139
UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA UNEB PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E ENSINO DE PÓS-GRADUAÇÃO PPG DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS HUMANAS CAMPUS V SANTO ANTÔNIO DE JESUS - BAHIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CULTURA, MEMÓRIA E DESENVOLVIMENTO REGIONAL DISSERTAÇÃO DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU A INDÚSTRIA DE BOLSAS EM SERROLÂNDIA BA E OS (DES) CAMINHOS PARA O DESENVOLVIMENTO LOCAL SUSTENTÁVEL IVANEIDE SILVA DOS SANTOS ORIENTADORA: PROFª DRª ROCÍO CASTRO KUSTNER TRABALHO DISSERTATIVO DESENVOLVIDO COMO REQUISITO À OBTENÇÃO DO TÍTULO DE MESTRE EM CULTURA, MEMÓRIA E DESENVOLVIMENTO REGIONAL. LINHA DE PESQUISA 2: “POLÍTICAS PÚBLICAS DE DESENVOLVIMENTO REGIONAL”. SANTO ANTÔNIO DE JESUS - BAHIA 2009

A INDÚSTRIA DE BOLSAS EM SERROLÂNDIA BA E OS (DES ...livros01.livrosgratis.com.br/cp110660.pdf · conservação do meio ambiente e diminuição das desigualdades sociais. 4

  • Upload
    lythuy

  • View
    217

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: A INDÚSTRIA DE BOLSAS EM SERROLÂNDIA BA E OS (DES ...livros01.livrosgratis.com.br/cp110660.pdf · conservação do meio ambiente e diminuição das desigualdades sociais. 4

UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA – UNEB

PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E ENSINO DE PÓS-GRADUAÇÃO – PPG DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS HUMANAS – CAMPUS V

SANTO ANTÔNIO DE JESUS - BAHIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CULTURA, MEMÓRIA E

DESENVOLVIMENTO REGIONAL

DISSERTAÇÃO DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU

A INDÚSTRIA DE BOLSAS EM SERROLÂNDIA – BA E OS (DES)

CAMINHOS PARA O DESENVOLVIMENTO LOCAL SUSTENTÁVEL

IVANEIDE SILVA DOS SANTOS

ORIENTADORA: PROFª DRª ROCÍO CASTRO KUSTNER

TRABALHO DISSERTATIVO DESENVOLVIDO

COMO REQUISITO À OBTENÇÃO DO TÍTULO DE MESTRE EM CULTURA, MEMÓRIA E DESENVOLVIMENTO REGIONAL. LINHA DE

PESQUISA 2: “POLÍTICAS PÚBLICAS DE DESENVOLVIMENTO REGIONAL”.

SANTO ANTÔNIO DE JESUS - BAHIA

2009

Page 2: A INDÚSTRIA DE BOLSAS EM SERROLÂNDIA BA E OS (DES ...livros01.livrosgratis.com.br/cp110660.pdf · conservação do meio ambiente e diminuição das desigualdades sociais. 4

Livros Grátis

http://www.livrosgratis.com.br

Milhares de livros grátis para download.

Page 3: A INDÚSTRIA DE BOLSAS EM SERROLÂNDIA BA E OS (DES ...livros01.livrosgratis.com.br/cp110660.pdf · conservação do meio ambiente e diminuição das desigualdades sociais. 4

2

TERMO DE APROVAÇÃO

IVANEIDE SILVA DOS SANTOS

A INDÚSTRIA DE BOLSAS EM SERROLÂNDIA – BA E OS (DES)

CAMINHOS PARA O DESENVOLVIMENTO LOCAL SUSTENTÁVEL

Dissertação apresentada junto ao Programa de Pós-Graduação Mestrado em Cultura, Memória e

Desenvolvimento Regional pela Universidade do Estado da Bahia – UNEB, Campus V, Santo Antônio de Jesus – Ba.

Aprovada em 20 de março de 2009

Banca Examinadora

_____________________________________ Prof. Dra. Rocío Castro Kustner

_____________________________________

Prof. Dra. Alícia Ruiz Olalde

____________________________________

Prof. Dra. Maria Suzana de Souza Moura

Page 4: A INDÚSTRIA DE BOLSAS EM SERROLÂNDIA BA E OS (DES ...livros01.livrosgratis.com.br/cp110660.pdf · conservação do meio ambiente e diminuição das desigualdades sociais. 4

3

Dedico este trabalho a todas as pessoas que se preocupam

com a situação socioambiental do nosso planeta e que

almejam um desenvolvimento que leva em consideração o

bem-estar das gerações, presente e futuras, bem como a

conservação do meio ambiente e diminuição das

desigualdades sociais.

Page 5: A INDÚSTRIA DE BOLSAS EM SERROLÂNDIA BA E OS (DES ...livros01.livrosgratis.com.br/cp110660.pdf · conservação do meio ambiente e diminuição das desigualdades sociais. 4

4

AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar agradeço a Deus, Ser supremo no qual mantenho sempre viva a

minha fé.

Sabemos que a realização de um trabalho jamais se efetiva sem a ajuda de outras

pessoas, principalmente, nesta dissertação onde a colaboração do “outro” é

fundamental. Dentre os mais próximos, agradeço aos meus pais e a minha família,

que de maneira compreensiva, impulsionaram no desenvolvimento deste trabalho,

incentivando-me e auxiliando-me constantemente.

A Laelson, amor e amigo pela paciência, o companheirismo, a compreensão e o

valioso envolvimento em discussões e sugestões referentes aos conteúdos

trabalhados, bem como na realização da atividade de campo e tabulação de dados.

Agradeço com carinho especial, à professora Drª Rocío Castro, pela orientação

sempre importante e esclarecedora que me ajudou na realização deste trabalho bem

como pelo carinho, atenção e paciência demonstrados durante este período,

contribuindo para que meu esforço tivesse condições plenas de ser exercido.

Aos professores, funcionários e colegas do Curso de Mestrado em Cultura Memória

e Desenvolvimento Regional pelas discussões empreendidas que proporcionaram

muitas idéias para a elaboração desta dissertação ao longo deste percurso. A todos,

deixo um eterno abraço pela acolhida e momentos de alegria nesta caminhada.

Aos meus colegas da UNEB – DCH Campus –V, Santo Antônio de Jesus,

especialmente aos amigos do colegiado de geografia que sempre estiveram prontos

a ouvirem minhas lamentações e dificuldades de realizar o mestrado, contribuindo

para que eu pudesse concluí-lo.

Aos colegas do Colégio Estadual de Serrolândia, pela colaboração e apoio durante a

realização da pesquisa.

Page 6: A INDÚSTRIA DE BOLSAS EM SERROLÂNDIA BA E OS (DES ...livros01.livrosgratis.com.br/cp110660.pdf · conservação do meio ambiente e diminuição das desigualdades sociais. 4

5

Aos amigos, Claudia Sousa e Marcone Denys que gentilmente elaboraram os mapas

utilizados neste trabalho, bem como auxiliaram na construção dos gráficos.

À amiga Patrícia Andrade pela colaboração na revisão ortográfica deste trabalho.

Aos professores Dr. Cristóvão Brito e Dra. Mª Suzana Moura, pelas valiosas

contribuições durante a qualificação e indicação de bibliografia.

Às pessoas que se dispuseram a participar dos grupos focais, entrevistas e

questionários, contribuindo intensamente na construção deste trabalho.

Ao amigo Rodrigo dos Reis, pela gentileza das traduções do texto para o inglês.

Aos amigos do grupo Artefato, em especial à Rafaela Mendes e Lucas Novais pela

ajuda na aplicação dos questionários.

Por maior que fosse, uma lista de nomes seria incompleta para indicar todos que

contribuíram para que alcançasse este resultado; pessoas que em contextos

diferentes, colaboraram de forma significativa para a realização deste exercício,

apoiando-me e encorajando-me, nos momentos difíceis, a trilhar este caminho,

assumindo, tantas vezes, as atividades que eram de minha responsabilidade,

proporcionando-me maior tempo para a dedicação na execução e conclusão deste

trabalho.

A todos vocês, muito obrigada!

Page 7: A INDÚSTRIA DE BOLSAS EM SERROLÂNDIA BA E OS (DES ...livros01.livrosgratis.com.br/cp110660.pdf · conservação do meio ambiente e diminuição das desigualdades sociais. 4

6

Caminhar com bom tempo, numa terra bonita, sem pressa, e

ter por fim da caminhada um objetivo agradável: eis, de todas

as maneiras de viver, aquela que mais me agrada.

Jean Jacques Rousseau

Page 8: A INDÚSTRIA DE BOLSAS EM SERROLÂNDIA BA E OS (DES ...livros01.livrosgratis.com.br/cp110660.pdf · conservação do meio ambiente e diminuição das desigualdades sociais. 4

7

RESUMO

A análise das contribuições e os entraves das fábricas de bolsas de Serrolândia-

Bahia para o desenvolvimento local sustentável constitui-se no principal objetivo deste trabalho de pesquisa. Trata-se de um Estudo de Caso com abordagem

qualitativa e quantitativa, no qual foi feito o levantamento bibliográfico, a realização de entrevistas com fabricantes das fábricas e à população, grupos focais com jovens, homens e mulheres, visita a campo para observação da realidade, bem

como a aplicação de questionários à população e aos funcionários das fábricas. Ao longo do trabalho discutimos as concepções de desenvolvimento e sua relação com

a industrialização, enfatizando o desenvolvimento local sustentável enquanto nova alternativa frente aos impactos da globalização. Os resultados obtidos na pesquisa nos revelam que a pequena indústria de bolsas de Serrolândia contribui para a

economia local e garantia da sustentabilidade econômica por mobilizar as potencialidades físicas, territoriais e sociais desta cidade e gerar empregos.

Contudo, constatamos que não há parceria entre os fabricantes de bolsas e os demais agentes sociais locais para compartilharem interesses em comum no que tange ao planejamento e à realização do desenvolvimento desta cidade.

Percebemos que ainda não existe uma preocupação com a questão ambiental por parte destas empresas, devido à produção de resíduos gerada pelas mesmas, que

interfere na sustentabilidade ambiental. O processo de terceirização também interfere na qualidade do trabalho no que concerne à falta de responsabilidade com os encargos sociais e valorização do trabalhador. Assim, estes fatores são entraves

e podem promover descaminhos para o desenvolvimento local sustentável.

Palavras-chave: Desenvolvimento Local Sustentável. Potencialidades locais.

Sustentabilidade econômica e ambiental.

Page 9: A INDÚSTRIA DE BOLSAS EM SERROLÂNDIA BA E OS (DES ...livros01.livrosgratis.com.br/cp110660.pdf · conservação do meio ambiente e diminuição das desigualdades sociais. 4

8

ABSTRACT

The main objective of this research work constituted in the analysis of contributions and the fetters of the purses’ factories in Serrolândia-Bahia for sustainable local

development. It treats of a Study of Case with qualitative and quantitative approach, in which a bibliographic survey was done. It was done interviews with manufacturers of the purses’ factories, and to the populations, focal groups with young people, men

and women. Visits were done to observation of reality, as well the application of questionnaires to the populations and to the servants of the factories. Throughout the

work, we discussed the conceptions of development and its relation with industrialization, focusing the sustainable local development as new alternative amid the globalization impacts. The results obtained in this research show that the small

industry of purses in Serrolândia contributes to the local economy and guarantees the economy sustainability for mobilizing the physical, territorial and social

potentialities of that town, and consequently, generating employees. However, we evidenced there isn’t partnership between manufacturers of purses and the other local social agents to share interests in terms to the planning ant to the realization of

the development of that town. We perceived that there’s still any preoccupation of these factories related to environmental situation, due to production of residues

generated for them where this can interfere in environmental sustainable. The process of outsourcing also interferes in quality of work in relation to the lack of responsibility with social incumbencies and valorization of workers. Thus, these

factors are obstacles and can “misguide” for sustainable local development.

Keywords: Sustainable local development. Local potentialities. Environmental and

economical sustainability.

Page 10: A INDÚSTRIA DE BOLSAS EM SERROLÂNDIA BA E OS (DES ...livros01.livrosgratis.com.br/cp110660.pdf · conservação do meio ambiente e diminuição das desigualdades sociais. 4

9

LISTA DE QUADROS E MAPAS

Quadro 1: Padrões de Crescimento Econômico...............................................................31

Quadro 2: Principais eventos e organismos internacionais sobre Desenvolvimento e

Meio Ambiente........................................................................................................................60

Mapa 1: Estado da Bahia: Piemonte da Diamantina .......................................................72

Mapa 2: Estado da Bahia: Município de Serrolândia .......................................................73

LISTA DE FOTOS

Foto 1: Oficina de Convivência Comunidade/Universidade............................................33

Foto 2: Grupo focal de mulheres .........................................................................................75

Foto 3: Grupo focal de mulheres .........................................................................................75

Foto 4: Grupo focal de jovens ..............................................................................................76

Foto 5: Grupo focal de jovens ..............................................................................................76

Foto 6: Vista aérea da cidade de Serrolândia ...................................................................78

Foto 7: Palmeira do licuri da região de Serrolândia – BA ...............................................79

Foto 8: Bocapio: Artesanato feito com a palha do licuri ..................................................79

Foto 9: Quebra de licuri para comercialização..................................................................80

Foto 10: Setor de layout/separação de cores para pintura .............................................85

Foto 11: Setor de corte .........................................................................................................85

Foto 12: Revelação de pintura das bolsas.........................................................................86

Foto 13: separação de peças para costura .......................................................................86

Foto 14: Setor de costura .....................................................................................................86

Foto 15: Setor de rebarba.....................................................................................................86

Foto 16: Setor de embalagem .............................................................................................86

Foto 17: Mercadoria pronta para ser transportada...........................................................86

Foto 18: Grupo focal de homens .........................................................................................88

Foto 19: Grupo focal de homens .........................................................................................88

Foto 20: Curso de aprendizagem em modelagem e confecção de bolsas oferecido

pelo SENAI/ACIASE ..............................................................................................................99

Page 11: A INDÚSTRIA DE BOLSAS EM SERROLÂNDIA BA E OS (DES ...livros01.livrosgratis.com.br/cp110660.pdf · conservação do meio ambiente e diminuição das desigualdades sociais. 4

10

Foto 21: Curso de aprendizagem em modelagem e confecção de bolsas oferecido

pelo SENAI/ACIASE ..............................................................................................................99

Foto 22: Material tóxico utilizado no setor de pintura.................................................... 108

Foto 23: Resto de matéria-prima depositada no fundo de uma fábrica de bolsa ..... 108

Foto 24: Lixo produzido pelas fábricas espalhado em vias públicas ......................... 108

Foto 25: Tubos de linha armazenados para serem trocados por matéria-prima ..... 108

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1: Desenvolvimento Local Sustentável.................................................................66

Gráfico 2: Importância das fábricas de bolsas para o desenvolvimento de Serrolândia

..................................................................................................................................................93

Gráfico 3: Melhoria da condição de vida dos funcionários das fábricas de bolsas .....94

Gráfico 4: Familiares da população entrevistada que trabalham ou já trabalharam em

fábricas de bolsas ..................................................................................................................95

Gráfico 5: Contribuições das fábricas de bolsas para Serrolândia, segundo a

população ................................................................................................................................96

Gráfico 6: Potencialidades de Serrolândia dinamizadas pelas fábricas de bolsas .....98

Gráfico 7: Parceria entre o poder público, os fabricantes de bolsas e a sociedade

civil para promoverem o desenvolvimento da cidade ................................................... 101

Gráfico 8: Contribuição do processo de terceirização da produção, segundo os

funcionários .......................................................................................................................... 103

Gráfico 9: Contribuição do processo de terceirização da produção, segundo a

população ............................................................................................................................. 104

Gráfico 10: Renda mensal dos funcionários das fábricas de bolsas .......................... 105

Gráfico 11: Poluição ambiental causada pelas fábricas de bolsas, segundo a

população ............................................................................................................................. 109

Gráfico 12: Poluição ambiental causada pelas fábricas de bolsas, segundo os

funcionários .......................................................................................................................... 110

Gráfico 13: População entrevistada que já ouviu falar em desenvolvimento local

sustentável ........................................................................................................................... 112

Page 12: A INDÚSTRIA DE BOLSAS EM SERROLÂNDIA BA E OS (DES ...livros01.livrosgratis.com.br/cp110660.pdf · conservação do meio ambiente e diminuição das desigualdades sociais. 4

11

Gráfico 14: População entrevistada que já ouviu falar em desenvolvimento local

sustentável – Escolaridade................................................................................................ 113

Gráfico 15: População entrevistada que já ouviu falar em desenvolvimento local

sustentável – Idade............................................................................................................. 115

Gráfico 16: Desenvolvimento local sustentável em Serrolândia, segundo a população

............................................................................................................................................... 116

Gráfico 17: Desenvolvimento local sustentável em Serrolândia, segundo a população

– Escolaridade ..................................................................................................................... 118

Gráfico 18: Desenvolvimento local sustentável em Serrolândia, segundo a população

- Renda ................................................................................................................................. 119

Page 13: A INDÚSTRIA DE BOLSAS EM SERROLÂNDIA BA E OS (DES ...livros01.livrosgratis.com.br/cp110660.pdf · conservação do meio ambiente e diminuição das desigualdades sociais. 4

12

LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

ACIASE – ASSOCIAÇÃO COMERCIAL, INDUSTRIAL E AGROPECUÁRIA DE

SERROLÂNDIA

CES – COLÉGIO ESTADUAL DE SERROLÂNDIA

CEPAL – COMISSÃO ECONÔMICA PARA A AMÉRICA LATINA E CARIBE

CMMAD – COMISSÃO MUNDIAL PARA O MEIO AMBIENTE E

DESENVOLVIMENTO

DLIS – DESENVOLVIMENTO LOCAL INTEGRADO SUSTENTÁVEL

DLIS – DESENVOLVIMENTO LOCAL SUSTENTÁVEL

EBDA – EMPRESA BAIANA DE DESENVOLVIMENTO AGRÍCOLA

FACEB – FEDERAÇÃO DAS ASSOCIAÇÕES COMERCIAIS DO ESTADO DA

BAHIA

FGTS – FUNDO DE GARANTIA POR TEMPO DE SERVIÇO

IBGE – INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA

IDH – ÍNDICE DE DESENVOLVIMENTO HUMANO

INSS – INSTITUTO NACIONAL DE SEGURO SOCIAL

ONG – ORGANIZAÇÕES NÃO GOVERNAMENTAIS

ONU – ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS

PIB – PRODUTO INTERNO BRUTO

PNB – PRODUTO NACIONAL BRUTO

PNUD – PROGRAMA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O DESENVOLVIMENTO

SEBRAE – SERVIÇO DE APOIO ÀS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS DO

ESTADO DA BAHIA

SEI – SUPERINTENDÊNCIA DE ESTUDOS ECONÔMICOS E SOCIAIS DA BAHIA

UNESCO – ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA A EDUCAÇÃO, A

CIÊNCIA E DA CULTURA

Page 14: A INDÚSTRIA DE BOLSAS EM SERROLÂNDIA BA E OS (DES ...livros01.livrosgratis.com.br/cp110660.pdf · conservação do meio ambiente e diminuição das desigualdades sociais. 4

13

SUMÁRIO

Introdução..............................................................................................................................15

1 Concepções de Desenvolvimento e sua relação com a Industrialização.........26

1.1 Concepções de Desenvolvimento ................................................................................28

1.2 Desenvolvimento e industrialização .............................................................................36

2 Desenvolvimento Local como nova alternativa frente aos impactos da

Globalização .........................................................................................................................41

2.1 Visões de Desenvolvimento Local................................................................................43

2.2 Como promover concretamente o desenvolvimento local........................................47

2.3 A proposta do Desenvolvimento Local Integrado Sustentável – DLIS ...................49

3 Desenvolvimento Local Sustentável: Concepções e Desafios ...........................54

3.1 Da preocupação com a questão ambiental mundial ao conceito de

Desenvolvimento Sustentável..............................................................................................56

3.2 Movimentos sociais e eventos internacionais referentes ao Desenvolvimento e

Meio Ambiente........................................................................................................................59

3.3 Concepções de Desenvolvimento (Local) Sustentável.............................................62

3.4 Desenvolvimento Sustentável e as dimensões de Sustentabilidade......................67

4 A Cidade de Serrolândia e a chegada das Fábricas de Bolsas ...........................71

4.1 Conhecendo a Geografia de Serrolândia ....................................................................71

4.2 Conhecendo a História do lugar ...................................................................................76

4.3 Aspectos Econômicos de Serrolândia .........................................................................79

4.4 A chegada das Bolsas em Serrolândia........................................................................83

5 A indústria das bolsas em Serrolândia/BA e os (des) caminhos do

Desenvolvimento Local Sustentável ..............................................................................89

5.1 Contribuições da indústria de bolsas em Serrolândia para o desenvolvimento

local sustentável .....................................................................................................................91

Page 15: A INDÚSTRIA DE BOLSAS EM SERROLÂNDIA BA E OS (DES ...livros01.livrosgratis.com.br/cp110660.pdf · conservação do meio ambiente e diminuição das desigualdades sociais. 4

14

5.2 Entraves da indústria de bolsas em Serrolândia para o desenvolvimento local

sustentável ........................................................................................................................... 100

5.3 A concepção de desenvolvimento local sustentável na visão da população

serrolandense ...................................................................................................................... 111

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................................... 121

REFERÊNCIAS................................................................................................................... 125

BIBLIOGRAFIA .................................................................................................................. 130

SITES PESQUISADOS ..................................................................................................... 130

LISTA DE ENTREVISTADOS .......................................................................................... 131

APÊNDICES ........................................................................................................................ 132

Page 16: A INDÚSTRIA DE BOLSAS EM SERROLÂNDIA BA E OS (DES ...livros01.livrosgratis.com.br/cp110660.pdf · conservação do meio ambiente e diminuição das desigualdades sociais. 4

15

INTRODUÇÃO

No novo tempo, apesar dos perigos. Da força mais bruta, da noite que assusta, estamos na luta. Pra sobreviver (…).

(Novo Tempo – Ivan Lins)

Desde os primórdios da civilização humana, o planeta Terra vem passando por

grandes transformações tanto de ordem química quanto física, social, política,

econômica, cultural e ambiental. A presença do homem na Terra marcou uma

grande modificação dos ciclos naturais. A ação do seu trabalho e o uso de técnicas

de produção, cada vez mais aperfeiçoadas, proporcionou o surgimento de uma

organização social dominante que, com seus padrões de desenvolvimento,

promoveu novos modos de vida e controle sobre a natureza.

Os padrões de desenvolvimento adotados pela sociedade contemporânea, que se

baseia na lógica do lucro e consumo em massa, vêm sendo bastante questionados e

redefinidos. As inquietações emergiram em virtude de estes promoverem, de um

lado, o progresso e o crescimento material da produção, e, do outro, causarem

sérios problemas para a qualidade de vida das populações, sobretudo com a

concentração de renda, o aumento das desigualdades sociais e o desgaste dos

ecossistemas provocado pelas atividades econômicas. Surgiram, assim, novos

paradigmas de desenvolvimento que desconstroem a idéia de que este é sinônimo

de crescimento econômico que privilegia os aspectos quantitativos de riqueza

material com concentração de renda, bens e serviços. O crescimento econômico,

assim concebido, gera exclusão social por não se preocupar com a redução da

pobreza e do desemprego, bem como por não contemplar a participação de todos os

agentes sociais na tomada de decisões dos planos de desenvolvimento, no acesso à

cultura, à liberdade, oportunidade econômica.

A partir destas inquietações surgiu a expressão desenvolvimento sustentável que

aponta para uma mudança de paradigma que possa conjugar crescimento

Page 17: A INDÚSTRIA DE BOLSAS EM SERROLÂNDIA BA E OS (DES ...livros01.livrosgratis.com.br/cp110660.pdf · conservação do meio ambiente e diminuição das desigualdades sociais. 4

16

econômico e proteção ao meio ambiente, associados à qualidade de vida para a

população. Por conseguinte, sentiu-se a necessidade de os governos elaborarem e

executarem políticas públicas eficazes com a participação de todos os agentes

sociais para que, assim, possam contribuir efetivamente para uma relação integrada

entre o desenvolvimento e o meio ambiente.

O desenvolvimento sustentável é um tema polêmico e bastante discutido atualmente

por se propor a um conjunto de mudanças na forma de produção e consumo,

invertendo o quadro de degradação ambiental e miséria social. Este modelo

contesta os padrões tradicionais de desenvolvimento e pode promover um “novo

tempo” na luta pela sobrevivência, como salienta o compositor e cantor Ivan Lins,

tanto da atual como das futuras gerações.

A necessidade de mudanças também perpassa pela dimensão local, ou seja,

espaços socioterritoriais delimitados onde há a participação da comunidade local no

processo de desenvolvimento, tornando dinâmicas as potencialidades da localidade,

além de promover modos de vida mais sustentáveis. Podemos falar, então, de

desenvolvimento local sustentável, processo simultâneo, oposto e, ao mesmo

tempo, complementar à globalização já que esta não é um processo que engloba

todo o planeta, sendo necessário reconhecer a importância da dimensão local. No

desenvolvimento local sustentável devem estar envolvidos, de maneira articulada, o

governo, a sociedade civil e o setor privado, com destaque às micros e pequenas

empresas, visando à eficiência econômica em consonância com a melhoria da

qualidade de vida das populações e a sustentabilidade dos ecossistemas.

Contudo, sabemos que no processo de industrialização a maioria das empresas

ainda não incorporara a temática socioambiental nos seus modelos de gestão e

muitos empresários não aceitam a possibilidade de se obter, conjuntamente, o

crescimento econômico e a proteção do meio ambiente. Partindo destas

inquietações, o presente trabalho intitulado “A indústria de bolsas em Serrolândia –

Ba e os (des) caminhos para o desenvolvimento local sustentável” tem como objeto

de estudo as fábricas de bolsas sintéticas (couro, napa, nylon, bagum) e

personalizadas da cidade de Serrolândia a qual está localizada na região Econômica

Piemonte da Diamantina, no estado da Bahia. Entendendo que o desenvolvimento

Page 18: A INDÚSTRIA DE BOLSAS EM SERROLÂNDIA BA E OS (DES ...livros01.livrosgratis.com.br/cp110660.pdf · conservação do meio ambiente e diminuição das desigualdades sociais. 4

17

local sustentável deve levar em consideração não só a dimensão econômica, mas

social, cultural, ética e ambiental, o cerne da problemática da pesquisa gira em torno

da seguinte questão: quais as contribuições e os entraves destas fábricas para o

desenvolvimento local sustentável, visto que estas empresas exercem grande

influência sócio-econômica no local?

Por acreditar que o estudo desta temática é de grande relevância não só para meu

campo profissional e acadêmico, mas, sobretudo, para a sociedade serrolandense

no que tange à implantação e atuação da indústria de bolsas e os (des) caminhos do

desenvolvimento local sustentável, é que justifico a importância desta pesquisa. Ao

longo dos últimos anos o número de fábricas de bolsas instaladas nesta cidade

aumentou consideravelmente, promovendo uma reestruturação do espaço

geográfico local. Desta forma, a importância deste trabalho se dá também pela

intervenção na realidade através da análise dos fatos locais e as discussões sobre a

participação dos agentes sociais locais para promoverem o desenvolvimento local

sustentável. O referido trabalho também é importante devido à preocupação com a

questão ambiental da cidade em relação à implantação e atuação destas fábricas de

bolsas. O aprofundamento teórico sobre essa questão reforça o caráter científico da

pesquisa e os rumos que ela irá tomar.

Entendendo o sentido metafórico da palavra caminho como uma direção para se

chegar a um determinado ponto, meta, lugar, fim, vale ressaltar que o prefixo de

negação “des” utilizado no título da dissertação não aparece de maneira aleatória,

mas sim, visando sinalizar o que será discutido ao longo do trabalho. A pesquisa

visa apresentar se o caminho para o desenvolvimento local sustentável em

Serrolândia está sendo percorrido de maneira contrária, ou seja, está sendo um

descaminho, se existem entraves para se chegar a tal propósito, ou se está sendo

percorrido com êxito para alcançar a efetivação deste modelo de desenvolvimento.

O município de Serrolândia é de pequeno porte, com área de 375,2 Km², e conta

com uma população que chega a 13 000 habitantes sendo que em sua área urbana

tem aproximadamente 7000 pessoas. Possui uma quantidade significativa de

fábricas de bolsas personalizadas instaladas na sede do município. Estas empresas

são do ramo da indústria de transformação de bens de consumo. Atualmente

Page 19: A INDÚSTRIA DE BOLSAS EM SERROLÂNDIA BA E OS (DES ...livros01.livrosgratis.com.br/cp110660.pdf · conservação do meio ambiente e diminuição das desigualdades sociais. 4

18

chegam a 10 estabelecimentos registrados na Secretaria da Receita Federal/

Secretaria Estadual da Fazenda e usam equipamentos modernos para a produção

das bolsas, as quais possuem diversos modelos como: esportivas, malas para

viagens, escolares, infantis, necessaries, pochetes, bolsas para eventos de diversas

naturezas, etc. Estas empresas contam com um mercado consumidor formado por

óticas, casas de materiais esportivos e de construções, farmácias, casas de

revelação fotográfica, lojas de celulares etc., utilizando-as como brindes. Este

mercado consumidor está situado em todos os estados do Brasil, sobretudo Bahia,

Minas Gerais, Maranhão, Piauí, Distrito Federal, Goiânia, Rio de Janeiro e São

Paulo. A matéria-prima para a confecção dos produtos, principalmente a derivada do

petróleo como nylon, napa e bagum, em sua maior parte, é importada e a outra

como zíper, cursor, linha e tinta vem principalmente de Rio de Janeiro e São Paulo,

mas também já está sendo oferecida na própria cidade.

É importante ressaltar que estas fábricas foram originadas pelos próprios moradores

da cidade no início da década de 1990 e implantadas sem nenhum incentivo dos

órgãos públicos estadual e municipal, dispondo apenas de criatividade e recursos

próprios de seus fabricantes e, mesmo assim, conseguiram se consolidar na cidade

de Serrolândia e expandir seu mercado consumidor. Atualmente geram

aproximadamente 300 empregos diretos e contam com o processo de terceirização

da produção, contribuindo para uma produtividade em larga escala e em curto tempo

sem que os fabricantes tenham que se preocupar com os encargos sociais e as

condições de trabalho dos funcionários – o que pode ser um entrave para o

desenvolvimento local sustentável.

Considerando esta realidade, o trabalho objetiva analisar as contribuições e os

entraves da indústria de bolsas em Serrolândia-Ba para o desenvolvimento local

sustentável. É um estudo que versa sobre o entendimento da dinâmica do modo de

produção capitalista e suas marcas no processo de desenvolvimento da sociedade

serrolandense.

O referido trabalho também tem como intenção compreender como estas fábricas

utilizam as potencialidades locais; saber como se relacionam com os demais

agentes sociais locais; analisar o papel destas fábricas na geração de empregos e

Page 20: A INDÚSTRIA DE BOLSAS EM SERROLÂNDIA BA E OS (DES ...livros01.livrosgratis.com.br/cp110660.pdf · conservação do meio ambiente e diminuição das desigualdades sociais. 4

19

dinamização da economia local; verificar como o processo de terceirização da

produção interfere na qualidade do trabalho; bem como analisar os impactos

ambientais locais causados pela indústria de bolsas.

Com base nos objetivos estabelecidos, a pesquisa constitui-se num estudo de caso

que se serviu, primeiramente, do uso de fontes de análise bibliográfica em

bibliotecas e Internet, leitura de teses, dissertações, monografias, livros e demais

obras que tratam das concepções teóricas de desenvolvimento, Industrialização,

desenvolvimento local e sustentável. As reflexões de alguns autores como Augusto

de Franco (2000, 2002), Enrique Leff (2000, 2001), Guillermo Foladori (2001), Ignacy

Sachs (2002, 2004, 2007), Joyal e Martinelli (2004), Milton Santos (2001, 2004a,

2004b, 2005) entre outros, foram de extrema importância para a fundamentação

teórica e realização deste trabalho. Também realizei consultas em documentos do

Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Estado da Bahia – SEBRAE;

Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia – SEI; Instituto

Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE e dos órgãos públicos e entidades

sociais da cidade tais como: Prefeitura, Câmara Municipal e a Associação

Comercial, Industrial e Agropecuária de Serrolândia – ACIASE, bem como análise

dos dados e comparação com a base teórica.

Segundo Goldenberg (2005), o estudo de caso reúne uma grande quantidade de

informações detalhadas com o objetivo de apreender a totalidade de uma situação e

descrever a complexidade de um caso concreto e delimitado, sem prete nsão de

generalizar. Desta forma, a pesquisa desenvolve a abordagem qualitativa de caráter

exploratório, visando obter maior familiaridade com o problema pesquisado e levar

ao conhecimento da realidade.

A pesquisa qualitativa, diferente da visão positivista de objetividade e de separação

radical entre sujeito e objeto, visa compreender e explicar a dinâmica das relações

dos fenômenos em estudo para se obter o conhecimento, permite a contextualização

e interpretação da realidade, assim como a atribuição dos significados por

considerar que existe uma relação dinâmica entre o mundo objetivo e a

subjetividade (GOLDENBERG, 2005). Segundo Minayo (1994) a pesquisa qualitativa

responde a questões muito particulares, trabalha de maneira dinâmica com o mundo

Page 21: A INDÚSTRIA DE BOLSAS EM SERROLÂNDIA BA E OS (DES ...livros01.livrosgratis.com.br/cp110660.pdf · conservação do meio ambiente e diminuição das desigualdades sociais. 4

20

de significados, motivos, valores, crenças, atitudes; se adéqua a um espaço mais

profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não se restringem à

operacionalização de variáveis.

Para Martins (2004), a metodologia qualitativa privilegia a análise de micro

processos, através do estudo das ações sociais individuais e grupais com a

realização do um intensivo exame dos dados, tanto em amplitude quanto em

profundidade, que desafiam o pesquisador. Os dados obtidos qualitativamente

exigem do pesquisador uma capacidade integrativa e analítica. A coleta e análise

dos dados devem seguir uma flexibilidade e criatividade do pesquisador devido à

variedade de material obtido para o estudo. Desta forma, minha intenção não foi

utilizar a metodologia para fornecer as regras de como fazer a pesquisa ou seguir

um único padrão de trabalho científico, mas, permitir a reflexão aprofundada da

realidade de forma criadora.

Considerando, que a metodologia qualitativa nos permite trabalhar com a vivência, a

experiência, a cotidianidade e com a compreensão das organizações institucionais

(MINAYO, 1994), foram utilizadas técnicas como entrevistas orais, semi-estruturadas

e abertas à população, aos trabalhadores e fabricantes das fábricas, pessoas

envolvidas direta e indiretamente com o objeto de estudo, para obtenção de

informações. Entrevistamos também pessoas que desempenharam papéis

significativos na história da indústria de bolsas em Serrolândia as quais foram: Noel

Roque Rodrigues, primeiro fabricante de bolsas e cidadão serrolandense (quem

trouxe a experiência de outra cidade), e, Raulinda Maria Oliveira, primeira costureira

da fábrica de Noel. Foi feita observação da realidade através de visitas a campo em

dez fábricas para examinar o fenômeno em estudo. É importante registrar que das

dez fábricas existentes na cidade, não foi possível entrevistar todos os fabricantes,

apesar das várias tentativas, porque alguns não se mostraram interessados em

participar das entrevistas. Foram entrevistados apenas cinco empresários e, um

deles se recusou a gravar as informações, alegando evitar problemas futuros.

