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    Pas tem 17% de pobres, mas s 2% emsituao extrema

    Nova metodologia para mapear a pobreza feita pelo Banco Mundial destaca avanos de 1999 a 2011

    POR ALEXANDRE RODRIGUES03/09/2014 - 6:00 / ATUALIZADO 03/09/2014 - 7:43

    RIO Um mapeamento indito do Banco Mundial com uma nova metodologia para medir graus de

    pobreza revela que o pas ainda tinha, em 2011, 17% da populao na pobreza. No entanto, apenas 2%dela poderiam ser considerados em situao extrema. Para chegar a essa concluso, economistas dobanco elaboraram uma nova forma de dividir os pobres brasileiros em quatro segmentos, associandofatores sociais e critrios de renda para diferenciar pobreza crnica de transitria. Na comparao com1999, o estudo destaca que o pas conseguiu reduzir a pobreza em todos os grupos. Naquele ano, o total depobres chegava a 35% da populao, sendo 7% em situao extrema.

    Para o Banco Mundial, esse desempenho foi possvel graas ao crescimento econmico, o aumento doemprego e da renda e da expanso de programas sociais como o Bolsa Famlia. A partir de agora, paraavanar mais, preciso aprimorar polticas especficas para cada um dos grupos em que se dividem ospobres, diz o mexicano Luis Felipe Lopez-Calva, um dos economistas do Banco Mundial responsveispelo estudo. Ele diz que o Brasil foi um dos poucos pases do mundo, na primeira dcada do sculo 21, a

    conseguir crescer economicamente reduzindo pobreza e desigualdade.

    Elenice Alexandrina dos Santos, ao lado do

    marido Geraldo e oito de seus 10 filhos.Moradora da comunidade quilombola da CasaNova dos Ferreira, ela sustenta a famlia com arenda do Bolsa Famlia - Andr Coelho /Agncia O Globo

    Pelo novo critrio do Banco Mundial, a proporo debrasileiros localizados na pobreza extrema teve umareduo de quase 80% no perodo analisado. Esse grupo caracterizado pelo que os pesquisadores considerarampobres tanto pelo critrio de renda, vivendo com menosde R$ 70 mensais por integrante da famlia, quanto peloacesso a uma rede de proteo social, composta peloscomponentes chamados multidimensionais no estudopara caracterizar a pobreza crnica. A baixa

    escolaridade dos adultos e crianas fora da escola, a faltade acesso a sade e moradia, a cobertura deficiente desaneamento e eletricidade, a inexistncia de bens ou deuma rede de relaes pessoas so fatores que impedemessa parcela da sociedade de alterar sua condio.

    A parte mais importante do nosso estudo foi separar o que chamamos de pobreza crnica datransitria. Se uma pessoa extremamente pobre em termos de renda, ela tem menos chance de sairdessa condio se no tiver acesso a polticas sociais para alm de transferncias como o Bolsa Famlia.Tentamos introduzir outros elementos na metodologia para identificar aqueles que tm mais dificuldadesde sair da pobreza, que so as que deveriam receber maior ateno das polticas pblicas. H pessoas quepassam pela pobreza, mas no de uma forma crnica. preciso atacar de maneira diferente cada tipo de

    pobreza diz Lopez-Calva.Na pesquisa do Banco Mundial, outros 2% de brasileiros esto em situao de pobreza moderada: tmsituao muito ruim em termos monetrios, mas tm situao melhor nos quesitos multidimensionais,como habitao, por exemplo. J quem vive o contrrio, com renda pouco acima da linha e pobreza eprivao de outros componentes sociais, foram considerados vulnerveis e so 4% da populao. Por fim,h aqueles considerados pobres transitoriamente por estarem sem renda, como os desempregados porpouco tempo, mas que no perderam acesso aos fatores multidimensionais que lhes permitem mudar asituao. So 9% da populao.

    Segundo Lopez-Calva, o Brasil comeou a atacar a pobreza sem mecanismos para diferenciar os pobrescrnicos daqueles cuja pobreza est baseada apenas na renda, mas conseguiu reduzir consideravelmentea carncia em todos os segmentos. Em uma dcada, a proporo de brasileiros na pobreza severa j mais do que trs vezes menor, reduo similar experimentada entre os considerados moderadamente

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    pobres. A proporo de vulnerveis caiu pela metade e a daqueles considerados numa situao de pobrezatransitria foi reduzida em um quarto.

    preciso reconhecer que o Brasil tem feito um trabalho muito bom em todos os tipos de pobreza.Poucos pases conseguiram resultado to expressivo. Se olharmos as ltimas duas dcadas, especialmentea partir de 2002, a reduo da pobreza e da desigualdade no Brasil bem maior do que em outros pasesda Amrica Latina.

    Para o economista do Banco Mundial, o Brasil est no caminho certo ao diversificar a estratgia dereduo da pobreza com diferentes programas em vez de concentrar os esforos apenas no Bolsa Famlia.Ele explica que uma sociedade nunca conseguir eliminar totalmente os pobres, mas deve perseguir o

    objetivo de eliminar a pobreza crnica. Para isso, preciso manter permanentemente um conjunto depolticas pblicas que possam atacar de maneira especfica as vulnerabilidades dos diversos grupos emque se dividem os pobres. O instrumento principal, ele diz, a educao.

    O Brasil busca uma poltica universal de direitos, mas para torn-los universais preciso ter polticasespecficas para cada grupo. A ideia de que todo mundo tem direito a benefcios universais no significaque todo mundo precisa das mesmas polticas ou intervenes diz Lopez-Calva. O Brasil conseguiuaumentar a escolaridade, mas agora precisa melhorar a qualidade das escolas. Isso bem mais difcil.

    http://oglobo.globo.com/brasil/pais-tem-17-de-pobres-mas-so-2-em-situacao-extrema-13810166#ixzz3CIlwCHlr

    Urariano Mota: As empregadas e a escravidopublicado em 29 de maro de 2013 s 1:51

    por Urariano Mota,em Direto da Redao

    Por caminhos tortos, Joaquim Nabuco teve uma das suasiluminaes quando escreveu: A escravido permanecerpor muito tempo como a caracterstica nacional do Brasil.

