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7/26/2019 A Judicialização Do Direito à Saúde - Villas Boas http://slidepdf.com/reader/full/a-judicializacao-do-direito-a-saude-villas-boas 1/26 159 R. Defensoria Públ. União Brasília, DF n. 8 p. 1-356 jan/dez. 2015  A JUDICIALIZAÇÃO DO DIREIO À SAÚDE, O SISEMA ÚNICO E O RISCO DA DESSENSIBILIZAÇÃO DO JUDICIÁRIO EFLECTIONS  ON  THE   JUDICIALIZATION  OF  THE  RIGHT  TO  HEALTH , THE  BRAZILIAN  HEALTHCARE  SYSTEM   AND  THE  RISK  OF  SENSIBILITY  LOSS  FROM   JUDGES  Maria Elisa Villas Bôas. (Doutora em Direito Público pela Universidade Federal da Bahia – UFBA. Professora de Ciência Política e Direito Constitucional na Faculdade de Direito da UFBA. Defensora Pública Federal em Salvador/BA. Médica Pediatra e membro do Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da Faculdade de Medicina da UFBA). Não há, numa Constituição, cláusulas a que se deva atribuir meramente o valor moral de conselhos, avisos ou lições. odas têm força imperativa de regras, ditadas pela soberania nacional ou popular aos seus órgãos. (Ruy Barbosa) Te good news is that modern medicine can work miracles. Te bad news is that it is very expensive and that many healthy expenditures do not seem to yield benefits worth their cost (Henry  Aaron e William Schwartz ) 1 RESUMO  O texto versa sobre o cotejo entre a proteção jurídico-constitucional à saúde, a disciplina do SUS e as dificuldades à efetivação desse direito. São questões que cada vez mais frequentemente batem às portas do Judiciário, não raro por atuação da Defensoria Pública, de modo que se mostra necessário pensar estratégias para a matéria, a fim de se obterem os melhores resultados possíveis, sem olvidar as repercussõesna 1  AARON, Henry; SCHWARZ, William. Te Painful Prescription: Rationing Hospital Care. Washington: Brookins Institution, 1984, p. 03. Em tradução livre: A boa notícia é que a medicina moderna pode operar milagres. A má notícia é que ela é muito cara e que muitos investimentos em saúde não parecem produzir benefícios que compensem os custos.

A Judicialização Do Direito à Saúde - Villas Boas

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A JUDICIALIZACcedilAtildeO DO DIREIO AgraveSAUacuteDE O SISEMA UacuteNICO E O RISCO DA

DESSENSIBILIZACcedilAtildeO DO JUDICIAacuteRIO

R EFLECTIONS ON THE JUDICIALIZATION OF THE RIGHT TO HEALTH THE BRAZILIAN HEALTHCARE SYSTEM AND THE RISK OF SENSIBILITY LOSS FROM JUDGES

Maria Elisa Villas Bocircas

(Doutora em Direito Puacuteblico pela Universidade Federal da Bahia ndash UFBA Professora

de Ciecircncia Poliacutetica e Direito Constitucional na Faculdade de Direito da UFBA

Defensora Puacuteblica Federal em SalvadorBA Meacutedica Pediatra e membro do Comitecirc

de Eacutetica em Pesquisa com Seres Humanos da Faculdade de Medicina da UFBA)

Natildeo haacute numa Constituiccedilatildeo claacuteusulas a que se deva atribuirmeramente o valor moral de conselhos avisos ou liccedilotildees odastecircm forccedila imperativa de regras ditadas pela soberania nacionalou popular aos seus oacutergatildeos (Ruy Barbosa)

Te good news is that modern medicine can work miraclesTe bad news is that it is very expensive and that many healthyexpenditures do not seem to yield benefits worth their cost (Henry Aaron e William Schwartz )1

RESUMO

O texto versa sobre o cotejo entre a proteccedilatildeo juriacutedico-constitucional agrave sauacutede a disciplinado SUS e as dificuldades agrave efetivaccedilatildeo desse direito Satildeo questotildees que cada vez mais

frequentemente batem agraves portas do Judiciaacuterio natildeo raro por atuaccedilatildeo da Defensoria Puacuteblicade modo que se mostra necessaacuterio pensar estrateacutegias para a mateacuteria a fim dese obterem os melhores resultados possiacuteveis sem olvidar as repercussotildeesna

1 AARON Henry SCHWARZ William Te Painful Prescription Rationing HospitalCare Washington Brookins Institution 1984 p 03 Em traduccedilatildeo livre A boa notiacutecia eacuteque a medicina moderna pode operar milagres A maacute notiacutecia eacute que ela eacute muito cara e quemuitos investimentos em sauacutede natildeo parecem produzir benefiacutecios que compensem os custos

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administraccedilatildeo de recursos limitados face a necessidades ilimitadas e tendencialmentecrescentes A inobservacircncia de tais aspectos praacuteticos pode fazer com que o aumentomesmo das demandas e sua crescente individualizaccedilatildeo nem sempre com a evidecircncia doscuidados precedentes agrave judicializaccedilatildeo terminem por levar a uma dessensibilizaccedilatildeo dos

julgadores agrave relevacircncia humana da mateacuteria em questatildeo

Palavras-chave Direito constitucional agrave sauacutede Efetividade Alocaccedilatildeo de recursosSistema Uacutenico de Sauacutede Accedilotildees judiciais

ABSRAC

Te text discusses the constitutional protection of health the legal discipline for the publichealth service and the difficulties for the accomplishment of this right Tese questionsarrive more and more to Judiciary frequently by action from the public defender so itis necessary to think about the best strategies for the theme to obtain the best resultspossible without forgetting the repercussions on the administration of limited resourcesfor unlimited and growing needs Te lack of attention to these points and the increasing

number of actions may conduce along the time to a loss of sensibility from the judgesabout the human aspects connected to the theme

Keywords Constitutional right to health Effectiveness Allocation of resources Nationalhealth service Judicial actions

Data de submissatildeo 27012015 Data de aceitaccedilatildeo 25042015

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SUMAacuteRIO

1 INRODUCcedilAtildeO 2 A SAUacuteDE ENRE O ldquoLUXOrdquo E O ldquoLIXOrdquo 3 ADISCIPLINA SANIAacuteRIA E OS PRINCIacutePIOS NO SISEMA UacuteNICO DE SAUacuteDE

4 DEMANDAS JUDICIAIS EM SAUacuteDE COMO AVANCcedilAR EM DIRECcedilAtildeO AOQUE PARECE NAtildeO ER SAIacuteDA 5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

1 INRODUCcedilAtildeO

Cada vez mais frequentemente chegam ao Judiciaacuterio demandas relacionadas a questotildees desauacutede Cada vez mais frequentemente se busca do Estado mediante a instacircncia judicial(e natildeo raro pelas matildeos da Defensoria Puacuteblica Federal) respostas e soluccedilotildees para desafiosmeacutedicos sob o manto do sagrado e fundamental direito agrave sauacutede

Dificuldades como a duacutevida acerca dos aspectos meacutedicos envolvidos a questatildeo da escasseza falta de previsatildeo orccedilamentaacuteria e a discricionariedade das opccedilotildees administrativas emcontraponto ao argumento dos direitos fundamentais agrave vida e agrave sauacutede potildeem em ainda

maior evidecircncia o potencial de tragicidade dessas decisotildees

De outro lado como equilibrar tais demandas no tecircnue limite entre as necessidadese os excessos que geram descreacutedito e despesas vatildes ndash natildeo somente de recursos mas deesperanccedilas Como conciliar a exigecircncia de um posicionamento judicial justo e efetivadorde direitos constitucionamente garantidos face agraves dificuldades arroladas sem afrontar odireito individual mas tambeacutem sem desconsiderar a isonomia e o equiliacutebrio coletivoSob o prisma institucional como operacionalizar medidas e paracircmetros racionais noacircmbito da Defensoria Puacuteblica ainda mais quando envolvidos bens de natureza tatildeo grave

e momentos tatildeo delicados

O texto traz um alerta pouco simpaacutetico e nem sempre otimista do ponto de vistadefensorial mas quiccedilaacute necessaacuterio agrave definiccedilatildeo de abordagens futuras consistentes anteuma sutil tendecircncia ao pragmatismo judiciaacuterio que se vem observando gradativamentesobre o tema notadamente em eacutepoca de crise econocircmica acerba como se vem delineandono paiacutes quando natildeo se tem hesitado em sangrar as garantias securitaacuterias e sociais da

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populaccedilatildeo como recentemente se viu com a MP 6642014 verbi gratia em busca deviabilizar o equiliacutebrio econocircmico nas financcedilas estatais

O primeiro passo para compreender a questatildeo e pensar soluccedilotildees mais razoaacuteveis eacute buscar

analisaacute-las objetivamente sem a premecircncia dos prazos ndash judiciais ou meacutedicos ndash tentandocontextualizar o direito fundamental agrave sauacutede como direito social mas tambeacutem individualem cotejo com os princiacutepios gestores de sua prestaccedilatildeo no ordenamento paacutetrio

Mister buscar nortear as condutas como instituiccedilatildeo a fim de otimizar os mecanismosdisponiacuteveis para alcanccedilar a efetivaccedilatildeo da sauacutede natildeo soacute a curto como tambeacutem a meacutedioprazo quando o Judiciaacuterio parece caminhar para um processo de dessensibilizaccedilao antetais pedidos secundando o grande nuacutemero de accedilotildees e concessotildees judiciais na aacuterea Nosuacuteltimos anos observou-se certa tendecircncia no campo das accedilotildees judiciais em sauacutede a

tornar regra a judicializaccedilatildeo excepcional sujeitando-se agraves criacuteticas originalmente reputadasfalaciosas quer no acircmbito da reserva do possiacutevel quer na seara da invasatildeo de esferasentre os poderes puacuteblicos E se torna preciso repensar novas vias que natildeo desprezem onecessaacuterio recurso ao Judiciaacuterio nem o banalizem a ponto de o pedido judicial em sauacutede jaacute natildeo consternar o julgador

Como de haacute muito lecionavam os mestres gregos a virtude estaacute no meio Mas nem porisso eacute faacutecil encontraacute-la

2 A SAUacuteDE ENRE O ldquoLUXOrdquo E O ldquoLIXOrdquo

Vive-se uma eacutepoca de inegaacutevel medicalizaccedilatildeo da vida ao lado da visiacutevel tendecircncia agrave judicializaccedilatildeo da sauacutede

Sob um acircngulo os avanccedilos teacutecnicos crescem exponencialmente gerando expectativas eesperanccedilas Sob outro os avanccedilos satildeo reconhecidamente custosos e nem sempre movidosapenas pelas boas intenccedilotildees de quem os desenvolve A induacutestria farmacecircutica eacute hojeinegavelmente uma das mais custosas e mais rentaacuteveis do mundo ao lado da induacutestria

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beacutelica 2 e sua atuaccedilatildeo junto aos profissionais muitas vezes aumentam no imaginaacuteriocoletivo a eficiecircncia de determinadas terapecircuticas ainda mais quando o temor da mortese avizinha e a promessa de uma melhor qualidade de vida se anuncia como bem aoalcance de todos ou ao menos de quem possa com ela arcar financeiramente

De se ver contudo primeiramente que o crescimento da induacutestria farmacecircutica se fazmajoritariamente agrave custa de produtos esteacuteticos ou de medicaccedilotildees de alto custo paratratamento das chamadas ldquodoenccedilas do desenvolvimentordquo (cacircncer doenccedilas cardiacuteacas evasculares entre outras) enquanto inuacutemeras doenccedilas associadas agrave pobreza permanecemna condiccedilatildeo de chamadas ldquodoenccedilas oacuterfatildesrdquo pois a falta de condiccedilotildees dos beneficiaacuterios paraarcar com os custos da produccedilatildeo de novas medicaccedilotildees natildeo estimula os investimentosnecessaacuterios agrave pesquisa na aacuterea 3 Decorrecircncia disso eacute que muitos dos pedidos apresentados judicialmente versa natildeo raro acerca de novos quimioteraacutepicos muitas vezes receacutem-saiacutedos

dos laboratoacuterios e de eficaacutecia ainda em fase de certificaccedilatildeo

Dois aspectos daiacute decorrem de um lado a dificuldade em manter atualizadas as listasde prestaccedilotildees puacuteblicas em sauacutede face aos raacutepidos avanccedilos do setor De outro o risco dese recair na armadilha do capitalismo farmacecircutico com produtos cariacutessimos que nemsempre correspondem agraves expectativas que ensejam ao requerente aumentando em muitoas despesas da sauacutede puacuteblica em detrimento do cuidado coletivo

Embora moralmente natildeo se possa nem deva sustentar um pensamento marcadamenteutilitarista na espeacutecie sobretudo quando em jogo a vida e a sauacutede de algueacutem bensinegociaacuteveis eacute de se observar que tais dificuldades natildeo tecircm passado incoacutelumes aos julgadores notadamente quando assistem diuturnamente ao crescimento exponencial dedemandas que tais

Assim eacute que haacute uns poucos anos apoacutes o reconhecimento poacutes-positivista de uma fasede valorizaccedilatildeo principioloacutegica e de primazia dos direitos humanos a epiacutegrafe de direitoagrave sauacutede sobre um pedido era a quase certeza de obtenccedilatildeo de qualquer recurso pela via

2 Nesse sentido cf DRANE James PESSINI Leo Medicina e ecnologia Desafios eacuteticos nafronteira do conhecimento humano Satildeo Paulo Loyola 2005 p 207 et seq3 Sobre o crescimento dos investimentos na aacuterea farmacecircutica cf ALVES Jeovanna Viana et alInduacutestria farmacecircutica poder e subdesenvolvimento a Bioeacutetica na Investigaccedilatildeo de NovosMedicamentos In Sexto Congresso Mundial de Bioeacutetica 2002 Brasiacutelia Sociedade Brasileira deBioeacutetica Anais 2002 p 152 e BERGEL Salvador Dariacuteo Responsabilidad Social y SaludRevista Brasileira de Bioeacutetica Brasiacutelia Sociedade Brasileira de Bioeacutetica v2 n4 p 443-4672006 p 453

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judiciaacuteria Afinal a constituiccedilatildeo salvaguarda a vida e a sauacutede como direitos humanosfundamentais e o reconhecimento de um federalismo cooperativo em relaccedilatildeo ao SUS noacircmbito de um Estado que se pretende Social superava questotildees teacutecnicas ou burocraacuteticasinfraprincipioloacutegicas comumente agitadas pela advocacia estatal

Grandes vitoacuterias se conquistaram como a possibilidade de bloqueio de verbas puacuteblicase a fixaccedilatildeo de astreintes no descumprimento das tutelas antecipadas o afastamento dosargumentos reiterados da ilegitimidade passiva simultacircnea dos entes puacuteblicos em vista dadescentralizaccedilatildeo administrativa do SUS da insindicabilidade das decisotildees discricionaacuteriasda Administraccedilatildeo da inflexibilidade da separaccedilatildeo de poderes ou ainda a menccedilatildeo vaga eincomprovada agrave reserva do possiacutevel e agrave falta de previsatildeo orccedilamentaacuteria

Recentemente contudo comeccedilou a tomar corpo a percepccedilatildeo de que o crescente nuacutemero

de pedidos requer paracircmetros mais razoaacuteveis e talvez mais rigorosos de avaliaccedilatildeo Comosuperar entatildeo a constataccedilatildeo jacente de que a ampliaccedilatildeo irrefreada e sem paracircmetrosrazoaacuteveis de tais demandas terminaria por gerar tratamentos tambeacutem desiguais e o perigode desorganizaccedilatildeo ainda maior do que jaacute haacute no sistema

O proacuteprio conceito de sauacutede mais adotado atualmente ndash aquele dado pela OrganizaccedilatildeoMundial de Sauacutede4 no preacircmbulo de sua carta de constituiccedilatildeo que associa a condiccedilatildeohumana salutar natildeo apenas agrave ausecircncia de doenccedila de incapacidade ou de condiccedilotildees

intrinsecamente patoloacutegicas (definiccedilatildeo realmente tautoloacutegica) ou ainda agrave simplesnormalidade do funcionamento orgacircnico mas a um estado de completo bem-estarfiacutesico mental e social ndash mostra-se de tal vagueza e dificuldade praacutetica de obtenccedilatildeopelos mais diversos motivos que seria de se questionar se algueacutem se poderia dizer de fatosaudaacutevel nesses termos

E natildeo haacute limites num mundo globalizado e repleto de ofertas para se identificar oque seria um completo bem-estar fiacutesico mental e social especialmente no que tangeagraves promessas de consumo pois tambeacutem em relaccedilatildeo agrave sauacutede haacute produtos que visam agrave

comodidade mais que agrave necessidade e perspectivas hiperdimensionadas de sucesso natildeocomprovado

Nessa linha de difiacutecil precisatildeo se situam exempli gratia pleitos por cobertura de

4 ORGANIZACcedilAtildeO MUNDIAL DA SAUacuteDE Constitution of the World Health Organization Basic Documents Genebra OMS 1946 Disponiacutevel em lthttpwhqlibdocwhointhistofficial_recordsconstitutionpdfgtacessado em 20ago08

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procedimentos meramente esteacuteticos sem caraacuteter reparador funcionalmente desnecessaacuteriose muitas vezes de alto custo fugindo assim agrave noccedilatildeo de essencialidade que caracterizao Sistema (ainda que tampouco seja unacircnime a noccedilatildeo de essencialidade5 notadamenteem face da amplitude do conceito de sauacutede adotado pela OMS como visto acima)

A reproduccedilatildeo assistida natildeo se acha coberta pelo SUS ou pela maioria os planos desauacutede embora se discuta eventual direito a um filho como possiacutevel parte da previsatildeoconstitucional de planejamento familiar Jaacute pleitos por proacuteteses penianas e que taisde escopo funcional parecem alinhar-se a uma noccedilatildeo mais ampla poreacutem razoaacutevel noacircmbito da sauacutede reprodutiva

De outro lado mesmo nos casos reconhecidamente eficazes o custo de determinadosrecursos nem sempre os torna viaacuteveis como poliacuteticas puacuteblicas Projeccedilatildeo feita por FabiacuteolaVieira6 em relaccedilatildeo a determinado tratamento para a hepatite C patologia viral crocircnica

requerido judicialmente em pleitos individuais em substituiccedilatildeo ao tratamento oferecidopelo SUS evidenciou que sendo a prevalecircncia da doenccedila no paiacutes estimada em 1 dapopulaccedilatildeo se o SUS se propusesse a tratar um quarto (025) dessas pessoas (o queequivaleria a cerca de 467000 pessoas) com o medicamento interferon peguilado o maismoderno agrave eacutepoca de sua pesquisa com aplicaccedilotildees uma vez por semana durante quarenta eoito semanas ndash o tempo do tratamento ndash ao custo individual da aplicaccedilatildeo de R$ 110749(mil cento e sete reais e quarenta e nove centavos) chegar-se-ia ao montante de 248bilhotildees de reais o que equivaleria a 64 do gasto total executado pelo Ministeacuterio da

Sauacutede em 2006 que fora da monta de 388 bilhotildees de reais naquele ano Natildeo significadiz a autora que natildeo se devam tratar os pacientes de hepatite viral crocircnica mas queeacute preciso empregar criteacuterios mesmo para a alocaccedilatildeo dos recursos da sauacutede sob penainclusive de se tratar de maneira diacutespar cidadatildeos em condiccedilatildeo similar e de o fazer sob achancela estatal sem uma especificidade que o justifique

A escassez existe Como tambeacutem existem pressotildees por parte da induacutestria farmacecircuticafomentando esperanccedilas vatildes as chamadas tentativas heroicas nem sempre de eficaacuteciacomprovadas com o risco de converter parte da populaccedilatildeo em involuntaacuterios sujeitos

5 Enquanto o SUS jaacute reconhecia o acesso a acompanhamento psicoloacutegico por exemplo como serviccediloessencial (e de fato o eacute) apenas recentemente passou a constar dos planos de sauacutede privados o reembolso decerto nuacutemero de consultas psicoloacutegicas ao ano Procedimentos como esclerose de varizes cirurgias bariaacutetricastambeacutem caminham na dubiedade entre tratamentos esteacuteticos e funcionais requerendo anaacutelise caso a caso6 VIEIRA Fabiacuteola Sulpino Accedilotildees judiciais e direito agrave sauacutede reflexatildeo sobre a observacircncia aos princiacutepios doSUS Rev Sauacutede Puacuteblica v 42 n 2 p 365-369 abr 2008

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de pesquisa em larga escala 7 Ignorar simplesmente tais circunstacircncias faacuteticas terminapor ensejar peacutessimos frutos a comeccedilar pela perda de credibilidade dos requerentesespecialmente aqueles reiterados como a Defensoria e ndash ainda pior ndash levar agrave gradativadessensibilizaccedilatildeo do destinataacuterio o Judiciaacuterio

Mister entatildeo tentar buscar tanto quanto possiacutevel saiacutedas administrativas tratativas quetendam a diminuir a necessidade de accedilotildees judiciais muacuteltiplas procurando interpretaros princiacutepios gestores do SUS agrave luz dos direitos fundamentais constitucionalmenteconsagrados tanto sob o prisma pessoal como social de modo a se obter a melhortratamento possiacutevel mas dentro de um paracircmetro de razoabilidade sustentaacutevel sem privaro cidadatildeo de direitos mas tambeacutem sem virar artefato dos interesses da induacutestria que maiscresce no mundo alimentando esperanccedilas e desejos poreacutem nem sempre comprometidacom a responsabilidade social que deveria ter

3 A DISCIPLINA SANIAacuteRIA E OS PRINCIacutePIOS DO SISEMA UacuteNI983085CO DE SAUacuteDE8

A Constituiccedilatildeo de 1988 consagrou por seu teor e de forma sem precedentes no paiacutes apromessa de um Estado Social contando entre seus fundamentos a dignidade da pessoahumana os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa e o pluralismo poliacutetico eenaltecendo as garantias agrave cidadania conforme seu Capiacutetulo II do iacutetulo II mas tambeacutemem outras normas constitucionais a exemplo do artigo 196 dedicado ao direito agrave sauacutede A proacutepria formulaccedilatildeo estrutural da nova Carta enunciando os direitos fundamentais logoem seu iniacutecio anteriormente agrave organizaccedilatildeo estatal como ocorria nos Diplomas anteriores

7

O proacuteprio rastuzumabe verbi gratia quimioteraacutepico reclamado judicialmente e hoje decomprovada eficiecircncia requer para sua eficaacutecia a presenccedila de determinados marcadores geneacuteticosque de iniacutecio nem sempre eram verificados previamente quando da prescriccedilatildeo ou do pedidogerando espeacutecie de ldquoteste terapecircuticordquo de relevante repercussatildeo econocircmica e de efeito a longo prazoe em larga escala para a sauacutede entatildeo ainda desconhecidos8 recho parcialmente reproduzido na obra VILLAS-BOcircAS Maria Elisa O Direito agrave Sauacutede noBrasil reflexotildees bioeacuteticas agrave luz do princiacutepio da justiccedila Satildeo Paulo Loyola 2014 tambeacutem derivadada tese de Doutorado da Autora VILLAS-BOcircAS Maria Elisa Alocaccedilatildeo de Recursos em Sauacutede quando a realidade e os direitos fundamentais se chocam 2009 425 f ese (Doutorado em DireitoPuacuteblico) ndash Faculdade de Direito Universidade Federal da Bahia Salvador 2009

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jaacute denota um pioneiro espiacuterito de valorizaccedilatildeo da pessoa e de visualizaccedilatildeo do Estado comoinstrumento para o seu desenvolvimento ao menos no plano normativo

Como importante precedente para o nascimento do SUS aponta-se a VIII Conferecircncia

Nacional de Sauacutede realizada em 1986 que contou com ampla participaccedilatildeo da sociedadecivil passando-se a reconhecer como direito da populaccedilatildeo natildeo apenas o acesso aosdiferentes niacuteveis de assistecircncia agrave sauacutede mas tambeacutem a participaccedilatildeo na formulaccedilatildeo deprioridades na aacuterea9 o que interfere nos criteacuterio de alocaccedilatildeo de recursos

Assim foi que o artigo 6ordm da Constituiccedilatildeo ao enunciar os direitos sociais expressamentepreviu a sauacutede como um dos primeiros deles ao lado da educaccedilatildeo do trabalho damoradia (acrescida esta pela Emenda Constitucional nordm 26 em 2000) do lazer daseguranccedila da previdecircncia social da proteccedilatildeo agrave maternidade e agrave infacircncia e da assistecircncia

aos desamparados Em fevereiro de 2010 a Emenda Constitucional nordm 64 reconheceutambeacutem nesse rol a alimentaccedilatildeo

O direito agrave sauacutede eacute objeto ainda dos artigos 196 e seguintes da Constituiccedilatildeo vigente emque se enunciam as diretrizes para as poliacuteticas puacuteblicas na aacuterea O artigo 196 eacute enfaacuteticoem reafirmar o caraacuteter universal desse direito a ser assegurado natildeo apenas como promessaem perspectiva mas mediante accedilotildees praacuteticas de concretizaccedilatildeo a saber ldquo A sauacutede eacute direitode todos e dever do Estado garantido mediante poliacuteticas sociais e econocircmicas que visem agrave

reduccedilatildeo do risco de doenccedila e de outros agravos e ao acesso universal e igualitaacuterio agraves accedilotildeese serviccedilos para sua promoccedilatildeo proteccedilatildeo e recuperaccedilatildeordquo

Nos artigos seguintes notadamente do 197 ao 200 prevecirc-se a possibilidade de prestaccedilatildeoda sauacutede diretamente pelo Poder Puacuteblico ndash a quem cabe ainda sua regulamentaccedilatildeofiscalizaccedilatildeo e controle ndash ou atraveacutes de terceiros por pessoa fiacutesica ou juriacutedica de direitoprivado Franqueia-se a atuaccedilatildeo em sauacutede agrave iniciativa privada inclusive de formacomplementar junto ao Sistema Uacutenico de Sauacutede restringindo-se poreacutem a participaccedilatildeo

9 MELLO Dirceu Raposo de et al Anaacutelise Bioeacutetica do Papel do Estado na Garantia ao Acesso aMedicamentos In GARRAFA Volnei MELLO Dirceu Raposo de PORO Dora Bioeacutetica e Vigilacircncia Sanitaacuteria Brasiacutelia ANVISA 2007 p 17-18 e LORENZO Claacuteudio Vulnerabilidadeem Sauacutede Puacuteblica implicaccedilotildees para as poliacuteticas puacuteblicas Revista Brasileira de Bioetica BrasiacuteliaSociedade Brasileira de Bioeacutetica v 2 n 3 p 299-312 2006

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de empresas de capital estrangeiro na forma da lei (art 199)10

Em relaccedilatildeo ao Serviccedilo Uacutenico de Sauacutede (SUS) os artigos 198 e 200 o orientamapresentando como diretrizes ldquoI - descentralizaccedilatildeo com direccedilatildeo uacutenica em cada esfera de

governo II - atendimento integral com prioridade para as atividades preventivas semprejuiacutezo dos serviccedilos assistenciais III - participaccedilatildeo da comunidaderdquo Esclarece-se aindao financiamento por recursos da seguridade social e de outras fontes determinando aaplicaccedilatildeo de recursos miacutenimos em cada esfera estatal nos termos da Emenda Constitucionalnordm 29 de 2000

Aleacutem das diretrizes constitucionais a atuaccedilatildeo do SUS eacute orientada tambeacutem pela LeiOrgacircnica da Sauacutede (Lei ndeg 808090) de que se deduz como um ponto principal logoem seu artigo 2ordm a reafirmaccedilatildeo da sauacutede como direito humano fundamental ldquodevendo

o Estado prover as condiccedilotildees indispensaacuteveis para seu pleno exerciacuteciordquo Ainda nesseartigo esclarece-se que o dever do Estado quanto agrave garantia da sauacutede consiste aleacutem daformulaccedilatildeo e execuccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas preventivas no estabelecimento de condiccedilotildeesde acesso ldquouniversal e igualitaacuterio agraves accedilotildees e aos serviccedilos para a sua promoccedilatildeo proteccedilatildeo erecuperaccedilatildeordquo

O artigo 6ordm da referida legislaccedilatildeo regulamentadora inclui expressamente no campode atuaccedilatildeo do SUS a assistecircncia terapecircutica integral inclusive farmacecircutica Essa

disposiccedilatildeo tem sido causa de pedir de muitas das accedilotildees individuais que pretendem ofornecimento de medicaccedilotildees nem sempre disponibilizadas protocolarmente pelo SistemaUacutenico mas que se mostram indicadas para a situaccedilatildeo concreta do paciente A questatildeoeacute discutir quatildeo amplo eacute esse dever de provimento farmacoteraacutepico considerando

10 Eacute de se observar que conquanto a menccedilatildeo agrave remoccedilatildeo de oacutergatildeos e tecidos para transplantesencontre-se situada no artigo 199 referente agrave iniciativa privada esse tipo de procedimento eacuteexecutado pelo Sistema Uacutenico de Sauacutede no paiacutes justamente para permitir uma maior equidade emsua gestatildeo A competecircncia do referido Sistema abrange ainda de forma natildeo taxativa (art 200) ldquoI -

controlar e fiscalizar procedimentos produtos e substacircncias de interesse para a sauacutede e participar daproduccedilatildeo de medicamentos equipamentos imunobioloacutegicos hemoderivados e outros insumos II- executar as accedilotildees de vigilacircncia sanitaacuteria e epidemioloacutegica bem como as de sauacutede do trabalhadorIII - ordenar a formaccedilatildeo de recursos humanos na aacuterea de sauacutede IV - participar da formulaccedilatildeo dapoliacutetica e da execuccedilatildeo das accedilotildees de saneamento baacutesico V - incrementar em sua aacuterea de atuaccedilatildeo odesenvolvimento cientiacutefico e tecnoloacutegico VI - fiscalizar e inspecionar alimentos compreendidoo controle de seu teor nutricional bem como bebidas e aacuteguas para consumo humano VII -participar do controle e fiscalizaccedilatildeo da produccedilatildeo transporte guarda e utilizaccedilatildeo de substacircncias eprodutos psicoativos toacutexicos e radioativos VIII - colaborar na proteccedilatildeo do meio ambiente nelecompreendido o do trabalhordquo

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inclusive que as indicaccedilotildees satildeo feitas muitas vezes em usos natildeo oficializados (off label)experimentais ou extraordinaacuterios havendo de se discutir os criteacuterios que deveratildeo norteara atuaccedilatildeo estatal perante casos que tais

Os princiacutepios balizadores do Sistema Uacutenico de Sauacutede estatildeo afirmados no artigo 7ordm da Leindeg 808090 em que se sublinham

I - universalidade de acesso aos serviccedilos de sauacutede em todos os niacuteveisde assistecircnciaII - integralidade de assistecircncia entendida como conjunto articuladoe contiacutenuo das accedilotildees e serviccedilos preventivos e curativos individuais ecoletivos exigidos para cada caso em todos os niacuteveis de complexidadedo sistemaIII - preservaccedilatildeo da autonomia das pessoas na defesa de sua integridadefiacutesica e moralIV - igualdade da assistecircncia agrave sauacutede sem preconceitos ou privileacutegiosde qualquer espeacutecieV - direito agrave informaccedilatildeo agraves pessoas assistidas sobre sua sauacutedeVI - divulgaccedilatildeo de informaccedilotildees quanto ao potencial dos serviccedilos desauacutede e a sua utilizaccedilatildeo pelo usuaacuterioVII - utilizaccedilatildeo da epidemiologia para o estabelecimento de prioridadesa alocaccedilatildeo de recursos e a orientaccedilatildeo programaacuteticaVIII - participaccedilatildeo da comunidade []

Entre esses princiacutepios verificam-se de logo aparentes contradiccedilotildees tendentes a se tornarem

relevantes paradoxos praacuteticos Ao se mencionar por exemplo a autonomia ndash importanteaspecto da relaccedilatildeo profissional-paciente salvaguardado entre outros no artigo 15 doCoacutedigo Civil de 200211 ndash haacute que se identificar a existecircncia de limites no acircmbito dessaautonomia ais limites natildeo decorrem apenas dos cerceamentos morais e legais amplos(vedaccedilatildeo agrave eutanaacutesia ao aborto salvo exceccedilotildees legais ou ao auxiacutelio ao suiciacutedio verbi gratia ) mas satildeo tambeacutem advindos das proacuteprias normas especiacuteficas regentes do SistemaUacutenico de Sauacutede passando a balizar natildeo somente a autonomia do paciente como tambeacutemem certa medida a proacutepria autonomia profissional12 buscando-se priorizar em suasprescriccedilotildees e entre opccedilotildees tecnicamente equivalentes aquelas jaacute incorporadas pelo SUS

De outro lado tampouco pode a referida autonomia meacutedica ser mortalmente ferida sehaacute fundamentos relevantes para acreditar que a prescriccedilatildeo de determinada medicaccedilatildeo seja

11 ldquo Art 15 Ningueacutem pode ser constrangido a submeter-se com risco de vida atratamento meacutedico ou a intervenccedilatildeo ciruacutergica rdquo12 O item II do Capiacutetulo II do Coacutedigo de Eacutetica Meacutedica atual aponta como direito do meacutedicoldquoIndicar o procedimento adequado ao paciente observadas as praacuteticas cientificamente reconhecidase respeitada a legislaccedilatildeo vigenterdquo

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substancialmente favoraacutevel ao paciente

Assim como ponto de equiliacutebrio o profissional deveraacute dar preferecircncia agraves medicaccedilotildeese tratamentos constantes no rol do Sistema Uacutenico de Sauacutede desde que em condiccedilotildees

de equivalecircncia de modo que dessa escolha natildeo advenham reconhecidos prejuiacutezos aopaciente Nesse sentido um trabalho de conscientizaccedilatildeo dos profissionais meacutedicosmediante atuaccedilatildeo conjunta junto a essa esfera pode ser de grande valia para reduzir accedilotildees judiciais em vista de prescriccedilotildees mal justificadas

Mesmo em relaccedilatildeo a atendimentos particulares haacute que se evitar a prescriccedilatildeo desarrazoadade medicaccedilotildees de eficaacutecia natildeo comprovada que em uacuteltima anaacutelise viratildeo a ser reclamadasdo Sistema Uacutenico de Sauacutede (inclusive em vista do fator empobrecedor da doenccedila e dauniversalidade prevista) convertendo o paciente em verdadeiro sujeito (ou objeto) de

pesquisa natildeo organizada e gerando gastos e expectativas vatildeos

Outro aparente paradoxo se poderia assinalar em relaccedilatildeo aos princiacutepios arrolados nositens II e VII De um lado assegura-se a integralidade da assistecircncia De outro contudoadota-se o uso da epidemiologia para o estabelecimento de prioridades e a alocaccedilatildeo derecursos Como proceder entatildeo se for necessaacuteria assistecircncia profissional para doenccedilaepidemiologicamente rara e de tratamento particularmente caro Eacute o que se tem notadoem muitos dos casos que chegam ao Judiciaacuterio nos quais se passa a discutir ainda que natildeo

expressamente a visatildeo utilitarista e o impasse entre a prevalecircncia do interesse individualou coletivo na alocaccedilatildeo de recursos em questatildeo13

Seguem-se nos artigos 8ordm a 19 a organizaccedilatildeo descentralizada (que compotildee o nono princiacutepiogestor do Sistema juntamente com a direccedilatildeo uacutenica em cada instacircncia) e sua divisatildeo entreas trecircs esferas ndash nacional estadual e municipal Cuida-se aqui de circunstacircncia tambeacutemcomumente suscitada pelos entes estatais reacuteus arguindo natildeo serem partes legiacutetimas nahipoacutetese haja vista a separaccedilatildeo de atribuiccedilotildees desenhada na legislaccedilatildeo especiacutefica Veja-se contudo que a separaccedilatildeo de tarefas entre as esferas estatais natildeo retira delas o dever

global do Estado de provimento da sauacutede cuja responsabilidade eacute em uacuteltima instacircncia

13 Nesse sentido em prol da necessidade de anaacutelise muldimensional inclusive para otimizar aassistecircncia coletiva inviabilizando a anaacutelise individualista da questatildeo cf FERRAZ OctaacutevioLuiz Motta VIEIRA Fabiacuteola Sulpino Direito agrave sauacutede recursos escassos e equumlidade os riscosda interpretaccedilatildeo judicial dominante Disponiacutevel em httpwwwstfjusbrarquivocmsprocessoAudienciaPublicaSaudeanexoDireito_a_Saude_Recursos_escassos_e_equidadepdf Acesso em 25abr2015

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solidaacuteria14 Constata-se assim tiacutepico exemplo do chamado federalismo cooperativo oude colaboraccedilatildeo15 mais caracteriacutestico dos Estados de Bem-Estar Social e em que haacute umadivisatildeo de tarefas menos riacutegida e mais intercambiante conforme as necessidades praacuteticasque se apresentem ainda que persista o princiacutepio da subsidiariedade segundo o qual a

instacircncia superior deve agir quando natildeo resolviacutevel o problema nas instacircncias menores

Nesse mister o artigo 7ordm prevecirc ainda como princiacutepios simultacircneos do Sistema adescentralizaccedilatildeo poliacutetico-administrativa com direccedilatildeo uacutenica em cada esfera de governo(inciso IX) enfatizando a descentralizaccedilatildeo dos serviccedilos para os municiacutepios a regionalizaccedilatildeoe a hierarquizaccedilatildeo da rede de serviccedilos de sauacutede bem assim a organizaccedilatildeo dos serviccedilospuacuteblicos de modo a evitar duplicidade de meios para fins idecircnticos (inciso XIII) ndash o queeacute realmente um risco na incumbecircncia solidaacuteria Considerando-se todavia a falha noprovimento por todas as esferas a motivar a provocaccedilatildeo judicial o mesmo artigo estipula

a ldquoconjugaccedilatildeo dos recursos financeiros tecnoloacutegicos materiais e humanos da Uniatildeo dosEstados do Distrito Federal e dos Municiacutepios na prestaccedilatildeo de serviccedilos de assistecircncia agravesauacutede da populaccedilatildeordquo (inciso XI) e a ldquocapacidade de resoluccedilatildeo dos serviccedilos em todos osniacuteveis de assistecircncia rdquo (inciso XII) o que reafirma a noccedilatildeo de solidariedade federativa nodever de provimento da sauacutede

Ainda no que tange agrave conflituosa relaccedilatildeo entre as previsotildees legais e suas implementaccedilotildees

14 Sobre a discussatildeo acerca da solidariedade entre os entes estatais na aacuterea a jurisprudecircncia dosribunais Superiores jaacute reconheceu amplamente sua existecircncia caracterizando a existecircncia de umfederalismo cooperativo na espeacutecie Anteriormente ao posicionamento judicial jaacute se manifestavamem favor da responsabilidade concomitante e solidaacuteria das trecircs esferas estatais autores como DALLARI Sueli Gandolfi Os Estados Brasileiros e o Direito agrave Sauacutede Satildeo Paulo Hucitec1995 p 37-42 e SCHWARZ Germano Direito agrave Sauacutede Efetivaccedilatildeo em uma PerspectivaSistecircmica Porto Alegre Livraria do Advogado 2001 p 101 203 COHN Ameacutelia et al A Sauacutedecomo Direito e como Serviccedilo Satildeo Paulo Cortez 2008 p 68 entre outros assinalando o fato deque a regionalizaccedilatildeo e a descentralizaccedilatildeo tecircm por escopo favorecer a acessibilidade e natildeo dificultaacute-la natildeo obstando portanto a solidariedade entre os entes puacuteblicos Em favor da responsabilidade

sucessiva e natildeo solidaacuteria por forccedila da descentralizaccedilatildeo do Sistema cf FIGUEIREDO MarianaFilchtiner Direito Fundamental agrave Sauacutede Paracircmetros para sua Eficaacutecia e Efetividade Porto Alegre Livraria do Advogado 2007 p 157-16115 Cf por todos AVARES Andreacute Ramos Curso de Direito Constitucional 2ed Satildeo PauloSaraiva 2003 e SRECK Lecircnio Luiz MORAIS Joseacute Luiacutes Bolzan de Ciecircncia poliacutetica eteoria geral do estado 2ed Porto Alegre Livraria do Advogado 2000 Sobre o princiacutepio dasubsidiariedade nesse caso cf tambeacutem CANOILHO J J Gomes Direito Constitucional eeoria da Constituiccedilatildeo 7ed Coimbra Almedina [2003] Ainda sobre o tema da influecircnciado federalismo na mateacuteria cf o trabalho de DALLARI Sueli Gandolfi loc cit assinalando aabordagem diferenciada em cada constituiccedilatildeo estadual acerca do conteuacutedo do direito agrave sauacutede

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praacuteticas eacute de se notar que em 1999 foi incluiacutedo capiacutetulo referente agrave atenccedilatildeo agrave sauacutedeindiacutegena e em 2002 previu-se um subsistema de atendimento e internaccedilatildeo domiciliarEsses uacuteltimos cuidados ditos home care conquanto ainda pouco utilizados vecircmadequar-se ao quanto previsto na Constituiccedilatildeo Federal em seu artigo 230 paraacutegrafo 1ordm

notadamente em relaccedilatildeo aos idosos a saber ldquosect 1ordm - Os programas de amparo aos idososseratildeo executados preferencialmente em seus laresrdquo Em 2005 acolheu-se na legislaccedilatildeo umsubsistema de acompanhamento durante o trabalho de parto parto e poacutes-parto imediatoprevendo a possibilidade de acompanhante nesses eventos a exemplo do que jaacute fizera oEstatuto da Crianccedila e do Adolescente em relaccedilatildeo agrave previsatildeo de acompanhante para omenor internado no acircmbito do SUS (artigo 12 da Lei 806990 e Resoluccedilatildeo ndeg 4195sobre os direitos da crianccedila e do adolescente hospitalizados) revelando uma tendecircncia dehumanizaccedilatildeo dos procedimentos puacuteblicos de sauacutede

Na praacutetica ainda natildeo se implementaram amplamente esses novos espectros do direito agravesauacutede mas natildeo se os diga impossiacuteveis nem desnecessaacuterios Eacute curioso notar verbi gratia que quando do surgimento do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente tampouco era praxea manutenccedilatildeo dos pais junto aos pequenos pacientes ndash algo que hoje soa imprescindiacutevelndash e a afirmaccedilatildeo legislativa desse direito foi reputada como inviaacutevel dentro da estruturahospitalar da eacutepoca Menos de uma deacutecada depois todavia embora natildeo existam aindahoje instalaccedilotildees ideais em termos de conforto jaacute natildeo se cogita mais internar crianccedilas ouadolescentes sem lhes assegurar a permanecircncia de um dos responsaacuteveis Demonstrou-se

com isso que muitas das resistecircncias agrave implementaccedilatildeo de direitos satildeo bem mais culturaispor haacutebito ou falta de vontade poliacutetica do que propriamente por reais inviabilidadesfinanceiras ou operacionais Vive-se atualmente similar situaccedilatildeo quanto agrave previsatildeo deacompanhante para o idoso ou a gestante em trabalho de parto

Em relaccedilatildeo ao planejamento e orccedilamento a propoacutesito outro argumento habitual doEstado-reacuteu diz respeito justamente agrave impossibilidade de deslocamento de verbas natildeoprevistas na organizaccedilatildeo orccedilamentaacuteria dentro do Sistema Uacutenico de Sauacutede ou de outrasaacutereas para este sob pena de responsabilizaccedilatildeo fiscal Nessa seara poreacutem o artigo 36

paraacutegrafo 2ordm da Lei ndeg 808090 eacute enfaacutetico ao estabelecer que ldquoEacute vedada a transferecircnciade recursos para o financiamento de accedilotildees natildeo previstas nos planos de sauacutede exceto emsituaccedilotildees emergenciais ou de calamidade puacuteblica na aacuterea de sauacutederdquo (grifou-se)

Para exercer suas atividades o Sistema Uacutenico de Sauacutede conta com inuacutemeras outras normasgestoras ndash natildeo apenas leis de acircmbito nacional mas tambeacutem Portarias e normas de acircmbitoestadual e local ndash que detalham essa atuaccedilatildeo Assim eacute que por exemplo a Portaria nordm

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3916 de 30 de outubro de 1998 estabelece a Poliacutetica Nacional de Medicamentos a serauxiliada por normas outras como a Lei ndeg 978799 dita ldquoLei dos Geneacutericosrdquo definindoo medicamento geneacuterico como aquele similar a um produto de referecircncia ou inovadorque se pretende ser com este intercambiaacutevel geralmente produzido apoacutes a expiraccedilatildeo ou

renuacutencia da proteccedilatildeo patentaacuteria ou de outros direitos de exclusividade comprovada a suaeficaacutecia seguranccedila e qualidade

Prevecirc-se ainda que esses medicamentos devem ser preferidos no acircmbito do SUSpelo custo e acrescente-se pela impessoalidade mesma que deve caracterizar a atuaccedilatildeoadministrativa estatal desaconselhando a preferecircncia por produtos de laboratoacuterios oumarcas determinados em detrimento de produtos de denominaccedilatildeo comum brasileira ouna sua falta internacional a indicar maior neutralidade em prestaccedilatildeo equivalente

Jaacute se tem aiacute um paracircmetro a nortear as prescriccedilotildees e decisotildees na mateacuteria deve a prestaccedilatildeofarmacoloacutegica do Sistema Uacutenico de Sauacutede se pautar pelo fornecimento de medicaccedilotildees quedentre as que contecircm a substacircncia ativa necessaacuteria atendam agraves necessidades de eficaacuteciae seguranccedila poreacutem com menor custo maior impessoalidade e generalidade pois natildeoassociada a marca especiacutefica O uso racional desses recursos passa ainda pela orientaccedilatildeodos meacutedicos na criteriosa avaliaccedilatildeo das medicaccedilotildees prescritas privilegiando dentro deum paracircmetro de equivalecircncia aquelas jaacute constantes fornecimento regular pelo Sistema 16

16 Os produtos padronizados constam da Relaccedilatildeo Nacional de Medicamentos Essenciais (RENAME) Nosentido de promover a observacircncia da lista cita-se por exemplo a Portaria Estadual nordm 1475BA publicadano Diaacuterio Oficial do Estado de 300908 que ldquoConstitui Grupo de trabalho no acircmbito do SUS com oescopo de elaborar orientaccedilotildees e diretrizes aos profissionais meacutedicos no sentido de esgotarem as alternativasde faacutermacos previstas nos Protocolos Cliacutenicos e Diretrizes erapecircuticas do Ministeacuterio da Sauacutede e demais atosque lhe forem complementares antes de prescrever tratamento medicamentoso diverso aos pacientes nostermos da Notificaccedilatildeo Recomendatoacuteria 0022007 da Promotoria de Justiccedila e da Cidadania do MinisteacuterioPuacuteblico do Estado da Bahiardquo De acordo com a Organizaccedilatildeo Mundial da Sauacutede - OMS (Nairobi Quecircnia1985) ldquoHaacute uso racional quando pacientes recebem medicamentos apropriados para suas condiccedilotildees cliacutenicasem doses adequadas agraves suas necessidades individuais por um periacuteodo adequado e ao menor custo para si e

para a comunidaderdquo Segundo o Ministeacuterio da Sauacutede o uso racional de medicamentos consiste no ldquoprocessoque compreende a prescriccedilatildeo apropriada a disponibilidade oportuna e a preccedilos acessiacuteveis a dispensaccedilatildeoem condiccedilotildees adequadas e o consumo nas doses indicadas nos intervalos definidos e no periacuteodo de tempoindicado de medicamentos eficazes seguros e de qualidaderdquo (BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria dePoliacuteticas de Sauacutede Departamento de Atenccedilatildeo Baacutesica Poliacutetica nacional de medicamentos 2001Ministeacuterio daSauacutede Secretaria de Poliacuteticas de Sauacutede Departamento de Atenccedilatildeo Baacutesica ndash Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede2001 ambeacutem disponiacutevel em lthttpwwwopasorgbrmedicamentossiteUploadArqpnmpdfgtacessado em 02out08) Outros programas para estimular o uso racional de medicamentos encontram-sena paacutegina eletrocircnica do Ministeacuterio da Sauacutede (httpportalsaudegovbrportalsaudeareacfmid_area=1141acessado em 05out08)

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A alocaccedilatildeo de medicamentos no paiacutes estaacute dividida segundo o Ministeacuterio da Sauacutede em trecircscategorias baacutesicas17 medicamentos baacutesicos ou essenciais ldquopertencentes a um elenco miacutenimoobrigatoacuterio a ser dispensado na atenccedilatildeo baacutesicardquo ou na dicccedilatildeo legal aqueles consideradosldquobaacutesicos e indispensaacuteveis para atender a maioria dos problemas de sauacutede da populaccedilatildeordquo

previstos na Portaria do Ministeacuterio da Sauacutede nordm 32372007 medicamentos estrateacutegicosutilizados em programas especiacuteficos do Ministeacuterio da Sauacutede como aqueles de combateagrave AIDS tuberculose hanseniacutease diabetes doenccedila de Chagas malaacuteria coagulopatias eoutras conforme Portaria do Ministeacuterio da Sauacutede nordm 2042007 e medicamentos dedispensaccedilatildeo especial ou excepcional eacute dizer aqueles geralmente de alto custo destinadosa patologias especiacuteficas e complexas que atingem um nuacutemero limitado de pacientes parauso prolongado Esses procedimentos e recursos terapecircuticos encontravam-se arroladosna Portaria do Ministeacuterio da Sauacutede nordm 25772006 Eacute de se observar que sendo essauacuteltima uma das categorias mais solicitadas judicialmente e mais associadas com a evoluccedilatildeo

biotecnoloacutegica chama a atenccedilatildeo o fato de ter sido por muito tempo justamente aPortaria mais antiga deixando margem agrave criacutetica de provaacutevel desatualizaccedilatildeo em relaccedilatildeo aosavanccedilos atuais tendo sido atualizada pela Portaria GMMS 18692008 e revogada pelaPortaria GMMS 1062009 tambeacutem jaacute revogada A mateacuteria tambeacutem sofreu alteraccedilotildeespelas Portarias 2981 de 26 de novembro de 2009 Portaria 343GMMS de 22 defevereiro de 2010 Portaria 3439MS de 11 de novembro de 2010 e atualmente pelosPCD (PROOCOLOS CLIacuteNICOS E DIRERIZES ERAPEcircUICAS) a indicarparacircmetros de abordagem e tratamento para cada patologia

Analisando-se os montantes empregados em cada uma das categorias verifica-se que os

17 MELLO Dirceu Raposo et al op cit p 27-28 SALAZAR Andrea Lazzarini GROU Karina Bozola ADefesa da Sauacutede em Juiacutezo eoria e Praacutetica Satildeo Paulo Verbatim 2009 p 112-113

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gastos com medicamentos especiais superam em muito aqueles com medicaccedilotildees baacutesicas18 Dentre os medicamentos estrateacutegicos ndash responsaacuteveis pelo maior volume de custos commedicaccedilotildees entre os trecircs grupos na segunda metade da deacutecada passada ndash aqueles dirigidosao programa de HIVAIDS sofreram acreacutescimo substancial em 2006 ante as novas drogas

incorporadas ao cataacutelogo farmacoloacutegico de tratamento da doenccedila passando a representarsozinhos quase uma vez e meia o gasto com todas as demais drogas estrateacutegicas

Mais uma vez fica evidente que prevenir aleacutem de melhor sai bem mais barato que

18 Segundo quadro comparativo elaborado em MELLO Dirceu Raposo et al op cit p 28-29 a partirde dados do Ministeacuterio da Sauacutede os gastos com medicamentos baacutesicos em 2006 foram da ordem de 290milhotildees de reais representando 67 dos gastos com medicaccedilatildeo ao passo que o montante despendido commedicamentos de dispensaccedilatildeo especial alcanccedilaram a cifra de um bilhatildeo 355 milhotildees de reais equivalendoa 32 do orccedilamento para a aacuterea Dentre os medicamentos estrateacutegicos aqueles destinados ao programade DSAIDS custaram aos cofres puacuteblicos naquele ano 960 milhotildees de reais enquanto no ano anteriorrepresentaram despesa de 550 milhotildees de reais Cumpre assinalar que o programa de fornecimento gratuitode medicaccedilotildees antirretrovirais aos portadores de HIV no paiacutes eacute elogiado em todo o mundo pela iniciativapioneira na aacuterea apontada como exemplo na universalizaccedilatildeo do tratamento e inclusatildeo a esses pacientes A Leique cuida da mateacuteria ndash Lei ndeg 931396 ndash foi acompanhada por uma seacuterie de decisotildees judiciais proacute direitoagrave sauacutede determinando o efetivo provimento das medicaccedilotildees e sua atualizaccedilatildeo conforme o estado cientiacuteficomundial nos termos da redaccedilatildeo legal Nesse sentido se assinala entre outros o seguinte acoacuterdatildeo provenientedo Supremo ribunal Federal defendendo a aplicabilidade imediata das normas relativas ao direito agravesauacutede PACIENE COM HIVAIDS ndash PESSOA DESIUIacuteDA DE RECURSOS FINANCEIROS ndashDIREIO Agrave VIDA E Agrave SAUacuteDE ndashFORNECIMENO GRAUIO DE MEDICAMENOS ndash DEVERCONSIUCIONAL DO PODER PUacuteBLICO (CF ARS 5ordm CAPU E 196) O DIREIO Agrave SAUacuteDEREPRESENA CONSEQUumlEcircNCIA CONSIUCIONAL INDISSOCIAacuteVEL DO DIREIO Agrave VIDA

O direito puacuteblico subjetivo agrave sauacutede representa prerrogativa juriacutedica indisponiacutevel assegurada agrave generalidadedas pessoas pela proacutepria Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica (art 196) raduz bem juriacutedico constitucionalmentetutelado por cuja integridade deve velar de maneira responsaacutevel o Poder Puacuteblico a quem incumbe formularndash e implementar ndash poliacuteticas sociais e econocircmicas idocircneas que visem a garantir aos cidadatildeos inclusive agravequelesportadores do viacuterus HIV o acesso universal e igualitaacuterio agrave assistecircncia farmacecircutica e meacutedico-hospitalar Odireito agrave sauacutede ndash aleacutem de qualificar-se como direito fundamental que assiste a todas as pessoas ndash representaconsequumlecircncia constitucional indissociaacutevel do direito agrave vida O Poder Puacuteblico qualquer que seja a esfera institucionalde sua atuaccedilatildeo no plano da organizaccedilatildeo federativa brasileira natildeo pode mostrar-se indiferente ao problema da sauacutededa populaccedilatildeo sob pena de entender ainda que por censuraacutevel omissatildeo em grave comportamento inconstitucional(AGRRE nordm 271286-RS Rel Min Celso de Mello SF DJ 241100 p 101)

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176 DEFENSORIA PUacuteBLICA DA UNIAtildeO Escola Superior

remediar 19

Fato eacute queNenhum paiacutes ateacute o momento conseguiu estabelecer um limite oacutetimode gasto financeiro para melhorar a sauacutede de seus cidadatildeos os EUA

gastam 146 do PIB com sauacutede sendo o Estado responsaacutevel por449 desse total e 5 dos gastos puacuteblicos com sauacutede dizem respeitoaos medicamentos Ainda sobre os EUA dados de domiacutenio puacuteblicoinformam que cerca de 50 milhotildees de cidadatildeos natildeo tecircm acesso aosserviccedilos de sauacutede No Brasil os gastos com sauacutede correspondem agrave cifrade 79 do PIB sendo que o setor puacuteblico eacute responsaacutevel por 459desses gastos e os medicamentos representam 74 desses gastospuacuteblicos20

Sem duacutevida a garantia adequada do direito agrave sauacutede natildeo constitui um problema apenaspara os paiacuteses em desenvolvimento embora nesses falte o acesso ao que haacute de mais baacutesicopossiacutevel para a manutenccedilatildeo e a recuperaccedilatildeo da sauacutede ambeacutem os paiacuteses desenvolvidos

19 Aleacutem das despesas jaacute esperadas com tais medicamentos avultam ainda os gastos decorrentes de processos judiciais A esse respeito notiacutecia veiculada em setembro de 2008 na imprensa deu conta de que ldquoEntre2005 e 2008 o governo federal aumentou em 1820 (quase 20 vezes) as despesas decorrentes de ordens

judiciais que obrigam a Uniatildeo a pagar por medicamentos especiais Apenas na primeira metade deste anoforam gastos pelo governo federal por ordem da Justiccedila R$ 48 milhotildees nesses tratamentos Em 2005 oinvestimento foi de R$ 25 milhotildeesrdquo ambeacutem foi informado que ldquoa cada mecircs Satildeo Paulo gasta R$ 400milhotildees com remeacutedios obtidos pelos doentes mediante ordem judicial e que natildeo satildeo fornecidos pelo SUS Asituaccedilatildeo natildeo eacute muito diferente no Rio Grande do Sul Foram R$ 31 milhotildees com accedilotildees judiciais envolvendomedicamentos em 2006 e R$ 50 milhotildees em 2007 e a previsatildeo eacute de que sejam gastos R$ 150 milhotildees nesteano ndash o equivalente a um terccedilo do total de recursos de custeio dos programas da Secretaria Estadual deSauacutederdquo Dentro desses valores apurou-se ainda a ocorrecircncia de fraudes envolvendo meacutedicos e advogadosque mediante pedidos judiciais providos teriam resultado em prejuiacutezo de R$ 63 milhotildees aos cofrespuacuteblicos (REZZI Humberto Sauacutede Aumento no gasto do governo em remeacutedios especiais eacute investigadoPromotores e policiais suspeitam que quadrilhas falsificariam atestados para obrigar a Uniatildeo a fornecermedicamentos de alto custo a pacientes por via judicial Jornal Zero Hora Porto Alegre ediccedilatildeo ndeg 15734

Disponiacutevel em lthttpzerohoraclicrbscombrzerohorajspdefault2jspuf=1amplocal=1ampsource=a2195502xmlamptemplate=3898dwtampedition=10739ampsection=1003gt acessado em 12out08) Deduz-se daiacute queconquanto via relevantiacutessima para o controle do atendimento do direito fundamental agrave sauacutede a prestaccedilatildeo

jurisdicional haacute de ser particularmente cautelosa na anaacutelise de tais pleitos sobretudo quando em sede deprovimentos liminares por natildeo se poder desconsiderar o grave impacto que essas decisotildees tecircm tomado noorccedilamento sanitaacuterio Eacute imprescindiacutevel entatildeo sempre que possiacutevel e especialmente quando o fornecimentoeacute feito a entidades privadas sobre as quais incide menor controle na utilizaccedilatildeo desses recursos a realizaccedilatildeode periacutecia meacutedica judicial a constatar a efetiva necessidade e infungibilidade do recurso demandado naquelecaso concreto20 MELLO Dirceu Raposo et al op cit p 23

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177R Defensoria Puacutebl Uniatildeo Brasiacutelia DF n 8 p 1-356 jandez 2015

tecircm problemas para assegurar os cuidados de sauacutede esperados pela populaccedilatildeo situaccedilatildeoque se agrava progressivamente com o envelhecimento da populaccedilatildeo (com suas conhecidasconsequecircncias para o equiliacutebrio previdenciaacuterio) e com o desenvolvimento crescente dosrecursos farmacecircuticos e biotecnoloacutegicos criando patamares cada vez mais elevados de

atenccedilatildeo agrave sauacutede21

Elevou-se a qualidade e a quantidade de vida o que eacute um aspectoinegavelmente positivo mas que gera outrossim consequecircncias de difiacutecil equiliacutebrioeconocircmico

4 DEMANDAS JUDICIAIS EM SAUacuteDE COMO AVANCcedilAR EM DIRECcedilAtildeO

AO QUE PARECE NAtildeO ER SAIacuteDA

Questionado sobre formas de viabilizaccedilatildeo de um sistema puacuteblico de sauacutede dentro dessecontexto ponderou primeiramente Diego Gracia 22 que quem tem receituaacuterio fazalocaccedilatildeo Com efeito Ao fazer uma mera prescriccedilatildeo individual o meacutedico estaacute a indicarali os paracircmetros para o exerciacutecio do direito agrave sauacutede pelo paciente Eacute para alcanccedilar orecurso prescrito que o cidadatildeo vai agrave Justiccedila pleitear ao Estado ou ao plano de sauacutede queo forneccedila Eacute na prescriccedilatildeo que se baseia o Juiz quando antecipa uma tutela mesmo antes

de ouvir a parte adversa na convicccedilatildeo de que haacute urgecircncia no acesso agravequele recurso

Mister assim para racionalizar o uso de medicamentos e recursos no SUS orientar eracionalizar tambeacutem as prescriccedilotildees meacutedicas de modo que sem sacrificar a sauacutede dopaciente tampouco se sacrifique indevidamente o Sistema organizado para protegecirc-lae garanti-la Nesse ponto erige-se a validade de se pensar um trabalho conjunto comorganizaccedilotildees profissionais como uma outra vertente para a maior efetivaccedilatildeo na prestaccedilatildeo

21

Nesse sentido cf a obra AARON Henry J SCHWARZ William B Te Painful Prescriptionhellipreferente sobretudo aos Estados Unidos e agrave Inglaterra mas que tambeacutem menciona a situaccedilatildeo de outros paiacutesesdesenvolvidos como a Franccedila e o Canadaacute ambeacutem trata do assunto entre outros PENCHASZADEHVictor Bioeacutetica y medicina social Una confluencia necesaria Revista Brasileira de Bioeacutetica BrasiacuteliaSociedade Brasileira de Bioeacutetica v 3 n 2 p 129-149 2007 p 137 Destaque-se outrossim a recentepolecircmica envolvendo o governo americano do Presidente Barack Obama ante a perspectiva de maiordemocratizaccedilatildeo do acesso agrave sauacutede em confronto com o arcabouccedilo tendencialmente liberal da poliacutetica daqueleEstado no setor ateacute entatildeo22 GRACIA Diego Bioeacutetica Cliacutenica e Contexto Social In VII CONGRESSO BRASILEIRO DEBIOEacuteICA Satildeo Paulo 2007 Conferecircncia

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178 DEFENSORIA PUacuteBLICA DA UNIAtildeO Escola Superior

e cobranccedila do direito agrave sauacutede

A especial atenccedilatildeo aos preceitos da Medicina Baseada em Evidecircncias devidamentefundamentada em relatoacuterios e prescriccedilotildees acurados com a cuidadosa anaacutelise e

demonstraccedilatildeo de eficaacutecia seguranccedila e eficiecircncia23

quer no geral quer no caso concretotambeacutem satildeo de grande valia para a atuaccedilatildeo coerente e racional na aacuterea inclusive a fim deevitar que o assistido seja engolfado por esperanccedilas vatildes de resultados temeraacuterios tentativasheroicas sem perspectivas reais e pesquisas multinacionais em larga escala que exacerbamsua vulnerabilidade e fragilizam a credibilidade dos pedidos judiciais no setor Nessecontexto mister evitar tambeacutem pedidos irrazoaacuteveis natildeo factiacuteveis na praacutetica ou opccedilotildees

23 Embora costumeiramente usadas de forma equivalente as expressotildees eficaacutecia eficiecircncia e efetividade tecircmsignificados teacutecnicos especiacuteficos na seara da MBE Nesse sentido a seguranccedila mencionada implica a anaacutelisede que os danos colaterais possiacutevel sejam inferiores aos benefiacutecios oferecidos com seu uso para o fim a quese propotildee A eficaacutecia consiste na evidecircncia de ter o recurso prescrito comprovado efeito beneacutefico para aquelecaso (ldquofazem o que se propotildeem a fazerrdquo ndash na expressatildeo de VIEIRA Fabiacuteola Sulpino op cit p365-369)evitando-se os chamados ldquoprodutos de complacecircnciardquo ndash sem eficaacutecia comprovada mas prescritos por insistecircnciado paciente ou por pressatildeo do marketing industrial por exemplo ndash bem como os atos aparentemente cliacutenicosmas que se mostram em verdade experimentais visto que natildeo validados de nenhuma forma cientificamente

aceita a qual permita asseveraacute-los como realmente producentes e seguros A efetividade propriamente dita corresponde agrave eficaacutecia e agrave eficiecircncia em condiccedilotildees reais de sorte a evitar desperdiacutecios Eacute dizer que os produtoseleitos ldquofazem o que se propotildeem a fazer quando utilizados pelas pessoas em condiccedilotildees reais e natildeo em gruposhomogecircneos que constituem os grupos de pessoas dos ensaios cliacutenicosrdquo (idem ibidem) Por fim a eficiecircnciaou custo-efetividade envolve a avaliaccedilatildeo da relaccedilatildeo custobenefiacutecio de modo a se constatar a substancialvantagem de dado recurso em relaccedilatildeo a outro observadas a eficaacutecia e a efetividade propriamente ditaSignifica dizer que o produto em questatildeo ldquoentre as alternativas disponiacuteveis faz o que se propotildee a fazer paraas pessoas em condiccedilotildees reais ao menor custordquo (idem ibidem) Embora conceitos mais utilizados no acircmbitoeconocircmico e de macroalocaccedilatildeo de recursos acabam repercutindo na microalocaccedilatildeo individual ao requerermaior comprovaccedilatildeo quando de pedido que natildeo leve em consideraccedilatildeo tais subprinciacutepios Segundo a ANVISAtem-se a efetividade como ldquogarantia de medicamentos eficazes eou efetivos e seguros cuja relaccedilatildeo risco-benefiacutecio seja favoraacutevel e comprovada a partir das melhores evidecircncias cientiacuteficas disponiacuteveis na literatura

e com registro aprovado na Agecircncia Nacional de Vigilacircncia Sanitaacuteria (ANVISA)rdquo e a eficiecircncia como aldquogarantia de medicamentos que proporcionem a melhor resposta terapecircutica aos usuaacuterios com os menorescustos para o SUSrdquo (Lei 124012011 e pela Resoluccedilatildeo 01 do Ministeacuterio da Sauacutede de 17 de janeiro de2012) Eacute fato que considerando os escores da Medicina baseada em evidecircncia alega o Estado de praxe quea experiecircncia do meacutedico prescritor isoladamente e mesmo do perito judicial natildeo teriam niacutevel de sustentaccedilatildeocientiacutefica bastante para subsidiar a concessatildeo de medicaccedilatildeo natildeo padronizada pelo SUS todavia considerandoos requisitos de antecipaccedilatildeo de tutela pode conter se bem fundamentada em estudos outros de indicaccedilatildeoseguranccedila eficaacutecia efetividade e eficiecircncia elementos suficientes de verossimilhanccedila aleacutem de representara realidade daquele indiviacuteduo preocupando-se em registrar inclusive a ausecircncia de resposta ou indicaccedilatildeoquanto agraves outras opccedilotildees disponiacuteveis haja vista que como se costuma constatar a resposta individual nemsempre corresponde agravequela epidemiologicamente esperada

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comerciais especiacuteficas substituiacuteveis por equivalentes terapecircuticos disponiacuteveis no SUS24

Outro aspecto a ser sopesado eacute o modo e o conteuacutedo como feitos os pedidos na medida emque a proteccedilatildeo ao direito agrave sauacutede de um deve considerar a existecircncia de outros envolvidos

na alocaccedilatildeo de recursos diante da escassez real Exemplo disso satildeo os pedidos de vagaou de prioridade em filas de transplantes que necessariamente envolvem o cotejo comoutros afetados que natildeo satildeo parte no processo Natildeo raro se tem notiacutecia de comandos deprisatildeo a gestores hospitalares que tecircm todos os seus leitos ocupados por natildeo disporem devagas Inegaacutevel a falha estatal na espeacutecie mas ela natildeo pode ser resolvida com o comandoainda que indireto de retirada de pacientes que ainda necessitem do leito e cuidados paraalocaccedilatildeo de outro dotado de comando judicial Opccedilatildeo nesse caso eacute o pedido subsidiaacuteriode alocaccedilatildeo em unidades privadas agraves expensas do Estado natildeo por mera opccedilatildeo do enfermomas se natildeo houver leitos disponiacuteveis nas unidades puacuteblicas

Do ponto de vista estatal eacute mister o ajuste constante das poliacuteticas puacuteblicas de sortea mantecirc-las condizentes com as carecircncias da comunidade e atualizadas dentro dasmargens de efetividade terapecircutica a fim de se tentar com isso minorar a necessidade deintervenccedilotildees judiciais suplementares na aacuterea aleacutem de favorecer o proacuteprio funcionamentoadequado do Sistema em conformidade com seus princiacutepios gestores e com as previsotildeese garantias constitucionais sem acarretar a falecircncia do Sistema nem converter o direitouniversal agrave sauacutede em mera retoacuterica demagoacutegica

Nesse contexto a atuaccedilatildeo e participaccedilatildeo equilibrada da Defensoria junto a oacutergatildeos puacuteblicose conselhos interdisciplinares pode ser de grande valia para uma maior eficaacutecia na soluccedilatildeo

24 Em palestra proferida do II Foacuterum Brasileiro sobre Assistecircncia Farmacecircutica e Farmacoeconomia ocorridoem setembro de 2014 em Salvador-Bahia com a presenccedila de gestores puacuteblicos membros do JudiciaacuterioMinisteacuterio Puacuteblico Defensoria Puacuteblica e Advogados Puacuteblicos a representante paulista do CONASS(Conselho Nacional dos Secretaacuterios de Sauacutede) apresentou demonstrativo de pedidos em demandas judiciaissanitaacuterias contra o Estado e o Municiacutepio de Satildeo Paulo em que incluiacutedos itens como ldquoleite de cabra frescordquondash o qual resultou descumprido por absoluta ausecircncia de resposta agrave licitaccedilatildeo simplificada para localizar

detentores de cabras na cidade de Satildeo Paulo Nessa ocasiatildeo tambeacutem mostrou a palestrante estudo feitoquanto agraves 41000 accedilotildees judiciais em sauacutede atendidas por aqueles entes naquele ano tendo-se verificado quecerca de 70 delas se pautavam em prescriccedilotildees particulares 93 envolviam medicamentos extraordinaacuteriosao SUS sendo que aproximadamente 5 envolviam produtos importados sem registro na ANVISA 50envolviam itens de produtores exclusivos e cerca de 25 marcas especiacuteficas mesmo para itens simples comofraldas descartaacuteveis A franca maioria dos pedidos natildeo tivera solicitaccedilatildeo administrativa preacutevia sabendo oEstado do pleito jaacute em sede de antecipaccedilatildeo de tutela com prazo estrito para o fornecimento ainda que comfundamentaccedilatildeo cliacutenica escassa inclusive quanto agrave premecircncia do pedido (SIQUEIRA Paula Sue Facundo deDireito Sanitaacuterio a interface entre Judiciaacuterio e Sauacutede na utilizaccedilatildeo dos PDC II FOacuteRUM BRASILEIROSOBRE ASSISEcircNCIA FARMACEcircUICA E FARMACOECONOMIA Salvador 2014 Mesa Redonda)

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administrativa das questotildees reduzindo-se o quantitativo de demandas judiciais na espeacuteciee democratizando o acesso agrave sauacutede mesmo agravequeles que natildeo chegam agrave Defensoria Nesseuacuteltimo aspecto tambeacutem a atuaccedilatildeo mediante Accedilatildeo Civil Puacuteblica visando agrave atualizaccedilatildeodas listas de fornecimento ou denunciando carecircncias e esperas irrazoaacuteveis por exemplo

parece recurso de relevante monta para uma melhor prestaccedilatildeo no setor

Possibilidade de uma maior funcionalidade administrativa tambeacutem pode ser tentadamediante atuaccedilatildeo de profissional25 direcionado agrave aacuterea das crescentes demandas em sauacutedenas unidades defensoriais de sorte a direcionar melhor a instruccedilatildeo dos pedidos jaacute seorientando o tipo de relatoacuterio e informaccedilotildees necessaacuterios aleacutem de empreender contatodireto com os oacutergatildeos puacuteblicos de regulaccedilatildeo em sauacutede estreitando relaccedilotildees com a Secretariade Sauacutede do Estado e seus oacutergatildeos a exemplo da Central de Regulaccedilatildeo de Vagas

Propotildee-se com isso ampliar o quantitativo de resoluccedilotildees administrativas mais ceacutelerese menos custosas reservando a necessidade de intervenccedilotildees juriacutedicas agraves situaccedilotildees emque havendo a previsatildeo do fornecimento natildeo se consegue obtecirc-lo por maacute prestaccedilatildeoadministrativa ndash o que demonstrado por melhor instruccedilatildeo inicial sugere levar amelhores iacutendices de sucesso jaacute em sede antecipatoacuteria ndash ou nas situaccedilotildees de recursos natildeoincluiacutedos no rol de fornecimento do SUS (em que pese o limitante dos artigos 2ordm e 19da Lei 124012011) Nesse caso uacuteltimo jaacute se busque tambeacutem instruir o pedido com osdemonstrativos da eficaacutecia seguranccedila e indicaccedilatildeo da medida reclamada bem assim de

ausecircncia de resposta agraves drogas rotineiramente disponibilizadas ou indicadas nos PCDnos termos inclusive do quanto preconizado em reiterados Enunciados e Recomendaccedilotildeesdo CNJ (4 11 14 15 16 31) e precedentes jurisprudenciais relevantes como a SA175 de relatoria do Min Gilmar Mendes sobre a mateacuteria

O que se vislumbra de negativo em tal proposta eacute que eventual reduccedilatildeo da judicializaccedilatildeofaccedila supor uma maior eficiecircncia na prestaccedilatildeo estatal em sauacutede o que nem semprecorresponde agrave verdade obtendo-se o ecircxito em casos individuais atraveacutes da persistecircnciaempedernida do oacutergatildeo defensorial ateacute que a proacutexima situaccedilatildeo se apresente Como aspecto

25 entativa semelhante tem sido implementada ao longo do uacuteltimo ano na unidade baiana daDefensoria Puacuteblica da Uniatildeo por iniciativa da chefia que tambeacutem titulariza o ofiacutecio de tutelacoletiva mediante o destacamento de Assistente Social com experiecircncia na conduccedilatildeo de demandasem sauacutede e com o intuito de melhorar a assistecircncia em tais demandas ante o crescimentoexponencial de seu nuacutemero no quinquecircnio antecedente Os resultados tecircm-se mostrado prima facie positivos com aparente aumento do nuacutemero de deslindes extrajudiciais e maior quantitativode antecipaccedilotildees de tutela obtidas nas accedilotildees propostas embora ainda sem dados coligidos esistematizados a respeito

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positivo por oacutebvio todas as vantagens da resoluccedilatildeo administrativa

Outro recurso a ser considerado como dito como opccedilatildeo agraves muacuteltiplas accedilotildees individuaissatildeo as accedilotildees de natureza coletiva visando agrave efetiva disponibilizaccedilatildeo de procedimentos

oferecidos formalmente mas cuja demora na prestaccedilatildeo torna na praacutetica insustentaacutevela espera ais accedilotildees sob o ponto de vista pragmaacutetico todavia nem sempre tecircm comoobter resultados concretos imediatos mas frutos de uma atuaccedilatildeo combativa criacuteticae politicamente atuante satildeo relevante termocircmetro acerca do modo como estatildeo sendogeridos os recursos em sauacutede advertindo para a necessidade de se dar concretude ao direitoconstitucionalmente reconhecido incentivando da maneira mais pertinente o sistemade checks and balances reservando-se as accedilotildees individuais para situaccedilotildees especiacuteficas denecessidade incontornaacutevel e sem perspectiva de resoluccedilatildeo natildeo litigiosa

Por fim sempre cabiacutevel lembrar que o momento da urgecircncia do plantatildeo do riscoiminente de vida eacute sempre o pior momento para avaliar o que fazer culminando-seem accedilotildees accedilodadas por vezes mal instruiacutedas natildeo raro em duplicidade nas instacircnciasestadual e federal com riscos para o paciente ou de desperdiacutecio de recursos puacuteblicos ouainda de descreacutedito para a instituiccedilatildeo Importante assim discutirem-se as abordagenspossiacuteveis criando-se orientaccedilotildees de conduta que de antematildeo auxiliem na organizaccedilatildeo dopensamento e na escolha das vias cabiacuteveis para ajudar o requerente ndash vulnerado quer pelahipossuficiecircncia econocircmica quer pela enfermidade ou na maioria das vezes por ambas

ndash da forma mais promissora e adequada possiacutevel

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Natildeo haacute por oacutebvio respostas faacuteceis na mateacuteria O objetivo do texto foi sobretudo chamar

atenccedilatildeo para aspectos nem sempre vistos na lida cotidiana do Defensor imbuiacutedo da visatildeodo assistido e suas anguacutestias premido pelo tempo sem que tenha por vezes sequercondiccedilatildeo de distanciar-se para um olhar mais imparcial

odavia tais distanciamento e compreensatildeo mostram-se necessaacuterios agrave instituiccedilatildeo afim de redirecionar a busca a mecanismos alternativos para o impasse da sauacutede comodireito simultaneamente individual e social sujeito agraves premecircncias pessoais mas tambeacutem

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182 DEFENSORIA PUacuteBLICA DA UNIAtildeO Escola Superior

agraves limitaccedilotildees de uma prestaccedilatildeo coletiva a exemplo da proacutepria escassez real (e aiacute misterdistinguir o mero argumento da escassez e da reserva do possiacutevel em contraposiccedilatildeo agravecomprovada inviabilidade de produccedilatildeo ou fornecimento a exemplo do nuacutemero de vagasimediatas em UI de um hospital puacuteblico ou a disponibilidade de oacutergatildeos compatiacuteveis para

transplante) e da inevitabilidade da alocaccedilatildeo de recursos o que natildeo eacute dado a ningueacutemresponsavelmente negar

Apenas a tiacutetulo de pensamento inicial sugerir-se-ia o desenvolvimento de incremento nastentativas de resoluccedilatildeo extrajudicial a exemplo de maior contato com a Administraccedilatildeo ndash aquem tambeacutem interessa a reduccedilatildeo das lides diminuindo gastos a varejo ndash e com oacutergatildeosde prestaccedilatildeo de sauacutede puacuteblica e de orientaccedilatildeo profissional meacutedica com vistas a analisar aeficaacutecia indicaccedilatildeo e seguranccedila de determinados recursos terapecircuticos subsidiando melhoros pedidos e melhorando os iacutendices de deferimento na espeacutecie que lamentavelmente

comeccedilam a declinar talvez movidos pelo perigo da dessensibilizaccedilatildeo do Judiciaacuterio ante aprofusatildeo de pedidos no setor reservando-se a atuaccedilatildeo judicial para situaccedilotildees de insucessoadministrativo reconhecido considerada a premecircncia e a comprovada necessidade ouatuaccedilotildees de iacutendole coletiva de pressatildeo poliacutetica para assegurar a melhor prestaccedilatildeo dodireito constitucional

Satildeo apenas reflexotildees incipientes mas ficam a semente da ideia o desafio que a questatildeorepresenta e o chamado ao compromisso coletivo de desenvolvecirc-las em prol do cidadatildeo

da efetividade constitucional e da atuaccedilatildeo mais consciente precisa e exitosa possiacutevel porparte da Defensoria Puacuteblica na defesa ao direito fundamental agrave sauacutede

REFEREcircNCIAS

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CANOILHO J J Gomes Direito Constitucional e eoria da Constituiccedilatildeo 7edCoimbra Almedina [2003]

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MELLO Dirceu Raposo de et al Anaacutelise Bioeacutetica do Papel do Estado na Garantia ao Acesso a Medicamentos In GARRAFA Volnei MELLO Dirceu Raposo de PORODora Bioeacutetica e Vigilacircncia Sanitaacuteria Brasiacutelia ANVISA 2007 p 17-18

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SALAZAR Andrea Lazzarini GROU Karina Bozola A Defesa da Sauacutede em Juiacutezo

eoria e Praacutetica Satildeo Paulo Verbatim 2009SCHWARZ Germano Direito agrave Sauacutede Efetivaccedilatildeo em uma Perspectiva SistecircmicaPorto Alegre Livraria do Advogado 2001

SIQUEIRA Paula Sue Facundo de Direito Sanitaacuterio a interface entre Judiciaacuterio eSauacutede na utilizaccedilatildeo dos PDC II Foacuterum Brasileiro sobre Assistecircncia Farmacecircutica eFarmacoeconomia Salvador 2014 Mesa Redonda

SRECK Lecircnio Luiz MORAIS Joseacute Luiacutes Bolzan de Ciecircncia poliacutetica e teoria geral do

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AVARES Andreacute Ramos Curso de Direito Constitucional 2ed Satildeo Paulo Saraiva 2003

REZZI Humberto Sauacutede Aumento no gasto do governo em remeacutedios especiais eacuteinvestigado Promotores e policiais suspeitam que quadrilhas falsificariam atestados paraobrigar a Uniatildeo a fornecer medicamentos de alto custo a pacientes por via judicial JornalZero Hora Porto Alegre ediccedilatildeo ndeg 15734 disponiacutevel em lthttpzerohoraclicrbscombrzerohorajspdefault2jspuf=1amplocal=1ampsource=a2195502xmlamptemplate=3898dwtampedition=10739ampsection=1003gt acessado em 12out08

VIEIRA Fabiacuteola Sulpino Accedilotildees judiciais e direito agrave sauacutede reflexatildeo sobre a observacircnciaaos princiacutepios do SUS Rev Sauacutede Puacuteblica v 42 n 2 p 365-369 abr 2008

VILLAS-BOcircAS Maria Elisa Alocaccedilatildeo de Recursos em Sauacutede quando a realidade e osdireitos fundamentais se chocam 2009 425 f ese (Doutorado em Direito Puacuteblico) ndashFaculdade de Direito Universidade Federal da Bahia Salvador 2009

______ O Direito agrave Sauacutede no Brasil reflexotildees bioeacuteticas agrave luz do princiacutepio da justiccedilaSatildeo Paulo Loyola 2014

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160 DEFENSORIA PUacuteBLICA DA UNIAtildeO Escola Superior

administraccedilatildeo de recursos limitados face a necessidades ilimitadas e tendencialmentecrescentes A inobservacircncia de tais aspectos praacuteticos pode fazer com que o aumentomesmo das demandas e sua crescente individualizaccedilatildeo nem sempre com a evidecircncia doscuidados precedentes agrave judicializaccedilatildeo terminem por levar a uma dessensibilizaccedilatildeo dos

julgadores agrave relevacircncia humana da mateacuteria em questatildeo

Palavras-chave Direito constitucional agrave sauacutede Efetividade Alocaccedilatildeo de recursosSistema Uacutenico de Sauacutede Accedilotildees judiciais

ABSRAC

Te text discusses the constitutional protection of health the legal discipline for the publichealth service and the difficulties for the accomplishment of this right Tese questionsarrive more and more to Judiciary frequently by action from the public defender so itis necessary to think about the best strategies for the theme to obtain the best resultspossible without forgetting the repercussions on the administration of limited resourcesfor unlimited and growing needs Te lack of attention to these points and the increasing

number of actions may conduce along the time to a loss of sensibility from the judgesabout the human aspects connected to the theme

Keywords Constitutional right to health Effectiveness Allocation of resources Nationalhealth service Judicial actions

Data de submissatildeo 27012015 Data de aceitaccedilatildeo 25042015

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SUMAacuteRIO

1 INRODUCcedilAtildeO 2 A SAUacuteDE ENRE O ldquoLUXOrdquo E O ldquoLIXOrdquo 3 ADISCIPLINA SANIAacuteRIA E OS PRINCIacutePIOS NO SISEMA UacuteNICO DE SAUacuteDE

4 DEMANDAS JUDICIAIS EM SAUacuteDE COMO AVANCcedilAR EM DIRECcedilAtildeO AOQUE PARECE NAtildeO ER SAIacuteDA 5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

1 INRODUCcedilAtildeO

Cada vez mais frequentemente chegam ao Judiciaacuterio demandas relacionadas a questotildees desauacutede Cada vez mais frequentemente se busca do Estado mediante a instacircncia judicial(e natildeo raro pelas matildeos da Defensoria Puacuteblica Federal) respostas e soluccedilotildees para desafiosmeacutedicos sob o manto do sagrado e fundamental direito agrave sauacutede

Dificuldades como a duacutevida acerca dos aspectos meacutedicos envolvidos a questatildeo da escasseza falta de previsatildeo orccedilamentaacuteria e a discricionariedade das opccedilotildees administrativas emcontraponto ao argumento dos direitos fundamentais agrave vida e agrave sauacutede potildeem em ainda

maior evidecircncia o potencial de tragicidade dessas decisotildees

De outro lado como equilibrar tais demandas no tecircnue limite entre as necessidadese os excessos que geram descreacutedito e despesas vatildes ndash natildeo somente de recursos mas deesperanccedilas Como conciliar a exigecircncia de um posicionamento judicial justo e efetivadorde direitos constitucionamente garantidos face agraves dificuldades arroladas sem afrontar odireito individual mas tambeacutem sem desconsiderar a isonomia e o equiliacutebrio coletivoSob o prisma institucional como operacionalizar medidas e paracircmetros racionais noacircmbito da Defensoria Puacuteblica ainda mais quando envolvidos bens de natureza tatildeo grave

e momentos tatildeo delicados

O texto traz um alerta pouco simpaacutetico e nem sempre otimista do ponto de vistadefensorial mas quiccedilaacute necessaacuterio agrave definiccedilatildeo de abordagens futuras consistentes anteuma sutil tendecircncia ao pragmatismo judiciaacuterio que se vem observando gradativamentesobre o tema notadamente em eacutepoca de crise econocircmica acerba como se vem delineandono paiacutes quando natildeo se tem hesitado em sangrar as garantias securitaacuterias e sociais da

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populaccedilatildeo como recentemente se viu com a MP 6642014 verbi gratia em busca deviabilizar o equiliacutebrio econocircmico nas financcedilas estatais

O primeiro passo para compreender a questatildeo e pensar soluccedilotildees mais razoaacuteveis eacute buscar

analisaacute-las objetivamente sem a premecircncia dos prazos ndash judiciais ou meacutedicos ndash tentandocontextualizar o direito fundamental agrave sauacutede como direito social mas tambeacutem individualem cotejo com os princiacutepios gestores de sua prestaccedilatildeo no ordenamento paacutetrio

Mister buscar nortear as condutas como instituiccedilatildeo a fim de otimizar os mecanismosdisponiacuteveis para alcanccedilar a efetivaccedilatildeo da sauacutede natildeo soacute a curto como tambeacutem a meacutedioprazo quando o Judiciaacuterio parece caminhar para um processo de dessensibilizaccedilao antetais pedidos secundando o grande nuacutemero de accedilotildees e concessotildees judiciais na aacuterea Nosuacuteltimos anos observou-se certa tendecircncia no campo das accedilotildees judiciais em sauacutede a

tornar regra a judicializaccedilatildeo excepcional sujeitando-se agraves criacuteticas originalmente reputadasfalaciosas quer no acircmbito da reserva do possiacutevel quer na seara da invasatildeo de esferasentre os poderes puacuteblicos E se torna preciso repensar novas vias que natildeo desprezem onecessaacuterio recurso ao Judiciaacuterio nem o banalizem a ponto de o pedido judicial em sauacutede jaacute natildeo consternar o julgador

Como de haacute muito lecionavam os mestres gregos a virtude estaacute no meio Mas nem porisso eacute faacutecil encontraacute-la

2 A SAUacuteDE ENRE O ldquoLUXOrdquo E O ldquoLIXOrdquo

Vive-se uma eacutepoca de inegaacutevel medicalizaccedilatildeo da vida ao lado da visiacutevel tendecircncia agrave judicializaccedilatildeo da sauacutede

Sob um acircngulo os avanccedilos teacutecnicos crescem exponencialmente gerando expectativas eesperanccedilas Sob outro os avanccedilos satildeo reconhecidamente custosos e nem sempre movidosapenas pelas boas intenccedilotildees de quem os desenvolve A induacutestria farmacecircutica eacute hojeinegavelmente uma das mais custosas e mais rentaacuteveis do mundo ao lado da induacutestria

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beacutelica 2 e sua atuaccedilatildeo junto aos profissionais muitas vezes aumentam no imaginaacuteriocoletivo a eficiecircncia de determinadas terapecircuticas ainda mais quando o temor da mortese avizinha e a promessa de uma melhor qualidade de vida se anuncia como bem aoalcance de todos ou ao menos de quem possa com ela arcar financeiramente

De se ver contudo primeiramente que o crescimento da induacutestria farmacecircutica se fazmajoritariamente agrave custa de produtos esteacuteticos ou de medicaccedilotildees de alto custo paratratamento das chamadas ldquodoenccedilas do desenvolvimentordquo (cacircncer doenccedilas cardiacuteacas evasculares entre outras) enquanto inuacutemeras doenccedilas associadas agrave pobreza permanecemna condiccedilatildeo de chamadas ldquodoenccedilas oacuterfatildesrdquo pois a falta de condiccedilotildees dos beneficiaacuterios paraarcar com os custos da produccedilatildeo de novas medicaccedilotildees natildeo estimula os investimentosnecessaacuterios agrave pesquisa na aacuterea 3 Decorrecircncia disso eacute que muitos dos pedidos apresentados judicialmente versa natildeo raro acerca de novos quimioteraacutepicos muitas vezes receacutem-saiacutedos

dos laboratoacuterios e de eficaacutecia ainda em fase de certificaccedilatildeo

Dois aspectos daiacute decorrem de um lado a dificuldade em manter atualizadas as listasde prestaccedilotildees puacuteblicas em sauacutede face aos raacutepidos avanccedilos do setor De outro o risco dese recair na armadilha do capitalismo farmacecircutico com produtos cariacutessimos que nemsempre correspondem agraves expectativas que ensejam ao requerente aumentando em muitoas despesas da sauacutede puacuteblica em detrimento do cuidado coletivo

Embora moralmente natildeo se possa nem deva sustentar um pensamento marcadamenteutilitarista na espeacutecie sobretudo quando em jogo a vida e a sauacutede de algueacutem bensinegociaacuteveis eacute de se observar que tais dificuldades natildeo tecircm passado incoacutelumes aos julgadores notadamente quando assistem diuturnamente ao crescimento exponencial dedemandas que tais

Assim eacute que haacute uns poucos anos apoacutes o reconhecimento poacutes-positivista de uma fasede valorizaccedilatildeo principioloacutegica e de primazia dos direitos humanos a epiacutegrafe de direitoagrave sauacutede sobre um pedido era a quase certeza de obtenccedilatildeo de qualquer recurso pela via

2 Nesse sentido cf DRANE James PESSINI Leo Medicina e ecnologia Desafios eacuteticos nafronteira do conhecimento humano Satildeo Paulo Loyola 2005 p 207 et seq3 Sobre o crescimento dos investimentos na aacuterea farmacecircutica cf ALVES Jeovanna Viana et alInduacutestria farmacecircutica poder e subdesenvolvimento a Bioeacutetica na Investigaccedilatildeo de NovosMedicamentos In Sexto Congresso Mundial de Bioeacutetica 2002 Brasiacutelia Sociedade Brasileira deBioeacutetica Anais 2002 p 152 e BERGEL Salvador Dariacuteo Responsabilidad Social y SaludRevista Brasileira de Bioeacutetica Brasiacutelia Sociedade Brasileira de Bioeacutetica v2 n4 p 443-4672006 p 453

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judiciaacuteria Afinal a constituiccedilatildeo salvaguarda a vida e a sauacutede como direitos humanosfundamentais e o reconhecimento de um federalismo cooperativo em relaccedilatildeo ao SUS noacircmbito de um Estado que se pretende Social superava questotildees teacutecnicas ou burocraacuteticasinfraprincipioloacutegicas comumente agitadas pela advocacia estatal

Grandes vitoacuterias se conquistaram como a possibilidade de bloqueio de verbas puacuteblicase a fixaccedilatildeo de astreintes no descumprimento das tutelas antecipadas o afastamento dosargumentos reiterados da ilegitimidade passiva simultacircnea dos entes puacuteblicos em vista dadescentralizaccedilatildeo administrativa do SUS da insindicabilidade das decisotildees discricionaacuteriasda Administraccedilatildeo da inflexibilidade da separaccedilatildeo de poderes ou ainda a menccedilatildeo vaga eincomprovada agrave reserva do possiacutevel e agrave falta de previsatildeo orccedilamentaacuteria

Recentemente contudo comeccedilou a tomar corpo a percepccedilatildeo de que o crescente nuacutemero

de pedidos requer paracircmetros mais razoaacuteveis e talvez mais rigorosos de avaliaccedilatildeo Comosuperar entatildeo a constataccedilatildeo jacente de que a ampliaccedilatildeo irrefreada e sem paracircmetrosrazoaacuteveis de tais demandas terminaria por gerar tratamentos tambeacutem desiguais e o perigode desorganizaccedilatildeo ainda maior do que jaacute haacute no sistema

O proacuteprio conceito de sauacutede mais adotado atualmente ndash aquele dado pela OrganizaccedilatildeoMundial de Sauacutede4 no preacircmbulo de sua carta de constituiccedilatildeo que associa a condiccedilatildeohumana salutar natildeo apenas agrave ausecircncia de doenccedila de incapacidade ou de condiccedilotildees

intrinsecamente patoloacutegicas (definiccedilatildeo realmente tautoloacutegica) ou ainda agrave simplesnormalidade do funcionamento orgacircnico mas a um estado de completo bem-estarfiacutesico mental e social ndash mostra-se de tal vagueza e dificuldade praacutetica de obtenccedilatildeopelos mais diversos motivos que seria de se questionar se algueacutem se poderia dizer de fatosaudaacutevel nesses termos

E natildeo haacute limites num mundo globalizado e repleto de ofertas para se identificar oque seria um completo bem-estar fiacutesico mental e social especialmente no que tangeagraves promessas de consumo pois tambeacutem em relaccedilatildeo agrave sauacutede haacute produtos que visam agrave

comodidade mais que agrave necessidade e perspectivas hiperdimensionadas de sucesso natildeocomprovado

Nessa linha de difiacutecil precisatildeo se situam exempli gratia pleitos por cobertura de

4 ORGANIZACcedilAtildeO MUNDIAL DA SAUacuteDE Constitution of the World Health Organization Basic Documents Genebra OMS 1946 Disponiacutevel em lthttpwhqlibdocwhointhistofficial_recordsconstitutionpdfgtacessado em 20ago08

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procedimentos meramente esteacuteticos sem caraacuteter reparador funcionalmente desnecessaacuteriose muitas vezes de alto custo fugindo assim agrave noccedilatildeo de essencialidade que caracterizao Sistema (ainda que tampouco seja unacircnime a noccedilatildeo de essencialidade5 notadamenteem face da amplitude do conceito de sauacutede adotado pela OMS como visto acima)

A reproduccedilatildeo assistida natildeo se acha coberta pelo SUS ou pela maioria os planos desauacutede embora se discuta eventual direito a um filho como possiacutevel parte da previsatildeoconstitucional de planejamento familiar Jaacute pleitos por proacuteteses penianas e que taisde escopo funcional parecem alinhar-se a uma noccedilatildeo mais ampla poreacutem razoaacutevel noacircmbito da sauacutede reprodutiva

De outro lado mesmo nos casos reconhecidamente eficazes o custo de determinadosrecursos nem sempre os torna viaacuteveis como poliacuteticas puacuteblicas Projeccedilatildeo feita por FabiacuteolaVieira6 em relaccedilatildeo a determinado tratamento para a hepatite C patologia viral crocircnica

requerido judicialmente em pleitos individuais em substituiccedilatildeo ao tratamento oferecidopelo SUS evidenciou que sendo a prevalecircncia da doenccedila no paiacutes estimada em 1 dapopulaccedilatildeo se o SUS se propusesse a tratar um quarto (025) dessas pessoas (o queequivaleria a cerca de 467000 pessoas) com o medicamento interferon peguilado o maismoderno agrave eacutepoca de sua pesquisa com aplicaccedilotildees uma vez por semana durante quarenta eoito semanas ndash o tempo do tratamento ndash ao custo individual da aplicaccedilatildeo de R$ 110749(mil cento e sete reais e quarenta e nove centavos) chegar-se-ia ao montante de 248bilhotildees de reais o que equivaleria a 64 do gasto total executado pelo Ministeacuterio da

Sauacutede em 2006 que fora da monta de 388 bilhotildees de reais naquele ano Natildeo significadiz a autora que natildeo se devam tratar os pacientes de hepatite viral crocircnica mas queeacute preciso empregar criteacuterios mesmo para a alocaccedilatildeo dos recursos da sauacutede sob penainclusive de se tratar de maneira diacutespar cidadatildeos em condiccedilatildeo similar e de o fazer sob achancela estatal sem uma especificidade que o justifique

A escassez existe Como tambeacutem existem pressotildees por parte da induacutestria farmacecircuticafomentando esperanccedilas vatildes as chamadas tentativas heroicas nem sempre de eficaacuteciacomprovadas com o risco de converter parte da populaccedilatildeo em involuntaacuterios sujeitos

5 Enquanto o SUS jaacute reconhecia o acesso a acompanhamento psicoloacutegico por exemplo como serviccediloessencial (e de fato o eacute) apenas recentemente passou a constar dos planos de sauacutede privados o reembolso decerto nuacutemero de consultas psicoloacutegicas ao ano Procedimentos como esclerose de varizes cirurgias bariaacutetricastambeacutem caminham na dubiedade entre tratamentos esteacuteticos e funcionais requerendo anaacutelise caso a caso6 VIEIRA Fabiacuteola Sulpino Accedilotildees judiciais e direito agrave sauacutede reflexatildeo sobre a observacircncia aos princiacutepios doSUS Rev Sauacutede Puacuteblica v 42 n 2 p 365-369 abr 2008

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de pesquisa em larga escala 7 Ignorar simplesmente tais circunstacircncias faacuteticas terminapor ensejar peacutessimos frutos a comeccedilar pela perda de credibilidade dos requerentesespecialmente aqueles reiterados como a Defensoria e ndash ainda pior ndash levar agrave gradativadessensibilizaccedilatildeo do destinataacuterio o Judiciaacuterio

Mister entatildeo tentar buscar tanto quanto possiacutevel saiacutedas administrativas tratativas quetendam a diminuir a necessidade de accedilotildees judiciais muacuteltiplas procurando interpretaros princiacutepios gestores do SUS agrave luz dos direitos fundamentais constitucionalmenteconsagrados tanto sob o prisma pessoal como social de modo a se obter a melhortratamento possiacutevel mas dentro de um paracircmetro de razoabilidade sustentaacutevel sem privaro cidadatildeo de direitos mas tambeacutem sem virar artefato dos interesses da induacutestria que maiscresce no mundo alimentando esperanccedilas e desejos poreacutem nem sempre comprometidacom a responsabilidade social que deveria ter

3 A DISCIPLINA SANIAacuteRIA E OS PRINCIacutePIOS DO SISEMA UacuteNI983085CO DE SAUacuteDE8

A Constituiccedilatildeo de 1988 consagrou por seu teor e de forma sem precedentes no paiacutes apromessa de um Estado Social contando entre seus fundamentos a dignidade da pessoahumana os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa e o pluralismo poliacutetico eenaltecendo as garantias agrave cidadania conforme seu Capiacutetulo II do iacutetulo II mas tambeacutemem outras normas constitucionais a exemplo do artigo 196 dedicado ao direito agrave sauacutede A proacutepria formulaccedilatildeo estrutural da nova Carta enunciando os direitos fundamentais logoem seu iniacutecio anteriormente agrave organizaccedilatildeo estatal como ocorria nos Diplomas anteriores

7

O proacuteprio rastuzumabe verbi gratia quimioteraacutepico reclamado judicialmente e hoje decomprovada eficiecircncia requer para sua eficaacutecia a presenccedila de determinados marcadores geneacuteticosque de iniacutecio nem sempre eram verificados previamente quando da prescriccedilatildeo ou do pedidogerando espeacutecie de ldquoteste terapecircuticordquo de relevante repercussatildeo econocircmica e de efeito a longo prazoe em larga escala para a sauacutede entatildeo ainda desconhecidos8 recho parcialmente reproduzido na obra VILLAS-BOcircAS Maria Elisa O Direito agrave Sauacutede noBrasil reflexotildees bioeacuteticas agrave luz do princiacutepio da justiccedila Satildeo Paulo Loyola 2014 tambeacutem derivadada tese de Doutorado da Autora VILLAS-BOcircAS Maria Elisa Alocaccedilatildeo de Recursos em Sauacutede quando a realidade e os direitos fundamentais se chocam 2009 425 f ese (Doutorado em DireitoPuacuteblico) ndash Faculdade de Direito Universidade Federal da Bahia Salvador 2009

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jaacute denota um pioneiro espiacuterito de valorizaccedilatildeo da pessoa e de visualizaccedilatildeo do Estado comoinstrumento para o seu desenvolvimento ao menos no plano normativo

Como importante precedente para o nascimento do SUS aponta-se a VIII Conferecircncia

Nacional de Sauacutede realizada em 1986 que contou com ampla participaccedilatildeo da sociedadecivil passando-se a reconhecer como direito da populaccedilatildeo natildeo apenas o acesso aosdiferentes niacuteveis de assistecircncia agrave sauacutede mas tambeacutem a participaccedilatildeo na formulaccedilatildeo deprioridades na aacuterea9 o que interfere nos criteacuterio de alocaccedilatildeo de recursos

Assim foi que o artigo 6ordm da Constituiccedilatildeo ao enunciar os direitos sociais expressamentepreviu a sauacutede como um dos primeiros deles ao lado da educaccedilatildeo do trabalho damoradia (acrescida esta pela Emenda Constitucional nordm 26 em 2000) do lazer daseguranccedila da previdecircncia social da proteccedilatildeo agrave maternidade e agrave infacircncia e da assistecircncia

aos desamparados Em fevereiro de 2010 a Emenda Constitucional nordm 64 reconheceutambeacutem nesse rol a alimentaccedilatildeo

O direito agrave sauacutede eacute objeto ainda dos artigos 196 e seguintes da Constituiccedilatildeo vigente emque se enunciam as diretrizes para as poliacuteticas puacuteblicas na aacuterea O artigo 196 eacute enfaacuteticoem reafirmar o caraacuteter universal desse direito a ser assegurado natildeo apenas como promessaem perspectiva mas mediante accedilotildees praacuteticas de concretizaccedilatildeo a saber ldquo A sauacutede eacute direitode todos e dever do Estado garantido mediante poliacuteticas sociais e econocircmicas que visem agrave

reduccedilatildeo do risco de doenccedila e de outros agravos e ao acesso universal e igualitaacuterio agraves accedilotildeese serviccedilos para sua promoccedilatildeo proteccedilatildeo e recuperaccedilatildeordquo

Nos artigos seguintes notadamente do 197 ao 200 prevecirc-se a possibilidade de prestaccedilatildeoda sauacutede diretamente pelo Poder Puacuteblico ndash a quem cabe ainda sua regulamentaccedilatildeofiscalizaccedilatildeo e controle ndash ou atraveacutes de terceiros por pessoa fiacutesica ou juriacutedica de direitoprivado Franqueia-se a atuaccedilatildeo em sauacutede agrave iniciativa privada inclusive de formacomplementar junto ao Sistema Uacutenico de Sauacutede restringindo-se poreacutem a participaccedilatildeo

9 MELLO Dirceu Raposo de et al Anaacutelise Bioeacutetica do Papel do Estado na Garantia ao Acesso aMedicamentos In GARRAFA Volnei MELLO Dirceu Raposo de PORO Dora Bioeacutetica e Vigilacircncia Sanitaacuteria Brasiacutelia ANVISA 2007 p 17-18 e LORENZO Claacuteudio Vulnerabilidadeem Sauacutede Puacuteblica implicaccedilotildees para as poliacuteticas puacuteblicas Revista Brasileira de Bioetica BrasiacuteliaSociedade Brasileira de Bioeacutetica v 2 n 3 p 299-312 2006

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de empresas de capital estrangeiro na forma da lei (art 199)10

Em relaccedilatildeo ao Serviccedilo Uacutenico de Sauacutede (SUS) os artigos 198 e 200 o orientamapresentando como diretrizes ldquoI - descentralizaccedilatildeo com direccedilatildeo uacutenica em cada esfera de

governo II - atendimento integral com prioridade para as atividades preventivas semprejuiacutezo dos serviccedilos assistenciais III - participaccedilatildeo da comunidaderdquo Esclarece-se aindao financiamento por recursos da seguridade social e de outras fontes determinando aaplicaccedilatildeo de recursos miacutenimos em cada esfera estatal nos termos da Emenda Constitucionalnordm 29 de 2000

Aleacutem das diretrizes constitucionais a atuaccedilatildeo do SUS eacute orientada tambeacutem pela LeiOrgacircnica da Sauacutede (Lei ndeg 808090) de que se deduz como um ponto principal logoem seu artigo 2ordm a reafirmaccedilatildeo da sauacutede como direito humano fundamental ldquodevendo

o Estado prover as condiccedilotildees indispensaacuteveis para seu pleno exerciacuteciordquo Ainda nesseartigo esclarece-se que o dever do Estado quanto agrave garantia da sauacutede consiste aleacutem daformulaccedilatildeo e execuccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas preventivas no estabelecimento de condiccedilotildeesde acesso ldquouniversal e igualitaacuterio agraves accedilotildees e aos serviccedilos para a sua promoccedilatildeo proteccedilatildeo erecuperaccedilatildeordquo

O artigo 6ordm da referida legislaccedilatildeo regulamentadora inclui expressamente no campode atuaccedilatildeo do SUS a assistecircncia terapecircutica integral inclusive farmacecircutica Essa

disposiccedilatildeo tem sido causa de pedir de muitas das accedilotildees individuais que pretendem ofornecimento de medicaccedilotildees nem sempre disponibilizadas protocolarmente pelo SistemaUacutenico mas que se mostram indicadas para a situaccedilatildeo concreta do paciente A questatildeoeacute discutir quatildeo amplo eacute esse dever de provimento farmacoteraacutepico considerando

10 Eacute de se observar que conquanto a menccedilatildeo agrave remoccedilatildeo de oacutergatildeos e tecidos para transplantesencontre-se situada no artigo 199 referente agrave iniciativa privada esse tipo de procedimento eacuteexecutado pelo Sistema Uacutenico de Sauacutede no paiacutes justamente para permitir uma maior equidade emsua gestatildeo A competecircncia do referido Sistema abrange ainda de forma natildeo taxativa (art 200) ldquoI -

controlar e fiscalizar procedimentos produtos e substacircncias de interesse para a sauacutede e participar daproduccedilatildeo de medicamentos equipamentos imunobioloacutegicos hemoderivados e outros insumos II- executar as accedilotildees de vigilacircncia sanitaacuteria e epidemioloacutegica bem como as de sauacutede do trabalhadorIII - ordenar a formaccedilatildeo de recursos humanos na aacuterea de sauacutede IV - participar da formulaccedilatildeo dapoliacutetica e da execuccedilatildeo das accedilotildees de saneamento baacutesico V - incrementar em sua aacuterea de atuaccedilatildeo odesenvolvimento cientiacutefico e tecnoloacutegico VI - fiscalizar e inspecionar alimentos compreendidoo controle de seu teor nutricional bem como bebidas e aacuteguas para consumo humano VII -participar do controle e fiscalizaccedilatildeo da produccedilatildeo transporte guarda e utilizaccedilatildeo de substacircncias eprodutos psicoativos toacutexicos e radioativos VIII - colaborar na proteccedilatildeo do meio ambiente nelecompreendido o do trabalhordquo

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inclusive que as indicaccedilotildees satildeo feitas muitas vezes em usos natildeo oficializados (off label)experimentais ou extraordinaacuterios havendo de se discutir os criteacuterios que deveratildeo norteara atuaccedilatildeo estatal perante casos que tais

Os princiacutepios balizadores do Sistema Uacutenico de Sauacutede estatildeo afirmados no artigo 7ordm da Leindeg 808090 em que se sublinham

I - universalidade de acesso aos serviccedilos de sauacutede em todos os niacuteveisde assistecircnciaII - integralidade de assistecircncia entendida como conjunto articuladoe contiacutenuo das accedilotildees e serviccedilos preventivos e curativos individuais ecoletivos exigidos para cada caso em todos os niacuteveis de complexidadedo sistemaIII - preservaccedilatildeo da autonomia das pessoas na defesa de sua integridadefiacutesica e moralIV - igualdade da assistecircncia agrave sauacutede sem preconceitos ou privileacutegiosde qualquer espeacutecieV - direito agrave informaccedilatildeo agraves pessoas assistidas sobre sua sauacutedeVI - divulgaccedilatildeo de informaccedilotildees quanto ao potencial dos serviccedilos desauacutede e a sua utilizaccedilatildeo pelo usuaacuterioVII - utilizaccedilatildeo da epidemiologia para o estabelecimento de prioridadesa alocaccedilatildeo de recursos e a orientaccedilatildeo programaacuteticaVIII - participaccedilatildeo da comunidade []

Entre esses princiacutepios verificam-se de logo aparentes contradiccedilotildees tendentes a se tornarem

relevantes paradoxos praacuteticos Ao se mencionar por exemplo a autonomia ndash importanteaspecto da relaccedilatildeo profissional-paciente salvaguardado entre outros no artigo 15 doCoacutedigo Civil de 200211 ndash haacute que se identificar a existecircncia de limites no acircmbito dessaautonomia ais limites natildeo decorrem apenas dos cerceamentos morais e legais amplos(vedaccedilatildeo agrave eutanaacutesia ao aborto salvo exceccedilotildees legais ou ao auxiacutelio ao suiciacutedio verbi gratia ) mas satildeo tambeacutem advindos das proacuteprias normas especiacuteficas regentes do SistemaUacutenico de Sauacutede passando a balizar natildeo somente a autonomia do paciente como tambeacutemem certa medida a proacutepria autonomia profissional12 buscando-se priorizar em suasprescriccedilotildees e entre opccedilotildees tecnicamente equivalentes aquelas jaacute incorporadas pelo SUS

De outro lado tampouco pode a referida autonomia meacutedica ser mortalmente ferida sehaacute fundamentos relevantes para acreditar que a prescriccedilatildeo de determinada medicaccedilatildeo seja

11 ldquo Art 15 Ningueacutem pode ser constrangido a submeter-se com risco de vida atratamento meacutedico ou a intervenccedilatildeo ciruacutergica rdquo12 O item II do Capiacutetulo II do Coacutedigo de Eacutetica Meacutedica atual aponta como direito do meacutedicoldquoIndicar o procedimento adequado ao paciente observadas as praacuteticas cientificamente reconhecidase respeitada a legislaccedilatildeo vigenterdquo

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substancialmente favoraacutevel ao paciente

Assim como ponto de equiliacutebrio o profissional deveraacute dar preferecircncia agraves medicaccedilotildeese tratamentos constantes no rol do Sistema Uacutenico de Sauacutede desde que em condiccedilotildees

de equivalecircncia de modo que dessa escolha natildeo advenham reconhecidos prejuiacutezos aopaciente Nesse sentido um trabalho de conscientizaccedilatildeo dos profissionais meacutedicosmediante atuaccedilatildeo conjunta junto a essa esfera pode ser de grande valia para reduzir accedilotildees judiciais em vista de prescriccedilotildees mal justificadas

Mesmo em relaccedilatildeo a atendimentos particulares haacute que se evitar a prescriccedilatildeo desarrazoadade medicaccedilotildees de eficaacutecia natildeo comprovada que em uacuteltima anaacutelise viratildeo a ser reclamadasdo Sistema Uacutenico de Sauacutede (inclusive em vista do fator empobrecedor da doenccedila e dauniversalidade prevista) convertendo o paciente em verdadeiro sujeito (ou objeto) de

pesquisa natildeo organizada e gerando gastos e expectativas vatildeos

Outro aparente paradoxo se poderia assinalar em relaccedilatildeo aos princiacutepios arrolados nositens II e VII De um lado assegura-se a integralidade da assistecircncia De outro contudoadota-se o uso da epidemiologia para o estabelecimento de prioridades e a alocaccedilatildeo derecursos Como proceder entatildeo se for necessaacuteria assistecircncia profissional para doenccedilaepidemiologicamente rara e de tratamento particularmente caro Eacute o que se tem notadoem muitos dos casos que chegam ao Judiciaacuterio nos quais se passa a discutir ainda que natildeo

expressamente a visatildeo utilitarista e o impasse entre a prevalecircncia do interesse individualou coletivo na alocaccedilatildeo de recursos em questatildeo13

Seguem-se nos artigos 8ordm a 19 a organizaccedilatildeo descentralizada (que compotildee o nono princiacutepiogestor do Sistema juntamente com a direccedilatildeo uacutenica em cada instacircncia) e sua divisatildeo entreas trecircs esferas ndash nacional estadual e municipal Cuida-se aqui de circunstacircncia tambeacutemcomumente suscitada pelos entes estatais reacuteus arguindo natildeo serem partes legiacutetimas nahipoacutetese haja vista a separaccedilatildeo de atribuiccedilotildees desenhada na legislaccedilatildeo especiacutefica Veja-se contudo que a separaccedilatildeo de tarefas entre as esferas estatais natildeo retira delas o dever

global do Estado de provimento da sauacutede cuja responsabilidade eacute em uacuteltima instacircncia

13 Nesse sentido em prol da necessidade de anaacutelise muldimensional inclusive para otimizar aassistecircncia coletiva inviabilizando a anaacutelise individualista da questatildeo cf FERRAZ OctaacutevioLuiz Motta VIEIRA Fabiacuteola Sulpino Direito agrave sauacutede recursos escassos e equumlidade os riscosda interpretaccedilatildeo judicial dominante Disponiacutevel em httpwwwstfjusbrarquivocmsprocessoAudienciaPublicaSaudeanexoDireito_a_Saude_Recursos_escassos_e_equidadepdf Acesso em 25abr2015

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solidaacuteria14 Constata-se assim tiacutepico exemplo do chamado federalismo cooperativo oude colaboraccedilatildeo15 mais caracteriacutestico dos Estados de Bem-Estar Social e em que haacute umadivisatildeo de tarefas menos riacutegida e mais intercambiante conforme as necessidades praacuteticasque se apresentem ainda que persista o princiacutepio da subsidiariedade segundo o qual a

instacircncia superior deve agir quando natildeo resolviacutevel o problema nas instacircncias menores

Nesse mister o artigo 7ordm prevecirc ainda como princiacutepios simultacircneos do Sistema adescentralizaccedilatildeo poliacutetico-administrativa com direccedilatildeo uacutenica em cada esfera de governo(inciso IX) enfatizando a descentralizaccedilatildeo dos serviccedilos para os municiacutepios a regionalizaccedilatildeoe a hierarquizaccedilatildeo da rede de serviccedilos de sauacutede bem assim a organizaccedilatildeo dos serviccedilospuacuteblicos de modo a evitar duplicidade de meios para fins idecircnticos (inciso XIII) ndash o queeacute realmente um risco na incumbecircncia solidaacuteria Considerando-se todavia a falha noprovimento por todas as esferas a motivar a provocaccedilatildeo judicial o mesmo artigo estipula

a ldquoconjugaccedilatildeo dos recursos financeiros tecnoloacutegicos materiais e humanos da Uniatildeo dosEstados do Distrito Federal e dos Municiacutepios na prestaccedilatildeo de serviccedilos de assistecircncia agravesauacutede da populaccedilatildeordquo (inciso XI) e a ldquocapacidade de resoluccedilatildeo dos serviccedilos em todos osniacuteveis de assistecircncia rdquo (inciso XII) o que reafirma a noccedilatildeo de solidariedade federativa nodever de provimento da sauacutede

Ainda no que tange agrave conflituosa relaccedilatildeo entre as previsotildees legais e suas implementaccedilotildees

14 Sobre a discussatildeo acerca da solidariedade entre os entes estatais na aacuterea a jurisprudecircncia dosribunais Superiores jaacute reconheceu amplamente sua existecircncia caracterizando a existecircncia de umfederalismo cooperativo na espeacutecie Anteriormente ao posicionamento judicial jaacute se manifestavamem favor da responsabilidade concomitante e solidaacuteria das trecircs esferas estatais autores como DALLARI Sueli Gandolfi Os Estados Brasileiros e o Direito agrave Sauacutede Satildeo Paulo Hucitec1995 p 37-42 e SCHWARZ Germano Direito agrave Sauacutede Efetivaccedilatildeo em uma PerspectivaSistecircmica Porto Alegre Livraria do Advogado 2001 p 101 203 COHN Ameacutelia et al A Sauacutedecomo Direito e como Serviccedilo Satildeo Paulo Cortez 2008 p 68 entre outros assinalando o fato deque a regionalizaccedilatildeo e a descentralizaccedilatildeo tecircm por escopo favorecer a acessibilidade e natildeo dificultaacute-la natildeo obstando portanto a solidariedade entre os entes puacuteblicos Em favor da responsabilidade

sucessiva e natildeo solidaacuteria por forccedila da descentralizaccedilatildeo do Sistema cf FIGUEIREDO MarianaFilchtiner Direito Fundamental agrave Sauacutede Paracircmetros para sua Eficaacutecia e Efetividade Porto Alegre Livraria do Advogado 2007 p 157-16115 Cf por todos AVARES Andreacute Ramos Curso de Direito Constitucional 2ed Satildeo PauloSaraiva 2003 e SRECK Lecircnio Luiz MORAIS Joseacute Luiacutes Bolzan de Ciecircncia poliacutetica eteoria geral do estado 2ed Porto Alegre Livraria do Advogado 2000 Sobre o princiacutepio dasubsidiariedade nesse caso cf tambeacutem CANOILHO J J Gomes Direito Constitucional eeoria da Constituiccedilatildeo 7ed Coimbra Almedina [2003] Ainda sobre o tema da influecircnciado federalismo na mateacuteria cf o trabalho de DALLARI Sueli Gandolfi loc cit assinalando aabordagem diferenciada em cada constituiccedilatildeo estadual acerca do conteuacutedo do direito agrave sauacutede

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172 DEFENSORIA PUacuteBLICA DA UNIAtildeO Escola Superior

praacuteticas eacute de se notar que em 1999 foi incluiacutedo capiacutetulo referente agrave atenccedilatildeo agrave sauacutedeindiacutegena e em 2002 previu-se um subsistema de atendimento e internaccedilatildeo domiciliarEsses uacuteltimos cuidados ditos home care conquanto ainda pouco utilizados vecircmadequar-se ao quanto previsto na Constituiccedilatildeo Federal em seu artigo 230 paraacutegrafo 1ordm

notadamente em relaccedilatildeo aos idosos a saber ldquosect 1ordm - Os programas de amparo aos idososseratildeo executados preferencialmente em seus laresrdquo Em 2005 acolheu-se na legislaccedilatildeo umsubsistema de acompanhamento durante o trabalho de parto parto e poacutes-parto imediatoprevendo a possibilidade de acompanhante nesses eventos a exemplo do que jaacute fizera oEstatuto da Crianccedila e do Adolescente em relaccedilatildeo agrave previsatildeo de acompanhante para omenor internado no acircmbito do SUS (artigo 12 da Lei 806990 e Resoluccedilatildeo ndeg 4195sobre os direitos da crianccedila e do adolescente hospitalizados) revelando uma tendecircncia dehumanizaccedilatildeo dos procedimentos puacuteblicos de sauacutede

Na praacutetica ainda natildeo se implementaram amplamente esses novos espectros do direito agravesauacutede mas natildeo se os diga impossiacuteveis nem desnecessaacuterios Eacute curioso notar verbi gratia que quando do surgimento do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente tampouco era praxea manutenccedilatildeo dos pais junto aos pequenos pacientes ndash algo que hoje soa imprescindiacutevelndash e a afirmaccedilatildeo legislativa desse direito foi reputada como inviaacutevel dentro da estruturahospitalar da eacutepoca Menos de uma deacutecada depois todavia embora natildeo existam aindahoje instalaccedilotildees ideais em termos de conforto jaacute natildeo se cogita mais internar crianccedilas ouadolescentes sem lhes assegurar a permanecircncia de um dos responsaacuteveis Demonstrou-se

com isso que muitas das resistecircncias agrave implementaccedilatildeo de direitos satildeo bem mais culturaispor haacutebito ou falta de vontade poliacutetica do que propriamente por reais inviabilidadesfinanceiras ou operacionais Vive-se atualmente similar situaccedilatildeo quanto agrave previsatildeo deacompanhante para o idoso ou a gestante em trabalho de parto

Em relaccedilatildeo ao planejamento e orccedilamento a propoacutesito outro argumento habitual doEstado-reacuteu diz respeito justamente agrave impossibilidade de deslocamento de verbas natildeoprevistas na organizaccedilatildeo orccedilamentaacuteria dentro do Sistema Uacutenico de Sauacutede ou de outrasaacutereas para este sob pena de responsabilizaccedilatildeo fiscal Nessa seara poreacutem o artigo 36

paraacutegrafo 2ordm da Lei ndeg 808090 eacute enfaacutetico ao estabelecer que ldquoEacute vedada a transferecircnciade recursos para o financiamento de accedilotildees natildeo previstas nos planos de sauacutede exceto emsituaccedilotildees emergenciais ou de calamidade puacuteblica na aacuterea de sauacutederdquo (grifou-se)

Para exercer suas atividades o Sistema Uacutenico de Sauacutede conta com inuacutemeras outras normasgestoras ndash natildeo apenas leis de acircmbito nacional mas tambeacutem Portarias e normas de acircmbitoestadual e local ndash que detalham essa atuaccedilatildeo Assim eacute que por exemplo a Portaria nordm

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3916 de 30 de outubro de 1998 estabelece a Poliacutetica Nacional de Medicamentos a serauxiliada por normas outras como a Lei ndeg 978799 dita ldquoLei dos Geneacutericosrdquo definindoo medicamento geneacuterico como aquele similar a um produto de referecircncia ou inovadorque se pretende ser com este intercambiaacutevel geralmente produzido apoacutes a expiraccedilatildeo ou

renuacutencia da proteccedilatildeo patentaacuteria ou de outros direitos de exclusividade comprovada a suaeficaacutecia seguranccedila e qualidade

Prevecirc-se ainda que esses medicamentos devem ser preferidos no acircmbito do SUSpelo custo e acrescente-se pela impessoalidade mesma que deve caracterizar a atuaccedilatildeoadministrativa estatal desaconselhando a preferecircncia por produtos de laboratoacuterios oumarcas determinados em detrimento de produtos de denominaccedilatildeo comum brasileira ouna sua falta internacional a indicar maior neutralidade em prestaccedilatildeo equivalente

Jaacute se tem aiacute um paracircmetro a nortear as prescriccedilotildees e decisotildees na mateacuteria deve a prestaccedilatildeofarmacoloacutegica do Sistema Uacutenico de Sauacutede se pautar pelo fornecimento de medicaccedilotildees quedentre as que contecircm a substacircncia ativa necessaacuteria atendam agraves necessidades de eficaacuteciae seguranccedila poreacutem com menor custo maior impessoalidade e generalidade pois natildeoassociada a marca especiacutefica O uso racional desses recursos passa ainda pela orientaccedilatildeodos meacutedicos na criteriosa avaliaccedilatildeo das medicaccedilotildees prescritas privilegiando dentro deum paracircmetro de equivalecircncia aquelas jaacute constantes fornecimento regular pelo Sistema 16

16 Os produtos padronizados constam da Relaccedilatildeo Nacional de Medicamentos Essenciais (RENAME) Nosentido de promover a observacircncia da lista cita-se por exemplo a Portaria Estadual nordm 1475BA publicadano Diaacuterio Oficial do Estado de 300908 que ldquoConstitui Grupo de trabalho no acircmbito do SUS com oescopo de elaborar orientaccedilotildees e diretrizes aos profissionais meacutedicos no sentido de esgotarem as alternativasde faacutermacos previstas nos Protocolos Cliacutenicos e Diretrizes erapecircuticas do Ministeacuterio da Sauacutede e demais atosque lhe forem complementares antes de prescrever tratamento medicamentoso diverso aos pacientes nostermos da Notificaccedilatildeo Recomendatoacuteria 0022007 da Promotoria de Justiccedila e da Cidadania do MinisteacuterioPuacuteblico do Estado da Bahiardquo De acordo com a Organizaccedilatildeo Mundial da Sauacutede - OMS (Nairobi Quecircnia1985) ldquoHaacute uso racional quando pacientes recebem medicamentos apropriados para suas condiccedilotildees cliacutenicasem doses adequadas agraves suas necessidades individuais por um periacuteodo adequado e ao menor custo para si e

para a comunidaderdquo Segundo o Ministeacuterio da Sauacutede o uso racional de medicamentos consiste no ldquoprocessoque compreende a prescriccedilatildeo apropriada a disponibilidade oportuna e a preccedilos acessiacuteveis a dispensaccedilatildeoem condiccedilotildees adequadas e o consumo nas doses indicadas nos intervalos definidos e no periacuteodo de tempoindicado de medicamentos eficazes seguros e de qualidaderdquo (BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria dePoliacuteticas de Sauacutede Departamento de Atenccedilatildeo Baacutesica Poliacutetica nacional de medicamentos 2001Ministeacuterio daSauacutede Secretaria de Poliacuteticas de Sauacutede Departamento de Atenccedilatildeo Baacutesica ndash Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede2001 ambeacutem disponiacutevel em lthttpwwwopasorgbrmedicamentossiteUploadArqpnmpdfgtacessado em 02out08) Outros programas para estimular o uso racional de medicamentos encontram-sena paacutegina eletrocircnica do Ministeacuterio da Sauacutede (httpportalsaudegovbrportalsaudeareacfmid_area=1141acessado em 05out08)

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A alocaccedilatildeo de medicamentos no paiacutes estaacute dividida segundo o Ministeacuterio da Sauacutede em trecircscategorias baacutesicas17 medicamentos baacutesicos ou essenciais ldquopertencentes a um elenco miacutenimoobrigatoacuterio a ser dispensado na atenccedilatildeo baacutesicardquo ou na dicccedilatildeo legal aqueles consideradosldquobaacutesicos e indispensaacuteveis para atender a maioria dos problemas de sauacutede da populaccedilatildeordquo

previstos na Portaria do Ministeacuterio da Sauacutede nordm 32372007 medicamentos estrateacutegicosutilizados em programas especiacuteficos do Ministeacuterio da Sauacutede como aqueles de combateagrave AIDS tuberculose hanseniacutease diabetes doenccedila de Chagas malaacuteria coagulopatias eoutras conforme Portaria do Ministeacuterio da Sauacutede nordm 2042007 e medicamentos dedispensaccedilatildeo especial ou excepcional eacute dizer aqueles geralmente de alto custo destinadosa patologias especiacuteficas e complexas que atingem um nuacutemero limitado de pacientes parauso prolongado Esses procedimentos e recursos terapecircuticos encontravam-se arroladosna Portaria do Ministeacuterio da Sauacutede nordm 25772006 Eacute de se observar que sendo essauacuteltima uma das categorias mais solicitadas judicialmente e mais associadas com a evoluccedilatildeo

biotecnoloacutegica chama a atenccedilatildeo o fato de ter sido por muito tempo justamente aPortaria mais antiga deixando margem agrave criacutetica de provaacutevel desatualizaccedilatildeo em relaccedilatildeo aosavanccedilos atuais tendo sido atualizada pela Portaria GMMS 18692008 e revogada pelaPortaria GMMS 1062009 tambeacutem jaacute revogada A mateacuteria tambeacutem sofreu alteraccedilotildeespelas Portarias 2981 de 26 de novembro de 2009 Portaria 343GMMS de 22 defevereiro de 2010 Portaria 3439MS de 11 de novembro de 2010 e atualmente pelosPCD (PROOCOLOS CLIacuteNICOS E DIRERIZES ERAPEcircUICAS) a indicarparacircmetros de abordagem e tratamento para cada patologia

Analisando-se os montantes empregados em cada uma das categorias verifica-se que os

17 MELLO Dirceu Raposo et al op cit p 27-28 SALAZAR Andrea Lazzarini GROU Karina Bozola ADefesa da Sauacutede em Juiacutezo eoria e Praacutetica Satildeo Paulo Verbatim 2009 p 112-113

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gastos com medicamentos especiais superam em muito aqueles com medicaccedilotildees baacutesicas18 Dentre os medicamentos estrateacutegicos ndash responsaacuteveis pelo maior volume de custos commedicaccedilotildees entre os trecircs grupos na segunda metade da deacutecada passada ndash aqueles dirigidosao programa de HIVAIDS sofreram acreacutescimo substancial em 2006 ante as novas drogas

incorporadas ao cataacutelogo farmacoloacutegico de tratamento da doenccedila passando a representarsozinhos quase uma vez e meia o gasto com todas as demais drogas estrateacutegicas

Mais uma vez fica evidente que prevenir aleacutem de melhor sai bem mais barato que

18 Segundo quadro comparativo elaborado em MELLO Dirceu Raposo et al op cit p 28-29 a partirde dados do Ministeacuterio da Sauacutede os gastos com medicamentos baacutesicos em 2006 foram da ordem de 290milhotildees de reais representando 67 dos gastos com medicaccedilatildeo ao passo que o montante despendido commedicamentos de dispensaccedilatildeo especial alcanccedilaram a cifra de um bilhatildeo 355 milhotildees de reais equivalendoa 32 do orccedilamento para a aacuterea Dentre os medicamentos estrateacutegicos aqueles destinados ao programade DSAIDS custaram aos cofres puacuteblicos naquele ano 960 milhotildees de reais enquanto no ano anteriorrepresentaram despesa de 550 milhotildees de reais Cumpre assinalar que o programa de fornecimento gratuitode medicaccedilotildees antirretrovirais aos portadores de HIV no paiacutes eacute elogiado em todo o mundo pela iniciativapioneira na aacuterea apontada como exemplo na universalizaccedilatildeo do tratamento e inclusatildeo a esses pacientes A Leique cuida da mateacuteria ndash Lei ndeg 931396 ndash foi acompanhada por uma seacuterie de decisotildees judiciais proacute direitoagrave sauacutede determinando o efetivo provimento das medicaccedilotildees e sua atualizaccedilatildeo conforme o estado cientiacuteficomundial nos termos da redaccedilatildeo legal Nesse sentido se assinala entre outros o seguinte acoacuterdatildeo provenientedo Supremo ribunal Federal defendendo a aplicabilidade imediata das normas relativas ao direito agravesauacutede PACIENE COM HIVAIDS ndash PESSOA DESIUIacuteDA DE RECURSOS FINANCEIROS ndashDIREIO Agrave VIDA E Agrave SAUacuteDE ndashFORNECIMENO GRAUIO DE MEDICAMENOS ndash DEVERCONSIUCIONAL DO PODER PUacuteBLICO (CF ARS 5ordm CAPU E 196) O DIREIO Agrave SAUacuteDEREPRESENA CONSEQUumlEcircNCIA CONSIUCIONAL INDISSOCIAacuteVEL DO DIREIO Agrave VIDA

O direito puacuteblico subjetivo agrave sauacutede representa prerrogativa juriacutedica indisponiacutevel assegurada agrave generalidadedas pessoas pela proacutepria Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica (art 196) raduz bem juriacutedico constitucionalmentetutelado por cuja integridade deve velar de maneira responsaacutevel o Poder Puacuteblico a quem incumbe formularndash e implementar ndash poliacuteticas sociais e econocircmicas idocircneas que visem a garantir aos cidadatildeos inclusive agravequelesportadores do viacuterus HIV o acesso universal e igualitaacuterio agrave assistecircncia farmacecircutica e meacutedico-hospitalar Odireito agrave sauacutede ndash aleacutem de qualificar-se como direito fundamental que assiste a todas as pessoas ndash representaconsequumlecircncia constitucional indissociaacutevel do direito agrave vida O Poder Puacuteblico qualquer que seja a esfera institucionalde sua atuaccedilatildeo no plano da organizaccedilatildeo federativa brasileira natildeo pode mostrar-se indiferente ao problema da sauacutededa populaccedilatildeo sob pena de entender ainda que por censuraacutevel omissatildeo em grave comportamento inconstitucional(AGRRE nordm 271286-RS Rel Min Celso de Mello SF DJ 241100 p 101)

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176 DEFENSORIA PUacuteBLICA DA UNIAtildeO Escola Superior

remediar 19

Fato eacute queNenhum paiacutes ateacute o momento conseguiu estabelecer um limite oacutetimode gasto financeiro para melhorar a sauacutede de seus cidadatildeos os EUA

gastam 146 do PIB com sauacutede sendo o Estado responsaacutevel por449 desse total e 5 dos gastos puacuteblicos com sauacutede dizem respeitoaos medicamentos Ainda sobre os EUA dados de domiacutenio puacuteblicoinformam que cerca de 50 milhotildees de cidadatildeos natildeo tecircm acesso aosserviccedilos de sauacutede No Brasil os gastos com sauacutede correspondem agrave cifrade 79 do PIB sendo que o setor puacuteblico eacute responsaacutevel por 459desses gastos e os medicamentos representam 74 desses gastospuacuteblicos20

Sem duacutevida a garantia adequada do direito agrave sauacutede natildeo constitui um problema apenaspara os paiacuteses em desenvolvimento embora nesses falte o acesso ao que haacute de mais baacutesicopossiacutevel para a manutenccedilatildeo e a recuperaccedilatildeo da sauacutede ambeacutem os paiacuteses desenvolvidos

19 Aleacutem das despesas jaacute esperadas com tais medicamentos avultam ainda os gastos decorrentes de processos judiciais A esse respeito notiacutecia veiculada em setembro de 2008 na imprensa deu conta de que ldquoEntre2005 e 2008 o governo federal aumentou em 1820 (quase 20 vezes) as despesas decorrentes de ordens

judiciais que obrigam a Uniatildeo a pagar por medicamentos especiais Apenas na primeira metade deste anoforam gastos pelo governo federal por ordem da Justiccedila R$ 48 milhotildees nesses tratamentos Em 2005 oinvestimento foi de R$ 25 milhotildeesrdquo ambeacutem foi informado que ldquoa cada mecircs Satildeo Paulo gasta R$ 400milhotildees com remeacutedios obtidos pelos doentes mediante ordem judicial e que natildeo satildeo fornecidos pelo SUS Asituaccedilatildeo natildeo eacute muito diferente no Rio Grande do Sul Foram R$ 31 milhotildees com accedilotildees judiciais envolvendomedicamentos em 2006 e R$ 50 milhotildees em 2007 e a previsatildeo eacute de que sejam gastos R$ 150 milhotildees nesteano ndash o equivalente a um terccedilo do total de recursos de custeio dos programas da Secretaria Estadual deSauacutederdquo Dentro desses valores apurou-se ainda a ocorrecircncia de fraudes envolvendo meacutedicos e advogadosque mediante pedidos judiciais providos teriam resultado em prejuiacutezo de R$ 63 milhotildees aos cofrespuacuteblicos (REZZI Humberto Sauacutede Aumento no gasto do governo em remeacutedios especiais eacute investigadoPromotores e policiais suspeitam que quadrilhas falsificariam atestados para obrigar a Uniatildeo a fornecermedicamentos de alto custo a pacientes por via judicial Jornal Zero Hora Porto Alegre ediccedilatildeo ndeg 15734

Disponiacutevel em lthttpzerohoraclicrbscombrzerohorajspdefault2jspuf=1amplocal=1ampsource=a2195502xmlamptemplate=3898dwtampedition=10739ampsection=1003gt acessado em 12out08) Deduz-se daiacute queconquanto via relevantiacutessima para o controle do atendimento do direito fundamental agrave sauacutede a prestaccedilatildeo

jurisdicional haacute de ser particularmente cautelosa na anaacutelise de tais pleitos sobretudo quando em sede deprovimentos liminares por natildeo se poder desconsiderar o grave impacto que essas decisotildees tecircm tomado noorccedilamento sanitaacuterio Eacute imprescindiacutevel entatildeo sempre que possiacutevel e especialmente quando o fornecimentoeacute feito a entidades privadas sobre as quais incide menor controle na utilizaccedilatildeo desses recursos a realizaccedilatildeode periacutecia meacutedica judicial a constatar a efetiva necessidade e infungibilidade do recurso demandado naquelecaso concreto20 MELLO Dirceu Raposo et al op cit p 23

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tecircm problemas para assegurar os cuidados de sauacutede esperados pela populaccedilatildeo situaccedilatildeoque se agrava progressivamente com o envelhecimento da populaccedilatildeo (com suas conhecidasconsequecircncias para o equiliacutebrio previdenciaacuterio) e com o desenvolvimento crescente dosrecursos farmacecircuticos e biotecnoloacutegicos criando patamares cada vez mais elevados de

atenccedilatildeo agrave sauacutede21

Elevou-se a qualidade e a quantidade de vida o que eacute um aspectoinegavelmente positivo mas que gera outrossim consequecircncias de difiacutecil equiliacutebrioeconocircmico

