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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS E SOCIAIS - CEJURPS CURSO DE DIREITO - BIGUAÇU A IRRECORRIBILIDADE DA DECISÃO DO RELATOR QUE CONVERTE AGRAVO DE INSTRUMENTO EM AGRAVO RETIDO SAMUEL CUSTÓDIO DE OLIVEIRA NETO Biguaçu (SC) 2008

A IRRECORRIBILIDADE DA DECISÃO DO RELATOR QUE CONVERTE AGRAVO …siaibib01.univali.br/pdf/Samuel Custodio de Oliveira Neto... · 2008-10-14 · diversamente dos demais recursos,

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS E SOCIAIS - CEJURPS CURSO DE DIREITO - BIGUAÇU

A IRRECORRIBILIDADE DA DECISÃO DO RELATOR QUE CONVERTE AGRAVO DE INSTRUMENTO EM AGRAVO RETIDO

SAMUEL CUSTÓDIO DE OLIVEIRA NETO

Biguaçu (SC)

2008

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS E SOCIAIS - CEJURPS CURSO DE DIREITO - BIGUAÇU

A IRRECORRIBILIDADE DA DECISÃO DO RELATOR QUE CONVERTE AGRAVO DE INSTRUMENTO EM AGRAVO RETIDO

SAMUEL CUSTÓDIO DE OLIVEIRA NETO

Monografia apresentada como requisito parcial para a obtenção do título em

Bacharel em Direito pela Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI.

Orientador: Prof. Esp. Claudio Andrei Cathcart

Biguaçu (SC) 2008

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AGRADECIMENTO

O presente trabalho monográfico apresenta-se como resultado da conjunção dos esforços deste autor com a cooperação de diversos profissionais

e amigos, os quais, através da troca de valiosas informações, prestaram imensurável contribuição na elaboração desta modesta pesquisa científica.

Assim, gostaria de registrar meus sinceros agradecimentos às instituições e pessoas que colaboraram na construção desta monografia,

consciente de que esta demonstração é infimamente pequena para expressar toda minha

gratidão. Nestes termos, agradeço:

À Universidade do Vale do Itajaí, a qual me proporcionou um ensino jurídico de excelência,

doa qual tive a hora de fazer parte nesses últimos cinco anos;

Ao acervo bibliotecário das Bibliotecas Central da Universidade do Vale do Itajaí, do Tribunal de

Justiça do Estado de Santa Catarina, e do Escritório Soncini Advogados S/C, responsáveis pela disponibilização do material de pesquisas;

Ao meu orientador e estimado professor, Claudio Andrei Cathcart, grande entusiasta do direito

processual civil, cujas lições transcenderam os limites da sala de aula e fizeram brotar neste

acadêmico o gosto e o interesse pelo estudo da matéria;

A minha namorada, pela compreensão e infindável paciência durante o longo período de

estudo e formulação deste trabalho, em detrimento do carinho e atenção tão necessários;

E a todos meus amigos que de qualquer forma contribuíram para que eu pudesse elaborar o

presente trabalho.

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Também, a meus estimados irmãos, Davi de Oliveira, Felipe de Oliveira, Michael Rodrigues e

Rúbia Cristina Rodrigues.

E não poderia deixar de mencionar os agradecimentos ao meu amigo Ricardo Azevedo

Silva, pois foi meio para que eu atingisse a conclusão do presente trabalho e

conseqüentemente do curso.

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DEDICATÓRIA

Dedico primeiramente este trabalho a mim, pela persistência ao longo dos anos, dia após dia a fio,

para que conquistasse essa etapa, também pelo grande esforço na elaboração do presente.

Também, aos meus pais e avós que contribuíram muito para que eu chegasse até a elaboração do

presente trabalho monográfico.

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PÁGINA DE APROVAÇÃO

A presente monografia de conclusão do Curso de Direito da Universidade do Vale

do Itajaí – UNIVALI, elaborada pelo graduando Samuel Custódio de Oliveira Neto,

sob o título A irrecorribilidade da Decisão do Relator que converte Agravo de

Instrumento em Agravo Retido, foi submetida em 19 de junho de 2008 – quinta-

feira às 8h e 30min. à banca examinadora composta pelos seguintes professores:

Presidente Cláudio Andrei Cathcart; membros: Moacir José Serpa e Flaviano

Vetter, e aprovada com a nota 9,55 (nove e cinqüenta e cinco).

Biguaçu (SC), 19 de junho de 2008

Professor Especialista Cláudio Andrei Cathcart Orientador e Presidente da Banca

Professora Mestre Helena N. P. Pitsica Responsável pelo Núcleo de Prática Jurídica

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TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE

Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo

aporte ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do

Vale do Itajaí, a coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora e o

Orientador de toda e qualquer responsabilidade acerca do mesmo.

Biguaçu (SC), 19 de junho de 2008

Samuel Custódio de Oliveira Neto Graduando

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ROL DE CATEGORIAS

Rol de categorias que o Autor considera estratégicas à

compreensão do seu trabalho, com seus respectivos conceitos operacionais.

AGRAVO

“Chama-se agravo porque é o recurso destinado a impugnar ato decisório do juiz,

causador de agrave ou prejuízo ao litigante, e de instrumento porque,

diversamente dos demais recursos, não se processa nos próprios autos em que

foi proferida a decisão impugnada mas, sim, em autos apartados, e, pois, constitui

um instrumento apartado daqueles autos. Já o agravo retido é aquele que se

processa e decide nos autos em que foi proferida a decisão recorrida.”1

AGRAVO RETIDO

“É o recurso interposto contra decisão interlocutória proferida pelo juiz, cujo

conhecimento pelo tribunal fica relegado para a hipótese de apelação, na qual

deve ser requerido o seu conhecimento em preliminar.”2

AGRAVO INTERNO (REGIMENTAL)

“É o recurso dirigido ao plenário ou ao órgão fracionário impugnando decisão do

relator. Denomina-se “regimentar” porque geralmente é previsto no Regimento

Interno do respectivo Tribunal, motivo pelo qual também é chamado por outros de

agravo interno. Também pode ser denominado “agravo legal” quando instituído

por lei, como, por exemplo, no art. 557 do Código de Processo Civil.”3

1 SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras linhas de Direito Processual Civil. 17ª. ed., V. 3. São Paulo: Saraiva, 1998. p. 127. 2 FONTANELLA ROSA, Patrícia; FONTANELLA, Fabiana. Dicionário Técnico Jurídico e Latim Forense. Florianópolis: Habitus, 2002. p. 108. 3 SILVA, De Plácido e. Vocabulário Jurídico. 3ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 1991, p. 82.

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DECISÃO INTERLOCUTÓRIA

“Despacho proferido pelo juiz entre o início e o fim do processo que termina com a

sentença definitiva. Esse despacho é feito no curso do processo para solucionar

questões incidentes”4

DECISÃO MONOCRÁTICA

“A expressão “monocrático” tem sua terminologia decorrente de monos (um,

único) e cratos (poder). A decisão monocrática é, assim, aquela praticada por

órgão julgador individual, quer o juiz nas diversas varas, quer o relator nos

tribunais, este nos termos que lhe forem concedidos pela lei processual ou pelo

Regimento Interno do respectivo tribunal.”5

GRAVAME OU PREJUÍZO

“É empregado na equivalência de dano, mal ou ofensa, seja de ordem material ou

moral, que possa acarretar uma perda, ou uma danificação, ou desfalque ao

patrimônio da pessoa. Nessa razão, prejuízo, sendo resultado do mal ou do dano,

praticado, revela-se na perda ou no desequilíbrio econômico trazido ao patrimônio

da pessoa.”6

INCONSTITUCIONALIDADE

“Na terminologia jurídica, serve para exprimir a qualidade do que é

inconstitucional ou contravém a preceito, regra ou princípio instruído na

Constituição.” 7

IRRECORRIBILIDADE

“[...] em direito, de que não cabe mais recurso ou apelação (decisão judicial).”8

4 SILVA, De Plácido e. Vocabulário Jurídico. 1991. p. 1079. 5 SILVA, De Plácido e. Vocabulário Jurídico. 1991. p. 415. 6 SILVA, De Plácido e. Vocabulário Jurídico. 1991. p. 1079. 7 SILVA, De Plácido e. Vocabulário Jurídico. 1991. p. 726. 8 VILLAR, Mauro de Salles (co-autor). Minidicionário Houaiss da Língua Portuguesa.

Rio de Janeiro: Objetiva, 2003. p. 306.

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MANDADO DE SEGURANÇA

“[...] Exprime a ação intentada pela pessoa no sentido de ser assegurado um

direito, certo e incontestável, ameaçado ou violado por ato de autoridade,

manifestamente inconstitucional e ilegal.”9

PROCESSO

“Conjunto de regras e de atos que se fazem necessários para aplicação do direito,

quando pedida a intervenção judiciária, que venha decidir ou esclarecer as

contendas ou controvérsias do Direito.”10

RECURSO

“Recurso é o remédio voluntário idôneo a ensejar, dentro do mesmo processo, a

reforma, a invalidação, o esclarecimento ou a integração de decisão judicial que

se impugna.”11

REFORMA

“Na significação forense, reforma entende-se a modificação ou alteração de

despacho [decisão interlocutória] ou sentença anterior, seja pelo próprio juiz

prolator, seja pelo juiz de superior instância. Nessa razão, a reforma importa na

prolação de novo despacho [decisão interlocutória] ou sentença, que altera o ato

decisório anterior, para que não seja atendido ou cumprido.”12

RELATOR

“É assim chamado o juiz a quem foi distribuído por sorteio o processo,

encarregado de expor aos demais juízes do tribunal do qual é membro.”13

9 SILVA, De Plácido e. Vocabulário Jurídico. 1991. p. 878. 10 SILVA, De Plácido e. Vocabulário Jurídico.1991. p.1101. 11GRECO FILHO, Vicente. Direito Processual Civil Brasileiro. 16. ed. V. 2. São Paulo: Saraiva. 2003. p. 265. 12 SILVA, De Plácido e. Vocabulário Jurídico. 1991, p. 1179. 13 FONTANELLA ROSA, Patrícia; FONTANELLA, Fabiana. Dicionário Técnico Jurídico e Latim Forense. 2002. p. 108.

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SUMÁRIO

RESUMO..........................................................................................XV

RÉSUMÉ .........................................................................................XVI

INTRODUÇÃO ................................................................................. 17

1 A EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO RECURSO DE AGRAVO E TEORIA GERAL DOS RECURSOS ................................................. 19 1.1 ASPECTOS DESTACADOS DA EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO RECURSO DE AGRAVO ..............................................................................................................19 1.1.2 ORIGEM DO AGRAVO NO DIREITO ROMANO ........................................20 1.1.3 ORIGEM DO AGRAVO NO DIREITO LUSITANO ......................................22 1.1.3.1 O RECURSO DE AGRAVO NAS ORDENAÇÕES AFONSINAS.............26 1.1.3.2 O RECURSO DE AGRAVO NAS ORDENAÇÕES MANUELINAS..........28 1.1.3.3 O RECURSO DE AGRAVO NAS ORDENAÇÕES FILIPINAS ................30 1.4 ORIGEM DO AGRAVO NO DIREITO BRASILEIRO......................................31 1.5 TEORIA GERAL DOS RECURSOS ..............................................................37 1.5.1 CONCEITO DE RECURSO NO PROCESSO CIVIL BRASILEIRO.............38 1.5.2 PRESSUPOSTOS DE ADMISSIBILIDADE DOS RECURSOS...................43 1.5.2.1 REQUISITOS INTRÍNSECOS...................................................................44 1.5.2.1.1 CABIMENTO OU ADEQUAÇÃO...........................................................45 1.5.2.1.2 LEGITIMIDADE PARA RECORRER.....................................................45 1.5.2.1.3 INTERESSE DE RECORRER ...............................................................46 1.5.2.1.4 INEXISTÊNCIA DE FATO IMPEDITIVO OU EXTINTIVO DO PODER DE RECORRER..........................................................................................................47 1.5.2.2 REQUISITOS EXTRÍNSECOS .................................................................49 1.5.2.2.1 TEMPESTIVIDADE................................................................................49 1.5.2.2.2 REGULARIDADE FORMAL ..................................................................51 1.5.2.2.3 PREPARO .............................................................................................52 1.5.3 PRINCIPAIS EFEITOS DOS RECUSOS.....................................................53 1.5.3.1 EFEITO DEVOLUTIVO DO RECURSO....................................................53 1.5.3.2 EFEITO SUSPENSIVO DO RECURSO....................................................54 1.5.3.3 EFEITO SUBSTITUTIVO DO RECURSO.................................................55 1.5.4 CLASSIFICAÇÃO DOS RECURSOS NO PROCESSO CIVIL ....................55

2 DISTINÇÃO DAS MODALIDADES DO RECURSO DE AGRAVO, CABIMENTO E PROCEDIMENTO................................................... 57 2.1 DECISÃO INTERLOCUTÓRIA.......................................................................57 2.1.1 CONCEITO ..................................................................................................57 2.2 DO RECURSO DE AGRAVO ........................................................................58 2.2.1 CONCEITO DE AGRAVO............................................................................58 2.2.2 DO AGRAVO RETIDO.................................................................................60 2.2.2.1 CABIMENTO DO RECURSO DE AGRAVO RETIDO ..............................61 2.2.2.2 PROCEDIMENTO DO AGRAVO RETIDO ...............................................62

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2.2.3 DO AGRAVO DE INSTRUMENTO..............................................................63 2.2.3.1 CABIMENTO DO RECURSO DE AGRAVO INSTRUMENTO .................65 2.2.3.2 PROCEDIMENTO DO AGRAVO DE INSTRUMENTO.............................67 2.2.4 DO AGRAVO INTERNO..............................................................................70 2.2.4.1 CABIMENTO DO RECURSO DE AGRAVO INTERNO............................71 2.2.4.2 PROCESSAMENTO DO RECURSO DE AGRAVO INTERNO ................71

3 A DECISÃO MONOCRÁTICA DE CONVERSÃO DO AGRAVO DE INSTRUMENTO EM AGRAVO RETIDO E SUA IRRECORRIBILIDADE..................................................................... 73 3.1 MODIFICAÇÕES DO RECURSO DE AGRAVO À LUZ DA LEI 11.187/2005..............................................................................................................................73 3.2 A CONVERSÃO DO AGRAVO DE INSTRUMENTO EM AGRAVO RETIDO POR DECISÃO MONOCRÁTICA NOS TRIBUNAIS............................................76 3.3 ANÁLISE DO ART. 527, PARÁGRAFO ÚNICO, DO CPC ANTES DA REFORMA............................................................................................................80 3.4 ANÁLISE DO ART. 527, PARÁGRAFO ÚNICO, DO CPC DE ACORDO COM A LEI 11.187/2005 ................................................................................................82 3.5 A IRRECORRIBILIDADE DA DECISÃO MONOCRÁTICA DE CONVERSÃO DO AGRAVO DE INSTRUMENTO EM AGRAVO RETIDO E SUA POSSÍVEL INCONSTITUCIONALIDADE ...............................................................................86 3.6 A POSSIBILIDADE DO MANDADO DE SEGURANÇA CONTRÁRIA A DECISÃO MONOCRÁTICA DE CONVERSÃO DO AGRAVO DE INSTRUMENTO EM AGRAVO RETIDO .........................................................................................90

CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................. 97

REFERÊNCIA DAS FONTES CITADAS .......................................... 99

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RESUMO

O presente trabalho tem como objetivo analisar a irrecorribilidade da decisão do

relator que converte agravo de instrumento em agravo retido, sua

constitucionalidade e o possível cabimento do mandado de segurança. Trata-se

de uma atribuição do relator do agravo de instrumento introduzida pela Lei n.

11.187/2005 no parágrafo único do art. 527 do Código de Processo Civil

Brasileiro. Inicia-se a pesquisa com uma breve síntese da evolução histórica e

modificações do agravo, destacando-se, sua origem no Direito Romano, no

Direito Lusitano (Português), no Direito Brasileiro e as modificações do recurso de

agravo à luz da Lei. n. 11.187/2005. Em um segundo momento passa-se a

discorrer sobre a teoria geral dos recursos no processo civil, relativamente, aos

pressupostos de admissibilidade, efeitos, classificação dos recursos no processo

civil brasileiro, bem como conceito de decisão interlocutória e recursos de agravo

de instrumento, retido e interno (regimental) em espécie. E ao final, portanto,

destaca-se a irrecorribilidade da conversão do agravo de instrumento em agravo

retido por decisão monocrática nos tribunais, enfatizando-se, a mudança no

parágrafo único do art. 527 do Código de Processo Civil, constitucionalidade e

possível cabimento de mandado de segurança.

Palavras chave: Agravo. Irrecorribilidade. Mandado de Segurança.

Constitucionalidade.

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RÉSUMÉ

Le travail présent a l’objectif d’analyser l’arrêtement du recours de révision du

choix du rapporteur qui convertit le trouble d'instrument en trouble retenu, leur

constitutionnalité et le possible demande du mandat de sécurité. Il s'agit d'une

attribution du rapporteur du aggrave d'instrument introduit par la Loi n.

11.187/2005 dans le paragrafe unique du article 527 du Code de Procédure Civile

Brésilien. La recherche démarre avec un brève résumé d'évolution historique et

les modifications du trouble, en se détachant, son origine dans le Droit Romain,

dans le Droit Portugais, dans le Droit Brésilien et leurs modifications à la lumière

de la Loi. n. 11.187/2005. Deuxièmement on passe à discourir sur la théorie

générale des ressources dans le processus civile, relativement, aux

présuppositions d'admissibilité, les effets, et le classement des ressources dans le

processus civile brésilien, ainsi que le concept de décision interlocutoire et de

ressources de trouble d'instrument, retenu et interne (régimentaire) dans l’espèce.

Et à la fin, donc, on mis en évidence l’arrêtement du recours de révision de la

conversion de l'aggrave d'instrument en aggrave retenu par décision unilaterale

dans les tribunaux, on souligne, le changement dans le paragrafe seul de l’article

527 du Code de Procédure Civile, la constitutionnalité et possible demande d’un

mandat de sécurité.

Mots-clés : Trouble, l’arrêtement du recours de révision, mandat de segurité,

constitutionalité.

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INTRODUÇÃO

O presente trabalho monográfico tem como objeto a

irrecorribilidade da decisão do relator que converte agravo de instrumento em

agravo retido, frente à nova sistemática da Lei 11.187/20005.

O seu objetivo é analisar o parágrafo único do art. 527 do

Código de Processo Civil sua constitucionalidade e o cabimento do mandado de

segurança da decisão monocrática do relator.

Para tanto, principia–se, no Capítulo 1, tratando de uma

breve síntese da evolução histórica do recurso de agravo, destacando-se a

origem do agravo no Direito Romano, no Direito Lusitano e no Direito Brasileiro.

Será, também, estudada a modificação do agravo à luz da Lei 11.187/2005.

Também, aborda-se nesse capítulo a teoria geral dos recursos, conceito,

pressupostos de admissibilidade, efeitos, classificação e conceito de decisão

interlocutória,

No Capítulo 2, tratar-se-á da distinção das modalidades do

recurso de agravo, seu cabimento e procedimento.

No Capítulo 3, destacar-se-á a irrecorribilidade da decisão

do relator que converte agravo de instrumento em agravo retido. Apontando-se a

análise do parágrafo único do art. 527 do CPC antes e após a reforma pela Lei

11.187/2005, sua inconstitucionalidade e o possível cabimento do mandado de

segurança da decisão monocrática do relator que converte agravo de instrumento

em agravo retido. Confrontando-se as diversas opiniões doutrinárias e

jurisprudenciais.

O presente Relatório de Pesquisa se encerra com as

Considerações Finais, nas quais são apresentados pontos divergentes, seguidos

da estimulação à continuidade dos estudos e das reflexões sobre a

irrecorribilidade da decisão monocrática do relator que converte agravo de

instrumento em agravo retido.

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Para a presente monografia foram levantados os seguintes

problemas:

O parágrafo único do artigo 527 do Código de Processo Civil

frente à Lei 11.187/2005 é constitucional?

É possível o cabimento de agravo interno (regimental) contra

a decisão monocrática do relator que converte agravo de instrumento em agravo

retido?

Da decisão do relator que converte agravo de instrumento

em agravo retido é cabível mandado de segurança?

Quanto à Metodologia empregada, registra-se que, na Fase

de Investigação foi utilizado o Método Dedutivo, na Fase de Tratamento de Dados

o Método Cartesiano, e, o Relatório dos Resultados expresso na presente

Monografia é composto na base lógica dedutiva.

Nas diversas fases da Pesquisa, foram acionadas as

Técnicas, do Referente, da Categoria, do Conceito Operacional e da Pesquisa

Bibliográfica.

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1 A EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO RECURSO DE AGRAVO

E TEORIA GERAL DOS RECURSOS

O presente capítulo tratará da evolução histórica do agravo e

teoria geral dos recursos, iniciando - se com o a origem do agravo no Direito

Romano, o qual introduziu o agravo apenas para abrandar os efeitos da sentença

e, também, foi nesse período que nasceu a decisão interlocutória, segundo

entendimentos tratados no capítulo presente, por outro lado, há doutrina

defensora da possibilidade do surgimento do agravo no Direito Português, assim,

terminado o presente com a teoria geral dos recursos.

1.1 ASPECTOS DESTACADOS DA EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO RECURSO DE

AGRAVO

Ressalta-se inicialmente a existência de duas correntes que

descrevem sobre a história do recurso de agravo, a primeira, ou seja, no Direito

Romano, o agravo não tinha característica de recuso, pois nesse período nasceu

a decisão interlocutória que não era recorrível. Por sua vez, foi no Direito

Português que o agravo veio a se desenvolver como recurso.14

Já o agravo retido, antes chamado de agravo no auto do

processo, passou a existir nas Ordenações Manuelinas.15

De outra banda, acreditam alguns autores, que o agravo no

auto do processo, foi criado no Reinado de D. João III, pela Carta Régia de 5 de

julho de 1526.16

14 GAIO, Deise Lucy, Breve Análise da Evolução Histórica do Agravo de Instrumento e do Agravo Retido, bem como as Alterações Introduzidas no Código de Processo Civil, pela Lei nº 11.187, de 19 de Outubro de 2005. Disponível em: �http://www.fiscosoft.com.br/main_index�. Acesso em: 02 de setembro de 2007.

15 SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras linhas de Direito Processual Civil. 16ª ed. V. 3. São Paulo: Saraiva, 1997. p.125.

