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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PRÓ-DIRETORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO
DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS
PROJETO A VEZ DO MESTRE
A IMPORTÂNCIA DA PSICOMOTRICIDADE NA 3ª IDADE
AUTORA
MIRENA SILVIA DOS SANTOS MONTEIRO VOLL
ORIENTADOR
PROF. MARCO ANTÔNIO CHAVES
Rio de Janeiro, RJ, fevereiro/2002
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PRÓ-DIRETORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO
DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS
PROJETO A VEZ DO MESTRE
A IMPORTÂNCIA DA PSICOMOTRICIDADE NA 3ª IDADE
AUTORA
MIRENA SILVIA DOS SANTOS MONTEIRO VOLL
Trabalho Monográfico apresentado como
requisito parcial para obtenção do Grau
de Especialista em Pós-Graduação em
Psicomotricidade.
Rio de Janeiro, RJ, fevereiro/2002
Agradeço ao meu marido Franklin Voll,
aos meus filhos: Alex, Vanessa e Thaís
pelo apoio recebido para realizar este
trabalho e pela minha avó Dejanira que
aos 94 anos seguiu a luz de Deus, com
sonhos ainda a serem realizados e
sempre foi um exemplo de vida.
“Saber envelhecer, não é dar anos à vida,
e sim vida aos anos.”
SUMÁRIO
1. A IMPORTÂNCIA DA PSICOMOTRICIDADE NA 3ª IDADE ................... 6 2. O PROCESSO DE ENVELHECIMENTO ................................................ 8 2.1. O que é ser velho? .................................................................................. 8 2.2. Envelhecimento social ............................................................................. 9 2.3. Envelhecimento psicológico .................................................................. 10 2.4. Envelhecimento biológico ou funcional.................................................. 11 2.4.1. Alterações no aparelho locomotor...................................................... 11 2.4.2. Alterações nos músculos ................................................................... 11 2.4.3. Alterações nas articulações: .............................................................. 12 2.4.4. Alterações nos ossos: ........................................................................ 13 2.4.5. Alterações no aparelho respiratório: .................................................. 13 2.4.6. Alterações no aparelho cardiovascular: ............................................. 14 2.4.7. Alterações na pele: ............................................................................ 14 2.4.8. Alterações no ouvido:......................................................................... 14 2.4.9. Alterações nos olhos:......................................................................... 15 3. PSICOMOTRICIDADE E ENVELHECIMENTO..................................... 16 4. TRABALHO REALIZADO PARA 3ª IDADE ........................................... 18 4.1. Princípios que orientam a atividade física para idosos.......................... 18 4.1.1. Princípio da motivação da atividade física ......................................... 18 4.1.2. Princípio da individualização da atividade física ................................ 18 4.1.3. Princípio da continuidade da atividade física ..................................... 19 4.2. Metodologia ........................................................................................... 21 4.3. Local da atividade.................................................................................. 22 4.4. Efeitos benéficos da atividade física na terceira idade .......................... 23 4.4.1. Efeitos antropométricos e neuro musculares: .................................... 23 4.4.2. Efeitos metabólicos ............................................................................ 23 4.4.3. Efeitos Psicológicos ........................................................................... 23 CONCLUSÃO................................................................................................... 25 ANEXO A - FOTOS........................................................................................ 27 ANEXO B - EVENTOS CULTURAIS.............................................................. 29 ANEXO C - DOCUMENTOS DIVERSOS....................................................... 30 BIBLIOGRAFIA ................................................................................................ 34
6
1. A IMPORTÂNCIA DA PSICOMOTRICIDADE NA 3ª IDADE
O Brasil já é considerado um país envelhecido. Esse
crescimento populacional é o mais acelerado do mundo e as projeções
mostram que o ano de 2025 a proporção de idosos será de 15%, semelhante
as que ocorrem atualmente nos países europeus. Seremos, então, o sexto país
em número de idosos no mundo.
A duração média de vida vem aumentando devido às
condições materiais de vida, do processo da medicina e saúde pública,
trazendo avanços nos recursos e técnicas diagnóstica, assistências e
terapeutas.
