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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATU SENSU” PROJETO VEZ DO MESTRE A IMPORTÂNCIA DO PROFESSOR NA ESCOLA INCLUSIVA Por: Dilvanete dos Santos Professor Orientador Nilson Guedes Freitas Rio de Janeiro Março – 2004

A IMPORTÂNCIA DO PROFESSOR NA ESCOLA … DOS SANTOS.pdfAgradeço as minhas amigas de grupo Odete, Solange, Kátia e Mônica, que foram grandes companheiras neste percurso de formação

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATU SENSU”

PROJETO VEZ DO MESTRE

A IMPORTÂNCIA DO PROFESSOR NA

ESCOLA INCLUSIVA

Por:

Dilvanete dos Santos

Professor Orientador

Nilson Guedes Freitas

Rio de Janeiro

Março – 2004

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATU SENSU”

PROJETO VEZ DO MESTRE

A IMPORTÂNCIA DO PROFESSOR NA

ESCOLA INCLUSIVA

Monografia apresentada como

exigência de conclusão do Curso de

Pós-Graduação “Latu Sensu” com

especialização em Psicopedagogia

sob orientação do professor Nilson

Guedes Freitas.

Rio de Janeiro

Março / 2004

3

AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus, que tem dado a mim todas as

coisas.

Agradeço as minhas amigas de grupo Odete, Solange, Kátia e

Mônica, que foram grandes companheiras neste percurso de formação

profissional.

Agradeço especialmente à minha irmã Graça, seu apoio foi essencial,

sem dúvida ela merece um agradecimento especial pela compreensão e

pela dedicação que demonstrou nas muitas horas em que precisei de ajuda.

Para terminar, agradeço à minha querida mãe Marina, pelo amor e

pela colaboração com que vem me acompanhando nos principais momentos

da minha vida.

4

“Sozinhos nós podemos fazer pouco; juntos

nós podemos fazer muito mais.”

(Hellen Keller)

5

RESUMO

O presente trabalho destinou-se a analisar a problemática dos

portadores de necessidades educacionais especiais e sua inclusão no

ensino regular.

A pesquisa bibliográfica foi o caminho utilizado para que esse estudo

se efetivasse.

Admite-se que a falta de professores e de especialistas qualificados

para trabalhar com alunos “normais” e com deficiência na mesma sala de

aula é a causa do considerável número de indivíduos excluídos dos seus

direitos de apropriação do saber e que não se beneficiam da educação

escolar.

Portanto, verifica-se que a prática pedagógica precisa ser revista e

aprimorada visando beneficiar uma população de crianças que tem um

número expressivo em nosso país.

Atualmente a Lei assegura direitos que favorecem aos portadores de

necessidades especiais, porém o desafio é reconhecer o modo de lutar por

eles, para que não estejam somente implícitos na teoria e no discurso,

sendo que na prática nem sempre é adequado com o que se escreve ou se

diz.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO

CAPÍTULO I – A INCLUSÃO NO SISTEMA REGULAR DE ENSINO

1.1 – Obstáculos à Inclusão

1.2 – O papel da Escola

CAPÍTULO II – A IMPORTÂNCIA DO PROFESSOR NA ESCOLA

INCLUSIVA

2.1 – Formação Especial ou Capacitação Continuada

2.2 – Formação do Professor

CAPÍTULO III – Propostas Facilitadoras para uma Escola Inclusiva

Integração Família/Escola

3.1 – A família como parte do processo

3.2 – As adaptações Curriculares

3.3 – O processo de Avaliação

3.4 – Proposta de Acompanhamento

CONCLUSÃO

BIBLIOGRAFIA

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08

09

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19

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INTRODUÇÃO

Com base no reconhecimento da diversidade existente na população

escolar e na necessidade de respeitar e atender a essa diversidade, a

presente pesquisa busca novas direções no caminho do aprimoramento do

atendimento educacional aos alunos com necessidades especiais.

