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ASSEMBLÉIA SSEMBLÉIA L LEGISLATIVA EGISLATIVA DO DO E ESTADO STADO DO DO R RIO IO G GRANDE RANDE DO DO S SUL UL SUBCOMISSÃO DE MEDICAMENTOS DE USO ESPECIAL E CONTÍNUO SUBCOMISSÃO DE MEDICAMENTOS DE USO ESPECIAL E CONTÍNUO COMISSÃO DE SAÚDE E MEIO AMBIENTE COMISSÃO DE SAÚDE E MEIO AMBIENTE RDI Nº 40/2007 Requerimento de Subcomissão para tratar sobre a falta de Medicamentos de Uso Especial e Contínuo. Processo nº 20387-01.00 Composição da Subcomissão: Deputado Luciano Azevedo - Relator Deputado Pedro Pereira Deputado Gilberto Capoani Deputado Paulo Azeredo (em substituição ao Deputado Coffy Rodrigues)

A L DO E DO R G DO S SUBCOMISSÃO DE MEDICAMENTOS … · •propor métodos, medidas e ações que possam ajudar na regularização do fornecimento de tais medicamentos e que isso

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SUBCOMISSÃO DE MEDICAMENTOS DE USO ESPECIAL E CONTÍNUOSUBCOMISSÃO DE MEDICAMENTOS DE USO ESPECIAL E CONTÍNUOCOMISSÃO DE SAÚDE E MEIO AMBIENTECOMISSÃO DE SAÚDE E MEIO AMBIENTE

RDI Nº 40/2007

Requerimento de Subcomissão

para tratar sobre a falta de

Medicamentos de Uso Especial e

Contínuo.

Processo nº 20387-01.00

Composição da Subcomissão:

Deputado Luciano Azevedo - Relator

Deputado Pedro Pereira

Deputado Gilberto Capoani

Deputado Paulo Azeredo (em substituição ao Deputado Coffy Rodrigues)

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SUMÁRIO

1. Da criação

2. Cronograma de trabalho e reuniões

3. Dos participantes

4 Transcrições das reuniões (sem revisão)

• 03/04/2007 – 17 horas - Reunião para aprovação do cronograma de

atividades da Subcomissão

• 10/04/2007 – 17 horas - Reunião com a Associação Gaúcha dos Portadores

de Esclerose Múltipla do RS e Associação Gaúcha dos Ostomizados

• 17/04/2007 – 17 horas - Reunião com representante da Secretaria da Saúde

e Associação dos Portadores de Parkinson do RS

• 23/04/2007 – 17 horas – Reunião com Associação dos Transplantados de

Fígado do RS, Associação Gaúcha de Mucoviscidose e Fibrose Cística,

representante da Defensoria Pública do RS e representante dos Portadores

de Tirosinemia

• 08/05/2007 – 17horas – Reunião com Associação dos Portadores de Hepatite

Crônica, Centro de Apoio ao Portador de Anemia Falciforme e Associação

Gaúcha dos Familiares de Pacientes Esquizofrênicos

• 18/05/2007 – 14 horas – Descentralização das atividades no município de

Pelotas/RS

• 22/05/2007 – 17horas – Reunião com Presidente do SIMERS, Diretor do

Conselho Regional de Saúde e Coordenador do Conselho Estadual de Saúde

• 04/06/2007 – 14 horas – Descentralização das atividades no município de

Caxias do Sul/RS

• 22/06/2007 – 14 horas – Descentralização das atividades no município de

Passo Fundo/RS

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• 27/06/2007 – 14 horas – Reunião com Associação dos Portadores de Lúpus

do Vale dos Sinos, no município de São Leopoldo, em virtude do

cancelamento da reunião do dia 19/06 (reunião informal, sem transcrição)

• 11/07/2007 – 10 horas – Audiência Pública com o Secretário da Saúde, Dr.

Osmar Terra

5. Política Nacional de Medicamentos

6. O SUS e os medicamentos excepcionais

7. Demandas judiciais

8. Da dispensação de medicamentos

9. Centros de referência

10. Lista de medicamentos especiais e excepcionais

11. Gastos em saúde

12. Encaminhamentos

13. Anexos

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1. Da criação

O RDI – Requerimento Diverso, de número 40, com base no Artigo 74 e seus

parágrafos, da Resolução Nº 2.288, de 18 de Janeiro de 2001 – Regimento Interno

da ALRS, com a finalidade de tratar sobre a falta de distribuição, pelo Estado, dos

medicamentos de uso especial e uso contínuo aos portadores de patologias que

deles necessitam, firmado pelos Deputados Estaduais Luciano Azevedo e Pedro

Pereira, datado de 21 de março de 2007, com aprovação, pela Comissão de Saúde

e Meio Ambeinte, no dia 28 de março de 2007.

A criação desta Subcomissão baseou-se, fundamentalmente, na busca de

soluções para que a situação da falta de fornecimento de medicamentos seja

sanada de forma rápida e ágil, tendo em vista que muitas pessoas correm risco de

vida se não os administrarem da forma como foram prescritos.

É fato notório que o Estado do Rio Grande do Sul vive uma das piores crises

financeiras de sua história; há falta de dinheiro para diversos setores mas, quando

se trata de saúde, é quase impossível esperar até o “próximo mês” para que seja

dada uma solução. Muitas vezes esse adiamento custa a vida de pessoas que, sem

dinheiro suficiente para suas necessidades básicas, se vêem desesperadas por não

poderem comprar um remédio que salvaria suas vidas e que o Estado, por

encontrar-se em tal situação calamitosa, não fornece a quem de direito.

Assim, ciente e pautada por esta realidade, a Subcomissão foi criada com os

seguintes objetivos:

• levantar o número de pessoas que necessitam dos medicamentos de uso

especial e contínuo;

• verificar qual o rol de medicamentos considerados como sendo de uso especial e

contínuo, de acordo com a lista fornecida pela Secretaria de Saúde;

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• propor métodos, medidas e ações que possam ajudar na regularização do

fornecimento de tais medicamentos e que isso seja efetivado de modo ágil;

• tratar a saúde e a distribuição de medicamentos como política de estado e não

de governo.

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2. Proposta de trabalho e cronograma de reuniões:

Na busca de identificar as principais barreiras a serem transpostas para a

concretização dos objetivos propostos, a Subcomissão elaborou um plano de

trabalho baseado, num primeiro momento, em ouvir todos os envolvidos em tal

processo: entidades representativas, Conselhos de Saúde (em âmbito estadual e

municipal), representantes da Secretaria da Saúde, membros do Ministério Público,

membros da Defensoria Pública, Sindicatos, Organizações Não Governamentais,

entre outros, buscando assim identificar a percepção de cada um destes setores

sobre a irregularidade no fornecimento dos medicamentos especiais e de uso

contínuo, para a partir de então, através da documentação juntada, propostas

apresentadas e depoimentos prestados, partir para uma análise objetiva englobando

a Secretaria de Saúde do Estado, sua estrutura física, os recursos humanos

disponíveis, suas atribuições, suas carências, identificando eventuais falhas, para

então, propor sugestões que atendam ao objetivo principal, qual seja, a volta do

fornecimento regular dos medicamentos em questão.

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3. Dos participantes

Durante a vigência da Subcomissão foram ouvidas diversas entidades

representativas: sindicatos, Conselhos municipais e Estadual, Ministério Público,

Defensoria Pública, representantes da Secretaria da Saúde, entre outros.

O trabalho realizou-se de forma democrática, ouvindo-se todos os setores

envolvidos na questão, de um lado, associações e entidades, e de outro, o gestor

público e órgãos de justiça. Desta maneira foi possível estabelecer um contraponto

ao pleito daqueles que utilizam os serviçoes da Secretaria da Saúde.

Dentre os representantes das entidades, pode-se citar o Sr. Izaac

Fernandes, presidente da Associação Gaúcha dos Ostomizados, referindo que “(...)

Entretanto, esta emenda, que deveria tratar especificamente da saúde, já está

sendo desvirtuada porque também prevê recursos para o programa Fome Zero.

Hoje recebi outro e-mail da assessoria do Ministro Hélio Costa que revela que

recursos financeiros do Coaf estão sendo encaminhados para o PSF de outros

segmentos, quando deveriam ser encaminhados para a Saúde, porque o problema

é não termos os nossos medicamentos (...)”. A Emenda Constitucional a que se

refere o Sr. Izaac é a EC nº 29.

Outra representante de entidade é a Sra. Ângela Garcia, presidente da

Associação Gaúcha dos Portadores de Doença de Parkinson, que assim relata sua

doença: “(...) A associação tem lutado há mais de 4 anos pela regularização da

situação dos medicamentos. Os medicamentos são o nosso combustível; sem eles,

não conseguimos andar, vestir e calçar, tornamo-nos inúteis sobre uma cama. (...)

Quando o organismo rejeita o Prolopa, é preciso ter outras duas ou três alternativas

para prosseguir o tratamento. Precisamos do Prolopa, do Sifrol, que são os

medicamentos básicos, do Mantidan, do Tasmar e de vários outros medicamentos.

Quando não há esses medicamentos na Secretaria, os portadores da doença ficam

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privados das atividades. (...)”.

O Ministério Público foi, em todas as reuniões, representado pelo Dr. Mauro

Luiz Silva de Souza, que também faz parte do Centro de Apoio aos Direitos

Humanos e assim referiu em um dos seus pronunciamentos: “(...) Então, o Ministério

Público, como encarregado pela Constituição de cobrar dos poderes públicos o

cumprimento dos direitos públicos que estão na Constituição, fez a única coisa que

nos cabia fazer: entrar na Justiça para que dissesse se o Estado tem ou não

obrigação no caso. A partir daí é que vamos ver qual é a decisão. Sabemos que o

cobertor é curto. Sabemos que talvez, mesmo com o adimplemento dessas

questões constitucionais, não haverá dinheiro para tudo, mas pelo menos teremos

um norte, quer dizer, vamos eleger uma política que diga: essas e essas ações e

serviços de saúde serão financiados pelo Estado para estas e aquelas pessoas (...)”.

Já a representante da Secretaria da Saúde, Sra. Simone do Amaral,

menciona que as dívidas estão sendo renegociadas com os laboratórios no seguinte

trecho: “(...) O Estado é devedor de vários laboratórios. Negociamos, e a

governadora, em 90 dias, apresentará o calendário de pagamento. Isso tranqüiliza

muito o laboratório, a distribuidora. A partir daí, as despesas, aquelas compras que

estamos fazendo em 2007, serão pagas em 2007. Estamos conseguindo negociar, a

exemplo do medicamento utilizado para esclerose múltipla. Temos, hoje, em

estoque o Beta Interferon de 22mcg e o Beta Interferon de 30mcg, o de 9,6 milhões,

que é o medicamento mais utilizado pelos usuários, está em falta. O laboratório, no

entanto, concordou com a negociação e o medicamento será entregue. O

laboratório vai aguardar o calendário para regularizarmos a dívida do exercício

anterior. O que estamos comprando neste exercício o pagamento será imediato,

porque o empenho é prévio. A falta de medicamentos, na realidade, como envolve

questão de dívida, dependia de uma negociação e do acerto de cada laboratório

com a Secretaria da Fazenda, para terem a garantia de que iriam receber aquilo que

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estava atrasado. Só depois disso poderiam negociar e entregar os medicamentos.

Se fica em aberto o empenho, eles não entregam, até porque o Estado tem uma

dívida grande com eles. A partir do momento em que aceitaram essa nossa

negociação, a entrega será regularizada (...).”

O Dr. Paulo de Argollo Mendes, representando o SIMERS, refere que algo

está “sendo feito” entre laboratórios e familiares de pacientes, para que sejam

comprados os remédios mais caros, conforme o depoimento a seguir: “(...) Não

preciso dizer a vocês que, com enorme freqüência, se insinua que os movimentos

em defesa dos portadores daquela patologia estão em conluio com laboratórios.

