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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
FACULDADE DE MEDICINA
A INSUFICIÊNCIA CARDÍACA COMO CAUSA DE MORTE EM TRÊS ESTADOS BRASILEIROS DE 1999 A 2005
EDUARDO NAGIB GAUI
Tese de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Medicina (Cardiologia) do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Cardiologia.
Orientadores
Gláucia Maria Moraes de Oliveira
Carlos Henrique Klein
Rio de Janeiro
Novembro de 2009
A INSUFICIÊNCIA CARDÍACA COMO CAUSA DE MORTE EM TRÊS ESTADOS BRASILEIROS DE 1999 A 2005
EDUARDO NAGIB GAUI
Tese de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Medicina (Cardiologia) do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Cardiologia.
Orientadores
Gláucia Maria Moraes de Oliveira
Carlos Henrique Klein
Rio de Janeiro
Novembro de 2009
ii
Catalogação na Fonte
Autorizo apenas para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta tese.
_____________________________________________ _____________________Assinatura Data
Gaui, Eduardo Nagib. A insuficiência cardíaca como causa de morte em três estados brasileiros de 1999 a 2005 / Eduardo Nagib Gaui. – Rio de Janeiro: UFRJ / Faculdade de Medicina, 2009. xvii, 85 f. : il. ; 31cm.
Orientadores: Gláucia Maria Moraes de Oliveira, Carlos Henrique Klein
Dissertação (Mestrado) -- UFRJ, Faculdade de Medicina, Programa de Pós-Graduação em Cardiologia.
Referências Bibliográficas: f. 16-18, 36-38, 53-56, 69, 69, 78-80
1. Insuficiência cardíaca - mortalidade. 2.Causa básica de morte. 3. Causas múltiplas de morte. 4. Atestado de óbito. 5. Rio de Janeiro. 6. São Paulo. 7. Rio Grande do Sul. 8. Cardiologia - Tese. I. Oliveira, Gláucia Maria Moraes de. II. Klein, Carlos Henrique. III. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Faculdade de Medicina, Programa de Pós-graduação em Cardiologia. IV. Título.
iii
A INSUFICIÊNCIA CARDÍACA COMO CAUSA DE MORTE EM TRÊS ESTADOS BRASILEIROS DE 1999 A 2005
EDUARDO NAGIB GAUI
Tese de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Medicina (Cardiologia) do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Cardiologia.
Orientadores
Gláucia Maria Moraes de Oliveira
Carlos Henrique Klein
Aprovada por:
Presidente da BancaProf. Dr. Nelson Albuquerque de Souza e SilvaUniversidade Federal do Rio de Janeiro
Profa. Dra. Nadine Oliveira ClausellUniversidade Federal do Rio Grande do Sul
Dr. Sergio Salles XavierUniversidade Federal do Rio de Janeiro
Rio de Janeiro
2009
iv
Dedicatória
Aos meus pais, Eduardo e Lourdes, por terem compreendido, enquanto vivos,
que educação de qualidade era o melhor que poderiam me proporcionar,
e por me deixarem para sempre a rica herança do exemplo de suas vidas.
v
Se as coisas são inatingíveis... ora!
Não é motivo para não querê-las...
Que tristes os caminhos, se não fora
A presença distante das estrelas!
Mário Quintana
vi
Agradecimentos
À minha mulher Fátima, amiga e parceira, exemplo a ser seguido de
profissional dedicada à ars medicina, por me inspirar sempre.
Aos meus filhos Luis Eduardo e Tatiana pelo carinho e apoio que sempre me
dedicam.
Aos meus orientadores Profs Gláucia Moraes e Carlos Henrique Klein, que com
seu conhecimento científico e dedicação ao ensino e pesquisa me ajudaram
a acreditar que eu seria capaz de chegar ao fim desta jornada. Me lembraram
por vezes Sêneca: “Muitas coisas não ousamos empreender por parecerem
difíceis, entretanto, são difíceis porque não ousamos empreendê-las”, e outras
vezes Albert Einstein: “A mente que se abre a uma nova idéia jamais voltará ao
seu tamanho original”
Ao Prof Waldemar Deccache (in memorian), médico e professor por toda uma
vida, representando todos os meus mestres e tudo o que me ensinaram ao
longo de minha formação.
Aos colegas dos hospitais Miguel Couto e São Lucas, leais amigos e
companheiros de trabalho, pelo apoio e compreensão de que necessitei nos
últimos anos.
Ao programador visual Fernando Bueno por sua característica atenção e pela
qualidade da diagramação deste material.
vii
Resumo
A INSUFICIÊNCIA CARDÍACA COMO CAUSA DE MORTE EM TRÊS
ESTADOS BRASILEIROS DE 1999 A 2005
Eduardo Nagib Gaui
Orientadores
Gláucia Maria Moraes de Oliveira
Carlos Henrique Klein
Resumo da Tese de mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em
Medicina (Cardiologia) do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina
da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à
obtenção do título de Mestre em Cardiologia.
Objetivos – Avaliar o impacto da ocorrência da insuficiência cardíaca (IC) quando citada
em qualquer linha da declaração de óbito (DO) ou quando selecionada como causa
básica de morte. Estudar a associação entre a IC e outras condições mencionadas na
DO ou selecionadas como causa básica.
Métodos – As informações foram obtidas do SIM (Sistema de informação sobre
Mortalidade – Datasus) relativas aos estados do Rio de Janeiro, São Paulo e Rio
Grande do Sul, de 1999 a 2005. Foram estimadas taxas de mortalidade restritas e
abrangentes por IC anuais, segundo sexo e grupo etário. A morte por IC em modo
restrito é aquela na qual a IC foi selecionada como causa básica, segundo as regras
da CID-10, e em modo abrangente aquela em que houve menção à causa em que há
viii
IC na descrição em qualquer linha da DO.
Resultados – As taxas específicas de mortalidade apresentaram tendências de
quedas, exceto nos de 80 anos ou mais. As taxas de mortalidade por IC foram pelo
menos três vezes maiores no modo abrangente do que no restrito. As doenças do
aparelho circulatório seguidas das do aparelho respiratório foram as que mais se
associaram com a IC.
Conclusão – A avaliação isolada da causa básica de morte subestima a mortalidade
por IC. A inclusão da consideração das causas múltiplas de morte fornece avaliação
mais abrangente da importância de causas crônicas como a IC na determinação da
morte.
Palavras-chave: Insuficiência cardíaca
Mortalidade
Causa básica de morte
Causas múltiplas de morte
ix
Abstract
HEART FAILURE AS CAUSE OF DEATH IN THREE BRAZILIAN STATES
FROM 1999 TO 2005
Eduardo Nagib Gaui
Orientadores
Gláucia Maria Moraes de Oliveira
Carlos Henrique Klein
Abstract da Tese de mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em
Medicina (Cardiologia) do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina
da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à
obtenção do título de Mestre em Cardiologia.
Objectives – To evaluate the impact of the occurrence of heart failure (HF) as quoted
in any line of the death certificate (DC) or when only present as underlying cause of
death. To study the associations between the diseases recorded on the DC and HF.
Methods – Data were obtained from SIM (Mortality Information System – Datasus)
about the states of Rio de Janeiro, Sao Paulo and Rio Grande do Sul, from 1999 to 2005.
Annual, by gender and age group, mortality rates were estimated for comprehensive
and strict HF. Death due to HF in restricted mode is one in which the HF was selected
as the underlying cause, according to the rules of ICD-10, and in comprehensive mode
is one in which there was mention of HF in any line of the DC.
Results – The specific mortality rates tended to fall, except in that with 80 years of age
or more. Mortality rates for HF were at least three times higher in comprehensive mode
than in the restricted mode. Diseases of the circulatory system followed by respiratory
x
were those most associated with HF.
Conclusion – The isolated assessment of the underlying cause of death underestimates
the mortality due to HF. The inclusion of consideration of multiple causes of death
provides a more comprehensive evaluation of the importance of chronic causes such
as HF in the determination of death.
Keywords: Heart failure
Mortality
Underlying cause of death
Multiple causes of death
xi
Lista de Tabelas
Mortalidade por Insuficiência Cardíaca como Causa Básica ou Contribuinte de
Óbito em Três Estados Brasileiros, de 1999 a 2004
Tabela 1. Óbitos e taxas de mortalidade padronizadas* (por 100.000 habitantes)
por insuficiência cardíaca nos grupos ICm (menção de ICm em qualquer
linha da declaração de óbito ou quando codificada como causa básica)
e ICcb (IC apenas quando codificada como causa básica) no estado
do Rio Grande do Sul, no período 1999-2004 27
Tabela 2. Óbitos e taxas de mortalidade padronizadas* (por 100.000 habitantes)
por insuficiência cardíaca nos grupos ICm (menção de ICm em qualquer
linha da declaração de óbito ou quando codificada como causa básica)
e ICcb (IC apenas quando codificada como causa básica) no estado
de São Paulo, no período 1999-2004 27
Tabela 3. Óbitos e taxas de mortalidade padronizadas* (por 100.000 habitantes)
por insuficiência cardíaca nos grupos ICm (menção de ICm em qualquer
linha da declaração de óbito ou quando codificada como causa básica)
e ICcb (IC apenas quando codificada como causa básica) no estado
do Rio de Janeiro, no período 1999 – 2004 27
Tabela 4. Razões entre as taxas de mortalidade por inuficiência cardíaca de
homens/mulheres, por faixa etária, segundo os grupos ICm (menção
de IC em qualquer linha da declaração de óbito ou quando codificada
como causa básica) e ICcb (IC apenas quando codificada como causa
básica) nos estados do Rio de Janeiro, de São Paulo e do Rio Grande
do Sul, no período 1999 - 2004 33
Tabela 5. Razões entre as taxas de mortalidade por inuficiência cardíaca de
homens/mulheres, por faixa etária, segundo os grupos ICm (menção
de IC em qualquer linha da declaração de óbito ou quando codificada
como causa básica) e ICcb (IC apenas quando codificada como causa
básica) nos estados do Rio de Janeiro, de São Paulo e do Rio Grande
do Sul, no período 1999 – 2004 33
Tabela 6. Óbitos por ICcb (Insuficiência Cardíaca codificada como causa básica)
e razões entre ICm (menção de Insuiciência Cardíaca em qualquer
linha da declaração de óbito ou quando codificada como causa básica)
e ICcb nos estados do Rio de Janeiro, de São Paulo e de Rio Grande
do Sul, no período 1999 – 2004 33
xii
Mortalidade por Insuficiência Cardíaca: Análise Ampliada e Tendência Temporal
em Três Estados do Brasil
Tabela 1. Percentuais de óbitos por insuficiência cardíaca (IC), por ano de
ocorrência e segundo os grupos de IC, no conjunto de três estados
brasileiros (Rio de Janeiro, São Paulo e Rio Grande do Sul), de 1999
a 2005 47
Tabela 2. Razões entre as taxas de mortalidade por insuficiência cardíaca (IC)
de homens/mulheres, por faixa etária, segundo os grupos de IC, no
conjunto de três estados brasileiros (Rio de Janeiro, São Paulo e Rio
Grande do Sul), de 1999 a 2005 50
Mortalidade por Insuficiência Cardíaca no Brasil de 1999 a 2005
Tabela 1. Ocorrências e percentuais de causas de morte mencionadas em
qualquer linha da declaração de óbito, agrupadas por aparelhos*,
quando a Insuficiência Cardíaca (I50**) foi selecionada como causa
básica de óbito, nos estados brasileiros do Rio de Janeiro, São Paulo
e Rio Grande do Sul, de 1999 a 2005. 64
Tabela 2. Ocorrências e percentuais de causas de morte mencionadas em
qualquer linha da declaração de óbito, agrupadas por condições
específicas*, quando a Insuficiência Cardíaca (I50**) foi selecionada
como causa básica de óbito, nos estados brasileiros do Rio de Janeiro,
São Paulo e Rio Grande do Sul, de 1999 a 2005 64
Tabela 3. Ocorrências e percentuais de causas básicas de óbito, agrupadas por
aparelhos*, quando pelo menos uma causa do Conjunto Insuficiência
Cardíaca (CIC)** foi mencionada em qualquer linha da declaração
de óbito, nos estados brasileiros do Rio de Janeiro, São Paulo e Rio
Grande do Sul, de 1999 a 2005 65
Tabela 4. Ocorrências e percentuais de causas básicas de óbito, agrupadas por
condições específicas*, quando pelo menos uma causa do Conjunto
Insuficiência Cardíaca (CIC)** foi mencionada em qualquer linha da
declaração de óbito, nos estados brasileiros do Rio de Janeiro, São
Paulo e Rio Grande do Sul, de 1999 a 2005 66
xiii
Lista de Figuras
Mortalidade por Insuficiência Cardíaca como Causa Básica ou Contribuinte de Óbito em
Três Estados Brasileiros, de 1999 a 2004
Figuras 1A a 1F - Mortalidade (por 100 mil) por insuficiência cardíaca (mencionada em
qualquer linha da DO ou codificada como causa básica) em homens (H) e mulheres
(M) nos estados do Rio de Janeiro (RJ), São Paulo (SP) e Rio Grande do Sul (RS),
segundo faixas etárias, no período 1999 – 2004
Figura 1A. Faixa etária abaixo dos 40 anos 28
Figura 1B. Faixa etária de 40 a 49 anos 28
Figura 1C. Faixa etária de 50 a 59 anos 28
Figura 1D. Faixa etária de 60 a 69 anos 29
Figura 1E. Faixa etária de 70 a 79 anos 29
Figura 1F. Faixa etária de 80 anos ou acima 29
Figuras 2A a 2F - Mortalidade (por 100 mil) por insuficiência cardíaca (apenas quando
codificada como causa básica) em homens (H) e mulheres (M) nos estados do Rio de
Janeiro (RJ), de São Paulo (SP) e do Rio Grande do Sul (RS), segundo faixas etárias,
no período 1999 – 2004
Figura 2A. Faixa etária abaixo dos 40 anos 30
Figura 2B. Faixa etária de 40 a 49 anos 30
Figura 2C. Faixa etária de 50 a 59 anos 30
Figura 2D. Faixa etária de 60 a 69 anos 31
Figura 2E. Faixa etária de 70 a 79 anos 31
Figura 2F. Faixa etária de 80 anos ou acima 31
Mortalidade por Insuficiência Cardíaca: Análise Ampliada e Tendência Temporal em
Três Estados do Brasil
Figuras 1A a 1F- Taxas de mortalidade (por 100 mil habitantes) por insuficiência
cardíaca em homens (H) e mulheres (M), por ano de ocorrência, por grupo de IC
(A, C1 e C2), segundo faixas etárias, no conjunto de três estados brasileiros (Rio de
Janeiro, São Paulo e Rio Grande do Sul), de 1999-2005
Figura 1A. Taxas específicas de mortalidade >40 anos 48
Figura 1B. Taxas específicas de mortalidade 40 a 49 anos 48
Figura 1C. Taxas específicas de mortalidade 50 a 59 anos 48
Figura 1D. Taxas específicas de mortalidade 60 a 69 anos 49
Figura 1E. Taxas específicas de mortalidade 70 a 79 anos 49
Figura 1F. Taxas específicas de mortalidade 80 anos e mais 49
xiv
Lista de Abreviaturas e Siglas
AIH Autorizações de Internação Hospitalar
CIC Conjunto Insuficiência Cardíaca
CID Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas
Relacionados à Saúde
CID-9 9ª Revisão da Classificação Internacional de Doenças e Problemas
Relacionados à Saúde
CID-10 10ª Revisão da Classificação Internacional de Doenças e Problemas
Relacionados à Saúde
DIC Doenças Isquêmicas do Coração
DO Declarações de óbito
IAM Infarto Agudo do Miocárdio
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IC Insuficiência Cardíaca
ICcb Insuficiência Cardíaca como causa básica de morte
ICm Insuficiência Cardíaca mencionada em qualquer linha da Declaração
de óbito
RJ Rio de Janeiro
RS Rio Grande do Sul
SIH-SUS Sistema de Informações Hospitalares do Sistema Único de Saúde
SIM Sistema de Informações sobre Mortalidade
SP São Paulo
SUS Sistema Único de Saúde
TxM Taxas de Mortalidade
xv
Lista de Anexos
Anexo 1. Parecer do Comitê de Ética em Pesquisa 83
Anexo 2. Publicações e Temas livres 84
xvi
Sumário
Resumo vii
Abstract ix
Lista de tabelas xi
Lista de figuras xiii
Lista de abreviaturas e siglas xiv
Lista de anexos xv
Considerações Iniciais 1
Da mortalidade por Insuficiência Cardíaca 2
Da Declaração de Óbito 8
Referências Bibliográficas 16
Mortalidade por Insuficiência Cardíaca como Causa Básica ou Contribuinte 19
Resumo 20
Abstract 21
Introdução 22
Objetivos 24
Material e Métodos 24
Resultados 26
Discussão 34
Conclusões 36
Referências Bibliográficas 37
Mortalidade por Insuficiência Cardíaca: Análise Ampliada e Tendência
Temporal em Três Estados do Brasil 40
Resumo 41
Abstract 42
Introdução 43
xvii
Material e Métodos 44
Resultados 46
Discussão 50
Referências Bibliográficas 54
Mortalidade por Insuficiência Cardíaca no Brasil de 1999 a 2005 58
Resumo 59
Abstract 60
Introdução 61
Material e Métodos 62
Resultados 63
Discussão 66
Referências Bibliográficas 69
Considerações Finais 71
Conclusão 78
Referências Bibliográficas 79
Anexos 82
�
Considerações Iniciais
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
1. Da mortalidade por insuficiência cardíaca
A insuficiência cardíaca (IC) é o final comum de quase todas as cardiopatias.
Redfield, em editorial, considerando o aumento do número de internações por
IC, o número de mortes atribuídas a ela e os custos associados ao seu tratamento,
atribui a esta, equivocadamente, comportamento próprio das epidemias1. A observação
da freqüência de ocorrência da IC em séries históricas longas, de décadas, como a
apresentada por Redfield, demonstram que a sua elevação contínua não é fenômeno
transitório, o que portanto, não a caracterizaria como epidemia1.
Apesar do reconhecimento da sua importância como relevante problema de
saúde pública, poucos são os estudos encontrados na literatura sobre a prevalência
e a incidência de IC, assim como sobre o comportamento dessas ao longo do tempo.
A IC é a terceira causa de morte cardiovascular nos países desenvolvidos, e
também uma importante causa de morbidade e hospitalização; tem alta prevalência e
incidência crescente com o avançar da idade, sendo a primeira causa de internação
de pacientes com mais de 65 anos e representando 5% do total de internações nessa
faixa etária na Espanha2. Esse estudo de Martinez e cols., em que se analisou a
tendência da mortalidade por IC na Espanha de 1977 a 1998, mostra que a IC foi
responsável, dependendo da região, por 4 a 8% da mortalidade total e por 12 a 20%
da mortalidade cardiovascular, tanto em homens quanto em mulheres, afetando
principalmente os grupos de idade mais avançada2.
Apesar da elevação no número das internações por IC, observa-se uma tendência
de queda da mortalidade ao longo do tempo, como relatada por Murdoch e cols., ao
estudarem a importância da IC como causa de morte na Escócia de 1979 a 19923.
