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a importâNcia das campaNHas ocEaNográficas
do príNcipE alBErt i do móNaco
para o coNHEcimENto do mar dos açorEs
filipE mora portEiro
Porteiro, F. M., 2009. A importância das campanhas oceanográficas do Prín-cipe Albert I do Mónaco para o conhecimento do Mar dos Açores. Boletim do Núcleo Cultural da Horta, 18: 189-219.
Sumário: Entre 1885 e 1915 o Príncipe Albert I do Mónaco comandou 29 campanhas oceano-gráficas em 4 navios (Hirondelle, Princesse Alice, Princesse Alice II e Hirondelle II), com o objectivo principal de estudar as faunas do oceano profundo. A circulação (oceânica e atmosfé-rica) do Atlântico Norte, as propriedades das massas de água e a natureza dos fundos oceânicos foram outros temas estudados. Durante as campanhas usou mais de uma centena de artes de pesca e de instrumentos de medição e recolha de amostras. O Mar dos Açores foi a região de eleição para os trabalhos. Neste laboratório natural, o Príncipe efectuou 13 campanhas, 843 estações e visitou todas as ilhas, por diversas vezes. Estudou todos os componentes da vida marinha, desde bactérias e fitoplâncton até peixes, tartarugas e baleias, da superfície até cerca de 5000m. Centenas de investigadores de diversas nacionalidades publicaram os contributos das campanhas do Mónaco. As amostras biológicas recolhidas geraram os inventários mais abrangentes da fauna oceânica do Mar dos Açores. O Departamento de Oceanografia e Pescas da Universidade dos Açores possui uma base de dados com a informação zoológica publicada nos resultados das campanhas. Para a região estão registadas 2624 espécies nominais, maiori-tariamente de profundidade. Os crustáceos e os moluscos correspondem a 43% das espécies. Esponjas, peixes, equinodermes e anelídeos estão entre os grupos mais diversos. O uso desta informação implica a sua actualização taxonómica, já que a sistemática evoluiu desde então. Os peixes, e muitos outros grupos animais, estão reavaliados taxonomicamente. Falta a revisão integral dos crustáceos e moluscos. Outros estudos biológicos da equipa do Mónaco incluem trabalhos de anatomia, fisiologia, comportamento, ecologia alimentar e reprodutiva e parasito-logia. Muitos dos trabalhos com cetáceos, tartarugas marinhas e grandes peixes epipelágicos fizeram-se nos Açores.Os trabalhos incluem ainda mapas batimétricos (principalmente da região), caracterização ambiental das massas de água, circulação oceânica e observações meteorológicas. A fauna terrestres e de água-doce foi inventariada, confirmando a sua relação com as faunas típicas da Europa adjacente.
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O levantamento da informação zoológica recolhida durante as campanhas do Príncipe Alberto do Mónaco tem relevância para estudos de biogeografia e biodiversidade e para a caracte-rização das comunidades de profundidade da Região. A informação pode se mostrar útil na avaliação dos impactos das mudanças globais nos ecossistemas do mar profundo.
Porteiro, F. M., 2009. The importance of Prince’s Albert I of Monaco campaigns to the knowledge of the Azores Seas. Boletim do Núcleo Cultural da Horta, 18: 189-219.
Summary: Between 1885 and 1915 Prince Albert I of Monaco commanded 29 oceanographic campaigns, mostly in the Northeastern Atlantic, using his four research vessels (Hirondelle, Princesse Alice, Princesse Alice II e Hirondelle II). The main objective was to explore the deep-sea faunas, but also to investigate the oceanographic currents, water masses proprie-ties and the nature of sea bottoms. More than a hundred gears, including fishing devices and environmental samplers were used. The Azores deep-sea environment was the Prince’s natural laboratory. He made 13 campaigns in the area and sampled 843 stations. The Prince visited more than once each of the nine Azorean islands.The campaigns studied from bacteria and phytoplankton, to fish, turtles and marine mammals, from surface to 5000m depth. An international scientific body, composed of more than one hundred scientists published the contributions of Monaco campaigns.The samples collected produced the best faunistic inventories of the Azorean deep-sea faunas. The Department of Oceanography and Fisheries of the University of the Azores build a data-base with the zoological data published for the Azores region. It includes 2624 nominal species, mostly from the deep-sea. The crustaceans and the molluscs account for 43% of the species inventory. Sponges, fishes, equinoderms and annelids, are among the most species rich groups. However, because systematics evolved since, the use of this information implies a revision of the taxonomic status of the nominal species. The taxonomy of fishes, and of many other groups, has been revised. Crustaceans and molluscs still need to be systematically evaluated. The Prince’s scientific team also investigated general animal anatomy, physiology, behaviour, trophic and reproductive ecology and parasitology. The Azores was an important hot-spot to work with cetaceans, turtles and top predators epipelagic fishes.Bathymetric charts from the region, characterizations of water masses and studies on oceanic water circulation, were also published. The scientists also studied the terrestrial and the fresh-water faunas from the Azores, and confirmed their biogeographic affinities with those from Europe.The zoological data provided by the Prince Albert I of Monaco campaigns are relevant for biodiversity and biogeography studies. The characterization of the deep sea benthic communi-ties sampled ca. one hundred years ago, can be valuable to the impact of climate changes in the deep-sea ecosystems.
Palavras-chave: Príncipe Albert I do Mónaco, oceanografia, oceano profundo, fauna.
Key-words: Prince Albert I of Monaco, oceanography, deep-sea, fauna.
Filipe Mora Porteiro 181
Albert Honoré Charles Grimaldi (Paris 1848-1922), Príncipe Albert I do Mónaco, teve uma educação clás-sica em França, que teria como objec-tivo a sua preparação para a liderança da corte monegasca. No entanto, a sua incontornável vocação para o mar definiu desde cedo a sua vida. Apren-deu a navegar em Lorient, em França, e mais tarde foi oficial nas Marinhas Espanhola e Francesa, carreira que claramente não motivou o pacifista.Quando tinha 22 anos começou a mostrar interesse pela oceanografia, ciência que dava os seus primeiros passos. As campanhas britânicas do Challenger (1873; tizard et al. 1885), as francesas do Travailleur e do Talisman (1880-83; vaillaNt 1888) e as americanas do Blake e Albatross (goodE & BEaN 1895), geraram um grande interesse pelas ciências do mar, principalmente entre as elites informadas das sociedades ocidentais.Relata-se que Albert I se decidiu pela vida de oceanógrafo, em 1884, duran-te uma exposição no Musée National d’Histoire Naturelle de Paris, sobre as descobertas das campanhas do Tra-vailleur e do Talisman. Não tinha for-mação na área, mas Milne-Edwards, um dos responsáveis científicos por
essas campanhas, e pela exposição, motivou-o para se dedicar às ciências do mar. Dar sentido e utilidade à sua Carreira de Navegador, foi o que o Príncipe sentiu ao abraçar a vida de oceanógrafo.Naquele período romântico, Albert I podia dedicar-se à ciência movido pela curiosidade e paixão pelo mar, já que pela sua condição de herdeiro da Coroa do Mónaco financiava as suas investigações.Em La Carriére d’un Navigateur (alBErt i, 1966) o príncipe navega-dor abre a sua alma de marinheiro: conta o seu fascínio pelo mar, pelos barcos e pelas relações humanas que aí se estabelecem. Mostra-se modes-to, calmo, audacioso e perseverante.A poesia da partida ilustra a comple-xidade dos seus sentimentos. Filó-sofo, critica a futilidade dos costumes sociais das cortes ou dos ambientes requintados e frívolos da época. A sua autobiografia mostra o seu espírito de liberdade e a preocupação com a dignidade humana o seu amor pela vida marinha, o prazer da descoberta e da ciência, mas também a sua nos-talgia e tristeza. O triângulo cultura, arte e ciência estruturava a personali-dade do humanista.
iNtrodução
O Príncipe e o mar: enquadramento histórico e biográfico
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Em 1879 faz a sua primeira viagem Atlântica para explorar as regiões insu- lares da Europa. Sai do Mediterrâ-neo e navega para ocidente. Primeiro Marrocos e depois os arquipélagos macaronésicos, Madeira, Canárias e Açores. Em Março de 1879 chega a Ponta Delgada, S. Miguel pela pri-meira vez, onde permanece por algum tempo. Visita demoradamente várias ilhas, incluindo as Flores e o Corvo. Deixa-se envolver pela cultura local e pela paisagem e aparentemente fica fascinado pelas ilhas.Iniciou as campanhas oceanográficas em 1885. Em 1889, o Príncipe ascen-de ao trono do Mónaco e casa com a Princesa Alice, uma inspiração mar-cante num determinado período da sua carreira. Durante 30 anos constrói três navios oceanográficos (Princesse Alice, Princesse Alice II e Hirondel-le II), para além do Hirondelle que
adquirira anteriormente. O Príncipe do Mónaco elegeu o mar profundo dos Açores como o seu laboratório natural. Das 29 campanhas oceano-gráficas, 13 visitaram a região. As via-gens decorreram ao longo de 30 anos, e o mar das ilhas foi estudado vezes sem conta, por todos os seus navios. Em 1915 fez a sua última campanha oceanográfica, uma pequena viagem limitada ao Mediterrâneo. A 1.ª Guer-ra Mundial impossibilitou-o de pros-seguir. Nos anos seguintes, Albert I dedica-se essencialmente ao fortale-cimento de instituições que promo-vem a investigação oceanográfica, à divulgação científica, à conservação da natureza e à paz.
