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III Colóquio Sociedade, Políticas Públicas, Cultura e Desenvolvimento-CEURCA, ISSN 2316-3089. Universidade Regional do Cariri-URCA, Crato Ceará-Brasil 745 A INFLUÊNCIA DO TRABALHO DOS ACSs NO ACOMPANHAMENTO DOS HIPERTENSOS: UM ESTUDO DE CASO NO BAIRRO ALTO DA PENHA EM CRATO (CE) Área Temática: Gestão econômica, social e ambiental Rafaela Araújo Vieira 1 Westennaklyfya David Sousa 2 Wellington Ribeiro Justo 3 Camila Pereira Brígido Rodrigues 4 RESUMO: A saúde da população tem desdobramentos em vários setores da economia o que tem levado economistas a dedicarem esforço de pesquisa nesse campo. Nesse sentido este artigo tem como objetivo identificar os determinantes que afetam a probabilidade de internação de pacientes hipertensos no Bairro Alto da Penha no Município de Crato-Ce no ano de 2012. Trabalhou-se com dados secundários da Secretaria Municipal de Saúde. Os resultados apontam que não há diferença na probabilidade de internação entre homens e mulheres, mas pessoas mais novas têm maior probabilidade de internação. A política pública de saúde preventiva mostra-se eficiente, pois pacientes que aferem com frequência a pressão apresentam menor probabilidade de internação. Houve indicação de diferença significativa na probabilidade de internação a depender da área de atuação dos agentes. PALAVRAS-CHAVES: Agentes de Saúde, hipertensos, Modelo Logit. 1. INTRODUÇÃO A hipertensão arterial, conhecida popularmente como pressão alta transformou-se numa epidemia no mundo moderno. Pessoas com pressão arterial elevada estão mais propensas a apresentar comprometimentos vasculares, tanto cerebrais, quanto cardíacos, porque na hipertensão ocorre o estreitamento dos vasos. Por causa dessa vasoconstrição, o coração precisa fazer mais força para bombear o sangue, fica hipertrofiado e a circulação sanguínea é comprometida. Vasos mais estreitos também são responsáveis por menor fluxo de 1 Graduanda em ciências econômicas pela Universidade Regional do Cariri URCA. [email protected] 2 Graduanda em ciências econômicas pela Universidade Regional do Cariri URCA. [email protected] 3 Professor Associado do Curso de Economia da URCA. Doutor em Economia pelo PIMES (UFPE). [email protected] 4 Graduanda em ciências econômicas pela Universidade Regional do Cariri URCA. Bolsista FUNCAP [email protected]

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A INFLUÊNCIA DO TRABALHO DOS ACSs NO ACOMPANHAMENTO DOS

HIPERTENSOS: UM ESTUDO DE CASO NO BAIRRO ALTO DA PENHA EM

CRATO (CE)

Área Temática: Gestão econômica, social e ambiental

Rafaela Araújo Vieira1

Westennaklyfya David Sousa2

Wellington Ribeiro Justo3

Camila Pereira Brígido Rodrigues4

RESUMO: A saúde da população tem desdobramentos em vários setores da economia o que tem

levado economistas a dedicarem esforço de pesquisa nesse campo. Nesse sentido este artigo tem como

objetivo identificar os determinantes que afetam a probabilidade de internação de pacientes

hipertensos no Bairro Alto da Penha no Município de Crato-Ce no ano de 2012. Trabalhou-se com

dados secundários da Secretaria Municipal de Saúde. Os resultados apontam que não há diferença na

probabilidade de internação entre homens e mulheres, mas pessoas mais novas têm maior

probabilidade de internação. A política pública de saúde preventiva mostra-se eficiente, pois pacientes

que aferem com frequência a pressão apresentam menor probabilidade de internação. Houve indicação

de diferença significativa na probabilidade de internação a depender da área de atuação dos agentes.

PALAVRAS-CHAVES: Agentes de Saúde, hipertensos, Modelo Logit.

1. INTRODUÇÃO

A hipertensão arterial, conhecida popularmente como pressão alta transformou-se

numa epidemia no mundo moderno. Pessoas com pressão arterial elevada estão mais

propensas a apresentar comprometimentos vasculares, tanto cerebrais, quanto cardíacos,

porque na hipertensão ocorre o estreitamento dos vasos. Por causa dessa vasoconstrição, o

coração precisa fazer mais força para bombear o sangue, fica hipertrofiado e a circulação

sanguínea é comprometida. Vasos mais estreitos também são responsáveis por menor fluxo de

1 Graduanda em ciências econômicas pela Universidade Regional do Cariri – URCA. [email protected] 2 Graduanda em ciências econômicas pela Universidade Regional do Cariri – URCA. [email protected] 3 Professor Associado do Curso de Economia da URCA. Doutor em Economia pelo PIMES (UFPE). [email protected] 4 Graduanda em ciências econômicas pela Universidade Regional do Cariri – URCA. Bolsista FUNCAP

[email protected]

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sangue no cérebro. Segundo Carvalho et al. (1995) a hipertensão arterial eleva o risco de

problemas cardiovasculares colaborando para incrementar as taxas de mortalidade e os custos

socioeconômicos.

A hipertensão é um mal silencioso. A ausência de sintomas retarda o diagnóstico que,

muitas vezes, é feito quando as complicações já estão instaladas. A única maneira de saber se

a pessoa apresenta o problema é medir sua pressão com certa regularidade.

A hipertensão arterial possui natureza multicausal e seus principais fatores de risco são

classificados como modificáveis, estilo de vida, tabagismo, sedentarismo, alimentação

inadequada e outros, entre eles se evidencia a associação direta com a obesidade e com o

excesso de peso. O sexo, a idade e algumas variáveis socioeconômicas são potenciais

confundidores da relação entre excesso de peso e pressão arterial, pois essas variáveis estão

associadas à massa corporal.

A hipertensão arterial representa sério problema de saúde pública.Segundo o

levantamento do Ministério da Saúde através da Vigilância de Fatores de Risco e Proteção

para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel 2011), a hipertensão arterial atinge

22,7% da população adulta brasileira. O diagnóstico em mulheres (25,4%) é mais comum do

que entre os homens (19,5%).

Por a pressão arterial ser um mal silencioso foram adotadas algumas medidas, sendo a

principal a necessidade de controle, controle este que é feito por acompanhamento dos

agentes comunitários de saúde (ACS) com a assistência do programa saúde da família (PSF).

Entende-se a prática do Agente Comunitário de Saúde (ACS) como uma prática social,

legitimada pelo contexto político-social do setor saúde, em face ao fazer cotidiano dos

profissionais que compõem a equipe de saúde da família, na perspectiva da integralidade da

atenção. Logo, o não acompanhamento adequado das pessoas hipertensas pode além de causar

muitas mortes e, também elevar os custos com internação hospitalar nos municípios.

Nesse contexto este artigo procura analisar os determinantes da internação hospitalar

das pessoas hipertensas do Bairro Alto da Penha na cidade do Crato (CE) em 2012.

A contribuição deste trabalho se dá pela ausência de estudos nesta temática na área

focada neste estudo, a utilização dos dados mais recentes disponíveis e pela aplicação do

modelo.

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O referido estudo encontra-se estruturado além da introdução em mais quatro seções.

Na segunda parte está contido o referencial teórico, a terceira seção contem a metodologia

adotada, a quarta seção apresenta os resultados e discussões e por fim as conclusões.

2. REFERENCIAL TEÓRICO

De acordo com o Ministério da Saúde, há algumas décadas, as doenças do aparelho

circulatório ou cardiovasculares são a primeira causa de morte no Brasil. Dentro desse

contexto, a hipertensão arterial representa uma das situações clínicas que atingem o aparelho

circulatório, e também, um dos principais fatores de risco para outras doenças como as

cerebrovasculares, as vasculares, as isquêmicas do coração e a diabetes melitus, contribuindo

para elevar os índices de morbidade e mortalidade (RIBEIRO., 1996; ACHUTTI &

ACHUTTI., 1997).

É conhecida a crescente prevalência de doenças crônicas não transmissíveis nas

populações, especialmente obesidade e hipertenção arterial. A hipertensão arterial (HA) é uma

doença crônica, considerada um grave problema de saúde publica em todos os estratos

socioeconômicos. É uma síndrome clinica caracterizada pela elevação da pressão arterial

(SILVA & SOUZA., 2004). Segundo a Sociedade Brasileira de Hipertensão, (2004), o

hipertenso é todo indivíduo adulto, maior de 18 anos, com valores de pressão arterial sistólica

igual ou maior do que 130 mmHg ou com pressão arterial diastólica igual ou superior a 85

mmHg, em pelo menos duas medidas realizadas em ocasiões diferentes. Brasil (2001), afirma

que a pressão arterial ideal é aquela menor que 120 sistólica e 80 diastólica. O ministério da

Saúde (MS) considera este valor ideal onde há menos risco para o aparelho cardiovascular.

Quase sempre, acompanham esses achados de forma progressiva, lesões nos vasos

sanguíneos com consequentes alterações de órgãos alvos como cérebro, coração, rins e retina.

Geralmente, é uma doença silenciosa: não dói, não provoca sintomas, já decorrem de

complicações (SILVA & SOUZA, 2004). Quando se encontra em estado avançado,

proporciona lesões graves em órgãos alvo como coração, rins, retina, cérebro, que podem

levar à dependência física ou até a morte (CHAVER et al., 2006). Sua prevalência é alta e

aumenta em faixa etária maiores (FUCHS., 1994).

A identificação de fatores de risco para hipertensão arterial, tais como: a

hereditariedade, a idade, o gênero, o grupo étnico, o nível de escolaridade, o status

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socioeconômico, a obesidade, o etilismo, o tabagismo e o uso de anticoncepcionais orais

(VARGAS et al., 2000), muito colaboram para o avanço na epidemiologia cardiovascular, e

consequentemente, nas medidas preventivas e terapêuticas dos altos índices pressóricos que

abarcam os tratamentos farmacológicos e não farmacológicos (PETRELLA., 1999)

Outro aspecto que merece consideração é a modificação no perfil da população

brasileira com relação aos hábitos alimentares e de vida, que indica uma exposição cada vez

mais intensa a riscos cardiovasculares. A mudança nas quantidades de alimentos ingeridos e

na própria composição da dieta provocou alterações significativas do peso corporal e

distribuição da gordura, com o aumento progressivo da prevalência de sobrepeso ou

obesidade da população. Adicione-se a isso a baixa frequência à prática de atividade física,

que também contribui no delineamento desse quadro (COITINHO et al., 1991; MONTEIRO

& CONDE., 1999).

Recentemente vem sendo, também, associados o consumo de potássio, cálcio e

magnésio, os quais atenuariam o progressivo aumento dos níveis pressóricos com a idade

(KOTCHEN & KOTCHEN., 1997). A atividade física também apresenta intima relação com

os níveis de pressão arterial tanto em adultos como em crianças. Já se evidenciou que

crianças com pior condicionamento físico apresentam maiores níveis de pressão arterial, tanto

em repouso como durante o esforço, e que a melhora de aptidão funcional aeróbica foi

acompanhada por uma diminuição das cifras pressóricas.

O arsenal terapêutico para doenças crônicas, como hipertensão arterial, recebe

frequentemente novos medicamentos. Atualmente não faltam ensaios clínicos que apresentem

novas drogas ou esquemas de outras associações já conhecidas (STRASSER et al., 2007;

RAMOS VILAMIL et al., 2007). Seu tratamento requer mudanças dietéticas e

comportamentais, além de rigor ao seguir a prescrição medicamentosa. E, ainda, os desfechos

prevenidos por esses cuidados são de longo prazo: lesão de órgãos-alvo e mortalidade

(GUSMÃO et al., 2009).

O controle da hipertensão arterial envolve o tratamento farmacológico e não

farmacológico. O tratamento farmacológico é indicado para hipertensos moderados e graves,

e para aqueles com fatores de risco para doenças cardiovasculares e/ou lesão importante de

órgão salvo. No entanto, poucos hipertensos conseguem o controle ideal da pressão com um

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único agente terapêutico e, muitas vezes, faz-se necessária a terapia combinada,

principalmente em indivíduos idosos e com morbidades relevantes (OPARIL, 2001).

A terapia medicamentosa, apesar de eficaz na redução dos valores pressóricos, da

morbidade e da mortalidade, tem alto custo e pode ter efeitos colaterais motivando o

abandono do tratamento (SHOJI & FORJAZ., 2000).

O tratamento anti-dipertensivo, tem como principal objetivo, reduzir a morbidade e

mortalidade cardiovascular. No entanto, parcela importante da população adulta com

hipertensão não sabe que é hipertensa, e muitos dos que sabem não estão sendo

adequadamente tratados (TOSCANO., 2004 ).Junto com o tabagismo, diabetes e dislipidemia

constitui-se um importante fator de risco para as doenças vasculares responsáveis por 30% das

mortes (HAMET., 2000). Assim, a falta de controle da hipertensão arterial é um desafio para

os profissionais da saúde. (PIERIN et al., 2001).

Conforme a Organização Mundial de Saúde (2003), aspectos inerentes ao sistema de

saúde e à instituição também podem prejudicar a adesão ao tratamento. Serviços de saúde

pouco desenvolvidos, sistema de distribuição de medicamentos ineficaz, sobrecarga de

trabalho dos profissionais de saúde com consequente redução de tempo nas consultas e

aumento no tempo de espera, dificuldade de acesso ao serviço e distância, falta de

conhecimento e de treinamento de funcionários administrativos e de saúde, incapacidade do

sistema para educar pacientes e prover seguimento são os principais fatores que podem

influenciar a adesão ao tratamento.

Equipes interdisciplinares bem estruturadas levam ao aumento da adesão ao

tratamento e, consequentemente, a melhores índices de controle. A enfermeira exerce papel

importante dentro da hipertensão arterial, abrangendo aspectos que vão desde a participação

em programas de detecção precoce, até o desenvolvimento de estratégias para garantir adesão

ao tratamento. Isto tem levado a um maior esforço no desenvolvimento de estudos, enfocando

a educação e orientação do cliente como parte integrante do cuidado de enfermagem

(ARAUJO, 1999).

Por tanto, estamos diante de uma situação de saúde publica, onde se faz necessário

somar esforços de todos os envolvidos, buscando a reorganização da atenção primária, tendo

como estratégias principais a prevenção destas doenças, suas implicações e a promoção da

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saúde, objetivando assim, sem duvidas, modificações do quadro atual da saúde no país

(CUNHA, 2009).

Nesse contexto este artigo procura analisar os determinantes da internação hospitalar

das pessoas hipertensas do Bairro Alto da Penha na cidade do Crato (CE) em 2012.

3. METODOLOGIA

3.1 Agentes Comunitários de Saúde

O Agente Comunitário de Saúde surgiu em 1991 através do convênio entre a

Fundação Nacional de Saúde e a Secretária de Estado da Saúde, é um profissional suigeneris5,

proveniente de sua comunidade, tendo que residir na própria área de trabalho há pelo menos

dois anos, conhecedor da realidade local, sendo fundamentais os aspectos de solidariedade e

liderança e que trabalha com a descrição de famílias em base geográfica definida. É

responsável pelo acompanhamento de no máximo750 pessoas.

A profissão de ACS foi criada pela Lei n° 10.507, de 10 de julho de 2002, e seu

exercício dar-se exclusivamente no âmbito do Sistema único de Saúde e sob a supervisão do

gestor local em saúde.

O Agente Comunitário de Saúde integra as equipes do PACS e PSF, realiza atividades

de prevenção de doenças e promoção da saúde, por meio de ações educativas em saúde nos

domicílios e coletividade, em conformidade com as diretrizes do SUS, e estende o acesso às

ações e serviços de informação e promoção social e de proteção da cidadania.

Segundo o Ministério da Saúde(2002), também são atribuições dos ACS: analisar as

necessidades da comunidade; atuar nas ações de controle de doenças e promoção e proteção

da saúde; participar das reuniões da equipe de saúde e da comunidade. Seus principais

instrumentos de trabalho são: a entrevista, a visita domiciliar, o cadastramento das famílias, o

mapeamento da comunidade e as reuniões comunitárias.

Os agentes comunitários de saúde visitam domicílios periodicamente; assistem

pacientes, dispensando-lhes cuidados simples de saúde sob orientação e supervisão de

profissionais da saúde; orientam a comunidade para promoção da saúde; rastreiam focos de

doenças específicas; promovem educação sanitária e ambiental; participam de campanhas

5Locução Latina que significa “do gênero próprio”. Que não se acha noutro. Igual, original, particular, singular.

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preventivas; incentivam atividades comunitárias; promovem comunicação entre unidade de

saúde, autoridades e comunidade; participam de reuniões profissionais.

Conforme o Manual do ACS, no Estado do Ceará o Programa de Agentes de Saúde

surgiu como meta do Plano de Governo do Estado e tinha como objetivo geral melhorar a

capacidade da comunidade de cuidar da sua própria saúde. O agente de saúde teria o papel de

facilitar o autocuidado, identificando demandas que necessitavam de atendimento,

principalmente a atenção às crianças para debelar a mortalidade infantil. Em 1991, o

Ministério da Saúde instituiu o Programa Agente Comunitário de Saúde (PACS) em outros

municípios do país tendo como base a experiência do Ceará com o PAS.

3.2 Programa Saúde da Família

No ano de 1994 o Ministério da Saúde criou o Programa de Saúde da Família (PSF),

entendido como uma proposta estruturante do Sistema de atenção à saúde, com objetivo de:

Colaborar decisivamente na organização do Sistema Único de Saúde e na

municipalização, implementando os princípios fundamentais de universalização,

descentralização, integralidade e participação comunitária (...). O PSF prioriza as

ações de proteção, promoção à saúde dos indivíduos e da família, tanto adultos

quanto crianças, sadios ou doentes, de forma integral e contínua. (Ministério da

saúde. Brasil, 1994, p.10-1)

Desde sua institucionalização, o Programa de Saúde da Família vem assumindo

relevância no discurso político, institucional e social no âmbito do Ministério da Saúde

(Souza, 2001), com a implementação de mecanismos de alocação de recursos e outros

dispositivos de financiamento.

A partir de 1998, o programa é concebido pelo conjunto dos atores institucionais em

âmbito nacional, estadual e municipal como importante norteador para o desenvolvimento de

sistemas locais de saúde, ganhando status de estratégia de reorientação assistencial (Souza,

2001).

O Programa Saúde da Família (PSF) destacasse entre as estratégias de saúde por ser

uma tentativa de transformar as práticas da atenção à saúde e o trabalho dos profissionais que

nele atuam, sendo, até mesmo, considerada a alavanca para a transformação do sistema como

um todo. Como estratégia inerente à atenção primária, guarda como propósito, além de

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centrar a atenção na saúde e dar ênfase à integralidade das ações, focalizar o indivíduo como

um sujeito integrado à família e à comunidade.

Desde sua criação, o PSF é uma estratégia que vem se estendendo por todo o território

nacional. Entretanto, o crescimento do número de equipes não implica, necessariamente, uma

alteração real das transformações nas áreas da saúde.

Uma das especificidades que chama a atenção na proposta inicial do PSF diz respeito à

atuação dos profissionais. Além da capacidade técnica, os participantes das equipes precisam

se identificar com uma proposta de trabalho que, muitas vezes, demanda criatividade,

iniciativa e vocação para trabalhos comunitários e em grupo.

3.3 Área de Estudo

O bairro Alto da Penha possui uma população de 4.038 pessoas segundo pesquisa

realizada pelo censo de pesquisa IBGE em 2010. Está localizado na cidade do Crato na área

urbana.

Figura 1-Localização do bairro Alto da Penha no Município de Crato (CE).

Fonte: Google maps(2013).

Para obter as informações referentes aos hipertensos que são acompanhados pelos

agentes e utilizam os serviços dos postos de saúde (PSF), foram considerados todos os

agentes comunitários de saúde do bairro Alto da Penha do Crato, que são exatamente seis

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agentes, segundo a Secretaria de Saúde do Crato. Tem-se um total de 253pessoas hipertensas

assistidas pelos agentes.

O modelo empírico utilizado é o logit. Segundo Gujarii (2011) aregressão logísticaou

modelo logit tem como objetivo produzir, a partir de um conjunto de observações, um modelo

que permita a predição de valores tomados por uma variável discreta, frequentemente binária,

a partir de uma série de variáveis explicativas contínuas e/ou binárias. É útil para modelar a

probabilidade de um evento ocorrer como função de outras variáveis. É um modelo linear

generalizado que usa como função de ligação a função logit.

Segundo Hill et al. (2010) Se L é uma variável aleatória logística, então sua função

densidade de probabilidade é dada por:

A função de distribuição acumulada correspondente, diferentemente da distribuição

normal, tem uma expressão de forma fechada, que torna a análise, em alguma medida, mais

fácil. A função de distribuição acumulada para uma variável aleatória logística é dada pela

expressão:

No modelo logit, a probabilidade p de que o valor observável y assuma o valor 1 é

expressa por:

A Estimação do modelo é feita pela maximização da função de verossimilhança.

As variáveis utilizadas na identificação dos determinantes da internação hospitalar dos

hipertensos são: Sexo, Idade, Remps (recebe remédios em outro posto), Upsf (utiliza o PSF),

1

[ ]1 l

F l p L le

1 21 2 1 2

1

1x

p P L x F xe

2

( ) ,1

l

l

ef l l

e

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Vpressão: (verifica pressão), Fop(frequenta outro PSF), Dummys: dagente2 dagente3

dagente4 dagente5 dagente6, Hops (se foi internado).

4. Resultados e Discussões

A tabela 1 traz a estatística descritiva das variáveis.Observa-se na Tabela 1 que do

total de 253 hipertensos que são acompanhados pelos agentes comunitários de saúde e

utilizam os serviços dos PSF no bairro Vila Alta em Crato (CE) apresentam o seguinte perfil:

66,67% são mulheres; a idade média é de 59,77 anos; 22,22% utilizam o PSF; 72,22%

verificam a pressão; 27,78% foram hospitalizados pelo menos 1 vez; 50% frequentam outro

posto e 72,22% recebem remédios. A variável que apresta maior dispersão conforme pode ser

visto pelo Coeficiente de Variação é a variável UPSF seguida da variável HOSP. A menor

dispersão verificada é na variável idade, ou seja, há uma relativa homogeneidade na idade dos

hipertensos assistidos pelos agentes de saúde no bairro em comparação com as demais

variáveis.

TABELA 1: Estatística Descritiva

Variável Média MIN MAX DP CV

Sexo 0.67 0 1 0.48 0.72

Idade 59.78 45 86 10.96 0.18

UPSF 0.22 0 1 0.42 1.92

VPRESSAO 0.72 0 1 0.46 0.63

HOSP 0.278 0 1 0.46 1.65

FOP 0.50 0 1 0.51 1.02

REMPS 0.72 0 1 0.46 0.63

Fonte: Elaborado pelos autores com base nos dados da Secretaria de Saúde do Município de Crato (CE).

O resultado da estimação do modelo logit pode ser visto na tabela 2. Verificou-se que

os coeficientes das variáveis Idade, VPressão e das dummies dos agentes 3, 4 5 e 6 são

significantes. Cerca de 12% das internações dos hipertensos do bairro estudado é explicada

pelo modelo. Apesar do sinal negativo da dummy Sexo, como o coeficiente são é significativo

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indica não haver diferença na probabilidade de internação entre homens e mulheres

hipertensas no bairro Vila Alta.

Um resultado não muito intuitivo é que há menor probabilidade de internação para

pessoas com menor idade haja vista que o coeficiente da variável idade é significativo e

apresenta sinal negativo. Uma possível explicação pode se pela o excesso de autoconfiança

das pessoas mais novas no que diz respeito à saúde e relaxem nos cuidados.

Por outro lado, para os pacientes que verificam a pressão de forma sistemática diminui

a probabilidade de internação, conforme pode ser observado na significância do coeficiente

desta variável e o sinal negativo.

TABELA 2: Probabilidade de pessoa hipertensa do bairro alto da penha ser

hospitalizada

Variáveis Coeficiente T-statistic

Sexo -0,550 (1,02)

Idade -0,036* (1,89)

Vpressão -2,551* (1,96)

Remps -1,275 (1,33)

Upsf 0,498 (0,64)

Fop 0,24 (0,31)

Dagente2 -1,389 (1,58)

Dagente3 -2,507* (2,93)

Dagente4 -2,340* (2,33)

Dagente5 -1,588*** (1,77)

Dagente6 -1,380*** (1,78)

Constante 0,241 (0,15)

Número de observações: 253Pseudo

R2= 0.1262

Fonte: Elaborado pelos autores com base nos dados da pesquisa.

Nota: Foi considerada como referência para cada categoria entre os agentes a seguinte variável: agente1. Denota

que: ***p<0.10** p<0.05; * p<0.01

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As dummies que captam efeitos espaciais entre as áreas de atuação dos agentes de

saúde no bairro Vila Alta trazem informações relevantes. Dito de outra forma, há uma menor

incidência de internações dos hipertensos nas áreas de todos agentes 3, 4 5 e 6 me comparação

à área de atuação do agente 1 conforme a significância e o sinal negativo destas variáveis.

Contudo, destacam-se as áreas dos agentes 3 e 4 pois além de apresentarem coeficientes

maiores apresentam maior significância, ou seja, são significantes a 1% enquanto nas demais

os coeficientes são significantes a 10%. Não há diferença nas internações, contudo entre a

área de atuação dos agentes 1 e 2. Ou seja, nestas duas áreas há maior probabilidade de

internação entre os pacientes hipertensos. Este resultado merece uma investigação por parte

da Secretaria Municipal de Saúde de Crato para identificar possíveis causas desta constatação.

5. CONCLUSÃO

A questão da saúde pública no Brasil tem sido objeto de discussões e de estudos por

pesquisadores de várias áreas. Os economistas têm desprendido esforços nos estudos neste

campo de pesquisa por tratar de grandes somas de recursos públicos e privados utilizados

pelos agentes, por afetar a produtividade e ter outros encadeamentos na economia.

Neste sentido este estudo buscou identificar os determinantes da internação hospitalar

dos moradores do Bairro Vila Alta no Município de Crato-Ce que são hipertensos. Foram

utilizadas informações censitárias de 253 pacientes assistido por 6 agentes de saúde no ano de

2012.

O estudo mostrou que o perfil médio destes pacientes é constituído por mulheres com

idade de 59,7 anos e que 72% verificam com frequência a pressão e recebem medicação dos

órgãos públicos.

Os resultados do modelo apontam que na população assistida há maior probabilidade

de internação de pessoas mais jovens e que não há diferença significativa entre homens e

mulheres. Por outro lado, há indicação da eficiência da política pública de saúde preventiva

através do programa de agentes de saúde, haja vista que há menor probabilidade de internação

para aqueles pacientes que aferem com frequência a pressão. Contudo, um fato que merece

maior atenção é a diferença significativa na probabilidade de internação dos hipertensos a

depender da área de atuação dos agentes de saúde.

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APENAS UM RIO QUE PASSA: EMBATES ENTRE A NATUREZA E A

SOCIEDADE CRATENSE

3. Gestão econômica, social e ambiental;

Marilyn Ferreira Machado6

Antônia Lucivânia da Silva7

Cícero Edinaldo dos Santos8

RESUMO: Este trabalho pretende discutir a relação entre sociedade e natureza, destacando o

planejamento urbano e as políticas locais para a gestão do Rio Granjeiro localizado no município sul

cearense de Crato. Nesse trabalho almejamos analisar o Rio Granjeiro em seu contexto histórico e

social. A problemática central que iremos abordar está direcionada a gestão desse manancial.

Adotamos como teoria a História Ambiental estabelecendo uma ponte em oposição à historiografia

tradicional possibilitando um novo conceito sobre esse espaço. A temática sobre a questão ambiental é

historicamente nova e se caracteriza com a incoerência resultante do modelo de desenvolvimento

capitalista e a possibilidade de conservação da natureza. Seguindo o pressuposto de que: “Para

permanecer uma ciência, a história deve se mexer, progredir; mais que qualquer outra, não pode

parar.” (BLOCH,1944:20). A história vem se apresentando mais aberta a dialogar com outras áreas

como podemos destacar a afinidade entre a história e o meio ambiente. Destacaremos quais eram os

fatores envolvidos na intensificação dos impactos ambientais provocada pelo processo de urbanização

desordenado em diferentes períodos. Dessa forma a sociedade sofreu algumas consequências como as

doenças em especial na primeira e segunda década do século XX.

Palavras-chave: social, natureza, planejamento urbano.

INTRODUÇÃO

Este trabalho pretende discutir a relação entre sociedade e natureza, destacando o

planejamento urbano e as políticas locais para a gestão do Rio Granjeiro localizado no

município sul cearense de Crato. Partindo dessa afirmação analisaremos este espaço em seu

contexto histórico e social.

6 Graduada em História pela Universidade Regional do Cariri- URCA e aluna da pós-graduação em História

Contemporânea pela Faculdade de Juazeiro do Norte- FJN. [email protected] 7 Graduada em História e Especialista em História e Sociologia pela Universidade Regional do Cariri-

[email protected] 8 Graduado em História pela Universidade Regional do Cariri- URCA e Mestrando em Educação pela

Universidade Federal do Ceará[email protected]

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É comum haver uma preocupação significativa com a escolha da escala temporal nas

pesquisas por parte dos historiadores. Todavia, é igualmente relevante pensar a historicidade

dos espaços nas discussões. Logo, é preciso compreender os “espaços como sendo criações

humanas e não apenas receptáculos passivos ou cenários dos acontecimentos humanos”

(ALBUQUERQUE, 2008:58). Essa ação humana é a produção do espaço. A alteração do

ambiente é resultado da atuação dos homens agindo sobre o próprio espaço.

Dessa feita a modificação do espaço é chamada de paisagem artificial, a qual é

transformada pelo homem, enquanto rudemente chamamos de paisagem natural aquela que

ainda não foi modificada pelo esforço humano. A natureza artificial procede de trabalho vivo

sobre que é considerado morto. Isto ocorre nas cidades, nas grandes casas, edifícios, ruas, rios

canalizados, entre outros; “são resultados do trabalho corporificado em objetos culturais.”9 A

paisagem é um conjunto de configurações heterogêneas, de idades diferentes. Pedaços de

tempos históricos que trazem representações das distintas maneiras de produzir as coisas, e de

arquitetar o espaço. Para compreender melhor o que é paisagem nos apoiamos no conceito de

Milton Santos.

Tudo aquilo que nós vemos, o que nossa visão alcança, é a paisagem. Esta pode ser

definida como o domínio do visível, aquilo que a vista abarca. Não é formada

apenas de volumes, mas também de cores, movimentos, odores, sons, etc.

(SANTOS, 1988:23)

Para a realização dessa pesquisa inicialmente coletamos fontes primárias e secundárias

sobre o tema. O acervo consultado está disponível no Instituto Cultural do Cariri- ICC10

localizado na cidade de Crato- CE. Utilizamos também estudos de teóricos que seguem a

corrente da História Ambiental. Com base no que aqui foi referido pretendemos escrever uma

parte da História do Rio Granjeiro para desenvolvermos o presente estudo.

Adotamos como teoria a História Ambiental estabelecendo uma ponte em oposição à

historiografia tradicional possibilitando um novo conceito sobre o espaço. A temática sobre a

9SANTOS, Milton. Metamorfoses do espaço habitado, fundamentos teórico e metodológico da geografia.p.

24 10

Durante as comemorações do centenário de emancipação política do Crato, surgiu a ideia de criação do

Instituto Cultural do Cariri (ICC), fundado em outubro de 1953. Sua finalidade é reunir apologistas da arte,

cultura e ciência de abrangência regional. Atualmente o ICC possui sua sede localizada a Av. Maria Maildes de

Siqueira (antiga Rua Rui Barbosa), Praça Coronel Filemon Teles, n. 1, Centro, Crato/CE.

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questão ambiental é historicamente nova e se caracteriza com a incoerência resultante do

modelo de desenvolvimento capitalista e a possibilidade de conservação da natureza.

Atualmente a História dialoga com outras áreas. Um exemplo disso é a afinidade entre

História e meio ambiente. Partindo desse pressuposto destacaremos os fatores envolvidos na

intensificação dos impactos ambientais provocados pelo processo de urbanização desordenado

em diferentes períodos. Uma vez que a sociedade sofreu diversas consequências em especial

na primeira e segunda década do século XX com o processo de (des) construção do canal do

Rio Granjeiro.

Este rio encontra-se totalmente inserido na área sedimentar municipal do distrito de

Belmonte. Nasce na encosta da Chapada do Araripe, ocupa uma área total de 20,96 km² e

apresenta 10,3 km de extensão. Esse rio teve grande influência no processo de ocupação e

povoamento, a maior concentração populacional é exatamente em áreas adjacentes deste, os

rios Batateiras e Saco-Lobo. (RIBEIRO, 2004: 17).

Destacaremos ainda como a população reivindicava melhorias e quais foram às

medidas adotadas para minimizar ou sanar esses problemas. Essas indagações e o diálogo

com a bibliografia e as fontes primárias nortearão o estudo do tema no espaço delimitado.

OS NOVOS DESAFIOS DE CLÍO

Tomando como base o que diz Marc Bloch (1944:20):“Para permanecer uma ciência,

a história deve se mexer, progredir; mais que qualquer outra, não pode parar.” A história vem

se mostrando aberta aos novos domínios de Clio, como podemos citar a relação entre História

e natureza que até a década de setenta encontrava-se adormecida.

Como já foi aqui referido a nossa discussão está pautada no conceito de História

Ambiental, pois atualmente os historiadores têm conduzido suas indagações de maneira

sistemática em direção à natureza, a ponto de criarem uma nova “ramificação” de estudos: a

“História Ambiental” que se preocupa em incorporar no estudo da sociedade as variáveis

ambientais. Assim, não se deve perder de vista a ideia inicial de relacionar às novas

abordagens historiográficas às transformações sociais e políticas.

Esta ciência resulta de um projeto “reformista” de alguns historiadores que pretendem

combinar a história natural com a história social, ou seja, colocar a sociedade na natureza, o

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que implica em “atribuir aos componentes naturais objetivos a capacidade de condicionar

significativamente a sociedade e a cultura humana” (DRUMMOND, 1991:180).

Em sua obra Os Historiadores e os Rios: natureza e ruína na Amazônia brasileira

Victor Leonardi (1998) aborda uma vertente substancial a qual faz sua obra se tornar uma

referência para a área de meio ambiente e para as ciências humanas. O estudo sobre meio

ambiente e história não aparecem de forma isolada como ocorrem com frequência em outros

trabalhos. O autor trata do desenvolvimento da cidade de Airão, um grupo populacional

localizado às margens do rio Jaú, afluente do rio Negro. Atualmente, a cidade é conhecida

como Velho Airão (foi fundada em 1694, mais antiga que a primeira capital do Amazonas).

Os recursos hídricos aparecem como um fator primário na formação dos núcleos

populacionais em diversas áreas. Na cidade do Crato não ocorreu de forma diferente, como

cita Irineu Pinheiro (2010:76)

Em todo o Nordeste, de terra de sêcas periódicas, na escolha dos locais das

povoações preponderou o fator da água sobre outros sobre outros quaisquer,

comerciais, defensivos, estéticos ou religiosos [...].

A cidade de Crato assim como várias outras cidades do país passou por um processo

vertiginoso de urbanização. O acesso à água era de certa forma limitado, nesta ainda não

havia água encanada, grande parte da população era abastecida pelas águas do Rio Granjeiro,

Rio das Piabas que a cortam abastecendo os lares.

O PROCESSO DE URBANIZAÇÃO E SUAS CONTRADIÇÕES

O Cariri é um presente da Serra do Araripe, dela jorram diversas fontes que durante

muito tempo foram utilizadas pela população para suprir suas necessidades. Por esse fato essa

região passou a ser referenciada como um “Oásis no meio do Sertão”. Assim, relatava-se o

espaço do vale caririense. Essa era a visão transmitida pelos viajantes, políticos, escritores,

poetas e habitantes, no século XIX. Como cita Gardner: “Impossível descrever o deleite que

senti ao entrar neste distrito [...] depois de marchar mais de trezentas milhas através de uma

região que naquela estação era um pouco melhor que um deserto.” (GARDNER, 1975: 92)

O município de Crato localiza-se ao sopé da Chapada do Araripe que lhe possibilita

uma significativa disponibilidade de água, a existência de fontes perenes contribuiu para o

crescimento e desenvolvimento do mesmo. As águas da chuva penetram no solo permeável,

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onde se infiltram formando um lençol de água que escorre no vale caririense. Nesse território

a natureza se apresenta com grande generosidade nos dando como a principal riqueza a água

considerada por muitos como “infinita”.

De acordo com Farias (2007) o povoamento da região sul do Ceará, ocorreu de forma

regular em especial nas primeiras décadas do século XVIII. A Missão do Miranda passou a

categoria de vila em 1762, com a nova denominação de Vila Real do Crato. As ruas da vila

eram bem traçadas de acordo com o modelo herdado de Portugal, exceto a Rua das

Laranjeiras que seguia a mesma forma do curso do Rio Granjeiro. A vila que nasceu entre o

riacho do Granjeiro e o da Ponte (Canal da Rua Tristão Gonçalves) teve uma formação

urbanística lenta, devido as suas atividades econômicas primárias como a criação de gado e a

monocultura da cana de açúcar, entre essas a que sobressaiu foi a monoculta da cana de

açúcar.11

O memorialista Paulo Elpídio de Menezes (1985:18-19) em seu livro O Crato de meu

tempo diz que havia cerca de sete ruas paralelas a praça (Francisco Sá). Eram,

concomitantemente, Boa Vista, Rua da Vala, Rua do Fogo, Rua Grande, Formosa, Laranjeira

e Pedra Lavrada. Esta última limitava os seus quintais as margens do Rio Granjeiro que nascia

da Serra do Araripe. Todas cruzadas pela Travessa Califórnia, Rua do Comércio e outras vias

e becos menores.12

A partir da década de cinquenta do século passado a cidade de Crato apresentou um

grande salto no crescimento populacional. A população total incluindo os distritos era de

40.453 habitantes. No ano de 1953 a cidade de Crato comemorava o seu primeiro centenário,

foram inaugurados o obelisco da Praça Três de Maio, Crato Tênis Clube, Prédio Caixeiral e

outros novos prédios foram sendo construídos e a cidade foi ganhando um ar mais moderno.

Nesse período o sistema de abastecimento de água era composto por seis chafarizes, bicas e

torneiras, havia nove ruas com canalização total e vinte e cinco com canalização parcial. O

total de prédios abastecidos era de 1.274.

11

Os principais núcleos populacionais foram fundamentados no tripé: pecuária extensiva, extração aurífera (sem

sucesso) partindo para a monocultura da cana de açúcar, sendo essa a grande responsável pela fixação de grupos

humanos na região. OLIVEIRA, Antonio José de. Engenhos de rapadura do Cariri, 1790- 1850. Dissertação

de Mestrado, UFC, 2003.p. 15 12

Estas ruas hoje são chamadas de Nelson Alencar, Tristão Gonçalves, Senador Pompeu, Dr. João Pessoa, Santos

Dummont, José Carvalho, Pedro Segundo, Bárbara de Alencar e Monsenhor Esmeraldo, respectivamente

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De acordo com (FARIAS, 2007) Quanto maior a quantidade de água encanada na

cidade, maior será a necessidade de uma rede de esgoto eficiente, pois será maior a

quantidade de resíduos despejada pelas residências. Ele ainda ressalta que a cidade de Crato

aparentava ares de modernização, devido a influencia da Belle Époc francesa. A cidade

possuía agora cinema, praças, um seminário, uma Diocese, escolas, um banco, bares, energia

elétrica; tornando-se a capital econômica do Cariri. Apesar de toda a evolução urbana esta

apresentava um sistema de limpeza pública e de saneamento muito precário.

Percebemos que o crescimento populacional veio acompanhado de alguns problemas

de infra-estrutura principalmente na década de sessenta com o êxodo rural. As famílias de

pouca condição financeira foram obrigadas a se acomodarem em locais impróprios para

moradia que resultou em um crescimento urbano desordenado e desestruturado.

Durante muito tempo a população da urbesfez uso de água límpida e potável. Contudo

é válido salientar que esta perdeu sua utilidade, quando passou a receber detritos dos esgotos

urbanísticos. Outro problema que deve ser destacado é a forma como a população organizou

as suas habitações em torno desse rio, de maneira muito rápida e em alguns casos até

desordenada. Tais ocupações juntamente com os esgotos coletados inadequadamente

contribuíram para a proliferação de insetos e de doenças. O que existia e de certa forma ainda

existe são medidas individuais e inadequadas, de forma irregular e precária, como podemos

citar o lançamento do esgoto in natura13

direto no Rio Granjeiro.

A mídia escrita já foi muito utilizada como um meio de reivindicação da população

local. Podemos perceber a veracidade dessa informação no jornal de propriedade de Bruno de

Meneses, Gazeta do Cariri (1918:02) que salienta a forma como se encontrava a iluminação

precária, o abandono da cadeia pública, a imundice que se observava no leito do rio e tantas

outras mazelas. A população sempre fez uso das águas do rio para banhar-se (o horário

determinado para o banho era de cinco às oito da manhã). “A água é boa na Nascente; Mas

corre por meio de sítios, onde a furtam para lavados; e a emporcalham com a lavagem de

corpos e de roupas.”(DAMASCENO; CUNHA, 1961:301-302 apud FARIAS, 2007:103).

Irineu Pinheiro em sua obra O Cariri relata o hábito de lavar roupas nas pedras

próximas aos córregos dos rios e chafarizes. Um costume vindo do Rio de Janeiro que ficara

13

O esgoto sem nenhum tipo de tratamento.