No entanto, a inclusão desses alunos na classe comum, terá que,

obrigatoriamente priorizar a qualificação do professorado. Pois o que se

imagina de maneira mais significativa a se pensar na viabilidade do modelo

de escola inclusiva, é a situação dos recursos humanos, especificamente

dos professores das classes regulares, que precisam ser efetivamente

capacitados para transformar sua prática educativa.

Torna-se um desafio garantir o êxito da inclusão escolar, ainda mais

quando implicam novos desafios e inquestionáveis demandas socioculturais.

A formação e a capacitação docente impõem-se como meta principal

a ser alcançada na concretização do sistema educacional que inclua à

todos. Os professores necessitam de uma política de formação permanente

que atenda às suas necessidades, visando um processo contínuo de

aprendizagem, onde possam assimilar novos conhecimentos e refletir sobre

o seu saber fazer pedagógico.

Sob esta perspectiva, procura, em primeiro lugar, possibilitar

intervenções pedagógicas que propiciem às pessoas com necessidades

especiais uma melhor educação, em segundo, busca subsidiar a prática

docente propondo novos estudos e propostas de formação e capacitação

profissional, no intuito de favorecer a aprendizagem do aluno.

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CAPÍTULO I

A INCLUSÃO NO SISTEMA REGULAR DE ENSINO

O paradigma de inclusão deve ser fundamentado na evolução de

conceitos e nos progressos científicos e tecnológicos, concernentes à

educação geral.

Assim, a criança desde seus primeiros anos de vida já possui seus

direitos e deveres fundamentais garantidos.

Sassaki (1997), explica que “… os conceitos acompanham a evolução

de certos valores éticos, como aqueles em torno da pessoa portadora de

deficiência…” (p. 27).

Nesse contexto, surge em 1990, um movimento em defesa de uma

Sociedade para Todos, iniciado pelas Nações Unidas em favor da sociedade

inclusiva, por intermédio desse organismo se fundamenta a implantação da

inclusão.

Diante dessa nova orientação, em 1994, um documento que marcou

época prescreve a transformação das instituições educacionais em “Escolas

para Todos”, tendo como primórdio orientador à inclusão de todo aluno, em

seu contexto educacional. Por meio do Encontro de Salamanca (Espanha) e

assinado por diversos países, resultou o documento “Declaração de

Salamanca”, no qual acredita-se que toda criança possui características,

interesses, habilidades e necessidades da aprendizagem que são únicas.

A Declaração considera a diversidade e necessidade específicas do

aluno, e preconiza a adoção de estratégias pedagógicas diferenciadas que

busquem beneficiar a todos os alunos.

A partir dos movimentos internacionais e da LDB, começou no país

um movimento de grande força assinalando o direito de todos a educação,

independentemente de classe, raça ou gênero, inserindo aqueles que

apresentam diferenças físicas, sensoriais e intelectuais, decorrentes de

fatores inatos ou adquiridos, de caráter temporário ou permanente, ou seja,

os que possuem necessidades educacionais especiais.

Segundo Carvalho (1998), “Os próprios portadores de deficiência,

politicamente mais organizados do que há décadas atrás, tem lutado para

9que tais direitos sejam respeitados e cumpridos, sem cunho de

assistencialismo”. (p. 18)

A política Nacional de Educação Especial está fundamentada na

Constituição Federal (1998), especialmente no inciso IV do art. 208, que

enfatiza “… o atendimento educacional especializado aos portadores de

deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino”, no Estatuto da

Criança e do Adolescente (1990) e, principalmente, na Lei de Diretrizes e

Bases da Educação Nacional (LDB), publicada pala Lei 9.394, de 20/12/96,

que trata, especificamente, no capítulo V, da Educação Especial.

Atualmente a legislação, é, de certa forma, avançada, incluindo

paradigmas, que vêm ao encontro de propostas educacionais que procuram

incluir portadores de necessidades educacionais especiais no ensino regular

e, no qual instituem requisitos indispensáveis para uma educação adequada

para os portadores de deficiências.

Mantoan (1997) diz que, “Por outro lado às leis educacionais estão

escritas, mas não são colocadas em práticas, em sua extensão e

especificidades”. (p.169).

Em outras palavras, isto significa que a barreira está em garantir no

cotidiano escolar, o direito que é assegurado na lei.