Este trabalho aborda a importância que Príncipe Albert I do Mónaco teve para o conhecimento do Mar dos Açores.
as campaNHas ocEaNográficas (1885-1915)
Como refere foNtaiNE (1992) o pri-meiro contacto que Albert I teve com a oceanografia foi suave. Em 1886 pensava que poderia estudar os ocea-nos como um hobby, ou em viagem de lazer. No entanto, cedo aprendeu a dureza da tarefa a que se propunha, especialmente porque esta estava li-mitada pela tecnologia que dispunha: o Hirondelle, uma bonita escuna, sem motores. O grande esforço de amos-
tragem efectuado com este navio oceanográfico, só foi proporcional ao investimento que o Príncipe fez nas suas campanhas. A energia emanada era enorme, só comparável à novi-dade científica que ia descobrindo.Albert I do Mónaco liderava pessoal- mente os seus programas multidisci-plinares de larga escala. Ele dirigia tanto as operações de marinharia e navegação, como as exigentes ope-
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rações de amostragem científica. A liderança das campanhas oceano-gráficas pelo próprio mecenas era caso único, já que nas iniciativas anteriores, os patrocinadores supor-tavam financeiramente as equipas científicas, mas não participavam ac-tivamente nos trabalhos de mar. Este foi claramente o modelo que motivou o seu primo, o Rei D. Carlos I de Portugal, para a exploração oceano-gráfica das águas nacionais da Penín-sula Ibérica (carpiNE-laNcrE & saldaNHa, 1992).O objectivo central das campanhas oceanográficas do Príncipe Albert I do Mónaco foi a exploração da fauna oceânica, pelágica e bentónica. No entanto, para além da biologia mari-nha, o Príncipe investigou a topogra-fia e a natureza dos fundos oceânicos, as correntes marinhas, as proprieda-des físicas e químicas das águas e a relação oceano/atmosfera, através da meteorologia.Os trabalhos decorreram principal-mente entre Maio e Outubro, quando o Atlântico Norte está mais calmo.
Os Navios Oceanográficos
Hirondelle foi o nome que Príncipe escolheu para a embarcação Pleiad, quando a adquiriu, em 1873, com 11 anos. Era uma escuna (gouellete), sem qualquer tipo de motorização,
além do vento e da força braçal dos seus tripulantes. As limitações de operacionalidade desta plataforma de investigação levaram o Príncipe a substituí-la pelo Princesse Alice (1892-1897), um navio desenhado e construído para investigar o domínio profundo dos oceanos. À medida que a tecnologia se tornava mais exigente, a ambição de explorar um oceano cada vez mais fundo levou o Príncipe a mandar construir outros dois navios oceanográficos. O Princesse Alice II (1898-1910) e o Hirondelle II (1911--1927) eram naturalmente mais cómo- dos, mais velozes e seguros e mais bem equipados, tanto em termos de laboratórios como em meios opera-cionais.Durante o Inverno, as embarcações eram sujeitas a manutenção e re-equi-padas para responderem às novas exigências, estabelecidas pelas cam-panhas anteriores.
A geografia das campanhas– Açores, o jardim de águas profun-das do Príncipe
O Príncipe do Mónaco centrou os seus trabalhos no Atlântico Norte, especialmente no sector nordeste, e no Mediterrâneo. Em 1884, no Mar do Norte e no Báltico, teve o primeiro contacto com as metodologias ocea-nográficas, especificamente com a amostragem de plâncton por pequenas
figura 1: Campanhas Oceanográficas do Príncipe Albert I do Mónaco efectuadas nos Açores(1885-1914). Cartas de estações (círculos), por navio oceanográfico (coluna da esquerda)
e rotas de navegação (linhas). Dados: Richard, 1934. Batimetria.
Hirondelle (1885-1888).
Escuna de 2 mastros, 32,4 m e 200 toneladas.4 campanhas e 266 estações.Sem motores.Profundidade máxima de amostragem:ca. 3000 m (sondador).
Princesse-Alice (1892-1897).
Escuna de 3 mastros, 52,6 m e 650 toneladas.6 campanhas e 651 estações.Máquina a vapor auxiliar de 350 cv.Energia e sistema de frio.3 laboratórios.
Princesse-Alice II (1898-1910).
Escuna em aço de 2 mastros, 73,15 me 1378 toneladas.Propulsão a vapor; 13 nós de velocidade.13 campanhas e 2142 estações.Melhor equipado e mais acomodação para uma equipa científica maior.
Hirondelle II (1911-1915).
Escuna de 2 mastros, 82 m e 1600 toneladas.Duas máquinas de 2200 cv.5 campanhas e 639 estações.Laboratórios maiores e modernos.
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redes de superfície. Este treino ante-cedeu a sua primeira campanha ocea-nográfica, em 1885, na qual rumou aos Açores e ao Atlântico Noroeste. Ao longo de 30 anos explorou o ocea-no entre as latitudes de Cabo Verde e de Spitzbergen, entre os meridianos da Noruega e do Mediterrâneo, até à Terra Nova, no Canadá (ricHard, 1934).Algumas das campanhas foram dedi-cadas às águas atlânticas das costas da Europa do Norte (1886, 1891, 1900, 1903) e do Mar do Norte (1908). Os mares ibéricos foram ex-plorados principalmente durante os percursos entre o norte e o sul da área estudada. As expedições de 1893 e de 1915 foram exclusivamente dedi-cadas ao Mediterrâneo. No entanto, as suas águas profundas foram conti-nuamente exploradas, durante as via-gens de e para a região do Mónaco, onde se iniciavam e acabavam muitas das suas campanhas. O Mar da No-ruega, Spitzbergen e os seus fiordes foram visitados em várias campa-nhas (1898, 1899, 1906, 1907, 1908) e os resultados obtidos foram consi-derados únicos (carpiNE-laNcrE & Barr, 2008). Nas expedições para sul, exploraram os mares da Madeira (1897, 1905, 1911 e 1912), Canárias (1904) e Cabo Verde (1901). Os mon-tes submarinos do complexo Gorringe foram extensivamente explorados (1894, 1901-02, 1904, 1909-11).
No entanto, o Mar dos Açores foi mais visitado do que qualquer outra região, já que o Príncipe explorou estas águas durante 13 campanhas, com os seus 4 navios oceanográficos (e.g. ricHard, 1934) (ver Tabela 1 e Fig. 1). Os Açores foram escolhidos como o principal centro de investi-gação: o jardim de águas profundas do Príncipe. A escolha deste labora- tório natural para levar a cabo 45% das suas campanhas, teve razões logís- ticas, relacionadas com o acesso fácil ao oceano profundo e com o apoio que encontrava em terra, mas tam-bém razões emotivas, que reflectiam o interesse e a paixão que o Príncipe do Mónaco nutria pelos Açores. Durante estas campanhas, Albert I visitou todas as ilhas do Arquipélago, e em todas, ele e sua tripulação rela-cionaram-se de forma muito intensa com as gentes locais (Albert I, 1966). O esforço pessoal do Príncipe para o conhecimento do mar profundo desta área do Atlântico Norte central, não tem paralelo na história da oceano-grafia. A sua amizade com o povo açoriano ainda se faz sentir com en-tusiasmo.
Equipamento e operaçõesoceanográficas
Inicialmente, o Príncipe adoptou os instrumentos oceanográficos propos- tos pelos cientistas com quem se acon-
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selhava. Adquiria equipamentos exis-tentes, já testados, e outros que entre-tanto iam sendo inventados e cons-truídos. Avaliava-os em condições de trabalho e eventualmente propunha melhoramentos, que facilitavam o seu uso e aumentavam a sua eficiên-cia. Percebeu o interesse em desen-volver novas técnicas de exploração e, com os seus cientistas, inventou novos instrumentos de amostragem e de medição. Nas oficinas dos seus navios, os projectos eram aprofun-dados e construíam-se novos equipa-mentos que permitiam o desenvolvi-mento de metodologias inovadoras.O tempo entre campanhas era tam-bém usado para aperfeiçoar, adaptar e construir velhas e novas tecno- logias, importantes para o sucesso das campanhas e desenvolvimento da ciência.Se nos navios mais sofisticados as operações eram facilitadas pelos guinchos, alimentados pela força dos motores auxiliares a vapor, no Hiron-delle as redes, sondas e linhas eram aladas por 2 homens que, à manivela faziam rodar os guinchos. A tarefa era tão árdua que os marinheiros tinham que se revezar a cada 2 horas.Muitos dos instrumentos usados durante as campanhas do Príncipe encontram-se depositados no Musée océanographique de Monaco (car-piNE-laNcrE, 1987-1999).
Equipamentos para amostragembiológica
Ao longo das 13 campanhas que o Príncipe fez aos Açores, usaram-se mais de 60 equipamentos, para reco-lher amostras (biológicas, hidrológi-cas e geológicas), fazer medições de parâmetros oceanográficos e estudar a circulação oceânica e atmosférica (Anexo 1). A sua descrição, selecti-vidade e problemas metodológicos associados aos equipamentos foram extensivamente apresentados em mui-tas publicações (ver alBErt I, 1932; ricHard, 1934).A diversidade de equipamentos foi tão grande que muitos só foram usa-dos ocasionalmente, ou de forma intensiva em determinadas épocas e depois abandonados.Frequentemente, equipamentos de amostragem (principalmente redes, mas também armadilhas e outros), sofriam melhoramentos que aumen-tavam a sua eficiência, para capturar os organismos pretendidos. Usavam--se com materiais com características distintas, alterando a selectividade das artes de pesca.Os navios oceanográficos mais sofis-ticados permitiam operar cada vez mais fundo e executar tarefas tecnica-mente mais exigentes.
Filipe Mora Porteiro 187
Covos ou armadilhas
Durante as campanhas usaram-se covos diversos, desde águas costei-ras até aos 3075 m de profundidade (média 1000 m). Inicialmente usa-ram-se covos de ferro, cilíndricos, mas depois construíram-se uns “trié- dricos” em rede, mais eficientes (mas menos utilizados na região). Os covos tinham diferentes tamanhos e por vezes, os maiores levavam den-tro outros mais pequenos. Depois de uma pescaria epipelágica, os covos grandes eram iscados com uma ca-beça de atum. Eles podiam ser usa-dos com linhas e redes em simultâ-neo. Em 1888, a pesca com um covo cilíndrico iluminado por uma lâm-pada, alimentada por uma bateria, não teve o sucesso esperado e o seu uso foi abandonado.Os covos capturavam uma fauna abundante em muito bom estado de conservação: peixes (principalmente anguiliformes), crustáceos, equino-dermes, vermes, etc.