Ouvi muitas vezes que os laboratórios criam associações de familiares de doentes,

financiam advogados e pagam para que as pessoas exijam o consumo desses

medicamentos. Então, é uma lógica extremamente perversa – evito dizer canalha. E

que vai sendo construído de uma maneira ir abarcando e convencendo as pessoas

no entorno (...).”

Seguem os nomes de algumas entidades, autoridades e sindicatos que fizeram

parte das reuniões: Associação Gaúcha dos Ostomizados, representada por seu

presidente, Sr. Izaac Fernandes; Associação Gaúcha dos Portadores de Esclerose

Múltipla, representada por sua presidenta, Sra. Ieda Marta Reis; Ministério Público,

representado pelo Dr. Mauro Luis Silva de Souza, Associação Gaúcha dos

Portadores de Parkinson, representada por sua presidenta, Sra. Ângela Maria

Garcia; Dr. Guilherme Machado, advogado engajado na causa dos portadores de

parkinson; Secretaria da Saúde, representada pela Sra. Simone do Amaral;

Conselho estadual de Saúde do RS, representado pelo Sr. Lothario Schlindwein;

Movimento das Donas de Casa e Consumidoras do RS, Dona Edy Mussói,

Defensoria Pública, representada pelo Dr. Leonel Arneck Maria; Portadores de

Tirosinemia, representados pela Sra. Maria Auxiliadora Xavier Trindade; Associação

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Gaúcha de Assistência à Mucoviscidose e Fibrose Cística, representada pela Sra.

Cleci Furian Muller e pelo Sr. Cristiano Machado Silveira; Associação dos

Transplantados de Fígado do RS, representada pelo Sr. Jorge Krammer Borges,

Dra. Marinês Assmann; representando o Centro de Apoio aos Direitos Humanos;

Centro de Apoio ao Portador de Anemia Falciforme, representado por sua

presidenta, Sra. Caren Fortunato; Associação Gaúcha dos Familiares de Pacientes

Esquizofrênicos, representada por sua presidenta, Sra. Marlene Gazave; Sindicato

Médico do RS, representado por seu presidente, Dr. Paulo Argollo Mendes;

Associação dos Ostomizados Amigos e Familiares, representado pelo Sr. Isaac

Bento e pela Sra. Clair Barbosa; Associação Riograndense dos Transplantados

Portadores de Doenças Crônicas, representado por seu presidente, Sr. Jorge

Silveira; Associação dos Portadores e familiares do Mal de Parkinson, representada

por sua vice-presidente, Sra, Ziloá Silveira Ferreira, pelo Sr. Evaldo Antunes Vieira e

por sua advogada, Dra. Maria Valquíria Silveira; Conselho Regional de Saúde,

representado por seu presidente, Sr. Guilherme Beletti; Conselho Municipal de

Saúde, representado por seu presidente, Sr. Francisco neto de Assis; Ordem dos

Advogados do Brasil, representada pelas Dras. Marlene Souza Bederade e Eliane

Batisti; Sra. Neuza Beatriz, mãe de Ingrid, portadora de alergia alimentar severa; Sr.

Félix Barbosa Filho, profissional liberal; Hospital de Clínicas de Porto Alegre,

representado pelo médico hematologista, Dr. Ricardo Friedrish; Conselho Estadual

de saúde, representado por sua vice-presidente, Sra. Maria Beatriz Kunkel;

Sindicato Médico do RS, representado por sua vice-presidente, Dra. Maria Rita de

Assis Brasil; Conselho Regional de Farmácia, representado pela Sra. Karen Zazulak;

Secretaria da Saúde, representada pela Sra. Simone do Amaral; Secretaria

Municipal de Saúde, representada por sua secretária, Sra. Maria do Rosário;

Associação de Parkinson do RS, representada por sua presidenta, Sra. Ângela

Garcia; Associação do Bairro Madureira (Caxias do Sul), representada pelo Sr. Luiz

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Pizzetti (que também é representante do Conselho Municipal de Saúde); Associação

Rim Viver, representada por sua presidente Sra. Isoldi Chies; Secretaria de Saúde

de Bento Gonçalves, representada por seu secretário, Sr. Roberto Miele; 5ª

Coordenadoria de Saúde (Caxias do Sul), representada pelo Sr. Eduardo Iotti;

Associação do Bairro Século XX, representada pelo Sr. Wilson de Souza; Sr. José

Cavalli, médico; Comissão de Saúde da Câmara Municipal (Caxias do Sul),

representada pelo Vereador Pedro Incerti; Sr. Izidoro Zanetti, cidadão; Sr. Darci

Adelar de Jesus, cidadão; sra. Izabel cristina Corso, atendente de clínica de renais

crônicos; Sra. Denise Ramos, transplantada de rim e pâncreas; Sra. Joelma,

transplantada; Sra. Irdes Rossi, transplantada; Conselho Municipal de Saúde

(Caxias do Sul), representado pelo Sr. Ribeiro; Associação dos Portadores de Lúpus

do Vale dos Sinos, represenatda por sua presidente, Sra. Izabel Oliveira.

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4. Transcrições das reuniões: (face a exigüidade de tempo para

apresentação do relatório, as transcrições abaixo não foram revisadas)

DATA 10/04/2007: O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Damos

início à reunião da nossa subcomissão, que é ligada à Comissão de Saúde, e que

trata do fornecimento de medicamentos de uso especial e contínuo.

Registramos a presença do Deputado Coffy Rodrigues, integrante desta

comissão, assim como do assessor do gabinete do deputado Gilmar Sossella.

Estamos aguardando pelos deputados Pedro Pereira e Gilberto Capoani.

Registramos também a presença do Sr. Izaac Fernandes, presidente da

Associação Gaúcha dos Ostomizados; da Sra. Ieda Marta Reis, representante dos

portadores de esclerose múltipla; do representante da Associação dos Ostomizados

de Esteio, Sr. Sulmar Menezes Duarte; do vive-presidente do SOS – RIM André

Francisco Alves; do Sr. Ilso Menegás, presidente da Associação dos Hospitais e

Serviços de Saúde do Rio Grande do Sul; da Sra. Cleci Miller, da Associação

Gaúcha de Assistência à Mucoviscidose – AGAM; da coordenadora presidente da

ABRAS, Sra. Iara Primo Portugal; do representante do Ministério Público do Rio

Grande do Sul, a quem convidamos para compor a nossa mesa, promotor de Justiça

Mauro Luis Silva de Souza.

Nossa subcomissão foi criada para propor alternativas ao problema da

irregularidade no fornecimento de medicamentos em nosso Estado, e temos um

prazo de 120 dias para concluir os nossos trabalhos.

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Na nossa última reunião, aprovamos um cronograma de atividades que se

compõe de uma audiência pública com as entidades que deveriam estar recebendo

esta medicação; com representantes do Ministério Público, da Secretaria de Estado

de Saúde, do Conselho Estadual de Saúde e dos Conselhos Municipais de Saúde.

Foram aprovadas outras quatro audiências públicas a serem realizadas no interior

do Estado: Canoas, Pelotas, Passo Fundo e Itaqui.

Pretendemos atuar em três etapas. A primeira delas é a do levantamento de

quem são, onde estão, e quantos são os gaúchos que deveriam estar recebendo

estes medicamentos. Usaremos as prerrogativas de que dispõe a nossa

subcomissão para conscientizar os gaúchos, que não estão cadastrados pela rede

pública de saúde, sobre as prerrogativas que a lei lhes confere.

Em um segundo momento, queremos descobrir por que os recursos,

repassado pelo governo federal, não estão sendo devidamente aplicados. E, se ele

está sendo aplicado, porque temos tanta irregularidade no fornecimento da

medicação. Afinal, de contas, de que forma está sendo utilizado este recurso que

deveria ser usado exclusivamente para esta finalidade.

Em terceiro lugar, queremos trabalhar, com todos os senhores, para que o

fornecimento dos remédios às pessoas que deles precisam seja recomposto e que

isto seja feito de forma regular. Pretendemos, portanto, contribuir para a solução

deste problema que é tão importante para o Estado do Rio Grande do Sul.

Nosso objetivo é que esta seja uma pauta prioritária para o Estado. Neste

momento está sendo discutida a questão dos pedágios, das emancipações e da

crise econômica. O fornecimento dos medicamentos também deve ser uma das

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questões prioritárias para o governo.

Esperamos poder contribuir para isso, assim como esperamos poder contar

com o auxílio de todas as pessoas de boa vontade de nosso Estado.

Nossas reuniões realizar-se-ão todas as terças-feiras neste plenário, às

17h30min, após a sessão plenária. Todos os senhores estão permanentemente

convidados.

Passo a palavra ao presidente da Associação Gaúcha dos Ostomizados,

Izaac Fernandes.

O SR. IZAAC FERNANDES – Boa-tarde. Saúdo a todos, em especial ao Dr.

Mauro Luis, a quem tive a honra de acompanhar por ocasião da assinatura do

convênio que fizemos com a Famurs, do qual a associação participa do Conselho

Estadual da Pessoa com Deficiência.

Inicialmente, eu perguntaria ao plenário se alguém tem dúvidas quanto aos

problemas por que passa uma pessoa com problemas de ostomia. Esclareço que a

pessoa ostomizada é aquela que, através de intervenção cirúrgica, fica na

dependência, de forma temporária ou definitiva, da bolsa de colostomia.

O decreto 52/96, que foi resultado de uma luta de mais de 20 anos de nossa

entidade, contemplou o ostomizado no Brasil como sendo um portador de deficiência

física. Os ostomizados não dependem apenas da bolsa mas também de vários

medicamentos.

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O medicamento principal para o ostomizado é, sem dúvida, a bolsa coletora

de fezes. Representamos a Federação das Associação dos Transplantados e

Portadores de Doenças Crônicas do Rio Grande do Sul, entidade que congrega

dezoito federados, que, em parceria com outros órgãos, tem desenvolvido esta luta

pela distribuição das bolsas coletoras.

A pergunta do deputado sobre o porquê da falta de medicamento é de difícil

resposta. Estas pessoas dependem do medicamento para a sua sobrevivência.

Participamos de algumas entidades, em nível federal e estadual, e temos algumas

idéias, como por exemplo: temos que trabalhar pela aprovação da emenda nº 29,

que está há dois anos parada no Congresso Nacional. Esta emenda trará recursos

para a sociedade.

Entretanto, esta emenda, que deveria tratar especificamente da saúde, já

está sendo desvirtuada porque também prevê recursos para o programa Fome Zero.

Hoje recebi outro e-mail da assessoria do Ministro Hélio Costa que revela que

recursos financeiros do Coaf estão sendo encaminhados para o PSF de outros

segmentos, quando deveriam ser encaminhados para a Saúde, porque o problema é

não termos os nossos medicamentos.

Penso, deputado, que as entidades têm que colocar os pés no chão, porque

muitas vezes culpamos os governos e não procuramos ver a nossa realidade.

Várias ações poderiam ser feitas. Vou dirigir-me especificamente às ações

com as pessoas ostomizadas, que é o objetivo desta reunião.

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Fico muito satisfeito, deputado Luciano Azevedo, por receber este convite,

porque nós temos, no Rio Grande do Sul, mais de 2 mil entidades trabalhando em

diversos segmentos e que até então não foram chamadas para esse tipo de debate.

O senhor, deputado, está iniciando, nesta Casa, o debate sobre esse

assunto. Tenho certeza que daqui serão encaminhados muitos projetos importantes,

porque essas entidades estão trabalhando nessa questão no dia-a-dia e sabem que

realmente é possível. Falo isso por mim, pois quando fiz a cirurgia, há 10 anos,

iniciei um trabalho para a entidade que seria por seis meses e estou a frente dessa

questão há seis anos.

Recentemente, encaminhamos à governadora do Estado um ofício,

informando que as pessoas ostomizadas precisam de no mínimo dez bolsas

coletoras para terem qualidade de vida. Mas o Estado, com todas as dificuldades

que vem passando, está distribuindo apenas cinco bolsas.

É importante dizer aos senhores que participamos de uma câmara técnica

de atenção à pessoa com ostomia e incontinência urinária e que temos feito vários

avanços no sentido da capacitação de profissionais, pois às vezes ocorre muito

desperdício de produto caro. Temos conseguido evoluir e essa câmara técnica foi

fundamental nesse sentido, entretanto, a câmara técnica não tem capacidade de

buscar recursos financeiros para comprar a bolsa coletora.