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como herança para a população cratense. A profissão de lavadeira era pertinente somente às

mulheres. Porém, o rio não era somente o local para lavar a roupa, mas também banheiro

público, até o início do século XX.

Pelas manhãs, os banhistas saiam às ruas, levando os seus objetos de uso pessoal: “o

sabonete e a toalha de feltro.” O destino era o Poço da Escada, considerado pelos usuários

como um clube ao ar livre, lugar onde se ocorria os eventos sociais. Esse local era para o uso

masculino, e logo abaixo se localizava o Poço da Panela o qual era destinado ao acesso

feminino. Algumas pessoas de má fétinham o hábito de espionar as mulheres durante o banho,

desgostando os pais e maridos. No município de Granja, no século passado (o autor refere-se

ao século XIX) foi aprovada à lei, “que multava em dezesseis mil réis os que maliciosamente

se ocultarem nas margens do rio, ou outros lugares de banhos, para observar as mulheres se

banharem”.(PINHEIRO, 2010:119-120)

No artigo citado pelo senhor George Herford, diz:

Corromper ou conspurcar a água potável de uso commum ou particular, tornando a

impossível de beber ou nociva a saúde: Penna de prisão cellalar de um a três annos. –

Assim é redigido o artigo 162 do Código Penal [...]. O artigo citado domina

perfeitamente o assunpto do qual estamos a tratar, vemos diariamente o rio servindo

de uma verdadeira lavanderia publica uma grande parte da população occupada em

conspurear as águas, com toda sorte de composição chinica, envenenando aos poucos,

a população que se serve da água do rio para fins domésticos [...]. Julgamos

desnecessario lembra seja que for que a água dessa natureza é extremamente perigosa,

ainda mesmo que não seja nada para satisfazer a sede, e sendo somente na cozinha e

na bacia. Notamos diariamente a lavagem de toda qualidade de roupa immunda, até de

doentes, soffrendo de doenças contagiosas, de anemaes e de doentes, cujas feridas

impetuosas estão contaminando a nossa água com uma quantidade innumera de

substancias venenosas de que e composta a maior parte de sabão de que se utilisam as

lavadeiras [...]. Estamos convencidos que muitos casos de doenças e devido a água

proveniente do rio. Comprehendemos que enquanto o Crato não estiver com água

encanada será quase impossível acabar com estes males [...].14

Ainda no mesmo veículo de comunicação encontramos o apelo da população cratense

pela retirada da lama que se encontra no fundo do rio a mesma aparece como um foco de

moléstias, principalmente na área onde se costuma lavar as vísceras de animais abatidos para

o consumo humano. Ao retirar a camada de areia percebe-se o cheiro fétido, que sai da lama

apodrecida que constitui uma ameaça à saúde pública, com isso o ambiente pode ser

considerado um foco de doenças contagiosas.

14

Jornal Gazeta do Cariri, 30 de junho de 1918, n° 76 p. 02, ICC

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Percebemos ainda no jornal independente O Araripe, o desejo da população exigindo

melhoras nas questões de infra-estrutura e saneamento bem como a reconstrução da principal

ponte do rio. A citada ponte encontrava-se em um estado deplorável, ameaçado aos que ali se

aventuraram em atravessá-la. No mesmo artigo é destacada a questão da limpeza das ruas, que

a um bom tempo não vinha sendo realizado, onde se encontra um amontoado de lixo que

ameaça a salubridade pública e “facilitando a erupção de epidemias.”15

Outro problema enfrentado pela população eram as enchentes frequentes no período

de inverno, como mostra o memorialista Tomé Cabral (1978:81-82) em seu livro Patuá de

Recordações:

Quando havia enchentes o no rio, a garotada alvoroçava-se, invadia as vazantes por

onde corria, atirava-se nas águas barrentas, revoltas e ás vezes perigosas e vinha

descendo, numa algazarra que se ouvia a distância. Davam cambalhotas n’água e

muitas vezes corriam nus por ambas às margens. Acontecia, em algumas ocasiões, a

correnteza arrastar grandes balseiros, que paravam nas curvas do rio ou em lugares

mais estreitos, transformando-os por algumas horas em represas ou pequenas

barragens, o que assanhava ainda mais a meninada, sedenta de novas aventuras. E o

rio prosseguia seu caminho, desviando-se até seu curso e espraiando-se nas

vazantes, para reencontrar o leito, lá adiante.

Uma das medidas pensadas no momento para solucionar as frequentes inundações que

ocorriam na rua da vala foi à canalização do riacho, porém com o passar do tempo e por falta

de um sistema de esgotamento, o riacho canalizado passou a ser o receptor dos esgotos

residuais e de depósito de resíduos sólidos. O Rio Granjeiro também passou por esse processo

de canalização e poluição. A canalização16

também seria uma medida para minimizar as

frequentes inundações como é apresentado por Tavares: o canal, além do recebimento das

águas que não são infiltradas das encostas e descem em direção ao canal, recebe as águas

vindas das residências, colaborando com a poluição dos recursos hídricos e as inundações nos

bairros mais centrais. Outro aspecto, que chama atenção é que essas águas chegam às cidades

vizinhas completamente poluídas. (TAVARES, 2008:15) As imagens abaixo mostram o

processo de canalização do rio.

15

Jornal O Araripe, 03 de julho de 1919 p. 02, ICC 16

A canalização era vista para a época a medida mais adequada para solucionar o problema como mostra o

jornal Estado do Cariri, setembro de setembro 1959, p. 05 “o canal veio sanear e urbanizar uma grande zona da

cidade, antes praticamente imprestável.” Jornal Estado do Cariri, 25 de março 1959, p. 03 “A canalização era

uma obra reivindicada pelos moradores durante muito tempo promovendo o saneamento da área e a urbanização

intensiva.”.

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Foto 01-Ponte da Rua Almirante Alexandrino

Foto 02- Rua Bárbara de Alencar.

As imagens foram extraídas do jornal O Estado do Cariri (setembro de 1959) e

mostram a Ponte da Rua Almirante Alexandrino e a Ponte próxima a Rua Bárbara de Alencar,

respectivamente. As obras de urbanização de alargamento de suas margens para construção da

Avenida José Alves de Figueiredo e a reparação das curvas no decorrer do seu curso são dois

arquétipos bem claros do desejo de humanização do ambiente natural, o homem procura dá

formas mais humanas ao que lhe parece ainda muito primitivo, uma fera bruta.

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Os primeiros estudos para a canalização17

do rio ocorreu durante a gestão do Prefeito

Alexandre Arraes. Essa retificação do rio tinha como função evitar que suas águas invadissem

a cidade. Nas suas margens foram plantadas mudas de bambus na tentativa de combater a

erosão. No mesmo período foi implantado o primeiro sistema de água canalizada, criou-se a

Biblioteca pública municipal, arborização da Praça da Sé, entre outras obras. (FARIAS,

2007:182-183)

Porém, essa obra só foi iniciada no ano de 1959, e entregue ao Departamento

Nacional de Obras de Saneamento e iniciado pela Construtora Beta Limitada, no ano de 1964,

as obras de canalização foram paralisadas durante o período de estiagem, sendo esse período o

mais adequado para o desenrolar dessa obra, justamente quando o nível da água do rio

diminuía, e mais uma vez a mídia escrita foi utilizada na tentativa de ver a então obra

concluída.18

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com o estudo das fontes, concluímos que a situação do rio foi historicamente

construída, através das escolhas de projetos e políticas públicas para a gestão deste manancial.

Acreditamos que a preocupação com a preservação do meio ambiente é de fundamental

importância, visto que nossa vida depende do meio natural.

O esgotamento sanitário era/é problemático, pois até os dias atuais não existe coleta de

esgoto e as águas provenientes dos esgotos domésticos, hospitalares e industriais são lançadas

nos rios da região. A sociedade é, em grande parte, caracterizada na história da ocupação e

modificação do espaço pelo homem. Mais do que conviver, o homem modifica o meio de

forma a atender às suas necessidades e desejos. Esse processo de apropriação e modificação

reflete e retrata a postura da sociedade em cada época, dessa forma evidencia o resultado dos

conflitos de interesses dos múltiplos atores participantes do processo de construção social.

A partir do que foi relatado, o rio passa de afluente para um efluente, ou seja, o

resultado do uso da água nas residências, ou os dejetos gerados apartir desse uso, sem que

tenham sido tratados para que haja uma destinação final adequada.Estes cuidados evitam

17

Esse estudo para a canalização do rio foi elaborado durante a gestão do Prefeito Alexandre Arraes (1937-1943),

onde se destacou com a preocupação do planejamento urbano do Crato. 18

O Nordeste, 23 de agosto de 1964, p. 02, ICC

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possíveis impactos ambientais, como a contaminação daágua, do solo e a disseminação de

doenças, a água do rio aparece como um veículo de doenças contagiosas.

Percebemos que as questões de saneamento em especial a do rio, são repassadas de

gestão em gestão, e até então não foram solucionadas de forma definitiva, apenas são

adotadas medidas paliativas. Uma arma utilizada pela população para obter melhorias na

infra-estrura, saneamento e saúde era a mídia escrita como podemos perceber nos jornais: O

Araripe, O Estado do Cariri, Gazeta do Cariri e O Nordeste.

A alteração do meio ambiente resultará consequentemente em danos ao ser humano.

Cabe a esse procurar adequar o processo de urbanização as características do ambiente

existente, afim de que os danos sejam os mínimos possíveis. Um planejamento urbano

adequado deve levar em consideração os aspectos ambientais visando diminuir os impactos.

Porém essa capacidade é limitada, devendo ao homem conhecê-la e a ela adaptar-se.

Por fim concluímos que os resultados do impacto causado pela ocupação urbana são

perceptíveis. Tais impactos são bastante conhecidos e bem mais antigos do que seus efeitos. A

falta de informação, o modelo econômico e a cultura da população ligada à falta de

planejamento urbano das gestões podem ser um indício das principais causas desse dano

ambiental.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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AS CIDADES MÉDIAS DO HINTERLAND AMAZÔNICO PARAENSE:

URBANIZAÇÃO E DESENVOLVIMENTO EM PERÍODO RECENTE

Valdejane Lopes de Oliveira19

José Raimundo Trindade20

RESUMO

A definição de cidades médias sempre esteve associada de imediato ao seu porte demográfico, porém,

estudos recentes apontam a necessidade de identificar fatores qualitativos associados as suas funções e

os papéis desempenhados por elas, além disso, ainda existe a dificuldade de encontrar um valor

quantitativo que identifique cidade média, já que a escala populacional varia de acordo com a análise.

O presente estudo tem como objetivo investigar se as cidades paraenses com população superior 100

mil habitantes, vivendo em áreas urbanas, não pertencentes à região metropolitana, desempenham

papéis de cidades médias. Dessa forma, serão abordados estudos urbanos referentes à temática, com a

apresentação dos conceitos e suas limitações, logo em seguida, será exposta uma breve

contextualização do processo de urbanização na Amazônia brasileira, e por último será analisado se as

cidades consideradas são capazes de desempenharem papéis de cidades médias.

Palavras-chaves: Cidades médias; Urbanização; Cidades paraenses.

INTRODUÇÃO

O estado do Pará, ao longo das três últimas décadas, vem sofrendo um processo de

transformação estrutural que tem sido observado por meio do crescimento da sua população -

resultante da forte imigração – e também do crescimento e surgimento das novas cidades e

municípios. Parte-se, neste artigo, da premissa de que está em curso uma tendência de

urbanização com grande volume da população em um número reduzido de cidades, e que as

cidades médias ganharam relevância neste processo.

O presente trabalho tem como objetivo investigar as cidades paraenses com população

superior a 100 mil habitantes vivendo em área urbana, que não pertençam a Região

Metropolitana de Belém. Questiona-se se cidades paraenses selecionadas, como alvo da

presente pesquisa, cumprem o papel de cidades médias na primeira década do século XXI.

19

Economista formada pela Universidade Federal do Pará (91) 3349-3180 (91) 8166-0979 e-mail:

[email protected] 20

Professor da Faculdade de Economia e do Programa de Pós-graduação em Economia (PPGE/UFPA),

Telefone: (91) 3248-6845 Celular: (91) 8815-8455, e-mail: [email protected] ou [email protected]

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Embora seja um número pequeno destas cidades, ainda assim, participam com elevado

percentual da população e das atividades econômicas do Estado do Pará.

O critério demográfico tem sido o mais aplicado para identificar as cidades médias,

porém é reconhecido como insuficiente. Assim, discute-se atualmente, os critérios para sua

classificação, centrados não apenas na dimensão demográfica, mas na utilização de outros

aspectos como: localização na rede urbana, funções que a cidade em estudo exerce nas

relações externas, dinâmica e estrutura interna, a forma como ela estabelece relações com as

diversas cidades componentes da sua rede urbana, entre outras.

A fim de verificar se de fato as referidas cidades cumprem o papel de cidades médias,

foram selecionadas algumas variáveis que indicam a capacidade das cidades medias de ofertar

bens e serviços não somente para sua população, mas para os municípios próximos os seus

limites. O artigo está dividido em cinco seções, além desta introdução: inicialmente se discute

os aspectos teóricos que embasam a definição de cidade média; a segunda seção trata da

dinâmica urbana brasileira, suas contradições e, especialmente, a conformação do perfil das

cidades médias nacionais; a terceira seção estabelece parâmetros amazônicos para análise e,

finalmente, na quarta seção, tratamos da dinâmica econômica e demográfica das cidades

médias paraenses.

1. As Cidades Médias sob Perspectiva Teórica dos Estudos Urbanos

Segundo Becker (2010), as cidades médias não possuem um conceito cristalizado,

diferentemente das metrópoles cujas características são bem identificadas a ponto de se

definir territórios institucionalizados. Nos estudos realizados, os autores procuram agrupar

certos parâmetros que identificam as cidades médias. Observa-se, em diferentes trabalhos

realizados, que cada autor adota o melhor conceito a ser usado na sua pesquisa levando em

consideração os objetivos da mesma (AMORIM FILHO & SERRA, 2001). No Brasil, na

década de 70, estudo realizado por Andrade e Lodder (1979 apud PEREIRA, 2005, p. 7)

definiu os centros urbanos de porte médio com população de 50 mil a 250 mil habitantes.

Enquanto que, na mesma década, em outros países, nos quais o foco era a desconcentração

espacial das atividades econômicas, apontavam-se como limite demográfico populações entre

20 mil a 50 mil habitantes.

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Nesse sentido, estudos realizados mais recentemente (ANDRADE & SERRA, 2001;

SANTOS, 2008; SILVEIRA, 2001 apud PEREIRA, 2005, p. 7) confirmam as suposições da

década de 1970, apenas ampliando esse limite demográfico para 100 mil e 500 mil habitantes,

considerando o crescimento populacional demográfico apresentado no Censo Demográfico de

1991, estando incluídas as cidades integrantes de regiões metropolitanas e capitais estaduais.

Segundo Sposito (2001) as cidades médias desta década começaram a ser encaradas como

elementos estratégicos no estabelecimento de redes urbanas equilibradas e motores do

processo de desenvolvimento regional. Santos (2008) adotou para seu estudo o limite inferior

para as cidades médias em 100 mil habitantes, já que o grau de complexidade e os diferentes

bens e serviços os quais devem ser ofertados por estas cidades só seria possível se tivessem

esse patamar mínimo de aglomeração urbana. No entanto, o autor explica que este limiar não

é estático, mas sim dinâmico, pois uma cidade de 20 mil habitantes que era considerada como

média no início do século XX, ao final do mesmo século já não o será.

As diversas análises adotam o parâmetro demográfico para definição das cidades

médias pela facilidade operacional, mas não é o bastante para se discutir o tema, uma vez que

deve ser levado em consideração o aspecto funcional das cidades como uma unidade de

atração dos pequenos centros urbanos, intermediação entre seu entorno e os grandes centros,

recebendo e emanando fluxos materiais e imateriais, bem como, fornecendo serviços e

produtos que as pequenas cidades não dispõem, ou seja, o papel que elas devem exercer na

rede urbana (BECKER, 2010). Para Costa (2002), o parâmetro demográfico e funcional torna-

se insuficiente para definição de cidade média, quando observamos a posição da cidade no

sistema urbano nacional e regional. Isto porque, segundo a autora as políticas implementadas

na França e em outros países apontaram que na maioria das vezes não existia correspondência

entre a dimensão da cidade e as funções por estas desempenhadas, uma vez que a importância

e o papel exercido por estas cidades dependiam de outros fatores, “o contexto regional em que

as cidades se inseriam, o tipo de povoamento e o nível de desenvolvimento econômico de

cada país” (LAJUGIE et al., 1979).

São vários fatores que dificultam a definição de cidades médias com base em critérios

demográficos e funcionais, os quais importa refletir. Por um lado, depende do grau de

urbanização e do sistema de povoamento, por outro lado, depende da própria definição do

conceito de urbano. Fatores como as diferenças na organização político-administrativa e o

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nível de desenvolvimento econômico e social de cada país ou região devem ser levados em

consideração, permitindo um melhor entendimento a necessidade de compreender as

diferenças e os contextos regionais em que se inserem essas cidades (COSTA, 2002).

Segundo Sposito (2004) para considerarmos determinada cidade como média é

necessário que esta possua além da dimensão populacional urbana correspondente a este

porte, desempenhem papéis intermediários entre as cidades pequenas e as metrópoles. A

população das cidades pequenas, polarizadas por uma cidade média, realizam parte do

consumo de bens e serviços, necessários a produção e a vida, nestas cidades. Através destas

cidades é possível observarmos que elas também apresentam as melhores condições para,

dado os ajustes do sistema fordista para o sistema flexível de produção, abrigarem novas

unidades de produção, cumprindo assim não somente o papel de atendimento ao mercado

regional, mas desempenhando importantes funções como elos de um sistema produtivo

global.

Consideramos neste estudo que o termo cidade média é uma construção econômica,

demográfica e geopolítica. A cidade média, desde um certo porte demográfico, que para nós

situa-se entre cem mil e quinhentos mil habitantes, detém condição necessária para

estruturação de mercados e atração industrial, de comércio e serviços; por outro, exerce

certas funções de intermediação, cumprindo papel de ofertante de infraestrutura em diversas

áreas para o seu entorno, isso possibilita o exercício de relações de poder ou polarização em

termos territoriais.

2. A URBANIZAÇÃO E O DINAMISMO DAS CIDADES MÉDIAS BRASILEIRAS

A intensidade e a forma do processo de urbanização e redistribuição da população

brasileira se intensificaram ao longo do século XX. A dinâmica das cidades e o processo de

urbanização modificaram-se ao longo do tempo, acompanhando as transformações da

sociedade em seu conjunto. É somente a partir dos anos 30 que se supera no Brasil a etapa de

desenvolvimento primário-exportador, o surgimento das cidades e a estrutura territorial

estiveram voltadas para os interesses de comercialização ligados aos ciclos produtivos de

monoculturas de açúcar, algodão e café (BAENINGER, 1998).

Para Santos (2008) o processo de industrialização que vai se desenvolver no Brasil,

terá como base essa nova dinâmica, tomando essa região como precursora, principalmente o

seu pólo mais dinâmico, o estado de São Paulo. Estes são os indícios de um início de

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polarização que iria se estender ao longo do tempo, mesmo que em cada período ela se

apresente de forma diferente. Ele observa que o processo de industrialização que se

desenvolve a partir dos anos de 1940-1950, não deve ser tomado no seu sentido estrito, isto é,

considerado apenas como criação de atividades industriais localizadas, mas adotado em sua

mais ampla definição, como processo social complexo, incluindo a formação de um mercado

nacional e também os esforços de dotar de logística e infraestrutura produtiva o território

nacional. A dinâmica da urbanização brasileira nos anos 50 é resultado das altas taxas de

crescimento vegetativo da própria população urbana e do grande fluxo migratório

populacional do tipo rural-urbano, conforme Martine et al (1990). Neste contexto, a

modernização industrial, alguns dos resultados do Plano de Metas (1956-1960) - a expansão

rodoviária e a construção de Brasília - e o início da modernização agrícola, junto à ocupação

de novas fronteiras de recursos acompanharam essa dinâmica de urbanização.

Contudo, será somente a partir da década de 1970 que o Brasil deixou de ser

efetivamente rural, onde naquela década a população urbana representava 55,9%. Após 40

anos, em 2010, no Brasil, são 160.997.894 pessoas vivendo nas cidades, o que nos remete a

um percentual de urbanização de 84,4 %. De 1980 até 2010, as cidades expandiram seu

contingente populacional em 71.753.093 habitantes. Nesse sentido autores, como Abramovay

(apud Andrade e Serra 2001), consideraram que durante as últimas décadas houve um

processo de “desruralização” da população brasileira.

O processo de urbanização no Brasil se deu de forma mais acelerada se comparado

com os países capitalistas mais avançados, “na segunda metade do século XX, a população

urbana passou de 19 milhões para 138 milhões, multiplicando-se 7,3 vezes, com uma taxa

média anual de crescimento de 4,1%. Ou seja, a cada ano, em média, mais de 2,3 milhões de

habitantes foram acrescidos à população urbana” (BRITO, 2006, p. 223). A sociedade

brasileira passava por profundas transformações, as cidades que mais receberam migrantes

nesta nova dinâmica foram as metrópoles, ocasionando um inchaço nestas cidades. Segundo

Trindade (1997) os principais fatores responsáveis para o inchamento das metrópoles era a

falta de uma efetiva reforma agrária e de desenvolvimento das regiões interioranas. Essas

migrações internas que estavam ocorrendo no Brasil se constituíam no elo maior entre as

mudanças estruturais pelas quais a sociedade e a economia passava e a aceleração do processo

de urbanização.

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Esse processo de urbanização gerou uma significativa rede urbana, diferentemente de

outros países latino-americanos que se caracterizam por uma menor densidade de malhas

citadinas (Faria, 1983; BAENINGER, 1998). Conforme a Tabela 1, entre 1950 e 1970

passou-se de 1.826 cidades, no início do período, para 3.850, ao seu final. No entanto, do total

de cidades em 1970, a grande maioria era constituída pelas cidades pequenas (com menos de

20 mil habitantes) que respondiam por 92,83% do total das cidades brasileiras, concentrando

apenas 26,20% da população. Em contraposição, nas 10 cidades brasileiras acima de 500 mil

habitantes residiam 43,47% da população nacional. Em conjunto, as cidades médias e grandes

(99 localidades) alocavam, em 1970, aproximadamente 63% da população residente em

cidades do País.

Tabela 1 - População e números de centros urbanos no Brasil, segundo classes de

tamanho urbano 1950-2010.

1950 1970 1991 2010 Taxas anuais de crescimento

Populacional

Classes de

Tamanho dos

Centros

Urbanos

(1.000 hab.)

Popula-

ção

(1.000

hab.)

Nº de

Centros

Urbanos

% na

popula-

ção

Total

Popula-

ção

(1.000

hab.)

Nº de

Centros

Urbanos

% na

Popula-

ção

Total

Popula-

ção

(1.000

hab.)

Nº de

Centros

Urbanos

% na

popula-

ção Total

Popula-

ção

(1.000

hab.)

Nº de

Centros

Urbanos

% na

popula-

ção

Total

1950/

1970

1970/

1991

1991/ 2010

< 20 5.747 1.745 35,30 13.849 3.574 26,20 21.471 3.736 19,30 32.679 3.915 17,13 4,50 2,10 2,24

Entre 20 e 50 1.623 55 10,00 5.632 177 10,60 13.807 438 12,40 31.379 1.043 16,45 6,40 4,40 4,42

Entre 50 e 100 1.215 16 7,50 3.430 49 6,50 11.357 160 10,20 22.264 324 11,67 5,30 5,90 3,61

Entre 100 e

250 787 4 4,80 4.832 34 9,10 15.896 100 14,30 27.606 184 14,47 9,50 5,80 2,95

Entre 250 a

500 1.237 3 7,60 1.865 6 3,50 11.218 33 10,10 20.962 61 10,99 2,10 8,90 3,35

Entre 500 e

2.000 630 1 3,90 8.363 8 15,80 18.262 20 16,50 28.209 32 14,79 13,80 3,80 2,31

>2.000 5.038 2 31,00 14.935 2 28,20 18.980 4 17,10 27.637 6 14,49 5,60 1,10 2,00

Total Brasil 16.277 1.826 100% 52.906 3.850 100% 110.991 4.491 100% 190.736 5.565 100% 6,10 3,60 2,89

Fonte: IBGE, Censos Demográficos: 1950, 1970, 1991 e 2010. Elaboração própria.

No período 1950/70 as cidades com mais de 500 mil habitantes foram as que mais

contribuíram para o crescimento urbano brasileiro, alcançando os 44% desta população em

1970, contra aproximadamente 35% em 1950. Nesse período, o Brasil passa por várias

transformações tais como a consolidação do parque industrial brasileiro, o padrão locacional

vigente, sobretudo das indústrias de bens de capital e de duráveis (ANDRADE&SERRA,

1998, p. 2). No período posterior 1970/91 a população ainda se encontra bastante concentrada

nos grandes centros urbanos, mas é evidente que a população urbana brasileira passa por um

também notável processo de reversão de sua polarização, no qual as cidades médias (cidades

entre 100 e 250 mil habitantes) cumprem um papel decisivo. O número destas cidades chega

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em 100, representando 14,30% da população nacional, em 1991. O período de 1991/2010

marca uma nova inflexão na estrutura de crescimento e disposição espacial da população

brasileira, por mais que ainda permaneça bastante concentrada nas grandes cidades, observa-

se nesse período um aumento no número de núcleos urbanos em todos os intervalos de

tamanho, isto porque entre 1991/2010 foram criados vários municípios. Analisando o período

mais detalhadamente veremos que o número de centros urbanos com tamanho entre 20 e 50

mil; e 50 e 100 mil habitantes dobraram. Destaque para os centros urbanos entre 20 e 50 mil

habitantes que obtiveram uma taxa de crescimento populacional (4,42) bem superior que a do

Brasil (2,89).

Vale reforçar que a dinâmica econômica e demográfica recente reforçam o perfil

médio das cidades brasileiras sendo que apesar das metrópoles continuarem crescendo,

proporcionalmente mais que o país, observou-se uma forte diminuição no ritmo de

crescimento e “as cidades de porte médio, com população entre 100 mil e 500 mil habitantes,

crescem a taxas maiores do que as metrópoles nos anos 80 e 90 (4,8% contra 1,3%)”

(MARICATO, 2000, p.24). Diversos estudos demonstram a crescente importância das cidades

médias enquanto polos de influências do seu entorno e centros de atração de migrantes. As

cidades médias da Amazônia, por exemplo, funcionavam como cidades de passagem para a

população rural migrante até seu deslocamento definitivo dentro da região ou para algum

centro nacional de grande porte. Penal (2001), por exemplo, aponta em relação as cidades

médias do Rio de Janeiro, a hipótese de que várias dessas cidades possam vir a se instituir em

importantes polos regionais intraestaduais, considerando uma distribuição de benefícios do

crescimento econômico de modo mais progressivo e sustentável. Dessa forma, quanto maior o

número de cidades médias na rede urbana, maior a possibilidade de investimento

disseminado, dada às vantagens locacionais para atividades industriais e, portanto, maior a

oferta de empregos.

4. AS CIDADES MÉDIAS NO CONTEXTO DA URBANIZAÇÃO DA AMAZÔNIA

BRASILEIRA

A intensidade do processo de urbanização na Amazônia é superior à média brasileira

nas últimas décadas. A região não só apresentou um crescimento superior, mas como também

o total equivaleu ao dobro do crescimento do país como um todo, inserindo profundas

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mudanças na estrutura de povoamento (BECKER, 2005). Conforme a Tabela 2, na década de

1970 a população urbana da Amazônia Legal correspondia 37%, na década seguinte, em

1980, esse percentual já era de 46%, passando para 56% em 1991, alcançando em 2000, 69%

e atingindo em 2010, 73%. Segundo Becker (2005) apesar do crescimento mais intenso em

relação as demais regiões, a proporção de população urbana em relação a rural na Amazônia é

menor que nas demais regiões do país, isso porquê no Estado do Maranhão a permanência da

população rural ainda é muito forte, reduzindo a proporção para o conjunto da região.

Verifica-se que nas cinco décadas analisadas a população urbana do Brasil triplicou,

enquanto que a população urbana da Região Norte e da Amazônia Legal aumentaram

aproximadamente em sete e seis vezes, respectivamente. Confirmando o que Becker (2005) já

havia afirmado em relação à disparidade do crescimento da população urbana da Amazônia

com as demais regiões e do próprio Brasil.

Tabela 2 - Taxas de crescimento da população no Brasil, Norte e Amazônia Legal 1970-

2010

Fonte: IBGE/SIDRA entre 1970-2010

A ocupação da Amazônia brasileira se deu através de surtos devassadores originados

pela valorização de determinados produtos no mercado externo. Por volta da década de 1960,

é o Governo brasileiro que comanda o novo ciclo de povoamento regional no contexto de um

projeto geopolítico para a modernização acelerada da sociedade e do território brasileiro.

Desde então, a ocupação regional passou a ser um processo contínuo (BECKER, 1990; 2005).

A política de integração, adotada pelo governo militar, visava à ocupação do vazio

demográfico e o desenvolvimento econômico através de investimentos em infraestrutura,

programas de colonização pública, alocação de incentivos fiscais e linhas de créditos para

atrair empresas para região (BECKER, 2001; LIMA & BARCELLOS, 2002; MELLO, 2006

apud CORTÊS; D`ANTONA, 2010).

Períodos

Taxa Médias Anuais de Crescimento da População (%)

Brasil Região Norte Amazônia Legal

Total Urbana Rural Total Urbana Rural Total Urbana Rural

1970/80 2,7 4,4 -0,6 5,0 6,4 3,7 4,5 6,7 3,0

1980/91 1,9 3,0 -0,7 5,0 6,3 3,4 3,6 5,5 1,7

1991/00 1,6 2,4 -1,3 2,8 4,8 -0,6 2,5 4,9 -1,4

2000/10 1,2 1,6 -0,6 2,1 2,6 0,8 1,9 2,5 0,7

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Para Serra & Fenández (2004) as políticas públicas adotadas pelo Governo para região

amazônica, especificamente em relação à esfera econômica, não conseguiram promover uma

ocupação espacial eficiente e organizada. Mas em contrapartida os investimentos feitos em

infraestrutura contribuíram para a redução do isolamento entre as distantes regiões do país,

colaborando para novas alternativas de investimentos. Para Becker (1990 apud CORTÊS;

D`ANTONA, 2010) as ações da política de integração combinavam a estratégia de criação de

“redes de integração espacial” - rodoviária, telecomunicações por satélite e telefonia, rede

urbana, rede hidroelétrica como insumo à nova fase industrial – à “superposição de territórios

federais sobre estaduais” e indução de fluxos migratórios, para povoamento e mão-de-obra.

O perfil das cidades da região amazônica guarda características fundamentais dessas

políticas de desenvolvimento regional que resultaram na expansão populacional dessas

cidades, carentes de bens, trabalho e serviços públicos adequados para atender sua população.

O estudo realizado por Sathler; Monte-Mór & Carvalho (2009, p. 9) demonstra que a forma

como se dá o crescimento urbano na Amazônia Legal esteve centralmente determinado pelo

modelo econômico primário-exportador que define a dinâmica econômica da região.

Tabela 3 - Evolução da população e densidade demográfica do Brasil, região Norte e dos

estados do Amazonas e Pará, a partir da década de 1900 a 2010.

Anos Brasil Norte Amazonas Pará

População Dens. População Dens. População Dens. População Dens.

1900 17.438.434 2,05 695.112 0,18 249.756 0,16 445.356 0,36

1920 30.635.605 3,60 1.439.052 0,37 363.166 0,23 953.507 0,79

1940 41.236.315 4,84 1.627.608 0,42 438.008 0,28 944.644 0,76

1950 51.944.397 6,10 2.048.696 0,53 514.099 0,33 1.123.273 0,90

1960 70.992.343 8,34 2.930.005 0,76 721.215 0,46 1.550.935 1,24

1970 93.134.846 11.10 3.603.679 1,09 955.203 0,61 2.266.998 1,76

1980 119.011.052 14,23 5.880.706 1,76 1.430.528 0,92 3.403.498 2,81

1991 146.825.475 17,26 10.030.556 2,66 2.103.243 1,34 4.950.060 4,15

2000 169.799.170 19,92 12.900.704 3,35 2.812.557 1,79 6.192.307 4,96

2010 186.989.271 22,43 15.864.454 4,43 3.483.985 2,23 7.581.051 6,07

Fonte: IBGE, Censo Demográfico de 1900-2010.

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A Tabela 3 acima nos apresenta dados dos Censos Demográficos realizados no Brasil.

Observa-se que em um período de 110 anos, 1900 a 2010, a população brasileira foi

multiplicada por 10,72 vezes, passando de 17.438.434 para 186.989.271 habitantes. No

mesmo período, a região Norte teve sua população multiplicada 22,82 vezes e os estados do

Amazonas e Pará, respectivamente, por 13,95 e 17,02 vezes. O aumento do número de

cidades e as mais elevadas taxas de crescimento da população urbana na Amazônia paraense

têm ocorrido na fronteira de colonização e expansão da pecuária do Sudeste (Marabá,

Parauapebas e Redenção); na fronteira do cultivo da soja e da criação da pecuária no Baixo

Amazonas (Santarém) e nas cidades vizinhas a Região Metropolitana de Belém (RMB) tais

como Castanhal (entreposto comercial) e Barcarena (cidade industrial e portuária). O processo

de urbanização da Amazônia assume formas distintas entre a parte Norte e Sul da região. No

Estado do Amazonas a população urbana está concentrada na cidade de Manaus, como uma

consequência do Distrito Industrial, já no Estado do Pará a concentração da população urbana

está dividida entre a RMB e cidades de médio porte.

Os municípios foram multiplicados, de tal forma que, em 2010, a região amazônica já

possuía 771 cidades, número bem superior do que se tinha na década de 1950 que era de 182,

sendo que até a década de 1970 observa-se certa estabilidade nas classes de tamanho dos

municípios. Naquela década, predominaram os municípios com menos de 20 mil habitantes,

no total a maioria era menor que 50 mil habitantes, apenas as cidades de Cuiabá (MT) e

Santarém (PA) estavam no grupo entre 100 e 250 mil habitantes, já São Luís (MA) e Manaus

(AM) estavam no grupo entre 250 e 500 mil habitantes, somente a cidade de Belém (PA)

estava situada entre 500.000 e 2.000.000 de habitantes, mas ainda com população inferior a 1

milhão, concentrando 633.374 habitantes.

Na Tabela 4 a seguir pode-se observar que o grupo de cidades médias, que em 1970

correspondiam a 15 cidades, já na década seguinte ascendia para 31 cidades, crescendo mais

de 100% no período, alcançando em 2010, 58 cidades. Em relação aos pequenos e médios

núcleos a desconcentração é constituída pela multiplicação destes, em 1970 em conjunto eles

correspondiam 94% (311) e aglomeravam 65% (4.615.898) da população total na região, já na

década de 2010 correspondem 88% (682) dos municípios e concentravam 42% (10.291.266)

da população total da Amazônia. Os pequenos e médios núcleos segundo Becker (2005), em

conjunto, constituem a maioria dos núcleos regionais, que correspondem a um padrão móvel e

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instável de urbanização, por apresentarem declínios na sua população à medida que se

verificam o deslocamento das frentes de trabalho e a expropriação dos pequenos lavradores,

ou também por apresentarem um forte crescimento e transformação em núcleo dotado de

funções de pequenos centros de serviços e de centros de circulação e reprodução da força de

trabalho.

O processo de urbanização recente na Amazônia é marcado pelo aparecimento de

novas cidades e pela mudança do tamanho das existentes. Sendo que a dimensão das

mudanças urbanas ocorridas vai além das novas relações econômicas, já que a reestruturação

urbana e intra-regional implica também em uma mudança do modo de vida que influencia

também o meio rural. As cidades vinculadas às indústrias de mineração, madeireira,

siderúrgica e de construção civil têm experimentado novo dinamismo que estão alterando a

rede urbana Amazônica seja através de novos núcleos urbanos, planejados ou espontâneos,

seja pela condição de antigas cidades alcançaram a categoria de centros urbanos regionais.

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2010

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2000

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1980

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p.

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p.

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1970

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238

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2

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Po

p.

Urb

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2.6

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Po

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250

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Po

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Po

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5. DINÂMICA ECONÔMICA E DEMOGRÁFICAS DAS CIDADES MÉDIAS DO

HINTERLAND PARAENSE

Esta seção analisa as cidades médias paraenses, aqui definidas como aquelas que

possuem entre 100 mil e 500 mil habitantes vivendo em área urbana e que não seja capital

estadual ou parte da Região Metropolitana de Belém (RMB)21

, conforme já estabelecido

anteriormente. Considerando que a definição de cidade média não se vincula apenas à

classificação do porte demográfico, mas também às suas funções, e principalmente ao papel

que desempenham na rede regional, nacional e internacional, apontado por Becker (2010).

Além do porte demográfico adotado serão consideradas características como o tamanho

econômico, o grau de urbanização, a centralidade e a qualidade de vida.

Com base nos dados do Censo Demográfico (2010), no Estado do Pará existem seis

cidades com população entre 100 mil e 500mil habitantes residindo na área urbana, sendo que

duas são integrantes da Região Metropolitana de Belém. É o caso das cidades de Ananindeua

e Marituba com 470.819 e 107.123 habitantes, respectivamente. As cidades metropolitanas,

apesar de possuírem o porte demográfico considerado serão excluídas da análise por se

encontrarem na Região Metropolitana e desempenharem o papel de partes da Metrópole

(ANDRADE; SANTOS; SERRA, 2001). As duas cidades por fazerem parte da região

metropolitana acabam perdendo importância no contexto espacial para a cidade de Belém,

tornando-se somente partes do eixo urbano. As demais cidades que se enquadram nesse porte,

mas que não fazem parte da Região Metropolitana e, por este motivo farão parte do nosso

objeto de estudo são: Castanhal, Marabá, Parauapebas e Santarém.

As cidades médias paraenses apresentaram dinamismo demográfico considerável nas

últimas quatro décadas, sendo que parte significativa desse dinamismo deve-se à contribuição

dada pelo processo migratório para estas, como se buscará demonstrar. Na última década os

municípios que mais cresceram demograficamente foram Parauapebas e Marabá, com taxa

média de crescimento anual de 8,0% e 3,3%, respectivamente. Em 2000 o município de

Parauapebas contava com 71.568 habitantes, já em 2010 concentrava 153.908 habitantes. No

caso de Marabá, em 2000 o município possuía 168.020 habitantes e ascende para 233.669 21

O município de Ananindeua possui 471.980 habitantes e está a uma distância de 15 km de Belém, já

Benevides está localizado a 30 Km da capital paraense e concentra 51.651 habitantes, Marituba concentra

108.246 habitantes e está localizado a 20 km de Belém e Santa Barbara do Pará possui 17.141 habitantes,

localizada a 34 km de Belém.

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habitantes em 2010. As cidades de Santarém e Castanhal apresentaram taxa média de

crescimento populacional de 1,1% e 2,5%, respectivamente. Em relação aos municípios das

cidades médias, Santarém é o único que cresceu com taxa inferior a média estadual (2,0%),

conforme a Tabela 4 acima.

Observa-se que no período entre 2000 e 2010 a população urbana do município de

Parauapebas cresceu a uma taxa média de 8,9% ao ano, isto significa dizer que sua população

não somente cresceu a uma taxa superior a do Estado (2,3%), mas como também sua

população urbana mais do que dobrou, enquanto que a população rural cresceu a uma taxa

média de 2,1%. A população rural de Castanhal cresceu a uma taxa superior a da urbana

(4,1% contra 2,4%), o mesmo aconteceu com Marabá (3,5% contra 3,3%), já no caso de

Santarém aconteceu o contrário, a taxa de crescimento da população urbana foi superior a da

rural (1,5% contra 0,3%). Em 1991, Castanhal possuía grau de urbanização de 91%, caindo

para 89% em 2010, o mesmo acontecendo com Marabá, no início do período o município

possuía grau de urbanização de 83% e ao final passa a ter 80%. Em relação a Parauapebas e

Santarém o grau de urbanização é crescente, o primeiro apresenta grau de urbanização de 51%

no início do período, ao final ascende para 90%, no caso de Santarém o grau de urbanização

passa de 68% para 73% ao final do período considerado, porém o padrão santareno ainda é

marcadamente rural, enquanto que Parauapebas rapidamente subordina seu mundo rural ao

urbano.

Tabela 5 - Evolução da população, segundos os municípios das microrregiões 1991 - 2010

Municípios

1991 2000 2010 Taxa de Crescimento

2000/2010 em %

Rural % Urbana % Total Rural % Urbana % Total Rural % Urbana % Total Rural Urb. Total

Castanhal 9.219 9 92.852 91 102.071 13.247 10 121.249 90 134.496 19.771 11 153.378 89 173.149 4,1 2,4 2,5

Marabá 21.233 17 102.435 83 123.668 33.647 20 134.373 80 168.020 47.399 20 186.270 80 233.669 3,5 3,3 3,3

Parauapebas 25.892 49 27.443 51 53.335 12.308 17 59.260 83 71.568 15.218 10 138.690 90 153.908 2,1 8,9 8,0

Santarém 85.044 32 180.018 68 265.062 76.241 29 186.297 71 262.538 78.790 27 215.790 73 294.580 0,3 1,5 1,1

Pará 2.353.672 48 2.596.388 52 49.50.060 2.073.864 33 4.122.101 67 6.195.965 2.387.415 31 5.193.636 69 7.581.051 1,4 2,3 2,0

Fonte: IBGE, Censo Demográfico de 1991, 2000 e 2010.

