadoria chamada ACA, o que talvez explique a segundaanotação.99 O BAI negou categoricamente terem sido pagos fundos aJacques Attali, ou a qualquer outros personagens nomeados noescândalo Angolagate139. No entanto, o BAI não forneceu comentárioalgum sobre o motivo por que tem sido especificamente nomeado nocontexto desses pagamentos, pelos jornais franceses.

A resposta de Attali foi que esse dinheiro lhe tinha sido pago peloseu trabalho em microcréditos para projectos em Angola. Nãoignorando as suas explicações, pede-se-lhe que indique a localização,quantidade e tipo de esquemas de microcrédito a que se refere, e queesclareça de onde vieram esses fundos.

O Liberation sugere outra alternativa: os juízes podem ter concluídoque estes pagamentos terão sido feitos pelo papel de mediador deAttali, para tentar resolver os problemas fiscais de Falcone.97, 99 OLiberation sugere ainda que Attali poderá ter apresentado o advogadode Falcone, especializado em assuntos fiscais, Allain Guilloux, a HubertVédrine, ministro francês dos negócios estrangeiros, com o objectivode pedir a intervenção de Védrine para ajudar a reduzir as cargas fiscaisimpostas a Falcone.99

Ao mesmo tempo, Le Monde referia que o pessoal de Védrine tinhaconfirmado o encontro do ministro com Guilloux100 Os funcionáriostambém parecem ter afirmado que a recepção subsequente decorrespondência e documentos de Guilloux não provocara “nenhumimpacto”101; a necessidade de insistir que não houvera “nenhumimpacto” simplesmente leva à conclusão de que, no mínimo, Guillouxdeve ter tentado influenciar o desenrolar do processo através do enviode documentos. Se isso é verdade, será que Guilloux decidiu realizar atarefa sozinho, ou será que esse encontro foi preparado por Attali? OLe Monde cita o advogado de Attali dizendo “não existe vestígio denenhuma intervenção por parte de Védrine no caso dos impostos deFalcone, nem vestígios de intervenção alguma por parte de Attali juntode Védrine.” 102

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O Escândalo

presidente da câmara de Var está também sob suspeitade ter recebido uma recompensa financeira pelaatribuição da Ordre Nationale du Mérite a ArkadiGaidamak, que teria sido feita com o consentimento doPresidente da República, Chirac.

A condecoração foi outorgada comoreconhecimento pelo papel desempenhado porGaidamak na libertação de dois pilotos franceses, quetinham sido derrubados e capturados como reféns naBósnia. O pedido foi apresentado oficialmente peloMinistério da Agricultura francês, embora sejaquestionável porque razão esta condecoração delibertação de de reféns foi condiderada do foro doMinistério da Agricultura. Le Fígaro comunicou queMarchiani apresentou a Chirac o caso a favor dacondecoração, apesar de Marchiani ter declarado que“Jacques Chirac decidiu condecorar Gaidamak.”

Segundo o Le Monde, “a condecoração foi apresentada aGaidamak pelo próprio Marchiani em de Julho de, dois dias depois da transferência de , milhões defrancos da Brenco para a France-Afrique-Orient”. LeMonde comunica também que Marchiani negoucategoricamente todas as alegações feitas contra ele. Numartigo posterior, Le Monde citou o Sr. Pasqua, o qual frisouque “não existe nenhuma ligação entre o pagamento feitopela Brenco à France-Afrique-Orient e a condecoração”.

É interessante o facto de os reféns terem chegado aParis um dia antes de o novo presidente Chirac ser oanfitrião da conferência de paz pós-Dayton sobre a Bósnia.Segundo o Le Monde, o General Gallois, o negociadorinicial dos reféns, comentou “quando regressei a Parisestava tudo organizado e informei as autoridades que, paraos reféns serem postos em liberdade seria suficiente que umalto oficial militar [francês] se encontrasse com o GeneralRatko Mladic.” Le Monde salientou que o General Galloisdeplorou a existência de “negociações paralelas” e que“não compreendeu o motivo da intervenção posterior deGaidamak e Marchiani, a qual serviu para nada. Só fezretardar a libertação dos reféns”.

Bernard Guillet, secretário da France-Afrique-Orient eex-conselheiro diplomático de Pasqua foi trazido peranteos juízes e colocado sob investigação por “abuso debenefícios sociais” a de Abril de . Segundo a AFP,Guillet negou as acusações feitas contra ele, declarandoque na condição de secretário da organização, ele só tinhatomado conhecimento do pagamento depois de este tersido efectuado. Guillet foi também interrogado sobre umCitroën Saffrane blindado, no valor de , milhões defrancos, oferecido ao presidente dos Santos em (quando Pasqua era ministro do interior), alegadamentefinanciado pela Sofremi e pela Brenco.

Numa entrevista posterior com o Le Monde, Guilletoferece um ponto de vista interessante sobre um possívelmotivo para a doação da Brenco à France-Afrique-Orient.Quando lhe perguntaram o motivo da doação, Guilletafirmou, “o Sr. Falcone, que tal como eu conhece bem osEstados Unidos, acredita que lobbying é necessário. Eu seique em França o poder judicial o liga erradamente aintercâmbio de favores”; um comentário que pareceapoiar o comportamento demonstrado de forma tão eficazpela Enron em Washington e não só.

A de Maio de , Pasqua foi também postoformalmente sob investigação pelos juízes devido a “abusode benefícios sociais e compra de influência.” No diaseguinte, Pasqua foi formalmente interrogado pela segundavez, nesta ocasião por “financiamento ilegal de umacampanha eleitoral.” Pasqua replicou, “isto é tudocontra as acções políticas que eu controlo.” E prosseguiu,“eles não têm a menor prova contra mim. Eles não têmabsolutamente nada. Eu não aceito ser formalmente postosob investigação, e tomaremos as acções necessáriasperante a Sala de Instrução do Tribunal de Recurso deParis [para põr fim à investigação]”.

Nos princípios de Junho de , Le Parisien comunicouque as investigações sobre os negócios de alguns associadosde Pasqua revelaram a existência de contas bancárias noMónaco, através das quais se alega que passaram centenasde milhões de francos franceses. As contas estãoalegadamente localizadas no banco Credit Foncier doMónaco, que é chefiado por Charles Feliciaggi, que pareceser amigo do presidente dos Santos. A acusação refere-seao movimento de fundos originários do “Ministério dasForças Armadas” de Angola (provavelmente o jornalreferia-se ao Ministério de Defesa angolano) e do“Gabinete Presidencial em Luanda.” Alega-se que umadestas transacções alcançou a quantia de milhões dedólares, e o Le Parisien sugere que estes fundos eramcomissões pela venda de armas. Parte destes fundos foramredistribuídos por empresas offshore e por organizações emFrança.

Esforços para anular os juízesinvestigadores

Enquanto este processo estava em curso, os váriosprotagonistas envolvidos no caso tentavamsimultaneamente por todos os meios possíveis, baseados emcertos aspectos técnicos, forçar o encerramento dasinvestigações. Por exemplo, ao mesmo tempo que difamavaconsideravelmente as autoridades investigadoras, oadvogado de Allain Guilloux tentou fazer valer oargumento de os juízes não terem o direito legal de obteros documentos que levaram às investigações do Angolagate,porque na realidade estavam a investigar outro caso. Esteargumento é interessante, pois faria com que o processolegal fosse ridicularizado; uma vez que os juízes estavam ainvestigar outro caso não relacionado, deveriam esquecer oque tinham descoberto!

Entretanto, Jean-Christophe Mitterrand iniciou o quese poderia descrever como um ataque verbal aos juízes. LeMonde citou afirmações dele dizendo que o juiz Courroye“suava ódio.” Este desabafo público não o ajudou muito,principalmente devido à defesa vigorosa do juiz Courroye eda sua equipa pelos seus colegas no sistema judicial. Jean-Marie Coulon, o primeiro presidente do tribunal derecurso em Paris replicou, “você deve expor as acçõesprofissionais do juiz e não a sua personalidade, pois esteprocedimento prejudica a democracia, que deve serprotegida.”

Noutra tentativa de minar a investigação, o advogadoGilles Goldnadel sugeriu que de acordo com um decretode sobre “material de guerra, armas e munições” erailegal iniciar um processo sem “ requerimento do Ministrodas Finanças, Defesa, Guerra, Marinha, ou Força

Os Homens dos Presidentes

eles queimaram todas as lavras e agora não há comida suficiente para as

O quê, nós? Charles Pasqua e Jean-Charles Marchiani negam um “lobbyverdadeiramente operacional dentro do Parlamento Europeu” para Angola.

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FP

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O Escândalo

Aérea.” Segundo Goldnadel, sem a autorização deles, osjuízes não deveriam ter autorização para investigar ocomércio de armas com Angola. O Tribunal de Recursode Paris decidiu a de Janeiro de que a investigaçãoera válida e deveria prosseguir, declarando que adiaria adecisão sobre a investigação do armamento até deFevereiro de .

Entretanto, o Ministério da Defesa francês apresentou orequerimento necessário e a investigação dos juízesprosseguiu. O requerimento do ministro, pareceu pararpor momentos a defesa de poder evitar as acusações detráfico de armas devido a esta tecnicalidade, em vez dedeixar que os seus clientes respondam às acusações emtribunal. Esta situação continuou até de Junho de ,data em que o “Cour de Cassation” em Paris decretou queas acusações de tráfico de armas contra Pierre Falcone,Arkadi Gaidamak e Jean-Christophe Mitterrand deveriamser retiradas. O argumento do tribunal dava razão aoargumento inicial de que os juízes não deveriam ter levadoa cabo investigações sobre o tráfico de armas sem antes terautorização ministerial.

Em finais de Junho de , Falcone emitiu umcomunicado através do seu porta-voz nos EUA, JasonRose, esclarecendo a sua inocência. Referindo-se àsacusações de tráfico de armas, Falcone respondeu que,“isso [a acusação de tráfico de armas] é totalmente falso! Aacusação é tão destrutiva e injusta como a acusação debruxaria na Idade Média. Legalmente, tudo se desmoronaquando analisado em detalhe. Então, de que sou acusadomoralmente? De ganhar muito dinheiro? Certamente quesim. E ganhei mesmo.”

Até ao momento de publicação, todos os que foramacusados no decorrer das investigações continuam sobacusação. Tanto Pasqua como Marchiani possuem aindaimunidade parlamentária, o que impede os juízesinvestigadores de impor qualquer controlo judicial ouinsistir na sua detenção, como foi o caso com os outrosacusados no caso. No entanto devemos salientar que todosdevem ser considerados inocentes de todas as acusações,enquanto as acusações não forem provadas perante umtribunal.

Outras ligações interessantes

Para além da complicada rede de indivíduos e empresasinterligadas, os artigos na imprensa e as investigaçõeslevantam questões preocupantes sobre outras empresas,que exigem esclarecimento urgente.

Banco Africano de Investimentos (BAI)

Segundo o Website do departamento de estado americano,o BAI foi estabelecido em e está na lista como o únicobanco angolano de investimento. Segundo o Liberation, obanco foi inaugurado a de Novembro de emLuanda. Para um banco que aparentemente foi fundadocom um capital de milhões de dólares, que aumentouem para milhões de dólares, e com váriosinteresses empresariais, desde a construção de uma fábricade cerveja em Moçambique a interesses em diamantesatravés da Ascorp, tudo parece bastante razoável. O BAItem filiais em Luanda (e outras partes de Angola), Lisboa, eLuxemburgo.

Uma vista de olhos pelos comunicados na imprensaacerca do BAI revela alguns aspectos interessantes.Segundo o jornal O Independente, “ fontes no Futungo dizemque o presidente está preocupado com acontecimentosrecentes.” O artigo prossegue, “foi por isso que ele fundoucom o Menatep, um banco russo, o Banco Africano deInvestimentos...” Num artigo do jornal Liberation em, aparentemente sobre o fornecimento de armas aAngola através da ZTS-Osos, o Liberation comunicou que“Arkadi Gaidamak... possuía pessoalmente % do capitaldo novo banco, BAI”.

Segundo a “declaração do presidente” publicado pelopróprio banco (BAI), a lista dos accionistas é a seguinte:

Sonangol, UEE 17.5%Service Group 8.0%José Carlos Récio 7.5%Investec Bank, Limited 7.5%Amer-Com International 6.0%Caixa Central de Crédito Agrícola Mútuo, CRL 5.0%Banco Pinto & Sotto Mayor, SA 5.0%Dabas Management, Limited 5.0%Central Investimentos – Sociedade Financeira de Corretagem, SA 4.5%Outros 34%

Surge a questão de quem são os indivíduos ou empresasque detêm os % indicado como “outros”. Africa Hojeavança que mais % das accões do banco estãodistribuídas da seguinte forma: Soares da Costa e Mota &Empresa, % cada, e Sousa Cintra com %.

No entanto, segundo a imprensa francesa, as ligaçõesao Angolagate parece que vão muito mais além da simplespresença de alguns dos principais implicados entre osaccionistas do banco. Segundo o Le Monde, Jacques Attali, oprimeiro director do Banco Europeu de Reconstrução eDesenvolvimento, recebeu , milhões de francos francesesprovenientes do Brenco e do BAI. O Le Monde prosseguiu“um estabelecimento bancário [BAI] do qual Falcone eraaccionista. Questionado como testemunha a deDezembro [] o Sr. Attali afirmou que a sua empresa[ACA] recebera . dólares do BAI.” Anteriormente oLe Monde tinha comentado “segundo o Sr. Falcone, oanterior amigo íntimo de François Mitterrand fora pago,“para estudar [a implementação] de micro créditos emAngola”.

Em resposta aos inquéritos da Global Witness sobre osproprietários das acções, o BAI confirmou que a empresade Falcone, Brenco, retém uma quota de % no banco.

Por outras palavras, é a Brenco que possui a quota no BAI,não é Falcone a título pessoal. No entanto, em relação àsperguntas sobre o papel de Gaidamak, o BAI declara “nãoé verdade que os nomes mencionados sejam ou tenhamsido accionistas do BAI.”

No contexto da Brenco, o BAI declara que a Brenco“adquiriu % e pagou .. dólares [, milhões dedólares] ao preço nominal das acções, através do depósitodessa quantia na conta em Lisboa do comité promotorpara a incorporação do BAI. Desde essa data, a Brenconunca usou o BAI para nenhum tipo de transacções nemfoi aberta nenhuma conta de depósito pela Brenco no BAI.Nem a Brenco nem nenhuma outra empresa das quemencionou, recebeu crédito algum ou qualquer tipo deapoio…”

No que respeita ao presidente E. dos Santos, o BAIdeclara que “não há nenhuma ligação oficial ou não-oficialentre o BAI e o Presidente da República de Angola.” Em

Os Homens dos Presidentes

pessoas. … O futuro… eu não sei, só penso em ter comida para o dia

Banco Africano de Investimentos (BAI).

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O Escândalo

conclusão, a carta declara que, “não foram feitospagamentos pelo BAI a nenhuma das pessoas que vocêmencionou [presumivelmente, também inclui JacquesAttali].”

Numa carta de de Setembro, em resposta a maisperguntas colocadas pela Global Witness, Mário Palhares,presidente executivo do BAI, forneceu os seguintescomentários adicionais:

● Não comentamos sobre a política editorial de nenhumjornal. Demos-lhe a informação correcta, Brenco foium dos accionista iniciais do BAI com % do capital.Não temos mais comentários a fazer sobre este tema.

● Todos os accionistas do BAI tinham interessescomerciais ou investimentos em Angola quando o BAIfoi incorporado em . No caso da Brenco, tal comojá dissemos na nossa carta com data de de Agosto[], nunca usou o BAI para nenhum tipo detransacções bancárias nem foram abertas contas daBrenco no BAI. Consideramos por isso que a quota eraestritamente um investimento financeiro.

● O Sr. Gaidamak n nunca desempenhou qualquerfunção no BAI.

● Não comentamos sobre alegações da imprensa. Ainformação que lhe demos de que o BAI nunca fezpagamento nenhum a nenhuma das pessoas quemenciona, era verdadeira.

● Tal como diz, a informação que lhe demos era “precisae útil”. Tendo em vista transparência, fornecemos-lheinformação de confiança e verdadeira. Para além disso,esta informação é de domínio público e portantoacessível ao público em geral.

A concluir, a carta termina, “como último comentário, nãovejo motivos para continuarmos este intercâmbio de cartase do nosso ponto de vista, acho que a nossa contribuiçãopara o seu trabalho deve ser considerada como final.”

Elf Petroleum Angola Ltd – uma empresa invisível do grupoElf ?

Desde que o Angolagate apareceu na imprensa emDezembro de , muito se tem falado das vantagensalegadamente obtidas pela Elf, em consequência dasacções e decisões políticas tomadas por vários indivíduosenvolvidos no escândalo. Investigações paralelas revelamno entanto, que o envolvimento da Elf em Angola é maiscomplicado do que inicialmente se julga. A Elf PetroleumAngola Ltd, registada em Angola, é (ou pelo menos era) afilial da Elf que detinha uma quota de % na concessãono bloco da Cabcog em Cabinda, operado pelaChevron.

A Elf Petroleum Angola Ltd parece ter sido retirada detodos os documentos do grupo TotalFinaElf. Apesar desteaparente desaparecimento, há várias razões para sugerirque a empresa existe:

● Em contraste com publicações recentes, a ElfPetroleum Angola Ltd está claramente mencionada empublicações anteriores da Elf, como tendo sidoestabelecida em .

● As contas de da Elf mencionam claramente a ElfPetroleum Angola Ltd como sendo uma filial %propriedade do grupo mãe. Nas contas do ano daElf, a Elf Petroleum Angola Ltd está claramentemencionada como sendo ,% propriedade daempresa mãe. Que aconteceu aos ,% que parece terdesaparecido entre e ?

● Em finais de Novembro de , a Chevron continuoua incluir no seu relatório que a Elf Petroleum AngolaLtd era um parceiro no bloco Zero.

● A Elf Petroleum Angola Ltd é claramente mencionada

como distinta da Elf Exploration Angola, na publicação“Relatório de Actividades do Sector ” doMinistério do Petróleo angolano (GEPE/MINPETMaio ).

● Informação em poder da Global Witness indica que aElf Petroleum Angola Ltd tem uma conta bancária nafilial do Paribas em rue D’Antin. Houve tentativasatravés de um processo judicial não relacionado [aoAngolagate] para congelar os vastos fundos, de acordocom algumas fontes, depositados nesta conta. Esteprocesso não foi motivado por nenhuma ilegalidade porparte da Elf, mas sim para tentar recuperar receitasestatais de Angola mantidas em contas de subsidiáriasda Elf, devido ao facto de Angola não ter cumprido ospagamentos finais de um projecto de construção.

A Global Witness tentou obter esclarecimentos daTotalFinaElf acerca das actividades da Elf PetroleumAngola Ltd a de Agosto de . A Global Witnesstambém perguntou à empresa a de Janeiro de ,qual a opinião desta no respeito à transparência nospagamentos feitos a governos nacionais. Até à data depublicação, a empresa não tinha ainda respondido anenhum destes inquéritos.

Falcon Oil e Prodev

Falcon Oil tem uma quota de% no bloco explorado pelaExxon-Mobil. Prodev possui% no bloco da Elf (agorada TotalFinaElf). “Umaproporção significativa doscerca de milhões de dólaresde bónus de assinatura pago porestes blocos e pelo bloco daBP foram desviados para acompra de armas”. Desdeentão, tem havido bastanteespeculação na imprensa sobre a verdadeira naturezadestas empresas, atendendo a que são desconhecidas nos“grandes bastidores” do petróleo.

Depois da publicação do relatório Um Despertar Cru, asinvestigações sobre estas empresas prosseguiram. Apesar devárias fontes em Luanda sugerirem que a Falcon Oil era aempresa com sede em West Virginia, EUA, chamadaFalcon Oil and Gas, a realidade é que a “Falcon Oil”angolana é Falcon Oil Holdings S.A., convenientementeregistada no Panamá. A empresa tem um escritório emParis. Não sugerimos qualquer comportamento erradopor parte destas empresas, mas sim que estas deveriamestar sujeitas aos mesmos requisitos de transparência queas outras empresas estão.

Outros desconhecidos africanos

Num artigo intitulado “Os misteriosos parceiros da RocOil”, a Africa Energy Intelligence verificou a existência deduas outras empresas, parceiras no bloco Sul de Cabinda,às quais se refere como “desconhecidas no sectorpetrolífero na África”. Estas empresas são a ForcePetroleum, detentora de % do bloco, e a Lacula Oil com%.

Segundo a Africa Energy Intelligence, a “ForcePetroleum é uma empresa privada registada no ReinoUnido cujo único património parece ser essa quota nobloco de Cabinda Sul”. O artigo continua “ enquanto quea Lacula parece ser controlada por uma multinacionalocidental activa em Angola. A Lacula Oil foi tambémparceira da TotalFinaElf em Cabinda Sul, com os mesmos%, mas não possui outro capital.

Devido às preocupações com a falta de transparênciano país, a Global Witness incentiva as empresas a revelaros seus investimentos com dividendos em outras empresas,e pormenores sobre as suas actividades.

Os Homens dos Presidentes

seguinte”– Pessoa deslocada, início de 2001a “Há muito tempo que não há

Falcon Oil – um desconhecido no sector dopetróleo em águas profundas possui % noBloco da Exxon-Mobil.

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O Escândalo

distribuição [de alimentos].As crianças passam fome. Para lhes dar de comer

Os Homens dos Presidentes

O presidente E. dos Santos confirma as suspeitassobre o AngolagateA reacção eloquente do presidente dos Santos no escândalo Angolagate parece confirmar amaior parte das acusações e das suspeitas dos juízes de Paris. Como exercício de limitação dedanos, seria difícil o presidente prejudicar mais ainda a situação, mas parece que tentou. Oscomentários mais reveladores do presidente angolano foram feitos ao receber o novoembaixador francês a 23 de Fevereiro de 2001. Num discurso extraordinário, dos Santos acusa“agentes do estado francês” de criar “condições de calúnia e difamação para afectar asreputações de entidades angolanas e prejudicar os interesses do governo angolano…”.145

Após dizer que não ia interferir nos assuntos internos do estado francês, o presidente fezimediatamente o oposto. Ele admitiu o papel principal desempenhado por Falcone e pela suaoperação, o qual, segundo este, tinha o consentimento do estado francês. Citando as suaspalavras,“tenho o dever de admitir que algumas das pessoas que agora são vitimas de processosjudiciais em França deram uma enorme contribuição para o desenvolvimento das relações entreAngola e a França …”145 O presidente prossegue,“o Sr. Pierre Falcone, por exemplo, através dasua empresa, apoiou Angola num momento crucial da sua historia, e graças a este apoio forampreservadas a democracia e a lei, milhões de pessoas foram salvas do genocídio, e pudemoslibertar as nossas cidades do cerco militar e dos bombardeamentos massivos e indiscriminadosque tanta desolação e desespero causavam.”145

O presidente dos Santos confirmou depois as vantagens comerciais da França nesteprocesso, declarando,“aquele cavalheiro tratou de questões delicadas com o consentimento dasautoridades francesas que foram muito úteis a Angola. Nós interpretámos a sua acção como umgesto de confiança e amizade do estado francês e, por esse motivo, o meu governo tomoudecisões que permitiram o crescimento espectacular da cooperação com a França nas áreaseconómica, financeira e do petróleo.”145 Insistiu também que a ZTS-Osos não era uma empresafrancesa e que o material comprado não passou por território francês, salientando que a fontedo armamento era através de “alguns países da Europa de Leste, principalmente a Rússia.”145

O presidente dos Santos afirmou também que “toda esta confusão deliberada já tinhaacontecido com o Sr.Tarallo [presumivelmente uma referência a declarações atribuídos ao ex-executivo da Elf André Tarallo, o qual sugeriu que a Elf tinha tido em funcionamento um fundopara luvas no montante de 60 milhões de dólares anuais, através de contas no Liechtenstein queforam usadas para pagar subornos a vários funcionários importantes de certos países africanos,incluindo Angola] e devo confessar-lhe, senhor embaixador, que esta situação nos deixasimplesmente perplexos.”145

Finalmente, depois de ter implicitamente estabelecido a ligação entre o sucesso dos interessescomerciais franceses e as actividades de Pierre Falcone, o Presidente lançou um aviso sobre asconsequências da falta de acção em encerrar os processos judiciais, pois “a amizade é como umaplanta que se não for regularmente regada e fertilizada, seca. Eu penso que agora compete aoseu governo, através de gestos práticos, contribuir para a amizade e a cooperação entre osnossos dois povos. E é com esse sentimento que eu lhe desejo as boas vindas e êxito nocumprimento da sua missão.”145 Em termos diplomáticos, esta declaração não foi apenas umopinião interessante sobre não-intervenção, mas também a entrega de um cálice envenenado aonovo embaixador francês.

