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A INDISCIPLINA DOS ALUNOS DA 5ª SÉRIE: O que há de errado aí? · para um grupo de alunos que participaram do projeto de intervenção proposto. Os resultados indicam que a indisciplina

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A INDISCIPLINA DOS ALUNOS DA 5ª SÉRIE: O que há de errado aí?

Autor: Osvair Tenfen 1

Orientadoras: Ana Lúcia S. Ratto 2

e

Maria Aparecida Zanetti 3

Resumo

A indisciplina escolar é um problema que ocorre em muitas escolas, e por isso a questão é

muito séria e exige reflexão por parte de educadores e pais. Partindo desta constatação, a

escola deve ter clareza e discernimento na condução do trabalho pedagógico para garantir

a elaboração de objetivos a serem alcançados tanto com relação ao professor quanto ao

aluno. No entanto, gestor, equipe pedagógica e educador, devem saber organizar-se para

explicitarem as diferenças entre as posturas, clarearem conflitos e articularem ações, de

modo que não se perca de vista a riqueza da divergência e da diferença. Diante disso, o

presente trabalho buscou apresentar algumas questões pertinentes ao tema, na intenção de

esclarecer sobre o problema e promover a conscientização e a responsabilidade no

contexto escolar, a fim de buscar e/ou amenizar este problema que está, na maioria das

vezes, acontecendo nas escolas de forma silenciosa e prejudicial a todos. Após a revisão

da literatura especializada e produção de material didático pedagógico, a metodologia

utilizada foi a pesquisa de campo, com aplicação de um questionário semi-estruturado

para um grupo de alunos que participaram do projeto de intervenção proposto. Os

resultados indicam que a indisciplina é um desafio a ser enfrentado por todos os

profissionais da educação e pela sociedade em geral, sendo que enquanto não for

praticada e vivenciada por meio de metodologias inovadoras e currículos flexíveis que

venham atender às especificidades dos educandos, não se obterão os resultados

necessários a prática educativa.

Palavras-Chave: Escola, Indisciplina, Trabalho pedagógico.

___________ 1 Professor no Colégio Estadual Protásio de Carvalho – Ensino Fundamental e Médio. Graduação em História e Pós-

Graduação em Gestão Escolar 2 Professora-Doutora vinculada à Universidade Federal do Paraná, Setor de Educação, Departamento de Planejamento

e Administração Escolar 3 Pedagoga, Professora-Mestre vinculada à Universidade Federal do Paraná, Setor de Educação, Departamento de

Planejamento e Administração.

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1 Introdução

A indisciplina escolar vem sendo tratada nos últimos tempos por pais e

educadores por um discurso fortemente impregnado pelos dogmas e mitos do senso

comum. Isto se agrava na medida em que os estudos e pesquisas sobre a indisciplina;

sobre natureza, características, identificação de possíveis causas, o papel da escola e da

família na produção da indisciplina, a questão da indisciplina na sociedade

contemporânea, aparecem como parciais e escassos, não trazendo para o professor um

consenso sobre o que fazer com o aluno indisciplinado ou violento.

Todos sabem que a escola se depara com a necessidade do estabelecimento de

regras disciplinares para que todos possam apropriar-se dos conteúdos escolares,

considerando que a tarefa escolar é árdua e complexa. O esforço, à vontade e o

autocontrole, são indispensáveis para o desenvolvimento efetivo destas atividades,

entretanto, na prática escolar, o problema da violência e da indisciplina ainda fica restrito

ao aluno e suas condições sociais, afastando qualquer envolvimento da instituição

escolar, nesta questão, pois não se admite que a escola seja também geradora de situações

que podem vir a tornar-se violentas.

Oliveira (1989) coloca que quando se pensa na indisciplina escolar (que muitas

vezes acaba em violência), percebe-se que é compreensível certa instabilidade dos

alunos, visto que a conquista de uma disciplina verdadeira (de dentro para fora), passa

pela interiorização de uma série de regras, na família e na escola, só susceptíveis de terem

êxito se tiverem sido construídas de uma forma participativa. E é também importante

verificar que a própria concepção da escolaridade obrigatória, provavelmente necessária,

não facilita o diálogo construtivo, pois acaba promovendo constrangimentos vários que

dificultam a convivência escolar.

Situações de indisciplina, quando constantes, prejudicam a construção do

conhecimento do aluno e da classe em que ele frequenta as aulas, bem como desvaloriza

os professores e a escola. Segundo La Taille (2007, p. 44), “a simples punição não

funciona porque não ataca realmente o problema. Só ataca o sintoma, o aspecto visível do

problema”.

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No entanto, cabe lembrar que a escola não pode abrir mão da sua

responsabilidade quanto à promoção da disciplina que, realmente, é um problema

bastante complexo, pois envolve a formação da consciência do sujeito, de seu caráter e da

cidadania.

O papel dos professores e de toda equipe escolar, nesse caso, é orientar o aluno,

assisti-lo, para que possa desenvolver seu raciocínio e um comportamento dentro dos

padrões exigidos. A escola, por sua vez, deve adequar-se para criar programas, métodos e

um ambiente onde o prazer em aprender seja mais forte que os sentimentos negativos que

acompanham o aluno, onde a diversidade e o ritmo de cada um sejam respeitados e

avaliados para o replanejamento das ações educativas, como trazem as Diretrizes

Curriculares da Educação Básica (2008).