O grande aumento da população de idosos eleva
também o percentual de pessoas com algum tipo de doença crônica, limitação
física ou incapacidade. Viver por mais tempo significa que haverá um número
maior com alguma dependência funcional ou problemas de saúde demandando
cuidados especializados. A longevidade exige maiores cuidados e uma
mudança de paradigma diante da vida.
A situação atual demonstra que as ações
desenvolvidas até o presente momento estão longe de promover atenção
adequada ao idoso brasileiro, tanto no setor social, como na saúde (pensando
na saúde como bem-estar biopsicossocial). A política nacional do idoso criada
pela Lei 8.842 em 1994 e coordenada pela Secretaria de Ação Social e pelo
Ministério da Previdência e Assistência Social (S.A.S./M.P.A.S.), objetiva a
garantia dos direitos sociais do idoso, definindo condições para promover sua
autonomia, integração e plena participação na sociedade.
Sabemos que a prática está muito longe desses
objetivos, mas esta é o ponto de partida para podermos pensar em estratégias
para se atingir esses objetivos. As questões do envelhecimento num âmbito
biopsicossocial não se podendo pensar em apenas no envelhecimento físico
como motivo das questões que permeiam o envelhecimento. Paralelamente
aos problemas médicos surgem, os problemas de ordem psicológica,
depressão, angústia, temores, muitas das vezes relacionados a perdas de
7
entes queridos, ou a quedas, internações, conflitos familiares e até mesmo a
forma como encara o seu envelhecimento. Somam-se questões sociais como,
aposentadoria, a troca de papéis dentro da família, a dependência afetiva e
econômica. O idoso passa a receber ordens e a ser criticado pelas suas
limitações necessitando conseqüentemente de um atendimento multidisciplinar.
Por suas características específicas, a psicomotrici-
dade na terceira idade pode aportar elementos valiosos, contribuindo
significativamente para a “promoção da saúde do idoso, sua socialização e a
manutenção de sua autonomia”.
8
2. O PROCESSO DE ENVELHECIMENTO
2.1. O que é ser velho?
A velhice é um termo impreciso e sua realidade é
difícil de perceber. Nada flutua mais do que os limites da velhice em termos de
complexidade fisiológica, psicológica e social. A maneira pela qual as pessoas
passam e encaram as características do envelhecimento é que as classifica
como velhas existe um critério que é cronológico determinado pela
Organização Mundial de Saúde (O.M.S.):
60 anos = idoso e mais três subfaixas;
60 a 69 anos = jovens idosos, de 70 a 79 anos = meio
idosos, a partir de 80 anos = idosos velhos, também chamada de quarta idade
pelos franceses. Esse critério cronológico nada quer dizer tratando-se da
história e da constituição genética de cada um. Cabe diferenciarmos o
envelhecimento cronológico do envelhecimento funcional. Quando as funções
começam a se deteriorar é que os problemas começam a surgir.
Deve-se ressaltar que em decorrência das precárias
condições de vida o envelhecimento funcional precede o cronológico e muitas
vezes de maneira bastante precoce. Um indivíduo que passa anos de sua vida
trabalhando em condições ambientais adversas, mal nutrido, sem lazer
enfrentando todo o estresse de uma grande metrópole, sem condições de
moradia, submetendo-se ao sistema de transporte coletivo urbano, ao chegar
aos 50 anos já está funcionalmente envelhecido.
9
2.2. Envelhecimento social
Dentro de todos os argumentos sociais o estado de
velhice foi tornado como elemento de valorização, graduado conforme a
condição social, desde o simples anonimato até a posição mais significante.
Em algumas tribos esquimós, o envelhecimento só chegava para os indivíduos
no momento em que não mais conseguiam, por si sós, proverem suas próprias
necessidades e colaborarem no trabalho geral do grupo. Sentindo-se, então,
pesados ao demais, recorriam ao suicídio, solução indicada pela própria cultura
para aqueles que incapacitados para a vida normal eram considerados velhos
e deviam desaparecer. As sociedades da antiguidade, em geral, consideravam
o estado de velhice altamente dignificante e acatavam como um sábio todo
aquele que atingia essa etapa.