Analisando a mortalidade por IC na população de Oxford, Inglaterra, de 1979
a 2003 e comparando-a com a mortalidade por infarto agudo do miocárdio (IAM) na
�
Considerações Iniciais
mesma população, Goldacre e cols. encontraram taxas de queda muito similares de
ambas e para ambos os sexos, contrariando a hipótese levantada por esses autores em
suas considerações iniciais de que a queda que vem sendo observada na mortalidade
por IAM teria como conseqüência um acréscimo no número de portadores de IC, com
a conseqüente elevação da taxa de mortalidade por IC4.
Apesar da queda nas taxas de mortalidade para ambos os sexos, a IC permanece
tendo alta letalidade, visto que, entre aqueles em que foi diagnosticada nos anos
1990, a mortalidade alcançou 50% nos cinco anos que se sucederam ao diagnóstico,
segundo a análise de Levy e cols. sobre a tendência temporal da incidência da IC e a
sobrevida entre a população compreendida no estudo de Framingham, num intervalo
de cinqüenta anos5.
Em 2005, Rohde, em editorial, chamou a atenção para o fato de os estudos
nacionais sobre o tema serem escassos e não necessariamente representativos de
todo o País. Ainda que se acredite que o impacto epidemiológico e funcional da IC no
Brasil seja de magnitude similar àquela encontrada em outros países, boa parte dos
estudos nacionais são observacionais e de cunho prognóstico, oferecendo preditores
clínicos e laboratoriais de risco, e por vezes conflitantes6.
O estudo da epidemiologia da IC no Brasil, na maioria das vezes, se dá
mediante a análise dos dados do Sistema Único de Saúde (SUS) referentes à
internação hospitalar. Segundo Albanesi, o SUS, que possui o único banco de dados
sobre internações disponível, é responsável por 75% das internações hospitalares no
País; as demais internações são referentes ao sistema de saúde suplementar, que
apesar de manter sistema de registro disponível, carece de notificação adequada.
Pode-se concluir, então, que temos uma idéia apenas parcial não só do universo de
informações concernentes às internações por IC no Brasil, mas também de sua real
letalidade e impacto econômico7.
O Projeto EPICA, em que pese a pequena dimensão da amostra e a restrição
geográfica (município de Niterói), procurou comparar as características de um grupo
de pacientes internados com diagnóstico de IC descompensada em hospitais públicos
�
Considerações Iniciais
(98 pacientes) e em hospitais privados (105 pacientes), no período de julho a setembro
de 2001. Analisados os fatores de risco, comorbidades, etiologia e mortalidade da IC,
não houve diferença estatisticamente significativa entre os dois grupos. Os pacientes
internados na rede pública de saúde tiveram tempo de internação maior, eram em
média dez anos mais novos e o tabagismo era significativamente (p=0,001) mais
prevalente8.
Albanesi afirma que, no Brasil, a IC foi a terceira causa de internação por
causas clínicas no SUS de 1992 a 2002, com taxas que variaram entre 3 e 4% do
total de internações, com taxa de letalidade entre 5 e 7% das internações. O maior
número de internações por IC ocorreu na região Sudeste (39,6%), vindo a seguir o
Nordeste (25,5%), o Sul (21,1%), o Centro-Oeste (9,5%) e o Norte (4,4%), perfazendo
um total de 372.604 internações. O mesmo ocorreu em relação à porcentagem de
óbitos: 49,5% no Sudeste; 21,5% no Nordeste; 18,6% no Sul; 6,9% no Centro-Oeste;
e 3,4% no Norte, num total de 25.984 óbitos7.
A formulação de políticas de saúde depende em grande parte do conhecimento
sobre determinada patologia e também do impacto econômico que, dada sua
prevalência e os gastos necessários para seu controle e tratamento, ela impõe ao
sistema. É certo que a IC tem alta prevalência e é uma das principais causas de
internação. Conseqüentemente representa parcela considerável de custos tanto para
o sistema de saúde público quanto privado. No entanto, salvo poucos exemplos, os
estudos nacionais que tentam avaliar a dimensão do problema são escassos8,9,10.
As doenças isquêmicas do coração (DIC) são as principais causas da IC, seguidas
da cardiopatia hipertensiva e da cardiomiopatia dilatada, entre os pacientes internados
por IC em nosso meio9,10. Esses dados são comparáveis aos internacionais, como,
por exemplo, os do registro “Acute Decompensated Heart Failure National Registry
(ADHERE)”, registrados de 2002 a 2004, em 285 hospitais americanos, quando se
observou que em pacientes internados por IC a hipertensão arterial também esteve
presente em 73,9% dos casos e a doença arterial coronariana, em 57,5%11.
A doença de Chagas tem relevância na gênese da IC, porém supomos que
�
Considerações Iniciais
seu impacto na mortalidade por IC deva ser mais bem avaliado, levando-se em conta
as diferenças regionais de sua prevalência em pacientes com IC, o que se infere dos
números obtidos em alguns estudos: 27,9% (Goiânia, GO), 6,2% (São Paulo, SP) e
10% (Salvador, BA)12,13,14.
Os estudos epidemiológicos cujos dados são obtidos de registros dependem
fundamentalmente da abrangência e da qualidade desses. É certo que, quando
estudamos a mortalidade por IC através de dados relativos somente à internação
hospitalar na rede pública ou conveniada do SUS, estamos revelando apenas parte
do problema.
Os registros de morte, as declarações de óbito (DO), nos dão uma visão mais
ampla do objeto de nosso estudo, e são as fontes mais abrangentes para quantificar a
mortalidade. A IC foi avaliada com base nesses dados em alguns países, em estudos
que se utilizaram de metodologias distintas para a identificação da IC como causa ou
co-partícipe da morte. As diferenças ocorreram principalmente quanto ao uso apenas
da causa básica de óbito ou da IC notificada em qualquer linha do atestado, mas,
também, na seleção dos códigos relacionados à IC selecionados da Classificação
Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID),
alguns se utilizando da nona revisão (CID-9), outros da décima revisão (CID-10),
outros, ainda, de ambas as revisões, dependendo do período de abrangência do
estudo2,3,4,15,16. No Brasil, podem ser encontrados exemplos desses usos variados na
avaliação de tendências de mortalidade por doenças circulatórias, cerebrovasculares
e isquêmicas do coração17,18,19.
A tendência de mortalidade por IC na região metropolitana de Salvador, BA,
de 1979 a 1995, avaliada pela seleção dos códigos 428.0, 428.1 e 428.9 do CID-9
como causa básica de morte revelou declínio da mortalidade por IC de 1979 a 1992,
estabilizando-se a partir de então até 199520.
A seleção de causa básica de morte, que segue regras padronizadas, pode
subestimar a ocorrência de determinadas patologias, especialmente as de caráter
crônico e as que incidem em uma população de faixa etária mais avançada, na qual
�
Considerações Iniciais
mais de uma condição patológica pode contribuir para a morte. Este é o contexto no
qual se encontra a insuficiência cardíaca. Pode-se tomar como exemplo o fato de que
no ano de 2003, no Brasil, a proporção da ocorrência de IC como causa básica de
morte foi de 30,61% em relação ao total de suas menções nos registros de óbitos21.
Exceto por quatro estudos realizados na Espanha, Escócia, Inglaterra e Austrália, a
mortalidade por IC tem sido quantificada por sua ocorrência apenas quando tabulada
como causa básica de morte2,3,4,16.
Na Espanha, Martinez e cols., analisando a evolução temporal da mortalidade
por IC de 1977 a 1998, encontraram tendências de queda nas taxas de mortalidade
ajustadas por idade por 100.000 habitantes por ano para o total da população, apesar
das diferenças regionais relatadas, sendo que as maiores taxas referem-se aos mais
idosos da Andaluzia2.
Murdoch e cols. já haviam observado em 1998 quedas nas taxas padronizadas
de mortalidade, por idade e sexo, decorrentes de IC na população da Escócia no
período de 1979 a 1992. Foram selecionados nesse estudo, para o diagnóstico da
IC, os códigos da CID-9 428.0 (insuficiência cardíaca congestiva), 428.1 (insuficiência
ventricular esquerda), 428.9 (insuficiência cardíaca não especificada), 425.4
(miocardiopatia primária), 425.5 (miocardiopatia alcoólica) e 425.9 (miocardiopatia
secundária inespecífica). Ao analisarem a IC por meio desses códigos quando
tabulada como causa básica de morte e quando mencionada em qualquer linha da
DO, os autores concluem também que a ocorrência da IC como contribuinte para a
mortalidade total tem sido subdimensionada3.
Goldacre e cols., como já comentado, também encontraram queda nas taxas
de mortalidade por IC na região de Oxford, Inglaterra, de 1979 a 2003, utilizando para
o diagnóstico da IC apenas os códigos 428 da CID-9 e I50 da CID-10 (insuficiência
cardíaca), porém também considerando sua ocorrência quando tabulada como causa
básica de morte ou quando mencionada em qualquer linha da DO4.
Najafi e cols., estudando a mortalidade por IC na Austrália de 1997 a 2003,
seguiram essa mesma metodologia, porém ampliaram a seleção dos códigos da CID
�
Considerações Iniciais
para a identificação da IC como causa de morte. Do total de 907.242 mortes, a IC foi
codificada como causa básica de morte em 3,2%, e em 14,9% havia sido mencionada
na DO16. Nesse estudo, a IC foi definida como envolvida na morte mediante dez
códigos da CID-10, a maioria com referência explícita de IC no título, porém o estudo
inclui outras doenças que comumente a tem manifesta em sua apresentação clínica.
No Brasil, um único estudo de mortalidade por IC através de registros
de mortalidade, o de Latado e cols., em Salvador (BA), já citado, utilizou em sua
metodologia identificação da IC apenas quando selecionada como causa básica de
morte20.
A seleção dos códigos para a identificação da IC da CID-10 se baseou nos
critérios descritos a seguir. Foram utilizados os códigos nos quais a IC está explicitada
no título do código I50.0 (insuficiência cardíaca congestiva), I50.1 (insuficiência
ventricular esquerda), I50.9 (insuficiência cardíaca não especificada), I11.0 (doença
cardíaca hipertensiva com insuficiência cardíaca congestiva), I13.0 (doença cardíaca
e renal hipertensiva com insuficiência cardíaca congestiva), I13.2 (doença cardíaca e
renal hipertensiva com insuficiência cardíaca congestiva e insuficiência renal) e P29.0
(insuficiência cardíaca neonatal). Foram utilizados, ainda, os códigos nos quais a IC
está contemplada na explicação do código, como é o caso de I09.9 (doença cardíaca
reumática não especificada) e I97.1 (outros distúrbios funcionais subseqüentes à cirurgia
cardíaca). Também foram incluídos os códigos I25.5 (miocardiopatia isquêmica), I31.1
(pericardite constritiva crônica), I42.0 (cardiomiopatia dilatada), I42.6 (cardiomiopatia
alcoólica), B57.0 (forma aguda da doença de Chagas, com comprometimento cardíaco)
e B57.2 (doença de Chagas crônica com comprometimento cardíaco), que podem ter
na sua evolução sinais e sintomas de IC. O estudo de Najafi na Austrália serviu de
base para a seleção dos códigos a fim de possibilitar comparações; a essa seleção,
foram acrescidos, dada a prevalência em nosso meio, os códigos referentes à doença
de Chagas e à doença cardíaca reumática16.
Apesar de terem em sua explicação a menção da IC, não foram incluídos os
códigos O29.1 (complicações cardíacas de anestesia durante a gravidez), O74.2
�
Considerações Iniciais
(complicações cardíacas devidas à anestesia durante o trabalho de parto e o parto)
e O75.4 (outras complicações de procedimentos ou de cirurgia obstétrica), por não
fazerem parte da seleção de Najafi e cols.16 Outros códigos que podem ter a IC em
sua evolução clínica não foram incluídos para não aumentar a imprecisão dos dados
coletados. Incluem-se aí os demais códigos do grupo I42 (miocardiopatias), o grupo
I40 (miocardites) e I01.2 (miocardite reumática aguda), para citar alguns exemplos.
2. Da classificação de doenças e da declaração de óbito
A preocupação com a formatação de uma classificação de doenças é antiga.
Acredita-se que a primeira tentativa de se efetuar uma classificação sistemática de
doenças tenha sido realizada por François Bossier de Lacroix (1706-1777) numa
publicação intitulada Nosologia Methodica.22
A classificação de doenças mais utilizada no início do século XIX era a Synopsis
Nosologiae Methodicae, uma publicação de 1785 de autoria de William Cullen (1710-
1790). Uma classificação de doenças mais adequada do que a proposta por Cullen e
que pudesse ter uma uniformidade para uso internacional foi perseguida por William
Farr (1807-1883), estatístico e médico do Escritório de Registro Geral da Inglaterra e
do País de Gales, que registrou assim suas preocupações:
“As vantagens de uma nomenclatura estatística uniforme, conquanto imperfeita,
são tão óbvias que é surpreendente que não se dê atenção à sua implementação nas
tabelas de mortalidade. Cada doença tem, em muitos casos, sido declarada por três
ou quatro termos, e cada termo tem sido aplicado para muitas doenças diferentes:
termos vagos e inconvenientes têm sido usados, ou têm-se registrado complicações
em lugar das doenças primárias. A nomenclatura é de tão grande importância nesse
setor como os pesos e medidas nas ciências físicas, e deve ser estabelecida sem
atraso.”
O Primeiro Congresso Internacional de Estatística, reunido em Bruxelas em
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Considerações Iniciais
1853, reconhecendo a importância e a necessidade de uma classificação uniforme das
causas de morte, solicitou a Farr e a Marc d’Espine, de Genebra, que preparassem
uma classificação a ser apresentada no congresso seguinte. O congresso de 1855,
realizado em Paris, discutiu então as duas classificações apresentadas: a de Farr,
classificando as doenças por sua localização anatômica; e a de Marc d’Espine, segundo
a natureza das doenças. O congresso adotou uma solução híbrida, concluindo por
uma lista de 139 rubricas, que, posteriormente, sofreu várias revisões (1864, 1874,
1880 e 1886), sempre tendo como base o modelo de Farr22. Essa classificação jamais
conseguiu aprovação universal, porém o princípio proposto por Farr de classificar
as doenças pela localização anatômica serviu de base para a Lista Internacional de
Causas de Morte.
Na reunião do Instituto Internacional de Estatística que sucedeu ao congresso
Internacional de Estatística, realizada em 1893 na cidade de Chicago, foi apresentado
o relatório da comissão, criada em 1891 e presidida por Jacques Bertillon (1851-
1922), designada para elaborar uma classificação de causas de morte. A classificação
preparada pelo comitê foi baseada na classificação de morte usada pela cidade de Paris
– na realidade, uma síntese das classificações inglesa, alemã e suíça. A classificação,
chamada a princípio de Classificação de Causas de Morte de Bertillon, seguia o critério
adotado por Farr de distinguir entre as doenças generalizadas e as localizadas em
determinado órgão ou região anatômica. Essa classificação foi aprovada e passou a
ser adotada por vários países. Em 1898, a Associação Americana de Saúde Pública
recomendou a adoção da classificação de Bertillon no Canadá, México e Estados
Unidos, e sugeriu que a mesma fosse revisada a cada dez anos.
A Primeira Conferência Internacional de Revisão da Classificação de Bertillon,
ou Classificação Internacional de Causas de Morte, foi realizada em Paris, em 1900,
e reuniu representantes de 26 países. A Organização de Higiene da Liga das Nações,
também interessada em estatísticas na área da saúde, nomeou uma comissão de
peritos estatísticos para estudarem a classificação de doenças e de causas de morte.
As propostas para a quarta revisão (1929) e para a quinta revisão (1938) da
�0
Considerações Iniciais
Lista Internacional das Causas de Morte já foram formuladas e apresentadas por
uma comissão mista na qual tinham assento, em igualdade numérica, representantes
do Instituto Internacional de Estatística e da Organização de Higiene da Liga das
Nações.
A Quinta Conferência Internacional para a Revisão da Lista Internacional das
Causas de Morte, realizada em Paris em 1938, atualizou as listas segundo o progresso
científico, especialmente no tocante ao capítulo das doenças infecciosas e parasitárias,
além de efetuar alterações nos capítulos de afecções puerperais e acidentes, incluindo
também uma lista de causas de natimortalidade. Essa conferência abordou ainda
temas de grande relevância, como a compilação de listas internacionais de doenças
que estabelecessem correspondência com as listas internacionais de causas de morte
e o tratamento estatístico das causas conjuntas de morte, com vistas a unificar os
métodos de seleção da causa principal de morte a ser tabulada nos casos em que
duas ou mais causas são mencionadas no atestado de óbito22.
As primeiras classificações de doenças estavam relacionadas quase que
exclusivamente com as estatísticas de causas de morte. Farr reconheceu que era
desejável que o mesmo sistema de nomenclatura para doenças, embora não fatais, fosse
adotado e apresentou em seu relatório ao Segundo Congresso Estatístico Internacional
uma lista geral de doenças que afetavam a saúde, além das doenças ditas fatais. No
Quarto Congresso Estatístico Internacional, de 1860, foi recomendada a adoção da
classificação de doenças de Farr para tabulação, também, da morbidade hospitalar.
Tanto na Primeira Conferência Internacional para a Revisão da Lista
Internacional das Causas de Morte, realizada em 1900, quanto na segunda, de 1909,
já havia sido adotada uma classificação paralela de doenças para uso em estatísticas
de doença; já a quarta conferência adotou uma classificação de doenças que diferiu
da Lista Internacional de Causas de Morte apenas pela adição de subdivisões. Essas
classificações internacionais de doenças não foram universalmente aceitas, dado que
eram o resultado somente de uma expansão limitada da lista de causa básica de
morte. Na ausência de um consenso, muitos países prepararam suas próprias listas
��
Considerações Iniciais
para utilizá-las nas estatísticas de doenças.
Nos anos seguintes, Canadá, Reino Unido e Estados Unidos prepararam
suas próprias listas de classificações de doenças para a tabulação de estatísticas de
morbidade; essas listas seguiam a ordem geral das doenças da Lista Internacional
de Causas de Morte e foram amplamente utilizadas por vários hospitais, seguros
hospitalares e planos de assistência médica.
A classificação de doenças e lesões estava bastante ligada à classificação
de causas de morte, e um número crescente de organizações estatísticas já usava
registros médicos envolvendo tanto a doença quanto a morte. Uma lista única
facilitaria as operações de codificação, fornecendo, também, uma base comum para a
comparação de estatísticas de morbidade e mortalidade. A partir da Quinta Conferência
Internacional, seguindo a tendência do pensamento com relação às listas estatísticas
de morbidade e mortalidade, foi criado, em 1945, o Comitê Norte-Americano de Causas
Conjuntas de Morte, que entendeu que, para a utilização correta tanto das estatísticas
de morbidade quanto das de mortalidade, a classificação de doenças, para ambos os
propósitos, deveria ser comparável e, se possível, compor uma lista única22.
A Conferência Internacional de Saúde, realizada em Nova York em 1946, entregou
à Comissão Interina da Organização Mundial de Saúde (OMS) a responsabilidade de
assumir o trabalho preparatório para a próxima revisão decenal das Listas de Causas
de Morte e para o estabelecimento da Lista Internacional de Causas de Morbidade.
Para tal, um comitê de peritos reviu e revisou a classificação que havia sido preparada
pelo Comitê Norte-Americano de Causas Conjuntas de Morte, e o resultado desse
trabalho foi o documento intitulado Classificação Internacional de Doenças, Lesões e
Causas de Morte.
