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A ILUSTRAÇÃO DA ARQUITETURA EM LIVROS
DIDÁTICOS NO PERÍODO DE 1950 A 1970
Mariano Lopes de Andrade Neto UNESP, Programa de Pós-Graduação em Design
[email protected]@gmail.com
Carolina Vaitiekunas Pizarro UNESP, Programa de Pós-Graduação em Design
[email protected]@gmail.com
Paula da Cruz Landim UNESP, Programa de Pós-Graduação em Design
Resumo
A ilustração de livros didáticos é um tema pouco abordado se considerada a importância que este instrumento ainda preserva no ensino do país. Cabe ao designer gráfico, como um dos mediadores entre usuário e conteúdo, refletir sobre seu papel no desenvolvimento destes documentos. Propôs-se analisar as representações ilustradas da Arquitetura no recorte temporal entre 1950 e 1970. As escolhas pela Arquitetura e pelo período justificam-se pela especificidade da temática, a qual permitiu uma análise qualitativa objetiva das ilustrações. Este estudo é uma etapa inicial de uma pesquisa maior que investiga a percepção e leitura das ilustrações presentes em livros didáticos. Palavras-chave: Design Gráfico, Ilustração, Arquitetura, Livro Didático
Abstract / resumen
The illustration of textbooks is an issue rarely addressed is considered important that this instrument still preserves the teaching of the country. It is the graphic designer, as a mediator between user and content, reflect on their role in developing these documents. It is proposed to examine the illustrations of architecture in time frame between 1950 and 1970. The choices for architecture and the period justified by the specificity of the subject, which allowed an objective qualitative analysis. This study is an initial step of a larger research project that investigates the perception and reading of the illustrations found in textbooks.
Keywords: graphic design, illustration, architecture, textbooks
1 Introdução
Mesmo entre as recentes pesquisas em Design Gráfico no país, o livro didático está
entre seus objetos menos conhecidos e estudados:
Apesar das altas tiragens, do grau de industrialização envolvido, da disseminação em massa e da presença continuada nos anos de formação dos indivíduos, a importância da visualidade do livro didático e seus reflexos na formação cultural, incluindo o gosto e a informação estética, ainda estão por ser pesquisados. No campo de sua produção formal, ainda é pouco conhecido o perfil dos que se dedicaram ou se dedicam ao seu desenho (MORAES, 2008, p.01).
Passaram-se cinco anos desde a publicação de Moraes, no entanto, o cenário
descrito permanece muito próximo do atual. Um estudo recente (ANDRADE NETO et.
al., 2012) retoma esse alerta, ao revelar que dos 2221 trabalhos publicados nas
edições de 2002 a 2010 do P&D Design (Congresso Brasileiro de Pesquisa e
Desenvolvimento em Design), 07 artigos (0,31%) abordavam livro didático (LD); e dos
1532 do CIPED (Congresso Internacional de Pesquisa em Design), publicados nas
edições de 2002 a 2011, apenas 01 artigo tratava da temática, correspondendo a
0,06% do total. Expõe-se assim a necessidade de mais estudos a este respeito,
principalmente quando considerado que embora não sejam dados específicos sobre a
ilustração em livros didáticos, são essas informações que permitem inferir que há um
número também reduzido de pesquisas sobre as ilustrações.
O presente trabalho investiga a representação da Arquitetura em livros didáticos
entre os anos 1950 e 1970. Este período, por convenção, corresponde à época de
transição entre o modernismo e o pós-modernismo, momento em que houve uma
retomada de valores nacionalistas no Brasil, com efeito nas Artes e Arquitetura.