16 SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras linhas de Direito Processual Civil. 1997. p.125.

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1.1.2 ORIGEM DO AGRAVO NO DIREITO ROMANO

Importante saber que, quando se estuda o Processo Civil em

Roma, estuda-se o processo, como meio de resolução de litígios em que estavam

envolvidos predominantemente direitos privados.17

O agravo no direito romano, não tinha, ostensivamente, a

feição de recurso. Era apenas uma súplica que o litigante fazia ao prolator da

sentença, almejando abrandar a condenação que lhe foi imposta.18

Na época, a sentença era irrecorrível, o que veio trazer

evidentes transtornos e irreparáveis danos aos que fossem submetidos à

condenação. A irrecorribilidade da sentença objetivava manter o prestígio dos

prolatores de tais decisões, caso que poderia ser prejudicado se houvesse

recurso.

Como solução, passou-se a admitir a possibilidade de ser a sentença amenizada, desde que o litigante concordasse em reconhecer expressamente a justiça do julgado e, conseqüentemente, confessasse sua culpa. Sob essa condição, admitia-se a súplica por um novo julgamento, buscando amenizar o prejuízo causado pelo primeiro. Foi, então, introduzido no direito romano a suplicatio, pela qual se abria a possibilidade de vir o prolator da sentença a rever a condenação imposta, abrandando os efeitos sem que para isso se valesse de qualquer das formas de recurso prevista em lei e, ainda, sem que a autoridade se visse desprestigiada com a reforma da decisão por outro órgão. Ao contrário disso, o prestígio do julgador e o acerto da decisão eram reconhecidos expressamente, com a confissão de culpabilidade do suplicante. Era, portanto, um recurso, mas que formalmente se traduzia numa simples súplica.19

17 WAMBIER, Teresa Arruda Alvim. O novo regime do agravo. 2ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1996. p. 18.

18 LEVENHAGEN, Antônio José de Souza. Recursos no processo civil. 4ª ed. São Paulo: Atlas, 1997. p. 60.

19 LEVENHAGEN, Antônio José de Souza. Recursos no processo civil. 1997. p. 60

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Então, para começar entender melhor o direito processual

romano, bem como o recurso de agravo da época, torna-se necessário dividir em

três fases:

a) período das legis actiones (de 754 a. C. até cerca de 149

a. C.);

b) período do processo formulário (de 149 a. C. até 209 d.

C.);

c)período da extraordinária cognitio (de 209 d. C. até 568 d.

C.).20

No que tange o período das legis actiones, também

denominado, período real, o rei era o único magistrado, vitalício e não era

passível de ser responsabilizado pelos seus atos, embora, há discussões na

doutrina em face de seu poder era, ou não, absoluto.21

Essa fase caracterizou-se pelo grande formalismo e notória

preocupação com a precisão. O processo era predominantemente oral.

No período de 149 a. C até 209 d. C. (período do processo

formulário), compreendido no período republicano, há que se ressaltar que a

estrutura do procedimento formulário não permitia a existência de uma decisão

interlocutória, ou seja, apenas a sentença terminativa, sendo que o processo

terminava com o pronunciamento do pretor (Magistrado que, na Roma antiga,

distribuía a justiça).22

Com o período da extraordinária cognitio, o império

agigantou-se, então no processo romano à decisão final denominava-se

sententia, e às proferidas no curso do feito, interlocutiones. Aquelas eram

recorríveis, por meio do recurso de apelação e estas não o eram.23

20 WAMBIER, Teresa Arruda Alvim. O novo regime do agravo. 1996. p. 18.

21 WAMBIER, Teresa Arruda Alvim. O novo regime do agravo. 1996. p. 19.

22 WAMBIER, Teresa Arruda Alvim. O novo regime do agravo. 1996. p. 25. 23 WAMBIER, Teresa Arruda Alvim. O novo regime do agravo. 1996. p. 22.

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Ainda, no período da extraordinária cognitio, no império de

Justiniano (período do direito romano pós-clássico, ou romano-helênico), era

absoluta a proibição de apelar das decisões interlocutórias.

Os inconformados com decisões inapeláveis se dirigiam à Corte, implorando – lhe reparação da injustiça, e isso tão freqüente se tornou que se estabeleceu a praxe de admitir-se o agravo ordinário, com a finalidade da supplicatio romana, e por meio do qual os vencidos reclamavam à Casa da Suplicação a reforma daquelas decisões. Desde então distinguiam-se os dois recursos: apelação, interponível contra a generalidade de sentenças definitivas ou interlocutórias; agravo ordinário, admitido nos casos previstos em lei.24

Então, nos períodos da República e primórdios do

Principado, a sentença do iudex era inapelável.25

Por fim, a primeira informação que se tem de recurso das

decisões interlocutórias é da época dos Severos, quando se permitia a

apelação.26

1.1.3 ORIGEM DO AGRAVO NO DIREITO LUSITANO

Sendo precários os testemunhos, em épocas anteriores,

favorece a ausência ou deficiência de elementos que possam oferecer subsídios

mais valiosos e consistentes para as pesquisas.27

No que diz respeito ao Direito Português, até o Reinado de

Dom Afonso III a ordem judicial era marcadamente imperfeita, sendo impossível

precisar a época em que o agravo surgiu no Direito Português. Observa-se,

inclusive, que foi no Reinado de Afonso II (1211 a 1223) que o Código Visigótico

passa a não ser mais invocado como fonte de direito. Constata-se também que no

Direito Português, doutrinária e legislativamente, que no Século XIII havia duas 24 SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras linhas de Direito Processual Civil. 1997, p.125. 25 WAMBIER, Teresa Arruda Alvim. O novo regime do agravo. 1996. p. 25. 26 WAMBIER, Teresa Arruda Alvim. O novo regime do agravo. 1996. p. 25. 27 CORRÊA, Josel Machado. Recurso de agravo. São Paulo: Iglu, 2001. p. 17.

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espécies de sentenças: a definitiva e a interlocutória, e o único recurso cabível era

o de apelação. Contudo, para sentença proferida por juiz hierarquicamente

superior ao da primeira instância (sobre-juiz) cabia o recurso de suplicação, que

tem a origem bastante interessante, remontando ao direito clássico.28

No sistema romano determinadas decisões finais eram proferidas por dignatários do Estado que não exerciam a função judiciária já que eram considerados hierarquicamente superiores aos demais. Para abrandar a rigidez desta providência de ordem formal, foram criados expedientes, nos quais, sem afrontar a autoridade que proferia a decisão, pondo em dúvida a justiça do julgado, a parte apenas suplicava implorava à mesma autoridade prolatora da sentença que reexaminasse a causa, atenuando os efeitos do decidido. Este precedente romano influenciou o Direito português, que interpunha a apelação a certas autoridades não judiciária em face da impossibilidade de se recorrer de sentenças proferidas por juízes hierarquicamente superiores.29

O costume acabou por criar um meio pelo qual o litigante

vencido pudesse alterar a decisão. Contudo, a Casa de Suplicação deve ter

surgido por volta de 1425 a 1429, existindo assim antes das Ordenações

Afonsinas, que são de 1446.30

Segundo Barbosa Moreira o agravo surgiu no Direito

Português, como anota:

[...] o recurso de agravo realmente surgiu no Direito português, ou seja, os agravos são recursos exclusivamente de ascendência lusitana, e que não encontram similares em outros sistemas contemporâneos. A sua origem deu-se em virtude à reação da prática judiciária ante a proibição outorgada por Afonso IV, cujo reinado ocorreu entre os anos de 1325 a 1357, a faculdade de apelar contra as interlocutórias. As partes não se conformavam com as decisões, a qual causavam prejuízo irreparável e insistiam em pleitear a imediata correção do agravo sofrido. Passaram

28 WAMBIER, Teresa Arruda Alvim. O novo regime do agravo. 1996, p. 25-27. 29 CORRÊA, Josel Machado. Recurso de agravo. 2001. p. 24. 30 CORRÊA, Josel Machado. Recurso de agravo. 2001. p. 24.

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então a dirigir petições ao rei requerendo cartas de justiça nos quais a eficácia ficava subordinada à cláusula de serem verdadeiras as alegações do requerente. Para evitar perda de tempo, determinou Dom Duarte que as petições lhe subissem já acompanhadas da resposta do juiz que proferira a decisão impugnada, configurando assim as chamadas cartas testemunháveis ou instrumentos de agravo. 31

Nas Ordenações Manuelinas, que o agravo se consagrou

como recurso típico das decisões interlocutórias simples, regulada duas

modalidades: a) quando o órgão ad quem ficasse sediado no mesmo lugar do

órgão o agravo, subia por petição; b) caso o órgão não ficasse sediado no mesmo

lugar, subia por instrumento. Mais tarde foi fixada uma distância limite de cinco

léguas entre os dois juízos: se a distância fosse menor, seria agravo de petição, e

se fosse mais distante, subiria como instrumento.32

Da sentença interlocutória cabia agravo, que podia ser de instrumento ou de petição. Cabia este ou aquele conforme critério territorial, que era o da distância entre juízo “a quo” e “ad quem”. Sendo de menos de cinco léguas o agravo seria de petição; maior a distância, seria de instrumento.33

Diante das duas modalidades de recurso de agravo, as

mesmas vieram se somar ao agravo ordinário, preteritamente chamado

suplicação, que também era muito semelhante à apelação. Já agravo de

ordenação não guardada, com o escopo de reparar os danos causados à parte

pela decretação da nulidade do processo, e o agravo no auto do processo, sendo

instituição como figura autônoma se costuma atribuir à Carta Régia de Dom João

III, de 1526, remontam à segunda publicação das Ordenações Manuelinas em

1521.34

31 MOREIRA, José Carlos Barbosa. Comentários ao Código de Processo Civil. 6ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 1993. p. 48. 32 MOREIRA, José Carlos Barbosa. Comentários ao Código de Processo Civil. 1993. p. 48. 33 NORONHA, Carlos Silveira. Do agravo de instrumento. Rio de Janeiro: Forense, 1976. p. 19. 34 MOREIRA, José Carlos Barbosa. Comentários ao Código de Processo Civil. 1993. p. 49.

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[...] autores acreditam que os atos legislativos de Portugal só adquiriram importância a partir do reino de Dom Afonso III (1261), que promoveu reformas na legislação portuguesa visando sanar as imperfeições do sistema judicial na área de processo civil português, criando novas formas de impugnações da sentença, até então reduzidas ao recuso de apelação. Então para reparar ou atenuar a iniqüidade que poderia advir da irrecorribilidade das decisões, o costume português, alicerçada no sistema romano, começou a admitir uma súplica do vencido dirigido à Casa da Suplicação, que se chamou suplicação ou sopricação.35

A Casa da suplicação, cujo surgimento teria ocorrido entre

os anos 1425 e 1429, compunham-se de dois Colégios. Sendo um constituído por

sobre-juízes, que tinham a função de conhecerem as apelações interpostas do

Distrito da Corte e outro composto por desembargadores agravistas que se

encarregavam em conhecer as suplicações.36

Segundo Carlos Silveira Noronha, a suplicação no romano

deu origem ao agravo ordinário que cabia das sentenças definitivas e das

interlocutórias com força definitiva, apresentando semelhanças e dessemelhanças

respectivamente com a apelação entre as quais resumidamente pode-se citar: a)

que ambos os recursos, ou seja, agravo ordinário e apelação, constituíam na

provocação das sentenças definitivas do juiz inferior para o superior; devia

interpor-se, dentro do decêndio, perante o juiz inferior em audiência; b) nos dois

casos era permitido deduzir-se o não deduzido e provar o não provado; para o

seguimento de ambos, deviam ser citadas as próprias partes; c) o agravo

ordinário não tinha efeito suspensivo nos casos em que a apelação também não

tivesse; o agravo ordinário era de direito restrito e a apelação era ampla; d) o

primeiro só tinha lugar nas causas cíveis, enquanto o segundo era comum nas

causas criminais; e) a apelação podia ter o termo final reduzido pelo juiz, a pedido

da parte, sendo que no agravo, tal ato não era admitido; f) a apelação suspendia

a execução até seu julgamento, ao passo que o agravo só a suspendia por seis

35 NORONHA, Carlos Silveira. Do agravo de instrumento. 1976. p. 11-32. 36 NORONHA, Carlos Silveira. Do agravo de instrumento. 1976. p. 11-32.

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meses; g) a apelação era preparada em seis meses e o agravo em dois; h) o

julgamento da apelação exigia três votos, enquanto o agravo, apenas dois.37

Mais tarde o agravo ordinário desapareceu no sistema

lusitano com as reformas processuais a partir da publicação do Decreto nº 24, de

16.5.1832, não chegando a se integrar ao sistema de recursos adotado pelo

primeiro Código de Processo Civil de Portugal em 1876.38

Para estabelecer a confiança dos litigantes visando uma

pronta justiça, Dom Afonso expediu édito em que prescreveu a apelação das

interlocutórias, reagindo contra a doutrina canônico-germânica, que estabelecia a

apelabilidade de todas as sentenças indiscriminadamente, ressalvando alguns

casos em que a decisão interlocutória trazia à parte danos não suscetíveis de

correção ou de difícil reparação na sentença final, ou nos casos em que seria

impossível reaver o gravame pela execução da interlocutória.39

Pontes de Miranda, afirma que o agravo foi o nome do

recurso que se diferenciou da apelação, ao se distinguirem quanto à devolução da

cognição as sentenças definitivas e as interlocutórias, ou ao serem separados os

feitos por simples distinção da categoria dos juízes. Seja como for, o instituto

funcionou como resíduo das apelações, cesta de papéis da alta justiça.40

1.1.3.1 O RECURSO DE AGRAVO NAS ORDENAÇÕES AFONSINAS

As principais leis promulgadas desde o reinado de Dom

Affonso II até Dom Affonso V, encontrando-se desta data a notável Carta do Foro

dada pelo Rei Dom Affonso Henrique aos mouros forros de Lisboa, Almada e

Alcacer; os capítulos das Cortes celebradas desde o tempo de Affonso IV; o

Direito Romano interpretado pelos Glossadores antigos e adaptados pelos

Compiladores em muitos títulos, que fizeram de novo, para complementar o seu 37 NORONHA, Carlos Silveira. Do agravo de instrumento. 1976. p. 11-32. 38 NORONHA, Carlos Silveira. Do agravo de instrumento. 1976. p. 11-32. 39 NORONHA, Carlos Silveira. Do agravo de instrumento. 1976. p. 11-32. 40 MIRANDA, Pontes de. Comentários ao Código de Processo Civil. 6ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 1949. p. 207 – 212.

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sistema, e suprir a falta da legislação própria em matérias, a respeito das quais

não houvesse. Fazem também parte considerável as concordatas dos senhores

reis Dom Diniz, Dom Pedro I e Dom João I, com os Sumos Pontífices, e

Eclesiástico do Reino.41

Também, veio a contribuir, além destas quatro fontes, o

Direito Canônico, interpretado pelos Glossadores, as Leis das Partidas da

Espanha; os antigos costumes ou Assentos da Chancelaria. Por último

encontram-se na obra fontes com algumas determinações, as quais tiveram força

de leis gerais, tendo sido particulares na sua origem, como estilo sobre o purgar

das revelias nas instâncias da apelação. Por fim, os costumes da câmara de

Lisboa sobre os alugueres das casas; e a carta de fretamento dos navios da

câmara do Porto.42

No período de Dom Afonso IV os estormentos e cartas

testemunháveis eram apresentados diretamente ao Rei, no lugar onde se

encontrasse a Corte, para serem desembargado, corrigindo-se os agravos a que

se referiam. A competência para conhecer dos estormentos e cartas

testemunháveis, que inicialmente pertencia ao Rei, foi delegada a dois

Desembargadores do Paço, não podendo o Soberano decidir pessoalmente todas

as querimas ou querimônias, por motivo de sua quantidade.43

O estormento d’agravo era um instrumento escrito da antiga querima verbal, um meio para se pedir a correção do gravame produzido por sentença interlocutória simples contra o qual não era permitido apelar. É, assim, o embrião do recurso de agravo.44

Para tanto, nas Ordenações Afonsinas não se deve

confundir estorrmento e carta testemunhável com agravo, segundo Azevedo

Costa:

41 CORRÊA, Josel Machado. Recurso de agravo. 2001. p. 34. 42 CORRÊA, Josel Machado. Recurso de agravo. 2001. p. 34. 43 CORRÊA, Josel Machado. Recurso de agravo. 2001. p. 35. 44 CORRÊA, Josel Machado. Recurso de agravo. 2001. p. 35.

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[...] o vocábulo é sempre empregado no sentido gramatical para designar o gravame produzido por decisão judicial que também não se pode confundir com agravo de instrumento como denominação de um recurso próprio, desconhecido na época. Além da apelação, só se conhecia nesse período a sopricação, que era permitida contra as sentenças definitivas proferidas pelo Corregedor da Corte, Ouvidores e Sobrejuízes, que eram inapeláveis em razão da elevada hierarquia de seus prolatores.45

Ainda, na visão de Lobo da Costa, inicialmente o vocábulo

agravo, não tem sentido de agravo de instrumento, mas sim de gravame e

prejuízo. 46

No entanto, as Ordenações Afonsinas tratam, em diversos

textos do Livro Primeiro e Terceiro, do estormento d’agravo, que ainda não é o

recurso de agravo de instrumento.47

1.1.3.2 O RECURSO DE AGRAVO NAS ORDENAÇÕES MANUELINAS

No Direito Português o agravo, como recurso próprio contra

a sentença interlocutória simples com as qualificações que o distinguiam em

agravo de petição ou de instrumento e nos autos, surge no mesmo período

histórico, no regime das Ordenações Manuelinas. Registra-se, que a imprecisão

terminológica perdura pelo emprego indiscriminado do vocábulo agravo, ora para

designar o gravame com o seu tradicional significado, ora para conceituar o

respectivo instrumento escrito, ora para caracterizar o recurso contra a decisão

gravosa.48

Em 1505, resolveu Dom Manuel elaborar um novo código atribuindo incumbência a Rui Botto, Rui Grã e João Cotrim. Em 1512 a obra era impressa em Lisboa; emendada, passou a vigir a partir da sua publicação em 11. 3. 1521 como Ordenações

45 AZEVEDO, Luiz Carlos de; COSTA, Moacyr Lobo. Estudos de história do processo e recursos. São Paulo: Joen Editora. 1996. p. 154. 46 AZEVEDO, Luiz Carlos de; COSTA, Moacyr Lobo. Estudos de história do processo e recursos. 1996. p. 154. 47 CORRÊA, Josel Machado. Recurso de agravo. 2001, p.35. 48 CORRÊA, Josel Machado. Recurso de agravo. 2001, p.38.

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Manuelinas. Assim seguindo o código das Ordenações Afonsinas, omitindo a autoria das leis e alterando a ordem dos títulos, artigos e parágrafos. Sendo então distribuído na seguinte maneira: O código é regulado no livro terceiro, como ocorria no anterior; no livro primeiro era regulado o regimento dos oficiais e magistrados; o livro segundo, dos direitos e dos bens da Coroa, privilégio dos donatários e da Igreja; o quarto dos contratos e das matérias cíveis; e no quinto, dos crimes e das penas.49

Com as Ordenações Manuelinas operou-se simplificação do

agravo de instrumento, que se tornou cabível apenas para os casos em que o

juízo recorrido ficasse à distância superior a cinco léguas do juízo do recurso,

como já informado em oportunidade anterior, situado na capital do Reino, criando-

se, ao lado daquele e com a mesma finalidade, o agravo de petição, que se

processava e seguia nos próprios autos em que proferia a decisão recorrida.50

O agravo de petição foi, assim, inovação das Ordenações Manuelinas. Não existia no Código Afonsino, pois, conforme noticia Alfredo Buzaid, não há material suficiente que demonstre não ter sido o agravo de petição verdadeira criação das Ordenações Manuelinas. As obras que se encontram, segundo o Professor citado, são incompletas e assistemáticas.51

Faz bastante mencionar, que no reinado de Dom João III,

por Carta Régia de 5 de julho de 1526, aos recursos referidos se acrescentou o

de agravo no auto do processo, interponível de despacho relativo à ordem

procedimental, pela influência que a mesma pudesse ter no julgamento da

causa.52

49 CORRÊA, Josel Machado. Recurso de agravo. 2001. p. 39. 50 SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras Linhas de Direito Processual Civil. 1997. p. 125. 51 WAMBIER, Teresa Arruda Alvim. O novo regime do agravo. 1996. p. 22. 52 SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras Linhas de Direito Processual Civil. 1997. p. 125.

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1.1.3.3 O RECURSO DE AGRAVO NAS ORDENAÇÕES FILIPINAS

Nas Ordenações Filipinas, as decisões se dividiam em três

categorias: sentenças definitivas, mistas e interlocutórias.

Com a União Ibérica, Felipe I, de Portugal, ou Felipe II, da Espanha desde 1580 até sua morte, em 1598, promoveu, no que se refere a Portugal , vários atos relevantes ao Direito, como a criação da Relação do Porto e seu Regimento; Regimento da Casa de Suplicação da Chancelaria, do Desembargo do Paço da Reforma da Justiça de 27.7.1582, e estatutos da Universidade de Coimbra, considerando o desejo de Domínio ou centralização do poder real; o desejo dos juristas de impor o direito romano; de repelir a influência canônica, que pelas leis de Dom Sebastião havia sido admitida, principalmente no que se refere ao Concílio de Trento. Então, com a morte de Dom Felipe II, as Ordenações Filipinas só vieram a ser promulgadas em 1603 por Felipe III, juntamente com as Ordenações da Fazenda e artigos de Sizas, que não foram incluídos no Código.53

Nessa época, a divisão do primeiro livro, deu-se como as

demais, tratavam dos magistrados e oficiais de justiça, regulando todas as suas

atribuições, direitos e deveres, continuando, embora, o Desembargador do Paço a

ser regulado pelo Regimento de 27. 7. 1582, que não foi incluído nas

Ordenações; já no segundo livro, o qual veio a regular, as relações entre a Igreja

e o Estado e seus privilégios, que mais tarde foram cancelados, no Brasil pelo art.