    Sim, por caminhos tortos, porque depois de uma frase tomagnfica, de gnio do futuro, Joaquim Nabuco sem pausacontinuou, num encanto que esconde a crueldade:

    Ela (a escravido) espalhou por nossas vastas solidesuma grande suavidade; seu contato foi a primeira formaque recebeu a natureza virgem do pas, e foi a que eleguardou; ela povoou-o como se fosse uma religio naturale viva, com os seus mitos, suas legendas, seusencantamentos; insuflou-lhe sua alma infantil, suastristezas sem pesar, suas lgrimas sem amargor.

    Penso na primeira frase de Nabuco, a da escravido comocaracterstica do Brasil, nestes dias em que o Congresso dum primeiro passo para a superao da herana maldita.No quero falar aqui sobre as conquistas legais para asempregadas domsticas, da nova lei sobre a qual osjornais tanto tm falado como num aviso: patroas,cuidado, domsticas agora tm direitos.

    Falo e penso nas empregadas que vi e tenho visto no Recife e em So Paulo. No aeroporto de Guarulhoseu vi Danielle Winits, a famosa atriz da Globo, muito envolvida com o seu notebook, concentradssima,enquanto o filhinho de cabelos louros berrava. Para qu? A sua empregada, vestida em odioso e

    engomado uniforme, aquele que anuncia sou de outra classe, cuidava para que a perdida beleza da

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    atriz no fosse importunada. To natural os fs de telenovelas no viam nada de mais na mucama noaeroporto, pois faziam gracinhas para o bobinho lindinho.

    Em outra ocasio, numa tera-feira de carnaval noite, vi no Recife uma jovem minha frente,empenhada em ver a passagem de um maracatu. To africano, no ? Junto a ela uma senhora destavez sem uniforme, mas carregando no rosto e modos a servido abrigava nos braos um beb. Ostambores, as fantasias, eram de matar qualquer ateno dirigida criana, que afinal estava bemcuidada, sob uma corda invisvel que amarrava a empregada. Ento eu, no limite da raiva, ofereci o meulugar sua escrava sobrevivente, com a frase: a senhora, por favor, venha com o seu filho aqui para afrente. A empregada quis se explicar, coitada, morta de vergonha, enquanto a doce mame no

    entendia o chamamento irnico, pois me olhava como se eu fosse um marciano. Espantada, parecia medizer: como o meu filho pode ser dessa a?.

    O desconhecimento de direitos elementares s empregadas domsticas, como privacidade, respeito, afalta de ateno para ver nelas uma pessoa igual aos patres, creio que sobreviver at mesmo novalei. histrico no Brasil, atravessa geraes e atinge at mesmo os mais jovens e pessoas que sedeclaram esquerda. como se estivesse no sangue, como se fosse gentico, de um carterirreprimvel. At antes delas vo a democracia e a igualdade. A partir delas outra histria. Quantasvezes vemos nos restaurantes jovens casais com suas lindas crias, tendo ao lado as escravas, que nemsequer tm direito a provar da bebida e da comida? Isso nos domingos e feriados, pois esses so os diasdas patroazinhas se divertirem. justo, no ? O feminismo se faz para que mulheres sejam cidads,mas a cidadania s alcana os iguais, claro.

    Em todas as situaes desconfortveis, se ousamos estranhar, ou agir com pelo menos um olharatravessado para essa infmia, recebemos a resposta de que as domsticas so pessoas da famlia.Parentes fora do sangue, apenas separadas por deveres, notamos. o que se pode chamar de umaopresso disfarada em laos afetivos. A ex-escrava considerada como um bem amoroso, ntimo, masque por ser da casa come na cozinha e se deita entre as galinhas do quintal. O que, afinal, mais limpoque se deitar com os porcos no chiqueiro. No estranhem, porque no exagero. No faz muito tempo noRecife era assim. E por que estranhar esse tratamento? Olhem os grandes e largos e luxuososapartamentos do Rio e de So Paulo, abram os olhos para os minsculos quartinhos de empregadas,entrem nos seus banheiros, que Millr dizia serem a prova de que no Brasil empregadas no tm sexo noWC.

    No posso concluir sem observar que os pobres copiam os ricos, e que o tratamento dado s domsticasse estende em democracia para todas as classes sociais. Menos para as empregadas, claro. Aescravido permanecer por muito tempo como a caracterstica nacional do Brasil, dizia Nabuco.

    http://www.viomundo.com.br/voce-escreve/urariano-mota-as-empregadas-e-a-escravidao.html

    Casa-Grande & SenzalaDE SO PAULO

    17/08/2014 01h30

    Minha coluna de hoje versaria sobre transparncia nas contas do condomnio. Mudei de ideia e resolviescrever sobre o preconceito que ainda impera no nosso pas disfarado, covarde, vergonhoso...

    Enquanto escrevia sobre as contas, meu celular no parava de tocar. Atendi, pois parecia urgente. Erauma mulher nervosa, perguntando seu eu era o sndico do prdio dela.

    Sim, sou o sndico profissional. O senhor sabe que o aniversrio do filho do zelador ser no salo de festas do prdio? Sim, eu sei e autorizei. Que eu saiba, nosso regulamento probe que funcionrios utilizem as reas comuns! Poxa, mas ele trabalha no prdio h mais de dez anos e mora nele com sua famlia. a sua casa. um absurdo, ele nosso empregado, no um condmino. Quero que o assunto seja levado para

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    discusso na prxima assembleia. Sim, senhora, discutiremos o assunto e solicito a sua presena. Aproveitando, quero falar sobre o absurdo que vem ocorrendo na academia: algumas domsticas fazemas aulas e usam os aparelhos. Compreendo a sua indignao, mas as domsticas em questo moram no trabalho. Elas podem, assim,utilizar as reas comuns. o mesmo critrio que utilizamos para um parente que vem morartemporariamente em sua casa.