4 DEMANDAS JUDICIAIS EM SAUacuteDE COMO AVANCcedilAR EM DIRECcedilAtildeO

AO QUE PARECE NAtildeO ER SAIacuteDA

Questionado sobre formas de viabilizaccedilatildeo de um sistema puacuteblico de sauacutede dentro dessecontexto ponderou primeiramente Diego Gracia 22 que quem tem receituaacuterio fazalocaccedilatildeo Com efeito Ao fazer uma mera prescriccedilatildeo individual o meacutedico estaacute a indicarali os paracircmetros para o exerciacutecio do direito agrave sauacutede pelo paciente Eacute para alcanccedilar orecurso prescrito que o cidadatildeo vai agrave Justiccedila pleitear ao Estado ou ao plano de sauacutede queo forneccedila Eacute na prescriccedilatildeo que se baseia o Juiz quando antecipa uma tutela mesmo antes

de ouvir a parte adversa na convicccedilatildeo de que haacute urgecircncia no acesso agravequele recurso

Mister assim para racionalizar o uso de medicamentos e recursos no SUS orientar eracionalizar tambeacutem as prescriccedilotildees meacutedicas de modo que sem sacrificar a sauacutede dopaciente tampouco se sacrifique indevidamente o Sistema organizado para protegecirc-lae garanti-la Nesse ponto erige-se a validade de se pensar um trabalho conjunto comorganizaccedilotildees profissionais como uma outra vertente para a maior efetivaccedilatildeo na prestaccedilatildeo

21

Nesse sentido cf a obra AARON Henry J SCHWARZ William B Te Painful Prescriptionhellipreferente sobretudo aos Estados Unidos e agrave Inglaterra mas que tambeacutem menciona a situaccedilatildeo de outros paiacutesesdesenvolvidos como a Franccedila e o Canadaacute ambeacutem trata do assunto entre outros PENCHASZADEHVictor Bioeacutetica y medicina social Una confluencia necesaria Revista Brasileira de Bioeacutetica BrasiacuteliaSociedade Brasileira de Bioeacutetica v 3 n 2 p 129-149 2007 p 137 Destaque-se outrossim a recentepolecircmica envolvendo o governo americano do Presidente Barack Obama ante a perspectiva de maiordemocratizaccedilatildeo do acesso agrave sauacutede em confronto com o arcabouccedilo tendencialmente liberal da poliacutetica daqueleEstado no setor ateacute entatildeo22 GRACIA Diego Bioeacutetica Cliacutenica e Contexto Social In VII CONGRESSO BRASILEIRO DEBIOEacuteICA Satildeo Paulo 2007 Conferecircncia

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178 DEFENSORIA PUacuteBLICA DA UNIAtildeO Escola Superior

e cobranccedila do direito agrave sauacutede

A especial atenccedilatildeo aos preceitos da Medicina Baseada em Evidecircncias devidamentefundamentada em relatoacuterios e prescriccedilotildees acurados com a cuidadosa anaacutelise e

demonstraccedilatildeo de eficaacutecia seguranccedila e eficiecircncia23

quer no geral quer no caso concretotambeacutem satildeo de grande valia para a atuaccedilatildeo coerente e racional na aacuterea inclusive a fim deevitar que o assistido seja engolfado por esperanccedilas vatildes de resultados temeraacuterios tentativasheroicas sem perspectivas reais e pesquisas multinacionais em larga escala que exacerbamsua vulnerabilidade e fragilizam a credibilidade dos pedidos judiciais no setor Nessecontexto mister evitar tambeacutem pedidos irrazoaacuteveis natildeo factiacuteveis na praacutetica ou opccedilotildees

23 Embora costumeiramente usadas de forma equivalente as expressotildees eficaacutecia eficiecircncia e efetividade tecircmsignificados teacutecnicos especiacuteficos na seara da MBE Nesse sentido a seguranccedila mencionada implica a anaacutelisede que os danos colaterais possiacutevel sejam inferiores aos benefiacutecios oferecidos com seu uso para o fim a quese propotildee A eficaacutecia consiste na evidecircncia de ter o recurso prescrito comprovado efeito beneacutefico para aquelecaso (ldquofazem o que se propotildeem a fazerrdquo ndash na expressatildeo de VIEIRA Fabiacuteola Sulpino op cit p365-369)evitando-se os chamados ldquoprodutos de complacecircnciardquo ndash sem eficaacutecia comprovada mas prescritos por insistecircnciado paciente ou por pressatildeo do marketing industrial por exemplo ndash bem como os atos aparentemente cliacutenicosmas que se mostram em verdade experimentais visto que natildeo validados de nenhuma forma cientificamente

aceita a qual permita asseveraacute-los como realmente producentes e seguros A efetividade propriamente dita corresponde agrave eficaacutecia e agrave eficiecircncia em condiccedilotildees reais de sorte a evitar desperdiacutecios Eacute dizer que os produtoseleitos ldquofazem o que se propotildeem a fazer quando utilizados pelas pessoas em condiccedilotildees reais e natildeo em gruposhomogecircneos que constituem os grupos de pessoas dos ensaios cliacutenicosrdquo (idem ibidem) Por fim a eficiecircnciaou custo-efetividade envolve a avaliaccedilatildeo da relaccedilatildeo custobenefiacutecio de modo a se constatar a substancialvantagem de dado recurso em relaccedilatildeo a outro observadas a eficaacutecia e a efetividade propriamente ditaSignifica dizer que o produto em questatildeo ldquoentre as alternativas disponiacuteveis faz o que se propotildee a fazer paraas pessoas em condiccedilotildees reais ao menor custordquo (idem ibidem) Embora conceitos mais utilizados no acircmbitoeconocircmico e de macroalocaccedilatildeo de recursos acabam repercutindo na microalocaccedilatildeo individual ao requerermaior comprovaccedilatildeo quando de pedido que natildeo leve em consideraccedilatildeo tais subprinciacutepios Segundo a ANVISAtem-se a efetividade como ldquogarantia de medicamentos eficazes eou efetivos e seguros cuja relaccedilatildeo risco-benefiacutecio seja favoraacutevel e comprovada a partir das melhores evidecircncias cientiacuteficas disponiacuteveis na literatura

e com registro aprovado na Agecircncia Nacional de Vigilacircncia Sanitaacuteria (ANVISA)rdquo e a eficiecircncia como aldquogarantia de medicamentos que proporcionem a melhor resposta terapecircutica aos usuaacuterios com os menorescustos para o SUSrdquo (Lei 124012011 e pela Resoluccedilatildeo 01 do Ministeacuterio da Sauacutede de 17 de janeiro de2012) Eacute fato que considerando os escores da Medicina baseada em evidecircncia alega o Estado de praxe quea experiecircncia do meacutedico prescritor isoladamente e mesmo do perito judicial natildeo teriam niacutevel de sustentaccedilatildeocientiacutefica bastante para subsidiar a concessatildeo de medicaccedilatildeo natildeo padronizada pelo SUS todavia considerandoos requisitos de antecipaccedilatildeo de tutela pode conter se bem fundamentada em estudos outros de indicaccedilatildeoseguranccedila eficaacutecia efetividade e eficiecircncia elementos suficientes de verossimilhanccedila aleacutem de representara realidade daquele indiviacuteduo preocupando-se em registrar inclusive a ausecircncia de resposta ou indicaccedilatildeoquanto agraves outras opccedilotildees disponiacuteveis haja vista que como se costuma constatar a resposta individual nemsempre corresponde agravequela epidemiologicamente esperada

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comerciais especiacuteficas substituiacuteveis por equivalentes terapecircuticos disponiacuteveis no SUS24

Outro aspecto a ser sopesado eacute o modo e o conteuacutedo como feitos os pedidos na medida emque a proteccedilatildeo ao direito agrave sauacutede de um deve considerar a existecircncia de outros envolvidos

na alocaccedilatildeo de recursos diante da escassez real Exemplo disso satildeo os pedidos de vagaou de prioridade em filas de transplantes que necessariamente envolvem o cotejo comoutros afetados que natildeo satildeo parte no processo Natildeo raro se tem notiacutecia de comandos deprisatildeo a gestores hospitalares que tecircm todos os seus leitos ocupados por natildeo disporem devagas Inegaacutevel a falha estatal na espeacutecie mas ela natildeo pode ser resolvida com o comandoainda que indireto de retirada de pacientes que ainda necessitem do leito e cuidados paraalocaccedilatildeo de outro dotado de comando judicial Opccedilatildeo nesse caso eacute o pedido subsidiaacuteriode alocaccedilatildeo em unidades privadas agraves expensas do Estado natildeo por mera opccedilatildeo do enfermomas se natildeo houver leitos disponiacuteveis nas unidades puacuteblicas

Do ponto de vista estatal eacute mister o ajuste constante das poliacuteticas puacuteblicas de sortea mantecirc-las condizentes com as carecircncias da comunidade e atualizadas dentro dasmargens de efetividade terapecircutica a fim de se tentar com isso minorar a necessidade deintervenccedilotildees judiciais suplementares na aacuterea aleacutem de favorecer o proacuteprio funcionamentoadequado do Sistema em conformidade com seus princiacutepios gestores e com as previsotildeese garantias constitucionais sem acarretar a falecircncia do Sistema nem converter o direitouniversal agrave sauacutede em mera retoacuterica demagoacutegica

Nesse contexto a atuaccedilatildeo e participaccedilatildeo equilibrada da Defensoria junto a oacutergatildeos puacuteblicose conselhos interdisciplinares pode ser de grande valia para uma maior eficaacutecia na soluccedilatildeo

24 Em palestra proferida do II Foacuterum Brasileiro sobre Assistecircncia Farmacecircutica e Farmacoeconomia ocorridoem setembro de 2014 em Salvador-Bahia com a presenccedila de gestores puacuteblicos membros do JudiciaacuterioMinisteacuterio Puacuteblico Defensoria Puacuteblica e Advogados Puacuteblicos a representante paulista do CONASS(Conselho Nacional dos Secretaacuterios de Sauacutede) apresentou demonstrativo de pedidos em demandas judiciaissanitaacuterias contra o Estado e o Municiacutepio de Satildeo Paulo em que incluiacutedos itens como ldquoleite de cabra frescordquondash o qual resultou descumprido por absoluta ausecircncia de resposta agrave licitaccedilatildeo simplificada para localizar

detentores de cabras na cidade de Satildeo Paulo Nessa ocasiatildeo tambeacutem mostrou a palestrante estudo feitoquanto agraves 41000 accedilotildees judiciais em sauacutede atendidas por aqueles entes naquele ano tendo-se verificado quecerca de 70 delas se pautavam em prescriccedilotildees particulares 93 envolviam medicamentos extraordinaacuteriosao SUS sendo que aproximadamente 5 envolviam produtos importados sem registro na ANVISA 50envolviam itens de produtores exclusivos e cerca de 25 marcas especiacuteficas mesmo para itens simples comofraldas descartaacuteveis A franca maioria dos pedidos natildeo tivera solicitaccedilatildeo administrativa preacutevia sabendo oEstado do pleito jaacute em sede de antecipaccedilatildeo de tutela com prazo estrito para o fornecimento ainda que comfundamentaccedilatildeo cliacutenica escassa inclusive quanto agrave premecircncia do pedido (SIQUEIRA Paula Sue Facundo deDireito Sanitaacuterio a interface entre Judiciaacuterio e Sauacutede na utilizaccedilatildeo dos PDC II FOacuteRUM BRASILEIROSOBRE ASSISEcircNCIA FARMACEcircUICA E FARMACOECONOMIA Salvador 2014 Mesa Redonda)

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administrativa das questotildees reduzindo-se o quantitativo de demandas judiciais na espeacuteciee democratizando o acesso agrave sauacutede mesmo agravequeles que natildeo chegam agrave Defensoria Nesseuacuteltimo aspecto tambeacutem a atuaccedilatildeo mediante Accedilatildeo Civil Puacuteblica visando agrave atualizaccedilatildeodas listas de fornecimento ou denunciando carecircncias e esperas irrazoaacuteveis por exemplo

parece recurso de relevante monta para uma melhor prestaccedilatildeo no setor

Possibilidade de uma maior funcionalidade administrativa tambeacutem pode ser tentadamediante atuaccedilatildeo de profissional25 direcionado agrave aacuterea das crescentes demandas em sauacutedenas unidades defensoriais de sorte a direcionar melhor a instruccedilatildeo dos pedidos jaacute seorientando o tipo de relatoacuterio e informaccedilotildees necessaacuterios aleacutem de empreender contatodireto com os oacutergatildeos puacuteblicos de regulaccedilatildeo em sauacutede estreitando relaccedilotildees com a Secretariade Sauacutede do Estado e seus oacutergatildeos a exemplo da Central de Regulaccedilatildeo de Vagas

Propotildee-se com isso ampliar o quantitativo de resoluccedilotildees administrativas mais ceacutelerese menos custosas reservando a necessidade de intervenccedilotildees juriacutedicas agraves situaccedilotildees emque havendo a previsatildeo do fornecimento natildeo se consegue obtecirc-lo por maacute prestaccedilatildeoadministrativa ndash o que demonstrado por melhor instruccedilatildeo inicial sugere levar amelhores iacutendices de sucesso jaacute em sede antecipatoacuteria ndash ou nas situaccedilotildees de recursos natildeoincluiacutedos no rol de fornecimento do SUS (em que pese o limitante dos artigos 2ordm e 19da Lei 124012011) Nesse caso uacuteltimo jaacute se busque tambeacutem instruir o pedido com osdemonstrativos da eficaacutecia seguranccedila e indicaccedilatildeo da medida reclamada bem assim de

ausecircncia de resposta agraves drogas rotineiramente disponibilizadas ou indicadas nos PCDnos termos inclusive do quanto preconizado em reiterados Enunciados e Recomendaccedilotildeesdo CNJ (4 11 14 15 16 31) e precedentes jurisprudenciais relevantes como a SA175 de relatoria do Min Gilmar Mendes sobre a mateacuteria

O que se vislumbra de negativo em tal proposta eacute que eventual reduccedilatildeo da judicializaccedilatildeofaccedila supor uma maior eficiecircncia na prestaccedilatildeo estatal em sauacutede o que nem semprecorresponde agrave verdade obtendo-se o ecircxito em casos individuais atraveacutes da persistecircnciaempedernida do oacutergatildeo defensorial ateacute que a proacutexima situaccedilatildeo se apresente Como aspecto

25 entativa semelhante tem sido implementada ao longo do uacuteltimo ano na unidade baiana daDefensoria Puacuteblica da Uniatildeo por iniciativa da chefia que tambeacutem titulariza o ofiacutecio de tutelacoletiva mediante o destacamento de Assistente Social com experiecircncia na conduccedilatildeo de demandasem sauacutede e com o intuito de melhorar a assistecircncia em tais demandas ante o crescimentoexponencial de seu nuacutemero no quinquecircnio antecedente Os resultados tecircm-se mostrado prima facie positivos com aparente aumento do nuacutemero de deslindes extrajudiciais e maior quantitativode antecipaccedilotildees de tutela obtidas nas accedilotildees propostas embora ainda sem dados coligidos esistematizados a respeito

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positivo por oacutebvio todas as vantagens da resoluccedilatildeo administrativa

Outro recurso a ser considerado como dito como opccedilatildeo agraves muacuteltiplas accedilotildees individuaissatildeo as accedilotildees de natureza coletiva visando agrave efetiva disponibilizaccedilatildeo de procedimentos

oferecidos formalmente mas cuja demora na prestaccedilatildeo torna na praacutetica insustentaacutevela espera ais accedilotildees sob o ponto de vista pragmaacutetico todavia nem sempre tecircm comoobter resultados concretos imediatos mas frutos de uma atuaccedilatildeo combativa criacuteticae politicamente atuante satildeo relevante termocircmetro acerca do modo como estatildeo sendogeridos os recursos em sauacutede advertindo para a necessidade de se dar concretude ao direitoconstitucionalmente reconhecido incentivando da maneira mais pertinente o sistemade checks and balances reservando-se as accedilotildees individuais para situaccedilotildees especiacuteficas denecessidade incontornaacutevel e sem perspectiva de resoluccedilatildeo natildeo litigiosa

Por fim sempre cabiacutevel lembrar que o momento da urgecircncia do plantatildeo do riscoiminente de vida eacute sempre o pior momento para avaliar o que fazer culminando-seem accedilotildees accedilodadas por vezes mal instruiacutedas natildeo raro em duplicidade nas instacircnciasestadual e federal com riscos para o paciente ou de desperdiacutecio de recursos puacuteblicos ouainda de descreacutedito para a instituiccedilatildeo Importante assim discutirem-se as abordagenspossiacuteveis criando-se orientaccedilotildees de conduta que de antematildeo auxiliem na organizaccedilatildeo dopensamento e na escolha das vias cabiacuteveis para ajudar o requerente ndash vulnerado quer pelahipossuficiecircncia econocircmica quer pela enfermidade ou na maioria das vezes por ambas

ndash da forma mais promissora e adequada possiacutevel

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Natildeo haacute por oacutebvio respostas faacuteceis na mateacuteria O objetivo do texto foi sobretudo chamar

atenccedilatildeo para aspectos nem sempre vistos na lida cotidiana do Defensor imbuiacutedo da visatildeodo assistido e suas anguacutestias premido pelo tempo sem que tenha por vezes sequercondiccedilatildeo de distanciar-se para um olhar mais imparcial

odavia tais distanciamento e compreensatildeo mostram-se necessaacuterios agrave instituiccedilatildeo afim de redirecionar a busca a mecanismos alternativos para o impasse da sauacutede comodireito simultaneamente individual e social sujeito agraves premecircncias pessoais mas tambeacutem

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agraves limitaccedilotildees de uma prestaccedilatildeo coletiva a exemplo da proacutepria escassez real (e aiacute misterdistinguir o mero argumento da escassez e da reserva do possiacutevel em contraposiccedilatildeo agravecomprovada inviabilidade de produccedilatildeo ou fornecimento a exemplo do nuacutemero de vagasimediatas em UI de um hospital puacuteblico ou a disponibilidade de oacutergatildeos compatiacuteveis para

transplante) e da inevitabilidade da alocaccedilatildeo de recursos o que natildeo eacute dado a ningueacutemresponsavelmente negar

Apenas a tiacutetulo de pensamento inicial sugerir-se-ia o desenvolvimento de incremento nastentativas de resoluccedilatildeo extrajudicial a exemplo de maior contato com a Administraccedilatildeo ndash aquem tambeacutem interessa a reduccedilatildeo das lides diminuindo gastos a varejo ndash e com oacutergatildeosde prestaccedilatildeo de sauacutede puacuteblica e de orientaccedilatildeo profissional meacutedica com vistas a analisar aeficaacutecia indicaccedilatildeo e seguranccedila de determinados recursos terapecircuticos subsidiando melhoros pedidos e melhorando os iacutendices de deferimento na espeacutecie que lamentavelmente

comeccedilam a declinar talvez movidos pelo perigo da dessensibilizaccedilatildeo do Judiciaacuterio ante aprofusatildeo de pedidos no setor reservando-se a atuaccedilatildeo judicial para situaccedilotildees de insucessoadministrativo reconhecido considerada a premecircncia e a comprovada necessidade ouatuaccedilotildees de iacutendole coletiva de pressatildeo poliacutetica para assegurar a melhor prestaccedilatildeo dodireito constitucional

Satildeo apenas reflexotildees incipientes mas ficam a semente da ideia o desafio que a questatildeorepresenta e o chamado ao compromisso coletivo de desenvolvecirc-las em prol do cidadatildeo

da efetividade constitucional e da atuaccedilatildeo mais consciente precisa e exitosa possiacutevel porparte da Defensoria Puacuteblica na defesa ao direito fundamental agrave sauacutede

REFEREcircNCIAS

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CANOILHO J J Gomes Direito Constitucional e eoria da Constituiccedilatildeo 7edCoimbra Almedina [2003]

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SALAZAR Andrea Lazzarini GROU Karina Bozola A Defesa da Sauacutede em Juiacutezo

eoria e Praacutetica Satildeo Paulo Verbatim 2009SCHWARZ Germano Direito agrave Sauacutede Efetivaccedilatildeo em uma Perspectiva SistecircmicaPorto Alegre Livraria do Advogado 2001

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SRECK Lecircnio Luiz MORAIS Joseacute Luiacutes Bolzan de Ciecircncia poliacutetica e teoria geral do

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AVARES Andreacute Ramos Curso de Direito Constitucional 2ed Satildeo Paulo Saraiva 2003

REZZI Humberto Sauacutede Aumento no gasto do governo em remeacutedios especiais eacuteinvestigado Promotores e policiais suspeitam que quadrilhas falsificariam atestados paraobrigar a Uniatildeo a fornecer medicamentos de alto custo a pacientes por via judicial JornalZero Hora Porto Alegre ediccedilatildeo ndeg 15734 disponiacutevel em lthttpzerohoraclicrbscombrzerohorajspdefault2jspuf=1amplocal=1ampsource=a2195502xmlamptemplate=3898dwtampedition=10739ampsection=1003gt acessado em 12out08

VIEIRA Fabiacuteola Sulpino Accedilotildees judiciais e direito agrave sauacutede reflexatildeo sobre a observacircnciaaos princiacutepios do SUS Rev Sauacutede Puacuteblica v 42 n 2 p 365-369 abr 2008

VILLAS-BOcircAS Maria Elisa Alocaccedilatildeo de Recursos em Sauacutede quando a realidade e osdireitos fundamentais se chocam 2009 425 f ese (Doutorado em Direito Puacuteblico) ndashFaculdade de Direito Universidade Federal da Bahia Salvador 2009

______ O Direito agrave Sauacutede no Brasil reflexotildees bioeacuteticas agrave luz do princiacutepio da justiccedilaSatildeo Paulo Loyola 2014

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SUMAacuteRIO

1 INRODUCcedilAtildeO 2 A SAUacuteDE ENRE O ldquoLUXOrdquo E O ldquoLIXOrdquo 3 ADISCIPLINA SANIAacuteRIA E OS PRINCIacutePIOS NO SISEMA UacuteNICO DE SAUacuteDE

4 DEMANDAS JUDICIAIS EM SAUacuteDE COMO AVANCcedilAR EM DIRECcedilAtildeO AOQUE PARECE NAtildeO ER SAIacuteDA 5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

1 INRODUCcedilAtildeO

Cada vez mais frequentemente chegam ao Judiciaacuterio demandas relacionadas a questotildees desauacutede Cada vez mais frequentemente se busca do Estado mediante a instacircncia judicial(e natildeo raro pelas matildeos da Defensoria Puacuteblica Federal) respostas e soluccedilotildees para desafiosmeacutedicos sob o manto do sagrado e fundamental direito agrave sauacutede

Dificuldades como a duacutevida acerca dos aspectos meacutedicos envolvidos a questatildeo da escasseza falta de previsatildeo orccedilamentaacuteria e a discricionariedade das opccedilotildees administrativas emcontraponto ao argumento dos direitos fundamentais agrave vida e agrave sauacutede potildeem em ainda

maior evidecircncia o potencial de tragicidade dessas decisotildees

De outro lado como equilibrar tais demandas no tecircnue limite entre as necessidadese os excessos que geram descreacutedito e despesas vatildes ndash natildeo somente de recursos mas deesperanccedilas Como conciliar a exigecircncia de um posicionamento judicial justo e efetivadorde direitos constitucionamente garantidos face agraves dificuldades arroladas sem afrontar odireito individual mas tambeacutem sem desconsiderar a isonomia e o equiliacutebrio coletivoSob o prisma institucional como operacionalizar medidas e paracircmetros racionais noacircmbito da Defensoria Puacuteblica ainda mais quando envolvidos bens de natureza tatildeo grave

e momentos tatildeo delicados

O texto traz um alerta pouco simpaacutetico e nem sempre otimista do ponto de vistadefensorial mas quiccedilaacute necessaacuterio agrave definiccedilatildeo de abordagens futuras consistentes anteuma sutil tendecircncia ao pragmatismo judiciaacuterio que se vem observando gradativamentesobre o tema notadamente em eacutepoca de crise econocircmica acerba como se vem delineandono paiacutes quando natildeo se tem hesitado em sangrar as garantias securitaacuterias e sociais da

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populaccedilatildeo como recentemente se viu com a MP 6642014 verbi gratia em busca deviabilizar o equiliacutebrio econocircmico nas financcedilas estatais

O primeiro passo para compreender a questatildeo e pensar soluccedilotildees mais razoaacuteveis eacute buscar

analisaacute-las objetivamente sem a premecircncia dos prazos ndash judiciais ou meacutedicos ndash tentandocontextualizar o direito fundamental agrave sauacutede como direito social mas tambeacutem individualem cotejo com os princiacutepios gestores de sua prestaccedilatildeo no ordenamento paacutetrio

Mister buscar nortear as condutas como instituiccedilatildeo a fim de otimizar os mecanismosdisponiacuteveis para alcanccedilar a efetivaccedilatildeo da sauacutede natildeo soacute a curto como tambeacutem a meacutedioprazo quando o Judiciaacuterio parece caminhar para um processo de dessensibilizaccedilao antetais pedidos secundando o grande nuacutemero de accedilotildees e concessotildees judiciais na aacuterea Nosuacuteltimos anos observou-se certa tendecircncia no campo das accedilotildees judiciais em sauacutede a

tornar regra a judicializaccedilatildeo excepcional sujeitando-se agraves criacuteticas originalmente reputadasfalaciosas quer no acircmbito da reserva do possiacutevel quer na seara da invasatildeo de esferasentre os poderes puacuteblicos E se torna preciso repensar novas vias que natildeo desprezem onecessaacuterio recurso ao Judiciaacuterio nem o banalizem a ponto de o pedido judicial em sauacutede jaacute natildeo consternar o julgador

Como de haacute muito lecionavam os mestres gregos a virtude estaacute no meio Mas nem porisso eacute faacutecil encontraacute-la

2 A SAUacuteDE ENRE O ldquoLUXOrdquo E O ldquoLIXOrdquo

Vive-se uma eacutepoca de inegaacutevel medicalizaccedilatildeo da vida ao lado da visiacutevel tendecircncia agrave judicializaccedilatildeo da sauacutede

Sob um acircngulo os avanccedilos teacutecnicos crescem exponencialmente gerando expectativas eesperanccedilas Sob outro os avanccedilos satildeo reconhecidamente custosos e nem sempre movidosapenas pelas boas intenccedilotildees de quem os desenvolve A induacutestria farmacecircutica eacute hojeinegavelmente uma das mais custosas e mais rentaacuteveis do mundo ao lado da induacutestria

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beacutelica 2 e sua atuaccedilatildeo junto aos profissionais muitas vezes aumentam no imaginaacuteriocoletivo a eficiecircncia de determinadas terapecircuticas ainda mais quando o temor da mortese avizinha e a promessa de uma melhor qualidade de vida se anuncia como bem aoalcance de todos ou ao menos de quem possa com ela arcar financeiramente

De se ver contudo primeiramente que o crescimento da induacutestria farmacecircutica se fazmajoritariamente agrave custa de produtos esteacuteticos ou de medicaccedilotildees de alto custo paratratamento das chamadas ldquodoenccedilas do desenvolvimentordquo (cacircncer doenccedilas cardiacuteacas evasculares entre outras) enquanto inuacutemeras doenccedilas associadas agrave pobreza permanecemna condiccedilatildeo de chamadas ldquodoenccedilas oacuterfatildesrdquo pois a falta de condiccedilotildees dos beneficiaacuterios paraarcar com os custos da produccedilatildeo de novas medicaccedilotildees natildeo estimula os investimentosnecessaacuterios agrave pesquisa na aacuterea 3 Decorrecircncia disso eacute que muitos dos pedidos apresentados judicialmente versa natildeo raro acerca de novos quimioteraacutepicos muitas vezes receacutem-saiacutedos

dos laboratoacuterios e de eficaacutecia ainda em fase de certificaccedilatildeo

Dois aspectos daiacute decorrem de um lado a dificuldade em manter atualizadas as listasde prestaccedilotildees puacuteblicas em sauacutede face aos raacutepidos avanccedilos do setor De outro o risco dese recair na armadilha do capitalismo farmacecircutico com produtos cariacutessimos que nemsempre correspondem agraves expectativas que ensejam ao requerente aumentando em muitoas despesas da sauacutede puacuteblica em detrimento do cuidado coletivo

Embora moralmente natildeo se possa nem deva sustentar um pensamento marcadamenteutilitarista na espeacutecie sobretudo quando em jogo a vida e a sauacutede de algueacutem bensinegociaacuteveis eacute de se observar que tais dificuldades natildeo tecircm passado incoacutelumes aos julgadores notadamente quando assistem diuturnamente ao crescimento exponencial dedemandas que tais

Assim eacute que haacute uns poucos anos apoacutes o reconhecimento poacutes-positivista de uma fasede valorizaccedilatildeo principioloacutegica e de primazia dos direitos humanos a epiacutegrafe de direitoagrave sauacutede sobre um pedido era a quase certeza de obtenccedilatildeo de qualquer recurso pela via

2 Nesse sentido cf DRANE James PESSINI Leo Medicina e ecnologia Desafios eacuteticos nafronteira do conhecimento humano Satildeo Paulo Loyola 2005 p 207 et seq3 Sobre o crescimento dos investimentos na aacuterea farmacecircutica cf ALVES Jeovanna Viana et alInduacutestria farmacecircutica poder e subdesenvolvimento a Bioeacutetica na Investigaccedilatildeo de NovosMedicamentos In Sexto Congresso Mundial de Bioeacutetica 2002 Brasiacutelia Sociedade Brasileira deBioeacutetica Anais 2002 p 152 e BERGEL Salvador Dariacuteo Responsabilidad Social y SaludRevista Brasileira de Bioeacutetica Brasiacutelia Sociedade Brasileira de Bioeacutetica v2 n4 p 443-4672006 p 453

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judiciaacuteria Afinal a constituiccedilatildeo salvaguarda a vida e a sauacutede como direitos humanosfundamentais e o reconhecimento de um federalismo cooperativo em relaccedilatildeo ao SUS noacircmbito de um Estado que se pretende Social superava questotildees teacutecnicas ou burocraacuteticasinfraprincipioloacutegicas comumente agitadas pela advocacia estatal

Grandes vitoacuterias se conquistaram como a possibilidade de bloqueio de verbas puacuteblicase a fixaccedilatildeo de astreintes no descumprimento das tutelas antecipadas o afastamento dosargumentos reiterados da ilegitimidade passiva simultacircnea dos entes puacuteblicos em vista dadescentralizaccedilatildeo administrativa do SUS da insindicabilidade das decisotildees discricionaacuteriasda Administraccedilatildeo da inflexibilidade da separaccedilatildeo de poderes ou ainda a menccedilatildeo vaga eincomprovada agrave reserva do possiacutevel e agrave falta de previsatildeo orccedilamentaacuteria

Recentemente contudo comeccedilou a tomar corpo a percepccedilatildeo de que o crescente nuacutemero

de pedidos requer paracircmetros mais razoaacuteveis e talvez mais rigorosos de avaliaccedilatildeo Comosuperar entatildeo a constataccedilatildeo jacente de que a ampliaccedilatildeo irrefreada e sem paracircmetrosrazoaacuteveis de tais demandas terminaria por gerar tratamentos tambeacutem desiguais e o perigode desorganizaccedilatildeo ainda maior do que jaacute haacute no sistema

O proacuteprio conceito de sauacutede mais adotado atualmente ndash aquele dado pela OrganizaccedilatildeoMundial de Sauacutede4 no preacircmbulo de sua carta de constituiccedilatildeo que associa a condiccedilatildeohumana salutar natildeo apenas agrave ausecircncia de doenccedila de incapacidade ou de condiccedilotildees

intrinsecamente patoloacutegicas (definiccedilatildeo realmente tautoloacutegica) ou ainda agrave simplesnormalidade do funcionamento orgacircnico mas a um estado de completo bem-estarfiacutesico mental e social ndash mostra-se de tal vagueza e dificuldade praacutetica de obtenccedilatildeopelos mais diversos motivos que seria de se questionar se algueacutem se poderia dizer de fatosaudaacutevel nesses termos

E natildeo haacute limites num mundo globalizado e repleto de ofertas para se identificar oque seria um completo bem-estar fiacutesico mental e social especialmente no que tangeagraves promessas de consumo pois tambeacutem em relaccedilatildeo agrave sauacutede haacute produtos que visam agrave

comodidade mais que agrave necessidade e perspectivas hiperdimensionadas de sucesso natildeocomprovado

Nessa linha de difiacutecil precisatildeo se situam exempli gratia pleitos por cobertura de

4 ORGANIZACcedilAtildeO MUNDIAL DA SAUacuteDE Constitution of the World Health Organization Basic Documents Genebra OMS 1946 Disponiacutevel em lthttpwhqlibdocwhointhistofficial_recordsconstitutionpdfgtacessado em 20ago08

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procedimentos meramente esteacuteticos sem caraacuteter reparador funcionalmente desnecessaacuteriose muitas vezes de alto custo fugindo assim agrave noccedilatildeo de essencialidade que caracterizao Sistema (ainda que tampouco seja unacircnime a noccedilatildeo de essencialidade5 notadamenteem face da amplitude do conceito de sauacutede adotado pela OMS como visto acima)

A reproduccedilatildeo assistida natildeo se acha coberta pelo SUS ou pela maioria os planos desauacutede embora se discuta eventual direito a um filho como possiacutevel parte da previsatildeoconstitucional de planejamento familiar Jaacute pleitos por proacuteteses penianas e que taisde escopo funcional parecem alinhar-se a uma noccedilatildeo mais ampla poreacutem razoaacutevel noacircmbito da sauacutede reprodutiva

De outro lado mesmo nos casos reconhecidamente eficazes o custo de determinadosrecursos nem sempre os torna viaacuteveis como poliacuteticas puacuteblicas Projeccedilatildeo feita por FabiacuteolaVieira6 em relaccedilatildeo a determinado tratamento para a hepatite C patologia viral crocircnica

requerido judicialmente em pleitos individuais em substituiccedilatildeo ao tratamento oferecidopelo SUS evidenciou que sendo a prevalecircncia da doenccedila no paiacutes estimada em 1 dapopulaccedilatildeo se o SUS se propusesse a tratar um quarto (025) dessas pessoas (o queequivaleria a cerca de 467000 pessoas) com o medicamento interferon peguilado o maismoderno agrave eacutepoca de sua pesquisa com aplicaccedilotildees uma vez por semana durante quarenta eoito semanas ndash o tempo do tratamento ndash ao custo individual da aplicaccedilatildeo de R$ 110749(mil cento e sete reais e quarenta e nove centavos) chegar-se-ia ao montante de 248bilhotildees de reais o que equivaleria a 64 do gasto total executado pelo Ministeacuterio da

Sauacutede em 2006 que fora da monta de 388 bilhotildees de reais naquele ano Natildeo significadiz a autora que natildeo se devam tratar os pacientes de hepatite viral crocircnica mas queeacute preciso empregar criteacuterios mesmo para a alocaccedilatildeo dos recursos da sauacutede sob penainclusive de se tratar de maneira diacutespar cidadatildeos em condiccedilatildeo similar e de o fazer sob achancela estatal sem uma especificidade que o justifique

A escassez existe Como tambeacutem existem pressotildees por parte da induacutestria farmacecircuticafomentando esperanccedilas vatildes as chamadas tentativas heroicas nem sempre de eficaacuteciacomprovadas com o risco de converter parte da populaccedilatildeo em involuntaacuterios sujeitos

5 Enquanto o SUS jaacute reconhecia o acesso a acompanhamento psicoloacutegico por exemplo como serviccediloessencial (e de fato o eacute) apenas recentemente passou a constar dos planos de sauacutede privados o reembolso decerto nuacutemero de consultas psicoloacutegicas ao ano Procedimentos como esclerose de varizes cirurgias bariaacutetricastambeacutem caminham na dubiedade entre tratamentos esteacuteticos e funcionais requerendo anaacutelise caso a caso6 VIEIRA Fabiacuteola Sulpino Accedilotildees judiciais e direito agrave sauacutede reflexatildeo sobre a observacircncia aos princiacutepios doSUS Rev Sauacutede Puacuteblica v 42 n 2 p 365-369 abr 2008

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de pesquisa em larga escala 7 Ignorar simplesmente tais circunstacircncias faacuteticas terminapor ensejar peacutessimos frutos a comeccedilar pela perda de credibilidade dos requerentesespecialmente aqueles reiterados como a Defensoria e ndash ainda pior ndash levar agrave gradativadessensibilizaccedilatildeo do destinataacuterio o Judiciaacuterio

Mister entatildeo tentar buscar tanto quanto possiacutevel saiacutedas administrativas tratativas quetendam a diminuir a necessidade de accedilotildees judiciais muacuteltiplas procurando interpretaros princiacutepios gestores do SUS agrave luz dos direitos fundamentais constitucionalmenteconsagrados tanto sob o prisma pessoal como social de modo a se obter a melhortratamento possiacutevel mas dentro de um paracircmetro de razoabilidade sustentaacutevel sem privaro cidadatildeo de direitos mas tambeacutem sem virar artefato dos interesses da induacutestria que maiscresce no mundo alimentando esperanccedilas e desejos poreacutem nem sempre comprometidacom a responsabilidade social que deveria ter

3 A DISCIPLINA SANIAacuteRIA E OS PRINCIacutePIOS DO SISEMA UacuteNI983085CO DE SAUacuteDE8

A Constituiccedilatildeo de 1988 consagrou por seu teor e de forma sem precedentes no paiacutes apromessa de um Estado Social contando entre seus fundamentos a dignidade da pessoahumana os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa e o pluralismo poliacutetico eenaltecendo as garantias agrave cidadania conforme seu Capiacutetulo II do iacutetulo II mas tambeacutemem outras normas constitucionais a exemplo do artigo 196 dedicado ao direito agrave sauacutede A proacutepria formulaccedilatildeo estrutural da nova Carta enunciando os direitos fundamentais logoem seu iniacutecio anteriormente agrave organizaccedilatildeo estatal como ocorria nos Diplomas anteriores

7

O proacuteprio rastuzumabe verbi gratia quimioteraacutepico reclamado judicialmente e hoje decomprovada eficiecircncia requer para sua eficaacutecia a presenccedila de determinados marcadores geneacuteticosque de iniacutecio nem sempre eram verificados previamente quando da prescriccedilatildeo ou do pedidogerando espeacutecie de ldquoteste terapecircuticordquo de relevante repercussatildeo econocircmica e de efeito a longo prazoe em larga escala para a sauacutede entatildeo ainda desconhecidos8 recho parcialmente reproduzido na obra VILLAS-BOcircAS Maria Elisa O Direito agrave Sauacutede noBrasil reflexotildees bioeacuteticas agrave luz do princiacutepio da justiccedila Satildeo Paulo Loyola 2014 tambeacutem derivadada tese de Doutorado da Autora VILLAS-BOcircAS Maria Elisa Alocaccedilatildeo de Recursos em Sauacutede quando a realidade e os direitos fundamentais se chocam 2009 425 f ese (Doutorado em DireitoPuacuteblico) ndash Faculdade de Direito Universidade Federal da Bahia Salvador 2009

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jaacute denota um pioneiro espiacuterito de valorizaccedilatildeo da pessoa e de visualizaccedilatildeo do Estado comoinstrumento para o seu desenvolvimento ao menos no plano normativo

Como importante precedente para o nascimento do SUS aponta-se a VIII Conferecircncia

Nacional de Sauacutede realizada em 1986 que contou com ampla participaccedilatildeo da sociedadecivil passando-se a reconhecer como direito da populaccedilatildeo natildeo apenas o acesso aosdiferentes niacuteveis de assistecircncia agrave sauacutede mas tambeacutem a participaccedilatildeo na formulaccedilatildeo deprioridades na aacuterea9 o que interfere nos criteacuterio de alocaccedilatildeo de recursos

Assim foi que o artigo 6ordm da Constituiccedilatildeo ao enunciar os direitos sociais expressamentepreviu a sauacutede como um dos primeiros deles ao lado da educaccedilatildeo do trabalho damoradia (acrescida esta pela Emenda Constitucional nordm 26 em 2000) do lazer daseguranccedila da previdecircncia social da proteccedilatildeo agrave maternidade e agrave infacircncia e da assistecircncia

aos desamparados Em fevereiro de 2010 a Emenda Constitucional nordm 64 reconheceutambeacutem nesse rol a alimentaccedilatildeo

O direito agrave sauacutede eacute objeto ainda dos artigos 196 e seguintes da Constituiccedilatildeo vigente emque se enunciam as diretrizes para as poliacuteticas puacuteblicas na aacuterea O artigo 196 eacute enfaacuteticoem reafirmar o caraacuteter universal desse direito a ser assegurado natildeo apenas como promessaem perspectiva mas mediante accedilotildees praacuteticas de concretizaccedilatildeo a saber ldquo A sauacutede eacute direitode todos e dever do Estado garantido mediante poliacuteticas sociais e econocircmicas que visem agrave

reduccedilatildeo do risco de doenccedila e de outros agravos e ao acesso universal e igualitaacuterio agraves accedilotildeese serviccedilos para sua promoccedilatildeo proteccedilatildeo e recuperaccedilatildeordquo

Nos artigos seguintes notadamente do 197 ao 200 prevecirc-se a possibilidade de prestaccedilatildeoda sauacutede diretamente pelo Poder Puacuteblico ndash a quem cabe ainda sua regulamentaccedilatildeofiscalizaccedilatildeo e controle ndash ou atraveacutes de terceiros por pessoa fiacutesica ou juriacutedica de direitoprivado Franqueia-se a atuaccedilatildeo em sauacutede agrave iniciativa privada inclusive de formacomplementar junto ao Sistema Uacutenico de Sauacutede restringindo-se poreacutem a participaccedilatildeo

9 MELLO Dirceu Raposo de et al Anaacutelise Bioeacutetica do Papel do Estado na Garantia ao Acesso aMedicamentos In GARRAFA Volnei MELLO Dirceu Raposo de PORO Dora Bioeacutetica e Vigilacircncia Sanitaacuteria Brasiacutelia ANVISA 2007 p 17-18 e LORENZO Claacuteudio Vulnerabilidadeem Sauacutede Puacuteblica implicaccedilotildees para as poliacuteticas puacuteblicas Revista Brasileira de Bioetica BrasiacuteliaSociedade Brasileira de Bioeacutetica v 2 n 3 p 299-312 2006

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de empresas de capital estrangeiro na forma da lei (art 199)10

Em relaccedilatildeo ao Serviccedilo Uacutenico de Sauacutede (SUS) os artigos 198 e 200 o orientamapresentando como diretrizes ldquoI - descentralizaccedilatildeo com direccedilatildeo uacutenica em cada esfera de

governo II - atendimento integral com prioridade para as atividades preventivas semprejuiacutezo dos serviccedilos assistenciais III - participaccedilatildeo da comunidaderdquo Esclarece-se aindao financiamento por recursos da seguridade social e de outras fontes determinando aaplicaccedilatildeo de recursos miacutenimos em cada esfera estatal nos termos da Emenda Constitucionalnordm 29 de 2000

Aleacutem das diretrizes constitucionais a atuaccedilatildeo do SUS eacute orientada tambeacutem pela LeiOrgacircnica da Sauacutede (Lei ndeg 808090) de que se deduz como um ponto principal logoem seu artigo 2ordm a reafirmaccedilatildeo da sauacutede como direito humano fundamental ldquodevendo

o Estado prover as condiccedilotildees indispensaacuteveis para seu pleno exerciacuteciordquo Ainda nesseartigo esclarece-se que o dever do Estado quanto agrave garantia da sauacutede consiste aleacutem daformulaccedilatildeo e execuccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas preventivas no estabelecimento de condiccedilotildeesde acesso ldquouniversal e igualitaacuterio agraves accedilotildees e aos serviccedilos para a sua promoccedilatildeo proteccedilatildeo erecuperaccedilatildeordquo

O artigo 6ordm da referida legislaccedilatildeo regulamentadora inclui expressamente no campode atuaccedilatildeo do SUS a assistecircncia terapecircutica integral inclusive farmacecircutica Essa

disposiccedilatildeo tem sido causa de pedir de muitas das accedilotildees individuais que pretendem ofornecimento de medicaccedilotildees nem sempre disponibilizadas protocolarmente pelo SistemaUacutenico mas que se mostram indicadas para a situaccedilatildeo concreta do paciente A questatildeoeacute discutir quatildeo amplo eacute esse dever de provimento farmacoteraacutepico considerando

10 Eacute de se observar que conquanto a menccedilatildeo agrave remoccedilatildeo de oacutergatildeos e tecidos para transplantesencontre-se situada no artigo 199 referente agrave iniciativa privada esse tipo de procedimento eacuteexecutado pelo Sistema Uacutenico de Sauacutede no paiacutes justamente para permitir uma maior equidade emsua gestatildeo A competecircncia do referido Sistema abrange ainda de forma natildeo taxativa (art 200) ldquoI -

controlar e fiscalizar procedimentos produtos e substacircncias de interesse para a sauacutede e participar daproduccedilatildeo de medicamentos equipamentos imunobioloacutegicos hemoderivados e outros insumos II- executar as accedilotildees de vigilacircncia sanitaacuteria e epidemioloacutegica bem como as de sauacutede do trabalhadorIII - ordenar a formaccedilatildeo de recursos humanos na aacuterea de sauacutede IV - participar da formulaccedilatildeo dapoliacutetica e da execuccedilatildeo das accedilotildees de saneamento baacutesico V - incrementar em sua aacuterea de atuaccedilatildeo odesenvolvimento cientiacutefico e tecnoloacutegico VI - fiscalizar e inspecionar alimentos compreendidoo controle de seu teor nutricional bem como bebidas e aacuteguas para consumo humano VII -participar do controle e fiscalizaccedilatildeo da produccedilatildeo transporte guarda e utilizaccedilatildeo de substacircncias eprodutos psicoativos toacutexicos e radioativos VIII - colaborar na proteccedilatildeo do meio ambiente nelecompreendido o do trabalhordquo

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inclusive que as indicaccedilotildees satildeo feitas muitas vezes em usos natildeo oficializados (off label)experimentais ou extraordinaacuterios havendo de se discutir os criteacuterios que deveratildeo norteara atuaccedilatildeo estatal perante casos que tais

Os princiacutepios balizadores do Sistema Uacutenico de Sauacutede estatildeo afirmados no artigo 7ordm da Leindeg 808090 em que se sublinham

I - universalidade de acesso aos serviccedilos de sauacutede em todos os niacuteveisde assistecircnciaII - integralidade de assistecircncia entendida como conjunto articuladoe contiacutenuo das accedilotildees e serviccedilos preventivos e curativos individuais ecoletivos exigidos para cada caso em todos os niacuteveis de complexidadedo sistemaIII - preservaccedilatildeo da autonomia das pessoas na defesa de sua integridadefiacutesica e moralIV - igualdade da assistecircncia agrave sauacutede sem preconceitos ou privileacutegiosde qualquer espeacutecieV - direito agrave informaccedilatildeo agraves pessoas assistidas sobre sua sauacutedeVI - divulgaccedilatildeo de informaccedilotildees quanto ao potencial dos serviccedilos desauacutede e a sua utilizaccedilatildeo pelo usuaacuterioVII - utilizaccedilatildeo da epidemiologia para o estabelecimento de prioridadesa alocaccedilatildeo de recursos e a orientaccedilatildeo programaacuteticaVIII - participaccedilatildeo da comunidade []

Entre esses princiacutepios verificam-se de logo aparentes contradiccedilotildees tendentes a se tornarem

relevantes paradoxos praacuteticos Ao se mencionar por exemplo a autonomia ndash importanteaspecto da relaccedilatildeo profissional-paciente salvaguardado entre outros no artigo 15 doCoacutedigo Civil de 200211 ndash haacute que se identificar a existecircncia de limites no acircmbito dessaautonomia ais limites natildeo decorrem apenas dos cerceamentos morais e legais amplos(vedaccedilatildeo agrave eutanaacutesia ao aborto salvo exceccedilotildees legais ou ao auxiacutelio ao suiciacutedio verbi gratia ) mas satildeo tambeacutem advindos das proacuteprias normas especiacuteficas regentes do SistemaUacutenico de Sauacutede passando a balizar natildeo somente a autonomia do paciente como tambeacutemem certa medida a proacutepria autonomia profissional12 buscando-se priorizar em suasprescriccedilotildees e entre opccedilotildees tecnicamente equivalentes aquelas jaacute incorporadas pelo SUS

De outro lado tampouco pode a referida autonomia meacutedica ser mortalmente ferida sehaacute fundamentos relevantes para acreditar que a prescriccedilatildeo de determinada medicaccedilatildeo seja

11 ldquo Art 15 Ningueacutem pode ser constrangido a submeter-se com risco de vida atratamento meacutedico ou a intervenccedilatildeo ciruacutergica rdquo12 O item II do Capiacutetulo II do Coacutedigo de Eacutetica Meacutedica atual aponta como direito do meacutedicoldquoIndicar o procedimento adequado ao paciente observadas as praacuteticas cientificamente reconhecidase respeitada a legislaccedilatildeo vigenterdquo

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substancialmente favoraacutevel ao paciente

Assim como ponto de equiliacutebrio o profissional deveraacute dar preferecircncia agraves medicaccedilotildeese tratamentos constantes no rol do Sistema Uacutenico de Sauacutede desde que em condiccedilotildees

de equivalecircncia de modo que dessa escolha natildeo advenham reconhecidos prejuiacutezos aopaciente Nesse sentido um trabalho de conscientizaccedilatildeo dos profissionais meacutedicosmediante atuaccedilatildeo conjunta junto a essa esfera pode ser de grande valia para reduzir accedilotildees judiciais em vista de prescriccedilotildees mal justificadas

Mesmo em relaccedilatildeo a atendimentos particulares haacute que se evitar a prescriccedilatildeo desarrazoadade medicaccedilotildees de eficaacutecia natildeo comprovada que em uacuteltima anaacutelise viratildeo a ser reclamadasdo Sistema Uacutenico de Sauacutede (inclusive em vista do fator empobrecedor da doenccedila e dauniversalidade prevista) convertendo o paciente em verdadeiro sujeito (ou objeto) de

pesquisa natildeo organizada e gerando gastos e expectativas vatildeos

Outro aparente paradoxo se poderia assinalar em relaccedilatildeo aos princiacutepios arrolados nositens II e VII De um lado assegura-se a integralidade da assistecircncia De outro contudoadota-se o uso da epidemiologia para o estabelecimento de prioridades e a alocaccedilatildeo derecursos Como proceder entatildeo se for necessaacuteria assistecircncia profissional para doenccedilaepidemiologicamente rara e de tratamento particularmente caro Eacute o que se tem notadoem muitos dos casos que chegam ao Judiciaacuterio nos quais se passa a discutir ainda que natildeo

expressamente a visatildeo utilitarista e o impasse entre a prevalecircncia do interesse individualou coletivo na alocaccedilatildeo de recursos em questatildeo13

Seguem-se nos artigos 8ordm a 19 a organizaccedilatildeo descentralizada (que compotildee o nono princiacutepiogestor do Sistema juntamente com a direccedilatildeo uacutenica em cada instacircncia) e sua divisatildeo entreas trecircs esferas ndash nacional estadual e municipal Cuida-se aqui de circunstacircncia tambeacutemcomumente suscitada pelos entes estatais reacuteus arguindo natildeo serem partes legiacutetimas nahipoacutetese haja vista a separaccedilatildeo de atribuiccedilotildees desenhada na legislaccedilatildeo especiacutefica Veja-se contudo que a separaccedilatildeo de tarefas entre as esferas estatais natildeo retira delas o dever

global do Estado de provimento da sauacutede cuja responsabilidade eacute em uacuteltima instacircncia

13 Nesse sentido em prol da necessidade de anaacutelise muldimensional inclusive para otimizar aassistecircncia coletiva inviabilizando a anaacutelise individualista da questatildeo cf FERRAZ OctaacutevioLuiz Motta VIEIRA Fabiacuteola Sulpino Direito agrave sauacutede recursos escassos e equumlidade os riscosda interpretaccedilatildeo judicial dominante Disponiacutevel em httpwwwstfjusbrarquivocmsprocessoAudienciaPublicaSaudeanexoDireito_a_Saude_Recursos_escassos_e_equidadepdf Acesso em 25abr2015

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solidaacuteria14 Constata-se assim tiacutepico exemplo do chamado federalismo cooperativo oude colaboraccedilatildeo15 mais caracteriacutestico dos Estados de Bem-Estar Social e em que haacute umadivisatildeo de tarefas menos riacutegida e mais intercambiante conforme as necessidades praacuteticasque se apresentem ainda que persista o princiacutepio da subsidiariedade segundo o qual a

instacircncia superior deve agir quando natildeo resolviacutevel o problema nas instacircncias menores

Nesse mister o artigo 7ordm prevecirc ainda como princiacutepios simultacircneos do Sistema adescentralizaccedilatildeo poliacutetico-administrativa com direccedilatildeo uacutenica em cada esfera de governo(inciso IX) enfatizando a descentralizaccedilatildeo dos serviccedilos para os municiacutepios a regionalizaccedilatildeoe a hierarquizaccedilatildeo da rede de serviccedilos de sauacutede bem assim a organizaccedilatildeo dos serviccedilospuacuteblicos de modo a evitar duplicidade de meios para fins idecircnticos (inciso XIII) ndash o queeacute realmente um risco na incumbecircncia solidaacuteria Considerando-se todavia a falha noprovimento por todas as esferas a motivar a provocaccedilatildeo judicial o mesmo artigo estipula

a ldquoconjugaccedilatildeo dos recursos financeiros tecnoloacutegicos materiais e humanos da Uniatildeo dosEstados do Distrito Federal e dos Municiacutepios na prestaccedilatildeo de serviccedilos de assistecircncia agravesauacutede da populaccedilatildeordquo (inciso XI) e a ldquocapacidade de resoluccedilatildeo dos serviccedilos em todos osniacuteveis de assistecircncia rdquo (inciso XII) o que reafirma a noccedilatildeo de solidariedade federativa nodever de provimento da sauacutede

Ainda no que tange agrave conflituosa relaccedilatildeo entre as previsotildees legais e suas implementaccedilotildees

14 Sobre a discussatildeo acerca da solidariedade entre os entes estatais na aacuterea a jurisprudecircncia dosribunais Superiores jaacute reconheceu amplamente sua existecircncia caracterizando a existecircncia de umfederalismo cooperativo na espeacutecie Anteriormente ao posicionamento judicial jaacute se manifestavamem favor da responsabilidade concomitante e solidaacuteria das trecircs esferas estatais autores como DALLARI Sueli Gandolfi Os Estados Brasileiros e o Direito agrave Sauacutede Satildeo Paulo Hucitec1995 p 37-42 e SCHWARZ Germano Direito agrave Sauacutede Efetivaccedilatildeo em uma PerspectivaSistecircmica Porto Alegre Livraria do Advogado 2001 p 101 203 COHN Ameacutelia et al A Sauacutedecomo Direito e como Serviccedilo Satildeo Paulo Cortez 2008 p 68 entre outros assinalando o fato deque a regionalizaccedilatildeo e a descentralizaccedilatildeo tecircm por escopo favorecer a acessibilidade e natildeo dificultaacute-la natildeo obstando portanto a solidariedade entre os entes puacuteblicos Em favor da responsabilidade

sucessiva e natildeo solidaacuteria por forccedila da descentralizaccedilatildeo do Sistema cf FIGUEIREDO MarianaFilchtiner Direito Fundamental agrave Sauacutede Paracircmetros para sua Eficaacutecia e Efetividade Porto Alegre Livraria do Advogado 2007 p 157-16115 Cf por todos AVARES Andreacute Ramos Curso de Direito Constitucional 2ed Satildeo PauloSaraiva 2003 e SRECK Lecircnio Luiz MORAIS Joseacute Luiacutes Bolzan de Ciecircncia poliacutetica eteoria geral do estado 2ed Porto Alegre Livraria do Advogado 2000 Sobre o princiacutepio dasubsidiariedade nesse caso cf tambeacutem CANOILHO J J Gomes Direito Constitucional eeoria da Constituiccedilatildeo 7ed Coimbra Almedina [2003] Ainda sobre o tema da influecircnciado federalismo na mateacuteria cf o trabalho de DALLARI Sueli Gandolfi loc cit assinalando aabordagem diferenciada em cada constituiccedilatildeo estadual acerca do conteuacutedo do direito agrave sauacutede

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praacuteticas eacute de se notar que em 1999 foi incluiacutedo capiacutetulo referente agrave atenccedilatildeo agrave sauacutedeindiacutegena e em 2002 previu-se um subsistema de atendimento e internaccedilatildeo domiciliarEsses uacuteltimos cuidados ditos home care conquanto ainda pouco utilizados vecircmadequar-se ao quanto previsto na Constituiccedilatildeo Federal em seu artigo 230 paraacutegrafo 1ordm

notadamente em relaccedilatildeo aos idosos a saber ldquosect 1ordm - Os programas de amparo aos idososseratildeo executados preferencialmente em seus laresrdquo Em 2005 acolheu-se na legislaccedilatildeo umsubsistema de acompanhamento durante o trabalho de parto parto e poacutes-parto imediatoprevendo a possibilidade de acompanhante nesses eventos a exemplo do que jaacute fizera oEstatuto da Crianccedila e do Adolescente em relaccedilatildeo agrave previsatildeo de acompanhante para omenor internado no acircmbito do SUS (artigo 12 da Lei 806990 e Resoluccedilatildeo ndeg 4195sobre os direitos da crianccedila e do adolescente hospitalizados) revelando uma tendecircncia dehumanizaccedilatildeo dos procedimentos puacuteblicos de sauacutede

Na praacutetica ainda natildeo se implementaram amplamente esses novos espectros do direito agravesauacutede mas natildeo se os diga impossiacuteveis nem desnecessaacuterios Eacute curioso notar verbi gratia que quando do surgimento do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente tampouco era praxea manutenccedilatildeo dos pais junto aos pequenos pacientes ndash algo que hoje soa imprescindiacutevelndash e a afirmaccedilatildeo legislativa desse direito foi reputada como inviaacutevel dentro da estruturahospitalar da eacutepoca Menos de uma deacutecada depois todavia embora natildeo existam aindahoje instalaccedilotildees ideais em termos de conforto jaacute natildeo se cogita mais internar crianccedilas ouadolescentes sem lhes assegurar a permanecircncia de um dos responsaacuteveis Demonstrou-se

com isso que muitas das resistecircncias agrave implementaccedilatildeo de direitos satildeo bem mais culturaispor haacutebito ou falta de vontade poliacutetica do que propriamente por reais inviabilidadesfinanceiras ou operacionais Vive-se atualmente similar situaccedilatildeo quanto agrave previsatildeo deacompanhante para o idoso ou a gestante em trabalho de parto

Em relaccedilatildeo ao planejamento e orccedilamento a propoacutesito outro argumento habitual doEstado-reacuteu diz respeito justamente agrave impossibilidade de deslocamento de verbas natildeoprevistas na organizaccedilatildeo orccedilamentaacuteria dentro do Sistema Uacutenico de Sauacutede ou de outrasaacutereas para este sob pena de responsabilizaccedilatildeo fiscal Nessa seara poreacutem o artigo 36

paraacutegrafo 2ordm da Lei ndeg 808090 eacute enfaacutetico ao estabelecer que ldquoEacute vedada a transferecircnciade recursos para o financiamento de accedilotildees natildeo previstas nos planos de sauacutede exceto emsituaccedilotildees emergenciais ou de calamidade puacuteblica na aacuterea de sauacutederdquo (grifou-se)

Para exercer suas atividades o Sistema Uacutenico de Sauacutede conta com inuacutemeras outras normasgestoras ndash natildeo apenas leis de acircmbito nacional mas tambeacutem Portarias e normas de acircmbitoestadual e local ndash que detalham essa atuaccedilatildeo Assim eacute que por exemplo a Portaria nordm

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173R Defensoria Puacutebl Uniatildeo Brasiacutelia DF n 8 p 1-356 jandez 2015

3916 de 30 de outubro de 1998 estabelece a Poliacutetica Nacional de Medicamentos a serauxiliada por normas outras como a Lei ndeg 978799 dita ldquoLei dos Geneacutericosrdquo definindoo medicamento geneacuterico como aquele similar a um produto de referecircncia ou inovadorque se pretende ser com este intercambiaacutevel geralmente produzido apoacutes a expiraccedilatildeo ou

renuacutencia da proteccedilatildeo patentaacuteria ou de outros direitos de exclusividade comprovada a suaeficaacutecia seguranccedila e qualidade

Prevecirc-se ainda que esses medicamentos devem ser preferidos no acircmbito do SUSpelo custo e acrescente-se pela impessoalidade mesma que deve caracterizar a atuaccedilatildeoadministrativa estatal desaconselhando a preferecircncia por produtos de laboratoacuterios oumarcas determinados em detrimento de produtos de denominaccedilatildeo comum brasileira ouna sua falta internacional a indicar maior neutralidade em prestaccedilatildeo equivalente

Jaacute se tem aiacute um paracircmetro a nortear as prescriccedilotildees e decisotildees na mateacuteria deve a prestaccedilatildeofarmacoloacutegica do Sistema Uacutenico de Sauacutede se pautar pelo fornecimento de medicaccedilotildees quedentre as que contecircm a substacircncia ativa necessaacuteria atendam agraves necessidades de eficaacuteciae seguranccedila poreacutem com menor custo maior impessoalidade e generalidade pois natildeoassociada a marca especiacutefica O uso racional desses recursos passa ainda pela orientaccedilatildeodos meacutedicos na criteriosa avaliaccedilatildeo das medicaccedilotildees prescritas privilegiando dentro deum paracircmetro de equivalecircncia aquelas jaacute constantes fornecimento regular pelo Sistema 16

16 Os produtos padronizados constam da Relaccedilatildeo Nacional de Medicamentos Essenciais (RENAME) Nosentido de promover a observacircncia da lista cita-se por exemplo a Portaria Estadual nordm 1475BA publicadano Diaacuterio Oficial do Estado de 300908 que ldquoConstitui Grupo de trabalho no acircmbito do SUS com oescopo de elaborar orientaccedilotildees e diretrizes aos profissionais meacutedicos no sentido de esgotarem as alternativasde faacutermacos previstas nos Protocolos Cliacutenicos e Diretrizes erapecircuticas do Ministeacuterio da Sauacutede e demais atosque lhe forem complementares antes de prescrever tratamento medicamentoso diverso aos pacientes nostermos da Notificaccedilatildeo Recomendatoacuteria 0022007 da Promotoria de Justiccedila e da Cidadania do MinisteacuterioPuacuteblico do Estado da Bahiardquo De acordo com a Organizaccedilatildeo Mundial da Sauacutede - OMS (Nairobi Quecircnia1985) ldquoHaacute uso racional quando pacientes recebem medicamentos apropriados para suas condiccedilotildees cliacutenicasem doses adequadas agraves suas necessidades individuais por um periacuteodo adequado e ao menor custo para si e

para a comunidaderdquo Segundo o Ministeacuterio da Sauacutede o uso racional de medicamentos consiste no ldquoprocessoque compreende a prescriccedilatildeo apropriada a disponibilidade oportuna e a preccedilos acessiacuteveis a dispensaccedilatildeoem condiccedilotildees adequadas e o consumo nas doses indicadas nos intervalos definidos e no periacuteodo de tempoindicado de medicamentos eficazes seguros e de qualidaderdquo (BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria dePoliacuteticas de Sauacutede Departamento de Atenccedilatildeo Baacutesica Poliacutetica nacional de medicamentos 2001Ministeacuterio daSauacutede Secretaria de Poliacuteticas de Sauacutede Departamento de Atenccedilatildeo Baacutesica ndash Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede2001 ambeacutem disponiacutevel em lthttpwwwopasorgbrmedicamentossiteUploadArqpnmpdfgtacessado em 02out08) Outros programas para estimular o uso racional de medicamentos encontram-sena paacutegina eletrocircnica do Ministeacuterio da Sauacutede (httpportalsaudegovbrportalsaudeareacfmid_area=1141acessado em 05out08)

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174 DEFENSORIA PUacuteBLICA DA UNIAtildeO Escola Superior

A alocaccedilatildeo de medicamentos no paiacutes estaacute dividida segundo o Ministeacuterio da Sauacutede em trecircscategorias baacutesicas17 medicamentos baacutesicos ou essenciais ldquopertencentes a um elenco miacutenimoobrigatoacuterio a ser dispensado na atenccedilatildeo baacutesicardquo ou na dicccedilatildeo legal aqueles consideradosldquobaacutesicos e indispensaacuteveis para atender a maioria dos problemas de sauacutede da populaccedilatildeordquo

previstos na Portaria do Ministeacuterio da Sauacutede nordm 32372007 medicamentos estrateacutegicosutilizados em programas especiacuteficos do Ministeacuterio da Sauacutede como aqueles de combateagrave AIDS tuberculose hanseniacutease diabetes doenccedila de Chagas malaacuteria coagulopatias eoutras conforme Portaria do Ministeacuterio da Sauacutede nordm 2042007 e medicamentos dedispensaccedilatildeo especial ou excepcional eacute dizer aqueles geralmente de alto custo destinadosa patologias especiacuteficas e complexas que atingem um nuacutemero limitado de pacientes parauso prolongado Esses procedimentos e recursos terapecircuticos encontravam-se arroladosna Portaria do Ministeacuterio da Sauacutede nordm 25772006 Eacute de se observar que sendo essauacuteltima uma das categorias mais solicitadas judicialmente e mais associadas com a evoluccedilatildeo

biotecnoloacutegica chama a atenccedilatildeo o fato de ter sido por muito tempo justamente aPortaria mais antiga deixando margem agrave criacutetica de provaacutevel desatualizaccedilatildeo em relaccedilatildeo aosavanccedilos atuais tendo sido atualizada pela Portaria GMMS 18692008 e revogada pelaPortaria GMMS 1062009 tambeacutem jaacute revogada A mateacuteria tambeacutem sofreu alteraccedilotildeespelas Portarias 2981 de 26 de novembro de 2009 Portaria 343GMMS de 22 defevereiro de 2010 Portaria 3439MS de 11 de novembro de 2010 e atualmente pelosPCD (PROOCOLOS CLIacuteNICOS E DIRERIZES ERAPEcircUICAS) a indicarparacircmetros de abordagem e tratamento para cada patologia

Analisando-se os montantes empregados em cada uma das categorias verifica-se que os

17 MELLO Dirceu Raposo et al op cit p 27-28 SALAZAR Andrea Lazzarini GROU Karina Bozola ADefesa da Sauacutede em Juiacutezo eoria e Praacutetica Satildeo Paulo Verbatim 2009 p 112-113

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175R Defensoria Puacutebl Uniatildeo Brasiacutelia DF n 8 p 1-356 jandez 2015

gastos com medicamentos especiais superam em muito aqueles com medicaccedilotildees baacutesicas18 Dentre os medicamentos estrateacutegicos ndash responsaacuteveis pelo maior volume de custos commedicaccedilotildees entre os trecircs grupos na segunda metade da deacutecada passada ndash aqueles dirigidosao programa de HIVAIDS sofreram acreacutescimo substancial em 2006 ante as novas drogas

incorporadas ao cataacutelogo farmacoloacutegico de tratamento da doenccedila passando a representarsozinhos quase uma vez e meia o gasto com todas as demais drogas estrateacutegicas

Mais uma vez fica evidente que prevenir aleacutem de melhor sai bem mais barato que

18 Segundo quadro comparativo elaborado em MELLO Dirceu Raposo et al op cit p 28-29 a partirde dados do Ministeacuterio da Sauacutede os gastos com medicamentos baacutesicos em 2006 foram da ordem de 290milhotildees de reais representando 67 dos gastos com medicaccedilatildeo ao passo que o montante despendido commedicamentos de dispensaccedilatildeo especial alcanccedilaram a cifra de um bilhatildeo 355 milhotildees de reais equivalendoa 32 do orccedilamento para a aacuterea Dentre os medicamentos estrateacutegicos aqueles destinados ao programade DSAIDS custaram aos cofres puacuteblicos naquele ano 960 milhotildees de reais enquanto no ano anteriorrepresentaram despesa de 550 milhotildees de reais Cumpre assinalar que o programa de fornecimento gratuitode medicaccedilotildees antirretrovirais aos portadores de HIV no paiacutes eacute elogiado em todo o mundo pela iniciativapioneira na aacuterea apontada como exemplo na universalizaccedilatildeo do tratamento e inclusatildeo a esses pacientes A Leique cuida da mateacuteria ndash Lei ndeg 931396 ndash foi acompanhada por uma seacuterie de decisotildees judiciais proacute direitoagrave sauacutede determinando o efetivo provimento das medicaccedilotildees e sua atualizaccedilatildeo conforme o estado cientiacuteficomundial nos termos da redaccedilatildeo legal Nesse sentido se assinala entre outros o seguinte acoacuterdatildeo provenientedo Supremo ribunal Federal defendendo a aplicabilidade imediata das normas relativas ao direito agravesauacutede PACIENE COM HIVAIDS ndash PESSOA DESIUIacuteDA DE RECURSOS FINANCEIROS ndashDIREIO Agrave VIDA E Agrave SAUacuteDE ndashFORNECIMENO GRAUIO DE MEDICAMENOS ndash DEVERCONSIUCIONAL DO PODER PUacuteBLICO (CF ARS 5ordm CAPU E 196) O DIREIO Agrave SAUacuteDEREPRESENA CONSEQUumlEcircNCIA CONSIUCIONAL INDISSOCIAacuteVEL DO DIREIO Agrave VIDA

O direito puacuteblico subjetivo agrave sauacutede representa prerrogativa juriacutedica indisponiacutevel assegurada agrave generalidadedas pessoas pela proacutepria Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica (art 196) raduz bem juriacutedico constitucionalmentetutelado por cuja integridade deve velar de maneira responsaacutevel o Poder Puacuteblico a quem incumbe formularndash e implementar ndash poliacuteticas sociais e econocircmicas idocircneas que visem a garantir aos cidadatildeos inclusive agravequelesportadores do viacuterus HIV o acesso universal e igualitaacuterio agrave assistecircncia farmacecircutica e meacutedico-hospitalar Odireito agrave sauacutede ndash aleacutem de qualificar-se como direito fundamental que assiste a todas as pessoas ndash representaconsequumlecircncia constitucional indissociaacutevel do direito agrave vida O Poder Puacuteblico qualquer que seja a esfera institucionalde sua atuaccedilatildeo no plano da organizaccedilatildeo federativa brasileira natildeo pode mostrar-se indiferente ao problema da sauacutededa populaccedilatildeo sob pena de entender ainda que por censuraacutevel omissatildeo em grave comportamento inconstitucional(AGRRE nordm 271286-RS Rel Min Celso de Mello SF DJ 241100 p 101)

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176 DEFENSORIA PUacuteBLICA DA UNIAtildeO Escola Superior

remediar 19

Fato eacute queNenhum paiacutes ateacute o momento conseguiu estabelecer um limite oacutetimode gasto financeiro para melhorar a sauacutede de seus cidadatildeos os EUA

gastam 146 do PIB com sauacutede sendo o Estado responsaacutevel por449 desse total e 5 dos gastos puacuteblicos com sauacutede dizem respeitoaos medicamentos Ainda sobre os EUA dados de domiacutenio puacuteblicoinformam que cerca de 50 milhotildees de cidadatildeos natildeo tecircm acesso aosserviccedilos de sauacutede No Brasil os gastos com sauacutede correspondem agrave cifrade 79 do PIB sendo que o setor puacuteblico eacute responsaacutevel por 459desses gastos e os medicamentos representam 74 desses gastospuacuteblicos20

Sem duacutevida a garantia adequada do direito agrave sauacutede natildeo constitui um problema apenaspara os paiacuteses em desenvolvimento embora nesses falte o acesso ao que haacute de mais baacutesicopossiacutevel para a manutenccedilatildeo e a recuperaccedilatildeo da sauacutede ambeacutem os paiacuteses desenvolvidos

19 Aleacutem das despesas jaacute esperadas com tais medicamentos avultam ainda os gastos decorrentes de processos judiciais A esse respeito notiacutecia veiculada em setembro de 2008 na imprensa deu conta de que ldquoEntre2005 e 2008 o governo federal aumentou em 1820 (quase 20 vezes) as despesas decorrentes de ordens

judiciais que obrigam a Uniatildeo a pagar por medicamentos especiais Apenas na primeira metade deste anoforam gastos pelo governo federal por ordem da Justiccedila R$ 48 milhotildees nesses tratamentos Em 2005 oinvestimento foi de R$ 25 milhotildeesrdquo ambeacutem foi informado que ldquoa cada mecircs Satildeo Paulo gasta R$ 400milhotildees com remeacutedios obtidos pelos doentes mediante ordem judicial e que natildeo satildeo fornecidos pelo SUS Asituaccedilatildeo natildeo eacute muito diferente no Rio Grande do Sul Foram R$ 31 milhotildees com accedilotildees judiciais envolvendomedicamentos em 2006 e R$ 50 milhotildees em 2007 e a previsatildeo eacute de que sejam gastos R$ 150 milhotildees nesteano ndash o equivalente a um terccedilo do total de recursos de custeio dos programas da Secretaria Estadual deSauacutederdquo Dentro desses valores apurou-se ainda a ocorrecircncia de fraudes envolvendo meacutedicos e advogadosque mediante pedidos judiciais providos teriam resultado em prejuiacutezo de R$ 63 milhotildees aos cofrespuacuteblicos (REZZI Humberto Sauacutede Aumento no gasto do governo em remeacutedios especiais eacute investigadoPromotores e policiais suspeitam que quadrilhas falsificariam atestados para obrigar a Uniatildeo a fornecermedicamentos de alto custo a pacientes por via judicial Jornal Zero Hora Porto Alegre ediccedilatildeo ndeg 15734

Disponiacutevel em lthttpzerohoraclicrbscombrzerohorajspdefault2jspuf=1amplocal=1ampsource=a2195502xmlamptemplate=3898dwtampedition=10739ampsection=1003gt acessado em 12out08) Deduz-se daiacute queconquanto via relevantiacutessima para o controle do atendimento do direito fundamental agrave sauacutede a prestaccedilatildeo

jurisdicional haacute de ser particularmente cautelosa na anaacutelise de tais pleitos sobretudo quando em sede deprovimentos liminares por natildeo se poder desconsiderar o grave impacto que essas decisotildees tecircm tomado noorccedilamento sanitaacuterio Eacute imprescindiacutevel entatildeo sempre que possiacutevel e especialmente quando o fornecimentoeacute feito a entidades privadas sobre as quais incide menor controle na utilizaccedilatildeo desses recursos a realizaccedilatildeode periacutecia meacutedica judicial a constatar a efetiva necessidade e infungibilidade do recurso demandado naquelecaso concreto20 MELLO Dirceu Raposo et al op cit p 23

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177R Defensoria Puacutebl Uniatildeo Brasiacutelia DF n 8 p 1-356 jandez 2015

tecircm problemas para assegurar os cuidados de sauacutede esperados pela populaccedilatildeo situaccedilatildeoque se agrava progressivamente com o envelhecimento da populaccedilatildeo (com suas conhecidasconsequecircncias para o equiliacutebrio previdenciaacuterio) e com o desenvolvimento crescente dosrecursos farmacecircuticos e biotecnoloacutegicos criando patamares cada vez mais elevados de

atenccedilatildeo agrave sauacutede21

Elevou-se a qualidade e a quantidade de vida o que eacute um aspectoinegavelmente positivo mas que gera outrossim consequecircncias de difiacutecil equiliacutebrioeconocircmico

4 DEMANDAS JUDICIAIS EM SAUacuteDE COMO AVANCcedilAR EM DIRECcedilAtildeO

AO QUE PARECE NAtildeO ER SAIacuteDA

Questionado sobre formas de viabilizaccedilatildeo de um sistema puacuteblico de sauacutede dentro dessecontexto ponderou primeiramente Diego Gracia 22 que quem tem receituaacuterio fazalocaccedilatildeo Com efeito Ao fazer uma mera prescriccedilatildeo individual o meacutedico estaacute a indicarali os paracircmetros para o exerciacutecio do direito agrave sauacutede pelo paciente Eacute para alcanccedilar orecurso prescrito que o cidadatildeo vai agrave Justiccedila pleitear ao Estado ou ao plano de sauacutede queo forneccedila Eacute na prescriccedilatildeo que se baseia o Juiz quando antecipa uma tutela mesmo antes

de ouvir a parte adversa na convicccedilatildeo de que haacute urgecircncia no acesso agravequele recurso

Mister assim para racionalizar o uso de medicamentos e recursos no SUS orientar eracionalizar tambeacutem as prescriccedilotildees meacutedicas de modo que sem sacrificar a sauacutede dopaciente tampouco se sacrifique indevidamente o Sistema organizado para protegecirc-lae garanti-la Nesse ponto erige-se a validade de se pensar um trabalho conjunto comorganizaccedilotildees profissionais como uma outra vertente para a maior efetivaccedilatildeo na prestaccedilatildeo

21

Nesse sentido cf a obra AARON Henry J SCHWARZ William B Te Painful Prescriptionhellipreferente sobretudo aos Estados Unidos e agrave Inglaterra mas que tambeacutem menciona a situaccedilatildeo de outros paiacutesesdesenvolvidos como a Franccedila e o Canadaacute ambeacutem trata do assunto entre outros PENCHASZADEHVictor Bioeacutetica y medicina social Una confluencia necesaria Revista Brasileira de Bioeacutetica BrasiacuteliaSociedade Brasileira de Bioeacutetica v 3 n 2 p 129-149 2007 p 137 Destaque-se outrossim a recentepolecircmica envolvendo o governo americano do Presidente Barack Obama ante a perspectiva de maiordemocratizaccedilatildeo do acesso agrave sauacutede em confronto com o arcabouccedilo tendencialmente liberal da poliacutetica daqueleEstado no setor ateacute entatildeo22 GRACIA Diego Bioeacutetica Cliacutenica e Contexto Social In VII CONGRESSO BRASILEIRO DEBIOEacuteICA Satildeo Paulo 2007 Conferecircncia

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178 DEFENSORIA PUacuteBLICA DA UNIAtildeO Escola Superior

e cobranccedila do direito agrave sauacutede

A especial atenccedilatildeo aos preceitos da Medicina Baseada em Evidecircncias devidamentefundamentada em relatoacuterios e prescriccedilotildees acurados com a cuidadosa anaacutelise e

demonstraccedilatildeo de eficaacutecia seguranccedila e eficiecircncia23

quer no geral quer no caso concretotambeacutem satildeo de grande valia para a atuaccedilatildeo coerente e racional na aacuterea inclusive a fim deevitar que o assistido seja engolfado por esperanccedilas vatildes de resultados temeraacuterios tentativasheroicas sem perspectivas reais e pesquisas multinacionais em larga escala que exacerbamsua vulnerabilidade e fragilizam a credibilidade dos pedidos judiciais no setor Nessecontexto mister evitar tambeacutem pedidos irrazoaacuteveis natildeo factiacuteveis na praacutetica ou opccedilotildees

23 Embora costumeiramente usadas de forma equivalente as expressotildees eficaacutecia eficiecircncia e efetividade tecircmsignificados teacutecnicos especiacuteficos na seara da MBE Nesse sentido a seguranccedila mencionada implica a anaacutelisede que os danos colaterais possiacutevel sejam inferiores aos benefiacutecios oferecidos com seu uso para o fim a quese propotildee A eficaacutecia consiste na evidecircncia de ter o recurso prescrito comprovado efeito beneacutefico para aquelecaso (ldquofazem o que se propotildeem a fazerrdquo ndash na expressatildeo de VIEIRA Fabiacuteola Sulpino op cit p365-369)evitando-se os chamados ldquoprodutos de complacecircnciardquo ndash sem eficaacutecia comprovada mas prescritos por insistecircnciado paciente ou por pressatildeo do marketing industrial por exemplo ndash bem como os atos aparentemente cliacutenicosmas que se mostram em verdade experimentais visto que natildeo validados de nenhuma forma cientificamente

aceita a qual permita asseveraacute-los como realmente producentes e seguros A efetividade propriamente dita corresponde agrave eficaacutecia e agrave eficiecircncia em condiccedilotildees reais de sorte a evitar desperdiacutecios Eacute dizer que os produtoseleitos ldquofazem o que se propotildeem a fazer quando utilizados pelas pessoas em condiccedilotildees reais e natildeo em gruposhomogecircneos que constituem os grupos de pessoas dos ensaios cliacutenicosrdquo (idem ibidem) Por fim a eficiecircnciaou custo-efetividade envolve a avaliaccedilatildeo da relaccedilatildeo custobenefiacutecio de modo a se constatar a substancialvantagem de dado recurso em relaccedilatildeo a outro observadas a eficaacutecia e a efetividade propriamente ditaSignifica dizer que o produto em questatildeo ldquoentre as alternativas disponiacuteveis faz o que se propotildee a fazer paraas pessoas em condiccedilotildees reais ao menor custordquo (idem ibidem) Embora conceitos mais utilizados no acircmbitoeconocircmico e de macroalocaccedilatildeo de recursos acabam repercutindo na microalocaccedilatildeo individual ao requerermaior comprovaccedilatildeo quando de pedido que natildeo leve em consideraccedilatildeo tais subprinciacutepios Segundo a ANVISAtem-se a efetividade como ldquogarantia de medicamentos eficazes eou efetivos e seguros cuja relaccedilatildeo risco-benefiacutecio seja favoraacutevel e comprovada a partir das melhores evidecircncias cientiacuteficas disponiacuteveis na literatura

e com registro aprovado na Agecircncia Nacional de Vigilacircncia Sanitaacuteria (ANVISA)rdquo e a eficiecircncia como aldquogarantia de medicamentos que proporcionem a melhor resposta terapecircutica aos usuaacuterios com os menorescustos para o SUSrdquo (Lei 124012011 e pela Resoluccedilatildeo 01 do Ministeacuterio da Sauacutede de 17 de janeiro de2012) Eacute fato que considerando os escores da Medicina baseada em evidecircncia alega o Estado de praxe quea experiecircncia do meacutedico prescritor isoladamente e mesmo do perito judicial natildeo teriam niacutevel de sustentaccedilatildeocientiacutefica bastante para subsidiar a concessatildeo de medicaccedilatildeo natildeo padronizada pelo SUS todavia considerandoos requisitos de antecipaccedilatildeo de tutela pode conter se bem fundamentada em estudos outros de indicaccedilatildeoseguranccedila eficaacutecia efetividade e eficiecircncia elementos suficientes de verossimilhanccedila aleacutem de representara realidade daquele indiviacuteduo preocupando-se em registrar inclusive a ausecircncia de resposta ou indicaccedilatildeoquanto agraves outras opccedilotildees disponiacuteveis haja vista que como se costuma constatar a resposta individual nemsempre corresponde agravequela epidemiologicamente esperada

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179R Defensoria Puacutebl Uniatildeo Brasiacutelia DF n 8 p 1-356 jandez 2015

comerciais especiacuteficas substituiacuteveis por equivalentes terapecircuticos disponiacuteveis no SUS24

Outro aspecto a ser sopesado eacute o modo e o conteuacutedo como feitos os pedidos na medida emque a proteccedilatildeo ao direito agrave sauacutede de um deve considerar a existecircncia de outros envolvidos

na alocaccedilatildeo de recursos diante da escassez real Exemplo disso satildeo os pedidos de vagaou de prioridade em filas de transplantes que necessariamente envolvem o cotejo comoutros afetados que natildeo satildeo parte no processo Natildeo raro se tem notiacutecia de comandos deprisatildeo a gestores hospitalares que tecircm todos os seus leitos ocupados por natildeo disporem devagas Inegaacutevel a falha estatal na espeacutecie mas ela natildeo pode ser resolvida com o comandoainda que indireto de retirada de pacientes que ainda necessitem do leito e cuidados paraalocaccedilatildeo de outro dotado de comando judicial Opccedilatildeo nesse caso eacute o pedido subsidiaacuteriode alocaccedilatildeo em unidades privadas agraves expensas do Estado natildeo por mera opccedilatildeo do enfermomas se natildeo houver leitos disponiacuteveis nas unidades puacuteblicas

Do ponto de vista estatal eacute mister o ajuste constante das poliacuteticas puacuteblicas de sortea mantecirc-las condizentes com as carecircncias da comunidade e atualizadas dentro dasmargens de efetividade terapecircutica a fim de se tentar com isso minorar a necessidade deintervenccedilotildees judiciais suplementares na aacuterea aleacutem de favorecer o proacuteprio funcionamentoadequado do Sistema em conformidade com seus princiacutepios gestores e com as previsotildeese garantias constitucionais sem acarretar a falecircncia do Sistema nem converter o direitouniversal agrave sauacutede em mera retoacuterica demagoacutegica

Nesse contexto a atuaccedilatildeo e participaccedilatildeo equilibrada da Defensoria junto a oacutergatildeos puacuteblicose conselhos interdisciplinares pode ser de grande valia para uma maior eficaacutecia na soluccedilatildeo

24 Em palestra proferida do II Foacuterum Brasileiro sobre Assistecircncia Farmacecircutica e Farmacoeconomia ocorridoem setembro de 2014 em Salvador-Bahia com a presenccedila de gestores puacuteblicos membros do JudiciaacuterioMinisteacuterio Puacuteblico Defensoria Puacuteblica e Advogados Puacuteblicos a representante paulista do CONASS(Conselho Nacional dos Secretaacuterios de Sauacutede) apresentou demonstrativo de pedidos em demandas judiciaissanitaacuterias contra o Estado e o Municiacutepio de Satildeo Paulo em que incluiacutedos itens como ldquoleite de cabra frescordquondash o qual resultou descumprido por absoluta ausecircncia de resposta agrave licitaccedilatildeo simplificada para localizar

detentores de cabras na cidade de Satildeo Paulo Nessa ocasiatildeo tambeacutem mostrou a palestrante estudo feitoquanto agraves 41000 accedilotildees judiciais em sauacutede atendidas por aqueles entes naquele ano tendo-se verificado quecerca de 70 delas se pautavam em prescriccedilotildees particulares 93 envolviam medicamentos extraordinaacuteriosao SUS sendo que aproximadamente 5 envolviam produtos importados sem registro na ANVISA 50envolviam itens de produtores exclusivos e cerca de 25 marcas especiacuteficas mesmo para itens simples comofraldas descartaacuteveis A franca maioria dos pedidos natildeo tivera solicitaccedilatildeo administrativa preacutevia sabendo oEstado do pleito jaacute em sede de antecipaccedilatildeo de tutela com prazo estrito para o fornecimento ainda que comfundamentaccedilatildeo cliacutenica escassa inclusive quanto agrave premecircncia do pedido (SIQUEIRA Paula Sue Facundo deDireito Sanitaacuterio a interface entre Judiciaacuterio e Sauacutede na utilizaccedilatildeo dos PDC II FOacuteRUM BRASILEIROSOBRE ASSISEcircNCIA FARMACEcircUICA E FARMACOECONOMIA Salvador 2014 Mesa Redonda)

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180 DEFENSORIA PUacuteBLICA DA UNIAtildeO Escola Superior

administrativa das questotildees reduzindo-se o quantitativo de demandas judiciais na espeacuteciee democratizando o acesso agrave sauacutede mesmo agravequeles que natildeo chegam agrave Defensoria Nesseuacuteltimo aspecto tambeacutem a atuaccedilatildeo mediante Accedilatildeo Civil Puacuteblica visando agrave atualizaccedilatildeodas listas de fornecimento ou denunciando carecircncias e esperas irrazoaacuteveis por exemplo

parece recurso de relevante monta para uma melhor prestaccedilatildeo no setor

Possibilidade de uma maior funcionalidade administrativa tambeacutem pode ser tentadamediante atuaccedilatildeo de profissional25 direcionado agrave aacuterea das crescentes demandas em sauacutedenas unidades defensoriais de sorte a direcionar melhor a instruccedilatildeo dos pedidos jaacute seorientando o tipo de relatoacuterio e informaccedilotildees necessaacuterios aleacutem de empreender contatodireto com os oacutergatildeos puacuteblicos de regulaccedilatildeo em sauacutede estreitando relaccedilotildees com a Secretariade Sauacutede do Estado e seus oacutergatildeos a exemplo da Central de Regulaccedilatildeo de Vagas

Propotildee-se com isso ampliar o quantitativo de resoluccedilotildees administrativas mais ceacutelerese menos custosas reservando a necessidade de intervenccedilotildees juriacutedicas agraves situaccedilotildees emque havendo a previsatildeo do fornecimento natildeo se consegue obtecirc-lo por maacute prestaccedilatildeoadministrativa ndash o que demonstrado por melhor instruccedilatildeo inicial sugere levar amelhores iacutendices de sucesso jaacute em sede antecipatoacuteria ndash ou nas situaccedilotildees de recursos natildeoincluiacutedos no rol de fornecimento do SUS (em que pese o limitante dos artigos 2ordm e 19da Lei 124012011) Nesse caso uacuteltimo jaacute se busque tambeacutem instruir o pedido com osdemonstrativos da eficaacutecia seguranccedila e indicaccedilatildeo da medida reclamada bem assim de

ausecircncia de resposta agraves drogas rotineiramente disponibilizadas ou indicadas nos PCDnos termos inclusive do quanto preconizado em reiterados Enunciados e Recomendaccedilotildeesdo CNJ (4 11 14 15 16 31) e precedentes jurisprudenciais relevantes como a SA175 de relatoria do Min Gilmar Mendes sobre a mateacuteria

O que se vislumbra de negativo em tal proposta eacute que eventual reduccedilatildeo da judicializaccedilatildeofaccedila supor uma maior eficiecircncia na prestaccedilatildeo estatal em sauacutede o que nem semprecorresponde agrave verdade obtendo-se o ecircxito em casos individuais atraveacutes da persistecircnciaempedernida do oacutergatildeo defensorial ateacute que a proacutexima situaccedilatildeo se apresente Como aspecto

25 entativa semelhante tem sido implementada ao longo do uacuteltimo ano na unidade baiana daDefensoria Puacuteblica da Uniatildeo por iniciativa da chefia que tambeacutem titulariza o ofiacutecio de tutelacoletiva mediante o destacamento de Assistente Social com experiecircncia na conduccedilatildeo de demandasem sauacutede e com o intuito de melhorar a assistecircncia em tais demandas ante o crescimentoexponencial de seu nuacutemero no quinquecircnio antecedente Os resultados tecircm-se mostrado prima facie positivos com aparente aumento do nuacutemero de deslindes extrajudiciais e maior quantitativode antecipaccedilotildees de tutela obtidas nas accedilotildees propostas embora ainda sem dados coligidos esistematizados a respeito

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181R Defensoria Puacutebl Uniatildeo Brasiacutelia DF n 8 p 1-356 jandez 2015

positivo por oacutebvio todas as vantagens da resoluccedilatildeo administrativa

Outro recurso a ser considerado como dito como opccedilatildeo agraves muacuteltiplas accedilotildees individuaissatildeo as accedilotildees de natureza coletiva visando agrave efetiva disponibilizaccedilatildeo de procedimentos

oferecidos formalmente mas cuja demora na prestaccedilatildeo torna na praacutetica insustentaacutevela espera ais accedilotildees sob o ponto de vista pragmaacutetico todavia nem sempre tecircm comoobter resultados concretos imediatos mas frutos de uma atuaccedilatildeo combativa criacuteticae politicamente atuante satildeo relevante termocircmetro acerca do modo como estatildeo sendogeridos os recursos em sauacutede advertindo para a necessidade de se dar concretude ao direitoconstitucionalmente reconhecido incentivando da maneira mais pertinente o sistemade checks and balances reservando-se as accedilotildees individuais para situaccedilotildees especiacuteficas denecessidade incontornaacutevel e sem perspectiva de resoluccedilatildeo natildeo litigiosa

Por fim sempre cabiacutevel lembrar que o momento da urgecircncia do plantatildeo do riscoiminente de vida eacute sempre o pior momento para avaliar o que fazer culminando-seem accedilotildees accedilodadas por vezes mal instruiacutedas natildeo raro em duplicidade nas instacircnciasestadual e federal com riscos para o paciente ou de desperdiacutecio de recursos puacuteblicos ouainda de descreacutedito para a instituiccedilatildeo Importante assim discutirem-se as abordagenspossiacuteveis criando-se orientaccedilotildees de conduta que de antematildeo auxiliem na organizaccedilatildeo dopensamento e na escolha das vias cabiacuteveis para ajudar o requerente ndash vulnerado quer pelahipossuficiecircncia econocircmica quer pela enfermidade ou na maioria das vezes por ambas

ndash da forma mais promissora e adequada possiacutevel

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Natildeo haacute por oacutebvio respostas faacuteceis na mateacuteria O objetivo do texto foi sobretudo chamar

atenccedilatildeo para aspectos nem sempre vistos na lida cotidiana do Defensor imbuiacutedo da visatildeodo assistido e suas anguacutestias premido pelo tempo sem que tenha por vezes sequercondiccedilatildeo de distanciar-se para um olhar mais imparcial

odavia tais distanciamento e compreensatildeo mostram-se necessaacuterios agrave instituiccedilatildeo afim de redirecionar a busca a mecanismos alternativos para o impasse da sauacutede comodireito simultaneamente individual e social sujeito agraves premecircncias pessoais mas tambeacutem

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agraves limitaccedilotildees de uma prestaccedilatildeo coletiva a exemplo da proacutepria escassez real (e aiacute misterdistinguir o mero argumento da escassez e da reserva do possiacutevel em contraposiccedilatildeo agravecomprovada inviabilidade de produccedilatildeo ou fornecimento a exemplo do nuacutemero de vagasimediatas em UI de um hospital puacuteblico ou a disponibilidade de oacutergatildeos compatiacuteveis para

transplante) e da inevitabilidade da alocaccedilatildeo de recursos o que natildeo eacute dado a ningueacutemresponsavelmente negar

Apenas a tiacutetulo de pensamento inicial sugerir-se-ia o desenvolvimento de incremento nastentativas de resoluccedilatildeo extrajudicial a exemplo de maior contato com a Administraccedilatildeo ndash aquem tambeacutem interessa a reduccedilatildeo das lides diminuindo gastos a varejo ndash e com oacutergatildeosde prestaccedilatildeo de sauacutede puacuteblica e de orientaccedilatildeo profissional meacutedica com vistas a analisar aeficaacutecia indicaccedilatildeo e seguranccedila de determinados recursos terapecircuticos subsidiando melhoros pedidos e melhorando os iacutendices de deferimento na espeacutecie que lamentavelmente

comeccedilam a declinar talvez movidos pelo perigo da dessensibilizaccedilatildeo do Judiciaacuterio ante aprofusatildeo de pedidos no setor reservando-se a atuaccedilatildeo judicial para situaccedilotildees de insucessoadministrativo reconhecido considerada a premecircncia e a comprovada necessidade ouatuaccedilotildees de iacutendole coletiva de pressatildeo poliacutetica para assegurar a melhor prestaccedilatildeo dodireito constitucional

Satildeo apenas reflexotildees incipientes mas ficam a semente da ideia o desafio que a questatildeorepresenta e o chamado ao compromisso coletivo de desenvolvecirc-las em prol do cidadatildeo

da efetividade constitucional e da atuaccedilatildeo mais consciente precisa e exitosa possiacutevel porparte da Defensoria Puacuteblica na defesa ao direito fundamental agrave sauacutede

REFEREcircNCIAS

AARON Henry SCHWARZ William Te Painful Prescription Rationing HospitalCare Washington Brookins Institution 1984

ALVES Jeovanna Viana et al Induacutestria farmacecircutica poder e subdesenvolvimentoa Bioeacutetica na Investigaccedilatildeo de Novos Medicamentos In Sexto Congresso Mundial deBioeacutetica 2002 Brasiacutelia Sociedade Brasileira de Bioeacutetica Anais 2002 p 152

BERGEL Salvador Dariacuteo Responsabilidad Social y Salud Revista Brasileira de Bioeacutetica Brasiacutelia Sociedade Brasileira de Bioeacutetica v2 n4 p 443-467 2006

CANOILHO J J Gomes Direito Constitucional e eoria da Constituiccedilatildeo 7edCoimbra Almedina [2003]

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DRANE James PESSINI Leo Medicina e ecnologia Desafios eacuteticos na fronteira doconhecimento humano Satildeo Paulo Loyola 2005

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GRACIA Diego Bioeacutetica Cliacutenica e Contexto Social In VII Congresso Brasileiro deBioeacutetica Satildeo Paulo 2007 Conferecircncia

LORENZO Claacuteudio Vulnerabilidade em Sauacutede Puacuteblica implicaccedilotildees para as poliacuteticaspuacuteblicas Revista Brasileira de Bioetica Brasiacutelia Sociedade Brasileira de Bioeacutetica v 2n 3 p 299-312 2006

MELLO Dirceu Raposo de et al Anaacutelise Bioeacutetica do Papel do Estado na Garantia ao Acesso a Medicamentos In GARRAFA Volnei MELLO Dirceu Raposo de PORODora Bioeacutetica e Vigilacircncia Sanitaacuteria Brasiacutelia ANVISA 2007 p 17-18

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PENCHASZADEH Victor Bioeacutetica y medicina social Una confluencia necesariaRevista Brasileira de Bioeacutetica Brasiacutelia Sociedade Brasileira de Bioeacutetica v 3 n 2 p129-149 2007

SALAZAR Andrea Lazzarini GROU Karina Bozola A Defesa da Sauacutede em Juiacutezo

eoria e Praacutetica Satildeo Paulo Verbatim 2009SCHWARZ Germano Direito agrave Sauacutede Efetivaccedilatildeo em uma Perspectiva SistecircmicaPorto Alegre Livraria do Advogado 2001

SIQUEIRA Paula Sue Facundo de Direito Sanitaacuterio a interface entre Judiciaacuterio eSauacutede na utilizaccedilatildeo dos PDC II Foacuterum Brasileiro sobre Assistecircncia Farmacecircutica eFarmacoeconomia Salvador 2014 Mesa Redonda

SRECK Lecircnio Luiz MORAIS Joseacute Luiacutes Bolzan de Ciecircncia poliacutetica e teoria geral do

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estado 2ed Porto Alegre Livraria do Advogado 2000

AVARES Andreacute Ramos Curso de Direito Constitucional 2ed Satildeo Paulo Saraiva 2003

REZZI Humberto Sauacutede Aumento no gasto do governo em remeacutedios especiais eacuteinvestigado Promotores e policiais suspeitam que quadrilhas falsificariam atestados paraobrigar a Uniatildeo a fornecer medicamentos de alto custo a pacientes por via judicial JornalZero Hora Porto Alegre ediccedilatildeo ndeg 15734 disponiacutevel em lthttpzerohoraclicrbscombrzerohorajspdefault2jspuf=1amplocal=1ampsource=a2195502xmlamptemplate=3898dwtampedition=10739ampsection=1003gt acessado em 12out08

VIEIRA Fabiacuteola Sulpino Accedilotildees judiciais e direito agrave sauacutede reflexatildeo sobre a observacircnciaaos princiacutepios do SUS Rev Sauacutede Puacuteblica v 42 n 2 p 365-369 abr 2008

VILLAS-BOcircAS Maria Elisa Alocaccedilatildeo de Recursos em Sauacutede quando a realidade e osdireitos fundamentais se chocam 2009 425 f ese (Doutorado em Direito Puacuteblico) ndashFaculdade de Direito Universidade Federal da Bahia Salvador 2009

______ O Direito agrave Sauacutede no Brasil reflexotildees bioeacuteticas agrave luz do princiacutepio da justiccedilaSatildeo Paulo Loyola 2014

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populaccedilatildeo como recentemente se viu com a MP 6642014 verbi gratia em busca deviabilizar o equiliacutebrio econocircmico nas financcedilas estatais

O primeiro passo para compreender a questatildeo e pensar soluccedilotildees mais razoaacuteveis eacute buscar

analisaacute-las objetivamente sem a premecircncia dos prazos ndash judiciais ou meacutedicos ndash tentandocontextualizar o direito fundamental agrave sauacutede como direito social mas tambeacutem individualem cotejo com os princiacutepios gestores de sua prestaccedilatildeo no ordenamento paacutetrio

Mister buscar nortear as condutas como instituiccedilatildeo a fim de otimizar os mecanismosdisponiacuteveis para alcanccedilar a efetivaccedilatildeo da sauacutede natildeo soacute a curto como tambeacutem a meacutedioprazo quando o Judiciaacuterio parece caminhar para um processo de dessensibilizaccedilao antetais pedidos secundando o grande nuacutemero de accedilotildees e concessotildees judiciais na aacuterea Nosuacuteltimos anos observou-se certa tendecircncia no campo das accedilotildees judiciais em sauacutede a

tornar regra a judicializaccedilatildeo excepcional sujeitando-se agraves criacuteticas originalmente reputadasfalaciosas quer no acircmbito da reserva do possiacutevel quer na seara da invasatildeo de esferasentre os poderes puacuteblicos E se torna preciso repensar novas vias que natildeo desprezem onecessaacuterio recurso ao Judiciaacuterio nem o banalizem a ponto de o pedido judicial em sauacutede jaacute natildeo consternar o julgador

Como de haacute muito lecionavam os mestres gregos a virtude estaacute no meio Mas nem porisso eacute faacutecil encontraacute-la

2 A SAUacuteDE ENRE O ldquoLUXOrdquo E O ldquoLIXOrdquo

Vive-se uma eacutepoca de inegaacutevel medicalizaccedilatildeo da vida ao lado da visiacutevel tendecircncia agrave judicializaccedilatildeo da sauacutede

Sob um acircngulo os avanccedilos teacutecnicos crescem exponencialmente gerando expectativas eesperanccedilas Sob outro os avanccedilos satildeo reconhecidamente custosos e nem sempre movidosapenas pelas boas intenccedilotildees de quem os desenvolve A induacutestria farmacecircutica eacute hojeinegavelmente uma das mais custosas e mais rentaacuteveis do mundo ao lado da induacutestria

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beacutelica 2 e sua atuaccedilatildeo junto aos profissionais muitas vezes aumentam no imaginaacuteriocoletivo a eficiecircncia de determinadas terapecircuticas ainda mais quando o temor da mortese avizinha e a promessa de uma melhor qualidade de vida se anuncia como bem aoalcance de todos ou ao menos de quem possa com ela arcar financeiramente

De se ver contudo primeiramente que o crescimento da induacutestria farmacecircutica se fazmajoritariamente agrave custa de produtos esteacuteticos ou de medicaccedilotildees de alto custo paratratamento das chamadas ldquodoenccedilas do desenvolvimentordquo (cacircncer doenccedilas cardiacuteacas evasculares entre outras) enquanto inuacutemeras doenccedilas associadas agrave pobreza permanecemna condiccedilatildeo de chamadas ldquodoenccedilas oacuterfatildesrdquo pois a falta de condiccedilotildees dos beneficiaacuterios paraarcar com os custos da produccedilatildeo de novas medicaccedilotildees natildeo estimula os investimentosnecessaacuterios agrave pesquisa na aacuterea 3 Decorrecircncia disso eacute que muitos dos pedidos apresentados judicialmente versa natildeo raro acerca de novos quimioteraacutepicos muitas vezes receacutem-saiacutedos

dos laboratoacuterios e de eficaacutecia ainda em fase de certificaccedilatildeo

Dois aspectos daiacute decorrem de um lado a dificuldade em manter atualizadas as listasde prestaccedilotildees puacuteblicas em sauacutede face aos raacutepidos avanccedilos do setor De outro o risco dese recair na armadilha do capitalismo farmacecircutico com produtos cariacutessimos que nemsempre correspondem agraves expectativas que ensejam ao requerente aumentando em muitoas despesas da sauacutede puacuteblica em detrimento do cuidado coletivo

Embora moralmente natildeo se possa nem deva sustentar um pensamento marcadamenteutilitarista na espeacutecie sobretudo quando em jogo a vida e a sauacutede de algueacutem bensinegociaacuteveis eacute de se observar que tais dificuldades natildeo tecircm passado incoacutelumes aos julgadores notadamente quando assistem diuturnamente ao crescimento exponencial dedemandas que tais

Assim eacute que haacute uns poucos anos apoacutes o reconhecimento poacutes-positivista de uma fasede valorizaccedilatildeo principioloacutegica e de primazia dos direitos humanos a epiacutegrafe de direitoagrave sauacutede sobre um pedido era a quase certeza de obtenccedilatildeo de qualquer recurso pela via

2 Nesse sentido cf DRANE James PESSINI Leo Medicina e ecnologia Desafios eacuteticos nafronteira do conhecimento humano Satildeo Paulo Loyola 2005 p 207 et seq3 Sobre o crescimento dos investimentos na aacuterea farmacecircutica cf ALVES Jeovanna Viana et alInduacutestria farmacecircutica poder e subdesenvolvimento a Bioeacutetica na Investigaccedilatildeo de NovosMedicamentos In Sexto Congresso Mundial de Bioeacutetica 2002 Brasiacutelia Sociedade Brasileira deBioeacutetica Anais 2002 p 152 e BERGEL Salvador Dariacuteo Responsabilidad Social y SaludRevista Brasileira de Bioeacutetica Brasiacutelia Sociedade Brasileira de Bioeacutetica v2 n4 p 443-4672006 p 453

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judiciaacuteria Afinal a constituiccedilatildeo salvaguarda a vida e a sauacutede como direitos humanosfundamentais e o reconhecimento de um federalismo cooperativo em relaccedilatildeo ao SUS noacircmbito de um Estado que se pretende Social superava questotildees teacutecnicas ou burocraacuteticasinfraprincipioloacutegicas comumente agitadas pela advocacia estatal

Grandes vitoacuterias se conquistaram como a possibilidade de bloqueio de verbas puacuteblicase a fixaccedilatildeo de astreintes no descumprimento das tutelas antecipadas o afastamento dosargumentos reiterados da ilegitimidade passiva simultacircnea dos entes puacuteblicos em vista dadescentralizaccedilatildeo administrativa do SUS da insindicabilidade das decisotildees discricionaacuteriasda Administraccedilatildeo da inflexibilidade da separaccedilatildeo de poderes ou ainda a menccedilatildeo vaga eincomprovada agrave reserva do possiacutevel e agrave falta de previsatildeo orccedilamentaacuteria

Recentemente contudo comeccedilou a tomar corpo a percepccedilatildeo de que o crescente nuacutemero

de pedidos requer paracircmetros mais razoaacuteveis e talvez mais rigorosos de avaliaccedilatildeo Comosuperar entatildeo a constataccedilatildeo jacente de que a ampliaccedilatildeo irrefreada e sem paracircmetrosrazoaacuteveis de tais demandas terminaria por gerar tratamentos tambeacutem desiguais e o perigode desorganizaccedilatildeo ainda maior do que jaacute haacute no sistema

O proacuteprio conceito de sauacutede mais adotado atualmente ndash aquele dado pela OrganizaccedilatildeoMundial de Sauacutede4 no preacircmbulo de sua carta de constituiccedilatildeo que associa a condiccedilatildeohumana salutar natildeo apenas agrave ausecircncia de doenccedila de incapacidade ou de condiccedilotildees

intrinsecamente patoloacutegicas (definiccedilatildeo realmente tautoloacutegica) ou ainda agrave simplesnormalidade do funcionamento orgacircnico mas a um estado de completo bem-estarfiacutesico mental e social ndash mostra-se de tal vagueza e dificuldade praacutetica de obtenccedilatildeopelos mais diversos motivos que seria de se questionar se algueacutem se poderia dizer de fatosaudaacutevel nesses termos

E natildeo haacute limites num mundo globalizado e repleto de ofertas para se identificar oque seria um completo bem-estar fiacutesico mental e social especialmente no que tangeagraves promessas de consumo pois tambeacutem em relaccedilatildeo agrave sauacutede haacute produtos que visam agrave

comodidade mais que agrave necessidade e perspectivas hiperdimensionadas de sucesso natildeocomprovado

Nessa linha de difiacutecil precisatildeo se situam exempli gratia pleitos por cobertura de

4 ORGANIZACcedilAtildeO MUNDIAL DA SAUacuteDE Constitution of the World Health Organization Basic Documents Genebra OMS 1946 Disponiacutevel em lthttpwhqlibdocwhointhistofficial_recordsconstitutionpdfgtacessado em 20ago08

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procedimentos meramente esteacuteticos sem caraacuteter reparador funcionalmente desnecessaacuteriose muitas vezes de alto custo fugindo assim agrave noccedilatildeo de essencialidade que caracterizao Sistema (ainda que tampouco seja unacircnime a noccedilatildeo de essencialidade5 notadamenteem face da amplitude do conceito de sauacutede adotado pela OMS como visto acima)

A reproduccedilatildeo assistida natildeo se acha coberta pelo SUS ou pela maioria os planos desauacutede embora se discuta eventual direito a um filho como possiacutevel parte da previsatildeoconstitucional de planejamento familiar Jaacute pleitos por proacuteteses penianas e que taisde escopo funcional parecem alinhar-se a uma noccedilatildeo mais ampla poreacutem razoaacutevel noacircmbito da sauacutede reprodutiva

De outro lado mesmo nos casos reconhecidamente eficazes o custo de determinadosrecursos nem sempre os torna viaacuteveis como poliacuteticas puacuteblicas Projeccedilatildeo feita por FabiacuteolaVieira6 em relaccedilatildeo a determinado tratamento para a hepatite C patologia viral crocircnica

requerido judicialmente em pleitos individuais em substituiccedilatildeo ao tratamento oferecidopelo SUS evidenciou que sendo a prevalecircncia da doenccedila no paiacutes estimada em 1 dapopulaccedilatildeo se o SUS se propusesse a tratar um quarto (025) dessas pessoas (o queequivaleria a cerca de 467000 pessoas) com o medicamento interferon peguilado o maismoderno agrave eacutepoca de sua pesquisa com aplicaccedilotildees uma vez por semana durante quarenta eoito semanas ndash o tempo do tratamento ndash ao custo individual da aplicaccedilatildeo de R$ 110749(mil cento e sete reais e quarenta e nove centavos) chegar-se-ia ao montante de 248bilhotildees de reais o que equivaleria a 64 do gasto total executado pelo Ministeacuterio da

Sauacutede em 2006 que fora da monta de 388 bilhotildees de reais naquele ano Natildeo significadiz a autora que natildeo se devam tratar os pacientes de hepatite viral crocircnica mas queeacute preciso empregar criteacuterios mesmo para a alocaccedilatildeo dos recursos da sauacutede sob penainclusive de se tratar de maneira diacutespar cidadatildeos em condiccedilatildeo similar e de o fazer sob achancela estatal sem uma especificidade que o justifique

A escassez existe Como tambeacutem existem pressotildees por parte da induacutestria farmacecircuticafomentando esperanccedilas vatildes as chamadas tentativas heroicas nem sempre de eficaacuteciacomprovadas com o risco de converter parte da populaccedilatildeo em involuntaacuterios sujeitos

5 Enquanto o SUS jaacute reconhecia o acesso a acompanhamento psicoloacutegico por exemplo como serviccediloessencial (e de fato o eacute) apenas recentemente passou a constar dos planos de sauacutede privados o reembolso decerto nuacutemero de consultas psicoloacutegicas ao ano Procedimentos como esclerose de varizes cirurgias bariaacutetricastambeacutem caminham na dubiedade entre tratamentos esteacuteticos e funcionais requerendo anaacutelise caso a caso6 VIEIRA Fabiacuteola Sulpino Accedilotildees judiciais e direito agrave sauacutede reflexatildeo sobre a observacircncia aos princiacutepios doSUS Rev Sauacutede Puacuteblica v 42 n 2 p 365-369 abr 2008

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de pesquisa em larga escala 7 Ignorar simplesmente tais circunstacircncias faacuteticas terminapor ensejar peacutessimos frutos a comeccedilar pela perda de credibilidade dos requerentesespecialmente aqueles reiterados como a Defensoria e ndash ainda pior ndash levar agrave gradativadessensibilizaccedilatildeo do destinataacuterio o Judiciaacuterio

Mister entatildeo tentar buscar tanto quanto possiacutevel saiacutedas administrativas tratativas quetendam a diminuir a necessidade de accedilotildees judiciais muacuteltiplas procurando interpretaros princiacutepios gestores do SUS agrave luz dos direitos fundamentais constitucionalmenteconsagrados tanto sob o prisma pessoal como social de modo a se obter a melhortratamento possiacutevel mas dentro de um paracircmetro de razoabilidade sustentaacutevel sem privaro cidadatildeo de direitos mas tambeacutem sem virar artefato dos interesses da induacutestria que maiscresce no mundo alimentando esperanccedilas e desejos poreacutem nem sempre comprometidacom a responsabilidade social que deveria ter

3 A DISCIPLINA SANIAacuteRIA E OS PRINCIacutePIOS DO SISEMA UacuteNI983085CO DE SAUacuteDE8

A Constituiccedilatildeo de 1988 consagrou por seu teor e de forma sem precedentes no paiacutes apromessa de um Estado Social contando entre seus fundamentos a dignidade da pessoahumana os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa e o pluralismo poliacutetico eenaltecendo as garantias agrave cidadania conforme seu Capiacutetulo II do iacutetulo II mas tambeacutemem outras normas constitucionais a exemplo do artigo 196 dedicado ao direito agrave sauacutede A proacutepria formulaccedilatildeo estrutural da nova Carta enunciando os direitos fundamentais logoem seu iniacutecio anteriormente agrave organizaccedilatildeo estatal como ocorria nos Diplomas anteriores

7

O proacuteprio rastuzumabe verbi gratia quimioteraacutepico reclamado judicialmente e hoje decomprovada eficiecircncia requer para sua eficaacutecia a presenccedila de determinados marcadores geneacuteticosque de iniacutecio nem sempre eram verificados previamente quando da prescriccedilatildeo ou do pedidogerando espeacutecie de ldquoteste terapecircuticordquo de relevante repercussatildeo econocircmica e de efeito a longo prazoe em larga escala para a sauacutede entatildeo ainda desconhecidos8 recho parcialmente reproduzido na obra VILLAS-BOcircAS Maria Elisa O Direito agrave Sauacutede noBrasil reflexotildees bioeacuteticas agrave luz do princiacutepio da justiccedila Satildeo Paulo Loyola 2014 tambeacutem derivadada tese de Doutorado da Autora VILLAS-BOcircAS Maria Elisa Alocaccedilatildeo de Recursos em Sauacutede quando a realidade e os direitos fundamentais se chocam 2009 425 f ese (Doutorado em DireitoPuacuteblico) ndash Faculdade de Direito Universidade Federal da Bahia Salvador 2009

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jaacute denota um pioneiro espiacuterito de valorizaccedilatildeo da pessoa e de visualizaccedilatildeo do Estado comoinstrumento para o seu desenvolvimento ao menos no plano normativo

Como importante precedente para o nascimento do SUS aponta-se a VIII Conferecircncia

Nacional de Sauacutede realizada em 1986 que contou com ampla participaccedilatildeo da sociedadecivil passando-se a reconhecer como direito da populaccedilatildeo natildeo apenas o acesso aosdiferentes niacuteveis de assistecircncia agrave sauacutede mas tambeacutem a participaccedilatildeo na formulaccedilatildeo deprioridades na aacuterea9 o que interfere nos criteacuterio de alocaccedilatildeo de recursos

Assim foi que o artigo 6ordm da Constituiccedilatildeo ao enunciar os direitos sociais expressamentepreviu a sauacutede como um dos primeiros deles ao lado da educaccedilatildeo do trabalho damoradia (acrescida esta pela Emenda Constitucional nordm 26 em 2000) do lazer daseguranccedila da previdecircncia social da proteccedilatildeo agrave maternidade e agrave infacircncia e da assistecircncia

aos desamparados Em fevereiro de 2010 a Emenda Constitucional nordm 64 reconheceutambeacutem nesse rol a alimentaccedilatildeo

O direito agrave sauacutede eacute objeto ainda dos artigos 196 e seguintes da Constituiccedilatildeo vigente emque se enunciam as diretrizes para as poliacuteticas puacuteblicas na aacuterea O artigo 196 eacute enfaacuteticoem reafirmar o caraacuteter universal desse direito a ser assegurado natildeo apenas como promessaem perspectiva mas mediante accedilotildees praacuteticas de concretizaccedilatildeo a saber ldquo A sauacutede eacute direitode todos e dever do Estado garantido mediante poliacuteticas sociais e econocircmicas que visem agrave

reduccedilatildeo do risco de doenccedila e de outros agravos e ao acesso universal e igualitaacuterio agraves accedilotildeese serviccedilos para sua promoccedilatildeo proteccedilatildeo e recuperaccedilatildeordquo

Nos artigos seguintes notadamente do 197 ao 200 prevecirc-se a possibilidade de prestaccedilatildeoda sauacutede diretamente pelo Poder Puacuteblico ndash a quem cabe ainda sua regulamentaccedilatildeofiscalizaccedilatildeo e controle ndash ou atraveacutes de terceiros por pessoa fiacutesica ou juriacutedica de direitoprivado Franqueia-se a atuaccedilatildeo em sauacutede agrave iniciativa privada inclusive de formacomplementar junto ao Sistema Uacutenico de Sauacutede restringindo-se poreacutem a participaccedilatildeo

9 MELLO Dirceu Raposo de et al Anaacutelise Bioeacutetica do Papel do Estado na Garantia ao Acesso aMedicamentos In GARRAFA Volnei MELLO Dirceu Raposo de PORO Dora Bioeacutetica e Vigilacircncia Sanitaacuteria Brasiacutelia ANVISA 2007 p 17-18 e LORENZO Claacuteudio Vulnerabilidadeem Sauacutede Puacuteblica implicaccedilotildees para as poliacuteticas puacuteblicas Revista Brasileira de Bioetica BrasiacuteliaSociedade Brasileira de Bioeacutetica v 2 n 3 p 299-312 2006

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de empresas de capital estrangeiro na forma da lei (art 199)10

Em relaccedilatildeo ao Serviccedilo Uacutenico de Sauacutede (SUS) os artigos 198 e 200 o orientamapresentando como diretrizes ldquoI - descentralizaccedilatildeo com direccedilatildeo uacutenica em cada esfera de

governo II - atendimento integral com prioridade para as atividades preventivas semprejuiacutezo dos serviccedilos assistenciais III - participaccedilatildeo da comunidaderdquo Esclarece-se aindao financiamento por recursos da seguridade social e de outras fontes determinando aaplicaccedilatildeo de recursos miacutenimos em cada esfera estatal nos termos da Emenda Constitucionalnordm 29 de 2000

Aleacutem das diretrizes constitucionais a atuaccedilatildeo do SUS eacute orientada tambeacutem pela LeiOrgacircnica da Sauacutede (Lei ndeg 808090) de que se deduz como um ponto principal logoem seu artigo 2ordm a reafirmaccedilatildeo da sauacutede como direito humano fundamental ldquodevendo

o Estado prover as condiccedilotildees indispensaacuteveis para seu pleno exerciacuteciordquo Ainda nesseartigo esclarece-se que o dever do Estado quanto agrave garantia da sauacutede consiste aleacutem daformulaccedilatildeo e execuccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas preventivas no estabelecimento de condiccedilotildeesde acesso ldquouniversal e igualitaacuterio agraves accedilotildees e aos serviccedilos para a sua promoccedilatildeo proteccedilatildeo erecuperaccedilatildeordquo

O artigo 6ordm da referida legislaccedilatildeo regulamentadora inclui expressamente no campode atuaccedilatildeo do SUS a assistecircncia terapecircutica integral inclusive farmacecircutica Essa

disposiccedilatildeo tem sido causa de pedir de muitas das accedilotildees individuais que pretendem ofornecimento de medicaccedilotildees nem sempre disponibilizadas protocolarmente pelo SistemaUacutenico mas que se mostram indicadas para a situaccedilatildeo concreta do paciente A questatildeoeacute discutir quatildeo amplo eacute esse dever de provimento farmacoteraacutepico considerando

10 Eacute de se observar que conquanto a menccedilatildeo agrave remoccedilatildeo de oacutergatildeos e tecidos para transplantesencontre-se situada no artigo 199 referente agrave iniciativa privada esse tipo de procedimento eacuteexecutado pelo Sistema Uacutenico de Sauacutede no paiacutes justamente para permitir uma maior equidade emsua gestatildeo A competecircncia do referido Sistema abrange ainda de forma natildeo taxativa (art 200) ldquoI -

controlar e fiscalizar procedimentos produtos e substacircncias de interesse para a sauacutede e participar daproduccedilatildeo de medicamentos equipamentos imunobioloacutegicos hemoderivados e outros insumos II- executar as accedilotildees de vigilacircncia sanitaacuteria e epidemioloacutegica bem como as de sauacutede do trabalhadorIII - ordenar a formaccedilatildeo de recursos humanos na aacuterea de sauacutede IV - participar da formulaccedilatildeo dapoliacutetica e da execuccedilatildeo das accedilotildees de saneamento baacutesico V - incrementar em sua aacuterea de atuaccedilatildeo odesenvolvimento cientiacutefico e tecnoloacutegico VI - fiscalizar e inspecionar alimentos compreendidoo controle de seu teor nutricional bem como bebidas e aacuteguas para consumo humano VII -participar do controle e fiscalizaccedilatildeo da produccedilatildeo transporte guarda e utilizaccedilatildeo de substacircncias eprodutos psicoativos toacutexicos e radioativos VIII - colaborar na proteccedilatildeo do meio ambiente nelecompreendido o do trabalhordquo

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inclusive que as indicaccedilotildees satildeo feitas muitas vezes em usos natildeo oficializados (off label)experimentais ou extraordinaacuterios havendo de se discutir os criteacuterios que deveratildeo norteara atuaccedilatildeo estatal perante casos que tais

Os princiacutepios balizadores do Sistema Uacutenico de Sauacutede estatildeo afirmados no artigo 7ordm da Leindeg 808090 em que se sublinham

I - universalidade de acesso aos serviccedilos de sauacutede em todos os niacuteveisde assistecircnciaII - integralidade de assistecircncia entendida como conjunto articuladoe contiacutenuo das accedilotildees e serviccedilos preventivos e curativos individuais ecoletivos exigidos para cada caso em todos os niacuteveis de complexidadedo sistemaIII - preservaccedilatildeo da autonomia das pessoas na defesa de sua integridadefiacutesica e moralIV - igualdade da assistecircncia agrave sauacutede sem preconceitos ou privileacutegiosde qualquer espeacutecieV - direito agrave informaccedilatildeo agraves pessoas assistidas sobre sua sauacutedeVI - divulgaccedilatildeo de informaccedilotildees quanto ao potencial dos serviccedilos desauacutede e a sua utilizaccedilatildeo pelo usuaacuterioVII - utilizaccedilatildeo da epidemiologia para o estabelecimento de prioridadesa alocaccedilatildeo de recursos e a orientaccedilatildeo programaacuteticaVIII - participaccedilatildeo da comunidade []

Entre esses princiacutepios verificam-se de logo aparentes contradiccedilotildees tendentes a se tornarem

relevantes paradoxos praacuteticos Ao se mencionar por exemplo a autonomia ndash importanteaspecto da relaccedilatildeo profissional-paciente salvaguardado entre outros no artigo 15 doCoacutedigo Civil de 200211 ndash haacute que se identificar a existecircncia de limites no acircmbito dessaautonomia ais limites natildeo decorrem apenas dos cerceamentos morais e legais amplos(vedaccedilatildeo agrave eutanaacutesia ao aborto salvo exceccedilotildees legais ou ao auxiacutelio ao suiciacutedio verbi gratia ) mas satildeo tambeacutem advindos das proacuteprias normas especiacuteficas regentes do SistemaUacutenico de Sauacutede passando a balizar natildeo somente a autonomia do paciente como tambeacutemem certa medida a proacutepria autonomia profissional12 buscando-se priorizar em suasprescriccedilotildees e entre opccedilotildees tecnicamente equivalentes aquelas jaacute incorporadas pelo SUS

De outro lado tampouco pode a referida autonomia meacutedica ser mortalmente ferida sehaacute fundamentos relevantes para acreditar que a prescriccedilatildeo de determinada medicaccedilatildeo seja

11 ldquo Art 15 Ningueacutem pode ser constrangido a submeter-se com risco de vida atratamento meacutedico ou a intervenccedilatildeo ciruacutergica rdquo12 O item II do Capiacutetulo II do Coacutedigo de Eacutetica Meacutedica atual aponta como direito do meacutedicoldquoIndicar o procedimento adequado ao paciente observadas as praacuteticas cientificamente reconhecidase respeitada a legislaccedilatildeo vigenterdquo

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170 DEFENSORIA PUacuteBLICA DA UNIAtildeO Escola Superior

substancialmente favoraacutevel ao paciente

Assim como ponto de equiliacutebrio o profissional deveraacute dar preferecircncia agraves medicaccedilotildeese tratamentos constantes no rol do Sistema Uacutenico de Sauacutede desde que em condiccedilotildees

de equivalecircncia de modo que dessa escolha natildeo advenham reconhecidos prejuiacutezos aopaciente Nesse sentido um trabalho de conscientizaccedilatildeo dos profissionais meacutedicosmediante atuaccedilatildeo conjunta junto a essa esfera pode ser de grande valia para reduzir accedilotildees judiciais em vista de prescriccedilotildees mal justificadas

Mesmo em relaccedilatildeo a atendimentos particulares haacute que se evitar a prescriccedilatildeo desarrazoadade medicaccedilotildees de eficaacutecia natildeo comprovada que em uacuteltima anaacutelise viratildeo a ser reclamadasdo Sistema Uacutenico de Sauacutede (inclusive em vista do fator empobrecedor da doenccedila e dauniversalidade prevista) convertendo o paciente em verdadeiro sujeito (ou objeto) de

pesquisa natildeo organizada e gerando gastos e expectativas vatildeos

Outro aparente paradoxo se poderia assinalar em relaccedilatildeo aos princiacutepios arrolados nositens II e VII De um lado assegura-se a integralidade da assistecircncia De outro contudoadota-se o uso da epidemiologia para o estabelecimento de prioridades e a alocaccedilatildeo derecursos Como proceder entatildeo se for necessaacuteria assistecircncia profissional para doenccedilaepidemiologicamente rara e de tratamento particularmente caro Eacute o que se tem notadoem muitos dos casos que chegam ao Judiciaacuterio nos quais se passa a discutir ainda que natildeo

expressamente a visatildeo utilitarista e o impasse entre a prevalecircncia do interesse individualou coletivo na alocaccedilatildeo de recursos em questatildeo13

Seguem-se nos artigos 8ordm a 19 a organizaccedilatildeo descentralizada (que compotildee o nono princiacutepiogestor do Sistema juntamente com a direccedilatildeo uacutenica em cada instacircncia) e sua divisatildeo entreas trecircs esferas ndash nacional estadual e municipal Cuida-se aqui de circunstacircncia tambeacutemcomumente suscitada pelos entes estatais reacuteus arguindo natildeo serem partes legiacutetimas nahipoacutetese haja vista a separaccedilatildeo de atribuiccedilotildees desenhada na legislaccedilatildeo especiacutefica Veja-se contudo que a separaccedilatildeo de tarefas entre as esferas estatais natildeo retira delas o dever

global do Estado de provimento da sauacutede cuja responsabilidade eacute em uacuteltima instacircncia

13 Nesse sentido em prol da necessidade de anaacutelise muldimensional inclusive para otimizar aassistecircncia coletiva inviabilizando a anaacutelise individualista da questatildeo cf FERRAZ OctaacutevioLuiz Motta VIEIRA Fabiacuteola Sulpino Direito agrave sauacutede recursos escassos e equumlidade os riscosda interpretaccedilatildeo judicial dominante Disponiacutevel em httpwwwstfjusbrarquivocmsprocessoAudienciaPublicaSaudeanexoDireito_a_Saude_Recursos_escassos_e_equidadepdf Acesso em 25abr2015

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solidaacuteria14 Constata-se assim tiacutepico exemplo do chamado federalismo cooperativo oude colaboraccedilatildeo15 mais caracteriacutestico dos Estados de Bem-Estar Social e em que haacute umadivisatildeo de tarefas menos riacutegida e mais intercambiante conforme as necessidades praacuteticasque se apresentem ainda que persista o princiacutepio da subsidiariedade segundo o qual a

instacircncia superior deve agir quando natildeo resolviacutevel o problema nas instacircncias menores

Nesse mister o artigo 7ordm prevecirc ainda como princiacutepios simultacircneos do Sistema adescentralizaccedilatildeo poliacutetico-administrativa com direccedilatildeo uacutenica em cada esfera de governo(inciso IX) enfatizando a descentralizaccedilatildeo dos serviccedilos para os municiacutepios a regionalizaccedilatildeoe a hierarquizaccedilatildeo da rede de serviccedilos de sauacutede bem assim a organizaccedilatildeo dos serviccedilospuacuteblicos de modo a evitar duplicidade de meios para fins idecircnticos (inciso XIII) ndash o queeacute realmente um risco na incumbecircncia solidaacuteria Considerando-se todavia a falha noprovimento por todas as esferas a motivar a provocaccedilatildeo judicial o mesmo artigo estipula

a ldquoconjugaccedilatildeo dos recursos financeiros tecnoloacutegicos materiais e humanos da Uniatildeo dosEstados do Distrito Federal e dos Municiacutepios na prestaccedilatildeo de serviccedilos de assistecircncia agravesauacutede da populaccedilatildeordquo (inciso XI) e a ldquocapacidade de resoluccedilatildeo dos serviccedilos em todos osniacuteveis de assistecircncia rdquo (inciso XII) o que reafirma a noccedilatildeo de solidariedade federativa nodever de provimento da sauacutede

Ainda no que tange agrave conflituosa relaccedilatildeo entre as previsotildees legais e suas implementaccedilotildees

14 Sobre a discussatildeo acerca da solidariedade entre os entes estatais na aacuterea a jurisprudecircncia dosribunais Superiores jaacute reconheceu amplamente sua existecircncia caracterizando a existecircncia de umfederalismo cooperativo na espeacutecie Anteriormente ao posicionamento judicial jaacute se manifestavamem favor da responsabilidade concomitante e solidaacuteria das trecircs esferas estatais autores como DALLARI Sueli Gandolfi Os Estados Brasileiros e o Direito agrave Sauacutede Satildeo Paulo Hucitec1995 p 37-42 e SCHWARZ Germano Direito agrave Sauacutede Efetivaccedilatildeo em uma PerspectivaSistecircmica Porto Alegre Livraria do Advogado 2001 p 101 203 COHN Ameacutelia et al A Sauacutedecomo Direito e como Serviccedilo Satildeo Paulo Cortez 2008 p 68 entre outros assinalando o fato deque a regionalizaccedilatildeo e a descentralizaccedilatildeo tecircm por escopo favorecer a acessibilidade e natildeo dificultaacute-la natildeo obstando portanto a solidariedade entre os entes puacuteblicos Em favor da responsabilidade

sucessiva e natildeo solidaacuteria por forccedila da descentralizaccedilatildeo do Sistema cf FIGUEIREDO MarianaFilchtiner Direito Fundamental agrave Sauacutede Paracircmetros para sua Eficaacutecia e Efetividade Porto Alegre Livraria do Advogado 2007 p 157-16115 Cf por todos AVARES Andreacute Ramos Curso de Direito Constitucional 2ed Satildeo PauloSaraiva 2003 e SRECK Lecircnio Luiz MORAIS Joseacute Luiacutes Bolzan de Ciecircncia poliacutetica eteoria geral do estado 2ed Porto Alegre Livraria do Advogado 2000 Sobre o princiacutepio dasubsidiariedade nesse caso cf tambeacutem CANOILHO J J Gomes Direito Constitucional eeoria da Constituiccedilatildeo 7ed Coimbra Almedina [2003] Ainda sobre o tema da influecircnciado federalismo na mateacuteria cf o trabalho de DALLARI Sueli Gandolfi loc cit assinalando aabordagem diferenciada em cada constituiccedilatildeo estadual acerca do conteuacutedo do direito agrave sauacutede

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172 DEFENSORIA PUacuteBLICA DA UNIAtildeO Escola Superior

praacuteticas eacute de se notar que em 1999 foi incluiacutedo capiacutetulo referente agrave atenccedilatildeo agrave sauacutedeindiacutegena e em 2002 previu-se um subsistema de atendimento e internaccedilatildeo domiciliarEsses uacuteltimos cuidados ditos home care conquanto ainda pouco utilizados vecircmadequar-se ao quanto previsto na Constituiccedilatildeo Federal em seu artigo 230 paraacutegrafo 1ordm

notadamente em relaccedilatildeo aos idosos a saber ldquosect 1ordm - Os programas de amparo aos idososseratildeo executados preferencialmente em seus laresrdquo Em 2005 acolheu-se na legislaccedilatildeo umsubsistema de acompanhamento durante o trabalho de parto parto e poacutes-parto imediatoprevendo a possibilidade de acompanhante nesses eventos a exemplo do que jaacute fizera oEstatuto da Crianccedila e do Adolescente em relaccedilatildeo agrave previsatildeo de acompanhante para omenor internado no acircmbito do SUS (artigo 12 da Lei 806990 e Resoluccedilatildeo ndeg 4195sobre os direitos da crianccedila e do adolescente hospitalizados) revelando uma tendecircncia dehumanizaccedilatildeo dos procedimentos puacuteblicos de sauacutede

Na praacutetica ainda natildeo se implementaram amplamente esses novos espectros do direito agravesauacutede mas natildeo se os diga impossiacuteveis nem desnecessaacuterios Eacute curioso notar verbi gratia que quando do surgimento do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente tampouco era praxea manutenccedilatildeo dos pais junto aos pequenos pacientes ndash algo que hoje soa imprescindiacutevelndash e a afirmaccedilatildeo legislativa desse direito foi reputada como inviaacutevel dentro da estruturahospitalar da eacutepoca Menos de uma deacutecada depois todavia embora natildeo existam aindahoje instalaccedilotildees ideais em termos de conforto jaacute natildeo se cogita mais internar crianccedilas ouadolescentes sem lhes assegurar a permanecircncia de um dos responsaacuteveis Demonstrou-se

com isso que muitas das resistecircncias agrave implementaccedilatildeo de direitos satildeo bem mais culturaispor haacutebito ou falta de vontade poliacutetica do que propriamente por reais inviabilidadesfinanceiras ou operacionais Vive-se atualmente similar situaccedilatildeo quanto agrave previsatildeo deacompanhante para o idoso ou a gestante em trabalho de parto

Em relaccedilatildeo ao planejamento e orccedilamento a propoacutesito outro argumento habitual doEstado-reacuteu diz respeito justamente agrave impossibilidade de deslocamento de verbas natildeoprevistas na organizaccedilatildeo orccedilamentaacuteria dentro do Sistema Uacutenico de Sauacutede ou de outrasaacutereas para este sob pena de responsabilizaccedilatildeo fiscal Nessa seara poreacutem o artigo 36

paraacutegrafo 2ordm da Lei ndeg 808090 eacute enfaacutetico ao estabelecer que ldquoEacute vedada a transferecircnciade recursos para o financiamento de accedilotildees natildeo previstas nos planos de sauacutede exceto emsituaccedilotildees emergenciais ou de calamidade puacuteblica na aacuterea de sauacutederdquo (grifou-se)

Para exercer suas atividades o Sistema Uacutenico de Sauacutede conta com inuacutemeras outras normasgestoras ndash natildeo apenas leis de acircmbito nacional mas tambeacutem Portarias e normas de acircmbitoestadual e local ndash que detalham essa atuaccedilatildeo Assim eacute que por exemplo a Portaria nordm

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3916 de 30 de outubro de 1998 estabelece a Poliacutetica Nacional de Medicamentos a serauxiliada por normas outras como a Lei ndeg 978799 dita ldquoLei dos Geneacutericosrdquo definindoo medicamento geneacuterico como aquele similar a um produto de referecircncia ou inovadorque se pretende ser com este intercambiaacutevel geralmente produzido apoacutes a expiraccedilatildeo ou

renuacutencia da proteccedilatildeo patentaacuteria ou de outros direitos de exclusividade comprovada a suaeficaacutecia seguranccedila e qualidade

Prevecirc-se ainda que esses medicamentos devem ser preferidos no acircmbito do SUSpelo custo e acrescente-se pela impessoalidade mesma que deve caracterizar a atuaccedilatildeoadministrativa estatal desaconselhando a preferecircncia por produtos de laboratoacuterios oumarcas determinados em detrimento de produtos de denominaccedilatildeo comum brasileira ouna sua falta internacional a indicar maior neutralidade em prestaccedilatildeo equivalente

Jaacute se tem aiacute um paracircmetro a nortear as prescriccedilotildees e decisotildees na mateacuteria deve a prestaccedilatildeofarmacoloacutegica do Sistema Uacutenico de Sauacutede se pautar pelo fornecimento de medicaccedilotildees quedentre as que contecircm a substacircncia ativa necessaacuteria atendam agraves necessidades de eficaacuteciae seguranccedila poreacutem com menor custo maior impessoalidade e generalidade pois natildeoassociada a marca especiacutefica O uso racional desses recursos passa ainda pela orientaccedilatildeodos meacutedicos na criteriosa avaliaccedilatildeo das medicaccedilotildees prescritas privilegiando dentro deum paracircmetro de equivalecircncia aquelas jaacute constantes fornecimento regular pelo Sistema 16