Para entender melhor a questão dos idosos no Brasil,
é preciso conhecê-los nos dois brasis: o do nordeste e o do sul. No nordeste,
ainda predomina a família patriarcal, onde é muito forte a presença da cultura
indígena, em que o velho desempenha papel de destaque de transferir para os
jovens a cultura da tribo, seu folclore, suas crenças suas histórias sendo o mais
respeitado de todos os indivíduos, justamente pela experiência acumulada ao
longo da vida. No sul, predomina a sociedade industrial, marcada pelo
acirramento da competição entre as pessoas, na busca de promoção social e
humana, resultante direta da estrutura de produção. Dentro deste quadro, os
inabilitados são reduzidos socialmente. Da mesma maneira, esta sociedade
extremamente competitiva segrega e discrimina a pessoa que ingressa na
terceira idade.
Em muitas cidades onde estão funcionando grupos
organizados de idosos com programas que incluem diferentes atividades
sociais, culturais e esportivas, tem sido observado que a psicomotricidade é um
excelente caminho para que as pessoas se libertem de preconceitos, percam
complexos e redescubram a alegria e a espontaneidade, reintegrando-se à
sociedade.
10
2.3. Envelhecimento psicológico
Na velhice, o equilíbrio psicológico se torna mais
difícil, pois a longa história da vida acentua as diferenças individuais, quer pela
aquisição de um sistema de reivindicações e desejos pessoais, quer pela
fixação de estratégicas de comportamentos. Atrás de uma barreira de
isolamento social, pessimismo face à existência, passividade e queixas
somáticas, que têm sido erroneamente considerados como parte do processo
de envelhecimento, mascaram-se as ansiedades, a depressão e a insônia,
precursoras comuns de infarto no miocárdio. No percorrer dos anos, certas
modificações se processam no término do indivíduo de forma que ficam
alterados seus valores e atitudes. Os entusiasmos são os menores, a
motivação tende a diminuir e são necessários, ao idoso, estímulos bem
maiores para fazê-lo empreender uma nova ação. É como se carecesse da
reserva de força física ou psicológica para lutar contra fatores, tanto externos
como interno, que ameacem a vida. Perdendo o diálogo harmonioso com seu
corpo, apresentam problemas de postura, rigidez, coordenação motora
comprometida e medo de caminhar, aumentando, dessa forma as tensões
psíquicas. Por não manterem mais uma relação de movimento corporais se
voltam para dentro. Por isso, o uso de atividade física como forma de
expressão corporal é bastante importante, pois proporciona um funcionamento
formal do organismo. Além disso, com atividade física sistematizada e dirigida
procura-se eliminar a ociosidade e estimular o indivíduo. O fato de se fazer uso
do corpo de forma correta aumenta a disposição para a participação nas
atividades do dia a dia. Entretanto, a motivação para a psicomotricidade
depende muito de características comportamentais e de experiências
vivenciais. No Brasil, onde as pessoas das classes desfavorecidas são em
maior número, observam-se, nos ambulatórios de hospitais e postos de saúde,
a manifestação dos sentimentos desagradáveis acumulados, através de uma
“linguagem física” que evidencia sintomatologias diversas. A psicomotricidade
atua de forma benéfica nessa fase contribuindo para a liberação das tensões e
estados de insegurança através da aquisição de novos valores.
11
2.4. Envelhecimento biológico ou funcional
As mutações de ordem biológicas verificáveis no
declínio do organismo humano decorrem, fundamentalmente, do processo de
senescência responsável por perdas orgânicas e funcionais. Tais modificações
são caracterizadas por uma tendência qual à atrofia e por uma diminuição da
eficiência funcional.
2.4.1. Alterações no aparelho locomotor
Sendo o movimento um dos fenômenos essenciais da
vida, é lógico que o indivíduo sinta com se costuma dizer um “golpe de velho”
quando nota que suas articulações são menos flexíveis, quando já não é
perfeitamente ágil, e quando começa a comprovar que já não se pode manter
tão ereto como antes.
Em geral, a estatura diminui: isso começa entre os
cinqüenta e cinqüenta e cinco anos e a evolução é singularmente rápida entre
os setenta e oitenta e cinco anos. A mulher experimenta esse fenômeno antes
que o homem. A diminuição é de uns três a quatro centímetros e se deve à
compressão das vértebras e ao achatamento dos discos intervertebrais. Ao
mesmo tempo se abate todo o corpo: os ombros se encurvam mais, a cabeça
se inclina para adiante. A curvatura dorsal acentua-se, Os joelhos dobram-se,
produz-se um encurvamento geral. Isto leva a uma constante perda de
equilíbrio diante das mudanças de direção realizadas com um mínimo de
rapidez.
