133
Universidade Presbiteriana Mackenzie Centro de Ciências Sociais e Aplicadas Programa de Pós-Graduação em Ciências Contábeis A Implantação de Sistema ERP: um estudo de caso em indústria de Autopeças Gladis Borelli São Paulo 2013

A Implantacao de ERP_Um Estudo de Caso Em Industria de Autopecas

Embed Size (px)

Citation preview

  • Universidade Presbiteriana Mackenzie

    Centro de Cincias Sociais e Aplicadas

    Programa de Ps-Graduao em Cincias Contbeis

    A Implantao de Sistema ERP: um estudo de caso em

    indstria de Autopeas

    Gladis Borelli

    So Paulo

    2013

  • Gladis Borelli

    A Implantao de Sistema ERP: um estudo de caso em

    indstria de Autopeas

    Dissertao apresentada ao Programa de

    Ps-Graduao em Cincias Contbeis

    da Universidade Presbiteriana

    Mackenzie para a obteno do ttulo de

    Mestre em Controladoria Empresarial.

    Orientador: Profa. Dra. Ana Maria R. Valentini C. Cesar

    So Paulo

    2013

  • B731i Borelli, Gladis

    A implantao de sistema ERP: um estudo de caso em

    indstria de autopeas / Gladis Borelli - 2014.

    132f.: 30 cm

    Dissertao (Mestrado em Cincias Contbeis) Universidade Presbiteriana Mackenzie, So Paulo, 2014.

    Orientao: Prof. Dr. Ana Maria R. Valentini C. Cesar

    Bibliografia: f. 124-128

    1. Sistemas de ERP. 2. Estratgia de negcios. 3. Cultura comportamental. 4. Organizacional. 5. Aspectos

    tcnicos. I. Ttulo.

    CDD 658.4038011

  • Gladis Borelli

    A Implantao de Sistema ERP: um estudo de caso em indstria de

    Autopeas

    Dissertao apresentada ao Programa de

    Ps-Graduao em Cincias Contbeis

    da Universidade Presbiteriana

    Mackenzie para a obteno do ttulo de

    Mestre em Controladoria Empresarial.

    BANCA EXAMINADORA

    _____________________________________________________

    Profa. Dra. Ana Maria R. Valentini C. Cesar- Orientador

    Universidade Presbiteriana Mackenzie

    ____________________________________________________

    Prof. Dr. Gilberto Perez - Examinador Interno

    Universidade Presbiteriana Mackenzie

    __________________________________________________

    Profa. Dra Luciane Reginato - Examinador Externo

    Universidade de So Paulo

  • Reitor da Universidade Presbiteriana Mackenzie

    Prof. Dr. Benedito Guimares Aguiar Neto

    Decano de Pesquisa e Ps-Graduao

    Prof. Dr. Moiss Ari Zilber

    Diretor do Centro de Cincias Sociais e Aplicadas

    Prof. Dr. Srgio Lex

    Coordenadora do Programa de Ps-Graduao em Cincias Contbeis

    Profa. Dra. Maria Thereza Pompa Antunes

  • Amar ao Senhor teu Deus de todo o

    teu corao, e de toda a tua alma, e de todo

    o teu entendimento e, amars ao teu

    prximo como a ti mesmo.

    Allan Kardec

  • Aos meus pais que me deram a

    maior herana: o estudo, a sabedoria e a

    dignidade!

  • Agradecimentos

    Agradeo a Deus, por existir, por me iluminar em todos os dias de minha vida, me

    carregando no colo nos momentos de desafios.

    Aos meus pais, Pedro e Lourdes, pelo apoio, amor, carinho e palavras de conforto: voc

    vai conseguir!

    s minhas irms Glsley e Dougliane, que apesar de tudo, sempre me apoiaram e me

    compreenderam.

    minha querida cachorra de estimao, Tika, por ter sido companheira de todas as

    horas, dormindo em meio aos livros e materiais de estudo, fiel companheira.

    minha amiga Luciana Orozco - Lu, por estar sempre ao meu lado nas horas mais

    difceis, dividir madrugadas da vida acadmica e me incentivar rumo ao objetivo final.

    A todos os meus amigos que compreenderam a ausncia temporria pela fase de

    dedicao que se fez necessria.

    A minha orientadora, Profa. Ana Maria R. Valentini C. Cesar, por apoiar e auxiliar na

    elaborao deste trabalho, nos momentos mais difceis de mudanas profissionais e,

    consequentemente, nos objetivos da dissertao.

    Aos Professores Dr. Joshua OnomeImoniana e Dra. Luciane Reginato pelas sugestes,

    orientaes e indicaes de bibliografia.

    Ao Professor Dr. Gilberto Perez, que gentilmente colaborou com sugestes e

    orientaes ao tema.

    Aos colegas e professores do curso de Mestrado em Controladoria Empresarial

    Mackenzie, pelas horas que passamos juntos em sala de aula e toda a experincia

    compartilhada.

    instituio da qual sou colaboradora, por me proporcionar esta oportunidade e apoiar

    a elaborao desta dissertao.

    A todos que, de alguma forma, contriburam para a realizao deste trabalho.

  • Lista de Quadros

    Quadro 1 - Estudos Pesquisados

    22

    Quadro 2 - Anlise Estratgica

    26

    Quadro 3 - Sistema de Custos

    30

    Quadro 4 - Sistema de Custo Padro adotado pela empresa Beta

    31

    Quadro 5 - Fatores de Sucesso e Insucesso na Implantao de ERP

    36

    Quadro 6 - Prticas de trabalho e nveis de anlise da cultura

    42

    Quadro 7 - Sumrio de Mudanas

    46

    Quadro 8 - Sumrio dos Aspectos Comportamentais

    47

    Quadro 9 - Fases da Metodologia Estudo de Caso

    50

    Quadro 10 - Caracterizao dos Entrevistados

    51

    Quadro 11 - Questes x Roteiro de Entrevista

    55

    Quadro 11 - Questes x Roteiro de Entrevista

    67

    Quadro 11 - Questes x Roteiro de Entrevista

    81

    Quadro 11 - Questes x Roteiro de Entrevista

    88

    Quadro 11 - Questes x Roteiro de Entrevista

    94

    Quadro 11 - Questes x Roteiro de Entrevista

    102

    Quadro 11 - Questes x Roteiro de Entrevista

    111

    Quadro 12 - Diretrizes-Etapas para a Metodologia de Implantao

    120

  • Sumrio

    1. Introduo ............................................................................................................... 13

    1.1. Contextualizao do Tema (Situao Problema) ....................................................... 14

    1.2. Questo de Pesquisa ................................................................................................... 16

    1.3. Objetivo Geral ............................................................................................................ 16

    1.4. Objetivos Especficos ................................................................................................ 17

    1.5. Justificativas e Contribuies .................................................................................... 18

    2. Referencial Terico ................................................................................................ 20

    2.1. Estratgia Organizacional .......................................................................................... 23

    2.2. Sistema de Custo e suas Especificidades ................................................................... 26

    2.3. Implantao de sistemas ERP .................................................................................... 31

    2.4. Aspectos comportamentais relacionados implantao de sistemas ........................ 36

    2.4.1. O conceito de cultura organizacional ................................................................. 37

    2.4.2. Cultura organizacional e implantao de sistemas ERP ..................................... 40

    2.4.3. Gesto de Mudanas ........................................................................................... 42

    2.4.4. Aspectos Comportamentais ................................................................................ 46

    3. Procedimentos Metodolgicos ............................................................................... 48

    3.1. Tipo de Pesquisa ........................................................................................................ 48

    3.2. Mtodo de Pesquisa ................................................................................................... 48

    3.3. Populao e Amostra ................................................................................................. 51

    3.4. Procedimentos de Coleta de Dados ........................................................................... 52

    3.5. Procedimentos de Tratamento dos Dados .................................................................. 54

    3.6. Aspectos ticos .......................................................................................................... 54

    4. Apresentao e Discusso dos Resultados ............................................................. 55

    4.1. Caracterizao da Empresa Beta ................................................................................ 56

    4.1.1. O fundador da empresa ....................................................................................... 56

    4.1.2. A empresa no mercado atual (2013) ................................................................... 57

    4.1.3. A planta objeto do presente estudo de caso ........................................................ 59

    4.2. Aspectos estratgicos relacionados implantao .................................................... 60

    4.2.1. Categoria 1: Aspectos que determinaram a implantao do sistema na

    Planta da Argentina .......................................................................................................... 61

    4.2.2. Categoria 2: Em relao ao mercado, a implantao do sistema de custos pode ser considerada uma estratgia de competitividade ................................................. 63

    4.2.3. Categoria 6: As informaes estratgicas de custos ficaram melhores ou piores aps a implantao do mdulo de custos ............................................................... 65

    4.2.4. Resumo da Categoria: Aspectos Estratgicos Relacionados a Implantao ...... 67

  • 4.3. Aspectos Conceituais de Custos relacionados implantao .................................... 68

    4.3.1. Categoria 5: Em termos conceituais, qual motivo levou a empresa a optar

    pelo modelo de custo padro no mdulo de custos na implantao do sistema. .............. 68

    4.3.2. Resumo da Categoria: Aspectos Conceituais de Custos relacionados implantao ....................................................................................................................... 70

    4.4. Aspectos de Implantao de Sistema ERP................................................................. 70

    4.4.1. Categoria 3: Aps a implantao, quais os fatores crticos que poderiam

    ser considerados de sucesso. ............................................................................................. 71

    4.4.2. Categoria 4: Aps a implantao, quais os fatores crticos que poderiam ser considerados de fracasso. ............................................................................................ 75

    4.4.3. Categoria 10: Tecnicamente quais os fatores tiveram influncia para o sucesso ou insucesso na implantao do sistema. ............................................................ 82

    4.4.4. Resumo da Categoria: Aspectos de Implantao de Sistema ERP ..................... 87

    4.5. Aspectos Comportamentais Relacionados Implementao de Sistema ERP .......... 89

    4.5.1. Categoria 7: Houve influncia de aspectos culturais sobre a implantao

    do sistema ERP ................................................................................................................. 89

    4.5.2. Categoria 8: Com experincia de implantaes em outros lugares, aspectos regionais podem ser destacados nesta implantao de sistema como

    fatores de sucesso ou insucesso. ....................................................................................... 92

    4.5.3. Categoria 9: Como os aspectos comportamentais dos envolvidos influenciaram na implantao, tanto para o sucesso quanto para o insucesso deste

    projeto. 95

    4.5.4. Resumo da Categoria: Aspectos Comportamentais Relacionados a Implantao do Sistema ERP ......................................................................................... 101