8 do Código de Processo Penal, de 1832, bem como os privilégios da Nobreza e

os direitos do Fisco; então no livro terceiro veio a regular o processo civil,

prescrevendo, também, o direito subsidiário, futuramente reformado pela lei de

18. 8. 1769, contudo, no livro quarto, o qual vinha a regular matéria relativa às

pessoas e às coisas, relativamente ao Direito Civil e Comercial, principalmente

contratos, testamento, tutelas, distribuição e foros de terra. Por fim o quinto livro,

veio a tratar de matéria criminal e penal.54

53 CORRÊA, Josel Machado. Recurso de agravo. 2001. p.38. 54 CORRÊA, Josel Machado. Recurso de agravo. 2001. p.49.

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Portanto, as Ordenações Filipinas foram finalizadas em

1595, uma vez que, em julho desse mesmo ano, mais precisamente no dia 5,

foram aprovadas por Felipe I. Contudo, não chegou esta lei a ter o seu necessário

seguimento, pois só em 1603, já no reinado de Felipe II, por força da nova lei,

então em 11 de janeiro, entraram em vigor as chamadas Ordenações Filipinas.55

A grande inovação, nas Ordenações Filipinas, mantendo os

já mencionados agravos, foi a instituição do agravo de ordenação não guardada,

a qual se processava como de petição ou de instrumento conforme o caso, e que

se destinada a resguardar o cumprimento das formalidades extrínsecas dos atos

processuais.56

As Ordenações Filipinas datam de 1603, Já puderam contar com o material que constavam das anteriores compilações e das disposições que a elas foram incorporadas, bem como puderam, aquelas Ordenações, beneficiar-se com os progressos advindos da difusão da imprensa. O código filipino vigeu em Portugal por mais de dois séculos e meio. Esta circunstância, segundo Alcides de Mendonça Lima, é a melhor prova de sua qualidade. As Ordenações Filipinas, de fato, “resistiram à ação iconoclasta do tempo. O primeiro ato que modificou as Ordenações Filipinas, no que diz respeito aos recursos, teve lugar mais de 200 anos após sua entrada em vigor.57

1.4 ORIGEM DO AGRAVO NO DIREITO BRASILEIRO

No Brasil em 3 de maio de 1823, instalou-se uma

Assembléia Constituinte, com o objetivo de elaborar um sistema de direito positivo

brasileiro. Nessa mesma assembléia, em 20 de outubro do mesmo ano, veio a ser

promulgada uma lei em que se determinava que seria vigente no país o sistema

positivo Português então em vigor, na medida em que seus dispositivos não

ofendessem a nova situação de independência brasileira.58

55 CORRÊA, Josel Machado. Recurso de agravo. 2001. p. 50. 56 SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras Linhas de Direito Processual Civil. 1997. p. 125. 57 WAMBIER, Teresa Arruda Alvim. O novo regime do agravo. 1996. p. 35. 58 WAMBIER, Teresa Arruda Alvim. O novo regime do agravo. 1996. p. 40.

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Com o mesmo entendimento anota Josel Machado Corrêa:

Em matéria de recursos, registra-se a instalação, em 3.5.1983 da Assembléia Constituinte, com o objetivo de elaborar um sistema de Direito positivo. Esta mesma assembléia, em 20 de outubro do mesmo ano, promulgou uma lei em que determinava vigente no país o sistema positivo português então em vigor, na medida em que seus dispositivos não ofendessem a Independência. Passaram assim a ter vigência no Brasil as Ordenações Filipinas e leis extravagantes que possuíam cinco espécies de agravo: agravo ordinário; agravo de ordenação não guardada; agravo de instrumento; agravo de petição e agravo no auto do processo.59

No entanto, passaram a ter vigência no Brasil, as

Ordenações Filipinas e leis extravagantes. Em 1832, o que se tem chamado de

primeiro período do direito processual civil brasileiro, com o Código de Processo

Criminal do Império, a qual compreendia a “Disposição Provisória Acerca de

Administração de Justiça Civil”. 60

O estado de legislação, supra, perdurou até que a Lei de

03.12.1841, no art. 120, taxativamente revogasse o art. 14, o qual previa que os

agravos de petição e de instrumento ficassem reduzidos a agravo no auto do

processo, restabelecendo o Direito anterior Português.61

Também, foi expressamente banido da legislação positiva o

“agravo de ordenação não guardada”, pelo Decreto 143, de 15. 3. 1842. Este

agravo, como já se observou, era recurso cabível de quaisquer despachos e

mesmo de sentenças definitivas, logo que o juiz deixasse de guardar a ordenação

acerca da ordem do processo.62

59 CORRÊA, Josel Machado. Recurso de agravo. 2001. p. 67. 60 WAMBIER, Teresa Arruda Alvim. O novo regime do agravo. 1996. p. 40. 61 CINTRA, Valentina Jungmann Alla. O recurso de agravo e a Lei 9.139, de 30.11.1995. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 1998. p. 23. 62 WAMBIER, Teresa Arruda Alvim. O novo regime do agravo. 1996. p. 40.

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33

Assim, com a mesma orientação descreve Valentina

Jungmann Cintra Alla, que das cinco espécies de agravos que existia resumiu-se

em três com a entrada em vigor do Decreto Regulamentar 143:

Em 15.03.1842 surgiu o Decreto Regulamentar 143, que aboliu os agravos de ordenação não guardada e o ordinário, mantendo unicamente três modalidades: de petição, de instrumento e no auto do processo. Com a edição de Leis posteriores, foram-se ampliando os casos de agravo, obedecendo sempre critérios da enumeração casuística.63

Conseqüentemente, Governo Imperial determinou ao

Conselheiro Antonio Joaquim Ribas, que consolidasse as leis processuais

brasileiras promulgadas desde a independência política. A partir de 1890, esta

Consolidação passou a disciplinar o processo civil, tendo-se limitado a aplicação

do Regimento 737 às causas comerciais.64

Com essa Consolidação legislativa, mantiveram-se os

agravos de instrumento, de petição e no auto do processo, remanescendo como

critério distintivo entre os dois primeiros, o territorial.65

Nessa época cada Estado possuía suas próprias legislações

processuais, quase todos os Códigos Estaduais eram inspirados no Regulamento

737, e este mesmo, a partir do Decreto 693/1890, acabou por vigorar nos

Estados-federados, até que estes tivessem seus códigos, e, embora nem todos

tenham chegado a ter Códigos Estaduais, dentre os que os tivessem, quase todos

conservaram o critério da enumeração casuística, chegando até 80 casos,

contudo, todos os ordenamentos processuais (códigos, regulamentos, etc.) que

passaram a ter vigência nos Estados previam a figura do agravo de instrumento,

mas houve Estados que não chegaram a ter seus Códigos, como é o caso de

Goiás e de Mato Grosso, pois os projetos que ali foram elaborados não chegaram

63 CINTRA, Valentina Jungmann Alla. O recurso de agravo e a Lei 9.139, de 30.11.1995. 1998. p. 23. 64 WAMBIER, Teresa Arruda Alvim. O novo regime do agravo. 1996. p. 41. 65 WAMBIER, Teresa Arruda Alvim. O novo regime do agravo. 1996. p. 41.

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a converter-se em lei, de forma que, até à edição do Código de 1939, continuaram

a aplicar-se, nesses Estados, os dispositivos do regulamento 737.66

Então, depois desse momento procedimental, o recurso

subia ao órgão ad quem, caso não houvesse reforma da decisão, e era julgado,

aplicando-se os dispositivos legais relativos ao agravo de instrumento, no que

coubessem, também ao agravo de petição. Este critério prevaleceu entre nós até

o advento do Código de Processo Civil brasileiro, de 1939.67

Vale destacar, a intenção da exposição de motivos do

Código de Processo Civil de 1939, trazido por Josel Machado Corrêa:

A exposição de Motivos, encaminhada ao Presidente da República Getúlio Vargas, em 24 de junho de 1934, pelo Ministro de Justiça Francisco Campos, inicia-se referindo que, quanto aos recursos, deveriam ser abolidos os dos despachos interlocutórios, pois estes concorriam para tumultuar o processo, prolongá-lo e estabelecer confusão no seu curso; fundavam-se na generalidade em matéria de caráter puramente processual e só se justificam em um sistema de processo concebido de matéria rígida ou herática, como tendo por única finalidade a estrita observância das duas regras técnicas.68

Com a revogação do código anterior obteve-se uma grande

evolução do direito processual brasileiro. Houve o rompimento com o praxismo e

adotaram-se modernos princípios processuais, desenvolvidos pela doutrina alemã

e, posteriormente, pela italiana.69

Assim, com o advento do novo Código, admitiram-se três

espécies de agravo: de petição, de instrumento e no auto do processo. O primeiro

tinha efeito suspensivo e só era cabível de decisões interlocutórias mistas, isto é,

daquelas decisões que não resolviam o mérito, mas pusessem fim ao processo. O

agravo de instrumento e o no auto do processo, tinham cabimento genérico, eis 66 NORONHA, Carlos Silveira. Do agravo de instrumento. 1994. p. 39-44. 67 WAMBIER, Teresa Arruda Alvim. O novo regime do agravo. 1996. p. 46. 68 CORRÊA, Josel Machado. Recurso de agravo. 2001. p. 99. 69 WAMBIER, Teresa Arruda Alvim. O novo regime do agravo. 1996. p. 46.

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que não possuíam uma especificação legal. Ficando o primeiro interposto pela

casuística legal, tinha que ver se era aplicado ao caso concreto. Já o agravo no

auto do processo satisfazia a exigência, peculiar ao processo oral e concentrado,

da não recorribilidade em separado das decisões interlocutórias.70

Na mesma seara, Josel Machado Corrêa, ensina:

O elencado no art. 842 [do CPC], no entanto, disciplinava os de agravo de instrumento interponíveis contra sentenças definitivas. Estas eram as hipóteses do inciso XV, em que o agravo de instrumento era o recurso comum, tanto contra as decisões sobre questões incidentes, como contra as sentenças definitivas que encerravam os procedimentos cautelares e preparatórios. Estas decisões nem sempre era fácil de se estabelecer, pois se assenta no conceito de mérito, e a esse respeito não eram unânimes nem a doutrina, nem a jurisprudência, e inexistia dispositivo similar ao art. 269 do Código em vigor.71

Na vigência do Código de Processo Civil de 1939, a qual

contemplou casuisticamente as decisões sobre questões incidentes, passíveis do

recurso, seguindo neste particular toda a legislação anterior, desde as origens do

instituto até aquela data.72

O sistema adotado pelo Código de Processo Civil de 1973

extinguiu algumas espécies de agravo existentes no sistema revogado, como os

agravos de petição e no auto do processo, contudo, criou o agravo retido.73

O novo estatuto reservou o agravo de instrumento para ser

interposto contra as decisões interlocutórias em geral, sejam simples ou mistas,

70 CINTRA, Valentina Jungmann Alla. O recurso de agravo e a Lei 9.139, de 30.11.1995. 1998. p. 24-25. 71 CORRÊA, Josel Machado. Recurso de agravo. 2001. p.112. 72 CORRÊA, Josel Machado. Recurso de agravo. 2001. p.111. 73 CINTRA, Valentina Jungmann Alla. O recurso de agravo e a Lei 9.139, de 30.11.1995. 1998. p. 25.

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contenham ou não dano irreparável, declarando irrecorríveis apenas os

despachos de mero expediente.74

Contudo, o diploma de 1973, abandonou definitivamente o

princípio da não recorribilidade em separado das interlocutórias, estabelecendo,

contrariedade, a ampla impugnabilidade das questões que o juiz decide

incidentalmente no processo, salvo quando se tratar de simples despacho

ordinatório.75

Com o advento da Lei nº 9.139/1995, no que cuida do

agravo, trouxe importantes inovações no processamento desse recurso, desde o

prazo, passando pelo local de sua interposição, efeitos, possibilidade de

interposição oral, até uma melhor sistematização em sua modalidade retida.76

A grande inovação que veio solucionar questões que há

muito tempo vinha sendo discutidas nas academias, refere-se à contemplação do

direito do contraditório no agravo retido e também pelo juízo de retratação (art.

523 § 2º) não previsto pelo Código de 1973 e que tantas e calorosas discussões

movimentou o Direito Processual Civil antes da Lei nº 9.139/1995.77

Importante destacar, que a alteração no Código de Processo

Civil advindo pela Lei n. 9.756/1998, no que se refere ao agravo, apenas alterou

regras dos art. 545 e o § 1º do art. 557, ambos correspondentes ao agravo

interposto contra decisões em segunda instância, o que não importa para o

presente trabalho monográfico.78

74 CORRÊA, Josel Machado. Recurso de agravo. 2001. p.136.

75 CORRÊA, Josel Machado. Recurso de agravo. 2001. p.136.

76 CORRÊA, Josel Machado. Recurso de agravo. 2001. p.166.

77 CORRÊA, Josel Machado. Recurso de agravo. 2001. p.166-167.

78 TEXEIRA, Sálvio de Figueiredo. A Lei 9.756/98 e suas inovações. In: Nery Jr., Nelson; Wambier, Teresa Arruda Alvin. (Coord). Aspectos polêmicos e atuais dos recursos cíveis e assuntos afins. São Paulo: Revista dos Tribunais. 1999. p. 543.

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Também, no que se trata as modificações oriundas da Lei n.

10.352/200179, esta sim, introduziu algumas alterações relevantes ao agravo de

decisões interlocutórias em primeiro grau.

Para uma breve revisão das alterações no diploma

processual civil, têm-se os Códigos de Processo Civil de 1939, 1973 e, também,

as reformas introduzidas pelas Leis n. 9.139/1995, n. 9.756/1998 e n.

10.352/2001, bem como a Lei n. 11.187/2005 que será estudada no 3 capítulo.

1.5 TEORIA GERAL DOS RECURSOS

A teoria dos recursos será apresentada ao leitor neste

tópico, no intento de mostrar ao leitor como é tratado o processamento dos

recursos em geral no sistema processual civil brasileiro, abrangendo o conceito

de recurso, pressupostos de admissibilidade e sua classificação. 79Art. 523. [...] [...] § 2o Interposto o agravo, e ouvido o agravado no prazo de 10 (dez) dias, o juiz poderá reformar sua decisão. [...] § 4o Será retido o agravo das decisões proferidas na audiência de instrução e julgamento e das posteriores à sentença, salvo nos casos de dano de difícil e de incerta reparação, nos de inadmissão da apelação e nos relativos aos efeitos em que a apelação é recebida."(NR) Art. 526. [...] [...] Parágrafo único. O não cumprimento do disposto neste artigo, desde que argüido e provado pelo agravado, importa inadmissibilidade do agravo."(NR) Art. 527. Recebido o agravo de instrumento no tribunal, e distribuído incontinenti, o relator: I - negar-lhe-á seguimento, liminarmente, nos casos do art. 557; II – poderá converter o agravo de instrumento em agravo retido, salvo quando se tratar de provisão jurisdicional de urgência ou houver perigo de lesão grave e de difícil ou incerta reparação, remetendo os respectivos autos ao juízo da causa, onde serão apensados aos principais, cabendo agravo dessa decisão ao órgão colegiado competente; III – poderá atribuir efeito suspensivo ao recurso (art. 558), ou deferir, em antecipação de tutela, total ou parcialmente, a pretensão recursal, comunicando ao juiz sua decisão; IV – poderá requisitar informações ao juiz da causa, que as prestará no prazo de 10 (dez) dias; V – mandará intimar o agravado, na mesma oportunidade, por ofício dirigido ao seu advogado, sob registro e com aviso de recebimento, para que responda no prazo de 10 (dez) dias, facultando-lhe juntar cópias das peças que entender convenientes; nas comarcas sede de tribunal e naquelas cujo expediente forense for divulgado no diário oficial, a intimação far-se-á mediante a publicação no órgão oficial; VI - ultimadas as providências referidas nos incisos I a V, mandará ouvir o Ministério Público, se for o caso, para que se pronuncie no prazo de 10 (dez) dias.(<http://www1.planalto.gov.br.> Acesso em: 29 de maio de 2008.)

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1.5.1 CONCEITO DE RECURSO NO PROCESSO CIVIL BRASILEIRO

A irresignação entre as pessoas que se deparam no dia-a-

dia com situações que venham trazer alguma falta de conforto na vivencia

pacífica em sociedade, vêm essas na busca de soluções aos inconformismos,

chamar o Estado através do Poder Judiciário para que com parcialidade possa

equilibrar a balança, a fim de que seus interesses sejam atendidos, assim traz à

baila as sabias escritas do Doutor Araken de Assis:

O inconformismo arrebata homens e mulheres nas situações incômodas e desfavoráveis. Poucos aquiescem à adversidade. Envolvendo a rotina da condição humana conflitos intersubjetivos, resolvidos por intermédio da intervenção do Estado, a vida em sociedade se transforma em grandiosa fonte de incômodos. E a própria pendência do mecanismo instituído para equacionar os conflitos provoca dissabores de outra natureza. A causa mais expressiva do descontentamento, cumulada à sensação asfixiante de desperdício de tempo valioso, avulta nos pronunciamentos contrários ao interesse das partes e de terceiros emitidos neste âmbito. O homem e a mulher na sociedade pós-moderna se acostumaram às relações instantâneas dos modernos meios de comunicação e reagem muito mal a qualquer demora e a soluções que não lhes atendam plena e integralmente os interesses.80

Em decorrência do inconformismo gerado entre a sociedade,

na formação do processo no intento do equilíbrio de vontades, e no

descontentamento das partes para com a proferida decisão judicial, surge aí a

possibilidade da impugnação ao decisório, ou seja, o recurso. Tem-se o recurso o

espírito de uma maior segurança (interesse público), atentando ao princípio do

duplo grau de jurisdição, haja vista passar a apreciação da matéria ao órgão

diverso daquele que julgou primeiramente, ou até mesmo pela autoridade que a

criou. Neste passo mais uma vez no ensina Araken de Assis:

Para dissipar a tensão gerada por essas forças incomensuráveis, os ordenamentos jurídicos, ao longo dos séculos, forjaram engenhosa solução de compromisso. Ao vencido na primeira

80 ASSIS, Araken. Manual dos Recursos. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2007, p.31.

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apresentação da solução do conflito, raramente convencido desse resultado, a lei confere o direito de provocar outra avaliação do seu alegado direito, de ordinário perante órgão judiciário diverso e de superior hierarquia. Às vezes, a reapreciação ocorre perante o mesmo órgão judiciário, alterada ou não a composição originária. A remessa da causa para outra avaliação, em órgão diferente, sugeriu a formulação básica e a ulterior explicitação do princípio do duplo grau de jurisdição. Fiel à natureza do recurso, aqui adotada, o duplo grau se efetiva no mesmo processo. Por essa razão, receberá a designação de princípio do duplo grau na unidade do processo.81

Outrossim, de toda decisão judicial, - sentenças, decisões

interlocutórias e acórdãos -, é assegurado meios para impugnação, objetivando a

efetiva revisão dos atos que de alguma forma veio a trazer gravame a uma das

partes ou ambas. O recurso visa o alcance de quatro resultados: reforma,

invalidação, esclarecimento e integração da decisão judicial impugnada.

A finalidade do recurso é o pedido de reexame de uma decisão, para reformá-la, invalidá-la, esclarecê-la ou integrá-la. Em geral, na maioria dos casos, pretende-se com o recurso a reforma ou a modificação de uma decisão, para que outro tribunal (de regra) substitua a decisão por outra que atenda aos interesses do recorrente. Mas, se a decisão recorrida estiver viciada, o recurso pode ter por objeto o pedido de declaração de sua invalidade, a fim de que se renove a decisão do mesmo órgão jurisdicional recorrido, desde que se corrija o vício que levou à nulidade. Finalmente, no caso dos embargos de declaração, a finalidade é obter um esclarecimento da sentença ou acórdão, em virtude de obscuridade, dúvida ou contradição, ou ainda sua integração, se houve alguma omissão.82

Válido tomar nota, que dos resultados supracitados, cada

um tem objeto específico a ser alcançado, no caso da reforma de uma decisão

judicial, o recorrente guerreia o error in iudicando, ou seja, o erro de julgamento,

tanto o erro pode ser de direito material como processual. 81 ASSIS, Araken. Manual dos Recursos. 2007. p.68-69.

82 GRECO FILHO, Vicente. Direito processual civil brasileiro. 18. ed. São Paulo: Saraiva, 2007. p. 294.

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Ocorre o error in iudicando quando o magistrado atribui ao direito positivo uma vontade que não é a sua verdadeira, ou seja, quando o juiz profere uma declaração errônea da vontade concreta da lei.Em outros termos, toda vez que se interpuser recurso contra uma decisão sob o fundamento de que a mesma deu errônea solução à questão sobre a qual versa, o objeto de tal recurso será a reforma da referida decisão judicial.83

Oposto ao error in iudicando, apresenta-se o error in

procedendo, o qual está interligado em algum vício processual, - descumprimento

do princípio do devido processo legal -, portanto, a decisão proferia vem a

consistir em algum vício formal, assim a parte lesada terá por objetivo a

invalidação da decisão recorrida.

O error in procedendo está sempre ligado ao descumprimento de uma norma de natureza processual e consiste em vício formal da decisão, que acarreta sua nulidade. Nesta hipótese, o objeto do recurso não será a reforma da decisão recorrida, mas sua invalidação.84

No que tange o recurso para esclarecimento de uma decisão

judicial, o que se pretende é uma explicação mais clara da questão, ato que não

visa a prolação de nova decisão, visto que ao proferir a decisão o magistrado a

deixou obscura, contraditória ou omissa. Esse tipo de recurso é oposto para o

próprio órgão que a proferiu, assim leciona Luiz Guilherme Marinoni e Sérgio Cruz

Arenhart :

É necessário que a tutela jurisdicional seja prestada de forma completa e clara. Exatamente por isso, ou melhor, com o objetivo de esclarecer, complementar e aperfeiçoar as decisões judiciais, existem os embargos de declaração. Esse recurso não tem a função de viabilizar a revisão ou a anulação das decisões judiciais, como acontece com os demais recursos. Sua finalidade

83 FREITAS CÂMARA, Alexandre. Lições de direito processual civil.13. Rio de Janeiro: Editora Lúmen Júris, 2006. p. 56. 84 FREITAS CÂMARA, Alexandre. Lições de direito processual civil. 2006. p. 57.

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é corrigir defeitos – omissão, contradição e obscuridade – do ato judicial, os quais podem comprometer sua utilidade.85

Fazendo parte do conceito de recurso, esse é um remédio

voluntário, que permite a faculdade da parte em impugnar decisão judicial que de

alguma forma veio trazer gravame.

Neste sentido afirma Misael Montenegro Filho:

O recurso caracteriza-se como o instrumento processual voluntariamente utilizado pela parte que tenha sofrido gravame com a decisão judicial para obter a sua reforma, a sua invalidação, o seu esclarecimento ou a sua integração, com a expressa solicitação de que nova decisão judicial proferida, que pode ou não substituir o pronunciamento hostilizado.86

Também, de grande importância frisar, para Alexandre

Freitas Câmara o recurso não constitui nova fase processual, isto quê dizer que

surge dentro do mesmo processo, ou seja, endoprocessual, essa é uma

característica marcante, pois difere das ações autônomas de impugnação, como é

o caso da “ação rescisória”.87

Neste passo Misael Monteiro Filho , afirma:

O traço marcante dos recursos é o de que a revisão do pronunciamento judicial opera-se no âmbito do próprio processo, sem ensejar a formação de nova relação jurídica. N’outro dizer, não se forma um novo processo com o objetivo de a decisão ser revista; a revisão é endoprocessual, no curso da ação que envolve o autor, o réu e o magistrado que criou a decisão objeto da irresignação, quando muito sendo tratada como incidente processual, como ocorre na hipótese do recurso de agravo de

85MARINONI, Luiz Guilherme; CRUZ ARENHART, Sérgio. Processo de Conhecimento. 6 ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais. 2007 p. 544. 86MONTENEGRO FILHO, Misael. Teoria geral dos recursos, recursos em espécie e processo de execução. 4. ed. São Paulo: Editora Atlas. 2007. p. 8. 87 FREITAS CÂMARA, Alexandre. Lições de direito processual civil. 2006. p. 57.

