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FICHA CATALOGRÁFICA (Preparada pelo Centro de Catalogação-na-fonte, Câmara Brasileira do Livro, SP) Métodos de pesquisa nas relações sociais |por| M552 Sellüz |e outros] ed. revista e nova tradução de Dante Moreira Leite. São Paulo, E.P.U., l£ü. da Universidade de São Paulo, 5.a Reimpres- são, 1975 p. XIX, 687 (Ciências do Comportamento). Bibliografia. 1. Pesquisa social I. Selltiz, Claire. II. Série. 73-0679 CDD-300.72 índices para o catálogo sistemático: 1. Pesquisa social : Ciências sociais 300.72 2. Pesquisa social : Planejamento : Ciências sociais 300.72 3. Planejamento : Pesquisa social : Ciências sociais 300.72

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FICHA C A TA L O G R Á FIC A

(Preparada pelo Centro de Catalogação-na-fonte, Câmara Brasileira do Livro, SP)

Métodos de pesquisa nas relações sociais |por| M 552 Sellüz |e outros] ed. revista e nova tradução de

Dante Moreira Leite. São Paulo, E.P.U ., l£ü. da Universidade de São Paulo, 5.a Reimpres­

são, 1975p. X IX , 687 (C iências do Comportamento).

Bibliografia.1. Pesquisa social I. Selltiz, Claire. II. Série.

73-0679 C D D -3 0 0 .72

índices para o catálogo sistemático:1. Pesquisa social : Ciências sociais 3 0 0 .7 22 . Pesquisa social : Planejamento : Ciências

sociais 3 0 0 .7 23 . Planejamento : Pesquisa social : Ciências

sociais 30 0 .7 2

SELLTÍZ / JAHODA / DEUTSCH / COOK

MÉTODOS DE PESQUISA

NAS RELAÇÕES SOCIAIS

E d ição Revista e n ova tradução cie D ANTE M O R EIR A L E IT E

5 Reimpressão

E .P .U . — Editora Pedágógica e Universitária Ltda. E P U S P — Editora da Universidade de São Paulo

São Paulo 1975

Freqticntniwntf, </ fm nmliiçdo da um p r o b l e m a é vxain cx\'0it('lnl </(/»' ></./ l ô l u ç â o .

A. I . i s .u i s e L. Inkej-d

Escolha clc um Tópico jxira Pesquisa

A am p litu d e DK ióiMt ns i*oii .eivr; |).ira pesquisa so­cial é tão ampla qmmto o eornportamento social. N aturalm ente, é muilo innim .1 amplitude de tópicos

que foram, de fato, escolhidos No entanto, mesmo em uma área de pesquisa — por exempli», nas lelaçrtes entre grupos de diferentes origens étnicas ou lelígiosas as pesquisas abran­gem um grande campo, onde se m< luem estudos a respeito da maneira pela qual os grupos ajjem , pensam e sentem com relação, aos outros; como cliferem em suas tradições, crenças, personalidades e cultura; como Irafam suas crianças; com o chegam a ser o que são; como lespondem às tentativas para mudar sua relação com outro grupo, e assim por diante. Tais pesquisas foram realizadas em muitas partes do m undo; atin­giram pessoas de muitos grupos étnicos e religiosos, em

Como já notamos no Capítulo 1. o tópico geral de um estudo pode ser sugerido por algum interesse prático ou por algum interesse intelectual ou científicoJ Uma grande diver­sidade de interesses práticos pode apresentar tópicos para pesquisa A Por exemplo, é possível desejar informação, como base para saber se existe necessidade de algum novo serviço ou alguma nova instalação. Assim, o diretor de um depar­tamento estadual ou municipal de saúde e bem -estar pode desejar um lev antamento de todas as pessoas com mais de 65 anos de idade, a fim de verificar se há necessidade d e outros serviços püira esse grupo o, sO isso ocorrer, qual o tipo de serviço — auxílio financeiro mais amplo, serviços d e estudos de caso, centros sociais e de divertim ento, residências espe­ciais, hospitais, etc. ------------ ______ ___ ______

muitos aspectos de sua vida.

3 4 M JÉTO D O S D E P E S Q U L S A N A S R E L A Ç Õ E S S O C IA IS

Fode-se desejar urna avaliação dos efeitos de um pro­gram a de uma instituição de recuperação na saúde mental de seus participantes, os efeitos de campanha de folhetos em eleições, os efeitos, nas atitudes com relação aos negros, do uma fita sobre Jackie Robinson.

O utro tipo de questão prática que pode conduzir à pes­quisa é aquele em que a informação sobre as prováveis con­seqüências de vários caminhos de ação seria útil para decidir entre alternativas já propostas. Assim, no fim da Segunda Grande Guerra, o exército dos Estados Unidos realizou um amplo levantamento, entre seus soldados,-a fim de verificar qual seria o sistema de dispensa considerado, de modo geral, como justo.

|Um interesse prático ligeiramente diverso exige a predi­ção cTcT certa séqüència_íutura de acontecimentos, a fim de planejar ação adequada.j Por exemplo, em 194-5 o Tesouro dos Estados Unidos sõltCitou um estudo que permitisse a pre­dição do andamento de resgates de apólices de guerra no ano seguinte, como orientação para programa e ação quanto aos problemas de controle da inflação. Uin construtor que considera a construção de um conjunto residencial em que as casas serão vendidas sem consideração da raça do compra­dor, pode desejar uma estim ativa do mercado provável e da extensão em que este será influenciado pelo caráter ínterracial do cpnjunto.

[_Os interesses científicos ou intelectuais podem sugerir uma amplitude igualmente grande de tópico para pesquisa. Talvez a principal diferença entre tópicos sugeridos por inte­resses práticos e os indicados por interesses científicos seja o fato de estes últimos terem menos probabilidade de incluir o estudo de uma situação específica como objetivo fimda- mental de obter conhecimento a respeito de tal situação.] Os interesses intelectuais e científicos tendem a conduzir a ques­tões gerais e voltar-se p ara situações específicas como exemplos de classes gerais de fenômenos, e não com o objeto de interesse intrínseco.

O pesquisador que tern curiosidade científica pode estar interessado na exploração de algum-objeto geral a respeito do qual pouco se sabeT) Por exemplo, quando P iaget começou seus estudos sobre o pensam ento das crianças, essa era uma área relativamente inexplorada.

D e outro lado, pode interessar-se por fenômenos que, até certo ponto, já foram estudados; neste caso, tende a interes­

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sar-se, por exemplo, por especificação mais exata das condi­ções em que determinados fenômenos ocorrem , ou como podem ser influenciados por outros fatores. Por exemplo, digamos que esteja interessado em saber até que ponto os julgamentos de indivíduos são influenciados pelas opiniões apresentadas por seus companheiros. E sta é um a questão a respeito da qual já se fizeram muitos trabalhos; já se veri­ficou, de maneira bem clara, que os julgamentos dos indiví­duos são, freqüentemente, influenciados pelos julgamentos apresentados pelos outros. O pesquisador pode desejar veri- ficÊLr diferenciações nessa verificação geral. Por exemplo, pode desejar perguntar: será que os julgamentos sobre ques­tões para as quais não existe uma resposta “correta” e única, baseada em fatos, tendem a ser mais ou menos influenciados pelas opiniões apresentadas pelos outros do que os julgamen­tos sobre questões para as quais existe um a resposta objetiva­mente correta? Como exem plo do primeiro tipo de questão, poderia pedir que os sujeitos dissessem se, com o dramaturgo, consideram Tennesse W illiam s melhor ou pior que Arthur Miller; com o exemplo do segundo, poderia pedir que julgas­sem o comprimento de linhas. Seu problem a de pesquisa seria respondido pela com paração da influência exercida, nas duas situações, pelos julgamentos dos outros sobre os julga­mentos dos sujeitos.