    4.6. Consideraes Adicionais dos Entrevistados a Pesquisa ......................................... 103

    4.6.1. Categoria 11: A experincia da planta Pacheco como modelo para outras

    implantaes de sistema ................................................................................................. 103

    4.6.2. Categoria 12: Com relao a pesquisa, teria alguma informao adicional a ser mencionada ............................................................................................................ 108

    4.7. Consideraes gerais acerca das categorias analisadas ........................................... 112

    6. Diretrizes para Implantao do Sistema ERP em outras Plantas.......................... 114

    7. Consideraes Finais ............................................................................................ 121

    Referncias ................................................................................................................... 124

    Apndices ..................................................................................................................... 129

    Anexo A Termos de Esclarecimento ............................................................................... 129

    A1 Termo de Esclarecimento ...................................................................................... 130

    A2 Consentimento Informado ..................................................................................... 131

    A3 Informed Consent .................................................................................................. 132

  • Resumo

    A competitividade das empresas se acirra dia-a-dia e aspectos relacionados a novas

    tecnologias, sistemas de informao, processos e modelos de gesto se alteram em

    intervalos de tempo cada vez menores, demandando um constante reposicionamento das

    empresas em relao a novas competncias e posturas. A implantao de sistemas do

    tipo ERP (Enterprise Resource Planning) visa aumentar a competitividade pela

    possibilidade de integrao de dados, facilitando a tomada de deciso. Este estudo foca

    a implantao de sistemas dessa natureza e tem como objetivo geral: analisar os fatores

    crticos de sucesso na implantao do sistema de custos na Indstria Beta de autopeas,

    considerando-se variveis comportamentais e tcnicas relacionadas implantao.

    Adotou-se como procedimento metodolgico o mtodo do estudo de caso, em que se

    utilizaram a anlise de documentos e as entrevistas para coleta de dados. Foram dez

    entrevistados representantes dos nveis estratgico, ttico e operacional que estavam

    envolvidos com a implantao do sistema ERP mdulo de custos em uma fbrica da

    empresa Beta na Argentina. Os resultados indicam que o posicionamento estratgico em

    busca de competitividade foi determinante para a implantao do sistema. Todavia, a

    implantao foi considerada um insucesso pela alta direo da empresa por diversos

    fatores, destacando-se: no havia uma equipe tecnicamente apropriada para a

    implantao, considerando-se tanto os funcionrios da empresa quanto os da consultoria

    que estava suportando a implantao, havia problemas de natureza cultural, tendo em

    vista a no adaptao das aes de implantao aos aspectos locais. Embora o estudo

    apresente restries por ser um estudo de caso nico, traz como contribuio prtica o

    desenvolvimento de um plano de ao para a implantao do sistema em outras bases da

    empresa, evitando-se, assim, os fatores de insucesso apontados na implantao

    analisada. Para estudos futuros, sugere-se o acompanhamento dessas novas

    implantaes a serem feitas com base no plano de ao ora proposto, em busca de seu

    aprimoramento.

  • Abstract

    Business competitiveness intensifies day by day and aspects related to new

    technologies, information systems , processes and business models change at intervals

    ever smaller , requiring frequent repositioning of companies in relation to new skills and

    attitudes . The implementation of ERP systems will aim to increase competitiveness by

    the possibility of data integration , facilitating decision making . This study focuses on

    the implementation of such systems and has the general objective is to analyze the

    critical success factors in the implementation of the system cost in the industry Beta

    auto parts , considering behavioral variables and related deployment techniques . It was

    adopted as a methodological procedure the method of case study , having used

    document analysis and interviews for data collection . Module costs in a company plant

    in Argentina Beta - representatives of strategic, tactical and operational levels who were

    involved with the implementation of the ERP system were interviewed . Results

    indicate that strategic positioning in search of competitiveness was crucial to the

    implementation of system. However, the deployment was considered a failure by top

    management of the company by several factors , namely: there was a technically

    appropriate team for deployment, considering both the company and employees of the

    consulting firm that was supporting the deployment , had problems of cultural nature

    with a view to not adapting deployment actions to local aspects . Although the present

    study restrictions for being a single case study , brings practical contribution to the

    development of an action plan for the implementation of the system in other

    cornerstones of the company , thereby avoiding the failure factors pointed in the

    deployment analyzed . For future studies it is suggested to follow these new

    deployments to be made based on the plan of action proposed here , seeking

    enhancement of the same .

    Keywords: ERP's systems, business strategy, behavioral, organizational culture,

    technical aspects.

  • 1. Introduo

    A competitividade das empresas se acirra dia a dia e aspectos relacionados a

    novas tecnologias, sistemas de informao, processos e modelos de gesto se alteram

    em intervalos de tempo cada vez menores, demandando constante reposicionamento das

    empresas em relao a novas competncias e posturas.

    O ramo de autopeas se encontra na posio intermediria entre fornecedores e

    montadoras e demonstra ser cada vez mais pressionado pelos dois lados: os

    fornecedores, que repassam todos os aumentos, e as montadoras, que no aceitam o

    pagamento destes e, mais ainda, cobram eficincia e impem planos de reduo de

    preos.

    Alm disso, as empresas do ramo ainda se deparam com a concorrncia dos

    mercados internacionais, abertos, o que pode ser muito ameaador. Embora existam o

    custo de importao e o tempo de espera nos portos deficitrios do pas, aumentando o

    custo, existem outros fatores influenciando o negcio. Essas variveis, por vezes,

    tornam mais barato importar do que fabricar dentro do prprio pas. Uma delas a carga

    tributria que se aplica mo de obra no Brasil, o que encarece demais os produtos

    nacionais.

    Em face dessa situao, necessrio que as indstrias de autopeas tenham

    estratgias de negcios bem solidificadas, mas, ao mesmo tempo, suficientemente

    maleveis a ponto de serem alteradas de acordo com a necessidade do negcio. Para

    Govindarajan (2006, p.332), a competitividade se associa, portanto, agilidade na

    tomada de deciso, aos sistemas de informao, estrutura da empresa e, no menos

    importante, capacidade das pessoas para fazerem frente aos nveis de produtividade e

    qualidade exigidas em cenrios de alta competio.

    Agilidade de deciso em ambientes cada vez mais complexos exige a integrao

    do processamento das informaes. Dessa forma, os Sistemas Integrados de Gesto

    (conhecidos como ERP Enterprise Resources Planning) foram desenvolvidos para

    propiciar tal integrao, reunindo em um nico banco de dados todas as informaes

    oriundas de diversas reas da empresa, o que lhe confere um carter estratgico.

  • 14

    Todavia, embora possam ser genericamente nomeados, sistemas dessa natureza

    precisam se adequar s necessidades de cada negcio. A escolha de um sistema

    depende, portanto, de critrios especficos que atendam s demandas de cada rea. Alm

    disso, sua eficcia depende do treinamento dos usurios para sua utilizao, o que pode

    no ser uma tarefa fcil (CARVALHO, 2009).

    Pessoas no agem como mquinas nem como insumos da produo. Por mais

    que se especifiquem as exigncias dos cargos e se busquem pessoas que tenham as

    qualificaes adequadas, no se tem certeza de que essas pessoas operaro mquinas e

    equipamentos como previsto, nem que participaro de processos ou usaro os sistemas

    conforme o esperado; tambm no se garante que tomaro decises eficazes. Aspectos

    comportamentais precisam ser considerados, especialmente quando se introduz na

    organizao algum tipo de mudana que demande treinamento de novas capacidades,

    exija novos posicionamentos ou altere a estrutura de poder vigente. Implantar novos

    sistemas de informao uma dessas situaes nas quais o conhecimento tcnico que as

    pessoas tm acerca do sistema no garante a eficcia da sua implantao.

    1.1. Contextualizao do Tema (Situao Problema)

    O complexo automotivo ainda , de acordo com o Sindicato Nacional da

    Indstria de Componentes para Veculos Automotores (Sindipeas), em todo o mundo,

    uma importante fonte de desenvolvimento e progresso tecnolgico, composto por

    fabricantes dos mais variados produtos desde automveis, caminhes, nibus at

    chassis de nibus, mquinas agrcolas automotrizes e autopeas. No Brasil, essa

    indstria automotiva assumiu um papel estratgico no processo de industrializao do

    pas e constitui, desde ento, uma das principais atividades econmicas brasileiras.

    A indstria de autopeas instalada aqui passou por acentuada reestruturao

    patrimonial, a partir da segunda metade dos anos 1990, articulando-se ao processo de

    modernizao e integrao mundial da indstria automobilstica. O Sindipeas aponta

    que em 1994, 48% das empresas de autopeas eram estrangeiras, participao que

    atingiu 73% em 2010. Essa internacionalizao e a intensa modernizao transformaram

    radicalmente a insero dessa indstria no cenrio mundial: o Brasil passou de

    importador de peas a exportador. Segundo o Ministrio do Desenvolvimento, Indstria

  • 15

    e Comrcio Exterior (MDIC), o setor nacional de autopeas exportou, em 2010, pouco

    mais de US$ 5 bilhes, tendo o Estado de So Paulo respondido por cerca de 65% desse

    montante (INVESTE SO PAULO, 2013).

    O setor de autopeas liderado por quatro importantes potncias: China, Japo,

    Estados Unidos e Alemanha. Estudos demonstram que o Mxico estar na posio de

    quarto lugar at 2018, devido ao intenso investimento automotivo no pas. Apesar do

    cenrio positivo nas ultimas dcadas, segundo Paulo Butori, atual presidente do

    Sindipeas, essa situao preocupante para as indstrias instaladas no Pas, que

    aumentaram sua compra de peas mexicanas em 87%. Ele complementa que o Brasil

    sofre desvantagem devido ao cmbio e aos investimentos instalados com o apoio dos

    fabricantes dos Estados Unidos (O Mundo em Movimento, 2013). Ainda cabe mencionar

    que, nos ltimos 12 meses, at agosto, o desempenho manteve-se praticamente estvel,

    com leve crescimento de 0,03%.

    Paulo Butori ainda comenta que a falta de competitividade no setor justificada

    pelos preos mais altos praticados no Brasil. O executivo conta que as fabricantes de

    componentes tm de repassar os altos custos de produo (desde infraestrutura,

    tributao, matria-prima, a mo de obra) para os produtos. Como consequncia, as

    montadoras recorrem aos importados, que alm de mais baratos tm mais tecnologia

    agregada, principalmente os chineses. De acordo com Butori, as fabricantes de

    componentes automotivos apresentam ociosidade grande, aproveitando apenas cerca de

    60% da capacidade instalada, com a rentabilidade prejudicada, diminuem os

    investimentos em pesquisa e desenvolvimento. (AUTOMOTIVE BUSINESS, 2013).