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instrumento, que forma autos no tribunal competente para dele conhecer.88

Como já pontuado na citação supra de Misael Monteiro

Filho, o único recurso que é formado por autos apartados é o Agravo de

Instrumento, os quais são conduzidos ao Tribunal com as peças necessárias para

análise do recurso, enquanto o processo principal continua sua caminhada no

juízo de primeiro grau, preleciona Alexandre Freitas Câmara :

Há que se notar que existe um recurso – o agravo de instrumento – em que são formados autos apartados, os quais são enviados ao tribunal, enquanto os autos principais permanecem com o juízo de primeira instância. Isto não altera, porém, o que acabou de ser dito. A formação de novos autos não implica o aparecimento de processo novo. O que se tem na hipótese é um desdobramento do procedimento, o qual irá pender, simultaneamente, perante o juízo de primeiro grau e o tribunal.89

Por fim passamos a conceituar recurso nas palavras de

Plácido e Silva , que tem sua origem do latim, vem de recursus, que significa na

sua literalidade: re + cursus, ou seja, retorno de um caminho já percorrido.90

Simples é a conceituação de recurso para Barbosa Moreira:

“o remédio voluntário e idôneo e ensejar, dentro do mesmo processo, a reforma, a

invalidação, o esclarecimento ou integração de decisão judicial que se

impugna.”91

No entanto, conforme o exposto, recurso é o meio de

impugnação de decisão judicial, tendo como característica a voluntariedade e não

autonomia, que pode a parte que se achar prejudicada, por este instrumento obter

a reforma, invalidação, esclarecimento ou integração de decisão judicial.

88 MONTENEGRO FILHO, Misael. Teoria geral dos recursos, recursos em espécie e processo de execução. 2007. p. 8. 89 FREITAS CÂMARA, Alexandre. Lições de direito processual civil. 2006. p. 56. 90 SILVA, De Placido e, Vocabulário Jurídico. 3ª ed. Rio de Janeiro: Forense. 1991. p. 1170. 91 BARBOSA MOREIRA, José Carlos. Novo Processo Civil Brasileiro. Rio de Janeiro: Forense. 2001. p. 122.

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1.5.2 PRESSUPOSTOS DE ADMISSIBILIDADE DOS RECURSOS

Inicialmente frisa-se que, para julgamento de qualquer

recurso, necessária a análise de duas fases o juízo de admissibilidade e juízo de

mérito, sendo aquela imprescindível à apreciação desta, pois antes de examinar o

contido no recurso, que é a reforma, anulação, esclarecimento ou integração,

necessário se faz a admissibilidade.

Nas lições do professor Alexandre Freitas Câmara:

O julgamento dos recursos divide-se em duas fases, denominadas juízo de admissibilidade e juízo de mérito. Na primeira delas, preliminar (no sentido estrito do termo, significando que a decisão aqui proferida pode impedir que se passe ao juízo de mérito), verifica-se a presença dos requisitos de admissibilidade do recurso. Sendo positivo este juízo, ou seja, admitido o recurso, passa-se, de imediato, ao juízo e mérito, fase do julgamento em que se vai examinar a procedência ou não da pretensão manifestada no recurso.92

Dependendo do recurso interposto, cabe ao juízo a quo e

também ao Tribunal ou tão-somente a este, realizar o juízo de admissibilidade,

pois mesmo que cabendo ao juízo a quo averiguar os pressupostos de

admissibilidade, este ainda não deixará de passar por revisão no juízo ad quem.

Vicente Greco Filho, assim colaciona:

Conforme o recurso, o juízo de admissibilidade dos recursos se faz parte pelo juízo a quo e parte pelo tribunal ad quem e às vezes apenas no tribunal ad quem, mas, ainda que o tribunal ou juízo a quo tenha a função legal de examinar o cabimento do recurso, o juízo de admissibilidade que fizer, quando positivo, será sempre provisório, admitindo revisão pelo tribunal ad quem. O tribunal competente para julgar o recurso pelo mérito é que faz o juízo de admissibilidade definitivo. E, se o juízo de admissibilidade no juízo

92 FREITAS CÂMARA, Alexandre. Lições de direito processual civil. 2006. p. 63.

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ou tribunal a quo for negativo, dessa decisão cabe sempre recurso, para que possa ser conferida pelo tribunal ad quem.93

As condições do recurso são os requisitos mínimos que

devem ser apreciados pela parte que irá interpô-lo, podemos fazer comparação

com as mesmas exigências impostas na propositura de uma ação, assim ensina

Misael Montenegro Filho:

Estas premissas básicas podem ser transpostas para matéria recursal. Por analogia, podemos afirmar sem (por enquanto) maior compromisso científico que as condições estão para ação (e para o processo) assim como os requisitos de admissibilidade estão para os recursos.94

Para Alexandre Freitas Câmara, as condições do recurso

nada mais são do que projeções das condições da ação, aplicadas a este

especial ato de exercício do poder de ação que é o recurso. Deste modo, há que

se considerar as aplicações especiais da legitimidade das partes, do interesse de

agir e da possibilidade jurídica da demanda, que são a legitimidade para recorrer,

o interesse em recorrer e a possibilidade jurídica do recurso. 95

Nesse enfoque adotaremos o modo de classificação dos

requisitos de admissibilidade em intrínsecos (atinentes à própria existência de

recorrer) e extrínsecos (concorrentes ao exercício daquele direito).96

1.5.2.1 REQUISITOS INTRÍNSECOS

O requisito intrínseco por sua vez é caracterizado pela

existência do poder de recorrer, são eles: cabimento ou adequação, legitimidade,

interesse e inexistência de fato impeditivo ou extintivo.

93 GRECO FILHO, Vicente. Direito processual civil brasileiro. 2007. p. 302-303. 94 MONTENEGRO FILHO, Misael. Teoria geral dos recursos, recursos em espécie e processo de execução. 2007. p. 34. 95 FREITAS CÂMARA, Alexandre. Lições de direito processual civil. 2006. p. 69. 96 BARBOSA MOREIRA, José Carlos. Novo Processo Civil Brasileiro. 2001. p. 165.

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1.5.2.1.1 CABIMENTO OU ADEQUAÇÃO

Humberto Theodoro Junior ensina que “há um recurso

próprio para cada decisão, diz-se por isso que o recurso é cabível, próprio ou

adequado quando corresponda a previsão legal para a espécie da decisão

impugnada.”97

Contudo, Marinoni e Arenhart ensinam:

Portanto, um recurso somente é cabível quando a lei processual indicar-lhe – diante de determinada finalidade especifica e certo ato judicial – como o adequando para extravasar a insurgência. Poderia este pressuposto ser tomado, por analogia, como a adequação da via, elemento da condição da ação denominado “interesse de agir”.98

Dois princípios fundamentais regem a adequação dos

recursos: o da singularidade99 e o da fungibilidade100 recursos.

Assim sendo, diz-se que o recurso é cabível quando previsto

no código processual, e adequado quando correto para impugnar decisão judicial.

1.5.2.1.2 LEGITIMIDADE PARA RECORRER

Para recorrer de qualquer decisão judicial é necessário que

a parte tenha legitimidade. Assim como a ação, necessária se faz que a parte leve

97 THEODORO JÚNIOR,Humberto. Curso de Direito Processual Civil. 44ª ed.Rio de Janeiro: Editora Forense, 2006. p. 621. 98 MARINONI, Luiz Guilherme; CRUZ ARENHART, Sérgio. Processo de Conhecimento. 2007. p. 507. 99 Humberto Theodoro Júnior diz que: Pelo princípio da singularidade significa que de cada decisão caberá apenas um único recurso. 100 Humberto Theodoro Júnior diz que: Significa que o recurso não poderá ser substituído por outro, ou seja, o recurso é cabível, próprio ou adequado quando corresponda a previsão legal para a espécie de decisão impugnada.

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sua pretensão ao Judiciário, isto porque é titular da relação jurídica discutida ou

esteja expressamente autorizado por lei.101

Montenegro Filho define que:

A legitimidade das partes, no plano processual, refere-se à demonstração de que a pessoa que se apresenta em juízo é titular do direito material conduzido pelo exercício do direito de ação, coincidindo as figuras do sujeito da lide e do sujeito do processo.102

O Código de Processo Civil Brasileiro, em seu artigo 499103,

confere legitimidade para interpor recuso à parte que foi vencida, ao Ministério

Público quando atua no feito e terceiro prejudicado, por efeito reflexo do decisório.

Ainda pode o Ministério Público, por força do § 2º do art.

499, do CPC, recorrer naqueles processos em que atua como fiscal da lei.

Segundo Alexandre Freitas Câmara, é controversa a doutrina, a intervenção do

Ministério Público, nos processos em que se dá por haver interesse de incapaz.104

Portanto, têm legitimidade para interpor qualquer tipo de

recurso, inclusive recurso de agravo, os legitimados pelo artigo 499 do CPC.

1.5.2.1.3 INTERESSE DE RECORRER

Sobre o interesse de recorrer, assevera Areken de Assis

que, o interesse em impugnar os atos de qualquer decisão judicial acudirá o

recorrente quando visar à obtenção mais favorável do que a plasmada no ato

101 GRECO FILHO, Vicente. Direito processual civil brasileiro. 2007. p. 279. 102MONTENEGRO FILHO, Misael. Teoria geral dos recursos, recursos em espécie e processo de execução. 2007. p. 79. 103Art. 499. O recurso pode ser interposto pela parte vencida, pelo terceiro prejudicado e pelo Ministério Público. § 1o Cumpre ao terceiro demonstrar o nexo de interdependência entre o seu interesse de intervir e a relação jurídica submetida à apreciação judicial. § 2o O Ministério Público tem legitimidade para recorrer assim no processo em que é parte, como naqueles em que oficiou como fiscal da lei. (BRASIL. Código de Processo Civil. 12. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007). 104 FREITAS CÂMARA, Alexandre. Lições de direito processual civil. 2006. p. 69.

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sujeito ao recurso e, para atingir o mais próximo do fim pretendido, a via recursal

se mostra caminho necessário.105

Decorrente ao binômio necessidade/utilidade, Babosa

Moreira ensina que:

Configura-se este requisito sempre que o recorrente possa esperar, em tese, do julgamento do recurso, situação mais vantajosa, do ponto de vista prático, do que aquela em que o haja posto a decisão impugnada (utilidade do recurso) e, mais, que lhe seja preciso usar as vias recursais para alcançar esse objetivo (necessidade do recurso) além da legitimidade.106

Portanto, para evidenciar o direito de recorrer há

necessidade de dois requisitos: a necessidade cumulada com a utilidade.

Excepcional é a regra para o Ministério Público, o Parquet

mesmo vencedor do litígio na condição de parte ou fiscal da lei, pode interpor

recurso contra a decisão que lhe foi favorável, em consonância ao princípio da

independência funcional.107

Por fim, tem-se que, o interesse recursal compete aquele

que não obteve em decisão judicial todo o pretendido, sendo a decisão julgada

totalmente ou parcialmente improcedente.

1.5.2.1.4 INEXISTÊNCIA DE FATO IMPEDITIVO OU EXTINTIVO DO PODER DE

RECORRER

Existem fatos prévios e ulteriores à interposição do recurso

que extinguem o poder de recorrer e impedem o exame do recurso. A renúncia

105 ASSIS, Araken. Manual dos Recursos. 2007. p. 154. 106 BARBOSA MOREIRA, José Carlos. Novo Processo Civil Brasileiro. 2001. p. 142. 107 MONTENEGRO FILHO, Misael. Teoria geral dos recursos, recursos em espécie e processo de execução. 2007. p. 78.

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(art. 502) e a aquiescência (art. 503) constituem fatos extintivos. O fato impeditivo

é a desistência (art. 501).108

Art. 501. O recorrente poderá, a qualquer tempo, sem a anuência do recorrido ou dos litisconsortes, desistir do recurso.

Art. 502. A renúncia ao direito de recorrer independe da aceitação da outra parte.

Art. 503. A parte, que aceitar expressa ou tacitamente a sentença ou a decisão, não poderá recorrer. Parágrafo único. Considera-se aceitação tácita a prática, sem reserva alguma, de um ato incompatível com a vontade de recorrer.109

Explicando este requisito anota Luiz Guilherme Marinoni e

Sérgio Cruz Arenhart:

Certas circunstâncias, quando presentes no processo, tomam caráter de verdadeiro negócio processual, alterando os direitos processuais conferidos aos sujeitos do processo. Assim também pode acontecer com o direito de recorrer, que pode ser objeto de negócio processual, capaz de extingui-lo. Tem-se, neste ponto, a figura da renúncia ao direito de recorrer, como principal instituto. A parte prejudicada por certa decisão judicial pode renunciar ao direito de interpor recurso, acelerando com isso o procedimento. Neste caso, uma vez praticado o ato de disposição, opera-se preclusão lógica, não mais existindo o direito de recorrer.110

Também, na explicação do instituto da desistência Araken

de Assis traz:

A desistência do recurso discrepa da desistência da ação em virtude da desnecessidade de concordância, porque o réu tem direito do julgamento do mérito, em particular, à improcedência, e da diversidade dos efeitos. Perante a desistência da ação, o juiz

108 ASSIS, Araken. Manual dos Recursos. 2007. p. 165. 109 BRASIL. Código de Processo Civil. 12. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007. 110 MARINONI, Luiz Guilherme; CRUZ ARENHART, Sérgio. Processo de Conhecimento. 2007. p. 510.

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emitirá sentença terminativa (art. 267, VIII); na hipótese de desistência do recurso, prevalecerá em definitivo o pronunciamento já emitido, eventualmente acerca do mérito.111

Fato impeditivo é a desistência, e ocorrerá a qualquer

tempo, exigindo, unicamente, a existência de um recurso já interposto, sendo que,

de acordo com entendimento jurisprudencial dominante, deve ser, manifesta por

meio de petição escrita, todavia não impede que tal se faça oralmente, na própria

sessão de julgamento.112

Já a aceitação é conduta indireta, em que a parte não

manifesta, expressamente, seu desinteresse em utilizar a via recursal, mas se

conforma por meio de atos que demonstram inequivocamente a concordância

com a decisão, que poderia em tese ser recorrida (como o cumprimento, sem

ressalvas, da sentença).113

1.5.2.2 REQUISITOS EXTRÍNSECOS

Os requisitos extrínsecos constituem, respeitantes ao modo

de exercer o recurso, a tempestividade, regularidade formal e preparo.114

1.5.2.2.1 TEMPESTIVIDADE

Tal pressuposto diz respeito ao prazo, fixado na lei, para a

interposição do recurso.

O prazo é contado na forma do artigo 506 do Código de

Processo Civil:

111 ASSIS, Araken. Manual dos Recursos. 2007. p. 168. 112 WILLERM, Denise Oliva. Recursos do Processo Civil Brasileiro. Vol. 842. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais. 2005. p. 54. 113 MARINONI, Luiz Guilherme; CRUZ ARENHART, Sérgio. Processo de Conhecimento. 2007. p. 510. 114 ASSIS, Araken. Manual dos Recursos. 2007. p. 179.

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Art. 506. O prazo para a interposição do recurso, aplicável em todos os casos o disposto no art. 184 e seus parágrafos, contar-se-á da data: I - da leitura da sentença em audiência; II - da intimação às partes, quando a sentença não for proferida em audiência; III - da publicação da súmula do acórdão no órgão oficial. III - da publicação do dispositivo do acórdão no órgão oficial. Parágrafo único. No prazo para a interposição do recurso, a petição será protocolada em cartório ou segundo a norma de organização judiciária, ressalvado o disposto no § 2o do art. 525 desta Lei.115

Deve-se observar, no entanto, o prescrito no artigo 184 do

CPC:

Art. 184. Salvo disposição em contrário, computar-se-ão os prazos, excluindo o dia do começo e incluindo o do vencimento. § 1o Considera-se prorrogado o prazo até o primeiro dia útil se o vencimento cair em feriado ou em dia em que: I - for determinado o fechamento do fórum; II - o expediente forense for encerrado antes da hora normal. § 2º Os prazos somente começam a correr a partir do primeiro dia útil após a intimação § 2o Os prazos somente começam a correr do primeiro dia útil após a intimação.116

Vale lembrar, que esses prazos submetem-se a regras

especiais, decorrentes de certas circunstâncias subjetivas e objetivas específicas.

Computando-se em dobro os prazos recursais a Fazenda Pública e Ministério

Público, bem como nos casos em que houver no processo litisconsortes com

advogados distintos. De qualquer sorte, embora, não admitam dilação por acordo

nos prazos recursais, podem ser prorrogados em caso de calamidade pública ou

115 BRASIL. Código de Processo Civil. 12. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007. 116 BRASIL. Código de Processo Civil. 12. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007.

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de outra justa causa, que venha impedir o ato em tempo oportuno (art. 182,

parágrafo único e 183, caput, in fine, do CPC).117

Constata - se que, terá a parte recorrida o mesmo prazo

para se manifestar do recurso interposto, iniciando-se a partir último dia do prazo

para o recorrente, haja vista que todo recurso há de ser interposto antes de findar

o prazo previsto em lei, por tratar-se de prazo preclusivo. No entanto, a

tempestividade visa por ordem ao processo, sem que se possa deixá-lo em

aberto, impulsionando o feito.

1.5.2.2.2 REGULARIDADE FORMAL

Impõe a lei forma rígida a interposição de recurso, portanto,

o recorrente apresentará a pretensão recursal em petição escrita, dirigida ao juiz

da causa. Exceção, porém, ocorre por conta do agravo, pois, de acordo com o

novo regime, ele é interposto diretamente no Tribunal e, na forma retida,

oralmente, quanto às questões decididas na audiência, devendo constar no

termo.118

Em segundo lugar, é exigida a identificação dos nomes e a

qualificação das partes na petição de interposição.119

Por conseguinte, há que manifestar sua irresignação com o

ato decisório, no que se denomina a motivação do recurso, ou seja, as razões

através das quais o recorrente pretende convencer o órgão ad quem do equivoco

do órgão a quo.120

É, ainda, indispensável requeira ao órgão ad quem o

provimento substitutivo do ato impugnado, observada a finalidade do recurso.121

117 MARINONI, Luiz Guilherme; CRUZ ARENHART, Sérgio. Processo de Conhecimento. 2007. p. 511. 118 WILLERM, Denise Oliva. Recursos do Processo Civil Brasileiro. 2005. p. 56. 119WILLERM, Denise Oliva. Recursos do Processo Civil Brasileiro. 2005. p. 56. 120 WILLERM, Denise Oliva. Recursos do Processo Civil Brasileiro. 2005. p. 56. 121 WILLERM, Denise Oliva. Recursos do Processo Civil Brasileiro. 2005. p. 56.

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Contudo, para que o recurso seja conhecido, é necessário

que seja interposto formalmente em ordem e assim se desenvolva.122

1.5.2.2.3 PREPARO

Consiste este requisito no pagamento prévio das despesas

relativas ao processamento do recurso. O preparo inclui o pagamento de todas as

despesas necessárias (prevista em lei) para a interposição do recurso.

O valor é fixado na lei de organizações judiciárias para cada

recurso e, de ordinário, emprega-se um percentual ad valorem. É a única

condição cuja falta recebe designação própria: diz-se deserto (e portanto,

inadmissível) o recurso desacompanhado de preparo, quando e se a lei exigir tal

pagamento.123

Art. 511. No ato de interposição do recurso, o recorrente comprovará, quando exigido pela legislação pertinente, o respectivo preparo, inclusive porte de remessa e de retorno, sob pena de deserção. § 1° São dispensados de preparo os recursos interpostos pelo Ministério Público, pela União, pelos Estados e Municípios e respectivas autarquias, e pelos que gozam de isenção legal. § 2º A insuficiência no valor do preparo implicará deserção, se o recorrente, intimado, não vier a supri-lo no prazo de cinco dias.124 Portanto, como mencionado no artigo supra, o preparo tem

que ser pago e juntado na petição no ato do protocolo, caso isso não ocorra, o

recurso será dado como deserto.

O § 1º do art. 511 dispensa o preparo por se beneficiarem

de isenção. São elas: Ministério Público, União, Estado, Município e respectivas

autarquias.

122 WILLERM, Denise Oliva. Recursos do Processo Civil Brasileiro. 2005. p. 56. 123 ASSIS, Araken. Manual dos Recursos. 2007, p. 201. 124 BRASIL. Código de Processo Civil. 12. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007.

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Por fim, para cumprir o pressuposto de admissibilidade

relativo ao preparo, quando exigido, a parte deverá demonstrar que recolheu as

custas do recurso – inclusive as eventuais despesas de porte de remessa e

retorno se a legislação exigir -, juntando as guias comprobatórias, de modo

simultâneo, com a interposição do recurso.125

1.5.3 PRINCIPAIS EFEITOS DOS RECUSOS

Os recursos pode - se ter a princípio, dois efeitos básicos: o

devolutivo e o suspensivo. Pelo primeiro reabre-se a oportunidade de reapreciar e

julgar a questão já decidida; e, pelo segundo, impede-se ao decisório impugnado

que venha produzir seus naturais efeitos enquanto não solucionado o recurso

interposto.126

Assim, será abaixo analisado individual de cada um dos

efeitos.

1.5.3.1 EFEITO DEVOLUTIVO DO RECURSO

Tem - se então por efeito devolutivo, quando a matéria, por

força do próprio procedimento recursal, é remetida para conhecimento do órgão

ad quem.

Para ilustrar tal afirmação aborda-se os ensinamentos de

Misael Montenegro Filho:

O efeito devolutivo de recurso significa a prerrogativa de a decisão judicial ser revista pela autoridade competente para o conhecimento e a apreciação de mérito da espécie utilizada pelo recorrente, impondo a prorrogação da jurisdição, evitando o trânsito em julgado ou a preclusão da matéria. A devolutividade em regra é feita em favor do tribunal que se apresenta em plano

125 FRANZÉ, Luis Henrique Barbante. Agravo Frente aos Pronunciamentos de Primeiro Grau no Processo Civil. 4ª ed. Curitiba: Editora Juruá. 2006. p. 106-107. 126 GRECO FILHO, Vicente. Direito processual civil brasileiro. 2007. p. 312-313.