Se trabalha num cam po em que existe um sistema teórico muito desenvolvido, o pesquisador pode desejar verificar pre­dições específicas, baseadas nessa teoria. Assim, ílunt (1 9 4 1 ) , interessado na verificação experimental da teoria psi- canalítica, decidiu verificar a predição de que a privação na infância provoca com portam ento de “pãodurismo” no adulto. Criou três grupos de ratos: um era norm alm ente alimentado durante o período de desenvolvimento; o segundo era alimen­tado normalmente na infância, mal alim entado durante o período da pré-puberdade, e depois norm alm ente alimentado; o terceiro era mal alim entado na infância, m as adequadamente alim entado nos períodos posteriores. Na vida adulta, todos os grupos foram submetidos à privação de alimènto; o que tinha sido privado de alim ento na infância reagiu acumulando aliniento.

l_Cpm essa variedade d e ;fontes que podem sugerir tópicos ■é-qnp um investigador seleciona um .pro-

E n tre os fatores im portantes que deter­para pesquisa, comr

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minam sua escolha^estão suas inclinações pessoais e seus julgamentos de valor.j Nas palavras de Whitehead:

Os juízos de valor não fazem parte da estrutura da ciência tísica, mas fazem parte do motivo de sua criação. ( . . . ) Existe escolha consciente das partes dos campos científicos que devem ser cultivados, e esta escolha consciente envolve juízos de valor. (Citado em Cantril, Ames, H astorf e Ittelson, 1 9 4 9 ).

Nq entanto, nem sempre se reconhece o papel que os valora.<^inevitãy^m ente7rdésèm penham na escolha de assunto para pesquisa. A respeito, Cook (1949) relata o seguinte incidente:

C erta vez descrevi, para outro psicólogo, um estudo em que nossa equipe ten tava avaliar o eteito de deter­m inada experiência para a m udança de atitudes de não- -judeus com relação a judeus. No entanto, esse psicó­logo não pensava que tais atitudes devessem ser m uda­das. M eu interesse pela mensuração do êxito de esfor­ços p ara provocar m udança, segundo se tom ou evidente, significava, para ele, aprovação de um objetivo de que discordava violentamente. Além disso, esse psicólogo lem brou a possibilidade de que meu apoio fosse inter­pretado por outros como apoio dos psicólogos em geral (o itálico não é do orig in al).

Se neste caso se reconhecesse o fato de que os valores se incluem na escolha de qualquer tópico de pesquisa, não teria surgido o m edo de que os valores que conduzem à escolha de um estudo pudessem ser considerados comô valores comuns aos psicólogos em geral. Se se reconhece que todo pesqui­sador, em sua escolha de um tópico para pesquisa .(a respeito de preconceito racial ou religioso ou do desenvolvimento dos conceitos espaciais das crian ças), exprime seu julgam ento ou sentimento quanto ao que é importante estudar, a grande variedade de pesquisas realizadas torna claro que nenhum estudo representa um acordo com um dos cientistas sociais quanto às acentuações adequadas de pesquisa.

Cientistas sociais com diferentes valores escolhem , para pesquisa, tópicos diferentes. O cientista social que sabe quais as suas preferências pessoais q u e entraram na cscolha de seu

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assunto, será mais capaz d«- evitar o viés que poderiam intro- 'Sifzir^em sua pesquisa do que aquele que trabalha com a ilusão de ser orientado apenas por considerações científicas. Como o s valores pessoais inevitavelmente influem na escolha de um assunto, o único meio cie manter a racionalidade do processo científico é tei consciência de como e onde inter­ferem tais valores.

No entanto, seria errado supor que os valores pessoais são ou podem ser o único determ inante da escolha de um tópico de pesquisa. Não apenas as condições sociais sob as quais se realiza a ciência conforinani, de màneira sutil e freqüente­mente im perceptível, as preferências (los pesquisadores, mas também existem vários incentivos intensos e explícitos para que se realize pesquisa sobre um assunto e não sobre outro. Diferentes sociedades dão recom pensas a trabalho sobre dife­rentes tópicos. A pesquisa sobie eAncer pode dar mais pres­tígio que a tentativa de en conhar uma cura oara o resfriado comum; é possível que haja mais recursos para experim entos não-polêmicos com animais que para a pesquisa d e tópicos que podem ter repercussões políticas;, pode haver posições com melhor remuneração para o pesquisador de m ercado que para o psicólogo educacional. Existem poucos cientistas sociais que possam dar*se ao luxo de desprezar prestígio, recursos para pesquisa e rendim ento pessoal. Essa situação tende a provocar uma redução da efetiva liberdade de esco­lher tópicos de pesquisa, a não ser que diferentes instituições, com diferentes interesses, opiniões e valores, apóiem as pes­quisas, de form a que o pesquisador possa escolher entre elas. Nos Estados Unidos, atualmente, embora seja bem grande o número de diferentes fontes de recursos para pesquisa, uma grande proporção do dinheiro disponível para pesquisa se concentra em poucas agências governamentais e algumas grandes fundações. Por isso, em grande parte tais organiza­ções determ inam os problemas a respeito dos quais se deve fazer pesquisa. Isso é verdade tanto para as ciências físicas quanto para as ciências sociais

Formulação do Problema de Pesquisa

A escolha de um tópicò p ara pesquisa não coloca o inves­tigador im ediatam ente numa posição de começar a considerar os dados que coligirá, quais os métodos a em pregar e como

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analisará tais dados. Antes de iniciar tais etapas, / precisa formular uin problem a específico que possa ser pesquisado por processos científicos] Infelizm ente, não poucas vezes ocorre que um pesquisaaor tenta saltar, imediatamente, da escolha de um tópico para a coleta de observações. No melhor dos casos, isso significa que, depois da coleta de dados, enfrentará a tarefa de formular tim problema; no pior dos casos, significa que não realizará qualquer pesquisa científica.

(P o rq u e ) é uma opinião extremamente superficial dizer que a verdade é encontrada através do estudo dos fatos. É superficial porque nenhuma pesquisa pode com eçar a não ser que se perceba certa dificuldade numa situação prática ou teórica. É a dificuldade, ou problema, que orienta nossa busca de alguma ordem entre os fatos, em função da qual a dificuldade possa ser afastada (C ohec e N agel, 1 9 3 4 ).