    A empresa canadense, foco do estudo, investiu no Brasil e na Argentina

    comprando fbricas como um passo na estratgia de consolidar a unidade de negcios

    na liderana do mercado global de bancos e sistemas de assento para a indstria

    automotiva, pois entende que Amrica do Sul tem papel relevante dentro dessa

    estratgia. Um dos fatores que chamaram a ateno dos canadenses para a Amrica do

    Sul o potencial de crescimento do mercado automobilstico nos prximos anos,

    notadamente o brasileiro. Entre 2014 e 2015, o pas dever alcanar a marca de 5

    milhes de carros produzidos por ano, volume que exigir investimentos adicionais no

    parque nacional de autopeas. Ao olhar para os prximos anos, espera-se um

    crescimento consistente no mercado brasileiro, sem riscos operao.

  • 16

    Diante do cenrio no qual as empresas de autopeas atuam, este estudo busca

    ampliar a discusso acerca da metodologia para implantao de sistemas ERP-

    Enterprise Resources Planning. O foco analisar o processo de implantao do

    sistema ERP de custos em uma empresa de autopeas, apesar de essa mesma empresa

    ter implantado outros mdulos, o que no ser foco neste estudo.

    A empresa identificou a demanda pela implantao de um novo sistema de

    custos que pudesse atender s necessidades internas para tomada de deciso relacionada

    a compras, precificao, planejamento industrial etc. O sistema foi implementado e est

    em fase de melhorias e adaptaes em todos os mdulos da empresa, inclusive o de CO

    (Custos).

    De acordo com Anthony e Govindarajan (2008, p.51), a estratgia que uma

    empresa escolhe para atuar faz parte do ambiente que influencia a concepo do sistema

    de controle gerencial. Ou seja, os sistemas de controle gerencial so influenciados pelo

    meio: devem estar alinhados estratgia segundo a qual os aspectos comportamentais

    devem ser considerados, pois sua influncia delineia o sucesso da estratgia. Assim, as

    pessoas precisam estar envolvidas e capacitadas. O delineamento de uma estratgia

    comportamental para implantao do sistema pode fazer a diferena entre o sucesso ou

    no do uso do sistema delineado.

    1.2. Questo de Pesquisa

    A pesquisa buscou responder seguinte questo: Quais os fatores

    comportamentais, culturais e tcnicos se relacionam com aspectos de implantao

    do mdulo de custos de um ERP em uma determinada empresa na Argentina?

    1.3. Objetivo Geral

    A pesquisa tem como objetivo geral: analisar os fatores crticos de sucesso na

    implantao do sistema de custos na indstria Beta de autopeas, considerando-se

    variveis comportamentais, culturais e tcnicas relacionadas implantao. O

  • 17

    alcance desse objetivo pode propiciar o delineamento de diretrizes para a implantao

    do mesmo sistema em outras bases da empresa.

    1.4. Objetivos Especficos

    Para cumprir o objetivo geral proposto, so delineados os seguintes objetivos

    especficos:

    Analisar, do ponto de vista da organizao Beta (representada por sua alta

    direo) quais aspectos foram considerados determinantes para a

    implantao do sistema ERP mdulo de custos na base da empresa na

    Argentina;

    Analisar, do ponto de vista dos gestores argentinos e dos brasileiros envolvidos

    com a implantao do mdulo de custos do ERP na organizao Beta, quais so

    os fatores crticos de sucesso (FCS) na implantao na base da Argentina;

    Identificar, usando-se a tipologia de Hofstede para anlise de traos da cultura

    nacional, na viso de gestores brasileiros e argentinos envolvidos com a

    implantao do mdulo custos do ERP na organizao Beta, como esses traos

    culturais influenciaram na implantao do sistema na base da Argentina;

    Identificar, na viso de gestores brasileiros e argentinos envolvidos com a

    implantao do sistema ERP - mdulo de custos na organizao Beta, quais

    fatores comportamentais foram considerados fatores crticos de sucesso

    (FCS) na implantao do sistema na base da Argentina;

    Identificar, na viso de gestores brasileiros e argentinos envolvidos com a

    implantao do sistema ERP- mdulo de custos na organizao Beta, quais

    aspectos tcnicos foram considerados fatores crticos de sucesso (FCS) na

    implantao do sistema na base da Argentina;

    Com base nos fatores de crticos de sucesso (FCS) identificados, apontar

    diretrizes para a implantao do mesmo sistema em outras bases da mesma

    empresa.

  • 18

    1.5. Justificativas e Contribuies

    Este estudo est focado em uma empresa de autopeas que optou por implantar

    sistemas do tipo ERP para minimizar problemas na tomada de decises relacionados

    falta de informao integrada. O processo de deciso era lento.

    Convm observar que a implantao de sistemas demanda vrios rearranjos

    dentro de uma organizao, quais sejam estruturais, comportamentais, tcnicos etc.

    Aspectos tcnicos so definidos a priori e ajustados de acordo com o desenvolvimento

    do sistema. Todavia, mudanas em aspectos culturais e comportamentais demandam,

    respectivamente, tempo para consolidao e aceitao das pessoas.

    Este trabalho analisa um processo de implantao de sistema ERP em uma base

    da empresa na Argentina. Essa implantao um desafio, pois: (i) a empresa tem

    origem norte-americana e, como tal, tem modelos de gesto coerentes com a cultura dos

    Estados Unidos da Amrica; (ii) os responsveis pela implantao do sistema ERP so

    brasileiros e argentinos trabalhando sob a superviso de americanos; (iii) os usurios do

    sistema ERP so argentinos. Esses desafios sinalizam a complexidade dos aspectos

    comportamentais envolvidos com a implantao do sistema proposto.

    Como contribuio para a organizao sob estudo, props se o uso de uma

    metodologia para analisar os fatores crticos de sucesso (FCS) na implantao de um

    sistema de custos que pode ser generalizada para a implantao do mesmo sistema em

    outras bases da empresa, ou mesmo para a implantao de outros sistemas dentro da

    mesma base. Isso porque se pode (i) preparar pessoas (treinamentos tcnicos e

    comportamentais) para implantaes de sistemas de informao; (ii) desenvolver (ou

    otimizar) aes de comunicao que possam facilitar a disseminao de informaes

    relacionadas implantao; (iii) desenvolver (ou otimizar) programas motivacionais

    para aumentar a os benefcios de uso do sistema e diminuir os fatores de resistncia

    junto aos usurios.

    Para a Academia, a anlise crtica proposta pode ser objeto para outros estudos

    na rea de Controladoria que tenham como objetivo a anlise dos fatores crticos de

    sucesso e na implantao de mudanas em ambientes contbeis. Assim, pode-se

    fundamentar a preparao da implantao de sistemas de outra natureza ou o

    desenvolvimento e implantao de uso de ferramentas de controle gerencial, como o

  • 19

    Balanced Scorecard (BSC), custo ABC, custo de Qualidade, Brand Evaluation, dentre

    outras, com base nas lies aprendidas com a experincia profissional na rea.

  • 20

    2. Referencial Terico

    Para subsidiar teoricamente esta pesquisa fez-se uma reviso sistemtica da

    literatura utlizando-se as palavras chave do estudo para busca nos peridicos listados no

    sistema Qualis Peridicos que tivessem avaliao at B2, limitando-se o perodo de

    busca para artigos que tivessem sido publicados nos anos de 2008 a 2013 (inclusive).

    Foram encontrados cerca de 70 trabalhos que tratavam da implantao de

    sistemas do tipo ERP. Trinta deles foram selecionados, sendo que os mesmos esto

    listados no Quadro1. A leitura detalhada apontou que nenhum deles focou nos aspectos

    comportamentais e culturais relacionados implantao de sistemas. O artigo que mais

    contribuiu para a pesquisa foi de Paulo Andre da Conceio Menezes; Fernando

    Gonzalez-Ladron-de-Guevara (2010) destacado em negrito no Quadro 1 porque aborda

    a implantao do sistema de ERP em empresas de diversos tamanhos, demonstrando

    seus benefcios e dificuldades no perodo de implantao.

    Essa reviso preliminar deixou clara a existncia de uma lacuna que poderia ser

    investigada e que teria potencial para o desenvolvimento de uma metodologia de

    implantao de sistemas nas diferentes bases da empresa Beta.

    Como o foco deste estudo era a implantao do sistema de Custos, a reviso da

    literatura na rea contbil focou no sistema de custo padro, por ser o sistema adotado

    pela empresa Beta.

    Em relao aos aspectos culturais o estudo foi centrado numa abordagem

    funcionalista, com foco nas dimenses do trabalho, como: recepo de informao de

    outras reas, tarefas desafiadoras, definio clara da importncia do trabalho, perda de

    tempo com erros e a importncia da liberdade no trabalho.

    Os processos de desenvolvimento e a implantao de sistemas ERP esto

    profundamente relacionados estratgia da organizao. Para Harwood (2003, p. 1) a

    implantao de um sistema ERP no dever ser vista apenas como um projeto de

    Tecnologia da Informao (TI), mas como o de uma equipe multidisciplinar, porque

    tambm atinge as polticas e as prticas da organizao.

  • 21

    Para garantir a eficcia da implantao de um sistema, no basta conhecer as

    demandas da organizao em termos tcnicos: preciso analisar o processo de gesto

    das mudanas requeridas para tal implantao (HARWOORD, 2003, p. 5).

    Os sistemas de informao no podem ser traduzidos como artefatos

    tecnolgicos que tornam as operaes mais eficientes e menos conflitantes, mas devem

    ser entendidos como instituies que modelam os processos de deciso dos gerentes e as

    formas organizacionais das empresas. Dessa forma, a interao entre a utilizao dos

    sistemas da informao (nas operaes cotidianas) e os processos de mudana

    estratgica e estrutural se revestem de um papel crtico, porque, dessa interao, obtm-

    se a coordenao do conhecimento organizacional (ORLIKOWSKY; HOFFMAN,

    1997, p. 6).