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hierárquico superior à autoridade responsável pela criação do pronunciamento que se ataca.127

O efeito devolutivo pode ser próprio ou prefeito quando a

matéria, por força do próprio procedimento recursal, é submetida à apreciação do

tribunal, ou, impróprio ou imperfeito se o recurso, impedindo a preclusão e

possibilitando o exame pelo tribunal, depende de outro recurso para ser

conhecido.128

1.5.3.2 EFEITO SUSPENSIVO DO RECURSO

Por força desse efeito, o recurso em geral, suspenderá a

execução da decisão impugnada, assim não se fazendo transitada em julgado,

até que o recurso interposto seja julgado pelo órgão ad quem, visto que se a

impugnação for parcial, a suspensividade ficará limitada na parte da decisão

impugnada.129

Acerca do efeito suspensivo anota Humberto Theodoro

Júnior:

Já o efeito suspensivo (impedimento da imediata execução do decisório impugnado) pode ser afastado, em determinados casos, por não ser sempre essencial ao fim colimado pelos recursos. De maneira geral, os atos de execução só devem ocorrer depois que a decisão se tornar firme (coisa julgada ou preclusão pro iudicato), por exigência mesma do princípio do devido processo lega. Enquanto não se esgotam os meios de debate e defesa, enquanto não se exaure o contraditório, não está o Poder Judiciário autorizado a invadir o patrimônio da parte (CF, art. 5º, LIV e LV).130

127 MONTENEGRO FILHO, Misael. Teoria geral dos recursos, recursos em espécie e processo de execução. 2007. p. 89. 128 GRECO FILHO, Vicente. Direito processual civil brasileiro. 2007. p. 313. 129 GRECO FILHO, Vicente. Direito processual civil brasileiro. 2007. p. 313-314.

130 HUMBERTO, Theodoro Júnior. Curso de Direito Processual Civil. 2006. p.623.

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No entanto, em regra em nosso sistema é que todos os

recursos tenham efeito suspensivo, caso não ocorra, a execução será provisória,

podendo ser modificada.

1.5.3.3 EFEITO SUBSTITUTIVO DO RECURSO

A par dos efeitos devolutivo e suspensivo, um outro efeito, o

substitutivo, é atribuído pelo art. 512131 a todos os recursos. Versa ele na força do

julgamento de qualquer recurso de substituir, para todos os efeitos, a decisão

recorrida, nos limites da impugnação. Trata-se de um derivativo do efeito

devolutivo. Se ao órgão ad quem é dado reexaminar e redecidir a matéria

cogitada no decisório impugnado, torna-se necessário que somente um

julgamento a seu respeito prevaleça no processo. A última, portanto, isto é, a do

recurso, é que prevalecerá.132

1.5.4 CLASSIFICAÇÃO DOS RECURSOS NO PROCESSO CIVIL

Os recursos podem ser classificados como: ordinários e

extraordinários.

Sobre essa classificação Greco Filho preleciona:

Os recursos ordinários são os previstos no processo comum para a correção de algum prejuízo; os recursos extraordinários, apensar de ampliarem-se também ao processo comum, estão consagrados em nível constitucional e têm por função não apenas a correção do caso concreto, mas também a uniformidade de interpretação da legislação federal e a eficácia e integridade das normas da própria Constituição. Têm estes, últimos, portanto, uma função política. Além disso, nos recursos extraordinários não mais se questiona matéria de fato, mas apenas matéria de direito. São recursos extraordinários o recurso especial ao Superior Tribunal de Justiça (art. 105, III, da CF), o recurso extraordinário ao

131 Art. 512. O julgamento proferido pelo tribunal substituirá a sentença ou a decisão recorrida no que tiver sido objeto de recurso.(BRASIL. Código de Processo Civil. 12. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007). 132 HUMBERTO, Theodoro Júnior. Curso de Direito Processual Civil. 2006, p.624.

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Supremo Tribunal Federal (art. 102, III, da CF) e os embargos de divergência no STF e no STJ.133

Perante tal entendimento pode-se concluir que os recursos

ordinários estão elencados no artigo 496 do Código de Processo Civil134, sendo

eles, apelação, o agravo, os embargos infringentes, os embargos de declaração e

o recurso ordinário. Já os recursos extraordinários são os previstos na

Constituição que são os embargos de divergência em recurso especial e em

recurso extraordinário, recurso especial e recurso extraordinário; estes últimos,

apesar de estarem previstos também no processo comum, classificam-se como

extraordinários.

Superadas as questões históricas do recurso de agravo,

bem como a teoria geral dos recursos, passaremos ao estudo do agravo em

espécie.

133 GRECO FILHO, Vicente. Direito processual civil brasileiro. 2007. p. 301. 134 Art. 496. São cabíveis os seguintes recursos: I - apelação; II - agravo de instrumento; II - agravo; III - embargos infringentes; IV - embargos de declaração; V - recurso ordinário; Vl - recurso especial; Vll - recurso extraordinário; VIII - embargos de divergência em recurso especial e em recurso extraordinário.(BRASIL. Código de Processo Civil. 12. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007).

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2 DISTINÇÃO DAS MODALIDADES DO RECURSO DE

AGRAVO, CABIMENTO E PROCEDIMENTO

O presente capítulo distinguirá as modalidades e cabimento

do recurso de agravo previsto em nosso sistema processual civil, tais como:

agravo de instrumento, agravo retido e agravo interno (regimental), começando

por fazer uma breve análise da teoria geral dos recursos.

2.1 DECISÃO INTERLOCUTÓRIA

2.1.1 CONCEITO

A idéia de decisão interlocutória, utilizada pela lei processual

vigente, está relativamente próxima à da concepção do Direito Romano, pois as

sentenças se contrapunham as interlocuções, que abrangem todos os

pronunciamentos do juiz emitidos no curso do processo, mas sem lhe resolver o

mérito.135

Como ainda ocorre, as sentenças resolvem o mérito,

acolhendo, rejeitando na totalidade ou parcialmente o pedido do autor, portanto,

ficava a encargo das interlocuções o pronunciamento do juiz durante o trâmite do

processo, sem dar solução ao mérito.136

Mais tarde foi adotada a terminologia de sentença

interlocutória, isso se deu por influência do direito germânico e recepcionado pelo

direito canônico e intermediário, assim ensina Humberto Theodoro Júnior.137

135 MONIZ DE ARAGÃO, Egas. D. Considerações práticas sobre o agravo. 3. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais. 1963. p.47. 136 HUMBERTO, Theodoro Júnior. Curso de Direito Processual Civil. 2006. p.256. 137 HUMBERTO, Theodoro Júnior. Curso de Direito Processual Civil. 2006. p.256.

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Nas palavras de José Frederico Marques, “Decisão, em

sentido lato, é todo e qualquer pronunciamento do juiz, resolvendo uma

controvérsia, com o que abrange, em seu significado, as próprias sentenças”.138

São decisões interlocutórias são as que não põem fim ou

resolve o mérito, como ensina Cândido Rangel Dinamarco:

Dizem-se decisões interlocutórias os provimentos com que o juiz, no curso do processo e sem pôr fim a ele, decide sobre matérias de interesse do processo e sobre certos pedidos e requerimentos das partes. O adjetivo interlocutório vem do latim inter locutus, que significa pronunciamento no meio. No meio do processo, ou seja, depois de proposta a demanda inicial e antes da sentença que o extingue, o juiz profere decisões dessa ordem [...].139

Por fim, o Código de Processo Civil adotou a denominação

“decisão interlocutória” que é o ato pelo qual o juiz, no curso do processo, resolve

questão incidente.

2.2 DO RECURSO DE AGRAVO

2.2.1 CONCEITO DE AGRAVO

Agravo é o mesmo que gravame recebido pela parte. Em

direito processual, usa-se o termo em sentido inverso, ou seja, é o recurso que

existe exatamente para provocar reapreciação da decisão que tenha agravado a

situação da parte.140

Especificamente, o agravo é a forma recursal, previsto no

art. 522 do Código de Processo Civil, que serve para atacar decisões sem

resolução do mérito, ou seja, decisões interlocutórias. Excepcionalmente, o

138 MARQUES, José Frederico. Instituição de Direito Processual Civil. Rio de Janeiro, 1958-960, p. 41. 139 DINAMARCO, Cândido Rangel. Instituições de Direito Processual Civil. 4ª ed. São Paulo: Malheiros, 2004. p. 493.

140 SANTOS, Ernane Fidélis dos. Manual de direito processual civil: processo de conhecimento. São Paulo: Saraiva, 2007. p. 864.

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agravo é interposto contra decisões de mérito. Tal ocorre quando o juiz, em

decisão intermediária, decide expressamente sobre prescrição e decadência, sem

extinguir o processo.141

Art. 522. Das decisões interlocutórias caberá agravo, no prazo de 10 (dez) dias, na forma retida, salvo quando se tratar de decisão suscetível de causar à parte lesão grave e de difícil reparação, bem como nos casos de inadmissão da apelação e nos relativos aos efeitos em que a apelação é recebida, quando será admitida a sua interposição por instrumento. Parágrafo único. O agravo retido independe de preparo.142

Moacyr Amaral Santos, assim, conceitua o agravo de

instrumento e o agravo retido:

Chama-se agravo porque é recurso destinado a impugnar ato decisório do juiz, causador do gravame ou prejuízo ao litigante, e de instrumento porque, diversamente dos demais recursos, não se processado nos próprios autos em que foi proferida a decisão impugnada mas, sim, em autos apartados, e, pois, constitui um instrumento apartado daqueles autos. Já o agravo retido é aquele que se processa e decide nos autos em que foi proferida a decisão recorrida.143

Ainda, admitido em alguns tribunais e corrente na

jurisprudência, temos o instituto do agravo “interno” para os recursos previstos

nos arts. 532, 557, §1.º, e 545, do CPC. Tal recurso tem como finalidade

impugnar decisão do relator, por este motivo só é interposto no juízo ad quem,

que venha a não conhecer do recurso, assim obstando sua apreciação pelo

colegiado.

141 SANTOS, Ernane Fidélis dos. Manual de direito processual civil: processo de conhecimento. 2007. p. 864. 142 BRASIL. Código de Processo Civil. 12. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007.

143 SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras linhas de direito processual civil. 17ª ed. V. 3. São Paulo: Saraiva. 1998. p. 127.

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Art. 532. Da decisão que não admitir os embargos caberá agravo, em 5 (cinco) dias, para o órgão competente para o julgamento do recurso.

Art. 545. Da decisão do relator que não admitir o agravo de instrumento, negar-lhe provimento ou reformar o acórdão recorrido, caberá agravo no prazo de cinco dias, ao órgão competente para o julgamento do recurso, observado o disposto nos §§ 1o e 2o do art. 557.

Art. 557. O relator negará seguimento a recurso manifestamente inadmissível, improcedente, prejudicado ou em confronto com súmula ou com jurisprudência dominante do respectivo tribunal, do Supremo Tribunal Federal, ou de Tribunal Superior. § 1o-A Se a decisão recorrida estiver em manifesto confronto com súmula ou com jurisprudência dominante do Supremo Tribunal Federal, ou de Tribunal Superior, o relator poderá dar provimento ao recurso. § 1o Da decisão caberá agravo, no prazo de cinco dias, ao órgão competente para o julgamento do recurso, e, se não houver retratação, o relator apresentará o processo em mesa, proferindo voto; provido o agravo, o recurso terá seguimento. § 2o Quando manifestamente inadmissível ou infundado o agravo, o tribunal condenará o agravante a pagar ao agravado multa entre um e dez por cento do valor corrigido da causa, ficando a interposição de qualquer outro recurso condicionada ao depósito do respectivo valor.144

O agravo retido, agravo de instrumento e agravo interno são

institutos diferentes, tendo cada um suas peculiaridades, portanto, serão tratados

em separados.

2.2.2 DO AGRAVO RETIDO

Diz-se retido o agravo quando a parte, em vez de se dirigir

diretamente ao tribunal para provocar o imediato julgamento do recurso, volta-se

para o juiz da causa, autor da decisão judicial impugnada, e apresenta o recurso,

144 BRASIL. Código de Processo Civil. 12. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007.

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pedindo que permaneça retido nos autos, para que o tribunal dele conheça como

preliminar, por ocasião do julgamento da apelação (art. 523).145

Art. 523. Na modalidade de agravo retido o agravante requererá que o tribunal dele conheça, preliminarmente, por ocasião do julgamento da apelação. § 1o Não se conhecerá do agravo se a parte não requerer expressamente, nas razões ou na resposta da apelação, sua apreciação pelo Tribunal. § 2o Interposto o agravo, e ouvido o agravado no prazo de 10 (dez) dias, o juiz poderá reformar sua decisão. § 3o Das decisões interlocutórias proferidas na audiência de instrução e julgamento caberá agravo na forma retida, devendo ser interposto oral e imediatamente, bem como constar do respectivo termo (art. 457), nele expostas sucintamente as razões do agravante.146

A finalidade do agravo retido é impedir a preclusão da

questão impugnada, e que dela conheça e resolva o tribunal, preliminarmente,

com o julgamento da apelação. Como o agravo retido não possui efeito

suspensivo e só devolutivo, o recurso não suspenderá o andamento do processo

no primeiro grau, ficando este recurso ao reexame junto com a interposição da

apelação.

Nesse tipo de recurso só compete ao juízo ad quem apreciar

sua admissibilidade.

2.2.2.1 CABIMENTO DO RECURSO DE AGRAVO RETIDO

O agravo retido será interposto contra decisão interlocutória

que vier a causar algum prejuízo, ao litigante, bem como nos casos de

inadmissão da apelação, esta modalidade com o advento na lei 11.187/2005,

tornou-se a regra, desde que não venha causar à parte lesão grave e de difícil

reparação, caso em que se admitirá a interposição do agravo de instrumento.

145 HUMBERTO, Theodoro Júnior. Curso de Direito Processual Civil. 2006. p.647. 146 BRASIL. Código de Processo Civil. 12. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007.

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Nas palavras de Luiz Guilherme Marinoni e Sérgio Cruz

Arenhart, assim ficou definido:

Já na modalidade retida – que, atualmente, constitui a forma regular deste recurso -, o agravo limita-se a expressar a contrariedade com a decisão proferida, ficando a insurgência documentada nos próprios autos do processo, sem formação de instrumento e sem ser encaminhada ao tribunal.147

Ainda, esse tipo de recurso pode ser interposto na forma

oral, como prevê o § 3° do art. 523 do CPC ou por petição escrita no bojo dos

autos (art. 523 do CPC).

Portanto, ficou estabelecido pela Lei 11.187/2005, que o

recurso contra decisões interlocutórias é em regra o agravo na forma retido, salvo

em casos excepcionais previstos em lei.

2.2.2.2 PROCEDIMENTO DO AGRAVO RETIDO

O agravo retido independe de preparo (art. 522, parágrafo

único, do CPC) ou mesmo de formalidade específica. Nesta modalidade de

agravo – ao contrário do que ocorre na forma por instrumento -, não há

necessidade de instruir o recurso com peças do processo, considerando este

ficará retido no bojo do processo, caso haja apelação subirá junto como o

processo para apreciação do tribunal. Em princípio a parte dispõe do prazo de 10

(dez) dias para a interposição do agravo, excetuada a hipótese de recurso contra

decisão proferida em audiência.148

A regra é que o agravo seja interposto por escrito, podendo,

em situações excepcionais, ser apresentado oralmente. Este procedimento foi

dado pela Lei 11.187/2005, nas decisões proferidas em audiência a interposição

147 MARINONI, Luiz Guilherme; CRUZ ARENHART, Sérgio. Processo de Conhecimento. 2007. p. 534.

148 MARINONI, Luiz Guilherme; CRUZ ARENHART, Sérgio. Processo de Conhecimento. 2007. p. 538.

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de agravo retido na forma oral será imediatamente, sob pena de preclusão,

devendo constar do respectivo termo (art. 523, § 3º, do CPC). Já, quando

interposto por escrito, o agravo retido deverá mencionar os sujeitos do recurso, as

razões que justificam a nova decisão e o pedido de reforma.149

Interposto o agravo retido, e depois de ouvido o agravado,

poderá o juiz reformar sua a decisão interlocutória (art. 523, § 2º, do CPC), caso

não haja retratação, ficará o agravo retido nos autos, podendo o tribunal dele

conhecer (art. 523 do CPC), desde que o agravante reitere seu pedido,

preliminarmente, na apelação (art. 523, § 1º, do CPC).150

2.2.3 DO AGRAVO DE INSTRUMENTO

Agravo de instrumento é a modalidade recursal interposto

diretamente no tribunal competente possuindo o efeito devolutivo como regra

(podendo, entretanto ter o efeito suspensivo para preservar sua efetividade),

voltado para os deslinde das questões diversas da sentença, que tenha conteúdo

decisório capaz de causar gravame.151

Como já se informou, a regra dominante em nosso sistema é

a de que impõe o agravo retido como recurso adequado para impugnar as

decisões interlocutórias. O agravo de instrumento é a exceção, somente utilizável

nos termos da ressalva contida no art. 522, advindo com a Lei nº 11.187/2005.

Somente será utilizado agravo de instrumento quando: a decisão suscetível de

causar à parte lesão grave e de difícil reparação; decisão que inadmite a apelação

ou que delibera quanto aos efeitos em que a apelação é recebida.152

149 MARINONI, Luiz Guilherme; CRUZ ARENHART, Sérgio. Processo de Conhecimento. 2007. p. 534. 150 MARINONI, Luiz Guilherme; CRUZ ARENHART, Sérgio. Processo de Conhecimento. 2007. p. 538-539.

151 FRANZÉ, Luis Henrique Barbante. Agravo Frente aos Pronunciamentos de Primeiro Grau no Processo Civil. 2006. p. 157. 152 HUMBERTO, Theodoro Júnior. Curso de Direito Processual Civil. 2006. p. 650.

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Art. 522. Das decisões interlocutórias caberá agravo, no prazo de 10 (dez) dias, na forma retida, salvo quando se tratar de decisão suscetível de causar à parte lesão grave e de difícil reparação, bem como nos casos de inadmissão da apelação e nos relativos aos efeitos em que a apelação é recebida, quando será admitida a sua interposição por instrumento. Parágrafo único. O agravo retido independe de preparo.153

Por sua vez, o agravo de instrumento do art. 544, por sinal

dotado do prazo de 10 (dez) dias, se diferencia do seu congênere do primeiro

grau em razão do lugar da interposição. Ao invés de ser interposto diretamente no

órgão ad quem (art. 524, caput), como agravo em primeiro grau, ou perante

relator, à semelhança do agravo interno, o agravo do art. 544 interpõe-se perante

o presidente ou vice-presidente do tribunal que originou o acórdão.

Art. 544. Não admitido o recurso extraordinário ou o recurso especial, caberá agravo de instrumento, no prazo de 10 (dez) dias, para o Supremo Tribunal Federal ou para o Superior Tribunal de Justiça, conforme o caso. § 1o O agravo de instrumento será instruído com as peças apresentadas pelas partes, devendo constar obrigatoriamente, sob pena de não conhecimento, cópias do acórdão recorrido, da certidão da respectiva intimação, da petição de interposição do recurso denegado, das contra-razões, da decisão agravada, da certidão da respectiva intimação e das procurações outorgadas aos advogados do agravante e do agravado. As cópias das peças do processo poderão ser declaradas autênticas pelo próprio advogado, sob sua responsabilidade pessoal. § 2o A petição de agravo será dirigida à presidência do tribunal de origem, não dependendo do pagamento de custas e despesas postais. O agravado será intimado, de imediato, para no prazo de 10 (dez) dias oferecer resposta, podendo instruí-la com cópias das peças que entender conveniente. Em seguida, subirá o agravo ao tribunal superior, onde será processado na forma regimental. § 3o Poderá o relator, se o acórdão recorrido estiver em confronto com a súmula ou jurisprudência dominante do Superior Tribunal de Justiça, conhecer do agravo para dar provimento ao próprio recurso especial; poderá ainda, se o instrumento contiver os elementos necessários ao julgamento do mérito, determinar sua

153 BRASIL. Código de Processo Civil. 12. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007.

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conversão, observando-se, daí em diante, o procedimento relativo ao recurso especial. § 4o O disposto no parágrafo anterior aplica-se também ao agravo de instrumento contra denegação de recurso extraordinário, salvo quando, na mesma causa, houver recurso especial admitido e que deva ser julgado em primeiro lugar.154

No entanto, como demonstrado acima o agravo de

instrumento está previsto em nosso ordenamento de duas formas: o de primeiro

grau e os dos tribunais. Em razão de o respectivo trabalho focalizar apenas o do

primeiro grau, passaremos ao estudo deste.

2.2.3.1 CABIMENTO DO RECURSO DE AGRAVO INSTRUMENTO

O agravo de instrumento, com o advento da Lei

11.187/2005, somente será admitido contra decisões que puderem causar à parte

lesão grave e de difícil reparação (art. 522 do CPC), ou, de forma geral, quando o

agravo, em sua forma retida, for manifestadamente inadequado para impugnar o

ato judicial (como seriam outros recursos contra inadmissão da apelação ou

contra a decisão em que efeitos a apelação é recebida).155

No que tange a exceção a causar a parte lesão grave e de

difícil reparação, Humberto Theodoro Júnior, define da seguinte forma:

Diante desse quadro, pode-se afirmar que ocorre o perigo de dano grave e de difícil reparação quando a parte prejudicada pela decisão interlocutória não pode aguardar a oportunidade da futura apelação para encontrar a tutela buscada sem sofrer perda ou redução significativa em sua situação jurídica. Para tanto, é preciso que da decisão interlocutória decorram efeitos imediatos a atuar sobre o bem da vida ou o interesse jurídico de que a parte se afirma titular.156

154 BRASIL. Código de Processo Civil. 12. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007. 155 MARINONI, Luiz Guilherme; CRUZ ARENHART, Sérgio. Processo de Conhecimento. 2007. p. 534. 156 HUMBERTO, Theodoro Júnior. Curso de Direito Processual Civil. 2006. p.651.

