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FACULDADE INTERNACIONAL DE CURITIBA – FACINTER A INCLUSÃO E O PROFESSOR¹ CARDOSO, Juliane do Rocio Setim.² RESUMO Este artigo traz uma breve abordagem sobre a inclusão de pessoas com deficiências e o papel do professor. Utilizou-se para este estudo o método de revisão bibliográfica. Foram contempladas as seguintes etapas: breve verificação das adequações do currículo inclusivo e discussão sobre o papel do professor na educação inclusiva. A inclusão vai bem mais além do que a simples integração de pessoas no ensino regular, ela implica em não deixar ninguém de fora desde o princípio, onde a sociedade deve preparar-se para receber essas pessoas e atender às suas necessidades. É papel da escola, estabelecer a identificação das necessidades educacionais de seus alunos realizando um acompanhamento mediante sua avaliação no processo ensino aprendizagem. A formação docente é, sem dúvidas, o aspecto determinante para a efetivação de uma política de inclusão educacional. ¹ Artigo apresentado como TCC para o Curso de Pós-Graduação em Educação Especial e Inclusiva, para obtenção do Título de Especialista. ² Formada em Pedagogia pela Universidade Castelo Branco [email protected] .

A inclusão e o professor - Juliane do Rocio Setim Cardoso

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FACULDADE INTERNACIONAL DE CURITIBA – FACINTER

A INCLUSÃO E O PROFESSOR¹

CARDOSO, Juliane do Rocio Setim.²

RESUMO

Este artigo traz uma breve abordagem sobre a inclusão de pessoas com deficiências e o papel do professor. Utilizou-se para este estudo o método de revisão bibliográfica. Foram contempladas as seguintes etapas: breve verificação das adequações do currículo inclusivo e discussão sobre o papel do professor na educação inclusiva. A inclusão vai bem mais além do que a simples integração de pessoas no ensino regular, ela implica em não deixar ninguém de fora desde o princípio, onde a sociedade deve preparar-se para receber essas pessoas e atender

às suas necessidades. É papel da escola, estabelecer a identificação das necessidades educacionais de seus alunos realizando um acompanhamento mediante sua avaliação no processo ensino aprendizagem. A formação docente é, sem dúvidas, o aspecto determinante para a efetivação de uma política de inclusão educacional.

PALAVRAS-CHAVE: Inclusão. Pessoas com deficiências. Formação dos professores.

INTRODUÇÃO

“A educação inclusiva representa um passo muito concreto e

manejável que pode ser dado em nossos sistemas escolares para assegurar que

todos os estudantes comecem a aprender que o 'pertencer' é um direito, não um

¹ Artigo apresentado como TCC para o Curso de Pós-Graduação em Educação Especial e Inclusiva, para obtenção do Título de Especialista.

² Formada em Pedagogia pela Universidade Castelo Branco – [email protected] .

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status privilegiado que deva ser conquistado” (Sassaki, 1999, p.123 apud N.Kunc,

1997).

A educação inclusiva deve ser exercitada em todos os espaços escolares. Os

professores necessitam discutir a educação inclusiva para praticá-la com maior

propriedade. Condições para a discussão e o exercício do trabalho com a inclusão

são fundamentais para sua concretização.

O objetivo desta pesquisa é discutir o papel do professor na educação

inclusiva. Iniciar a discussão sobre a educação inclusiva e o papel do professor é

indispensável, sendo que este é um dos principais agentes da concretização deste

processo.

Uma boa perspectiva escolar tem a educação como uma questão de direitos

humanos, onde os indivíduos com deficiência devem fazer parte das escolas

regulares, nessa mesma perspectiva da educação devemos partir do princípio que

todas as pessoas têm direito de aprender juntos, independente das suas

dificuldades.

A inclusão surgiu como alternativa para a educação de pessoas com

necessidades especiais e suas vidas na sociedade. Segundo Schneider (2007) essa

educação não consiste somente na permanência física desses alunos, mas o

propósito de rever concepções, paradigmas, respeitando e valorizando a diversidade

desses alunos, exigindo assim que a escola defina a responsabilidade criando

espaço inclusivo.

Para cumprir o objetivo proposto será utilizada a metodologia de revisão

bibliográfica, segundo Tozoni-Reis (2007), a principal característica deste tipo de

trabalho é: “o fato de que o campo onde será feita a coleta de dados é a própria

bibliografia sobre o tema ou o objeto que se pretende investigar”.