16 Os produtos padronizados constam da Relaccedilatildeo Nacional de Medicamentos Essenciais (RENAME) Nosentido de promover a observacircncia da lista cita-se por exemplo a Portaria Estadual nordm 1475BA publicadano Diaacuterio Oficial do Estado de 300908 que ldquoConstitui Grupo de trabalho no acircmbito do SUS com oescopo de elaborar orientaccedilotildees e diretrizes aos profissionais meacutedicos no sentido de esgotarem as alternativasde faacutermacos previstas nos Protocolos Cliacutenicos e Diretrizes erapecircuticas do Ministeacuterio da Sauacutede e demais atosque lhe forem complementares antes de prescrever tratamento medicamentoso diverso aos pacientes nostermos da Notificaccedilatildeo Recomendatoacuteria 0022007 da Promotoria de Justiccedila e da Cidadania do MinisteacuterioPuacuteblico do Estado da Bahiardquo De acordo com a Organizaccedilatildeo Mundial da Sauacutede - OMS (Nairobi Quecircnia1985) ldquoHaacute uso racional quando pacientes recebem medicamentos apropriados para suas condiccedilotildees cliacutenicasem doses adequadas agraves suas necessidades individuais por um periacuteodo adequado e ao menor custo para si e

para a comunidaderdquo Segundo o Ministeacuterio da Sauacutede o uso racional de medicamentos consiste no ldquoprocessoque compreende a prescriccedilatildeo apropriada a disponibilidade oportuna e a preccedilos acessiacuteveis a dispensaccedilatildeoem condiccedilotildees adequadas e o consumo nas doses indicadas nos intervalos definidos e no periacuteodo de tempoindicado de medicamentos eficazes seguros e de qualidaderdquo (BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria dePoliacuteticas de Sauacutede Departamento de Atenccedilatildeo Baacutesica Poliacutetica nacional de medicamentos 2001Ministeacuterio daSauacutede Secretaria de Poliacuteticas de Sauacutede Departamento de Atenccedilatildeo Baacutesica ndash Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede2001 ambeacutem disponiacutevel em lthttpwwwopasorgbrmedicamentossiteUploadArqpnmpdfgtacessado em 02out08) Outros programas para estimular o uso racional de medicamentos encontram-sena paacutegina eletrocircnica do Ministeacuterio da Sauacutede (httpportalsaudegovbrportalsaudeareacfmid_area=1141acessado em 05out08)

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A alocaccedilatildeo de medicamentos no paiacutes estaacute dividida segundo o Ministeacuterio da Sauacutede em trecircscategorias baacutesicas17 medicamentos baacutesicos ou essenciais ldquopertencentes a um elenco miacutenimoobrigatoacuterio a ser dispensado na atenccedilatildeo baacutesicardquo ou na dicccedilatildeo legal aqueles consideradosldquobaacutesicos e indispensaacuteveis para atender a maioria dos problemas de sauacutede da populaccedilatildeordquo

previstos na Portaria do Ministeacuterio da Sauacutede nordm 32372007 medicamentos estrateacutegicosutilizados em programas especiacuteficos do Ministeacuterio da Sauacutede como aqueles de combateagrave AIDS tuberculose hanseniacutease diabetes doenccedila de Chagas malaacuteria coagulopatias eoutras conforme Portaria do Ministeacuterio da Sauacutede nordm 2042007 e medicamentos dedispensaccedilatildeo especial ou excepcional eacute dizer aqueles geralmente de alto custo destinadosa patologias especiacuteficas e complexas que atingem um nuacutemero limitado de pacientes parauso prolongado Esses procedimentos e recursos terapecircuticos encontravam-se arroladosna Portaria do Ministeacuterio da Sauacutede nordm 25772006 Eacute de se observar que sendo essauacuteltima uma das categorias mais solicitadas judicialmente e mais associadas com a evoluccedilatildeo

biotecnoloacutegica chama a atenccedilatildeo o fato de ter sido por muito tempo justamente aPortaria mais antiga deixando margem agrave criacutetica de provaacutevel desatualizaccedilatildeo em relaccedilatildeo aosavanccedilos atuais tendo sido atualizada pela Portaria GMMS 18692008 e revogada pelaPortaria GMMS 1062009 tambeacutem jaacute revogada A mateacuteria tambeacutem sofreu alteraccedilotildeespelas Portarias 2981 de 26 de novembro de 2009 Portaria 343GMMS de 22 defevereiro de 2010 Portaria 3439MS de 11 de novembro de 2010 e atualmente pelosPCD (PROOCOLOS CLIacuteNICOS E DIRERIZES ERAPEcircUICAS) a indicarparacircmetros de abordagem e tratamento para cada patologia

Analisando-se os montantes empregados em cada uma das categorias verifica-se que os

17 MELLO Dirceu Raposo et al op cit p 27-28 SALAZAR Andrea Lazzarini GROU Karina Bozola ADefesa da Sauacutede em Juiacutezo eoria e Praacutetica Satildeo Paulo Verbatim 2009 p 112-113

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gastos com medicamentos especiais superam em muito aqueles com medicaccedilotildees baacutesicas18 Dentre os medicamentos estrateacutegicos ndash responsaacuteveis pelo maior volume de custos commedicaccedilotildees entre os trecircs grupos na segunda metade da deacutecada passada ndash aqueles dirigidosao programa de HIVAIDS sofreram acreacutescimo substancial em 2006 ante as novas drogas

incorporadas ao cataacutelogo farmacoloacutegico de tratamento da doenccedila passando a representarsozinhos quase uma vez e meia o gasto com todas as demais drogas estrateacutegicas

Mais uma vez fica evidente que prevenir aleacutem de melhor sai bem mais barato que

18 Segundo quadro comparativo elaborado em MELLO Dirceu Raposo et al op cit p 28-29 a partirde dados do Ministeacuterio da Sauacutede os gastos com medicamentos baacutesicos em 2006 foram da ordem de 290milhotildees de reais representando 67 dos gastos com medicaccedilatildeo ao passo que o montante despendido commedicamentos de dispensaccedilatildeo especial alcanccedilaram a cifra de um bilhatildeo 355 milhotildees de reais equivalendoa 32 do orccedilamento para a aacuterea Dentre os medicamentos estrateacutegicos aqueles destinados ao programade DSAIDS custaram aos cofres puacuteblicos naquele ano 960 milhotildees de reais enquanto no ano anteriorrepresentaram despesa de 550 milhotildees de reais Cumpre assinalar que o programa de fornecimento gratuitode medicaccedilotildees antirretrovirais aos portadores de HIV no paiacutes eacute elogiado em todo o mundo pela iniciativapioneira na aacuterea apontada como exemplo na universalizaccedilatildeo do tratamento e inclusatildeo a esses pacientes A Leique cuida da mateacuteria ndash Lei ndeg 931396 ndash foi acompanhada por uma seacuterie de decisotildees judiciais proacute direitoagrave sauacutede determinando o efetivo provimento das medicaccedilotildees e sua atualizaccedilatildeo conforme o estado cientiacuteficomundial nos termos da redaccedilatildeo legal Nesse sentido se assinala entre outros o seguinte acoacuterdatildeo provenientedo Supremo ribunal Federal defendendo a aplicabilidade imediata das normas relativas ao direito agravesauacutede PACIENE COM HIVAIDS ndash PESSOA DESIUIacuteDA DE RECURSOS FINANCEIROS ndashDIREIO Agrave VIDA E Agrave SAUacuteDE ndashFORNECIMENO GRAUIO DE MEDICAMENOS ndash DEVERCONSIUCIONAL DO PODER PUacuteBLICO (CF ARS 5ordm CAPU E 196) O DIREIO Agrave SAUacuteDEREPRESENA CONSEQUumlEcircNCIA CONSIUCIONAL INDISSOCIAacuteVEL DO DIREIO Agrave VIDA

O direito puacuteblico subjetivo agrave sauacutede representa prerrogativa juriacutedica indisponiacutevel assegurada agrave generalidadedas pessoas pela proacutepria Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica (art 196) raduz bem juriacutedico constitucionalmentetutelado por cuja integridade deve velar de maneira responsaacutevel o Poder Puacuteblico a quem incumbe formularndash e implementar ndash poliacuteticas sociais e econocircmicas idocircneas que visem a garantir aos cidadatildeos inclusive agravequelesportadores do viacuterus HIV o acesso universal e igualitaacuterio agrave assistecircncia farmacecircutica e meacutedico-hospitalar Odireito agrave sauacutede ndash aleacutem de qualificar-se como direito fundamental que assiste a todas as pessoas ndash representaconsequumlecircncia constitucional indissociaacutevel do direito agrave vida O Poder Puacuteblico qualquer que seja a esfera institucionalde sua atuaccedilatildeo no plano da organizaccedilatildeo federativa brasileira natildeo pode mostrar-se indiferente ao problema da sauacutededa populaccedilatildeo sob pena de entender ainda que por censuraacutevel omissatildeo em grave comportamento inconstitucional(AGRRE nordm 271286-RS Rel Min Celso de Mello SF DJ 241100 p 101)

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176 DEFENSORIA PUacuteBLICA DA UNIAtildeO Escola Superior

remediar 19

Fato eacute queNenhum paiacutes ateacute o momento conseguiu estabelecer um limite oacutetimode gasto financeiro para melhorar a sauacutede de seus cidadatildeos os EUA

gastam 146 do PIB com sauacutede sendo o Estado responsaacutevel por449 desse total e 5 dos gastos puacuteblicos com sauacutede dizem respeitoaos medicamentos Ainda sobre os EUA dados de domiacutenio puacuteblicoinformam que cerca de 50 milhotildees de cidadatildeos natildeo tecircm acesso aosserviccedilos de sauacutede No Brasil os gastos com sauacutede correspondem agrave cifrade 79 do PIB sendo que o setor puacuteblico eacute responsaacutevel por 459desses gastos e os medicamentos representam 74 desses gastospuacuteblicos20

Sem duacutevida a garantia adequada do direito agrave sauacutede natildeo constitui um problema apenaspara os paiacuteses em desenvolvimento embora nesses falte o acesso ao que haacute de mais baacutesicopossiacutevel para a manutenccedilatildeo e a recuperaccedilatildeo da sauacutede ambeacutem os paiacuteses desenvolvidos

19 Aleacutem das despesas jaacute esperadas com tais medicamentos avultam ainda os gastos decorrentes de processos judiciais A esse respeito notiacutecia veiculada em setembro de 2008 na imprensa deu conta de que ldquoEntre2005 e 2008 o governo federal aumentou em 1820 (quase 20 vezes) as despesas decorrentes de ordens

judiciais que obrigam a Uniatildeo a pagar por medicamentos especiais Apenas na primeira metade deste anoforam gastos pelo governo federal por ordem da Justiccedila R$ 48 milhotildees nesses tratamentos Em 2005 oinvestimento foi de R$ 25 milhotildeesrdquo ambeacutem foi informado que ldquoa cada mecircs Satildeo Paulo gasta R$ 400milhotildees com remeacutedios obtidos pelos doentes mediante ordem judicial e que natildeo satildeo fornecidos pelo SUS Asituaccedilatildeo natildeo eacute muito diferente no Rio Grande do Sul Foram R$ 31 milhotildees com accedilotildees judiciais envolvendomedicamentos em 2006 e R$ 50 milhotildees em 2007 e a previsatildeo eacute de que sejam gastos R$ 150 milhotildees nesteano ndash o equivalente a um terccedilo do total de recursos de custeio dos programas da Secretaria Estadual deSauacutederdquo Dentro desses valores apurou-se ainda a ocorrecircncia de fraudes envolvendo meacutedicos e advogadosque mediante pedidos judiciais providos teriam resultado em prejuiacutezo de R$ 63 milhotildees aos cofrespuacuteblicos (REZZI Humberto Sauacutede Aumento no gasto do governo em remeacutedios especiais eacute investigadoPromotores e policiais suspeitam que quadrilhas falsificariam atestados para obrigar a Uniatildeo a fornecermedicamentos de alto custo a pacientes por via judicial Jornal Zero Hora Porto Alegre ediccedilatildeo ndeg 15734

Disponiacutevel em lthttpzerohoraclicrbscombrzerohorajspdefault2jspuf=1amplocal=1ampsource=a2195502xmlamptemplate=3898dwtampedition=10739ampsection=1003gt acessado em 12out08) Deduz-se daiacute queconquanto via relevantiacutessima para o controle do atendimento do direito fundamental agrave sauacutede a prestaccedilatildeo

jurisdicional haacute de ser particularmente cautelosa na anaacutelise de tais pleitos sobretudo quando em sede deprovimentos liminares por natildeo se poder desconsiderar o grave impacto que essas decisotildees tecircm tomado noorccedilamento sanitaacuterio Eacute imprescindiacutevel entatildeo sempre que possiacutevel e especialmente quando o fornecimentoeacute feito a entidades privadas sobre as quais incide menor controle na utilizaccedilatildeo desses recursos a realizaccedilatildeode periacutecia meacutedica judicial a constatar a efetiva necessidade e infungibilidade do recurso demandado naquelecaso concreto20 MELLO Dirceu Raposo et al op cit p 23

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tecircm problemas para assegurar os cuidados de sauacutede esperados pela populaccedilatildeo situaccedilatildeoque se agrava progressivamente com o envelhecimento da populaccedilatildeo (com suas conhecidasconsequecircncias para o equiliacutebrio previdenciaacuterio) e com o desenvolvimento crescente dosrecursos farmacecircuticos e biotecnoloacutegicos criando patamares cada vez mais elevados de

atenccedilatildeo agrave sauacutede21

Elevou-se a qualidade e a quantidade de vida o que eacute um aspectoinegavelmente positivo mas que gera outrossim consequecircncias de difiacutecil equiliacutebrioeconocircmico

4 DEMANDAS JUDICIAIS EM SAUacuteDE COMO AVANCcedilAR EM DIRECcedilAtildeO

AO QUE PARECE NAtildeO ER SAIacuteDA

Questionado sobre formas de viabilizaccedilatildeo de um sistema puacuteblico de sauacutede dentro dessecontexto ponderou primeiramente Diego Gracia 22 que quem tem receituaacuterio fazalocaccedilatildeo Com efeito Ao fazer uma mera prescriccedilatildeo individual o meacutedico estaacute a indicarali os paracircmetros para o exerciacutecio do direito agrave sauacutede pelo paciente Eacute para alcanccedilar orecurso prescrito que o cidadatildeo vai agrave Justiccedila pleitear ao Estado ou ao plano de sauacutede queo forneccedila Eacute na prescriccedilatildeo que se baseia o Juiz quando antecipa uma tutela mesmo antes

de ouvir a parte adversa na convicccedilatildeo de que haacute urgecircncia no acesso agravequele recurso

Mister assim para racionalizar o uso de medicamentos e recursos no SUS orientar eracionalizar tambeacutem as prescriccedilotildees meacutedicas de modo que sem sacrificar a sauacutede dopaciente tampouco se sacrifique indevidamente o Sistema organizado para protegecirc-lae garanti-la Nesse ponto erige-se a validade de se pensar um trabalho conjunto comorganizaccedilotildees profissionais como uma outra vertente para a maior efetivaccedilatildeo na prestaccedilatildeo

21

Nesse sentido cf a obra AARON Henry J SCHWARZ William B Te Painful Prescriptionhellipreferente sobretudo aos Estados Unidos e agrave Inglaterra mas que tambeacutem menciona a situaccedilatildeo de outros paiacutesesdesenvolvidos como a Franccedila e o Canadaacute ambeacutem trata do assunto entre outros PENCHASZADEHVictor Bioeacutetica y medicina social Una confluencia necesaria Revista Brasileira de Bioeacutetica BrasiacuteliaSociedade Brasileira de Bioeacutetica v 3 n 2 p 129-149 2007 p 137 Destaque-se outrossim a recentepolecircmica envolvendo o governo americano do Presidente Barack Obama ante a perspectiva de maiordemocratizaccedilatildeo do acesso agrave sauacutede em confronto com o arcabouccedilo tendencialmente liberal da poliacutetica daqueleEstado no setor ateacute entatildeo22 GRACIA Diego Bioeacutetica Cliacutenica e Contexto Social In VII CONGRESSO BRASILEIRO DEBIOEacuteICA Satildeo Paulo 2007 Conferecircncia

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178 DEFENSORIA PUacuteBLICA DA UNIAtildeO Escola Superior

e cobranccedila do direito agrave sauacutede

A especial atenccedilatildeo aos preceitos da Medicina Baseada em Evidecircncias devidamentefundamentada em relatoacuterios e prescriccedilotildees acurados com a cuidadosa anaacutelise e

demonstraccedilatildeo de eficaacutecia seguranccedila e eficiecircncia23

quer no geral quer no caso concretotambeacutem satildeo de grande valia para a atuaccedilatildeo coerente e racional na aacuterea inclusive a fim deevitar que o assistido seja engolfado por esperanccedilas vatildes de resultados temeraacuterios tentativasheroicas sem perspectivas reais e pesquisas multinacionais em larga escala que exacerbamsua vulnerabilidade e fragilizam a credibilidade dos pedidos judiciais no setor Nessecontexto mister evitar tambeacutem pedidos irrazoaacuteveis natildeo factiacuteveis na praacutetica ou opccedilotildees

23 Embora costumeiramente usadas de forma equivalente as expressotildees eficaacutecia eficiecircncia e efetividade tecircmsignificados teacutecnicos especiacuteficos na seara da MBE Nesse sentido a seguranccedila mencionada implica a anaacutelisede que os danos colaterais possiacutevel sejam inferiores aos benefiacutecios oferecidos com seu uso para o fim a quese propotildee A eficaacutecia consiste na evidecircncia de ter o recurso prescrito comprovado efeito beneacutefico para aquelecaso (ldquofazem o que se propotildeem a fazerrdquo ndash na expressatildeo de VIEIRA Fabiacuteola Sulpino op cit p365-369)evitando-se os chamados ldquoprodutos de complacecircnciardquo ndash sem eficaacutecia comprovada mas prescritos por insistecircnciado paciente ou por pressatildeo do marketing industrial por exemplo ndash bem como os atos aparentemente cliacutenicosmas que se mostram em verdade experimentais visto que natildeo validados de nenhuma forma cientificamente

aceita a qual permita asseveraacute-los como realmente producentes e seguros A efetividade propriamente dita corresponde agrave eficaacutecia e agrave eficiecircncia em condiccedilotildees reais de sorte a evitar desperdiacutecios Eacute dizer que os produtoseleitos ldquofazem o que se propotildeem a fazer quando utilizados pelas pessoas em condiccedilotildees reais e natildeo em gruposhomogecircneos que constituem os grupos de pessoas dos ensaios cliacutenicosrdquo (idem ibidem) Por fim a eficiecircnciaou custo-efetividade envolve a avaliaccedilatildeo da relaccedilatildeo custobenefiacutecio de modo a se constatar a substancialvantagem de dado recurso em relaccedilatildeo a outro observadas a eficaacutecia e a efetividade propriamente ditaSignifica dizer que o produto em questatildeo ldquoentre as alternativas disponiacuteveis faz o que se propotildee a fazer paraas pessoas em condiccedilotildees reais ao menor custordquo (idem ibidem) Embora conceitos mais utilizados no acircmbitoeconocircmico e de macroalocaccedilatildeo de recursos acabam repercutindo na microalocaccedilatildeo individual ao requerermaior comprovaccedilatildeo quando de pedido que natildeo leve em consideraccedilatildeo tais subprinciacutepios Segundo a ANVISAtem-se a efetividade como ldquogarantia de medicamentos eficazes eou efetivos e seguros cuja relaccedilatildeo risco-benefiacutecio seja favoraacutevel e comprovada a partir das melhores evidecircncias cientiacuteficas disponiacuteveis na literatura

e com registro aprovado na Agecircncia Nacional de Vigilacircncia Sanitaacuteria (ANVISA)rdquo e a eficiecircncia como aldquogarantia de medicamentos que proporcionem a melhor resposta terapecircutica aos usuaacuterios com os menorescustos para o SUSrdquo (Lei 124012011 e pela Resoluccedilatildeo 01 do Ministeacuterio da Sauacutede de 17 de janeiro de2012) Eacute fato que considerando os escores da Medicina baseada em evidecircncia alega o Estado de praxe quea experiecircncia do meacutedico prescritor isoladamente e mesmo do perito judicial natildeo teriam niacutevel de sustentaccedilatildeocientiacutefica bastante para subsidiar a concessatildeo de medicaccedilatildeo natildeo padronizada pelo SUS todavia considerandoos requisitos de antecipaccedilatildeo de tutela pode conter se bem fundamentada em estudos outros de indicaccedilatildeoseguranccedila eficaacutecia efetividade e eficiecircncia elementos suficientes de verossimilhanccedila aleacutem de representara realidade daquele indiviacuteduo preocupando-se em registrar inclusive a ausecircncia de resposta ou indicaccedilatildeoquanto agraves outras opccedilotildees disponiacuteveis haja vista que como se costuma constatar a resposta individual nemsempre corresponde agravequela epidemiologicamente esperada

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comerciais especiacuteficas substituiacuteveis por equivalentes terapecircuticos disponiacuteveis no SUS24

Outro aspecto a ser sopesado eacute o modo e o conteuacutedo como feitos os pedidos na medida emque a proteccedilatildeo ao direito agrave sauacutede de um deve considerar a existecircncia de outros envolvidos

na alocaccedilatildeo de recursos diante da escassez real Exemplo disso satildeo os pedidos de vagaou de prioridade em filas de transplantes que necessariamente envolvem o cotejo comoutros afetados que natildeo satildeo parte no processo Natildeo raro se tem notiacutecia de comandos deprisatildeo a gestores hospitalares que tecircm todos os seus leitos ocupados por natildeo disporem devagas Inegaacutevel a falha estatal na espeacutecie mas ela natildeo pode ser resolvida com o comandoainda que indireto de retirada de pacientes que ainda necessitem do leito e cuidados paraalocaccedilatildeo de outro dotado de comando judicial Opccedilatildeo nesse caso eacute o pedido subsidiaacuteriode alocaccedilatildeo em unidades privadas agraves expensas do Estado natildeo por mera opccedilatildeo do enfermomas se natildeo houver leitos disponiacuteveis nas unidades puacuteblicas

Do ponto de vista estatal eacute mister o ajuste constante das poliacuteticas puacuteblicas de sortea mantecirc-las condizentes com as carecircncias da comunidade e atualizadas dentro dasmargens de efetividade terapecircutica a fim de se tentar com isso minorar a necessidade deintervenccedilotildees judiciais suplementares na aacuterea aleacutem de favorecer o proacuteprio funcionamentoadequado do Sistema em conformidade com seus princiacutepios gestores e com as previsotildeese garantias constitucionais sem acarretar a falecircncia do Sistema nem converter o direitouniversal agrave sauacutede em mera retoacuterica demagoacutegica

Nesse contexto a atuaccedilatildeo e participaccedilatildeo equilibrada da Defensoria junto a oacutergatildeos puacuteblicose conselhos interdisciplinares pode ser de grande valia para uma maior eficaacutecia na soluccedilatildeo

24 Em palestra proferida do II Foacuterum Brasileiro sobre Assistecircncia Farmacecircutica e Farmacoeconomia ocorridoem setembro de 2014 em Salvador-Bahia com a presenccedila de gestores puacuteblicos membros do JudiciaacuterioMinisteacuterio Puacuteblico Defensoria Puacuteblica e Advogados Puacuteblicos a representante paulista do CONASS(Conselho Nacional dos Secretaacuterios de Sauacutede) apresentou demonstrativo de pedidos em demandas judiciaissanitaacuterias contra o Estado e o Municiacutepio de Satildeo Paulo em que incluiacutedos itens como ldquoleite de cabra frescordquondash o qual resultou descumprido por absoluta ausecircncia de resposta agrave licitaccedilatildeo simplificada para localizar

detentores de cabras na cidade de Satildeo Paulo Nessa ocasiatildeo tambeacutem mostrou a palestrante estudo feitoquanto agraves 41000 accedilotildees judiciais em sauacutede atendidas por aqueles entes naquele ano tendo-se verificado quecerca de 70 delas se pautavam em prescriccedilotildees particulares 93 envolviam medicamentos extraordinaacuteriosao SUS sendo que aproximadamente 5 envolviam produtos importados sem registro na ANVISA 50envolviam itens de produtores exclusivos e cerca de 25 marcas especiacuteficas mesmo para itens simples comofraldas descartaacuteveis A franca maioria dos pedidos natildeo tivera solicitaccedilatildeo administrativa preacutevia sabendo oEstado do pleito jaacute em sede de antecipaccedilatildeo de tutela com prazo estrito para o fornecimento ainda que comfundamentaccedilatildeo cliacutenica escassa inclusive quanto agrave premecircncia do pedido (SIQUEIRA Paula Sue Facundo deDireito Sanitaacuterio a interface entre Judiciaacuterio e Sauacutede na utilizaccedilatildeo dos PDC II FOacuteRUM BRASILEIROSOBRE ASSISEcircNCIA FARMACEcircUICA E FARMACOECONOMIA Salvador 2014 Mesa Redonda)

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180 DEFENSORIA PUacuteBLICA DA UNIAtildeO Escola Superior

administrativa das questotildees reduzindo-se o quantitativo de demandas judiciais na espeacuteciee democratizando o acesso agrave sauacutede mesmo agravequeles que natildeo chegam agrave Defensoria Nesseuacuteltimo aspecto tambeacutem a atuaccedilatildeo mediante Accedilatildeo Civil Puacuteblica visando agrave atualizaccedilatildeodas listas de fornecimento ou denunciando carecircncias e esperas irrazoaacuteveis por exemplo

parece recurso de relevante monta para uma melhor prestaccedilatildeo no setor

Possibilidade de uma maior funcionalidade administrativa tambeacutem pode ser tentadamediante atuaccedilatildeo de profissional25 direcionado agrave aacuterea das crescentes demandas em sauacutedenas unidades defensoriais de sorte a direcionar melhor a instruccedilatildeo dos pedidos jaacute seorientando o tipo de relatoacuterio e informaccedilotildees necessaacuterios aleacutem de empreender contatodireto com os oacutergatildeos puacuteblicos de regulaccedilatildeo em sauacutede estreitando relaccedilotildees com a Secretariade Sauacutede do Estado e seus oacutergatildeos a exemplo da Central de Regulaccedilatildeo de Vagas

Propotildee-se com isso ampliar o quantitativo de resoluccedilotildees administrativas mais ceacutelerese menos custosas reservando a necessidade de intervenccedilotildees juriacutedicas agraves situaccedilotildees emque havendo a previsatildeo do fornecimento natildeo se consegue obtecirc-lo por maacute prestaccedilatildeoadministrativa ndash o que demonstrado por melhor instruccedilatildeo inicial sugere levar amelhores iacutendices de sucesso jaacute em sede antecipatoacuteria ndash ou nas situaccedilotildees de recursos natildeoincluiacutedos no rol de fornecimento do SUS (em que pese o limitante dos artigos 2ordm e 19da Lei 124012011) Nesse caso uacuteltimo jaacute se busque tambeacutem instruir o pedido com osdemonstrativos da eficaacutecia seguranccedila e indicaccedilatildeo da medida reclamada bem assim de

ausecircncia de resposta agraves drogas rotineiramente disponibilizadas ou indicadas nos PCDnos termos inclusive do quanto preconizado em reiterados Enunciados e Recomendaccedilotildeesdo CNJ (4 11 14 15 16 31) e precedentes jurisprudenciais relevantes como a SA175 de relatoria do Min Gilmar Mendes sobre a mateacuteria

O que se vislumbra de negativo em tal proposta eacute que eventual reduccedilatildeo da judicializaccedilatildeofaccedila supor uma maior eficiecircncia na prestaccedilatildeo estatal em sauacutede o que nem semprecorresponde agrave verdade obtendo-se o ecircxito em casos individuais atraveacutes da persistecircnciaempedernida do oacutergatildeo defensorial ateacute que a proacutexima situaccedilatildeo se apresente Como aspecto

25 entativa semelhante tem sido implementada ao longo do uacuteltimo ano na unidade baiana daDefensoria Puacuteblica da Uniatildeo por iniciativa da chefia que tambeacutem titulariza o ofiacutecio de tutelacoletiva mediante o destacamento de Assistente Social com experiecircncia na conduccedilatildeo de demandasem sauacutede e com o intuito de melhorar a assistecircncia em tais demandas ante o crescimentoexponencial de seu nuacutemero no quinquecircnio antecedente Os resultados tecircm-se mostrado prima facie positivos com aparente aumento do nuacutemero de deslindes extrajudiciais e maior quantitativode antecipaccedilotildees de tutela obtidas nas accedilotildees propostas embora ainda sem dados coligidos esistematizados a respeito

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positivo por oacutebvio todas as vantagens da resoluccedilatildeo administrativa

Outro recurso a ser considerado como dito como opccedilatildeo agraves muacuteltiplas accedilotildees individuaissatildeo as accedilotildees de natureza coletiva visando agrave efetiva disponibilizaccedilatildeo de procedimentos

oferecidos formalmente mas cuja demora na prestaccedilatildeo torna na praacutetica insustentaacutevela espera ais accedilotildees sob o ponto de vista pragmaacutetico todavia nem sempre tecircm comoobter resultados concretos imediatos mas frutos de uma atuaccedilatildeo combativa criacuteticae politicamente atuante satildeo relevante termocircmetro acerca do modo como estatildeo sendogeridos os recursos em sauacutede advertindo para a necessidade de se dar concretude ao direitoconstitucionalmente reconhecido incentivando da maneira mais pertinente o sistemade checks and balances reservando-se as accedilotildees individuais para situaccedilotildees especiacuteficas denecessidade incontornaacutevel e sem perspectiva de resoluccedilatildeo natildeo litigiosa

Por fim sempre cabiacutevel lembrar que o momento da urgecircncia do plantatildeo do riscoiminente de vida eacute sempre o pior momento para avaliar o que fazer culminando-seem accedilotildees accedilodadas por vezes mal instruiacutedas natildeo raro em duplicidade nas instacircnciasestadual e federal com riscos para o paciente ou de desperdiacutecio de recursos puacuteblicos ouainda de descreacutedito para a instituiccedilatildeo Importante assim discutirem-se as abordagenspossiacuteveis criando-se orientaccedilotildees de conduta que de antematildeo auxiliem na organizaccedilatildeo dopensamento e na escolha das vias cabiacuteveis para ajudar o requerente ndash vulnerado quer pelahipossuficiecircncia econocircmica quer pela enfermidade ou na maioria das vezes por ambas

ndash da forma mais promissora e adequada possiacutevel

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Natildeo haacute por oacutebvio respostas faacuteceis na mateacuteria O objetivo do texto foi sobretudo chamar

atenccedilatildeo para aspectos nem sempre vistos na lida cotidiana do Defensor imbuiacutedo da visatildeodo assistido e suas anguacutestias premido pelo tempo sem que tenha por vezes sequercondiccedilatildeo de distanciar-se para um olhar mais imparcial

odavia tais distanciamento e compreensatildeo mostram-se necessaacuterios agrave instituiccedilatildeo afim de redirecionar a busca a mecanismos alternativos para o impasse da sauacutede comodireito simultaneamente individual e social sujeito agraves premecircncias pessoais mas tambeacutem

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agraves limitaccedilotildees de uma prestaccedilatildeo coletiva a exemplo da proacutepria escassez real (e aiacute misterdistinguir o mero argumento da escassez e da reserva do possiacutevel em contraposiccedilatildeo agravecomprovada inviabilidade de produccedilatildeo ou fornecimento a exemplo do nuacutemero de vagasimediatas em UI de um hospital puacuteblico ou a disponibilidade de oacutergatildeos compatiacuteveis para

transplante) e da inevitabilidade da alocaccedilatildeo de recursos o que natildeo eacute dado a ningueacutemresponsavelmente negar

Apenas a tiacutetulo de pensamento inicial sugerir-se-ia o desenvolvimento de incremento nastentativas de resoluccedilatildeo extrajudicial a exemplo de maior contato com a Administraccedilatildeo ndash aquem tambeacutem interessa a reduccedilatildeo das lides diminuindo gastos a varejo ndash e com oacutergatildeosde prestaccedilatildeo de sauacutede puacuteblica e de orientaccedilatildeo profissional meacutedica com vistas a analisar aeficaacutecia indicaccedilatildeo e seguranccedila de determinados recursos terapecircuticos subsidiando melhoros pedidos e melhorando os iacutendices de deferimento na espeacutecie que lamentavelmente

comeccedilam a declinar talvez movidos pelo perigo da dessensibilizaccedilatildeo do Judiciaacuterio ante aprofusatildeo de pedidos no setor reservando-se a atuaccedilatildeo judicial para situaccedilotildees de insucessoadministrativo reconhecido considerada a premecircncia e a comprovada necessidade ouatuaccedilotildees de iacutendole coletiva de pressatildeo poliacutetica para assegurar a melhor prestaccedilatildeo dodireito constitucional

Satildeo apenas reflexotildees incipientes mas ficam a semente da ideia o desafio que a questatildeorepresenta e o chamado ao compromisso coletivo de desenvolvecirc-las em prol do cidadatildeo

da efetividade constitucional e da atuaccedilatildeo mais consciente precisa e exitosa possiacutevel porparte da Defensoria Puacuteblica na defesa ao direito fundamental agrave sauacutede

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beacutelica 2 e sua atuaccedilatildeo junto aos profissionais muitas vezes aumentam no imaginaacuteriocoletivo a eficiecircncia de determinadas terapecircuticas ainda mais quando o temor da mortese avizinha e a promessa de uma melhor qualidade de vida se anuncia como bem aoalcance de todos ou ao menos de quem possa com ela arcar financeiramente

De se ver contudo primeiramente que o crescimento da induacutestria farmacecircutica se fazmajoritariamente agrave custa de produtos esteacuteticos ou de medicaccedilotildees de alto custo paratratamento das chamadas ldquodoenccedilas do desenvolvimentordquo (cacircncer doenccedilas cardiacuteacas evasculares entre outras) enquanto inuacutemeras doenccedilas associadas agrave pobreza permanecemna condiccedilatildeo de chamadas ldquodoenccedilas oacuterfatildesrdquo pois a falta de condiccedilotildees dos beneficiaacuterios paraarcar com os custos da produccedilatildeo de novas medicaccedilotildees natildeo estimula os investimentosnecessaacuterios agrave pesquisa na aacuterea 3 Decorrecircncia disso eacute que muitos dos pedidos apresentados judicialmente versa natildeo raro acerca de novos quimioteraacutepicos muitas vezes receacutem-saiacutedos

dos laboratoacuterios e de eficaacutecia ainda em fase de certificaccedilatildeo

Dois aspectos daiacute decorrem de um lado a dificuldade em manter atualizadas as listasde prestaccedilotildees puacuteblicas em sauacutede face aos raacutepidos avanccedilos do setor De outro o risco dese recair na armadilha do capitalismo farmacecircutico com produtos cariacutessimos que nemsempre correspondem agraves expectativas que ensejam ao requerente aumentando em muitoas despesas da sauacutede puacuteblica em detrimento do cuidado coletivo

Embora moralmente natildeo se possa nem deva sustentar um pensamento marcadamenteutilitarista na espeacutecie sobretudo quando em jogo a vida e a sauacutede de algueacutem bensinegociaacuteveis eacute de se observar que tais dificuldades natildeo tecircm passado incoacutelumes aos julgadores notadamente quando assistem diuturnamente ao crescimento exponencial dedemandas que tais

Assim eacute que haacute uns poucos anos apoacutes o reconhecimento poacutes-positivista de uma fasede valorizaccedilatildeo principioloacutegica e de primazia dos direitos humanos a epiacutegrafe de direitoagrave sauacutede sobre um pedido era a quase certeza de obtenccedilatildeo de qualquer recurso pela via

2 Nesse sentido cf DRANE James PESSINI Leo Medicina e ecnologia Desafios eacuteticos nafronteira do conhecimento humano Satildeo Paulo Loyola 2005 p 207 et seq3 Sobre o crescimento dos investimentos na aacuterea farmacecircutica cf ALVES Jeovanna Viana et alInduacutestria farmacecircutica poder e subdesenvolvimento a Bioeacutetica na Investigaccedilatildeo de NovosMedicamentos In Sexto Congresso Mundial de Bioeacutetica 2002 Brasiacutelia Sociedade Brasileira deBioeacutetica Anais 2002 p 152 e BERGEL Salvador Dariacuteo Responsabilidad Social y SaludRevista Brasileira de Bioeacutetica Brasiacutelia Sociedade Brasileira de Bioeacutetica v2 n4 p 443-4672006 p 453

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judiciaacuteria Afinal a constituiccedilatildeo salvaguarda a vida e a sauacutede como direitos humanosfundamentais e o reconhecimento de um federalismo cooperativo em relaccedilatildeo ao SUS noacircmbito de um Estado que se pretende Social superava questotildees teacutecnicas ou burocraacuteticasinfraprincipioloacutegicas comumente agitadas pela advocacia estatal

Grandes vitoacuterias se conquistaram como a possibilidade de bloqueio de verbas puacuteblicase a fixaccedilatildeo de astreintes no descumprimento das tutelas antecipadas o afastamento dosargumentos reiterados da ilegitimidade passiva simultacircnea dos entes puacuteblicos em vista dadescentralizaccedilatildeo administrativa do SUS da insindicabilidade das decisotildees discricionaacuteriasda Administraccedilatildeo da inflexibilidade da separaccedilatildeo de poderes ou ainda a menccedilatildeo vaga eincomprovada agrave reserva do possiacutevel e agrave falta de previsatildeo orccedilamentaacuteria

Recentemente contudo comeccedilou a tomar corpo a percepccedilatildeo de que o crescente nuacutemero

de pedidos requer paracircmetros mais razoaacuteveis e talvez mais rigorosos de avaliaccedilatildeo Comosuperar entatildeo a constataccedilatildeo jacente de que a ampliaccedilatildeo irrefreada e sem paracircmetrosrazoaacuteveis de tais demandas terminaria por gerar tratamentos tambeacutem desiguais e o perigode desorganizaccedilatildeo ainda maior do que jaacute haacute no sistema

O proacuteprio conceito de sauacutede mais adotado atualmente ndash aquele dado pela OrganizaccedilatildeoMundial de Sauacutede4 no preacircmbulo de sua carta de constituiccedilatildeo que associa a condiccedilatildeohumana salutar natildeo apenas agrave ausecircncia de doenccedila de incapacidade ou de condiccedilotildees

intrinsecamente patoloacutegicas (definiccedilatildeo realmente tautoloacutegica) ou ainda agrave simplesnormalidade do funcionamento orgacircnico mas a um estado de completo bem-estarfiacutesico mental e social ndash mostra-se de tal vagueza e dificuldade praacutetica de obtenccedilatildeopelos mais diversos motivos que seria de se questionar se algueacutem se poderia dizer de fatosaudaacutevel nesses termos

E natildeo haacute limites num mundo globalizado e repleto de ofertas para se identificar oque seria um completo bem-estar fiacutesico mental e social especialmente no que tangeagraves promessas de consumo pois tambeacutem em relaccedilatildeo agrave sauacutede haacute produtos que visam agrave

comodidade mais que agrave necessidade e perspectivas hiperdimensionadas de sucesso natildeocomprovado

Nessa linha de difiacutecil precisatildeo se situam exempli gratia pleitos por cobertura de

4 ORGANIZACcedilAtildeO MUNDIAL DA SAUacuteDE Constitution of the World Health Organization Basic Documents Genebra OMS 1946 Disponiacutevel em lthttpwhqlibdocwhointhistofficial_recordsconstitutionpdfgtacessado em 20ago08

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procedimentos meramente esteacuteticos sem caraacuteter reparador funcionalmente desnecessaacuteriose muitas vezes de alto custo fugindo assim agrave noccedilatildeo de essencialidade que caracterizao Sistema (ainda que tampouco seja unacircnime a noccedilatildeo de essencialidade5 notadamenteem face da amplitude do conceito de sauacutede adotado pela OMS como visto acima)

A reproduccedilatildeo assistida natildeo se acha coberta pelo SUS ou pela maioria os planos desauacutede embora se discuta eventual direito a um filho como possiacutevel parte da previsatildeoconstitucional de planejamento familiar Jaacute pleitos por proacuteteses penianas e que taisde escopo funcional parecem alinhar-se a uma noccedilatildeo mais ampla poreacutem razoaacutevel noacircmbito da sauacutede reprodutiva

De outro lado mesmo nos casos reconhecidamente eficazes o custo de determinadosrecursos nem sempre os torna viaacuteveis como poliacuteticas puacuteblicas Projeccedilatildeo feita por FabiacuteolaVieira6 em relaccedilatildeo a determinado tratamento para a hepatite C patologia viral crocircnica

requerido judicialmente em pleitos individuais em substituiccedilatildeo ao tratamento oferecidopelo SUS evidenciou que sendo a prevalecircncia da doenccedila no paiacutes estimada em 1 dapopulaccedilatildeo se o SUS se propusesse a tratar um quarto (025) dessas pessoas (o queequivaleria a cerca de 467000 pessoas) com o medicamento interferon peguilado o maismoderno agrave eacutepoca de sua pesquisa com aplicaccedilotildees uma vez por semana durante quarenta eoito semanas ndash o tempo do tratamento ndash ao custo individual da aplicaccedilatildeo de R$ 110749(mil cento e sete reais e quarenta e nove centavos) chegar-se-ia ao montante de 248bilhotildees de reais o que equivaleria a 64 do gasto total executado pelo Ministeacuterio da

Sauacutede em 2006 que fora da monta de 388 bilhotildees de reais naquele ano Natildeo significadiz a autora que natildeo se devam tratar os pacientes de hepatite viral crocircnica mas queeacute preciso empregar criteacuterios mesmo para a alocaccedilatildeo dos recursos da sauacutede sob penainclusive de se tratar de maneira diacutespar cidadatildeos em condiccedilatildeo similar e de o fazer sob achancela estatal sem uma especificidade que o justifique

A escassez existe Como tambeacutem existem pressotildees por parte da induacutestria farmacecircuticafomentando esperanccedilas vatildes as chamadas tentativas heroicas nem sempre de eficaacuteciacomprovadas com o risco de converter parte da populaccedilatildeo em involuntaacuterios sujeitos

5 Enquanto o SUS jaacute reconhecia o acesso a acompanhamento psicoloacutegico por exemplo como serviccediloessencial (e de fato o eacute) apenas recentemente passou a constar dos planos de sauacutede privados o reembolso decerto nuacutemero de consultas psicoloacutegicas ao ano Procedimentos como esclerose de varizes cirurgias bariaacutetricastambeacutem caminham na dubiedade entre tratamentos esteacuteticos e funcionais requerendo anaacutelise caso a caso6 VIEIRA Fabiacuteola Sulpino Accedilotildees judiciais e direito agrave sauacutede reflexatildeo sobre a observacircncia aos princiacutepios doSUS Rev Sauacutede Puacuteblica v 42 n 2 p 365-369 abr 2008

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de pesquisa em larga escala 7 Ignorar simplesmente tais circunstacircncias faacuteticas terminapor ensejar peacutessimos frutos a comeccedilar pela perda de credibilidade dos requerentesespecialmente aqueles reiterados como a Defensoria e ndash ainda pior ndash levar agrave gradativadessensibilizaccedilatildeo do destinataacuterio o Judiciaacuterio

Mister entatildeo tentar buscar tanto quanto possiacutevel saiacutedas administrativas tratativas quetendam a diminuir a necessidade de accedilotildees judiciais muacuteltiplas procurando interpretaros princiacutepios gestores do SUS agrave luz dos direitos fundamentais constitucionalmenteconsagrados tanto sob o prisma pessoal como social de modo a se obter a melhortratamento possiacutevel mas dentro de um paracircmetro de razoabilidade sustentaacutevel sem privaro cidadatildeo de direitos mas tambeacutem sem virar artefato dos interesses da induacutestria que maiscresce no mundo alimentando esperanccedilas e desejos poreacutem nem sempre comprometidacom a responsabilidade social que deveria ter

3 A DISCIPLINA SANIAacuteRIA E OS PRINCIacutePIOS DO SISEMA UacuteNI983085CO DE SAUacuteDE8

A Constituiccedilatildeo de 1988 consagrou por seu teor e de forma sem precedentes no paiacutes apromessa de um Estado Social contando entre seus fundamentos a dignidade da pessoahumana os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa e o pluralismo poliacutetico eenaltecendo as garantias agrave cidadania conforme seu Capiacutetulo II do iacutetulo II mas tambeacutemem outras normas constitucionais a exemplo do artigo 196 dedicado ao direito agrave sauacutede A proacutepria formulaccedilatildeo estrutural da nova Carta enunciando os direitos fundamentais logoem seu iniacutecio anteriormente agrave organizaccedilatildeo estatal como ocorria nos Diplomas anteriores

7

O proacuteprio rastuzumabe verbi gratia quimioteraacutepico reclamado judicialmente e hoje decomprovada eficiecircncia requer para sua eficaacutecia a presenccedila de determinados marcadores geneacuteticosque de iniacutecio nem sempre eram verificados previamente quando da prescriccedilatildeo ou do pedidogerando espeacutecie de ldquoteste terapecircuticordquo de relevante repercussatildeo econocircmica e de efeito a longo prazoe em larga escala para a sauacutede entatildeo ainda desconhecidos8 recho parcialmente reproduzido na obra VILLAS-BOcircAS Maria Elisa O Direito agrave Sauacutede noBrasil reflexotildees bioeacuteticas agrave luz do princiacutepio da justiccedila Satildeo Paulo Loyola 2014 tambeacutem derivadada tese de Doutorado da Autora VILLAS-BOcircAS Maria Elisa Alocaccedilatildeo de Recursos em Sauacutede quando a realidade e os direitos fundamentais se chocam 2009 425 f ese (Doutorado em DireitoPuacuteblico) ndash Faculdade de Direito Universidade Federal da Bahia Salvador 2009

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jaacute denota um pioneiro espiacuterito de valorizaccedilatildeo da pessoa e de visualizaccedilatildeo do Estado comoinstrumento para o seu desenvolvimento ao menos no plano normativo

Como importante precedente para o nascimento do SUS aponta-se a VIII Conferecircncia

Nacional de Sauacutede realizada em 1986 que contou com ampla participaccedilatildeo da sociedadecivil passando-se a reconhecer como direito da populaccedilatildeo natildeo apenas o acesso aosdiferentes niacuteveis de assistecircncia agrave sauacutede mas tambeacutem a participaccedilatildeo na formulaccedilatildeo deprioridades na aacuterea9 o que interfere nos criteacuterio de alocaccedilatildeo de recursos

Assim foi que o artigo 6ordm da Constituiccedilatildeo ao enunciar os direitos sociais expressamentepreviu a sauacutede como um dos primeiros deles ao lado da educaccedilatildeo do trabalho damoradia (acrescida esta pela Emenda Constitucional nordm 26 em 2000) do lazer daseguranccedila da previdecircncia social da proteccedilatildeo agrave maternidade e agrave infacircncia e da assistecircncia

aos desamparados Em fevereiro de 2010 a Emenda Constitucional nordm 64 reconheceutambeacutem nesse rol a alimentaccedilatildeo

O direito agrave sauacutede eacute objeto ainda dos artigos 196 e seguintes da Constituiccedilatildeo vigente emque se enunciam as diretrizes para as poliacuteticas puacuteblicas na aacuterea O artigo 196 eacute enfaacuteticoem reafirmar o caraacuteter universal desse direito a ser assegurado natildeo apenas como promessaem perspectiva mas mediante accedilotildees praacuteticas de concretizaccedilatildeo a saber ldquo A sauacutede eacute direitode todos e dever do Estado garantido mediante poliacuteticas sociais e econocircmicas que visem agrave

reduccedilatildeo do risco de doenccedila e de outros agravos e ao acesso universal e igualitaacuterio agraves accedilotildeese serviccedilos para sua promoccedilatildeo proteccedilatildeo e recuperaccedilatildeordquo

Nos artigos seguintes notadamente do 197 ao 200 prevecirc-se a possibilidade de prestaccedilatildeoda sauacutede diretamente pelo Poder Puacuteblico ndash a quem cabe ainda sua regulamentaccedilatildeofiscalizaccedilatildeo e controle ndash ou atraveacutes de terceiros por pessoa fiacutesica ou juriacutedica de direitoprivado Franqueia-se a atuaccedilatildeo em sauacutede agrave iniciativa privada inclusive de formacomplementar junto ao Sistema Uacutenico de Sauacutede restringindo-se poreacutem a participaccedilatildeo

9 MELLO Dirceu Raposo de et al Anaacutelise Bioeacutetica do Papel do Estado na Garantia ao Acesso aMedicamentos In GARRAFA Volnei MELLO Dirceu Raposo de PORO Dora Bioeacutetica e Vigilacircncia Sanitaacuteria Brasiacutelia ANVISA 2007 p 17-18 e LORENZO Claacuteudio Vulnerabilidadeem Sauacutede Puacuteblica implicaccedilotildees para as poliacuteticas puacuteblicas Revista Brasileira de Bioetica BrasiacuteliaSociedade Brasileira de Bioeacutetica v 2 n 3 p 299-312 2006

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de empresas de capital estrangeiro na forma da lei (art 199)10

Em relaccedilatildeo ao Serviccedilo Uacutenico de Sauacutede (SUS) os artigos 198 e 200 o orientamapresentando como diretrizes ldquoI - descentralizaccedilatildeo com direccedilatildeo uacutenica em cada esfera de

governo II - atendimento integral com prioridade para as atividades preventivas semprejuiacutezo dos serviccedilos assistenciais III - participaccedilatildeo da comunidaderdquo Esclarece-se aindao financiamento por recursos da seguridade social e de outras fontes determinando aaplicaccedilatildeo de recursos miacutenimos em cada esfera estatal nos termos da Emenda Constitucionalnordm 29 de 2000

Aleacutem das diretrizes constitucionais a atuaccedilatildeo do SUS eacute orientada tambeacutem pela LeiOrgacircnica da Sauacutede (Lei ndeg 808090) de que se deduz como um ponto principal logoem seu artigo 2ordm a reafirmaccedilatildeo da sauacutede como direito humano fundamental ldquodevendo

o Estado prover as condiccedilotildees indispensaacuteveis para seu pleno exerciacuteciordquo Ainda nesseartigo esclarece-se que o dever do Estado quanto agrave garantia da sauacutede consiste aleacutem daformulaccedilatildeo e execuccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas preventivas no estabelecimento de condiccedilotildeesde acesso ldquouniversal e igualitaacuterio agraves accedilotildees e aos serviccedilos para a sua promoccedilatildeo proteccedilatildeo erecuperaccedilatildeordquo

O artigo 6ordm da referida legislaccedilatildeo regulamentadora inclui expressamente no campode atuaccedilatildeo do SUS a assistecircncia terapecircutica integral inclusive farmacecircutica Essa

disposiccedilatildeo tem sido causa de pedir de muitas das accedilotildees individuais que pretendem ofornecimento de medicaccedilotildees nem sempre disponibilizadas protocolarmente pelo SistemaUacutenico mas que se mostram indicadas para a situaccedilatildeo concreta do paciente A questatildeoeacute discutir quatildeo amplo eacute esse dever de provimento farmacoteraacutepico considerando

10 Eacute de se observar que conquanto a menccedilatildeo agrave remoccedilatildeo de oacutergatildeos e tecidos para transplantesencontre-se situada no artigo 199 referente agrave iniciativa privada esse tipo de procedimento eacuteexecutado pelo Sistema Uacutenico de Sauacutede no paiacutes justamente para permitir uma maior equidade emsua gestatildeo A competecircncia do referido Sistema abrange ainda de forma natildeo taxativa (art 200) ldquoI -

controlar e fiscalizar procedimentos produtos e substacircncias de interesse para a sauacutede e participar daproduccedilatildeo de medicamentos equipamentos imunobioloacutegicos hemoderivados e outros insumos II- executar as accedilotildees de vigilacircncia sanitaacuteria e epidemioloacutegica bem como as de sauacutede do trabalhadorIII - ordenar a formaccedilatildeo de recursos humanos na aacuterea de sauacutede IV - participar da formulaccedilatildeo dapoliacutetica e da execuccedilatildeo das accedilotildees de saneamento baacutesico V - incrementar em sua aacuterea de atuaccedilatildeo odesenvolvimento cientiacutefico e tecnoloacutegico VI - fiscalizar e inspecionar alimentos compreendidoo controle de seu teor nutricional bem como bebidas e aacuteguas para consumo humano VII -participar do controle e fiscalizaccedilatildeo da produccedilatildeo transporte guarda e utilizaccedilatildeo de substacircncias eprodutos psicoativos toacutexicos e radioativos VIII - colaborar na proteccedilatildeo do meio ambiente nelecompreendido o do trabalhordquo

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inclusive que as indicaccedilotildees satildeo feitas muitas vezes em usos natildeo oficializados (off label)experimentais ou extraordinaacuterios havendo de se discutir os criteacuterios que deveratildeo norteara atuaccedilatildeo estatal perante casos que tais

Os princiacutepios balizadores do Sistema Uacutenico de Sauacutede estatildeo afirmados no artigo 7ordm da Leindeg 808090 em que se sublinham

I - universalidade de acesso aos serviccedilos de sauacutede em todos os niacuteveisde assistecircnciaII - integralidade de assistecircncia entendida como conjunto articuladoe contiacutenuo das accedilotildees e serviccedilos preventivos e curativos individuais ecoletivos exigidos para cada caso em todos os niacuteveis de complexidadedo sistemaIII - preservaccedilatildeo da autonomia das pessoas na defesa de sua integridadefiacutesica e moralIV - igualdade da assistecircncia agrave sauacutede sem preconceitos ou privileacutegiosde qualquer espeacutecieV - direito agrave informaccedilatildeo agraves pessoas assistidas sobre sua sauacutedeVI - divulgaccedilatildeo de informaccedilotildees quanto ao potencial dos serviccedilos desauacutede e a sua utilizaccedilatildeo pelo usuaacuterioVII - utilizaccedilatildeo da epidemiologia para o estabelecimento de prioridadesa alocaccedilatildeo de recursos e a orientaccedilatildeo programaacuteticaVIII - participaccedilatildeo da comunidade []

Entre esses princiacutepios verificam-se de logo aparentes contradiccedilotildees tendentes a se tornarem

relevantes paradoxos praacuteticos Ao se mencionar por exemplo a autonomia ndash importanteaspecto da relaccedilatildeo profissional-paciente salvaguardado entre outros no artigo 15 doCoacutedigo Civil de 200211 ndash haacute que se identificar a existecircncia de limites no acircmbito dessaautonomia ais limites natildeo decorrem apenas dos cerceamentos morais e legais amplos(vedaccedilatildeo agrave eutanaacutesia ao aborto salvo exceccedilotildees legais ou ao auxiacutelio ao suiciacutedio verbi gratia ) mas satildeo tambeacutem advindos das proacuteprias normas especiacuteficas regentes do SistemaUacutenico de Sauacutede passando a balizar natildeo somente a autonomia do paciente como tambeacutemem certa medida a proacutepria autonomia profissional12 buscando-se priorizar em suasprescriccedilotildees e entre opccedilotildees tecnicamente equivalentes aquelas jaacute incorporadas pelo SUS

De outro lado tampouco pode a referida autonomia meacutedica ser mortalmente ferida sehaacute fundamentos relevantes para acreditar que a prescriccedilatildeo de determinada medicaccedilatildeo seja

11 ldquo Art 15 Ningueacutem pode ser constrangido a submeter-se com risco de vida atratamento meacutedico ou a intervenccedilatildeo ciruacutergica rdquo12 O item II do Capiacutetulo II do Coacutedigo de Eacutetica Meacutedica atual aponta como direito do meacutedicoldquoIndicar o procedimento adequado ao paciente observadas as praacuteticas cientificamente reconhecidase respeitada a legislaccedilatildeo vigenterdquo

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substancialmente favoraacutevel ao paciente

Assim como ponto de equiliacutebrio o profissional deveraacute dar preferecircncia agraves medicaccedilotildeese tratamentos constantes no rol do Sistema Uacutenico de Sauacutede desde que em condiccedilotildees

de equivalecircncia de modo que dessa escolha natildeo advenham reconhecidos prejuiacutezos aopaciente Nesse sentido um trabalho de conscientizaccedilatildeo dos profissionais meacutedicosmediante atuaccedilatildeo conjunta junto a essa esfera pode ser de grande valia para reduzir accedilotildees judiciais em vista de prescriccedilotildees mal justificadas

Mesmo em relaccedilatildeo a atendimentos particulares haacute que se evitar a prescriccedilatildeo desarrazoadade medicaccedilotildees de eficaacutecia natildeo comprovada que em uacuteltima anaacutelise viratildeo a ser reclamadasdo Sistema Uacutenico de Sauacutede (inclusive em vista do fator empobrecedor da doenccedila e dauniversalidade prevista) convertendo o paciente em verdadeiro sujeito (ou objeto) de

pesquisa natildeo organizada e gerando gastos e expectativas vatildeos

Outro aparente paradoxo se poderia assinalar em relaccedilatildeo aos princiacutepios arrolados nositens II e VII De um lado assegura-se a integralidade da assistecircncia De outro contudoadota-se o uso da epidemiologia para o estabelecimento de prioridades e a alocaccedilatildeo derecursos Como proceder entatildeo se for necessaacuteria assistecircncia profissional para doenccedilaepidemiologicamente rara e de tratamento particularmente caro Eacute o que se tem notadoem muitos dos casos que chegam ao Judiciaacuterio nos quais se passa a discutir ainda que natildeo

expressamente a visatildeo utilitarista e o impasse entre a prevalecircncia do interesse individualou coletivo na alocaccedilatildeo de recursos em questatildeo13

Seguem-se nos artigos 8ordm a 19 a organizaccedilatildeo descentralizada (que compotildee o nono princiacutepiogestor do Sistema juntamente com a direccedilatildeo uacutenica em cada instacircncia) e sua divisatildeo entreas trecircs esferas ndash nacional estadual e municipal Cuida-se aqui de circunstacircncia tambeacutemcomumente suscitada pelos entes estatais reacuteus arguindo natildeo serem partes legiacutetimas nahipoacutetese haja vista a separaccedilatildeo de atribuiccedilotildees desenhada na legislaccedilatildeo especiacutefica Veja-se contudo que a separaccedilatildeo de tarefas entre as esferas estatais natildeo retira delas o dever

global do Estado de provimento da sauacutede cuja responsabilidade eacute em uacuteltima instacircncia

13 Nesse sentido em prol da necessidade de anaacutelise muldimensional inclusive para otimizar aassistecircncia coletiva inviabilizando a anaacutelise individualista da questatildeo cf FERRAZ OctaacutevioLuiz Motta VIEIRA Fabiacuteola Sulpino Direito agrave sauacutede recursos escassos e equumlidade os riscosda interpretaccedilatildeo judicial dominante Disponiacutevel em httpwwwstfjusbrarquivocmsprocessoAudienciaPublicaSaudeanexoDireito_a_Saude_Recursos_escassos_e_equidadepdf Acesso em 25abr2015

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solidaacuteria14 Constata-se assim tiacutepico exemplo do chamado federalismo cooperativo oude colaboraccedilatildeo15 mais caracteriacutestico dos Estados de Bem-Estar Social e em que haacute umadivisatildeo de tarefas menos riacutegida e mais intercambiante conforme as necessidades praacuteticasque se apresentem ainda que persista o princiacutepio da subsidiariedade segundo o qual a

instacircncia superior deve agir quando natildeo resolviacutevel o problema nas instacircncias menores

Nesse mister o artigo 7ordm prevecirc ainda como princiacutepios simultacircneos do Sistema adescentralizaccedilatildeo poliacutetico-administrativa com direccedilatildeo uacutenica em cada esfera de governo(inciso IX) enfatizando a descentralizaccedilatildeo dos serviccedilos para os municiacutepios a regionalizaccedilatildeoe a hierarquizaccedilatildeo da rede de serviccedilos de sauacutede bem assim a organizaccedilatildeo dos serviccedilospuacuteblicos de modo a evitar duplicidade de meios para fins idecircnticos (inciso XIII) ndash o queeacute realmente um risco na incumbecircncia solidaacuteria Considerando-se todavia a falha noprovimento por todas as esferas a motivar a provocaccedilatildeo judicial o mesmo artigo estipula

a ldquoconjugaccedilatildeo dos recursos financeiros tecnoloacutegicos materiais e humanos da Uniatildeo dosEstados do Distrito Federal e dos Municiacutepios na prestaccedilatildeo de serviccedilos de assistecircncia agravesauacutede da populaccedilatildeordquo (inciso XI) e a ldquocapacidade de resoluccedilatildeo dos serviccedilos em todos osniacuteveis de assistecircncia rdquo (inciso XII) o que reafirma a noccedilatildeo de solidariedade federativa nodever de provimento da sauacutede

Ainda no que tange agrave conflituosa relaccedilatildeo entre as previsotildees legais e suas implementaccedilotildees

14 Sobre a discussatildeo acerca da solidariedade entre os entes estatais na aacuterea a jurisprudecircncia dosribunais Superiores jaacute reconheceu amplamente sua existecircncia caracterizando a existecircncia de umfederalismo cooperativo na espeacutecie Anteriormente ao posicionamento judicial jaacute se manifestavamem favor da responsabilidade concomitante e solidaacuteria das trecircs esferas estatais autores como DALLARI Sueli Gandolfi Os Estados Brasileiros e o Direito agrave Sauacutede Satildeo Paulo Hucitec1995 p 37-42 e SCHWARZ Germano Direito agrave Sauacutede Efetivaccedilatildeo em uma PerspectivaSistecircmica Porto Alegre Livraria do Advogado 2001 p 101 203 COHN Ameacutelia et al A Sauacutedecomo Direito e como Serviccedilo Satildeo Paulo Cortez 2008 p 68 entre outros assinalando o fato deque a regionalizaccedilatildeo e a descentralizaccedilatildeo tecircm por escopo favorecer a acessibilidade e natildeo dificultaacute-la natildeo obstando portanto a solidariedade entre os entes puacuteblicos Em favor da responsabilidade

sucessiva e natildeo solidaacuteria por forccedila da descentralizaccedilatildeo do Sistema cf FIGUEIREDO MarianaFilchtiner Direito Fundamental agrave Sauacutede Paracircmetros para sua Eficaacutecia e Efetividade Porto Alegre Livraria do Advogado 2007 p 157-16115 Cf por todos AVARES Andreacute Ramos Curso de Direito Constitucional 2ed Satildeo PauloSaraiva 2003 e SRECK Lecircnio Luiz MORAIS Joseacute Luiacutes Bolzan de Ciecircncia poliacutetica eteoria geral do estado 2ed Porto Alegre Livraria do Advogado 2000 Sobre o princiacutepio dasubsidiariedade nesse caso cf tambeacutem CANOILHO J J Gomes Direito Constitucional eeoria da Constituiccedilatildeo 7ed Coimbra Almedina [2003] Ainda sobre o tema da influecircnciado federalismo na mateacuteria cf o trabalho de DALLARI Sueli Gandolfi loc cit assinalando aabordagem diferenciada em cada constituiccedilatildeo estadual acerca do conteuacutedo do direito agrave sauacutede

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172 DEFENSORIA PUacuteBLICA DA UNIAtildeO Escola Superior

praacuteticas eacute de se notar que em 1999 foi incluiacutedo capiacutetulo referente agrave atenccedilatildeo agrave sauacutedeindiacutegena e em 2002 previu-se um subsistema de atendimento e internaccedilatildeo domiciliarEsses uacuteltimos cuidados ditos home care conquanto ainda pouco utilizados vecircmadequar-se ao quanto previsto na Constituiccedilatildeo Federal em seu artigo 230 paraacutegrafo 1ordm

notadamente em relaccedilatildeo aos idosos a saber ldquosect 1ordm - Os programas de amparo aos idososseratildeo executados preferencialmente em seus laresrdquo Em 2005 acolheu-se na legislaccedilatildeo umsubsistema de acompanhamento durante o trabalho de parto parto e poacutes-parto imediatoprevendo a possibilidade de acompanhante nesses eventos a exemplo do que jaacute fizera oEstatuto da Crianccedila e do Adolescente em relaccedilatildeo agrave previsatildeo de acompanhante para omenor internado no acircmbito do SUS (artigo 12 da Lei 806990 e Resoluccedilatildeo ndeg 4195sobre os direitos da crianccedila e do adolescente hospitalizados) revelando uma tendecircncia dehumanizaccedilatildeo dos procedimentos puacuteblicos de sauacutede

Na praacutetica ainda natildeo se implementaram amplamente esses novos espectros do direito agravesauacutede mas natildeo se os diga impossiacuteveis nem desnecessaacuterios Eacute curioso notar verbi gratia que quando do surgimento do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente tampouco era praxea manutenccedilatildeo dos pais junto aos pequenos pacientes ndash algo que hoje soa imprescindiacutevelndash e a afirmaccedilatildeo legislativa desse direito foi reputada como inviaacutevel dentro da estruturahospitalar da eacutepoca Menos de uma deacutecada depois todavia embora natildeo existam aindahoje instalaccedilotildees ideais em termos de conforto jaacute natildeo se cogita mais internar crianccedilas ouadolescentes sem lhes assegurar a permanecircncia de um dos responsaacuteveis Demonstrou-se

com isso que muitas das resistecircncias agrave implementaccedilatildeo de direitos satildeo bem mais culturaispor haacutebito ou falta de vontade poliacutetica do que propriamente por reais inviabilidadesfinanceiras ou operacionais Vive-se atualmente similar situaccedilatildeo quanto agrave previsatildeo deacompanhante para o idoso ou a gestante em trabalho de parto

Em relaccedilatildeo ao planejamento e orccedilamento a propoacutesito outro argumento habitual doEstado-reacuteu diz respeito justamente agrave impossibilidade de deslocamento de verbas natildeoprevistas na organizaccedilatildeo orccedilamentaacuteria dentro do Sistema Uacutenico de Sauacutede ou de outrasaacutereas para este sob pena de responsabilizaccedilatildeo fiscal Nessa seara poreacutem o artigo 36

paraacutegrafo 2ordm da Lei ndeg 808090 eacute enfaacutetico ao estabelecer que ldquoEacute vedada a transferecircnciade recursos para o financiamento de accedilotildees natildeo previstas nos planos de sauacutede exceto emsituaccedilotildees emergenciais ou de calamidade puacuteblica na aacuterea de sauacutederdquo (grifou-se)

Para exercer suas atividades o Sistema Uacutenico de Sauacutede conta com inuacutemeras outras normasgestoras ndash natildeo apenas leis de acircmbito nacional mas tambeacutem Portarias e normas de acircmbitoestadual e local ndash que detalham essa atuaccedilatildeo Assim eacute que por exemplo a Portaria nordm

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173R Defensoria Puacutebl Uniatildeo Brasiacutelia DF n 8 p 1-356 jandez 2015

3916 de 30 de outubro de 1998 estabelece a Poliacutetica Nacional de Medicamentos a serauxiliada por normas outras como a Lei ndeg 978799 dita ldquoLei dos Geneacutericosrdquo definindoo medicamento geneacuterico como aquele similar a um produto de referecircncia ou inovadorque se pretende ser com este intercambiaacutevel geralmente produzido apoacutes a expiraccedilatildeo ou

renuacutencia da proteccedilatildeo patentaacuteria ou de outros direitos de exclusividade comprovada a suaeficaacutecia seguranccedila e qualidade

Prevecirc-se ainda que esses medicamentos devem ser preferidos no acircmbito do SUSpelo custo e acrescente-se pela impessoalidade mesma que deve caracterizar a atuaccedilatildeoadministrativa estatal desaconselhando a preferecircncia por produtos de laboratoacuterios oumarcas determinados em detrimento de produtos de denominaccedilatildeo comum brasileira ouna sua falta internacional a indicar maior neutralidade em prestaccedilatildeo equivalente

Jaacute se tem aiacute um paracircmetro a nortear as prescriccedilotildees e decisotildees na mateacuteria deve a prestaccedilatildeofarmacoloacutegica do Sistema Uacutenico de Sauacutede se pautar pelo fornecimento de medicaccedilotildees quedentre as que contecircm a substacircncia ativa necessaacuteria atendam agraves necessidades de eficaacuteciae seguranccedila poreacutem com menor custo maior impessoalidade e generalidade pois natildeoassociada a marca especiacutefica O uso racional desses recursos passa ainda pela orientaccedilatildeodos meacutedicos na criteriosa avaliaccedilatildeo das medicaccedilotildees prescritas privilegiando dentro deum paracircmetro de equivalecircncia aquelas jaacute constantes fornecimento regular pelo Sistema 16

16 Os produtos padronizados constam da Relaccedilatildeo Nacional de Medicamentos Essenciais (RENAME) Nosentido de promover a observacircncia da lista cita-se por exemplo a Portaria Estadual nordm 1475BA publicadano Diaacuterio Oficial do Estado de 300908 que ldquoConstitui Grupo de trabalho no acircmbito do SUS com oescopo de elaborar orientaccedilotildees e diretrizes aos profissionais meacutedicos no sentido de esgotarem as alternativasde faacutermacos previstas nos Protocolos Cliacutenicos e Diretrizes erapecircuticas do Ministeacuterio da Sauacutede e demais atosque lhe forem complementares antes de prescrever tratamento medicamentoso diverso aos pacientes nostermos da Notificaccedilatildeo Recomendatoacuteria 0022007 da Promotoria de Justiccedila e da Cidadania do MinisteacuterioPuacuteblico do Estado da Bahiardquo De acordo com a Organizaccedilatildeo Mundial da Sauacutede - OMS (Nairobi Quecircnia1985) ldquoHaacute uso racional quando pacientes recebem medicamentos apropriados para suas condiccedilotildees cliacutenicasem doses adequadas agraves suas necessidades individuais por um periacuteodo adequado e ao menor custo para si e

para a comunidaderdquo Segundo o Ministeacuterio da Sauacutede o uso racional de medicamentos consiste no ldquoprocessoque compreende a prescriccedilatildeo apropriada a disponibilidade oportuna e a preccedilos acessiacuteveis a dispensaccedilatildeoem condiccedilotildees adequadas e o consumo nas doses indicadas nos intervalos definidos e no periacuteodo de tempoindicado de medicamentos eficazes seguros e de qualidaderdquo (BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria dePoliacuteticas de Sauacutede Departamento de Atenccedilatildeo Baacutesica Poliacutetica nacional de medicamentos 2001Ministeacuterio daSauacutede Secretaria de Poliacuteticas de Sauacutede Departamento de Atenccedilatildeo Baacutesica ndash Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede2001 ambeacutem disponiacutevel em lthttpwwwopasorgbrmedicamentossiteUploadArqpnmpdfgtacessado em 02out08) Outros programas para estimular o uso racional de medicamentos encontram-sena paacutegina eletrocircnica do Ministeacuterio da Sauacutede (httpportalsaudegovbrportalsaudeareacfmid_area=1141acessado em 05out08)

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174 DEFENSORIA PUacuteBLICA DA UNIAtildeO Escola Superior

A alocaccedilatildeo de medicamentos no paiacutes estaacute dividida segundo o Ministeacuterio da Sauacutede em trecircscategorias baacutesicas17 medicamentos baacutesicos ou essenciais ldquopertencentes a um elenco miacutenimoobrigatoacuterio a ser dispensado na atenccedilatildeo baacutesicardquo ou na dicccedilatildeo legal aqueles consideradosldquobaacutesicos e indispensaacuteveis para atender a maioria dos problemas de sauacutede da populaccedilatildeordquo

previstos na Portaria do Ministeacuterio da Sauacutede nordm 32372007 medicamentos estrateacutegicosutilizados em programas especiacuteficos do Ministeacuterio da Sauacutede como aqueles de combateagrave AIDS tuberculose hanseniacutease diabetes doenccedila de Chagas malaacuteria coagulopatias eoutras conforme Portaria do Ministeacuterio da Sauacutede nordm 2042007 e medicamentos dedispensaccedilatildeo especial ou excepcional eacute dizer aqueles geralmente de alto custo destinadosa patologias especiacuteficas e complexas que atingem um nuacutemero limitado de pacientes parauso prolongado Esses procedimentos e recursos terapecircuticos encontravam-se arroladosna Portaria do Ministeacuterio da Sauacutede nordm 25772006 Eacute de se observar que sendo essauacuteltima uma das categorias mais solicitadas judicialmente e mais associadas com a evoluccedilatildeo

biotecnoloacutegica chama a atenccedilatildeo o fato de ter sido por muito tempo justamente aPortaria mais antiga deixando margem agrave criacutetica de provaacutevel desatualizaccedilatildeo em relaccedilatildeo aosavanccedilos atuais tendo sido atualizada pela Portaria GMMS 18692008 e revogada pelaPortaria GMMS 1062009 tambeacutem jaacute revogada A mateacuteria tambeacutem sofreu alteraccedilotildeespelas Portarias 2981 de 26 de novembro de 2009 Portaria 343GMMS de 22 defevereiro de 2010 Portaria 3439MS de 11 de novembro de 2010 e atualmente pelosPCD (PROOCOLOS CLIacuteNICOS E DIRERIZES ERAPEcircUICAS) a indicarparacircmetros de abordagem e tratamento para cada patologia

Analisando-se os montantes empregados em cada uma das categorias verifica-se que os

17 MELLO Dirceu Raposo et al op cit p 27-28 SALAZAR Andrea Lazzarini GROU Karina Bozola ADefesa da Sauacutede em Juiacutezo eoria e Praacutetica Satildeo Paulo Verbatim 2009 p 112-113

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175R Defensoria Puacutebl Uniatildeo Brasiacutelia DF n 8 p 1-356 jandez 2015

gastos com medicamentos especiais superam em muito aqueles com medicaccedilotildees baacutesicas18 Dentre os medicamentos estrateacutegicos ndash responsaacuteveis pelo maior volume de custos commedicaccedilotildees entre os trecircs grupos na segunda metade da deacutecada passada ndash aqueles dirigidosao programa de HIVAIDS sofreram acreacutescimo substancial em 2006 ante as novas drogas

incorporadas ao cataacutelogo farmacoloacutegico de tratamento da doenccedila passando a representarsozinhos quase uma vez e meia o gasto com todas as demais drogas estrateacutegicas

Mais uma vez fica evidente que prevenir aleacutem de melhor sai bem mais barato que

18 Segundo quadro comparativo elaborado em MELLO Dirceu Raposo et al op cit p 28-29 a partirde dados do Ministeacuterio da Sauacutede os gastos com medicamentos baacutesicos em 2006 foram da ordem de 290milhotildees de reais representando 67 dos gastos com medicaccedilatildeo ao passo que o montante despendido commedicamentos de dispensaccedilatildeo especial alcanccedilaram a cifra de um bilhatildeo 355 milhotildees de reais equivalendoa 32 do orccedilamento para a aacuterea Dentre os medicamentos estrateacutegicos aqueles destinados ao programade DSAIDS custaram aos cofres puacuteblicos naquele ano 960 milhotildees de reais enquanto no ano anteriorrepresentaram despesa de 550 milhotildees de reais Cumpre assinalar que o programa de fornecimento gratuitode medicaccedilotildees antirretrovirais aos portadores de HIV no paiacutes eacute elogiado em todo o mundo pela iniciativapioneira na aacuterea apontada como exemplo na universalizaccedilatildeo do tratamento e inclusatildeo a esses pacientes A Leique cuida da mateacuteria ndash Lei ndeg 931396 ndash foi acompanhada por uma seacuterie de decisotildees judiciais proacute direitoagrave sauacutede determinando o efetivo provimento das medicaccedilotildees e sua atualizaccedilatildeo conforme o estado cientiacuteficomundial nos termos da redaccedilatildeo legal Nesse sentido se assinala entre outros o seguinte acoacuterdatildeo provenientedo Supremo ribunal Federal defendendo a aplicabilidade imediata das normas relativas ao direito agravesauacutede PACIENE COM HIVAIDS ndash PESSOA DESIUIacuteDA DE RECURSOS FINANCEIROS ndashDIREIO Agrave VIDA E Agrave SAUacuteDE ndashFORNECIMENO GRAUIO DE MEDICAMENOS ndash DEVERCONSIUCIONAL DO PODER PUacuteBLICO (CF ARS 5ordm CAPU E 196) O DIREIO Agrave SAUacuteDEREPRESENA CONSEQUumlEcircNCIA CONSIUCIONAL INDISSOCIAacuteVEL DO DIREIO Agrave VIDA

O direito puacuteblico subjetivo agrave sauacutede representa prerrogativa juriacutedica indisponiacutevel assegurada agrave generalidadedas pessoas pela proacutepria Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica (art 196) raduz bem juriacutedico constitucionalmentetutelado por cuja integridade deve velar de maneira responsaacutevel o Poder Puacuteblico a quem incumbe formularndash e implementar ndash poliacuteticas sociais e econocircmicas idocircneas que visem a garantir aos cidadatildeos inclusive agravequelesportadores do viacuterus HIV o acesso universal e igualitaacuterio agrave assistecircncia farmacecircutica e meacutedico-hospitalar Odireito agrave sauacutede ndash aleacutem de qualificar-se como direito fundamental que assiste a todas as pessoas ndash representaconsequumlecircncia constitucional indissociaacutevel do direito agrave vida O Poder Puacuteblico qualquer que seja a esfera institucionalde sua atuaccedilatildeo no plano da organizaccedilatildeo federativa brasileira natildeo pode mostrar-se indiferente ao problema da sauacutededa populaccedilatildeo sob pena de entender ainda que por censuraacutevel omissatildeo em grave comportamento inconstitucional(AGRRE nordm 271286-RS Rel Min Celso de Mello SF DJ 241100 p 101)

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176 DEFENSORIA PUacuteBLICA DA UNIAtildeO Escola Superior

remediar 19

Fato eacute queNenhum paiacutes ateacute o momento conseguiu estabelecer um limite oacutetimode gasto financeiro para melhorar a sauacutede de seus cidadatildeos os EUA

gastam 146 do PIB com sauacutede sendo o Estado responsaacutevel por449 desse total e 5 dos gastos puacuteblicos com sauacutede dizem respeitoaos medicamentos Ainda sobre os EUA dados de domiacutenio puacuteblicoinformam que cerca de 50 milhotildees de cidadatildeos natildeo tecircm acesso aosserviccedilos de sauacutede No Brasil os gastos com sauacutede correspondem agrave cifrade 79 do PIB sendo que o setor puacuteblico eacute responsaacutevel por 459desses gastos e os medicamentos representam 74 desses gastospuacuteblicos20

Sem duacutevida a garantia adequada do direito agrave sauacutede natildeo constitui um problema apenaspara os paiacuteses em desenvolvimento embora nesses falte o acesso ao que haacute de mais baacutesicopossiacutevel para a manutenccedilatildeo e a recuperaccedilatildeo da sauacutede ambeacutem os paiacuteses desenvolvidos

19 Aleacutem das despesas jaacute esperadas com tais medicamentos avultam ainda os gastos decorrentes de processos judiciais A esse respeito notiacutecia veiculada em setembro de 2008 na imprensa deu conta de que ldquoEntre2005 e 2008 o governo federal aumentou em 1820 (quase 20 vezes) as despesas decorrentes de ordens

judiciais que obrigam a Uniatildeo a pagar por medicamentos especiais Apenas na primeira metade deste anoforam gastos pelo governo federal por ordem da Justiccedila R$ 48 milhotildees nesses tratamentos Em 2005 oinvestimento foi de R$ 25 milhotildeesrdquo ambeacutem foi informado que ldquoa cada mecircs Satildeo Paulo gasta R$ 400milhotildees com remeacutedios obtidos pelos doentes mediante ordem judicial e que natildeo satildeo fornecidos pelo SUS Asituaccedilatildeo natildeo eacute muito diferente no Rio Grande do Sul Foram R$ 31 milhotildees com accedilotildees judiciais envolvendomedicamentos em 2006 e R$ 50 milhotildees em 2007 e a previsatildeo eacute de que sejam gastos R$ 150 milhotildees nesteano ndash o equivalente a um terccedilo do total de recursos de custeio dos programas da Secretaria Estadual deSauacutederdquo Dentro desses valores apurou-se ainda a ocorrecircncia de fraudes envolvendo meacutedicos e advogadosque mediante pedidos judiciais providos teriam resultado em prejuiacutezo de R$ 63 milhotildees aos cofrespuacuteblicos (REZZI Humberto Sauacutede Aumento no gasto do governo em remeacutedios especiais eacute investigadoPromotores e policiais suspeitam que quadrilhas falsificariam atestados para obrigar a Uniatildeo a fornecermedicamentos de alto custo a pacientes por via judicial Jornal Zero Hora Porto Alegre ediccedilatildeo ndeg 15734

Disponiacutevel em lthttpzerohoraclicrbscombrzerohorajspdefault2jspuf=1amplocal=1ampsource=a2195502xmlamptemplate=3898dwtampedition=10739ampsection=1003gt acessado em 12out08) Deduz-se daiacute queconquanto via relevantiacutessima para o controle do atendimento do direito fundamental agrave sauacutede a prestaccedilatildeo

jurisdicional haacute de ser particularmente cautelosa na anaacutelise de tais pleitos sobretudo quando em sede deprovimentos liminares por natildeo se poder desconsiderar o grave impacto que essas decisotildees tecircm tomado noorccedilamento sanitaacuterio Eacute imprescindiacutevel entatildeo sempre que possiacutevel e especialmente quando o fornecimentoeacute feito a entidades privadas sobre as quais incide menor controle na utilizaccedilatildeo desses recursos a realizaccedilatildeode periacutecia meacutedica judicial a constatar a efetiva necessidade e infungibilidade do recurso demandado naquelecaso concreto20 MELLO Dirceu Raposo et al op cit p 23

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177R Defensoria Puacutebl Uniatildeo Brasiacutelia DF n 8 p 1-356 jandez 2015

tecircm problemas para assegurar os cuidados de sauacutede esperados pela populaccedilatildeo situaccedilatildeoque se agrava progressivamente com o envelhecimento da populaccedilatildeo (com suas conhecidasconsequecircncias para o equiliacutebrio previdenciaacuterio) e com o desenvolvimento crescente dosrecursos farmacecircuticos e biotecnoloacutegicos criando patamares cada vez mais elevados de

atenccedilatildeo agrave sauacutede21

Elevou-se a qualidade e a quantidade de vida o que eacute um aspectoinegavelmente positivo mas que gera outrossim consequecircncias de difiacutecil equiliacutebrioeconocircmico

4 DEMANDAS JUDICIAIS EM SAUacuteDE COMO AVANCcedilAR EM DIRECcedilAtildeO

AO QUE PARECE NAtildeO ER SAIacuteDA

Questionado sobre formas de viabilizaccedilatildeo de um sistema puacuteblico de sauacutede dentro dessecontexto ponderou primeiramente Diego Gracia 22 que quem tem receituaacuterio fazalocaccedilatildeo Com efeito Ao fazer uma mera prescriccedilatildeo individual o meacutedico estaacute a indicarali os paracircmetros para o exerciacutecio do direito agrave sauacutede pelo paciente Eacute para alcanccedilar orecurso prescrito que o cidadatildeo vai agrave Justiccedila pleitear ao Estado ou ao plano de sauacutede queo forneccedila Eacute na prescriccedilatildeo que se baseia o Juiz quando antecipa uma tutela mesmo antes

de ouvir a parte adversa na convicccedilatildeo de que haacute urgecircncia no acesso agravequele recurso

Mister assim para racionalizar o uso de medicamentos e recursos no SUS orientar eracionalizar tambeacutem as prescriccedilotildees meacutedicas de modo que sem sacrificar a sauacutede dopaciente tampouco se sacrifique indevidamente o Sistema organizado para protegecirc-lae garanti-la Nesse ponto erige-se a validade de se pensar um trabalho conjunto comorganizaccedilotildees profissionais como uma outra vertente para a maior efetivaccedilatildeo na prestaccedilatildeo

21

Nesse sentido cf a obra AARON Henry J SCHWARZ William B Te Painful Prescriptionhellipreferente sobretudo aos Estados Unidos e agrave Inglaterra mas que tambeacutem menciona a situaccedilatildeo de outros paiacutesesdesenvolvidos como a Franccedila e o Canadaacute ambeacutem trata do assunto entre outros PENCHASZADEHVictor Bioeacutetica y medicina social Una confluencia necesaria Revista Brasileira de Bioeacutetica BrasiacuteliaSociedade Brasileira de Bioeacutetica v 3 n 2 p 129-149 2007 p 137 Destaque-se outrossim a recentepolecircmica envolvendo o governo americano do Presidente Barack Obama ante a perspectiva de maiordemocratizaccedilatildeo do acesso agrave sauacutede em confronto com o arcabouccedilo tendencialmente liberal da poliacutetica daqueleEstado no setor ateacute entatildeo22 GRACIA Diego Bioeacutetica Cliacutenica e Contexto Social In VII CONGRESSO BRASILEIRO DEBIOEacuteICA Satildeo Paulo 2007 Conferecircncia

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178 DEFENSORIA PUacuteBLICA DA UNIAtildeO Escola Superior

e cobranccedila do direito agrave sauacutede

A especial atenccedilatildeo aos preceitos da Medicina Baseada em Evidecircncias devidamentefundamentada em relatoacuterios e prescriccedilotildees acurados com a cuidadosa anaacutelise e

demonstraccedilatildeo de eficaacutecia seguranccedila e eficiecircncia23

quer no geral quer no caso concretotambeacutem satildeo de grande valia para a atuaccedilatildeo coerente e racional na aacuterea inclusive a fim deevitar que o assistido seja engolfado por esperanccedilas vatildes de resultados temeraacuterios tentativasheroicas sem perspectivas reais e pesquisas multinacionais em larga escala que exacerbamsua vulnerabilidade e fragilizam a credibilidade dos pedidos judiciais no setor Nessecontexto mister evitar tambeacutem pedidos irrazoaacuteveis natildeo factiacuteveis na praacutetica ou opccedilotildees

23 Embora costumeiramente usadas de forma equivalente as expressotildees eficaacutecia eficiecircncia e efetividade tecircmsignificados teacutecnicos especiacuteficos na seara da MBE Nesse sentido a seguranccedila mencionada implica a anaacutelisede que os danos colaterais possiacutevel sejam inferiores aos benefiacutecios oferecidos com seu uso para o fim a quese propotildee A eficaacutecia consiste na evidecircncia de ter o recurso prescrito comprovado efeito beneacutefico para aquelecaso (ldquofazem o que se propotildeem a fazerrdquo ndash na expressatildeo de VIEIRA Fabiacuteola Sulpino op cit p365-369)evitando-se os chamados ldquoprodutos de complacecircnciardquo ndash sem eficaacutecia comprovada mas prescritos por insistecircnciado paciente ou por pressatildeo do marketing industrial por exemplo ndash bem como os atos aparentemente cliacutenicosmas que se mostram em verdade experimentais visto que natildeo validados de nenhuma forma cientificamente

aceita a qual permita asseveraacute-los como realmente producentes e seguros A efetividade propriamente dita corresponde agrave eficaacutecia e agrave eficiecircncia em condiccedilotildees reais de sorte a evitar desperdiacutecios Eacute dizer que os produtoseleitos ldquofazem o que se propotildeem a fazer quando utilizados pelas pessoas em condiccedilotildees reais e natildeo em gruposhomogecircneos que constituem os grupos de pessoas dos ensaios cliacutenicosrdquo (idem ibidem) Por fim a eficiecircnciaou custo-efetividade envolve a avaliaccedilatildeo da relaccedilatildeo custobenefiacutecio de modo a se constatar a substancialvantagem de dado recurso em relaccedilatildeo a outro observadas a eficaacutecia e a efetividade propriamente ditaSignifica dizer que o produto em questatildeo ldquoentre as alternativas disponiacuteveis faz o que se propotildee a fazer paraas pessoas em condiccedilotildees reais ao menor custordquo (idem ibidem) Embora conceitos mais utilizados no acircmbitoeconocircmico e de macroalocaccedilatildeo de recursos acabam repercutindo na microalocaccedilatildeo individual ao requerermaior comprovaccedilatildeo quando de pedido que natildeo leve em consideraccedilatildeo tais subprinciacutepios Segundo a ANVISAtem-se a efetividade como ldquogarantia de medicamentos eficazes eou efetivos e seguros cuja relaccedilatildeo risco-benefiacutecio seja favoraacutevel e comprovada a partir das melhores evidecircncias cientiacuteficas disponiacuteveis na literatura

e com registro aprovado na Agecircncia Nacional de Vigilacircncia Sanitaacuteria (ANVISA)rdquo e a eficiecircncia como aldquogarantia de medicamentos que proporcionem a melhor resposta terapecircutica aos usuaacuterios com os menorescustos para o SUSrdquo (Lei 124012011 e pela Resoluccedilatildeo 01 do Ministeacuterio da Sauacutede de 17 de janeiro de2012) Eacute fato que considerando os escores da Medicina baseada em evidecircncia alega o Estado de praxe quea experiecircncia do meacutedico prescritor isoladamente e mesmo do perito judicial natildeo teriam niacutevel de sustentaccedilatildeocientiacutefica bastante para subsidiar a concessatildeo de medicaccedilatildeo natildeo padronizada pelo SUS todavia considerandoos requisitos de antecipaccedilatildeo de tutela pode conter se bem fundamentada em estudos outros de indicaccedilatildeoseguranccedila eficaacutecia efetividade e eficiecircncia elementos suficientes de verossimilhanccedila aleacutem de representara realidade daquele indiviacuteduo preocupando-se em registrar inclusive a ausecircncia de resposta ou indicaccedilatildeoquanto agraves outras opccedilotildees disponiacuteveis haja vista que como se costuma constatar a resposta individual nemsempre corresponde agravequela epidemiologicamente esperada

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comerciais especiacuteficas substituiacuteveis por equivalentes terapecircuticos disponiacuteveis no SUS24

Outro aspecto a ser sopesado eacute o modo e o conteuacutedo como feitos os pedidos na medida emque a proteccedilatildeo ao direito agrave sauacutede de um deve considerar a existecircncia de outros envolvidos

na alocaccedilatildeo de recursos diante da escassez real Exemplo disso satildeo os pedidos de vagaou de prioridade em filas de transplantes que necessariamente envolvem o cotejo comoutros afetados que natildeo satildeo parte no processo Natildeo raro se tem notiacutecia de comandos deprisatildeo a gestores hospitalares que tecircm todos os seus leitos ocupados por natildeo disporem devagas Inegaacutevel a falha estatal na espeacutecie mas ela natildeo pode ser resolvida com o comandoainda que indireto de retirada de pacientes que ainda necessitem do leito e cuidados paraalocaccedilatildeo de outro dotado de comando judicial Opccedilatildeo nesse caso eacute o pedido subsidiaacuteriode alocaccedilatildeo em unidades privadas agraves expensas do Estado natildeo por mera opccedilatildeo do enfermomas se natildeo houver leitos disponiacuteveis nas unidades puacuteblicas

Do ponto de vista estatal eacute mister o ajuste constante das poliacuteticas puacuteblicas de sortea mantecirc-las condizentes com as carecircncias da comunidade e atualizadas dentro dasmargens de efetividade terapecircutica a fim de se tentar com isso minorar a necessidade deintervenccedilotildees judiciais suplementares na aacuterea aleacutem de favorecer o proacuteprio funcionamentoadequado do Sistema em conformidade com seus princiacutepios gestores e com as previsotildeese garantias constitucionais sem acarretar a falecircncia do Sistema nem converter o direitouniversal agrave sauacutede em mera retoacuterica demagoacutegica

Nesse contexto a atuaccedilatildeo e participaccedilatildeo equilibrada da Defensoria junto a oacutergatildeos puacuteblicose conselhos interdisciplinares pode ser de grande valia para uma maior eficaacutecia na soluccedilatildeo

24 Em palestra proferida do II Foacuterum Brasileiro sobre Assistecircncia Farmacecircutica e Farmacoeconomia ocorridoem setembro de 2014 em Salvador-Bahia com a presenccedila de gestores puacuteblicos membros do JudiciaacuterioMinisteacuterio Puacuteblico Defensoria Puacuteblica e Advogados Puacuteblicos a representante paulista do CONASS(Conselho Nacional dos Secretaacuterios de Sauacutede) apresentou demonstrativo de pedidos em demandas judiciaissanitaacuterias contra o Estado e o Municiacutepio de Satildeo Paulo em que incluiacutedos itens como ldquoleite de cabra frescordquondash o qual resultou descumprido por absoluta ausecircncia de resposta agrave licitaccedilatildeo simplificada para localizar

detentores de cabras na cidade de Satildeo Paulo Nessa ocasiatildeo tambeacutem mostrou a palestrante estudo feitoquanto agraves 41000 accedilotildees judiciais em sauacutede atendidas por aqueles entes naquele ano tendo-se verificado quecerca de 70 delas se pautavam em prescriccedilotildees particulares 93 envolviam medicamentos extraordinaacuteriosao SUS sendo que aproximadamente 5 envolviam produtos importados sem registro na ANVISA 50envolviam itens de produtores exclusivos e cerca de 25 marcas especiacuteficas mesmo para itens simples comofraldas descartaacuteveis A franca maioria dos pedidos natildeo tivera solicitaccedilatildeo administrativa preacutevia sabendo oEstado do pleito jaacute em sede de antecipaccedilatildeo de tutela com prazo estrito para o fornecimento ainda que comfundamentaccedilatildeo cliacutenica escassa inclusive quanto agrave premecircncia do pedido (SIQUEIRA Paula Sue Facundo deDireito Sanitaacuterio a interface entre Judiciaacuterio e Sauacutede na utilizaccedilatildeo dos PDC II FOacuteRUM BRASILEIROSOBRE ASSISEcircNCIA FARMACEcircUICA E FARMACOECONOMIA Salvador 2014 Mesa Redonda)

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180 DEFENSORIA PUacuteBLICA DA UNIAtildeO Escola Superior

administrativa das questotildees reduzindo-se o quantitativo de demandas judiciais na espeacuteciee democratizando o acesso agrave sauacutede mesmo agravequeles que natildeo chegam agrave Defensoria Nesseuacuteltimo aspecto tambeacutem a atuaccedilatildeo mediante Accedilatildeo Civil Puacuteblica visando agrave atualizaccedilatildeodas listas de fornecimento ou denunciando carecircncias e esperas irrazoaacuteveis por exemplo

parece recurso de relevante monta para uma melhor prestaccedilatildeo no setor

Possibilidade de uma maior funcionalidade administrativa tambeacutem pode ser tentadamediante atuaccedilatildeo de profissional25 direcionado agrave aacuterea das crescentes demandas em sauacutedenas unidades defensoriais de sorte a direcionar melhor a instruccedilatildeo dos pedidos jaacute seorientando o tipo de relatoacuterio e informaccedilotildees necessaacuterios aleacutem de empreender contatodireto com os oacutergatildeos puacuteblicos de regulaccedilatildeo em sauacutede estreitando relaccedilotildees com a Secretariade Sauacutede do Estado e seus oacutergatildeos a exemplo da Central de Regulaccedilatildeo de Vagas

Propotildee-se com isso ampliar o quantitativo de resoluccedilotildees administrativas mais ceacutelerese menos custosas reservando a necessidade de intervenccedilotildees juriacutedicas agraves situaccedilotildees emque havendo a previsatildeo do fornecimento natildeo se consegue obtecirc-lo por maacute prestaccedilatildeoadministrativa ndash o que demonstrado por melhor instruccedilatildeo inicial sugere levar amelhores iacutendices de sucesso jaacute em sede antecipatoacuteria ndash ou nas situaccedilotildees de recursos natildeoincluiacutedos no rol de fornecimento do SUS (em que pese o limitante dos artigos 2ordm e 19da Lei 124012011) Nesse caso uacuteltimo jaacute se busque tambeacutem instruir o pedido com osdemonstrativos da eficaacutecia seguranccedila e indicaccedilatildeo da medida reclamada bem assim de

ausecircncia de resposta agraves drogas rotineiramente disponibilizadas ou indicadas nos PCDnos termos inclusive do quanto preconizado em reiterados Enunciados e Recomendaccedilotildeesdo CNJ (4 11 14 15 16 31) e precedentes jurisprudenciais relevantes como a SA175 de relatoria do Min Gilmar Mendes sobre a mateacuteria

O que se vislumbra de negativo em tal proposta eacute que eventual reduccedilatildeo da judicializaccedilatildeofaccedila supor uma maior eficiecircncia na prestaccedilatildeo estatal em sauacutede o que nem semprecorresponde agrave verdade obtendo-se o ecircxito em casos individuais atraveacutes da persistecircnciaempedernida do oacutergatildeo defensorial ateacute que a proacutexima situaccedilatildeo se apresente Como aspecto

25 entativa semelhante tem sido implementada ao longo do uacuteltimo ano na unidade baiana daDefensoria Puacuteblica da Uniatildeo por iniciativa da chefia que tambeacutem titulariza o ofiacutecio de tutelacoletiva mediante o destacamento de Assistente Social com experiecircncia na conduccedilatildeo de demandasem sauacutede e com o intuito de melhorar a assistecircncia em tais demandas ante o crescimentoexponencial de seu nuacutemero no quinquecircnio antecedente Os resultados tecircm-se mostrado prima facie positivos com aparente aumento do nuacutemero de deslindes extrajudiciais e maior quantitativode antecipaccedilotildees de tutela obtidas nas accedilotildees propostas embora ainda sem dados coligidos esistematizados a respeito

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positivo por oacutebvio todas as vantagens da resoluccedilatildeo administrativa

Outro recurso a ser considerado como dito como opccedilatildeo agraves muacuteltiplas accedilotildees individuaissatildeo as accedilotildees de natureza coletiva visando agrave efetiva disponibilizaccedilatildeo de procedimentos

oferecidos formalmente mas cuja demora na prestaccedilatildeo torna na praacutetica insustentaacutevela espera ais accedilotildees sob o ponto de vista pragmaacutetico todavia nem sempre tecircm comoobter resultados concretos imediatos mas frutos de uma atuaccedilatildeo combativa criacuteticae politicamente atuante satildeo relevante termocircmetro acerca do modo como estatildeo sendogeridos os recursos em sauacutede advertindo para a necessidade de se dar concretude ao direitoconstitucionalmente reconhecido incentivando da maneira mais pertinente o sistemade checks and balances reservando-se as accedilotildees individuais para situaccedilotildees especiacuteficas denecessidade incontornaacutevel e sem perspectiva de resoluccedilatildeo natildeo litigiosa

Por fim sempre cabiacutevel lembrar que o momento da urgecircncia do plantatildeo do riscoiminente de vida eacute sempre o pior momento para avaliar o que fazer culminando-seem accedilotildees accedilodadas por vezes mal instruiacutedas natildeo raro em duplicidade nas instacircnciasestadual e federal com riscos para o paciente ou de desperdiacutecio de recursos puacuteblicos ouainda de descreacutedito para a instituiccedilatildeo Importante assim discutirem-se as abordagenspossiacuteveis criando-se orientaccedilotildees de conduta que de antematildeo auxiliem na organizaccedilatildeo dopensamento e na escolha das vias cabiacuteveis para ajudar o requerente ndash vulnerado quer pelahipossuficiecircncia econocircmica quer pela enfermidade ou na maioria das vezes por ambas

ndash da forma mais promissora e adequada possiacutevel

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Natildeo haacute por oacutebvio respostas faacuteceis na mateacuteria O objetivo do texto foi sobretudo chamar

atenccedilatildeo para aspectos nem sempre vistos na lida cotidiana do Defensor imbuiacutedo da visatildeodo assistido e suas anguacutestias premido pelo tempo sem que tenha por vezes sequercondiccedilatildeo de distanciar-se para um olhar mais imparcial

odavia tais distanciamento e compreensatildeo mostram-se necessaacuterios agrave instituiccedilatildeo afim de redirecionar a busca a mecanismos alternativos para o impasse da sauacutede comodireito simultaneamente individual e social sujeito agraves premecircncias pessoais mas tambeacutem

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182 DEFENSORIA PUacuteBLICA DA UNIAtildeO Escola Superior

agraves limitaccedilotildees de uma prestaccedilatildeo coletiva a exemplo da proacutepria escassez real (e aiacute misterdistinguir o mero argumento da escassez e da reserva do possiacutevel em contraposiccedilatildeo agravecomprovada inviabilidade de produccedilatildeo ou fornecimento a exemplo do nuacutemero de vagasimediatas em UI de um hospital puacuteblico ou a disponibilidade de oacutergatildeos compatiacuteveis para

transplante) e da inevitabilidade da alocaccedilatildeo de recursos o que natildeo eacute dado a ningueacutemresponsavelmente negar

Apenas a tiacutetulo de pensamento inicial sugerir-se-ia o desenvolvimento de incremento nastentativas de resoluccedilatildeo extrajudicial a exemplo de maior contato com a Administraccedilatildeo ndash aquem tambeacutem interessa a reduccedilatildeo das lides diminuindo gastos a varejo ndash e com oacutergatildeosde prestaccedilatildeo de sauacutede puacuteblica e de orientaccedilatildeo profissional meacutedica com vistas a analisar aeficaacutecia indicaccedilatildeo e seguranccedila de determinados recursos terapecircuticos subsidiando melhoros pedidos e melhorando os iacutendices de deferimento na espeacutecie que lamentavelmente

comeccedilam a declinar talvez movidos pelo perigo da dessensibilizaccedilatildeo do Judiciaacuterio ante aprofusatildeo de pedidos no setor reservando-se a atuaccedilatildeo judicial para situaccedilotildees de insucessoadministrativo reconhecido considerada a premecircncia e a comprovada necessidade ouatuaccedilotildees de iacutendole coletiva de pressatildeo poliacutetica para assegurar a melhor prestaccedilatildeo dodireito constitucional

Satildeo apenas reflexotildees incipientes mas ficam a semente da ideia o desafio que a questatildeorepresenta e o chamado ao compromisso coletivo de desenvolvecirc-las em prol do cidadatildeo

da efetividade constitucional e da atuaccedilatildeo mais consciente precisa e exitosa possiacutevel porparte da Defensoria Puacuteblica na defesa ao direito fundamental agrave sauacutede

REFEREcircNCIAS

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CANOILHO J J Gomes Direito Constitucional e eoria da Constituiccedilatildeo 7edCoimbra Almedina [2003]

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SALAZAR Andrea Lazzarini GROU Karina Bozola A Defesa da Sauacutede em Juiacutezo

eoria e Praacutetica Satildeo Paulo Verbatim 2009SCHWARZ Germano Direito agrave Sauacutede Efetivaccedilatildeo em uma Perspectiva SistecircmicaPorto Alegre Livraria do Advogado 2001

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SRECK Lecircnio Luiz MORAIS Joseacute Luiacutes Bolzan de Ciecircncia poliacutetica e teoria geral do

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AVARES Andreacute Ramos Curso de Direito Constitucional 2ed Satildeo Paulo Saraiva 2003

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VIEIRA Fabiacuteola Sulpino Accedilotildees judiciais e direito agrave sauacutede reflexatildeo sobre a observacircnciaaos princiacutepios do SUS Rev Sauacutede Puacuteblica v 42 n 2 p 365-369 abr 2008

VILLAS-BOcircAS Maria Elisa Alocaccedilatildeo de Recursos em Sauacutede quando a realidade e osdireitos fundamentais se chocam 2009 425 f ese (Doutorado em Direito Puacuteblico) ndashFaculdade de Direito Universidade Federal da Bahia Salvador 2009

______ O Direito agrave Sauacutede no Brasil reflexotildees bioeacuteticas agrave luz do princiacutepio da justiccedilaSatildeo Paulo Loyola 2014

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judiciaacuteria Afinal a constituiccedilatildeo salvaguarda a vida e a sauacutede como direitos humanosfundamentais e o reconhecimento de um federalismo cooperativo em relaccedilatildeo ao SUS noacircmbito de um Estado que se pretende Social superava questotildees teacutecnicas ou burocraacuteticasinfraprincipioloacutegicas comumente agitadas pela advocacia estatal

Grandes vitoacuterias se conquistaram como a possibilidade de bloqueio de verbas puacuteblicase a fixaccedilatildeo de astreintes no descumprimento das tutelas antecipadas o afastamento dosargumentos reiterados da ilegitimidade passiva simultacircnea dos entes puacuteblicos em vista dadescentralizaccedilatildeo administrativa do SUS da insindicabilidade das decisotildees discricionaacuteriasda Administraccedilatildeo da inflexibilidade da separaccedilatildeo de poderes ou ainda a menccedilatildeo vaga eincomprovada agrave reserva do possiacutevel e agrave falta de previsatildeo orccedilamentaacuteria

Recentemente contudo comeccedilou a tomar corpo a percepccedilatildeo de que o crescente nuacutemero

de pedidos requer paracircmetros mais razoaacuteveis e talvez mais rigorosos de avaliaccedilatildeo Comosuperar entatildeo a constataccedilatildeo jacente de que a ampliaccedilatildeo irrefreada e sem paracircmetrosrazoaacuteveis de tais demandas terminaria por gerar tratamentos tambeacutem desiguais e o perigode desorganizaccedilatildeo ainda maior do que jaacute haacute no sistema

O proacuteprio conceito de sauacutede mais adotado atualmente ndash aquele dado pela OrganizaccedilatildeoMundial de Sauacutede4 no preacircmbulo de sua carta de constituiccedilatildeo que associa a condiccedilatildeohumana salutar natildeo apenas agrave ausecircncia de doenccedila de incapacidade ou de condiccedilotildees

intrinsecamente patoloacutegicas (definiccedilatildeo realmente tautoloacutegica) ou ainda agrave simplesnormalidade do funcionamento orgacircnico mas a um estado de completo bem-estarfiacutesico mental e social ndash mostra-se de tal vagueza e dificuldade praacutetica de obtenccedilatildeopelos mais diversos motivos que seria de se questionar se algueacutem se poderia dizer de fatosaudaacutevel nesses termos

E natildeo haacute limites num mundo globalizado e repleto de ofertas para se identificar oque seria um completo bem-estar fiacutesico mental e social especialmente no que tangeagraves promessas de consumo pois tambeacutem em relaccedilatildeo agrave sauacutede haacute produtos que visam agrave

comodidade mais que agrave necessidade e perspectivas hiperdimensionadas de sucesso natildeocomprovado

Nessa linha de difiacutecil precisatildeo se situam exempli gratia pleitos por cobertura de

4 ORGANIZACcedilAtildeO MUNDIAL DA SAUacuteDE Constitution of the World Health Organization Basic Documents Genebra OMS 1946 Disponiacutevel em lthttpwhqlibdocwhointhistofficial_recordsconstitutionpdfgtacessado em 20ago08

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procedimentos meramente esteacuteticos sem caraacuteter reparador funcionalmente desnecessaacuteriose muitas vezes de alto custo fugindo assim agrave noccedilatildeo de essencialidade que caracterizao Sistema (ainda que tampouco seja unacircnime a noccedilatildeo de essencialidade5 notadamenteem face da amplitude do conceito de sauacutede adotado pela OMS como visto acima)

A reproduccedilatildeo assistida natildeo se acha coberta pelo SUS ou pela maioria os planos desauacutede embora se discuta eventual direito a um filho como possiacutevel parte da previsatildeoconstitucional de planejamento familiar Jaacute pleitos por proacuteteses penianas e que taisde escopo funcional parecem alinhar-se a uma noccedilatildeo mais ampla poreacutem razoaacutevel noacircmbito da sauacutede reprodutiva

De outro lado mesmo nos casos reconhecidamente eficazes o custo de determinadosrecursos nem sempre os torna viaacuteveis como poliacuteticas puacuteblicas Projeccedilatildeo feita por FabiacuteolaVieira6 em relaccedilatildeo a determinado tratamento para a hepatite C patologia viral crocircnica

requerido judicialmente em pleitos individuais em substituiccedilatildeo ao tratamento oferecidopelo SUS evidenciou que sendo a prevalecircncia da doenccedila no paiacutes estimada em 1 dapopulaccedilatildeo se o SUS se propusesse a tratar um quarto (025) dessas pessoas (o queequivaleria a cerca de 467000 pessoas) com o medicamento interferon peguilado o maismoderno agrave eacutepoca de sua pesquisa com aplicaccedilotildees uma vez por semana durante quarenta eoito semanas ndash o tempo do tratamento ndash ao custo individual da aplicaccedilatildeo de R$ 110749(mil cento e sete reais e quarenta e nove centavos) chegar-se-ia ao montante de 248bilhotildees de reais o que equivaleria a 64 do gasto total executado pelo Ministeacuterio da

Sauacutede em 2006 que fora da monta de 388 bilhotildees de reais naquele ano Natildeo significadiz a autora que natildeo se devam tratar os pacientes de hepatite viral crocircnica mas queeacute preciso empregar criteacuterios mesmo para a alocaccedilatildeo dos recursos da sauacutede sob penainclusive de se tratar de maneira diacutespar cidadatildeos em condiccedilatildeo similar e de o fazer sob achancela estatal sem uma especificidade que o justifique

A escassez existe Como tambeacutem existem pressotildees por parte da induacutestria farmacecircuticafomentando esperanccedilas vatildes as chamadas tentativas heroicas nem sempre de eficaacuteciacomprovadas com o risco de converter parte da populaccedilatildeo em involuntaacuterios sujeitos

5 Enquanto o SUS jaacute reconhecia o acesso a acompanhamento psicoloacutegico por exemplo como serviccediloessencial (e de fato o eacute) apenas recentemente passou a constar dos planos de sauacutede privados o reembolso decerto nuacutemero de consultas psicoloacutegicas ao ano Procedimentos como esclerose de varizes cirurgias bariaacutetricastambeacutem caminham na dubiedade entre tratamentos esteacuteticos e funcionais requerendo anaacutelise caso a caso6 VIEIRA Fabiacuteola Sulpino Accedilotildees judiciais e direito agrave sauacutede reflexatildeo sobre a observacircncia aos princiacutepios doSUS Rev Sauacutede Puacuteblica v 42 n 2 p 365-369 abr 2008

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de pesquisa em larga escala 7 Ignorar simplesmente tais circunstacircncias faacuteticas terminapor ensejar peacutessimos frutos a comeccedilar pela perda de credibilidade dos requerentesespecialmente aqueles reiterados como a Defensoria e ndash ainda pior ndash levar agrave gradativadessensibilizaccedilatildeo do destinataacuterio o Judiciaacuterio

Mister entatildeo tentar buscar tanto quanto possiacutevel saiacutedas administrativas tratativas quetendam a diminuir a necessidade de accedilotildees judiciais muacuteltiplas procurando interpretaros princiacutepios gestores do SUS agrave luz dos direitos fundamentais constitucionalmenteconsagrados tanto sob o prisma pessoal como social de modo a se obter a melhortratamento possiacutevel mas dentro de um paracircmetro de razoabilidade sustentaacutevel sem privaro cidadatildeo de direitos mas tambeacutem sem virar artefato dos interesses da induacutestria que maiscresce no mundo alimentando esperanccedilas e desejos poreacutem nem sempre comprometidacom a responsabilidade social que deveria ter

3 A DISCIPLINA SANIAacuteRIA E OS PRINCIacutePIOS DO SISEMA UacuteNI983085CO DE SAUacuteDE8

A Constituiccedilatildeo de 1988 consagrou por seu teor e de forma sem precedentes no paiacutes apromessa de um Estado Social contando entre seus fundamentos a dignidade da pessoahumana os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa e o pluralismo poliacutetico eenaltecendo as garantias agrave cidadania conforme seu Capiacutetulo II do iacutetulo II mas tambeacutemem outras normas constitucionais a exemplo do artigo 196 dedicado ao direito agrave sauacutede A proacutepria formulaccedilatildeo estrutural da nova Carta enunciando os direitos fundamentais logoem seu iniacutecio anteriormente agrave organizaccedilatildeo estatal como ocorria nos Diplomas anteriores

7

O proacuteprio rastuzumabe verbi gratia quimioteraacutepico reclamado judicialmente e hoje decomprovada eficiecircncia requer para sua eficaacutecia a presenccedila de determinados marcadores geneacuteticosque de iniacutecio nem sempre eram verificados previamente quando da prescriccedilatildeo ou do pedidogerando espeacutecie de ldquoteste terapecircuticordquo de relevante repercussatildeo econocircmica e de efeito a longo prazoe em larga escala para a sauacutede entatildeo ainda desconhecidos8 recho parcialmente reproduzido na obra VILLAS-BOcircAS Maria Elisa O Direito agrave Sauacutede noBrasil reflexotildees bioeacuteticas agrave luz do princiacutepio da justiccedila Satildeo Paulo Loyola 2014 tambeacutem derivadada tese de Doutorado da Autora VILLAS-BOcircAS Maria Elisa Alocaccedilatildeo de Recursos em Sauacutede quando a realidade e os direitos fundamentais se chocam 2009 425 f ese (Doutorado em DireitoPuacuteblico) ndash Faculdade de Direito Universidade Federal da Bahia Salvador 2009

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jaacute denota um pioneiro espiacuterito de valorizaccedilatildeo da pessoa e de visualizaccedilatildeo do Estado comoinstrumento para o seu desenvolvimento ao menos no plano normativo

Como importante precedente para o nascimento do SUS aponta-se a VIII Conferecircncia

Nacional de Sauacutede realizada em 1986 que contou com ampla participaccedilatildeo da sociedadecivil passando-se a reconhecer como direito da populaccedilatildeo natildeo apenas o acesso aosdiferentes niacuteveis de assistecircncia agrave sauacutede mas tambeacutem a participaccedilatildeo na formulaccedilatildeo deprioridades na aacuterea9 o que interfere nos criteacuterio de alocaccedilatildeo de recursos

Assim foi que o artigo 6ordm da Constituiccedilatildeo ao enunciar os direitos sociais expressamentepreviu a sauacutede como um dos primeiros deles ao lado da educaccedilatildeo do trabalho damoradia (acrescida esta pela Emenda Constitucional nordm 26 em 2000) do lazer daseguranccedila da previdecircncia social da proteccedilatildeo agrave maternidade e agrave infacircncia e da assistecircncia

aos desamparados Em fevereiro de 2010 a Emenda Constitucional nordm 64 reconheceutambeacutem nesse rol a alimentaccedilatildeo

O direito agrave sauacutede eacute objeto ainda dos artigos 196 e seguintes da Constituiccedilatildeo vigente emque se enunciam as diretrizes para as poliacuteticas puacuteblicas na aacuterea O artigo 196 eacute enfaacuteticoem reafirmar o caraacuteter universal desse direito a ser assegurado natildeo apenas como promessaem perspectiva mas mediante accedilotildees praacuteticas de concretizaccedilatildeo a saber ldquo A sauacutede eacute direitode todos e dever do Estado garantido mediante poliacuteticas sociais e econocircmicas que visem agrave

reduccedilatildeo do risco de doenccedila e de outros agravos e ao acesso universal e igualitaacuterio agraves accedilotildeese serviccedilos para sua promoccedilatildeo proteccedilatildeo e recuperaccedilatildeordquo

Nos artigos seguintes notadamente do 197 ao 200 prevecirc-se a possibilidade de prestaccedilatildeoda sauacutede diretamente pelo Poder Puacuteblico ndash a quem cabe ainda sua regulamentaccedilatildeofiscalizaccedilatildeo e controle ndash ou atraveacutes de terceiros por pessoa fiacutesica ou juriacutedica de direitoprivado Franqueia-se a atuaccedilatildeo em sauacutede agrave iniciativa privada inclusive de formacomplementar junto ao Sistema Uacutenico de Sauacutede restringindo-se poreacutem a participaccedilatildeo

9 MELLO Dirceu Raposo de et al Anaacutelise Bioeacutetica do Papel do Estado na Garantia ao Acesso aMedicamentos In GARRAFA Volnei MELLO Dirceu Raposo de PORO Dora Bioeacutetica e Vigilacircncia Sanitaacuteria Brasiacutelia ANVISA 2007 p 17-18 e LORENZO Claacuteudio Vulnerabilidadeem Sauacutede Puacuteblica implicaccedilotildees para as poliacuteticas puacuteblicas Revista Brasileira de Bioetica BrasiacuteliaSociedade Brasileira de Bioeacutetica v 2 n 3 p 299-312 2006

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de empresas de capital estrangeiro na forma da lei (art 199)10

Em relaccedilatildeo ao Serviccedilo Uacutenico de Sauacutede (SUS) os artigos 198 e 200 o orientamapresentando como diretrizes ldquoI - descentralizaccedilatildeo com direccedilatildeo uacutenica em cada esfera de

governo II - atendimento integral com prioridade para as atividades preventivas semprejuiacutezo dos serviccedilos assistenciais III - participaccedilatildeo da comunidaderdquo Esclarece-se aindao financiamento por recursos da seguridade social e de outras fontes determinando aaplicaccedilatildeo de recursos miacutenimos em cada esfera estatal nos termos da Emenda Constitucionalnordm 29 de 2000

Aleacutem das diretrizes constitucionais a atuaccedilatildeo do SUS eacute orientada tambeacutem pela LeiOrgacircnica da Sauacutede (Lei ndeg 808090) de que se deduz como um ponto principal logoem seu artigo 2ordm a reafirmaccedilatildeo da sauacutede como direito humano fundamental ldquodevendo

o Estado prover as condiccedilotildees indispensaacuteveis para seu pleno exerciacuteciordquo Ainda nesseartigo esclarece-se que o dever do Estado quanto agrave garantia da sauacutede consiste aleacutem daformulaccedilatildeo e execuccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas preventivas no estabelecimento de condiccedilotildeesde acesso ldquouniversal e igualitaacuterio agraves accedilotildees e aos serviccedilos para a sua promoccedilatildeo proteccedilatildeo erecuperaccedilatildeordquo

O artigo 6ordm da referida legislaccedilatildeo regulamentadora inclui expressamente no campode atuaccedilatildeo do SUS a assistecircncia terapecircutica integral inclusive farmacecircutica Essa

disposiccedilatildeo tem sido causa de pedir de muitas das accedilotildees individuais que pretendem ofornecimento de medicaccedilotildees nem sempre disponibilizadas protocolarmente pelo SistemaUacutenico mas que se mostram indicadas para a situaccedilatildeo concreta do paciente A questatildeoeacute discutir quatildeo amplo eacute esse dever de provimento farmacoteraacutepico considerando

10 Eacute de se observar que conquanto a menccedilatildeo agrave remoccedilatildeo de oacutergatildeos e tecidos para transplantesencontre-se situada no artigo 199 referente agrave iniciativa privada esse tipo de procedimento eacuteexecutado pelo Sistema Uacutenico de Sauacutede no paiacutes justamente para permitir uma maior equidade emsua gestatildeo A competecircncia do referido Sistema abrange ainda de forma natildeo taxativa (art 200) ldquoI -

controlar e fiscalizar procedimentos produtos e substacircncias de interesse para a sauacutede e participar daproduccedilatildeo de medicamentos equipamentos imunobioloacutegicos hemoderivados e outros insumos II- executar as accedilotildees de vigilacircncia sanitaacuteria e epidemioloacutegica bem como as de sauacutede do trabalhadorIII - ordenar a formaccedilatildeo de recursos humanos na aacuterea de sauacutede IV - participar da formulaccedilatildeo dapoliacutetica e da execuccedilatildeo das accedilotildees de saneamento baacutesico V - incrementar em sua aacuterea de atuaccedilatildeo odesenvolvimento cientiacutefico e tecnoloacutegico VI - fiscalizar e inspecionar alimentos compreendidoo controle de seu teor nutricional bem como bebidas e aacuteguas para consumo humano VII -participar do controle e fiscalizaccedilatildeo da produccedilatildeo transporte guarda e utilizaccedilatildeo de substacircncias eprodutos psicoativos toacutexicos e radioativos VIII - colaborar na proteccedilatildeo do meio ambiente nelecompreendido o do trabalhordquo

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inclusive que as indicaccedilotildees satildeo feitas muitas vezes em usos natildeo oficializados (off label)experimentais ou extraordinaacuterios havendo de se discutir os criteacuterios que deveratildeo norteara atuaccedilatildeo estatal perante casos que tais

Os princiacutepios balizadores do Sistema Uacutenico de Sauacutede estatildeo afirmados no artigo 7ordm da Leindeg 808090 em que se sublinham

I - universalidade de acesso aos serviccedilos de sauacutede em todos os niacuteveisde assistecircnciaII - integralidade de assistecircncia entendida como conjunto articuladoe contiacutenuo das accedilotildees e serviccedilos preventivos e curativos individuais ecoletivos exigidos para cada caso em todos os niacuteveis de complexidadedo sistemaIII - preservaccedilatildeo da autonomia das pessoas na defesa de sua integridadefiacutesica e moralIV - igualdade da assistecircncia agrave sauacutede sem preconceitos ou privileacutegiosde qualquer espeacutecieV - direito agrave informaccedilatildeo agraves pessoas assistidas sobre sua sauacutedeVI - divulgaccedilatildeo de informaccedilotildees quanto ao potencial dos serviccedilos desauacutede e a sua utilizaccedilatildeo pelo usuaacuterioVII - utilizaccedilatildeo da epidemiologia para o estabelecimento de prioridadesa alocaccedilatildeo de recursos e a orientaccedilatildeo programaacuteticaVIII - participaccedilatildeo da comunidade []

Entre esses princiacutepios verificam-se de logo aparentes contradiccedilotildees tendentes a se tornarem

relevantes paradoxos praacuteticos Ao se mencionar por exemplo a autonomia ndash importanteaspecto da relaccedilatildeo profissional-paciente salvaguardado entre outros no artigo 15 doCoacutedigo Civil de 200211 ndash haacute que se identificar a existecircncia de limites no acircmbito dessaautonomia ais limites natildeo decorrem apenas dos cerceamentos morais e legais amplos(vedaccedilatildeo agrave eutanaacutesia ao aborto salvo exceccedilotildees legais ou ao auxiacutelio ao suiciacutedio verbi gratia ) mas satildeo tambeacutem advindos das proacuteprias normas especiacuteficas regentes do SistemaUacutenico de Sauacutede passando a balizar natildeo somente a autonomia do paciente como tambeacutemem certa medida a proacutepria autonomia profissional12 buscando-se priorizar em suasprescriccedilotildees e entre opccedilotildees tecnicamente equivalentes aquelas jaacute incorporadas pelo SUS

De outro lado tampouco pode a referida autonomia meacutedica ser mortalmente ferida sehaacute fundamentos relevantes para acreditar que a prescriccedilatildeo de determinada medicaccedilatildeo seja

11 ldquo Art 15 Ningueacutem pode ser constrangido a submeter-se com risco de vida atratamento meacutedico ou a intervenccedilatildeo ciruacutergica rdquo12 O item II do Capiacutetulo II do Coacutedigo de Eacutetica Meacutedica atual aponta como direito do meacutedicoldquoIndicar o procedimento adequado ao paciente observadas as praacuteticas cientificamente reconhecidase respeitada a legislaccedilatildeo vigenterdquo

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substancialmente favoraacutevel ao paciente

Assim como ponto de equiliacutebrio o profissional deveraacute dar preferecircncia agraves medicaccedilotildeese tratamentos constantes no rol do Sistema Uacutenico de Sauacutede desde que em condiccedilotildees

de equivalecircncia de modo que dessa escolha natildeo advenham reconhecidos prejuiacutezos aopaciente Nesse sentido um trabalho de conscientizaccedilatildeo dos profissionais meacutedicosmediante atuaccedilatildeo conjunta junto a essa esfera pode ser de grande valia para reduzir accedilotildees judiciais em vista de prescriccedilotildees mal justificadas

Mesmo em relaccedilatildeo a atendimentos particulares haacute que se evitar a prescriccedilatildeo desarrazoadade medicaccedilotildees de eficaacutecia natildeo comprovada que em uacuteltima anaacutelise viratildeo a ser reclamadasdo Sistema Uacutenico de Sauacutede (inclusive em vista do fator empobrecedor da doenccedila e dauniversalidade prevista) convertendo o paciente em verdadeiro sujeito (ou objeto) de

pesquisa natildeo organizada e gerando gastos e expectativas vatildeos

Outro aparente paradoxo se poderia assinalar em relaccedilatildeo aos princiacutepios arrolados nositens II e VII De um lado assegura-se a integralidade da assistecircncia De outro contudoadota-se o uso da epidemiologia para o estabelecimento de prioridades e a alocaccedilatildeo derecursos Como proceder entatildeo se for necessaacuteria assistecircncia profissional para doenccedilaepidemiologicamente rara e de tratamento particularmente caro Eacute o que se tem notadoem muitos dos casos que chegam ao Judiciaacuterio nos quais se passa a discutir ainda que natildeo

expressamente a visatildeo utilitarista e o impasse entre a prevalecircncia do interesse individualou coletivo na alocaccedilatildeo de recursos em questatildeo13

Seguem-se nos artigos 8ordm a 19 a organizaccedilatildeo descentralizada (que compotildee o nono princiacutepiogestor do Sistema juntamente com a direccedilatildeo uacutenica em cada instacircncia) e sua divisatildeo entreas trecircs esferas ndash nacional estadual e municipal Cuida-se aqui de circunstacircncia tambeacutemcomumente suscitada pelos entes estatais reacuteus arguindo natildeo serem partes legiacutetimas nahipoacutetese haja vista a separaccedilatildeo de atribuiccedilotildees desenhada na legislaccedilatildeo especiacutefica Veja-se contudo que a separaccedilatildeo de tarefas entre as esferas estatais natildeo retira delas o dever

global do Estado de provimento da sauacutede cuja responsabilidade eacute em uacuteltima instacircncia

13 Nesse sentido em prol da necessidade de anaacutelise muldimensional inclusive para otimizar aassistecircncia coletiva inviabilizando a anaacutelise individualista da questatildeo cf FERRAZ OctaacutevioLuiz Motta VIEIRA Fabiacuteola Sulpino Direito agrave sauacutede recursos escassos e equumlidade os riscosda interpretaccedilatildeo judicial dominante Disponiacutevel em httpwwwstfjusbrarquivocmsprocessoAudienciaPublicaSaudeanexoDireito_a_Saude_Recursos_escassos_e_equidadepdf Acesso em 25abr2015

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solidaacuteria14 Constata-se assim tiacutepico exemplo do chamado federalismo cooperativo oude colaboraccedilatildeo15 mais caracteriacutestico dos Estados de Bem-Estar Social e em que haacute umadivisatildeo de tarefas menos riacutegida e mais intercambiante conforme as necessidades praacuteticasque se apresentem ainda que persista o princiacutepio da subsidiariedade segundo o qual a

instacircncia superior deve agir quando natildeo resolviacutevel o problema nas instacircncias menores

Nesse mister o artigo 7ordm prevecirc ainda como princiacutepios simultacircneos do Sistema adescentralizaccedilatildeo poliacutetico-administrativa com direccedilatildeo uacutenica em cada esfera de governo(inciso IX) enfatizando a descentralizaccedilatildeo dos serviccedilos para os municiacutepios a regionalizaccedilatildeoe a hierarquizaccedilatildeo da rede de serviccedilos de sauacutede bem assim a organizaccedilatildeo dos serviccedilospuacuteblicos de modo a evitar duplicidade de meios para fins idecircnticos (inciso XIII) ndash o queeacute realmente um risco na incumbecircncia solidaacuteria Considerando-se todavia a falha noprovimento por todas as esferas a motivar a provocaccedilatildeo judicial o mesmo artigo estipula

a ldquoconjugaccedilatildeo dos recursos financeiros tecnoloacutegicos materiais e humanos da Uniatildeo dosEstados do Distrito Federal e dos Municiacutepios na prestaccedilatildeo de serviccedilos de assistecircncia agravesauacutede da populaccedilatildeordquo (inciso XI) e a ldquocapacidade de resoluccedilatildeo dos serviccedilos em todos osniacuteveis de assistecircncia rdquo (inciso XII) o que reafirma a noccedilatildeo de solidariedade federativa nodever de provimento da sauacutede

Ainda no que tange agrave conflituosa relaccedilatildeo entre as previsotildees legais e suas implementaccedilotildees

14 Sobre a discussatildeo acerca da solidariedade entre os entes estatais na aacuterea a jurisprudecircncia dosribunais Superiores jaacute reconheceu amplamente sua existecircncia caracterizando a existecircncia de umfederalismo cooperativo na espeacutecie Anteriormente ao posicionamento judicial jaacute se manifestavamem favor da responsabilidade concomitante e solidaacuteria das trecircs esferas estatais autores como DALLARI Sueli Gandolfi Os Estados Brasileiros e o Direito agrave Sauacutede Satildeo Paulo Hucitec1995 p 37-42 e SCHWARZ Germano Direito agrave Sauacutede Efetivaccedilatildeo em uma PerspectivaSistecircmica Porto Alegre Livraria do Advogado 2001 p 101 203 COHN Ameacutelia et al A Sauacutedecomo Direito e como Serviccedilo Satildeo Paulo Cortez 2008 p 68 entre outros assinalando o fato deque a regionalizaccedilatildeo e a descentralizaccedilatildeo tecircm por escopo favorecer a acessibilidade e natildeo dificultaacute-la natildeo obstando portanto a solidariedade entre os entes puacuteblicos Em favor da responsabilidade

sucessiva e natildeo solidaacuteria por forccedila da descentralizaccedilatildeo do Sistema cf FIGUEIREDO MarianaFilchtiner Direito Fundamental agrave Sauacutede Paracircmetros para sua Eficaacutecia e Efetividade Porto Alegre Livraria do Advogado 2007 p 157-16115 Cf por todos AVARES Andreacute Ramos Curso de Direito Constitucional 2ed Satildeo PauloSaraiva 2003 e SRECK Lecircnio Luiz MORAIS Joseacute Luiacutes Bolzan de Ciecircncia poliacutetica eteoria geral do estado 2ed Porto Alegre Livraria do Advogado 2000 Sobre o princiacutepio dasubsidiariedade nesse caso cf tambeacutem CANOILHO J J Gomes Direito Constitucional eeoria da Constituiccedilatildeo 7ed Coimbra Almedina [2003] Ainda sobre o tema da influecircnciado federalismo na mateacuteria cf o trabalho de DALLARI Sueli Gandolfi loc cit assinalando aabordagem diferenciada em cada constituiccedilatildeo estadual acerca do conteuacutedo do direito agrave sauacutede

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praacuteticas eacute de se notar que em 1999 foi incluiacutedo capiacutetulo referente agrave atenccedilatildeo agrave sauacutedeindiacutegena e em 2002 previu-se um subsistema de atendimento e internaccedilatildeo domiciliarEsses uacuteltimos cuidados ditos home care conquanto ainda pouco utilizados vecircmadequar-se ao quanto previsto na Constituiccedilatildeo Federal em seu artigo 230 paraacutegrafo 1ordm

notadamente em relaccedilatildeo aos idosos a saber ldquosect 1ordm - Os programas de amparo aos idososseratildeo executados preferencialmente em seus laresrdquo Em 2005 acolheu-se na legislaccedilatildeo umsubsistema de acompanhamento durante o trabalho de parto parto e poacutes-parto imediatoprevendo a possibilidade de acompanhante nesses eventos a exemplo do que jaacute fizera oEstatuto da Crianccedila e do Adolescente em relaccedilatildeo agrave previsatildeo de acompanhante para omenor internado no acircmbito do SUS (artigo 12 da Lei 806990 e Resoluccedilatildeo ndeg 4195sobre os direitos da crianccedila e do adolescente hospitalizados) revelando uma tendecircncia dehumanizaccedilatildeo dos procedimentos puacuteblicos de sauacutede

Na praacutetica ainda natildeo se implementaram amplamente esses novos espectros do direito agravesauacutede mas natildeo se os diga impossiacuteveis nem desnecessaacuterios Eacute curioso notar verbi gratia que quando do surgimento do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente tampouco era praxea manutenccedilatildeo dos pais junto aos pequenos pacientes ndash algo que hoje soa imprescindiacutevelndash e a afirmaccedilatildeo legislativa desse direito foi reputada como inviaacutevel dentro da estruturahospitalar da eacutepoca Menos de uma deacutecada depois todavia embora natildeo existam aindahoje instalaccedilotildees ideais em termos de conforto jaacute natildeo se cogita mais internar crianccedilas ouadolescentes sem lhes assegurar a permanecircncia de um dos responsaacuteveis Demonstrou-se

com isso que muitas das resistecircncias agrave implementaccedilatildeo de direitos satildeo bem mais culturaispor haacutebito ou falta de vontade poliacutetica do que propriamente por reais inviabilidadesfinanceiras ou operacionais Vive-se atualmente similar situaccedilatildeo quanto agrave previsatildeo deacompanhante para o idoso ou a gestante em trabalho de parto

Em relaccedilatildeo ao planejamento e orccedilamento a propoacutesito outro argumento habitual doEstado-reacuteu diz respeito justamente agrave impossibilidade de deslocamento de verbas natildeoprevistas na organizaccedilatildeo orccedilamentaacuteria dentro do Sistema Uacutenico de Sauacutede ou de outrasaacutereas para este sob pena de responsabilizaccedilatildeo fiscal Nessa seara poreacutem o artigo 36

paraacutegrafo 2ordm da Lei ndeg 808090 eacute enfaacutetico ao estabelecer que ldquoEacute vedada a transferecircnciade recursos para o financiamento de accedilotildees natildeo previstas nos planos de sauacutede exceto emsituaccedilotildees emergenciais ou de calamidade puacuteblica na aacuterea de sauacutederdquo (grifou-se)

Para exercer suas atividades o Sistema Uacutenico de Sauacutede conta com inuacutemeras outras normasgestoras ndash natildeo apenas leis de acircmbito nacional mas tambeacutem Portarias e normas de acircmbitoestadual e local ndash que detalham essa atuaccedilatildeo Assim eacute que por exemplo a Portaria nordm

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3916 de 30 de outubro de 1998 estabelece a Poliacutetica Nacional de Medicamentos a serauxiliada por normas outras como a Lei ndeg 978799 dita ldquoLei dos Geneacutericosrdquo definindoo medicamento geneacuterico como aquele similar a um produto de referecircncia ou inovadorque se pretende ser com este intercambiaacutevel geralmente produzido apoacutes a expiraccedilatildeo ou

renuacutencia da proteccedilatildeo patentaacuteria ou de outros direitos de exclusividade comprovada a suaeficaacutecia seguranccedila e qualidade

Prevecirc-se ainda que esses medicamentos devem ser preferidos no acircmbito do SUSpelo custo e acrescente-se pela impessoalidade mesma que deve caracterizar a atuaccedilatildeoadministrativa estatal desaconselhando a preferecircncia por produtos de laboratoacuterios oumarcas determinados em detrimento de produtos de denominaccedilatildeo comum brasileira ouna sua falta internacional a indicar maior neutralidade em prestaccedilatildeo equivalente

Jaacute se tem aiacute um paracircmetro a nortear as prescriccedilotildees e decisotildees na mateacuteria deve a prestaccedilatildeofarmacoloacutegica do Sistema Uacutenico de Sauacutede se pautar pelo fornecimento de medicaccedilotildees quedentre as que contecircm a substacircncia ativa necessaacuteria atendam agraves necessidades de eficaacuteciae seguranccedila poreacutem com menor custo maior impessoalidade e generalidade pois natildeoassociada a marca especiacutefica O uso racional desses recursos passa ainda pela orientaccedilatildeodos meacutedicos na criteriosa avaliaccedilatildeo das medicaccedilotildees prescritas privilegiando dentro deum paracircmetro de equivalecircncia aquelas jaacute constantes fornecimento regular pelo Sistema 16

16 Os produtos padronizados constam da Relaccedilatildeo Nacional de Medicamentos Essenciais (RENAME) Nosentido de promover a observacircncia da lista cita-se por exemplo a Portaria Estadual nordm 1475BA publicadano Diaacuterio Oficial do Estado de 300908 que ldquoConstitui Grupo de trabalho no acircmbito do SUS com oescopo de elaborar orientaccedilotildees e diretrizes aos profissionais meacutedicos no sentido de esgotarem as alternativasde faacutermacos previstas nos Protocolos Cliacutenicos e Diretrizes erapecircuticas do Ministeacuterio da Sauacutede e demais atosque lhe forem complementares antes de prescrever tratamento medicamentoso diverso aos pacientes nostermos da Notificaccedilatildeo Recomendatoacuteria 0022007 da Promotoria de Justiccedila e da Cidadania do MinisteacuterioPuacuteblico do Estado da Bahiardquo De acordo com a Organizaccedilatildeo Mundial da Sauacutede - OMS (Nairobi Quecircnia1985) ldquoHaacute uso racional quando pacientes recebem medicamentos apropriados para suas condiccedilotildees cliacutenicasem doses adequadas agraves suas necessidades individuais por um periacuteodo adequado e ao menor custo para si e

para a comunidaderdquo Segundo o Ministeacuterio da Sauacutede o uso racional de medicamentos consiste no ldquoprocessoque compreende a prescriccedilatildeo apropriada a disponibilidade oportuna e a preccedilos acessiacuteveis a dispensaccedilatildeoem condiccedilotildees adequadas e o consumo nas doses indicadas nos intervalos definidos e no periacuteodo de tempoindicado de medicamentos eficazes seguros e de qualidaderdquo (BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria dePoliacuteticas de Sauacutede Departamento de Atenccedilatildeo Baacutesica Poliacutetica nacional de medicamentos 2001Ministeacuterio daSauacutede Secretaria de Poliacuteticas de Sauacutede Departamento de Atenccedilatildeo Baacutesica ndash Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede2001 ambeacutem disponiacutevel em lthttpwwwopasorgbrmedicamentossiteUploadArqpnmpdfgtacessado em 02out08) Outros programas para estimular o uso racional de medicamentos encontram-sena paacutegina eletrocircnica do Ministeacuterio da Sauacutede (httpportalsaudegovbrportalsaudeareacfmid_area=1141acessado em 05out08)