Com base nessas considerações, a escola precisa ser revista, repensada,

analisando-se também a competência profissional do educador, o seu compromisso com o

aluno, o fazer pedagógico integrado com a realidade social.

Assim, diante do quadro crescente de indisciplina no interior da instituição

escolar, justifica-se esta pesquisa porque é de grande importância tratar estes problemas

que preocupam a todos, vislumbrando ações para seu enfrentamento para que não

acabemos reféns dos mesmos.

2 (In) Disciplina escolar: Do que estamos falando?

De modo geral, a (in) disciplina apresenta-se como um importante obstáculo no

processo ensino-aprendizagem, prejudicando o exercício da função docente e o

aproveitamento dos conhecimentos por parte dos alunos envolvidos. Esta tem sido uma

preocupação constante entre os educadores e tem mobilizado a comunidade escolar em

geral, tornando-se o principal foco das reuniões de pais e mestres, conselhos de classe,

etc. A questão (in) disciplina escolar é muito complexa porque as percepções, em relação

à temática, são variadas e atingem um número imenso de indivíduos no cotidiano escolar.

Em relação a este tema, entende-se que quem mais brilhantemente mostrou o

lado conformativo e coercitivo embutido no projeto pedagógico da Modernidade tenha

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sido Michel Foucault. Em sua obra Vigiar e punir, o autor toma como ponto de partida

para a sua análise a história das prisões e identifica mais precisamente nesse sistema

penal – mas igualmente nas demais instituições que compõem a sociedade, entre elas a

escola –, mudanças importantes na forma de a sociedade gerir seus membros. O castigo

físico, cruel, exemplar (com decapitações e mutilações diversas realizadas em sessões

públicas), intensamente utilizado na Idade Média, foi sendo gradativamente substituído

na Modernidade pelo que chamou de “poder disciplinar”, caracterizado por Foucault

como uma nova forma de gestão e controle dos homens. Baseado em métodos que

permitem o controle milimetricamente calculado de todos os gestos dos indivíduos, “as

disciplinas se tornaram no decorrer dos séculos XVII e XVIII fórmulas gerais de

dominação” (FOUCAULT, 1984, p. 126). O indivíduo passou a ser sutilmente adestrado,

moldado, sofrendo uma vigilância panóptica1.

Enguita (1989, p. 141), ressaltando a contribuição deste autor, sublinha:

Foucault mostrou que o Século das Luzes foi também o das disciplinas,

o de uma “microfísica do poder” que se estende indiscriminadamente através das instituições coletivas: a prisão, o hospital, o exército, o

trabalho, a escola. Ele sublinhou como, enquanto nos espaços públicos

como o mercado ou a esfera política as liberdades abriram caminho, nos espaços fechados como os citados criava-se toda uma parafernália de

normas, regras e controles disciplinares destinados a sufocar a iniciativa

e a individualidade. Foucault destacou a difusão de mecanismos como a

vigilância panóptica, a organização serial do espaço, a economia do

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O panóptico de Benthan é a figura arquitetural dessa composição. O princípio é conhecido: na periferia, uma construção em anel; no centro, uma torre; esta é vazada de largas janelas que se abrem sobre a face interna do anel; a construção periférica é dividida em celas, cada uma atravessando toda a espessura da construção; elas têm duas janelas, uma para o interior, correspondendo às janelas da torre; outra, que dá para o exterior, permite que a luz atravesse a cela de lado a lado. Basta então colocar um vigia na torre central, e em cada cela trancar um louco, um doente, um condenado, um operário ou um escolar. Pelo efeito da contraluz, pode-se perceber da torre, recortando-se exatamente sobre a claridade, as pequenas silhuetas cativas nas celas da periferia. Tantas jaulas, tantos pequenos teatros, em que cada ator está sozinho, perfeitamente individualizado e constantemente visível. O dispositivo panóptico organiza unidades espaciais que permitem ver sem parar e reconhecer imediatamente. Em suma, o princípio da masmorra é invertido; ou antes, de suas três funções – trancar, privar de luz e esconder – só conserva a primeira e suprimem-se as outras duas. A plena luz e o olhar de um vigia captam melhor que a sombra, que finalmente protegia. A visibilidade é uma armadilha.. (FOUCAULT, 1984, p. 177).

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tempo, a codificação dos movimentos, os registros e, em geral, a

normalização dos indivíduos e de seus comportamentos através das instituições.

Neste aspecto, Foucault mostrou, a despeito dos supostos valores liberais e

igualitários da instituição escolar, que esta, no exercício do poder de um tipo específico

de disciplina, cumpre a função de “produzir” indivíduos dóceis, adestrados para o

trabalho, normalizados:

Digamos que a disciplina é o processo técnico unitário pelo qual a força

do corpo é com o mínimo ônus reduzida como força “política”, e

maximizada como força útil. O crescimento de uma economia

capitalista fez apelo à modalidade específica do poder disciplinar, cujas fórmulas gerais, cujos processos de submissão das forças dos corpos,

cuja “anatomia política”, em uma palavra, podem ser postos em

funcionamento através de regimes políticos, de aparelhos ou de instituições muito diversas (FOUCAULT, 1984, p. 194).