Dentro dessa realidade, encaminhamos mais um ofício, nesta semana, ao

secretário Osmar Terra, no qual propomos que seja adequada essa realidade,

porque não é somente a bolsa, temos a irrigação e vários kits que compõem os

equipamentos para pessoas ostomizadas e com incontinência urinária. Entretanto,

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os incontinentes urinários, no Rio Grande do Sul, segundo a OMC, são 8% da

população brasileira.

Assim sendo, é totalmente inviável, nesse segmento, conseguirmos atender

à totalidade, considerando que é tarefa da nossa entidade lutar por esse

equipamento. Mas, felizmente, aquelas pessoas dentro da câmara técnica com

maior dificuldades estão sendo atendidas, sim.

Ontem, falava com a Secretaria e fiquei sabendo que já está sendo feita a

compra dos equipamentos que por essas razões existia uma certa dúvida, em

função dos fornecedores estarem há muito tempo sem receber seus recursos. Mas

parece que foi feito um acordo e que os fornecedores entregaram os produtos.

Semana que vem a Secretaria vai estar distribuindo no Estado os produtos,

mas continua sendo aquela quantidade inferior às necessidades dos nossos

pacientes.

Por isso essa luta que queremos trazer para esta Casa. Se não tem

medicamento e a bolsa é um medicamento, o ostomizado passa a ter problemas de

saúde.

Também é necessário que seja feita uma forte campanha, como faz a

associação no Rio Grande do Sul, que é a campanha de prevenção do câncer de

intestino. Para isso elaboramos um site que está sendo bastante difundido no

Estado, que passa uma leitura simples de parceria com a Sociedade Brasileira de

Coloproctologia, possibilitando que evitemos milhares de casos e conseqüentemente

a diminuição dos custos.

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Hoje esse custo está em torno de 500 reais por paciente de colostomia no

Rio Grande do Sul. Nós temos essa dependência e precisamos da parceria desta

Casa para evoluirmos, não só nos casos das pessoas com ostomia, mas em vários

segmentos.

Os outros segmentos que foram convidados nesta tarde para se

manifestarem também vão falar sobre esse caso. É necessário trabalharmos no

Estado a prevenção.

Por fim, queremos deixar uma contribuição, que é um debate, sobre a luta

pela melhoria da gestão e pela garantia do financiamento do SUS, bem como pela

implantação do atendimento odontológico básico no Estado. Será uma luta nacional

e nós temos vários pacientes com grandes problemas nesse segmento. É

necessário o fortalecimento e a ampliação da rede de farmácia popular nas cidades

brasileiras e no Rio Grande do Sul, com venda de medicamentos a preço de custo e

controle estatístico para o ICMS.

Temos outras propostas, que talvez sejam feitas numa posterior reunião,

com a finalidade de debatermos e aprofundarmos as questões. Gostaria de contar

com a colaboração deste segmento e colocar nossa entidade, que é uma antiga

lutadora, à disposição desta Comissão. Obrigado.

O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Agradecemos a manifestação

do presidente da Associação Gaúcha dos Ostomizados, que encaminhou

documentos a esta Subcomissão e colocou-se à disposição para colaborar nos

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trabalhos que realizaremos nos próximos 120 dias. Com certeza, voltaremos a ouvi-

lo.

Registro a presença do deputado Pedro Pereira, um dos autores do

requerimento, para que pudéssemos na Comissão de Saúde discutir esse tema, e

concedo a palavra à presidente da Associação Gaúcha dos Portadores de Esclerose

Múltipla, Sra. Ieda Marta Reis.

A SRA. IEDA MARTA REIS – Agradeço pelo espaço concedido nesta Casa.

Nós, ultimamente, temos enfrentado um problema muito sério com relação à falta de

medicamentos e não podemos ficar sem eles, assim como também não podemos

sair às ruas para bater panelas, fazer barulho, reclamar ou fazer grandes

manifestações. Eu não tenho como fazer isso e os outros portadores também não.

Todas essas questões são regulamentadas e tudo está regularizado.

Nós temos o protocolo clínico de diretrizes terapêuticas que regulamenta a

nossa doença, que é uma doença degenerativa do sistema nervoso central. Isso

significa que não tem época nem data para iniciar o problema, assim como não tem

data para terminar. Não tem uma idade limite para acontecer, ele acontece e pronto.

Seus sintomas são muito difíceis de serem percebidos, tanto é que tive meu primeiro

surto – claro que sem saber – aos 16 anos e somente descobri o que tinha aos 31

anos, depois de ganhar meu primeiro e único filho. Isso sempre foi muito difícil. E no

interior do Estado, somos aproximadamente 600 pessoas cadastradas à Agapem,

mas muitos devem ter o mesmo problema e não sabem devido ao difícil diagnóstico.

Para recebermos o medicamento, temos de obedecer a uma lista de

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exames, porque temos de comprovar laudos médicos, endereço, etc. e está tudo

regulamentado na Secretaria da Saúde de acordo com o PCDT – Protocolo Clínico e

Diretrizes Terapêuticas –, composto por inúmeros médicos. O fornecimento não é

regularizado.

Pessoas da Secretaria, em reunião, disseram que o encargo do nosso

medicamento é muito alto e eu precisaria arcar com ele e, inclusive, responsabilizar

os planos de saúde. Mas quem tem planos de saúde, é exceção, e o SUS, que

atende à grande maioria, sabe que precisa responder por isso.

A Portaria nº 2.577, do Ministério da Saúde, regulamenta o fornecimento

desses medicamentos, e a co-participação estado e federação – sendo que quem

participa mais é a federação, mas o dinheiro deve ir para fundo a fundo. Então, a

princípio, o dinheiro não deveria ir para uma vala comum para depois ser distribuído

– e é isso o que acontece aqui no Estado.

Claro que o valor gasto pelo Estado com medicamento é muito alto, mas

também é alto para mim, porque o medicamento é muito caro, se fosse mais em

conta, mais barato, eu compraria, mas não tenho como sustentar, por mês, 4 mil e

800 reais para usá-lo em apenas um mês.

A continuidade do fornecimento do medicamento para a prevenção de

surtos, ou seja, se fico sem o medicamento, fico propensa a surtos. Explico: sem o

medicamento posso ter desde uma cegueira, que já aconteceu comigo; problema

nas pernas, como estou até hoje; problemas nos braços e outros problemas

motores; problemas esfincterianos; problemas com a fala e outros.

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Os senhores podem notar que não tenho uma fluência verbal tão bonita

quanto a do Sr. Izaac Fernandes para discursar, pois a minha fala já está

prejudicada talvez em função das contínuas faltas do medicamento.

Sei porque a Portaria não é obedecida: é porque eles sabem que eu não

posso ir à rua para brigar, pois, se pudesse, talvez a coisa mais barulhenta e seria

diferente.

Em março, entramos com uma liminar exigindo a compra desses

medicamentos, e ela não foi obedecida. Quando o colega chegou à farmácia da

Secretaria, eles não tinham o que fornecer. Disseram: os laboratórios não têm, eles

é que não querem negociar conosco, mas, na verdade, o que aconteceu é que os

laboratórios negociaram a dívida e não houve o pagamento. Quando encerrou o

governo anterior, cancelaram o pagamento das dívidas.

Não tenho muito o que dizer e não sou tão versada como o Sr. Izaac, mas

sinto vergonha do que está acontecendo. Estou há três meses sem receber o

medicamento.

Eles começaram a fornecer dois tipos de medicamentos: Avonex e o

Copaxone, mas ainda não começaram a fornecer o Rebif e o Betaferon. Isso quer

dizer que eles não conseguiram negociar a dívida com os laboratórios e nem

estimaram quando isso vai acontecer, o que significa que as pessoas estão

esperando que isso ocorra e esperando para poderem continuar vivendo – que é o

mínimo a que temos direito. Muito obrigada.

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O SR. PARTICIPANTE – Fizemos um ajustamento de conduta do Ministério

Público, por intermédio da Sra. Maria Inês com a Secretaria da Saúde. Por várias

reclamações de falta de equipamento em todo o Estado, na época, o Ministério

Público entrou com uma ação no mês de abril e, no mês de agosto, já estava sendo

ouvido o autor. Não temos informação se há uma decisão.

Em cima do pedido que fez a colega, que buscou uma liminar na Justiça,

pergunto ao Dr. Mauro se ela obterá sucesso até porque estamos preocupados, pois

já existe uma decisão do STF no caso dos medicamentos especiais – e os senhores

já devem conhecê-la –, que muito está nos preocupando em nível de Federação.

O SR. PRESIDENTE (Luciano Azevedo – PPS) – Está com a palavra o Sr.

Mauro Luis Silva de Souza, que, nos minutos de que dispõe, fará um relato da

movimentação do Ministério Público Estadual em relação a esse tema.

Em seguida, abrirei espaço para que os representantes das entidades que

se fazem presentes possam fazer uso da palavra.

De imediato, concedo a palavra ao Sr. Mauro Luis Silva de Souza.

O SR. MAURO LUIS SILVA DE SOUZA – Exmo. Sr. Relator desta

subcomissão, deputado Luciano Azevedo; Srs. Deputados Pedro Pereira e Coffy

Rodrigues; Sr. Izaac Fernandes; Sra. Ieda Marta Reis; Srs. Representantes de

entidades:

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O Ministério Público entende que os medicamentos estão plenamente

contemplados na idéia de organização do Sistema Único de Saúde, que foi o

instrumento eleito pela Constituição Federal de 1988 para garantir saúde à

população brasileira como um todo, um direito social fundamental disposto no artigo

6º da Carta Magna.

Tentarei, em breves minutos, dar uma panorâmica de todo esse estado de

coisas. Começarei pelo momento anterior a 1988, que, pelo menos os senhores que

têm um DNA – que quer dizer data de nascimento anterior – parecido com o meu,

devem ter notícia.

Todos lembram que havia a famosa carteirinha do INSS, ou seja, a

carteirinha do INPS. Naquela época, tinha direito ao atendimento médico-hospitalar

– que não é a mesma coisa que atendimento à saúde, por ser este um conceito mais

amplo – apenas aquele que era contribuinte do INSS. Até 1988, funcionava assim.

Quem não era contribuinte do INSS dependia da caridade das instituições

filantrópicas e das pessoas que faziam caridade para conseguir um atendimento

médico-hospitalar, genericamente falando, um atendimento à sua saúde.

A partir de 88, cria-se o Sistema Único de Saúde, e a saúde passa ser um

direito fundamental de cada cidadão. Essa foi uma decisão política que não foi

tomada por mim, mas pelos constituintes e por todos nós. Estou aqui referindo-me

hoje a decisões políticas. Isso que estou fazendo aqui. Estou falando em decisões

políticas.

O legislador, naquela época, tomou essa decisão política, no sentido de que

os cidadãos, em geral, teriam direito à sua saúde, que seria assegurada em

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determinados parâmetros. Colocou no texto constitucional que a saúde seria

assegurada a partir de políticas econômicas e sociais que visassem à redução do

risco de doença e ao acesso universal e igualitário aos serviços, com sua promoção,

prevenção, assistência e recuperação. Isso tudo consta no artigo 196 da

Constituição Federal, que complementa o artigo 6º do mesmo diploma legal.

A partir daí, o Estado começa a desenvolver essas políticas de atenção à

saúde, e chegamos na questão do medicamento, que é a ponta desse iceberg. O

medicamento é a parte final da atenção à saúde. Chegamos a um diagnóstico, a

uma prevenção, identificamos uma doença, que precisa ser tratada com um

medicamento. Para o fornecimento do medicamento, foram desenvolvidas políticas,

que estão, por exemplo, elencadas na portaria nº 1.318, regulamentadora dos

medicamentos especiais e excepcionais.

