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Campo Grande, 25 a 28 de julho de 2010, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural 1 A INFLUÊNCIA DO AMBIENTE INSTITUCIONAL FORMAL NO DESENVOLVIMENTO DA AVICULTURA DE FRANGO DE CORTE BRASILEIRA [email protected] APRESENTACAO ORAL-Estrutura, Evolução e Dinâmica dos Sistemas Agroalimentares e Cadeias Agroindustriais CLEVÉRTON MICHEL DA MACENA 1 ; WEIMAR FREIRE DA ROCHA JR. 2 ; MARCIA CARLA RIBEIRO 3 ; CHRISTIAN LUIZ DA SILVA 4 . 1,2.UNIOESTE, TOLEDO - PR - BRASIL; 3.PUCPR, CURITIBA - PR - BRASIL; 4.UTFPR, CURITIBA - PR - BRASIL. A INFLUÊNCIA DO AMBIENTE INSTITUCIONAL FORMAL NO DESENVOLVIMENTO DA AVICULTURA DE FRANGO DE CORTE BRASILEIRA Grupo de Pesquisa: Estrutura, Evolução e Dinâmica dos Sistemas Agroalimentares e Cadeias Agroindustriais Resumo: Este trabalho visa analisar o ambiente institucional formal da avicultura para produção de carne de frango no Brasil, importante setor do agronegócio que participa com expressiva parcela da pauta de exportações do país. Tal análise será fundamentada no arcabouço teórico da Nova Economia Institucional, ramo de estudos da Economia que afirma que os agentes (organizações e indivíduos) são influenciados pelo ambiente institucional (leis, regras, estatutos, ética e padrões de moral) e com ele interagem. O estudo baseou-se no exame da legislação que regulamenta o setor por meio de consultas ao Sistema de Legislação Agrícola Federal – SISLEGIS –, sistema online que possibilita o acesso a decisões tomadas no âmbito do Ministério da Agricultura, e ao Diário Oficial da União – DOU -, que publica os atos oficiais do governo. Em geral, as Instruções Normativas, Portarias e Resoluções pesquisadas podem ser divididas em três subcategorias, de acordo com seus objetivos: as que regram o registro de estabelecimentos avícolas, tanto para fins de reprodução como também para fins comerciais; as exigências legais que se referem à identificação dos produtos (tanto input quanto output) ligados ao SAG da carne de frango e; as normas que dispõem sobre características sanitárias e de higiene na cadeia de carne de frango, com especial ênfase na produção nos aviários e no processo de abate. Conclui-se que os agentes da SAG da carne de frango têm de cumprir diversas normas e atender a exigências que, dentre outros objetivos, procuram assegurar a qualidade dos produtos, dessa forma atendendo interesses específicos dos mercados consumidores e estabelecendo um padrão de qualidade para os produtos brasileiros. Palavras-chave: Ambiente institucional, avicultura, Nova Economia Institucional. Abstract: This study aims to examine the formal institutional environment of the Brazilian poultry industry, a major agribusiness responsible for a significant portion of overall exports of the country. This analysis is based on the theoretical framework of New

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A INFLUÊNCIA DO AMBIENTE INSTITUCIONAL FORMAL NO DESENVOLVIMENTO DA AVICULTURA DE FRANGO DE CORTE BRASILEIRA

[email protected]

APRESENTACAO ORAL-Estrutura, Evolução e Dinâmica dos Sistemas Agroalimentares e Cadeias Agroindustriais

CLEVÉRTON MICHEL DA MACENA 1; WEIMAR FREIRE DA ROCHA JR. 2; MARCIA CARLA RIBEIRO 3; CHRISTIAN LUIZ DA SILVA 4.

1,2.UNIOESTE, TOLEDO - PR - BRASIL; 3.PUCPR, CURITIBA - PR - BRASIL; 4.UTFPR, CURITIBA - PR - BRASIL.

A INFLUÊNCIA DO AMBIENTE INSTITUCIONAL FORMAL NO

DESENVOLVIMENTO DA AVICULTURA DE FRANGO DE CORTE BRASILEIRA

Grupo de Pesquisa: Estrutura, Evolução e Dinâmica dos Sistemas Agroalimentares e

Cadeias Agroindustriais

Resumo: Este trabalho visa analisar o ambiente institucional formal da avicultura para produção de carne de frango no Brasil, importante setor do agronegócio que participa com expressiva parcela da pauta de exportações do país. Tal análise será fundamentada no arcabouço teórico da Nova Economia Institucional, ramo de estudos da Economia que afirma que os agentes (organizações e indivíduos) são influenciados pelo ambiente institucional (leis, regras, estatutos, ética e padrões de moral) e com ele interagem. O estudo baseou-se no exame da legislação que regulamenta o setor por meio de consultas ao Sistema de Legislação Agrícola Federal – SISLEGIS –, sistema online que possibilita o acesso a decisões tomadas no âmbito do Ministério da Agricultura, e ao Diário Oficial da União – DOU -, que publica os atos oficiais do governo. Em geral, as Instruções Normativas, Portarias e Resoluções pesquisadas podem ser divididas em três subcategorias, de acordo com seus objetivos: as que regram o registro de estabelecimentos avícolas, tanto para fins de reprodução como também para fins comerciais; as exigências legais que se referem à identificação dos produtos (tanto input quanto output) ligados ao SAG da carne de frango e; as normas que dispõem sobre características sanitárias e de higiene na cadeia de carne de frango, com especial ênfase na produção nos aviários e no processo de abate. Conclui-se que os agentes da SAG da carne de frango têm de cumprir diversas normas e atender a exigências que, dentre outros objetivos, procuram assegurar a qualidade dos produtos, dessa forma atendendo interesses específicos dos mercados consumidores e estabelecendo um padrão de qualidade para os produtos brasileiros. Palavras-chave: Ambiente institucional, avicultura, Nova Economia Institucional. Abstract: This study aims to examine the formal institutional environment of the Brazilian poultry industry, a major agribusiness responsible for a significant portion of overall exports of the country. This analysis is based on the theoretical framework of New

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Institutional Economics, a branch of economics that studies states that the actors (organizations and individuals) are influenced by the institutional environment (laws, rules, statutes, ethical and moral standards) and interact with it. The study was based on examination of legislation governing the sector through consultation with the Federal Agricultural Legislation System - SISLEG - online system that provides access to decisions made under the Ministry of Agriculture, and the Official Journal - DOU - which publishes the official acts of government. In general, the Regulatory Instructions, Ordinances and Resolutions surveyed can be divided into three subcategories according to their goals: the rule that the registration of poultry establishments, both for reproductive purposes and for commercial purposes; legal requirements which relate the identification of products (either as input output) connected to the SAG and the chicken, the rules that have features on health and hygiene in the chain of chicken, with special emphasis on production in poultry farms and slaughter process. It is concluded that agents of SAG chicken meat must comply with various standards and meet the requirements that, among other objectives, seek to ensure product quality, thus taking into account specific interests of the consumer markets and establishing a standard of quality for Brazilian products. Key words: Institutional environment, poultry industry, new institutional economy. JEL : D2, P48, Q18. 1. INTRODUÇÃO