Esta é uma das formas filosoficamente de considerar a indisciplina, que deve ser

analisada como uma questão complexa e amplamente disseminada nas relações sociais e

não apenas no contexto da escola.

Carvalho (1996), enfatiza que muitas das investigações do tema da (in)

disciplina têm sua origem nos estudos da Filosofia como um meio de compreender as

reflexões de autores clássicos que ainda hoje tem validades, tendo em vista que

analisaram amplamente a questão da disciplina, dos hábitos, das regras e de seus

cumprimentos ou transgressões, como os estudos de Foucault apontados acima. Ou então,

o assunto é analisado de forma operacional, isto é, numa perspectiva pragmática, em que

espera-se encaminhamentos concretos e objetivos.

No entanto, para uma reflexão e compreensão da (in) disciplina no âmbito das

escolas, faz-se necessário ter em conta um múltiplo conjunto de causas. Um fator

determinante desta realidade é a relação professor-aluno, uma vez que, as interações que

se desenrolam na escola entre estes, é por vezes submetida a ambiguidades que podem

condicionar muitos acontecimentos que ocorrem em sala de aula. No entanto, este não é o

único fator, destacando-se ainda as desigualdades sociais com seus desdobramentos sobre

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a escola, a família, os próprios alunos, os grupos de pares e turmas, os programas, os

regulamentos disciplinares, os professores, a sociedade e os governos.

2 .1 Indisciplina escolar: Conceitos, limites e consequências

Carvalho (1996), aborda o problema da (in) disciplina a partir de algumas

noções de seu uso na linguagem corrente e de suas manifestações concretas como

práticas sociais, ou seja, analisando lógica e linguisticamente os significados do termo

disciplina. Com isso, busca “esclarecer possíveis confusões linguísticas advindas do fato

de que estas (…) têm profundas raízes históricas e múltiplos usos igualmente legítimos”

(p. 130).

Assim, recorrendo ao Dicionário Caldas Aulete (apud, CARVALHO, 1996, p.

131), o autor encontra algumas das seguintes definições para a palavra disciplina:

1. instrução e direção dada por um mestre a seu discípulo...;

2. submissão do discípulo à instrução e direção do mestre;

3. imposição de autoridade, de método e regras ou preceitos... ;

4. respeito à autoridade; observância do método, regras ou preceitos;

5. qualquer ramo de conhecimento científico, artístico, linguístico,

histórico, etc.: as disciplinas que ensinam nos colégios;

6. o conjunto das prescrições ou regras destinadas a manter a boa ordem

resultantes da observância dessas prescrições e regras: a disciplina

militar; a disciplina eclesiástica’.

Tomando os seis significados apontados, o autor ressalta que apenas a sexta

definição não se refere diretamentente ao contexto educacional e é justamente este o

sentido de disciplina que mais fortemente encontra-se nas práticas pedagógicas existentes

nas aulas. No entanto, “a ideia e os pressupostos de disciplina em um contexto de vida

militar ou monástica são radicalmente distintos da idéia e dos pressupostos que regem sua

utilização na vida escolar, embora as práticas escolares pareçam, muitas vezes,

desconhecer essa distinção”, afirma Carvalho (1996, p. 131).

É interessante observar que, tanto no caso da disciplina militar quanto no da

eclesiástica, há necessidade de hábitos ou comportamentos invariáveis, ordem rígida,

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postura acrítica a partir do objetivo central de, no caso militar estar sempre pronto para o

combate e, no caso monástico, construir a santidade.

No âmbito da escola, entretanto, a disciplina implica naquilo que pode (ou

deve?) viabilizar a aprendizagem do acervo de conhecimento e da cultura historicamente

acumulada e relevante para a humanidade. É exatamente por isso também que no

currículo constam muitas diferentes disciplinas, com distintos procedimentos em face de

seu objeto ou formas de abordá-lo. Todavia, o autor enfatiza a tendência de que na escola

estão mais presentes as conotações de disciplina enquanto comportamentos invariáveis,

rígidos (tal qual presente na sexta acepção do Dicionário).

No contexto escolar, a disciplina, então, precisa estar sobre tudo vinculada aos

conteúdos a serem ensinados, o que se relaciona também com a etimologia da palavra

“disco” que em latim significa “aprendo”, cuja raiz remete a ideia de disciplina “como

um caminho para à aprendizagem”, ressalta Carvalho (1996, p. 132).

Entretanto, o que é forte na escola é a visão essencialista, universal, invariável,

de que há um único tipo de disciplina (enquanto comportamento disciplinado) necessário

ao funcionamento escolar e esta perspectiva de que há um único tipo de comportamento a

que se denomina disciplinado pode ser responsável pelas aflições em relação à suposta

indisciplina dos alunos (CARVALHO, 1996).

Não se pode perder de vista, que as regras são um conjunto de normas que

devem ser respeitadas para o êxito do aprendizado escolar. Portanto, elas têm relação com

o conteúdo a ser ensinado, o que envolve o relacionamento humano entre o corpo docente

e os alunos em uma sala de aula e no ambiente escolar. Como em qualquer

relacionamento humano, na disciplina, é preciso levar em conta os objetivos a serem

alcançados e as características de cada um dos envolvidos: professor, aluno e ambiente.