Contudo, os relatos serviram para embasar as discussões contidas no capítulo 5 (A

indústria de bolsas em Serrolândia e os (des) caminhos para o desenvolvimento

local sustentável).

Page 22: A INDÚSTRIA DE BOLSAS EM SERROLÂNDIA BA E OS (DES ...livros01.livrosgratis.com.br/cp110660.pdf · conservação do meio ambiente e diminuição das desigualdades sociais. 4

21

Vale ressaltar que, também obtivemos informações dos participantes da “Oficina de

Convivência Comunidade/Universidade, promovida pelo Mestrado Multidisciplinar

em Cultura Memória e Desenvolvimento Regional da Universidade do Estado da

Bahia (UNEB- Campus V) e realizada na cidade de Serrolândia, a qual tratou de

discussões sobre participação e política para o desenvolvimento local. Os

participantes da oficina opinaram sobre as concepções de desenvolvimento e

crescimento econômico, participação da sociedade civil, do governo local e do

mercado. As discussões estão contidas no capítulo 1 (Concepções de

Desenvolvimento e sua relação com a Industrialização).

Foram realizados três grupos focais de 10 integrantes cada: de jovens, de homens e

de mulheres dentre os moradores de Serrolândia. Tais grupos foram esclarecedores

quanto às informações referentes à implantação e atuação das fábricas de bolsas e

sua importância socioeconômica para a sociedade serrolandense, e, serviram para a

elaboração dos questionários e discussões em todo o trabalho. Vale ressaltar que o

grupo focal de jovens foi realizado no Colégio Estadual de Serrolândia – CES, com

alunos do Ensino Médio da zona urbana e rural do município. A faixa etária dos

participantes foi determinada a partir dos 16 anos de idade, por estes possuírem

mais experiência em relação ao conhecimento do objeto de estudo que são as

fábricas de bolsas. Os grupos focais de mulheres e homens foram realizados no

espaço do Centro Cultural de Serrolândia com pessoas convidadas de várias

instâncias sociais como: professores, comerciantes, representantes de associações,

funcionários públicos entre outros.

É importante destacar que, todos os grupos focais se mostraram interessados em

participar das entrevistas as quais se seguiram com o uso de gravador; e, nenhum

participante dos grupos se sentiu receoso em expor suas opiniões, sentimentos e

percepções em relação ao objeto de estudo. Destarte, os relatos dos grupos focais

facilitaram ainda mais a análise das contribuições e os entraves das fábricas de

bolsas para o desenvolvimento local sustentável de Serrolândia.

As entrevistas com os fabricantes de bolsas, grupos focais e demais segmentos

sociais envolvidos, direta ou indiretamente, com a indústria de bolsas de Serrolândia

ocorreram no período de 31 de agosto a 30 de outubro de 2008. A intenção de

Page 23: A INDÚSTRIA DE BOLSAS EM SERROLÂNDIA BA E OS (DES ...livros01.livrosgratis.com.br/cp110660.pdf · conservação do meio ambiente e diminuição das desigualdades sociais. 4

22

realizar as referidas entrevistas foi a de adquirir uma explanação mais detalhada do

objeto de estudo, bem como a elaboração dos questionários aplicados à população

e aos funcionários das fábricas de bolsas.

Apesar da importância das técnicas qualitativas para o estudo de caso, já que “[…]

não é possível formular regras precisas sobre as técnicas utilizadas […] porque cada

entrevista ou observação é única: depende do tema, do pesquisador e de seus

pesquisados” (GOLDENBERG, 2005, p. 34), não pude deixar de utilizar das

contribuições da pesquisa quantitativa com o uso de recursos e técnicas estatísticas.

Segundo E.Burges (1927 apud GOLDENBERG 2005 p. 30) “[…] os métodos da

estatística e dos estudos de caso não são conflitivos, mas mutuamente

complementares e que a interação dos dois métodos poderia ser muito fecunda”.

Minayo (1994) confirma esta idéia ao abordar que o conjunto de dados quantitativos

e qualitativos não se opõe, ao contrário, se complementam, pois a realidade

compreendida por eles interage de forma dinâmica excluindo qualquer dicotomia.

Segundo Goldemberg (2005) as comparações estatísticas podem sugerir pistas para

o estudo de caso. Desta forma, acreditando que a pesquisa quantitativa contribui

para a classificação e análise das opiniões e informações no estudo da minha

problemática, apliquei questionários a 120 pessoas, somando um total de 1% da

população absoluta local (12.120 habitantes, segundo dados do IBGE, 2007), bem

como 10% dos funcionários das 10 fábricas visitadas (30 pessoas) para a obtenção

de dados estatísticos sobre as informações analisadas. Cada questionário (Apêndice

I) continha quatro variáveis de análise (Sexo, Renda, Escolaridade e Idade), além de

14 questões para os funcionários e 13 para a população, concernentes à

importância da indústria de bolsas para Serrolândia, suas contribuições e os

entreves para o desenvolvimento local sustentável, o trabalho no interior das

fábricas, o processo de terceirização da produção e os impactos ambientais

causados pelas mesmas. Os questionários foram aplicados e tabulados entre os

meses de novembro de 2008 a janeiro de 2009 e os dados obtidos nos mesmos

auxiliaram as discussões do capítulo 5 desta dissertação, apresentando uma análise

da indústria de bolsas em Serrolândia e os (des) caminhos para o desenvolvimento

local sustentável.

Page 24: A INDÚSTRIA DE BOLSAS EM SERROLÂNDIA BA E OS (DES ...livros01.livrosgratis.com.br/cp110660.pdf · conservação do meio ambiente e diminuição das desigualdades sociais. 4

23

Como sabemos, não é a primeira vez que se discute sobre desenvolvimento e

industrialização, desenvolvimento local e sustentável no mundo acadêmico e

científico. No entanto, apesar da vasta literatura encontrada sobre esta temática,

acredito que a partir do estudo deste caso poderão surgir novas discussões e

debates com preocupações análogas, propiciando a ampliação do conhecimento

científico. A abordagem sobre esta temática implica no entendimento de questões

globais para chegar ao problema em estudo.

Portanto, esta dissertação divide-se em cinco capítulos: No primeiro – “Concepções

de Desenvolvimento e sua relação com a Industrialização” – optei por realizar uma

abordagem teórica sobre as redefinições do conceito de desenvolvimento e as

transformações socioespaciais ocorridas no mundo ao longo do tempo pela ação

humana, assim como, a discussão sobre a visão distorcida de desenvolvimento

como sinônimo de crescimento. Este capítulo está dividido em sub-capítulos os

quais abordam as concepções de desenvolvimento e seu caráter multidimensional,

bem como a relação entre desenvolvimento e indústria com ênfase na Revolução

Industrial e suas marcas na organização das sociedades.

O segundo capítulo, intitulado “Desenvolvimento Local como nova alternativa frente

aos impactos da Globalização”, traz a discussão sobre desenvolvimento local em

tempos de globalização e a importância da descentralização político-administrativa

para estimular este processo com alocação de recursos para o local, bem como o

fortalecimento das pequenas e médias empresas através de iniciativas econômicas

e sociais. Em seus sub-capítulos discutimos as visões de desenvolvimento local e os

fatores que contribuem para tornar dinâmicas as potencialidades de uma dada

localidade. Dá ênfase ao desenvolvimento endógeno e aos capitais, humano, social

e natural, que devem ser empregados no processo de desenvolvimento local, como

também à abordagem da metodologia de Desenvolvimento Local Integrado

Sustentável – DLIS enquanto nova estratégia para melhorar a qualidade de vida das

populações e garantir a inserção econômica de determinados locais no mundo

globalizado.

No terceiro capítulo – “Desenvolvimento Local Sustentável: Concepções e desafios”

– também é feita uma discussão teórica sobre a crise ambiental mundial, as

Page 25: A INDÚSTRIA DE BOLSAS EM SERROLÂNDIA BA E OS (DES ...livros01.livrosgratis.com.br/cp110660.pdf · conservação do meio ambiente e diminuição das desigualdades sociais. 4

24

concepções de desenvolvimento sustentável e sustentabilidade. Neste capítulo é

dada uma ênfase sobre a preocupação mundial referente à extração dos recursos

naturais e consumo de energia e matéria, provocada principalmente pelos modelos

tradicionais de desenvolvimento e crescimento econômicos e pelas relações

capitalistas de produção. Seus sub-capítulos abordam os dilemas e desafios

encontrados para se obter a efetivação do desenvolvimento sustentável na realidade

atual. A abordagem das cinco dimensões de sustentabilidade – social, econômica,

ecológica (ou ambiental), espacial e cultural – foi necessária para percebermos que

esta pode ser considerada como o meio fundamental para introduzir o meio

ambiente nas discussões referentes à necessidade de implementação de políticas

públicas em todos os Estados e organismos internacionais. Assim, evidenciei o

estudo das dimensões econômica e ambiental de sustentabilidade, as quais estão

relacionadas diretamente com objeto desta pesquisa.

No quarto capítulo, intitulado “A cidade de Serrolândia/Ba e a chegada das fábricas

de bolsas” é feita a caracterização do município de Serrolândia, apresentando os

seus aspectos geográficos e históricos; também traz uma abordagem do processo

de implantação das fábricas de bolsas nesta cidade e a caracterização desta

atividade industrial para situar o leitor em relação ao problema da pesquisa.

Finalmente, no quinto capítulo – “A indústria de bolsas em Serrolândia e os (des)

caminhos para o desenvolvimento local sustentável” – a abordagem se baseia na

análise da realidade das fábricas de bolsas no que tange às suas contribuições e

entraves para o desenvolvimento local sustentável. Neste capítulo utilizei as

informações adquiridas na pesquisa de campo e nos questionários aplicados à

população e aos funcionários das fábricas de bolsas. A discussão também está

relacionada à concepção de desenvolvimento local sustentável na visão da

população serrolandense, bem com a existência ou não deste modelo de

desenvolvimento na cidade de Serrolândia, segundo a opinião dos entrevistados.

Nas considerações finais apresento o conjunto de observações e reflexões

desenvolvidas neste trabalho de pesquisa, bem como aponto sugestões de

mudança e superação dos problemas existentes, principalmente em relação às

contribuições e os entraves das fábricas de bolsas em Serrolândia para o

Page 26: A INDÚSTRIA DE BOLSAS EM SERROLÂNDIA BA E OS (DES ...livros01.livrosgratis.com.br/cp110660.pdf · conservação do meio ambiente e diminuição das desigualdades sociais. 4

25

desenvolvimento local sustentável. Portanto, considero que este trabalho é de

extrema importância para a sociedade serrolandense, por contribuir para um olhar

mais crítico sobre práticas e relações sociais desta cidade, bem como para a

discussão do tema desenvolvimento local sustentável

Page 27: A INDÚSTRIA DE BOLSAS EM SERROLÂNDIA BA E OS (DES ...livros01.livrosgratis.com.br/cp110660.pdf · conservação do meio ambiente e diminuição das desigualdades sociais. 4

26

1 CONCEPÇÕES DE DESENVOLVIMENTO E SUA RELAÇÃO COM A

INDUSTRIALIZAÇÃO

Quem espera sempre alcança. Eu espero e não me canso. Cantando a gente avança. Para depois ter descanso. Cheguei trazendo esperança. Cantando em tempo de avanço.

(Em tempo de Avanço – Almir Sater).

As constantes transformações políticas, sociais, culturais e ambientais ocorridas no

mundo ao longo do tempo histórico estão diretamente re lacionadas à capacidade do

homem em organizar-se e viver em comunidade. A espécie humana produz cultura e

acumula conhecimento, apropria-se cada vez mais do meio natural transformando-o

para satisfazer suas necessidades, tanto biológicas quanto socioculturais. A

presença do homem no planeta é muito recente, porém já se disseminou por quase

toda a superfície terrestre e as distintas modificações que imprimiu e continua

imprimindo são enormes. Vale ressaltar que o homem é um ser social, político e

agente da história que, através da ação do trabalho no seu cotidiano e o uso de

novas técnicas e instrumentos, produz o espaço geográfico, transforma a natureza e

constitui o ambiente em que vivemos. Isto ocorre através das relações dialéticas

estabelecidas na sociedade em que vive e entre esta e a natureza, a qual vem se

tornando cada vez mais artificializada.

As sociedades em seus processos de desenvolvimento e com o uso das ciências

passam a produzir mais, consumir cada vez mais energia e matéria, fabricar e

comercializar diversos produtos, acumular riquezas e transformar o meio natural. É

nesse cenário de transformações pelas quais passam as civilizações

contemporâneas que o termo desenvolvimento se apresenta, sobretudo nas ciências

humanas e ambientais, sendo necessário seu entendimento para que possamos

avaliá-lo, seja sob um aspecto negativo ou positivo. É importante destacar sua

relação com o processo de industrialização, os impactos causados na sociedade

moderna e, numa escala local, na sociedade serrolandense, especificamente devido

à dinâmica da produção de bolsas personalizadas, objeto de estudo desta pesquisa,

como veremos detalhadamente nos próximos capítulos.

Page 28: A INDÚSTRIA DE BOLSAS EM SERROLÂNDIA BA E OS (DES ...livros01.livrosgratis.com.br/cp110660.pdf · conservação do meio ambiente e diminuição das desigualdades sociais. 4

27

O desenvolvimento é um processo dinâmico que não atinge todos os espaços ao

mesmo tempo e se apresenta numa multiplicidade de escalas, desde a global até a

local, com características distintas. O desenvolvimento também apresenta

dimensões econômica, social, cultural e ambiental.

O conceito de desenvolvimento vem sendo redefinido a partir dos debates e

reflexões acerca do tema, apontando novas compreensões, principalmente, com as

mudanças nas configurações políticas e territoriais que se acentuaram na década de

1940. Nesse período, estava ocorrendo o processo de colonização européia,

sobretudo na África e na Ásia, e os problemas advindos da Segunda Guerra Mundial

(1939-1945). Os países, especialmente os envolvidos na guerra, tiveram intenção de

se livrarem da pobreza, do desemprego em massa, das desigualdades sociais,

econômicas, entre outros problemas (OLIVEIRA; SOUZA-LIMA, 2006). A intenção

era promover o progresso e a melhora das condições de vida da população de

várias regiões do mundo, visando à reconstrução do pós-guerra, com a necessidade

da intervenção do Estado nos assuntos econômicos para criarem condições de

obterem seguridade econômica e social. Segundo Sachs (2004):

[…] a reflexão sobre desenvolvimento tal como se conhece hoje, começou nos anos 40, no contexto da preparação dos anteprojetos para a reconstrução da periferia devastada da Europa no pós-guerra. Refugiados antifascistas húngaros, poloneses e alemães, residentes na Grã-Bretanha, foram mobilizados para esta tarefa, na suposição de que o Leste Europeu não cairia sob a influência soviética – a conferência de Yalta não tinha acontecido ainda (SACHS, 2004, p. 30).

Segundo Oliveira e Souza-Lima (2006), a Organização das Nações Unidas (ONU)

criada em 1945 para manter a paz e a segurança mundial, apoiada em instituições

internacionais, também contribuiu significativamente para os debates acerca do

conceito de desenvolvimento. A ONU criou vários programas e organismos

especiais, para tratar dos problemas econômicos, sociais, ambientais, culturais e

humanitários dos países aliados, visando elevar os níveis de desenvolvimento e

melhorar a qualidade de vida e as liberdades fundamentais das pessoas.

Page 29: A INDÚSTRIA DE BOLSAS EM SERROLÂNDIA BA E OS (DES ...livros01.livrosgratis.com.br/cp110660.pdf · conservação do meio ambiente e diminuição das desigualdades sociais. 4

28

A redefinição do conceito de desenvolvimento se acentuou, sobretudo, a partir da

década de 1970, devido ao longo do tempo ter sido adotado alguns padrões de

desenvolvimento, nas sociedades humanas, de caráter insustentável que

impulsionaram os problemas socioeconômicos citados anteriormente, bem como, o

processo de degradação ambiental, o qual se acelerou neste período. Estes

problemas ocasionaram uma grande crise com o acelerado uso e depreciação dos

recursos naturais para atender às exigências do processo internacional de

industrialização de bens e consumo. As reflexões foram realizadas por intelectuais,

movimentos sociais e ecológicos, pela mídia e por Organizações Não

Governamentais (ONGs) nacionais e internacionais, devido à preocupação com as

constantes agressões ao meio ambiente. Com a necessidade de se integrar o meio

ambiente às estratégias de desenvolvimento, este ganhou novas conotações, como

ecodesenvolvimento e atualmente desenvolvimento sustentável (SACHS, 2004),

como veremos mais adiante.

Uma nova discussão que vem sendo muito debatida e que será mais bem

trabalhada no próximo capítulo, é sobre a concepção de desenvolvimento local,

frente aos fluxos da globalização em curso, reestruturação do modo de produção

industrial e novas demandas do mercado. Este processo de desenvolvimento se

propõe a apresentar novos agentes sociais que se articulem e, através de ações e

alternativas coletivas, visem dinamizar as potencialidades de uma dada comunidade,

região, cidade, ou seja, a partir das pessoas que vivem num dado local ou unidade

socioterritorial delimitada. È um processo em que seus agentes orientem para novas

formas de produção que assegurem a conservação dos recursos naturais, gerem

empregos e superem a pobreza (BUARQUE, 2002; FRANCO, 2000).

1.1 Concepções de Desenvolvimento

Sabemos da dificuldade de se estabelecer uma ordem teórico-metodológica sobre a

concepção de desenvolvimento já que o conceito é bastante complexo e amplo,

Page 30: A INDÚSTRIA DE BOLSAS EM SERROLÂNDIA BA E OS (DES ...livros01.livrosgratis.com.br/cp110660.pdf · conservação do meio ambiente e diminuição das desigualdades sociais. 4

29

além de apresentar um caráter multidimensional1 e estar presente nos diversos

setores que compõem a sociedade. Alguns autores acreditam que o conceito tem

um caráter fugidio, embora necessite ter um caráter operacional (SACHS, 2004).

Segundo Mendes (in Cavalcanti, 1998) o desenvolvimento é considerado como uma

criação de condições propensas à produção do ser humano em sua integridade. O

autor acredita que o desenvolvimento econômico é importante, mas é preciso

incorporar objetivos e destinar-se a certos fins como alimento, abrigo, educação,

saúde, etc., para promover o desenvolvimento humano. Contudo, podemos dizer

que o termo desenvolvimento pressupõe progresso, mudança e evolução, seja esta

social ou natural, atrelada aos avanços tecnológicos para atender aos interesses e

às necessidades fundamentais de uma dada sociedade.

As transformações sócio-históricas influenciaram ideologicamente na gênese e

legitimação do conceito de desenvolvimento. Em termos históricos a idéia

encontrada na Antiguidade Clássica é a de atender às necessidades humanas e,

através de uma harmonia social, alcançar o bem-estar para todas as pessoas e

reparar as desigualdades existentes nas sociedades, sendo que o interesse

individual deve estar ligado a um projeto de bem comum (ANDION, 2003).

Contudo, com o advento do capitalismo, principalmente a partir do século XVIII, com

a Primeira Revolução Industrial, o interesse coletivo de bem-estar social recai sobre

uma forma de interesse pessoal de ambição e acumulação que se legitima na

sociedade que surge. Em muitas partes do mundo, onde se valorizou a busca

desenfreada pela industrialização e a preocupação de muitos países em acumular

mais riquezas materiais, o conceito de desenvolvimento foi reduzido, sobretudo à

sua dimensão econômica, sendo realizado através de uma centralização por parte

de uma minoria dominadora e hegemônica das classes sociais e dos diversos

países do mundo. É o chamado desenvolvimento desigual do capitalismo com a

expressão geográfica da contradição (SMITH, 1988).

1 Oliveira e Souza-Lima (2006) afirmam que o desenvolvimento pode ser encarado como um

processo complexo de mudanças e transformações de ordem econômica, política e, principalmente, humana e social.

Page 31: A INDÚSTRIA DE BOLSAS EM SERROLÂNDIA BA E OS (DES ...livros01.livrosgratis.com.br/cp110660.pdf · conservação do meio ambiente e diminuição das desigualdades sociais. 4

30

Podemos concluir que alguns autores discutem o conceito de desenvolvimento a

partir do aspecto quantitativo, associado ao conceito de crescimento econômico

medido pelo Produto Interno Bruto (PIB), renda per capta e PIB per capta. Esta é

uma visão clássica que considera o desenvolvimento como foco de acumulação de

riqueza material, monetária, a partir do crescimento das forças produtivas, e do

aumento do nível de renda, bens e serviços – concentrados nas mãos de uma

minoria dominante –, sendo o crescimento econômico condição favorável para o

alcance da meta do desenvolvimento econômico (FAVERO, 2002). Camargo (2003,

p. 29), afirma que nesta visão clássica “[…] o desenvolvimento usa os recursos

humanos, financeiros a infra-estrutura e os recursos naturais, compromissado com a

idéia de lucro gerador do progresso”. Nesse caso, não há uma preocupação de

como a renda é distribuída e se as desigualdades (como vemos entre os países

desenvolvidos e os subdesenvolvidos), a pobreza e o desemprego são atenuados.

Os economistas ligados à Comissão Econômica para a América Latina e Caribe

(CEPAL), que discutem sobre os rumos das economias latino-americanas,

apresentaram uma distinção entre desenvolvimento e crescimento econômico, O

primeiro é o resultado de mudanças qualitativas enquanto que o segundo é

considerado como o processo de mudanças quantitativas, tanto econômica quanto

socialmente. Confirmando esta afirmação Sachs (2004) traz uma contribuição

acerca da visão distorcida de que o desenvo lvimento é sinônimo de crescimento, e

acrescenta alguns elementos importantes para o entendimento do tema:

O crescimento, mesmo que acelerado, não é sinônimo de desenvolvimento se ele não amplia o emprego, se não reduz a pobreza e se não atenua as desigualdades, conforme enfatizado, desde os anos 1960, por M. Kalecki e Dudley Seers. De acordo com o mesmo raciocínio, não é suficiente promover a eficiência alocativa. O desenvolvimento exige, conforme mencionado, um equilíbrio de sintonia fina entre cinco diferentes dimensões. Ele também exige que se evite a armadilha da competitividade espúria e, em última instância, autodestrutiva, com base na depreciação da força de trabalho e dos recursos naturais (SACHS, 2004, p. 14).

Desta forma, o desenvolvimento vai além da concepção de crescimento econômico

que acaba sendo excludente, e concentrador, pois, como já foi comentado, não há

uma preocupação com o fato de que grande parte da população será excluída desse

processo. Sachs (2004), ao discutir sobre os padrões de crescimento econômico

Page 32: A INDÚSTRIA DE BOLSAS EM SERROLÂNDIA BA E OS (DES ...livros01.livrosgratis.com.br/cp110660.pdf · conservação do meio ambiente e diminuição das desigualdades sociais. 4

31

afirma que só há desenvolvimento quando o crescimento econômico for promovido

com impactos sociais e ambientais positivos, como mostra o Quadro 1 a seguir:

Impactos sociais

Impactos ambientais

1- Desenvolvimento + +

2- Selvagem - -

3- Socialmente benigno + -

4- Ambientalmente benigno

- +

Quadro 1: Padrões de Crescimento Econômico Fonte: SACHS, 2004, p. 36.

Por outro lado, Celso Furtado (1996) nos apresenta uma idéia diferente: a de que o

desenvolvimento econômico possui algumas características, como concentração da

riqueza da terra, da renda e do poder das forças hegemônicas da economia. O autor

afirma que, além de promover a competitividade e a desigualdade social e

econômica, como também a extração ilimitada dos recursos naturais renováveis e

não-renováveis e o consumo desenfreado pelas populações, esse desenvolvimento

não passa de um mito:

Temos assim a prova cabal de que o desenvolvimento econômico – a idéia de que os povos pobres podem algum dia desfrutar das formas de vida dos atuais povos ricos – é simplesmente irrealizável. […] Cabe, portanto, afirmar que a idéia de desenvolvimento econômico é um simples mito. Graças a ela, tem sido possível desviar as atenções da tarefa básica de identificação das necessidades fundamentais da coletividade e das possibilidades que abrem ao homem o avanço da ciência, para concentrá-las em objetivos abstratos, como são os investimentos, as exportações e o crescimento (FURTADO, 1996, p. 89-90).

Veiga (2005) cita os relatórios elaborados pelo Programa das Nações Unidas para o

Desenvolvimento (PNUD) e afirma que o desenvolvimento:

[…] tem a ver, primeiro e acima de tudo, com a possibilidade de as pessoas viverem o tipo de vida que escolheram, e com a provisão dos instrumentos e das oportunidades para fazerem as suas escolhas. E, ultimamente o Relatório do Desenvolvimento Humano tem insistido que essa é uma idéia tão política quanto econômica. Vai desde a proteção dos direitos humanos até o aprofundamento da democracia (VEIGA, 2005, p. 81).

Page 33: A INDÚSTRIA DE BOLSAS EM SERROLÂNDIA BA E OS (DES ...livros01.livrosgratis.com.br/cp110660.pdf · conservação do meio ambiente e diminuição das desigualdades sociais. 4

32

O autor critica a idéia de que o desenvolvimento pode ser medido pelo Índice de

Desenvolvimento Humano (IDH) que é uma média comparativa (de 0 a 1) dos

índices de renda, escolaridade e longevidade. Acredita que o IDH não é “[…] uma

medida compreensiva, pois não inclui, por exemplo, a capacidade de participar nas

decisões que afetam a vida das pessoas e de gozar do respeito dos outros na

comunidade” (VEIGA, 2005, p. 87), mesmo assinalando a diferença entre

rendimento e bem-estar de uma determinada comunidade.

Numa avaliação do desenvolvimento econômico da década de 1970, alguns

economistas concluíram que o crescimento não traz justiça social e que não devem

ser implementados programas de redistribuição de renda de cima para baixo. Nesta

perspectiva, afirma-se que é necessário compreender que a satisfação das

necessidades dos pobres e de todos os seres humanos inclui também a liberdade, a

participação e o acesso à cultura. Este argumento nos leva a uma inquietação: como

implementar a participação popular num mundo capitalista marcado por contradições

de classe, numa sociedade de dominantes e dominados? Amartya Sen (2000)

responde a esta pergunta ao afirmar que o desenvolvimento requer remoção das

fontes de privação da liberdade que são: a pobreza, carência de oportunidades

econômicas, repressão social e política, negligência dos serviços públicos, etc. A

privação da liberdade vincula-se à carência de serviços públicos e assistência social

(principalmente a educação) ou intolerância excessiva de Estados repressivos.

Segundo Sen (2000) existem tipos distintos de liberdades – políticas, facilidades

econômicas e oportunidades sociais bem como a garantia de transparência e

segurança protetora –, ou seja, liberdades humanas ou liberdades reais que devem

ser expandidas através do desenvolvimento. “[…] ter mais liberdade melhora o

potencial das pessoas para cuidar de si mesmas e para influenciar o mundo,

questões centrais para o processo de desenvolvimento” (SEN, 2000, p.33). Souza

(2002), discutindo sobre o desenvolvimento sócio-espacial, afirma que a autonomia

também faz parte deste processo, ou seja, a autonomia individual e coletiva, que

concilia o respeito à alteridade com a exigência de igualdade, é parâmetro essencial

do desenvolvimento sócio-espacial.

Page 34: A INDÚSTRIA DE BOLSAS EM SERROLÂNDIA BA E OS (DES ...livros01.livrosgratis.com.br/cp110660.pdf · conservação do meio ambiente e diminuição das desigualdades sociais. 4

33

Essa afirmação ajuda-nos a compreender que uma concepção adequada de

desenvolvimento deve ir muito além da acumulação de riqueza, o aumento da renda

per capta e do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) e Produto Nacional Bruto

(PNB). O desenvolvimento deve estar relacionado com a melhora da vida que

levamos, assegurando, a partir da autonomia, o nosso bem-estar e as liberdades de

que desfrutamos, considerando o número de pessoas que têm acesso a serviços de

saúde, saneamento básico, educação, emprego remunerado, segurança econômica

e social. Essa afirmação se evidencia no posicionamento de algumas pessoas da

comunidade de Serrolândia, em entrevista realizada na Oficina de Convivência

Comunidade/Universidade2 promovida pelo Mestrado Multidisciplinar em Cultura

Memória e Desenvolvimento Regional da Universidade do Estado da Bahia (UNEB-

Campus V), como nos mostra a fotografia a seguir:

Foto 1: Oficina de Convivência Comunidade/Universidade Elaboração: Ivaneide Santos, maio de 2007.

A Foto 1 mostra a realização da dinâmica de integração ocorrida na oficina sobre o

tema desenvolvimento. No centro os participantes colocaram seus posicionamentos,

2 A Oficina de Convivência Comunidade/Universidade foi realizada na cidade de Serrolândia

no dia 26 de maio de 2007, com a participação de 30 pessoas dentre elas, representantes das fábricas de bolsas. O tema central da oficina foi “Participação e política para o Desenvolvimento Local” com ênfase na realidade de Serrolândia.

Page 35: A INDÚSTRIA DE BOLSAS EM SERROLÂNDIA BA E OS (DES ...livros01.livrosgratis.com.br/cp110660.pdf · conservação do meio ambiente e diminuição das desigualdades sociais. 4

34

os quais foram: em Serrolândia não há desenvolvimento, mas sim crescimento

econômico promovido pelas fábricas de bolsas; os recursos existem, mas são mal

administrados; a educação tem progredido, mas falta mais empenho por parte do

poder público; o desenvolvimento só será possível com educação através de

investimentos por parte do poder público que, também deve proporcionar melhores

oportunidades de trabalho.

Diante da intervenção dos participantes da Oficina de Convivência

Comunidade/Universidade e dos argumentos defendidos, observamos que algumas

pessoas têm uma visão mais ampla de desenvolvimento, em conformidade com a

concepção dos autores citados anteriormente. Nesta perspectiva, o crescimento

econômico é acompanhado de melhoria na qualidade de vida e preservação dos

ambientes naturais a partir dos indicadores de bem-estar econômico e social. Neste

sentido, devem ser levados em conta a redução dos níveis de pobreza, desemprego

e desigualdade, além da melhoria nos níveis de saúde, educação, moradia e

transporte.

Confirmando essa idéia, Joyal e Martinelli (2004) ao questionarem as análises do

desenvolvimento econômico que considera apenas as questões financeiras,

tributárias e de geração de receitas, apontam para a necessidade de um enfoque

sistêmico, integrando outras variáveis sócio-culturais:

[…] para avaliar o desenvolvimento, também devem ser consideradas variáveis políticas, tecnológicas, sociais, ambientais e de qualidade de vida da população. Algumas delas são de natureza pluridimensional, como a qualidade de vida, que abarca, entre outros índices, o acesso à educação, as opções culturais, as condições de atendimento médico, a previdência social e o lazer da população. Assim, não se pode mais simplesmente considerar índices isolados, como renda per capita, para indicar o grau de desenvolvimento de uma sociedade, visto que o complexo sentido do conceito deve abranger toda a expressão do termo humanidade (JOYAL; MARTINELLI, 2004, p. 52).

Diante da opinião dos autores, podemos concluir que a dimensão cultural do

desenvolvimento se apresenta com bastante evidência, sendo esta um aspecto

qualitativo que não pode ser medido e quantificado. Os valores prevalecentes como

os costumes sociais, os aspectos ligados aos direitos humanos, as liberdades

Page 36: A INDÚSTRIA DE BOLSAS EM SERROLÂNDIA BA E OS (DES ...livros01.livrosgratis.com.br/cp110660.pdf · conservação do meio ambiente e diminuição das desigualdades sociais. 4

35

individuais e coletivas e a conquista do conhecimento são fatores que existem nesta

concepção e devem ser assegurados, assim como a justiça social e ambiental.

Destarte, a qualidade de vida é uma variável imprescindível, além disso, deve-se

assegurar o aumento da participação efetiva de todos os cidadãos na tomada de

decisão que lhes digam respeito.

Segundo Werthein (2003), para a Organização das Nações Unidas para a

Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) o significado da cultura é indissociável

do processo de desenvolvimento. O autor afirma que, conhecendo o funcionamento

da cultura de um lugar, podemos melhorar a organização do processo de produção

e acesso aos bens culturais a partir da melhoria das condições de vida, defesa do

meio ambiente e as condições de promoção da paz.

Wertein (2003, p. 16) trata da cultura como capital social; “[…] é um setor que tem

como matérias-primas a inovação e a criatividade […] é peça-chave da economia do

conhecimento e pode significar um estímulo permanente para outros setores”. Para

o autor, a cultura pode mobilizar as pessoas a terem atitudes em prol do

desenvolvimento sustentado com participação e respeito ao lugar onde vivem e ao

ambiente. Leff (2000) colabora com essa discussão ao afirmar que a cultura:

[…] entendida como as formas de organização simbólica do gênero humano, remete a um conjunto de valores, formações ideológicas e sistemas de significação, que orientam o desenvolvimento técnico e as práticas produtivas, e que definem os diversos estilos de vida das populações humanas no processo de assimilação e transformação da natureza (LEFF, 2000, p. 122-123).

Portanto, com base nas abordagens das concepções de desenvolvimento feitas

pelos autores citados anteriormente, podemos concluir que a concepção de

desenvolvimento deve ser entendida levando em consideração todas as suas

dimensões: econômica, social, ambiental e cultural. Destarte, poderemos ter um

desenvolvimento que conjugue crescimento econômico com melhora das condições

de vida de toda a população, utilizando os recursos naturais de forma equilibrada e

valorizando a vida.

Page 37: A INDÚSTRIA DE BOLSAS EM SERROLÂNDIA BA E OS (DES ...livros01.livrosgratis.com.br/cp110660.pdf · conservação do meio ambiente e diminuição das desigualdades sociais. 4

36

1.2 Desenvolvimento e Industrialização

No que tange à relação do desenvolvimento com o processo de industrialização,

podemos dizer que o principal interesse de ambos é o progresso3, o avanço, a

modernização e a mudança tecnológica para a melhoria dos modos de produção

social e econômica com a obtenção de riqueza e lucro. A industrialização, do ponto

de vista de muitos economistas e das nações industrializadas, é a chave do

desenvolvimento e do aumento do padrão de grande parte das populações.