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Para melhor entendimento devem ser analisadas as

palavras do doutrinador supracitado:

A noção é bastante conhecida do direito processual moderno, pois é em torno dela que se constrói a teoria da tutelas de urgência (medidas cautelares e de antecipação de tutela). Não é diferente o periculum in mora no terreno do agravo, já que o propósito do legislador, ao regular o agravo de instrumento e distingui-lo do agravo retido, não foi outro senão o de reservar aquele apenas para situações em que não pudesse o processo afastar o perigo de dano grave e não ver por via de um recurso célere e dotado de possibilidades expeditas aptas a propiciar uma tutela efetiva ao direito ou interesse da parte.157

Relativamente à decisão que inadmite a apelação ou que

delibera quanto aos efeitos em que apelação é recebida, o agravo é de

instrumento, pois, se caso contrário se torna inútil, sendo seu fim em aceitar a

decisão que não admitiu a apelação, sobre a matéria Humberto Theodoro Júnior

explica que:

Como se trancou o processo e não chegará ao exame do Tribunal, o agravo que fosse processado sob a forma retida também jamais chegaria à instância superior. Tornar-se-ia uma completa inutilidade, já que não se prestaria para servir ao interesse recursal da parte a ser tutelado pelo remédio impugnativo franqueado pela lei. Realmente, só a forma de instrumento terá utilidade processual, na espécie.158

Igual acontece com a decisão que definiu os efeitos em que

a apelação é recebida, anota Humberto Theodoro Júnior que:

Se a parte tem de recorrer contra tal decisório, é preciso que o sistema recursal propicie alguma utilidade ao meio impugnativo. Se o agravo fosse da modalidade retida, o Tribunal somente iria apreciá-lo quando julgasse a apelação. Aí já não teria mais

157 HUMBERTO, Theodoro Júnior. Curso de Direito Processual Civil. 2006. p.651.

158 HUMBERTO, Theodoro Júnior. Curso de Direito Processual Civil. 2006. p.650.

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sentido reconhecer que à apelação deveria ter sido atribuído efeito diverso do que lhe emprestou o juiz de 1º grau.159

Desse modo, segundo o advento da Lei 11.187/2005, só

caberá agravo de instrumento nos caso em que se encaixar nas hipóteses supra.

2.2.3.2 PROCEDIMENTO DO AGRAVO DE INSTRUMENTO

O agravo de instrumento é interposto diretamente perante o

tribunal, em autos separado da causa onde se deu a decisão impugnada. Tem o

interessado o prazo de dez dias, contado da intimação da decisão que lhe gera

prejuízo, para a interposição do recurso, aplicando-se este prazo as causas de

alteração subjetivas (como as do art. 188 e 191 do CPC)160 e objetivas.161

A petição será dirigida diretamente ao tribunal competente e

deverá conter os seguintes requisitos do art. 524:

Art. 524. O agravo de instrumento será dirigido diretamente ao tribunal competente, através de petição com os seguintes requisitos: I - a exposição do fato e do direito; II - as razões do pedido de reforma da decisão; III - o nome e o endereço completo dos advogados, constantes do processo.162

Cabe ao agravante, obter as cópias dos documentos do

processo principal que deverão instruir o recurso. A petição do agravo será

instruída nos moldes do artigo 525:

Art. 525. A petição de agravo de instrumento será instruída:

159 HUMBERTO, Theodoro Júnior. Curso de Direito Processual Civil. 2006. p.650. 160Art. 188. Computar-se-á em quádruplo o prazo para contestar e em dobro para recorrer quando a parte for a Fazenda Pública ou o Ministério Público. Art. 191. Quando os litisconsortes tiverem diferentes procuradores, ser-lhes-ão contados em dobro os prazos para contestar, para recorrer e, de modo geral, para falar nos autos. 161 MARINONI, Luiz Guilherme; CRUZ ARENHART, Sérgio. Processo de Conhecimento. 2007 p. 539. 162 BRASIL. Código de Processo Civil. 12. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007.

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I - obrigatoriamente, com cópias da decisão agravada, da certidão da respectiva intimação e das procurações outorgadas aos advogados do agravante e do agravado; II - facultativamente, com outras peças que o agravante entender úteis. § 1o Acompanhará a petição o comprovante do pagamento das respectivas custas e do porte de retorno, quando devidos, conforme tabela que será publicada pelos tribunais. § 2o No prazo do recurso, a petição será protocolada no tribunal, ou postada no correio sob registro com aviso de recebimento, ou, ainda, interposta por outra forma prevista na lei local.163

A tempestividade será controlada pelo protocolo ou pelo

registro, conforme a via utilizada para a interposição do agravo.164

Art. 526. O agravante, no prazo de 3 (três) dias, requererá juntada, aos autos do processo de cópia da petição do agravo de instrumento e do comprovante de sua interposição, assim como a relação dos documentos que instruíram o recurso. Parágrafo único. O não cumprimento do disposto neste artigo, desde que argüido e provado pelo agravado, importa inadmissibilidade do agravo.165

De acordo com o artigo 497 do CPC, normalmente o agravo

de instrumento limita-se ao efeito devolutivo, no entanto, o efeito suspensivo

poderá, em determinados casos, ser concedido pelo relator nos casos do art. 558

do CPC, para eliminar o risco de danos sérios e de reparação problemática166.

Para que o efeito suspensivo seja concedido, o agravante

deverá requerer ao relator, o qual poderá ser incluído na petição do agravo ou em

peça separada. Em caso de deferimento o relator ordenará a comunicação ao juiz

da causa, para que, de fato, se suste o cumprimento da decisão interlocutória167.

163 BRASIL. Código de Processo Civil. 12. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007. 164 HUMBERTO, Theodoro Júnior. Curso de Direito Processual Civil. 2006. p. 652. 165 BRASIL. Código de Processo Civil. 12. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007. 166 HUMBERTO, Theodoro Júnior. Curso de Direito Processual Civil. 2006. p. 653. 167 HUMBERTO, Theodoro Júnior. Curso de Direito Processual Civil. 2006. p. 654.

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A liminar em questão e processamento do agravo encontra-

se no artigo 527:

Art. 527. Recebido o agravo de instrumento no tribunal, e distribuído incontinenti, o relator: I - negar-lhe-á seguimento, liminarmente, nos casos do art. 557; II - converterá o agravo de instrumento em agravo retido, salvo quando se tratar de decisão suscetível de causar à parte lesão grave e de difícil reparação, bem como nos casos de inadmissão da apelação e nos relativos aos efeitos em que a apelação é recebida, mandando remeter os autos ao juiz da causa; III - poderá atribuir efeito suspensivo ao recurso (art. 558), ou deferir, em antecipação de tutela, total ou parcialmente, a pretensão recursal, comunicando ao juiz sua decisão; IV - poderá requisitar informações ao juiz da causa, que as prestará no prazo de 10 (dez) dias; V - mandará intimar o agravado, na mesma oportunidade, por ofício dirigido ao seu advogado, sob registro e com aviso de recebimento, para que responda no prazo de 10 (dez) dias (art. 525, § 2o), facultando-lhe juntar a documentação que entender conveniente, sendo que, nas comarcas sede de tribunal e naquelas em que o expediente forense for divulgado no diário oficial, a intimação far-se-á mediante publicação no órgão oficial; VI - ultimadas as providências referidas nos incisos III a V do caput deste artigo, mandará ouvir o Ministério Público, se for o caso, para que se pronuncie no prazo de 10 (dez) dias. Parágrafo único. A decisão liminar, proferida nos casos dos incisos II e III do caput deste artigo, somente é passível de reforma no momento do julgamento do agravo, salvo se o próprio relator a reconsiderar.168

Conforme o exposto, o processamento do agravo de

instrumento ocorrerá em conformidade com os artigos 524, 525, 526 e 527,

assim, chegando ao Tribunal, o relator pedirá o dia para julgamento, como segue:

Art. 528. Em prazo não superior a 30 (trinta) dias da intimação do agravado, o relator pedirá dia para julgamento.169

168 BRASIL. Código de Processo Civil. 12. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007. 169 BRASIL. Código de Processo Civil. 12. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007.

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Também, poderá o juiz de primeiro grau, após tomar ciência

da interposição do agravo de instrumento, reformar inteiramente sua decisão, o

que será considerado prejudicado o agravo, in verbis:

Art. 529. Se o juiz comunicar que reformou inteiramente a decisão, o relator considerará prejudicado o agravo.170

Na atual redação da legislação, a retratação restou mantida,

devido a determinação do artigo 529 do CPC de tornar prejudicado o agravo ante

a comunicação da reforma da decisão agrava, pelo magistrado de primeiro grau.

Tal instituto pode ser exercido após a juntada da cópia do recurso em primeiro

grau (CPC, art. 526) ou da requisição de informações do magistrado pelo relator

(CPC, art. 527, inciso I); caso não existam nas hipóteses anteriores e o eventual

descumprimento do artigo 526, não tenha sido argüido e provado pelo agravado,

o magistrado poderá retratar-se até antes do julgamento do agravo ou do eventual

indeferimento do efeito suspensivo; uma vez feita a retratação ou decorrido o

prazo, o magistrado não poderá proferir decisão diversa, inclusive, sob pena de

tornar as questões indefinidamente em aberto no processo. Poderá ainda o

magistrado retratar-se parcialmente, ou seja, apenas sobre parte da decisão.171

2.2.4 DO AGRAVO INTERNO

O agravo previsto nos regimentos internos dos tribunais,

também conhecido como “agravinho”, é o sucedâneo para falta de recurso próprio

contra as decisões do relator.172

Há quem chegue a afirmar que o agravo interno ou

regimental na espécie nem sequer seria um recurso propriamente dito, mas, sim,

um mecanismo de conferência da delegação junto ao colegiado, já que se

170 BRASIL. Código de Processo Civil. 12. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007. 171 FRANZÉ, Luis Henrique Barbante. Agravo Frente aos Pronunciamentos de Primeiro Grau no Processo Civil. 2006. p. 178. 172 ASSIS, Araken. Manual dos Recursos. 2007. p. 870.

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revelaria injurídico privar a parte de ser ouvida pelo verdadeiro destinatário do

recurso principal.173

Para tanto, o agravo interno, em regra, é previsto pelo

regimento interno de cada tribunal, serve para destrancar no Tribunal qualquer

decisão do relator que obste a apreciação do recurso pelo colegiado.

Também, com previsão no art. 532 do CPC o agravo interno

para destrancar os embargos infringentes.

Art. 532. Da decisão que não admitir os embargos caberá agravo, em 5 (cinco) dias, para o órgão competente para o julgamento do recurso.174

Por fim, o agravo interno tem previsão legal nos regimentos

dos tribunais, e a única hipótese prevista no CPC é o art.532.

2.2.4.1 CABIMENTO DO RECURSO DE AGRAVO INTERNO

Cabe contra as decisões do relator (tribunal) que visa trancar

o processamento do recurso interposto a apreciação do colegiado.175

Ou seja, superado o veto derivado do princípio da

taxatividade, contra todas as decisões singulares do relator. É crucial que o relator

resolverá inúmeras questões, na tramitação de outros recursos, nos incidentes e

nas ações originária, ensejando à parte vencida a tentativa de reverter o gravame

através da palavra favorável do colegiado.176

2.2.4.2 PROCESSAMENTO DO RECURSO DE AGRAVO INTERNO

O processamento do agravo regimental se afirma simples e

cômodo. O regimento estabelece o prazo recursal e, às vezes, as partes utilizam

173 HUMBERTO, Theodoro Júnior. Curso de Direito Processual Civil. 2006. p.654. 174 BRASIL. Código de Processo Civil. 12. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007. 175 ASSIS, Araken. Manual dos Recursos. 2007. p. 873. 176 ASSIS, Araken. Manual dos Recursos. 2007. p. 873.

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o prazo do agravo, no lugar do quantitativo próprio, 5 (cinco) dias (art. 195, caput,

do RITJSC). Não há preparo ou contraditório.177

Art. 195 – Da decisão do Presidente do Tribunal, Vice-Presidentes, Corregedor-Geral da Justiça, Presidentes de Grupos de Câmaras, Presidente de Câmaras ou de Relator que causar gravame à parte, caberá agravo no prazo de 5 (cinco) dias. § 1º - [...] Não será admitido agravo da decisão que negar efeito suspensivo a agravo de instrumento ou que indeferir a antecipação da tutela recursal (CPC, art. 527, III). § 2º - O agravo será processado nos autos em que foi prolatada a decisão que lhe de origem. § 3º - Presentes os pressupostos do art. 558 do Código de Processo Civil, o agravo será recebido no efeito suspensivo. § 4º - [...] Art. 196 – Recebido o agravo, o relator terá 5 (cinco) dias para reexaminar a decisão. Ratificando-a, apresentará o agravo em mesa na primeira sessão do órgão competente. Parágrafo único. Havendo empate na votação, prevalecerá a decisão ou ato impugnado.178

A determinação do órgão ad quem depende da estrutura

interna de cada tribunal e da previsão do respectivo regimento interno. Em regra o

agravo interno deverá ser interposto ao relator e colocado em votação pelo

colegiado, ficando o relator da decisão impugnada, fora de votação.

Encerrando-se a breve síntese dos recursos e agravos,

passa-se às considerações relativas “A decisão Monocrática de Conversão do

Agravo de Instrumento em Agravo Retido e sua Irrecorribilidade.”

177 ASSIS, Araken. Manual dos Recursos. 2007, p. 875. 178 SANTA CATARINA. Ato Regimental n. 88/08, de 14 de abril de 2008. Lex: Regimento Interno do Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina, Florianópolis, SC. Disponível em: < http://www.tj.sc.gov.br/institucional/normas/regimento/reginterno.pdf >. Acesso em: 30 de abril de 2008.

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73

3 A DECISÃO MONOCRÁTICA DE CONVERSÃO DO

AGRAVO DE INSTRUMENTO EM AGRAVO RETIDO E

SUA IRRECORRIBILIDADE

A Lei 11.187/2005 com vigência desde 19 de janeiro de

2006, deu nova redação aos artigos 522, 523 e 527 do Código de Processo Civil,

inovando a sistemática do agravo de instrumento e agravo retido.

Trata-se de Lei Ordinária que impõe normas que vêm

modificar o sistema processual no que tange o recurso de agravo, trazendo nova

sistemática, que é objeto desse trabalho, no parágrafo único do artigo 527, do

Codex Adjetivo.

3.1 MODIFICAÇÕES DO RECURSO DE AGRAVO À LUZ DA LEI 11.187/2005

O agravo com a vinda da referida lei, no que consiste o art.

522179 do CPC, em via de regra tem que ser interposto pela via retida, pois com o

advento do antigo sistema viu-se o acumulo de agravo de instrumento no órgão

de segundo grau.180

Além, de que a regra é a interposição do agravo na forma

retida, este ainda, deve ser interposto oralmente quando a decisão interlocutória

for proferia em audiência (instrução e julgamento), conforme previsto no § 3°, do

art. 523, do CPC181. Se a audiência em que a decisão foi proferida for a preliminar

179Art. 522. Das decisões interlocutórias caberá agravo, no prazo de 10 (dez) dias, na forma retida, salvo quando se tratar de decisão suscetível de causar à parte lesão grave e de difícil reparação, bem como nos casos de inadmissão da apelação e nos re-lativos (sic) aos efeitos em que a apelação é recebida, quando será admitida a sua interposição por instrumento. Parágrafo único. O agravo retido independe de preparo. (BRASIL. Código de Processo Civil. 12. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais. 2007). 180 MARGUES, Antônio Terêncio G.L. Breves considerações acerca do novo regramento do recurso de agravo à luz da Lei 11. 187, de 19 de outubro de 2005. In: Nery Jr., Nelson; Wambier, Teresa Arruda Alvin. (Coord). Aspectos polêmicos e atuais dos recursos cíveis e assuntos afins. São Paulo: Revista dos Tribunais. 2007. p. 27. 181Art. 523. [...]. § 3° Das decisões interlocutórias proferidas na audiência de instrução e julgamento caberá agravo na forma retida, devendo ser interposto oral e imediatamente, bem como constar do respectivo

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(art. 331), o agravante tem liberdade de escolha. Isso se dá, pelo fato de na

audiência, as questões a serem eventualmente decididas pelo juiz, vier a serem

complexas, então por força do princípio da ampla defesa, a parte poderá estudar

melhor os motivos que levaram o magistrado a decidir deste ou daquele modo.182

Outra grande mudança com advento da Lei 11.187/2005 foi

a introdução da nova redação parágrafo único do art. 527, o qual trouxe ao

sistema processual civil relevantes discussões que iremos tratar mais adiante. O

dispositivo do antigo parágrafo único fazia remissão ao art. 525, § 2º, com a atual

redação foi incorporado ao novo inciso V.183

Como já descrito no parágrafo supra, no inciso V do art. 527,

do CPC, inseriu-se a referência contida no § 2° do art. 525, além de facultar ao

agravado a juntada da documentação que entender conveniente, quando, no

regime anterior, dever-se-ia juntar apenas cópias das peças que entendesse

conveniente.184

A grande novidade do parágrafo único do art. 527 do Código

de Processo Civil atual, é que em muitas ocasiões, o relator decide a sorte de um

recurso – ou de uma causa de competência originária dos tribunais –

monocraticamente, isto é, sem apreciação do órgão que seria o competente para

o julgamento. Isso ocorre quando o relator por decisão monocrática converte

agravo de instrumento em retido, ou atribui efeito suspensivo ao recurso, ou

defere, em antecipação de tutela, total ou parcialmente, a pretensão recursal.185

termo (art. 457), nele expostas sucintamente as razões do agravante. (BRASIL. Código de Processo Civil. 12. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais. 2007). 182 LISBOA, Celso Anicet. A reforma do Código de Processo Civil: Comentários às Leis nºs. 11.187, de 19 de Outubro de 2005 (Agravo), e 11. 232, de Dezembro de 2005 (Fases de Cumprimento da Sentença). Rio de Janeiro: Forense, 2006. p. 117-118. 183 LISBOA, Celso Anicet. A reforma do Código de Processo Civil: Comentários às Leis nºs. 11.187, de 19 de Outubro de 2005 (Agravo), e 11. 232, de Dezembro de 2005 (Fases de Cumprimento da Sentença). 2006, p.118. 184 LISBOA, Celso Anicet. A reforma do Código de Processo Civil: Comentários às Leis nºs. 11.187, de 19 de Outubro de 2005 (Agravo), e 11. 232, de Dezembro de 2005 (Fases de Cumprimento da Sentença). 2006. p.118. 185 MARGUES, Antônio Terêncio G.L. Breves considerações acerca do novo regramento do recurso de agravo à luz da Lei 11. 187, de 19 de outubro de 2005. In: Nery Jr., Nelson; Wambier,

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Antes da vigência da Lei 11.187/2005, as decisões

monocráticas do relator que proferia decisão liminar nos caso previstos no

parágrafo acima caberiam agravo interno (regimental) para o colegiado, recurso

que não mais é aceito com a nova redação do parágrafo único do art. 527 do

CPC, assim leciona Antônio Terêncio G. L. Marques:

No que concerne à regra contida no parágrafo único do art. 527, depreende-se que a decisão do relator que determinar a conversão do recurso de agravo de instrumento em agravo retido ou, ainda, na hipótese de negar seguimento, liminarmente, ao agravo de instrumento, não comportará a interposição do antigo agravo regimental, inominado, ou, como alguns designam, agravinho, na forma prevista pelo art. 557 do CPC.186

No mesmo diapasão, Celso Anicet Lisboa, assinala:

No que tange a liminar proferida pelo relator nas hipóteses do inciso III do art. 527, o regime precedente nada dizia sobre a possibilidade de se agravar dela, pelo que a jurisprudência divergiu sobre o ponto. Inúmeros acórdãos se orientaram pela irrecorribilidade da decisão do relator. O legislador da Lei nº 11.187/2005 seguiu tal orientação, certamente baseado na consideração de que a circunstancia de o relator decidir liminarmente não obsta que o agravo seja julgado pelo órgão colegiado competente, ao qual o relator pertence. É apenas uma questão de tempo, pois o recurso será julgado pelo órgão colegiado, então entendendo alguns autores que não há abusividade no texto legal do parágrafo único do art. 527 do Código de Processo Civil.187

No entanto, outra corrente diz ser o texto do parágrafo único

do art. 527 ser inconstitucional por entender que a toda decisão singular deve ser,

Teresa Arruda Alvin. (Coord). Aspectos polêmicos e atuais dos recursos cíveis e assuntos afins. 2007. p. 30. 186 MARGUES, Antônio Terêncio G.L. Breves considerações acerca do novo regramento do recurso de agravo à luz da Lei 11. 187, de 19 de outubro de 2005. In: Nery Jr., Nelson; Wambier, Teresa Arruda Alvin. (Coord). Aspectos polêmicos e atuais dos recursos cíveis e assuntos afins. 2007. p. 30. 187 LISBOA, Celso Anicet. A reforma do Código de Processo Civil: Comentários às Leis nºs. 11.187, de 19 de Outubro de 2005 (Agravo), e 11. 232, de Dezembro de 2005 (Fases de Cumprimento da Sentença). 2006, p. 120.

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também, apreciada por um órgão colegiado, questão será tratada no mais adiante

no presente capítulo.188

3.2 A CONVERSÃO DO AGRAVO DE INSTRUMENTO EM AGRAVO RETIDO

POR DECISÃO MONOCRÁTICA NOS TRIBUNAIS

A conversão do agravo de instrumento em agravo retido nos

tribunais com o texto anterior a Lei 10.352/2001, era apenas faculdade do relator,

tendo em conta a conveniência ou a necessidade em que a questão fosse

resolvida com brevidade. 189

A atual mudança se sucedeu pelo grande acumulo de

agravos suscitados perante os tribunais de segundo grau, viu por bem o legislador

fazer relevante modificação na antes faculdade do relator em converter o agravo

em retido. 190

Neste aspecto leciona Manoel Caetano Ferreira Filho:

Este aceno histórico teve o alvitre de demonstrar que a recente história das alterações procedidas no Código de Processo Civil conduz à conclusão de que um de seus objetivos foi distanciar-se da disciplina do cabimento dos agravos de instrumento e retido, contida na versão originária, para impor em certos casos, cada vez mais numerosos, o cabimento exclusivo do retido. A possibilidade de conversão daquele neste, quando não se tratar de tutela de urgência ou não houver perigo de dano grave e de difícil reparação, já acenava para o entendimento de que, em tais casos, o agravo de instrumento mostra-se inadequado. A ruptura vem sendo ensaiada há mais de dez anos; o objetivo, contudo,

188 DIDIER JR, Fredie; CARNEIRO DA CUNHA, Leonardo José. Curso de Direito Processual Civil. Vol. 3, 1ª ed., Bahia: JusPODIVM. 2007. p. 220. 189 GUSMÃO CARNEIRO, Athos. Do recurso de agravo ante a Lei nº 11.187/2005. In: Nery Jr., Nelson; Wambier, Teresa Arruda Alvim. (Coord). Aspectos polêmicos e atuais dos recursos cíveis e assuntos afins. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais. 2006. p. 36-37. 190 GUSMÃO CARNEIRO, Athos. Do recurso de agravo ante a Lei nº 11.187/2005. In: Nery Jr., Nelson; Wambier, Teresa Arruda Alvim. (Coord). Aspectos polêmicos e atuais dos recursos cíveis e assuntos afins. 2006. p. 36.