A Conferência Internacional para a Sexta Revisão das Listas Internacionais, de
1948, adotou a classificação proposta pelo comitê de peritos. A conferência aprovou
ainda o Modelo Internacional de Atestado Médico da Causa de Morte, aceitou a causa
básica de morte como a causa principal a ser tabulada e fixou as regras, pela primeira
vez, para a seleção da “causa básica de morte”. A conferência recomendou ainda que
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Considerações Iniciais
fossem estabelecidos comitês nacionais de estatísticas vitais e de saúde, dentro de
um programa de cooperação internacional para o estudo de problemas estatísticos
de importância em saúde pública, e que os resultados de suas investigações fossem
colocados à disposição da OMS.
A Primeira Assembléia Mundial de Saúde, ocorrida em 1948, endossou o
relatório da sexta conferência. O manual de Classificação Internacional de Doenças,
Lesões e Causas de Morte compreendia a classificação internacional, o modelo de
atestado médico da causa de morte, as regras de classificação e as listas especiais
para tabulação.
A Conferência Internacional para a Sétima Revisão da Classificação
Internacional de Doenças foi realizada em Paris, em 1955, e já teve como entidade
organizadora a OMS. Essa revisão se restringiu, apenas, a alterações e emendas,
e a oitava conferência, ocorrida em Genebra em 1965, manteve inalterada a
estrutura básica da classificação. Nesse período, o uso da classificação internacional
aumentou rapidamente, recebendo adaptações em alguns países, de acordo com as
peculiaridades locais.
A Conferência Internacional para a Nona Revisão da Classificação Internacional
de Doenças, convocada pela OMS em Genebra, em 1975, manteve a estrutura
básica da classificação internacional, porém com maior detalhamento no nível de
subcategorias de quatro dígitos e com algumas subdivisões opcionais de cinco
dígitos. Incluiu, ainda, um método alternativo opcional de classificação dos termos
diagnósticos, contendo informações tanto sobre a doença generalizada e subjacente
quanto sobre a manifestação dessa num determinado órgão. Esse sistema foi mantido
pela décima revisão22.
A conferência introduziu pela primeira vez regras para a seleção de uma
única causa para a tabulação de morbidade; além disso, orientou os países para
que buscassem melhores soluções para a codificação e análise de causas múltiplas.
Foram ampliadas as definições e recomendações para as estatísticas da mortalidade
perinatal e recomendou-se um atestado de causas de morte perinatal. Produziu-se,
��
Considerações Iniciais
ainda, uma nova lista básica de tabulação, que teve como característica privilegiar o
caráter estrutural das doenças em detrimento do caráter funcional.
A Décima Conferência de Revisão da Classificação Internacional de Doenças,
que deveria ocorrer em 1985, foi adiada pela OMS até 1989, para que, entre outras
coisas, pudesse haver tempo suficiente para uma melhor avaliação da classificação
estabelecida pela nona conferência. O relatório da Décima Revisão da Classificação
Internacional de Doenças e de Problemas Relacionados à Saúde (CID-10) foi aprovado
pela Quadragésima Terceira Assembléia Mundial de Saúde. Os trabalhos se iniciaram
em 1983, mediante reuniões periódicas dos diretores dos centros colaboradores da
OMS para a classificação de doenças, que são nove atualmente, com a participação
do Brasil, através da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo.
A principal inovação nas propostas para a décima revisão foi o uso de um
esquema alfanumérico que consistiu de uma letra seguida de três números, o que,
além de possibilitar ampliações futuras sem que seja necessário alterar o atual
ordenamento, mais do que dobrou o tamanho do conjunto dos códigos dessa revisão
quando comparada com a nona revisão. Além de outras mudanças, foram incluídos
também, no modelo de estrutura da CID, ao final de alguns capítulos, categorias para
transtornos conseqüentes a procedimentos.
A conferência para a décima revisão também recomendou que as novas regras
para a seleção de causa básica de morte, em conseqüência da revisão das regras
vigentes na nona revisão, passassem a vigorar. Além disso, considerando-se que
um número crescente de afecções estava sendo declarado em alguns países, foi
recomendada a inclusão, onde houvesse necessidade, de uma linha adicional (d) na
Parte I do atestado médico de causa de morte, o que foi adotado no Brasil.
A conferência discutiu o uso da metodologia de causas múltiplas de morte para
a codificação e a análise das causas de morte, porém não recomendou a inclusão
na décima revisão de qualquer regra ou método de análise a serem seguidos, e sim
estimulou os pesquisadores a continuarem trabalhando com essa metodologia e a
levarem suas análises para avaliação na conferência de revisão seguinte.
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Considerações Iniciais
A “causa básica de morte” foi designada como a causa de morte para tabulação
primária pela primeira vez na sexta conferência. A causa básica de morte é definida
como: “(a) a doença ou lesão que iniciou a cadeia de acontecimentos patológicos que
conduziram diretamente à morte, ou (b) as circunstâncias do acidente ou violência
que produziram a lesão fatal”.
Quando só uma causa é registrada, esta causa é a que será tabulada como
causa básica de morte. Quando mais de uma causa é registrada, recomenda-se
que para a seleção da causa básica se determine a causa antecedente originária na
linha mais inferior utilizada na Parte I do atestado pela aplicação do Princípio Geral
ou das regras de seleção 1, 2 e 3. O Princípio Geral especifica que quando mais
de uma afecção for registrada no atestado, a que estiver registrada na última linha
preenchida somente deverá ser selecionada se tiver dado origem a todas as outras
afecções registradas acima dela. Quando não se aplica o Princípio Geral, lança-se
das regras de seleção. A Regra 1 determina que se existir uma seqüência informada
que termine na afecção que aparece primeiro no atestado, deve ser selecionada a
causa originária dessa seqüência, e se existir mais de uma seqüência terminando na
afecção mencionada primeiro, deve ser selecionada a causa originária da seqüência
citada primeiro. A Regra 2 estabelece que se não houver seqüência informada que
termine na afecção mencionada em primeiro lugar no atestado, que seja selecionada
essa afecção que aparece primeiro. A Regra 3 determina que quando a afecção
selecionada pelo Principio Geral ou pelas Regras 1 e 2 for uma conseqüência direta
de outra afecção informada na Parte I ou II do atestado, esta deve ser selecionada
como primária22.
A afecção registrada na linha mais inferior da Parte I do atestado deve ser
a causa básica de morte para tabulação, entretanto os procedimentos de descritos
acima podem determinar a seleção de outra afecção como causa básica de morte.
Sempre que a causa selecionada, utilizando-se o Princípio Geral ou as Regras
de seleção, não for “a afecção mais útil e informativa para a tabulação” são utilizadas
a “regras de modificação”. As regras de modificação vão de A a F e servem para
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Considerações Iniciais
auxiliar o codificador a re-selecionar um código mais apropriado para causa básica.
Portanto, desta forma, a causa básica de morte para tabulação pode não ter sido
registrada no atestado, mas sim selecionada seguindo as “regras de modificação”.
Desse modo, a causa básica foi constituída com o objetivo de apontar as condições
que iniciaram o processo de doença que culminou na morte, o que a caracterizou
como um instrumento para o planejamento de ações preventivas.
As causas de morte são preenchidas na DO pelo médico e, posteriormente,
recebem um código segundo a CID-10. As áreas referentes aos códigos não devem ser
preenchidas pelo médico, mas por técnicos do setor de processamento de dados, mais
especificamente pelos codificadores. Esse processo pode não refletir com precisão o
diagnóstico que o médico que atestou o óbito teve a intenção de registrar. Além disso,
há recomendações no sentido de não se incluírem no preenchimento da DO sintomas
e causas terminais, como insuficiência cardíaca ou insuficiência respiratória23.
3. Objetivos
Analisar a mortalidade por IC como causa básica de morte, definida pelas
regras da Organização Mundial de Saúde (OMS), e também quando notificada em
qualquer linha da DO.
Os outros objetivos foram analisar e comparar as taxas de mortalidade por IC,
por sexo e faixas etárias, nos estados do Rio de Janeiro, São Paulo e Rio Grande do
Sul, e analisar a ocorrência da IC, de acordo com a CID-10, quando essa for o título
do código, estiver explicitada na denominação do código, quando estiver presente
na descrição do código, ou, ainda, quando envolver condições que podem ter na sua
evolução clínica sinais e sintomas de IC. Além desses objetivos, também foi estudada
a associação entre a IC e outras condições mencionadas na DO ou selecionadas
como causa básica de morte.
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Considerações Iniciais
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Mortalidade por Insuficiência Cardíaca como Causa Básica ou Contribuinte de Óbito em Três Estados Brasileiros, de 1999 a 2004
Mortalidade por Insuficiência Cardíaca como Causa Básica ou Contribuinte de Óbito em Três Estados Brasileiros, de
1999 a 2004
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Mortalidade por Insuficiência Cardíaca como Causa Básica ou Contribuinte de Óbito em Três Estados Brasileiros, de 1999 a 2004
MORTALIDADE pOR INSUFICIÊNCIA CARDÍACA COMO CAUSA BáSICA
OU CONTRIBUINTE DE ÓBITO EM TRÊS ESTADOS BRASILEIROS, DE
1999 A 2004
Resumo
Fundamentos:NoBrasilaimportânciadainsuficiênciacardíaca(IC)temsidoavaliada
parcialmentepelasinformaçõesdasautorizaçõesdeinternaçãohospitalar(AIH).
Objetivo:AvaliaramortalidadeporICsegundoasdeclaraçõesdeóbito(DO),porsexo
eidade,nosestadosdoRiodeJaneiro(RJ),deSãoPaulo(SP)edoRioGrandedoSul
(RS),entre1999e2004.
Métodos:AmortalidadeporICfoianalisada,quandocodificadacomocausabásicade
morte(ICcb)equandomencionadaemqualquer linha(ICm)daDO(códigosI50.0,
I50.1,I50.9daCID-10).
Resultados:Houvetendênciadequedadastaxasdemortalidade(TxM)nostrêsEstados,
excetonospacientes≥80anos.AsTxMtêmordensdecrescentesnoRJ,SPeRS,naqueles
abaixode50anos.Nosmaisidosos,asTxMdoRJforamsuperadas,emordemcrescente,
emSPenoRS.AsTxMporICaumentaramcomoavançardaidade,maisentreasmulheres.
Antesdos70anos,asTxMentreoshomensforammarcadamentemaiorese,apartirde
então,adiferençadiminuiu,tornando-sesemelhanteàdasmulherescom≥80anos.A
razãoentreasTxM,segundoosexo,tendemaconvergircomoavançardaidade.Arazão
globalICm/ICcbvariouentre3,0e3,7nostrêsEstados.
Conclusões:OcorreramquedasnasmortalidadesporICnostrêsEstados.Amortalidade
porICnoERJfoimaiorapenasnosmaisjovens.AmortalidadeporICfoisubestimada
quandoconsideradaapenascomocausabásica.
Palavras-chave: Mortalidade,Insuficiênciacardíaca,Atestadodeóbito,Causabásica
demorte,Causasmúltiplasdemorte
��
Mortalidade por Insuficiência Cardíaca como Causa Básica ou Contribuinte de Óbito em Três Estados Brasileiros, de 1999 a 2004
MORTALITy DUE TO HEART FAILURE AS A BASIC OR CONTRIBUTORy
CAuSE OF DEATH IN THREE BRAzILIAN STATES BETWEEN 1999 AND 2004
Abstract
Background: Theimportanceof heartfailurehasbeenpartiallyevaluatedinBrazilfrom
informationrecordedinHospitalAdmissionAuthorizations.
Objective:Toevaluateheartfailure(HF)mortalityfromdeathcertificatesbyageand
genderfrom1999to2004inthreeBrazilianStates:RiodeJaneiro(RJ),SãoPaulo(SP)
andRioGrandedoSul(RS).
Methods:HFmortalityrates(MR)wereanalyzed,whencodedastheunderlyingcause
ofdeath(ICcb)andwhenmentionedonanylineinthedeathcertificates(ICm)(ICD-10
codesI50.0,I50.1andI50.9.
Results:Therewasadowntrend in themortalityrates inall threeStatesexcept for
patients80yearsoldormore,andindecreasingorderamongpatientsunder50years
oldinRJ,SPandRS.Amongtheelderly,themortalityrateinRJwasexceededinrising
orderinSPandRS,risingwithageandmoreamongwomen.Malemortalityrateswere
appreciablyhigheratlessthan70yearsofage,afterwhichthedifferencedecreased,
becomingsimilartowomenat≥80yearsold,withmale/femalemortalityratestending
toconvergewithage.TheglobalICm/ICcbratiovariedbetween3.0and3.7inthese
threeStates.
Conclusions:TheHFmortalityratesdeclinedinallthreeStates,beinghigherinRJonly
amongyoungerpatients,withHFmortalitybeingunderestimatedwhenconsidered
onlyasunderlyingcauseofdeath.
Keywords: Mortality,Heart failure,Death certificate,Underlying cause ofdeath,
Multiplecausesofdeath
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Mortalidade por Insuficiência Cardíaca como Causa Básica ou Contribuinte de Óbito em Três Estados Brasileiros, de 1999 a 2004
Introdução
Ainsuficiênciacardíaca(IC)éaterceiracausademortecardiovascularnos
paísesdesenvolvidosetambémumaimportantecausademorbidadeehospitalização.
Tem alta prevalência e incidência crescente com o avançar da idade sendo, na
Espanha,aprimeiracausadeinternaçãodepacientescommaisde65anos,oque
representa5%dototaldeinternaçõesnessafaixaetária1.Nesseestudonoqualfoi
analisadaatendênciadamortalidadeporICnaEspanha,de1977-1998,a ICfoi
responsável por 4%-8% damortalidade total e por 12%-20% damortalidade
cardiovascular, tanto emhomens quanto emmulheres, dependendo da região,
afetandoprincipalmenteosgruposdeidademaisavançada.
Apesar de recentemente ter sidodescrita comouma epidemia2, observa-se
tendênciadequedadamortalidadeaolongodotempo,oquetemsidoatribuídoao
impactoprovocadoporintervençõesterapêuticasmaiseficazes3.
Analisando a mortalidade por IC entre 1979-2003, comparada com a
mortalidade por infarto agudo domiocárdio (IAM) na população deOxford
(Inglaterra),Goldacreetal.encontraramtaxasdequedamuitosimilaresemambas,
eemambosossexos4.
Apesardaquedadastaxasdemortalidadeemambosossexos,aICpermanece
apresentandoaltaletalidade,jáqueentreospacientesemquefoidiagnosticadana
últimadécadado séculoXX, amortalidade alcançou 50%nos cinco anos que se
sucederamaodiagnóstico5.
OestudodaepidemiologiadaICnoBrasil,namaioriadasvezes,dá-sepormeio
da análisededados referentes às autorizaçõesde internaçãohospitalar (AIH)do
SistemaÚnicodeSaúde(SUS).OSUSéresponsável,segundoAlbanesi6,por75%das
internaçõeshospitalaresnopaís, sendooSistemade InformaçõesHospitalaresdo
SUS(SIH/SUS)oprovedordobancodedadosmaisabrangentedisponívelnopaís.
Osistemaprivado,desaúdesuplementar,aindanãoofereceregistroabertosobresuas
internações.Por isso, temosumaidéiaapenasparcialdouniversode informações
��
Mortalidade por Insuficiência Cardíaca como Causa Básica ou Contribuinte de Óbito em Três Estados Brasileiros, de 1999 a 2004
concernentesàsinternaçõesporIC,sualetalidadeeimpactoeconômico.
NoBrasil,aICfoiaterceiracausadehospitalizaçãoporcausasclínicas,pelo
SUS/MSde1992a2002,comtaxasdeinternação,emrelaçãoaototal,quevariaram
entre3%e4%,comletalidadeem5%a7%dasinternações6.
Os registros oficiais de óbitos são a fonte de dadosmais abrangente,
constituindo-senamelhorinformaçãodisponívelparaquantificarmortalidade.A
ICfoiassimavaliadaemalgunspaíses,emestudosqueempregarammetodologias
distintasparasuaidentificaçãocomocausadamorte.Discrepânciasnascomparações
regionaispodemocorrer:ousea ICéclassificadaapenascomocausabásicade
óbito,quandoassimcodificadasegundoasregrasdecodificaçãoda10arevisãoda
ClassificaçãoInternacionaldeDoençaseProblemasRelacionadosàSaúde(CID-
10/OMS), ou se a IC é considerada como causa contribuinte de óbito quando
registradaemqualquerlinhadaDO1,3,4,7.Outrafontededivergênciaséavariação
naseleçãodecódigosdaCID-10associadoscomaIC,jáquealémdoscódigosI50,
combinados a um quarto dígito variável, há ainda outros que compreendem
condiçõesespecíficasnasquaisaICestáenvolvida.
NoBrasil,exemplossimilarespodemserencontradosnaavaliaçãodetendência
demortalidade por doenças circulatórias, cerebrovasculares e isquêmicas do
coração8-10.AtendênciadamortalidadeporICnaregiãometropolitanadeSalvador
(BA),de1979a1995,avaliadaatravésdosatestadosdeóbito,comaICidentificada
apenascomocausabásicademorte,comoscódigos428.0,428.1e428.9daCID-9,
reveloudeclíniodamortalidadede1979a1992,estabilizando-sedaíaté199511.
Aseleçãodecausabásicademorte,apesardeseguir regraspadronizadas,
podesubestimaraocorrênciadedeterminadasdoenças,especialmenteasdecaráter
crônicoeasqueincidememumapopulaçãodefaixaetáriamaisavançadanaqual
maisdeumacondiçãopatológicapodetercontribuídoparaamorte.Istoocorre
porque as regrasde codificaçãode causabásica costumamprivilegiar as faixas
mais precoces. Exceto por quatro estudos, na Espanha1, Escócia3, Inglaterra4 e
Austrália7,amortalidadeporICtemsidoquantificadaporsuaocorrênciaapenas
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Mortalidade por Insuficiência Cardíaca como Causa Básica ou Contribuinte de Óbito em Três Estados Brasileiros, de 1999 a 2004
quando tabulada como causa básica demorte.No Brasil, umúnico estudo de
mortalidadeporICatravésderegistrosdemortalidade,jácitado11,considerasua
ocorrênciaapenasquandoselecionadacomocausabásicademorte.
Para compreendermelhor o impacto da IC namortalidade em estados
brasileirosselecionadospelaqualidadedeinformação,decidiu-seavaliá-lo,neste
estudo,nãoapenasconsiderandoaICquandoselecionadacomocausabásicade
óbito,mastambémpelasmençõesàsuapresença,registradasemqualquerlinha
dosatestadosdeóbito.
Objetivos
1.AnalisarecompararastaxasdemortalidadeporICporsexoefaixasetárias,nos
estadosdoRiode Janeiro, de SãoPaulo e doRioGrandedo Sul, noperíodo
compreendidoentreosanosde1999e2004.
2.Analisarecompararo impactodaICnamortalidade,comocausabásicaecomo
contribuinte,portersidocitadaemqualquerlinhadosatestadosdeóbito.
Metodologia
Osdados sobre os óbitos foram obtidos no Sistemade Informações sobre
Mortalidade(SIM)doMinistériodaSaúde12.
OsdadossobreaspopulaçõesforamobtidosnoInstitutoBrasileirodeGeografia
eEstatística(IBGE),distribuídosporsexoefaixasetárias13.Asfaixasetáriascorrespondem
aosintervalos(emanos):abaixode40anos,50a59,60a69,70a79e80anosouacima.
