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A INTERSETORIALIDADE NA GARANTIA DE DIREITOS DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA EM SITUAÇÃO DE RUA MODALIDADE: APRESENTAÇÃO ORAL EIXO TEMÁTICO: POLÍTICA SOCIAL, DESENVOLVIMENTO E PROTEÇÃO SOCIAL Ana Claudia Borba Pinho 1 Lucélia Tavares de Lacerda Neves 2 Wanessa Guimarães de Araújo Silva 3 Monica dos Santos Ferreira 4 RESUMO: O presente artigo realiza uma análise da intersetorialidade na garantia de direitos da pessoa com deficiência em situação de rua. Através da pesquisa analisamos a Intersetorialidade como um dos principais fatores para o bom funcionamento das políticas sociais públicas, conhecendo também o perfil da pessoa com deficiência em situação de rua atendida na Unidade de Reinserção Social de Realengo e as particularidades das ações desenvolvidas pelo Serviço Social nesta unidade. Palavras-chave: Política Social Pública. Pessoa com Deficiência. Intersetorialidade. Serviço Social. ABSTRACT: The Present article analysis intersectoriality on the guaranty of rights of the homeless people with disabilities. Through research we analyzed intersectoriality as one of the main factors for the good functioning of the social public policies, also knowing the profile of the homeless people with disabilities attended on Unidade de Reinserção Social of Realengo and the particularities of actions developed by the Social Work at this unit. Keywords: Social Public Policy. Person with disability. Intersetoriality. Social Work. 1 Assistente Social. Graduada do Curso de Serviço Social da Universidade Castelo Branco. 1.2010/2.2013. E-mail: [email protected]. 2 Assistente Social. Graduada do Curso de Serviço Social da Universidade Castelo Branco. 1.2010/2.2013. Bolsista Prouni (100%). Aluna do Programa de Pesquisa Institucional de Iniciação Científica & Tecnológica 2012/2013 (PIBIC&T-UCB). E-mail: [email protected]. 3 Assistente Social. Graduada do Curso de Serviço Social da Universidade Castelo Branco. 1.2010/2.2013. E-mail: [email protected]. 4 Assistente Social. Orientadora. Mestre em Serviço Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, Pós-Graduada em Metodologia do Serviço Social pela Universidade Federal Fluminense. Atualmente é docente do Curso de Serviço Social da Universidade Castelo Branco (UCB) e da UNIGRANRIO, experiência profissional na área de Educação, Assistência, Idoso, Criança e Adolescente. E-mail: [email protected].

A Intersetorialidade Na Garantia de Direitos Da Pessoa Com Deficiência Em Situação de Rua

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Page 1: A Intersetorialidade Na Garantia de Direitos Da Pessoa Com Deficiência Em Situação de Rua

A INTERSETORIALIDADE NA GARANTIA DE DIREITOS DA PESSOA COM

DEFICIÊNCIA EM SITUAÇÃO DE RUA

MODALIDADE: APRESENTAÇÃO ORAL

EIXO TEMÁTICO: POLÍTICA SOCIAL, DESENVOLVIMENTO E PROTEÇÃO

SOCIAL

Ana Claudia Borba Pinho1

Lucélia Tavares de Lacerda Neves2

Wanessa Guimarães de Araújo Silva3

Monica dos Santos Ferreira4

RESUMO: O presente artigo realiza uma análise da intersetorialidade na garantia de

direitos da pessoa com deficiência em situação de rua. Através da pesquisa analisamos a

Intersetorialidade como um dos principais fatores para o bom funcionamento das

políticas sociais públicas, conhecendo também o perfil da pessoa com deficiência em

situação de rua atendida na Unidade de Reinserção Social de Realengo e as

particularidades das ações desenvolvidas pelo Serviço Social nesta unidade.

Palavras-chave: Política Social Pública. Pessoa com Deficiência. Intersetorialidade.

Serviço Social.

ABSTRACT: The Present article analysis intersectoriality on the guaranty of rights of

the homeless people with disabilities. Through research we analyzed intersectoriality as

one of the main factors for the good functioning of the social public policies, also

knowing the profile of the homeless people with disabilities attended on Unidade de

Reinserção Social of Realengo and the particularities of actions developed by the Social

Work at this unit.

Keywords: Social Public Policy. Person with disability. Intersetoriality. Social Work.

1Assistente Social. Graduada do Curso de Serviço Social da Universidade Castelo Branco. 1.2010/2.2013. E-mail: [email protected]. 2Assistente Social. Graduada do Curso de Serviço Social da Universidade Castelo Branco. 1.2010/2.2013.

Bolsista Prouni (100%). Aluna do Programa de Pesquisa Institucional de Iniciação Científica &

Tecnológica 2012/2013 (PIBIC&T-UCB). E-mail: [email protected]. 3Assistente Social. Graduada do Curso de Serviço Social da Universidade Castelo Branco. 1.2010/2.2013.

