A Importancia Da Linguagem Borba 1998

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livro de portugues

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  • A IMPORTNCIA DA LINGUAGEM1

    Cid Ivan da Costa Carvalho2

    1. A LINGUAGEM

    1.1 A LINGUAGEM E A VIDA SOCIAL

    Tem-se discutido muito sobre as funes essenciais da linguagem humana e a

    hierarquia natural que ha entre elas. fcil observar, por exemplo, que e pela posse e pelo uso

    da linguagem, falando oralmente ao prximo ou mentalmente a ns mesmos, que

    conseguimos organizar o nosso pensamento e torn-lo articulado, concatenado e ntido; e

    assim que, nas crianas, a partir do momento em que, rigorosamente, adquirem 0 manejo da

    lngua dos adultos e deixam para trs 0 balbucio e a expresso fragmentada e difusa, surge um

    novo e repentino vigor de raciocnio, que no s decorre do desenvolvimento do crebro, mas

    tambm da circunstancia de que individuo dispe agora da lngua materna, a servio de todo

    seu trabalho de atividade mental. Se se inicia e desenvolve estudo metdico dos caracteres e

    aplicaes desse novo e precise instrumento, vai, concomitantemente, aperfeioando-se a

    capacidade de pensar, da mesma sorte que se aperfeioa o operrio com o domnio e o

    conhecimento seguro das ferramentas da sua profisso. E este, e no o outro, antes de tudo,

    o essencial proveito de tal ensino.

    Observe-se ainda, por outro lado, que e quase exclusivamente pela linguagem que

    nos comunicamos uns com os outros na vida social. Pode-se dizer que a sociedade humana,

    em confronto com as aspectos rudimentares das colonias dos animais gregrios, e, na sua

    tremenda complexidade, uma consequncia da posse da linguagem. Dela depende a permuta

    das ideias, como a das mercadorias pressupe, para ser eficiente e irrestrita, um servio

    organizado de trafego.

    1.1. A atividade de comunicao e uma constante em qualquer escala da vida animal: todos

    os animais se comunicam de alguma forma e em algum perodo de sua vida seja por

    1 Este texto no uma construo minha; ele se constitui de alguns fragmentos retirados dos livros que se encontram nas referncias, formando um intertexto explcito, como diria Koch (2009) .

    2 Professor Mestre da UFERSA.

  • necessidade de sobrevivncia seja por imperativos biolgicos (ex: conservao da espcie) s

    possveis atravs de um mnimo de interao. A constncia e a amplitude da atividade

    comunicativa talvez estejam ligadas aos meios de que a espcie dispe para tal fim. Algumas

    possuem cdigos nitidamente delimitados. na espcie humana, entretanto, que a

    comunicao atinge 0 seu mais alto grau de complexidade s compensada por igual

    eficincia.

    1.2. Variam muito os meios utilizados para a comunicao: movimentos, como na dana das

    abelhas; reao a cores ou a odores, como entre os pintarroxos que se agridem por causa das

    penas vermelhas do pescoo e as borboletas que atraem os machos pelo cheiro; produes

    vocais como entre as aves, os mamferos etc. A diferena dos outros animais, os homens se

    servem desses e de outros expedientes para entrarem em contacto uns com os outros.

    Costuma-se dar 0 nome de linguagem a qualquer desses meios de comunicao, mas, desde os

    tempos mais remotos, 0 termo se aplica aquela aptido humana para associar uma cadeia

    sonora (voz) produzida pelo chamado aparelho fonador a um contedo significativo e utilizar

    0 resultado dessa associao para a interao social uma vez que tal aptido consiste no

    apenas produzir e enviar, mas ainda em receber e reagir a comunicao. Compreendida dessa

    maneira, a linguagem aparece como o mais difundido e o mais eficaz instrumento natural de

    comunicao disposio do homem.

    1.3. Para bem compreender a natureza da linguagem humana, convm atentar para seus

    traos mais caractersticos, quais sejam:

    1.) Simbolizao - Quando se diz que a linguagem e uma atividade simb1ica quer-se

    dizer que ela opera com elementos que representam a realidade, sem, contudo, constiturem

    eles a realidade em si mesma. Por exemplo, a sequncia fnica gamb evoca, lembra,

    representa a ideia de um determinado animal; do mesmo modo, a forma coragem representa

    um trao do comportamento cuja descrio pode ser ate complicada. Toda e qualquer

    realidade, externa ou interna, s6 passara para 0 universo lingustico atravs do processo da

    simbolizao, que constitui uma espcie de filtro do mundo dos objetos. E por isso que se diz

    que a linguagem categoriza a realidade, isto e, classifica-a em categorias na medida em que

    representa essa realidade.

