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TEMPO DE REPRESENTAÇÃO E PROCESSO DE APRENDIZADO EM ARQUITETURA Marcos Sardá Vieira UFFS, Universidade Federal da Fronteira Sul Curso de Arquitetura e urbanismo [email protected] Resumo Da experiência em acompanhar conteúdos de meios de representação em cursos de arquitetura e urbanismo, percebe-se que, em geral, as aulas necessitam ser de longa duração para a prática de exercícios em sala de aula, formalizando o aprendizado do desenho a mão livre e associando as ferramentas com as técnicas de representação. Muitos estudantes apresentam dificuldade em lidar com as incertezas do processo criativo quando procuram expressar suas ideias através do desenho e da representação gráfica. Partindo desta compreensão, este artigo procura apresentar a experiência de ensino com o desenho rápido, feito à mão livre, durante as aulas presenciais de Oficina de Desenho II, ministradas no Curso de Arquitetura e Urbanismo da UFFS, em 2012. Considerando a importância do desenho no processo criativo e não apenas como resultado expositivo, foram aplicados exercícios que fazem o controle do tempo para a execução das tarefas, relativas aos conteúdos de perspectiva e aplicação de texturas e cores. Com a delimitação do tempo e a aplicação de novas práticas de desenho na execução dos diferentes exercícios de representação, acredita-se ter estimulado os pensamentos convergente e divergente dos estudantes, no uso responsável das habilidades e do conhecimento adquirido. Palavras-chave: Meios de Representação - Desenho Rápido - Ensino de Arquitetura. Abstract From the experience in teaching content of representation in courses of architecture and urbanism, realizes that, in general, the lessons need to be long term for the practice exercises in the classroom, formalizing learning freehand and associating tools with representation techniques. Many students have difficulty in dealing with the uncertainties of the creative process attempting to express their ideas through drawing and graphing. Based on this understanding, this article presents a teaching experiment with quick sketch, done freehand, during classroom Workshop Design II,

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TEMPO DE REPRESENTAÇÃO E PROCESSO DE

APRENDIZADO EM ARQUITETURA

Marcos Sardá Vieira UFFS, Universidade Federal da Fronteira Sul

Curso de Arquitetura e urbanismo [email protected]

Resumo

Da experiência em acompanhar conteúdos de meios de representação em cursos de arquitetura e urbanismo, percebe-se que, em geral, as aulas necessitam ser de longa duração para a prática de exercícios em sala de aula, formalizando o aprendizado do desenho a mão livre e associando as ferramentas com as técnicas de representação. Muitos estudantes apresentam dificuldade em lidar com as incertezas do processo criativo quando procuram expressar suas ideias através do desenho e da representação gráfica. Partindo desta compreensão, este artigo procura apresentar a experiência de ensino com o desenho rápido, feito à mão livre, durante as aulas presenciais de Oficina de Desenho II, ministradas no Curso de Arquitetura e Urbanismo da UFFS, em 2012. Considerando a importância do desenho no processo criativo e não apenas como resultado expositivo, foram aplicados exercícios que fazem o controle do tempo para a execução das tarefas, relativas aos conteúdos de perspectiva e aplicação de texturas e cores. Com a delimitação do tempo e a aplicação de novas práticas de desenho na execução dos diferentes exercícios de representação, acredita-se ter estimulado os pensamentos convergente e divergente dos estudantes, no uso responsável das habilidades e do conhecimento adquirido. Palavras-chave: Meios de Representação - Desenho Rápido - Ensino de

Arquitetura.

Abstract

From the experience in teaching content of representation in courses of architecture and urbanism, realizes that, in general, the lessons need to be long term for the practice exercises in the classroom, formalizing learning freehand and associating tools with representation techniques. Many students have difficulty in dealing with the uncertainties of the creative process attempting to express their ideas through drawing and graphing. Based on this understanding, this article presents a teaching experiment with quick sketch, done freehand, during classroom Workshop Design II,

taught in the Course of Architecture and Urbanism of UFFS in 2012. Considering the importance of drawing in the creative process and not just as a result expository exercises were applied to make the time control for the execution of tasks relating to the contents of perspective and applying textures and colors. With the division of time and the application of new design practices in the implementation of the various exercises of representation, it is believed to have stimulated the convergent and divergent thinking of students in the responsible use of the skills and knowledge acquired. Keywords: Means of Representation - Quick Drawing - Architectural

Education.