E-mail: [email protected]. 4Assistente Social. Orientadora. Mestre em Serviço Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro,

Pós-Graduada em Metodologia do Serviço Social pela Universidade Federal Fluminense. Atualmente é

docente do Curso de Serviço Social da Universidade Castelo Branco (UCB) e da UNIGRANRIO,

experiência profissional na área de Educação, Assistência, Idoso, Criança e Adolescente. E-mail:

[email protected].

Page 2: A Intersetorialidade Na Garantia de Direitos Da Pessoa Com Deficiência Em Situação de Rua

1

Introdução

A escolha deste objeto de estudo visa analisar a intersetorialidade na garantia de

direitos da pessoa com deficiência em situação de rua e identificar os entraves da

intersetorialidade na Política de Assistência Social junto à pessoa com deficiência em

situação de rua atendida na Unidade de Reinserção Social (URS) de Realengo5.

A URS destina-se ao atendimento de homens de 18 a 59 anos de idade, em

situação de rua e vulnerabilidade social, tendo a meta de atendimento a 88 homens.

Observa-se que, em sua grande maioria, foram acolhidos em virtude de vínculos

familiares e afetivos instáveis ou rompidos, dependência química e/ou desemprego.

A Instituição está diretamente ligada à Política Setorial de Assistência Social,

estando inserida no Sistema Único de Assistência Social (SUAS), na proteção social

especial. Em função da demanda, observa-se que se encontram acolhidos homens

independentes, semi-dependentes e dependentes para atividades de vida diária com

significativa presença de doenças neurológicas, deficiências mentais, deficiências

físicas, transtornos mentais e dependência química.

Entende-se por pessoa com deficiência6 aquela que, por características físicas,

mentais ou sociais, geralmente precisa de atendimento especializado, seja para fins

terapêuticos, como fisioterapia ou estimulação motora, seja para que possa aprender a

lidar com a deficiência e a desenvolver ao máximo o seu potencial. A Política Nacional

para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência (PNIPPD) reúne um conjunto de

normas que objetivam resguardar direitos individuais e sociais de pessoas com

deficiência (Art.1º, PNIPPD, 1989).

Na instituição há articulação e encaminhamentos com os órgãos respectivos para

buscas e resgate de documento dos usuários: cartório, DETRAN, Fundação Leão XIII,

5 Este artigo foi embasado no Trabalho de Conclusão de Curso: “A Importância da Atuação Articulada

das Políticas Sociais Setoriais para o Serviço Social Junto à Pessoa com Deficiência na Unidade de

Reinserção Social (URS) de Realengo”, apresentado à Universidade Castelo Branco, no Curso de Serviço Social em dezembro de 2013, para obtenção do grau de assistente social, orientado pela professora

Mônica dos Santos Ferreira. 6 Deficiência é o termo usado para definir a ausência ou a disfunção de uma estrutura psíquica, fisiológica

ou anatômica. Diz respeito à biologia da pessoa. Este conceito foi definido pela Organização Mundial de

Saúde. Deficiência: perda ou anormalidade de estrutura ou função psicológica, fisiológica ou anatômica,

temporária ou permanente. Incluem-se nessas a ocorrência de uma anomalia, defeito ou perda de um

membro, órgão, tecido ou qualquer outra estrutura do corpo, inclusive das funções mentais. Representa a

exteriorização de um estado patológico, refletindo um distúrbio orgânico. (Relatório Mundial sobre a

Deficiência / World Health Organization, The World Bank; tradução Lexicus Serviços. São Paulo:

SEDPcD, 2012. Disponível em:

<http://www.scielo.br/pdf/rsp/v34n1/1388.pdf>. Acesso em: 26 nov. 2012)

Page 3: A Intersetorialidade Na Garantia de Direitos Da Pessoa Com Deficiência Em Situação de Rua

2

Receita Federal, Tribunal Regional Eleitoral, Junta Militar, Ministério do Trabalho,

além da articulação com empresas e cursos profissionalizantes. Esta também se dá na

área da Saúde, com encaminhamentos às unidades de saúde para acompanhamento dos

usuários na área de abrangência e fora da área (dos usuários que já vieram com

acompanhamentos anteriores). Articulação com o A.A. e N.A7. Finalmente, há

articulação para reabilitação com fisioterapia de usuários no Serviço de Assistência

Social Evangélica (Hospital SASE Realengo).

As indagações quanto à falta de articulação entre as Políticas Sociais Setoriais

das quais observamos são fatores que nos impulsionam a buscar por respostas às

questões tão relevantes tanto para nós, quanto para os sujeitos que necessitem de

serviços sócio-assistenciais. Dentre as problemáticas podemos destacar:

ABRANGÊNCIA: Referência territorializada da procedência dos usuários e

do alcance do serviço.

ARTICULAÇÃO EM REDE: Sinaliza a completude da atenção

hierarquizada em serviços de vigilância social, defesa de direitos e proteção

básica e especial de assistência social e dos serviços de outras políticas

públicas e de organizações privadas. Indica a conexão de cada serviço com

outros serviços, programas, projetos e organizações dos Poderes Executivo e

Judiciário e organizações não governamentais. (BRASIL, Tipificação

Nacional de Serviços Sócioassistenciais, p.5. Resolução nº 109, 2009).