2.4.2. Alterações nos músculos
Normalmente possuem certa consistência e certo
tônus, dotado de uma elasticidade que permite o livre jogo articular. O
envelhecimento traz consigo transtornos de dois tipos: a diminuição do tônus e
a perda da força.
12
Isto trará como conseqüência atrofia muscular que
predominará nas grandes massas musculares como: ombros, glúteos, coxas,
etc, o que explica porque é tão penosa para as pessoas idosas uma carga
pesada.
2.4.3. Alterações nas articulações:
Sofrem uma grande mudança, perdem a mobilidade e
a elasticidade, convertendo-se em um centro de lesões degenerativas devido à
involução do aparelho capsular, o que se conhece com o nome de artrose.
O processo artrósico pode afetar um número elevado
de articulações, manifestando-se com maior freqüência nos joelhos, quadris
(cadeiras), dedos dos pés e das mãos, ombro coluna lombar e cervical.
Os gordos, por causa do peso, são mais propensos à
artrose. A menopausa e a pós-menopausa também colaboram com esse
processo, sobretudo ao nível das epífises ósseas, em que se produz uma
grande descalcificação.
São muitos conhecidos os sinais de alerta entre os
quais a rigidez ao levantar-se, rangendo as articulações os primeiros
movimentos após um período mais ou menos prolongado de quietude.
Os outros sinais aparecem quando há dificuldade para
se amarrarem os sapatos, vestir-se, recolher objetos caídos no solo.
As radiografias permitem apreciar o processo de
envelhecimento. Pode ver-se claramente como existe menos espaço articular,
assim como se vêem a erosão do contorno do osso, e ao nível das inserções
dos tendões, umas pequenas formações chamadas “osteófitos e bico-de-
papagaio”, assim chamado pela sua forma.
13
2.4.4. Alterações nos ossos:
O problema mais característico é a osteoporose.
Trata-se de transformação progressiva do osso, de um estado consistente, a
outro esponjoso, produzindo-se também a deformação do osso. Processo que
aumenta pela descalcificação do osso, em conseqüências de perturbações
bioquímicas que fazem diminuir o poder da fixação do cálcio. O exercício físico
é um dos elementos mais importantes para estimular a fixação do cálcio,
tornando mais lento esse processo.
2.4.5. Alterações no aparelho respiratório:
Todo o sistema respiratório sofre o envelhecimento, as
mucosas do nariz, da faringe, da laringe, o que é demonstrado pela gota do
nariz, rouquidão, voz quebrada e uma necessidade constante de expectorar.
No que concerne à capacidade vital (máximo de ar
obtido em uma expiração forçada, seguida de uma inspiração igualmente
forçada) varia 4,5 a 5 no homem e uns 3,8 a 3,5 na mulher, sendo que nas
pessoas maiores de setenta e cinco anos apenas 50% do acima descrito.
Existe também uma diminuição dos três componentes
da capacidade vital, a saber:
a) O ar corrente (volume de ar comprimido entre uma
inspiração normal e uma expiração normal: meio litro) diminui 25% nos
anciãos.
b) O ar de reserva (volume de ar depois de uma
expiração forçada: 2 litros aproximadamente) baixa até meio litro nos anciãos.
c) O ar complementar (volume de ar que somos
capazes de introduzir como suplemento depois de uma inspiração forçada e
que é de 1 litro aproximadamente) desce até meio litro.
14
Enfim, também o peso dos pulmões reduz
consideravelmente.
Daí a importância de manter a ventilação pulmonar
mediante o exercício físico, evitando, assim, a atrofia pulmonar.
2.4.6. Alterações no aparelho cardiovascular:
Com o passar dos anos a deterioração repercute
também no aparelho cardiovascular. A arteriosclerose é o transtorno que com
maior freqüência vimos como sinônimo da velhice. A arteriosclerose (acumulo
de gordura nos vasos sanguíneos) conduz a perda da elasticidade, o que
produz um aumento da força da onda pulsátil, incrementando os fenômenos
nas artérias periféricas, acarretando uma limitação da capacidade do coração.