AS ADEQUAÇÕES DO CURRÍCULO E A EDUCAÇÃO INCLUSIVA

A educação inclusiva teve a sua primeira fase caracterizada por um caráter

assistencialista e protecionista das crianças portadoras de deficiências, que eram

colocadas em instituições, na maioria das vezes, de cunho religioso, para que

fossem cuidadas. Esse cuidar era entendido como protegê-los do mundo, mas na

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verdade acabavam sendo isolados do mesmo. Nessa mesma fase os loucos e os

deficientes eram excluídos da sociedade, eram internados em asilos de onde jamais

voltariam a sair. Este isolamento atendia a uma organização social baseada na

homogeneização, fundamentada em princípios religiosos (Mazzotta, 1996).

Alguns médicos educadores motivados pela concepção renascentista criaram

instituições com outro caráter, uma segunda fase da educação inclusiva, a de cariz

médico-terapêutico, onde é reconhecido o direito destas crianças à educação

especializada em estruturas específicas e com profissionais habilitados (Mazzotta,

1996).

Segundo Mazzotta (1996), a terceira fase dessa educação começa com a

fase da integração, onde o renascimento humanista traria mudanças na filosofia da

educação especial, pois questionaria a segregação social das crianças. Na década

de 50 países Europeus começaram a traçar planos de integração das crianças que

estavam esquecidas, isoladas e nas Américas temos como marco a publicação da

Public Law, em 1975, nos Estados Unidos, que assegurava a todas as crianças

portadoras de deficiências o direito de estarem em escolas.

No Brasil, ou melhor, no Rio Grande do Sul, o Instituto Pestalozzi criado em

1926 é reconhecido e passa a ser a primeira instituição especializada no

atendimento de crianças com deficiência mental.

Um pouco mais tarde tiveram início as classes especiais públicas, justificada

para separar os alunos normais ditos dos anormais. Esta prática de separação das

crianças é proposta por uma pedagogia científica que legítima-se por estar "fundada

na natureza", esta concepção é decorrente de uma visão estritamente organicista da

deficiência mental e por uma anexação de conhecimentos das ciências naturais

pelas ciências humanas e encontra seu eco na sociedade industrial.

Assim, o acesso à educação para portadores de deficiências vai sendo muito

lentamente conquistado, na medida em que se ampliaram as oportunidades

educacionais para a população em geral. Entretanto, as classes quanto às escolas

especiais somente iriam proliferar como modalidade alternativa às instituições

residenciais depois das duas guerras mundiais (Mendes, 2006).

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Após essas duas guerra aparece uma resposta mais ampla da sociedade

para os problemas da educação de crianças e jovens com deficiências, isso

decorrente da montagem da indústria da reabilitação para tratar os mutilados da

guerra (Mendes, 2006).

Integrar passa a ser a ordem política, social e humana e de maneira

apressada as escolas esforçam-se por cumprir. Algumas criaram mecanismos

próprios de trazer para dentro da sala de aula a conhecida segregação, inventando

formas de diferenciar o nível dos seus alunos e justificar a separação.

A inclusão, como movimento social, deu inicio na segunda metade da década

de 80, nos países em desenvolvimento. No Brasil, tomou impulso na década de 90,

com a difusão das ideias da Declaração de Salamanca (1994) e com a oficialização

da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) nº 9394, em 20 de

dezembro de 1996, que define a Educação Especial, no capitulo V: Da educação

especial; artigo 58, como: a modalidade de educação escolar, oferecida

preferencialmente na rede regular de ensino, para educandos portadores de

necessidades especiais (FREITAS; CASTRO, 2007). É nesse artigo que a educação

especial em termos da lei e a regulamentação a prática da educação inclusiva estão

definidas.

A inclusão é um processo amplo baseada em um sistema de valores, sendo

importante considerar e respeitar as diferenças individuais. A educação inclusiva

refere-se à superação de barreiras, que pode dizer respeito a quaisquer aluno como

dizer respeito aos alunos com deficiências.

Tem como objetivo assegurar que todos os alunos possam ter acesso a todas

as oportunidades educacionais e sociais oferecidas pela escola, mas para isso

acontecer envolve um processo de reforma e reestruturação nas escolas como um

todo, ou seja, uma reforma radical nos currículos, avaliação, pedagogia e formas de

agrupamento dos alunos nas atividades de sala de aula.