Apesar de ter havido avanços societários significativos no decorrer da história

brasileira – especialmente com a consolidação destes na Constituição Federal de 1988,

avançando na democratização dos direitos, ainda há muito que percorrer no combate à

desburocratização e descentralização do Estado. Sabe-se a importância da articulação

das Políticas Sociais Públicas para uma efetividade e eficácia na garantia e cumprimento

dos direitos de cidadania. As Políticas Sociais foram criadas para uma execução em

conjunto e parceria, processo que vem estabelecer uma rede de proteção e promoção

social amparada por lei como: Lei Orgânica de Assistência Social8 (LOAS, 1993), que

dispõe sobre a organização da Assistência Social e dá outras providências, a Política

Nacional de Assistência Social9 (PNAS, 2004) e o Sistema Único de Assistência Social

(SUAS, 2005).

7 Alcoólicos Anônimos e Narcóticos Anônimos 8 Lei nº 8.742, de 07 de dezembro de 1993. 9 “RESOLUÇÃO Nº 145, DE 15 DE OUTUBRO DE 2004 (DOU 28/10/2004) O Conselho Nacional de

Assistência Social (CNAS), considerando a apresentação de proposta da Política Nacional de Assistência

Social (PNAS) pelo Ministério do Desenvolvimento Social e Combate a Fome (MDS) em 23 de junho,

[...] da Lei 8.742 de 7 de dezembro de 1993...” (BRASIL, PNAS, 2004).

Page 4: A Intersetorialidade Na Garantia de Direitos Da Pessoa Com Deficiência Em Situação de Rua

3

É no percurso das mudanças da forma e do conteúdo das políticas públicas que

podemos encontrar pistas ao mapeamento da construção efetiva da cidadania. Isso

ocorre porque a mudança e ampliação/diminuição das políticas públicas está

diretamente associada à mudança e ampliação/diminuição do próprio conceito de

cidadania.

Procedimentos Metodológicos

A pesquisa proposta foi fundamentada em autores que discutem sobre as

Políticas Sociais Públicas, Intersetorialidade, Pessoa com Deficiência e o Serviço

Social. A abordagem será quali-quantitativa, da qual se obteve os dados objetivos

quanto subjetivos e a identificação a realidade vivida pelos sujeitos participativos da

URS.

No universo de quatro assistentes sociais a amostra da pesquisa foi de 50% mais

um, constituída por três assistentes sociais da Unidade de Reinserção Social de

Realengo. Realizou-se também uma análise documental que possibilitou a identificação

do perfil dos residentes com deficiência da URS. Esta análise abrangeu todos os

documentos dos deficientes inseridos na unidade, perfazendo um total de dezessete.

Os instrumentos utilizados para a coleta de dados necessários à realização desta

pesquisa constituíram-se em observação participante; análise documental das fichas dos

usuários e entrevistas de natureza semidiretiva, possibilitando ao entrevistado responder

as perguntas de forma direta, devido à delimitação do tema, sem, no entanto, deixar de

respondê-las voluntariamente (TRIVINOS, 1987).

Análise de conteúdo

Através deste estudo buscou-se verificar quais são os elementos que têm

dificultado a intersetorialidade, identificando os limites e possibilidades desta como

parte integrante do cotidiano das assistentes sociais na URS. Para tanto elegemos os

seguintes eixos que traduzem os objetivos da investigação:

O primeiro eixo: “Políticas Sociais Públicas” foi embasado em BEHRING e

BOSCHETTI (2011) e IAMAMOTO (2011). Estes autores apresentam e discutem o

Page 5: A Intersetorialidade Na Garantia de Direitos Da Pessoa Com Deficiência Em Situação de Rua

4

surgimento das políticas sociais diante das transformações ocorridas na sociedade e as

expressões da questão social na contemporaneidade. Os referidos autores apontam que

as políticas sociais não erradicam as expressões da questão social, e que não se avança

em seu processo democrático, sendo somente compensatórias, que os recursos

priorizados para as políticas sociais são mínimos, mas o programa de enfrentamento

proposto tem em vista a emancipação dos sujeitos, mas acaba por subalternizá-lo, em

virtude de um Estado mínimo para a população.

A política social que emerge do capitalismo é contraditória, pois ao mesmo

tempo em que esta é utilizada como instrumento de cooptação e legitimação da ordem

capitalista, supre as necessidades (educação, saúde, segurança) que deveriam ser de

responsabilidade do Estado. A criação dos direitos sociais no Brasil resulta da luta de

classes e expressa uma correlação de forças predominante.

Essa força coercitiva e contraditória permeia até os dias atuais, culminada pela

Constituição Brasileira 198810

, na qual o modelo de Estado Social é uma forma

suavizada de Estado Liberal. É inegável o reconhecimento das muitas conquistas sociais

alcançadas com a constituição, porém, não tardou para o Estado mais uma vez encontrar

um meio de priorizar o capital em detrimento do social. É nesta conjuntura que o

assistente social recorre a meios que possam auxiliá-lo na garantia dos direitos dos

sujeitos, ao buscar, dentro de uma rede de serviços, suporte de outras políticas públicas

tais como saúde, educação e previdência para que estas possam abranger os usuários em

todas as suas necessidades, ou seja, através da intersetorialidade.