A pesquisa científica é um a atividade voltada p ara a- soluçao de problem as. O prim eiro passo na form ulação da pesquisa é to m a r o probiem a concreto e explícitõj

Em bora a escolha de um tópico de pesquisa possa ser determinada por outras considerações, além das científicas, a formulação do tópico em um p roblema d e _pesquisa é a primeira etapa na busca científica a, como tal, deve ser influenciada, fundamentalmente, pelas exigências do proces- sõ cíentíficõr (N o entanto,[pão existe uma regra infalível para orientar o pesquisador na form ulação-de questões significati­vas em determ inada área de pesquis^. 1 Aqui, têm im portân­cia fundamental o treinamento e os dotes do indivíduo Segundo Cohen e Nagel (1 9 3 4 ) :

A capacidade para p erceber, em alguma experiên­cia bruta, a ocorrência de um problema, e, sobretudo, de um problem a cuja solução se relaciona com a solução de outros problemas, não é talento comum en tre os , homens. ( . . . ) É um sinal do gênio científico ser sensível a dificuldades onde pessoas menos dotadas não se perturbam com dúvidas.

entanto, é possível enum erar algumas condições que, o m ostra a experiência, conduzem à form ulação de

significativos. E n tre tais condiçõçs, estão as se-

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guintei: imersãò sistemática, através de observação sistem á- /tica, no objeto; estudo jda literatura e x is ten te : discussão com

'7 pessoas qae acum ularam muita exp eriência prática no cam po de estudo.)1 Por mais importantes que «essas condições sejam para a foim ulação de um projeto de pesquisa, contém um perigo. Na ciência social, com o em qualquer domínio, os hábitos de pensam ento podem interferir na descoberta do novo e inesperado, a não ser que a observação direta e preli­minar, a leitura e a discussão sejam conduzidas com um a dis^ posj^ãQ_£ilücaJ_ de curiosidade e j e imaginação^

l/p O primeiro passo na form ulação é a descoberta de um .proüíema que precisa ser ^solucionado. Sem esse passo, a pesquisa não pode caminhar, com o se vê pelo episódio seguin­te. Todos os verões, uma^mstituição educacional norte-am e­ricana reúne, por seis semanas, aproximadamente duzentos moços e moças de todas as categorias sociais. São represen­tadas todas as regiões do país, todas as crenças e todas as raças. Alguns dos jovens ião operái-ios ou camponeses; outros são empregados de escritório ou estudantes, São seleciona­dos para esse curso de verão por causa dos indícios de lide­rança que m ostraram em seus sindicatos, suas organizações sociais ou cursos universitários. A instituição patrocinadora pretende dar a esses jovens inform ação a respeito do m uado cm que vivem, um a experiência da vida em grupo, bem com o capacidades que permitam a cada um enfrentar, de m aneira ainda mais eficiente, as exigências d e um papel de liderança em sua esfera de vida. Os organizadores desse em preendi­mento voluntário convidaram uma equipe de cientistas sociais a lim de discutir a possibilidade de realização de pesquisa na escola. A razão para o convite era a mesma que faz com que muitas instituições procurem o auxílio de cientistas sociais — a instituição desejava estar' certa do valor do p ro­grama e estava convencida de que a ciência poderia v erificar, isso de m aneira indiscutível. Portanto, o tópico da pesquisa prevista era, evidentemente, o valor do empreendimento pidtir.. caííiüQâl. O objetivo da discussão entre patrocinadores e cientistas sociais era transformar esse tópico, etapa por etap a, num problema de pesquisa.

1 Ver o Capítulo 3 para, vima discussão minuciosa de p laneja­mentos de estudo que envolvem tais processos. O valor fundam ental do tais pesquisas exploratórias é o fato de poderem conduzir à propo­sição dc perguntas mais significativas que as possíveis de outro modo.

•’ •Com o é usual em tais discussões, os cientistas sociais

com eçaram com a seguinte pergunta: o que é que vocês gos- ( tariam de descobrir em seu empreendimento? E s ta foi s e g u i ^ ^ da pela pergunta contrária, tam bém usual: o que é que os cientistas sociais nos podem dizer a respeito? O resto da sessão m ostrou, aos dois grupos, as dificuldades da formula­ção da pesquisa.

Superado o obstáculo inicial, os representantes da insti­tuição explicaram , minuciosamente, os seus objetivos finais.Já tinham considerável conhecim ento a respeito dos problemas típicos e dos efeitos imediatos de seu esforço pioneiro, mas seus elevados objetivos e sua visão educacional os impedia de aceitar, com o medida adequada de èxito, o evidente prazer que os jovens tinham com a experiência. Procuravam algo que se m ostraria fora dos limites da situação educacional e na vida posterior de cada participante. Aparentem ente, os problemas imediatos da adm inistração da escola — convocação de alunos, programa, organização, etc. — estavam bem con­trolados.

E m bora a discussão de efeitos finais fosse m uito interes­sante, concordou-se que a pesquisa de tais efeitos não seria possível a não ser em program a de pesquisa de vinte anos, o que a instituição e os cientistas sociais não poderiam , no momento, considerar. Todos concordaram tam bém que a com petência e a experiência dos educadores era melhor guia para um program a voltado para objetivos finais do que os resultados de esforços de pesquisa em questões secundárias.Em outras palavras: embora houvesse um tópico, não foi pos­sível form ular um projeto, realizável sobre os efeitos finais do trabalho da escola; se houvesse interesse pelo estudo de efeitos imediatos, o resultado seria indiscutivelmente diverso. No entanto, apesar do resultado em grande parte negativo, a dis­cussão apresentou um subproduto valioso, em bora inesperado sob a form a de esclarecim ento dos objetivos e suposições- subjacentes ao programa da instituição.

Em bora este exemplo dem onstre que nem todo tópico pode ser facilmente transform ado, em projeto realizável de • pesquisa, felizmente é atípico quanto à impossibilidade de chegar a qualquer base a partir da qual a pesquisa poderia

■ ser iniciada. Mais freqüentem ente é possível identificar algum aspecto que pode ser formularjo numa questão espe­

c íf ic a de pesquisa a ser investigada com os recursos disponí- Svéis.

M É T O D O S DE P E S Q U IS A M A S R E L A Ç Õ E S S O C IA IS

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Como exemplo do processo de formulação, dentro de uma área geral, de um problema do pesquisa, consideremos um estudo de Morris e Davidson (ainda não publicado) sobre estudantes estrangeiros nos Kstados Unidos. Ao decidir que desejavam estudar algum aspecto da experiência de estudo em país estrangeiro, os pesquisadores tinham selecionado um tópico geral. No entanto, grande número de questões especí­ficas poderia ser pesquisado nessa área. Os estudos explora­tórios já realizados tinham dado algumas indicações interes­santes. Por exemplo, sugeriam a possibilidade de que os estudantes, num país estrangeiro, passam por uma seqüência uniforme de estádios < 1 <• ajustamento, que com eçam por uma fase de “espectador” e terminam com uma fase de preparação para a volta ao país de origem. Outra idéia derivada do período de preparação era a possibilidade dr..quer-em-grand©' parte, a atitude do estinhmtr diaiiU* do país estrangeiro- seja-" colorida pela posição que ocupa em seu país, combinada com a atitude geraF diante do país esTíangeiro manticla por vários grupos em seu país. Outra sugestão retirada ~3esses estudos iniciais'era a idéia chi que a atitude do estudante com relação ao país estrangeiro possa ser muito influenciada por sua avaliação da estima, a seus país de origem, por parte dos membros do país que visita.

Evidentemente, não seria possível considerar, nos limites de um único estudo, todas essas possibilidades. Portanto, um dos primeiros passos seria selecionar mn tópico que apresen­tasse um a tarefa realizável. Este é, muitas vezes, um passo necessário nas primeiras etapas da formulação de problema. O tópico escolhido para pesquisa — seja^_ayajja çã o do pro- grama de uma instituição, um levantamento p arad iagn óstico de atitudes e opiniões com relação a questões internacionais, o desenvolvimento de cooperação em pequenos grupos — tem, geralmente, uma amplitude tal que nem todos os aspectos do problema podem ser pesquisados simultaneamente. A tarefa precisa ser reduzida a um aspecto que possa ser tratado em um único estudo, ou dividido em algumas subquestões que possam ser tratadas em estudos separados.