Angolanos ligados aoAngolagateNas 26 disquetes encontradas noapartamento da secretária de Falcone emParis, encontram-se pormenores relativos apagamentos feitos pela Brenco a váriaspersonalidades proeminentes angolanas.Entre estes indivíduos destaca-se Elísio deFigueiredo.Tal como já foi mencionado, deFigueiredo era o terceiro embaixadorangolano em Paris. O seu papel parece tersido o de intermediário entre o presidentedos Santos, Falcone e Gaidamak. Segundo oLe Monde “acredita-se que o embaixadorElísio de Figueiredo também foiremunerado: Falcone poderá ter-lhe pagomais de 18 milhões de dólares.” O jornalprossegue,“Isabel Delubac [secretária deFalcone] afirmou aos investigadores,“eu viessa pessoa nos escritórios da Brenco emvárias ocasiões.”26

Segundo o Le Monde, Falcone pareceter declarado,“posso confirmar que demosdinheiro ao Sr. Elísio de Figueiredo, dentrodo contexto dos custos e das tarefas querealizou nas suas missões.”26 O que não éclaro é por que razão terá sido necessáriouma pessoa privada pagar os custos de umfuncionário governamental de Angola nodesempenho das suas incumbências oficiais.O Le Monde prossegue,“o empresárioespecificou também que “no contextodestas missões”, foram transferidos fundospara outras personalidades angolanas, taiscomo, o vice-ministro do interior e o chefedos serviços secretos, o Sr. Meala.” Falconeterá afirmado,“quero deixar claro que erapara facilitar as coisas e não para “comprar”as pessoas. Por outras palavras, isto não écorrupção, mas sim uma forma lógica deoperar em Angola.”26 Face ao escândalo daEnron, presumivelmente Falcone achoutambém que fornecer 100.000 para acampanha de Bush seria “também umaforma lógica de operar lá …[nos EstadosUnidos].”

Esta declaração elucidativa, implica queos deveres públicos são vistos, pelaelite dirigente, como uma forma depropriedade privada, e esta atitudenecessida ser desafiada. Éinteressante verificar que Falconeparece partilhar o mesmo ponto devista de Bernard Guillet, secretárioda France-Afrique-Orient, que disse“o Sr. Falcone, que tal como eu,conhece bem os Estados Unidos,acredita que lobbying é necessário.Eu sei que na França, o poder judicialassocia erróneamente isso à comprade favores”. 116

Dos Santos alarga a sua nãointerferência em matériasjurídicas francesasapresentado o seu caso aChirac. Carta de dos Santosa Chirac, em Abril de ,tal como publicada no LeNouvel Observateur.

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O Escândalo

Os Homens dos Presidentes

EmpresasPetrolíferas

Introdução

AGLOBAL WITNESS acredita que asempresas internacionais de petróleo sãocúmplices dos abusos económicos daclasse governante em Angola e noprolongamento da guerra, porque optam

pela não publicação das quantias pagas ao estadoangolano, impedindo assim o povo angolano de poderpedir justificações ao seu governo pela gestão dessasreceitas.

Esta secção analisa este aspecto do comportamento dasempresas petrolíferas. Começa com um pequeno resumoda história do sector petrolífero de Angola e examina osprincipais intervenientes nessa indústria. Após uma breveexposição dos requerimentos de publicação de dadosfiscais nos países desenvolvidos, a discussão incide sobre odiálogo da Global Witness com as empresas petrolíferas afuncionar em Angola que se seguiu à publicação dorelatório Um Despertar Cru em . Este diálogo teve comoobjectivo incentivar acções voluntárias por parte dasempresas para a adopção de um sistema de transparênciatotal, onde sejam apresentados detalhes dos pagamentosconsolidados a governos nacionais. São analisadas umasérie de objecções das empresas contra a divulgação deinformação sobre pagamentos – apesar de as mesmasempresas publicarem regularmente essa informação nospaíses desenvolvidos do Norte – que a Global Witnessconsidera sem fundamento.

Apesar de as empresas petrolíferas mais progressivasreconhecerem a sua responsabilidade de fornecer essainformação, até agora apenas uma empresa, a BP,anunciou publicamente a sua intenção de revelar dadosrelevantes, quando a sua produção no país começar. Anotícia sobre a intenção de BP de “fazer o que é correcto”originou uma série de ameaças indirectas por parte daempresa estatal de petróleo, a Sonangol. A extraordináriacarta confidencial que a Sonangol enviou à BP estáreproduzida na secção “Respostas das empresas – BPAmoco”.

A resposta virulenta da elite angolana ilustra aslimitações de iniciativas voluntárias de transparência. Ocaso demonstra a necessidade de regulamentação nestaárea por parte das autoridades financeiras do Norte, comopor exemplo a US Securities and Exchange Commission ou aUK Financial Services Authority. A secção intitulada“Regulando a divulgação de pagamentos” analisa estecaso; a secção “Riscos de cumplicidade” salienta osperigos da não-transparência para com os investidores e osaccionistas.

O Programa Monitorizado do FMI em Angolatambém é revisto e a integridade da não-divulgação porparte das empresas petrolíferas é posta em questão, tendoem conta a nova consciência corporativa sobrecomportamento responsável em diferentes fórunsinternacionais. A informação, alegadamente atribuída aeconomistas próximos do Diagnóstico do Petróleo doFMI, sugere que em , cerca de , biliões de dólaresem receitas e empréstimos – quase um terço das receitasestatais de Angola que rondam os - biliões de dólares –não foram ainda localizados. Uma correspondência de umfuncionário do Banco Mundial declara: “missõessucessivas do FMI/BM durante os últimos dez anostrabalharam com os dados fornecidos pelas autoridades eencontraram pagamentos inexplicados de largas quantias,equivalente a cerca de um terço ou mesmo metade datotalidade das receitas fiscais. Infelizmente estes problemasainda não foram resolvidos, e os funcionários do FMI

temos que ir para lavras que estão muito longe … dói-me a cabeça! Doem-me

PARTE II : A CUMPLICIDADE DAS EMPRESAS PETROLÍFERAS

esperam explicações sobre o gasto de cerca de , biliõesde dólares de receitas fiscais e empréstimos externos em. Estes cálculos provêm apenas de dadosgovernamentais. As informações sobre pagamentos feitospelas empresas petrolíferas são ainda escassas, uma vezque algumas empresas defendem-se com as cláusulas deconfidencialidade e não está em funcionamento umaestrutura para uma divulgação contínua dos pagamentosdo petróleo”.

Os valores fornecidos no final desta secção revelam,pela primeira vez, os impostos que cada empresa pagou aogoverno de Angola no ano e mostram um buraconegro que contém uma diferença de milhões dedólares entre os dados das receitas fornecidos peloMinistério do Petróleo e os dados do Ministério dasFinanças. Isto sugere que as discrepâncias descobertaspelo FMI são parte de um padrão de abuso económicocontínuo que beneficia de uma guerra civil e de umgoverno que não presta contas.

A indústria petrolífera angolana actual

Angola é o segundo maior produtor africano de petróleodos países a sul do Sahará, depois da Nigéria. A economianacional é altamente dependente desse sector, querepresenta cerca de .% das receitas do governo. Aárea marítima costeira de Angola (o offshore angolano) éconsiderada uma área de produção petrolífera de “classemundial”, com dois terços das perfurações de exploraçãogerando resultados positivos, enquanto na Nigéria aexploração em águas profundas tem apenas umapercentagem de % de resultados positivos e apercentagem média geral é de apenas %. Isto atraiuconsiderável interesse em áreas com potencial a ser

Enquanto as elites angolanas e internacionais enriquecem à custa dasdescobertas de petróleo em Angola, em cada três minutos umacriança morre de doenças evitáveis e desnutrição.

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O Escândalo

Os Homens dos Presidentes

EmpresasPetrolíferas

as pernas e os braços! São 50 km! Temos que viajar de noite pela mata ou a

Progresso da indústria petrolíferaangolanaA indústria de petróleo em Angola começou em 1955 com adescoberta de petróleo no vale do Kwanza pela Petrofina.Aindústria ganhou importância com a descoberta de depósitosao largo da costa do enclave angolano de Cabinda nos anossessenta pela Cabinda Gulf Oil Company (CABCOG), que setornou subsidiária da Chevron em 1984.143

Durante 1978 e 1979, um levantamento sísmico daplataforma continental da costa angolana indicou a existênciade outras reservas significativas de petróleo. Isto originou acriação de 13 “blocos”, para além do original bloco 0 deCabinda, localizados nas águas menos profundas da costa deAngola. Depois do leilão destes blocos em hasta pública, ogoverno criou mais 17 novos blocos numerados de 14 a 30 –“blocos de águas profundas”, os quais alcançam águas maisprofundas do que os dos 14 blocos iniciais155 – ver mapa aolado.

Em Maio de 1999, o governo entregou os primeiros trêsblocos chamados “blocos de águas ultra-profundas”: blocos31-33, que foram adquiridos pela BP-Amoco, Elf eExxonMobil respectivamente. Em Setembro de 2001, oquarto bloco ultra-profundo, bloco 34, foi entregue àSonangol, com assistência técnica da Norsk Hydro.146

Em teoria cada bloco é concluído através de um processode concurso e uma vez alcançado acordo, as empresasparticipantes no bloco pagam um “bónus de assinatura”. Estepagamento não é reembolsável, e é um pagamento que asempresas declaram pagar no documento de concurso, se asua oferta for aceite.Após finalizado o processo de concurso,é escolhida a empresa “operadora”. O operador é a empresaque fica a cargo da exploração do bloco, tomando asdecisões necessárias acerca dos níveis de investimento, tipode equipamento a usar e melhor forma de o usar paragarantir o melhor aproveitamento do bloco. Por vezes, osparceiros no bloco contribuem para o desenvolvimento dobloco sob a orientação do operador. Eles são na realidadesócios no investimento, e o seu nível de investimento e taxade lucros são determinados pela quota que possuem.143

Legislação fulcralPara uma breve discussão sobre outros aspectos da legislaçãoangolana relacionada com o petróleo, consulte o relatório deDezembro de 1999 da Global Witness, Um Despertar Cru. Noentanto convém reiterar aqui o seguinte:

Segundo a lei angolana no 13/78 de 26 de Agosto de1978147, fica estabelecido que “todos os depósitos dehidrocarbonetos líquidos e gasosos subterrâneos ouna plataforma continental, dentro do territórionacional, até ao limite das águas territoriais daRepública Popular de Angola, ou em qualquerterritório sobre o qual Angola exerça soberania, talcomo está estabelecido nas convençõesinternacionais, pertencem ao povo angolano148, sob aforma de propriedade pública.”

Em qualquer discussão sobre os méritos da transparênciano sector petrolífero de Angola, esta lei tem imensosignificado. Se, tal como está explícito nessa lei,“oshidrocarbonetos líquidos e gasosos” são recursos naturaisque pertencem ao povo angolano, então o povo tem odireito de ter conhecimento dos dados relacionados com asreceitas provenientes desses seus recursos naturais!Actualmente, os angolanos não têm acesso a essa informaçãoe são activamente impedidos de a obter.

Contractos de blocos de petróleo Até 1979 a forma preferida de relacionamento contratual erao “acordo em joint-venture”. A maioria (sob a forma depercentagem da produção total de petróleo em Angola) dosblocos actualmente em produção são acordos em joint-venture. Nestes, cada empresa tem a sua percentagem dalicença e paga custos para o desenvolvimento e exploraçãosegundo a quota de que é proprietária.Após o pagamentode impostos e licenças, as empresas dividem os lucros deacordo com a sua percentagem de participação no bloco.Neste tipo de acordo, a Sonangol tem que pagaradiantadamente os custos de desenvolvimento, tal como osoutros participantes no bloco.143 Actualmente, a maisimportante joint-venture num bloco em produção é o bloco0 em Cabinda operado pela Chevron, que produz cerca de70% da produção petrolífera de Angola.155 Os outros centrosprincipais de produção são: o bloco 3, na costa norte, o bloco1, e o bloco 2, ambos situados perto de Soyo.143

Desde 1979, a forma favorita de acordos tem sido a departilha de produção, em que as empresas estrangeiras depetróleo actuam como contratados da Sonangol, e assumemtodos os custos e riscos da exploração e desenvolvimentodos campos dentro do bloco. Uma vez que neste tipo deacordo a Sonangol é também um parceiro, a sua parte dosgastos da fase inicial é geralmente paga pelos outrosparticipantes. Os custos com o desenvolvimento e posteriorprodução são cobertos por uma percentagem do petróleoextraído (que pode chegar a 50%), e que é conhecido como“petróleo de custo”. Após pagamento de impostos aogoverno, o restante “petróleo de lucro” é dividido pelosparticipantes incluindo a Sonangol, de acordo com apercentagem de participação no bloco.143

Os blocos petrolíferos angolanos offshore.

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EmpresasPetrolíferas

tropa apanha-nos.Aqui, a tropa, os comandos, portam-se bem. Não há

Os Homens dos Presidentes

explorado, por parte dos principais intervenientes a nívelmundial na indústria petrolífera. Em , os analistaspreviam um investimento potencial de biliões dedólares durante os seguintes quatro anos. No entanto, aprodução petrolífera de Angola em manteve-se emaproximadamente . barris por dia (bpd). . Osanalistas prevêem que aumentará para cerca de .bpd em , com o início de nova produção, divididapelos blocos da seguinte forma:

Bloco Produção (bpd)Bloco 0 500.000Bloco 2 50.000Bloco 3 95.000Bloco 14 95.000Bloco 17 100.000Outros 60.000 Total 900.000

N.B. EIU não especifica quais os blocos incluídos em “Outros”.

Os blocos recentemente entregues, como o , , e -,assim como outros campos nos blocos actuais, apenasentrarão em produção dentro de alguns anos. O bloco da ExxonMobil talvez entre em produção em ,extraindo um máximo de . bpd. O período detempo calculado até ao início da produção dos blocos - em águas ultra-profundas é mais difícil de determinardevido às grandes profundidades e aos enormesrequerimentos de engenharia exigidos., O próximoaumento significantivo na produção de petróleo emAngola será em , uma vez que o campo Girassol dobloco da TotalFinaElf iniciou a extracção emDezembro de ., ,

Apesar da publicação regular durante o ano passadode comunicados de imprensa exaltando as suas maisrecentes descobertas, a expansão gradual da indústriapetrolífera em Angola não tem sido apenas um mar derosas. As relações entre o governo e as empresasarrefeceram no final do ano , quando o ministro do

petróleo, José Maria Botelho de Vasconcelos declarou queAngola queria diminuir a velocidade do desenvolvimentoou aproveitamento nos blocos de águas ultra profundas,para aumentar a duração do ciclo de produção dessesblocos., Esta fricção foi ilustrada na discussão daExxonMobil com a Sonangol sobre o desenvolvimento dobloco . O ministro J. de Vasconcelos acusou aExxonMobil de escolher uma opção técnica demasiadocustosa para aproveitamento do bloco sem consultaprévia., Essa acção, segundo ele, teria um impactonegativo na quota governamental da receita provenienteda exploração desse bloco., Há uma inconsistênciaclara neste caso, entre os interesses legítimos do estadoangolano em maximizar as receitas provenientes dos seusrecursos e os interesses lucrativos das empresaspetrolíferas, as quais tentam maximizar os lucros nomenor período de tempo possível.

De acordo com a Economist Intelligence Unit (EIU)outra razão para o desenvolvimento mais lento de algunsdos novos campos petrolíferos, é a falta de dinheiro naSonangol. Isto é surpreendente, dada à quantidade deempréstimos de bancos internacionais recentes recebidospela Sonangol (Ver secção Empréstimos internacionais a Angola –página ). A EIU salienta que algumas fontes dentro daindústria sugerem que isso é devido ao desvio de fundosda Sonangol, sem no entanto ser mais específica., Seisso é verdade, deveria constituir uma fonte depreocupação para o FMI.

Bónus de assinatura e atribuição dosblocos -

O valor de bónus de assinatura aumentoudramaticamente aquando da atribuição dos blocos emáguas ultra-profundas. No passado, a atribuição decontractos era determinada após submissão ao governopor parte da empresa de um plano detalhado para odesenvolvimento e exploração de bloco, sendo os detalhessobre a divisão de lucros acordados em negociações.

PetrogalPortugal

Bloco / Acção no bloco (%)

1 Safueiro (10%) A14 (9%) A

Cabinda C. (20%)32 (5%)33 (5%)

Norsk HydroNoruega

Bloco / Acção no bloco (%)

34 (30%)17 (10%) A5 (27.5%)9 (10%)25 (10%)

StatoilNoruega

Bloco / Acção no bloco (%)

17 (13.33%) A15 (13.33%)31 (13.33%)

ShellRU/Países Baixos

Bloco / Acção no bloco (%)

18 (50%)21 (10%)34 (15%)

As dez principais empresas petrolíferas em AngolaA dez mais activas empresas petrolíferas presentemente com operações em Angola são enumeradas em baixo146,149, em termos da propriedade dos blocose da sua função nos mesmos, quer como Operador (verde), quer como sócio (negro). Os blocos presentemente a produzir estão marcados com A.

SonangolAngola

Bloco / Acção no bloco (%)

4 Kiabo (100%) A5 (30%)3 (100%)34 (20%)

0/A, B & C (41%) A2/80-85 (25%) A

3/85-91 (6.67%) A14 (20% ) A

Área A (51%) AÁrea B (51%) A

19 (20%)21 (20%)22 (20%)24 (20%)25 (25%)31 (20%)32 (20%)33 (20%)

Cabinda N. (20%)Cabinda C. (20%)Cabinda S. (20%)

TotalFinaElfFrança/Bélgica

Bloco / Acção no bloco (%)

3/85-91 (53.34%) A17 (40%) A

Area A (49%) AArea B (32.6%) A

3/80 (50%)19 (30%)32 (30%)

0/A, B & C (10%) A1 Safueiro (25%) A2/80–85 (27.5%) A

14 (20%)31 (5%)33 (15%)

ExxonMobilEUA

Bloco / Acção no bloco (%)

15 (40%)20 (50%)24 (50%)33 (45%)

17 (20%) A9 (35%)21 (20%)22 (25%)25 (35%)31 (25%)32 (15%)

ChevronTexacoEUA

Bloco / Acção no bloco (%)

0/A, B & C (39.2%) A14 (31%) A

2/80-85 (20%) A9 (40%)22 (40%)

Área B (16.4%) A20 (50%)

AgipItália

Bloco / Acção no bloco (%)

1 Safueiro (50%) A25 (40%)

0/A, B & C (9.8%) A3/85-91 (16%) A

14 (20%) A3/80 (15%)15 (20%)

BP-AmocoRU

Bloco / Acção no bloco (%)

5 (27.5%)18 (50%)

31 (26.67%)17 (16.67%) A15 (26.67%)

21 (20%)

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EmpresasPetrolíferas

problemas. Mas a tropa ali [no caminho] mandam-te parar e tiram-te a

Fontes em Luanda indicam agora que as decisões fulcraissobre a atribuição de blocos são tomadas ao mais altonível, e a obtenção de licenças tem mais a ver com razõespolíticas do que técnicas.

Em , o novo director da Sonangol, JoaquimDuarte da Costa David, nomeado pelo presidente dosSantos, introduziu o conceito de as empresas terem queefectuar pagamentos não recuperáveis de assinatura, que écomum nos outros países produtores de petróleo.

Segundo os consultores Wood Mackenzie, opagamento pelo bónus de assinatura em Janeiro de relativo ao bloco foi de milhões de dólares. Com basenos dados do quadro seguinte, a média de todos ospagamentos de bónus entre a assinatura do bloco e dobloco em Janeiro de foi de , milhões de dólares,com um máximo de milhões pelo bloco . Os blocos e atraíram ofertas ainda mais altas, de e milhõesde dólares respectivamente. Mesmo tendo em conta esteselevados pagamentos, as várias empresas pagaram umamédia de . dólares por km nestes blocos.

Tendo em conta o alto nível de interesse despertadopelos blocos -, era claro que os pagamentos pelobónus seriam dos mais elevados até à data. No entanto,fontes indicaram que as empresas não contavam comexigências tão altas por parte da presidência, e em vez depagarem cerca de milhões tal como calculavam,viram-se forcados a pagar quantias mais elevadas. Oscálculos da Wood Mackenzie sugerem cerca de milhões, milhões e milhões de dólares forampagos respectivamente pelos blocos -. O relatórioUm Despertar Cru mencionou que o pagamento total dobónus de assinatura destes blocos teria sido cerca de milhões de dólares (cerca de % do orçamento nacionalpara o ano de ). Por outras palavras, as empresasenvolvidas nos blocos - dispuseram-se a pagar umamédia de . dólares por km, um acréscimo superiora dez vezes (,%), por blocos de tamanho similar aos anteriores.

Quando se lhes fazem perguntas sobre o tamanho dobónus de assinatura, as empresas petrolíferas em geraldizem que não são exagerados devido às vastas áreas dosblocos. Isso não é verdade: a superfície dos blocos - écomparável à dos blocos anteriores. Wood Mackenzie

sugere também que os blocos , e podem ter umvolume de reservas similar. Parece então que os novosblocos não possuem ,% mais petróleo que osanteriores.

Os Homens dos Presidentes

Por um lado o governo angolano devia ser aplaudidopor extrair o máximo possível nos pagamentos dasempresas petrolíferas pelos recursos angolanos,principalmente se essas receitas fossem usadas nareconstrução e desenvolvimento do país. Em vez disso, talcomo foi mencionado no relatório as Um Despertar Cru,fontes indicaram que cerca de - milhões de dólares(do total pago pelo bónus de assinatura dos blocos a )desapareceu na presidência para compra de armamentoclandestino. Perante a ausência de esclarecimentos porparte das empresas petrolíferas e do governo angolano,tais pagamentos elevados parecem ser um desperdíciopara o povo angolano e provavelmente um mau negóciopara as empresas e para os seus accionistas.

Sem transparência não há prestação decontas

Desde a publicação de Um Despertar Cru em Dezembro de, a Global Witness tem-se envolvido em diálogo comas empresas petrolíferas que operam em Angola. Oobjectivo tem sido a expansão da responsabilidade socialcorporativa, através da apresentação de motivos para apublicação dos pagamentos ao governo angolano – umconceito que passará a ser chamado “transparência total”.

Tanto o escândalo Angolagate como as investigações daGlobal Witness demonstram claramente que uma partesignificante das receitas do estado angolano, % dasquais provêem das receitas do petróleo, é desviada pelaelite angolana, e que este processo de saque estatal estáintimamente ligado ao progresso da guerra. Nestascircunstâncias, os angolanos não têm capacidade parachamar a contas os seus governantes devido à falta deinformação acerca das receitas do estado. Uma vez que ainformação básica sobre as receitas do governo não estãodisponíveis, como pode ser possível para os cidadãos emgeral exigir contas sobre os gastos do governo? A faltaquase total de liberdade de imprensa simplesmente agravao problema.

As empresas que operam em Angola, se nãocumprirem uma política de transparência total, tornam-secúmplices no patrocínio de uma guerra privatizada e nosaque generalizado do estado numa escala comparável àdo presidente Abacha na Nigéria e do presidente Mobutuno antigo Zaire. Não pretendemos dizer que asempresas estão envolvidas directamente no saque do estado,ou em pagar subornos, apesar de que algumas sem dúvidao façam. No entanto, uma vez que são as receitas dopetróleo que geram a maior parte dos rendimentos doestado que, são depois desviados, as empresas petrolíferasnão podem “lavar as mãos” desta relação directa semdivulgar totalmente os pagamentos. A Global Witness estáconvencida que a adopção de um sistema detransparência, ao revelar as receitas geradas pela indústriapetrolífera em Angola, forçará o governo a sertransparente sobre a maioria das receitas, permitindoassim aos cidadãos angolanos exigir contas ao governosobre a utilização dos bens estatais. A falta detransparência total por parte das empresas também vaicontra o espírito da lei no. /, que declara que opetróleo de Angola pertence aos angolanos.

A Global Witness lança um apelo às empresas para quepubliquem todos os dados relativos a impostos e outrospagamentos feitos a governos nacionais – tal comoacontece na Europa, América do Norte e Ásia Austral.Apesar de este relatório incidir sobre Angola, as empresasdeveriam publicar esses pagamentos em todos os paísesonde operam.