No segundo eixo “Intersetorialidade na Política de Assistência Social” foram

utilizados como referência CARVALHO (2010) e INOJOSA (1998) estes autores

descrevem a Intersetorialidade como a união de dois ou mais setores distintos de uma

ou mais instituições, e que a mesma é um dos principais fatores para o bom

funcionamento das Políticas Públicas. De acordo com INOJOSA (2001, p.4) “uma

articulação de saberes e experiências, no movimento do planejamento, da

implementação e da avaliação de políticas, cujo objetivo de tal articulação é alcançar

melhores níveis de desenvolvimento social”.

Fundamentamos também em RAICHELIS (2008), PEREIRA (2000), SPOSATI

(2004) e ALMEIDA e ALENCAR (2011) que discorrem sobre o modelo econômico

10 A Constituição Federal de 1988 abriu um leque de oportunidades para os direitos sociais, as quais

previam maior responsabilidade do Estado nas políticas sociais, universalização do acesso à benefícios e

serviços, ampliação do caráter distributivo da seguridade social e um dos princípios de maior destaque: a

provisão de mínimos sociais como direito de todos. (BEHRING, p.153)

Page 6: A Intersetorialidade Na Garantia de Direitos Da Pessoa Com Deficiência Em Situação de Rua

5

vigente que só se perpetuou devido à necessidade do Estado de fazer a manutenção da

força de trabalho, ao mesmo tempo em que davam respostas às questões postas pela

classe trabalhadora.

Se as políticas sociais, econômicas, de saúde, educação, habitação, trabalho,

previdência, renda entre outros, fossem efetivas, a Política de Assistência não existiria,

pois ela subsiste apenas com o propósito de prover uma clientela negligenciada; os

referidos autores apontam que com a redução de investimentos públicos nas áreas

sociais, ocorre a regulamentação do “terceiro setor, para a execução das Políticas

Públicas”, e que foi através do programa de publicização que o terceiro setor foi criado,

para atender a população pobre, sendo compreendido também como articulação entre

setor público e privado.

Intersetorialidade não é um dado preexistente ou fácil de tratar. Ao contrário,

fazer pacto com ela representa um trabalho árduo de construção política. Prefere-se a

intersetorialidade porque a lógica da gestão considera o cidadão, então busca superar a

fragmentação das políticas sociais, investe em como aprender a lidar com as tensões

produzidas, tendo que negociar uma resposta partilhada para os problemas que lhe são

comuns. De acordo com o Código de Ética (CRESS, 2008): Art. 5º São deveres do/a

assistente social nas suas relações com os/as usuários/as: g- contribuir para a criação de

mecanismos que venham desburocratizar a relação com os/as usuários/as, no sentido de

agilizar e melhorar os serviços prestados.

Por último, o terceiro eixo “O Serviço Social junto à Pessoa com Deficiência em

Situação de Rua” foi respaldado em CARVALHO (2010), ALMEIDA e ALENCAR

(2011) e BIDARRA (2009), que discutem sobre a implementação das Políticas Sociais

Públicas em nosso país e a insuficiência dos recursos públicos quando se trata da

intersetorialidade no que tange à capacidade das organizações de darem respostas às

demandas trazidas pela pessoa com deficiência em situação de rua.

No Brasil quando se discute intersetorialidade é quase inevitável adentrar o

campo da política social - que por sua vez busca suporte em ações integradas de

distintos setores, tanto no âmbito privado quanto público, para o atendimento à

população - sendo indispensável o atendimento das demandas enfrentadas pelos

profissionais de Serviço Social. A articulação entre as Políticas Sociais Setoriais são

fatores primordiais no atendimento às demandas apresentadas pelos sujeitos que

necessitem de serviços sócio-assistenciais.

Page 7: A Intersetorialidade Na Garantia de Direitos Da Pessoa Com Deficiência Em Situação de Rua

6

Porém, para seu funcionamento efetivo de qualidade é necessário que o

município tenha desenvolvimento local, com arrecadação de impostos próprios;

programa de apoio técnico ao município; Capacidade de gestão; recursos humanos

habilitados em nível local; planejamento participativo em nível local e participação

efetiva da população e do Governo Federal, Estadual e Municipal. Pensando nisso, em

2009 é criada a Política Nacional da População em Situação de Rua, cujos objetivos,

segundo o artigo sétimo são:

I - assegurar o acesso amplo, simplificado e seguro aos serviços e programas

que integram as políticas públicas de saúde, educação, previdência,

assistência social, moradia, segurança, cultura, esporte, lazer, trabalho e

renda;

II - garantir a formação e capacitação permanente de profissionais e gestores

para atuação no desenvolvimento de políticas públicas intersetoriais,

transversais e intergovernamentais direcionadas às pessoas em situação de

rua; [...]