Para que se forneçam medicamentos, vejam, migramos de um sistema em

que o cidadão não tinha direito à coisa alguma, se não fosse contribuinte. Não era

nenhuma maravilha, mas era mais fácil lidarmos com o problema da saúde, pois

havia alguém financiando-a. O INPS funcionava como um plano de saúde privado.

Por vezes, as pessoas não me entendem quando afirmo que o INPS era um

plano de saúde privado. Quem contribuísse para ele é que tinha direito ao benefício.

Era assim que funcionava. Hoje, não é mais assim, quer dizer, migramos para um

sistema em que todos têm direitos. Para que esses direitos e prestações sejam

assegurados, precisamos de dinheiro e previsão orçamentária. É disso que estamos

tratando: o que faremos com o dinheiro arrecadado e para quem iremos direcioná-lo.

Houve outras decisões políticas que foram tomadas não só por intermédio

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dessas portarias, mas que se traduzem em textos e estatutos legais, muito mais

fortes que essas portarias, como, por exemplo, a emenda constitucional nº 29, que

aqui foi referida pelo Sr. Izaac Fernandes, e que não são cumpridos. E fazemos o

quê? Simplesmente não são cumpridas, quer dizer, o orçamento deste ano da União

para a área da saúde deveria ter sido acrescido. O orçamento do Ministério da

Saúde deveria ter sido acrescido em 1 bilhão e 400 milhões de reais, mas foi

contingenciado em 5 bilhões e 800 milhões de reais, ou melhor, 6 bilhões foram

retirados do orçamento da saúde deste ano.

Como referia o Sr. Izaac Fernandes, o Ministério Público, depois de uma

série de negociações com todos os governos que sucederam a emenda

constitucional nº 29, ou seja, todos os governos do Estado que passaram após

2000, de todos os partidos, tentamos negociar para que se cumprisse a emenda

constitucional nº 29, para que se colocassem na saúde os 12% do orçamento que

estão previstos, mas que sempre são gastos não mais do que 6%. Como não

obtivemos negociação, entramos com a ação.

Em agosto do ano passado, obtivemos sentença favorável. O assunto está

em discussão no tribunal, porque o Estado recorreu. Não há previsão orçamentária

para que se resolva não só o problema dos senhores. Temos, por exemplo, o

pessoal da hepatite C, cujos tratamentos orçam em torno de 10 mil reais por mês,

bem como o pessoal que sofre da doença de Gouchet, cujo tratamento custa 860 mil

reais por ano. Além de se falar em tudo isso, há também a questão dos laboratórios.

Portanto, temos um problema de orçamento que não resolvemos, que são

duas decisões políticas que foram tomadas. Colocou-se na Constituição que saúde

e educação teriam cada uma delas x por cento do orçamento. São as duas únicas

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áreas que têm previsão orçamentária de percentuais fixos mínimos para gastar. Na

educação, se cumprem esses percentuais; na saúde é que esses percentuais não

são gastos. O Ministério Público tem tentado negociar. O que se faz quando não se

consegue negociar?

Vamos para o Judiciário, porque, ao fim e ao cabo, numa democracia, os

legisladores fazem a lei, e os administradores executam-na. O que se faz quando há

conflito entre quem está executando e o que está na lei? Vai-se ao Judiciário para

que diga qual é a lei que devemos cumprir. Enfim, esse é o nosso problema.

Aliás, sexta-feira, estaremos discutindo aqui no Tribunal de Justiça – evento

aberto à comunidade se ainda houver espaço para as inscrições – justamente as

políticas públicas de prestação de medicamentos. Como é que acertamos? A

medida macro é comprometermos os orçamentos. Por que esses orçamentos são

aprovados? Por que o orçamento da União é aprovado pelo Congresso Nacional?

Por que o orçamento do Estado é aprovado pela Assembléia Legislativa se ele não

contempla os mínimos constitucionais? Essas são as perguntas que nós, cidadãos e

dirigentes políticos dos nossos próprios destinos, temos de nos fazer. Por que o

orçamento do Estado é aprovado pela Assembléia Legislativa se não contempla um

dos itens constitucionais?

Então, o Ministério Público, como encarregado pela Constituição de cobrar

dos poderes públicos o cumprimento dos direitos públicos que estão na

Constituição, fez a única coisa que nos cabia fazer: entrar na Justiça para que

dissesse se o Estado tem ou não obrigação no caso. A partir daí é que vamos ver

qual é a decisão. Sabemos que o cobertor é curto. Sabemos que talvez, mesmo com

o adimplemento dessas questões constitucionais, não haverá dinheiro para tudo,

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mas pelo menos teremos um norte, quer dizer, vamos eleger uma política que diga:

essas e essas ações e serviços de saúde serão financiados pelo Estado para estas

e aquelas pessoas.

São essas as decisões que temos de tomar ao fim e ao cabo. É isso que

estamos tentando fazer há praticamente 18 anos, porque a Constituição Federal de

1988 completa a sua maioridade, ou melhor, completou no ano passado. Já serão

19 anos de Constituição e 17 anos da Lei nº 8.080/90, que é a lei que instituiu o

Sistema Único de Saúde.

A par disso tudo, tentamos negociar e, às vezes, até em favor do próprio

Estado, porque a indústria farmacêutica também é um componente interessante

nesse processo.

Só para dar um exemplo – e com isso encerro a minha fala –, quanto à

doença de Gouchet, o Ministério da Saúde avocou a si a compra do medicamento

para os 450 pacientes que havia no País. Aqui no Rio Grande do Sul, tínhamos 20.

O preço para São Paulo era 100, o preço para o Rio Grande do Sul era 150. O preço

para o Acre, que tinha só três pacientes, era 200.

O SR. IZAAC FERNANDES – Permita-me um aparte?

O SR. MAURO LUIS SILVA DE SOUZA – Um momento só para concluir.

Só com essa economia deu para custear todo o programa de prevenção à

tuberculose, com 450 pacientes. Pois não, Sr. Izaac Fernandes.

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O SR. IZAAC FERNANDES – É claro que a Constituição de 1988 deixou

uma viabilidade para o gestor, no caso da saúde, inclusive de antecipação de

receita. Parece que não está dentro da Lei de Responsabilidade Fiscal. Muitas

vezes, o gestor em fim de governo acaba não comprando por essas razões. O

senhor concorda com isso?

O SR. MAURO LUIS SILVA DE SOUZA – Não poderia me posicionar a

esse respeito neste momento, mas a nossa idéia é fazer com que pelo menos o que

esteja na lei seja cumprido, ou então que se diga que a lei não vale. Essa é a

posição que o Ministério Público tem adotado.

Primeiramente, tenta-se negociar com o gestor os problemas que são de

várias ordens. Há o problema orçamentário, alguns problemas de gestão, alguns

componentes de mercado que também interferem muito nessa questão, mas está lá

na Constituição que o cidadão tem direito, e ao Ministério Público cabe cobrar esses

direitos do administrador público. Então, o que se faz? Quando a negociação se

esgota, a única porta que nos resta é o Judiciário, para que nos diga: a lei vale, vige

e deve ser aplicada, ou então por essa ou por aquela razão essa lei é apenas uma

norma programática, é uma declaração de intenções que vamos deixar para um

momento posterior, quando houver dinheiro, quem sabe, para se cumprir.

Então, o nosso problema é justamente com a legalidade, quer dizer, se está

na lei, que tentemos pelo menos cumprir o que diz a lei. A partir do momento em que

estivermos cumprindo o que diz a lei, então vamos ver se isso é ou não suficiente,

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mas, ao fim e ao cabo, tudo isso é uma decisão política. Foi uma decisão política

que colocou isso na lei e será uma decisão política que dirá se vamos cumprir ou

não. As decisões políticas têm de ser compartilhadas por todos nós. Todos nós

temos responsabilidade por essas decisões, ou porque as tomamos ou porque

elegemos quem as tomou.

Portanto, temos de pensar muito nisso. Não desconhecemos o problema

dos senhores. Sabemos que têm direitos e estamos fazendo pelo menos o que a lei

nos autoriza na busca desses direitos.

O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Agradeço, em nome da

subcomissão, ao Dr. Mauro Luis Silva de Souza, que falou em nome do Ministério

Público. Provavelmente voltaremos a ouvi-lo durante esses próximos 120 dias. Se

ele tiver disponibilidade, será convidado.

Concedo a palavra ao deputado Coffy Rodrigues.

O SR. COFFY RODRIGUES (PDT) – Em primeiro lugar, cumprimentando o

nosso colega deputado que preside esta subcomissão, cumprimento a todos os

meus colegas deputados e deputadas, a assistência, a imprensa, e a todos os que

participam desta reunião.

Dr. Mauro, que falou pelo Ministério Público, pediria que o senhor

aguardasse um minuto, porque também tenho de me retirar por ter de participar da

reunião na Comissão de Ética, e já estou atrasado porque seu início era para as 18

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horas.

Gostaria de dizer, em poucas e breves palavras, que é um trabalho muito

importante que a Subcomissão de Saúde vai fazer ao tratar desses assuntos.

Prestei muita atenção em cada palavra que a Ieda Reis falou, bem como na

abordagem do nosso companheiro Izaac Fernandes, que formatou muito bem suas

idéias. O trabalho da subcomissão é tentar auxiliar.

De outra forma, gostaria de concordar com todas as palavras que o Dr.

Mauro apresentou aqui, representando o Ministério Público. O que diz a lei? Diz que

x por cento é para a saúde. As duas únicas áreas que determinam percentuais pela

Constituição são a saúde e a educação. O senhor fala nos orçamentos. O que

acontece hoje?

Falo na condição de deputado líder partidário do PDT e também da base de

sustentação do governo Yeda aqui na Assembléia Legislativa. O que vem

acontecendo é o que o senhor falou, pois ao se votar, no Parlamento, o orçamento

do próximo ano, temos uma estimativa. São dotações orçamentárias em x valores

para cada pasta.

As dificuldades financeiras do Estado vêm aumentando de gestão em

gestão. Como será o nosso orçamento familiar se ganhamos 100 e desejamos

gastar 120? O que acontece com o governo? Ele tira recursos do caixa único, e

faltam verbas para as secretarias. A lei não é cumprida.

Na condição de agente do Ministério Público, o senhor fez a leitura correta.

A decisão política é para que se cumpra a lei elaborada pelo legislador, mas,

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lamentavelmente, esse problema não será resolvido do dia para a noite.

Esta subcomissão vem ajudar para que se resolvam essas questões

gravíssimas. Ninguém gostaria de estar na situação das pessoas que estão

dependendo desses medicamentos.

Tenho certeza de que a nossa governadora Yeda Crusius tem uma grande

sensibilidade para o fato. Esta subcomissão irá gestionar junto ao governo para que

possamos agilizar o atendimento de todos os senhores. Muito obrigado.

O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – O deputado Coffy Rodrigues

tem um compromisso com a nossa Comissão de Ética Parlamentar.

Com a palavra o deputado Pedro Pereira, que, além de ser membro desta

subcomissão, é autor do requerimento da criação da subcomissão e o único

deputado médico entre os demais deputados estaduais. Por isso mesmo, conhece,

com profundidade, o tema que ora abordamos.

O SR. PEDRO PEREIRA (PSDB) – Saúdo a todos os presentes.

Quando o deputado Luciano Azevedo entrou com um trabalho para criar a

Subcomissão da Esclerose Múltipla, na condição de médico, achei muito importante

também incluirmos as patalogias especiais, os transplantados, os ostomizados.

Em Pelotas, minha região, participamos de uma reunião, e fiquei estarrecido

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com o grande número de ostomizados e transplantados da Metade Sul.

Se 10 bolsas é um número muito pequeno para a necessidade, imaginem

cinco apenas! Só quem tem um problema desses entende a gravidade do caso. E

quanto à esclerose múltipla, que é um mal progressivo e não pode o doente ficar

sem a medicação?

Sabemos, Sr. Presidente, que o Estado está em uma situação terrível, mas

isso não é justificativa.

Como deputado do governo, do PSDB, mais os deputados Luciano Azevedo

e Coffy Rodrigues, na condição de aliados do governo, temos de encontrar uma

solução. A saúde não espera!