Tabela de pagamentos de bónus de assinatura dosblocos petrolíferos angolanos em águas profundas

Bónus porLicença Data Área Bónus área líquida

Km2 US$ milhões US$/Km2

Bloco 17 Jan 1993 5,030 6 1,193Bloco 16 Jan 1993 4,912 13 2,647Bloco 15 Set 1994 4,172 35 8,389Bloco 14 Mar 1995 4,094 15 3,664Bloco 20 Out 1996 5,000 10 2,000Bloco 18 Out 1996 5,000 9 1,800Bloco 22 Jan 1998 5,480 16 2,920Bloco 19 Fev 1998 4,850 10 2,062Bloco 21 Jan 1999 6,180 45 7,282Bloco 24 Jan 1999 4,778 70 14,650Bloco 25 Mar 1999 4,852 60 12,366Bloco 31 Jun 1999 5,349 400 74,780Bloco 32 Jun 1999 4,317 250 57,911Bloco 33 Jun 1999 5,996 350 58,372Total 1,289

Fonte: Reprodução do relatório ad hoc de Wood Mackenzie- As quantias debónus pagas são estimativas, e a quantia total pode incluir outros pagamentos, taiscomo, ‘projectos sociais’.

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comida … não te matam mas espancam-te … e obrigam-te a carregar coisas

Diálogo com asempresas

ODIÁLOGO que se seguiu àpublicação do relatório Um DespertarCru em Dezembro de consistiuem reuniões entre a Global Witnesse muitas das empresas em questão.

Incluiu também uma reunião de interessados, que tevecomo anfitrião o UK Foreign & CommonwealthOffice, em Outubro de em Londres, onde o tema“transparência total” foi um dos principais assuntos emagenda.

Algumas empresas envolvidas neste diálogoresponderam favoravelmente ao princípio detransparência total, tanto para Angola como paraoutras partes do mundo. No entanto, algumasobjecções e mal-entendidos vieram à luz durante asreuniões, os quais serão analisados de seguida.

. Confidencialidade Corporativa

As empresas sugeriram que os pedidos detransparência implicam a publicação de informaçãocorporativa confidencial. Chegou até a dizer-se que aGlobal Witness estava a sugerir a publicação de dadosrelativos ao processo de concurso para os blocos depetróleo, durante a sua realização.

Isto é falso. A Global Witness não está interessadano processo de concurso para blocos petrolíferos,quando este está ainda em curso – isso éevidentemente informação confidencial. Poderiaaparecer interesse se o processo de concursoenvolvesses subornos, ou qualquer tipo de pagamentos,ou se o processo de aquisição do bloco não incluir umconcurso aberto. Em condições normais, a altura derevelar ao público os detalhes é depois de ter lugar oconcurso e após a escolha do operador e parceiros.

É difícil compreender porque razão os dados sobreos bónus de assinatura e o pagamento de impostospoderão ser considerados confidenciais visto que asempresas fornecem essa informação nos seusrespectivos países de origem. É evidente que asempresas estão a usar dois padrões diferentes:transparência corporativa para os países desenvolvidosdo Norte, mas algo totalmente diferente para os paísesem desenvolvimento, do Sul. A Global Witness lançaum apelo às empresas para que pratiquemtransparência, no mundo inteiro.

. As empresas petrolíferasinternacionais são peças chave

As empresas sugeriram que os pagamentos por elasfeitos ao governo angolano não constituem a maiorparte das receitas que este recebe do petróleo.Sugeriram sim que a maior parte das receitas provêmdas parcerias da Sonangol na exploração dos blocos.Então, se o objectivo é determinar um valoraproximado razoável das receitas do governo, pedir àsempresas petrolíferas os dados sobre pagamento aogoverno apenas forneceria uma pequena parte dainformação necessária.

Há várias razões que invalidam este argumento. Emprimeiro lugar, a maior parte das receitas do governodurante a próxima década serão provenientes, cada vezmais, dos impostos pagos pelas empresas petrolíferas.Durante este período, a maior parte das receitas doestado será proveniente dos pagamentos de impostosdas empresas, e não pelas parcerias da Sonangol. A

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Práticas correntes nas declarações depagamento de impostos

Empresas registadas no Reino UnidoNo Reino Unido, as empresas enviam as contas de fim de ano paraa UK Registrar of Companies (na Companies House), de acordo comas regras UK Standard Accounting Principles. Estas regras em geralobedecem a Padrões de Contabilidade Internacional. Asdeclarações de pagamento de impostos estão incluídas como“pagamentos fiscais no Reino Unido”, e apresentam valoresindividuais e agregados, mas “impostos no estrangeiro”, não contémvalores individuais.161

Claro que se Angola for o único lugar no estrangeiro onde umaempresa britânica trabalha, então todos os impostos indicados sereferem a Angola. Isto acontece com algumas empresas petrolíferassubsidiárias que são estabelecidas para levar a cabo as operaçõesda empresa nesse país; por exemplo, a subsidiária da BP em Angola,é a BP Exploration (Angola) Ltd, que está registada no ReinoUnido. No entanto, do ponto de vista do cidadão angolano, estecenário é confuso: antes de poder obter dados sobre pagamentosdas empresas petrolíferas, primeiro é preciso saber o nome daempresa e o lugar onde está registada a empresa subsidiária, o queimplicaria possivelmente recolher dados de vários lugaresinternacionais. Esta tarefa torna-se ainda mais complicada pelo factode a empresa mãe por vezes usar várias empresas subsidiárias quepodem estar operacionais por apenas algum tempo.

Em casos piores, se uma empresa estiver registada no ReinoUnido e tiver operações em vários países, os dados de pagamentode impostos no “estrangeiro” incluídos no relatório de contas seráa soma de vários lugares.Assim, ao se examinarem as contas anuaisdessas empresas não se obtêm os pagamentos de impostos emAngola. Em princípio, o cidadão interessado poderia consultardirectamente a empresa para obter dados sobre um determinadolugar, mas é claro, no caso de Angola, as empresas petrolíferas nãodivulgam essa informação.

Empresas não registadas no Reino UnidoNos Estados Unidos, Europa e outros lugares desenvolvidos, osdados sobre pagamentos de impostos relativos a empresas queoperam nesses países podem-se obter facilmente, uma vez quequalquer pessoa pode ir ao departamento equivalente à UKCompanies House e requisitar a informação directamente. Noentanto, essa informação não se pode obter em Angola nem emoutros estados menos controlados. Esta falta de informação éagravada pelo facto de lugares com mais regulamentos nãoaplicarem às operações no estrangeiro, as mesmas exigênciasinformativas que recaem sobre as operações domésticas.

Uma vez que a informação relevante já está em poder dasempresas, mesmo que não seja de fácil acesso, a Global Witnessrecomenda as seguintes medidas como parte de uma política de“transparência total”:

As empresas mãe deveriam especificar na lista os impostos eoutros pagamentos a governos nacionais, em todos os países ondeoperam – por exemplo, deveriam apresentar os dados nas contasanuais consolidadas, apesar de estarem já contidos nas contasconsolidadas das subsidiárias. Os dados devem constar comopagamentos líquidos totais a autoridades do país em questão, edeveriam aparecer nos relatórios anuais para autoridadesreguladoras e também nos relatórios anuais de contas da empresamãe e da subsidiária.

Esses dados devem ser apresentados a nível local e nalinguagem nacional do país em questão e do país de origem daempresa.

As empresas mãe deveriam tornar públicos os nomes e oslugares de registo das subsidiárias e também os países ondeoperam.

Devemos salientar que a publicação destes dados envolvecustos irrisórios para a empresa, uma vez que essa informação jáestá em poder da empresa para a contabilidade interna.

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Global Witness chegou a esta conclusão ao analisar oprognóstico da BP-Statoil Alliance para o bloco .Para mais pormenores, veja a secção “Rabo de elefante ouelefante? – a realidade das contribuições das empresas petrolíferaspara as receitas do estado angolano”, à direita.

O valor das contribuições fiscais foi aumentado combónus de assinatura muito elevados das empresaspetrolíferas. Em Julho de , a BP-Amoco, aTotalFinaElf, a ExxonMobil e os seus parceiros,pagaram aproximadamente milhões de dólares embónus de assinatura para os blocos -, gerandoaproximadamente % das receitas governamentaisdesse ano. Apesar de estes pagamentos serempagamentos únicos, em anos recentes tem havido uma“bonança de leilões de blocos petrolíferos” que temresultado em pagamentos regulares em dinheiro aoestado angolano. O bloco acordado em ,continuou esta tendência com um bónus de milhões de dólares.

Qualquer discussão sobre o significado dospagamentos feitos pelas empresas ficará incompleta senão se tiver em conta o facto de a maior parte da quotade produção da Sonangol é usada para pagar a dívidaangolana. A falta de transparência impossibilita aprecisão, mas certas fontes sugerem que os próximostrês ou quatro anos de produção petrolífera estão jáhipotecados para financiar os empréstimos pedidos (Versecção Empréstimos internacionais a Angola – página ). Amaior parte das receitas governamentais disponíveis(ou seja, receitas após a subtracção da quantianecessária para pagar a dívida) continuará portanto aser proveniente dos impostos e dos bónus pagos pelasempresas petrolíferas.

Esta objecção leva-nos a perguntar também, porque motivo, seos pagamentos das empresas não são importantes, é que asempresas conspiram com o governo para não publicar esses dadosde forma clara e transparente.

Os Homens dos Presidentes

Rabo de elefante ou elefante? – a realidade das contribuições dasempresas petrolíferas para asreceitas do estado angolanoAs empresas petrolíferas fornecem receitas ao governoatravés do pagamento de impostos, bónus e prémios, dereceitas geradas nas vendas em parceria com a Sonangol, edas concessões da Sonangol.Algumas empresas petrolíferas,no entanto, afirmam que os seus pagamentos fiscaisrepresentam uma contribuição mínima, comparada com oslucros que a Sonangol obtem com os acordos de partilhade lucro. Uma empresa usou a analogia de os pagamentosfeitos pelas empresas serem apenas “o rabo do elefante enão o próprio elefante”. No entanto, longe de serem“contribuidores minoritários”, a Global Witness revela que, amédio prazo, as empresas petrolíferas são o principalcontribuidor directo para as receitas do estado angolano.

A seguinte análise é baseada em cálculos doEnvironmental Resources Management (Administração dosRecursos Naturais) em 1997, requeridos pela BP-StatoilAlliance para o bloco 17, um bloco de águas profundas queiniciou a produção em Dezembro de 2001.156 Num futuropróximo, a maioria das receitas de Angola será provenientedestes novos blocos (Ver a secção A indústria petrolíferaangolana actual – página 33). Apesar de a previsão originalda produção do bloco 17 ser exagerada, as contribuiçõesrelativas dos impostos das empresas e da parte de lucro daSonangol mantêm-se.

Os dados da BP-Statoil Alliance demonstram que ospagamentos fiscais das empresas petrolíferas constituemaproximadamente 68% das receitas do governo durante osprimeiros nove anos de produção.Apenas se atingeparidade entre os pagamentos de impostos e a parte daSonangol na produção, no ano dez, e de forma global,durante a vida produtiva de um campo, a média das receitasprovenientes dos impostos prevê-se que atinja os 43,74%.

Uma vez que a produção petrolífera em Angola vaipassando de “joint ventures” para acordos de partilha daprodução, como é o caso do bloco 17, a maior parte dasreceitas do estado começarão a ser geradas por uma formade pagamentos similar à do bloco 17. Por outras palavras,nos próximos 5 a 15 anos (ou provavelmente mais tempoporque outros blocos serão atribuídos a novos operadorese entrarão em produção),Angola entrará uma fase em quemais de 60% das receitas do governo serão provenientes depagamentos de impostos por parte das empresas.

A médio prazo, parece que as empresas petrolíferas sãoo elefante e não o rabo.

0

500

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mill

ions

US

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Company Tax Payments to Government

Sonangol Profit Share

Total Government Revenue

Queima de gás –offshore angolano.

© Jeff Barbee / Panos Pictures

Pagamentos de impostos das empresaspetrolíferas versus a parte de lucro da Sonangol Fonte: cálculos da BP-Statoil Alliance para o Bloco 17

para eles” – Pessoa deslocada, início de 2001a “Quando este ataque aconteceu eu

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EmpresasPetrolíferas

. O papel do Fundo Monetário Internacional (FMI)

As empresas sugeriram que a melhor forma de progredir seria através dapublicação de dados provenientes do estudo do “Diagnóstico do Petróleo” doPrograma Monitorizado do FMI.

Apesar de ser importante, a Global Witness acredita que o processo doFMI é insuficiente. Há vários problemas nesta abordagem para que trate deforma eficaz do problema da falta de informação disponível sobre as receitasdo petróleo em Angola. Por um lado, pressupõe que o “Diagnóstico doPetróleo” do FMI será realizado meticulosamente (o que depende em grandeparte da qualidade da informação fornecida à equipa do ProgramaMonitorizado); por outro lado, pressupõe que será tornado acessível ao público(o que dependerá do governo permitir a publicação das conclusões obtidas).De qualquer forma, a operação do FMI em Angola não substitui atransparência total das empresas em todos os países onde operam, pois o“Diagnóstico do Petróleo” abrange apenas Angola. Para uma análise maisdetalhada (Ver secção O FMI em Angola – à direita).

. Acordos de confidencialidade

As empresas assinaram cláusulas de confidencialidade nos seus acordos departilha de produção com a Sonangol e estão, por conseguinte, relutantes empublicar dados relativos aos pagamentos.

Esta é uma preocupação pois acrescenta uma outro nível de controlo àprovisão de dados fornecidos ao público angolano, fornecendo às empresasuma razão para evitarem melhorias a nível da transparência. Acedendo a umaexigência para a existência de um acordo de confidencialidade impedindo adivulgação de dados relativos a pagamentos básicos ao estado, as empresasestão de facto a ajudar e a incentivar a continuação da falta de prestação decontas por parte do governo.

Mas será que cláusula de confidencialidade cobre os pagamentos deimpostos ao governo? Opinião legal comercial questiona se as cláusulas deconfidencialidade deveriam proibir as empresas de revelarem informaçõesreferentes ao pagamento de impostos ao governo angolano. O acordo departilha de produção é um acordo de parceria entre o contratante (ex. aempresa petrolífera) e a Sonangol, que indica que o sigilo é aplicável apenas àsduas partes envolvidas e não às receitas criadas ou aos impostos pagos aogoverno. Este facto sugere que as empresas deveriam ter a liberdade parapublicarem detalhes sobre as receitas geradas por cada bloco e os resultantesimpostos pagos ao governo angolano. Para além disso, a BP tem demonstradoque a agregação de dados relativos a uma vários blocos apresenta umaresposta às preocupações relativas à confidencialidade no que diz respeito aospagamentos feitos à Sonangol.

Divulguem informações sobre os pagamentos!

Dado o nível extremamente alto de investimento, técnicas de gestão,capacidade técnica, financiamento e experiência necessários para funcionarcom sucesso nas águas profundas e ultra-profundas dos blocos de petróleo emAngola, torna-se evidente que poucas empresas possuem a capacidade totalpara efectuar esta tarefa. Estas empresas são essencialmente os senhores dopetróleo – a ExxonMobil, a ChevronTexaco, a TotalFinaElf, a BP-Amoco e aRoyal Dutch/Shell – e alguns dos principais da indústria tais como a NorskHydro e a Statoil, embora estes possam necessitar de parcerias com outros,dada a carga financeira necessária para o desenvolvimento de cada bloco.

Como resultado, existem apenas alguns verdadeiros participantes nomercado do petróleo, e a Global Witness é da opinião que estes deveriamformular uma abordagem comum ao assunto relativo à transparência, nosentido de assegurar que qualquer cláusula de confidencialidade assinada nãoinclui confidencialidade no que diz respeito aos pagamentos básicos feitos aoestado. É pouco provável que um acordo comum em se publicar dadosrelativos aos pagamentos resulte na transferência de blocos petrolíferos paraoutros interessados.

De qualquer maneira, é evidente que já existe uma quantidade deinformação que sai do sistema. Por exemplo, os consultores Wood Mackenzieaparentam ter grande acesso a esses dados, os quais se encontramcomercialmente disponíveis. Este escape de informações não remove qualquerobrigação por parte das empresas: é claramente inaceitável esperar-se que osangolanos comuns tenham que pagar grandes quantias a consultoresestrangeiros para poderem obter informações relativas aos seus própriosrecursos. Os benefícios da confidencialidade são ainda questionados devido aofacto que a Sonangol divulgou publicamente o valor dos bónus de assinaturapara os blocos - durante a conferência sobre o petróleo realizada emLondres em .

estava a lavar no rio. Quando regressei algumas pessoas disseram-me que a

Os Homens dos Presidentes

O FMI em AngolaNo início de Abril de 2000, o governo angolano e oFMI iniciaram um programa em Angola para reduzira inflação,melhorar a transparência das operaçõesno sector público e começar a implementarreformas estruturais críticas – designadas como oPrograma Monitorizado – PM (Staff MonitoredProgramme – SMP).O Fundo MonetárioInternacional (FMI) e o seu parceiro, o BancoMundial, consideram o PM como um primeiropasso necessário para assegurar o apoio financeirointernacional no âmbito dum programa derecuperação económica.164 Por outras palavras,éimplicitamente reconhecido que após o PM,o FMIpoderia entrar em negociações sobre um programafinanceiro no país.O PM inclui um exercícioconhecido como o “Diagnóstico do Petróleo”, quenão é uma auditoria completa dos rendimentos dopetróleo, nem um estudo retrospectivo queexamina acusações passadas de delapidação dosfundos do Estado. Em vez disso, o estudo só temcomo objectivo verificar se a quantidade derendimentos gerados pelas empresas petrolíferasdurante o último ano é o mesmo que a quantiadepositada no Banco Nacional de Angola.165 Esteexercício contabilístico seria utilizado para formaroficiais angolanos.

O Diagnóstico do Petróleo é de grandeimportância uma vez que é potencialmente umaferramenta poderosa para conseguir transparênciano sector petrolífero.No entanto, há diversosproblemas no modo como o processo foiestabelecido, que são complicados pelo facto derecentemente terem havido vários atrasos nofornecimento de informação ao FMI e ao BancoMundial.166

O acordo inicial para fazer o Diagnóstico doPetróleo foi assinado em Abril de 2000, apesar desó ter sido posto em prática depois de Novembrode 2000 quando o governo angolano anunciou quetinha dado um contrato de 1,6 milhões de dólaresamericanos à KPMG, uma empresa internacional decontabilidade e consultoria.A missão da KPMGconsistia em duas fases:165

A Fase I devia envolver uma avaliação inicial dasituação actual.A KPMG tinha que reunir e avaliar ainformação relevante para o ano mais recente,numa base de dados, incluindo estimativas actuais dereservas de petróleo provadas e prováveis, ovolume de produção de petróleo actual e previsto,o volume total das exportações e o valor dasmesmas, e a divisão dos recibos do petróleo dasvendas entre as empresas em operação, a Sonangole o governo. Para isso, foram pedidas as versõesfinais disponíveis das auditorias privadas das contasdas empresas petrolíferas e entidades públicas comoa Sonangol e o Banco Nacional de Angola. Particularatenção teria que ser dada à operação dasinstituições financeiras, como o “Cabinda Trust”, e o“Soyo Palanca Trust”, facilidades de crédito dadas àexportação de governo para governo, assim como asituação de dívida cruzada entre entidadesrelevantes como a Sonangol, o Banco Nacional e oMinistério das Finanças.

Com base na informação recolhida, osconsultores deveriam fazer uma projecção a 5 anosdos rendimentos previstos das operaçõespetrolíferas e instituir um sistema de monitorizaçãopara comparar as projecções com os rendimentosde facto recebidos.A KPMG tinha que formar oscolegas angolanos sobre os procedimentos utilizadose fazer um relatório das variações observadas.

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Unita estava lá por isso eu escondi-me na mata.A minha mulher estava na

Os Homens dos Presidentes

Um relatório final extenso devia ser preparado18 meses depois do início do projecto.Deviam serfeitas recomendações ao governo para melhorar asdisposições regulamentares institucionais e atransparência em transacções financeirasrelacionadas com o petróleo, e copiadas para oBanco Mundial e o FMI.

A Fase II do Diagnóstico do FMI cobria amanutenção e monitorização dos rendimentos.Previa-se que esta fase envolvesse 15% do esforçototal e durasse 12 meses mais durante os quais osperitos de contas da KPMG se deveriam assegurarde que o sistema de monitorização e a base dedados eram preservados, e completar a formaçãodos colegas angolanos.

Se implementado completa e meticulosamente,e se os relatórios devidos fossem disponibilizados aopúblico, o estudo do Diagnóstico do Petróleopoderia certamente criar uma maior transparência eresponsabilidade na gestão dos rendimentos dopetróleo em Angola.No entanto, houve uma sériede limitações graves.A organização Human RightsWatch fez uma crítica detalhada.167 As objecçõesrelevantes incluem:

O governo de Angola tem revelado falta devontade em se empenhar determinadamente paradivulgar os relatórios da KPMG, apesar de um dosobjectivos principais do diagnóstico ser atransparência.167 As recentes ameaças da Sonangolàs empresas petrolíferas no que diz respeito a umapotencial divulgação dos rendimentos dos impostosclaramente demonstram o menosprezo do governopela transparência (Ver secção Respostas dasempresas – página 41).

O governo de Angola tem que se empenharfirmemente em tornar públicos todos os relatóriosdo Diagnóstico do Petróleo assim que estiveremdisponíveis e tem que assegurar que são divulgadosdentro do país em português.Tendo em conta apossível natureza grave das recomendações queserão feitas no relatório final da KPMG,é essencial

que o governo de Angola o publique por completo,e informe o público angolano sobre aimplementação dessas recomendações.

O FMI e o Banco Mundial têm que insistir que ogoverno publique estes relatórios como condiçãoexplícita de cooperação futura. Recentemente, oFMI disse à Global Witness que passaram a exigir apublicação de informação periódica sobre o fluxodos rendimentos do petróleo como condição paraassistência adicional.166 Esta posição tem que sermantida para que o processo tenha qualquer tipode credibilidade.

O Diagnóstico do Petróleo não inclui nenhumaanálise retrospectiva sobre dados de rendimentosanterior ao começo do exercício, apesar dealegações feitas pela Global Witness e outrasorganizações de pre-financiamento dissimulado paranegócios de armas. Prevê-se que a KPMG examinedados anteriores até 1998, como base decomparação com a produção e rendimentosactuais,mas não é claro se estes dados serãoincluídos nos relatórios do Diagnóstico. Informaçãoanterior a 2000 deveria ser incluida, especialmenteconsiderando que pagamentos elevados emdinheiro em bónus de assinatura foram feitos ao – eaparentemente desviados do – Estado em 1998 e1999.

Os termos de referência do Diagnósticotambém não incluem provisões para contasdetalhadas e públicas em resposta às divergênciasidentificadas pela KPMG.O governo só precisa defornecer “explicações suficientes”para os fundosdesaparecidos; a capacidade da KPMG de explicarestas divergências depende por isso completamenteda qualidade da informação que lhe éproporcionada.Apesar de que em alguns casos asdivergências podem ser devidas a flutuações nospreços do petróleo, noutros casos podem sercausadas por desvio de dinheiro para comprasclandestinas de armas ou devido a pagamentosdisfarçados de empréstimos através da Sonangol.

Os termos de referência do Diagnósticodeclaram explicitamente que este não é umainvestigação sobre o uso ou abuso dos rendimentosdo petróleo por indivíduos no governo.É por issode importância crítica que o governo forneça – e asinstituições multilaterais de empréstimo insistam emreceber – uma explicação mais detalhada, verificávele pública destas divergências.

As provisões para a criação de capacidade sãolimitadas e ineficazes. Espera-se que o governo tomeconta da monitorização directa depois do relatóriofinal da KPMG.Relatórios sugerem que existemproblemas estruturais importantes na separação dasfunções entre o Banco Central, o Ministério dasFinanças e a Sonangol.166,168 Na verdade, o própriogoverno reconhece que a Sonangol, por exemplo,opera de modo antiquado, reminescente dorecente passado socialista de Angola, em que se“permitia uma clara interferência do governo nagestão das empresas estatais, ela [a Sonangol] erachamada a realizar pagamentos a favor deinstituições do estado e personalidades semnenhuma contrapartida. [...] sem que tais ordenspartam do tesouro nacional, se defina a naturezadesses pagamentos [...], ou de se assegurar o fluxode informações correspondente ao TesouroNacional e ao BNAde modo a que possam, pelomenos, fazer o seu registo”.169 Por isso, o BancoMundial e o FMI devem continuar a supervisionardirectamente o progresso do Diagnóstico até ogoverno demonstrar adequadamente a suacapacidade de informar o público sobre estesassuntos.