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A alocaccedilatildeo de medicamentos no paiacutes estaacute dividida segundo o Ministeacuterio da Sauacutede em trecircscategorias baacutesicas17 medicamentos baacutesicos ou essenciais ldquopertencentes a um elenco miacutenimoobrigatoacuterio a ser dispensado na atenccedilatildeo baacutesicardquo ou na dicccedilatildeo legal aqueles consideradosldquobaacutesicos e indispensaacuteveis para atender a maioria dos problemas de sauacutede da populaccedilatildeordquo

previstos na Portaria do Ministeacuterio da Sauacutede nordm 32372007 medicamentos estrateacutegicosutilizados em programas especiacuteficos do Ministeacuterio da Sauacutede como aqueles de combateagrave AIDS tuberculose hanseniacutease diabetes doenccedila de Chagas malaacuteria coagulopatias eoutras conforme Portaria do Ministeacuterio da Sauacutede nordm 2042007 e medicamentos dedispensaccedilatildeo especial ou excepcional eacute dizer aqueles geralmente de alto custo destinadosa patologias especiacuteficas e complexas que atingem um nuacutemero limitado de pacientes parauso prolongado Esses procedimentos e recursos terapecircuticos encontravam-se arroladosna Portaria do Ministeacuterio da Sauacutede nordm 25772006 Eacute de se observar que sendo essauacuteltima uma das categorias mais solicitadas judicialmente e mais associadas com a evoluccedilatildeo

biotecnoloacutegica chama a atenccedilatildeo o fato de ter sido por muito tempo justamente aPortaria mais antiga deixando margem agrave criacutetica de provaacutevel desatualizaccedilatildeo em relaccedilatildeo aosavanccedilos atuais tendo sido atualizada pela Portaria GMMS 18692008 e revogada pelaPortaria GMMS 1062009 tambeacutem jaacute revogada A mateacuteria tambeacutem sofreu alteraccedilotildeespelas Portarias 2981 de 26 de novembro de 2009 Portaria 343GMMS de 22 defevereiro de 2010 Portaria 3439MS de 11 de novembro de 2010 e atualmente pelosPCD (PROOCOLOS CLIacuteNICOS E DIRERIZES ERAPEcircUICAS) a indicarparacircmetros de abordagem e tratamento para cada patologia

Analisando-se os montantes empregados em cada uma das categorias verifica-se que os

17 MELLO Dirceu Raposo et al op cit p 27-28 SALAZAR Andrea Lazzarini GROU Karina Bozola ADefesa da Sauacutede em Juiacutezo eoria e Praacutetica Satildeo Paulo Verbatim 2009 p 112-113

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gastos com medicamentos especiais superam em muito aqueles com medicaccedilotildees baacutesicas18 Dentre os medicamentos estrateacutegicos ndash responsaacuteveis pelo maior volume de custos commedicaccedilotildees entre os trecircs grupos na segunda metade da deacutecada passada ndash aqueles dirigidosao programa de HIVAIDS sofreram acreacutescimo substancial em 2006 ante as novas drogas

incorporadas ao cataacutelogo farmacoloacutegico de tratamento da doenccedila passando a representarsozinhos quase uma vez e meia o gasto com todas as demais drogas estrateacutegicas

Mais uma vez fica evidente que prevenir aleacutem de melhor sai bem mais barato que

18 Segundo quadro comparativo elaborado em MELLO Dirceu Raposo et al op cit p 28-29 a partirde dados do Ministeacuterio da Sauacutede os gastos com medicamentos baacutesicos em 2006 foram da ordem de 290milhotildees de reais representando 67 dos gastos com medicaccedilatildeo ao passo que o montante despendido commedicamentos de dispensaccedilatildeo especial alcanccedilaram a cifra de um bilhatildeo 355 milhotildees de reais equivalendoa 32 do orccedilamento para a aacuterea Dentre os medicamentos estrateacutegicos aqueles destinados ao programade DSAIDS custaram aos cofres puacuteblicos naquele ano 960 milhotildees de reais enquanto no ano anteriorrepresentaram despesa de 550 milhotildees de reais Cumpre assinalar que o programa de fornecimento gratuitode medicaccedilotildees antirretrovirais aos portadores de HIV no paiacutes eacute elogiado em todo o mundo pela iniciativapioneira na aacuterea apontada como exemplo na universalizaccedilatildeo do tratamento e inclusatildeo a esses pacientes A Leique cuida da mateacuteria ndash Lei ndeg 931396 ndash foi acompanhada por uma seacuterie de decisotildees judiciais proacute direitoagrave sauacutede determinando o efetivo provimento das medicaccedilotildees e sua atualizaccedilatildeo conforme o estado cientiacuteficomundial nos termos da redaccedilatildeo legal Nesse sentido se assinala entre outros o seguinte acoacuterdatildeo provenientedo Supremo ribunal Federal defendendo a aplicabilidade imediata das normas relativas ao direito agravesauacutede PACIENE COM HIVAIDS ndash PESSOA DESIUIacuteDA DE RECURSOS FINANCEIROS ndashDIREIO Agrave VIDA E Agrave SAUacuteDE ndashFORNECIMENO GRAUIO DE MEDICAMENOS ndash DEVERCONSIUCIONAL DO PODER PUacuteBLICO (CF ARS 5ordm CAPU E 196) O DIREIO Agrave SAUacuteDEREPRESENA CONSEQUumlEcircNCIA CONSIUCIONAL INDISSOCIAacuteVEL DO DIREIO Agrave VIDA

O direito puacuteblico subjetivo agrave sauacutede representa prerrogativa juriacutedica indisponiacutevel assegurada agrave generalidadedas pessoas pela proacutepria Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica (art 196) raduz bem juriacutedico constitucionalmentetutelado por cuja integridade deve velar de maneira responsaacutevel o Poder Puacuteblico a quem incumbe formularndash e implementar ndash poliacuteticas sociais e econocircmicas idocircneas que visem a garantir aos cidadatildeos inclusive agravequelesportadores do viacuterus HIV o acesso universal e igualitaacuterio agrave assistecircncia farmacecircutica e meacutedico-hospitalar Odireito agrave sauacutede ndash aleacutem de qualificar-se como direito fundamental que assiste a todas as pessoas ndash representaconsequumlecircncia constitucional indissociaacutevel do direito agrave vida O Poder Puacuteblico qualquer que seja a esfera institucionalde sua atuaccedilatildeo no plano da organizaccedilatildeo federativa brasileira natildeo pode mostrar-se indiferente ao problema da sauacutededa populaccedilatildeo sob pena de entender ainda que por censuraacutevel omissatildeo em grave comportamento inconstitucional(AGRRE nordm 271286-RS Rel Min Celso de Mello SF DJ 241100 p 101)

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remediar 19

Fato eacute queNenhum paiacutes ateacute o momento conseguiu estabelecer um limite oacutetimode gasto financeiro para melhorar a sauacutede de seus cidadatildeos os EUA

gastam 146 do PIB com sauacutede sendo o Estado responsaacutevel por449 desse total e 5 dos gastos puacuteblicos com sauacutede dizem respeitoaos medicamentos Ainda sobre os EUA dados de domiacutenio puacuteblicoinformam que cerca de 50 milhotildees de cidadatildeos natildeo tecircm acesso aosserviccedilos de sauacutede No Brasil os gastos com sauacutede correspondem agrave cifrade 79 do PIB sendo que o setor puacuteblico eacute responsaacutevel por 459desses gastos e os medicamentos representam 74 desses gastospuacuteblicos20

Sem duacutevida a garantia adequada do direito agrave sauacutede natildeo constitui um problema apenaspara os paiacuteses em desenvolvimento embora nesses falte o acesso ao que haacute de mais baacutesicopossiacutevel para a manutenccedilatildeo e a recuperaccedilatildeo da sauacutede ambeacutem os paiacuteses desenvolvidos

19 Aleacutem das despesas jaacute esperadas com tais medicamentos avultam ainda os gastos decorrentes de processos judiciais A esse respeito notiacutecia veiculada em setembro de 2008 na imprensa deu conta de que ldquoEntre2005 e 2008 o governo federal aumentou em 1820 (quase 20 vezes) as despesas decorrentes de ordens

judiciais que obrigam a Uniatildeo a pagar por medicamentos especiais Apenas na primeira metade deste anoforam gastos pelo governo federal por ordem da Justiccedila R$ 48 milhotildees nesses tratamentos Em 2005 oinvestimento foi de R$ 25 milhotildeesrdquo ambeacutem foi informado que ldquoa cada mecircs Satildeo Paulo gasta R$ 400milhotildees com remeacutedios obtidos pelos doentes mediante ordem judicial e que natildeo satildeo fornecidos pelo SUS Asituaccedilatildeo natildeo eacute muito diferente no Rio Grande do Sul Foram R$ 31 milhotildees com accedilotildees judiciais envolvendomedicamentos em 2006 e R$ 50 milhotildees em 2007 e a previsatildeo eacute de que sejam gastos R$ 150 milhotildees nesteano ndash o equivalente a um terccedilo do total de recursos de custeio dos programas da Secretaria Estadual deSauacutederdquo Dentro desses valores apurou-se ainda a ocorrecircncia de fraudes envolvendo meacutedicos e advogadosque mediante pedidos judiciais providos teriam resultado em prejuiacutezo de R$ 63 milhotildees aos cofrespuacuteblicos (REZZI Humberto Sauacutede Aumento no gasto do governo em remeacutedios especiais eacute investigadoPromotores e policiais suspeitam que quadrilhas falsificariam atestados para obrigar a Uniatildeo a fornecermedicamentos de alto custo a pacientes por via judicial Jornal Zero Hora Porto Alegre ediccedilatildeo ndeg 15734

Disponiacutevel em lthttpzerohoraclicrbscombrzerohorajspdefault2jspuf=1amplocal=1ampsource=a2195502xmlamptemplate=3898dwtampedition=10739ampsection=1003gt acessado em 12out08) Deduz-se daiacute queconquanto via relevantiacutessima para o controle do atendimento do direito fundamental agrave sauacutede a prestaccedilatildeo

jurisdicional haacute de ser particularmente cautelosa na anaacutelise de tais pleitos sobretudo quando em sede deprovimentos liminares por natildeo se poder desconsiderar o grave impacto que essas decisotildees tecircm tomado noorccedilamento sanitaacuterio Eacute imprescindiacutevel entatildeo sempre que possiacutevel e especialmente quando o fornecimentoeacute feito a entidades privadas sobre as quais incide menor controle na utilizaccedilatildeo desses recursos a realizaccedilatildeode periacutecia meacutedica judicial a constatar a efetiva necessidade e infungibilidade do recurso demandado naquelecaso concreto20 MELLO Dirceu Raposo et al op cit p 23

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177R Defensoria Puacutebl Uniatildeo Brasiacutelia DF n 8 p 1-356 jandez 2015

tecircm problemas para assegurar os cuidados de sauacutede esperados pela populaccedilatildeo situaccedilatildeoque se agrava progressivamente com o envelhecimento da populaccedilatildeo (com suas conhecidasconsequecircncias para o equiliacutebrio previdenciaacuterio) e com o desenvolvimento crescente dosrecursos farmacecircuticos e biotecnoloacutegicos criando patamares cada vez mais elevados de

atenccedilatildeo agrave sauacutede21

Elevou-se a qualidade e a quantidade de vida o que eacute um aspectoinegavelmente positivo mas que gera outrossim consequecircncias de difiacutecil equiliacutebrioeconocircmico

4 DEMANDAS JUDICIAIS EM SAUacuteDE COMO AVANCcedilAR EM DIRECcedilAtildeO

AO QUE PARECE NAtildeO ER SAIacuteDA

Questionado sobre formas de viabilizaccedilatildeo de um sistema puacuteblico de sauacutede dentro dessecontexto ponderou primeiramente Diego Gracia 22 que quem tem receituaacuterio fazalocaccedilatildeo Com efeito Ao fazer uma mera prescriccedilatildeo individual o meacutedico estaacute a indicarali os paracircmetros para o exerciacutecio do direito agrave sauacutede pelo paciente Eacute para alcanccedilar orecurso prescrito que o cidadatildeo vai agrave Justiccedila pleitear ao Estado ou ao plano de sauacutede queo forneccedila Eacute na prescriccedilatildeo que se baseia o Juiz quando antecipa uma tutela mesmo antes

de ouvir a parte adversa na convicccedilatildeo de que haacute urgecircncia no acesso agravequele recurso

Mister assim para racionalizar o uso de medicamentos e recursos no SUS orientar eracionalizar tambeacutem as prescriccedilotildees meacutedicas de modo que sem sacrificar a sauacutede dopaciente tampouco se sacrifique indevidamente o Sistema organizado para protegecirc-lae garanti-la Nesse ponto erige-se a validade de se pensar um trabalho conjunto comorganizaccedilotildees profissionais como uma outra vertente para a maior efetivaccedilatildeo na prestaccedilatildeo

21

Nesse sentido cf a obra AARON Henry J SCHWARZ William B Te Painful Prescriptionhellipreferente sobretudo aos Estados Unidos e agrave Inglaterra mas que tambeacutem menciona a situaccedilatildeo de outros paiacutesesdesenvolvidos como a Franccedila e o Canadaacute ambeacutem trata do assunto entre outros PENCHASZADEHVictor Bioeacutetica y medicina social Una confluencia necesaria Revista Brasileira de Bioeacutetica BrasiacuteliaSociedade Brasileira de Bioeacutetica v 3 n 2 p 129-149 2007 p 137 Destaque-se outrossim a recentepolecircmica envolvendo o governo americano do Presidente Barack Obama ante a perspectiva de maiordemocratizaccedilatildeo do acesso agrave sauacutede em confronto com o arcabouccedilo tendencialmente liberal da poliacutetica daqueleEstado no setor ateacute entatildeo22 GRACIA Diego Bioeacutetica Cliacutenica e Contexto Social In VII CONGRESSO BRASILEIRO DEBIOEacuteICA Satildeo Paulo 2007 Conferecircncia

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178 DEFENSORIA PUacuteBLICA DA UNIAtildeO Escola Superior

e cobranccedila do direito agrave sauacutede

A especial atenccedilatildeo aos preceitos da Medicina Baseada em Evidecircncias devidamentefundamentada em relatoacuterios e prescriccedilotildees acurados com a cuidadosa anaacutelise e

demonstraccedilatildeo de eficaacutecia seguranccedila e eficiecircncia23

quer no geral quer no caso concretotambeacutem satildeo de grande valia para a atuaccedilatildeo coerente e racional na aacuterea inclusive a fim deevitar que o assistido seja engolfado por esperanccedilas vatildes de resultados temeraacuterios tentativasheroicas sem perspectivas reais e pesquisas multinacionais em larga escala que exacerbamsua vulnerabilidade e fragilizam a credibilidade dos pedidos judiciais no setor Nessecontexto mister evitar tambeacutem pedidos irrazoaacuteveis natildeo factiacuteveis na praacutetica ou opccedilotildees

23 Embora costumeiramente usadas de forma equivalente as expressotildees eficaacutecia eficiecircncia e efetividade tecircmsignificados teacutecnicos especiacuteficos na seara da MBE Nesse sentido a seguranccedila mencionada implica a anaacutelisede que os danos colaterais possiacutevel sejam inferiores aos benefiacutecios oferecidos com seu uso para o fim a quese propotildee A eficaacutecia consiste na evidecircncia de ter o recurso prescrito comprovado efeito beneacutefico para aquelecaso (ldquofazem o que se propotildeem a fazerrdquo ndash na expressatildeo de VIEIRA Fabiacuteola Sulpino op cit p365-369)evitando-se os chamados ldquoprodutos de complacecircnciardquo ndash sem eficaacutecia comprovada mas prescritos por insistecircnciado paciente ou por pressatildeo do marketing industrial por exemplo ndash bem como os atos aparentemente cliacutenicosmas que se mostram em verdade experimentais visto que natildeo validados de nenhuma forma cientificamente

aceita a qual permita asseveraacute-los como realmente producentes e seguros A efetividade propriamente dita corresponde agrave eficaacutecia e agrave eficiecircncia em condiccedilotildees reais de sorte a evitar desperdiacutecios Eacute dizer que os produtoseleitos ldquofazem o que se propotildeem a fazer quando utilizados pelas pessoas em condiccedilotildees reais e natildeo em gruposhomogecircneos que constituem os grupos de pessoas dos ensaios cliacutenicosrdquo (idem ibidem) Por fim a eficiecircnciaou custo-efetividade envolve a avaliaccedilatildeo da relaccedilatildeo custobenefiacutecio de modo a se constatar a substancialvantagem de dado recurso em relaccedilatildeo a outro observadas a eficaacutecia e a efetividade propriamente ditaSignifica dizer que o produto em questatildeo ldquoentre as alternativas disponiacuteveis faz o que se propotildee a fazer paraas pessoas em condiccedilotildees reais ao menor custordquo (idem ibidem) Embora conceitos mais utilizados no acircmbitoeconocircmico e de macroalocaccedilatildeo de recursos acabam repercutindo na microalocaccedilatildeo individual ao requerermaior comprovaccedilatildeo quando de pedido que natildeo leve em consideraccedilatildeo tais subprinciacutepios Segundo a ANVISAtem-se a efetividade como ldquogarantia de medicamentos eficazes eou efetivos e seguros cuja relaccedilatildeo risco-benefiacutecio seja favoraacutevel e comprovada a partir das melhores evidecircncias cientiacuteficas disponiacuteveis na literatura

e com registro aprovado na Agecircncia Nacional de Vigilacircncia Sanitaacuteria (ANVISA)rdquo e a eficiecircncia como aldquogarantia de medicamentos que proporcionem a melhor resposta terapecircutica aos usuaacuterios com os menorescustos para o SUSrdquo (Lei 124012011 e pela Resoluccedilatildeo 01 do Ministeacuterio da Sauacutede de 17 de janeiro de2012) Eacute fato que considerando os escores da Medicina baseada em evidecircncia alega o Estado de praxe quea experiecircncia do meacutedico prescritor isoladamente e mesmo do perito judicial natildeo teriam niacutevel de sustentaccedilatildeocientiacutefica bastante para subsidiar a concessatildeo de medicaccedilatildeo natildeo padronizada pelo SUS todavia considerandoos requisitos de antecipaccedilatildeo de tutela pode conter se bem fundamentada em estudos outros de indicaccedilatildeoseguranccedila eficaacutecia efetividade e eficiecircncia elementos suficientes de verossimilhanccedila aleacutem de representara realidade daquele indiviacuteduo preocupando-se em registrar inclusive a ausecircncia de resposta ou indicaccedilatildeoquanto agraves outras opccedilotildees disponiacuteveis haja vista que como se costuma constatar a resposta individual nemsempre corresponde agravequela epidemiologicamente esperada

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comerciais especiacuteficas substituiacuteveis por equivalentes terapecircuticos disponiacuteveis no SUS24

Outro aspecto a ser sopesado eacute o modo e o conteuacutedo como feitos os pedidos na medida emque a proteccedilatildeo ao direito agrave sauacutede de um deve considerar a existecircncia de outros envolvidos

na alocaccedilatildeo de recursos diante da escassez real Exemplo disso satildeo os pedidos de vagaou de prioridade em filas de transplantes que necessariamente envolvem o cotejo comoutros afetados que natildeo satildeo parte no processo Natildeo raro se tem notiacutecia de comandos deprisatildeo a gestores hospitalares que tecircm todos os seus leitos ocupados por natildeo disporem devagas Inegaacutevel a falha estatal na espeacutecie mas ela natildeo pode ser resolvida com o comandoainda que indireto de retirada de pacientes que ainda necessitem do leito e cuidados paraalocaccedilatildeo de outro dotado de comando judicial Opccedilatildeo nesse caso eacute o pedido subsidiaacuteriode alocaccedilatildeo em unidades privadas agraves expensas do Estado natildeo por mera opccedilatildeo do enfermomas se natildeo houver leitos disponiacuteveis nas unidades puacuteblicas

Do ponto de vista estatal eacute mister o ajuste constante das poliacuteticas puacuteblicas de sortea mantecirc-las condizentes com as carecircncias da comunidade e atualizadas dentro dasmargens de efetividade terapecircutica a fim de se tentar com isso minorar a necessidade deintervenccedilotildees judiciais suplementares na aacuterea aleacutem de favorecer o proacuteprio funcionamentoadequado do Sistema em conformidade com seus princiacutepios gestores e com as previsotildeese garantias constitucionais sem acarretar a falecircncia do Sistema nem converter o direitouniversal agrave sauacutede em mera retoacuterica demagoacutegica

Nesse contexto a atuaccedilatildeo e participaccedilatildeo equilibrada da Defensoria junto a oacutergatildeos puacuteblicose conselhos interdisciplinares pode ser de grande valia para uma maior eficaacutecia na soluccedilatildeo

24 Em palestra proferida do II Foacuterum Brasileiro sobre Assistecircncia Farmacecircutica e Farmacoeconomia ocorridoem setembro de 2014 em Salvador-Bahia com a presenccedila de gestores puacuteblicos membros do JudiciaacuterioMinisteacuterio Puacuteblico Defensoria Puacuteblica e Advogados Puacuteblicos a representante paulista do CONASS(Conselho Nacional dos Secretaacuterios de Sauacutede) apresentou demonstrativo de pedidos em demandas judiciaissanitaacuterias contra o Estado e o Municiacutepio de Satildeo Paulo em que incluiacutedos itens como ldquoleite de cabra frescordquondash o qual resultou descumprido por absoluta ausecircncia de resposta agrave licitaccedilatildeo simplificada para localizar

detentores de cabras na cidade de Satildeo Paulo Nessa ocasiatildeo tambeacutem mostrou a palestrante estudo feitoquanto agraves 41000 accedilotildees judiciais em sauacutede atendidas por aqueles entes naquele ano tendo-se verificado quecerca de 70 delas se pautavam em prescriccedilotildees particulares 93 envolviam medicamentos extraordinaacuteriosao SUS sendo que aproximadamente 5 envolviam produtos importados sem registro na ANVISA 50envolviam itens de produtores exclusivos e cerca de 25 marcas especiacuteficas mesmo para itens simples comofraldas descartaacuteveis A franca maioria dos pedidos natildeo tivera solicitaccedilatildeo administrativa preacutevia sabendo oEstado do pleito jaacute em sede de antecipaccedilatildeo de tutela com prazo estrito para o fornecimento ainda que comfundamentaccedilatildeo cliacutenica escassa inclusive quanto agrave premecircncia do pedido (SIQUEIRA Paula Sue Facundo deDireito Sanitaacuterio a interface entre Judiciaacuterio e Sauacutede na utilizaccedilatildeo dos PDC II FOacuteRUM BRASILEIROSOBRE ASSISEcircNCIA FARMACEcircUICA E FARMACOECONOMIA Salvador 2014 Mesa Redonda)

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180 DEFENSORIA PUacuteBLICA DA UNIAtildeO Escola Superior

administrativa das questotildees reduzindo-se o quantitativo de demandas judiciais na espeacuteciee democratizando o acesso agrave sauacutede mesmo agravequeles que natildeo chegam agrave Defensoria Nesseuacuteltimo aspecto tambeacutem a atuaccedilatildeo mediante Accedilatildeo Civil Puacuteblica visando agrave atualizaccedilatildeodas listas de fornecimento ou denunciando carecircncias e esperas irrazoaacuteveis por exemplo

parece recurso de relevante monta para uma melhor prestaccedilatildeo no setor

Possibilidade de uma maior funcionalidade administrativa tambeacutem pode ser tentadamediante atuaccedilatildeo de profissional25 direcionado agrave aacuterea das crescentes demandas em sauacutedenas unidades defensoriais de sorte a direcionar melhor a instruccedilatildeo dos pedidos jaacute seorientando o tipo de relatoacuterio e informaccedilotildees necessaacuterios aleacutem de empreender contatodireto com os oacutergatildeos puacuteblicos de regulaccedilatildeo em sauacutede estreitando relaccedilotildees com a Secretariade Sauacutede do Estado e seus oacutergatildeos a exemplo da Central de Regulaccedilatildeo de Vagas

Propotildee-se com isso ampliar o quantitativo de resoluccedilotildees administrativas mais ceacutelerese menos custosas reservando a necessidade de intervenccedilotildees juriacutedicas agraves situaccedilotildees emque havendo a previsatildeo do fornecimento natildeo se consegue obtecirc-lo por maacute prestaccedilatildeoadministrativa ndash o que demonstrado por melhor instruccedilatildeo inicial sugere levar amelhores iacutendices de sucesso jaacute em sede antecipatoacuteria ndash ou nas situaccedilotildees de recursos natildeoincluiacutedos no rol de fornecimento do SUS (em que pese o limitante dos artigos 2ordm e 19da Lei 124012011) Nesse caso uacuteltimo jaacute se busque tambeacutem instruir o pedido com osdemonstrativos da eficaacutecia seguranccedila e indicaccedilatildeo da medida reclamada bem assim de

ausecircncia de resposta agraves drogas rotineiramente disponibilizadas ou indicadas nos PCDnos termos inclusive do quanto preconizado em reiterados Enunciados e Recomendaccedilotildeesdo CNJ (4 11 14 15 16 31) e precedentes jurisprudenciais relevantes como a SA175 de relatoria do Min Gilmar Mendes sobre a mateacuteria

O que se vislumbra de negativo em tal proposta eacute que eventual reduccedilatildeo da judicializaccedilatildeofaccedila supor uma maior eficiecircncia na prestaccedilatildeo estatal em sauacutede o que nem semprecorresponde agrave verdade obtendo-se o ecircxito em casos individuais atraveacutes da persistecircnciaempedernida do oacutergatildeo defensorial ateacute que a proacutexima situaccedilatildeo se apresente Como aspecto

25 entativa semelhante tem sido implementada ao longo do uacuteltimo ano na unidade baiana daDefensoria Puacuteblica da Uniatildeo por iniciativa da chefia que tambeacutem titulariza o ofiacutecio de tutelacoletiva mediante o destacamento de Assistente Social com experiecircncia na conduccedilatildeo de demandasem sauacutede e com o intuito de melhorar a assistecircncia em tais demandas ante o crescimentoexponencial de seu nuacutemero no quinquecircnio antecedente Os resultados tecircm-se mostrado prima facie positivos com aparente aumento do nuacutemero de deslindes extrajudiciais e maior quantitativode antecipaccedilotildees de tutela obtidas nas accedilotildees propostas embora ainda sem dados coligidos esistematizados a respeito

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positivo por oacutebvio todas as vantagens da resoluccedilatildeo administrativa

Outro recurso a ser considerado como dito como opccedilatildeo agraves muacuteltiplas accedilotildees individuaissatildeo as accedilotildees de natureza coletiva visando agrave efetiva disponibilizaccedilatildeo de procedimentos

oferecidos formalmente mas cuja demora na prestaccedilatildeo torna na praacutetica insustentaacutevela espera ais accedilotildees sob o ponto de vista pragmaacutetico todavia nem sempre tecircm comoobter resultados concretos imediatos mas frutos de uma atuaccedilatildeo combativa criacuteticae politicamente atuante satildeo relevante termocircmetro acerca do modo como estatildeo sendogeridos os recursos em sauacutede advertindo para a necessidade de se dar concretude ao direitoconstitucionalmente reconhecido incentivando da maneira mais pertinente o sistemade checks and balances reservando-se as accedilotildees individuais para situaccedilotildees especiacuteficas denecessidade incontornaacutevel e sem perspectiva de resoluccedilatildeo natildeo litigiosa

Por fim sempre cabiacutevel lembrar que o momento da urgecircncia do plantatildeo do riscoiminente de vida eacute sempre o pior momento para avaliar o que fazer culminando-seem accedilotildees accedilodadas por vezes mal instruiacutedas natildeo raro em duplicidade nas instacircnciasestadual e federal com riscos para o paciente ou de desperdiacutecio de recursos puacuteblicos ouainda de descreacutedito para a instituiccedilatildeo Importante assim discutirem-se as abordagenspossiacuteveis criando-se orientaccedilotildees de conduta que de antematildeo auxiliem na organizaccedilatildeo dopensamento e na escolha das vias cabiacuteveis para ajudar o requerente ndash vulnerado quer pelahipossuficiecircncia econocircmica quer pela enfermidade ou na maioria das vezes por ambas

ndash da forma mais promissora e adequada possiacutevel

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Natildeo haacute por oacutebvio respostas faacuteceis na mateacuteria O objetivo do texto foi sobretudo chamar

atenccedilatildeo para aspectos nem sempre vistos na lida cotidiana do Defensor imbuiacutedo da visatildeodo assistido e suas anguacutestias premido pelo tempo sem que tenha por vezes sequercondiccedilatildeo de distanciar-se para um olhar mais imparcial

odavia tais distanciamento e compreensatildeo mostram-se necessaacuterios agrave instituiccedilatildeo afim de redirecionar a busca a mecanismos alternativos para o impasse da sauacutede comodireito simultaneamente individual e social sujeito agraves premecircncias pessoais mas tambeacutem

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agraves limitaccedilotildees de uma prestaccedilatildeo coletiva a exemplo da proacutepria escassez real (e aiacute misterdistinguir o mero argumento da escassez e da reserva do possiacutevel em contraposiccedilatildeo agravecomprovada inviabilidade de produccedilatildeo ou fornecimento a exemplo do nuacutemero de vagasimediatas em UI de um hospital puacuteblico ou a disponibilidade de oacutergatildeos compatiacuteveis para

transplante) e da inevitabilidade da alocaccedilatildeo de recursos o que natildeo eacute dado a ningueacutemresponsavelmente negar

Apenas a tiacutetulo de pensamento inicial sugerir-se-ia o desenvolvimento de incremento nastentativas de resoluccedilatildeo extrajudicial a exemplo de maior contato com a Administraccedilatildeo ndash aquem tambeacutem interessa a reduccedilatildeo das lides diminuindo gastos a varejo ndash e com oacutergatildeosde prestaccedilatildeo de sauacutede puacuteblica e de orientaccedilatildeo profissional meacutedica com vistas a analisar aeficaacutecia indicaccedilatildeo e seguranccedila de determinados recursos terapecircuticos subsidiando melhoros pedidos e melhorando os iacutendices de deferimento na espeacutecie que lamentavelmente

comeccedilam a declinar talvez movidos pelo perigo da dessensibilizaccedilatildeo do Judiciaacuterio ante aprofusatildeo de pedidos no setor reservando-se a atuaccedilatildeo judicial para situaccedilotildees de insucessoadministrativo reconhecido considerada a premecircncia e a comprovada necessidade ouatuaccedilotildees de iacutendole coletiva de pressatildeo poliacutetica para assegurar a melhor prestaccedilatildeo dodireito constitucional

Satildeo apenas reflexotildees incipientes mas ficam a semente da ideia o desafio que a questatildeorepresenta e o chamado ao compromisso coletivo de desenvolvecirc-las em prol do cidadatildeo

da efetividade constitucional e da atuaccedilatildeo mais consciente precisa e exitosa possiacutevel porparte da Defensoria Puacuteblica na defesa ao direito fundamental agrave sauacutede

REFEREcircNCIAS

AARON Henry SCHWARZ William Te Painful Prescription Rationing HospitalCare Washington Brookins Institution 1984

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BERGEL Salvador Dariacuteo Responsabilidad Social y Salud Revista Brasileira de Bioeacutetica Brasiacutelia Sociedade Brasileira de Bioeacutetica v2 n4 p 443-467 2006

CANOILHO J J Gomes Direito Constitucional e eoria da Constituiccedilatildeo 7edCoimbra Almedina [2003]

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DALLARI Sueli Gandolfi Os Estados Brasileiros e o Direito agrave Sauacutede Satildeo PauloHucitec 1995

DRANE James PESSINI Leo Medicina e ecnologia Desafios eacuteticos na fronteira doconhecimento humano Satildeo Paulo Loyola 2005

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FIGUEIREDO Mariana Filchtiner Direito Fundamental agrave Sauacutede Paracircmetros para suaEficaacutecia e Efetividade Porto Alegre Livraria do Advogado 2007

GRACIA Diego Bioeacutetica Cliacutenica e Contexto Social In VII Congresso Brasileiro deBioeacutetica Satildeo Paulo 2007 Conferecircncia

LORENZO Claacuteudio Vulnerabilidade em Sauacutede Puacuteblica implicaccedilotildees para as poliacuteticaspuacuteblicas Revista Brasileira de Bioetica Brasiacutelia Sociedade Brasileira de Bioeacutetica v 2n 3 p 299-312 2006

MELLO Dirceu Raposo de et al Anaacutelise Bioeacutetica do Papel do Estado na Garantia ao Acesso a Medicamentos In GARRAFA Volnei MELLO Dirceu Raposo de PORODora Bioeacutetica e Vigilacircncia Sanitaacuteria Brasiacutelia ANVISA 2007 p 17-18

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SALAZAR Andrea Lazzarini GROU Karina Bozola A Defesa da Sauacutede em Juiacutezo

eoria e Praacutetica Satildeo Paulo Verbatim 2009SCHWARZ Germano Direito agrave Sauacutede Efetivaccedilatildeo em uma Perspectiva SistecircmicaPorto Alegre Livraria do Advogado 2001

SIQUEIRA Paula Sue Facundo de Direito Sanitaacuterio a interface entre Judiciaacuterio eSauacutede na utilizaccedilatildeo dos PDC II Foacuterum Brasileiro sobre Assistecircncia Farmacecircutica eFarmacoeconomia Salvador 2014 Mesa Redonda

SRECK Lecircnio Luiz MORAIS Joseacute Luiacutes Bolzan de Ciecircncia poliacutetica e teoria geral do

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AVARES Andreacute Ramos Curso de Direito Constitucional 2ed Satildeo Paulo Saraiva 2003

REZZI Humberto Sauacutede Aumento no gasto do governo em remeacutedios especiais eacuteinvestigado Promotores e policiais suspeitam que quadrilhas falsificariam atestados paraobrigar a Uniatildeo a fornecer medicamentos de alto custo a pacientes por via judicial JornalZero Hora Porto Alegre ediccedilatildeo ndeg 15734 disponiacutevel em lthttpzerohoraclicrbscombrzerohorajspdefault2jspuf=1amplocal=1ampsource=a2195502xmlamptemplate=3898dwtampedition=10739ampsection=1003gt acessado em 12out08

VIEIRA Fabiacuteola Sulpino Accedilotildees judiciais e direito agrave sauacutede reflexatildeo sobre a observacircnciaaos princiacutepios do SUS Rev Sauacutede Puacuteblica v 42 n 2 p 365-369 abr 2008

VILLAS-BOcircAS Maria Elisa Alocaccedilatildeo de Recursos em Sauacutede quando a realidade e osdireitos fundamentais se chocam 2009 425 f ese (Doutorado em Direito Puacuteblico) ndashFaculdade de Direito Universidade Federal da Bahia Salvador 2009

______ O Direito agrave Sauacutede no Brasil reflexotildees bioeacuteticas agrave luz do princiacutepio da justiccedilaSatildeo Paulo Loyola 2014

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procedimentos meramente esteacuteticos sem caraacuteter reparador funcionalmente desnecessaacuteriose muitas vezes de alto custo fugindo assim agrave noccedilatildeo de essencialidade que caracterizao Sistema (ainda que tampouco seja unacircnime a noccedilatildeo de essencialidade5 notadamenteem face da amplitude do conceito de sauacutede adotado pela OMS como visto acima)

A reproduccedilatildeo assistida natildeo se acha coberta pelo SUS ou pela maioria os planos desauacutede embora se discuta eventual direito a um filho como possiacutevel parte da previsatildeoconstitucional de planejamento familiar Jaacute pleitos por proacuteteses penianas e que taisde escopo funcional parecem alinhar-se a uma noccedilatildeo mais ampla poreacutem razoaacutevel noacircmbito da sauacutede reprodutiva

De outro lado mesmo nos casos reconhecidamente eficazes o custo de determinadosrecursos nem sempre os torna viaacuteveis como poliacuteticas puacuteblicas Projeccedilatildeo feita por FabiacuteolaVieira6 em relaccedilatildeo a determinado tratamento para a hepatite C patologia viral crocircnica

requerido judicialmente em pleitos individuais em substituiccedilatildeo ao tratamento oferecidopelo SUS evidenciou que sendo a prevalecircncia da doenccedila no paiacutes estimada em 1 dapopulaccedilatildeo se o SUS se propusesse a tratar um quarto (025) dessas pessoas (o queequivaleria a cerca de 467000 pessoas) com o medicamento interferon peguilado o maismoderno agrave eacutepoca de sua pesquisa com aplicaccedilotildees uma vez por semana durante quarenta eoito semanas ndash o tempo do tratamento ndash ao custo individual da aplicaccedilatildeo de R$ 110749(mil cento e sete reais e quarenta e nove centavos) chegar-se-ia ao montante de 248bilhotildees de reais o que equivaleria a 64 do gasto total executado pelo Ministeacuterio da

Sauacutede em 2006 que fora da monta de 388 bilhotildees de reais naquele ano Natildeo significadiz a autora que natildeo se devam tratar os pacientes de hepatite viral crocircnica mas queeacute preciso empregar criteacuterios mesmo para a alocaccedilatildeo dos recursos da sauacutede sob penainclusive de se tratar de maneira diacutespar cidadatildeos em condiccedilatildeo similar e de o fazer sob achancela estatal sem uma especificidade que o justifique

A escassez existe Como tambeacutem existem pressotildees por parte da induacutestria farmacecircuticafomentando esperanccedilas vatildes as chamadas tentativas heroicas nem sempre de eficaacuteciacomprovadas com o risco de converter parte da populaccedilatildeo em involuntaacuterios sujeitos

5 Enquanto o SUS jaacute reconhecia o acesso a acompanhamento psicoloacutegico por exemplo como serviccediloessencial (e de fato o eacute) apenas recentemente passou a constar dos planos de sauacutede privados o reembolso decerto nuacutemero de consultas psicoloacutegicas ao ano Procedimentos como esclerose de varizes cirurgias bariaacutetricastambeacutem caminham na dubiedade entre tratamentos esteacuteticos e funcionais requerendo anaacutelise caso a caso6 VIEIRA Fabiacuteola Sulpino Accedilotildees judiciais e direito agrave sauacutede reflexatildeo sobre a observacircncia aos princiacutepios doSUS Rev Sauacutede Puacuteblica v 42 n 2 p 365-369 abr 2008

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de pesquisa em larga escala 7 Ignorar simplesmente tais circunstacircncias faacuteticas terminapor ensejar peacutessimos frutos a comeccedilar pela perda de credibilidade dos requerentesespecialmente aqueles reiterados como a Defensoria e ndash ainda pior ndash levar agrave gradativadessensibilizaccedilatildeo do destinataacuterio o Judiciaacuterio

Mister entatildeo tentar buscar tanto quanto possiacutevel saiacutedas administrativas tratativas quetendam a diminuir a necessidade de accedilotildees judiciais muacuteltiplas procurando interpretaros princiacutepios gestores do SUS agrave luz dos direitos fundamentais constitucionalmenteconsagrados tanto sob o prisma pessoal como social de modo a se obter a melhortratamento possiacutevel mas dentro de um paracircmetro de razoabilidade sustentaacutevel sem privaro cidadatildeo de direitos mas tambeacutem sem virar artefato dos interesses da induacutestria que maiscresce no mundo alimentando esperanccedilas e desejos poreacutem nem sempre comprometidacom a responsabilidade social que deveria ter

3 A DISCIPLINA SANIAacuteRIA E OS PRINCIacutePIOS DO SISEMA UacuteNI983085CO DE SAUacuteDE8

A Constituiccedilatildeo de 1988 consagrou por seu teor e de forma sem precedentes no paiacutes apromessa de um Estado Social contando entre seus fundamentos a dignidade da pessoahumana os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa e o pluralismo poliacutetico eenaltecendo as garantias agrave cidadania conforme seu Capiacutetulo II do iacutetulo II mas tambeacutemem outras normas constitucionais a exemplo do artigo 196 dedicado ao direito agrave sauacutede A proacutepria formulaccedilatildeo estrutural da nova Carta enunciando os direitos fundamentais logoem seu iniacutecio anteriormente agrave organizaccedilatildeo estatal como ocorria nos Diplomas anteriores

7

O proacuteprio rastuzumabe verbi gratia quimioteraacutepico reclamado judicialmente e hoje decomprovada eficiecircncia requer para sua eficaacutecia a presenccedila de determinados marcadores geneacuteticosque de iniacutecio nem sempre eram verificados previamente quando da prescriccedilatildeo ou do pedidogerando espeacutecie de ldquoteste terapecircuticordquo de relevante repercussatildeo econocircmica e de efeito a longo prazoe em larga escala para a sauacutede entatildeo ainda desconhecidos8 recho parcialmente reproduzido na obra VILLAS-BOcircAS Maria Elisa O Direito agrave Sauacutede noBrasil reflexotildees bioeacuteticas agrave luz do princiacutepio da justiccedila Satildeo Paulo Loyola 2014 tambeacutem derivadada tese de Doutorado da Autora VILLAS-BOcircAS Maria Elisa Alocaccedilatildeo de Recursos em Sauacutede quando a realidade e os direitos fundamentais se chocam 2009 425 f ese (Doutorado em DireitoPuacuteblico) ndash Faculdade de Direito Universidade Federal da Bahia Salvador 2009

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jaacute denota um pioneiro espiacuterito de valorizaccedilatildeo da pessoa e de visualizaccedilatildeo do Estado comoinstrumento para o seu desenvolvimento ao menos no plano normativo

Como importante precedente para o nascimento do SUS aponta-se a VIII Conferecircncia

Nacional de Sauacutede realizada em 1986 que contou com ampla participaccedilatildeo da sociedadecivil passando-se a reconhecer como direito da populaccedilatildeo natildeo apenas o acesso aosdiferentes niacuteveis de assistecircncia agrave sauacutede mas tambeacutem a participaccedilatildeo na formulaccedilatildeo deprioridades na aacuterea9 o que interfere nos criteacuterio de alocaccedilatildeo de recursos

Assim foi que o artigo 6ordm da Constituiccedilatildeo ao enunciar os direitos sociais expressamentepreviu a sauacutede como um dos primeiros deles ao lado da educaccedilatildeo do trabalho damoradia (acrescida esta pela Emenda Constitucional nordm 26 em 2000) do lazer daseguranccedila da previdecircncia social da proteccedilatildeo agrave maternidade e agrave infacircncia e da assistecircncia

aos desamparados Em fevereiro de 2010 a Emenda Constitucional nordm 64 reconheceutambeacutem nesse rol a alimentaccedilatildeo

O direito agrave sauacutede eacute objeto ainda dos artigos 196 e seguintes da Constituiccedilatildeo vigente emque se enunciam as diretrizes para as poliacuteticas puacuteblicas na aacuterea O artigo 196 eacute enfaacuteticoem reafirmar o caraacuteter universal desse direito a ser assegurado natildeo apenas como promessaem perspectiva mas mediante accedilotildees praacuteticas de concretizaccedilatildeo a saber ldquo A sauacutede eacute direitode todos e dever do Estado garantido mediante poliacuteticas sociais e econocircmicas que visem agrave

reduccedilatildeo do risco de doenccedila e de outros agravos e ao acesso universal e igualitaacuterio agraves accedilotildeese serviccedilos para sua promoccedilatildeo proteccedilatildeo e recuperaccedilatildeordquo

Nos artigos seguintes notadamente do 197 ao 200 prevecirc-se a possibilidade de prestaccedilatildeoda sauacutede diretamente pelo Poder Puacuteblico ndash a quem cabe ainda sua regulamentaccedilatildeofiscalizaccedilatildeo e controle ndash ou atraveacutes de terceiros por pessoa fiacutesica ou juriacutedica de direitoprivado Franqueia-se a atuaccedilatildeo em sauacutede agrave iniciativa privada inclusive de formacomplementar junto ao Sistema Uacutenico de Sauacutede restringindo-se poreacutem a participaccedilatildeo

9 MELLO Dirceu Raposo de et al Anaacutelise Bioeacutetica do Papel do Estado na Garantia ao Acesso aMedicamentos In GARRAFA Volnei MELLO Dirceu Raposo de PORO Dora Bioeacutetica e Vigilacircncia Sanitaacuteria Brasiacutelia ANVISA 2007 p 17-18 e LORENZO Claacuteudio Vulnerabilidadeem Sauacutede Puacuteblica implicaccedilotildees para as poliacuteticas puacuteblicas Revista Brasileira de Bioetica BrasiacuteliaSociedade Brasileira de Bioeacutetica v 2 n 3 p 299-312 2006

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de empresas de capital estrangeiro na forma da lei (art 199)10

Em relaccedilatildeo ao Serviccedilo Uacutenico de Sauacutede (SUS) os artigos 198 e 200 o orientamapresentando como diretrizes ldquoI - descentralizaccedilatildeo com direccedilatildeo uacutenica em cada esfera de

governo II - atendimento integral com prioridade para as atividades preventivas semprejuiacutezo dos serviccedilos assistenciais III - participaccedilatildeo da comunidaderdquo Esclarece-se aindao financiamento por recursos da seguridade social e de outras fontes determinando aaplicaccedilatildeo de recursos miacutenimos em cada esfera estatal nos termos da Emenda Constitucionalnordm 29 de 2000

Aleacutem das diretrizes constitucionais a atuaccedilatildeo do SUS eacute orientada tambeacutem pela LeiOrgacircnica da Sauacutede (Lei ndeg 808090) de que se deduz como um ponto principal logoem seu artigo 2ordm a reafirmaccedilatildeo da sauacutede como direito humano fundamental ldquodevendo

o Estado prover as condiccedilotildees indispensaacuteveis para seu pleno exerciacuteciordquo Ainda nesseartigo esclarece-se que o dever do Estado quanto agrave garantia da sauacutede consiste aleacutem daformulaccedilatildeo e execuccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas preventivas no estabelecimento de condiccedilotildeesde acesso ldquouniversal e igualitaacuterio agraves accedilotildees e aos serviccedilos para a sua promoccedilatildeo proteccedilatildeo erecuperaccedilatildeordquo

O artigo 6ordm da referida legislaccedilatildeo regulamentadora inclui expressamente no campode atuaccedilatildeo do SUS a assistecircncia terapecircutica integral inclusive farmacecircutica Essa

disposiccedilatildeo tem sido causa de pedir de muitas das accedilotildees individuais que pretendem ofornecimento de medicaccedilotildees nem sempre disponibilizadas protocolarmente pelo SistemaUacutenico mas que se mostram indicadas para a situaccedilatildeo concreta do paciente A questatildeoeacute discutir quatildeo amplo eacute esse dever de provimento farmacoteraacutepico considerando

10 Eacute de se observar que conquanto a menccedilatildeo agrave remoccedilatildeo de oacutergatildeos e tecidos para transplantesencontre-se situada no artigo 199 referente agrave iniciativa privada esse tipo de procedimento eacuteexecutado pelo Sistema Uacutenico de Sauacutede no paiacutes justamente para permitir uma maior equidade emsua gestatildeo A competecircncia do referido Sistema abrange ainda de forma natildeo taxativa (art 200) ldquoI -

controlar e fiscalizar procedimentos produtos e substacircncias de interesse para a sauacutede e participar daproduccedilatildeo de medicamentos equipamentos imunobioloacutegicos hemoderivados e outros insumos II- executar as accedilotildees de vigilacircncia sanitaacuteria e epidemioloacutegica bem como as de sauacutede do trabalhadorIII - ordenar a formaccedilatildeo de recursos humanos na aacuterea de sauacutede IV - participar da formulaccedilatildeo dapoliacutetica e da execuccedilatildeo das accedilotildees de saneamento baacutesico V - incrementar em sua aacuterea de atuaccedilatildeo odesenvolvimento cientiacutefico e tecnoloacutegico VI - fiscalizar e inspecionar alimentos compreendidoo controle de seu teor nutricional bem como bebidas e aacuteguas para consumo humano VII -participar do controle e fiscalizaccedilatildeo da produccedilatildeo transporte guarda e utilizaccedilatildeo de substacircncias eprodutos psicoativos toacutexicos e radioativos VIII - colaborar na proteccedilatildeo do meio ambiente nelecompreendido o do trabalhordquo

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inclusive que as indicaccedilotildees satildeo feitas muitas vezes em usos natildeo oficializados (off label)experimentais ou extraordinaacuterios havendo de se discutir os criteacuterios que deveratildeo norteara atuaccedilatildeo estatal perante casos que tais

Os princiacutepios balizadores do Sistema Uacutenico de Sauacutede estatildeo afirmados no artigo 7ordm da Leindeg 808090 em que se sublinham

I - universalidade de acesso aos serviccedilos de sauacutede em todos os niacuteveisde assistecircnciaII - integralidade de assistecircncia entendida como conjunto articuladoe contiacutenuo das accedilotildees e serviccedilos preventivos e curativos individuais ecoletivos exigidos para cada caso em todos os niacuteveis de complexidadedo sistemaIII - preservaccedilatildeo da autonomia das pessoas na defesa de sua integridadefiacutesica e moralIV - igualdade da assistecircncia agrave sauacutede sem preconceitos ou privileacutegiosde qualquer espeacutecieV - direito agrave informaccedilatildeo agraves pessoas assistidas sobre sua sauacutedeVI - divulgaccedilatildeo de informaccedilotildees quanto ao potencial dos serviccedilos desauacutede e a sua utilizaccedilatildeo pelo usuaacuterioVII - utilizaccedilatildeo da epidemiologia para o estabelecimento de prioridadesa alocaccedilatildeo de recursos e a orientaccedilatildeo programaacuteticaVIII - participaccedilatildeo da comunidade []

Entre esses princiacutepios verificam-se de logo aparentes contradiccedilotildees tendentes a se tornarem

relevantes paradoxos praacuteticos Ao se mencionar por exemplo a autonomia ndash importanteaspecto da relaccedilatildeo profissional-paciente salvaguardado entre outros no artigo 15 doCoacutedigo Civil de 200211 ndash haacute que se identificar a existecircncia de limites no acircmbito dessaautonomia ais limites natildeo decorrem apenas dos cerceamentos morais e legais amplos(vedaccedilatildeo agrave eutanaacutesia ao aborto salvo exceccedilotildees legais ou ao auxiacutelio ao suiciacutedio verbi gratia ) mas satildeo tambeacutem advindos das proacuteprias normas especiacuteficas regentes do SistemaUacutenico de Sauacutede passando a balizar natildeo somente a autonomia do paciente como tambeacutemem certa medida a proacutepria autonomia profissional12 buscando-se priorizar em suasprescriccedilotildees e entre opccedilotildees tecnicamente equivalentes aquelas jaacute incorporadas pelo SUS

De outro lado tampouco pode a referida autonomia meacutedica ser mortalmente ferida sehaacute fundamentos relevantes para acreditar que a prescriccedilatildeo de determinada medicaccedilatildeo seja

11 ldquo Art 15 Ningueacutem pode ser constrangido a submeter-se com risco de vida atratamento meacutedico ou a intervenccedilatildeo ciruacutergica rdquo12 O item II do Capiacutetulo II do Coacutedigo de Eacutetica Meacutedica atual aponta como direito do meacutedicoldquoIndicar o procedimento adequado ao paciente observadas as praacuteticas cientificamente reconhecidase respeitada a legislaccedilatildeo vigenterdquo

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substancialmente favoraacutevel ao paciente

Assim como ponto de equiliacutebrio o profissional deveraacute dar preferecircncia agraves medicaccedilotildeese tratamentos constantes no rol do Sistema Uacutenico de Sauacutede desde que em condiccedilotildees

de equivalecircncia de modo que dessa escolha natildeo advenham reconhecidos prejuiacutezos aopaciente Nesse sentido um trabalho de conscientizaccedilatildeo dos profissionais meacutedicosmediante atuaccedilatildeo conjunta junto a essa esfera pode ser de grande valia para reduzir accedilotildees judiciais em vista de prescriccedilotildees mal justificadas

Mesmo em relaccedilatildeo a atendimentos particulares haacute que se evitar a prescriccedilatildeo desarrazoadade medicaccedilotildees de eficaacutecia natildeo comprovada que em uacuteltima anaacutelise viratildeo a ser reclamadasdo Sistema Uacutenico de Sauacutede (inclusive em vista do fator empobrecedor da doenccedila e dauniversalidade prevista) convertendo o paciente em verdadeiro sujeito (ou objeto) de

pesquisa natildeo organizada e gerando gastos e expectativas vatildeos

Outro aparente paradoxo se poderia assinalar em relaccedilatildeo aos princiacutepios arrolados nositens II e VII De um lado assegura-se a integralidade da assistecircncia De outro contudoadota-se o uso da epidemiologia para o estabelecimento de prioridades e a alocaccedilatildeo derecursos Como proceder entatildeo se for necessaacuteria assistecircncia profissional para doenccedilaepidemiologicamente rara e de tratamento particularmente caro Eacute o que se tem notadoem muitos dos casos que chegam ao Judiciaacuterio nos quais se passa a discutir ainda que natildeo

expressamente a visatildeo utilitarista e o impasse entre a prevalecircncia do interesse individualou coletivo na alocaccedilatildeo de recursos em questatildeo13

Seguem-se nos artigos 8ordm a 19 a organizaccedilatildeo descentralizada (que compotildee o nono princiacutepiogestor do Sistema juntamente com a direccedilatildeo uacutenica em cada instacircncia) e sua divisatildeo entreas trecircs esferas ndash nacional estadual e municipal Cuida-se aqui de circunstacircncia tambeacutemcomumente suscitada pelos entes estatais reacuteus arguindo natildeo serem partes legiacutetimas nahipoacutetese haja vista a separaccedilatildeo de atribuiccedilotildees desenhada na legislaccedilatildeo especiacutefica Veja-se contudo que a separaccedilatildeo de tarefas entre as esferas estatais natildeo retira delas o dever

global do Estado de provimento da sauacutede cuja responsabilidade eacute em uacuteltima instacircncia

13 Nesse sentido em prol da necessidade de anaacutelise muldimensional inclusive para otimizar aassistecircncia coletiva inviabilizando a anaacutelise individualista da questatildeo cf FERRAZ OctaacutevioLuiz Motta VIEIRA Fabiacuteola Sulpino Direito agrave sauacutede recursos escassos e equumlidade os riscosda interpretaccedilatildeo judicial dominante Disponiacutevel em httpwwwstfjusbrarquivocmsprocessoAudienciaPublicaSaudeanexoDireito_a_Saude_Recursos_escassos_e_equidadepdf Acesso em 25abr2015

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solidaacuteria14 Constata-se assim tiacutepico exemplo do chamado federalismo cooperativo oude colaboraccedilatildeo15 mais caracteriacutestico dos Estados de Bem-Estar Social e em que haacute umadivisatildeo de tarefas menos riacutegida e mais intercambiante conforme as necessidades praacuteticasque se apresentem ainda que persista o princiacutepio da subsidiariedade segundo o qual a

instacircncia superior deve agir quando natildeo resolviacutevel o problema nas instacircncias menores

Nesse mister o artigo 7ordm prevecirc ainda como princiacutepios simultacircneos do Sistema adescentralizaccedilatildeo poliacutetico-administrativa com direccedilatildeo uacutenica em cada esfera de governo(inciso IX) enfatizando a descentralizaccedilatildeo dos serviccedilos para os municiacutepios a regionalizaccedilatildeoe a hierarquizaccedilatildeo da rede de serviccedilos de sauacutede bem assim a organizaccedilatildeo dos serviccedilospuacuteblicos de modo a evitar duplicidade de meios para fins idecircnticos (inciso XIII) ndash o queeacute realmente um risco na incumbecircncia solidaacuteria Considerando-se todavia a falha noprovimento por todas as esferas a motivar a provocaccedilatildeo judicial o mesmo artigo estipula

a ldquoconjugaccedilatildeo dos recursos financeiros tecnoloacutegicos materiais e humanos da Uniatildeo dosEstados do Distrito Federal e dos Municiacutepios na prestaccedilatildeo de serviccedilos de assistecircncia agravesauacutede da populaccedilatildeordquo (inciso XI) e a ldquocapacidade de resoluccedilatildeo dos serviccedilos em todos osniacuteveis de assistecircncia rdquo (inciso XII) o que reafirma a noccedilatildeo de solidariedade federativa nodever de provimento da sauacutede

Ainda no que tange agrave conflituosa relaccedilatildeo entre as previsotildees legais e suas implementaccedilotildees

14 Sobre a discussatildeo acerca da solidariedade entre os entes estatais na aacuterea a jurisprudecircncia dosribunais Superiores jaacute reconheceu amplamente sua existecircncia caracterizando a existecircncia de umfederalismo cooperativo na espeacutecie Anteriormente ao posicionamento judicial jaacute se manifestavamem favor da responsabilidade concomitante e solidaacuteria das trecircs esferas estatais autores como DALLARI Sueli Gandolfi Os Estados Brasileiros e o Direito agrave Sauacutede Satildeo Paulo Hucitec1995 p 37-42 e SCHWARZ Germano Direito agrave Sauacutede Efetivaccedilatildeo em uma PerspectivaSistecircmica Porto Alegre Livraria do Advogado 2001 p 101 203 COHN Ameacutelia et al A Sauacutedecomo Direito e como Serviccedilo Satildeo Paulo Cortez 2008 p 68 entre outros assinalando o fato deque a regionalizaccedilatildeo e a descentralizaccedilatildeo tecircm por escopo favorecer a acessibilidade e natildeo dificultaacute-la natildeo obstando portanto a solidariedade entre os entes puacuteblicos Em favor da responsabilidade

sucessiva e natildeo solidaacuteria por forccedila da descentralizaccedilatildeo do Sistema cf FIGUEIREDO MarianaFilchtiner Direito Fundamental agrave Sauacutede Paracircmetros para sua Eficaacutecia e Efetividade Porto Alegre Livraria do Advogado 2007 p 157-16115 Cf por todos AVARES Andreacute Ramos Curso de Direito Constitucional 2ed Satildeo PauloSaraiva 2003 e SRECK Lecircnio Luiz MORAIS Joseacute Luiacutes Bolzan de Ciecircncia poliacutetica eteoria geral do estado 2ed Porto Alegre Livraria do Advogado 2000 Sobre o princiacutepio dasubsidiariedade nesse caso cf tambeacutem CANOILHO J J Gomes Direito Constitucional eeoria da Constituiccedilatildeo 7ed Coimbra Almedina [2003] Ainda sobre o tema da influecircnciado federalismo na mateacuteria cf o trabalho de DALLARI Sueli Gandolfi loc cit assinalando aabordagem diferenciada em cada constituiccedilatildeo estadual acerca do conteuacutedo do direito agrave sauacutede

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praacuteticas eacute de se notar que em 1999 foi incluiacutedo capiacutetulo referente agrave atenccedilatildeo agrave sauacutedeindiacutegena e em 2002 previu-se um subsistema de atendimento e internaccedilatildeo domiciliarEsses uacuteltimos cuidados ditos home care conquanto ainda pouco utilizados vecircmadequar-se ao quanto previsto na Constituiccedilatildeo Federal em seu artigo 230 paraacutegrafo 1ordm

notadamente em relaccedilatildeo aos idosos a saber ldquosect 1ordm - Os programas de amparo aos idososseratildeo executados preferencialmente em seus laresrdquo Em 2005 acolheu-se na legislaccedilatildeo umsubsistema de acompanhamento durante o trabalho de parto parto e poacutes-parto imediatoprevendo a possibilidade de acompanhante nesses eventos a exemplo do que jaacute fizera oEstatuto da Crianccedila e do Adolescente em relaccedilatildeo agrave previsatildeo de acompanhante para omenor internado no acircmbito do SUS (artigo 12 da Lei 806990 e Resoluccedilatildeo ndeg 4195sobre os direitos da crianccedila e do adolescente hospitalizados) revelando uma tendecircncia dehumanizaccedilatildeo dos procedimentos puacuteblicos de sauacutede

Na praacutetica ainda natildeo se implementaram amplamente esses novos espectros do direito agravesauacutede mas natildeo se os diga impossiacuteveis nem desnecessaacuterios Eacute curioso notar verbi gratia que quando do surgimento do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente tampouco era praxea manutenccedilatildeo dos pais junto aos pequenos pacientes ndash algo que hoje soa imprescindiacutevelndash e a afirmaccedilatildeo legislativa desse direito foi reputada como inviaacutevel dentro da estruturahospitalar da eacutepoca Menos de uma deacutecada depois todavia embora natildeo existam aindahoje instalaccedilotildees ideais em termos de conforto jaacute natildeo se cogita mais internar crianccedilas ouadolescentes sem lhes assegurar a permanecircncia de um dos responsaacuteveis Demonstrou-se

com isso que muitas das resistecircncias agrave implementaccedilatildeo de direitos satildeo bem mais culturaispor haacutebito ou falta de vontade poliacutetica do que propriamente por reais inviabilidadesfinanceiras ou operacionais Vive-se atualmente similar situaccedilatildeo quanto agrave previsatildeo deacompanhante para o idoso ou a gestante em trabalho de parto

Em relaccedilatildeo ao planejamento e orccedilamento a propoacutesito outro argumento habitual doEstado-reacuteu diz respeito justamente agrave impossibilidade de deslocamento de verbas natildeoprevistas na organizaccedilatildeo orccedilamentaacuteria dentro do Sistema Uacutenico de Sauacutede ou de outrasaacutereas para este sob pena de responsabilizaccedilatildeo fiscal Nessa seara poreacutem o artigo 36

paraacutegrafo 2ordm da Lei ndeg 808090 eacute enfaacutetico ao estabelecer que ldquoEacute vedada a transferecircnciade recursos para o financiamento de accedilotildees natildeo previstas nos planos de sauacutede exceto emsituaccedilotildees emergenciais ou de calamidade puacuteblica na aacuterea de sauacutederdquo (grifou-se)

Para exercer suas atividades o Sistema Uacutenico de Sauacutede conta com inuacutemeras outras normasgestoras ndash natildeo apenas leis de acircmbito nacional mas tambeacutem Portarias e normas de acircmbitoestadual e local ndash que detalham essa atuaccedilatildeo Assim eacute que por exemplo a Portaria nordm

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3916 de 30 de outubro de 1998 estabelece a Poliacutetica Nacional de Medicamentos a serauxiliada por normas outras como a Lei ndeg 978799 dita ldquoLei dos Geneacutericosrdquo definindoo medicamento geneacuterico como aquele similar a um produto de referecircncia ou inovadorque se pretende ser com este intercambiaacutevel geralmente produzido apoacutes a expiraccedilatildeo ou

renuacutencia da proteccedilatildeo patentaacuteria ou de outros direitos de exclusividade comprovada a suaeficaacutecia seguranccedila e qualidade

Prevecirc-se ainda que esses medicamentos devem ser preferidos no acircmbito do SUSpelo custo e acrescente-se pela impessoalidade mesma que deve caracterizar a atuaccedilatildeoadministrativa estatal desaconselhando a preferecircncia por produtos de laboratoacuterios oumarcas determinados em detrimento de produtos de denominaccedilatildeo comum brasileira ouna sua falta internacional a indicar maior neutralidade em prestaccedilatildeo equivalente

Jaacute se tem aiacute um paracircmetro a nortear as prescriccedilotildees e decisotildees na mateacuteria deve a prestaccedilatildeofarmacoloacutegica do Sistema Uacutenico de Sauacutede se pautar pelo fornecimento de medicaccedilotildees quedentre as que contecircm a substacircncia ativa necessaacuteria atendam agraves necessidades de eficaacuteciae seguranccedila poreacutem com menor custo maior impessoalidade e generalidade pois natildeoassociada a marca especiacutefica O uso racional desses recursos passa ainda pela orientaccedilatildeodos meacutedicos na criteriosa avaliaccedilatildeo das medicaccedilotildees prescritas privilegiando dentro deum paracircmetro de equivalecircncia aquelas jaacute constantes fornecimento regular pelo Sistema 16

16 Os produtos padronizados constam da Relaccedilatildeo Nacional de Medicamentos Essenciais (RENAME) Nosentido de promover a observacircncia da lista cita-se por exemplo a Portaria Estadual nordm 1475BA publicadano Diaacuterio Oficial do Estado de 300908 que ldquoConstitui Grupo de trabalho no acircmbito do SUS com oescopo de elaborar orientaccedilotildees e diretrizes aos profissionais meacutedicos no sentido de esgotarem as alternativasde faacutermacos previstas nos Protocolos Cliacutenicos e Diretrizes erapecircuticas do Ministeacuterio da Sauacutede e demais atosque lhe forem complementares antes de prescrever tratamento medicamentoso diverso aos pacientes nostermos da Notificaccedilatildeo Recomendatoacuteria 0022007 da Promotoria de Justiccedila e da Cidadania do MinisteacuterioPuacuteblico do Estado da Bahiardquo De acordo com a Organizaccedilatildeo Mundial da Sauacutede - OMS (Nairobi Quecircnia1985) ldquoHaacute uso racional quando pacientes recebem medicamentos apropriados para suas condiccedilotildees cliacutenicasem doses adequadas agraves suas necessidades individuais por um periacuteodo adequado e ao menor custo para si e

para a comunidaderdquo Segundo o Ministeacuterio da Sauacutede o uso racional de medicamentos consiste no ldquoprocessoque compreende a prescriccedilatildeo apropriada a disponibilidade oportuna e a preccedilos acessiacuteveis a dispensaccedilatildeoem condiccedilotildees adequadas e o consumo nas doses indicadas nos intervalos definidos e no periacuteodo de tempoindicado de medicamentos eficazes seguros e de qualidaderdquo (BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria dePoliacuteticas de Sauacutede Departamento de Atenccedilatildeo Baacutesica Poliacutetica nacional de medicamentos 2001Ministeacuterio daSauacutede Secretaria de Poliacuteticas de Sauacutede Departamento de Atenccedilatildeo Baacutesica ndash Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede2001 ambeacutem disponiacutevel em lthttpwwwopasorgbrmedicamentossiteUploadArqpnmpdfgtacessado em 02out08) Outros programas para estimular o uso racional de medicamentos encontram-sena paacutegina eletrocircnica do Ministeacuterio da Sauacutede (httpportalsaudegovbrportalsaudeareacfmid_area=1141acessado em 05out08)

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174 DEFENSORIA PUacuteBLICA DA UNIAtildeO Escola Superior

A alocaccedilatildeo de medicamentos no paiacutes estaacute dividida segundo o Ministeacuterio da Sauacutede em trecircscategorias baacutesicas17 medicamentos baacutesicos ou essenciais ldquopertencentes a um elenco miacutenimoobrigatoacuterio a ser dispensado na atenccedilatildeo baacutesicardquo ou na dicccedilatildeo legal aqueles consideradosldquobaacutesicos e indispensaacuteveis para atender a maioria dos problemas de sauacutede da populaccedilatildeordquo

previstos na Portaria do Ministeacuterio da Sauacutede nordm 32372007 medicamentos estrateacutegicosutilizados em programas especiacuteficos do Ministeacuterio da Sauacutede como aqueles de combateagrave AIDS tuberculose hanseniacutease diabetes doenccedila de Chagas malaacuteria coagulopatias eoutras conforme Portaria do Ministeacuterio da Sauacutede nordm 2042007 e medicamentos dedispensaccedilatildeo especial ou excepcional eacute dizer aqueles geralmente de alto custo destinadosa patologias especiacuteficas e complexas que atingem um nuacutemero limitado de pacientes parauso prolongado Esses procedimentos e recursos terapecircuticos encontravam-se arroladosna Portaria do Ministeacuterio da Sauacutede nordm 25772006 Eacute de se observar que sendo essauacuteltima uma das categorias mais solicitadas judicialmente e mais associadas com a evoluccedilatildeo

biotecnoloacutegica chama a atenccedilatildeo o fato de ter sido por muito tempo justamente aPortaria mais antiga deixando margem agrave criacutetica de provaacutevel desatualizaccedilatildeo em relaccedilatildeo aosavanccedilos atuais tendo sido atualizada pela Portaria GMMS 18692008 e revogada pelaPortaria GMMS 1062009 tambeacutem jaacute revogada A mateacuteria tambeacutem sofreu alteraccedilotildeespelas Portarias 2981 de 26 de novembro de 2009 Portaria 343GMMS de 22 defevereiro de 2010 Portaria 3439MS de 11 de novembro de 2010 e atualmente pelosPCD (PROOCOLOS CLIacuteNICOS E DIRERIZES ERAPEcircUICAS) a indicarparacircmetros de abordagem e tratamento para cada patologia

Analisando-se os montantes empregados em cada uma das categorias verifica-se que os

17 MELLO Dirceu Raposo et al op cit p 27-28 SALAZAR Andrea Lazzarini GROU Karina Bozola ADefesa da Sauacutede em Juiacutezo eoria e Praacutetica Satildeo Paulo Verbatim 2009 p 112-113

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gastos com medicamentos especiais superam em muito aqueles com medicaccedilotildees baacutesicas18 Dentre os medicamentos estrateacutegicos ndash responsaacuteveis pelo maior volume de custos commedicaccedilotildees entre os trecircs grupos na segunda metade da deacutecada passada ndash aqueles dirigidosao programa de HIVAIDS sofreram acreacutescimo substancial em 2006 ante as novas drogas

incorporadas ao cataacutelogo farmacoloacutegico de tratamento da doenccedila passando a representarsozinhos quase uma vez e meia o gasto com todas as demais drogas estrateacutegicas

Mais uma vez fica evidente que prevenir aleacutem de melhor sai bem mais barato que

18 Segundo quadro comparativo elaborado em MELLO Dirceu Raposo et al op cit p 28-29 a partirde dados do Ministeacuterio da Sauacutede os gastos com medicamentos baacutesicos em 2006 foram da ordem de 290milhotildees de reais representando 67 dos gastos com medicaccedilatildeo ao passo que o montante despendido commedicamentos de dispensaccedilatildeo especial alcanccedilaram a cifra de um bilhatildeo 355 milhotildees de reais equivalendoa 32 do orccedilamento para a aacuterea Dentre os medicamentos estrateacutegicos aqueles destinados ao programade DSAIDS custaram aos cofres puacuteblicos naquele ano 960 milhotildees de reais enquanto no ano anteriorrepresentaram despesa de 550 milhotildees de reais Cumpre assinalar que o programa de fornecimento gratuitode medicaccedilotildees antirretrovirais aos portadores de HIV no paiacutes eacute elogiado em todo o mundo pela iniciativapioneira na aacuterea apontada como exemplo na universalizaccedilatildeo do tratamento e inclusatildeo a esses pacientes A Leique cuida da mateacuteria ndash Lei ndeg 931396 ndash foi acompanhada por uma seacuterie de decisotildees judiciais proacute direitoagrave sauacutede determinando o efetivo provimento das medicaccedilotildees e sua atualizaccedilatildeo conforme o estado cientiacuteficomundial nos termos da redaccedilatildeo legal Nesse sentido se assinala entre outros o seguinte acoacuterdatildeo provenientedo Supremo ribunal Federal defendendo a aplicabilidade imediata das normas relativas ao direito agravesauacutede PACIENE COM HIVAIDS ndash PESSOA DESIUIacuteDA DE RECURSOS FINANCEIROS ndashDIREIO Agrave VIDA E Agrave SAUacuteDE ndashFORNECIMENO GRAUIO DE MEDICAMENOS ndash DEVERCONSIUCIONAL DO PODER PUacuteBLICO (CF ARS 5ordm CAPU E 196) O DIREIO Agrave SAUacuteDEREPRESENA CONSEQUumlEcircNCIA CONSIUCIONAL INDISSOCIAacuteVEL DO DIREIO Agrave VIDA

O direito puacuteblico subjetivo agrave sauacutede representa prerrogativa juriacutedica indisponiacutevel assegurada agrave generalidadedas pessoas pela proacutepria Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica (art 196) raduz bem juriacutedico constitucionalmentetutelado por cuja integridade deve velar de maneira responsaacutevel o Poder Puacuteblico a quem incumbe formularndash e implementar ndash poliacuteticas sociais e econocircmicas idocircneas que visem a garantir aos cidadatildeos inclusive agravequelesportadores do viacuterus HIV o acesso universal e igualitaacuterio agrave assistecircncia farmacecircutica e meacutedico-hospitalar Odireito agrave sauacutede ndash aleacutem de qualificar-se como direito fundamental que assiste a todas as pessoas ndash representaconsequumlecircncia constitucional indissociaacutevel do direito agrave vida O Poder Puacuteblico qualquer que seja a esfera institucionalde sua atuaccedilatildeo no plano da organizaccedilatildeo federativa brasileira natildeo pode mostrar-se indiferente ao problema da sauacutededa populaccedilatildeo sob pena de entender ainda que por censuraacutevel omissatildeo em grave comportamento inconstitucional(AGRRE nordm 271286-RS Rel Min Celso de Mello SF DJ 241100 p 101)

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remediar 19

Fato eacute queNenhum paiacutes ateacute o momento conseguiu estabelecer um limite oacutetimode gasto financeiro para melhorar a sauacutede de seus cidadatildeos os EUA

gastam 146 do PIB com sauacutede sendo o Estado responsaacutevel por449 desse total e 5 dos gastos puacuteblicos com sauacutede dizem respeitoaos medicamentos Ainda sobre os EUA dados de domiacutenio puacuteblicoinformam que cerca de 50 milhotildees de cidadatildeos natildeo tecircm acesso aosserviccedilos de sauacutede No Brasil os gastos com sauacutede correspondem agrave cifrade 79 do PIB sendo que o setor puacuteblico eacute responsaacutevel por 459desses gastos e os medicamentos representam 74 desses gastospuacuteblicos20

Sem duacutevida a garantia adequada do direito agrave sauacutede natildeo constitui um problema apenaspara os paiacuteses em desenvolvimento embora nesses falte o acesso ao que haacute de mais baacutesicopossiacutevel para a manutenccedilatildeo e a recuperaccedilatildeo da sauacutede ambeacutem os paiacuteses desenvolvidos

19 Aleacutem das despesas jaacute esperadas com tais medicamentos avultam ainda os gastos decorrentes de processos judiciais A esse respeito notiacutecia veiculada em setembro de 2008 na imprensa deu conta de que ldquoEntre2005 e 2008 o governo federal aumentou em 1820 (quase 20 vezes) as despesas decorrentes de ordens

judiciais que obrigam a Uniatildeo a pagar por medicamentos especiais Apenas na primeira metade deste anoforam gastos pelo governo federal por ordem da Justiccedila R$ 48 milhotildees nesses tratamentos Em 2005 oinvestimento foi de R$ 25 milhotildeesrdquo ambeacutem foi informado que ldquoa cada mecircs Satildeo Paulo gasta R$ 400milhotildees com remeacutedios obtidos pelos doentes mediante ordem judicial e que natildeo satildeo fornecidos pelo SUS Asituaccedilatildeo natildeo eacute muito diferente no Rio Grande do Sul Foram R$ 31 milhotildees com accedilotildees judiciais envolvendomedicamentos em 2006 e R$ 50 milhotildees em 2007 e a previsatildeo eacute de que sejam gastos R$ 150 milhotildees nesteano ndash o equivalente a um terccedilo do total de recursos de custeio dos programas da Secretaria Estadual deSauacutederdquo Dentro desses valores apurou-se ainda a ocorrecircncia de fraudes envolvendo meacutedicos e advogadosque mediante pedidos judiciais providos teriam resultado em prejuiacutezo de R$ 63 milhotildees aos cofrespuacuteblicos (REZZI Humberto Sauacutede Aumento no gasto do governo em remeacutedios especiais eacute investigadoPromotores e policiais suspeitam que quadrilhas falsificariam atestados para obrigar a Uniatildeo a fornecermedicamentos de alto custo a pacientes por via judicial Jornal Zero Hora Porto Alegre ediccedilatildeo ndeg 15734

Disponiacutevel em lthttpzerohoraclicrbscombrzerohorajspdefault2jspuf=1amplocal=1ampsource=a2195502xmlamptemplate=3898dwtampedition=10739ampsection=1003gt acessado em 12out08) Deduz-se daiacute queconquanto via relevantiacutessima para o controle do atendimento do direito fundamental agrave sauacutede a prestaccedilatildeo

jurisdicional haacute de ser particularmente cautelosa na anaacutelise de tais pleitos sobretudo quando em sede deprovimentos liminares por natildeo se poder desconsiderar o grave impacto que essas decisotildees tecircm tomado noorccedilamento sanitaacuterio Eacute imprescindiacutevel entatildeo sempre que possiacutevel e especialmente quando o fornecimentoeacute feito a entidades privadas sobre as quais incide menor controle na utilizaccedilatildeo desses recursos a realizaccedilatildeode periacutecia meacutedica judicial a constatar a efetiva necessidade e infungibilidade do recurso demandado naquelecaso concreto20 MELLO Dirceu Raposo et al op cit p 23

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tecircm problemas para assegurar os cuidados de sauacutede esperados pela populaccedilatildeo situaccedilatildeoque se agrava progressivamente com o envelhecimento da populaccedilatildeo (com suas conhecidasconsequecircncias para o equiliacutebrio previdenciaacuterio) e com o desenvolvimento crescente dosrecursos farmacecircuticos e biotecnoloacutegicos criando patamares cada vez mais elevados de

atenccedilatildeo agrave sauacutede21

Elevou-se a qualidade e a quantidade de vida o que eacute um aspectoinegavelmente positivo mas que gera outrossim consequecircncias de difiacutecil equiliacutebrioeconocircmico

4 DEMANDAS JUDICIAIS EM SAUacuteDE COMO AVANCcedilAR EM DIRECcedilAtildeO

AO QUE PARECE NAtildeO ER SAIacuteDA

Questionado sobre formas de viabilizaccedilatildeo de um sistema puacuteblico de sauacutede dentro dessecontexto ponderou primeiramente Diego Gracia 22 que quem tem receituaacuterio fazalocaccedilatildeo Com efeito Ao fazer uma mera prescriccedilatildeo individual o meacutedico estaacute a indicarali os paracircmetros para o exerciacutecio do direito agrave sauacutede pelo paciente Eacute para alcanccedilar orecurso prescrito que o cidadatildeo vai agrave Justiccedila pleitear ao Estado ou ao plano de sauacutede queo forneccedila Eacute na prescriccedilatildeo que se baseia o Juiz quando antecipa uma tutela mesmo antes

de ouvir a parte adversa na convicccedilatildeo de que haacute urgecircncia no acesso agravequele recurso

Mister assim para racionalizar o uso de medicamentos e recursos no SUS orientar eracionalizar tambeacutem as prescriccedilotildees meacutedicas de modo que sem sacrificar a sauacutede dopaciente tampouco se sacrifique indevidamente o Sistema organizado para protegecirc-lae garanti-la Nesse ponto erige-se a validade de se pensar um trabalho conjunto comorganizaccedilotildees profissionais como uma outra vertente para a maior efetivaccedilatildeo na prestaccedilatildeo

21

Nesse sentido cf a obra AARON Henry J SCHWARZ William B Te Painful Prescriptionhellipreferente sobretudo aos Estados Unidos e agrave Inglaterra mas que tambeacutem menciona a situaccedilatildeo de outros paiacutesesdesenvolvidos como a Franccedila e o Canadaacute ambeacutem trata do assunto entre outros PENCHASZADEHVictor Bioeacutetica y medicina social Una confluencia necesaria Revista Brasileira de Bioeacutetica BrasiacuteliaSociedade Brasileira de Bioeacutetica v 3 n 2 p 129-149 2007 p 137 Destaque-se outrossim a recentepolecircmica envolvendo o governo americano do Presidente Barack Obama ante a perspectiva de maiordemocratizaccedilatildeo do acesso agrave sauacutede em confronto com o arcabouccedilo tendencialmente liberal da poliacutetica daqueleEstado no setor ateacute entatildeo22 GRACIA Diego Bioeacutetica Cliacutenica e Contexto Social In VII CONGRESSO BRASILEIRO DEBIOEacuteICA Satildeo Paulo 2007 Conferecircncia

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e cobranccedila do direito agrave sauacutede

A especial atenccedilatildeo aos preceitos da Medicina Baseada em Evidecircncias devidamentefundamentada em relatoacuterios e prescriccedilotildees acurados com a cuidadosa anaacutelise e

demonstraccedilatildeo de eficaacutecia seguranccedila e eficiecircncia23

quer no geral quer no caso concretotambeacutem satildeo de grande valia para a atuaccedilatildeo coerente e racional na aacuterea inclusive a fim deevitar que o assistido seja engolfado por esperanccedilas vatildes de resultados temeraacuterios tentativasheroicas sem perspectivas reais e pesquisas multinacionais em larga escala que exacerbamsua vulnerabilidade e fragilizam a credibilidade dos pedidos judiciais no setor Nessecontexto mister evitar tambeacutem pedidos irrazoaacuteveis natildeo factiacuteveis na praacutetica ou opccedilotildees

23 Embora costumeiramente usadas de forma equivalente as expressotildees eficaacutecia eficiecircncia e efetividade tecircmsignificados teacutecnicos especiacuteficos na seara da MBE Nesse sentido a seguranccedila mencionada implica a anaacutelisede que os danos colaterais possiacutevel sejam inferiores aos benefiacutecios oferecidos com seu uso para o fim a quese propotildee A eficaacutecia consiste na evidecircncia de ter o recurso prescrito comprovado efeito beneacutefico para aquelecaso (ldquofazem o que se propotildeem a fazerrdquo ndash na expressatildeo de VIEIRA Fabiacuteola Sulpino op cit p365-369)evitando-se os chamados ldquoprodutos de complacecircnciardquo ndash sem eficaacutecia comprovada mas prescritos por insistecircnciado paciente ou por pressatildeo do marketing industrial por exemplo ndash bem como os atos aparentemente cliacutenicosmas que se mostram em verdade experimentais visto que natildeo validados de nenhuma forma cientificamente

aceita a qual permita asseveraacute-los como realmente producentes e seguros A efetividade propriamente dita corresponde agrave eficaacutecia e agrave eficiecircncia em condiccedilotildees reais de sorte a evitar desperdiacutecios Eacute dizer que os produtoseleitos ldquofazem o que se propotildeem a fazer quando utilizados pelas pessoas em condiccedilotildees reais e natildeo em gruposhomogecircneos que constituem os grupos de pessoas dos ensaios cliacutenicosrdquo (idem ibidem) Por fim a eficiecircnciaou custo-efetividade envolve a avaliaccedilatildeo da relaccedilatildeo custobenefiacutecio de modo a se constatar a substancialvantagem de dado recurso em relaccedilatildeo a outro observadas a eficaacutecia e a efetividade propriamente ditaSignifica dizer que o produto em questatildeo ldquoentre as alternativas disponiacuteveis faz o que se propotildee a fazer paraas pessoas em condiccedilotildees reais ao menor custordquo (idem ibidem) Embora conceitos mais utilizados no acircmbitoeconocircmico e de macroalocaccedilatildeo de recursos acabam repercutindo na microalocaccedilatildeo individual ao requerermaior comprovaccedilatildeo quando de pedido que natildeo leve em consideraccedilatildeo tais subprinciacutepios Segundo a ANVISAtem-se a efetividade como ldquogarantia de medicamentos eficazes eou efetivos e seguros cuja relaccedilatildeo risco-benefiacutecio seja favoraacutevel e comprovada a partir das melhores evidecircncias cientiacuteficas disponiacuteveis na literatura

e com registro aprovado na Agecircncia Nacional de Vigilacircncia Sanitaacuteria (ANVISA)rdquo e a eficiecircncia como aldquogarantia de medicamentos que proporcionem a melhor resposta terapecircutica aos usuaacuterios com os menorescustos para o SUSrdquo (Lei 124012011 e pela Resoluccedilatildeo 01 do Ministeacuterio da Sauacutede de 17 de janeiro de2012) Eacute fato que considerando os escores da Medicina baseada em evidecircncia alega o Estado de praxe quea experiecircncia do meacutedico prescritor isoladamente e mesmo do perito judicial natildeo teriam niacutevel de sustentaccedilatildeocientiacutefica bastante para subsidiar a concessatildeo de medicaccedilatildeo natildeo padronizada pelo SUS todavia considerandoos requisitos de antecipaccedilatildeo de tutela pode conter se bem fundamentada em estudos outros de indicaccedilatildeoseguranccedila eficaacutecia efetividade e eficiecircncia elementos suficientes de verossimilhanccedila aleacutem de representara realidade daquele indiviacuteduo preocupando-se em registrar inclusive a ausecircncia de resposta ou indicaccedilatildeoquanto agraves outras opccedilotildees disponiacuteveis haja vista que como se costuma constatar a resposta individual nemsempre corresponde agravequela epidemiologicamente esperada

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comerciais especiacuteficas substituiacuteveis por equivalentes terapecircuticos disponiacuteveis no SUS24

Outro aspecto a ser sopesado eacute o modo e o conteuacutedo como feitos os pedidos na medida emque a proteccedilatildeo ao direito agrave sauacutede de um deve considerar a existecircncia de outros envolvidos

na alocaccedilatildeo de recursos diante da escassez real Exemplo disso satildeo os pedidos de vagaou de prioridade em filas de transplantes que necessariamente envolvem o cotejo comoutros afetados que natildeo satildeo parte no processo Natildeo raro se tem notiacutecia de comandos deprisatildeo a gestores hospitalares que tecircm todos os seus leitos ocupados por natildeo disporem devagas Inegaacutevel a falha estatal na espeacutecie mas ela natildeo pode ser resolvida com o comandoainda que indireto de retirada de pacientes que ainda necessitem do leito e cuidados paraalocaccedilatildeo de outro dotado de comando judicial Opccedilatildeo nesse caso eacute o pedido subsidiaacuteriode alocaccedilatildeo em unidades privadas agraves expensas do Estado natildeo por mera opccedilatildeo do enfermomas se natildeo houver leitos disponiacuteveis nas unidades puacuteblicas

Do ponto de vista estatal eacute mister o ajuste constante das poliacuteticas puacuteblicas de sortea mantecirc-las condizentes com as carecircncias da comunidade e atualizadas dentro dasmargens de efetividade terapecircutica a fim de se tentar com isso minorar a necessidade deintervenccedilotildees judiciais suplementares na aacuterea aleacutem de favorecer o proacuteprio funcionamentoadequado do Sistema em conformidade com seus princiacutepios gestores e com as previsotildeese garantias constitucionais sem acarretar a falecircncia do Sistema nem converter o direitouniversal agrave sauacutede em mera retoacuterica demagoacutegica

Nesse contexto a atuaccedilatildeo e participaccedilatildeo equilibrada da Defensoria junto a oacutergatildeos puacuteblicose conselhos interdisciplinares pode ser de grande valia para uma maior eficaacutecia na soluccedilatildeo

24 Em palestra proferida do II Foacuterum Brasileiro sobre Assistecircncia Farmacecircutica e Farmacoeconomia ocorridoem setembro de 2014 em Salvador-Bahia com a presenccedila de gestores puacuteblicos membros do JudiciaacuterioMinisteacuterio Puacuteblico Defensoria Puacuteblica e Advogados Puacuteblicos a representante paulista do CONASS(Conselho Nacional dos Secretaacuterios de Sauacutede) apresentou demonstrativo de pedidos em demandas judiciaissanitaacuterias contra o Estado e o Municiacutepio de Satildeo Paulo em que incluiacutedos itens como ldquoleite de cabra frescordquondash o qual resultou descumprido por absoluta ausecircncia de resposta agrave licitaccedilatildeo simplificada para localizar

detentores de cabras na cidade de Satildeo Paulo Nessa ocasiatildeo tambeacutem mostrou a palestrante estudo feitoquanto agraves 41000 accedilotildees judiciais em sauacutede atendidas por aqueles entes naquele ano tendo-se verificado quecerca de 70 delas se pautavam em prescriccedilotildees particulares 93 envolviam medicamentos extraordinaacuteriosao SUS sendo que aproximadamente 5 envolviam produtos importados sem registro na ANVISA 50envolviam itens de produtores exclusivos e cerca de 25 marcas especiacuteficas mesmo para itens simples comofraldas descartaacuteveis A franca maioria dos pedidos natildeo tivera solicitaccedilatildeo administrativa preacutevia sabendo oEstado do pleito jaacute em sede de antecipaccedilatildeo de tutela com prazo estrito para o fornecimento ainda que comfundamentaccedilatildeo cliacutenica escassa inclusive quanto agrave premecircncia do pedido (SIQUEIRA Paula Sue Facundo deDireito Sanitaacuterio a interface entre Judiciaacuterio e Sauacutede na utilizaccedilatildeo dos PDC II FOacuteRUM BRASILEIROSOBRE ASSISEcircNCIA FARMACEcircUICA E FARMACOECONOMIA Salvador 2014 Mesa Redonda)

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administrativa das questotildees reduzindo-se o quantitativo de demandas judiciais na espeacuteciee democratizando o acesso agrave sauacutede mesmo agravequeles que natildeo chegam agrave Defensoria Nesseuacuteltimo aspecto tambeacutem a atuaccedilatildeo mediante Accedilatildeo Civil Puacuteblica visando agrave atualizaccedilatildeodas listas de fornecimento ou denunciando carecircncias e esperas irrazoaacuteveis por exemplo

parece recurso de relevante monta para uma melhor prestaccedilatildeo no setor

Possibilidade de uma maior funcionalidade administrativa tambeacutem pode ser tentadamediante atuaccedilatildeo de profissional25 direcionado agrave aacuterea das crescentes demandas em sauacutedenas unidades defensoriais de sorte a direcionar melhor a instruccedilatildeo dos pedidos jaacute seorientando o tipo de relatoacuterio e informaccedilotildees necessaacuterios aleacutem de empreender contatodireto com os oacutergatildeos puacuteblicos de regulaccedilatildeo em sauacutede estreitando relaccedilotildees com a Secretariade Sauacutede do Estado e seus oacutergatildeos a exemplo da Central de Regulaccedilatildeo de Vagas

Propotildee-se com isso ampliar o quantitativo de resoluccedilotildees administrativas mais ceacutelerese menos custosas reservando a necessidade de intervenccedilotildees juriacutedicas agraves situaccedilotildees emque havendo a previsatildeo do fornecimento natildeo se consegue obtecirc-lo por maacute prestaccedilatildeoadministrativa ndash o que demonstrado por melhor instruccedilatildeo inicial sugere levar amelhores iacutendices de sucesso jaacute em sede antecipatoacuteria ndash ou nas situaccedilotildees de recursos natildeoincluiacutedos no rol de fornecimento do SUS (em que pese o limitante dos artigos 2ordm e 19da Lei 124012011) Nesse caso uacuteltimo jaacute se busque tambeacutem instruir o pedido com osdemonstrativos da eficaacutecia seguranccedila e indicaccedilatildeo da medida reclamada bem assim de

ausecircncia de resposta agraves drogas rotineiramente disponibilizadas ou indicadas nos PCDnos termos inclusive do quanto preconizado em reiterados Enunciados e Recomendaccedilotildeesdo CNJ (4 11 14 15 16 31) e precedentes jurisprudenciais relevantes como a SA175 de relatoria do Min Gilmar Mendes sobre a mateacuteria

O que se vislumbra de negativo em tal proposta eacute que eventual reduccedilatildeo da judicializaccedilatildeofaccedila supor uma maior eficiecircncia na prestaccedilatildeo estatal em sauacutede o que nem semprecorresponde agrave verdade obtendo-se o ecircxito em casos individuais atraveacutes da persistecircnciaempedernida do oacutergatildeo defensorial ateacute que a proacutexima situaccedilatildeo se apresente Como aspecto

25 entativa semelhante tem sido implementada ao longo do uacuteltimo ano na unidade baiana daDefensoria Puacuteblica da Uniatildeo por iniciativa da chefia que tambeacutem titulariza o ofiacutecio de tutelacoletiva mediante o destacamento de Assistente Social com experiecircncia na conduccedilatildeo de demandasem sauacutede e com o intuito de melhorar a assistecircncia em tais demandas ante o crescimentoexponencial de seu nuacutemero no quinquecircnio antecedente Os resultados tecircm-se mostrado prima facie positivos com aparente aumento do nuacutemero de deslindes extrajudiciais e maior quantitativode antecipaccedilotildees de tutela obtidas nas accedilotildees propostas embora ainda sem dados coligidos esistematizados a respeito

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positivo por oacutebvio todas as vantagens da resoluccedilatildeo administrativa

Outro recurso a ser considerado como dito como opccedilatildeo agraves muacuteltiplas accedilotildees individuaissatildeo as accedilotildees de natureza coletiva visando agrave efetiva disponibilizaccedilatildeo de procedimentos

oferecidos formalmente mas cuja demora na prestaccedilatildeo torna na praacutetica insustentaacutevela espera ais accedilotildees sob o ponto de vista pragmaacutetico todavia nem sempre tecircm comoobter resultados concretos imediatos mas frutos de uma atuaccedilatildeo combativa criacuteticae politicamente atuante satildeo relevante termocircmetro acerca do modo como estatildeo sendogeridos os recursos em sauacutede advertindo para a necessidade de se dar concretude ao direitoconstitucionalmente reconhecido incentivando da maneira mais pertinente o sistemade checks and balances reservando-se as accedilotildees individuais para situaccedilotildees especiacuteficas denecessidade incontornaacutevel e sem perspectiva de resoluccedilatildeo natildeo litigiosa

Por fim sempre cabiacutevel lembrar que o momento da urgecircncia do plantatildeo do riscoiminente de vida eacute sempre o pior momento para avaliar o que fazer culminando-seem accedilotildees accedilodadas por vezes mal instruiacutedas natildeo raro em duplicidade nas instacircnciasestadual e federal com riscos para o paciente ou de desperdiacutecio de recursos puacuteblicos ouainda de descreacutedito para a instituiccedilatildeo Importante assim discutirem-se as abordagenspossiacuteveis criando-se orientaccedilotildees de conduta que de antematildeo auxiliem na organizaccedilatildeo dopensamento e na escolha das vias cabiacuteveis para ajudar o requerente ndash vulnerado quer pelahipossuficiecircncia econocircmica quer pela enfermidade ou na maioria das vezes por ambas

ndash da forma mais promissora e adequada possiacutevel

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Natildeo haacute por oacutebvio respostas faacuteceis na mateacuteria O objetivo do texto foi sobretudo chamar

atenccedilatildeo para aspectos nem sempre vistos na lida cotidiana do Defensor imbuiacutedo da visatildeodo assistido e suas anguacutestias premido pelo tempo sem que tenha por vezes sequercondiccedilatildeo de distanciar-se para um olhar mais imparcial

odavia tais distanciamento e compreensatildeo mostram-se necessaacuterios agrave instituiccedilatildeo afim de redirecionar a busca a mecanismos alternativos para o impasse da sauacutede comodireito simultaneamente individual e social sujeito agraves premecircncias pessoais mas tambeacutem

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182 DEFENSORIA PUacuteBLICA DA UNIAtildeO Escola Superior

agraves limitaccedilotildees de uma prestaccedilatildeo coletiva a exemplo da proacutepria escassez real (e aiacute misterdistinguir o mero argumento da escassez e da reserva do possiacutevel em contraposiccedilatildeo agravecomprovada inviabilidade de produccedilatildeo ou fornecimento a exemplo do nuacutemero de vagasimediatas em UI de um hospital puacuteblico ou a disponibilidade de oacutergatildeos compatiacuteveis para

transplante) e da inevitabilidade da alocaccedilatildeo de recursos o que natildeo eacute dado a ningueacutemresponsavelmente negar

Apenas a tiacutetulo de pensamento inicial sugerir-se-ia o desenvolvimento de incremento nastentativas de resoluccedilatildeo extrajudicial a exemplo de maior contato com a Administraccedilatildeo ndash aquem tambeacutem interessa a reduccedilatildeo das lides diminuindo gastos a varejo ndash e com oacutergatildeosde prestaccedilatildeo de sauacutede puacuteblica e de orientaccedilatildeo profissional meacutedica com vistas a analisar aeficaacutecia indicaccedilatildeo e seguranccedila de determinados recursos terapecircuticos subsidiando melhoros pedidos e melhorando os iacutendices de deferimento na espeacutecie que lamentavelmente

comeccedilam a declinar talvez movidos pelo perigo da dessensibilizaccedilatildeo do Judiciaacuterio ante aprofusatildeo de pedidos no setor reservando-se a atuaccedilatildeo judicial para situaccedilotildees de insucessoadministrativo reconhecido considerada a premecircncia e a comprovada necessidade ouatuaccedilotildees de iacutendole coletiva de pressatildeo poliacutetica para assegurar a melhor prestaccedilatildeo dodireito constitucional

Satildeo apenas reflexotildees incipientes mas ficam a semente da ideia o desafio que a questatildeorepresenta e o chamado ao compromisso coletivo de desenvolvecirc-las em prol do cidadatildeo

da efetividade constitucional e da atuaccedilatildeo mais consciente precisa e exitosa possiacutevel porparte da Defensoria Puacuteblica na defesa ao direito fundamental agrave sauacutede

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SALAZAR Andrea Lazzarini GROU Karina Bozola A Defesa da Sauacutede em Juiacutezo

eoria e Praacutetica Satildeo Paulo Verbatim 2009SCHWARZ Germano Direito agrave Sauacutede Efetivaccedilatildeo em uma Perspectiva SistecircmicaPorto Alegre Livraria do Advogado 2001

SIQUEIRA Paula Sue Facundo de Direito Sanitaacuterio a interface entre Judiciaacuterio eSauacutede na utilizaccedilatildeo dos PDC II Foacuterum Brasileiro sobre Assistecircncia Farmacecircutica eFarmacoeconomia Salvador 2014 Mesa Redonda

SRECK Lecircnio Luiz MORAIS Joseacute Luiacutes Bolzan de Ciecircncia poliacutetica e teoria geral do

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estado 2ed Porto Alegre Livraria do Advogado 2000

AVARES Andreacute Ramos Curso de Direito Constitucional 2ed Satildeo Paulo Saraiva 2003

REZZI Humberto Sauacutede Aumento no gasto do governo em remeacutedios especiais eacuteinvestigado Promotores e policiais suspeitam que quadrilhas falsificariam atestados paraobrigar a Uniatildeo a fornecer medicamentos de alto custo a pacientes por via judicial JornalZero Hora Porto Alegre ediccedilatildeo ndeg 15734 disponiacutevel em lthttpzerohoraclicrbscombrzerohorajspdefault2jspuf=1amplocal=1ampsource=a2195502xmlamptemplate=3898dwtampedition=10739ampsection=1003gt acessado em 12out08

VIEIRA Fabiacuteola Sulpino Accedilotildees judiciais e direito agrave sauacutede reflexatildeo sobre a observacircnciaaos princiacutepios do SUS Rev Sauacutede Puacuteblica v 42 n 2 p 365-369 abr 2008

VILLAS-BOcircAS Maria Elisa Alocaccedilatildeo de Recursos em Sauacutede quando a realidade e osdireitos fundamentais se chocam 2009 425 f ese (Doutorado em Direito Puacuteblico) ndashFaculdade de Direito Universidade Federal da Bahia Salvador 2009

______ O Direito agrave Sauacutede no Brasil reflexotildees bioeacuteticas agrave luz do princiacutepio da justiccedilaSatildeo Paulo Loyola 2014

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de pesquisa em larga escala 7 Ignorar simplesmente tais circunstacircncias faacuteticas terminapor ensejar peacutessimos frutos a comeccedilar pela perda de credibilidade dos requerentesespecialmente aqueles reiterados como a Defensoria e ndash ainda pior ndash levar agrave gradativadessensibilizaccedilatildeo do destinataacuterio o Judiciaacuterio

Mister entatildeo tentar buscar tanto quanto possiacutevel saiacutedas administrativas tratativas quetendam a diminuir a necessidade de accedilotildees judiciais muacuteltiplas procurando interpretaros princiacutepios gestores do SUS agrave luz dos direitos fundamentais constitucionalmenteconsagrados tanto sob o prisma pessoal como social de modo a se obter a melhortratamento possiacutevel mas dentro de um paracircmetro de razoabilidade sustentaacutevel sem privaro cidadatildeo de direitos mas tambeacutem sem virar artefato dos interesses da induacutestria que maiscresce no mundo alimentando esperanccedilas e desejos poreacutem nem sempre comprometidacom a responsabilidade social que deveria ter

3 A DISCIPLINA SANIAacuteRIA E OS PRINCIacutePIOS DO SISEMA UacuteNI983085CO DE SAUacuteDE8

A Constituiccedilatildeo de 1988 consagrou por seu teor e de forma sem precedentes no paiacutes apromessa de um Estado Social contando entre seus fundamentos a dignidade da pessoahumana os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa e o pluralismo poliacutetico eenaltecendo as garantias agrave cidadania conforme seu Capiacutetulo II do iacutetulo II mas tambeacutemem outras normas constitucionais a exemplo do artigo 196 dedicado ao direito agrave sauacutede A proacutepria formulaccedilatildeo estrutural da nova Carta enunciando os direitos fundamentais logoem seu iniacutecio anteriormente agrave organizaccedilatildeo estatal como ocorria nos Diplomas anteriores

7

O proacuteprio rastuzumabe verbi gratia quimioteraacutepico reclamado judicialmente e hoje decomprovada eficiecircncia requer para sua eficaacutecia a presenccedila de determinados marcadores geneacuteticosque de iniacutecio nem sempre eram verificados previamente quando da prescriccedilatildeo ou do pedidogerando espeacutecie de ldquoteste terapecircuticordquo de relevante repercussatildeo econocircmica e de efeito a longo prazoe em larga escala para a sauacutede entatildeo ainda desconhecidos8 recho parcialmente reproduzido na obra VILLAS-BOcircAS Maria Elisa O Direito agrave Sauacutede noBrasil reflexotildees bioeacuteticas agrave luz do princiacutepio da justiccedila Satildeo Paulo Loyola 2014 tambeacutem derivadada tese de Doutorado da Autora VILLAS-BOcircAS Maria Elisa Alocaccedilatildeo de Recursos em Sauacutede quando a realidade e os direitos fundamentais se chocam 2009 425 f ese (Doutorado em DireitoPuacuteblico) ndash Faculdade de Direito Universidade Federal da Bahia Salvador 2009

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jaacute denota um pioneiro espiacuterito de valorizaccedilatildeo da pessoa e de visualizaccedilatildeo do Estado comoinstrumento para o seu desenvolvimento ao menos no plano normativo

Como importante precedente para o nascimento do SUS aponta-se a VIII Conferecircncia

Nacional de Sauacutede realizada em 1986 que contou com ampla participaccedilatildeo da sociedadecivil passando-se a reconhecer como direito da populaccedilatildeo natildeo apenas o acesso aosdiferentes niacuteveis de assistecircncia agrave sauacutede mas tambeacutem a participaccedilatildeo na formulaccedilatildeo deprioridades na aacuterea9 o que interfere nos criteacuterio de alocaccedilatildeo de recursos

Assim foi que o artigo 6ordm da Constituiccedilatildeo ao enunciar os direitos sociais expressamentepreviu a sauacutede como um dos primeiros deles ao lado da educaccedilatildeo do trabalho damoradia (acrescida esta pela Emenda Constitucional nordm 26 em 2000) do lazer daseguranccedila da previdecircncia social da proteccedilatildeo agrave maternidade e agrave infacircncia e da assistecircncia

aos desamparados Em fevereiro de 2010 a Emenda Constitucional nordm 64 reconheceutambeacutem nesse rol a alimentaccedilatildeo

O direito agrave sauacutede eacute objeto ainda dos artigos 196 e seguintes da Constituiccedilatildeo vigente emque se enunciam as diretrizes para as poliacuteticas puacuteblicas na aacuterea O artigo 196 eacute enfaacuteticoem reafirmar o caraacuteter universal desse direito a ser assegurado natildeo apenas como promessaem perspectiva mas mediante accedilotildees praacuteticas de concretizaccedilatildeo a saber ldquo A sauacutede eacute direitode todos e dever do Estado garantido mediante poliacuteticas sociais e econocircmicas que visem agrave

reduccedilatildeo do risco de doenccedila e de outros agravos e ao acesso universal e igualitaacuterio agraves accedilotildeese serviccedilos para sua promoccedilatildeo proteccedilatildeo e recuperaccedilatildeordquo

Nos artigos seguintes notadamente do 197 ao 200 prevecirc-se a possibilidade de prestaccedilatildeoda sauacutede diretamente pelo Poder Puacuteblico ndash a quem cabe ainda sua regulamentaccedilatildeofiscalizaccedilatildeo e controle ndash ou atraveacutes de terceiros por pessoa fiacutesica ou juriacutedica de direitoprivado Franqueia-se a atuaccedilatildeo em sauacutede agrave iniciativa privada inclusive de formacomplementar junto ao Sistema Uacutenico de Sauacutede restringindo-se poreacutem a participaccedilatildeo

9 MELLO Dirceu Raposo de et al Anaacutelise Bioeacutetica do Papel do Estado na Garantia ao Acesso aMedicamentos In GARRAFA Volnei MELLO Dirceu Raposo de PORO Dora Bioeacutetica e Vigilacircncia Sanitaacuteria Brasiacutelia ANVISA 2007 p 17-18 e LORENZO Claacuteudio Vulnerabilidadeem Sauacutede Puacuteblica implicaccedilotildees para as poliacuteticas puacuteblicas Revista Brasileira de Bioetica BrasiacuteliaSociedade Brasileira de Bioeacutetica v 2 n 3 p 299-312 2006

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de empresas de capital estrangeiro na forma da lei (art 199)10

Em relaccedilatildeo ao Serviccedilo Uacutenico de Sauacutede (SUS) os artigos 198 e 200 o orientamapresentando como diretrizes ldquoI - descentralizaccedilatildeo com direccedilatildeo uacutenica em cada esfera de

governo II - atendimento integral com prioridade para as atividades preventivas semprejuiacutezo dos serviccedilos assistenciais III - participaccedilatildeo da comunidaderdquo Esclarece-se aindao financiamento por recursos da seguridade social e de outras fontes determinando aaplicaccedilatildeo de recursos miacutenimos em cada esfera estatal nos termos da Emenda Constitucionalnordm 29 de 2000

Aleacutem das diretrizes constitucionais a atuaccedilatildeo do SUS eacute orientada tambeacutem pela LeiOrgacircnica da Sauacutede (Lei ndeg 808090) de que se deduz como um ponto principal logoem seu artigo 2ordm a reafirmaccedilatildeo da sauacutede como direito humano fundamental ldquodevendo

o Estado prover as condiccedilotildees indispensaacuteveis para seu pleno exerciacuteciordquo Ainda nesseartigo esclarece-se que o dever do Estado quanto agrave garantia da sauacutede consiste aleacutem daformulaccedilatildeo e execuccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas preventivas no estabelecimento de condiccedilotildeesde acesso ldquouniversal e igualitaacuterio agraves accedilotildees e aos serviccedilos para a sua promoccedilatildeo proteccedilatildeo erecuperaccedilatildeordquo

O artigo 6ordm da referida legislaccedilatildeo regulamentadora inclui expressamente no campode atuaccedilatildeo do SUS a assistecircncia terapecircutica integral inclusive farmacecircutica Essa

disposiccedilatildeo tem sido causa de pedir de muitas das accedilotildees individuais que pretendem ofornecimento de medicaccedilotildees nem sempre disponibilizadas protocolarmente pelo SistemaUacutenico mas que se mostram indicadas para a situaccedilatildeo concreta do paciente A questatildeoeacute discutir quatildeo amplo eacute esse dever de provimento farmacoteraacutepico considerando

10 Eacute de se observar que conquanto a menccedilatildeo agrave remoccedilatildeo de oacutergatildeos e tecidos para transplantesencontre-se situada no artigo 199 referente agrave iniciativa privada esse tipo de procedimento eacuteexecutado pelo Sistema Uacutenico de Sauacutede no paiacutes justamente para permitir uma maior equidade emsua gestatildeo A competecircncia do referido Sistema abrange ainda de forma natildeo taxativa (art 200) ldquoI -

controlar e fiscalizar procedimentos produtos e substacircncias de interesse para a sauacutede e participar daproduccedilatildeo de medicamentos equipamentos imunobioloacutegicos hemoderivados e outros insumos II- executar as accedilotildees de vigilacircncia sanitaacuteria e epidemioloacutegica bem como as de sauacutede do trabalhadorIII - ordenar a formaccedilatildeo de recursos humanos na aacuterea de sauacutede IV - participar da formulaccedilatildeo dapoliacutetica e da execuccedilatildeo das accedilotildees de saneamento baacutesico V - incrementar em sua aacuterea de atuaccedilatildeo odesenvolvimento cientiacutefico e tecnoloacutegico VI - fiscalizar e inspecionar alimentos compreendidoo controle de seu teor nutricional bem como bebidas e aacuteguas para consumo humano VII -participar do controle e fiscalizaccedilatildeo da produccedilatildeo transporte guarda e utilizaccedilatildeo de substacircncias eprodutos psicoativos toacutexicos e radioativos VIII - colaborar na proteccedilatildeo do meio ambiente nelecompreendido o do trabalhordquo

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inclusive que as indicaccedilotildees satildeo feitas muitas vezes em usos natildeo oficializados (off label)experimentais ou extraordinaacuterios havendo de se discutir os criteacuterios que deveratildeo norteara atuaccedilatildeo estatal perante casos que tais

Os princiacutepios balizadores do Sistema Uacutenico de Sauacutede estatildeo afirmados no artigo 7ordm da Leindeg 808090 em que se sublinham

I - universalidade de acesso aos serviccedilos de sauacutede em todos os niacuteveisde assistecircnciaII - integralidade de assistecircncia entendida como conjunto articuladoe contiacutenuo das accedilotildees e serviccedilos preventivos e curativos individuais ecoletivos exigidos para cada caso em todos os niacuteveis de complexidadedo sistemaIII - preservaccedilatildeo da autonomia das pessoas na defesa de sua integridadefiacutesica e moralIV - igualdade da assistecircncia agrave sauacutede sem preconceitos ou privileacutegiosde qualquer espeacutecieV - direito agrave informaccedilatildeo agraves pessoas assistidas sobre sua sauacutedeVI - divulgaccedilatildeo de informaccedilotildees quanto ao potencial dos serviccedilos desauacutede e a sua utilizaccedilatildeo pelo usuaacuterioVII - utilizaccedilatildeo da epidemiologia para o estabelecimento de prioridadesa alocaccedilatildeo de recursos e a orientaccedilatildeo programaacuteticaVIII - participaccedilatildeo da comunidade []

Entre esses princiacutepios verificam-se de logo aparentes contradiccedilotildees tendentes a se tornarem

relevantes paradoxos praacuteticos Ao se mencionar por exemplo a autonomia ndash importanteaspecto da relaccedilatildeo profissional-paciente salvaguardado entre outros no artigo 15 doCoacutedigo Civil de 200211 ndash haacute que se identificar a existecircncia de limites no acircmbito dessaautonomia ais limites natildeo decorrem apenas dos cerceamentos morais e legais amplos(vedaccedilatildeo agrave eutanaacutesia ao aborto salvo exceccedilotildees legais ou ao auxiacutelio ao suiciacutedio verbi gratia ) mas satildeo tambeacutem advindos das proacuteprias normas especiacuteficas regentes do SistemaUacutenico de Sauacutede passando a balizar natildeo somente a autonomia do paciente como tambeacutemem certa medida a proacutepria autonomia profissional12 buscando-se priorizar em suasprescriccedilotildees e entre opccedilotildees tecnicamente equivalentes aquelas jaacute incorporadas pelo SUS

De outro lado tampouco pode a referida autonomia meacutedica ser mortalmente ferida sehaacute fundamentos relevantes para acreditar que a prescriccedilatildeo de determinada medicaccedilatildeo seja

11 ldquo Art 15 Ningueacutem pode ser constrangido a submeter-se com risco de vida atratamento meacutedico ou a intervenccedilatildeo ciruacutergica rdquo12 O item II do Capiacutetulo II do Coacutedigo de Eacutetica Meacutedica atual aponta como direito do meacutedicoldquoIndicar o procedimento adequado ao paciente observadas as praacuteticas cientificamente reconhecidase respeitada a legislaccedilatildeo vigenterdquo

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substancialmente favoraacutevel ao paciente

Assim como ponto de equiliacutebrio o profissional deveraacute dar preferecircncia agraves medicaccedilotildeese tratamentos constantes no rol do Sistema Uacutenico de Sauacutede desde que em condiccedilotildees

de equivalecircncia de modo que dessa escolha natildeo advenham reconhecidos prejuiacutezos aopaciente Nesse sentido um trabalho de conscientizaccedilatildeo dos profissionais meacutedicosmediante atuaccedilatildeo conjunta junto a essa esfera pode ser de grande valia para reduzir accedilotildees judiciais em vista de prescriccedilotildees mal justificadas

Mesmo em relaccedilatildeo a atendimentos particulares haacute que se evitar a prescriccedilatildeo desarrazoadade medicaccedilotildees de eficaacutecia natildeo comprovada que em uacuteltima anaacutelise viratildeo a ser reclamadasdo Sistema Uacutenico de Sauacutede (inclusive em vista do fator empobrecedor da doenccedila e dauniversalidade prevista) convertendo o paciente em verdadeiro sujeito (ou objeto) de

pesquisa natildeo organizada e gerando gastos e expectativas vatildeos

Outro aparente paradoxo se poderia assinalar em relaccedilatildeo aos princiacutepios arrolados nositens II e VII De um lado assegura-se a integralidade da assistecircncia De outro contudoadota-se o uso da epidemiologia para o estabelecimento de prioridades e a alocaccedilatildeo derecursos Como proceder entatildeo se for necessaacuteria assistecircncia profissional para doenccedilaepidemiologicamente rara e de tratamento particularmente caro Eacute o que se tem notadoem muitos dos casos que chegam ao Judiciaacuterio nos quais se passa a discutir ainda que natildeo

expressamente a visatildeo utilitarista e o impasse entre a prevalecircncia do interesse individualou coletivo na alocaccedilatildeo de recursos em questatildeo13

Seguem-se nos artigos 8ordm a 19 a organizaccedilatildeo descentralizada (que compotildee o nono princiacutepiogestor do Sistema juntamente com a direccedilatildeo uacutenica em cada instacircncia) e sua divisatildeo entreas trecircs esferas ndash nacional estadual e municipal Cuida-se aqui de circunstacircncia tambeacutemcomumente suscitada pelos entes estatais reacuteus arguindo natildeo serem partes legiacutetimas nahipoacutetese haja vista a separaccedilatildeo de atribuiccedilotildees desenhada na legislaccedilatildeo especiacutefica Veja-se contudo que a separaccedilatildeo de tarefas entre as esferas estatais natildeo retira delas o dever

global do Estado de provimento da sauacutede cuja responsabilidade eacute em uacuteltima instacircncia

13 Nesse sentido em prol da necessidade de anaacutelise muldimensional inclusive para otimizar aassistecircncia coletiva inviabilizando a anaacutelise individualista da questatildeo cf FERRAZ OctaacutevioLuiz Motta VIEIRA Fabiacuteola Sulpino Direito agrave sauacutede recursos escassos e equumlidade os riscosda interpretaccedilatildeo judicial dominante Disponiacutevel em httpwwwstfjusbrarquivocmsprocessoAudienciaPublicaSaudeanexoDireito_a_Saude_Recursos_escassos_e_equidadepdf Acesso em 25abr2015

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solidaacuteria14 Constata-se assim tiacutepico exemplo do chamado federalismo cooperativo oude colaboraccedilatildeo15 mais caracteriacutestico dos Estados de Bem-Estar Social e em que haacute umadivisatildeo de tarefas menos riacutegida e mais intercambiante conforme as necessidades praacuteticasque se apresentem ainda que persista o princiacutepio da subsidiariedade segundo o qual a

instacircncia superior deve agir quando natildeo resolviacutevel o problema nas instacircncias menores

Nesse mister o artigo 7ordm prevecirc ainda como princiacutepios simultacircneos do Sistema adescentralizaccedilatildeo poliacutetico-administrativa com direccedilatildeo uacutenica em cada esfera de governo(inciso IX) enfatizando a descentralizaccedilatildeo dos serviccedilos para os municiacutepios a regionalizaccedilatildeoe a hierarquizaccedilatildeo da rede de serviccedilos de sauacutede bem assim a organizaccedilatildeo dos serviccedilospuacuteblicos de modo a evitar duplicidade de meios para fins idecircnticos (inciso XIII) ndash o queeacute realmente um risco na incumbecircncia solidaacuteria Considerando-se todavia a falha noprovimento por todas as esferas a motivar a provocaccedilatildeo judicial o mesmo artigo estipula

a ldquoconjugaccedilatildeo dos recursos financeiros tecnoloacutegicos materiais e humanos da Uniatildeo dosEstados do Distrito Federal e dos Municiacutepios na prestaccedilatildeo de serviccedilos de assistecircncia agravesauacutede da populaccedilatildeordquo (inciso XI) e a ldquocapacidade de resoluccedilatildeo dos serviccedilos em todos osniacuteveis de assistecircncia rdquo (inciso XII) o que reafirma a noccedilatildeo de solidariedade federativa nodever de provimento da sauacutede

Ainda no que tange agrave conflituosa relaccedilatildeo entre as previsotildees legais e suas implementaccedilotildees

14 Sobre a discussatildeo acerca da solidariedade entre os entes estatais na aacuterea a jurisprudecircncia dosribunais Superiores jaacute reconheceu amplamente sua existecircncia caracterizando a existecircncia de umfederalismo cooperativo na espeacutecie Anteriormente ao posicionamento judicial jaacute se manifestavamem favor da responsabilidade concomitante e solidaacuteria das trecircs esferas estatais autores como DALLARI Sueli Gandolfi Os Estados Brasileiros e o Direito agrave Sauacutede Satildeo Paulo Hucitec1995 p 37-42 e SCHWARZ Germano Direito agrave Sauacutede Efetivaccedilatildeo em uma PerspectivaSistecircmica Porto Alegre Livraria do Advogado 2001 p 101 203 COHN Ameacutelia et al A Sauacutedecomo Direito e como Serviccedilo Satildeo Paulo Cortez 2008 p 68 entre outros assinalando o fato deque a regionalizaccedilatildeo e a descentralizaccedilatildeo tecircm por escopo favorecer a acessibilidade e natildeo dificultaacute-la natildeo obstando portanto a solidariedade entre os entes puacuteblicos Em favor da responsabilidade

sucessiva e natildeo solidaacuteria por forccedila da descentralizaccedilatildeo do Sistema cf FIGUEIREDO MarianaFilchtiner Direito Fundamental agrave Sauacutede Paracircmetros para sua Eficaacutecia e Efetividade Porto Alegre Livraria do Advogado 2007 p 157-16115 Cf por todos AVARES Andreacute Ramos Curso de Direito Constitucional 2ed Satildeo PauloSaraiva 2003 e SRECK Lecircnio Luiz MORAIS Joseacute Luiacutes Bolzan de Ciecircncia poliacutetica eteoria geral do estado 2ed Porto Alegre Livraria do Advogado 2000 Sobre o princiacutepio dasubsidiariedade nesse caso cf tambeacutem CANOILHO J J Gomes Direito Constitucional eeoria da Constituiccedilatildeo 7ed Coimbra Almedina [2003] Ainda sobre o tema da influecircnciado federalismo na mateacuteria cf o trabalho de DALLARI Sueli Gandolfi loc cit assinalando aabordagem diferenciada em cada constituiccedilatildeo estadual acerca do conteuacutedo do direito agrave sauacutede

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praacuteticas eacute de se notar que em 1999 foi incluiacutedo capiacutetulo referente agrave atenccedilatildeo agrave sauacutedeindiacutegena e em 2002 previu-se um subsistema de atendimento e internaccedilatildeo domiciliarEsses uacuteltimos cuidados ditos home care conquanto ainda pouco utilizados vecircmadequar-se ao quanto previsto na Constituiccedilatildeo Federal em seu artigo 230 paraacutegrafo 1ordm

notadamente em relaccedilatildeo aos idosos a saber ldquosect 1ordm - Os programas de amparo aos idososseratildeo executados preferencialmente em seus laresrdquo Em 2005 acolheu-se na legislaccedilatildeo umsubsistema de acompanhamento durante o trabalho de parto parto e poacutes-parto imediatoprevendo a possibilidade de acompanhante nesses eventos a exemplo do que jaacute fizera oEstatuto da Crianccedila e do Adolescente em relaccedilatildeo agrave previsatildeo de acompanhante para omenor internado no acircmbito do SUS (artigo 12 da Lei 806990 e Resoluccedilatildeo ndeg 4195sobre os direitos da crianccedila e do adolescente hospitalizados) revelando uma tendecircncia dehumanizaccedilatildeo dos procedimentos puacuteblicos de sauacutede

Na praacutetica ainda natildeo se implementaram amplamente esses novos espectros do direito agravesauacutede mas natildeo se os diga impossiacuteveis nem desnecessaacuterios Eacute curioso notar verbi gratia que quando do surgimento do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente tampouco era praxea manutenccedilatildeo dos pais junto aos pequenos pacientes ndash algo que hoje soa imprescindiacutevelndash e a afirmaccedilatildeo legislativa desse direito foi reputada como inviaacutevel dentro da estruturahospitalar da eacutepoca Menos de uma deacutecada depois todavia embora natildeo existam aindahoje instalaccedilotildees ideais em termos de conforto jaacute natildeo se cogita mais internar crianccedilas ouadolescentes sem lhes assegurar a permanecircncia de um dos responsaacuteveis Demonstrou-se

com isso que muitas das resistecircncias agrave implementaccedilatildeo de direitos satildeo bem mais culturaispor haacutebito ou falta de vontade poliacutetica do que propriamente por reais inviabilidadesfinanceiras ou operacionais Vive-se atualmente similar situaccedilatildeo quanto agrave previsatildeo deacompanhante para o idoso ou a gestante em trabalho de parto

Em relaccedilatildeo ao planejamento e orccedilamento a propoacutesito outro argumento habitual doEstado-reacuteu diz respeito justamente agrave impossibilidade de deslocamento de verbas natildeoprevistas na organizaccedilatildeo orccedilamentaacuteria dentro do Sistema Uacutenico de Sauacutede ou de outrasaacutereas para este sob pena de responsabilizaccedilatildeo fiscal Nessa seara poreacutem o artigo 36

paraacutegrafo 2ordm da Lei ndeg 808090 eacute enfaacutetico ao estabelecer que ldquoEacute vedada a transferecircnciade recursos para o financiamento de accedilotildees natildeo previstas nos planos de sauacutede exceto emsituaccedilotildees emergenciais ou de calamidade puacuteblica na aacuterea de sauacutederdquo (grifou-se)

Para exercer suas atividades o Sistema Uacutenico de Sauacutede conta com inuacutemeras outras normasgestoras ndash natildeo apenas leis de acircmbito nacional mas tambeacutem Portarias e normas de acircmbitoestadual e local ndash que detalham essa atuaccedilatildeo Assim eacute que por exemplo a Portaria nordm

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3916 de 30 de outubro de 1998 estabelece a Poliacutetica Nacional de Medicamentos a serauxiliada por normas outras como a Lei ndeg 978799 dita ldquoLei dos Geneacutericosrdquo definindoo medicamento geneacuterico como aquele similar a um produto de referecircncia ou inovadorque se pretende ser com este intercambiaacutevel geralmente produzido apoacutes a expiraccedilatildeo ou

renuacutencia da proteccedilatildeo patentaacuteria ou de outros direitos de exclusividade comprovada a suaeficaacutecia seguranccedila e qualidade

Prevecirc-se ainda que esses medicamentos devem ser preferidos no acircmbito do SUSpelo custo e acrescente-se pela impessoalidade mesma que deve caracterizar a atuaccedilatildeoadministrativa estatal desaconselhando a preferecircncia por produtos de laboratoacuterios oumarcas determinados em detrimento de produtos de denominaccedilatildeo comum brasileira ouna sua falta internacional a indicar maior neutralidade em prestaccedilatildeo equivalente

Jaacute se tem aiacute um paracircmetro a nortear as prescriccedilotildees e decisotildees na mateacuteria deve a prestaccedilatildeofarmacoloacutegica do Sistema Uacutenico de Sauacutede se pautar pelo fornecimento de medicaccedilotildees quedentre as que contecircm a substacircncia ativa necessaacuteria atendam agraves necessidades de eficaacuteciae seguranccedila poreacutem com menor custo maior impessoalidade e generalidade pois natildeoassociada a marca especiacutefica O uso racional desses recursos passa ainda pela orientaccedilatildeodos meacutedicos na criteriosa avaliaccedilatildeo das medicaccedilotildees prescritas privilegiando dentro deum paracircmetro de equivalecircncia aquelas jaacute constantes fornecimento regular pelo Sistema 16

16 Os produtos padronizados constam da Relaccedilatildeo Nacional de Medicamentos Essenciais (RENAME) Nosentido de promover a observacircncia da lista cita-se por exemplo a Portaria Estadual nordm 1475BA publicadano Diaacuterio Oficial do Estado de 300908 que ldquoConstitui Grupo de trabalho no acircmbito do SUS com oescopo de elaborar orientaccedilotildees e diretrizes aos profissionais meacutedicos no sentido de esgotarem as alternativasde faacutermacos previstas nos Protocolos Cliacutenicos e Diretrizes erapecircuticas do Ministeacuterio da Sauacutede e demais atosque lhe forem complementares antes de prescrever tratamento medicamentoso diverso aos pacientes nostermos da Notificaccedilatildeo Recomendatoacuteria 0022007 da Promotoria de Justiccedila e da Cidadania do MinisteacuterioPuacuteblico do Estado da Bahiardquo De acordo com a Organizaccedilatildeo Mundial da Sauacutede - OMS (Nairobi Quecircnia1985) ldquoHaacute uso racional quando pacientes recebem medicamentos apropriados para suas condiccedilotildees cliacutenicasem doses adequadas agraves suas necessidades individuais por um periacuteodo adequado e ao menor custo para si e

para a comunidaderdquo Segundo o Ministeacuterio da Sauacutede o uso racional de medicamentos consiste no ldquoprocessoque compreende a prescriccedilatildeo apropriada a disponibilidade oportuna e a preccedilos acessiacuteveis a dispensaccedilatildeoem condiccedilotildees adequadas e o consumo nas doses indicadas nos intervalos definidos e no periacuteodo de tempoindicado de medicamentos eficazes seguros e de qualidaderdquo (BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria dePoliacuteticas de Sauacutede Departamento de Atenccedilatildeo Baacutesica Poliacutetica nacional de medicamentos 2001Ministeacuterio daSauacutede Secretaria de Poliacuteticas de Sauacutede Departamento de Atenccedilatildeo Baacutesica ndash Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede2001 ambeacutem disponiacutevel em lthttpwwwopasorgbrmedicamentossiteUploadArqpnmpdfgtacessado em 02out08) Outros programas para estimular o uso racional de medicamentos encontram-sena paacutegina eletrocircnica do Ministeacuterio da Sauacutede (httpportalsaudegovbrportalsaudeareacfmid_area=1141acessado em 05out08)

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174 DEFENSORIA PUacuteBLICA DA UNIAtildeO Escola Superior

A alocaccedilatildeo de medicamentos no paiacutes estaacute dividida segundo o Ministeacuterio da Sauacutede em trecircscategorias baacutesicas17 medicamentos baacutesicos ou essenciais ldquopertencentes a um elenco miacutenimoobrigatoacuterio a ser dispensado na atenccedilatildeo baacutesicardquo ou na dicccedilatildeo legal aqueles consideradosldquobaacutesicos e indispensaacuteveis para atender a maioria dos problemas de sauacutede da populaccedilatildeordquo

previstos na Portaria do Ministeacuterio da Sauacutede nordm 32372007 medicamentos estrateacutegicosutilizados em programas especiacuteficos do Ministeacuterio da Sauacutede como aqueles de combateagrave AIDS tuberculose hanseniacutease diabetes doenccedila de Chagas malaacuteria coagulopatias eoutras conforme Portaria do Ministeacuterio da Sauacutede nordm 2042007 e medicamentos dedispensaccedilatildeo especial ou excepcional eacute dizer aqueles geralmente de alto custo destinadosa patologias especiacuteficas e complexas que atingem um nuacutemero limitado de pacientes parauso prolongado Esses procedimentos e recursos terapecircuticos encontravam-se arroladosna Portaria do Ministeacuterio da Sauacutede nordm 25772006 Eacute de se observar que sendo essauacuteltima uma das categorias mais solicitadas judicialmente e mais associadas com a evoluccedilatildeo

biotecnoloacutegica chama a atenccedilatildeo o fato de ter sido por muito tempo justamente aPortaria mais antiga deixando margem agrave criacutetica de provaacutevel desatualizaccedilatildeo em relaccedilatildeo aosavanccedilos atuais tendo sido atualizada pela Portaria GMMS 18692008 e revogada pelaPortaria GMMS 1062009 tambeacutem jaacute revogada A mateacuteria tambeacutem sofreu alteraccedilotildeespelas Portarias 2981 de 26 de novembro de 2009 Portaria 343GMMS de 22 defevereiro de 2010 Portaria 3439MS de 11 de novembro de 2010 e atualmente pelosPCD (PROOCOLOS CLIacuteNICOS E DIRERIZES ERAPEcircUICAS) a indicarparacircmetros de abordagem e tratamento para cada patologia

Analisando-se os montantes empregados em cada uma das categorias verifica-se que os

17 MELLO Dirceu Raposo et al op cit p 27-28 SALAZAR Andrea Lazzarini GROU Karina Bozola ADefesa da Sauacutede em Juiacutezo eoria e Praacutetica Satildeo Paulo Verbatim 2009 p 112-113

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175R Defensoria Puacutebl Uniatildeo Brasiacutelia DF n 8 p 1-356 jandez 2015

gastos com medicamentos especiais superam em muito aqueles com medicaccedilotildees baacutesicas18 Dentre os medicamentos estrateacutegicos ndash responsaacuteveis pelo maior volume de custos commedicaccedilotildees entre os trecircs grupos na segunda metade da deacutecada passada ndash aqueles dirigidosao programa de HIVAIDS sofreram acreacutescimo substancial em 2006 ante as novas drogas

incorporadas ao cataacutelogo farmacoloacutegico de tratamento da doenccedila passando a representarsozinhos quase uma vez e meia o gasto com todas as demais drogas estrateacutegicas

Mais uma vez fica evidente que prevenir aleacutem de melhor sai bem mais barato que

18 Segundo quadro comparativo elaborado em MELLO Dirceu Raposo et al op cit p 28-29 a partirde dados do Ministeacuterio da Sauacutede os gastos com medicamentos baacutesicos em 2006 foram da ordem de 290milhotildees de reais representando 67 dos gastos com medicaccedilatildeo ao passo que o montante despendido commedicamentos de dispensaccedilatildeo especial alcanccedilaram a cifra de um bilhatildeo 355 milhotildees de reais equivalendoa 32 do orccedilamento para a aacuterea Dentre os medicamentos estrateacutegicos aqueles destinados ao programade DSAIDS custaram aos cofres puacuteblicos naquele ano 960 milhotildees de reais enquanto no ano anteriorrepresentaram despesa de 550 milhotildees de reais Cumpre assinalar que o programa de fornecimento gratuitode medicaccedilotildees antirretrovirais aos portadores de HIV no paiacutes eacute elogiado em todo o mundo pela iniciativapioneira na aacuterea apontada como exemplo na universalizaccedilatildeo do tratamento e inclusatildeo a esses pacientes A Leique cuida da mateacuteria ndash Lei ndeg 931396 ndash foi acompanhada por uma seacuterie de decisotildees judiciais proacute direitoagrave sauacutede determinando o efetivo provimento das medicaccedilotildees e sua atualizaccedilatildeo conforme o estado cientiacuteficomundial nos termos da redaccedilatildeo legal Nesse sentido se assinala entre outros o seguinte acoacuterdatildeo provenientedo Supremo ribunal Federal defendendo a aplicabilidade imediata das normas relativas ao direito agravesauacutede PACIENE COM HIVAIDS ndash PESSOA DESIUIacuteDA DE RECURSOS FINANCEIROS ndashDIREIO Agrave VIDA E Agrave SAUacuteDE ndashFORNECIMENO GRAUIO DE MEDICAMENOS ndash DEVERCONSIUCIONAL DO PODER PUacuteBLICO (CF ARS 5ordm CAPU E 196) O DIREIO Agrave SAUacuteDEREPRESENA CONSEQUumlEcircNCIA CONSIUCIONAL INDISSOCIAacuteVEL DO DIREIO Agrave VIDA

O direito puacuteblico subjetivo agrave sauacutede representa prerrogativa juriacutedica indisponiacutevel assegurada agrave generalidadedas pessoas pela proacutepria Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica (art 196) raduz bem juriacutedico constitucionalmentetutelado por cuja integridade deve velar de maneira responsaacutevel o Poder Puacuteblico a quem incumbe formularndash e implementar ndash poliacuteticas sociais e econocircmicas idocircneas que visem a garantir aos cidadatildeos inclusive agravequelesportadores do viacuterus HIV o acesso universal e igualitaacuterio agrave assistecircncia farmacecircutica e meacutedico-hospitalar Odireito agrave sauacutede ndash aleacutem de qualificar-se como direito fundamental que assiste a todas as pessoas ndash representaconsequumlecircncia constitucional indissociaacutevel do direito agrave vida O Poder Puacuteblico qualquer que seja a esfera institucionalde sua atuaccedilatildeo no plano da organizaccedilatildeo federativa brasileira natildeo pode mostrar-se indiferente ao problema da sauacutededa populaccedilatildeo sob pena de entender ainda que por censuraacutevel omissatildeo em grave comportamento inconstitucional(AGRRE nordm 271286-RS Rel Min Celso de Mello SF DJ 241100 p 101)

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176 DEFENSORIA PUacuteBLICA DA UNIAtildeO Escola Superior

remediar 19

Fato eacute queNenhum paiacutes ateacute o momento conseguiu estabelecer um limite oacutetimode gasto financeiro para melhorar a sauacutede de seus cidadatildeos os EUA

gastam 146 do PIB com sauacutede sendo o Estado responsaacutevel por449 desse total e 5 dos gastos puacuteblicos com sauacutede dizem respeitoaos medicamentos Ainda sobre os EUA dados de domiacutenio puacuteblicoinformam que cerca de 50 milhotildees de cidadatildeos natildeo tecircm acesso aosserviccedilos de sauacutede No Brasil os gastos com sauacutede correspondem agrave cifrade 79 do PIB sendo que o setor puacuteblico eacute responsaacutevel por 459desses gastos e os medicamentos representam 74 desses gastospuacuteblicos20

Sem duacutevida a garantia adequada do direito agrave sauacutede natildeo constitui um problema apenaspara os paiacuteses em desenvolvimento embora nesses falte o acesso ao que haacute de mais baacutesicopossiacutevel para a manutenccedilatildeo e a recuperaccedilatildeo da sauacutede ambeacutem os paiacuteses desenvolvidos

19 Aleacutem das despesas jaacute esperadas com tais medicamentos avultam ainda os gastos decorrentes de processos judiciais A esse respeito notiacutecia veiculada em setembro de 2008 na imprensa deu conta de que ldquoEntre2005 e 2008 o governo federal aumentou em 1820 (quase 20 vezes) as despesas decorrentes de ordens

judiciais que obrigam a Uniatildeo a pagar por medicamentos especiais Apenas na primeira metade deste anoforam gastos pelo governo federal por ordem da Justiccedila R$ 48 milhotildees nesses tratamentos Em 2005 oinvestimento foi de R$ 25 milhotildeesrdquo ambeacutem foi informado que ldquoa cada mecircs Satildeo Paulo gasta R$ 400milhotildees com remeacutedios obtidos pelos doentes mediante ordem judicial e que natildeo satildeo fornecidos pelo SUS Asituaccedilatildeo natildeo eacute muito diferente no Rio Grande do Sul Foram R$ 31 milhotildees com accedilotildees judiciais envolvendomedicamentos em 2006 e R$ 50 milhotildees em 2007 e a previsatildeo eacute de que sejam gastos R$ 150 milhotildees nesteano ndash o equivalente a um terccedilo do total de recursos de custeio dos programas da Secretaria Estadual deSauacutederdquo Dentro desses valores apurou-se ainda a ocorrecircncia de fraudes envolvendo meacutedicos e advogadosque mediante pedidos judiciais providos teriam resultado em prejuiacutezo de R$ 63 milhotildees aos cofrespuacuteblicos (REZZI Humberto Sauacutede Aumento no gasto do governo em remeacutedios especiais eacute investigadoPromotores e policiais suspeitam que quadrilhas falsificariam atestados para obrigar a Uniatildeo a fornecermedicamentos de alto custo a pacientes por via judicial Jornal Zero Hora Porto Alegre ediccedilatildeo ndeg 15734