Redes
Entre os equipamentos de recolha de espécies marinhas, as redes foram os mais utilizados. Os navios oceano-gráficos do Príncipe operavam uma grande diversidade de arrastos de fundo e pelágicos (alBErt I, 1932).Os arrastos de fundo foram os mais
usados na região dos Açores. Eles pescaram desde profundidades rela-tivamente baixas, até às planícies abissais, muito próximo dos 5000 m (6000 em outras regiões). Estas artes equiparam os navios entre 1887 e 1912, sofrendo melhoramentos e alte-rações ao longo dos anos.Uma rede vertical, de grande dimen-são (haveneau, em francês, ou cama-roeiro), foi utilizada na região, mais de 75 vezes (de 1887 a 1913). O objectivo era capturar à superfí-cie plâncton de pequenas dimensões, organismos gelatinosos, pequenos peixes, ou mesmo tartarugas. Por vezes era operada durante a noite com iluminação externa.As redes meso-/batipelágicas, de arrasto vertical ou horizontal, eram desenhadas para capturar plâncton e micronécton. Algumas redes de plâncton estavam equipadas com sis-temas de abertura e fecho, operados por mensageiros, para amostrarem de forma estratificada a coluna de água (ricHard, 1934).A rede Richard de grande abertura (ricHard, 1934) pescava vertical-mente até ao limite inferior do domí-nio batipelágico (ca. 3000 m). Este equipamento, com uma abertura rectangular de 9 m2, construído em ferro, apanhava plâncton, peixes, lu- las e camarões, de pequenas dimen-sões, que vivem na coluna de água. Pela dimensão da sua abertura e da
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malha da rede, só foi possível usá-la no Princesse-Alice II, que tinha mais potência do que os navios anteriores. Por ser um arrasto vertical, a sua efi-ciência, para capturar a fauna pelá-gica profunda, era relativamente re-duzida. A rede Bourée em velocidade foi desenhada posteriormente, e só foi usada no Hirondelle II. Fazia arrastos oblíquos ao longo da coluna de água, desde os 3000 m até à superfície. O objectivo era aumentar a eficiência da amostragem de micronécton (pei-xes, lulas e camarões, entre outros), capazes de fugirem da rede Richard.Durante os períodos de navegação, recolhiam-se amostras de plâncton de superfície, por redes circulares de pequena dimensão, e com vários acessórios. A rede fina foi usada nas primeiras campanhas, até 1895, mas logo foi substituída por uma mais eficaz, a rede fina em velocidade (50 cm de comprimento e 6 cm de abertura!), que foi usada extensiva-mente nas últimas campanhas.Por sua vez, os tresmalhos de fundo foram repetidamente usados desde o Princesse Alice, até 1914. Estas redes operaram em águas superficiais e costeiras, até profundidades superio-res a 2600 m. Apanhavam peixes e invertebrados marinhos, muito diver-sos, que vivem nos ambientes costei-ros e oceânicos profundos.
Artes de linha e anzol
Palangres e linhas de mão foram usa-dos em praticamente todas as campa-nhas. Os palangres (inspirados nos modelos usados em Setúbal), com cerca de 150 anzóis, foram lançados até a uma profundidade máxima de 2750 m (média 1300 m). Capturavam essencialmente peixes, mas também lulas e polvos, e alguns organismos bentónicos que ficavam presos nos anzóis.As linhas de mão eram usadas essen-cialmente para pescar peixes costeiros até aos 200 m.Os corricos pescavam durante os pe-ríodos de navegação, como as viagens de e para a Europa. Capturavam atuns, tubarões e outros grandes peixes epi-pelágicos, que alimentavam estudos de reprodução, ecologia alimentar, parasitologia, etc. e depois, na maior parte dos casos, alimentavam a pró-pria tripulação.
Artes de ferimento
Os arpéus foram usados para captu-rar peixes que vivem associados a objectos flutuantes (dourados, cher-nes, atuns, etc.), embora pudessem recolher outras amostras da superfície. O arpão servia para caçar animais de maior porte, como cetáceos (incluin-do cachalotes, orcas e golfinhos), tubarões pelágicos, peixes-lua, etc.
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Outros métodos de amostragembiológica
A barra de “piaçabas” (barre à fau-berts) foi lançada ao mar por diversas vezes, ao longo das campanhas. Esta engenhosa estrutura metálica tinha braços que suportavam conjuntos de “piaçabas” (tipo esfregonas de gran-des dimensões), feitos com cabos desfiados (no máximo 12), que eram arrastadas sobre o fundo (carpiNE--laNcrE, 2003). Na região, a barra de “piaçabas” recolheu fauna que vive entre os 300 e 1500 m de profundi-dade. Por vezes, os “piaçabas” eram fixos no exterior e interior de redes de arrasto de fundo, para recolherem amostras que de outra forma não che-gariam ao convés. O sucesso da barre à fauberts era amostrar gorgónias e outros corais, hidrários, briozoários, esponjas, anelídeos e crustáceos, entre outras formas sésseis e frágeis, em muito boas condições (ver documen-tos em alBErt i, 1932). Hoje usar esta técnica destrutiva constituiria um problema ecológico considerável, no entanto, este é provavelmente o melhor método para amostrar a fauna séssil em ambientes rochosos, como os jardins de coral do mar profundo.Naturalmente, muitos organismos eram capturados a mão. Outros vi-nham presos em cabo ou âncoras, de forma acidental; ou simplesmente eram adquiridos aos pescadores locais.
Entre os equipamentos tecnológicos menos utilizados, a armadilha para micróbios, em forma de ampola cilín-drica de vidro, foi lançada à água várias vezes, entre 1902 e 1905 (por-tiEr & ricHard, 1934 in ricHard). Esta caixa era lançada em conjunto com garrafas de recolha de água, son-das, etc. Uma bomba de plâncton foi também testada, mas só na campanha de 1912.
Sondagens, recolhas de águae dos fundos
Desde o início dos trabalhos, as son-dagens foram uma prioridade para Príncipe. A sonda “à robinet” foi usada nas campanhas do Hirondelle e do Princesse Alice. Mais tarde, a equipa passou a sondar com um sis-tema que tinha 2 ou 3 poitas de sonda com sebo e que, em simultâneo, reco-lhiam amostras de sedimento e de pe-quenos organismos que vivem sobre fundos, até aos 3300 m. O tubo sonda Buchanan, que também recolhia ca-rottes do fundo, foi a sonda mais utili-zada ao longo dos trinta anos de estu-dos. Uma versão mais longa (50 cm) foi adoptada em 1902.A sonda Léger (légEr, 1934 in ricHard) surgiu já no século XX. Ela também amostrava areia, vasa e gravilha, mas não substituiu o tubo- -sonda Buchanan.
190 Boletim do Núcleo Cultural da Horta
A maioria das amostras de água foi recolhida pelas garrafas de Richard (ricHard, 1934a in ricHard), ao longo da coluna de água e junto ao fundo (e.g., roucH, 1940). Este equi-pamento era frequentemente acopla-do ao tubo-sonda de Buchanan, ou à sonda Léger, que em diversas regiões amostraram até aos 6000 m de pro-fundidade. Outros equipamentos mais sofisticados, como a armadilha para micróbios e os piezómetros, para medir a compressão da água (BucHaNaN, 1934 in ricHard), eram também fixos a esta estrutura. Termó-metros de inversão registavam a tem-peratura a diferentes profundidades (cHaBaud, 1934 in ricHard).
Equipamentos para estudosde circulação oceânica
A circulação oceânica, nomeadamen-te a Corrente do Golfo, foi estudada durante as campanhas do Hirondelle, entre 1885 e 1887. O Príncipe des-creve exaustivamente as metodolo-gias usadas (alBErt I, 1932). A equi-pa lançou ao mar esferas de cobre de 30 cm diâmetro, garrafas de vidro e barris de metal, brancos e vermelhos. Todas as bóias oceanográficas conti-nham indicações sobre o projecto e os contactos dos promotores em 9 línguas (carpiNE-laNcrE, 1992). Na campa-nha de 1887 foram usados flutuadores
(de vidro e cobre) mais sofisticados (BEtHoux, 1992). O objectivo era lançar bóias na área de influência da Corrente do Golfo, que forneciam indicações acerca da circulação oceâ-nica ao serem recuperadas em outros locais (i.e. velocidade e direcção).
Balões de meteorologia
Só nas campanhas do Princesse Alice II se iniciaram os trabalhos na alta atmosfera. Os conhecimentos de meteorologia eram importantes, pois permitiam desenvolver métodos de previsão do tempo. No entanto, a maioria destes balões atmosféricos não foi lançada nos Açores. Em 1904 e 1905 lançaram-se cinco cerfs-vo-lants, um balão-sonda e um balão de Schloesing vazio, este último para recolher amostras de ar em altitude. Os balões eram seguidos visualmente e, a uma altitude pré-definida, caíam no mar, de onde eram recuperados. Os instrumentos armazenavam dados de temperatura e humidade. BEtHoux (1992) descreve em detalhe o seu fun-cionamento.