    Ao final da longa e enfadonha conversa, a ilustre senhora pediu sigilo e discrio. Segundo ela, "essepessoal meio vingativo".

    A discusso seguiu pelos corredores, avanou para as redes sociais e logo percebi que muitos vizinhosconcordam com a tal senhora.

    Uma vizinha falou sobre "o absurdo que aconteceu no sbado, quando a bab entrou na piscina com obeb, ainda por cima em trajes de banho". Outro morador comentou "o porteiro participa do futebol queacontece toda quinta de noite".

    Condomnios possuem regras internas. Isso no se discute. H, contudo, preceitos constitucionaisvedando qualquer forma de discriminao por cor, credo e condio social.

    J vencemos o famigerado "elevador de servio". Agora vamos caminhar para uma relao maisharmoniosa e equilibrada com os "serviais" nas reas comuns.

    Mrcio Rachkorsky advogado, especialista em condomnios. Atua como comentarista na TV Globo, ondeapresenta o quadro 'Meu Condomnio Tem Soluo', e na Rdio CBN, onde apresenta o boletim 'CondomnioLegal'. presidente da Assosindicos (Associao dos Sndicos do Estado de So Paulo) e membro da Comisso deDireito Urbanstico da OAB-SP. Escreve aos domingos, a cada duas semanas.

    http://www1.folha.uol.com.br/colunas/marciorachkorsky/2014/08/1501177-casa-grande--senzala.shtml

    02 de novembro de 2013 17h11

    Caminhada pede paz e protesta contraviolncia policial na periferia de SP"Por que atirou em mim?" era a pergunta que osmoradores da regio do Jardim ngela, zona sulpaulistana, levavam escritas em camisetasbrancas e repetiram em refro ao sarem empasseata na manh deste sbado. O ato, queocorre todos os anos no Dia de Finados,comeou como uma reao violncia que

    afligia o bairro na dcada de 90. Neste ano, ascentenas de manifestantes que saram daParquia Santos Mrtires e foram at o CemitrioJardim So Lus prestaram solidariedade comunidade da Vila Medeiros, zona norte, onde oestudante Douglas Rodrigues foi morto por umpolicial no ltimo dia 27.

    Segundo a Polcia Militar, Douglas foi baleado

    "Por que atirou em mim?" era a pergunta que osmoradores levavam escritas em camisetas brancas

    Foto: Marcelo Camargo / Agncia Brasilacidentalmente durante uma abordagem. A me do jovem diz que, antes de morrer, o estudantequestionou o motivo do disparo. Desde ento, a frase tem sido difundida nas redes sociais como umbordo contra a violncia policial. "Eles (moradores da Vila Medeiros)nos pediram em comunho, em

    solidariedade, para assumir a campanha em que eles esto usando as ltimas palavras do menino antes

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    de morrer", explicou o padre responsvel pela Parquia Santos Mrtires, Jaime Crowe. "A nossacaminhada buscar foras e juntar nimo, porque a paz um caminho que temos que construir."

    Nos 18 anos em que a caminhada feita, Crowe diz que viu aos poucos a realidade do bairro melhorar,apesar da regio ainda ser uma das mais violentas da cidade. O padre atribui que a evoluo resultado das aes da comunidade e do crescimento dos investimentos do poder pblico. "A soma daspequenas aes na regio e algumas grandes, como a presena do Hospital M'Boi Mirim, que criaperspectivas para as pessoas da regio", cita ao relacionar os fatores, que na sua opinio, ajudaram areduzir o nmero de homicdios de 130 para cada 100 mil habitantes, em 1996, para 25 nos ltimosindicadores

    Para continuar reduzindo a violncia, o padre defende um policiamento que esteja mais prximo comunidade. "A gente luta por uma nova polcia. No uma Polcia Militar. Uma polcia que seja integradana comunidade. Um policial que conhecido pelo nome, no s pela farda", ressalta.

    O professor de psicologia da Universidade de So Paulo Luis Galeo veio da zona oeste para participardo ato. "S a comunidade organizada que vai conseguir diminuir esses ndices de violncia. J diminuiumuito, mas ainda tem muito a diminuir", disse, ao responder porque participava da passeata.

    Para Galeo, o caso de Douglas um exemplo do que acontece cotidianamente tambm no Jardimngela. "Muitos jovens morrem aqui sem qualquer notcia sair nos jornais ou sem qualquer comoo.Ento, acho importante, quando se tem uma situao como essa, que houve comoo, que todo mundorelembre isso. Ningum deve morrer por um tiro, acidental ou no, da polcia".

    Robson Batista, educador em um servio que atende crianas vtimas de violncia no bairro, acreditaque para enfrentar a violncia preciso trabalhar com os ncleos familiares. "Trazendo a paz para o lar,a gente vai conseguir ter pessoas mais pacficas, independente de ser um policial ou um menino queno teve oportunidades e resolveu ir para o crime", disse.

    http://noticias.terra.com.br/brasil/cidades/caminhada-pede-paz-e-protesta-contra-violencia-policial-na-periferia-de-sp,de26c1b721f02410VgnCLD2000000ec6eb0aRCRD.html

    Na Unifesp, cotistas e no cotistas tm mdia dedesempenho igualNa Baixada Santista, desempenho dos beneficirios da poltica afirmativa foi 8,71% superior; a

    nota foi menor entre os cotistas no campus da capital - 6,65% inferior

    Agncia Estado| 1 19/05/2013 12:59:38

    Os alunos cotistas da Universidade Federal de So Paulo (Unifesp) tiveram mdia 0,06 ponto (em uma escala dezero a dez) inferior dos no cotistas em 2012 - diferena de apenas 1,26%. A distncia entre as notas foi maiorno campus da capital (6,65%), onde funcionam cursos como Medicina e Enfermagem. Na Baixada Santista, poroutro lado, o desempenho dos beneficirios da poltica afirmativa foi 8,71% superior ao dos demais colegas.