1 Introdução

Como fundamento da linguagem visual em arquitetura e urbanismo, o desenho é o

principal meio de comunicação, que torna compreensível a integração das etapas,

desde a concepção do projeto arquitetônico até a construção do edifício.

No ensino de graduação em arquitetura, muitos são os meios de apreensão e

fixação das informações, entre aulas práticas e teóricas. Nas aulas de desenho e

representação o desenvolvimento de exercícios e atividades práticas são planejadas

com previsão de longos períodos e pouca concentração efetiva sobre o desenho,

devido a distrações eventuais e falta de elaboração mental das sensações (GOMES,

2001).

Os croquis de concepção são os artefatos mais próximos do pensamento. Mesmo

assim, existe desinteresse do estudante e descrédito pela ambiguidade e imprecisão

do croqui para gerar novas ideias a partir do desenho, utilizando-o, quase

exclusivamente, para apresentar o resultado final do projeto (FLORIO, 2010).

Diante deste cenário, voltado para o ensino de projeto e a representação de

croquis em perspectivas, este artigo apresenta a experiência na aplicação de

exercícios com o tempo mais rápido para a sua execução. Criando diferentes

situações que exploram os perfis de aprendizado dos estudantes, esta experiência traz

a possibilidade de tornar a prática do desenho mais objetiva no alcance de resultados

experimentais, rompendo com os receios e expectativas de que o primeiro rabisco irá

se transformar no resultado final.

Este trabalho é uma proposta de investigação qualitativa, com base na experiência

docente e no trabalho colaborativo dos estudantes durante as aulas da disciplina de

Oficina de Desenho II, no Curso de Arquitetura e Urbanismo da UFFS. O objetivo é

relatar a experiência de exercícios de desenho rápido, como meio para o estudante

apresentar seus conhecimentos, aumentar sua concentração e reduzir sua expectativa

com o resultado gráfico. Ao mesmo tempo, que reforçam-se a conscientização das

diversas qualidades de representação requeridas para a habilitação em arquitetura.

2 Desenhar Requer Prática

Nas aulas de desenho e expressão gráfica os estudantes costumam encarar a

representação através de imagens como se fosse algo corriqueiro e familiar, ou

mesmo, como se o lápis e a caneta fossem desempenhar metade da habilidade

requerida para que alguns traços possam identificar uma perspectiva com dois pontos

de fuga, ou para definir profundidade na diferença de traço e tonalidade. Mas, quando

se deparam com as ferramentas e com o papel vazio, percebem que desenhar requer

uma atenção sobre os próprios pensamentos e uma habilidade manual sintonizada

com a mente (LOCKARD, 2001).

Desenhar não é uma habilidade advinda apenas do talento inato do artista. Pode

ser uma habilidade adquirida através do exercício prático e do conhecimento de

técnicas de representação. Porém, até que ponto os estudantes da atualidade, em

fase inicial do curso de arquitetura, estão dispostos a se aprofundar em habilidades

manuais, na imprecisão do primeiro traço ou na improbabilidade de se salvar uma

cópia do original?

A chamada geração Y, dos sujeitos nascidos com o surgimento da internet na

década de 1980, e a geração Z, nascidos após a década de 1990, trazem

características de inquietude e maior individualidade na maneira de se conectar com

as informações. O que antes era um recurso compartilhado, como a televisão e o

computador, hoje tornam-se dispositivos e equipamentos portáteis, de uso individual e

ininterrupto. Nesse sentido, a interação com as ferramentas digitais é automática na

associação com os instrumentos de trabalho (SERRANO, 2010).

Com acesso a programas básicos que auxiliam o desenho e a pintura através do

computador, como o Paint da Microsoft, SketchUp do Google e o aplicativo Brushes no

formato IOS da Apple, além das mesas digitalizadoras, para citar alguns exemplos

entre tantas possibilidades, os estudantes tendem a buscar a informática como

suporte para desenvolver ilustrações, fotografias e esboços a cores, de maneira que

possam superar a velocidade entre o primeiro rabisco e a arte final. Porém, esta

rapidez alcançada com o auxílio do computador, seja na expressão gráfica ou na

representação do desenho técnico, condiciona a metodologia de trabalho em valorizar

mais o resultado do que o processo de trabalho, de maneira que a ansiedade para

visualizar o produto final do projeto é mais forte que o sentido de utilizar as etapas de

desenvolvimento do desenho para verificar a veracidade da ideia (FLORIO, 2010).