O Ministério da Educação e do Deporto (MEC) considera que, a

população de pessoas deficientes no Brasil é estimada em 10%, e

estatísticas divulgadas evidenciam “somente cerca de 3% dos nossos

deficientes recebem atendimento educacional” (CARVALHO, 1998, p. 18).

Verifica-se a necessidade de preparar a própria escola para incluir o aluno

portador de deficiência eliminando qualquer barreira física, programática e

atitudinais para que possam ter acesso aos bens e serviços.

1.1 – Obstáculos à Inclusão

“Ao iniciarmos um novo século e um novo milênio, está na hora de abandonarmos etiquetas e rótulos e de olharmos além deles”. (Boletim-Salto para o futuro, p. 22).

10No caso dos portadores de necessidades educacionais especiais o

que temos constatado é que está pessoas têm sido portadores de suas

lutas. A própria evolução das nossas reflexões sobre os direitos tem

permitido a remoção de algumas barreiras que até pouco tempo negavam a

igualdade de oportunidade e até o direito da família escolher uma escola

mais próxima para que seu filho pudesse estudar.

Atualmente, o direito é assegurado na lei e todos devem ser

matriculados na escola regular de ensino.

Assegurar oportunidades iguais não significa garantir tratamento igual

para todos, é necessário utilizar meios adequados às características e

necessidades de cada aluno, para que ele possa não só ingressar, mas

permanecer e desenvolver suas potencialidades. A escola precisa oferecer

oportunidades educacionais diversificadas, para assegurar a igualdade de

acesso à educação.

Apesar dos registros das últimas décadas, ainda persistem várias

dificuldades em relação à inclusão dos portadores de necessidades

educacionais especiais. Não podemos negar o esforço por parte de

determinados seguimentos sociais e políticos no sentido de incluir em várias

leis os direitos à igualdade educacional e o atendimento na rede regular de

ensino.

Porém, vários fatores como a descontinuidade administrativa

existente, têm proporcionado a ausência de um planejamento efetivo que

direcione os objetivos voltados para a inclusão dessa clientela.

Há falta de preparo pedagógico dos professores e dos demais

envolvidos no processo educativo para atuar com alunos que necessitam de

atendimento especializado.

Segundo Carvalho (1998),

“Pensar na inclusão dos alunos com necessidades educacionais especiais nas classes regulares sem lhes oferecer ajuda e apoio, bem como a seus professores e familiares, parece-me o mesmo que inseri-los seja como número de matrícula, seja como mais uma carteira na sala de aula”. (p. 171).

11Na realidade, os alunos estão sendo matriculados, porém não é

oferecido apoio de que eles necessitam. A maioria das escolas ainda não

estão preparadas para receber os alunos portadores de necessidades

educacionais especiais. Os educandos excluídos não estão sendo incluídos.

Infelizmente,

“A prática escolar tem evidenciado o que pesquisas científicas vem comprovando: os sistemas educacionais experimentam dificuldades para integrar o aluno com necessidades especiais. Revelam os efeitos dificultadores de diversos fatores de natureza familiar, institucionais e sócioculturais”. (Parâmetros Curriculares Nacionais, 1999, s/p).

1.2 – O papel da escola

Educar uma criança com necessidades especiais é um desafio que

precisa mobilizar todos os profissionais que atuam na escola. Somente

através da conscientização de todas as pessoas envolvidas no processo

pedagógico –independente de estarem ou não comprometidas – poderá

deixar de lado barreiras e estabelecer um convívio mais agradável sem

tantos rótulos e discriminações.

Os alunos estão incluídos, e seus direitos são garantidos pela Lei.

Torna-se então necessário que a escola que prepare cada vez mais, para

trabalhar as diferenças, deixando de lado o seu caráter seletivo.

A escola é muito importante para qualquer criança, mas é ainda mais

importante para a criança com deficiência. É na unidade escolar que o

educando aprende a confiar em si mesmo, entendendo que é capaz de fazer

a maioria das atividades, embora levando um pouco mais de tempo.