Esses fatos levaram a concepção da hipótese de que o movimento cultural vigente
influenciou na produção de imagens de Arquitetura para os livros didáticos. Por este
viés foram analisadas ilustrações presentes em alguns destes livros, por meio de uma
investigação de modelo exploratório, qualitativa cuja amostra é do tipo não
probabilística por conveniência. A opção pelo recorte selecionado permite investigar
com melhor precisão os reflexos dessas mudanças culturais nos instrumentos de
ensino da época. Tendo em vista que “[...] a ilustração como signo deve ser entendida
também como um documento histórico que envolve diversas configurações visuais
(como cor, traço, composição, etc), técnicas utilizadas em cada época e o emprego de
elementos icônicos” (OLIVEIRA, 2008, p.126). Com respeito ao quadro teórico deste
estudo, foram abordados brevemente os contextos históricos da Ilustração e da
Arquitetura, a fim de identificar relações do repertório da época com o material
levantado. Considerando que são muitos os fatores que influenciam na leitura de uma
imagem, os parâmetros de análise estão pautados em uma abordagem
configuracionista. Por fim, pretende-se como possíveis desdobramentos incentivar
reflexões sobre o planejamento das imagens desse importante instrumento do ensino
no país. Visando fornecer subsídios para fomentar a conscientização sobre o emprego
adequado da linguagem gráfica pictórica em prol do desenvolvimento da cultura visual
dos usuários. Sendo este trabalho resultado de uma etapa inicial do desenvolvimento
de uma tese de Design, nele testaram-se, além de alguns aspectos da hipótese
proposta na tese, as ferramentas metodológicas a serem utilizadas na pesquisa.
2 O livro didático e a ilustração
Para a realização da presente pesquisa adotou-se como livro didático – LD – aquele
que é “usado de forma sistemática no ensino-aprendizagem de um determinado objeto
do conhecimento humano, geralmente já consolidado como disciplina escolar”
(LAJOLO, 1996, p.04). Em sua forma mais comum, contém textos informativos,
ilustrações e atividades. A qualidade e a distribuição do LD foram regulamentadas pelo
Governo Federal, por meio do Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) de
responsabilidade do Ministério da Educação (MEC) em meados de 1980.
Permanecendo como um instrumento de grande importância na educação do país até
o presente. Seu planejamento, assim como as investigações acerca desse tema, tem
caráter multidisciplinar, envolvendo questões educacionais, sociais e políticas. Com o
passar dos anos, o LD sofreu diversas transformações em relação ao seu conteúdo.
Tais modificações sempre ocorreram em sintonia com a própria história da sociedade
(FREITAG; COSTA; MOTTA, 1993), e essa evolução acompanhou as diferentes
práticas pedagógicas e políticas que se sucederam desde o seu surgimento.
Especificamente quanto às ilustrações, Belmiro (2000, p.17) revela que ainda no
fim da década de 1960: “eram desenhos monocromáticos que introduziam o texto da
unidade”. Somente com o avanço nas tecnologias gráficas foi que as ilustrações
passaram a receber maior enfoque. Todavia, ainda eram entendidas como um
adereço ao conteúdo textual, ou seja, desconsiderando que a imagem é uma
“informação que em geral significa a expansão de uma mensagem verbal” (DONDIS,
2007, p.205), e subutilizando as possibilidades que essa expansão oferece.
As duas funções mais freqüentemente atribuídas às ilustrações são as de explicar e ornar um texto. Imagens excessivamente ‘explicativas’, muito presentes em livros didáticos, nos casos dos livros de ficção literária, restringem seus papéis a uma redundância em relação ao texto (OLIVEIRA, 2008, p.113)
A concepção e o planejamento do projeto gráfico do LD, ao organizar e
documentar as informações, determina muito da cultura visual absorvida pelo leitor e
por consequência, como afirma Coutinho (2011, p.6) “a combinação
texto/imagem/esquema proporciona maior participação do aluno na aprendizagem, por
meio da análise dessa relação”. O reconhecimento do valor didático das imagens em
instrumentos de ensino ainda é pouco representativo. Se por um lado, durante o
desenvolvimento de projetos de LD, os designers se defrontam com a presença
excessiva da imagem visual no cotidiano dos usuários, por outro é necessário prestar
atenção ao mercado, que está sofrendo com a queda do número de leitores e cujo
principal agente de escolha passa a ser a escola (LINS, 2003). Assim, toda
possibilidade de ampliar o interesse deve ser explorada. Esse tipo de ação demanda
uma maior integração entre os profissionais envolvidos na produção e no uso do livro
didático. Considerando que o designer tem papel de mediador da comunicação entre o
conteúdo e o leitor, como esclarecem Teixeira e Brito (2010, p.12),
[...] a linguagem visual não é fator de maior ou menor importância a um ou outro campo de conhecimento. A ferramenta de trabalho do designer assume relevante e equilibrado papel em todas as disciplinas, pois, neste caso, seu trabalho não está relacionado ao adorno e nem só ao conteúdo, mas sim a todas as estruturas visuais de organização da informação, conduzindo o leitor para uma melhor compreensão.