IV - produzir, sistematizar e disseminar dados e indicadores sociais,

econômicos e culturais sobre a rede existente de cobertura de serviços públicos à população em situação de rua [...]. (PNPSR, não paginado)

Apesar disso convive-se com a contradição entre focalização e seletividade das

políticas públicas, enquanto a intersetorialidade propõe um modelo de proteção social

com caráter abrangente e democrático, que possibilita consolidar a garantia dos direitos

através de ações em conjunto com redes.

As políticas sociais setoriais se deparam com a dificuldade em se articular com

os distintos setores da profissão, pois muitas das vezes, não há essa comunicação, seja

pela distância física, falta de recursos de outras instituições, a incapacidade destas em

lidar com as demandas apresentadas ou mesmo a falta deste serviço. Há o descaso para

com a referida população, através de preconceito, no atendimento desta por outras

instituições, tanto em espaços da esfera pública quanto privada.

Nesse contexto os maiores desafios postos ao Serviço Social são a luta pela

dignidade e emancipação da população em situação de rua com deficiência - visto que

abarca dois diferentes fatores concomitantemente complexos em suas particularidades -

além da ampliação da autonomia através de um processo democrático. Para que isso

ocorra é necessário que sejam defendidas as conquistas obtidas através da Constituição

de 1988 e assegurar a garantia e a permanência do acesso às políticas públicas de caráter

universalizante.

Este eixo também foi fundamentado em SIMÕES (2011), que destaca os marcos

legais no campo da Política Social, como a CF/88, a LOAS (1993), PNAS (2004),

Page 8: A Intersetorialidade Na Garantia de Direitos Da Pessoa Com Deficiência Em Situação de Rua

7

SUAS (2005), entre outras que defendem os direitos dos cidadãos, bem como a Lei de

Regulamentação da Profissão – nº 8.662/1993 e o Código de Ética de 1993, que

definem um conjunto de atribuições e competências do assistente social e são

instrumentos jurídicos de ação, fundamentando o trabalho profissional em seu projeto

ético-político, contribuindo para a composição da identidade profissional e permitindo

ao sujeito atendido o conhecimento e a viabilização dos seus direitos.

Discussão de Resultados

Conforme Behring e Boschetti (2011) a Política Pública surgiu para garantir a

universalização dos direitos e da cidadania, a fim de fornecer respostas imediatas às

demandas sociais devido à crise que atravessava a sociedade capitalista do século XX.

Esta tinha por finalidade “reduzir a desigualdade social”, mas era concomitantemente

contrária, ao confinar o indivíduo na miséria, oferecendo o mínimo para sua

subsistência.

Laurel (1995) aponta que o avanço do capitalismo também fomenta as lutas pela

garantia da satisfação das necessidades sociais: alimentação, habitação, saúde e a

educação; dessa forma a “questão social” transforma-se em fato político (1995, p. 153).

O Estado agrega três direitos: Político, Civil e Social, sendo este um dos últimos a

serem adquiridos. Desta forma a Assistência Social é colocada no mesmo nível da

Saúde e da Previdência Social, constituindo assim o tripé da seguridade social. “[...]

trata-se de um processo que implica não só gestão e aplicação de programas, serviços e

recursos, mas tendo como principal compromisso a melhor satisfação possível das

necessidades sociais”. (PEREIRA, 2002, p.4).

No entanto, Behring e Boschetti (2011) destacam que a Política Pública não

erradica as expressões da questão social, com ela não se avança em seu processo

democrático, é somente compensatório; isto se deve a ingerência do Estado, que em

nome das liberdades privadas, atende aos interesses daqueles que detêm o poder. As

Políticas Sociais nascem e se articulam dentro das reformas liberais e tem por função

compensar parcial e muito limitadamente os estragos socioeconômicos.

O que vivemos hoje é o reflexo de um problema mundial, que afetou a economia

de diversos países, causando o desemprego – tanto estrutural, quanto conjuntural –

tornando a população cada vez mais pauperizada (LAURELL, 1995); com isso houve o

Page 9: A Intersetorialidade Na Garantia de Direitos Da Pessoa Com Deficiência Em Situação de Rua

8

recrudescimento das expressões da questão social, contribuindo ainda mais para

deteriorar as condições de vida da população, ocasionando o empobrecimento

generalizado e a incorporação de novos grupos sociais à condição de pobreza ou

extrema pobreza.

O maior problema apontado para a conquista da universalidade das Políticas de

Seguridade Social é a escassez de recursos (BEHRRING e BOSCHETTI, 2011). As

políticas sociais são resultados das relações complexas e contraditórias que se

estabelecem entre Estado e sociedade civil, no âmbito dos conflitos e luta de classes que

envolvem o processo de produção e reprodução do capitalismo11

.

O Estado limita-se a discutir sua eficiência e eficácia na “resolução de

problemas sociais”, sem questionar sua (im)possiblidade de assegurar justiça social e

equidade no capitalismo. De acordo com Iamamoto “O capital internacionalizado

produz a concentração da riqueza para poucos e a polarização da pobreza e da miséria,

potencializando exponencialmente a lei geral da acumulação capitalista, em que se

sustenta a questão social”. (2011, p.111).