É fundamental promover uma relação de confiança com todos os

discentes, pois a diferença de ritmos pode acontecer com qualquer criança,

portadora ou não de necessidades especiais.

Na escola inclusiva, o trabalho é realizado de forma diferenciada de

acordo com a necessidade de cada aluno, não é um processo rápido,

automático ou fácil.

12Nessa prática ou caminho é difícil, o que torna a ação um desafio

constante, a comunidade educativa precisará trabalhar em parceria,

aprendendo a escutar a si próprio e ao outro.

É preciso que a escola disponha de tempo, para discussões e

debates na própria comunidade, ouvir palestras de profissionais

especializados, o diálogo a respeito das dificuldades diferenciadas e

necessidades dos alunos buscando soluções conjuntas.

Conforme Stainback (1990), inclusão é uma consciência de

comunidade, uma citação das diferenças e uma co-responsabilização para

obviar às necessidades de outros.

Uma escola inclusiva é uma instituição educacional na qual todos

participam ativamente no processo educativo.

Verifica-se a necessidade de um planejamento compartilhado, com

uma gestão pedagógica democrática, onde escola, família e comunidade

possam juntos desenvolver um programa educativo que permita que as

necessidades sejam atendidas.

Sassaki (1997) diz que,

“A prática da inclusão social repousa em princípios até então considerados incomuns, tais como: a aceitação das diferenças individuais, a valorização de cada pessoa, a convivência dentro da diversidade humana, a aprendizagem através da cooperação” (p. 41-42).

Assim, o nosso pensamento terá como referencial a idéia de que a

prática da inclusão implica uma ação compartilhada.

Dessa forma, em se tratando de um trabalho educacional com

crianças portadoras de necessidades especiais, é de fundamental

importância que o professor e os demais membros da comunidade escolar

busquem respostas para as necessidades especiais individuais.

“Na verdade, o que se espera é que, na elaboração do Projeto Político Pedagógico da escola, todos os educadores se reúnam e, por meio de relações dialógicas e com atitude dialética, possam ressignificar as diferenças e rever os objetivos...” (CARVALHO, 1998, p.119).

13

Os profissionais da escola deverão dentro de uma nova perspectiva,

incluir os pais como participantes, colaboradores na ação que diz respeito à

educação de seus filhos. É preciso levar em conta que os alunos aprendem

diferentemente, pois cada um tem sua história de vida e influencia sua forma

de aprender.

14

CAPÍTULO II

A IMPORTÂNCIA DO PROFESSOR NA

ESCOLA INCLUSIVA

A inserção da criança portadora de necessidades especiais em

escolas regulares, não significa que se esteja isentado a prática

especializada, nem tão pouco que se esteja deixando para a escola a

responsabilidade pelo desenvolvimento desta criança, ao contrário, a

inserção prevê uma parceria maior entre país, professores e especialistas,

oferecendo a oportunidade para esta criança de vivenciar suas experiências

juntamente com outras crianças.

Para a Secretaria de Educação Especial do MEC,

“O esforço de inserção de alunos com deficiência no ensino regular deve ser acompanhado pala educação especial em salas de recurso, onde eles poderão ter atendimento individualizado durante uma parte do tempo”. (1997, p. 71).

Considerando-se, em resignação com o pensamento de Mantoan

(1997), que estimula a inclusão total dos alunos com deficiência na escola

regular, porém enfatiza o apoio de serviços especializados fora da sala de

aula regular, visando a melhor integração dos estudantes.

No que se refere à inserção, além da direção e funcionários da

escola, o professor tem papel fundamental, pois é ele quem convive

diariamente com o aluno na sala de aula, observando e registrando os

avanços de cada educando, seja ele deficiente ou não. Ele é visto como um

agente de mediação entre seus discentes, ensinando-lhes através de um

processo de interação, considerando cada criança individualmente,

enriquecendo suas vidas e aprendendo juntamente com o aluno caminhos

que o levem ao crescimento.

O professor na sala de aula utiliza caminhos e adaptações a partir das

necessidades surgidas no cotidiano, e enfrenta o desafio e a

responsabilidade pela educação de todos os seus alunos.