    O levantamento, feito pela Pr-Reitoria de Graduao e obtido pelo jornal O Estado de S. Paulo, leva em conta amdia ponderada de todos os 9.671 estudantes matriculados em 2012. Desses, 669 (7,22%) eram cotistas. Nesteano, a instituio guardou 15% das vagas dos processos seletivos para quem cursou o ensino mdio na redepblica. A reserva crescer at atingir 50% em 2016, como prev a Lei de Cotas.

    Diferentemente da atual legislao, a poltica adotada pela Unifesp de 2005 a 2012 no considerava o critriorenda. Do total de vagas abertas anualmente, 10% eram reservadas para candidatos que se autodeclaramnegros, pardos ou indgenas e haviam cursado o ensino mdio em escolas pblicas.

    "A concorrncia entre esse grupo de alunos era bem superior do sistema universal", diz a pr-reitora MariaAnglica Minhoto. "Isso teve como consequncia a supersseleo de ingressantes cotistas, o que possivelmentefavoreceu a existncia de condies similares para o desempenho acadmico."

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    Lei sancionada em agostopela presidente Dilma Rousseff determina que at 2016 metade das vagas dasfederais de ensino superior seja ocupada por ex-alunos da rede pblica. Dessas, metade estar guardada paraestudantes com renda familiar igual ou inferior a 1,5 salrio mnimo por pessoa (R$ 1.017). Haver ainda umaespcie de subcota para a soma de pretos, pardos e indgenas, conforme a distribuio desse grupo napopulao de cada Estado - em So Paulo, esta taxa de 35%.

    Maria Anglica acredita que a adequao lei vai alterar significativamente o perfil dos alunos, principalmente noscursos mais concorridos. "Sero exigidos esforos adicionais e j estamos negociando e cobrando do Ministrioda Educao mais recursos materiais e humanos para enfrentar questes relativas permanncia estudantil."

    Segundo a vice-presidente da Associao dos Docentes da Unifesp (Adunifesp), Virginia Junqueira, a pesquisamostra que o cotista "se esfora tremendamente para acompanhar o curso". Para ela, os professores tero de seadaptar chegada de mais alunos da rede pblica. Para o professor do Departamento de Microbiologia,Imunobiologia e Parasitologia Renato Mortara, haver queda no nvel acadmico dos alunos. "Essa diferena denotas me preocupa e tende a crescer."

    Santos

    Na Unifesp, o cmpus da Baixada Santista o nico no qual os alunos cotistas tm desempenho superior ao dosno cotistas. L, a diferena de notas chega a 8,71%. Essa tambm a unidade com menos estudantesbeneficiados pela poltica afirmativa: s 80 dos 1.523 matriculados em 2012 - 5,25% do total.

    Em Santos, funcionam sete cursos: Educao Fsica, Fisioterapia, Nutrio, Psicologia, Servio Social e TerapiaOcupacional, alm do bacharelado interdisciplinar em Cincia do Mar.

    Para a fisioterapeuta e professora Stella Peccin, que d aulas em todos os cursos da unidade, os bons resultadosso fruto do estmulo ao cotistas. "Usamos meios e projetos para que os estudantes se sintam estimulados abuscar informao e trabalhar em grupo, dissolvendo dessa forma eventuais dvidas", diz. "Buscamos sempreequacionar o padro para mais, nunca para menos."

    Segundo cotistas ouvidos pela reportagem, passar no vestibular mais difcil do que acompanhar o curso. Alunodo ltimo ano de Psicologia, Carlos Eduardo Costa, 27 anos, diz que chegou "defasado" para a seleo. "Mas,quando entrei na universidade, notei que outros colegas tinham dvidas em algumas disciplinas iguais s minhas.Ter dificuldade no algo exclusivo de cotista." As informaes so do jornal O Estado de S. Paulo.

    http://ultimosegundo.ig.com.br/educacao/2013-05-19/na-unifesp-cotistas-e-nao-cotistas-tem-media-de-desempenho-igual.html

    20 de novembro de 2013 08h35

    Mesmo com avano pelas cotas, negros enfrentam

    racismo na universidadeApesar da gradual entrada do negro no mercado de trabalho e na educao, o caminho para a superao do

    racismo ainda longoFoto: UFRGS / Divulgao

    A luta pela valorizao do povo afro-brasileiro,relembrada nesta quarta-feira, no Dia da Conscincia

    Negra, ainda encontra obstculos dentro dauniversidade. Mesmo que as cotas tenhamrepresentado um significativo avano na insero donegro no ensino superior, especialistas aindapercebem um forte racismo dentro das instituies.

    Cotas, uma nova discusso na universidade

    A questo muito maior que a prpria universidade.O preconceito racial est incrustado na sociedadebrasileira, por mais velado que esteja. Apesar dagradual entrada do negro no mercado de trabalho e

    na educao, o caminho para a superao do

    Poltica de cotas garantiu mais oportunidadepara os negros no ensino superior

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    racismo ainda longo, acredita a professora e pesquisadora da Universidade Federal de Mato Grossodo Sul (UFMS), Maria Jos Cordeiro, a Maju

    "O negro no mais s consumidor, mas gerador. Agora ele est do outro lado. As cotas colocaramnegros qualificados no mercado de trabalho", afirma Maju. Em agosto, celebrando um ano da poltica decotas nas universidades e institutos federais, o ministro da Educao, Aloizio Mercadante, afirmou que oPrograma Universidade para Todos (Prouni) mudou a histria dos negros no ensino superior. "Em 1997,somente 2,2% de negros frequentavam o ensino superior. Atualmente, so mais de 10%. Com o ProUni,de 1,2 milho de contratos, mais de 630 mil so bolsistas negros", disse.