As pressões sistólicas e diastólicas se elevam
alargam-se os ciclos cardíacos, e em conseqüência, diminui a circulação
sanguínea.
2.4.7. Alterações na pele:
A pele enruga, perde seu frescor, sua suavidade,
delata os primeiros sintomas que anunciam a chegada do envelhecimento.
Os anciãos começam a ter dificuldade em distinguir
elementos rugosos, lisos, assim como em perceber o calor e o frio excessivo
mediante o tato. Isto, em muitos casos, traz como conseqüência alguns
transtornos do aparelho respiratório em períodos frios, quando não usam o
abrigo adequado ou provocam queimaduras quando pegam nas mãos objetos
muito quentes...
2.4.8. Alterações no ouvido:
O ouvido é um órgão que envelhece rapidamente. É
comum associar-se surdez com velhice.
15
Hoje os avanços científicos (que moderam esta
situação) fazem com que as pessoas não sofram o isolamento.
As agressões externas que sofremos ao longo dos
anos aceleram o processo (música muito alta, escapamento de automóveis,
etc...) o ouvido é um órgão sensível, se vê, por causa disso, altamente afetado.
2.4.9. Alterações nos olhos:
Quando chega a velhice, parece inevitável usar
óculos. A nível pupilar, o mais característico é a miose senil. O diâmetro pupilar
tende a diminuir com os anos.
Como a velocidade do envelhecimento não é a mesma
para todos os organismos da espécie humana, é possível que indivíduos da
mesma idade apresentem situação biologicamente diferenciada por maiores e
menores capacidades. Com efeito, essa velocidade que ocorre, sobretudo, no
interior do organismo, determina formas diferentes de declínio para cada órgão.
É possível que, apesar da alta idade, existam em um organismo típico dos
jovens.
16
3. PSICOMOTRICIDADE E ENVELHECIMENTO
A psicomotricidade é uma nova abordagem do corpo
humano. Ela estuda o indivíduo e suas relações com o corpo. É uma ciência-
encruzilhada, uma técnica em que se cruzam e se encontravam múltiplos
pontos de vista e que utiliza os conhecimentos de várias ciências como a
Biologia, a psicologia, a psicanálise, a sociologia e a lingüística.
Além disso, ela é uma terapia porque se dispõe a
desenvolver as faculdades expressivas do indivíduo. Como se sabe toda a
ciência é relativa a um objeto de estudo que dele tira sua unidade e
especificação. No caso da psicomotricidade, o objeto de estudo é o corpo e sua
expressão dinâmica, fundamentado por três conhecimentos básicos que
substanciam:
O movimento, que segundo os conhecimentos atuais
ultrapassa o ato mecânico e o próprio indivíduo, sendo a base das posturas e
posicionamento diante da vida.
O intelecto que encerra a gênese e todas as
qualidades da inteligência e do pensamento humano, seu desenvolvimento
depende do movimento para se estabelecer, desenvolver-se e operar.
O afeto, que é a própria pulsão interna do indivíduo,
matiza a motivação e envolve todas as relações do sujeito, com os outros, com
o meio e consigo mesmo.
Cada movimento, cada contato, cada gesto por menor
que seja ou ausência desses, carrega uma emoção. O ato motor é desde o
nascimento uma combinação de pensamento e afetividade numa relação. A
vivência psicomotoras tem como objetivo maior levar a pessoa a conhecer e a
utilizar seu corpo percebendo o quanto ele está integrado e intimamente ligado
ao seu pensamento e às suas emoções. Estudos revelam que cada
17
pensamento e cada emoção criam uma correspondente reação muscular por
mais leve que seja.
A psicomotricidade para o idoso visa criar uma
consciência de seu poder de sabedoria, valorizar suas capacidades e dar
realce às suas forças, incentivar o enfrentamento de certas limitações físicas e
perdas e estimular o autocuidado com o desenvolvimento de hábitos pessoais
de saúde. A prática psicomotoras vai colocá-los diante de um espaço de vida,
de um espaço de atividade. Essa intervenção certamente levará o idoso a
questionar suas atitudes e conseqüentemente ter mais possibilidade em
adaptar-se ‘as mudanças que o envelhecer acarreta.