15Quem trabalha em Educação Especial, pelas próprias dificuldades do

aluno em aprender, envolve-se num treinamento constante em relação à

escuta do outro, exercita a sensibilidade e torna-se eficaz quando não só

escuta o outro como a si mesmo, afastando os medos, a onipotência e a

insegurança.

Todavia, os professores não tem recebido orientação e apoio para tal

inserção e muitas vezes esse ato se torna uma prática pedagógica

produzindo exclusão dentro de uma proposta inclusiva.

Nem sempre o que está no texto e na letra da lei ou dos documentos

é o que se constata no cotidiano escolar,

“Professores com especialização adequada em nível médio ou superior, para atendimento especializado, bem como professores do ensino regular capacitados para a integração desses educandos nas classes comuns”. (SOUZA e SILVA, 1997, p. 93).

Vemos uma contradição entre o que está escrito e o que ocorre no

cotidiano da escola inclusiva.

Os professores se sentem despreparados e desmotivados para

trabalhar com alunos que necessitam de recursos educativos especiais e

específicos.

Segundo Carvalho (1998), os professores:

“Alegam que não se sentem ‘preparados’ e motivados para docência de grupos tão diversificados, consideram-na difícil, pois ganham muito mal, não tendo recursos para compra de livros, ou para fazerem cursos de atualização, além de que as condições em que trabalham são muito adversas …” (p. 164-165).

2.1 – Formação Especial ou Capacitação Continuada

No que tange à formação continuada, os professores identificam

como barreira ao desempenho de seus papéis, dentro da sala de aula a falta

16de cursos de capacitação profissional para atender os alunos com

necessidades especiais.

Os entraves evidenciam a preocupação com a formação de

professores, através de cursos de especialização, principalmente os que

atenderão alunos portadores de necessidades educacionais especiais em

classes regulares.

De acordo com Mantoan (1997),

“A inclusão é igualmente um motivo que força o aprimoramento da capacitação profissional dos professores em serviço e que questiona a formação dos educadores, constituindo um motivo para que a escola se modernize, atendendo às exigências de uma sociedade que não admite preconceitos, discriminações, barreiras sociais, culturais ou pessoais”. (p. 152).

Em entrevista concedida à professora Leda Cavalcante que atua

como consultora na Secretaria de Educação em Pernambuco, o professor

Janssen Felipe da Silva diz que:

“A formação continuada ajuda o professor a repensar na sua prática (…) Ele precisa ter oportunidade de continuar sempre a aprender. Na formação continuada ele adquire conceitos novos, e passa a questionar os que já tem. E com tudo isso descobre novos caminhos para seu planejamento. Mas também são importantes sua sensibilidade pedagógica e os conhecimentos que acumulou em sua experiência”. (2002, p. 42).

Verifica-se que os professores que atuam com alunos portadores de

necessidades especiais buscam esclarecimento por conta própria.

Na prática, encontramos e vivenciamos no cotidiano escolar

professores que não se sentem “preparados” para ensinar crianças ditas

normais com crianças portadoras de deficiência, consideram-na difícil, pois

não recebem nenhum apoio para realizar esse trabalho.

Mantoan (1997), afirma que:

17“A situação requer que se criem e se propiciem programas de formação continuada de alta qualidade para os professores, visando aumentar a quantidade e a qualidade dos recursos pedagógicos disponíveis para estudantes com deficiência...” (p. 159-160).

2.2 – Formação do Professor

O Projeto de Resolução nº. 17 de julho de 2001 no artigo 18 institui

diretrizes para a Educação Especial na Educação Básica:

“São considerados professores capacitados para atuar em classes comuns com alunos que apresentam necessidades educacionais especiais, aqueles que comprovem que, em sua formação, de nível médio ou superior, foram incluídos conteúdos sobre educação especial adequados ao desenvolvimento de competências e valores”. (p. 38).

Como diz Carvalho (1998),

“O discurso é sempre este, teoricamente bem construído e apresentado de forma quase ‘lírica’. A questão, porém, está na sua operacionalização ou, dizendo de outra forma, na concretização das efetivas-ações de natureza prática”. (p. 15).