2 Para uma pequena discussão de um dos estudos que conduziram a essa última sugestão, ver o £ap ítu lo 11, pág. 450s.

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Morris e Davidsen resolveram focalizar a seguinte ques­tão: saber com o as atitudes dos estudantes com relação, ao país estrangeiro sãó influenciadas por sua percepção da esti­ma, por parte dos membros desse país, a seu pais de origem. Depois de ter limitado o problema a uma questão que poderia ser tratadar~Tazoaiveímente em um único estudo, passaram a várias etapas interrelacionadas: formulação de hipóteses; es­clarecim ento e definição formal dos conceitos usados no estudo; especificação dos tipos de provas que poderiam servir corno indicadoras dos vários conceitos (isto é, estabelecimento do “definições para o trabalho” ); consideração dos métodos

Êara ligar esse estudo a outros, que usaram conceitos seme- íantes, de forma que fizesse a maior contribuição possível ao

conhecimento geral nesse cam po.Tais etapas estão tão intimamente ligadas que não é

possível trabalhar separadamente com elas. Q uando um pesquisador formula suas hipóteses, precisa definir os con­ceitos aí incluídos, e nesta definição tende a considerar a relação de seus estudos com outros e com um conjunto geral de conhecimento. Apesar disso, para clareza da apresentação, as várias etapas precisam ser ^discutidas separadam ente, e dentro de certa ordem. Começaremos com a form ulação de hipóteses — não porque este seja o aspecto que sem pre recebe atenção em primeiro, lugar, mas porque, quando é possível começar por esse aspecto, ele apresenta muita orientação para as outras etapas.

M É T O D O S d e p e s q u i s a n a s RÊ LA Ç O ES S O C IA IS

Formulação de Hiptfteses < {. .

U m a hipótese é “uma proposição, cóiidição o u princípio que se supõe, talvez sem acréditar nêle;^a^m ~ d e cnegar às suas conseqüências lógicas e , por esse méfodò, verificar„Q^eu. acordo com . fatos. conhecidos oyi que podèrri se ri e i ificádõs” (W ebster's New Intemationalf DTctimafy of the—English Language, segunda edição, não-resumida. 1 9 5 6 ) . papel das hipóteses na pesquisa científica é_sugerir explicações para determinados fatos e orienta r \/a pesquisa ~ae c ‘ ínãpÕHrtãncíãT dás hipóteses para aí pesquisa foi acen CóJhen e Nagel (1934), que afirmam:

/ N ão podemos dar um único passo adiante quer pesquisa, se não começarmos com um a

Ii £ & M .>■

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ou solução sugeridas para a dificuldade que provocou a p esq u isa ./ Tais explicações provisórias nos são sugeri­das por algo no objeto e por nosso conhecim ento ante­rior. Quando formuladas com o proposições,, são deno­m inadas hipóteses.— ^A_fungão de uma hipótese é orientar nossa busca de

ordem entre os fatos, [^ s sugestões fornTúTãdãs'~nãr hipótese podem ser as soluções para, o problèm aJ Saber se o são é a tarefa da pesquisa, é necessário quequalquer das sugestões conduza ao nosso objetivoi E , freqüentem ente, algumas das sugestões são incom patí­veis entre si, de forma que nem todas podem ser solu­ções para o mesmo problema*}1“—

Parece-nos que essa é Uma apresentação "precisa da natureza e do valor de hipóteses na pesquisa científica, mas acreditamos que seja excessivam ente ampla em sua afirm a­ção de que a pesquisa não pode com eçar antes da form ulação de uma hipótese. Como m rem os mãís tardé^ um tipo muito importante de pesquisa tem, com o objetivo, a form ulação de hipóteses significativas a respeito de determinado assunto.

U m a hipótese pode afirm ar que algo ocorre em deter­minado caso; que um objeto, um a pessoa, um a situação ou um acontecim ento específicos têm certa característica. Por exemplo, o livro de Freud, Moisés e o Monoteísmo, com eça com a hipótese de que Moisés era, na realidade, egípcio, e não judeu. D e outro lado, um a hipótese pode referir-se à freqüêiuikL--já&-^GCmtexAmGnto ou è ligação entre variáveis. Pode afirm ar que algo ocorre em determinada prop orção do tempo, ou-.que. algo tende..a. ser-acpnipanhado por alguma outra coisa,u,ou que,.algo. é geralmente,jüaior;„au_ m en or-que

'alguma outra coisa^_Jvíuitas pesquisas de ciência social se refèrém “à ' 'íãís^Üpoteses. P or exemplo, os psicólogos pesqui­saram a Correlação entre diferentes tipos de cap acid ad e; os sociólogos estudaram a ecologia de crime, e de d oen ça men­tal; os antropólogos pesquisaram a relação entre crenças reli­giosas, costum es matrimoniais è outras práticas d e uma sociedade. t *

O utras lilpóteses afirm am que um acontecim ento ou característica específica é um dos fatores que determinam outra característica ou outro acontecimento. P o r exem plo, a teoria psicanalítiCa inclui a hipótése de que as experiências

4 4 M É T O D O S D E P E SQ U IS A N A S H E L A Ç Õ E S S O C IA IS

na primeira infância são im portantes determinantes <1 i perso­nalidade adulta. As hipóteses deste tipo são denominadas hipóteses d e relação causal ou apenas hipóteses causais. Se­rão discutidas mais minuciosamente no Capítulo 1.

As hipóteses pQdem-ser criadas a partir dc várias fontes. XJma..,hipótese pode...hasfiar-se apenas, num .“palpite.” Pode basear-se em resultados-d e outroL.au o utros estuejos, «• na ex­pectativa He que uma relação sem elhante entre duas ou mais vanaveis ocorra no novo estuao . Pod^decOrreT cTe um coií-~

"ju n toj^ J:eoria que, por um processo de dedução lógica, con­duza à preáição. cíê que. soplBêterm inadas condições, decor­rerão determ inados resultados. Quaisquer que sejam as fontes de uma" hij^téseTesta realiza uma importante £tinção no estudo: serye, c omo um guia p ara ( D o tipo de dados que precisam ser coligidos, a fim de responder à questão da pes­quisa^ e. ( 2 ) a maneira de organizá-los de maneira mais efi­ciente na análise. ......