    Este captulo est estruturado na sequncia que se apresenta a seguir. Primeiro,

    trata da Estratgia Organizacional, tpico no qual se discute o relacionamento da

    estratgia com o ambiente no qual a empresa est inserida, dando suporte para a anlise

    da estratgia da organizao em que o estudo est focado. A seguir, apresenta-se o

    Sistema de Custos e suas especificidades, destacando-se o modelo utilizado pela

    empresa-foco do estudo. Na sequncia, so apresentados os fatores crticos de sucesso

    na implantao de sistemas, em especial, de sistemas ERP. Por fim,so apresentadas

    discusses sobre temas comportamentais relevantes na implantao de sistemas, como

    cultura organizacional e gesto de processos de mudana.

  • 22

    Quadro 1 - Estudos Pesquisados

    Fonte: elaborado pela autora.

    Journal of Information systems and Technology Management

    Artigo: FMEA and PMBOK Applied to Project Risk Managment

    Autor: Flvio Roberto Souza dos Santos; Sandro Cabral

    RAM

    Artigo: DILEMAS DA ORGANIZAO DO TRABALHO FACE GLOBALIZAO E S TECNOLOGIAS DE INFORMAO E COMUNICAO

    Autor: Jos Maria Carvalho Ferreira

    FAE

    Artigo: Uma reflexo sobre o estudo de caso como metodo de pesquisa

    Autor: Eliane Cristine F Maffeozzolli Carlos Gabriel Egggerts Boehs

    G&P

    Artigo: Uma Anlise de aspectos relacionados ao desenvolvimento e adoo do Enterprise Resources Planning livre de codigo aberto

    Autor: Rogrio Atem de Carvalho; Renato de Campos

    Journal of Information systems and Technology Management

    Artigo: Installing and ERP System with a methodology based on the principles of goal directed project managment

    Autor: Ioannis Zafeiropoulos; Elli Pagourtzi; Dimitris Askounis

    Artigo: ERP Systems Implementation in Complex Organizations

    Autor: Rafaela Mantovani Fontana; Alfredo Iarozinski Neto

    Artigo: ERP Implementations and their impact upon management accountants

    Autor: Alan Sangster; Stewart A Leech; Severin Grabski

    Artigo: Pesquisa sobre a percepo dos usurios dos modulos contabil e fiscal de um sistema ERP para o setor de transporte rodovirio de cargas e passageiros

    Autor: Ivam Ricardo Peleias; Jose Carlos Trevizoli; Pedro Luiz Cortes; Napoleo Verardi Galegale

    Journal of Information systems and Technology Management

    Artigo: Maximizacion de los beneficios de los sistemas ERP

    Autor: Paulo Andre da Conceio Menezes; Fernando Gonzalez-Ladron-de-Guevara

    Artigo: ERP In the Production Area: User's opinions bout needs being met

    Autor: Andre Luiz Pestana de Oliveira; Marco Antonio Pinheiro da Silveira

    Artigo: A Comparison of ERP-Success Measurement Approaches

    Autor: Stephan A Kronbichler; Herwig Ostermann; Roland Staudinger

    Brazilian Business Review

    Artigo: Servios Compartilhados: estudo de caso sobre a atuao da controladoria em 13 paises da America Latina

    Autor: Ana Cristina de Faria; Marcio Antonio Gonalves

    Artigo: Sistema Integrado ABC-EVA como uma ferramenta de gesto: um estudo de caso

    Autor: Raimundo Nonato Sousa da Silva; Tiafo de Amorim Bueno Vieira

    International Journal of Information Management

    Artigo: The Critical Sucess factors of business process management

    Autor: Peter Tkrman

    Information Systems

    Artigo: Identification and Classification of ERP critical failure factor in Iranian industries

    Autor: Amin Amid; Morteza Moalagh; Ahad Zare Ravasan

    G&P

    Artigo: Levantamento das praticas de programaao detalhada de produo: um survey na industria paulista

    Autor: Edivaldo Giacon; Marco Aurelio Mesquita

    Journal of Information systems and Technology Management

    Artigo: A Theoretical Analysis of key points when chossing oper source ERP systems

    Autor: Fernando Gustavo dos Santos Gripe; Ildeberto Aparecido Rodello

    RAM

    Artigo: Analise das Relaoes dos Elementos de alinhamento estrategico entre negocio e tecnologis da informao com o processo de desenvolvimento do produto

    Autor: Enor Jose Tonolli Junior; Angela Freitag Brodbeck; Carlos Alberto Costa

    Artigo: Recursos de tecnologia da informaao sustendadores de vantagem competitiva: um estudo no setor metal-mecanico agroindustrial

    Autor: Renato Przyczynski; Adolfo Alberto Vanti

    Journal of Information systems and Technology Management

    Artigo: Uses of ERP system and their influence on controllership functions in brazilian companies

    Autor: Arnaldo Morozini de Lira; Claudio Parisi; Ivam Ricardo Peleias; Marcos Reinaldo Severino Peters

    Produo

    Artigo: Um estudo sobre a implantao do sistema ERP: pesquisa realizada em grandes empresas industriais

    Autor: Lindomar Subtil de Oliveira; kazuo Hatakeyama

    International Journal of Production Economics

    Artigo: Implementation of fashion ERP system in China: case study of a fashion brand, review and future challenges

    Autor: Tsan Ming Choi; Pui Sze Chow; Shuk Ching Liu

    Computers in Industry

    Artigo: The concurrent application of lean production and ERP: Towards and ERP-based lean implementation process

    Autor: Daryl Powell; Erlend Alfnes; Jan Ola Stranghagen; Heidi Dreyer

    International Journal of Accounting Information Systems

    Artigo: Acccounting Benefits and satisfaction in na ERP environment

    Autor: Alexandra Kanellou; Charalambos Spathis

    SciVerse ScienceDirect

    Artigo: E-KMS: A KM tool for Educational ERP System

    Autor: Anubhav Kumar; P C Gupta

    G&P

    Artigo: Avaliao da importancia relativa dos criterios para a seleo de sistemas integrados de gesto (ERP) para o uso em empresa da construao civil

    Autor: Mirian Picinini Picinini Mexas; Helder Gomes Costa; Osvaldo Luiz Gonalves Quelhas

    Revista Contemporanea de Contabilidade

    Artigo: Pratica de Gestao de Custos Logisticos

    Autor: Marcos Antonio Souza, Carla Schnorr ; Fernanda Baldasso Ferreira

    Journal of Information systems and Technology Management

    Artigo: Legitimation Implications in the process of implementing na ERP system in a holding company

    Autor: Viviane Theiss; Nayane Thais Krespi; Carlos Eduardo Facin Lavarda

    Artigo: Strategic Partnership Building it offshore outsourcing: institutional elements for a banking ERP System licensing

    Autor: Luis Kalb Roses

    Artigo: Business Professionals' perceptions related to the influence of information technology in individual work

    Autor: Ricardo Adriano Antonelli; Lauro Brito de Almeida; Marcia Maria dos Santos Bortolocci Espejo; Fernanda Luiza Longhi

    2013

    2008

    2009

    2010

    2011

    2012

  • 23

    2.1. Estratgia Organizacional

    Um dos primeiros usos do termo estratgia ocorreu h aproximadamente 3.000

    anos, pelo estrategista chins Sun Tzu1 o qual afirmava que todos os homens podiam

    ver as tticas de conquista, mas o que ningum conseguia ver era a estratgia a partir da

    qual grandes vitrias eram obtidas.

    O termo estratgia assumiu o sentido de habilidade administrativa na poca de

    Pricles (450 A.C.), quando passou a significar habilidades gerenciais (administrativas,

    de liderana, de oratria, poder). Mais tarde, no tempo de Alexandre (330 A.C.),

    adquiriria o significado de habilidades empregadas para vencer um oponente e criar um

    sistema unificado de governabilidade global. A estratgia teve vrios significados,

    evoluindo de um conjunto de aes e manobras militares para a disciplina do

    conhecimento administrativo Administrao Estratgica , que dotado de contedo,

    de conceitos e de razes prticas e vem conquistando espaos tanto no mbito

    acadmico como no empresarial.

    Segundo Porter (2003, p.20), estratgia criar uma posio exclusiva e valiosa,

    envolvendo um diferente conjunto de atividades. Se houvesse apenas uma nica posio

    ideal, no haveria necessidade de estratgia, reforando a necessidade de as empresas

    estarem atentas ao mercado e ao modo como devem se comportar diante dele, que tem

    uma dinmica muito grande, por isso elas devem adaptar-se de acordo com as mudanas

    da Indstria Automotiva.

    A formulao das estratgias est associada, basicamente, a quatro fatores que

    determinam os limites para a empresa: (i) pontos fortes e pontos fracos; (ii) valores

    pessoais de uma organizao; (iii) ameaas e oportunidades da indstria; e (iv) a

    expectativa da sociedade.

    Os pontos fortes e fracos, caracterizados pelo perfil de ativos, e a qualificao da

    empresa em relao concorrncia combinada aos valores pessoais de uma

    organizao, motivaes e necessidades de seus principais executivos, estabelecem seus

    limites internos. Os fatores externos, determinados pela indstria e seu ambiente,

    envolvem as ameaas e oportunidades da indstria e as expectativas da sociedade.

    1General chins, cuja existncia tem sido discutida por historiadores, autor de A Arte da Guerra. Sua obra

    foi redescoberta pelo ocidente e tornou-se best-seller por sua aplicao no mundo dos negcios.

  • 24

    "As ameaas e as oportunidades da indstria definem o meio competitivo,

    com seus riscos consequentes e recompensas potenciais. As expectativas da

    sociedade refletem o impacto, sobre a companhia, de fatores como a poltica

    governamental, os interesses sociais e muitos outros." (PORTER, 1991,

    p.18).

    A formulao de uma estratgia corporativa, especificamente para a diversificao e que

    agregue valor para os acionistas, deve ser avaliada segundo os aspectos:

    Teste de atratividade: o setor deve ser estruturalmente atraente, ou, pelo

    menos, potencialmente atraente, o que implica, normalmente, na existncia de

    altas barreiras de entrada.

    Teste de custo de entrada: os custos de entrada no negcio no podem pr em

    risco sua rentabilidade futura; Quanto mais atraente for o novo setor, mais alto

    ser o custo de entrada (PORTER, 1997, p. 93).

    Teste de melhoria da situao: a nova empresa precisa obter uma vantagem

    competitiva quando integrar uma nova corporao, a qual dever se beneficiar

    com a nova unidade de negcio.

    Em funo das foras que afetam a estrutura da indstria, algumas estratgias so

    definidas por Porter num conjunto de aes defensivas ou ofensivas. Esse conjunto de

    aes est fundamentado em pontos fortes e fracos, detectados na relao

    indstria/ambiente competitivo. Essas variveis so: o Posicionamento, a Influncia no

    Equilbrio e a Explorao da Mudana.