De acordo com o Decreto n. 3.298 (1999), a deficiência é caracterizada por

toda perda ou anormalidade de uma estrutura ou função psicológica, fisiológica ou

anatômica que gere incapacidade para o desempenho de atividade, dentro do

padrão julgado normal para o ser humano (BRASIL, 1997).

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Sendo considerada pessoa portadora de deficiência física a que se enquadra

nas seguintes categorias (TONELLO, 2007):

-Deficiência física: alteração completa ou parcial de um ou mais segmentos

do corpo humano, acarretando o comprometimento da função física.

-Deficiência auditiva: perda parcial ou total das possibilidades auditivas

sonoras, variando de graus e níveis.

-Deficiência visual: acuidade visual igual ou menor que 20/200 no melhor

olho, após a melhor correção, ou campo visual inferior a 20° (Tabela de Snellen), ou

ocorrência simultânea de ambas as situações.

-Deficiência mental: funcionamento intelectual significativamente inferior a

media, com manifestações antes dos 18 anos, e limitações associadas a duas ou

mais áreas de habilidade adaptativas, como comunicação, cuidado pessoal,

habilidades sociais, utilizando da comunidade, saúde e segurança, habilidades

acadêmicas, lazer e trabalho.

-Deficiências múltiplas: associação de duas ou mais deficiências.

As pessoas com essa deficiências lutaram bastante por uma nomenclatura

que se encaixasse para todas as deficiências, uma termo que não ofendesse e nem

deixasse ninguém de fora.

A mudança de nomenclatura passou por uma longa caminhada, pois na

antigüidade os deficientes eram chamados de "idiotas", e nem pensavam que essas

pessoas poderiam ser ensinadas, eles achavam que elas deveriam ser excluídas da

sociedade (MONTE, 2002; MIRANDA, 2002).

No Brasil tivemos varias terminologias (SASASSAKI, 1999):

Século 20 até ± 1960 eram chamados de "incapacitados" de inicio significa

indivíduos sem capacidade, o que durante varias décadas era usado para designar

pessoa com qualquer tipo de deficiência.

De ± 1960 até ± 1980 o tremo usado era "defeituoso", tanto que na década de

50 foi criada a AACD- Associação de Assistência à Criança Defeituosa (hoje

chamada Associação de Assistência à Criança Deficiente) e foi nessa década

também que surgiu a APAE (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais). O uso

dos termos "defeituosos" que significava indivíduo com deformidades, "deficiente"

que significava indivíduo com deficiência, mental, física, auditiva, visual ou múltipla e

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"excepcionais" que significava indivíduo com referenciado mental, começaram a ser

utilizados pela sociedade. Mas dai começou a surgir os "superdotados" e viram que

a terminologia "excepcional" não cabia apenas ao individuo com deficiência mental,

pois as pessoas com superdotação também são excepcionais por estarem na outra

ponta da curva da inteligência humana.

De 1981 até ± 1987 em 1981 por pressão das organizações das pessoas com

deficiência a ONU declarou o ano como o "Ano Internacional das Pessoas

Deficientes", o impacto dessa terminologia foi profunda, pois as pessoas não se

acostumavam em falar pessoas deficientes. A partir dessa época nunca mais se

utilizou a palavra “indivíduos” para se referir às pessoas com deficiência.

De ± 1988 até ± 1993 alguns membros de organizações alegaram que o

termo "pessoas deficientes" dava a entender que a pessoa inteira é deficiente o que

não era aceito por eles. Foi proposto utilizar “pessoas portadoras de deficiência”

termo utilizado só em países de língua portuguesa, mas logo reduziram o termo para

"portadores de deficiência". O termo foi adotado nas Constituições Federais e

Estaduais e em todas as leis e políticas pertinentes ao campo das deficiências.

Conselhos, coordenadorias e associações passaram a incluir o termo em seus

nomes oficiais.

Em junho de 1994 a Declaração de Salamanca anuncia a educação inclusiva

para todos, tenham ou não uma deficiência, “pessoas com deficiência” e pessoas

sem deficiência, quando tiverem necessidades educacionais especiais e se

encontrarem segregadas, têm o direito de fazer parte das escolas inclusivas e da

sociedade inclusiva.