A Revolução Industrial, que deu início à fase do capitalismo industrial em meados do

século XVIII, representou uma enorme transformação para a humanidade com a

aplicação de novas tecnologias e maneiras de dominação da natureza e controle

social, principalmente pela via econômica do desenvolvimento. Oliveira e Souza-

Lima (2006) explicam como se apresenta essa relação entre desenvolvimento e

industrialização na perspectiva da economia e ao mesmo tempo apontam algumas

críticas sobre o jogo de interesses de muitos países:

Na literatura especializada em economia é muito comum associar desenvolvimento com industrialização, por ser a indústria responsável por incrementos positivos no nível do produto, no assim chamado crescimento econômico. Isso ocorre, principalmente, devido a ampliação da atividade econômica advinda dos efeitos de encadeamento oriundos do processo de industrialização. Tais efeitos servem para aumentar a crença de que a industrialização é indispensável para obterem melhores níveis de crescimento e de qualidade de vida. Essa é a razão pela qual todos os países do mundo almejam tanto industrializar seu território (OLIVEIRA; SOUZA-LIMA, 2006, p. 24).

Com essa idéia de buscar o desenvolvimento por meio da industrialização o mundo,

desde então, tem sido moldado para atender aos interesses do setor industrial. As

relações sociais e territoriais foram modificadas, a cultura e a técnica se difundiram

em todos os espaços, aprofundou-se a competição entre os povos, a população

passou a se concentrar mais no espaço urbano, provocando o crescimento cada vez

3 Segundo Camargo (2003) o enfoque do modelo industrial de desenvolvimento sobre o qual

se estabeleceu a sociedade moderna tem como pressuposto básico a idéia de progresso, ou seja, as sociedades podem progredir em direção a patamares cada vez mais elevados de riqueza material.

Page 38: A INDÚSTRIA DE BOLSAS EM SERROLÂNDIA BA E OS (DES ...livros01.livrosgratis.com.br/cp110660.pdf · conservação do meio ambiente e diminuição das desigualdades sociais. 4

37

maior das cidades. Junto com o avanço do progresso na produção industrial surgiu

também uma crescente oferta de matéria-prima, mão-de-obra e mercados

consumidores.

No Brasil a idéia da relação entre indústria e desenvolvimento avança a partir da

década de 1930, com a tentativa, por parte do governo federal, de adotar um modelo

de desenvolvimento nacional de caráter industrial em virtude das transformações em

curso da sociedade brasileira, sobretudo, pelos efeitos da quebra da bolsa de Nova

York sobre a agricultura cafeeira brasileira. Brum (1999) comenta sobre o projeto de

industrialização daquele período, afirmando que:

Tentaram implementar um projeto de industrialização do país, com o objetivo de retirá-lo do atraso e impulsioná-lo rumo ao progresso e a construção de sua grandeza. Na visão dos novos detentores do poder central, a industrialização era tida como a chave do desenvolvimento. Ao lado de uma agricultura forte, era fundamental a implantação e expansão de um parque industrial próprio, a exemplo das nações européias e dos Estados Unidos da América. (BRUM, 1999, p. 191).

Não obstante, sabemos que desde o seu surgimento, a indústria tem provocado o

uso intensivo das diferentes técnicas de produção capitalista e novas fontes de

energia para a fabricação de mercadorias em grande escala, a extração e

transformação dos recursos naturais. Esta atividade está vinculada ao avanço nos

meios de transportes de mercadorias e pessoas, ampliando as fronteiras geográficas

que interligam as diferentes regiões do globo terrestre, e também, a inovação dos

meios de comunicação, com a rapidez nas informações simultâneas aos

acontecimentos dos fatos em nível planetário.

É pertinente também explicar o papel das indústrias como agentes produtores e

modificadores do espaço e das relações sociais e territoriais em função dos

intereses do capital. A indústria provoca impactos positivos e/ou negativos nas

diversas escalas socioespaciais e ambientais, seja de ordem local, regional ou

global, no campo ou na cidade.

Segundo Carlos (1990), enquanto a atividade agrícola ocupa grandes extensões do

planeta, a atividade industrial se concentra em pontos do espaço, todavia, essa

Page 39: A INDÚSTRIA DE BOLSAS EM SERROLÂNDIA BA E OS (DES ...livros01.livrosgratis.com.br/cp110660.pdf · conservação do meio ambiente e diminuição das desigualdades sociais. 4

38

concentração tem a capacidade de produzir e desenvolver a articulação e integração

de vários lugares no planeta, através do mercado e da divisão espacial e

internacional do trabalho. A atividade industrial apresenta como principais

características o grande aumento na divisão do trabalho, notáveis progressos em

produtividade industrial e agrícola e crescimento rápido da renda da classe média

urbana, além da acumulação dos bens de produção capitalista.

A partir do surgimento da indústria houve uma conversão da economia rural para

uma dominada pela maquinofatura urbana principalmente na Europa. A indústria,

enquanto “Conjunto de atividades produtivas que se caracterizam pela

transformação de matérias-primas, de modo manual ou com auxílio de máquinas e

ferramentas, no sentido de fabricar mercadorias” (SANDRONI, 2006, p. 425), é

responsável pelas grandes transformações urbanas, pela multiplicação de diversos

ramos de serviços que caracterizam a cidade moderna. Além disso, introduziu um

novo modo de vida e novos hábitos de consumo, criou novas profissões, promoveu

uma nova configuração da sociedade e uma nova relação desta com a natureza.

Santos (2004a) afirma que, com a indústria aumenta a tendência de diversificação

da natureza por forças sociais, graças às técnicas criadas e desenvolvidas pelo

homem através das novas formas de energia comandadas por ele. Estas técnicas

interferem em todas as fases do processo de produção e com isto constrói-se cada

vez mais uma segunda natureza, a humanizada ou artificial, imprimindo novos

padrões de comportamento e valores sociais com suas manifestações de conflitos e

contradições.

O marco precursor do desenvolvimento da indústria no mundo foi a Primeira

Revolução Industrial iniciada na Inglaterra em meados do século XVIII que se

estendeu ao longo do século XIX (SANDRONI, 2006). Este período foi marcado por

uma significativa modernização da economia e da estrutura social, com o

aperfeiçoamento e, posteriormente, a substituição da ferramenta do artesanato e da

manufatura pela máquina, da energia humana, hidráulica e animal pela energia

motriz, além da consolidação do sistema capitalista como modo de produção

dominante. Carlos (1990) complementa esta afirmação, proferindo que:

Page 40: A INDÚSTRIA DE BOLSAS EM SERROLÂNDIA BA E OS (DES ...livros01.livrosgratis.com.br/cp110660.pdf · conservação do meio ambiente e diminuição das desigualdades sociais. 4

39

A Revolução Industrial longe de se apresentar como um fenômeno técnico significou uma transformação na ciência, nas idéias e nos valores da sociedade. Significou também trocas no volume e na distribuição da riqueza centrada, até então, no monopólio da nobreza que lhe conferia também o poder político. Por sua vez, é produto de um processo histórico do desenvolvimento das forças produtoras e do princípio da especialização assentada na divisão do trabalho, já que o homem não produzia mais para auto-subsistência (CARLOS, 1990, p. 28).

Por conseguinte, o processo de industrialização contribuiu muito para o progresso

mundial, porém, trouxe consigo muitos problemas sociais e ambientais já citados

anteriormente. Além destes, podemos citar a situação do trabalhador que, deixando

sua vida no campo (em alguns casos, devido às disputas pelas terras nos campos

ingleses que provocaram os cercamentos) para habitar na cidade e trabalhar na

fábrica, passou a viver em situação de miséria com péssimas condições de

habitação e trabalho com altas jornadas diárias e baixos salários.

O trabalhador da fábrica teve que aprender a conviver com novas condições de vida

e sobreviver em cortiços sem saneamento básico, o que levou ao surgimento de

várias doenças como a cólera, o tifo e a tuberculose, devido à pobreza que crescia

cada vez mais. Atrelada a isso, houve a exploração do trabalho feminino e infantil e

o desemprego, desencadeando greves e problemas sociais, psicológicos e políticos,

devido ao uso de técnicas de poder disciplinar4 por parte dos empresários para

controlar as ações do trabalhador.

O atual período também chamado de meio técnico-científico-informacional

(SANTOS, 2004a) tem uma grande parcela de contribuição no que se refere aos

avanços nos modos de produção, a exemplo do que ocorreu no início da Primeira

Revolução Industrial, só que agora de forma extremamente veloz. É uma fase de

reestruturação tecnológica e industrial que promove, de um lado, o desenvolvimento

econômico e a acumulação de capital concentrado nas mãos de uma minoria, e, de

outro, provoca grandes desequilíbrios ambientais que vêm repercutindo

4 Cerqueira Filho (2000) discute sobre o poder disciplinar nas sociedades industriais modernas sob a ótica de Michel Foucault, o qual acredita que há um seqüestro da subjetividade do trabalhador, tornando-o fragmentado por controles psicológicos e por técnicas disciplinares a partir das relações de poder, de estratégias entre as forças dominantes e dominadas.

Page 41: A INDÚSTRIA DE BOLSAS EM SERROLÂNDIA BA E OS (DES ...livros01.livrosgratis.com.br/cp110660.pdf · conservação do meio ambiente e diminuição das desigualdades sociais. 4

40

negativamente em diferentes dimensões, seja na economia, na política ou no âmbito

sócio-cultural. Podemos dizer que esta fase é a continuidade do sistema capitalista.

Santos (2004a) afirma que o meio técnico-científico-informacional é a cara

geográfica da globalização com profunda interação da técnica e da ciência, é o

período marcado pelo domínio do mundo pelas multinacionais com a tecnologia de

ponta, onde a informação é o vetor fundamental do processo social, sendo

transmitida instantaneamente. Segundo Santos (2004a):

Neste período, os objetos técnicos tendem a ser ao mesmo tempo técnicos e informacionais, já que, graças à extrema internacionalidade de sua produção e de sua localização, eles já surgem como informação; e, na verdade, a energia principal de seu funcionamento é também a informação. Já hoje, quando nos referimos às manifestações geográficas decorrentes dos novos progressos, não é mais de meio técnico que se trata. Estamos diante da produção de algo novo, a que estamos chamando de meio técnico-científico-informacional. (SANTOS, 2004a, p. 238).

Podemos concluir que essa fase econômica do capitalismo na sociedade

contemporânea representa um novo modo de vida para a humanidade por promover

a aplicação de novas tecnologias e maneiras de dominação e controle social.

Entretanto, de acordo com Sachs (2007), é necessário o uso de novas tecnologias

no processo de industrialização com diferentes estratégias de produção para o novo

modelo de desenvolvimento já que:

A concentração geográfica da produção é um dos principais fatores de desequilíbrio ambiental. Novos desenvolvimentos, tais como a especialização flexível, a produção moderna em pequena escala ou a industrialização descentralizada são, portanto, instrumentos privilegiados para se conciliar a eficácia econômica e prudência ecológica (SACHS, 2007, p. 219).

Contudo, frente ao acelerado processo de globalização e às demandas do mercado

competitivo, é necessário pensar o desenvolvimento numa escala local que possa

oferecer melhores condições para atrair mais investimentos, conservar o meio

ambiente e mitigar as desigualdades socioeconômicas, através de iniciativas das

populações locais e demais agentes sociais.

Page 42: A INDÚSTRIA DE BOLSAS EM SERROLÂNDIA BA E OS (DES ...livros01.livrosgratis.com.br/cp110660.pdf · conservação do meio ambiente e diminuição das desigualdades sociais. 4

41

2 DESENVOLVIMENTO LOCAL COMO NOVA ALTERNATIVA FRENTE AOS

IMPACTOS DA GLOBALIZAÇÃO

Antes mundo era pequeno. Porque Terra era grande. Hoje mundo é muito grande. Porque Terra é pequena. Do tamanho da antena parabolicamará. Ê, volta do mundo, camará. Ê-ê, mundo dá volta, camará. Antes longe era distante. Perto, só quando dava. Quando muito, ali defronte. E o horizonte acabava. Hoje lá trás dos montes, den de casa, camará.

(Parabolicamará – Gilberto Gil).

Dentro das condições contemporâneas de globalização, é preciso colocar o local em

evidência, em virtude das diversidades e particularidades dos contextos, sociais,

espaciais e setoriais. Segundo Buarque (2002), o local está sendo constantemente,

influenciado e impactado por processos globais de mudanças econômica,

tecnológica e institucional, também recebe influências e pressões positivas e

negativas. Daí, a necessidade de se pensar no desenvolvimento local enquanto

projeto de transformação na base econômica e social que se integra com o contexto

regional, nacional e internacional, redefinindo oportunidades do jogo competitivo

mundial, bem como a reestruturação, descentralização política e da produção

industrial com relocação de infra-estruturas e das atividades agroindustriais,

comerciais e financeiras.

Segundo Buarque (2002), a descentralização pode ser importante para estimular e

facilitar o desenvolvimento local. Neste ponto, o Estado aparece como elemento

importante da descentralização político-administrativa na transferência de autonomia

para a tomada de decisões entre as instâncias públicas e privadas. Também pode

contribuir na alocação de recursos para o local, em apoio com outros segmentos, na

construção de um planejamento estratégico que envolva a participação efetiva da

população na mobilização de energias sociais para a transformação do espaço local.

No que tange à descentralização da produção industrial, a qual emergiu do modo de

produção capitalista do século XXI sob a acumulação flexível que terceiriza diversas

etapas do processo produtivo entre setores e regiões geográficas, destacam-se

Page 43: A INDÚSTRIA DE BOLSAS EM SERROLÂNDIA BA E OS (DES ...livros01.livrosgratis.com.br/cp110660.pdf · conservação do meio ambiente e diminuição das desigualdades sociais. 4

42

também nesse processo, o fortalecimento das redes e a participação das pequenas

e médias empresas. Com o apoio da descentralização político-administrativa, estas

empresas se fortalecem através de iniciativas econômicas e sociais num espaço

geográfico concreto, e, com uma visão de progresso. Sobre esta questão Joyal e

Martinelli (2004) afirmam que:

Os processos de descentralização devem configurar um ambiente no qual as micro, pequenas e médias empresas possam acessar efetivamente o serviço de apoio às atividades produtivas e, com isso, impulsionar decisivamente o desenvolvimento econômico regional. A descentralização política se converte, assim, em uma ferramenta determinante para o desenvolvimento local, ao facilitar a criação de espaços de negociação estratégicas com o setor privado empresarial e com os demais atores sociais regionais (JOYAL; MARTINELLI, 2004, p.6).

Por conseguinte, a descentralização pode representar uma resposta à fragmentação

do espaço provocada pela globalização, por transferir autonomia às instâncias locais

na definição de suas prioridades de ação e organização social e institucional, bem

como a mobilização para o desenvolvimento local diante dos desafios mundiais.

Através da descentralização a sociedade pode ter uma participação direta nos

projetos de desenvolvimento local, efetivando a gestão participativa.

Sabemos que o fenômeno da globalização se distribui de forma muito desigual no

planeta e intensifica a competição entre os espaços, visando à uniformização e

padronização mundial dos modelos de desenvolvimento para integrar os mercados e

a economia capitalista mundial. Ao mesmo tempo, o local se torna cada vez mais

resistente na formação de identidades coletivas, como já foi comentado, ganha mais

autonomia para um maior gerenciamento dos recursos e se mobiliza com base nas

suas potencialidades (BUARQUE, 2002). O local passa ainda a incorporar novos

conhecimentos e informações para acompanhar as transformações mundiais e

interagir com outras regiões e localidades. É claro que existem muitos desafios para

alcançar tal fim, mas, com uma flexibilidade na gestão das atividades econômicas,

políticas e sociais é possível ampliar as oportunidades de melhores condições de

vida.

Page 44: A INDÚSTRIA DE BOLSAS EM SERROLÂNDIA BA E OS (DES ...livros01.livrosgratis.com.br/cp110660.pdf · conservação do meio ambiente e diminuição das desigualdades sociais. 4

43

Dowbor (2006b) afirma que quanto mais se desenvolve a globalização, mais as

pessoas estão resgatando o espaço local para melhorar as condições de vida no

seu entorno imediato. Os municípios que promovem o desenvolvimento local

passaram a atuar de forma mais ativa segundo os interesses da comunidade. Para

isto, é preciso estar em permanente atualização para acompanhar o ritmo acelerado

das transformações dos processos produtivos em virtude da própria globalização. O

local deve estar sempre articulado com as outras escalas espaciais, dadas as

diversidades e os antagonismos decorrentes do intercâmbio dos valores globais com

os padrões locais (ORTIZ, 1994).

2.1 Visões de Desenvolvimento Local

A expressão desenvolvimento local surgiu na década de 1980 e vem sendo discutida

com bastante freqüência, sobretudo, por já terem sido registradas experiências

positivas em várias partes do mundo. A idéia de desenvolvimento local surge como

ponto de partida para o exercício de novas práticas e incentivo ao

empreendedorismo, à participação da sociedade civil, à mobilização e exploração

das potencialidades locais, conservação dos recursos naturais, competitividade da

economia local, entre outros fatores. Sobre esta questão, Brose (2000) classifica

cinco dimensões do desenvolvimento local, as quais são: inclusão social,

fortalecimento da economia local, inovação na gestão pública, gestão ambiental e

uso racional de recursos naturais e mobilização da sociedade civil. Tudo isso,

visando criar soluções inovadoras para os problemas da sociedade atual.

Buarque (2002, p. 32), discutindo os cortes espaciais do local, afirma que o

desenvolvimento local “[…] pode ser aplicado a diferentes correntes territoriais e

aglomerados humanos de pequena escala, desde a comunidade até o município ou

mesmo microrregiões homogêneas de porte reduzido, bacias ou ecossistemas”.

Porém, para Franco (2000), todo desenvolvimento é local. Essa abordagem vai além

do fenômeno local enquanto algo que é micro, pequeno, mas, como um espaço

territorialmente delimitado e comparado a outros. O autor sinaliza que o

desenvolvimento se dá pelas ações de uma sociedade que habita numa cidade,

Page 45: A INDÚSTRIA DE BOLSAS EM SERROLÂNDIA BA E OS (DES ...livros01.livrosgratis.com.br/cp110660.pdf · conservação do meio ambiente e diminuição das desigualdades sociais. 4

44

região de um país, um país ou uma região do mundo, sejam elas econômicas,

sociais, e/ou ambientais. É um processo que deve ser pensado, planejado,

promovido ou induzido pelos diversos agentes sociais locais (articulados com outras

escalas espaciais).

Segundo Franco (2000), os principais fatores que contribuem para a promoção do

desenvolvimento local são: investimento no nível educacional da população,

incentivos da sociedade civil organizada no empreendimento de novos negócios e a

participação do poder público local e outros níveis de governo nesse processo de

mudança, bem como a capacidade de atrair investimentos externos.

Segundo Franco (2000), na perspectiva assinalada acima, é fundamental que haja

um ambiente favorável que proporcione condições físico-territoriais e ambientais,

econômicas, sociais, culturais, político-institucionais e científico-tecnológicas. Este

tipo de ambiente é essencial para a busca de parcerias entre poder público,

lideranças, sociedade organizada, setor privado empresarial e demais instâncias,

também é importante para favorecer o surgimento de novas iniciativas que gerem

ocupações produtivas de forma sustentável.

Conseguintemente, é necessário que as coletividades locais se manifestem

interessadas em participar e se organizem para atuar numa política de

desenvolvimento local já que este não tem um modelo único, “uma receita” pronta no

que tange aos procedimentos em relação ao planejamento, implementação e

avaliação, principalmente, por cada localidade ter suas características e

particularidades que diferenciam das demais. Sobre esta questão, Dowbor (2006b)

aponta que:

É neste plano que desponta a imensa riqueza da iniciativa local: como cada localidade é diferenciada, segundo o seu grau de desenvolvimento, a região onde se situa, a cultura herdada, as atividades predominantes na região, a disponibilidade de determinados recursos naturais, as soluções terão de ser diferentes para cada uma. E só as pessoas que vivem na localidade, que a conhecem efetivamente, é que sabem realmente quais são as necessidades mais prementes, os principais recursos subutilizados e assim por diante. Se elas não tomarem iniciativas, dificilmente alguém o fará para elas (DOWBOR, 2006b, p. 4).

Page 46: A INDÚSTRIA DE BOLSAS EM SERROLÂNDIA BA E OS (DES ...livros01.livrosgratis.com.br/cp110660.pdf · conservação do meio ambiente e diminuição das desigualdades sociais. 4

45

Franco (2000) acredita que o desenvolvimento local produz comunidade e esta se

desenvolve quando tornam dinâmicas suas potencialidades endogenamente – a

infra-estrutura econômica, logística tecnológica e de recursos humanos como

educação e capacitação profissional – sendo que, todas as pessoas que vivem nela

devem ter acesso à renda, à riqueza, ao conhecimento e ao poder.

Ainda de acordo com Franco (2000), uma dada comunidade para se desenvolver

deve identificar uma vocação e as vantagens originais em relação às demais

localidades. A partir desta ação, deve fazer as necessárias conexões com outras

escalas sócio-espaciais através de redes cooperativas e solidárias para que possam

se inserir de forma competitiva e racional no mercado nacional e internacional. Isto,

em prol da gestão de um projeto coletivo e potencializador da economia e da política

local para que o desenvolvimento resulte na ampliação do emprego, do produto e da

renda, bem como na qualidade da educação, saúde, segurança e conservação dos

recursos locais.

Outra visão de desenvolvimento local que podemos abordar é a do desenvolvimento

endógeno que é um processo interno no qual a maior parte dos recursos é originária

do próprio local como: empresas, trabalhadores, os recursos financeiros (como o

caso de Serrolândia) e a tecnologia inovadora com uma eficiente organização

institucional, política e cultural. Segundo Borba (2000, apud JOYAL; MARTINELL I,

2004) o desenvolvimento endógeno pode ser um:

[…] tipo de desenvolvimento iniciado e organizado de dentro para fora das localidades, conferindo mobilização aos atores locais, para extrair o máximo de suas ações através da otimização dos recursos de capital, de trabalho e de instituições locais, assim como de infra-estruturas físicas de uma determinada área, em vez de esperar ou tentar atrair empresas e investimentos externos para impulsionar o crescimento econômico local e gerar empregos (BORBA, 2000 apud JOYAL; MARTINELLI, 2004, p. 68).

Por conseguinte, podemos dizer que o desenvolvimento endógeno é

desenvolvimento que passa a ser planejado e articulado de baixo para cima, ou seja,

pelos próprios agentes sociais locais e não mais por um planejamento centralizado

que é imposto de cima para baixo pelo poder central do Estado (JOYAL;

MARTINELLI, 2004).

Page 47: A INDÚSTRIA DE BOLSAS EM SERROLÂNDIA BA E OS (DES ...livros01.livrosgratis.com.br/cp110660.pdf · conservação do meio ambiente e diminuição das desigualdades sociais. 4

46

O desenvolvimento imposto de cima para baixo, muitas vezes, ocorre de forma

clientelista, com padrões de organização verticais, onde o Estado define as po líticas

e os programas sociais (quase sempre assistencialistas) de uma dada comunidade e

diz como a população deve ou não demandar esses programas , tornando-a assim,

agente passiva. O Estado oferta os recursos que quer e quando quer, sem ouvir os

anseios da comunidade (FRANCO, 2002). Agindo desta forma a estrutura estatal

desmobiliza a criatividade e as ações horizontais para a inovação e impede que a

comunidade local possa se desenvolver endogenamente de forma equilibrada e

solidária.

Neste contexto, é fundamental a mobilização e iniciativas por parte dos agentes

sociais locais do município, cidade ou comunidade em torno de determinadas

prioridades básicas para a promoção do desenvolvimento endógeno, valorizando os

recursos humanos, técnicos e financeiros para dar sustentação e visibilidade política

e social. Isso é possível por meio de ações capazes de promover a dinamização

efetiva das potencialidades e diversidades de cada localidade, o que gera

transformação da realidade e eleva oportunidades de melhoria da qualidade de vida

da população que é um dos objetivos principais do desenvolvimento local. Souza

(2002) fala de qualidade de vida como sendo a crescente satisfação das

necessidades básicas e não-básicas, materiais e imateriais de uma parcela cada vez

maior da população. Nesta perspectiva, é possível pensar na prosperidade, na

saúde, na riqueza cultural, equidade e segurança como resultado das ações

criativas da comunidade local e não reproduzindo de cima para baixo uma

“macdondaldização” generalizada (DOWBOR, 2006a).

Portanto, de acordo com as visões de desenvolvimento local abordadas nos

parágrafos anteriores, esta pesquisa toma como base a idéia de desenvolvimento

local como um conjunto de atividades que pode ocorrer em uma escala sócio-

espacial delimitada, onde a comunidade desenvolve ações para mobilizar as

potencialidades locais e assegurar a conservação dos recursos naturais, elevando

as oportunidades sociais. Neste contexto, é importante a relação entre poder

público, sociedade civil e setor privado. O desenvolvimento local também pode ser

endógeno por ser um processo interno em que os recursos naturais, sociais,

Page 48: A INDÚSTRIA DE BOLSAS EM SERROLÂNDIA BA E OS (DES ...livros01.livrosgratis.com.br/cp110660.pdf · conservação do meio ambiente e diminuição das desigualdades sociais. 4

47

econômicos e culturais, são originados do local, ou seja, disponíveis localmente para

serem potencializados e serem integrados ao contexto da globalização, como é o

caso da indústria de bolsas em Serrolândia.

Por conseguinte, esta pesquisa toma a cidade de Serrolândia como escala de

análise do desenvolvimento local. Não tem um recorte administrativo já que é uma

escala menor que o município e é onde está instalada a indústria de bolsas, nosso

objeto de estudo, e se concentram as ações da comunidade, ou seja, das pessoas

que estão envolvidas direta e indiretamente com esta atividade.

2.2 Como promover o Desenvolvimento Local concretamente

Segundo Franco (2000, p. 40), para se promover o desenvolvimento concretamente

é necessário “[…] gerar renda, multiplicar o número de proprietários produtivos,

elevar o nível de escolaridade da população e aumentar o número de organizações

da sociedade civil”. Segundo Moura et al. (2002) para o êxito de qualquer processo

de desenvolvimento local, é necessário haver:

[…] capacitação para mobilização e participação da comunidade; cooperação e construção de parcerias; visão abrangente e integrada de desenvolvimento, considerando aspectos econômicos, sociais, políticos, culturais e ambientais; monitoramento/avaliação do processo (MOURA et al, 2002, p. 614).

Neste processo também é imprescindível atentar para o tipo de capital empregado

pelos diversos segmentos sociopolíticos e institucionais da sociedade. Franco (2000)

chama a atenção de que não se deve pensar só no capital empresarial que são os

bens, serviços e riquezas produzidas por uma sociedade, pois existem outros tipos

de capital: o capital humano, capital social e capital natural.

O capital humano está relacionado diretamente ao conhecimento e a capacidade de

criá-lo de forma inovadora; envolve a educação, a saúde, a alimentação e a nutrição,

bem como, a cultura, o lazer e a pesquisa. O capital social diz respeito aos níveis de

organização de uma sociedade e como ela regula seus conflitos democraticamente,

Page 49: A INDÚSTRIA DE BOLSAS EM SERROLÂNDIA BA E OS (DES ...livros01.livrosgratis.com.br/cp110660.pdf · conservação do meio ambiente e diminuição das desigualdades sociais. 4

48

envolvendo o associacionismo, confiança, formação de redes de cooperação, uma

democracia organizada com boa governança e prosperidade econômica. O capital

natural se refere às condições ambientais – clima, solo, vegetação e relevo – e

físico-territoriais herdadas (FRANCO, 2000).

Deve-se levar em conta que com um baixo nível de capital humano, social e natural

o desenvolvimento humano, social e natural, também será impróprio. É preciso que

haja uma equação e investimento adequado de todos esses capitais para que se

possa promover o desenvolvimento de forma adequada e efetiva, criando ambientes

favoráveis à inovação de determinada localidade. Essa dinâmica pode ocorrer

mesmo que uma dessas variáveis (capital humano, social e natural) apresente

valores mais baixos em relação às outras, já que uma variável pode superar a falta

das outras. Segundo Franco (2002):

O fortalecimento do capital humano e do capital social é, portanto, ingrediente sem o qual as políticas públicas e as ofertas de serviços governamentais não serão eficientes nem suficientes. Isso significa que as políticas de indução ao desenvolvimento (humano e social) devem constituir a principal referência numa estratégia social (e não as políticas compensatórias, por mais necessárias que estas sejam ou possam parecer) (FRANCO, 2002, p. 60-61).

Aqui colocamos outra questão pertinente que diz respeito à política social do

desenvolvimento, a qual se torna um fator fundamental para regular o embate entre

os agentes envolvidos na configuração do sistema social em prol de uma mudança

positiva na qualidade do capital social e humano, aliados ao capital natural. Esta

política estabelece uma nova relação entre Estado, sociedade civil organizada e

demais agentes sociais para a convergência e integração das ações de forma

coletiva, multiplicando a atividade produtiva e socializando a riqueza.

No que tange às experiências de projetos de desenvolvimento local, Moura et al.

(2002) cita alguns programas e projetos que vêm sendo implementados no Brasil por

agências governamentais e não-governamentais, tais como:

“[…] o Pnud e a Sudene, que atuam juntos em projetos de desenvolvimento local sustentável (DLS) na região Nordeste; o Programa Comunidade Ativa [Que não existe mais], de desenvolvimento local integrado e sustentável (DLIS) [Metodologia

Page 50: A INDÚSTRIA DE BOLSAS EM SERROLÂNDIA BA E OS (DES ...livros01.livrosgratis.com.br/cp110660.pdf · conservação do meio ambiente e diminuição das desigualdades sociais. 4

49

que também não existe mais], iniciativa do governo federal destinada a municípios brasileiros com baixo IDH […]; a GTZ, agência de cooperação alemã que vem atuando a mais de 10 anos em municípios do Rio Grande do Sul, e recentemente, em municípios nordestinos, através do Programa Prorenda, de DLS” (MOURA et al, 2002, p. 612).

Dowbor (2005) apresenta vários municípios brasileiros que já têm resultados

positivos de desenvolvimento local onde se exercitam a democracia e a cidadania.

Como exemplo: Londrina - PR, com a fábrica de blocos e trituradora de entulhos em

cooperação com os caçambeiros; no Amapá a cooperativa dos catadores de

castanha em parceria com a universidade, na cidade de Pirai – JR, com uma política

de apoio às iniciativas da piscicultura, entre outros. Desta forma, estes exemplos nos

revelam que há caminhos para se promover o desenvolvimento local concretamente.

2.3 A proposta do Desenvolvimento Local Integrado Sustentável-DLIS

A necessidade de encontrar estratégias de combate ou redução da pobreza bem

como a preocupação com a sustentabilidade da sociedade atual impulsionou a

criação de políticas públicas e projetos de desenvolvimento local integrado

sustentável (DLIS). Uma estratégia inovadora que teve como proposta a melhoria da

qualidade de vida das populações através de práticas mais democráticas, cidadãs e

sustentáveis (FRANCO, 2000). Para Joyal e Martinelli (2004):

O conceito de Dlis, tal como apropriado no contexto brasileiro, foi entendido como uma estratégia capaz de garantir a inserção econômica competitiva de determinados locais no mundo globalizado, ao mesmo tempo em que se apresentava como uma contra-tendência aos efeitos perversos da reestruturação produtiva, resultado da mesma globalização. Esse movimento tornava compatível o dilema de conciliar a produção de políticas sociais de combate à pobreza com as tendências econômicas em curso no mundo contemporâneo. Além disso, procurava recuperar a reconhecida limitação das políticas sociais para enfrentar os desafios da pobreza. (ROYAL; MARTINELLI, 2004, p. 94-95).

Para Diogo, Fontes e Veloso (2002), o significado da sigla DLIS pode ser entendido

como:

Page 51: A INDÚSTRIA DE BOLSAS EM SERROLÂNDIA BA E OS (DES ...livros01.livrosgratis.com.br/cp110660.pdf · conservação do meio ambiente e diminuição das desigualdades sociais. 4

50

Desenvolvimento: é o processo de expansão das liberdades reais

de que as pessoas desfrutam; Local: é o ponto de partida para se discutir a dinâmica de

desenvolvimento. O local pode ser uma cidade, um bairro, uma vila, um Município, a beira do rio ou uma região. O local é onde se processa a dinâmica do desenvolvimento que não seja apenas o crescimento econômico, mas que respeite o progresso social e humano; Integrado: significa articular atores que interagem em um mesmo

local, articular fatores que influenciam no processo de desenvolvimento (econômicos, sociais, culturais, político-institucionais, físico-territoriais, científico-tecnológicos), buscar um equilíbrio dinâmico nas relações possibilitando aflorar as forças unificadoras, que levam à integração, e minimizar as forças divisoras, que levam à competição; Sustentável: baseia-se em duas solidariedades - a solidariedade

com a geração à qual pertencemos e a solidariedade com as futuras gerações. A solidariedade do desenvolvimento deve integrar todas as formas possíveis, política, social, econômica, espacial, cultural e ambiental (DIOGO; FONTES; VELOSO, 2002, p. 09).

O enfoque sobre DLIS foi adotado no Brasil a partir da experiência do Conselho de

Comunidade Solidária do Governo Federal contra a pobreza e exclusão social em

1995 e se institucionalizou em 1997 através do programa Comunidade Ativa (Que

durou até 2003). Royal e Martinelli (2004), afirmam que os projetos já colocados em

operação no Brasil puderam contar com o apoio do Programa das Nações Unidas

para o Desenvolvimento (PNUD) com acordos de cooperação técnica e financeira,

iniciativas do Banco do Nordeste, da Caixa Econômica Federal, do SEBRAE e de

várias ONGs.

Desde sua institucionalização no Brasil, a metodologia DLIS esteve pautada na

proposta de ações mais planejadas e articuladas para estimular a sustentabilidade

social e econômica de um local e, principalmente, reorganizar a estrutura existente

de gestão e desenvolvimento que geralmente era administrado apenas pelo poder

público. Esta proposta teve como objetivo atingir o maior número de municípios

brasileiros com sérios problemas sociais e econômicos através de programas com

novas práticas de inclusão social e fomento à cultura empreendedora, reduzir a

pobreza e garantir acesso aos serviços financeiros, sendo que essas ações são

decididas no local.