A avicultura, ramo do agronegócio brasileiro que envolve a engorda e reprodução de aves para postura de ovos ou produção de carne, tem apresentado grande dinamismo, com ganhos constantes no mercado internacional. A produção de frango de corte, em especial, apresenta resultados expressivos, tanto quanto ao total produzido quanto à participação absoluta e relativa das exportações dessa mercadoria sobre o PIB brasileiro. Mudanças nos padrões tecnológicos, com elevação da produtividade e estabelecimento de níveis mais altos de qualidade, são causas desse aumento da participação da carne de frango brasileira no comércio externo. Assim sendo, a busca pelo aumento da competitividade tem feito com que os agentes que participam da cadeia produtiva de carne de frango incorporem novos métodos produtivos, objetivando ganhos com redução de custos e, por conseguinte, aumento dos lucros.

Entretanto, o modo como os agentes se comportam e se estruturam no mercado avícola está sujeito à influência das instituições, que, dentre outros aspectos, surgem como “elementos que promovem a manutenção dos direitos de propriedade em uma sociedade” (ROCHA JÚNIOR, 2004, p 310). A Nova Economia Institucional – NEI – reconhece a importância das instituições sobre o resultado econômico, como afirmam Farina et al (1997). Segundo esses autores, sob a ótica da NEI, reconhece-se que tanto a operação como também a eficiência de um sistema econômico são influenciadas pelo conjunto de instituições que regulam o ambiente econômico.

Tomando como pressupostos básicos dos agentes que transacionam tem a incapacidade de prever o comportamento futuro de suas contrapartes nas transações, de

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elaborar contratos completos (sem lacunas) e de agir de modo não-oportunista, a NEI preconiza que estes agentes procuram criar meios (regras) para restringir a tomada de atitudes oportunistas por ambos, dessa maneira assegurando direitos de propriedade. Assim, de acordo com Diniz (2007, p. 63), um produto específico é inserido em um ambiente institucional permeado de regras que visam garantir a integridade dos produtores e consumidores.

Nesse sentido, este estudo é movido pela seguinte questão básica: O que regram as instituições formais (leis e portarias) no setor produtivo da carne de frango no Brasil? Uma vez reconhecida a importância que as instituições apresentam segundo a ótica neo-institucionalista, fica evidente a necessidade de se avaliar e dimensionar esta influencia sobre o comportamento das organizações e indivíduos no mercado, especialmente no setor avicultor brasileiro. Portanto, por meio deste trabalho, objetiva-se verificar as influências das instituições formais sobre o desempenho e a conduta dos agentes participantes do Sistema Agroindustrial – SAG - da carne de frango no Brasil.

Este artigo é composto de cinco partes, sendo esta a primeira, de caráter introdutório. A segunda parte é utilizada para mostrar o referencial teórico adotado, dando ênfase aos temas Nova Economia Institucional, instituições, ambiente institucional, avicultura de frango de corte no Brasil e a relação entre Direito e mercado. A terceira parte expõe a metodologia utilizada e a quarta parte os resultados obtidos com a pesquisa, com relação às normativas específicas aplicáveis e suas repercussões. A quinta e última parte apresenta uma tentativa de conclusão. 2. MARCO TEÓRICO 2.1 Nova Economia Institucional e o debate sobre as instituições

A Nova Economia Institucional (NEI) é um ramo de estudos da Economia que engloba também assuntos pertinentes à Administração e ao Direito. A partir do incipiente trabalho The Nature of the Firm de Coase nos anos 30 e especialmente após as análises de Williamson a contar dos anos 70, a NEI ganhou destaque nos meios acadêmicos, com pesquisas a respeito do papel das instituições sobre as decisões dos agentes econômicos no mercado. A inserção das instituições ao prisma da análise econômica, contudo, foi primeiramente realizada por autores da velha escola institucionalista, como Veblen, Commons e Mitchell. No entanto, Rocha Júnior (2004) aborda que este conceito pode ser encontrado, ainda que de forma muito implícita, nos trabalhos de autores clássicos como Adam Smith, J. J. Mill, Karl Marx, Hayek, Schumpeter e Marshall.

Para a NEI, o modo como os agentes (indivíduos e organizações) se comportam e se estruturam no mercado transforma-se com a alteração das instituições que regulam o ambiente no qual estão inseridos, uma vez que aquelas não são neutras e afetam as atividades econômicas de maneira direta ou indireta (ZYLBERSZTAJN, 1995). Assim sendo, as instituições regulam e têm poder de influência sobre o sistema econômico, cuja operação e a eficiência têm suas gargalos e limitações influenciados pelo conjunto de instituições (FARINA et al, 1997). Como as instituições se comportam, como se relacionam e de que maneira elas estão arranjadas na sociedade é o que caracteriza a

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eficência, ou não, do sistema econômico. As instituições são, então, responsáveis pelo desempenho econômico das sociedades e por sua evolução (NORTH, 1994).

Contudo, uma das maiores polêmicas que envolvem os estudos baseados no arcabouço teórico da NEI vem a ser o próprio questionamento sobre o significado do conceito “instituição”. Para Conceição (2001), apesar de várias correntes dentro da própria NEI apresentarem diferentes sentidos para o termo, tal diferenciação não invalida a contribuição teórica de cada abordagem, mas, sim, enriquece o debate entre as vertentes do pensamento institucionalista.

Uma das definições apresentadas pelos teóricos da NEI afirma que uma instituição congrega os elementos que promovem a manutenção dos direitos de propriedade em uma sociedade, objetivando a promoção da eficiência ótima de Pareto (a qual ocorre quando não se pode realocar o bem para tornar maior o bem-estar de uma pessoa sem que haja a diminuição do bem-estar de outra pessoa).

Todavia, a relação direta entre instituições e eficiência nem sempre ocorre. North (2004, p. 17-18) identifica essa possibilidade e, relacionando a incerteza com com o conceito de instituições, faz uma crítica a essa concepção:

As instituições são formadas para reduzir incertezas por meio da estruturação das interações humanas, o que não significa implicitamente que os resultados serão eficientes, no sentido dado a esse termo pelos economistas. [...] Os casos de sucesso na história econômica descrevem inovações instucionais que reduziram os custos de transação e permitiram maiores ganhos comerciais, levando à expansão do mercado.