Os professores de classes regulares, mesmo sem a especialização

para o atendimento às necessidades educacionais dos alunos estão fazendo

adaptações em sua prática, ao incluir um aluno com deficiência em sua

turma.

A Nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional 9.394/96, de

20 de dezembro de 196, dedica todo um grande avanço em relação à

legislação anterior.

Analisando o artigo 59, inciso III, observamos uma contradição entre o

discurso e a prática, pois o legislador assegura aos educandos com

necessidades especiais, sistemas de ensino com professores especializados

para interação nas classes comuns:

18 Art. 59 – Os sistemas de ensino assegurarão aos educandos com

necessidades especiais:

III. Professores com especialização adequada em nível médio ou

superior, para atendimento especializado, bem como professores do ensino

regular capacitados para a integração desses educandos nas classes

comuns;

Para Mantoan (1997),

“(…) a falta de professores e de especialistas qualificados para trabalhar com alunos normais e com deficiência, na mesma sala de aula (…) E esta falta de qualificação tem aumentado o número de pessoas que não se beneficiam da educação escolar”. (p. 157).

19

CAPÍTULO III

PROPOSTAS FACILITADORAS PARA UMA

ESCOLA INCLUSIVA

Para garantir a inclusão com resposta educacional exitosa, é

primordial se fazer uma parceria entre todos os envolvidos no processo

educativo visando afastar os obstáculos que impedem as chances de êxito,

não apenas da criança com características diferenciadas, mas do próprio

sistema educacional que a resguarda.

Na inclusão o aluno é inserido na classe regular e a escola precisa se

adaptar e se transformar para atender as necessidades educacionais e

condições do educando. É fundamental que haja uma adaptação curricular,

uma outra forma de avaliar, pois a metáfora da inclusão é o caleidoscópio e

vê cada um como ser único e global tendo sua diferenciação.

Nesse olhar é primordial oferecer suporte aos pais, adaptações no

currículo, no prédio, na avaliação e principalmente aos portadores de

deficiências. A avaliação do aluno com necessidades especiais deve ser

permanente e contínua e se dá através de relatórios de coleta de dados e o

professor faz o registro de observações acompanhando os progressos do

aluno.

Para garantir a inserção com êxito não apenas da criança, mas do

sistema educacional, é fundamental uma proposta pedagógica voltada para

a valorização e igualdade de direitos. Onde o planejamento seja

compartilhado entre escola, família e comunidade visando estratégias que

facilitem as aprendizagens dos discentes.

3.1 – As Adaptações Curriculares

As adaptações curriculares constituem, pois possibilidades

educacionais de atuar frente às dificuldades de aprendizagem dos alunos.

20Carvalho (1998) diz que é fundamental a existência de currículos

flexíveis às adaptações, pois estabelece respostas educativas conciliáveis

com as necessidades dos alunos com distúrbios de aprendizagem.

A escola para todos requer uma dinamicidade curricular que permita

ajustar o fazer pedagógico às necessidades dos alunos.

De acordo com a Secretaria de Educação Especial do MEC,

“A igualdade de oportunidades deve ser assegurada a todas às pessoas e isso implica, necessariamente, atendimento diferenciado. (…) Colocar um aluno com deficiência em sala de aula e deixa-lo sem apoio é terrível, talvez a pior das ações”. (1997, p.75).

O professor de classe regular certamente será o principal elemento

desta cena, pois “ele terá de enfrentar o desafio de incluir não só em sua

turma, mas em sua vida, o aluno portador de deficiência”. (Werneck, 1997,

p.)

Porém, o mais importante neste processo é a necessidade da

formação consciente crítica do professor quanto à sua responsabilidade pela

aprendizagem de seus alunos, sejam eles deficientes ou não, fazendo

adaptações em sua prática. E muitas destas adaptações ele próprio

descobrirá sozinho, pois dependem mais de uma reflexão, bom senso e

criatividade.

3.2 – A Família como parte do Processo

Nas Diretrizes da Ação no Plano Nacional da Declaração de

Salamanca, constam, entre outras,

“Uma atitude positiva dos pais ajuda a integração escolar e social. Os pais de uma criança com necessidades educativas especiais precisam de apoio para poder assumir suas responsabilidades. Os pais são os principais associados no tocante às necessidades educativas de seus filhos”.