Analisando os dados publicados pelo último Censo Demográfico e do Departamento

de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS), observa-se que o incremento

demográfico da última década na cidade de Santarém está em função do crescimento

vegetativo e não do processo migratório. Segundo o IBGE o incremento demográfico foi

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32.042 habitantes. O DATASUS informa que no período entre 2001-2009 nasceram 59.300

pessoas vivas e, no mesmo período morreram 9.374 habitantes.

O dinamismo do crescimento demográfico da cidade de Castanhal na última década,

assim como o de Santarém, é dado principalmente em função do crescimento vegetativo. Já

no caso das cidades de Parauapebas e Marabá, o incremento demográfico adquirido na última

década está principalmente em função do forte processo migratório. Segundo o IBGE o

incremento demográfico da cidade de Marabá foi de 65.649 habitantes e o de Parauapebas foi

de 82.340 habitantes. Segundo o DATASUS na cidade de Marabá nasceram 42.154 habitantes

e morreram 9.527 e em Parauapebas nasceram 26.922 e morreram 3.754 habitantes no

período de 2001-2009. Isto quer dizer que na cidade de Parauapebas mais de 70% do

incremento populacional recebido na última década é oriundo de outras localidades. Outra

diferença, entre a composição da população nas quatro cidades, é que do total da população de

Santarém apenas 20,6% não são naturais. Em Castanhal, os nãos naturais correspondem a

38,7%. No caso de Marabá esse percentual chega a ser um pouco mais da metade (51%), já

em Parauapebas o percentual atinge 73%. Tanto em Castanhal como em Santarém a maioria

dos imigrantes é oriunda do Estado do Pará, em relação a Marabá e Parauapebas a maioria dos

imigrantes é de outros Estados brasileiros.

Como antes desenvolvido, para considerarmos determinada cidade como média é

necessário que esta, além da dimensão populacional urbana correspondente a este porte,

desempenhe papéis intermediários entre as cidades pequenas e as metrópoles, sendo centro de

referência para o atendimento de demanda de bens e serviços necessários a produção e a vida,

não só dela mesma, mas como também das cidades pequenas no seu entorno. Dessa forma, no

Quadro 1 foram selecionados alguns serviços e bens, a fim de verificar se as quatro cidades

paraenses que já possuem o limiar populacional urbano considerado para serem cidades

médias são capazes de ofertar bens e serviços para sua população e das cidades em seu

entorno. Com isso, selecionamos as cidades pertencentes às microrregiões correspondentes a

cada uma delas, visto que as cidades menores são polarizadas pelas cidades médias, tornando-

se assim um elo de atração para população destas localidades.

No Quadro 1 abaixo, aponta-se dez indicadores de serviços disponibilizados nestas

cidades que vão desde as atividades de lazer e cultura, assim como os serviços especializados

como a formação de profissionais em instituições de nível superior, exames com diagnósticos

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complexos na área da saúde e de transportes. Observa-se que as cidades médias paraenses

apresentam capacidades pouco diferenciadas em ofertas de bens e serviços. A cidade de

Santarém, por exemplo, apresentou bom desempenho nos dez itens selecionados, seguida de

Marabá e Castanhal que apresentaram bom desempenho em nove itens, cada uma. Enquanto

que a cidade de Parauapebas foi a que apresentou pior desempenho, mas deixando lacuna

apenas em dois itens. Nos itens que as três cidades apresentaram lacunas, acabam causando

um vazio na satisfação de sua população e das cidades menores que buscam esses serviços.

Os itens de melhor desempenho nas quatro cidades médias foram as Instituições de

Ensino Superiores e as Agências Bancárias, sendo que Marabá se sobressai as demais cidades.

Dessa forma, as diferentes Instituições de Ensino Superiores localizadas nestas cidades,

possibilitam a produção de conhecimentos especializados e formação de profissionais mais

qualificados para o mercado de trabalho, assim como acabam atraindo habitantes das cidades

menores de seu entorno em busca da possibilidade de cursar um curso de graduação. Apesar

de algumas cidades menores apresentarem Instituições de Ensino Superiores, mas ainda sim é

um número reduzido nestas localidades, assim como a variedade de cursos oferecidos por elas

também é reduzida, a maioria dos cursos são voltados para licenciaturas, tornando-se um fator

de migração desses habitantes para as cidades médias em busca de outros Cursos.

O município de Parauapebas conta apenas com dois dos cinco serviços selecionados

na área de saúde e, Castanhal oferece três destes serviços, já os municípios de Marabá e

Santarém oferecem todos os cinco serviços selecionados. Por outro lado, as cidades

selecionadas que são polarizadas por Marabá, Santarém e Parauapebas, nenhuma apresentou

qualquer um dos serviços de saúde selecionados. Enquanto que a cidade de Santa Isabel do

Pará, polarizada por Castanhal, apresentou um dos cinco serviços (Raio X mais de 500mA).

Diante desses resultados, ou seja, da falta destes serviços nas cidades polarizadas pelas

cidades médias paraenses, as pessoas que precisam destes serviços buscam atendimento nas

cidades médias.

Em relação aos serviços de comunicação prestados pelas cidades médias paraenses,

Santarém apresenta o baixo percentual de domicílios com microcomputador com acesso à

internet (12,4%) e Marabá o melhor percentual (15,3%). Parauapebas possui menor

percentual de domicílios com linha telefônica fixa instalada (11,8%), já Santarém possui o

melhor percentual (19,7%). As quatro cidades apresentaram estações de rádio FM e geradoras

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de TV possibilitando a difusão das informações de forma mais rápida. Quanto ao acesso aos

serviços de saneamento adequado, o melhor desempenho apresentado entre os municípios das

cidades médias foi Parauapebas (38,5 %), superando em duas vezes a média percentual

estadual (19,0%). Seguido pelo município de Santarém com 27,3%, Marabá ocupa a terceira

posição com 15,7% e por último Castanhal com 14,4% (IBGE, 2010).

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Quadro 1 – Oferta de bens e serviços nos municípios das cidades médias paraenses e municípios das microrregiões.

Municípios Agências

bancárias

Instituições

de nível

superior

Serviços de

saúde

especializados*

Estação

de Rádio

FM

Geradora

de TV

Aeroporto Teatros ou

salas de

espetáculos

Domicílios com

linha telefônica

Instalada

Domicílios com

microcomputador com

acesso a internet

Transporte

coletivo por

ônibus

intramunicipal

CASTANHAL 9 11 3 Sim Sim Não Sim 14,5% 14,8% Sim

Bujaru 0 1 0 Não Não Não Não 2,8% 3% Sim

Inhangapi 0 0 0 Não Não Não Não 3,5% 3,4% Sim

Santa Isabel do Pará 3 0 1 Não Não Não Não 5,5% 5,7% Não

Santo Antônio do

Tauá 0 0 0 Não Não Não Não 1% 1,9% Não

MARABÁ 12 18 5 Sim Sim Sim Não 14,3% 15,3% Sim

Brejo Grande do

Araguaia 0 1 0 Não Não Não Não 5,1% 2% Não

Palestina do Pará 0 0 0 Não Não Não Não 5,9% 2,9% Não

São Domingos do

Araguaia 1 0 0 Não Não Não Não 3,9% 2,4% Sim

São João do

Araguaia 0 0 0 Não Não Não Não 1,9% 0,3% Não

PARAUAPEBAS 12 11 2 Sim Sim Sim Não 11,8% 12,9% Não

Água Azul do Norte 0 0 0 Sim Não Não Não 3,2% 1,5% Sim

Curionópolis 1 0 0 Sim Não Não Sim 5,2% 4,2% Não

Eldorado dos

Carajás 1 2 0 Não Não Não Não 1,8% 2,6% Não

SANTARÉM 9 15 5 Sim Sim Sim Sim 19,7% 12,4% Sim

Alenquer 3 1 0 Sim Sim Não Não 4,5% 2,7% Não

Monte Alegre 2 2 0 Sim Não Não Não 1,3% 3,6% Não

Prainha 0 0 0 Não Não Não Não 0,9% 0,1% Sim

Fontes: IBGE, Perfil dos Municípios Brasileiros 2009, Censo Demográfico 2010; www.ibge.gov.br/cidadesat; http://emec.mec.gov.br/ e http://www.infraero.gov.br.

* Foram considerados serviços especializados: Mamógrafo com estéreo-taxia, Raio X para densitometria óssea, Tomógrafo, Ressonância magnética e Raio X mais de

500mA.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

No estado do Pará o processo de urbanização resultou no aparecimento de novas

cidades e pela mudança do tamanho das já existentes. A dimensão desta nova estrutura urbana

vai além das novas relações econômicas. Logo, a reestruturação urbana e intra-regional

implica também numa transformação do modo de vida que invade também o meio rural.

Pode-se afirmar que, o processo de urbanização suscitou para as estas cidades inúmeros

“problemas urbanos”, como são observados nos indicadores de saneamento, emprego,

migração e transporte. O estudo apresentado teve como objetivo principal verificar se as

cidades paraenses que possuem população superior a 100 mil habitantes em área urbana,

excluídas as cidades pertencentes a RMB, desempenham papéis de cidades médias, a partir

das cidades de Castanhal, Marabá, Parauapebas e Santarém.

Considerando a dificuldade de estabelecer uma metodologia para pesquisa, adotou-se

como critério o limite demográfico o mesmo estabelecido pelos recentes estudos

(ANDRADE; SERRA, 2001; SANTOS, 1993; SANTOS; SILVEIRA, 2001 apud PEREIRA,

2005, p. 7) e, a fim de verificar a problemática, partiu-se da premissa que quanto maior é a

capacidade de ofertar bens e serviços de uma cidade, maior será seu papel na rede urbana, o

que lhe proporciona maior dinâmica econômica e demográfica (SPOSITO, 2004; BECKER;

2010). A partir dessas referências, montou-se um quadro com indicadores para investigar se

as quatro cidades em estudos desempenham papéis de cidades médias no contexto regional.

Diante do exposto, observa-se que as quatro cidades desempenham papel de cidades

médias, uma vez que a estrutura e diversidade dos bens e serviços ofertados por elas

classificam-nas como cidades pólos regionais para o atendimento da necessidade não só de

sua população, mas como também da população dos municípios de sua hinterland. Através da

metodologia adotada, as microrregiões do IBGE, as quatro cidades consideradas apresentaram

ser ponto de referência na solicitação de bens e serviços, como por exemplo, melhor estrutura

na área da saúde (serviços especializados de Mamógrafo com estéreo-taxia, Raio X para

densitometria óssea, Tomógrafo, Ressonância magnética e Raio X mais de 500mA); na área

de educação (maior numero de instituições superiores e variedade de cursos oferecidos

anualmente); disponibilizam maior oferta de serviços bancários; já em relação aos serviços

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oferecidos de cultura e lazer, apenas as cidades de Castanhal e Santarém apresentaram

exclusividade nestes serviços.

As cidades de Castanhal, Marabá e Santarém tiveram sua instalação no período que

antecede a década de 1960, diferente de Parauapebas que teve sua promulgação no ano de

1988. Portanto, as três primeiras cidades já desempenham de muito tempo importantes papéis

na rede urbana regional. Outra variável investigada foi saneamento básico, na qual constatou-

se que as cidades de Castanhal, Marabá, Parauapebas e Santarém apresentaram maior

percentual de domicílios possuidores de saneamento adequado em relação as cidades das suas

respectivas microrregiões. Vale ressaltar que as duas últimas cidades, apontaram percentual

superior a média estadual, proporcionando uma melhor qualidade de vida para a população

urbana dessas cidades. Entretanto, esse percentual não alcança nem a metade dos domicílios

pertencentes a estas cidades.

Com relação a ideia defendida por alguns autores (SANTOS 2010; ANDRADE;

SERRA, 2001 apud PEREIRA, 2005) de que as pessoas migram para as cidades médias por

que vêem nelas oportunidades de empregos. Neste contexto, apenas Castanhal tem a

capacidade de fixar migrante, as demais cidades apresentaram número de migrantes

superiores em relação a oferta de empregos, no período de 2005 a 2010, ocasionando certa

frustração para as pessoas que migraram com esse objetivo.

Com relação à importância destas cidades diante dos municípios menores, as cidades

de Marabá, Parauapebas e Santarém servem de base para o deslocamento para outras cidades

dentro das suas mesorregiões e com a capital do estado, pois somente estas apresentam

aeroportos. Já a população da microrregião de Castanhal utiliza o aeroporto de Belém, já que

essa cidade está posicionada a um raio menor de 100 km da capital paraense.

Por fim, diante das informações obtidas na presente pesquisa, fica comprovado que as

quatro cidades selecionadas são capazes de ofertar bens e serviços para os municípios das

suas microrregiões. Dessa forma, preenchem uma lacuna existente entre as pequenas cidades

e a metrópole, ou seja, exercem papel intermediário na rede urbana das quais são

pertencentes, colaborando na dinâmica dos fluxos da rede urbana no estado do Pará.

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AS FINANÇAS DOS MUNICÍPIOS PARAENSES: ENSAIO ANALÍTICO SOBRE AS

RECEITAS DE TRANSFERÊNCIAS E DE SUAS PRINCIPAIS DESPESAS SOCIAIS

Área Temática: Gestão econômica, social e ambiental

José Raimundo B. Trindade22

Wesley Pereira Oliveira23

RESUMO: Este artigo elaborou um quadro geral dos aspectos da gestão fiscal recente dos

municípios do Estado do Pará, no que se refere às despesas com as funções de educação e

saúde, bem como da distribuição das receitas de transferências do Fundo de Participação dos

Municípios (Cota-FPM), SUS, FUNDEB e Cota-parte do ICMS, principais fontes de recursos

dos municípios paraenses. O parâmetro de padronização para avaliação das receitas e

distribuição dos recursos foi a população dos municípios, agrupados por Regiões de

Integração do Estado do Pará. As informações coletadas foram para os anos de 2006 a 2011,

tendo como fonte dos dados o FINBRA (Finanças do Brasil), base de dados municipais da

Secretaria do Tesouro Nacional (STN).

Palavras-chave: Finanças municipais. Educação. Cultura. Saúde. Saneamento.

Classificação JEL: H71, H72, H51, H52.

Introdução

O debate federativo historicamente se colocou ao nível nacional em torno de três eixos

principais: i) a distribuição da capacidade tributária entre os diferentes entes federativos24; ii)

22 Doutor em Desenvolvimento Econômico; Professor Adjunto III do Programa de Pós-graduação em Economia

da Universidade Federal do Pará. Telefone: (91) 3248-6845 ou (91) 8815-8455 / E-mail: [email protected]

ou [email protected] 23

Mestre em Economia Regional; Bolsista do IPEA e Doutorando do Programa de Pós-graduação em Economia

da Universidade de Brasília; e-mail: [email protected]

Instituição: Universidade Federal do Pará (UFPA); Programa de Pós-graduação em Economia (PPGE/UFPA). 24

O Sistema Tributário Brasileiro está definido especificamente na Constituição Federal nos artigos 145 a 162 e

195, no Código Tributário Nacional (Lei Federal n. 5.172/66) e em um conjunto de ordenamentos jurídicos, tais

como Resoluções do Senado Federal legislações complementares e ordinárias federal, estadual e municipal. Os

municípios passaram a deter uma importante capacidade fiscal tributária a partir da CF 88, refletindo-se em um

relativo crescimento da participação desses entes federativos no bolo tributário nacional (conferir: REZENDE,

2006, p. 338-339; KHAIR, 2006, p. 354-355, entre outros).

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as transferências verticais de receitas25; iii) a capacidade de definição orçamentária autônoma.

Quanto ao primeiro aspecto a Constituição de 1988 definiu ampla capacidade tributária aos

diversos entes subnacionais, especificamente os municípios passaram a ter um potencial de

capacidade tributária superior, tanto na definição de tributos qualitativamente superior (ISS),

quanto na capacidade de definição de alíquotas. Quanto ao segundo ponto, a CF de 1988

apresentou grandes alterações, seja na elevação dos níveis de transferência da União para

Estados e Municípios, seja com novas transferências de Estados para Municípios. Por último,

os Municípios passaram a deter importantes responsabilidades orçamentárias, especialmente

quanto aos aspectos de educação e saúde, que foram fortemente municipalizados nos anos

recentes.

As transformações na administração pública, resultantes das diretrizes firmadas por

ocasião da Constituição Federal de 1988, combinadas com a mais recente aprovação da Lei

Complementar 101 de 2000 (Lei de Responsabilidade Fiscal – LRF) têm-se traduzido em uma

necessidade dos municípios melhorarem e organizarem as suas administrações (PRADO,

2006; REZENDE, 2006; KHAIR, 2006; IBGE, 2004). Isso porque há uma clara tendência de

aprofundar, por um lado, a municipalização dos gastos em áreas como com Educação, Saúde

e Saneamento e, por outro, a preocupação com a disciplina fiscal.

A partir dos anos 1990, diversas políticas e programas de descentralização

administrativa foram estabelecidos pelos governos nacional e subnacionais26, tendo como alvo

principal a municipalização de várias de suas atribuições, principalmente, as relativas às

funções sociais. A responsabilidade pela prestação de diversos serviços públicos essenciais à

população foi repassada para os municípios. Vale observar que os diversos movimentos

municipalistas anteriores a década de 1990 impulsionaram as modificações ocorridas a partir

daquele período e ensejaram uma crescente capacidade orçamentária aos municípios.

25

Vale observar que a estrutura de transferências no Brasil acompanha o formato de a União repassar recursos

aos municípios sem passar pela esfera estadual. Indiretamente, um pencentual da distribuição da União aos

estados deve ser escoado às municipalidades. Observa-se, então, uma relação vertical entre a União, os estados e

municipios onde aquele outro busca suprir a falta de recursos próprios desses. 26

As diversas teorias sobre federalismo concebem que em geral a repartição de encargos públicos entre os níveis

de governo, segue-se uma lógica de racionalização. Tentam-se maiores benefícios para a população com

menores custos, para tal, é necessário dividir os encargos, a nível local e geral. Ao nível local, as

municipalidades e os estados podem intervir, para o nível geral, a União é a entidade mais adequada para os

encargos, conferir para uma exposição sucinta e rica sobre federalismo e experiências internacionais: Anderson,

2010.

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Nesse contexto, as finanças municipais assumem fundamental importância, tanto pela

maior incumbência de políticas públicas que as municipalidades passam a deter, quanto pela

maior proximidade dessa esfera de decisão política em relação a população, o que pode

permitir um maior monitoramento das suas ações, sendo que as prefeituras constituem

instrumento importante para a construção do processo de desenvolvimento local, com ênfase

na melhoria da distribuição de renda, na atenção à melhoria da qualidade de vida, da

Educação, da Saúde, do Saneamento, no estímulo ao desenvolvimento das vocações locais e

na criação de oportunidades de trabalho e geração de renda.

Entre as funções do governo municipal, duas funções sociais são as mais importantes:

Educação/Cultura e Saúde/Saneamento, devido ao alcance social que têm e por terem sido,

nos últimos anos, os principais alvos das políticas de descentralização administrativa,

principalmente do Governo Federal. Este artigo analisa a capacidade fiscal e de gestão dos

municípios do Estado do Pará no período recente, no que se refere às despesas com as funções

citadas anteriormente, bem como da distribuição das receitas de transferências do Fundo de

Participação dos Municípios (FPM), Fundef/Fundeb e Cota-parte do ICMS, principais fontes

de recursos dos municípios paraenses. O parâmetro de padronização para avaliação das

receitas e distribuição dos recursos foi a população dos municípios, agrupados por Regiões de

Integração do Estado do Pará27.

O trabalho investigou 141 municípios do Estado do Pará28, agrupados por Regiões de

Integração, levantando informações referentes aos anos de 2006 a 2011 tendo como fonte dos

dados o FINBRA29 (Finanças do Brasil) dos municípios paraenses, tanto para as receitas

municipais, especificamente as transferências, quanto relativas as despesas nas funções de

27

O estado do Pará foi dividido, com vistas a atuação planejada do governo do estado em 12 (doze) Regiões de

Integração: 1) Matropolitana; 2) Guamá; 3) Caeté; 4) Araguaia: 5) Carajás; 60 Tocantins; 7) baixo Amazonas; 8)

Lago de Tucuruí; 9) Rio Capim; 10) Xingu; 11) Marajó; 12) Tapajós. Uma descrição sintética das Regiões de

Integração encontra-se disponível em http://www.seir.pa.gov.br. 28

O Pará apresenta 144 municípios, porém os dados do FINBRA (Finanças do Brasil) apresentam lacunas que

foram parcialmente resolvidas mediante a atribuição de dados médios para anos que não apresentavam

informações, explicados em notas de cada tabela. Vale observar, porém, que para os municípios de Curralinho,

Muaná e Colares não há informação para todo o período estudado, o que reduziu o painel de análise para 141

municípios, distribuídos conforme as doze regiões de integração. 29

No sítio da Secretaria do Tesouro Nacional (http://goo.gl/qu4PS), em cumprimento ao disposto no artigo 51 da

LRF, a STN realiza e divulga a coleta de dados relativos às contas anuais de Estados e Municípios, para efeito de

consolidação das contas públicas das três esferas de governo, sendo que o FINBRA possibilita acompanhamento

específico das gestões fiscais municipais.

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Educação/Cultura e Saúde/Saneamento. O FINBRA constitui banco de dados referentes as

receitas e despesas de cada município brasileiro, divulgadas pela Secretaria do Tesouro

Nacional (STN).

Além desta introdução, o artigo se encontra dividido em quatro seções: a primeira

discute, desde um referencial teórico das finanças públicas, as características do sistema de

partilha de recursos e aspectos do federalismo fiscal municipalista brasileiro, elementos

teóricos necessários ao desenvolvimento do trabalho; a segunda seção analisa as fontes de

receitas dos municípios paraenses, especialmente as transferências correntes e a relação das

mesmas com as receitas próprias das municipalidades. A terceira seção trata especificamente

dos gastos municipais com a função educação, centrado no papel inovador do FUNDEB e na

evolução dos gastos educacionais; a quarta seção introduz a análise da função social saúde e

saneamento e expõe os limites e problemas encontrados na evolução dessa importante rubrica

social; finalmente apresentam-se as considerações finais.

1. Federalismo e Poder Local: Receitas Tributárias, Sistema de Partilha e Competências

Sociais Municipais a partir de 1990

As mudanças no sentido de alterações federativas consolidadas nas duas últimas

décadas levaram as prefeituras municipais a assumirem uma capacidade autônoma que

equiparou em termos estatutário os governos locais aos demais entes federativos. Essa

capacidade estatutária constitucional se manifesta tanto nos aspectos de autonomia de receitas

e controle sobre uma maior massa de recursos efetivos, quanto pelas atribuições que passou a

deter, antes de competência dos Estados e da União, com particular ênfase aos serviços

universais de Saúde, Assistência Social e Educação fundamental. Como observaram diversos

autores (KHAIR, 2006; PRADO, 2006; SANTOS et. al., 2001, entre outros) as prefeituras

passam a responder pela gestão de políticas públicas que são ao mesmo tempo muito onerosas

e, por outro, de grande repercussão social.

De um modo geral pode-se entender esse fenômeno de descentralização como

resultante do processo de redemocratização brasileira que culminou com a CF de 1988. Como

sustentou Santos et al. (2001, p. 296-97) o principal argumento favorável a descentralização

seria a proximidade das municipalidades, possibilitando a “alocação de bens públicos cujos

benefícios atingem áreas restritas”, por outro as prefeituras teriam maior “flexibilidade e

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melhor adaptação de seus investimentos” as necessidades das populações locais.

Acrescentaríamos a essa argumentação dois aspectos que julgamos centrais: o maior controle

social possível sobre essa esfera subnacional, dada a proximidade já referida e, a maior

capacidade de pressão social e, portanto, redefinição de objetivos em conformidade aos

interesses dos grupos locais.

Deste modo, pode-se afirma que uma das características da Constituição promulgada

em 1988 foi à ênfase no fortalecimento da federação mediante a elevação da participação dos

Estados e Municípios no conjunto da receita tributária, isso acompanhado de forte

descentralização dos gastos públicos sociais. A reforma de 1988 não só aumentou a base de

tributação dos governos subnacionais, como incrementou a participação deles nos tributos

federais, mediante ampliação das transferências aos fundos de participação, sendo que os

municípios foram os maiores beneficiários desse processo de descentralização tributária,

através dos aumentos dos valores de transferência constitucional (Fundo de Participação dos

Municípios e Cota-ICMS) e dos chamados fundos vinculados( especialmente o FUNDEB e

SUS).

Neste sentido, o acompanhamento da gestão financeira dos municípios, passou a ter

grande relevância, sendo que a incorporação de mecanismos de acompanhamento e de

controle sobre as contas públicas municipais (receitas e despesas), principalmente a partir de

inúmeras definições legais que buscaram maior rigidez e transparência no uso dos recursos,

especialmente a obrigatoriedade da publicação dos relatórios fiscais, como parte dos

condicionantes do planejamento orçamentário previsto na LRF. Deste modo buscou-se neste

trabalho observar se houve ou não aumento nas receitas de transferências em relação à

população atendida, principalmente FPM, FUNDEB, SUS e Cota-ICMS, bem como a

evolução das despesas nas funções de Educação/Cultura e Saúde/Saneamento. Busca-se a

seguir definir algumas categorias necessárias a exposição e análise das contas municipais.

Do ponto de vista orçamentário, as receitas públicas são classificadas como

orçamentárias e extra-orçamentárias, sendo que as primeiras são previstas no orçamento

municipal e são utilizadas para o pagamento das despesas autorizadas. As receitas

orçamentárias podem ser classificadas economicamente, ainda, segundo a contabilidade

pública, em receitas correntes e de capital. As receitas correntes ou efetivas, referem-se as

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receitas tributárias, de contribuições, patrimonial e outras que se destinam a fazer frente as

despesas correntes. Para fins do presente estudo, foram utilizadas apenas as receitas

tributárias e as de transferências correntes, não sendo incorporadas à análise as receitas de

contribuições patrimoniais30.

As Receitas Tributárias arrecadadas pelos próprios municípios são em forma de

impostos, taxas e contribuições de melhoria e fazem parte dessas receitas o Imposto sobre

Propriedade Predial e Territorial Urbana (IPTU), o Imposto sobre Transmissão “Inter Vivos”

(ITBI) e o Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISSQN), além de outros tributos,

sendo o ISSQN de longe a principal fonte arrecadatória dos municípios, apresentando

expressivas taxas de crescimento nas últimas décadas31. Neste trabalho, as receitas tributárias

são compostas de IPTU, ISS, IRRF, ITBI, taxas e contribuições de melhoria.

As Transferências Correntes são recursos destinados aos municípios e têm como

origem principal a União e os Estados. Fazem parte das Transferências da União a cota-parte

do Fundo de Participação dos Municípios (FPM)32, as transferências do Fundo de Manutenção

e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério (FUNDEF, atual

FUNDEB), as transferências via Sistema Único de Saúde (SUS) e outras transferências do

Governo Federal. Já as Transferências dos Estados englobam a cota-parte do ICMS; a do

Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA); transferências do FUNDEB e

outras transferências da administração estadual. Ainda compõem as transferências correntes

possíveis transferências de outros municípios e outras transferências correntes,

particularmente, de grande importância, as transferências referentes ao Sistema Único de

Saúde (SUS), para acompanhamento da evolução e debate critico em relação aos fundos

constitucionais de partilha de receitas, especialmente o FPM, consultar Prado (2006) e Khair

(2006).

30

Para maiores detalhes sobre classificações de receitas e despesas orçamentárias ver, por exemplo, Giacomoni

(2005); Lima & Castro (2003); Rezende (2006), entre outros. 31

Khair (2006, p. 354) destaca que o crescimento das receitas tributárias dos municípios, especialmente o ISS,

em muito tem superado o crescimento das arrecadações federais e estaduais. 32

O FPM é formado por uma parcela do produto da arrecadação do Imposto de Renda – IR e do Imposto sobre

Produtos Industrializados – IPI, nos termos da Constituição Federal, art. 159. Vale observar que as participações

percentuais do produto de arrecadação do IR (Imposto de Renda) e do IPI (Imposto sobre Produtos

Industrializados) na formação do FPM aumentaram de 5% em 1975 para 10,5% em 1982 e 1983, chegando a

22,5% por definição da CF de 1988 e, finalmente, elevado a 23,5% pela Emenda Constitucional n° 55/2007

(PRADO, 2006).

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Esse conjunto de transferências possibilita também a conversação entre diversos

orçamentos, especialmente os do Governo Central com os orçamentos municipais, o que se

denomina de Sistema de Partilha (SP). Segundo Prado (2006, p. 176) esse sistema envolve

regras e dispositivos (tais como os fundos constitucionais e vinculados) que baseados na

competência tributária, ou seja, que ente federativo administra e arrecada cada imposto,

“determinam a forma pela qual essa receita será distribuída entre os diversos governos”,

determinando o nível da receita disponível ou efetiva daquele ente.

O Sistema Único de Saúde (SUS) foi uma importante alteração na gestão de políticas

sociais introduzida nos últimos vinte anos, implantou-se um sistema público de saúde acesso

universal, que se propõe a oferecer cobertura integral às necessidades da população. A gestão

desse sistema é descentralizada, sendo que compete aos municípios a gestão da atenção

básica, principalmente através de programas como o PSF (Programa Saúde da Família). O

financiamento do SUS se dá majoritariamente através de recursos cuja fonte é o Orçamento

Geral da União, que sustenta fluxos regulares para o custeio dos serviços nos governos locais.

Com isso, parcela importante das receitas efetivas dos municípios tem como origem

transferências da União vinculada ao SUS para os municípios.

No caso da universalização da educação básica, o mecanismo de partilha estabelecido

foi o FUNDEF, cuja essência tem como proposição destinar, de forma vinculada, parcela das

receitas públicas ao Ensino Fundamental (primeira a oitava séries), por meio de uma

redistribuição dos recursos provenientes de impostos aplicados pelos Municípios, Estados e

União33. A partir de 2007 passou a vigorar o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da

Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (FUNDEB) no lugar do

FUNDEF, tendo o mesmo caráter, porém sendo composto de contribuição de estados, do

Distrito Federal e dos municípios no montante de 16,66% no primeiro ano; 18,33% no

segundo ano; 20% a partir do terceiro ano, sobre Fundo de Participação dos Estados (FPE);

Fundo de Participação dos Municípios (FPM); Imposto sobre Circulação de Mercadorias e

33

O Fundef foi inicialmente composto por recursos provenientes de algumas transferências de impostos: dos

estados, FPE (Fundo de Participação dos Estados), ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços),

IPI - Exportação (Imposto sobre Produtos Industrializados para Exportação); dos municípios, FPM (Fundo de

Participação dos Municípios), ICMS e IPI - Exportação. Incluíam, também, 15% dos recursos da chamada Lei

Kandir, que são repasses da União para compensar as perdas financeiras das unidades federadas, decorrentes da

desoneração do pagamento de ICMS de determinados produtos para exportação (CNM, 2010).

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Serviços (ICMS); Imposto sobre Produtos Industrializados, proporcional às exportações (IPI -

Exportação); Desoneração de Exportações (Lei Complementar nº 87/96); também,

Contribuição de estados, do Distrito Federal e dos municípios de: 6,66% no primeiro ano;

13,33% no segundo ano; 20%, a partir do terceiro ano, sobre: Imposto sobre Transmissão

Causa Mortis e Doações (ITCMD); Imposto sobre Propriedade de Veículos Automotores

(IPVA); quota-parte de 50% do Imposto Territorial Rural devida aos municípios; e

complementações da União (MEC, 2010).

A despesa pública pode ser definida da forma mais simples enquanto conjunto de

dispêndios dos entes estatais, garantindo o funcionamento regular da máquina estatal. Como

observa Lima e Castro (2003, p. 58), “a despesa, como parte do orçamento, compreende as

autorizações para gastos com as várias atribuições e funções governamentais”, a partir de

autorização legislativa. Os gastos públicos podem ser classificados, ainda, de acordo com a

ótica da finalidade, da natureza e do agente que o executa, por sua vez sob a ótica da

finalidade, o gasto pode ser classificado em funções, programas e subprogramas34.

Nesses conceitos de despesas e de gastos se enquadram os recursos aqui analisados e

destinados às funções Educação/Cultura e Saúde/Saneamento nos municípios paraenses. Esse

sistema de classificação por função permite, ainda, maior acompanhamento social, bem como

identificar as finalidades e estabelecer indicadores de metas a serem atingidas. Também esse

sistema proporciona aos governos a agregação dos valores gastos em cada atividade em suas

diferentes funções. Esse sistema também permite que se façam comparações relativas aos

gastos em cada área de atuação, mostrando quais são as prioridades.

Neste sentido, acompanhar e analisar as receitas de transferências e as despesas nas

funções de Educação/Cultura e Saúde/Saneamento entre 2006 e 2011, com o intuito de

comparar o comportamento de tais variáveis nos municípios paraenses, agregados por regiões

de integração, constitui a base do estudo em foco. Por que as funções Educação/Cultura e

Saúde/Saneamento? Primeiramente, porque são duas funções sociais muito importantes.

Segundo, devido ao alcance social que têm e por terem sido, nos últimos anos, os principais

alvos das políticas de descentralização administrativa, principalmente do Governo Federal.

Por último, vale observar que para atender essas duas funções programáticas sociais, os

34

Conferir, entre outros: Lima e Castro (2003); Giacomoni (2005); Rezende (2006); Oliveira (2012).

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municípios foram dotados, como já assinalados, de vinculações de receitas, no caso da saúde

tendo como fonte recursos garantidos, entre outros, pelas contribuições à seguridade social

(arts. 195 e 198 da CF/88) que alimenta o Sistema Único de Saúde (SUS). O mesmo se diga

da educação (art. 210 da CF/88): a União empregará no mínimo 18%, e estados, Distrito

Federal e Municípios, 25%, de suas arrecadações na manutenção e desenvolvimento do

ensino (art. 212).

Ainda, porque o grau de desenvolvimento de uma região qualquer deve guardar

relação com as condições das funções citadas. O desenvolvimento não pode ser entendido

somente como desenvolvimento econômico, mas também como desenvolvimento social,

ambiental, cultural, político e, finalmente, desenvolvimento da formação humana individual.

Ignacy Sachs (2003), por exemplo, define desenvolvimento desde uma abordagem

multidimensional, que exige a integração de diferentes dimensões: a) social, que compreende

a integração das populações ao processo de crescimento econômico. Implica melhoria das

condições de vida: acesso a infraestrutura sanitária e saúde pública; b) ambiental,

compreendendo a sustentação das condições de vida e a não dispersão (depredação) dos

recursos naturais; c) econômico, sendo a conditio sine qua non para que se dê as demais

dimensões, porém, isoladamente não implica desenvolvimento e; d) educacional, que implica

em capacidade de atuação e domínio tecnológico e educacional. Assim, é preciso realizar

investimentos em educação, cultura e maior qualidade de vida da população.

Em resumo, releva avaliar a distribuição das receitas de transferências do FPM, do

SUS, do FUNDEF/FUNDEB e do Cota-Parte do ICMS, principais fontes de recursos para a

maioria dos municípios paraenses, bem como o aumento ou não dos recursos destinados às

funções de Educação/Cultura e Saúde/Saneamento, áreas em que houve um aumento das

atribuições municipais. O parâmetro de padronização para essa avaliação foi a população dos

municípios que serão agrupados por Regiões de Integração do Estado do Pará e por base

demográfica dos municípios.

2. Fontes de Recursos dos Municípios Paraenses

2.1 Receitas Tributárias

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O volume de receitas tributárias arrecadadas reflete o peso e a magnitude da economia

de um município, o mesmo acontecendo quando se analisa a distribuição dessas receitas pelas

Regiões de Integração. Para o caso das Regiões de Integração do Estado do Pará, na Tabela 1

se constata uma expressiva concentração das receitas tributárias nos municípios da Região

Metropolitana de Belém (RMB), 45,9% em 2006 e 43,2% em 2011, bem como por uma

proporção menor de municípios, relativamente, mas que contêm o maior contingente de

população estadual, aproximadamente 27,58% em 201135. A Região de Carajás (RCJ)

apresenta o segundo maior volume de receitas tributárias, centralmente em função de três

municípios (Marabá, Parauapebas e Canãa dos Carajás) e da concentração da exploração

mineral nesta região. Comparativamente, a receita tributária per capita de Carajás é quase 1,7

vezes ao da RMB, o que possibilita aos principais municípios dessa RI condições potenciais

de maiores dotações destinadas aos gastos sociais, principalmente per capita, como se verá

mais a frente.

As Regiões do Marajó (RMJ), Caeté (RCT) e Guamá (RGU) foram as que tiveram

menor relação entre receitas e população, tanto para 2006 quanto para 2011. Em 2011 essas

três regiões responderam por apenas 4,9% do total de receitas tributárias arrecadadas dos

municípios paraenses, valor muito baixo, considerando-se o peso dessas regiões na estrutura

populacional estadual (19,4%). Vale observar que todas as Regiões de Integração seguem este

padrão de menor participação no bolo tributário municipal vis-à-vis suas participações no

computo populacional, exceto as duas já referidas (RMB e RCJ).

Tabela 1 - Distribuição Proporcional das Receitas Municipais Segundo Regiões de

Integração (2006/2011)

Regiões de Integração

Proporção Receita

tributária

Transferências

Correntes

Receita

Disponível De

municípios De população

2006

TOTAL 100 100 100 100 100

Metropolitana (RMB) 3,55 29,63 45,88 22,19 24,56

Guamá (RGU) 12,77 7,95 2,32 8,23 7,64

35

Os municípios que compõem a RMB são: Belém, Ananindeua, Marituba, Benevides e Santa Bárbara. Belém

responde por aproximadamente 70% da população; 88% da receita tributária e 75% das receitas correntes desta

região de integração.

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Caeté (RCT) 10,64 6,28 1,46 4,81 4,47

Araguaia (RAR) 10,64 5,18 3,26 5,99 5,72

Carajás (RCJ) 8,51 6,78 18,49 10,67 11,46

Tocantins (RTO) 7,80 9,30 8,28 10,75 10,50

Baixo Amazonas (RBA) 8,51 9,18 7,04 9,96 9,66

Lago de Tucuruí (RLT) 4,96 4,89 3,07 6,30 5,97

Rio Capim (RRC) 11,35 7,89 5,17 7,88 7,61

Xingu (RXG) 7,09 4,26 2,19 4,58 4,34

Marajó (RMJ) 9,93 5,33 1,32 5,41 5,00

Tapajós (RTJ) 4,26 3,33 1,52 3,23 3,06

2011

TOTAL 100 100 100 100 100

Metropolitana 3,5 27,5 43,2 21,2 23,6

Guamá 12,8 7,8 1,8 6,6 6,0

Caeté 10,6 6,2 2,0 5,1 4,7

Araguaia 10,6 6,4 5,3 5,5 5,4

Carajás 8,5 7,8 22,3 13,6 14,5

Tocantins 7,8 9,7 5,4 9,2 8,8

Baixo Amazonas 8,5 9,2 7,5 11,4 11,0

Lago de Tucuruí 5,0 4,7 2,0 6,0 5,6

Rio Capim 11,3 7,9 4,4 8,0 7,6

Xingu 7,1 4,4 2,6 5,2 4,9

Marajó 9,9 5,4 1,1 5,2 4,7

Tapajós 4,3 2,9 2,3 3,2 3,1

Fonte: FINBRA, STN (2011).

Na Tabela 2 seguinte, verifica-se que quanto maior a população de um município maior

a sua receita tributária. De fato, considerando o ano de 2011 como referência, enquanto 74,2%

das receitas tributárias produzidas pelos municípios com mais de 100.000 habitantes eram

geradas por 52,1% da população estadual, os municípios com população menor que 100.000

habitantes, referentes a aproximadamente 89,9% dos municípios e 47,9% da população, eram

responsáveis por apenas 25,8% dessas receitas. Vale evidenciar que comparativamente com o

ano de 2007, as receitas tributárias apresentaram uma tendência de maior realização nos

municípios maiores, como evidenciam os dados. Esses dados confrontam três aspectos

importantes: i) de um lado parece que os centros urbanos concentram a maior capacidade

tributária decorrente da maior estrutura produtiva; ii) por outro, talvez não seja

negligenciável, a ausência da administração tributária municipal nos municípios menores; iii)

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o ISSQN ganha relevo nos municípios de maiores populações, especialmente, na RMB e nos

municípios polos das maiores RI’s, caso de Marabá e Santarém.

Tabela 2 - Distribuição proporcional das receitas municipais, segundo classes de

tamanho da população dos municípios (2007/2011)

Classes de tamanho da

População

Proporção

Receita

Corrente

Receita

Tributária

Transferências

Correntes

Receita

Disponível De

Município

s

De

população

2007

Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0

Até 15.000 hab. 18,6 3,0 3,7 0,7 4,4 4,4

Mais de 15.000 a 35.000 hab. 40,2 15,4 17,1 11,2 18,7 18,8

Mais de 35.000 a 100.000 hab. 30,9 29,0 29,7 19,7 32,1 32,2

Mais de 100.000 a 200.000

hab. 7,2 15,9 17,5 21,1 17,3 17,5

Mais de 200.000 hab. 3,1 36,6 31,9 47,3 27,6 27,0

Fonte: FINBRA, STN (2011).