Destarte, North (2004, p. 13) define instituições como “o arcabouço imposto pelo

ser humano a seu relacionamento com os outros”, composto por regras formais, restrições informais e estruturas capazes de tornar tais normas eficazes. As regras formais podem ser entendidas como poderes legítimos que mantém a ordem da sociedade, enquanto as “limitações informais” são compreendidas como o conjunto de valores éticos, morais e culturais, infiltrados na sociedade. Como exemplos do primeiro grupo podemos citar o estatuto social de uma empresa, os contratos de trabalho formal, o conjunto de leis que forma a Constituição de uma nação. No segundo grupo estariam a cultura administrativa de uma empresa e o código de ética nas relações trabalhistas, entre empregado e empregador, e, porque não, também a noção de mercado.

Há, também, instituições que se destinam a impor restrições sobre outras instituições. Isto é, são instituições que servem para regulamentar as restrições às ações humanas, servindo de parâmetro para a escolha de regras formais e informais. Para que o conceito de instituições seja ainda mais abrangente, é necessário também incluir na definição anterior os instrumentos responsáveis pelo funcionamento adequado das regras que compõem as instituições. Por este motivo, North (2004) considera também instituições os mecanismos responsáveis pela execução desses dois tipos de normas (regras formais e restrições informais).

A definição dada por North às instituições engloba os sistemas de restrições que cada ser humano impõe ao tratar com os semelhantes, as estruturas das interações políticas, econômicas e sociais. Desse modo, ambas categorias de instituições, formais e informais, de maneira conjunta, definem as estruturas de incentivo e espeficidade das economias

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(NORTH, 1991; 2004). Todas as sociedades humanas, até mesmo as mais primitivas, criam regras que limitam o comportamento das pessoas, visando possibilitar a implantação de uma estrutura que permita a interação das pessoas na comunidade.

As instituições são importantes no sistema econômico quando existem diferentes níveis de informação entre os agentes econômicos, de incerteza no mercado, e grande número de concorrentes. Aliados a esses elementos, há os custos de transação, que criam pontos críticos no desempenho econômico. Nesse ambiente turbulento e incerto, é necessário que haja regras que balizem e orientem a direção a ser tomada, para que os problemas relacionados às interações entre os agentes sejam resolvidos, e os acordos de troca sejam estabelecidos e cumpridos (NORTH, 1991). O conjunto de instituições econômicas e políticas forma a matriz institucional da sociedade. Assim, se as instituições constituem a regra do jogo, as organizações são os jogadores. As organizações compõem-se de grupos de indivíduos dedicados a alguma atividade executada com determinado fim (NORTH, 2004: 13).

Farina et al (1997, p. 59) comentam a definição levantada por North:

Trata-se [...] de uma definição abrangente, que procura abarcar toda espécie de elementos sociais que funcionam como invólucro para as atividades econômica, social e política. Não é necessário assumir que as instituições tenham como único propósito o de restringir as interações humanas, mas é fundamental reconhecer que efetivamente elas desempenham esse papel, e, com ele, condicionam tais interações.

A dinâmica evolutiva das economias surge da interação entre as instituições e as

organizações, definidas metaforicamente como “os jogadores” (organização) que estão enquadrados nas “regras do jogo” (as instituições).

Williamson (1996) propõe a utilização de um esquema de três níveis, em que o ambiente institucional, estrutura de governança e indivíduos interagem estabelecendo relações de influência mútua.

O esquema proposto por Williamson serve como um importante ponto de referência ao estudo das inter-relações entre os diferentes níveis analíticos, pois coloca que as organizações (estruturas de governança) se desenvolvem dentro dos limites impostos pelas instituições e pelos pressupostos comportamentais sobre os indivíduos. O ambiente institucional fornece o quadro fundamental de regras que condiciona o aparecimento e a seleção de formas organizacionais que comporão a estrutura de governança. Esse é o componente principal da relação entre insituições e organizações. Transformações verificadas nas instituições funcionam como um parâmetro de mudança em uma dada estrutura de governança. O efeito secundário da relação entre instituições e organizações expressa os efeitos de ações instrumentais ou estratégicas tomadas no plano das organizações com o objetivo de se modificar as regras do jogo. Reconhece-se, portanto, que elementos microanalíticos podem modificar o ambiente institucional, no caso dos agentes econômicos demandarem a alteração da legislação por considerarem-na inadequada para servir como regra fundamental daquele jogo. No caso de ações estratégicas que tratam da ação de grupos de poder junto às instâncias responsáveis pelo desenho macroinstitucional, explica-se o modo

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pelo qual um lobby setorial, por exemplo, consegue impor transformações na legislação, alterando as regras do jogo em seu benefício. Por outro lado, a interação entre as instituições e a sociedade, mediante o instrumental do Direito, pode acelerar ou desacelerar um dado processo de desenvolvimento. A edição de normas eficazes, norteadoras da conduta dos agentes e que atendam às necessidades do mercado, podem incrementar a mudança de comportamentos em proveito de uma mais rápida adesão, por exemplo, às normas internacionais do setor em termos de saúde e segurança, tendo como resultado, ainda no mesmo exemplo, o incremento do mercado exportador. A mesma alteração comportamental poderia, em tese, decorrer da compreensão dos agentes do grau de receptividade de um mercado, ou da perspectiva de incremento da lucratividade pela via do mercado exportador. Porém, a velocidade com que tais agentes incorporariam tais exigências seria variável e a mudança não organizada. Quando as exigências são transformadas em leis potencializa-se a adaptação.

Finalmente, tanto as instituições quanto as organizações apresentariam efeito secundários sobre os indivíduos, que agem de acordo com suas convicções e preferências, sendo essas, na tradição do individualismo metodológico, dadas no plano individual. Williamson (1996) reconhece que as ‘preferências endógenas’ podem sofrer efeitos do ambiente e das estruturas de governança. 2.2 Ambiente institucional

A preocupação com a análise das instituições levou à criação de duas vertentes no âmbito da NEI. Estes ramos de estudo, que diferem quanto aos níveis analíticos, apresentam objeto de análise semelhante e são complementares. São eles:

• Ambiente Institucional: Analisa o papel das instituições investigando os efeitos das mudanças no ambiente institucional sobre o resultado econômico ou sobre as teorias que criam as instituições, dedicando-se mais especificamente ao estudo das “regras do jogo”. Tem um enfoque macroanalítico (top-down approach) e trabalha com variáveis relacionadas: política, legislação e as instituições – que formam e estruturam os aparatos regimentais de uma sociedade (FARINA et al, 1997).

• Instituições de Governança: Estuda as transações com um enfoque nas estruturas de governança que coordenam os agentes econômicos. As regras gerais da sociedade, nesse enfoque, são consideradas como dadas. Essa última corrente busca identificar como as diferentes estruturas de governança lidam com os custos de transação, implicando níveis distintos de eficiência (WILLIAMSON, 1996). A instituição de governança tem um enfoque microanalítico (bottom-up approach), que tem um interesse maior em trabalhar com as organizações da firma e do mercado, e com os contratos (FARINA et al, 1997).