Assim, em um LD, a análise do conteúdo informacional e dos aspectos gráficos
das ilustrações fornecem dados significativos para o estabelecimento de discussões e
diretrizes acerca dos futuros projetos gráficos ligados a esses recursos de ensino.
3 Breve contexto da Ilustração e da Arquitetura: décadas de 1950 a 1970
Neste estudo foram brevemente pontuados alguns fatos que se destacaram no
período, referentes aos dois temas centrais – Ilustração e Arquitetura, sem a intenção
de aprofundar-se nos conceitos, as referências aqui destacadas apenas permitiram
estabelecer alguns parâmetros para a classificação das representações nas
ilustrações.
As décadas de 1950 e 1960 caracterizam-se pelo período de transição social, o
qual, por convenção, é conhecido como “movimento cultural” pós-modernista. As
vanguardas deste intervalo questionavam e contrariavam a ideologia e a estética
modernista vigente. Mais emocionais e intuitivas, elas valorizam as expressões
populares em detrimento da rigidez racional e dos valores intrínsecos dos materiais. O
pós-modernismo foi marcado por uma revolução nos campos da Arte, do Design, da
Arquitetura e da Ilustração. O surgimento de novos estilos, tais como o Pop, o
Psicodelismo e o Op Art modificaram valores, influenciando projetos, desenhos e a
estética do período. Após a Segunda Guerra Mundial, houve um desenvolvimento
conceitual da Ilustração, as imagens não mais transmitiam a mera informação
narrativa, mas ideias e conceitos. “O ilustrador que simplesmente interpretava um
texto de um escritor deu lugar a um profissional preocupado com o projeto total do
espaço, que trata palavra e imagem de forma integrada e, sobretudo, cria suas
próprias afirmações” (MEGGS e PURVIS, 2009, p.547).
A cultura da informação da segunda metade do século XX, e a amplitude da
divulgação dos movimentos artísticos do período ofereciam novos estilos e técnicas.
Foi na década 1950 que se encerrou a “era de ouro” da Ilustração norte-americana,
pois os avanços tecnológicos de impressão, de suporte (papel, polímeros) e da
fotografia, permitiram aos fotógrafos rapidamente conquistarem os espaços antes
ocupados pelo ilustrador, oferecendo maior fidelidade de imagem. Otto Storch inovou
no projeto gráfico da revista McCall’s em 1958 (Figura 02), ao unificar a tipografia com
a fotografia, ciriando imagens com todo o conteúdo das páginas, “Storch figura entre
os maiores inovadores do período. Sua filosofia de que ideia, texto arte e tipografia
devem ser inseparáveis” (MEGGS e PURVIS, 2009, p.502).
Figura 02: projeto gráfico da McCall’s
Fonte: Meggs e Purvis, 2009 (adaptado)
No Brasil ocorre “um período de transição no qual havia de se criar as condições
sociais para que indústria firmasse posição como um importante setor da economia”
(NIEMEYER, 2007, p.59), permitindo a modernização do país na década de 1950. E
por consequência, “havia também a necessidade da afirmação de uma ‘unidade
nacional’ por meio da valorização de nossas fontes históricas, étnicas e culturais”
(Ibid., p.59). Para a Arquitetura brasileira o final da primeira metade do século XX,
representa uma mudança de ritmo marcada pelo desenvolvimento bruscamente
acelerado. De acordo com Bruand (2010, p.119) “Dentre as várias correntes [...] há
uma que é específica ao país [...] a tentativa de conciliação entre os princípios da
arquitetura ‘moderna’ e os da tradição local [da arquitetura colonial]”. Esse aspecto
marca a nova arquitetura brasileira, e contribuiu para realçar a originalidade dos
projetos nacionais ao propor “Uma arquitetura discretamente moderna, que não
rompesse totalmente com a tradição formal” (Ibid., p.125). A produção do período tem
como alguns de seus maiores representantes Lúcio Costa, Oscar Niemeyer e Affonso
Reidy, nomes estes responsáveis por marcantes projetos (Figura 03).
Figura 03: Em sentido horário - Projeto de Lucio Costa (Casa do Brasil, na Cité Internationale
Universitaire de Paris, França – 1952); Projeto de Niemeyer (Edifício Copan, SP – 1951) e Projeto de Reidy (Teatro Armando Gonzaga, RJ – 1950).