De ± 1990 até hoje começou a ser utilizado “pessoas com deficiência”, passa

a ser o termo mais utilizado por um número cada vez maior de adeptos, boa parte

dos quais é constituída por pessoas com deficiência que conclamaram o público a

adotar este termo. Elas esclareceram que não são “portadoras de deficiência” e que

não querem ser chamadas com tal nome. Os valores agregados às pessoas com

deficiência são: o uso do poder pessoal para fazer escolhas, tomar decisões e

assumir o controle da situação de cada um e o da responsabilidade de contribuir

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com seus talentos para mudar a sociedade rumo à inclusão de todas as pessoas,

com ou sem deficiência.

Segundo Sassaki (1999) o termo "portador" ou "portar" não deve ser utilizado,

pois a condição de ter uma deficiência faz parte da pessoa e esta pessoa não porta

sua deficiência, ou seja ela tem uma deficiência. O termo não se aplica pois a

deficiência está adquirida na pessoa.

A pessoa só porta algo quando a mesma pode deixar, o que não acontece

com a deficiência. A nomenclatura "portadora" pode dar a entender que quem

"porta" uma deficiência pode vir algum dia a não portá-la mais.

Da Resolução CNE No. 02, de 11 de setembro de 2001, das Diretrizes

Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica os educandos com

necessidades educacionais especiais são definidos como sendo os que apresentam:

“dificuldades acentuadas de aprendizagem ou limitações no processo de

desenvolvimento que dificultem o acompanhamento das atividades curriculares”;

vinculadas a uma causa orgânica específicas ou relacionadas a condições,

disfunções, limitações ou deficiências; “dificuldades de comunicação e sinalização

diferenciadas dos demais alunos, demandando a utilização de linguagens e códigos

aplicáveis”; “altas habilidades/superdotação, grande facilidade de aprendizagem que

os leve a dominar rapidamente conceitos, procedimentos e atitudes”.

Diante disso cabe a cada escola estabelecer a identificação das necessidades

educacionais de seus alunos realizando um acompanhamento mediante a sua

avaliação no processo de ensino aprendizagem.

Também destaca que os alunos com necessidades educacionais especiais

devem ser inseridos na rede pública de ensino em classes comuns e que essas

escolas devem garantir professores comuns capacitados e professores de educação

especial especializados; flexibilizações e adaptações curriculares; serviços de apoio

especializado realizado nas classes comuns (“mediante: colaboração de professor

especializado em educação especial, atuação de professores-intérpretes das

linguagens e códigos aplicáveis e atuação de outros apoios necessários à

aprendizagem, à locomoção e à comunicação”), além de condições para reflexão e

elaboração teórica da educação inclusiva.

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Educação não se remete apenas à transmissão de conhecimentos formais,

previamente elaborados, que vem de mão única, de cima para baixo, mas sim uma

troca de experiências, de histórias de vida, de sentimentos, sensações, que leva a

construção do conhecimento desejado. Pois como já sabemos, todas as crianças

têm uma experiência de vida, uma história, um convívio social que faz com que ela

seja um ser detentor de algum conhecimento que deve ser respeitado e usado como

ponto de partida para a construção do conhecimento formal.

Segundo Gonçalves (1997, p. 118), a educação é “uma prática pela qual se

pretende atuar sistematicamente sobre indivíduos e grupos sociais, com a intenção

de possibilitar a formação de sua personalidade e sua participação ativa na

sociedade”.

Torna-se necessário ao professor, já em serviço, refletir sobre sua formação,

seu preparo para atuar nessa escola que está para todos. Do professor espera-se

que desempenhe de forma adequada sua prática pedagógica e promova de fato

uma educação de qualidade, considerando a heterogeneidade do grupo, Freitas

(2006, p. 40), ressalta que,

“[...] preventivamente, cabe examinar a formação inicial de todos os professores, de modo a assumirem a perspectiva da educação para todos ao longo de toda a trajetória profissional, aliando qualidade com equidade” (FREITAS, 2006, p. 40).

Independente de como está à formação do professor, o aluno com

necessidades educacionais especiais (NEE) continuará chegando às escolas,

estejam elas preparadas ou não. Então, devemos refletir o que este aluno estará

fazendo na sala de aula e como o professor estará atuando para promover a

aprendizagem, considerando suas características, limitações ou altas habilidades.

Estaria este aluno posto no “meio” apenas para socializar-se ou deixado a sua

própria sorte, tentando por si só adaptar-se nesse “meio”?

O PAPEL DO PROFESSOR NA EDUCAÇÃO INCLUSIVA.