Disponiacutevel em lthttpzerohoraclicrbscombrzerohorajspdefault2jspuf=1amplocal=1ampsource=a2195502xmlamptemplate=3898dwtampedition=10739ampsection=1003gt acessado em 12out08) Deduz-se daiacute queconquanto via relevantiacutessima para o controle do atendimento do direito fundamental agrave sauacutede a prestaccedilatildeo

jurisdicional haacute de ser particularmente cautelosa na anaacutelise de tais pleitos sobretudo quando em sede deprovimentos liminares por natildeo se poder desconsiderar o grave impacto que essas decisotildees tecircm tomado noorccedilamento sanitaacuterio Eacute imprescindiacutevel entatildeo sempre que possiacutevel e especialmente quando o fornecimentoeacute feito a entidades privadas sobre as quais incide menor controle na utilizaccedilatildeo desses recursos a realizaccedilatildeode periacutecia meacutedica judicial a constatar a efetiva necessidade e infungibilidade do recurso demandado naquelecaso concreto20 MELLO Dirceu Raposo et al op cit p 23

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177R Defensoria Puacutebl Uniatildeo Brasiacutelia DF n 8 p 1-356 jandez 2015

tecircm problemas para assegurar os cuidados de sauacutede esperados pela populaccedilatildeo situaccedilatildeoque se agrava progressivamente com o envelhecimento da populaccedilatildeo (com suas conhecidasconsequecircncias para o equiliacutebrio previdenciaacuterio) e com o desenvolvimento crescente dosrecursos farmacecircuticos e biotecnoloacutegicos criando patamares cada vez mais elevados de

atenccedilatildeo agrave sauacutede21

Elevou-se a qualidade e a quantidade de vida o que eacute um aspectoinegavelmente positivo mas que gera outrossim consequecircncias de difiacutecil equiliacutebrioeconocircmico

4 DEMANDAS JUDICIAIS EM SAUacuteDE COMO AVANCcedilAR EM DIRECcedilAtildeO

AO QUE PARECE NAtildeO ER SAIacuteDA

Questionado sobre formas de viabilizaccedilatildeo de um sistema puacuteblico de sauacutede dentro dessecontexto ponderou primeiramente Diego Gracia 22 que quem tem receituaacuterio fazalocaccedilatildeo Com efeito Ao fazer uma mera prescriccedilatildeo individual o meacutedico estaacute a indicarali os paracircmetros para o exerciacutecio do direito agrave sauacutede pelo paciente Eacute para alcanccedilar orecurso prescrito que o cidadatildeo vai agrave Justiccedila pleitear ao Estado ou ao plano de sauacutede queo forneccedila Eacute na prescriccedilatildeo que se baseia o Juiz quando antecipa uma tutela mesmo antes

de ouvir a parte adversa na convicccedilatildeo de que haacute urgecircncia no acesso agravequele recurso

Mister assim para racionalizar o uso de medicamentos e recursos no SUS orientar eracionalizar tambeacutem as prescriccedilotildees meacutedicas de modo que sem sacrificar a sauacutede dopaciente tampouco se sacrifique indevidamente o Sistema organizado para protegecirc-lae garanti-la Nesse ponto erige-se a validade de se pensar um trabalho conjunto comorganizaccedilotildees profissionais como uma outra vertente para a maior efetivaccedilatildeo na prestaccedilatildeo

21

Nesse sentido cf a obra AARON Henry J SCHWARZ William B Te Painful Prescriptionhellipreferente sobretudo aos Estados Unidos e agrave Inglaterra mas que tambeacutem menciona a situaccedilatildeo de outros paiacutesesdesenvolvidos como a Franccedila e o Canadaacute ambeacutem trata do assunto entre outros PENCHASZADEHVictor Bioeacutetica y medicina social Una confluencia necesaria Revista Brasileira de Bioeacutetica BrasiacuteliaSociedade Brasileira de Bioeacutetica v 3 n 2 p 129-149 2007 p 137 Destaque-se outrossim a recentepolecircmica envolvendo o governo americano do Presidente Barack Obama ante a perspectiva de maiordemocratizaccedilatildeo do acesso agrave sauacutede em confronto com o arcabouccedilo tendencialmente liberal da poliacutetica daqueleEstado no setor ateacute entatildeo22 GRACIA Diego Bioeacutetica Cliacutenica e Contexto Social In VII CONGRESSO BRASILEIRO DEBIOEacuteICA Satildeo Paulo 2007 Conferecircncia

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178 DEFENSORIA PUacuteBLICA DA UNIAtildeO Escola Superior

e cobranccedila do direito agrave sauacutede

A especial atenccedilatildeo aos preceitos da Medicina Baseada em Evidecircncias devidamentefundamentada em relatoacuterios e prescriccedilotildees acurados com a cuidadosa anaacutelise e

demonstraccedilatildeo de eficaacutecia seguranccedila e eficiecircncia23

quer no geral quer no caso concretotambeacutem satildeo de grande valia para a atuaccedilatildeo coerente e racional na aacuterea inclusive a fim deevitar que o assistido seja engolfado por esperanccedilas vatildes de resultados temeraacuterios tentativasheroicas sem perspectivas reais e pesquisas multinacionais em larga escala que exacerbamsua vulnerabilidade e fragilizam a credibilidade dos pedidos judiciais no setor Nessecontexto mister evitar tambeacutem pedidos irrazoaacuteveis natildeo factiacuteveis na praacutetica ou opccedilotildees

23 Embora costumeiramente usadas de forma equivalente as expressotildees eficaacutecia eficiecircncia e efetividade tecircmsignificados teacutecnicos especiacuteficos na seara da MBE Nesse sentido a seguranccedila mencionada implica a anaacutelisede que os danos colaterais possiacutevel sejam inferiores aos benefiacutecios oferecidos com seu uso para o fim a quese propotildee A eficaacutecia consiste na evidecircncia de ter o recurso prescrito comprovado efeito beneacutefico para aquelecaso (ldquofazem o que se propotildeem a fazerrdquo ndash na expressatildeo de VIEIRA Fabiacuteola Sulpino op cit p365-369)evitando-se os chamados ldquoprodutos de complacecircnciardquo ndash sem eficaacutecia comprovada mas prescritos por insistecircnciado paciente ou por pressatildeo do marketing industrial por exemplo ndash bem como os atos aparentemente cliacutenicosmas que se mostram em verdade experimentais visto que natildeo validados de nenhuma forma cientificamente

aceita a qual permita asseveraacute-los como realmente producentes e seguros A efetividade propriamente dita corresponde agrave eficaacutecia e agrave eficiecircncia em condiccedilotildees reais de sorte a evitar desperdiacutecios Eacute dizer que os produtoseleitos ldquofazem o que se propotildeem a fazer quando utilizados pelas pessoas em condiccedilotildees reais e natildeo em gruposhomogecircneos que constituem os grupos de pessoas dos ensaios cliacutenicosrdquo (idem ibidem) Por fim a eficiecircnciaou custo-efetividade envolve a avaliaccedilatildeo da relaccedilatildeo custobenefiacutecio de modo a se constatar a substancialvantagem de dado recurso em relaccedilatildeo a outro observadas a eficaacutecia e a efetividade propriamente ditaSignifica dizer que o produto em questatildeo ldquoentre as alternativas disponiacuteveis faz o que se propotildee a fazer paraas pessoas em condiccedilotildees reais ao menor custordquo (idem ibidem) Embora conceitos mais utilizados no acircmbitoeconocircmico e de macroalocaccedilatildeo de recursos acabam repercutindo na microalocaccedilatildeo individual ao requerermaior comprovaccedilatildeo quando de pedido que natildeo leve em consideraccedilatildeo tais subprinciacutepios Segundo a ANVISAtem-se a efetividade como ldquogarantia de medicamentos eficazes eou efetivos e seguros cuja relaccedilatildeo risco-benefiacutecio seja favoraacutevel e comprovada a partir das melhores evidecircncias cientiacuteficas disponiacuteveis na literatura

e com registro aprovado na Agecircncia Nacional de Vigilacircncia Sanitaacuteria (ANVISA)rdquo e a eficiecircncia como aldquogarantia de medicamentos que proporcionem a melhor resposta terapecircutica aos usuaacuterios com os menorescustos para o SUSrdquo (Lei 124012011 e pela Resoluccedilatildeo 01 do Ministeacuterio da Sauacutede de 17 de janeiro de2012) Eacute fato que considerando os escores da Medicina baseada em evidecircncia alega o Estado de praxe quea experiecircncia do meacutedico prescritor isoladamente e mesmo do perito judicial natildeo teriam niacutevel de sustentaccedilatildeocientiacutefica bastante para subsidiar a concessatildeo de medicaccedilatildeo natildeo padronizada pelo SUS todavia considerandoos requisitos de antecipaccedilatildeo de tutela pode conter se bem fundamentada em estudos outros de indicaccedilatildeoseguranccedila eficaacutecia efetividade e eficiecircncia elementos suficientes de verossimilhanccedila aleacutem de representara realidade daquele indiviacuteduo preocupando-se em registrar inclusive a ausecircncia de resposta ou indicaccedilatildeoquanto agraves outras opccedilotildees disponiacuteveis haja vista que como se costuma constatar a resposta individual nemsempre corresponde agravequela epidemiologicamente esperada

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comerciais especiacuteficas substituiacuteveis por equivalentes terapecircuticos disponiacuteveis no SUS24

Outro aspecto a ser sopesado eacute o modo e o conteuacutedo como feitos os pedidos na medida emque a proteccedilatildeo ao direito agrave sauacutede de um deve considerar a existecircncia de outros envolvidos

na alocaccedilatildeo de recursos diante da escassez real Exemplo disso satildeo os pedidos de vagaou de prioridade em filas de transplantes que necessariamente envolvem o cotejo comoutros afetados que natildeo satildeo parte no processo Natildeo raro se tem notiacutecia de comandos deprisatildeo a gestores hospitalares que tecircm todos os seus leitos ocupados por natildeo disporem devagas Inegaacutevel a falha estatal na espeacutecie mas ela natildeo pode ser resolvida com o comandoainda que indireto de retirada de pacientes que ainda necessitem do leito e cuidados paraalocaccedilatildeo de outro dotado de comando judicial Opccedilatildeo nesse caso eacute o pedido subsidiaacuteriode alocaccedilatildeo em unidades privadas agraves expensas do Estado natildeo por mera opccedilatildeo do enfermomas se natildeo houver leitos disponiacuteveis nas unidades puacuteblicas

Do ponto de vista estatal eacute mister o ajuste constante das poliacuteticas puacuteblicas de sortea mantecirc-las condizentes com as carecircncias da comunidade e atualizadas dentro dasmargens de efetividade terapecircutica a fim de se tentar com isso minorar a necessidade deintervenccedilotildees judiciais suplementares na aacuterea aleacutem de favorecer o proacuteprio funcionamentoadequado do Sistema em conformidade com seus princiacutepios gestores e com as previsotildeese garantias constitucionais sem acarretar a falecircncia do Sistema nem converter o direitouniversal agrave sauacutede em mera retoacuterica demagoacutegica

Nesse contexto a atuaccedilatildeo e participaccedilatildeo equilibrada da Defensoria junto a oacutergatildeos puacuteblicose conselhos interdisciplinares pode ser de grande valia para uma maior eficaacutecia na soluccedilatildeo

24 Em palestra proferida do II Foacuterum Brasileiro sobre Assistecircncia Farmacecircutica e Farmacoeconomia ocorridoem setembro de 2014 em Salvador-Bahia com a presenccedila de gestores puacuteblicos membros do JudiciaacuterioMinisteacuterio Puacuteblico Defensoria Puacuteblica e Advogados Puacuteblicos a representante paulista do CONASS(Conselho Nacional dos Secretaacuterios de Sauacutede) apresentou demonstrativo de pedidos em demandas judiciaissanitaacuterias contra o Estado e o Municiacutepio de Satildeo Paulo em que incluiacutedos itens como ldquoleite de cabra frescordquondash o qual resultou descumprido por absoluta ausecircncia de resposta agrave licitaccedilatildeo simplificada para localizar

detentores de cabras na cidade de Satildeo Paulo Nessa ocasiatildeo tambeacutem mostrou a palestrante estudo feitoquanto agraves 41000 accedilotildees judiciais em sauacutede atendidas por aqueles entes naquele ano tendo-se verificado quecerca de 70 delas se pautavam em prescriccedilotildees particulares 93 envolviam medicamentos extraordinaacuteriosao SUS sendo que aproximadamente 5 envolviam produtos importados sem registro na ANVISA 50envolviam itens de produtores exclusivos e cerca de 25 marcas especiacuteficas mesmo para itens simples comofraldas descartaacuteveis A franca maioria dos pedidos natildeo tivera solicitaccedilatildeo administrativa preacutevia sabendo oEstado do pleito jaacute em sede de antecipaccedilatildeo de tutela com prazo estrito para o fornecimento ainda que comfundamentaccedilatildeo cliacutenica escassa inclusive quanto agrave premecircncia do pedido (SIQUEIRA Paula Sue Facundo deDireito Sanitaacuterio a interface entre Judiciaacuterio e Sauacutede na utilizaccedilatildeo dos PDC II FOacuteRUM BRASILEIROSOBRE ASSISEcircNCIA FARMACEcircUICA E FARMACOECONOMIA Salvador 2014 Mesa Redonda)

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180 DEFENSORIA PUacuteBLICA DA UNIAtildeO Escola Superior

administrativa das questotildees reduzindo-se o quantitativo de demandas judiciais na espeacuteciee democratizando o acesso agrave sauacutede mesmo agravequeles que natildeo chegam agrave Defensoria Nesseuacuteltimo aspecto tambeacutem a atuaccedilatildeo mediante Accedilatildeo Civil Puacuteblica visando agrave atualizaccedilatildeodas listas de fornecimento ou denunciando carecircncias e esperas irrazoaacuteveis por exemplo

parece recurso de relevante monta para uma melhor prestaccedilatildeo no setor

Possibilidade de uma maior funcionalidade administrativa tambeacutem pode ser tentadamediante atuaccedilatildeo de profissional25 direcionado agrave aacuterea das crescentes demandas em sauacutedenas unidades defensoriais de sorte a direcionar melhor a instruccedilatildeo dos pedidos jaacute seorientando o tipo de relatoacuterio e informaccedilotildees necessaacuterios aleacutem de empreender contatodireto com os oacutergatildeos puacuteblicos de regulaccedilatildeo em sauacutede estreitando relaccedilotildees com a Secretariade Sauacutede do Estado e seus oacutergatildeos a exemplo da Central de Regulaccedilatildeo de Vagas

Propotildee-se com isso ampliar o quantitativo de resoluccedilotildees administrativas mais ceacutelerese menos custosas reservando a necessidade de intervenccedilotildees juriacutedicas agraves situaccedilotildees emque havendo a previsatildeo do fornecimento natildeo se consegue obtecirc-lo por maacute prestaccedilatildeoadministrativa ndash o que demonstrado por melhor instruccedilatildeo inicial sugere levar amelhores iacutendices de sucesso jaacute em sede antecipatoacuteria ndash ou nas situaccedilotildees de recursos natildeoincluiacutedos no rol de fornecimento do SUS (em que pese o limitante dos artigos 2ordm e 19da Lei 124012011) Nesse caso uacuteltimo jaacute se busque tambeacutem instruir o pedido com osdemonstrativos da eficaacutecia seguranccedila e indicaccedilatildeo da medida reclamada bem assim de

ausecircncia de resposta agraves drogas rotineiramente disponibilizadas ou indicadas nos PCDnos termos inclusive do quanto preconizado em reiterados Enunciados e Recomendaccedilotildeesdo CNJ (4 11 14 15 16 31) e precedentes jurisprudenciais relevantes como a SA175 de relatoria do Min Gilmar Mendes sobre a mateacuteria

O que se vislumbra de negativo em tal proposta eacute que eventual reduccedilatildeo da judicializaccedilatildeofaccedila supor uma maior eficiecircncia na prestaccedilatildeo estatal em sauacutede o que nem semprecorresponde agrave verdade obtendo-se o ecircxito em casos individuais atraveacutes da persistecircnciaempedernida do oacutergatildeo defensorial ateacute que a proacutexima situaccedilatildeo se apresente Como aspecto

25 entativa semelhante tem sido implementada ao longo do uacuteltimo ano na unidade baiana daDefensoria Puacuteblica da Uniatildeo por iniciativa da chefia que tambeacutem titulariza o ofiacutecio de tutelacoletiva mediante o destacamento de Assistente Social com experiecircncia na conduccedilatildeo de demandasem sauacutede e com o intuito de melhorar a assistecircncia em tais demandas ante o crescimentoexponencial de seu nuacutemero no quinquecircnio antecedente Os resultados tecircm-se mostrado prima facie positivos com aparente aumento do nuacutemero de deslindes extrajudiciais e maior quantitativode antecipaccedilotildees de tutela obtidas nas accedilotildees propostas embora ainda sem dados coligidos esistematizados a respeito

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181R Defensoria Puacutebl Uniatildeo Brasiacutelia DF n 8 p 1-356 jandez 2015

positivo por oacutebvio todas as vantagens da resoluccedilatildeo administrativa

Outro recurso a ser considerado como dito como opccedilatildeo agraves muacuteltiplas accedilotildees individuaissatildeo as accedilotildees de natureza coletiva visando agrave efetiva disponibilizaccedilatildeo de procedimentos

oferecidos formalmente mas cuja demora na prestaccedilatildeo torna na praacutetica insustentaacutevela espera ais accedilotildees sob o ponto de vista pragmaacutetico todavia nem sempre tecircm comoobter resultados concretos imediatos mas frutos de uma atuaccedilatildeo combativa criacuteticae politicamente atuante satildeo relevante termocircmetro acerca do modo como estatildeo sendogeridos os recursos em sauacutede advertindo para a necessidade de se dar concretude ao direitoconstitucionalmente reconhecido incentivando da maneira mais pertinente o sistemade checks and balances reservando-se as accedilotildees individuais para situaccedilotildees especiacuteficas denecessidade incontornaacutevel e sem perspectiva de resoluccedilatildeo natildeo litigiosa

Por fim sempre cabiacutevel lembrar que o momento da urgecircncia do plantatildeo do riscoiminente de vida eacute sempre o pior momento para avaliar o que fazer culminando-seem accedilotildees accedilodadas por vezes mal instruiacutedas natildeo raro em duplicidade nas instacircnciasestadual e federal com riscos para o paciente ou de desperdiacutecio de recursos puacuteblicos ouainda de descreacutedito para a instituiccedilatildeo Importante assim discutirem-se as abordagenspossiacuteveis criando-se orientaccedilotildees de conduta que de antematildeo auxiliem na organizaccedilatildeo dopensamento e na escolha das vias cabiacuteveis para ajudar o requerente ndash vulnerado quer pelahipossuficiecircncia econocircmica quer pela enfermidade ou na maioria das vezes por ambas

ndash da forma mais promissora e adequada possiacutevel

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Natildeo haacute por oacutebvio respostas faacuteceis na mateacuteria O objetivo do texto foi sobretudo chamar

atenccedilatildeo para aspectos nem sempre vistos na lida cotidiana do Defensor imbuiacutedo da visatildeodo assistido e suas anguacutestias premido pelo tempo sem que tenha por vezes sequercondiccedilatildeo de distanciar-se para um olhar mais imparcial

odavia tais distanciamento e compreensatildeo mostram-se necessaacuterios agrave instituiccedilatildeo afim de redirecionar a busca a mecanismos alternativos para o impasse da sauacutede comodireito simultaneamente individual e social sujeito agraves premecircncias pessoais mas tambeacutem

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182 DEFENSORIA PUacuteBLICA DA UNIAtildeO Escola Superior

agraves limitaccedilotildees de uma prestaccedilatildeo coletiva a exemplo da proacutepria escassez real (e aiacute misterdistinguir o mero argumento da escassez e da reserva do possiacutevel em contraposiccedilatildeo agravecomprovada inviabilidade de produccedilatildeo ou fornecimento a exemplo do nuacutemero de vagasimediatas em UI de um hospital puacuteblico ou a disponibilidade de oacutergatildeos compatiacuteveis para

transplante) e da inevitabilidade da alocaccedilatildeo de recursos o que natildeo eacute dado a ningueacutemresponsavelmente negar

Apenas a tiacutetulo de pensamento inicial sugerir-se-ia o desenvolvimento de incremento nastentativas de resoluccedilatildeo extrajudicial a exemplo de maior contato com a Administraccedilatildeo ndash aquem tambeacutem interessa a reduccedilatildeo das lides diminuindo gastos a varejo ndash e com oacutergatildeosde prestaccedilatildeo de sauacutede puacuteblica e de orientaccedilatildeo profissional meacutedica com vistas a analisar aeficaacutecia indicaccedilatildeo e seguranccedila de determinados recursos terapecircuticos subsidiando melhoros pedidos e melhorando os iacutendices de deferimento na espeacutecie que lamentavelmente

comeccedilam a declinar talvez movidos pelo perigo da dessensibilizaccedilatildeo do Judiciaacuterio ante aprofusatildeo de pedidos no setor reservando-se a atuaccedilatildeo judicial para situaccedilotildees de insucessoadministrativo reconhecido considerada a premecircncia e a comprovada necessidade ouatuaccedilotildees de iacutendole coletiva de pressatildeo poliacutetica para assegurar a melhor prestaccedilatildeo dodireito constitucional

Satildeo apenas reflexotildees incipientes mas ficam a semente da ideia o desafio que a questatildeorepresenta e o chamado ao compromisso coletivo de desenvolvecirc-las em prol do cidadatildeo

da efetividade constitucional e da atuaccedilatildeo mais consciente precisa e exitosa possiacutevel porparte da Defensoria Puacuteblica na defesa ao direito fundamental agrave sauacutede

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VIEIRA Fabiacuteola Sulpino Accedilotildees judiciais e direito agrave sauacutede reflexatildeo sobre a observacircnciaaos princiacutepios do SUS Rev Sauacutede Puacuteblica v 42 n 2 p 365-369 abr 2008

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jaacute denota um pioneiro espiacuterito de valorizaccedilatildeo da pessoa e de visualizaccedilatildeo do Estado comoinstrumento para o seu desenvolvimento ao menos no plano normativo

Como importante precedente para o nascimento do SUS aponta-se a VIII Conferecircncia

Nacional de Sauacutede realizada em 1986 que contou com ampla participaccedilatildeo da sociedadecivil passando-se a reconhecer como direito da populaccedilatildeo natildeo apenas o acesso aosdiferentes niacuteveis de assistecircncia agrave sauacutede mas tambeacutem a participaccedilatildeo na formulaccedilatildeo deprioridades na aacuterea9 o que interfere nos criteacuterio de alocaccedilatildeo de recursos

Assim foi que o artigo 6ordm da Constituiccedilatildeo ao enunciar os direitos sociais expressamentepreviu a sauacutede como um dos primeiros deles ao lado da educaccedilatildeo do trabalho damoradia (acrescida esta pela Emenda Constitucional nordm 26 em 2000) do lazer daseguranccedila da previdecircncia social da proteccedilatildeo agrave maternidade e agrave infacircncia e da assistecircncia

aos desamparados Em fevereiro de 2010 a Emenda Constitucional nordm 64 reconheceutambeacutem nesse rol a alimentaccedilatildeo

O direito agrave sauacutede eacute objeto ainda dos artigos 196 e seguintes da Constituiccedilatildeo vigente emque se enunciam as diretrizes para as poliacuteticas puacuteblicas na aacuterea O artigo 196 eacute enfaacuteticoem reafirmar o caraacuteter universal desse direito a ser assegurado natildeo apenas como promessaem perspectiva mas mediante accedilotildees praacuteticas de concretizaccedilatildeo a saber ldquo A sauacutede eacute direitode todos e dever do Estado garantido mediante poliacuteticas sociais e econocircmicas que visem agrave

reduccedilatildeo do risco de doenccedila e de outros agravos e ao acesso universal e igualitaacuterio agraves accedilotildeese serviccedilos para sua promoccedilatildeo proteccedilatildeo e recuperaccedilatildeordquo

Nos artigos seguintes notadamente do 197 ao 200 prevecirc-se a possibilidade de prestaccedilatildeoda sauacutede diretamente pelo Poder Puacuteblico ndash a quem cabe ainda sua regulamentaccedilatildeofiscalizaccedilatildeo e controle ndash ou atraveacutes de terceiros por pessoa fiacutesica ou juriacutedica de direitoprivado Franqueia-se a atuaccedilatildeo em sauacutede agrave iniciativa privada inclusive de formacomplementar junto ao Sistema Uacutenico de Sauacutede restringindo-se poreacutem a participaccedilatildeo

9 MELLO Dirceu Raposo de et al Anaacutelise Bioeacutetica do Papel do Estado na Garantia ao Acesso aMedicamentos In GARRAFA Volnei MELLO Dirceu Raposo de PORO Dora Bioeacutetica e Vigilacircncia Sanitaacuteria Brasiacutelia ANVISA 2007 p 17-18 e LORENZO Claacuteudio Vulnerabilidadeem Sauacutede Puacuteblica implicaccedilotildees para as poliacuteticas puacuteblicas Revista Brasileira de Bioetica BrasiacuteliaSociedade Brasileira de Bioeacutetica v 2 n 3 p 299-312 2006

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168 DEFENSORIA PUacuteBLICA DA UNIAtildeO Escola Superior

de empresas de capital estrangeiro na forma da lei (art 199)10

Em relaccedilatildeo ao Serviccedilo Uacutenico de Sauacutede (SUS) os artigos 198 e 200 o orientamapresentando como diretrizes ldquoI - descentralizaccedilatildeo com direccedilatildeo uacutenica em cada esfera de

governo II - atendimento integral com prioridade para as atividades preventivas semprejuiacutezo dos serviccedilos assistenciais III - participaccedilatildeo da comunidaderdquo Esclarece-se aindao financiamento por recursos da seguridade social e de outras fontes determinando aaplicaccedilatildeo de recursos miacutenimos em cada esfera estatal nos termos da Emenda Constitucionalnordm 29 de 2000

Aleacutem das diretrizes constitucionais a atuaccedilatildeo do SUS eacute orientada tambeacutem pela LeiOrgacircnica da Sauacutede (Lei ndeg 808090) de que se deduz como um ponto principal logoem seu artigo 2ordm a reafirmaccedilatildeo da sauacutede como direito humano fundamental ldquodevendo

o Estado prover as condiccedilotildees indispensaacuteveis para seu pleno exerciacuteciordquo Ainda nesseartigo esclarece-se que o dever do Estado quanto agrave garantia da sauacutede consiste aleacutem daformulaccedilatildeo e execuccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas preventivas no estabelecimento de condiccedilotildeesde acesso ldquouniversal e igualitaacuterio agraves accedilotildees e aos serviccedilos para a sua promoccedilatildeo proteccedilatildeo erecuperaccedilatildeordquo

O artigo 6ordm da referida legislaccedilatildeo regulamentadora inclui expressamente no campode atuaccedilatildeo do SUS a assistecircncia terapecircutica integral inclusive farmacecircutica Essa

disposiccedilatildeo tem sido causa de pedir de muitas das accedilotildees individuais que pretendem ofornecimento de medicaccedilotildees nem sempre disponibilizadas protocolarmente pelo SistemaUacutenico mas que se mostram indicadas para a situaccedilatildeo concreta do paciente A questatildeoeacute discutir quatildeo amplo eacute esse dever de provimento farmacoteraacutepico considerando

10 Eacute de se observar que conquanto a menccedilatildeo agrave remoccedilatildeo de oacutergatildeos e tecidos para transplantesencontre-se situada no artigo 199 referente agrave iniciativa privada esse tipo de procedimento eacuteexecutado pelo Sistema Uacutenico de Sauacutede no paiacutes justamente para permitir uma maior equidade emsua gestatildeo A competecircncia do referido Sistema abrange ainda de forma natildeo taxativa (art 200) ldquoI -

controlar e fiscalizar procedimentos produtos e substacircncias de interesse para a sauacutede e participar daproduccedilatildeo de medicamentos equipamentos imunobioloacutegicos hemoderivados e outros insumos II- executar as accedilotildees de vigilacircncia sanitaacuteria e epidemioloacutegica bem como as de sauacutede do trabalhadorIII - ordenar a formaccedilatildeo de recursos humanos na aacuterea de sauacutede IV - participar da formulaccedilatildeo dapoliacutetica e da execuccedilatildeo das accedilotildees de saneamento baacutesico V - incrementar em sua aacuterea de atuaccedilatildeo odesenvolvimento cientiacutefico e tecnoloacutegico VI - fiscalizar e inspecionar alimentos compreendidoo controle de seu teor nutricional bem como bebidas e aacuteguas para consumo humano VII -participar do controle e fiscalizaccedilatildeo da produccedilatildeo transporte guarda e utilizaccedilatildeo de substacircncias eprodutos psicoativos toacutexicos e radioativos VIII - colaborar na proteccedilatildeo do meio ambiente nelecompreendido o do trabalhordquo

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inclusive que as indicaccedilotildees satildeo feitas muitas vezes em usos natildeo oficializados (off label)experimentais ou extraordinaacuterios havendo de se discutir os criteacuterios que deveratildeo norteara atuaccedilatildeo estatal perante casos que tais

Os princiacutepios balizadores do Sistema Uacutenico de Sauacutede estatildeo afirmados no artigo 7ordm da Leindeg 808090 em que se sublinham

I - universalidade de acesso aos serviccedilos de sauacutede em todos os niacuteveisde assistecircnciaII - integralidade de assistecircncia entendida como conjunto articuladoe contiacutenuo das accedilotildees e serviccedilos preventivos e curativos individuais ecoletivos exigidos para cada caso em todos os niacuteveis de complexidadedo sistemaIII - preservaccedilatildeo da autonomia das pessoas na defesa de sua integridadefiacutesica e moralIV - igualdade da assistecircncia agrave sauacutede sem preconceitos ou privileacutegiosde qualquer espeacutecieV - direito agrave informaccedilatildeo agraves pessoas assistidas sobre sua sauacutedeVI - divulgaccedilatildeo de informaccedilotildees quanto ao potencial dos serviccedilos desauacutede e a sua utilizaccedilatildeo pelo usuaacuterioVII - utilizaccedilatildeo da epidemiologia para o estabelecimento de prioridadesa alocaccedilatildeo de recursos e a orientaccedilatildeo programaacuteticaVIII - participaccedilatildeo da comunidade []

Entre esses princiacutepios verificam-se de logo aparentes contradiccedilotildees tendentes a se tornarem

relevantes paradoxos praacuteticos Ao se mencionar por exemplo a autonomia ndash importanteaspecto da relaccedilatildeo profissional-paciente salvaguardado entre outros no artigo 15 doCoacutedigo Civil de 200211 ndash haacute que se identificar a existecircncia de limites no acircmbito dessaautonomia ais limites natildeo decorrem apenas dos cerceamentos morais e legais amplos(vedaccedilatildeo agrave eutanaacutesia ao aborto salvo exceccedilotildees legais ou ao auxiacutelio ao suiciacutedio verbi gratia ) mas satildeo tambeacutem advindos das proacuteprias normas especiacuteficas regentes do SistemaUacutenico de Sauacutede passando a balizar natildeo somente a autonomia do paciente como tambeacutemem certa medida a proacutepria autonomia profissional12 buscando-se priorizar em suasprescriccedilotildees e entre opccedilotildees tecnicamente equivalentes aquelas jaacute incorporadas pelo SUS

De outro lado tampouco pode a referida autonomia meacutedica ser mortalmente ferida sehaacute fundamentos relevantes para acreditar que a prescriccedilatildeo de determinada medicaccedilatildeo seja

11 ldquo Art 15 Ningueacutem pode ser constrangido a submeter-se com risco de vida atratamento meacutedico ou a intervenccedilatildeo ciruacutergica rdquo12 O item II do Capiacutetulo II do Coacutedigo de Eacutetica Meacutedica atual aponta como direito do meacutedicoldquoIndicar o procedimento adequado ao paciente observadas as praacuteticas cientificamente reconhecidase respeitada a legislaccedilatildeo vigenterdquo

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substancialmente favoraacutevel ao paciente

Assim como ponto de equiliacutebrio o profissional deveraacute dar preferecircncia agraves medicaccedilotildeese tratamentos constantes no rol do Sistema Uacutenico de Sauacutede desde que em condiccedilotildees

de equivalecircncia de modo que dessa escolha natildeo advenham reconhecidos prejuiacutezos aopaciente Nesse sentido um trabalho de conscientizaccedilatildeo dos profissionais meacutedicosmediante atuaccedilatildeo conjunta junto a essa esfera pode ser de grande valia para reduzir accedilotildees judiciais em vista de prescriccedilotildees mal justificadas

Mesmo em relaccedilatildeo a atendimentos particulares haacute que se evitar a prescriccedilatildeo desarrazoadade medicaccedilotildees de eficaacutecia natildeo comprovada que em uacuteltima anaacutelise viratildeo a ser reclamadasdo Sistema Uacutenico de Sauacutede (inclusive em vista do fator empobrecedor da doenccedila e dauniversalidade prevista) convertendo o paciente em verdadeiro sujeito (ou objeto) de

pesquisa natildeo organizada e gerando gastos e expectativas vatildeos

Outro aparente paradoxo se poderia assinalar em relaccedilatildeo aos princiacutepios arrolados nositens II e VII De um lado assegura-se a integralidade da assistecircncia De outro contudoadota-se o uso da epidemiologia para o estabelecimento de prioridades e a alocaccedilatildeo derecursos Como proceder entatildeo se for necessaacuteria assistecircncia profissional para doenccedilaepidemiologicamente rara e de tratamento particularmente caro Eacute o que se tem notadoem muitos dos casos que chegam ao Judiciaacuterio nos quais se passa a discutir ainda que natildeo

expressamente a visatildeo utilitarista e o impasse entre a prevalecircncia do interesse individualou coletivo na alocaccedilatildeo de recursos em questatildeo13

Seguem-se nos artigos 8ordm a 19 a organizaccedilatildeo descentralizada (que compotildee o nono princiacutepiogestor do Sistema juntamente com a direccedilatildeo uacutenica em cada instacircncia) e sua divisatildeo entreas trecircs esferas ndash nacional estadual e municipal Cuida-se aqui de circunstacircncia tambeacutemcomumente suscitada pelos entes estatais reacuteus arguindo natildeo serem partes legiacutetimas nahipoacutetese haja vista a separaccedilatildeo de atribuiccedilotildees desenhada na legislaccedilatildeo especiacutefica Veja-se contudo que a separaccedilatildeo de tarefas entre as esferas estatais natildeo retira delas o dever

global do Estado de provimento da sauacutede cuja responsabilidade eacute em uacuteltima instacircncia

13 Nesse sentido em prol da necessidade de anaacutelise muldimensional inclusive para otimizar aassistecircncia coletiva inviabilizando a anaacutelise individualista da questatildeo cf FERRAZ OctaacutevioLuiz Motta VIEIRA Fabiacuteola Sulpino Direito agrave sauacutede recursos escassos e equumlidade os riscosda interpretaccedilatildeo judicial dominante Disponiacutevel em httpwwwstfjusbrarquivocmsprocessoAudienciaPublicaSaudeanexoDireito_a_Saude_Recursos_escassos_e_equidadepdf Acesso em 25abr2015

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solidaacuteria14 Constata-se assim tiacutepico exemplo do chamado federalismo cooperativo oude colaboraccedilatildeo15 mais caracteriacutestico dos Estados de Bem-Estar Social e em que haacute umadivisatildeo de tarefas menos riacutegida e mais intercambiante conforme as necessidades praacuteticasque se apresentem ainda que persista o princiacutepio da subsidiariedade segundo o qual a

instacircncia superior deve agir quando natildeo resolviacutevel o problema nas instacircncias menores

Nesse mister o artigo 7ordm prevecirc ainda como princiacutepios simultacircneos do Sistema adescentralizaccedilatildeo poliacutetico-administrativa com direccedilatildeo uacutenica em cada esfera de governo(inciso IX) enfatizando a descentralizaccedilatildeo dos serviccedilos para os municiacutepios a regionalizaccedilatildeoe a hierarquizaccedilatildeo da rede de serviccedilos de sauacutede bem assim a organizaccedilatildeo dos serviccedilospuacuteblicos de modo a evitar duplicidade de meios para fins idecircnticos (inciso XIII) ndash o queeacute realmente um risco na incumbecircncia solidaacuteria Considerando-se todavia a falha noprovimento por todas as esferas a motivar a provocaccedilatildeo judicial o mesmo artigo estipula

a ldquoconjugaccedilatildeo dos recursos financeiros tecnoloacutegicos materiais e humanos da Uniatildeo dosEstados do Distrito Federal e dos Municiacutepios na prestaccedilatildeo de serviccedilos de assistecircncia agravesauacutede da populaccedilatildeordquo (inciso XI) e a ldquocapacidade de resoluccedilatildeo dos serviccedilos em todos osniacuteveis de assistecircncia rdquo (inciso XII) o que reafirma a noccedilatildeo de solidariedade federativa nodever de provimento da sauacutede

Ainda no que tange agrave conflituosa relaccedilatildeo entre as previsotildees legais e suas implementaccedilotildees

14 Sobre a discussatildeo acerca da solidariedade entre os entes estatais na aacuterea a jurisprudecircncia dosribunais Superiores jaacute reconheceu amplamente sua existecircncia caracterizando a existecircncia de umfederalismo cooperativo na espeacutecie Anteriormente ao posicionamento judicial jaacute se manifestavamem favor da responsabilidade concomitante e solidaacuteria das trecircs esferas estatais autores como DALLARI Sueli Gandolfi Os Estados Brasileiros e o Direito agrave Sauacutede Satildeo Paulo Hucitec1995 p 37-42 e SCHWARZ Germano Direito agrave Sauacutede Efetivaccedilatildeo em uma PerspectivaSistecircmica Porto Alegre Livraria do Advogado 2001 p 101 203 COHN Ameacutelia et al A Sauacutedecomo Direito e como Serviccedilo Satildeo Paulo Cortez 2008 p 68 entre outros assinalando o fato deque a regionalizaccedilatildeo e a descentralizaccedilatildeo tecircm por escopo favorecer a acessibilidade e natildeo dificultaacute-la natildeo obstando portanto a solidariedade entre os entes puacuteblicos Em favor da responsabilidade

sucessiva e natildeo solidaacuteria por forccedila da descentralizaccedilatildeo do Sistema cf FIGUEIREDO MarianaFilchtiner Direito Fundamental agrave Sauacutede Paracircmetros para sua Eficaacutecia e Efetividade Porto Alegre Livraria do Advogado 2007 p 157-16115 Cf por todos AVARES Andreacute Ramos Curso de Direito Constitucional 2ed Satildeo PauloSaraiva 2003 e SRECK Lecircnio Luiz MORAIS Joseacute Luiacutes Bolzan de Ciecircncia poliacutetica eteoria geral do estado 2ed Porto Alegre Livraria do Advogado 2000 Sobre o princiacutepio dasubsidiariedade nesse caso cf tambeacutem CANOILHO J J Gomes Direito Constitucional eeoria da Constituiccedilatildeo 7ed Coimbra Almedina [2003] Ainda sobre o tema da influecircnciado federalismo na mateacuteria cf o trabalho de DALLARI Sueli Gandolfi loc cit assinalando aabordagem diferenciada em cada constituiccedilatildeo estadual acerca do conteuacutedo do direito agrave sauacutede

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praacuteticas eacute de se notar que em 1999 foi incluiacutedo capiacutetulo referente agrave atenccedilatildeo agrave sauacutedeindiacutegena e em 2002 previu-se um subsistema de atendimento e internaccedilatildeo domiciliarEsses uacuteltimos cuidados ditos home care conquanto ainda pouco utilizados vecircmadequar-se ao quanto previsto na Constituiccedilatildeo Federal em seu artigo 230 paraacutegrafo 1ordm

notadamente em relaccedilatildeo aos idosos a saber ldquosect 1ordm - Os programas de amparo aos idososseratildeo executados preferencialmente em seus laresrdquo Em 2005 acolheu-se na legislaccedilatildeo umsubsistema de acompanhamento durante o trabalho de parto parto e poacutes-parto imediatoprevendo a possibilidade de acompanhante nesses eventos a exemplo do que jaacute fizera oEstatuto da Crianccedila e do Adolescente em relaccedilatildeo agrave previsatildeo de acompanhante para omenor internado no acircmbito do SUS (artigo 12 da Lei 806990 e Resoluccedilatildeo ndeg 4195sobre os direitos da crianccedila e do adolescente hospitalizados) revelando uma tendecircncia dehumanizaccedilatildeo dos procedimentos puacuteblicos de sauacutede

Na praacutetica ainda natildeo se implementaram amplamente esses novos espectros do direito agravesauacutede mas natildeo se os diga impossiacuteveis nem desnecessaacuterios Eacute curioso notar verbi gratia que quando do surgimento do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente tampouco era praxea manutenccedilatildeo dos pais junto aos pequenos pacientes ndash algo que hoje soa imprescindiacutevelndash e a afirmaccedilatildeo legislativa desse direito foi reputada como inviaacutevel dentro da estruturahospitalar da eacutepoca Menos de uma deacutecada depois todavia embora natildeo existam aindahoje instalaccedilotildees ideais em termos de conforto jaacute natildeo se cogita mais internar crianccedilas ouadolescentes sem lhes assegurar a permanecircncia de um dos responsaacuteveis Demonstrou-se

com isso que muitas das resistecircncias agrave implementaccedilatildeo de direitos satildeo bem mais culturaispor haacutebito ou falta de vontade poliacutetica do que propriamente por reais inviabilidadesfinanceiras ou operacionais Vive-se atualmente similar situaccedilatildeo quanto agrave previsatildeo deacompanhante para o idoso ou a gestante em trabalho de parto

Em relaccedilatildeo ao planejamento e orccedilamento a propoacutesito outro argumento habitual doEstado-reacuteu diz respeito justamente agrave impossibilidade de deslocamento de verbas natildeoprevistas na organizaccedilatildeo orccedilamentaacuteria dentro do Sistema Uacutenico de Sauacutede ou de outrasaacutereas para este sob pena de responsabilizaccedilatildeo fiscal Nessa seara poreacutem o artigo 36

paraacutegrafo 2ordm da Lei ndeg 808090 eacute enfaacutetico ao estabelecer que ldquoEacute vedada a transferecircnciade recursos para o financiamento de accedilotildees natildeo previstas nos planos de sauacutede exceto emsituaccedilotildees emergenciais ou de calamidade puacuteblica na aacuterea de sauacutederdquo (grifou-se)

Para exercer suas atividades o Sistema Uacutenico de Sauacutede conta com inuacutemeras outras normasgestoras ndash natildeo apenas leis de acircmbito nacional mas tambeacutem Portarias e normas de acircmbitoestadual e local ndash que detalham essa atuaccedilatildeo Assim eacute que por exemplo a Portaria nordm

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173R Defensoria Puacutebl Uniatildeo Brasiacutelia DF n 8 p 1-356 jandez 2015

3916 de 30 de outubro de 1998 estabelece a Poliacutetica Nacional de Medicamentos a serauxiliada por normas outras como a Lei ndeg 978799 dita ldquoLei dos Geneacutericosrdquo definindoo medicamento geneacuterico como aquele similar a um produto de referecircncia ou inovadorque se pretende ser com este intercambiaacutevel geralmente produzido apoacutes a expiraccedilatildeo ou

renuacutencia da proteccedilatildeo patentaacuteria ou de outros direitos de exclusividade comprovada a suaeficaacutecia seguranccedila e qualidade

Prevecirc-se ainda que esses medicamentos devem ser preferidos no acircmbito do SUSpelo custo e acrescente-se pela impessoalidade mesma que deve caracterizar a atuaccedilatildeoadministrativa estatal desaconselhando a preferecircncia por produtos de laboratoacuterios oumarcas determinados em detrimento de produtos de denominaccedilatildeo comum brasileira ouna sua falta internacional a indicar maior neutralidade em prestaccedilatildeo equivalente

Jaacute se tem aiacute um paracircmetro a nortear as prescriccedilotildees e decisotildees na mateacuteria deve a prestaccedilatildeofarmacoloacutegica do Sistema Uacutenico de Sauacutede se pautar pelo fornecimento de medicaccedilotildees quedentre as que contecircm a substacircncia ativa necessaacuteria atendam agraves necessidades de eficaacuteciae seguranccedila poreacutem com menor custo maior impessoalidade e generalidade pois natildeoassociada a marca especiacutefica O uso racional desses recursos passa ainda pela orientaccedilatildeodos meacutedicos na criteriosa avaliaccedilatildeo das medicaccedilotildees prescritas privilegiando dentro deum paracircmetro de equivalecircncia aquelas jaacute constantes fornecimento regular pelo Sistema 16

16 Os produtos padronizados constam da Relaccedilatildeo Nacional de Medicamentos Essenciais (RENAME) Nosentido de promover a observacircncia da lista cita-se por exemplo a Portaria Estadual nordm 1475BA publicadano Diaacuterio Oficial do Estado de 300908 que ldquoConstitui Grupo de trabalho no acircmbito do SUS com oescopo de elaborar orientaccedilotildees e diretrizes aos profissionais meacutedicos no sentido de esgotarem as alternativasde faacutermacos previstas nos Protocolos Cliacutenicos e Diretrizes erapecircuticas do Ministeacuterio da Sauacutede e demais atosque lhe forem complementares antes de prescrever tratamento medicamentoso diverso aos pacientes nostermos da Notificaccedilatildeo Recomendatoacuteria 0022007 da Promotoria de Justiccedila e da Cidadania do MinisteacuterioPuacuteblico do Estado da Bahiardquo De acordo com a Organizaccedilatildeo Mundial da Sauacutede - OMS (Nairobi Quecircnia1985) ldquoHaacute uso racional quando pacientes recebem medicamentos apropriados para suas condiccedilotildees cliacutenicasem doses adequadas agraves suas necessidades individuais por um periacuteodo adequado e ao menor custo para si e

para a comunidaderdquo Segundo o Ministeacuterio da Sauacutede o uso racional de medicamentos consiste no ldquoprocessoque compreende a prescriccedilatildeo apropriada a disponibilidade oportuna e a preccedilos acessiacuteveis a dispensaccedilatildeoem condiccedilotildees adequadas e o consumo nas doses indicadas nos intervalos definidos e no periacuteodo de tempoindicado de medicamentos eficazes seguros e de qualidaderdquo (BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria dePoliacuteticas de Sauacutede Departamento de Atenccedilatildeo Baacutesica Poliacutetica nacional de medicamentos 2001Ministeacuterio daSauacutede Secretaria de Poliacuteticas de Sauacutede Departamento de Atenccedilatildeo Baacutesica ndash Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede2001 ambeacutem disponiacutevel em lthttpwwwopasorgbrmedicamentossiteUploadArqpnmpdfgtacessado em 02out08) Outros programas para estimular o uso racional de medicamentos encontram-sena paacutegina eletrocircnica do Ministeacuterio da Sauacutede (httpportalsaudegovbrportalsaudeareacfmid_area=1141acessado em 05out08)

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174 DEFENSORIA PUacuteBLICA DA UNIAtildeO Escola Superior

A alocaccedilatildeo de medicamentos no paiacutes estaacute dividida segundo o Ministeacuterio da Sauacutede em trecircscategorias baacutesicas17 medicamentos baacutesicos ou essenciais ldquopertencentes a um elenco miacutenimoobrigatoacuterio a ser dispensado na atenccedilatildeo baacutesicardquo ou na dicccedilatildeo legal aqueles consideradosldquobaacutesicos e indispensaacuteveis para atender a maioria dos problemas de sauacutede da populaccedilatildeordquo

previstos na Portaria do Ministeacuterio da Sauacutede nordm 32372007 medicamentos estrateacutegicosutilizados em programas especiacuteficos do Ministeacuterio da Sauacutede como aqueles de combateagrave AIDS tuberculose hanseniacutease diabetes doenccedila de Chagas malaacuteria coagulopatias eoutras conforme Portaria do Ministeacuterio da Sauacutede nordm 2042007 e medicamentos dedispensaccedilatildeo especial ou excepcional eacute dizer aqueles geralmente de alto custo destinadosa patologias especiacuteficas e complexas que atingem um nuacutemero limitado de pacientes parauso prolongado Esses procedimentos e recursos terapecircuticos encontravam-se arroladosna Portaria do Ministeacuterio da Sauacutede nordm 25772006 Eacute de se observar que sendo essauacuteltima uma das categorias mais solicitadas judicialmente e mais associadas com a evoluccedilatildeo

biotecnoloacutegica chama a atenccedilatildeo o fato de ter sido por muito tempo justamente aPortaria mais antiga deixando margem agrave criacutetica de provaacutevel desatualizaccedilatildeo em relaccedilatildeo aosavanccedilos atuais tendo sido atualizada pela Portaria GMMS 18692008 e revogada pelaPortaria GMMS 1062009 tambeacutem jaacute revogada A mateacuteria tambeacutem sofreu alteraccedilotildeespelas Portarias 2981 de 26 de novembro de 2009 Portaria 343GMMS de 22 defevereiro de 2010 Portaria 3439MS de 11 de novembro de 2010 e atualmente pelosPCD (PROOCOLOS CLIacuteNICOS E DIRERIZES ERAPEcircUICAS) a indicarparacircmetros de abordagem e tratamento para cada patologia

Analisando-se os montantes empregados em cada uma das categorias verifica-se que os

17 MELLO Dirceu Raposo et al op cit p 27-28 SALAZAR Andrea Lazzarini GROU Karina Bozola ADefesa da Sauacutede em Juiacutezo eoria e Praacutetica Satildeo Paulo Verbatim 2009 p 112-113

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175R Defensoria Puacutebl Uniatildeo Brasiacutelia DF n 8 p 1-356 jandez 2015

gastos com medicamentos especiais superam em muito aqueles com medicaccedilotildees baacutesicas18 Dentre os medicamentos estrateacutegicos ndash responsaacuteveis pelo maior volume de custos commedicaccedilotildees entre os trecircs grupos na segunda metade da deacutecada passada ndash aqueles dirigidosao programa de HIVAIDS sofreram acreacutescimo substancial em 2006 ante as novas drogas

incorporadas ao cataacutelogo farmacoloacutegico de tratamento da doenccedila passando a representarsozinhos quase uma vez e meia o gasto com todas as demais drogas estrateacutegicas

Mais uma vez fica evidente que prevenir aleacutem de melhor sai bem mais barato que

18 Segundo quadro comparativo elaborado em MELLO Dirceu Raposo et al op cit p 28-29 a partirde dados do Ministeacuterio da Sauacutede os gastos com medicamentos baacutesicos em 2006 foram da ordem de 290milhotildees de reais representando 67 dos gastos com medicaccedilatildeo ao passo que o montante despendido commedicamentos de dispensaccedilatildeo especial alcanccedilaram a cifra de um bilhatildeo 355 milhotildees de reais equivalendoa 32 do orccedilamento para a aacuterea Dentre os medicamentos estrateacutegicos aqueles destinados ao programade DSAIDS custaram aos cofres puacuteblicos naquele ano 960 milhotildees de reais enquanto no ano anteriorrepresentaram despesa de 550 milhotildees de reais Cumpre assinalar que o programa de fornecimento gratuitode medicaccedilotildees antirretrovirais aos portadores de HIV no paiacutes eacute elogiado em todo o mundo pela iniciativapioneira na aacuterea apontada como exemplo na universalizaccedilatildeo do tratamento e inclusatildeo a esses pacientes A Leique cuida da mateacuteria ndash Lei ndeg 931396 ndash foi acompanhada por uma seacuterie de decisotildees judiciais proacute direitoagrave sauacutede determinando o efetivo provimento das medicaccedilotildees e sua atualizaccedilatildeo conforme o estado cientiacuteficomundial nos termos da redaccedilatildeo legal Nesse sentido se assinala entre outros o seguinte acoacuterdatildeo provenientedo Supremo ribunal Federal defendendo a aplicabilidade imediata das normas relativas ao direito agravesauacutede PACIENE COM HIVAIDS ndash PESSOA DESIUIacuteDA DE RECURSOS FINANCEIROS ndashDIREIO Agrave VIDA E Agrave SAUacuteDE ndashFORNECIMENO GRAUIO DE MEDICAMENOS ndash DEVERCONSIUCIONAL DO PODER PUacuteBLICO (CF ARS 5ordm CAPU E 196) O DIREIO Agrave SAUacuteDEREPRESENA CONSEQUumlEcircNCIA CONSIUCIONAL INDISSOCIAacuteVEL DO DIREIO Agrave VIDA

O direito puacuteblico subjetivo agrave sauacutede representa prerrogativa juriacutedica indisponiacutevel assegurada agrave generalidadedas pessoas pela proacutepria Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica (art 196) raduz bem juriacutedico constitucionalmentetutelado por cuja integridade deve velar de maneira responsaacutevel o Poder Puacuteblico a quem incumbe formularndash e implementar ndash poliacuteticas sociais e econocircmicas idocircneas que visem a garantir aos cidadatildeos inclusive agravequelesportadores do viacuterus HIV o acesso universal e igualitaacuterio agrave assistecircncia farmacecircutica e meacutedico-hospitalar Odireito agrave sauacutede ndash aleacutem de qualificar-se como direito fundamental que assiste a todas as pessoas ndash representaconsequumlecircncia constitucional indissociaacutevel do direito agrave vida O Poder Puacuteblico qualquer que seja a esfera institucionalde sua atuaccedilatildeo no plano da organizaccedilatildeo federativa brasileira natildeo pode mostrar-se indiferente ao problema da sauacutededa populaccedilatildeo sob pena de entender ainda que por censuraacutevel omissatildeo em grave comportamento inconstitucional(AGRRE nordm 271286-RS Rel Min Celso de Mello SF DJ 241100 p 101)

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176 DEFENSORIA PUacuteBLICA DA UNIAtildeO Escola Superior

remediar 19

Fato eacute queNenhum paiacutes ateacute o momento conseguiu estabelecer um limite oacutetimode gasto financeiro para melhorar a sauacutede de seus cidadatildeos os EUA

gastam 146 do PIB com sauacutede sendo o Estado responsaacutevel por449 desse total e 5 dos gastos puacuteblicos com sauacutede dizem respeitoaos medicamentos Ainda sobre os EUA dados de domiacutenio puacuteblicoinformam que cerca de 50 milhotildees de cidadatildeos natildeo tecircm acesso aosserviccedilos de sauacutede No Brasil os gastos com sauacutede correspondem agrave cifrade 79 do PIB sendo que o setor puacuteblico eacute responsaacutevel por 459desses gastos e os medicamentos representam 74 desses gastospuacuteblicos20

Sem duacutevida a garantia adequada do direito agrave sauacutede natildeo constitui um problema apenaspara os paiacuteses em desenvolvimento embora nesses falte o acesso ao que haacute de mais baacutesicopossiacutevel para a manutenccedilatildeo e a recuperaccedilatildeo da sauacutede ambeacutem os paiacuteses desenvolvidos

19 Aleacutem das despesas jaacute esperadas com tais medicamentos avultam ainda os gastos decorrentes de processos judiciais A esse respeito notiacutecia veiculada em setembro de 2008 na imprensa deu conta de que ldquoEntre2005 e 2008 o governo federal aumentou em 1820 (quase 20 vezes) as despesas decorrentes de ordens

judiciais que obrigam a Uniatildeo a pagar por medicamentos especiais Apenas na primeira metade deste anoforam gastos pelo governo federal por ordem da Justiccedila R$ 48 milhotildees nesses tratamentos Em 2005 oinvestimento foi de R$ 25 milhotildeesrdquo ambeacutem foi informado que ldquoa cada mecircs Satildeo Paulo gasta R$ 400milhotildees com remeacutedios obtidos pelos doentes mediante ordem judicial e que natildeo satildeo fornecidos pelo SUS Asituaccedilatildeo natildeo eacute muito diferente no Rio Grande do Sul Foram R$ 31 milhotildees com accedilotildees judiciais envolvendomedicamentos em 2006 e R$ 50 milhotildees em 2007 e a previsatildeo eacute de que sejam gastos R$ 150 milhotildees nesteano ndash o equivalente a um terccedilo do total de recursos de custeio dos programas da Secretaria Estadual deSauacutederdquo Dentro desses valores apurou-se ainda a ocorrecircncia de fraudes envolvendo meacutedicos e advogadosque mediante pedidos judiciais providos teriam resultado em prejuiacutezo de R$ 63 milhotildees aos cofrespuacuteblicos (REZZI Humberto Sauacutede Aumento no gasto do governo em remeacutedios especiais eacute investigadoPromotores e policiais suspeitam que quadrilhas falsificariam atestados para obrigar a Uniatildeo a fornecermedicamentos de alto custo a pacientes por via judicial Jornal Zero Hora Porto Alegre ediccedilatildeo ndeg 15734

Disponiacutevel em lthttpzerohoraclicrbscombrzerohorajspdefault2jspuf=1amplocal=1ampsource=a2195502xmlamptemplate=3898dwtampedition=10739ampsection=1003gt acessado em 12out08) Deduz-se daiacute queconquanto via relevantiacutessima para o controle do atendimento do direito fundamental agrave sauacutede a prestaccedilatildeo

jurisdicional haacute de ser particularmente cautelosa na anaacutelise de tais pleitos sobretudo quando em sede deprovimentos liminares por natildeo se poder desconsiderar o grave impacto que essas decisotildees tecircm tomado noorccedilamento sanitaacuterio Eacute imprescindiacutevel entatildeo sempre que possiacutevel e especialmente quando o fornecimentoeacute feito a entidades privadas sobre as quais incide menor controle na utilizaccedilatildeo desses recursos a realizaccedilatildeode periacutecia meacutedica judicial a constatar a efetiva necessidade e infungibilidade do recurso demandado naquelecaso concreto20 MELLO Dirceu Raposo et al op cit p 23

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177R Defensoria Puacutebl Uniatildeo Brasiacutelia DF n 8 p 1-356 jandez 2015

tecircm problemas para assegurar os cuidados de sauacutede esperados pela populaccedilatildeo situaccedilatildeoque se agrava progressivamente com o envelhecimento da populaccedilatildeo (com suas conhecidasconsequecircncias para o equiliacutebrio previdenciaacuterio) e com o desenvolvimento crescente dosrecursos farmacecircuticos e biotecnoloacutegicos criando patamares cada vez mais elevados de

atenccedilatildeo agrave sauacutede21

Elevou-se a qualidade e a quantidade de vida o que eacute um aspectoinegavelmente positivo mas que gera outrossim consequecircncias de difiacutecil equiliacutebrioeconocircmico

4 DEMANDAS JUDICIAIS EM SAUacuteDE COMO AVANCcedilAR EM DIRECcedilAtildeO

AO QUE PARECE NAtildeO ER SAIacuteDA

Questionado sobre formas de viabilizaccedilatildeo de um sistema puacuteblico de sauacutede dentro dessecontexto ponderou primeiramente Diego Gracia 22 que quem tem receituaacuterio fazalocaccedilatildeo Com efeito Ao fazer uma mera prescriccedilatildeo individual o meacutedico estaacute a indicarali os paracircmetros para o exerciacutecio do direito agrave sauacutede pelo paciente Eacute para alcanccedilar orecurso prescrito que o cidadatildeo vai agrave Justiccedila pleitear ao Estado ou ao plano de sauacutede queo forneccedila Eacute na prescriccedilatildeo que se baseia o Juiz quando antecipa uma tutela mesmo antes

de ouvir a parte adversa na convicccedilatildeo de que haacute urgecircncia no acesso agravequele recurso

Mister assim para racionalizar o uso de medicamentos e recursos no SUS orientar eracionalizar tambeacutem as prescriccedilotildees meacutedicas de modo que sem sacrificar a sauacutede dopaciente tampouco se sacrifique indevidamente o Sistema organizado para protegecirc-lae garanti-la Nesse ponto erige-se a validade de se pensar um trabalho conjunto comorganizaccedilotildees profissionais como uma outra vertente para a maior efetivaccedilatildeo na prestaccedilatildeo

21

Nesse sentido cf a obra AARON Henry J SCHWARZ William B Te Painful Prescriptionhellipreferente sobretudo aos Estados Unidos e agrave Inglaterra mas que tambeacutem menciona a situaccedilatildeo de outros paiacutesesdesenvolvidos como a Franccedila e o Canadaacute ambeacutem trata do assunto entre outros PENCHASZADEHVictor Bioeacutetica y medicina social Una confluencia necesaria Revista Brasileira de Bioeacutetica BrasiacuteliaSociedade Brasileira de Bioeacutetica v 3 n 2 p 129-149 2007 p 137 Destaque-se outrossim a recentepolecircmica envolvendo o governo americano do Presidente Barack Obama ante a perspectiva de maiordemocratizaccedilatildeo do acesso agrave sauacutede em confronto com o arcabouccedilo tendencialmente liberal da poliacutetica daqueleEstado no setor ateacute entatildeo22 GRACIA Diego Bioeacutetica Cliacutenica e Contexto Social In VII CONGRESSO BRASILEIRO DEBIOEacuteICA Satildeo Paulo 2007 Conferecircncia

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178 DEFENSORIA PUacuteBLICA DA UNIAtildeO Escola Superior

e cobranccedila do direito agrave sauacutede

A especial atenccedilatildeo aos preceitos da Medicina Baseada em Evidecircncias devidamentefundamentada em relatoacuterios e prescriccedilotildees acurados com a cuidadosa anaacutelise e

demonstraccedilatildeo de eficaacutecia seguranccedila e eficiecircncia23

quer no geral quer no caso concretotambeacutem satildeo de grande valia para a atuaccedilatildeo coerente e racional na aacuterea inclusive a fim deevitar que o assistido seja engolfado por esperanccedilas vatildes de resultados temeraacuterios tentativasheroicas sem perspectivas reais e pesquisas multinacionais em larga escala que exacerbamsua vulnerabilidade e fragilizam a credibilidade dos pedidos judiciais no setor Nessecontexto mister evitar tambeacutem pedidos irrazoaacuteveis natildeo factiacuteveis na praacutetica ou opccedilotildees

23 Embora costumeiramente usadas de forma equivalente as expressotildees eficaacutecia eficiecircncia e efetividade tecircmsignificados teacutecnicos especiacuteficos na seara da MBE Nesse sentido a seguranccedila mencionada implica a anaacutelisede que os danos colaterais possiacutevel sejam inferiores aos benefiacutecios oferecidos com seu uso para o fim a quese propotildee A eficaacutecia consiste na evidecircncia de ter o recurso prescrito comprovado efeito beneacutefico para aquelecaso (ldquofazem o que se propotildeem a fazerrdquo ndash na expressatildeo de VIEIRA Fabiacuteola Sulpino op cit p365-369)evitando-se os chamados ldquoprodutos de complacecircnciardquo ndash sem eficaacutecia comprovada mas prescritos por insistecircnciado paciente ou por pressatildeo do marketing industrial por exemplo ndash bem como os atos aparentemente cliacutenicosmas que se mostram em verdade experimentais visto que natildeo validados de nenhuma forma cientificamente

aceita a qual permita asseveraacute-los como realmente producentes e seguros A efetividade propriamente dita corresponde agrave eficaacutecia e agrave eficiecircncia em condiccedilotildees reais de sorte a evitar desperdiacutecios Eacute dizer que os produtoseleitos ldquofazem o que se propotildeem a fazer quando utilizados pelas pessoas em condiccedilotildees reais e natildeo em gruposhomogecircneos que constituem os grupos de pessoas dos ensaios cliacutenicosrdquo (idem ibidem) Por fim a eficiecircnciaou custo-efetividade envolve a avaliaccedilatildeo da relaccedilatildeo custobenefiacutecio de modo a se constatar a substancialvantagem de dado recurso em relaccedilatildeo a outro observadas a eficaacutecia e a efetividade propriamente ditaSignifica dizer que o produto em questatildeo ldquoentre as alternativas disponiacuteveis faz o que se propotildee a fazer paraas pessoas em condiccedilotildees reais ao menor custordquo (idem ibidem) Embora conceitos mais utilizados no acircmbitoeconocircmico e de macroalocaccedilatildeo de recursos acabam repercutindo na microalocaccedilatildeo individual ao requerermaior comprovaccedilatildeo quando de pedido que natildeo leve em consideraccedilatildeo tais subprinciacutepios Segundo a ANVISAtem-se a efetividade como ldquogarantia de medicamentos eficazes eou efetivos e seguros cuja relaccedilatildeo risco-benefiacutecio seja favoraacutevel e comprovada a partir das melhores evidecircncias cientiacuteficas disponiacuteveis na literatura

e com registro aprovado na Agecircncia Nacional de Vigilacircncia Sanitaacuteria (ANVISA)rdquo e a eficiecircncia como aldquogarantia de medicamentos que proporcionem a melhor resposta terapecircutica aos usuaacuterios com os menorescustos para o SUSrdquo (Lei 124012011 e pela Resoluccedilatildeo 01 do Ministeacuterio da Sauacutede de 17 de janeiro de2012) Eacute fato que considerando os escores da Medicina baseada em evidecircncia alega o Estado de praxe quea experiecircncia do meacutedico prescritor isoladamente e mesmo do perito judicial natildeo teriam niacutevel de sustentaccedilatildeocientiacutefica bastante para subsidiar a concessatildeo de medicaccedilatildeo natildeo padronizada pelo SUS todavia considerandoos requisitos de antecipaccedilatildeo de tutela pode conter se bem fundamentada em estudos outros de indicaccedilatildeoseguranccedila eficaacutecia efetividade e eficiecircncia elementos suficientes de verossimilhanccedila aleacutem de representara realidade daquele indiviacuteduo preocupando-se em registrar inclusive a ausecircncia de resposta ou indicaccedilatildeoquanto agraves outras opccedilotildees disponiacuteveis haja vista que como se costuma constatar a resposta individual nemsempre corresponde agravequela epidemiologicamente esperada

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179R Defensoria Puacutebl Uniatildeo Brasiacutelia DF n 8 p 1-356 jandez 2015

comerciais especiacuteficas substituiacuteveis por equivalentes terapecircuticos disponiacuteveis no SUS24

Outro aspecto a ser sopesado eacute o modo e o conteuacutedo como feitos os pedidos na medida emque a proteccedilatildeo ao direito agrave sauacutede de um deve considerar a existecircncia de outros envolvidos

na alocaccedilatildeo de recursos diante da escassez real Exemplo disso satildeo os pedidos de vagaou de prioridade em filas de transplantes que necessariamente envolvem o cotejo comoutros afetados que natildeo satildeo parte no processo Natildeo raro se tem notiacutecia de comandos deprisatildeo a gestores hospitalares que tecircm todos os seus leitos ocupados por natildeo disporem devagas Inegaacutevel a falha estatal na espeacutecie mas ela natildeo pode ser resolvida com o comandoainda que indireto de retirada de pacientes que ainda necessitem do leito e cuidados paraalocaccedilatildeo de outro dotado de comando judicial Opccedilatildeo nesse caso eacute o pedido subsidiaacuteriode alocaccedilatildeo em unidades privadas agraves expensas do Estado natildeo por mera opccedilatildeo do enfermomas se natildeo houver leitos disponiacuteveis nas unidades puacuteblicas

Do ponto de vista estatal eacute mister o ajuste constante das poliacuteticas puacuteblicas de sortea mantecirc-las condizentes com as carecircncias da comunidade e atualizadas dentro dasmargens de efetividade terapecircutica a fim de se tentar com isso minorar a necessidade deintervenccedilotildees judiciais suplementares na aacuterea aleacutem de favorecer o proacuteprio funcionamentoadequado do Sistema em conformidade com seus princiacutepios gestores e com as previsotildeese garantias constitucionais sem acarretar a falecircncia do Sistema nem converter o direitouniversal agrave sauacutede em mera retoacuterica demagoacutegica

Nesse contexto a atuaccedilatildeo e participaccedilatildeo equilibrada da Defensoria junto a oacutergatildeos puacuteblicose conselhos interdisciplinares pode ser de grande valia para uma maior eficaacutecia na soluccedilatildeo

24 Em palestra proferida do II Foacuterum Brasileiro sobre Assistecircncia Farmacecircutica e Farmacoeconomia ocorridoem setembro de 2014 em Salvador-Bahia com a presenccedila de gestores puacuteblicos membros do JudiciaacuterioMinisteacuterio Puacuteblico Defensoria Puacuteblica e Advogados Puacuteblicos a representante paulista do CONASS(Conselho Nacional dos Secretaacuterios de Sauacutede) apresentou demonstrativo de pedidos em demandas judiciaissanitaacuterias contra o Estado e o Municiacutepio de Satildeo Paulo em que incluiacutedos itens como ldquoleite de cabra frescordquondash o qual resultou descumprido por absoluta ausecircncia de resposta agrave licitaccedilatildeo simplificada para localizar

detentores de cabras na cidade de Satildeo Paulo Nessa ocasiatildeo tambeacutem mostrou a palestrante estudo feitoquanto agraves 41000 accedilotildees judiciais em sauacutede atendidas por aqueles entes naquele ano tendo-se verificado quecerca de 70 delas se pautavam em prescriccedilotildees particulares 93 envolviam medicamentos extraordinaacuteriosao SUS sendo que aproximadamente 5 envolviam produtos importados sem registro na ANVISA 50envolviam itens de produtores exclusivos e cerca de 25 marcas especiacuteficas mesmo para itens simples comofraldas descartaacuteveis A franca maioria dos pedidos natildeo tivera solicitaccedilatildeo administrativa preacutevia sabendo oEstado do pleito jaacute em sede de antecipaccedilatildeo de tutela com prazo estrito para o fornecimento ainda que comfundamentaccedilatildeo cliacutenica escassa inclusive quanto agrave premecircncia do pedido (SIQUEIRA Paula Sue Facundo deDireito Sanitaacuterio a interface entre Judiciaacuterio e Sauacutede na utilizaccedilatildeo dos PDC II FOacuteRUM BRASILEIROSOBRE ASSISEcircNCIA FARMACEcircUICA E FARMACOECONOMIA Salvador 2014 Mesa Redonda)

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180 DEFENSORIA PUacuteBLICA DA UNIAtildeO Escola Superior

administrativa das questotildees reduzindo-se o quantitativo de demandas judiciais na espeacuteciee democratizando o acesso agrave sauacutede mesmo agravequeles que natildeo chegam agrave Defensoria Nesseuacuteltimo aspecto tambeacutem a atuaccedilatildeo mediante Accedilatildeo Civil Puacuteblica visando agrave atualizaccedilatildeodas listas de fornecimento ou denunciando carecircncias e esperas irrazoaacuteveis por exemplo

parece recurso de relevante monta para uma melhor prestaccedilatildeo no setor

Possibilidade de uma maior funcionalidade administrativa tambeacutem pode ser tentadamediante atuaccedilatildeo de profissional25 direcionado agrave aacuterea das crescentes demandas em sauacutedenas unidades defensoriais de sorte a direcionar melhor a instruccedilatildeo dos pedidos jaacute seorientando o tipo de relatoacuterio e informaccedilotildees necessaacuterios aleacutem de empreender contatodireto com os oacutergatildeos puacuteblicos de regulaccedilatildeo em sauacutede estreitando relaccedilotildees com a Secretariade Sauacutede do Estado e seus oacutergatildeos a exemplo da Central de Regulaccedilatildeo de Vagas

Propotildee-se com isso ampliar o quantitativo de resoluccedilotildees administrativas mais ceacutelerese menos custosas reservando a necessidade de intervenccedilotildees juriacutedicas agraves situaccedilotildees emque havendo a previsatildeo do fornecimento natildeo se consegue obtecirc-lo por maacute prestaccedilatildeoadministrativa ndash o que demonstrado por melhor instruccedilatildeo inicial sugere levar amelhores iacutendices de sucesso jaacute em sede antecipatoacuteria ndash ou nas situaccedilotildees de recursos natildeoincluiacutedos no rol de fornecimento do SUS (em que pese o limitante dos artigos 2ordm e 19da Lei 124012011) Nesse caso uacuteltimo jaacute se busque tambeacutem instruir o pedido com osdemonstrativos da eficaacutecia seguranccedila e indicaccedilatildeo da medida reclamada bem assim de

ausecircncia de resposta agraves drogas rotineiramente disponibilizadas ou indicadas nos PCDnos termos inclusive do quanto preconizado em reiterados Enunciados e Recomendaccedilotildeesdo CNJ (4 11 14 15 16 31) e precedentes jurisprudenciais relevantes como a SA175 de relatoria do Min Gilmar Mendes sobre a mateacuteria

O que se vislumbra de negativo em tal proposta eacute que eventual reduccedilatildeo da judicializaccedilatildeofaccedila supor uma maior eficiecircncia na prestaccedilatildeo estatal em sauacutede o que nem semprecorresponde agrave verdade obtendo-se o ecircxito em casos individuais atraveacutes da persistecircnciaempedernida do oacutergatildeo defensorial ateacute que a proacutexima situaccedilatildeo se apresente Como aspecto

25 entativa semelhante tem sido implementada ao longo do uacuteltimo ano na unidade baiana daDefensoria Puacuteblica da Uniatildeo por iniciativa da chefia que tambeacutem titulariza o ofiacutecio de tutelacoletiva mediante o destacamento de Assistente Social com experiecircncia na conduccedilatildeo de demandasem sauacutede e com o intuito de melhorar a assistecircncia em tais demandas ante o crescimentoexponencial de seu nuacutemero no quinquecircnio antecedente Os resultados tecircm-se mostrado prima facie positivos com aparente aumento do nuacutemero de deslindes extrajudiciais e maior quantitativode antecipaccedilotildees de tutela obtidas nas accedilotildees propostas embora ainda sem dados coligidos esistematizados a respeito

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positivo por oacutebvio todas as vantagens da resoluccedilatildeo administrativa

Outro recurso a ser considerado como dito como opccedilatildeo agraves muacuteltiplas accedilotildees individuaissatildeo as accedilotildees de natureza coletiva visando agrave efetiva disponibilizaccedilatildeo de procedimentos

oferecidos formalmente mas cuja demora na prestaccedilatildeo torna na praacutetica insustentaacutevela espera ais accedilotildees sob o ponto de vista pragmaacutetico todavia nem sempre tecircm comoobter resultados concretos imediatos mas frutos de uma atuaccedilatildeo combativa criacuteticae politicamente atuante satildeo relevante termocircmetro acerca do modo como estatildeo sendogeridos os recursos em sauacutede advertindo para a necessidade de se dar concretude ao direitoconstitucionalmente reconhecido incentivando da maneira mais pertinente o sistemade checks and balances reservando-se as accedilotildees individuais para situaccedilotildees especiacuteficas denecessidade incontornaacutevel e sem perspectiva de resoluccedilatildeo natildeo litigiosa

Por fim sempre cabiacutevel lembrar que o momento da urgecircncia do plantatildeo do riscoiminente de vida eacute sempre o pior momento para avaliar o que fazer culminando-seem accedilotildees accedilodadas por vezes mal instruiacutedas natildeo raro em duplicidade nas instacircnciasestadual e federal com riscos para o paciente ou de desperdiacutecio de recursos puacuteblicos ouainda de descreacutedito para a instituiccedilatildeo Importante assim discutirem-se as abordagenspossiacuteveis criando-se orientaccedilotildees de conduta que de antematildeo auxiliem na organizaccedilatildeo dopensamento e na escolha das vias cabiacuteveis para ajudar o requerente ndash vulnerado quer pelahipossuficiecircncia econocircmica quer pela enfermidade ou na maioria das vezes por ambas

ndash da forma mais promissora e adequada possiacutevel

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Natildeo haacute por oacutebvio respostas faacuteceis na mateacuteria O objetivo do texto foi sobretudo chamar

atenccedilatildeo para aspectos nem sempre vistos na lida cotidiana do Defensor imbuiacutedo da visatildeodo assistido e suas anguacutestias premido pelo tempo sem que tenha por vezes sequercondiccedilatildeo de distanciar-se para um olhar mais imparcial

odavia tais distanciamento e compreensatildeo mostram-se necessaacuterios agrave instituiccedilatildeo afim de redirecionar a busca a mecanismos alternativos para o impasse da sauacutede comodireito simultaneamente individual e social sujeito agraves premecircncias pessoais mas tambeacutem

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182 DEFENSORIA PUacuteBLICA DA UNIAtildeO Escola Superior

agraves limitaccedilotildees de uma prestaccedilatildeo coletiva a exemplo da proacutepria escassez real (e aiacute misterdistinguir o mero argumento da escassez e da reserva do possiacutevel em contraposiccedilatildeo agravecomprovada inviabilidade de produccedilatildeo ou fornecimento a exemplo do nuacutemero de vagasimediatas em UI de um hospital puacuteblico ou a disponibilidade de oacutergatildeos compatiacuteveis para

transplante) e da inevitabilidade da alocaccedilatildeo de recursos o que natildeo eacute dado a ningueacutemresponsavelmente negar

Apenas a tiacutetulo de pensamento inicial sugerir-se-ia o desenvolvimento de incremento nastentativas de resoluccedilatildeo extrajudicial a exemplo de maior contato com a Administraccedilatildeo ndash aquem tambeacutem interessa a reduccedilatildeo das lides diminuindo gastos a varejo ndash e com oacutergatildeosde prestaccedilatildeo de sauacutede puacuteblica e de orientaccedilatildeo profissional meacutedica com vistas a analisar aeficaacutecia indicaccedilatildeo e seguranccedila de determinados recursos terapecircuticos subsidiando melhoros pedidos e melhorando os iacutendices de deferimento na espeacutecie que lamentavelmente

comeccedilam a declinar talvez movidos pelo perigo da dessensibilizaccedilatildeo do Judiciaacuterio ante aprofusatildeo de pedidos no setor reservando-se a atuaccedilatildeo judicial para situaccedilotildees de insucessoadministrativo reconhecido considerada a premecircncia e a comprovada necessidade ouatuaccedilotildees de iacutendole coletiva de pressatildeo poliacutetica para assegurar a melhor prestaccedilatildeo dodireito constitucional

Satildeo apenas reflexotildees incipientes mas ficam a semente da ideia o desafio que a questatildeorepresenta e o chamado ao compromisso coletivo de desenvolvecirc-las em prol do cidadatildeo

da efetividade constitucional e da atuaccedilatildeo mais consciente precisa e exitosa possiacutevel porparte da Defensoria Puacuteblica na defesa ao direito fundamental agrave sauacutede

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VIEIRA Fabiacuteola Sulpino Accedilotildees judiciais e direito agrave sauacutede reflexatildeo sobre a observacircnciaaos princiacutepios do SUS Rev Sauacutede Puacuteblica v 42 n 2 p 365-369 abr 2008

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______ O Direito agrave Sauacutede no Brasil reflexotildees bioeacuteticas agrave luz do princiacutepio da justiccedilaSatildeo Paulo Loyola 2014

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de empresas de capital estrangeiro na forma da lei (art 199)10

Em relaccedilatildeo ao Serviccedilo Uacutenico de Sauacutede (SUS) os artigos 198 e 200 o orientamapresentando como diretrizes ldquoI - descentralizaccedilatildeo com direccedilatildeo uacutenica em cada esfera de

governo II - atendimento integral com prioridade para as atividades preventivas semprejuiacutezo dos serviccedilos assistenciais III - participaccedilatildeo da comunidaderdquo Esclarece-se aindao financiamento por recursos da seguridade social e de outras fontes determinando aaplicaccedilatildeo de recursos miacutenimos em cada esfera estatal nos termos da Emenda Constitucionalnordm 29 de 2000

Aleacutem das diretrizes constitucionais a atuaccedilatildeo do SUS eacute orientada tambeacutem pela LeiOrgacircnica da Sauacutede (Lei ndeg 808090) de que se deduz como um ponto principal logoem seu artigo 2ordm a reafirmaccedilatildeo da sauacutede como direito humano fundamental ldquodevendo

o Estado prover as condiccedilotildees indispensaacuteveis para seu pleno exerciacuteciordquo Ainda nesseartigo esclarece-se que o dever do Estado quanto agrave garantia da sauacutede consiste aleacutem daformulaccedilatildeo e execuccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas preventivas no estabelecimento de condiccedilotildeesde acesso ldquouniversal e igualitaacuterio agraves accedilotildees e aos serviccedilos para a sua promoccedilatildeo proteccedilatildeo erecuperaccedilatildeordquo

O artigo 6ordm da referida legislaccedilatildeo regulamentadora inclui expressamente no campode atuaccedilatildeo do SUS a assistecircncia terapecircutica integral inclusive farmacecircutica Essa

disposiccedilatildeo tem sido causa de pedir de muitas das accedilotildees individuais que pretendem ofornecimento de medicaccedilotildees nem sempre disponibilizadas protocolarmente pelo SistemaUacutenico mas que se mostram indicadas para a situaccedilatildeo concreta do paciente A questatildeoeacute discutir quatildeo amplo eacute esse dever de provimento farmacoteraacutepico considerando

10 Eacute de se observar que conquanto a menccedilatildeo agrave remoccedilatildeo de oacutergatildeos e tecidos para transplantesencontre-se situada no artigo 199 referente agrave iniciativa privada esse tipo de procedimento eacuteexecutado pelo Sistema Uacutenico de Sauacutede no paiacutes justamente para permitir uma maior equidade emsua gestatildeo A competecircncia do referido Sistema abrange ainda de forma natildeo taxativa (art 200) ldquoI -

controlar e fiscalizar procedimentos produtos e substacircncias de interesse para a sauacutede e participar daproduccedilatildeo de medicamentos equipamentos imunobioloacutegicos hemoderivados e outros insumos II- executar as accedilotildees de vigilacircncia sanitaacuteria e epidemioloacutegica bem como as de sauacutede do trabalhadorIII - ordenar a formaccedilatildeo de recursos humanos na aacuterea de sauacutede IV - participar da formulaccedilatildeo dapoliacutetica e da execuccedilatildeo das accedilotildees de saneamento baacutesico V - incrementar em sua aacuterea de atuaccedilatildeo odesenvolvimento cientiacutefico e tecnoloacutegico VI - fiscalizar e inspecionar alimentos compreendidoo controle de seu teor nutricional bem como bebidas e aacuteguas para consumo humano VII -participar do controle e fiscalizaccedilatildeo da produccedilatildeo transporte guarda e utilizaccedilatildeo de substacircncias eprodutos psicoativos toacutexicos e radioativos VIII - colaborar na proteccedilatildeo do meio ambiente nelecompreendido o do trabalhordquo

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inclusive que as indicaccedilotildees satildeo feitas muitas vezes em usos natildeo oficializados (off label)experimentais ou extraordinaacuterios havendo de se discutir os criteacuterios que deveratildeo norteara atuaccedilatildeo estatal perante casos que tais

Os princiacutepios balizadores do Sistema Uacutenico de Sauacutede estatildeo afirmados no artigo 7ordm da Leindeg 808090 em que se sublinham

I - universalidade de acesso aos serviccedilos de sauacutede em todos os niacuteveisde assistecircnciaII - integralidade de assistecircncia entendida como conjunto articuladoe contiacutenuo das accedilotildees e serviccedilos preventivos e curativos individuais ecoletivos exigidos para cada caso em todos os niacuteveis de complexidadedo sistemaIII - preservaccedilatildeo da autonomia das pessoas na defesa de sua integridadefiacutesica e moralIV - igualdade da assistecircncia agrave sauacutede sem preconceitos ou privileacutegiosde qualquer espeacutecieV - direito agrave informaccedilatildeo agraves pessoas assistidas sobre sua sauacutedeVI - divulgaccedilatildeo de informaccedilotildees quanto ao potencial dos serviccedilos desauacutede e a sua utilizaccedilatildeo pelo usuaacuterioVII - utilizaccedilatildeo da epidemiologia para o estabelecimento de prioridadesa alocaccedilatildeo de recursos e a orientaccedilatildeo programaacuteticaVIII - participaccedilatildeo da comunidade []

Entre esses princiacutepios verificam-se de logo aparentes contradiccedilotildees tendentes a se tornarem

relevantes paradoxos praacuteticos Ao se mencionar por exemplo a autonomia ndash importanteaspecto da relaccedilatildeo profissional-paciente salvaguardado entre outros no artigo 15 doCoacutedigo Civil de 200211 ndash haacute que se identificar a existecircncia de limites no acircmbito dessaautonomia ais limites natildeo decorrem apenas dos cerceamentos morais e legais amplos(vedaccedilatildeo agrave eutanaacutesia ao aborto salvo exceccedilotildees legais ou ao auxiacutelio ao suiciacutedio verbi gratia ) mas satildeo tambeacutem advindos das proacuteprias normas especiacuteficas regentes do SistemaUacutenico de Sauacutede passando a balizar natildeo somente a autonomia do paciente como tambeacutemem certa medida a proacutepria autonomia profissional12 buscando-se priorizar em suasprescriccedilotildees e entre opccedilotildees tecnicamente equivalentes aquelas jaacute incorporadas pelo SUS

De outro lado tampouco pode a referida autonomia meacutedica ser mortalmente ferida sehaacute fundamentos relevantes para acreditar que a prescriccedilatildeo de determinada medicaccedilatildeo seja

11 ldquo Art 15 Ningueacutem pode ser constrangido a submeter-se com risco de vida atratamento meacutedico ou a intervenccedilatildeo ciruacutergica rdquo12 O item II do Capiacutetulo II do Coacutedigo de Eacutetica Meacutedica atual aponta como direito do meacutedicoldquoIndicar o procedimento adequado ao paciente observadas as praacuteticas cientificamente reconhecidase respeitada a legislaccedilatildeo vigenterdquo

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substancialmente favoraacutevel ao paciente

Assim como ponto de equiliacutebrio o profissional deveraacute dar preferecircncia agraves medicaccedilotildeese tratamentos constantes no rol do Sistema Uacutenico de Sauacutede desde que em condiccedilotildees

de equivalecircncia de modo que dessa escolha natildeo advenham reconhecidos prejuiacutezos aopaciente Nesse sentido um trabalho de conscientizaccedilatildeo dos profissionais meacutedicosmediante atuaccedilatildeo conjunta junto a essa esfera pode ser de grande valia para reduzir accedilotildees judiciais em vista de prescriccedilotildees mal justificadas

Mesmo em relaccedilatildeo a atendimentos particulares haacute que se evitar a prescriccedilatildeo desarrazoadade medicaccedilotildees de eficaacutecia natildeo comprovada que em uacuteltima anaacutelise viratildeo a ser reclamadasdo Sistema Uacutenico de Sauacutede (inclusive em vista do fator empobrecedor da doenccedila e dauniversalidade prevista) convertendo o paciente em verdadeiro sujeito (ou objeto) de

pesquisa natildeo organizada e gerando gastos e expectativas vatildeos

Outro aparente paradoxo se poderia assinalar em relaccedilatildeo aos princiacutepios arrolados nositens II e VII De um lado assegura-se a integralidade da assistecircncia De outro contudoadota-se o uso da epidemiologia para o estabelecimento de prioridades e a alocaccedilatildeo derecursos Como proceder entatildeo se for necessaacuteria assistecircncia profissional para doenccedilaepidemiologicamente rara e de tratamento particularmente caro Eacute o que se tem notadoem muitos dos casos que chegam ao Judiciaacuterio nos quais se passa a discutir ainda que natildeo

expressamente a visatildeo utilitarista e o impasse entre a prevalecircncia do interesse individualou coletivo na alocaccedilatildeo de recursos em questatildeo13

Seguem-se nos artigos 8ordm a 19 a organizaccedilatildeo descentralizada (que compotildee o nono princiacutepiogestor do Sistema juntamente com a direccedilatildeo uacutenica em cada instacircncia) e sua divisatildeo entreas trecircs esferas ndash nacional estadual e municipal Cuida-se aqui de circunstacircncia tambeacutemcomumente suscitada pelos entes estatais reacuteus arguindo natildeo serem partes legiacutetimas nahipoacutetese haja vista a separaccedilatildeo de atribuiccedilotildees desenhada na legislaccedilatildeo especiacutefica Veja-se contudo que a separaccedilatildeo de tarefas entre as esferas estatais natildeo retira delas o dever

global do Estado de provimento da sauacutede cuja responsabilidade eacute em uacuteltima instacircncia

13 Nesse sentido em prol da necessidade de anaacutelise muldimensional inclusive para otimizar aassistecircncia coletiva inviabilizando a anaacutelise individualista da questatildeo cf FERRAZ OctaacutevioLuiz Motta VIEIRA Fabiacuteola Sulpino Direito agrave sauacutede recursos escassos e equumlidade os riscosda interpretaccedilatildeo judicial dominante Disponiacutevel em httpwwwstfjusbrarquivocmsprocessoAudienciaPublicaSaudeanexoDireito_a_Saude_Recursos_escassos_e_equidadepdf Acesso em 25abr2015

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solidaacuteria14 Constata-se assim tiacutepico exemplo do chamado federalismo cooperativo oude colaboraccedilatildeo15 mais caracteriacutestico dos Estados de Bem-Estar Social e em que haacute umadivisatildeo de tarefas menos riacutegida e mais intercambiante conforme as necessidades praacuteticasque se apresentem ainda que persista o princiacutepio da subsidiariedade segundo o qual a

instacircncia superior deve agir quando natildeo resolviacutevel o problema nas instacircncias menores

Nesse mister o artigo 7ordm prevecirc ainda como princiacutepios simultacircneos do Sistema adescentralizaccedilatildeo poliacutetico-administrativa com direccedilatildeo uacutenica em cada esfera de governo(inciso IX) enfatizando a descentralizaccedilatildeo dos serviccedilos para os municiacutepios a regionalizaccedilatildeoe a hierarquizaccedilatildeo da rede de serviccedilos de sauacutede bem assim a organizaccedilatildeo dos serviccedilospuacuteblicos de modo a evitar duplicidade de meios para fins idecircnticos (inciso XIII) ndash o queeacute realmente um risco na incumbecircncia solidaacuteria Considerando-se todavia a falha noprovimento por todas as esferas a motivar a provocaccedilatildeo judicial o mesmo artigo estipula

a ldquoconjugaccedilatildeo dos recursos financeiros tecnoloacutegicos materiais e humanos da Uniatildeo dosEstados do Distrito Federal e dos Municiacutepios na prestaccedilatildeo de serviccedilos de assistecircncia agravesauacutede da populaccedilatildeordquo (inciso XI) e a ldquocapacidade de resoluccedilatildeo dos serviccedilos em todos osniacuteveis de assistecircncia rdquo (inciso XII) o que reafirma a noccedilatildeo de solidariedade federativa nodever de provimento da sauacutede

Ainda no que tange agrave conflituosa relaccedilatildeo entre as previsotildees legais e suas implementaccedilotildees

14 Sobre a discussatildeo acerca da solidariedade entre os entes estatais na aacuterea a jurisprudecircncia dosribunais Superiores jaacute reconheceu amplamente sua existecircncia caracterizando a existecircncia de umfederalismo cooperativo na espeacutecie Anteriormente ao posicionamento judicial jaacute se manifestavamem favor da responsabilidade concomitante e solidaacuteria das trecircs esferas estatais autores como DALLARI Sueli Gandolfi Os Estados Brasileiros e o Direito agrave Sauacutede Satildeo Paulo Hucitec1995 p 37-42 e SCHWARZ Germano Direito agrave Sauacutede Efetivaccedilatildeo em uma PerspectivaSistecircmica Porto Alegre Livraria do Advogado 2001 p 101 203 COHN Ameacutelia et al A Sauacutedecomo Direito e como Serviccedilo Satildeo Paulo Cortez 2008 p 68 entre outros assinalando o fato deque a regionalizaccedilatildeo e a descentralizaccedilatildeo tecircm por escopo favorecer a acessibilidade e natildeo dificultaacute-la natildeo obstando portanto a solidariedade entre os entes puacuteblicos Em favor da responsabilidade

sucessiva e natildeo solidaacuteria por forccedila da descentralizaccedilatildeo do Sistema cf FIGUEIREDO MarianaFilchtiner Direito Fundamental agrave Sauacutede Paracircmetros para sua Eficaacutecia e Efetividade Porto Alegre Livraria do Advogado 2007 p 157-16115 Cf por todos AVARES Andreacute Ramos Curso de Direito Constitucional 2ed Satildeo PauloSaraiva 2003 e SRECK Lecircnio Luiz MORAIS Joseacute Luiacutes Bolzan de Ciecircncia poliacutetica eteoria geral do estado 2ed Porto Alegre Livraria do Advogado 2000 Sobre o princiacutepio dasubsidiariedade nesse caso cf tambeacutem CANOILHO J J Gomes Direito Constitucional eeoria da Constituiccedilatildeo 7ed Coimbra Almedina [2003] Ainda sobre o tema da influecircnciado federalismo na mateacuteria cf o trabalho de DALLARI Sueli Gandolfi loc cit assinalando aabordagem diferenciada em cada constituiccedilatildeo estadual acerca do conteuacutedo do direito agrave sauacutede

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172 DEFENSORIA PUacuteBLICA DA UNIAtildeO Escola Superior

praacuteticas eacute de se notar que em 1999 foi incluiacutedo capiacutetulo referente agrave atenccedilatildeo agrave sauacutedeindiacutegena e em 2002 previu-se um subsistema de atendimento e internaccedilatildeo domiciliarEsses uacuteltimos cuidados ditos home care conquanto ainda pouco utilizados vecircmadequar-se ao quanto previsto na Constituiccedilatildeo Federal em seu artigo 230 paraacutegrafo 1ordm

notadamente em relaccedilatildeo aos idosos a saber ldquosect 1ordm - Os programas de amparo aos idososseratildeo executados preferencialmente em seus laresrdquo Em 2005 acolheu-se na legislaccedilatildeo umsubsistema de acompanhamento durante o trabalho de parto parto e poacutes-parto imediatoprevendo a possibilidade de acompanhante nesses eventos a exemplo do que jaacute fizera oEstatuto da Crianccedila e do Adolescente em relaccedilatildeo agrave previsatildeo de acompanhante para omenor internado no acircmbito do SUS (artigo 12 da Lei 806990 e Resoluccedilatildeo ndeg 4195sobre os direitos da crianccedila e do adolescente hospitalizados) revelando uma tendecircncia dehumanizaccedilatildeo dos procedimentos puacuteblicos de sauacutede

Na praacutetica ainda natildeo se implementaram amplamente esses novos espectros do direito agravesauacutede mas natildeo se os diga impossiacuteveis nem desnecessaacuterios Eacute curioso notar verbi gratia que quando do surgimento do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente tampouco era praxea manutenccedilatildeo dos pais junto aos pequenos pacientes ndash algo que hoje soa imprescindiacutevelndash e a afirmaccedilatildeo legislativa desse direito foi reputada como inviaacutevel dentro da estruturahospitalar da eacutepoca Menos de uma deacutecada depois todavia embora natildeo existam aindahoje instalaccedilotildees ideais em termos de conforto jaacute natildeo se cogita mais internar crianccedilas ouadolescentes sem lhes assegurar a permanecircncia de um dos responsaacuteveis Demonstrou-se

com isso que muitas das resistecircncias agrave implementaccedilatildeo de direitos satildeo bem mais culturaispor haacutebito ou falta de vontade poliacutetica do que propriamente por reais inviabilidadesfinanceiras ou operacionais Vive-se atualmente similar situaccedilatildeo quanto agrave previsatildeo deacompanhante para o idoso ou a gestante em trabalho de parto

Em relaccedilatildeo ao planejamento e orccedilamento a propoacutesito outro argumento habitual doEstado-reacuteu diz respeito justamente agrave impossibilidade de deslocamento de verbas natildeoprevistas na organizaccedilatildeo orccedilamentaacuteria dentro do Sistema Uacutenico de Sauacutede ou de outrasaacutereas para este sob pena de responsabilizaccedilatildeo fiscal Nessa seara poreacutem o artigo 36

paraacutegrafo 2ordm da Lei ndeg 808090 eacute enfaacutetico ao estabelecer que ldquoEacute vedada a transferecircnciade recursos para o financiamento de accedilotildees natildeo previstas nos planos de sauacutede exceto emsituaccedilotildees emergenciais ou de calamidade puacuteblica na aacuterea de sauacutederdquo (grifou-se)

Para exercer suas atividades o Sistema Uacutenico de Sauacutede conta com inuacutemeras outras normasgestoras ndash natildeo apenas leis de acircmbito nacional mas tambeacutem Portarias e normas de acircmbitoestadual e local ndash que detalham essa atuaccedilatildeo Assim eacute que por exemplo a Portaria nordm

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173R Defensoria Puacutebl Uniatildeo Brasiacutelia DF n 8 p 1-356 jandez 2015

3916 de 30 de outubro de 1998 estabelece a Poliacutetica Nacional de Medicamentos a serauxiliada por normas outras como a Lei ndeg 978799 dita ldquoLei dos Geneacutericosrdquo definindoo medicamento geneacuterico como aquele similar a um produto de referecircncia ou inovadorque se pretende ser com este intercambiaacutevel geralmente produzido apoacutes a expiraccedilatildeo ou

renuacutencia da proteccedilatildeo patentaacuteria ou de outros direitos de exclusividade comprovada a suaeficaacutecia seguranccedila e qualidade

Prevecirc-se ainda que esses medicamentos devem ser preferidos no acircmbito do SUSpelo custo e acrescente-se pela impessoalidade mesma que deve caracterizar a atuaccedilatildeoadministrativa estatal desaconselhando a preferecircncia por produtos de laboratoacuterios oumarcas determinados em detrimento de produtos de denominaccedilatildeo comum brasileira ouna sua falta internacional a indicar maior neutralidade em prestaccedilatildeo equivalente

Jaacute se tem aiacute um paracircmetro a nortear as prescriccedilotildees e decisotildees na mateacuteria deve a prestaccedilatildeofarmacoloacutegica do Sistema Uacutenico de Sauacutede se pautar pelo fornecimento de medicaccedilotildees quedentre as que contecircm a substacircncia ativa necessaacuteria atendam agraves necessidades de eficaacuteciae seguranccedila poreacutem com menor custo maior impessoalidade e generalidade pois natildeoassociada a marca especiacutefica O uso racional desses recursos passa ainda pela orientaccedilatildeodos meacutedicos na criteriosa avaliaccedilatildeo das medicaccedilotildees prescritas privilegiando dentro deum paracircmetro de equivalecircncia aquelas jaacute constantes fornecimento regular pelo Sistema 16

16 Os produtos padronizados constam da Relaccedilatildeo Nacional de Medicamentos Essenciais (RENAME) Nosentido de promover a observacircncia da lista cita-se por exemplo a Portaria Estadual nordm 1475BA publicadano Diaacuterio Oficial do Estado de 300908 que ldquoConstitui Grupo de trabalho no acircmbito do SUS com oescopo de elaborar orientaccedilotildees e diretrizes aos profissionais meacutedicos no sentido de esgotarem as alternativasde faacutermacos previstas nos Protocolos Cliacutenicos e Diretrizes erapecircuticas do Ministeacuterio da Sauacutede e demais atosque lhe forem complementares antes de prescrever tratamento medicamentoso diverso aos pacientes nostermos da Notificaccedilatildeo Recomendatoacuteria 0022007 da Promotoria de Justiccedila e da Cidadania do MinisteacuterioPuacuteblico do Estado da Bahiardquo De acordo com a Organizaccedilatildeo Mundial da Sauacutede - OMS (Nairobi Quecircnia1985) ldquoHaacute uso racional quando pacientes recebem medicamentos apropriados para suas condiccedilotildees cliacutenicasem doses adequadas agraves suas necessidades individuais por um periacuteodo adequado e ao menor custo para si e

para a comunidaderdquo Segundo o Ministeacuterio da Sauacutede o uso racional de medicamentos consiste no ldquoprocessoque compreende a prescriccedilatildeo apropriada a disponibilidade oportuna e a preccedilos acessiacuteveis a dispensaccedilatildeoem condiccedilotildees adequadas e o consumo nas doses indicadas nos intervalos definidos e no periacuteodo de tempoindicado de medicamentos eficazes seguros e de qualidaderdquo (BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria dePoliacuteticas de Sauacutede Departamento de Atenccedilatildeo Baacutesica Poliacutetica nacional de medicamentos 2001Ministeacuterio daSauacutede Secretaria de Poliacuteticas de Sauacutede Departamento de Atenccedilatildeo Baacutesica ndash Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede2001 ambeacutem disponiacutevel em lthttpwwwopasorgbrmedicamentossiteUploadArqpnmpdfgtacessado em 02out08) Outros programas para estimular o uso racional de medicamentos encontram-sena paacutegina eletrocircnica do Ministeacuterio da Sauacutede (httpportalsaudegovbrportalsaudeareacfmid_area=1141acessado em 05out08)

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174 DEFENSORIA PUacuteBLICA DA UNIAtildeO Escola Superior

A alocaccedilatildeo de medicamentos no paiacutes estaacute dividida segundo o Ministeacuterio da Sauacutede em trecircscategorias baacutesicas17 medicamentos baacutesicos ou essenciais ldquopertencentes a um elenco miacutenimoobrigatoacuterio a ser dispensado na atenccedilatildeo baacutesicardquo ou na dicccedilatildeo legal aqueles consideradosldquobaacutesicos e indispensaacuteveis para atender a maioria dos problemas de sauacutede da populaccedilatildeordquo

previstos na Portaria do Ministeacuterio da Sauacutede nordm 32372007 medicamentos estrateacutegicosutilizados em programas especiacuteficos do Ministeacuterio da Sauacutede como aqueles de combateagrave AIDS tuberculose hanseniacutease diabetes doenccedila de Chagas malaacuteria coagulopatias eoutras conforme Portaria do Ministeacuterio da Sauacutede nordm 2042007 e medicamentos dedispensaccedilatildeo especial ou excepcional eacute dizer aqueles geralmente de alto custo destinadosa patologias especiacuteficas e complexas que atingem um nuacutemero limitado de pacientes parauso prolongado Esses procedimentos e recursos terapecircuticos encontravam-se arroladosna Portaria do Ministeacuterio da Sauacutede nordm 25772006 Eacute de se observar que sendo essauacuteltima uma das categorias mais solicitadas judicialmente e mais associadas com a evoluccedilatildeo

biotecnoloacutegica chama a atenccedilatildeo o fato de ter sido por muito tempo justamente aPortaria mais antiga deixando margem agrave criacutetica de provaacutevel desatualizaccedilatildeo em relaccedilatildeo aosavanccedilos atuais tendo sido atualizada pela Portaria GMMS 18692008 e revogada pelaPortaria GMMS 1062009 tambeacutem jaacute revogada A mateacuteria tambeacutem sofreu alteraccedilotildeespelas Portarias 2981 de 26 de novembro de 2009 Portaria 343GMMS de 22 defevereiro de 2010 Portaria 3439MS de 11 de novembro de 2010 e atualmente pelosPCD (PROOCOLOS CLIacuteNICOS E DIRERIZES ERAPEcircUICAS) a indicarparacircmetros de abordagem e tratamento para cada patologia

Analisando-se os montantes empregados em cada uma das categorias verifica-se que os

17 MELLO Dirceu Raposo et al op cit p 27-28 SALAZAR Andrea Lazzarini GROU Karina Bozola ADefesa da Sauacutede em Juiacutezo eoria e Praacutetica Satildeo Paulo Verbatim 2009 p 112-113

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gastos com medicamentos especiais superam em muito aqueles com medicaccedilotildees baacutesicas18 Dentre os medicamentos estrateacutegicos ndash responsaacuteveis pelo maior volume de custos commedicaccedilotildees entre os trecircs grupos na segunda metade da deacutecada passada ndash aqueles dirigidosao programa de HIVAIDS sofreram acreacutescimo substancial em 2006 ante as novas drogas

incorporadas ao cataacutelogo farmacoloacutegico de tratamento da doenccedila passando a representarsozinhos quase uma vez e meia o gasto com todas as demais drogas estrateacutegicas

Mais uma vez fica evidente que prevenir aleacutem de melhor sai bem mais barato que

18 Segundo quadro comparativo elaborado em MELLO Dirceu Raposo et al op cit p 28-29 a partirde dados do Ministeacuterio da Sauacutede os gastos com medicamentos baacutesicos em 2006 foram da ordem de 290milhotildees de reais representando 67 dos gastos com medicaccedilatildeo ao passo que o montante despendido commedicamentos de dispensaccedilatildeo especial alcanccedilaram a cifra de um bilhatildeo 355 milhotildees de reais equivalendoa 32 do orccedilamento para a aacuterea Dentre os medicamentos estrateacutegicos aqueles destinados ao programade DSAIDS custaram aos cofres puacuteblicos naquele ano 960 milhotildees de reais enquanto no ano anteriorrepresentaram despesa de 550 milhotildees de reais Cumpre assinalar que o programa de fornecimento gratuitode medicaccedilotildees antirretrovirais aos portadores de HIV no paiacutes eacute elogiado em todo o mundo pela iniciativapioneira na aacuterea apontada como exemplo na universalizaccedilatildeo do tratamento e inclusatildeo a esses pacientes A Leique cuida da mateacuteria ndash Lei ndeg 931396 ndash foi acompanhada por uma seacuterie de decisotildees judiciais proacute direitoagrave sauacutede determinando o efetivo provimento das medicaccedilotildees e sua atualizaccedilatildeo conforme o estado cientiacuteficomundial nos termos da redaccedilatildeo legal Nesse sentido se assinala entre outros o seguinte acoacuterdatildeo provenientedo Supremo ribunal Federal defendendo a aplicabilidade imediata das normas relativas ao direito agravesauacutede PACIENE COM HIVAIDS ndash PESSOA DESIUIacuteDA DE RECURSOS FINANCEIROS ndashDIREIO Agrave VIDA E Agrave SAUacuteDE ndashFORNECIMENO GRAUIO DE MEDICAMENOS ndash DEVERCONSIUCIONAL DO PODER PUacuteBLICO (CF ARS 5ordm CAPU E 196) O DIREIO Agrave SAUacuteDEREPRESENA CONSEQUumlEcircNCIA CONSIUCIONAL INDISSOCIAacuteVEL DO DIREIO Agrave VIDA

O direito puacuteblico subjetivo agrave sauacutede representa prerrogativa juriacutedica indisponiacutevel assegurada agrave generalidadedas pessoas pela proacutepria Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica (art 196) raduz bem juriacutedico constitucionalmentetutelado por cuja integridade deve velar de maneira responsaacutevel o Poder Puacuteblico a quem incumbe formularndash e implementar ndash poliacuteticas sociais e econocircmicas idocircneas que visem a garantir aos cidadatildeos inclusive agravequelesportadores do viacuterus HIV o acesso universal e igualitaacuterio agrave assistecircncia farmacecircutica e meacutedico-hospitalar Odireito agrave sauacutede ndash aleacutem de qualificar-se como direito fundamental que assiste a todas as pessoas ndash representaconsequumlecircncia constitucional indissociaacutevel do direito agrave vida O Poder Puacuteblico qualquer que seja a esfera institucionalde sua atuaccedilatildeo no plano da organizaccedilatildeo federativa brasileira natildeo pode mostrar-se indiferente ao problema da sauacutededa populaccedilatildeo sob pena de entender ainda que por censuraacutevel omissatildeo em grave comportamento inconstitucional(AGRRE nordm 271286-RS Rel Min Celso de Mello SF DJ 241100 p 101)

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176 DEFENSORIA PUacuteBLICA DA UNIAtildeO Escola Superior

remediar 19

Fato eacute queNenhum paiacutes ateacute o momento conseguiu estabelecer um limite oacutetimode gasto financeiro para melhorar a sauacutede de seus cidadatildeos os EUA

gastam 146 do PIB com sauacutede sendo o Estado responsaacutevel por449 desse total e 5 dos gastos puacuteblicos com sauacutede dizem respeitoaos medicamentos Ainda sobre os EUA dados de domiacutenio puacuteblicoinformam que cerca de 50 milhotildees de cidadatildeos natildeo tecircm acesso aosserviccedilos de sauacutede No Brasil os gastos com sauacutede correspondem agrave cifrade 79 do PIB sendo que o setor puacuteblico eacute responsaacutevel por 459desses gastos e os medicamentos representam 74 desses gastospuacuteblicos20

Sem duacutevida a garantia adequada do direito agrave sauacutede natildeo constitui um problema apenaspara os paiacuteses em desenvolvimento embora nesses falte o acesso ao que haacute de mais baacutesicopossiacutevel para a manutenccedilatildeo e a recuperaccedilatildeo da sauacutede ambeacutem os paiacuteses desenvolvidos

19 Aleacutem das despesas jaacute esperadas com tais medicamentos avultam ainda os gastos decorrentes de processos judiciais A esse respeito notiacutecia veiculada em setembro de 2008 na imprensa deu conta de que ldquoEntre2005 e 2008 o governo federal aumentou em 1820 (quase 20 vezes) as despesas decorrentes de ordens

judiciais que obrigam a Uniatildeo a pagar por medicamentos especiais Apenas na primeira metade deste anoforam gastos pelo governo federal por ordem da Justiccedila R$ 48 milhotildees nesses tratamentos Em 2005 oinvestimento foi de R$ 25 milhotildeesrdquo ambeacutem foi informado que ldquoa cada mecircs Satildeo Paulo gasta R$ 400milhotildees com remeacutedios obtidos pelos doentes mediante ordem judicial e que natildeo satildeo fornecidos pelo SUS Asituaccedilatildeo natildeo eacute muito diferente no Rio Grande do Sul Foram R$ 31 milhotildees com accedilotildees judiciais envolvendomedicamentos em 2006 e R$ 50 milhotildees em 2007 e a previsatildeo eacute de que sejam gastos R$ 150 milhotildees nesteano ndash o equivalente a um terccedilo do total de recursos de custeio dos programas da Secretaria Estadual deSauacutederdquo Dentro desses valores apurou-se ainda a ocorrecircncia de fraudes envolvendo meacutedicos e advogadosque mediante pedidos judiciais providos teriam resultado em prejuiacutezo de R$ 63 milhotildees aos cofrespuacuteblicos (REZZI Humberto Sauacutede Aumento no gasto do governo em remeacutedios especiais eacute investigadoPromotores e policiais suspeitam que quadrilhas falsificariam atestados para obrigar a Uniatildeo a fornecermedicamentos de alto custo a pacientes por via judicial Jornal Zero Hora Porto Alegre ediccedilatildeo ndeg 15734

Disponiacutevel em lthttpzerohoraclicrbscombrzerohorajspdefault2jspuf=1amplocal=1ampsource=a2195502xmlamptemplate=3898dwtampedition=10739ampsection=1003gt acessado em 12out08) Deduz-se daiacute queconquanto via relevantiacutessima para o controle do atendimento do direito fundamental agrave sauacutede a prestaccedilatildeo

jurisdicional haacute de ser particularmente cautelosa na anaacutelise de tais pleitos sobretudo quando em sede deprovimentos liminares por natildeo se poder desconsiderar o grave impacto que essas decisotildees tecircm tomado noorccedilamento sanitaacuterio Eacute imprescindiacutevel entatildeo sempre que possiacutevel e especialmente quando o fornecimentoeacute feito a entidades privadas sobre as quais incide menor controle na utilizaccedilatildeo desses recursos a realizaccedilatildeode periacutecia meacutedica judicial a constatar a efetiva necessidade e infungibilidade do recurso demandado naquelecaso concreto20 MELLO Dirceu Raposo et al op cit p 23

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177R Defensoria Puacutebl Uniatildeo Brasiacutelia DF n 8 p 1-356 jandez 2015

tecircm problemas para assegurar os cuidados de sauacutede esperados pela populaccedilatildeo situaccedilatildeoque se agrava progressivamente com o envelhecimento da populaccedilatildeo (com suas conhecidasconsequecircncias para o equiliacutebrio previdenciaacuterio) e com o desenvolvimento crescente dosrecursos farmacecircuticos e biotecnoloacutegicos criando patamares cada vez mais elevados de

atenccedilatildeo agrave sauacutede21

Elevou-se a qualidade e a quantidade de vida o que eacute um aspectoinegavelmente positivo mas que gera outrossim consequecircncias de difiacutecil equiliacutebrioeconocircmico

4 DEMANDAS JUDICIAIS EM SAUacuteDE COMO AVANCcedilAR EM DIRECcedilAtildeO

AO QUE PARECE NAtildeO ER SAIacuteDA

Questionado sobre formas de viabilizaccedilatildeo de um sistema puacuteblico de sauacutede dentro dessecontexto ponderou primeiramente Diego Gracia 22 que quem tem receituaacuterio fazalocaccedilatildeo Com efeito Ao fazer uma mera prescriccedilatildeo individual o meacutedico estaacute a indicarali os paracircmetros para o exerciacutecio do direito agrave sauacutede pelo paciente Eacute para alcanccedilar orecurso prescrito que o cidadatildeo vai agrave Justiccedila pleitear ao Estado ou ao plano de sauacutede queo forneccedila Eacute na prescriccedilatildeo que se baseia o Juiz quando antecipa uma tutela mesmo antes

de ouvir a parte adversa na convicccedilatildeo de que haacute urgecircncia no acesso agravequele recurso

Mister assim para racionalizar o uso de medicamentos e recursos no SUS orientar eracionalizar tambeacutem as prescriccedilotildees meacutedicas de modo que sem sacrificar a sauacutede dopaciente tampouco se sacrifique indevidamente o Sistema organizado para protegecirc-lae garanti-la Nesse ponto erige-se a validade de se pensar um trabalho conjunto comorganizaccedilotildees profissionais como uma outra vertente para a maior efetivaccedilatildeo na prestaccedilatildeo

21

Nesse sentido cf a obra AARON Henry J SCHWARZ William B Te Painful Prescriptionhellipreferente sobretudo aos Estados Unidos e agrave Inglaterra mas que tambeacutem menciona a situaccedilatildeo de outros paiacutesesdesenvolvidos como a Franccedila e o Canadaacute ambeacutem trata do assunto entre outros PENCHASZADEHVictor Bioeacutetica y medicina social Una confluencia necesaria Revista Brasileira de Bioeacutetica BrasiacuteliaSociedade Brasileira de Bioeacutetica v 3 n 2 p 129-149 2007 p 137 Destaque-se outrossim a recentepolecircmica envolvendo o governo americano do Presidente Barack Obama ante a perspectiva de maiordemocratizaccedilatildeo do acesso agrave sauacutede em confronto com o arcabouccedilo tendencialmente liberal da poliacutetica daqueleEstado no setor ateacute entatildeo22 GRACIA Diego Bioeacutetica Cliacutenica e Contexto Social In VII CONGRESSO BRASILEIRO DEBIOEacuteICA Satildeo Paulo 2007 Conferecircncia

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178 DEFENSORIA PUacuteBLICA DA UNIAtildeO Escola Superior

e cobranccedila do direito agrave sauacutede

A especial atenccedilatildeo aos preceitos da Medicina Baseada em Evidecircncias devidamentefundamentada em relatoacuterios e prescriccedilotildees acurados com a cuidadosa anaacutelise e

demonstraccedilatildeo de eficaacutecia seguranccedila e eficiecircncia23

quer no geral quer no caso concretotambeacutem satildeo de grande valia para a atuaccedilatildeo coerente e racional na aacuterea inclusive a fim deevitar que o assistido seja engolfado por esperanccedilas vatildes de resultados temeraacuterios tentativasheroicas sem perspectivas reais e pesquisas multinacionais em larga escala que exacerbamsua vulnerabilidade e fragilizam a credibilidade dos pedidos judiciais no setor Nessecontexto mister evitar tambeacutem pedidos irrazoaacuteveis natildeo factiacuteveis na praacutetica ou opccedilotildees

23 Embora costumeiramente usadas de forma equivalente as expressotildees eficaacutecia eficiecircncia e efetividade tecircmsignificados teacutecnicos especiacuteficos na seara da MBE Nesse sentido a seguranccedila mencionada implica a anaacutelisede que os danos colaterais possiacutevel sejam inferiores aos benefiacutecios oferecidos com seu uso para o fim a quese propotildee A eficaacutecia consiste na evidecircncia de ter o recurso prescrito comprovado efeito beneacutefico para aquelecaso (ldquofazem o que se propotildeem a fazerrdquo ndash na expressatildeo de VIEIRA Fabiacuteola Sulpino op cit p365-369)evitando-se os chamados ldquoprodutos de complacecircnciardquo ndash sem eficaacutecia comprovada mas prescritos por insistecircnciado paciente ou por pressatildeo do marketing industrial por exemplo ndash bem como os atos aparentemente cliacutenicosmas que se mostram em verdade experimentais visto que natildeo validados de nenhuma forma cientificamente

aceita a qual permita asseveraacute-los como realmente producentes e seguros A efetividade propriamente dita corresponde agrave eficaacutecia e agrave eficiecircncia em condiccedilotildees reais de sorte a evitar desperdiacutecios Eacute dizer que os produtoseleitos ldquofazem o que se propotildeem a fazer quando utilizados pelas pessoas em condiccedilotildees reais e natildeo em gruposhomogecircneos que constituem os grupos de pessoas dos ensaios cliacutenicosrdquo (idem ibidem) Por fim a eficiecircnciaou custo-efetividade envolve a avaliaccedilatildeo da relaccedilatildeo custobenefiacutecio de modo a se constatar a substancialvantagem de dado recurso em relaccedilatildeo a outro observadas a eficaacutecia e a efetividade propriamente ditaSignifica dizer que o produto em questatildeo ldquoentre as alternativas disponiacuteveis faz o que se propotildee a fazer paraas pessoas em condiccedilotildees reais ao menor custordquo (idem ibidem) Embora conceitos mais utilizados no acircmbitoeconocircmico e de macroalocaccedilatildeo de recursos acabam repercutindo na microalocaccedilatildeo individual ao requerermaior comprovaccedilatildeo quando de pedido que natildeo leve em consideraccedilatildeo tais subprinciacutepios Segundo a ANVISAtem-se a efetividade como ldquogarantia de medicamentos eficazes eou efetivos e seguros cuja relaccedilatildeo risco-benefiacutecio seja favoraacutevel e comprovada a partir das melhores evidecircncias cientiacuteficas disponiacuteveis na literatura

e com registro aprovado na Agecircncia Nacional de Vigilacircncia Sanitaacuteria (ANVISA)rdquo e a eficiecircncia como aldquogarantia de medicamentos que proporcionem a melhor resposta terapecircutica aos usuaacuterios com os menorescustos para o SUSrdquo (Lei 124012011 e pela Resoluccedilatildeo 01 do Ministeacuterio da Sauacutede de 17 de janeiro de2012) Eacute fato que considerando os escores da Medicina baseada em evidecircncia alega o Estado de praxe quea experiecircncia do meacutedico prescritor isoladamente e mesmo do perito judicial natildeo teriam niacutevel de sustentaccedilatildeocientiacutefica bastante para subsidiar a concessatildeo de medicaccedilatildeo natildeo padronizada pelo SUS todavia considerandoos requisitos de antecipaccedilatildeo de tutela pode conter se bem fundamentada em estudos outros de indicaccedilatildeoseguranccedila eficaacutecia efetividade e eficiecircncia elementos suficientes de verossimilhanccedila aleacutem de representara realidade daquele indiviacuteduo preocupando-se em registrar inclusive a ausecircncia de resposta ou indicaccedilatildeoquanto agraves outras opccedilotildees disponiacuteveis haja vista que como se costuma constatar a resposta individual nemsempre corresponde agravequela epidemiologicamente esperada

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179R Defensoria Puacutebl Uniatildeo Brasiacutelia DF n 8 p 1-356 jandez 2015

comerciais especiacuteficas substituiacuteveis por equivalentes terapecircuticos disponiacuteveis no SUS24

Outro aspecto a ser sopesado eacute o modo e o conteuacutedo como feitos os pedidos na medida emque a proteccedilatildeo ao direito agrave sauacutede de um deve considerar a existecircncia de outros envolvidos

na alocaccedilatildeo de recursos diante da escassez real Exemplo disso satildeo os pedidos de vagaou de prioridade em filas de transplantes que necessariamente envolvem o cotejo comoutros afetados que natildeo satildeo parte no processo Natildeo raro se tem notiacutecia de comandos deprisatildeo a gestores hospitalares que tecircm todos os seus leitos ocupados por natildeo disporem devagas Inegaacutevel a falha estatal na espeacutecie mas ela natildeo pode ser resolvida com o comandoainda que indireto de retirada de pacientes que ainda necessitem do leito e cuidados paraalocaccedilatildeo de outro dotado de comando judicial Opccedilatildeo nesse caso eacute o pedido subsidiaacuteriode alocaccedilatildeo em unidades privadas agraves expensas do Estado natildeo por mera opccedilatildeo do enfermomas se natildeo houver leitos disponiacuteveis nas unidades puacuteblicas

Do ponto de vista estatal eacute mister o ajuste constante das poliacuteticas puacuteblicas de sortea mantecirc-las condizentes com as carecircncias da comunidade e atualizadas dentro dasmargens de efetividade terapecircutica a fim de se tentar com isso minorar a necessidade deintervenccedilotildees judiciais suplementares na aacuterea aleacutem de favorecer o proacuteprio funcionamentoadequado do Sistema em conformidade com seus princiacutepios gestores e com as previsotildeese garantias constitucionais sem acarretar a falecircncia do Sistema nem converter o direitouniversal agrave sauacutede em mera retoacuterica demagoacutegica

Nesse contexto a atuaccedilatildeo e participaccedilatildeo equilibrada da Defensoria junto a oacutergatildeos puacuteblicose conselhos interdisciplinares pode ser de grande valia para uma maior eficaacutecia na soluccedilatildeo

24 Em palestra proferida do II Foacuterum Brasileiro sobre Assistecircncia Farmacecircutica e Farmacoeconomia ocorridoem setembro de 2014 em Salvador-Bahia com a presenccedila de gestores puacuteblicos membros do JudiciaacuterioMinisteacuterio Puacuteblico Defensoria Puacuteblica e Advogados Puacuteblicos a representante paulista do CONASS(Conselho Nacional dos Secretaacuterios de Sauacutede) apresentou demonstrativo de pedidos em demandas judiciaissanitaacuterias contra o Estado e o Municiacutepio de Satildeo Paulo em que incluiacutedos itens como ldquoleite de cabra frescordquondash o qual resultou descumprido por absoluta ausecircncia de resposta agrave licitaccedilatildeo simplificada para localizar

detentores de cabras na cidade de Satildeo Paulo Nessa ocasiatildeo tambeacutem mostrou a palestrante estudo feitoquanto agraves 41000 accedilotildees judiciais em sauacutede atendidas por aqueles entes naquele ano tendo-se verificado quecerca de 70 delas se pautavam em prescriccedilotildees particulares 93 envolviam medicamentos extraordinaacuteriosao SUS sendo que aproximadamente 5 envolviam produtos importados sem registro na ANVISA 50envolviam itens de produtores exclusivos e cerca de 25 marcas especiacuteficas mesmo para itens simples comofraldas descartaacuteveis A franca maioria dos pedidos natildeo tivera solicitaccedilatildeo administrativa preacutevia sabendo oEstado do pleito jaacute em sede de antecipaccedilatildeo de tutela com prazo estrito para o fornecimento ainda que comfundamentaccedilatildeo cliacutenica escassa inclusive quanto agrave premecircncia do pedido (SIQUEIRA Paula Sue Facundo deDireito Sanitaacuterio a interface entre Judiciaacuterio e Sauacutede na utilizaccedilatildeo dos PDC II FOacuteRUM BRASILEIROSOBRE ASSISEcircNCIA FARMACEcircUICA E FARMACOECONOMIA Salvador 2014 Mesa Redonda)

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180 DEFENSORIA PUacuteBLICA DA UNIAtildeO Escola Superior

administrativa das questotildees reduzindo-se o quantitativo de demandas judiciais na espeacuteciee democratizando o acesso agrave sauacutede mesmo agravequeles que natildeo chegam agrave Defensoria Nesseuacuteltimo aspecto tambeacutem a atuaccedilatildeo mediante Accedilatildeo Civil Puacuteblica visando agrave atualizaccedilatildeodas listas de fornecimento ou denunciando carecircncias e esperas irrazoaacuteveis por exemplo

parece recurso de relevante monta para uma melhor prestaccedilatildeo no setor

Possibilidade de uma maior funcionalidade administrativa tambeacutem pode ser tentadamediante atuaccedilatildeo de profissional25 direcionado agrave aacuterea das crescentes demandas em sauacutedenas unidades defensoriais de sorte a direcionar melhor a instruccedilatildeo dos pedidos jaacute seorientando o tipo de relatoacuterio e informaccedilotildees necessaacuterios aleacutem de empreender contatodireto com os oacutergatildeos puacuteblicos de regulaccedilatildeo em sauacutede estreitando relaccedilotildees com a Secretariade Sauacutede do Estado e seus oacutergatildeos a exemplo da Central de Regulaccedilatildeo de Vagas

Propotildee-se com isso ampliar o quantitativo de resoluccedilotildees administrativas mais ceacutelerese menos custosas reservando a necessidade de intervenccedilotildees juriacutedicas agraves situaccedilotildees emque havendo a previsatildeo do fornecimento natildeo se consegue obtecirc-lo por maacute prestaccedilatildeoadministrativa ndash o que demonstrado por melhor instruccedilatildeo inicial sugere levar amelhores iacutendices de sucesso jaacute em sede antecipatoacuteria ndash ou nas situaccedilotildees de recursos natildeoincluiacutedos no rol de fornecimento do SUS (em que pese o limitante dos artigos 2ordm e 19da Lei 124012011) Nesse caso uacuteltimo jaacute se busque tambeacutem instruir o pedido com osdemonstrativos da eficaacutecia seguranccedila e indicaccedilatildeo da medida reclamada bem assim de

ausecircncia de resposta agraves drogas rotineiramente disponibilizadas ou indicadas nos PCDnos termos inclusive do quanto preconizado em reiterados Enunciados e Recomendaccedilotildeesdo CNJ (4 11 14 15 16 31) e precedentes jurisprudenciais relevantes como a SA175 de relatoria do Min Gilmar Mendes sobre a mateacuteria

O que se vislumbra de negativo em tal proposta eacute que eventual reduccedilatildeo da judicializaccedilatildeofaccedila supor uma maior eficiecircncia na prestaccedilatildeo estatal em sauacutede o que nem semprecorresponde agrave verdade obtendo-se o ecircxito em casos individuais atraveacutes da persistecircnciaempedernida do oacutergatildeo defensorial ateacute que a proacutexima situaccedilatildeo se apresente Como aspecto

25 entativa semelhante tem sido implementada ao longo do uacuteltimo ano na unidade baiana daDefensoria Puacuteblica da Uniatildeo por iniciativa da chefia que tambeacutem titulariza o ofiacutecio de tutelacoletiva mediante o destacamento de Assistente Social com experiecircncia na conduccedilatildeo de demandasem sauacutede e com o intuito de melhorar a assistecircncia em tais demandas ante o crescimentoexponencial de seu nuacutemero no quinquecircnio antecedente Os resultados tecircm-se mostrado prima facie positivos com aparente aumento do nuacutemero de deslindes extrajudiciais e maior quantitativode antecipaccedilotildees de tutela obtidas nas accedilotildees propostas embora ainda sem dados coligidos esistematizados a respeito

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181R Defensoria Puacutebl Uniatildeo Brasiacutelia DF n 8 p 1-356 jandez 2015

positivo por oacutebvio todas as vantagens da resoluccedilatildeo administrativa

Outro recurso a ser considerado como dito como opccedilatildeo agraves muacuteltiplas accedilotildees individuaissatildeo as accedilotildees de natureza coletiva visando agrave efetiva disponibilizaccedilatildeo de procedimentos

oferecidos formalmente mas cuja demora na prestaccedilatildeo torna na praacutetica insustentaacutevela espera ais accedilotildees sob o ponto de vista pragmaacutetico todavia nem sempre tecircm comoobter resultados concretos imediatos mas frutos de uma atuaccedilatildeo combativa criacuteticae politicamente atuante satildeo relevante termocircmetro acerca do modo como estatildeo sendogeridos os recursos em sauacutede advertindo para a necessidade de se dar concretude ao direitoconstitucionalmente reconhecido incentivando da maneira mais pertinente o sistemade checks and balances reservando-se as accedilotildees individuais para situaccedilotildees especiacuteficas denecessidade incontornaacutevel e sem perspectiva de resoluccedilatildeo natildeo litigiosa

Por fim sempre cabiacutevel lembrar que o momento da urgecircncia do plantatildeo do riscoiminente de vida eacute sempre o pior momento para avaliar o que fazer culminando-seem accedilotildees accedilodadas por vezes mal instruiacutedas natildeo raro em duplicidade nas instacircnciasestadual e federal com riscos para o paciente ou de desperdiacutecio de recursos puacuteblicos ouainda de descreacutedito para a instituiccedilatildeo Importante assim discutirem-se as abordagenspossiacuteveis criando-se orientaccedilotildees de conduta que de antematildeo auxiliem na organizaccedilatildeo dopensamento e na escolha das vias cabiacuteveis para ajudar o requerente ndash vulnerado quer pelahipossuficiecircncia econocircmica quer pela enfermidade ou na maioria das vezes por ambas

ndash da forma mais promissora e adequada possiacutevel

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Natildeo haacute por oacutebvio respostas faacuteceis na mateacuteria O objetivo do texto foi sobretudo chamar

atenccedilatildeo para aspectos nem sempre vistos na lida cotidiana do Defensor imbuiacutedo da visatildeodo assistido e suas anguacutestias premido pelo tempo sem que tenha por vezes sequercondiccedilatildeo de distanciar-se para um olhar mais imparcial

odavia tais distanciamento e compreensatildeo mostram-se necessaacuterios agrave instituiccedilatildeo afim de redirecionar a busca a mecanismos alternativos para o impasse da sauacutede comodireito simultaneamente individual e social sujeito agraves premecircncias pessoais mas tambeacutem

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agraves limitaccedilotildees de uma prestaccedilatildeo coletiva a exemplo da proacutepria escassez real (e aiacute misterdistinguir o mero argumento da escassez e da reserva do possiacutevel em contraposiccedilatildeo agravecomprovada inviabilidade de produccedilatildeo ou fornecimento a exemplo do nuacutemero de vagasimediatas em UI de um hospital puacuteblico ou a disponibilidade de oacutergatildeos compatiacuteveis para

transplante) e da inevitabilidade da alocaccedilatildeo de recursos o que natildeo eacute dado a ningueacutemresponsavelmente negar

Apenas a tiacutetulo de pensamento inicial sugerir-se-ia o desenvolvimento de incremento nastentativas de resoluccedilatildeo extrajudicial a exemplo de maior contato com a Administraccedilatildeo ndash aquem tambeacutem interessa a reduccedilatildeo das lides diminuindo gastos a varejo ndash e com oacutergatildeosde prestaccedilatildeo de sauacutede puacuteblica e de orientaccedilatildeo profissional meacutedica com vistas a analisar aeficaacutecia indicaccedilatildeo e seguranccedila de determinados recursos terapecircuticos subsidiando melhoros pedidos e melhorando os iacutendices de deferimento na espeacutecie que lamentavelmente

comeccedilam a declinar talvez movidos pelo perigo da dessensibilizaccedilatildeo do Judiciaacuterio ante aprofusatildeo de pedidos no setor reservando-se a atuaccedilatildeo judicial para situaccedilotildees de insucessoadministrativo reconhecido considerada a premecircncia e a comprovada necessidade ouatuaccedilotildees de iacutendole coletiva de pressatildeo poliacutetica para assegurar a melhor prestaccedilatildeo dodireito constitucional

Satildeo apenas reflexotildees incipientes mas ficam a semente da ideia o desafio que a questatildeorepresenta e o chamado ao compromisso coletivo de desenvolvecirc-las em prol do cidadatildeo

da efetividade constitucional e da atuaccedilatildeo mais consciente precisa e exitosa possiacutevel porparte da Defensoria Puacuteblica na defesa ao direito fundamental agrave sauacutede

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VIEIRA Fabiacuteola Sulpino Accedilotildees judiciais e direito agrave sauacutede reflexatildeo sobre a observacircnciaaos princiacutepios do SUS Rev Sauacutede Puacuteblica v 42 n 2 p 365-369 abr 2008

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inclusive que as indicaccedilotildees satildeo feitas muitas vezes em usos natildeo oficializados (off label)experimentais ou extraordinaacuterios havendo de se discutir os criteacuterios que deveratildeo norteara atuaccedilatildeo estatal perante casos que tais

Os princiacutepios balizadores do Sistema Uacutenico de Sauacutede estatildeo afirmados no artigo 7ordm da Leindeg 808090 em que se sublinham

I - universalidade de acesso aos serviccedilos de sauacutede em todos os niacuteveisde assistecircnciaII - integralidade de assistecircncia entendida como conjunto articuladoe contiacutenuo das accedilotildees e serviccedilos preventivos e curativos individuais ecoletivos exigidos para cada caso em todos os niacuteveis de complexidadedo sistemaIII - preservaccedilatildeo da autonomia das pessoas na defesa de sua integridadefiacutesica e moralIV - igualdade da assistecircncia agrave sauacutede sem preconceitos ou privileacutegiosde qualquer espeacutecieV - direito agrave informaccedilatildeo agraves pessoas assistidas sobre sua sauacutedeVI - divulgaccedilatildeo de informaccedilotildees quanto ao potencial dos serviccedilos desauacutede e a sua utilizaccedilatildeo pelo usuaacuterioVII - utilizaccedilatildeo da epidemiologia para o estabelecimento de prioridadesa alocaccedilatildeo de recursos e a orientaccedilatildeo programaacuteticaVIII - participaccedilatildeo da comunidade []

Entre esses princiacutepios verificam-se de logo aparentes contradiccedilotildees tendentes a se tornarem

relevantes paradoxos praacuteticos Ao se mencionar por exemplo a autonomia ndash importanteaspecto da relaccedilatildeo profissional-paciente salvaguardado entre outros no artigo 15 doCoacutedigo Civil de 200211 ndash haacute que se identificar a existecircncia de limites no acircmbito dessaautonomia ais limites natildeo decorrem apenas dos cerceamentos morais e legais amplos(vedaccedilatildeo agrave eutanaacutesia ao aborto salvo exceccedilotildees legais ou ao auxiacutelio ao suiciacutedio verbi gratia ) mas satildeo tambeacutem advindos das proacuteprias normas especiacuteficas regentes do SistemaUacutenico de Sauacutede passando a balizar natildeo somente a autonomia do paciente como tambeacutemem certa medida a proacutepria autonomia profissional12 buscando-se priorizar em suasprescriccedilotildees e entre opccedilotildees tecnicamente equivalentes aquelas jaacute incorporadas pelo SUS

De outro lado tampouco pode a referida autonomia meacutedica ser mortalmente ferida sehaacute fundamentos relevantes para acreditar que a prescriccedilatildeo de determinada medicaccedilatildeo seja

11 ldquo Art 15 Ningueacutem pode ser constrangido a submeter-se com risco de vida atratamento meacutedico ou a intervenccedilatildeo ciruacutergica rdquo12 O item II do Capiacutetulo II do Coacutedigo de Eacutetica Meacutedica atual aponta como direito do meacutedicoldquoIndicar o procedimento adequado ao paciente observadas as praacuteticas cientificamente reconhecidase respeitada a legislaccedilatildeo vigenterdquo

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substancialmente favoraacutevel ao paciente

Assim como ponto de equiliacutebrio o profissional deveraacute dar preferecircncia agraves medicaccedilotildeese tratamentos constantes no rol do Sistema Uacutenico de Sauacutede desde que em condiccedilotildees

de equivalecircncia de modo que dessa escolha natildeo advenham reconhecidos prejuiacutezos aopaciente Nesse sentido um trabalho de conscientizaccedilatildeo dos profissionais meacutedicosmediante atuaccedilatildeo conjunta junto a essa esfera pode ser de grande valia para reduzir accedilotildees judiciais em vista de prescriccedilotildees mal justificadas

Mesmo em relaccedilatildeo a atendimentos particulares haacute que se evitar a prescriccedilatildeo desarrazoadade medicaccedilotildees de eficaacutecia natildeo comprovada que em uacuteltima anaacutelise viratildeo a ser reclamadasdo Sistema Uacutenico de Sauacutede (inclusive em vista do fator empobrecedor da doenccedila e dauniversalidade prevista) convertendo o paciente em verdadeiro sujeito (ou objeto) de

pesquisa natildeo organizada e gerando gastos e expectativas vatildeos

Outro aparente paradoxo se poderia assinalar em relaccedilatildeo aos princiacutepios arrolados nositens II e VII De um lado assegura-se a integralidade da assistecircncia De outro contudoadota-se o uso da epidemiologia para o estabelecimento de prioridades e a alocaccedilatildeo derecursos Como proceder entatildeo se for necessaacuteria assistecircncia profissional para doenccedilaepidemiologicamente rara e de tratamento particularmente caro Eacute o que se tem notadoem muitos dos casos que chegam ao Judiciaacuterio nos quais se passa a discutir ainda que natildeo

expressamente a visatildeo utilitarista e o impasse entre a prevalecircncia do interesse individualou coletivo na alocaccedilatildeo de recursos em questatildeo13