À medida que o capital estimula o mercado, aquele por si só cria mecanismos

para seu desenvolvimento e expansão, portanto, desenha-se uma lacuna entre a

população e suas demandas, o governo e as políticas que irão atender estas demandas.

De acordo com IAMAMOTO (2011) O modelo de desenvolvimento que se firmou no

mundo moderno leva, concomitantemente, ao extremo de progresso tecnológico e de

bem-estar para setores limitados da sociedade e ao extremo de privações, pobreza e

marginalização social para a população.

Apreendeu-se sobre a importância da articulação das Políticas Sociais para uma

efetividade e eficácia dos direitos de cidadania. Estas foram criadas para uma execução

em conjunto, estabelecendo uma rede de proteção e promoção social amparada por lei

como: Lei Orgânica de Assistência Social (LOAS, 1993) que dispõe sobre a

organização da assistência social e dá outras providências, a Política Nacional de

Assistência Social (PNAS, 2004) e o Sistema Único de Assistência Social (SUAS,

2005).

Portanto, para se efetivar as Políticas Sociais em um sentido mais amplo é

necessária a intersetorialidade, criada legalmente para sua articulação. A

11 Para um quadro mais amplo do desenvolvimento histórico das políticas públicas no Brasil, ver

BEHRING, Elaine e BOSCHETTI, Ivanete. Política Social: fundamentos e História. 8ª ed. São Paulo:

Cortez, 2011; e PEREIRA, Potyara. A. P. Necessidades humanas: subsídios à crítica dos mínimos

sociais. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2002.

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9

intersetorialidade tem sua importância dentro dessa dinâmica; criada com base legal tem

por objetivo oferecer um caminho mais articulado objetivando garantir acesso às

políticas sociais diversas, com a percepção de se criar formas que possam promover a

integração destas, favorecendo o cidadão.

Através do levantamento de dados, realizados no primeiro semestre do ano,

verificou-se que esta Unidade atendia no mês de março de 2013 a 75 usuários acolhidos,

sendo 18% destes com deficiência, conforme mostra o gráfico abaixo:

Gráfico 1 – Residentes com deficiência na URS em março/2013

Gráfico 2 – Quantitativo de usuários com deficiência por idade

Os dados levantados neste trabalho demonstram que a maioria dos homens com

deficiência abrigados, ou seja, 53% encontram-se na faixa etária dos 50 aos 59 anos de

idade. Observou-se, que o sujeito, devido à sua necessidade especial, precisa de espaços

com acessibilidade, próximos à unidade de acolhimento que otimizem sua locomoção e

atendimento.

As Políticas Públicas devem ser articuladas, porém, isso não ocorre devido à

distância física entre os espaços institucionais, dificultando a comunicação entre os

82%

18%

Residentes URS

Total de Residentes - 75

Residentes com Deficiência - 17

1 1

9

3

3

Quantitativo de Residentes com Deficiência 17

22-29 anos

40-49 anos

50-59 anos

60 anos ou mais

Sem informação

Page 11: A Intersetorialidade Na Garantia de Direitos Da Pessoa Com Deficiência Em Situação de Rua

10

equipamentos - em um sentido mais amplo - a mobilização dos usuários, além de se

tornar oneroso àqueles que possuem poucos recursos financeiros, ao terem de se

deslocar para longe de Realengo.

Compreendemos como está estruturada a URS e percebemos que a relação das

assistentes sociais com os usuários perpassa a questão do mero atendimento às

demandas, levando em consideração as questões pessoais destes, buscando estabelecer,

dentro de suas possibilidades, uma relação de respeito com os usuários.

Esta se revela também como uma ferramenta que as profissionais se utilizam

para se aproximarem dos usuários a fim de fazê-los se posicionar diante de suas

condições e repensar suas ações para, posteriormente, pensar em seu projeto de

emancipação/autonomia. O atendimento não se dá numa perspectiva pragmática, cada

caso tem sua especificidade, porém não identificamos em suas falas quaisquer projetos

que tenham enfoque na dinâmica de trabalho, seja para os residentes com deficiência ou

não.

Em nossa análise vimos que os principais motivos que os levaram à saída de

suas casas de acordo com os próprios relatos são conflitos familiares com 23%;

dependência para atividades da vida diária 18%; desemprego com 12%; falecimento de

genitores com 12% e 35% dos usuários não souberam responder. No entanto, em muitas

respostas esses motivos estavam correlacionados devido à complexidade na realidade

social dos sujeitos.

Gráfico 3 – Quantitativo de usuários por motivo de ingresso

O trabalho realizado na unidade é desenvolvido de forma acrítica, sem preceitos

norteadores para a construção de um plano de ação que viabilize a reinserção deste

sujeito na sociedade, em consonância ao projeto ético-político da profissão, que

expressa o posicionamento do assistente social e assegure universalidade de acesso aos

35%

23%

18%

12%

12%

Quantitativo por motivo declarado para ingresso

Não informado - 6

Conflito familiar - 4

Dependência par a a vida Diária - 3

Desemprego - 2

Falecimento do pai/mãe -2

Page 12: A Intersetorialidade Na Garantia de Direitos Da Pessoa Com Deficiência Em Situação de Rua

11

bens e serviços relativos aos programas e serviços sociais bem como sua gestão

democrática.