2.2 As Receitas de Transferências Correntes

A dependência dos municípios com relação às transferências de outros entes é algo

muito representativo. Em 2011, 82,1% das receitas correntes da totalidade dos municípios

tinham como origem as transferências correntes. Considerando somente os municípios

menores, de até 15.000 habitantes, chega-se a uma dependência quase que completa em

relação as transferências (95,5%), somente sendo um pouco menor nos municípios acima de

200.000 habitantes, onde a receita própria (tributária) chega a representar quase 18% das

receitas correntes, no caso de Belém chegando a 20,5%. Portanto, na totalidade dos

municípios paraenses, sem exceção, as transferências respondem por mais de 75% de suas

receitas correntes. Daí este trabalho dar atenção principal à análise das transferências, mais do

que a outras fontes de receita.

2011

Total

Até 15.000 hab. 16,9 2,5 3,3 1,0 3,8 3,4

Mais de 15.000 a 35.000 hab. 39,3 14,6 15,6 9,1 17,2 16,3

Mais de 35.000 a 100.000 hab. 33,7 30,8 29,4 15,8 32,5 30,5

Mais de 100.000 a 200.000

hab. 5,6 10,8 15,0 16,1 15,3 15,4

Mais de 200.000 hab. 4,5 41,3 36,7 58,1 31,2 34,4

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763

Tabela 3 – Participação (%) da Receita Tributária e Transferências na Receita Corrente

Fonte: FINBRA, STN (2011).

A distribuição da Receita Disponível pelas Regiões de Integração revelou duas

situações: a primeira é em relação às receitas tributárias. Como mostrado na Tabela 1, as

receitas próprias estão fortemente concentradas na Região Metropolitana de Belém, porém o

mesmo não se dá em relação as transferências correntes, nas quais a RMB participa

proporcionalmente menos que o conjunto das demais RI’s. Por outro lado, ao comparar as

transferências correntes em relação a distribuição da população pelas regiões paraenses, nota-

se melhor desempenho na maioria delas, ou seja, apresentam percentuais de transferências

superiores aos seus respectivos pesos populacionais, exceto a RMB, a Região do Marajó, a

Região do Araguaia e a Região do Rio Caeté.

Deste modo, é visível que a distribuição mais proporcional e equitativa das

transferências correntes, privilegiando, em termos relativos, as regiões menos favorecidas

com suas arrecadações tributárias. Ao compararmos a proporção das transferências em

relação à população vis-à-vis a proporção das receitas tributárias em relação a população,

Classes de tamanho da

População

Receita Corrente

(R$)

Receita Tributária Transferências Correntes

(R$)

(%) da

Receita

Corrente

(R$)

(%) da

Receita

Corrente

2007

Total 5.023.163.110,57

556.747.964,27 11,1 4.159.960.420,48 82,8

Até 15.000 hab. 186.614.755,43 3.970.629,19 2,1 181.389.392,33 97,2

Mais de 15.000 a 35.000 hab. 860.876.523,35 62.554.269,19 7,3 776.003.156,45 90,1

Mais de 35.000 a 100.000 hab. 1.493.657.515,28

109.420.171,45 7,3 1.333.858.094,72 89,3

Mais de 100.000 a 200.000 hab. 877.311.771,21

117.667.445,69 13,4 721.336.376,38 82,2

Mais de 200.000 hab. 1.604.702.545,30 263.135.448,75 16,4 1.147.373.400,60 71,5

2011

Total 8.317.215.133,70

939.405.776,60 11,3 6.831.809.309,80 82,1

Até 15.000 hab. 271.148.658,06

8.985.525,48 3,3 258.824.091,43 95,5

Mais de 15.000 a 35.000 hab. 1.296.852.316,53 85.125.337,95 6,6 1.178.051.997,60 90,8

Mais de 35.000 a 100.000 hab. 2.445.702.643,86

148.114.316,96 6,1 2.218.517.578,80 90,7

Mais de 100.000 a 200.000 hab. 1.251.452.024,84

151.160.982,04 12,1 1.045.364.771,90 83,5

Mais de 200.000 hab. 3.052.059.490,41 546.019.614,17 17,9 2.131.050.870,07 69,8

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observa-se o quanto a maior parte dos municípios dependem das primeiras. Assim, somente a

RMB e a RCJ apresentam coeficientes maiores que a unidade (1,0) em relação a proporção

das receitas tributárias em relação a população, respectivamente 1,57 e 2,85. Quanto a

proporção das transferências em relação à população, sete RI’s (RRA, RCJ, RBA, RLT, RRC,

RXG, RTJ) apresentam uma participação superior a unidade. Vale citar a situação das

Regiões do Guamá, do Caeté e do Marajó, sendo aquelas que apresentam a pior razão entre

receita disponível e população, respectivamente: RGU (0,76), RCT (0,75) e RMJ (0,87).

Quando se analisa a distribuição das transferências correntes pelas faixas de tamanho da

população, para o ano de 2011, observa-se uma distribuição mais equilibrada dos recursos

transferidos aos municípios. De acordo com a Tabela 2, os municípios com mais de 100.000

habitantes receberam cerca de 46,5% do total das transferências, cifra significativamente

inferior aos 74,2% de receitas arrecadas por estes municípios. Por outro lado, os municípios

com até 35.000 habitantes obtiveram 21,0% do total das transferências correntes, percentual

bem superior aos 10,1% de receitas tributárias.

A Tabela 2 também nos revela um importante e positivo aspecto da configuração

territorial e fiscal estadual, aqueles municípios com população superior a 35.000 e inferior a

100.000 habitantes, constituem quase um terço dos municípios e da população paraense,

apresentando, por outro, uma razão entre receita disponível e população superior a unidade

(1,1), indicando uma tendência de financiamento de políticas públicas mais favoráveis nestas

localidades que nos municípios de maior densidade demográfica, detendo, ainda, uma escala

demográfica favorável a atração de investimentos e expansão econômica. Vale ponderar,

ainda, que a proporção de recursos transferidos aos municípios com até 35.000 habitantes

(21%) é superior aos 17,1% que esses municípios representam na população estadual,

mostrando mais uma vez seu caráter redistributivo. Por outro lado, os municípios com mais de

200.000 habitantes têm 31,2% de transferências correntes, mas participam com 41,3% da

população.

Isso mostra que as transferências correntes funcionam como um mecanismo

redistributivo de recursos, reduzindo sua concentração nos municípios maiores e localizados

nas regiões mais dinâmicas do Estado do Pará e, por outro lado, beneficiam as regiões menos

desenvolvidas e os municípios menores. Contudo, indica, também, a grande dependência dos

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municípios menores dos recursos de transferências governamentais, mesmo que no caso

paraense, como já assinalado, essa dependência seja algo forte mesmo nas municipalidades de

maior densidade demográfica, inclusive a Região Metropolitana de Belém.

2.3 As Receitas Disponíveis ou Efetivas

Segundo Lima e Castro (2003, p. 54) as receitas efetivas são aquelas que ao ingressarem

no “numerário” não implicam em “saídas de outros elementos do ativo ou outras entradas no

passivo”. Considerando as condições de fiscais expostas, pode-se denominar de Receitas

Efetivas ou Disponíveis pelos municípios a soma das transferências correntes e receitas

tributárias.

Os resultados obtidos na desagregação por Regiões de Integração denotam o

descolamento entre as receitas tributárias e disponíveis na participação das regiões, como

ilustram a Tabela 1, já analisada, e o Gráfico 1 abaixo.

Gráfico 1 – Receitas Tributárias e Disponíveis por RI (2011)

Uma análise mais detalhada dessa questão é apresentada no Gráfico 2, que mostra a

distribuição das receitas tributárias e disponíveis desagregadas por Regiões de Integração.

Nota-se que a Região Metropolitana reduz sua participação quando as transferências correntes

são somadas às receitas tributárias. As demais regiões do estado aumentam suas participações

quando as transferências são incorporadas às receitas tributárias, produzindo um efeito de uma

melhor distribuição proporcional da receita disponível entre as regiões.

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Gráfico 2 – Comparação Receitas Tributárias e Disponíveis por RI (2011)

2.4 As principais receitas de transferência: Cota-FPM, SUS, FUNDEB e Cota-ICMS

Na composição das transferências correntes, destacam-se o Fundo de Participação dos

Municípios - FPM, o FUNDEF/FUNDEB, o SUS e o Imposto sobre Circulação de

Mercadorias e Serviços - ICMS que, juntos totalizaram 84,7% do total das transferências para

os municípios, como pode ser visto na tabela abaixo referente ao ano de 2011.

Tabela 4 - Participação do ICMS, FPM, SUS e FUNDEB nas Transferências Correntes

dos Municípios, segundo classes de tamanho de população municipal (2011)

Classes de tamanho da

População

Distribuição Proporcional as Categorias Municipais

Cota ICMS FPM SUS FUNDEB Outras

2011

Total 16,8 25,1 13,0 29,8 15,2

Até 15.000 hab. 12,6 34,6 10,4 32,7 9,7

Mais de 15.000 a 35.000 hab. 9,6 31,1 10,3 37,8 11,1

Mais de 35.000 a 100.000 hab. 12,8 24,3 11,2 39,1 12,7

Mais de 100.000 a 200.000 hab. 21,9 15,5 7,6 24,0 30,9

Mais de 200.000 hab. 22,9 26,4 19,3 18,4 13,1

Fonte: FINBRA, STN (2011).

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A Tabela 4 mostra a distribuição das respectivas transferências pelo porte demográfico

municipal. Nota-se a maior presença do FPM nos municípios até 15.000 habitantes (34,6%),

isso em função das regras que definem o FPM para a Região Norte do Brasil36, sendo

expressivo, também para essas pequenas municipalidades, a participação do FUNDEB. Essa

diferença explica-se pelos distintos critérios de repasse. Conforme o IBGE (2004), a

distribuição do FPM ocorre por meio da fixação de faixas populacionais e a criação de

parâmetros para cada uma delas: o mínimo é de 0,6 para municípios com até 10.188

habitantes e o máximo é de 4,0 para aqueles acima 156.000 habitantes. Vale aqui breve

comentário referente aos critérios de partilha tanto do FPM, quanto do ICMS. Desde a década

de 1990 os critérios de distribuição desses fundos estão congelados, o que acaba por

estabelecer uma série de distorções. Gasparini e Cossio (2006, p. 185-186) observam que os

municípios do Norte e Nordeste recebem o menor valor per capita de FPM, justamente as

duas regiões mais pobres do país.

Nota-se que o FPM apresenta uma distribuição proporcional entre as regiões bastante

equilibrada, em sete regiões de integração o FPM tem uma participação proporcional maior

que a participação no total da população estadual. A maior distorção em relação ao FPM

aparece em duas regiões bastante pobres: a Região de Tocantins e a Região do Marajó, em

ambas a razão transferência/população apresenta coeficiente abaixo de 0,9, o que reforça o

aspecto acima assinalado da necessidade de rever critérios ou aperfeiçoar mecanismos de

equalização de renda.

O maior volume de recursos do FUNDEB, por sua vez, concentra-se em três regiões:

na RMB (13,7), na RCJ (12,5) e RTO (13,8). Para a distribuição de recursos do FUNDEB,

consideram-se as matrículas no Ensino Fundamental em qualquer forma de organização

admitida pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação - LDB (séries, ciclos etc.), apuradas pelo

censo escolar, realizado anualmente pelo Ministério da Educação e Cultura (MEC).

36

A distribuição dos recursos aos Municípios é feita de acordo com o número de habitantes, onde são fixadas

faixas populacionais, cabendo a cada uma delas um coeficiente individual. Os critérios atualmente utilizados

para o cálculo dos coeficientes de participação dos Municípios estão baseados na Lei n.º. 5.172/66 (Código

Tributário Nacional) e no Decreto-Lei N.º 1.881/81. Anualmente o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

(IBGE), divulga estatística populacional dos Municípios e o Tribunal de Contas da União, com base nessa

estatística, publica no Diário Oficial da União os coeficientes dos Municípios.

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No caso do Cota-ICMS observa-se que apresenta as maiores dotações na RMB (29,3) e

na RCJ (24,1), em função dos critérios redistributivos baseados na maior população e no

maior valor adicionado, além das características do imposto, que incide sobre a circulação de

mercadorias e sobre a prestação de serviços, que são mais intensas nessas regiões. Vale

observar que na medida em que o principal critério do Cota-ICMS é o “valor adicionado” (LC

162/89), isso acaba por criar uma forte distorção, no caso do estado do Pará, favorável aos

municípios mineradores (RCJ), o que pode ser observado na Tabela 5 seguinte.

Tabela 5 - Distribuição proporcional da população, do FPM, do FUNDEB e do ICMS,

segundo Regiões de Integração (2010)

Região de Integração

Distribuição Proporcional

População FPM FUNDEB ICMS

Total 100 100 100 100

Região de Integração

Região Metropolitana 27,6 22,2 13,7 29,3

Região Guamá 8,0 9,7 8,4 4,2

Região Caeté 6,3 7,4 7,0 2,8

Região Araguaia 6,1 7,6 7,5 6,4

Região Carajás 7,7 9,3 12,5 24,1

Região Tocantins 9,7 8,8 13,8 8,0

Região Baixo Amazonas 9,1 8,9 6,7 5,8

Região Lago do Tucuruí 4,7 4,4 6,1 7,2

Região Rio Capim 8,1 9,2 10,7 5,2

Região Xingu 4,5 4,8 5,9 3,5

Região Marajó 5,4 4,0 3,7 0,9

Região Tapajós 2,9 3,7 4,1 2,6 Fonte: FINBRA, STN (2011).

3. Resultados da Função Educação e Cultura37

Historicamente as despesas dos municípios paraenses nessa função apresentam média

de 25% em relação às despesas totais, nos últimos vinte anos, isso decorrente da aplicação da

legislação constitucional. A distribuição dos municípios paraenses entre as faixas de

37

Alerta-se que a Portaria nº 42 de 1999 do MPOG separa estas funções, mas como os gastos da função Cultura

não são significativos somou-se aos de educação.

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769

participação da função Educação e Cultura no total das despesas por função está colocada na

Tabela 6, para os anos de 2006 e 2011.

Tabela 6 Municípios, por faixa de participação da função Educação e Cultura no total

das despesas, segundo Região de Integração (2006/2011)

Região de Integração Total de

Municípios

Municípios por faixa de participação da função Educação e Cultura no Total das Despesas

Até 15% Mais de 15% a 20% Mais de 20% a 25% Mais de 25% a 30% Mais de 30%

2006

Região Metropolitana

25,0 25,0 0,0 0,0 50,0 Região Guamá

0,0 0,0 20,0 6,7 73,3 Região Caeté

0,0 0,0 8,3 25,0 66,7 Região Araguaia

0,0 0,0 26,7 26,7 46,7 Região Carajás

0,0 0,0 20,0 10,0 70,0 Região Tocantins

0,0 0,0 10,0 10,0 80,0 Região Baixo Amazonas

0,0 0,0 0,0 0,0 100,0 Região Lago do Tucuruí

0,0 0,0 0,0 14,3 85,7 Região Rio Capim

0,0 0,0 0,0 6,7 93,3 Região Xingu

0,0 0,0 0,0 12,5 87,5 Região Marajó

7,1 0,0 0,0 0,0 92,9 Região Tapajós 0,0 0,0 0,0 20,0 80,0

2011

Região Metropolitana

0,0 25,0 0,0 25,0 50,0 Região Guamá

11,1 0,0 0,0 0,0 88,9 Região Caeté

0,0 0,0 0,0 10,0 90,0 Região Araguaia

0,0 0,0 0,0 9,1 90,9 Região Carajás

0,0 0,0 0,0 28,6 71,4 Região Tocantins

0,0 0,0 0,0 0,0 100,0 Região Baixo Amazonas

0,0 0,0 0,0 0,0 100,0 Região Lago do Tucuruí

0,0 0,0 0,0 0,0 100,0 Região Rio Capim

0,0 0,0 0,0 0,0 100,0 Região Xingu

0,0 0,0 0,0 0,0 100,0 Região Marajó

0,0 0,0 0,0 14,3 85,7 Região Tapajós 0,0 0,0 0,0 0,0 100,0 Fonte: FINBRA, STN (2011).

Em uma primeira abordagem, observa-se que o conjunto dos municípios conserva um

comportamento semelhante nos anos de referência da pesquisa. A concentração de 77,2% dos

municípios, para o ano de 2006 na faixa de mais de 30% das despesas, expande-se no ano de

2011 para 91%, como pode ser visto no Quadro 1 abaixo. Essa observação implica em dois

fatores correlacionados: i) primeiramente os efeitos de vinculação de receitas à educação

básica, que é responsabilidade dos municípios, levando a uma crescente dotação de recursos

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destinados a essa central função social; ii) por outro, a baixa capacidade de financiamento dos

municípios paraenses delimita o elevado percentual que as funções vinculadas,

especificamente a educação, representam nos orçamentos municipais. Há casos de municípios

que dispendem mais de 50,0% de suas receitas disponíveis com educação em 2011, casos, por

exemplo, de Viseu (50,92%) e Irituia (59,07%).

QUADRO 1 - Municípios por faixas de participação da função Educação e Cultura no

total das despesas (2006/2011)

Ano Municípios Municípios por Faixa de participação da Função Educação e Cultura no Total das Despesas

Até 15% Mais de 15% a 20% Mais de 20% a 25% Mais de 25% a 30% Mais de 30%

2006 144 1,6 0,8 8,9 11,4 77,2

2011 144 1,1 1,1 0,0 6,7 91,0 Fonte: FINBRA, STN (2011).

Ao fazer a análise para as Regiões de Integração, observa-se novamente que os

municípios apresentaram comportamento bastante semelhante entre os anos 2006 e 2011,

somente apresentando alguma diferenciação as regiões Metropolitana e de Carajás, o que

reforça o aspecto já exposto dos limites de receita dos municípios paraenses, sendo que nas

duas regiões de integração mencionadas há umas liberdade receita disponível/vinculação

maior que as demais regiões. Entretanto, mesmo Carajás destinou em 2011 mais de dois

terços de seus gastos a despesas com educação (71,4%).

A Tabela 7, a seguir, apresenta as faixas de participação dos gastos da função

Educação e Cultura no total das despesas, segundo as classes de tamanho da população. A

proporção desses gastos segue a regra geral de participação de parcela superior a 30% dos

gastos em educação, isso independente do porte populacional, somente observando-se certa

variação em relação aos municípios de grande porte (Belém, Ananindeua e Santarém) entre os

anos de 2006 e 2011. De resto, há grande estabilidade na quantidade de municípios nas faixas

de participação na despesa total.

TABELA 7 Municípios, por faixas de participação da Função Educação e Cultura no

Total das Despesas, segundo classes de tamanho da população (2006/ 2011)

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771

Classes de Tamanho

Populacional dos

Municípios

Total dos

Municípios

Municípios por faixa de participação da Função Educação e Cultura no Total das

Despesas

2006 100

Até 15% Mais de 15% a 20% Mais de 20% a 25% Mais de 25% a 30% Mais de 30%

TOTAL

Até 15000 hab. 21,5 0 0 19,2 23,1 57,7

De 15001 a 35 000 hab 40,5 0 0 6 4 88

De 35 001 a 100 000 hab. 31,4 2,6 0 5,1 15,4 74,4

De 100001 a 200 000 hab. 3,3 0 25 25 0 50

Mais de 200 000 hab. 3,3 25 0 0 0 75

2011 100

Até 15% Mais de 15% a 20% Mais de 20% a 25% Mais de 25% a 30% Mais de 30%

TOTAL

Até 15000 hab. 16,9 0 0 6,7 6,7 86,7

De 15001 a 35 000 hab 39,3 0 0 0 8,6 91,4

De 35 001 a 100 000 hab. 33,7 0 0 0 3,3 96,7

De 100001 a 200 000 hab. 5,6 0 0 20 0 80

Mais de 200 000 hab. 4,5 0 25 0 25 50

Fonte: FINBRA, STN (2011).

Do Quadro 2, que segue, extrai-se a informação de que, em termos per capita, nos

gastos referentes a Educação e Cultura a Região de Carajás é a que mais gasta, seja em 2006,

quanto em 2011. A observação curiosa refere-se a segunda colocada: a Região do Marajó

aparece em 2011 com um gasto per capita de 726,71. Por outro lado, a Região Metropolitana

é a de menor gasto per capita, apresentando também a segunda menor taxa de crescimento

nominal dos gastos em educação no período em tela (22,6%). Vale denotar que o gasto per

capita da RMB em 2011 foi de apenas R$ 222,46, enquanto na RCJ os gastos per capita

montaram R$ 770,47, ou seja, mais de três vezes os da região metropolitana. Ainda no

Quadro 2, percebe-se que os valores per capita para 2006 e 2011, para o conjunto dos

municípios, foram de R$ 208,21 e R$ 488,02, respectivamente, um crescimento nominal

médio anual de 26,9%, ou em termos reais38, R$ 272,92 e R$ 518,58 respectivamente, o que

perfaz um crescimento real médio anual de aproximadamente 38%.

QUADRO 2 - Despesa per capita com Educação e Cultura nas Regiões de Integração

(Valores Correntes – R$)

Regiões de Integração N° de Municípios Despesa per capita com Educação

38

Deflacionado pelo INPC.

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772

2006 2011 ∆% Anual

Região Metropolitana 5 104,33 222,46 22,6

Região Guamá 18 196,79 436,27 24,3

Região Caeté 15 192,87 517,51 33,6

Região Araguaia 15 253,04 517,06 20,8

Região Carajás 12 328,06 770,47 26,9

Região Tocantins 11 298,49 597,32 20,0

Região Baixo Amazonas 12 241,53 643,02 33,2

Região Lago do Tucuruí 7 277,18 686,65 29,5

Região Rio Capim 16 260,62 692,42 33,1

Região Xingu 10 274,42 647,58 27,2

Região Marajó 16 244,91 726,71 39,3

Região Tapajós 6 231,16 666,31 37,6

Total 143 208,21 488,91 26,9 Fonte: FINBRA, STN (2011).

O número de municípios por faixas de despesas per capita na função Educação,

segundo Regiões de Integração, consta na Tabela 8 seguinte. Observa-se nessa tabela que

duas regiões claramente se destacam pela proporção de municípios na faixa de gastos per

capita acima de R$ 600,00: a RCJ e RBA, apresentando dois terços de seus municípios (66%)

em 2011 naquela faixa. No caso da RMB, todos os municípios que a compõem estavam nas

faixas mais baixas de gastos per capita (até R$ 300) para o ano de 2006, mantido a maioria

dos municípios (60%) naquela faixa em 2011, o que estabelece contornos pouco positivos

para as condições de desenvolvimento local da região. No Geral, o percentual de municípios

com gastos per capita acima de R$ 600,00 para o ano de 2011 foi de 33,57%, representando

expressivo crescimento em relação ao ano de 2006, que era de somente 5,59%. Nas faixas

acima de R$ 400 e R$ 500,00 houve crescimento sensível de municípios, basta ver as

proporções de 2006 e 2011.

Tabela 8 - Municípios, por faixa de despesas na função Educação e Cultura per capita,

segundo Região de Integração (2006/2011)

Região de

Integração

Total De

municípios

Municípios, por faixas de despesas na função Educação per capita, segundo Regiões de

Integrações ( Valores Correntes - R$)

Até 200

Mais de 200

a 300

Mais de 300

a 400

Mais de 400

a 500

Mais de 500 a

600

Mais de

600

2006

TOTAL 143 22,38 40,56 19,58 7,69 3,50 5,59

Regiões de integrações

-

Região

Metropolitana 5

60 40 - - - -

Região Guamá 18 38,89 44,44 11,11 - 5,56 -

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773

Região Caeté 14 33,33 40 13,33 - 6,67

Região Araguaia 15 13,33 53,33 20 6,67 6,67 -

Região Carajás 12 8,33 41,67 8,33 33,33 - 8,33

Região Tocantins 11 9,09 18,18 36,36

27,27 9,09

Região Baixo

Amazonas 12

16,67 58,33 8,33 8,33 8,33 -

Região Lago do

Tucuruí 7

14,29 42,86 42,86 - - -

Região Rio

Capim 16

12,50 50,00 31,25 - - 6,25

Região Xingu 10 20,00 20,00 10,00 30,00 - 20,00

Região Marajó 16 25,00 31,25 31,25 12,5 - -

Região Tapajós 6 33,33 33,33 16,67 - - 16,67

2011

TOTAL 143 4,20 9,79 17,48 22,38 11,89 33,57

Regiões de integrações

Região

Metropolitana 5

- 60,00 - 20,00 20,00 -

Região Guamá 18 11,11 22,22 33,33 16,67 11,11 5,56

Região Caeté 14 6,67 6,67 20,00 20,00 6,67 33,33

Região Araguaia 15 - 6,67 13,33 26,67 20,00 33,33

Região Carajás 12 - - - 33,33 - 66,67

Região Tocantins 11 - - 9,09 27,27 18,18 45,45

Região Baixo

Amazonas 12

8,33 - 8,33 8,33 8,33 66,67

Região Lago do

Tucuruí 7

- 14,29 14,29 14,29 14,29 42,86

Região Rio

Capim 16

- 6,25 18,75 18,75 6,25 50,00

Região Xingu 10 - - 20,00 - 30,00 50,00

Região Marajó 16 12,50 6,25 25,00 18,75 18,75 18,75

Região Tapajós 6 - - 16,67 16,67 33,33 33,33

Fonte: FINBRA, STN (2011).

Vale reforçar, ainda em relação a tabela anterior, que o quadro de melhor

disponibilidade de recursos de certas regiões de integração estão ligados ao fato de que nessas

regiões, as transferências governamentais, tanto do Estado quanto da União, que são

obrigatórias, representam a maior parcela da receita e também das despesas na função

Educação do que nas outras regiões. Ou seja, há receita disponível em menor proporção

nessas regiões para aumentar os gastos em outras funções, somente sendo possível elevar os

gastos na função educação dada sua condicionalidade ou vinculação obrigatória. Assim, com

maior participação das transferências constitucionais na receita total ajuda a compreender esse

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774

quadro das despesas na função Educação e Cultura. Ainda, de maneira geral, o gasto per

capita em Educação e Cultura tem crescido e se tornado maior nas demais regiões em

detrimento da RMB, o que pode refletir a perda de dinamicidade da capital em relação ao

restante do estado nas últimas duas décadas.

4. Resultados da Função Saúde e Saneamento39

Os resultados da Tabela 9, a seguir, para os anos de 2006 e 2011, indicam uma

concentração de municípios nas faixas intermediárias de gasto em Saúde e Saneamento - entre

15% e 30%. Percebe-se também um crescimento nas faixas entre 20 e 30% em seis regiões de

integração (RGU, RCT, RRA, RLT, RRC, RXG), também houve crescimento mais

representativo na classe mais alta (mais de 30%) em três regiões, sendo que no caso da RMB

se manteve elevado percentual de gastos na função saúde/saneamento, principalmente em

função da atração e prestação de serviços especializados de saúde (média e alta

complexidade) que os municípios da RMB executam para as demais regiões.

Tabela 09 - Municípios, por faixa de participação da função Saúde e Saneamento no

total das despesas, segundo Região de Integração ( 2006 – 2011)

Região de Integração Municípios por faixa de participação da função saúde e saneamento no total das despesas

Até 15% Mais de 15% a 20% Mais de 20% a 25% Mais de 25% a 30% Mais de 30%

2006

Região Metropolitana 0,0 0,0 0,0 25,0 75,0

Região Guamá 14,3 42,9 14,3 28,6 0,0

Região Caeté 15,4 23,1 53,8 0,0 7,7

Região Araguaia 6,7 26,7 33,3 33,3 0,0

Região Carajás 0,0 40,0 60,0 10,0 0,0

Região Tocantins 12,5 25,0 50,0 12,5 0,0

Região Baixo Amazonas 10,0 60,0 30,0 0,0 0,0

Região Lago do Tucuruí 28,6 57,1 14,3 0,0 0,0

Região Rio Capim 26,7 20,0 26,7 13,3 13,3

Região Xingu 0,0 50,0 25,0 12,5 12,5

Região Marajó 14,3 50,0 28,6 7,1 0,0

Região Tapajós 0,0 40,0 60,0 0,0 0,0

39

Novamente, a Portaria nº 42 de 1999 do MPOG separa tais funções, mas como o gasto com saneamento

alcança somente 42% dos municípios e tem impactos em termos de saúde preventiva, somou-se aos de saúde.

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2011

Região Metropolitana

25,0 50,0 25,0

Região Guamá 22,2 33,3 11,1 22,2 11,1

Região Caeté 20,0 30,0 40,0 0,0 10,0

Região Araguaia 9,1 18,2 9,1 54,5 9,1

Região Carajás 14,3 42,9 42,9 0,0 0,0

Região Tocantins 12,5 37,5 50,0 0,0 0,0

Região Baixo Amazonas 12,5 50,0 25,0 12,5 0,0

Região Lago do Tucuruí 0,0 25,0 50,0 25,0 0,0

Região Rio Capim 33,3 22,2 11,1 33,3 0,0

Região Xingu 14,3 28,6 57,1 0,0 0,0

Região Marajó 28,6 57,1 14,3 0,0 0,0

Região Tapajós 0,0 40,0 40,0 20,0 0,0

Fonte: FINBRA, STN (2011).

Esse comportamento tanto para o conjunto dos municípios do Estado do Pará quanto

para as Regiões de Integração é uma indicação de crescimento somente mediano dos gastos

com Saúde e Saneamento nos municípios, principalmente nas faixas entre 20 e 30% das

despesas totais. Para confirmar isso, além dos resultados apresentados na Tabela 9, apresenta-

se o quadro abaixo, onde se visualiza as participações per capita de despesas com Saúde e

Saneamento. As despesas per capita, em 2006, foram equivalentes a R$ 183,43 e em 2011 R$

332,83, um crescimento nominal médio anual de 16,3% e em termos reais40 de 9,36% médio

anual (últimos cinco anos). Ainda em termos per capita, as regiões que mais cresceram foram

a do Lago de Tucuruí (RLT), Tapajós (RTJ) e Carajás (RCJ) com 33,8%, 33,4% e 24,4%,

respectivamente.

A RMB apesar do caráter de “auxílio” geral que desenvolve em relação as demais

regiões, especialmente as mais próximas, dado o seu grau de polarização, porém foi uma das

que menos apresentou crescimento per capita nos últimos cinco anos. A região do Marajó

(RMJ), assim como no aspecto educação, apresenta o mais baixo nível per capita de gastos, o

que se manifesta na precariedade dos serviços de saúde pública do arquipélago marajoara.

QUADRO 3 - Despesa per capita com Saúde e Saneamento por Regiões de Integração

(Valores Correntes – R$)

Regiões de Integração N° de Municípios Despesa per capita com Saúde e Saneamento

40

Valores deflacionados pelo INPC.

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2006 2011 ∆% Anual

Região Metropolitana 5 241,40 359,69 9,8

Região Guamá 18 154,72 214,69 7,8

Região Caeté 15 126,84 219,98 14,7

Região Araguaia 15 183,43 347,09 17,8

Região Carajá 12 259,01 574,48 24,4

Região Tocantins 11 153,66 217,13 8,3

Região Baixo Amazonas 12 147,52 317,28 23,0

Região Lago do Tucuruí 7 153,36 412,41 33,8

Região Rio Capim 16 141,40 312,73 24,2

Região Xingu 10 182,26 264,89 9,1

Região Marajó 16 102,45 217,28 22,4

Região Tapajós 6 117,56 313,97 33,4

Total 143 183,43 332,83 16,3

Fonte: FINBRA, STN (2011).

A partir da constatação feita dos resultados apresentados na Tabela 9, de que os gastos

relativos com Saúde e Saneamento tiveram crescimento nominal médio anual de 16,3% no

período de 2006 a 2011, observa-se, entretanto na Tabela 10, a seguir, que esse crescimento

não se expressa em todas as faixas de portes populacionais, sendo que na faixa intermediária

entre 35.000 e 100.000 habitantes, foi onde se observou real crescimento nos dispêndios

destinados a saúde/saneamento. Na faixa de acima de 200.000 habitantes, onde se encontra a

maior parte da RMB, observa-se a manutenção dos níveis de gastos. Em resumo, as Tabelas 9

e 10 e o Quadro 3 mostram como resultados o aumento nos gastos totais e per capita com

Saúde e Saneamento feitos pelos municípios entre 2006 e 2011, porém não se observa o

crescimento disseminado em todas as Regiões de Integração, nem em todas as faixas de porte

populacional.

TABELA 10 - Municípios, por faixas de participação da função Saúde e Saneamento no

total das despesas, segundo classes de tamanho da população (2006/2011)

Classes de Tamanho

Populacional dos

Municípios

Total dos

Município

s

Municípios por faixa de participação da função saúde e saneamento no total das

despesas (%)

2006

Até

15% Mais de 15% a 20%

Mais de 20% a

25%

Mais de 25% a

30%

Mais de

30%

TOTAL

Até 15000 hab. 21,5 15,4 38,5 34,6 3,8 7,7

De 15001 a 35 000 hab. 40,5 10,2 32,7 44,9 8,2 4,1

De 35 001 a 100 000

hab. 31,4

7,9 39,5 26,3 15,8 10,5

De 100001 a 200 000

hab. 3,3

0,0 0,0 25,0 25,0 50,0

Mais de 200 000 hab. 3,3 0,0 0,0 75,0 0,0 25,0

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2011

Até

15%

Mais de 15% a

20%

Mais de 20% a

25%

Mais de 25% a

30%

Mais de

30%

TOTAL

Até 15000 hab. 16,9 20,0 26,7 33,3 13,3 6,7

De 15001 a 35 000 hab 39,3 28,6 42,9 17,1 11,4 0,0

De 35 001 a 100 000

hab. 33,7

3,3 26,7 40,0 23,3 6,7

De 100001 a 200 000

hab. 5,6

0,0 20,0 60,0 20,0 0,0

Mais de 200 000 hab. 4,5 0,0 25,0 0,0 50,0 25,0 Fonte: FINBRA, STN (2011).

Na análise da Tabela 11, a seguir, que mostra os municípios por faixas de despesas na

função Saúde e Saneamento per capita, percebe-se que, no conjunto dos municípios, houve

um aumento significativo de municípios com gastos per capita acima de R$ 500,00. Em 2006

somente municípios da RCJ (16%) apresentavam gastos per capita naquela ordem, em 2011

agregam-se municípios da Região do Araguaia (RAG), Carajás (RCJ), Baixo Amazonas

(RBA), Lago de Tucuruí (RLT), Rio Capim (RRC) e Tapajós (RTJ), o que corresponde aos

investimentos na instalação e funcionamentos dos serviços de média e alta complexidade que

exigiram a municipalização de parcela das atividades, ou reforço complementar via

financiamento do SUS.

Tabela 11 - Municípios, por faixa de despesas na função Saúde e Saneamento per capita,

segundo Região de Integração (2006/2011)

Classes de tamanho da

população dos municípios

Total De

municípios

Municípios, por faixas de despesas na função Saúde per capita, segundo

Regiões de Integração( Valores Correntes - R$)

Até 200

Mais de

200 a 300

Mais de

300 a 400

Mais de

400 a 500

Mais de

500 a 600

Mais

de 600

2006

TOTAL 143

Região de planejamento

Região Metropolitana 5 60 40 - - - -

Região Guamá 18 83 11 6 - - -

Região Caeté 14 86 14 - - - -

Região Araguaia 15 47 40 7 7 - -

Região Carajás 12 50 8 25 - 8 8

Região Tocantins 11 82 9 9 - - -

Região Baixo Amazonas 12 75 8,33 16,67 - - -

Região Lago do Tucuruí 7 57,14 42,86

- - -

Região Rio Capim 16 62,5 31,25 6,25 - - -

Região Xingu 10 30 40 20 10 - -

Região Marajó 16 93,75 6,25

- - -

Região Tapajós 6 66,67 16,67 16,67

- -

2011

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TOTAL 144

Região de Integração

Região Metropolitana 5 - 60 20 20 - -

Região Guamá 18 44 44 11 - - -

Região Caeté 14 57 29 7 7 - -

Região Araguaia 15 7 27 40 7 20 -

Região Carajás 12 - 25 42 17 17 -

Região Tocantins 11 45 45 9 - - -

Região Baixo Amazonas 12 16,67 33,33 33,33 - 16,67 -

Região Lago do Tucuruí 7 14,29 28,57 42,86 - 14,29 -

Região Rio Capim 16 31,25 25 31,25 6,25 6,25 -

Região Xingu 10 10 30 40 20 - -

Região Marajó 16 50 37,5 12,5 - - -

Região Tapajós 6 - 50,00 16,67 - 33,33 -

Fonte: FINBRA, STN (2011).

A análise regionalizada da Tabela 11 evidencia que na região Metropolitana, em 2011,

60% de seus municípios gastaram entre R$ 200 e R$ 300 per capita com Saúde e Saneamento.

Na Região Guamá 44% dos seus municípios ficaram nessa faixa, bem como 45% na Região

Tocantins e 50% no Marajó, o que evidencia graves dificuldades, principalmente de

Saneamento, nessas áreas. A despeito de variações, observa-se uma forte concentração de

gastos per capita nas duas faixas medianas assinaladas, expressando a dificuldade já

assinalada, de uma alteração qualitativa nas condições de infraestrutura sanitária dos

municípios paraenses.

Considerações Finais

A análise dos dados fiscais municipais paraenses nos possibilitou o conhecimento

mais integrado do comportamento da gestão pública em duas funções sociais básicas: a

educação e a cultura. Por outro, o conhecimento detido e particularizado das receitas

municipais estruturadas em Regiões de Integração possibilitam vislumbrar as distorções

federativas locais quanto a apropriação de receitas disponíveis e limites que se impõem aos

necessários gastos nas rubricas sociais em estudo.

Metodologicamente é de interesse, não somente acadêmico, analisar uma realidade

complexa como a paraense utilizando um recorte de estrutura de planejamento integrado, o

que se vislumbra com as chamadas Regiões de Integração. Neste sentido, as políticas públicas

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779

em foco podem e devem ser tratadas enquanto esforço integrado de diversas municipalidades,

algo que as políticas de consorcio público podem tornar efetivas.

Perceberam-se algumas tendências econômico-territoriais importantes, entre elas: uma

expressiva concentração das receitas tributárias nos municípios da Região Metropolitana de

Belém e na Região de Integração de Carajás, o que coincide com a maior dinamicidade

econômica dessas duas regiões, seja pela historicidade da região metropolitana, seja pela base

mineral que sustenta a dinâmica de Carajás, especialmente os municípios do corredor do eixo

do ferro (Canãa, Parauapebas e Marabá).

As transferências governamentais da União são bem mais diluídas em todo territórios,

seja no caso do FPM pelo regramento institucional próprio baseado no indicador

populacional, seja as transferências vinculadas, especialmente no caso do FUNDEB, que

demonstrou elevado nível distributivo e capacidade de estruturação da função educação nas

diversas regiões de integração. No caso do Cota-ICMS foi atestado que os critérios centrados

no valor adicionado produzem uma concentração nas duas regiões mais dinâmicas (RMB e

RCJ), o que nos leva a consideração que o FPM, SUS e FUNDEB atuaram de forma mais

redistributiva e o ICMS é mais concentrado nos municípios com maior força econômica.

A proporção de gastos em Educação dos municípios do Estado do Pará demonstrou

que as regra centradas em fundos vinculados parecem ser os melhores mecanismos

distributivos, seja pela maior transparência no uso do recurso, seja pela objetividade

estabelecida em indicadores de acompanhamento mais objetivos. Observou-se que de forma

generalizada houve elevação nos gastos per capita em educação básica, sendo que as taxas de

crescimento foram expressivas nas diversas RI’s e, também, nas diversas faixas populacionais

municipais. No Geral, o percentual de municípios com gastos per capita acima de R$ 600,00

para o ano de 2011 foi de 33,57%, representando expressivo crescimento em relação ao ano

de 2006, que era de somente 5,59%. Nas faixas acima de R$ 400 e R$ 500,00 houve

crescimento sensível de municípios, basta ver as proporções de 2006 e 2011. Ainda, de

maneira geral, o gasto per capita em Educação e Cultura tem crescido e se tornado maior nas

demais regiões em detrimento da RMB, o que pode refletir a perda de dinamicidade da capital

em relação ao restante do estado nas últimas duas décadas.

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Em Saúde e Saneamento foi possível verificar que há elevação real nos gastos, porém

em níveis bastante aquém das reais necessidades do bem-estar da população, o que se verifica

observando as baixas taxas de crescimento per capita médias anuais. Os municípios

paraenses, tomados em seu conjunto revelaram, em 2011, uma distribuição razoavelmente

equilibrada entre as faixas de despesas com Saúde e Saneamento, sendo que a concentração

dos municípios se dá nas faixas intermediárias de gasto: entre 15% e 30%. A RMB apesar do

caráter de “auxílio” geral que desenvolve em relação às demais regiões, especialmente as

mais próximas, porém foi uma das que menos apresentou crescimento per capita nos últimos

cinco anos.

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DESENVOLVIMENTO/CRESCIMENTO ECONÔMICO E INDÚSTRIAS SUJAS: O

CASO DE MOSSORÓ (RN)

Área temática: Gestão econômica, social e ambiental

Érica Priscilla Carvalho de Lima41

Fábio Fonseca Figueiredo42

RESUMO: presente artigo tem por objetivo analisar o setor industrial na cidade de Mossoró (RN)

buscando relacionar a crescente industrialização com os problemas ambientais vivenciados no

município. A hipótese central do artigo é o da ocorrência de um processo de transferência de

“indústrias sujas” para o município, visto que o crescimento industrial ocorreu em consonância ao

crescimento dos segmentos industriais de grande impacto ambiental. Os principais resultados

indicaram que a estrutura produtiva em Mossoró foi modificada ao longo do período de análise em

conformidade com o predomínio de atividades de grande impacto ambiental: como a extrativa mineral,

metalúrgica, celulose, entre outras.