Na maneira como organizam o pensamento e colocam em prática suas ideias, as

gerações atuais de estudantes, entre 18 e 28 anos, de maneira geral, costumam estar

mais interessadas pelo mundo virtual, como fonte de consulta das informações e na

maneira como estabelecem suas interações sociais.

Na pesquisa sobre o estilo de aprendizagem dos universitários brasileiros,

Cerqueira (2000) aponta para o predomínio do estilo assimilador entre todas as áreas

de estudo avaliadas. Segunda a autora, que baseia seus estudos na teoria de David

Kolb, o assimilador é o perfil do estudante “que se destaca para aprender uma ampla

gama de informações e dar-lhe uma forma concisa e lógica” (CERQUEIRA, 2000,

p.109). Este perfil tem mais interesse pelas ideias abstratas e conceituais, do que pela

relação com outras pessoas, predominando o interesse pelas teorias que tenham um

sentido lógico, mais que um sentido prático. Outros três perfis1 são apresentados

nesta pesquisa e complementam-se entre as características de cognição, definindo

habilidades e interesses para diferentes processo de aprendizagem. Na pesquisa

(CERQUEIRA, 2000) ainda são apresentadas as quatro etapas de aprendizagem: (a)

Experiência concreta, onde a aprendizagem é um resultado dos sentimentos a partir

das relações com outras pessoas e com o ambiente; (b) Observação reflexiva, quando

o destaque do aprendizado é por meio da observação e da audição; (c) Conceituação

abstrata, onde a aprendizagem é por meio do raciocínio; (d) Experimentação ativa,

quando a aprendizagem é por meio da ação. Para o aprendizado de desenho,

enquanto disciplina de caráter prático e teórico no Curso de Arquitetura, destacamos o

predomínio da conceituação abstrata e da experimentação ativa devido a relação

que podemos estabelecer sobre (c) o desenvolvimento de teorias e ideias para

resolver problemas e (d) o enfoque prático e o interesse pelo funcionamento das

coisas.

Durante o aprendizado e as barreiras psicológicas enfrentadas, é importante dar

oportunidades para que o enfrentamento seja uma condição da disciplina e menos

uma escolha inconsciente do estudante. De acordo com o psicólogo Robert Zajonc

(MORELAND, 2010), quando as pessoas deparam-se com algo novo tendem a reagir

com medo e desconfiança. Mas a exposição repetida em determinada situação leva a

uma redução das reações negativas, onde o fato deixa de ser visto como uma suposta

ameaça. Na relação do estudante com um novo assunto, podemos considerar uma

1 Segundo Cerqueira (2000), os quatro perfis de aprendizagem são: (1) Convergente - destaca-

se para encontrar o uso prático das ideias e teorias. Profissionais de carreiras técnicas e de especialização; (2) Divergente - destacam-se para observar situações concretas com diferentes pontos de vista. Profissionais das áreas de artes, espetáculos e serviços; (3) Acomodador - destacam-se pela capacidade de aprender com a experiência prática. Profissionais que tendem a ação; (4) Assimilador - destacam-se para entender uma ampla gama de informações. Profissionais de carreira científica e de informação.

reação similar. Quando o estudante depara-se com um assunto novo e que requer a

superação através da prática e do aprendizado, surge um embate devido à falta de

habilidade para lidar com determinada atividade, mais pela forma do que pelo

conteúdo. Para muitos estudantes que iniciam o curso de Arquitetura, a habilidade

com o desenho é uma das barreiras no seu processo criativo até que a exposição

sobre este assunto e no desenvolvimento desta habilidade tornam-se familiar,

trazendo a possibilidade de uma associação positiva com a prática do desenho. De

acordo com Zajonc, antes de utilizarmos os processos racionais e cognitivos para a

tomada de decisão, a deliberação entre aceitar determinada informação é baseada

pela familiaridade e pela emoção. Nosso raciocínio lógico serve apenas para justificar

e conferir razão a decisões já tomadas, em vez de prover informações a partir das

quais fazemos as escolhas (MORELAND, 2010).