L* No entanto, as fontes da. hipótese do estudo têm uma relação im portante com a natu reza da contribuição que a pesquisa fará ao conjunto geral do conhecimento. U m a hipó­tese que surge apenas da intuição ou do “palpite” pode, final­mente, fazer um a contribuição im portante para a ciência. No entanto, quando foi^verificada em apenas, um estudo, existem duas lim itações à sua utilidade. Em primeiro lugar, não existe garantia vde que uma relação entre duas variáveis» encontrada em determinado estudo, seja encontrada em outros. V oltando áao estudo de Morris e Davidsen — supo­nha-se que os investigadores tenham apenas tido o “palpite” de que os estudantes estrangeiros que acreditam que os norte-am ericanos têm idéias m uito favoráveis aos seus países de origem tendem a ter atitudes m ais favoráveis aos Estados Unidos do qu e os estudantes que acreditam que os norte- -americanos desprezam seus países de origem. M esm o que se prove q u e isso ocorre em seu estudo, não haveria forma de julgar se as diferenças nas atitudes, entre os dois grupos de estudantes, realmente d ecorrem de diferenças em sua per­cepção d e atitudes dos norte-am ericanos com relação aos seus países de origem ou, ao contrário , se algum outro fator na situação explica a diferença. E m segundo lugar, um a hipó­tese baseada apenas em “palpite” tende a não estar rela-

3 No Capítulo 11 discute-se a importância das hipóteses no pla­nejamento da análise-de iim estudo. '

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E S C O L H A E FOHMlM ,a < \«> ......................... ... D E » 'K S Q U 1 S A 4 5

cionada com outro coiiIm i im< ni<> ou outra teoria. Por isso, os resultados de um r-.iudo In .. ido muna hipótese desse tipo não têm ligação clai.i < om .. lonjunío mais am plo d e conhe­cimento de ciência snniil I\mI«-ih propor questões interes­santes, podem estiiniil.ii m iii.r. pesquisas, podem ser poste­riormente integrado*. <m irou.i explicativa. M as, a não ser que ocorram tais dr<rm olvim entos, tendem a perm anecer como partes isoladas de m loim açao.

üm uicnl«; de i r . u11ud^ .de^utrQ_s^tudQ§. _está^^atgjcertí> ixintu. Inn d.i niimeira dessflfi lim itações. Se a Bípótesçj. so na.eu cm i< .uíi.idos do outros estudos, e se.{ o estudo atual coiiliiin.i .1 hipótese, q rus.ultado -auxilia-—a, demonstrar que a iel.i<t.m .« i<pete 1 ogularine^tc. P ara con­tinuar cdni nosso exemplo - dois ou mnis estudos verificam uma relação entre ;i pen ep< .n» *l.i opinião dos norte-am eri­canos, a respeito do país <l< oiigem <1«; uma pessoa, e as atitudes dessa pessoa com h Li^.io mis Estados Unidos, temos maior confiança na afirmaçao do que a percepção do estu­dante estrangeiro da estima d<> . noite americanos p or seu país de origem tem influenein em >11.ts atitudes com relação aos Estados Unidos. Reduz-so embora evidentemente não se elimine — a possibilidade do q u e u aparente relação se deva a alguma condição específica n u determinada situação.,

{ U m a h ipót&se_dgcprrciHo nao apenas de resultados de um_ estudo anterior, mas tam bém d<; teoria apresentada em termos mais gerais* está livro da .segunda lim itaçãoj— a de .

‘'est^3©l^ã^a.Id(0..a«n çoujunto mais amplo de_conKeçijnentq.„.. Suponha-se, por exemplo, que Morris e Dàvidsen tenham baseado sua predição em um a teoria dc estratificação social, segundo a qual os indivíduos quo ascendem em seu status 1 tendem a ser favoráveis a indivíduos e objetos vistos conto auxílios p ara seu movimento ascendente, enquanto que os que perdem status tendem a ser desfavoráveis a indivíduos e objetos vistos como colaboradores de seu m ovim ento des­cendente. A fim de estabelecer uma relação entre seu estudo e a teoria geral, precisam ser capazes de demonstrar, de forma convincente, que suas medidas podem ser consideradas como indicadores de mudança de status e que se pode inferir, do maneira razoável, que os estudantes vêem os norte-am erica­nos com o, colaboradores dessa m udança. 4 Se a ligação entre os dados do estudo e a teoria geral for satisfatoriamente esta-

v 4 Nas págs. 48s discyte-se mais minuciosamente a maneira pela qual os pesquisadores desenvolveram esse argumento.

4 6 M É T O D O S Ü E P E SQ U ISA N A S ' lU iL A Ç Õ ü S SO C IA IS

belecida dessa m aneira, e se as resultados do estudo confir­marem a predição, os pesquisadores terão feito uma dupla contribuição. D e um lado, os resultados do estudo ajudam a confirmar a teoria geral, ao dem onstrar que é válida nessa situação, bem com o em outras em que já foi aplicada. 1)«* outro lado, a aplicação da teoria geral ao caso específico ajuda-nos a com preender como a percepção, pelos estudantes estrangeiros, das opiniões dos norte-americanos a respeito dc seu país de origem , influi na atitude dos primeiros com rela­ção aos Estados U n id o s.5

No caso do estudo de Morris e Davidsen, os pesquisado­res puderam utilizar tanto resultados de pesquisas anteriores quanto a teoria sociológica para a form ulação de suas hipó­teses específicas, a principal das quais era uma versão mais complexa da apresentada nos parágrafos anteriores. O fato do haver resultados significativos de pesquisa e uma teoria significativa simplificou a tarefa da form ulação de hipóteses; o fato de ter formulado hipóteses simplificou a tarefa do planejamento dos tipos de dados a serem coletados e da sua análise. A principal hipótese foi .confirm ada pelos resultadosdo estudo. Á relação ...com..pesquisas anteriores au m en tou aconfiança na ocorrência cçnstanto da relação entre avaliaçao das opini.Qes dos norte-americànos a respeito do país de ori gerrí de uma pessoa e as atitudes dessa pessoa com relação aos Estados Unidos. O fato de o estudo ter sido planejado em função de um a teoria sociológica sobre os efeitos dc m obi­lidade ascendente e descendente de status significa que os resultados contribuíram para a confirm ação da teoria geral. Ao mesmo tempo, a teoria apresentava um a explicação dos resultados do estudo, como um caso de processos psicológicos mais gerais, apresentados na teoria.

O fato de a natureza das relações previstas poder ou não ser apresentada explicitamente — isto é, se podem ou não ser apresentadas com o hipóteses no estágio de formulação de um a pesquisa — depende, em grande parte, da situação do conhecimento na área a ser pesquisada. JlA pesquisa científica pode começar com hipóteses bem formuladas, ou pode for­m ular hipóteses com o o produto final da pesquisaj

Nem é preciso dizer que a form ulação e verificação de hipóteses constituem um objetivo d a pesquisa científica.

' 5 Para discussão mais minuciosa da relação entre pesquisa em pí­rica e teoria, ver o Capítulo 14.

E S C O L H A E F O R M U L A Ç Ã O D E U M P R O B L E M A DE F E S Q U L S A 4 7

Apesar disso, não existe, atalho para esse objetivo. E m muitas áreas de relações sociais, r.ão existem hipóteses significativas. Por isso, é necessário fazer m uitas pesquijáas exploratórias, antes de ser possível formular hipóteses. Esse trabalho^expío- ratório é um a etap a inevitável no progresso científico.

Por exem plo, ainda não se sabe muita coisa a respeito da influência de comunidades planejadas no com portam ento, nos sentimentos e na visão geral das pessoas que aí vivem. Quando M erton e seus colegas ( em trabalho ainda não publi­cado) procuraram pesquisar esse tópico, 110 caso de con­juntos residenciais públicos nos Estados Unidos, não havia ainda hipóteses bem estabelecidas com as quais pudessem iniciar o estudo. Nessa época, havia poucos estudos descri­tivos que perm itissem a form ulação de hipóteses aplicáveis a esse novo fenôm eno na paisagem física e social dos Estados Unidos. Os estudos de Merton foram concebidos em base ampla; form ulou-se uma série com pleta de problemas inter­relacionados de pesquisa é> foi feita a previsão de diferentes formas pelas quais se manifestaria o impacto de residências públicas.