ForamutilizadososdadosreferentesaosestadosdoRiodeJaneiro(RJ),deSão
Paulo (SP) edoRioGrandedoSul (RS).Estes foramselecionadosporque têmdas
proporçõesmaiselevadasdeidososentreosestadosdoBrasil,sendooenvelhecimento
associadocomoaumentodaocorrênciadeIC.OsestadosdeSãoPauloedoRioGrande
doSulapresentamqualidadesatisfatóriadepreenchimentodosatestadosdeóbito,pelo
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Mortalidade por Insuficiência Cardíaca como Causa Básica ou Contribuinte de Óbito em Três Estados Brasileiros, de 1999 a 2004
menosporapresentarembaixospercentuaisdemortalidadeproporcionalporcausas
mal-definidasepelomaiornúmerodeafecçõesregistradasporatestado14.Alémdisso,
possibilitarácomplementarinformaçõesjáobtidassobremortalidadecardiovascular
emoutrosestudos15.AescolhadoestadodoRiodeJaneiroestá,ainda,relacionadacom
objetivosparticularesdesteestudo.
Aescolhadosanosde1999a2004sejustificaporcorresponderaoperíodomais
recente, cujosdados estãodisponíveis, homogeneizadopelautilizaçãodaCID-10.
Acodificaçãodasinformaçõesprestadaspelosassistentesaosóbitosfoifeitade
acordo coma 10a revisãodaClassificaçãoEstatística InternacionaldeDoenças e
ProblemasRelacionadosàSaúdedaOrganizaçãoMundialdeSaúde(CID-10)16.
Nopresente estudo, a IC foidefinida comocausapartícipedamortequando
mencionadaemqualquerdaslinhasdoregistrodeóbito(a,b,c,douii)ecomocausa
básicadeóbito,segundoasregrasdaCID-10.Assim,foramcriadosdoisgrupos:
a. ICcb: somentequandoaICfoicodificadacomocausabásicademortedeacordo
comasregrasedisposiçõesparacodificaçãodemortalidadeemorbidadeconstantes
domanualdeinstruçõesdoCID-10,correspondendoaoscódigosI50.0(Insuficiência
CardíacaCongestiva),I50.1(InsuficiênciaVentricularEsquerda)eI50.9(Insuficiência
Cardíacanão-Especificada);
b. ICm:quecompreendeICcbeaindaosóbitosemqueI50correspondeaostrês
caracteres iniciaisdocódigoutilizadoparaclassificaradeclaraçãodomédico-
assistente emqualquer linhado atestado,mesmoque a IC não tenha sido
selecionadacomocausabásica
Amortalidadeproporcionaldecadaumdosgruposdefinidosacimafoiestimada
porEstado,acadaanodoperíodoestudado.
Astaxasdemortalidadepadronizadasporidade,por100milhabitantes,foram
estimadas,utilizandocomopadrãoapopulação“européia”17edispostasemgráficos.
ForamestimadastaxasespecíficasdemortalidadeporIC,porEstadoeporano.
ForamcalculadasasrazõesentreosóbitosporICentreosdoisgrupos,eestimadas
asrazõesdemortalidadeporICentreambosossexos.
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Mortalidade por Insuficiência Cardíaca como Causa Básica ou Contribuinte de Óbito em Três Estados Brasileiros, de 1999 a 2004
ForamutilizadososprogramasExceleStataversão8.218.
Resultados
Nosbancosdeóbitos,doperíodode1999a2004,constavam2.538.778atestados,
sendo689.383doRiodeJaneiro,1.433.744deSãoPauloe415.651doRioGrandedoSul.
AstaxasdemortalidadepadronizadasporICmeICcbnosEstados,porsexoeano
sãoapresentadasnasTabelas1,2e3.Observa-sequeasmaiorestaxasdemortalidadepor
ICmocorreram,noperíododeummodogeral,emambosossexos,noRS(Tabela1),
seguidodeSP(Tabela2)eRJ(Tabela2)equeapresentaramtendênciasdequedanosanos
de1999a2004.EmrelaçãoàICcb,observam-serelaçõessemelhantesentreosEstados,
porémcomdiferençasmaisdiscretas.
As taxas específicas demortalidade, por grupo etário e sexo, por ICm são
apresentadasnasFiguras1Aa1F.Estaspermitemobservartendênciasdequedaem
quasetodasasfaixasetárias,aolongodosseisanosestudados,excetonade≥80anos,
comtaxasestáveisnoperíodo,emtodososEstados.Atendênciadequedanamortalidade
parece ter sidomaismarcantenogrupoabaixode 40 anosnos trêsEstados.Esse
comportamentoéobservadoemtodososEstadoseemambosossexos.AstaxasdoRJ,
emhomensemulheres,sãomaioresdoqueemSP,queporsuaveztevetaxasmaiores
doqueasdoRSnafaixaetáriadosmaisjovens.Istoaindapodeserobservadonafaixa
de40a49anos.AstaxasdostrêsEstadosseaproximaram,emambosossexos,dos50
aos59anos,porquasetodooperíodoenofinalnafaixade60a69anos.Apartirdos70
anos,astaxasdoRJsãosuperadasporSPeRS,sendoqueasmaiorestaxaspassarama
serasdoRS.Porfim,nosmaisidosos,asdiferençasentrehomensemulherespraticamente
desaparecememcadaEstado.
OcomportamentodastaxasespecíficasdemortalidadeporICapenascomocausa
básica(ICcb),porfaixaetáriaesexo,podeservistonasFiguras2Aa2F.Verifica-seamesma
tendênciadequedaemquasetodasasfaixasetárias,emambosossexosenostrêsEstados,
observadacomaICm.Apenasnafaixade80anosouacima,atendênciadequedanoinício
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Mortalidade por Insuficiência Cardíaca como Causa Básica ou Contribuinte de Óbito em Três Estados Brasileiros, de 1999 a 2004
Tabela 1 Óbitos e taxas de mortalidade padronizadas* (por 100 mil habitantes) por insuficiência cardíaca nos grupos ICm (menção de ICm em qualquer linha da declaração de óbito ou quando codificada como causa básica) e ICcb (IC apenas quando codificada como causa básica) no estado do Rio Grande do Sul, no período 1999 – 2004. Óbitos Taxas de mortalidade padronizadasCausa ICcb ICm ICcb ICmSexo Homens Mulheres Homens Mulheres Homens Mulheres Homens MulheresAno1999 1148 1322 3452 3813 47,3 38,1 140,2 109,42000 1018 1246 3862 4497 37,5 30,6 139,6 110,82001 920 1242 3646 4304 33,9 30,2 131,2 104,92002 918 1272 3557 4283 33,7 30,6 128,4 103,52003 860 1170 3399 4097 31,5 27,9 122,1 97,92004 846 1141 3477 4296 30,9 27,0 124,2 102,1*Métododireto–padrão:população“européia”
Tabela 2 Óbitos e taxas de mortalidade padronizadas* (por 100 mil habitantes) por insuficiência cardíaca nos grupos ICm (menção de ICm em qualquer linha da declaração de óbito ou quando codificada como causa básica) e ICcb (IC apenas quando codificada como causa básica) no estado de São Paulo, no período 1999 – 2004. Óbitos Taxas de mortalidade padronizadasCausa ICcb ICm ICcb ICmSexo Homens Mulheres Homens Mulheres Homens Mulheres Homens MulheresAno 1999 3148 3931 10935 12515 41,4 39,2 138,3 123,12000 2920 3495 11243 12553 32,9 28,8 123,1 102,62001 2627 3290 10576 11756 29,2 26,7 114,6 94,72002 2488 3069 10235 11530 27,4 24,6 110,3 91,92003 2490 3190 10539 11591 27,3 25,4 112,4 91,42004 2582 3180 10904 12078 28,0 24,9 115,6 94,2*Métododireto–padrão:população“européia”
Tabela 3 Óbitos e taxas de mortalidade padronizadas* (por 100 mil habitantes) por insuficiência cardíaca nos grupos ICm (menção de ICm em qualquer linha da declaração de óbito ou quando codificada como causa básica) e ICcb (IC apenas quando codificada como causa básica) no estado do Rio de Janeiro, no período 1999 – 2004. Óbitos Taxas de mortalidade padronizadaCausa ICcb ICm ICcb ICmSexo Homens Mulheres Homens Mulheres Homens Mulheres Homens MulheresAno1999 1387 1585 3940 4189 40,5 31,9 112,7 83,62000 1247 1370 3981 4228 31,1 23,0 97,9 70,92001 1204 1467 3887 4285 29,7 24,4 94,8 70,92002 1326 1454 3987 4372 32,9 23,9 96,5 71,42003 1218 1322 3892 4159 29,7 21,5 94,0 67,72004 1282 1310 4124 4307 31,1 21,1 98,9 69,4*Métododireto–padrão:população“européia”
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Mortalidade por Insuficiência Cardíaca como Causa Básica ou Contribuinte de Óbito em Três Estados Brasileiros, de 1999 a 2004
1A:Faixaetáriaabaixode40anos
1B:Faixaetáriade40a49anos
1C:Faixaetáriade50a59anos
Figuras 1A a 1CMortalidade(por100mil)porinsuficiênciacardíaca(mencionadaemqualquerlinhadaDOoucodificadacomocausabásica)emhomens(H)emulheres(M)nosestadosdoRiodeJaneiro(RJ),deSãoPaulo(SP)edoRioGrandedoSul(RS),segundofaixasetárias,noperíodo1999–2004.
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Mortalidade por Insuficiência Cardíaca como Causa Básica ou Contribuinte de Óbito em Três Estados Brasileiros, de 1999 a 2004
Figuras 1D a 1FMortalidade(por100mil)porinsuficiênciacardíaca(mencionadaemqualquerlinhadaDOoucodificadacomocausabásica)emhomens(H)emulheres(M)nosestadosdoRiodeJaneiro(RJ),deSãoPaulo(SP)edoRioGrandedoSul(RS),segundofaixasetárias,noperíodo1999–2004.
1D:Faixaetáriade60a69anos
1E:Faixaetáriade70a79anos
1F:Faixaetáriade80anosouacima
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Mortalidade por Insuficiência Cardíaca como Causa Básica ou Contribuinte de Óbito em Três Estados Brasileiros, de 1999 a 2004
2A:Faixaetáriaabaixode40anos
Figuras 2A a 2CMortalidade(por100mil)porinsuficiênciacardíaca(apenasquandocodificadacomocausabásica)emhomens(H)emulheres(M)nosestadosdoRiodeJaneiro(RJ),deSãoPaulo(SP)edoRioGrandedoSul(RS),segundofaixasetárias,noperíodo1999–2004.
2C:Faixaetáriade50a59anos
2B:Faixaetáriade40a49anos
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Mortalidade por Insuficiência Cardíaca como Causa Básica ou Contribuinte de Óbito em Três Estados Brasileiros, de 1999 a 2004
2E:Faixaetáriade70a79anos
2F:Faixaetáriade80ouacima
2D:Faixaetáriade60a69anos
Figuras 2D a 2FMortalidade(por100mil)porinsuficiênciacardíaca(apenasquandocodificadacomocausabásica)emhomens(H)emulheres(M)nosestadosdoRiodeJaneiro(RJ),deSãoPaulo(SP)edoRioGrandedoSul(RS),segundofaixasetárias,noperíodo1999–2004.
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Mortalidade por Insuficiência Cardíaca como Causa Básica ou Contribuinte de Óbito em Três Estados Brasileiros, de 1999 a 2004
doperíodonãopareceseconfirmaratéofinal.AsmaiorestaxasentreostrêsEstados
sãoencontradasnoRJ,tantoentrehomensquantoentreasmulheresatéafaixaetária
de50a59anos,comdiferençasmaispronunciadasnospacientesabaixode40anos.Na
faixade60a69anos,omesmosóacontececomoshomens.Nafaixade70a79anos,
astaxasdemortalidadeseassemelharammaisentreoshomensnostrêsEstados,pelo
menosnofinaldoperíodo,masasmulheresdoRJ jápassaramaapresentar taxas
menoresdoqueasdemais.Nafaixaetáriade80anosouacima,asmaiorestaxaspassaram
aocorrernoRS,seguidaspelasdeSPeporfimpelasdoRJ.Nessesmaisidosos,pode-
seobservarqueastaxasdosexofemininoforamsuperioresasdomasculinonoRSe
emSP,masnãonoRJ.
RazõesentreastaxasdemortalidadedehomensemulheresporIcmouporICcb
podemservistasnaTabela4.Deummodogeralnãoparecemterocorridovariações
relevantesnasrazõeshomens/mulheresentreosEstados.Entretanto,épossívelverificar
queessasrazõesforammaioresatéofinaldaquintadécadadevidacomaICcbdoque
comaICmnoRJenoRS,masnãoemSP.Emquasetodasasfaixasetárias,astaxasde
mortalidadedoshomensforammaioresdoqueasdasmulheres,masnosmaisidosos
asrazõeshomens/mulherestenderamàunidade.
ATabela5apresentaospercentuaisanuaisdemortalidadeproporcionalporICm
eICcbnostrêsEstados.Apesardealgumasflutuações,amortalidadeproporcional
porICmmanteve-seestávelduranteoperíodonostrêsEstados;porémamortalidade
proporcionalporICcbapresentounítidastendênciasdedeclínioemSPenoRSede
formamaisdiscretanoRJ.ORSapresentouospercentuaismaiselevadoseoRJos
maisbaixosemambososgrupos,ICmeICcb.
NaTabela6podemservistasasrazõesentreosóbitosemcujosatestadosaIC
eramencionadaoucodificadacomocausabásica(ICm)eaquelesemquesomentefoi
dadacomocausabásica(ICcb).PeloqueseobservounaTabela5,eradeseesperar
queatendênciadessasrazõesfossedeelevaçãoaolongodoperíodo.Essasrazões
foramdiscretamentemaioresemSPdoquenoRS,jáasdoRJforammarcadamente
maisbaixasdoquenosdoisprimeiros.
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Mortalidade por Insuficiência Cardíaca como Causa Básica ou Contribuinte de Óbito em Três Estados Brasileiros, de 1999 a 2004
Tabela 4 Razões entre as taxas de mortalidade por insuficiência cardíaca de homens/mulheres, por faixa etária, segundo os grupos ICm (menção de IC em qualquer linha da declaração de óbito ou quando codificada como causa básica) e ICcb (IC apenas quando codificada como causa básica) nos estados do Rio de Janeiro, de São Paulo e do Rio Grande do Sul, no período 1999 – 2004.Estados RiodeJaneiro SãoPaulo RioGrandedoSulFaixaetária(anos) ICm ICcb ICm ICcb ICm ICcb<40anos 1,3 1,6 1,3 1,3 1,4 1,940a49 1,7 1,8 1,7 1,7 1,6 1,950a59 1,6 1,8 1,5 1,4 1,6 1,760a69 1,6 1,6 1,4 1,4 1,6 1,670a79 1,4 1,4 1,3 1,2 1,4 1,3≥80anos 1,1 1,1 1,0 0,9 1,0 0,9
Tabela 5 Percentuais de óbitos por insuficiência cardíaca nos grupos ICm (menção de IC em qualquer linha da declaração de óbito ou quando codificada como causa básica) e ICcb (IC apenas quando codificada como causa básica) nos estados do Rio de Janeiro, de São Paulo e do Rio Grande do Sul, no período 1999 – 2004.Estados/Ano RiodeJaneiro SãoPaulo RioGrandedoSul ICm ICcb ICm ICcb ICm ICcb1999 7,07 2,63 9,83 3,00 10,71 3,672000 7,32 2,37 9,89 2,69 12,16 3,332001 7,13 2,37 9,40 2,51 11,51 3,172002 7,06 2,39 9,10 2,34 11,18 3,162003 6,85 2,20 9,16 2,37 10,51 2,882004 7,12 2,22 9,36 2,36 10,61 2,751999-2004 7,09 2,36 9,46 2,54 11,10 3,15
Tabela 6 Óbitos por ICcb (Insuficiência Cardíaca codificada como causa básica) e razões entre ICm (menção de Insuficiência Cardíaca em qualquer linha da declaração de óbito ou quando codificada como causa básica) e ICcb nos estados do Rio de Janeiro, de São Paulo e do Rio Grande do Sul, no período 1999 – 2004.Estados/Ano RiodeJaneiro SãoPaulo RioGrandedoSul ICcb ICm/ICcb ICcb ICm/ICcb ICcb ICm/ICcb1999 2986 2,69 7093 3,28 2470 2,922000 2631 3,09 6422 3,68 2264 3,652001 2692 3,02 5924 3,74 2162 3,642002 2797 2,95 5560 3,89 2193 3,542003 2555 3,12 5685 3,87 2030 3,652004 2607 3,21 5765 3,96 1988 3,861999-2004 16268 3,00 36449 3,72 13107 3,52
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Mortalidade por Insuficiência Cardíaca como Causa Básica ou Contribuinte de Óbito em Três Estados Brasileiros, de 1999 a 2004
Discussão
Os resultados deste estudo, em que pese o curto período de observação,
revelamtendênciasdequedadamortalidadepor IC,sejacomocausabásicaou
contribuinte, nos estadosdoRJ, SP eRS (Tabelas 1, 2 e 3; Figuras 1 e 2). Esses
achados têm correspondência com alguns outros da literatura, que analisaram
registrosdeóbitostantonoexterior1,3,4,7quantonoBrasil11.Váriosfatorespodem
estarcontribuindoparatalfenômeno.Nosúltimosanos,osavançosnotratamento
dahipertensãoarterial,dadoençaateroscleróticacoronarianaeousomaisfreqüente
defármacosquereduzema letalidadeporIC,comoos inibidoresdaenzimade
conversãodaangiotensinaeosbetabloqueadores,sãoalgunsdosfatoresquepodem
tercontribuídoparaessesresultados19.
Aindamais,nestesúltimosanos,temsidorelatadanaliteraturainternacionala
quedaprogressivademortalidadepordoençascardiovasculares5,19-21.Distoháexemplos
noBrasil,comdemonstraçõesdetendênciasdequedanamortalidade,porémcom
particularidadesregionais8,9,15.Outrahipóteseparaexplicaressecomportamentoéa
dequeopreenchimentodosatestadosdeóbitopriorizamcadavezmaisdiagnósticos
maisespecíficosdoqueainsuficiênciacardíaca,queéaconseqüênciaderradeirada
maioriadasafecçõescardíacas.Entretanto,nãohádadosquepermitamquantificara
contribuiçãodesseargumentocomoexplicaçãodoqueestáocorrendo.
Neste estudopercebe-se claramentequeo riscodemortepor IC émaiornos
homensemqualqueridade,anãosernosmaisidosos,com80anosoumais(Tabela
4).Entretanto,éprecisoconsiderarqueaesperançadevidadasmulheresémaiordo
queadoshomens13.Assim,arazãodamortalidadeentreossexospodeterseaproximado
daunidadenafaixaetáriadosmaisidosos,porqueasmulheresaísãoemmédiamais
velhasdoqueoshomens.
AstaxasdemortalidadeporICnoRiodeJaneiro,tantoentreoshomensquanto
entreasmulheres,sãomaioresdoqueasdosoutrosdoisEstadosnosmaisjovens,abaixo
de40anosdeidade(Figuras1Ae2A).Omesmoaindaseobserva,emmenorescala,
nafaixaseguinte,dos40a49anos.Essasocorrênciaspodemestarrelacionadascomos
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Mortalidade por Insuficiência Cardíaca como Causa Básica ou Contribuinte de Óbito em Três Estados Brasileiros, de 1999 a 2004
achadosdepredomíniodaocorrênciadedoençaisquêmicacardíaca(DIC)naspopulações
dessasgeraçõesmaisjovensdoRJemrelaçãoàspopulaçõesdeSPedoRS22.