    O ltimo levantamento do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Ansio Teixeira (Inep),

    de 2012, aponta que 35% dos matriculados em cursos de graduao no Pas so pretos ou pardos,enquanto 62% so brancos - mesmo ndice de 2011. O Norte e o Nordeste so as regies com maiorpercentual de universitrios negros: 63% entre os nortistas e 57% entre os nordestinos. Na regio Sul,apenas 10% preto ou pardo, contra 89% de brancos. J no Sudeste, 27% dos que frequentam oensino superior so negros, e no Centro-Oeste, 40%.

    Joclio Teles, professor do departamento de antropologia da Universidade Federal da Bahia (UFBA),ressalta o crescimento da participao de negros em cursos que tradicionalmente formam brancos,como medicina, arquitetura ou administrao. Nas graduaes em que j havia uma significativaparticipao de afro-brasileiros o crescimento foi menor.

    A entrada do negro em ambientes que foram historicamente de brancos traz tambm o choque e o

    preconceito como consequncias. "O racismo institucional muito mais difcil de ser combatido, inerente ao prprio dia a dia das instituies. Tem muita gente trabalhando junto e isso acaba existindo",diz Maju.

    A pesquisadora do Ncleo de Estudos Negros da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)Joana Passos diz que o racismo segue desafiando negros e indgenas. "O racismo no desapareceu dasociedade brasileira, sendo assim, tambm no desapareceu da universidade", afirma. Para ela, aestratgia para se superar esse problema falar sobre o tema e fazer com que as pessoas percebamque ele, junto a questes econmicas e de gnero, estrutura as desigualdades do Brasil. Joana aponta adevida punio, a instituio de programas anti-racismo e a implementao da Lei 10639/03, que obrigao ensino da histria e da cultura afro-brasileira na educao bsica e ensino superior, como medidasnecessrias para um avano na rea.

    PesquisaMuitos cotistas procuram se integrar a grupos e ncleos de pesquisa para se apropriarem melhor dasquestes raciais na sociedade brasileira. Mas preciso que as prprias universidades propiciem isso,afirma a professora. Teles ressalta que mais comum estudantes negros organizarem eventos e aespontuais para a conscientizao sobre o assunto. De toda forma, no h cobrana de que cotistas sevoltem s suas comunidades ou questes tnico-raciais com suas pesquisas. So muitos alunos ebolsas de pesquisa e, naturalmente, no todo orientador que trabalha com racismo.

    "Os estudantes negros e indgenas so estudantes como todos os demais. Eles precisam se sentir livrespara a produo acadmica", diz Joana.

    Dcada Internacional de AfrodescendentesNo ltimo dia 11, o Centro de Informaes das Naes Unidas no Brasil (UNIC Rio) antecipou olanamento de uma campanha para a aprovao da Dcada Internacional de Afrodescendentes.

    A aprovao por parte da Assembleia Geral da Organizao das Naes Unidas (ONU) garantiria oestabelecimento de uma dcada que promova o fim do racismo, da discriminao e da xenofobia.

    http://noticias.terra.com.br/educacao/mesmo-com-avanco-pelas-cotas-negros-enfrentam-racismo-na-universidade,527ecf9404272410VgnVCM20000099cceb0aRCRD.html

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    Pela primeira vez, Brasil tem menos de1% de domiclios na classe EMRCIA DE CHIARA, DE O ESTADO DE S. PAULO21 Janeiro 2012 | 23h 08

    Em uma dcada, 10 milhes de pessoas saram da pobreza extrema, mostram doisdiferentes estudosPela primeira vez a classe E, a base da pirmide social, representa menos de 1% dos 49 milhes de

    domiclios existentes no Pas. Isso significa que o nmero de brasileiros em situao de pobreza extrema

    teve uma drstica reduo nos ltimos dez anos, conforme apontam duas pesquisas de consultorias que

    usaram metodologias distintas.

    Em nmeros exatos: 404,9 mil ou 0,8% dos lares so hoje de classe E, segundo os clculos do estudo IPC-

    Maps, feito pela IPC Marketing, consultoria especializada em avaliar o potencial de consumo. Em 1998, a

    classe E reunia 13% dos domiclios, indica o estudo baseado em dados do IBGE.

    Marcos Pazzini, responsvel pelo estudo, explica que os dados so atualizados segundo um modelo

    desenvolvido pela consultoria, que leva em conta a pesquisa do Ibope Mdia sobre a distribuio

    socioeconmica dos domiclios, projees de crescimento da populao e da economia, entre outros

    indicadores. Os lares so classificados segundo o Critrio Brasil, da Associao Brasileira das Empresas

    de Pesquisa (Abep), que leva em conta a posse de bens e o nvel de escolaridade do chefe da famlia.

    O Instituto Data Popular, especializado em baixa renda, vai na mesma direo. Em 2001, a classe E era

    10% da populao (17,3 milhes) e, em 2011, tinha cado para 3,6% ou 7 milhes, segundo o estudo que

    divide a populao pela renda mensal per capita - R$ 79 para a classe E.

    "No d para dizer que acabaram os pobres, mas diminuram muito, e a condio social deles melhorou

    porque tiveram acesso a vrios bens de consumo, o que antes era praticamente impossvel", afirma

    Pazzini.Segundo o scio diretor do Data Popular, Renato Meirelles, a tendncia das pesquisas a mesma: uma

    forte reduo do contingente de pobres. "Em dez anos, foram 10 milhes de pessoas a menos na classe E",

    observa, ponderando que a divergncia entre a ordem de grandeza dos resultados pode ser decorrente do

    fato de muitas pessoas da classe E no terem domiclio.