A preocupação em tornar a NEI um corpo teórico conciso levou alguns autores a definir as diferenças entre ambas as correntes e a sua identificação como abordagens complementares. A primeira distinção de relevo refere-se justamente aos diferentes níveis analíticos em que cada uma das correntes trabalha. Para isso, recorre-se aqui à tão freqüentemente citada passagem de Davis e North (1971, p 232):

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The institutional environment is the set of fundamental political, social and legal ground rules that establishes the basis for production, exchange and distribution. Rules governing elections, property rights, and the right of contract are examples of this type of ground rules that make up the economic environment. […] The institutional arrangement is an arrangement between economic units that govern the ways in which this units can cooperate and/or compete. It must […] be designed to accomplish at least one of the following goals: to provide a structure withinh which its members can cooperate to obtain some added income that is not available outside that structure; or to provide a mechanism that can effect a change in laws or property right designed to alter the permissible ways that individuals (or groups) can legally compete.

Segundo Farina et al (1997: 63),

A principal contribuição da corrente de Ambiente institucional tem sido o estabelecimento da relação entre instituições e desenvolvimento econômico. Está aqui, mais do que em qualquer outro lugar, o fundamento para o consagrado slogan da NEI: ‘instituições são importantes e suscetíveis de análise’. Essa corrente examina o papel de alguns elementos institucionais [...] sobre o resultado econômico global.

O ramo de estudos do Ambiente Institucional pode ser subdividido em dois subgrupos que diferem conforme o objetivo:

• O primeiro grupo de autores investiga os efeitos de uma mudança no ambiente institucional sobre o resultado econômico, se concentrando, sobretudo, na área de história econômica.

• O segundo grupo teoriza sobre a criação das instituições, uma tarefa ambiciosa que, por vezes, apresenta resultados menos expressivos.

Essencialmente, o problema de se procurar explicar o surgimento das instituições,

tornando-as endógenas ao modelo, foi reduzir as causas primárias de explicação da realidade aos mesmos elementos aos quais se restringia a economia neoclássica., quais sejam, tecnologia, dotações iniciais e preferências. Tais elementos seriam os determinantes fundamentais dos preços relativos das ações econômicas, incluindo a ação oportunista. À medida que passe a ser economicamente interessante o estabelecimento de uma instituição, via mudança dos preços relativos, os agentes tem incentivo para implementá-la. Nas palavras de North (1990: 84), “[as] instituções se modificam, sendo as alterações nos preços relativos a mais importante causa dessas modificações”. O autor, no entanto, argumenta que a causalidade entre preços relativos e instituições pode não se verificar. Ainda como restrição ao determinismo das instituições a partir dos preços relativos, a perfeita correspondência dependeria da inexistência de custos de transação. Na presença de custos de transação, a escolha do quadro institucional não responderia com precisão às mudanças nos preços relativos. 2.3 Mudanças institucionais

O processo de mudança institucional é um processo moroso, que não ocorre com facilidade, mas que se faz de maneira gradativa, em função dos conhecimentos e habilidades adquiridos e exercidos pelos agentes. De acordo com North (2004: 14), “os

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agentes de mudança são os empresários políticos ou econômicos, aqueles que decidem nas organizações”, cujas percepções subjetivas, interesses pessoais e vontades determinam as opções adotadas.

Conforme Aguirre e Sztajn (2005, p. 242), “a mudança surge no seio das organizações e é induzida por mudanças endógenas (através de acúmulo de conhecimento) ou exógenas, dos preços relativos”. Conforme muda a forma de percepção dos empresários políticos e econômicos explicitados por North, há motivação para mudança. Aliadas aos preços relativos, aos custos de transação e aos direitos de propriedade, essas motivações podem transformar as instituições vigentes. O poder de barganha dos agentes envolvidos também é um fator a ser destacado, uma vez que as organizações que devem sua existência à matriz institucional atual têm interesse em preservar o status quo, por existirem modelos mentais que são seguidos e neles estarem embutidos os pensamentos ideológicos das organizações, que buscam o estabelecimento de seus interesses. A Figura 1 retrata a expansão do modelo de Williamson (1996) sobre o processo de mudança institucional.

FONTE: Adaptado de Aguirre e Sztajn (2005).

Figura 1: Processo de mudança institucional

A manutenção do modelo pode ser alterada se passarem a existir forças externas

que ajam sobre ele, capazes de enfraquecê-lo ou de propiciar a renovação de novas organizações. As mudanças que venham a ocorrer serão pequenas em um longo período de tempo, e as restrições informais, profundas e culturalmente incutidas nos padrões comportamentais, que servem de apoio para a solução de crises anteriores, são as mais difíceis de serem alteradas. Essas mudanças geram conflitos que não são acomodados com facilidade. As soluções para os conflitos e a reestruturação do sistema de restrições vão restituindo o equilíbrio na sociedade.

Instituições

Mudança institucional

Percepção subjetiva dos agentes, motivação,

conhecimento

Organizações

Poder de barganha

Direitos de propriedade,

custos de transação,

preços relativos

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A evolução institucional leva também a uma forte relação de dependência com o grau de sua complexidade, seja em relação à configuração estrutural, seja em relação aos propósitos a que deve servir. Assim sendo, a NEI demonstra que, embora a inércia seja importante para a instituição, é justamente ela que impulsiona a sua mudança. Dessa forma, a dependência de trajetória (path dependence) alia novas concepções institucionais às já existentes, modificando-as ou completando-as, mas de uma forma ou de outra tornando-se mais complexa. Após esse processo, a inércia surge novamente, o que assegura estabilidade e segurança. Conquanto possa parecer contraditório, o processo de mudança institucional surge da própria estabilidade e é nesse sentido que avança.

As diferenças entre o processo de mudança das instituições formais e das informais é significativo, sobretudo pela forma como se dá esse processo e pela velocidade com que tais transformações são feitas. North (2004, p. 15-16) identifica essas diferenças:

A mudança incremental decorrerá de alterações das regras formais, através de modificações estatutárias ou legislativas. Por outro lado, as mudanças feitas nas restrições informais surgirão de uma gradativa erosão das normas aceitas ou convenções sociais, ou ainda da gradativa adoção de novas normas e convenções à medida que se altera a própria natureza das relações políticas, sociais ou econômicas.