Essasinformaçõespodemjustificartambémoqueseobservounosmaisidosos,
faixade≥80anos,nosquaisastaxasdemortalidadedoRJ,emambosossexos,são
menoresdoqueasdosoutrosdoisEstados.Aocorrênciademortesmaisprecocespor
DICnoRJpodeterreduzidodeformamaisprematuraaevoluçãoparaaICnesseEstado
doquenosdemais22.
AforçadaICcomocausaassociadaaoóbitotemsidomedida,tradicionalmente,
utilizando-seapenasosregistrosemqueaICfoicodificadacomocausabásica,de
acordo com as regras de classificação internacional (CID-10).A comparação da
proporçãodemortespor IC,emrelaçãoao totaldeóbitos,quandoéselecionada
comocausabásica(ICcb)comaaquelaemquefoiregistradaemqualquerlinhado
atestado (ICm) fornecequantificaçãodoquantoaocorrênciada ICassociadaaos
óbitospodeestarsendosubestimada(Tabela6).AsdiferençasentreosEstadosnas
razõesentreICmeICcbpodenãoserexplicadaapenaspordiferençasregionaisno
preenchimentodasDO,aindaquejátenhamsidorelatadasessasdiferenças14.Em
2003,onúmeromédiodecausasnotificadasporatestadodeóbitonoRJfoide2,90,
noRS foi de 2,91 e emSP foi de 3,15.No conjuntodoBrasil, essamédia foi de
2,8114.
Modelosdeanálisemultidimensionaltêmsidoutilizadosnatentativadeestabelecer
associaçõesentremortee causasmúltiplas,pelo reconhecimentodequeem idades
avançadasaocorrênciademúltiplasafecçõesécomum,podendoamorteserdeterminada
porváriosfatores23.
Esteestudoapresentaalgumaslimitações.Nãoháconsensooupadrãonaseleção
doscódigosdaCID-10querepresentam,comfidedignidade,aexistênciadeIC.Os
estudosqueobjetivaramoestudodaICdeacordocomassuasmençõesemqualquer
linhadoatestado,emesmoaquelesqueaestudaramcomocausabásica,nemsempre
utilizaramosmesmoscódigosda9aeda10aClassificação Internacional (CID-9e
CID-10).Portanto,ascomparaçõesdosachadossãoimprecisas.Especula-sequeuma
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Mortalidade por Insuficiência Cardíaca como Causa Básica ou Contribuinte de Óbito em Três Estados Brasileiros, de 1999 a 2004
fraçãoexpressivadecasosdeICsedêporICdiastólica,enãohánaCID-10nenhum
códigoquerefiraessediagnósticoespecífico,oquepodelevaràconfusãonaescolha
daexpressãodiagnósticapelomédico-assistenteenacodificaçãodesseregistro.
Outra limitação derivadada escolha dasDO comomaterial de estudo é a
dependênciadaqualidadederegistroeprecisãodosdiagnósticosfeitospelosmédicos.
Aparentementeháalgunssinaisdeaperfeiçoamentonessesaspectos,umavezquehá
evidênciasdequedasnanotificaçãodemortesporcausasmal-definidaseaumentodo
númerodeafecçõesanotadasporatestado,pelomenosemalgunsestadosdoBrasil14.
ÉprecisofazerseleçãocriteriosadoscódigosdaCIDqueservirãoparaclassificar
aexistênciadaIC,considerando-se,entreoutrascoisas,dainexistênciadecódigopara
odiagnósticodeICdiastólica.
AavaliaçãodamagnitudedaICcomoforçadeóbito,utilizandoapenasoscasos
emqueamesmaécodificadacomo“causabásicademorte”nãoésuficienteAICéuma
afecçãocomumnosmaisidosos,nosquaismaisdeumestadopatológicopodeestar
concorrendoparaamorte.Énecessário implementarmetodologiasdeavaliaçãode
causasmúltiplasdemorte,especialmentelevando-seemcontaoenvelhecimentoda
populaçãomundial,paraanalisaroimpactodasafecçõescrônicasnosmaisidosos.
AICéumacondiçãoquerequeratençãodosgestoresdesaúdeeumacorreta
compreensãode sua ocorrência é fundamental para o planejamentodemedidas
adequadasdeprevenção,tratamentoereabilitação.
Conclusões
AstendênciasdequedanamortalidadeporICencontradasnopresenteestudo
sãoconcordantescomrelatosnacionaiseinternacionais,epodemestarrelacionadas
com as também reportadas propensões de queda namortalidade por doenças
cardiovasculares.
AmortalidadeporICnoRJfoimaiordoquenoRSeemSPatéaquintadécada
devidanosanosde1999a2004.
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Mortalidade por Insuficiência Cardíaca como Causa Básica ou Contribuinte de Óbito em Três Estados Brasileiros, de 1999 a 2004
AavaliaçãodadimensãorealdaocorrênciadaICnapopulaçãodevelevarem
consideraçãonãoapenasaquelesregistrosemquefoicodificadacomocausabásica,
mastambémaquelesemqueémencionadaemqualquerlinhadasDO,aindaquenão
selecionadacomocausabásica.
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Mortalidade por Insuficiência Cardíaca: Análise Ampliada e Tendência Temporal em Três Estados do Brasil
Mortalidade por Insuficiência Cardíaca: Análise Ampliada e Tendência
Temporal em Três Estados do Brasil
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Mortalidade por Insuficiência Cardíaca: Análise Ampliada e Tendência Temporal em Três Estados do Brasil
MORTALIDADE POR INSuFICIêNCIA CARDíACA: ANáLISE AMPLIADA E
TENDÊNCIA TEMpORAL EM TRÊS ESTADOS DO BRASIL
Resumo
Fundamento:Ainsuficiênciacardíaca(IC)éumadoençacrônicadegrandeprevalência
ealtastaxasdemortalidade.AmortalidadeporIC,noBrasil,temsidoestudadamais
frequentementecomdadosdeinternaçõeshospitalares.
Objetivo: AvaliarastaxasdemortalidadeporIC,porsexoefaixaetária,noconjunto
dosestadosdoRiodeJaneiro,SãoPauloeRioGrandedoSul,de1999a2005.
Métodos:Asinformaçõesforamobtidasdosatestadosdeóbitoexaminadosnostrês
estados.AmortalidadeporICfoiavaliadaemmodorestrito(causabásicademorte),
modoabrangente(presenteemqualquerlinhadoatestado)emodoampliado(todos
oscódigoscompresençadeIC).
Resultados:Astaxasespecíficasdemortalidadeapresentaramtendênciasdequedas
nítidasnosgruposdeidade,excetonosde80anosoumais.Astaxasaumentaramcom
a idade, sendomaiores nos homens, de forma clara, até os 80 anos.As taxasde
mortalidadeporICforamtrêsvezesmaioresnomodoabrangentedoquenomodo
restrito.Omodoampliadoacrescentouainda20%deóbitosemquehaviaIC.
Conclusão:Osresultadosdesteestudodemonstramtendênciasdequedasnastaxasde
mortalidadeporICnoconjuntodostrêsestados–cercade43%doBrasil–,de1999a
2005.Ametodologiadecausasmúltiplasdemorte,alémdasbásicas,permiteapresentar
dimensãomais abrangenteda importânciada IC como causade óbito.A seleção
adequadadoscódigosdaClassificaçãoInternacionaldeDoenças(CID),quecompreendem
atotalidadedofenômenodeIC,permanececomodesafioparafuturosestudos.
Palavras-chave: InsuficiênciaCardíaca/mortalidade,ClassificaçãoInternacionalde
Doenças,RiodeJaneiro,SãoPaulo,RioGrandedoSul,Brasil.
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Mortalidade por Insuficiência Cardíaca: Análise Ampliada e Tendência Temporal em Três Estados do Brasil
MORTALITy DuE TO HEART FAILuRE: ExTENDED ANALySIS AND
TEMpORAL TREND IN THREE STATES OF BRAZIL
Abstract
Background: Heartfailure(HF)isachronicdiseasewithhighprevalenceandmortality
rates. Themortalitydue toHF inBrazil has been studiedmore frequentlyusing
hospitalizationdata.
Objective:ToevaluatethemortalityratesduetoHFbysexandagerange,inthree
statesofBrazil,RiodeJaneiro,SãoPauloandRioGrandedoSul,from1999to2005.
Methods:Thedatawereobtainedfromdeathcertificatesassessedinthethreestates.
ThemortalityduetoHFwasassessedintherestricted(underlyingcauseofdeath),
comprehensive(mentionedinanylineofthedeathcertificate)andextended(allcodes
withthepresenceofHF)forms.
Results: Thespecificratesofmortalitypresentedacleardecreasetrendintheagegroups,
exceptinthegroupaged80yearsorolder.Theratesincreasedwithageandwereclearly
higheramongmenupto80yearsofage.TheratesofmortalityduetoHFwere3-fold
higherinthecomprehensivethanintherestrictedformofanalysis.Theextendedform
ofanalysisalsoadded20%ofdeathsinwhichHFwaspresent.
Conclusion:Theresultsofthisstudydemonstratedadecreasetrendinthemortality
ratesduetoHFwhenconsideringthethreestates–around43%ofBrazil–from1999
to2005.Themethodologyofmultiplecausesofdeath,inadditiontotheunderlying
ones,allowsustopresentamorecomprehensivedimensionoftheimportanceofHF
ascauseofdeath.TheadequateselectionofthecodesoftheInternationalClassification
ofDiseases(ICD),whichcomprehendthetotalityoftheHFphenomenon,remainsa
challengeforfurtherstudies.
Key-words:HeartFailure/mortality;InternationalClassificationofDiseases;Riode
Janeiro;SãoPaulo;RioGrandedoSul;Brazil.
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Mortalidade por Insuficiência Cardíaca: Análise Ampliada e Tendência Temporal em Três Estados do Brasil
Introdução
Ainsuficiênciacardíaca(IC)éumadoençacrônicadealtaprevalência,queincide
predominantemente nosmais idosos. É amaior causade internaçãopordoença
cardiovascularnoBrasil,sendoaprimeiracausadeinternaçãoempacientescommais
de65anosdeidadenaEspanha1,2.
Areduçãodamortalidadepordoençascardiovasculares,notadamenteacardiopatia
isquêmica,quevemsendoobservadahádécadas,eosrecentesavançosdaterapêutica
não resultaramna reduçãodaprevalênciada IC, fenômeno tambémdecorrentedo
envelhecimentodapopulação3.A ICpermanece tendo altas taxasdemorbidade,
mortalidadeeletalidade,quepodemalcançaraté50%nos5anosquesesucedemao
diagnóstico4.
Apesar dessas evidências, têm sidodemonstradas tendências de queda na
mortalidadeporICemalgunspaíses,pormeiodaanálisededocumentosdeóbitos.
Goldacre e cols.5, na Inglaterra, analisandoapopulaçãodeOxfordde1979a 2003,
concluíramqueastaxasdemortalidadeporICepordoençacardíacaisquêmicativeram
quedasmuitosimilaresnaquelaregião.Murdochecols.6,estudandoaICnaEscóciade
1979a1992,alémdeobservar tendênciadequedanamortalidade,verificaramque
30%-40%dasmortesatribuídasàdoençacardíacaisquêmicapodemtersidorelacionadas
àIC,concluindoqueainsuficiênciacardíacaestariacontribuindoaindamaisdoqueo
percebidoparaamortalidadetotaleparaamortalidadeprematura.
Martinezecols.1sinalizaramque,assimcomoemoutrospaíses,amortalidade
porICtemdeclinadonaEspanha,condiçãoqueafetaosmaisidosos,emespecialas
mulheres com idade avançada.Emais: apontaramqueumadificuldademaior ao
entendimentodocomportamentodaICéaseleçãodediferentescódigosdaCIDpara
identificá-la,comocausademorte,nosváriosestudospublicadossobreoassunto.
NaAustrália,Najafiecols.7relataramtendênciadequedanamortalidadeporIC,
de1997a2003,ediscutiramaslimitaçõesdautilizaçãodosregistrosoficiaisdosóbitos
porIC,quandosomenteconsideradaaseleçãodamesmacomocausabásicademorte,
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Mortalidade por Insuficiência Cardíaca: Análise Ampliada e Tendência Temporal em Três Estados do Brasil
deacordocomasregrasdemodificaçãoda10ªRevisãodaClassificaçãoInternacional
deDoençaseProblemasRelacionadosàSaúde(CID-10)8.
AmaiorpartedaspublicaçõessobreaimportânciadaICcomocausadeóbito,no
Brasil,sãoderivadasdealgunsestudosdecoorte9,10,ourelativasàmortalidadehospitalar,
tendocomobaseosdadosdisponíveisdoSistemaÚnicodeSaúde(SUS)referentesàs
internaçõesnaredepúblicaoucontratadaspelosistema11,12.NoBrasil,aICfoiaterceira
causadeinternaçãoporcausasclínicaspeloSUS/MS,de1992a2002,compercentuais
deinternaçãoemrelaçãoaototalquevariaramentre3%-4%,comtaxasdeletalidade
entre5%-7%nasinternações2.
AtendênciademortalidadeporICnaregiãometropolitanadeSalvador(Bahia),
de1979a1995,foiavaliada,utilizando-separaidentificarIC,comocausadeóbito,os
códigos428.0,428.1e428.9doCID-9,masapenascomocausabásicademorte.Este
estudoreveloudeclíniodamortalidadeporIC,de1979a1992,queseestabilizoua
partirdaíaté199513.
OsobjetivosdesteestudosãoavaliarastaxasdemortalidadeporIC,porsexoe
faixaetária,noconjuntodosestadosdoRiodeJaneiro,SãoPauloeRioGrandedoSul,
de1999a2005.AstaxasforamanalisadasemmodorestritoquandoaICfoicodificada
comocausabásicademorte;emmodoabrangentequandopresenteemqualquerlinha
doatestado;eemmodoampliadoquandoincluídostodososdiagnósticoscomapresença
deIC.
Métodos
Todososdadosreferentesaóbitosepopulaçõessãode1999a2005,doconjunto
formadopelosestadosdoRiodeJaneiro(RJ),SãoPaulo(SP)eRioGrandedoSul(RS).
Asinformaçõessobreóbitosforamobtidasdosbancosdedadosinformatizadosdos
registrosdeatestadosdeóbitodoSistemadeInformaçõessobreMortalidade(SIM)do
MinistériodaSaúde14.
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Mortalidade por Insuficiência Cardíaca: Análise Ampliada e Tendência Temporal em Três Estados do Brasil
Osdadospopulacionais foramobtidosdo InstitutoBrasileirodeGeografia e
Estatística (IBGE),distribuídospor sexo e faixas etárias15.As faixas etárias foram
definidasdestemodo:abaixode40anose,apartirdaí,de10em10anosaté79anose
80anosoumais.
Aescolhadessastrêsunidadesdafederaçãotevecomocritériosoperfiletário
mais idosodaspopulações (commaiorprobabilidadedeocorrênciade IC), a boa
qualidadedepreenchimentodosatestadosdeóbito,dadoinferidoportaxasmenores
demortalidadeproporcionalporcausasmaldefinidasemaiornúmerodeafecções
registradasporatestado16,etambémpelapossibilidadedecomparaçãocomdadossobre
mortalidadecardiovascularjáconhecidos17.
Osregistrosinformatizadosdosóbitosutilizaramaclassificaçãodemortalidade
da 10ªRevisãodaClassificaçãoEstatística InternacionaldeDoenças eProblemas
Relacionados à Saúde daOrganizaçãoMundial de Saúde (CID-10)18, da qual
selecionamososcódigosdeIC.
OsmodosdaocorrênciadaICforamdivididosemtrêsgrupos:
A - Restrito:comICtabuladacomocausabásicademorte,deacordocomasregras
edisposiçõesparacodificaçãodemortalidadeemorbidadeconstantesdomanualde
instruçõesdoCID-10,comoscódigosI50.0(insuficiênciacardíacacongestiva), I50.1
(insuficiênciaventricularesquerda)eI50.9(insuficiênciacardíacanãoespecificada).
B - Abrangente:osmesmoscódigosdogruporestritoquandoforamanotados
comocausabásica,oucitadosemqualquerlinhadoatestado.
C - Ampliado:subdivididoemdoisgrupos:
C1 - Ampliado 1:acrescentaaogrupoabrangenteoscódigosI11.0(doençacardíaca
hipertensiva com insuficiência cardíaca congestiva), I13.0 (doença cardíaca e renal
hipertensiva com insuficiência cardíaca congestiva), I13.2 (doença cardíaca e renal
hipertensiva com insuficiência cardíaca congestiva e insuficiência renal) e P29.0
(insuficiênciacardíacaneonatal),queexplicitamemsuadenominaçãoapresençadeIC.
C2 - Ampliado 2:acrescentaaogrupoampliado1oscódigosI09.9(doençacardíaca
reumáticanãoespecificada),I97.1(outrosdistúrbiosfuncionaissubsequentesàcirurgia
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Mortalidade por Insuficiência Cardíaca: Análise Ampliada e Tendência Temporal em Três Estados do Brasil
cardíaca),I25.5(miocardiopatiaisquêmica),I31.1(pericarditeconstrictivacrônica),I42.0
(cardiomiopatiadilatada),I42.6(cardiomiopatiaalcoólica),B57.0(formaagudadadoença
deChagas,comcomprometimentocardíaco)eB57.2(doençadeChagascrônicacom
comprometimento cardíaco), que referem em suadescrição apresençade IC, ou
envolvemcondiçõesquepodemter,nasuaevoluçãoclínica,sinaisesintomasdeIC,
aindaqueestanãosejanominadaoudescritajuntoaocódigonomanualdoCID-1018.
Foramconstruídastaxasdemortalidadeproporcionaiseespecíficasesuasrazões
entreossexos.AstaxasdemortalidadeproporcionalporICforamestimadaspelarazão
entreosóbitoseototaldeóbitos.Astaxasespecíficasdemortalidadeforamcalculadas
pelarazãodosóbitoscorrespondentesacadaumdosquatrogruposdeICeototalda
populaçãodecadafaixaetária.Aanáliseestatísticafoirealizadautilizando-seoprograma
Stata19.
Resultados
Foianalisadoumtotalde2.960.857atestados,sendo56,4%doestadodeSãoPaulo,
27,2%doRiode Janeiro e 16,4%doRioGrandedoSul.NoBrasil, 43%dosóbitos
ocorreramnessestrêsestadosentreoperíodode1999a2005.
OspercentuaisdeóbitosporIC,quepodemservistosnaTabela1,apresentaram
tendênciasdequedaaolongodoperíodo,maisevidentenogrupoA, eapenasdiscreta
nosdemais.AmaiordiferençafoiobservadaentreosgruposA e B,sendoemB três
vezesmaiordoqueemA.Deve-sedestacarqueadiferençaencontradaentreosgrupos
B e C1,naprática,nãofoirelevante.Poressemotivo,ogrupoB nãofoiincluídonos
gráficosdastaxasespecíficasdemortalidadeporsexoefaixasetárias.