Estações no Mar dos Açores
No dia 2 de Maio de 1915, no final de uma campanha muito curta, no Mediterrâneo, o Príncipe fez a sua
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última estação, a número 3698 (ver ricHard 1934, para lista exaustiva das estações). Nas 13 campanhas que visitaram os Açores, fizeram-se 843 estações (22,5% do total), em 278 dias de amostragem efectiva (Fig. 1). As amostras foram recolhidas desde zonas costeiras até ao mar profundo; da superfície até aos 5000 m de pro-fundidade. No entanto, a grande maioria visou o meio oceânico e só 14,5% das estações foram costeiras (< 200 m). O perfil de profundidade indica que o meio oceânico foi regularmente estudado até cerca de 2800 m, valor ligeiramente superior à média da profundidade da platafor-ma dos Açores. Na região, fizeram-se mais estações biológicas (70%), para recolher fauna oceânica, do que le-vantamentos batimétricos ou recolha de informação ambiental. A massa de água foi mais explorada (60% das amostragens biológicas) do que os ambientes bentónicos (i.e. encostas das ilhas, montes submarinos e fundos de sedimento).Embora cada campanha tivesse um plano inicial com uma rota predefi-nida, as estações eram escolhidas de forma um pouco aleatória. Inicial-mente seguia-se estritamente o plano, o que dificultava o seu cumprimento, devido aos inúmeros imprevistos, principalmente climatéricos, e às limi-tações de tempo. Cedo a estratégia foi alterada e os navios passaram a tra-
balhar no local onde estavam, sobre a rota definida, sempre que o tempo o permitia (alBErt I, 1966). Quando as condições meteorológicas eram adversas as estações eram feitas nas encostas abrigadas das ilhas ou em rota para os portos e ancoradouros. Para recuperar artes de pesca deixa-das junto às ilhas, usavam-se marcas em terra, à semelhança da técnica usada pelos pescadores locais.
O trabalho e a equipa científica
As campanhas das viagens exigiam um esforço logístico e financeiro pro-vavelmente comparável às grandes iniciativas actuais, para estudar os ambientes remotos do meio marinho. Reequipavam-se tripulações com ma- rinheiros experientes, recrutados nas frotas mercantes de longo curso. De acordo com os objectivos de cada campanha, embarcavam-se as artes de pesca e os instrumentos seleccio-nados. Apetrechavam-se laboratórios e oficinas e aprovisionavam-se ma-teriais diversos para os trabalhos no mar. Armazenavam-se grandes quan-tidades de frascos e líquidos conser-vantes, para assegurar a preservação do material biológico recolhido.A equipa científica era escolhida pelo Príncipe entre personalidades de re-conhecido mérito. A sua carreira de oceanógrafo foi marcada pelo envol-
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vimento de um corpo científico quali-ficado muito diversificado e interna-cional. A maioria só investigava em terra o material recolhido durante o Verão; outros, embora trabalhando nos laboratórios, em algum momento das suas pesquisas participavam acti-vamente no trabalho de mar.Alphonso Milne-Edwards destaca-se como a personalidade crucial no arranque do projecto. Nas viagens iniciais contaram com o apoio do oceanógrafo e anatomista G. Pouchet, do médico naturalista G. Rouch e do cientista J. de Guerne, principal con-selheiro científico do Príncipe nas primeiras campanhas.Jules Richard juntou-se à equipa em 1888 e participou em todas as cam-panhas subsequentes. Formado em física e ciências naturais, foi o braço direito e fiel colaborador do Príncipe Alberto I. Supervisionou os trabalhos de zoologia e compilou um volume de informação ainda difícil de assi-milar. Foi conservador das colecções e, em 1900, ascendeu a director do Musée océanographique de Monaco. Ficou ligado para sempre à obra do Príncipe.Com a excepção de J. Richard, os res-tantes elementos das equipas cientí-ficas eram convidados de acordo com os objectivos temáticos definidos. Nas campanhas do Princesse Alice, Neuville, preparador do Musée Na-tional d’Histoire Naturelle (MNHN),
foi um colaborador regular. O Prin-cesse Alice II podia acomodar uma equipa cientíca maior. Na campanha de 1902 aos Açores participaram J. Y. Buchanan (oceanografia), Neveu-Lemaire (zoologia), P. Portier (fisio-logia e microbiologia) e G. Bertrand (química animal), para além de J. Richard e de Albert I. Em 1904, os professores L. Joubin (MNHN, zoologia), H. Hergessel (Universi-dade de Estrasburgo, meteorologia), além de outros, integraram a equipa. Hergessel acompanhou o Príncipe durante várias campanhas; enquanto Joubin foi um incansável colabora-dor nos laboratórios em terra. Bourée (zoologia), Gain (algologia) e Ranc foram os colaboradores mais regu-lares nas campanhas do Hirondelle II.Roule (1934) publica notas biográ-ficas de muitos colegas que partici-param em determinadas campanhas.A necessidade de ilustrar o material biológico para registar a sua cor e textura em fresco, levou o Príncipe a integrar um ilustrador em cada tripu-lação. Marius Borrel registou as cores dos animais em cerca 140 pinturas. Seguiu-se Mademoiselle Jeanne Le Roux, uma situação inédita num mundo repleto de homens. Depois foi a vez de Boutet de Monvel. A partir de 1904, Tinayre foi o ilustrador oficial em todas as campanhas do Príncipe. O artista é reconhecido não só pelas suas ilustrações científicas, mas tam-
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bém por documentar de forma notá-vel paisagens e cenas da vida social e cultural do Príncipe nas ilhas. A partir das campanhas do Princesse Alice II, a fotografia e o cinema foram usados extensivamente para registar e divul-gar os acontecimentos.O Príncipe não dispensava a colabo-ração de graduados da marinha para a navegação. Le Grené, Carr (1896--1904), apoiado por Sauerwein, e Arodes (1912) foram alguns dos capi-tães que pilotaram os seus navios.A vida dos cientistas a bordo era intensa. Faziam-se triagens e conser-vava-se o material recolhido por ar-madilhas, redes, linhas e arpões. Lan-çavam-se aparelhos que recolhiam sistematicamente dados oceanográ-ficos. Ilustravam-se animais exóticos para a posterioridade. Perspectivava--se a novidade do que se encontrava. Estudava-se a informação publicada, reunida numa biblioteca temática, com a chancela do Príncipe do Mó-
naco. Aproveitava-se a proficuidade da discussão entre pares. Usufruía-se das paisagens marinhas e terrestres e dos contactos com os habitantes dos locais por onde passavam.No mar, faziam-se identificações pro- visórias e descrições sumárias dos animais que se acumulavam. O ma-terial biológico e oceanográfico era mais tarde analisado e interpretado no conforto dos laboratórios terres-tres. As colecções preservadas eram anualmente depositadas nas instala-ções provisórias do museu e depois no próprio Musée oceanographique. Mais de setenta cientistas identifica- ram e inventariaram a fauna recolhida (e.g. ricHard, 1934). Os estudos estão dispersos em inúmeras publi-cações, mas os Résultats des Cam-pagnes Scientifiques du Prince de Monaco testemunham de forma im-pressionante o volume do trabalho produzido.
o coNHEcimENto ciENtífico
As campanhas do Príncipe Alberto I do Mónaco contribuíram decisiva-mente para o progresso da oceanogra-fia física e biológica, numa altura em que o conhecimento científico do mar estava na sua fase embrionária. Além de terem contribuído para a inovação tecnológica das metodologias ocea-
nográficas, as campanhas possibilita-ram a descoberta de formas de vida e de relações ecológicas até então des-conhecidas. A descoberta de bancos e fossas submarinas e dos percursos da circulação geral do Atlântico Norte, foram contribuições importantes dos trabalhos do Príncipe do Mónaco.
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Biologia
Os testemunhos escritos do Príncipe Albert I do Mónaco revelam bem o seu fascínio pela vida marinha. Ele descobriu fauna exótica desconhe-cida até então: peixes bizarros biolu-minescentes; parasitas enormes de peixes e cetáceos; corais arbustivos de diversas formas e cores; esponjas siliciosas e tronchudas; holotúrias coloridas; ouriços enormes e moles; peixes com espinhos no focinho; camarões com antenas dez vezes maiores do que o corpo; e uma infini-dade de outros organismos marinhos adaptados para sobreviverem nos am-bientes profundos.Perante esta diversidade, o imaginá-rio do Príncipe construía realidades submersas que recentemente estão a ser redescobertas.Constata que os jardins de corais e de esponjas, criam habitats para uma fauna muito diversa de invertebrados, como poliquetas e crustáceos, e para peixes que aí encontram refúgio. Des-creve interacções epipelágicas entre atuns e aves marinhas, que devoram cardumes de pequenos peixes pelá-gicos. Detecta a migração vertical diária da fauna mesopelágica biolu-minescente, que dificilmente conse-gue estudar. Nota o aporte de peixes mesopelágicos para a superfície, du-rante o dia, que é usado pelas aves marinhas. Descobre a vida oceânica
do atum, que até então era pescado só junto às costas. Investiga a ecologia dos objectos flutuantes, colonizados por buzano e poliquetas, e usados por chernes e dourados na sua dispersão pelágica. Fez considerações sobre a dispersão larvar e a colonização de ilhas remotas, nomeadamente sobre os Açores.A falta de conhecimento prévio acer-ca das faunas oceânicas ditou que a sistemática e a anatomia comparada, fossem as disciplinas prioritárias. Fisiologia e bioquímica animal, para-sitologia, microbiologia, ecotoxicolo-gia e ecologia foram outras matérias investigadas. O desconhecimento da distribuição geográfica das espécies limitava as considerações biogeográ-ficas.Ainda hoje, o conhecimento produ-zido pelas campanhas do Príncipe acerca das comunidades biológicas do oceano profundo dos Açores, está ainda por integrar.Os resumos impressionantes de ricHard (1934) mostram a complexi-dade das faunas recolhidas, por cam-panha, estação e arte de amostragem.