Tanto o ambiente quanto o arranjo institucionais são mutáveis no tempo – por

forças internas ou externas ao seu próprio nível de análise. No primeiro caso, uma mudança na definição de direitos de propriedade, por exemplo, pode alterar o corpo de leis que regula o ato de se estabelecer um contrato – outro elemento do ambiente institucional. No segundo caso, o aparecimento de uma estrutura hierárquica com regras particulares pode implicar novas formas contratuais entre os indivíduos ou organizações que se relacionam com essa nova forma hieráquica (FARINA et al, 1997). 2.4 O Sistema Agroindustrial (SAG) da carne de frango do Brasil

O Sistema Agroindustrial (SAG) da carne de frango brasileiro é composto por um conjunto de agentes que desempenham atividades inseridas dentro de um sistema, produzindo bens que serão utilizados como insumo em outras atividades (no caso dos produtores de rações e medicamentos ou também no caso dos incubadores) conseguintes na cadeia ou também produzir produtos finais que destinam-se exclusivamente para a venda (como os cortes de frango, que destinam-se ao mercado) - Figura 2.

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FONTE: Adaptado de Martins (1996, apud VIEIRA; VIEIRA JÚNIOR, 2006).

Figura 2 – SAG da carne de frango – setores e agentes participantes

Cada uma das etapas desempenha funções particulares, que podem ser realizadas por meio de diferentes estruturas organizacionais. A Figura 3 apresenta as formas de gerenciamento adotadas no país, apesar de destacar a existência de estruturas de governança diferenciados, especialmente na relação do abatedouro com os produtos (SILVA e SAES, 2007). A busca por competitividade e redução de incertezas fez com que, no Brasil, se destacasse o papel das integrações e parcerias no segmento de criação e engorda de frangos até a data de abate. Por meio destas formas de estruturação dos agentes, produtores rurais e agroindústrias firmam contratos assumindo mútuas responsabilidades. Geralmente, o produtor rural tem funções como engordar as aves recebidas (provenientes dos incubatórios) até a data de abate, sendo que rações, medicamentos e vacinas são responsabilidades atribuídas à empresa, que arca com seus custos. ETAPA DE

PRODUÇÃO GERENCIAMENTO

Avozeiros Realização de pesquisa genética feita no exterior, com importações vindas, sobretudo, dos Estados Unidos e da Europa Matrizeiros As empresas, após importar os ovos, produzem suas próprias matrizes. Incubatórios A produção de pintos de um (1) dia é feita por meio de integração vertical nas principais empresas, com compra eventual

de terceiros para aumentar a produção própria. Produção de ração As grandes empresas produzem a ração utilizada pelos produtores parceiros, com venda eventual para terceiros.

Vacinas e medicamentos

Adquiridos pelas empresas fora do sistema de integração vertical, sendo que os pintos de um (1) dia que saem dos incubatórios já são vacinados. Posteriores medicamentos necessários são comprados pela empresa e repassados aos

produtores parceiros.

Avozeiros

Matrizeiros

Incubatórios

Produtores rurais

Abatedouros Frigoríficos

Mercado interno

Exportação

Fábricas de equipamentos, medicamentos, rações, vacinas

e material sanitário

Importação de ovos de avós

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Terminação de aves Realizada por produtores rurais parceiros. Abate de aves Feito pela empresa em seus próprios estabelecimentos. Colocado como central na SAG da carne de frango, é a partir dele

que a organização é realizada, tanto a montante como a jusante. Cortes e

industrialização Os cortes são feitos geralmente em salas anexas aos abatedouros, embora produtos mais elaborados e de maior valor

agregado sejam feitos em indústrias próprias para isso, anexas ao abatedouro. Transporte Geralmente é terceirizado, com exceção de serviços especializados.

Comercialização As grandes empresas mantém filiais comerciais em mercados-alvo. Mercado Embora o mercado interno ainda seja preferencial, há exportações para mercados estrangeiros, como a Arábia Saudita,

União Européia, Rússia e China.

FONTE: Adaptado de Dalla Costa (2000, apud DALLA COSTA, 2008, p. 321). Figura 3: SAG da carne de frango – etapas de produção e modos de gerenciamento.

Quanto à representação institucional dos agentes da SAG da carne de frango, tal

função é atribuída à União Brasileira de Avicultura – UBA - entidade que representa a avicultura nacional junto ao Governo Federal, ao Congresso Nacional e ao Poder Judiciário, com atuação voltada à busca de sanidade, qualidade e legislação que assegurem o pleno e contínuo desenvolvimento do setor. Aglutinadas em torno da UBA, encontram-se a Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Carne de Frango (ABEF), a Associação Brasileira dos Produtores de Pinto de Corte (APINCO), a Fundação Apinco de Ciência e Tecnologia Avícola (FACTA), a Associação dos Criadores de Avestruz (ACAB) e demais associações estaduais e setoriais, granjas de multiplicação genética, empresas produtoras de frango de corte e ovos, frigoríficos, produtores de perus, fornecedores de insumos e prestadoras de serviços. 2.4. Mercado e Direito Como se pode observar no mencionado sistema agroindustrial, até que os produtos sejam colocados no mercado há um longo processo que pressupõe a ação organizada de diversos agentes econômicos. Para que o resultado pretendido – colocação dos produtos no mercado de forma a satisfazê-lo e mediante a maior remuneração possível para os agentes – a influência de duas instituições pode ser posta em destaque: o mercado e o Direito. Na sua conotação perante os Estados organizados, o Direito se associa às instituições formais. Engloba uma série de normas e outras fontes jurídicas, como a jurisprudência e os princípios gerais, voltados à organização da vida em sociedade e, por diversas ocasiões, à minimização dos efeitos negativos decorrentes da diversidade econômica e informacional dos indivíduos. Não há Estado, assim como não se pode conceber um mercado dissociados de elementos jurídicos. Mesmo nas organizações políticas de caráter menos interventivo, ao menos o direito de propriedade, o papel desempenhado pelo contrato e os elementos de coerção para a garantia da eficácia de ambos são garantidos pela ordem jurídica. As relações jurídicas econômica não se desenvolveriam sem a noção de propriedade, as riquezas teriam dificuldade em circular não fosse a utilização dos instrumentos contratuais, e, quando ameaçados, somente a ordem jurídica poderá garantir a sua executividade. Logo, há quem conteste a naturalidade de um mercado (IRTI, 2003) que longe de brotar de uma espontaneidade social, na verdade se instala sob bases institucionais formais, alicerçadas na (maior ou menor) estabilidade da organização social.