A intervenção psicomotora embora se dê no
movimento, no gesto e vise o resgate do aspecto comunicativo do corpo
veículo de expressão individual de pensamentos e emoções, ela também
atuará no comportamento no que diz respeito à: auto-estima (nível afetivo),
autoconfiança (nível intelectual) e auto-imagem (nível físico-social).
18
4. TRABALHO REALIZADO PARA 3ª IDADE
4.1. Princípios que orientam a atividade física para idosos
4.1.1. Princípio da motivação da atividade física
Empregando este princípio, o professor deverá usar
estímulos e incentivos objetivando manter o praticante num ritmo de trabalho
em que não haja perda do interesse pela atividade física executada de forma
regular. Lembrar que a ciência do comportamento ensina que o mesmo
comportamento é estimulado pelo reforço positivo. Este se apresenta como um
grande recurso ao qual o professor deverá recorrer sempre. É sabido que
quanto mais um indivíduo é estimulado positivamente mais fica motivado para
a atividade que está sendo realizada.
A motivação está relacionada diretamente com a
personalidade do professor: é preciso saber despertar o entusiasmo nas
pessoas com que estiver lidando, estimulando-as, orientando-as,
aconselhando-as e nunca apenas um cobrador de tarefas.
4.1.2. Princípio da individualização da atividade física
Chame-se individualidade biológica o fenômeno que
explica a variabilidade entre elementos da mesma espécie, o que faz com que
não existam pessoas iguais entre si, mesmo no caso de gêmeos
homozigóticos. Poderá haver semelhança morfológica mais diferenciação das
funções, da inteligência e do temperamento.
Em decorrência desse princípio, sente-se a
necessidade de um conhecimento prévio das condições biopsicosociais dos
participantes como condição determinante do programa individual de atividades
físicas. Ainda alguns fatores que deverão ser levados em consideração na
montagem de um programa, e a preparação do corpo com um bom
aquecimento, devem ser realizados basicamente alongamentos e movimentos
19
articulares, que são fundamentais tanto para evitar lesões como para contribuir
a manutenção da mobilidade articular. A freqüência cardíaca é considerada
como um guia individualizado na direção de um condicionamento seguro,
assim como o exame médico antes do início do programa.
4.1.3. Princípio da continuidade da atividade física
Segundo a lei biológica – a função faz o órgão. Desse
modo, a exercitação adequada irá preparando gradativamente o organismo
para suportar estímulos cada vez mais fortes. O princípio da continuidade está
baseado no processo da adaptação do organismo humano quanto mais houver
uma forma contínua e sistemática, maior será o aproveitamento em termos de
benefícios, quase que permanentes. O treinamento deverá ser realizado, pelo
menos três vezes por semana e o fundamental é ser criado o hábito da
atividade física. No entanto, é importante lembrar que o idoso requer mais
tempo para obter os benefícios de um programa regular de atividade física.
Devem ser evitados altas intensidades e o exercício nunca deve ser realizado
até alcançar a fadiga ou a exaustão. A atividade física deve ser evitada durante
o curso de doença aguda, em condições climáticas extremas e logo após a
refeição. Devem ser evitados os movimentos abruptos, transições de baixa e
alta intensidade, mudanças bruscas de posição e movimentos rápidos de
cabeça.
O programa de exercício deve conter basicamente um
período de aquecimento, uma atividade aeróbica e o condicionamento
muscular O aquecimento é um período fundamental na pessoa da terceira
idade como foi falado anteriormente.
Quanto ao tipo de atividade aeróbica a ser realizado é
recomendada a prescrição de atividades de baixo impacto como: a caminhada,
o ciclismo ou pedalar na bicicleta, a natação, a hidroginástica, o remo, subir
escadas, dançar a ioga, o tai-chi-chuan e a dança aeróbica de baixo impacto.
Essas atividades são preferidas e recomendáveis àquelas chamadas de alto
impacto, como a corrida, esportes, que envolvam saltos, como vôlei e o
20
basquete, pular corda e a dança aeróbica de alto impacto, que acarretam
grande incidência de lesões nesta época da vida.