Seguem-se nos artigos 8ordm a 19 a organizaccedilatildeo descentralizada (que compotildee o nono princiacutepiogestor do Sistema juntamente com a direccedilatildeo uacutenica em cada instacircncia) e sua divisatildeo entreas trecircs esferas ndash nacional estadual e municipal Cuida-se aqui de circunstacircncia tambeacutemcomumente suscitada pelos entes estatais reacuteus arguindo natildeo serem partes legiacutetimas nahipoacutetese haja vista a separaccedilatildeo de atribuiccedilotildees desenhada na legislaccedilatildeo especiacutefica Veja-se contudo que a separaccedilatildeo de tarefas entre as esferas estatais natildeo retira delas o dever

global do Estado de provimento da sauacutede cuja responsabilidade eacute em uacuteltima instacircncia

13 Nesse sentido em prol da necessidade de anaacutelise muldimensional inclusive para otimizar aassistecircncia coletiva inviabilizando a anaacutelise individualista da questatildeo cf FERRAZ OctaacutevioLuiz Motta VIEIRA Fabiacuteola Sulpino Direito agrave sauacutede recursos escassos e equumlidade os riscosda interpretaccedilatildeo judicial dominante Disponiacutevel em httpwwwstfjusbrarquivocmsprocessoAudienciaPublicaSaudeanexoDireito_a_Saude_Recursos_escassos_e_equidadepdf Acesso em 25abr2015

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171R Defensoria Puacutebl Uniatildeo Brasiacutelia DF n 8 p 1-356 jandez 2015

solidaacuteria14 Constata-se assim tiacutepico exemplo do chamado federalismo cooperativo oude colaboraccedilatildeo15 mais caracteriacutestico dos Estados de Bem-Estar Social e em que haacute umadivisatildeo de tarefas menos riacutegida e mais intercambiante conforme as necessidades praacuteticasque se apresentem ainda que persista o princiacutepio da subsidiariedade segundo o qual a

instacircncia superior deve agir quando natildeo resolviacutevel o problema nas instacircncias menores

Nesse mister o artigo 7ordm prevecirc ainda como princiacutepios simultacircneos do Sistema adescentralizaccedilatildeo poliacutetico-administrativa com direccedilatildeo uacutenica em cada esfera de governo(inciso IX) enfatizando a descentralizaccedilatildeo dos serviccedilos para os municiacutepios a regionalizaccedilatildeoe a hierarquizaccedilatildeo da rede de serviccedilos de sauacutede bem assim a organizaccedilatildeo dos serviccedilospuacuteblicos de modo a evitar duplicidade de meios para fins idecircnticos (inciso XIII) ndash o queeacute realmente um risco na incumbecircncia solidaacuteria Considerando-se todavia a falha noprovimento por todas as esferas a motivar a provocaccedilatildeo judicial o mesmo artigo estipula

a ldquoconjugaccedilatildeo dos recursos financeiros tecnoloacutegicos materiais e humanos da Uniatildeo dosEstados do Distrito Federal e dos Municiacutepios na prestaccedilatildeo de serviccedilos de assistecircncia agravesauacutede da populaccedilatildeordquo (inciso XI) e a ldquocapacidade de resoluccedilatildeo dos serviccedilos em todos osniacuteveis de assistecircncia rdquo (inciso XII) o que reafirma a noccedilatildeo de solidariedade federativa nodever de provimento da sauacutede

Ainda no que tange agrave conflituosa relaccedilatildeo entre as previsotildees legais e suas implementaccedilotildees

14 Sobre a discussatildeo acerca da solidariedade entre os entes estatais na aacuterea a jurisprudecircncia dosribunais Superiores jaacute reconheceu amplamente sua existecircncia caracterizando a existecircncia de umfederalismo cooperativo na espeacutecie Anteriormente ao posicionamento judicial jaacute se manifestavamem favor da responsabilidade concomitante e solidaacuteria das trecircs esferas estatais autores como DALLARI Sueli Gandolfi Os Estados Brasileiros e o Direito agrave Sauacutede Satildeo Paulo Hucitec1995 p 37-42 e SCHWARZ Germano Direito agrave Sauacutede Efetivaccedilatildeo em uma PerspectivaSistecircmica Porto Alegre Livraria do Advogado 2001 p 101 203 COHN Ameacutelia et al A Sauacutedecomo Direito e como Serviccedilo Satildeo Paulo Cortez 2008 p 68 entre outros assinalando o fato deque a regionalizaccedilatildeo e a descentralizaccedilatildeo tecircm por escopo favorecer a acessibilidade e natildeo dificultaacute-la natildeo obstando portanto a solidariedade entre os entes puacuteblicos Em favor da responsabilidade

sucessiva e natildeo solidaacuteria por forccedila da descentralizaccedilatildeo do Sistema cf FIGUEIREDO MarianaFilchtiner Direito Fundamental agrave Sauacutede Paracircmetros para sua Eficaacutecia e Efetividade Porto Alegre Livraria do Advogado 2007 p 157-16115 Cf por todos AVARES Andreacute Ramos Curso de Direito Constitucional 2ed Satildeo PauloSaraiva 2003 e SRECK Lecircnio Luiz MORAIS Joseacute Luiacutes Bolzan de Ciecircncia poliacutetica eteoria geral do estado 2ed Porto Alegre Livraria do Advogado 2000 Sobre o princiacutepio dasubsidiariedade nesse caso cf tambeacutem CANOILHO J J Gomes Direito Constitucional eeoria da Constituiccedilatildeo 7ed Coimbra Almedina [2003] Ainda sobre o tema da influecircnciado federalismo na mateacuteria cf o trabalho de DALLARI Sueli Gandolfi loc cit assinalando aabordagem diferenciada em cada constituiccedilatildeo estadual acerca do conteuacutedo do direito agrave sauacutede

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praacuteticas eacute de se notar que em 1999 foi incluiacutedo capiacutetulo referente agrave atenccedilatildeo agrave sauacutedeindiacutegena e em 2002 previu-se um subsistema de atendimento e internaccedilatildeo domiciliarEsses uacuteltimos cuidados ditos home care conquanto ainda pouco utilizados vecircmadequar-se ao quanto previsto na Constituiccedilatildeo Federal em seu artigo 230 paraacutegrafo 1ordm

notadamente em relaccedilatildeo aos idosos a saber ldquosect 1ordm - Os programas de amparo aos idososseratildeo executados preferencialmente em seus laresrdquo Em 2005 acolheu-se na legislaccedilatildeo umsubsistema de acompanhamento durante o trabalho de parto parto e poacutes-parto imediatoprevendo a possibilidade de acompanhante nesses eventos a exemplo do que jaacute fizera oEstatuto da Crianccedila e do Adolescente em relaccedilatildeo agrave previsatildeo de acompanhante para omenor internado no acircmbito do SUS (artigo 12 da Lei 806990 e Resoluccedilatildeo ndeg 4195sobre os direitos da crianccedila e do adolescente hospitalizados) revelando uma tendecircncia dehumanizaccedilatildeo dos procedimentos puacuteblicos de sauacutede

Na praacutetica ainda natildeo se implementaram amplamente esses novos espectros do direito agravesauacutede mas natildeo se os diga impossiacuteveis nem desnecessaacuterios Eacute curioso notar verbi gratia que quando do surgimento do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente tampouco era praxea manutenccedilatildeo dos pais junto aos pequenos pacientes ndash algo que hoje soa imprescindiacutevelndash e a afirmaccedilatildeo legislativa desse direito foi reputada como inviaacutevel dentro da estruturahospitalar da eacutepoca Menos de uma deacutecada depois todavia embora natildeo existam aindahoje instalaccedilotildees ideais em termos de conforto jaacute natildeo se cogita mais internar crianccedilas ouadolescentes sem lhes assegurar a permanecircncia de um dos responsaacuteveis Demonstrou-se

com isso que muitas das resistecircncias agrave implementaccedilatildeo de direitos satildeo bem mais culturaispor haacutebito ou falta de vontade poliacutetica do que propriamente por reais inviabilidadesfinanceiras ou operacionais Vive-se atualmente similar situaccedilatildeo quanto agrave previsatildeo deacompanhante para o idoso ou a gestante em trabalho de parto

Em relaccedilatildeo ao planejamento e orccedilamento a propoacutesito outro argumento habitual doEstado-reacuteu diz respeito justamente agrave impossibilidade de deslocamento de verbas natildeoprevistas na organizaccedilatildeo orccedilamentaacuteria dentro do Sistema Uacutenico de Sauacutede ou de outrasaacutereas para este sob pena de responsabilizaccedilatildeo fiscal Nessa seara poreacutem o artigo 36

paraacutegrafo 2ordm da Lei ndeg 808090 eacute enfaacutetico ao estabelecer que ldquoEacute vedada a transferecircnciade recursos para o financiamento de accedilotildees natildeo previstas nos planos de sauacutede exceto emsituaccedilotildees emergenciais ou de calamidade puacuteblica na aacuterea de sauacutederdquo (grifou-se)

Para exercer suas atividades o Sistema Uacutenico de Sauacutede conta com inuacutemeras outras normasgestoras ndash natildeo apenas leis de acircmbito nacional mas tambeacutem Portarias e normas de acircmbitoestadual e local ndash que detalham essa atuaccedilatildeo Assim eacute que por exemplo a Portaria nordm

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3916 de 30 de outubro de 1998 estabelece a Poliacutetica Nacional de Medicamentos a serauxiliada por normas outras como a Lei ndeg 978799 dita ldquoLei dos Geneacutericosrdquo definindoo medicamento geneacuterico como aquele similar a um produto de referecircncia ou inovadorque se pretende ser com este intercambiaacutevel geralmente produzido apoacutes a expiraccedilatildeo ou

renuacutencia da proteccedilatildeo patentaacuteria ou de outros direitos de exclusividade comprovada a suaeficaacutecia seguranccedila e qualidade

Prevecirc-se ainda que esses medicamentos devem ser preferidos no acircmbito do SUSpelo custo e acrescente-se pela impessoalidade mesma que deve caracterizar a atuaccedilatildeoadministrativa estatal desaconselhando a preferecircncia por produtos de laboratoacuterios oumarcas determinados em detrimento de produtos de denominaccedilatildeo comum brasileira ouna sua falta internacional a indicar maior neutralidade em prestaccedilatildeo equivalente

Jaacute se tem aiacute um paracircmetro a nortear as prescriccedilotildees e decisotildees na mateacuteria deve a prestaccedilatildeofarmacoloacutegica do Sistema Uacutenico de Sauacutede se pautar pelo fornecimento de medicaccedilotildees quedentre as que contecircm a substacircncia ativa necessaacuteria atendam agraves necessidades de eficaacuteciae seguranccedila poreacutem com menor custo maior impessoalidade e generalidade pois natildeoassociada a marca especiacutefica O uso racional desses recursos passa ainda pela orientaccedilatildeodos meacutedicos na criteriosa avaliaccedilatildeo das medicaccedilotildees prescritas privilegiando dentro deum paracircmetro de equivalecircncia aquelas jaacute constantes fornecimento regular pelo Sistema 16

16 Os produtos padronizados constam da Relaccedilatildeo Nacional de Medicamentos Essenciais (RENAME) Nosentido de promover a observacircncia da lista cita-se por exemplo a Portaria Estadual nordm 1475BA publicadano Diaacuterio Oficial do Estado de 300908 que ldquoConstitui Grupo de trabalho no acircmbito do SUS com oescopo de elaborar orientaccedilotildees e diretrizes aos profissionais meacutedicos no sentido de esgotarem as alternativasde faacutermacos previstas nos Protocolos Cliacutenicos e Diretrizes erapecircuticas do Ministeacuterio da Sauacutede e demais atosque lhe forem complementares antes de prescrever tratamento medicamentoso diverso aos pacientes nostermos da Notificaccedilatildeo Recomendatoacuteria 0022007 da Promotoria de Justiccedila e da Cidadania do MinisteacuterioPuacuteblico do Estado da Bahiardquo De acordo com a Organizaccedilatildeo Mundial da Sauacutede - OMS (Nairobi Quecircnia1985) ldquoHaacute uso racional quando pacientes recebem medicamentos apropriados para suas condiccedilotildees cliacutenicasem doses adequadas agraves suas necessidades individuais por um periacuteodo adequado e ao menor custo para si e

para a comunidaderdquo Segundo o Ministeacuterio da Sauacutede o uso racional de medicamentos consiste no ldquoprocessoque compreende a prescriccedilatildeo apropriada a disponibilidade oportuna e a preccedilos acessiacuteveis a dispensaccedilatildeoem condiccedilotildees adequadas e o consumo nas doses indicadas nos intervalos definidos e no periacuteodo de tempoindicado de medicamentos eficazes seguros e de qualidaderdquo (BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria dePoliacuteticas de Sauacutede Departamento de Atenccedilatildeo Baacutesica Poliacutetica nacional de medicamentos 2001Ministeacuterio daSauacutede Secretaria de Poliacuteticas de Sauacutede Departamento de Atenccedilatildeo Baacutesica ndash Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede2001 ambeacutem disponiacutevel em lthttpwwwopasorgbrmedicamentossiteUploadArqpnmpdfgtacessado em 02out08) Outros programas para estimular o uso racional de medicamentos encontram-sena paacutegina eletrocircnica do Ministeacuterio da Sauacutede (httpportalsaudegovbrportalsaudeareacfmid_area=1141acessado em 05out08)

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174 DEFENSORIA PUacuteBLICA DA UNIAtildeO Escola Superior

A alocaccedilatildeo de medicamentos no paiacutes estaacute dividida segundo o Ministeacuterio da Sauacutede em trecircscategorias baacutesicas17 medicamentos baacutesicos ou essenciais ldquopertencentes a um elenco miacutenimoobrigatoacuterio a ser dispensado na atenccedilatildeo baacutesicardquo ou na dicccedilatildeo legal aqueles consideradosldquobaacutesicos e indispensaacuteveis para atender a maioria dos problemas de sauacutede da populaccedilatildeordquo

previstos na Portaria do Ministeacuterio da Sauacutede nordm 32372007 medicamentos estrateacutegicosutilizados em programas especiacuteficos do Ministeacuterio da Sauacutede como aqueles de combateagrave AIDS tuberculose hanseniacutease diabetes doenccedila de Chagas malaacuteria coagulopatias eoutras conforme Portaria do Ministeacuterio da Sauacutede nordm 2042007 e medicamentos dedispensaccedilatildeo especial ou excepcional eacute dizer aqueles geralmente de alto custo destinadosa patologias especiacuteficas e complexas que atingem um nuacutemero limitado de pacientes parauso prolongado Esses procedimentos e recursos terapecircuticos encontravam-se arroladosna Portaria do Ministeacuterio da Sauacutede nordm 25772006 Eacute de se observar que sendo essauacuteltima uma das categorias mais solicitadas judicialmente e mais associadas com a evoluccedilatildeo

biotecnoloacutegica chama a atenccedilatildeo o fato de ter sido por muito tempo justamente aPortaria mais antiga deixando margem agrave criacutetica de provaacutevel desatualizaccedilatildeo em relaccedilatildeo aosavanccedilos atuais tendo sido atualizada pela Portaria GMMS 18692008 e revogada pelaPortaria GMMS 1062009 tambeacutem jaacute revogada A mateacuteria tambeacutem sofreu alteraccedilotildeespelas Portarias 2981 de 26 de novembro de 2009 Portaria 343GMMS de 22 defevereiro de 2010 Portaria 3439MS de 11 de novembro de 2010 e atualmente pelosPCD (PROOCOLOS CLIacuteNICOS E DIRERIZES ERAPEcircUICAS) a indicarparacircmetros de abordagem e tratamento para cada patologia

Analisando-se os montantes empregados em cada uma das categorias verifica-se que os

17 MELLO Dirceu Raposo et al op cit p 27-28 SALAZAR Andrea Lazzarini GROU Karina Bozola ADefesa da Sauacutede em Juiacutezo eoria e Praacutetica Satildeo Paulo Verbatim 2009 p 112-113

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gastos com medicamentos especiais superam em muito aqueles com medicaccedilotildees baacutesicas18 Dentre os medicamentos estrateacutegicos ndash responsaacuteveis pelo maior volume de custos commedicaccedilotildees entre os trecircs grupos na segunda metade da deacutecada passada ndash aqueles dirigidosao programa de HIVAIDS sofreram acreacutescimo substancial em 2006 ante as novas drogas

incorporadas ao cataacutelogo farmacoloacutegico de tratamento da doenccedila passando a representarsozinhos quase uma vez e meia o gasto com todas as demais drogas estrateacutegicas

Mais uma vez fica evidente que prevenir aleacutem de melhor sai bem mais barato que

18 Segundo quadro comparativo elaborado em MELLO Dirceu Raposo et al op cit p 28-29 a partirde dados do Ministeacuterio da Sauacutede os gastos com medicamentos baacutesicos em 2006 foram da ordem de 290milhotildees de reais representando 67 dos gastos com medicaccedilatildeo ao passo que o montante despendido commedicamentos de dispensaccedilatildeo especial alcanccedilaram a cifra de um bilhatildeo 355 milhotildees de reais equivalendoa 32 do orccedilamento para a aacuterea Dentre os medicamentos estrateacutegicos aqueles destinados ao programade DSAIDS custaram aos cofres puacuteblicos naquele ano 960 milhotildees de reais enquanto no ano anteriorrepresentaram despesa de 550 milhotildees de reais Cumpre assinalar que o programa de fornecimento gratuitode medicaccedilotildees antirretrovirais aos portadores de HIV no paiacutes eacute elogiado em todo o mundo pela iniciativapioneira na aacuterea apontada como exemplo na universalizaccedilatildeo do tratamento e inclusatildeo a esses pacientes A Leique cuida da mateacuteria ndash Lei ndeg 931396 ndash foi acompanhada por uma seacuterie de decisotildees judiciais proacute direitoagrave sauacutede determinando o efetivo provimento das medicaccedilotildees e sua atualizaccedilatildeo conforme o estado cientiacuteficomundial nos termos da redaccedilatildeo legal Nesse sentido se assinala entre outros o seguinte acoacuterdatildeo provenientedo Supremo ribunal Federal defendendo a aplicabilidade imediata das normas relativas ao direito agravesauacutede PACIENE COM HIVAIDS ndash PESSOA DESIUIacuteDA DE RECURSOS FINANCEIROS ndashDIREIO Agrave VIDA E Agrave SAUacuteDE ndashFORNECIMENO GRAUIO DE MEDICAMENOS ndash DEVERCONSIUCIONAL DO PODER PUacuteBLICO (CF ARS 5ordm CAPU E 196) O DIREIO Agrave SAUacuteDEREPRESENA CONSEQUumlEcircNCIA CONSIUCIONAL INDISSOCIAacuteVEL DO DIREIO Agrave VIDA

O direito puacuteblico subjetivo agrave sauacutede representa prerrogativa juriacutedica indisponiacutevel assegurada agrave generalidadedas pessoas pela proacutepria Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica (art 196) raduz bem juriacutedico constitucionalmentetutelado por cuja integridade deve velar de maneira responsaacutevel o Poder Puacuteblico a quem incumbe formularndash e implementar ndash poliacuteticas sociais e econocircmicas idocircneas que visem a garantir aos cidadatildeos inclusive agravequelesportadores do viacuterus HIV o acesso universal e igualitaacuterio agrave assistecircncia farmacecircutica e meacutedico-hospitalar Odireito agrave sauacutede ndash aleacutem de qualificar-se como direito fundamental que assiste a todas as pessoas ndash representaconsequumlecircncia constitucional indissociaacutevel do direito agrave vida O Poder Puacuteblico qualquer que seja a esfera institucionalde sua atuaccedilatildeo no plano da organizaccedilatildeo federativa brasileira natildeo pode mostrar-se indiferente ao problema da sauacutededa populaccedilatildeo sob pena de entender ainda que por censuraacutevel omissatildeo em grave comportamento inconstitucional(AGRRE nordm 271286-RS Rel Min Celso de Mello SF DJ 241100 p 101)

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remediar 19

Fato eacute queNenhum paiacutes ateacute o momento conseguiu estabelecer um limite oacutetimode gasto financeiro para melhorar a sauacutede de seus cidadatildeos os EUA

gastam 146 do PIB com sauacutede sendo o Estado responsaacutevel por449 desse total e 5 dos gastos puacuteblicos com sauacutede dizem respeitoaos medicamentos Ainda sobre os EUA dados de domiacutenio puacuteblicoinformam que cerca de 50 milhotildees de cidadatildeos natildeo tecircm acesso aosserviccedilos de sauacutede No Brasil os gastos com sauacutede correspondem agrave cifrade 79 do PIB sendo que o setor puacuteblico eacute responsaacutevel por 459desses gastos e os medicamentos representam 74 desses gastospuacuteblicos20

Sem duacutevida a garantia adequada do direito agrave sauacutede natildeo constitui um problema apenaspara os paiacuteses em desenvolvimento embora nesses falte o acesso ao que haacute de mais baacutesicopossiacutevel para a manutenccedilatildeo e a recuperaccedilatildeo da sauacutede ambeacutem os paiacuteses desenvolvidos

19 Aleacutem das despesas jaacute esperadas com tais medicamentos avultam ainda os gastos decorrentes de processos judiciais A esse respeito notiacutecia veiculada em setembro de 2008 na imprensa deu conta de que ldquoEntre2005 e 2008 o governo federal aumentou em 1820 (quase 20 vezes) as despesas decorrentes de ordens

judiciais que obrigam a Uniatildeo a pagar por medicamentos especiais Apenas na primeira metade deste anoforam gastos pelo governo federal por ordem da Justiccedila R$ 48 milhotildees nesses tratamentos Em 2005 oinvestimento foi de R$ 25 milhotildeesrdquo ambeacutem foi informado que ldquoa cada mecircs Satildeo Paulo gasta R$ 400milhotildees com remeacutedios obtidos pelos doentes mediante ordem judicial e que natildeo satildeo fornecidos pelo SUS Asituaccedilatildeo natildeo eacute muito diferente no Rio Grande do Sul Foram R$ 31 milhotildees com accedilotildees judiciais envolvendomedicamentos em 2006 e R$ 50 milhotildees em 2007 e a previsatildeo eacute de que sejam gastos R$ 150 milhotildees nesteano ndash o equivalente a um terccedilo do total de recursos de custeio dos programas da Secretaria Estadual deSauacutederdquo Dentro desses valores apurou-se ainda a ocorrecircncia de fraudes envolvendo meacutedicos e advogadosque mediante pedidos judiciais providos teriam resultado em prejuiacutezo de R$ 63 milhotildees aos cofrespuacuteblicos (REZZI Humberto Sauacutede Aumento no gasto do governo em remeacutedios especiais eacute investigadoPromotores e policiais suspeitam que quadrilhas falsificariam atestados para obrigar a Uniatildeo a fornecermedicamentos de alto custo a pacientes por via judicial Jornal Zero Hora Porto Alegre ediccedilatildeo ndeg 15734

Disponiacutevel em lthttpzerohoraclicrbscombrzerohorajspdefault2jspuf=1amplocal=1ampsource=a2195502xmlamptemplate=3898dwtampedition=10739ampsection=1003gt acessado em 12out08) Deduz-se daiacute queconquanto via relevantiacutessima para o controle do atendimento do direito fundamental agrave sauacutede a prestaccedilatildeo

jurisdicional haacute de ser particularmente cautelosa na anaacutelise de tais pleitos sobretudo quando em sede deprovimentos liminares por natildeo se poder desconsiderar o grave impacto que essas decisotildees tecircm tomado noorccedilamento sanitaacuterio Eacute imprescindiacutevel entatildeo sempre que possiacutevel e especialmente quando o fornecimentoeacute feito a entidades privadas sobre as quais incide menor controle na utilizaccedilatildeo desses recursos a realizaccedilatildeode periacutecia meacutedica judicial a constatar a efetiva necessidade e infungibilidade do recurso demandado naquelecaso concreto20 MELLO Dirceu Raposo et al op cit p 23

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tecircm problemas para assegurar os cuidados de sauacutede esperados pela populaccedilatildeo situaccedilatildeoque se agrava progressivamente com o envelhecimento da populaccedilatildeo (com suas conhecidasconsequecircncias para o equiliacutebrio previdenciaacuterio) e com o desenvolvimento crescente dosrecursos farmacecircuticos e biotecnoloacutegicos criando patamares cada vez mais elevados de

atenccedilatildeo agrave sauacutede21

Elevou-se a qualidade e a quantidade de vida o que eacute um aspectoinegavelmente positivo mas que gera outrossim consequecircncias de difiacutecil equiliacutebrioeconocircmico

4 DEMANDAS JUDICIAIS EM SAUacuteDE COMO AVANCcedilAR EM DIRECcedilAtildeO

AO QUE PARECE NAtildeO ER SAIacuteDA

Questionado sobre formas de viabilizaccedilatildeo de um sistema puacuteblico de sauacutede dentro dessecontexto ponderou primeiramente Diego Gracia 22 que quem tem receituaacuterio fazalocaccedilatildeo Com efeito Ao fazer uma mera prescriccedilatildeo individual o meacutedico estaacute a indicarali os paracircmetros para o exerciacutecio do direito agrave sauacutede pelo paciente Eacute para alcanccedilar orecurso prescrito que o cidadatildeo vai agrave Justiccedila pleitear ao Estado ou ao plano de sauacutede queo forneccedila Eacute na prescriccedilatildeo que se baseia o Juiz quando antecipa uma tutela mesmo antes

de ouvir a parte adversa na convicccedilatildeo de que haacute urgecircncia no acesso agravequele recurso

Mister assim para racionalizar o uso de medicamentos e recursos no SUS orientar eracionalizar tambeacutem as prescriccedilotildees meacutedicas de modo que sem sacrificar a sauacutede dopaciente tampouco se sacrifique indevidamente o Sistema organizado para protegecirc-lae garanti-la Nesse ponto erige-se a validade de se pensar um trabalho conjunto comorganizaccedilotildees profissionais como uma outra vertente para a maior efetivaccedilatildeo na prestaccedilatildeo

21

Nesse sentido cf a obra AARON Henry J SCHWARZ William B Te Painful Prescriptionhellipreferente sobretudo aos Estados Unidos e agrave Inglaterra mas que tambeacutem menciona a situaccedilatildeo de outros paiacutesesdesenvolvidos como a Franccedila e o Canadaacute ambeacutem trata do assunto entre outros PENCHASZADEHVictor Bioeacutetica y medicina social Una confluencia necesaria Revista Brasileira de Bioeacutetica BrasiacuteliaSociedade Brasileira de Bioeacutetica v 3 n 2 p 129-149 2007 p 137 Destaque-se outrossim a recentepolecircmica envolvendo o governo americano do Presidente Barack Obama ante a perspectiva de maiordemocratizaccedilatildeo do acesso agrave sauacutede em confronto com o arcabouccedilo tendencialmente liberal da poliacutetica daqueleEstado no setor ateacute entatildeo22 GRACIA Diego Bioeacutetica Cliacutenica e Contexto Social In VII CONGRESSO BRASILEIRO DEBIOEacuteICA Satildeo Paulo 2007 Conferecircncia

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178 DEFENSORIA PUacuteBLICA DA UNIAtildeO Escola Superior

e cobranccedila do direito agrave sauacutede

A especial atenccedilatildeo aos preceitos da Medicina Baseada em Evidecircncias devidamentefundamentada em relatoacuterios e prescriccedilotildees acurados com a cuidadosa anaacutelise e

demonstraccedilatildeo de eficaacutecia seguranccedila e eficiecircncia23

quer no geral quer no caso concretotambeacutem satildeo de grande valia para a atuaccedilatildeo coerente e racional na aacuterea inclusive a fim deevitar que o assistido seja engolfado por esperanccedilas vatildes de resultados temeraacuterios tentativasheroicas sem perspectivas reais e pesquisas multinacionais em larga escala que exacerbamsua vulnerabilidade e fragilizam a credibilidade dos pedidos judiciais no setor Nessecontexto mister evitar tambeacutem pedidos irrazoaacuteveis natildeo factiacuteveis na praacutetica ou opccedilotildees

23 Embora costumeiramente usadas de forma equivalente as expressotildees eficaacutecia eficiecircncia e efetividade tecircmsignificados teacutecnicos especiacuteficos na seara da MBE Nesse sentido a seguranccedila mencionada implica a anaacutelisede que os danos colaterais possiacutevel sejam inferiores aos benefiacutecios oferecidos com seu uso para o fim a quese propotildee A eficaacutecia consiste na evidecircncia de ter o recurso prescrito comprovado efeito beneacutefico para aquelecaso (ldquofazem o que se propotildeem a fazerrdquo ndash na expressatildeo de VIEIRA Fabiacuteola Sulpino op cit p365-369)evitando-se os chamados ldquoprodutos de complacecircnciardquo ndash sem eficaacutecia comprovada mas prescritos por insistecircnciado paciente ou por pressatildeo do marketing industrial por exemplo ndash bem como os atos aparentemente cliacutenicosmas que se mostram em verdade experimentais visto que natildeo validados de nenhuma forma cientificamente

aceita a qual permita asseveraacute-los como realmente producentes e seguros A efetividade propriamente dita corresponde agrave eficaacutecia e agrave eficiecircncia em condiccedilotildees reais de sorte a evitar desperdiacutecios Eacute dizer que os produtoseleitos ldquofazem o que se propotildeem a fazer quando utilizados pelas pessoas em condiccedilotildees reais e natildeo em gruposhomogecircneos que constituem os grupos de pessoas dos ensaios cliacutenicosrdquo (idem ibidem) Por fim a eficiecircnciaou custo-efetividade envolve a avaliaccedilatildeo da relaccedilatildeo custobenefiacutecio de modo a se constatar a substancialvantagem de dado recurso em relaccedilatildeo a outro observadas a eficaacutecia e a efetividade propriamente ditaSignifica dizer que o produto em questatildeo ldquoentre as alternativas disponiacuteveis faz o que se propotildee a fazer paraas pessoas em condiccedilotildees reais ao menor custordquo (idem ibidem) Embora conceitos mais utilizados no acircmbitoeconocircmico e de macroalocaccedilatildeo de recursos acabam repercutindo na microalocaccedilatildeo individual ao requerermaior comprovaccedilatildeo quando de pedido que natildeo leve em consideraccedilatildeo tais subprinciacutepios Segundo a ANVISAtem-se a efetividade como ldquogarantia de medicamentos eficazes eou efetivos e seguros cuja relaccedilatildeo risco-benefiacutecio seja favoraacutevel e comprovada a partir das melhores evidecircncias cientiacuteficas disponiacuteveis na literatura

e com registro aprovado na Agecircncia Nacional de Vigilacircncia Sanitaacuteria (ANVISA)rdquo e a eficiecircncia como aldquogarantia de medicamentos que proporcionem a melhor resposta terapecircutica aos usuaacuterios com os menorescustos para o SUSrdquo (Lei 124012011 e pela Resoluccedilatildeo 01 do Ministeacuterio da Sauacutede de 17 de janeiro de2012) Eacute fato que considerando os escores da Medicina baseada em evidecircncia alega o Estado de praxe quea experiecircncia do meacutedico prescritor isoladamente e mesmo do perito judicial natildeo teriam niacutevel de sustentaccedilatildeocientiacutefica bastante para subsidiar a concessatildeo de medicaccedilatildeo natildeo padronizada pelo SUS todavia considerandoos requisitos de antecipaccedilatildeo de tutela pode conter se bem fundamentada em estudos outros de indicaccedilatildeoseguranccedila eficaacutecia efetividade e eficiecircncia elementos suficientes de verossimilhanccedila aleacutem de representara realidade daquele indiviacuteduo preocupando-se em registrar inclusive a ausecircncia de resposta ou indicaccedilatildeoquanto agraves outras opccedilotildees disponiacuteveis haja vista que como se costuma constatar a resposta individual nemsempre corresponde agravequela epidemiologicamente esperada

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comerciais especiacuteficas substituiacuteveis por equivalentes terapecircuticos disponiacuteveis no SUS24

Outro aspecto a ser sopesado eacute o modo e o conteuacutedo como feitos os pedidos na medida emque a proteccedilatildeo ao direito agrave sauacutede de um deve considerar a existecircncia de outros envolvidos

na alocaccedilatildeo de recursos diante da escassez real Exemplo disso satildeo os pedidos de vagaou de prioridade em filas de transplantes que necessariamente envolvem o cotejo comoutros afetados que natildeo satildeo parte no processo Natildeo raro se tem notiacutecia de comandos deprisatildeo a gestores hospitalares que tecircm todos os seus leitos ocupados por natildeo disporem devagas Inegaacutevel a falha estatal na espeacutecie mas ela natildeo pode ser resolvida com o comandoainda que indireto de retirada de pacientes que ainda necessitem do leito e cuidados paraalocaccedilatildeo de outro dotado de comando judicial Opccedilatildeo nesse caso eacute o pedido subsidiaacuteriode alocaccedilatildeo em unidades privadas agraves expensas do Estado natildeo por mera opccedilatildeo do enfermomas se natildeo houver leitos disponiacuteveis nas unidades puacuteblicas

Do ponto de vista estatal eacute mister o ajuste constante das poliacuteticas puacuteblicas de sortea mantecirc-las condizentes com as carecircncias da comunidade e atualizadas dentro dasmargens de efetividade terapecircutica a fim de se tentar com isso minorar a necessidade deintervenccedilotildees judiciais suplementares na aacuterea aleacutem de favorecer o proacuteprio funcionamentoadequado do Sistema em conformidade com seus princiacutepios gestores e com as previsotildeese garantias constitucionais sem acarretar a falecircncia do Sistema nem converter o direitouniversal agrave sauacutede em mera retoacuterica demagoacutegica

Nesse contexto a atuaccedilatildeo e participaccedilatildeo equilibrada da Defensoria junto a oacutergatildeos puacuteblicose conselhos interdisciplinares pode ser de grande valia para uma maior eficaacutecia na soluccedilatildeo

24 Em palestra proferida do II Foacuterum Brasileiro sobre Assistecircncia Farmacecircutica e Farmacoeconomia ocorridoem setembro de 2014 em Salvador-Bahia com a presenccedila de gestores puacuteblicos membros do JudiciaacuterioMinisteacuterio Puacuteblico Defensoria Puacuteblica e Advogados Puacuteblicos a representante paulista do CONASS(Conselho Nacional dos Secretaacuterios de Sauacutede) apresentou demonstrativo de pedidos em demandas judiciaissanitaacuterias contra o Estado e o Municiacutepio de Satildeo Paulo em que incluiacutedos itens como ldquoleite de cabra frescordquondash o qual resultou descumprido por absoluta ausecircncia de resposta agrave licitaccedilatildeo simplificada para localizar

detentores de cabras na cidade de Satildeo Paulo Nessa ocasiatildeo tambeacutem mostrou a palestrante estudo feitoquanto agraves 41000 accedilotildees judiciais em sauacutede atendidas por aqueles entes naquele ano tendo-se verificado quecerca de 70 delas se pautavam em prescriccedilotildees particulares 93 envolviam medicamentos extraordinaacuteriosao SUS sendo que aproximadamente 5 envolviam produtos importados sem registro na ANVISA 50envolviam itens de produtores exclusivos e cerca de 25 marcas especiacuteficas mesmo para itens simples comofraldas descartaacuteveis A franca maioria dos pedidos natildeo tivera solicitaccedilatildeo administrativa preacutevia sabendo oEstado do pleito jaacute em sede de antecipaccedilatildeo de tutela com prazo estrito para o fornecimento ainda que comfundamentaccedilatildeo cliacutenica escassa inclusive quanto agrave premecircncia do pedido (SIQUEIRA Paula Sue Facundo deDireito Sanitaacuterio a interface entre Judiciaacuterio e Sauacutede na utilizaccedilatildeo dos PDC II FOacuteRUM BRASILEIROSOBRE ASSISEcircNCIA FARMACEcircUICA E FARMACOECONOMIA Salvador 2014 Mesa Redonda)

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administrativa das questotildees reduzindo-se o quantitativo de demandas judiciais na espeacuteciee democratizando o acesso agrave sauacutede mesmo agravequeles que natildeo chegam agrave Defensoria Nesseuacuteltimo aspecto tambeacutem a atuaccedilatildeo mediante Accedilatildeo Civil Puacuteblica visando agrave atualizaccedilatildeodas listas de fornecimento ou denunciando carecircncias e esperas irrazoaacuteveis por exemplo

parece recurso de relevante monta para uma melhor prestaccedilatildeo no setor

Possibilidade de uma maior funcionalidade administrativa tambeacutem pode ser tentadamediante atuaccedilatildeo de profissional25 direcionado agrave aacuterea das crescentes demandas em sauacutedenas unidades defensoriais de sorte a direcionar melhor a instruccedilatildeo dos pedidos jaacute seorientando o tipo de relatoacuterio e informaccedilotildees necessaacuterios aleacutem de empreender contatodireto com os oacutergatildeos puacuteblicos de regulaccedilatildeo em sauacutede estreitando relaccedilotildees com a Secretariade Sauacutede do Estado e seus oacutergatildeos a exemplo da Central de Regulaccedilatildeo de Vagas

Propotildee-se com isso ampliar o quantitativo de resoluccedilotildees administrativas mais ceacutelerese menos custosas reservando a necessidade de intervenccedilotildees juriacutedicas agraves situaccedilotildees emque havendo a previsatildeo do fornecimento natildeo se consegue obtecirc-lo por maacute prestaccedilatildeoadministrativa ndash o que demonstrado por melhor instruccedilatildeo inicial sugere levar amelhores iacutendices de sucesso jaacute em sede antecipatoacuteria ndash ou nas situaccedilotildees de recursos natildeoincluiacutedos no rol de fornecimento do SUS (em que pese o limitante dos artigos 2ordm e 19da Lei 124012011) Nesse caso uacuteltimo jaacute se busque tambeacutem instruir o pedido com osdemonstrativos da eficaacutecia seguranccedila e indicaccedilatildeo da medida reclamada bem assim de

ausecircncia de resposta agraves drogas rotineiramente disponibilizadas ou indicadas nos PCDnos termos inclusive do quanto preconizado em reiterados Enunciados e Recomendaccedilotildeesdo CNJ (4 11 14 15 16 31) e precedentes jurisprudenciais relevantes como a SA175 de relatoria do Min Gilmar Mendes sobre a mateacuteria

O que se vislumbra de negativo em tal proposta eacute que eventual reduccedilatildeo da judicializaccedilatildeofaccedila supor uma maior eficiecircncia na prestaccedilatildeo estatal em sauacutede o que nem semprecorresponde agrave verdade obtendo-se o ecircxito em casos individuais atraveacutes da persistecircnciaempedernida do oacutergatildeo defensorial ateacute que a proacutexima situaccedilatildeo se apresente Como aspecto

25 entativa semelhante tem sido implementada ao longo do uacuteltimo ano na unidade baiana daDefensoria Puacuteblica da Uniatildeo por iniciativa da chefia que tambeacutem titulariza o ofiacutecio de tutelacoletiva mediante o destacamento de Assistente Social com experiecircncia na conduccedilatildeo de demandasem sauacutede e com o intuito de melhorar a assistecircncia em tais demandas ante o crescimentoexponencial de seu nuacutemero no quinquecircnio antecedente Os resultados tecircm-se mostrado prima facie positivos com aparente aumento do nuacutemero de deslindes extrajudiciais e maior quantitativode antecipaccedilotildees de tutela obtidas nas accedilotildees propostas embora ainda sem dados coligidos esistematizados a respeito

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positivo por oacutebvio todas as vantagens da resoluccedilatildeo administrativa

Outro recurso a ser considerado como dito como opccedilatildeo agraves muacuteltiplas accedilotildees individuaissatildeo as accedilotildees de natureza coletiva visando agrave efetiva disponibilizaccedilatildeo de procedimentos

oferecidos formalmente mas cuja demora na prestaccedilatildeo torna na praacutetica insustentaacutevela espera ais accedilotildees sob o ponto de vista pragmaacutetico todavia nem sempre tecircm comoobter resultados concretos imediatos mas frutos de uma atuaccedilatildeo combativa criacuteticae politicamente atuante satildeo relevante termocircmetro acerca do modo como estatildeo sendogeridos os recursos em sauacutede advertindo para a necessidade de se dar concretude ao direitoconstitucionalmente reconhecido incentivando da maneira mais pertinente o sistemade checks and balances reservando-se as accedilotildees individuais para situaccedilotildees especiacuteficas denecessidade incontornaacutevel e sem perspectiva de resoluccedilatildeo natildeo litigiosa

Por fim sempre cabiacutevel lembrar que o momento da urgecircncia do plantatildeo do riscoiminente de vida eacute sempre o pior momento para avaliar o que fazer culminando-seem accedilotildees accedilodadas por vezes mal instruiacutedas natildeo raro em duplicidade nas instacircnciasestadual e federal com riscos para o paciente ou de desperdiacutecio de recursos puacuteblicos ouainda de descreacutedito para a instituiccedilatildeo Importante assim discutirem-se as abordagenspossiacuteveis criando-se orientaccedilotildees de conduta que de antematildeo auxiliem na organizaccedilatildeo dopensamento e na escolha das vias cabiacuteveis para ajudar o requerente ndash vulnerado quer pelahipossuficiecircncia econocircmica quer pela enfermidade ou na maioria das vezes por ambas

ndash da forma mais promissora e adequada possiacutevel

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Natildeo haacute por oacutebvio respostas faacuteceis na mateacuteria O objetivo do texto foi sobretudo chamar

atenccedilatildeo para aspectos nem sempre vistos na lida cotidiana do Defensor imbuiacutedo da visatildeodo assistido e suas anguacutestias premido pelo tempo sem que tenha por vezes sequercondiccedilatildeo de distanciar-se para um olhar mais imparcial

odavia tais distanciamento e compreensatildeo mostram-se necessaacuterios agrave instituiccedilatildeo afim de redirecionar a busca a mecanismos alternativos para o impasse da sauacutede comodireito simultaneamente individual e social sujeito agraves premecircncias pessoais mas tambeacutem

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182 DEFENSORIA PUacuteBLICA DA UNIAtildeO Escola Superior

agraves limitaccedilotildees de uma prestaccedilatildeo coletiva a exemplo da proacutepria escassez real (e aiacute misterdistinguir o mero argumento da escassez e da reserva do possiacutevel em contraposiccedilatildeo agravecomprovada inviabilidade de produccedilatildeo ou fornecimento a exemplo do nuacutemero de vagasimediatas em UI de um hospital puacuteblico ou a disponibilidade de oacutergatildeos compatiacuteveis para

transplante) e da inevitabilidade da alocaccedilatildeo de recursos o que natildeo eacute dado a ningueacutemresponsavelmente negar

Apenas a tiacutetulo de pensamento inicial sugerir-se-ia o desenvolvimento de incremento nastentativas de resoluccedilatildeo extrajudicial a exemplo de maior contato com a Administraccedilatildeo ndash aquem tambeacutem interessa a reduccedilatildeo das lides diminuindo gastos a varejo ndash e com oacutergatildeosde prestaccedilatildeo de sauacutede puacuteblica e de orientaccedilatildeo profissional meacutedica com vistas a analisar aeficaacutecia indicaccedilatildeo e seguranccedila de determinados recursos terapecircuticos subsidiando melhoros pedidos e melhorando os iacutendices de deferimento na espeacutecie que lamentavelmente

comeccedilam a declinar talvez movidos pelo perigo da dessensibilizaccedilatildeo do Judiciaacuterio ante aprofusatildeo de pedidos no setor reservando-se a atuaccedilatildeo judicial para situaccedilotildees de insucessoadministrativo reconhecido considerada a premecircncia e a comprovada necessidade ouatuaccedilotildees de iacutendole coletiva de pressatildeo poliacutetica para assegurar a melhor prestaccedilatildeo dodireito constitucional

Satildeo apenas reflexotildees incipientes mas ficam a semente da ideia o desafio que a questatildeorepresenta e o chamado ao compromisso coletivo de desenvolvecirc-las em prol do cidadatildeo

da efetividade constitucional e da atuaccedilatildeo mais consciente precisa e exitosa possiacutevel porparte da Defensoria Puacuteblica na defesa ao direito fundamental agrave sauacutede

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170 DEFENSORIA PUacuteBLICA DA UNIAtildeO Escola Superior

substancialmente favoraacutevel ao paciente

Assim como ponto de equiliacutebrio o profissional deveraacute dar preferecircncia agraves medicaccedilotildeese tratamentos constantes no rol do Sistema Uacutenico de Sauacutede desde que em condiccedilotildees

de equivalecircncia de modo que dessa escolha natildeo advenham reconhecidos prejuiacutezos aopaciente Nesse sentido um trabalho de conscientizaccedilatildeo dos profissionais meacutedicosmediante atuaccedilatildeo conjunta junto a essa esfera pode ser de grande valia para reduzir accedilotildees judiciais em vista de prescriccedilotildees mal justificadas

Mesmo em relaccedilatildeo a atendimentos particulares haacute que se evitar a prescriccedilatildeo desarrazoadade medicaccedilotildees de eficaacutecia natildeo comprovada que em uacuteltima anaacutelise viratildeo a ser reclamadasdo Sistema Uacutenico de Sauacutede (inclusive em vista do fator empobrecedor da doenccedila e dauniversalidade prevista) convertendo o paciente em verdadeiro sujeito (ou objeto) de

pesquisa natildeo organizada e gerando gastos e expectativas vatildeos

Outro aparente paradoxo se poderia assinalar em relaccedilatildeo aos princiacutepios arrolados nositens II e VII De um lado assegura-se a integralidade da assistecircncia De outro contudoadota-se o uso da epidemiologia para o estabelecimento de prioridades e a alocaccedilatildeo derecursos Como proceder entatildeo se for necessaacuteria assistecircncia profissional para doenccedilaepidemiologicamente rara e de tratamento particularmente caro Eacute o que se tem notadoem muitos dos casos que chegam ao Judiciaacuterio nos quais se passa a discutir ainda que natildeo

expressamente a visatildeo utilitarista e o impasse entre a prevalecircncia do interesse individualou coletivo na alocaccedilatildeo de recursos em questatildeo13

Seguem-se nos artigos 8ordm a 19 a organizaccedilatildeo descentralizada (que compotildee o nono princiacutepiogestor do Sistema juntamente com a direccedilatildeo uacutenica em cada instacircncia) e sua divisatildeo entreas trecircs esferas ndash nacional estadual e municipal Cuida-se aqui de circunstacircncia tambeacutemcomumente suscitada pelos entes estatais reacuteus arguindo natildeo serem partes legiacutetimas nahipoacutetese haja vista a separaccedilatildeo de atribuiccedilotildees desenhada na legislaccedilatildeo especiacutefica Veja-se contudo que a separaccedilatildeo de tarefas entre as esferas estatais natildeo retira delas o dever

global do Estado de provimento da sauacutede cuja responsabilidade eacute em uacuteltima instacircncia

13 Nesse sentido em prol da necessidade de anaacutelise muldimensional inclusive para otimizar aassistecircncia coletiva inviabilizando a anaacutelise individualista da questatildeo cf FERRAZ OctaacutevioLuiz Motta VIEIRA Fabiacuteola Sulpino Direito agrave sauacutede recursos escassos e equumlidade os riscosda interpretaccedilatildeo judicial dominante Disponiacutevel em httpwwwstfjusbrarquivocmsprocessoAudienciaPublicaSaudeanexoDireito_a_Saude_Recursos_escassos_e_equidadepdf Acesso em 25abr2015

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solidaacuteria14 Constata-se assim tiacutepico exemplo do chamado federalismo cooperativo oude colaboraccedilatildeo15 mais caracteriacutestico dos Estados de Bem-Estar Social e em que haacute umadivisatildeo de tarefas menos riacutegida e mais intercambiante conforme as necessidades praacuteticasque se apresentem ainda que persista o princiacutepio da subsidiariedade segundo o qual a

instacircncia superior deve agir quando natildeo resolviacutevel o problema nas instacircncias menores

Nesse mister o artigo 7ordm prevecirc ainda como princiacutepios simultacircneos do Sistema adescentralizaccedilatildeo poliacutetico-administrativa com direccedilatildeo uacutenica em cada esfera de governo(inciso IX) enfatizando a descentralizaccedilatildeo dos serviccedilos para os municiacutepios a regionalizaccedilatildeoe a hierarquizaccedilatildeo da rede de serviccedilos de sauacutede bem assim a organizaccedilatildeo dos serviccedilospuacuteblicos de modo a evitar duplicidade de meios para fins idecircnticos (inciso XIII) ndash o queeacute realmente um risco na incumbecircncia solidaacuteria Considerando-se todavia a falha noprovimento por todas as esferas a motivar a provocaccedilatildeo judicial o mesmo artigo estipula

a ldquoconjugaccedilatildeo dos recursos financeiros tecnoloacutegicos materiais e humanos da Uniatildeo dosEstados do Distrito Federal e dos Municiacutepios na prestaccedilatildeo de serviccedilos de assistecircncia agravesauacutede da populaccedilatildeordquo (inciso XI) e a ldquocapacidade de resoluccedilatildeo dos serviccedilos em todos osniacuteveis de assistecircncia rdquo (inciso XII) o que reafirma a noccedilatildeo de solidariedade federativa nodever de provimento da sauacutede

Ainda no que tange agrave conflituosa relaccedilatildeo entre as previsotildees legais e suas implementaccedilotildees

14 Sobre a discussatildeo acerca da solidariedade entre os entes estatais na aacuterea a jurisprudecircncia dosribunais Superiores jaacute reconheceu amplamente sua existecircncia caracterizando a existecircncia de umfederalismo cooperativo na espeacutecie Anteriormente ao posicionamento judicial jaacute se manifestavamem favor da responsabilidade concomitante e solidaacuteria das trecircs esferas estatais autores como DALLARI Sueli Gandolfi Os Estados Brasileiros e o Direito agrave Sauacutede Satildeo Paulo Hucitec1995 p 37-42 e SCHWARZ Germano Direito agrave Sauacutede Efetivaccedilatildeo em uma PerspectivaSistecircmica Porto Alegre Livraria do Advogado 2001 p 101 203 COHN Ameacutelia et al A Sauacutedecomo Direito e como Serviccedilo Satildeo Paulo Cortez 2008 p 68 entre outros assinalando o fato deque a regionalizaccedilatildeo e a descentralizaccedilatildeo tecircm por escopo favorecer a acessibilidade e natildeo dificultaacute-la natildeo obstando portanto a solidariedade entre os entes puacuteblicos Em favor da responsabilidade

sucessiva e natildeo solidaacuteria por forccedila da descentralizaccedilatildeo do Sistema cf FIGUEIREDO MarianaFilchtiner Direito Fundamental agrave Sauacutede Paracircmetros para sua Eficaacutecia e Efetividade Porto Alegre Livraria do Advogado 2007 p 157-16115 Cf por todos AVARES Andreacute Ramos Curso de Direito Constitucional 2ed Satildeo PauloSaraiva 2003 e SRECK Lecircnio Luiz MORAIS Joseacute Luiacutes Bolzan de Ciecircncia poliacutetica eteoria geral do estado 2ed Porto Alegre Livraria do Advogado 2000 Sobre o princiacutepio dasubsidiariedade nesse caso cf tambeacutem CANOILHO J J Gomes Direito Constitucional eeoria da Constituiccedilatildeo 7ed Coimbra Almedina [2003] Ainda sobre o tema da influecircnciado federalismo na mateacuteria cf o trabalho de DALLARI Sueli Gandolfi loc cit assinalando aabordagem diferenciada em cada constituiccedilatildeo estadual acerca do conteuacutedo do direito agrave sauacutede

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172 DEFENSORIA PUacuteBLICA DA UNIAtildeO Escola Superior

praacuteticas eacute de se notar que em 1999 foi incluiacutedo capiacutetulo referente agrave atenccedilatildeo agrave sauacutedeindiacutegena e em 2002 previu-se um subsistema de atendimento e internaccedilatildeo domiciliarEsses uacuteltimos cuidados ditos home care conquanto ainda pouco utilizados vecircmadequar-se ao quanto previsto na Constituiccedilatildeo Federal em seu artigo 230 paraacutegrafo 1ordm

notadamente em relaccedilatildeo aos idosos a saber ldquosect 1ordm - Os programas de amparo aos idososseratildeo executados preferencialmente em seus laresrdquo Em 2005 acolheu-se na legislaccedilatildeo umsubsistema de acompanhamento durante o trabalho de parto parto e poacutes-parto imediatoprevendo a possibilidade de acompanhante nesses eventos a exemplo do que jaacute fizera oEstatuto da Crianccedila e do Adolescente em relaccedilatildeo agrave previsatildeo de acompanhante para omenor internado no acircmbito do SUS (artigo 12 da Lei 806990 e Resoluccedilatildeo ndeg 4195sobre os direitos da crianccedila e do adolescente hospitalizados) revelando uma tendecircncia dehumanizaccedilatildeo dos procedimentos puacuteblicos de sauacutede

Na praacutetica ainda natildeo se implementaram amplamente esses novos espectros do direito agravesauacutede mas natildeo se os diga impossiacuteveis nem desnecessaacuterios Eacute curioso notar verbi gratia que quando do surgimento do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente tampouco era praxea manutenccedilatildeo dos pais junto aos pequenos pacientes ndash algo que hoje soa imprescindiacutevelndash e a afirmaccedilatildeo legislativa desse direito foi reputada como inviaacutevel dentro da estruturahospitalar da eacutepoca Menos de uma deacutecada depois todavia embora natildeo existam aindahoje instalaccedilotildees ideais em termos de conforto jaacute natildeo se cogita mais internar crianccedilas ouadolescentes sem lhes assegurar a permanecircncia de um dos responsaacuteveis Demonstrou-se

com isso que muitas das resistecircncias agrave implementaccedilatildeo de direitos satildeo bem mais culturaispor haacutebito ou falta de vontade poliacutetica do que propriamente por reais inviabilidadesfinanceiras ou operacionais Vive-se atualmente similar situaccedilatildeo quanto agrave previsatildeo deacompanhante para o idoso ou a gestante em trabalho de parto

Em relaccedilatildeo ao planejamento e orccedilamento a propoacutesito outro argumento habitual doEstado-reacuteu diz respeito justamente agrave impossibilidade de deslocamento de verbas natildeoprevistas na organizaccedilatildeo orccedilamentaacuteria dentro do Sistema Uacutenico de Sauacutede ou de outrasaacutereas para este sob pena de responsabilizaccedilatildeo fiscal Nessa seara poreacutem o artigo 36

paraacutegrafo 2ordm da Lei ndeg 808090 eacute enfaacutetico ao estabelecer que ldquoEacute vedada a transferecircnciade recursos para o financiamento de accedilotildees natildeo previstas nos planos de sauacutede exceto emsituaccedilotildees emergenciais ou de calamidade puacuteblica na aacuterea de sauacutederdquo (grifou-se)

Para exercer suas atividades o Sistema Uacutenico de Sauacutede conta com inuacutemeras outras normasgestoras ndash natildeo apenas leis de acircmbito nacional mas tambeacutem Portarias e normas de acircmbitoestadual e local ndash que detalham essa atuaccedilatildeo Assim eacute que por exemplo a Portaria nordm

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3916 de 30 de outubro de 1998 estabelece a Poliacutetica Nacional de Medicamentos a serauxiliada por normas outras como a Lei ndeg 978799 dita ldquoLei dos Geneacutericosrdquo definindoo medicamento geneacuterico como aquele similar a um produto de referecircncia ou inovadorque se pretende ser com este intercambiaacutevel geralmente produzido apoacutes a expiraccedilatildeo ou

renuacutencia da proteccedilatildeo patentaacuteria ou de outros direitos de exclusividade comprovada a suaeficaacutecia seguranccedila e qualidade

Prevecirc-se ainda que esses medicamentos devem ser preferidos no acircmbito do SUSpelo custo e acrescente-se pela impessoalidade mesma que deve caracterizar a atuaccedilatildeoadministrativa estatal desaconselhando a preferecircncia por produtos de laboratoacuterios oumarcas determinados em detrimento de produtos de denominaccedilatildeo comum brasileira ouna sua falta internacional a indicar maior neutralidade em prestaccedilatildeo equivalente

Jaacute se tem aiacute um paracircmetro a nortear as prescriccedilotildees e decisotildees na mateacuteria deve a prestaccedilatildeofarmacoloacutegica do Sistema Uacutenico de Sauacutede se pautar pelo fornecimento de medicaccedilotildees quedentre as que contecircm a substacircncia ativa necessaacuteria atendam agraves necessidades de eficaacuteciae seguranccedila poreacutem com menor custo maior impessoalidade e generalidade pois natildeoassociada a marca especiacutefica O uso racional desses recursos passa ainda pela orientaccedilatildeodos meacutedicos na criteriosa avaliaccedilatildeo das medicaccedilotildees prescritas privilegiando dentro deum paracircmetro de equivalecircncia aquelas jaacute constantes fornecimento regular pelo Sistema 16

16 Os produtos padronizados constam da Relaccedilatildeo Nacional de Medicamentos Essenciais (RENAME) Nosentido de promover a observacircncia da lista cita-se por exemplo a Portaria Estadual nordm 1475BA publicadano Diaacuterio Oficial do Estado de 300908 que ldquoConstitui Grupo de trabalho no acircmbito do SUS com oescopo de elaborar orientaccedilotildees e diretrizes aos profissionais meacutedicos no sentido de esgotarem as alternativasde faacutermacos previstas nos Protocolos Cliacutenicos e Diretrizes erapecircuticas do Ministeacuterio da Sauacutede e demais atosque lhe forem complementares antes de prescrever tratamento medicamentoso diverso aos pacientes nostermos da Notificaccedilatildeo Recomendatoacuteria 0022007 da Promotoria de Justiccedila e da Cidadania do MinisteacuterioPuacuteblico do Estado da Bahiardquo De acordo com a Organizaccedilatildeo Mundial da Sauacutede - OMS (Nairobi Quecircnia1985) ldquoHaacute uso racional quando pacientes recebem medicamentos apropriados para suas condiccedilotildees cliacutenicasem doses adequadas agraves suas necessidades individuais por um periacuteodo adequado e ao menor custo para si e

para a comunidaderdquo Segundo o Ministeacuterio da Sauacutede o uso racional de medicamentos consiste no ldquoprocessoque compreende a prescriccedilatildeo apropriada a disponibilidade oportuna e a preccedilos acessiacuteveis a dispensaccedilatildeoem condiccedilotildees adequadas e o consumo nas doses indicadas nos intervalos definidos e no periacuteodo de tempoindicado de medicamentos eficazes seguros e de qualidaderdquo (BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria dePoliacuteticas de Sauacutede Departamento de Atenccedilatildeo Baacutesica Poliacutetica nacional de medicamentos 2001Ministeacuterio daSauacutede Secretaria de Poliacuteticas de Sauacutede Departamento de Atenccedilatildeo Baacutesica ndash Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede2001 ambeacutem disponiacutevel em lthttpwwwopasorgbrmedicamentossiteUploadArqpnmpdfgtacessado em 02out08) Outros programas para estimular o uso racional de medicamentos encontram-sena paacutegina eletrocircnica do Ministeacuterio da Sauacutede (httpportalsaudegovbrportalsaudeareacfmid_area=1141acessado em 05out08)

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174 DEFENSORIA PUacuteBLICA DA UNIAtildeO Escola Superior

A alocaccedilatildeo de medicamentos no paiacutes estaacute dividida segundo o Ministeacuterio da Sauacutede em trecircscategorias baacutesicas17 medicamentos baacutesicos ou essenciais ldquopertencentes a um elenco miacutenimoobrigatoacuterio a ser dispensado na atenccedilatildeo baacutesicardquo ou na dicccedilatildeo legal aqueles consideradosldquobaacutesicos e indispensaacuteveis para atender a maioria dos problemas de sauacutede da populaccedilatildeordquo

previstos na Portaria do Ministeacuterio da Sauacutede nordm 32372007 medicamentos estrateacutegicosutilizados em programas especiacuteficos do Ministeacuterio da Sauacutede como aqueles de combateagrave AIDS tuberculose hanseniacutease diabetes doenccedila de Chagas malaacuteria coagulopatias eoutras conforme Portaria do Ministeacuterio da Sauacutede nordm 2042007 e medicamentos dedispensaccedilatildeo especial ou excepcional eacute dizer aqueles geralmente de alto custo destinadosa patologias especiacuteficas e complexas que atingem um nuacutemero limitado de pacientes parauso prolongado Esses procedimentos e recursos terapecircuticos encontravam-se arroladosna Portaria do Ministeacuterio da Sauacutede nordm 25772006 Eacute de se observar que sendo essauacuteltima uma das categorias mais solicitadas judicialmente e mais associadas com a evoluccedilatildeo

biotecnoloacutegica chama a atenccedilatildeo o fato de ter sido por muito tempo justamente aPortaria mais antiga deixando margem agrave criacutetica de provaacutevel desatualizaccedilatildeo em relaccedilatildeo aosavanccedilos atuais tendo sido atualizada pela Portaria GMMS 18692008 e revogada pelaPortaria GMMS 1062009 tambeacutem jaacute revogada A mateacuteria tambeacutem sofreu alteraccedilotildeespelas Portarias 2981 de 26 de novembro de 2009 Portaria 343GMMS de 22 defevereiro de 2010 Portaria 3439MS de 11 de novembro de 2010 e atualmente pelosPCD (PROOCOLOS CLIacuteNICOS E DIRERIZES ERAPEcircUICAS) a indicarparacircmetros de abordagem e tratamento para cada patologia

Analisando-se os montantes empregados em cada uma das categorias verifica-se que os

17 MELLO Dirceu Raposo et al op cit p 27-28 SALAZAR Andrea Lazzarini GROU Karina Bozola ADefesa da Sauacutede em Juiacutezo eoria e Praacutetica Satildeo Paulo Verbatim 2009 p 112-113

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175R Defensoria Puacutebl Uniatildeo Brasiacutelia DF n 8 p 1-356 jandez 2015

gastos com medicamentos especiais superam em muito aqueles com medicaccedilotildees baacutesicas18 Dentre os medicamentos estrateacutegicos ndash responsaacuteveis pelo maior volume de custos commedicaccedilotildees entre os trecircs grupos na segunda metade da deacutecada passada ndash aqueles dirigidosao programa de HIVAIDS sofreram acreacutescimo substancial em 2006 ante as novas drogas

incorporadas ao cataacutelogo farmacoloacutegico de tratamento da doenccedila passando a representarsozinhos quase uma vez e meia o gasto com todas as demais drogas estrateacutegicas

Mais uma vez fica evidente que prevenir aleacutem de melhor sai bem mais barato que

18 Segundo quadro comparativo elaborado em MELLO Dirceu Raposo et al op cit p 28-29 a partirde dados do Ministeacuterio da Sauacutede os gastos com medicamentos baacutesicos em 2006 foram da ordem de 290milhotildees de reais representando 67 dos gastos com medicaccedilatildeo ao passo que o montante despendido commedicamentos de dispensaccedilatildeo especial alcanccedilaram a cifra de um bilhatildeo 355 milhotildees de reais equivalendoa 32 do orccedilamento para a aacuterea Dentre os medicamentos estrateacutegicos aqueles destinados ao programade DSAIDS custaram aos cofres puacuteblicos naquele ano 960 milhotildees de reais enquanto no ano anteriorrepresentaram despesa de 550 milhotildees de reais Cumpre assinalar que o programa de fornecimento gratuitode medicaccedilotildees antirretrovirais aos portadores de HIV no paiacutes eacute elogiado em todo o mundo pela iniciativapioneira na aacuterea apontada como exemplo na universalizaccedilatildeo do tratamento e inclusatildeo a esses pacientes A Leique cuida da mateacuteria ndash Lei ndeg 931396 ndash foi acompanhada por uma seacuterie de decisotildees judiciais proacute direitoagrave sauacutede determinando o efetivo provimento das medicaccedilotildees e sua atualizaccedilatildeo conforme o estado cientiacuteficomundial nos termos da redaccedilatildeo legal Nesse sentido se assinala entre outros o seguinte acoacuterdatildeo provenientedo Supremo ribunal Federal defendendo a aplicabilidade imediata das normas relativas ao direito agravesauacutede PACIENE COM HIVAIDS ndash PESSOA DESIUIacuteDA DE RECURSOS FINANCEIROS ndashDIREIO Agrave VIDA E Agrave SAUacuteDE ndashFORNECIMENO GRAUIO DE MEDICAMENOS ndash DEVERCONSIUCIONAL DO PODER PUacuteBLICO (CF ARS 5ordm CAPU E 196) O DIREIO Agrave SAUacuteDEREPRESENA CONSEQUumlEcircNCIA CONSIUCIONAL INDISSOCIAacuteVEL DO DIREIO Agrave VIDA

O direito puacuteblico subjetivo agrave sauacutede representa prerrogativa juriacutedica indisponiacutevel assegurada agrave generalidadedas pessoas pela proacutepria Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica (art 196) raduz bem juriacutedico constitucionalmentetutelado por cuja integridade deve velar de maneira responsaacutevel o Poder Puacuteblico a quem incumbe formularndash e implementar ndash poliacuteticas sociais e econocircmicas idocircneas que visem a garantir aos cidadatildeos inclusive agravequelesportadores do viacuterus HIV o acesso universal e igualitaacuterio agrave assistecircncia farmacecircutica e meacutedico-hospitalar Odireito agrave sauacutede ndash aleacutem de qualificar-se como direito fundamental que assiste a todas as pessoas ndash representaconsequumlecircncia constitucional indissociaacutevel do direito agrave vida O Poder Puacuteblico qualquer que seja a esfera institucionalde sua atuaccedilatildeo no plano da organizaccedilatildeo federativa brasileira natildeo pode mostrar-se indiferente ao problema da sauacutededa populaccedilatildeo sob pena de entender ainda que por censuraacutevel omissatildeo em grave comportamento inconstitucional(AGRRE nordm 271286-RS Rel Min Celso de Mello SF DJ 241100 p 101)

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176 DEFENSORIA PUacuteBLICA DA UNIAtildeO Escola Superior

remediar 19

Fato eacute queNenhum paiacutes ateacute o momento conseguiu estabelecer um limite oacutetimode gasto financeiro para melhorar a sauacutede de seus cidadatildeos os EUA

gastam 146 do PIB com sauacutede sendo o Estado responsaacutevel por449 desse total e 5 dos gastos puacuteblicos com sauacutede dizem respeitoaos medicamentos Ainda sobre os EUA dados de domiacutenio puacuteblicoinformam que cerca de 50 milhotildees de cidadatildeos natildeo tecircm acesso aosserviccedilos de sauacutede No Brasil os gastos com sauacutede correspondem agrave cifrade 79 do PIB sendo que o setor puacuteblico eacute responsaacutevel por 459desses gastos e os medicamentos representam 74 desses gastospuacuteblicos20

Sem duacutevida a garantia adequada do direito agrave sauacutede natildeo constitui um problema apenaspara os paiacuteses em desenvolvimento embora nesses falte o acesso ao que haacute de mais baacutesicopossiacutevel para a manutenccedilatildeo e a recuperaccedilatildeo da sauacutede ambeacutem os paiacuteses desenvolvidos

19 Aleacutem das despesas jaacute esperadas com tais medicamentos avultam ainda os gastos decorrentes de processos judiciais A esse respeito notiacutecia veiculada em setembro de 2008 na imprensa deu conta de que ldquoEntre2005 e 2008 o governo federal aumentou em 1820 (quase 20 vezes) as despesas decorrentes de ordens

judiciais que obrigam a Uniatildeo a pagar por medicamentos especiais Apenas na primeira metade deste anoforam gastos pelo governo federal por ordem da Justiccedila R$ 48 milhotildees nesses tratamentos Em 2005 oinvestimento foi de R$ 25 milhotildeesrdquo ambeacutem foi informado que ldquoa cada mecircs Satildeo Paulo gasta R$ 400milhotildees com remeacutedios obtidos pelos doentes mediante ordem judicial e que natildeo satildeo fornecidos pelo SUS Asituaccedilatildeo natildeo eacute muito diferente no Rio Grande do Sul Foram R$ 31 milhotildees com accedilotildees judiciais envolvendomedicamentos em 2006 e R$ 50 milhotildees em 2007 e a previsatildeo eacute de que sejam gastos R$ 150 milhotildees nesteano ndash o equivalente a um terccedilo do total de recursos de custeio dos programas da Secretaria Estadual deSauacutederdquo Dentro desses valores apurou-se ainda a ocorrecircncia de fraudes envolvendo meacutedicos e advogadosque mediante pedidos judiciais providos teriam resultado em prejuiacutezo de R$ 63 milhotildees aos cofrespuacuteblicos (REZZI Humberto Sauacutede Aumento no gasto do governo em remeacutedios especiais eacute investigadoPromotores e policiais suspeitam que quadrilhas falsificariam atestados para obrigar a Uniatildeo a fornecermedicamentos de alto custo a pacientes por via judicial Jornal Zero Hora Porto Alegre ediccedilatildeo ndeg 15734

Disponiacutevel em lthttpzerohoraclicrbscombrzerohorajspdefault2jspuf=1amplocal=1ampsource=a2195502xmlamptemplate=3898dwtampedition=10739ampsection=1003gt acessado em 12out08) Deduz-se daiacute queconquanto via relevantiacutessima para o controle do atendimento do direito fundamental agrave sauacutede a prestaccedilatildeo

jurisdicional haacute de ser particularmente cautelosa na anaacutelise de tais pleitos sobretudo quando em sede deprovimentos liminares por natildeo se poder desconsiderar o grave impacto que essas decisotildees tecircm tomado noorccedilamento sanitaacuterio Eacute imprescindiacutevel entatildeo sempre que possiacutevel e especialmente quando o fornecimentoeacute feito a entidades privadas sobre as quais incide menor controle na utilizaccedilatildeo desses recursos a realizaccedilatildeode periacutecia meacutedica judicial a constatar a efetiva necessidade e infungibilidade do recurso demandado naquelecaso concreto20 MELLO Dirceu Raposo et al op cit p 23

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tecircm problemas para assegurar os cuidados de sauacutede esperados pela populaccedilatildeo situaccedilatildeoque se agrava progressivamente com o envelhecimento da populaccedilatildeo (com suas conhecidasconsequecircncias para o equiliacutebrio previdenciaacuterio) e com o desenvolvimento crescente dosrecursos farmacecircuticos e biotecnoloacutegicos criando patamares cada vez mais elevados de

atenccedilatildeo agrave sauacutede21

Elevou-se a qualidade e a quantidade de vida o que eacute um aspectoinegavelmente positivo mas que gera outrossim consequecircncias de difiacutecil equiliacutebrioeconocircmico

4 DEMANDAS JUDICIAIS EM SAUacuteDE COMO AVANCcedilAR EM DIRECcedilAtildeO

AO QUE PARECE NAtildeO ER SAIacuteDA

Questionado sobre formas de viabilizaccedilatildeo de um sistema puacuteblico de sauacutede dentro dessecontexto ponderou primeiramente Diego Gracia 22 que quem tem receituaacuterio fazalocaccedilatildeo Com efeito Ao fazer uma mera prescriccedilatildeo individual o meacutedico estaacute a indicarali os paracircmetros para o exerciacutecio do direito agrave sauacutede pelo paciente Eacute para alcanccedilar orecurso prescrito que o cidadatildeo vai agrave Justiccedila pleitear ao Estado ou ao plano de sauacutede queo forneccedila Eacute na prescriccedilatildeo que se baseia o Juiz quando antecipa uma tutela mesmo antes

de ouvir a parte adversa na convicccedilatildeo de que haacute urgecircncia no acesso agravequele recurso

Mister assim para racionalizar o uso de medicamentos e recursos no SUS orientar eracionalizar tambeacutem as prescriccedilotildees meacutedicas de modo que sem sacrificar a sauacutede dopaciente tampouco se sacrifique indevidamente o Sistema organizado para protegecirc-lae garanti-la Nesse ponto erige-se a validade de se pensar um trabalho conjunto comorganizaccedilotildees profissionais como uma outra vertente para a maior efetivaccedilatildeo na prestaccedilatildeo

21

Nesse sentido cf a obra AARON Henry J SCHWARZ William B Te Painful Prescriptionhellipreferente sobretudo aos Estados Unidos e agrave Inglaterra mas que tambeacutem menciona a situaccedilatildeo de outros paiacutesesdesenvolvidos como a Franccedila e o Canadaacute ambeacutem trata do assunto entre outros PENCHASZADEHVictor Bioeacutetica y medicina social Una confluencia necesaria Revista Brasileira de Bioeacutetica BrasiacuteliaSociedade Brasileira de Bioeacutetica v 3 n 2 p 129-149 2007 p 137 Destaque-se outrossim a recentepolecircmica envolvendo o governo americano do Presidente Barack Obama ante a perspectiva de maiordemocratizaccedilatildeo do acesso agrave sauacutede em confronto com o arcabouccedilo tendencialmente liberal da poliacutetica daqueleEstado no setor ateacute entatildeo22 GRACIA Diego Bioeacutetica Cliacutenica e Contexto Social In VII CONGRESSO BRASILEIRO DEBIOEacuteICA Satildeo Paulo 2007 Conferecircncia

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e cobranccedila do direito agrave sauacutede

A especial atenccedilatildeo aos preceitos da Medicina Baseada em Evidecircncias devidamentefundamentada em relatoacuterios e prescriccedilotildees acurados com a cuidadosa anaacutelise e

demonstraccedilatildeo de eficaacutecia seguranccedila e eficiecircncia23

quer no geral quer no caso concretotambeacutem satildeo de grande valia para a atuaccedilatildeo coerente e racional na aacuterea inclusive a fim deevitar que o assistido seja engolfado por esperanccedilas vatildes de resultados temeraacuterios tentativasheroicas sem perspectivas reais e pesquisas multinacionais em larga escala que exacerbamsua vulnerabilidade e fragilizam a credibilidade dos pedidos judiciais no setor Nessecontexto mister evitar tambeacutem pedidos irrazoaacuteveis natildeo factiacuteveis na praacutetica ou opccedilotildees

23 Embora costumeiramente usadas de forma equivalente as expressotildees eficaacutecia eficiecircncia e efetividade tecircmsignificados teacutecnicos especiacuteficos na seara da MBE Nesse sentido a seguranccedila mencionada implica a anaacutelisede que os danos colaterais possiacutevel sejam inferiores aos benefiacutecios oferecidos com seu uso para o fim a quese propotildee A eficaacutecia consiste na evidecircncia de ter o recurso prescrito comprovado efeito beneacutefico para aquelecaso (ldquofazem o que se propotildeem a fazerrdquo ndash na expressatildeo de VIEIRA Fabiacuteola Sulpino op cit p365-369)evitando-se os chamados ldquoprodutos de complacecircnciardquo ndash sem eficaacutecia comprovada mas prescritos por insistecircnciado paciente ou por pressatildeo do marketing industrial por exemplo ndash bem como os atos aparentemente cliacutenicosmas que se mostram em verdade experimentais visto que natildeo validados de nenhuma forma cientificamente

aceita a qual permita asseveraacute-los como realmente producentes e seguros A efetividade propriamente dita corresponde agrave eficaacutecia e agrave eficiecircncia em condiccedilotildees reais de sorte a evitar desperdiacutecios Eacute dizer que os produtoseleitos ldquofazem o que se propotildeem a fazer quando utilizados pelas pessoas em condiccedilotildees reais e natildeo em gruposhomogecircneos que constituem os grupos de pessoas dos ensaios cliacutenicosrdquo (idem ibidem) Por fim a eficiecircnciaou custo-efetividade envolve a avaliaccedilatildeo da relaccedilatildeo custobenefiacutecio de modo a se constatar a substancialvantagem de dado recurso em relaccedilatildeo a outro observadas a eficaacutecia e a efetividade propriamente ditaSignifica dizer que o produto em questatildeo ldquoentre as alternativas disponiacuteveis faz o que se propotildee a fazer paraas pessoas em condiccedilotildees reais ao menor custordquo (idem ibidem) Embora conceitos mais utilizados no acircmbitoeconocircmico e de macroalocaccedilatildeo de recursos acabam repercutindo na microalocaccedilatildeo individual ao requerermaior comprovaccedilatildeo quando de pedido que natildeo leve em consideraccedilatildeo tais subprinciacutepios Segundo a ANVISAtem-se a efetividade como ldquogarantia de medicamentos eficazes eou efetivos e seguros cuja relaccedilatildeo risco-benefiacutecio seja favoraacutevel e comprovada a partir das melhores evidecircncias cientiacuteficas disponiacuteveis na literatura

e com registro aprovado na Agecircncia Nacional de Vigilacircncia Sanitaacuteria (ANVISA)rdquo e a eficiecircncia como aldquogarantia de medicamentos que proporcionem a melhor resposta terapecircutica aos usuaacuterios com os menorescustos para o SUSrdquo (Lei 124012011 e pela Resoluccedilatildeo 01 do Ministeacuterio da Sauacutede de 17 de janeiro de2012) Eacute fato que considerando os escores da Medicina baseada em evidecircncia alega o Estado de praxe quea experiecircncia do meacutedico prescritor isoladamente e mesmo do perito judicial natildeo teriam niacutevel de sustentaccedilatildeocientiacutefica bastante para subsidiar a concessatildeo de medicaccedilatildeo natildeo padronizada pelo SUS todavia considerandoos requisitos de antecipaccedilatildeo de tutela pode conter se bem fundamentada em estudos outros de indicaccedilatildeoseguranccedila eficaacutecia efetividade e eficiecircncia elementos suficientes de verossimilhanccedila aleacutem de representara realidade daquele indiviacuteduo preocupando-se em registrar inclusive a ausecircncia de resposta ou indicaccedilatildeoquanto agraves outras opccedilotildees disponiacuteveis haja vista que como se costuma constatar a resposta individual nemsempre corresponde agravequela epidemiologicamente esperada

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comerciais especiacuteficas substituiacuteveis por equivalentes terapecircuticos disponiacuteveis no SUS24

Outro aspecto a ser sopesado eacute o modo e o conteuacutedo como feitos os pedidos na medida emque a proteccedilatildeo ao direito agrave sauacutede de um deve considerar a existecircncia de outros envolvidos

na alocaccedilatildeo de recursos diante da escassez real Exemplo disso satildeo os pedidos de vagaou de prioridade em filas de transplantes que necessariamente envolvem o cotejo comoutros afetados que natildeo satildeo parte no processo Natildeo raro se tem notiacutecia de comandos deprisatildeo a gestores hospitalares que tecircm todos os seus leitos ocupados por natildeo disporem devagas Inegaacutevel a falha estatal na espeacutecie mas ela natildeo pode ser resolvida com o comandoainda que indireto de retirada de pacientes que ainda necessitem do leito e cuidados paraalocaccedilatildeo de outro dotado de comando judicial Opccedilatildeo nesse caso eacute o pedido subsidiaacuteriode alocaccedilatildeo em unidades privadas agraves expensas do Estado natildeo por mera opccedilatildeo do enfermomas se natildeo houver leitos disponiacuteveis nas unidades puacuteblicas

Do ponto de vista estatal eacute mister o ajuste constante das poliacuteticas puacuteblicas de sortea mantecirc-las condizentes com as carecircncias da comunidade e atualizadas dentro dasmargens de efetividade terapecircutica a fim de se tentar com isso minorar a necessidade deintervenccedilotildees judiciais suplementares na aacuterea aleacutem de favorecer o proacuteprio funcionamentoadequado do Sistema em conformidade com seus princiacutepios gestores e com as previsotildeese garantias constitucionais sem acarretar a falecircncia do Sistema nem converter o direitouniversal agrave sauacutede em mera retoacuterica demagoacutegica

Nesse contexto a atuaccedilatildeo e participaccedilatildeo equilibrada da Defensoria junto a oacutergatildeos puacuteblicose conselhos interdisciplinares pode ser de grande valia para uma maior eficaacutecia na soluccedilatildeo

24 Em palestra proferida do II Foacuterum Brasileiro sobre Assistecircncia Farmacecircutica e Farmacoeconomia ocorridoem setembro de 2014 em Salvador-Bahia com a presenccedila de gestores puacuteblicos membros do JudiciaacuterioMinisteacuterio Puacuteblico Defensoria Puacuteblica e Advogados Puacuteblicos a representante paulista do CONASS(Conselho Nacional dos Secretaacuterios de Sauacutede) apresentou demonstrativo de pedidos em demandas judiciaissanitaacuterias contra o Estado e o Municiacutepio de Satildeo Paulo em que incluiacutedos itens como ldquoleite de cabra frescordquondash o qual resultou descumprido por absoluta ausecircncia de resposta agrave licitaccedilatildeo simplificada para localizar

detentores de cabras na cidade de Satildeo Paulo Nessa ocasiatildeo tambeacutem mostrou a palestrante estudo feitoquanto agraves 41000 accedilotildees judiciais em sauacutede atendidas por aqueles entes naquele ano tendo-se verificado quecerca de 70 delas se pautavam em prescriccedilotildees particulares 93 envolviam medicamentos extraordinaacuteriosao SUS sendo que aproximadamente 5 envolviam produtos importados sem registro na ANVISA 50envolviam itens de produtores exclusivos e cerca de 25 marcas especiacuteficas mesmo para itens simples comofraldas descartaacuteveis A franca maioria dos pedidos natildeo tivera solicitaccedilatildeo administrativa preacutevia sabendo oEstado do pleito jaacute em sede de antecipaccedilatildeo de tutela com prazo estrito para o fornecimento ainda que comfundamentaccedilatildeo cliacutenica escassa inclusive quanto agrave premecircncia do pedido (SIQUEIRA Paula Sue Facundo deDireito Sanitaacuterio a interface entre Judiciaacuterio e Sauacutede na utilizaccedilatildeo dos PDC II FOacuteRUM BRASILEIROSOBRE ASSISEcircNCIA FARMACEcircUICA E FARMACOECONOMIA Salvador 2014 Mesa Redonda)

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180 DEFENSORIA PUacuteBLICA DA UNIAtildeO Escola Superior

administrativa das questotildees reduzindo-se o quantitativo de demandas judiciais na espeacuteciee democratizando o acesso agrave sauacutede mesmo agravequeles que natildeo chegam agrave Defensoria Nesseuacuteltimo aspecto tambeacutem a atuaccedilatildeo mediante Accedilatildeo Civil Puacuteblica visando agrave atualizaccedilatildeodas listas de fornecimento ou denunciando carecircncias e esperas irrazoaacuteveis por exemplo

parece recurso de relevante monta para uma melhor prestaccedilatildeo no setor

Possibilidade de uma maior funcionalidade administrativa tambeacutem pode ser tentadamediante atuaccedilatildeo de profissional25 direcionado agrave aacuterea das crescentes demandas em sauacutedenas unidades defensoriais de sorte a direcionar melhor a instruccedilatildeo dos pedidos jaacute seorientando o tipo de relatoacuterio e informaccedilotildees necessaacuterios aleacutem de empreender contatodireto com os oacutergatildeos puacuteblicos de regulaccedilatildeo em sauacutede estreitando relaccedilotildees com a Secretariade Sauacutede do Estado e seus oacutergatildeos a exemplo da Central de Regulaccedilatildeo de Vagas

Propotildee-se com isso ampliar o quantitativo de resoluccedilotildees administrativas mais ceacutelerese menos custosas reservando a necessidade de intervenccedilotildees juriacutedicas agraves situaccedilotildees emque havendo a previsatildeo do fornecimento natildeo se consegue obtecirc-lo por maacute prestaccedilatildeoadministrativa ndash o que demonstrado por melhor instruccedilatildeo inicial sugere levar amelhores iacutendices de sucesso jaacute em sede antecipatoacuteria ndash ou nas situaccedilotildees de recursos natildeoincluiacutedos no rol de fornecimento do SUS (em que pese o limitante dos artigos 2ordm e 19da Lei 124012011) Nesse caso uacuteltimo jaacute se busque tambeacutem instruir o pedido com osdemonstrativos da eficaacutecia seguranccedila e indicaccedilatildeo da medida reclamada bem assim de

ausecircncia de resposta agraves drogas rotineiramente disponibilizadas ou indicadas nos PCDnos termos inclusive do quanto preconizado em reiterados Enunciados e Recomendaccedilotildeesdo CNJ (4 11 14 15 16 31) e precedentes jurisprudenciais relevantes como a SA175 de relatoria do Min Gilmar Mendes sobre a mateacuteria

O que se vislumbra de negativo em tal proposta eacute que eventual reduccedilatildeo da judicializaccedilatildeofaccedila supor uma maior eficiecircncia na prestaccedilatildeo estatal em sauacutede o que nem semprecorresponde agrave verdade obtendo-se o ecircxito em casos individuais atraveacutes da persistecircnciaempedernida do oacutergatildeo defensorial ateacute que a proacutexima situaccedilatildeo se apresente Como aspecto

25 entativa semelhante tem sido implementada ao longo do uacuteltimo ano na unidade baiana daDefensoria Puacuteblica da Uniatildeo por iniciativa da chefia que tambeacutem titulariza o ofiacutecio de tutelacoletiva mediante o destacamento de Assistente Social com experiecircncia na conduccedilatildeo de demandasem sauacutede e com o intuito de melhorar a assistecircncia em tais demandas ante o crescimentoexponencial de seu nuacutemero no quinquecircnio antecedente Os resultados tecircm-se mostrado prima facie positivos com aparente aumento do nuacutemero de deslindes extrajudiciais e maior quantitativode antecipaccedilotildees de tutela obtidas nas accedilotildees propostas embora ainda sem dados coligidos esistematizados a respeito

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positivo por oacutebvio todas as vantagens da resoluccedilatildeo administrativa

Outro recurso a ser considerado como dito como opccedilatildeo agraves muacuteltiplas accedilotildees individuaissatildeo as accedilotildees de natureza coletiva visando agrave efetiva disponibilizaccedilatildeo de procedimentos

oferecidos formalmente mas cuja demora na prestaccedilatildeo torna na praacutetica insustentaacutevela espera ais accedilotildees sob o ponto de vista pragmaacutetico todavia nem sempre tecircm comoobter resultados concretos imediatos mas frutos de uma atuaccedilatildeo combativa criacuteticae politicamente atuante satildeo relevante termocircmetro acerca do modo como estatildeo sendogeridos os recursos em sauacutede advertindo para a necessidade de se dar concretude ao direitoconstitucionalmente reconhecido incentivando da maneira mais pertinente o sistemade checks and balances reservando-se as accedilotildees individuais para situaccedilotildees especiacuteficas denecessidade incontornaacutevel e sem perspectiva de resoluccedilatildeo natildeo litigiosa

Por fim sempre cabiacutevel lembrar que o momento da urgecircncia do plantatildeo do riscoiminente de vida eacute sempre o pior momento para avaliar o que fazer culminando-seem accedilotildees accedilodadas por vezes mal instruiacutedas natildeo raro em duplicidade nas instacircnciasestadual e federal com riscos para o paciente ou de desperdiacutecio de recursos puacuteblicos ouainda de descreacutedito para a instituiccedilatildeo Importante assim discutirem-se as abordagenspossiacuteveis criando-se orientaccedilotildees de conduta que de antematildeo auxiliem na organizaccedilatildeo dopensamento e na escolha das vias cabiacuteveis para ajudar o requerente ndash vulnerado quer pelahipossuficiecircncia econocircmica quer pela enfermidade ou na maioria das vezes por ambas

ndash da forma mais promissora e adequada possiacutevel

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Natildeo haacute por oacutebvio respostas faacuteceis na mateacuteria O objetivo do texto foi sobretudo chamar

atenccedilatildeo para aspectos nem sempre vistos na lida cotidiana do Defensor imbuiacutedo da visatildeodo assistido e suas anguacutestias premido pelo tempo sem que tenha por vezes sequercondiccedilatildeo de distanciar-se para um olhar mais imparcial

odavia tais distanciamento e compreensatildeo mostram-se necessaacuterios agrave instituiccedilatildeo afim de redirecionar a busca a mecanismos alternativos para o impasse da sauacutede comodireito simultaneamente individual e social sujeito agraves premecircncias pessoais mas tambeacutem

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agraves limitaccedilotildees de uma prestaccedilatildeo coletiva a exemplo da proacutepria escassez real (e aiacute misterdistinguir o mero argumento da escassez e da reserva do possiacutevel em contraposiccedilatildeo agravecomprovada inviabilidade de produccedilatildeo ou fornecimento a exemplo do nuacutemero de vagasimediatas em UI de um hospital puacuteblico ou a disponibilidade de oacutergatildeos compatiacuteveis para

transplante) e da inevitabilidade da alocaccedilatildeo de recursos o que natildeo eacute dado a ningueacutemresponsavelmente negar

Apenas a tiacutetulo de pensamento inicial sugerir-se-ia o desenvolvimento de incremento nastentativas de resoluccedilatildeo extrajudicial a exemplo de maior contato com a Administraccedilatildeo ndash aquem tambeacutem interessa a reduccedilatildeo das lides diminuindo gastos a varejo ndash e com oacutergatildeosde prestaccedilatildeo de sauacutede puacuteblica e de orientaccedilatildeo profissional meacutedica com vistas a analisar aeficaacutecia indicaccedilatildeo e seguranccedila de determinados recursos terapecircuticos subsidiando melhoros pedidos e melhorando os iacutendices de deferimento na espeacutecie que lamentavelmente

comeccedilam a declinar talvez movidos pelo perigo da dessensibilizaccedilatildeo do Judiciaacuterio ante aprofusatildeo de pedidos no setor reservando-se a atuaccedilatildeo judicial para situaccedilotildees de insucessoadministrativo reconhecido considerada a premecircncia e a comprovada necessidade ouatuaccedilotildees de iacutendole coletiva de pressatildeo poliacutetica para assegurar a melhor prestaccedilatildeo dodireito constitucional

Satildeo apenas reflexotildees incipientes mas ficam a semente da ideia o desafio que a questatildeorepresenta e o chamado ao compromisso coletivo de desenvolvecirc-las em prol do cidadatildeo

da efetividade constitucional e da atuaccedilatildeo mais consciente precisa e exitosa possiacutevel porparte da Defensoria Puacuteblica na defesa ao direito fundamental agrave sauacutede

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solidaacuteria14 Constata-se assim tiacutepico exemplo do chamado federalismo cooperativo oude colaboraccedilatildeo15 mais caracteriacutestico dos Estados de Bem-Estar Social e em que haacute umadivisatildeo de tarefas menos riacutegida e mais intercambiante conforme as necessidades praacuteticasque se apresentem ainda que persista o princiacutepio da subsidiariedade segundo o qual a

instacircncia superior deve agir quando natildeo resolviacutevel o problema nas instacircncias menores

Nesse mister o artigo 7ordm prevecirc ainda como princiacutepios simultacircneos do Sistema adescentralizaccedilatildeo poliacutetico-administrativa com direccedilatildeo uacutenica em cada esfera de governo(inciso IX) enfatizando a descentralizaccedilatildeo dos serviccedilos para os municiacutepios a regionalizaccedilatildeoe a hierarquizaccedilatildeo da rede de serviccedilos de sauacutede bem assim a organizaccedilatildeo dos serviccedilospuacuteblicos de modo a evitar duplicidade de meios para fins idecircnticos (inciso XIII) ndash o queeacute realmente um risco na incumbecircncia solidaacuteria Considerando-se todavia a falha noprovimento por todas as esferas a motivar a provocaccedilatildeo judicial o mesmo artigo estipula

a ldquoconjugaccedilatildeo dos recursos financeiros tecnoloacutegicos materiais e humanos da Uniatildeo dosEstados do Distrito Federal e dos Municiacutepios na prestaccedilatildeo de serviccedilos de assistecircncia agravesauacutede da populaccedilatildeordquo (inciso XI) e a ldquocapacidade de resoluccedilatildeo dos serviccedilos em todos osniacuteveis de assistecircncia rdquo (inciso XII) o que reafirma a noccedilatildeo de solidariedade federativa nodever de provimento da sauacutede

Ainda no que tange agrave conflituosa relaccedilatildeo entre as previsotildees legais e suas implementaccedilotildees

14 Sobre a discussatildeo acerca da solidariedade entre os entes estatais na aacuterea a jurisprudecircncia dosribunais Superiores jaacute reconheceu amplamente sua existecircncia caracterizando a existecircncia de umfederalismo cooperativo na espeacutecie Anteriormente ao posicionamento judicial jaacute se manifestavamem favor da responsabilidade concomitante e solidaacuteria das trecircs esferas estatais autores como DALLARI Sueli Gandolfi Os Estados Brasileiros e o Direito agrave Sauacutede Satildeo Paulo Hucitec1995 p 37-42 e SCHWARZ Germano Direito agrave Sauacutede Efetivaccedilatildeo em uma PerspectivaSistecircmica Porto Alegre Livraria do Advogado 2001 p 101 203 COHN Ameacutelia et al A Sauacutedecomo Direito e como Serviccedilo Satildeo Paulo Cortez 2008 p 68 entre outros assinalando o fato deque a regionalizaccedilatildeo e a descentralizaccedilatildeo tecircm por escopo favorecer a acessibilidade e natildeo dificultaacute-la natildeo obstando portanto a solidariedade entre os entes puacuteblicos Em favor da responsabilidade

sucessiva e natildeo solidaacuteria por forccedila da descentralizaccedilatildeo do Sistema cf FIGUEIREDO MarianaFilchtiner Direito Fundamental agrave Sauacutede Paracircmetros para sua Eficaacutecia e Efetividade Porto Alegre Livraria do Advogado 2007 p 157-16115 Cf por todos AVARES Andreacute Ramos Curso de Direito Constitucional 2ed Satildeo PauloSaraiva 2003 e SRECK Lecircnio Luiz MORAIS Joseacute Luiacutes Bolzan de Ciecircncia poliacutetica eteoria geral do estado 2ed Porto Alegre Livraria do Advogado 2000 Sobre o princiacutepio dasubsidiariedade nesse caso cf tambeacutem CANOILHO J J Gomes Direito Constitucional eeoria da Constituiccedilatildeo 7ed Coimbra Almedina [2003] Ainda sobre o tema da influecircnciado federalismo na mateacuteria cf o trabalho de DALLARI Sueli Gandolfi loc cit assinalando aabordagem diferenciada em cada constituiccedilatildeo estadual acerca do conteuacutedo do direito agrave sauacutede

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172 DEFENSORIA PUacuteBLICA DA UNIAtildeO Escola Superior

praacuteticas eacute de se notar que em 1999 foi incluiacutedo capiacutetulo referente agrave atenccedilatildeo agrave sauacutedeindiacutegena e em 2002 previu-se um subsistema de atendimento e internaccedilatildeo domiciliarEsses uacuteltimos cuidados ditos home care conquanto ainda pouco utilizados vecircmadequar-se ao quanto previsto na Constituiccedilatildeo Federal em seu artigo 230 paraacutegrafo 1ordm

notadamente em relaccedilatildeo aos idosos a saber ldquosect 1ordm - Os programas de amparo aos idososseratildeo executados preferencialmente em seus laresrdquo Em 2005 acolheu-se na legislaccedilatildeo umsubsistema de acompanhamento durante o trabalho de parto parto e poacutes-parto imediatoprevendo a possibilidade de acompanhante nesses eventos a exemplo do que jaacute fizera oEstatuto da Crianccedila e do Adolescente em relaccedilatildeo agrave previsatildeo de acompanhante para omenor internado no acircmbito do SUS (artigo 12 da Lei 806990 e Resoluccedilatildeo ndeg 4195sobre os direitos da crianccedila e do adolescente hospitalizados) revelando uma tendecircncia dehumanizaccedilatildeo dos procedimentos puacuteblicos de sauacutede

Na praacutetica ainda natildeo se implementaram amplamente esses novos espectros do direito agravesauacutede mas natildeo se os diga impossiacuteveis nem desnecessaacuterios Eacute curioso notar verbi gratia que quando do surgimento do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente tampouco era praxea manutenccedilatildeo dos pais junto aos pequenos pacientes ndash algo que hoje soa imprescindiacutevelndash e a afirmaccedilatildeo legislativa desse direito foi reputada como inviaacutevel dentro da estruturahospitalar da eacutepoca Menos de uma deacutecada depois todavia embora natildeo existam aindahoje instalaccedilotildees ideais em termos de conforto jaacute natildeo se cogita mais internar crianccedilas ouadolescentes sem lhes assegurar a permanecircncia de um dos responsaacuteveis Demonstrou-se

com isso que muitas das resistecircncias agrave implementaccedilatildeo de direitos satildeo bem mais culturaispor haacutebito ou falta de vontade poliacutetica do que propriamente por reais inviabilidadesfinanceiras ou operacionais Vive-se atualmente similar situaccedilatildeo quanto agrave previsatildeo deacompanhante para o idoso ou a gestante em trabalho de parto

Em relaccedilatildeo ao planejamento e orccedilamento a propoacutesito outro argumento habitual doEstado-reacuteu diz respeito justamente agrave impossibilidade de deslocamento de verbas natildeoprevistas na organizaccedilatildeo orccedilamentaacuteria dentro do Sistema Uacutenico de Sauacutede ou de outrasaacutereas para este sob pena de responsabilizaccedilatildeo fiscal Nessa seara poreacutem o artigo 36

paraacutegrafo 2ordm da Lei ndeg 808090 eacute enfaacutetico ao estabelecer que ldquoEacute vedada a transferecircnciade recursos para o financiamento de accedilotildees natildeo previstas nos planos de sauacutede exceto emsituaccedilotildees emergenciais ou de calamidade puacuteblica na aacuterea de sauacutederdquo (grifou-se)

Para exercer suas atividades o Sistema Uacutenico de Sauacutede conta com inuacutemeras outras normasgestoras ndash natildeo apenas leis de acircmbito nacional mas tambeacutem Portarias e normas de acircmbitoestadual e local ndash que detalham essa atuaccedilatildeo Assim eacute que por exemplo a Portaria nordm

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173R Defensoria Puacutebl Uniatildeo Brasiacutelia DF n 8 p 1-356 jandez 2015

3916 de 30 de outubro de 1998 estabelece a Poliacutetica Nacional de Medicamentos a serauxiliada por normas outras como a Lei ndeg 978799 dita ldquoLei dos Geneacutericosrdquo definindoo medicamento geneacuterico como aquele similar a um produto de referecircncia ou inovadorque se pretende ser com este intercambiaacutevel geralmente produzido apoacutes a expiraccedilatildeo ou

renuacutencia da proteccedilatildeo patentaacuteria ou de outros direitos de exclusividade comprovada a suaeficaacutecia seguranccedila e qualidade

Prevecirc-se ainda que esses medicamentos devem ser preferidos no acircmbito do SUSpelo custo e acrescente-se pela impessoalidade mesma que deve caracterizar a atuaccedilatildeoadministrativa estatal desaconselhando a preferecircncia por produtos de laboratoacuterios oumarcas determinados em detrimento de produtos de denominaccedilatildeo comum brasileira ouna sua falta internacional a indicar maior neutralidade em prestaccedilatildeo equivalente

Jaacute se tem aiacute um paracircmetro a nortear as prescriccedilotildees e decisotildees na mateacuteria deve a prestaccedilatildeofarmacoloacutegica do Sistema Uacutenico de Sauacutede se pautar pelo fornecimento de medicaccedilotildees quedentre as que contecircm a substacircncia ativa necessaacuteria atendam agraves necessidades de eficaacuteciae seguranccedila poreacutem com menor custo maior impessoalidade e generalidade pois natildeoassociada a marca especiacutefica O uso racional desses recursos passa ainda pela orientaccedilatildeodos meacutedicos na criteriosa avaliaccedilatildeo das medicaccedilotildees prescritas privilegiando dentro deum paracircmetro de equivalecircncia aquelas jaacute constantes fornecimento regular pelo Sistema 16

16 Os produtos padronizados constam da Relaccedilatildeo Nacional de Medicamentos Essenciais (RENAME) Nosentido de promover a observacircncia da lista cita-se por exemplo a Portaria Estadual nordm 1475BA publicadano Diaacuterio Oficial do Estado de 300908 que ldquoConstitui Grupo de trabalho no acircmbito do SUS com oescopo de elaborar orientaccedilotildees e diretrizes aos profissionais meacutedicos no sentido de esgotarem as alternativasde faacutermacos previstas nos Protocolos Cliacutenicos e Diretrizes erapecircuticas do Ministeacuterio da Sauacutede e demais atosque lhe forem complementares antes de prescrever tratamento medicamentoso diverso aos pacientes nostermos da Notificaccedilatildeo Recomendatoacuteria 0022007 da Promotoria de Justiccedila e da Cidadania do MinisteacuterioPuacuteblico do Estado da Bahiardquo De acordo com a Organizaccedilatildeo Mundial da Sauacutede - OMS (Nairobi Quecircnia1985) ldquoHaacute uso racional quando pacientes recebem medicamentos apropriados para suas condiccedilotildees cliacutenicasem doses adequadas agraves suas necessidades individuais por um periacuteodo adequado e ao menor custo para si e

para a comunidaderdquo Segundo o Ministeacuterio da Sauacutede o uso racional de medicamentos consiste no ldquoprocessoque compreende a prescriccedilatildeo apropriada a disponibilidade oportuna e a preccedilos acessiacuteveis a dispensaccedilatildeoem condiccedilotildees adequadas e o consumo nas doses indicadas nos intervalos definidos e no periacuteodo de tempoindicado de medicamentos eficazes seguros e de qualidaderdquo (BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria dePoliacuteticas de Sauacutede Departamento de Atenccedilatildeo Baacutesica Poliacutetica nacional de medicamentos 2001Ministeacuterio daSauacutede Secretaria de Poliacuteticas de Sauacutede Departamento de Atenccedilatildeo Baacutesica ndash Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede2001 ambeacutem disponiacutevel em lthttpwwwopasorgbrmedicamentossiteUploadArqpnmpdfgtacessado em 02out08) Outros programas para estimular o uso racional de medicamentos encontram-sena paacutegina eletrocircnica do Ministeacuterio da Sauacutede (httpportalsaudegovbrportalsaudeareacfmid_area=1141acessado em 05out08)

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174 DEFENSORIA PUacuteBLICA DA UNIAtildeO Escola Superior

A alocaccedilatildeo de medicamentos no paiacutes estaacute dividida segundo o Ministeacuterio da Sauacutede em trecircscategorias baacutesicas17 medicamentos baacutesicos ou essenciais ldquopertencentes a um elenco miacutenimoobrigatoacuterio a ser dispensado na atenccedilatildeo baacutesicardquo ou na dicccedilatildeo legal aqueles consideradosldquobaacutesicos e indispensaacuteveis para atender a maioria dos problemas de sauacutede da populaccedilatildeordquo

previstos na Portaria do Ministeacuterio da Sauacutede nordm 32372007 medicamentos estrateacutegicosutilizados em programas especiacuteficos do Ministeacuterio da Sauacutede como aqueles de combateagrave AIDS tuberculose hanseniacutease diabetes doenccedila de Chagas malaacuteria coagulopatias eoutras conforme Portaria do Ministeacuterio da Sauacutede nordm 2042007 e medicamentos dedispensaccedilatildeo especial ou excepcional eacute dizer aqueles geralmente de alto custo destinadosa patologias especiacuteficas e complexas que atingem um nuacutemero limitado de pacientes parauso prolongado Esses procedimentos e recursos terapecircuticos encontravam-se arroladosna Portaria do Ministeacuterio da Sauacutede nordm 25772006 Eacute de se observar que sendo essauacuteltima uma das categorias mais solicitadas judicialmente e mais associadas com a evoluccedilatildeo

biotecnoloacutegica chama a atenccedilatildeo o fato de ter sido por muito tempo justamente aPortaria mais antiga deixando margem agrave criacutetica de provaacutevel desatualizaccedilatildeo em relaccedilatildeo aosavanccedilos atuais tendo sido atualizada pela Portaria GMMS 18692008 e revogada pelaPortaria GMMS 1062009 tambeacutem jaacute revogada A mateacuteria tambeacutem sofreu alteraccedilotildeespelas Portarias 2981 de 26 de novembro de 2009 Portaria 343GMMS de 22 defevereiro de 2010 Portaria 3439MS de 11 de novembro de 2010 e atualmente pelosPCD (PROOCOLOS CLIacuteNICOS E DIRERIZES ERAPEcircUICAS) a indicarparacircmetros de abordagem e tratamento para cada patologia

Analisando-se os montantes empregados em cada uma das categorias verifica-se que os

17 MELLO Dirceu Raposo et al op cit p 27-28 SALAZAR Andrea Lazzarini GROU Karina Bozola ADefesa da Sauacutede em Juiacutezo eoria e Praacutetica Satildeo Paulo Verbatim 2009 p 112-113

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175R Defensoria Puacutebl Uniatildeo Brasiacutelia DF n 8 p 1-356 jandez 2015

gastos com medicamentos especiais superam em muito aqueles com medicaccedilotildees baacutesicas18 Dentre os medicamentos estrateacutegicos ndash responsaacuteveis pelo maior volume de custos commedicaccedilotildees entre os trecircs grupos na segunda metade da deacutecada passada ndash aqueles dirigidosao programa de HIVAIDS sofreram acreacutescimo substancial em 2006 ante as novas drogas

incorporadas ao cataacutelogo farmacoloacutegico de tratamento da doenccedila passando a representarsozinhos quase uma vez e meia o gasto com todas as demais drogas estrateacutegicas

Mais uma vez fica evidente que prevenir aleacutem de melhor sai bem mais barato que

18 Segundo quadro comparativo elaborado em MELLO Dirceu Raposo et al op cit p 28-29 a partirde dados do Ministeacuterio da Sauacutede os gastos com medicamentos baacutesicos em 2006 foram da ordem de 290milhotildees de reais representando 67 dos gastos com medicaccedilatildeo ao passo que o montante despendido commedicamentos de dispensaccedilatildeo especial alcanccedilaram a cifra de um bilhatildeo 355 milhotildees de reais equivalendoa 32 do orccedilamento para a aacuterea Dentre os medicamentos estrateacutegicos aqueles destinados ao programade DSAIDS custaram aos cofres puacuteblicos naquele ano 960 milhotildees de reais enquanto no ano anteriorrepresentaram despesa de 550 milhotildees de reais Cumpre assinalar que o programa de fornecimento gratuitode medicaccedilotildees antirretrovirais aos portadores de HIV no paiacutes eacute elogiado em todo o mundo pela iniciativapioneira na aacuterea apontada como exemplo na universalizaccedilatildeo do tratamento e inclusatildeo a esses pacientes A Leique cuida da mateacuteria ndash Lei ndeg 931396 ndash foi acompanhada por uma seacuterie de decisotildees judiciais proacute direitoagrave sauacutede determinando o efetivo provimento das medicaccedilotildees e sua atualizaccedilatildeo conforme o estado cientiacuteficomundial nos termos da redaccedilatildeo legal Nesse sentido se assinala entre outros o seguinte acoacuterdatildeo provenientedo Supremo ribunal Federal defendendo a aplicabilidade imediata das normas relativas ao direito agravesauacutede PACIENE COM HIVAIDS ndash PESSOA DESIUIacuteDA DE RECURSOS FINANCEIROS ndashDIREIO Agrave VIDA E Agrave SAUacuteDE ndashFORNECIMENO GRAUIO DE MEDICAMENOS ndash DEVERCONSIUCIONAL DO PODER PUacuteBLICO (CF ARS 5ordm CAPU E 196) O DIREIO Agrave SAUacuteDEREPRESENA CONSEQUumlEcircNCIA CONSIUCIONAL INDISSOCIAacuteVEL DO DIREIO Agrave VIDA

O direito puacuteblico subjetivo agrave sauacutede representa prerrogativa juriacutedica indisponiacutevel assegurada agrave generalidadedas pessoas pela proacutepria Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica (art 196) raduz bem juriacutedico constitucionalmentetutelado por cuja integridade deve velar de maneira responsaacutevel o Poder Puacuteblico a quem incumbe formularndash e implementar ndash poliacuteticas sociais e econocircmicas idocircneas que visem a garantir aos cidadatildeos inclusive agravequelesportadores do viacuterus HIV o acesso universal e igualitaacuterio agrave assistecircncia farmacecircutica e meacutedico-hospitalar Odireito agrave sauacutede ndash aleacutem de qualificar-se como direito fundamental que assiste a todas as pessoas ndash representaconsequumlecircncia constitucional indissociaacutevel do direito agrave vida O Poder Puacuteblico qualquer que seja a esfera institucionalde sua atuaccedilatildeo no plano da organizaccedilatildeo federativa brasileira natildeo pode mostrar-se indiferente ao problema da sauacutededa populaccedilatildeo sob pena de entender ainda que por censuraacutevel omissatildeo em grave comportamento inconstitucional(AGRRE nordm 271286-RS Rel Min Celso de Mello SF DJ 241100 p 101)

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176 DEFENSORIA PUacuteBLICA DA UNIAtildeO Escola Superior

remediar 19

Fato eacute queNenhum paiacutes ateacute o momento conseguiu estabelecer um limite oacutetimode gasto financeiro para melhorar a sauacutede de seus cidadatildeos os EUA

gastam 146 do PIB com sauacutede sendo o Estado responsaacutevel por449 desse total e 5 dos gastos puacuteblicos com sauacutede dizem respeitoaos medicamentos Ainda sobre os EUA dados de domiacutenio puacuteblicoinformam que cerca de 50 milhotildees de cidadatildeos natildeo tecircm acesso aosserviccedilos de sauacutede No Brasil os gastos com sauacutede correspondem agrave cifrade 79 do PIB sendo que o setor puacuteblico eacute responsaacutevel por 459desses gastos e os medicamentos representam 74 desses gastospuacuteblicos20

Sem duacutevida a garantia adequada do direito agrave sauacutede natildeo constitui um problema apenaspara os paiacuteses em desenvolvimento embora nesses falte o acesso ao que haacute de mais baacutesicopossiacutevel para a manutenccedilatildeo e a recuperaccedilatildeo da sauacutede ambeacutem os paiacuteses desenvolvidos

19 Aleacutem das despesas jaacute esperadas com tais medicamentos avultam ainda os gastos decorrentes de processos judiciais A esse respeito notiacutecia veiculada em setembro de 2008 na imprensa deu conta de que ldquoEntre2005 e 2008 o governo federal aumentou em 1820 (quase 20 vezes) as despesas decorrentes de ordens

judiciais que obrigam a Uniatildeo a pagar por medicamentos especiais Apenas na primeira metade deste anoforam gastos pelo governo federal por ordem da Justiccedila R$ 48 milhotildees nesses tratamentos Em 2005 oinvestimento foi de R$ 25 milhotildeesrdquo ambeacutem foi informado que ldquoa cada mecircs Satildeo Paulo gasta R$ 400milhotildees com remeacutedios obtidos pelos doentes mediante ordem judicial e que natildeo satildeo fornecidos pelo SUS Asituaccedilatildeo natildeo eacute muito diferente no Rio Grande do Sul Foram R$ 31 milhotildees com accedilotildees judiciais envolvendomedicamentos em 2006 e R$ 50 milhotildees em 2007 e a previsatildeo eacute de que sejam gastos R$ 150 milhotildees nesteano ndash o equivalente a um terccedilo do total de recursos de custeio dos programas da Secretaria Estadual deSauacutederdquo Dentro desses valores apurou-se ainda a ocorrecircncia de fraudes envolvendo meacutedicos e advogadosque mediante pedidos judiciais providos teriam resultado em prejuiacutezo de R$ 63 milhotildees aos cofrespuacuteblicos (REZZI Humberto Sauacutede Aumento no gasto do governo em remeacutedios especiais eacute investigadoPromotores e policiais suspeitam que quadrilhas falsificariam atestados para obrigar a Uniatildeo a fornecermedicamentos de alto custo a pacientes por via judicial Jornal Zero Hora Porto Alegre ediccedilatildeo ndeg 15734

Disponiacutevel em lthttpzerohoraclicrbscombrzerohorajspdefault2jspuf=1amplocal=1ampsource=a2195502xmlamptemplate=3898dwtampedition=10739ampsection=1003gt acessado em 12out08) Deduz-se daiacute queconquanto via relevantiacutessima para o controle do atendimento do direito fundamental agrave sauacutede a prestaccedilatildeo

jurisdicional haacute de ser particularmente cautelosa na anaacutelise de tais pleitos sobretudo quando em sede deprovimentos liminares por natildeo se poder desconsiderar o grave impacto que essas decisotildees tecircm tomado noorccedilamento sanitaacuterio Eacute imprescindiacutevel entatildeo sempre que possiacutevel e especialmente quando o fornecimentoeacute feito a entidades privadas sobre as quais incide menor controle na utilizaccedilatildeo desses recursos a realizaccedilatildeode periacutecia meacutedica judicial a constatar a efetiva necessidade e infungibilidade do recurso demandado naquelecaso concreto20 MELLO Dirceu Raposo et al op cit p 23

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tecircm problemas para assegurar os cuidados de sauacutede esperados pela populaccedilatildeo situaccedilatildeoque se agrava progressivamente com o envelhecimento da populaccedilatildeo (com suas conhecidasconsequecircncias para o equiliacutebrio previdenciaacuterio) e com o desenvolvimento crescente dosrecursos farmacecircuticos e biotecnoloacutegicos criando patamares cada vez mais elevados de

atenccedilatildeo agrave sauacutede21

Elevou-se a qualidade e a quantidade de vida o que eacute um aspectoinegavelmente positivo mas que gera outrossim consequecircncias de difiacutecil equiliacutebrioeconocircmico

4 DEMANDAS JUDICIAIS EM SAUacuteDE COMO AVANCcedilAR EM DIRECcedilAtildeO

AO QUE PARECE NAtildeO ER SAIacuteDA

Questionado sobre formas de viabilizaccedilatildeo de um sistema puacuteblico de sauacutede dentro dessecontexto ponderou primeiramente Diego Gracia 22 que quem tem receituaacuterio fazalocaccedilatildeo Com efeito Ao fazer uma mera prescriccedilatildeo individual o meacutedico estaacute a indicarali os paracircmetros para o exerciacutecio do direito agrave sauacutede pelo paciente Eacute para alcanccedilar orecurso prescrito que o cidadatildeo vai agrave Justiccedila pleitear ao Estado ou ao plano de sauacutede queo forneccedila Eacute na prescriccedilatildeo que se baseia o Juiz quando antecipa uma tutela mesmo antes

de ouvir a parte adversa na convicccedilatildeo de que haacute urgecircncia no acesso agravequele recurso

Mister assim para racionalizar o uso de medicamentos e recursos no SUS orientar eracionalizar tambeacutem as prescriccedilotildees meacutedicas de modo que sem sacrificar a sauacutede dopaciente tampouco se sacrifique indevidamente o Sistema organizado para protegecirc-lae garanti-la Nesse ponto erige-se a validade de se pensar um trabalho conjunto comorganizaccedilotildees profissionais como uma outra vertente para a maior efetivaccedilatildeo na prestaccedilatildeo

21

Nesse sentido cf a obra AARON Henry J SCHWARZ William B Te Painful Prescriptionhellipreferente sobretudo aos Estados Unidos e agrave Inglaterra mas que tambeacutem menciona a situaccedilatildeo de outros paiacutesesdesenvolvidos como a Franccedila e o Canadaacute ambeacutem trata do assunto entre outros PENCHASZADEHVictor Bioeacutetica y medicina social Una confluencia necesaria Revista Brasileira de Bioeacutetica BrasiacuteliaSociedade Brasileira de Bioeacutetica v 3 n 2 p 129-149 2007 p 137 Destaque-se outrossim a recentepolecircmica envolvendo o governo americano do Presidente Barack Obama ante a perspectiva de maiordemocratizaccedilatildeo do acesso agrave sauacutede em confronto com o arcabouccedilo tendencialmente liberal da poliacutetica daqueleEstado no setor ateacute entatildeo22 GRACIA Diego Bioeacutetica Cliacutenica e Contexto Social In VII CONGRESSO BRASILEIRO DEBIOEacuteICA Satildeo Paulo 2007 Conferecircncia

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178 DEFENSORIA PUacuteBLICA DA UNIAtildeO Escola Superior

e cobranccedila do direito agrave sauacutede

A especial atenccedilatildeo aos preceitos da Medicina Baseada em Evidecircncias devidamentefundamentada em relatoacuterios e prescriccedilotildees acurados com a cuidadosa anaacutelise e

demonstraccedilatildeo de eficaacutecia seguranccedila e eficiecircncia23

quer no geral quer no caso concretotambeacutem satildeo de grande valia para a atuaccedilatildeo coerente e racional na aacuterea inclusive a fim deevitar que o assistido seja engolfado por esperanccedilas vatildes de resultados temeraacuterios tentativasheroicas sem perspectivas reais e pesquisas multinacionais em larga escala que exacerbamsua vulnerabilidade e fragilizam a credibilidade dos pedidos judiciais no setor Nessecontexto mister evitar tambeacutem pedidos irrazoaacuteveis natildeo factiacuteveis na praacutetica ou opccedilotildees

23 Embora costumeiramente usadas de forma equivalente as expressotildees eficaacutecia eficiecircncia e efetividade tecircmsignificados teacutecnicos especiacuteficos na seara da MBE Nesse sentido a seguranccedila mencionada implica a anaacutelisede que os danos colaterais possiacutevel sejam inferiores aos benefiacutecios oferecidos com seu uso para o fim a quese propotildee A eficaacutecia consiste na evidecircncia de ter o recurso prescrito comprovado efeito beneacutefico para aquelecaso (ldquofazem o que se propotildeem a fazerrdquo ndash na expressatildeo de VIEIRA Fabiacuteola Sulpino op cit p365-369)evitando-se os chamados ldquoprodutos de complacecircnciardquo ndash sem eficaacutecia comprovada mas prescritos por insistecircnciado paciente ou por pressatildeo do marketing industrial por exemplo ndash bem como os atos aparentemente cliacutenicosmas que se mostram em verdade experimentais visto que natildeo validados de nenhuma forma cientificamente

aceita a qual permita asseveraacute-los como realmente producentes e seguros A efetividade propriamente dita corresponde agrave eficaacutecia e agrave eficiecircncia em condiccedilotildees reais de sorte a evitar desperdiacutecios Eacute dizer que os produtoseleitos ldquofazem o que se propotildeem a fazer quando utilizados pelas pessoas em condiccedilotildees reais e natildeo em gruposhomogecircneos que constituem os grupos de pessoas dos ensaios cliacutenicosrdquo (idem ibidem) Por fim a eficiecircnciaou custo-efetividade envolve a avaliaccedilatildeo da relaccedilatildeo custobenefiacutecio de modo a se constatar a substancialvantagem de dado recurso em relaccedilatildeo a outro observadas a eficaacutecia e a efetividade propriamente ditaSignifica dizer que o produto em questatildeo ldquoentre as alternativas disponiacuteveis faz o que se propotildee a fazer paraas pessoas em condiccedilotildees reais ao menor custordquo (idem ibidem) Embora conceitos mais utilizados no acircmbitoeconocircmico e de macroalocaccedilatildeo de recursos acabam repercutindo na microalocaccedilatildeo individual ao requerermaior comprovaccedilatildeo quando de pedido que natildeo leve em consideraccedilatildeo tais subprinciacutepios Segundo a ANVISAtem-se a efetividade como ldquogarantia de medicamentos eficazes eou efetivos e seguros cuja relaccedilatildeo risco-benefiacutecio seja favoraacutevel e comprovada a partir das melhores evidecircncias cientiacuteficas disponiacuteveis na literatura

e com registro aprovado na Agecircncia Nacional de Vigilacircncia Sanitaacuteria (ANVISA)rdquo e a eficiecircncia como aldquogarantia de medicamentos que proporcionem a melhor resposta terapecircutica aos usuaacuterios com os menorescustos para o SUSrdquo (Lei 124012011 e pela Resoluccedilatildeo 01 do Ministeacuterio da Sauacutede de 17 de janeiro de2012) Eacute fato que considerando os escores da Medicina baseada em evidecircncia alega o Estado de praxe quea experiecircncia do meacutedico prescritor isoladamente e mesmo do perito judicial natildeo teriam niacutevel de sustentaccedilatildeocientiacutefica bastante para subsidiar a concessatildeo de medicaccedilatildeo natildeo padronizada pelo SUS todavia considerandoos requisitos de antecipaccedilatildeo de tutela pode conter se bem fundamentada em estudos outros de indicaccedilatildeoseguranccedila eficaacutecia efetividade e eficiecircncia elementos suficientes de verossimilhanccedila aleacutem de representara realidade daquele indiviacuteduo preocupando-se em registrar inclusive a ausecircncia de resposta ou indicaccedilatildeoquanto agraves outras opccedilotildees disponiacuteveis haja vista que como se costuma constatar a resposta individual nemsempre corresponde agravequela epidemiologicamente esperada

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comerciais especiacuteficas substituiacuteveis por equivalentes terapecircuticos disponiacuteveis no SUS24

Outro aspecto a ser sopesado eacute o modo e o conteuacutedo como feitos os pedidos na medida emque a proteccedilatildeo ao direito agrave sauacutede de um deve considerar a existecircncia de outros envolvidos

na alocaccedilatildeo de recursos diante da escassez real Exemplo disso satildeo os pedidos de vagaou de prioridade em filas de transplantes que necessariamente envolvem o cotejo comoutros afetados que natildeo satildeo parte no processo Natildeo raro se tem notiacutecia de comandos deprisatildeo a gestores hospitalares que tecircm todos os seus leitos ocupados por natildeo disporem devagas Inegaacutevel a falha estatal na espeacutecie mas ela natildeo pode ser resolvida com o comandoainda que indireto de retirada de pacientes que ainda necessitem do leito e cuidados paraalocaccedilatildeo de outro dotado de comando judicial Opccedilatildeo nesse caso eacute o pedido subsidiaacuteriode alocaccedilatildeo em unidades privadas agraves expensas do Estado natildeo por mera opccedilatildeo do enfermomas se natildeo houver leitos disponiacuteveis nas unidades puacuteblicas

Do ponto de vista estatal eacute mister o ajuste constante das poliacuteticas puacuteblicas de sortea mantecirc-las condizentes com as carecircncias da comunidade e atualizadas dentro dasmargens de efetividade terapecircutica a fim de se tentar com isso minorar a necessidade deintervenccedilotildees judiciais suplementares na aacuterea aleacutem de favorecer o proacuteprio funcionamentoadequado do Sistema em conformidade com seus princiacutepios gestores e com as previsotildeese garantias constitucionais sem acarretar a falecircncia do Sistema nem converter o direitouniversal agrave sauacutede em mera retoacuterica demagoacutegica

Nesse contexto a atuaccedilatildeo e participaccedilatildeo equilibrada da Defensoria junto a oacutergatildeos puacuteblicose conselhos interdisciplinares pode ser de grande valia para uma maior eficaacutecia na soluccedilatildeo

24 Em palestra proferida do II Foacuterum Brasileiro sobre Assistecircncia Farmacecircutica e Farmacoeconomia ocorridoem setembro de 2014 em Salvador-Bahia com a presenccedila de gestores puacuteblicos membros do JudiciaacuterioMinisteacuterio Puacuteblico Defensoria Puacuteblica e Advogados Puacuteblicos a representante paulista do CONASS(Conselho Nacional dos Secretaacuterios de Sauacutede) apresentou demonstrativo de pedidos em demandas judiciaissanitaacuterias contra o Estado e o Municiacutepio de Satildeo Paulo em que incluiacutedos itens como ldquoleite de cabra frescordquondash o qual resultou descumprido por absoluta ausecircncia de resposta agrave licitaccedilatildeo simplificada para localizar

detentores de cabras na cidade de Satildeo Paulo Nessa ocasiatildeo tambeacutem mostrou a palestrante estudo feitoquanto agraves 41000 accedilotildees judiciais em sauacutede atendidas por aqueles entes naquele ano tendo-se verificado quecerca de 70 delas se pautavam em prescriccedilotildees particulares 93 envolviam medicamentos extraordinaacuteriosao SUS sendo que aproximadamente 5 envolviam produtos importados sem registro na ANVISA 50envolviam itens de produtores exclusivos e cerca de 25 marcas especiacuteficas mesmo para itens simples comofraldas descartaacuteveis A franca maioria dos pedidos natildeo tivera solicitaccedilatildeo administrativa preacutevia sabendo oEstado do pleito jaacute em sede de antecipaccedilatildeo de tutela com prazo estrito para o fornecimento ainda que comfundamentaccedilatildeo cliacutenica escassa inclusive quanto agrave premecircncia do pedido (SIQUEIRA Paula Sue Facundo deDireito Sanitaacuterio a interface entre Judiciaacuterio e Sauacutede na utilizaccedilatildeo dos PDC II FOacuteRUM BRASILEIROSOBRE ASSISEcircNCIA FARMACEcircUICA E FARMACOECONOMIA Salvador 2014 Mesa Redonda)

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administrativa das questotildees reduzindo-se o quantitativo de demandas judiciais na espeacuteciee democratizando o acesso agrave sauacutede mesmo agravequeles que natildeo chegam agrave Defensoria Nesseuacuteltimo aspecto tambeacutem a atuaccedilatildeo mediante Accedilatildeo Civil Puacuteblica visando agrave atualizaccedilatildeodas listas de fornecimento ou denunciando carecircncias e esperas irrazoaacuteveis por exemplo

parece recurso de relevante monta para uma melhor prestaccedilatildeo no setor

Possibilidade de uma maior funcionalidade administrativa tambeacutem pode ser tentadamediante atuaccedilatildeo de profissional25 direcionado agrave aacuterea das crescentes demandas em sauacutedenas unidades defensoriais de sorte a direcionar melhor a instruccedilatildeo dos pedidos jaacute seorientando o tipo de relatoacuterio e informaccedilotildees necessaacuterios aleacutem de empreender contatodireto com os oacutergatildeos puacuteblicos de regulaccedilatildeo em sauacutede estreitando relaccedilotildees com a Secretariade Sauacutede do Estado e seus oacutergatildeos a exemplo da Central de Regulaccedilatildeo de Vagas

Propotildee-se com isso ampliar o quantitativo de resoluccedilotildees administrativas mais ceacutelerese menos custosas reservando a necessidade de intervenccedilotildees juriacutedicas agraves situaccedilotildees emque havendo a previsatildeo do fornecimento natildeo se consegue obtecirc-lo por maacute prestaccedilatildeoadministrativa ndash o que demonstrado por melhor instruccedilatildeo inicial sugere levar amelhores iacutendices de sucesso jaacute em sede antecipatoacuteria ndash ou nas situaccedilotildees de recursos natildeoincluiacutedos no rol de fornecimento do SUS (em que pese o limitante dos artigos 2ordm e 19da Lei 124012011) Nesse caso uacuteltimo jaacute se busque tambeacutem instruir o pedido com osdemonstrativos da eficaacutecia seguranccedila e indicaccedilatildeo da medida reclamada bem assim de

ausecircncia de resposta agraves drogas rotineiramente disponibilizadas ou indicadas nos PCDnos termos inclusive do quanto preconizado em reiterados Enunciados e Recomendaccedilotildeesdo CNJ (4 11 14 15 16 31) e precedentes jurisprudenciais relevantes como a SA175 de relatoria do Min Gilmar Mendes sobre a mateacuteria

O que se vislumbra de negativo em tal proposta eacute que eventual reduccedilatildeo da judicializaccedilatildeofaccedila supor uma maior eficiecircncia na prestaccedilatildeo estatal em sauacutede o que nem semprecorresponde agrave verdade obtendo-se o ecircxito em casos individuais atraveacutes da persistecircnciaempedernida do oacutergatildeo defensorial ateacute que a proacutexima situaccedilatildeo se apresente Como aspecto

25 entativa semelhante tem sido implementada ao longo do uacuteltimo ano na unidade baiana daDefensoria Puacuteblica da Uniatildeo por iniciativa da chefia que tambeacutem titulariza o ofiacutecio de tutelacoletiva mediante o destacamento de Assistente Social com experiecircncia na conduccedilatildeo de demandasem sauacutede e com o intuito de melhorar a assistecircncia em tais demandas ante o crescimentoexponencial de seu nuacutemero no quinquecircnio antecedente Os resultados tecircm-se mostrado prima facie positivos com aparente aumento do nuacutemero de deslindes extrajudiciais e maior quantitativode antecipaccedilotildees de tutela obtidas nas accedilotildees propostas embora ainda sem dados coligidos esistematizados a respeito

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positivo por oacutebvio todas as vantagens da resoluccedilatildeo administrativa

Outro recurso a ser considerado como dito como opccedilatildeo agraves muacuteltiplas accedilotildees individuaissatildeo as accedilotildees de natureza coletiva visando agrave efetiva disponibilizaccedilatildeo de procedimentos

oferecidos formalmente mas cuja demora na prestaccedilatildeo torna na praacutetica insustentaacutevela espera ais accedilotildees sob o ponto de vista pragmaacutetico todavia nem sempre tecircm comoobter resultados concretos imediatos mas frutos de uma atuaccedilatildeo combativa criacuteticae politicamente atuante satildeo relevante termocircmetro acerca do modo como estatildeo sendogeridos os recursos em sauacutede advertindo para a necessidade de se dar concretude ao direitoconstitucionalmente reconhecido incentivando da maneira mais pertinente o sistemade checks and balances reservando-se as accedilotildees individuais para situaccedilotildees especiacuteficas denecessidade incontornaacutevel e sem perspectiva de resoluccedilatildeo natildeo litigiosa

Por fim sempre cabiacutevel lembrar que o momento da urgecircncia do plantatildeo do riscoiminente de vida eacute sempre o pior momento para avaliar o que fazer culminando-seem accedilotildees accedilodadas por vezes mal instruiacutedas natildeo raro em duplicidade nas instacircnciasestadual e federal com riscos para o paciente ou de desperdiacutecio de recursos puacuteblicos ouainda de descreacutedito para a instituiccedilatildeo Importante assim discutirem-se as abordagenspossiacuteveis criando-se orientaccedilotildees de conduta que de antematildeo auxiliem na organizaccedilatildeo dopensamento e na escolha das vias cabiacuteveis para ajudar o requerente ndash vulnerado quer pelahipossuficiecircncia econocircmica quer pela enfermidade ou na maioria das vezes por ambas

ndash da forma mais promissora e adequada possiacutevel

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Natildeo haacute por oacutebvio respostas faacuteceis na mateacuteria O objetivo do texto foi sobretudo chamar

atenccedilatildeo para aspectos nem sempre vistos na lida cotidiana do Defensor imbuiacutedo da visatildeodo assistido e suas anguacutestias premido pelo tempo sem que tenha por vezes sequercondiccedilatildeo de distanciar-se para um olhar mais imparcial

odavia tais distanciamento e compreensatildeo mostram-se necessaacuterios agrave instituiccedilatildeo afim de redirecionar a busca a mecanismos alternativos para o impasse da sauacutede comodireito simultaneamente individual e social sujeito agraves premecircncias pessoais mas tambeacutem

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agraves limitaccedilotildees de uma prestaccedilatildeo coletiva a exemplo da proacutepria escassez real (e aiacute misterdistinguir o mero argumento da escassez e da reserva do possiacutevel em contraposiccedilatildeo agravecomprovada inviabilidade de produccedilatildeo ou fornecimento a exemplo do nuacutemero de vagasimediatas em UI de um hospital puacuteblico ou a disponibilidade de oacutergatildeos compatiacuteveis para

transplante) e da inevitabilidade da alocaccedilatildeo de recursos o que natildeo eacute dado a ningueacutemresponsavelmente negar

Apenas a tiacutetulo de pensamento inicial sugerir-se-ia o desenvolvimento de incremento nastentativas de resoluccedilatildeo extrajudicial a exemplo de maior contato com a Administraccedilatildeo ndash aquem tambeacutem interessa a reduccedilatildeo das lides diminuindo gastos a varejo ndash e com oacutergatildeosde prestaccedilatildeo de sauacutede puacuteblica e de orientaccedilatildeo profissional meacutedica com vistas a analisar aeficaacutecia indicaccedilatildeo e seguranccedila de determinados recursos terapecircuticos subsidiando melhoros pedidos e melhorando os iacutendices de deferimento na espeacutecie que lamentavelmente

comeccedilam a declinar talvez movidos pelo perigo da dessensibilizaccedilatildeo do Judiciaacuterio ante aprofusatildeo de pedidos no setor reservando-se a atuaccedilatildeo judicial para situaccedilotildees de insucessoadministrativo reconhecido considerada a premecircncia e a comprovada necessidade ouatuaccedilotildees de iacutendole coletiva de pressatildeo poliacutetica para assegurar a melhor prestaccedilatildeo dodireito constitucional

Satildeo apenas reflexotildees incipientes mas ficam a semente da ideia o desafio que a questatildeorepresenta e o chamado ao compromisso coletivo de desenvolvecirc-las em prol do cidadatildeo

da efetividade constitucional e da atuaccedilatildeo mais consciente precisa e exitosa possiacutevel porparte da Defensoria Puacuteblica na defesa ao direito fundamental agrave sauacutede

REFEREcircNCIAS

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CANOILHO J J Gomes Direito Constitucional e eoria da Constituiccedilatildeo 7edCoimbra Almedina [2003]

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eoria e Praacutetica Satildeo Paulo Verbatim 2009SCHWARZ Germano Direito agrave Sauacutede Efetivaccedilatildeo em uma Perspectiva SistecircmicaPorto Alegre Livraria do Advogado 2001

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AVARES Andreacute Ramos Curso de Direito Constitucional 2ed Satildeo Paulo Saraiva 2003

REZZI Humberto Sauacutede Aumento no gasto do governo em remeacutedios especiais eacuteinvestigado Promotores e policiais suspeitam que quadrilhas falsificariam atestados paraobrigar a Uniatildeo a fornecer medicamentos de alto custo a pacientes por via judicial JornalZero Hora Porto Alegre ediccedilatildeo ndeg 15734 disponiacutevel em lthttpzerohoraclicrbscombrzerohorajspdefault2jspuf=1amplocal=1ampsource=a2195502xmlamptemplate=3898dwtampedition=10739ampsection=1003gt acessado em 12out08

VIEIRA Fabiacuteola Sulpino Accedilotildees judiciais e direito agrave sauacutede reflexatildeo sobre a observacircnciaaos princiacutepios do SUS Rev Sauacutede Puacuteblica v 42 n 2 p 365-369 abr 2008

VILLAS-BOcircAS Maria Elisa Alocaccedilatildeo de Recursos em Sauacutede quando a realidade e osdireitos fundamentais se chocam 2009 425 f ese (Doutorado em Direito Puacuteblico) ndashFaculdade de Direito Universidade Federal da Bahia Salvador 2009

______ O Direito agrave Sauacutede no Brasil reflexotildees bioeacuteticas agrave luz do princiacutepio da justiccedilaSatildeo Paulo Loyola 2014

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172 DEFENSORIA PUacuteBLICA DA UNIAtildeO Escola Superior

praacuteticas eacute de se notar que em 1999 foi incluiacutedo capiacutetulo referente agrave atenccedilatildeo agrave sauacutedeindiacutegena e em 2002 previu-se um subsistema de atendimento e internaccedilatildeo domiciliarEsses uacuteltimos cuidados ditos home care conquanto ainda pouco utilizados vecircmadequar-se ao quanto previsto na Constituiccedilatildeo Federal em seu artigo 230 paraacutegrafo 1ordm

notadamente em relaccedilatildeo aos idosos a saber ldquosect 1ordm - Os programas de amparo aos idososseratildeo executados preferencialmente em seus laresrdquo Em 2005 acolheu-se na legislaccedilatildeo umsubsistema de acompanhamento durante o trabalho de parto parto e poacutes-parto imediatoprevendo a possibilidade de acompanhante nesses eventos a exemplo do que jaacute fizera oEstatuto da Crianccedila e do Adolescente em relaccedilatildeo agrave previsatildeo de acompanhante para omenor internado no acircmbito do SUS (artigo 12 da Lei 806990 e Resoluccedilatildeo ndeg 4195sobre os direitos da crianccedila e do adolescente hospitalizados) revelando uma tendecircncia dehumanizaccedilatildeo dos procedimentos puacuteblicos de sauacutede

Na praacutetica ainda natildeo se implementaram amplamente esses novos espectros do direito agravesauacutede mas natildeo se os diga impossiacuteveis nem desnecessaacuterios Eacute curioso notar verbi gratia que quando do surgimento do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente tampouco era praxea manutenccedilatildeo dos pais junto aos pequenos pacientes ndash algo que hoje soa imprescindiacutevelndash e a afirmaccedilatildeo legislativa desse direito foi reputada como inviaacutevel dentro da estruturahospitalar da eacutepoca Menos de uma deacutecada depois todavia embora natildeo existam aindahoje instalaccedilotildees ideais em termos de conforto jaacute natildeo se cogita mais internar crianccedilas ouadolescentes sem lhes assegurar a permanecircncia de um dos responsaacuteveis Demonstrou-se

com isso que muitas das resistecircncias agrave implementaccedilatildeo de direitos satildeo bem mais culturaispor haacutebito ou falta de vontade poliacutetica do que propriamente por reais inviabilidadesfinanceiras ou operacionais Vive-se atualmente similar situaccedilatildeo quanto agrave previsatildeo deacompanhante para o idoso ou a gestante em trabalho de parto