Page 52: A INDÚSTRIA DE BOLSAS EM SERROLÂNDIA BA E OS (DES ...livros01.livrosgratis.com.br/cp110660.pdf · conservação do meio ambiente e diminuição das desigualdades sociais. 4

51

Franco (1999 apud JOYAL; MARTINELLI, 2004) afirma que a metodologia do DLIS

visou empregar uma tecnologia social inovadora de investimento em capital social e

humano, e cita os principais elementos dos processos de DLIS, os quais são: os

programas de DLIS, interligados à sensibilização da sociedade local com

capacitação para a gestão, montagem do fórum, conselho ou agência de

Desenvolvimento Local; elaboração do plano de Desenvolvimento Local a partir do

levantamento técnico de potencialidades, vocações e vantagens comparativas;

construção da agência básica; implantação, monitoramento e avaliação dos

programas e projetos de ações. Estes resguardados com ofertas de recursos do

governo, do mercado e do pacto de Desenvolvimento Local. Diogo, Fontes e Velloso

(2002) apontam os parceiros do processo proposto pela metodologia DLIS os quais

foram:

• Governo Federal = oferece programas federais segundo as

demandas das agendas locais. A Secretaria Executiva coordena, acompanha e avalia o programa, além de articular a execução das ações entre os vários parceiros. • Governo Estadual = cria uma equipe interlocutora e outra

facilitadora no Estado e compatibiliza os programas estaduais com as demandas identificadas nas agendas locais. • Prefeitura = mobiliza a sociedade, estimulando o fórum local de

desenvolvimento. Participa da equipe gestora local e garante a execução dos programas municipais de acordo com a agenda. • SEBRAE = executa o SEBRAE Desenvolvimento Local, um programa de apoio ao desenvolvimento Local Integrado Sustentável criado para estimular o empreendedorismo e o surgimento de novas oportunidades de negócios. • AED = a Agência de Educação para o Desenvolvimento (AED)

executa e garante a qualidade, em nível nacional, do processo de capacitação em Desenvolvimento Local Integrado Sustentável. • Instituição Capacitadora = são as responsáveis por capacitar e implementar a estratégia de DLIS nos Municípios, apoiando desde a realização das etapas iniciais até a elaboração da agenda local (DIOGO; FONTES; VELOSO, 2002, p. 10).

Os autores comentam ainda que um dos problemas de efetivação dessa estratégia

do Programa Comunidade Ativa foi o tempo proposto pela metodologia que levou

para a sensibilização dos agentes sociais locais por parte das instituições

capacitadoras e a implementação e execução do DLIS, que foi muito curto. Com

isso, foi necessário ao local, um tempo, ou seja, um prazo maior para assimilar as

proposições do projeto de DLIS sem prejudicar sua dinâmica.

Page 53: A INDÚSTRIA DE BOLSAS EM SERROLÂNDIA BA E OS (DES ...livros01.livrosgratis.com.br/cp110660.pdf · conservação do meio ambiente e diminuição das desigualdades sociais. 4

52

Vale ressaltar que a metodologia DLIS não existe mais, contudo, alguns impasses

deveriam ter sido enfrentados para se obter uma implementação e iniciativas mais

consistentes. As capacitações deveriam se adequar a cada realidade com o apoio

de uma ampla assistência institucional e o uso de tecnologias inovadoras. A

sociedade local deveria ser instrumentalizada para agir juntamente com as demais

parcerias no processo de DLIS, para possibilitar a redução das desigualdades e

promover a inclusão social, objetivos máximos de qualquer estratégia autêntica de

desenvolvimento local (DIOGO; FONTES; VELOSO, 2002).

Uma das alternativas para conseguir promover o processo de desenvolvimento local,

além da parceria dos diversos agentes sociais locais, regionais, federais e

internacionais é criar uma rede articulada de iniciativas para atuar com

responsabilidade e obter resultados positivos. Ao mesmo tempo, a conexão dessa

rede para expandir a experiência vivenciada com capilaridade e circulação de

informações, em todo o espaço nacional, poderá induzir outras localidades a se

desenvolverem também.

Segundo Franco (2002), a formação de uma grande rede capaz de interagir e

articular em tempo real as experiências com outros lugares é bastante relevante, já

que as trocas de informações e o planejamento das ações conjuntas proporcionarão

mudanças importantes nas políticas públicas, na negociação com governos e

agências de desenvolvimento. É importante que a relação aconteça horizontalmente,

sem nenhum nível hierárquico que centralize as decisões, já que existe

particularidade entre as localidades envolvidas nesta rede. Isto é abordado por Joyal

e Martinelli (2004) quando falam da importância da existência das redes para

responder às exigências da flexibilidade, descentralização e democracia no mundo

contemporâneo:

[…] os pontos fundamentais que caracterizam a existência das redes são: valores e objetivos compartilhados (que unem os diferentes membros), autonomia de cada integrante, vontade de entrar e permanecer na rede, multiliderança (em vez de hierarquia), descentralização e múltiplos níveis ou segmentos autônomos como possíveis desdobramentos da rede (JOYAL; MARTINELLI, 2004, p. 100).

Page 54: A INDÚSTRIA DE BOLSAS EM SERROLÂNDIA BA E OS (DES ...livros01.livrosgratis.com.br/cp110660.pdf · conservação do meio ambiente e diminuição das desigualdades sociais. 4

53

A argumentação acima é bastante pertinente por apresentar a configuração

dinâmica que tem uma rede de relações entre diferentes localidades para o

desenvolvimento local. É claro que, o fato de seus membros estarem conectados

entre si, não significa que estão operando em rede. Para que haja um perfeito

funcionamento é preciso que seus membros operem com práticas efetivamente

transformadoras da realidade.

Contudo, ao lado da solidariedade, cooperatividade e competitividade em prol da

efetivação de projetos de desenvolvimento local, como já foi discutido anteriormente

e apresentado em algumas experiências concretas, não podemos nos esquecer da

sustentabilidade tanto destes projetos, quanto das dimensões sociais, políticas,

culturais e ambientais.

Page 55: A INDÚSTRIA DE BOLSAS EM SERROLÂNDIA BA E OS (DES ...livros01.livrosgratis.com.br/cp110660.pdf · conservação do meio ambiente e diminuição das desigualdades sociais. 4

54

3 DESENVOLVIMENTO LOCAL SUSTENTÁVEL: CONCEPÇÕES E DESAFIOS

Imaginar que a terra possa ser bem melhor. Pra permitir semente sem dividir o chão. Imaginar a fome dando lugar ao pão. Não é loucura nem sonho. Além de mim há mais alguém. Se junte a quem pensa assim também.

(Imagine – John Lennon)

A ação antrópica sobre o meio ambiente5 está ficando cada vez mais preocupante

para a sociedade contemporânea por desencadear sérias catástrofes em vários

espaços do planeta Terra. Neste contexto, a exploração dos recursos naturais de

forma exagerada provoca um consumo intenso de matéria e energia além do que os

ecossistemas podem suportar. Esta exploração leva parte destes recursos ao

esgotamento, dos que não são renováveis e até mesmo dos renováveis que forem

explorados com uma intensidade superior a sua auto-reprodução. Estes

condicionantes refletem na organização da sociedade a qual estabelece uma

relação dialética com a natureza.

Em virtude da acelerada crise socioambiental mundial que estamos vivenciando na

sociedade contemporânea, emerge o conceito de desenvolvimento sustentável,

sobretudo, a partir da década de 1970, como já foi comentado. Este conceito tem

evoluído desde seu surgimento, envolvendo discussões sobre meio ambiente e

modelos de desenvolvimento. A abordagem sobre este tema contribuiu para a

necessidade de mudança de paradigma por despertar o interesse de especialistas

de várias áreas do conhecimento na busca de ações direcionadas à solução dos

problemas socioambientais, devido aos seus efeitos destrutivos em grandes

proporções do planeta com conseqüências que podem colocar em risco a vida da

própria espécie humana (SACHS, 2004).

5 Apesar da ambigüidade do conceito de meio ambiente, adotaremos a concepção proposta pelo Dicionário de Ciência Ambiental (2003, p. 183) o qual afirma que meio ambiente “são todos os componentes vivos ou não, assim como a todos os fatores, tais como clima, que existem no local em que um organismo vive”.

Page 56: A INDÚSTRIA DE BOLSAS EM SERROLÂNDIA BA E OS (DES ...livros01.livrosgratis.com.br/cp110660.pdf · conservação do meio ambiente e diminuição das desigualdades sociais. 4

55

Esta crise ambiental complexa vem sendo provocada, principalmente, pelos modelos

tradicionais de desenvolvimento e crescimento econômicos, pelas relações

capitalistas de produção que visam à maximização do lucro e do excedente

econômico a curto prazo, bem como pelos padrões de consumo em massa. Neste

contexto, há uma falta de gestão participativa bem como de implementação de

políticas de intervenção urbanística que beneficiem toda a população. A maioria

dessas políticas está voltada apenas para atender aos interesses das populações

das áreas nobres das cidades, e não chega até as menos favorecidas, no que se

refere à questão de habitação, saneamento básico e qualidade ambiental. Estes

fatores podem gerar segregação espacial, o que dificulta o processo de inclusão

social e participação cidadã na tomada de decisões coletivas na vida política e social

que são fundamentais para a garantia da sustentabilidade do ambiente e do próprio

desenvolvimento (CASTRO; SANTOS, 2006).

A preocupação com esta questão nos leva a refletir sobre maneiras alternativas de

desenvolvimento que não prejudiquem as estruturas socioambientais

contemporâneas e gerem riqueza e melhoria da qualidade de vida, ou seja, o bem-

estar físico, social, psíquico e ambiental da sociedade como um todo, respeitando as

diferenças étnico-culturais e proporcionando condições de reprodução da sociedade

humana na Terra. Pensar num tipo de desenvolvimento que corrobore para uma

nova organização da economia e da sociedade na relação equilibrada com a

natureza, redesenhando esta atual estrutura e conjugando eqüidade social e

conservação ambiental. Neste sentido, vale ressaltar algumas considerações tecidas

no capítulo anterior a respeito da importância do local como instância imprescindível

para a efetivação desta proposta de desenvolvimento.

Sachs (2007) comenta sobre a necessidade de colocar em prática um conceito

sistêmico-complexo de desenvolvimento entre as diversas dimensões da realidade –

econômica, social, ambiental, tecnológica e institucional. Todavia, segundo o autor,

é preciso pensar na construção de novos projetos de sociedade que não sejam

economicamente tecnocráticos e reducionistas, mas que contemplem um persistente

esforço de consolidação de um estilo de planejamento participativo que promova um

desenvolvimento ecologicamente prudente, socialmente justo e solidário, tanto para

as presentes quanto para as próximas gerações. Sobre esta questão, Buarque

Page 57: A INDÚSTRIA DE BOLSAS EM SERROLÂNDIA BA E OS (DES ...livros01.livrosgratis.com.br/cp110660.pdf · conservação do meio ambiente e diminuição das desigualdades sociais. 4

56

(2002) fala de desenvolvimento local sustentável enquanto processo de mudança

social que pode promover a reorganização da economia e da sociedade locais em

consonância com a conservação ambiental, bem como um compromisso com a

sustentabilidade entre as gerações.

3.1 Da preocupação com a questão ambiental mundial ao conceito de

Desenvolvimento Sustentável

No atual contexto de mundo, a questão ambiental vem tomando ênfase nos diversos

setores da sociedade, principalmente no que se refere à degradação socioambiental

e à qualidade de vida das espécies animais, vegetais e humanas e suas

catastróficas conseqüências em nível planetário. Este quadro se agravou muito em

virtude das sociedades terem adotado padrões de desenvolvimento econômico que,

visando a modernização e o progresso, provocaram e ainda provocam drásticas

alterações na dinâmica do ambiente natural.

Esse quadro de problemas se acentua nos centros urbano-industriais com elevados

contingentes populacionais. Nessas áreas as pessoas vivem em gritantes

disparidades sociais e de qualidade de vida. Ao lado do progresso da ciência e da

tecnologia, convive a miséria, a concentração da riqueza e a degradação ambiental

em vários aspectos. Na maioria das vezes os governos privilegiam o planejamento

econômico em detrimento do planejamento social e isso atinge de forma negativa

principalmente a população carente que mora nas periferias urbanas com condições

sócio-ambientais insalubres (SACHS, 2007).

Como já foi comentado nos parágrafos anteriores, a acelerada devastação do meio

ambiente, e conseqüentemente, a crise ambiental contemporânea global, se dá,

sobretudo, pela busca do crescimento econômico que tem sido perverso, mimético e

oneroso (SACHS, 2002)6. Como forma de entender esta crise Foladori (2001),

6 Sachs (2002. p. 54) utiliza esse termo para abordar o crescimento econômico que não leva ao desenvolvimento sustentável.

Page 58: A INDÚSTRIA DE BOLSAS EM SERROLÂNDIA BA E OS (DES ...livros01.livrosgratis.com.br/cp110660.pdf · conservação do meio ambiente e diminuição das desigualdades sociais. 4

57

abordando sobre a ação radical e modificadora do ser humano na biosfera ao longo

dos tempos e o conseqüente impacto ambiental em escala mundial que gerou a

preocupação com os limites físicos do desenvolvimento, comenta que:

Apesar de não existir acordo sobre a gravidade desses problemas, nem sobre os procedimentos para encarar tal situação, a maioria das análises e propostas engloba a crise ambiental sob três temáticas: a superpopulação, os recursos e os resíduos. Por sua vez, esses três grandes problemas podem ser compreendidos sob um denominador comum: os limites físicos externos com os quais a sociedade humana se defronta. Esses limites externos se expressam como mais população do que a que o ecossistema é capaz de suportar, ou seja, o limite da capacidade de suporte humano do ecossistema Terra; como escassez de recursos diante das crescentes necessidades sociais, isto é, o limite que supõe recursos finitos ou renováveis a ritmos mais lentos que sua extração; e/ou como poluição do meio ambiente a uma velocidade que a natureza não consegue reciclar […] (FOLADORI, 2001, p. 101-102).

Segundo Foladori (2001), são muitos os efeitos negativos provocados ao meio

ambiente ao longo do tempo pelas forças produtivas das sociedades, principalmente

a partir da expansão imperialista, da chegada da industrialização e com a acelerada

exploração predatória do capital natural. Dentre os efeitos negativos podemos citar o

esgotamento do solo, sacrifício da vegetação e de várias espécies animais, a

contaminação da água e do ar por resíduos químico/tóxicos, a violência nos centros

urbanos, a superpopulação, etc. Soma-se a tudo isto a poluição em diversas

dimensões, principalmente depois das grandes guerras mundiais e conflitos

regionais.

Desta forma, a problemática ambiental tornou-se ainda mais abrangente devido ao

processo de expansão das relações capitalistas, do avanço da i ndustrialização e da

globalização da economia dos mercados e das empresas multinacionais. Estes

condicionantes contribuíram para que o meio ambiente, percebido apenas como

potencial econômico, com grandes estoques de capital natural, atingisse proporções

elevadas de degradação em todo o mundo. A destruição da biodiversidade e da

camada de ozônio por gases perigosos, alterações climáticas com o aumento do

efeito estufa e aquecimento global, crescimento da população mundial ao lado da

destruição de várias formas de cultura, indisponibilidade de água potável, bem como

Page 59: A INDÚSTRIA DE BOLSAS EM SERROLÂNDIA BA E OS (DES ...livros01.livrosgratis.com.br/cp110660.pdf · conservação do meio ambiente e diminuição das desigualdades sociais. 4

58

uma elevada produção de resíduos sólidos foram acelerados progressivamente

(CAMARGO, 2003).

Mesmo recebendo energia do Sol o planeta Terra em termo de matéria é finito e não

pode suportar todo esse processo de exploração dos ecossistemas visto que

determinados recursos naturais são esgotáveis. O uso inadequado e contínuo

destes recursos pode provocar impactos irreversíveis para a sustentabilidade do

planeta.

No que tange à realidade de Serrolândia, nossa preocupação também se dá devido

ao uso de material tóxico que é descartado nas fábricas como: plásticos, solventes,

tintas, tínner e derivados que são jogados no lixão da cidade conforme informações

dos próprios funcionários de algumas fábricas visitadas. A produção destes resíduos

e seu destino final implicam sérios danos ao ambiente.

Outro problema contemporâneo é o aspecto cultural da sociedade de consumo de

produtos em massa que representa e é representada pelos modelos tradicionais de

desenvolvimento. Vivenciamos um processo de massificação e homogeneização de

uma cultura dominante dita moderna, criada principalmente pelos países norte-

americanos e europeus, com indução de um sistema de valores onde o ter é mais

importante que o ser. Estas estruturas culturais tradicionais, com seus modelos de

consumo impostos, colaboram para consolidar uma minoria de ricos e uma maioria

de pobres em todo o mundo, sendo necessário serem transformadas para dar

espaço a uma multiplicidade de culturas (CUNHA; GUERRA, 2007).

Leff (2000) faz uma crítica ao padrão de homogeneização cultural pensado pelas

potências econômicas mundiais. No que concerne ao uso dos recursos naturais e

aos padrões culturais, o autor comenta sobre a necessidade de se desenvolver

práticas de manejo e uso integrado destes recursos no processo de

desenvolvimento. Isto através do resgate de diferentes valores culturais e

preservação das identidades étnicas dos povos, bem como da gestão participativa

das próprias comunidades no ambiente onde vivem para que haja satisfação das

necessidades básicas em consonância com os objetivos do desenvolvimento

sustentável. Desta forma, para Leff (2000):

Page 60: A INDÚSTRIA DE BOLSAS EM SERROLÂNDIA BA E OS (DES ...livros01.livrosgratis.com.br/cp110660.pdf · conservação do meio ambiente e diminuição das desigualdades sociais. 4

59

Os princípios ambientais do desenvolvimento fundamentam-se numa crítica à homogeneização dos padrões produtivos e culturais, reivindicando os valores da pluralidade cultural e da preservação das identidades étnicas dos povos. Estes princípios éticos surgem como uma condição para concretizar projetos de gestão ambiental dos recursos naturais em nível local, que permitem alcançar os objetivos do desenvolvimento sustentável em escala global (LEFF, 2000, p.112).

Por conseguinte, os problemas socioambientais, tanto de ordem local quanto global,

culminaram no desenvolvimento de uma consciência ambientalista em várias partes

do mundo, em prol da preservação e conservação do meio ambiente com o intuito

de diminuir o acelerado ritmo de destruição dos recursos naturais.

3.2 Movimentos sociais e eventos internacionais referentes ao

Desenvolvimento e Meio Ambiente

A partir da década de 1960, emergiram grandes manifestações e movimentos

sociais contemporâneos preocupados com a questão ambiental e os padrões de

desenvolvimento. Tivemos o movimento hippie, um dos mais marcantes do período,

por contestar a sociedade eletrônica e normatizada marcada pelo consumismo

(MENDONÇA, 2004); o movimento ambientalista, com a intenção principal de lutar

contra as formas destrutivas da relação do homem com seu ambiente natural; assim

como o surgimento das Organizações Não Governamentais (ONGs), estas últimas

atreladas ao movimento ambientalista para cobrar do Estado e da iniciativa privada a

necessidade de se fazer justiça ambiental. A publicação do livro Primavera

Silenciosa da bióloga norte-americana Rachel Carson em 1962 também foi um

grande destaque neste período (FOLADORI, 2001). Este livro contribuiu para uma

profunda discussão sobre os problemas relativos à interferência do homem no meio

ambiente, o que levou a uma reflexão das atitudes da população em relação à

necessidade de normas ambientais federais de preocupação com os rumos do

desenvolvimento próprio da sociedade industrial. Estes movimentos constituíram

uma significativa luta política de reorientação de formas de vida, denotando uma

crescente preocupação com a crise ambiental que também é social, posto que é

Page 61: A INDÚSTRIA DE BOLSAS EM SERROLÂNDIA BA E OS (DES ...livros01.livrosgratis.com.br/cp110660.pdf · conservação do meio ambiente e diminuição das desigualdades sociais. 4

60

marcada pela divisão de classe, miséria e desemprego, como já foi comentado.

Amplia-se assim, o anseio em desenvolver uma mudança de mentalidade e novas

posturas éticas diante dos problemas socioambientais encontrados na realidade

atual através de novas estratégias políticas frente às estruturas tradicionais de

ordem social estabelecidas.

A gravidade desta crise impulsionou a realização de várias reuniões internacionais e

relatórios preparatórios para avaliar o modelo de desenvolvimento econômico até

então adotado, e ao mesmo tempo promover estratégias de diminuição do acelerado

ritmo de destruição dos recursos naturais, possibilitando uma melhor qualidade de

vida em todo o planeta. Dentre os eventos e os organismos internacionais criados

para tratar da questão do desenvolvimento e meio ambiente, podemos citar alguns,

os quais estão esquematizados no Quadro 2 a seguir:

EVENTO/ ORGANISMO

PERÍODO/ LOCAL

OBJETIVOS RESULTADOS

Criação do Clube de Roma

1968-1972

Debater sobre a poluição e degradação do ambiente, ocasionadas pela indústria e uma população crescente.(1)

Elaboração do relatório intitulado The limits to growth (Os limites do Crescimento).(1)

I Conferência Internacional sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento Humano (ONU).

Estocolmo – Suécia em 1972

Definir os limites da racionalidade econômica e os desafios da degradação ambiental para a modernidade (2).

Criação do Plano de Ação para ser implementado e colocados em prática os princípios estabelecidos pela Declaração Geral da Conferência sobre temas como, poluição,avaliação ambiental, e impactos do modelo de desenvolvimento no ambiente.

Criação do PNUMA e da CMMAD (1).

Criação do PNUMA e da CMMAD

1972-1973

Examinar os problemas mais críticos em relação ao desenvolvimento e meio ambiente, indicando propostas de

Elaboração do relatório intitulado Nosso Futuro Comum em 1987;

Definição do conceito de Desenvolvimento Sustentável (CMMAD)

Page 62: A INDÚSTRIA DE BOLSAS EM SERROLÂNDIA BA E OS (DES ...livros01.livrosgratis.com.br/cp110660.pdf · conservação do meio ambiente e diminuição das desigualdades sociais. 4

61

solução (3).

(3) - (4).

II Conferência Mundial de Desenvolvimento e Meio Ambiente (Rio 92).

Rio de Janeiro – Brasil em junho de 1992.

Legitimar e difundir amplamente a discussão sobre Desenvolvimento Sustentável.

Debater sobre as alterações climáticas e a preocupação com a atmosfera devido à emissão de gases poluentes em todo o planeta (1).

Criação da Agenda 21, para orientar a transformação de nossas sociedades bem como, propor soluções dos problemas ambientais através de estratégias de convivência para o século XXI (1) - (4).

Rio + 10 ou “Cúpula Mundial do Desenvolvimento Sustentável”,

Johannesburgo - África do Sul em 2002.

Avaliar os acordos e convênios estabelecidos na Rio 92 sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, inclusive a Agenda 21;

Propor a efetivação do desenvolvimento sustentável, a erradicação da pobreza e a mudança nos padrões insustentáveis de produção e consumo, conjugando com a proteção dos recursos naturais (4) - (5).

Compromissos firmados entre os países em que se deve diminuir pela metade a proporção de pessoas sem acesso a saneamento e a água potável até 2015, bem como, aumentar o acesso a modernos serviços de energia e com uso renovável (4) - (5)

Quadro 2: Principais eventos e organismos internacionais sobre Desenvolvimento e Meio Ambiente. Fontes: RIBEIRO, 2001(1); LEFF, 2000(2); FOLADORI, 2001(3); AFONSO, 2006(4); DINIZ, 2002(5).

Apesar de ainda não terem alcançado completamente seus objetivos na comunidade

internacional esses eventos e organismos guardam intenções em comum por

abordarem os problemas encontrados na relação entre desenvolvimento e meio

ambiente. Destarte, pensou-se na proposta de que o desenvolvimento econômico

deve ser integrado à questão ambiental de forma harmônica em virtude dos limites

externos do crescimento material, conforme nos mostra a definição de

desenvolvimento sustentável proposta pela ex-primeira-ministra da Noruega, Gro

Harlem Brundtland: "Desenvolvimento sustentável é aquele que satisfaz as

Page 63: A INDÚSTRIA DE BOLSAS EM SERROLÂNDIA BA E OS (DES ...livros01.livrosgratis.com.br/cp110660.pdf · conservação do meio ambiente e diminuição das desigualdades sociais. 4

62

necessidades do presente, sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras

atenderem as suas próprias necessidades” (CMMAD, 1987).

3.3 Concepções de Desenvolvimento (Local) Sustentável

A expressão desenvolvimento sustentável gerou grandes polêmicas e ganhou força

nos discursos políticos em várias partes do mundo. Segundo Veiga (2005); Favero

(2002) o desenvolvimento sustentável é caracterizado como um conceito bastante

amplo e político para o progresso econômico e social. Leff (2001, p. 57) confirma

essa idéia considerando-o como um projeto social e político “[…] que aponta para o

ordenamento ecológico e a descentralização territorial da produção, assim como

para a diversificação dos tipos de desenvolvimento e dos modos de vida das

populações que habitam o planeta”.

Segundo Camargo (2003) dentre as inúmeras definições sobre desenvolvimento

sustentável na atualidade, em seu sentido mais amplo, este termo tem como

objetivo:

[…] promover a harmonia entre os seres humanos e entre a humanidade e a natureza. O objetivo seria caminhar na direção de um desenvolvimento que integre os interesses sociais, econômicos e as possibilidades e os limites que a natureza define – uma vez que o desenvolvimento não pode se manter se a base de recursos naturais se deteriora, nem a natureza ser protegida se o crescimento não levar em conta as conseqüências da destruição ambiental (CAMARGO, 2003, p. 75).

Cabe aqui afirmar que o desenvolvimento sustentável também foi bastante criticado

em relação à sua ideologia. Segundo Zacarias (2000 apud CUNHA; GUERRA,

2007), o desenvolvimento sustentável vem sendo constituído dentro dos limites da

economia de mercado. Este representa uma ilusão por combinar medidas de

proteção e conservação ao lado da produção de mercado e do crescimento

convencional estabelecido pela lógica do sistema capitalista. Nesta perspectiva

existe um jogo de interesses que busca uma possibilidade de sustentabilidade que

não interfira no quadro institucional e econômico do capitalismo, ou seja, que não

Page 64: A INDÚSTRIA DE BOLSAS EM SERROLÂNDIA BA E OS (DES ...livros01.livrosgratis.com.br/cp110660.pdf · conservação do meio ambiente e diminuição das desigualdades sociais. 4

63

intervenha na ordem internacional estabelecida pelo modelo desenvolvimentista no

contexto do capitalismo.

É importante destacar mais uma vez que, desde a Conferência de Estocolmo (1972)

até a Rio + 10 (2002), não foram registrados grandes avanços em relação a uma

gestão mais racional dos recursos do planeta por parte dos países signatários.

Segundo Leff (2000), este quadro se agrava porque, por trás desses acordos, estão

em jogo os interesses das empresas transnacionais de biotecnologia defendidos

pelos países desenvolvidos, que se apropriam injustamente dos recursos genéticos

existentes nos países subdesenvolvidos bem como, do direito pela apropriação da

natureza.

Contudo, é necessário que se estabeleça uma relação confortável e equilibrada

entre desenvolvimento e ambiente em seus modelos de gestão. Sobre esta questão

Tauk (1995) afirma que:

As relações entre ambiente e desenvolvimento estão integradas. Busca-se a distribuição de renda; porém, as políticas de desenvolvimento e o planejamento integrado das atividades setoriais levam em conta os limites colocados pela renovação dos recursos naturais, os padrões ambientais são estabelecidos biologicamente. A análise ambiental é globalizante, baseada no enfoque holístico, e o sistema de gestão é descentralizado com participação de sociedade (TAUK, 1995, p. 94).

Destarte, na ligação entre ambiente e desenvolvimento, é preciso desenvolver uma

postura crítica em relação às estruturas sociopolíticas atuais e ao próprio discurso

de desenvolvimento sustentável. Sabemos que o exercício desta postura crítica

requer uma estratégia de desenvolvimento com resultados em longo prazo em que

podemos encontrar muitos entraves por envolver uma questão complexa que é a

mudança de consciência socioambiental. Sobre esta questão Camargo (2003)

afirma que:

Existem em nossa sociedade contemporânea grandes e diversos entraves à obtenção de um desenvolvimento sustentável em âmbito global que necessitam ser assumidos e enfrentados pela sociedade humana se quisermos realmente vislumbrar saídas para os graves conflitos socioambientais de nossa época. O desenvolvimento sustentável que é hoje considerado mito ou utopia por muitos, pode

Page 65: A INDÚSTRIA DE BOLSAS EM SERROLÂNDIA BA E OS (DES ...livros01.livrosgratis.com.br/cp110660.pdf · conservação do meio ambiente e diminuição das desigualdades sociais. 4

64

vir a ser – muito mais rapidamente do que se possa talvez esperar – nossa única opção viável e segura para alcançar um projeto coerente de civilização e assegurar o futuro da humanidade (CAMARGO, 2003, p. 16).

Desta forma, para se ter um desenvolvimento efetivamente sustentável em nossa

realidade deve-se desenvolver uma visão holística e com eqüidade. É necessário

que todos tenham atendidas suas necessidades básicas e lhes sejam

proporcionadas oportunidades de concretizar suas pretensões a uma vida melhor

com mais saúde, conforto e conhecimento sem causar o esgotamento dos recursos

naturais do planeta. Por conseguinte, há necessidade de desenvolver e executar

políticas públicas eficazes, com a participação de todos os agentes sociais e não

aquelas fragmentárias, restritas ao âmbito do governo ou do setor privado que estão

mais preocupados com os efeitos do que com as causas dos problemas que

pretendem enfrentar (AFONSO, 2006). É preciso envolver todos aqueles

preocupados com o meio ambiente e com o bem coletivo, e, que se comprometam

em garantir a efetivação destas políticas (LITTLE, 2003). Segundo Sachs (2004),

estas políticas públicas devem promover a efetiva transformação institucio nal em

favor dos segmentos mais fracos, com ações afirmativas para a organização social.

Assim, espera-se que as políticas públicas possam contribuir efetivamente para uma

relação integrada entre o desenvolvimento e o meio ambiente, sendo que o primeiro

ocorra em concordância com o segundo, aproveitando-se de suas potencialidades

de forma adequada e eqüitativa sem exaurir os recursos naturais e nem provocar

uma exploração do homem pelo homem.

Apesar das críticas referentes à concepção de desenvolvimento sustentável, esta

pesquisa se propõe a trabalhar com a idéia de que o desenvolvimento sustentável

não é uma ilusão e sim, aquele que tem como proposta agregar o progresso, a

qualidade de vida e o ambiente saudável para todas as pessoas, através de práticas

individuais orientadas para a coletividade socioambiental. Sobre esta questão,

Sachs (2004) afirma que o conceito de desenvolvimento sustentável vem sendo

reformulado, sofrendo atualmente grandes avanços epistemológicos com a

explicitação dos critérios de sustentabilidade social, ambiental e viabilidade

econômica enquanto componentes deste conceito dinâmico que se apresenta

através de cinco pilares:

Page 66: A INDÚSTRIA DE BOLSAS EM SERROLÂNDIA BA E OS (DES ...livros01.livrosgratis.com.br/cp110660.pdf · conservação do meio ambiente e diminuição das desigualdades sociais. 4

65

a) Social, fundamental por motivos tanto intrínsecos quanto instrumentais, por causa da perspectiva de disrupção social que paira de forma ameaçadora sobre muitos lugares problemáticos do nosso planeta;

b) Ambiental, com as suas duas dimensões (os sistemas de sustentação da vida como provedores de recursos e como “recipientes” para a disposição de resíduos);

c) Territorial, relacionado à distribuição espacial dos recursos, das populações e das atividades;

d) Econômico, sendo a viabilidade econômica a conditio sine qua non para que as coisas aconteçam;

e) Político, a governança democrática é um valor fundador e um instrumento necessário para fazer as coisas acontecerem; a liberdade faz toda a diferença (SACHS, 2004, p.15-16).

Por conseguinte, estas dimensões devem estar integradas para que o

desenvolvimento sustentável seja efetivado adequadamente. Neste contexto, a

Agenda 21 traz uma proposta imprescindível à sustentabilidade que é justamente a

de que o desenvolvimento deve satisfazer as necessidades de todas as populações,

presentes e futuras, e a condição de cidadania através da distribuição eqüitativa da

renda e do uso equilibrado dos recursos naturais. Contudo, os agentes sociais,

políticos, empresas, sociedade civil organizada devem cumprir os princípios

estabelecidos neste documento, todos fazendo sua parte em prol de um bem

comum. Assim poderemos pensar num desenvolvimento igualitário, descentralizado,

autogestionário, ecologicamente equilibrado (LEFF, 2000) e que seja realmente

sustentável.

Neste processo de mudança social vale ressaltar que não devemos nos esquecer da

concepção de desenvolvimento local sustentável (DLS) que, segundo Buarque

(2002), é o resultado da interação e sinergia entre a qualidade de vida da população

local, a eficiência econômica e a gestão pública eficiente que devem ser mediados

pela governança, organização da sociedade e distribuição de ativos sociais.

Segundo o autor o desenvolvimento local sustentável pode ser esquematizado no

gráfico 1 a seguir:

Page 67: A INDÚSTRIA DE BOLSAS EM SERROLÂNDIA BA E OS (DES ...livros01.livrosgratis.com.br/cp110660.pdf · conservação do meio ambiente e diminuição das desigualdades sociais. 4

66

Gráfico 1: Desenvolvimento Local Sustentável Fonte: BUARQUE, 2002, p.28.

O gráfico 1 nos mostra que a união entre estes fatores resulta na promoção do

desenvolvimento local sustentável de forma consistente. Para isto, devem ser

compatibilizados no tempo e no espaço, o crescimento e a eficiência econômica, a

conservação ambiental, a qualidade de vida e a eqüidade social com solidariedade

entre as gerações (BUARQUE, 2002).

Segundo Buarque (2002, p. 69) o desenvolvimento local sustentável é “[…] um

processo e uma meta a ser alcançada a médio e longo prazos, gerando uma

reorientação do estilo de desenvolvimento”, com um novo modo de organização da

economia e da sociedade e suas relações com o meio ambiente natural. Segundo

Favero (2002) a sociedade civil e sua mobilização é a mola propulsora para o

desenvolvimento local sustentável. Destarte, apesar da dificuldade e resistência

estruturais, é necessário que haja mudanças nos padrões de consumo da

sociedade, na base tecnológica e na estrutura de distribuição de renda.

É pertinente ratificar mais uma vez a idéia de Franco (2000) sobre o

desenvolvimento sustentável e sua relação com o local. Para o autor, o

desenvolvimento sustentável é aquele que leva à construção de comunidades

humanas sustentáveis que buscam se organizar em redes com características de

interdependência, reciclagem, flexibilidade e diversidade e deve ser construído a

GESTÃO PÚBLICA EFICIENTE

ORGANIZAÇÃO DA SOCIEDADE

GOVERNANÇA

DISTRIBUIÇÃO DE ATIVOS SOCIAIS

QUALIDADE DE

VIDA

EFICIÊNCIA

ECONÔMICA

Page 68: A INDÚSTRIA DE BOLSAS EM SERROLÂNDIA BA E OS (DES ...livros01.livrosgratis.com.br/cp110660.pdf · conservação do meio ambiente e diminuição das desigualdades sociais. 4

67

partir do local. Neste caso, a sustentabilidade é conquistada pela implementação

local de processos de desenvolvimento.

Desta forma, esta pesquisa toma como conceito operacional para a análise da

indústria de bolsas em Serrolândia a concepção de desenvolvimento local

sustentável enquanto um processo de mudança social que concilia crescimento e

eficiência econômica com a conservação ambiental, a qualidade de vida e eqüidade

social (BUARQUE, 2002). Destarte é interessante discutirmos sobre as dimensões

da sustentabilidade para entendermos a ligação destas com o desenvolvimento

sustentável.