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O mercado, por sua vez, pode ser mais ou menos influenciado pelas normas jurídicas, a depender da opção interventiva do Estado. Mesmo se inegavelmente submetido a uma certa dosagem de intervenção – no mínimo aquela que decorre do Direito e de suas garantias relativas ao direito de propriedade e ao contrato- , o mercado, a seu turno, também se converte numa instituição. Também ele influencia as condutas dos agentes econômicos, forçando adaptações das quais depende a própria manutenção desse agente num determinado mercado, ou estimulando condições negociais economicamente bem assimiladas. No caso da agroindústria, muito embora seja normalmente posto em destaque o mercado consumidor – como o mercado final- todo o sistema de produção perpassa por diferentes mercados, todos de alguma forma submetidos ao Direito, exemplo de instituição formal, e ao mercado específico, exemplo de instituição informal, e ambas as instituições repercutem na economia dos negócios. Por exemplo, nas diversas fases da produção e comercio de aves estratificadas no item anterior, na etapa de produção “Avozeiros”, caracterizada pela busca do ovo, normalmente a partir de matrizes estrangeiras e das pesquisas genéticas desenvolvidas no exterior, o Direito aparece e interfere sob vários ângulos: na disciplina da propriedade intelectual relacionada às pesquisas cientificas no país de origem, na disciplina do mesmo direito no país receptor (e o pagamento de royalties), no regramento do direito de propriedade sobre o produto do ovo e sobre a potencialidade de geração de novas matrizes, além da incidência de normas de comércio internacional, dentre outras. A noção de mercado também é perceptível quer seja no mercado de laboratórios que operam com pesquisas genéticas, seja no mercado de exportação das matrizes e outros. Assim, a cada etapa do ciclo fica patente a influência de instituições formais e informais, e a existência ou alteração destas instituições carrega a potencialidade de produção de efeitos que podem interferir no comportamento dos agentes econômicos como estratégia de preservação. Tais efeitos merecem ser analisados. 3. METODOLOGIA

A pesquisa ocorreu no período entre os meses de agosto de 2009 a março de 2010. Neste trabalho são analisadas normas governamentais (instituições formais) que regulam a atividade avicultora na cadeia de frango de corte, bem como os impactos que tais regras visam ter sobre os agentes que participam da atividade no Brasil. Identifica-se quais são as principais características das leis (Portarias, Instruções Normativas, Resoluções e demais regulamentos), bem como de que maneira tais leis que constituem o ambiente institucional formal do SAG da carne de frango buscam influenciar nas tomadas de decisões das organizações e indivíduos que estão inseridos na atividade. Assim sendo, utiliza-se o arcabouço teórico da Nova Economia Institucional para abordar o problema, por considerar-se que é o mais adequado para lidar com a temática das instituições.

Quanto ao ponto de vista sobre a forma de abordagem do problema, esta é uma pesquisa qualitativa. A interpretação dos fenômenos e a atribuição de significados são básicas no processo de pesquisa qualitativa (CORTES, 2002; MENEZES; SILVA, 2001). Não se faz uso, portanto, de métodos estatísticos, característicos da pesquisa quantitativa.

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A análise centra-se no exame dos dados de forma indutiva. Barros e Lehfeld (2000: 62) definem a indução como “um processo mental por intermédio do qual, partindo de dados particulares, suficientemente constatados, infere-se uma verdade geral ou universal não contida nas partes examinadas”. Desta forma, segundo Lakatos (1982, apud BARROS; LEHFELD, 2000: 63), deve-se considerar três elementos fundamentais para a indução: a observação dos fenômenos e verificação de suas causas; a descoberta da relação que eles apresentam;e, a generalização desta relação, de maneira indutiva, ainda que muitos fenômenos não tenham sido observados.

Conforme Barros e Lehfeld (2000), a pesquisa aproxima-se do descritivo, pois o pesquisador descreve o objeto de pesquisa, procurando relatar precisamente as características e a freqüência de ocorrência de um determinado fenômeno, bem como suas inter-relações com os demais fenômenos. De acordo com Gil (1988: 38), este tipo de pesquisa objetiva primordialmente a descrição das características de uma população ou fenômeno selecionado e o estabelecimento de relações entre as variáveis.

A pesquisa documental e a pesquisa bibliográfica compõem a pesquisa do tipo descritivo. A pesquisa bibliográfica tem como objetivo a assimilação de conhecimento por meio de informações obtidas em materiais de diversos meios (BARROS; LEHFELD, 1990; BARROS; LEHFELD, 2000). A pesquisa documental, por sua vez, é definida por Gil (1988) como aquela que faz uso de dados que não receberam nenhum tratamento analítico. Assim sendo, esta pesquisa pode ser considerada do tipo bibliográfico e documental, pois são adequadas às características apontadas pelos autores. Destarte, as Instruções Normativas, Portarias, Resoluções e demais decisões legais analisadas foram extraídas por meio de consulta em material eletrônico do Sistema de Legislação Agrícola Federal – SISLEGIS -, sistema on-line que possibilita o acesso a decisões tomadas no âmbito do Ministério da Agricultura. Além deste, para realização desta pesquisa, utilizou-se de material bibliográfico, com revisão de literatura sobre o tema proposto em fontes como revistas, livros e periódicos. Ademais, não se pretende debater a constitucionalidade ou não de tais leis, mas sim discutir de que modo elas procuram afetar a atividade econômica em questão, propiciando melhor compreensão do ambiente institucional formal brasileiro e de que modo este procura influenciar nas decisões dos agentes econômicos 4. O AMBIENTE INSTITUCIONAL FORMAL DA AVICULTURA DE FR ANGO DE CORTE BRASILEIRA De acordo com Nogueira (2003), é possível encontrar a influência do ambiente institucional em vários momentos da história da avicultura nacional. O autor cita o caso da decisão das autoridades econômicas de permitir a atuação de empresas estrangeiras de genética avícola no Brasil, que passaram a produzir avós e matrizes no país nos anos 60. A iniciativa, segundo ele, dificultou o desenvolvimento tecnológico nessa área por empresas brasileiras, sendo que hoje este segmento é tradicionalmente controlado por algumas empresas multinacionais de grande porte.

Outro exemplo da histórica influência do ambiente institucional sobre o SAG da carne de frango no Brasil, também citado por Nogueira (2003), é a intervenção do governo de Fernando Henrique Cardoso, em 1995, criando um programa de crédito rural específico

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para os sistemas de parcerias entre avicultores e agroindústrias. Em meio à crise provocada no agronegócio devido ao Plano Real, os recursos foram alocados por meio das agroindústrias, que os repassavam aos produtores rurais parceiros.

O processo de abertura comercial, da desregulamentação dos setores produtivos agroindustriais e da crescente participação do Brasil no comércio internacional dos anos 90 criou profundas mudanças sobre a estrutura competitiva e organizacional dos agentes (FARINA et al, 1997: p. 173).