Fui vereador durante oito anos na minha cidade e até agora não me

acostumei com a política. Chega uma pessoa com uma apendicite aguda que, se

não for cirurgiada, morre. Uma pneumonia simples também precisa de cuidados

imediatos. Se não agimos, a pessoa acaba falecendo.

A política, infelizmente, tem muito de enrolar, muitas reuniões e mais

reuniões. Infelizmente, é uma vergonha.

Amanhã bem cedo, estarei indo a Brasília, quando entregarei em mãos ao

ministro da Saúde vários pedidos. Essa audiência demorou para acontecer porque a

indicação do novo ministro demorou a ser resolvida. Vamos cobrá-lo, porque o

governo federal tem de fazer a sua parte! O governo estadual também tem de fazer

o que lhe compete. Está escrito na Lei Maior: Saúde é um dever do Estado e um

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direito do cidadão. É muito bonito, mas sabemos que não é bem assim.

Vou a Brasília num movimento em prol dos hospitais filantrópicos, que

também estão quebrados. Para que os senhores tenham uma idéia, dos 239 deles,

15 já fecharam, 17 estão fechando. Há 16 já fechados. Na semana passada, fechou

o de Tupanciretã. Lá a situação é terrível também.

A lei não é cumprida. Temos que cobrar e estamos aqui para isso. Teremos

audiências públicas em Pelotas, Caxias do Sul, Passo Fundo e lá na longínqua

Itaqui. Iremos e faremos reuniões fora do nosso horário de trabalho. Serão reuniões

extras, às sextas-feiras. Ninguém vai se furtar. Iremos a todas.

Portanto, guardem a certeza de que somos companheiros dos senhores por

conhecermos as dificuldades que enfrentam. E eu, mais do que ninguém, pelo fato

de ser médico. Só conhece realmente a gravidade do problema quem é médico, ou

é portador de uma patologia dessas, ou tem alguém doente na família.

É muito bonito ouvir as notícias, ver as enrolações, mas para saber a

gravidade, sofrer na carne, tem que conviver com isso. Então, somos parceiros.

Esse foi um trabalho do deputado Luciano Azevedo, deste deputado.

Tenham certeza de que iremos até o final para conseguirmos ajuda junto ao Estado,

à União, ao Ministério Público. Vamos mover céus e terras para darmos a nossa

contribuição. Muito obrigado.

O SR. IZAAC FERNANDES – Aproveitando que o deputado Pedro Pereira

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está indo a Brasília, tivemos a oportunidade de trabalhar com dois outros ministros.

Um deles foi o ministro José Gomes Temporão, o qual me enviou um e-mail

manifestando-se quanto ao nosso pedido, mas não se manifestava sobre a portaria

ministerial que está lá, há dois anos, sobre a pessoa com colostomia. Se possível,

solicito que V. Exa. seja signatário do nosso pedido para a liberação de uma portaria

que é para o Rio Grande do Sul e vai para todo o Brasil. É uma portaria de atenção

à pessoa com colostomia.

O SR. PEDRO PEREIRA (PSDB) – Qual é a portaria? O senhor tem o

número dela aí?

O SR. IZAAC FERNANDES – Não, ela não cita número. É portaria de

atenção à pessoa ostomizada do Brasil.

O SR. PRESIDENTE (Luciano Azevedo – PPS) – Com a manifestação do

deputado Pedro Pereira, agradeço a todos.

Esta é a primeira reunião em que estamos, aqui na Assembléia Legislativa,

ouvindo as entidades. Ouvimos o Ministério Público, a Associação Gaúcha de

Ostomizados, a Associação Gaúcha dos Portadores de Esclerose Múltipla.

Este é o trabalho da subcomissão: abrir para a sociedade do Rio Grande do

Sul isso que muitos dos senhores conhecem na prática, mas que o Rio Grande do

Sul, em alguns momentos, presta atenção, mas em outros parece que esquece,

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deixa para lá, faz de conta que não existe. Esse que é um problema real que atinge

dezenas de milhares de gaúchos.

O objetivo da subcomissão é oferecer este espaço para que possamos,

como sociedade, nos organizar. Se a senhora, momentaneamente, não pode fazer

barulho, nós podemos fazer. Estamos aqui para isso. Temos que nos dar as mãos.

Temos que compreender que essa é uma necessidade de irmãos nossos, que pode

estar dentro de qualquer casa, de qualquer família, de qualquer cidade do Estado. E

esse é o espírito desta subcomissão criada na Assembléia, que é amplificar,

aumentar o volume dessa luta que as entidades têm empreendido em busca do

medicamento para os pacientes.

Nas terças-feiras, sempre às 17 horas, durante os próximos quatro meses,

trataremos dessas questões e ouviremos outras entidades. Queremos, aos poucos,

aprofundar essa radiografia, tornando mais clara essa situação que, para nós todos,

é lamentável, colocando a força política da Assembléia Legislativa ao lado dessa

causa, que deve ser uma causa de todos aqueles que amam a vida.

Convidamos a todos para que estejam aqui conosco nas próximas reuniões,

para que possamos trazer outras entidades, trazer mais pessoas e para que

possamos fortalecer esse movimento. Queremos fazer desse movimento da

subcomissão não um movimento político, porque não é essa a intenção, mas fazer

um movimento da sociedade do Rio Grande do Sul para que possamos tornar isso

que hoje é um direito das pessoas na letra fria da lei, como disse aqui o promotor, e

um direito que não é respeitado, uma rotina.

Quem tem necessidade de um medicamento recebe esse medicamento

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porque esse é um direito seu. É muito simples, está na lei, e nós todos aqui

queremos que isso seja cumprido na prática. Esse é o nosso objetivo e a nossa

tarefa nesta subcomissão.

Em meu nome e nos nomes dos deputados Pedro Pereira e Coffy

Rodrigues, agradecemos a presença de todos. Reiteramos o convite para que vocês

estejam conosco aqui, na próxima terça-feira, às 17 horas. Mesmo aqueles que já

foram ouvidos. Sua presença será importante a fim de trazerem novas

manifestações e novos elementos, reforçando este trabalho.

Oferecemos a secretaria da Comissão de Saúde para os que quiserem

trazer novas informações, sugestões, elementos estatísticos, novas entidades que

queiram se inscrever. Tudo isso é muito importante para o nosso trabalho.

Temos certeza de que poderemos no final deste trabalho – e esse é o nosso

sonho, deputado Pedro Pereira – ver regularizado o fornecimento de medicamentos

para pessoas que têm esse direito no Rio Grande do Sul. Conseguiremos isso

juntos, lutando.

Esta subcomissão quer ser uma ferramenta na luta dessas pessoas.

Muito obrigado pela presença de todos.

Está encerrada a audiência.

DATA 17/04/2007: O SR. RELATOR (Pedro Pereira – PSDB) – Declaro

abertos os trabalhos da Subcomissão de Medicamentos de Uso Especial e de Uso

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Contínuo.

O relator desta subcomissão, deputado Luciano Azevedo, está participando

da Feira de Hannover, na Alemanha, e, na sua ausência, assumo a coordenação

dos trabalhos de hoje.

Inicialmente, o deputado Luciano Azevedo criou esta subcomissão para

tratar da esclerose múltipla. Eu, como médico há 30 anos e agora como

parlamentar, sugeri ao deputado que estendêssemos a abordagem dos trabalhos

para outras patologias especiais, como hepatite C, transplantados e ostomizados, o

que foi aprovado por unanimidade.

Estamos na terceira reunião desta subcomissão. Realizaremos algumas

reuniões no interior do Estado: dia 4 de maio, em Canoas; dia 11, em Pelotas; dia

25, em Passo Fundo; e, dia 8 de junho, em Itaqui. Esperamos contar com grande

número de participantes e de subsídios para que possamos alcançar um resultado

satisfatório e, assim, ajudarmos as milhares de pessoas portadoras dessas

patologias.

Para os senhores terem uma idéia, os portadores do Mal de Parkinson são

em torno de 20 mil, e há milhares de ostomizados – para os quais o governo

inicialmente repassava dez bolsas e, hoje, repassa cinco –, de portadores de

hepatite C, de esclerose múltipla e de transplantados.

Nosso dever como representantes do povo é fazer tudo o que for possível

para amenizar o sofrimento dessas pessoas.

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Com muita satisfação, registro a presença do Dr. Mauro Luís Silva de

Souza, promotor de Justiça do Ministério Público; da Sra. Simone do Amaral,

representante da Secretaria de Estado da Saúde; da Sra. Ângela Maria Garcia,

presidente da Associação Gaúcha dos Portadores da Doença de Parkinson; do Sr.

Guilherme Gomes de Souza Machado, advogado engajado nessa causa; e do Sr.

Lothario Schlindwen, representante do Conselho Estadual de Saúde.

Concedo a palavra inicialmente à Sra. Ângela Maria Garcia, para que nos

informe quais medicamentos estão faltando e como está a situação dos associados.

A SRA. ÂNGELA MARIA GARCIA – Boa-tarde. Vou procurar falar próximo

ao microfone porque a minha voz é baixa devido à doença de Parkinson.

A associação tem lutado há mais de 4 anos pela regularização da situação

dos medicamentos. Os medicamentos são o nosso combustível; sem eles, não

conseguimos andar, vestir e calçar, tornamo-nos inúteis sobre uma cama.

Em função disso, temos lutado muito para reverter esse quadro. É um direito

recebermos os medicamentos gratuitamente.

Gostaríamos que tudo funcionasse bem. Por exemplo, agora só há Sifrol na

farmácia do Estado. Por que reclamamos que estão faltando itens? Porque não

vivemos só de Sifrol ou de Prolopa. Cada indivíduo portador de Parkinson tem

necessidade de medicação diferenciada, nem todos usam a mesma medicação.

Quando o organismo rejeita o Prolopa, é preciso ter outras duas ou três

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alternativas para prosseguir o tratamento. Precisamos do Prolopa, do Sifrol, que são

os medicamentos básicos, do Mantidan, do Tasmar e de vários outros

medicamentos.

Quando não há esses medicamentos na Secretaria, os portadores da

doença ficam privados das atividades.

Procuramos trazer o portador de Parkinson para fora da sua casa, para sair

do isolamento e realizar atividades na associação. Mas isso não vem acontecendo

porque os pacientes estão sem a medicação. Isso causa transtorno também para a

família, porque a pessoa que cuida desse portador fica sobrecarregada devido à sua

dependência.

É horrível para nós vermos os doentes nessa situação. As pessoas pedem

que, pelo amor de Deus, as ajudemos.

A associação não presta assistência social, apenas procura preencher uma

lacuna existente no dia-a-dia do portador. Temos batalhado bastante e queremos

aproveitar esta oportunidade para solicitar ajuda à Secretaria.

Nos quatro anos de existência da associação, já convidamos o secretário da

Saúde do governo anterior para conhecer as nossas dificuldades. Nunca tivemos

retorno. O secretário sempre está com a agenda cheia ou está viajando. Nunca

fomos recebidos na Secretaria da Saúde. Sempre há uma desculpa. E se alguém

está pagando por isso, somos nós. Não sei se tal atitude é uma falta de

consideração com a associação ou com os portadores.

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Realmente temos encontrado dificuldade de fazer uma reunião com o

secretário ou com alguém da Secretaria.

Não podemos ter uma associação apenas para bonito, o nosso objetivo é

dar uma melhor qualidade de vida aos portadores, de modo que possam caminhar e

ter uma certa independência.

Sou portadora de Parkinson há seis anos e sei o que é sentir na carne a dor

dessa doença. É horrível. Por isso, luto cada vez mais por essa causa nobre. Muito

obrigada.

O SR. RELATOR (Pedro Pereira – PSDB) – Em quantos Municípios há essa

associação?

A SRA. ÂNGELA MARIA GARCIA – Temos a associação em Pelotas,

inclusive os convidei para participar desta reunião – no dia 5 de maio, realizaremos

lá um simpósio com profissionais daqui para dar informações sobre a doença –, e

também em Bento Gonçalves. A nossa abrange todo o Rio Grande do Sul.