Palavras-chave: Desenvolvimento econômico. Indústrias sujas. Mossoró/RN

1. INTRODUÇÃO

A partir dos anos 1990 intensifica-se o processo de industrialização no Nordeste

brasileiro. Este fato pode ser justificado pela maior abertura do país ao capital internacional, o

que propiciou a maior mobilidade e atração dos investimentos externos. Além disso, os

generosos incentivos fiscais concedidos pelas administrações públicas dos estados

nordestinosprovocaram uma competição por indústrias, que ficou conhecida como guerra

fiscal. Ainda, e principalmente, o incremento no setor industrial nordestino ocorreu devido o

baixo nível de remuneração salarial e branda legislação ambiental, fatores que favoreceram a

atração do capital na região (FIGUEIREDO, 2010; CAVALCANTE e FERREIRA, 2002).

As indústrias intermediárias que se instalaram no Nordeste fomentaram a economia

local e contribuíram para o desenvolvimento e crescimento urbano das cidades. Porém, o fato

41

Universidade Federal do Rio Grande do Norte – CCHLA/UFRN / Telefone: (84) 8838-7299 / E-mail:

[email protected] 42

Universidade Federal do Rio Grande do Norte – CCHLA/UFRN/E-mail: [email protected]

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dessas indústrias demandarem grandes quantidades de recursos naturais e gerarem elevados e

diversos tipos de contaminação ao longo do processo produtivo acentuou e intensificou a

problemática ambiental urbana.

A partir dos elementos enunciados acima, o presente artigo analisa a formação do

parque industrial na cidade de Mossoró, Rio Grande do Norte, observando seus rebatimentos

para o meio ambiente urbano e sua dimensão socioeconômica. Foi realizada uma revisão da

literatura sobre a temática e levantamento dos dados (primários e secundários) sobre as

atividades industriais desenvolvidas no município.

Além desta parte introdutória, o trabalho é composto por três seções e considerações

finais. A próxima seção expõe as dimensões do desenvolvimento, necessárias para que se

entenda os esforços e justificativas da administração pública brasileira no sentido de se

alcançar o propalado desenvolvimento. A terceira parte debate o deslocamento das indústrias

tradicionais, que geram grande impacto ao meio ambiente, do centro para a periferia do

sistema mundo bem como as implicações para as sociedades que as recebem. Na sua quarta

seção, o artigo contextualiza a cidade de Mossoró, a formação de seu parque industrial e

consequências ambientais e socioeconômicas da exploração das atividades industriais no

município. Por último, são apresentadas as considerações, que encerram o artigo mas não o

debate sobre a opção do governo brasileiro e potiguar de atrelar o desenvolvimento à

exploração de atividades econômicas tradicionais.

2. AS DIMENSÕES DO DESENVOLVIMENTO

O conceito de desenvolvimento foi moldado com o decorrer da história, visto que ao

debate acerca do mesmo foram englobadas novas abordagens. Na década de 1960 era

recorrente a relação que se fazia entre desenvolvimento com crescimento, encarado por

diversos autores daquela época como categorias sinônimas. A esse respeito, Bresser Pereira

(2005) analisa que o crescimento é, geralmente, atrelado a aumento na renda enquanto que

desenvolvimento se relaciona a mudanças no processo produtivo, o que implica na mudança

na infraestrutura das atividades econômicas, tendo como base o setor industrial. A partir da

década de 1970 é possível verificar a mudança no paradigma, denotando um aspecto mais

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global e complexo do desenvolvimento, centrado em três dimensões fundamentais:

econômica, social e política (Projeto Áridas, 1995).

Conforme Veiga (2005), de modo geral, o desenvolvimento apresenta três concepções

teóricas predominantes: a corrente fundamentalista, que usa como sinônimos

desenvolvimento e crescimento, sendo o primeiro um resultado natural do crescimento

econômico. A segunda corrente baseia-se na negação da existência do desenvolvimento, tal

como a visão de Celso Furtado em afirmar que o conceito é um mito, resultando na divisão

em países centrais e periféricos de acordo com a estrutura e nível de desenvolvimento

apresentados. Por fim, a terceira analisa as questões relativas a desenvolvimento

relacionando-as a maior complexidade do conceito, fundamentada pelo primeiro Relatório do

Desenvolvimento Humano em 1990, que teve como concepção as ideias de Amartya Sen (op.

cit.). Há, ainda o desenvolvimento sustentável, que como veremos na próxima seção,

relaciona as atividades econômicas a limites e possibilidades ambientais.

Os debates acerca das questões relacionadas ao desenvolvimento econômico das

nações remetem aos papéis dos diversos atores sociais para a realização desse processo.

Cardoso (2007) aponta que, historicamente, Estado e Mercado são os atores principais e que

atuam fortemente em prol do desenvolvimento, alternando essa tarefa ao longo do tempo. A

intervenção do Estado na economia foi fundamentada pelo ideário de John M. Keynes (1996),

no período posterior a segunda guerra e que contrariou a visão clássica do liberalismo e do

equilíbrio automático da economia, necessitando dotar o Estado de instrumentos econômicos

ativos. Para Keynes a intervenção estatal era o caminho para dinamizar a economia, via

políticas expansionistas de gastos e investimentos. O receituário keynesiano foi materializado

em dois modelos: o Estado de Bem Estar Social e o Estado Desenvolvimentista (CARDOSO,

2007).

O Estado de Bem-Estar Social (Welfare State) foi implementado nas nações

diretamente implicadas na segunda guerra mundial. Os países centrais da Europa tinham

como pressuposto a elevada participação estatal na promoção de benefícios sociais. De acordo

com essa visão, o Estado se tornara o agente de promoção e regulador do desenvolvimento

econômico e social, garantindo à população o acesso aos direitos sociais e proteção.

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De acordo com Evans (1993), o Estado desenvolvimentista possui o papel ativo para a

mudança estrutural dos países que não apresentam um estágio econômico capaz de garantir a

acumulação do capital, notadamente os países da América Latina e Ásia. Para o autor, as

políticas econômicas dos Estados que assumem essa modalidade de desenvolvimento devem

elevar o processo de industrialização, modernizando o setor agropecuário de tal forma que os

demais setores devem ofertar a infraestrutura necessária ao dinamismo do setor industrial.

Um aspecto relevante que surgiu para a discussão do desenvolvimento foi a influência

das relações entre os atores sociais. Scheneider (2004) relata que a acentuação da

interdependência das relações sociais ocorreu a nível internacional, resultado do processo de

globalização e mudanças nos paradigmas políticos e institucionais.

Nesse contexto surgiram duas escolas pensamento que passaram a formular o conceito

de desenvolvimento, relacionando a interação entre os diversos atores sociais. De um lado

temos o aspecto territorial do desenvolvimento e, por outro lado, a importância do capital

social. Abramovay (2000) ressalta a importância das instituições para a criação de

mecanismos favoráveis ao desenvolvimento, o que contraria os estudos que apontam as

vantagens locacionais e competitivas como determinantes exclusivos do desempenho

econômico local. Segundo o autor:

Não se trata de apontar vantagens ou obstáculos geográficos de localização e sim de

estudar a montagem das “redes”, das “convenções”, em suma, das instituições que

permitem ações cooperativas – que incluem, evidentemente, a conquista de bens

públicos como educação, saúde, informação – capazes de enriquecer o tecido social

de uma certa localidade (pp. 1-2).

A dimensão do capital social abrange ações coletivas motivadas pela confiança mútua

e pelo objetivo de melhoria social. Os elementos básicos são as obrigações morais, valores

sociais e a cooperação. Desta forma, o capital social asseguraria um elevado nível de

integração política e um bom funcionamento econômico, o que resulta na cooperação mútua e

maior participação social. Como enfatiza Putnam (1996):

(...) o capital social serve como uma espécie de garantia, estando porém disponível

para os que não têm acesso aos mercados de crédito regulares. Não dispondo de

bens físicos para dar em garantia, os participantes, na verdade empenham suas

relações sociais. Assim o capital social é usado para ampliar os serviços de crédito

disponíveis nessas comunidades e para aumentar a eficiência com que aí operam os

mercados (pp. 178-179).

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O desenvolvimento territorial é centrado por políticas que almejam a redução das

disparidades regionais, da pobreza e compatibilidade socioeconômica e sustentável. Tal

concepção remete ao que defende Bacelar (1999) sobre a política nacional de

desenvolvimento regional, que para a autora seria o mecanismo de redução das desigualdades

regionais em múltiplas escalas e elevação das potencialidades das regiões. Assim, as políticas

são ancoradas pela intervenção territorial específica, maior mobilização cívica, identificação

das potencialidades locais e participação dos atores sociais.

A perspectiva institucional do desenvolvimento favorece ações democráticas pela

articulação estatal e participação social. Verifica-se a incorporação da participação e

representação dos atores sociais, ou seja, amplia-se a ideia de um desenvolvimento que leve

em conta diversos interesses, arenas políticas e atores sociais. Bandeira (1999) corrobora com

a ideia e afirma ainda a necessidade de se criar elementos que integrem a sociedade ao

processo de políticas públicas.

A maior abrangência da dimensão institucional elevou o nível de maturação política da

sociedade, afirmando a potencialidade da interação dos diversos atores para o desempenho de

determinado local. Desta forma, além da presença ativa do Estado, o desenvolvimento deve

ser resultante da interação social e dos objetivos coletivos, manejados por políticas públicas

que articulem os atores sociais, priorizando um desenvolvimento econômico, político, social e

ambientalmente sustentáveis.

A próxima seção versa sobre o processo de transferência das indústrias sujas do centro

para a periferia, a fim de realizar posteriormente um paralelo com o processo de transferência

industrial para o município de Mossoró.

3. O DESLOCAMENTO DAS INDÚSTRIAS SUJAS DO CENTRO PARA A

PERIFERIA DO SISTEMA ECONÔMICO

O declínio econômico internacional vivido nos anos 1970 motivou vários protestos de

grupos sociais organizados em países desenvolvidos devido à incapacidade dos governos em

manter o estado de bem estar social até então adquiridos. Aquele contexto histórico

apresentou ainda o lado sombrio do capitalismo, que à luz do crescimento econômico

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irresponsável comprometeu gravemente os estratos ambientais do planeta. O quadro de

contaminação ambiental que se observava em todo o mundo, especialmente em países

centrais, e os protestos sociais demonstraram a necessidade de pensar em novas e melhores

formas de reprodução social. O esgotamento de um modelo econômico que suscitava câmbios

levou a Organizações das Nações Unidas a se pronunciar, de forma que no ano de 1972 foi

realizada na cidade de Estocolmo/Suécia, a primeira grande conferência mundial sobre meio

ambiente.

Na Conferência de Estocolmo havia uma clara bipolarização dos debates, de um lado

estavam os países do centro do sistema econômico que, por já haver chegado a um estágio

elevado de desenvolvimento, propunham como alternativa que os demais países diminuíssem

seu ritmo de crescimento econômico, o que levaria a uma menor intervenção ao meio

ambiente. Capitaneados por Brasil, China e Coreia do Sul, os países periféricos questionavam

o posicionamento adotado pelos países centrais uma vez que àquela época, a intervenção ao

meio ambiente era vislumbrada como condição sinequa non para se alcançar o propalado

desenvolvimento econômico (RIBEIRO, 2010).

Aquele evento se caracterizou pelas disputas econômicas travadas entre as nações

participantes no que tange à distribuição dos investimentos produtivos internacionais. O

Brasil do rígido, intransigente e inconsequente regime militar foi capaz de oferecer subsídios

generosos a grupos internacionais que quisessem montar seus negócios em áreas onde a fauna

e a flora ainda eram pouco exploradas, como por exemplo, a região amazônica. Nota-se que a

Zona Franca de Manaus surgiu no ano de 1976 e foi fruto de uma política pública que

desejava fazer da Amazônia um polo industrial. No mesmo período, observa-se a formação a

intensificação de algumas indústrias em cidades médias do Nordeste, com destaque para o

polo industrial de Camaçari, na Bahia, e Suape, invenção pernambucana para a consolidação

do parque industrial daquele estado.

Em uma análise sobre o desenvolvimento econômico brasileiro, Brum (2000) afirma

que o governo militar não mediu esforços para viabilizar o seu projeto ousado de transformar

o país em uma potência econômica mundial. Neste sentido, qualquer ação que dificultasse o

ambicioso projeto seria fortemente rechaçada.

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Compreender o significado de tal opção pelo crescimento com contaminação é chave

para a análise do debate ambiental contemporâneo. Os países periféricos defendem o seu

direito de usar o meio ambiente como fizeram vários países desenvolvidos, de forma

inconsistente e sem a preocupação de planejamento e demandas industriais aos limites

naturais.

O projeto desenvolvimentista brasileiro iniciado no século passado e que se intensifica

neste século se baseia nas indústrias de transformação, que demandam elevadas quantidades

de recursos naturais e contaminam em níveis elevados. O ‘crescimentismo’ brasileiro pode ser

observado nas políticas públicas nacionais que abrandam as questões ambientais de modo a

garantir ‘sustentabilidade’ das atividades econômicas. Nesse sentido, a partir dos anos 2000

observa-se um incremento considerável em setores como petrolífero, automobilístico,

construção civil, siderúrgico e naval, entre outros.

Abramovay (2012) explica que devido a uma exigência mercadológica internacional,

cada vez mais as indústrias brasileiras adicionam aos seus processos produtivos elementos da

ecoeficiência. No entanto, o que atualmente se denominou economia verde não pode ser em si

um fim para se alcançar a sustentabilidade das atividades, porém um meio para que alcance a

sustentabilidade.

Para Veiga (2005), a atual retórica do desenvolvimento sustentável oscila entre a

parcimônia da reprodução da vida e a confiante crença de que surgirão, em tempo, inovações

tecnológicas capazes de evitar, ou contornar os impactos ambientais. Ainda conforme o autor,

o sentido mais amplo do desenvolvimento sustentável deve ser feito de forma

multidimensional, envolvendo um crescimento econômico socialmente includente,

equilibrado e representativo. Ou seja, um modelo que se desloque da esfera do desejo pelo

crescimento econômico a qualquer custo como forma de se alcançar o desenvolvimento do

país, caso do Brasil.

A próxima seção abordará o cenário apresentado em Mossoró, resultante de um

crescimento econômico que ocorreu em consonância a degradação ambiental, de políticas

públicas incipientes para reverterem esse cenário e da reduzida articulação social.

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4.A DESCONCENTRAÇÃO DO PARQUE INDUSTRIAL BRASILEIRO: RUMO ÀS

CIDADES INTERMÉDIARIAS

Dentre as principais características do processo de industrialização brasileira, destaca-

se a intensa concentração da indústria na região Sudeste, sendo São Paulo o estado em

destaque. O auge da concentração espacial da indústria foi na década de 1970, período que

São Paulo participou com 40% da renda nacional e 58% da produção industrial (BOTELHO,

2002). A consolidação de São Paulo como pólo industrial nacional ocorreu em paralelo com a

acentuação das desigualdades regionais, que redefiniram uma nova divisão regional do

trabalho no Brasil.

Nos anos 1960 e 1970, ocorreu no Brasil o processo de integração produtiva, que tinha

por objetivo a constituição de um cenário econômico nacional mais homogêneo (Guimarães

Neto, 1989). Esse processo teve como ponto básico a transferência de capitais das regiões

mais industrializadas para as demais, pela busca de novos investimentos e de espaços em

áreas não tradicionais. Assim, a disponibilidade de recursos naturais e a atuação

governamental nos estados receptores foram determinantes para essa desconcentração

produtiva no território nacional.

As mudanças na legislação remodelaram a espacialidade industrial brasileira. De forte

concentração em São Paulo, a partir dos anos 1990 a guerra fiscal, ou seja, a isenção de

impostos e os diversos benefícios concedidos aos empreendimentos industriais travada entre

os estados, marcou o redirecionamento no fluxo dos investimentos do setor para as distintas

regiões (Sabóia, 2001). Esse fenômeno que marcou a espacialidade industrial brasileira,

Santos (1996) denomina de “guerra entre lugares”.

A descentralização produtiva foi caracterizada pela transferência de plantas industriais,

a qual sob a alegação da concorrência internacional, impulsionou indústrias tradicionais para

novos espaços geográficos, buscando níveis mais baixos de remuneração salarial e pela oferta

de incentivos fiscais por parte do Estado.

Segundo BOTELHO (2002, p. 58),

A busca pela maior “flexibilidade” por parte das empresas se traduz na necessidade

de que as áreas industriais novas (ou já tradicionais, mas que apresentam forte

crescimento e reestruturação) tenham uma infra-estrutura compatível com os

avanços tecnológicos do final do século XX e apresentem menor regulamentação

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sociopolítico-ambiental (sindicatos mais fracos, incentivos fiscais, pouca

fiscalização ambiental, etc).

Os dados referentes ao número de estabelecimentos (tabela 1) indicam a transferência

industrial da região Sudeste para as demais regiões brasileiras, visto que a participação

relativa do Sudeste passou de 61,5%, em 1990, para 48,7% dos estabelecimentos industriais

em 2008. O crescimento do número de estabelecimentos atingiu 84% na região Norte, 83% no

Centro Oeste e 65% no Nordeste, entre 1998 e 2008.

Tabela 1 – Estabelecimentos no setor industrial brasileiro, de 1990 a 2008

1990 1998 2008 Variação (%)

Absoluto % Absoluto % Absoluto % 1990/98 98/2008

Norte 4.975 1,98 8.570 2,60 15.808 3,41 72,26 84,46

Nordeste 22.104 8,81 36.985 11,21 60.926 13,15 67,32 64,73

Sudeste 154.374 61,53 180.841 54,82 225.687 48,72 17,14 24,80

Sul 58.728 23,41 85.379 25,88 127.680 27,56 45,38 49,54

Centro-Oeste 10.700 4,26 18.117 5,49 33.155 7,16 69,32 83,00

Brasil 250.881 100 329.892 100 463.256 100 31,49 40,43

Fonte: Elaboração dos autores a partir dos dados da RAIS/MTE (1990-2008)

Os principais resultados dos dados dos estabelecimentos mostram que enquanto o

Sudeste reduziu sua participação, em contrapartida, as demais regiões foram ganhando

dinamismo. Essa transferência da indústria brasileira, especialmente para as regiões Nordeste,

Centro-Oeste e Norte, parece indicar um processo de desconcentração industrial verificado no

Brasil.

O processo de reversão da polarização (DINIZ, 1993) na economia brasileira acarretou

num maior direcionamento econômico em favor de novos espaços, os quais favoreceram as

cidades médias. Ademais, a desconcentração industrial verificada entre as regiões brasileiras

determinaram o crescimento das cidades médias que apresentam boa infraestrutura e oferecem

serviços básicos necessários, sinalizando, por exemplo, o aumento das escolas técnicas e

universidades nestas cidades em razão da necessidade de um maior número de mão-de-obra

qualificada. Além disso, verifica-se uma transferência de indústrias tradicionais de uso

intensivo de mão-de-obra, como o setor calçadista e de vestuários, em direção ao Nordeste,

sobretudo pela estrutura de incentivos fiscais e pela mão-de-obra barata da região.

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No Nordeste, a relocalização industrial favoreceu o crescimento de várias cidades de

porte médio (Campina Grande, Caruaru, Crato, Juazeiro, Sobral, Mossoró), que passaram a

receber um crescente fluxo de investimentos e de população, tornando-as espaços potenciais

de absorção de novos empreendimentos que antes eram direcionados para as metrópoles. Esse

processo foi resultado não apenas da reestruturação produtiva, mas da promoção da guerra

fiscal entre os estados, com a finalidade de receberem investimentos privados para

modernizarem as suas bases econômicas.

Embora não exista consenso em relação ao conceito de cidade média, o Instituto

Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) define, utilizando o critério demográfico, como

as cidades que apresentam uma população urbana de 100 mil a 500 mil habitantes. Entretanto

tal conceito é bastante criticado pelo viés estritamente demográfico e pela necessidade de se

englobar outros fatores para a definição de conceitos urbanos. Corroborando com esse ponto,

Ramos afirma “A dificuldade maior ao usar o critério demográfico está no fato de esse critério

agregar cidades com as mais diversas características” (RAMOS, 2011, p. 40).

Assim, cidade média pode ser entendida com os centros que desempenham papeis de

intermediação econômica entre as pequenas e grandes cidades e apresentam um dinamismo e

desenvolvimento local, bem como infraestrutura e serviços necessários para a atração de

investimentos. Em suma, a conceituação de cidade média tem que ser avaliada sob várias

dimensões e fatores, tais quais: demografia, função urbana e organização interna.

Os movimentos de transferências do setor calçadista e de vestuários rumo ao Nordeste

em busca, sobretudo, da excelente engenharia de incentivos fiscais, mão de obra barata e leis

ambientais brandas demonstram que tal transferência não é considerada um aspecto inovador

para indústria. Observamos esse fenômeno na cidade de Mossoró, Rio Grande do Norte, que

embora tenha recebido considerável investimento industrial a partir dos anos 1980, hospeda

indústrias que demanda muito recurso natural e gera contaminação ambiental em larga escala.

5. A CIDADE DE MOSSORÓ/RN

A cidade de Mossoró localiza-se, político-administrativamente, na região oeste do

estado. Possui uma localização estratégica por está centrada entre as capitais do Rio Grande

do Norte e Ceará (figura 1). Mossoró é a segunda cidade mais populosa do estado, contando

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com mais de 250 mil habitantes segundo censo do IGBE de 2010 e apresentou uma densidade

demográfica de 123,76 (hab/Km²). Apesar de ser o maior município potiguar em área total

ocupando 2.108,9 km², apenas 11,5834 km² se encontram na área urbanizada da cidade

(EMBRAPA, 2012). Ou seja, a área rural é bastante superior a área urbana no município,

entretanto mais de 90% da população residente em Mossoró vive na área urbana. De acordo

com o Censo do IBGE (2010), a população rural do município foi estimada em 22.574 (9%) e

a urbana em 237.241 (91%).

Figura 1: Localização geográfica de Mossoró (A), Natal (B) e Fortaleza (C)

Fonte: Google Maps

A cidade apresentou, em 2000 (IBGE, 2012), o sexto melhor Índice de

Desenvolvimento Humano (IDH) do estado, estando atrás da capital, Natal, Parnamirim,

Caicó, Carnaúbas dos Dantas e São José do Seridó. O índice agrega os indicadores de

longevidade, educação e renda, sendo assim, um mecanismo relevante para se indicar o

desenvolvimento social do município. Verificou-se a elevação do IDH municipal entre 1991 e

2000, visto que esse saltou de 0,635 para 0,735. Tal aumento pode refletir a melhoria dessas

variáveis sociais em Mossoró.

A partir dos anos de 1980, Mossoró se tornou palco de grandes investimentos estatais,

principalmente com a instalação da PETROBRAS, que aliado com o desenvolvimento da sua

atividade salineira e do seu distrito industrial, proporcionou à cidade um crescimento

industrial diversificado. A partir desse período ocorreu também a consolidação da agricultura

irrigada, constituída pelo pólo Açu/Mossoró, que além de favorecer a formação do setor

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agroindustrial na região, possibilitou a instalação de novas atividades e atraiu novos atores

migrantes para a cidade.

No decorrer de todas as fases de sua formação econômica, portanto, atesta-se o seu

domínio na região como centro prestador de serviços, seja como pólo agro-industrial,

produtor de sal, produtor de petróleo ou produtor de frutas tropicais para exportação, sendo

sempre considerável a atração que essa cidade exerce sobre seus vizinhos. (RÊGO, 2002, p.

51). A economia mossoroense é centrada em três eixos: petróleo, sal e fruticultura irrigada. O

Estado em parceira com o setor privado são os responsáveis pelo direcionamento de

investimentos destinados ao município, o que garantiu a esse o crescimento econômico

verificado nos últimos anos.

Tão importante quanto o crescimento industrial ocorrido em Mossoró é conhecer que

tipo de crescimento econômico se consolidou naquela cidade. A próxima seção apresenta a

configuração industrial assumida no município, no período pós década de 1990.

5.1 Crescimento industrial em Mossoró e as indústrias intermediárias

A concorrência dos estados para atrair atividades produtivas e a conseqüente guerra

fiscal da década de 1990 são centrais para se compreender a desconcentração industrial em

Mossoró, visto que os estados passaram a fornecer incentivos fiscais para as indústrias que se

fixassem territorialmente. Esse fator institucional de apoio aliado a vantagens locacionais do

município permitiram o direcionamento de investimento e de indústrias para Mossoró.

Essa transferência de plantas industriais para Mossoró teve como característica a

preponderância de indústrias intermediárias, as que são intensivas em recursos naturais,

apresentam uma tendência locacional de se concentrarem em áreas menos desenvolvidas,

visto que “Os custos de transporte neste segmento são menores para o produto final do que

para a matéria-prima, atraindo a indústria para a proximidade da base de recursos naturais”

(Torres, 1993, p. 53).

Tal tendência pode ser verificada quando analisa-se a configuração do emprego formal

em Mossoró no período pós 1990. O mercado de trabalho é uma ferramenta importante para

indicar o panorama econômico do município e compreender a estrutura produtiva, visto que

apresenta elementos quanto a possível concentração de atividades econômicas.

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O número de empregos industriais era de 4.702, em 1990, e eleva-se para 17.724, em

2010 (Tabela 2). Verifica-se que tal elevação foi resultado de programas destinados a elevar o

potencial de Mossoró, via incentivos fiscais e investimentos privados, que resultaram num

parque industrial mais diversificado no município. Um dado importante é a redução

persistente da participação da atividade de alimentos e bebidas, a qual era a mais importante

em 1990, representando 50,6% dos empregos industriais, e reduziu sua participação para

15,5%, em 2010. Em contrapartida, verificou-se a elevação da atividade da extrativa mineral

no município, que representou 8,27% do emprego industrial, em 1990, e passou a 21,43% em

2010, sendo a segunda atividade com maior participação nesse ano.

Tabela 2 - Distribuição do emprego industrial por segmento em Mossoró: 1990, 2000 e

2010

1990 % 2000 % 2010 %

Extrativa mineral 389 8,27 2042 23,78 3.799 21,43

Mineral nãometálico 493 10,48 398 4,63 863 4,87

IndústriaMetalúrgica 41 0,87 171 1,99 1.897 10,70

IndústriaMecânica 4 0,09 225 2,62 419 2,36

Elétrico e comunicação 1 0,02 0 0,00 47 0,27

Material de transporte 2 0,04 26 0,30 174 0,98

Madeira e Mobiliário 171 3,64 188 2,19 358 2,02

Papel e gráfica 58 1,23 196 2,28 452 2,55

Borracha, fumo e couros 16 0,34 50 0,58 151 0,85

Indústriaquímica 227 4,83 511 5,95 656 3,70

Indústriatêxtil 176 3,74 225 2,62 185 1,04

Indústria de calçados 11 0,23 10 0,12 1 0,01

Alimentos e bebidas 2379 50,60 2942 34,26 2.751 15,52

Serviço de Utilidadepública 259 5,51 182 2,12 230 1,30

Construção civil 475 10,10 1421 16,55 5.741 32,39

Total 4.702 100 8.587 100 17.724 100

Fonte: Elaboração própria dos autores com base nos dados da RAIS (2013).

O extrativismo mineral elevou-se pela descoberta de petróleo na localidade do Canto

do Amaro, em 1986, que consolida a atividade petrolífera no município e tornando-o o maior

campo produtor de petróleo em terra do Brasil. Com isso, Mossoró consolidou o Rio Grande

do Norte como o segundo maior produtor de petróleo do país. Devido a instalação da

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PETROBRAS, Mossoró recebeu outras empresas responsáveis pela prestação de serviços

petrolíferos, aumentando a população e a pressão de oferta de trabalhos.

Outra atividade industrial importante em Mossoró é a o parque salineiro, que contribui

aproximadamente com 95% da produção brasileira de sal marinho. Essa posição de destaque

da produção de sal em Mossoró deve-se, sobretudo, a uma série de fenômenos naturais que

são ideais para a indústria salineira: solo impermeável, que garante condições propícias para a

cristalização e colheita do sal.

A construção civil vem ganhando participação no município em detrimento da perda

do segmento de alimentos e bebidas, configurando com o segmento com maior representação

em 2010, atingindo 32,39% naquele ano. Outra mudança, no que concerne a distribuição

setorial do emprego em Mossoró, foi a perda da participação da atividade de alimentos e

bebidas. Essa atividade era a maior responsável pela geração de emprego no município em

1990 (50,6%) e vem perdendo drasticamente sua participação, atingindo 15,5% em 2010.

Verifica-se também a crescente participação da indústria metalúrgica, a qual representava

apenas 0,87%, em 1990, e passou a 10,7%, em 2010.

A rápida urbanização de Mossoró aliada a crescente entrada de novas atividades

econômicas e intensificação dos setores ativos no município, tiveram como contrapartida uma

concentração econômica que resultou em desequilíbrios para uma parcela expressiva da

população. O próximo tópico abordará o cenário ambiental no município resultante da

produção espacial desequilibrada e centrada em atividades de grande impacto.

5.2 O cenário ambiental em Mossoró a partir da formação do seu parque industrial

A acentuação da inserção internacional do Brasil na economia globalizada trouxe

consigo a retomada do debate sobre as vantagens comparativas, conceito trabalhado

inicialmente na economia clássica do século XIX por David Ricardo. Segundo Cavalcante e

Ferreira (2002), o Rio Grande do Norte se insere nesse mercado mundial demonstrando-se

apto a ser um importante celeiro de recursos naturais e sua localização geográfica que,

apoiado pelas múltiplas isenções fiscais, poderia fazer frente à competição industrial

internacional.

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Entretanto, conforme as autoras, apesar do apelo aos recursos naturais, a economia

potiguar se insere no contexto da economia globalizada de maneira periférica e o principal

elemento de atração industrial foi a baixa qualificação da mão de obra, o que contribui para os

baixos salários pagos ao contingente de trabalhadores contratados pela atividade industrial.

Essas características refletem no tipo de indústria que se instalaram no estado.

Um fenômeno presente e visível no território nordestino é que as atividades produtivas

estão fortemente vinculadas a uma exploração desenfreada dos recursos naturais da região.

Isso legitima a ideia de que tal fato resulte na manutenção de um círculo vicioso da pobreza,

visto que a degradação ambiental é condicionada pelo nível de pobreza da região e tende a

gerar mais desigualdades.

O IBGE, conjuntamente com o Ministério do Meio ambiente, realizou uma pesquisa

junto às prefeituras brasileiras para indicar o perfil da questão ambiental no território

nacional. De acordo com os dados, no Rio Grande do Norte, os problemas ambientais mais

presentes nos municípios e que afetam as condições de vida social são: presença de esgoto a

céu aberto, ocorrência de doença endêmica ou epidemia, desmatamento, presença de lixão na

proximidade de área de ocupação humana, presença de vetor de doença, contaminação de rio,

escassez de água e ocupação irregular e desordenada do território (IBGE, 2002).

A rápida urbanização de Mossoró condicionada sem a devida preocupação em

critérios ambientais resultou numa série de problemas ao município. Os dados do IBGE

(2002) reafirmam o impacto ambiental na sociedade e indicam que as alterações mais

significativas no município foram: contaminação de rio, escassez de água, doença endêmica,

presença de lixão, presença de vetor e esgoto a céu aberto. Tais resultados ratificam a

relevância de relacionar como as questões ambientais afetam a dinâmica social, visto que é

sobre a população de baixa renda que incide as consequências citadas.

Quando se analisa a poluição da água em Mossoró, as principais justificativas são:

criação de animais, despejo de esgoto doméstico e resíduos sólidos. A poluição do rio Apodi-

Mossoró representa o elevado nível da problemática ambiental no município, visto que, além

dos pontos citados, o rio está sofrendo um processo de assoreamento, diminuição da sua mata

ciliar e contaminação no perímetro urbano da cidade, ou seja, espaço habitado por uma parte

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da população de Mossoró. Oliveira e Queiroz (2008) sintetizam as principais fontes da

poluição do rio:

(...) as principais causas da poluição e degradação ambiental desse manancial, são o

desmatamento da mata ciliar e a retirada de areia para a construção civil; lavagem de

veículos e banho de animais; lixo depositado nas margens do rio; lançamento de

esgotos domésticos e de oficinas. O desmatamento da mata ciliar deixa as margens

do rio desprotegidas sendo causa do assoreamento. A retirada de areia, insumo

utilizado em larga escala na construção civil, provoca a redução de diversas espécies

da fauna e flora aquática, reduzindo a biodiversidade aquática do rio. (p. 9)

Os dados do IBGE (2002) mostraram também que a paisagem do município acabou

por ser alterada devido ao conjunto de problemas apresentados. Com destaque para a

atividade de extração mineral, a de construção civil (empreendimentos imobiliários) e pela

ocupação irregular do solo. Tais evidências intensificam a necessidade de um quadro

institucional estruturado para fortalecer que os critérios legais sejam obedecidos. Oliveira e

Queiroz (2008) enfatizam que indústrias sem o licenciamento ambiental, desmatamento,

lançamento de esgotos são alguns fatores irregulares presentes no município e que contribuem

para o cenário caótico visível em Mossoró.

As questões ambientais em Mossoró estão ganhando grandes proporções devido a

intensiva deterioração dos recursos naturais e a existência de atividades de grande impacto,

como a indústria petrolífera, que em conjunto geram o assoreamento e poluição dos cursos e

espelhos d'água já observados na cidade (Silva, 1993). O desenvolvimento de uma série de

atividades industriais em Mossoró resultou num crescimento soberbamente econômico,

refletido nos crescentes PIB e empregos industriais. Entretanto, as administrações públicas

estaduais e municipais não têm levado em conta os danos ambientais que se multiplicam no

espaço geográfico do município (Oliveira e Queiróz, 2008).

Mossoró é atualmente uma das principais cidades do interior nordestino, atraindo

grandes investimentos nacionais. Ademais, o município apresenta um grande potencial

econômico, tendo como uma tríade: o sal, fruticultura e petróleo, que são os alicerces da

economia municipal. Contudo, as atividades econômicas desenvolvidas na região vêm

acarretando mudanças na paisagem ambiental. Como afirma Pettaet al:

Os mangues, definidos como área de preservação permanente por legislação

ambiental nacional, após a implantação das salinas há mais de 50 anos, foram

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devastados, e hoje grande parte dessas áreas encontram-se ocupadas pelos viveiros

de camarão. A área de caatinga, começa a ser ocupada também pela atividade da

carcinicultura e principalmente pelo petróleo. Consequentemente a utilização de

agrotóxicos nas áreas agricultáveis de fruticultura e o comprometimento do aqüífero

pelo uso descontrolado da água; a exploração intensiva pela Petrobrás com

desmatamento indiscriminado, vazamentos de óleo, enterro de refugos sem o menor

cuidado ambiental e lançamento de dejetos no Rio Mossoró, vêm contaminando

vastas áreas e degradando o ambiente estuarino e favorecendo o processo de

desertificação. (2007, p. 1-2)

O comprometimento das águas do Rio Mossoró, segundo maior do Rio Grande do

Norte, é um exemplo da vulnerabilidade ambiental verificada no município. Além das

ocupações irregulares, sejam moradias ou de empreendimentos de pequenas atividades

comerciais, nas margens do rio, as poluições e a destruição da mata ciliar são agravantes dessa

situação.

A construção civil, segunda maior atividade industrial do município e requerido pela

administração municipal pois serve como indicador de desenvolvimento urbano também gera

uma série de impactos ambientais, em especial devido a verticalidade de algumas áreas

elitizadas de Mossoró. O forte e contínuo movimento de construções de novos conjuntos

habitacionais fruto do crescimento urbano vem impermeabilizando o solo local, promovendo

o desaparecimento da vegetação, consumo elevado e desperdício de água.

Assim, as fragilidades institucionais aliadas a um conjunto de indústrias baseadas na

exploração desenfreada dos recursos naturais criam um contexto de elevada vulnerabilidade

em Mossoró. As consequências não se limitam a mudança da paisagem já verificada no

município, mas abrange a diversidade ambiental e as condições de vida da sociedade.

Assim, a dicotomia crescimento/desenvolvimento econômico e degradação ambiental

se reproduz na cidade de Mossoró. Em nome do progresso, tanto as elites locais quanto a

administração pública canalizam seus recursos e esforços na implementação de atividades

industriais sujas. As leis ambientais nacionais, potiguares e municipal no mais das vezes não

são cumpridas devido a maior necessidade de progresso econômico, quando muitas vezes os

conflitos ambientais são resolvidos à moda antiga, ou seja, através da brutal violência contra

as populações mais carentes que de certa forma necessitam do rio e de algumas áreas para sua

reprodução econômica imediata.

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

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A desconcentração espacial da indústria brasileira, em especial a de bens

intermediários, faz emergir uma preocupação no que concerne seu impacto ambiental. A

divisão social das regiões, ao resultar em espaços periféricos, acabou por resultar em uma

indústria de grande impacto ambiental nesses espaços. Nesses territórios o crescimento da

indústria de bens intermediários estaria condicionado pelas vantagens locacionais e pela

fragilidade do aparato institucional em criar mecanismos de proteção ambiental.

Esse artigo teve como objetivo apresentar a relação do crescimento industrial em

Mossoró com os problemas ambientais no município. A preocupação central refere-se a

configuração urbana e industrial desordenadas que propiciaram um relação não equilibrada

com o meio ambiente e a transferência de indústrias sujas, visto que verificou-se a

predominância de atividades intensivas em recursos naturais e de grande impacto ambiental.

O crescimento industrial verificado no município é reflexo da intervenção direta do

Estado, que teve como resultado uma guerra fiscal em âmbito estadual, e que tal processo é

preocupante pelo caráter periférico das indústrias que ali se localizam, visto que as indústrias

são predominantemente intensivas em recursos naturais e por conseguinte possuem elevada

capacidade de contaminação ao meio ambiente.

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Janeiro, p. 17-82, 2005.

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ESTRATÉGIA COMPETITIVA NO MERCADO DE MÓVEIS E

ELETRODOMÉSTICOS NO CEARÁ: ESTUDO DE CASO DA EMPRESA ZENIR

ÁREA TEMÁTICA: Gestão econômica, social e ambiental

Maria Cicera Elanni de Souza43

Eliane Pinheiro de Sousa44

RESUMO: Tendo em vista a importância da empresa Zenir Móveis e Eletrodomésticos na geração de

renda e emprego na economia cearense, o objetivo geral do estudo é identificar as estratégias

competitivas das filiais dessa empresa no estado do Ceará. Especificamente, pretende-se analisar as

principais estratégias competitivas, ações e competências da empresa e mensurar um índice de

desempenho competitivo das filiais da empresa Zenir Móveis e Eletros localizadas no estado do Ceará.

Os métodos analíticos adotados foram: descritivo e tabular e análise fatorial. Os resultados mostraram

que o atendimento ao cliente, a inovação de produtos e negócios e o prazo para pagamentos foram as

estratégias competitivas que assumiram maior relevância para a maioria das empresas entrevistadas.

Em relação ao desempenho competitivo, verificou-se que, das 23 empresas analisadas, apenas duas

(Juazeiro I e Sobral I) foram classificadas com alto desempenho competitivo; onze filiais se

enquadram com o nível intermediário de desempenho competitivo e as demais apresentaram baixo

desempenho competitivo.

Palavras-chave: desempenho competitivo; empresas de móveis; Ceará.

1. INTRODUÇÃO

A competitividade refere-se a todas as questões estratégicas e operacionais que serão

utilizadas para o estabelecimento, implementação e avaliação da estratégia de uma empresa,

através da gerência, visando redução dos custos, permitindo que seus preços sejam os mais

baixos do mercado. Assim, a estratégia competitiva ocupa um papel decisivo no sucesso dos

negócios das empresas, sendo utilizadas pelas firmas em seu processo de enfrentamento ao

mercado que passam a ocupar lugar de destaque na formulação do discurso econômico.

43

Economista pela Universidade Regional do Cariri (URCA). E-mail: [email protected] 44

Doutora em Economia Aplicada pela Universidade Federal de Viçosa (UFV) e Professora do Departamento de

Economia da Universidade Regional do Cariri (URCA). E-mail: [email protected]

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O ambiente competitivo hoje é extremamente dinâmico, o que dificulta as previsões

por parte das empresas, sejam elas baseadas em métodos analíticos ou na experiência.

Sousa (2005) elucida que o crescimento das firmas leva indubitavelmente ao

crescimento industrial. Assim, as firmas podem mudar de diversas maneiras, como a

diversificação de seus produtos, investimentos em pesquisa e desenvolvimento (P&D),

integração vertical e fusões e aquisições, melhorando a posição concorrencial das firmas

dentro de uma indústria.

Em uma estrutura competitiva, o crescimento industrial acontece com maior eficácia,

devido às oportunidades para que uma empresa se expanda. Os administradores de uma

empresa estão sempre em busca de status, evolução e grandes remunerações, isso com base na

individualidade de cada firma, ou seja, na elaboração de sua própria estratégia de competição.

Para se alcançar tais metas, recorrem-se, geralmente, à melhoria da produtividade e da

rentabilidade para apresentarem melhores preços no processo de concorrência do mercado

(SOUSA, 2005).

Ainda na visão de Sousa (2005, p.192), “a perspicácia do empresariado faz com que o

processo de acumulação na indústria seja mais rápido, assumindo pontos chaves na economia

e caracterizando a inabilidade daquele que não tem coragem de assumir riscos na economia”.