Fontes: Casadeluciocosta (20__); Edifício (2008); e Conduru (2005), respectivamente.
O espírito inventivo e liberdade de concepção demonstrado nos projetos
arquitetônicos contemporâneos no Brasil, logo atraíram o interesse mundial pela
ousadia das construções que rompem com o racionalismo da época. Em 1955, ficou
evidente o amadurecimento da arquitetura nacional.
3.1 A década de 1960
Assim como no caso do pós-modernismo, também por convenção, atribui-se o
surgimento da chamada “ilustração contemporânea” ao período entre as décadas de
1960 e 1970. Para muitos especialistas, os primeiros ilustradores realmente
contemporâneos provinham de uma nova geração de criadores de imagem: “Os anos
1960 experimentaram um crescimento sem precedentes do consumismo, quando os
baby-boomers do período pós-guerra encararam a vida com um otimismo e um
entusiasmo nunca vistos. [...] e com isso a necessidade de uma linguagem gráfica
visual que a identificasse” (ZEEGEN e CRUSH, 2006, p.13). As vanguardas que se
estabeleceram como referências estéticas foram os cartazes psicodélicos, o Art
Nouveau e a manipulação de imagens da cultura popular que vigoravam na Arte Pop.
No final dos anos 1960, as mudanças econômicas – causadas pelas crises do
petróleo e sociais – além da popularização da TV nos EUA, puseram fim à era das
grandes revistas de entretenimento. Com páginas e fotografias menores, as revistas
voltaram-se para os públicos especializados com formatos reduzidos e textos mais
longos, tendo ênfase no conteúdo escrito (MEGGS e PURVIS, 2009, p.503). Essas
mudanças no mercado editorial vão refletir na decisão pelo uso de imagens, não
somente em revistas, mas em projetos de livros e por consequência de livros
didáticos. No Brasil do período, de acordo com Bruand (2010, p. 295), “depois de
começar com uma inspiração orgânica, a obra de [João] Villanova Artigas continuou
por um período de integração dentro do movimento racionalista brasileiro, para
desembocar, enfim, num brutalismo muito pessoal”. O Brutalismo é uma denominação
adotada para abarcar as obras de jovens arquitetos que no país predominou em São
Paulo e derivou do Racionalismo, porém sem a ênfase na função social, teve a
simplicidade funcional e a nudez (estética de essência material), como características
comuns nos seus projetos. Além de Villanova Artigas, são também representantes do
Brutalismo Lina Bo Bardi e Paulo Mendes da Rocha. Exemplos de seus trabalhos
podem ser visualizados na Figura 04:
Figura 04: Projetos de Artigas (Rodoviária de Londrina PR – 1951); Lina Bo Bardi (Museu de Arte de São Paulo SP – 1957) e Mendes da Rocha (Clube Atlético Paulistão SP – 1958).
Fontes: Casa (20__); São Paulo (2004) e Designboom (2007) respectivamente.
3.2 A década de 1970
De acordo com Meggs e Purvis (2009, p.601), à medida que o ativismo social do final
da década de 1960 dava lugar a um envolvimento autocentrado e pessoal durante os
anos 1970 – o movimento cultural denominado como “me generation” – os designers
pós-modernos desenvolviam seus projetos empiricamente, ao “sentirem” como deveria
ser, sem a preocupação racional com a necessidade de comunicação estabelecida no
modernismo, “Design, hoje, não é somente resolver necessidades funcionais, mas
criar alegria, excitação e expectativa” (PIPES, 2009, p.40). Entretanto, em maio de
1974, o governo dos EUA iniciou o “Federal Design Improvement Program” (Programa
Federal de Melhoria do Design) no qual todos os “aspectos do design federal como
arquitetura, planejamentos de espaços interiores, paisagismo e design gráfico, foram
melhorados pelo programa” (MEGGS e PURVIS, 2009, p.536), uma ação que
reconheceu a importância do Design pós-moderno como área de Comunicação.