Em relaccedilatildeo ao planejamento e orccedilamento a propoacutesito outro argumento habitual doEstado-reacuteu diz respeito justamente agrave impossibilidade de deslocamento de verbas natildeoprevistas na organizaccedilatildeo orccedilamentaacuteria dentro do Sistema Uacutenico de Sauacutede ou de outrasaacutereas para este sob pena de responsabilizaccedilatildeo fiscal Nessa seara poreacutem o artigo 36

paraacutegrafo 2ordm da Lei ndeg 808090 eacute enfaacutetico ao estabelecer que ldquoEacute vedada a transferecircnciade recursos para o financiamento de accedilotildees natildeo previstas nos planos de sauacutede exceto emsituaccedilotildees emergenciais ou de calamidade puacuteblica na aacuterea de sauacutederdquo (grifou-se)

Para exercer suas atividades o Sistema Uacutenico de Sauacutede conta com inuacutemeras outras normasgestoras ndash natildeo apenas leis de acircmbito nacional mas tambeacutem Portarias e normas de acircmbitoestadual e local ndash que detalham essa atuaccedilatildeo Assim eacute que por exemplo a Portaria nordm

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3916 de 30 de outubro de 1998 estabelece a Poliacutetica Nacional de Medicamentos a serauxiliada por normas outras como a Lei ndeg 978799 dita ldquoLei dos Geneacutericosrdquo definindoo medicamento geneacuterico como aquele similar a um produto de referecircncia ou inovadorque se pretende ser com este intercambiaacutevel geralmente produzido apoacutes a expiraccedilatildeo ou

renuacutencia da proteccedilatildeo patentaacuteria ou de outros direitos de exclusividade comprovada a suaeficaacutecia seguranccedila e qualidade

Prevecirc-se ainda que esses medicamentos devem ser preferidos no acircmbito do SUSpelo custo e acrescente-se pela impessoalidade mesma que deve caracterizar a atuaccedilatildeoadministrativa estatal desaconselhando a preferecircncia por produtos de laboratoacuterios oumarcas determinados em detrimento de produtos de denominaccedilatildeo comum brasileira ouna sua falta internacional a indicar maior neutralidade em prestaccedilatildeo equivalente

Jaacute se tem aiacute um paracircmetro a nortear as prescriccedilotildees e decisotildees na mateacuteria deve a prestaccedilatildeofarmacoloacutegica do Sistema Uacutenico de Sauacutede se pautar pelo fornecimento de medicaccedilotildees quedentre as que contecircm a substacircncia ativa necessaacuteria atendam agraves necessidades de eficaacuteciae seguranccedila poreacutem com menor custo maior impessoalidade e generalidade pois natildeoassociada a marca especiacutefica O uso racional desses recursos passa ainda pela orientaccedilatildeodos meacutedicos na criteriosa avaliaccedilatildeo das medicaccedilotildees prescritas privilegiando dentro deum paracircmetro de equivalecircncia aquelas jaacute constantes fornecimento regular pelo Sistema 16

16 Os produtos padronizados constam da Relaccedilatildeo Nacional de Medicamentos Essenciais (RENAME) Nosentido de promover a observacircncia da lista cita-se por exemplo a Portaria Estadual nordm 1475BA publicadano Diaacuterio Oficial do Estado de 300908 que ldquoConstitui Grupo de trabalho no acircmbito do SUS com oescopo de elaborar orientaccedilotildees e diretrizes aos profissionais meacutedicos no sentido de esgotarem as alternativasde faacutermacos previstas nos Protocolos Cliacutenicos e Diretrizes erapecircuticas do Ministeacuterio da Sauacutede e demais atosque lhe forem complementares antes de prescrever tratamento medicamentoso diverso aos pacientes nostermos da Notificaccedilatildeo Recomendatoacuteria 0022007 da Promotoria de Justiccedila e da Cidadania do MinisteacuterioPuacuteblico do Estado da Bahiardquo De acordo com a Organizaccedilatildeo Mundial da Sauacutede - OMS (Nairobi Quecircnia1985) ldquoHaacute uso racional quando pacientes recebem medicamentos apropriados para suas condiccedilotildees cliacutenicasem doses adequadas agraves suas necessidades individuais por um periacuteodo adequado e ao menor custo para si e

para a comunidaderdquo Segundo o Ministeacuterio da Sauacutede o uso racional de medicamentos consiste no ldquoprocessoque compreende a prescriccedilatildeo apropriada a disponibilidade oportuna e a preccedilos acessiacuteveis a dispensaccedilatildeoem condiccedilotildees adequadas e o consumo nas doses indicadas nos intervalos definidos e no periacuteodo de tempoindicado de medicamentos eficazes seguros e de qualidaderdquo (BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria dePoliacuteticas de Sauacutede Departamento de Atenccedilatildeo Baacutesica Poliacutetica nacional de medicamentos 2001Ministeacuterio daSauacutede Secretaria de Poliacuteticas de Sauacutede Departamento de Atenccedilatildeo Baacutesica ndash Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede2001 ambeacutem disponiacutevel em lthttpwwwopasorgbrmedicamentossiteUploadArqpnmpdfgtacessado em 02out08) Outros programas para estimular o uso racional de medicamentos encontram-sena paacutegina eletrocircnica do Ministeacuterio da Sauacutede (httpportalsaudegovbrportalsaudeareacfmid_area=1141acessado em 05out08)

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174 DEFENSORIA PUacuteBLICA DA UNIAtildeO Escola Superior

A alocaccedilatildeo de medicamentos no paiacutes estaacute dividida segundo o Ministeacuterio da Sauacutede em trecircscategorias baacutesicas17 medicamentos baacutesicos ou essenciais ldquopertencentes a um elenco miacutenimoobrigatoacuterio a ser dispensado na atenccedilatildeo baacutesicardquo ou na dicccedilatildeo legal aqueles consideradosldquobaacutesicos e indispensaacuteveis para atender a maioria dos problemas de sauacutede da populaccedilatildeordquo

previstos na Portaria do Ministeacuterio da Sauacutede nordm 32372007 medicamentos estrateacutegicosutilizados em programas especiacuteficos do Ministeacuterio da Sauacutede como aqueles de combateagrave AIDS tuberculose hanseniacutease diabetes doenccedila de Chagas malaacuteria coagulopatias eoutras conforme Portaria do Ministeacuterio da Sauacutede nordm 2042007 e medicamentos dedispensaccedilatildeo especial ou excepcional eacute dizer aqueles geralmente de alto custo destinadosa patologias especiacuteficas e complexas que atingem um nuacutemero limitado de pacientes parauso prolongado Esses procedimentos e recursos terapecircuticos encontravam-se arroladosna Portaria do Ministeacuterio da Sauacutede nordm 25772006 Eacute de se observar que sendo essauacuteltima uma das categorias mais solicitadas judicialmente e mais associadas com a evoluccedilatildeo

biotecnoloacutegica chama a atenccedilatildeo o fato de ter sido por muito tempo justamente aPortaria mais antiga deixando margem agrave criacutetica de provaacutevel desatualizaccedilatildeo em relaccedilatildeo aosavanccedilos atuais tendo sido atualizada pela Portaria GMMS 18692008 e revogada pelaPortaria GMMS 1062009 tambeacutem jaacute revogada A mateacuteria tambeacutem sofreu alteraccedilotildeespelas Portarias 2981 de 26 de novembro de 2009 Portaria 343GMMS de 22 defevereiro de 2010 Portaria 3439MS de 11 de novembro de 2010 e atualmente pelosPCD (PROOCOLOS CLIacuteNICOS E DIRERIZES ERAPEcircUICAS) a indicarparacircmetros de abordagem e tratamento para cada patologia

Analisando-se os montantes empregados em cada uma das categorias verifica-se que os

17 MELLO Dirceu Raposo et al op cit p 27-28 SALAZAR Andrea Lazzarini GROU Karina Bozola ADefesa da Sauacutede em Juiacutezo eoria e Praacutetica Satildeo Paulo Verbatim 2009 p 112-113

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175R Defensoria Puacutebl Uniatildeo Brasiacutelia DF n 8 p 1-356 jandez 2015

gastos com medicamentos especiais superam em muito aqueles com medicaccedilotildees baacutesicas18 Dentre os medicamentos estrateacutegicos ndash responsaacuteveis pelo maior volume de custos commedicaccedilotildees entre os trecircs grupos na segunda metade da deacutecada passada ndash aqueles dirigidosao programa de HIVAIDS sofreram acreacutescimo substancial em 2006 ante as novas drogas

incorporadas ao cataacutelogo farmacoloacutegico de tratamento da doenccedila passando a representarsozinhos quase uma vez e meia o gasto com todas as demais drogas estrateacutegicas

Mais uma vez fica evidente que prevenir aleacutem de melhor sai bem mais barato que

18 Segundo quadro comparativo elaborado em MELLO Dirceu Raposo et al op cit p 28-29 a partirde dados do Ministeacuterio da Sauacutede os gastos com medicamentos baacutesicos em 2006 foram da ordem de 290milhotildees de reais representando 67 dos gastos com medicaccedilatildeo ao passo que o montante despendido commedicamentos de dispensaccedilatildeo especial alcanccedilaram a cifra de um bilhatildeo 355 milhotildees de reais equivalendoa 32 do orccedilamento para a aacuterea Dentre os medicamentos estrateacutegicos aqueles destinados ao programade DSAIDS custaram aos cofres puacuteblicos naquele ano 960 milhotildees de reais enquanto no ano anteriorrepresentaram despesa de 550 milhotildees de reais Cumpre assinalar que o programa de fornecimento gratuitode medicaccedilotildees antirretrovirais aos portadores de HIV no paiacutes eacute elogiado em todo o mundo pela iniciativapioneira na aacuterea apontada como exemplo na universalizaccedilatildeo do tratamento e inclusatildeo a esses pacientes A Leique cuida da mateacuteria ndash Lei ndeg 931396 ndash foi acompanhada por uma seacuterie de decisotildees judiciais proacute direitoagrave sauacutede determinando o efetivo provimento das medicaccedilotildees e sua atualizaccedilatildeo conforme o estado cientiacuteficomundial nos termos da redaccedilatildeo legal Nesse sentido se assinala entre outros o seguinte acoacuterdatildeo provenientedo Supremo ribunal Federal defendendo a aplicabilidade imediata das normas relativas ao direito agravesauacutede PACIENE COM HIVAIDS ndash PESSOA DESIUIacuteDA DE RECURSOS FINANCEIROS ndashDIREIO Agrave VIDA E Agrave SAUacuteDE ndashFORNECIMENO GRAUIO DE MEDICAMENOS ndash DEVERCONSIUCIONAL DO PODER PUacuteBLICO (CF ARS 5ordm CAPU E 196) O DIREIO Agrave SAUacuteDEREPRESENA CONSEQUumlEcircNCIA CONSIUCIONAL INDISSOCIAacuteVEL DO DIREIO Agrave VIDA

O direito puacuteblico subjetivo agrave sauacutede representa prerrogativa juriacutedica indisponiacutevel assegurada agrave generalidadedas pessoas pela proacutepria Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica (art 196) raduz bem juriacutedico constitucionalmentetutelado por cuja integridade deve velar de maneira responsaacutevel o Poder Puacuteblico a quem incumbe formularndash e implementar ndash poliacuteticas sociais e econocircmicas idocircneas que visem a garantir aos cidadatildeos inclusive agravequelesportadores do viacuterus HIV o acesso universal e igualitaacuterio agrave assistecircncia farmacecircutica e meacutedico-hospitalar Odireito agrave sauacutede ndash aleacutem de qualificar-se como direito fundamental que assiste a todas as pessoas ndash representaconsequumlecircncia constitucional indissociaacutevel do direito agrave vida O Poder Puacuteblico qualquer que seja a esfera institucionalde sua atuaccedilatildeo no plano da organizaccedilatildeo federativa brasileira natildeo pode mostrar-se indiferente ao problema da sauacutededa populaccedilatildeo sob pena de entender ainda que por censuraacutevel omissatildeo em grave comportamento inconstitucional(AGRRE nordm 271286-RS Rel Min Celso de Mello SF DJ 241100 p 101)

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remediar 19

Fato eacute queNenhum paiacutes ateacute o momento conseguiu estabelecer um limite oacutetimode gasto financeiro para melhorar a sauacutede de seus cidadatildeos os EUA

gastam 146 do PIB com sauacutede sendo o Estado responsaacutevel por449 desse total e 5 dos gastos puacuteblicos com sauacutede dizem respeitoaos medicamentos Ainda sobre os EUA dados de domiacutenio puacuteblicoinformam que cerca de 50 milhotildees de cidadatildeos natildeo tecircm acesso aosserviccedilos de sauacutede No Brasil os gastos com sauacutede correspondem agrave cifrade 79 do PIB sendo que o setor puacuteblico eacute responsaacutevel por 459desses gastos e os medicamentos representam 74 desses gastospuacuteblicos20

Sem duacutevida a garantia adequada do direito agrave sauacutede natildeo constitui um problema apenaspara os paiacuteses em desenvolvimento embora nesses falte o acesso ao que haacute de mais baacutesicopossiacutevel para a manutenccedilatildeo e a recuperaccedilatildeo da sauacutede ambeacutem os paiacuteses desenvolvidos

19 Aleacutem das despesas jaacute esperadas com tais medicamentos avultam ainda os gastos decorrentes de processos judiciais A esse respeito notiacutecia veiculada em setembro de 2008 na imprensa deu conta de que ldquoEntre2005 e 2008 o governo federal aumentou em 1820 (quase 20 vezes) as despesas decorrentes de ordens

judiciais que obrigam a Uniatildeo a pagar por medicamentos especiais Apenas na primeira metade deste anoforam gastos pelo governo federal por ordem da Justiccedila R$ 48 milhotildees nesses tratamentos Em 2005 oinvestimento foi de R$ 25 milhotildeesrdquo ambeacutem foi informado que ldquoa cada mecircs Satildeo Paulo gasta R$ 400milhotildees com remeacutedios obtidos pelos doentes mediante ordem judicial e que natildeo satildeo fornecidos pelo SUS Asituaccedilatildeo natildeo eacute muito diferente no Rio Grande do Sul Foram R$ 31 milhotildees com accedilotildees judiciais envolvendomedicamentos em 2006 e R$ 50 milhotildees em 2007 e a previsatildeo eacute de que sejam gastos R$ 150 milhotildees nesteano ndash o equivalente a um terccedilo do total de recursos de custeio dos programas da Secretaria Estadual deSauacutederdquo Dentro desses valores apurou-se ainda a ocorrecircncia de fraudes envolvendo meacutedicos e advogadosque mediante pedidos judiciais providos teriam resultado em prejuiacutezo de R$ 63 milhotildees aos cofrespuacuteblicos (REZZI Humberto Sauacutede Aumento no gasto do governo em remeacutedios especiais eacute investigadoPromotores e policiais suspeitam que quadrilhas falsificariam atestados para obrigar a Uniatildeo a fornecermedicamentos de alto custo a pacientes por via judicial Jornal Zero Hora Porto Alegre ediccedilatildeo ndeg 15734

Disponiacutevel em lthttpzerohoraclicrbscombrzerohorajspdefault2jspuf=1amplocal=1ampsource=a2195502xmlamptemplate=3898dwtampedition=10739ampsection=1003gt acessado em 12out08) Deduz-se daiacute queconquanto via relevantiacutessima para o controle do atendimento do direito fundamental agrave sauacutede a prestaccedilatildeo

jurisdicional haacute de ser particularmente cautelosa na anaacutelise de tais pleitos sobretudo quando em sede deprovimentos liminares por natildeo se poder desconsiderar o grave impacto que essas decisotildees tecircm tomado noorccedilamento sanitaacuterio Eacute imprescindiacutevel entatildeo sempre que possiacutevel e especialmente quando o fornecimentoeacute feito a entidades privadas sobre as quais incide menor controle na utilizaccedilatildeo desses recursos a realizaccedilatildeode periacutecia meacutedica judicial a constatar a efetiva necessidade e infungibilidade do recurso demandado naquelecaso concreto20 MELLO Dirceu Raposo et al op cit p 23

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tecircm problemas para assegurar os cuidados de sauacutede esperados pela populaccedilatildeo situaccedilatildeoque se agrava progressivamente com o envelhecimento da populaccedilatildeo (com suas conhecidasconsequecircncias para o equiliacutebrio previdenciaacuterio) e com o desenvolvimento crescente dosrecursos farmacecircuticos e biotecnoloacutegicos criando patamares cada vez mais elevados de

atenccedilatildeo agrave sauacutede21

Elevou-se a qualidade e a quantidade de vida o que eacute um aspectoinegavelmente positivo mas que gera outrossim consequecircncias de difiacutecil equiliacutebrioeconocircmico

4 DEMANDAS JUDICIAIS EM SAUacuteDE COMO AVANCcedilAR EM DIRECcedilAtildeO

AO QUE PARECE NAtildeO ER SAIacuteDA

Questionado sobre formas de viabilizaccedilatildeo de um sistema puacuteblico de sauacutede dentro dessecontexto ponderou primeiramente Diego Gracia 22 que quem tem receituaacuterio fazalocaccedilatildeo Com efeito Ao fazer uma mera prescriccedilatildeo individual o meacutedico estaacute a indicarali os paracircmetros para o exerciacutecio do direito agrave sauacutede pelo paciente Eacute para alcanccedilar orecurso prescrito que o cidadatildeo vai agrave Justiccedila pleitear ao Estado ou ao plano de sauacutede queo forneccedila Eacute na prescriccedilatildeo que se baseia o Juiz quando antecipa uma tutela mesmo antes

de ouvir a parte adversa na convicccedilatildeo de que haacute urgecircncia no acesso agravequele recurso

Mister assim para racionalizar o uso de medicamentos e recursos no SUS orientar eracionalizar tambeacutem as prescriccedilotildees meacutedicas de modo que sem sacrificar a sauacutede dopaciente tampouco se sacrifique indevidamente o Sistema organizado para protegecirc-lae garanti-la Nesse ponto erige-se a validade de se pensar um trabalho conjunto comorganizaccedilotildees profissionais como uma outra vertente para a maior efetivaccedilatildeo na prestaccedilatildeo

21

Nesse sentido cf a obra AARON Henry J SCHWARZ William B Te Painful Prescriptionhellipreferente sobretudo aos Estados Unidos e agrave Inglaterra mas que tambeacutem menciona a situaccedilatildeo de outros paiacutesesdesenvolvidos como a Franccedila e o Canadaacute ambeacutem trata do assunto entre outros PENCHASZADEHVictor Bioeacutetica y medicina social Una confluencia necesaria Revista Brasileira de Bioeacutetica BrasiacuteliaSociedade Brasileira de Bioeacutetica v 3 n 2 p 129-149 2007 p 137 Destaque-se outrossim a recentepolecircmica envolvendo o governo americano do Presidente Barack Obama ante a perspectiva de maiordemocratizaccedilatildeo do acesso agrave sauacutede em confronto com o arcabouccedilo tendencialmente liberal da poliacutetica daqueleEstado no setor ateacute entatildeo22 GRACIA Diego Bioeacutetica Cliacutenica e Contexto Social In VII CONGRESSO BRASILEIRO DEBIOEacuteICA Satildeo Paulo 2007 Conferecircncia

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e cobranccedila do direito agrave sauacutede

A especial atenccedilatildeo aos preceitos da Medicina Baseada em Evidecircncias devidamentefundamentada em relatoacuterios e prescriccedilotildees acurados com a cuidadosa anaacutelise e

demonstraccedilatildeo de eficaacutecia seguranccedila e eficiecircncia23

quer no geral quer no caso concretotambeacutem satildeo de grande valia para a atuaccedilatildeo coerente e racional na aacuterea inclusive a fim deevitar que o assistido seja engolfado por esperanccedilas vatildes de resultados temeraacuterios tentativasheroicas sem perspectivas reais e pesquisas multinacionais em larga escala que exacerbamsua vulnerabilidade e fragilizam a credibilidade dos pedidos judiciais no setor Nessecontexto mister evitar tambeacutem pedidos irrazoaacuteveis natildeo factiacuteveis na praacutetica ou opccedilotildees

23 Embora costumeiramente usadas de forma equivalente as expressotildees eficaacutecia eficiecircncia e efetividade tecircmsignificados teacutecnicos especiacuteficos na seara da MBE Nesse sentido a seguranccedila mencionada implica a anaacutelisede que os danos colaterais possiacutevel sejam inferiores aos benefiacutecios oferecidos com seu uso para o fim a quese propotildee A eficaacutecia consiste na evidecircncia de ter o recurso prescrito comprovado efeito beneacutefico para aquelecaso (ldquofazem o que se propotildeem a fazerrdquo ndash na expressatildeo de VIEIRA Fabiacuteola Sulpino op cit p365-369)evitando-se os chamados ldquoprodutos de complacecircnciardquo ndash sem eficaacutecia comprovada mas prescritos por insistecircnciado paciente ou por pressatildeo do marketing industrial por exemplo ndash bem como os atos aparentemente cliacutenicosmas que se mostram em verdade experimentais visto que natildeo validados de nenhuma forma cientificamente

aceita a qual permita asseveraacute-los como realmente producentes e seguros A efetividade propriamente dita corresponde agrave eficaacutecia e agrave eficiecircncia em condiccedilotildees reais de sorte a evitar desperdiacutecios Eacute dizer que os produtoseleitos ldquofazem o que se propotildeem a fazer quando utilizados pelas pessoas em condiccedilotildees reais e natildeo em gruposhomogecircneos que constituem os grupos de pessoas dos ensaios cliacutenicosrdquo (idem ibidem) Por fim a eficiecircnciaou custo-efetividade envolve a avaliaccedilatildeo da relaccedilatildeo custobenefiacutecio de modo a se constatar a substancialvantagem de dado recurso em relaccedilatildeo a outro observadas a eficaacutecia e a efetividade propriamente ditaSignifica dizer que o produto em questatildeo ldquoentre as alternativas disponiacuteveis faz o que se propotildee a fazer paraas pessoas em condiccedilotildees reais ao menor custordquo (idem ibidem) Embora conceitos mais utilizados no acircmbitoeconocircmico e de macroalocaccedilatildeo de recursos acabam repercutindo na microalocaccedilatildeo individual ao requerermaior comprovaccedilatildeo quando de pedido que natildeo leve em consideraccedilatildeo tais subprinciacutepios Segundo a ANVISAtem-se a efetividade como ldquogarantia de medicamentos eficazes eou efetivos e seguros cuja relaccedilatildeo risco-benefiacutecio seja favoraacutevel e comprovada a partir das melhores evidecircncias cientiacuteficas disponiacuteveis na literatura

e com registro aprovado na Agecircncia Nacional de Vigilacircncia Sanitaacuteria (ANVISA)rdquo e a eficiecircncia como aldquogarantia de medicamentos que proporcionem a melhor resposta terapecircutica aos usuaacuterios com os menorescustos para o SUSrdquo (Lei 124012011 e pela Resoluccedilatildeo 01 do Ministeacuterio da Sauacutede de 17 de janeiro de2012) Eacute fato que considerando os escores da Medicina baseada em evidecircncia alega o Estado de praxe quea experiecircncia do meacutedico prescritor isoladamente e mesmo do perito judicial natildeo teriam niacutevel de sustentaccedilatildeocientiacutefica bastante para subsidiar a concessatildeo de medicaccedilatildeo natildeo padronizada pelo SUS todavia considerandoos requisitos de antecipaccedilatildeo de tutela pode conter se bem fundamentada em estudos outros de indicaccedilatildeoseguranccedila eficaacutecia efetividade e eficiecircncia elementos suficientes de verossimilhanccedila aleacutem de representara realidade daquele indiviacuteduo preocupando-se em registrar inclusive a ausecircncia de resposta ou indicaccedilatildeoquanto agraves outras opccedilotildees disponiacuteveis haja vista que como se costuma constatar a resposta individual nemsempre corresponde agravequela epidemiologicamente esperada

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comerciais especiacuteficas substituiacuteveis por equivalentes terapecircuticos disponiacuteveis no SUS24

Outro aspecto a ser sopesado eacute o modo e o conteuacutedo como feitos os pedidos na medida emque a proteccedilatildeo ao direito agrave sauacutede de um deve considerar a existecircncia de outros envolvidos

na alocaccedilatildeo de recursos diante da escassez real Exemplo disso satildeo os pedidos de vagaou de prioridade em filas de transplantes que necessariamente envolvem o cotejo comoutros afetados que natildeo satildeo parte no processo Natildeo raro se tem notiacutecia de comandos deprisatildeo a gestores hospitalares que tecircm todos os seus leitos ocupados por natildeo disporem devagas Inegaacutevel a falha estatal na espeacutecie mas ela natildeo pode ser resolvida com o comandoainda que indireto de retirada de pacientes que ainda necessitem do leito e cuidados paraalocaccedilatildeo de outro dotado de comando judicial Opccedilatildeo nesse caso eacute o pedido subsidiaacuteriode alocaccedilatildeo em unidades privadas agraves expensas do Estado natildeo por mera opccedilatildeo do enfermomas se natildeo houver leitos disponiacuteveis nas unidades puacuteblicas

Do ponto de vista estatal eacute mister o ajuste constante das poliacuteticas puacuteblicas de sortea mantecirc-las condizentes com as carecircncias da comunidade e atualizadas dentro dasmargens de efetividade terapecircutica a fim de se tentar com isso minorar a necessidade deintervenccedilotildees judiciais suplementares na aacuterea aleacutem de favorecer o proacuteprio funcionamentoadequado do Sistema em conformidade com seus princiacutepios gestores e com as previsotildeese garantias constitucionais sem acarretar a falecircncia do Sistema nem converter o direitouniversal agrave sauacutede em mera retoacuterica demagoacutegica

Nesse contexto a atuaccedilatildeo e participaccedilatildeo equilibrada da Defensoria junto a oacutergatildeos puacuteblicose conselhos interdisciplinares pode ser de grande valia para uma maior eficaacutecia na soluccedilatildeo

24 Em palestra proferida do II Foacuterum Brasileiro sobre Assistecircncia Farmacecircutica e Farmacoeconomia ocorridoem setembro de 2014 em Salvador-Bahia com a presenccedila de gestores puacuteblicos membros do JudiciaacuterioMinisteacuterio Puacuteblico Defensoria Puacuteblica e Advogados Puacuteblicos a representante paulista do CONASS(Conselho Nacional dos Secretaacuterios de Sauacutede) apresentou demonstrativo de pedidos em demandas judiciaissanitaacuterias contra o Estado e o Municiacutepio de Satildeo Paulo em que incluiacutedos itens como ldquoleite de cabra frescordquondash o qual resultou descumprido por absoluta ausecircncia de resposta agrave licitaccedilatildeo simplificada para localizar

detentores de cabras na cidade de Satildeo Paulo Nessa ocasiatildeo tambeacutem mostrou a palestrante estudo feitoquanto agraves 41000 accedilotildees judiciais em sauacutede atendidas por aqueles entes naquele ano tendo-se verificado quecerca de 70 delas se pautavam em prescriccedilotildees particulares 93 envolviam medicamentos extraordinaacuteriosao SUS sendo que aproximadamente 5 envolviam produtos importados sem registro na ANVISA 50envolviam itens de produtores exclusivos e cerca de 25 marcas especiacuteficas mesmo para itens simples comofraldas descartaacuteveis A franca maioria dos pedidos natildeo tivera solicitaccedilatildeo administrativa preacutevia sabendo oEstado do pleito jaacute em sede de antecipaccedilatildeo de tutela com prazo estrito para o fornecimento ainda que comfundamentaccedilatildeo cliacutenica escassa inclusive quanto agrave premecircncia do pedido (SIQUEIRA Paula Sue Facundo deDireito Sanitaacuterio a interface entre Judiciaacuterio e Sauacutede na utilizaccedilatildeo dos PDC II FOacuteRUM BRASILEIROSOBRE ASSISEcircNCIA FARMACEcircUICA E FARMACOECONOMIA Salvador 2014 Mesa Redonda)

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administrativa das questotildees reduzindo-se o quantitativo de demandas judiciais na espeacuteciee democratizando o acesso agrave sauacutede mesmo agravequeles que natildeo chegam agrave Defensoria Nesseuacuteltimo aspecto tambeacutem a atuaccedilatildeo mediante Accedilatildeo Civil Puacuteblica visando agrave atualizaccedilatildeodas listas de fornecimento ou denunciando carecircncias e esperas irrazoaacuteveis por exemplo

parece recurso de relevante monta para uma melhor prestaccedilatildeo no setor

Possibilidade de uma maior funcionalidade administrativa tambeacutem pode ser tentadamediante atuaccedilatildeo de profissional25 direcionado agrave aacuterea das crescentes demandas em sauacutedenas unidades defensoriais de sorte a direcionar melhor a instruccedilatildeo dos pedidos jaacute seorientando o tipo de relatoacuterio e informaccedilotildees necessaacuterios aleacutem de empreender contatodireto com os oacutergatildeos puacuteblicos de regulaccedilatildeo em sauacutede estreitando relaccedilotildees com a Secretariade Sauacutede do Estado e seus oacutergatildeos a exemplo da Central de Regulaccedilatildeo de Vagas

Propotildee-se com isso ampliar o quantitativo de resoluccedilotildees administrativas mais ceacutelerese menos custosas reservando a necessidade de intervenccedilotildees juriacutedicas agraves situaccedilotildees emque havendo a previsatildeo do fornecimento natildeo se consegue obtecirc-lo por maacute prestaccedilatildeoadministrativa ndash o que demonstrado por melhor instruccedilatildeo inicial sugere levar amelhores iacutendices de sucesso jaacute em sede antecipatoacuteria ndash ou nas situaccedilotildees de recursos natildeoincluiacutedos no rol de fornecimento do SUS (em que pese o limitante dos artigos 2ordm e 19da Lei 124012011) Nesse caso uacuteltimo jaacute se busque tambeacutem instruir o pedido com osdemonstrativos da eficaacutecia seguranccedila e indicaccedilatildeo da medida reclamada bem assim de

ausecircncia de resposta agraves drogas rotineiramente disponibilizadas ou indicadas nos PCDnos termos inclusive do quanto preconizado em reiterados Enunciados e Recomendaccedilotildeesdo CNJ (4 11 14 15 16 31) e precedentes jurisprudenciais relevantes como a SA175 de relatoria do Min Gilmar Mendes sobre a mateacuteria

O que se vislumbra de negativo em tal proposta eacute que eventual reduccedilatildeo da judicializaccedilatildeofaccedila supor uma maior eficiecircncia na prestaccedilatildeo estatal em sauacutede o que nem semprecorresponde agrave verdade obtendo-se o ecircxito em casos individuais atraveacutes da persistecircnciaempedernida do oacutergatildeo defensorial ateacute que a proacutexima situaccedilatildeo se apresente Como aspecto

25 entativa semelhante tem sido implementada ao longo do uacuteltimo ano na unidade baiana daDefensoria Puacuteblica da Uniatildeo por iniciativa da chefia que tambeacutem titulariza o ofiacutecio de tutelacoletiva mediante o destacamento de Assistente Social com experiecircncia na conduccedilatildeo de demandasem sauacutede e com o intuito de melhorar a assistecircncia em tais demandas ante o crescimentoexponencial de seu nuacutemero no quinquecircnio antecedente Os resultados tecircm-se mostrado prima facie positivos com aparente aumento do nuacutemero de deslindes extrajudiciais e maior quantitativode antecipaccedilotildees de tutela obtidas nas accedilotildees propostas embora ainda sem dados coligidos esistematizados a respeito

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positivo por oacutebvio todas as vantagens da resoluccedilatildeo administrativa

Outro recurso a ser considerado como dito como opccedilatildeo agraves muacuteltiplas accedilotildees individuaissatildeo as accedilotildees de natureza coletiva visando agrave efetiva disponibilizaccedilatildeo de procedimentos

oferecidos formalmente mas cuja demora na prestaccedilatildeo torna na praacutetica insustentaacutevela espera ais accedilotildees sob o ponto de vista pragmaacutetico todavia nem sempre tecircm comoobter resultados concretos imediatos mas frutos de uma atuaccedilatildeo combativa criacuteticae politicamente atuante satildeo relevante termocircmetro acerca do modo como estatildeo sendogeridos os recursos em sauacutede advertindo para a necessidade de se dar concretude ao direitoconstitucionalmente reconhecido incentivando da maneira mais pertinente o sistemade checks and balances reservando-se as accedilotildees individuais para situaccedilotildees especiacuteficas denecessidade incontornaacutevel e sem perspectiva de resoluccedilatildeo natildeo litigiosa

Por fim sempre cabiacutevel lembrar que o momento da urgecircncia do plantatildeo do riscoiminente de vida eacute sempre o pior momento para avaliar o que fazer culminando-seem accedilotildees accedilodadas por vezes mal instruiacutedas natildeo raro em duplicidade nas instacircnciasestadual e federal com riscos para o paciente ou de desperdiacutecio de recursos puacuteblicos ouainda de descreacutedito para a instituiccedilatildeo Importante assim discutirem-se as abordagenspossiacuteveis criando-se orientaccedilotildees de conduta que de antematildeo auxiliem na organizaccedilatildeo dopensamento e na escolha das vias cabiacuteveis para ajudar o requerente ndash vulnerado quer pelahipossuficiecircncia econocircmica quer pela enfermidade ou na maioria das vezes por ambas

ndash da forma mais promissora e adequada possiacutevel

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Natildeo haacute por oacutebvio respostas faacuteceis na mateacuteria O objetivo do texto foi sobretudo chamar

atenccedilatildeo para aspectos nem sempre vistos na lida cotidiana do Defensor imbuiacutedo da visatildeodo assistido e suas anguacutestias premido pelo tempo sem que tenha por vezes sequercondiccedilatildeo de distanciar-se para um olhar mais imparcial

odavia tais distanciamento e compreensatildeo mostram-se necessaacuterios agrave instituiccedilatildeo afim de redirecionar a busca a mecanismos alternativos para o impasse da sauacutede comodireito simultaneamente individual e social sujeito agraves premecircncias pessoais mas tambeacutem

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182 DEFENSORIA PUacuteBLICA DA UNIAtildeO Escola Superior

agraves limitaccedilotildees de uma prestaccedilatildeo coletiva a exemplo da proacutepria escassez real (e aiacute misterdistinguir o mero argumento da escassez e da reserva do possiacutevel em contraposiccedilatildeo agravecomprovada inviabilidade de produccedilatildeo ou fornecimento a exemplo do nuacutemero de vagasimediatas em UI de um hospital puacuteblico ou a disponibilidade de oacutergatildeos compatiacuteveis para

transplante) e da inevitabilidade da alocaccedilatildeo de recursos o que natildeo eacute dado a ningueacutemresponsavelmente negar

Apenas a tiacutetulo de pensamento inicial sugerir-se-ia o desenvolvimento de incremento nastentativas de resoluccedilatildeo extrajudicial a exemplo de maior contato com a Administraccedilatildeo ndash aquem tambeacutem interessa a reduccedilatildeo das lides diminuindo gastos a varejo ndash e com oacutergatildeosde prestaccedilatildeo de sauacutede puacuteblica e de orientaccedilatildeo profissional meacutedica com vistas a analisar aeficaacutecia indicaccedilatildeo e seguranccedila de determinados recursos terapecircuticos subsidiando melhoros pedidos e melhorando os iacutendices de deferimento na espeacutecie que lamentavelmente

comeccedilam a declinar talvez movidos pelo perigo da dessensibilizaccedilatildeo do Judiciaacuterio ante aprofusatildeo de pedidos no setor reservando-se a atuaccedilatildeo judicial para situaccedilotildees de insucessoadministrativo reconhecido considerada a premecircncia e a comprovada necessidade ouatuaccedilotildees de iacutendole coletiva de pressatildeo poliacutetica para assegurar a melhor prestaccedilatildeo dodireito constitucional

Satildeo apenas reflexotildees incipientes mas ficam a semente da ideia o desafio que a questatildeorepresenta e o chamado ao compromisso coletivo de desenvolvecirc-las em prol do cidadatildeo

da efetividade constitucional e da atuaccedilatildeo mais consciente precisa e exitosa possiacutevel porparte da Defensoria Puacuteblica na defesa ao direito fundamental agrave sauacutede

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PENCHASZADEH Victor Bioeacutetica y medicina social Una confluencia necesariaRevista Brasileira de Bioeacutetica Brasiacutelia Sociedade Brasileira de Bioeacutetica v 3 n 2 p129-149 2007

SALAZAR Andrea Lazzarini GROU Karina Bozola A Defesa da Sauacutede em Juiacutezo

eoria e Praacutetica Satildeo Paulo Verbatim 2009SCHWARZ Germano Direito agrave Sauacutede Efetivaccedilatildeo em uma Perspectiva SistecircmicaPorto Alegre Livraria do Advogado 2001

SIQUEIRA Paula Sue Facundo de Direito Sanitaacuterio a interface entre Judiciaacuterio eSauacutede na utilizaccedilatildeo dos PDC II Foacuterum Brasileiro sobre Assistecircncia Farmacecircutica eFarmacoeconomia Salvador 2014 Mesa Redonda

SRECK Lecircnio Luiz MORAIS Joseacute Luiacutes Bolzan de Ciecircncia poliacutetica e teoria geral do

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estado 2ed Porto Alegre Livraria do Advogado 2000

AVARES Andreacute Ramos Curso de Direito Constitucional 2ed Satildeo Paulo Saraiva 2003

REZZI Humberto Sauacutede Aumento no gasto do governo em remeacutedios especiais eacuteinvestigado Promotores e policiais suspeitam que quadrilhas falsificariam atestados paraobrigar a Uniatildeo a fornecer medicamentos de alto custo a pacientes por via judicial JornalZero Hora Porto Alegre ediccedilatildeo ndeg 15734 disponiacutevel em lthttpzerohoraclicrbscombrzerohorajspdefault2jspuf=1amplocal=1ampsource=a2195502xmlamptemplate=3898dwtampedition=10739ampsection=1003gt acessado em 12out08

VIEIRA Fabiacuteola Sulpino Accedilotildees judiciais e direito agrave sauacutede reflexatildeo sobre a observacircnciaaos princiacutepios do SUS Rev Sauacutede Puacuteblica v 42 n 2 p 365-369 abr 2008

VILLAS-BOcircAS Maria Elisa Alocaccedilatildeo de Recursos em Sauacutede quando a realidade e osdireitos fundamentais se chocam 2009 425 f ese (Doutorado em Direito Puacuteblico) ndashFaculdade de Direito Universidade Federal da Bahia Salvador 2009

______ O Direito agrave Sauacutede no Brasil reflexotildees bioeacuteticas agrave luz do princiacutepio da justiccedilaSatildeo Paulo Loyola 2014

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173R Defensoria Puacutebl Uniatildeo Brasiacutelia DF n 8 p 1-356 jandez 2015

3916 de 30 de outubro de 1998 estabelece a Poliacutetica Nacional de Medicamentos a serauxiliada por normas outras como a Lei ndeg 978799 dita ldquoLei dos Geneacutericosrdquo definindoo medicamento geneacuterico como aquele similar a um produto de referecircncia ou inovadorque se pretende ser com este intercambiaacutevel geralmente produzido apoacutes a expiraccedilatildeo ou

renuacutencia da proteccedilatildeo patentaacuteria ou de outros direitos de exclusividade comprovada a suaeficaacutecia seguranccedila e qualidade

Prevecirc-se ainda que esses medicamentos devem ser preferidos no acircmbito do SUSpelo custo e acrescente-se pela impessoalidade mesma que deve caracterizar a atuaccedilatildeoadministrativa estatal desaconselhando a preferecircncia por produtos de laboratoacuterios oumarcas determinados em detrimento de produtos de denominaccedilatildeo comum brasileira ouna sua falta internacional a indicar maior neutralidade em prestaccedilatildeo equivalente

Jaacute se tem aiacute um paracircmetro a nortear as prescriccedilotildees e decisotildees na mateacuteria deve a prestaccedilatildeofarmacoloacutegica do Sistema Uacutenico de Sauacutede se pautar pelo fornecimento de medicaccedilotildees quedentre as que contecircm a substacircncia ativa necessaacuteria atendam agraves necessidades de eficaacuteciae seguranccedila poreacutem com menor custo maior impessoalidade e generalidade pois natildeoassociada a marca especiacutefica O uso racional desses recursos passa ainda pela orientaccedilatildeodos meacutedicos na criteriosa avaliaccedilatildeo das medicaccedilotildees prescritas privilegiando dentro deum paracircmetro de equivalecircncia aquelas jaacute constantes fornecimento regular pelo Sistema 16

16 Os produtos padronizados constam da Relaccedilatildeo Nacional de Medicamentos Essenciais (RENAME) Nosentido de promover a observacircncia da lista cita-se por exemplo a Portaria Estadual nordm 1475BA publicadano Diaacuterio Oficial do Estado de 300908 que ldquoConstitui Grupo de trabalho no acircmbito do SUS com oescopo de elaborar orientaccedilotildees e diretrizes aos profissionais meacutedicos no sentido de esgotarem as alternativasde faacutermacos previstas nos Protocolos Cliacutenicos e Diretrizes erapecircuticas do Ministeacuterio da Sauacutede e demais atosque lhe forem complementares antes de prescrever tratamento medicamentoso diverso aos pacientes nostermos da Notificaccedilatildeo Recomendatoacuteria 0022007 da Promotoria de Justiccedila e da Cidadania do MinisteacuterioPuacuteblico do Estado da Bahiardquo De acordo com a Organizaccedilatildeo Mundial da Sauacutede - OMS (Nairobi Quecircnia1985) ldquoHaacute uso racional quando pacientes recebem medicamentos apropriados para suas condiccedilotildees cliacutenicasem doses adequadas agraves suas necessidades individuais por um periacuteodo adequado e ao menor custo para si e

para a comunidaderdquo Segundo o Ministeacuterio da Sauacutede o uso racional de medicamentos consiste no ldquoprocessoque compreende a prescriccedilatildeo apropriada a disponibilidade oportuna e a preccedilos acessiacuteveis a dispensaccedilatildeoem condiccedilotildees adequadas e o consumo nas doses indicadas nos intervalos definidos e no periacuteodo de tempoindicado de medicamentos eficazes seguros e de qualidaderdquo (BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria dePoliacuteticas de Sauacutede Departamento de Atenccedilatildeo Baacutesica Poliacutetica nacional de medicamentos 2001Ministeacuterio daSauacutede Secretaria de Poliacuteticas de Sauacutede Departamento de Atenccedilatildeo Baacutesica ndash Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede2001 ambeacutem disponiacutevel em lthttpwwwopasorgbrmedicamentossiteUploadArqpnmpdfgtacessado em 02out08) Outros programas para estimular o uso racional de medicamentos encontram-sena paacutegina eletrocircnica do Ministeacuterio da Sauacutede (httpportalsaudegovbrportalsaudeareacfmid_area=1141acessado em 05out08)

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174 DEFENSORIA PUacuteBLICA DA UNIAtildeO Escola Superior

A alocaccedilatildeo de medicamentos no paiacutes estaacute dividida segundo o Ministeacuterio da Sauacutede em trecircscategorias baacutesicas17 medicamentos baacutesicos ou essenciais ldquopertencentes a um elenco miacutenimoobrigatoacuterio a ser dispensado na atenccedilatildeo baacutesicardquo ou na dicccedilatildeo legal aqueles consideradosldquobaacutesicos e indispensaacuteveis para atender a maioria dos problemas de sauacutede da populaccedilatildeordquo

previstos na Portaria do Ministeacuterio da Sauacutede nordm 32372007 medicamentos estrateacutegicosutilizados em programas especiacuteficos do Ministeacuterio da Sauacutede como aqueles de combateagrave AIDS tuberculose hanseniacutease diabetes doenccedila de Chagas malaacuteria coagulopatias eoutras conforme Portaria do Ministeacuterio da Sauacutede nordm 2042007 e medicamentos dedispensaccedilatildeo especial ou excepcional eacute dizer aqueles geralmente de alto custo destinadosa patologias especiacuteficas e complexas que atingem um nuacutemero limitado de pacientes parauso prolongado Esses procedimentos e recursos terapecircuticos encontravam-se arroladosna Portaria do Ministeacuterio da Sauacutede nordm 25772006 Eacute de se observar que sendo essauacuteltima uma das categorias mais solicitadas judicialmente e mais associadas com a evoluccedilatildeo

biotecnoloacutegica chama a atenccedilatildeo o fato de ter sido por muito tempo justamente aPortaria mais antiga deixando margem agrave criacutetica de provaacutevel desatualizaccedilatildeo em relaccedilatildeo aosavanccedilos atuais tendo sido atualizada pela Portaria GMMS 18692008 e revogada pelaPortaria GMMS 1062009 tambeacutem jaacute revogada A mateacuteria tambeacutem sofreu alteraccedilotildeespelas Portarias 2981 de 26 de novembro de 2009 Portaria 343GMMS de 22 defevereiro de 2010 Portaria 3439MS de 11 de novembro de 2010 e atualmente pelosPCD (PROOCOLOS CLIacuteNICOS E DIRERIZES ERAPEcircUICAS) a indicarparacircmetros de abordagem e tratamento para cada patologia

Analisando-se os montantes empregados em cada uma das categorias verifica-se que os

17 MELLO Dirceu Raposo et al op cit p 27-28 SALAZAR Andrea Lazzarini GROU Karina Bozola ADefesa da Sauacutede em Juiacutezo eoria e Praacutetica Satildeo Paulo Verbatim 2009 p 112-113

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gastos com medicamentos especiais superam em muito aqueles com medicaccedilotildees baacutesicas18 Dentre os medicamentos estrateacutegicos ndash responsaacuteveis pelo maior volume de custos commedicaccedilotildees entre os trecircs grupos na segunda metade da deacutecada passada ndash aqueles dirigidosao programa de HIVAIDS sofreram acreacutescimo substancial em 2006 ante as novas drogas

incorporadas ao cataacutelogo farmacoloacutegico de tratamento da doenccedila passando a representarsozinhos quase uma vez e meia o gasto com todas as demais drogas estrateacutegicas

Mais uma vez fica evidente que prevenir aleacutem de melhor sai bem mais barato que

18 Segundo quadro comparativo elaborado em MELLO Dirceu Raposo et al op cit p 28-29 a partirde dados do Ministeacuterio da Sauacutede os gastos com medicamentos baacutesicos em 2006 foram da ordem de 290milhotildees de reais representando 67 dos gastos com medicaccedilatildeo ao passo que o montante despendido commedicamentos de dispensaccedilatildeo especial alcanccedilaram a cifra de um bilhatildeo 355 milhotildees de reais equivalendoa 32 do orccedilamento para a aacuterea Dentre os medicamentos estrateacutegicos aqueles destinados ao programade DSAIDS custaram aos cofres puacuteblicos naquele ano 960 milhotildees de reais enquanto no ano anteriorrepresentaram despesa de 550 milhotildees de reais Cumpre assinalar que o programa de fornecimento gratuitode medicaccedilotildees antirretrovirais aos portadores de HIV no paiacutes eacute elogiado em todo o mundo pela iniciativapioneira na aacuterea apontada como exemplo na universalizaccedilatildeo do tratamento e inclusatildeo a esses pacientes A Leique cuida da mateacuteria ndash Lei ndeg 931396 ndash foi acompanhada por uma seacuterie de decisotildees judiciais proacute direitoagrave sauacutede determinando o efetivo provimento das medicaccedilotildees e sua atualizaccedilatildeo conforme o estado cientiacuteficomundial nos termos da redaccedilatildeo legal Nesse sentido se assinala entre outros o seguinte acoacuterdatildeo provenientedo Supremo ribunal Federal defendendo a aplicabilidade imediata das normas relativas ao direito agravesauacutede PACIENE COM HIVAIDS ndash PESSOA DESIUIacuteDA DE RECURSOS FINANCEIROS ndashDIREIO Agrave VIDA E Agrave SAUacuteDE ndashFORNECIMENO GRAUIO DE MEDICAMENOS ndash DEVERCONSIUCIONAL DO PODER PUacuteBLICO (CF ARS 5ordm CAPU E 196) O DIREIO Agrave SAUacuteDEREPRESENA CONSEQUumlEcircNCIA CONSIUCIONAL INDISSOCIAacuteVEL DO DIREIO Agrave VIDA

O direito puacuteblico subjetivo agrave sauacutede representa prerrogativa juriacutedica indisponiacutevel assegurada agrave generalidadedas pessoas pela proacutepria Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica (art 196) raduz bem juriacutedico constitucionalmentetutelado por cuja integridade deve velar de maneira responsaacutevel o Poder Puacuteblico a quem incumbe formularndash e implementar ndash poliacuteticas sociais e econocircmicas idocircneas que visem a garantir aos cidadatildeos inclusive agravequelesportadores do viacuterus HIV o acesso universal e igualitaacuterio agrave assistecircncia farmacecircutica e meacutedico-hospitalar Odireito agrave sauacutede ndash aleacutem de qualificar-se como direito fundamental que assiste a todas as pessoas ndash representaconsequumlecircncia constitucional indissociaacutevel do direito agrave vida O Poder Puacuteblico qualquer que seja a esfera institucionalde sua atuaccedilatildeo no plano da organizaccedilatildeo federativa brasileira natildeo pode mostrar-se indiferente ao problema da sauacutededa populaccedilatildeo sob pena de entender ainda que por censuraacutevel omissatildeo em grave comportamento inconstitucional(AGRRE nordm 271286-RS Rel Min Celso de Mello SF DJ 241100 p 101)

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remediar 19

Fato eacute queNenhum paiacutes ateacute o momento conseguiu estabelecer um limite oacutetimode gasto financeiro para melhorar a sauacutede de seus cidadatildeos os EUA

gastam 146 do PIB com sauacutede sendo o Estado responsaacutevel por449 desse total e 5 dos gastos puacuteblicos com sauacutede dizem respeitoaos medicamentos Ainda sobre os EUA dados de domiacutenio puacuteblicoinformam que cerca de 50 milhotildees de cidadatildeos natildeo tecircm acesso aosserviccedilos de sauacutede No Brasil os gastos com sauacutede correspondem agrave cifrade 79 do PIB sendo que o setor puacuteblico eacute responsaacutevel por 459desses gastos e os medicamentos representam 74 desses gastospuacuteblicos20

Sem duacutevida a garantia adequada do direito agrave sauacutede natildeo constitui um problema apenaspara os paiacuteses em desenvolvimento embora nesses falte o acesso ao que haacute de mais baacutesicopossiacutevel para a manutenccedilatildeo e a recuperaccedilatildeo da sauacutede ambeacutem os paiacuteses desenvolvidos

19 Aleacutem das despesas jaacute esperadas com tais medicamentos avultam ainda os gastos decorrentes de processos judiciais A esse respeito notiacutecia veiculada em setembro de 2008 na imprensa deu conta de que ldquoEntre2005 e 2008 o governo federal aumentou em 1820 (quase 20 vezes) as despesas decorrentes de ordens

judiciais que obrigam a Uniatildeo a pagar por medicamentos especiais Apenas na primeira metade deste anoforam gastos pelo governo federal por ordem da Justiccedila R$ 48 milhotildees nesses tratamentos Em 2005 oinvestimento foi de R$ 25 milhotildeesrdquo ambeacutem foi informado que ldquoa cada mecircs Satildeo Paulo gasta R$ 400milhotildees com remeacutedios obtidos pelos doentes mediante ordem judicial e que natildeo satildeo fornecidos pelo SUS Asituaccedilatildeo natildeo eacute muito diferente no Rio Grande do Sul Foram R$ 31 milhotildees com accedilotildees judiciais envolvendomedicamentos em 2006 e R$ 50 milhotildees em 2007 e a previsatildeo eacute de que sejam gastos R$ 150 milhotildees nesteano ndash o equivalente a um terccedilo do total de recursos de custeio dos programas da Secretaria Estadual deSauacutederdquo Dentro desses valores apurou-se ainda a ocorrecircncia de fraudes envolvendo meacutedicos e advogadosque mediante pedidos judiciais providos teriam resultado em prejuiacutezo de R$ 63 milhotildees aos cofrespuacuteblicos (REZZI Humberto Sauacutede Aumento no gasto do governo em remeacutedios especiais eacute investigadoPromotores e policiais suspeitam que quadrilhas falsificariam atestados para obrigar a Uniatildeo a fornecermedicamentos de alto custo a pacientes por via judicial Jornal Zero Hora Porto Alegre ediccedilatildeo ndeg 15734

Disponiacutevel em lthttpzerohoraclicrbscombrzerohorajspdefault2jspuf=1amplocal=1ampsource=a2195502xmlamptemplate=3898dwtampedition=10739ampsection=1003gt acessado em 12out08) Deduz-se daiacute queconquanto via relevantiacutessima para o controle do atendimento do direito fundamental agrave sauacutede a prestaccedilatildeo

jurisdicional haacute de ser particularmente cautelosa na anaacutelise de tais pleitos sobretudo quando em sede deprovimentos liminares por natildeo se poder desconsiderar o grave impacto que essas decisotildees tecircm tomado noorccedilamento sanitaacuterio Eacute imprescindiacutevel entatildeo sempre que possiacutevel e especialmente quando o fornecimentoeacute feito a entidades privadas sobre as quais incide menor controle na utilizaccedilatildeo desses recursos a realizaccedilatildeode periacutecia meacutedica judicial a constatar a efetiva necessidade e infungibilidade do recurso demandado naquelecaso concreto20 MELLO Dirceu Raposo et al op cit p 23

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177R Defensoria Puacutebl Uniatildeo Brasiacutelia DF n 8 p 1-356 jandez 2015

tecircm problemas para assegurar os cuidados de sauacutede esperados pela populaccedilatildeo situaccedilatildeoque se agrava progressivamente com o envelhecimento da populaccedilatildeo (com suas conhecidasconsequecircncias para o equiliacutebrio previdenciaacuterio) e com o desenvolvimento crescente dosrecursos farmacecircuticos e biotecnoloacutegicos criando patamares cada vez mais elevados de

atenccedilatildeo agrave sauacutede21

Elevou-se a qualidade e a quantidade de vida o que eacute um aspectoinegavelmente positivo mas que gera outrossim consequecircncias de difiacutecil equiliacutebrioeconocircmico

4 DEMANDAS JUDICIAIS EM SAUacuteDE COMO AVANCcedilAR EM DIRECcedilAtildeO

AO QUE PARECE NAtildeO ER SAIacuteDA

Questionado sobre formas de viabilizaccedilatildeo de um sistema puacuteblico de sauacutede dentro dessecontexto ponderou primeiramente Diego Gracia 22 que quem tem receituaacuterio fazalocaccedilatildeo Com efeito Ao fazer uma mera prescriccedilatildeo individual o meacutedico estaacute a indicarali os paracircmetros para o exerciacutecio do direito agrave sauacutede pelo paciente Eacute para alcanccedilar orecurso prescrito que o cidadatildeo vai agrave Justiccedila pleitear ao Estado ou ao plano de sauacutede queo forneccedila Eacute na prescriccedilatildeo que se baseia o Juiz quando antecipa uma tutela mesmo antes

de ouvir a parte adversa na convicccedilatildeo de que haacute urgecircncia no acesso agravequele recurso

Mister assim para racionalizar o uso de medicamentos e recursos no SUS orientar eracionalizar tambeacutem as prescriccedilotildees meacutedicas de modo que sem sacrificar a sauacutede dopaciente tampouco se sacrifique indevidamente o Sistema organizado para protegecirc-lae garanti-la Nesse ponto erige-se a validade de se pensar um trabalho conjunto comorganizaccedilotildees profissionais como uma outra vertente para a maior efetivaccedilatildeo na prestaccedilatildeo

21

Nesse sentido cf a obra AARON Henry J SCHWARZ William B Te Painful Prescriptionhellipreferente sobretudo aos Estados Unidos e agrave Inglaterra mas que tambeacutem menciona a situaccedilatildeo de outros paiacutesesdesenvolvidos como a Franccedila e o Canadaacute ambeacutem trata do assunto entre outros PENCHASZADEHVictor Bioeacutetica y medicina social Una confluencia necesaria Revista Brasileira de Bioeacutetica BrasiacuteliaSociedade Brasileira de Bioeacutetica v 3 n 2 p 129-149 2007 p 137 Destaque-se outrossim a recentepolecircmica envolvendo o governo americano do Presidente Barack Obama ante a perspectiva de maiordemocratizaccedilatildeo do acesso agrave sauacutede em confronto com o arcabouccedilo tendencialmente liberal da poliacutetica daqueleEstado no setor ateacute entatildeo22 GRACIA Diego Bioeacutetica Cliacutenica e Contexto Social In VII CONGRESSO BRASILEIRO DEBIOEacuteICA Satildeo Paulo 2007 Conferecircncia

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178 DEFENSORIA PUacuteBLICA DA UNIAtildeO Escola Superior

e cobranccedila do direito agrave sauacutede

A especial atenccedilatildeo aos preceitos da Medicina Baseada em Evidecircncias devidamentefundamentada em relatoacuterios e prescriccedilotildees acurados com a cuidadosa anaacutelise e

demonstraccedilatildeo de eficaacutecia seguranccedila e eficiecircncia23

quer no geral quer no caso concretotambeacutem satildeo de grande valia para a atuaccedilatildeo coerente e racional na aacuterea inclusive a fim deevitar que o assistido seja engolfado por esperanccedilas vatildes de resultados temeraacuterios tentativasheroicas sem perspectivas reais e pesquisas multinacionais em larga escala que exacerbamsua vulnerabilidade e fragilizam a credibilidade dos pedidos judiciais no setor Nessecontexto mister evitar tambeacutem pedidos irrazoaacuteveis natildeo factiacuteveis na praacutetica ou opccedilotildees

23 Embora costumeiramente usadas de forma equivalente as expressotildees eficaacutecia eficiecircncia e efetividade tecircmsignificados teacutecnicos especiacuteficos na seara da MBE Nesse sentido a seguranccedila mencionada implica a anaacutelisede que os danos colaterais possiacutevel sejam inferiores aos benefiacutecios oferecidos com seu uso para o fim a quese propotildee A eficaacutecia consiste na evidecircncia de ter o recurso prescrito comprovado efeito beneacutefico para aquelecaso (ldquofazem o que se propotildeem a fazerrdquo ndash na expressatildeo de VIEIRA Fabiacuteola Sulpino op cit p365-369)evitando-se os chamados ldquoprodutos de complacecircnciardquo ndash sem eficaacutecia comprovada mas prescritos por insistecircnciado paciente ou por pressatildeo do marketing industrial por exemplo ndash bem como os atos aparentemente cliacutenicosmas que se mostram em verdade experimentais visto que natildeo validados de nenhuma forma cientificamente

aceita a qual permita asseveraacute-los como realmente producentes e seguros A efetividade propriamente dita corresponde agrave eficaacutecia e agrave eficiecircncia em condiccedilotildees reais de sorte a evitar desperdiacutecios Eacute dizer que os produtoseleitos ldquofazem o que se propotildeem a fazer quando utilizados pelas pessoas em condiccedilotildees reais e natildeo em gruposhomogecircneos que constituem os grupos de pessoas dos ensaios cliacutenicosrdquo (idem ibidem) Por fim a eficiecircnciaou custo-efetividade envolve a avaliaccedilatildeo da relaccedilatildeo custobenefiacutecio de modo a se constatar a substancialvantagem de dado recurso em relaccedilatildeo a outro observadas a eficaacutecia e a efetividade propriamente ditaSignifica dizer que o produto em questatildeo ldquoentre as alternativas disponiacuteveis faz o que se propotildee a fazer paraas pessoas em condiccedilotildees reais ao menor custordquo (idem ibidem) Embora conceitos mais utilizados no acircmbitoeconocircmico e de macroalocaccedilatildeo de recursos acabam repercutindo na microalocaccedilatildeo individual ao requerermaior comprovaccedilatildeo quando de pedido que natildeo leve em consideraccedilatildeo tais subprinciacutepios Segundo a ANVISAtem-se a efetividade como ldquogarantia de medicamentos eficazes eou efetivos e seguros cuja relaccedilatildeo risco-benefiacutecio seja favoraacutevel e comprovada a partir das melhores evidecircncias cientiacuteficas disponiacuteveis na literatura

e com registro aprovado na Agecircncia Nacional de Vigilacircncia Sanitaacuteria (ANVISA)rdquo e a eficiecircncia como aldquogarantia de medicamentos que proporcionem a melhor resposta terapecircutica aos usuaacuterios com os menorescustos para o SUSrdquo (Lei 124012011 e pela Resoluccedilatildeo 01 do Ministeacuterio da Sauacutede de 17 de janeiro de2012) Eacute fato que considerando os escores da Medicina baseada em evidecircncia alega o Estado de praxe quea experiecircncia do meacutedico prescritor isoladamente e mesmo do perito judicial natildeo teriam niacutevel de sustentaccedilatildeocientiacutefica bastante para subsidiar a concessatildeo de medicaccedilatildeo natildeo padronizada pelo SUS todavia considerandoos requisitos de antecipaccedilatildeo de tutela pode conter se bem fundamentada em estudos outros de indicaccedilatildeoseguranccedila eficaacutecia efetividade e eficiecircncia elementos suficientes de verossimilhanccedila aleacutem de representara realidade daquele indiviacuteduo preocupando-se em registrar inclusive a ausecircncia de resposta ou indicaccedilatildeoquanto agraves outras opccedilotildees disponiacuteveis haja vista que como se costuma constatar a resposta individual nemsempre corresponde agravequela epidemiologicamente esperada

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comerciais especiacuteficas substituiacuteveis por equivalentes terapecircuticos disponiacuteveis no SUS24

Outro aspecto a ser sopesado eacute o modo e o conteuacutedo como feitos os pedidos na medida emque a proteccedilatildeo ao direito agrave sauacutede de um deve considerar a existecircncia de outros envolvidos

na alocaccedilatildeo de recursos diante da escassez real Exemplo disso satildeo os pedidos de vagaou de prioridade em filas de transplantes que necessariamente envolvem o cotejo comoutros afetados que natildeo satildeo parte no processo Natildeo raro se tem notiacutecia de comandos deprisatildeo a gestores hospitalares que tecircm todos os seus leitos ocupados por natildeo disporem devagas Inegaacutevel a falha estatal na espeacutecie mas ela natildeo pode ser resolvida com o comandoainda que indireto de retirada de pacientes que ainda necessitem do leito e cuidados paraalocaccedilatildeo de outro dotado de comando judicial Opccedilatildeo nesse caso eacute o pedido subsidiaacuteriode alocaccedilatildeo em unidades privadas agraves expensas do Estado natildeo por mera opccedilatildeo do enfermomas se natildeo houver leitos disponiacuteveis nas unidades puacuteblicas

Do ponto de vista estatal eacute mister o ajuste constante das poliacuteticas puacuteblicas de sortea mantecirc-las condizentes com as carecircncias da comunidade e atualizadas dentro dasmargens de efetividade terapecircutica a fim de se tentar com isso minorar a necessidade deintervenccedilotildees judiciais suplementares na aacuterea aleacutem de favorecer o proacuteprio funcionamentoadequado do Sistema em conformidade com seus princiacutepios gestores e com as previsotildeese garantias constitucionais sem acarretar a falecircncia do Sistema nem converter o direitouniversal agrave sauacutede em mera retoacuterica demagoacutegica

Nesse contexto a atuaccedilatildeo e participaccedilatildeo equilibrada da Defensoria junto a oacutergatildeos puacuteblicose conselhos interdisciplinares pode ser de grande valia para uma maior eficaacutecia na soluccedilatildeo

24 Em palestra proferida do II Foacuterum Brasileiro sobre Assistecircncia Farmacecircutica e Farmacoeconomia ocorridoem setembro de 2014 em Salvador-Bahia com a presenccedila de gestores puacuteblicos membros do JudiciaacuterioMinisteacuterio Puacuteblico Defensoria Puacuteblica e Advogados Puacuteblicos a representante paulista do CONASS(Conselho Nacional dos Secretaacuterios de Sauacutede) apresentou demonstrativo de pedidos em demandas judiciaissanitaacuterias contra o Estado e o Municiacutepio de Satildeo Paulo em que incluiacutedos itens como ldquoleite de cabra frescordquondash o qual resultou descumprido por absoluta ausecircncia de resposta agrave licitaccedilatildeo simplificada para localizar

detentores de cabras na cidade de Satildeo Paulo Nessa ocasiatildeo tambeacutem mostrou a palestrante estudo feitoquanto agraves 41000 accedilotildees judiciais em sauacutede atendidas por aqueles entes naquele ano tendo-se verificado quecerca de 70 delas se pautavam em prescriccedilotildees particulares 93 envolviam medicamentos extraordinaacuteriosao SUS sendo que aproximadamente 5 envolviam produtos importados sem registro na ANVISA 50envolviam itens de produtores exclusivos e cerca de 25 marcas especiacuteficas mesmo para itens simples comofraldas descartaacuteveis A franca maioria dos pedidos natildeo tivera solicitaccedilatildeo administrativa preacutevia sabendo oEstado do pleito jaacute em sede de antecipaccedilatildeo de tutela com prazo estrito para o fornecimento ainda que comfundamentaccedilatildeo cliacutenica escassa inclusive quanto agrave premecircncia do pedido (SIQUEIRA Paula Sue Facundo deDireito Sanitaacuterio a interface entre Judiciaacuterio e Sauacutede na utilizaccedilatildeo dos PDC II FOacuteRUM BRASILEIROSOBRE ASSISEcircNCIA FARMACEcircUICA E FARMACOECONOMIA Salvador 2014 Mesa Redonda)

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180 DEFENSORIA PUacuteBLICA DA UNIAtildeO Escola Superior

administrativa das questotildees reduzindo-se o quantitativo de demandas judiciais na espeacuteciee democratizando o acesso agrave sauacutede mesmo agravequeles que natildeo chegam agrave Defensoria Nesseuacuteltimo aspecto tambeacutem a atuaccedilatildeo mediante Accedilatildeo Civil Puacuteblica visando agrave atualizaccedilatildeodas listas de fornecimento ou denunciando carecircncias e esperas irrazoaacuteveis por exemplo

parece recurso de relevante monta para uma melhor prestaccedilatildeo no setor

Possibilidade de uma maior funcionalidade administrativa tambeacutem pode ser tentadamediante atuaccedilatildeo de profissional25 direcionado agrave aacuterea das crescentes demandas em sauacutedenas unidades defensoriais de sorte a direcionar melhor a instruccedilatildeo dos pedidos jaacute seorientando o tipo de relatoacuterio e informaccedilotildees necessaacuterios aleacutem de empreender contatodireto com os oacutergatildeos puacuteblicos de regulaccedilatildeo em sauacutede estreitando relaccedilotildees com a Secretariade Sauacutede do Estado e seus oacutergatildeos a exemplo da Central de Regulaccedilatildeo de Vagas

Propotildee-se com isso ampliar o quantitativo de resoluccedilotildees administrativas mais ceacutelerese menos custosas reservando a necessidade de intervenccedilotildees juriacutedicas agraves situaccedilotildees emque havendo a previsatildeo do fornecimento natildeo se consegue obtecirc-lo por maacute prestaccedilatildeoadministrativa ndash o que demonstrado por melhor instruccedilatildeo inicial sugere levar amelhores iacutendices de sucesso jaacute em sede antecipatoacuteria ndash ou nas situaccedilotildees de recursos natildeoincluiacutedos no rol de fornecimento do SUS (em que pese o limitante dos artigos 2ordm e 19da Lei 124012011) Nesse caso uacuteltimo jaacute se busque tambeacutem instruir o pedido com osdemonstrativos da eficaacutecia seguranccedila e indicaccedilatildeo da medida reclamada bem assim de

ausecircncia de resposta agraves drogas rotineiramente disponibilizadas ou indicadas nos PCDnos termos inclusive do quanto preconizado em reiterados Enunciados e Recomendaccedilotildeesdo CNJ (4 11 14 15 16 31) e precedentes jurisprudenciais relevantes como a SA175 de relatoria do Min Gilmar Mendes sobre a mateacuteria

O que se vislumbra de negativo em tal proposta eacute que eventual reduccedilatildeo da judicializaccedilatildeofaccedila supor uma maior eficiecircncia na prestaccedilatildeo estatal em sauacutede o que nem semprecorresponde agrave verdade obtendo-se o ecircxito em casos individuais atraveacutes da persistecircnciaempedernida do oacutergatildeo defensorial ateacute que a proacutexima situaccedilatildeo se apresente Como aspecto

25 entativa semelhante tem sido implementada ao longo do uacuteltimo ano na unidade baiana daDefensoria Puacuteblica da Uniatildeo por iniciativa da chefia que tambeacutem titulariza o ofiacutecio de tutelacoletiva mediante o destacamento de Assistente Social com experiecircncia na conduccedilatildeo de demandasem sauacutede e com o intuito de melhorar a assistecircncia em tais demandas ante o crescimentoexponencial de seu nuacutemero no quinquecircnio antecedente Os resultados tecircm-se mostrado prima facie positivos com aparente aumento do nuacutemero de deslindes extrajudiciais e maior quantitativode antecipaccedilotildees de tutela obtidas nas accedilotildees propostas embora ainda sem dados coligidos esistematizados a respeito

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181R Defensoria Puacutebl Uniatildeo Brasiacutelia DF n 8 p 1-356 jandez 2015

positivo por oacutebvio todas as vantagens da resoluccedilatildeo administrativa

Outro recurso a ser considerado como dito como opccedilatildeo agraves muacuteltiplas accedilotildees individuaissatildeo as accedilotildees de natureza coletiva visando agrave efetiva disponibilizaccedilatildeo de procedimentos

oferecidos formalmente mas cuja demora na prestaccedilatildeo torna na praacutetica insustentaacutevela espera ais accedilotildees sob o ponto de vista pragmaacutetico todavia nem sempre tecircm comoobter resultados concretos imediatos mas frutos de uma atuaccedilatildeo combativa criacuteticae politicamente atuante satildeo relevante termocircmetro acerca do modo como estatildeo sendogeridos os recursos em sauacutede advertindo para a necessidade de se dar concretude ao direitoconstitucionalmente reconhecido incentivando da maneira mais pertinente o sistemade checks and balances reservando-se as accedilotildees individuais para situaccedilotildees especiacuteficas denecessidade incontornaacutevel e sem perspectiva de resoluccedilatildeo natildeo litigiosa

Por fim sempre cabiacutevel lembrar que o momento da urgecircncia do plantatildeo do riscoiminente de vida eacute sempre o pior momento para avaliar o que fazer culminando-seem accedilotildees accedilodadas por vezes mal instruiacutedas natildeo raro em duplicidade nas instacircnciasestadual e federal com riscos para o paciente ou de desperdiacutecio de recursos puacuteblicos ouainda de descreacutedito para a instituiccedilatildeo Importante assim discutirem-se as abordagenspossiacuteveis criando-se orientaccedilotildees de conduta que de antematildeo auxiliem na organizaccedilatildeo dopensamento e na escolha das vias cabiacuteveis para ajudar o requerente ndash vulnerado quer pelahipossuficiecircncia econocircmica quer pela enfermidade ou na maioria das vezes por ambas

ndash da forma mais promissora e adequada possiacutevel

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Natildeo haacute por oacutebvio respostas faacuteceis na mateacuteria O objetivo do texto foi sobretudo chamar

atenccedilatildeo para aspectos nem sempre vistos na lida cotidiana do Defensor imbuiacutedo da visatildeodo assistido e suas anguacutestias premido pelo tempo sem que tenha por vezes sequercondiccedilatildeo de distanciar-se para um olhar mais imparcial

odavia tais distanciamento e compreensatildeo mostram-se necessaacuterios agrave instituiccedilatildeo afim de redirecionar a busca a mecanismos alternativos para o impasse da sauacutede comodireito simultaneamente individual e social sujeito agraves premecircncias pessoais mas tambeacutem

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182 DEFENSORIA PUacuteBLICA DA UNIAtildeO Escola Superior

agraves limitaccedilotildees de uma prestaccedilatildeo coletiva a exemplo da proacutepria escassez real (e aiacute misterdistinguir o mero argumento da escassez e da reserva do possiacutevel em contraposiccedilatildeo agravecomprovada inviabilidade de produccedilatildeo ou fornecimento a exemplo do nuacutemero de vagasimediatas em UI de um hospital puacuteblico ou a disponibilidade de oacutergatildeos compatiacuteveis para

transplante) e da inevitabilidade da alocaccedilatildeo de recursos o que natildeo eacute dado a ningueacutemresponsavelmente negar

Apenas a tiacutetulo de pensamento inicial sugerir-se-ia o desenvolvimento de incremento nastentativas de resoluccedilatildeo extrajudicial a exemplo de maior contato com a Administraccedilatildeo ndash aquem tambeacutem interessa a reduccedilatildeo das lides diminuindo gastos a varejo ndash e com oacutergatildeosde prestaccedilatildeo de sauacutede puacuteblica e de orientaccedilatildeo profissional meacutedica com vistas a analisar aeficaacutecia indicaccedilatildeo e seguranccedila de determinados recursos terapecircuticos subsidiando melhoros pedidos e melhorando os iacutendices de deferimento na espeacutecie que lamentavelmente

comeccedilam a declinar talvez movidos pelo perigo da dessensibilizaccedilatildeo do Judiciaacuterio ante aprofusatildeo de pedidos no setor reservando-se a atuaccedilatildeo judicial para situaccedilotildees de insucessoadministrativo reconhecido considerada a premecircncia e a comprovada necessidade ouatuaccedilotildees de iacutendole coletiva de pressatildeo poliacutetica para assegurar a melhor prestaccedilatildeo dodireito constitucional

Satildeo apenas reflexotildees incipientes mas ficam a semente da ideia o desafio que a questatildeorepresenta e o chamado ao compromisso coletivo de desenvolvecirc-las em prol do cidadatildeo

da efetividade constitucional e da atuaccedilatildeo mais consciente precisa e exitosa possiacutevel porparte da Defensoria Puacuteblica na defesa ao direito fundamental agrave sauacutede

REFEREcircNCIAS

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CANOILHO J J Gomes Direito Constitucional e eoria da Constituiccedilatildeo 7edCoimbra Almedina [2003]

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DALLARI Sueli Gandolfi Os Estados Brasileiros e o Direito agrave Sauacutede Satildeo PauloHucitec 1995

DRANE James PESSINI Leo Medicina e ecnologia Desafios eacuteticos na fronteira doconhecimento humano Satildeo Paulo Loyola 2005

FERRAZ Octaacutevio Luiz Motta VIEIRA Fabiacuteola Sulpino Direito agrave sauacutede recursosescassos e equumlidade os riscos da interpretaccedilatildeo judicial dominante Disponiacutevel emhttpwwwstfjusbrarquivocmsprocessoAudienciaPublicaSaudeanexoDireito_a_Saude_Recursos_escassos_e_equidadepdf Acesso em 25abr2015

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GRACIA Diego Bioeacutetica Cliacutenica e Contexto Social In VII Congresso Brasileiro deBioeacutetica Satildeo Paulo 2007 Conferecircncia

LORENZO Claacuteudio Vulnerabilidade em Sauacutede Puacuteblica implicaccedilotildees para as poliacuteticaspuacuteblicas Revista Brasileira de Bioetica Brasiacutelia Sociedade Brasileira de Bioeacutetica v 2n 3 p 299-312 2006

MELLO Dirceu Raposo de et al Anaacutelise Bioeacutetica do Papel do Estado na Garantia ao Acesso a Medicamentos In GARRAFA Volnei MELLO Dirceu Raposo de PORODora Bioeacutetica e Vigilacircncia Sanitaacuteria Brasiacutelia ANVISA 2007 p 17-18

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SALAZAR Andrea Lazzarini GROU Karina Bozola A Defesa da Sauacutede em Juiacutezo

eoria e Praacutetica Satildeo Paulo Verbatim 2009SCHWARZ Germano Direito agrave Sauacutede Efetivaccedilatildeo em uma Perspectiva SistecircmicaPorto Alegre Livraria do Advogado 2001

SIQUEIRA Paula Sue Facundo de Direito Sanitaacuterio a interface entre Judiciaacuterio eSauacutede na utilizaccedilatildeo dos PDC II Foacuterum Brasileiro sobre Assistecircncia Farmacecircutica eFarmacoeconomia Salvador 2014 Mesa Redonda

SRECK Lecircnio Luiz MORAIS Joseacute Luiacutes Bolzan de Ciecircncia poliacutetica e teoria geral do

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AVARES Andreacute Ramos Curso de Direito Constitucional 2ed Satildeo Paulo Saraiva 2003

REZZI Humberto Sauacutede Aumento no gasto do governo em remeacutedios especiais eacuteinvestigado Promotores e policiais suspeitam que quadrilhas falsificariam atestados paraobrigar a Uniatildeo a fornecer medicamentos de alto custo a pacientes por via judicial JornalZero Hora Porto Alegre ediccedilatildeo ndeg 15734 disponiacutevel em lthttpzerohoraclicrbscombrzerohorajspdefault2jspuf=1amplocal=1ampsource=a2195502xmlamptemplate=3898dwtampedition=10739ampsection=1003gt acessado em 12out08

VIEIRA Fabiacuteola Sulpino Accedilotildees judiciais e direito agrave sauacutede reflexatildeo sobre a observacircnciaaos princiacutepios do SUS Rev Sauacutede Puacuteblica v 42 n 2 p 365-369 abr 2008

VILLAS-BOcircAS Maria Elisa Alocaccedilatildeo de Recursos em Sauacutede quando a realidade e osdireitos fundamentais se chocam 2009 425 f ese (Doutorado em Direito Puacuteblico) ndashFaculdade de Direito Universidade Federal da Bahia Salvador 2009

______ O Direito agrave Sauacutede no Brasil reflexotildees bioeacuteticas agrave luz do princiacutepio da justiccedilaSatildeo Paulo Loyola 2014

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174 DEFENSORIA PUacuteBLICA DA UNIAtildeO Escola Superior

A alocaccedilatildeo de medicamentos no paiacutes estaacute dividida segundo o Ministeacuterio da Sauacutede em trecircscategorias baacutesicas17 medicamentos baacutesicos ou essenciais ldquopertencentes a um elenco miacutenimoobrigatoacuterio a ser dispensado na atenccedilatildeo baacutesicardquo ou na dicccedilatildeo legal aqueles consideradosldquobaacutesicos e indispensaacuteveis para atender a maioria dos problemas de sauacutede da populaccedilatildeordquo

previstos na Portaria do Ministeacuterio da Sauacutede nordm 32372007 medicamentos estrateacutegicosutilizados em programas especiacuteficos do Ministeacuterio da Sauacutede como aqueles de combateagrave AIDS tuberculose hanseniacutease diabetes doenccedila de Chagas malaacuteria coagulopatias eoutras conforme Portaria do Ministeacuterio da Sauacutede nordm 2042007 e medicamentos dedispensaccedilatildeo especial ou excepcional eacute dizer aqueles geralmente de alto custo destinadosa patologias especiacuteficas e complexas que atingem um nuacutemero limitado de pacientes parauso prolongado Esses procedimentos e recursos terapecircuticos encontravam-se arroladosna Portaria do Ministeacuterio da Sauacutede nordm 25772006 Eacute de se observar que sendo essauacuteltima uma das categorias mais solicitadas judicialmente e mais associadas com a evoluccedilatildeo

biotecnoloacutegica chama a atenccedilatildeo o fato de ter sido por muito tempo justamente aPortaria mais antiga deixando margem agrave criacutetica de provaacutevel desatualizaccedilatildeo em relaccedilatildeo aosavanccedilos atuais tendo sido atualizada pela Portaria GMMS 18692008 e revogada pelaPortaria GMMS 1062009 tambeacutem jaacute revogada A mateacuteria tambeacutem sofreu alteraccedilotildeespelas Portarias 2981 de 26 de novembro de 2009 Portaria 343GMMS de 22 defevereiro de 2010 Portaria 3439MS de 11 de novembro de 2010 e atualmente pelosPCD (PROOCOLOS CLIacuteNICOS E DIRERIZES ERAPEcircUICAS) a indicarparacircmetros de abordagem e tratamento para cada patologia

Analisando-se os montantes empregados em cada uma das categorias verifica-se que os

17 MELLO Dirceu Raposo et al op cit p 27-28 SALAZAR Andrea Lazzarini GROU Karina Bozola ADefesa da Sauacutede em Juiacutezo eoria e Praacutetica Satildeo Paulo Verbatim 2009 p 112-113

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175R Defensoria Puacutebl Uniatildeo Brasiacutelia DF n 8 p 1-356 jandez 2015

gastos com medicamentos especiais superam em muito aqueles com medicaccedilotildees baacutesicas18 Dentre os medicamentos estrateacutegicos ndash responsaacuteveis pelo maior volume de custos commedicaccedilotildees entre os trecircs grupos na segunda metade da deacutecada passada ndash aqueles dirigidosao programa de HIVAIDS sofreram acreacutescimo substancial em 2006 ante as novas drogas

incorporadas ao cataacutelogo farmacoloacutegico de tratamento da doenccedila passando a representarsozinhos quase uma vez e meia o gasto com todas as demais drogas estrateacutegicas

Mais uma vez fica evidente que prevenir aleacutem de melhor sai bem mais barato que

18 Segundo quadro comparativo elaborado em MELLO Dirceu Raposo et al op cit p 28-29 a partirde dados do Ministeacuterio da Sauacutede os gastos com medicamentos baacutesicos em 2006 foram da ordem de 290milhotildees de reais representando 67 dos gastos com medicaccedilatildeo ao passo que o montante despendido commedicamentos de dispensaccedilatildeo especial alcanccedilaram a cifra de um bilhatildeo 355 milhotildees de reais equivalendoa 32 do orccedilamento para a aacuterea Dentre os medicamentos estrateacutegicos aqueles destinados ao programade DSAIDS custaram aos cofres puacuteblicos naquele ano 960 milhotildees de reais enquanto no ano anteriorrepresentaram despesa de 550 milhotildees de reais Cumpre assinalar que o programa de fornecimento gratuitode medicaccedilotildees antirretrovirais aos portadores de HIV no paiacutes eacute elogiado em todo o mundo pela iniciativapioneira na aacuterea apontada como exemplo na universalizaccedilatildeo do tratamento e inclusatildeo a esses pacientes A Leique cuida da mateacuteria ndash Lei ndeg 931396 ndash foi acompanhada por uma seacuterie de decisotildees judiciais proacute direitoagrave sauacutede determinando o efetivo provimento das medicaccedilotildees e sua atualizaccedilatildeo conforme o estado cientiacuteficomundial nos termos da redaccedilatildeo legal Nesse sentido se assinala entre outros o seguinte acoacuterdatildeo provenientedo Supremo ribunal Federal defendendo a aplicabilidade imediata das normas relativas ao direito agravesauacutede PACIENE COM HIVAIDS ndash PESSOA DESIUIacuteDA DE RECURSOS FINANCEIROS ndashDIREIO Agrave VIDA E Agrave SAUacuteDE ndashFORNECIMENO GRAUIO DE MEDICAMENOS ndash DEVERCONSIUCIONAL DO PODER PUacuteBLICO (CF ARS 5ordm CAPU E 196) O DIREIO Agrave SAUacuteDEREPRESENA CONSEQUumlEcircNCIA CONSIUCIONAL INDISSOCIAacuteVEL DO DIREIO Agrave VIDA

O direito puacuteblico subjetivo agrave sauacutede representa prerrogativa juriacutedica indisponiacutevel assegurada agrave generalidadedas pessoas pela proacutepria Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica (art 196) raduz bem juriacutedico constitucionalmentetutelado por cuja integridade deve velar de maneira responsaacutevel o Poder Puacuteblico a quem incumbe formularndash e implementar ndash poliacuteticas sociais e econocircmicas idocircneas que visem a garantir aos cidadatildeos inclusive agravequelesportadores do viacuterus HIV o acesso universal e igualitaacuterio agrave assistecircncia farmacecircutica e meacutedico-hospitalar Odireito agrave sauacutede ndash aleacutem de qualificar-se como direito fundamental que assiste a todas as pessoas ndash representaconsequumlecircncia constitucional indissociaacutevel do direito agrave vida O Poder Puacuteblico qualquer que seja a esfera institucionalde sua atuaccedilatildeo no plano da organizaccedilatildeo federativa brasileira natildeo pode mostrar-se indiferente ao problema da sauacutededa populaccedilatildeo sob pena de entender ainda que por censuraacutevel omissatildeo em grave comportamento inconstitucional(AGRRE nordm 271286-RS Rel Min Celso de Mello SF DJ 241100 p 101)

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176 DEFENSORIA PUacuteBLICA DA UNIAtildeO Escola Superior

remediar 19

Fato eacute queNenhum paiacutes ateacute o momento conseguiu estabelecer um limite oacutetimode gasto financeiro para melhorar a sauacutede de seus cidadatildeos os EUA

gastam 146 do PIB com sauacutede sendo o Estado responsaacutevel por449 desse total e 5 dos gastos puacuteblicos com sauacutede dizem respeitoaos medicamentos Ainda sobre os EUA dados de domiacutenio puacuteblicoinformam que cerca de 50 milhotildees de cidadatildeos natildeo tecircm acesso aosserviccedilos de sauacutede No Brasil os gastos com sauacutede correspondem agrave cifrade 79 do PIB sendo que o setor puacuteblico eacute responsaacutevel por 459desses gastos e os medicamentos representam 74 desses gastospuacuteblicos20

Sem duacutevida a garantia adequada do direito agrave sauacutede natildeo constitui um problema apenaspara os paiacuteses em desenvolvimento embora nesses falte o acesso ao que haacute de mais baacutesicopossiacutevel para a manutenccedilatildeo e a recuperaccedilatildeo da sauacutede ambeacutem os paiacuteses desenvolvidos

19 Aleacutem das despesas jaacute esperadas com tais medicamentos avultam ainda os gastos decorrentes de processos judiciais A esse respeito notiacutecia veiculada em setembro de 2008 na imprensa deu conta de que ldquoEntre2005 e 2008 o governo federal aumentou em 1820 (quase 20 vezes) as despesas decorrentes de ordens

judiciais que obrigam a Uniatildeo a pagar por medicamentos especiais Apenas na primeira metade deste anoforam gastos pelo governo federal por ordem da Justiccedila R$ 48 milhotildees nesses tratamentos Em 2005 oinvestimento foi de R$ 25 milhotildeesrdquo ambeacutem foi informado que ldquoa cada mecircs Satildeo Paulo gasta R$ 400milhotildees com remeacutedios obtidos pelos doentes mediante ordem judicial e que natildeo satildeo fornecidos pelo SUS Asituaccedilatildeo natildeo eacute muito diferente no Rio Grande do Sul Foram R$ 31 milhotildees com accedilotildees judiciais envolvendomedicamentos em 2006 e R$ 50 milhotildees em 2007 e a previsatildeo eacute de que sejam gastos R$ 150 milhotildees nesteano ndash o equivalente a um terccedilo do total de recursos de custeio dos programas da Secretaria Estadual deSauacutederdquo Dentro desses valores apurou-se ainda a ocorrecircncia de fraudes envolvendo meacutedicos e advogadosque mediante pedidos judiciais providos teriam resultado em prejuiacutezo de R$ 63 milhotildees aos cofrespuacuteblicos (REZZI Humberto Sauacutede Aumento no gasto do governo em remeacutedios especiais eacute investigadoPromotores e policiais suspeitam que quadrilhas falsificariam atestados para obrigar a Uniatildeo a fornecermedicamentos de alto custo a pacientes por via judicial Jornal Zero Hora Porto Alegre ediccedilatildeo ndeg 15734

Disponiacutevel em lthttpzerohoraclicrbscombrzerohorajspdefault2jspuf=1amplocal=1ampsource=a2195502xmlamptemplate=3898dwtampedition=10739ampsection=1003gt acessado em 12out08) Deduz-se daiacute queconquanto via relevantiacutessima para o controle do atendimento do direito fundamental agrave sauacutede a prestaccedilatildeo

jurisdicional haacute de ser particularmente cautelosa na anaacutelise de tais pleitos sobretudo quando em sede deprovimentos liminares por natildeo se poder desconsiderar o grave impacto que essas decisotildees tecircm tomado noorccedilamento sanitaacuterio Eacute imprescindiacutevel entatildeo sempre que possiacutevel e especialmente quando o fornecimentoeacute feito a entidades privadas sobre as quais incide menor controle na utilizaccedilatildeo desses recursos a realizaccedilatildeode periacutecia meacutedica judicial a constatar a efetiva necessidade e infungibilidade do recurso demandado naquelecaso concreto20 MELLO Dirceu Raposo et al op cit p 23

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177R Defensoria Puacutebl Uniatildeo Brasiacutelia DF n 8 p 1-356 jandez 2015

tecircm problemas para assegurar os cuidados de sauacutede esperados pela populaccedilatildeo situaccedilatildeoque se agrava progressivamente com o envelhecimento da populaccedilatildeo (com suas conhecidasconsequecircncias para o equiliacutebrio previdenciaacuterio) e com o desenvolvimento crescente dosrecursos farmacecircuticos e biotecnoloacutegicos criando patamares cada vez mais elevados de

atenccedilatildeo agrave sauacutede21

Elevou-se a qualidade e a quantidade de vida o que eacute um aspectoinegavelmente positivo mas que gera outrossim consequecircncias de difiacutecil equiliacutebrioeconocircmico

4 DEMANDAS JUDICIAIS EM SAUacuteDE COMO AVANCcedilAR EM DIRECcedilAtildeO

AO QUE PARECE NAtildeO ER SAIacuteDA

Questionado sobre formas de viabilizaccedilatildeo de um sistema puacuteblico de sauacutede dentro dessecontexto ponderou primeiramente Diego Gracia 22 que quem tem receituaacuterio fazalocaccedilatildeo Com efeito Ao fazer uma mera prescriccedilatildeo individual o meacutedico estaacute a indicarali os paracircmetros para o exerciacutecio do direito agrave sauacutede pelo paciente Eacute para alcanccedilar orecurso prescrito que o cidadatildeo vai agrave Justiccedila pleitear ao Estado ou ao plano de sauacutede queo forneccedila Eacute na prescriccedilatildeo que se baseia o Juiz quando antecipa uma tutela mesmo antes

de ouvir a parte adversa na convicccedilatildeo de que haacute urgecircncia no acesso agravequele recurso

Mister assim para racionalizar o uso de medicamentos e recursos no SUS orientar eracionalizar tambeacutem as prescriccedilotildees meacutedicas de modo que sem sacrificar a sauacutede dopaciente tampouco se sacrifique indevidamente o Sistema organizado para protegecirc-lae garanti-la Nesse ponto erige-se a validade de se pensar um trabalho conjunto comorganizaccedilotildees profissionais como uma outra vertente para a maior efetivaccedilatildeo na prestaccedilatildeo

21

Nesse sentido cf a obra AARON Henry J SCHWARZ William B Te Painful Prescriptionhellipreferente sobretudo aos Estados Unidos e agrave Inglaterra mas que tambeacutem menciona a situaccedilatildeo de outros paiacutesesdesenvolvidos como a Franccedila e o Canadaacute ambeacutem trata do assunto entre outros PENCHASZADEHVictor Bioeacutetica y medicina social Una confluencia necesaria Revista Brasileira de Bioeacutetica BrasiacuteliaSociedade Brasileira de Bioeacutetica v 3 n 2 p 129-149 2007 p 137 Destaque-se outrossim a recentepolecircmica envolvendo o governo americano do Presidente Barack Obama ante a perspectiva de maiordemocratizaccedilatildeo do acesso agrave sauacutede em confronto com o arcabouccedilo tendencialmente liberal da poliacutetica daqueleEstado no setor ateacute entatildeo22 GRACIA Diego Bioeacutetica Cliacutenica e Contexto Social In VII CONGRESSO BRASILEIRO DEBIOEacuteICA Satildeo Paulo 2007 Conferecircncia

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178 DEFENSORIA PUacuteBLICA DA UNIAtildeO Escola Superior

e cobranccedila do direito agrave sauacutede

A especial atenccedilatildeo aos preceitos da Medicina Baseada em Evidecircncias devidamentefundamentada em relatoacuterios e prescriccedilotildees acurados com a cuidadosa anaacutelise e

demonstraccedilatildeo de eficaacutecia seguranccedila e eficiecircncia23

quer no geral quer no caso concretotambeacutem satildeo de grande valia para a atuaccedilatildeo coerente e racional na aacuterea inclusive a fim deevitar que o assistido seja engolfado por esperanccedilas vatildes de resultados temeraacuterios tentativasheroicas sem perspectivas reais e pesquisas multinacionais em larga escala que exacerbamsua vulnerabilidade e fragilizam a credibilidade dos pedidos judiciais no setor Nessecontexto mister evitar tambeacutem pedidos irrazoaacuteveis natildeo factiacuteveis na praacutetica ou opccedilotildees

23 Embora costumeiramente usadas de forma equivalente as expressotildees eficaacutecia eficiecircncia e efetividade tecircmsignificados teacutecnicos especiacuteficos na seara da MBE Nesse sentido a seguranccedila mencionada implica a anaacutelisede que os danos colaterais possiacutevel sejam inferiores aos benefiacutecios oferecidos com seu uso para o fim a quese propotildee A eficaacutecia consiste na evidecircncia de ter o recurso prescrito comprovado efeito beneacutefico para aquelecaso (ldquofazem o que se propotildeem a fazerrdquo ndash na expressatildeo de VIEIRA Fabiacuteola Sulpino op cit p365-369)evitando-se os chamados ldquoprodutos de complacecircnciardquo ndash sem eficaacutecia comprovada mas prescritos por insistecircnciado paciente ou por pressatildeo do marketing industrial por exemplo ndash bem como os atos aparentemente cliacutenicosmas que se mostram em verdade experimentais visto que natildeo validados de nenhuma forma cientificamente

aceita a qual permita asseveraacute-los como realmente producentes e seguros A efetividade propriamente dita corresponde agrave eficaacutecia e agrave eficiecircncia em condiccedilotildees reais de sorte a evitar desperdiacutecios Eacute dizer que os produtoseleitos ldquofazem o que se propotildeem a fazer quando utilizados pelas pessoas em condiccedilotildees reais e natildeo em gruposhomogecircneos que constituem os grupos de pessoas dos ensaios cliacutenicosrdquo (idem ibidem) Por fim a eficiecircnciaou custo-efetividade envolve a avaliaccedilatildeo da relaccedilatildeo custobenefiacutecio de modo a se constatar a substancialvantagem de dado recurso em relaccedilatildeo a outro observadas a eficaacutecia e a efetividade propriamente ditaSignifica dizer que o produto em questatildeo ldquoentre as alternativas disponiacuteveis faz o que se propotildee a fazer paraas pessoas em condiccedilotildees reais ao menor custordquo (idem ibidem) Embora conceitos mais utilizados no acircmbitoeconocircmico e de macroalocaccedilatildeo de recursos acabam repercutindo na microalocaccedilatildeo individual ao requerermaior comprovaccedilatildeo quando de pedido que natildeo leve em consideraccedilatildeo tais subprinciacutepios Segundo a ANVISAtem-se a efetividade como ldquogarantia de medicamentos eficazes eou efetivos e seguros cuja relaccedilatildeo risco-benefiacutecio seja favoraacutevel e comprovada a partir das melhores evidecircncias cientiacuteficas disponiacuteveis na literatura

e com registro aprovado na Agecircncia Nacional de Vigilacircncia Sanitaacuteria (ANVISA)rdquo e a eficiecircncia como aldquogarantia de medicamentos que proporcionem a melhor resposta terapecircutica aos usuaacuterios com os menorescustos para o SUSrdquo (Lei 124012011 e pela Resoluccedilatildeo 01 do Ministeacuterio da Sauacutede de 17 de janeiro de2012) Eacute fato que considerando os escores da Medicina baseada em evidecircncia alega o Estado de praxe quea experiecircncia do meacutedico prescritor isoladamente e mesmo do perito judicial natildeo teriam niacutevel de sustentaccedilatildeocientiacutefica bastante para subsidiar a concessatildeo de medicaccedilatildeo natildeo padronizada pelo SUS todavia considerandoos requisitos de antecipaccedilatildeo de tutela pode conter se bem fundamentada em estudos outros de indicaccedilatildeoseguranccedila eficaacutecia efetividade e eficiecircncia elementos suficientes de verossimilhanccedila aleacutem de representara realidade daquele indiviacuteduo preocupando-se em registrar inclusive a ausecircncia de resposta ou indicaccedilatildeoquanto agraves outras opccedilotildees disponiacuteveis haja vista que como se costuma constatar a resposta individual nemsempre corresponde agravequela epidemiologicamente esperada

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comerciais especiacuteficas substituiacuteveis por equivalentes terapecircuticos disponiacuteveis no SUS24

Outro aspecto a ser sopesado eacute o modo e o conteuacutedo como feitos os pedidos na medida emque a proteccedilatildeo ao direito agrave sauacutede de um deve considerar a existecircncia de outros envolvidos

na alocaccedilatildeo de recursos diante da escassez real Exemplo disso satildeo os pedidos de vagaou de prioridade em filas de transplantes que necessariamente envolvem o cotejo comoutros afetados que natildeo satildeo parte no processo Natildeo raro se tem notiacutecia de comandos deprisatildeo a gestores hospitalares que tecircm todos os seus leitos ocupados por natildeo disporem devagas Inegaacutevel a falha estatal na espeacutecie mas ela natildeo pode ser resolvida com o comandoainda que indireto de retirada de pacientes que ainda necessitem do leito e cuidados paraalocaccedilatildeo de outro dotado de comando judicial Opccedilatildeo nesse caso eacute o pedido subsidiaacuteriode alocaccedilatildeo em unidades privadas agraves expensas do Estado natildeo por mera opccedilatildeo do enfermomas se natildeo houver leitos disponiacuteveis nas unidades puacuteblicas

Do ponto de vista estatal eacute mister o ajuste constante das poliacuteticas puacuteblicas de sortea mantecirc-las condizentes com as carecircncias da comunidade e atualizadas dentro dasmargens de efetividade terapecircutica a fim de se tentar com isso minorar a necessidade deintervenccedilotildees judiciais suplementares na aacuterea aleacutem de favorecer o proacuteprio funcionamentoadequado do Sistema em conformidade com seus princiacutepios gestores e com as previsotildeese garantias constitucionais sem acarretar a falecircncia do Sistema nem converter o direitouniversal agrave sauacutede em mera retoacuterica demagoacutegica

Nesse contexto a atuaccedilatildeo e participaccedilatildeo equilibrada da Defensoria junto a oacutergatildeos puacuteblicose conselhos interdisciplinares pode ser de grande valia para uma maior eficaacutecia na soluccedilatildeo

24 Em palestra proferida do II Foacuterum Brasileiro sobre Assistecircncia Farmacecircutica e Farmacoeconomia ocorridoem setembro de 2014 em Salvador-Bahia com a presenccedila de gestores puacuteblicos membros do JudiciaacuterioMinisteacuterio Puacuteblico Defensoria Puacuteblica e Advogados Puacuteblicos a representante paulista do CONASS(Conselho Nacional dos Secretaacuterios de Sauacutede) apresentou demonstrativo de pedidos em demandas judiciaissanitaacuterias contra o Estado e o Municiacutepio de Satildeo Paulo em que incluiacutedos itens como ldquoleite de cabra frescordquondash o qual resultou descumprido por absoluta ausecircncia de resposta agrave licitaccedilatildeo simplificada para localizar

detentores de cabras na cidade de Satildeo Paulo Nessa ocasiatildeo tambeacutem mostrou a palestrante estudo feitoquanto agraves 41000 accedilotildees judiciais em sauacutede atendidas por aqueles entes naquele ano tendo-se verificado quecerca de 70 delas se pautavam em prescriccedilotildees particulares 93 envolviam medicamentos extraordinaacuteriosao SUS sendo que aproximadamente 5 envolviam produtos importados sem registro na ANVISA 50envolviam itens de produtores exclusivos e cerca de 25 marcas especiacuteficas mesmo para itens simples comofraldas descartaacuteveis A franca maioria dos pedidos natildeo tivera solicitaccedilatildeo administrativa preacutevia sabendo oEstado do pleito jaacute em sede de antecipaccedilatildeo de tutela com prazo estrito para o fornecimento ainda que comfundamentaccedilatildeo cliacutenica escassa inclusive quanto agrave premecircncia do pedido (SIQUEIRA Paula Sue Facundo deDireito Sanitaacuterio a interface entre Judiciaacuterio e Sauacutede na utilizaccedilatildeo dos PDC II FOacuteRUM BRASILEIROSOBRE ASSISEcircNCIA FARMACEcircUICA E FARMACOECONOMIA Salvador 2014 Mesa Redonda)

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administrativa das questotildees reduzindo-se o quantitativo de demandas judiciais na espeacuteciee democratizando o acesso agrave sauacutede mesmo agravequeles que natildeo chegam agrave Defensoria Nesseuacuteltimo aspecto tambeacutem a atuaccedilatildeo mediante Accedilatildeo Civil Puacuteblica visando agrave atualizaccedilatildeodas listas de fornecimento ou denunciando carecircncias e esperas irrazoaacuteveis por exemplo

parece recurso de relevante monta para uma melhor prestaccedilatildeo no setor

Possibilidade de uma maior funcionalidade administrativa tambeacutem pode ser tentadamediante atuaccedilatildeo de profissional25 direcionado agrave aacuterea das crescentes demandas em sauacutedenas unidades defensoriais de sorte a direcionar melhor a instruccedilatildeo dos pedidos jaacute seorientando o tipo de relatoacuterio e informaccedilotildees necessaacuterios aleacutem de empreender contatodireto com os oacutergatildeos puacuteblicos de regulaccedilatildeo em sauacutede estreitando relaccedilotildees com a Secretariade Sauacutede do Estado e seus oacutergatildeos a exemplo da Central de Regulaccedilatildeo de Vagas

Propotildee-se com isso ampliar o quantitativo de resoluccedilotildees administrativas mais ceacutelerese menos custosas reservando a necessidade de intervenccedilotildees juriacutedicas agraves situaccedilotildees emque havendo a previsatildeo do fornecimento natildeo se consegue obtecirc-lo por maacute prestaccedilatildeoadministrativa ndash o que demonstrado por melhor instruccedilatildeo inicial sugere levar amelhores iacutendices de sucesso jaacute em sede antecipatoacuteria ndash ou nas situaccedilotildees de recursos natildeoincluiacutedos no rol de fornecimento do SUS (em que pese o limitante dos artigos 2ordm e 19da Lei 124012011) Nesse caso uacuteltimo jaacute se busque tambeacutem instruir o pedido com osdemonstrativos da eficaacutecia seguranccedila e indicaccedilatildeo da medida reclamada bem assim de

ausecircncia de resposta agraves drogas rotineiramente disponibilizadas ou indicadas nos PCDnos termos inclusive do quanto preconizado em reiterados Enunciados e Recomendaccedilotildeesdo CNJ (4 11 14 15 16 31) e precedentes jurisprudenciais relevantes como a SA175 de relatoria do Min Gilmar Mendes sobre a mateacuteria

O que se vislumbra de negativo em tal proposta eacute que eventual reduccedilatildeo da judicializaccedilatildeofaccedila supor uma maior eficiecircncia na prestaccedilatildeo estatal em sauacutede o que nem semprecorresponde agrave verdade obtendo-se o ecircxito em casos individuais atraveacutes da persistecircnciaempedernida do oacutergatildeo defensorial ateacute que a proacutexima situaccedilatildeo se apresente Como aspecto

25 entativa semelhante tem sido implementada ao longo do uacuteltimo ano na unidade baiana daDefensoria Puacuteblica da Uniatildeo por iniciativa da chefia que tambeacutem titulariza o ofiacutecio de tutelacoletiva mediante o destacamento de Assistente Social com experiecircncia na conduccedilatildeo de demandasem sauacutede e com o intuito de melhorar a assistecircncia em tais demandas ante o crescimentoexponencial de seu nuacutemero no quinquecircnio antecedente Os resultados tecircm-se mostrado prima facie positivos com aparente aumento do nuacutemero de deslindes extrajudiciais e maior quantitativode antecipaccedilotildees de tutela obtidas nas accedilotildees propostas embora ainda sem dados coligidos esistematizados a respeito

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positivo por oacutebvio todas as vantagens da resoluccedilatildeo administrativa

Outro recurso a ser considerado como dito como opccedilatildeo agraves muacuteltiplas accedilotildees individuaissatildeo as accedilotildees de natureza coletiva visando agrave efetiva disponibilizaccedilatildeo de procedimentos

oferecidos formalmente mas cuja demora na prestaccedilatildeo torna na praacutetica insustentaacutevela espera ais accedilotildees sob o ponto de vista pragmaacutetico todavia nem sempre tecircm comoobter resultados concretos imediatos mas frutos de uma atuaccedilatildeo combativa criacuteticae politicamente atuante satildeo relevante termocircmetro acerca do modo como estatildeo sendogeridos os recursos em sauacutede advertindo para a necessidade de se dar concretude ao direitoconstitucionalmente reconhecido incentivando da maneira mais pertinente o sistemade checks and balances reservando-se as accedilotildees individuais para situaccedilotildees especiacuteficas denecessidade incontornaacutevel e sem perspectiva de resoluccedilatildeo natildeo litigiosa

Por fim sempre cabiacutevel lembrar que o momento da urgecircncia do plantatildeo do riscoiminente de vida eacute sempre o pior momento para avaliar o que fazer culminando-seem accedilotildees accedilodadas por vezes mal instruiacutedas natildeo raro em duplicidade nas instacircnciasestadual e federal com riscos para o paciente ou de desperdiacutecio de recursos puacuteblicos ouainda de descreacutedito para a instituiccedilatildeo Importante assim discutirem-se as abordagenspossiacuteveis criando-se orientaccedilotildees de conduta que de antematildeo auxiliem na organizaccedilatildeo dopensamento e na escolha das vias cabiacuteveis para ajudar o requerente ndash vulnerado quer pelahipossuficiecircncia econocircmica quer pela enfermidade ou na maioria das vezes por ambas

ndash da forma mais promissora e adequada possiacutevel

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Natildeo haacute por oacutebvio respostas faacuteceis na mateacuteria O objetivo do texto foi sobretudo chamar

atenccedilatildeo para aspectos nem sempre vistos na lida cotidiana do Defensor imbuiacutedo da visatildeodo assistido e suas anguacutestias premido pelo tempo sem que tenha por vezes sequercondiccedilatildeo de distanciar-se para um olhar mais imparcial

odavia tais distanciamento e compreensatildeo mostram-se necessaacuterios agrave instituiccedilatildeo afim de redirecionar a busca a mecanismos alternativos para o impasse da sauacutede comodireito simultaneamente individual e social sujeito agraves premecircncias pessoais mas tambeacutem

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182 DEFENSORIA PUacuteBLICA DA UNIAtildeO Escola Superior

agraves limitaccedilotildees de uma prestaccedilatildeo coletiva a exemplo da proacutepria escassez real (e aiacute misterdistinguir o mero argumento da escassez e da reserva do possiacutevel em contraposiccedilatildeo agravecomprovada inviabilidade de produccedilatildeo ou fornecimento a exemplo do nuacutemero de vagasimediatas em UI de um hospital puacuteblico ou a disponibilidade de oacutergatildeos compatiacuteveis para

transplante) e da inevitabilidade da alocaccedilatildeo de recursos o que natildeo eacute dado a ningueacutemresponsavelmente negar

Apenas a tiacutetulo de pensamento inicial sugerir-se-ia o desenvolvimento de incremento nastentativas de resoluccedilatildeo extrajudicial a exemplo de maior contato com a Administraccedilatildeo ndash aquem tambeacutem interessa a reduccedilatildeo das lides diminuindo gastos a varejo ndash e com oacutergatildeosde prestaccedilatildeo de sauacutede puacuteblica e de orientaccedilatildeo profissional meacutedica com vistas a analisar aeficaacutecia indicaccedilatildeo e seguranccedila de determinados recursos terapecircuticos subsidiando melhoros pedidos e melhorando os iacutendices de deferimento na espeacutecie que lamentavelmente

comeccedilam a declinar talvez movidos pelo perigo da dessensibilizaccedilatildeo do Judiciaacuterio ante aprofusatildeo de pedidos no setor reservando-se a atuaccedilatildeo judicial para situaccedilotildees de insucessoadministrativo reconhecido considerada a premecircncia e a comprovada necessidade ouatuaccedilotildees de iacutendole coletiva de pressatildeo poliacutetica para assegurar a melhor prestaccedilatildeo dodireito constitucional

Satildeo apenas reflexotildees incipientes mas ficam a semente da ideia o desafio que a questatildeorepresenta e o chamado ao compromisso coletivo de desenvolvecirc-las em prol do cidadatildeo

da efetividade constitucional e da atuaccedilatildeo mais consciente precisa e exitosa possiacutevel porparte da Defensoria Puacuteblica na defesa ao direito fundamental agrave sauacutede

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AVARES Andreacute Ramos Curso de Direito Constitucional 2ed Satildeo Paulo Saraiva 2003

REZZI Humberto Sauacutede Aumento no gasto do governo em remeacutedios especiais eacuteinvestigado Promotores e policiais suspeitam que quadrilhas falsificariam atestados paraobrigar a Uniatildeo a fornecer medicamentos de alto custo a pacientes por via judicial JornalZero Hora Porto Alegre ediccedilatildeo ndeg 15734 disponiacutevel em lthttpzerohoraclicrbscombrzerohorajspdefault2jspuf=1amplocal=1ampsource=a2195502xmlamptemplate=3898dwtampedition=10739ampsection=1003gt acessado em 12out08

VIEIRA Fabiacuteola Sulpino Accedilotildees judiciais e direito agrave sauacutede reflexatildeo sobre a observacircnciaaos princiacutepios do SUS Rev Sauacutede Puacuteblica v 42 n 2 p 365-369 abr 2008

VILLAS-BOcircAS Maria Elisa Alocaccedilatildeo de Recursos em Sauacutede quando a realidade e osdireitos fundamentais se chocam 2009 425 f ese (Doutorado em Direito Puacuteblico) ndashFaculdade de Direito Universidade Federal da Bahia Salvador 2009

______ O Direito agrave Sauacutede no Brasil reflexotildees bioeacuteticas agrave luz do princiacutepio da justiccedilaSatildeo Paulo Loyola 2014

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gastos com medicamentos especiais superam em muito aqueles com medicaccedilotildees baacutesicas18 Dentre os medicamentos estrateacutegicos ndash responsaacuteveis pelo maior volume de custos commedicaccedilotildees entre os trecircs grupos na segunda metade da deacutecada passada ndash aqueles dirigidosao programa de HIVAIDS sofreram acreacutescimo substancial em 2006 ante as novas drogas

incorporadas ao cataacutelogo farmacoloacutegico de tratamento da doenccedila passando a representarsozinhos quase uma vez e meia o gasto com todas as demais drogas estrateacutegicas

Mais uma vez fica evidente que prevenir aleacutem de melhor sai bem mais barato que

18 Segundo quadro comparativo elaborado em MELLO Dirceu Raposo et al op cit p 28-29 a partirde dados do Ministeacuterio da Sauacutede os gastos com medicamentos baacutesicos em 2006 foram da ordem de 290milhotildees de reais representando 67 dos gastos com medicaccedilatildeo ao passo que o montante despendido commedicamentos de dispensaccedilatildeo especial alcanccedilaram a cifra de um bilhatildeo 355 milhotildees de reais equivalendoa 32 do orccedilamento para a aacuterea Dentre os medicamentos estrateacutegicos aqueles destinados ao programade DSAIDS custaram aos cofres puacuteblicos naquele ano 960 milhotildees de reais enquanto no ano anteriorrepresentaram despesa de 550 milhotildees de reais Cumpre assinalar que o programa de fornecimento gratuitode medicaccedilotildees antirretrovirais aos portadores de HIV no paiacutes eacute elogiado em todo o mundo pela iniciativapioneira na aacuterea apontada como exemplo na universalizaccedilatildeo do tratamento e inclusatildeo a esses pacientes A Leique cuida da mateacuteria ndash Lei ndeg 931396 ndash foi acompanhada por uma seacuterie de decisotildees judiciais proacute direitoagrave sauacutede determinando o efetivo provimento das medicaccedilotildees e sua atualizaccedilatildeo conforme o estado cientiacuteficomundial nos termos da redaccedilatildeo legal Nesse sentido se assinala entre outros o seguinte acoacuterdatildeo provenientedo Supremo ribunal Federal defendendo a aplicabilidade imediata das normas relativas ao direito agravesauacutede PACIENE COM HIVAIDS ndash PESSOA DESIUIacuteDA DE RECURSOS FINANCEIROS ndashDIREIO Agrave VIDA E Agrave SAUacuteDE ndashFORNECIMENO GRAUIO DE MEDICAMENOS ndash DEVERCONSIUCIONAL DO PODER PUacuteBLICO (CF ARS 5ordm CAPU E 196) O DIREIO Agrave SAUacuteDEREPRESENA CONSEQUumlEcircNCIA CONSIUCIONAL INDISSOCIAacuteVEL DO DIREIO Agrave VIDA

O direito puacuteblico subjetivo agrave sauacutede representa prerrogativa juriacutedica indisponiacutevel assegurada agrave generalidadedas pessoas pela proacutepria Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica (art 196) raduz bem juriacutedico constitucionalmentetutelado por cuja integridade deve velar de maneira responsaacutevel o Poder Puacuteblico a quem incumbe formularndash e implementar ndash poliacuteticas sociais e econocircmicas idocircneas que visem a garantir aos cidadatildeos inclusive agravequelesportadores do viacuterus HIV o acesso universal e igualitaacuterio agrave assistecircncia farmacecircutica e meacutedico-hospitalar Odireito agrave sauacutede ndash aleacutem de qualificar-se como direito fundamental que assiste a todas as pessoas ndash representaconsequumlecircncia constitucional indissociaacutevel do direito agrave vida O Poder Puacuteblico qualquer que seja a esfera institucionalde sua atuaccedilatildeo no plano da organizaccedilatildeo federativa brasileira natildeo pode mostrar-se indiferente ao problema da sauacutededa populaccedilatildeo sob pena de entender ainda que por censuraacutevel omissatildeo em grave comportamento inconstitucional(AGRRE nordm 271286-RS Rel Min Celso de Mello SF DJ 241100 p 101)

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remediar 19

Fato eacute queNenhum paiacutes ateacute o momento conseguiu estabelecer um limite oacutetimode gasto financeiro para melhorar a sauacutede de seus cidadatildeos os EUA

gastam 146 do PIB com sauacutede sendo o Estado responsaacutevel por449 desse total e 5 dos gastos puacuteblicos com sauacutede dizem respeitoaos medicamentos Ainda sobre os EUA dados de domiacutenio puacuteblicoinformam que cerca de 50 milhotildees de cidadatildeos natildeo tecircm acesso aosserviccedilos de sauacutede No Brasil os gastos com sauacutede correspondem agrave cifrade 79 do PIB sendo que o setor puacuteblico eacute responsaacutevel por 459desses gastos e os medicamentos representam 74 desses gastospuacuteblicos20

Sem duacutevida a garantia adequada do direito agrave sauacutede natildeo constitui um problema apenaspara os paiacuteses em desenvolvimento embora nesses falte o acesso ao que haacute de mais baacutesicopossiacutevel para a manutenccedilatildeo e a recuperaccedilatildeo da sauacutede ambeacutem os paiacuteses desenvolvidos

19 Aleacutem das despesas jaacute esperadas com tais medicamentos avultam ainda os gastos decorrentes de processos judiciais A esse respeito notiacutecia veiculada em setembro de 2008 na imprensa deu conta de que ldquoEntre2005 e 2008 o governo federal aumentou em 1820 (quase 20 vezes) as despesas decorrentes de ordens

judiciais que obrigam a Uniatildeo a pagar por medicamentos especiais Apenas na primeira metade deste anoforam gastos pelo governo federal por ordem da Justiccedila R$ 48 milhotildees nesses tratamentos Em 2005 oinvestimento foi de R$ 25 milhotildeesrdquo ambeacutem foi informado que ldquoa cada mecircs Satildeo Paulo gasta R$ 400milhotildees com remeacutedios obtidos pelos doentes mediante ordem judicial e que natildeo satildeo fornecidos pelo SUS Asituaccedilatildeo natildeo eacute muito diferente no Rio Grande do Sul Foram R$ 31 milhotildees com accedilotildees judiciais envolvendomedicamentos em 2006 e R$ 50 milhotildees em 2007 e a previsatildeo eacute de que sejam gastos R$ 150 milhotildees nesteano ndash o equivalente a um terccedilo do total de recursos de custeio dos programas da Secretaria Estadual deSauacutederdquo Dentro desses valores apurou-se ainda a ocorrecircncia de fraudes envolvendo meacutedicos e advogadosque mediante pedidos judiciais providos teriam resultado em prejuiacutezo de R$ 63 milhotildees aos cofrespuacuteblicos (REZZI Humberto Sauacutede Aumento no gasto do governo em remeacutedios especiais eacute investigadoPromotores e policiais suspeitam que quadrilhas falsificariam atestados para obrigar a Uniatildeo a fornecermedicamentos de alto custo a pacientes por via judicial Jornal Zero Hora Porto Alegre ediccedilatildeo ndeg 15734

Disponiacutevel em lthttpzerohoraclicrbscombrzerohorajspdefault2jspuf=1amplocal=1ampsource=a2195502xmlamptemplate=3898dwtampedition=10739ampsection=1003gt acessado em 12out08) Deduz-se daiacute queconquanto via relevantiacutessima para o controle do atendimento do direito fundamental agrave sauacutede a prestaccedilatildeo

jurisdicional haacute de ser particularmente cautelosa na anaacutelise de tais pleitos sobretudo quando em sede deprovimentos liminares por natildeo se poder desconsiderar o grave impacto que essas decisotildees tecircm tomado noorccedilamento sanitaacuterio Eacute imprescindiacutevel entatildeo sempre que possiacutevel e especialmente quando o fornecimentoeacute feito a entidades privadas sobre as quais incide menor controle na utilizaccedilatildeo desses recursos a realizaccedilatildeode periacutecia meacutedica judicial a constatar a efetiva necessidade e infungibilidade do recurso demandado naquelecaso concreto20 MELLO Dirceu Raposo et al op cit p 23

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tecircm problemas para assegurar os cuidados de sauacutede esperados pela populaccedilatildeo situaccedilatildeoque se agrava progressivamente com o envelhecimento da populaccedilatildeo (com suas conhecidasconsequecircncias para o equiliacutebrio previdenciaacuterio) e com o desenvolvimento crescente dosrecursos farmacecircuticos e biotecnoloacutegicos criando patamares cada vez mais elevados de

atenccedilatildeo agrave sauacutede21

Elevou-se a qualidade e a quantidade de vida o que eacute um aspectoinegavelmente positivo mas que gera outrossim consequecircncias de difiacutecil equiliacutebrioeconocircmico

4 DEMANDAS JUDICIAIS EM SAUacuteDE COMO AVANCcedilAR EM DIRECcedilAtildeO

AO QUE PARECE NAtildeO ER SAIacuteDA

Questionado sobre formas de viabilizaccedilatildeo de um sistema puacuteblico de sauacutede dentro dessecontexto ponderou primeiramente Diego Gracia 22 que quem tem receituaacuterio fazalocaccedilatildeo Com efeito Ao fazer uma mera prescriccedilatildeo individual o meacutedico estaacute a indicarali os paracircmetros para o exerciacutecio do direito agrave sauacutede pelo paciente Eacute para alcanccedilar orecurso prescrito que o cidadatildeo vai agrave Justiccedila pleitear ao Estado ou ao plano de sauacutede queo forneccedila Eacute na prescriccedilatildeo que se baseia o Juiz quando antecipa uma tutela mesmo antes

de ouvir a parte adversa na convicccedilatildeo de que haacute urgecircncia no acesso agravequele recurso

Mister assim para racionalizar o uso de medicamentos e recursos no SUS orientar eracionalizar tambeacutem as prescriccedilotildees meacutedicas de modo que sem sacrificar a sauacutede dopaciente tampouco se sacrifique indevidamente o Sistema organizado para protegecirc-lae garanti-la Nesse ponto erige-se a validade de se pensar um trabalho conjunto comorganizaccedilotildees profissionais como uma outra vertente para a maior efetivaccedilatildeo na prestaccedilatildeo

21

Nesse sentido cf a obra AARON Henry J SCHWARZ William B Te Painful Prescriptionhellipreferente sobretudo aos Estados Unidos e agrave Inglaterra mas que tambeacutem menciona a situaccedilatildeo de outros paiacutesesdesenvolvidos como a Franccedila e o Canadaacute ambeacutem trata do assunto entre outros PENCHASZADEHVictor Bioeacutetica y medicina social Una confluencia necesaria Revista Brasileira de Bioeacutetica BrasiacuteliaSociedade Brasileira de Bioeacutetica v 3 n 2 p 129-149 2007 p 137 Destaque-se outrossim a recentepolecircmica envolvendo o governo americano do Presidente Barack Obama ante a perspectiva de maiordemocratizaccedilatildeo do acesso agrave sauacutede em confronto com o arcabouccedilo tendencialmente liberal da poliacutetica daqueleEstado no setor ateacute entatildeo22 GRACIA Diego Bioeacutetica Cliacutenica e Contexto Social In VII CONGRESSO BRASILEIRO DEBIOEacuteICA Satildeo Paulo 2007 Conferecircncia

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178 DEFENSORIA PUacuteBLICA DA UNIAtildeO Escola Superior

e cobranccedila do direito agrave sauacutede

A especial atenccedilatildeo aos preceitos da Medicina Baseada em Evidecircncias devidamentefundamentada em relatoacuterios e prescriccedilotildees acurados com a cuidadosa anaacutelise e

demonstraccedilatildeo de eficaacutecia seguranccedila e eficiecircncia23

quer no geral quer no caso concretotambeacutem satildeo de grande valia para a atuaccedilatildeo coerente e racional na aacuterea inclusive a fim deevitar que o assistido seja engolfado por esperanccedilas vatildes de resultados temeraacuterios tentativasheroicas sem perspectivas reais e pesquisas multinacionais em larga escala que exacerbamsua vulnerabilidade e fragilizam a credibilidade dos pedidos judiciais no setor Nessecontexto mister evitar tambeacutem pedidos irrazoaacuteveis natildeo factiacuteveis na praacutetica ou opccedilotildees

23 Embora costumeiramente usadas de forma equivalente as expressotildees eficaacutecia eficiecircncia e efetividade tecircmsignificados teacutecnicos especiacuteficos na seara da MBE Nesse sentido a seguranccedila mencionada implica a anaacutelisede que os danos colaterais possiacutevel sejam inferiores aos benefiacutecios oferecidos com seu uso para o fim a quese propotildee A eficaacutecia consiste na evidecircncia de ter o recurso prescrito comprovado efeito beneacutefico para aquelecaso (ldquofazem o que se propotildeem a fazerrdquo ndash na expressatildeo de VIEIRA Fabiacuteola Sulpino op cit p365-369)evitando-se os chamados ldquoprodutos de complacecircnciardquo ndash sem eficaacutecia comprovada mas prescritos por insistecircnciado paciente ou por pressatildeo do marketing industrial por exemplo ndash bem como os atos aparentemente cliacutenicosmas que se mostram em verdade experimentais visto que natildeo validados de nenhuma forma cientificamente

aceita a qual permita asseveraacute-los como realmente producentes e seguros A efetividade propriamente dita corresponde agrave eficaacutecia e agrave eficiecircncia em condiccedilotildees reais de sorte a evitar desperdiacutecios Eacute dizer que os produtoseleitos ldquofazem o que se propotildeem a fazer quando utilizados pelas pessoas em condiccedilotildees reais e natildeo em gruposhomogecircneos que constituem os grupos de pessoas dos ensaios cliacutenicosrdquo (idem ibidem) Por fim a eficiecircnciaou custo-efetividade envolve a avaliaccedilatildeo da relaccedilatildeo custobenefiacutecio de modo a se constatar a substancialvantagem de dado recurso em relaccedilatildeo a outro observadas a eficaacutecia e a efetividade propriamente ditaSignifica dizer que o produto em questatildeo ldquoentre as alternativas disponiacuteveis faz o que se propotildee a fazer paraas pessoas em condiccedilotildees reais ao menor custordquo (idem ibidem) Embora conceitos mais utilizados no acircmbitoeconocircmico e de macroalocaccedilatildeo de recursos acabam repercutindo na microalocaccedilatildeo individual ao requerermaior comprovaccedilatildeo quando de pedido que natildeo leve em consideraccedilatildeo tais subprinciacutepios Segundo a ANVISAtem-se a efetividade como ldquogarantia de medicamentos eficazes eou efetivos e seguros cuja relaccedilatildeo risco-benefiacutecio seja favoraacutevel e comprovada a partir das melhores evidecircncias cientiacuteficas disponiacuteveis na literatura

e com registro aprovado na Agecircncia Nacional de Vigilacircncia Sanitaacuteria (ANVISA)rdquo e a eficiecircncia como aldquogarantia de medicamentos que proporcionem a melhor resposta terapecircutica aos usuaacuterios com os menorescustos para o SUSrdquo (Lei 124012011 e pela Resoluccedilatildeo 01 do Ministeacuterio da Sauacutede de 17 de janeiro de2012) Eacute fato que considerando os escores da Medicina baseada em evidecircncia alega o Estado de praxe quea experiecircncia do meacutedico prescritor isoladamente e mesmo do perito judicial natildeo teriam niacutevel de sustentaccedilatildeocientiacutefica bastante para subsidiar a concessatildeo de medicaccedilatildeo natildeo padronizada pelo SUS todavia considerandoos requisitos de antecipaccedilatildeo de tutela pode conter se bem fundamentada em estudos outros de indicaccedilatildeoseguranccedila eficaacutecia efetividade e eficiecircncia elementos suficientes de verossimilhanccedila aleacutem de representara realidade daquele indiviacuteduo preocupando-se em registrar inclusive a ausecircncia de resposta ou indicaccedilatildeoquanto agraves outras opccedilotildees disponiacuteveis haja vista que como se costuma constatar a resposta individual nemsempre corresponde agravequela epidemiologicamente esperada

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comerciais especiacuteficas substituiacuteveis por equivalentes terapecircuticos disponiacuteveis no SUS24

Outro aspecto a ser sopesado eacute o modo e o conteuacutedo como feitos os pedidos na medida emque a proteccedilatildeo ao direito agrave sauacutede de um deve considerar a existecircncia de outros envolvidos

na alocaccedilatildeo de recursos diante da escassez real Exemplo disso satildeo os pedidos de vagaou de prioridade em filas de transplantes que necessariamente envolvem o cotejo comoutros afetados que natildeo satildeo parte no processo Natildeo raro se tem notiacutecia de comandos deprisatildeo a gestores hospitalares que tecircm todos os seus leitos ocupados por natildeo disporem devagas Inegaacutevel a falha estatal na espeacutecie mas ela natildeo pode ser resolvida com o comandoainda que indireto de retirada de pacientes que ainda necessitem do leito e cuidados paraalocaccedilatildeo de outro dotado de comando judicial Opccedilatildeo nesse caso eacute o pedido subsidiaacuteriode alocaccedilatildeo em unidades privadas agraves expensas do Estado natildeo por mera opccedilatildeo do enfermomas se natildeo houver leitos disponiacuteveis nas unidades puacuteblicas

Do ponto de vista estatal eacute mister o ajuste constante das poliacuteticas puacuteblicas de sortea mantecirc-las condizentes com as carecircncias da comunidade e atualizadas dentro dasmargens de efetividade terapecircutica a fim de se tentar com isso minorar a necessidade deintervenccedilotildees judiciais suplementares na aacuterea aleacutem de favorecer o proacuteprio funcionamentoadequado do Sistema em conformidade com seus princiacutepios gestores e com as previsotildeese garantias constitucionais sem acarretar a falecircncia do Sistema nem converter o direitouniversal agrave sauacutede em mera retoacuterica demagoacutegica

Nesse contexto a atuaccedilatildeo e participaccedilatildeo equilibrada da Defensoria junto a oacutergatildeos puacuteblicose conselhos interdisciplinares pode ser de grande valia para uma maior eficaacutecia na soluccedilatildeo

24 Em palestra proferida do II Foacuterum Brasileiro sobre Assistecircncia Farmacecircutica e Farmacoeconomia ocorridoem setembro de 2014 em Salvador-Bahia com a presenccedila de gestores puacuteblicos membros do JudiciaacuterioMinisteacuterio Puacuteblico Defensoria Puacuteblica e Advogados Puacuteblicos a representante paulista do CONASS(Conselho Nacional dos Secretaacuterios de Sauacutede) apresentou demonstrativo de pedidos em demandas judiciaissanitaacuterias contra o Estado e o Municiacutepio de Satildeo Paulo em que incluiacutedos itens como ldquoleite de cabra frescordquondash o qual resultou descumprido por absoluta ausecircncia de resposta agrave licitaccedilatildeo simplificada para localizar

detentores de cabras na cidade de Satildeo Paulo Nessa ocasiatildeo tambeacutem mostrou a palestrante estudo feitoquanto agraves 41000 accedilotildees judiciais em sauacutede atendidas por aqueles entes naquele ano tendo-se verificado quecerca de 70 delas se pautavam em prescriccedilotildees particulares 93 envolviam medicamentos extraordinaacuteriosao SUS sendo que aproximadamente 5 envolviam produtos importados sem registro na ANVISA 50envolviam itens de produtores exclusivos e cerca de 25 marcas especiacuteficas mesmo para itens simples comofraldas descartaacuteveis A franca maioria dos pedidos natildeo tivera solicitaccedilatildeo administrativa preacutevia sabendo oEstado do pleito jaacute em sede de antecipaccedilatildeo de tutela com prazo estrito para o fornecimento ainda que comfundamentaccedilatildeo cliacutenica escassa inclusive quanto agrave premecircncia do pedido (SIQUEIRA Paula Sue Facundo deDireito Sanitaacuterio a interface entre Judiciaacuterio e Sauacutede na utilizaccedilatildeo dos PDC II FOacuteRUM BRASILEIROSOBRE ASSISEcircNCIA FARMACEcircUICA E FARMACOECONOMIA Salvador 2014 Mesa Redonda)

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180 DEFENSORIA PUacuteBLICA DA UNIAtildeO Escola Superior

administrativa das questotildees reduzindo-se o quantitativo de demandas judiciais na espeacuteciee democratizando o acesso agrave sauacutede mesmo agravequeles que natildeo chegam agrave Defensoria Nesseuacuteltimo aspecto tambeacutem a atuaccedilatildeo mediante Accedilatildeo Civil Puacuteblica visando agrave atualizaccedilatildeodas listas de fornecimento ou denunciando carecircncias e esperas irrazoaacuteveis por exemplo

parece recurso de relevante monta para uma melhor prestaccedilatildeo no setor

Possibilidade de uma maior funcionalidade administrativa tambeacutem pode ser tentadamediante atuaccedilatildeo de profissional25 direcionado agrave aacuterea das crescentes demandas em sauacutedenas unidades defensoriais de sorte a direcionar melhor a instruccedilatildeo dos pedidos jaacute seorientando o tipo de relatoacuterio e informaccedilotildees necessaacuterios aleacutem de empreender contatodireto com os oacutergatildeos puacuteblicos de regulaccedilatildeo em sauacutede estreitando relaccedilotildees com a Secretariade Sauacutede do Estado e seus oacutergatildeos a exemplo da Central de Regulaccedilatildeo de Vagas

Propotildee-se com isso ampliar o quantitativo de resoluccedilotildees administrativas mais ceacutelerese menos custosas reservando a necessidade de intervenccedilotildees juriacutedicas agraves situaccedilotildees emque havendo a previsatildeo do fornecimento natildeo se consegue obtecirc-lo por maacute prestaccedilatildeoadministrativa ndash o que demonstrado por melhor instruccedilatildeo inicial sugere levar amelhores iacutendices de sucesso jaacute em sede antecipatoacuteria ndash ou nas situaccedilotildees de recursos natildeoincluiacutedos no rol de fornecimento do SUS (em que pese o limitante dos artigos 2ordm e 19da Lei 124012011) Nesse caso uacuteltimo jaacute se busque tambeacutem instruir o pedido com osdemonstrativos da eficaacutecia seguranccedila e indicaccedilatildeo da medida reclamada bem assim de

ausecircncia de resposta agraves drogas rotineiramente disponibilizadas ou indicadas nos PCDnos termos inclusive do quanto preconizado em reiterados Enunciados e Recomendaccedilotildeesdo CNJ (4 11 14 15 16 31) e precedentes jurisprudenciais relevantes como a SA175 de relatoria do Min Gilmar Mendes sobre a mateacuteria

O que se vislumbra de negativo em tal proposta eacute que eventual reduccedilatildeo da judicializaccedilatildeofaccedila supor uma maior eficiecircncia na prestaccedilatildeo estatal em sauacutede o que nem semprecorresponde agrave verdade obtendo-se o ecircxito em casos individuais atraveacutes da persistecircnciaempedernida do oacutergatildeo defensorial ateacute que a proacutexima situaccedilatildeo se apresente Como aspecto

25 entativa semelhante tem sido implementada ao longo do uacuteltimo ano na unidade baiana daDefensoria Puacuteblica da Uniatildeo por iniciativa da chefia que tambeacutem titulariza o ofiacutecio de tutelacoletiva mediante o destacamento de Assistente Social com experiecircncia na conduccedilatildeo de demandasem sauacutede e com o intuito de melhorar a assistecircncia em tais demandas ante o crescimentoexponencial de seu nuacutemero no quinquecircnio antecedente Os resultados tecircm-se mostrado prima facie positivos com aparente aumento do nuacutemero de deslindes extrajudiciais e maior quantitativode antecipaccedilotildees de tutela obtidas nas accedilotildees propostas embora ainda sem dados coligidos esistematizados a respeito

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positivo por oacutebvio todas as vantagens da resoluccedilatildeo administrativa

Outro recurso a ser considerado como dito como opccedilatildeo agraves muacuteltiplas accedilotildees individuaissatildeo as accedilotildees de natureza coletiva visando agrave efetiva disponibilizaccedilatildeo de procedimentos

oferecidos formalmente mas cuja demora na prestaccedilatildeo torna na praacutetica insustentaacutevela espera ais accedilotildees sob o ponto de vista pragmaacutetico todavia nem sempre tecircm comoobter resultados concretos imediatos mas frutos de uma atuaccedilatildeo combativa criacuteticae politicamente atuante satildeo relevante termocircmetro acerca do modo como estatildeo sendogeridos os recursos em sauacutede advertindo para a necessidade de se dar concretude ao direitoconstitucionalmente reconhecido incentivando da maneira mais pertinente o sistemade checks and balances reservando-se as accedilotildees individuais para situaccedilotildees especiacuteficas denecessidade incontornaacutevel e sem perspectiva de resoluccedilatildeo natildeo litigiosa

Por fim sempre cabiacutevel lembrar que o momento da urgecircncia do plantatildeo do riscoiminente de vida eacute sempre o pior momento para avaliar o que fazer culminando-seem accedilotildees accedilodadas por vezes mal instruiacutedas natildeo raro em duplicidade nas instacircnciasestadual e federal com riscos para o paciente ou de desperdiacutecio de recursos puacuteblicos ouainda de descreacutedito para a instituiccedilatildeo Importante assim discutirem-se as abordagenspossiacuteveis criando-se orientaccedilotildees de conduta que de antematildeo auxiliem na organizaccedilatildeo dopensamento e na escolha das vias cabiacuteveis para ajudar o requerente ndash vulnerado quer pelahipossuficiecircncia econocircmica quer pela enfermidade ou na maioria das vezes por ambas

ndash da forma mais promissora e adequada possiacutevel

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Natildeo haacute por oacutebvio respostas faacuteceis na mateacuteria O objetivo do texto foi sobretudo chamar

atenccedilatildeo para aspectos nem sempre vistos na lida cotidiana do Defensor imbuiacutedo da visatildeodo assistido e suas anguacutestias premido pelo tempo sem que tenha por vezes sequercondiccedilatildeo de distanciar-se para um olhar mais imparcial

odavia tais distanciamento e compreensatildeo mostram-se necessaacuterios agrave instituiccedilatildeo afim de redirecionar a busca a mecanismos alternativos para o impasse da sauacutede comodireito simultaneamente individual e social sujeito agraves premecircncias pessoais mas tambeacutem

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182 DEFENSORIA PUacuteBLICA DA UNIAtildeO Escola Superior

agraves limitaccedilotildees de uma prestaccedilatildeo coletiva a exemplo da proacutepria escassez real (e aiacute misterdistinguir o mero argumento da escassez e da reserva do possiacutevel em contraposiccedilatildeo agravecomprovada inviabilidade de produccedilatildeo ou fornecimento a exemplo do nuacutemero de vagasimediatas em UI de um hospital puacuteblico ou a disponibilidade de oacutergatildeos compatiacuteveis para

transplante) e da inevitabilidade da alocaccedilatildeo de recursos o que natildeo eacute dado a ningueacutemresponsavelmente negar