Assim, a trajetória para entender o problema da disciplina e da (in) disciplina escolar

consiste na explicitação do vínculo entre a noção de disciplina como área do

conhecimento e a de disciplina como comportamento/procedimentos, vínculo que é

próprio e específico da relação escolar.

Neste aspecto, o sentido do agir disciplinadamente pode variar, pois em um jogo

de futebol não se requer o mesmo comportamento de um ambiente religioso, por

exemplo. Em um a euforia contagia os atletas, já em outro a quietude é essencial para a

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meditação. Dai que é possível (e desejável) numa prática científica disciplinada haver

ousadia e criatividade. No caso da disciplina necessária ao trabalho do monge,

criatividade e ousadia tendem a atrapalhar. Nesse sentido, Carvalho (1996), relata uma

importante curiosidade a de que na porta de entrada do MOMA (Museu de Arte

Contemporânea de Nova York) constam escrito três palavras: “ousadia, criatividade e

disciplina”, o que pode ser uma surpresa haja vista que, culturalmente, pressupõe-se que

um artista não precisaria de algo “chato e rígido”, como geralmente entende-se por

disciplina.

A disciplina não é, portanto, somente um conjunto de regras ou normas de

comportamentos, mas sim uma série de atitudes que tomamos com base nos diferentes

contextos sociais nos quais o indivíduo está inserido. A disciplina se relaciona com um

saber-fazer. Antes de ser um discurso ou uma prescrição verbal, ele constitui ou viabiliza

um trabalho. Nesse sentido, para se aprender algo, há necessidade de um método, uma

maneira de trabalhar ou operar com determinado conhecimento. Ao proporcionar uma

maneira de compreender um assunto, o professor está fornecendo um método. No

entanto, só ocorrerá aprendizagem duradoura quando o aluno não meramente repetir

regras, mas, sobretudo compreender e desenvolver seu método ou caminho para o

conhecimento.

A disciplina escolar num contexto mais amplo exercita práticas múltiplas de

envolvimento dos alunos no saber-fazer, atendendo a diversos tipos de exigências. Neste

caso, a socialização escolar está menos preocupada com a padronização do

comportamento e mais interessada no ensino de modos de trabalhar. Sob este ponto de

vista, a questão da disciplina desloca-se da perspectiva moralista, para o âmbito do

domínio e apropriação do conhecimento.

Existe um vínculo entre disciplina em sala de aula e moral. Primeiramente,

porque tanto disciplina como moral, coloca o problema da relação do indivíduo com um

conjunto de normas. E segundo, porque vários atos de indisciplina traduzem-se pelo

desrespeito, seja do colega, seja do professor, seja ainda da própria instituição escolar

(depredação das instalações, por exemplo). Por isso, é, certamente este aspecto

desrespeitoso de certos comportamentos discentes que preocupa no mais alto grau os

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educadores. Diante disso, Aquino (1996, p. 19) escreveu que: “Toda moral pede

disciplina, mas toda disciplina não é moral”.

Oliveira (1989) coloca que quando se pensa na indisciplina escolar, percebe-se

que é compreensível certa instabilidade dos alunos, visto que a conquista de uma

disciplina verdadeira (de dentro para fora), passa pela interiorização de uma série de

regras, na família e na escola, só susceptíveis de terem êxito se tiverem sido construídas

de uma forma participativa.

Diante disso, entender a disciplina escolar não é tão simples. Se a disciplina for

entendida como um conjunto de comportamentos regidos por um conjunto de normas

morais ou não, a indisciplina poderá se traduzir de duas formas: a) a revolta contra estas

normas; b) o desconhecimento delas. No primeiro caso, a indisciplina como coloca

Aquino (1996, p. 10), “traduz-se por uma forma de desobediência insolente; no segundo,

pelo caos dos comportamentos, pela desorganização das relações”.

A rigor, a disciplina em sala de aula pode ser pensada como equivalente à

simples boa educação, ou seja, a regras morais adquiridas: possuir alguns modos de

comportamento que permitam o convívio pacífico. Entretanto, se forem procurados os

motivos, o aluno bem-comportado pode sê-lo por medo do castigo ou por conformismo.

Para conferir sentido e modernidade ao trabalho escolar, Oliveira (1989) infere

que é preciso deixar espaço ao improviso e à imaginação, assumir coletivamente alguns

projetos da escola e ligar o esforço necessário ao cotidiano dos seus alunos.

2.2 Indisciplina x autoridade do professor

Em suas colocações a respeito da indisciplina escolar, Freire (1989) faz alusão

ao fato de que nas relações que permeiam a prática pedagógica, há uma dificuldade

conceitual em torno dos termos “autoridade” e “autoritarismo”.

Para o professor, ter autoridade no sentido de fazer-se obedecer, ter o domínio,

influência e prestígio perante os alunos, é condição essencial para o desenvolvimento do

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processo ensino-aprendizagem. Como ressaltou Freire (1989, p. 46) “o professor que

renunciar a essa autoridade deve deixar de ser professor”.

Para Freire (1989), as ações autoritárias no âmbito escolar, muitas vezes são

confundidas com o termo autoridade. Porém, “ter autoridade” é ter domínio da situação,

mas ser autoritário é ser impositivo, e até violento em algumas decisões. O professor

pode assumir uma postura democrática com autoridade, mas ser autoritário é o oposto de

ser democrata.