Em pesquisas de psicologia e educação, vários são os autores que estudam

temas relacionados ao desenvolvimento, criatividade e cognição, na maneira como o

conhecimento é adquirido. Para a resolução criativa dos problemas podemos explorar

diversos caminhos simultâneos de possibilidades através da imaginação. Este tipo de

inteligência está associado ao pensamento divergente: aquele que explora direções

diferentes e produz soluções múltiplas para o problema. Já o pensamento convergente

trabalha a capacidade em promover uma resposta correta.

Neste entendimento, podemos considerar o aprendizado baseado em respostas

corretas, produzindo medidas quantitativas da inteligência. Na psicologia do

desenvolvimento, defendida por Jean Piaget, o processo de aprendizado é pessoal e

ativo, decorrentes de um desejo natural de sentir, explorar, mexer e dominar os

elementos presentes na nossa relação com objetos e sujeitos. Já na abordagem do

construtivismo social, apresentada por Lev Vygotsky, as habilidades para raciocinar,

compreender e memorizar estão associadas com as interações sociais, no

desenvolvimento humano a partir dos níveis: cultural, interpessoal e individual. Para

Vygotsky, a experiência interpessoal na relação com outros sujeitos colabora para a

formação da identidade e manipulação das ferramentas apreendidas culturalmente

(SILVA, 2008).

Relacionando a influência dos estudos de Piaget e de Vygotsky no

desenvolvimento do aprendizado humano, Jerome Bruner acreditava que o

aprendizado é um processo que se dá pela experiência compartilhada socialmente.

Para o psicólogo o aprendizado não pode ocorrer sem algum tipo de instrução e

orientação, onde o estudante aprende a participar do processo, adquirindo

conhecimento em um processo participativo. Portanto, a aquisição do conhecimento é

vista como um processo e não como um produto ou resultado final (CORREIA, 2003).

Os conteúdos que contemplam a habilitação para o desenho de perspectiva em

arquitetura e urbanismo perpassam a compreensão do espaço tridimensional e da

teoria de Gaspar Monge, para que o alinhamento correto entre as linhas do desenho

possam identificar a projeção da perspectiva em uma superfície de representação

bidimensional. Mas, quanto tempo o estudante precisa para fixar estes conteúdos

através dos exercícios práticos?

A partir da experiência com a aplicação de exercícios rápidos, após o

embasamento teórico dos conteúdos de perspectiva, observamos uma resposta

automática e propositiva do estudante diante do desafio prático apresentado nas

aulas, sem chance para distrações.

3 Exercícios de Desenho Rápido

“Quem consegue produzir um grande número de ideias em um tempo limitado tem mais chances de ter ideias significativas.” - J. P. Guilford.

A experiência na aplicação de exercícios rápidos aconteceu durante as aulas

ministradas na disciplina de Oficina de Desenho II, do Curso de Arquitetura e

Urbanismo da UFFS, no Campus Erechim/RS. A disciplina foi ofertada nos semestres

letivos de 2012. No primeiro semestre para a turma da 3ª fase e no segundo semestre

para a turma da 2ª fase do Curso. Ambas as turmas haviam cursado disciplinas

fundamentais previamente, para os conteúdos de desenho técnico e perspectiva,

apesar da fixação e apreensão sobre estes conhecimentos terem sido de maneiras

distintas.

O conteúdo definido para Oficina de Desenho II procurou dar continuidade para o

ensino dos sistemas projetivos e sobre perspectivas, axonométrica e cônica. Desde o

início da programação desta disciplina procurou-se estimular a habilidade no uso do

desenho para colaborar no desenvolvimento do projeto e não apenas como suporte

para representar o resultado da proposta.

Durante e após as atividades, entre aulas expositivas e práticas, foram aplicadas

dois exercícios rápidos para desenvolver o aprendizado divergente e convergente

simultaneamente. Estas duas atividades são: (a) exercício de observação para

representar perspectivas cônicas a partir de fotografias projetadas e expostas em sala

de aula em período razoavelmente curto para dar conta das quatro projeções; (b)

aplicação de prova contendo enunciados indicando a perspectiva (cônica ou

axonométrica) a ser desenhada, em tempo cronometrado para cada questão.