3.4 Desenvolvimento Sustentável e as dimensões de Sustentabilidade

A palavra sustentabilidade tradicionalmente tem origem nas Ciências Biológicas,

aplicando-se aos recursos renováveis, no que tange à manutenção e conservação

destes (BARBIERI, 2005; FAVERO, 2002); está sempre presente nos debates

realizados sobre desenvolvimento sustentável. Muitas vezes estes termos são

tratados como sinônimos. Mas, será que desenvolvimento sustentável e

sustentabilidade são a mesma coisa? São conceitos ou práticas? Apesar de este

não ser o foco principal desta pesquisa, sentimos a necessidade de discorrer sobre

estas indagações que considero relevantes para complementar as discussões do

trabalho.

Silva (2005), discutindo sobre a multidisciplinaridade do conceito de

desenvolvimento sustentável, trata a questão da diferença entre estes termos sendo

o desenvolvimento sustentável um processo e a sustentabilidade um fim, portanto,

não contraditórios, mas, complementares:

As diferenças entre sustentabilidade e desenvolvimento sustentável afloram não como uma questão dicotômica, mas como um processo em que o primeiro se relaciona com o fim, ou objetivo maior; e o segundo, com o meio. Todavia, essa distinção está imersa em uma discussão ideológica que se insere em pensar algo para o futuro ou em se preocupar com ações presentes e impactos no futuro. (SILVA in: MENDES; SILVA, 2005, p. 13).

Page 69: A INDÚSTRIA DE BOLSAS EM SERROLÂNDIA BA E OS (DES ...livros01.livrosgratis.com.br/cp110660.pdf · conservação do meio ambiente e diminuição das desigualdades sociais. 4

68

Para Afonso (2006) a noção de sustentabilidade é derivada do conceito de

desenvolvimento sustentável e implica:

[…] na manutenção quantitativa do estoque de recursos ambientais, utilizando tais recursos sem danificar suas fontes ou limitar a capacidade de suprimento futuro, para que tanto as necessidades atuais quanto aquelas do futuro possam ser igualmente satisfeitas. (AFONSO, 2006, p. 11).

Desta forma, a sustentabilidade constitui possibilidade de condições iguais para

todas as pessoas e seus sucessores em um dado ecossistema com forma

sustentável de preservação do meio ambiente, ou seja, de manutenção de nosso

sistema de suporte da vida, respeitando as leis da natureza (CAVALCANTI, 1998).

Leff (2001) fala das falhas dos projetos da modernidade, apontando como saída, a

sustentabilidade do desenvolvimento, a qual anuncia o limite da racionalidade

econômica com vistas aos valores da vida, da justiça social e do compromisso com

as gerações futuras. Contudo, Afonso (2006, p. 70) afirma que a sustentabilidade,

até então, se realiza apenas como discurso que não é “[…] transformado em

práticas possíveis e nem mesmo em um caminho possível”.

Segundo Veiga (2005), ainda que não seja entendida como um conceito científico, a

idéia de sustentabilidade adquiriu nos últimos vinte anos grande importância mesmo

sendo usada com sentidos diferentes. Todavia, a sustentabilidade é contraditória

porque nunca poderá ser encontrada em estado puro. Nunca será a natureza

precisa, discreta, analítica, mas, é fundamental para o processo de

institucionalização da agenda política internacional a qual introduz o meio ambiente

nas discussões referentes à necessidade de implementação de políticas públicas em

todos os Estados e organismos multilaterais. Sobre esta questão Veiga (2005)

adverte que:

Por evocar, em última instância, uma espécie de “ética de perpetuação da humanidade e da vida”, a expressão sustentabilidade passou a exprimir a necessidade de um uso mais responsável dos recursos ambientais, o que só pode ser complicado para qualquer corrente de pensamento que se fundamente no utilitarismo, individualismo e equilíbrio, como é o caso da economia neoclássica […] (VEIGA, 2005, p. 165).

Page 70: A INDÚSTRIA DE BOLSAS EM SERROLÂNDIA BA E OS (DES ...livros01.livrosgratis.com.br/cp110660.pdf · conservação do meio ambiente e diminuição das desigualdades sociais. 4

69

É Sachs (2007) quem mais contribui para uma discussão aprofundada sobre

sustentabilidade no meio científico. Segundo o autor, o conceito de sustentabilidade

perpassa cinco dimensões: a sustentabilidade social, a qual considera que o

processo de desenvolvimento ocorrerá de forma que a sociedade tenha maior

equidade na distribuição de renda, diminuindo a diferença de padrão de vida entre

ricos e pobres; a sustentabilidade econômica, que deve se preocupar com o

gerenciamento e alocação dos recursos e investimentos no setor público e privado.

Nesta dimensão, é preciso superar as contradições entre os países do Norte e os do

Sul em termos de barreiras protecionistas e das dívidas externas bem como, o

acesso limitado à ciência e tecnologia, avaliando a eficiência econômica em termos

macrossociais e não microeconômico; a sustentabilidade ecológica, (também tratada

como sustentabilidade ambiental), na qual se intensifica o uso do potencial de

recursos sem causar degradação aos sistemas de sustentação da vida, ou seja,

mais consumo de recursos renováveis e menos consumo de combustíveis fósseis

para reduzir o volume de resíduos e poluição. Também visa intensificar os estudos e

pesquisas para a obtenção de novas tecnologias que não agridam o meio ambiente

através da efetivação de normas de proteção ambiental.

Além destas dimensões temos a sustentabilidade espacial e a sustentabilidade

cultural. A primeira visa um maior equilíbrio rural-urbano com distribuição eqüitativa

dos assentamentos humanos e atividades econômicas, evitando a concentração em

massa nas áreas urbanas e a destruição dos ecossistemas frágeis. Visa utilizar

práticas agrícolas regenerativas, envolvendo principalmente pequenos agricultores e

explorar o potencial de industrialização descentralizada com ênfase na biomassa. A

segunda inclui as raízes endógenas de modelos de modernização e sistemas

agrícolas, utilizando o conceito de ecodesenvolvimento como solução para cada

contexto sócio-ecológico (SACHS, 2007). Vale ressaltar que, destas dimensões de

sustentabilidade, tomarei como análise para a pesquisa as dimensões econômica e

ambiental no que tange ao papel das fábricas de bolsas na economia e nos

impactos ambientais em Serrolândia.

Contudo, podemos concluir que eqüidade social, com ética e solidariedade, em que

os grupos sociais atuais possam ter acesso aos recursos ambientais do planeta de

forma equilibrada; prudência ecológica com melhoria na qualidade de vida,

Page 71: A INDÚSTRIA DE BOLSAS EM SERROLÂNDIA BA E OS (DES ...livros01.livrosgratis.com.br/cp110660.pdf · conservação do meio ambiente e diminuição das desigualdades sociais. 4

70

respeitando as populações que estão por vir; e, eficiência econômica, uso da mão-

de-obra e recursos materiais são instâncias que devem andar juntas para se obter a

sustentabilidade. Sobre esta questão Afonso (2006) aborda que é necessária

também, a participação de todos os setores da sociedade, já que a sustentabilidade

é um processo de mudança e transformação estrutural que não pode ser obtido

instantaneamente. Segundo Franco (2000), a sustentabilidade pode ser conquistada

com a estratégia de DLIS que pode ser incorporada a qualquer unidade

socioterritorial, como exemplo a cidade de Serrolândia, que conheceremos melhor

no capítulo a seguir.

Page 72: A INDÚSTRIA DE BOLSAS EM SERROLÂNDIA BA E OS (DES ...livros01.livrosgratis.com.br/cp110660.pdf · conservação do meio ambiente e diminuição das desigualdades sociais. 4

71

4 A CIDADE DE SERROLÂNDIA/BA E A CHEGADA DAS FÁBRICAS DE

BOLSAS

Cada lugar é, à sua maneira, o mundo. […] Mas, também, cada lugar irrecusavelmente imerso numa comunhão com o mundo, torna-se exponencialmente diferente dos demais.

(Milton Santos, 2004a)

Neste capítulo será feita uma contextualização geográfica, histórica e

socioeconômica da cidade de Serrolândia, haja vista esta ser a área do objeto de

estudo da pesquisa que são as fábricas de bolsas personalizadas. Acredito que é de

suma importância para a realização deste trabalho conhecer a realidade do lugar,

suas características que o diferenciam dos demais, bem como sua relação com o

sistema mundo como afirma Santos (2004a). Os resultados das entrevistas, dos

grupos focais de mulheres, jovens e homens que contribuíram para a realização

desta pesquisa e os dados coletados in locu, permitiram-m fazer um breve histórico

da chegada das fábricas de bolsas nesta cidade para situar o (a) leitor (a) sobre as

especificidades desta atividade econômica, como veremos mais adiante.

4.1 Conhecendo a Geografia de Serrolândia

O município de Serrolândia, pertencente ao Estado da Bahia, está localizado entre

as coordenadas 11°24’ de latitude sul e 40°18’ de longitude oeste de Greenwich, em

uma altitude de 482m em relação ao nível do mar (SEBRAE, 1999). Dentre as

classificações regionais do Estado, o município corresponde à Região Econômica

(10) Piemonte da Diamantina (Mapa 1), a qual está situada na área nordeste central

do estado, interligando o litoral e o sertão de São Francisco pelas encostas do

maciço da Chapada Diamantina. Segundo dados da Superintendência de Estudos

Econômicos e Sociais da Bahia (SEI, 2008), com uma área total de 33.966 km², a

região Piemonte da Diamantina é composta por 24 municípios e representa

aproximadamente 6% do Estado da Bahia. Tal região tem como sustentáculos

econômicos, desde sua ocupação territorial em meados do século XVII e início do

Page 73: A INDÚSTRIA DE BOLSAS EM SERROLÂNDIA BA E OS (DES ...livros01.livrosgratis.com.br/cp110660.pdf · conservação do meio ambiente e diminuição das desigualdades sociais. 4

72

MAPA 1

século XVIII, a mineração, principalmente do ouro, a pecuária bovina, e o comércio,

fatores que impulsionaram o povoamento da região pelos bandeirantes, tropeiros e

demais desbravadores, bem como a criação de vários municípios, dentre eles,

Serrolândia.

A cidade de Serrolândia também faz parte da Microrregião Homogênea (10)

Jacobina e Região Administrativa (16) Jacobina, limitando-se aos municípios de

Jacobina, Mairí, Quixabeira, Várzea da Roça e Várzea do Poço. Dista-se de

Salvador, capital do estado, 317km pela rodovia BR-324 e também tem como via de

acesso aos demais municípios as rodovias BA-417 e BR 407. Quanto à divisão

político-administrativa, o município é formado pelos povoados de Alto do Coqueiro,

Boa Vista, Maracujá, Novolândia, Salamim, Varzeolândia e Roçadinho (Mapa 2).

Page 74: A INDÚSTRIA DE BOLSAS EM SERROLÂNDIA BA E OS (DES ...livros01.livrosgratis.com.br/cp110660.pdf · conservação do meio ambiente e diminuição das desigualdades sociais. 4

73

MAPA 2

Segundo dados da SEI (2008), o tipo climático de Serrolândia é o Semi-Árido com

temperatura média anual de 23.0º; máxima de 28.1º e mínima de 18.9ºC. Este

município apresenta pluviosidade entre 600 e 800mm ao ano com período chuvoso

geralmente, entre os meses de novembro e janeiro, portanto, esta é uma área

inserida 100% no Polígono das Secas com alto risco de seca. Vale ressaltar que

esse fenômeno gera sérios problemas para a população local, sobretudo para as

Page 75: A INDÚSTRIA DE BOLSAS EM SERROLÂNDIA BA E OS (DES ...livros01.livrosgratis.com.br/cp110660.pdf · conservação do meio ambiente e diminuição das desigualdades sociais. 4

74

famílias de baixa renda que não possuem recursos financeiros para a construção de

reservatórios de água, como tanques e cisternas, de modo a garantir o

abastecimento da água nestes períodos; também não possuem recursos para o

desenvolvimento das produções agropecuárias, ficando a cargo do poder público

municipal a assistência destas pessoas, tanto para o uso humano quanto para o

consumo animal.

Segundo dados da SEI (2008), Serrolândia é banhada pela bacia hidrográfica

Itapicuru e Jacuípe e seu aproveitamento hídrico é feito através de vários espelhos

d’água, principalmente do Açude Serrote e da represa Barragem São José do

Jacuípe, estes contribuem para o desenvolvimento da agricultura, pecuária e

piscicultura da região. O tipo de solo apresentado é o Latossolo Vermelho-Amarelo

álico e distrófico com aptidão boa para a lavoura e aptidão regular para pastagem

plantada, no entanto, a produtividade na lavoura depende do controle das chuvas

que são bastante irregulares.

Em termos geológicos, a região de Serrolândia é constituída por Depósitos

Eluvionares e Coluvionares, Granito-gnaises, Gnaises Charnockíticos, rochas

Basálticas-ultrabásicas e Diatexistos. O relevo é formado por Tabuleiros Interioranos

e Patamar do Médio Rio Paraguaçú. A vegetação predominante nesta área é

composta do tipo Contato Caatinga-Florestal Estacional, com espécies arbustivas e

arbóreas. Esta vegetação encontra-se reduzida e pressionada pelas expansões

imobiliárias (SEI, 2008).

No que tange aos aspectos demográficos, este município de pequeno porte, com

área total de aproximadamente 374Km², desde sua emancipação política, foi

marcado, por muito tempo, pelo elevado declínio populacional devido ao fenômeno

da seca e do êxodo rural para as grandes cidades, principalmente Salvador e São

Paulo. Sua população teve significativas oscilações de crescimento. Segundo dados

dos censos demográficos do IBGE (2008), em 1991 a população possuía um total de

11.812 habitantes e em 2000 aumentou para 12.616, tendo um decréscimo

populacional para 12.120 habitantes em 2007, em virtude de questões políticas e

territoriais de desmembramento de povoados. Contudo, apesar deste decréscimo do

número de habitantes, a população urbana de Serrolândia vem aumentando

Page 76: A INDÚSTRIA DE BOLSAS EM SERROLÂNDIA BA E OS (DES ...livros01.livrosgratis.com.br/cp110660.pdf · conservação do meio ambiente e diminuição das desigualdades sociais. 4

75

significativamente nos últimos anos, possuindo atualmente 7. 010 pessoas enquanto

que a população rural possui 5. 112 pessoas (IBGE, Contagem da População 2007),

sobretudo, devido ao aumento da geração de emprego e renda, bem como na oferta

de serviços.

Sobre a questão acima, o grupo focal de mulheres (fotografias 2 e 3) se posicionou

em relação ao acelerado crescimento da população urbana desta cidade, nos

últimos anos. Segundo as participantes do grupo, Serrolândia cresceu

razoavelmente. Elas chamam atenção para o fato de que antes, na cidade, todos se

conheciam e atualmente isso não ocorre mais, visto que a população urbana está

aumentando em virtude do desenvolvimento das fábricas de bolsas e do comércio

local, e assim, aumenta também o número de residências, tanto privadas como

comerciais.

Fotos 2 e 3: Grupo focal de Mulheres. Elaboração: Ivaneide Silva dos Santos, outubro de 2008.

Ainda, segundo as entrevistadas, houve também uma diminuição de emigrantes,

sobretudo de jovens, do município nos últimos anos e um razoável deslocamento de

pessoas da zona rural para a sede do município devido aos fatores citados

anteriormente.

No que diz respeito à problemática da emigração, o grupo focal de jovens (Fotos 4 e

5) se posicionou afirmando que muitas pessoas que foram embora de Serrolândia, à

Page 77: A INDÚSTRIA DE BOLSAS EM SERROLÂNDIA BA E OS (DES ...livros01.livrosgratis.com.br/cp110660.pdf · conservação do meio ambiente e diminuição das desigualdades sociais. 4

76

procura de emprego, estão retornando à cidade. Além disso, pessoas de outras

cidades têm migrado para Serrolândia, devido ao aumento da oferta de emprego,

principalmente nas fábricas de bolsas e também porque o custo de vida não é muito

elevado. Contudo, os Microdados do Censo Demográfico de 2000 que obtivemos da

SEI/IBGE (2008) nos revelam que, entre os anos de 1995 a 2000, o número de

migrantes interestaduais, com 5 anos ou mais (577), foi superior ao dos imigrantes

(158).

Fotos 4 e 5: Grupo focal de Jovens. Elaboração: Ivaneide Silva dos Santos, outubro de 2008.

Apesar dos dados censitários, do ano de 2000, comprovarem o contrário do relato

do grupo focal de jovens, a SEI/IBGE ainda não disponibilizou dados atualizados

que comprovam o decréscimo entre o número de imigrantes em relação aos

migrantes da cidade de Serrolândia entre os anos de 2000 a 2008.

4.2 Conhecendo a História do Lugar

O município de Serrolândia originou-se das terras desbravadas por membros das

famílias Vieira e Moreira que habitavam a fazenda denominada Várzea d’Água,

pertencente ao município de Jacobina em meados de 1927. O casal Jerônimo

Moreira e Zulmira Marcela Jordão, com perspectivas para o futuro, resolveu fazer

Page 78: A INDÚSTRIA DE BOLSAS EM SERROLÂNDIA BA E OS (DES ...livros01.livrosgratis.com.br/cp110660.pdf · conservação do meio ambiente e diminuição das desigualdades sociais. 4

77

uma roçagem nas proximidades da sua fazenda para fundar naquele local um

comércio e, recebendo o apoio de seu conterrâneo Amaro Bispo Vieira, em 1929

inauguraram a roçagem formando ali um arraial com suas primeiras casas de palha.

Em 1930 foram edificadas as primeiras casas de telha, bem como iniciaram as

primeiras feiras livres. O arraial passou a se chamar Serrote devido a este ter em

suas proximidades uma pequena serra (atualmente denominado Monte Serro te)

onde foi fixada uma grande cruz de madeira pela família Moreira que tinha um

sentimento religioso (REIS, 1994).

Segundo Reis (1994) em 30 de dezembro de 1953 o povoado Serrote foi elevado à

categoria de Vila pela Lei Estadual n° 628, sendo que sua denominação foi

substituída por Vila Serrolândia. Esta vila passou por sérios problemas devido à falta

de chuvas, levando o Departamento de Obras Contra a Seca – DNOCS a construir o

Açude Serrote em 1950. A construção do açude foi concluída em 1958 e contribuiu

para o desenvolvimento da Vila Serrolândia por abastecer o município e atrair um

grande número de pessoas, resultando num considerável aumento populacional. Em

23 de julho de 1962, com a criação da Lei Estadual n°1746 e pela vontade dos

moradores do lugar, através de plebiscito, Serrolândia teve a sua emancipação

política, desmembrando-se do município de Jacobina e trazendo em sua sede os

seguintes povoados: Maracujá, Quixabeira, Salamin, Roçadinho e Jaboticaba. Este

último, atualmente pertence ao município de Quixabeira que também foi

desmembrado de Serrolândia e elevado à categoria de cidade em 1989.

Neste processo de descentralização político-administrativa, Serrolândia teve como

primeiro prefeito o Senhor Florivaldo Magalhães Sousa , o qual apresentou como

propostas políticas, para seu mandato, o progresso e o crescimento do município.

Esta administração política foi considerada como o ponto de partida para as

transformações socioeconômicas e de desenvolvimento do lugar, devido à criação

de várias obras municipais (REIS, 1996). Desta forma, esta ação se relaciona com a

idéia de Buarque (2002), Joyal e Martinelli (2004), sobre a descentralização política

como fator determinante para o desenvolvimento econômico local (tendo como corte

espacial o município) por facilitar a relação entre o poder público, o setor privado e

demais agentes regionais.

Page 79: A INDÚSTRIA DE BOLSAS EM SERROLÂNDIA BA E OS (DES ...livros01.livrosgratis.com.br/cp110660.pdf · conservação do meio ambiente e diminuição das desigualdades sociais. 4

78

Após a sua emancipação político-administrativa, a cidade de Serrolândia foi

adquirindo uma nova configuração sócio-espacial ao longo do tempo. A captação de

recursos externos por parte dos governos locais que administraram o lugar facilitou a

criação de várias obras públicas para o município, principalmente após a nova

Constituição Federal em 1988, a qual concedeu maior autonomia política,

administrativa e financeira aos municípios com a criação de suas próprias Leis

Orgânicas Municipais, como afirma Fonseca (2005). Segundo dados da Câmara

Municipal de Serrolândia, na sede da cidade foram surgindo várias residências, ruas,

avenidas, bairros e loteamentos. Podemos perceber esta configuração na fotografia

6 a seguir:

Foto 6: Vista aérea da cidade de Serrolândia. Elaboração: Prefeitura Municipal de Serrolândia, 1998.

A foto 6 nos mostra parte do centro da cidade onde se localiza o Estádio Municipal

Waldetrudes Carneiro de Magalhães e o Clube Recreativo Esportivo e Social de

Serrolândia – CRESS na Praça Manoel Reis de Oliveira, e, o Mercado Municipal na

Praça Ruy Barbosa, onde são realizadas, aos sábados, as feiras livres que antes

ocorriam nas Praças Manoel Novaes e Juracy Magalhães. Atualmente, neste local

também se concentram as atividades comerciais e de serviços.

Page 80: A INDÚSTRIA DE BOLSAS EM SERROLÂNDIA BA E OS (DES ...livros01.livrosgratis.com.br/cp110660.pdf · conservação do meio ambiente e diminuição das desigualdades sociais. 4

79

4.3 Aspectos Econômicos de Serrolândia

O município de Serrolândia tem como base da economia a agropecuária, o

comércio, os serviços e a indústria. Esta última, ainda pouco expressiva até o início

da década de 1990, porém, tendo como destaque a atividade madeireira para

fabricação de móveis, casas de farinha e olarias para fabricação de tijolos, telhas e

blocos. Atualmente, conta com um total de 25 estabelecimentos 7, tendo como

destaque a fábrica de vinhos, de fubá e as fábricas de bolsas destinadas,

basicamente, à exportação. A agricultura, em sua maior parte, é de subsistência e

nem todas as pessoas que trabalham nesta atividade possuem terras para cultivar.

Contudo, alguns produtos atendem ao mercado local e também são exportados para

a região, como o feijão, a mamona, o milho, entre outros (REIS, 1994). Destaca-se

como principal produto do extrativismo vegetal o licuri (syagrus coronata), palmeira

característica da região semi-árida do nordeste sob o domínio da caatinga, como

nos mostra as fotos 7, 8 e 9 a seguir:

Foto 7: Palmeira de Licuri na região de Serrolândia-BA; Foto 8: “Bocapio”- Artesanato feito com a palha do licuri. Elaboração: Ivaneide Silva dos Santos, julho de 2008.

7 Dados do IBGE, Cadastro Central de Empresas 2006; Malha municipal digital do Brasil: situação em 2006. Rio de Janeiro: IBGE, 2008. Disponível em: www.ibge.gov.br/cidades

Page 81: A INDÚSTRIA DE BOLSAS EM SERROLÂNDIA BA E OS (DES ...livros01.livrosgratis.com.br/cp110660.pdf · conservação do meio ambiente e diminuição das desigualdades sociais. 4

80

Foto 9: Quebra de Licuri para comercialização.

Elaboração: Ivaneide Silva dos Santos, julho de 2008.

Como podemos visualizar na foto 7, o extrativismo do licuri, considerado, por muito

tempo, um dos maiores sustentos para algumas famílias, sobretudo as de baixa

renda, tanto da zona rural quanto da zona urbana (REIS, 1994), é realizado para fins

como: a uti lização das palhas para fabricação de artesanatos como os “bocapios”

apresentados na foto 8, que são comercializados nas feiras livres para diversas

funções como carregar mantimentos; a quebra de licuri para a extração da amêndoa

que pode ser utilizada na produção de doces, de leite e de óleo, utilizados na

culinária serrolandense, bem como para comercialização e exportação (Foto 9). Vale

ressaltar que com a implantação das fábricas de bolsas na cidade houve um declínio

da atividade extrativista do licuri.

Na pecuária, o município possui criações de animais de pequeno, médio e grande

porte, com destaque para a criação de bovinos (21 mil cabeças, segundo dados da

Agência Estadual de Defesa Agropecuária da Bahia - ADAB8 local, 2008) e aves,

principalmente galinhas (39. 947 mil cabeças segundo dados do IBGE, 2007), o que

possibilita a comercialização dos produtos derivados destes, como leite de vaca,

carne e ovos de galinha para diversas finalidades. A pecuária é extensiva e alguns

8 Dados coletados através de entrevista com técnicos do escritório local da ADAB - Serrolândia, Outubro de 2008. Os dados correspondem ao mês de março de 2008 na campanha da vacina.

Page 82: A INDÚSTRIA DE BOLSAS EM SERROLÂNDIA BA E OS (DES ...livros01.livrosgratis.com.br/cp110660.pdf · conservação do meio ambiente e diminuição das desigualdades sociais. 4

81

animais não se adaptam ao longo período de estiagem. Além disso, há uma

carência de capacitação dos produtores locais e tecnologias apropriadas à criação,

configurando assim, um volume pouco expressivo para uma comercialização que

possa agregar um valor significativo para a economia da região de Serrolândia

(SEBRAE, 1999).

No que tange ao setor comercial, Serrolândia conta com estabelecimentos que

desenvolvem variados tipos de comércio, os quais movimentam a compra e venda

de mercadorias, tanto no atacado como no varejo (REIS, 1994). No entanto, ainda

no início da década de 1990 o comércio não atendia à demanda da população,

mesmo com o crescimento do número de estabelecimentos (177 no ano de 1995).

Desta forma, a presença de vendedores ambulantes de outros municípios é bastante

significativa nas feiras livres, principalmente por estes atraírem a população com

produtos de preços baixos (SEBRAE, 1999). Contudo, nos últimos anos o comércio

de Serrolândia atingiu novas proporções na cidade. Segundo um relato do grupo

focal de mulheres:

A questão do comércio, a gente percebe principalmente quem é comerciante, o desenvolvimento que ocorreu em Serrolândia nesse período, porque muitas das vezes, muitos, muitos produtos não se encontravam na cidade e hoje a gente percebe que já tem vários tipos de produtos como no caso a questão do sapato, roupa. Tudo a gente tinha que se deslocar a Jacobina, Feira de Santana e hoje a gente encontra vários tipos de produtos de diversas marcas na nossa cidade, então é uma coisa assim, fundamental (Participante - Grupo Focal – Mulheres – Jul/2008)

9.

O relato da participante do grupo focal de mulheres confirma-se com os dados

obtidos no setor de Tributos da Prefeitura Municipal de Serrolândia, o qual tem

registrado neste ano de 2008 um total de 440 estabelecimentos comerciais

registrados com autorização de licença para funcionamento e localização.

Comparando-se este dado do número de estabelecimentos com os dados de 1995

(177) é possível perceber que o comércio em Serrolândia cresceu

consideravelmente, isso sem contar com os estabelecimentos que funcionam de

forma clandestina na cidade.

9 Relato concedido pelo grupo focal de mulheres em Serrolândia, 28 de outubro de 2008.

Page 83: A INDÚSTRIA DE BOLSAS EM SERROLÂNDIA BA E OS (DES ...livros01.livrosgratis.com.br/cp110660.pdf · conservação do meio ambiente e diminuição das desigualdades sociais. 4

82

Mesmo com os entraves das condições climáticas, podemos perceber que ao longo

do tempo Serrolândia cresceu em números no que tange à economia. Segundo

dados da SEI/IBGE (2008), o valor adicionado na agropecuária em 2002 foi da

ordem de R$ 2, 330 mil reais (dois milhões, trezentos e trinta mil reais); na indústria,

R$ 1,920 mil reais (um milhão, novecentos e vinte mil reais); e, nos serviços R$

13,760 mil reais (treze milhões, setecentos e sessenta mil reais). Obteve um PIB de

R$ 18, 800 mil reais (dezoito milhões e oitocentos mil reais) e renda per capta de R$

1. 806 reais (um mil, oitocentos e seis reais). Em 2005 os dados nos mostram que o

valor adicionado na indústria aumentou para R$ 3, 309 mil reais (três milhões,

trezentos e nove mil reais) (Segundo os empresários entrevistados, atualmente este

valor chega a cinco milhões, referente às fábricas de bolsas), enquanto que na

agropecuária aumentou para R$ 2, 736 mil reais (dois milhões, setecentos e trinta e

seis mil reais). No setor de serviços houve aumento significativo para R$ 19, 926 mil

reais (dezenove milhões, novecentos e vinte e seis mil reais) com um PIB no valor

de R$ 27, 214 mil reais (vinte e sete milhões, duzentos e quatorze mil reais) e renda

per capta de R$ 2. 264 reais (dois mil, duzentos e sessenta e quatro reais) (IBGE,

2005).

Podemos concluir que, de todos os setores da economia serrolandense, o de

serviços é o mais expressivo, sobretudo aqueles dedicados às atividades

relacionadas ao mercado e serviços públicos, principalmente da prefeitura municipal.

Contudo, embora se observe um crescimento, segundo os dados apresentados

anteriormente, na economia regional Serrolândia ainda depende dos serviços e

atividades comerciais e industriais de outros municípios, principalmente da cidade de

Jacobina que é a sede da região geográfica e administrativa à qual esta cidade

pertence.

No que concerne ao capital social que segundo Franco (2000), diz respeito aos

níveis de organização de uma sociedade, o associacionismo, a formação de redes

de cooperação, e prosperidade econômica, Serrolândia conta com algumas

associações de bairros, educativa, de pescadores, bem como a Associação

Comercial e Agropecuária de Serrolândia – ACIASE, um agente que vem

desempenhando um papel importante para o desenvolvimento econômico local. É

formada por uma pequena parcela de comerciantes, agropecuaristas e empresários

Page 84: A INDÚSTRIA DE BOLSAS EM SERROLÂNDIA BA E OS (DES ...livros01.livrosgratis.com.br/cp110660.pdf · conservação do meio ambiente e diminuição das desigualdades sociais. 4

83

da cidade desde 1996, a qual possui atualmente 80 associados10. Vale destacar que

a ACIASE é filiada à Federação das Associações Comerciais do Estado da Bahia –

FACEB a qual vem fortalecendo o associativismo e o empreendedorismo no Estado

da Bahia através da articulação e coordenação das associações filiadas. Entretanto,

apesar do papel desempenhado por esta na economia local, ainda falta mobilização

de vários agentes sociais locais para promoverem ações que dinamizem a economia

da cidade, pois, o número de associados é relativamente pequeno dentro de um

universo de aproximadamente 500 empresários, agropecuaristas e comerciantes

locais. Vale ressaltar que é de fundamental importância a mobilização de todos os

agentes sociais locais com a realização de atividades que implementem as

transformações na realidade, preparando-se para o futuro desejado, através de um

planejamento de desenvolvimento local (BUARQUE, 2002).

4.4 A Chegada das Bolsas em Serrolândia

A primeira fábrica de bolsas de Serrolândia foi implantada no início da década de

1990 por um morador desta cidade chamado Noel Roque Rodrigues, filho de

comerciantes que foi tentar a vida fora da cidade e retornou à mesma, trazendo

essa idéia através da experiência de produção de bolsas, por ele vivenciada,

existente no sul da Bahia, especificamente na cidade de Itabuna. Foi uma idéia

que certamente iria transformar a sua vida e de toda a comunidade

serrolandense. Em entrevista com Noel, ele conta como tudo começou:

[…] então eu trouxe uma bolsa de lá de Itabuna, essa bolsa veio aqui e eu sentei com Raulinda, nós desmanchamos a bolsa toda observando detalhes, a costura essas coisas e recriamos a bolsa trazida de Itabuna e assim gerou a primeira bolsa que foi Raulinda que me deu esse suporte essa condição de fazer uma bolsa […] 11

Esta afirmação se confirma na fala de Raulinda Mª Oliveira, primeira costureira da

fábrica de Noel:

10 Dados fornecidos a Ivaneide S. Santos do escritório da ACIASE em Serrolândia, 10 de dezembro de 2008. 11

Noel Roque Rodrigues. Ex-fabricante de bolsas. Entrevista concedida a Ivaneide S. Santos em Serrolândia, 31 de agosto de 2008.

Page 85: A INDÚSTRIA DE BOLSAS EM SERROLÂNDIA BA E OS (DES ...livros01.livrosgratis.com.br/cp110660.pdf · conservação do meio ambiente e diminuição das desigualdades sociais. 4

84

Noel chegou aqui um dia de domingo aí disse: Ral, eu trouxe aqui uma bolsa será que tu pode ver se tu faz uma bolsa dessa pra gente abrir uma fábrica? Aí eu disse: vamo vê, aí dismanchamo a bolsa, ele tirou o molde aí cortou a bolsa, aí eu costurei, costurei toda do mesmo geitinho daquela que nós dismanchamo aí ele disse: tu topa custurar, segunda-feira nós vamos abrir a fábrica? Eu digo, topo, aí ele na segunda-feira de manhã eu sai daqui e fui pra lá, quando chegei lá ele já tava com três bolsas cortadas […] aí eu costurei as três bolsas […] 12.

E assim deu-se início a primeira fábrica ainda com uma estrutura rudimentar,

cujas atividades eram realizadas num depósito da própria casa do idealizador

com máquinas de costura de pedal; Raulinda e as demais costureiras, com vasta

experiência, produziam as bolsas enquanto Noel tirava o molde, cortava, revelava

as telas para pintar as logomarcas, pintava, embalava e entregava a mercadoria

vendida, até sentir a necessidade de contratar mais pessoas para ajudarem nas

tarefas. Em seis meses esta fábrica já havia sido registrada, tendo

aproximadamente 10 funcionários, contribuindo para aumentar a fonte de renda

da cidade. A compra dos insumos uti lizados para a fabricação das bolsas era

realizada em Feira de Santana-Ba e neste processo, muitas dificuldades foram

enfrentadas como afirma Noel:

Na época a questão das bolsas deixava muito a desejar porque nós não tínhamos máquina industrial lançada ainda, nós trabalhávamos com máquina chamada máquina pé duro, é aquela máquina antiga e pequena de costurar roupa e foi uma dificuldade muito grande, muito grande mesmo pra implantar isso aqui. […] mas a bolsa foi implantada aqui na casa de minha mãe onde as costureiras, na época a fábrica era composta por seis costureiras, Raulinda foi a pioneira também junto comigo porque iniciou esse trabalho e começou a gerar emprego, começou a ser comercializada a todo o vapor as bolsas aqui em Serrolândia […]13

A partir daí, esta atividade foi se expandindo, outros moradores viram que estava

dando certo e começaram a investir no negócio, principalmente os vendedores

empregados na fábrica de Noel, a qual funcionou durante dez anos, mas por motivos

financeiros foi fechada. Desta forma podemos concluir que o processo de

implantação das fábricas de bolsas em Serrolândia pode ser considerado endógeno

12 Raulinda Maria Oliveira. Ex-costureira. Entrevista concedida a Ivaneide S. Santos em Serrolândia, 18 de outubro de 2008. 13 Noel Roque Rodrigues. Ex-fabricante de bolsas. Entrevista concedida a Ivaneide S. Santos em Serrolândia, 31 de agosto de 2008.