21Como diz Carvalho (1998), a participação da família é da maior

importância não só como fonte de informações e explicações, como para

auxiliar na decisão quanto ao atendimento educacional escolar adequado.

No processo de adaptação da criança com necessidades especiais à

escola regular, a família tem um papel primordial.

Glat (1996) aconselha a família, conversar com a professora e com a

equipe escolar, orientando sobre como tratar a criança, seus limites e

potencialidades. (p.111)

Verifica-se a necessidade de uma preparação por parte da escola,

para incluir o aluno portador de deficiência. Sassaki (1997) recomenda

“sensibilização de pais de alunos (deficientes e não-deficientes) para um

papel mais ativo em prol de uma escola inclusiva...”.

3.3 – Processo de Avaliação

Verifica-se que a avaliação, realmente, representa um entrave para os

professores que trabalham no ensino regular com alunos incluídos. E que a

instituição precisa repensar sua avaliação educacional visando atender as

necessidades individuais de seus alunos.

Para Sassaki (1995), as avaliações (sociais, psicológicas,

educacionais, profissionais, etc.) devem trocar sua finalidade tradicional de

diagnosticar e separar pessoas, passando para a moderna finalidade de

oferecer parâmetros em face dos quais as soluções são buscadas por todos.

“A avaliação do trabalho deve ser contínua e permanente, como rotina, estando inserida no projeto político pedagógico da escola. A avaliação contínua do trabalho é um poderoso instrumento das ações levadas a efeito no atendimento pedagógico escolar”. (CARVALHO, 1998, p. 51).

As pesquisas no campo de educação apontam que todos aprendem,

mas de forma e em ritmo diferentes.

22 No entanto, o critério de avaliação é o mesmo para todos os alunos,

então pode ser comparado “com um alfaiate que faz só um tipo de roupa

para todo mundo vestir”. Com essa premissa, cabe questionar a adequação

de elaborar, para portadores de necessidades educacionais especiais, uma

prática avaliativa diferenciada do que é desenvolvida com os alunos ditos

normais.

Conforme descrito no documento PCN-Adaptações Curriculares-

Estratégias para Educação de Alunos com Necessidades Educacionais

Especiais (1999) o processo avaliativo “Consiste em adaptações individuais

dentro da programação regular, considerando-se os objetivos, os conteúdos

e os critérios de avaliação para responder às necessidades de cada aluno”.

3.4 – Proposta de Acompanhamento

A inserção dos alunos portadores de necessidades educacionais

especiais na classe comum, não descarta os serviços especializados para

apoiar a aprendizagem destes educandos, desde que este apoio seja

realizado fora da sala de aula regular.

Considerando-se, em conformidade, o Projeto de Resolução CNE /

CEB (2001), aponta:

“Serviços de apoio pedagógico especializado em salas de recursos nas quais o professor especializado em salas de recursos nas quais os professor especializados em Educação Especial realize a complementação ou suplementação curricular, utilizando procedimentos, equipamentos e materiais específicos”. (p. 35).

Para a Secretaria de Educação Especial do MEC,

“O esforço de inserção de alunos com deficiência no ensino regular deve ser acompanhado pala educação especial em salas de recurso, onde eles poderão ter

23atendimento individualizado durante uma parte do tempo”. (1997, p. 71).

Considerando-se, em resignação com o pensamento de Mantoan

(1997), que estimula a inclusão total dos alunos com deficiência na escola

regular, porém enfatiza o apoio de serviços especializados fora da sala de

aula regular, visando a melhor integração dos estudantes.

24

CONCLUSÃO

Consideramos importante o reconhecimento da diversidade existente

em nosso país, onde há características diferenciadas (especiais) em tantas

pessoas.