Um aspecto fundamental do programa de exercício é o
fortalecimento da musculatura procurando incrementar a massa muscular e,
portanto, a força muscular, evitando assim uma das principais causas de
inabilidade e de quedas. Além do que, a massa muscular é o principal estímulo
para incrementar a densidade óssea. Ele pode ser feito no mesmo dia que a
atividade aeróbica ou em dias intercalados. Em média são recomendadas 8-10
repetições por exercício, duas vezes por semana, da maioria dos grupos
musculares.
Um dos tipos de atividade de grande difusão na
atualidade é a hidroginástica. A explicação para o grande sucesso desta
modalidade são as grandes vantagens que apresenta em relação aos
exercícios realizados na terra, Estas vantagens são: diminuição das forças
gravitacionais diminuição do stress mecânico do sistema músculo esquelético
facilidade para termorregulação, possui efeito diurético. Por essas razões, os
principais usos da hidroginástica são: limitação da mobilidade articular,
dificuldade em sustentar o peso corporal, reabilitação de lesões, doença renal
ou hepática dor lombar, osteoporose.
21
4.2. Metodologia
Geralmente, cada instrutor tem a sua maneira de dar
aula, baseada em fundamentos metodológicos comprovados. Desse modo,
deverá conduzir a aula de acordo com ás condições e necessidades dos
participantes, do mais fácil para o mais difícil, do conhecido ao desconhecido.
Deve alternar os exercícios de carga e de menos carga – princípio de
alternância – isto com muito cuidado para não oferecer demais.
Os aparelhos manuais devem fazer parte de todas as
aulas, eles apóiam o esforço para a alternância.
O instrutor deve permanecer flexível, atender a
estímulos e adaptar-se facilmente a desejos e sugestões dos idosos. Deve ser
um estimulador da co–determinação e co–responsabilidade através da
concessão de tempo para exercícios e atividades livres e independentes. Para
isto, poderá usar bolas de ginástica, corda, balões de ar e outros materiais do
interesse dos participantes. Agindo dessa maneira, o instrutor estará
promovendo o senso de autovalorização dos idosos. È interessante que os
participantes experimentem executar exercícios em pequenos grupos,
oferecendo depois ao grupo maior, isto para estimular a co–atuação dos
participantes.
O instrutor deverá oferecer orientação clara e
compreensível. Demonstra, mas não deverá fazê-lo por todo o tempo. È
importante o contato auxiliar, porém com discrição.
O tom do tratamento deverá ser alegre, compreensivo,
solícito e considerativo, porém nunca infantil e pueril. Deverão ser tratados pelo
próprio nome e jamais por “vovô” e “vovó” ou por “tu” ou “você”, isso porque os
idosos querem ser levados a sério.
22
4.3. Local da atividade
Recomenda lugares arejados, salas claras, com
temperatura agradável. Ambientes pequenos devem ser evitados, pois
denotam aperto, prejudicam a liberdade de movimento, aumentam o perigo de
acidentes e saturação do ar. São indicados locais que possibilitem reunião,
social agradável após as atividades física.
Destaque deve ser dado á observação da higiene e
cuidado corporal, como uma demonstração de consideração ao próximo.
Para um melhor acompanhamento e bom
atendimento, os grupos poderão ser formados por 20 a 25 idosos.
23
4.4. Efeitos benéficos da atividade física na terceira idade
Depois de ter abrangido de forma geral os principais
aspectos do envelhecimento e da atividade física, podemos resumir os
principais efeitos do exercício no indivíduo da terceira idade da seguinte forma.
4.4.1. Efeitos antropométricos e neuro musculares:
Diminuição da gordura corporal
Incremento da massa muscular
Incremento da força muscular
Incremento da densidade óssea
Incremento da flexibilidade
4.4.2. Efeitos metabólicos
Aumento do volume sistólico
Diminuição da freqüência cardíaca em repouso no
trabalho submáximo
Aumento Vo2 máximo 10-30%
Aumento da ventilação pulmonar
Diminuição da pressão arterial
Melhora do perfil lipídico.
4.4.3. Efeitos Psicológicos
Melhora do autoconceito
Melhora da auto-estima
Melhora da imagem corporal
Diminuição do stress e da ansiedade
Diminuição da tensão muscular e da insônia
Diminuição do consumo de medicamentos
Melhora das funções cognitivas
Socialização
24
Com esses efeitos gerais do exercício tem-se
mostrado benefício no controle no tratamento e na prevenção de doenças
como diabetes, enfermidades cardíacas, hipertensão, arteriosclerose, varizes,
enfermidades respiratórias, artroses, artrite, dor crônica e desordens mentais
ou psicológicas.