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numa perspectiva histórica, esteve sempre muito claro: impor, como regra, o agravo retido, reservando o de instrumento para hipóteses em que a decisão agravada seja suscetível de causar dano grave imediato e de difícil ou incerta reparação. 191

A redação anterior à Lei 11.187/2005 consistia na seguinte:

Art. 527. Recebido o agravo de instrumento no tribunal, e distribuído incontinenti, o relator: [...] II – poderá converter o agravo de instrumento em agravo retido, salvo quando se tratar de provisão jurisdicional de urgência ou houver perigo de lesão grave e de difícil ou incerta reparação, remetendo os respectivos autos ao juízo da causa, onde serão apensados aos principais, cabendo agravo dessa decisão ao órgão colegiado competente;(Grifou-se) [...].192

Diferente do texto anterior que “poderá converter”, a

conversão do agravo de instrumento em agravo retido, com o advento da Lei

11.187/2005, passa a ser um imperativo, e não mais faculdade. Anota Gustavo

Filipe Barbosa Garcia:

Diferente da regra originaria (“poderá converter...”), a conversão do agravo de instrumento em agravo retido passa a ser um imperativo, e não mais mera faculdade do relator (“converterá”). Esta modificação está em conformidade com a nova redação do art. 522, pois o agravo, na modalidade de instrumento, somente passou a ser admitido nas três hipóteses ali excepcionalmente previstas e repetidas no inc. II do art. 527. Assim, caso o agravo de instrumento seja interposto, mas não esteja presente qualquer

191 FERREIRA FILHO, Manoel Caetano. Considerações sobre a Lei 11.187, de 19.10.2005, que altera a disciplina do agravo de instrumento. In: Nery Jr., Nelson; Wambier, Teresa Arruda Alvim. (Coord). Aspectos polêmicos e atuais dos recursos cíveis e assuntos afins. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais. 2006. p. 320. 192 BRASIL. Código de Processo Civil. 12. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007.

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hipótese para a sua admissão, cabe ao relator convertê-lo em agravo retido, remetendo os autos ao juiz da causa. 193

O escrito da Lei 10.352/2001 no inciso II, do art. 527, do

CPC, constava que da decisão que convertia o agravo retido em instrumento

caberia agravo interno, no prazo de cinco dias, ao colegiado competente, o qual

caberia o julgamento do agravo de instrumento. O relator, a sua

discricionariedade, só converteria em retido caso não houvesse a parte perigo de

lesão grave e de difícil ou incerta reparação, ainda, em casos de “provisão

jurisdicional de urgência”, ou seja, quando a questão objeto de recurso

envolvesse matéria que necessitasse ser decidida desde logo pela sua natureza. 194

No entendimento preceitua José Henrique Mouta Araújo:

Logo, a reforma implementada anteriormente pala Lei 10.352/2001 dependia muito mais de uma consciência geral do que propriamente do poder do relator, considerando que a conversão estava sujeita a interposição de agravo interno que culminava com aumento de seu trabalho. Esse aspecto foi objeto de alteração legislativa, passando o inc. II do art. 527 a conter a expressão converterá, decisão esta não sujeita a irresignação recursal. 195

Como vislumbrado acima, o texto originário tinha como

característica o verbo “poderá converter” em retido.

193 BARBOSA GARCIA, Gustavo Filipe. A nova disciplina do agravo no processo civil decorrente da Lei 11.187/2005. In: Nery Jr., Nelson; Wambier, Arruda Alvim, Teresa (Coord). Aspectos polêmicos e atuais dos recursos cíveis e assuntos afins. 2006. p. 147. 194 GUSMÃO CARNEIRO, Athos. Do recurso de agravo ante a Lei 11.187/2005. In: Nery Jr., Nelson; Wambier, Arruda Alvim, Teresa (Coord). Aspectos polêmicos e atuais dos recursos cíveis e assuntos afins. 2006. p. 37.

195ARAÚJO, José Henrique Mouta. O agravo e as mais recentes alterações processuais: alguns questionamentos. . In: Nery Jr., Nelson; Wambier, Arruda Alvim, Teresa. Aspectos polêmicos e atuais dos recursos cíveis e assuntos afins. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais. 2006. p. 227.

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No entanto passemos à análise da nova redação do inc. II

do art. 527 do Código de Processo Civil com advento da Lei 11.187/2005, como

segue:

Art. 527. Recebido o agravo de instrumento no tribunal, e distribuído incontinenti, o relator: [...] II – converterá o agravo de instrumento em agravo retido, salvo quando se tratar de decisão suscetível de causar à parte lesão grave e de difícil reparação, bem como nos casos de inadmissão da apelação e nos relativos aos efeitos em que a apelação é recebida, mandando remeter os autos ao juiz da causa;(Grifou-se) [...].196

Nota-se que o novo preceito do inciso II do art. 527, impera o

verbo converterá, ficando autorizado o relator a converter o agravo de instrumento

em retido, exceto quando se tratar de decisão suscetível de causar à parte lesão

grave e de difícil reparação. 197

Assim bem ensina Araken de Assis:

O art. 527, II, na redação da Lei 11.187, de 19.10.2005, constrange o relator a converter o agravo de instrumento em retido, ressalva feita aos casos previstos no caput. A forma verbal, outra vez, não abre espaço a qualquer alternativa,destacando-se com o desaparecimento da opção do recorrente quanto ao regimento retro. 198

Antes da reforma operada pela Lei 11.187/2005, da

conversão do agravo de instrumento em agravo retido, caberia agravo interno ao

196 BRASIL. Código de Processo Civil. 12. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007. 197 WAMBIER, Luiz Rodrigues; WAMBIER, Teresa Arruda Alvim; MEDINA, José Miguel Garcia. Breves Comentários à Nova Sistemática Processual Civil 2. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais. 2006. p. 264. 198 ASSIS, Araken. Manual dos Recursos. 2007. p. 492.

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colegiado competente para julgar o agravo de instrumento, o que foi retirado pelo

novo dispositivo. 199

Humberto Theodoro Júnior preceitua:

[...] da decisão do relator que converte o agravo em retido, nenhum recurso se admite, mas ao relator é permitido reconsiderar seu ato, enquanto não for o agravo submetido ao julgamento definitivo. Em outras palavras, não há mais o agravo interno, mas as partes, por meio de petição simples, podem pleitear ao relator o reexame de seu decisório singular, que, assim, não se submete a preclusão, como aliás se dá com as medidas próprias das tutelas de urgência em geral. 200

Como mencionado acima, não mais é admitido recorrer da

decisão do relator que converte o agravo em retido, visto que a recente reforma

eliminou o agravo interno outrora admissível contra a decisão do relator. 201

Portanto, com o advento da Lei 11.187/2005, ficou evidente

o intuito de se reduzir o número de situações em que se permite a interposição de

agravo de instrumento apenas àquelas em que haja necessidade de apreciação

urgente do recurso, eis que agora a regra é que o agravo seja retido, e a exceção

é o regime de instrumento.

3.3 ANÁLISE DO ART. 527, PARÁGRAFO ÚNICO, DO CPC ANTES DA

REFORMA

Antes da reforma do recurso de agravo oriundo da Lei

11.187/2005, a decisão monocrática do relator que convertia agravo de

instrumento em agravo retido, caberia agravo para o órgão colegiado, assim

previsto pelo antigo inciso II do art. 527, in verbis:

199 ALVIM, J. E. Carreira; ALVIM CABRAL, Luciana Gontijo Carreira. Código de Processo Civil Reformado. Curitiba: Editora Juruá. 2007. p. 398. 200 HUMBERTO, Theodoro Júnior. Curso de Direito Processual Civil. 2006. p.656. 201 WAMBIER, Luiz Rodrigues; WAMBIER, Teresa Arruda Alvim; MEDINA, José Miguel Garcia. Breves Comentários à Nova Sistemática Processual Civil 2. 2006. p. 266.

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Art. 527.[...] II – poderá converter o agravo de instrumento em agravo retido, salvo quando se tratar de provisão jurisdicional de urgência ou houver perigo de lesão grave e de difícil ou incerta reparação, remetendo os respectivos autos ao juízo da causa, onde serão apensados aos principais, cabendo agravo dessa decisão ao órgão colegiado competente;(Grifou-se) [...].202

O parágrafo único do art. 527 teve seu texto, antes da atual

reforma, incluso pela Lei 9.139/1995, a qual previa que a resposta do referido

recurso observaria o disposto no art. 525, § 2°, assim segue:

Art. 527 - Recebido o agravo de instrumento no tribunal, e distribuído incontinenti, se não for caso de indeferimento liminar (art. 557), o relator: [...] Parágrafo único - Na sua resposta, o agravado observará o disposto no § 2º do art. 525. Art. 525. A petição de agravo de instrumento será instruída: [...]; § 2° No prazo do recurso, a petição será protocolada no tribunal, ou postada no correio sob registro com aviso de recebimento, ou, ainda, interposta por outra forma prevista na lei local.203

Nota-se que a antiga redação do parágrafo único do art. 527

apenas fazia remissão ao art. 525, § 2°, em que orientava o agravado no

procedimento que deveria ser seguido na sua resposta, hoje constante no inc. V

do art. 527 -, dispondo que “na sua resposta, o agravado observará o disposto no

§ 2° do art. 525. 204

202 BRASIL. Lei 10.352, de 26 de dezembro de 2001. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br>. Acesso em: 30 de abril de 2008. 203 BRASIL. Código de Processo Civil. 12. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007. 204 ALVIM, J. E. Carreira; ALVIM CABRAL, Luciana Gontijo Carreira. Código de Processo Civil Reformado. 2007. p. 404-405.

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3.4 ANÁLISE DO ART. 527, PARÁGRAFO ÚNICO, DO CPC DE ACORDO COM

A LEI 11.187/2005

A alteração mais relevante da Lei 11.187/2005 é a que

elimina os recursos contra as decisões do relator que determine a conversão do

agravo de instrumento em agravo retido e que decida sobre a antecipação dos

efeitos da tutela recursal ou a concessão de efeito suspensivo ao agravo,

conforme introduzido no parágrafo único do art. 527. 205

A tendência da mudança do parágrafo único do art. 527 do

CPC segue a diretiva em prestigiar as decisões monocráticas do relator em

relação às colegiadas. Há agora apenas a figura da reconsideração, que não é

recurso, mas uma simples provocação mediante petição, por meio da qual se

pretende nova decisão sobre a questão. 206

Ficou estabelecido no parágrafo único do art. 527, que a

liminar proferida nos casos dos incisos II e III do caput do art. 527, somente será

passível de reforma no momento do julgamento do agravo, podendo o próprio

relator a reconsiderar, vejamos:

Art. 527. Recebido o agravo de instrumento no tribunal, e distribuído incontinenti, o relator: [...] II - converterá o agravo de instrumento em agravo retido, salvo quando se tratar de decisão suscetível de causar à parte lesão grave e de difícil reparação, bem como nos casos de inadmissão da apelação e nos relativos aos efeitos em que a apelação é recebida, mandando remeter os autos ao juiz da causa; III - poderá atribuir efeito suspensivo ao recurso (art. 558), ou deferir, em antecipação de tutela, total ou parcialmente, a pretensão recursal, comunicando ao juiz sua decisão; [...]

205 WAMBIER, Luiz Rodrigues; WAMBIER, Teresa Arruda Alvim; MEDINA, José Miguel Garcia. Breves Comentários à Nova Sistemática Processual Civil 2. 2006. p. 263. 206 LUCON, Paulo Henrique dos Santos. Recurso de Agravo. In: Nery Jr., Nelson; Wambier, Teresa Arruda Alvim. (Coord). Aspectos polêmicos e atuais dos recursos cíveis e assuntos afins. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais. 2007. p. 314-315.

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Parágrafo único. A decisão liminar, proferida nos casos dos incisos II e III do caput deste artigo, somente é passível de reforma no momento do julgamento do agravo, salvo se o próprio relator a reconsiderar. 207

A nova redação do parágrafo único do art. 527 eliminou o

agravo interno outrora admissível contra a decisão do relator, que determinasse a

conversão do agravo de instrumento em agravo retido, bem como negasse efeito

suspensivo. 208

Neste passo, ensinam J. E. Carreira Alvim e Luciana Gontijo

Carreira Alvim Cabral:

[...] o que pretendeu o novo parágrafo único do art. 527 foi tornar irrecorríveis as decisões referentes às liminares de que tratam os incs. II e III do art. 527, excluindo a possibilidade de interposição de agravo interno (regimental) contra elas, o que leva tais decisões ao julgamento do órgão colegiado (turma, câmara) antes o julgamento do próprio agravo de instrumento. 209

Assim, a irrecorribilidade não impede o reexame e a

eventual reconsideração por parte do próprio relator, medida que a parte poderá

pleitear por petição avulsa, a qualquer tempo, enquanto não julgado o recurso

pelo colegiado, segundo J. E. Carreira Alvim:

[...] se o próprio relator pode reconsiderar a sua decisão ex officio, pode fazê-lo também, por evidente, mediante simples petição (requerimento) da parte prejudicada, e, tanto numa quanto noutra hipótese, havendo reforma da decisão anterior, essa decisão posterior estaria sujeita a agravo interno pela parte prejudicada; mesmo porque, havendo reforma da decisão agravada, o agravo e instrumento terá perdido o seu objeto, devendo ser julgado prejudicado (art. 557).

207 BRASIL. Código de Processo Civil. 12. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007. 208 WAMBIER, Luiz Rodrigues; WAMBIER, Teresa Arruda Alvim; MEDINA, José Miguel Garcia. Breves Comentários à Nova Sistemática Processual Civil 2. 2006. p. 266. 209 ALVIM, J. E. Carreira; ALVIM CABRAL, Luciana Gontijo Carreira. Código de Processo Civil Reformado. 2007. p. 405.

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Penso, no entanto, que, dificilmente, a decisão do relator que vier a reconsiderar decisão liminar de algum dos tipos referidos no parágrafo único do art. 527 do CPC passará incólume pelo agravo interno (regimental), pois, se vier a ser negado esse recurso, por certo a jurisprudência poderá inclinar-se pelo mandado de segurança contra ato judicial, como sucedâneo recursal. 210

A disposição do parágrafo único do art. 527 já vinha sendo

adotada por vários Tribunais, como é o caso do Tribunal de Justiça do Rio Grande

do Sul.

AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO MANEJADO CONTRA DECISÃO QUE INDEFERIU PLEITO DE CONCESSÃO DE EFEITO SUSPENSIVO A AGRAVO DE INSTRUMENTO. NÃO CONHECIMENTO. CONCLUSÃO Nº 06 DO CETJRS. Não é cabível agravo regimental ou agravo interno contra despacho do Relator que nega a concessão de efeito suspensivo a agravo de instrumento. AGRAVO REGIMENTAL NÃO CONHECIDO.(AI. 70013168950. 9ª Câm. Cív., rel. Íris Helena Medeiros Nougueira, j. 19.10.2005). 211

Ainda, como bem expresso no texto do parágrafo único do

art. 527 do CPC, que a decisão do relator que determinar o não conhecimento de

qualquer das hipóteses dos incs. II e III, será apreciado pelo colegiado no

momento do julgamento do agravo, neste panorama, prejudicada fica a

suplicação da decisão que converter o agravo de instrumento em agravo retido,

pois terá que esperar uma possível apelação para se manifestar e justificar o

porquê deveria ser conhecido o agravo de instrumento, no sentido Tereza Arruda

Alvim Wambier doutrina:

A possibilidade de “reforma no momento do julgamento do agravo”, evidentemente, só tem relevância em relação à decisão que resolve sobre o requerimento de efeito suspensivo ou de

210 ALVIM, J. E. Carreira; ALVIM CABRAL, Luciana Gontijo Carreira. Código de Processo Civil Reformado. 2007. p. 405. 211 RIO GRANDE DO SUL. Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul. Agravo Interno n. 70013168950, da 9ª Câmara Cível do TJRS, Porto Alegre, RS, 19 de outubro de 2005. Lex: jurisprudência do TJRS. Disponível em: (<http://www.tj.rs.gov.br/site_php/jprud2/resultado.php>) Acesso em: 30 de abril de 2008.

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antecipação da tutela recursal, já que, uma vez convertido o agravo de instrumento em agravo retido, não haverá razão, quando do julgamento deste recurso, que justifique sua conversão em agravo de instrumento. De fato, são sobre o efeito suspensivo ou sobre a antecipação da tutela recursal do agravo, ou sobre se o agravo será retido ou de instrumento, no julgamento deste próprio agravo, é, no mínimo, inteiramente inútil! 212

Com a modificação do parágrafo único do artigo em comento

poderá dar ensejo ao surgimento do mandado de segurança como sucedâneo

recursal, visto que as alterações do agravo objetivavam realmente impugnar o uso

do mandado de segurança contra ato judicial, em conseqüência, vinha se usando

com excesso o agravo de instrumento, e continuando o ciclo voltou a onda do

mandado de segurança, assim assinala Athos Gusmão Carneiro:

[...] a irrecorribilidade das decisões monocráticas poderá dar azo, sob a premissa de que s fatos seriam incontestado, ao lamentável ressurgimento do mandado de segurança como sucedâneo recursal (v.g., caso em que o juiz defere uma antecipação de tutela: a parte ré, invocando a probabilidade de grave lesão a seus direitos, agrava de instrumento e roga o efeito suspensivo, denegado entretanto pelo relator; segue-se a impetração do writ pelo demandado).213

No entanto, o parágrafo único do art. 527 introduzido pela

Lei 11.187/2005, foi tornar irrecorríveis as decisões liminares constantes nos incs.

II e III, ou seja, acabar com o agravo interno (regimental), conseqüentemente,

atribuindo mais poderes ao relator.

212 WAMBIER, Luiz Rodrigues; WAMBIER, Teresa Arruda Alvim; MEDINA, José Miguel Garcia. Breves Comentários à Nova Sistemática Processual Civil 2. 2006. p. 270. 213 GUSMÃO CARNEIRO, Athos. Do recurso de agravo ante a Lei nº 11.187/2005. In: Nery Jr., Nelson; Wambier, Teresa Arruda Alvim. (Coord). Aspectos polêmicos e atuais dos recursos cíveis e assuntos afins. 2006. p. 48.

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3.5 A IRRECORRIBILIDADE DA DECISÃO MONOCRÁTICA DE CONVERSÃO

DO AGRAVO DE INSTRUMENTO EM AGRAVO RETIDO E SUA POSSÍVEL

INCONSTITUCIONALIDADE

Como já ilustrado nos tópicos acima, o acréscimo da nova

redação do parágrafo único do art. 527 do CPC, regula de forma não explicita a

irrecorribilidade da decisão monocrática que converte o Agravo de Instrumento

em Agravo Retido, como segue:

Parágrafo único. A decisão liminar, proferida nos casos dos incisos II e III do caput deste artigo, somente é passível de reforma no momento do julgamento do agravo, salvo se o próprio relator a reconsiderar. 214

Objetivou o legislador, com a introdução do parágrafo único

do art. 527 do CPC, acabar com o agravo interno que era, por analogia, interposto

contra a decisão do relator que convertia o agravo de instrumento em agravo

retido, antes previsto no inc. II do art. 527 do CPC, assim comenta José Henrique

Mouta Araújo:

A alteração ocorrida no art. 527, parágrafo único, também caminha no sentido de manter como regra o agravo retido nos autos, evitando o costumeiro uso de agravo interno em face das decisões monocráticas proferidas pelos relatores no agravo de instrumento (especialmente no que respeita aos poderes previstos nos incs. II e III). 215

Neste passo, o Tribunal de Justiça de Santa Catarina em

recente decisão negou provimento ao Agravo Interno, in verbis:

PROCESSUAL CIVIL - CONVERSÃO DE AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RETIDO - INTERPOSIÇÃO DE AGRAVO

214 BRASIL. Código de Processo Civil. 12. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007. 215 ARAUJO, José Henrique Mouta. O agravo e as mais recentes alterações processuais: alguns questionamentos. In: Nery Jr., Nelson; Wambier, Teresa Arruda Alvim. (Coord). Aspectos polêmicos e atuais dos recursos cíveis e assuntos afins. 2006. p. 201.

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INOMINADO DO ART. 557, § 1º, DO CPC COMO SUCEDÂNEO DO RECURSO PREVISTO NO ART. 527, II, DO CPC - APLICABILIDADE DO PRINCÍPIO DA FUNGIBILIDADE - INEXISTÊNCIA DE ERRO GROSSEIRO - IDENTIDADE DE PROCEDIMENTO - IMPRECISÃO TÉCNICA QUE NÃO ACARRETA PREJUÍZO ÀS PARTES OU AO PROCESSO - AUSÊNCIA DE URGÊNCIA OU PERIGO DE LESÃO GRAVE E DE DIFÍCIL OU INCERTA REPARAÇÃO A IMPEDIR A CONVERSÃO DA INSURGÊNCIA EM AGRAVO RETIDO - FATO OBSTATIVO NÃO DEMONSTRADO - RECURSO DESPROVIDO. (TJSC. AAI. n. 2005.021524-2/0001.0. Rel. Marcus Túlio Sartorato, j. 30.03.2006). 216

No mesmo entendimento decide a Des(a). Marli Mosimann

Vargas:

AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO DE INSTRUMENTO - INTERPOSIÇÃO CONTRA DECISÃO QUE ACOLHEU A PRELIMINAR DE INCOMPETÊNCIA RELATIVA, DETERMINANDO A REMESSA DOS AUTOS À VARA DA INFÂNCIA E JUVENTUDE - DESCABIMENTO - ALTERAÇÃO NO PARÁGRAFO ÚNICO DO ART. 527 DO CPC, COM A NOVA REDAÇÃO DA LEI N. 11.187/05 - IMPOSSIBILIDADE DE INTERPOSIÇÃO DE RECURSO - DIREITO INTERPORAL - LEI VIGENTE AO TEMPO DA PUBLICAÇÃO DA DECISÃO IMPUGNADA - RECURSO NÃO CONHECIDO. Verificada a alteração do artigo 527 do CPC, trazida pela Lei n. 11.187/05, as decisões exauridas nos termos do art. 558 do CPC, somente serão objeto de reconsideração pelo próprio relator, não cabendo qualquer modalidade de recurso. (TJSC. AAI. n. 2006.002626-0. Rel. Marli Mosimann Vargas, j. 09.03.2006).217

216 SANTA CATARINA. Tribunal de Justiça de Estado de Santa Catarina. Agravo em Agravo Interno n. 2005.021524-2/0001.0, da 3ª Câmara de Direito Civil, Florianópolis, SC, 30 de março de 2006. Lex: jurisprudência do TJSC. Disponível em: (<http://www.tj.sc.gov.br/site_php/jprud2/resultado.php>) Acesso em: 30 de abril de 2008.

217 SANTA CATARINA. Tribunal de Justiça de Estado de Santa Catarina. Agravo em Agravo Interno n. 2006.002626-0, da 1ª Câmara de Direito Comercial, Florianópolis, SC, 09 de março de 2006. Lex: jurisprudência do TJSC. Disponível em: (<http://www.tj.sc.gov.br/site_php/jprud2/resultado.php>) Acesso em: 30 de abril de 2008.