Inventariação da biodiversidadeoceânica da região
Quem tropeçar na obra publicada sob os auspícios do Príncipe do Mónaco, certamente notará a sua relevância
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para o conhecimento da biodiversi-dade oceânica dos Açores. Os traba-lhos publicados na sequência destas campanhas contêm os inventários mais compreensivos da fauna bentó- nica e pelágica da região. Os estudos cobriram uma vasta gama de organis-mos, desde bactérias e fitoplâncton, até aos répteis e mamíferos marinhos, incluindo todos os grandes grupos da fauna dominante nos ambientes oceâ-nicos. O resultado destas actividades está publicado por uma equipa inter-nacional de cerca de 70 cientistas, em 90 dos 110 volumes dos Résultats des Campagnes Scientifiques Accomplies sur son Yacht par Albert Ier Prince Souverain du Monaco, entre 1889 e 1950. Estas belíssimas publicações são uma fonte de informação única para muitos grupos taxonómicos. Para os Açores, estão registadas 2624 espé- cies nominais, maioritariamente de profundidade. Repetir um esforço de amostragem e identificação idêntico seria bastante dispendioso e difícil de implementar.Desde o início do século XX, o conhe-cimento taxonómico tem evoluído. As revisões de sistemática vêm alterando a nomenclatura anteriormente em uso (isto é o nome da espécie ou do gé-nero), ou muitas vezes sinonimizam nomes diferentes que identificavam a mesma espécie. Além disso, é fre-quente reclassificar os organismos como pertencentes a outra espécie,
ou mesmo integrar outra família ou ordem.A nível regional, o resgate e a análise crítica desta informação histórica é crucial para um levantamento apro-priado da biodiversidade marinha dos Açores. Além da importância que a informação tem para a conservação, biogeografia, etc., ela é particular- mente relevante na avaliação do im-pacto das mudanças globais nos pa-drões de biodiversidade dos ecossis-temas profundos. Por outro lado, a recuperação de informação histórica é necessária para responder às inicia- tivas internacionais de biodiversida-de (e.g. http://www.marbef.org/data/ eurobis.php). Estas iniciativas electró- nicas integram de forma maciça infor- mação de âmbito regional, ou de gru-pos biológicos particulares, em bases de dados consolidadas e abertas, per-mitindo investigar padrões de distri-buição das espécies marinhas, a esca-las temporais e espaciais diversas.Durante décadas, a informação das campanhas do Príncipe foi usada prin- cipalmente por sistematas, em revi-sões de determinados grupos bioló-gicos. Muitos dos inventários da diver- sidade marinha dos Açores, entretan-to produzidos, analisam a informação recolhida numa campanha, ou con-texto, e não fazem uma revisão exaus-tiva da literatura publicada sobre um grupo. Esta opção, justifica-se pela dificuldade em aceder ao enorme
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volume de informação disponível em papel e disperso em variadíssimas publicações; assim os dados manti-veram-se crípticos para os modernos motores de busca científicos.A informação zoológica relativa à região dos Açores (rectângulo que inclui a ZEE), publicada nos resulta-dos das campanhas do Príncipe, foi compilada numa base de dados, pelo Departamento de Oceanografia e Pes-cas da Universidade dos Açores (DOP/UAç). A digitalização dos dados teve como base a lista de estações elabo- rada por ricHard (1934) e as lista-gens faunísticas sumárias em 90 volu-mes dos resultados das campanhas. A informação original disponibili-zada está completa; cada ocorrência tem associado a campanha, data e local de captura (coordenadas geográficas), técnica de amostragem, profundidade, e por vezes a temperatura e o tipo de substrato. Com esta informação geo-referenciada podem-se fazer mapas de distribuição de espécies e habitats, que suportem esforços de conserva-ção da biodiversidade regional.No entanto, este resgate de informação histórica coloca alguns desafios meto- dológicos, especialmente ao nível da validação das espécies e dos seus nomes científicos. O ideal seria revi-sitar as colecções do material original e avaliá-las à luz da taxonomia actual. No entanto, a tarefa não é fazível, porque implicaria muitíssimo tempo
disponível e o envolvimento de de-zenas de taxonomistas, especialistas em grupos biológicos muito diversos e distintos. Além disso, muitas das amostras preservadas estão em con-dições de conservação deficientes, limitando assim a sua observação. No entanto, o estudo de alguns espé-cimes, bem preservados, poderia resolver aspectos sistemáticos mais problemáticos.A alternativa, para validar as espécies originais e a sua nomenclatura, é usar informação taxonómica publicada e listagens de espécies com sinonímias actualizadas, produzidas por espe-cialistas. Informação biogeográfica adicional atesta a possibilidade de determinada espécie ocorrer na região (i.e. se for conhecida só do Pacífico Este, por exemplo, a possibilidade de ocorrer na região e não no Atlântico adjacente é reduzida). Esta metodo- logia embora admita gerar erros, permite recuperar a informação com uma fiabilidade aceitável.
A informação por grandes grupos biológicos
Por razões de diversidade e abun- dância publicou-se muito mais sobre crustáceos e moluscos (não cefaló-podes), do que sobre qualquer outro grupo zoológico (17 e 11 volumes, respectivamente). Os cnidários (e.g.
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águas vivas, alforrecas, sifonóforos, anémonas e corais) incluem uma di-versidade enorme de formas pelágicas e bentónicas e por isso os resultados sobre este grupo estão dispersos em 17 publicações. Seguem-se os peixes, equinodermes, esponjas e cefalópo-des, que ocupam 22 volumes. Como seria de esperar, os crustáceos inven-tariados somam um quarto (678) dos nomes específicos listados, os molus-cos e as esponjas estão representados por 469 e 399 espécies. Os peixes, algas (fitoplâncton), equinodermes e anelídeos, incluem mais de 100 espé-cies (Fig. 2). Os antozoários, hidrários e cnidários pelágicos somam 211 es-pécies. Em número de ocorrências, os mesmos grupos taxonómicos domi-nam (Fig. 2).Centenas de listagens faunísticas e revisões de sistemática reavaliaram as espécies listadas na sequência das
campanhas do Príncipe (e.g. corais escleractíneos, ziBroWius, 1980; gas- trópodes, ávila 2000; opistobrâquios, cErvEra et al., 2006; octópodes, goNçalvEs, 1991; cirrípedes, soutH-Ward, 1998, e youNg, 1998, 2001; anfípodes, lopEs et al., 1993). A revi-são destas publicações é fundamental para obter informação sistemática actualizada. No entanto, estes tra-balhos não tiveram como objectivo específico a avaliação sistemática dos resultados das campanhas do Prín- cipe e, como tal, cobrem só parcial-mente a fauna inventariada. Para alguns grupos como os crustáceos e moluscos a dispersão da informação torna difícil e morosa a tarefa da sua consulta e compilação. Neste con-texto, surgiu a necessidade de avaliar de forma dirigida e sistemática o inventário faunístico das campanhas do Príncipe.
Crustáceos
MoluscosEsponjas
Antozoários
Algas
Peixes
Equinodermes
HidráriosCefalópodes
BranquiópodesCaetognatasZoantários
Ascídeas
Anelídeos
MoluscosEsponjas
Crustáceos
Anelídeos
AscídeasZoantários Caetognatas
Branquiópodes
Cefalópodes
Hidrários
Equinodermes
Peixes
Algas
Antozoários
figura 2: Composição da informação biológica total obtida na região dos Açores durante as campanhas do Príncipe Alberto do Mónaco (1885-1914), por grandes grupos taxonómicos. a) número de espécies
(n = 2624) e b) número de ocorrências (registos) (n = 9591). Base de dados DOP/UAç.
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Num esforço dirigido, as ocorrên-cias dos peixes capturados na região, durante as campanhas do Mónaco, foram analisadas exaustivamente por saNtos et al. (1997) e integradas num inventário dos peixes dos Açores. O número de espécies capturadas du-rante as campanhas ascendeu a 197, mais de 40% das espécies de peixe inventariadas até 1997. Destas, 23% adquiriram uma nova identidade taxo- nómica, 39% mantiveram a nomen-clatura e 35% sofreu modificações (e.g. mudanças de género, concor-dâncias). Só uma pequena percenta-gem das espécies nominais não pode ser validada. As ocorrências foram compiladas em cerca de 20 publica-ções resultantes das campanhas. Mui-tos desses registos originais foram analisados por dezenas de revisões subsequentes. De notar, que este foi o grupo taxonómico mais estudado ao longo do século XX nos Açores, principalmente pelo seu interesse comercial.garcia et al. (2004) recupera as lista-gens faunísticas de sete grupos de in-vertebrados, dispersa em 11 volumes: Echiura, Sipuncula, Cephalopoda, Annelida, Brachiopoda, Chaetognatha and Echinodermata. Entre estes estão grupos menos conhecidos e sem in-ventários faunísticos conhecidos para a região (e.g. Echiura, Sipuncula, Chaetognatha). Em conjunto, a lista inclui de 331 espécies nominais, o
que representa 13% do total de espé-cies presentes na base de dados do DOP/UAç. Quinze espécies têm dois ou mais sinónimos, sendo 310 as es-pécies consideradas válidas. Cerca de 50% foram validadas sem nenhu-ma modificação de nomenclatura. O nome científico das restantes espé-cies sofreu alterações. Os anelídeos, caetognatas e braquiópodes foram os filos menos modificados. O estudo inclui 1 equiurídeo, 11 sipunculídeos, 32 cefalópodes, 130 anelídeos, 4 bra- quiópodes, 14 quetognatas e 118 equinodermes.A listagem de esponjas dos Açores, disponível em World Porifera Data-base (www.vliz.be/vmdcdata/porifera), inclui algumas espécies listadas nos resultados das campanhas do Mónaco, indicando o nome original e o actual- mente válido. Esta listagem inclui 143 espécies, cerca de 35% das 399 espécies que se encontram na base de dados do DOP/UAç.Com excepção dos crustáceos e mo-luscos, a informação taxonómica da maioria dos restantes filos está par-cialmente revista. O resgate de toda a informação biológica das campanhas do Príncipe requer ainda um esforço adicional considerável.É de referir que, na sequência destas campanhas, foram feitas descrições de inúmeras espécies, cujo material tipo (holótipos, sintipos, etc.), foi reco-lhido nos Açores e se encontra depo-
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sitado no Museu do Mónaco ou no MNHN, em Paris. O levantamento deste espólio está ainda por fazer.