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Segundo Volpi (2006), a formação do professor é um processo contínuo,

complexo e em construção, no qual a identidade pessoal e profissional se constrói

com o um processo permanente que ocorre de forma ininterrupta.

A rapidez com que as coisas mudam, as necessidades, as habilidades, os

desejos, enfim, a sociedade está em constante mudança, e como em todas as áreas

a educação principalmente deve estar atualizada, e assim o docente deve ser bem

informado, atualizado, ser capaz de lidar com situações que podem ser

fundamentais para seu dia-a-dia. E assim conseguir com que seus alunos utilizem

desse cotidiano mutável para construir seu conhecimento, o qual será usado ao

longo de sua vida.

Ao referirmos à atuação do professor, pressupomos uma ação conjunta, com

o envolvimento da escola, que disponibiliza os recursos necessários, bem como os

apoios de equipe pedagógica, que lhe deem o suporte adequado para ensinar todos

os alunos que compõem a heterogeneidade da sala de aula. Para Padilha: “À escola

cabe, porém, dispor de recursos e procedimentos não uniformes para que os alunos

tenham possibilidades de caminhar além de seus limites.” (PADILHA, 2004, p. 77).

Quando nos referimos aos processos de interações, devemos de ter claro que esses

não acontecem apenas entre as pessoas como: entre aluno e alunos, alunos e

professor, mas também entre alunos e materiais e equipamentos, recursos

pedagógicos e o próprio sujeito com suas aprendizagens anteriores.

A formação de professores é, sem dúvida, o aspecto determinante para a

efetivação de uma política de inclusão educacional. Inúmeros estudos têm

demonstrado que a principal barreira para sua efetivação é o despreparo dos

professores para lidar com alunos com significativos déficits cognitivos,

psicomotores e/ou sensoriais na complexidade cotidiana de uma classe regular

(BUENO, 1999; FERREIRA e GLAT, 2003). (...) No entanto, temos clareza de que a

transformação de práticas e culturas tradicionais que conduzem à retenção, à

evasão e às condições excludentes de ensino na escola, não se refere apenas a

formação de professores (BARRETO e VICTOR, 2006, p.187).

A preparação do professor é muito importante, mas também é valido destacar

que além de tal é necessário que o profissional acredite que incluir é destruir

barreiras, muitas vezes impostas pela sociedade. Imposição que se materializa

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desde a falta de recursos até ao preconceito. Assim ele efetivará o exercício de seu

papel a caminho da integração e inclusão.

A LDBN/9394/96, define a Educação Especial como modalidade de educação

escolar, oferecida preferencialmente na rede regular de ensino, assegurando a

especificidade de currículos e métodos, técnicas e recursos, bem como a formação

adequada dos professores para atendimento especializado, assim como professores

de ensino regular para integrar o educando com necessidades especiais em classes

comuns (BRASIL, 1996).

E independente de como está a formação do professor, a inclusão já

acontece, esteja o espaço educacional e seus profissionais preparados ou não.

Dentro deste contexto, cabe a reflexão: quais os procedimentos metodológicos estão

sendo delineados para o desenvolvimento e inserção do aluno de inclusão? Não é

aqui objeto prover tal resposta, mas sim utilizar a pergunta para a reflexão da

gravidade quando há despreparo do professor para trabalhar com a inclusão. Fica

claro tamanho é o papel do professor diante de tal desafio.

Como observado, a questão da responsabilidade e formação do professor é

realmente desafiadora, segundo Veiga:

E o professor é, sem dúvida, o maior responsável por ampliar ou minimizar a diferença entre o aluno e a escola e, por isso, todos os investimentos do sistema educativo deveriam priorizar o resgate da valorização social do profissional da educação, assumindo formação continuada do mesmo como necessidades imperiosas ao desenvolvimento de novas e emergentes competências para o trabalho com a diversidade, adequando a sua prática às renovações em andamento no referido sistema e no interior de cada escola (VEIGA, p.11, 2006).

O docente que procura a área da inclusão deve estar muito convicto de que

deverá exercer sua profissão sempre motivado e bem preparado. Sendo que a

ausência do profissional nestas condições limita o desenvolvimento na mediação do

trabalho com os alunos de inclusão.