O exercício a partir das fotografias projetadas (a) traz a situação peculiar em

desenvolver a habilidade do desenho de perspectiva, similar ao desenho de

observação em locais abertos. Porém, o fato da imagem estar projetada na tela

permite maior domínio sobre as condições do ambiente dentro do ateliê (sensações

térmicas, acústicas e lumínicas) e dos objetos de apoio disponíveis (prancheta,

cadeira e instrumentos de desenho) para garantir suporte durante o desenvolvimento

do exercício. Nesta experiência, o período deste exercício de observação (com as

quatro imagens) durou em torno de três aulas seguidas, equivalente a 2,5 horas.

A aplicação do exercício surgiu de uma ideia simples, desde que a escolha das

imagens possam contemplar diferentes condições para a perspectiva cônica

(realística), explorando um e dois pontos de fuga, na relação dos traços da figura com

as linhas verticais, horizontais e diagonais, assim como, com as formas regulares e

irregulares dos objetos. Entre as imagens escolhidas a partir destes aspectos, também

foram trabalhadas diferentes relações para a linha do horizonte e na inserção de

elementos com diferentes planos de representação (mais profundos e mais próximos).

Outro aspecto importante para a escolha das imagens é no acréscimo de diferentes

texturas de representação sobre as superfícies. No caso desta experiência para o

exercício com estudantes de arquitetura, o destaque foi para a representação de

objetos arquitetônicos, parciais ou integrais no enquadramento fotográfico.

Figura 1A2 Figura 1B

3 Figura 1C

4 Figura 1D

5

Fotografias projetadas para o Exercício de Observação. Acervo do autor, 2008.

No transcorrer da atividade os estudantes receberam orientação do professor para

identificar a linha do horizonte, o(s) ponto(s) de fuga, a proporção do objeto e dos

detalhes da figura, assim como, foram instruídos para diagramar o desenho no melhor

aproveitamento da folha sulfite tamanho A4.

2 Torre Reália (Torres Gêmeas Kyo) dos arquitetos Phillip Johnson e John Burgee, em Madrid. 3 Museu Reina Sofia em prédio remodelado pelo arquiteto Jean Nouvel, em Madrid.

4 Castelo de Montjuic, construído no século XVII, em Barcelona.

5 Parque Güell, projeto de Antoní Gaudí, inaugurado em 1914, em Barcelona.

Outra peculiaridade para este exercício, além do tempo restrito para a apreensão

da imagem, foi no incentivo e uso esporádico de caneta nanquim ou esferográfica,

para desenvolver o esboço e finalizar os traços e texturas principais da imagem.

Na atividade de aplicação da prova de desenho em perspectiva (b), o tempo

cronometrado foi o aspecto mais importante para explorar a habilidade do estudante

sobre as técnicas de representação em perspectiva, demonstrando capacidade de

interpretação do enunciado e domínio do desenho, de maneira a dar conta do tempo

disponível para cada questão.

Cada enunciado da prova apresentou um tempo diferente para a sua resolução,

de acordo com o grau de dificuldade requerido. Simultaneamente, os estudantes

resolveram um enunciado por vez. Ao final do tempo cronometrado, todos os

enunciados foram recolhidos, mesmo que o estudante não tivesse terminado o

exercício, passando para o próximo enunciado. Quando o estudante finalizava o

exercício antes do tempo máximo, era necessário aguardar até o final da etapa para

iniciar o próximo enunciado sempre em conjunto com a turma.

Dado as informações abaixo, representar uma perspectiva cônica do objeto arquitetônico.

Representar Perspectiva com a altura do Observador no meio da edificação e a partir do sentido de visão indicado no desenho;

Além dos traços do desenho, representar textura nas superfícies do objeto edificado.

Tempo:

35 minutos

Figura 2 - Exemplo do enunciado apresentado na prova de desenho de perspectiva. Acervo do autor, 2012.