Esse viés técnico-científico trouxe novamente a preocupação com as etapas de
desenvolvimento do projeto, causando por consequência uma revalorização do
desenho esquemático e da ilustração: “Ao assunto desenho foi dada pouca atenção
durante o século XX, sendo seu papel relegado a algo necessário, mas relativamente
pouco importante no processo de projeto” (PIPES, 2009, p.39). Já com o Pós-
modernismo, desenhos esquemáticos de designers e arquitetos desse período
tornaram-se valorizados e reconhecidos. Os principais reflexos das mudanças
culturais da década de 1970 no Brasil se manifestaram por meio do movimento
artístico conhecido como Tropicália, “O qual buscou no chamado desbunde uma forma
de libertação do clima opressivo que regia as relações sociais nos anos de chumbo da
ditadura militar” (CARDOSO, 2004, p. 179). O designer gráfico Rogério Duarte é um
dos maiores representantes da época (Figura 5).
Figura 5: Poster do filme “Deus e o Diabo na terra do sol” projeto de Duarte (1964)
Fonte: Medeiros (2009)
4 Materiais e métodos
Foram selecionados 15 exemplares de livros didáticos de diversas disciplinas do
período entre os anos 1950 e 1970. Como critérios avaliados, verificou-se em todos os
livros o total de ilustrações relacionadas à Arquitetura e excluíram-se as
representações que não forneciam dados suficientes para análise, como a
representação de somente janelas ou interiores em recortes. Dentre os livros
selecionados observaram-se os seguintes aspectos: o ano de publicação, a disciplina
correspondente, o nível escolar atribuído e o número de páginas. Das ilustrações
selecionadas observou-se: a técnica utilizada, o tema representado e o estilo
arquitetônico. Na ausência de qualquer um dos dados classificou-se como não
identificado (NI). Como as teorias por trás das análises de percepção de imagens são
complexas, possuindo diversas técnicas, é necessário esclarecer que para esse
estudo a teoria adotada como referência foi a Gestalt, que rege sobre a organização
perceptiva, ou seja, uma análise com abordagem configuracionista da imagem.
Os procedimentos de análise envolveram a consulta integral de todos os 15 livros
selecionados, digitalizando-se todas as imagens de Arquiteturas encontradas. Em
seguida realizou-se uma classificação individual das ilustrações de Arquitetura dos
respectivos livros. Os dados foram organizados em uma planilha do Microsoft Office
Excel® 2007 e a análise baseou-se em estatística descritiva, com o agrupamento dos
dados segundo critérios definidos anteriormente.
5 Resultados
Foram encontradas 121 ilustrações ligadas à Arquitetura de diferentes tipos, sendo
desenhos e fotografias, os quais em sua maioria complementavam os textos. A seguir
são apresentados alguns exemplos dos procedimentos adotados para se obter os
dados aqui relatados. Nas imagens a seguir é possível observar as influências
estéticas nas representações (figuras 6 e 7).
Figura 6: Exemplo de análise 1
Fonte: Guedes (2003) e Hildebrand (1958).
Figura 7: Exemplo de análise 2
Fonte: Sant'ana Junior (2001) e Parisi (1979).
Na figura 6, à esquerda, a Casa Olivio Gomes projeto do arquiteto Rino Levi de
1949 e sua estética modernista – simplicidade formal, geometricidade e valorização
visual dos materiais – que também pode ser observada na ilustração ao lado,
encontrada no livro didático de 1958. Em outro exemplo (Figura 7), à esquerda, o
edifício do banco Sulamericano (Atual Itaú) projetado por Rino Levi em 1962 e logo ao
lado uma representação estereotipada de cidade, na qual os edifícios são prismáticos,
de um LD de 1979. Tais análises expostas foram aplicadas em as todas as imagens
de Arquitetura encontradas nos LDs selecionados. A tabela 01 expõe o resultado total
dessa investigação, organizada pelos parâmetros avaliados.