Assim, ao assumir uma postura democrática com autoridade, o professor deve

reconhecer os seus erros, desmistificando a ideia de que “professor não erra” e

procurando fornecer um modelo de seriedade e coerência.

De acordo com Freire (1989, p. 45), “a disciplina é uma das tarefas da

autoridade e a liberdade é assumir a disciplina como necessidade”. Por isso, ser

disciplinado não é ser controlado. Considera-se a disciplina como condição básica para a

organização e adequação das atividades que envolvem as ações do indivíduo.

Freire destaca, ainda, que:

(...) toda disciplina envolve autodisciplina, gerando um movimento de

dentro para fora e enfatizou a diferenciação entre disciplina e

indisciplina nos seguintes termos: Na indisciplina o indivíduo não tem

autodisciplina. Quer dizer, a indisciplina é licenciosidade, é o fazer o que quero. A disciplina é o fazer o que posso, o que devo e o que

preciso fazer, sendo que estas ações estão, necessariamente, ligadas à

vida da pessoa..., para isso, a presença da autoridade é absolutamente indispensável (FREIRE, 1989, p. 12).

Essa tese leva à conclusão que ao se analisar a relevância da disciplina na escola,

é possível classificá-las como um princípio educativo onde, por um lado, se presencia a

disciplina opressiva que tem como centro a “indisciplina do aluno”, impondo obediência

às normas escolares e, por outro lado, a disciplina, sendo encarada como uma questão de

reflexão e conscientização do aluno, quanto ao exercício das ações escolares.

Woolfolk (2000) acredita que a disciplina externa leva os sujeitos a adquirir

outro tipo de disciplina, a interior ou autodisciplina. Referindo-se à escola complementa:

“a disciplina exterior nasce da autoridade que, tendo o sentido de ajudar o aluno a crescer

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intelectualmente, se funde com a disciplina interior, que encaminha esse crescimento”

(WOOLFOLK, 2000, p. 37).

Nesta perspectiva, a disciplina torna-se imprescindível para o exercício

intelectual, mas na escola, ainda é percebida como dizendo respeito somente aos padrões

de comportamentos impostos aos alunos.

Nesse sentido, Valle (1995) acredita também que as reclamações dos educadores

são corretas e pertinentes; a indisciplina e a violência são fatos reais nas escolas, na

medida em que no “fazer pedagógico”, os professores não podendo conviver com esses

desmandos, aplicam medidas corretivas para eliminar o problema.

Para Valle, a disciplina:

... deve ser vista de forma mais abrangente pelos elementos envolvidos

com a prática escolar. ... Precisa ser compreendida como algo necessário

para um fazer pedagógico coerente e eficaz. Desta forma, a disciplina está intimamente ligada ao processo de transmissão e assimilação dos

conhecimentos elaborados historicamente pelo homem (VALLE, 1995, p.

63).

Nas escolas, portanto, situações mal resolvidas vêm provocando um caos

desnecessário onde os alunos desafiam os professores e vice-versa. Tais situações

ocupam um tempo precioso e só desencadeiam um desgaste da imagem e autoridade, da

escola e do professor.

De acordo com Abud et al (1989), os valores sociais atuais primam pela

supervalorização da liberdade, sem responsabilidade, nas camadas mais jovens da

população. Segundo ele, o momento atual na cultura brasileira prestigia as atitudes de

rebeldia, questionamento às instituições, regras e normas estabelecidas em uma crítica

desenfreada à autoridade imposta. Nesse sentido, o autor coloca:

... é a hora da reivindicação, da conquista do direito de participar, da

expressão franca e livre do pensamento. Essas ideias e atitudes se

refletem diretamente na escola, alterando as relações adulto/jovem/criança e exigindo uma nova contextualização de

conceitos como liberdade e disciplina (ABUD et al, 1989, p. 81).

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Convém ressaltar também que o nível de disciplina da classe está ligado ao grau

de motivação dos alunos e dele depende. A necessidade do manejo e das intervenções

disciplinares está sempre na razão inversa da motivação, tanto menor será a necessidade

de manejo disciplinar. Inversamente, quanto mais fraca e remissa for a motivação, tanto

maior será a necessidade de intervenções disciplinares, como que para compensar essa

falta.

Outro aspecto que deve ser salientado é que a autodisciplina, sendo um controle

interno, não é algo que o professor consiga de um momento para outro, só numa aula ou

através de uma simples conversa. É um comportamento que precisa ser desenvolvido, e

até treinado, dependendo de um trabalho permanente e constante.

Um dos meios mais eficientes para desenvolver a autodisciplina é reforçar o

comportamento adequado e a conduta positiva dos alunos, sem exacerbar nas críticas

negativas, pois confiança e autoestima contribuem no crescimento do indivíduo.

Zagury (1991, p. 78) esclarece que “é preciso estabelecer-se na sala de aula um

clima interativo e democrático, sem autoritarismos. É preciso criar espaços para o aluno

discutir, discordar, trocar ideias, duvidar, explicar-se, formular suas próprias hipóteses”.