Até agora, o Diagnóstico não está a seguir atrajectória devida.O processo foi testemunha deum número de atrasos que podiam aparentementeser evitados; por exemplo, a KPMG não recebeu oprimeiro relatório do governo, previsto para Abrilde 2001.O FMI enviou uma missão em Julho de2001 para analisar a implementação do PM duranteos seis meses anteriores.168 Devido à falta deprogresso substancial, o FMI foi forçado a levar asdiscussões até Outubro; finalmente, uma série deobjectivos macroeconómicos indicativos e uma sériede medidas transparentes a ser adoptadas duranteo resto de 2001 foram acordadas com o governode Angola.168 Estas medidas incluíam o empenho dogoverno em publicar os dados sobre o petróleo eoutros rendimentos e contratar uma empresaindependente internacional para implementarpadrões contabilísticos internacionais na Sonangol.168

No entanto, a visita do FMI em Outubro não tevelugar e o governo declarou que os requisitos do FMIeram difíceis de alcançar devido à falta decapacidade institucional.169 Finalmente, em Fevereirode 2001, o FMI declarou a existência de problemascom o prosseguimento do PM.O envolvimento doFMI em Angola passou a resumir-se ás consultasregulares no âmbito do artigo IV; contudo, oDiagnóstico do Petróleo parece não ter sidoabandonado.234

Outro ponto-chave é que, independentementeda falta de capacidade de qualquer análiseretrospectiva,é imperativo que o Diagnósticoinvestigue por completo as divergências actuais dosfluxos de rendimentos para poder explicar aquantidade de empresas off-shore e estruturaslançadas para saquear o Estado.

A Global Witness acredita que qualquerdiscussão relacionada com um possível apoio doFMI ou do Banco Mundial é prematura a não serque os pontos levantados acima sejamefectivamente resolvidos.

EmpresasPetrolíferas

Sem prestação de contas relativas ás receitas do governo, qual será o futuro da enormequantidade de crianças angolanas deslocadas dentro do próprio país?

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EmpresasPetrolíferas

Progressos até à data

APESAR DAS OBJECÇÕES acimadelineadas, várias empresaspetrolíferas começam a aceitar anecessidade de maior transparênciasobre os pagamentos feitos aos

governos nacionais. No entanto, o grau de aceitação datransparência total por parte das principais empresas eas acções concretas demonstrando as intenções dasmesmas não são uniformemente claras. Por estemotivo, em Janeiro de , a Global Witness enviouuma carta a todos os presidentes do conselho deadministração (PCA) de todas as empresaspresentemente com operações em Angola Esta cartamanifestava a preocupação relativa ao assunto dacumplicidade na pilhagem do estado e financiamentoindirecto da guerra em Angola, concluindo:

“Sentimos ser apropriado escrever aos PCAs de todas asempresas petrolíferas presentemente a funcionar em Angola, nosentido de determinar as suas opiniões pessoais sobre atransparência relativa aos pagamentos das empresas petrolíferasaos governos nacionais. A principal questão é se as empresaspetrolíferas desejam continuar a ser parte do problema ou se têm aimaginação para se tornarem parte da solução, resultando emgrandes benefícios para os países em questão, uma provávelredução nas suas despesas gerais, uma possível boa reputação e aoportunidade de ter um impacto importante na limpeza dacorrupção internacional – a oportunidade de facto [através deacção cooperativa], de reduzir a competição, o que sabemos seruma das principais queixas de algumas empresas.”

Respostas das empresas

Algumas empresas responderam positivamente.Estas respostas foram variadas mas demonstraramque o assunto da transparência total é um assuntode preocupação. Outras empresas nãoapresentaram qualquer resposta. Houve tambémempresas que se mostram interessadas no assuntomas que se recusaram a apresentar as suas opiniõespor escrito.

BP-Amoco

Numa carta à Global Witness, com a data de deFevereiro de , Richard Olver, o Administradordo grupo BP-Amoco, declarou que, para além demanter um diálogo regular com o Banco Mundial eo FMI sobre Angola, a empresa pretendia divulgaranualmente as informações seguintes sobre as suasoperações no país:

. Produção liquida total por bloco

. Pagamentos agregados pela BP à Sonangol noque diz respeito aos termos do acordo de partilhade produção.

. Totalidade dos impostos pagos pela BP aogoverno angolano.

Para além disso, a BP clarificou que as informaçõessobre o seu recente bónus de assinatura no valor deUS$.. pagos pelo bloco , do qual a BPpossui .%, podem ser encontradas no relatórioanual BP Exploration (Angola) Ltd’s apresentado à Companies House. Esta revelaçãonão representa qualquer mudança de política da BP,pois a empresa tinha a obrigação de fornecer estasinformações segundo a lei relativa às empresas daReino Unido.

A BP declarou que existe uma necessidade de se

agrupar os dados referentes aos vários blocos em quetêm holding, quer como operadores quer como sócios,para evitar violar detalhes específicos relativos aoacordo de confidencialidade com a Sonangol. Não estáainda claro como a empresa pretende divulgar osdados agrupados, pois embora a BP tenha interessesem vários blocos no offshore angolano, apenas o bloco está presentemente em funcionamento.

O anúncio da BP foi alvo de uma respostaextraordinária por parte da Sonangol, numa cartaposteriormente enviada a todas as empresaspetrolíferas a funcionar em Angola, como uma ameaçavelada no caso de estas publicarem informaçõesreferentes aos pagamentos efectuados. A carta daSonangol, elaborada num estilo pouco moderado,acusa a BP de publicar dados confidenciais nãoespecificados e ameaça invocar o Artigo do acordode partilha de produção, que estipula que: “ semprejudicar as provisões da lei geral de qualquer clausulacontratual, a Sonangol pode tomar medidas no sentido determinar este acordo se o contratador … revelar informaçõesconfidenciais relacionadas com as Operações do Petróleo sem quetenha obtido previamente a necessária autorização para o fazer”.

Segue-se uma reprodução da carta da Sonangol:

Os Homens dos Presidentes

aldeia. Ela viu a Unita fechar o meu pai, a minha irmã, o meu avô, a minha

Nas nossas acções e negócios com outros,iremos apenas… prometer o que podemosentregar, comprometermo-nos com o quetemos a intenção de cumprir, não enganarninguém deliberadamente e não participarou tolerar práticas de negócio corruptas ouinaceitáveis.

Compromisso de conduta ética da BP-Amoco

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EmpresasPetrolíferas

A reacção agressiva da Sonangol demonstra para alémde qualquer dúvida que o governo angolano tempouca ou nenhuma intenção de permitir um maiorescrutínio público no que diz respeito às receitasoriginárias dos recursos naturais. Além do mais, colocatambém a Sonangol numa posição fundamentalmenteem contradição com o espírito do Diagnóstico doPetróleo do FMI.

Se as acções do governo são “legítimas”, por querazão a Sonangol apresenta objecções à transparência?Porque razão é a transparência total que “certosgrupos organizados” como a Global Witness éconsiderada apenas “pseudo-transparência?” A cartarevela também uma confusão infeliz e reveladora namente do Sr. Vicente entre a Sonangol – uma empresa– e a administração actual do governo angolano.Ademais, as próprias ameaças da Sonangol sãoquestionáveis pois é pouco provável que a cláusula deconfidencialidade do acordo de partilha de produçãoenglobe os pagamentos feitos ao governo.

A carta da Sonangol revela que as empresaspetrolíferas com operações em Angola estão numaposição difícil. Ou enfrentam riscos graves a nível dereputação ou a nível das suas operações: se publicamdados, correm tanto o risco de retaliação por parte deinteresses velados como o de enfrentar acusações decumplicidade na pilhagem e má administração dasreceitas do estado.

A ameaça deste tipo de retaliação é um argumentoóbvio para que os governos do hemisfério norte e seusreguladores financeiros obriguem legalmente asempresas a publicarem dados relativos aos pagamentosefectuados a todos os governos nacionais. Umaobrigação legal tiraria a decisão de revelar estasinformações das mãos das empresas, e impediria aameaça de não cumprimento das provisões de sigilo. Adivulgação obrigatória dos pagamentos iria também

reduzir a competição, impedindo que as empresas maistransparentes e com mais princípios sejamultrapassadas por competidores menos escrupulosos.(Ver secção Regulando a divulgação de pagamentos – página ).

A Global Witness considera os procedimentos daBP uma contribuição importante para a transparênciaem Angola; no entanto, a sua declaração teria sidomais eficaz se fizesse parte de uma coligação maisampla, pois, para se obter uma aproximação do valordas receitas originárias do sector petrolífero angolano,é necessário que todas as empresas principais revelemos seus pagamentos, sendo claramente menor o riscode retaliação se todas as empresas se mostraremunidas. Todavia, a BP tem demonstrado claramenteque o assunto da transparência total dos pagamentosefectuados aos governos nacionais está agora na ordemdo dia da responsabilidade social das empresas,ampliando este debate ao domínio da responsabilidadecontabilistica. Ao fazê-lo, a empresa criou um novoconjunto de normas internacionais a que todas asempresas deviam aderir, incluindo a própria BP.

Statoil

O Director e PCA da Statoil, Olav Fjell, escreveu àGlobal Witness a de Fevereiro de referindo aobrigação empresarial de divulgação de informaçõessegundo a actual lei norueguesa. A Statoil parece tervárias subsidiárias com interesses em vários blocos depetróleo em Angola. Estas são:

● “Statoil Angola AS”,responsável pelos interesses daempresa no bloco em Angola.

● “Statoil Angola Block AS”, responsável pelosinteresses no bloco .

● “Statoil Angola Block AS”, responsável pelosinteresses no bloco .

Os Homens dos Presidentes

cunhada e quatro crianças dentro de uma casa e incendiá-la. … Eles levaram

Kuito bombardeado, Angola.

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EmpresasPetrolíferas

Segundo ao direito das sociedades norueguês, cada umadestas empresas é obrigada a preencher separadamentedetalhes relativos aos pagamentos de impostos e bónusde assinatura em cada relatório anual e registoscontabilísticos. Estes relatórios estão arquivados em“Brønnøysund Register of Annual Company Accounts”,Havnegata , Brønnøysund, Noruega. Todos estesdocumentos são do domínio público.

A Statoil antecipa que o bloco (operado pelaTotalFinaElf) inicia a produção do campo “Girassol” em (na realidade, o funcionamento teve início emDezembro de ) e que os registos contabilísticosanuais da Statoil Angola bloco AS apresentarão ospagamento de impostos ao governo de Angola na alturaapropriada de arquivo de final de ano.

Ademais, a Statoil arquivou o registo contabilísticoreferente a , e o relatório da “Statoil Angola AS”apresenta o pagamento de um bónus de assinatura parao bloco (.% do qual pertence à Statoil) no valor deNOK., sob a Anotação (US$..).

A Statoil parece ter todo o interesse em demonstrarque o seu nível de transparência em relação aos seuspagamentos efectuados ao governo de Angola está deacordo com o máximo exigido pela lei norueguesa paraos operadores noruegueses. É um facto que na Noruegaé fácil encontrarem-se dados relativos aos pagamentosefectuados ao governo angolano, tais como aquelesefectuados ao governo da Noruega. Este facto significacertamente que a empresa funciona com um maior nívelde transparência que a maioria. No entanto,disponibilizar dados da empresa relativos a pagamentosefectuados ao governo angolano na Noruega nãosignifica o mesmo que disponibilizar essas informaçõesaos angolanos, em Angola.

Royal Dutch/Shell

A de Fevereiro de , o porta-voz do Grupo RoyalDutch/Shell declarou, em resposta a pedidos para atransparência total “estamos a ponderar numa resposta.Como princípio geral, temos um compromisso para com aabertura e a transparência.”

A Global Witness recebeu subsequentemente umacarta do então presidente Sir Mark Moody-Stuart, datadade de Fevereiro de , na qual ele declarava que,“sempre que possível, estas revelações [publicação depagamentos efectuados pelas empresas aos governosnacionais – adição da Global Witness ] devem ser feitas.”Ele referiu, como observação geral, que para se obter umavisão completa seria necessário combinar-se a declaraçãodestes pagamentos efectuados pelas empresas com apublicação dos dados obtidos através de um“programa demonitorização do petróleo”, tal como o levado a cabo pelaKPMG em Angola.

TotalFinaElf

Embora a TotalFinaElf não tenha respondido à carta daGlobal Witness, parece ter tentado aproveitar a delaraçãofeita pela BP. A Global Witness teve conhecimento de váriasdeclarações da imprensa que pressupunham que aTotalFinaElf tinha equiparado a declaração da BP sobre atransparência em Angola. De acordo com a Reuters, a de Fevereiro de , e aparentemente em resposta aocomunicado de imprensa da Global Witness sobre a cartada BP, a TotalFinaElf anunciou que tinha entregue“informações exactas técnicas e financeiras” ao estudo deDiagnóstico do Petróleo do FMI. O porta-voz daTotalFinaElf foi citado como tendo dito “funcionamos emAngola tal como funcionamos no resto do mundo. Temoscuidado para não quebrármos qualquer lei local, francesaou internacional.” Acrescentou, “somos uma empresapetrolífera. Não somos uma organização política. Nãotemos nada a esconder sobre o que fazemos em Angola”.

A cooperação com a equipa do FMI em Angola é o

mínimo absoluto que se pode esperar das empresas comoperações nesse país. Se não for esse o caso, as empresasestariam activamente a sabotar uma das principaisinstituições inter-governamentais. Estas acções, no entanto,não constituem transparência pública. A afirmação de quea empresa não é uma organização “política” sugere que apublicação dos pagamentos efectuados ao governoangolano é uma declaração política. Ora, tal é erróneo poispode igualmente aplicar-se ao facto que a empresa opta pornão publicar os dados relativos aos pagamentos efectuados.

Se, como o porta-voz da empresa diz, “a empresa nãotem nada a esconder sobre o que faz em Angola”, porquerazão não publica essas informações?

BHP Petroleum

A BHP escreveu à Global Witness a de Março de .A empresa afirmou que não está presentemente a produzirpetróleo em Angola e que por conseguinte não é possível apublicação de informações relativas aos pagamentosefectuados ao governo angolano. Numa carta posterior,enviada a de Março de , no sentido de clarificar a suaposição no que diz respeito a receitas futuras, a empresadeclarou que iria reconsiderar a revelação de informaçõessujeita às “restrições de qualquer cláusula deconfidencialidade que possam estar em vigor nessa ocasião.Entretanto, continuaremos a cooperar com o estudo daKPMG referente ao sector petrolífero angolano.”

A Global Witness apela para que a BHP reconsidere asua posição no que diz respeito à transparência total e sejunte a um consenso emergente sobre a necessidade darevelação de informações sobre os pagamentos, prévio aoinício de qualquer produção no país. A empresa deveriatambém publicar dados referentes aos pagamentos debónus de assinatura previamente efectuados.

Petrobras

A subsidiária da Petrobras Internacional em Angola enviouà Global Witness uma carta com a data de de Maio de . A empresa declarou ter “há muito tempo umapolítica para todas as suas actividades…no sentido de

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tudo o que havia na aldeia, todas as cabras, as vacas e as roupas. Levaram

TotalFinaElf – tornar-se-á transparente?

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também muitos rapazes e raparigas para carregarem as coisas” – Pessoa deslocada,

conduzir todas as suas transacções comerciais de umaforma ética e responsável”. No entanto, no que diz respeitoao assunto dos impostos e licenças, a carta continuava daseguinte maneira “podemos garantir [sic] que a empresatem estado a cumprir todos os seus compromissos seguindoestritamente as provisões dos contractos assinados com ospaíses anfitriões.”.

A Petrobras tem também adoptado uma posiçãopositiva no que se refere à transparência – pelo menos noque diz respeito à transparência relativa aos pagamentos decontribuições sociais e de impostos pagos às autoridadeslocais e federais do Brasil. Podem-se encontrar algunsdados no seu website sob o título “Impostos de rendarelativos à finança & serviços no estrangeiro”, embora nãoseja claro o que este título representa. Pode, na melhor dashipóteses, representar os impostos pagos em todos os paísesonde têm operações, simplesmente agregados. A GlobalWitness recomenda que a empresa alargue a suapreocupação para com a transparência, praticando atransparência total para todos os seus países de operação.Além disso, as outras empresas deveriam seguir o exemplodo formato de apresentação de pagamentos de impostos nowebsite da Petrogas, pois é significativamente melhor, numponto de vista de acesso público, do que o que temos vistoatravés de simples arquivos de registo.

Outras empresas – estarão a evitar oassunto?

Por ocasião da publicação deste relatório, as outras grandesempresas, incluindo a ExxonMobil, a Chevron e aTotalFinaElf não tinham respondido ao inquérito daGlobal Witness, e não publicaram ainda quaisquercomunicados de imprensa em relação a este assunto. Este éum factor de grande preocupação, sobretudo dada aposição dominante em termos do petróleo actualmente aser produzido pelas operações da Chevron e daTotalFinaElf.

Simultaneamente, parece existir uma cultura dehipocrisia pois estas empresas parecem estar desejosas por

sugerir que o seu comportamento está para além dequalquer crítica. A Exxon afirma “o compromisso daExxon em cada país e em cada comunidade em queestamos activos, é o de conduzir as nossas transacçõescomerciais negócios de acordo apenas com os mais altospadrões éticos e de integridade.” Da mesma maneira aChevron garante que, “vamos levar a cabo os nossosempreendimentos de uma maneira social e eticamenteresponsável… Vamos respeitar a lei, apoiar os direitoshumanos universais e melhorar a qualidade de vida dascomunidades onde trabalhamos.”

É interessante observar que uma consulta ao website daTotalFinaElf não revela quaisquer comentáriosrelacionados com a posição da empresa no que diz respeitoa responsabilidade social corporativa e comportamentoético. Algumas fontes indicam que, a empresa produziu defacto um documento de dez páginas enumerandopormenorizadamente a sua política ética. No entanto,parece que a TotalFinaElf não está muito interessada emdivulgar a existência de tal documento. Este documentorepresenta mais uma declaração de intenção por parte daempresa do que uma orientação política. Qualquercompromisso real pela empresa não pode ser avaliadoenquanto estas declarações continuarem a não estardisponíveis ao público e a não serem sujeitas a umaauditoria.

Os pedidos para a transparência total obviamenteaplicam-se também à Sonangol. No entanto, as objecçõesviolentas desta empresa à política de transparência total daBP sobre os pagamentos efectuados ao governo angolano,significam que a Global Witness não antecipa qualquermudança rápidas por parte da empresa no que diz respeitoà transparência.

Embora a Sonangol tenha minado o espírito doPrograma Monitorizado do Staff do FMI, esta instituiçãodeve continuar a pressionar a empresa e a exigir atransparência total como uma condição para continuarcom qualquer auxílio multilateral a Angola.

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Programas sociais de empresasQualquer visitante a Angola rapidamente se vê frente a um dos diversosprojectos sociais das empresas petrolíferas. Estes projectos de boavontade variam mas incluem geralmente escolas, instalações médicas,reconstrução de edifícios, etc.Apesar de ser difícil condenar este tipo deiniciativas, elas são insignificantes quando comparadas com a política decumplicidade com a má gestão e saque dos rendimentos do petróleoem Angola pela elite no poder. Este tipo de filantropia corporativa porparte das mesmas empresas que escolhem tirar o poder à sociedadecivil por não serem transparentes sobre os pagamentos que fazem aosgovernos, parece mais uma tentativa de apaziguar a consciência do quepromover cidadania responsável a nível global.

Também há dúvidas sobre a gestão desses projectos e se nãoescondem subornos à elite no poder.160,190 De momento, a GlobalWitness não se concentra na análise dos programas sociais das empresaspetrolíferas, mas julga necessário que as contas de todos os programassociais sejam regularmente verificadas por uma entidade independenteque analise tanto o objectivo como o valor do projecto, para verificar sevale realmente o proposto. Os resultados devem ficar disponíveis no paísrelevante.

Estas preocupações são intensificadas por um discutível programaconjunto de desenvolvimento, de 40 milhões de dólares americanos,entre a Sonangol e as empresas petrolíferas internacionais, o qual asempresas realçaram em 2001. Se este programa fosse bem gerido,segundo os princípios acima, poderia ser uma boa iniciativa, masquaisquer que sejam os méritos, as empresas petrolíferas devem tomarnota do facto que os projectos de boa vontade não substituemtransparência por parte da empresas sobre pagamentos ao governo deAngola.

De que maneira é a falta de transparência da Sonangol consistentecom a sua auto-imagem de “ uma força no desenvolvimento deAngola”?

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Os Homens dos Presidentes

início de 2001a “A 7 de Março de 2000, as FAA vieram à aldeia levaram 16 ou

Responsabilidade social dasempresas – sentimento genuínoou simples relações públicas?A Responsabilidade Social das Empresas é geralmente vistacomo “o conceito de que uma empresa é responsável peloseu impacto sobre todos os interessados relevantes”.191 Osinteressados são tradicionalmente vistos como os que sofremo impacto directo das operações da empresa. No entanto,esta delineação de responsabilidade é arbitrária e limitada e aGlobal Witness acredita que, no que diz respeito ao sectorde recursos naturais, o conceito de Responsabilidade Socialdas Empresas (RSE) também deve incluir as pessoas que, emúltima instância, possuem esses recursos – ou seja, apopulação geral do país. Esta relação está claramentedeclarada na lei angolana nº 13/78, aonde está estabelecidoque “todos os depósitos de hidrocarbonetos líquidos egasosos ... pertencem ao povo angolano, sob a forma depropriedade pública.” Não publicando o que pagam, todas asempresas não transparentes que operam em Angola estão aviolar os verdadeiros princípios de RSE uma vez que asociedade civil e a população em geral estão a serdeliberadamente excluídas do diálogo sobre a administraçãodos seus recursos em Angola. Por isso, a Global Witnessargumenta que a definição de responsabilidade corporativatem que estar ligada à operação de práticas de negóciostransparentes e justificáveis.

Há um reconhecimento gradual desta definição maisampla de RSE, e uma necessidade de incluir medidas quefaçam com que as empresas sejam responsáveis pelas suasacções. Diversos fóruns internacionais já estabeleceram, ouestão a estabelecer, a transparência dos pagamentos dasempresas a governos nacionais como parte das suas práticasmais extensas. Na realidade, diversas multinacionaispetrolíferas em Angola já subscreveram a estes princípiosgerais em virtude de serem assinantes de certos códigosvoluntários de bom comportamento corporativo, como sedescreve de seguida.

Iniciativa Global para a Divulgação deInformaçãoA Iniciativa Global para a Divulgação de Informação – IGDI(Global Reporting Initiative – GRI) foi estabelecida em 1997pela Coalition for Environmentally Responsible Economies –CERES juntamente com a UNEP para desenvolver “directivasaplicáveis globalmente para informar sobre o desempenhoeconómico, ambiental e social” e para fazer com que“relatórios sobre sustentabilidade sejam tornados rotina e tãocredíveis como os relatórios financeiros, em termos decomparação, rigor e verificação.”192 Em parte, a IGDI é umexercício em controlo de qualidade – há cerca de 2000empresas mundialmente192 que produzem relatórios sobrediversos aspectos do seu desempenho económico, social eambiental mas, na maioria dos casos, actualmente, ainformação é “inconsistente, incompleta e não verificada.”192

Os indicadores económicos que a IGDI adopta incluemuma relação detalhada dos lucros, rendibilidade do capitalutilizado e dividendos por região geográfica.193

Especificamente na secção 6.51, as directivas recomendamque as empresas participantes devem publicar “os impostospagos a todas as autoridades fiscais.”193

A Shell,Texaco,194 TotalFinaElf, e a Halliburton (umaempresa de serviços à indústria petrolífera) empenharam-seem rever as Directivas de Sustentabilidade da Informação eestão a considerar publicar um relatório completo desustentabilidade.195 Apesar destas empresas terem, em teoria,feito um esforço constructivo na revisão destas directivas, énecessário e urgente esclarecer se o seu empenho actualimplica que irão começar a dar informação sobre “osimpostos a todas as autoridades fiscais”.

Directivas da OCDE para as EmpresasMultinacionais e Princípios de AdministraçãoCorporativaTanto as Directivas revistas da OCDE para as EmpresasMultinacionais em 2000 como os Princípios de AdministraçãoCorporativa de 1999 reconhecem a importância dadivulgação de informação.A Secção IV dos Princípios sobre“divulgação e transparência” nota que “um forte regime dedivulgação é uma característica essencial da monitorizaçãodas empresas com base no mercado e é um poderosoinstrumento para influenciar o comportamento das empresase para proteger os investidores”.196 No pós-Enron, podealguma entidade corporativa permitir-se não fazer de taisdeclarações o padrão das práticas de negócios?

O regime de divulgação sugerido envolve que asempresas assegurem que sejam feitas as revelações correctase em tempo devido sobre todos os assuntos materiaisrelacionados com a corporação, incluindo a situaçãofinanceira, desempenho, propriedade e administração daempresa e que tal “informação deverá ser preparada,verificada e revelada de acordo com elevados padrões decontabilidade, divulgação financeira e não financeira eperitagem contabilística.”197 Mais especificamente, osPrincípios denotam que “é importante que as transacçõescom todo um grupo sejam reveladas. Pode-se argumentarque as falhas na administração podem muitas vezes serligadas à falta de divulgação do “quadro” completo,especialmente quando itens fora do extracto de contas sãoutilizados para fornecer garantias ou obrigaçõessemelhantes”.198 O Artigo III(1) das Directivas declara que ainformação também deve ser revelada segundo “ramos denegócio e áreas geográficas”.