    O Posicionamento ajusta a companhia estrutura em funo de seus pontos

    fortes e fracos. Pode ser definida pela construo de defesas contra foras competitivas

    ou como "... a determinao de posies na indstria onde estas foras sejam mais

    fracas." (PORTER, 1991, p. 45).

    A Influncia no Equilbrio ocorre quando a empresa estabelece uma estratgia

    que assume a ofensiva. No visando a apenas enfrentar as foras existentes, busca a

    alterar suas causas.

    A Explorao da Mudana est associada evoluo da indstria. Essa evoluo

    assume importncia decisiva na formulao da estratgia. Entender o processo de

    evoluo da indstria ser capaz de predizer as mudanas importante por que

  • 25

    ...o custo de reagir estrategicamente aumenta em geral quando a necessidade

    de mudana se torna mais bvia e a vantagem da melhor estratgia maior

    para a primeira empresa a selecion-la (PORTER, 1991, p.156).

    Os estudos das estratgias corporativas incorporam, ainda, o estudo da

    Integrao Vertical, as Estratgias Preemptivas, as Estratgias Defensivas e as

    Alternativas Estratgicas no Declnio.

    Os fatores externos, determinados pela indstria e seu ambiente, envolvem as

    ameaas e oportunidades da indstria e as expectativas da sociedade.

    As ameaas e as oportunidades da indstria definem o meio competitivo, com

    seus riscos consequentes e recompensas potenciais. As expectativas da

    sociedade refletem o impacto, sobre a companhia, de fatores como a poltica

    governamental, os interesses sociais e muitos outros (PORTER, 1991, p.18).

    No estudo das Estratgias Defensivas, Porter avalia o que ele chama de

    "movimentos defensivos". Segundo ele, "... uma boa defesa consiste em criar uma

    situao na qual os concorrentes (...) aps testarem realmente um movimento,

    concluiro que ele inconveniente." (Porter, 1991, p. 106). Observa, entretanto, que a

    defesa mais efetiva impedir a batalha de qualquer forma. Para ele, para impedir

    uma ao, necessrio que o concorrente acredite veementemente em uma retaliao

    efetiva.

    Em relao estratgia de enfoque, o seguinte conjunto de riscos observado:(i)

    eliminao das vantagens de custo em atender um alvo estreito ou anulao da diferena

    alcanada pelo enfoque, pelo diferencial de custos entre os concorrentes de todo o

    mercado; (ii) reduo nas diferenas dos produtos ou servios entre os alvos pretendidos

    e o mercado; (iii) desfocalizao da empresa com estratgia de enfoque pelos

    concorrentes atravs da atuao em submercados.

    Porter observa que o uso das estratgicas genricas exige outros requisitos ou

    diferentes recursos e habilidades. Seu uso implica arranjos organizacionais diferentes,

    procedimentos de controle e sistemas criativos, compromisso com o alvo primrio, alm

    de requerer diferentes estilos de liderana e mudana na cultura, para que se obtenha

    sucesso com sua prtica.

  • 26

    Segundo Anthony (2008, p.2):

    Os sistemas de controle gerencial so ferramentas para implantar estratgias.

    As estratgias podem ser diferentes entre as organizaes e os controles

    devem ser ajustados aos requisitos das estratgias especficas. As estratgias

    diferentes requerem prioridades de tarefa diferentes, fatores crticos de

    sucesso diferentes; e habilidades, perspectivas e comportamentos diferentes.

    O Quadro 2 aponta os aspectos relevantes para a anlise estratgica, como um sumrio

    dos principais aspectos de competitividade abordado na reviso terica pelos autores,

    onde aponta-se que a anlise estratgica de uma empresa envolve no s as pessoas

    mas tambm suas habilidades e como a empresa est posicionada naquele momento

    frente ao mercado.

    Quadro 2 - Anlise Estratgica

    Habilidade administrativa / gerencial Pricles, 450 A.C.

    Posio exclusiva / valiosa da empresa no mercado Porter, 2003

    Qualificao da empresa em relao concorrncia Porter, 2003

    Motivao dos principais executivos Porter, 2003

    Ameaas e oportunidades da indstria Porter, 2003

    Expectativas da sociedade em relao empresa Porter, 1997

    Definio de riscos e oportunidades no meio competitivo Porter, 1991

    Equilbrio assumido estratgia ofensiva, alterar causas das foras existentes Porter, 2003

    Fonte: elaborado pela autora com base na teoria.

    2.2. Sistema de Custo e suas Especificidades

    At a Revoluo Industrial (sculo XVIII), quase s existia a Contabilidade

    Financeira (ou Geral). Desenvolvida na Era Mercantilista atendia as empresas

  • 27

    comerciais. Para apurar o resultado do perodo, levantava-se o estoque fisicamente,

    apurando o montante pago e assim valorizava as mercadorias. Assim, era bem simples o

    clculo:

    Estoques Iniciais+ Compras (- Estoques Finais) = Custo das Mercadorias Vendidas

    Com esse clculo e as receitas obtidas no ms, obtinha-se o lucro bruto, do qual

    se deduziam as despesas de manuteno do perodo. Os bens eram produzidos por

    pessoas ou grupos que poucas vezes eram entidades jurdicas. As empresas

    propriamente ditas viviam do comercio, e no da fabricao, o que facilitava a

    verificao do valor de compra, consultando documentos de aquisio.

    Com o advento das indstrias, a situao do contador se complicou, pois ele teria

    de apurar uma srie de fatores de produo utilizados. Naquele momento, iniciaram-se

    as adaptaes, com a formao de critrios para avaliao de estoque no caso industrial

    (MARTINS, 2001, p19)

    Portanto, pode-se dizer, que a Contabilidade de Custos nasceu da Contabilidade

    Financeira, da necessidade de avaliar os estoques na indstria, tarefa fcil para as

    empresas tpicas do mercantilismo, mas no suficientemente preparadas para responder

    sobre as tarefas de deciso e controle.

    Pelo fato de os contadores e os profissionais ligados rea terem a viso de

    resolver o problema de mensurao monetria do estoque e do resultado, e no se

    preocuparem em fazer dela um instrumento de administrao, no se utilizou todo seu

    potencial gerencial, deixando de ter uma evoluo acentuada.

    O crescimento das empresas foi quem forou esse desenvolvimento. Em poucas

    dcadas, a nova viso sobre a gesto dos negcios expandiu-se para outros campos que

    no o industrial, como forma de controle e at para as tomadas de decises.

    Ao longo do tempo, devido necessidade, criaram-se os mtodos de custeios

    composio do valor de custo de um evento, atividade, produto, atributo etc. , ou seja,

    de uma entidade objeto de custeio de interesse do gestor (MARTINS; ROCHA, 2010,

    p.45).

    O estudo e a prtica dos diferentes mtodos de custeio referem-se a vrias

    opes possveis de deciso (tais como sobre quais elementos de custos devem ou no

  • 28

    ser computados na mensurao do custos dos produtos individuais), considerando-se a

    natureza e o comportamento daqueles elementos em relao s oscilaes do volume de

    produo, ou seja, dos custos fixos e variveis.

    Assim, pode-se dividir esse sistema em sistema de custeio e mtodos de custeio

    que so conceitos diferentes. Sistemas de custeio referem-se s entidades nas quais o

    custo deve ser prioritariamente acumulado (ordem de produo ou processo de

    produo). Mtodo de Custeio, por seu turno, a natureza do comportamento dos custos

    que devem ser considerados na sua apurao (custo varivel ou tambm fixo).

    Ainda pode ser dividido e analisado pelo critrio de avaliao, definio pela

    qual se avalia atravs do tempo: (a) custo histrico, (b) custo de reposio, (c) custo

    padro. (MARTINS, 2001)

    Pode ser dividido em sete grandes grupos:

    1. Sistema de Custeio Direto ou Varivel consideram como sendo dos produtos

    exclusivamente seus custos variveis. Todos os custos fixos, inclusive os

    identificveis com os produtos, so debitados do resultado do perodo em que

    foram analisados.

    2. Sistema de Custeio por Absoro atribui custos fixos aos produtos. Uma de

    suas espcies (custo pleno) tambm atribui despesas fixas de administrao e

    vendas.

    3. Custeios por Absoro Parcial no aloca aos produtos gastos de

    administrao geral da empresa. Subdivide-se em:

    Custeios por Absoro Parcial Modificado no

    incorpora aos produtos os custos fixos estruturais.

    Custeios por Absoro Integral ou Plena

    incorpora os gastos de administrao geral e os fixos de

    vendas aos produtos.

    4. Sistema de Custeio Baseado em Atividades ABC (Activity-Based Costing) a

    metodologia ABC nasceu nos Estados Unidos (EUA), em meados da dcada de

    80, e foi desenvolvida e criada basicamente pelos profs. Cooper e Kaplan. No

    mtodo ABC, as atividades so o foco do processo de custeio. Os custos so

    investigados, relacionando-se as atividades aos produtos, com base na demanda

  • 29

    por tais atividades pelo produto durante o processo de produo ou o servio em

    questo.

    5. Sistema de Custeio Meta custo mximo permitido para um determinado

    produto ou servio. Segundo COGAN (1999, p97), o custeio meta uma

    ferramenta de gerenciamento estratgico que busca reduzir o custo do produto

    durante seu ciclo de vida.

    6. Sistema de Custeio Padro custo-padro um custo pr-atribudo, tomado

    como base para o registro da produo antes da determinao do custo efetivo.

    Em sua concepo gerencial, o custo-padro indica um custo ideal, que dever

    ser perseguido, servindo de base para a administrao mediar e eficincia da

    produo e conhecer as variaes de custo. Esse custo ideal seria aquele que

    deveria ser obtido pela indstria nas condies de plena eficincia e mximo

    rendimento.

    7. Sistema de Custeio Pleno essa metodologia, tambm conhecida como RKW,

    nasceu na Alemanha e consiste no mtodo segundo o qual todas as despesas

    tanto de produo como despesa da administrao da empresa so rateadas. A

    tcnica utilizada para esse rateio semelhante s dos custeios tradicionais e cada

    departamento da empresa recebe sua cota de custos, de maneira que, no final, o

    rateio ser sobre os produtos da empresa. Com esse rateio, chega-se ao valor

    unitrio do produto. Conforme conceituam Nascimento e Vartaniam (1999,

    p.34), mtodo de custeio pleno aquele em que todos os custos e despesas de

    uma entidade so levados aos objetos de custeio, normalmente unidades de

    produtos e/ou ordens de servios.