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Conforme demonstrado o Tribunal do Estado de Santa

Catarina tem decido pelo não acolhimento do Agravo Regimental das decisões do

relator frente ao parágrafo único do art. 527 do CPC.

Por princípio, a jurisdição sempre permite acesso a um

julgamento substitutivo de decisão da qual a parte não se conforma. Trata-se, de

um poder de provocar o reexame da decisão pelo colegiado. Eis a importância do

princípio da recursividade, visando satisfazer o inconformismo da decisão

monocrática. 218

Segundo Athos de Gusmão Carneiro:

[...] nos debates precedentes à remessa do projeto de lei ao Congresso, consideraram alguns que o uso da palavra ‘irrecorrível’ ensejaria a acusação de ser o dispositivo ‘antidemocrático’, ofensivo ao princípio constitucional da ampla defesa, e assim por diante. Optou-se, então, por dizer o mesmo por vias transversas, com a afirmação de que a decisão somente seria ‘passível de reforma no momento do julgamento do agravo’, redação bastante criticável. 219

No nosso sistema constitucional consagra, dentre outros, o

princípio da ampla defesa e, e conseqüentemente, o princípio da recorribilidade

das decisões judiciais, ou seja, o acesso à justiça, assim se expresso fosse, a

irrecorribilidade afrontaria à Constituição. 220

A alteração do parágrafo único do art. 527 do CPC, no que

tange a irrecorribilidade das decisões liminares proferidas pelo relator, é

considerada por Franzé, inconstitucional, como descreve:

218 OLIVEIRA, Pedro Miranda de. A conversão do agravo de instrumento em agravo retido: decisão irrecorrível? In: Nery Jr., Nelson; Wambier, Teresa Arruda Alvim.(Coord). Aspectos polêmicos e atuais dos recursos cíveis e assuntos afins. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais. 2007. p. 335. 219 GUSMÃO CARNEIRO, Athos. Do recurso de agravo ante a Lei 11.187/2005. In: Nery Jr., Nelson; Wambier, Teresa Arruda Alvim. (Coord). Aspectos polêmicos e atuais dos recursos cíveis e assuntos afins. 2006. p. 47. 220 OLIVEIRA, Pedro Miranda de. A conversão do agravo de instrumento em agravo retido: decisão irrecorrível? In: Nery Jr., Nelson; Wambier, Teresa Arruda Alvim.(Coord). Aspectos polêmicos e atuais dos recursos cíveis e assuntos afins. 2007. p. 335.

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A inconstitucionalidade do adiamento trazido pelo parágrafo único do art. 527 inserido pela Lei ora estudada, pois, na prática, implica a irrecorribilidade do pronunciamento do relator que dispuser sobre a conversão do agravo de instrumento em retido, tutela antecipada recursal ou efeito suspensivo. 221

O mesmo autor ainda assinala:

Deixar para julgar recurso que impugnar essa decisão liminar apenas no julgamento do agravo implica afastar o acesso à justiça (CF. art. 5°, inc. XXXV), além de violar o princípio do juiz natural. Cumulativamente, implicará o odioso retorno do mandado de segurança para impugnar esse pronunciamento. No contexto, essas alterações, de certo modo, tiveram o propósito de ratificar a ampliação de poderes outorgados ao relator. 222

Contrário aos entendimentos supra, Humberto Theodoro

Junior, entende ser Constitucional, eis que não se vedou o acesso ao colegiado,

apenas se resolveu questão preliminar no caminho do agravo ao Egrégio, assim

coteja:

Estaria tal dispositivo em inconstitucionalidade? Penso que não, porque não se vedou o acesso da parte ao colegiado. Apenas se resolveu questão preliminar no percurso do agravo rumo ao Tribunal. Mais cedo ou mais tarde, a palavra final será do órgão coletivo. O que não poderia o legislador ordinário fazer seria autorizar o relator a substituir o Tribunal, julgando definitivamente o agravo, sem oportunidade de recurso.223

No mesmo propósito, segundo Araken de Assis a regra é

Constitucional, visto que o relator assumiu o papel de juiz natural e a previsão de

recurso depende de previsão legal, demonstra:

A propalada regra de que, no tribunal, o julgamento dos recursos incumbe, por princípio, a órgãos colegiados não encontra respaldo

221 FRANZÉ, Luis Henrique Barbante. Agravo Frente aos Pronunciamentos de Primeiro Grau no Processo Civil. 2006. p. 302. 222 FRANZÉ, Luis Henrique Barbante. Agravo Frente aos Pronunciamentos de Primeiro Grau no Processo Civil. 2006. p. 302. 223 HUMBERTO, Theodoro Júnior. Curso de Direito Processual Civil. 2006. p.629.

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no direito posto. Na verdade, a lei modificou a regra, atribuindo tal competência ao relator, e a regra é manifestamente constitucional. Por conseguinte, o relator assumiu o papel de juiz natural. Pois sempre há um momento, demarcado na lei, em que as decisões judiciais não comportam mas impugnações, assegurando estabilidade à posição processual adquirida pela outra parte. É razoável que a preclusão da via recursal, tratando-se de decisões interlocutórias, ocorra após dois pronunciamentos, coincidentes ou não, pois o processo precisa se desenvolver até seu desfecho neste ou naquele rumo. E a regra é constitucional, porque a existência de recurso depende de previsão legal.224

Nesse diapasão, é demonstrada a divergência nos

entendimentos, no qual doutrinadores defendem a tese da Inconstitucionalidade

e outros da Constitucionalidade da decisão do relator que converte agravo de

instrumento em agravo retido.

3.6 A POSSIBILIDADE DO MANDADO DE SEGURANÇA CONTRÁRIA A

DECISÃO MONOCRÁTICA DE CONVERSÃO DO AGRAVO DE INSTRUMENTO

EM AGRAVO RETIDO

Com o propósito de solução criada pela lei 11.187/2005 na

possibilidade de conversão do agravo de instrumento em retido, os legisladores

não imaginavam que criariam outro problema, ou seja, abstraíram do CPC a

possibilidade de recurso da decisão do relator que converte agravo de

instrumento em agravo retido (vale esclarecer que a reconsideração prevista no

parágrafo único do art. 527 do CPC não é recurso), no fito de obstaculizar os

inúmeros agravos internos nos Tribunais, trazendo à baila a possibilidade em

mandado de segurança contra tal decisão judicial.

No sentido, observa Eduardo Talamini225 que há razoável

consenso sobre a admissibilidade do mandado de segurança para controle de ato

jurisdicional, ao menos nas hipóteses seguintes:

224 ASSIS, Araken. Manual dos Recursos. 2007. p.495. 225 TALAMINI, Eduardo. O emprego do mandado de segurança e do habeas corpus contra atos revestidos pela coisa julgada. In: MARINONI, Luiz Guilherme. Estudos de Direito Processual

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a) contra decisão da qual não caiba recurso nenhum; b) contra decisão da qual não caiba recurso com efeito suspensivo ou apto a desde logo proporcionar a providência negada pela decisão; c) contra omissões, em si mesmas não recorríveis; d) por terceiros em relação aos processo, atingidos por seus atos; e) contra sentença juridicamente inexistente ou absolutamente ineficaz (por exemplo, ajuizamento de mandado de segurança por quem não foi validamente citado e não participou do processo).

Em apreço, a questão a ser analisada é a primeira das

afirmações, qual seja, a do cabimento da mandado de segurança contra decisão

judicial da qual não caiba recurso algum.

Segundo Luiz Rodrigues Wambier, Teresa Arruda Wambier

e José Miguel Garcia Medina, os legisladores ressuscitaram a possibilidade da

impetração de Mandado de Segurança contra tal ato judicial, com base no art. 5°,

II, da Lei 1.533/51 e no art 5°, LXIX, da Constituição da República Federativa do

Brasil.226

Ainda enfatiza, na mesma esteira Luiz Rodrigues Wambier;

Eduardo Talamini e Flávio Renato Correia de Almeida:

Em face dessa decisão de conversão pretendeu-se, ao que se infere, proibir o cabimento de recurso (art. 527, parágrafo único [do CPC]). Sendo assim, cabe mandado de segurança contra essa decisão. O mandado de segurança é garantia constitucional utilizável, entre outros casos, contra qualquer espécie de decisão de que não caiba recurso.227

A maciça corrente de estudiosos do direito, com fundamento

na Constituição Federal e na Lei 1.533/51 (Mandado de Segurança), entendem

Civil – Homenagem ao Professor Egas Dirceu Moniz Aragão. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005. p. 182. 226 WAMBIER, Luiz Rodrigues; WAMBIER, Teresa Arruda Alvim; MEDINA, José Miguel Garcia. Breves Comentários à Nova Sistemática Processual Civil 2. 2006. p. 274. 227 WAMBIER, Luiz Rodrigues; TALAMINI, Eduardo; ALMEIDA, Flávio Renato Correia de. Curso Avançado de Processo Civil. 10. Ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais. 2008. p. 630.

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que é devido a impetração de Mandado de Segurança contra ato judicial que

impeça a apreciação pelo colegiado de decisão singular, como é o caso da

decisão de conversão de agravo de instrumento em retido proferida pelo relator,

preceitua Paulo Henrique dos Santos Lucon:

O mandado de segurança contra ato judicial constitui ação autônoma de impugnação que da ensejo a um processo por meio do qual a parte prejudicada com determinada decisão judicial dela se utiliza com o objetivo de cassar a citada decisão, afastando, por conseqüência, os efeitos dela decorrentes. Entretanto, muito mais que processo ou ação, em termos de atuação sobre o mundo fático, o mandado de segurança é um comando ou ordem que o Órgão Judiciário dirige à autoridade coatora. Em apertada síntese, é um provimento jurisdicional e sua obtenção fica condicionada à propositura de demanda, ao regular exercício das vias processuais pré-estabalecidas e à presença dos pressupostos essenciais ao pronunciamento de mérito.228

Neste norte, com maestria ensina Eduardo Talamini que:

O uso do mandado de segurança contra atos do juiz nada tem de ‘anômalo’; não pode ser visto como uma patologia. Decorre da própria magnitude constitucional desse instrumento de tutela. Assim, o novo regime de agravo não teve obviamente o condão de automaticamente limitar a força constitucional do mandado de segurança.229

Assim, também preceitua Clito Fornaciari Júnior:

Somando-se, desse modo, o sistema processual, que privilegia as questões que envolvam o risco de dano irreparável ou de difícil reparação, e o regramento do mandado de segurança, que se impõe seja interpretado com certa elasticidade, mormente diante de previsão de decisões irrecorríveis na lei de processo, e não se poderá chegar a outra conclusão, senão àquela que, diante de

228 LUCON, Paulo Henrique dos Santos. Recurso de Agravo. In: Nery Jr., Nelson; Wambier, Teresa Arruda Alvim.(Coord). Aspectos polêmicos e atuais dos recursos cíveis e assuntos afins. 2007. p. 307. 229 TALAMINI, Eduardo. O emprego do mandado de segurança e do habeas corpus contra atos revestidos pela coisa julgada. In: MARINONI, Luiz Guilherme. Estudos de Direito Processual Civil – Homenagem ao Professor Egas Dirceu Moniz Aragão. 2005. p. 250.

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decisões que determinam a conversão e das quais possa advir dano irreparável ou de difícil reparação, o mandado de segurança passa a ser o remédio apropriado voltado, tão-só, para a tentativa de remover o obstáculo da conversão, a fim de o agravo processar-se pela via do instrumento.230

Para o renomado doutrinador Nelson Nery Júnior, caso o

pedido de reconsideração da decisão do relator que converte do agravo de

instrumento em retido seja inadequado para garantir o direito da parte, é

admissível mandado de segurança contra a interlocutória, veja-se:

Caso o pedido de reconsideração e o pedido de reforma dirigido ao colegiado para modificar a liminar decidida pelo relator se mostrem inidôneos para garantir ao prejudicado o direito que entende possuir, é admissível, em tese, a impetração de MS diretamente para o colegiado ou outro órgão competente do mesmo tribunal, a fim de que decida sobre a liminar de que tratam os (sic) CPC 527 II e III.231

Atinente, ao mesmo entendimento, Humberto Theodoro

Junior diz que: “A irrecorribilidade, in casu, traz como conseqüência a

possibilidade do mandado de segurança se a parte se sentir violada pela decisão

do relator, sempre que se puder nela divisar ilegalidade ou abuso de poder.”232

Assim, já decidiu o Superior Tribunal de Justiça tendo como

relatora a Ministra Nancy Andrighi:

Processo civil. Recurso em mandado de segurança. Possibilidade de impetração do writ dirigido diretamente ao Plenário do Tribunal a quo, visando a impugnar decisão irrecorrível proferida pelo Relator que, nos termos do art. 522, inc. II, do CPC (com a redação dada pela Lei nº 11.187⁄2005), determinou a conversão do agravo de instrumento interposto pela parte, em agravo retido.

230FORNACIARI JÚNIOR, Clito. O renascer do mandado de segurança contra ato jurisdicional. Revista Jurídica, São Paulo, n. 344, p. 11-18, junho/2006. 231 NERY JÚNIOR, Nelson. Código de processo civil comentado e legislação extravagante. 10 ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2007. p. 897-898. 232 HUMBERTO, Theodoro Júnior. Curso de Direito Processual Civil. 2006, p.657.

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As sucessivas reformas do Código de Processo Civil estabeleceram um processo cíclico para o agravo de instrumento: Inicialmente, ele representava um recurso pouco efetivo, de modo que sua interposição vinha sempre acompanhada da impetração de mandado de segurança que lhe atribuísse efeito suspensivo. Visando a modificar essa distorção, a Lei nº 9.139⁄95 ampliou o espectro desse recurso, tornando-o ágil e efetivo, o que praticamente eliminou o manejos dos writs para a tutela de direitos supostamente violados por decisão interlocutória. O aumento da utilização de agravos de instrumento, porém, trouxe como contrapartida o congestionamento dos Tribunais. Com isso, tornou-se necessário iniciar um movimento contrário àquele inaugurado pela Lei nº 9.139⁄95: o agravo de instrumento passou a ser restringido, inicialmente pela Lei nº 10.352⁄2001 e, após, de maneira mais incisiva, pela Lei nº 11.187⁄2005. A excessiva restrição à utilização do agravo de instrumento e a vedação, à parte, de uma decisão colegiada a respeito de sua irresignação, trouxe-nos de volta a um regime equivalente àquele que vigorava antes da Reforma promovida pela Lei nº 9.139⁄95: a baixa efetividade do agravo de instrumento implicará, novamente, o aumento da utilização do mandado de segurança contra ato judicial. A situação atual é particularmente mais grave porquanto, agora, o mandado de segurança não mais é impetrado contra a decisão do juízo de primeiro grau (hipótese em que seria distribuído a um relator das turmas ou câmaras dos tribunais). Ele é impetrado, em vez disso, contra a decisão do próprio relator, que determina a conversão do recurso. Com isso, a tendência a atravancamento tende a aumentar, já que tais writs devem ser julgados pelos órgãos plenos dos Tribunais de origem. Não obstante, por ser garantia constitucional, não é possível restringir o cabimento de mandado de segurança para essas hipóteses. Sendo irrecorrível, por disposição expressa de lei, a decisão que determina a conversão de agravo de instrumento em agravo retido, ela somente é impugnável pela via do remédio heróico. Recurso especial conhecido e provido. (STJ – RMS nº 22847 / MT (Recurso Ordinário em Mandado de Segurança) 2006/0214699-4

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– 3ª Turma – rel. Ministra Nancy Andrighi – data do julgamento 01.03.2007 – DJ 26.03.2007)233

Divergente ao todo exposto, Araken de Assis ventila não

caber mandado de segurança, pois entende que a decisão do relator de

conversão tem recurso próprio, qual seja a apreciação no momento do julgamento

do agravo retido e, também, não há tribunal competente para julgamento da

impetração, anota:

Da decisão tampouco caberá mandado de segurança. Várias razões afrontam tal posição. Em primeiro lugar, o art. 5°, II, da Lei 1.533/51 pré-exclui impetração quando o ato seja passível de modificação através do recurso próprio. Ademais, e fundamentalmente, não há tribunal competente para julgar a impetração. No que tange aos provimentos do relator ou de órgão fracionário dos tribunais de segundo grau, o STJ não exibe competência originária, conforme o art. 105 da CF/1988, para processar e julgar mandados de segurança contra tais atos, e somente a Constituição poderá estabelecer semelhante competência.234

Assinala, ainda, que o STJ assumiria o papel de órgão de

controle direto dos pronunciamentos dos tribunais de segundo grau. Pois o

tribunal que originou o provimento do relator ou do órgão fracionário não cabe

revisar seus próprios atos através de mandado de segurança.235

Em decisão pelo não cabimento de mandado de segurança,

a ministra relatora Denise Arruda, ementou:

PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE SEGURANÇA. IMPETRAÇÃO CONTRA DECISÃO PASSÍVEL DE RECURSO PRÓPRIO (AGRAVO RETIDO — ANTIGA REDAÇÃO DO ART. 523, § 4º, DO CPC, REVOGADO PELA LEI 11.187⁄2005). INCIDÊNCIA DO DISPOSTO NA SÚMULA 267⁄STF

233 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Ordinário em Mandado de Segurança n. 2006/0214699-4, da 3ª Turma, Brasília, DF, 01 de março de 2007. Lex: jurisprudência do STJ. Disponível em: <http://www.stj.gov.br>. Acesso em: 30 de abril de 2008. 234ASSIS, Araken. Manual dos Recursos. 2007. p.495. 235ASSIS, Araken. Manual dos Recursos. 2007. p.495.

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("NÃO CABE MANDADO DE SEGURANÇA CONTRA ATO JUDICIAL PASSÍVEL DE RECURSO OU CORREIÇÃO"). RECURSO DESPROVIDO. (STJ – RMS nº 25089 / AM (Recurso Ordinário em Mandado de Segurança) 2007⁄0213659-7– 1ª Turma – rel. Ministra Denise Arruda – data do julgamento 18.03.2008 – DJ 16.04.2008)236

Nos entendimentos doutrinários apontados nesse capítulo, o

regime de agravo oriundo da Lei 11.187/2005 parece ter andado para trás, visto

que a Lei 9.139/95 teve como um dos objetivos pôr fim ao mandado de segurança

como meio de dar efeito suspensivo ao agravo, como assinala Pedro Miranda de

Oliveira.

Também, Paulo Henrique dos Santos Lucon, considera que

a Lei 11.187/2005, veio apenas prestigiar as decisões monocráticas nos tribunais,

deixando de lado a função constitucional dos tribunais que é proporcionar

julgamentos pelo colegiado.

Já em posicionamento diferente, Araken de Assis, considera

que a Lei 11.187/2005, veio a trazer mais celeridade processual e economia,

atribuindo poder ao relator para que se possa evitar o acumulo de agravo de

instrumento, nos tribunais, sem necessidade.

236 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Ordinário em Mandado de Segurança n. 2006/0214699-4, da 1ª Turma, Brasília, DF, 18 de março de 2008. Lex: jurisprudência do STJ. Disponível em: <http://www.stj.gov.br>. Acesso em: 30 de abril de 2008.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

O Código de Processo Civil tem sofrido diversas alterações ano após anos,

mais especificamente no recurso de agravo, em busca da evolução, da celeridade

processual e da efetividade jurídica.

Sendo o agravo o recurso próprio para impugnar as decisões

interlocutórias que vêm desfavorecer alguma das partes, assim distinto em dois

institutos o agravo de instrumento e o agravo retido, eis que aquele interposto

diretamente ao juízo ou tribunal ad quem, este interposto ao juízo a quo e

apreciado junto com a apelação.

O recurso de agravo por sua vez, para que venha a ser apreciado pelo

juízo ad quem, como todos os recursos previstos no Código de Processo Civil,

deve obedecer aos pressupostos de admissibilidade da teoria geral dos recursos,

os requisitos intrínsecos: cabimento ou adequação, legitimidade para recorrer,

interesse de recorrer, inexistência de fato impeditivo ou extintivo do poder de

recorrer; Requisitos extrínsecos: tempestividade, regularidade forma e preparo,

bem como os efeitos suspensivo, devolutivo e substitutivo, assim tratados no

primeiro capítulo.

Considerando o estudo realizado no primeiro capítulo tem-se a evolução

histórica do recurso de agravo na Europa e no Brasil, considerando o sistema

romano, com isso a doutrina divide opiniões asseverando que tal instituto nasceu

no Direito Romano e outra no Direito Lusitano (Português).

Nascimento à parte, o agravo é herança que vem de tempos antigos,

porém em constante modificação e evolução.

O objeto da presente monografia foi a irrecorribilidade da decisão

monocrática do relator que converte agravo de instrumento em agravo retido

agravo nas decisões interlocutórias de primeiro grau.

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No segundo capítulo trabalhou - se, o recurso de agravo e suas espécies,

bem como seu cabimento e procedimento, o qual é cabível das decisões

interlocutória proferida pelo juiz de primeiro grau.

Em face da reforma do Código de Processo Civil Brasileiro através da Lei

n. 11.187/2005, houve a valorização do agravo de instrumento, diante da

modificação que passou a ser regra a interposição do agravo retido e trata o

agravo de instrumento como remédio excepcional cujo uso se justifica apenas nos

casos de real urgência, desta forma, valorizando-o.

A alteração mais criticada, que o cerne do presente trabalho, foi a do

parágrafo único acrescentado ao artigo 527 que suprimiu o agravo interno

(regimental) da decisão do relator que converte agravo de instrumento em agravo

retido, pois determina, tacitamente, que não há recurso cabível para tal decisão.

Finalizando - se, e respondendo os problemas levantados, o terceiro

capítulo, divide opiniões, em se tratando do primeiro problema, parte da doutrina

entende ser inconstitucional o parágrafo único do artigo 527 do CPC outra parte

constitucional.

A respeito do segundo problema, realmente restou demonstrado,

doutrinariamente, que a intenção dos legisladores foi trazer óbice na interposição

do agravo interno (regimental) das decisões monocráticas do relator.

No que tange o terceiro problema, continua as diversidades de

entendimento no que se refere ao cabimento ou não do mandado de segurança

das decisões monocráticas do que converte agravo de instrumento em agravo

retido, maciça jurisprudência e doutrina versam pelo cabimento do remédio

constitucional, também, tem - se posições contrárias.

Diante do exposto verifica - se, a partir do estudo, que a introdução do

parágrafo único do artigo 527 do Código de Processo Civil Brasileiro advindo pela

Lei n. 11.187/2005, veio a obstaculizar o agravo interno e ressuscitar o mandado

de segurança contra as decisões monocráticas do relator.

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