Portanto, não há dúvidas de que deve ocorrer a superioridade e maior eficácia do

processo motivador sobre o processo disciplinador, pois somente na medida em que

faltam os recursos incentivadores é que o professor pode e deve lançar mão dos recursos

disciplinares para garantir a necessária ordem na classe e dar andamento aos trabalhos.

3. Metodologia da pesquisa sobre percepção de alunos de 5ª séries sobre indisciplina

Atendendo à orientação do Programa PDE, no período de agosto a novembro de

2011 foi realizada a implementação pedagógica por meio de aplicação de questionários a

alunos de 5ª séries do Colégio Estadual Protásio de Carvalho, visando identificar quais

eram suas concepções sobre o tema Indisciplina, no intuito de contribuir com a melhora

no enfrentamento dos problemas disciplinares existentes na escola, bem como

compreender manifestações de (in) disciplina escolar.

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O trabalho de pesquisa envolveu a revisão bibliográfica da literatura

especializada e o levantamento de dados por meio da pesquisa de campo junto aos alunos

das 5ª séries das turmas H, I e J, do turno vespertino, tendo como faixa etária 97% entre

dez e doze anos e 3% entre doze e quatorze anos. Os sujeitos do estudo foram

constituídos por 76 alunos residentes no município de Curitiba que estudam na Escola

onde ocorreu a Implementação Pedagógica.

O instrumento utilizado para a pesquisa de campo foi um questionário semi-

estruturado contendo 04 questões abertas e 14 fechadas, organizadas em questões sobre a

percepção dos alunos em relação ao que é disciplina/indisciplina dos mesmos, neste

aspecto, solicitou-se que pontuassem, por escrito, o que de imediato lembram quando

ouvem a palavra indisciplina e depois foram solicitados a expressarem o que concebem

por disciplina, e outro bloco sobre a compreensão deles em relação ao trabalho docente:

especialmente a postura profissional e o planejamento do processo ensino-aprendizagem.

As questões dissertativas tinham como foco identificar a visão dos alunos. Neste bloco

também foram convidados a expressarem o que identificam como uma boa aula e como

percebem quando o professor planejou ou não a sua aula. Ambos com questões objetivas

em que o aluno deveria manifestar sua opinião em relação ao nível de gravidade relativo

aos itens desse questionário, identificados como: nada grave/pouco grave, grave/muito

grave.

Utilizou-se, também, de conversas informais com professores e pedagogos tendo

como objetivo buscar subsídios para elaboração do projeto de implementação, bem como

verificar o conhecimento dos mesmos sobre a prática pedagógica dos professores, seus

encaminhamentos junto aos alunos e sobre o procedimento dos alunos e seu

entendimento sobre a questão da indisciplina escolar. O questionário foi aplicado no dia

27 de maio de 2011, sendo solicitado aos alunos que preenchessem o mesmo e o

devolvessem naquele momento.

4 Análise das percepções de alunos de 5ª série sobre indisciplina

A equipe pedagógico-administrativa e docente da escola tem compreensões

sobre a indisciplina em sala de aula, e para o aluno de 5ª série, que está numa faixa etária

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entre 10 e 12 anos o que significa indisciplina? Visando verificar quais são as percepções,

os conceitos que esse aluno tem sobre essa questão tão presente hoje nas escolas, foram

aplicados questionários aos alunos.

Para os alunos dessa faixa etária e série, disciplina significa respeitar os

professores, ser educado, ser disciplinado e ser estudioso. Essas quatro atitudes estão

intrinsecamente ligadas à visão do senso comum de que disciplina refere-se a

comportamentos de certo modo controlados, com foco na obediência, numa hierarquia.

Talvez isso se reflita na própria concepção que esse grupo tem sobre as regulamentações

da escola, pois ao mesmo tempo em que consideram que as normas são regras a serem

obedecida por parte dos alunos também dizem que regras são normas a serem construídas

coletivamente. Observou-se, então, a predominância de uma concepção de regras como

criação e o cumprimento de normas e preceitos norteadores das relações sociais, mas

também o pressuposto de que as regras devem ser normas construídas coletivamente

levando em consideração o diálogo, a cooperação e a troca entre os membros da escola.

Esse é um ponto importante para a escola repensar sua postura ao estabelecer

alguns regulamentos em seu Projeto Político Pedagógico sem uma ampla discussão com a

comunidade escolar, inclusive com as turmas de 5ª série, geralmente consideradas

imaturas para participar dessas questões em decorrência de sua pouca idade.

Vimos que os alunos de 5ª série, conforme pesquisa realizada tem maturidade e

conhecimento para contribuir na construção do Projeto Político Pedagógico, não podendo

ser excluídos deste processo tão importante dentro processo ensino-aprendizagem.

Em relação às características que evidenciam o bom professor, afirmaram que o

bom professor é aquele que sabe explicar a matéria, que coloca limites no aluno, que

discute e combina com a turma as regras de funcionamento da aula. O senso de justiça, de

ordem está presente nestes grupos, eles sabem inclusive, distinguir claramente o bom

professor do mau professor, pois para eles o bom professor deve ter autoridade e

liderança sobre a turma e deve auxiliar os alunos a pensarem sobre as relações entre a sua

matéria e a realidade. Vale ressaltar que as opções como gritar com frequência e vestir-se

adequadamente não foram apontadas por nenhum dos pesquisados, o que significa

afirmar que tais características, para os alunos, não definem e nem contribuem no

processo ensino-aprendizagem.