Outros estudos biológicos
O volume 103 (divErs autEurs, 1940) compila mais de 70 contri-buições no âmbito das campanhas. Estes trabalhos abordam temas como a zoologia (maioria das publicações), fisiologia, parasitologia, patologia, bacteriologia e algologia. Os traba-lhos de zoologia são essencialmente de sistemática (descrição de espé- cies de invertebrados) e de anatomia (por exemplo de tubarões de profun-didade; e.g. NEuvillE, 1897, 1900).Os contributos de fisiologia cen-traram-se nas tartarugas marinhas (e.g. faNdarEE, 1940; roucH, 1940). A análise dos conteúdos estomacais mostra que estes répteis, na sua fase pelágica, se alimentam de tudo o que está disponível à superfície, de orga-nismos gelatinosos e pequenos peixes epipelágicos, até pedaços de madeira e de cortiça (poucHEt & dE guErNE, 1940). É esta característica das tarta- rugas que as torna actualmente vulne-ráveis ao lixo sólido que flutua em todos os oceanos.As tartarugas eram uma presença cons- tante nas campanhas que o Príncipe fazia no Verão aos Açores. Frequen-temente, eram capturadas, medidas e pesadas. Algumas atingiam dimen-
sões muito reduzidas, o que indicava que não faziam uma viagem longa desde a sua eclosão. Sabia-se que as tartarugas não se reproduziam nos Açores, e o Príncipe interrogava-se acerca da sua origem. Mais tarde, sugere que as tartarugas poderiam vir das praias tropicais da América ou de África, transportadas pelas correntes de superfície (alBErt i, 1932). O Prín-cipe insinua também que o crustáceo que se encontra muitas vezes asso- ciado às tartarugas possa eventual-mente alimentar-se das suas fezes (alBErt i, 1966)!Em 1887, G. Pouchet visita uma es-tação baleeira nas Lages do Pico e assiste ao desmanche de um cacha- lote. Traz o cérebro numa viagem a pé atribulada e preserva-o (em licor de Muller) para o depositar no MNHN. Na época, a amostra era um objecto de colecção científica único, pois nenhum investigador tinha estu-dado ainda anatomia dos cachalotes (alBErt I, 1932). Pouchet foi o pio-neiro nos estudos morfológicos destes gigantes, incluindo observações ana-tómicas do cérebro que recolheu no Pico (poucHEt, 1936, in ricHard).Este acontecimento precipitou o iní-cio das amostragens de cetáceos. No ano seguinte, os trabalhos continua-ram na Fábrica da Baleia em Porto Pim, Faial. A partir daí, em quase todas as campanhas os mamíferos marinhos foram observados de perto
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e algumas dezenas foram capturadas e autopsiadas. Golfinhos de todas as espécies (incluindo orcas e bicos de panela), baleias de bico, cachalotes e baleias de barbas foram cuidadosa-mente examinados.Capturaram-se cetáceos em todas as regiões estudadas, incluindo obvia-mente os Açores. Os exemplares eram sujeitos a observações anatómicas por- menorizadas. Estudavam-se os órgãos internos (e.g. pEtit, 1905) e faziam--se estudos relacionados com a fisio-logia destes animais (e.g. portiEr, 1936 in ricHard). Em todos os ma-míferos marinhos capturados, os con-teúdos estomacais eram retirados e identificados (muitas vezes bicos de cefalópodes). Na sequência das cenas de caça à baleia vividas nos Açores, o vómito dos cachalotes, na sua agonia final, era recolhido à superfície. Geral- mente, obtinham-se grande quanti-dade de cefalópodes, muitos deles exóticos e novos para a ciência (p.e. como a célebre lula-de-escamas Lepidoteuthis grimaldi Joubin 1895). Aproveitando o material biológico à disposição, faziam-se recolhas dos endo- e ectoparasitas visíveis para identificação (i.e. trematódes, césto-dos e copépodes; guiart, 1935; 1938; BriaN 1912, 1929). No final dos tra-balhos comia-se a língua.O comportamento destes mamíferos à superfície também era objecto de
observação e registo. A presença de cetáceos foi averbada durante a maioria das campanhas. No entanto, o esforço de registo foi muito variá-vel nas diferentes campanhas. Apa-rentemente, a partir de 1903, a caça de mamíferos diminui e dá lugar às observações, muitas delas feitas nos Açores.De forma pioneira, a fotografia foi usada extensivamente para registar aspectos anatómicos usados nas des-crições comparativas das espécies. Em ricHard (1936), apresentam-se cenas da estação baleeira do Cabrito, Terceira, onde se estudou uma vez mais, em 1895, um cachalote.Os estudos de ecologia alimentar, anatomia comparada, fisiologia e parasitologia não se limitavam apenas aos mamíferos marinhos. Os peixes epipelágicos de grandes dimensões (i.e. tubarões, atuns e peixe-lua) tam-bém eram estudados com metodo- logias semelhantes. Os estudos de ecologia trófica permitiam a obten-ção de muitas espécies que não eram facilmente capturadas pelas artes de pesca usadas nas campanhas.Entre muitos outros temas estudados em determinado momento, destacam--se pelo seu exotismo os trabalhos fei-tos com sifonóforos, nomeadamente sobre o veneno e o gáz do flutuador das caravelas-portuguesas (ricHEt & portiEr, 1936).
Filipe Mora Porteiro 201
Fundos oceânicos, correntesmarinhas e atmosféricas
Os trabalhos do príncipe sobre as condições ambientais do oceano foram pioneiros em muitos aspectos contribuíram para o desenvolvimen-to das ciências marinhas, não bioló-gicas. As metodologias adoptadas e testadas eram na altura inovadoras e serviram de base para melhoramentos seguintes. No entanto, a informação ambiental recolhida pelas campa-nhas do Mónaco tem actualmente um valor muito limitado. O conheci-mento sobre a circulação oceânica e atmosférica está muito além do que se sabia na altura. Por outro lado, as sondas, os satélites e os sofisticados equipamentos de mar, produzem um fluxo de informação que dispensam as sondagens feitas e as medidas obtidas à época. Os trabalhos do Prín-cipe nestas áreas têm interesse num contexto de história das ciências do mar, na medida em que contribuíram para o desenvolvimento e progresso do conhecimento.
Mapeamentos batimétricos
Durante todas as campanhas, a tri-pulação dos navios do Príncipe fazia sondagens. Primeiro com equipamen-tos mais rudimentares e depois com outros mais sofisticados e fidedignos.
As sondas permitiram melhorar o conhecimento rudimentar que então existia sobre a batimetria da região dos Açores, e de outras paragens. Os Açores eram vistos como um ma-ciço que a força da natureza tinha feito emergir a 2200 m. Este enorme acidente batimétrico era visto por Thoulet como uma cratera semicir-cular com a concavidade virada a sul. A Fossa de Hirondelle, entre S. Mi-guel e Terceira e a mais funda dos Açores com mais de 3000 m de pro-fundidade, foi descoberta em 1887. O Príncipe revisitou esta depressão em 1902.dE guErNE (1934, in ricHard) apre-sentou à C. R. Sociedade de Geogra-fia, em 1892, três cartas da região resultantes das sondagens no Hiron-delle: a primeira, foi a carte spéciale de la région, a segunda mapeava o grupo central (com exclusão da Ter-ceira) e a última detalhava o Canal Faial-Pico.Em 1896 era posto a descoberto o Banco Princesa Alice (alBErt I, 1932; ricHard, 1934; carpiNE-laNcrE & saldaNHa, 1992). O banco foi carto-grafado e caracterizado (área, orien-tação; profundidades; natureza do fundo). A prospecção de recursos biológicos revelou uma grande diver-sidade e abundância de peixes comer-ciais. Nas campanhas seguintes o banco foi revisitado e em 1902 a sua área conhecida ascendia a 215 km2.
202 Boletim do Núcleo Cultural da Horta
tHoulEt (1898) publica uma carta onde delimita o planalto submarino dos Açores, incluindo os seus prin- cipais acidentes conhecidos (i.e. al-guns montes submarinos e fossas) (macHado, 1992).Nos Açores, detectaram-se sondas e recolheram-se amostras a 4261 m de profundidade. Os resultados das sondagens eram interpretados num contexto da geologia da região, que ainda não incorporava o conceito de tectónica de placas.O principal colaborador do Príncipe no estudo da composição física, quí-mica e biológica das amostras dos fundos marinhos recolhidas até ao Princess Alice foi tHoulEt (e.g. 1901; 1934 in ricHard).
A circulação oceânica e as amostras hidrológicas
Os flutuadores lançados na Corrente do Golfo nas campanhas de 1885 e 1887 foram recolhidos em diversos locais do Atlântico Norte: Açores, costa de Portugal, Madeira, Canárias e América do Norte, incluindo Caraí-bas na região sul e Irlanda, Escócia e Noruega para norte. Em diversas comunicações o Príncipe (alBErt i, 1932) dá a conhecer os seus estudos, onde estabelece e mapeia pela primei-ra vez, o sentido de circulação geral das correntes marinhas de superfície no Atlântico Norte (o turbilhão mari-
nho), incluindo a Corrente do Atlân-tico Norte, em direcção ao Mar da Noruega. Os trabalhos prosseguiram após a I Grande Guerra, com o ma-peamento das minas flutuantes que se lançaram no Atlântico, nesses anos negros (alBErt i, 1932).Os resultados das estações hidroló-gicas (profundidade, temperatura, salinidade e densidade), obtidas re-gularmente durante as campanhas, foram apresentados por tHoulEt (1905) nas suas memórias oceanográ-ficas, allEmaNdEt (1939) e roucH (1940), que compila centenas de dados. BEtHoux (1992) faz a revisão dos conhecimentos, mas lembra que as novas tecnologias relativizaram os contributos do Príncipe em oceano-grafia física. No entanto, como refere roucH (1940) a grande utilidade destas observações é fornecerem as temperaturas e salinidades a que estão sujeitas as comunidades biológicas estudadas.