Tomando estas provisões conjuntamente, é difícil vercomo padrões de alta qualidade de contabilidade, ereconhecimento dos direitos dos interessados podem nãoincluir detalhes de pagamentos de impostos a autoridadesnacionais. Este relatório realça a necessidade de considerar o“quadro completo” da administração corporativa em Angola.Como tal, a Global Witness insiste que a OCDE actueimediatamente para resolver este lapso na divulgação.

Convénio Global das NUO Convénio Global, uma iniciativa do secretário-geral dasNações Unidas (NU), Kofi Annan, é um processo que tem aintenção de “desenvolver um entendimento comum sobrecomo o sector privado pode contribuir para construir a paze a segurança em zonas de conflito.”199 O Convénioorganizou um diálogo inaugural em Março de 2000 199 e osparticipantes descreveram que a transparência completa éuma questão chave para reformar o processo de doações defundos deliberadas e imprevidentes a agendas económicasque sustentem conflitos regionais ou locais. As propostasespecíficas serão publicadas no seguimento do segundoencontro do Convénio em Outubro de 2001: uma política decompleta transparência nas zonas de conflito tem agora queser implementada.

O Livro Verde da EU sobre ResponsabilidadeCorporativaA Comissão Europeia submeteu recentemente um LivroVerde que Promove uma Estrutura Europeia para aResponsabilidade Social das Empresas.200 O documento lançao debate sobre como a União Europeia pode promover aresponsabilidade social corporativa tanto a nível europeucomo internacional, e convida as autoridades públicas,empresas, parceiros sociais, ONGs e outros interessados asubmeter as suas opiniões.Tal como o processo do ConvénioGlobal, é imperativo que os Estados Membros da EUentendam a necessidade de promover a transparência eresponsabilidade corporativa em vez de só encorajar afilantropia voluntária das corporações.Ao contrário doConvénio Global, as autoridades da EU podem, e devem,legislar directamente sobre o assunto. Parece não haver

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17 pessoas.....Nós estávamos atrás do grupo e eu ouvi tiros, por isso

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grande desculpa para os Estados Membros não seguirem estalinha de divulgação mandatária de pagamentos agregados agovernos hóspedes nos regulamentos nacionais de negócios,considerando a intenção declarada do documento de“desenvolver uma estrutura europeia, em parceria com osprincipais participantes na responsabilidade social corporativa,com o objectivo de promover a transparência, coerência emelhores práticas nas práticas de RSE”201 e o seureconhecimento de que “os códigos de conduta não são umaalternativa para as leis e regras obrigatórias nacionais, da UE einternacionais... [que] asseguram os padrões mínimos que seaplicam a todos”.202

Na realidade, já há legislação precedente no Acordo deCotonou sobre o auxílio entre a EU e o Grupo de EstadosAfricanos, das Caraíbas e do Pacífico que nota que a lutacontra a corrupção é um elemento fundamental para aassistência futura ao desenvolvimento e faz referênciaexplícita à corrupção como um grande problema para odesenvolvimento. Especificamente, o Artigo 9(3) declara quea boa administração é a “gestão transparente e explicável dosrecursos humanos, naturais, económicos e financeiros para seobter um desenvolvimento equitativo e sustentável. Implicaprocedimentos claros para decisões a nível de autoridadespúblicas, instituições transparentes e responsáveis, a primaziada lei na gestão e distribuição de recursos e a construção decapacidades para elaborar e implementar medidas com oobjectivo particular de evitar e combater a corrupção.A boaadministração ... é um elemento fundamental deste Acordo”.No interesse dos governos participantes, não interessa que aassistência ao desenvolvimento seja determinada com baseneste acordo, enquanto que lapsos nas operações dasempresas multinacionais registadas na Europa podemefectivamente debilitar os mesmos objectivos.

Conselho Mundial de Empresas para oDesenvolvimento Sustentável – CMEDS (TheWorld Business Council for SustainableDevelopment – WBCSD) O CMEDS é uma coligação de umas 150 empresasinternacionais que têm um interesse comum nos princípiosde desenvolvimento sustentável.203 O grupo CMEDS tem-se

concentrado num número de questões de responsabilidadesocial das empresas importantes, que incluem, entre outras,valores morais e administração, regulamentos e controlos,responsabilidade e divulgação, direitos humanos e impactosocial. É claro que a transparência completa, certamente nocontexto angolano, é uma questão relacionada com estesconceitos. O CMEDS pode proporcionar as condições ideaispara ser utilizado como um fórum para discussão sobrecomo a transparência completa pode ser implementada umavez que o grupo inclui as empresas que se seguem com umapresença em Angola: BHP, Norsk Hydro, Shell International,Statoil e Texaco.

Investimento ético e transparênciaOs fundos de investimento ético têm-se vindo a tornarimportantes veículos de investimento – e também porquetêm geralmente demonstrado níveis de crescimento acimadas médias do mercado de valores a longo prazo.Além domais, a própria existência de um “sector ético” tem ajudado acatalisar um desenvolvimento mais amplo de critérios deinvestimento na indústria da gestão de fundos, a qual temvindo a compreender que uma gestão com princípios bemdefinidos é vantajosa para o crescimento de base e evita,como é compreensível, a classificação de investidores “nãoéticos”.

Muitos fundos de investimento têm grandes quantidadesde acções nas empresas petrolíferas e como a definição doque é comportamento social corporativo aceitável muda e osgestores de fundos demonstram um interesse cada vez maiorem incluir completa transparência como critério de base paraas decisões de investimento, há um risco cada vez maior defalta de investimento e queda nos preços dessas acções.

Do mesmo modo, as empresas petrolíferas incluídas naslistas de índices de investimento que foram estabelecidas parareconhecer e premiar a liderança em questões deresponsabilidade social – como, por exemplo, o índice doGrupo de Sustentabilidade Dow Jones (inclui a BP,Texaco,Norsk Hydro e a Shell) e o Índice FTSE4GOOD (inclui a BPe a Shell) – podem ver os seus lugares ameaçados se nãoforem transparentes sobre os pagamentos feitos ao estadoangolano.

Justificações a quem? O facto das empresas petrolíferas não publicarem os pagamentos efectuados demonstra o seu desprezo pelopovo angolano.

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escondemo-nos numa lavra por onde passávamos … não muito longe, era

Segundo o conhecimento da Global Witness este tipo demedida está dentro do mandato legal dos principaisorganismos reguladores financeiros. A maior parte das bolsasde valores possuem um poder relacionado com a revelação deinformações para interesse público, separada do requisitopara a revelação de riscos para os investidores. A linguagemjurídica relacionada com a revelação de informações deinteresse público é geralmente interpretada estritamente àletra “para ser limitado aos objectivos dos estatutos relativos aessa matéria”, mas a Global Witness é da opinião que ahistória dos regulamentos das bolsas de valores mostra que arevelação de dados financeiros corporativos tem sido utilizadapara influenciar a maneira como as corporações são geridas eresponsabilizadas pelos seus actos. A lei referente a Títulosde (Securities Exchange Act), que levou à criação daComissão de Títulos e Câmbios (SEC), por exemplo,específica nas secções , , e , que os requisitos relativosao registo, informação e revelação de títulos estão sujeitos àscondições, regras e regulamentos que a Comissão prescreve“como necessário ou apropriado para o interesse público oupara a protecção dos investidores”.

Segundo as famosas palavras de Felix Frankfurter, a pessoaque o presidente Roosevelt nomeou para apresentar a leireferente aos Títulos de ( Securities Act) ao congressodos EUA, no Fortune Magazine em Agosto do mesmo ano “a leireferente aos Títulos é forte na medida em que a publicidadeé forte mas ao mesmo tempo fraca pois a publicidade não ésuficiente. … A existência de bónus, comissões e saláriosexcessivos, listas preferenciais etc., podem estar abertas asegredos do conhecimento daqueles que estão a par dasituação, mas estes são poucos. A qualidade deste tipo detransacção é reduzida; forçar o conhecimento destastransacções é em grande parte controlar que aconteçam.Muitas práticas, levadas a cabo em segurança privadamente,deixam de ter justificação quando tornadas públicas. Porconseguinte, as normas sociais recentemente definidasestabelecem-se gradualmente como novas práticas sociais.”

Estas afirmações deixam claro que a SEC deveria actuar nosentido de exigir das empresas envolvidas em recursosnaturais a revelação de receitas originadas em todos os paísesonde têm operações.

A Global Witness acredita seriamente que a existência deregulamentação exigindo a revelação de informaçõesreferentes aos pagamentos a governos nacionais é umamedida eficaz e imediata para que as principais bolsas devalores fomentem a transparência e responsabilidade naindústria global de extracção de recursos. Ademais, este tipode regulamento é um benefício para a própria indústria.

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Regulando a revelaçãode pagamentos

EXISTE UMA necessidade urgentepara que as empresas petrolíferasadoptem uma política detransparência total em Angola, noentanto, as ameaças da Sonangol à

BP revelam o perigo de se desafiar o status quo e osinteresses da elite preponderante.

Mais do que a necessidade para uma acçãocolectiva como um bloco consolidado, a GlobalWitness é da opinião de que existe agora um casoclaro para que os governos do hemisfério norte e osseus reguladores financeiros, como a Comissão deTítulos e Câmbios dos EUA (SEC) ou a Autoridadede Serviços Financeiros da Reino Unidointerferirem e obrigarem legalmente as empresas arevelarem os pagamentos efectuados a todos osgovernos nacionais em contas consolidadas dassociedades e demonstração dos resultados. Aobrigação legal por parte das empresas para publicareminformações relativas aos pagamentos aos governos nacionaisresolve uma série de problemas inter – relacionados que atéagora têm frustrado as tentativas voluntárias de transparência.

A revelação obrigatória de informações sobre ospagamentos iria:

● Reduzir a competição impedindo que as empresas commais princípios e maior transparência sejam ultrapassadaspor competidores menos escrupulosos.

● Eliminar as preocupações sobre as cláusulas deconfidencialidade impedindo que as empresas divulguemdados relativos aos pagamentos. Estes contractos contêmuma cláusula “ de saída” isentando da confidencialidade asinformações que têm que ser reveladas devido a requisitosregulamentadores. Por exemplo, o Artigo () do acordode partilha de produção em águas profundas declara que:“qualquer das Partes pode, sem autorização, revelarinformações … c) de acordo como o que for exigido porqualquer lei, regulamento ou regra aplicáveis (incluindo,sem qualquer limitação, qualquer regra de organismosreguladores, comissão de valores ou bolsa oficial de cujaslistas qualquer das Partes ou associados façam parte).”

● Resolver parcialmente o problema da falta detransparência em todos os países onde as empresas têmoperações. A falta de transparência é um problemacrescente à medida que as operações com base nosrecursos naturais se tornam cada vez mais localizadas empaíses menos desenvolvidos, onde a sociedade civil e atransparência governamental são proporcionalmente maisfracas.

● Despolitizar o tópico da revelação de pagamentos aregimes autoritários e permitir que as empresas tenhammais liberdade para adoptarem um comportamentoresponsável. A divulgação das quantias pagas a este tipo deregime terá provavelmente um efeito de arrastamentoincentivando uma maior transparência e melhoradministrção fiscal por parte do governo.

● Eliminar um comportamento diferente no que diz respeitoaos níveis de transparência nos hemisférios norte e sul.

● Envolver despesas acessórias de custos insignificantes. Asempresas têm já conhecimento do que pagam para fins decontabilidade interna.

● Incorporar todos as principais empresas do sectorextractivo – é improvável que (e isso seria revelador) umadas empresas principais se retirasse de uma instituição demercado internacional para evitar a transparência.

Os habitantes do bairro da Boa Vista em Luanda foram forçados em , sob a mirade armas, a dar lugar a projectos de construção. Quem beneficiou desta quebra dosseus direitos civis e humanos?

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como se alguém tivesse estado a matar cabritos, havia sangue por todo o lado

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Riscos de cumplicidadeO envolvimento directo ou a cumplicidade indirectacom um regime corrupto e neo-autoritário abrangeuma série de riscos de crédito para os investidores,incluindo:

Riscos a nível de reputação: a cumplicidade dasempresas com um regime corrupto e neo -autoritário e a privação da influência da sociedadecivil é um risco óbvio para as suas reputações e“bom nome”. À medida que o tópico datransparência entra nas decisões éticas de decisãode investimento, as empresas com falta detransparência podem antecipar serem deixadas defora de índices progressivos de investimento, talcomo o Grupo de Sustentabilidade da Dow Jones eos índices do FTSE4GOOD, assim como dastriagens sociais associadas aos fundos éticos (Versecção Responsabilidade social das empresas – página45).

A não transparência como risco directo deinvestimento: existe um reconhecimento claroentre a comunidade investidora, sobretudo devidoao escândalo da Enron, que a boa governançacorporativa e uma gestão e sistemas contabilísticoseficazes numa empresa socialmente responsávelconfere um benefício directo a nível dodesempenho financeiro corporativo.Reciprocamente, se as empresas não sãotransparentes em relação aos governos nacionais,procuram activamente evitar a inspecção das suastransacções financeiras e gerem contabilidadesclandestinas, que esperança existe que a governançacorporativa e outras estruturas de gestão sejameficazes e / ou responsáveis?

O “efeito Suharto”: como foi demonstrado peloregime do presidente Suharto na Indonésia, osgovernos neo-autoritários aparentementeincontestáveis têm a tendência de caíremrapidamente. Nos casos em que existiu umaconsiderável supressão dos direitos humanos e daliberdade de expressão – como é o caso de Angolaactualmente – existe geralmente um período dereflexão quando o próximo governo assume opoder. Qualquer futuro governo angolano iráprovavelmente analisar profundamente todosaqueles que aparentem ser cúmplices com o regimeactual. Os investidores neste tipo de empresaspoderão acabar por ser considerados culpados.

Acção judicial directa e passivos resultantesde actividades corruptas: A Global Witness éda opinião que estão a emergir informações quepodem facilitar a perseguição de indivíduos e deempresas, sob a legislação nacional criminalizando acorrupção de funcionários públicos, devido àConvenção da OCDE sobre a Luta Contra aCorrupção de Agentes Públicos Estrangeiros NasTransacções Comerciais Internacionais, 1997.

Negação de crédito: As investigações da GlobalWitness em Angola revelam que os bancos e osorganismos de crédito à exportação falharam emverificar se os fundos concedidos foram utilizadosde acordo com a intenção. Este facto implica o riscode desfalque de fundos e incumprimento depagamento da dívida. Como estas instituiçõesexigem cada mais vez mais a transparência e asdeclarações de não corrupção dos receptores dosempréstimos, crédito pode ser negado às empresasque não praticam a transparência.

A verdade sobre opagamento de impostosao governo angolanoem 2000 – mais umcaso dedesaparecimento defundos?

APESAR DE RESISTÊNCIA porparte das empresas e do governoangolano em tornar públicas asinformações relativas a pagamentos, aGlobal Witness tem o prazer de poder

revelar essa informação, pela primeira vez, relativa aoano . Esperamos que estas informações irãoencorajar uma maior responsabilidade financeira nogoverno e mais escrutínio. É evidente que a provisão deinformação informalmente não é um substituto paraum sistema contabilístico aberto e transparente: aGlobal Witness convida todos os interessados a abriremos livros e serem transparentes.

As empresas que não são transparentes sãocúmplices na pilhagem dos bens estatais pois impedemactivamente que a sociedade civil responsabilize os seusgovernos – o “cumplicitómetro” que se segue apresentauma noção de que até que ponto as empresaspetrolíferas estão activamente a esconderem ospagamentos efectuados. Quanto maior for acontribuição da empresa para as receitas estatais,maior é o seu grau de responsabilidade para com opovo angolano, e maior é a urgência para atransparência total. Esta imagem irá mudarsignificativamente, à medida que novos blocos taiscomo o e começam a produzir, estando empresascomo a ExxonMobil e a BP entre os maioresprodutores cúmplices. É evidente que se a BP mantivera sua promessa de tornar públicos seus pagamentos aogoverno angolano, não será culpada de cumplicidadena privação dos povo angolano comum.

Preocupantemente, entre o Ministério do Petróleo eo Ministério das Finanças desapareceram cerca deUS$ milhões. O Ministério do Petróleo informa queforam pagos US$. biliões (,,,. Kz)em impostos ao governo angolano, enquanto que oMinistério das Finanças informa que se receberamUS$. biliões (,,, Kz) durante o mesmoperíodo de tempo. Embora parte desta discrepânciapossa ser atribuída a diferentes taxas de câmbioutilizadas nos cálculos, a Global Witness apela paraque o governo angolano clarifique de imediato estasituação invulgar. A mensagem é clara: as receitasoriginárias do petróleo estão a sair do estado formal eexiste uma desorganização a nível de linhas de controloe burocracias. Os cálculos emergentes de economistaspróximos do Diagnóstico do Petróleo sugerem que esteburaco contabilístico (embora mais alargado) pode teraumentado para US$. biliões em .

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e todas as pessoas estavam mortas, ali no meio da estrada.As FAA viraram-se

Cumplicitómetro

Impostos pagos pelas empresaspetrolíferas ao governo angolano no ano2000 A expressão cumplicidade é aqui definida como a falta de transparênciapor parte das empresas petrolíferas em relação aos pagamentosefectuados ao governo angolano pelas actividades de produção depetróleo.A dimensão das pilhas de barris (sem ser à escala real) éproporcional ao valor de impostos pago pela empresas petrolíferas em2000. Esta informação não foi disponibilizada pelas empresaspetrolíferas em questão, mas sim por documentos internospertencentes ao governo angolano.

As empresas que estão prestes a iniciar a exploração de petróleo e queoptarem por continuar sem transparência sobre os pagamentosefectuados ao governo serão futuramente incluídas noCumplicitómetro.

US$ milhões de dólares% de impostos totais pagos

Total de impostos pagos:US$ 3.801 milhões de dólares

Outros18

0.5%

Texaco18

0.5%

Braspetro19

0.5%

TotalFinaElf3699.7%

Notas: a Petrogal pertence à Galpenergia; a Braspetro pertence à Petrobras; em 2000, a Texaco fundiu-se com a Chevron e o novo grupo chama-se ChevronTexaco.

Petrogal13

0.3%

Agip3098.1%

Sonangol1.37036.0%

Chevron1.68544.3%

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A cumplicidade dasempresas petrolíferas –conclusão

EMBORA A GLOBAL WITNESSreconheça as dificuldades que as empresasenfrentam quando pensam em alterar os seussistemas de informação actuais, está claro queaqueles que operam em Angola têm uma

responsabilidade especial para com o povo angolano, cujosrecursos estão a explorar. Esta responsabilidade vai muitopara além de proporcionar programas sociais para fomentar aboa-vontade empresarial e deve incluir alterações às práticasde apresentação de informação para que estas incluam adivulgação de todos os pagamentos efectuados ao governoangolano.

As acções efectuadas pela BP têm demonstrado aaceitação empresarial do princípio de que a boaadministração empresarial requer a total transparência dospagamentos efectuados pelas empresas ao governo nacional.Outras empresas, tais como a Statoil, já fornecem um elevadograu de transparência dos seus pagamentos ao governoangolano através do estabelecimento de uma empresaseparada em cada bloco como, o que significa que ospagamentos de impostos no estrangeiro são razoavelmenteespecíficos.

Apesar da necessidade bem definida de transparênciatotal, e o facto de que a definição de boa administraçãoempresarial se está a alterar rapidamente para obrigar a taltransparência, é difícil entender a incrível resistência de algunsquadrantes. Será que estas empresas têm algo a esconder?

As empresas que evitam esta questão não só são cúmplicesno roubo por atacado de um estado – aparentementequantificando em quase um terço de todas as receitas em – mas estão a demonstrar aplicarem padrões duplos ehipócritas no que diz respeito a afirmações deresponsabilidade social empresarial e comportamento ético epõem em considerável risco a sua reputação. As empresas quenão cooperam não só arriscam o seu bom nome e o dos seusinvestidores, como também servem para enfraquecer aconfiança em toda uma indústria no que toca à cumplicidadeno saque do estado e aos desastres políticos e ambientais dopassado. Estas empresas também demonstram o seu desprezopela situação desesperada do povo de Angola. Compare osUS $, biliões desaparecidos em com os US $milhões que as Nações Unidas tiveram quearranjar para auxílio alimentar de ummilhão de pessoas internamentedeslocadas em Angola.

A Global Witness tem o prazer derevelar a dimensão dos pagamentos dasempresas petrolíferas ao governo deAngola para o ano . AChevronTexaco e a TotalFinaElf estão notopo da lista das contribuições: estas duasempresas são também famosas por serecusarem a envolver-se em discussõessobre a transparência. Os dados tambémdemonstram um buraco negro no estadoformal das contas de petróleo estatais:cerca de US $ milhões desapareceramentre as quantias divulgadas peloMinistério do Petróleo e o Ministério dasFinanças.

A Global Witness já presenciouanteriormente uma forte resistência àmudança – talvez mais notavelmente nocomércio de diamantes internacional. Noentanto, uma vez que o comércio de

diamantes reconheceu que as práticas do passado eraminaceitáveis e que não continuariam a ser toleradas, tornou-sedo seu interesse comercial mudar. O princípio da boaadministração empresarial está agora a alterar-se de forma aobrigar à total transparência dos pagamentos efectuados pelasempresas aos governos nacionais.

Sob a ameaça de retaliação da Sonangol,as abordagensunilaterais e voluntárias tais como aquelas efectuadas pela BPdemonstraram ser problemáticas – embora a BP possa aindaassim publicar o que prometeu. É claro que as empresaspetrolíferas mais responsáveis estão a ser colocadas numaposição difícil de ou ter que renegar os compromissos jáassumidos em vários fóruns de Responsabilidade SocialEmpresarial ou alienar os seus parceiros de negócio nacionais.Parece que as empresas petrolíferas individuais não oconseguem sozinhas sem a ameaça de serem cortadas nas suasbases por concorrentes menos escrupulosos. Assim, a GlobalWitness urge que todas as empresas petrolíferas quetrabalham no país adoptem, como um grupo, uma política detotal transparência.

Neste contexto, a solução mais simples e mais eficaz paraeste problema é que os principais reguladores financeiros taiscomo a Comissão de Títulos e Câmbios (Securities and ExchangeCommission – SEC) imponham a divulgação obrigatória dospagamentos agregados para todas as jurisdições em que asempresas dos sectores dos principais recursos naturaisoperam. A Global Witness apela aos governos do Norte, ondea maioria dessas empresas se encontram sediadas, paraimplementaram alterações adequadas às suas regras dedivulgação como questão prioritária.

Se as empresas petrolíferas em Angola desejaremgenuinamente serem consideradas verdadeiras “cidadãsglobais” e estão ansiosas para evitar a acusação definanciarem directamente o empobrecimento progressivo deuma nação, existe, então, uma necessidade urgente de alteraras práticas correntes. A Global Witness está desejosa detrabalhar construtivamente com aqueles que desejamgenuinamente ver melhoramentos em Angola.

Os Homens dos Presidentes

“Se perdermos um tanque, pegamos no telefone e mandamos vir outro. Se a UNITA perder umtanque, já é mais difícil” – general angolano, Janeiro de

Quando uma corporação é condenada por cometercrimes repetidos que prejudicam ou põem em perigo asvidas de seres humanos ou destroem o meio ambiente,essa corporação deveria ser morta, pôr-se um pontofinal à sua existência corporativa e os seus bensdeveriam ser vendidos em leilão público.

Eliot Spitzer, Procurador-Geral do Estado de Nova Iorque,1998

e dispararam contra as pessoas, assim sem mais nem menos.” – Mulher deslocada, início

© C

hris Sattlberger / Panos Pictures

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O Financiamento

Introdução – empréstimosinternacionais a Angola

AGLOBAL WITNESS publicou detalhes deuma série dos principais empréstimosinternacionais concedidos a Angola atéDezembro de em Um Despertar Cru. Ainformação lá incluída foi fornecida para

dar uma indicação da dimensão do hipotecamento da futurariqueza petrolífera de Angola e, assim, da capacidade dedesenvolvimento do país. O relatório desafiava a política dogoverno de obter empréstimos a curto prazo com taxas dejuros altas, quando a vasta maioria desse rendimento pareciafazer pouco ou nada para o desenvolvimento do país ou parao aprovisionamento de serviços nacionais muito necessários.

A quase total falta de transparência quanto a estesempréstimos significa que a informação sobre a sua dimensãoou objectivo é muito difícil de obter internacionalmente, equase impossível de obter em Angola. Isto cria um conjuntode circunstâncias extraordinárias, com os bancos queproporcionam o crédito a estabelecerem, efectivamente, umconjunto completo de financiamento paralelo para o estadoque é totalmente livre de qualquer escrutínio pelo povo deAngola, e em que a base destes empréstimos é o petróleo, quedeveria pertencer ao “povo”.