Descobriu-se que há relação da unidade com outras instituições e que a unidade

tem buscado formas de ampliar a viabilização do acesso aos serviços que demandam

dos usuários articulando as políticas de outras instituições para atender as necessidades

dos abrigados, embora essa articulação apresente dificuldades em sua eficácia, o rumo

para novas articulações não pode cessar.

A articulação também se dá na área da Saúde, com encaminhamentos às

unidades de saúde para acompanhamento dos usuários na área de abrangência e fora da

área (dos usuários que já vieram com acompanhamentos anteriores). Articulação com o

A.A. e N.A. com Fisioterapia para reabilitação de usuários no Serviço de Assistência

Social Evangélica (Hospital SASE Realengo).

Em questões ligadas à saúde e a assistência, hospitais e postos de Saúde da rede

pública não conseguem dar conta do atendimento às pessoas com deficiência, que

necessitam de Fisioterapia, Fonoaudiologia entre outros atendimentos específicos para

atender as suas necessidades físicas e sociais. Segundo as assistentes sociais da URS, se

for preciso realizar uma articulação com outros serviços, a busca é feita através da via

legal, de acordo com a área de abrangência do SUAS, o que não garante o atendimento

ao usuário. Busca-se então, utilizar equipamentos em outras áreas de abrangência.

A fragilidade presente nas políticas de Saúde; Educação; Sócio-juridico; entre

outras, revelam a precariedade e fragilidade em sua realização, destituindo a pessoa na

garantia ou acesso a um serviço de qualidade; existindo ou não a “qualidade” o acesso à

política social encontra-se via contrária a sua efetivação. Como dito anteriormente, a

redução de investimentos públicos nas áreas sociais deixou o desenvolvimento social

em segundo plano.

O maior entrave apontado para a conquista da universalidade das Políticas de

Seguridade Social é a escassez de recursos. (BEHRRING e BOSCHETTI, 2011). O

Estado, que anteriormente era o “grande provedor” das Políticas Sociais – ainda que

focalista e seletiva – abriu espaço para o terceiro setor (as ONGs) e a Sociedade Civil

(as empresas de iniciativa privada e utilidade pública) onde desempenham seu papel

como executoras das Políticas Sociais.

O termo Terceiro Setor foi criado com a finalidade de favorecer a dicotomia

entre o público e o privado, onde o público é identificado como Estado e o privado

como Mercado; o Terceiro Setor passa a ser compreendido como a articulação dos

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12

setores público e privado. (ALMEIDA e ALENCAR, 2011).As políticas fornecidas pelo

terceiro setor são incapazes de superar as Políticas Sociais Públicas, mesmo porque a

quantidade de serviços oferecidos por esta última é infinitamente superior às de

iniciativa privada, que surgiram para complementar as políticas sociais já existentes.

Apesar de serem oriundas da ordem social neoliberal burguesa, é inegável

afirmar a importância das Políticas Públicas fornecidas pelo terceiro setor, porém, estas

devem ser implementadas com uma perspectiva de universalização dos direitos, para

que assim contemple um ideário social igualitário.

Em nossa análise, vimos que entre os residentes com deficiência, em relação à

inclusão em Programa de Transferência de Renda, temos o seguinte quadro: 47% não

recebem nenhum benefício social; destes, 12% já estão inscritos em programas dessa

natureza, mas ainda não obtiveram aprovação deste. 18% dos usuários estão cadastrados

no Programa Bolsa Família e 23% no BPC.

Gráfico 4 – Quantitativo de usuários por benefício social

A concessão realizada através dos programas de transferência de renda é

imprescindível para subsistência desses sujeitos, uma vez que esta é sua única fonte de

renda. As assistentes sociais referenciaram a falta de recursos financeiros como sendo

responsável quase que diretamente pela precariedade dos serviços.

Como foi dito anteriormente os residentes com deficiência dependem

exclusivamente de Programas de Transferência de Renda, pois estes em sua maioria são

dependentes para atividade de vida diária, o que os tornam incapazes de exercer alguma

atividade laborativa.

12%

23%

18%

47%

Benefício Social

Em processo / BPC* e BF** - 2

Recebem BPC - 4

Recebem BF - 3

Não recebem nenhum tipo de Benefício - 8

* BPC - Benefício de Prestação Continuada ** BF - Bolsa Família

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13

As deficiências encontradas na Unidade de Reinserção Social são: física (59%),

mental (23%) e visual (18%), como pode ser observada no gráfico abaixo:

Gráfico 5 – Quantitativo de usuários por tipos de deficiência

As maiores articulações dos assistentes sociais, além da questão da Saúde, são

com os órgãos de documentação, pois somente quando os usuários têm seus

documentos é possível encaminhá-los aos serviços. Torna-se uma questão ainda maior

quando estes profissionais não obtêm atendimento dentro de sua área de abrangência,

compelindo-os a buscar alternativas em outras regiões, o que dificulta a locomoção dos

residentes.