    Mobilidade

    As participaes das classes E e D na estrutura social encolheram por causa da forte migrao que houve

    entre 1998 e 2011. A fatia dos domiclios de classe D caiu quase pela metade no perodo, de 33,6% para

    15,1%. J os estratos C e B cresceram. Em 1998, 17,8% dos domiclios eram da classe B e, em 2011,

    representavam 30,6%.Na classe C, o crescimento foi ainda mais significativo, de 31% em 1998 para 49,3% em 2011, aponta o

    IPC-Maps. Resultado: quase 80% dos lares brasileiros hoje j so de classe C ou B. "No d mais para

    falar em pirmide social, com a baixa renda representando a maior parte da populao. Agora a

    estratificao social como um losango", diz Pazzini. Ele destaca que hoje o porcentual de domiclios

    mais pobres (0,8%) quase empata com o total de mais ricos (0,5%).

    http://economia.estadao.com.br/noticias/negocios,pela-primeira-vez-brasil-tem-menos-de-1-de-domicilios-na-classe-e,100149e

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    Casa, bolacha e DanoninhoMRCIA DE CHIARA, DE O ESTADO DE S. PAULO21 Janeiro 2012 | 23h 22

    Edisonia deixou favela e j sonha com reforma

    espera do oitavo filho, Edisonia Bispo Oliveira, de 35 anos, que estudou at a 8. srie do 1. grau, diz

    que a sua vida melhorou. Faz dois anos que deixou o barraco onde morava em Paraispolis e mudou-se

    para um apartamento de dois quartos da Companhia de Desenvolvimento Habitacional Urbano (CDHU).

    "Agora estou livre dos bichos", diz, lembrando que na antiga moradia enfrentava problemas com baratase ratos.

    O marido, que trabalha como ajudante de pedreiro, ganha R$ 780 e ela, atualmente desempregada,

    recebe R$ 96 do Bolsa Famlia. A filha mais velha, de 16 anos, comeou recentemente a trabalhar numa

    casa de famlia.

    Com essa renda, Edisonia tem de fazer "ginstica" para pagar a prestao do apartamento, gua, luz e

    condomnio. Antes, quando morava no barraco, ela no gastava com moradia. Mesmo assim diz que

    consegue fazer um agrado para as crianas e comprar Danone e bolacha, o que antes no era possvel.

    "Quando completar quatro meses depois que tiver o beb, quero voltar a trabalhar." Ela at j sabe como

    vai gastar o salrio: "Quero reformar o apartamento".

    http://economia.estadao.com.br/noticias/geral,casa-bolacha-e-danoninho,100151e

    Acesso Justia uma realidade ou uma fantasia?Mrcio Arajo de MesquitaResumo:No presente artigo procura-se promover uma reflexo sobre a questo do acesso justia e a forma de pensar a sociologiajurdica no Brasil, abordando principalmente as vises de Kim Economides, Mauro Cappelletti e Boaventura de Souza Santos, seus reflexose contribuies para a soluo da problemtica do acesso justia e dos seus rumos epistemolgicos.Palavras-chave:Acesso justia. Administrao da justia. Ondas. Conflitos.

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    1 INTRODUO

    O tema do acesso justia aquele que mais diretamente equaciona as relaes entre o processo civil e ajustia social, entre igualdade jurdico-formal e desigualdade scio-econmica. (Boaventura de Souza Santos)

    Cronologicamente, constatamos que a Sociologia Jurdica percorreu um rduo e processual caminho at seconstituir em uma disciplina autnoma. Porm, necessrio mais do que a sua consolidao para atender asdemandas sociais, ou seja, levando em considerao o fator social da disciplina e como tal sua evoluo necessrio desenvolver novos enfoques rumo a uma maior tutela da sociedade pelo judicirio.

    Pegando como exemplo o nosso objeto de anlise mais latente (sociedade/judicirio), imaginemos um casosimples de uma empregada domstica que demitida e no recebe seus direitos trabalhistas, ou um

    consumidor que lesado em um compra etc. Nestes casos, temos claramente os ncleossociedade/judicirio, logo podemos imaginar que suas aes na justia iram demorar algum tempo, s vezestempo demais.Notamos a a definio prtica da nossa disciplina. Causas de demanda da sociedade emorosidade do judicirio. Essa falta de uma tutela da justia caracteriza sua crise administrativa. Em umaperspectiva weberiana, a instituio burocrtica no cumpre seu papel. Entretanto, o no cumprimento de suasfunes esperadas pela sociedade causa um efeito social, seja de frustrao, insegurana jurdica ou at mesmode um diagnstico de uma crise na administrao.

    A Sociologia do Direito e Administrao da Justia, como bem foi nomeado pelo professor Boaventura de SouzaSantos com seu enfoque contemporneo, vem trazer uma anlise do real entre a sociedade e suas demandas e ojudicirio e sua crise administrativa, possibilitando uma maior reflexo sobre o tema e ajudando a desenvolversolues atravs de suas pesquisas para o verdadeiro acesso de todos justia.

    2 ACESSO JUSTIA PELA VISO TRIANGULAR E PELAS ONDAS

    Um trabalho, que desenvolvi mais recentemente sobre acesso justia, volta investigao, pode-se dizer,para dentro, deixando o campo da oferta dos servios jurdicos para concentrar-se no campo da tica legal.Esta nova perspectiva analtica deriva do fato de que considero que a essncia do problema no est maislimitada ao acesso dos cidados justia, mas que inclui tambm o acesso dos prprios advogados justia. Defato, em minha opinio, o acesso dos cidados justia intil sem o acesso dos operadores do direito justia. (Kim Economides)