Dois anos mais tarde, a situação no que toca aempréstimos que não são contabilizados em Angoladeteriorou significativamente, com cerca de US $, biliõesem “novos” empréstimos acordados entre Setembro de eOutubro de . Isto demonstra a indiferença surpreendentedo governo angolano quanto ao acordo efectuado com a FMIde restringir novos empréstimos para US $ milhões(Consultar secção Novos empréstimos desde Dezembro de – página) e pode ultrapassar consideravelmente o montante do qualo FMI tem conhecimento. Também outros empréstimosefectuados antes do final de foram recentementedescobertos e os detalhes sobre estes devem ser adicionadosàqueles divulgados em Um Despertar Cru (Consultar secçãoEmpréstimos acordados antes de Dezembro de – página ),

Os Homens dos Presidentes

de 2001a “…As FAA vienham á aldeia á procura de vacas. Quando sabiam

Estamos no negócio de fazer empréstimosaos angolanos. É verdade que não podemos tera certeza de para onde dinheiro vai, e,portanto, sim, suponho que podem argumentarde que estamos indirectamente a financiar aguerra.

Confissão de um banqueiro anónimo207

PARTE III : O FINANCIAMENTO

Banco Nacional deAngola (BNA).

fornecendo provas adicionais sobre a deterioração doendividamento do país.

Esta secção tenta explicar a estrutura complexa deaprovisionamento de empréstimos a Angola baseada emempréstimos directos ao governo angolano, convénios deempréstimos estruturados, empréstimos facilitados porempresas petrolíferas e empréstimos especificamente ligadosao financiamento da despesa de capital fornecidos pelasagencias internacionais de financiamento bilateral àexportação. O papel do Soyo-Palanca Trust e do CabindaTrust, que actuam como fiadores internacionais através dahipoteca dos futuros rendimentos petrolíferos angolanos étambém debatido.

A Global Witness desafia toda a ética por detrás da políticade empréstimos afiançada pelo petróleo a países com forteshistórias de não-responsabilização e corrupção tais comoAngola e apela a todas as entidades financeiras envolvidaspara que melhorem as condições de transparência através dosquais tais empréstimos são organizados e desembolsados. Umexemplo de cooperação interbancária que poderia serutilizado como um modelo para futura vigilância e controledos convénios de empréstimos são os Princípios de Wolfsberg(Consultar Os Princípios de Wolfsberg – directivas contra obranqueamento de dinheiro para a banca privada – página ).

Finalmente, o problema do branqueamento internacionalde dinheiro através de paraísos fiscais offshore encontra-sedetalhado sob a rubrica “Fechando a lavandaria dosditadores” para completar a discussão sobre como o sistemafinanceiro internacional deve aumentar a sua cooperação etransparência nos seus esforços de luta contra a fraude e odesvio de fundos.

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O Financiamento

A torneira do créditocontinua aberta…

NOS ÚLTIMOS ANOS, a Angola temconseguido obter empréstimos a curtoprazo através de várias fontes. Estesempréstimos variam na sua escala eobjectivo e incluem os seguintes tipos:

● Empréstimos directos de bancos individuaisao governoPor exemplo, os empréstimos proporcionados peloBanque Paribas (agora o BNP-Paribas, após a sua fusãocom o BNP em Junho de ), onde as facilidadesde empréstimos eram controladas por Pierre Falcone eArkadi Gaidamak.

● Empréstimos estruturados organizados nomercado londrinoPor exemplo, o empréstimo de US $ milhõesorganizado pelo Standard Chartered Bank emFevereiro de .

● Os empréstimos especificamente ligados aofinanciamento da despesa de capital, taiscomo aqueles fornecidos pelas agênciasinternacionais de crédito bilateral àexportaçãoPor exemplo, o empréstimo do banco americano, Ex-Im Bank, de US$ milhões fornecido em Julho de, que apoiava a venda de equipamento e serviçosfornecidos por várias empresas americanas queincluíam a Halliburton e a Brown & Root.

Cada um destes empréstimos diferentes proporcionacapital acima e além daquele gerado pelos impostos eoutros pagamentos das empresas petrolíferas derivados daextracção de petróleo; mesmo assim, conforme de seguidadiscutido, a maioria são obtidos com base em futurasextracções petrolíferas. No entanto, devido ao fracoestatuto internacional de crédito do governo angolano,estes empréstimos só são concedidos pelas instituiçõesfinanceiras a taxas relativamente elevadas, tornando-osum mau negócio para o povo angolano. Em média, osempréstimos afiançados pelo petróleo são conseguidos acerca de dois ou três por cento acima da taxa LIBOR – omarco de referência do mercado londrino, o LondonInterbank Rate. Isto leva a que a futura produção depetróleo seja hipotecada a taxas significativamente maiselevadas que os empréstimos preferenciais que sãoadquiríveis através de um programa do FMI:adicionalmente, os empréstimos concedidos através doFMI não teriam que ser afiançados pela venda depetróleo.

Empréstimos directos ao governo angolanofornecidos por bancos individuais

Empréstimos directos – tais como aqueles do Paribas – sãomuitas vezes concedidos sob um elevado grau de segredo,evitando qualquer forma de escrutínio público em Angola.A falta de transparência torna impossível saber o númerototal e a escala de empréstimos que foram disponibilizadospelo Paribas mas as provas sugerem que entre e ,o banco forneceu aproximadamente US $, biliões aogoverno angolano (devidos pelo Banco Nacional deAngola – BNA)., Este valor não inclui uma facilidadede US $ milhões em “crédito rotativo’ que foi válidaaté . A Global Witness não conseguiu confirmar seeste valor contabiliza todos os empréstimos fornecidos, oque significa que o valor real de empréstimos poderá sersignificativamente mais elevado. Algumas fontes sugerem

que o total da dívida do governo angolano para com oParibas poderá atingir os US $ biliões.

Arcadi Gaidamak afirmou que ele e Pierre Falcone(Consultar secção Outro contracto da ZTS-Osos com Angola–Gaidamak junta-se à equipa? – página ) receberam acidadania angolana através da provisão de passaportesdiplomáticos e subsequentemente controlaram facilidadesde crédito derivadas dos empréstimos afiançados pelopetróleo. Isto apresenta um conjunto extraordinário decircunstâncias em que um orçamento paralelo do estadoangolano está a ser controlado fora do território através deestrangeiros que não podem ser responsabilizados e quenão foram eleitos. Parece-nos difícil evitar a conclusão deque os empréstimos afiançados pelo petróleo e nãocontabilizados formaram uma parte chave dofinanciamento (não incluído no orçamento) do esforço deguerra do governo angolano que, por sua vez, pode tersido sujeito ao desvio significativo de fundos durante oprocesso de aprovisionamento militar.

A Global Witness não está a sugerir que o Paribasfacilitou directamente o processo de “luvas” no comérciode armas, ou que o banco estava necessariamenteconsciente quanto à utilização final das receitasfornecidas. No entanto, a Global Witness questiona se obanco proporcionou uma transparência adequada no quetoca à provisão e à utilização destes empréstimos parapermitir o seu escrutínio pelo povo angolano.

O BNP-Paribas deverá explicar porquê e como oscréditos de empréstimos concedidos em nome daSonangol foram disponibilizados a indivíduos que nãoestavam directamente ligados à empresa. Se a afirmaçãode Gaidamak for verdadeira, até que ponto estariam osoficiais ao mais alto nível do Paribas cientes desta situaçãoaltamente invulgar? Que meios de controlo foramtomados para assegurar a gestão adequada destes fundos epara quem, e em que base, é que foram desembolsados? Obanco deve explicar, em particular, o papel da empresa decomércio petrolífero Glencore e de quaisquer oficiaisangolanos ou internacionais neste processo.

De facto, quando o banco embarcou neste processo deemprestar centenas de milhões de dólares em empréstimosem , o governo parecia estar a perder potencialmentea guerra e uma UNITA vitoriosa poderia ter-se recusado ahonrar tais créditos. Porque terá o Paribas efectuadoempréstimos em circunstâncias tão arriscadas? O BNP-Paribas deve explicar qual foi, se é que houve, o apoiopolítico por detrás da decisão de efectuar estesempréstimos iniciais e que entidades estavam preparadaspara financiar eventuais perdas.

A Global Witness apela ao BNP-Paribas para tornarimediatamente público os detalhes completos de todos osconvénios de empréstimos concedidos a Angola. Estainformação deverá incluir os detalhes sobre o objectivo eos destinatários dos empréstimos, bem como o pessoalresponsável pelo seu desembolso. O banco devia tambémclarificar a dimensão de todos os convénios por saldar,fornecendo as suas datas de maturidade.

Empréstimos estruturados no mercadolondrino

Este tipo de empréstimos envolve um banco que actuacomo organizador principal (ou agente do consórcio) queé então responsável por reunir outros bancos participantese pela organização de todo o negócio por detrás doempréstimo. O papel de organizador principal trazconsigo benefícios financeiros significativos: o bancorecebe uma percentagem do valor total que é emprestadocomo uma comissão por ter organizado o consórcio. Estepagamento é um montante para além de quaisquer taxasde juro que o banco recebe pelo empréstimo. Os bancosparticipantes são organizados em grupos de acordo com apercentagem que emprestam. Isto cria uma hierarquia

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onde as encontrar voltavam e levavam-nas. Às vezes matavam pessoas, era

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entre as várias partes, referidas em ordem decrescentede importância como organizador principal (agente doconsórcio), co-organizador(es) e participantes(organizadores).

O papel do Cabinda Trust e do Soyo-Palanca Trust nagarantia dos empréstimos

Da perspectiva de um banco, os empréstimosestruturados têm a vantagem de partilhar o risco entreos bancos participantes. No entanto, conseguirsimplesmente partilhar o risco não é o suficiente paraque um empréstimo seja concedido – os bancosnecessitam sentir-se seguros de que os empréstimosserão pagos. No caso de Angola, os bancos que tratamde empréstimos estruturados têm segurança abundantepara os seus empréstimos, graças tanto ao CabindaTrust e ao Soyo-Palanca Trust.,

Estes fundos petrolíferos são efectivamente umconjunto de contas offshore que têm direitos sobre umaproporção significativa do petróleo gerado através daquota de produção do governo angolano. O CabindaTrust, que é gerido pelo Lloyds Bank em Londres, temacesso ao petróleo (e assim, às receitas da venda depetróleo) da concessão bloco de Cabinda. Quaisquerpagamentos ligados ao fundo têm prioridade sobretodas as outras obrigações da quota de produção dogoverno quanto ao bloco. O Soyo-Palanca Trust contaprincipalmente com o bloco / e o bloco , emborapossa utilizar petróleo do bloco se este não tiver sidoprimeiro assinalado pelo Cabinda Trust.

A vantagem desta estrutura para os bancosprestadores de empréstimos é que lhe forneceinformação fiável sobre se Angola tem ou nãodisponível uma produção petrolífera suficiente paracumprir com as suas dívidas e os requisitos depagamento., Uma “Comissão de Crédito”, quedecide se deve ou não executar o empréstimo,normalmente pede informação sobre a utilização paraque o dinheiro se destina; a resposta padrão dogoverno angolano ou da Sonangol é de que o dinheiroé necessário para o desenvolvimento ou para areconstrução. É interessante que os bancosprestadores de empréstimos peçam tal informação masé aparentemente muito raro que haja qualqueracompanhamento para determinar se o dinheiro foi ounão gasto da forma descrita. A quantidade deinformação que os bancos exigem para efectuar oempréstimo também contrasta estranhamente com afalta de transparência dos seus próprios procedimentosde desembolso.

Empréstimos acordados antes de Dezembro de As investigações recentes também descobriram pelomenos mais dois empréstimos finalizados em Outubrode que devem ser adicionados à lista compiladaem Um Despertar Cru. O primeiro envolvia umempréstimo para “facilidades de crédito” de US $milhões, que foi fornecido pela Nissho IwaiCorporation à Sonangol. A Nissho Iwai tambémforneceu uma facilidade de US $ milhões em. O segundo empréstimo envolvia um crédito deUS $ milhões à Sonangol fornecido pelo consórciochefiado pela especialista em private banking Europeu,MeesPierson.

De acordo com uma base de dados financeira, umtotal de US $, biliões foi emprestado a Angola entreFevereiro de e Dezembro de . Para além deUS $ milhões que foram emprestados ao BancoNacional de Angola a de Dezembro de , oremanescente foi fornecido à Sonangol.

tudo uma questão de sorte, ás vezes matavam famílias inteiras e outras vezes

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Novos empréstimos desde Dezembrode 1999A Global Witness pode revelar que desde Um DespertarCru, o governo angolano parece ter obtido cerca de US$3,55 biliões em empréstimos concedidos entre Setembrode 2000 e Outubro de 2001. Os vários empréstimos, e assuas implicações para o nível de dívida do país, sãodiscutidos de seguida:

1 de Setembro de 2000: uma facilidade de US $500 milhõesconcedida pelo BNP-Paribas, Société Générale e Natexis Bank.208 Oempréstimo foi proporcionado à Sonangol e registado como sendopara “financiamento ao comércio exterior.”206

Relatos da imprensa sugerem que este empréstimo colocou ogoverno angolano em violação do seu acordo com o FMI de restringirsignificativamente o nível de novos empréstimos através deempréstimos estruturados de curto prazo durante 2000.208,209 O FMIinformou que este empréstimo aumentou a dívida do país para US$8,27 biliões até Setembro de 2000, acima dos US $8,1 biliõesacordados dentro do programa do FMI.208 Oficiais do FMI afirmaramque,“o desembolso de um empréstimo bancário garantido porpetróleo de US $500 milhões em Setembro de 2000…levou à faltade observância do limite máximo do Programa com respeito à dívidanão concessional.”208

Este padrão de falta de observância dos limites do FMI acelerou-sedrasticamente em 2001. Embora o FMI e o governo tenham acordadoum limite máximo de US $269 milhões no que respeita a novosempréstimos (dependente de uma série de pressupostos relativos aopreço do petróleo e outras variáveis), a Global Witness descobriu umasérie de empréstimos concedidos ao país no valor de mais de US $3biliões. Uma fracção pouco clara deste dinheiro destina-se a serviçosde refinanciamento, mas mesmo assim, os limites do FMI parecem tersido excedidos em quase cinco vezes, ou US $1,1 biliões, e,possivelmente, por consideravelmente mais.

13 de Fevereiro de 2001: uma facilidade de US $455 milhõesconcedida pelo Standard Chartered Bank à Sonangol.210

O objectivo deste empréstimo está registado como “capital degiro” ou como “financiamento ao comércio exterior.”206 Os co-organizadores deste empréstimo incluíam:African Export-ImportBank; BHF Bank; BNP-Paribas; Bank Brussels Lambert; Bayerische Hypound Vereinsbank; Bayerische Landesbank Girozentrale; Citibank;Commerzbank; Credit Agricole-Indosuez; Credit Lyonais; Fortis Bank;ING Barings; KBC Bank; Natexis Banques Populaires; Royal Bank ofScotland; Société Générale.211

O Standard Chartered afirmou que o objectivo desta facilidadeera de “pagar antecipadamente uma facilidade afiançada em petróleoexistente, que termina durante 2001.”212 Fontes sugerem que afacilidade existente era um empréstimo de US $575 milhõesnegociados em 1999 com o banco suíço UBS.206 O StandardChartered continuou por dizer que “o saldo [do novo empréstimo]será utilizado para financiar projectos ligados ao plano de reconstruçãonacional de Angola.”210

Existe alguma confusão quanto ao montante de dinheiro novoneste empréstimo; a publicação Trade Finance cita um porta-voz doStandard Chartered como tendo dito que “este negócio já existe hávários anos e é essencialmente o refinanciamento de uma facilidadeanterior”213, o que implica um montante mínimo de dinheiro novo. Noentanto, a publicação continuava por dizer que,“compreende-se quecerca de US $250 milhões do empréstimo é dinheiro novo.”213 Estadeclaração é ainda apoiada pelo facto de que, de acordo com oAfrican Energy, o empréstimo anterior da UBS de 1999 de US $575milhões devia ser pago em quatro anos, mas que o aumento no preçodo petróleo pode ter significado uma fase mais rápida de reembolso eque a sua conclusão seria possível até Julho de 2001.Assim,“Angolaestava a pagar este empréstimo há cerca de 22 dos 26 meses naaltura [em que] assegurou o novo empréstimo do StandardChartered. Isto sugeria que faltava pagar pouco do empréstimo doUBS, e necessitando de refinanciamento … isto significaria, portanto,que a proporção de dinheiro novo do novo empréstimo do StandardChartered seria relativamente grande – muito provavelmenteultrapassando o valor de US $269 milhões do FMI.”214

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apanhavam alguém e pediam-lhe informações sobre as vacas e deixavam-no ir

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Também foi sugerido que a questão do refinanciamento,“erasimplesmente uma táctica para turvar as águas e evitar acusaçõesimediatas de violação das directivas do FMI.”214 A African Energy fazalegações sérias, que, caso sejam verdadeiras, poderão implicar que aestrutura do empréstimo não só turvou a cooperação do governoangolano com o FMI, como poderá, também, auxiliar no desvio dopatrimónio do estado (que é precisamente a razão porque o FMI seopõe a este tipo de convénio de empréstimo). Se o empréstimo doUBS não tiver sido pago até ao ponto sugerido, o dinheiro que deviater sido utilizado pela Sonangol para cobrir esta dívida pode ter sidodesviado. Seja qual for o verdadeiro objectivo deste empréstimo, nemo termo “capital de giro”, nem “financiamento ao comércio exterior”sob o qual o empréstimo foi registado na base de dados bancáriaparece fornecer uma explicação adequada quanto a se o empréstimoera ou não um pacote de refinanciamento.

8 de Março de 2001: uma facilidade de US $455 milhõesconcedida pelo Commerzbank à Sonangol.215

Nas declarações feitas à imprensa no que diz respeito ao seupapel como organizador principal para o empréstimo de US $455milhões de Fevereiro, o Standard Chartered parece ter-se esquecidode mencionar que também participou com um empréstimo adicionalde US $455 milhões menos de um mês mais tarde. Este empréstimoadicional aparece nas bases de dados bancárias também como “capitalde giro”, mas a base de dados torna claro que este empréstimo não éum pacote de refinanciamento.215 Se a informação disponível estivercorrecta, então o empréstimo do Standard Chartered deixou ogoverno angolano com, no máximo, o potencial para pedir deempréstimo somente mais US $19 milhões, durante 2001, antes queultrapasse os limites acordados com o FMI.Assim, o empréstimo doCommerzbank parece ter ultrapassado este limite emaproximadamente US $436 milhões. Isto deverá ser uma das principaispreocupações do FMI.

Nesta ocasião, o papel de organizador principal passou doStandard Chartered para o banco alemão, Commerzbank. Outrosbancos participantes incluíram:African Export-Import Bank, BahrainIntl Bank, Bayerische Landesbank, Credit Agricole-Indosuez, Fortis Bank,KBC Bank, Royal Bank of Scotland Plc, Standard Chartered Bank, BNPParibas, BayerHypo Vereinsbank, Citibank, Credit Lyonais, ING Bank,Natexis Banques Populaires, Société Générale, Commerzbank AG.215

12 de Abril de 2001: Um convénio de empréstimo complexo deUS $441,2 milhões fornecido por bancos brasileiros não identificadosao governo angolano. O empréstimo era formado por trêsempréstimos diferentes de US $175,9 milhões, US $160,3 milhões eUS $105 milhões.216,217 O negócio, que foi assinado em Brasília emFevereiro de 2001 envolveu o envio de 20.000 barris de petróleo pordia para o Brasil a US $28 por barril. De acordo com a estação derádio Voice Of America, 80% do empréstimo deverá ser utilizado parapagar a dívida angolana para com o Brasil, com os restantes 20% aserem utilizados para adquirir obrigações de dívida externabrasileira.216

O economista sediado em Luanda, José Cerqueira, comentou àReuters que,“este tipo de operação é lucrativa para os banqueiros,mas o povo angolano ficará a perder.”217

Assumindo que a divisão do empréstimo está correcta, então unscerca de US $352,8 milhões (80% de US $441 milhões) podem servistos como refinanciando uma dívida existente para com o Brasil. Istosugere que os US$88,2 milhões (ou os 20% remanescentes) sãodinheiro novo.Assim, este empréstimo quantifica US $524,2 emexcesso do limite do FMI. Isto deve ser uma das preocupaçõesprincipais do FMI e da comunidade internacional, especialmente dadoque o empréstimo parece ser para a especulação financeira nomercado de dívida brasileiro, em vez de para a reconstrução deAngola.

16 de Julho de 2001: uma facilidade de US $600 milhões concedidaà Sonangol pelo BNP-Paribas, Glencore Finance Ltd, Natexis BanquesPopulaires, Société Générale como organizadores principais.218

Também actuando como organizadores estiveram oCommerzbank, Credit Agricole-Indosuez, Fortis Bank, HypoVereinsbank, KBC Bank. O Citibank actuou como co-organizador.Outros bancos envolvidos neste empréstimo incluíram: BHF BankAktiengschft, Royal Bank of Scotland PLC,ABB Export bank, BMC

Bank Corporation, Landesbank Rheinland Pfalz, DG Bank AG,WestLB,ABC International Bank PLC, CSFB, Moscow Narodny Bank.218 Foialegado que este empréstimo foi concedido para a Sonangol semconsulta prévia do Ministério das Finanças nem notificação do BancoNacional de Angola.207

A base de dados bancária regista este empréstimo como sendofornecido para “fins empresariais” embora o objectivo para o qual sedestina seja opaco, não existem provas que sugiram que foi destinadopara fins de refinanciamento.Assim, o montante em excesso ao limitedo FMI em 2001 aumentou agora para US $1,1 biliões, ouaproximadamente cinco vezes o limite estabelecido pelo FMI paraAngola.

25 de Outubro de 2001: uma facilidade de US $500 milhõesconcedida à Sonangol pelo BNP-Paribas, Natexis Banques Populaires,Sociéte Génerale como organizadores principais, com a GlencoreFinance Ltd desempenhando, desta vez, o papel de organizador.219

O objectivo deste empréstimo está registado como sendo parapagamento de dívidas.219 Mais especificamente, a base de dadosbancária refere a utilização desta facilidade como sendo para orefinanciamento de um crédito de US $500 milhões fornecido em2000, presumidamente o empréstimo de 1 de Setembro de 2000organizado pelos mesmos bancos, conforme acima descrito.

Dado a pletora de afirmações de banqueiros de que cada novoempréstimo é para refinanciamento da estrutura de empréstimosexistente, é difícil não chegar à conclusão que o pagamento eventualdestas facilidades poderá ser extremamente problemático. Porexemplo, pode-se presumir que o empréstimo de Setembro de 2000teria sido reunido de acordo com um calendário de pagamentosrigoroso. Se isto for verdade, o que aconteceu aos fundos que jádeveriam ter sido destacados de acordo com esse calendário?

Na última semana de Outubro de 2001, foi efectuado umacordo quanto a um empréstimo de US $600 milhões para aSonangol, proporcionado pela Arab Banking Corporation.206

Fontes bancárias indicaram que este empréstimo envolveutambém a Glencore, embora o papel específico desta empresa ou dassuas subsidiárias seja pouco claro.206 Também não está claro se outrosbancos fizeram ou não parte deste empréstimo. Fontes indicam que oconselho de fiscalização do banco levantou alegadamentepreocupações quanto a este empréstimo mas, mesmo assim, esteavançou.206

O preço da guerra –. pessoas com deficiências causadaspelas minas terrestres e o número aumenta...

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O caso a favor da transparência bancária

Existe uma falta de transparência demonstrada quantoaos empréstimos efectuados ao governo angolano.Sintomático desta obscuridade está a forma como osconsórcios organizam empréstimos de mais de treze vezeso limite máximo acordado com o FMI para novosempréstimos. Os empréstimos estão muitas vezes ligados aum objectivo declarado durante o processo de concessãomas permanece pouco claro que, se é que algumas,medidas são tomadas pelos organizadores principais oucomissões de crédito para verificar se os fundos sãodesembolsados adequadamente. No mínimo, US $,biliões em crédito novo foram emprestados ao país em, excedendo significativamente o limite de US $milhões do FMI. Assim, os empréstimos afiançados pelopetróleo são claramente outra fonte não contabilizada derendimento para o governo angolano.

A Global Witness desafia a ética por detrás destapolítica de empréstimos afiançados pelo petróleo a paísescom fortes histórias de má alocação de recursos. Emboraos bancos possam ter a certeza do retorno do seu capitalcom elevadas taxas de juros porque tais empréstimos sãoconcedidos em troca de uma quota de produçãopetrolífera, arriscam-se a tornar-se cúmplices no desvio defundos estatais se as provisões para verificação dodesembolso dos empréstimos e garantias de transparênciafiscal não forem implementadas. No melhor dos casos, aprovisão de empréstimos recentes pode ser consideradacomo tendo debilitado o trabalho de instituiçõesmultilaterais como o FMI; no pior, estes podem estar afornecer um conjunto completo de financiamentoparalelo, fora do escrutínio público, para operações doestado sombra, fornecendo oportunidades lucrativas parao desvio de dinheiro.