De um modo geral, para todos os agentes econômicos inseridos no SAG da carne de frango há regras comuns, como o Código de Defesa do Consumidor, outras normas aplicáveis aos agentes da cadeia, a situação macroeconômica, e, especialmente, as normas tributárias. Quanto às normas legais aplicáveis ao setor, pode-se perceber uma constante influência do ambiente institucional nos aspectos tangentes ao atendimento de regras específicas ligadas à exigência dos mercados, especialmente quando se refere às características sanitárias e de higiene na cadeia de carne de frango, com especial ênfase na produção nos aviários e no processo de abate. Reconhece-se, ainda, uma crescente preocupação em prevenir e combater doenças, inclusive como forma de consolidar e expandir o mercado para exportação, exigente em relação à qualidade da carne consumida. A Instrução Normativa - IN - n° 78, de 03/11/2003 e publicada na edição n° 215 de 05/11/2003 do Diário Oficial da União - DOU, por exemplo, aprova as Normas Técnicas para Controle e Certificação de Núcleos e Estabelecimentos Avícolas como livres de Salmonella Gallinarum e de Salmonella Pullorum e Livres ou Controlados para Salmonella Enteridis e para Salmonella Typhimurium. Dentre outras medidas, no Anexo da IN n° 78 consta que:

Capítulo I [...] 2. Para proceder ao comércio nacional e internacional e a transferência, no âmbito nacional, de seus produtos, o núcleo ou estabelecimento avícola deverá estar certificado como livre de Salmonella Gallinarum e Salmonella Pullorum e livre ou controlado para Salmonella Enteritidis e Salmonella Typhimurium. [...] Capítulo IX [...] 1. Em aves ou ovos férteis de reprodutoras importadas e aves de linhas puras, bisavós e avós nascidas no Brasil: 1.1. Constatando, nas colheitas oficiais, positividade para Salmonella Gallinarum, Salmonella Pullorum, Salmonella Enteritidis e Salmonella Typhimurium – sacrifício/abate do núcleo e eliminação de todos os ovos, incubados ou não, provenientes dos núcleos afetados. 2. Matrizes: 2.1. Constatando-se, nas colheitas oficiais, positividade para Salmonella Gallinarum, Salmonella Pullorum – sacrifício/abate do núcleo e eliminação de todos os ovos, incubados ou não, dele provenientes. 2.2. Constatando-se positividade nas colheitas oficiais para Salmonella Enteritidis e Salmonella Typhimurium, haverá cancelamento da certificação de livre e o núcleo ou estabelecimento avícola passará a ser considerado controlado [atendendo a determinados critérios]. [...] Capítulo XII [...] 3. A comercialização de ovos de reprodutores provenientes de núcleos infectados por S. Enteritidis e S. Typhimurium não pdoerá ser feita para consumo humano, salvo quando autorizados pelo DDA ou DIPOA segundo as normas específicas do SIF. (BRASIL – MAPA, Secretaria de Apoio Rural e Cooperativismo, 2003a)

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Com essas normas, percebe-se uma clara influência do ambiente institucional formal da SAG da carne de frango para a criação de uma avicultura nacional livre de microorganismos do gênero Salmonella, por meio do cerceamento ao direito de comércio dos estabelecimentos que apresentem aves com essas doenças.

A IN n° 17, de 07/04/2006, publicada no DOU de n° 69 de 10/04/2006, tem como ementa a aprovação, no âmbito do Programa Nacional de Sanidade avícola, do Plano Nacional de Prevenção da Influenza Aviária e de Controle e Prevenção da Doença de Newcastle em todo o território nacional. Dentre outras normas, destaca-se o Art. 12:

Art. 12. A participação de aves [...] em eventos agropecuários, como feiras, exposições, leilões, e outras aglomerações animais, será autorizada somente quando aquelas forem procedentes de estabelecimento certificados como livres de Mycoplasma e Salmonella (BRASIL – MAPA, Secretaria de Defesa Agropecuária, 2006).

A proibição de participação em eventos de aves que apresentem microorganismos

do tipo Salmonella e Mycoplasma é um bom incentivo às empresas e produtores rurais, uma vez que, com o interesse crescente do mercado (interno e externo) em busca de produtos de qualidade, tais eventos são muito importantes, pois significam uma possibilidade de fazer novos acordos comerciais. Além disso, uma empresa que é proibida de participar de eventos, por ter aves apresentando doenças, pode ter sua reputação e renome prejudicados, o que também poderá prejudicar os negócios.

A interferência do ambiente institucional para a formação de restrições ao direito de comércio àquelas empresas que não possuam aves saudáveis também pode ser encontrada na IN n° 44, de 23/08/2001 e publicada no DOU de 24/08/2001. Esta IN aprova as Normas Técnicas para o Controle e a Certificação de Núcleos e Estabelecimentos Avícolas para a Micoplasmose Aviária (Mycoplasma gallisepticum, synoviae e melleagridis). Como indicado no Capítulo I do Anexo - item 3:

3. Os estabelecimentos importadores ou compradores de material genético de linhas puras, bisavós e avós deverão obter previamente a garantia ou a certificação da origem, como livre de micoplasmas [...]. (BRASIL – MAPA, Secretaria de Defesa Agropecuária, 2001)

A Portaria n° 210, de 10/11/1998, publicada no DOU de 26/11/1998, aprova o

Regulamento Técnico da Inspeção Tecnológica e Higiênico-Sanitária de Carne de Aves, com regras específicas sobre instalações e equipamentos relacionados com a técnica de inspeção “ante mortem” e “post mortem”. Quanto ao matadouro em si, encontra-se nesta IN normas sobre a localização do local de abate, seus equipamentos, instalações, rede de esgoto, paredes, portas, janelas, teto, iluminação, ventilação, pé direito. Quanto ao manejo do abate das aves, há normas sobre a recepção destas, sobre o processo de insensibilização, sangria, escaldagem, depenagem, evisceração, pré-resfriamento, gotejamento, embalagem e transporte, dentre outras.

Há também exigências legais que se referem à identificação dos produtos (tanto input quanto output) do SAG da carne de frango. Neste sentido, encontram-se sob normas específicas as embalagens que envolvem os produtos, as aves e ovos férteis que são importados para fins de reprodução e os medicamentos a serem utilizados. A IN n° 22, de 24/11/2005 e publicada na edição n° 226 de 25/11/2005 do DOU, por exemplo, aprova o Regulamento Técnico para Rotulagem de Produto de Origem Animal Embalado. Por sua

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vez, a IN n° 89, de 17/12/2003, publicada no DOU n° 246 de 18/12/2003, mas republicada em virtude de reconsiderações técnicas, também se relaciona à características de produtos, aprovando o Regulamento Técnico de Identidade e Qualidade de Aves Temperadas. Destacam-se as regras quanto à importação de pintos, de ovos férteis, de linhagens consangüíneas (bisavós), de linhagens para cruzamentos (avós), as atividades de empresas avozeiras e de estabelecimentos que se dedicam à multiplicação de material genético avícola, que são tratadas pela IN n° 6, de 02/06/2003. Ela estipula limites quantitativos para a importação de pintos de um dia e ovos férteis de matrizes para reprodução e de híbridos comerciais, no caso de matrizes para testes de desempenho por estabelecimentos avozeiros. A participação da UBA é decisiva no processo de importação destes insumos, como indicam os artigos 6° e 7°:

Art. 6° Nos processos de importação de material genético avícola [...], será exigido parecer técnico prévio emitido pela UBA – União Brasileira de Avicultura, como entidade mantenedora do Banco de Dados da avicultura brasileira [...], com base nos indicadores de produção apresentados pelas empresas produtoras de plantéis de multiplicação e na observância dos estabelecimentos avícolas para efeito de registro. Art. 7° As empresas avozeiras encaminharão à UBA – União Brasileira de Avicultura – relatório de cada aquisição de avós produzidas no Brasil [...], para atualização do Banco de Dados [...]. (BRASIL – MAPA, 2003)

A IN n° 36, de 07/06/2002, publicada no DOU de 11/06/2002, tornou obrigatória a

venda sob prescrição de médico veterinário de produtos farmacêuticos de uso veterinário que contenham acepromazina, azaperone, boldenona, butorfanol, cetamina, diazepan, estanozolol, propofol, romifidina, tartarato de ergometrina, testosterona, tetracaína, tiletamina, xilazina, zolazepan, embutramida e iodeto de mebezônio. Os estabelecimentos fabricantes, importadores, distribuidores e comercializadores, além disso, ficaram obrigados a manter cadastro (que é emitido às autoridades) de nome e endereço dos compradores, além de registro da quantidade adquirida por cada um. Assim sendo, estes estabelecimentos ficam sujeitos a controle especial, devendo atender a determinações específicas.

A IN n° 22, de 02/06/2009 e publicada no DOU de 04/06/2009, é vigente até hoje, sendo que altera a IN n° 29, de 14/06/2007 e regulamenta a embalagem, rotulagem e propaganda dos produtos destinados à alimentação animal. Foi alterada pela IN n° 66, de 16/12/2009 e pela IN n° 30, de 05/08/2009. A IN n° 66, publicada no DOU de 17/12/2009, altera: a IN n° 15, de 26/05/2009; a IN n° 22, de 02/06/2009 e; a IN n° 30, de 05/08/2009. Todas tratam, entre outros temas, da embalagem, rotulagem e propaganda de produtos destinados à alimentação animal. Dentre outras medidas, a IN n° 66 publicada alonga os prazos previstos nas Instruções Normativas anteriores.

Os critérios e procedimentos para o registro de produtos, para rotulagem e propaganda e para isenção da obrigatoriedade de registro de produtos destinados à alimentação de animais de companhia são estabelecidos pela IN n° 30, que também que altera: a IN n° 29, de 14/06/2007, que “aprova os procedimentos para a importação de produtos destinados à alimentação animal” (BRASIL – MAPA, 2007a); a IN n° 22, de 02/06/2009; e a IN n° 15, de 26/05/2009 .

A Resolução n° 4, de 29/10/2002, dispõe sobre os Testes de Gotejamento. Essa Resolução

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[...] estabelece como limite o valor médio de 6% para o teste de gotejamento, relativo à quantidade de água absorvida em carcaças de aves congeladas, sem levar em consideração as variáveis que interferem no processo [...]. (BRASIL – MAPA, Secretaria de Defesa Agropecuária, 2002b)

A quantidade de água encontrada na carcaça superior ao valor médio estabelecido

pode gerar punições aos infratores, sendo que as carcaças de aves congeladas apreendidas em decorrência da violação do Teste de Gotejamento deverão ser devolvidas ao estabelecimento de origem ou outro do mesmo grupo industrial e destinada ao reprocessamento (cortes, recortes, industrialização ou outros) a critério do DIPOA/SDA/MAPA. Todavia, a Resolução n° 1, de 21/12/2007, publicada no DOU de 24/12/2007, revoga a Resolução n° 4, assim permanecendo desde então.

Outras interferências do ambiente institucional formal sobre o SAG da carne de frango encontram-se nas regras quanto ao registro de estabelecimentos avícolas, tanto para fins de reprodução como também para fins comerciais. Nesse sentido atuam, como exemplos, a IN n° 56 e a IN n° 15. A IN n° 56, de 04/12/2007 e publicada no DOU de n° 06/12/2007 (e posteriormente alterada pela IN n° 59, de 02/12/2009), relaciona-se com a IN n° 61 de 05/12/2008 e aprova normas para registro, fiscalização e controle dos estabelecimentos avícolas de reprodução e comerciais. Por sua vez, a IN n° 15, de 26/05/2009, publicada no DOU de 28/05/2009, regulamenta o registro dos estabelecimentos e dos produtos destinados à alimentação animal. Altera, dentre outras, a IN n° 13, de 30/11/2004, e a IN n° 4, de 23/02/2007. Foi alterada pelas IN n° 66, de 16/12/2009 e pela IN n° 30, de 05/08/2009. 5. CONCLUSÕES Este trabalho apresentou, à luz da Nova Economia Institucional, elementos relacionados às instituições do Sistema Agroindustrial (SAG) da carne de frango, ou seja, as regras para as quais a cadeia da carne de frango, de montante a jusante, está sujeita, principalmente em relação aos aspectos técnico-sanitários que visam, em geral, assegurar um padrão de qualidade aos produtos nacionais. No ambiente institucional em que se insere, o SAG se submete às instituições formais e informais correlacionadas. No ambiente formal, proliferam as normas relacionadas à prevenção de doenças e outras normas sanitárias, as quais estão, por sua vez, inseridas numa ordem jurídica que assegura o direito de propriedade e a sua transferência por meio dos contratos. Já, na seara das instituições informais, o próprio mercado, ou mais propriamente, os mercados que se sucedem no sistema de produção e comercialização das aves criam novas demandas de comportamento para os agentes econômicos ou provocadas pelas absorções do mercado em relação à vida fática, ou decorrentes das próprias instituições formais impositivas de comportamentos econômicos. Constatou-se que medidas foram tomadas para a regularização da questão da prevenção e combate à doenças avícolas, especialmente à salmonelas e à gripe aviária. Outras exigências legais referem-se à identificação dos produtos ligados ao SAG da carne de frango, com destaque para as embalagens, para as matrizes importadas e para os

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medicamentos veterinários. Além destas, há também regras específicas quanto ao registro de estabelecimentos avícolas, tanto para fins de reprodução como também para fins comerciais. Tais medidas contribuíram para o desenvolvimento do agronegócio na região, funcionando como instituições indutoras da economia local, conduzindo os agentes econômicos à adoção de práticas compatíveis com os mercados internacionais e normas auxiliares à saúde pública. É notória a influência do ambiente institucional sobre a cadeia produtora de carne de frango, uma vez que, por meio das possíveis formas de governanças alternativas em função da competitividade que se apresenta para o setor. Do mesmo modo, os interesses dos agentes envolvidos estarão sempre presentes influenciando o ambiente organizacional e tecnológico da cadeia, influenciando a modelagem do ambiente institucional. Assim sendo, o debate sobre o ambiente institucional da cadeia de carne de frango não se extingue com este trabalho. 6. REFERÊNCIAS

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