Page 86: A INDÚSTRIA DE BOLSAS EM SERROLÂNDIA BA E OS (DES ...livros01.livrosgratis.com.br/cp110660.pdf · conservação do meio ambiente e diminuição das desigualdades sociais. 4

85

por ter sido articulado pelos próprios agentes sociais locais, num processo

permanente de aprendizagem e criatividade (BUARQUE, 2002; ROYAL;

MARTINELLI, 2004), mesmo que tenha havido influências de caráter exógeno

(OLIVEIRA; SOUZA-LIMA, 2006).

Atualmente a indústria de bolsas em Serrolândia, caracterizada como indústria de

transformação de bens de consumo que, segundo Sandroni (2006), são aquelas

responsáveis pela produção de artigos de utilidade individual ou familiar, conta com

aproximadamente 10 estabelecimentos, não levando em conta os chamados “fundos

de quintal” 14. Estas fábricas desenvolvem variadas atividades (Fotos 9 a 14), desde

as funções da parte administrativa e financeira ligadas à técnica de informação e ao

marketing, as vendas e encomendas de produtos e matérias-primas, os serviços

gerais, até as formas de produção como o corte do material (bagum, nylon, lona,

plástico e napa), a pintura, costura, rebarba15, embalagem e o transporte da

mercadoria.

Foto 10: Setor de Layout/Separação de cores para pintura; Foto 11: Setor de corte. Elaboração: Ivaneide Silva dos Santos, abril de 2008.

14 Fundo de quintal é a denominação dada àquelas empresas que não são registradas na Secretaria da Receita Federal/ Secretaria Estadual da Fazenda e não pagam os impostos devidamente, no caso das fábricas de bolsas, o Simples (Sistema de tributação simplificada) e Super-simples. 15

O termo “rebarba” significa: o acabamento do produto em que se realiza o corte de linhas e sobra de materiais.

Page 87: A INDÚSTRIA DE BOLSAS EM SERROLÂNDIA BA E OS (DES ...livros01.livrosgratis.com.br/cp110660.pdf · conservação do meio ambiente e diminuição das desigualdades sociais. 4

86

Foto 12: Revelação e pintura das bolsas; Foto 13: Separação de peças para costura;

Foto 14: Setor de costura; Foto 15: Setor de “rebarba”;

Foto 16: Setor de embalagem; Foto 17: Mercadoria pronta para ser transportada. Elaboração: Ivaneide Silva dos Santos, abril de 2008.

Page 88: A INDÚSTRIA DE BOLSAS EM SERROLÂNDIA BA E OS (DES ...livros01.livrosgratis.com.br/cp110660.pdf · conservação do meio ambiente e diminuição das desigualdades sociais. 4

87

Como podemos visualizar nas fotografias acima (10 a 17), no interior da fábrica as

etapas da produção de bolsas ocorrem da seguinte forma: tudo começa no setor de

compra e venda da mercadoria onde os pedidos são processados e é gerado um

roteiro de acompanhamento; em seguida vai para o setor de corte onde se tira o

molde e corta-se o material que depois segue para a serigrafia em que é feito o

trabalho de layout e pintura dos logotipos e revelação de telas para a pintura. Após

esse processo, o material segue para o setor da costura onde também são

reguladas as alças e coloca-se o zíper, depois segue para a rebarba, embalagem e,

por fim, o transporte para a entrega da mercadoria encomendada. Esta mercadoria

por, sua vez, é entregue tanto por transportadoras como pelos próprios

representantes de vendas. Estas atividades seguem um modelo da divisão do

trabalho que segundo Santos (2004a), é movida pela produção e atribui a cada

movimento, um novo conteúdo e uma nova função aos lugares.

É importante ressaltar que a maioria destas fábricas foi implantada sem nenhum

incentivo dos órgãos públicos estadual e municipal, dispondo apenas de criatividade

e recursos próprios dos fabricantes e, mesmo assim, conseguiram se consolidar na

cidade de Serrolândia e expandir seu mercado consumidor. Conforme informações

de alguns fabricantes, poucas fábricas buscaram ajuda de micro-créditos do Banco

do Nordeste, Banco do Brasil e Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola S/A-

EBDA, para investir na compra da matéria-prima, capital de giro para movimentação

da empresas e maquinário. Atualmente produzem diversos modelos de bolsas

personalizadas e promocionais e de pronta-entrega, atendendo a um mercado

consumidor formado por óticas, casas de materiais esportivos e de construção,

farmácias, casas de revelação fotográfica, lojas de celulares, etc, uti lizando-as como

brindes, sendo destinadas basicamente para exportação. Segundo um relato do

grupo focal de homens (Fotos 18 e 19), a indústria de bolsas de Serrolândia é

referência em todo o Brasil já que o mercado consumidor está situado em todos os

Estados do país, sobretudo na Bahia, Minas Gerais, Maranhão, Piauí, Distrito

Federal, Goiânia, Rio de Janeiro e São Paulo. Segundo os participantes do grupo,

esta expansão comercial se dá devido ao preço baixo e à qualidade com que são

produzidas as bolsas de Serrolândia.

Page 89: A INDÚSTRIA DE BOLSAS EM SERROLÂNDIA BA E OS (DES ...livros01.livrosgratis.com.br/cp110660.pdf · conservação do meio ambiente e diminuição das desigualdades sociais. 4

88

Fotos 18 e 19: Grupo focal de Homens. Elaboração: Ivaneide Silva dos Santos, Out/2008.

A fala do grupo nos revela que, pelo fato da confecção das bolsas ser de boa

qualidade, estas empresas vêm atraindo cada vez mais o mercado consumidor. No

que se refere à confecção dos produtos, são vários os insumos utilizados como:

zíper, cursor, fita, linha, tela para revelação do logotipo, papel vegetal, papelão,

reguladores de alças, tinta, solvente, nylon, bagum, lona, plástico, couro sintético,

entre outros. Grande parte destes produtos é importada, principalmente da China, e

a outra vem basicamente de Rio de Janeiro, São Paulo e Paraná. Também já

existem duas casas comerciais na própria cidade, destinadas à venda da matéria-

prima das bolsas.

Podemos concluir que as fábricas de bolsas são muito importantes para Serrolândia

devido às grandes transformações ocorridas na dinâmica local após o processo de

implantação das mesmas. Destarte, no próximo capítulo será feita uma análise mais

detalhada sobre nosso objeto de estudo, no que tange aos (des) caminhos do

desenvolvimento local sustentável.

Page 90: A INDÚSTRIA DE BOLSAS EM SERROLÂNDIA BA E OS (DES ...livros01.livrosgratis.com.br/cp110660.pdf · conservação do meio ambiente e diminuição das desigualdades sociais. 4

89

5 A INDÚSTRIA DE BOLSAS EM SERROLÂNDIA E OS (DES) CAMINHOS

PARA O DESENVOLVIMENTO LOCAL SUSTENTÁVEL

Caminhando e cantando e seguindo a canção. Somos todos iguais braços dados ou não. Os amores na mente, as flores no chão. A certeza na frente, a história na mão. Caminhando e cantando e seguindo a canção. Aprendendo e ensinando uma nova lição.

(Pra não dizer que não falei das flores – Geraldo Vandré)

Discutimos nos capítulos anteriores as concepções de desenvolvimento face às

constantes transformações socioeconômicas, políticas e tecnológicas que vêm

ocorrendo no mundo, sobretudo com a chegada da industrialização; destacamos a

preocupação com o meio ambiente e com a qualidade de vida das populações

diante dos padrões tradicionais de desenvolvimento, enfatizando os novos

paradigmas que se propõem a realizar melhorias na organização social e

econômica, bem como na conservação dos recursos naturais, através de iniciativas

e ações das sociedades. No que tange às novas alternativas de desenvolvimento

frente ao processo de globalização, demos ênfase ao local que influencia, de forma

dialética, a dinâmica global. Neste contexto, o local pode mobilizar suas

potencialidades de maneira endógena para promover a reorganização da economia

e da sociedade local de forma sustentável, através de “[…] solidariedade sincrônica

com a geração atual e de solidariedade diacrônica com as gerações futuras”

(SACHS, 2004, p. 15).

Neste contexto de mudanças de paradigmas, vale ressaltar que, é importante para

as sociedades atuais caminharem em direção a um desenvolvimento – que ocorra

de forma equitativa e fomente a qualidade de vida; local – que seja planejado e

efetivado a partir dos agentes sociais locais e articulado com outras escalas

espaciais; e, sustentável – que concilie a eficiência econômica com a conservação

dos recursos naturais para atender às necessidades das gerações, tanto atual como

futuras. Neste processo advertimos a participação das pequenas e médias

empresas na contribuição às estratégias de desenvolvimento por promoverem

inovação, competitividade dos produtos no mercado (local, regional, nacional, e/ou

internacional), bem como o uso adequado de modernas tecnologias,

Page 91: A INDÚSTRIA DE BOLSAS EM SERROLÂNDIA BA E OS (DES ...livros01.livrosgratis.com.br/cp110660.pdf · conservação do meio ambiente e diminuição das desigualdades sociais. 4

90

desempenhando um importante papel na dinâmica socioeconômica de uma dada

sociedade.

De acordo com Caron (2006), as pequenas empresas funcionam como mola

propulsora para o desenvolvimento de uma dada localidade por promover

empreendimento, criatividade e iniciativas, assim como a geração de empregos,

renda e integração da sociedade no modo de produção e consumo. Desta forma,

neste capítulo será feita a análise das contribuições e os entraves da indústria de

bolsas em Serrolândia para o desenvolvimento local sustentável, com o objetivo de

discorrer como as fábricas utilizam as potencialidades locais e a relação destas com

os demais agentes sociais.

É importante evidenciar que para existir o DLS é necessária a mobilização dos

agentes sociais locais com base nas suas potencialidades e habilidades, assim

como um potencial endógeno que propiciem uma sinergia entre a qualidade de vida,

a eficiência econômica e a conservação dos recursos naturais como salientam

Buarque (2002); Franco (2000) e Joyal; Martinelli (2004). Destarte, apresentaremos

o papel destas micro e pequenas empresas na geração de empregos e dinamização

da economia local, a influência do processo de terceirização da produção na

qualidade do trabalho e os impactos ambientais locais causados por estas fábricas,

fatores que contribuem para os (des) caminhos do DLS.

Para uma melhor compreensão deste capítulo, apresentarei a seguir a análise dos

resultados das entrevistas realizadas com alguns fabricantes de bolsas e com

segmentos da sociedade serrolandense (os grupos focais de homens, mulheres e

jovens). Também explanarei os dados obtidos através dos questionários aplicados à

população (120 pessoas que corresponde a 1% da população total de Serrolândia),

entrevistas com seis funcionários das dez fábricas visitadas (30 pessoas que

corresponde a 10% dos funcionários de cada fábrica) e da visita a campo, bem

como a comparação com a base teórica.

Page 92: A INDÚSTRIA DE BOLSAS EM SERROLÂNDIA BA E OS (DES ...livros01.livrosgratis.com.br/cp110660.pdf · conservação do meio ambiente e diminuição das desigualdades sociais. 4

91

5.1 Contribuições da indústria de bolsas de Serrolândia para o

Desenvolvimento Local Sustentável

A fim de obter informações importantes do objeto de estudo desta pesquisa, como já

foi comentado, foram visitadas dez fábricas nas quais entrevistei alguns fabricantes

para sabermos a opinião destes em relação à implantação das fábricas de bolsas

em Serrolândia. Vale advertir que não foi possível entrevistar todos os fabricantes

das fábricas, não por falta de tentativas, mas, porque alguns não se mostraram

interessados a participarem das entrevistas. Contudo, nas falas dos entrevistados foi

possível constatar que a indústria de bolsas da cidade de Serrolândia é considerada

como uma atividade muito importante que tem crescido, aumentado a quantidade de

funcionários e a forma de produzir, melhorando cada vez mais a sua logística com

rapidez na entrega da mercadoria, procura de fornecedores com matéria-prima de

qualidade e barata, entre outros fatores. A melhora na logística das empresas

também contribui para atender ao mercado consumidor, o qual está se expandindo

para todos os estados do Brasil.

Alguns fabricantes chamam a atenção de que estas fábricas de bolsas vêm

acompanhando o processo de globalização e inovando cada vez mais as técnicas

de produção e informação. Vale ressaltar que as técnicas se instalam na superfície

terrestre e exercem, constantemente, influência no espaço geográfico devido às

transformações impostas pelo uso das máquinas e realização de novos métodos de

produção e informação que modificam os valores preexistentes das sociedades,

como discutido em Santos (2004a) e registrado nas respostas dos questionários

realizados com a população serrolandense. Segundo as pessoas entrevistadas, a

partir da implantação destas fábricas de bolsas, houve mudanças significativas no

modo de vida da população local, principalmente nas alternativas de trabalho, a

forma de se divertir, de morar, bem como no bem-estar das pessoas e no

desenvolvimento da cidade e crescimento da sociedade. No que tange às formas de

diversão e promoção do bem-estar, em observação a campo foi possível constatar

que alguns fabricantes promovem momentos de lazer em clubes e casas de festas,

envolvendo funcionários, parentes e amigos; também existe na cidade um bloco

junino chamado “Empurrando o Jeep” que foi criado por vários fabricantes de bolsas

Page 93: A INDÚSTRIA DE BOLSAS EM SERROLÂNDIA BA E OS (DES ...livros01.livrosgratis.com.br/cp110660.pdf · conservação do meio ambiente e diminuição das desigualdades sociais. 4

92

e atrai aproximadamente duas mil pessoas participantes todo ano no “Arraiá do

Licurí”, festa tradicional do município. Os entrevistados chamam a atenção de que

estas fábricas também conseguiram mudar a visão política da população local, ou

seja, na escolha dos governantes locais. Segundo um relato do grupo focal de

homens:

[…] as fábricas de bolsas conseguiram mudar, ao meu modo de ver, até a questão política da cidade, até a visão política do povo. […] a gente percebe que a visão política de Serrolândia aqui, […] foi mudando a partir do momento que a visão das pessoas foram se abrindo, que as pessoas tiveram um conhecimento maior, uma possibilidade melhor de, de ter uma renda própria que não dependesse tanto da prefeitura porque todo mundo focalizava sua renda ou em quem tinha um parente aposentado ou quem dependia de algum emprego da prefeitura. Então você tinha um voto preso por causa disso, voto de cabresto e hoje você é, as pessoas como já tem um emprego que não depende mais de questão política aí as pessoas agora já tem liberdade de votar em quem eles acham melhor (Participante – Grupo Focal – Homens – Out/2008)16.

O que se percebe no relato do participante do grupo focal é que as fábricas de

bolsas têm influenciado nas mudanças da sociedade serrolandense tanto na

dimensão social e econômica como na política, no que tange à garantia dos direitos

civis, cívicos e políticos. Nas entrevistas realizadas com os fabricantes notamos que

estas fábricas vêm ajudando a melhorar a economia da cidade por serem

importantes fontes de renda e de geração de emprego para o local. Segundo o

fabricante de bolsas, Lenivalter Mota Bispo:

A produção de bolsas aqui é muito importante pra cidade porque gera muito emprego né, é um recurso que é captado lá fora, o pessoal se desloca daqui pra vender em outras cidades, outros estados e traz o dinheiro de fora pra gerar emprego aqui na cidade né, pra empregar pessoas aqui, pra, aí esse dinheiro o pessoal compra no comércio. O dinheiro vem de fora pra aqui, aí é um benefício grande pra cidade17.

A afirmação acima também é discutida pelo grupo focal de mulheres , as quais

afirmam que o dinheiro que vem de outros estados, através destas empresas, para

ser aplicado na cidade ajuda muito a valorizar a mesma. Sobre esta questão,

16 Relato concedido pelo grupo focal de homens em Serrolândia, 21 de outubro de 2008. 17 Lenivalter Mota Bispo. Fabricante de bolsas em Serrolândia. Entrevista concedida a Ivaneide S. Santos em 3 de novembro de 2008.

Page 94: A INDÚSTRIA DE BOLSAS EM SERROLÂNDIA BA E OS (DES ...livros01.livrosgratis.com.br/cp110660.pdf · conservação do meio ambiente e diminuição das desigualdades sociais. 4

93

perguntei à população a respeito da importância das fábricas de bolsas para a

cidade de Serrolândia (Gráfico 2) e 97,5% dos entrevistados que responderam sim,

acreditam que as fábricas de bolsas são importantes para a cidade, enquanto que,

somente 2,5% dos entrevistados acreditam que esta atividade não é importante para

o local.

Gráfico 2: Importância das fábricas de bolsas para o desenvolvimento de Serrolândia. Fonte: Pesquisa de campo (questionários) – Nov/ 2008. Elaboração: Ivaneide Santos, Nov/ 2008.

Como podemos visualizar no gráfico 2, a porcentagem de entrevistados que

opinaram positivamente sobre a importância da indústria de bolsas em Serrolândia é

bastante significativa. As respostas dos questionários nos revelam que, direta ou

indiretamente, estas fábricas vêm ajudando a melhorar a condição de vida de muitas

pessoas; formam profissionais de diversos setores, empregam muitas pessoas que

antes viviam da agricultura ou realizavam outra atividade, bem como, dão

oportunidades de emprego às pessoas analfabetas e aos jovens. Estes jovens são

incentivados a terem o primeiro emprego, a saírem do mundo das drogas, da

prostituição e a serem mais responsáveis, promovendo assim, a inclusão social. As

fábricas de bolsas também dão oportunidades para muitas donas de casa que antes

só realizavam trabalho doméstico e desde então, tornaram-se operárias, tendo

independência financeira e ajudando no orçamento da família. “As costureiras

puderam potencializar os seus dons”. Por conseguinte, perguntei aos funcionários

97,5%

2,5%

SIM

NÃO

Page 95: A INDÚSTRIA DE BOLSAS EM SERROLÂNDIA BA E OS (DES ...livros01.livrosgratis.com.br/cp110660.pdf · conservação do meio ambiente e diminuição das desigualdades sociais. 4

94

das fábricas se o emprego nestas empresas melhorou a condição de vida deles e,

dos trinta funcionários entrevistados, obtive os seguintes resultados (Gráfico 3):

Gráfico 3: Melhoria da condição de vida dos funcionários das fábricas de bolsas. Fonte: Pesquisa de campo (questionários) – Nov/ 2008.

Elaboração: Ivaneide Santos, Nov/ 2008.

Os dados da pesquisa nos revelam que 77% dos funcionários entrevistados

afirmaram que o trabalho nas fábricas de bolsas melhorou a condição de vida,

sobretudo, em relação ao aumento da renda, pois eles ajudam a família a comprar

no comércio local bens materiais, alimentação e outras coisas básicas; melhorou a

situação financeira, adquiriram experiência para o mercado de trabalho e melhorou a

qualidade de vida. Os entrevistados ressaltam que se não fossem as fábricas de

bolsas a cidade de Serrolândia não teria desenvolvido bastante nos últimos anos.

Desta forma, podemos dizer que as atitudes das fábricas de bolsas na sociedade

serrolandense se coadunam com a proposta de capital humano do desenvolvimento

apresentada por Franco (2002), no que tange à capacidade das pessoas em

fazerem novas atividades, adquirir conhecimentos e exercitarem a sua imaginação

criadora, promovendo mudança social.

Diante da análise dos questionários, podemos compreender que a importância da

indústria de bolsas para a população entrevistada está relacionada, sobretudo, à

geração de emprego e renda, ou seja, ao aumento do poder aquisitivo local, pois

empregam grande quantidade de pessoas. Isto se evidencia nas respostas dos

77%

20%3%

Sim

Não

Não respondeu

Page 96: A INDÚSTRIA DE BOLSAS EM SERROLÂNDIA BA E OS (DES ...livros01.livrosgratis.com.br/cp110660.pdf · conservação do meio ambiente e diminuição das desigualdades sociais. 4

95

questionários no que se refere aos familiares dos entrevistados que trabalham ou já

trabalharam em fábricas de bolsas, como nos mostra o gráfico 4 a seguir:

Gráfico 4: Familiares da população entrevistada que trabalham ou já trabalharam em fábrica de bolsas. Fonte: Pesquisa de campo (questionários) – Nov/ 2008. Elaboração: Ivaneide Santos, Nov/ 2008.

As respostas dos questionários nos revelam que 79% dos entrevistados têm

familiares que trabalham ou já trabalharam em fábricas de bolsas, dentre eles,

primos, tios, mães, cunhados, irmãos, sobrinhos, sogras, esposos, pais, genros e

filhos. Desta forma, fica evidente que estas fábricas de bolsas vêm dinamizando a

economia do lugar e ao mesmo tempo se relacionam com outras empresas, serviços

e mercados de outras regiões. Por conseguinte, a ação destas pequenas e micro

empresas caminha para a eficiência econômica com agregação de valor na cadeia

produtiva, conforme salientado por Buraque (2002), evidenciando, assim, a

dimensão econômica do desenvolvimento. Sobre esta questão, Caron (2006)

salienta que:

Pode-se deduzir, então, que a pequena e média empresa exerce um papel fundamental na equalização do desenvolvimento, na integração da economia e na integração da sociedade no modo de produção e consumo capitalista. A sustentabilidade econômica do desenvolvimento local está na capacidade local de recriar e perceber novas oportunidades de produção, comércio e serviços com pequenas e médias empresas que capilarizam localmente serviços e produtos de grandes empresas globais, mas também produzem localmente bens e serviços destinados a mercados nacionais e globais (CARON in OLIVEIRA; SOUZA-LIMA, 2006, p. 98).

79%

21%

Trabalha ou já trabalhou

Não trabalha

Page 97: A INDÚSTRIA DE BOLSAS EM SERROLÂNDIA BA E OS (DES ...livros01.livrosgratis.com.br/cp110660.pdf · conservação do meio ambiente e diminuição das desigualdades sociais. 4

96

Contudo, apesar da indústria de bolsas oferecer novas oportunidades de produção e

consumo para a população serrolandense, os entrevistados que afirmaram que a

mesma não é importante para Serrolândia salientam que ainda precisa melhorar no

que se refere à regularização do trabalhador na Previdência Social, ou seja, ainda

existem trabalhos clandestinos nas fábricas. (Tratarei posteriormente sobre este

assunto).

As fábricas de bolsas também proporcionam o volume de vendas no comércio

devido à circulação de capital. A população entrevistada chama a atenção de que as

pessoas envolvidas, direta ou indiretamente, no trabalho das fábricas, podem

comprar no comércio local que também cresceu e se beneficia com a renda dos

funcionários. Constatamos que estas pequenas empresas vêm contribui ndo para a

diminuição do desemprego, sobretudo porque a mão-de-obra é inteiramente local,

melhorando a qualidade de vida da comunidade e o crescimento da renda das

famílias. Desta forma, perguntamos à população em que as fábricas de bolsas

contribuem para Serrolândia. Foi gerado um total de 490 respostas das opções

fornecidas para a pergunta e estas respostas podem ser visualizadas no gráfico 5 a

seguir:

Gráfico 5: Contribuições das fábricas de bolsas para Serrolândia, segundo a população. Fonte: Pesquisa de campo (questionários) – Nov/ 2008. Elaboração: Ivaneide Santos, Nov/ 2008.

22%

13%

16%14%

10%

2,5%0,5%

5%

17%

0%

5%

10%

15%

20%

25%

Page 98: A INDÚSTRIA DE BOLSAS EM SERROLÂNDIA BA E OS (DES ...livros01.livrosgratis.com.br/cp110660.pdf · conservação do meio ambiente e diminuição das desigualdades sociais. 4

97

Como podemos visualizar no gráfico 5, das 490 respostas marcadas, as principais

contribuições das fábricas de bolsas para Serrolândia, segundo a população

entrevistada, estão relacionadas, sobretudo à geração de emprego (22%),

diminuição da saída de pessoas para outras cidades (17%) e o desenvolvimento da

cidade (16%) que, conseqüentemente, aumenta a renda (14%) e melhora a

qualidade de vida da população (13%). Contudo, apesar de afirmarem anteriormente

que estas fábricas ajudam na geração de emprego, no bem-estar da população e no

desenvolvimento da cidade, na opinião dos entrevistados a porcentagem de

contribuição destas empresas para dinamizarem a economia local (5%) é muito

baixa e, tão pouco, os investimentos sociais (2,5%) e ambientais (0,5%) da cidade,

os quais são fatores imprescindíveis para o processo de desenvolvimento.

De acordo com os dados da pesquisa, apesar de gerar emprego e promover a

inclusão social como já foi mencionado, notamos que a indústria de bolsas em

Serrolândia precisa contribuir mais no que se refere aos investimentos sociais e

ambientais locais. Destarte, estas empresas não devem ficar esperando apenas pela

ação, de maneira isolada, do poder público local ou dos demais agentes sociais

locais para atuarem nessas esferas. Conseguintemente, é fundamental que a

economia da cidade seja dinamizada e fortalecida com mais eficácia e a gestão do

meio ambiente ocorra de forma responsável, melhorando cada vez mais a qualidade

de vida da população local, que é condição sine qua non para o desenvolvimento

local sustentável.

Segundo Buarque (2002), o desenvolvimento local para ser consistente e

sustentável deve mobilizar e articular as potencialidades locais endogenamente

como infra-estrutura econômica, recursos humanos, logística e tecnologia; deve

elevar a competitividade da economia local e as oportunidades sociais, assim como

garantir a conservação dos recursos naturais, através de um movimento de

organização e mobilização da sociedade local. Em conformidade com a opinião do

autor, podemos dizer que as fábricas de bolsas exploram as capacidades e

potencialidades de Serrolândia de acordo com a vocação e vantagens oferecidas

por esta cidade. Podemos observar isso na fala de um fabricante de bolsas

entrevistado, o qual afirma que a referida cidade oferece:

Page 99: A INDÚSTRIA DE BOLSAS EM SERROLÂNDIA BA E OS (DES ...livros01.livrosgratis.com.br/cp110660.pdf · conservação do meio ambiente e diminuição das desigualdades sociais. 4

98

Mão-de-obra, a localização também por já existirem algumas fábricas, então uma acaba ajudando a outra de alguma forma, em questão de informações […], na questão de compra de matéria- prima, questão da compra do maquinário que eu já tinha referido antes, e também por a gente ser daqui né, gostar da cidade, querer o bem pra cidade, e gerar emprego para os jovens […]

18.

Por conseguinte, perguntamos à população quais as potencialidades mobilizadas

pelas fábricas de bolsas para promoverem o desenvolvimento da cidade de

Serrolândia e, das opções fornecidas para a pergunta, foram marcadas 157

respostas, as quais podem ser visualizadas no gráfico 6 a seguir:

Gráfico 6: Potencialidades de Serrolândia dinamizadas pelas fábricas de bolsas. Fonte: Pesquisa de campo (questionários) – Nov/ 2008. Elaboração: Ivaneide Santos, Nov/ 2008.

Os dados nos revelam que, na opinião dos entrevistados, das potencialidades de

Serrolândia mobilizadas pelas fábricas de bolsas, a disponibilidade de mão-de-obra

se mostra com maior evidência (70%), ou seja, as vantagens desta localidade em

relação às demais é justamente a quantidade de mão-de-obra que, segundo os

entrevistados, além de ser barata, é qualificada e disposta a trabalhar. Segundo

Noel:

[…] a mão-de-obra especializada aqui que lá fora uma costureira hoje lá fora pra se encontrar é muito difícil, um cortador, um pintor, a

18

Wanderley Oliveira Rios, fabricante de bolsas. Entrevista concedida a Ivaneide S. Santos em 30 de outubro de 2008.

6%

70%

6% 12% 6%

0%10%20%30%40%50%60%70%80%90%

100%

Page 100: A INDÚSTRIA DE BOLSAS EM SERROLÂNDIA BA E OS (DES ...livros01.livrosgratis.com.br/cp110660.pdf · conservação do meio ambiente e diminuição das desigualdades sociais. 4

99

serigrafia tudo isso influi pela prática que já tem aqui em Serrolândia

que é essa especialização19.

Vale ressaltar que muitos trabalhadores das fábricas ou pessoas interessadas em

trabalhar neste ramo industrial participam de cursos de capacitação e qualificação

profissional em costura, vendas, design gráfico e modelagem de bolsas e artefatos

(Fotos 20 e 21).

Fotos 20 e 21: Curso de Aprendizagem em Modelagem e Confecção de bolsas, oferecido pelo SENAI/ACIASE. Elaboração: ACIASE, fevereiro de 2007.

Alguns destes cursos de capacitação são oferecidos pelo Serviço Nacional de

Aprendizagem Industrial – SENAI e pelo SEBRAE em parceria com a ACIASE (os

quais, ou são gratuitos ou, em sua maioria, não são pagos pelos fabricantes, mas,

pelos próprios participantes); os demais são oferecidos por pessoas que trabalham

nas fábricas de maneira informal. Desta forma, apesar de serem oferecidos com

pouca freqüência, estes cursos ajudam na qualificação da mão-de-obra local, como

podemos visualizar nas fotografias 18 e 19 acima.

O empreendedorismo local (12%) também é uma das potencialidades dinamizadas

pelas fábricas de bolsas na opinião da população entrevistada, principalmente

porque os fabricantes que tiveram a iniciativa e criatividade de implantarem estas

19 Noel Roque Rodrigues. Ex-fabricante de bolsas. Entrevista concedida a Ivaneide S. Santos em Serrolândia, 31 de agosto de 2008.

Page 101: A INDÚSTRIA DE BOLSAS EM SERROLÂNDIA BA E OS (DES ...livros01.livrosgratis.com.br/cp110660.pdf · conservação do meio ambiente e diminuição das desigualdades sociais. 4

100

empresas são os próprios moradores da cidade, os quais possuem este potencial

inovador que, segundo Noel:

O povo de Serrolândia tomou conhecimento nesse sentido, vendedor, fabricante, a origem da compra da matéria-prima que é de São Paulo e já tem os canais certos pra ver. Então pelos conhecimentos real hoje das fábricas de bolsas, aqui em Serrolândia que especialmente elas enraizou e tão crescendo, porque todo mundo já tem os macetes, as maneiras de como fazer de como comprar de como vender é já tem uma clientela firmada já, fixa e quem compra uma bolsa sempre não para de comprar nunca […] e quem ta fora não tem essa experiência de compra não tem essa experiência de matéria-prima que tem que comprar, não tem a experiência de como comercializar, vender as bolsas […]20.

No que se refere à disponibilidade de matéria-prima (6%), infra-estrutura (6%) e

localização para o transporte de mercadorias (6%), na opinião dos entrevistados

estes fatores apresentam-se com menor evidência, apesar de já existir na cidade

estabelecimentos de vendas de matéria-prima para a produção de bolsas e da

mesma possuir acesso às BR 324 e 407 e, BA 417, o que facilita a circulação de

mercadorias, capital e serviços.

Contudo, podemos concluir que a indústria de bolsas em Serrolândia, desde sua

implantação, vem contribuindo para o desenvolvimento local sustentável por

dinamizar as potencialidades da localidade endogenamente, contribuir para o

aumento da renda da população e a geração de empregos, promover a inclusão

social, bem como a integração da sociedade serrolandense nos modos de produção

e consumo.

5.2 Entraves da indústria de bolsas de Serrolândia para o Desenvolvimento

Local Sustentável

Apesar do reconhecimento da importância da indústria de bolsas para a sociedade

serrolandense, conforme discutido anteriormente foi possível constatar que estas

20

Noel Roque Rodrigues. Ex-fabricante de bolsas. Entrevista concedida a Ivaneide S. Santos em Serrolândia, 31 de agosto de 2008.

Page 102: A INDÚSTRIA DE BOLSAS EM SERROLÂNDIA BA E OS (DES ...livros01.livrosgratis.com.br/cp110660.pdf · conservação do meio ambiente e diminuição das desigualdades sociais. 4

101

empresas não só promovem contribuições ao desenvolvimento local sustentável,

mas, também entraves, sobretudo no que concerne à falta de formação de parcerias

entre os fabricantes de bolsas e os demais agentes sociais locais, o que causaria

uma melhora dos níveis de organização da sociedade. Segundo Franco (2000) e

Buarque (2002), no processo de DLS deve haver formas de associacionismo da

sociedade, boa governança e prosperidade econômica, ou seja, organização e

cooperação da sociedade local. Contudo, esta relação não se mostra expressiva em

nosso objeto de estudo.

Sabemos que é imprescindível para o desenvolvimento local sustentável o

fortalecimento de parcerias entre os agentes locais, ou seja, o poder público, a

sociedade civil e setor privado que são os três grandes pilares de um processo de

desenvolvimento e que, combinados entre si, podem promover a reorganização da

economia e da sociedade local, bem como a conservação ambiental (Buarque,

2002). Desta forma, perguntei à população de Serrolândia se existe uma relação

entre as fábricas de bolsas e os demais agentes locais para promoverem o

desenvolvimento local sustentável e os resultados podem ser visualizados no gráfico

7 a seguir:

Gráfico 7: Parceria entre o poder público, os fabricantes de bolsas e a sociedade civil para promoverem o desenvolvimento da cidade. Fonte: Pesquisa de campo (questionários) – Nov/ 2008. Elaboração: Ivaneide Santos, Nov/ 2008.

7%

91%

2%

SIM

NÃO

NÃO RESPONDEU

Page 103: A INDÚSTRIA DE BOLSAS EM SERROLÂNDIA BA E OS (DES ...livros01.livrosgratis.com.br/cp110660.pdf · conservação do meio ambiente e diminuição das desigualdades sociais. 4

102

Os dados obtidos nos questionários revelam que a maioria dos entrevistados (91%)

desconhece a relação entre os fabricantes de bolsas e os demais agentes sociais

locais, para promoverem o desenvolvimento de Serrolândia, principalmente com o

poder público municipal. Não obstante, 7% responderam que existe essa parceria e

que juntos eles oferecem mais oportunidade de trabalho e ajudam no crescimento da

cidade. Os entrevistados chamam a atenção de que essa relação entre estes

agentes sociais é importante, pois, para facilitar a permanência das fábricas na

cidade é preciso que haja o apoio do poder público e também da sociedade civil, que

os impostos sejam diminuídos e a economia local dinamizada. Segundo o grupo

focal de jovens, existe uma relação entre os fabricantes de bolsas e os demais

agentes sociais locais dentre eles: associações, escolas, igrejas, grupos culturais,

entre outros, para promover o desenvolvimento local, porém, ocorre de forma

pontual, ou seja, através de patrocínios em eventos de várias modalidades e

financiamento de máquinas para pessoas que costuram bolsas em suas próprias

casas. Os participantes do grupo focal chamam a atenção de que a principal relação

entre as fábricas e os demais agentes sociais é a de empregar pessoas. Desta

forma, podemos dizer que a falta de parceria entre os agentes locais, ou a parceria

de forma pontual, gera entrave ao desenvolvimento local sustentável em Serrolândia

já que, também devem ser consideradas “variáveis políticas, tecnológicas, sociais,

ambientais e de qualidade de vida da população” (JOYAL; MARTINELLI, 2004, p.