Adicionalmente, parece haver uma certa “ambiguidadecriativa” na provisão de tais facilidades de crédito. Porexemplo, o empréstimo do Standard Chartered de US$ milhões, segundo consta destinado a reestruturardívidas existentes, pode conter mais de US $ milhõesem dinheiro novo. Não é possível saber se isto é verdade anão ser que a Sonangol, os bancos e/ou o governoangolano forneçam informação adequada.

Esta informação não é disponibilizada rotineiramenteà sociedade civil angolana em nome de quem tais dívidassão feitas. Assim, como acontece com as receitas dopetróleo, os angolanos comuns não sabem se taisempréstimos foram adequados sendo, portanto, incapazesde responsabilizar o seu governo quanto ao desembolsodas facilidades de crédito.

O caso de transparência total dos empréstimosinternacionais concedidos a Angola é tão importantecomo aqueles das empresas petrolíferas que operamdentro do país. Os bancos devem:

● Publicar todos os detalhes dos empréstimos fornecidos,incluído detalhes sobre as quantias emprestadas, osseus destinatários, a taxa de juros cobrada, a data emque o pagamento da dívida termina e o objectivo doempréstimo;

● Clarificar as medidas que tomam para verificar que adespesa efectiva corresponde ao que é declarado nadocumentação dos bancos e durante a negociação;

● Insistir que tal despesa seja verificável como condiçãode concessão do empréstimo;

● Publicar actualizações frequentes detalhando osrecursos mantidos pelos fundos, e as exigências quelhes são feitas. Isto diz respeito aos bancos tais como oLloyds Bank em Londres, que gere o Cabinda Trust.

embora. Um dia vieram 5-6 FAA à procura de vacas. Eu estava na igreja e eles

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Os Princípios Wolfsberg –directivas contra obranqueamento de dinheiropara a banca privadaA 30 de Outubro de 2000, 11 dos maiores bancosinternacionais – ABN-Amro Bank, Barclays Bank,Banco Santander Central Hispano,AS, ChaseManhattan Private Bank, Citibank, Credit Suisse Group,Deutsche Banck AG, HSBC; JP Morgan Inc, SociétéGénérale e UBS AG – juntamente com a ONGTransparência Internacional (Transparency International)anunciaram que tinham concordado com umconjunto de princípios voluntários contra obranqueamento de dinheiro.223

Os Princípios Wolfsberg têm com objectivo negaro uso dos serviços bancários para “fins criminosos” ecada banco irá “fazer por aceitar só os clientes cujafonte de riqueza e fundos possam ser razoavelmenteestabelecidos como legítimos.”223

A Global Witness gostaria de dar os parabéns aosbancos envolvidos, juntamente com a TransparênciaInternacional, por tomarem esta iniciativa; tomando oprecedente estabelecido por estes Princípios para acooperação entre bancos, a Global Witness ficariaextremamente grata se fosse contactada por qualquerdos assinantes Worlfsberg, para discutir como avançarcom uma transparência completa no que diz respeitoa empréstimos endossados pelo petróleo. Comomínimo, os assinantes Worlfsberg não deveriamcolaborar com ou participar em qualquer tipo deempréstimos que não são perfeitamentetransparentes no que diz respeito a desembolso eadicionais despesas ou que não impõem os mesmospadrões aos seus agentes e recipientes.

Carregando com o peso da dívida. A juventude de Angolasacrificada por uma guerra privatizada.

© C

rispin Hughes / Panos Pictures

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Empresas comerciantes de petróleo

As empresas de comércio de petróleo activas em Angola,como a Glencore, Vitol, Addax, Attock Oil e a NisshoIwai e comerciantes individuais, como o “financeirofugitivo Marc Rich, também tiveram o seu papel nofornecimento de rendimentos inexplicáveis ao estadoangolano. Um Despertar Cru publicou alguns detalhes dosnegócios organizados por estas empresas.

Algumas fontes sugerem que o Sr. Marc Rich,separadamente, ou com a Glencore (a operação decomércio de petróleo que ele declara ter deixado em) esteve pessoalmente envolvido em arranjar umempréstimo de bilhão de dólares americanos para ogoverno angolano em Julho de , em troca da comprade todos os barris de petróleo que ainda não estivessemdestinados a empréstimos anteriores endossados pelopetróleo, da quota de produção do petróleo dogoverno.

O Sr. Rich gozou de uma carreira controversa comocomerciante de produtos primários, incluindo fugir aosEstados Unidos para a Suíça em com acusaçõesde evasão aos impostos de mais de milhões de dólaresamericanos e fazer contratos ilegais de petróleo com oIrão durante a crise dos reféns na embaixada americana emTeerão em Novembro de ., O perdão que lhe foidado pelo presidente Clinton no final do mandato, emFevereiro de está actualmente a ser investigado devido aalegações de que estava ligado a mais de milhão de dólaresamericanos de contribuições políticas ou “filantrópicas” acausas do Partido Democrático. Outras alegações incluemconluio com o regime de Abacha na Nigéria e rotura desanções para o regime do Apartheid na África do Sul.

Alega-se que o contracto de do Sr. Rich era de trêsanos, o que quer dizer que deveria ter expirado em Julho de. O negócio parece ter sido passado através da Sonangole a presidência poderia ser responsável por mais umempréstimo não verificado e inexplicável ao estadosombra.

Apesar do Sr. Rich já não declarar que está associado àGlencore, o negócio parece corresponder, em linhas gerais,em valor, ao presumível total de milhões de dólaresamericanos em empréstimos dados pela Glencore no anoanterior (Dezembro de – milhões USD; meados deFevereiro de – milhões de USD; Julho de – milhões de USD). Aparte as inexactidões nainformação, se os milhões derivados da Glencore são osmesmos que se sugere vêm do Sr. Marc Rich, é possível queainda esteja envolvido nas operações da Glencore, o queambas as partes têm negado. Alternativamente, se osempréstimos são separados, as estimativas do valor total deempréstimos endossados pelo petróleo negociados comAngola devem aumentar em bilhão de dólares americanos.

O desembolso dos empréstimos de Fevereiro e Julho daGlencore (uns milhões de USD) também envolveu aParibas. Atendendo a que o acordo inicial de paraarranjar empréstimos endossados pelo petróleo, organizadopor Pierre Falcone e Arkadi Gaidamak, envolviam tanto aGlencore como a Paribas, há uma suspeita razoável de queestes empréstimos também poderiam fazer parte de umacordo de financiamento de armas com petróleo.

É muito difícil determinar a realidade desta situaçãodevido à falta de transparência à volta destes acordos decrédito com base no petróleo. Como tal, há umanecessidade urgente por parte da comunidade internacionalde insistir em completa transparência para as operações decomércio do petróleo.

O papel das agências internacionais decrédito bilateral à exportação (ECAs)

As agências de financiamento bilateral de crédito àexportação funcionam para reduzir o risco para as empresas

nacionais que desejam investir no estrangeiro. Ofinanciamento, quer em termos de empréstimos directospara empresas participantes, quer como um seguro decrédito para mitigar o risco do não cumprimento dospagamentos do projecto, é normalmente proporcionado emtroca dos contratantes obterem equipamento ou mão deobra necessária do país que está a fornecer o seguro desubscrição. Efectivamente, isto significa que o crédito àexportação não é mais do que o subsídio de projectos noestrangeiro para impulsionamento da economia nacionalpor parte dos contribuintes.

As empresas petrolíferas necessitam, muitas vezes, deefectuar investimentos massivos em infra-estruturas antesque qualquer petróleo seja produzido, portanto o risco émitigado estabelecendo convénios de financiamentoseguros com várias ECAs. As agências com carteirassignificantes na África do Sub-Sahariana incluem (porordem de importância decrescente):

COFACE FrançaExport-Import Bank (Ex-Im Bank) Estados UnidosMediocredito Centrale SpA ItáliaExport Credit Guarantee Department (ECGD) Reino UnidoKreditanstalt für Wiederaufbau AlemanhaCredit Guarantee Insurance África do SulSACE ItáliaNederlandsche Credietverzekering Maatschappij Países BaixosKorea Export Insurance Corporation Coréia do Sul

As principais agências que actualmente fornecem segurosde risco ao governo angolano incluem o Ex-Im Bank dosEUA, a COFACE da França, a SACE de Itália e a SulCoreana, Korea Export Insurance Corporation.

O investimento fornecido pelas ECAs bilaterais está acrescer e os empréstimos internacionais actuais excedem oque foi fornecido pelo Banco Mundial, FMI e todas asoutras agências multilaterais em conjunto. No entanto, aocontrário das instituições de empréstimo multilaterais, amaioria das agências de crédito à exportação nãonecessitam considerar os impactos sociais e ambientais dosprojectos que apoiam. A Global Witness foi informada poruma agência em que o único grande factor queafectava a sua decisão de autorizar um empréstimo era asua probabilidade de reembolso.

Isto faz com que exista um cenário interessante nocontexto angolano: os contribuintes so Norte estãofinanceiramente a contribuir para o desenvolvimento doscampos petrolíferos através de convénios de financiamentodas exportações em conjunção com empresas, as quaisdepois conluiam com o “estado sombra” para evitar atransparência. Assim, os contribuintes do Norte ajudam

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entraram e começaram a disparar. Não mataram ninguém, foi sorte” –Mulher

O que não se poderia fazer com os milhões não contabilizados, no Kuito e emoutras cidades angolanas?

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todos os países. Por exemplo, uma agência pode impor umacondição de empréstimo insistindo para que todas as partesparticipantes no acordo pratiquem total transparência. Nocaso de Angola, dado que muitos destes empréstimos sãoobtidos para fins de financiamento dos programas dedesenvolvimento dos campos da Sonangol, isto significa quea Sonangol necessitará demonstrar total transparênciaquanto aos pagamentos efectuados ao governo angolano,para além de publicar todos os empréstimos actualmenteafiançados pelo petróleo, sob o risco de não receberfinanciamento bilateral à exportação.

Existem dificuldades óbvias para que qualquer agênciaindividual de financiamento de crédito à exportação possaproceder unilateralmente a tal mudança rumo àtransparência. Conforme uma apontou, “podemos ver os

O Financiamento

indirectamente a financiar a fragilização da sociedade civildo Sul. Adicionalmente, enquanto o património do estadoé desviado, os contribuintes internacionais têm quefinanciar o redesenvolvimento de Angola através deprogramas de assistência multilaterais e bilaterais. Embora,por um lado, exista o benefício perceptível da criação deemprego para as economias nacionais dos países dasagências de crédito à exportação activas, por outro lado, oscontribuintes do Norte estão inconscientemente a subsidiare a subscrever a fragilização da sociedade civil e asubversão do processo democrático num país em vias dedesenvolvimento.

A solução deve passar por incluir critérios detransparência como uma condição para todos os futurosconvénios de financiamento de crédito à exportação em

deslocada, início de 2001a

Os Homens dos Presidentes

Fechando a lavandaria dosditadoresPor Jonathan Winer, antigo Assistente Adjunto do Secretário de Estadopara o Enforçamento da Lei Internacional (US State Department)

As redes financeiras dissimuladas no mundo e a infra-estruturade branqueamento de dinheiro para paraísos do segredobancário em pequenos estados como o Liechtenstein, as ilhasGran Cayman, ou as Ilhas Virgin, podem, finalmente, estar àbeira de ser reveladas.A Organização para a Cooperação eDesenvolvimento Económicos – OCDE (Organisation for theEconomic Cooperation and Development – OECD) em Paris, asForças Especiais de Acção Financeira – FEAF (Financial ActionTask Force -FATF) com base na OCDE, e o Fórum para aEstabilidade Financeira (Financial Stability Forum) dos países doG8 começaram finalmente a entrar em acção para exercerpressão sobre os mini-estados que alugaram a sua soberaniapara proporcionar o anonimato através do sector de serviçosfinanceiros aos traficantes de drogas, criminosos, comerciantesde armas, e ditadores assim como a quem corruptamente lhespaga e lhes facilita a vida no Norte.

Nas últimas duas décadas, o acesso ao sistema financeiromundial tem-se tornado um elemento essencial para o rouboda riqueza nacional de alguns dos países mais pobres domundo, e tem proporcionado um mecanismo para esconderfundos políticos ilegais (e criminosos) em algumas dasdemocracias mais desenvolvidas do mundo. Os mecanismosbásicos para esta infra-estrutura dissimulada podem serqualquer um dos que se seguem:

● Formação de empresas anónimas com agentes locais,para criar uma empresa cujo proprietário não pode serencontrado;

● Trusts anónimos com agentes locais noutro país, paracriar um proprietário anónimo para a empresa anónima, edeste modo criar outra camada de protecção;

● Utilizar bancos “fantasma”, em jurisdições nãoregulamentadas que prometem segredo bancário;

● Abertura de contas “correspondentes” em bancosregulados pelos “bancos fantasma” para mover o dinheiroà volta do mundo.

Numa economia globalizada, os mini-estados que oferecemsegredo bancário tornaram-se o método preferido paramanusear os rendimentos da corrupção dos piores governosdo mundo. presidentes e déspotas como o Abacha daNigéria, o Mobutu do Zaire e o Bongo do Gabão, os maischegados ao presidente Santos de Angola e ao presidenterusso Yeltsin, a União Democrática Cristã sob o Helmut Kohl,a empresa petrolífera francesa Elf-Aquitaine, e o chefe dosserviços secretos peruanos Montesinos, todos utilizaram omesmo conjunto de jurisdições e mecanismos parabranquear, como apropriado, os rendimentos de subornos,negócios de armas, fundos sujos, fundos para comprar o

silêncio de pessoas, e fundos roubados ao estado. Na verdade,cada um destes casos de corrupção passou pelo minúsculoprincipado europeu do Liechtenstein, descrito num fóruminternacional sobre o crime financeiro na Universidade deCambridge como “um bordel financeiro em que todos oscriminosos do mundo encontram uma cama.”

Sob o sistema em existência, ditadores cleptocráticos como opresidente Abacha da Nigéria podem recrutar agentes nas IlhasVirgem britânicas (IVB) ou nas Bahamas para estabelecer umaempresa internacional anónima. Pode então estabelecer um trustanónimo numa jurisdição mais respeitável como a Isle of Manque seria o proprietário da empresa das IVB ou das Bahamas.Aempresa nas IVB poderia abrir uma conta através da Internetnum banco na Látvia, Liechtenstein ou Vanuatu, e esse banco, porsua vez, pode fazer negócio para a empresa das IVB em grandesbancos em Nova Iorque, Londres, Hamburgo, Paris ou Zurique,através de contas “correspondentes”.

O problema não é simplesmente que os estados maispequenos se venderam a ditadores corruptos e criminosos, masque os bancos e fundos ilícitos têm tido o mesmo acesso aosmercados financeiros mundiais que os legítimos. Cada um dosescândalos anteriores tem um tema comum de dinheirodesaparecido juntamente com a incapacidade dos governos,entidades reguladoras, agências de implementação da lei eorganizações prestigiosas internacionais de o encontrar quandoalgo corre terrivelmente mal. Quando os governos analisaram oproblema, começaram a dar-se conta de que havia um númerode factores que levavam ao problema mundial de dinheiro sujo,incluindo:

© D

avid Orr / Panos Pictures

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benefícios de fazer isto, mas por favor não nos empurrempara isto sozinhos, sem os mesmo critérios para as outrasagências. Se fosse possível fazer com que outras agênciasnacionais seguissem em frente com isto, nós também ofaríamos de bom agrado.”

Sem um compromisso por parte das ECAs quanto àtransparência, resulta uma situação obviamente perversa: acomunidade internacional através do FMI estáefectivamente a fazer força para a transparência emAngola, enquanto muitos dos mesmos estados estãoindividualmente a debilitar tais esforços. Pior ainda, estão afazer isto com receitas dos contribuintes nacionais, que nasua maioria não estão conscientes desta situação e, no fim,podem necessitar subsidiar a reconstrução devido à mágestão económica e à fuga de capitais de regimes

governamentais corruptos e neo-autoritários, que estãoinconscientemente a patrocinar.

A Global Witness urge fortemente que os governosnacionais insistam que as suas agências de financiamento àexportação pratiquem total transparência e que totaltransparência dos parceiros e destinatários dofinanciamento se torne num pré-requisito para ofinanciamento. A Global Witness não apela a estasagências para que parem de conceder empréstimos parafinanciar projectos de desenvolvimento de petróleo emAngola. Na falha de critérios de transparência se tornaremum pré-requisito para a provisão de futuros empréstimos,estas agências tornam-se elas próprias cúmplices da mágestão e do desvio de património do estado e dafragilização da sociedade civil.

O Financiamento

Os Homens dos Presidentes

● Supervisão fragmentada, dentro dos países, por sector, e entrepaíses, por jurisdição nacional;

● Leis para manter o segredo que impedem que se partilheinformação entre países e entre entidades reguladoras eautoridades de implementação da lei;

● Atenção inadequada dada aos pagamentos electrónicos nasupervisão e implementação de leis existentes contra obranqueamento de dinheiro, incluindo regras de “conheça oseu cliente” concentradas principalmente na liquidez, mesmona altura em que os negócios de serviços financeiros mundiaiscontinuam a mover-se rapidamente para o E-dinheiro;

● A falta de padrões internacionais para administrar osmecanismos chave utilizados nas transacções financeiras entrenações, como empresas isentas, empresas fantasma, empresasde negócios internacionais, trusts offshore, empresas deseguros e resseguros offshore, veículos de fundos offshore,incluindo, mas não limitados a fundos de risco;

● Diligência inadequada por parte dos agentes de formação deempresas, advogados e instituições financeiras no processo deincorporação e emissão de licenças de novas instituiçõesfinanceiras e empresas fantasma e trusts de propriedade dassuas filiais.

Durante os anos 90, estes mecanismos foram expostos a umasérie de investigações que começaram com tentativas nas Filipinasde recuperar os biliões roubados por Ferdinando Marcos, eincluíram esforços por parte da acusadora suíça Carla del Pontepara encontrar centenas de milhões de dinheiro da drogaroubados por Raul Salinas, irmão do então presidente do México,Carlos Salinas. Os G-7 decidiram entrar em acção quando osesforços de recuperação de bens contra os Suhartos naIndonésia, Mobutu no Zaire e Abacha na Nigéria revelaram quetinham utilizado as mesmas jurisdições que os traficantes decocaína na Colômbia e os terroristas Islâmicos.

Enormes perdas em rendimentos dos impostos, escândalosenvolvendo líderes políticos desde países em transição como oMéxico e a Rússia, a algumas importantes figuras na históriamoderna europeia, como o antigo Chanceler alemão HelmutKohl, e receios de uma instabilidade financeira global, motivaramas nações mais industrializadas do mundo a criar, em 2000, umalista negra de jurisdições “não cooperantes”. A lista incluía umQuem é Quem das jurisdições mais notórias em branqueamentode dinheiro, incluindo países como Israel e a Rússia que sepensava anteriormente eram intocáveis por razões políticas. Nãohouve sanções imediatas sobre os países na lista; no entanto, ospaíses do G-7 deram instruções às suas instituições financeiraspara verificar mais de perto todas as transacções vindas dessespaíses, o que deu um incentivo a algumas jurisdições, incluindo aAntígua, Bahamas, Caymans, Liechtenstein e as Filipinas, paraatenuar as leis do segredo bancário.

Ao mesmo tempo, os banqueiros das jurisdições reguladascomo os EUA, Canadá, Japão, Suíça, e a EU, começaram aquestionar o facto de minúsculos países no Sul do Pacífico taiscomo Nauru, Niue e Vanuatu, com populações de somente

20.000 pessoas, terem bancos que movem biliões de dólares deactivos por ano. Estas jurisdições essencialmente semregulamentos, pareciam ser pouco mais do que lavandariasfinanceiras que ofereciam sistemas para esconder dinheiro, em vezde serviços legítimos. Por isso mesmo, e para reduzir a ameaça àsua própria reputação, e a grande despesa para os seusaccionistas, bancos como o Citibank nos EUA e o UBS na Suíça,recusaram-se a fazer negócio em 1999 e 2000 com bancosnessas jurisdições sem regulamentos.

Apesar dos primeiros passos terem sido dados para criar umprocesso de “nomear e envergonhar” para isolar as jurisdiçõesque estão a esconder dinheiro sujo, muitos elementos essenciaispara um sistema global que evite que os líderes corruptosroubem a riqueza das suas próprias nações ainda têm que serpostos em prática, incluindo:

● Fazer com que os mercados financeiros mais importantesimpeçam o acesso às instituições financeiras dos “mini-estados” que se recusam a cooperar em investigaçõesenvolvendo casos de corrupção estrangeira. Deveriam sofrersanções dos seus governos se se recusarem a fazê-lo.

● Decretar leis que permitam a apreensão de rendimentos decorrupção estrangeira e transformá-las em crimes debranqueamento de dinheiro em países como os EUA, quelidam com a corrupção a nível nacional como um crime masnão têm leis para combater a corrupção estrangeira;

● Continuar a luta para limitar o segredo bancário, assegurandoque seja sempre levantado em casos que envolvem alegaçõesde crime, corrupção, ou roubo;

● Alargar a partilha de implementação da lei e informação sobreregulamentos entre países envolvidos em investigar o crimefinanceiro como requisito de completa participação nautilização de infra-estruturas de serviços globais financeiros,como os sistemas de pagamento mundiais;

● Penalizar as instituições financeiras que facilitaram obranqueamento de dinheiro e crime financeiro, com multassubstanciais ou fecho. Os EUA adoptaram este método parao banco japonês Sumimoto no fim dos anos 90, pedindo aobanco que deixasse o país depois de alguns dos oficiais domesmo terem preparado documentos bancários fraudulentosnum esforço para esconder perdas financeiras das entidadesreguladoras;

● Fazer com que seja ilegal aceitar dinheiro cuja origem nãopode ser explicada com actividades económicas legítimas.Nenhum banco que aceitou fundos da família Abacha daNigéria, de Carlos Salinas do México, ou de Mobutu do Zaire,pode ter tido qualquer tipo de ilusão sobre se tinham sidoadquiridos legitimamente;

● Repatriar os rendimentos da corrupção para o tesouropúblico do país roubado, sob a condição de que os fundossejam gastos de modo transparente e democrático,preferivelmente em serviços sociais básicos como a educaçãoe saúde.

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Conclusão

OS ANGOLANOScomuns foramdespojados dos seusdireitos edesapropriados por

mais de quatro décadas de guerra civil.O conflito tem sido deliberadamenteexplorado para proporcionar abusoseconómicos altamente organizadosenvolvendo apropriação em larga escalae branqueamento do património doestado através de orçamentos paralelos,negócios de armas com preçosinjustificadamente elevados eendividamento deliberado através dahipoteca da futura produção depetróleo. Este sistema de ganhosprivados e perdas públicas não pode sersustentado culpando a guerra pelosinsucessos resultantes do estado. Osquadros militares e governamentais superiores parecemlucrar com o próprio processo de aprovisionamentomilitar e quase todos os itens que são consumidos naguerra contra a UNITA servem para enriquecer a eliteregente de Angola e a sua rede de corretores, cobradores evendedores de influência.

Esta “lógica operacional” de subornos e luvaslargamente utilizada no estado sombra angolano é emparte a criação de uma política estrangeira do Norte quese tem mantido firmemente focada “duas milhas abaixo”nos campos de petróleo das águas profundas. No seumelhor, os governos do Norte têm tentado apaziguar aelite regente para evitar prejudicar os interesses de negócionacionais. No seu pior, a França e outros têm vindo atratar a Angola como uma “terra judicial de ninguém que,em nome de interesses políticos mútuos, deveria continuarpara a eternidade como uma terra de crimes impunes”.

Como resultado, os “homens dos presidentes” têm limpoos bolsos a Angola – um terço do orçamento estatal para parece ter desaparecido, e pode talvez ser encontradoem lavandarias offshore.

Das empresas petrolíferas a operar em Angola, só a BPtomou uma posição pública no que toca à transparência; aShell, Norsk Hydro e Statoil concordaram com o conceitoe demonstraram boa vontade para seguir em frentequanto a esta questão; a Chevron-Texaco, TotalFinaElf eExxonMobil – os maiores (e os que estão prestes a ser osmaiores) extratores de petróleo de Angola – têm, atéagora, permanecido em negação.