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Mortalidade por Insuficiência Cardíaca: Análise Ampliada e Tendência Temporal em Três Estados do Brasil
Tabela 1Percentuais de óbitos por insuficiência cardíaca (IC), por ano de ocorrência e segundo os grupos de IC, no conjunto de três estados brasileiros (Rio de Janeiro, São Paulo e Rio Grande do Sul), de 1999 a 2005.Anos de Grupos de ICocorrência A* B** C1*** C2****1999 3,0 9,2 9,3 11,12000 2,7 9,6 9,7 11,52001 2,6 9,1 9,2 11,12002 2,5 8,9 9,0 10,92003 2,4 8,7 8,8 10,82004 2,4 9,0 9,0 11,12005 2,4 8,6 8,7 10,8*A:CódigoCID-10I50comocausabásica.**B:A+I50mencionada.***C1:B+I11.0,I13.0,I13.2ouP29.0mencionados.****C2:C1+I09.9,I97.1,I25.5,I31.1,I42.0,I42.6,B57.0ouB57.2mencionados.
AstaxasespecíficasdemortalidadeporsexoefaixaetáriadosgruposA,C1 e C2,
apresentadasnasFiguras1Ae1F,permitemobservartendênciasdequedadastaxasde
mortalidadeemtodasasfaixasetáriasaolongodos7anos,excetonafaixade80anos
oumais, ondepermanecem relativamente estáveis por quase todooperíodo.As
tendênciasdequedanamortalidadeforammenoresnogrupoA, emtodasasfaixas
etáriasdeambosossexos.
AstaxasdemortalidadeporICaumentaramcomoavançardaidade.Nafaixade
40a49anose,deformamaisimportante,de50a59e60a69anos,astaxas,noconjunto
dostrêsestados,forammarcadamentemaioresnoshomens.Apartirdaí,asdiferenças
entreossexosjánãosemostraramtãonítidas,tornando-sesemelhantesnafaixade80
anosoumais.
AsrazõesentreastaxasespecíficasdemortalidadedossexosporgrupodeICe
porfaixaetária,nasomados7anosnostrêsestados,podemservistasnaTabela2.
Observamosqueasrazõesdetaxasdehomens/mulheresdecresceramcomoaumento
daidade.Asmaioresrazõesforamvistasnafaixade40aos49anos.Nafaixados80ou
mais,aproximaram-sede1,0emtodososgruposdeIC.Emqualquerfaixaetária,as
razõesforamsemelhantesentreosgruposdeIC.
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Mortalidade por Insuficiência Cardíaca: Análise Ampliada e Tendência Temporal em Três Estados do Brasil
1A:Faixaetáriaabaixode40anos
1C:Faixaetáriade50a59anos
1B:Faixaetáriade40a49anos
Figuras 1A a 1CTaxasdemortalidade(por100milhabitantes)porinsuficiênciacardíacaemhomens(H)emulheres(M),poranodeocorrência,porgrupodeIC(A,C1eC2),segundofaixasetárias,noconjuntodetrêsestadosbrasileiros(RiodeJaneiro,SãoPauloeRioGrandedoSul),de1999-2005H:HomensM:Mulheres;A:CódigoI50daCID-10comocausabásicaC1:I50comocausabásicaoumencionada,ouI11.0,I13.0,I13.2ouP29.0mencionados.C2:CódigosdeC1ouI09.9,I97.1,I25.5,I42.0,I42.6,B57.0ouB57.2mencionados.
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Mortalidade por Insuficiência Cardíaca: Análise Ampliada e Tendência Temporal em Três Estados do Brasil
1E:Faixaetáriade70a79anos
1F:Faixaetáriade80ouacima
1D:Faixaetáriade60a69anos
Figuras 1D a 1FTaxasdemortalidade(por100milhabitantes)porinsuficiênciacardíacaemhomens(H)emulheres(M),poranodeocorrência,porgrupodeIC(A,C1eC2),segundofaixasetárias,noconjuntodetrêsestadosbrasileiros(RiodeJaneiro,SãoPauloeRioGrandedoSul),de1999-2005H:HomensM:Mulheres;A:CódigoI50daCID-10comocausabásicaC1:I50comocausabásicaoumencionada,ouI11.0,I13.0,I13.2ouP29.0mencionados.C2:CódigosdeC1ouI09.9,I97.1,I25.5,I42.0,I42.6,B57.0ouB57.2mencionados.
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Mortalidade por Insuficiência Cardíaca: Análise Ampliada e Tendência Temporal em Três Estados do Brasil
Tabela 2 Razões entre as taxas de mortalidade por insuficiência cardíaca (IC) de homens/mulheres, por faixa etária, segundo os grupos de IC, no conjunto de três estados brasileiros (Rio de Janeiro, São Paulo e Rio Grande do Sul), de 1999 a 2005.Faixas etárias Grupos de IC(em anos) A* B** C1*** C2****<40 1,5 1,3 1,3 1,440a49 1,8 1,7 1,7 1,950a59 1,6 1,6 1,6 1,760a69 1,5 1,5 1,5 1,670a79 1,3 1,3 1,3 1,480oumais 0,9 1,0 1,0 1,1*A:CódigoCID-10I50comocausabásica**B:A+I50mencionada***C1:B+I11.0,I13.0,I13.2ouP29.0mencionados****C2:C1+I09.9,I97.1,I25.5,I31.1,I42.0,I42.6,B57.0ouB57.2mencionados.
Discussão
EsteestudomostratendênciasnítidasdequedadastaxasdemortalidadeporIC,
noconjuntodosestadosdoRiodeJaneiro,SãoPauloeRioGrandedoSul,de1999a
2005,emtodasasfaixasetáriasabaixodos80anosdeidadeemais.
Nafaixadosmaisidosos,aquedasófoiperceptívelnoiniciodoperíodo.Esses
achadossãoconcordantescomoutrosjápublicadosnoBrasil13,20enoexterior1,5-7,que
analisaramamortalidadeporICnosregistrosdeóbito.Omesmotem-seobservado
comastaxasdemortalidadehospitalarporIC.Acredita-sequeessecomportamento
possaserexplicadopelosavançosobtidos,nosúltimosanos,naabordagemdaIC,tais
comodiagnósticomaisprecoce, condutamais agressivano tratamentodurante as
internaçõespordescompensaçãoeouso,emmaioresproporções,dosinibidoresda
enzimaconversoradaangiotensinaedosbetabloqueadores21,22.
Ultimamente,relatospublicadostambémtêmdemonstradoquedadamortalidade
pordoençascardiovascularesemgeral,comexemplosnoBrasil23,24enoexterior25,26.Isso
tambémpodejustificaroquevemocorrendocomaIC,porserestaaconsequência
terminaldamaioriadascardiopatias.
Oliveira e cols.27 observaramquedas nas taxasdemortalidadepordoenças
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Mortalidade por Insuficiência Cardíaca: Análise Ampliada e Tendência Temporal em Três Estados do Brasil
isquêmicasdo coraçãonaspopulaçõesdosmesmos três estados,nasduasdécadas
precedentesaoatualestudo.Oobservadoemnossoestudodeveserdecorrentedarelação
existente entre asdoenças isquêmicasdo coração e sua evoluçãonaturalpara IC.
Nesteestudo,observa-setambémqueastaxasdemortalidadeporICdoshomens
sãomaioresdoqueasdasmulheres,emtodasasfaixasetáriasatéos80anos,sendo
que,entreossexos,asdiferençasdestastaxasdecrescem,aproximando-secomoavançar
daidade.
Esse fenômenopode serobservadoquandoanalisamosamortalidadepor IC,
quandoselecionadacomocausabásica(grupoA),ouquandonotificadacomocausa
associada(gruposB, C1 e C2)nodocumentodeóbito.Amaiorincidênciadadoença
emhomens,mostradaemoutrosestudos28-30,corroboranossosachados.
Nosindivíduosde80oumais,éprecisoconsiderarque,nestafaixa,quenãopossui
limiteetáriosuperior,asmulheressãoemmédiamaisvelhasporapresentaremmaior
longevidadedoqueoshomens.NaFigura1F,asdiferençasobservadasentreossexos
nosgruposA e C1 parecemsedesvanecer,masaindapodesepressupormaiorocorrência
relativanoshomens,descontadooefeitodaidade.NogrupoC2, odesfavorecimento
dos homens continuou evidente, provavelmente devido àmaior ocorrência da
miocardiopatiaisquêmicaedacardiomiopatiadilatadaoualcoólicanoshomens.
NoBrasil,podemser encontrados alguns relatospublicadosqueavaliarama
mortalidadepordoençascirculatórias,cerebrovasculareseisquêmicasdocoração,a
partirdaanálisededocumentosdeóbitos16,23,24,mas,apenasdois,nasquaisamortalidade
porICfoioobjetodoestudo20.
Latadoecols.13utilizaramaICapenasquandoselecionadacomocausabásicade
mortenaregiãometropolitanadeSalvador,de1979a1995.Gauiecols.20,alémdisso,
tambémavaliaramaocorrênciade IC, quandomencionada emqualquer linhado
documentodeóbito,nosestadosdoRiodeJaneiro,SãoPauloeRioGrandedoSul,de
1999a2004.AmbosconcluíramqueocorreuquedadastaxasdemortalidadeporICnos
doisperíodos,porémosegundomostrouqueaimportânciadaICpodesersubestimada
quandoavaliadasomentecomocausabásica.
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Mortalidade por Insuficiência Cardíaca: Análise Ampliada e Tendência Temporal em Três Estados do Brasil
Asestatísticasdemortalidadesãoapresentadas tradicionalmentepormeioda
causa básica, que é conceituada como a “causa ou lesão que iniciou a cadeiade
acontecimentospatológicosqueconduziramdiretamenteàmorteouàscircunstâncias
doacidenteouviolênciaqueproduziramalesãofatal”8.
Acausabásicaéselecionadaapartirdoscódigosdedoençasmencionadosno
documentodeóbitopormeiodaaplicaçãodasregrasdecodificaçãodefinidaspela
10ªRevisãodaClassificaçãoInternacionaldeDoençaseProblemasRelacionadosà
Saúde(CID-10),oquefazcomquealgumas“afecçõesespecíficaspossamterpreferência
comocausabásicaemrelaçãoaagravosgeneralizados”16.Adiabetesmellituséum
exemplodessapreferência.EmumatestadoemquealinhaAtenhasidopreenchida
comocódigoJ81(edemapulmonarnãoespecificadodeoutraforma),alinhaBcom
I50.1(insuficiênciaventricularesquerda)ealinhaCcomE14.9(diabetesmellitusnão
especificadosemcomplicações),teráestaúltimaselecionadacomocausabásicade
morte.
Nopresenteestudo,quandocomparamososmodosrestrito (A) e abrangente (B),
observamosaocorrênciadeICtrêsvezesmaisnosegundo,coincidentementeomesmo
encontradoporSantoecols.16.
OusoapenasdacausabásicaparadimensionaramortalidadeporICnãonosdá
averdadeiraperspectivadoproblemarepresentadopelaIC.Omesmoocorrecomoutras
condiçõescrônico-degenerativascomunsnosmaisidosos,nosquaismaisdeumestado
patológicopodeestarcontribuindoparaamorte.Autilizaçãodascausasmúltiplasde
morte,pormeiode suasmençõesnasdeclaraçõesdeóbitos emodelosde análise
multidimensionalafimdeestabelecerasrelaçõesentreaquelas,temsidopropostacomo
ferramentaadicionalparaestatísticasdemortalidade31.
AmortalidadeporICtambémpodesersubdimensionadapelaescolhadoscódigos
daCID-10parasuadefinição.Amaioriadosestudos,alémdeutilizarapenasacausa
básicademorte,tambémselecionasomenteoscódigosI50daCIDparadefinirIC,o
quecorrespondeaosnossosgruposA e B.Doisrelatos jápublicados7definiramIC
comoumconjuntodecódigosquereferememsuadescriçãoapresençadeinsuficiência
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Mortalidade por Insuficiência Cardíaca: Análise Ampliada e Tendência Temporal em Três Estados do Brasil
cardíaca, ou envolvemcondiçõesquepodem ter, na sua evolução clínica, sinais e
sintomasdeIC.
Emnossoestudo,alémdoscódigosselecionadosnosestudosmencionados,em
C1, acrescentamosainsuficiênciacardíacaneonatale,emC2, adoençadeChagasaguda
ecrônica,comcomprometimentocardíacoedoençareumática.
ObservandoospercentuaisdeóbitosdeICporgrupo(Tabela1),vemosquea
diferençaentreosgruposB e C1 nãofoi importante,porém,ogrupoC2 acrescenta
aproximadamente20%demortesporICemrelaçãoaogrupoB.Portanto,oscódigos
acrescidosaogrupoB, paraaformataçãodogrupoC1, nãocontribuírammaisdoque
oscódigosI50paraaavaliaçãodarealdimensãodamortalidadeporIC.Entretanto,o
mesmonãopodesedizerdoscódigosque,acrescidosaogrupoC1, formataramogrupo
C2,ressaltandooI09.9(doençacardíacareumáticanãoespecificada),B57.0(formaaguda
dedoençadeChagas, comcomprometimento cardíaco) eB57.2 (doençadeChagas
crônicacomcomprometimentocardíaco),quetambémocorrememnossomeioenão
foramconsideradosporoutrosautores7.
Aabrangênciade informaçãodiagnóstica, aqualidadedopreenchimento e a
utilizaçãodecódigosquetranscrevemasinformaçõesoriginaiscontidasnasdeclarações
deóbitoDOsãofatoreslimitantesdenossoestudo.Deve-seressaltar,ainda,queaIC
diastólica,tambémdenominadaICcomfunçãoventricularesquerdapreservada,pode
representaraté50%doscasosdeinternaçãoporIC10,30,enãoécontempladapornenhum
códigonaCID-10.
Os resultados deste estudodemonstram tendências de queda nas taxas de
mortalidadeporIC,noconjuntodosestadosdoRiodeJaneiro,SãoPauloeRioGrande
doSul,de1999a2005,querepresentampoucomenosdametadedoBrasil.Ainda
assim, o observado no conjunto daqueles estados não pode ser utilizado como
estimativadoqueocorreunoBrasil comoum todo, o que se constitui numadas
limitaçõesdesteestudo.Poroutrolado,aabrangênciadasinformaçõessobreóbitos
é precária emboa parte do país. Estes achados são concordantes comoutros já
publicadosnoBrasilenoexterior,epodemestarrelacionadoscomasjáreportadas
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Mortalidade por Insuficiência Cardíaca: Análise Ampliada e Tendência Temporal em Três Estados do Brasil
quedasdastaxasdemortalidadepordoençasisquêmicas.
Ousodemetodologiadascausasmúltiplasdemorteassociadoaoconceitode
causabásicanosdáumadimensãomaisabrangentedoestudodamortalidade.Ea
seleçãoadequadadoscódigosdaCIDquecompreendematotalidadedofenômenode
IC,nesteestudorepresentadopelogrupomaisampliado(grupoC2),permanececomo
umdesafioparafuturosestudos.
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Mortalidade por Insuficiência Cardíaca no Brasil de 1999 a 2005
Mortalidade por Insuficiência Cardíaca no Brasil de 1999 a 2005
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Mortalidade por Insuficiência Cardíaca no Brasil de 1999 a 2005
MORTALIDADE pOR INSUFICIÊNCIA CARDÍACA NO BRASIL DE 1999 A 2005
Resumo
Objetivos:Analisarasassociaçõesdainsuficiênciacardíaca(IC)quandoselecionada
comocausabásicademorte(I50,CID-10)comoutrascausasmencionadasnaslinhasda
declaraçãodeóbito(DO)eamençãodecausasqueincluemreferênciaàIC(conjunto
IC)nasDOcomoutrascausasbásicasdemorte.
Material e métodos: As informações foram obtidas das DOs dos estados do Rio
deJaneiro,SãoPauloeRioGrandedoSul,de1999a2005.OconjuntoIC(CIC)foi
constituídopeloscódigosdaCID-10emqueaICestevepresente.Calcularam-seas
quantidadesabsolutasepercentuaisdasmençõesquandoaICfoiacausabásicaedas
mençõesaoCICquandooutrascausasforamselecionadascomobásicas.Tambémse
calcularamnúmerosmédiosdecausasmencionadasporDO.
Resultados:QuandoaICfoiacausabásica,cercadametadedasmençõesreferiram-
se ao aparelho circulatório equaseumquarto, ao aparelho respiratório, sendoque
I50 correspondeua cercadeum terçodasmenções.QuandoalgumacausadoCIC
foimencionada, foramselecionadas, commaior freqüência, comocausasbásicasos
aparelhoscirculatório(69%)erespiratório(11%).NototaldasDos,onúmeromédio
decausasmencionadasfoide2,99;quandohouvemençãoaalgumacausadoCIC,o
númeromédiofoide3,65;enquantoI50foiacausabásicadeapenas2,88.
Conclusões:Aavaliação isoladadacausabásicademortesubestimaamortalidade
porIC.Ainclusãodaconsideraçãodascausasmúltiplasdemorteforneceavaliação
maisabrangentedaimportânciadecausascrônicas,comoaIC,nadeterminaçãoda
morte.
Palavras-chave: Mortalidade; Insuficiência cardíaca; Causa básica; Causas
múltiplas;Brasil.
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Mortalidade por Insuficiência Cardíaca no Brasil de 1999 a 2005
HEART FAILURE MORTALITy IN BRAZIL FROM 1999 TO 2005
Abstract
Objective: To analyze the associations of heart failure (HF) when selected as the
underlying cause ofdeath (I50-CID10)with other causesmentioned in the lines of
deathcertificates(DC)anddetailsofcauses,includingreferencetotheHFset(HFS)in
DCwithothercausesofdeath.
Methods:DatawereobtainedfromtheDOinthestatesofRiodeJaneiro,SaoPaulo
andRioGrandedoSul,from1999to2005.TheHFset(HFS)wasestablishedbythe
codesofICD-10whentheHFwaspresent.Absoluteandpercentagequantitieswere
calculatedwhentheHFwastheunderlyingcauseandthetermsofHFSwhenother
causeswereselectedasbasic.Itisalsoestimatedaveragenumberofcausesmentioned
byDC.
Results:WhenHFwastheunderlyingcause,abouthalfoftheentriesreferredtothe
circulatorysystemandalmost1/4totherespiratorysystem,andI50correspondedto
about1/3oftheentries.WhilesomequestiontheHFSwasmentioned,wereselected
morefrequentlyascausesofthecirculatory(69%)andrespiratory(11%).AtotalofDC
theaveragenumberofcausesmentionedwas2.99,whentherewasmentionofacause
ofHFSwas3.65,whereaswhenI50wastheunderlyingcausewasonly2.88.
Conclusions:Theisolatedassessmentoftheunderlyingcauseofdeathunderestimates
themortalitydue toHF.The inclusionofconsiderationofmultiplecausesofdeath
providesamorecomprehensiveevaluationoftheimportanceofchroniccausessuch
asHFinthedeterminationofdeath.
Key words:Mortality;Heartfailure;Underlyingcausesofdeath;Multiplecausesof
death;Brazil.
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Mortalidade por Insuficiência Cardíaca no Brasil de 1999 a 2005
Introdução
A declaração de óbito (DO) é a fontemais abrangente de informações para
o estudo damortalidade na população em geral.As estatísticas demortalidade se
utilizamdacausabásicademorte,selecionadaapartirdasanotaçõesobtidasdaDO,
sendoessadefinidacomo“adoençaoulesãoqueiniciouacadeiadeacontecimentos
patológicosqueconduziramdiretamenteàmorte,ouascircunstânciasdoacidenteou
violênciaqueproduziramalesãofatal”,esuaseleçãosegueasregrasdecodificação
estabelecidaspelaCID-101.