Um desses problemas referia-se à amplitude de p artici­pação política. Os locatários de. residências públicas têm , geralmente, um a oportunidade p ara participar da responsa­bilidade da adm inistração dos conjuntos e para eleger representantes locais, mais ou menos com o ocorre no governo municipal. N a etapa de form ulação do problema, pouco se sabia a respeito desse aspecto do comportamento e de suas conseqüências. Pareciam igualm ente possíveis dois efeitos opostos da p articip ação na adm inistração dos conjuntos resi­denciais. D e um lado, o interesse pelo autogoverno poderia lsvar os locatários a ficarem tão absorvidos pelos pequenos problemas do conjunto residencial que não se interessassem por questões políticas niais amplas. D e outro lado, a p arti­cipação no governo de uma pequena comunidade, onde a atuação de forças políticas poderia ser facilmente observaxla, poderia servir com o treinamento e, dessa forma, provocar um maior interesse e maior com preensão das forças políticas no plano nacional.

No entanto, com o não se sabia sequer se os locatários utilizariam a oportunidade de p articipar no autogoverno, ;ou até que ponto o fariam , seria prem aturo que os pesquisadores baseassem o plano de seu trabalho em qualquer hipótese

4 8 W E T O D O S D E P E S Q L 'IS \ NAS R E L A Ç Õ E S SOCIALS

referente aos efeitos da participação. D urante a pesquisa, tom ou-se evidente que a participação era a regra. Além disso, ejn dois conjuntos residenciais m uito diferentes, veri­ficou-se que o interesse pela política local não substituía, m as, ao contrário, iniciava e fortalecia o interesse pelos p ro ­blemas nacionais. D iante dessa prova, agora é possível com eçar uma pesquisa em conjunto residencial público — ou, sob esse aspecto, ern qualquer outra situação — a fim de verificar essa hipótese em diferentes circunstâncias.

D e outro lado, no campo do preconceito, onde já se reali­zaram muitas pesquisas, é possível realizar investigações com hipóteses form uladas antecipadamente. Isso foi demons­trad o no estudo de residências públicas (D eutsch e Collins, 1 9 5 1 ) , discutido no Capítulo 1. Com o se recorda, nesse estudo o problema era o impacto de padrão de residência nas relações entre locatários brancos e negros. A partir de pesquisas anteriores, os investigadores foram capazes de form ular, antecipadam ente, algumas hipóteses interrelaciona­das a respeito dos efeitos dos padrões de residência nas atitu­des dos locatários.

Tais exemplos demonctram que não tem sentido consi­derar, como mais “científico,” um estudo que começa com hipóteses do que aquele que termina com hipóteses. O tem po para a form ulação de hipóteses varia com a natureza do problema e a am plitude de conhecim ento anterior a res­peito. A formulação e reformulação de problemas de pes­quisa é um processo contínuo. Segundo M ax Weber, soció­logo alemão, “toda realização científica propõe novas questões; deseja ser superada e ultrapassada.”-

Dcf.r*-ç?o de Conceitos

Qualquer pesquisador, a fim de organizar seus dados de form a a perceber relações entre eles, precisa empregar con ­ceitos. Um conceito é uma abstração a partir d è aconteci­mentos percebidos, ou, sogundo M cClelland (1951), “uma representação resum ida de uma diversidade de fatos. Seu objetivo é simplificar o pensamento, ao colocar alguns acon­tecimentos sob um mesmo título geral/\ Alguns conceitos estão múito próximos dos objetos ou fatos que representam.

e s c o l h a e f o r m u l a ç ã o n r u m r n o n i e m a d e p e s q u i s a 4 0

Por exemplo, o sentido do conceito cão pode ser facilm ente exemplificado através da indieuç&o de cães específicos. O conceito é uma a b s t r a io dns características que todos os cães têm em com um emnctei ísticas que são facilm ente observáveis ou facilm ento nuMisuráveis. No entanto, outros conceitos não podem sei t.lo facilmente ligados aos fenômenos que pretendem representai; por exem plo, é isso que ocorre com atitudes, aprendi 'nycm, jhijh’1 n motivação. São inferên­cias, em nível mais elevado do abstração, a partir de aco n te­cimentos concretos, e seu sentido não pode ser facilm ente transmitido através da inuicaçfto de objetos, indivíduos ou acontecimentos específicos. Às ve/es, essas abstrações de nível mais elevado são d en o m in ad as <onstrtições, uma vez que são construídas a partir do conceitos d«- nível inferior de ab s­tração.

tpjiantQ maiõr a distânriu.j:iiUi- os q jiictitQs .e os fatos empíricos a que pretendem Ia/çr i <'I n r n ria, maior a possi­bilidade de tais conceitos serem m al com preendidos ou mal empregados, e maior„.Q..£uidado nci'câjáiii> pm:a sua delinição] Devem ser definidos em termos abstratos, dando-se o sentido geral que devem transm itir, bem c o m o e m termos das op era­ções através das quais serão represenlados no estudo esp e­cífico. O primeiro tipo de definição o necessário para ligar o estudo ao conjunto de conhecimentos que empregam co n ­ceitos semelhantes. O segundo é um passo essencial para a realização de qualquer pesquisa, pois os dados devem ser coligidos através de fatos observados.

Como exemplo, podemos voltar ao estudo de Morris e Davidsen sobre estudantes estrangeiros. Sua hipótese referia- -se aos efeitos, em suas atitudes com relação aos Estados unidos, da avaiiação do estudante quanto à estima dos norte- -americanos com relação ao seu país de origem . Na realidade, com o já notamos, a hipótese era mais complexa. Incluía os conceitos de “obtenção de status nacional" e “perda de status nacional”, através d e viagem aos Estad os Unidos. O “status nacional” era definido como “a relativa valorização atribuída ao próprio país, n um a escala internacional de com paração.” A hipótese incluía um a distinção entre duas avaliações de status nacional: “o status nacional percebido” — isto é, a av a­liação, feita pelo estudante, de seu país; “status nacional p e r­

5 0 M É T O D O S D E PESQ XJISA N'AS REJL.A ÇÓES SO C IA IS

cebido como atribuído” — estimativa, feita pelo estudante, da avaliação do sou país pelos norte-americanos. 6 A diferença entro essas duas avaliações dava um a medida de “discropAn eia tio .tatus nacional.” Esse conceito estava ligado à teoria do estratificação social e mobilidade de status, através da suposição de qu e um estudante que acreditasse que os no r te •americanos davam ao seu país um a avaliação superior ã quo elo próprio atribuía, tinha experiência de “elevação de status nacional”, enquanto aquele que acreditava que os norte-am e­ricanos davam um a avaliação inferior à que ele próprio atri­buía, tinha urna experiência de “redução de status nacional”. Ivsses conceitos básicos eram formalmente definidos através do sentido de elevação de status e perda de status n a teoria sociológica geral. Para esse estudo específico fez-se um iníeio do definição de trabalho, definindo-se elevação de status n redução de status nacional através de uma comparação entio duas avaliação feitas pelo estudante — sua avaliação pessoal da posição de seu país e sua estimativa^das avaliações dos norte-americanos. Consideremos, agora, como foram nuiLs desenvolvidas as definições de trabalho. 7

Estabelecimento de Definições de Trabalho 11

Qualquer que seja a simplicidade ou complexidade tia definição form al de seus conceitos, o pesquisador, para reali­zar qualquer pesquisa, precisa encontrar alguma fo rm a do traduzi-los em acontecimentos observáveis. N;io ó p o ssív el estudar “elevação” ou “redução' de status nacional” com o tais,

6 O “status nacional real atribuído” — a avaliação realmente feita pelos norte-americanos — foi também considerado, como verificação da percepção dos estudantes.