Somamos as forças para atingir um único objetivo: qualidade de vida para o

portador de Parkinson. Antigamente, ouvia-se falar que o Mal de Parkinson atingia

pessoas com mais de 60 anos; hoje, ela atinge pessoas com menos idade. O meu

diagnóstico foi aos 45 anos de idade.

Essa doença limita totalmente a pessoa, tornando-a incapaz, inútil. O fator

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emocional é muito forte, fazendo o portador cair em depressão e ficar dentro de casa

para não mostrar os sintomas que aparecem de maneira progressiva.

O SR. RELATOR (Pedro Pereira – PSDB) – Obrigado. Informo, desde já,

que faremos tudo o que for possível, até pelo fato de ser médico e conhecer o

assunto um pouco mais a fundo, e se tivermos de ir a Brasília mil vezes para

resolver o problema, iremos.

Sabemos das dificuldades do nosso Estado, mas está escrito na Lei Maior

que a saúde é um dever do Estado e um direito do cidadão. Temos de fazer com

que isso seja cumprido.

Espero que no final dos trabalhos, no mês de agosto, tenhamos elaborado

um relatório com sucesso para resolver os problemas não só dos portadores de

Parkinson, mas também dos portadores das demais patologias que esta

subcomissão se dispõe a tratar.

Registro a presença do deputado Gilberto Capoani, que também faz parte

da Comissão de Saúde.

Concedo a palavra ao Sr. Guilherme Machado.

O SR. GUILHERME MACHADO – Como já foi referido pela presidente da

associação, a medicação é fundamental para o portador. Sem a medicação, o

portador fica simplesmente inerte, podendo chegar ao ponto de ficar deitado numa

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cama sem se mexer nem para as funções mais básicas do dia-a-dia.

Tudo isso tem muito a ver com a condição financeira da família. A grande

maioria dos portadores são pessoas humildes que não têm condições de arcar com

o custo da medicação.

O portador de Parkinson precisa de fisioterapia, de fonoaudiologia, de

acompanhamento psicológico e, acima de tudo, dos medicamentos. Muitas vezes,

todo o ganho da família não cobre o custo de um portador.

Nós, da associação, não temos a mínima pretensão de brigar com o governo

ou criar abalo na situação econômica do Estado. Estamos buscando apenas um

direito, que é a qualidade de vida ou a própria vida de muitos portadores.

Estamos abertos para dialogar com a Secretaria de Estado da Saúde, porém

sempre fomos afastados, nunca tivemos um canal aberto para trocar informações e

apresentar as nossas questões.

A associação já fez vários manifestos públicos relativos ao problema dos

medicamentos; já realizou um congresso nacional – para o qual a Secretaria da

Saúde foi convidada, e não participou – para debater a questão dos medicamentos.

De nossa parte, não há falta de diálogo e muito menos falta de interesse.

É preciso levar em conta o lado humano dos portadores.

Por que a Secretaria da Saúde perde, na maioria das vezes, nas ações

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judiciais? Porque não consegue apresentar, judicialmente, uma contraposição às

nossas alegações. Obviamente as nossas alegações são fortíssimas, pois estão

embasadas na Constituição Federal e numa lei estadual.

A secretaria não tem subsídios para justificar por que não está fazendo o

fornecimento. Foram apresentados vários motivos e desculpas, mas nenhum foi

aceito.

A alegação de que as ações judiciais prejudicam as finanças do Estado, até

pode ter fundamento, uma vez que é feita a compra imediata de medicamentos e o

bloqueio da conta do Estado, mas tudo isso é em razão de questões importantes, a

doença e a necessidade dos medicamentos.

Estamos buscando o direito do portador de ter qualidade de vida. A

associação muitas vezes não pode contar com a participação dos seus associados

porque eles não podem nem se locomover por falta de condições físicas, de saúde.

Estamos dispostos a discutir e encontrar uma solução para o caso.

Há poucos meses, em uma manifestação que fizemos em frente à farmácia

do Estado, levantamos a possibilidade de entrar com uma ação civil pública contra o

Estado. Não temos a intenção de criar problema para o Estado, mas queremos que

o Estado venha discutir conosco e nos dê pelo menos a esperança de que a

situação será regularizada. Não temos o mínimo interesse de brigar e levar isso

adiante, mas temos de proteger os nossos interesses e os nossos direitos. Muito

obrigado.

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O SR. RELATOR (Pedro Pereira – PSDB) – Obrigado. Concedo a palavra à

Sra. Simone do Amaral, da Secretaria da Saúde.

A SRA. SIMONE DO AMARAL – Boa-tarde a todos. Atualmente respondo

pela área de medicamentos da Secretaria do Estado da Saúde.

Primeiramente, informo à associação que nos colocamos à disposição para

dar uma melhor acolhida a essas questões. Podemos conversar, como fazemos com

outras associações, como a AGAM, o pessoal da Fibrose Cística.

A assistência farmacêutica da Secretaria da Saúde está disposta a discutir e

dar as informações para que sejam repassadas aos associados.

Entendemos que no momento em que é repassada para uma associação

uma determinada situação, ela está sendo transmitida a uma imensidão de usuários

e de familiares. Dessa forma, está-se dando transparência daquela ação para a

sociedade de uma forma geral.

Enfrentamos, no ano passado e no início deste ano, falta de recursos para a

aquisição de medicamentos.

Realmente, temos hoje o Levodopa mais Benzerazida, que é o Prolopa; e o

Pramipexol, que é o Sifrol. Os outros medicamentos – Entacapone, Amantadina,

Selegilina – estão todos em fase ainda de licitação. Mas já tivemos um primeiro

repasse de recurso. Alguns medicamentos estão empenhados, como o Levodopa

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mais Carbidopa, e outros já estão com a liberação e serão entregues antes.

Não terei todo o elenco na última quinzena deste mês, mas vou ter parte

desse elenco disponível para os usuários, inclusive para os do interior, porque,

dependendo da data em que chegam, as regionais ainda conseguem buscar o

medicamento para repassar aos Municípios, sendo que a nossa distribuição de

medicamentos é descentralizada.

Dos outros medicamentos, realmente, estamos em falta. Estamos

aguardando a conclusão do procedimento licitatório. O que está ocorrendo de

diferente nessa falta de medicamento de uma forma geral é que ainda estão sendo

negociadas com os laboratórios dívidas do exercício anterior.

O Estado é devedor de vários laboratórios. Negociamos, e a governadora,

em 90 dias, apresentará o calendário de pagamento. Isso tranqüiliza muito o

laboratório, a distribuidora.

A partir daí, as despesas, aquelas compras que estamos fazendo em 2007,

serão pagas em 2007. Estamos conseguindo negociar, a exemplo do medicamento

utilizado para esclerose múltipla. Temos, hoje, em estoque o Beta Interferon de

22mcg e o Beta Interferon de 30mcg, o de 9,6 milhões, que é o medicamento mais

utilizado pelos usuários, está em falta. O laboratório, no entanto, concordou com a

negociação e o medicamento será entregue. O laboratório vai aguardar o calendário

para regularizarmos a dívida do exercício anterior. O que estamos comprando neste

exercício o pagamento será imediato, porque o empenho é prévio.

A falta de medicamentos, na realidade, como envolve questão de dívida,

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dependia de uma negociação e do acerto de cada laboratório com a Secretaria da

Fazenda, para terem a garantia de que iriam receber aquilo que estava atrasado. Só

depois disso poderiam negociar e entregar os medicamentos. Se fica em aberto o

empenho, eles não entregam, até porque o Estado tem uma dívida grande com eles.

A partir do momento em que aceitaram essa nossa negociação, a entrega será

regularizada.

Neste mês tivemos a liberação de 10 milhões de reais, que estão sendo

investidos no empenho desses medicamentos que estavam em falta, inclusive os de

Parkinson.

O SR. RELATOR (Pedro Pereira – PSDB) – A senhora sabe qual é a dívida,

hoje, do Estado?

A SRA. SIMONE DO AMARAL – Esse valor hoje não tenho, mas posso

conseguir. Para laboratórios, a soma total desse valor eu não tenho.

O SR. RELATOR (Pedro Pereira – PSDB) – Até o final de abril já teremos a

maioria?

A SRA. SIMONE DO AMARAL – Teremos a maioria e, em 90 dias, vamos

apresentar o calendário de pagamento. Com esse calendário de pagamento, mais

laboratórios vão aderir a essa negociação feita entre a Secretaria da Saúde, a

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Secretaria da Fazenda e os laboratórios, porque o que houve anteriormente foi uma

negociação e uma promessa de pagamento. Agora é diferente. A governadora

apresentará um calendário de pagamento, e os laboratórios, então, ficam mais

tranqüilos porque saberão a data em que o pagamento acontecerá, terão a previsão

do pagamento daquela dívida.

O SR. RELATOR (Pedro Pereira – PSDB) – Até o meio do ano

provavelmente seja solucionado o problema da grande maioria.

A SRA. SIMONE DO AMARAL – Eu não sei de que data começa a contar

esses 90 dias. O calendário é daqui a 90 dias.

A SRA. ÂNGELA MARIA GARCIA – Enquanto isso, quem sofre? Nós, os

portadores. É difícil ficar 90 dias sem remédio.

A SRA. SIMONE DO AMARAL – Na realidade, a adesão dos laboratórios a

essa negociação já está feita. Treze laboratórios já aceitaram. Por exemplo, o

responsável pelo Interferon Beta, de 9,6, que é o laboratório Schering do Brasil, é

um dos laboratórios que aceitou

O SR. RELATOR (Pedro Pereira – PSDB) – É o mais caro deles.

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A SRA. SIMONE DO AMARAL – É um medicamento de alto custo. Temos o

documento que comprova que o laboratório aceitou a negociação, por isso sei que

esse medicamento será entregue. A partir do momento em que ele aceitou a

negociação, ele regulariza a entrega e aceita a retirada do empenho daquele

quantitativo que estou fazendo agora, neste ano.

O SR. RELATOR (Pedro Pereira – PSDB) – Inicialmente nos informaram

que a dívida era de 10 milhões de reais, depois, que era de 30 milhões de reais. A

dívida realmente é grande. Mas nada disso justifica. Temos de fazer a nossa parte

para tentar encontrar a solução.

A SRA. SIMONE DO AMARAL – Quanto à questão da demanda judicial,

obviamente que não é interessante para o Estado, pelo fato de que não há um

planejamento. Quando a demanda chega tudo tem de ser organizado para atendê-

la. Não tenho uma prévia disso e tenho um prazo para fazer o atendimento.

A Procuradoria do Estado, nessas ações em que existe a falta do

medicamento para um usuário que tenha um processo administrativo deferido – e

sabemos que a grande maioria dos processos é deferida para os usuários de

medicamentos de Parkinson – dispensa a contestação. Não há interesse em

contestar exatamente porque não há argumentação.

Se há um processo administrativo deferido e o medicamento somente não

está sendo entregue pela falta do medicamento, não há o que contestar.

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O SR. GUILHERME MACHADO – Eu discordo, porque tenho várias ações

individuais, inclusive a presidente tem uma ação, e estão sendo discutidas em

Brasília.

A SRA. SIMONE DO AMARAL – É União, Estado e Município?

O SR. GUILHERME MACHADO – Estado.

A SRA. SIMONE DO AMARAL – De quando é essa ação?

O SR. GUILHERME MACHADO – De 1995. Estamos já em Brasília, e há

outras ações que estamos discutindo lá. Então, infelizmente, o Estado contesta e,

muitas vezes, com argumentações descabidas. Já houve contestações em que

trataram Parkinson como Alzheimer. Infelizmente está ocorrendo isso e é bem

complicado.

A SRA. SIMONE DO AMARAL – Essa informação não é a que eu tenho. À

Secretaria da Saúde e à Procuradoria do Estado, que é o nosso advogado, não é

essa a informação que chega. Inclusive temos um grupo de trabalho que se reúne

semanalmente para tratar dessas questões judiciais. Amanhã teremos essa reunião

e levarei essas informações para eles.