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Já as características que definem um bom aluno, estão centradas na questão da

aprendizagem e também no comportamento em sala de aula. Disseram que o bom aluno é

aquele que quer aprender, que faz todas as tarefas de sala de aula e as de casa, que

participa das aulas, prestando atenção, pensando, perguntando e que sabe respeitar e

procura ajudar os colegas de sala. Veja que atitudes como a colaboração entre colegas

também é ressaltada como algo importante para ser considerado um bom aluno. Nesse

sentido, o bom aluno parece não ser somente aquele que tira notas altas e, tão pouco, o é

aquele que concorda sempre com o professor.

Quanto aos comportamentos dos alunos e professores que foram considerados

graves, há algumas implicações e desafios, pois divergem e se aproximam em algumas

questões como, por exemplo: para o aluno, não usar uniforme é grave, mas para eles o

uso de jaleco pelo professor é indiferente, pois o uso de assessórios como boné, gorros e

capuz pelos alunos também são irrelevantes, já o uso do celular tanto pelo aluno quanto

pelo professor foi considerado muito grave. Em relação, por exemplo, a outros

comportamentos considerados graves aparecem: agredir colegas e professores física e

verbalmente, o professor utilizar de recursos como arremessar objetos para chamar a

atenção dos alunos, chamar alunos por apelidos e agredir física e verbalmente o aluno.

Na concepção desses alunos de 5ª série constituem comportamentos muito

graves também o fato de trazerem objetos perigosos para a escola como faca, canivete,

arma de fogo etc, danificar a escola, falar palavrões e gritar em sala de aula, colocar

apelidos em colegas e professores, bem como não fazer as atividades em sala e não

chegar no horário. São atitudes relacionadas tanto ao processo de aprendizagem como a

questões comportamentais e sociais.

Já em relação aos comportamentos que não são considerados graves apontaram

o fato de arrastar carteiras e arremessar bolinhas de papel e trocar bilhetes entre colegas.

Esses dados podem ser verificados na tabela1.

Em relação à compreensão dos alunos sobre os comportamentos dos professores,

disseram ser muito grave o professor falar palavrões em sala de aula, gritar

frequentemente, não saber motivar os alunos, não preparar as atividades com

antecedência, não levar seu material para a sala de aula e faltar com frequência.

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Na medida em que o professor não planeja o seu trabalho docente e que os

alunos, como vimos, percebem claramente isto, os desdobramentos, não raros, são os

professores qualificarem como indisciplina o que na realidade é uma atitude em resposta

ao trabalho pedagógico desenvolvido precariamente. Por outro lado, a forma como o

professor procede em sala de aula, muitas vezes utilizando-se não de sua autoridade, mas

de autoritarismo, quando o mesmo não permite que o aluno saia de seu lugar, grita na sala

de aula, exigindo que os alunos copiem textos, como uma forma de manter esse aluno

ocupado, foram claramente apontadas como características daqueles que não são bons

professores. Esses dados são apresentados na tabela 2.

Tabela 1 – Grau de gravidade em relação aos comportamentos dos alunos como fator de

indisciplina.

Nada ou Pouco grave Grave ou Muito grave

Agredir os colegas verbalmente 09 72

Trazer objetos perigosos (faca, canivete, arma de fogo, etc.)

05 71

Danificar a escola 06 70

Agredir os colegas fisicamente 07 69

Agredir os professores verbalmente 04 68

Agredir os professores fisicamente 10 66

Falar palavrões em sala de aula 10 66

Não fazer as atividades em sala 10 66

Colocar apelidos nos professores 05 64

Colocar apelidos nos colegas 23 60

Os alunos que gritam em sala de aula 14 62

Pegar o material do colega 18 58

Responder professores 19 57

Não chegar no horário 20 56

Não usar o uniforme escolar 23 53

Usar celulares ou eletrônicos 23 53

Arremessar bolinhas de papeis 29 47

Trocar bilhetes entre colegas 43 33

Usar boné, gorro ou capuz 60 16

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Tabela 2 – Grau de gravidade em relação aos comportamentos dos professores como

fator de indisciplina.

Nada ou Pouco grave Grave ou Muito grave

Agredir fisicamente os alunos 07 69

Agredir verbalmente os alunos 10 66

Arremessar objetos para chamar a atenção dos alunos

12 64

Usar Avaliação como punição 12 64

Falar palavrões em sala de aula 15 61

Chamar alunos por apelidos 16 60

Não saber explicar a matéria 16 60

Não saber motivar os alunos 17 59

Não levar o seu material p/ aula 18 58

Gritar frequentemente em sala 19 57

Não preparar as atividades com antecedência

23 56

Usar celulares ou eletrônicos 33 50

Atrasar para as aulas 28 49

Faltar com frequência 29 47

Conversar nos corredores 40 36

Não usar o jaleco 45 31

Esta pesquisa propiciou um olhar mais crítico sobre que compreensões o aluno

de 5ª série possui sobre indisciplina e como estas devem instigar a escola a repensar, por

exemplo, algumas de suas práticas administrativo-pedagógicas. Pois esse aluno tem

consciência que disciplina, respeito, aprendizagem requerem professores

compromissados com suas disciplinas, com sua profissão, tendo em vista que a pesquisa

evidencia que o aluno reconhece quando o professor prepara ou não suas aulas e mesmo

quando o professor utiliza a avaliação como punição e não como aferição dos

conhecimentos aprendidos ou como avaliação do processo ensino-aprendizagem.