    2.) Articulao - Todo ato de comunicao e analisvel em diversos nveis com graus

    variveis de complexidade. Ignorando-se 0 contexto maior, tomemos a sequncia.

    3.) Regularidade - Cada manifestao lingustica tem uma significao permanente

    capaz de repetir-se idntica a si mesma nas mesmas circunstancias. Essa possibilidade de

  • recorrncia se deve ao fato de que a linguagem se manifesta por meio de sistemas lingustico.

    4.) Intencionalidade - Todo ate de comunicao implica sempre um propsito claro e

    definido. Por isso, a linguagem/ sempre se refere a alguma coisa, existente ou no, mesmo a

    objetos distantes no espao e no tempo em relao ao local e ao momento da comunicao.

    5.) Produtividade - ~A linguagem contem um mecanismo capaz de produzir um nmero

    praticamente infinito de mensagens. Por isso o usa da linguagem no e controlado por

    atividades lingusticas previas dos usurios: qualquer falante, em qualquer momento e lugar,

    pode produzir a mensagem que queira, independentemente de j t-la ouvido antes ou no. Da

    mesma forma, qualquer um pode entender (captar, decifrar) qualquer mensagem.

    2. DIMENSES UNIVERSAIS DA LINGUAGEM

    A linguagem, entendida como atividade humana de falar, apresenta cinco dimens6es

    universais: criatividade (ou enrgeia), materialidade, semanticidade, alteridade e

    historicidade.

    Criatividade, porque a linguagem, forma de cultura que e, se manifesta como atividade

    livre e criadora, ou "do esprito", isto e, como algo que vai mais alm do aprendido, que no

    simplesmente repete o que j foi produzido.

    Materialidade, porque a linguagem e, primeiramente, uma atividade condicionada

    fisio1gica e psiquicamente, pois implica, em relao ao falante, a capacidade de utilizar os

    rgos de fonao, produzindo signos fonticos articulados (fonemas, grafemas, quando

    representados na escrita, etc.) com que estabelece diferenas de significado (por exemplo,

    Pala, Vala, Mala, Tala, Rala, etc.); enquanto em relao ao ouvinte, implica a capacidade de

    perceber tais fonemas e interpretar o percebido como referencia ao contedo configurado pelo

    falante mediante os signos fonticos articulados. E o nvel bio1gico da linguagem.

    Semanticidade, porque a cada forma corresponde um contedo significativo, ja que na

    linguagem tudo significa, tudo e semntico.

    Alteridade, porque o significar e originariamente e sempre um "ser com outros", prprio

    da natureza poltico-social do homem, de indivduos que so homens juntos a outros e, por

    exemplo, como falantes e ouvintes, so sempre co-falantes e co-ouvintes.

    Historicidade, porque a linguagem se apresenta sempre sob a forma de lngua, isto e, de

    tradio lingustica de uma comunidade histrica. No existe lngua desacompanhada de sua

  • referencia histrica: s ha lngua portuguesa, lngua francesa, lngua inglesa, lngua

    espanhola, lngua latina, etc.

    Destas cinco dimenses, a criatividade e a materialidade so universais de todas as

    formas da cultura, pois so todas atividades criadoras que se realizam no mundo de forma

    material, sem o que no poderiam existir nem passar ao conhecimento dos outros membros da

    comunidade. A semanticidade e a "differentia specifica" da linguagem em relao s outras

    formas de cultura. A alteridade e o trao distintivo do significar lingustico em relao aos

    outros tipos de contedo das formas de expresso e , por sua vez fundamento da

    historicidade da linguagem.

    Referncias

    BECHARA, Evanildo. Moderna gramtica portuguesa. 38. ed. Rio de Janeiro - RJ:

    Lucerna, 2005.

    BORBBA, Francisco da Silva. Introduo aos estudos lingusticos. 12. ed. Campinas SP:

    Pontes, 1998.

    CAMARA JR. Joaquim Mattoso. Manual de expresso oral e escrita. 27. ed. Petrpolis

    RJ: Editora Vozes, 2010.