Para uma firma crescer e, em consequência, a indústria crescer, é necessário conjugar

uma série de fatores, que dependem do administrador da empresa, das relações do

estabelecimento com outras firmas, da concorrência, da estrutura de mercado, entre outros. A

forma como estes fatores serão trabalhados deve caracterizar a estratégia da empresa.

No caso específico da indústria de móveis e eletrodomésticos, até o início dos anos

1990, havia pouco mais de 30 empresas produzindo produtos eletrodomésticos no Brasil que,

a partir desse conceito, se comportavam como tradicionais e dependentes, tendo suas poucas

inovações influenciadas por tendências externas, tais como tecnologia, redução de custos e

produtividade. Não havia uma estratégia competitiva definida nessas empresas.

No início do século XXI, as empresas de eletrodomésticos se utilizavam, em geral, de

quatro estratégias: ofensivas, pelas líderes de mercado, que desenvolvem produtos

inovadores; defensivas, que se utilizam do design e de novos processos para estarem sempre

próximos às líderes; tradicionais, pelas empresas que se encontram em um mercado estável,

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sem a necessidade de grandes inovações; ou dependentes, nas empresas que não tem

autonomia para lançar seus próprios produtos (BAXTER, 2000).

As mudanças que ocorrem no mercado de móveis e eletros não se constituem em

simples perspectivas, mas em consequências da necessidade das firmas buscarem novas

tecnologias, novas estratégias competitivas, novos mercados e uma redefinição dos seus

processos. A forte concorrência advinda do novo regime de acumulação flexível tem exigido

inovações da parte dos empreendimentos, inclusive do ramo de móveis e eletros.

Neste contexto, este trabalho surgiu do interesse de conhecer a estratégia competitiva

praticada na empresa Zenir Móveis e Eletros no estado do Ceará, cuja matriz se situa na

cidade de Iguatu. A Empresa Zenir Móveis foi criada no dia 09 de maio de 1992, através de

uma consignação com a Ortobom e alguns modelos de estofados e pré-vendas de

Eletrodomésticos comprando nas grandes lojas e repassando aos seus clientes. A empresa foi

alcançando êxito e a cada dia se destacando na área de vendas de móveis e eletrodomésticos

de Iguatu e região, fazendo com que o mesmo tomasse a iniciativa de abrir a sua segunda loja

(também em Iguatu) no dia 25 de outubro de 1994. Desta data em diante, sempre obteve

muito sucesso na sua arrancada empresarial. A empresa tem como prioridade proporcionar um

atendimento de alta qualidade ao cliente e um relacionamento cordial entre direção e

funcionários (LEITE, 2008).

Em face dessas considerações, constata-se que esse estudo assume papel relevante

para verificar se há homogeneidade na adoção de estratégias competitivas por parte da

empresa Zenir Móveis e Eletros espacialmente dispersas no estado cearense, mostrando o

desempenho comercial e competitivo de cada uma delas em suas respectivas cidades. Além

disso, a empresa Zenir desempenha uma importante contribuição nos municípios onde está

presente no que concerne à geração de emprego e renda.

Assim, tem-se o seguinte questionamento: qual a estratégia competitiva utilizada no

mercado de móveis e eletrodomésticos, tendo como referência a empresa Zenir Móveis e

Eletros? Para responder esta indagação, procurou-se fazer um levantamento, certamente não

exaustivo nem o único possível, da diversidade das definições do conceito de estratégia e

identificar as estratégias competitivas empregadas na referida empresa. Busca-se ainda

ampliar o conhecimento sobre estratégia competitiva utilizadas nas empresas de móveis e

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eletrodomésticos, em especial, às filiais da empresa Zenir Móveis e Eletros, já que esse

mercado vem se tornando cada vez mais competitivo, e cada empresa tem que apresentar

estratégias diferenciadas e competitivas para a conquista de uma boa parcela de mercado.

Portanto, o objetivo geral deste estudo consiste em identificar as estratégias

competitivas da empresa Zenir Móveis e Eletros no estado do Ceará. Especificamente,

pretendem-se apresentar o conceito de estratégia competitiva e suas implicações na atuação

empresarial atual; analisar as principais estratégias competitivas, ações e competências da

empresa; e mensurar um índice de desempenho competitivo das filiais da empresa Zenir

Móveis e Eletros localizadas no estado do Ceará.

2. REFERENCIAL TEÓRICO

A crescente concorrência e as rápidas mudanças nos mercados têm levado as empresas

a buscarem novas alternativas para se sobressaírem em relação às demais. As firmas devem

ser flexíveis para responder às alterações competitivas e dos mercados, recorrendo assim ao

que se chama de estratégia.

O conceito moderno de estratégia traz o pensamento de que não é possível enumerar

todas as possibilidades de projetos que serão identificadas. Assim, as estratégias devem se

basear em informações agregadas, incompletas e incertas a respeito de todas as alternativas

possíveis. Portanto, o uso apropriado da estratégia exige feedback estratégico (ALDAY,

2010). Na concepção de Alday (2010, p.17):

Uma vez que tanto a estratégia quanto os objetivos são utilizados para filtrar

projetos, eles parecem ser semelhantes. No entanto, são distintos. Os objetivos

representam os fins que a empresa está tentando alcançar, enquanto a estratégia é o

meio para alcançar esses fins. Os objetivos são regras de decisão de nível mais alto.

Uma estratégia que é válida sob um conjunto de objetivos pode perder sua validade

quando os objetivos da organização são alterados.

Assim, esta seção visa definir o conceito de estratégia, em especial, estratégia

competitiva, com vistas a evidenciar o papel desta no âmbito empresarial.

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2.1. Definição de estratégia

Há várias definições de estratégia, mas não há uma única aceita no geral. Para alguns

autores, a estratégia deve incluir metas e objetivos, enquanto que outros fazem distinções

claras entre elas (MINTZBERG et al, 2003).

A partir da década de 1980, os estabelecimentos passaram a se preocupar com a

elaboração de conceitos de estratégia, pois neste período o mercado se encontrava em uma

fase de modificação, devido aos fenômenos socioeconômicos que marcavam o momento,

como o desenvolvimento tecnológico e o processo de globalização econômica, dinamizando o

mercado e dando-o um caráter mais competitivo (WRIGHT, KROLL, PARNELL, 2000).

Segundo Hofer e Schandel (1978) apud Nicolau (2001), estratégia é o estabelecimento

dos meios fundamentais para atingir os objetivos, sujeito a um conjunto de restrições do meio

envolvente, supõe a descrição dos padrões mais importantes da oferta de recursos e a

descrição das interações mais importantes com o meio envolvente.

Para Oliveira (1988), as estratégias são meios de relacionar a organização ao seu meio

ambiente, que se apresentem constante mutação, de modo a alcançar a maximização dos seus

resultados. Pode-se entender então que a estratégia é a forma de como uma empresa irá

competir no mercado para alcançar seus objetivos econômicos frente aos seus concorrentes. A

estratégia torna-se um componente importante para se compreender a competitividade entre as

empresas. As mesmas usam as estratégias como uma forma de adquirir vantagens

competitivas, que as distingue das demais concorrentes.

No entender de Ohmae (1998), sem competidores não haveria necessidade de

estratégia, pois o único propósito do planejamento estratégico é tornar a empresa apta a

ganhar, tão eficientemente quanto possível, uma vantagem sustentável sobre seus

concorrentes.

Verifica-se que são vários os autores que teorizaram acerca do conceito de estratégia,

assim também como são numerosas as definições para o termo. Todas as empresas têm

estratégias, sejam elas passadas ou utilizadas no presente, mas nem todas têm planos

concretos para o futuro. Nesse sentido, de acordo com Mintzberg et al. (2003), a estratégia

consiste em um plano que integra as principais metas, políticas e sequências de ação da

organização em um todo coeso.

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Dentre as diversas estratégias que as firmas e indústrias podem fazer uso, destacam-se

as estratégias competitivas para fazer frente à concorrência.

2.2. Conceito de estratégia competitiva

Estratégia competitiva é um conceito um tanto abstrato. Sua formulação não produz

qualquer ação produtiva concreta imediata na empresa. Para colocar uma estratégia em

prática, deve-se saber que é um processo dispendioso, tanto em termos de dinheiro quanto do

tempo da administração (ALDAY, 2010).

Estratégia competitiva (EC) é o conjunto de planos, políticas, programas e ações

desenvolvidos por uma empresa ou unidade de negócios com o intuito de ampliar ou manter,

de modo sustentável, suas vantagens competitivas frente aos concorrentes (VANALLE et al,

2010).

Na concepção de Porter (1985) apud Nicolau (2001), a estratégia competitiva tem

como objetivo estabelecer uma posição lucrativa e sustentável contra as forças que

determinam a competição industrial.

A estratégia competitiva adotada fica assim caracterizada pelo modo com que a

empresa atende seus clientes. Como destaca Ohmae (1998), a estratégia será boa quando

possibilitar entender melhor as necessidades dos clientes e criar valor para eles. A vantagem

competitiva advém do valor que a empresa cria para seus clientes em excesso ao custo que

tem para criá-lo.

Tradicionalmente, os executivos não costumam ter disposição ou orientação para

atividades analíticas, muitas vezes menosprezando metodologias, teorias e ferramentas em

favor da sua experiência e intuição. O outro extremo é igualmente problemático. A utilização

isolada de métodos analíticos não é uma garantia de sucesso.

A estratégia competitiva também está relacionada aos objetivos de longo prazo da

firma ou da unidade de negócios que serão repassados às estratégias funcionais. E, em geral,

se baseia em competências acumuladas durante um período de tempo relativamente longo

(ALVES FILHO, 1999).

De acordo com Porter (1991, p.1), estratégia competitiva “é a busca de uma posição

competitiva favorável em uma indústria, a arena fundamental onde ocorre a concorrência. A

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estratégia competitiva visa estabelecer uma posição lucrativa e sustentável contra as forças

que determinam a concorrência da indústria”.

Ainda segundo Porter (1991), a escolha da estratégia competitiva adequada deve se

basear em dois pontos: a atratividade do mercado em que a empresa atua e a posição

competitiva dentro dela. Em relação ao primeiro, o objetivo é analisar se a indústria é atrativa

em termos de rentabilidade a longo prazo e identificar os determinantes dessa atratividade.

Quanto ao segundo ponto, ele se refere aos determinantes da posição competitiva, que

dependem da indústria em que a empresa atua. Assim, é a combinação desses dois pontos

centrais que vão determinar o sucesso da estratégia competitiva.

Porter (1991) destacou que o ponto de partida do planejamento estratégico é a

definição do objetivo correto da empresa, no qual deve ser estipulado o prazo para o retorno

do investimento, que é a meta.

O principal ponto na determinação da estratégia competitiva é determinar qual será o

foco de atuação da empresa, como se dará a sua participação em um mercado específico,

quais consumidores ela deve focar e qual a melhor forma para que a empresa consiga obter o

melhor desempenho.

As estratégias competitivas são utilizadas pelas empresas com o objetivo de adquirir

vantagens competitivas, seja através de aumento dos lucros ou redução nos seus custos de

produção, algo que as distinga das suas concorrentes.

Neste sentido, Possas (1996) afirma que as vantagens competitivas podem ser de custo

ou de diferenciação. As vantagens de custos podem ser obtidas devido a alguns fatores:

economias de escala; economias de escopo (referidas a um conjunto de bens e não apenas um

único produto); capacidade de financiamento da firma; patentes e licenciamento de tecnologia

(permitem inovações na produção); relações com fornecedores e/ou garantia de matérias-

primas (garantia de insumos com qualidade e preços baixos); relações com a mão de obra

(qualificação e boas relações, a fim de reduzir custos no processo produtivo); organização da

produção; eficiência administrativa; e capacitação.

No tocante às vantagens de diferenciação, Possas (1996) cita que tais vantagens

podem ser provenientes de especificações (definição dos fins ao qual a empresa pode servir e

os nichos para onde os produtos serão dirigidos); desempenho ou confiabilidade;

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durabilidade; ergonomia e design; estética; linhas de produto; custo de utilização de produto;

imagem e marca; formas de comercialização; assistência técnica e suporte ao usuário;

financiamento ao usuário (facilidades de financiamento, leasing ou prazos de pagamentos);

relações com os usuários (quanto maior a proximidade com o usuário, maior será a garantia

na obtenção da competitividade dentro deste mercado).

Porter (1998) identificou cinco "forças competitivas" básicas como fundamentais para

a elaboração de uma estratégia e garantir uma vantagem competitiva. Ele argumentava que a

análise das fontes da vantagem competitiva tinha que ocorrer não no nível da empresa como

um todo, mas no nível das atividades distintas que uma empresa realiza para projetar,

produzir, comercializar, entregar e oferecer suporte ao seu produto. Portanto, em todas as

empresas haveria uma cadeia de atividade que gerava valor para seus clientes, e somente por

meio de sua análise é que a empresa poderia encontrar sua vantagem competitiva.

A primeira força competitiva, segundo Porter (1998), se referia à ameaça de novos

concorrentes, ou seja, da dificuldade que um novo concorrente pode impor ao entrar no

mercado. Assim, ele identificava sete barreiras que poderiam dificultar a entrada de novas

empresas: economias de escala: firmas de grande porte têm vantagens competitivas à medida

que o custo unitário da fabricação de seus produtos reduz ao mesmo tempo em que a

produção aumenta, o que dificulta a entrada de novas empresas que entrariam no mercado em

desvantagem de custos; diferenciação do produto: a marca dos produtos de empresas já

consolidadas no mercado tem um peso maior na preferência do consumidor, uma vez que

essas empresas já têm clientes fiéis; exigências de capital: para uma empresa ingressar em

determinado mercado, ela necessita de certa disponibilidade de capital de giro que está

associado aos riscos desse investimento; custos de troca: a troca de fornecedores pode gerar

custos adicionais; acesso aos canais de distribuição; desvantagens de custo independente da

escala, como marcas patenteadas, por exemplo; política governamental: a política do governo

pode ser favorável ou não ao ingresso de novas firmas em certos setores, no que concerne aos

subsídios e ao acesso de matérias-primas.

De acordo com Porter (1998), a segunda força competitiva era a pressão de produtos

substitutos, relacionada à facilidade com a qual o comprador pode substituir um

produto/serviço por outro.

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Em relação à terceira força competitiva, Porter (1998) remete ao poder de barganha

dos compradores, que podem incluir: compra de estoques em grandes volumes, a fim de

obterem melhores preços unitários; busca por economizar, já que o item a ser comprado é

parcela de seus custos totais; compra de produtos padronizados ou commodities; custos de

troca, que podem ser maiores ou menores, dependendo do mercado em que se leva em conta;

fabricação interna do produto; preocupação com a qualidade do produto; informação perfeita,

já que o cliente pode pesquisar os preços em todas as ofertantes do produto que ele deseja.

O poder de barganha dos fornecedores, de acordo com Porter (1998), constitui-se na quarta

força competitiva, que se assemelha ao poder de barganha dos consumidores e exige

determinadas condições: os produtos do fornecedor são únicos e importantes; os fornecedores

não são dependentes dos compradores para efetuarem grande parte de suas vendas; ameaça

concreta de “integração para frente”; não ter que lutar contra outros produtos substitutos

vendidos ao setor.

A quinta e última força competitiva representa a rivalidade entre os concorrentes, em

que o nível de competição é moldado pela rivalidade existente entre os competidores.

(PORTER, 1998).

Neste sentido, Porter (1998) observa que a competição pode se dar de forma mais

intensa em empresas cujos setores estejam sob as seguintes condições: muitas empresas

competindo recursos disponíveis relativamente iguais em cada uma delas; setor com

crescimento lento; custos fixos altos, que se associam diretamente à condução do negócio;

altos custos de estocagem, que leva as empresas do setor a reduzirem o preço de seus

produtos; tempo de venda dos produtos restrito; aumento da capacidade em grandes

incrementos; diferenciação de estratégias e personalidades das empresas concorrentes, sendo

ainda mais complexo com a presença de empresas estrangeiras; presença de barreiras à saída,

como o alto preço de equipamentos cuja dificuldade de vender é ainda mais alta, acordos

trabalhistas rompidos que incorreriam em altos custos, envolvimento emocional do

proprietário com o negócio.

As empresas, em geral, podem adotar três tipos de estratégia competitiva, segundo

Porter (1991), estratégia de liderança em custos, estratégia de diferenciação e estratégia de

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foco. A primeira visa obter vantagens competitivas pela oferta de produtos e serviços (em

geral padronizados) a custos mais baixos do que os concorrentes.

A segunda estratégia competitiva busca alcançar vantagens pela introdução de um ou

mais elementos de diferenciação nos produtos e serviços, que justifiquem preços mais

elevados. Já o terceiro tipo de estratégia objetiva obter vantagens competitivas ou pela oferta

de produtos e serviços com menores custos, ou pela diferenciação dos mesmos, mas em um

segmento de mercado mais localizado ou restrito (PORTER, 1991).

Possas (1996) também dissertou acerca das estratégias genéricas de competição.

Segundo ele, as vantagens competitivas são tanto de custos quanto de diferenciação, sendo

que esta última proporciona a sustentabilidade dessas vantagens. Além disso, a análise de

competitividade deve ser feita por indicadores ex-ante (perspectivas: ameaças e

oportunidades) e ex-post (desempenho).

Remetendo o estudo das estratégias competitivas às empresas de varejo no Brasil, os

anos 1990 trouxeram várias mudanças que impactaram o setor, a liberação das importações e

o aumento da concorrência interna permitiram a migração de concorrentes externos e a

consequente entrada de conceitos mais modernos de operacionalidade, impondo a necessidade

de profundas transformações nas estratégias para a maior parte das empresas.

Neste contexto, a seção seguinte tem como foco a aplicação da estratégia competitiva

nas empresas de móveis e eletrodomésticos.

3. METODOLOGIA

3.1. Área de estudo e natureza dos dados

Este estudo foi realizado no estado do Ceará, onde estão localizadas atualmente as

vinte três lojas da empresa Zenir Móveis e Eletros, sendo que cinco das filiais estão

localizadas na capital do Estado, a saber: Barão do Rio Branco, Senador Pompeu I, Senador

Pompeu II, General Sampaio e Messejana; há uma filial em Maracanaú, localizada na Região

Metropolitana de Fortaleza. As demais estão localizadas no interior do estado na mesorregião

do Norte cearense, onde está sediada a filial em Itapipoca; na mesorregião do Noroeste

cearense, onde se encontram duas filiais no município de Sobral (Sobral I e Sobral II); na

mesorregião do Sertão cearense, onde se encontram cinco filiais nos municípios de Quixadá,

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Quixeramobim, Mombaça, Acopiara e Crateús; na mesorregião do Centro-Sul cearense, com

três filiais, sendo uma em Várzea Alegre e duas em Iguatu (Iguatu II e Iguatu III); e na

mesorregião do Sul cearense, com seis filiais, duas em Juazeiro do Norte (Juazeiro I e

Juazeiro II) e uma em cada um dos municípios de Crato, Campos Sales, Assaré e Brejo Santo.

Para atender aos dois primeiros objetivos específicos, o trabalho contou com dados

secundários, obtidos a partir de revisão de literatura realizada com os teóricos sobre estratégia

competitiva, assim como textos que apresentavam o panorama do setor moveleiro. Ademais,

para cumprir os dois últimos objetivos específicos, empregaram-se dados primários, coletados

diretamente com os gerentes das 23 filiais atualmente existentes da empresa Zenir Móveis e

Eletros no estado do Ceará. Para tal, aplicaram-se questionário, abrangendo características

gerais como produtos, segmentos do mercado, estrutura organizacional, relação com

fornecedores, controle de qualidade e produção. As perguntas foram elaboradas com base nos

estudos de Morais (2001) e Alencar (2004), que continham questionários acerca do

desempenho e das estratégias utilizadas por empresas.

3.2. Métodos analíticos e variáveis empregadas

O estudo empregou os métodos de análise descritiva e tabular e análise fatorial, cujos

softwares adotados para operacionalização desses métodos foram SPSS (Statistical Package

for Social Sciences, versão 17.0) e Microsoft Office Excel 2007.

A análise descritiva e tabular foi adotada com o intuito de caracterizar as filiais da

empresa Zenir Móveis e Eletros com relação às principais estratégias competitivas, ações e

competências empregadas.

Para determinar o desempenho competitivo de cada uma das filiais da empresa no

estado do Ceará, utilizou-se o método de estatística multivariada de análise fatorial.

A análise fatorial busca analisar a estrutura das correlações entre um grande número

de variáveis, definindo um conjunto de dimensões latentes comuns, chamadas de fatores, que

são formados para maximizar seu poder de explicação do conjunto inteiro de variáveis

(SOUSA et al., 2010).

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Segundo Mingoti (2005), esse modelo construído a partir da matriz de correlação

relaciona linearmente as variáveis padronizadas e os fatores comuns, podendo ser

representado pelas seguintes equações:

(1)

(2)

... ... ... ... ... ...

(3)

Onde são as variáveis originais padronizadas, sendo i = 1, 2,..., p; são os

fatores comuns, com j = 1, 2,..., m, que explicam as correlações entre as variáveis e terão que

ser identificados; são as cargas fatoriais, que representam o grau de relacionamento linear

entre e ; e que são os erros aleatórios e correspondem aos erros de medida e à

variação de , que não é explicada pelos fatores comuns incorporados no modelo.

Neste trabalho, será empregada análise fatorial por meio do método de componentes

principais. A partir das cargas fatoriais, obtêm-se as comunalidades.

Para verificar a adequabilidade da aplicação da análise fatorial, empregou-se o teste de

esfericidade de Bartlett. De acordo com Hair Júnior et al. (2005), esse teste fornece a

probabilidade estatística de que a matriz de correlação tenha correlações significantes entre

pelo menos algumas das variáveis. Além desse teste, atentou-se para o valor do KMO

(Kaiser-Meyer-Olkin), que corresponde à razão entre o somatório dos quadrados das

correlações de todas as variáveis dividida por essa mesma soma acrescentada da soma dos

quadrados das correlações parciais de todas as variáveis. Segundo Hair et al. (2005), valores

acima de 0,5 indicam que a amostra é adequada ao emprego da análise fatorial.

Conforme Mingoti (2005), as estimativas iniciais das cargas fatoriais geralmente não

são definitivas, visto que podem ter coeficientes com magnitudes idênticas em mais de um

fator, o que pode dificultar a interpretação dos fatores originais. Assim, para evitar que ocorra

esse problema, a autora sugere que seja feita a transformação ortogonal dos fatores originais.

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Com base nessa recomendação, empregou-se a rotação Varimax, que busca soluções pelas

quais se pretende maximizar as correlações de cada variável com apenas um fator.

Após a rotação ortogonal da estrutura fatorial original, estimaram-se os escores dos

fatores para cada filial cearense da empresa Zenir Móveis e Eletros. Esses escores fatoriais

foram empregados na formação do índice de desempenho competitivo da empresa Zenir

Móveis e Eletros dispersas espacialmente no estado do Ceará (IDCZ).

A elaboração desse índice foi baseada nos estudos de Gama (2006) e Sousa et al.

(2010), realizados, respectivamente, para determinação do desempenho competitivo das

empresas de móveis no estado do Pará e no Pólo Moveleiro de Ubá, localizado no estado de

Minas Gerais. Segundo esses autores, esse índice pode ser representado pela combinação

linear dos escores fatoriais, obtidos pela análise fatorial, com a proporção da variância

explicada pelos fatores individuais em relação à variância comum. Em termos matemáticos, o

IDCZ pode ser expresso por:

k

1j

jik

1j

j

jFPIDCZ

em que: IDCZ é o índice de desempenho competitivo das empresas Zenir de móveis e eletros;

j , percentual da variância explicada pelo fator j; k, número de fatores escolhidos; jiFP ,

escore fatorial, padronizado pela empresa de móveis i, do fator j, que, conforme Gama (2006),

pode ser representado por minmax

min

FF

FFFP

j

ji

, em que minF é o escore fatorial

mínimo do fator j; e maxF , escore fatorial máximo do fator j.

A mensuração desse índice fornece um número entre 0 e 1. Para facilitar a

interpretação dos resultados, considerou-se que as empresas de móveis Zenir que tiveram

valores do IDCZ iguais ou superiores a 0,70, apresentaram elevado desempenho competitivo;

os que apresentaram valores compreendidos entre 0,35 e 0,69, desempenho competitivo

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intermediário; e os com valores do IDCZ menores do que 0,35, baixo desempenho

competitivo. A escolha desses intervalos de valores do IDCZ foi baseada na especificação

estabelecida nos estudos de Gama (2006) e Sousa et al. (2010).

Ademais, é importante mencionar que o método de análise fatorial contou com as

variáveis descritas na Tabela 1. A seleção dessas variáveis foi inspirada nos estudos propostos

por Gama (2006), Sousa e Campos (2010) e Sousa et al. (2010).

Dentre elas, inovações de produtos ou negócios e qualificação dos recursos humanos

são variáveis dummies, em que se atribui valor (0) quando a empresa filial não emprega e (1),

quando essas práticas são adotadas pela empresa filial.

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1. Caracterização da empresa Zenir Móveis e Eletros

De acordo com a pesquisa de campo realizada nas vinte três filiais da empresa Zenir

Móveis e Eletros localizadas no Estado do Ceará, constatou-se que a mesma encontra-se

atuando no mercado de móveis e eletrodomésticos desde o ano de 1992, sendo a filial mais

antiga inaugurada na cidade de Iguatu, região Centro-Sul do estado, e a mais recente foi a

segunda filial da cidade de Juazeiro do Norte na região do Cariri no ano de 2010.

Para caracterizar as filiais da empresa Zenir Móveis e Eletros no estado do Ceará,

inicialmente é importante se conhecer as estatísticas descritivas das variáveis analisadas. A

Tabela 2 apresenta tais estatísticas.

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Conforme se verifica, as filiais apresentam características heterogêneas ao longo do

estado do Ceará, sendo que as maiores diferenças ocorrem com as variáveis referentes aos

custos com transportes e qualificação dos recursos humanos, que apresentaram coeficientes de

variação de 169,09% e 116,58%, respectivamente. Em contrapartida, as menores diferenças

verificadas entre as filiais estão associadas com a escolaridade dos gerentes e custos com

material de escritório.

Dentre os itens de custos, é expressiva a quantia destinada com mão-de-obra. Esse

dado reforça a importância que essa empresa exerce no estado do Ceará com relação à

geração de renda e emprego. Quanto à variável emprego, observa-se que, em termos médios,

a empresa de móveis analisada emprega 38 funcionários.

Como se está interessado em identificar os principais fatores de competitividade da

empresa, a Tabela 3 mostra as estratégias competitivas consideradas mais importantes pelas

filiais analisadas. Dentre as estratégias competitivas indicadas, o atendimento ao cliente, a

inovação de produtos e negócios e o prazo para pagamentos foram as que assumiram maior

relevância para a maioria das empresas entrevistadas.

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Além de identificar as estratégias competitivas empregadas pelas empresas, também é

importante conhecer as principais barreiras a competitividade. Na Tabela 4, verifica-se que

das vinte três filiais entrevistadas, dezoito responderam que a principal barreira à

competitividade refere-se ao poder de negociação com os compradores.

Mesmo com as barreiras existentes no mercado que afetam a competitividade do setor,

as filiais da empresa Zenir Móveis e Eletros no Estado do Ceará, se vê diante de seus

concorrentes como líder em mercado, líder em tecnologia e em outros aspectos como um bom

atendimento ao cliente. Utiliza sempre um planejamento estratégico baseado na avaliação de

cenários futuros, na avaliação das mudanças do setor e até mesmo baseado no setor

financeiro, tornando-as seguras em suas tomadas de decisões para melhor atender as

necessidades de seus clientes.

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5.2. Análise fatorial

O primeiro passo para se empregar o método de análise fatorial é verificar se os dados

são adequados para tal método. Para isso, constatou-se por meio do teste de esfericidade de

Bartlet que a hipótese nula de que a matriz de correlação seja uma matriz identidade foi

rejeitada ao nível de 1% de probabilidade. Ademais, obteve-se um valor de KMO (Kaiser-

Meyer-Olkim) de 0,731, corroborando a adequabilidade deste método. Desta forma,

empregou-se análise fatorial pelo método dos componentes principais. Entretanto, em sua

versão original, uma variável pode associar-se com mais de um fator, o que dificulta a

interpretação. Para que isto não aconteça, realizou-se a rotação ortogonal pelo método

Varimax, cujas raízes características da matriz de correlações maiores que a unidade, com

suas respectivas porcentagens da variância total explicada, estão apresentadas na Tabela 5.

Esses fatores de competitividade sintetizam as oito variáveis consideradas e são

capazes de explicar 85,44% da variância total dos dados, sendo que a maior parcela da

variância (49%) é explicada pelo fator F1.

A Tabela 6 apresenta as cargas fatoriais e as comunalidades para os três fatores após a

rotação Varimax. Neste estudo, destaca-se em negrito as cargas fatoriais com valores

absolutos maiores que 0,70 com o intuito de identificar as variáveis que estão mais fortemente

relacionadas a um dado fator.

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Verifica-se que o fator F1 apresenta correlação positiva e elevada com as variáveis V1

(valor de vendas de móveis e eletros), V2 (custos com mão-de-obra), V3 (custos com material

de escritório) e V5 (emprego). Essas variáveis em conjunto com sinais positivos e valores

altos propiciam um maior desempenho competitivo das empresas de móveis e eletros, estando

consistente com os fundamentos econômicos, pois quanto maior o montante de vendas,

maiores serão os rendimentos obtidos, que, por sua vez, requer maior número de empregados

e maiores custos, ceteris paribus. Este fator capta o nível competitivo tradicional.

O fator F2 representa o nível inovativo das filiais da empresa de móveis e eletros. Esse

fator é constituído pela variável V6, que diz respeito à inovação de produtos ou negócios.

Portanto, se uma dada filial possuir alto valor do escore desta variável, significa que essa filial

detém práticas inovativas de produtos ou negócios.

O fator F3 indica o nível intelectual dos funcionários das filiais da empresa de móveis

e eletros. Este fator se correlaciona positivamente com a variável V7 (escolaridade do

gerente), e com a variável V8 (qualificação dos recursos humanos). Portanto, tais variáveis

assumem papel relevante para a competitividade da empresa.

Com relação às comunalidades, observa-se que todas as variáveis são bem explicadas

pelos três fatores, sendo que as variáveis que apresentam menor percentual de explicação

pelos três fatores são V7 e V8, com, respectivamente, 0,752 e 0,655.

Os escores fatoriais foram usados para estimar o índice de desempenho competitivo da

empresa Zenir Móveis e Eletros no estado do Ceará (IDCZ). Os dados da Tabela 7 mostram

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que duas filiais da empresa Zenir Móveis e Eletros no estado do Ceará apresentam elevado

índice de desempenho competitivo, visto que registraram o IDCZ com valor superior a 0,70.

Quanto ao índice de desempenho competitivo intermediário, onze das vinte três filiais

da empresa Zenir no estado do Ceará, que correspondem a 47,83%,enquadram-se nessa

categoria, isto é, apresentam IDCEZ situado no intervalo entre 0,35 a 0,69. Duas dessas

empresas apresentam escores positivos para os três fatores de competitividade considerados,

indicando que tais filiais possuem componentes importantes que colaboram para a formação

de vantagens competitivas, porém necessitam de maior aprimoramento dessas variáveis para

conquistar melhores posições no IDCZ.

As demais empresas pesquisadas tiveram baixo índice de desempenho competitivo,

sendo que uma delas teve valor do IDCZ menor que 0,20. Esse baixo valor obtido por essa

filial está relacionado com os sinais negativos dos escores dos três fatores de competitividade

analisados. Segundo Santana (2007), esses resultados captam as fragilidades e os pontos

fortes das unidades de produção, contribuindo para a orientação de estratégias empresariais,

assim como ações de políticas públicas.

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6. CONCLUSÕES

De acordo com a pesquisa realizada com a empresa Zenir Móveis e Eletros, verifica-se

que esta empresa vem se expandindo em muitas regiões cearenses. Atualmente, a empresa

conta com vinte e três filais e gera mais de mil postos de trabalho, desempenhando expressiva

importância para a economia cearense.

A empresa preza muito por seus colaboradores sempre buscando qualificá-los, por

meio de treinamentos específicos para cada setor, com o intuito de que os mesmos obtenham

maiores conhecimentos e possam atender melhor os clientes no sentido de fornecer todos os

esclarecimentos sobre a mercadoria que está levando para casa.

No que se diz respeito ao sistema de avaliação do desempenho dos funcionários, a

empresa realiza essa avaliação através de suas habilidades operacionais e através do

envolvimento efetivo dos funcionários com os programas da empresa.

A empresa tem buscado sempre se modernizar adotando inovações tecnológicas e

organizacionais. Boa parte das filiais adota os dois processos em conjunto, introduzindo tais

mudanças nos setores pessoal, administrativo como também em produtos e serviços.

Com relação aos fatores que afetam a competitividade, a maioria das filiais da empresa

apontou o atendimento ao cliente, o prazo para pagamentos e a inovação de produtos e

negócios. Em contrapartida, o principal desafio mencionado pela maior parte das filiais

refere-se ao poder de negociação com os compradores. Entretanto, mesmo com as

dificuldades existentes no mercado que afetam competitividade do setor, as filiais da empresa

se vêem preparadas diante de seus competidores como líder em mercado, líder em vários

aspectos que faz com que a empresa se destaque diante de seus concorrentes com um bom

atendimento ao cliente, utilizando sempre um planejamento estratégico baseado na avaliação

de cenários futuros e na avaliação das mudanças do setor.

Os resultados da análise fatorial mostraram que foram obtidos três fatores capazes de

representar o conjunto das oito variáveis consideradas neste estudo. O Fator 1 contemplou o

nível competitivo tradicional, sendo responsável por 49,00% da variância total. Os níveis de

inovação de produtos e negócios, que compõem o Fator 2, foram responsáveis por 19,51% da

variância total; enquanto o fator 3, que compreende o nível intelectual dos funcionários

explicou 16,93% da variância total.

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Com base nos escores fatoriais de cada um desses fatores, determinou-se o índice de

desempenho competitivo das vinte três filiais da empresa Zenir Móveis e Eletros no estado do

Ceará (IDCZ). Os dados indicam que, das 23 filiais da empresa estudada, 2 apresentaram

elevado grau de desempenho competitivo; 11 foram classificadas com nível intermediário de

desempenho competitivo; e as demais tiveram baixo desempenho competitivo, dentro dos

parâmetros estabelecidos.

Ademais, o estudo mostra que as filiais do interior do Estado tiveram maior

desempenho competitivo do que as filiais da capital e da região metropolitana de Fortaleza,

tendo como destaque as filiais de Juazeiro I e Sobral I para o ano de 2010, que foram

classificadas com alto desempenho competitivo. Em contrapartida, as cinco filiais que

apresentaram menores índices de desempenho competitivo foram: Quixadá, Crateús, Assaré,

Juazeiro II e Messejana, que podem ser atribuídos ao fato de terem apresentado dois ou três

fatores de competitividade com sinais negativos, ou seja, estão abaixo da média. Desta forma,

recomenda-se que essas filiais invistam nos fatores de competitividade que apresentaram

deficiência para conquistarem maior desempenho competitivo.

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O PAPEL EDUCATIVO DO ASSISTENTE SOCIAL NA PROMOÇÃO E

PRESERVAÇÃO DO MEIO AMBIENTE

Área temática: Gestão econômica, social e ambiental

Francisco Waleison dos Santos45

Nathalia Lopes dos Santos46

Maria Anaírya Tavares de Lima47

Cecilia Bezerra Leite48

RESUMO: Neste trabalho iremos tratar do Serviço Social e o meio ambiente de forma a elucidar a

educação como ponto primordial de preservação ambiental, focando o papel educativo do assistente

social na promoção e preservação do meio ambiente. As metas deste trabalho consistem em analisar o

papel educativo do assistente social na promoção e preservação do meio ambiente, descrevendo a

historicidade da educação ecológica na esfera do capitalismo contemporâneo; entender a necessidade

de integração entre o social e o ambiental e traçar as estratégias de atuação do serviço social no que diz

respeito ao meio ambiente utilizando-se das politicas públicas como suporte para tal feito. No que diz

respeito à metodologia, a pesquisa é classificada como uma revisão bibliográfica, a qual consiste em

uma abordagem qualitativa. Ademais,percebe-se que o profissional de serviço social, por possuir um

víeis de educador e de intelectual orgânico atrelado a classe trabalhadora, ganhou espaço na esfera

ambiental e por isso este profissional deve possuir ainda mais um cabedal de conhecimentos

interdisciplinares e multifocal para que assim suas ações possam ser legitimadas.

Palavras-Chave: Serviço Social; preservação; meio ambiente.

1 INTRODUÇÃO

Desde os primórdios o homem busca maneiras de satisfazer suas necessidades físicas,

psicológicas e sociais por meio da transformação da natureza em algo útil. Assim ele modifica

o meio e este, por sua vez, o modifica. Entretanto graças ao processo de Revolução Industrial

e a implementação de novas tecnologias em prol do aumento assustador do consumo, esse

45Acadêmico do curso de Serviço Social da Faculdade DR. Leão Sampaio. [email protected] 46

Acadêmica do curso de Serviço Social da Faculdade DR. Leão Sampaio. [email protected] 47

Acadêmica do curso de Serviço Social da Faculdade DR. Leão Sampaio. [email protected] 48

Professora do curso de Serviço Social da Faculdade DR. Leão Sampaio. [email protected]

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meio se degrada de forma ininterruptaocasionando o refluxo do planeta, o qual provoca

catástrofes surpreendentes.

Desse modo, a preocupação com a preservação ambiental por meio da educação,

tornou-se uma peça fundamental para minimizar os efeitos danosos oriundo do sistema

capitalista na esfera da destruição da natureza. É neste ponto que se percebe a relação entre a

questão social e a questão ambiental, ambas fruto desse modo de produção. Ademais o

Serviço Social enquanto profissão que foca suas ações no trato da questão social, possui um

papel essencial para a construção de estratégias eficazes na promoção do respeito ao meio

ambiente.

Neste trabalho iremos tratar do Serviço Social e o meio ambiente de forma a elucidar a

educação como ponto primordial de preservação ambiental, focando o papel educativo do

assistente social na promoção e preservação do meio ambiente.

Escolheu-se essa temática por não se visualizar um debate aprofundado na

contemporaneidade, mesmo sendo este um assunto de extrema importância para a profissão e

por entender-se que o Serviço Social não pode ficar alheio a um fato concreto que diz respeito

a sua interversão enquanto profissional que lida diretamente com o social.

As metas deste trabalho consistem em analisar o papel educativo do assistente social

na promoção e preservação do meio ambiente, descrevendo a historicidade da educação

ecológica na esfera do capitalismo contemporâneo; entender a necessidade de integração entre

o social e o ambiental e traçar as estratégias de atuação do serviço social no que diz respeito

ao meio ambiente utilizando-se das politicas públicas como suporte para tal feito.

O debate sobre a educação ambiental no âmbito do Serviço Social é um assunto novo

que passa a contemplar a carga teórica da profissão, é neste sentido que a sua efetivação ainda

no âmbito acadêmico se torna necessária.

A pesquisa é classificada como uma revisão bibliográfica, a qual consiste em uma

abordagem qualitativa compreendida através de uma análise descritiva e exploratória dos

fatos, onde serão visualizadas as transformações históricas que perpassam esse universo e as

estratégias desse profissional em prol da transformação societária através das politicas

públicas.

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Este assunto é relevante porque face às catástrofes climáticas visualizadas

cotidianamente e a necessidade de uma economia sustentável, seja na esfera dos recursos

naturais ou no âmbito do consumo consciente, torna-se imprescindível à preservação do

planeta para as gerações presentes e para os futuros habitantes da Terra.

2 PROCESSO HISTÓRICO DA EDUCAÇÃO ECOLÓGICA NA ESFERA

DEGRADANTE DO CAPITALISMO MODERNO

Desde sua gênese, o homem utiliza a natureza para satisfazer suas necessidades

fisiológicas e existenciais, entretanto, esse processo se especificou com o advento do modo de

produção capitalista. Desse modo, para entender-se o processo de destruição ambiental e

posteriormente de educação ecológica, deve-se construir a conjuntura que perpassa o homem

enquanto trabalhador bem como o seu consumo exacerbado e a sua tomada de consciência.

Diante disso, verifica-se que a busca pela sobrevivência coloca o homem como

principal devastador da natureza, este por sua vez, com o uso de sua capacidade teleológica

antecipa idealmente o resultado de seu trabalho. Assim, neste momento o que interessava era

a finalidade da ação. Marx dizia que o homem transforma a natureza através do labor e ao

passo que realiza a atividade transforma a si mesmo. (MARX 2005)

Desse modo, de acordo com Espíndola e Arruda:

O fato de integrar o homem à natureza em sua gênese histórica proporciona uma

relação conflituosa de exploração dos recursos disponíveis, pois este passa

gradativamente a criar, recriar e satisfazer suas necessidades, conforme o

seguimento histórico em que vive, reconhecendo-se enquanto ser social.

(ESPÍNDOLA e ARRUDA 2008 p. 2).

Neste sentido o trabalho é o meio pelo qual o homem satisfaz suas necessidades de

consumo através da exploração arbitrária dos recursos naturais principalmente na era do

capitalismo que acelerou de forma significativa esse processo.