Em média, cada enunciado apresenta duas representações de apoio,

bidimensional ou tridimensional, e informações complementares que permitam ao

estudante compreender o sentido de visão e as informações do desenho requerido

para a perspectiva. Os desenhos do enunciado são apresentados como indicativo do

grau de detalhamento requerido para a resposta do estudante, que escolhe entre

utilizar instrumentos de desenho (esquadros e régua paralela) ou desenhar

manualmente.

O fato desta atividade ser caracterizada como prova define responsabilidade para

o estudante diante dos exercícios que são apresentados, o que ocasiona maior

concentração sobre esta atividade. Antes da prova, os estudantes tem a oportunidade

de estudar o conteúdo, conscientes que não poderão fazer consultas e dividir dúvidas

com os colegas. Inclusive, em aula anterior a prova foi apresentado exercício similar

na resolução das perspectivas a partir do enunciado e requerido como parte da

avaliação dos trabalhos em sala de aula. Durante a prova a concentração é maior para

alcançar o resultado dos enunciados dentro do tempo disponível. E depois da

avaliação, na apresentação dos resultados, os estudantes têm a oportunidade de

compreender as dificuldades e vislumbrar os acertos na resolução do desenho.

Figura 3 - Representações e informações para a consulta de referência para a resposta.

Acervo do autor, 2012.

A ideia de aplicação da prova, a partir de resoluções práticas do desenho, surgiu

de uma experiência anterior em aplicar questões objetivas a partir de desenhos e

imagens, como referência sobre os enunciados que estariam corretos, identificados

pela compreensão dos conteúdos de desenho em perspectiva, projeções de sombras

e representação da textura dos materiais em corte e vista (madeira, concreto, etc.).

Em geral, as atividades desenvolvidas na disciplina de Oficina de Desenho II

procuraram reforçados os conhecimentos sobre o desenho técnico arquitetônico,

representando diferentes níveis na implantação (planta baixa do edifício mais as áreas

externas) e a profundidade do corte completo do terreno (com patamares e escadas).

Nesta mesma relação do edifício com as áreas livres do terreno, os estudantes

desenharam perspectivas axonométricas e aplicaram diferentes possibilidades para

cores e texturas sobre duas perspectivas isométricas em ângulos opostos da mesma

Planta de Cobertura

Sentido de Visão da Perspectiva

Perspectiva de Referência

proposta6, utilizando papel manteiga e sulfite de tamanhos A4 e A3. Entre os

instrumentos de representação utilizados nesta disciplina, o destaque é para o lápis e

a lapiseira, no desenvolvimento dos desenhos, e canetas nanquim (com pelo menos

duas espessuras) para finalizações e composição com as cores. Lápis de cor, canetas

hidrocor e pastéis (secos e oleosos) foram amplamente explorados durante as aulas,

principalmente, ao longo do segundo semestre.

4 Avaliação dos Resultados

Na aplicação do exercício de observação, algumas dificuldades foram comuns

entre os estudantes. Logo nos primeiros rabiscos, tiveram dificuldade em encontrar a

proporção do objeto no desenho, na relação entre altura e largura da figura, desafio

similar quando estão desenhando por observação em um espaço físico real. Na

inserção da proporção adequada com o melhor aproveitamento da folha A4 e A3,

muitos estudantes fizeram o primeiro desenho muito pequeno, para dar conta dos

detalhes identificados nas fotografias. Em outros casos, percebeu-se a necessidade

de incluir os pontos de fuga dentro do espaço da folha, ocasionando a construção do

desenho mais distorcido. Mesmo tratando-se de um exercício com o tempo reduzido

para o estudante debruçar-se sobre os detalhes da fotografia, foi interessante

perceber a apreensão do estudante na construção fundamental do desenho de

observação. Foram apresentadas noções simples para a formação do desenho rápido

da perspectiva (na localização da linha do horizonte e dos pontos de fuga). E houve

estímulo para novas tentativas em rabiscar a unidade geral de representação da

imagem de referência, após orientação sobre as primeiras dificuldades.

Figura 4 - Desenhos dos estudantes a partir da observação das fotografias.