Diante disso, vale ressaltar, que as turmas pesquisadas demonstraram ter

conhecimento e consciência sobre a questão da indisciplina enquanto fator ligado tanto a

aspectos comportamentais dos alunos, como também a aspectos comportamentais dos

professores e as questões metodológicas e de avaliação.

Durante a aplicação dos questionários os alunos demonstraram sentirem-se à

vontade para expor os seus anseios, ideias, opiniões e entendimentos individuais sobre a

questão da disciplina e indisciplina no cotidiano da escola.

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Tendo como base a análise dos questionários, observou-se que a maioria está

gostando de cursar a 5ª série. Sobre o que pensam ser indisciplina, os itens “desrespeito”,

“bagunça”, “falta de educação” foram os mais destacados. Sobre o significado de

disciplina, a maioria respondeu ser “respeito a professores”, que “as normas da escola

devem ser obedecidas” e que “as normas devem ser construídas coletivamente”. Neste

sentido, embora prevaleça ainda uma visão verticalizada do cumprimento das normas, é

importante ir transformando o para em com, construindo assim, relações e práticas

pedagógicas com eles – alunos, professores, demais membros da comunidade escolar -,

de forma horizontal e dialógica.

E para eles o bom aluno é aquele que “quer aprender”. Neste aspecto, há aqui

elementos que evidenciam as demandas necessárias para uma aprendizagem efetiva,

como por exemplo, a disposição e o interesse do aluno em aprender e, consequentemente,

a disciplina faz-se necessária para todos os envolvidos no processo ensino-aprendizagem,

pois é função da escola direcioná-los rumo ao conhecimento, instrumentalizar o saber de

forma que a interação permeie todos os trabalhos escolares.

Segundo Aquino (1996), um dos grandes problemas é que o professor mantém-

se rígido em seu lugar de autoridade e isso não contribui para a reflexão e tão pouco para

a solução da indisciplina escolar.

Diante das respostas ao questionário aplicado, percebe-se que os alunos sabem

diferenciar disciplina de indisciplina, mas que falta a eles um direcionamento para que

aprendam a ter limites em seus atos e assim poderem agir com mais maturidade e

interesse. Também falta motivação, aulas mais interessantes, que prendam a atenção para

que desse modo à indisciplina dê lugar a aprendizagens significativas e úteis à sua vida.

No entanto, cabe ressaltar que tanto comportamentos dos alunos quanto atitudes

do corpo docente e dos demais membros da equipe pedagógico-adminisdtrativa e

funcionários contribuem para o desenvolvimento da indisciplina ou da disciplina. Nesse

sentido, cabe à direção e a equipe pedagógica propor encaminhamentos necessários para

que o professor realize o seu planejamento adequadamente, fazendo de sua hora-atividade

um momento para estudos, planejamentos e replanejamentos, a qual deve ser orientada e

acompanhada pela Equipe Pedagógica, pois o nosso principal objetivo enquanto

educadores é identificar o que o estudante aprendeu, diagnosticando o que não foi

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aprendido e intervir no processo ensino-aprendizagem, considerando aspectos

quantitativos e qualitativos.

5 Considerações finais

A disciplina é fundamental para a vida em grupo e na escola não é diferente. O

trabalho pedagógico não se caracteriza como um processo natural e espontâneo, exige

portanto, sistematização, normas de conduta e organização. Porém, essas normas não

podem ser rígidas e absolutas, mas adequadas à população a que se destina, à faixa etária

e à realidade social, fluindo naturalmente das relações estabelecidas na escola. Para que

isto ocorra, o educador deve extrapolar o seu referencial de mundo e penetrar no mundo

do adolescente e do jovem.

A partir da pesquisa realizada percebe-se que a escola não é apenas um local de

ensino formal, mas também de formação de cidadãos, de direitos e deveres, amizades,

cooperação e solidariedade. E isso exige um esforço e mudança de atitudes por parte de

todos. Neste sentido é necessário que a escola construa um espaço humanizado,

democrático, com a presença do diálogo e da afetividade. Os educadores devem

apresentar uma postura de interesse e dedicação para garantir a qualidade do trabalho

pedagógico e, consequentemente a necessária disciplina.

Entretanto, para que isso ocorra, é importante ainda uma gestão democrática que

mantenha a disciplina e a convivência no âmbito escolar pautadas no diálogo, no respeito

aos limites estabelecidos coletivamente na escola, além do comprometimento com os

integrantes da escola, onde cada aluno e cada professor, funcionário e membros da equipe

pedagógica, possa assumir a sua responsabilidade no processo pedagógico, numa

constante reflexão coletiva sobre suas ações pedagógicas, tendo consciência e percepção

do mundo que a cerca e do momento social que estão vivendo, na tentativa de que o

trabalho educativo possa se tornar mais significativo e prazeroso e, consequentemente,

cumprindo sua função social.

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