    Quando analisamos as ondas de acesso justia estamos nos referindo a um processo analtico da dinmicahistrica da problemtica que envolve o acesso justia como um todo. Essa metfora onda nos evidencia quecada fator analisado cresce como um espiral e diminui em um determinado tempo, mas inevitvel sua inter-relao entre uma onda e outra. Este estudo influenciado pelas pesquisas e experincias do professor MauroCappelletti * que foi quem empregou essa referncia a ondas no seu trabalho que de notvel importncia

    para o estudo do acesso justia.Para Kim Economides, o acesso justia se baseia na triangulao de demanda, oferta e natureza do problemajurdico. Quanto demanda podemos diferenci-la em real, isto , quanto j se tem o litgio que necessita dasvias adjudicatrias e a demanda potencial onde se observa o conflito*. Onde se desenvolvem formasalternativas *para solucionar esse conflito, podemos usar a codificao legal da Justia de maneira mais flexvela atender as necessidades do caso concreto ou no valorizar a codificao existente e ento a proposta construir um novo direito, denominado insurgente ou achado na rua. No nosso pas, que possui umadesigualdade social gigantesca, podemos destacar a atuao de toda a sociedade, do Estado ou da iniciativaprivada, ou mesmo da sociedade organizada. O segundo ponto da triangulao a oferta, isto , analisar ascondies de oferta a disposio para resolver os conflitos. Ser que o Judicirio est preparado? Possumosoperadores do direito competentes? A quanto anda nossa Defensoria Pblica? Justia e igualdade so doisconceitos indissociveis, mas como se falar em igualdade em um pas to desigual? Essas indagaes nos

    deixam explicito a dificuldade que a justia tem para fazer a igualdade. A igualdade jurdica um princpiosegundo o qual as prescries, proibies e penas legais so as mesmas para todos os cidados sem que sefaam quaisquer distines quanto ao nascimento ou a sua prpria situao, raa, cor, credo, classe socialetc. Se todos somos iguais porque a sociedade brasileira nutre essa mentalidade de que s os pobres sopunidos?

    Desde a declarao dos direitos do homem e do cidado no seu art.1 define quetodos os homens nasceme permanecem livres e iguais em direitos, e porque depois de tantos sculos isso ainda no verdade?Simples no estamos no mundo do deve ser, mas no mundo real, no mundo desigual do ser. Estouanalisando a igualdade do ponto de vista social, ou seja, o que est mais perto da vivencia dos cidados.Como exemplo citamos o acesso justia. inacreditvel que Estados como Santa Catarina, Paran e Goisno tenham defensoria Pblica.A demora no julgamento dos processos, sistema carcerrio que nodegenera os presos, dificuldade dos cidados mais pobres saberem seus direitos e, por conseguinte estarem

    mais vulnerveis s injustias sociais, efetividade dos direitos Humanos, a impunidade para crimesrelevantes contra a sociedade. A impunidade um dos temas mais sensveis para a populao atualmente.

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    Na medida que a justia se separa cada vez mais da igualdade esperada por sua sociedade, fica maisdistante o sonho de uma justia que atenda s necessidades e proporcione segurana populao.

    Basta subir uma favela, ou mesmo perguntar a um trabalhador que percebe um salrio mnimo pra saber quejustia para eles um sonho difcil de alcanar em um pas onde da populao vive abaixo da linha dapobreza. A opinio dos cidados s ir mudar quando a igualdade de justia chegar at eles. Quando de fatoacreditarem em uma justia imparcial e eqitativa do ponto de vista da sua realidade. Justia para o Brasil sser possvel quando o nosso Estado proporcionar a sua sociedade direita a ter direito, ou seja, direito justia.

    Para fecharmos o tringulo terico na viso de Kim Economides, temos a discuso sobre a natureza do problemajurdico, onde vemos que os conflitos podem ser individuais ou coletivos. As causas individuais s vezes podemser coletivas, por exemplo uma causa de relao de consumo com um fornecedor de um servio telefnico

    atinge vrias pessoas. Por isso, ao racionalizarmos a ao da justia, uma ao coletiva seria bem maisvantajosa para o Estado e para a sociedade.

    Agora que destaquei as idias de Kim Economides tacitamente podemos fazer sua diferenciao com asexposies do pensamento de professor Cappelletti que se segue.

    A primeira onda de acesso justia se relaciona com a melhoria dos servios jurdicos. Como j citado, ser quea demanda da sociedade cada vez mais complexa est sendo atendida? Nesse caso toda ajuda bem vinda e oque vem acontecendo.

    Com a precariedade de um pas continental como o nosso em atender a todos, a sociedade se mobiliza.Podemos destacar: ONGs, escritrios modelo das Universidades de Direito, igrejas localizadas emcomunidades carentes e at mesmo o Estado com a criao das Defensorias pblicas. Mas ainda tem muito amelhorar em relao assistncia judiciria, assim como a jurdica. Existe um desequilbrio na advocacia,

    que em muitos casos s pode ser sanado por advogados pagos pelo governo, para defender os interesses norepresentados pela camada mais venervel da populao. A Globalizao contribui muito para essa escasezdo operador do direito em determinadas camadas, pois o interesse por altos salrios fala mais alto.

    A segunda onda diz respeito proteo dos direitos coletivos. Nosso sistema jurdico at praticamente o fimda dcada de 80 marcado por uma cultura individualista que no consegue lidar com o novo padro deconflitualidade que se estabelece no mundo emergente. Com a mudana de conjuntura global refletida aqui,os novos conflitos coletivos no poderiam ser direcionados ao Judicirio, cujo acesso lhe obstrudo, e acabamsendo deslocados para solues informais, paralelas e at mesmo ilegais. No se pode negar o acesso justiada grande massa da populao. O Estado no pode se negar a lidar com os conflitos do padro emergente. OEstado deve reconhec-los e tentar equacion-los.Mas com a Constituio Cidad de 1988 temos reconhecidoque os direitos se transformaram em coletivos, isto , identificamos as pessoas possuidoras desses direitos, ecom o advento do Cdigo de Defesa do Consumidor essa questo se aflora mais ainda.

    A terceira onda se debrua sobre a informalizao da justia. O Juizado Especial Cvel, antigo pequenas causas,foi criado no regime militar na dcada de 80 como resposta uma sociedade que almejava a democracia epressionava por mudanas. Pensava-se assim que democratizar era desburocratizar, no fim das contas o JEC secontaminou com a burocracia jurdica e no atendeu de fato quem deveria atender que era a pessoa menosafortunada. Tornar a justia mais acessvel um dever do Estado, da a necessidade cada vez maior de seincentivar a mediao de conflitos e as outras formas alternativas de resoluo, pois isso aproxima a justia dasociedade.