Considerações Finais

As questões aqui levantadas são de grande relevância para nós enquanto

graduandas do curso de Serviço Social frente aos desafios que se impõem para nossa

atuação profissional na contemporaneidade, os quais nos impulsionam a buscar

mecanismos que venham desburocratizar os serviços, tornando-nos profissionais

criativas e propositivas em nossa prática profissional.

Identificamos através da análise que a criação da CF/88, pôde proporcionar a

aprovação das Políticas Sociais em vista da emancipação dos sujeitos, mas estas acabam

por subalternizá-los, em virtude de um Estado mínimo para a população. Torna-se

evidente que o governo elegeu a política monetária como primeira prioridade,

negligenciando a política econômica e principalmente, das sociais. Muitos serviços

passaram a ser privatizados, acabando por “segregar” as Políticas Sociais: as privadas,

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14

acessíveis somente aos ricos (que realmente funcionam) e as públicas, destinadas aos

pobres, inferindo uma dualidade às políticas sociais.

Compreendemos que o funcionamento das Políticas Públicas Setoriais para a

garantia da universalização do acesso a benefícios trabalha em vias contrárias, uma vez

que o provimento de tais recursos é fornecido de forma precária e com uma perspectiva

subalterna, como instrumento de cooptação e legitimação da ordem capitalista.

Percebeu-se que a proposta apresentada pelo Estado em relação às políticas públicas é

diminuir a pobreza e reduzir a desigualdade social, porém esta não contempla a

quantidade de demandas apresentadas pela população em situação de rua com

deficiência.

Neste estudo vimos que as Políticas Sociais são mais ofertadas na Zona Sul em

detrimento da Zona Oeste do Rio de Janeiro, visto que a primeira serve aos interesses

do capital, pois o Estado, ao investir mais nesta área, busca obter retorno financeiro e

investimento privado, já que é uma área turística, bem como maior visibilidade política,

tendo em vista os grandes eventos que serão sediados na cidade do Rio de Janeiro.

O trabalho do assistente social é fundamental neste processo, pois ele “atua na

ponta”, desempenhando o papel de mediador. A este cabe se posicionar diante das

expressões da questão social e, com o suporte na lei de regulamentação da profissão e

em seu código de ética, buscar meios de transformar a realidade social através de ações,

que dentro de seu alcance possam proporcionar melhores condições aos sujeitos que

dependem de medidas que os auxiliem na obtenção de sua cidadania.

O estudo desvelou a precariedade no trabalho das assistentes sociais e

psicólogos, uma vez que têm de se desdobrar para fornecer atendimento a mais de

setenta homens, onde cada um tem sua especificidade e suas demandas, e mesmo que os

casos sejam atendidos em duplas de profissionais, a quantidade de residentes se torna

um fator limitante de sua atuação, uma vez que impede estes de desempenharem outras

atividades que são de sua atribuição, como escrever um projeto ou sistematizar suas

atividades, configurando-se em um limite institucional.

Os profissionais devem demonstrar seu compromisso através de ações

propositivas, buscando meios de melhorar o atendimento aos usuários com a

participação ativa de profissionais de outros equipamentos, o que caracteriza o trabalho

intersetorial. Desse modo podem ser desenvolvidas formas de ampliar a viabilização do

acesso a serviços demandados pelos usuários, articulando as políticas de outras

instituições – públicas ou privadas – para atender as necessidades dos abrigados, e

Page 16: A Intersetorialidade Na Garantia de Direitos Da Pessoa Com Deficiência Em Situação de Rua

15

embora essa articulação apresente dificuldades em sua eficácia, esse movimento, rumo a

novas articulações não pode cessar.

Através da investigação identificamos que a URS não possui suporte financeiro

suficiente para sustentar a demanda institucional. Os recursos são analisados

minuciosamente antes de serem investidos. Verificamos alguns entraves para a atuação

do Serviço Social da URS, além dos já citados nesta.

No entorno não há vagas disponíveis para determinados atendimentos,

caracterizando-se em uma dificuldade na articulação dos serviços; a distância física

entre os espaços institucionais dificulta a comunicação entre os equipamentos – em um

sentido mais amplo – a mobilização dos usuários; no caso é disponibilizado um veículo

para a locomoção destes a outros equipamentos, somente se a deficiência os

impossibilitar de se deslocarem sozinhos.

Concluímos que as Políticas Sociais Públicas estão voltadas para o modelo

econômico vigente da sociedade contemporânea. É nessa perspectiva mercadológica

que se darão as relações de favores entre o Estado e os empresários que reivindicam por

menor intervenção Estatal; desestatização e desregulamentação econômica e social e a

privatização do patrimônio e dos serviços públicos.

É necessário que o governo busque implementar as Políticas Sociais Setoriais,

visando oferecer não somente uma proposta, mas sim criar mecanismos que favoreçam

a comunicação entre as políticas para que não tenhamos somente sua existência no

papel, mas sim a própria intersetorialidade, efetiva e auxiliadora nas articulações entre

as políticas para viabilizar o caminho da dignidade e cidadania.

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