7 Na realidade, alguns outros conceitos foram também incluídos nesto estudo; entre eles, o de identificação e o de atitude. Como nos interessamos pelo estudo apenas como exemplo, não consideraremos a forma de definir esses outros termos.

8 O leitor pode observar uma semelhança entre nosso conceitodo definição d e trabalho e o termo mais freqüentemente usado, isto é,definição operacional. Evitamos esse termo mais usual porque trazconsigo algumas conotações filosóficas que não desejamos discutir aqui.

E S C O L H A E F O R M U L A Ç Ã O D E U M P R O Iil.K M A l»l r i .H Q U IS A 5 1

pois esses conceitos não têm complementos (Liretos em acon­tecimentos observáveis. O pesquisador preoisa criar algumas operações que provoquem resultados < possa aceitar como um indicador de seu conceito. ICsto estágio da form ulação do projeto pode exigir muita habilidade, sobretudo se os con­ceitos estão muito distantes dos acontecimentos cotidianos e :>o foram realizadas poucas pesquisas com tais conceitos.

No caso do estudo do estudantes estrangeiros, embora tivesse havido muitas pesquisas a respeito de perda e eleva­ção de status em outros contextos, nenhum estudo anterior irinha lidado sistematicamente com o conceito de “perda ou elevação de status nacional”; por isso, não tinham sido criadas operações que constituíssem definições de trabalho desses termos. Morris o Davidsen já tinham começado sua defini­ção de trabalho, quando decidiram que sua m edida básica «eria a discrepância entre a avaliação de seu país feita pelo estudante e sua estimativa das avaliações dos norte-am erica­nos. No entanto, em que term os deveriam ser feitas tais avaliações? Será que os estudantes poderiam apenas rece­ber uma lista de países e distribuí-los de acordo com a sua avaliação de cad a um deles? E ssa tarefa parecia excessiva­m ente am bígua; a partir de suas reações pessoais, os pes­quisadores concluíram que os países serão classificados de forma diferente, de acordo com diferentes critérios. Final­mente, estabeleceram três critérioá, através dos quais os países deveriam ser avaliados: nível de vida, padrões culturais e

padrões políticos. A partir de tais avaliações, seria cons­truído um índice de “status nacional.”1 ( É óbvio, a p artir deste exemplo, que o passo do estabelecim ento de definições de trabalho está m uito ligado a decisões a respeito de instrum en­tos de coleta de dados e do p ad rão de análise. E ste é outro aspecto da m aneira pela qual as etapas iniciais determ inam as posteriores, bem como da necessidade de predizer, nas etapas iniciais, as etapas posteriores).

As definições de trabalho são adequadas se os instru­mentos ou processos neles baseados obtêm dados q u e cons­tituam indicadores satisfatórios dos conceitos que pretendem representar. Saber se esse resultado foi conseguido é., fre­qüentemente, um a questão de opinião. Um pesquisador pode

Í>ensar que seus dados apresentam indicadores razoavelm ente >ons de seus conceitos; um crítico do estudo pode pensar que

i:3so não ocorre. Freqüentem ente acontece de o pesquisador

5 2 M É T O D O S D E PESQ U ISA N A S HELAÇÕiCH S O C IA IS

estar ciente de que seus dados constituem apenas um reflexo muito limitado do conceito que tem em mente, mas, sobre­tudo nos estágios iniciais da pesquisa de um problema, pode não ser capaz de criar um conceito mais satisfatório. De qualquer forma, embora geralmente o pesquisador relate seus resultados através de conceitos abstratos, a fim de ligá los mais facilmente a outras pesquisas e à teoria, ele e seus leitores

devem lembrar que, na realidade, encontrou uma relação entre dois conjuntos de dados que, segundo pyetende, representam seus conceitos. Assim, o que Morris e Davidsen realm ente verificaram foi que a discrepância entre as duas avaliações do país de origem estava ligada às respostas a Certas perguntas sobre os Estados Unidos. Em bora possam, com propriedade, interpretar isso com o indício de um a relação entre elevação ou perda de status nacional por p arte do estudante estran­geiro e sua atitude diante dos Estados Unidos, deve-se lem­brar que essa interpretação depende da suposição de que as respostas às perguntas da entrevista são adequadas defi­nições de trabalho aos conceitos elevação de status nacional, perda de status nacional e atitude com relação ao país em que estuda.

Ligação dos Resultados com Outros Conhecimentos

A pesquisa científica é um empreendimento comunitário, embora estudos isolados sejam realizados por pesquisadores que trabalham sozinhos. Cada estudo depende dos anteriores e apresenta a base para futuros estudos. Quanto m aior o número de relações que puderem ser estabelecidas entre deter­minado estudo e outros estudos ou um conjunfo teórico, maior a contribuição provável.

Existem duas maneiras principais para ligar determ inado estudo a um conjunto mais amplo de conhecimento. Um deles é, evidentem ente, examinar a pesquisa e as reflexões já feitas sobre determ inado problema ou problemas de pesquisa a ela ligados, e planejar o estudo de form a que este se ligue, no maior número possível de pontos, com o trabalho existente. O segundo é form ular o problema de pesquisa em nível sufi­cientemente abstrato, de forma que os seus resultados possam ser ligados aos de outros estudos referentes aos mesmos con­ceitos.

E S C O L H A E FOIVMIM.AC, A.................... ' i m . i i i i i ' U m P E S Q U IS A 5 3

O estudo de estudante-. « 11 m f - " ° • q,ie estamos consi­derando foi formulado mi mv« I mmto « levado de ab stração, e assim poderia ser lanlm. ui< lidado com outros estudos destatus, em diferentes ■ 11■....... . ........ diferentes populações.Em estudos que dccoriem <1« <l< l< unina la questão científica,geralmente não é dilieil !......... I n <» pioblcma de pesquisa emnível útil de abstra^ao. pol-, .1 . « | » i < . i * ». . eientíficas, por sua natureza, tendem a sei upicseui.nl.r. em termos gerais. No entanto, os estudos que Mirrem <lu neeessidade de resposta a uma questão prática podem peimunceei em nível tão esp eci­fico que não apresentem ronli ílnii«,.10 ícal ao conhecim ento, a menos que o pesquisadoi « e-.loi ce paia transpor a questão a um nível mais elevado de .» 1 »•.11 . « . i<»