Sendo assim, a busca pelo consumo exacerbado e consequentemente o aumento da

degradação ambiental, tiveram suas origens ligadas à Revolução Industrial do século XVIII

ocorrida primeiramente na Inglaterra e posteriormente em outros países. Ela teve como

características o aumento da produção, organização das diversas atividades urbanas pelo

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capital, a indústria como principal atividade econômica, crescimento da população urbana,

aumento da vulnerabilidade social e da violência urbana, o aparecimento da linha de

montagem e da superprodução e o surgimento de tecnologias supermodernas.

Essa conjuntura cria um estoque de mercadorias que precisam ser consumidas a

qualquer custo. Com isto incentiva-se uma espécie de consumo que perpassa o campo da

satisfação das necessidades essenciais para a sua sobrevivência e concentra-se na esfera dos

desejos e assim surge o estímulo à sociedade de consumo, onde o mesmo passa a significar

uma felicidade absoluta a qual transcende a carne e chega ao espirito. (ALCANTARA S/D p.

07). Destarte, percebe-se que o homem passa a valer o que consome e por isso esse status

contribui para o processo de coisificação do ser humano, ao passo que coloca o próprio

homem em um patamar inferior a mercadoria, supervalorizando-a.

Tanto a Revolução Industrial quanto a sociedade do consumo trouxeram impactos

significativos ao meio ambiente seja no âmbito físico, químico ou biológico. Cabe frisar que,

com o crescimento das cidades, percebeu-se: o acumulo de lixo, os quais são despejados em

locais impróprios gerando a concentração de gás carbônico na atmosfera; a utilização de

combustíveis fósseis; a poluição dos rios e lagos; os desmatamentos; a utilização de

agrotóxicos; péssimos sistemas de agua e esgoto; dentre outros. (OLIVEIRA 2010 p. 20).

Todo esse processo ocasionou o aquecimento global49

e com ele veio à tona a

preocupação com a educação das pessoas para tentar amenizar a destruição do planeta Terra.

Entretanto, num primeiro momento esse assunto não era bem visto pelos países capitalistas,

uma vez que a ideia seria reduzir os lucros e isso não era viável dentro do modo de produção

capitalista.

Todavia, na década de 60 visualizou-se o primeiro debate a respeito do meio ambiente

e do crescimento econômico, neste, entretanto, havia aqueles que defendiam a limitação da

produção, uma vez que não concebiam a ideia de um consumo ilimitado dentro de um planeta

de recursos finitos e outros que acreditavam que essas ideias eram plantadas pelos países mais

desenvolvidos para inibir a ascensão dos países emergentes. (LEMES e KAMIMURA 2009 p.

49

O aquecimento global é observado em função do aumento médio da temperatura da atmosfera da

Terra e dos oceanos. A principal causa desse fenômeno é a liberação de gases estufa decorrente da queima de

combustíveis fósseis e desmatamento em larga escala. Viola, Flavio Maggessi. Análise do aquecimento global

através de uma perspectiva dinâmica.– Rio de Janeiro: UFRJ/COPPE, 2011.

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256). Ou seja, como ainda era novo falar sobre essa temática, existiam visões errôneas que

comprometiam a verdadeira discussão.

Por conseguinte, após vários questionamentos foi aprovada na Conferência de

Estocolmo, no ano de 1972, a Declaração Sobre o Meio Ambiente Humano e o Programa das

Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA). Ela possuía como foco a valorização do

meio ambiente como forma de desenvolvimento humano e econômico.

Além disso, de acordo com Passos:

Foi votado um Plano de Ação para o Meio Ambiente composto por 109

recomendações guiadas por três tipos de políticas; as relativas à avaliação do meio

ambiente mundial, o denominado ‘Plano Vigia’ (Earthwatch); as de gestão do meio

ambiente e as relacionadas às medidas de apoio (como a informação, educação e

formação de especialistas). (PASSOS 2009 p. 11)

Na década de 80 houve um aprofundamento nos debates sobre o ambientalísmo e os

empresários começaram a perceber que os recursos naturais estavam ficando cada vez mais

escassos, é neste ponto que se quebra o paradigma e onde se começar a pensar em uma

sustentabilidade no âmbito econômico. É evidente que esse passo deveria ser guiado pelo

lucro uma vez que o sistema ainda seria o capitalista, com isto as empresas se

comprometeriam “acriarem e colocarem no mercado produtos e serviços responsáveis com

relação ao meio ambiente” com o intuito de “contribuir para um ambiente saudável e também

evitar a poluição”. (SOUZA e BENEVIDES 2005 p. 906)

Nos anos 90 ocorreu a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e

Desenvolvimento (Eco 92) no Rio de Janeiro. Ela deu continuidade às discursões oriundas da

primeira conferência em Estolcomo 1972, contou com a presença de 178 países e 114 chefes

de estado além de representantes de Organizações Não Governamentais. Abordou assuntos

como educação ambiental, sociedades sustentáveis e responsabilidade e criou um plano de

ação para afirmar uma relação direta entre politicas públicas, educação ambiental e

sustentabilidade. Dentre as realizações desse evento, tivemos a agenda 21 a qual era uma

espécie de documento que consistia em “um conjunto de ações a serem implantadas por todos

os países participantes da conferência com o fim de promover uma política de

desenvolvimento pautada na responsabilidade social”. (OLIVEIRA 2010 p.27)

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Posteriormente os países se comprometeram em cumprir as determinações pré-

estabelecidas, assim, a primeira revisão realizada para saber se eles estavam cumprindo o

acordo foi a sessão da Conferência das Partes (COP 1) em Berlim no ano de1995. No fim

Concluíram que a ideia de voltar às emissões aos níveis de 1990 até o ano 2000 não seria

suficientes para alcançar as metas, desse modo em dezembro de 1997, na cidade de Quioto no

Japão, criou-se um protocolo, no qual “os países industrializados reduziriam suas emissões

combinadas e gases de efeito estufa em pelo menos 5% em relação aos níveis de 1990 no

período compreendido entre 2008 e 2012”. (ROCHA e PAIANO 2009 p.2861). Contudo,

todos os países agora teriam responsabilidade no combate às mazelas do aquecimento global,

porém cada um dentro da quantidade de poluentes que emite, ou seja, aqueles que mais

contribuíram historicamente com a poluição do planeta terão uma maior responsabilidade.

Segundo a cartilha O futuro que queremos: Economia verde, desenvolvimento

sustentável e erradicação da pobreza do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – INPE os

eventos que sucederam o protocolo de Quioto foram;

Haia, Holanda (2000) (estabelece o Crédito de Carbono); Bonn, Alemanha (2001)

(criação de fundo para países em desenvolvimento); Copenhagen, Dinamarca (2009)

(recomendação para não ultrapassar a temperatura média global de 2°C acima dos

patamares da Revolução Industrial); Cancun, México (2010) (Fundo Global para

fomentar pesquisa de desenvolvimento sustentável) e no Rio de Janeiro (2012) –

Rio+20 que contribuiu para definir a agenda do desenvolvimento sustentável para as

próximas décadas. (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais - INPE 2012 p.05)

Face ao exposto, ficou evidenciado que o debate por uma sociedade sustentável é uma

crescente, porém ainda falta muito para conseguir reverter todos os impactos causados pelo

capitalismo quando este despejou uma grande quantidade de poluentes na atmosfera.

Entretanto percebeu-se que a educação ambiental parece ser realmente o caminho mais viável

para mudar a consciência da população, pois o meio natural perpassa pelo homem e se

contempla no mesmo enquanto ser social.

3 A INTEGRAÇÃO DA QUESTÃO SOCIAL A QUESTÃO AMBIENTAL DENTRO

DE UMA PERSPECTIVA EDUCATIVA NO ÂMBITO DO SERVIÇO SOCIAL

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Para entender se há relação entre a questão social e a questão ambiental,

primeiramente faz-se necessário apreender as estruturas basilares que contemplam as

discussões. Neste sentido é importante frisar que a questão social é inerente ao modo de

produção capitalista e diz respeito a todas as expressões concretas e abstratas oriundas do

processo de produção e reprodução das relações sociais. Isto significa que a questão ambiental

faz parte de sua conceituação, uma vez que a mesma também é uma expressão da questão

social, haja vista que foi gestada dentro desse sistema.

Assim sendo, conforme Oliveira (2010 p. 28) essa integração ocorre porque a questão

ambiental envolve “pobreza, saúde, inserção no mercado de trabalho, educação, melhoria de

qualidade de vida, redistribuição equitativa da riqueza nacional e mundial, problemas

habitacionais e precarização das politicas públicas”. Isso são expressões da questão social

acarretadas também pela situação de desequilíbrio ambiental.

Partido desse pressuposto nota-se que os problemas ambientais afetam sobremaneira

as pessoas com vulnerabilidade e risco social que moram em zonas periféricas, uma vez que

as mesmas se encontram muitas vezes perto de lixões sem saneamento básico em suas ruas

e/ou em morros onde há frequentes deslizamentos de terras. Não podemos esquecer também

que um percentual significativo desses moradores sobrevive dos restos de comida encontradas

nos lixões e outros da coleta de materiais inorgânicos que podem ser reciclados.50

No que diz respeito ao meio rural, a degradação ambiental afeta de forma significativa

os agricultores, principalmente os de baixa renda que, com o aumento das temperaturas e

consequente falta de chuva, não conseguem plantar e por isso muitas vezes são obrigados a

exilar-se de seu lar em busca da sobrevivência nas cidades.

A partir disso, aponta Finco, Waquil e Mattos:

A degradação dos recursos naturais e ambientais, por sua vez, reduz a produtividade

resultando em empobrecimento dos agricultores. Este circulo sugere que a redução

da pobreza irá, necessariamente, reduzir a degradação do meio ambiente, assim

como a conservação e preservação do meio ambiente irá, necessariamente, reduzir a

pobreza.(...) o critério a ser utilizado para a pobreza ao se analisar a relação

pobreza/meio ambiente deveria ser a habilidade de realizar investimentos mínimos

50

TENÓRIO, Maria Clara Corrêa ; SOARES, Paulo Fernando. A questão ambiental x questão social. Disponível

em <http://www.unitrabalho.uem.br/artigos/pdf5.pdf > Acesso em 30 de maio de 2013

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para manter ou aumentar a quantidade e qualidade da base de recursos e/ou reverter

a degradação ambiental. (FINCO, WAQUIL e MATTOS 2004 p.05).

Assim, poderíamos afirmar que se o Estado investisse em politicas públicas que

contemplem tanto o social quanto o meio ambiente haveria uma redução de fato da pobreza e

consequentemente da devastação do meio ambiente. Entretanto não podemos esquecer que é o

capital um dos maiores devastadores do meio ambiente, neste sentido deveria haver restrição

mais dura para exploração dos recursos naturais.

“Em linhas gerais, a degradação ambiental está diretamente ligada aos imperativos do

capitalismo, pois é na acumulação capitalista que se encontra a força motriz da devastação e

expropriação de todas as forças naturais e vivas”. (RODRIGUES e SOUZA 2012 p. 06).

Neste sentido a criação de politicas públicas seria enviesada pela lógica de mercando, uma

vez que a ideologia utilizada contemporaneamente é o neoliberalismo, a qual introduz uma

lógica redistributiva de renda com o intuito de minimizar a pobreza e incentivar o consumo ao

passo que influi as empresas a lógica da sustentabilidade com a utilização de recursos

renováveis, tudo em prol do consumo e com ele a acumulação capitalista, ou seja, não esgota

a pobreza apenas maquia suas representações.

A partir de agora a discussão que norteara nossas argumentações se dará

prioritariamente na ideia do que é social e do que é ambiental. Neste sentido desvincular essas

questões é uma lógica positivista, na qual o social está ligado à cultura, as representações

sociais, os valores e as crenças e o ecológico está ligado à natureza, o ambiente. Marx (1988)

nos ensina que a sociedade é um todo complexo indivisível e fragmenta-la é o mesmo que

analisa-la de forma superficial.

Como apontam Gomes, Aguado e Peres (2007) durante décadas os críticos despejaram

seu veneno a respeito da preferência da ecologia pelo meio ambiente despojando-se do ser

humano enquanto sujeito, esquecendo que este é o principal receptor das consequências.

Assim a integração do social ao ecológico elimina essas criticas e conduz a uma reflexão mais

concreta a respeito das consequências sociais que o desequilíbrio ambiental pode ocasionar.

Podemos afirmar que a natureza “é o meio fisiológico onde se constrói toda a vida

humana” e o meio social se contempla na cultura e nos valores que também “é tão natural

quanto o meio biofísico”. Assim pode-se dizer que o meio ambiente é mais abrangente do que

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simplesmente a significação de um conceito atrelado ao natural. (GOMES, AGUADO e

PERES 2007 p.18). Pois ele contempla o todo, tanto as questões objetivas quanto as questões

subjetivas, porque dentro da biodiversidade está o homem e onde tem ser humano o natural

perpassará a sua aparência e adentra na essência do inato, ou seja, essas características estão

com ele desde o nascimento e são transformadas socialmente. Queremos dizer com isto que as

representações sociais fazem parte do natural do ser humano.

De acordo com Sauer e Ribeiro (2012 p. 391) “a questão ambiental é reconhecida

atualmente como uma problemática de caráter predominantemente social e político”. Desse

modo ela é social porque o ser humano se constrói e se constitui nesse âmbito e além do mais

ele faz parte do ambiente vivendo no mesmo espaço dos outros seres vivos.

Gomes, Aguado e Peres afirmam que:

Essa independência no plano social tem sua correspondência na ecologia quando se

afirma que todos os organismos modificam em alguma medida os ecossistemas nos

quais vivem. Tal afirmação transposta para o campo do social, os profissionais de

interversão social precisam ser muito conscientes (e consequentes) da

responsabilidade que assumem ao intervir (em todas as formas em que os assistentes

sociais podem fazê-lo, preventiva, corretiva, facilitadora, transformadora,

reparadora, entre outras) na realidade social. (GOMES, AGUADO e PERES 2007

p.12)

Conforme o exposto percebe-se que é importante a análise da questão ambiental

dentro de uma ótica social e para isto é necessário um profissional apto a intervir nesse

âmbito. É neste momento que o assistente social é requisitado para adentrar nesse espaço com

uma perspectiva de educador, mas esse processo se dará de forma lenta e gradual.

4 AS ESTRATÉGIAS DE ATUAÇÃO DO ASSISTENTE SOCIAL NA PROMOÇÃO E

PRESERVAÇÃO DO MEIO AMBIENTE

Para compreender como o Serviço Social adentra de forma significativa no âmbito da

questão sócio ambiental, primeiramente faz-se necessário apontar a historicidade que

comtempla a inserção desse profissional enquanto educador.

Nesse sentindo, dentro da conjuntura Brasileira sua gênese está ligada ao processo de

incorporação do marketing ambiental das empresas que se dá nos anos 80, esta década, por

sua vez, foi marcada por um aprofundamento nas discussões a respeito da educação ambiental

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e por um espraiamento da intervenção por parte do setor privado e à posteriori por meio de

políticas públicas através do Estado.

Na esfera da empresa o Serviço Social relaciona-se diretamente com a área de recursos

humanos criando e executando programas e projetos de cunho educativo, seminários, oficinas,

palestras e capacitações para os funcionários destas empresas. Esta prática, entretanto, está

fincada apenas na administração da questão ambiental, sem se preocupar com a essência, seja

no âmbito do seu surgimento, seja no campo da sua superação. Não podemos esquecer que as

Organizações Não Governamentais (ONG) também são responsáveis pelos serviços de

preservação e proteção ambientais e empregadoras dos assistentes sociais.

Na verdade, o profissional adentra nestes espaços por possuir uma dimensão político-

ideológica, na qual o seu papel educativo se faz presente e ele é guiado por sua característica

de intelectual orgânico atrelado a classe trabalhadora, mas não em uma perspectiva

emancipatória e sim para exercer o controle da mesma, através da coerção e persuasão.

Entretanto, mesmo sendo este profissional detentor de uma relativa autonomia em seu

exercício laboral (IAMAMOTO, 2007), deverá ora atender as demandas da classe que o

contrata, ora as necessidades da classe trabalhadora.

Assim Rafael (2009) afirma que atrelado à dimensão pedagógica desse profissional

estão presentes:

A dimensão política – que se encontra no campo das possibilidades de o (a)

assistente social interferir na correlação da luta de classes através dos instrumentos e

mecanismos institucionais voltados para a administração das desigualdades sociais;

a dimensão ética – ancorada em princípios humanos e emancipatórios; e, por fim, a

dimensão técnico-operativa - capaz de articular os meios de trabalho e os seus

instrumentos com os objetivos e metas traçadas.(Rafael 2009 p.04).

Desse modo entende-se que o profissional deve utilizar-se sempre de todas as

dimensões que contemplam o seu fazer profissional, mesmo estando este atrelado a um

contrato de trabalho e sofrendo a precarização resultante da implementação do neoliberalismo

econômico.

Essas dimensões também devem está presentes em suas ações na esfera do Estado,

uma vez que este profissional cria e executa politicas, programas e projetos que devem trazer

em sua essência a transformação societária não num sentido imediato, mas gradual.

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É neste ponto que irá ser discutido a apropriação da questão ambiental por parte do

Estado e como o assistente social terá um papel especifico de atuação neste âmbito.

Desse modo, ainda nos anos 80 foi criada a Política Nacional do Meio Ambiente com

a lei N.º 6.938, de 31 de agosto de 1981 que tem por objetivo a preservação, melhoria e

recuperação da qualidade ambiental propícia à vida. Nela será prioridade o desenvolvimento

sócio econômico e a proteção da biodiversidade existente. Contudo ela apreende que:

Art 5º - As diretrizes da Política Nacional do Meio Ambiente serão formuladas em

normas e planos, destinados a orientar a ação dos Governos da União, dos Estados,

do Distrito Federal, dos Territórios e dos Municípios no que se relaciona com a

preservação da qualidade ambiental e manutenção do equilíbrio ecológico,

observados os princípios estabelecidos no art. 2º desta Lei. Parágrafo único - As

atividades empresariais públicas ou privadas serão exercidas em consonância com as

diretrizes da Política Nacional do Meio Ambiente. (BRASIL 1981 p. 02)

Podemos apontar como diretrizes norteadoras na manutenção do equilíbrio ecológico,

racionalização do uso do solo, planejamento e fiscalização do uso dos recursos ambientais,

proteção dos ecossistemas,recuperação de áreas degradadas e educação ambiental a todos os

níveis de ensino, inclusive a educação da comunidade, objetivando capacitá-la para

participação ativa na defesa do meio ambiente. (BRASIL 1981 p. 01).

Posteriormente veio a Constituição Federal de 1988, a qual afirma em seu artigo 225

“todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado”, ou seja, sem ameaças

visíveis de degradação. Ainda afirma que tanto o poder público quanto à coletividade deve

preservar o meio ambiente para as presentes e futuras gerações. Em outras palavras, a partir

de agora a preservação do meio ambiente se torna questão de politica pública e é neste cenário

que o assistente social adentra no âmbito do Estado.

É importante ressaltar também que a própria Constituição Federal de 1988 afirma em

seu artigo 225 VI que o Estado deve “promover a educação ambiental em todos os níveis de

ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente”.

Assim em 27 de abril de 1999 é criada a lei 9.795 que dispõe sobre a educação

ambiental, institui a Política Nacional de Educação Ambiental e dá outras providências. Ela

afirma que a educação ambiental é o processo pelo qual o individuo e a coletividade constrói

conhecimentos que visem à promoção e preservação do meio ambiente e deve ser prestada em

todos os mecanismos educativos, sejam eles formais ou informais.

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É neste ponto que se cria o Programa Nacional de Educação Ambiental (ProNEA) o

qual tem por objetivo “assegurar, no âmbito educativo, a interação e a integração equilibradas

das múltiplas dimensões da sustentabilidade ambiental– ecológica, social, ética, cultural,

econômica, espacial e política”. Este programa possui como diretrizes “Transversalidade e

Interdisciplinaridade; Descentralização Espacial e Institucional; Sustentabilidade

Socioambiental; Democracia e Participação Social; Aperfeiçoamento e Fortalecimento dos

Sistemas de Ensino, Meio Ambiente.” (BRASIL 2005 p. 35).

Diante do que foi apresentado, traduz-se a atuação do profissional de Serviço Social na

esfera estatal como sendo um educador social, entretanto a sua efetivação enquanto

contribuinte para a transformação societária se dá por meio das politicas públicas, da

efetivação dos direitos e da conscientização dos indivíduos. Entretanto no setor privado, suas

ações são mínimas sem atingir de fato as suas dimensões enquanto profissional atrelado à

classe trabalhadora.

Conforme exposto anteriormente, a questão sócio ambiental é uma das mais

complexas e preocupantes expressões da questão social, onde o Assistente Social se insere

neste contexto como um profissional capaz de desvendar com um olhar diferente como vem à

surgir todos os problemas que ocorrem dentro do meio ambiente, fazendo uma ligação entre

relações familiares com as questões ambientais. Neste sentido o desenvolvimento sustentável

traz como tripé as dimensões sociais, ambientais e econômicas as quais perpassam o natural e

se encontram com a totalidade da vida em sociedade.

De acordo com Sauer e RIbeiro (2012) diante de catástrofes climáticas,situações de

calamidade, desabamentos, furacões, enchentes, entre outras, o assistente social deverá voltar

suas ações para a imediatissidade - corroborando com as famílias vitimadas a através de

projetos, programas e politicas que viabilizem tanto as futuras moradias quanto a diminuição

desses fenômenos. Isto se dará por meio da pesquisa socioeconômica, do programa de

habitação, do estudo social, entre outras.

Segundo Lima,2007:

Desse modo, para estudar a intervenção profissional dos Assistentes Sociais, na

contemporaneidade, faz-se necessário apreender enquanto totalidade a hegemonia de

um projeto profissional sob a égide do paradigma crítico dialético e que considera a

perspectiva dos Direitos e da Cidadania como orientadora das ações profissionais,

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bem como da relação que os sujeitos profissionais estabelecem entre si, com os

usuários e com as políticas públicas. Portanto, os valores engendrados pelo projeto

ético político do Serviço Social têm orientado os profissionais para uma intervenção

profissional cuja finalidade reside em consolidar um processo diferente, que

transforme as formas de ser e de se relacionar dos indivíduos em sociedade (LIMA

2007 S/P).

Fundamentado pela a Constituição Federal de 88, o Assistente Social desempenha um

papel sócio educativo, através de políticas públicas e movimentos sociais, com o intuito de

conscientização da população em geral, para a preservação e desenvolvimento de um meio

ambiente sustentável. Para isso o Assistente Social precisa está inserido em estudos que

estejam diretamente ligados a área ambiental, para assim ter uma capacitação de intervenção

da problematização ambiental.

Segundo Iamamoto (1997 p.08):

Um dos maiores desafios que o Assistente Social vive no presente é desenvolver sua

capacidade de decifrar a realidade e construir propostas de trabalho criativas e

capazes de preservar e efetivar a partir de demandas emergentes no cotidiano.

Enfim, um profissional, propositivo e não só executivo.

Ser propositivo significa não somete idealizar politicas públicas no seio ambiental,

mas incentivar iniciativas particulares de cuidado com meio ambiente, fazendo para tal, um

conclame aos movimentos sociais mobilizando-os e fortalecendo-os na luta contra as

desigualdades sociais e a destruição do planeta. Sempre munidos de argumentações

equivalentes ao seu grau de formação e que suas ações condicionem a população no sentido

emancipatório e não apenas de emergenciais.

A dificuldade que o Assistente Social enfrenta para a atuação na área ambiental, é

devido à evasão de estudo ambiental no processo de ensino aprendizagem, pois não é um

tema debatido frequentemente nas universidades durante o curso de Serviço Social, fazendo

com que muitos profissionais se recusem a despertar interesse pela a área. Mas por outro lado,

o meio ambiente passa a ser mais um espaço sócio ocupacional do Assistente Social.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O planeta passa por um processo de degradação ambiental ininterrupto oriundo da

exploração exagerada dos recursos naturais pelo homem, a qual já está trazendo

consequências irrevogáveis.

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Com isto o processo de educação ambiental ganha força e o profissional de Serviço

Social é chamado para adentrar neste espaço, pois há uma intensa relação entre a questão

social e a questão ambiental. Sendo está fruto daquela, o assistente social seria o profissional

capacitado para lidar diretamente com as consequências sociais trazidas por essa

problemática.

Para tal, a sua formação teórica e prática é fundamental, uma vez queprecisa legitimar

o seu fazer profissional diante da sociedade. Entretanto pode-se visualizar um não

aprofundamento no tocante ao debate em centros acadêmicos o que dificulta a atuação desse

profissional diante dessa realidade.

Por fim, percebe-se que o profissional de serviço social, por possuir um víeis de

educador e de intelectual orgânico atrelado a classe trabalhadora, ganhou espaço na esfera

ambiental e por isso este profissional deve possuir ainda mais um cabedal de conhecimentos

interdisciplinares e multifocal para que assim suas ações possam ser legitimadas.

Neste sentido, cabe ao assistente social realizar uma leitura aprofundada da realidade

acoplando o seu fazer profissional ao projeto ético-político da categoria para que assim possa

criar estratégias de interversão profissional que de fato possa provocar mudanças reais na

comunidade, seja por meio da conscientização dos movimentos sociais ou pela via de projetos

guiados pela sustentabilidade buscando o desenvolvimento tanto econômico quanto social.

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O PARADIGMA: CRESCIMENTO ECONÔMICO E MEIO AMBIENTE

Dilani Silveira Bassan51

RESUMO: Este trabalho tem por objetivo reunir algumas teorias sobre a relação que existe entre a

escassez de recursos naturais e a atuação da economia como ferramenta produtiva e de alocação de

recursos, com o fim de atender às necessidades das sociedades. Busca por meio de uma revisão

bibliográfica, evidenciar algumas contradições entre a necessidade de produzir bens e a preservação

dos recursos naturais. A economia tem como prioridade a produção e o crescimento econômico sem

uma preocupação especial com o esgotamento dos recursos naturais. Em contraposição os ecologistas

buscam através de uma intervenção na sociedade mostrar que se algo não for feito em prol da redução

da exploração dos recursos, o reflexo será negativo para as gerações futuras. Nota-se que há uma

busca constante pelo modelo de sustentabilidade, aliando a produção à redução ou utilização eficiente

dos recursos produtivos. Observa-se que existe uma resistência ainda grande por parte dos capitalistas

e do próprio governo que tem investido pouco em políticas públicas de preservação dos recursos não

renováveis.

Palavras-chaves: recursos não renováveis; sustentabilidade; crescimento econômico.

INTRODUÇÃO

O homem desde seus primórdios já tinha necessidades que precisavam ser satisfeitas,

como por exemplo, a alimentação, o vestuário, o aquecimento, entre outras. Para atender a

essas necessidades o homem precisava de poucos bens e recursos. A evolução das sociedades

e dos indivíduos conduziu a humanidade a buscar por mais conforto, bens que não apenas

saciassem sua fome e frio, mas que lhe proporcionassem um bem-estar maior.

A economia tem por conceito ser a ciência que procura atender as necessidades de

bens da sociedade utilizando de maneira mais eficiente os recursos disponíveis escassos

(Vasconcellos, 2002). O homem cada dia necessitando de novos bens pressionou a economia

a buscar alternativas para o fornecimento destes bens. Como atender a tantas necessidades se

os recursos disponíveis são escassos? Surge então, o novo paradigma da economia. Como

fornecer uma quantidade maior de bens às sociedades aliado a não exaustão dos recursos

naturais? Na tentativa de atender a esses questionamentos que o trabalho se utilizará de aporte

metodológico baseado em uma revisão bibliográfica.

51

Faculdades Integradas de Taquara – FACCAT. Telefone: (51) 81547056 / e-mail: [email protected]

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Assim, a expressão desenvolvimento sustentável nasceu da necessidade de uma

interação entre os aspectos econômicos da produção e a melhor alocação dos recursos naturais

associado à preservação do meio ambiente (Romeiro, 2003). O aumento populacional levou a

economia a avançar desenfreadamente sobre os recursos naturais a fim de atender as

necessidades dos indivíduos que passariam a se tornar mais específicas. A produção em

grande escala, a falta de legislação que regulamente a exploração dos recursos naturais, a não

preocupação com o esgotamento dos recursos naturais, utilizando-os de maneira irracional,

está conduzindo de maneira acelerada a um “abismo” ainda sem solução, pois os países

pensam apenas no crescimento econômico e os indivíduos em ter cada dia mais bens a sua

disposição.

Será necessária uma mudança da economia tradicional onde o PIB era representante

máximo da lucratividade e do progresso das nações, para uma nova concepção econômica

onde a valorização e a preservação do meio ambiente passam a ser prioridades para que se

possa continuar. Há necessidade de mudanças radicais em relação a esta visão estreita da

economia.

Percebe-se que os recursos naturais, embora, abundantes, estão sendo mal utilizados,

ou seja, há uma superexploração do meio ambiente sem nenhuma preocupação com a sua

exaustão. Portanto, faz-se necessário pensar em como reverter este caos, utilizando

adequadamente o que a natureza nos oferece.

A economia tem como objetivo alocar adequadamente os recursos escassos. No

entanto, em relação aos recursos naturais o problema é como valorar a exploração inadequada

do recurso e poder imputar os custos da degradação ambiental na contabilidade econômica

das empresas, dos indivíduos, do país, ou seja, de quem comete a infração.

Contudo, há necessidade de políticas públicas voltadas à preservação dos recursos

naturais, bem como, uma fiscalização rigorosa dos métodos produtivos utilizados pelas

grandes indústrias, uma educação centrada na orientação para preservação dos ecossistemas,

trabalhar junto às comunidades a fim de ensinar como melhor utilizar a água, a separar

adequadamente o lixo, a ter hábitos de higiene, etc.

Assim, preservar o meio ambiente utilizando de maneira adequada os recursos

disponíveis é de grande importância para as gerações e as decisões econômicas futuras.

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Este artigo propõe uma reflexão sobre o que pode ser feito a partir do quadro atual de

utilização demasiada dos recursos naturais e se ainda será possível reverter, em parte, o que já

foi destruído.

A ECONOMIA: SERIA ELA A RESPONSÁVEL PELA EXAUSTÃO DOS

RECURSOS NATURAIS?

Conforme Naredo (2001), a economia que possui as ferramentas para auxiliar na

alocação eficiente dos recursos produtivos tem um discurso econômico que está ajudando

mais a encobrir do que analisar e resolver os problemas ecológicos e sociais que caracterizam

as sociedades industriais.

No século XVIII, os economistas fisiocratas foram os responsáveis pelo começo de

um ciclo que se perpetua até os tempos atuais, o carrossel da produção, do consumo e do

crescimento. Ao propor o crescimento via produção, foi desenterrada a idéia fundamental da

atividade mercantil, de que uns enriquecem a custas de outros. Passa a ser desprezada a noção

de repartição da riqueza produzida em benefício de todos.

A idéia de produção se fixou como termo e objetivo econômico. Para Quesnay, um

dos economistas mais destacados desta época, produzir era simplesmente revender com

benefício, sem contribuir para o aumento das riquezas renováveis, dando lugar a um produto

físico expresso em termos monetários (NAREDO, 2001).

Assim, a idéia de crescimento passava a ser coerente com a visão organicista do

mundo físico, medido em termos físicos e monetários. A partir desse momento a economia

segue seu caminho com o objetivo do crescimento e da produção como premissas para o

progresso.

Conforme Cavalcanti (2003), a visão da teoria neoclássica é que o livre jogo das

forças de mercado e a livre competição seriam capazes de promover a eficiente alocação dos

recursos, uma elevada produção, uma justa distribuição de renda, um rápido progresso

tecnológico e a mais apropriada utilização da natureza. Além desses benefícios, a contribuição

da economia de mercado seria na eliminação dos problemas sociais e na vigência da

democracia.

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Em oposição está a visão ortodoxa que afirma que a economia global entregue às

forças de mercado estaria levando ao uso ilimitado e esbanjador dos recursos naturais,

reproduzindo um padrão insustentável de consumo, conduzindo as sociedades a uma pobreza

absoluta, não a um crescimento econômico, com distribuição de riqueza de forma justa

(CAVALCANTI, 2003).

No entanto, por volta de 1972, um grupo de pesquisa interdisciplinar chamado “Clube

de Roma” previu uma catástrofe mundial no ano de 2050, que seguia basicamente três

tendências: o aumento da escassez dos recursos naturais não renováveis; o aumento da

degradação ambiental e o contínuo crescimento populacional. A combinação dessas

tendências conduziria à insustentabilidade e à miséria (ROMEIRO, 2003).

Para Dupas (2007), é necessário analisar a quem o progresso serve e quais os riscos e

custos da natureza social, ambiental e de sobrevivência da espécie que ele está provocando. A

ideia de progresso vem permeando, ao longo dos séculos, muitos debates com diferentes

interpretações. No entanto, o mundo capitalista cobriu a real noção de progresso, que é a de

que a riqueza gerada por um país deve ser distribuída igualmente a toda a sociedade a fim de

que todos possam atingir um bem-estar social. Porém, o que se tem por progresso atualmente

é um crescimento das forças produtivas associado ao conhecimento técnico e científico, ao

crescente domínio da natureza e da produtividade que asseguram ao indivíduo condições de

existência mais confortáveis.

A ideia de progresso, conforme Habermans parece ser determinada pela lógica do

progresso científico e tecnológico, ficando a política reduzida à atenção às necessidades

funcionais do sistema. A política perde o poder de órgão gestor e determinante nas decisões

produtivas do sistema econômico para tornar-se um coadjuvante na execução das práticas

econômicas.

Uma nova doutrina chamada de neoliberalismo tentou ressuscitar o conceito de

progresso associando-o à ideia de mercados globais. No final dos anos 80, o processo de

globalização parecia ser a solução para eliminar a miséria, as guerras e o papel dos Estados

nacionais. No atual processo de globalização, o ideal liberal fez o capital tornar-se

cosmopolita, sua pátria é onde ele pode render mais. No que tange aos trabalhadores, esses

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continuam impedidos de circular pelo mundo global. A globalização estreitou os espaços, não

assumiu responsabilidades sociais e ambientais e tornou-se um problema (DUPAS, 2007).

Contudo, o crescimento e o tamanho da população representam fatores críticos para o

esgotamento dos recursos naturais (Martine, 2007). A economia, porém, não tem controle

sobre o aumento da população mundial, um dos fatores que tem contribuído para aumentar a

necessidade de produzir mais bens e serviços. Outro fator importante, que foge do alcance

econômico, é o desejo dos indivíduos em consumir mais de todos os bens.

Dessa forma, é preciso considerar que até o momento atual não existia uma

preocupação séria com a exaustão dos recursos naturais. A principal preocupação do sistema

econômico era produzir mais para crescer.

No entanto, observa-se que o planeta tem um limite e que a exploração inadequada dos

recursos naturais pode trazer e já está trazendo algumas consequências. Um exemplo da vida

cotidiana serve para mostrar como os limites já estão sendo derrubados. Assistiu-se a várias

catástrofes naturais nos anos que se passaram, mas um fato ocorrido no Brasil que serve para

ilustrar o avanço da população sobre o meio ambiente foi o desmoronamento do morro do

Baú em Santa Catarina e o deslizamento na região Serrana do Rio de Janeiro, em janeiro de

2011 (SILVA et al, 2012).

Assim, a visão passada por alguns autores acima citados, de que o crescimento é o que

importa, pressupõe-se ultrapassada. É preciso achar alternativas para continuar produzindo

sem causar mais impactos sobre a natureza. Hoje, a tecnologia é a aliada da economia para

tentar produzir de forma mais “limpa” e utilizando uma quantidade menor de recursos, com

maior eficiência. A “produção limpa” pressupõe uma produção com uso de tecnologias, que

revertam em menor consumo de recursos naturais (água, energia e outros produtos)

procurando minimizar resíduos e riscos, bem como, reduzir impactos ambientais, por meio do

princípio da ecoeficiência e da precaução. Esse tipo de produção envolve práticas

relacionadas à produção e ao consumo, como por exemplo: boas práticas operacionais;

medidas para evitar perdas; armazenamento e disposição adequada de resíduos; uso eficiente

de matérias-primas, entre outros (ANDRADE et al, 2001).

A mudança tecnológica aumenta a disponibilidade de recursos, eleva a renda per

capita mesmo com o crescimento da população. A tecnologia é um aliado da economia, pois

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de certa forma despreza a escassez de recursos naturais. Portanto, em um mundo sem

mudanças tecnológicas, a produção não teria como acompanhar o ritmo de crescimento da

população devido à escassez de recursos naturais.

Outra questão a ser discutida é sobre como atribuir um valor ao uso dos recursos não

renováveis. A economia que mede o valor dos bens através do preço de mercado quer saber se

o preço dos recursos naturais não renováveis reflete a escassez. Dessa forma, se os recursos

não renováveis tornam-se escassos, seu preço irá subir baseado na lei da oferta de mercado, a

tecnologia é a alternativa encontrada para compensar a escassez desse recurso (BROWN e

WOLK, 2000).

Uma das alternativas utilizadas pela economia para medir o valor dos recursos naturais

são as ferramentas matemáticas como usualmente é feito com os diferentes bens, para isso

utiliza-se da econometria. O aparato matemático disponibilizado pelas teorias econômicas

pode ser útil para chegar a uma medida que consiga associar aumento de produção,

crescimento da renda, preço dos bens, tecnologia e recursos naturais escassos.

No entanto, todas as formas de buscar uma alternativa para amenizar a utilização dos

recursos naturais ainda não consegue acabar com a preocupação de que a crescente escassez

de recursos naturais será um limitador do crescimento econômico e do bem-estar humano

num futuro próximo. Mas, a mudança tecnológica poderá ser a parceira da economia na

produção com vistas a superar a escassez de recursos.

A ECONOMIA E A SUSTENTABILIDADE

Ao longo dos últimos vinte anos o capitalismo global gerou duas tensões

fundamentais. De um lado, a estagnação dos níveis de miséria e pobreza, com agravamento da

concentração de renda. De outro, uma crise ambiental gerada pelo “modelo econômico”

vigente, sucateador de produtos e esbanjador de energia. Para alguns otimistas essa crise será

amenizada pelas forças de mercado (DUPAS, 2008).

Porém, a crise vem se agravando e nada tem sido feito para evitá-la. Isso leva à

conclusão de que a atividade humana corre um risco de desestabilização, pois sua saúde e

suas atividades dependem do bom funcionamento dos ecossistemas.

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Mas, é importante analisar o fato de que os recursos naturais estão em colapso e a

abundancia está acabando, isso numa visão bastante pessimista. A tecnologia, uma ferramenta

que poderá ajudar a sair dessa situação, pode também tornar-se uma inimiga. Um exemplo foi

a construção da bomba atômica, que foi lançada sobre Hiroshima, Japão, em agosto de 1945.

Conforme Cavalcanti (2003), toda a atividade humana, não importando qual seja,

incide sobre o ecossistema, ou pelo lado da extração de recursos, servindo de fonte de

matéria-prima, ou como uma “cesta de lixo” recebendo o lançamento de dejetos sob a forma

de matéria ou energia degradada.

Todavia, o sistema econômico deve-se comportar de forma a respeitar os limites

naturais. Desta forma, surge a noção de desenvolvimento sustentável que trata de promover a

economia e o bem estar dos seres humanos sem causar prejuízos que o sistema ecológico não

possa absorver. O autor traz considerações relativas ao aumento populacional como um dos

fatores que acelerou a arrancada sobre os recursos naturais na busca de produzir bens e

serviços que atendam às necessidades das sociedades.

Numa perspectiva de sustentabilidade, o fato acima vai à contramão, pois o que

importa é a produção de bens e serviços, não levando em conta todos os custos ou males

causados ao meio ambiente. Essa visão economicista tinha como principal preocupação

explicar os parâmetros valorativos em que ocorriam as trocas, ou seja, a formação dos preços

das mercadorias (SOUZA, 2000).

No entanto, um conceito de desenvolvimento sustentável também envolve uma

conceituação abrangente de capital. Assim, desenvolvimento sustentável compreende não

apenas o capital produzido e acumulado pelo sistema econômico, mas sim, o capital humano,

o capital social e, com destaque o capital natural. A sustentabilidade envolve a conservação

do capital natural (MULLER, 2007).

Porém, na visão tradicional da economia, predomina a geração de benefícios através

das atividades produtivas. Os custos da utilização dos recursos naturais de forma exagerada

não são computados, mas apenas se considera na economia tradicional os custos internos

relativos à produção do bem. Embora seja do conhecimento econômico a existência de

externalidades, essas ainda não são objeto de estudo e são excluídas do cálculo econômico.

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A mudança de um sistema tradicional, em que a produção e o crescimento são os

principais atuantes, para um sistema onde o meio ambiente é o principal ator, é uma

contribuição dos ecologistas que têm lutado constantemente na busca de proteção ao meio

ambiente. O crescimento deve ser socialmente receptivo e implementado através de métodos

favoráveis ao meio ambiente, em contraposição ao favorecimento da incorporação predatória

do capital (PIB). O crescimento econômico, quando pensado de forma adequada, de modo a

minimizar os impactos ambientais negativos e colocado a serviços de objetivos sociais se faz

condição necessária para o desenvolvimento (SACHS, 2002; SACHS, 2001).

Dessa forma, estimar o valor monetário dos recursos naturais esgotados seria uma

forma de aferir se o desenvolvimento tem sido sustentável e ter uma noção das externalidades

negativas geradas pela economia (Cavalcanti, 2003). Define-se como externalidade as noções

de interdependência de ação não deliberada e da ausência de correspondência monetária à

ação, ou seja, quando a ação de um determinado agente interfere involuntariamente na

utilidade de outro sem que haja compensação monetária. No aspecto ambiental a

externalidade pode ser representada por poluição, degradação dos recursos naturais, chamada

de externalidade negativa, pois representam falhas de mercado quando da utilização privada

do meio ambiente, que é um bem de natureza pública (Souza, 2000). Assim, uma avaliação

dos problemas ambientais vai além do que a economia ecológica pode oferecer, sendo

necessária a utilização de indicadores que possam estimar a degradação ambiental.