Além dos benefícios fisiológicos da atividade física no
organismo, as evidências mostram que existem alterações nas funções
cognitivas dos indivíduos envolvidos em atividade física regular. Essas
evidências sugerem que o processo cognitivo é mais rápido e mais eficiente em
indivíduos fisicamente ativos por mecanismo diretos: melhora na circulação
cerebral, alteração na síntese e degradação de neurotransmissores, e
mecanismos indiretos como: diminuição da pressão arterial, diminuição dos
níveis de LDL no plasma, diminuição dos níveis de triglicerídeos e inibição da
agregação plaquetária.
25
CONCLUSÃO
Trabalhar com um corpo relacionando-o com
pensamentos e sentimentos dá à pessoa uma sensação de integridade que
atende à natureza do homem que é a unidade psico-física. Os estímulos
sensoriais e perceptivos e a própria atividade física promovem um estado de
prazer. Despertar o prazer em pessoas que por sua própria condição
existencial apresentam situações de depressão e luto não só pela perda de
entes queridos, mas também pelas perdas relacionadas com o lugar social que
ocupavam e com as perdas do processo biológico de envelhecimento, é dar-
lhes sentido de vida, é ativar a energia existente nessas pessoas.
A psicomotricidade atuando como uma terapia
corporal, trabalha basicamente com o prazer; o prazer de sentir o próprio
corpo, tão esquecido e adormecido; o prazer de perceber possibilidades; o
prazer de lidar de alguma maneira com as suas limitações; o prazer de brincar;
o prazer de se reconhecer; o prazer de viver.
As atividades psicomotoras estimulam acima de tudo a
consciência de um corpo que expressão de um ser que pensa, que sente, e
que age em relação com os outros, com os objetos e consigo mesmo. A
exploração do corpo é proposta com o objetivo de uma tomada de consciência
para que haja melhor uso e conseqüentemente maior possibilidade de
expressão. Sentimos prazer ao expressarmos nossos sentimentos e reagimos
com prazer à expressão de sentimentos de outras pessoas. Vivenciar um corpo
livre, solto, relaxado para qualquer um de nós é prazeroso. O idoso vivencia um
corpo cheio de dores, e tem neste corpo a prova viva das perdas que ocorrem
tanto no físico como também nos aspectos psicosociais. As tensões
musculares crônicas que se acumularam ao passar dos anos impedem a
percepção das sensações de partes do corpo. Tomar consciência dessas
tensões já é o primeiro para encontrar meios de adaptação. Sentir as pernas e
os pés no chão trazem a sensação de que as pernas a sustentarão,
promovendo segurança e confiança em si. Observo que esse maior domínio do
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corpo, ou seja, o desenvolvimento de uma autoconfiança reflete-se diretamente
em mudanças na auto-imagem e conseqüentemente no aumento da auto-
estima.
O importante é percebermos que o alicerce de uma
vida alegre é o prazer que sentimos em nossos corpos, a psicomotricidade
para idosos resgata esse corpo de sensações, trazendo o prazer. O prazer
encontra-se intimamente ligado ao fenômeno do crescimento, importante
expressão do processo contínuo da vida, dando-lhes sentido a mesma.
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ANEXO A - FOTOS
Lanche festivo com grupo da terceira idade da Sociedade Pestalozzi do Brasil
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ANEXO B - EVENTOS CULTURAIS
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ANEXO C - DOCUMENTOS DIVERSOS
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BIBLIOGRAFIA
FRUTUOSO, Dina. 3a Idade com Qualidade. U.E.R.J., 2000
GOMES DE FARIA JUNIOR,Alfredo et al. CNI, SESI. Atividades Físicas para a
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U.G.F.. 1984.
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Sagra, 1990.
LORDA, Raúl C.. Recreação na 3a. Idade. Sprint. 2001.
LOWEN, A.. Prazer: uma abordagem criativa da vida. Summes. 1984.
MATTOS FERREIRA, Carlos Alberto. Psicomotricidade da Educação Infantil a
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RAUCHBACH, Rosimery. A Atividade Física para 3a. Idade. Lovise. 1990.