52) na relação entre estes agentes sociais locais, para que o desenvolvimento seja

pensado e planejado de maneira sinérgica e consistente.

No que tange ao processo de terceirização da produção, que segundo Sachs (2004)

é a última moda da ciência da administração, os dados da pesquisa nos revelam que

nos últimos anos vem ocorrendo um repasse de algumas atividades das fábricas de

bolsas a terceiros, externalizando as atividades principalmente, nos setores de

costura, pintura e rebarba para outros estabelecimentos. Desta forma, este processo

influencia na qualidade e eficiência do trabalho com maior concentração de esforços

gerenciais para agilizar a administração; aumenta o capital empregado nas

empresas, gera competitividade econômica, produção em larga escala e em curto

tempo. Os proprietários, por sua vez, não precisam se responsabilizar em contratar

mão-de-obra, não mantém vínculo empregatício e nem pagam encargos sociais às

Page 104: A INDÚSTRIA DE BOLSAS EM SERROLÂNDIA BA E OS (DES ...livros01.livrosgratis.com.br/cp110660.pdf · conservação do meio ambiente e diminuição das desigualdades sociais. 4

103

pessoas que realizam esta tarefa, diminuindo assim, os custos da mão-de-obra e os

impostos pagos pelos donos destas empresas.

Podemos concluir que, não há uma preocupação, por parte dos fabricantes de

bolsas, com a qualidade no ambiente de trabalho terceirizado e nem com os

trabalhadores, apesar de a maioria destes serem antigos trabalhadores diretos das

fábricas que foram demitidos e passaram a ter condições inferiores de trabalho

como: emprego sem registro na carteira; falta de equipamento de proteção individual

de trabalho e de preocupação com a segurança e saúde do trabalhador. De acordo

com Sachs (2004), com a terceirização ocorre a substituição de empregos estáveis

por outros mal remunerados e instáveis. Segundo uma funcionária de uma das

fábricas visitadas, atualmente cerca de 90% dos empregados demitidos tornaram-se

terceirizados, prestando serviço à mesma empresa. Na fala da funcionária fica

evidente que, no processo de terceirização da produção de bolsas a empresa

terceirizada é a mesma terceirizadora. Sobre esta questão, o grupo focal de homens

salienta que esta atividade ocorre para que os fabricantes fujam da fiscalização do

Ministério do Trabalho no que se refere ao pagamento de impostos. Assim,

perguntei aos funcionários e à população serrolandense em que contribui o trabalho

terceirizado nas fábricas e, obtivemos os seguintes resultados (Gráficos 8 e 9):

Gráfico 8: Contribuição do processo de terceirização da produção, segundo os funcionários. Fonte: Pesquisa de campo (questionários) – Nov/ 2008. Elaboração: Ivaneide Santos, Nov/ 2008.

10%

2,5%

20%

25%

42,5%

0

5

10

15

20

25

30

35

40

45

Aumentar o salário dos

funcionários

Diminuir o salário ds

funcionários

Melhorar a quali. da produ.

de bolsas

Diminuir os encargos

sociais

Diminuir a resp. dos fabricantes com os direitos

trabalhistas

Page 105: A INDÚSTRIA DE BOLSAS EM SERROLÂNDIA BA E OS (DES ...livros01.livrosgratis.com.br/cp110660.pdf · conservação do meio ambiente e diminuição das desigualdades sociais. 4

104

Gráfico 9: Contribuição do processo de terceirização da produção, segundo a população. Fonte: Pesquisa de campo (questionários) – Nov/ 2008. Elaboração: Ivaneide Santos, Nov/ 2008.

Nesta pergunta foram marcadas 40 respostas pelos funcionários e 174 pela

população. Os dados nos mostram que ambas as categorias entrevistadas

afirmam que a principal contribuição do processo de terceirização da produção é

a diminuição das responsabilidades dos fabricantes de bolsas em relação aos

direitos trabalhistas (42,5%, segundo a população e 37%, segundo os

funcionários). Em segundo lugar, os entrevistados marcaram a opção diminuição

dos encargos sociais (25% de ambas as categorias entrevistadas), referentes ao

pagamento de férias, hora extra, décimo terceiro salá rio, Fundo de Garantia por

Tempo de Serviço (FGTS) e benefícios do Instituto Nacional de Seguro Social

(INSS). Diante disto, é possível afirmar que o processo de terceirização da

produção favorece apenas aos fabricantes de bolsas e prejudica a vida do

trabalhador na Previdência Social, além de diminuir a quantidade de empregados

no interior da fábrica, aprofundando a diferenciação social entre os trabalhadores,

bem como a diminuição do pagamento de impostos. Isto fica evidente na fala de

um dos fabricantes entrevistados que, apesar de ele afirmar que às vezes os

empresários têm prejuízos com a terceirização, salienta que:

[…] questão de a terceirização, você sair do compromisso e ter uma produção mais rápida, a terceirização, a gente na área, porque a terceirização nossa é mais na área de pintura, de pintura e também a

10% 11%

17%

25%

37%

0

5

10

15

20

25

30

35

40

Aumentar o salário dos

funcionários

Diminuir o salário ds

funcionários

Melhorar a quali. da

produ. de

bolsas

Diminuir os encargos

sociais

Diminuir a resp. dos

fabricantes

com os direitos trabalhistas

Page 106: A INDÚSTRIA DE BOLSAS EM SERROLÂNDIA BA E OS (DES ...livros01.livrosgratis.com.br/cp110660.pdf · conservação do meio ambiente e diminuição das desigualdades sociais. 4

105

questão de mão-de-obra né, ter menos funcionários na fábrica, no meu sentido, no que eu penso é menos, menos é, como é que diz [impostos]21.

No que se refere ao pagamento de salário, alguns entrevistados de ambas as

categorias afirmaram que o processo de terceirização contribui para aumentar o

salário dos funcionários (10%), apesar de 77% dos funcionários entrevistados terem

declarado anteriormente que estas fábricas ajudam a melhorar a condição de vida

deles (Gráfico 3). Contudo, segundo os grupos focais de jovens e mulheres o valor

que alguns empregados diretos recebem mensalmente nestas empresas é muito

pouco. Podemos analisar esta afirmação através da variável de Renda contida nos

questionários aplicados aos funcionários, a qual nos mostra a renda dos mesmos no

gráfico 10 abaixo:

Gráfico 10: Renda mensal dos funcionários das fábricas de bolsas. Fonte: Pesquisa de campo (questionários) – Nov/ 2008. Elaboração: Ivaneide Santos, Nov/ 2008.

Os dados nos revelam que nenhum dos funcionários entrevistados possui renda

superior a dois salários mínimos e ainda existem funcionários (50%) que, apesar de

receberem por hora extra e terem direito a férias, recebem menos de um salário

mínimo pelo trabalho realizado no interior das fábricas de bolsas. Este problema

21 Elias Gomes Diniz, fabricante de bolsas. Entrevista concedida a Ivaneide S. Santos em 29 de outubro de 2008.

50%50%

0%

Menos de um salário mínimo

Entre um a dois salários mínimos

Acima de dois salários mínimos

Page 107: A INDÚSTRIA DE BOLSAS EM SERROLÂNDIA BA E OS (DES ...livros01.livrosgratis.com.br/cp110660.pdf · conservação do meio ambiente e diminuição das desigualdades sociais. 4

106

ocorre principalmente com quem trabalha por produção (principalmente costureiras)

e sem acesso ao registro na carteira de trabalho ou sem contrato de trabalho

efetivado nos moldes da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), ou seja, os

trabalhadores que realizam trabalho de forma clandestina conforme citado

anteriormente pela população entrevistada. Assim, apenas 50% dos funcionários

entrevistados recebem o equivalente a um salário mínimo.

Podemos concluir que a atuação dos fabricantes de bolsas em relação ao salário

pago a alguns trabalhadores pode ser um fator de entrave ao desenvolvimento local

sustentável. Neste processo devem ser oferecidas condições de trabalho com

qualidade, valorização e boa remuneração para o trabalhador o qual, por sua vez, é

um cidadão que deve ter seus direitos garantidos na sociedade em que vive, ou

seja, garantias de liberdade de oportunidades sociais, bem como segurança

protetora, as quais ajudam a melhorar o potencial das pessoas e são importantes

fatores de desenvolvimento, conforme salientado por Sen (2000). Este problema fica

mais contundente devido à falta de um sindicato em Serrolândia dos funcionários

das fábricas de bolsas para que os direitos trabalhistas sejam cobrados de forma

organizada. Destarte, podemos falar também de entraves ao DLS devido ao

processo de terceirização da produção que, além de diminuir a responsabilidade dos

fabricantes de bolsas em relação aos direitos trabalhistas e aos encargos sociais, é

responsável por mais problemas, como veremos mais adiante.

Outro fator de entreve ao DLS em Serrolândia que notamos durante a realização da

pesquisa é a falta de consciência com os cuidados com o meio ambiente, pois estas

empresas, em seus modelos de gestão, ainda não realizam ações significativas que

promovam a conservação dos recursos naturais, assim como a gestão do meio

ambiente, no que concerne à sua reprodutibilidade e sustentabilidade. Brose (2000)

afirma que o setor privado, na área de gestão ambiental, deve adotar medidas de

ecoeficiência e aperfeiçoamento da aplicação da legislação ambiental em suas

empresas. No entanto, nos dados que obtivemos com as entrevistas e visitas

realizadas nas fábricas de bolsas, não ficou evidente que os empresários destas

fábricas estão preocupados com esta questão; as atividades desenvolvidas por

estas empresas, apesar de gerarem lucro, emprego e renda, acarretam um consumo

de energia e matéria, além de uma considerável produção de resíduos. No entanto,

Page 108: A INDÚSTRIA DE BOLSAS EM SERROLÂNDIA BA E OS (DES ...livros01.livrosgratis.com.br/cp110660.pdf · conservação do meio ambiente e diminuição das desigualdades sociais. 4

107

alguns fabricantes de bolsas afirmaram que estas empresas não causam impacto ao

meio ambiente, principalmente porque a maioria das atividades realizadas para a

produção de bolsas que utilizam produtos químicos, os quais são prejudiciais ao

ambiente, são terceirizadas. Na fala de um dos fabricantes entrevistados ficou

evidente a transferência de responsabilidade a terceiros com a questão da gestão

ambiental nestas empresas, sendo que as companhias terceirizadoras também não

desenvolvem uma gestão eficiente dos refugos produzidos nos espaços de trabalho.

Segundo o fabricante entrevistado, as fábricas de bolsas:

[…] não causam impacto no meio ambiente porque a gente não, não, não solta gases ao meio ambiente né, é um produto que é, digamos a matéria-prima, ele é um produto que não vai ta deixando cheiro nem odor e nem produto líquido que a gente solta em algum rio em alguma coisa, acho que não, por conta disso. Se existir algum problema ao meio ambiente é com os restos da matéria-prima né, aqueles restos, mas também não são coisas que comprometam tanto, são assim de pequeno porte de pequena quantidade e muito deles a gente terceiriza, muitos dos produtos que a gente já usa já terceiriza. Tamos guardando pra revender no caso o plástico, o papelão, a gente, na verdade agente não vendemos o papelão, mas doamos pra pessoas que fazem reciclagem, então, por isso a gente não causa problema ao meio ambiente e já ta gerando emprego e renda22.

Por conseguinte, o relato do fabricante nos revela uma contradição no que se refere

aos cuidados com os resíduos produzidos na fábrica de bolsas, pois, ao mesmo

tempo em que há terceirização da produção para que não haja responsabilidade na

gestão destes resíduos, também existe uma preocupação em doar os mesmos para

pessoas da cidade que catam lixo para vender. Por conseguinte, alguns fabricantes

entrevistados afirmaram que ainda não se têm uma gestão dos resíduos produzidos

nestes espaços, sendo o refugo jogado a céu aberto no lixão municipal da cidade e

outra parte dos resíduos produzidos no local é trocada por matéria-prima ou é

repassada para os catadores como papelão e tubos de linhas. É importante destacar

que todo o material químico/tóxico descartado como: napa, fitas, plásticos,

solventes, tintas, tínner e derivados, não têm nenhum tipo de tratamento especial, o

que implica em sérios danos ao meio ambiente como nos mostram as fotografias a

seguir (22 a 25):

22 Wanderlei Oliveira Rios, fabricante de bolsas. Entrevista concedida a Ivaneide S. Santos em 30 de outubro de 2008.

Page 109: A INDÚSTRIA DE BOLSAS EM SERROLÂNDIA BA E OS (DES ...livros01.livrosgratis.com.br/cp110660.pdf · conservação do meio ambiente e diminuição das desigualdades sociais. 4

108

Foto 22: Material tóxico utilizado no setor de pintura. Foto 23: Resto de matéria-prima depositada no fundo de uma fábrica de bolsa. Elaboração: Ivaneide Silva dos Santos, abril de 2008.

Foto 24: Lixo produzido pelas fábricas espalhados em vias públicas; Foto 25: Tubos de linhas armazenados para serem trocados por matéria-prima. Elaboração: Ivaneide Silva dos Santos, abril de 2008.

Como podemos visualizar nas fotografias, grande parte do material uti lizado nas

fábricas de bolsas é prejudicial ao meio ambiente e, também não há um destino

adequado para os resíduos produzidos nestes espaços. Desta forma, os empresários

deveriam aproveitar de maneira mais eficiente os recursos no que concerne ao uso da

Page 110: A INDÚSTRIA DE BOLSAS EM SERROLÂNDIA BA E OS (DES ...livros01.livrosgratis.com.br/cp110660.pdf · conservação do meio ambiente e diminuição das desigualdades sociais. 4

109

matéria-prima, energia e produção dos efluentes, através da reciclagem e do

reaproveitamento, como os tubos de linhas (foto 23) e papelões que poucas fábricas

reaproveitam. Com o intuito de sabermos a opinião da população a respeito dos

impactos ambientais causados pelas fábricas de bolsas, perguntamos aos

entrevistados se estas fábricas causam muita, pouca ou nenhuma poluição ambiental

e, os resultados da pesquisa podem ser visualizados no gráfico 11 a seguir:

Gráfico 11: Poluição ambiental causada pelas fábricas de bolsas, segundo a população. Fonte: Pesquisa de campo (questionários) – Nov/ 2008. Elaboração: Ivaneide Santos, Nov/ 2008.

Os dados obtidos, tanto através das entrevistas quanto na aplicação dos

questionários, nos revelam que as fábricas realmente prejudicam o meio ambiente,

apesar de 33% dos entrevistados afirmarem que as mesmas não causam nenhuma

poluição e 2% não terem respondido à pergunta. 52,5% dos entrevistados afirmam

que esta poluição é pouca e que as fábricas jogam restos de materiais que não são

aproveitados a céu aberto e em vias públicas (Fotos 21 e 22 acima). Estes dados

podem ser comparados com a opinião dos funcionários que são os agentes

envolvidos diretamente com os materiais químicos utilizados nas fábricas de bolsas,

bem como com os refugos produzidos nestes locais. As respostas dos funcionários

sobre a poluição ambiental causada pelas fábricas de bolsas podem ser visualizadas

no gráfico 12 a seguir:

33%

12,5%

52,5%

2%

Não causam poluição

Muita poluição

Pouca poluição

Não respondeu

Page 111: A INDÚSTRIA DE BOLSAS EM SERROLÂNDIA BA E OS (DES ...livros01.livrosgratis.com.br/cp110660.pdf · conservação do meio ambiente e diminuição das desigualdades sociais. 4

110

Gráfico 12: Poluição ambiental causada pelas fábricas de bolsas, segundo os funcionários. Fonte: Pesquisa de campo (questionários) – Nov/ 2008. Elaboração: Ivaneide Santos, Nov/ 2008.

Como podemos visualizar nos gráficos 11 e 12, enquanto que a maior parte da

população afirma que as fábricas causam pouca poluição ao meio ambiente

(52,5%) os funcionários, em sua maioria, afirmam que estas fábricas causam

muita poluição (47%), já que eles estão diretamente em contato com os produtos

químicos utilizados nas mesmas. Contudo, tanto a população como os

funcionários entrevistados enfatizam que o material utilizado nas fábricas, por sua

vez, ofende o solo porque demora de se decompor, e deveria ter locais

apropriados para jogar as embalagens dos produtos como: solventes, plásticos e

tintas. Os entrevistados chamam a atenção de que não existe uma política para o

depósito e reciclagem dos resíduos destes materiais, além disso, o cheiro da tinta

polui o ar por ser material químico líquido que também prejudica a saúde dos

funcionários e da vizinhança que mora nas proximidades das fábricas. Sobre esta

questão, 100% dos funcionários entrevistados responderam que o material

utilizado na produção de bolsas é prejudicial à saúde. Segundo os entrevistados

de ambas as categorias, há também poluição auditiva, em virtude do barulho das

máquinas, que incomoda as pessoas que moram nas proximidades das fábricas

ou de casas de costureiras que realizam trabalho terceirizado.

13%

47%

40%

Não causam poluição

Causam muita poluição

Causam pouca poluição

Page 112: A INDÚSTRIA DE BOLSAS EM SERROLÂNDIA BA E OS (DES ...livros01.livrosgratis.com.br/cp110660.pdf · conservação do meio ambiente e diminuição das desigualdades sociais. 4

111

Podemos concluir que falta, na gestão da indústria de bolsas em Serrolândia, uma

proposta de desenvolvimento econômico que contribua para uma forma sustentável

de preservação do meio ambiente e respeito às leis da natureza (CAVALCANTI,

1998) bem como, um caminho possível em direção à sustentabilidade ambiental

que, segundo Afonso (2006), só será possível quando as indústrias não utilizarem

tecnologias inadequadas ou poluentes.

5.3 A concepção de desenvolvimento local sustentável na visão da

população serrolandense

Consideramos de maneira salutar as contribuições dos autores citados

anteriormente em nosso trabalho referentes à concepção de desenvolvimento

local sustentável enquanto novo paradigma de desenvolvimento face às

mudanças da nossa realidade, assim como a importância da atuação de maneira

coletiva dos agentes sociais locais para a realização deste modelo de

desenvolvimento. Também ressaltamos a relevância da análise dos dados obtidos

através das respostas dos questionários aplicados à população e aos

funcionários, entrevistas com os fabricantes de bolsas e os grupos focais no que

concerne às contribuições e os entraves das fábricas de bolsas ao

desenvolvimento local sustentável em Serrolândia.

Por conseguinte, nesta parte do trabalho apresentarei uma análise comparativa

da visão de desenvolvimento local sustentável abordada pela população de

Serrolândia com a base teórica da pesquisa. Visando obter respostas

contundentes no que se refere aos (des) caminhos do desenvolvimento local

sustentável nesta cidade, também apresentarei os resultados dos questionários

realizados com a população. Destarte, perguntei à população se esta já ouviu

falar de desenvolvimento local sustentável e as respostas podem ser visualizadas

no gráfico 13 a seguir:

Page 113: A INDÚSTRIA DE BOLSAS EM SERROLÂNDIA BA E OS (DES ...livros01.livrosgratis.com.br/cp110660.pdf · conservação do meio ambiente e diminuição das desigualdades sociais. 4

112

Gráfico 13: População entrevistada que já ouviu falar em Desenvolvimento Local Sustentável. Fonte: Pesquisa de campo (questionários) – Nov/ 2008. Elaboração: Ivaneide Santos, Jan/ 2009.

Os dados nos mostram que 65% dos entrevistados já ouviram falar de

desenvolvimento local sustentável. Segundo eles, o aumento da qualidade de vida

em relação à economia, conservação ambiental e o bem-estar da sociedade, em

que todos tenham disponível saúde, lazer, alimentação e infra-estrutura, significam

desenvolvimento local sustentável. É também o desenvolvimento econômico e

material que leva em conta as conseqüências das atividades humanas sobre o

ambiente, utilizando os recursos naturais renováveis e conservando os não-

renováveis. Tal afirmação se coaduna com a conceituação de desenvolvimento local

sustentável proposta por Buarque (2002).

Vale ressaltar que, o DLS, na opinião da população entrevistada, ocorre quando a

comunidade de um local desenvolve meios de se sustentar sozinhos, através de

projetos de desenvolvimento que sejam pensados e planejados a partir da

necessidade da população local e da parceria entre associações e fábricas. Deve

ser um processo em que todos os cidadãos possam ter renda mais ou menos

parecida, conforme salientado por Dowbor (2006b) e Franco (2000) quando estes

discutem a importância da eqüidade e segurança, o acesso à renda, mobilização e

iniciativa dos agentes locais no processo de desenvolvimento.

65%

29%

6%

SIM

NÃO

NÃO RESPONDERAM

Page 114: A INDÚSTRIA DE BOLSAS EM SERROLÂNDIA BA E OS (DES ...livros01.livrosgratis.com.br/cp110660.pdf · conservação do meio ambiente e diminuição das desigualdades sociais. 4

113

Podemos afirmar que, apesar de 29% da população entrevistada ainda não terem

ouvido falar de desenvolvimento local sustentável e 6% não terem opinado, as

respostas dos que responderam positivamente são bastante contundentes,

relacionando-se com a opinião dos autores que fundamentam teoricamente a nossa

pesquisa.

Ainda analisando a questão referente à população de Serrolândia, que já ouviu falar

de desenvolvimento local sustentável, discutirei também as respostas dos

entrevistados de acordo com as variáveis de escolaridade (Gráfico 14) e idade

(Gráfico 15).

Gráfico 14: População entrevistada que já ouviu falar em Desenvolvimento Local Sustentável – Escolaridade. Fonte: Pesquisa de campo (questionários) – Nov/ 2008. Elaboração: Ivaneide Santos, Jan/ 2009.

Uma análise acurada do gráfico 14 nos revela que há uma variação significativa na

opinião dos entrevistados que já ouviram falar em desenvolvimento local sustentável

a partir do nível de escolaridade. Notamos, pelas respostas dos que marcaram sim,

que o índice aumenta à medida que aumenta a escolaridade do serrolandense,

principalmente as pessoas que possuem o ensino médio completo (39%), chegando

a 7% e 12% entre os indivíduos que possuem ensino superior incompleto e superior

1 1

4

39

7

12

1,52,5

17

21

64

2

0%

5%

10%

15%

20%

25%

30%

35%

40%

45%

Sim

Não

Não opinou.

Page 115: A INDÚSTRIA DE BOLSAS EM SERROLÂNDIA BA E OS (DES ...livros01.livrosgratis.com.br/cp110660.pdf · conservação do meio ambiente e diminuição das desigualdades sociais. 4

114

completo. Desta forma, advertimos que a visão de desenvolvimento local sustentável

é bastante ampla entre as pessoas de escolaridade média e superior e é reduzida

para os indivíduos que possuem ensino fundamental incompleto (1%), fundamental

completo (1%) e médio incompleto (4%). Estes dados nos fazem refletir sobre a

importância da educação, sobretudo a educação formal, bem como a necessidade

de investimentos públicos nesta área para que o capital humano, decisivo no

processo de desenvolvimento, conforme salientado por Franco (2000), seja criado e

recriado.

Quanto aos entrevistados que ainda não ouviram falar em DLS, notamos que o

índice percentual é baixo em todos os níveis de escolaridade, variando de 1% a

2,5% entre os indivíduos que possuem ensino fundamental incompleto, fundamental

completo, superior incompleto e superior completo, e tendo um aumento

considerável apenas entre os indivíduos que possuem o ensino médio completo

(17%). Foram poucos os serrolandenses entrevistados que não souberam opinar

sobre o DLS: os indivíduos que possuem ensino médio incompleto (6%), médio

completo (4%) e superior completo (2%).

De acordo com Joyal e Martinelli (2004) o conceito de desenvolvimento local

sustentável pode se tornar cada vez mais familiar conforme a nossa vivência e

experiência, sobretudo para aquelas pessoas interessadas em entender e participar

de maneira ativa da dinâmica socioeconômica, política e ambiental da localidade

onde vive. Destarte, também analisei a opinião da população entrevistada pela

variável idade, no que tange à concepção de desenvolvimento local sustentável. Os

dados do gráfico 15 abaixo nos mostram que a opinião dos serrolandenses

entrevistados que já ouviram falar de desenvolvimento local sustentável varia

segundo os anos de vida dos pesquisados.

Page 116: A INDÚSTRIA DE BOLSAS EM SERROLÂNDIA BA E OS (DES ...livros01.livrosgratis.com.br/cp110660.pdf · conservação do meio ambiente e diminuição das desigualdades sociais. 4

115

Gráfico 15: População entrevistada que já ouviu falar em Desenvolvimento Local Sustentável – Idade. Fonte: Pesquisa de campo (questionários) – Nov/ 2008. Elaboração: Ivaneide Santos, Jan/ 2009.

Como podemos visualizar no gráfico 15, os entrevistados que responderam

positivamente têm, em sua maioria, entre 16 a 25 anos de idade, atingindo um

percentual de 30%. Conforme a faixa etária vai aumentando, o índice vai baixando,

ou seja, entre os indivíduos de faixa etária de 26 a 35 anos o percentual atinge 17%,

baixando para 13% entre os indivíduos de faixa etária de 36 a 45 anos e 5% para as

pessoas com idade entre 46 a 55 anos. Não houve entrevistados com faixa etária

acima de 56 anos. Esta realidade também é verificada nas respostas dos indivíduos

que responderam negativamente, já que a maioria dos entrevistados que

responderam não (20%), também possui idade entre 16 a 25 anos. O índice baixa

para 4% entre os indivíduos de faixa etária de 26 a 35 anos, 1,5% entre os

indivíduos de faixa etária de 36 a 45 anos, 2,5% entre os entrevistados que possuem

entre 45 a 56 anos, 0% dos entrevistados com idade de 45 a 56 anos e 1% dos

entrevistados com idade acima de 65 anos. No entanto, o gráfico também nos

aponta que a porcentagem de indivíduos que não responderam a pergunta aumenta

conforme a idade dos entrevistados também aumenta, principalmente entre os

indivíduos que possuem idade de 46 a 55 anos (12%).

Comparando estes dados da variável idade, no que tange à população

serrolandense que já ouviu falar de desenvolvimento local sustentável, com a

30

17

13

5

0 0

20

4

1,5 2,5 11,5 2,50

12

00%

5%

10%

15%

20%

25%

30%

35%

16 a 25 anos

26 a 35 anos

36 a 45 anos

46 a 55 anos

56 a 65 anos

Acima de 65 anos

Sim

Não

Não opinou.

Page 117: A INDÚSTRIA DE BOLSAS EM SERROLÂNDIA BA E OS (DES ...livros01.livrosgratis.com.br/cp110660.pdf · conservação do meio ambiente e diminuição das desigualdades sociais. 4

116

variável escolaridade, notamos que a maior porcentagem de entrevistados, tanto dos

que responderam positiva quanto os que responderam negativamente, possuem

idade entre 16 a 25 anos e o ensino médio completo. Isto nos faz retomar a

afirmação de que a educação é um fator preponderante em nossa sociedade para

que possamos percorrer os caminhos do desenvolvimento local sustentável.

No que tange à questão ambiental, segundo a população entrevistada, o processo

de desenvolvimento local sustentável deve usufruir da natureza sem causar nenhum

impacto ambiental, uti lizando os recursos de forma racional sem comprometer o

futuro das gerações vindouras, garantindo o uso de materiais essenciais à vida,

conforme a proposição da CMMAD (1987). Os entrevistados chamam a atenção de

que suprir as necessidades da geração atual sem comprometer as futuras gerações

é manter os recursos necessários e proporcionar sustentabilidade à comunidade

local e às gerações futuras sem agredir o meio ambiente. Diante disto, perguntei à

população se é possível afirmar que em Serrolândia tem desenvolvimento local

sustentável e obtive os seguintes resultados (Gráfico 16):

Gráfico 16: Desenvolvimento Local Sustentável em Serrolândia, segundo a população. Fonte: Pesquisa de campo (questionários) – Out/2008. Elaboração: Ivaneide Santos, Jan/ 2009.

Como podemos visualizar no gráfico 16, 46% dos entrevistados afirmam que em

Serrolândia há desenvolvimento local sustentável. Segundo estes, as ações

46%

40%

12%

2%

SIM

NÃO

NÃO RESPONDERAM

AS DUAS OPÇÕES

Page 118: A INDÚSTRIA DE BOLSAS EM SERROLÂNDIA BA E OS (DES ...livros01.livrosgratis.com.br/cp110660.pdf · conservação do meio ambiente e diminuição das desigualdades sociais. 4

117

existentes na cidade que podem ser consideradas como desenvolvimento local

sustentável são: geração de emprego das fábricas de bolsas e do comércio, inclusão

social através de emprego aos mais carentes, principalmente os jovens, dando

oportunidade para muitos se tornarem empresários, mudança políticas e ajustes

sociais que vem ocorrendo na cidade, atividades associativas e que utilizam mão-

de-obra do próprio local, fortalecendo a economia, bem como melhora da qualidade

de vida de boa parte da população. Notamos nestas respostas que as

características apresentadas pela população serrolandense referentes às ações

existentes na cidade de Serrolândia, as quais confirmam a existência do processo

de desenvolvimento local sustentável, também são discutidas por Buarque (2002);

Dowbor (2006; 2006b); Franco (2000; 2002) e Joyal; Martinelli (2004) nas

experiências vivenciadas em outras partes do mundo.

Entretanto, 40% dos entrevistados afirmam que em Serrolândia não há

desenvolvimento local sustentável, pois ainda falta: parceria entre o poder público, a

sociedade civil, escolas, associações e as fábricas de bolsas; planejamento

participativo e associativismo para criar uma cooperativa de reciclagem, através da

ajuda de um instrutor; mais respeito ao trabalhador por parte dos fabricantes de

bolsas, pagando o salário merecido; mais oportunidade de trabalho, educação e

lazer, e desenvolvimento de programas de geração de renda para a população

serrolandense; cuidar dos recursos naturais (solo, vegetação, recursos hídricos) e

implantar políticas públicas que despertem uma maior preocupação para a questão

do desenvolvimento local sustentável, principalmente entre os representantes das

fábricas.

Apesar de 12% dos entrevistados não terem respondido à pergunta, 2% afirmam

que existe e ao mesmo tempo não existe DLS em Serrolândia: há um fortalecimento

da economia local através das fábricas de bolsas e a ampliação do comércio,

entretanto falta inovação por parte da gestão pública, organização e mobilização da

sociedade para atuarem numa política de DLS.

Continuando a análise referente à opinião da população entrevistada quanto à

existência ou não do desenvolvimento local sustentável na cidade de Serrolândia,

Page 119: A INDÚSTRIA DE BOLSAS EM SERROLÂNDIA BA E OS (DES ...livros01.livrosgratis.com.br/cp110660.pdf · conservação do meio ambiente e diminuição das desigualdades sociais. 4

118

abordarei também a opinião dos entrevistados por variáveis, observando as

respostas de acordo com a escolaridade (gráfico 17) e renda (gráfico 18):

Gráfico 17: Desenvolvimento Local Sustentável em Serrolândia, segundo a população - Escolaridade Fonte: Pesquisa de campo (questionários) – Out/2008. Elaboração: Ivaneide Santos, Jan/ 2009.

Como podemos observar no gráfico 17, em relação aos entrevistados que

responderam sim, existe uma grande variação dos índices percentuais de acordo

com o nível educacional, mantendo-se uma porcentagem baixa entre os indivíduos

que possuem o ensino fundamental incompleto (1%), fundamental completo (1,5%)

e médio incompleto (1,5%). O índice percentual eleva-se para 30% entre os

indivíduos que possuem o ensino médio, baixando novamente entre as pessoas que

possuem nível superior incompleto (4%) e superior completo (6%). Desta forma,

observamos que a quantidade de pessoas entrevistadas que possuem o ensino

médio é bastante significativa, tanto entre as pessoas que responderam sim quanto

entre aquelas que responderam não (21%) e as que não opinaram (8%). Já os

entrevistados que responderam as duas opções são respectivamente pessoas que

possuem ensino de nível médio completo (1,5) e superior incompleto (1,5%).

Quanto à renda (gráfico 18), os dados nos mostram que há uma variação

significativa em relação à visão da população sobre o desenvolvimento local

sustentável na cidade de Serrolândia. Podemos observar que os índices percentuais

1 1,5 1,5

30

46

1 1

8

21

3

6

1 1

8

3

01,5 1,5

0%

5%

10%

15%

20%

25%

30%

35%

Sim

Não

Não respond.

As duas opções

Page 120: A INDÚSTRIA DE BOLSAS EM SERROLÂNDIA BA E OS (DES ...livros01.livrosgratis.com.br/cp110660.pdf · conservação do meio ambiente e diminuição das desigualdades sociais. 4

119

baixam à medida que aumenta a renda da população entrevistada, sobretudo entre

as pessoas que responderam não.

Gráfico 18: Desenvolvimento Local Sustentável em Serrolândia, segundo a população - Renda Fonte: Pesquisa de campo (questionários) – Out/2008. Elaboração: Ivaneide Santos, Jan/ 2009.

Como podemos visualizar no gráfico 18, a porcentagem dos que responderam não é

maior (17%) entre os entrevistados que têm renda mensal inferior a um salário

mínimo baixando para 11% entre as pessoas que recebem renda de um a dois

salários mínimos; 5% entre os indivíduos que recebem um valor mensal de dois a

três salários mínimos; 2,5% e 1% entre os indivíduos que recebem de três a quatro

salários mínimos. Este percentual também é baixo entre os indivíduos que não

trabalham, só estudam e os que estão desempregados (1,5%). Já em relação aos

entrevistados que responderam sim, há uma variação significativa nos percentuais,

obtendo 13% entre os indivíduos que recebem menos de um salário mínimo,

aumentando para 17% entre os indivíduos que têm renda mensal de um a dois

salários mínimos; e, baixando novamente para as pessoas que recebem entre entre

dois a quatro salários mínimos (7% e 1,5%), atingindo 5% entre as pessoas que

estão desempregadas. Apenas as pessoas que possuem renda mensal de um a

dois salários mínimos responderam as duas opções. Esta realidade nos faz refletir

que a renda dos indivíduos entrevistados é um fator fundamental para analisarmos o

processo de desenvolvimento local sustentável de Serrolândia, já que, com uma boa

renda, os cidadãos podem investir em educação, segurança, saúde, lazer, enfim, ter

17

11

5

2,5

11,5 1,5

13

17

7

1,5 1,5

5

4

6

1 1 1

2,5

0%

2%

4%

6%

8%

10%

12%

14%

16%

18%

men

os d

e um

sal

ário

m

ínim

o

De

um

a

dois

sa

lári

os …

de d

ois

a

três

sa

lári

os …

De

três

a

quat

ro

salá

rios

de q

uatr

o

a ci

nco

salá

rio

s …

Não

tra

b.

Só e

stud

a

Está

dese

m.

Não

Sim

Não respond.