A sociedade civil tem o direito de ser fornecida cominformação adequada para poder responsabilizar o seugoverno quanto à gestão dos “seus” recursos. Embora apaz tenha, sem surpresa, sido a principal prioridade dasociedade civil nascente de Angola, demonstrou um maiorreconhecimento da necessidade da boa administração etransparência para encontrar uma solução permanentepara a guerra. No ano , as ONGs de Angolalançaram um debate ao nível da Assembleia Nacionalpara exigir a divulgação total do orçamento de estado.Embora um trabalho substancial de ficção, o orçamentocompleto foi publicado pela primeira vez em . Naagenda, poderá seguir-se o acesso ás despesas trimestraisdo estado e exigir deste que gaste mais em saúde eeducação e menos em defesa e segurança. Outroscomeçaram já um processo para assegurar que asinstituições estatais funcionam de forma transparente deacordo com a lei angolana.

Os apelos para a transparência surgiram maisrecentemente do Arcebispo D. Zacarias Kamuenho, chefe

da igreja católica angolana e vencedor do prémioSakharov pelo seu trabalho pela promoção dos direitoshumanos e a paz em Angola. Durante a cerimónia deentrega do prémio no Parlamento Europeu em Dezembroúltimo, o arcebispo D. Zacarias Kamuenho destacou opapel das indústrias extractivas na perpetuação da guerrae acentuou a necessidade premente de “se incrementaraquela transparência [que]… fomentaria aimplementação de investimentos sociais com impactos naqualidade de vida dos cidadãos, e isto, por direito próprioe não por aparente benevolência”. A morte de JonasSavimbi, o líder da UNITA, acrescenta a esta pressão. Écada vez menos realístico culpar-se a guerra por todas asfalhas do governo angolano.

Embora o derradeiro desafio de responsabilização dogoverno conte fortemente com o papel da sociedade civilem Angola, sem acesso à informação esta só pode fazeraté certo ponto. Ao recusar publicar o que pagam aogoverno, as empresas petrolíferas criam uma condiçãonecessária para o funcionamento da maquinaria de saquedo estado porque, sem informação sobre o rendimentobásico do estado, é impossível para os cidadãos comuns deAngola detectarem quando estão a ser enganados e apelarao seu governo para prestar contas quanto à má gestãodas rendas dos seus recursos. A falta de divulgação dospagamentos é moralmente inaceitável em tempos de paz edemonstra um desprezo aparente quanto à situaçãodesesperada do povo angolano. A transparência parece seruma pré-condição necessária para práticas de negócioaceitáveis no hemisfério Norte, portanto, porque não noSul?

É obvio que as técnicas de saque do estado aquidetalhadas são prontamente exportáveis para onde querque a natureza predatória dos negócios internacionaispetrolíferos e financeiros interaja com uma sociedade civilfraca e governos neo-autoritários não responsabilizados.Um relatório recente da Oxfam America sobre as“Indústrias extractivas e os pobres” identificou umarelação estatística clara entre estados dependentes deindústrias extractivas primárias e instituições estataisdesresponsabilizadas ligadas a pobreza. Este “paradoxoda abundância” acontece porque os governos ricos emrecursos tendem a utilizar taxas de juros baixas e opatrocínio para amortecer as pressões democráticas egastam uma fracção invulgarmente elevada dos seusrendimentos com a segurança interna. Adicionalmente, asestruturas políticas que aderem em torno de umaeconomia de “bonança” geralmente não conseguemtrazer alterações sociais e culturais que resultem no

Os Homens dos Presidentes

Perdas públicas, lucros privados! O nono mês de manifestações de protesto contra a corrupção eimpunidade à saída da Angonave – uma empresa pública angolana; Maio de , Luanda.

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investimento do desenvolvimento social a longo prazo. Osestados que estão dependentes da riqueza petrolífera emineral também enfrentam uma oportunidade muito maiselevada de guerra e conflito civil. A acusação decumplicidade da indústria estende-se para todos os outrospaíses – tais como o Azerbaijão, o Chade, o Camboja, aRepública Democrática do Congo, a Guiné Equatorial, oGabão, o Kazaquistão, o Sudão e a Nigéria, paramencionar alguns – onde os recursos naturais fornecemuma fonte significativa do rendimento estatal, onde acorrupção associada com o rendimento estatal épreocupante, e onde tais empresas não são totalmentetransparentes quanto aos seus pagamentos. Os riscos decumplicidade com governos desresponsabilizados não sãotodos unilaterais: como observou The Economist, “as firmasque estão a fazer negócios em países com governosdesagradáveis … [estão] a por em perigo o mais preciosodo seu património, o seu bom-nome.”

Esta questão não pode ser tratada “voluntariamente”. Aexperiência da BP com a Sonangol demonstra que, mesmoque a empresa petrolífera queira ser transparente, pode serameaçada com o corte das suas concessões e estas podemser redefinidas para concorrentes menos escrupulosos.Apesar dos princípios supostamente altruístas, a adesão aoresultado final dos lucros sem princípios tem, até agora,assegurado que os padrões de divulgação e detransparência em Angola permaneçam aqueles dedenominador comum mais baixo. As empresas petrolíferasque actuam colectivamente podem quebrar este impasse –e enviar uma forte mensagem sobre a boa administraçãoglobal – mas, até agora, a indústria tem tido falta deimaginação colectiva para fazer face a este problema.

Assim, existe uma necessidade óbvia duma abordagemreguladora paralela para fazer face ao insucesso dainiciativa voluntária quanto à transparência e estabelecerpadrões mínimos de divulgação financeira entre empresasmultinacionais para todos os países em que operam. A

Global Witness acredita que a maioria dos reguladores detítulos nacionais têm tanto o poder como o direito deefectuar alterações imediatas nas empresas que reportam edivulgam padrões para este fim. As agências de crédito àexportação do Norte devem impor critérios detransparência a todos os seus parceiros de investimento. OFMI, Banco Mundial, e Corporação FinanceiraInternacional – tendo como fundo melhorias genuínas natransparência das suas próprias operações – devemdesenvolver e institucionalizar um modelo detransparência e gestão de receitas que possa ser exportadopara as diferentes situações nacionais. Isto pode, porexemplo, ajudar a evitar o legado de atrasos que temacompanhado o Diagnóstico de Petróleo decididamentead hoc do FMI.

De igual modo, os trabalhos contra o branqueamentode dinheiro que acompanharam a nova “Guerra contra oTerror” têm demonstrado o que pode ser feito quando hávontade colectiva para enfrentar um problema: esteesforço deve agora ser utilizado para tratar uma dascausas da pobreza global, para localizar e repatriar osbens roubados pelos mais ricos a pessoas que seencontram entre as mais pobres do mundo. Compare, porexemplo, os US $, a US$. em receitas relacionadascom o petróleo e empréstimos não contabilizados duranteo último ano e os US $ milhões não contabilizados noano anterior, com a luta das Nações Unidas para angariarUS $ milhões necessários para alimentar o milhão depessoas deslocadas dentro do próprio país, dependentes deauxílio alimentar em Angola.

Os governos nacionais e os agentes económicos seusaliados já não se podem absolver da responsabilidade dadesapropriação e dos padrões duplos da indústria mundialde extracção de recursos. A comunidade internacionalterá que enfrentar o desafio de endossar e conseguir atransparência no sector ou terá, mais tarde, de resolver asituação.

Os Homens dos Presidentes

Sem posses e à mercê do auxílio dos doadores. Sem transparência relativa às receitas obtidas através dos recursos naturais do país, osangolanos não têm qualquer hipótese!

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a Testemunhos a uma ONG internacional humanitária a trabalhar em Angola, 2001 b Angola: Behind the facade of ‘normalization’ – Manipulation, violence and abandoned populations, Medecins Sans Frontieres; Novembro de 2000

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européennes places sous sequester’, Le Monde; / de Janeiro, ‘L’Angola soupçonné d’avoir verse , dollars au parti de Charlie’, Le

Canard Enchaîné, de Dezembro Ibid, citação original em francês: ‘Un accord politique a été passé. Nous

avons avancé à titre personnel , dollars. […] Ils attendraient encore ou millions de francs, soit environs à , million de dollars. […] Nouscroyons savoir que cet argent devrait, dans sa totalité, être utilise pour lacampagne pour les elections au Parlement européen. Il serait donc trèsimportant de faciliter le déblocage de ces fonds, car cela nous assurerait ledébut d’un vrai lobby immédiatement opérationnel auprès le Parlementeuropéen’.

‘Un "accord politique" entre le RPF et l’Angola?’ Le Monde; de Janeiro,

‘Villiers prêt à charger Pasqua’, Le Figaro; de Janeiro, ‘Villiers Charge Pasqua’, Le Figaro; th January – citação original em

francês: ‘Je peux confirmer de manière très explicite que l’affaire Mitterrand-Pasqua est une affaire grave, une affaire d’Etat avec des ramificationsintercontinentales et des développements insoupçonnables.’

‘Bernard Guillet, conseiller de M. Pasqua, mis en examen dans l’affaireFalcone’, Le Monde; de Abril,

‘Angolagate: Marchiani mis en examen’, Le Figaro; de Maio, Ibid: mandato de interrogação de Bernard Guillet em francês: ‘recel d’abus

de biens sociaux.’ ‘French arms scandal closes in around ex-Interior Minister’, AFP; de Abril

‘Charles Pasqua’s diplomat comes out of the dark and clarifies the Falcone

affair’, Le Monde; de Abril ‘Charles Pasqua mis en examen dans l’affaire du traffic d’armes vers

l’Angola’, AFP; de Maio, – acusações em francês, ‘recel d’abus de bienssociaux’ et ‘traffic d’influence.’

‘M. Pasqua mis en examen une deuxième fois par les juges de l’affaireFalcone’, Le Monde; de Maio

‘Monaco, le compte secret et les ventes d’armes’, Le Parisien; de Junho Comentários atribuídos a Jean-Christophe Mitterrand com respeito ao Juiz

Courroye em francês: ‘Sue la Haine’, in ‘Vives protestations des magistratesaprès les attaques des Mitterrand’,Le Monde; / Janeiro

Reacção de Jean-Marie Coulon aos comentários de Mitterrand em francês:‘Les actes du juge impartial doivent être exposés et non sa personalité, rouagede la démocratie, qui, elle, doit être protégée’, em ‘Vives protestations desmagistrates après les attaques des Mitterrand’, Le Monde; / Janeiro

‘Angolagate: le parquet requiert l’annulation du "trafic d’armes,"’ Le Monde;/ Janeiro,

‘La cour de cassation anule les porsuites pour traffic d’armes dans l’affaireFalcone’, Le Monde; de Junho,

Dennis Wagner, Arizona Republic; de Junho, http://www.interieur.gouv.fr/histoire/minist/pasqua.htm Le Figaro, Página ; de Janeiro, ‘De à , M. Falcone s’est impose en partenaire privilégié de la

Sofremi’, Le Monde; de Janeiro, ‘Branle-bas de combat judiciaire en "Françafrique"’, Le Figaro; de

Dezembro, Taxa de câmbio: Francos Franceses:US$’s – http://wwwoanda.com;

US$, de Junho . ‘The Sofremi has never been involved in a deal for the sale of Russian

weapons’, Le Monde; de Janeiro, ‘Le Patron de la Sofremi accuse’, Le Figaro; de Janeiro Guias Comerciais do País FY: Angola – Capítulo : Comércio e

Financiamento de Projectos; web site do Departamento de Estado:http://www.state.gov

‘Tipatouillages franco-russes pour armer l’Angola’, Liberation; deDezembro

‘BAI terá novo Presidente’, Agora; de Abril Informação sobre Fábricas de Cerveja, web site da Skol International:

http://www.skolinternational.com Tradução não oficial de ‘Who conspired against Santos?’, O Independente;

de Dezembro Contas Anuais, BAI; , página ‘Angola: BAI aposta em África’, África Hoje; de Março Carta de Mário Palhares, Presidente do Conselho, BAI, a Global Witness;

de Agosto, Carta de Mário Palhares, Presidente do Conselho, BAI, a Global Witness;

de Setembro, ‘Quinze Ans de Présence d’Elf en Angola ’, Elf Exploration Angola;

Julho Documentos do departmento: Affaires Juridiques, Paribas; de Agosto Um Despertar Cru, Global Witness; de Dezembro ;

www.globalwitness.org ‘Roc Oil’s mysterious partners’, Africa Energy intelligence; de Outubro, . Discurso do presidente José Eduardo dos Santos ao receber as credenciais do

novo embaixador francês, tradução não oficial de comunicado de imprensa,Embaixada de Angola, Londres; de Fevereiro,

African Energy; Número , Outubro Artigo da lei do petróleo no. /; de Agosto, Itálico: enfâse da Global Witness www.eia.doe.gov; Africa Energy Intelligence, de Outubro, ‘IMF Projection for ; Government of Angola – Memoranda of

Economic and Financial Policies’, Fevereiro ‘% success rate in deep off-shore’, Africa Energy Intelligence; de Maio, ‘EIU Country Report Angola’, EIU; Primeiro Trimestre Africa Energy & Mining No ; de Outubro, ‘EIU Country Report Angola – At a glance -’, EIU; de Novembro,

Com. Pess., indústria petrolífera, anón.;

‘Block Begins Production’, O Pensador Newsletters, Angolan Embassy inWashington, DC; th de Dezembro, (www.angola.org)

‘Sonangol bares its teeth’, Africa Energy Intelligence; de Novembro, ‘Big oil gets slapped in the face in Angola’, Marek Inc – News Features; de

Novembro, (www.marekinc.com) Wood Mackenzie – consulta Ad hoc; Outubro Investigações da Global Witness; - Consultor financeiro de empresa, anón.; Março BP-Statoil Alliance dados dos funcionários do Environmental Resources

Management (ERM) Relatório sobre o Impacto Social; encomendado pela BPa finais de

‘Angola shares Block pie’, Upstream; de Junho, ‘Staff Report for the Article IV Consultation and Discussions on a

Staff-Monitored Program’, Departamento Africano do FMI; de Junho, ‘Terms of reference Financial Diagnosis and Monitoring of State Petroleum

Reserves’; de Fevereiro, (www.angola.org/reports/oildiagnostic.html) Fonte próxima do ‘Diagnóstico do Petróleo’; Agosto . ‘The Oil Diagnostic in Angola: an Update’, Human Rights Watch; Março ‘Angola – Preliminary Conclusions of the IMF Mission’, FMI; de Agosto,

(www.imf.org) Grupo de Acompanhamento da Implementação do Programa Monitorado, Luanda de

Agosto, Carta da Global Witness ao PCA de empresa petrolífera; de Janeiro, Carta da BP-Amoco Plc à Global Witness; de Fevereiro, Angola Model Production Sharing Agreement for Deep Water Blocks; Artigo

, p. ; Fevereiro Carta da Statoil AS à Global Witness; de Fevereiro, Conversão baseada na taxa de câmbio média: NOK:US$ para ;

www.oanda.com Reuters (London); de Fevereiro Carta da Shell (Londres) à Global Witness; de Fevereiro, Carta da BHP à Global Witness; de Março, Carta da BHP à Global Witness; de Maio, Carta da Petrobras à Global Witness; de Maio, Website da Petrobras:

http://www.petrobras.com.br/ingles/financas/acionist/finaci.htm ‘Exxon in Angola’, Exxon Exploration; de Março, Website da Chevron: www.chevron.com Website da TotalFinaElf: www.totalfinaelf.com Com. Pess., indústria bancária e de investimento, anón.; Angola Model Production Sharing Agreement for Deep Water Blocks; Artigo

. p. ; Fevereiro Ver, por exemplo, Williams,C..’ SEC and Corporate Social

Transparency’, Harvard Law Review : - O uso de ‘appropriate in the public interest’ é geralmente considerado

positivamente como uma interpretação mais vasta de que a informação é‘necessária’ para o interesse público. Williams,C., ‘SEC and CorporateSocial Transparency’, Harvard Law Review : -

Frankfurter,F., ‘The Federal Securities Act II’, Fortune Magazine; Agosto Taxa de câmbio média em no mercado formal ( USD= . Kz);

Banco Nacional de Angola Com. Pess., vários trabalhadores em desenvolvimento, anón.; - Ver ‘What is Corporate Social Responsibility (CSR)?’

http://europa.eu.int/comm/employment_social/soc-dial/csr/csr_whatiscsr.htm

About the GRI. http://www.globalreporting.org/aboutGRI/index.htm ‘Sustainability Reporting Guidelines on Economic, Environmental and

Social Performance’- Part C Report Content, ver Economic Indicators Nos..-., and . p., Global reporting Initiative;http://www.globalreporting.org/guidelines; Junho .

dado que a Chevron se fundiu com a Texaco, a posição da Chevron não éclara – seguirá a mesma conduta da Texaco?

News update: www.globalreporting.org/news/marchupdate ‘Principles of Corporate Governance’, p., OECD; Abril

(www.oecd.org/pdf/M/M.pdf) Ibid. Item IV(B). p.. Ibid. Item IV(A). p.. ‘Global Compact Issues Dialogue – The Role of Private Sector in Zones of

Conflict’, Global Compact; / Março Ver: http://europa.eu.int/comm/employment_social/soc-

dial/csr/greenpaper.htm ‘EU Green Paper Promoting a European framework for Corporate Social

Responsibility’, parágrafo . Ibid. Parágrafo . http://www.wbcsd.ch Starting a new chapter; http://www.tradefinancemagazine.com/ Com. Pess., Arkadi Gaidamak; Dezembro Fontes na indústria bancária; - Investigações da Global Witness; - ‘Angola’s Government has re-financed a $ million oil-backed loan…’,

Reuters; de Março, ‘Angola secures loan from foreign banks’, Financial Times; de Março, ‘Sonangol – US$ million crude oil contract prepayment facility’,

Standard Chartered Bank comunicado de imprensa; de Março, Imprimido de base de dados bancária detalhando o empréstimo de

milhões de dólares da Standard Chartered; de Fevereiro, Por outras palavras, um empréstimo existente garantido com petróleo. ‘StanChart structure for Sonangol proves popular’, Trade Finance; Maio ‘Bank loan may breach IMF limits’, African Energy; Abril Imprimido de base de dados bancária detalhando o empréstimo de

milhões de dólares do Commerzbank; de Março, . Voice of America, serviço de língua portuguesa; de Abril, ‘Angola has agreed loans worth $ million…’, Reuters; de Abril, Imprimido de base de dados bancária detalhando o empréstimo de

milhões de dólares do BNP-Paribas (e outros); de Julho, Imprimido de base de dados bancária detalhando o empréstimo de

milhões de dólares do BNP-Paribas (e outros); de Outubro, Financings; de Outubro, (http://www.the-lawyer.co.uk/) Financings; de Outubro, (http://www.the-lawyer.co.uk) Base de dados bancária, lista de empréstimos recentes, estruturados no

mercado londrino, garantidos pelos Trusts de Cabinda e Soyo-Palanca Trusts;Março

‘Leading international banks establish anti-money laundering principles’,Comunicado de imprensa da Transparency International; de Outubro, (http://www.transparency.de)

Se Marc Richdeixou a Glencore em , então terá ainda estado envolvidocom a empresa quando Falcone e Gaidamak organizaram os empréstimosgarantidos com petróleo do Paribas em .

‘Clinton Pardons: Cast of Characters’, BBC News; de Fevereiro, (www.news.bbc.co.uk)

‘The Marc Rich Case: A Primer’, Time.com.(www.time.com/time/nation/article/,,,.html)

Fonte, excepto para a Coria do Sul:http://www.edf.org/programs/international/ECA/Africa.htm

Reunião entre a Global Witness e funcionários de agencia bilateral decrédito à exportação; September

Comentários do editorial do Le Monde; de Dezembro, , citados pelaReuters; de Dezembro,

‘Extractive Sectors and the Poor’, Oxfam America; Outubro . O UNDPmede geralmente esta discrepância subtraindo o nível atrabuído a um país noHuman Development Index da sua posição a nível de GDP. Para Angola, o seulugar a nível de GDP encontra-se cerca de posições acima do seu nível noHDI, revelando-o como um país dos mais mal administrados do mundo.

‘Greed and Grievance in Civil War’, World Bank Development ResearchGroup Policy Research Working Paper ; Maio

‘Business in difficult places: risky returns’, The Economist; de Maio, Fuelling the war:_Diamonds and oil, BBC News, de Janeiro, .

http://news.bbc.co.uk/hi/english/special_report////angola/newsid_/.stm

Com. Pess., jornalista; Fevereiro

Page 63: A história devastadora das indústrias petrolíferas e ... · Petróleo para Angola. Adoptar uma política de auditorias independentes e transparentes a programas sociais, que tenha

Os Homens dos Presidentes

Outras publicações da Global WitnessDisponíveis também no website: http://www.globalwitness.org

“Branching Out – Zimbabwe’s Resource Colonialism inDemocratic Republic of Congo”

publicada em Fevereiro de 2002

“O Controlo Funciona? Uma REVISÃO do Sistema de controlodos diamantes angolanos”

publicado em Dezembro de 2001

“Taylor-made—The Pivotal Role of Liberia’s Forests and Flagof Convenience in Regional Conflict”

publicado Setembro de 2001

“The Credibility Gap — and the Need to Bridge ItIncreasing the pace of forestry reform”

publicado Maio de 2001

“Review of the Sierra Leone Diamond Certification System andProposals and Recommendations for the Kimberley Process for

a Fully Integrated Certification System (FICS)”publicado Abril de 2001

“Conflict Diamonds — Possibilities for the Identification,Certification and Control of Diamonds”

publicado Junho de 2000

“Chainsaws Speak Louder Than Words”publicado Maio de 2000

“Timber Takeaway — Japanese Over-comsumption — theForgotten Campaign”publicado Março de 2000

“The Untouchables — Forest crimes and the concessionaires—can Cambodia afford to keep them?”

publicado Dezembro de 1999

“Um Despertar Cru — O papel das Indústrias Petrolíferas eBancárias na Guerra Civil e na Pilhagem dos Bens Públicos”

publicado Dezembro de 1999

“Made in Vietnam — Cut in CambodiaHow the garden furniture trade is destroying rainforests”

publicado April de 1999

“Crackdown or Pause — A Chance for Forestry Reform inCambodia?”

publicado Fevereiro de 1999

“Um Negócio Brutal — O Papel das Companhias e dosGovernos no Conflito Angolano”

publicado Dezembro 1998

“Going Places — Cambodia’s Future on the Move”publicado Março de1998

“Just Deserts for Cambodia — Deforestation & the Co-PrimeMinisters’ Legacy to the Country”

publicado Junho de 1997

“A Tug of War — the Struggle to Protect Cambodia’s Forests”publicado Março de 1997

“Cambodia,Where Money Grows on Trees — Continuing Abuses of Cambodia’s Forest Policy”

Publicado Outubro de 1996

“RGC Forest Policy & Practice — the Case for PositiveConditionality”

publicado Maio de 1996

“Corruption,War & Forest Policy — the Unsustainable Exploitation of Cambodia’s Forests”

publicado Fevereiro de 1996

“Thai-Khmer Rouge Links & the Illegal Trade in Cambodia’sTimber”

publicado Julho de 1995

“Forests, Famine & War — the Key to Cambodia’s Future”publicado Março de 1995

A Global Witness é uma organização nãogovernamental sedeada no Reino Unido, cujotrabalho se concentra nas ligações entre o meioambiente e os abusos dos direitos humanos, eespecialmente no impacto da exploração dosrecursos naturais nos países e seus povos.Utilizando técnicas pioneiras de investigação, aGlobal Witness recolhe informações e provas queserão utilizadas em campanhas de lobby esensibilização.A informação da Global Witness épartilhada com governos, organizações inter-governamentais, ONGs e imprensa.

Agradecimentos

As informações contidas neste relatório sãouma integração de artigos de imprensa e dedados obtidos través de investigaçõesextensivas, levadas a cabo durante os anos 2000e 2001.A Global Witness gostaria de agradecero apoio, informações e conselhos de muitosangolanos e pessoas de outras nacionalidades,prestados muitas vezes à custa de sérios riscospessoais. Sem elas, este documento não teriasido possível – um imenso obrigado!

O Presidente dos Santos merece tambémagradecimentos por ter confirmado aspectosfundamentais do ‘Angolagate’, através do seudiscurso de boas vindas ao novo embaixadorfrancês em 2001.

Como sempre, nada seria possível sem a equipadedicada de voluntários e funcionários da GlobalWitness.

Desenho The Plumbers.

Fotos © Global Witness excepto quandoindicado.

Traduçao : Mizé Anastácio e Henrique Nunes

Revisão: Mizé Anastácio e Margarida Trindade

Imprimido em papel reciclado 100% cru.

ISBN 1 903304 06 7

Global Witness LtdP O Box 6042. Londres N19 5WP. Reino Unidotelefone: + 44 (0)20 7272 6731 fax: + 44 (0)20 7272 9425e-mail: [email protected]://www.globalwitness.org/

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telefone: + 44 (0)20 7272 6731fax: + 44 (0)20 7272 9425e-mail: [email protected]://www.globalwitness.org/

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Liberdade de imprensa àmoda angolana. Páginas- da tentativa da Folha de discutir olançamento do relatórioda Global Witness UmDespertar Cru, emDezembro de