Tabela 01: Resultado total a partir dos dados obtidos
Ano Disciplina Nível Páginas Nº Técnicas Temas Representações
1956 Língua
Portuguesa 1ª série 144 05 Desenho
Paisagem Urbana, Casa
3 Pré-moderno 1Colonial
1 Moderno
1957 Geografia 3º ano colegial
254 17 Fotografia Paisagem Urbana,
Casa
3 Moderno 12 Colonial
2 Vernacular
1957 Geografia
Física 1º ano colegial
396 02 Fotografia Edifício, Paisagem
Urbana 1 Moderno
1 Pré-moderno
1958 Língua
Portuguesa 2ª série 160 03 Desenho
Paisagem Urbana, Casa
3 Moderno
1961 Ciências Naturais
3ª série ginasial
261 02 Fotografia, Desenho
Indústria, Casa 1 Moderno,
1 Estereótipo
1961 Língua
Portuguesa 3ª série 144 02 Desenho
Paisagem Urbana, Casa
1 Estereótipo 1 Pré-moderno
1965 História do
Brasil 1ª, 2ª série
curso médio 340 15
Desenho, Fotografia
Paisagem Urbana, Casa
12 Colonial 2 Moderno
1 Estereótipo
1967 História do
Brasil NI 237 21 Desenho
Casa, Interior,
Paisagem Urbana
1 Pré-moderno 5 Pré-colonial 15 Colonial
1974 Geografia 6ª série 126 24 Fotografia, Desenho
Paisagem Urbana, Casa
16 Moderno 2 Pré-moderno 1 Vernacular 5 Estereótipo
1976 Língua
Portuguesa 6ª série 206 05 Desenho
Paisagem Urbana, Casa
5 Estereótipo
1976 Língua
Portuguesa 1º grau 96 12 Desenho
Paisagem Urbana, Casa
12 Estereótipo
1977 Língua
Portuguesa 5ª série 253 10 Desenho
Paisagem Urbana, Casa
10 Estereótipo
1977 Moral e Civismo
4ª série 80 26 Fotografia, Desenho
Paisagem Urbana, Casa
12 Estereótipo 8 Moderno
4 Vernacular
2 Colonial
1979 Moral e Civismo
1º grau 224 10 Desenho, Fotografia
Paisagem Urbana, Casa
6 Moderno 3 Colonial
1 Vernacular
1979 Estudos Sociais
2ª série 64 33 Desenho Paisagem Urbana, Casa, Amb. interior
26 Estereótipo 4 Moderno 1 Colonial
2 Pós-moderno
De todas as 187 ilustrações encontradas, 45 representavam a arquitetura do estilo
Moderno (presente em 10 do total de 15 LDs da amostra); 02 o Pós-moderno (em 01
dos LDs); 08 o Pré-moderno (em 05 dos LDs); 46 o Colonial (em 07 dos LDs); 05 o
Pré-colonial (em 01 LD); 08 o Vernacular (em 04 dos LDs); e 73 são representações
estereotipadas (em 09 dos 15 LDs). Ou seja, quando analisados os dados referentes
às representações do Moderno, presentes em 20% da amostra, em comparação a
39% de estereótipos, vislumbra-se uma oportunidade de maior exploração do
conteúdo imagético atualizado, com objetivo de aprimorar o repertório visual dos
usuários.
6 Considerações finais
É importante esclarecer que essa pesquisa não teve a intenção de comparar técnicas
ou estabelecer juízos de valores em relação às diferentes qualidades e técnicas das
ilustrações aqui citadas. Os dados encontrados permitiram visualizar um panorama
sobre a fidelidade de representação das imagens utilizadas nos livros didáticos
relativos ao seu período de produção. Contudo, ressalta-se que essas considerações
não devem ser projetadas a todo o universo do recorte.
O resultado apresentou muitas imagens de estereótipos da Arquitetura modernista
norte-americana e européia corporativa e institucional, sem nem contemplar algumas
correntes importantes como o Brutalismo de São Paulo. E mesmo quanto aos
elementos estéticos característicos, não se encontrou exemplos, como no caso de
cobogó, brises, entres outros recorrentes na Arquitetura moderna brasileira. Uma
conclusão comum à bibliografia consultada é o entendimento de que seria necessária
uma preparação prévia acerca dos conteúdos de linguagem visual para que o leitor se
familiarizasse com o vocabulário gráfico, criando uma postura crítica em relação às
imagens. No entanto, como esse nível de decisão no processo educacional não cabe
somente ao designer, uma possível oportunidade de ação seria o planejamento do uso
de imagens visando o aumento do repertório visual do leitor, em substituição às
ilustrações pueris e estereotipadas, vazias de estímulos à reflexão. Considerado que o
designer tem competência para compreender as demandas do mercado editorial e dos
usuários (autores, professores e alunos), pode ajustar os projetos para utilização
consciente e fundamentada de imagens nesses instrumentos da educação no país.
Um desdobramento futuro dessa investigação exploratória seria a aplicação da mesma
análise nos livros didáticos atuais, para discutir as mudanças e evoluções percebidas,
quando comparados aos resultados do estudo aqui apresentado.
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