A meteorologia
Em 1887, no Hirondelle, o Príncipe é apanhado por um ciclone em pleno oceano, a norte dos Açores (ver des-crição em alBErt i, 1966). Talvez esta experiência impressionante o tenha despertado para a necessidade da previsão meteorológica.Os lançamentos de balões atmosfé-
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ricos foram essencialmente técnicos, pois visavam aperfeiçoar e testar de- terminados equipamentos. As obser-vações feitas no Árctico foram as mais profícuas (alBErt i, 1932). Seguir um balão com um navio não se mostrava muito eficaz!Em relação ao tema da meteorologia, a sua grande motivação relacionava--se com a necessidade de implemen-tar uma rede Atlântica de observa- tórios meteorológicos, com pontos nas Bermudas, Açores, Canárias e Cabo Verde. Com as ilhas ligadas à Europa por cabos submarinos, os pro-blemas estavam minimizados, já que se poderia enviar informação meteo-rológica por telegrama. O interesse pela meteorologia encontrou um forte aliado nos Açores: o Coronel Afonso Chaves, o único cientista açoriano da confiança do Príncipe (carpiNE--laNcrE, 2001). O objectivo era criar uma rede meteorológica nos Açores e um serviço internacional de meteo-rologia. A luta que travaram com os estados europeus ribeirinhos (nomea-damente Portugal e Inglaterra) foi parcialmente ganha. Em 1901, o país cria os Serviços Meteorológicos dos Açores, dirigidos por Chaves, mas o observatório internacional não vê a luz do dia. Mais tarde, a rede alar-ga-se a toda a região. As estações de meteorologia nos Açores forneciam dados importantes para a previsão do clima na Europa.
Mais tarde Alberto do Mónaco inte-ressa-se pelas interacções entre a cir-culação atmosférica e a circulação marinha. As considerações serviram de base para os estudos futuros sobre as trocas turbulentas de calor e vapor e a acção do vento na circulação oceânica (BEtHoux, 1992).
As expedições costeiras e terrestres
Nas campanhas do Hirondelle, J. de Guerne dedicou-se ao estudo de la-goas, ribeiras, poços de maré e fonta-nários durante as suas visitas a terra. Em todas as ilhas, excepto S. Jorge, recolhe elementos da fauna de 14 lagoas vulcânicas, 13 das quais não tinham sido exploradas anteriormen-te e 5 não se encontravam sequer cartografadas. É acompanhado por J. Richard e em S. Miguel tinha o apoio do Coronel Afonso Chaves. Levavam aparelhos de pesca e instru-mentos diversos, uma pequena embar- cação desmontável para aceder ao espelho de água e material de cam-pismo, quando as expedições duravam mais de que um dia. Para transportar o equipamento alugavam mulas ou burros de carga e contratavam popu-lares para os guiar até lagoas a mais de 1000 m de altitude.Em 1888, dE guErNE publica o tra-balho Excursions zoologiques dans les îles de Fayal et S. Miguel, onde
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explora a questão da colonização des-tas ilhas vulcânicas recentes e remo-tas. O autor descreve a fauna pelágica e profunda das lagoas das Sete-Cida-des, e de uma forma mais geral, os habitats e as faunas de água-doce de S. Miguel. No Faial, estuda a Caldeira e a sua fauna, que é mais natural do que a que vive nas Sete-Cidades. De Guerne discute a origem desta fauna, os meios de colonização (vento e aves marinhas) e as adaptações à vida terrestre. A informação acerca das faunas existentes em outras regiões permite-lhe fazer considerações bio-geográficas. Os resultados indicam claramente uma origem europeia para as faunas de água-doce e terrestre dos Açores, com um nível de endemismo baixo, com excepção para os mo- luscos terrestres. Muitas das espécies aquáticas observadas distribuíam-se
por uma vasta área geográfica. O in-teresse pela origem, colonização e evolução dos organismos insulares foi certamente motivado pelos ven-tos evolucionistas que emanavam da Europa. Estes temas seriam revisi-tados em diversas publicações.Richard compila os resultados das campanhas em terra (divErs autEurs, 1937) e escreve um artigo sobre a fauna de água-doce dos Açores (ricHard, 1937). Identifica ostráco-des, copépodes e cladóceros, discute a fauna de rotíferos e faz considera-ções acerca da ausência de vida na cal-deira do enxofre na Graciosa. Outros autores inventariam principalmente artrópodes (e.g. isópodes, aracnídeos, hidracnídeos, miriápodes, ortópteros, coleópteros, himenópteros), mas tam-bém alguns hirudíneos e moluscos.
as rElaçõEs dE traBalHo com os açoriaNos (coNtriButo)
As relações sociais do Príncipe com a sociedade açoriana foram intensas e têm sido estudadas por vários autores em contextos diversos (e.g. martiNs, 1992). Na primeira visita às ilhas, em 1879, o Príncipe Albert I do Mónaco vinha como visitante, para conhecer as paisagens, a economia, os hábitos e costumes da sociedade local, etc.). Durante a visita estabelece relações sociais com as elites locais, que o acolhem. Seis anos depois, chega ao
arquipélago já como comandante das suas campanhas oceanográficas. Visi-ta todas as ilhas do Arquipélago. Em Ponta Delgada e na Horta faz algumas amizades íntimas, com quem descan-sa do seu isolamento e da rudeza da vida do mar, numa atmosfera amável, hospitaleira e inteligente (alBErt i, 1966).Sob o ponto de vista científico, o Príncipe encontra poucos interlocuto-res na região.
Filipe Mora Porteiro 205
Em 1887, visita Carlos Machado em S. Miguel, no seu colégio e observa a colecção que originou a secção de história natural do museu local. Machado visita o Hirondelle. O Prín-cipe verifica o desconhecimento que tinha das faunas oceânicas, para além do litoral. A falta de meios era a prin-cipal limitação.O Coronel Afonso Chaves (1857--1926) foi o principal colaborador (além de amigo) do Príncipe Albert I nos Açores e em Portugal (saldaNHa, 1992; carpiNE-laNcrE, 2001). Este cientista interessa-se por todos os campos das ciências naturais, desde a sismologia e o vulcanismo, até à zoologia, botânica e paleontologia. Conhece o Príncipe em Ponta Delga-da, durante a campanha do Hirondelle de 1887. Nos anos que se seguem, in-tensifica as colaborações com alguns elementos da equipa do Mónaco e usa, nas suas investigações, equipamentos por eles oferecidos. Recolhe elemen-tos da fauna terrestre e marinha aço-riana e organiza as excursões terres-tres em S. Miguel, lideradas por de Guerne. Envia um esqueleto de cacha-lote para o Museé oceanographique de Monaco, que ainda lá se encontra. No entanto, a meteorologia consti-tuiu o seu interesse central. Com o apoio científico do Príncipe, Chaves criou um Serviço de Meteorologia na Região, como mencionado. Em 1908, foi convidado pelo Príncipe Albert I
a fazer parte do comité científico de l’Institut océanographique.Albert I do Mónaco e Afonso Chaves trocaram intensa correspondência. carpiNE-laNcrE (2001) detalha a re-lação que Afonso Chaves estabeleceu com o Príncipe e com a sua equipa, nomeadamente com Richard.Em 1885, o Príncipe contacta com a baleação que se pratica na região, neste caso nas Flores. Nas várias ilhas, aprofunda as relações com armadores e baleeiros e vive de perto as emoções de caçar os gigantes. Os relatos que o Príncipe deixou sobre estas experiên-cias (especialmente na Terceira; ver alBErt i, 1966) são referências obri-gatórias nos estudos históricos sobre a baleação nos Açores.A relação com a família Dabney, um oásis cultural e social no Atlântico, permitia o acesso aos cachalotes, nas fábricas, aos equipamentos e aos próprios baleeiros (alBErt I, 1966). No Faial, o Princesse Alice saiu com baleeiros para apanharem cachalotes, mas estes levavam a sua canoa e os seus arpões. Com os homens das Flo-res e do Faial, o Príncipe aprendeu as técnicas da caça e, como referido, implementou nos seus navios amos-tragens regulares de cetáceos.A relação com outros pescadores nem sempre era pacífica. Quando aconte-cia a partilha do mar à volta das ilhas, os pescadores locais, de forma ingé-nua ou inadvertidamente, cortavam-
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-lhes as boias dos equipamentos, que se encontravam a pescar no fundo.As implicações para a pesca da des-coberta do Banco Princesa Alice foram muito significativas. No ano da sua descoberta, o Príncipe Albert I deu a conhecer o banco, primeiro ao seu primo, o Rei D. Carlos I de Por-tugal, e depois em comunicado de imprensa (carpiNE-laNcrE & sal-daNHa, 1992). O entusiasmo foi tanto que quatro meses após a sua desco-berta ele começou a ser explorado.