O trabalho como professor encarregado de inclusão exige muito empenho,

pois a inclusão deve atingir todos os alunos dentro de uma classe e não somente os

alunos com necessidades educacionais especiais. É papel do professor, ser o

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facilitador desta inclusão, direcionando um novo olhar e ouvindo atentamente a cada

um deles.

Além disso, não se pode deixar de abordar que o professor de educação

inclusiva servirá de intermediário entre famílias, alunos e profissionais, construindo

um círculo de apoio para resolver os possíveis problemas e fazer um

acompanhamento da situação. Este deverá assumir o papel de sensibilizador dos

agentes educativos da inclusão. Pois além do professor vale destacar que no

ambiente escolar outros profissionais fazem parte do dia a dia dos alunos de

inclusão. Dentre estes profissionais podemos citar os monitores atendentes do

corredor, zeladoras, guardas, direção e assistência pedagógica. É papel do

professor analisar, de forma sistêmica o andamento de toda a escola, para

corroborar com a atuação de sua disciplina na inclusão.

O desafio colocado aos professores é grande e parte significativa continua

“não preparada” para desenvolver estratégias de ensino voltadas à inclusão de

alunos. No entanto, o aluno com necessidades especiais está na escola, então cabe

a cada um, encarar esse desafio de forma a contribuir para que no espaço escolar,

aconteçam avanços e transformações, ainda que pequenas, mas que possam

propiciar o início de uma inclusão escolar possível.

METODOLOGIA

Para esse estudo a metodologia utilizada é a revisão bibliográfica, segundo

Andrade (1997), uma pesquisa bibliográfica pode ser desenvolvida como um

trabalho em si mesmo ou constituir-se numa etapa de elaboração de monografias,

dissertações e outros. Aqui a revisão é necessária para conseguir cumprir o objetivo

proposto. É importante destacar que serão contempladas as seguintes etapas: breve

verificação das adequações do currículo inclusivo e discussão sobre o papel do

professor na educação inclusiva.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

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Por meio de revisão bibliográfica aqui exposta foi possível concluir que, nem

todas as escolas estão preparadas para atender e receber o aluno portador de uma

deficiência, isso porque muitas vezes os professores não se sentem capacitados,

preparados para atender adequadamente as necessidades desses alunos e até

mesmo porque os outros alunos que não tem deficiência não foram preparados ao

longo de sua vida escolar sobre como aceitar e interagir com os colegas com

deficiência, o que é uma pena porque o contato das crianças entre si reforça atitudes

positivas, ajudando-as a compreender, respeitar e crescer, convivendo com as

diferenças.

Nas últimas décadas, os debates sobre a inclusão ganham força e percebe-se

que é necessário haver uma mudança no sistema educacional, para que seja

possível a efetivação de uma educação de qualidade a todos os alunos, não pela

imposição de leis, mas por reconhecimento de que a exclusão fere os direitos

humanos.

É essencial que as escolas criem oportunidades que levem a reflexão e

discussão, para a implementação de qualquer tipo de inovação e promoção de

mudanças.

A escola regular pode consistir num ambiente favorável à inclusão de alunos

com deficiência, para tanto se requer que o professor esteja preparado para atuar

nesse contexto, sendo um profissional pró-ativo, visto que ele é um dos agentes que

possibilita a aprendizagem ao atuar na zona de desenvolvimento proximal,

conduzindo seus alunos ao desenvolvimento.

O papel do professor é muito importante diante das dificuldades formativas

em construção. Estudos, investigações e percepções devem corroborar com a

prática pedagógica. Assim poderá vencer a barreira da falta de apoio pedagógico e

carência de professores com formação específica para a educação desses alunos.

A formação profissional deve ser contínua, deve-se interligar a formação

inicial com a continuada sendo um processo diferenciado no desenvolvimento

profissional, com uma compreensão clara de mudanças e inovação.

Contudo fica claro a necessidade de políticas públicas que delineiem a preparação e

estímulo ao trabalho do professor. Pois este profissional tem uma árdua tarefa de

ser o intermediário entre os agentes que permeiam tal trabalho. Fazendo com que

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alunos com e sem deficiência caminhem além de seus limites, mesmo sendo grande

a discrepância de alcance. Se o profissional estiver despreparado o trabalho não

ocorrerá da forma como propõe o currículo. O professor bem preparado terá mais

facilidade a alcançar um nível motivacional, que será responsável por efetivar seu

trabalho. Dentro deste contexto, o professor assumira o seu papel, sendo o principal

agente na inclusão educacional.

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