    Para escolher o sistema mais adequado, segundo Martins (2001, p 379),

    necessrio comear pelo fim, questionando para que se quer o sistema. preciso saber

    se ser para controle, fornecimento rpido de informaes para decises rotineiras ou

    intempestivas, decises que no demandam rapidez de dados ou simples avaliaes de

    estoques para ajudar a contabilidade financeira na apurao de estoques e resultados.

    Ou seja, a escolha do Sistema depende do objetivo que com ele se pretende

    atingir, o seu nvel de detalhes tambm depende disso e do quanto se gastar para sua

    obteno. As informaes so caras, e sua utilidade no igual em todos os nveis

    detalhes sua adoo como pacote temerria (MARTINS, 2001, p. 381).

  • 30

    A implantao deve ser gradativa, iniciando-se pela motivao junto ao pessoal,

    prtica que demonstra que um pequeno nmero seu gerado ter tamanho grau de

    importncia no sistema como um todo. Assim, pode-se demonstrar os benefcios que o

    sistema trar, bem como a melhoria de seu desempenho e premiaes, uma vez que

    possivelmente existir uma melhoria na rentabilidade da empresa.

    Aps essa fase, deve-se fazer o treinamento dos envolvidos, interagindo neste

    treinamento, de forma que seja assegurado que os participantes entenderam e esto

    aptos a executar as tarefas sozinhos e, no somente distribuir os manuais.

    A empresa-foco do estudo adotou o custo padro, mas analisa a periodicidade de

    sua manuteno devido aos fatores econmicos do pas, o que gera distores

    constantes no custo padro.

    O quadro 3 apresenta os tipos de sistemas de custos, acima descritos, de forma

    sumarizada, onde diversos autores conceituam cada tipo de sistema de custos que as

    empresas podem adotar.

    .

    Quadro 3 - Sistema de Custos

    Direto ou Varivel - considera todos os custos fixos como variveis Martins, 2001

    Absoro - atribui seus custos fixos e tambm as despesas administrativas Martins, 2001

    Atividades- ABC - considera os custos das atividades relacionadas ao produto

    Cooper e

    Kaplan, dec 80

    Meta - custo mximo permitido, usado para gerenciamento estratgico Cogan, 1997

    Padro - custo pr atribudo, base para registro de produo Martins, 2001

    Pleno - rateio de todas as despesas da empresa (administrativas ou de produo)

    Nascimento e

    Vartanian 1999

    Fonte: elaborado pela autora com base na teoria.

    O quadro 4 apresenta o tipo de sistemas de custos, adotado pela empresa Beta

    onde demonstra as principais vantagens de se utilizar este tipo de custeio numa empresa

    multinacional onde existem regras internacionais a serem cumpridas, bem como metas

    oramentrias a serem atingidas.

  • 31

    Quadro 4 - Sistema de Custo Padro adotado pela empresa Beta

    Custo de seleo material de produo

    Estuda-se o tempo e desempenho operaes produtivas para atribuir ao custo

    Estuda-se equipamentos e operaes fabris para atribuir

    Martins,

    2001

    Os valores dos custos so pr-fixados atravs de:

    a- Metas ou

    b- Histrico

    Custo padro facilita a apurao de balancetes

    O modelo de custo padro agiliza os dados da contabilidade

    Fonte: elaborado pela autora com base na teoria.

    2.3. Implantao de sistemas ERP

    Os principais fatores que levam ao desenvolvimento de um sistema so: (a)

    Presso, (b) Oportunidade e (c) Racionalizao. Esses sistemas podem ser inteligentes

    ou aplicativos. Os sistemas inteligentes so os chamados B.I. - Business Inteligence e os

    aplicativos so aqueles de que as empresas se utilizam no dia a dia (SAP, QAD dentre

    outros).

    A estratgia de negcio est relacionada a organizao, tecnologia e operaes

    de decises estratgicas (organizao, tecnologia, qualidade e localizao, gesto de

    talentos etc.) de apoio s empresas (SOMERS; NELSON, 2002). A chave para o

    desenvolvimento das capacidades dos sistemas de informao da empresa (SI) saber

    articular o papel estratgico e gesto do prprio SI, definindo arquitetura e estrutura de

    controle de TI adequada para facilitar o seu desenvolvimento e sua explorao

    (STRATMAN;ALEDA,2002).

    O desafio de alcanar vantagem competitiva atravs de sistemas ERP que eles

    representam uma significativa complexidade: geralmente so necessrios vrios anos

    para a implantao completa, incluindo a integrao com o SI existentes, a realizao de

    reestruturao e o ajuste da organizao com o sistema ERP para ganhar uma vantagem

    competitiva (BEARD; SUMNER, 2004; DAVENPORT, 2000).

    Para implantao de sistemas ou o desenvolvimento deste, existe uma

    metodologia o SDLC System Development Life Cycle ou Ciclo de Vida de

  • 32

    Desenvolvimento de Sistema um mtodo utilizado para desenvolvimento, manuteno

    ou substituio de um sistema. Ele proporciona uma viso geral da implantao do

    sistema constitudo em seis fases, permitindo uma perspectiva integrada do

    desenvolvimento.

    Identificao e Seleo do Projeto fase em que todas as necessidades de

    SI (sistemas) da organizao como um todo so identificadas, analisadas e

    estabelecidas num perodo.

    Planejamento e Inicio do Projeto fase em que o projeto explorado e

    questionado, para verificar se realmente ser dado andamento no processo.

    Nessa fase, tambm feito um planejamento detalhado do projeto para a

    conduo das fases posteriores.

    Anlise o atual sistema da organizao estudado e estuda a alternativa

    para a troca para um novo sistema.

    Desenho (lgico e fsico) fase em que descrita a soluo recomendada,

    consentida nas especificaes lgicas e depois fsicas do sistema. A

    especificao lgica descreve as caractersticas funcionais do sistema para

    desenvolvimento, independente da plataforma de computador a ser aplicado.

    J o desenho fsico o de/para das especificaes lgicas vindas de um

    desenho lgico a partir do qual sero produzidas as especificaes dos

    detalhes tecnolgicos para que toda construo e toda programao possam

    ser corrigidas.

    Implantao fase na qual o sistema codificado, testado, instalado e

    suportado dentro da organizao.

    Manuteno fase na qual o sistema reforado e aplicado s melhorias

    contnuas.

    Existe ainda um modelo, chamado de reduzido, que condensa o modelo acima

    de SDLC em apenas quatro fases: (a) Iniciao, (b) Desenvolvimento, (c) Implantao e

    (d) Operao e Manuteno. O conceito similar ao SDLC, somente simplificando-o.

    As primeiras pesquisas em ERP de fatores de sucesso de implantao (por

    exemplo, HOLANDA;LUZ,1999;JARRARET et al., 2000;GRABSKI et al.,

  • 33

    2001;SOMERS;NELSON,2001;AKKERMANS;VAN HELDEN,2002) listam

    resultados de fatores que contribuem para o sucesso de implementao de ERP.

    No entanto, elas no indicam se todos os fatores eram necessrios nem se todos

    os elementos necessrios foram usados com o mesmo nvel de esforo. Mais

    recentemente, Aloiniet (2007) enfatizou a importncia das organizaes com foco em

    maneiras de tornar sua implantao ERP de sucesso, comparando de um ponto de vista

    de gesto de risco para destacar a chave de fatores de risco de falha e seu potencial

    impacto sobre projetos de ERP de sucesso.

    Grabski e Leech (2007) tornaram a pesquisa sobre a teoria de controle atravs da

    utilizao da teoria econmica de complementaridade.O estudo mencionado pelos

    autores explorou a limitao de uma carteira de controles que foi a hiptese utilizada de

    uma forma singular, quando projetos complexos exigiram o uso de vrias tcnicas ao

    mesmo tempo. Ao examinar os pontos de riscos, os controles (associados com

    implantaes de sistemas ERP) e desenvolvimento de fatores crticos de sucesso

    (quando usado em conjunto melhoram os resultados), descobriu-se que todos os fatores

    (FCS) foram necessrios para a implantao e que nenhum fator, por si s, era suficiente

    para uma implantao bem sucedida.

    Com base em um levantamento de organizaes que implantaram sistemas de

    ERP, este levantamento agregou os fatores individuais especficos identificados na

    pesquisa anterior em cinco fatores mais abrangentes (SANGSTER, 2009, p 127):

    Gerenciamento de projetos;

    Gesto da mudana;

    Alinhamento do negcio com o sistema de informao;

    Superviso (auditoria interna) e atividades;

    Consultor e atividades de planejamento.

    Inmeros controles existem dentro de cada uma das cinco categorias mais

    abrangentes(e alguns controles so aplicados em todas as categorias, de acordo com a

    teoria da complementaridade). A partir destas categorias as complexidades associadas

    com implantaes de ERP de xito podem ser vistas, e perdas de processos podem ser

    identificadas no que pode ser definido como implantaes bem executadas que tiveram

  • 34

    falhas, Estas categorias podem ser utilizadas como um direcional para a implantao de

    um sistema ERP.

    Aloiniet et al. (2007) realizaram uma anlise de pesquisas publicadas em 1999 e

    concluram que existem quatro grandes categorias de falha do sistema ERP:

    1.Processo: quando o projeto no concludo dentro do prazo e do oramento.

    2.Expectativa: quando o sistema de TI no corresponde s expectativas do

    usurio.

    3.Interao: quando as atitudes dos usurios so negativas em relao ao TI.

    4.Correspondncia: quando no houver correspondncia entre os sistemas de TI

    e os objetivos planejados.

    No decurso da sua anlise, identificaram 19 fatores de risco. Seus fatores so

    consistentes com aqueles identificados por Grabski e Leech (2007) e incluem: seleo

    inadequada da adoo do projeto ERP, baixo envolvimento dos usurios-chave,

    treinamento e instruo inadequados, processos de negcios de reengenharia

    inadequados, servios de consultoria e ineficazes.