Todavia, a medida do desempenho econômico de um país, hoje calculada em termos

de produção, passa uma falsa idéia de qualidade de vida (distribuição justa de renda, serviços

sociais adequados e preservação do meio ambiente). As prioridades econômicas atropelam as

considerações de ordem ecológica. Nesse contexto, as contas nacionais não apresentam uma

previsão de avaliação dos custos ambientais, pois, consideram apenas os bens produzidos pelo

homem (SOUZA, 2000).

Mesmo assim, há necessidade de buscar atribuir um valor aos prejuízos que a

degradação ambiental traz para um país e para a sociedade como um todo. A valoração

econômica de um recurso ambiental é medida através da determinação do que é equivalente,

em termos de outros recursos disponíveis na economia, e que estaríamos dispostos a abrir

mão em prol de uma melhor qualidade de vida e quantidade de recursos naturais. A valoração

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monetária do meio ambiente permite precisar melhor as políticas públicas no sentido do

estabelecimento de taxas e /ou subsídios ambientais ou outras formas de internalização das

externalidades que representem corretamente o valor dos custos ambientais (SOUZA, 2000;

ORTIZ, 2003).

O problema dessa valoração é tornar tudo senso comum, ou seja, pensar que os ativos

naturais possam apenas ser somados aos ativos construídos pelo homem, utilizando a base

monetária como referência, tornando-se assim substituíveis.

SUSTENTABILIDADE: UM CONCEITO

A base de uma sociedade capitalista passa pelo consumo de bens e serviços que cresce

a cada ano. As forças de mercado envolvidas com o aumento da produção e da riqueza do país

avançam sobre os recursos naturais para atender ao crescimento econômico exigido

mundialmente. Porém, mostra-se claro o esgotamento dos recursos naturais não renováveis,

surgindo assim uma discussão em torno de um novo conceito de produção economicamente

sustentável.

A definição mais conhecida, acerca de sustentabilidade, foi criada em 1987, pela

Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, a qual divulgou o relatório de

Brundtland, conhecido como Nosso Futuro Comum (Our Common Future). O relatório trouxe

um conceito de sustentabilidade até hoje utilizado, que é “aquele que atende às necessidades

do presente sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem a suas

próprias necessidades” (CMMAD, 1991, p.46).

Para Abramovay, desenvolvimento sustentável é um processo de ampliação

permanente das liberdades substantivas dos indivíduos, em condições que estimulem a

manutenção e a regeneração dos serviços prestados pelos ecossistemas às sociedades humanas

(ABRAMOVAY, 2010).

O autor referencia o Brasil, um país que na luta contra a pobreza, padece de dois

problemas: a desigualdade nas suas diferentes formas, educação, moradia, condições urbanas

dignas, justiça, segurança, em contraposição à redução na desigualdade de renda.

Embora haja uma legislação, os padrões de produção e consumo predominantes

apóiam-se num processo acelerado de degradação ambiental. Um exemplo é o avanço da

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produção de commodities na Amazônia. Além disso, associada à redução do desmatamento na

Amazônia, observa-se a alarmante devastação do cerrado e da caatinga. O desmatamento, em

diversos meios governamentais, ainda é considerado a contrapartida do crescimento

econômico de uma economia emergente (LIRA et al, 2009).

Estudos mostram que existe um mercado promissor voltado à valorização dos serviços

ecossistêmicos prestados pelas florestas, entre eles, conservação da biodiversidade, seqüestro

de carbono, proteção das bacias hidrográficas e exploração das belezas naturais podem

contribuir de maneira decisiva tanto para a resistência dos ecossistemas, como na luta contra a

pobreza.

Dessa forma, falta por parte das políticas públicas definir junto aos atores sociais uma

estratégia comportamental de utilização sustentável dos recursos naturais, para que não se

perpetue o permanente confronto entre a necessidade de crescimento e as exigências da

questão ambiental.

Baseando-se no relatório do Banco Mundial de 2003 (World Report Development), o

grande desafio para a economia é promover o desenvolvimento associado à preservação do

meio ambiente. Atualmente é muito forte esta necessidade de mudança de paradigmas. A

economia passa de um estágio tradicional em que a preocupação maior era o crescimento

econômico, o aumento do PIB e da produção, para um estágio avançado e necessário

atualmente, utilizando seus instrumentos ou criando novos para que o desenvolvimento

econômico necessário não venha a esgotar totalmente os recursos naturais, alguns já em fase

de esgotamento, e sim, utilizar racionalmente os bens que a natureza proporciona ao homem,

preservando e conservando principalmente os recursos não renováveis.

Este relatório propõe algumas alternativas para os problemas sociais e ambientais a

nível local, nacional e global, para que através desta ação conjunta os diversos países possam

se encaminhar para um desenvolvimento sustentável.

O relatório de 2003 coloca como objetivos necessários ao desenvolvimento sustentável

a redução da pobreza, das desigualdades e da poluição do ar, procurar preservar a água

potável que existe no planeta, já muito rara, preservar os solos através da utilização em menor

escala de agrotóxicos, procurando sempre que possível a agricultura orgânica ou ecológica,

evitar o desmatamento das florestas, preservar a fauna e a flora, entre outros.

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O processo de globalização tem contribuído de maneira negativa, quando se analisa a

relação homem/meio-ambiente, para o desenvolvimento sustentável, pois a necessidade

crescente de atender a uma população que cresce geometricamente (emprego, habitação, entre

outros) promove uma ocupação desordenada do espaço, provocando desequilíbrios naturais

que irão, no futuro, atingir estes ocupantes.

No entanto, a sociedade conta com um ajudante poderoso que é a ciência e a

tecnologia que avançam rapidamente na procura de alternativas para resolver problemas da

humanidade. A ciência e a tecnologia podem ajudar a encontrar soluções para os problemas

socioeconômicos. A tecnologia pode auxiliar no processo de desenvolvimento das diversas

nações de maneira que estas utilizem eficientemente os recursos naturais. Desta maneira, o

futuro do desenvolvimento sustentável requer maiores investimentos em capital humano, na

área social e ambiental.

Entre os vários aspectos necessários ao desenvolvimento sustentável a educação tem

um papel importante, conforme Guimarães (2003), que afirma que um projeto conservador de

educação (ambiental) baseado em uma visão liberal de mundo, acredita que a transformação

da sociedade é conseqüência da transformação do indivíduo.

Na visão de Guimarães (2003), a modernização é um processo de mudança no qual

uma determinada sociedade sobrepõe estruturas tradicionais criando novas formas de

produção (urbanização, industrialização, desenvolvimento tecnológico) que levam as

sociedades em âmbito urbano e rural, quanto em regional, nacional e global, a modelos

desenvolvimentistas, com características intrínsecas de degradação ambiental.

Este modelo prima pelos interesses privados (econômicos) em contraposição aos

interesses coletivos (meio ambiente), possuindo uma visão antropocêntrica do mundo e

gerando fortes impactos socioambientais.

O problema central é que a disponibilidade dos recursos naturais é limitada, a

velocidade de reprodução dos recursos renováveis e a capacidade de absorver os detritos do

sistema industrial são insuficientes para acompanhar o ritmo acelerado do crescimento. Isto

por si conduziria a um colapso ecológico.

Para Sachs (2002), o mercado, a lógica do capital que fundamenta a sociedade

moderna é incompatível com a ideia de sustentabilidade. No entanto, o autor caminha para

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uma conciliação de um Welfare State (Estado do Bem-Estar Social) ecologizado, em que o

Estado teria a função de domesticar (subsídios) o mercado para atender a necessidades não

econômicas.

Desta forma, todo o problema se concentra no modelo atual de sociedade

fragmentária, reducionista, individualista, consumista, concentradora de riqueza, exploratória

que se volta para a degradação do meio-ambiente, em contraponto às características de uma

natureza complexa, coletiva, sistêmica, sinergética, que recicla e que se volta para a vida.

Portanto, para Guimarães (2003), é a relação entre indivíduo e sociedade, sociedade

humana e natureza que constrói o processo de uma educação política que forma indivíduos

(educandos e educadores) em atores sociais aptos a atuarem coletivamente no processo de

transformações sociais em busca de uma nova sociedade ambientalmente sustentável.

Para Cunha e Coelho (2003), no Brasil existem pelo menos três tipos de políticas

ambientais: as regulatórias, as estruturadoras e as indutoras de comportamento. As políticas

regulatórias têm como objetivo a elaboração de legislação específica para estabelecer ou

regulamentar normas e regras de uso e acesso ao ambiente natural e seus recursos, bem como

a criação de aparatos institucionais que garantam o cumprimento da lei. As políticas

estruturadoras objetivam a intervenção direta do poder público ou de organismos não

governamentais na proteção ao meio ambiente. Por fim, as políticas indutoras referem-se a

ações que tem por objetivo influenciar o comportamento de indivíduos ou grupos sociais.

Essas são identificadas com a noção de desenvolvimento sustentável e são implementadas por

meio especiais de financiamento ou de políticas fiscais e tributárias. São iniciativas destinadas

a otimizar a alocação dos recursos. O emprego de instrumentos econômicos, através de

políticas indutoras, busca privilegiar certas práticas consideradas ambientalmente desejáveis e

inviabilizar aquelas que podem resultar em degradação ecológica.

No Brasil, a partir do século XX a preocupação com o meio ambiente resultou na

elaboração e implementação de políticas públicas de caráter ambiental. No período colonial, a

legislação regulatória restringia-se basicamente à proteção florestal. O período de 1988 até os

dias atuais foi marcado por processos de democratização e descentralização decisórias e pela

rápida disseminação da noção de desenvolvimento sustentável.

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A divulgação, em 1987, do Relatório Brundtland, introduz com grande repercussão o

conceito de desenvolvimento sustentável. É a partir deste período que as políticas ambientais

voltadas à adoção de medidas de cunho normativo evoluíram no Brasil. Iniciativas do governo

foram articuladas no campo da gestão de recursos hídricos, do manejo florestal, controle de

poluição, prevenção e combate a incêndios florestais, capacitação para o planejamento e o uso

da terra e promoção de ações de educação ambiental.

Este período é marcado pela consolidação de políticas do tipo indutor do

desenvolvimento sustentável. O Estado passa a pensar em alocar recursos e empregar

estrategicamente os instrumentos econômicos destinados a promover práticas ecológicas e

inviabilizar comportamentos predatórios, estimulando novas formas de manejo dos recursos

naturais e promoção de instrumentos de parceria entre o poder público e a sociedade civil,

bem como formas de gestão ambiental participativa.

Na visão de Cunha e Coelho (2003),

[...] o paradigma do desenvolvimento sustentável tem emergido como um conjunto

alternativo de crenças, idéias e valores num processo de contestação a até então

dominante percepção do planeta como uma fronteira aberta de recursos naturais

ilimitados (Cunha e Coelho, 2003, p. 55 e 56).

Ao citarem o “paradigma da fronteira aberta” os autores estão se referindo a economia

neoclássica, a qual acreditava no pressuposto que o mercado livre maximizaria o bem-estar

social através da inovação tecnológica e da substituição de matérias-primas, e prorrogaria para

o futuro infinito a escassez absoluta.

Conforme Veiga (2002), a consciência a cerca da gravidade dos estragos ambientais

provocados pelo crescimento econômico moderno começou a emergir a partir da década de

1960, e seus desdobramentos só apareceram no início da década seguinte com o combate às

formas mais aberrantes de poluição. Na visão do autor, a humanidade caminha para a sua

própria destruição, enquanto não puder controlar o aquecimento global e a erosão da

diversidade biológica, sendo esses os mais sérios e abrangentes e não somente os únicos

riscos globais.

Portanto, Veiga (2002) aposta na ideia da cobrança de tributos para quem poluir ou

alocar inadequadamente os recursos naturais, também a proibição e a regulamentação são

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velhos instrumentos que passam a ser renovados e aplicados a problemas antes

desconsiderados. A proibição de caça e de pesca é antiga; os regulamentos relativos à saúde

pública também; a tributação é a velha inimiga do álcool e do fumo e talvez se transforme na

grande “vedete” do desenvolvimento sustentável. Assim, as ecotaxas fazem com que os

agentes da poluição paguem individualmente por suas “externalidades negativas”, ou seja,

pelos inconvenientes causados à coletividade.

Assim, existem alternativas possíveis para que economia e ecologia possam andar

conjuntamente. No entanto, ainda faltam políticas públicas que regulamentem este sistema.

Para o autor há consenso quanto a necessidade de incorporar tanto restrições e oportunidades

ambientais nas políticas econômicas, como restrições e oportunidades econômicas nas

políticas ambientais (VEIGA, 2002).

Destarte, os diversos atores sociais passaram a compartilhar a idéia de que os índices

de desenvolvimento econômico e de crescimento populacional ameaçavam ultrapassar a

capacidade de suporte do planeta e de que era mesmo necessário definir limites para o

crescimento e repensar a noção de desenvolvimento.

Desta forma, uma intervenção do Estado não apenas para determinar as regras de

exploração dos recursos naturais, mas sim, tornando públicas propriedades comuns, passou a

ser uma proposta para a solução da contradição entre interesses individuais de quem explora

um determinado recurso e os interesses coletivos de todo o grupo de usuários e da sociedade

em geral.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esse trabalho procurou, através da leitura de alguns autores, abordar as ideias

propostas a cerca do paradigma enfrentado atualmente entre economia e meio ambiente.

Observa-se que apesar da necessidade de produzir cada dia mais em função do

crescimento populacional e particularmente das necessidades ilimitadas da sociedade por bens

e serviços, tem-se ao mesmo tempo um movimento paralelo que procura conscientizar as

sociedades da necessidade de preservar os recursos naturais não renováveis.

A economia tem evoluído no processo produtivo buscando alternativas menos

agressivas ao meio ambiente. Aliada à economia surge a tecnologia que contribui para o

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desenvolvimento de pesquisas buscando alternativas para aumentar a produção utilizando

uma quantidade menor de recursos não renováveis. A tecnologia pode ser a saída para

enfrentar a falta de recursos produtivos. Com a utilização da tecnologia será possível produzir

mais bens com menos recursos.

O governo através das políticas públicas de preservação dos recursos naturais, que tem

sido precárias e lentas, frente ao avanço da exploração do meio ambiente, pode representar

uma alternativa. As leis ainda são poucas e, de certa forma, não conseguem atender com

eficiência as necessidades de conservação ambiental; a fiscalização é bastante precária e

inadequada e que seja punitiva no sentido de fazer o explorador ser o responsável pelo custo

causado à sociedade.

Alguns dos autores trabalhados no texto propõem a cobrança de uma taxa pela

utilização dos recursos naturais, outros afirmam ser necessário valorar o custo negativo da

exploração desses recursos, ou seja, achar uma forma monetária de justificar a utilização

abusiva dos recursos naturais não renováveis.

Percebe-se que mesmo a economia tendo ferramentas de medição do valor dos bens

ainda é difícil medir a agressão causada pela produção ao meio ambiente. Embora, muitas

contribuições sejam importantes na tentativa de valorar os prejuízos causados pela exploração

dos recursos não renováveis, ainda não foi possível chegar a um consenso.

Por fim, se faz necessário associar políticas públicas, consciência ambiental,

tecnologia para que no futuro as próximas gerações possam desfrutar dos recursos naturais

ainda disponíveis e a economia, através da produção possa atender as necessidades das

sociedades.

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TRANSFORMAÇÕES contemporâneas, “questão ambiental” e “questão agrária”:

algumas considerações

Área temática: Gestão econômica, social e ambiental

Evelyne Medeiros Pereira52

Francisca Vannagila Lemos Oliveira53

Maria Wiliana Alves Lucas54

RESUMO: O presente trabalho tem como objetivo analisar a sociedade capitalista nas suas

expressões mais contemporâneas e as suas implicações na destruição do meio ambiente, tomando

como pressuposto de análise as suas contradições inerentes. Partindo do referencial teórico marxista,

utilizamos como metodologia a pesquisa bibliográfica. Entendemos que o discurso ideológico que

legitima o desenvolvimento econômico atrelado a produção sustentável, compõe-se como novas

estratégias objetivadas pelo modo de produção capitalista como alternativa para o aumento da

lucratividade e enfretamento a uma possível crise sistêmica. Consideramos que a vivenciada “crise

ambiental” está diretamente interligada com uma “crise social”, que se expressa através da usurpação

de direitos, da privatização da vida e dos recursos naturais, da miséria e empobrecimento da classe

trabalhadora, tendo como única alternativa viável a superação da ordem societária fundada no

ordenamento capitalistas.

Palavras-chaves: Crise ambiental. Questão agrária. Questão social.

INTRODUÇÃO

O modo de produção capitalista é atravessado por circunstâncias historicamente

marcadas pela exploração, dominação e desigualdade. Deve-se observar que essa sociedade,

tal como as demais que já existiram na história da humanidade, é fruto de uma “articulação

entre forças produtivas e relações de produção” (NETTO; BRAZ, 2011, p.60). Os modos de

produção são, portanto, atravessados por contradições que conformam uma relação

permanente e dialética entre estrutura econômica e um conjunto de instituições, ideias e

52

Docente do Curso de Serviço Social do IFCE, [email protected], (085) 96523672 53

Discente do Curso de Serviço Social pelo IFCE, [email protected], (88) 96668577 54

Discente do Curso de Serviço Social pelo IFCE, [email protected], (88) 99030736

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valores, em geral, denominado de superestrutura. O capitalismo, enquanto modo de produção

e organização da vida social que marca a modernidade tem como pilar a contradição central

entre trabalho e capital, ou seja, uma combinação “desigual e combinada” cuja tendência

apresenta-se pautada pela riqueza socialmente produzida pelo “trabalhador coletivo” e

apropriada privadamente pelos donos dos meios de produção (MARX, 2008).

Nesse processo, o valor de troca predomina ao valor de uso, intensificando a

alienação, rompendo as fronteiras da mercadoria que passa a atingir todas as esferas da vida

humana. Um dos mais graves reflexos desse processo que se apresenta como expressão do

comando do capital sobre o trabalho, do “ter” sobre o “ser”, é a “questão social”, apreendida

como o conjunto das expressões das desigualdades da sociedade capitalista madura

(IAMAMOTO, 2004), particularizada enquanto “questão ambiental”. Alguns fenômenos

passam a caracterizar tal questão e entrelaçá-la a outros processos sociais, tais como: poluição

e destruição do meio ambiente; privatização dos recursos naturais; aumento da obsolescência

programada e de uma cultura da descartabilidade; uso intensivo de substâncias químicas

substancialmente ofensivas á saúde humana e animal, como um todo; entre outros. Assim, é

inevitável perceber que esse quadro, caracterizado por muitos como uma “crise ambiental” ou

mesmo o aprofundamento da chamada “questão ambiental”, encontra-se fundamentalmente

vinculada ao modo hegemônico de produção e reprodução das relações sociais no capitalismo.

A ideologia consumista, fruto do atual estágio de desenvolvimento capitalista, coloca

para a sociedade a necessidade de consumir cada vez mais o que não se constituem como

verdadeiras necessidades humanas, criando uma cultura do consumo, produzindo uma enorme

quantidade de supérfluos e resíduos, influenciando diversos fenômenos, aparentemente de

ordem puramente natural, prejudiciais a humanidade.

A grande mídia, diante do monopólio das comunicações, tem exercido papel

fundamental nesse processo, na medida em que veicula grande quantidade de propagandas,

formam opiniões e padrões de vida e consumo, alcançados por uns e almejadas pela grande

parcela populacional, produzidas pelas corporações com interesses eminentemente

comerciais. Em meio a uma economia globalizada, as informações são filtradas por uma

mídia associada aos seus patrocinadores, servindo apenas aos interesses do capital, em

especial, o financeiro.

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A ATUAL FASE DO CAPITALISMO E SUAS INFLEXÕES SOBRE A “CRISE

AMBIENTAL”

O século XX abre um novo “ciclo” da história do capitalismo caraterizado como um

estágio imperialista, marcado pelo processo de “mundialização do capital” (CHESNAIS,

1996) sobre o comando da potência estadunidense. Esse estágio, segundo Lênin (2011), tem

como principais características:

1) a concentração da produção e do capital levada a um grau tão elevado de

desenvolvimento que criou os monopólios, os quais desempenham um papel

decisivo na vida econômica; 2) a fusão do capital bancário com o capital industrial e

a criação, baseada neste capital financeiro, da oligarquia financeira; 3) a exportação

de capitais, diferentemente da exportação de mercadorias, adquire uma importância

particularmente grande; 4) a formação de associações internacionais monopolistas

de capitalistas, que partilham o mundo entre si; e 5) o termo partilha territorial do

mundo entre as potências capitalistas mais importantes (Lênin apud NETTO;

BRAZ, 2011, p. 190).

A fusão de capitais, a reestruturação produtiva, a conformação de monopólios, o

neoliberalismo e a regência do chamado capital financeiro passam a caracterizar,

especialmente a partir da década de 1970, a reorganização do capital ampliando a capacidade

de exploração do trabalho e dos recursos naturais que, inclusive, viram um novo e lucrativo

“nicho” de mercado comandado pelas grandes corporações mundiais.

Nesse sentido, o capital passa a dominar e a controlar todas as esferas da vida social e

a partilhar o domínio sob território mundial entre as grandes potências, fortalecendo a

apropriação do capital sobre os meios de produção, inclusive a terra, e subsumindo a massa da

população despossuída dos meios de produção a lógica do capital, intensificando o processo

de alienação. A apropriação privada dos recursos naturais da humanidade demonstra

claramente o poder e a força exercida pelo grande capital, que promove cada vez mais

desigualdades sociais, miséria, destruição e barbárie. Assim, “está longe do exagero afirmar

que atualmente tudo é efetivamente passível de transação mercantil” (NETTO; BRAZ, 2011,

p. 245-246).

Diante dos cotidianos desastres ambientais, além do agravante quadro de poluição, o discurso

empresarial da “sustentabilidade” e da “qualidade de vida” é de responsabilizar os indivíduos pela

preservação do ambiente, desresponsabilizando a sua produção destrutiva.

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Os defensores da privatização dos recursos naturais, que deveriam ser bens universais,

consideram esse processo como a solução adequada para “evitar”, ou mesmo “amenizar”, a

poluição e destruição dos recursos naturais esgotáveis e indispensáveis a sobrevivência do

ecossistema e, consequentemente, do sistema econômico, pois, sob o domínio de um grupo

pequeno de pessoas, esses teriam maior interesse em preservá-los. Porém, não levam em

consideração que é exatamente essa pequena parcela de proprietários privados que agravam

tal situação, produzindo padrões de conduta e consumo, junto ao Estado, destroem o meio

ambiente na busca incessante pelo lucro em detrimento da sua preservação que proporcionaria

condições dignas de vida a todos.

Nesse sentido, segundo Silva (2010), “a questão ambiental se inscreve no interior das

contradições do capitalismo contemporâneo” (p.231), ou seja, a produção de mercadorias no

modo de produção capitalista tem promovido, nos termos de Marx (2008), uma falha

metabólica na relação ontológica entre o homem com a natureza. A pesquisa científica e os

avanços tecnológicos buscam cada vez mais lucratividade em detrimento de formas capazes

de promover bem-estar e saúde a humanidade. Distanciam-se da população a aproximam-se

cada vez mais dos interesses do capital. As condições socioambientais e a destruição do meio

ambiente não é algo que compõe as prioridades das grandes empresas, mais sim a busca

desenfreada pela produção e pelo lucro, até mesmo quando se utilizam da falácia da

preservação ambiental e do “desenvolvimento sustentável”.

Como podemos perceber, entre os saldos da atual conjuntura capitalista para a

humanidade, está a “crise ecológica” que coloca em risco todos os sistemas de vida do

planeta, em que, para permanecerem e se reproduzirem, necessitam da preservação da

natureza e da biodiversidade, o que se torna antagônico a lógica do capitalismo

contemporâneo. O desenvolvimento da humanidade e das forças produtivas, nesse caso,

torna-se inconciliável com o desenvolvimento do capitalismo contemporâneo. Este,

caracterizado por uma crise que, segundo Mészáros (2002), é estrutural, sendo a “novidade

histórica desta crise” apresentada pelo autor a partir de quatro aspectos principais, vejamos:

1) Seu caráter é universal, em lugar de restrito a uma esfera particular (por exemplo,

financeira ou comercial, ou afetando este ou aquele ramo particular de produção,

aplicando-se a este e não àquele tipo de trabalho, com sua gama específica de

habilidades e graus de produtividade, etc.); 2) Seu alcance é verdadeiramente global

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(no sentido mais literal e ameaçador do termo), em lugar de limitado a um conjunto

particular de países (como foram todas as principais crises do passado); 3) Sua

escala de tempo é extensa, contínua, se preferir, permanente, em lugar de limitada e

cíclica, como foram todas as crises anteriores do capital; 4) Em contraste com as

erupções e colapsos mais espetaculares e dramáticos do passado, seu modo de se

desdobrar poderia ser chamado de rastejante, desde que acrescentemos a ressalva de

que nem se quer as convulsões mais veementes ou violentas poderiam ser excluídas

no que se refere ao futuro: a saber, quando a complexa maquinaria agora ativamente

empenhada na “administração da crise” e no “deslocamento” mais ou menos

temporário das crescentes contradições perder sua energia (p.796).

Essa realidade exponencia na vida cotidiana o caráter mais agressivo, opressor,

alienante e, fundamentalmente, desumanizante do capitalismo contemporâneo. O resultado,

“obviamente, é sempre a comunidade dos produtores que cobre os custos de tudo”

(MÉSZÁROS, 2009, p.53).

O contexto internacional, para Igor Fuser (2011), apresenta algumas tendências

principais. Dentre estas, a alta dos preços dos alimentos e da energia em consonância com a

persistência da crise econômica mundial.

As causas são a especulação financeira, o aumento do consumo nos países

“emergentes” e as catástrofes climáticas ligadas ao aquecimento global. Como

resultado, agravam-se as condições de vida em boa parte do planeta, criando um

terreno propício a rebeliões populares como no norte da África. Ao mesmo tempo,

intensifica-se a compra de terras em países periféricos por empresas estrangeiras. O

preço do petróleo também está aumentando, o que tornará mais difícil o fim da

recessão1.

No Brasil, especialmente a partir dos anos de 1990, ganha fôlego no meio empresarial

o novo discurso da sustentabilidade, buscando atrelar a produção industrial capitalista a um

suposto “desenvolvimento sustentável”, conformando a mais recentemente denominada

“economia verde”. Entretanto, esse discurso não vai além de uma percepção fenomênica dos

males que afetam o meio ambiente, pois não põe em questionamento a relação que

historicamente o homem estabelece com a natureza para a efetivação da produção capitalista.

Sobre isso, Mota (2012), referindo-se ao período mais recente da história do país, afirma que

“o fetiche do novo-desenvolvimentismo é que ele não comporta crescimento com equidade,

com sustentabilidade ambiental nem tampouco com enfrentamento das desigualdades sociais”

(p. 174).

1Jornal Brasil de Fato, ano 9, número 416, em 17.02.2011. Disponível em www.brasildefato.com.br.

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De acordo com Araújo e Silva (2012), o discurso capitalista do desenvolvimento

econômico baseado na sustentabilidade ambiental se configura como a mais nova ofensiva

ideológica do capital, servindo como forma de garantir os processos de mercantilização da

natureza e da (re)produção do sistema capitalista. Ao criticar as formas de produção anterior,

buscam-se novas formas de desenvolvimento do capital que esteja relacionado com os

diversos interesses em disputa, incluindo a pretensa preservação do meio ambiente.

Nesse âmbito, torna-se imprescindível compreender que a “crise ambiental” preocupa

não só estudiosos e militantes de movimentos sociais que apontam para a superação da

sociedade capitalista como forma de garantir a livre ação humana, mas também políticos,

empresários, responsáveis pelo desenvolvimento econômico mundial.

Tais discursos estão respaldados no campo da epistemologia e nas diversas teorias de

conteúdos pós-modernos. Essas correntes defendem a inviabilidade de superação das relações

vigentes e a necessidade de “melhorar”, ou melhor, humanizar o capitalismo contemporâneo,

girando em torno das próprias contradições do sistema sem levar consideração os limites

insuperáveis impostas por determinada ordem que inviabilizam a sua realização.

Alguns críticos das teorias ambientalistas defendem que, na maioria das vezes, os

discursos preservacionistas são provenientes e levadas à frente pela classe média ou pequena

burguesia, o que não proporciona o questionamento do cerne do modo de produção

capitalista, da apropriação privada dos recursos naturais e sua utilização como mercadorias,

não se buscando uma transformação do sistema, mas apenas mudanças nas atitudes

individuais, responsabilizando cada sujeito pela preservação do planeta.

O grande capital e as empresas multinacionais exercem total influência sobre os

estados e suas legislações. No Brasil, podemos citar, como exemplo, a aprovação de códigos

florestais, que, em vez de estabelecer limites à exploração capitalista, coloca a disposição de

seus projetos desenvolvimentistas a maioria das reservas e recursos naturais do país.

“QUESTÃO AMBIENTAL” E “QUESTÃO AGRÁRIA”: as particularidades da realidade

brasileira.

Particularmente no Brasil, torna-se imprescindível, para compreender a “questão ambiental”,

reportar-se a centralidade que tem a realidade agrária na história e formação social do país. Esta,

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atualmente, vem sendo caracterizada pelo avanço do chamado agronegócio que tem investido,

especialmente, na fruticultura irrigada e no monocultivo de cana-de-açúcar (também de milho, soja e

eucalipto), produzindo commodities, ocupando grandes extensões de terras com vantajosos recursos

naturais e impulsionando um processo que ousamos denominar de “recolonização” do país

respaldando, conforme Petras e Veltemeyer (2009), a “reprimarização da economia”.

Essa situação vem sendo marcada, além da crescente concentração de terras, pela

intensificação da exploração do trabalho na agricultura; ascensão de políticas assistencialistas e

compensatórias por parte do Estado voltadas para os trabalhadores do campo; avanço de grilagens de

terras em que grandes quantidades de terras públicas são ocupadas por empresas multinacionais;

aumento de desastres e crimes ambientais, além de contaminação do solo devido, principalmente, a

grande quantidade de uso de insumos e defensivos químicos (agrotóxicos, por exemplo).

O Censo Agropecuário (2006), elaborado pelo IBGE, demonstra a permanência de um

velho “quadro social” no país: o alto índice de concentração de terras. Os dados levantados

apontam que as pequenas propriedades (com menos de 10 hectares) correspondem a apenas

2,7% da área ocupada por estabelecimentos rurais. Já as grandes propriedades (com mais de

1000 hectares) ocupam 43% da área total. O que torna os números mais reveladores é o fato

das pequenas propriedades representarem 47% do total de estabelecimentos rurais, enquanto

os latifúndios correspondem a apenas 0,91% desse total. A agricultura familiar, com apenas

24,3% da área agrícola, é responsável por cerca de 87% da produção nacional. Além de ter

menos terras, a agricultura familiar tem menos investimento público. Recebeu cerca de 13

bilhões de reais em 2008 contra aproximadamente 100 bilhões do agronegócio.

Com isso, nas últimas décadas, como forma de recompor os caminhos da acumulação,

ocorreram alianças (ou fusão) entre setores agropecuários, industriais e financeiros nos mais

diversos ramos de (re)produção intensificando o processo de concentração de riquezas e

meios de produção; e de exploração e expropriação dos trabalhadores. Isso mediante o

desenvolvimento da reestruturação produtiva que vem caracterizando o universo do trabalho

como cada vez mais fragmentado, heterogeneizado, precarizado e constantemente (des)

realizado nas cidades e nos campos (FERNANDES, 2008, p.275).

Frente à situação exposta, é importante destacar que, conforme já explicita Iamamoto

(2007), a “questão agrária” no país é decisiva para a compreensão das formas históricas

assumidas pelo Estado “mediante os interesses de classes vinculados à propriedade territorial

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na composição política do poder interferindo nas grandes transformações operadas na vida da

nação”. Segundo Fernandes (2007), podemos caracterizar a política agrária no país ajustada a

alguns parâmetros, consistindo, basicamente, em quatro grandes linhas de ação: a) estímulo a

relações de arrendamento, como prioridade máxima; b) estímulo a relações de compra e

venda de terras; c) privatização e individualização de direitos de propriedade em fazendas

coletivas ou estatais; d) privatização de terras públicas e comunais.

A “questão ambiental” está, portanto, conexa a “questão agrária”, ambas perpassam e

são consequências de um processo constante de apropriação privada da terra, de

mercantilização dos recursos naturais, de expulsão de populações nativas (originarias) de seus

territórios e do crescente desenvolvimento capitalista que, ao longo da sua história, busca

novas formas de promover lucro, a superacumulação. A elevada concentração de terras no

Brasil nas mãos de poucos latifundiários e empresas tem promovido um processo histórico e

extremo de desigualdades sociais.

Um dos reflexos do avanço do capital e da consequente destruição dos recursos

naturais são as mudanças climáticas, constituindo-se como um dos mais graves problemas

ambientais chegando a ameaçar a continuidade da vida no planeta em que, de acordo com

Valadão e Barcellos (2012):

As mudanças climáticas afetam drasticamente os camponeses que dependem da terra

e das chuvas para a produção de alimentos. No mais, com o derretimento de geleiras,

espera-se a inundação de regiões litorâneas. A crise ambiental instalada mostra,

claramente, a relação entre as mudanças climáticas e a sociedade industrial com o

seu elevado padrão de produção e consumo (p. 162).

As medidas, pactos e acordos estabelecidos entre as organizações sociais e as grandes

empresas com o intuito de “proteger o meio ambiente” e diminuir os impactos sobre as graves

mudanças climáticas na maioria das vezes não cumprem seus objetivos, acabando por se tornar uma

estratégia de construção de consenso. A maior parte dos impactados com a expropriação e a

mercantilização da natureza são, dessa forma, as populações originarias e camponesas que ainda

dependem quase que exclusivamente da terra para sobreviver.

Essa realidade é agravada pelas condições em que são desenvolvidas as políticas

públicas voltadas para o campo, caracterizadas pelas enormes disparidades entre os

financiamentos disponibilizados, por exemplo, ao Ministério da Agricultura, Pecuária e

Abastecimento (MAPA) e ao Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDS). Os recursos

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públicos, como demonstra o último Censo Agropecuário (2006), conforme já citamos, tem

priorizado os grandes empreendimentos na agricultura presididos essencialmente por

empresas transnacionais, o que tem favorecido também o processo de sucateamento dos

órgãos públicos responsáveis pela gestão das políticas sociais no campo. Tais empresas, cujos

grupos de proprietários têm bastante influência no setor financeiro junto a governos nacionais

e regionais, vêm tomando relevância na economia nacional e mundial especialmente através

de exportações de commodities (soja, trigo, milho, cana de açúcar, entre outros.).

Em 2008, o BNDES concedeu em empréstimos mais de 17,2 bilhões de reais para

empresas do agronegócio. Assim, enquanto as grandes empresas agropecuárias acessam

34,6% do crédito e produzem 13,6% da produção, os pequenos agricultores acessam apenas

13,4% do crédito e produzem 56,8% da produção (MST, 2006). Isso sem falar no caráter

mercadológico da política de acesso a crédito que não oferece condições de sustentabilidade

aos trabalhadores, endividando-os e “pacificando-os”.

O resultado não poderia deixar de ser o aprofundamento da “questão ambiental” e

“agrária” enquanto interface do conjunto de expressões das desigualdades sociais que se

intensificam na contemporaneidade, não restando outra alternativa aos que mais sofrem com

esse processo a não ser resistir e se organizar por intermédio das lutas sociais.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

De acordo com Silva (2010), a “crise ambiental” está diretamente interligada com uma

“crise social”, que se expressa através da pobreza, da marginalidade, da negação dos direitos

sociais a classe trabalhadora, da privatização das políticas sociais e da barbárie. Essas são

características que estão no cerne da sociedade capitalista contemporânea e ganha cada vez

mais expressividade, elevando as contradições da lógica destrutiva do capital. O processo de

privatização avança não só sobre os recursos naturais, como também sobre todas as

dimensões da vida individual e coletiva.

Conforme Netto e Braz (2011), estamos vivenciando uma “crise ecológica” que afetará

a todos e que impossibilitará a própria reprodução da sociedade capitalista. Porém, é preciso

compreender as contradições desse processo para não reeditarmos o erro histórico do

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fatalismo e determinismo, lembrando que o modo de produção sobrevive a partir de uma

necessária articulação entre forças produtivas e relações sociais.

Nesse sentido, destacamos a importância da organização coletiva dos segmentos

oprimidos e explorados da sociedade, dos movimentos sociais e populares, da organização da

classe trabalhadora, da vinculação estratégica e necessária entre a produção de conhecimentos

científicos e as necessidades humanas, devendo estas ocuparem uma posição privilegiada em

relação à (re)produção do capital, tendo por objetivo construir uma nova forma organização

societária em que se torne possível a relação de reconhecimento, de humanização, entre o

homem e a natureza, trabalho e liberdade. Somente com esses avanços necessários, ou seja,

com a ultrapassagem do modo de produção capitalista de mercadorias e todas as relações que

lhe caracterizam é que se tornará possível a superação da “crise ambiental” em meio a um

pretenso ecocapitalismo.

No cenário brasileiro, a privatização de grandes extensões de terra pelas corporações,

com apoio do Estado, tem como objetivo o fortalecimento do mercado de terras sob o avanço

do agronegócio. Por outro lado, é reeditado o êxodo rural através do processo de expulsão da

maioria da população do campo, que necessita migrar para as grandes cidades, pois perdem o

direito de sobreviver apenas da agricultura familiar, tornando-se necessário o trabalho

precário nas grandes empresas ou passam a compor o “exército industrial de reserva” nas

grandes periferias urbanas.

A apropriação privada de empresas voltadas para a extração de minérios e demais

recursos naturais no Brasil, a exemplo da Vale do Rio Doce, torna-se um importante “nicho”

de mercado associado a iniciativas revestidas pelo discurso da “sustentabilidade” de

desoneração das empresas pela emissão de gases prejudiciais ao meio ambiente, diante da

legislação ambiental, cada vez mais flexibilizada. Referimo-nos, aqui, ao exemplo do

mercado de “créditos de carbono” ou de “redução certificada de emissões de gases do efeito

estufa (GEE)”, instituído pelos acordos internacionais como o denominado Protocolo de

Kyoto. Nesse caso, em vez de pagar a multa ao poder público por emitir GEE, as empresas

passam a comprar “créditos” que correspondem a uma “autorização” para emitir GEE e ao

desconto sobre a multa devida. Assim, as empresas e/ou nações que não conseguem atingir as

metas de redução de emissão de gases nocivos, tornam-se “compradores” de créditos de

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carbono. Já aquelas que conseguem diminuir suas emissões abaixo das cotas estabelecidas nos

acordos internacionais, podem vender o excedente no mercado nacional e internacional.

De acordo com Mota (2012), “caminham, a passos largos, a lógica extrativista, a

presença das transnacionais e a expansão do agronegócio (...) sem qualquer compromisso com

o desenvolvimento social dos países onde se instalam os mega-projetos desenvolvimentistas,

ampliando a mercantilização da terra” (p. 174).

Esse “nicho” de mercado é associado, no Brasil, ao fortalecimento da economia

agrário-exportadora, típica de países periféricos, promovendo uma verdadeira “divida social”

através da desvinculação dos recursos da seguridade social, diminuindo, com isso,

drasticamente os investimentos em políticas sociais, como saúde, assistência social e

previdência e abrindo caminhos para a iniciativa privada. A alternativa torna-se, então, a

privatização, onde apenas os que podem pagar, têm condições de acesso aos serviços de

qualidade, onde os direitos sociais conquistados e garantidos constitucionalmente passam a se

configurar enquanto serviços prestados por empresas privadas, reproduzindo o ideário

neoliberal que fortalece as relações de mercado e desonera o Estado de suas responsabilidades

sociais. “O capitalismo contemporâneo particulariza-se pelo fato de, nele, o capital estar

destruindo as regulamentações que lhe foram impostas como resultado das lutas do

movimento operário e das camadas trabalhadoras” (NETTO e BRAZ, 2011, p. 235).

A expansão do agronegócio vem trazendo cada vez mais a dificuldade de

sobrevivência dos “povos tradicionais” e da agricultura familiar. Os megaprojetos

desenvolvidos pelas grandes empresas, com o apoio do Estado, vêm proporcionando

ofensivas ao meio ambiente, desrespeitando populações nativas e promovendo diversas

formas de violência e violação dos direitos humanos. Essas medidas são justificadas através

da disseminada ideologia do desenvolvimento econômico sustentável das grandes empresas

que, mediante contratos públicos ou privados, passam a estabelecer uma relação com as

comunidades como verdadeiras “prestadoras de serviços ambientais”.

Por fim, é preciso que todo esse processo que configura a “questão ambiental e

agrária” na sociedade brasileira seja associado ao fenômeno mundial, tipicamente capitalista,

já apresentado por Marx (2008) de “fetichismo da mercadoria” que proporciona uma total

inversão de valores, a “coisificação das relações sociais”, submetendo a vida ao grande

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objetivo capitalista: a mercadoria. Frente a isso, o “ecologismo” vazio de estratégias

classistas, sólidas e coletivas, não é suficiente para viabilizar condições que venham,

efetivamente, a apresentar a possibilidade de uma nova hegemonia, para além do capital.

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