Uma análise ampliada da mortalidade pode ser obtida mediante o estudo
das causasmúltiplas demorte – quando se consideram todas as causas demorte
mencionadasnaDO–eédefundamentalimportânciaparaaavaliaçãodarealdimensão
damortalidadepordeterminadasentidadesearelaçãoqueessaguardacomoutros
estadospatológicosquecontribuíramparaamorte2,3,4,5,6,7.
Amortalidadeporinsuficiênciacardíaca(IC)temsidoavaliada,noBrasil,quase
queexclusivamentepormeiodasestatísticasqueutilizamacausabásicademorte8,a
análisedamençãodaICnaDOnospermite,porém,entendimentomaisamplodesua
importância9,10,11.
AanálisedamortalidadepormeiodaseleçãodecódigosdaCID-10também
trazdificuldadesnaavaliaçãodesuarealimportância.AICestádefinidadessaforma
no título do código I50, porém há códigos que explicitam em sua denominação a
presençadeICeoutros,ainda,queareferememsuadescriçãoouenvolvemcondições
quepodemternasuaevoluçãoclínicasinaisesintomasdeIC,aindaqueestanãoseja
nominadaoudescritajuntodocódigonomanualdoCID-101.
O estudo damortalidade por IC também se tornamais abrangente quando
o fazemosatravésda seleçãoampliadade códigosdaCID-10nosquais a ICesteja
descrita,considerandotambémsuamençãoemqualquerlinhadaDO9,10,12,13.
UmdosobjetivosdesteestudofoiavaliarasoutrascausasmencionadasnaDO
quandoaICfoiselecionadacomocausabásica.Ooutroobjetivofoianalisarassituações
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Mortalidade por Insuficiência Cardíaca no Brasil de 1999 a 2005
emqueaICfoimencionadaemqualquerlinhadaDOquandooutrascondiçõesforam
selecionadas como causa básica. Essa análise abrangeu o conjunto dos dados dos
estadosbrasileirosdoRiodeJaneiro,SãoPauloeRioGrandedoSul,de1999a2005.
Material e métodos
Asinformaçõessobreóbitosforamobtidasdosbancosdedadosinformatizados
dosregistrosdeatestadosdeóbitodoSistemadeInformaçõessobreMortalidade(SIM)
doMinistériodaSaúdereferentesàsDOsdosestadosdoRiodeJaneiro,SãoPauloe
RioGrandedoSul,que representam43%dosóbitosocorridosnoBrasil,de1999a
200514.
A IC considerada apenas como causa básica foi definida quando os códigos
I50.0 (insuficiência cardíaca congestiva), I50.1 (insuficiência ventricular esquerda)
e I50.9 (insuficiência cardíacanão especificada) foram selecionados,de acordo com
as regras e disposições para codificação de mortalidade e morbidade constantes
domanualde instruçõesdoCID-101.OCICfoiconstituídode todososcódigosdo
CID-10emqueaICaparecenotítulo,explicitadanadenominação,ouestápresente
nadescriçãodocódigodaCID,ouainda,ounoscódigosemquehácondiçõesque
podemternasuaevoluçãoclínicasinaisesintomasdeIC:I50.0(insuficiênciacardíaca
congestiva), I50.1 (insuficiência ventricular esquerda), I50.9 (Insuficiência cardíaca
não especificada), I11.0 (doença cardíaca hipertensiva com insuficiência cardíaca
congestiva), I13.0 (doença cardíaca e renal hipertensiva com insuficiência cardíaca
congestiva), I13.2 (doença cardíaca e renal hipertensiva com insuficiência cardíaca
congestivaeinsuficiênciarenal),P29.0(insuficiênciacardíacaneonatal),I09.9(doença
cardíacareumáticanãoespecificada),I97.1(outrosdistúrbiosfuncionaissubseqüentes
à cirurgia cardíaca), I25.5 (miocardiopatia isquêmica), I31.1 (pericardite constritiva
crônica),I42.0(cardiomiopatiadilatada),I42.6(cardiomiopatiaalcoólica),B57.0(forma
aguda da doença de Chagas, com comprometimento cardíaco) e B57.2 (doença de
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Mortalidade por Insuficiência Cardíaca no Brasil de 1999 a 2005
Chagascrônicacomcomprometimentocardíaco).Esseconjuntocompreendetodosos
códigosutilizadosporNajafiecols.10acrescidosdaquelesemqueaICestápresentena
descriçãodocódigodaCID.
AsoutrascausasmencionadasemqualquerlinhadaDOouselecionadascomo
causabásicaforamagrupadasporaparelhosseguindoascategoriasdaCID-10oupelas
condiçõesespecíficasmaisrelevantes.
Calcularam-sequantidadesabsolutasepercentuaisdasmençõesquandoaIC
foi a causabásicaedasmençõesdoCICquandooutras causas foramselecionadas
comobásicas.TambémsecalcularamnúmerosmédiosdecausasmencionadasporDO.
Resultados
Nos três estadosocorreram2.960.857mortesnoperíodode1999a 2005.Em
cercade11%dessas(327.423),houvemençãoapelomenosumadascausasdoCICe,
nessesóbitos,empoucomenosdeumquarto,aIC(I50)foiselecionadocomocausa
básica.
Na Tabela 1 podemos observar as distribuições de freqüências absolutas e
relativasdascausasdeóbito,agrupadasporaparelhos,mencionadasnasDOsemque
aIC(I50)foiselecionadacomocausabásica.Dototalde76.167óbitosemqueaICfoi
selecionadacomocausabásica,218.807causasforammencionadasnaslinhasdasDOs.
Issosignificaqueforamapresentadas2,87causasporatestado.
Cercadametadedasmençõesreferiram-seaoaparelhocirculatórioequaseum
quarto,aoaparelhorespiratório,quandoaICfoicausabásica.Causasmaldefinidas
forammencionadasem15%dasDOs.
Na Tabela 2 podemos observar as distribuições de freqüências absolutas e
relativasdascausasdeóbito,agrupadaspelascondiçõesespecíficasmaisrelevantes,
mencionadasnasDOsemqueaIC(I50)foiselecionadacomocausabásica.AIC(apenas
ocódigoI50)correspondeuacercadeumterçodasmenções;somadaàinsuficiência
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Mortalidade por Insuficiência Cardíaca no Brasil de 1999 a 2005
respiratóriaeaoedemapulmonar,essaproporçãoatingiuametadedototal.Asdoenças
hipertensivaseodiabetesmellitusforammencionadasemapenas2%dasDOs.
Tabela 1 Ocorrências e percentuais de causas de morte mencionadas em qualquer linha da declaração de óbito, agrupadas por aparelhos*, quando a insuficiência cardíaca (I50**) foi selecionada como causa básica de óbito, nos estados brasileiros do Rio de Janeiro, São Paulo e Rio Grande do Sul, de 1999 a 2005.Causas mencionadas, por aparelhos Ocorrência PercentualAparelhocirculatório(I) 105.364 48,15Aparelhorespiratório(J) 53.341 24,38Maldefinidas(R) 33.044 15,10Endócrinas,nutricionaisemetabólicas(E) 8.192 3,74Aparelhogeniturinário(N) 6.469 2,96Aparelhodigestivo(K) 3.026 1,38Infecciosas(AeB) 3.401 1,55Neoplasias(CeD) 2.498 1,14Sistemanervosoecabeça(F,GeH) 1.969 0,90Causasexternas(V,W,XeY) 784 0,36Sistemaosteomuscularecutâneo(LeM) 646 0,30Gravidez,perinataleanomaliascongênitas(O,PeQ) 73 0,03Total 218.807 100,00*GrupamentosdeacordocomoscódigosalfanuméricosdaCID-10.**CompostapeloscódigosI50.0,I50.1eI50.9daCID-10
Tabela 2 Ocorrências e percentuais de causas de morte mencionadas em qualquer linha da declaração de óbito, agrupadas por condições específicas*, quando a insuficiência cardíaca (I50**) foi selecionada como causa básica de óbito, nos estados brasileiros do Rio de Janeiro, São Paulo e Rio Grande do Sul, de 1999 a 2005.Causas mencionadas, por condições específicas Ocorrência PercentualInsuficiênciacardíaca(I50) 75.674 34,58Insuficiênciarespiratória(J96) 19.942 9,11Edemapulmonar(J81) 15.231 6,96Paradarespiratória(R092) 13.079 5,97Pneumonia(J12-18) 10.195 4,65Choquecardiogênico(R570) 7.086 3,23Diabetesmellitus(E10-14) 5.375 2,44Doençashipertensivas(I10-15) 5.198 2,37Paradacardíaca(I46) 4.822 2,20DPOC,enfisemaouasma(J43-46) 4.564 2,08Doençascerebrovasculares(I60-69) 4.509 2,06Senilidade(R54) 4.083 1,86Septicemia(A41) 2.807 1,28Emboliaeoutrascardíacaspulmonares(I26-28) 2.117 0,96Aterosclerose(I70) 463 0,21Cardiomiopatiadilatada(I42) 22 0,01Doençasisquêmicasagudasdocoração(I20-24) 9 <0,01Doençasisquêmicascrônicasdocoração(I25) 2 <0,01DoençadeChagas(B57) 2 <0,01Outras 43.627 19,93Total 218.807 100,00*GrupamentosdeacordocomostrêsprimeirosdígitosdaCID-10.**CompostapeloscódigosI50.0,I50.1eI50.9daCID-10.
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Mortalidade por Insuficiência Cardíaca no Brasil de 1999 a 2005
Na Tabela 3 podemos observar as distribuições de freqüências absolutas e
relativasdascausasbásicasdeóbito,agrupadasporaparelhos,nasDOsemquepelo
menosumadascausascomalgumdoscódigosdoCICfoimencionadaemqualquer
linha.FoimencionadaalgumacausadoCICem327.423DOs.Osaparelhosselecionados
commaiorfreqüênciacomocausasbásicasforamocirculatório(69%)eorespiratório
(11%).
Tabela 3 Ocorrências e percentuais de causas básicas de óbito, agrupadas por aparelhos*, quando pelo menos uma causa do conjunto insuficiência cardíaca (CIC)** foi mencionada em qualquer linha da declaração de óbito, nos estados brasileiros do Rio de Janeiro, São Paulo e Rio Grande do Sul, de 1999 a 2005.Causas básicas de óbito, por aparelhos Ocorrências PercentualAparelhocirculatório(I) 225.611 68,91Aparelhorespiratório(J) 35.715 10,91Endócrinas,nutricionaisemetabólicas(E) 18.819 5,75Infecciosas(AeB) 13.185 4,03Neoplasias(CeD) 11.889 3,63Aparelhodigestivo(K) 7.689 2,35Aparelhogeniturinário(N) 6.315 1,93Gravidez,perinataleanomaliascongênitas(O,PeQ) 3.412 1,04Sistemanervosoecabeça(F,GeH) 2.349 0,72Causasexternas(V,W,XeY) 1.099 0,34Sistemaosteomuscularecutâneo(LeM) 971 0,30Maldefinidas(R) 369 0,11Total 327.423 100,00*GrupamentosdeacordocomoscódigosalfanuméricosdaCID-10.**Oconjuntoinsuficiênciacardíaca(CIC)écompostopelosseguintescódigosdaCID-10:I50.0(insuficiênciacardíacacongestiva),I50.1(insuficiênciaventricularesquerda),I50.9(insuficiênciacardíacanãoespecificada),I11.0(doençacardíacahipertensivacominsuficiênciacardíacacongestiva),I13.0(doençacardíacaerenalhipertensivacominsuficiênciacardíacacongestiva),I13.2(doençacardíacaerenalhipertensivacominsuficiênciacardíacacongestivaeinsuficiênciarenal),P29.0(insuficiênciacardíacaneonatal),I09.9 (doençacardíacareumáticanãoespecificada), I97.1 (outrosdistúrbiosfuncionaissubseqüentesàcirurgiacardíaca), I25.5(miocardiopatiaisquêmica),I31.1(pericarditeconstritivacrônica),I42.0(cardiomiopatiadilatada),I42.6(cardiomiopatiaalcoólica),B57.0(formaagudadadoençadeChagas,comcomprometimentocardíaco)eB57.2(doençadeChagascrônica,comcomprometimentocardíaco)
Na Tabela 4 podemos observar as distribuições de freqüências absolutas e
relativas das causas básicas de óbito, agrupadas por condições específicas mais
relevantes,nasDOsemquepelomenosumadascausasdoCICfoimencionadaem
qualquerlinha.
AsassociaçõesdeocorrênciasespecíficasmaiscomunsforamoscódigosdeIC
(sóI50)(23%),acardiomiopatiadilatada(10%),doençasisquêmicasagudasdocoração
edoençahipertensiva(ambascom9%)edoençasisquêmicascrônicasdocoração(8%).
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Mortalidade por Insuficiência Cardíaca no Brasil de 1999 a 2005
Adoençapulmonarobstrutivacrônica(DPOC)contribuiucom6%.
Tabela 4 Ocorrências e percentuais de causas básicas de óbito, agrupadas por condições específicas*, quando pelo menos uma causa do conjunto insuficiência cardíaca (CIC)** foi mencionada em qualquer linha da declaração de óbito, nos estados brasileiros do Rio de Janeiro, São Paulo e Rio Grande do Sul, de 1999 a 2005.Causas básicas de óbito, por condições específicas Ocorrências PercentualInsuficiênciacardíaca(I50) 76.167 23,26Cardiomiopatiadilatada(I42) 32.658 9,97Doençashipertensivas(I10-15) 30.311 9,25Doençasisquêmicasagudasdocoração(I20-24) 29.520 9,01Doençasisquêmicascrônicasdocoração(I25) 26.644 8,13DPOC,enfisemaouasma(J43-46) 18.247 5,57Diabetesmellitus(E10-14) 15.994 4,88Pneumonia(J12-18) 11.004 3,36Doençascerebrovasculares(I60-69) 10.640 3,24DoençadeChagas(B57) 9.402 2,87Emboliaeoutrascardíacaspulmonares(I26-28) 2.149 0,65Insuficiênciarespiratória(J96) 1.842 0,56Septicemia(A41) 1.591 0,48Aterosclerose(I70) 1.580 0,48Edemapulmonar(J81) 542 0,16Paradacardíaca(I46) 404 0,12Senilidade(R54) 333 0,10Paradarespiratória(R092) 19 <0,01Outras 58.376 17,83Total 327.423 100,00*GrupamentosdeacordocomostrêsprimeirosdígitosdaCID-10.**VerTabela3.
No conjunto total dos atestados do período, o número médio de causas
mencionadasfoi2,99.NasDOsemquehouvemençãoapelomenosumadascausas
doCIC,essamédiafoi3,65,enquantonasDOsemqueocódigoI50foiselecionado
comocausabásicaamesmamédiafoi2,88.
Discussão
A utilização isolada das estatísticas de causa básica de morte é de grande
importâncianasanálisesdemortalidade, e temservidoparadefinir aspolíticasde
saúdeeodirecionamentodosfomentos,porémpodeapresentarlimitaçõesseverasno
quedizrespeitoàavaliaçãodaimportânciadaICcomocausadeóbito.
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Mortalidade por Insuficiência Cardíaca no Brasil de 1999 a 2005
Forammencionadas,nototal,218.807causasnasDOse,destas,ocódigoI50
foi registrado emapenas 75.674,porém, ao seremaplicadas as regras estabelecidas
pelaCID-10,estecódigofoiselecionadocomocausabásicademorteem76.167DOs.
Observou-sequeem493DOs,ocódigoI50foiselecionadocomocausabásica,porém
nãofoimencionadoemqualquerlinha(0,6%dototal).Analisandoapenasascausas
mencionadasnessasDOs,encontramoselevadafreqüênciadacombinaçãodoscódigos
I51.9(doençanãoespecificadadocoração)eJ81(edemapulmonar,nãoespecificadode
outraforma),que,associados,resultamnaseleçãodeI50comocausabásica,deacordo
comasregrasdecodificaçãodaCID-10.
Aperdaeaimprecisãodeinformaçõesnasestatísticasdemortalidadepodem
serdevidastantoànegligêncianopreenchimentocompletodaslinhasdasDOsquanto
àutilizaçãoapenasdacausabásicaparadeterminaçãodaimportânciadaIC.Aodeixar
deconsiderarasdemaiscausasmencionadas,easassociaçõesentreessas,noprocesso
queculminacomamorte,aperdadeinformaçõeséaindamaiorquandosepretende
avaliaropapeldascondiçõescrônicasnamortalidade.
AICéacondiçãopatológicacomumàevoluçãodamaioriadascardiopatias,
sendomaisprevalentenapopulaçãoidosa,naqualaocorrênciademúltiplasafecçõesé
freqüente,podendoamorteserdeterminadapormaisdeumacausa.Nessecontexto,a
análisedamortalidadecomautilizaçãodametodologiadecausasmúltiplasdemorte
revela-semais adequada, retratandomelhor o perfil damortalidade ao aproveitar
todasascausasdemortemencionadasnaDO,epossibilitandooestudodaassociação
decausas4,6.
NaanálisedamortalidadeporICdeve-seressaltarqueaseleçãoampliadados
códigosdaCID-10,utilizando-seoCIC,comoelaboradonesteestudo,poderefletirsua
ocorrênciacommaiorpropriedade.AICestápresenteemdiversoscódigosdaCID-10,
alémdoscódigosI50.Ainsuficiênciacardíaca,assimredefinida,podeserotítulodo
código,constardotítuloouestarreferidanadescriçãodealgunscódigos.Alémdisso,
podemosconsiderá-laquandoascondiçõesmencionadaspodemternasuaevolução
sinais e sintomas de IC10. Essa seleção também deve considerar particularidades
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Mortalidade por Insuficiência Cardíaca no Brasil de 1999 a 2005
regionais,enoBrasilnãopodemdeixardeserincluídososcódigosemquehámenção
deICreferentesàdoençadeChagaseàfebrereumática.
AobservaçãomaisatentadasTabelas3e4revelaque,mesmoquandoalguma
causadoCICfoimencionadaemqualquerlinhadaDO,nenhumadascausasdesse
conjuntofoiselecionadacomocausabásicademorteemaproximadamente40%das
DOs,eacadaquatroDOsemqueencontramosalgumacausadoCICemqualquer
linha, o código I50 não foi selecionado em três. Podemos constatar, ainda, que as
associaçõesencontradasestãodeacordocomahistórianaturaldaIC,sendoasdoenças
doaparelhocirculatórioasmaiscomuns,seguidasdasdoençasdoaparelhorespiratório
e,emmenornúmero,dasdoençasendócrinas,nutricionaisemetabólicas.
AscausasespecíficasmaisassociadascomaICforam,emordemdefreqüência,
asdoenças isquêmicasdocoração,agudasecrônicas,acardiopatiahipertensiva,as
doençascrônicasdoparênquimapulmonareodiabetesmellitus.
Aconsideração isoladadacausabásicademortesubestimamarcadamentea
mortalidadeporafecçõescrônicas,comoéocasodaIC.Aavaliaçãodascausasmúltiplas
demorteassociadaàscausasbásicasfornecedimensãomaisabrangenteparaoestudo
damortalidadeepermiteanalisaraassociaçãoentreosdeterminantesdamorte.
Essefatoserevestedamaiorimportânciaaolevarmosemcontaoenvelhecimento
dapopulaçãoeocrescimentodosníveisendêmicosdedoençascrônicas,oquevai
obrigaroredimensionamentodosistemadesaúde,inclusiveaformaçãomédicaeo
gerenciamentoderecursos15.