Houve, ainda, a possibilidade dos desenhos de observação serem refeitos em

casa, para completar o conjunto de exercícios da disciplina a serem entregues para a

6 Esta proposta arquitetônica foi entregue parcialmente pronta, dando ênfase para a prática da

representação a mão livre, utilizando par de esquadros, régua paralela e escalímetro.

avaliação do semestre. Esta repetição do exercício, após as atividades no ateliê,

permitiu a fixação do conteúdo e o aperfeiçoamento da prática do desenho,

completando informações que não puderam ser incluídas com mais detalhes e tempo

de dedicação.

A experiência com a prova de desenho surtiu em efeito rápido e cumulativo no

desempenho dos estudantes. Por ter sido aplicada após a apresentação e prática do

conteúdo de perspectiva cônica e axonométrica, explorando o aprendizado divergente,

a conceituação abstrata e a experimentação ativa durante as aulas, tornou-se um

recurso bem definido para convergir os conhecimentos e habilidades adquiridas. A

organização deste exercício, estipulando critérios de conduta e de concentração,

permitiu a participação plena do estudante frente as dificuldades e limites na sua

relação com o conteúdo de desenho.

Na aplicação da prova com as duas turmas, percebeu-se que as dificuldades com

o conteúdo, na interpretação dos resultados requeridos pela prova, foi menor com a

segunda experiência, onde foi previsto um exercício similar durante a aula que

antecedeu a prova, ocasionando maior tranquilidade para enfrentar o desafio e dar

conta da representação, dentro do tempo de cada enunciado. Para que a aplicação da

prova tenha bom resultado disciplinar, evitando conversa e repasse de informações

entre os estudantes, é fundamental que haja mais de um professor participando desta

avaliação. O espaço físico do ateliê precisa ser amplo, evitando proximidade entre os

estudantes, uma vez que a apreensão visual das respostas do colega, que desenha

ao lado, é imediata. Ainda que pudessem rabiscar a representação da resposta dentro

do tempo disponível, os resultados finais apresentados na prova demonstram

dificuldades na qualidade dos traços do desenho e na relação proporcional das

distancias entre os elementos que precisam ser representados, o que requer treino

constante.

Figura 5 - Resultados do exercício da prova de desenho de perspectiva.

Fugindo desta convenção temporal, que prevê longo período para os exercícios

práticos de desenho, as atividades do exercício de observação fotográfica e a prova

de perspectiva, repercutiram no maior aproveitamento do tempo dedicado pelos

estudantes sobre o desenho. Os assessoramentos e orientações em sala de aula

foram fundamentais para que os estudantes percebessem, simultaneamente, suas

dificuldade com a prática do desenho. Isso possibilitou revisar possíveis soluções a

partir da construção, organização e procedimentos com base no repertório de

desenhos da turma e orientação dos professores, durante o acompanhamento

conjunto a respeito das dúvidas que lhes eram comuns.

5 Conclusão

A prática do desenho manual permite uma interação física com o traço, mediado pelas

ferramentas e instrumentos, diferente daquela experiência através dos recursos

digitais. A própria vinculação entre o cérebro e a mão torna-se mais verdadeira pela

relativa diferença de cada traço, que surgem entre diferentes movimentos da mão

sobre o suporte físico. Independente da geração que se forma na atualidade, a

experiência de desenhar e pintar com instrumentos manuais costuma ser um

aprendizado divertido e, ao mesmo tempo, desafiador para a maioria dos estudantes.

Na mudança de ritmo para o desenho, imposta pelos exercícios rápidos, percebe-se

uma mudança de postura e auto avaliação do estudante durante a prática do desenho,

onde o tempo limitado exige ação diante da incerteza no lançamento dos primeiros

traços. Além de aumentar a atenção do estudante nas habilidades do desenhar, o

exercício permitiu compreender o desenho como parte do processo experimental de

representação volumétrica da proposta arquitetônica, vinculada com formas, cores e

texturas. Os exercícios de desenho rápido não estão vinculados diretamente ao

processo criativo do projeto, mas estimulam o domínio da perspectiva e do croqui,

tornando proficiente o seu uso, quando exploram ideias arquitetônicas durante a etapa

de criação. Com este trabalho, espera-se lançar novas possibilidades para o processo

metodológico de ensino de projeto arquitetônico e urbano, que utilizam a

representação volumétrica e espacial como parte do desenvolvimento reflexivo e

criativo a partir do desenho.

Referências

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v.8, nº3. São Paulo: Exacta, p.373-383, 2010.

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