Consideremos o exemplo d< um pesquisadoi q u e , a pedi­do de uma instituição Inicie-, ..ida pe la melhoria de relações intergrupais, realiza um lev a n ta m e n to eom o ob jetiv o d e ava­liar, a eficiência de uma série de d esen h o s sobre preconceito. Se propõe o problema de lo u n a q u e mio possa generalizar além dos desenhos específicos, 11 .ic.r.-..n a, tanto na tarefa p rá­tica quanto na teórica. Os d esen h o s q u e se propõe investigar são produtos únicos e, até certo p o n to , diferentes de todos os outros, tanto em conteúdo quanto em forma. Se co m eça o processo de pesquisa a fim do verificar a eficiência desse pequeno núm ero de desenhos, q u e podem ser hoje atuais, mas esquecidos logo depois, envolve se em tarefa que precisará começar novam ente, logo depois d e terminá-la. Por exem plo, se descobre que um desenho específico atrai e diverte parte de sua audiência, mas é incompreendido pela m aioria, pouco aprendeu que m ereça ser classificado como conhecim ento científico. N em podem tais resultados apresentar m uita orientação p ara o criador dos desenhos. A fim de afastar essa limitação de seu trabalho, o pesquisador, antes de com e­çar a coleta de dados, precisa reform ular seu problem a con­creto, de form a que, finalmente, lhe permita chegar a conclu­sões a respeito dos aspectos mais gerais do desenho e das respostas das pessoas que o vêem . E m outras p alavras: seu interesse, nessa etapa da formulação de problema, deve voltar- -se à possibilidade de generalização de seus resultados. Não é suficiente perguntar se determ inado desenho é com preen­dido, nem quem o compreende. P ara ser capaz de responder à primeira p arte da pergunta, precisa analisar os aspectos gerais do desenho. Precisa chegar a algumas categorias, tais como “sátira”, “legenda necessária p ara a compreensão”, etc.

3 4 M É T O D O S D E P E S Q U IS A N A S R E L A Ç Õ E S SO C IA IS

Sc depois puder demonstrar, através de sua análise, que <", c tipo de desenho é incompreendido porque é aceito literal mente, e não satíricamente, está em condições de aconselhai o artista a experimentar desenhos não-satíricos ou formas p.ira tornar mais clara a sátira.

Apenas quando um problema está formulado em termos com sentido geral é que o cientista social pode ter a espei im, i ile transferir, para outros problemas, o conhecimento obtido corn o estudo de um único acontecimento. A generaliza^ i«» .i partir de estudo de acontecimentos únicos exige que o problema de pesquisa seja formulado em termos mais a b s ­tratos do que os necessários se houvesse interesse em respon­der a uma pergunta a respeito do acontecimento único. E\ identemente, todo acontecimento na vida humana, quando visto ern sua total concreção, é único. No entanto, por mais raro e atípico que seja, torna-se um problem a legitimo p u a a pesquisa científica, se se especificam os processos >(//;/" centes que p od em ocorrer cm outras com bin ações tdiubt iii únicas. Neste sentido, um tremor de terra, o bombardeio de Hiroshima, ou a execução de Mussolini por italianos i nl i ne eidos — acontecimentos únicos em todos os sentidos eme. tituem objeto para pesquisa, 9 desde que o problema .<■ ja formulado em termos que se refiram aos processos put* u> ial mente observáveis em outras ocasiões.

A formulação, dessa maneira, de um problem.i de pes­quisa, permite a repetição de estudos sob diferentes eondições únicas. Esse processo de repetição é conhecido como a reprodução da pesquisa. Esta é essencial para o aumento da confiança nos resultados da pesquisa. Por exemplo, a veri­ficação de Morris e Davidsen, segundo a qual existe uma relação entre elevação ou redução de status nacional c atitude para com o país em que o jovem estuda, é interessante e sugestiva; sua coerência com a teoria geral de mobilidade de status permite maior confiança no resultado. No entanto, só pode ser aceita com o geralmente verdadeira depois de ter sido repetida com outros estudantes, que freqüentam diferen­tes universidades, que estudam em outros países, além dos Estados Unidos. Finalm ente, esSa reprodução da pesquisa

9 Evidentemente, uma dificuldade básica para a pesquisa d<- tuis acontecimentos é conseguir estar numa posição em que se possa obter informação fidedigna sobre o acontecimento, as condições que o inicia­ram, bem como suas conseqüências.

I

mostrará se o processo subjacente qm' o cientista social tinha em mente explicava a re lação n itre os dois conjuntas de acontecimentos observados, ou se n a explicável por outras condições, ainda não conhecida v que caracterizavam o estudo específico. E m bo ra seja essencial buscar processos mais gerais, o pesquisador precisa ui.mtei um equilíbrio cuidadoso entre sua atenção à configura., âo uuica e aos aspectos gerais de suas observações. O desprezo da configuração única pode conduzir a generalizações falvis e prematuras; o desprezo dos aspectos gerais pode conduzir à impossibilidade de criar princípios qite possam sei usados para a compreensão de outras condições, diferentes das condições específicas estu ­dadas.

[ISC O LH A E K U B M I X a Ç !■') Z'z C M r ü ü B L K M .v DI-; P E SQ U ISA 5 5

R esum o

Muilas considerações — e nmitas dificuldades — surgem na escolha de um tópico de pesquisa e na sua formulação como um projeto de pesquisa. Basicamente, tais processos exigem que o cientista social tenha consciência das escolhas possíveis e com preenda as regras que governam a formulação do problema.

A formulação de um projeto de pesquisa passa por várias etapas.

Em primeiro lugar, o prvhlcnta (/iic exige solução ])recisa scr p erceb id o na área circunscrita pelo tópico escolhido.

Em segundo lugar, a tarefa dc }>cs(/uisa precisa scr r e d u ­z ida a ui)i tam anho c iávc l ou dividida em algumas subtarefas, cada uma das quais possa ser realizada em um único estudo.

A seguir, existem algumas etapas tão estreitamente re la ­cionadas que sua ordem não pode ser especificada. Se h á conhecimento significativo referente ao problema de pesquisa, a formulação conterá hipóteses, tanto com o guia para a coleta e análise de dados, quanto como meio para relacionar o estudo a outros estudos ou a um conjunto de teoria. Se não existe suficiente conhecim ento para dar uma base para o estabele­cimento de hipóteses* nessa etapa, a formulação do problema indicará as áreas em que um estudo exploratório procura estabelecer hipóteses.

Haja ou não hipóteses estabelecidas nessa etapa, o estudo exigirá a defin ição d e conceitos, que serão usados na orga­

5 6 M É T O D O S D E P E S Q U IS A N A S R E L A Ç Õ E S SO C IA IS

nização dos dados. Tais definições incluirão definições for- maisy destinadas a apresentar a natureza geral do processo 011 fenômeno pelo qual o pesquisador se interessa, bem como sua relação com outros estudos e com a teoria existente de ciência social. Incluirão também definições d e trabalho, que perm item a coleta de dados que o pesquisador acoita como indicadores de seus conceitos.

Em todos esses processos, haverá interesse pela possi­bilidade de generalização dos resultados e sua relaçiio com outros conhecimentos. Isso exije estudo , cuidadoso de tra­balhos já realizados no campo, bem com o a formulação do problema de pesquisa em termos suficientemente gerais para que esteja clara sua relação com outros conhecimentos e perm ita a reprodução da pesquisa.

Ao formular o problema de pesquisa, as etapas subse­qüentes no processo de pesquisa precisam ser previstas, a fim de haver certeza de que o problema pode ser estudado atra­vés das técnicas existentes. Tal previsão deve incluir as etapas científicas e práticas.

PLANEJAMENTO DE 1’ESQUISA

I. Estudos Exploralórios i- Descritivos

, '

Estudos Formuladorcs ou Exploratórios

Estudos Descritivos

Resumo