As duas opções

Page 121: A INDÚSTRIA DE BOLSAS EM SERROLÂNDIA BA E OS (DES ...livros01.livrosgratis.com.br/cp110660.pdf · conservação do meio ambiente e diminuição das desigualdades sociais. 4

120

uma boa qualidade de vida em concordância com a conservação dos recursos

naturais, conforme destacado por Buarque (2002), Franco (2000; 2002) Joyal;

Martinelli (2004) e Souza (2002).

Podemos concluir que a análise dos dados dos questionários, das entrevistas e da

observação in locu responde à nossa problemática acerca da indústria de bolsas em

Serrolândia e os (des) caminhos do desenvolvimento local sustentável. Vale

ressaltar que não foi por acaso a opção de utilizar o prefixo de negação “des” no

título deste trabalho, uma vez que algumas práticas realizadas, sobretudo pelos

fabricantes de bolsas, não estão promovendo sinergia entre a qualidade de vida, a

eficiência econômica e a conservação dos recursos naturais. Estas práticas fazem

com que, muitas vezes, o caminho para o desenvolvimento local sustentável seja

percorrido num sentido oposto em relação ao que seria desejado, sendo necessário

serem repensadas e modificadas.

Page 122: A INDÚSTRIA DE BOLSAS EM SERROLÂNDIA BA E OS (DES ...livros01.livrosgratis.com.br/cp110660.pdf · conservação do meio ambiente e diminuição das desigualdades sociais. 4

121

CONSIDERAÇÕES FINAIS

E você ainda me pergunta: aonde é que eu quero chegar, se há tantos caminhos na vida e pouquíssima esperança no ar! E até a gaivota que voa já tem seu caminho no ar!

(Caminhos, Raul Seixas)

Os estudos realizados neste trabalho centralizaram-se na análise das contribuições

e os entraves das fábricas de bolsas para o desenvolvimento local sustentável em

Serrolândia – Ba. Desta forma, o embasamento teórico sobre as concepções de

desenvolvimento, industrialização e desenvolvimento local sustentável foi

fundamental para a efetivação da pesquisa e das reflexões acerca da complexa

realidade que vivenciamos atualmente no mundo globalizado.

O marco teórico da pesquisa nos permite considerar que o conceito de

desenvolvimento é bastante complexo e vem sendo redefinido ao longo do tempo;

se apresenta numa multiplicidade de escalas espaciais e não possui só a dimensão

econômica, que privilegia o crescimento material da produção e do consumo, bem

como o aumento da renda que, muitas vezes, é concentrada nas mãos de uma

minoria da população. Estão presentes também no processo de desenvolvimento as

dimensões política, social, cultural e ambiental, as quais devem atender às

necessidades fundamentais das sociedades tais como: a liberdade, autonomia,

participação e o acesso à cultura, bem como a qualidade de vida.

Ficou evidente que os padrões tradicionais de desenvolvimento econômico

capitalista privilegiam a acumulação da renda e o crescimento do PIB em detrimento

da qualidade de vida das pessoas, a realização da cidadania e a defesa do meio

ambiente. Daí a importância de uma redefinição do conceito de desenvolvimento no

cenário de crise ambiental mundial, que contemple os aspectos relacionados à

educação, saúde, segurança e moradia, bem como, a justiça social e ambiental.

Page 123: A INDÚSTRIA DE BOLSAS EM SERROLÂNDIA BA E OS (DES ...livros01.livrosgratis.com.br/cp110660.pdf · conservação do meio ambiente e diminuição das desigualdades sociais. 4

122

A Revolução Industrial e o atual meio técnico-científico-informacional

proporcionaram o progresso na economia e modernização da estrutura social, com a

concentração da população no espaço urbano e elevados padrões de consumo,

bem como a divisão do trabalho e a difusão de informações. Porém, aumentou a

competição entre os povos e a concentração da riqueza e do poder, aumentando as

desigualdades sociais e econômicas, como também a extração ilimitada dos

recursos naturais e destruição da natureza.

Neste contexto, podemos constatar a importância de se promover o

desenvolvimento local sustentável através da descentralização do modo produtivo

industrial e a participação de todos os agentes sociais – poder público, setor privado

empresarial e sociedade civil organizada – para tornar dinâmicas as potencialidades

do local, com o fortalecimento de redes e a participação das pequenas e médias

empresas com iniciativas que gerem formas de produção sustentáveis.

No que tange à problemática estudada, destacamos que o processo de implantação

das fábricas de bolsas em Serrolândia-Ba pode ser considerado como endógeno por

ter sido articulado pelos próprios agentes sociais locais (Noel e Raulinda) numa

dinâmica permanente de aprendizagem e criatividade e inovação. Estas pequenas

empresas vêm tomando uma dimensão socioeconômica muito grande no que tange

à geração de renda, emprego e expansão do mercado consumidor a todo o país,

além de contribuir para a ampliação do comércio local na oferta de compra/venda e

consumo para a população, garantindo assim, a sustentabilidade econômica do

lugar.

Constatamos que a indústria de bolsas de Serrolândia contribui para o

desenvolvimento local sustentável por dinamizar as potencialidades locais,

sobretudo o empreendedorismo local e a mão-de-obra que é inteiramente local, e

assim promover a inclusão social através da oportunidade de trabalho,

principalmente aos jovens e às donas de casa.

Contudo, percebemos que as fábricas de bolsas promovem alguns entraves para o

desenvolvimento local sustentável. Falta melhorar o nível de parceria entre estas

empresas e os demais agentes sociais locais, já que não há por parte dos

Page 124: A INDÚSTRIA DE BOLSAS EM SERROLÂNDIA BA E OS (DES ...livros01.livrosgratis.com.br/cp110660.pdf · conservação do meio ambiente e diminuição das desigualdades sociais. 4

123

proprietários das fábricas um envolvimento consistente com a comunidade local e o

poder público para desenvolverem uma ação conjunta de melhoria social a partir do

reconhecimento dos potenciais de desenvolvimento existentes na cidade de

Serrolândia.

Sabemos que o processo de terceirização da produção é uma atividade que ocorre

em todas as empresas, visando aumentar o capital empregado. Contudo, a forma

como é gerido este processo nestas fábricas (em que as próprias empresas

terceirizadas são as terceirizadoras) também é reveladora destes entraves, uma vez

que denota a falta de responsabilidade por parte dos fabricantes de bolsas em

relação aos vínculos empregatícios, os direitos trabalhistas e encargos sociais, bem

como a desvalorização e segurança do trabalhador.

No que tange à questão ambiental, constatamos que a maioria destas empresas

causa impactos ambientais locais. Estas fábricas uti lizam materiais químicos/tóxicos

como napa, plásticos, solventes e tintas, bem como produzem resíduos sem se

preocuparem com a destinação final destes, interferindo na garantia de

sustentabilidade ambiental local e gestão do meio ambiente.

Contudo, salientamos a importância da construção de políticas públicas que possam

contribuir para uma relação integrada entre o desenvolvimento e o meio ambiente.

Também é necessário que, no modelo de gestão destas fábricas, haja uma

contribuição efetiva para o desenvolvimento local sustentável, que não seja só

economicamente viável, mas também socialmente justo e ambientalmente

equilibrado. Destarte, é preciso que haja parceria entre os fabricantes de bolsas e os

demais agentes sociais locais para que este modelo de desenvolvimento seja

planejado e efetivado de maneira sinérgica em que deve ser privilegiada a qualidade

de vida em consonância com a eficiência econômica, a gestão pública eficiente e a

conservação dos recursos naturais (BUARQUE, 2002).

Sabemos que o caminho a ser percorrido para realizarmos o desenvolvimento local

sustentável pode ser longo e tortuoso, com um emaranhado de entraves. Contudo,

não devemos desistir, mas, acreditar que, realizando iniciativas e ações sinérgicas

para a transformação socioeconômica, ambiental, cultural e política da nossa

Page 125: A INDÚSTRIA DE BOLSAS EM SERROLÂNDIA BA E OS (DES ...livros01.livrosgratis.com.br/cp110660.pdf · conservação do meio ambiente e diminuição das desigualdades sociais. 4

124

realidade, as gerações futuras terão chance de existir e viver bem, de acordo com as

suas necessidades, a partir da melhoria da qualidade de vida. Para isto, é

necessário que seja pensado e promovido um desenvolvimento que não leve em

consideração apenas a dimensão econômica, mas também a eqüidade social e a

conservação ambiental.

Page 126: A INDÚSTRIA DE BOLSAS EM SERROLÂNDIA BA E OS (DES ...livros01.livrosgratis.com.br/cp110660.pdf · conservação do meio ambiente e diminuição das desigualdades sociais. 4

125

REFERÊNCIAS:

AFONSO, C. M. Sustentabilidade: Caminho ou utopia? São Paulo: Annablume,

2006.

ANDION, C. Análise de Redes e Desenvolvimento Local Sustentável. RAP Rio

de Janeiro 37(5): 1033-1054, Ser/ Out. 2003.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 10520: Informação e

documentação: Citações em documentos: apresentação. Rio de Janeiro, 2002. BARBIERI, José Carlos. Desenvolvimento e Meio Ambiente: As Estratégias de Mudanças da Agenda 21. 7. ed. Rio de Janeiro: Vozes Ltda., 2005.

BREDARIOL, C.; VIEIRA, L. Cidadania e política ambiental. 2. ed. Rio de Janeiro:

Record, 2006.

BROSE, M. Fortalecendo a democracia e o desenvolvimento local, 103 experiências inovadoras no meio rural gaúcho. Rio Grande do Sul: EDUNISC,

2000.

BRUM, A. J. O Desenvolvimento Econômico Brasileiro. 20. ed. Ijuí: Ed. UNIJUÍ,

1999.

BUARQUE, S. C. Construindo o desenvolvimento local sustentável . Rio de

Janeiro: Garamond, 2002.

CAMARGO, A. L. de B. Desenvolvimento sustentável: dimensões e desafios. 2.

ed. Campinas, SP: Papirus, 2003.

CARLOS, A. F. A. Espaço e indústria. 6. ed. São Paulo: Contexto, 1994.

CARON, A. Inovação tecnológica e pequena e média empresa local in:

OLIVEIRA, G. B. de;LIMA, J. E. de S (Org). O desenvolvimento sustentável em foco:

uma contribuição multidisciplinar. Curitiba; São Paulo: Annablume, 2006.

Page 127: A INDÚSTRIA DE BOLSAS EM SERROLÂNDIA BA E OS (DES ...livros01.livrosgratis.com.br/cp110660.pdf · conservação do meio ambiente e diminuição das desigualdades sociais. 4

126

CASTRO, R. K; SANTOS. Participação cidadã em torno do Dique de Campinas,

SSA/BA. Cadernos Metrópole/Grupo de Pesquisa PRONEX – n. 15, pp.145-160,1º

Sem. 2006.

CAVALCANTI (Org.). Desenvolvimento e Natureza: Estudos para uma sociedade

sustentável. 2. ed. São Paulo: Cortez, 1998. CUNHA, S. B; GUERRA, A. J. T. a Questão Ambiental: diferentes abordagens. 3.

ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2007. DASHEFSKY, H. S. tradução Eloísa Elena Torres. Dicionário de Ciência Ambiental. 3. ed. São Paulo: Gais, 2003.

DINIZ, E. M. Os resultados da Rio + 10. Revista do Departamento de Geografia,

n. 15, pp. 31–35 (2002). Disponível em: www.geografia.fflch.usp.br/publicacoes/RDG/RDG

DIOGO, P. N.; FONTES, A.; VELLOSO. M. A estratégia de desenvolvimento local

proposta pelo Programa Comunidade Ativa: potencialidades e entraves do DLIS. Rio de Janeiro: 2002. Disponível em:

www.coepbrasil.org.br/portal/Publico/apresentarArquivo.aspx?ID=1110. Acesso em abril de 2008.

DOWBOR, L. Desenvolvimento local e racionalidade econômica. 2006a.

Disponível em: http://dowbor.org. Acesso em maio de 2008. ___________ Educação e Desenvolvimento Local. 2006b. Disponível em:

http://dowbor.org. Acesso em maio de 2008.

___________ Políticas Nacionais de apoio ao desenvolvimento local:

empreendedorismo local e tecnologias sociais. RAP Rio de Janeiro 39 (2): 187-

206, Mar/Abr. 2005.

FAVERO, C. A; SANTOS, S. R. dos. Semi-árido: fome, esperança, vida digna.

Salvador: UNEB, 2002.

FILHO, N. C. PIRES, L. H. 2. ed. Redes de Pequenas e médias empresas e desenvolvimento local: estratégias para a conquista da competitividade global

com base na experiência italiana. São Paulo: Atlas, 2001.

Page 128: A INDÚSTRIA DE BOLSAS EM SERROLÂNDIA BA E OS (DES ...livros01.livrosgratis.com.br/cp110660.pdf · conservação do meio ambiente e diminuição das desigualdades sociais. 4

127

FOLADORI, G. Limites do Desenvolvimento Sustentável. Campinas – SP: Editora

da Unicamp, 2001.

FRANCO, A. de. Pobreza e Desenvolvimento Local; tradução de Maria Mercedes

Quihiladora Mourão, Susie Casement Moreira. Brasília: ARCA sociedade do

Conhecimento, 2002.

___________ Porque precisamos de Desenvolvimento Local Integrado Sustentável. 2. ed. n° 3 da Revista SÉCULO XXI, 2000.

FURTADO, C. O Mito do Desenvolvimento Econômico. 4. ed. Rio de Janeiro: Paz

e Terra, 1996.

GOLDENBRG, M. A arte de pesquisar: como fazer pesquisa qualitativa em

Ciências Sociais. 9. ed. Rio de Janeiro: Record. 2005.

IBGE, Contagem da População 2007. Disponível em www.ibge.br. Acesso em maio

de 2008.

JOYAL, A; MARTINELLI, D. P. Desenvolvimento local e o papel das pequenas e

médias empresas. Barueri, SP: Manole, 2004.

LEFF, H. Ecologia, capital e cultura: racionalidade ambiental, democracia participativa e desenvolvimento sustentável; tradução de Jorge Esteves da Silva.

Blumenau Ed. da FURB, 2000.

_________ Saber ambiental: sustentabilidade, racionalidade, complexidade, poder; tradução de Lúcia Mathilde Endlich Orth. 3. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2001.

LITTLE, P.E (Org.). Políticas ambientais no Brasil: análises, instrumentos e experiências. São Paulo: Peirópolis; Brasília, DF: IIEB, 2003.

MARTINS, H. H. T. de S. Educação e Pesquisa, São Paulo, v.30, n.2, p. 289-300,

maio/ago. 2004. MENDES, J.T.G; SILVA, C.L.da S (Orgs). Reflexões sobre o Desenvolvimento Sustentável: agentes e interações sob a ótica multidisciplinar. Petrópolis, RJ:

Vozes, 2005.

Page 129: A INDÚSTRIA DE BOLSAS EM SERROLÂNDIA BA E OS (DES ...livros01.livrosgratis.com.br/cp110660.pdf · conservação do meio ambiente e diminuição das desigualdades sociais. 4

128

MENDONÇA, F. Geografia e Meio Ambiente. 7. ed. São Paulo: Contexto, 2004.

MINAYO, M. C. de S.; DESLANDES, S. F.; NETO, O. C.; GOMES, R. Pesquisa Social: Teoria, método e criatividade. 24. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 1994.

MOURA, M. S. S. ; MELO, V. P. ; CASTRO, R. ; MEIRA, L. ; LORDELO, J. A. Gestão do Desenvolvimento Local, Tempos e Rítmos de Construção - O Que Sinalizam as Práticas. Revista Brasileira de Administração Pública, Rio de Janeiro,

v. 36, p. 609-626, 2002.

OLIVEIRA, G. B. de;LIMA, J. E. de S (Org). O desenvolvimento sustentável em foco: uma contribuição multidisciplinar. Curitiba; São Paulo: Annablume, 2006.

ORTIZ, R. Mundialização e cultura. São Paulo, Editora Brasiliense, 1994.

REIS, D. P. dos. Serrote de Ontem e Serrolândia de Hoje. Serrolândia: 1994.

RIBEIRO, W. C. A Ordem Ambiental Internacional. São Paulo: Contexto, 2001.

SACHS, I. Caminhos para o Desenvolvimento Sustentável. 4. ed. Rio de Janeiro:

Garamond, 2002. __________ Desenvolvimento: includente, sustentável, sustentado. Rio de

Janeiro: Garamond, 2004.

SACHS, I.; VIEIRA, P. F (Org). Rumo à Ecodinâmica: Teorias e práticas do

desenvolvimento.São Paulo: Cortez, 2007.

SANDRONI, P. Dicionário de Economia do século XXI. 2. ed. Rio de Janeiro:

Record, 2006.

SANTOS, M. A natureza do Espaço: Técnica e Tempo. Razão e Emoção. 4. ed.

São Paulo: EDUSP, 2004a.

___________O Brasil, território e sociedade no início do século XXI. Rio de

Janeiro: Record, 2001.

Page 130: A INDÚSTRIA DE BOLSAS EM SERROLÂNDIA BA E OS (DES ...livros01.livrosgratis.com.br/cp110660.pdf · conservação do meio ambiente e diminuição das desigualdades sociais. 4

129

___________Por uma Geografia Nova. 6. ed. São Paulo: EDUSP, 2004b.

___________Por uma outra Globalização. 12. ed. Rio de Janeiro. São Paulo:

Record, 2005.

SEBRAE/BA. Diagnóstico Municipal 80 / Serrolândia . Serviço de Apoio às

Pequenas e Médias Empresas do Estado da Bahia, Salvador, 1999.

SEN. A. K. Desenvolvimento como liberdade; tradução Laura Teixeira Mota. São

Paulo: Companhia das Letras, 2000.

SILVA. Desenvolvimento Sustentável: um conceito multidisciplinar. In

MENDES, J.T.G; SILVA, C.L.da S (Orgs). Reflexões sobre o Desenvolvimento

Sustentável: agentes e interações sob a ótica multidisciplinar. Petrópolis, RJ: Vozes, 2005.

SMITH, N. Desenvolvimento desigual. Rio de Janeiro: Berttrand Brasil S.A. 1988.

SOUZA, M. L. de. Mudar a Cidade: Uma introdução crítica ao planejamento e à

gestão urbanos. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2002.

TAUK- TORNISIELO, S. M.; GOBBI, N.; FOWLER, H. G. (Org). Análise Ambiental: Uma Visão Multidisciplinar. São Paulo: Ed. UNESP, 1995.

VEIGA, J. E. da. Desenvolvimento Sustentável: O desafio do século XXI. Rio de

Janeiro: Garamond, 2005.

WERTEIN, J et al. Políticas culturais para o desenvolvimento: uma base de

dados para a cultura. Brasília, UNESCO Brasil. 2003.

Page 131: A INDÚSTRIA DE BOLSAS EM SERROLÂNDIA BA E OS (DES ...livros01.livrosgratis.com.br/cp110660.pdf · conservação do meio ambiente e diminuição das desigualdades sociais. 4

130

BIBLIOGRAFIA:

CAMPANHA DE DESENVOLVIMENTO E AÇÃO REGIONAL. Programa de Desenvolvimento Regional Sustentável – PDRS: Chapada Diamantina.

Salvador, 1997.

CAMPANHA DE DESENVOLVIMENTO E AÇÃO REGIONAL. Programa de Desenvolvimento Regional Sustentável – PDRS: Chapada Diamantina.

Salvador, 1997.

CERVO, A. L. & BERVIAN, P. A. Metodologia da Pesquisa. 4. ed. São Paulo:

Papirus, 1995.

FERREIRA, H.; RAMOS,G (Org). “Aprendendo o Social”. Salvador: UFBA, 2000.

MARTINS, G. de A. Estudo de Caso: uma estratégia de pesquisa. São Paulo:

Atlas, 2006.

POLIANYI, K. A Grande Transformação: As Origens da nossa Época. Rio de

Janeiro: Campus, 2000.

PORTO-GONÇALVES, C. W. A globalização da natureza e a natureza da globalização. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2006.

SOUZA, H. R. de. O povo e o poder: a partilha do poder local e o

desenvolvimento de Castro Alves/BA. – Santo Antônio de Jesus – Ba.: [s.n.],

2008.

SITES PESQUISADOS:

www.cepal.com.br

www.ibge.gov.br/cidades www.mma.br

www.sei.ba.gov.br

Page 132: A INDÚSTRIA DE BOLSAS EM SERROLÂNDIA BA E OS (DES ...livros01.livrosgratis.com.br/cp110660.pdf · conservação do meio ambiente e diminuição das desigualdades sociais. 4

131

www.ambientebrasil.com.br (Comissão Mundial para o Meio Ambiente e

Desenvolvimento, 1987).

http://www.bndes.gov.br/pme/default.asp acessado em 01/11/2008 www.sistemafaceb.com.br

LISTA DOS ENTREVISTADOS:

Elias Gomes Diniz, 35 anos. Fabricante de bolsas. Entrevista concedida a Ivaneide

Silva dos Santos em 29 de outubro de 2008.

Lenivalter Mota Bispo, 39 anos. Fabricante de bolsas. Entrevista concedida a

Ivaneide Silva dos Santos em Serrolândia, 03 de novembro de 2008.

Noel Roque Rodrigues, 58 anos. Ex-fabricante de bolsas. Entrevista concedida a

Ivaneide Silva dos Santos em Serrolândia, 31 de agosto de 2008.

Raulinda Maria Oliveira, 65 anos. Ex-costureira. Entrevista concedida Ivaneide Silva

dos Santos em Serrolândia, 18 de outubro de 2008.

Wanderlei Oliveira Rios, 33 anos. Fabricante de bolsas. Entrevista concedida a

Ivaneide Silva dos Santos em 30 de outubro de 2008.

Page 133: A INDÚSTRIA DE BOLSAS EM SERROLÂNDIA BA E OS (DES ...livros01.livrosgratis.com.br/cp110660.pdf · conservação do meio ambiente e diminuição das desigualdades sociais. 4

132

APÊNDICE

APÊNDICE 1 - QUESTIONÁRIO À POPULAÇÃO DATA___/___/___

Pesquisa de campo para o trabalho do curso de Mestrado em Cultura, Memória e Desenvolvimento Regional – UNEB – Campus V – Santo Antônio de Jesus-BA. “A indústria de bolsas em Serrolândia/Ba e os (des) caminhos para o Desenvolvimento Local Sustentável”. A – SEXO: ( ) MASCULINO ( ) FEMININO

B – IDADE: ( ) 16-25 anos ( ) 26-35 anos ( ) 36-45 anos ( ) 46-55 anos

( ) 56 a 65 anos ( ) acima de 65 anos C – ESCOLARIDADE: ( ) Não alfabetizado(a) ( ) Fundamental completo (1ª a 8ª série) ( ) Fundamental incompleto ( ) Médio completo (1º ao 3º ano) ( ) Médio incompleto ( ) Superior completo ( ) Superior incompleto D – RENDA:

( ) Menos de R$ 415,00 ( ) R$ 415,00 a 830,00 ( ) R$ 830,00 a 1.245,00 ( ) R$ 1.245,00 a 1.660,00 ( ) R$ 1.660,00 a 2.075,00 ( ) R$ 2.075,00 a 2.490,00 ( ) Acima de R$ 2.490,00 ( ) Não trabalha ( só estuda) ( ) Está desempregado (a) 1. Você acha que a as fábricas de bolsas são importantes para o desenvolvimento

de Serrolândia?

( ) SIM ( ) NÃO

2. Você acha que houve uma mudança no modo de vida das pessoas de Serrolândia

devido à implantação das fábricas de bolsas?

( ) SIM ( ) NÃO

2.1 Para quem responder sim, explicar quais foram as mudanças________________________________________________________________________________________________________________________________________

3. O que existe em Serrolândia que interessa às fábricas de bolsas?

( ) Disponibilidade de matéria-prima ( ) Disponibilidade de mão-de-obra ( ) Infra-estrutura ( ) Empreendedorismo local ( ) isenção de impostos ( ) Boa localização para o transporte de mercadorias

4. Você tem algum familiar que trabalha ou já trabalhou em fábrica de bolsas?

( ) NÃO ( ) SIM. Quem?___________________________________________________________

5. Você trabalhou em fábrica de bolsas alguma vez?

( ) SIM ( ) NÃO

6. Em sua opinião, as fábricas de bolsas em Serrolândia contribuem para:

( ) Geração de emprego ( ) melhorar a qualidade de vida da comunidade ( ) Desenvolvimento da cidade ( ) Aumentar a renda da população

Page 134: A INDÚSTRIA DE BOLSAS EM SERROLÂNDIA BA E OS (DES ...livros01.livrosgratis.com.br/cp110660.pdf · conservação do meio ambiente e diminuição das desigualdades sociais. 4

133

( ) Crescimento da cidade ( ) Investimentos sociais ( ) investimentos ambientais ( ) Dinamizar a economia local ( ) Aumentar a saída de pessoas para outras cidades ( )Diminuir a saída de pessoas para outras cidades

7. Você acha que existe uma parceria entre o poder público, as fábricas de bolsas e

a sociedade civil para promover o desenvolvimento da cidade?

( ) SIM ( ) NÃO 7.1 Para quem responder sim, explicar como é essa parceria:________________________________________________________________

_______________________________________________________________________ 8. Você acha que as fábricas de bolsas causam poluição ao meio ambiente?

( ) Não causam nenhuma poluição ( ) Muita poluição ( ) Pouca poluição / Quais os tipos?___________________________________________________________ ________________________________________________________________

9. Você já ouviu falar de desenvolvimento local sustentável? ( ) Sim ( ) Não

9.1 Para quem responder sim dizer o que entende por desenvolvimento local sustentável:

______________________________________________________________________________________________________________________________________________

10. Em sua opinião, podemos dizer que em Serrolândia existe desenvolvimento

local sustentável?

( ) SIM ( ) NÂO 10.1 Para quem responder não: O que falta em Serrolândia para o desenvolvimento local sustentável existir?__________________________________________________________________

10.2 Para quem responder sim: Quais as ações existentes na cidade que você considera como desenvolvimento local sustentável?______________________________________________________ _________________________________________________________________

11. No que se refere ao trabalho no interior das fábricas, você acha que a atuação dos fabricantes em relação aos funcionários está sendo:

( ) Ótima ( ) Regular ( ) Péssima ( ) Precisa melhorar. Em quê?________________________________________________________________________________________________________________________________________

12. Em relação ao salário, as fábricas:

( ) pagam um salário muito bom ( ) pagam um salário muito pouco ( ) pagam um péssimo salário ( ) pagam um salário razoável

13. Em sua opinião, em que contribui o trabalho terceirizado nas fábricas?

( ) Aumentar o salário dos funcionários ( ) Melhorar a qualidade da produção de bolsas ( ) Diminuir o salário dos funcionários ( ) Diminuir os encargos sociais dos fabricantes ( ) Aumentar a responsabilidade dos fabricantes em relação aos direitos trabalhistas ( ) Diminuir a responsabilidade dos fabricantes em relação aos direitos trabalhistas.

OBRIGADO PELAS SUAS RESPOSTAS!

Page 135: A INDÚSTRIA DE BOLSAS EM SERROLÂNDIA BA E OS (DES ...livros01.livrosgratis.com.br/cp110660.pdf · conservação do meio ambiente e diminuição das desigualdades sociais. 4

134 APÊNDICE 2: QUESTIONÁRIO AOS FUNCIONÁRIOS DAS FÁBRICAS Data___/__/___

Pesquisa de campo para o trabalho do curso de Mestrado em Cultura, Memória e Desenvolvimento Regional – UNEB – Campus V – Santo Antônio de Jesus-BA. “A indústria de bolsas em Serrolândia/Ba e os (des) caminhos para o Desenvolvimento Local Sustentável”. A – SEXO: ( ) MASCULINO ( ) FEMININO B – IDADE: ( ) 16-25 anos ( ) 26-35 anos ( ) 36-45 anos ( ) 46-55 anos

( ) 56 a 65 anos ( ) acima de 65 anos C – ESCOLARIDADE:

( ) Não alfabetizado(a) ( ) Fundamental completo (1ª a 8ª série) ( ) Fundamental

incompleto ( ) Médio completo (1º ao 3º ano) ( ) Médio incompleto ( ) Superior

completo ( ) Superior incompleto ( ) Não estuda

D – RENDA:

( ) Menos de R$ 415,00 ( ) R$ 415,00 a 830,00 ( ) R$ 830,00 a 1.245,00

( ) R$ 1.245,00 a 1.660,00 ( ) R$ 1.660,00 a 2.075,00 ( ) R$ 2.075,00 a 2.490,00 ( )

Acima de R$ 2.490,00

E – FÁBRICA QUE TRABALHA:_________________________FUNÇÃO________ 1. Você acha que a as fábricas de bolsas são importantes para o desenvolvimento

de Serrolândia?

( ) SIM ( ) NÃO 2. Você gosta do trabalho que desenvolve na fábrica:

( )Não. Por quê?________________________________________________

( )Sim. Por quê?________________________________________________

3. Este trabalho melhorou sua condição de vida? ( ) SIM ( ) NÃO

3.1 Para quem responder sim, explicar quais foram as mudanças:______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ Em relação ao salário a

fábrica:

( ) Paga um salário muito bom ( ) Paga um salário muito pouco ( ) paga um péssimo salário ( )pagam um salário razoável 4. Como são as condições de trabalho nesta fábrica de bolsa?

( ) Recebe por carteira assinada ( ) Recebe por produção ( ) Tem direito a férias e décimo terceiro ( ) Recebe por hora extra ( ) Existem os direitos trabalhistas mas não são cumpridos ( ) Todos os direitos trabalhistas são cumpridos 5. Em relação à segurança no trabalho, você afirma que:

6.1 A fábrica disponibiliza equipamento individual de trabalho? ( ) SIM ( ) NÃO 6.2 O espaço da fábrica é bastante arejado e iluminado? ( ) SIM ( ) NÃO

Page 136: A INDÚSTRIA DE BOLSAS EM SERROLÂNDIA BA E OS (DES ...livros01.livrosgratis.com.br/cp110660.pdf · conservação do meio ambiente e diminuição das desigualdades sociais. 4

135 6.3 O material utilizado na produção de bolsas é prejudicial à saúde?

( ) SIM ( ) NÃO

6. No que se refere ao trabalho no interior das fábricas, você acha que a atuação dos

fabricantes em relação aos funcionários está sendo:

( ) Ótima ( ) Boa ( ) Péssima ( ) Precisa melhorar. Em que?_________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

7. Você acha que o trabalho terceirizado nas fábricas contribui para:

( ) Aumentar o salário dos funcionários ( ) Melhorar a qualidade da produção de bolsas ( ) Diminuir o salário dos funcionários ( ) Diminuir os encargos sociais dos fabricantes ( ) Aumentar a responsabilidade dos fabricantes em relação aos direitos trabalhistas ( ) Diminuir a responsabilidade dos fabricantes em relação aos direitos trabalhistas.

8. O que existe em Serrolândia que interessa às fábricas de bolsas?

( ) Disponibilidade de matéria-prima ( ) Disponibilidade de mão-de-obra ( ) infra-estrutura ( ) empreendedorismo local ( ) Isenção de impostos ( ) Boa localização para o transporte da mercadoria

9. Em sua opinião, as fábricas de bolsas em Serrolândia contribuem para:

( ) Geração de emprego ( ) melhorar a qualidade de vida da comunidade ( ) Desenvolvimento da cidade ( ) Aumentar a renda da população ( ) Crescimento da cidade ( ) Investimentos sociais ( ) investimentos ambientais ( ) Dinamizar a economia local ( ) Diminuir a saída de pessoas para outras cidades ( ) Aumentar a saída de pessoas para outras cidades

10. Você acha que existe uma parceria entre o poder público, as fábricas de bolsas e

a sociedade civil para promover o desenvolvimento?

( ) SIM ( ) NÃO 11.1 Para quem responder sim, explicar como é essa parceria:________________________________________________________________

______________________________________________________________________________________________________________________________________________

11. Você acha que as fábricas de bolsas causam poluição ao meio ambiente?

( ) Não causam nenhuma poluição ( ) Muita poluição ( ) Pouca poluição / Quais os tipos?_________________________________________________________________

12. Você já ouviu falar de desenvolvimento local sustentável? ( ) Sim ( ) Não

13.1 Para quem responder sim dizer o que entende por desenvolvimento local sustentável:

________________________________________________________________ 14 Em sua opinião, podemos dizer que em Serrolândia tem desenvolvimento local

sustentável?

( ) SIM ( ) NÂO 14.1 Para quem responder não: O que falta em Serrolândia para o desenvolvimento local sustentável existir?

Page 137: A INDÚSTRIA DE BOLSAS EM SERROLÂNDIA BA E OS (DES ...livros01.livrosgratis.com.br/cp110660.pdf · conservação do meio ambiente e diminuição das desigualdades sociais. 4

136

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

14.2 Para quem responder sim: Quais as ações existentes na cidade que você considera como desenvolvimento local sustentável?__________________________________________________________

_______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

OBRIGADO PELAS SUAS RESPOSTAS!

Page 138: A INDÚSTRIA DE BOLSAS EM SERROLÂNDIA BA E OS (DES ...livros01.livrosgratis.com.br/cp110660.pdf · conservação do meio ambiente e diminuição das desigualdades sociais. 4

Livros Grátis( http://www.livrosgratis.com.br )

Milhares de Livros para Download: Baixar livros de AdministraçãoBaixar livros de AgronomiaBaixar livros de ArquiteturaBaixar livros de ArtesBaixar livros de AstronomiaBaixar livros de Biologia GeralBaixar livros de Ciência da ComputaçãoBaixar livros de Ciência da InformaçãoBaixar livros de Ciência PolíticaBaixar livros de Ciências da SaúdeBaixar livros de ComunicaçãoBaixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNEBaixar livros de Defesa civilBaixar livros de DireitoBaixar livros de Direitos humanosBaixar livros de EconomiaBaixar livros de Economia DomésticaBaixar livros de EducaçãoBaixar livros de Educação - TrânsitoBaixar livros de Educação FísicaBaixar livros de Engenharia AeroespacialBaixar livros de FarmáciaBaixar livros de FilosofiaBaixar livros de FísicaBaixar livros de GeociênciasBaixar livros de GeografiaBaixar livros de HistóriaBaixar livros de Línguas

Page 139: A INDÚSTRIA DE BOLSAS EM SERROLÂNDIA BA E OS (DES ...livros01.livrosgratis.com.br/cp110660.pdf · conservação do meio ambiente e diminuição das desigualdades sociais. 4

Baixar livros de LiteraturaBaixar livros de Literatura de CordelBaixar livros de Literatura InfantilBaixar livros de MatemáticaBaixar livros de MedicinaBaixar livros de Medicina VeterináriaBaixar livros de Meio AmbienteBaixar livros de MeteorologiaBaixar Monografias e TCCBaixar livros MultidisciplinarBaixar livros de MúsicaBaixar livros de PsicologiaBaixar livros de QuímicaBaixar livros de Saúde ColetivaBaixar livros de Serviço SocialBaixar livros de SociologiaBaixar livros de TeologiaBaixar livros de TrabalhoBaixar livros de Turismo