    Existem grupos de usurios de ERP, tais como ERP SELECT, em 2004,

    ofereceram listas dos fatores que podem levar ao fracasso da implantao de ERP:

    Instruo (no entendimento do objetivo que o novo "sistema" projetado para

    alcanar)

    Falta de comprometimento da alta direo (gesto est envolvida, mas no

    dedicada)

    Definio inadequada de requisitos (processos atuais no so endereados de

    forma adequada)

    Seleo pobre do pacote ERP (o pacote no aborda as funes empresariais

    bsicas do cliente)

    Recursos inadequados utilizados pelo cliente

    A resistncia interna mudana dos processos "antigos"

    A m adequao entre os procedimentos dos usurios e o software

    As expectativas irreais dos benefcios e do ROI

    Treinamento inadequado (usurios no sabem como utilizar adequadamente a

    nova ferramenta)

  • 35

    Expectativas de prazos irreais

    Aplicao de uma abordagem de baixo para cima (o processo no visto como

    uma prioridade de alta gesto)

    O cliente no devidamente abordado assim como no so planejadas

    corretamente as despesas envolvidas

    Se a implantao do sistema ERP bem sucedida, o foco da organizao muda

    de uma orientao funcional para a orientao do processo (DAVENPORT, 2000;

    KREMZAR;WALLACE, 2001). Isso requer uma mudana na gesto e na estrutura

    contbil de relatrios, uma mudana na gerao de relatrios (j que todos os dados

    esto agora centralizados em um banco de dados)estes relatrios gerados pelo prprio

    sistema um requisito para a comunicao entre as reas funcionais. A partir do

    momento em que os contadores no precisam mais gerar os relatrios "comuns", eles

    podem fornecer valor para a organizao atravs da gerao de relatrios de previso e

    melhorias na anlise de negcio. Isso semelhante ao que Caglio (2003) chama de

    "hibridizao" dos gestores contbeis.

    Um projeto de ERP menos bem-sucedido pode aumentar as atividades em

    algumas tarefas existentes, absorvendo todo tempo dos usurios envolvidos. Com isso,

    obrigado gastar menos tempo em outras tarefas , no deixando tempo disponvel para

    desenvolver anlises de para o negcio.

    inconcebvel que o sucesso ou fracasso de uma aplicao ERP no tenha

    impacto sobre as pessoas envolvidas ou sobre as tarefas que os indivduos

    desempenham.Reconhecendo a relevncia da provvel sucesso da implantao,

    Grabskiet al. (2009) utilizaram uma abordagem de estudo de caso para analisar as

    mudanas na contabilidade gerencial e no papel dos gestores contbeis resultantes da

    implantao de pacotes ERP em sete grandes organizaes com sede no Reino

    Unido.Alm disso, eles exploraram o efeito que o sucesso ou o fracasso na implantao

    das mudanas que ocorreram. O estudo constatou que, em todos os 7 estudos de caso, o

    papel dos gestores contbeis foi afetado e que as mudanas no papel foram relacionadas

    ao sucesso da implantao do sistema.

    Assim, implantaes de maior sucesso resultaram em mudanas dramticas para

    a natureza de seu papel, processo atravs do qual o gestor contbil se tornou consultor

  • 36

    de negcios e tomou medidas proativas para ajudar os vrios executivos e tomadores de

    deciso.

    Por outro lado, implantaes em menos bem-sucedidas trouxeram um impacto

    disfuncional sobre os gestores contbeis mesmo quando se esperava que as tarefas

    fossem executadas no houve mudana.

    O quadro 5 apresenta os fatores de sucesso e insucesso que podem ocorrer na

    implantao do sistema, fundamentos nos aspectos j analisados pelos autores

    referenciados, onde demonstra-se que a implantao do sistema ERP no depende nica

    e exclusivamente da rea tcnica de TI, mas sim das pessoas envolvidas no processo e

    seu planejamento junto ao projeto.

    Quadro 5 - Fatores de Sucesso e Insucesso na Implantao de ERP

    Sucesso Insucesso

    Gerenciamento do Projeto Processo Aloiniet

    Gerenciamento de Mudana Expectativa Et al.

    Alinhamento do Negcio Interao (2007)

    Superviso e Atividades Correspondncia ERP

    Consultor Recurso Inadequado Select

    Atividades de Planejamento Treinamento Inadequado (2004)

    Fonte: elaborado pela autora com base na teoria.

    2.4. Aspectos comportamentais relacionados implantao de

    sistemas

    Analisam-se, neste tpico, a cultura organizacional e sua relao na implantao

    de um sistema ERP, bem como a gesto de mudana praticada nas organizaes e seus

    aspectos comportamentais.

  • 37

    2.4.1. O conceito de cultura organizacional

    O conceito da cultura originrio da Antropologia. O pioneiro no uso do

    vocbulo foi Edward Tylor, que conceituou cultura como: conhecimentos, crenas,

    arte, moral, leis, costumes ou qualquer outra capacidade ou hbitos adquiridos pelo

    homem como membro de uma sociedade(RUSSO, 2010 p.15). O conceito hoje

    utilizado, no senso comum, como a capacidade de reter e comunicar as ideias entre

    geraes, segundo Russo (2010, p. 15).

    H grandes correntes na antropologia que discutem o que seja cultura. O que

    elas tm em comum que(1) trabalham com as sociedades humanas; (2) tm uma

    histria evolutiva e so concebidas em torno do que caracteriza a vida humana, como

    proteo ao grupo, luta contra os elementos, nascimento e morte, relaes entre os

    sujeitos; (3)tm como material de trabalho o comportamento, os ritos, a linguagem, ou

    seja, manifestaes do ser humano na sua relao com o meio ambiente social e fsico;

    (4) buscam na cultura o que caracteriza a sociedade humana; (5) explicam a relao

    entre o indivduo e a sociedade (THVENET, 1993, p.35). A viso das organizaes

    como sociedades humanas, com culturas que as identificam, est na base da

    transposio dos conceitos de antropologia cultural para a anlise do ambiente

    organizacional (CESAR, 1999).

    Estudos sobre cultura organizacional consideram que a cultura assuma dois

    papis: (1) como varivel independente, supondo-se que sua modificao leve a

    mudanas no desempenho da organizao; (2) como varivel dependente, supondo-se

    que as modificaes estruturais ou processuais em busca de desempenho levem

    modificao da cultura organizacional (WRIGHT, 1999, apud CESAR, 1999).

    Em termos de pressupostos filosficos, a corrente mais comumente utilizada no

    ambiente organizacional a funcionalista, segundo a qual a cultura uma varivel

    independente e, como tal, pode ser gerenciada. Um dos defensores dessa abordagem

    Cameron (1999). Ao discutir o sucesso de grandes companhias cujos indicadores de

    desempenho estavam fora dos parmetros clssicos para anlise de competitividade

    (como Wal-Mart e Southest Airlines, nos anos 90), atribuiu forte cultura

    organizacional dessas empresas a razo de seu sucesso (CAMERON, 1999, p. 3-4).

  • 38

    Dentro dessa mesma abordagem funcionalista, Hofstede (2003) um dos autores

    mais conhecidos na rea organizacional. Para esse autor, a cultura a programao

    coletiva da mente que distingue os membros de uma organizao dos de outra. de

    Hofstede (2003) a afirmao de que

    todos somos como os ingleses Hume ou Goring, observamos o mundo

    atravs das janelas de uma casa cultural e agimos como se as pessoas de

    outros pases tivessem alguma caracterstica especial (carter nacional),

    enquanto a nossa casa normal. Infelizmente no existe norma em matria de

    cultura. Esta mensagem incomoda, to incomoda como foi a afirmao de

    Galileu Galilei no sculo dezessete de que a Terra no o centro do universo

    (p. 271).

    Ainda dentro da abordagem funcionalista, Denison, Hooijberg, Lane e Lief

    (2013, p.3) apontam que as pesquisas realizadas nas ltimas dcadas demonstram que a

    cultura da organizao tem impacto nos negcios de quatro formas: (1) cria o sentido de

    misso e direo; (2) constri um alto nvel de adaptabilidade e flexibilidade; (3) nutre o

    envolvimento e o engajamento de seu pessoal; (4) fornece uma consistncia que est

    fortemente enraizada em um conjunto de valores essenciais. Assim, o futuro de uma

    empresa est alicerado em seu passado quando o que se discute so os aspectos

    culturais. Esse o forte argumento para que a cultura da organizao seja identificada e

    monitorada.

    Outro representante da abordagem funcionalista Schein (2009 p.22), que

    afirma: ou a empresa gerencia a cultura ou a cultura gerencia a empresa. Para Schein

    (2009, p. 24), a cultura pode ser analisada em trs nveis: (1) nvel das suposies

    bsicas: crenas e os pressupostos adjacentes que so subconscientes, invisveis e

    raramente questionveis; (2) nvel das crenas e valores expostos: os valores e as

    atitudes pessoais que so menos visveis, mas podem ser comentados; (3) nvel dos

    artefatos, comportamentos e normas que so visveis e tangveis, definidos como as

    estruturas e processos organizacionais, coisas visveis mas difceis de decifrar.

    Pode-se dizer que todas as organizaes tm elementos culturais que as

    distinguem, sejam elas pequenas empresas familiares, sejam empresas globais. Em

    todas, h influncia de nacionalidade; todas tm pressupostos acerca da natureza

    humana, do tempo e do trabalho; todas tm crenas e valores que regem os

    comportamentos e determinam as regras/normas de conduta e de trabalho; todas tm

  • 39

    artefatos como mveis, equipamentos e outros, cuja disposio e cujo uso so

    influenciados pelos pressupostos assumidos.

    Uma questo importante a ser considerada o fato de muitas organizaes terem

    bases geograficamente dispersas, frequentemente em diferentes pases. A cultura

    nacional exerce influncia sobre a cultura local de uma organizao e, independente

    dessa cultura,os aspectos nos quais as bases nacionais mais frequentemente diferem

    esto relacionados aos valores, estrutura de poder, igualdade/desigualdade social e

    aos valores individuais e grupais (HOFSTEDE; NEUIJEN; OHAVY;SANDERS,

    1990).

    Do ponto de vista de diferenas culturais nacionais,Hofstede (1998) aponta que

    estudos dessa natureza devem considerar quatro dimenses principais2:

    1) Distncia do poder (pequena ou grande);

    2) Averso incerteza (forte ou fraca);

    3) Individualismo ou coletivismo;

    4) Masculinidade ou feminilidade (papis sociais assumidos pelos

    gneros).

    Seus estudos foram fortemente criticados ao longo do tempo com alegaes de

    que no se pode medir cultura usando survey (metodologia que usa instrumentos de

    pesquisa quantitativos);de que naes no so unidades de anlise apropriadas; de que o

    estudo de subsidirias de uma empresa no prove informao sobre o pais; de que os

    dados usados para validar seu modelo terico so obsoletos, porque foram coletados na

    dcada de 1970 (HOFSTEDE, 1998, p. 480-481).