O SR. RELATOR (Pedro Pereira – PSDB) – É importante levar a

preocupação desta comissão, dos deputados, da presidente, do advogado, do

promotor, do Sr. Lothario e, principalmente, a dos portadores. Não podemos esperar

mais. Temos de encontrar uma solução. A saúde não pode esperar.

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O SR. GILBERTO CAPOANI (PMDB) – Saúdo o presidente, os integrantes

da mesa e a prezada assistência que nos prestigia neste momento.

Faço parte desta subcomissão. Sou deputado pela região de Passo Fundo,

onde tem ocorrido muitos encontros e manifestações devido a esse problema.

Tomamos conhecimento, então, especialmente do problema do pessoal que tem

carência do medicamento da esclerose múltipla.

Pelo que pude entender da manifestação da representante da Secretaria da

Saúde, houve uma mudança no critério de pagamento do fornecimento de

medicamentos. Isso não pode ser feito – com todo o respeito que tenho pelo nosso

secretário da Saúde e pela governadora – em prejuízo da sociedade, daqueles que

precisam.

A própria licitação, se for o caso, em havendo motivo justificado – e esse é

mais do que justificado –, pode ser dispensada. Essa mudança no critério de

pagamento dos laboratórios até pode acontecer – sei que a governadora está

adotando sistemática de caixa, do dinheiro que arrecada –, mas não pode ser do dia

para a noite, ao ponto de prejudicar a sociedade do Rio Grande.

Parece-me que 90 dias para apresentar um calendário, quando se trata de

um assunto tão sério, é um prazo demasiadamente longo.

Gostaria de deixar um apelo ao nosso secretário, no sentido de que

interceda junto à governadora, mostrando essa dificuldade. Eu não sou médico, mas

pude observar, no debate que houve em Passo Fundo, que a pessoa que sofre de

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esclerose múltipla e deixa de tomar o medicamento durante um determinado tempo

e fica com uma seqüela, ou seja, perde a fala ou a audição, quando voltar a tomar o

medicamento, ela não recupera mais o que perdeu.

Estamos tratando aqui de um assunto de extrema importância, de bastante

gravidade, e deve haver um encurtamento desse prazo de 90 dias e uma maneira do

Estado atender a população.

Sei que a decisão judicial distorce o processo, não resta dúvida de que

acaba colocando na ponta da fila aquele que talvez entre com uma ação no final.

Mas o Judiciário somente intervém quando ocorre a ineficiência, a ineficácia, o não

cumprimento da sua obrigação por parte do Estado.

Quero manifestar minha preocupação no sentido de que o Estado cumpra o

seu papel, atendendo a população e dessa forma evitando decisões judiciais, até

mesmo porque nem todos têm a oportunidade de ingressar com uma ação judicial.

Vou fazer um contato pessoal com o secretário Osmar Terra e na primeira

oportunidade em que estiver com a governadora vou colocar essa questão

pessoalmente. Mas registro minha grande preocupação e o apelo no sentido de que

se reduza esse prazo do calendário e se agilize todo o processo, para que seja

resolvido um problema sério como esse da falta de medicamentos.

A SRA. SIMONE DO AMARAL – Com relação aos medicamentos da

esclerose múltipla nós não podemos atender por dispensa de licitação, porque os

medicamentos são por laboratórios exclusivos. A dívida existia para aqueles

laboratórios, ou seja, o Estado deve para a Schering, a qual produz o medicamento

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Interferon Beta de 9,6. E a Schering não tem interesse de fornecer esse

medicamento, até que haja essa regularização.

Quanto à questão desse calendário de 90 dias, a Schering do Brasil aceitou

a negociação: não serão 90 dias para a entrega do medicamento, ele vai ser

empenhado e entregue. O prazo de 90 dias é para acertar a dívida do exercício

anterior.

A partir do momento em que o laboratório, a Secretaria da Saúde e a

Secretaria da Fazenda acordaram regularizar esse pagamento através do

calendário, o atendimento automaticamente fica acertado. Ficou acertada a dívida

do exercício anterior, mas empenhado medicamento para este exercício e ao

mesmo tempo regularizado o atendimento.

Sendo assim, não são 90 dias para que se comece a atender o paciente,

mas 90 dias para acertar o pagamento da dívida do exercício anterior. E quando

eles aderem, como foi o caso da Schering do Brasil em relação ao medicamento de

9,6 – o Interferon Beta –, que é um dos que estão em falta, esse medicamento vai

ser entregue, ele vai ser empenhado, pois o laboratório aceitou a negociação. O

laboratório vai aguardar o calendário de pagamento do exercício anterior, mas ao

mesmo tempo providencia a retirada do empenho e a entrega do medicamento.

O SR. RELATOR (Pedro Pereira – PSDB) – Concedo a palavra ao Sr.

Lothario Schlindwein, do Conselho Estadual de Saúde do Rio Grande do Sul.

O SR. LOTHARIO SCHLINDWEIN – Saúdo os deputados Pedro Pereira e

Gilberto Capoani; o Dr. Mauro Luís Silva de Souza, a Simone, o Guilherme e a

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Ângela, do Ministério Público e demais presentes.

Na reunião do Conselho Estadual da Saúde, contamos com a presença de

representantes da assistência farmacêutica do Estado, porque nós, como controle

social e conselho, entendemos que a comunidade rio-grandense não pode ficar sem

a assistência farmacêutica. Esse é um dever do Estado e um direito do cidadão.

Preocupou-me a colocação que o defensor fez. A Constituição é bem clara

quando diz que a saúde é um direito de todos, bem como o acesso universal a todos

os serviços para proteção, promoção e recuperação: ele é tripartite. Dentro disso

entra o trabalho do Município, do Estado e da União, garantindo assim, mediante

políticas públicas, que nós, cidadãos, tenhamos atendimento, quando o

necessitarmos.

Na reunião passada, ficou acordado com a Secretaria e a equipe de

assistência farmacêutica continuar essa discussão num próximo encontro, tendo em

vista alguns dados que pedimos não terem sido repassados. Mas o Conselho

Estadual pede – e isso é um compromisso, pois é em defesa de todos os cidadãos –

que o Estado de uma vez por todas adote uma política da assistência farmacêutica.

É o que hoje não existe.

E outra, que priorize a saúde. Alegar que não houve recursos para um

Estado que aplicou somente 4,37%, é questionável. O bem maior de todos é a vida.

Sendo assim, tenho que inverter prioridades. A partir do momento em que valorizo

de fato a vida, devo priorizar a saúde, a saúde como um todo. O Conselho Estadual

tem participado dessa discussão com muita preocupação.

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Estou há três anos representando o Conselho Estadual dentro desta

Comissão da Saúde. Na legislatura passada e, na atual, fui indicado para fazer parte

da Comissão da Saúde, quando fazemos reuniões todas as quartas-feiras.

Se no ano passado o Estado aplicou somente 587 milhões na área da saúde

e o orçamento deveria ter sido os 10% de 1 bilhão e 600 mil reais, esse fato

preocupa-nos, porque o povo está recorrendo à judicialização. E a judicialização

piora ainda mais a situação do Estado, porque o Estado acaba tendo dinheiro

seqüestrado para compra imediata, conforme estão chegando às questões judiciais.

E com isso o Estado não está conseguindo implantar uma política de assistência

farmacêutica continuada.

Está na hora de definirmos com o Estado uma política de assistência

farmacêutica priorizando a saúde de um modo geral.

Era essa a defesa que em nome do Conselho Estadual queria fazer. Quero

dizer à população que o Conselho Estadual está atento e vai continuar participando

dessa discussão.

Parece-me que ficou acertado que daríamos continuidade a essa discussão

na próxima plenária, na semana que vem. É importante salientar que cobramos isso

do Ministério. E o representante do Ministério, na reunião anterior, falou que o

Ministério está passando religiosamente em dia para o Estado essa questão.

Sendo assim, queremos saber o que está acontecendo. Essa é uma

discussão que todos nós, cidadãos e esta Comissão, temos que começar a

acompanhar, até porque depois que a vida se extingue não adianta mais lutarmos

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na Justiça. Devemos, portanto, evitar que pessoas cheguem ao óbito por falta de

assistência hospitalar ou farmacêutica. Obrigado.

O SR. RELATOR (Pedro Pereira – PSDB) – Obrigado, Sr. Lothario

Schlindwein.

Concedo a palavra ao representante do Ministério Público, Sr. Mauro Luís

Silva de Souza.

O SR. MAURO LUÍS SILVA DE SOUZA – Deputado Pedro Pereira, Sra.

Simone, Sr. Guilherme, Sra. Ângela, Sr. Lothario, senhoras e senhores:

Sem dúvida, questões dessa relevância devem ser tratadas a dimensão que

vem sendo dada por esta Comissão. O Ministério Público foi encarregado, pela

Constituição de 88, de exigir dos poderes públicos o respeito aos direitos postos na

Constituição.

E como dizia o Sr. Lothario, efetivamente nós temos um problema de

orçamento no Estado e temos um problema de orçamento na União, porque – como

foi dito na reunião anterior e se reitera agora – nenhum dos governos do Estado

aplicou a emenda constitucional 29 na saúde. Nenhum governo. Não é esse

governo, o governo anterior, ou seja, nenhum dos governos do Estado de 2000 para

cá aplicou a emenda constitucional 29 na saúde, como também o governo federal

não aplica.

Vejam, 1 bilhão e 600 milhões seria o que o Estado deveria aplicar aqui em

nível de saúde. Um bilhão e 400 milhões a União teria que acrescentar ao seu

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orçamento neste ano de 2007. 1 bilhão e 400 milhões, e o que fez a União? Retirou

5 bilhões e 800 do orçamento da saúde.

É difícil tratarmos de questões que dependem exclusivamente de recursos,

quando tratamos os orçamentos públicos desta maneira. Saúde e educação são as

duas únicas áreas em que há limitação constitucional.

25% para a educação nos três níveis: União, Estados e Municípios. Na

União seria algo em torno de 10%, não é bem isso, é o que foi empenhado no

exercício anterior mais a correção nominal do PIB, que para este ano implicaria mais

um bilhão e 400 milhões. Nos Estados 12%, e nos Municípios 15% para a saúde. E

não temos essas aplicações, sequer os orçamentos são constituídos prevendo

esses recursos.

É difícil trabalharmos com questões desta magnitude, quando sequer

estamos cumprindo a lei. E temos um problema muito sério no País, fazemos as leis

e não as cumprimos e depois dizemos que aquela lei não é boa, que devemos fazer

outra lei. Fazemos outra lei para também não ser cumprida.

Constituímos um grupo de estudo para tratar sobre os medicamentos

chamados pela secretaria de medicamentos judiciais. Chegamos à conclusão de

que em alguns casos o deferimento judicial, em alguns casos, de medicamentos

pode ser um problema. Em outros casos não.

Notadamente, nesses casos em que o Estado já admitiu a procedência do

pedido, não há muito que fazer em nível judicial. Precisamos é fazer aparecer o

recurso. De que lugar sairá é que é a questão. De que maneira se faz isso?

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Alocando os recursos legais, os recursos constitucionais nos orçamentos.

Fizemos um termo de ajustamento com a Secretaria Estadual de Saúde, que

até então vinha sendo cumprido. Sabemos que, em alguns casos, esse termo de

ajustamento não foi cumprido, inclusive, foram solicitadas cópias ao meu centro de

apoio, que detém o original deste termo de compromisso de ajustamento, para que

fosse feita a execução.

Muitas cidades do Estado já estão fazendo essa execução dos

medicamentos que o Estado se comprometeu a entregar e que, por limitações

orçamentárias, por não ter alocado os recursos, pelos motivos os mais variados, não

entregou lá na ponta os cidadãos que faziam jus, segundo os próprios critérios do

Estado.

O Ministério Público está disposto, sim, a trabalhar com todas as

ferramentas que foram postas à disposição do Ministério Público nesta questão.

Solicitamos aos senhores que, em havendo esse tipo de dificuldade no

relacionamento com o Estado, procurem em Porto Alegre a Promotoria de Direitos

Humanos – na Rua Santana, nº 440 – e no interior do Estado qualquer promotoria

de Justiça, para que possamos, em primeiro lugar, negociar com o Estado um

atendimento.