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Mortalidade por Insuficiência Cardíaca no Brasil de 1999 a 2005
Referências Bibliográficas
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Considerações Finais
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Atendênciadequedanastaxasdemortalidadeporinsuficiênciacardíaca(IC)
nosestadosdoRiodeJaneiro,SãoPauloeRioGrandedoSulnoperíodoestudado
correspondeaoobservadoporoutrosautoresqueutilizaramregistrosdeóbitosparasua
basededados,tantonoexterior1,2,3,4,5quantonoBrasil,ondeLatadoecols.observaram
omesmonapopulaçãoda regiãometropolitanadeSalvador,noperíodode1979a
1995,analisandoamortalidadeporICmedianteaseleçãodoscódigosI50.0, I50.1e
I50.9 como causa básicademorte6.Vários fatorespodem ter contribuídopara esse
fenômeno,porémomaisconsistenteéaquedadamortalidadepordoençaisquêmica
docoração(DIC)observadaemsérieshistóricascominíciomaisremoto,aindaque
osavançosrecentesnotratamentodahipertensãoarterial,dadoençaaterosclerótica
coronarianaeousomaisfreqüentedefármacosnotratamentodaICcontinuemaser
utilizadoscomohipótesesprincipaisparaexplicarareduçãodamortalidadeporessa
causa.
Ademonstraçãodissopodeserencontradaemdadospublicadosnaliteratura
internacional,quenosúltimosanosvemrelatandoquedaprogressivademortalidade
por doenças cardiovasculares7,8,9. No Brasil, os achados são semelhantes, com
demonstraçõesdetendênciadequedadamortalidade,porémcomparticularidades
regionais. Souza e cols., analisando o risco demorte por doenças circulatórias nas
regiõesNorte,Nordeste,Centro-Oeste,SudesteeSuldoBrasil,noperíodode1979
a1996,encontraramtendênciasdequedadessenasregiõesSul,SudesteeNorteem
todasasfaixasetárias,emambosossexos10.Mansurecols.,aoanalisaremosdadosde
mortalidadeem11capitaisdoBrasilde1980a1998,observaramtendênciadequedano
riscodemortepordoençascirculatórias,cerebrovasculareseisquêmicasdocoraçãoem
PortoAlegre,Curitiba,RiodeJaneiro,Cuiabá,Goiânia,BelémeManaus.11Nosestados
doRiodeJaneiro,SãoPauloeRioGrandedoSul,erespectivascapitais,Oliveiraecols.
encontraramdeclínionastaxasdemortalidade,compensadaseajustadas,pordoenças
doaparelhocirculatório,DICecerebrovasculares,noperíodode1980a199912.
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Considerações Finais
NoRiodeJaneiro,noperíodode1980a2006,observou-sequedadastaxasde
mortalidadepordoençascerebrovasculareseDIC.AquedadamortalidadeporDICfoi
maisrelevanteapartirde2000;aindaqueessatendênciasejamantida,aDICcontinuará
representandoacausamaisimportantedeóbitocardiovascularnoestado13.
Nopresenteestudo,pudemosobservarqueamorteporIC,entreosmaisjovens,
acomete commaior freqüência os homens do que asmulheres, com uma redução
gradativadarazãohomens/mulherescomoavançardaidade,provavelmentedevido
àmaiorexpectativadevidadasmulheres.AstaxasespecíficasdemortalidadeporIC
nãosãomaioresnasmulheresmaisvelhasemrelaçãoaoshomensdamesmafaixaetária
nãoporqueessasejaumadoençadamulheridosa,masporqueelasvivemmais.
O predomínio damortalidade porDIC na população do Rio de Janeiro em
relaçãoàspopulaçõesdeSãoPauloeRioGrandedoSul,dadojáconhecido,podeestar
relacionadocomasmaiorestaxasdemortalidadeporICnoRiodeJaneiro,especialmente
napopulaçãocommenosde40anosde idade, tantoentreoshomensquantoentre
asmulheres12.Essesachadospodemjustificaroqueencontramosaoobservarmosa
populaçãocommaisde80anosdeidade,paraaqualastaxasdemortalidadeporIC
noRiodeJaneiro,emambosossexos,forammenoresdoquenosoutrosdoisestados.
AmaiorocorrênciademorteporDICnoestadodoRiodeJaneiropoderiareduzira
possibilidadedeevoluçãoparaaICdeumaparceladapopulação.Algumasdiferenças
encontradasentreosestadostalvezpossamserexplicadaspelosdiferentesmodosde
preenchimentodadeclaraçãodeóbito(DO),porémésabidoqueexistemdiferenças
regionais.UmbomexemplodissoéonúmeromédiodecausasnotificadasporDOno
anode2003,que,noestadodoRiodeJaneiro,foide2,90;noRioGrandedoSul,de
2,91;eemSãoPaulo,de3,15.EmtodooBrasil,amédiafoide2,81,oqueindicasera
qualidadedoregistronessestrêsestadosmelhordoqueamédianacional14.
Asestatísticasdemortalidadetradicionalmentesãoapresentadasprivilegiando-
seapenasa causabásica.Essa é conceituada comoa“causaou lesãoque inicioua
cadeia de acontecimentos patológicos que conduziram diretamente à morte, ou
as circunstânciasdoacidenteouviolênciaqueproduzirama lesão fatal”15.A causa
��
Considerações Finais
básicaéselecionadacombasenoscódigosdedoençasmencionadosnaDO,mediante
aaplicaçãodasregrasdecodificaçãodefinidaspeladécimarevisãodaClassificação
InternacionaldeDoençaseProblemasRelacionadosàSaúde(CID-10),oquelevaaque
algumas“afecçõesespecíficaspossamterpreferênciacomocausabásicaemrelaçãoa
agravosgeneralizados”15.
AdimensãodaparticipaçãodaICcomocausadiretaoupartícipedoprocessoque
culminanamorteésubestimadaaoseressaquantificadaapenasquandoéselecionada
como causa básicademorte, de acordo comas regras estabelecidas naCID-10.Os
achados do presente estudo revelam que a IC definida apenas pelos códigos I50.0
(insuficiênciacardíacacongestiva),I50.1(insuficiênciaventricularesquerda)ouI50.9
(insuficiênciacardíacanão-especificada)foiselecionadacomocausabásicademorte
somenteumavezacadatrêsemquefoimencionadaemqualquerlinhadasDOs.
As regras de modificação permitem que uma afecção que não tenha sido
notificadanaDOpossaserselecionadacomocausabásica,oquepodetrazerinformação
imprecisasobreaocorrênciarealdessaafecção.Comoexemplo,senaprimeiralinha
doatestadofoinotificadoedemapulmonar(códigoJ81)enasegundalinhadoença
inespecíficadocoração(I51.9)seráselecionadacomocausabásica,deacordocomas
regrasdecodificaçãoemodificação,a insuficiênciaventricularesquerda(I50.1).Por
outro lado, se tiverem sido notificadas, independentemente da ordem, pneumonia
inespecífica (J18.9), insuficiênciacardíacacongestiva (I50.0)ediabetesmellitusnão-
insulino-dependente(E11.7),essaúltimaseráselecionadocomocausabásica.Ocorreto
preenchimentodaDO,incluindooscamposrelativosaostemposdeocorrênciadecada
afecção,éimprescindívelparaaseleçãodacausabásicademortesegundoasregrasda
CID-10,quevisamidentificaradoençaouacondiçãoqueinicioutodooprocessoque
culminounamorte.Portanto,alémdasregrasdecodificaçãoemodificação,omodode
preenchimentodaDOteráconseqüênciadiretanaseleçãodacausabásicademorte.
Outroexemplomarcantedalimitaçãodousoapenasdacausabásicademorte
éodasdoençashipertensivas,asquais,noanode2003paraoestadodeSãoPaulo,
foram a oitava condição selecionada commaior frequência como causa básica de
��
Considerações Finais
morteea segundacondição commaismençõesnasDOs,masemapenas22%dos
casosfoiselecionadacomocausabásica.14Nessemesmoestudo,aICfoianonacausa
maisselecionadaentreascausasbásicasdemorteea sétimamaismencionadanas
DOs;porém,do totaldasdeclaraçõesemque foi citada, emapenas31%dasvezes
foi selecionada como causa básica, o que é concordante comosdadosdopresente
estudo.
Emdecorrênciadessesachados,edequeemidadesavançadasaocorrênciade
múltiplasafecçõesécomum,podendoamorteserdeterminadapormúltiplascausas,
têmsidoutilizadosmodelosdeanálisemultidimensionalnatentativadeestabelecer
associaçõesentrecausasdemorte16.
Ousodecausasmúltiplasdemorteparaavaliaçãodedeterminantespatológicos
causadoresdamortevemsendorecomendado17,18.Oestudodascausasmúltiplasde
mortepodeserrealizadopelaanálisedetodasascausasnotificadasesuasassociações,
oquepodeserfacilitadopelodesenvolvimentodeprogramasdeinformáticaparauso
emmicrocomputador19.
Ousodeestatísticasdemortalidadebaseadasapenasnacausabásicademorte
ainda é o balizadordeprojetos e financiamentospara a áreade saúdepública.As
decisõesdaspolíticaspúblicasde saúdepara algumasdoençaspodemestar sendo
tomadasembasesincompletas,dadoquemuitasdelastêmseuimpactonamortalidade
dapopulaçãosubestimado.
Nossoestudoapresentaalgumaslimitações.Aprimeiragrandelimitaçãopassa
pelocorretodiagnósticodaIC.AICéumasíndromeclínicacomplexadecarátersistêmico,
definida comodisfunção cardíaca que ocasiona inadequado suprimento sanguíneo
paraatenderàsnecessidadesmetabólicasdostecidos.AICpodeserclassificadacom
basenaintensidadedossintomas,indodesdeaausênciadesses(classeI)atésintomas
emrepouso(classeIV);podeserclassificada,ainda,combasenaprogressãodadoença,
subdivididaporestágios.OestágioAincluipacientesportadoresdefatoresderisco
paraodesenvolvimentodeIC,porémsemdoençaestruturalperceptívelousintomas
atribuíveisà IC;noestágioB jápodemserdetectadas lesõesestruturais,masainda
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Considerações Finais
nãohárelatodesintomas;noestágioCospacientesjáapresentamlesõesestruturaise
sintomasdeIC;eoestágioDincluipacientescomsintomasrefratáriosaotratamento
convencional, e que requerem intervenções especializadasou cuidadospaliativos20.
O diagnóstico da IC pode se basear somente em dados de anamnese e no exame
físico ou, ainda, contar como auxíliodemétodosdiagnósticos complementaresde
imagem,comoaradiografiadotóraxeoecocardiograma.Maisrecentementetem-se
preconizadoousodemétodosbioquímicos,comoadosagemdopeptídionatriurético
dotipoB,quetemdemonstradoboacorrelaçãocomagravidadedaIC,tendotambém
valorprognóstico independenteparamortalidade total,mortalidadecardiovascular
ehospitalização21.Aausênciadecritériosdiagnósticosbemdefinidos,oestágiodaIC
emqueseencontravaopaciente,apossibilidadedousodemétodoscomplementares
e o conhecimentomédico especializadodo examinador –no casodeste estudo,do
médicoquepreencheaDO–sãofundamentaisparaaprecisãododiagnóstico.
A seleção dos códigos da CID-10 que representem com fidedignidade a
ocorrênciadeICnãoétarefadasmaisfáceis.Osestudosqueobjetivaramaanáliseda
ICnasmençõesdamesmaemqualquerlinhadoatestadodeóbitoemesmoaqueles
queaanalisaramcomocausabásicautilizaramcódigosdiferentesdaCID-9ouda
CID-10,oque,alémdenãodefinirumpadrão,nãopermitecomparaçõesmaisprecisas
dosachados2,3,5.
Outra limitação é a de que nossos resultados são dependentes do correto
preenchimento da DO e da posterior codificação do que foi notificado. As linhas
daDOsãopreenchidascomdiagnósticosporextenso,registradosdeacordocomo
entendimentodomédicoqueatestaoóbito,osquaisnemsemprecorrespondemaos
títulos e subtítulos encontrados naCID-10.Os códigos daCID são posteriormente
preenchidos por um codificador, que tenta estabelecer a correspondência do que
foinotificadonaDOcomalistadedoençasdaCID-10.Alémdisso,nasnormasdo
MinistériodaSaúdehárecomendaçõesexpressasparaquenãosejamincluídossintomas
oucausasterminais,comoainsuficiênciacardíacaouinsuficiênciarespiratória22.As
possibilidades de erro não são poucas nesse processo. Felizmente, a qualidade do
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Considerações Finais
preenchimento da DO vemmelhorando no Brasil com as evidências de queda da
notificaçãodemorteporcausasmaldefinidaseoaumentodonúmerodeafecções
anotadasporatestado23.
NaanálisedamortalidadeporIC,deve-seressaltarqueaseleçãoampliadados
códigosdaCID-10,comoelaboradanesteestudo,poderefletirsuaocorrênciacommaior
propriedade.AICestápresenteemdiversoscódigosdaCID-10,alémdoscódigosI50.
Ainsuficiênciacardíaca,assimredefinida,podeserotítulodocódigo,constardotítulo
ouestarreferidanadescriçãodealgunscódigos.Alémdisso,podemosconsiderá-la
quandoascondiçõesmencionadaspodemternasuaevoluçãosinaisesintomasde
IC.Essaseleçãotambémdeveconsiderarparticularidadesregionais,enoBrasilnão
podemdeixardeserincluídososcódigosemquehámençãodeICreferentesàdoença
deChagaseàfebrereumática.
A seleção dos códigos da CID para o diagnóstico da IC a fim de se avaliar
corretamentesuaocorrêncianecessitadedefiniçãomaisprecisa.Apadronizaçãodesse
grupodecódigosdaICdaCID-10,consideradasasparticularidadesregionaisquantoà
prevalênciadedeterminadasdoenças,possibilita,alémdeoutrascoisas,acomparação
dasdiversasfontesdedados.Portanto,énecessárioqueapróximarevisãodoCódigo
InternacionaldeDoençasamplieonúmeroderubricaseseuscódigoscorrespondentes,
afimdepermitirmaiorprecisãonoestabelecimentodascausasdeóbito.
O estudoda insuficiência cardíacapelouso, recomendadopelaOrganização
MundialdeSaúde(OMS),da“causabásicademorte”isoladasubestimaadimensão
de sua ocorrência.A IC é uma afecçãode elevadaprevalência na população idosa
ondemaisdeumestadopatológicopodeconcorrerparaamorte.Éimperativoque
metodologias objetivando a avaliação adequada causas múltiplas de morte sejam
implementadas,omaisbrevepossível,paraoestudodasafecçõesquetêmocorrência
principalmentenosidosos.
NoestadodoRiodeJaneiro,ocorreram,de1999a2004,689.383óbitos.Desses,
18,2%foramporcausascardíacase7,09foramporIC,comoscódigosI50mencionados
emqualquerlinhadaDO,oquesignificaque,em39%dosóbitosporcausascardíacas,
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Considerações Finais
houveparticipaçãodaIC,fraçãoquepoderácrescer,mesmoqueatendênciadequeda
das taxasdemortalidadepordoenças cardíacas, emespecial aDIC, se confirmem,
vistoqueasmortesporessegrupodecausasdevemocorrerempacientesmaisvelhos,
deacordocomasestimativasdeaumentodaexpectativadevidadapopulação24.
Ainsuficiênciacardíacaéumacondiçãoquerequermaioratençãodasautoridades
desaúde,especialmentelevando-seemcontaoenvelhecimentodapopulação,euma
corretacompreensãodesuaocorrênciaéfundamentalparaasdecisõesdemedidasde
saúdepública.
Conclusões
1 - A tendência de queda de mortalidade encontrada em nosso estudo é
concordantecomdadosnacionaiseinternacionaisepodeestarrelacionadacomajá
reportadatendênciadequedadamortalidadepordoençascardiovasculares.
2 -Amortalidadepor ICnoRiode Janeiro émaiordoque emSãoPaulo e
noRioGrandedoSul,principalmenteentreosmaisjovens,provavelmentepelaalta
ocorrênciadasDICs.
3-AocompararmosaocorrênciadaICapenascomocausabásicademorte,com
suamençãoemqualquerlinhadaDO,observamosumarazãode3:1afavordoúltimo
modo;quandoampliamosaseleçãodecódigosrepresentativosde IC,encontramos
umacréscimode20%demortes.AanálisedamortalidadeporICdemodoampliado
poderefletirmelhoraabrangênciadaocorrência.
4 -As doenças do aparelho circulatório foram as que mais freqüentemente
seassociaramcomaIC,seguidasdasdoençasdoaparelhorespiratório,endócrinas,
nutricionais e metabólicas. Dentre as causas específicas, as mais freqüentemente
associadascoma IC foramasdoenças isquêmicasdocoração,agudase crônicas, a
cardiopatiahipertensiva,asdoençascrônicasdoparênquimapulmonareodiabetes
mellitus.
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Considerações Finais
Referências Bibliográficas
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Considerações Finais
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Anexos
Anexo 2
Publicações e Temas livres
Publicações
Mortalidade por Insuficiência Cardíaca como Causa Básica ou Contribuinte de
Óbito em Três Estados Brasileiros, de 1999 a 2004.RevSOCERJ.2008;21(3):129-137
Este trabalho recebeu o 1º lugar na categoria “ Melhor Trabalho Científico” no
25º Congresso da SOCERJ
Mortalidade por Insuficiência Cardíaca: Análise Ampliada e Tendência Temporal
em Três Estados do Brasil.ArqBrasCardiol-noprelo.Artigorecebidoem24/12/08;
revisadorecebidoem11/08/09;aceitoem05/08/09.
Mortalidade por Insuficiência Cardíaca no Brasil de 1999 a 2005.
Artigosubmetidoem19/09/09àRevistaPanamericanadeSaludPública.Número
demanuscrito:2009-00511
Temas Livres
1. Temas livres apresentados no Congresso Mundial de Cardiologia, Buenos
Aires, Argentina, maio 2008.
1.1. Heart failure mortality in three Brazilian states from 1999 to2004: an analysis
of death certification. (publicadoonlineMaio17,2008DOI:10.1161/CIRCULATION
AHA.108.189875)
1.2. Heart failure mortality in three Brazilian states from 1999 to 2004: an analysis
its association with other conditions chosen as underlying cause of death.(publicado
onlineMaio17,2008DOI:10.1161/CIRCULATIONAHA.108.189875)
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Anexos
2. Temas livres apresentado no 25º Congresso de Cardiologia da SOCERJ
2.1 Mortalidade por insuficiência cardíaca nas declarações de óbitos de três
estados brasileiros de 1999 a 2004.RevSOCERJ.2008;21(suplA):36
2.2 Insuficiência cardíaca mencionada como causa de óbito no estado do Rio
de Janeiro de 1999 a 2004.RevSOCERJ.2008;21(suplA):37
3. Tema livre apresentado no 63º Congresso Brasileiro de Cardiologia
3.1 Mortalidade por insuficiência cardíaca nas declarações de óbitos de três
estados brasileiros.ArqBrasCardiol.2008;91(3-supl.1-errata1):1
4. Tema livre apresentado no 26º Congresso de Cardiologia da SOCERJ
4.1 A insuficiência cardíaca nos documentos de óbito e sua associação com
causas básicas selecionadas.RevSOCERJ.2009;21(suplA):35
5. Tema livre apresentado no 64º Congresso Brasileiro de Cardiologia
5.1 Insuficiência cardíaca como causa básica de morte e associação em três
estados brasileiros de 1999 a 2005. ArqBrasCardiol.2009;93(3-supl.1):62