    Recentemente Hofstede apresentou a evoluo do que denomina sua doutrina,

    rebatendo as crticas que lhe foram feitas ao longo do tempo (MANKOV; HOFSTEDE,

    2011). Nesse texto, suas argumentaes so:

    1) constructos, como cultura e suas dimenses, so ideias complexas que

    refletem fenmenos existentes. Assim, no so a realidade em si e, como

    tal, so apenas uma forma de se organizar os impresses que se tem

    acerca de uma realidade;

    2 Mais recentemente foi includa uma dimenso ligada ao confucionismo, para diferenciar culturas

    asiticas dentre si. Cf. MINKOV; HOFSTEDE, 2011.

  • 40

    2) No h uma melhor maneira de se construir dimenses, sejam elas

    culturais, sejam psicolgicas sejam de outra natureza.assim, no se

    pergunta se elas so verdadeiras ou no, mas sim se so ou no coerentes

    entre si;

    3) Modelos diferentes e suas dimenses tero diferentes mritos,

    dependendo do que os pesquisadores buscam explicar;

    4) Validade de face (baseada na semntica das palavras usadas em um

    questionrio) no pode ser uma exigncia rigorosa em uma anlise

    intercultural de culturas nacionais;

    5) H uma grande discusso na rea de Cincias Sociais acerca dos

    mritos de pesquisas dedutivas ou indutivas. A escolha de Hofstede por

    pesquisa indutiva, que comea com dados empricos e, a partir da, busca

    construir modelos e teorias;

    6) O uso de mtodos quantitativos para a anlise de culturas vm sendo

    criticado porque se alega que esse tipo de metodologia no capta a

    riqueza dos aspectos culturais.Os autores no contradizem a afirmao,

    mas apontam que gerar nmeros exige a interpretao dos dados, e esse

    um aspecto subjetivo considerado por eles (MINKOV e HOFSTEDE,

    2011, p. 17-18).

    2.4.2. Cultura organizacional e implantao de sistemas ERP

    Considerando-se o modelo de sistemas do tipo ERP, com desenho padronizado e

    solues para diferentes demandas nas organizaes, a anlise da cultura nacional ocupa

    um papel importante na anlise dos comportamentos dos atores envolvidos com a

    implementao (KAPPOS; RIVARD, 2008).

    De acordo com Kappos e Rivard (2008), uma reviso da literatura de Tecnologia

    da Informao TI aponta que estudos relacionando cultura e TI so classificados em

    seis grupos: (1) cultura e desenvolvimento de TI; (2) Cultura, adoo de TI e difuso;

    (3) Cultura, uso de TI e resultados; (4) Cultura, gesto de TI e estratgia; (5) Influncia

  • 41

    da TI na cultura; (6) Cultura de TI. O presente estudo est alinhado ao grupo 3: cultura,

    uso de TI e resultados.

    Nas empresas de base global, frequente o processo de expatriao de

    funcionrios para que gestores da sede possam se relacionar com gestores locais,

    facilitando, assim, a compreenso das diferenas culturais. Alm da internacionalizao,

    tm-se tambm os movimentos de fuso e incorporao como uma das tendncias de

    crescimento de organizaes. As interaes interculturais desempenham um grande

    papel nessas situaes, envolvendo no s a cultura nacional como a organizacional. O

    movimento de fuso e incorporao a situao cultural analisada no estudo de caso

    que se desenvolve no presente trabalho.

    No caso de aquisio de uma empresa por outra empresa estrangeira, a

    compradora normalmente impe empresa que foi comprada a sua cultura e os

    elementos da cultura do seu pas de origem. Uma outra maneira de interveno no

    integrar as duas culturas, o que tambm causa grandes problemas pela diferena entre

    esquemas referenciais e modelos de atuao. De qualquer forma, sempre que duas

    organizaes entram em processo de cooperao (de qualquer natureza) sempre haver

    o choque entre duas culturas distintas. Conforme menciona Hofstede (2003, p. 262), as

    aquisies estrangeiras conduzem muitas vezes destruio do capital humano e, por

    consequncia, do capital financeiro.

    Apesar de todas as crticas que se faz ao modelo de Hofstede, e assumindo-se

    como factveis as suas argumentaes a favor de seu modelo, considera-se que algumas

    das prticas de trabalho apresentados em seu artigo "Atitudes, Valores e Cultura

    Organizacional : libertando os conceitos" (HOFSTEDE, 1998) possam ser usados na

    anlise da cultura organizacional.

    O Quadro 6 apresenta essas prticas e os nveis de anlise propostos no presente

    estudo.

    Dentre as 79 dimenses categorizadas em 7 fatores o quadro 6 apresenta 5

    dimenses que foram escolhidas por serem caractersticas na empresa Beta.

  • 42

    Quadro 6 - Prticas de trabalho e nveis de anlise da cultura

    Nvel de anlise:

    Crenas e valores

    assumidos

    Justificativas para escolhas

    estratgicas, definio de metas e

    apresentao das polticas da

    organizao

    Russo, 2010

    Dimenses de

    trabalho

    Recepo de informao suficiente

    de outras reas da empresa

    Solicitao de tarefas desafiadoras

    Definio clara de quanto o

    trabalho/atividade importante

    Perda de tempo corrigindo erros

    Importncia da liberdade no

    trabalho

    Hofstede, 1998

    Fonte: elaborado pela autora com base na teoria.

    2.4.3. Gesto de Mudanas

    Na histria, viu-se que os primeiros grupos humanos agiam de forma a manter

    seu status quo, vivendo de forma extrativista e sujeitos s condies que lhe eram

    impostas. Ao se estabelecerem as primeiras comunidades, houve a necessidade de

    mudar geograficamente, pois se exauriam os recursos de caas nos territrio nos quais

    se fixavam. Ao longo do tempo, observou-se que os riscos de mudana foram sendo

    assumidos porque os grupos precisavam encontrar novas reas que assegurassem a sua

    sobrevivncia, ou ainda, percebeu-se ser necessrio brigar por reas que j estivessem

    ocupadas por outros grupos (GONALVES, 2012).

  • 43

    Com a agricultura, criaram-se as aldeias, os muros e os obstculos contra os

    inimigos, minimizando-se o risco da mudana. Essa averso primitiva mudana

    mantm-se psicologicamente viva em cada ser humano, como disse Charles Darwin: O

    homem ainda traz em sua estrutura fsica a marca indelvel de sua origem primitiva.

    Ainda sobre mudana, tem-se a ideia expressa no texto de Herclito: nada existe de

    permanente seno a mudana (GONALVES, 2012, p.3).

    Ainda sobre a predisposio das pessoas mudana, comum se ver a

    afirmao: somente 10% das pessoas aceitam as mudanas de imediato, 20% aceitam

    com pouco esforo de gesto da mudana, 40% com muito esforo e 30% s aceitam

    depois que a mudana foi bem sucedida.(GONALVES, 2012). medida que o

    tempo passa, o ser humano tambm altera seu comportamento. O apego ao status quo,

    por exemplo, tambm se modifica.

    Promover uma mudana contnua um trabalho rduo e complexo, no qual o ser

    humano precisa se adaptar para sobreviver, pois o mundo sempre esteve e est em

    mudana e, principalmente, nas ultimas dcadas, a velocidade foi ainda maior, mudando

    no s a tecnologia, mas tambm os hbitos das pessoas.

    Todas essas mudanas de comportamento humano demandam adequaes nas

    organizaes. O cenrio competitivo j no mais o mesmo de dcadas passadas as

    diferenas do espao a estratgias mais adequadas s demandas. Com isso, entende-se

    que as organizaes vo continuar passando por processos de reestruturaes e para

    assegurar o sucesso de sua evoluo, dependero da competncia das mesmas

    organizaes em gerir o fator humano em seus projetos de mudana. Gonalves (2012)

    ainda menciona que se vive um momento da histria humana no qual o que muda a

    velocidade com que as mudanas esto ocorrendo.

    Existem estratgias de mudanas chamadas mudanas impositivas, nas quais h

    uma situao imposta ou a proposta de extino de prticas ou de outros aspectos

    relacionados cultura anterior. Geralmente, isso ocorre em empresas altamente

    hierarquizadas, nas quais as pessoas tm pouco acesso deciso sobre a implantao

    das mudanas. Isso gera um clima organizacional no qual as pessoas no se engajam no

    propsito da organizao, porque no se identificam com as novas prticas ou com a

    nova cultura imposta.

  • 44

    Outro tipo de mudana a negociada, participativa, que parte de um objetivo,

    gerando um propsito e levando em considerao o fator humano e sua complexidade.

    Essa abordagem proposta como geradora de mais valor para a organizao pela

    possibilidade de maior engajamento das equipes, por isso facilita a renovao e o

    aprimoramento de procedimentos bem como a superao de metas. Em mudanas

    negociadas, o esprito de equipe se faz presente e as pessoas se sentem como parte do

    sistema integrado, tendo amplo envolvimento com o processo.

    Com base nesses dois conceitos, a estratgia de mudana vem para trazer

    melhores resultados no tempo, sendo perene no desenvolvimento da organizao.

    Mudanas podem fortalecer a cultura organizacional, se houver engajamento de todos,

    podendo levar a organizao a um nvel de competitividade diferenciado.

    Todavia, embora necessrias, as mudanas trazem por si o desconforto e at

    mesmo a dor para aqueles que a esto vivenciando no ambiente organizacional. Embora

    mudanas sejam inevitveis, necessrio ter em mente que a passagem de uma fase

    para a outra da mudana implica uma etapa de queda de produtividade e readequao,

    que conhecida como vale do desespero(Gonalves, 2012).

    Essa fase ocorre, inevitvel e o tempo de sua durao vai depender da eficcia

    do processo de gesto da mudana, ou seja, da capacidade de promover estratgias

    capazes de levar os envolvidos a atravessar o mais rpido possvel esse momento.

    Considera-se importante, para esse estudo, o comentrio de Gonalves (2012, p.

    10): assim como o gerente de um projeto deve conduzir a gesto de prazos custos,

    qualidade, etc. tambm a gesto de mudanas deve estar em seu radar para que o

    projeto seja bem sucedido. Assim, o processo de gesto de mudana no operacional,

    estratgico e deve levar em conta o fato de que as atividades/rotinas so substituveis,

    porm as pessoas no o so. Seus conhecimentos, suas habilidades e suas experincias

    no so repostos no curto prazo.

    Existem ainda vrias outras questes a serem consideradas na gesto de

    mudanas. Quanto mais complexas forem s mudanas mais implicaro em mudanas

    estratgicas, estruturais, em mecanismos de coordenao, em medidas de desempenho

    diferenciadas, em incentivos ao comportamento e em mecanismos de controle. O

    atendimento a esses quesitos s