Apenas a tiacutetulo de pensamento inicial sugerir-se-ia o desenvolvimento de incremento nastentativas de resoluccedilatildeo extrajudicial a exemplo de maior contato com a Administraccedilatildeo ndash aquem tambeacutem interessa a reduccedilatildeo das lides diminuindo gastos a varejo ndash e com oacutergatildeosde prestaccedilatildeo de sauacutede puacuteblica e de orientaccedilatildeo profissional meacutedica com vistas a analisar aeficaacutecia indicaccedilatildeo e seguranccedila de determinados recursos terapecircuticos subsidiando melhoros pedidos e melhorando os iacutendices de deferimento na espeacutecie que lamentavelmente

comeccedilam a declinar talvez movidos pelo perigo da dessensibilizaccedilatildeo do Judiciaacuterio ante aprofusatildeo de pedidos no setor reservando-se a atuaccedilatildeo judicial para situaccedilotildees de insucessoadministrativo reconhecido considerada a premecircncia e a comprovada necessidade ouatuaccedilotildees de iacutendole coletiva de pressatildeo poliacutetica para assegurar a melhor prestaccedilatildeo dodireito constitucional

Satildeo apenas reflexotildees incipientes mas ficam a semente da ideia o desafio que a questatildeorepresenta e o chamado ao compromisso coletivo de desenvolvecirc-las em prol do cidadatildeo

da efetividade constitucional e da atuaccedilatildeo mais consciente precisa e exitosa possiacutevel porparte da Defensoria Puacuteblica na defesa ao direito fundamental agrave sauacutede

REFEREcircNCIAS

AARON Henry SCHWARZ William Te Painful Prescription Rationing HospitalCare Washington Brookins Institution 1984

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BERGEL Salvador Dariacuteo Responsabilidad Social y Salud Revista Brasileira de Bioeacutetica Brasiacutelia Sociedade Brasileira de Bioeacutetica v2 n4 p 443-467 2006

CANOILHO J J Gomes Direito Constitucional e eoria da Constituiccedilatildeo 7edCoimbra Almedina [2003]

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COHN Ameacutelia et al A Sauacutede como Direito e como Serviccedilo Satildeo Paulo Cortez 2008

DALLARI Sueli Gandolfi Os Estados Brasileiros e o Direito agrave Sauacutede Satildeo PauloHucitec 1995

DRANE James PESSINI Leo Medicina e ecnologia Desafios eacuteticos na fronteira doconhecimento humano Satildeo Paulo Loyola 2005

FERRAZ Octaacutevio Luiz Motta VIEIRA Fabiacuteola Sulpino Direito agrave sauacutede recursosescassos e equumlidade os riscos da interpretaccedilatildeo judicial dominante Disponiacutevel emhttpwwwstfjusbrarquivocmsprocessoAudienciaPublicaSaudeanexoDireito_a_Saude_Recursos_escassos_e_equidadepdf Acesso em 25abr2015

FIGUEIREDO Mariana Filchtiner Direito Fundamental agrave Sauacutede Paracircmetros para suaEficaacutecia e Efetividade Porto Alegre Livraria do Advogado 2007

GRACIA Diego Bioeacutetica Cliacutenica e Contexto Social In VII Congresso Brasileiro deBioeacutetica Satildeo Paulo 2007 Conferecircncia

LORENZO Claacuteudio Vulnerabilidade em Sauacutede Puacuteblica implicaccedilotildees para as poliacuteticaspuacuteblicas Revista Brasileira de Bioetica Brasiacutelia Sociedade Brasileira de Bioeacutetica v 2n 3 p 299-312 2006

MELLO Dirceu Raposo de et al Anaacutelise Bioeacutetica do Papel do Estado na Garantia ao Acesso a Medicamentos In GARRAFA Volnei MELLO Dirceu Raposo de PORODora Bioeacutetica e Vigilacircncia Sanitaacuteria Brasiacutelia ANVISA 2007 p 17-18

ORGANIZACcedilAtildeO MUNDIAL DA SAUacuteDE Constitution of the World HealthOrganization Basic Documents Genebra OMS 1946 Disponiacutevel em lthttpwhqlibdocwhointhistofficial_recordsconstitutionpdfgt acessado em 20ago08

PENCHASZADEH Victor Bioeacutetica y medicina social Una confluencia necesariaRevista Brasileira de Bioeacutetica Brasiacutelia Sociedade Brasileira de Bioeacutetica v 3 n 2 p129-149 2007

SALAZAR Andrea Lazzarini GROU Karina Bozola A Defesa da Sauacutede em Juiacutezo

eoria e Praacutetica Satildeo Paulo Verbatim 2009SCHWARZ Germano Direito agrave Sauacutede Efetivaccedilatildeo em uma Perspectiva SistecircmicaPorto Alegre Livraria do Advogado 2001

SIQUEIRA Paula Sue Facundo de Direito Sanitaacuterio a interface entre Judiciaacuterio eSauacutede na utilizaccedilatildeo dos PDC II Foacuterum Brasileiro sobre Assistecircncia Farmacecircutica eFarmacoeconomia Salvador 2014 Mesa Redonda

SRECK Lecircnio Luiz MORAIS Joseacute Luiacutes Bolzan de Ciecircncia poliacutetica e teoria geral do

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estado 2ed Porto Alegre Livraria do Advogado 2000

AVARES Andreacute Ramos Curso de Direito Constitucional 2ed Satildeo Paulo Saraiva 2003

REZZI Humberto Sauacutede Aumento no gasto do governo em remeacutedios especiais eacuteinvestigado Promotores e policiais suspeitam que quadrilhas falsificariam atestados paraobrigar a Uniatildeo a fornecer medicamentos de alto custo a pacientes por via judicial JornalZero Hora Porto Alegre ediccedilatildeo ndeg 15734 disponiacutevel em lthttpzerohoraclicrbscombrzerohorajspdefault2jspuf=1amplocal=1ampsource=a2195502xmlamptemplate=3898dwtampedition=10739ampsection=1003gt acessado em 12out08

VIEIRA Fabiacuteola Sulpino Accedilotildees judiciais e direito agrave sauacutede reflexatildeo sobre a observacircnciaaos princiacutepios do SUS Rev Sauacutede Puacuteblica v 42 n 2 p 365-369 abr 2008

VILLAS-BOcircAS Maria Elisa Alocaccedilatildeo de Recursos em Sauacutede quando a realidade e osdireitos fundamentais se chocam 2009 425 f ese (Doutorado em Direito Puacuteblico) ndashFaculdade de Direito Universidade Federal da Bahia Salvador 2009

______ O Direito agrave Sauacutede no Brasil reflexotildees bioeacuteticas agrave luz do princiacutepio da justiccedilaSatildeo Paulo Loyola 2014

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remediar 19

Fato eacute queNenhum paiacutes ateacute o momento conseguiu estabelecer um limite oacutetimode gasto financeiro para melhorar a sauacutede de seus cidadatildeos os EUA

gastam 146 do PIB com sauacutede sendo o Estado responsaacutevel por449 desse total e 5 dos gastos puacuteblicos com sauacutede dizem respeitoaos medicamentos Ainda sobre os EUA dados de domiacutenio puacuteblicoinformam que cerca de 50 milhotildees de cidadatildeos natildeo tecircm acesso aosserviccedilos de sauacutede No Brasil os gastos com sauacutede correspondem agrave cifrade 79 do PIB sendo que o setor puacuteblico eacute responsaacutevel por 459desses gastos e os medicamentos representam 74 desses gastospuacuteblicos20

Sem duacutevida a garantia adequada do direito agrave sauacutede natildeo constitui um problema apenaspara os paiacuteses em desenvolvimento embora nesses falte o acesso ao que haacute de mais baacutesicopossiacutevel para a manutenccedilatildeo e a recuperaccedilatildeo da sauacutede ambeacutem os paiacuteses desenvolvidos

19 Aleacutem das despesas jaacute esperadas com tais medicamentos avultam ainda os gastos decorrentes de processos judiciais A esse respeito notiacutecia veiculada em setembro de 2008 na imprensa deu conta de que ldquoEntre2005 e 2008 o governo federal aumentou em 1820 (quase 20 vezes) as despesas decorrentes de ordens

judiciais que obrigam a Uniatildeo a pagar por medicamentos especiais Apenas na primeira metade deste anoforam gastos pelo governo federal por ordem da Justiccedila R$ 48 milhotildees nesses tratamentos Em 2005 oinvestimento foi de R$ 25 milhotildeesrdquo ambeacutem foi informado que ldquoa cada mecircs Satildeo Paulo gasta R$ 400milhotildees com remeacutedios obtidos pelos doentes mediante ordem judicial e que natildeo satildeo fornecidos pelo SUS Asituaccedilatildeo natildeo eacute muito diferente no Rio Grande do Sul Foram R$ 31 milhotildees com accedilotildees judiciais envolvendomedicamentos em 2006 e R$ 50 milhotildees em 2007 e a previsatildeo eacute de que sejam gastos R$ 150 milhotildees nesteano ndash o equivalente a um terccedilo do total de recursos de custeio dos programas da Secretaria Estadual deSauacutederdquo Dentro desses valores apurou-se ainda a ocorrecircncia de fraudes envolvendo meacutedicos e advogadosque mediante pedidos judiciais providos teriam resultado em prejuiacutezo de R$ 63 milhotildees aos cofrespuacuteblicos (REZZI Humberto Sauacutede Aumento no gasto do governo em remeacutedios especiais eacute investigadoPromotores e policiais suspeitam que quadrilhas falsificariam atestados para obrigar a Uniatildeo a fornecermedicamentos de alto custo a pacientes por via judicial Jornal Zero Hora Porto Alegre ediccedilatildeo ndeg 15734

Disponiacutevel em lthttpzerohoraclicrbscombrzerohorajspdefault2jspuf=1amplocal=1ampsource=a2195502xmlamptemplate=3898dwtampedition=10739ampsection=1003gt acessado em 12out08) Deduz-se daiacute queconquanto via relevantiacutessima para o controle do atendimento do direito fundamental agrave sauacutede a prestaccedilatildeo

jurisdicional haacute de ser particularmente cautelosa na anaacutelise de tais pleitos sobretudo quando em sede deprovimentos liminares por natildeo se poder desconsiderar o grave impacto que essas decisotildees tecircm tomado noorccedilamento sanitaacuterio Eacute imprescindiacutevel entatildeo sempre que possiacutevel e especialmente quando o fornecimentoeacute feito a entidades privadas sobre as quais incide menor controle na utilizaccedilatildeo desses recursos a realizaccedilatildeode periacutecia meacutedica judicial a constatar a efetiva necessidade e infungibilidade do recurso demandado naquelecaso concreto20 MELLO Dirceu Raposo et al op cit p 23

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tecircm problemas para assegurar os cuidados de sauacutede esperados pela populaccedilatildeo situaccedilatildeoque se agrava progressivamente com o envelhecimento da populaccedilatildeo (com suas conhecidasconsequecircncias para o equiliacutebrio previdenciaacuterio) e com o desenvolvimento crescente dosrecursos farmacecircuticos e biotecnoloacutegicos criando patamares cada vez mais elevados de

atenccedilatildeo agrave sauacutede21

Elevou-se a qualidade e a quantidade de vida o que eacute um aspectoinegavelmente positivo mas que gera outrossim consequecircncias de difiacutecil equiliacutebrioeconocircmico

4 DEMANDAS JUDICIAIS EM SAUacuteDE COMO AVANCcedilAR EM DIRECcedilAtildeO

AO QUE PARECE NAtildeO ER SAIacuteDA

Questionado sobre formas de viabilizaccedilatildeo de um sistema puacuteblico de sauacutede dentro dessecontexto ponderou primeiramente Diego Gracia 22 que quem tem receituaacuterio fazalocaccedilatildeo Com efeito Ao fazer uma mera prescriccedilatildeo individual o meacutedico estaacute a indicarali os paracircmetros para o exerciacutecio do direito agrave sauacutede pelo paciente Eacute para alcanccedilar orecurso prescrito que o cidadatildeo vai agrave Justiccedila pleitear ao Estado ou ao plano de sauacutede queo forneccedila Eacute na prescriccedilatildeo que se baseia o Juiz quando antecipa uma tutela mesmo antes

de ouvir a parte adversa na convicccedilatildeo de que haacute urgecircncia no acesso agravequele recurso

Mister assim para racionalizar o uso de medicamentos e recursos no SUS orientar eracionalizar tambeacutem as prescriccedilotildees meacutedicas de modo que sem sacrificar a sauacutede dopaciente tampouco se sacrifique indevidamente o Sistema organizado para protegecirc-lae garanti-la Nesse ponto erige-se a validade de se pensar um trabalho conjunto comorganizaccedilotildees profissionais como uma outra vertente para a maior efetivaccedilatildeo na prestaccedilatildeo

21

Nesse sentido cf a obra AARON Henry J SCHWARZ William B Te Painful Prescriptionhellipreferente sobretudo aos Estados Unidos e agrave Inglaterra mas que tambeacutem menciona a situaccedilatildeo de outros paiacutesesdesenvolvidos como a Franccedila e o Canadaacute ambeacutem trata do assunto entre outros PENCHASZADEHVictor Bioeacutetica y medicina social Una confluencia necesaria Revista Brasileira de Bioeacutetica BrasiacuteliaSociedade Brasileira de Bioeacutetica v 3 n 2 p 129-149 2007 p 137 Destaque-se outrossim a recentepolecircmica envolvendo o governo americano do Presidente Barack Obama ante a perspectiva de maiordemocratizaccedilatildeo do acesso agrave sauacutede em confronto com o arcabouccedilo tendencialmente liberal da poliacutetica daqueleEstado no setor ateacute entatildeo22 GRACIA Diego Bioeacutetica Cliacutenica e Contexto Social In VII CONGRESSO BRASILEIRO DEBIOEacuteICA Satildeo Paulo 2007 Conferecircncia

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178 DEFENSORIA PUacuteBLICA DA UNIAtildeO Escola Superior

e cobranccedila do direito agrave sauacutede

A especial atenccedilatildeo aos preceitos da Medicina Baseada em Evidecircncias devidamentefundamentada em relatoacuterios e prescriccedilotildees acurados com a cuidadosa anaacutelise e

demonstraccedilatildeo de eficaacutecia seguranccedila e eficiecircncia23

quer no geral quer no caso concretotambeacutem satildeo de grande valia para a atuaccedilatildeo coerente e racional na aacuterea inclusive a fim deevitar que o assistido seja engolfado por esperanccedilas vatildes de resultados temeraacuterios tentativasheroicas sem perspectivas reais e pesquisas multinacionais em larga escala que exacerbamsua vulnerabilidade e fragilizam a credibilidade dos pedidos judiciais no setor Nessecontexto mister evitar tambeacutem pedidos irrazoaacuteveis natildeo factiacuteveis na praacutetica ou opccedilotildees

23 Embora costumeiramente usadas de forma equivalente as expressotildees eficaacutecia eficiecircncia e efetividade tecircmsignificados teacutecnicos especiacuteficos na seara da MBE Nesse sentido a seguranccedila mencionada implica a anaacutelisede que os danos colaterais possiacutevel sejam inferiores aos benefiacutecios oferecidos com seu uso para o fim a quese propotildee A eficaacutecia consiste na evidecircncia de ter o recurso prescrito comprovado efeito beneacutefico para aquelecaso (ldquofazem o que se propotildeem a fazerrdquo ndash na expressatildeo de VIEIRA Fabiacuteola Sulpino op cit p365-369)evitando-se os chamados ldquoprodutos de complacecircnciardquo ndash sem eficaacutecia comprovada mas prescritos por insistecircnciado paciente ou por pressatildeo do marketing industrial por exemplo ndash bem como os atos aparentemente cliacutenicosmas que se mostram em verdade experimentais visto que natildeo validados de nenhuma forma cientificamente

aceita a qual permita asseveraacute-los como realmente producentes e seguros A efetividade propriamente dita corresponde agrave eficaacutecia e agrave eficiecircncia em condiccedilotildees reais de sorte a evitar desperdiacutecios Eacute dizer que os produtoseleitos ldquofazem o que se propotildeem a fazer quando utilizados pelas pessoas em condiccedilotildees reais e natildeo em gruposhomogecircneos que constituem os grupos de pessoas dos ensaios cliacutenicosrdquo (idem ibidem) Por fim a eficiecircnciaou custo-efetividade envolve a avaliaccedilatildeo da relaccedilatildeo custobenefiacutecio de modo a se constatar a substancialvantagem de dado recurso em relaccedilatildeo a outro observadas a eficaacutecia e a efetividade propriamente ditaSignifica dizer que o produto em questatildeo ldquoentre as alternativas disponiacuteveis faz o que se propotildee a fazer paraas pessoas em condiccedilotildees reais ao menor custordquo (idem ibidem) Embora conceitos mais utilizados no acircmbitoeconocircmico e de macroalocaccedilatildeo de recursos acabam repercutindo na microalocaccedilatildeo individual ao requerermaior comprovaccedilatildeo quando de pedido que natildeo leve em consideraccedilatildeo tais subprinciacutepios Segundo a ANVISAtem-se a efetividade como ldquogarantia de medicamentos eficazes eou efetivos e seguros cuja relaccedilatildeo risco-benefiacutecio seja favoraacutevel e comprovada a partir das melhores evidecircncias cientiacuteficas disponiacuteveis na literatura

e com registro aprovado na Agecircncia Nacional de Vigilacircncia Sanitaacuteria (ANVISA)rdquo e a eficiecircncia como aldquogarantia de medicamentos que proporcionem a melhor resposta terapecircutica aos usuaacuterios com os menorescustos para o SUSrdquo (Lei 124012011 e pela Resoluccedilatildeo 01 do Ministeacuterio da Sauacutede de 17 de janeiro de2012) Eacute fato que considerando os escores da Medicina baseada em evidecircncia alega o Estado de praxe quea experiecircncia do meacutedico prescritor isoladamente e mesmo do perito judicial natildeo teriam niacutevel de sustentaccedilatildeocientiacutefica bastante para subsidiar a concessatildeo de medicaccedilatildeo natildeo padronizada pelo SUS todavia considerandoos requisitos de antecipaccedilatildeo de tutela pode conter se bem fundamentada em estudos outros de indicaccedilatildeoseguranccedila eficaacutecia efetividade e eficiecircncia elementos suficientes de verossimilhanccedila aleacutem de representara realidade daquele indiviacuteduo preocupando-se em registrar inclusive a ausecircncia de resposta ou indicaccedilatildeoquanto agraves outras opccedilotildees disponiacuteveis haja vista que como se costuma constatar a resposta individual nemsempre corresponde agravequela epidemiologicamente esperada

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comerciais especiacuteficas substituiacuteveis por equivalentes terapecircuticos disponiacuteveis no SUS24

Outro aspecto a ser sopesado eacute o modo e o conteuacutedo como feitos os pedidos na medida emque a proteccedilatildeo ao direito agrave sauacutede de um deve considerar a existecircncia de outros envolvidos

na alocaccedilatildeo de recursos diante da escassez real Exemplo disso satildeo os pedidos de vagaou de prioridade em filas de transplantes que necessariamente envolvem o cotejo comoutros afetados que natildeo satildeo parte no processo Natildeo raro se tem notiacutecia de comandos deprisatildeo a gestores hospitalares que tecircm todos os seus leitos ocupados por natildeo disporem devagas Inegaacutevel a falha estatal na espeacutecie mas ela natildeo pode ser resolvida com o comandoainda que indireto de retirada de pacientes que ainda necessitem do leito e cuidados paraalocaccedilatildeo de outro dotado de comando judicial Opccedilatildeo nesse caso eacute o pedido subsidiaacuteriode alocaccedilatildeo em unidades privadas agraves expensas do Estado natildeo por mera opccedilatildeo do enfermomas se natildeo houver leitos disponiacuteveis nas unidades puacuteblicas

Do ponto de vista estatal eacute mister o ajuste constante das poliacuteticas puacuteblicas de sortea mantecirc-las condizentes com as carecircncias da comunidade e atualizadas dentro dasmargens de efetividade terapecircutica a fim de se tentar com isso minorar a necessidade deintervenccedilotildees judiciais suplementares na aacuterea aleacutem de favorecer o proacuteprio funcionamentoadequado do Sistema em conformidade com seus princiacutepios gestores e com as previsotildeese garantias constitucionais sem acarretar a falecircncia do Sistema nem converter o direitouniversal agrave sauacutede em mera retoacuterica demagoacutegica

Nesse contexto a atuaccedilatildeo e participaccedilatildeo equilibrada da Defensoria junto a oacutergatildeos puacuteblicose conselhos interdisciplinares pode ser de grande valia para uma maior eficaacutecia na soluccedilatildeo

24 Em palestra proferida do II Foacuterum Brasileiro sobre Assistecircncia Farmacecircutica e Farmacoeconomia ocorridoem setembro de 2014 em Salvador-Bahia com a presenccedila de gestores puacuteblicos membros do JudiciaacuterioMinisteacuterio Puacuteblico Defensoria Puacuteblica e Advogados Puacuteblicos a representante paulista do CONASS(Conselho Nacional dos Secretaacuterios de Sauacutede) apresentou demonstrativo de pedidos em demandas judiciaissanitaacuterias contra o Estado e o Municiacutepio de Satildeo Paulo em que incluiacutedos itens como ldquoleite de cabra frescordquondash o qual resultou descumprido por absoluta ausecircncia de resposta agrave licitaccedilatildeo simplificada para localizar

detentores de cabras na cidade de Satildeo Paulo Nessa ocasiatildeo tambeacutem mostrou a palestrante estudo feitoquanto agraves 41000 accedilotildees judiciais em sauacutede atendidas por aqueles entes naquele ano tendo-se verificado quecerca de 70 delas se pautavam em prescriccedilotildees particulares 93 envolviam medicamentos extraordinaacuteriosao SUS sendo que aproximadamente 5 envolviam produtos importados sem registro na ANVISA 50envolviam itens de produtores exclusivos e cerca de 25 marcas especiacuteficas mesmo para itens simples comofraldas descartaacuteveis A franca maioria dos pedidos natildeo tivera solicitaccedilatildeo administrativa preacutevia sabendo oEstado do pleito jaacute em sede de antecipaccedilatildeo de tutela com prazo estrito para o fornecimento ainda que comfundamentaccedilatildeo cliacutenica escassa inclusive quanto agrave premecircncia do pedido (SIQUEIRA Paula Sue Facundo deDireito Sanitaacuterio a interface entre Judiciaacuterio e Sauacutede na utilizaccedilatildeo dos PDC II FOacuteRUM BRASILEIROSOBRE ASSISEcircNCIA FARMACEcircUICA E FARMACOECONOMIA Salvador 2014 Mesa Redonda)

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180 DEFENSORIA PUacuteBLICA DA UNIAtildeO Escola Superior

administrativa das questotildees reduzindo-se o quantitativo de demandas judiciais na espeacuteciee democratizando o acesso agrave sauacutede mesmo agravequeles que natildeo chegam agrave Defensoria Nesseuacuteltimo aspecto tambeacutem a atuaccedilatildeo mediante Accedilatildeo Civil Puacuteblica visando agrave atualizaccedilatildeodas listas de fornecimento ou denunciando carecircncias e esperas irrazoaacuteveis por exemplo

parece recurso de relevante monta para uma melhor prestaccedilatildeo no setor

Possibilidade de uma maior funcionalidade administrativa tambeacutem pode ser tentadamediante atuaccedilatildeo de profissional25 direcionado agrave aacuterea das crescentes demandas em sauacutedenas unidades defensoriais de sorte a direcionar melhor a instruccedilatildeo dos pedidos jaacute seorientando o tipo de relatoacuterio e informaccedilotildees necessaacuterios aleacutem de empreender contatodireto com os oacutergatildeos puacuteblicos de regulaccedilatildeo em sauacutede estreitando relaccedilotildees com a Secretariade Sauacutede do Estado e seus oacutergatildeos a exemplo da Central de Regulaccedilatildeo de Vagas

Propotildee-se com isso ampliar o quantitativo de resoluccedilotildees administrativas mais ceacutelerese menos custosas reservando a necessidade de intervenccedilotildees juriacutedicas agraves situaccedilotildees emque havendo a previsatildeo do fornecimento natildeo se consegue obtecirc-lo por maacute prestaccedilatildeoadministrativa ndash o que demonstrado por melhor instruccedilatildeo inicial sugere levar amelhores iacutendices de sucesso jaacute em sede antecipatoacuteria ndash ou nas situaccedilotildees de recursos natildeoincluiacutedos no rol de fornecimento do SUS (em que pese o limitante dos artigos 2ordm e 19da Lei 124012011) Nesse caso uacuteltimo jaacute se busque tambeacutem instruir o pedido com osdemonstrativos da eficaacutecia seguranccedila e indicaccedilatildeo da medida reclamada bem assim de

ausecircncia de resposta agraves drogas rotineiramente disponibilizadas ou indicadas nos PCDnos termos inclusive do quanto preconizado em reiterados Enunciados e Recomendaccedilotildeesdo CNJ (4 11 14 15 16 31) e precedentes jurisprudenciais relevantes como a SA175 de relatoria do Min Gilmar Mendes sobre a mateacuteria

O que se vislumbra de negativo em tal proposta eacute que eventual reduccedilatildeo da judicializaccedilatildeofaccedila supor uma maior eficiecircncia na prestaccedilatildeo estatal em sauacutede o que nem semprecorresponde agrave verdade obtendo-se o ecircxito em casos individuais atraveacutes da persistecircnciaempedernida do oacutergatildeo defensorial ateacute que a proacutexima situaccedilatildeo se apresente Como aspecto

25 entativa semelhante tem sido implementada ao longo do uacuteltimo ano na unidade baiana daDefensoria Puacuteblica da Uniatildeo por iniciativa da chefia que tambeacutem titulariza o ofiacutecio de tutelacoletiva mediante o destacamento de Assistente Social com experiecircncia na conduccedilatildeo de demandasem sauacutede e com o intuito de melhorar a assistecircncia em tais demandas ante o crescimentoexponencial de seu nuacutemero no quinquecircnio antecedente Os resultados tecircm-se mostrado prima facie positivos com aparente aumento do nuacutemero de deslindes extrajudiciais e maior quantitativode antecipaccedilotildees de tutela obtidas nas accedilotildees propostas embora ainda sem dados coligidos esistematizados a respeito

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181R Defensoria Puacutebl Uniatildeo Brasiacutelia DF n 8 p 1-356 jandez 2015

positivo por oacutebvio todas as vantagens da resoluccedilatildeo administrativa

Outro recurso a ser considerado como dito como opccedilatildeo agraves muacuteltiplas accedilotildees individuaissatildeo as accedilotildees de natureza coletiva visando agrave efetiva disponibilizaccedilatildeo de procedimentos

oferecidos formalmente mas cuja demora na prestaccedilatildeo torna na praacutetica insustentaacutevela espera ais accedilotildees sob o ponto de vista pragmaacutetico todavia nem sempre tecircm comoobter resultados concretos imediatos mas frutos de uma atuaccedilatildeo combativa criacuteticae politicamente atuante satildeo relevante termocircmetro acerca do modo como estatildeo sendogeridos os recursos em sauacutede advertindo para a necessidade de se dar concretude ao direitoconstitucionalmente reconhecido incentivando da maneira mais pertinente o sistemade checks and balances reservando-se as accedilotildees individuais para situaccedilotildees especiacuteficas denecessidade incontornaacutevel e sem perspectiva de resoluccedilatildeo natildeo litigiosa

Por fim sempre cabiacutevel lembrar que o momento da urgecircncia do plantatildeo do riscoiminente de vida eacute sempre o pior momento para avaliar o que fazer culminando-seem accedilotildees accedilodadas por vezes mal instruiacutedas natildeo raro em duplicidade nas instacircnciasestadual e federal com riscos para o paciente ou de desperdiacutecio de recursos puacuteblicos ouainda de descreacutedito para a instituiccedilatildeo Importante assim discutirem-se as abordagenspossiacuteveis criando-se orientaccedilotildees de conduta que de antematildeo auxiliem na organizaccedilatildeo dopensamento e na escolha das vias cabiacuteveis para ajudar o requerente ndash vulnerado quer pelahipossuficiecircncia econocircmica quer pela enfermidade ou na maioria das vezes por ambas

ndash da forma mais promissora e adequada possiacutevel

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Natildeo haacute por oacutebvio respostas faacuteceis na mateacuteria O objetivo do texto foi sobretudo chamar

atenccedilatildeo para aspectos nem sempre vistos na lida cotidiana do Defensor imbuiacutedo da visatildeodo assistido e suas anguacutestias premido pelo tempo sem que tenha por vezes sequercondiccedilatildeo de distanciar-se para um olhar mais imparcial

odavia tais distanciamento e compreensatildeo mostram-se necessaacuterios agrave instituiccedilatildeo afim de redirecionar a busca a mecanismos alternativos para o impasse da sauacutede comodireito simultaneamente individual e social sujeito agraves premecircncias pessoais mas tambeacutem

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182 DEFENSORIA PUacuteBLICA DA UNIAtildeO Escola Superior

agraves limitaccedilotildees de uma prestaccedilatildeo coletiva a exemplo da proacutepria escassez real (e aiacute misterdistinguir o mero argumento da escassez e da reserva do possiacutevel em contraposiccedilatildeo agravecomprovada inviabilidade de produccedilatildeo ou fornecimento a exemplo do nuacutemero de vagasimediatas em UI de um hospital puacuteblico ou a disponibilidade de oacutergatildeos compatiacuteveis para

transplante) e da inevitabilidade da alocaccedilatildeo de recursos o que natildeo eacute dado a ningueacutemresponsavelmente negar

Apenas a tiacutetulo de pensamento inicial sugerir-se-ia o desenvolvimento de incremento nastentativas de resoluccedilatildeo extrajudicial a exemplo de maior contato com a Administraccedilatildeo ndash aquem tambeacutem interessa a reduccedilatildeo das lides diminuindo gastos a varejo ndash e com oacutergatildeosde prestaccedilatildeo de sauacutede puacuteblica e de orientaccedilatildeo profissional meacutedica com vistas a analisar aeficaacutecia indicaccedilatildeo e seguranccedila de determinados recursos terapecircuticos subsidiando melhoros pedidos e melhorando os iacutendices de deferimento na espeacutecie que lamentavelmente

comeccedilam a declinar talvez movidos pelo perigo da dessensibilizaccedilatildeo do Judiciaacuterio ante aprofusatildeo de pedidos no setor reservando-se a atuaccedilatildeo judicial para situaccedilotildees de insucessoadministrativo reconhecido considerada a premecircncia e a comprovada necessidade ouatuaccedilotildees de iacutendole coletiva de pressatildeo poliacutetica para assegurar a melhor prestaccedilatildeo dodireito constitucional

Satildeo apenas reflexotildees incipientes mas ficam a semente da ideia o desafio que a questatildeorepresenta e o chamado ao compromisso coletivo de desenvolvecirc-las em prol do cidadatildeo

da efetividade constitucional e da atuaccedilatildeo mais consciente precisa e exitosa possiacutevel porparte da Defensoria Puacuteblica na defesa ao direito fundamental agrave sauacutede

REFEREcircNCIAS

AARON Henry SCHWARZ William Te Painful Prescription Rationing HospitalCare Washington Brookins Institution 1984

ALVES Jeovanna Viana et al Induacutestria farmacecircutica poder e subdesenvolvimentoa Bioeacutetica na Investigaccedilatildeo de Novos Medicamentos In Sexto Congresso Mundial deBioeacutetica 2002 Brasiacutelia Sociedade Brasileira de Bioeacutetica Anais 2002 p 152

BERGEL Salvador Dariacuteo Responsabilidad Social y Salud Revista Brasileira de Bioeacutetica Brasiacutelia Sociedade Brasileira de Bioeacutetica v2 n4 p 443-467 2006

CANOILHO J J Gomes Direito Constitucional e eoria da Constituiccedilatildeo 7edCoimbra Almedina [2003]

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COHN Ameacutelia et al A Sauacutede como Direito e como Serviccedilo Satildeo Paulo Cortez 2008

DALLARI Sueli Gandolfi Os Estados Brasileiros e o Direito agrave Sauacutede Satildeo PauloHucitec 1995

DRANE James PESSINI Leo Medicina e ecnologia Desafios eacuteticos na fronteira doconhecimento humano Satildeo Paulo Loyola 2005

FERRAZ Octaacutevio Luiz Motta VIEIRA Fabiacuteola Sulpino Direito agrave sauacutede recursosescassos e equumlidade os riscos da interpretaccedilatildeo judicial dominante Disponiacutevel emhttpwwwstfjusbrarquivocmsprocessoAudienciaPublicaSaudeanexoDireito_a_Saude_Recursos_escassos_e_equidadepdf Acesso em 25abr2015

FIGUEIREDO Mariana Filchtiner Direito Fundamental agrave Sauacutede Paracircmetros para suaEficaacutecia e Efetividade Porto Alegre Livraria do Advogado 2007

GRACIA Diego Bioeacutetica Cliacutenica e Contexto Social In VII Congresso Brasileiro deBioeacutetica Satildeo Paulo 2007 Conferecircncia

LORENZO Claacuteudio Vulnerabilidade em Sauacutede Puacuteblica implicaccedilotildees para as poliacuteticaspuacuteblicas Revista Brasileira de Bioetica Brasiacutelia Sociedade Brasileira de Bioeacutetica v 2n 3 p 299-312 2006

MELLO Dirceu Raposo de et al Anaacutelise Bioeacutetica do Papel do Estado na Garantia ao Acesso a Medicamentos In GARRAFA Volnei MELLO Dirceu Raposo de PORODora Bioeacutetica e Vigilacircncia Sanitaacuteria Brasiacutelia ANVISA 2007 p 17-18

ORGANIZACcedilAtildeO MUNDIAL DA SAUacuteDE Constitution of the World HealthOrganization Basic Documents Genebra OMS 1946 Disponiacutevel em lthttpwhqlibdocwhointhistofficial_recordsconstitutionpdfgt acessado em 20ago08

PENCHASZADEH Victor Bioeacutetica y medicina social Una confluencia necesariaRevista Brasileira de Bioeacutetica Brasiacutelia Sociedade Brasileira de Bioeacutetica v 3 n 2 p129-149 2007

SALAZAR Andrea Lazzarini GROU Karina Bozola A Defesa da Sauacutede em Juiacutezo

eoria e Praacutetica Satildeo Paulo Verbatim 2009SCHWARZ Germano Direito agrave Sauacutede Efetivaccedilatildeo em uma Perspectiva SistecircmicaPorto Alegre Livraria do Advogado 2001

SIQUEIRA Paula Sue Facundo de Direito Sanitaacuterio a interface entre Judiciaacuterio eSauacutede na utilizaccedilatildeo dos PDC II Foacuterum Brasileiro sobre Assistecircncia Farmacecircutica eFarmacoeconomia Salvador 2014 Mesa Redonda

SRECK Lecircnio Luiz MORAIS Joseacute Luiacutes Bolzan de Ciecircncia poliacutetica e teoria geral do

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estado 2ed Porto Alegre Livraria do Advogado 2000

AVARES Andreacute Ramos Curso de Direito Constitucional 2ed Satildeo Paulo Saraiva 2003

REZZI Humberto Sauacutede Aumento no gasto do governo em remeacutedios especiais eacuteinvestigado Promotores e policiais suspeitam que quadrilhas falsificariam atestados paraobrigar a Uniatildeo a fornecer medicamentos de alto custo a pacientes por via judicial JornalZero Hora Porto Alegre ediccedilatildeo ndeg 15734 disponiacutevel em lthttpzerohoraclicrbscombrzerohorajspdefault2jspuf=1amplocal=1ampsource=a2195502xmlamptemplate=3898dwtampedition=10739ampsection=1003gt acessado em 12out08

VIEIRA Fabiacuteola Sulpino Accedilotildees judiciais e direito agrave sauacutede reflexatildeo sobre a observacircnciaaos princiacutepios do SUS Rev Sauacutede Puacuteblica v 42 n 2 p 365-369 abr 2008

VILLAS-BOcircAS Maria Elisa Alocaccedilatildeo de Recursos em Sauacutede quando a realidade e osdireitos fundamentais se chocam 2009 425 f ese (Doutorado em Direito Puacuteblico) ndashFaculdade de Direito Universidade Federal da Bahia Salvador 2009

______ O Direito agrave Sauacutede no Brasil reflexotildees bioeacuteticas agrave luz do princiacutepio da justiccedilaSatildeo Paulo Loyola 2014

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tecircm problemas para assegurar os cuidados de sauacutede esperados pela populaccedilatildeo situaccedilatildeoque se agrava progressivamente com o envelhecimento da populaccedilatildeo (com suas conhecidasconsequecircncias para o equiliacutebrio previdenciaacuterio) e com o desenvolvimento crescente dosrecursos farmacecircuticos e biotecnoloacutegicos criando patamares cada vez mais elevados de

atenccedilatildeo agrave sauacutede21

Elevou-se a qualidade e a quantidade de vida o que eacute um aspectoinegavelmente positivo mas que gera outrossim consequecircncias de difiacutecil equiliacutebrioeconocircmico

4 DEMANDAS JUDICIAIS EM SAUacuteDE COMO AVANCcedilAR EM DIRECcedilAtildeO

AO QUE PARECE NAtildeO ER SAIacuteDA

Questionado sobre formas de viabilizaccedilatildeo de um sistema puacuteblico de sauacutede dentro dessecontexto ponderou primeiramente Diego Gracia 22 que quem tem receituaacuterio fazalocaccedilatildeo Com efeito Ao fazer uma mera prescriccedilatildeo individual o meacutedico estaacute a indicarali os paracircmetros para o exerciacutecio do direito agrave sauacutede pelo paciente Eacute para alcanccedilar orecurso prescrito que o cidadatildeo vai agrave Justiccedila pleitear ao Estado ou ao plano de sauacutede queo forneccedila Eacute na prescriccedilatildeo que se baseia o Juiz quando antecipa uma tutela mesmo antes

de ouvir a parte adversa na convicccedilatildeo de que haacute urgecircncia no acesso agravequele recurso

Mister assim para racionalizar o uso de medicamentos e recursos no SUS orientar eracionalizar tambeacutem as prescriccedilotildees meacutedicas de modo que sem sacrificar a sauacutede dopaciente tampouco se sacrifique indevidamente o Sistema organizado para protegecirc-lae garanti-la Nesse ponto erige-se a validade de se pensar um trabalho conjunto comorganizaccedilotildees profissionais como uma outra vertente para a maior efetivaccedilatildeo na prestaccedilatildeo

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Nesse sentido cf a obra AARON Henry J SCHWARZ William B Te Painful Prescriptionhellipreferente sobretudo aos Estados Unidos e agrave Inglaterra mas que tambeacutem menciona a situaccedilatildeo de outros paiacutesesdesenvolvidos como a Franccedila e o Canadaacute ambeacutem trata do assunto entre outros PENCHASZADEHVictor Bioeacutetica y medicina social Una confluencia necesaria Revista Brasileira de Bioeacutetica BrasiacuteliaSociedade Brasileira de Bioeacutetica v 3 n 2 p 129-149 2007 p 137 Destaque-se outrossim a recentepolecircmica envolvendo o governo americano do Presidente Barack Obama ante a perspectiva de maiordemocratizaccedilatildeo do acesso agrave sauacutede em confronto com o arcabouccedilo tendencialmente liberal da poliacutetica daqueleEstado no setor ateacute entatildeo22 GRACIA Diego Bioeacutetica Cliacutenica e Contexto Social In VII CONGRESSO BRASILEIRO DEBIOEacuteICA Satildeo Paulo 2007 Conferecircncia

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e cobranccedila do direito agrave sauacutede

A especial atenccedilatildeo aos preceitos da Medicina Baseada em Evidecircncias devidamentefundamentada em relatoacuterios e prescriccedilotildees acurados com a cuidadosa anaacutelise e

demonstraccedilatildeo de eficaacutecia seguranccedila e eficiecircncia23

quer no geral quer no caso concretotambeacutem satildeo de grande valia para a atuaccedilatildeo coerente e racional na aacuterea inclusive a fim deevitar que o assistido seja engolfado por esperanccedilas vatildes de resultados temeraacuterios tentativasheroicas sem perspectivas reais e pesquisas multinacionais em larga escala que exacerbamsua vulnerabilidade e fragilizam a credibilidade dos pedidos judiciais no setor Nessecontexto mister evitar tambeacutem pedidos irrazoaacuteveis natildeo factiacuteveis na praacutetica ou opccedilotildees

23 Embora costumeiramente usadas de forma equivalente as expressotildees eficaacutecia eficiecircncia e efetividade tecircmsignificados teacutecnicos especiacuteficos na seara da MBE Nesse sentido a seguranccedila mencionada implica a anaacutelisede que os danos colaterais possiacutevel sejam inferiores aos benefiacutecios oferecidos com seu uso para o fim a quese propotildee A eficaacutecia consiste na evidecircncia de ter o recurso prescrito comprovado efeito beneacutefico para aquelecaso (ldquofazem o que se propotildeem a fazerrdquo ndash na expressatildeo de VIEIRA Fabiacuteola Sulpino op cit p365-369)evitando-se os chamados ldquoprodutos de complacecircnciardquo ndash sem eficaacutecia comprovada mas prescritos por insistecircnciado paciente ou por pressatildeo do marketing industrial por exemplo ndash bem como os atos aparentemente cliacutenicosmas que se mostram em verdade experimentais visto que natildeo validados de nenhuma forma cientificamente

aceita a qual permita asseveraacute-los como realmente producentes e seguros A efetividade propriamente dita corresponde agrave eficaacutecia e agrave eficiecircncia em condiccedilotildees reais de sorte a evitar desperdiacutecios Eacute dizer que os produtoseleitos ldquofazem o que se propotildeem a fazer quando utilizados pelas pessoas em condiccedilotildees reais e natildeo em gruposhomogecircneos que constituem os grupos de pessoas dos ensaios cliacutenicosrdquo (idem ibidem) Por fim a eficiecircnciaou custo-efetividade envolve a avaliaccedilatildeo da relaccedilatildeo custobenefiacutecio de modo a se constatar a substancialvantagem de dado recurso em relaccedilatildeo a outro observadas a eficaacutecia e a efetividade propriamente ditaSignifica dizer que o produto em questatildeo ldquoentre as alternativas disponiacuteveis faz o que se propotildee a fazer paraas pessoas em condiccedilotildees reais ao menor custordquo (idem ibidem) Embora conceitos mais utilizados no acircmbitoeconocircmico e de macroalocaccedilatildeo de recursos acabam repercutindo na microalocaccedilatildeo individual ao requerermaior comprovaccedilatildeo quando de pedido que natildeo leve em consideraccedilatildeo tais subprinciacutepios Segundo a ANVISAtem-se a efetividade como ldquogarantia de medicamentos eficazes eou efetivos e seguros cuja relaccedilatildeo risco-benefiacutecio seja favoraacutevel e comprovada a partir das melhores evidecircncias cientiacuteficas disponiacuteveis na literatura

e com registro aprovado na Agecircncia Nacional de Vigilacircncia Sanitaacuteria (ANVISA)rdquo e a eficiecircncia como aldquogarantia de medicamentos que proporcionem a melhor resposta terapecircutica aos usuaacuterios com os menorescustos para o SUSrdquo (Lei 124012011 e pela Resoluccedilatildeo 01 do Ministeacuterio da Sauacutede de 17 de janeiro de2012) Eacute fato que considerando os escores da Medicina baseada em evidecircncia alega o Estado de praxe quea experiecircncia do meacutedico prescritor isoladamente e mesmo do perito judicial natildeo teriam niacutevel de sustentaccedilatildeocientiacutefica bastante para subsidiar a concessatildeo de medicaccedilatildeo natildeo padronizada pelo SUS todavia considerandoos requisitos de antecipaccedilatildeo de tutela pode conter se bem fundamentada em estudos outros de indicaccedilatildeoseguranccedila eficaacutecia efetividade e eficiecircncia elementos suficientes de verossimilhanccedila aleacutem de representara realidade daquele indiviacuteduo preocupando-se em registrar inclusive a ausecircncia de resposta ou indicaccedilatildeoquanto agraves outras opccedilotildees disponiacuteveis haja vista que como se costuma constatar a resposta individual nemsempre corresponde agravequela epidemiologicamente esperada

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comerciais especiacuteficas substituiacuteveis por equivalentes terapecircuticos disponiacuteveis no SUS24

Outro aspecto a ser sopesado eacute o modo e o conteuacutedo como feitos os pedidos na medida emque a proteccedilatildeo ao direito agrave sauacutede de um deve considerar a existecircncia de outros envolvidos

na alocaccedilatildeo de recursos diante da escassez real Exemplo disso satildeo os pedidos de vagaou de prioridade em filas de transplantes que necessariamente envolvem o cotejo comoutros afetados que natildeo satildeo parte no processo Natildeo raro se tem notiacutecia de comandos deprisatildeo a gestores hospitalares que tecircm todos os seus leitos ocupados por natildeo disporem devagas Inegaacutevel a falha estatal na espeacutecie mas ela natildeo pode ser resolvida com o comandoainda que indireto de retirada de pacientes que ainda necessitem do leito e cuidados paraalocaccedilatildeo de outro dotado de comando judicial Opccedilatildeo nesse caso eacute o pedido subsidiaacuteriode alocaccedilatildeo em unidades privadas agraves expensas do Estado natildeo por mera opccedilatildeo do enfermomas se natildeo houver leitos disponiacuteveis nas unidades puacuteblicas

Do ponto de vista estatal eacute mister o ajuste constante das poliacuteticas puacuteblicas de sortea mantecirc-las condizentes com as carecircncias da comunidade e atualizadas dentro dasmargens de efetividade terapecircutica a fim de se tentar com isso minorar a necessidade deintervenccedilotildees judiciais suplementares na aacuterea aleacutem de favorecer o proacuteprio funcionamentoadequado do Sistema em conformidade com seus princiacutepios gestores e com as previsotildeese garantias constitucionais sem acarretar a falecircncia do Sistema nem converter o direitouniversal agrave sauacutede em mera retoacuterica demagoacutegica

Nesse contexto a atuaccedilatildeo e participaccedilatildeo equilibrada da Defensoria junto a oacutergatildeos puacuteblicose conselhos interdisciplinares pode ser de grande valia para uma maior eficaacutecia na soluccedilatildeo

24 Em palestra proferida do II Foacuterum Brasileiro sobre Assistecircncia Farmacecircutica e Farmacoeconomia ocorridoem setembro de 2014 em Salvador-Bahia com a presenccedila de gestores puacuteblicos membros do JudiciaacuterioMinisteacuterio Puacuteblico Defensoria Puacuteblica e Advogados Puacuteblicos a representante paulista do CONASS(Conselho Nacional dos Secretaacuterios de Sauacutede) apresentou demonstrativo de pedidos em demandas judiciaissanitaacuterias contra o Estado e o Municiacutepio de Satildeo Paulo em que incluiacutedos itens como ldquoleite de cabra frescordquondash o qual resultou descumprido por absoluta ausecircncia de resposta agrave licitaccedilatildeo simplificada para localizar

detentores de cabras na cidade de Satildeo Paulo Nessa ocasiatildeo tambeacutem mostrou a palestrante estudo feitoquanto agraves 41000 accedilotildees judiciais em sauacutede atendidas por aqueles entes naquele ano tendo-se verificado quecerca de 70 delas se pautavam em prescriccedilotildees particulares 93 envolviam medicamentos extraordinaacuteriosao SUS sendo que aproximadamente 5 envolviam produtos importados sem registro na ANVISA 50envolviam itens de produtores exclusivos e cerca de 25 marcas especiacuteficas mesmo para itens simples comofraldas descartaacuteveis A franca maioria dos pedidos natildeo tivera solicitaccedilatildeo administrativa preacutevia sabendo oEstado do pleito jaacute em sede de antecipaccedilatildeo de tutela com prazo estrito para o fornecimento ainda que comfundamentaccedilatildeo cliacutenica escassa inclusive quanto agrave premecircncia do pedido (SIQUEIRA Paula Sue Facundo deDireito Sanitaacuterio a interface entre Judiciaacuterio e Sauacutede na utilizaccedilatildeo dos PDC II FOacuteRUM BRASILEIROSOBRE ASSISEcircNCIA FARMACEcircUICA E FARMACOECONOMIA Salvador 2014 Mesa Redonda)

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180 DEFENSORIA PUacuteBLICA DA UNIAtildeO Escola Superior

administrativa das questotildees reduzindo-se o quantitativo de demandas judiciais na espeacuteciee democratizando o acesso agrave sauacutede mesmo agravequeles que natildeo chegam agrave Defensoria Nesseuacuteltimo aspecto tambeacutem a atuaccedilatildeo mediante Accedilatildeo Civil Puacuteblica visando agrave atualizaccedilatildeodas listas de fornecimento ou denunciando carecircncias e esperas irrazoaacuteveis por exemplo

parece recurso de relevante monta para uma melhor prestaccedilatildeo no setor

Possibilidade de uma maior funcionalidade administrativa tambeacutem pode ser tentadamediante atuaccedilatildeo de profissional25 direcionado agrave aacuterea das crescentes demandas em sauacutedenas unidades defensoriais de sorte a direcionar melhor a instruccedilatildeo dos pedidos jaacute seorientando o tipo de relatoacuterio e informaccedilotildees necessaacuterios aleacutem de empreender contatodireto com os oacutergatildeos puacuteblicos de regulaccedilatildeo em sauacutede estreitando relaccedilotildees com a Secretariade Sauacutede do Estado e seus oacutergatildeos a exemplo da Central de Regulaccedilatildeo de Vagas

Propotildee-se com isso ampliar o quantitativo de resoluccedilotildees administrativas mais ceacutelerese menos custosas reservando a necessidade de intervenccedilotildees juriacutedicas agraves situaccedilotildees emque havendo a previsatildeo do fornecimento natildeo se consegue obtecirc-lo por maacute prestaccedilatildeoadministrativa ndash o que demonstrado por melhor instruccedilatildeo inicial sugere levar amelhores iacutendices de sucesso jaacute em sede antecipatoacuteria ndash ou nas situaccedilotildees de recursos natildeoincluiacutedos no rol de fornecimento do SUS (em que pese o limitante dos artigos 2ordm e 19da Lei 124012011) Nesse caso uacuteltimo jaacute se busque tambeacutem instruir o pedido com osdemonstrativos da eficaacutecia seguranccedila e indicaccedilatildeo da medida reclamada bem assim de

ausecircncia de resposta agraves drogas rotineiramente disponibilizadas ou indicadas nos PCDnos termos inclusive do quanto preconizado em reiterados Enunciados e Recomendaccedilotildeesdo CNJ (4 11 14 15 16 31) e precedentes jurisprudenciais relevantes como a SA175 de relatoria do Min Gilmar Mendes sobre a mateacuteria

O que se vislumbra de negativo em tal proposta eacute que eventual reduccedilatildeo da judicializaccedilatildeofaccedila supor uma maior eficiecircncia na prestaccedilatildeo estatal em sauacutede o que nem semprecorresponde agrave verdade obtendo-se o ecircxito em casos individuais atraveacutes da persistecircnciaempedernida do oacutergatildeo defensorial ateacute que a proacutexima situaccedilatildeo se apresente Como aspecto

25 entativa semelhante tem sido implementada ao longo do uacuteltimo ano na unidade baiana daDefensoria Puacuteblica da Uniatildeo por iniciativa da chefia que tambeacutem titulariza o ofiacutecio de tutelacoletiva mediante o destacamento de Assistente Social com experiecircncia na conduccedilatildeo de demandasem sauacutede e com o intuito de melhorar a assistecircncia em tais demandas ante o crescimentoexponencial de seu nuacutemero no quinquecircnio antecedente Os resultados tecircm-se mostrado prima facie positivos com aparente aumento do nuacutemero de deslindes extrajudiciais e maior quantitativode antecipaccedilotildees de tutela obtidas nas accedilotildees propostas embora ainda sem dados coligidos esistematizados a respeito

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181R Defensoria Puacutebl Uniatildeo Brasiacutelia DF n 8 p 1-356 jandez 2015

positivo por oacutebvio todas as vantagens da resoluccedilatildeo administrativa

Outro recurso a ser considerado como dito como opccedilatildeo agraves muacuteltiplas accedilotildees individuaissatildeo as accedilotildees de natureza coletiva visando agrave efetiva disponibilizaccedilatildeo de procedimentos

oferecidos formalmente mas cuja demora na prestaccedilatildeo torna na praacutetica insustentaacutevela espera ais accedilotildees sob o ponto de vista pragmaacutetico todavia nem sempre tecircm comoobter resultados concretos imediatos mas frutos de uma atuaccedilatildeo combativa criacuteticae politicamente atuante satildeo relevante termocircmetro acerca do modo como estatildeo sendogeridos os recursos em sauacutede advertindo para a necessidade de se dar concretude ao direitoconstitucionalmente reconhecido incentivando da maneira mais pertinente o sistemade checks and balances reservando-se as accedilotildees individuais para situaccedilotildees especiacuteficas denecessidade incontornaacutevel e sem perspectiva de resoluccedilatildeo natildeo litigiosa

Por fim sempre cabiacutevel lembrar que o momento da urgecircncia do plantatildeo do riscoiminente de vida eacute sempre o pior momento para avaliar o que fazer culminando-seem accedilotildees accedilodadas por vezes mal instruiacutedas natildeo raro em duplicidade nas instacircnciasestadual e federal com riscos para o paciente ou de desperdiacutecio de recursos puacuteblicos ouainda de descreacutedito para a instituiccedilatildeo Importante assim discutirem-se as abordagenspossiacuteveis criando-se orientaccedilotildees de conduta que de antematildeo auxiliem na organizaccedilatildeo dopensamento e na escolha das vias cabiacuteveis para ajudar o requerente ndash vulnerado quer pelahipossuficiecircncia econocircmica quer pela enfermidade ou na maioria das vezes por ambas

ndash da forma mais promissora e adequada possiacutevel

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Natildeo haacute por oacutebvio respostas faacuteceis na mateacuteria O objetivo do texto foi sobretudo chamar

atenccedilatildeo para aspectos nem sempre vistos na lida cotidiana do Defensor imbuiacutedo da visatildeodo assistido e suas anguacutestias premido pelo tempo sem que tenha por vezes sequercondiccedilatildeo de distanciar-se para um olhar mais imparcial

odavia tais distanciamento e compreensatildeo mostram-se necessaacuterios agrave instituiccedilatildeo afim de redirecionar a busca a mecanismos alternativos para o impasse da sauacutede comodireito simultaneamente individual e social sujeito agraves premecircncias pessoais mas tambeacutem

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182 DEFENSORIA PUacuteBLICA DA UNIAtildeO Escola Superior

agraves limitaccedilotildees de uma prestaccedilatildeo coletiva a exemplo da proacutepria escassez real (e aiacute misterdistinguir o mero argumento da escassez e da reserva do possiacutevel em contraposiccedilatildeo agravecomprovada inviabilidade de produccedilatildeo ou fornecimento a exemplo do nuacutemero de vagasimediatas em UI de um hospital puacuteblico ou a disponibilidade de oacutergatildeos compatiacuteveis para

transplante) e da inevitabilidade da alocaccedilatildeo de recursos o que natildeo eacute dado a ningueacutemresponsavelmente negar

Apenas a tiacutetulo de pensamento inicial sugerir-se-ia o desenvolvimento de incremento nastentativas de resoluccedilatildeo extrajudicial a exemplo de maior contato com a Administraccedilatildeo ndash aquem tambeacutem interessa a reduccedilatildeo das lides diminuindo gastos a varejo ndash e com oacutergatildeosde prestaccedilatildeo de sauacutede puacuteblica e de orientaccedilatildeo profissional meacutedica com vistas a analisar aeficaacutecia indicaccedilatildeo e seguranccedila de determinados recursos terapecircuticos subsidiando melhoros pedidos e melhorando os iacutendices de deferimento na espeacutecie que lamentavelmente

comeccedilam a declinar talvez movidos pelo perigo da dessensibilizaccedilatildeo do Judiciaacuterio ante aprofusatildeo de pedidos no setor reservando-se a atuaccedilatildeo judicial para situaccedilotildees de insucessoadministrativo reconhecido considerada a premecircncia e a comprovada necessidade ouatuaccedilotildees de iacutendole coletiva de pressatildeo poliacutetica para assegurar a melhor prestaccedilatildeo dodireito constitucional

Satildeo apenas reflexotildees incipientes mas ficam a semente da ideia o desafio que a questatildeorepresenta e o chamado ao compromisso coletivo de desenvolvecirc-las em prol do cidadatildeo

da efetividade constitucional e da atuaccedilatildeo mais consciente precisa e exitosa possiacutevel porparte da Defensoria Puacuteblica na defesa ao direito fundamental agrave sauacutede

REFEREcircNCIAS

AARON Henry SCHWARZ William Te Painful Prescription Rationing HospitalCare Washington Brookins Institution 1984

ALVES Jeovanna Viana et al Induacutestria farmacecircutica poder e subdesenvolvimentoa Bioeacutetica na Investigaccedilatildeo de Novos Medicamentos In Sexto Congresso Mundial deBioeacutetica 2002 Brasiacutelia Sociedade Brasileira de Bioeacutetica Anais 2002 p 152

BERGEL Salvador Dariacuteo Responsabilidad Social y Salud Revista Brasileira de Bioeacutetica Brasiacutelia Sociedade Brasileira de Bioeacutetica v2 n4 p 443-467 2006

CANOILHO J J Gomes Direito Constitucional e eoria da Constituiccedilatildeo 7edCoimbra Almedina [2003]

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183R Defensoria Puacutebl Uniatildeo Brasiacutelia DF n 8 p 1-356 jandez 2015

COHN Ameacutelia et al A Sauacutede como Direito e como Serviccedilo Satildeo Paulo Cortez 2008

DALLARI Sueli Gandolfi Os Estados Brasileiros e o Direito agrave Sauacutede Satildeo PauloHucitec 1995

DRANE James PESSINI Leo Medicina e ecnologia Desafios eacuteticos na fronteira doconhecimento humano Satildeo Paulo Loyola 2005

FERRAZ Octaacutevio Luiz Motta VIEIRA Fabiacuteola Sulpino Direito agrave sauacutede recursosescassos e equumlidade os riscos da interpretaccedilatildeo judicial dominante Disponiacutevel emhttpwwwstfjusbrarquivocmsprocessoAudienciaPublicaSaudeanexoDireito_a_Saude_Recursos_escassos_e_equidadepdf Acesso em 25abr2015

FIGUEIREDO Mariana Filchtiner Direito Fundamental agrave Sauacutede Paracircmetros para suaEficaacutecia e Efetividade Porto Alegre Livraria do Advogado 2007

GRACIA Diego Bioeacutetica Cliacutenica e Contexto Social In VII Congresso Brasileiro deBioeacutetica Satildeo Paulo 2007 Conferecircncia

LORENZO Claacuteudio Vulnerabilidade em Sauacutede Puacuteblica implicaccedilotildees para as poliacuteticaspuacuteblicas Revista Brasileira de Bioetica Brasiacutelia Sociedade Brasileira de Bioeacutetica v 2n 3 p 299-312 2006

MELLO Dirceu Raposo de et al Anaacutelise Bioeacutetica do Papel do Estado na Garantia ao Acesso a Medicamentos In GARRAFA Volnei MELLO Dirceu Raposo de PORODora Bioeacutetica e Vigilacircncia Sanitaacuteria Brasiacutelia ANVISA 2007 p 17-18

ORGANIZACcedilAtildeO MUNDIAL DA SAUacuteDE Constitution of the World HealthOrganization Basic Documents Genebra OMS 1946 Disponiacutevel em lthttpwhqlibdocwhointhistofficial_recordsconstitutionpdfgt acessado em 20ago08

PENCHASZADEH Victor Bioeacutetica y medicina social Una confluencia necesariaRevista Brasileira de Bioeacutetica Brasiacutelia Sociedade Brasileira de Bioeacutetica v 3 n 2 p129-149 2007

SALAZAR Andrea Lazzarini GROU Karina Bozola A Defesa da Sauacutede em Juiacutezo

eoria e Praacutetica Satildeo Paulo Verbatim 2009SCHWARZ Germano Direito agrave Sauacutede Efetivaccedilatildeo em uma Perspectiva SistecircmicaPorto Alegre Livraria do Advogado 2001

SIQUEIRA Paula Sue Facundo de Direito Sanitaacuterio a interface entre Judiciaacuterio eSauacutede na utilizaccedilatildeo dos PDC II Foacuterum Brasileiro sobre Assistecircncia Farmacecircutica eFarmacoeconomia Salvador 2014 Mesa Redonda

SRECK Lecircnio Luiz MORAIS Joseacute Luiacutes Bolzan de Ciecircncia poliacutetica e teoria geral do

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estado 2ed Porto Alegre Livraria do Advogado 2000

AVARES Andreacute Ramos Curso de Direito Constitucional 2ed Satildeo Paulo Saraiva 2003

REZZI Humberto Sauacutede Aumento no gasto do governo em remeacutedios especiais eacuteinvestigado Promotores e policiais suspeitam que quadrilhas falsificariam atestados paraobrigar a Uniatildeo a fornecer medicamentos de alto custo a pacientes por via judicial JornalZero Hora Porto Alegre ediccedilatildeo ndeg 15734 disponiacutevel em lthttpzerohoraclicrbscombrzerohorajspdefault2jspuf=1amplocal=1ampsource=a2195502xmlamptemplate=3898dwtampedition=10739ampsection=1003gt acessado em 12out08

VIEIRA Fabiacuteola Sulpino Accedilotildees judiciais e direito agrave sauacutede reflexatildeo sobre a observacircnciaaos princiacutepios do SUS Rev Sauacutede Puacuteblica v 42 n 2 p 365-369 abr 2008

VILLAS-BOcircAS Maria Elisa Alocaccedilatildeo de Recursos em Sauacutede quando a realidade e osdireitos fundamentais se chocam 2009 425 f ese (Doutorado em Direito Puacuteblico) ndashFaculdade de Direito Universidade Federal da Bahia Salvador 2009

______ O Direito agrave Sauacutede no Brasil reflexotildees bioeacuteticas agrave luz do princiacutepio da justiccedilaSatildeo Paulo Loyola 2014

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178 DEFENSORIA PUacuteBLICA DA UNIAtildeO Escola Superior

e cobranccedila do direito agrave sauacutede

A especial atenccedilatildeo aos preceitos da Medicina Baseada em Evidecircncias devidamentefundamentada em relatoacuterios e prescriccedilotildees acurados com a cuidadosa anaacutelise e

demonstraccedilatildeo de eficaacutecia seguranccedila e eficiecircncia23

quer no geral quer no caso concretotambeacutem satildeo de grande valia para a atuaccedilatildeo coerente e racional na aacuterea inclusive a fim deevitar que o assistido seja engolfado por esperanccedilas vatildes de resultados temeraacuterios tentativasheroicas sem perspectivas reais e pesquisas multinacionais em larga escala que exacerbamsua vulnerabilidade e fragilizam a credibilidade dos pedidos judiciais no setor Nessecontexto mister evitar tambeacutem pedidos irrazoaacuteveis natildeo factiacuteveis na praacutetica ou opccedilotildees

23 Embora costumeiramente usadas de forma equivalente as expressotildees eficaacutecia eficiecircncia e efetividade tecircmsignificados teacutecnicos especiacuteficos na seara da MBE Nesse sentido a seguranccedila mencionada implica a anaacutelisede que os danos colaterais possiacutevel sejam inferiores aos benefiacutecios oferecidos com seu uso para o fim a quese propotildee A eficaacutecia consiste na evidecircncia de ter o recurso prescrito comprovado efeito beneacutefico para aquelecaso (ldquofazem o que se propotildeem a fazerrdquo ndash na expressatildeo de VIEIRA Fabiacuteola Sulpino op cit p365-369)evitando-se os chamados ldquoprodutos de complacecircnciardquo ndash sem eficaacutecia comprovada mas prescritos por insistecircnciado paciente ou por pressatildeo do marketing industrial por exemplo ndash bem como os atos aparentemente cliacutenicosmas que se mostram em verdade experimentais visto que natildeo validados de nenhuma forma cientificamente

aceita a qual permita asseveraacute-los como realmente producentes e seguros A efetividade propriamente dita corresponde agrave eficaacutecia e agrave eficiecircncia em condiccedilotildees reais de sorte a evitar desperdiacutecios Eacute dizer que os produtoseleitos ldquofazem o que se propotildeem a fazer quando utilizados pelas pessoas em condiccedilotildees reais e natildeo em gruposhomogecircneos que constituem os grupos de pessoas dos ensaios cliacutenicosrdquo (idem ibidem) Por fim a eficiecircnciaou custo-efetividade envolve a avaliaccedilatildeo da relaccedilatildeo custobenefiacutecio de modo a se constatar a substancialvantagem de dado recurso em relaccedilatildeo a outro observadas a eficaacutecia e a efetividade propriamente ditaSignifica dizer que o produto em questatildeo ldquoentre as alternativas disponiacuteveis faz o que se propotildee a fazer paraas pessoas em condiccedilotildees reais ao menor custordquo (idem ibidem) Embora conceitos mais utilizados no acircmbitoeconocircmico e de macroalocaccedilatildeo de recursos acabam repercutindo na microalocaccedilatildeo individual ao requerermaior comprovaccedilatildeo quando de pedido que natildeo leve em consideraccedilatildeo tais subprinciacutepios Segundo a ANVISAtem-se a efetividade como ldquogarantia de medicamentos eficazes eou efetivos e seguros cuja relaccedilatildeo risco-benefiacutecio seja favoraacutevel e comprovada a partir das melhores evidecircncias cientiacuteficas disponiacuteveis na literatura

e com registro aprovado na Agecircncia Nacional de Vigilacircncia Sanitaacuteria (ANVISA)rdquo e a eficiecircncia como aldquogarantia de medicamentos que proporcionem a melhor resposta terapecircutica aos usuaacuterios com os menorescustos para o SUSrdquo (Lei 124012011 e pela Resoluccedilatildeo 01 do Ministeacuterio da Sauacutede de 17 de janeiro de2012) Eacute fato que considerando os escores da Medicina baseada em evidecircncia alega o Estado de praxe quea experiecircncia do meacutedico prescritor isoladamente e mesmo do perito judicial natildeo teriam niacutevel de sustentaccedilatildeocientiacutefica bastante para subsidiar a concessatildeo de medicaccedilatildeo natildeo padronizada pelo SUS todavia considerandoos requisitos de antecipaccedilatildeo de tutela pode conter se bem fundamentada em estudos outros de indicaccedilatildeoseguranccedila eficaacutecia efetividade e eficiecircncia elementos suficientes de verossimilhanccedila aleacutem de representara realidade daquele indiviacuteduo preocupando-se em registrar inclusive a ausecircncia de resposta ou indicaccedilatildeoquanto agraves outras opccedilotildees disponiacuteveis haja vista que como se costuma constatar a resposta individual nemsempre corresponde agravequela epidemiologicamente esperada

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comerciais especiacuteficas substituiacuteveis por equivalentes terapecircuticos disponiacuteveis no SUS24

Outro aspecto a ser sopesado eacute o modo e o conteuacutedo como feitos os pedidos na medida emque a proteccedilatildeo ao direito agrave sauacutede de um deve considerar a existecircncia de outros envolvidos

na alocaccedilatildeo de recursos diante da escassez real Exemplo disso satildeo os pedidos de vagaou de prioridade em filas de transplantes que necessariamente envolvem o cotejo comoutros afetados que natildeo satildeo parte no processo Natildeo raro se tem notiacutecia de comandos deprisatildeo a gestores hospitalares que tecircm todos os seus leitos ocupados por natildeo disporem devagas Inegaacutevel a falha estatal na espeacutecie mas ela natildeo pode ser resolvida com o comandoainda que indireto de retirada de pacientes que ainda necessitem do leito e cuidados paraalocaccedilatildeo de outro dotado de comando judicial Opccedilatildeo nesse caso eacute o pedido subsidiaacuteriode alocaccedilatildeo em unidades privadas agraves expensas do Estado natildeo por mera opccedilatildeo do enfermomas se natildeo houver leitos disponiacuteveis nas unidades puacuteblicas

Do ponto de vista estatal eacute mister o ajuste constante das poliacuteticas puacuteblicas de sortea mantecirc-las condizentes com as carecircncias da comunidade e atualizadas dentro dasmargens de efetividade terapecircutica a fim de se tentar com isso minorar a necessidade deintervenccedilotildees judiciais suplementares na aacuterea aleacutem de favorecer o proacuteprio funcionamentoadequado do Sistema em conformidade com seus princiacutepios gestores e com as previsotildeese garantias constitucionais sem acarretar a falecircncia do Sistema nem converter o direitouniversal agrave sauacutede em mera retoacuterica demagoacutegica

Nesse contexto a atuaccedilatildeo e participaccedilatildeo equilibrada da Defensoria junto a oacutergatildeos puacuteblicose conselhos interdisciplinares pode ser de grande valia para uma maior eficaacutecia na soluccedilatildeo

24 Em palestra proferida do II Foacuterum Brasileiro sobre Assistecircncia Farmacecircutica e Farmacoeconomia ocorridoem setembro de 2014 em Salvador-Bahia com a presenccedila de gestores puacuteblicos membros do JudiciaacuterioMinisteacuterio Puacuteblico Defensoria Puacuteblica e Advogados Puacuteblicos a representante paulista do CONASS(Conselho Nacional dos Secretaacuterios de Sauacutede) apresentou demonstrativo de pedidos em demandas judiciaissanitaacuterias contra o Estado e o Municiacutepio de Satildeo Paulo em que incluiacutedos itens como ldquoleite de cabra frescordquondash o qual resultou descumprido por absoluta ausecircncia de resposta agrave licitaccedilatildeo simplificada para localizar

detentores de cabras na cidade de Satildeo Paulo Nessa ocasiatildeo tambeacutem mostrou a palestrante estudo feitoquanto agraves 41000 accedilotildees judiciais em sauacutede atendidas por aqueles entes naquele ano tendo-se verificado quecerca de 70 delas se pautavam em prescriccedilotildees particulares 93 envolviam medicamentos extraordinaacuteriosao SUS sendo que aproximadamente 5 envolviam produtos importados sem registro na ANVISA 50envolviam itens de produtores exclusivos e cerca de 25 marcas especiacuteficas mesmo para itens simples comofraldas descartaacuteveis A franca maioria dos pedidos natildeo tivera solicitaccedilatildeo administrativa preacutevia sabendo oEstado do pleito jaacute em sede de antecipaccedilatildeo de tutela com prazo estrito para o fornecimento ainda que comfundamentaccedilatildeo cliacutenica escassa inclusive quanto agrave premecircncia do pedido (SIQUEIRA Paula Sue Facundo deDireito Sanitaacuterio a interface entre Judiciaacuterio e Sauacutede na utilizaccedilatildeo dos PDC II FOacuteRUM BRASILEIROSOBRE ASSISEcircNCIA FARMACEcircUICA E FARMACOECONOMIA Salvador 2014 Mesa Redonda)

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180 DEFENSORIA PUacuteBLICA DA UNIAtildeO Escola Superior

administrativa das questotildees reduzindo-se o quantitativo de demandas judiciais na espeacuteciee democratizando o acesso agrave sauacutede mesmo agravequeles que natildeo chegam agrave Defensoria Nesseuacuteltimo aspecto tambeacutem a atuaccedilatildeo mediante Accedilatildeo Civil Puacuteblica visando agrave atualizaccedilatildeodas listas de fornecimento ou denunciando carecircncias e esperas irrazoaacuteveis por exemplo

parece recurso de relevante monta para uma melhor prestaccedilatildeo no setor

Possibilidade de uma maior funcionalidade administrativa tambeacutem pode ser tentadamediante atuaccedilatildeo de profissional25 direcionado agrave aacuterea das crescentes demandas em sauacutedenas unidades defensoriais de sorte a direcionar melhor a instruccedilatildeo dos pedidos jaacute seorientando o tipo de relatoacuterio e informaccedilotildees necessaacuterios aleacutem de empreender contatodireto com os oacutergatildeos puacuteblicos de regulaccedilatildeo em sauacutede estreitando relaccedilotildees com a Secretariade Sauacutede do Estado e seus oacutergatildeos a exemplo da Central de Regulaccedilatildeo de Vagas

Propotildee-se com isso ampliar o quantitativo de resoluccedilotildees administrativas mais ceacutelerese menos custosas reservando a necessidade de intervenccedilotildees juriacutedicas agraves situaccedilotildees emque havendo a previsatildeo do fornecimento natildeo se consegue obtecirc-lo por maacute prestaccedilatildeoadministrativa ndash o que demonstrado por melhor instruccedilatildeo inicial sugere levar amelhores iacutendices de sucesso jaacute em sede antecipatoacuteria ndash ou nas situaccedilotildees de recursos natildeoincluiacutedos no rol de fornecimento do SUS (em que pese o limitante dos artigos 2ordm e 19da Lei 124012011) Nesse caso uacuteltimo jaacute se busque tambeacutem instruir o pedido com osdemonstrativos da eficaacutecia seguranccedila e indicaccedilatildeo da medida reclamada bem assim de

ausecircncia de resposta agraves drogas rotineiramente disponibilizadas ou indicadas nos PCDnos termos inclusive do quanto preconizado em reiterados Enunciados e Recomendaccedilotildeesdo CNJ (4 11 14 15 16 31) e precedentes jurisprudenciais relevantes como a SA175 de relatoria do Min Gilmar Mendes sobre a mateacuteria

O que se vislumbra de negativo em tal proposta eacute que eventual reduccedilatildeo da judicializaccedilatildeofaccedila supor uma maior eficiecircncia na prestaccedilatildeo estatal em sauacutede o que nem semprecorresponde agrave verdade obtendo-se o ecircxito em casos individuais atraveacutes da persistecircnciaempedernida do oacutergatildeo defensorial ateacute que a proacutexima situaccedilatildeo se apresente Como aspecto

25 entativa semelhante tem sido implementada ao longo do uacuteltimo ano na unidade baiana daDefensoria Puacuteblica da Uniatildeo por iniciativa da chefia que tambeacutem titulariza o ofiacutecio de tutelacoletiva mediante o destacamento de Assistente Social com experiecircncia na conduccedilatildeo de demandasem sauacutede e com o intuito de melhorar a assistecircncia em tais demandas ante o crescimentoexponencial de seu nuacutemero no quinquecircnio antecedente Os resultados tecircm-se mostrado prima facie positivos com aparente aumento do nuacutemero de deslindes extrajudiciais e maior quantitativode antecipaccedilotildees de tutela obtidas nas accedilotildees propostas embora ainda sem dados coligidos esistematizados a respeito

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181R Defensoria Puacutebl Uniatildeo Brasiacutelia DF n 8 p 1-356 jandez 2015

positivo por oacutebvio todas as vantagens da resoluccedilatildeo administrativa

Outro recurso a ser considerado como dito como opccedilatildeo agraves muacuteltiplas accedilotildees individuaissatildeo as accedilotildees de natureza coletiva visando agrave efetiva disponibilizaccedilatildeo de procedimentos

oferecidos formalmente mas cuja demora na prestaccedilatildeo torna na praacutetica insustentaacutevela espera ais accedilotildees sob o ponto de vista pragmaacutetico todavia nem sempre tecircm comoobter resultados concretos imediatos mas frutos de uma atuaccedilatildeo combativa criacuteticae politicamente atuante satildeo relevante termocircmetro acerca do modo como estatildeo sendogeridos os recursos em sauacutede advertindo para a necessidade de se dar concretude ao direitoconstitucionalmente reconhecido incentivando da maneira mais pertinente o sistemade checks and balances reservando-se as accedilotildees individuais para situaccedilotildees especiacuteficas denecessidade incontornaacutevel e sem perspectiva de resoluccedilatildeo natildeo litigiosa

Por fim sempre cabiacutevel lembrar que o momento da urgecircncia do plantatildeo do riscoiminente de vida eacute sempre o pior momento para avaliar o que fazer culminando-seem accedilotildees accedilodadas por vezes mal instruiacutedas natildeo raro em duplicidade nas instacircnciasestadual e federal com riscos para o paciente ou de desperdiacutecio de recursos puacuteblicos ouainda de descreacutedito para a instituiccedilatildeo Importante assim discutirem-se as abordagenspossiacuteveis criando-se orientaccedilotildees de conduta que de antematildeo auxiliem na organizaccedilatildeo dopensamento e na escolha das vias cabiacuteveis para ajudar o requerente ndash vulnerado quer pelahipossuficiecircncia econocircmica quer pela enfermidade ou na maioria das vezes por ambas

ndash da forma mais promissora e adequada possiacutevel

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Natildeo haacute por oacutebvio respostas faacuteceis na mateacuteria O objetivo do texto foi sobretudo chamar

atenccedilatildeo para aspectos nem sempre vistos na lida cotidiana do Defensor imbuiacutedo da visatildeodo assistido e suas anguacutestias premido pelo tempo sem que tenha por vezes sequercondiccedilatildeo de distanciar-se para um olhar mais imparcial

odavia tais distanciamento e compreensatildeo mostram-se necessaacuterios agrave instituiccedilatildeo afim de redirecionar a busca a mecanismos alternativos para o impasse da sauacutede comodireito simultaneamente individual e social sujeito agraves premecircncias pessoais mas tambeacutem

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182 DEFENSORIA PUacuteBLICA DA UNIAtildeO Escola Superior

agraves limitaccedilotildees de uma prestaccedilatildeo coletiva a exemplo da proacutepria escassez real (e aiacute misterdistinguir o mero argumento da escassez e da reserva do possiacutevel em contraposiccedilatildeo agravecomprovada inviabilidade de produccedilatildeo ou fornecimento a exemplo do nuacutemero de vagasimediatas em UI de um hospital puacuteblico ou a disponibilidade de oacutergatildeos compatiacuteveis para

transplante) e da inevitabilidade da alocaccedilatildeo de recursos o que natildeo eacute dado a ningueacutemresponsavelmente negar

Apenas a tiacutetulo de pensamento inicial sugerir-se-ia o desenvolvimento de incremento nastentativas de resoluccedilatildeo extrajudicial a exemplo de maior contato com a Administraccedilatildeo ndash aquem tambeacutem interessa a reduccedilatildeo das lides diminuindo gastos a varejo ndash e com oacutergatildeosde prestaccedilatildeo de sauacutede puacuteblica e de orientaccedilatildeo profissional meacutedica com vistas a analisar aeficaacutecia indicaccedilatildeo e seguranccedila de determinados recursos terapecircuticos subsidiando melhoros pedidos e melhorando os iacutendices de deferimento na espeacutecie que lamentavelmente

comeccedilam a declinar talvez movidos pelo perigo da dessensibilizaccedilatildeo do Judiciaacuterio ante aprofusatildeo de pedidos no setor reservando-se a atuaccedilatildeo judicial para situaccedilotildees de insucessoadministrativo reconhecido considerada a premecircncia e a comprovada necessidade ouatuaccedilotildees de iacutendole coletiva de pressatildeo poliacutetica para assegurar a melhor prestaccedilatildeo dodireito constitucional

Satildeo apenas reflexotildees incipientes mas ficam a semente da ideia o desafio que a questatildeorepresenta e o chamado ao compromisso coletivo de desenvolvecirc-las em prol do cidadatildeo

da efetividade constitucional e da atuaccedilatildeo mais consciente precisa e exitosa possiacutevel porparte da Defensoria Puacuteblica na defesa ao direito fundamental agrave sauacutede

REFEREcircNCIAS

AARON Henry SCHWARZ William Te Painful Prescription Rationing HospitalCare Washington Brookins Institution 1984

ALVES Jeovanna Viana et al Induacutestria farmacecircutica poder e subdesenvolvimentoa Bioeacutetica na Investigaccedilatildeo de Novos Medicamentos In Sexto Congresso Mundial deBioeacutetica 2002 Brasiacutelia Sociedade Brasileira de Bioeacutetica Anais 2002 p 152

BERGEL Salvador Dariacuteo Responsabilidad Social y Salud Revista Brasileira de Bioeacutetica Brasiacutelia Sociedade Brasileira de Bioeacutetica v2 n4 p 443-467 2006

CANOILHO J J Gomes Direito Constitucional e eoria da Constituiccedilatildeo 7edCoimbra Almedina [2003]

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183R Defensoria Puacutebl Uniatildeo Brasiacutelia DF n 8 p 1-356 jandez 2015

COHN Ameacutelia et al A Sauacutede como Direito e como Serviccedilo Satildeo Paulo Cortez 2008

DALLARI Sueli Gandolfi Os Estados Brasileiros e o Direito agrave Sauacutede Satildeo PauloHucitec 1995

DRANE James PESSINI Leo Medicina e ecnologia Desafios eacuteticos na fronteira doconhecimento humano Satildeo Paulo Loyola 2005

FERRAZ Octaacutevio Luiz Motta VIEIRA Fabiacuteola Sulpino Direito agrave sauacutede recursosescassos e equumlidade os riscos da interpretaccedilatildeo judicial dominante Disponiacutevel emhttpwwwstfjusbrarquivocmsprocessoAudienciaPublicaSaudeanexoDireito_a_Saude_Recursos_escassos_e_equidadepdf Acesso em 25abr2015

FIGUEIREDO Mariana Filchtiner Direito Fundamental agrave Sauacutede Paracircmetros para suaEficaacutecia e Efetividade Porto Alegre Livraria do Advogado 2007

GRACIA Diego Bioeacutetica Cliacutenica e Contexto Social In VII Congresso Brasileiro deBioeacutetica Satildeo Paulo 2007 Conferecircncia

LORENZO Claacuteudio Vulnerabilidade em Sauacutede Puacuteblica implicaccedilotildees para as poliacuteticaspuacuteblicas Revista Brasileira de Bioetica Brasiacutelia Sociedade Brasileira de Bioeacutetica v 2n 3 p 299-312 2006

MELLO Dirceu Raposo de et al Anaacutelise Bioeacutetica do Papel do Estado na Garantia ao Acesso a Medicamentos In GARRAFA Volnei MELLO Dirceu Raposo de PORODora Bioeacutetica e Vigilacircncia Sanitaacuteria Brasiacutelia ANVISA 2007 p 17-18

ORGANIZACcedilAtildeO MUNDIAL DA SAUacuteDE Constitution of the World HealthOrganization Basic Documents Genebra OMS 1946 Disponiacutevel em lthttpwhqlibdocwhointhistofficial_recordsconstitutionpdfgt acessado em 20ago08

PENCHASZADEH Victor Bioeacutetica y medicina social Una confluencia necesariaRevista Brasileira de Bioeacutetica Brasiacutelia Sociedade Brasileira de Bioeacutetica v 3 n 2 p129-149 2007

SALAZAR Andrea Lazzarini GROU Karina Bozola A Defesa da Sauacutede em Juiacutezo

eoria e Praacutetica Satildeo Paulo Verbatim 2009SCHWARZ Germano Direito agrave Sauacutede Efetivaccedilatildeo em uma Perspectiva SistecircmicaPorto Alegre Livraria do Advogado 2001

SIQUEIRA Paula Sue Facundo de Direito Sanitaacuterio a interface entre Judiciaacuterio eSauacutede na utilizaccedilatildeo dos PDC II Foacuterum Brasileiro sobre Assistecircncia Farmacecircutica eFarmacoeconomia Salvador 2014 Mesa Redonda

SRECK Lecircnio Luiz MORAIS Joseacute Luiacutes Bolzan de Ciecircncia poliacutetica e teoria geral do

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estado 2ed Porto Alegre Livraria do Advogado 2000

AVARES Andreacute Ramos Curso de Direito Constitucional 2ed Satildeo Paulo Saraiva 2003

REZZI Humberto Sauacutede Aumento no gasto do governo em remeacutedios especiais eacuteinvestigado Promotores e policiais suspeitam que quadrilhas falsificariam atestados paraobrigar a Uniatildeo a fornecer medicamentos de alto custo a pacientes por via judicial JornalZero Hora Porto Alegre ediccedilatildeo ndeg 15734 disponiacutevel em lthttpzerohoraclicrbscombrzerohorajspdefault2jspuf=1amplocal=1ampsource=a2195502xmlamptemplate=3898dwtampedition=10739ampsection=1003gt acessado em 12out08

VIEIRA Fabiacuteola Sulpino Accedilotildees judiciais e direito agrave sauacutede reflexatildeo sobre a observacircnciaaos princiacutepios do SUS Rev Sauacutede Puacuteblica v 42 n 2 p 365-369 abr 2008

VILLAS-BOcircAS Maria Elisa Alocaccedilatildeo de Recursos em Sauacutede quando a realidade e osdireitos fundamentais se chocam 2009 425 f ese (Doutorado em Direito Puacuteblico) ndashFaculdade de Direito Universidade Federal da Bahia Salvador 2009

______ O Direito agrave Sauacutede no Brasil reflexotildees bioeacuteticas agrave luz do princiacutepio da justiccedilaSatildeo Paulo Loyola 2014

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179R Defensoria Puacutebl Uniatildeo Brasiacutelia DF n 8 p 1-356 jandez 2015

comerciais especiacuteficas substituiacuteveis por equivalentes terapecircuticos disponiacuteveis no SUS24

Outro aspecto a ser sopesado eacute o modo e o conteuacutedo como feitos os pedidos na medida emque a proteccedilatildeo ao direito agrave sauacutede de um deve considerar a existecircncia de outros envolvidos

na alocaccedilatildeo de recursos diante da escassez real Exemplo disso satildeo os pedidos de vagaou de prioridade em filas de transplantes que necessariamente envolvem o cotejo comoutros afetados que natildeo satildeo parte no processo Natildeo raro se tem notiacutecia de comandos deprisatildeo a gestores hospitalares que tecircm todos os seus leitos ocupados por natildeo disporem devagas Inegaacutevel a falha estatal na espeacutecie mas ela natildeo pode ser resolvida com o comandoainda que indireto de retirada de pacientes que ainda necessitem do leito e cuidados paraalocaccedilatildeo de outro dotado de comando judicial Opccedilatildeo nesse caso eacute o pedido subsidiaacuteriode alocaccedilatildeo em unidades privadas agraves expensas do Estado natildeo por mera opccedilatildeo do enfermomas se natildeo houver leitos disponiacuteveis nas unidades puacuteblicas

Do ponto de vista estatal eacute mister o ajuste constante das poliacuteticas puacuteblicas de sortea mantecirc-las condizentes com as carecircncias da comunidade e atualizadas dentro dasmargens de efetividade terapecircutica a fim de se tentar com isso minorar a necessidade deintervenccedilotildees judiciais suplementares na aacuterea aleacutem de favorecer o proacuteprio funcionamentoadequado do Sistema em conformidade com seus princiacutepios gestores e com as previsotildeese garantias constitucionais sem acarretar a falecircncia do Sistema nem converter o direitouniversal agrave sauacutede em mera retoacuterica demagoacutegica

Nesse contexto a atuaccedilatildeo e participaccedilatildeo equilibrada da Defensoria junto a oacutergatildeos puacuteblicose conselhos interdisciplinares pode ser de grande valia para uma maior eficaacutecia na soluccedilatildeo

24 Em palestra proferida do II Foacuterum Brasileiro sobre Assistecircncia Farmacecircutica e Farmacoeconomia ocorridoem setembro de 2014 em Salvador-Bahia com a presenccedila de gestores puacuteblicos membros do JudiciaacuterioMinisteacuterio Puacuteblico Defensoria Puacuteblica e Advogados Puacuteblicos a representante paulista do CONASS(Conselho Nacional dos Secretaacuterios de Sauacutede) apresentou demonstrativo de pedidos em demandas judiciaissanitaacuterias contra o Estado e o Municiacutepio de Satildeo Paulo em que incluiacutedos itens como ldquoleite de cabra frescordquondash o qual resultou descumprido por absoluta ausecircncia de resposta agrave licitaccedilatildeo simplificada para localizar

detentores de cabras na cidade de Satildeo Paulo Nessa ocasiatildeo tambeacutem mostrou a palestrante estudo feitoquanto agraves 41000 accedilotildees judiciais em sauacutede atendidas por aqueles entes naquele ano tendo-se verificado quecerca de 70 delas se pautavam em prescriccedilotildees particulares 93 envolviam medicamentos extraordinaacuteriosao SUS sendo que aproximadamente 5 envolviam produtos importados sem registro na ANVISA 50envolviam itens de produtores exclusivos e cerca de 25 marcas especiacuteficas mesmo para itens simples comofraldas descartaacuteveis A franca maioria dos pedidos natildeo tivera solicitaccedilatildeo administrativa preacutevia sabendo oEstado do pleito jaacute em sede de antecipaccedilatildeo de tutela com prazo estrito para o fornecimento ainda que comfundamentaccedilatildeo cliacutenica escassa inclusive quanto agrave premecircncia do pedido (SIQUEIRA Paula Sue Facundo deDireito Sanitaacuterio a interface entre Judiciaacuterio e Sauacutede na utilizaccedilatildeo dos PDC II FOacuteRUM BRASILEIROSOBRE ASSISEcircNCIA FARMACEcircUICA E FARMACOECONOMIA Salvador 2014 Mesa Redonda)

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180 DEFENSORIA PUacuteBLICA DA UNIAtildeO Escola Superior

administrativa das questotildees reduzindo-se o quantitativo de demandas judiciais na espeacuteciee democratizando o acesso agrave sauacutede mesmo agravequeles que natildeo chegam agrave Defensoria Nesseuacuteltimo aspecto tambeacutem a atuaccedilatildeo mediante Accedilatildeo Civil Puacuteblica visando agrave atualizaccedilatildeodas listas de fornecimento ou denunciando carecircncias e esperas irrazoaacuteveis por exemplo

parece recurso de relevante monta para uma melhor prestaccedilatildeo no setor

Possibilidade de uma maior funcionalidade administrativa tambeacutem pode ser tentadamediante atuaccedilatildeo de profissional25 direcionado agrave aacuterea das crescentes demandas em sauacutedenas unidades defensoriais de sorte a direcionar melhor a instruccedilatildeo dos pedidos jaacute seorientando o tipo de relatoacuterio e informaccedilotildees necessaacuterios aleacutem de empreender contatodireto com os oacutergatildeos puacuteblicos de regulaccedilatildeo em sauacutede estreitando relaccedilotildees com a Secretariade Sauacutede do Estado e seus oacutergatildeos a exemplo da Central de Regulaccedilatildeo de Vagas

Propotildee-se com isso ampliar o quantitativo de resoluccedilotildees administrativas mais ceacutelerese menos custosas reservando a necessidade de intervenccedilotildees juriacutedicas agraves situaccedilotildees emque havendo a previsatildeo do fornecimento natildeo se consegue obtecirc-lo por maacute prestaccedilatildeoadministrativa ndash o que demonstrado por melhor instruccedilatildeo inicial sugere levar amelhores iacutendices de sucesso jaacute em sede antecipatoacuteria ndash ou nas situaccedilotildees de recursos natildeoincluiacutedos no rol de fornecimento do SUS (em que pese o limitante dos artigos 2ordm e 19da Lei 124012011) Nesse caso uacuteltimo jaacute se busque tambeacutem instruir o pedido com osdemonstrativos da eficaacutecia seguranccedila e indicaccedilatildeo da medida reclamada bem assim de

ausecircncia de resposta agraves drogas rotineiramente disponibilizadas ou indicadas nos PCDnos termos inclusive do quanto preconizado em reiterados Enunciados e Recomendaccedilotildeesdo CNJ (4 11 14 15 16 31) e precedentes jurisprudenciais relevantes como a SA175 de relatoria do Min Gilmar Mendes sobre a mateacuteria

O que se vislumbra de negativo em tal proposta eacute que eventual reduccedilatildeo da judicializaccedilatildeofaccedila supor uma maior eficiecircncia na prestaccedilatildeo estatal em sauacutede o que nem semprecorresponde agrave verdade obtendo-se o ecircxito em casos individuais atraveacutes da persistecircnciaempedernida do oacutergatildeo defensorial ateacute que a proacutexima situaccedilatildeo se apresente Como aspecto

25 entativa semelhante tem sido implementada ao longo do uacuteltimo ano na unidade baiana daDefensoria Puacuteblica da Uniatildeo por iniciativa da chefia que tambeacutem titulariza o ofiacutecio de tutelacoletiva mediante o destacamento de Assistente Social com experiecircncia na conduccedilatildeo de demandasem sauacutede e com o intuito de melhorar a assistecircncia em tais demandas ante o crescimentoexponencial de seu nuacutemero no quinquecircnio antecedente Os resultados tecircm-se mostrado prima facie positivos com aparente aumento do nuacutemero de deslindes extrajudiciais e maior quantitativode antecipaccedilotildees de tutela obtidas nas accedilotildees propostas embora ainda sem dados coligidos esistematizados a respeito

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181R Defensoria Puacutebl Uniatildeo Brasiacutelia DF n 8 p 1-356 jandez 2015

positivo por oacutebvio todas as vantagens da resoluccedilatildeo administrativa

Outro recurso a ser considerado como dito como opccedilatildeo agraves muacuteltiplas accedilotildees individuaissatildeo as accedilotildees de natureza coletiva visando agrave efetiva disponibilizaccedilatildeo de procedimentos

oferecidos formalmente mas cuja demora na prestaccedilatildeo torna na praacutetica insustentaacutevela espera ais accedilotildees sob o ponto de vista pragmaacutetico todavia nem sempre tecircm comoobter resultados concretos imediatos mas frutos de uma atuaccedilatildeo combativa criacuteticae politicamente atuante satildeo relevante termocircmetro acerca do modo como estatildeo sendogeridos os recursos em sauacutede advertindo para a necessidade de se dar concretude ao direitoconstitucionalmente reconhecido incentivando da maneira mais pertinente o sistemade checks and balances reservando-se as accedilotildees individuais para situaccedilotildees especiacuteficas denecessidade incontornaacutevel e sem perspectiva de resoluccedilatildeo natildeo litigiosa

Por fim sempre cabiacutevel lembrar que o momento da urgecircncia do plantatildeo do riscoiminente de vida eacute sempre o pior momento para avaliar o que fazer culminando-seem accedilotildees accedilodadas por vezes mal instruiacutedas natildeo raro em duplicidade nas instacircnciasestadual e federal com riscos para o paciente ou de desperdiacutecio de recursos puacuteblicos ouainda de descreacutedito para a instituiccedilatildeo Importante assim discutirem-se as abordagenspossiacuteveis criando-se orientaccedilotildees de conduta que de antematildeo auxiliem na organizaccedilatildeo dopensamento e na escolha das vias cabiacuteveis para ajudar o requerente ndash vulnerado quer pelahipossuficiecircncia econocircmica quer pela enfermidade ou na maioria das vezes por ambas

ndash da forma mais promissora e adequada possiacutevel

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Natildeo haacute por oacutebvio respostas faacuteceis na mateacuteria O objetivo do texto foi sobretudo chamar

atenccedilatildeo para aspectos nem sempre vistos na lida cotidiana do Defensor imbuiacutedo da visatildeodo assistido e suas anguacutestias premido pelo tempo sem que tenha por vezes sequercondiccedilatildeo de distanciar-se para um olhar mais imparcial

odavia tais distanciamento e compreensatildeo mostram-se necessaacuterios agrave instituiccedilatildeo afim de redirecionar a busca a mecanismos alternativos para o impasse da sauacutede comodireito simultaneamente individual e social sujeito agraves premecircncias pessoais mas tambeacutem

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182 DEFENSORIA PUacuteBLICA DA UNIAtildeO Escola Superior

agraves limitaccedilotildees de uma prestaccedilatildeo coletiva a exemplo da proacutepria escassez real (e aiacute misterdistinguir o mero argumento da escassez e da reserva do possiacutevel em contraposiccedilatildeo agravecomprovada inviabilidade de produccedilatildeo ou fornecimento a exemplo do nuacutemero de vagasimediatas em UI de um hospital puacuteblico ou a disponibilidade de oacutergatildeos compatiacuteveis para

transplante) e da inevitabilidade da alocaccedilatildeo de recursos o que natildeo eacute dado a ningueacutemresponsavelmente negar

Apenas a tiacutetulo de pensamento inicial sugerir-se-ia o desenvolvimento de incremento nastentativas de resoluccedilatildeo extrajudicial a exemplo de maior contato com a Administraccedilatildeo ndash aquem tambeacutem interessa a reduccedilatildeo das lides diminuindo gastos a varejo ndash e com oacutergatildeosde prestaccedilatildeo de sauacutede puacuteblica e de orientaccedilatildeo profissional meacutedica com vistas a analisar aeficaacutecia indicaccedilatildeo e seguranccedila de determinados recursos terapecircuticos subsidiando melhoros pedidos e melhorando os iacutendices de deferimento na espeacutecie que lamentavelmente

comeccedilam a declinar talvez movidos pelo perigo da dessensibilizaccedilatildeo do Judiciaacuterio ante aprofusatildeo de pedidos no setor reservando-se a atuaccedilatildeo judicial para situaccedilotildees de insucessoadministrativo reconhecido considerada a premecircncia e a comprovada necessidade ouatuaccedilotildees de iacutendole coletiva de pressatildeo poliacutetica para assegurar a melhor prestaccedilatildeo dodireito constitucional

Satildeo apenas reflexotildees incipientes mas ficam a semente da ideia o desafio que a questatildeorepresenta e o chamado ao compromisso coletivo de desenvolvecirc-las em prol do cidadatildeo

da efetividade constitucional e da atuaccedilatildeo mais consciente precisa e exitosa possiacutevel porparte da Defensoria Puacuteblica na defesa ao direito fundamental agrave sauacutede

REFEREcircNCIAS

AARON Henry SCHWARZ William Te Painful Prescription Rationing HospitalCare Washington Brookins Institution 1984

ALVES Jeovanna Viana et al Induacutestria farmacecircutica poder e subdesenvolvimentoa Bioeacutetica na Investigaccedilatildeo de Novos Medicamentos In Sexto Congresso Mundial deBioeacutetica 2002 Brasiacutelia Sociedade Brasileira de Bioeacutetica Anais 2002 p 152

BERGEL Salvador Dariacuteo Responsabilidad Social y Salud Revista Brasileira de Bioeacutetica Brasiacutelia Sociedade Brasileira de Bioeacutetica v2 n4 p 443-467 2006

CANOILHO J J Gomes Direito Constitucional e eoria da Constituiccedilatildeo 7edCoimbra Almedina [2003]

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183R Defensoria Puacutebl Uniatildeo Brasiacutelia DF n 8 p 1-356 jandez 2015

COHN Ameacutelia et al A Sauacutede como Direito e como Serviccedilo Satildeo Paulo Cortez 2008

DALLARI Sueli Gandolfi Os Estados Brasileiros e o Direito agrave Sauacutede Satildeo PauloHucitec 1995

DRANE James PESSINI Leo Medicina e ecnologia Desafios eacuteticos na fronteira doconhecimento humano Satildeo Paulo Loyola 2005

FERRAZ Octaacutevio Luiz Motta VIEIRA Fabiacuteola Sulpino Direito agrave sauacutede recursosescassos e equumlidade os riscos da interpretaccedilatildeo judicial dominante Disponiacutevel emhttpwwwstfjusbrarquivocmsprocessoAudienciaPublicaSaudeanexoDireito_a_Saude_Recursos_escassos_e_equidadepdf Acesso em 25abr2015

FIGUEIREDO Mariana Filchtiner Direito Fundamental agrave Sauacutede Paracircmetros para suaEficaacutecia e Efetividade Porto Alegre Livraria do Advogado 2007

GRACIA Diego Bioeacutetica Cliacutenica e Contexto Social In VII Congresso Brasileiro deBioeacutetica Satildeo Paulo 2007 Conferecircncia

LORENZO Claacuteudio Vulnerabilidade em Sauacutede Puacuteblica implicaccedilotildees para as poliacuteticaspuacuteblicas Revista Brasileira de Bioetica Brasiacutelia Sociedade Brasileira de Bioeacutetica v 2n 3 p 299-312 2006

MELLO Dirceu Raposo de et al Anaacutelise Bioeacutetica do Papel do Estado na Garantia ao Acesso a Medicamentos In GARRAFA Volnei MELLO Dirceu Raposo de PORODora Bioeacutetica e Vigilacircncia Sanitaacuteria Brasiacutelia ANVISA 2007 p 17-18

ORGANIZACcedilAtildeO MUNDIAL DA SAUacuteDE Constitution of the World HealthOrganization Basic Documents Genebra OMS 1946 Disponiacutevel em lthttpwhqlibdocwhointhistofficial_recordsconstitutionpdfgt acessado em 20ago08

PENCHASZADEH Victor Bioeacutetica y medicina social Una confluencia necesariaRevista Brasileira de Bioeacutetica Brasiacutelia Sociedade Brasileira de Bioeacutetica v 3 n 2 p129-149 2007

SALAZAR Andrea Lazzarini GROU Karina Bozola A Defesa da Sauacutede em Juiacutezo

eoria e Praacutetica Satildeo Paulo Verbatim 2009SCHWARZ Germano Direito agrave Sauacutede Efetivaccedilatildeo em uma Perspectiva SistecircmicaPorto Alegre Livraria do Advogado 2001

SIQUEIRA Paula Sue Facundo de Direito Sanitaacuterio a interface entre Judiciaacuterio eSauacutede na utilizaccedilatildeo dos PDC II Foacuterum Brasileiro sobre Assistecircncia Farmacecircutica eFarmacoeconomia Salvador 2014 Mesa Redonda

SRECK Lecircnio Luiz MORAIS Joseacute Luiacutes Bolzan de Ciecircncia poliacutetica e teoria geral do

7262019 A Judicializaccedilatildeo Do Direito agrave Sauacutede - Villas Boas

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estado 2ed Porto Alegre Livraria do Advogado 2000

AVARES Andreacute Ramos Curso de Direito Constitucional 2ed Satildeo Paulo Saraiva 2003

REZZI Humberto Sauacutede Aumento no gasto do governo em remeacutedios especiais eacuteinvestigado Promotores e policiais suspeitam que quadrilhas falsificariam atestados paraobrigar a Uniatildeo a fornecer medicamentos de alto custo a pacientes por via judicial JornalZero Hora Porto Alegre ediccedilatildeo ndeg 15734 disponiacutevel em lthttpzerohoraclicrbscombrzerohorajspdefault2jspuf=1amplocal=1ampsource=a2195502xmlamptemplate=3898dwtampedition=10739ampsection=1003gt acessado em 12out08

VIEIRA Fabiacuteola Sulpino Accedilotildees judiciais e direito agrave sauacutede reflexatildeo sobre a observacircnciaaos princiacutepios do SUS Rev Sauacutede Puacuteblica v 42 n 2 p 365-369 abr 2008

VILLAS-BOcircAS Maria Elisa Alocaccedilatildeo de Recursos em Sauacutede quando a realidade e osdireitos fundamentais se chocam 2009 425 f ese (Doutorado em Direito Puacuteblico) ndashFaculdade de Direito Universidade Federal da Bahia Salvador 2009

______ O Direito agrave Sauacutede no Brasil reflexotildees bioeacuteticas agrave luz do princiacutepio da justiccedilaSatildeo Paulo Loyola 2014

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180 DEFENSORIA PUacuteBLICA DA UNIAtildeO Escola Superior

administrativa das questotildees reduzindo-se o quantitativo de demandas judiciais na espeacuteciee democratizando o acesso agrave sauacutede mesmo agravequeles que natildeo chegam agrave Defensoria Nesseuacuteltimo aspecto tambeacutem a atuaccedilatildeo mediante Accedilatildeo Civil Puacuteblica visando agrave atualizaccedilatildeodas listas de fornecimento ou denunciando carecircncias e esperas irrazoaacuteveis por exemplo

parece recurso de relevante monta para uma melhor prestaccedilatildeo no setor

Possibilidade de uma maior funcionalidade administrativa tambeacutem pode ser tentadamediante atuaccedilatildeo de profissional25 direcionado agrave aacuterea das crescentes demandas em sauacutedenas unidades defensoriais de sorte a direcionar melhor a instruccedilatildeo dos pedidos jaacute seorientando o tipo de relatoacuterio e informaccedilotildees necessaacuterios aleacutem de empreender contatodireto com os oacutergatildeos puacuteblicos de regulaccedilatildeo em sauacutede estreitando relaccedilotildees com a Secretariade Sauacutede do Estado e seus oacutergatildeos a exemplo da Central de Regulaccedilatildeo de Vagas

Propotildee-se com isso ampliar o quantitativo de resoluccedilotildees administrativas mais ceacutelerese menos custosas reservando a necessidade de intervenccedilotildees juriacutedicas agraves situaccedilotildees emque havendo a previsatildeo do fornecimento natildeo se consegue obtecirc-lo por maacute prestaccedilatildeoadministrativa ndash o que demonstrado por melhor instruccedilatildeo inicial sugere levar amelhores iacutendices de sucesso jaacute em sede antecipatoacuteria ndash ou nas situaccedilotildees de recursos natildeoincluiacutedos no rol de fornecimento do SUS (em que pese o limitante dos artigos 2ordm e 19da Lei 124012011) Nesse caso uacuteltimo jaacute se busque tambeacutem instruir o pedido com osdemonstrativos da eficaacutecia seguranccedila e indicaccedilatildeo da medida reclamada bem assim de

ausecircncia de resposta agraves drogas rotineiramente disponibilizadas ou indicadas nos PCDnos termos inclusive do quanto preconizado em reiterados Enunciados e Recomendaccedilotildeesdo CNJ (4 11 14 15 16 31) e precedentes jurisprudenciais relevantes como a SA175 de relatoria do Min Gilmar Mendes sobre a mateacuteria

O que se vislumbra de negativo em tal proposta eacute que eventual reduccedilatildeo da judicializaccedilatildeofaccedila supor uma maior eficiecircncia na prestaccedilatildeo estatal em sauacutede o que nem semprecorresponde agrave verdade obtendo-se o ecircxito em casos individuais atraveacutes da persistecircnciaempedernida do oacutergatildeo defensorial ateacute que a proacutexima situaccedilatildeo se apresente Como aspecto

25 entativa semelhante tem sido implementada ao longo do uacuteltimo ano na unidade baiana daDefensoria Puacuteblica da Uniatildeo por iniciativa da chefia que tambeacutem titulariza o ofiacutecio de tutelacoletiva mediante o destacamento de Assistente Social com experiecircncia na conduccedilatildeo de demandasem sauacutede e com o intuito de melhorar a assistecircncia em tais demandas ante o crescimentoexponencial de seu nuacutemero no quinquecircnio antecedente Os resultados tecircm-se mostrado prima facie positivos com aparente aumento do nuacutemero de deslindes extrajudiciais e maior quantitativode antecipaccedilotildees de tutela obtidas nas accedilotildees propostas embora ainda sem dados coligidos esistematizados a respeito

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181R Defensoria Puacutebl Uniatildeo Brasiacutelia DF n 8 p 1-356 jandez 2015

positivo por oacutebvio todas as vantagens da resoluccedilatildeo administrativa

Outro recurso a ser considerado como dito como opccedilatildeo agraves muacuteltiplas accedilotildees individuaissatildeo as accedilotildees de natureza coletiva visando agrave efetiva disponibilizaccedilatildeo de procedimentos

oferecidos formalmente mas cuja demora na prestaccedilatildeo torna na praacutetica insustentaacutevela espera ais accedilotildees sob o ponto de vista pragmaacutetico todavia nem sempre tecircm comoobter resultados concretos imediatos mas frutos de uma atuaccedilatildeo combativa criacuteticae politicamente atuante satildeo relevante termocircmetro acerca do modo como estatildeo sendogeridos os recursos em sauacutede advertindo para a necessidade de se dar concretude ao direitoconstitucionalmente reconhecido incentivando da maneira mais pertinente o sistemade checks and balances reservando-se as accedilotildees individuais para situaccedilotildees especiacuteficas denecessidade incontornaacutevel e sem perspectiva de resoluccedilatildeo natildeo litigiosa

Por fim sempre cabiacutevel lembrar que o momento da urgecircncia do plantatildeo do riscoiminente de vida eacute sempre o pior momento para avaliar o que fazer culminando-seem accedilotildees accedilodadas por vezes mal instruiacutedas natildeo raro em duplicidade nas instacircnciasestadual e federal com riscos para o paciente ou de desperdiacutecio de recursos puacuteblicos ouainda de descreacutedito para a instituiccedilatildeo Importante assim discutirem-se as abordagenspossiacuteveis criando-se orientaccedilotildees de conduta que de antematildeo auxiliem na organizaccedilatildeo dopensamento e na escolha das vias cabiacuteveis para ajudar o requerente ndash vulnerado quer pelahipossuficiecircncia econocircmica quer pela enfermidade ou na maioria das vezes por ambas

ndash da forma mais promissora e adequada possiacutevel

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Natildeo haacute por oacutebvio respostas faacuteceis na mateacuteria O objetivo do texto foi sobretudo chamar

atenccedilatildeo para aspectos nem sempre vistos na lida cotidiana do Defensor imbuiacutedo da visatildeodo assistido e suas anguacutestias premido pelo tempo sem que tenha por vezes sequercondiccedilatildeo de distanciar-se para um olhar mais imparcial

odavia tais distanciamento e compreensatildeo mostram-se necessaacuterios agrave instituiccedilatildeo afim de redirecionar a busca a mecanismos alternativos para o impasse da sauacutede comodireito simultaneamente individual e social sujeito agraves premecircncias pessoais mas tambeacutem

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182 DEFENSORIA PUacuteBLICA DA UNIAtildeO Escola Superior

agraves limitaccedilotildees de uma prestaccedilatildeo coletiva a exemplo da proacutepria escassez real (e aiacute misterdistinguir o mero argumento da escassez e da reserva do possiacutevel em contraposiccedilatildeo agravecomprovada inviabilidade de produccedilatildeo ou fornecimento a exemplo do nuacutemero de vagasimediatas em UI de um hospital puacuteblico ou a disponibilidade de oacutergatildeos compatiacuteveis para

transplante) e da inevitabilidade da alocaccedilatildeo de recursos o que natildeo eacute dado a ningueacutemresponsavelmente negar

Apenas a tiacutetulo de pensamento inicial sugerir-se-ia o desenvolvimento de incremento nastentativas de resoluccedilatildeo extrajudicial a exemplo de maior contato com a Administraccedilatildeo ndash aquem tambeacutem interessa a reduccedilatildeo das lides diminuindo gastos a varejo ndash e com oacutergatildeosde prestaccedilatildeo de sauacutede puacuteblica e de orientaccedilatildeo profissional meacutedica com vistas a analisar aeficaacutecia indicaccedilatildeo e seguranccedila de determinados recursos terapecircuticos subsidiando melhoros pedidos e melhorando os iacutendices de deferimento na espeacutecie que lamentavelmente

comeccedilam a declinar talvez movidos pelo perigo da dessensibilizaccedilatildeo do Judiciaacuterio ante aprofusatildeo de pedidos no setor reservando-se a atuaccedilatildeo judicial para situaccedilotildees de insucessoadministrativo reconhecido considerada a premecircncia e a comprovada necessidade ouatuaccedilotildees de iacutendole coletiva de pressatildeo poliacutetica para assegurar a melhor prestaccedilatildeo dodireito constitucional

Satildeo apenas reflexotildees incipientes mas ficam a semente da ideia o desafio que a questatildeorepresenta e o chamado ao compromisso coletivo de desenvolvecirc-las em prol do cidadatildeo

da efetividade constitucional e da atuaccedilatildeo mais consciente precisa e exitosa possiacutevel porparte da Defensoria Puacuteblica na defesa ao direito fundamental agrave sauacutede

REFEREcircNCIAS

AARON Henry SCHWARZ William Te Painful Prescription Rationing HospitalCare Washington Brookins Institution 1984

ALVES Jeovanna Viana et al Induacutestria farmacecircutica poder e subdesenvolvimentoa Bioeacutetica na Investigaccedilatildeo de Novos Medicamentos In Sexto Congresso Mundial deBioeacutetica 2002 Brasiacutelia Sociedade Brasileira de Bioeacutetica Anais 2002 p 152

BERGEL Salvador Dariacuteo Responsabilidad Social y Salud Revista Brasileira de Bioeacutetica Brasiacutelia Sociedade Brasileira de Bioeacutetica v2 n4 p 443-467 2006

CANOILHO J J Gomes Direito Constitucional e eoria da Constituiccedilatildeo 7edCoimbra Almedina [2003]

7262019 A Judicializaccedilatildeo Do Direito agrave Sauacutede - Villas Boas

httpslidepdfcomreaderfulla-judicializacao-do-direito-a-saude-villas-boas 2526

183R Defensoria Puacutebl Uniatildeo Brasiacutelia DF n 8 p 1-356 jandez 2015

COHN Ameacutelia et al A Sauacutede como Direito e como Serviccedilo Satildeo Paulo Cortez 2008

DALLARI Sueli Gandolfi Os Estados Brasileiros e o Direito agrave Sauacutede Satildeo PauloHucitec 1995

DRANE James PESSINI Leo Medicina e ecnologia Desafios eacuteticos na fronteira doconhecimento humano Satildeo Paulo Loyola 2005

FERRAZ Octaacutevio Luiz Motta VIEIRA Fabiacuteola Sulpino Direito agrave sauacutede recursosescassos e equumlidade os riscos da interpretaccedilatildeo judicial dominante Disponiacutevel emhttpwwwstfjusbrarquivocmsprocessoAudienciaPublicaSaudeanexoDireito_a_Saude_Recursos_escassos_e_equidadepdf Acesso em 25abr2015

FIGUEIREDO Mariana Filchtiner Direito Fundamental agrave Sauacutede Paracircmetros para suaEficaacutecia e Efetividade Porto Alegre Livraria do Advogado 2007

GRACIA Diego Bioeacutetica Cliacutenica e Contexto Social In VII Congresso Brasileiro deBioeacutetica Satildeo Paulo 2007 Conferecircncia

LORENZO Claacuteudio Vulnerabilidade em Sauacutede Puacuteblica implicaccedilotildees para as poliacuteticaspuacuteblicas Revista Brasileira de Bioetica Brasiacutelia Sociedade Brasileira de Bioeacutetica v 2n 3 p 299-312 2006

MELLO Dirceu Raposo de et al Anaacutelise Bioeacutetica do Papel do Estado na Garantia ao Acesso a Medicamentos In GARRAFA Volnei MELLO Dirceu Raposo de PORODora Bioeacutetica e Vigilacircncia Sanitaacuteria Brasiacutelia ANVISA 2007 p 17-18

ORGANIZACcedilAtildeO MUNDIAL DA SAUacuteDE Constitution of the World HealthOrganization Basic Documents Genebra OMS 1946 Disponiacutevel em lthttpwhqlibdocwhointhistofficial_recordsconstitutionpdfgt acessado em 20ago08

PENCHASZADEH Victor Bioeacutetica y medicina social Una confluencia necesariaRevista Brasileira de Bioeacutetica Brasiacutelia Sociedade Brasileira de Bioeacutetica v 3 n 2 p129-149 2007

SALAZAR Andrea Lazzarini GROU Karina Bozola A Defesa da Sauacutede em Juiacutezo

eoria e Praacutetica Satildeo Paulo Verbatim 2009SCHWARZ Germano Direito agrave Sauacutede Efetivaccedilatildeo em uma Perspectiva SistecircmicaPorto Alegre Livraria do Advogado 2001

SIQUEIRA Paula Sue Facundo de Direito Sanitaacuterio a interface entre Judiciaacuterio eSauacutede na utilizaccedilatildeo dos PDC II Foacuterum Brasileiro sobre Assistecircncia Farmacecircutica eFarmacoeconomia Salvador 2014 Mesa Redonda

SRECK Lecircnio Luiz MORAIS Joseacute Luiacutes Bolzan de Ciecircncia poliacutetica e teoria geral do

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estado 2ed Porto Alegre Livraria do Advogado 2000

AVARES Andreacute Ramos Curso de Direito Constitucional 2ed Satildeo Paulo Saraiva 2003

REZZI Humberto Sauacutede Aumento no gasto do governo em remeacutedios especiais eacuteinvestigado Promotores e policiais suspeitam que quadrilhas falsificariam atestados paraobrigar a Uniatildeo a fornecer medicamentos de alto custo a pacientes por via judicial JornalZero Hora Porto Alegre ediccedilatildeo ndeg 15734 disponiacutevel em lthttpzerohoraclicrbscombrzerohorajspdefault2jspuf=1amplocal=1ampsource=a2195502xmlamptemplate=3898dwtampedition=10739ampsection=1003gt acessado em 12out08

VIEIRA Fabiacuteola Sulpino Accedilotildees judiciais e direito agrave sauacutede reflexatildeo sobre a observacircnciaaos princiacutepios do SUS Rev Sauacutede Puacuteblica v 42 n 2 p 365-369 abr 2008

VILLAS-BOcircAS Maria Elisa Alocaccedilatildeo de Recursos em Sauacutede quando a realidade e osdireitos fundamentais se chocam 2009 425 f ese (Doutorado em Direito Puacuteblico) ndashFaculdade de Direito Universidade Federal da Bahia Salvador 2009

______ O Direito agrave Sauacutede no Brasil reflexotildees bioeacuteticas agrave luz do princiacutepio da justiccedilaSatildeo Paulo Loyola 2014

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181R Defensoria Puacutebl Uniatildeo Brasiacutelia DF n 8 p 1-356 jandez 2015

positivo por oacutebvio todas as vantagens da resoluccedilatildeo administrativa

Outro recurso a ser considerado como dito como opccedilatildeo agraves muacuteltiplas accedilotildees individuaissatildeo as accedilotildees de natureza coletiva visando agrave efetiva disponibilizaccedilatildeo de procedimentos

oferecidos formalmente mas cuja demora na prestaccedilatildeo torna na praacutetica insustentaacutevela espera ais accedilotildees sob o ponto de vista pragmaacutetico todavia nem sempre tecircm comoobter resultados concretos imediatos mas frutos de uma atuaccedilatildeo combativa criacuteticae politicamente atuante satildeo relevante termocircmetro acerca do modo como estatildeo sendogeridos os recursos em sauacutede advertindo para a necessidade de se dar concretude ao direitoconstitucionalmente reconhecido incentivando da maneira mais pertinente o sistemade checks and balances reservando-se as accedilotildees individuais para situaccedilotildees especiacuteficas denecessidade incontornaacutevel e sem perspectiva de resoluccedilatildeo natildeo litigiosa

Por fim sempre cabiacutevel lembrar que o momento da urgecircncia do plantatildeo do riscoiminente de vida eacute sempre o pior momento para avaliar o que fazer culminando-seem accedilotildees accedilodadas por vezes mal instruiacutedas natildeo raro em duplicidade nas instacircnciasestadual e federal com riscos para o paciente ou de desperdiacutecio de recursos puacuteblicos ouainda de descreacutedito para a instituiccedilatildeo Importante assim discutirem-se as abordagenspossiacuteveis criando-se orientaccedilotildees de conduta que de antematildeo auxiliem na organizaccedilatildeo dopensamento e na escolha das vias cabiacuteveis para ajudar o requerente ndash vulnerado quer pelahipossuficiecircncia econocircmica quer pela enfermidade ou na maioria das vezes por ambas

ndash da forma mais promissora e adequada possiacutevel

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Natildeo haacute por oacutebvio respostas faacuteceis na mateacuteria O objetivo do texto foi sobretudo chamar

atenccedilatildeo para aspectos nem sempre vistos na lida cotidiana do Defensor imbuiacutedo da visatildeodo assistido e suas anguacutestias premido pelo tempo sem que tenha por vezes sequercondiccedilatildeo de distanciar-se para um olhar mais imparcial

odavia tais distanciamento e compreensatildeo mostram-se necessaacuterios agrave instituiccedilatildeo afim de redirecionar a busca a mecanismos alternativos para o impasse da sauacutede comodireito simultaneamente individual e social sujeito agraves premecircncias pessoais mas tambeacutem

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182 DEFENSORIA PUacuteBLICA DA UNIAtildeO Escola Superior

agraves limitaccedilotildees de uma prestaccedilatildeo coletiva a exemplo da proacutepria escassez real (e aiacute misterdistinguir o mero argumento da escassez e da reserva do possiacutevel em contraposiccedilatildeo agravecomprovada inviabilidade de produccedilatildeo ou fornecimento a exemplo do nuacutemero de vagasimediatas em UI de um hospital puacuteblico ou a disponibilidade de oacutergatildeos compatiacuteveis para

transplante) e da inevitabilidade da alocaccedilatildeo de recursos o que natildeo eacute dado a ningueacutemresponsavelmente negar

Apenas a tiacutetulo de pensamento inicial sugerir-se-ia o desenvolvimento de incremento nastentativas de resoluccedilatildeo extrajudicial a exemplo de maior contato com a Administraccedilatildeo ndash aquem tambeacutem interessa a reduccedilatildeo das lides diminuindo gastos a varejo ndash e com oacutergatildeosde prestaccedilatildeo de sauacutede puacuteblica e de orientaccedilatildeo profissional meacutedica com vistas a analisar aeficaacutecia indicaccedilatildeo e seguranccedila de determinados recursos terapecircuticos subsidiando melhoros pedidos e melhorando os iacutendices de deferimento na espeacutecie que lamentavelmente

comeccedilam a declinar talvez movidos pelo perigo da dessensibilizaccedilatildeo do Judiciaacuterio ante aprofusatildeo de pedidos no setor reservando-se a atuaccedilatildeo judicial para situaccedilotildees de insucessoadministrativo reconhecido considerada a premecircncia e a comprovada necessidade ouatuaccedilotildees de iacutendole coletiva de pressatildeo poliacutetica para assegurar a melhor prestaccedilatildeo dodireito constitucional

Satildeo apenas reflexotildees incipientes mas ficam a semente da ideia o desafio que a questatildeorepresenta e o chamado ao compromisso coletivo de desenvolvecirc-las em prol do cidadatildeo

da efetividade constitucional e da atuaccedilatildeo mais consciente precisa e exitosa possiacutevel porparte da Defensoria Puacuteblica na defesa ao direito fundamental agrave sauacutede

REFEREcircNCIAS

AARON Henry SCHWARZ William Te Painful Prescription Rationing HospitalCare Washington Brookins Institution 1984

ALVES Jeovanna Viana et al Induacutestria farmacecircutica poder e subdesenvolvimentoa Bioeacutetica na Investigaccedilatildeo de Novos Medicamentos In Sexto Congresso Mundial deBioeacutetica 2002 Brasiacutelia Sociedade Brasileira de Bioeacutetica Anais 2002 p 152

BERGEL Salvador Dariacuteo Responsabilidad Social y Salud Revista Brasileira de Bioeacutetica Brasiacutelia Sociedade Brasileira de Bioeacutetica v2 n4 p 443-467 2006

CANOILHO J J Gomes Direito Constitucional e eoria da Constituiccedilatildeo 7edCoimbra Almedina [2003]

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183R Defensoria Puacutebl Uniatildeo Brasiacutelia DF n 8 p 1-356 jandez 2015

COHN Ameacutelia et al A Sauacutede como Direito e como Serviccedilo Satildeo Paulo Cortez 2008

DALLARI Sueli Gandolfi Os Estados Brasileiros e o Direito agrave Sauacutede Satildeo PauloHucitec 1995

DRANE James PESSINI Leo Medicina e ecnologia Desafios eacuteticos na fronteira doconhecimento humano Satildeo Paulo Loyola 2005

FERRAZ Octaacutevio Luiz Motta VIEIRA Fabiacuteola Sulpino Direito agrave sauacutede recursosescassos e equumlidade os riscos da interpretaccedilatildeo judicial dominante Disponiacutevel emhttpwwwstfjusbrarquivocmsprocessoAudienciaPublicaSaudeanexoDireito_a_Saude_Recursos_escassos_e_equidadepdf Acesso em 25abr2015

FIGUEIREDO Mariana Filchtiner Direito Fundamental agrave Sauacutede Paracircmetros para suaEficaacutecia e Efetividade Porto Alegre Livraria do Advogado 2007

GRACIA Diego Bioeacutetica Cliacutenica e Contexto Social In VII Congresso Brasileiro deBioeacutetica Satildeo Paulo 2007 Conferecircncia

LORENZO Claacuteudio Vulnerabilidade em Sauacutede Puacuteblica implicaccedilotildees para as poliacuteticaspuacuteblicas Revista Brasileira de Bioetica Brasiacutelia Sociedade Brasileira de Bioeacutetica v 2n 3 p 299-312 2006

MELLO Dirceu Raposo de et al Anaacutelise Bioeacutetica do Papel do Estado na Garantia ao Acesso a Medicamentos In GARRAFA Volnei MELLO Dirceu Raposo de PORODora Bioeacutetica e Vigilacircncia Sanitaacuteria Brasiacutelia ANVISA 2007 p 17-18

ORGANIZACcedilAtildeO MUNDIAL DA SAUacuteDE Constitution of the World HealthOrganization Basic Documents Genebra OMS 1946 Disponiacutevel em lthttpwhqlibdocwhointhistofficial_recordsconstitutionpdfgt acessado em 20ago08

PENCHASZADEH Victor Bioeacutetica y medicina social Una confluencia necesariaRevista Brasileira de Bioeacutetica Brasiacutelia Sociedade Brasileira de Bioeacutetica v 3 n 2 p129-149 2007

SALAZAR Andrea Lazzarini GROU Karina Bozola A Defesa da Sauacutede em Juiacutezo

eoria e Praacutetica Satildeo Paulo Verbatim 2009SCHWARZ Germano Direito agrave Sauacutede Efetivaccedilatildeo em uma Perspectiva SistecircmicaPorto Alegre Livraria do Advogado 2001

SIQUEIRA Paula Sue Facundo de Direito Sanitaacuterio a interface entre Judiciaacuterio eSauacutede na utilizaccedilatildeo dos PDC II Foacuterum Brasileiro sobre Assistecircncia Farmacecircutica eFarmacoeconomia Salvador 2014 Mesa Redonda

SRECK Lecircnio Luiz MORAIS Joseacute Luiacutes Bolzan de Ciecircncia poliacutetica e teoria geral do

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estado 2ed Porto Alegre Livraria do Advogado 2000

AVARES Andreacute Ramos Curso de Direito Constitucional 2ed Satildeo Paulo Saraiva 2003

REZZI Humberto Sauacutede Aumento no gasto do governo em remeacutedios especiais eacuteinvestigado Promotores e policiais suspeitam que quadrilhas falsificariam atestados paraobrigar a Uniatildeo a fornecer medicamentos de alto custo a pacientes por via judicial JornalZero Hora Porto Alegre ediccedilatildeo ndeg 15734 disponiacutevel em lthttpzerohoraclicrbscombrzerohorajspdefault2jspuf=1amplocal=1ampsource=a2195502xmlamptemplate=3898dwtampedition=10739ampsection=1003gt acessado em 12out08

VIEIRA Fabiacuteola Sulpino Accedilotildees judiciais e direito agrave sauacutede reflexatildeo sobre a observacircnciaaos princiacutepios do SUS Rev Sauacutede Puacuteblica v 42 n 2 p 365-369 abr 2008

VILLAS-BOcircAS Maria Elisa Alocaccedilatildeo de Recursos em Sauacutede quando a realidade e osdireitos fundamentais se chocam 2009 425 f ese (Doutorado em Direito Puacuteblico) ndashFaculdade de Direito Universidade Federal da Bahia Salvador 2009

______ O Direito agrave Sauacutede no Brasil reflexotildees bioeacuteticas agrave luz do princiacutepio da justiccedilaSatildeo Paulo Loyola 2014

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182 DEFENSORIA PUacuteBLICA DA UNIAtildeO Escola Superior

agraves limitaccedilotildees de uma prestaccedilatildeo coletiva a exemplo da proacutepria escassez real (e aiacute misterdistinguir o mero argumento da escassez e da reserva do possiacutevel em contraposiccedilatildeo agravecomprovada inviabilidade de produccedilatildeo ou fornecimento a exemplo do nuacutemero de vagasimediatas em UI de um hospital puacuteblico ou a disponibilidade de oacutergatildeos compatiacuteveis para

transplante) e da inevitabilidade da alocaccedilatildeo de recursos o que natildeo eacute dado a ningueacutemresponsavelmente negar

Apenas a tiacutetulo de pensamento inicial sugerir-se-ia o desenvolvimento de incremento nastentativas de resoluccedilatildeo extrajudicial a exemplo de maior contato com a Administraccedilatildeo ndash aquem tambeacutem interessa a reduccedilatildeo das lides diminuindo gastos a varejo ndash e com oacutergatildeosde prestaccedilatildeo de sauacutede puacuteblica e de orientaccedilatildeo profissional meacutedica com vistas a analisar aeficaacutecia indicaccedilatildeo e seguranccedila de determinados recursos terapecircuticos subsidiando melhoros pedidos e melhorando os iacutendices de deferimento na espeacutecie que lamentavelmente

comeccedilam a declinar talvez movidos pelo perigo da dessensibilizaccedilatildeo do Judiciaacuterio ante aprofusatildeo de pedidos no setor reservando-se a atuaccedilatildeo judicial para situaccedilotildees de insucessoadministrativo reconhecido considerada a premecircncia e a comprovada necessidade ouatuaccedilotildees de iacutendole coletiva de pressatildeo poliacutetica para assegurar a melhor prestaccedilatildeo dodireito constitucional

Satildeo apenas reflexotildees incipientes mas ficam a semente da ideia o desafio que a questatildeorepresenta e o chamado ao compromisso coletivo de desenvolvecirc-las em prol do cidadatildeo

da efetividade constitucional e da atuaccedilatildeo mais consciente precisa e exitosa possiacutevel porparte da Defensoria Puacuteblica na defesa ao direito fundamental agrave sauacutede

REFEREcircNCIAS

AARON Henry SCHWARZ William Te Painful Prescription Rationing HospitalCare Washington Brookins Institution 1984

ALVES Jeovanna Viana et al Induacutestria farmacecircutica poder e subdesenvolvimentoa Bioeacutetica na Investigaccedilatildeo de Novos Medicamentos In Sexto Congresso Mundial deBioeacutetica 2002 Brasiacutelia Sociedade Brasileira de Bioeacutetica Anais 2002 p 152

BERGEL Salvador Dariacuteo Responsabilidad Social y Salud Revista Brasileira de Bioeacutetica Brasiacutelia Sociedade Brasileira de Bioeacutetica v2 n4 p 443-467 2006

CANOILHO J J Gomes Direito Constitucional e eoria da Constituiccedilatildeo 7edCoimbra Almedina [2003]

7262019 A Judicializaccedilatildeo Do Direito agrave Sauacutede - Villas Boas

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183R Defensoria Puacutebl Uniatildeo Brasiacutelia DF n 8 p 1-356 jandez 2015

COHN Ameacutelia et al A Sauacutede como Direito e como Serviccedilo Satildeo Paulo Cortez 2008

DALLARI Sueli Gandolfi Os Estados Brasileiros e o Direito agrave Sauacutede Satildeo PauloHucitec 1995

DRANE James PESSINI Leo Medicina e ecnologia Desafios eacuteticos na fronteira doconhecimento humano Satildeo Paulo Loyola 2005

FERRAZ Octaacutevio Luiz Motta VIEIRA Fabiacuteola Sulpino Direito agrave sauacutede recursosescassos e equumlidade os riscos da interpretaccedilatildeo judicial dominante Disponiacutevel emhttpwwwstfjusbrarquivocmsprocessoAudienciaPublicaSaudeanexoDireito_a_Saude_Recursos_escassos_e_equidadepdf Acesso em 25abr2015

FIGUEIREDO Mariana Filchtiner Direito Fundamental agrave Sauacutede Paracircmetros para suaEficaacutecia e Efetividade Porto Alegre Livraria do Advogado 2007

GRACIA Diego Bioeacutetica Cliacutenica e Contexto Social In VII Congresso Brasileiro deBioeacutetica Satildeo Paulo 2007 Conferecircncia

LORENZO Claacuteudio Vulnerabilidade em Sauacutede Puacuteblica implicaccedilotildees para as poliacuteticaspuacuteblicas Revista Brasileira de Bioetica Brasiacutelia Sociedade Brasileira de Bioeacutetica v 2n 3 p 299-312 2006

MELLO Dirceu Raposo de et al Anaacutelise Bioeacutetica do Papel do Estado na Garantia ao Acesso a Medicamentos In GARRAFA Volnei MELLO Dirceu Raposo de PORODora Bioeacutetica e Vigilacircncia Sanitaacuteria Brasiacutelia ANVISA 2007 p 17-18

ORGANIZACcedilAtildeO MUNDIAL DA SAUacuteDE Constitution of the World HealthOrganization Basic Documents Genebra OMS 1946 Disponiacutevel em lthttpwhqlibdocwhointhistofficial_recordsconstitutionpdfgt acessado em 20ago08

PENCHASZADEH Victor Bioeacutetica y medicina social Una confluencia necesariaRevista Brasileira de Bioeacutetica Brasiacutelia Sociedade Brasileira de Bioeacutetica v 3 n 2 p129-149 2007

SALAZAR Andrea Lazzarini GROU Karina Bozola A Defesa da Sauacutede em Juiacutezo

eoria e Praacutetica Satildeo Paulo Verbatim 2009SCHWARZ Germano Direito agrave Sauacutede Efetivaccedilatildeo em uma Perspectiva SistecircmicaPorto Alegre Livraria do Advogado 2001

SIQUEIRA Paula Sue Facundo de Direito Sanitaacuterio a interface entre Judiciaacuterio eSauacutede na utilizaccedilatildeo dos PDC II Foacuterum Brasileiro sobre Assistecircncia Farmacecircutica eFarmacoeconomia Salvador 2014 Mesa Redonda

SRECK Lecircnio Luiz MORAIS Joseacute Luiacutes Bolzan de Ciecircncia poliacutetica e teoria geral do

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estado 2ed Porto Alegre Livraria do Advogado 2000

AVARES Andreacute Ramos Curso de Direito Constitucional 2ed Satildeo Paulo Saraiva 2003

REZZI Humberto Sauacutede Aumento no gasto do governo em remeacutedios especiais eacuteinvestigado Promotores e policiais suspeitam que quadrilhas falsificariam atestados paraobrigar a Uniatildeo a fornecer medicamentos de alto custo a pacientes por via judicial JornalZero Hora Porto Alegre ediccedilatildeo ndeg 15734 disponiacutevel em lthttpzerohoraclicrbscombrzerohorajspdefault2jspuf=1amplocal=1ampsource=a2195502xmlamptemplate=3898dwtampedition=10739ampsection=1003gt acessado em 12out08

VIEIRA Fabiacuteola Sulpino Accedilotildees judiciais e direito agrave sauacutede reflexatildeo sobre a observacircnciaaos princiacutepios do SUS Rev Sauacutede Puacuteblica v 42 n 2 p 365-369 abr 2008

VILLAS-BOcircAS Maria Elisa Alocaccedilatildeo de Recursos em Sauacutede quando a realidade e osdireitos fundamentais se chocam 2009 425 f ese (Doutorado em Direito Puacuteblico) ndashFaculdade de Direito Universidade Federal da Bahia Salvador 2009

______ O Direito agrave Sauacutede no Brasil reflexotildees bioeacuteticas agrave luz do princiacutepio da justiccedilaSatildeo Paulo Loyola 2014

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FIGUEIREDO Mariana Filchtiner Direito Fundamental agrave Sauacutede Paracircmetros para suaEficaacutecia e Efetividade Porto Alegre Livraria do Advogado 2007

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MELLO Dirceu Raposo de et al Anaacutelise Bioeacutetica do Papel do Estado na Garantia ao Acesso a Medicamentos In GARRAFA Volnei MELLO Dirceu Raposo de PORODora Bioeacutetica e Vigilacircncia Sanitaacuteria Brasiacutelia ANVISA 2007 p 17-18

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estado 2ed Porto Alegre Livraria do Advogado 2000

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VIEIRA Fabiacuteola Sulpino Accedilotildees judiciais e direito agrave sauacutede reflexatildeo sobre a observacircnciaaos princiacutepios do SUS Rev Sauacutede Puacuteblica v 42 n 2 p 365-369 abr 2008

VILLAS-BOcircAS Maria Elisa Alocaccedilatildeo de Recursos em Sauacutede quando a realidade e osdireitos fundamentais se chocam 2009 425 f ese (Doutorado em Direito Puacuteblico) ndashFaculdade de Direito Universidade Federal da Bahia Salvador 2009

______ O Direito agrave Sauacutede no Brasil reflexotildees bioeacuteticas agrave luz do princiacutepio da justiccedilaSatildeo Paulo Loyola 2014

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AVARES Andreacute Ramos Curso de Direito Constitucional 2ed Satildeo Paulo Saraiva 2003

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VILLAS-BOcircAS Maria Elisa Alocaccedilatildeo de Recursos em Sauacutede quando a realidade e osdireitos fundamentais se chocam 2009 425 f ese (Doutorado em Direito Puacuteblico) ndashFaculdade de Direito Universidade Federal da Bahia Salvador 2009

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