Acreditamos que toda criança deve ter o direito de estar inserida em

um programa educacional, independente de suas possibilidades de

aprendizagem. Pois a inclusão instiga a convivência, favorecendo o

desenvolvimento cognitivo e sócio-emocional não só do aluno portador de

necessidades educacionais especiais, mas também do educando

considerado normal. E as crianças ditas normais, ao conviver em condições

de igualdade com aquelas que apresentam deficiências, também serão

beneficiadas, pois aprendem que necessitam de interação com o outro. E

que as pessoas mesmo “diferentes”, merecem respeito e amizade.

Aprendem também que existem muitas formas de ajuda-las em suas

necessidades, inclusive educacionais. Crescem enfim, com uma visão

menos preconceituosa, deixando de lado obstáculos e estabelecendo um

convívio mais harmonioso, sem tantas discriminações.

Através desse enfoque, buscamos a inclusão captada em livros e

exemplos concretos em algumas escolas que possuem alunos incluídos em

turmas regulares, o que proporcionou constatar hipóteses elaboradas

anteriormente.

Encontramos pontos comuns que reforçam a idéia de que apesar de

trabalhar em turmas regulares com alunos incluídos, a maioria dos

professores não estão preparados para atender as necessidades específicas

dos alunos com necessidades especiais, em parte pela deficiência do curso

de Formação de Professores e em parte pela falta de atualização para atuar

com segurança.

Concluímos que vários fatores interferem neste processo e que

muitos pontos têm que ser revistos, dentre os quais: melhoria da qualidade

na formação dos professores (inicial e continuada); a elaboração do projeto

político pedagógico da escola; a participação de todos – alunos, educadores,

25funcionários, familiares; revisão do papel político-social da escola; previsão e

provisão de recursos humanos, físicos, materiais e financeiros; valorização

do magistério e vontade política para reverter às condições de

funcionamento das escolas brasileiras.

Infelizmente, vemos que atualmente a Lei assegura direitos que

favorecem aos PNEE, porém o desafio é reconhecer o modo de lutar por

eles, para que não estejam somente implícitos na teoria e no discurso,

sendo que na prática nem sempre é adequado com o que se escreve ou se

diz.

Segundo Carvalho (1998),

“A contradição não está no como reivindicar ou inserir direitos em textos, o problema está em protege-los, em conquistar sua execução, o que, geralmente, é o fruto das lutas de determinados grupos que se sentem desrespeitados”. (p. 176).

26

BIBLIOGRAFIA

CARVALHO, R. E. Temas em Educação Especial. Rio de Janeiro: WVA,

1998.

GLAT, R. O papel da família na integração do portador de deficiência. In:

Revista Brasileira de Educação Especial, v. 2, nº. 4, p. 111, 1996.

____. Uma professora muito especial. V. IV, Rio de Janeiro: Sette Letras,

1999.

MANTOAN, M. T. E. Ser ou Estar: eis a questão. Explicando o déficit

intelectual. Rio de Janeiro: WVA, 1997.

MEC. Plano Decenal de Educação para todos. Brasília: SEF, 1993.

——. Declaração de Salamanca e linha de ação Brasília, 1994.

——. Projeto de Resolução CNE/CEB, nº. 17, julho. 2001.

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E DO DESPORTO. Secretaria de Educação

Especial. Parâmetros Curriculares Nacionais. Adaptações Curriculares.

Estratégias para a Educação de alunos com Necessidades Especiais.

Brasília: 1999.

SASSAKI, R. K. Inclusão – Construindo uma sociedade para todos. 3ª. ed.

Rio de Janeiro: WVA, 1997.

SOUZA, P. N. P. & SILVA, E. B. Como Entender e Aplicar: A Nova LDB. São

Paulo: Pioneira, 1997.

27WERNECK, C. Ninguém mais vai ser bonzinho na sociedade inclusiva. Rio

de Janeiro: WVA, 1997.

28

FOLHA DE AVALIAÇÃO

UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATU SENSU”

PROJETO VEZ DO MESTRE

Título: A IMPORTÂNCIA DO PROFESSOR NA

ESCOLA INCLUSIVA

Por: Dilvanete dos Santos

Orientador: Nilson Guedes Freitas

Avaliado por: __________________________ Grau: _______

Rio de Janeiro, ____ de março de 2004