    Na quarta onda discutimos a questo epistemolgica do direito pela viso de Kim Economides. Nessa fase,questionamos o profissional do direito, sua formao, sua habilidade etc. J parou pra pensar que tipo decultura jurdica est sendo formada? Ser que o profissional formado hoje em dia est preparado para enfrentarum judicirio lento e cheio de burocracia? Os currculos universitrios correspondem a uma boa formao

    humanstica?As pesquisas do professor Cappelletti param na terceira onda, no entanto professora Eliane BotelhoJunqueira, professora da PUC-Rio, que hoje o principal centro acadmico de produo de pesquisas empricassobre o acesso Justia no Rio de Janeiro, desenvolveu a quinta onda que diz respeito justia e aglobalizao.

    A globalizao tem gerado inmeras transformaes na administrao da justia, com suas transnacionais,empresas multinacionais e que fogem jurisdio dos estados-nacionais, sem falar na presso dos grandesorganismos internacionais. Fica claro que o Estado no possui um Judicirio preparado para lidar com essasquestes. Com isso temos o fenmeno dos tribunais arbitrais, ou seja, uma nova resoluo de conflitossupranacional, no qual o Estado tem de enfrentar e se adaptar para resolver satisfatoriamente problemas deordem global.

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    3 CONCLUSO

    No decorrer dessa pequena sntese sobre o Acesso Justia verificamos que houve uma grande evoluo aotratarmos dessa questo. No entanto, destaca Boaventura: Estudos revelam que a distncia dos cidados emrelao administrao da justia tanto maior quanto mais baixo o estado social a que pertencem e queessa distncia tem como causas prximas no apenas fatores econmicos, mas tambm fatores sociais eculturais, ainda que uns e outros possam

    estar mais ou menos remotamente relacionados com as desigualdades econmicas. Em primeiro lugar, oscidados de menores recursos tendem a conhecer pior os seus direitos e, portanto, tm mais dificuldades emreconhecer um problema que os afeta como sendo problema jurdico. Podem ignorar os direitos em jogo ou aspossibilidades de reparao jurdica*. Ao analisarmos esses fatores, percebemos que a situao muita mais

    complexa do que parece e sua soluo est diretamente relacionada a um conjunto de fatores no puramenteeconmicos, mas de ordem histrico-cultural que vai muito mais alm. O Estado deve reconhecer que noconsegue tangenciar todos os conflitos de uma sociedade crescente, cheia de contrastes e de novas demandas,aceitar o pluralismo jurdico em conjunto com um modelo de administrao da justia norteado pela censocomunitrio, o qual se reala a manifestao da deciso no grupo do qual as partes so integrantes, semimposio do monoplio do aparelho burocrtico do Estado. A combinao desses fatores citados caminha juntoa edificao de um modelo de administrao de justia com a participao popular efetiva. S com aparticipao popular nas deciso de sua prprias vidas, podemos caminhar para uma democracia pautada pelacidadania e fazer do acesso justia uma realidade que outrora foi fantasiada.

    BibliografiaSANTOS, Boaventura de Sousa. Introduo Sociologia da

    Administrao da Justia. In FARIA, Jos Eduardo. Direito e justia - A funo social do judicirio. So Paulo: Editora tica, 1994.ECONOMIDES, Kim. Lendo as ondas do "Movimento de Acesso Justia": epistemologia versus metodologia? In:CIDADANIA, justia e

    violncia/ Organizadores Dulce Pandolfi...[et al]. Rio de Janeiro: Ed. Fundao GetulioVargas, 1999. p.61-76.CAPPELLETTI, Mauro; GARTH, Bryant. Acesso Justia. Porto Alegre: SrgioAntnio Fabris Editor, 2002.GUANABARA, Ricardo.Vises alternativas do direito no Brasil. Rio de Janeiro: Revista Estudos Histricos, n. 18, 1996. p.1-14.JUNQUEIRA, Eliane Botelho. Vises alternativas do direito no Brasil. Rio de Janeiro: Revista Estudos Histricos, n. 18, 1996. p.1-14.JUNQUEIRA, Eliane Botelho. A sociologia do direito no Brasil, Rio de Janeiro: Lumen Juris, 1993, p.115.MESQUITA, Mrcio Arajo; Vellasco, Abner. O Constitucionalismo de Hans Kelsen contraposto ao de Carl Schmitt. Revista de Filosofia doDireito, do Estado e da Sociedade FIDES. NatalVol. 1, n. 1, fev./jul. 2010. 125-135p.

    Notas:*O Professor Cappelletti o principal mestre de direito comparado da Itlia. O estudo referido acima o famoso Projeto de Acesso Justia de Florena.*O conflito pode e deve se analisado pelo seu lado positivo. uma evidencia antropolgica a ser aveso ao conflito.*O termo alternativo tem sido objeto de controvrsias e discuses no campo do direito. Podemos destacar que a palavra em alguns

    pases toma conotao diversificada. Na Frana, porexemplo, a expresso adquire um sentido peculiar, fruto das caractersticas de sua sociedade,especialmente a averso juridicidade e a recusa cada vez maior da formalidade dos ritos da justia na resoluo de conflitos. J asociedade norte-americana possui a clara tendncia de juridicizartodos os conflitos na forma jurdica. Veja que na Frana o trajeto a se seguir contrrio, ou seja, cada vez mais os franceses recorrem sagncias de mediao que tm como objetivo resolver conflitos e evitar o recurso Justia tradicional.*SANTOS, Boaventura de Sousa. Introduo Sociologia da

    Administrao da Justia. In FARIA, Jos Eduardo. Direito e justia - A funo social do judicirio. So Paulo: Editora tica, 1994, p. 74.

    Informaes Sobre o AutorMrcio Arajo de Mesquita

    Acadmico de Direito pela Pontifcia Universidade Catlica do Rio de Janeiro (PUC-Rio). Graduado em Tcnico de Administrao deEmpresas pela FAETEC. Bolsista-Pesquisador do Programa de Educao Tutorial de Direito (PET-Jur) em Direito Constitucional da PUC-Rio