O banco era riquíssimo em recursos piscatórios. No ano seguinte, os pes-cadores de três navios com mais de uma dezena de homens, pescaram duas dezenas de toneladas de peixe em pouco mais de um mês! O Banco Princesa Alice foi-se revelando à me-dida que era investigado e pescado.Para recuperar ou transformar equi-pamentos científicos e de navegação, o Príncipe não podia contar com as condições oferecidas nos Açores. Nas ilhas tomava água e frescos.
as iNstituiçõEs ocEaNográficas do príNcipE
Por experiência própria o Príncipe Alberto I do Mónaco tinha consciên-cia da natureza pluri e multi-discipli-nar da oceanografia. Se o seu trabalho no mar foi incomparável, o impacto das suas actividades em terra foram de extrema relevância para a afirma-ção da ciência.Em 1906, institui a Fundação Albert I, que no seu âmbito cria o Institut océanographique, que abriu em 1910. Esta instituição inclui a exposição do Musée océanographique de Mónaco, o aquário, a biblioteca, colecções biológicas, os laboratórios, etc. Os objectivos eram dar a conhe-cer a fauna marinha e as explorações feitas durante suas campanhas e arma-zenar e estudar colecções, documen-tos, mapas, ilustrações, e demais arte-
factos. Para além das amostras bioló-gicas, o museu arquiva uma enorme quantidade de documentação acerca das campanhas do Príncipe Albert I do Mónaco. Entre eles encontram-se centenas de testemunhos sobre o Mar dos Açores e acerca da sociedade açoriana de então.A intensa actividade de divulgação das suas campanhas, leva-o frequen-temente a Paris, para apresentar con-ferências populares e científicas (ver alBErt i, 1932). Em 1910, cria o l’Institut Océanographique em Paris que funciona em complementaridade com o seu congénere no Mónaco e que promove o ensino da oceanogra-fia em França.Nestas instituições, o Príncipe pro-moveu activamente a investigação
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multidisciplinar e a cooperação cien-tífica internacional.Para a publicação de temas relacio-nados com os oceanos, as instituições editam várias publicações científicas (i.e. Annales de l’Institut Océanogra-phique; Bulletin de l’Institut Océa-nographique; Mémoires de l’Institut Océanographique; e Résultats des Campagnes Scientifiques). Muitas das contribuições resultantes das campa-nhas do Príncipe Alberto I do Mó-naco, encontram-se nestas revistas.As iniciativas do Príncipe Albert I do Mónaco para o desenvolvimento das ciências do mar e para a sua con-servação não se limitaram às insti-tuições que ele fundou. Por direito, ele fazia parte das grandes institui-ções europeias ligadas às ciências do mar. O uso sustentado dos recursos pesqueiros, defendido pelo Príncipe, era um tema pioneiro, numa época
em que se considerava o mar como uma fonte inesgotável de peixe. Com outros cientistas, funda em 1919 a Commission Internationale pour l’Exploration Scientifique de la Mer Méditerranée.Os seus contributos e conhecimento foram reconhecidos internacional-mente. Era um membro distinto do L’Institut de France de l’Academie des Sciences; em 1909, torna-se mem-bro da British Academy of Science e em 1920 é distinguido pela American Academy of Science.A influência do Príncipe Albert I em outras áreas é de tal ordem intensa que se torna difícil de inventariar. Em Paris funda o l’Institut de Paléontolo-gie Humaine e no Mónaco o l’Institut Internacional pour la Paix. Estas são as instituições ligadas ao profundo humanismo do pacifista convicto.
coNclusõEs
Os trabalhos do Príncipe destacam-se não por terem recolhido uma grande quantidade de organismos, mas pelo facto de terem estudado uma míriade de espécies que caracterizam as princi-pais comunidades oceânicas do Atlân- tico Nordeste, e, especialmente, dos Açores. A diversidade dos ambientes estudados reflecte a diversidade dos equipamentos usados. O conheci-mento produzido pelas campanhas do
Príncipe foi usado principalmente para estudos de sistemática animal e lista-gens regionais de espécies. Actual- mente o Departamento de Oceano-grafia e Pescas está a resgatar de forma sistemática a informação zoo-lógica das campanhas do Príncipe nos Açores. A exploração destes dados permite conhecer melhor a estrutura e a distribuição de comunidades sen-síveis do oceano profundo, um tema
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actual na biologia marinha. Por outro lado, o inventário da fauna recolhi-da cria informação de referência que permita identificar as espécies que se vão recolhendo no âmbito de projec-tos de investigação sobre comunida-des de montes submarinos e encostas submersas das ilhas.Os trabalhos de oceanografia física contribuíram para o desenvolvimento da ciência e para aprofundar o conhe-cimento da circulação geral do Atlân-tico. Os mapeamentos descobriram bancos e fossas oceânicas na região
dos Açores. No entanto os dados re-colhidos têm actualmente um valor reduzido tanto para mapeamento dos fundos como para a caracteriza-ção das massas de água e correntes oceânicas. Os dados oceanográficos obtidos (i.e. temperatura, salinidade e densidade) são úteis para caracte-rizar as condições ambientais em que vivem os organismos estudados.O Musée océanographique de Mónaco arquiva muita informação histórica sobre os Açores que even-tualmente merecia ser explorada.
agradEcimENtos
Aos colegas Cristina Garcia, Ana Meirinho, Frederico Cardigos e Fer-nando Tempera, Íris Sampaio, Andreia Henriques e Valentina Matos por esta- rem de uma forma ou de outra envol-vidos na digitalização, revisão e uso dos dados históricos do Príncipe Alberto do Mónaco. Ao Ricardo Medeiros pela execução dos mapas da figura 1. Ao Ricardo Serrão Santos por me ter convidado a fazer este tra-balho e por ter revelado a importância
dos trabalhos do Príncipe Alberto I, para a ictiologia dos Açores. A Fer-nando Tempera pela revisão do texto.À Anabela, Beatriz e Leonor por me aturarem enquanto preparava este trabalho.Contribuição do projecto CORAZON (PTDC/MAR/72169/2006: Comuni-dades bentónicas dos Açores com im-portância para a conservação: corais de águas frias) suportado pela Funda-ção para a Ciência e a Tecnologia.
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youNg, P. (2001), Deep-sea Cirripedia Thora-cica (Crustacea) from the northeastern Atlantic collected by French expeditions. Zoosystema, 23 (4): 705-756.
ziBroWius, H. (1980), Les Scléractiniaires de la Méditerranée et de l’Atlantique nord--oriental. Mémoires de l’Institut océano-graphique, Monaco, 11: 1-284, lâminas 1-107 (+ 3 pranchas).
214 Boletim do Núcleo Cultural da Horta
aNExo 1. EquipamENtos (artEs dE pEsca E iNstrumENtos) usados duraNtE as campaNHas do príNcipE alBErto i do móNaco quE Exploraram o mar dos açorEs, ENtrE 1885 E 1914. N: NúmEro dE EstaçõEs
fEitas com dEtErmiNada artE. NEgrito: artEs mais usadas.
Artes de Pesca Ano n
Bio
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Armadilhas
armadilhas 1887-88; 1895-97 49
dupla, com rede 1902 4
eléctrica 1888 1
em tela metálica 1887 1
triédrica 1902; 1905; 1911; 1912 9
Red
es
de fundo
arrasto + sonda 1888 1
arrasto com patim 1911 1
arrasto de fundo1887-88; 1895-97; 1902;
1904-05; 191274
arrasto de malha larga 1897 2
arrasto de portas 1905 1
pelágicas(profunda)
Giesbrecht modificada 1896 1
Richard de grande abertura 1902; 1904-05; 1913 21
Bourée em velocidade 1911-12; 1914 12
pelágicas(superfície)
Hensen pequena 1902 4
superfície 1888 5
superfície seda 1887 1
fina 1885; 1887-88; 1895 23
fina em velocidade 1887; 1904-05; 1911-14 143
emalharfundo 1895-97; 1902; 1912-14 32
pelágica-derivante 1902 1
vertical camaroeiro1887-88; 1895-97; 1902;
1904-05; 1911-1377
draga draga em tela 1888 5
Linhae anzol
fundopalangre
1888; 1895-97, 1902; 1905; 1911-14
25
de mão1895-96; 1902; 1904-05;
1905; 191210
superfície corrico 1905 1
Ferimentoarpão 1887; 1895-97; 1911 6
arpéu 1887; 1895-96; 1902; 1905 8
Outros
barra de piaçábas 1888; 1895-97; 1911 15
bomba de plankton 1912 5
apanha à mão 1887-88; 1895-97; 1905 20
Filipe Mora Porteiro 215
Artes de Pesca Ano n
Bio
lógi
ca
Outros
objectos flutuantes 1888; 1896; 1902 7
observação visual 1887 1
âncora 1895 1
cabo da sonda 1902 1
cabo do arrasto 1888 3
navegação 1887 1
pescadores 1895; 1902 2
tartaruga 1888 1
recolhas em terra 1887-88 2
garrafas de gás (Hg) 1896 2
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Gar
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garrafa Richard 1902 5
garrafa Richard + piezómetro 1902 1
sonda 1887 2
sonda “à robinet” 1888; 1895-97 11
1 poita de sonda 1912 1
2 poitas de sonda com sebo 1895-96; 1911-14 29
3 poitas de sonda com sebo 1897; 1902 25
3 poitas de sonda com sebo + linha 1897 5
sonda Léger 1904-05; 1911-12 38
tubo sonda Buchanan 1895-97; 1902; 1905; 1912 87
sonda Léger + garrafa Richard 1904-05 4
tubo sonda Buchanan + garrafa Richard
1902; 1904-05; 1912 24
tubo sonda Buchanan + piezómetros Buchanan + garrafa Richard
1902 7
3 poitas de sonda com sebo + gar-rafa Richard
1902 3
tubo sonda Buchanan + armadilha para micróbios
1902 2
sonda Léger + garrafa Richard + arma- dilha para micróbios
1904 1
tubo sonda Buchanan + garrafa Richard + armadilha para micróbios
1904-05 6
tubo sonda Buchanan + piezómetros Buchanan + garrafa Richard + arma-dilha para micróbios
1902 1
Meteorológicabalão atmosférico (cerfs-volants) 1904-05 4
balão atmosférico sonda 1905 1
216 Boletim do Núcleo Cultural da Hortat
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218 Boletim do Núcleo Cultural da Horta
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