Já buscando esse entendimento, por meio do grupo de estudo de

fornecimento de medicamentos, e malogradas as negociações entraremos com as

negociações necessárias. Ao fim, ao cabo, cabe ao Poder Judiciário, em uma

democracia, como já se disse aqui em outras ocasiões, dizer quem deve fazer o que

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e quando.

Esta é a posição do Ministério Público. O Ministério Público defende um

sistema único de saúde no qual acreditamos. Aliás, não existe similar no mundo

inteiro. O único sistema público de saúde que fornece medicamentos é o Sistema

Único de Saúde do Brasil.

Em nenhum outro lugar há esta integralidade como prevista aqui no nosso

sistema, e queremos que funcione.

Há 17 anos, desde 1990, historicamente é muito anterior a isso, mas, desde

que existe o Sistema Único de Saúde se vem trabalhando para que seja implantado

adequadamente e esta implantação passa, sim, por um controle social eficiente, por

uma participação comunitária efetiva e por uma gestão adequada de todo sistema. É

isso que buscamos. Muito obrigado.

O SR. LOTHARIO SCHLINDWEIN – Quero fazer uma complementação de

minha fala.

Justamente na minha intervenção, quando disse que o Ministério Público

repassava em dia, a nossa posição do conselho é bem clara. Inclusive, estamos

recorrendo. Queremos que o governo federal também aplique tudo. Independente de

quem estiver no poder.

Também gostaria de frisar que quando os chamamos para a reunião,

disseram que estavam repassando em dia. Muito obrigado.

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O SR. MAURO LUÍS SILVA DE SOUZA – Parece que o que foi combinado

dentro dos padrões orçamentários previstos tem sido efetivamente repassado, isso

quem me admitiu foi o subsecretário da Saúde. Ele disse que o que tinha sido

combinado com o governo federal, dentro do que está previsto orçamentariamente,

tem sido efetivamente repassado. Parece que é assim.

O SR. LOTHARIO SCHLINDWEIN – A luta do conselho também é para o

aumento do teto financeiro do Estado. Esta é uma luta histórica, o conselho está do

lado do gestor, entendemos que o teto dos Estados deve ser revisto e precisamos

lutar para isso.

A SRA. ÂNGELA MARIA GARCIA – Dr. Mauro, o senhor estava falando na

tabela do SUS, mas, para nós que temos mal de Parkinson – falo como portadora, o

tempo é muito importante, porque é uma doença progressiva e para conseguir uma

consulta pelo SUS levamos em média seis meses. É uma doença progressiva e

estão surgindo novas medicações, mas em seis meses a pessoa pode até já estar

morta.

Para os portadores de Parkinson o tempo é muito importante, é hoje, não é

daqui a dois, três, quatro meses.

Não sei se vocês sabem o que é conviver com uma pessoa portadora de

Parkinson, não conseguimos realizar as atividades básicas, tais como: caminhar,

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vestir, calçar, ir ao banheiro. Somos totalmente dependentes.

A dignidade pessoal vai por água a baixo, porque a pessoa não consegue

fazer nada. A maior luta é para que o Estado encontre uma solução imediata.

O SR. RELATOR (Pedro Pereira – PSDB) – O representante do Ministério

Público nos comunica que precisa se retirar, devido a outro compromisso.

Lamentamos a ausência da procuradora e do secretário de Saúde.

A Sra. Ângela falou anteriormente que estaria disposta a receber a

presidente, poderíamos já agendar uma reunião, para agilizarmos.

Nosso objetivo é agilizar, pois a doença é progressiva e não pode esperar. É

uma doença que debilita a pessoa e causa transtornos para a família. Além do mais

os medicamentos são de uso contínuo.

A SRA. ÂNGELA MARIA GARCIA – Os medicamentos têm um custo

mensal de seiscentos reais a oitocentos reais.

Fora os custos com fisioterapia, fonoaudiologia. Imaginem como as pessoas

estão se sentindo.

O SR. RELATOR (Pedro Pereira – PSDB) – Para agilizar, vamos agendar

uma reunião com a Sra. Simone de Fátima do Amaral.

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A SRA. SIMONE DO AMARAL – Na semana que vem, com certeza,

podemos trocar telefones e agendar isso.

O SR. RELATOR (Pedro Pereira – PSDB) – Acertem-se entre os senhores.

O importante é que nos agilizemos. A função de todos que estão aqui é o bem

comum das pessoas. O Estado também quer fazer a sua parte e está aí para isso.

Nesta Casa, na Assembléia Legislativa, esta subcomissão foi criada exatamente

para isso. É também o caso dos senhores. É o caso, repito, de transplantados,

ostomizados, portadores de hepatite C e esclerose múltipla.

É isso que se quer com estas audiências públicas que também serão

realizadas no interior e em várias reuniões aqui. Queremos antecipar que, na

próxima semana, a nossa reunião será realizada na segunda-feira. Não será na

terça-feira. Em vez de 24, será dia 23, às 17 horas. Será discutida a legislação dos

transplantados de fígado do Rio Grande do Sul.

A Defensoria Pública hoje não pôde estar presente. Esperamos que, na

próxima reunião, esteja aqui. Então, se alguém da platéia quiser fazer perguntas, a

palavra está à disposição. Por favor, pedimos que se identifiquem.

A SRA. EDY MUSSOI – Meu nome é Edy Mussoi. Represento o Movimento

de Donas de Casa e Consumidoras do Rio Grande do Sul.

Gostaria de falar pelos transplantados. Acabei de chegar da Santa Casa.

Falando com os médicos de lá, pediram que eu retransmitisse ao senhor que a

Santa Casa está numa situação de desespero. Eles não têm medicamento para dar

aos pacientes que fizeram transplante.

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Uma médica ainda dizia: É uma pena porque vai ser um prejuízo para o

Estado. Todo aquele ritual de transplante, que o senhor como médico sabe o quanto

custa, vai ficar perdido porque não há medicamento. Lá na Santa Casa, hoje à tarde,

estavam numa situação de pânico, porque não há medicamento.

Nos postos de saúde, não tem nem insulina, aliás, parece que há esse

problema no Brasil inteiro. Acabo de chegar de São Paulo onde estivemos num

seminário do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor – Idec –, e, conversando

com o povo na rua, enquanto distribuíamos as cartilhas, medicamento, um direito

essencial, a população disse que também não há medicamento em São Paulo. Eles

também não têm insulina. Então, parece que esse não é um problema só do Rio

Grande do Sul. Parece que é uma calamidade pública nacional.

O SR. RELATOR (Pedro Pereira – PSDB) – Posso garantir que o nosso

caso é o pior. Dos 27 Estados da federação, a situação do Rio Grande do Sul é a

pior de todas.

A SRA. EDY MUSSOI – Até acredito, deputado. O momento, já que temos

uma representante do governo, é fazer sentir que a população não está agüentando

mais. Como o senhor mesmo falou no início, a doença não espera.

O SR. RELATOR (Pedro Pereira – PSDB) – Quero convidá-la para

segunda-feira, participar da reunião dos transplantados aqui nesta sala. Quanto mais

gente estiver presente, é melhor.

A SRA. EDY MUSSOI – Vou retransmitir ao pessoal lá da Santa Casa para

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que compareçam. Muito obrigada, deputado.

O SR. RELATOR (Pedro Pereira – PSDB) – Se ninguém mais quiser se

manifestar, encerramos a reunião, agradecendo aos senhores e às senhoras. Esta

subcomissão está de portas abertas: eu e os deputados Coffy Rodrigues e Luciano

Azevedo, que hoje não pôde estar aqui. Independente da subcomissão, temos as

nossas bancadas. Mais do que ninguém, como médico, sou sabedor da situação.

Repito: fui a Brasília na semana passada e voltei de lá muito preocupado,

muito preocupado mesmo. Fomos pedir socorro aos deputados federais.

Inicialmente, tivemos uma reunião com os 31 deputados federais do Estado. Depois

uma reunião com o ministro da Saúde e, na quinta-feira, uma reunião com o ministro

da Justiça. O Estado com maiores problemas é o Estado do Rio Grande do Sul. Dos

27 é o pior.

A SRA. ÂNGELA MARIA GARCIA – Deputado, quero fazer uma colocação.

O Estado do Paraná, só para o senhor ter uma idéia, tem uma farmácia só para as

pessoas com Parkinson. Na própria associação, todos recebem os medicamentos, e

nem precisa ser sócio. Todos que tiverem receita do neurologista responsável vão

direto ao farmacêutico de lá. Então, por exemplo, sou portadora de Parkinson lá no

Paraná e tenho comprovante de que sou portadora, vou à farmácia da associação e

recebo o remédio. Há uma boa diferença e estamos no mesmo País, Brasil.

O SR. RELATOR (Pedro Pereira – PSDB) – Sra. Ângela, vamos torcer e

trabalhar para que um dia cheguemos a esse nível. Temos que encontrar soluções,

gente. Esse é o objetivo dessa subcomissão e de todos que estão aqui para que se

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consiga, num breve espaço de tempo, conhecendo as dificuldades do Estado,

porque o nosso munícipe, o nosso gaúcho, no caso, homens e mulheres, não têm

culpa da situação a que chegamos.

Então, vamos trabalhar e que Deus nos ajude, nos dê forças e nos dê saúde

para que possamos suportar e chegar o mais rápido possível a uma resposta

satisfatória para aliviar o sofrimento e resolver os problemas de todos os pacientes.

Meu muito obrigado e até segunda-feira, às 17 horas.

DATA 23/04/2007: O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Boa-tarde

a todos. Declaramos aberta mais uma reunião desta subcomissão especial da

Assembléia Legislativa do Estado, que discute a questão do fornecimento de

medicamentos de uso especial e contínuo no Rio Grande do Sul.

Esta subcomissão, nas últimas semanas, tem procurado nesta Casa, por

intermédio dos deputados que estão designados para tratarem desse tema,

contribuir para que tenhamos a regularização do fornecimento da medicação. Tal

regularização diz respeito não apenas à volta do fornecimento, mas também à

continuidade do medicamento, sem interrupções. Este é o nosso objetivo, e para

isso a subcomissão tem trabalhado.

Temos o prazer da presença do Dr. Nilton Leonel Arneck Maria,

representante da Defensoria Pública; da Dra. Marinês Assmann, representando o

Ministério Público do Estado do Rio Grande do Sul; do Dr. Jorge Krammer Borges,

representante da Associação dos Transplantados de Fígado do Rio Grande do Sul;

da Sra. Cleci Terezinha Muller, representante da Associação Gaúcha de

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Mucoviscidose e Fibrose Cística; e da Sra. Maria Auxiliadora Xavier Trindade,

representante dos portadores de Tirosinemia. Sejam todos muito bem-vindos.

O trabalho da subcomissão é muito informal, exatamente com o objetivo de

contribuir para a solução deste problema, que afeta dezenas de milhares de famílias

no Rio Grande do Sul, famílias que, conforme sempre dizemos, merecem todo o

nosso respeito e atenção.

Este é o objetivo da Assembléia Legislativa do Estado: contribuir para que

este seja um tema tão importante para o Rio Grande do Sul como têm sido outros

temas tratados por esta Casa, como os relativos aos pedágios e também à questão

da restruturação administrativa do Estado, que será discutida amanhã.

Queremos que o tema referente ao fornecimento dos medicamentos, que diz

respeito à vida das pessoas, seja prioritário para o governo, para esta Assembléia

Legislativa e para o Rio Grande do Sul como um todo.

Está conosco o deputado Pedro Pereira, que também é integrante desta

subcomissão e que falará posteriormente. Sempre faço questão de registrar que S.

Exa. é o único médico entre os 55 deputados estaduais com mandato, hoje, no Rio

Grande do Sul. Por isso, a sua presença aqui, além da sua representatividade

política e da sua atividade parlamentar, se reveste de importância ainda maior pela

sua formação profissional.

Estabelecemos o limite máximo de 10 minutos para cada manifestação.

Sempre trabalhamos dessa forma no início da reunião e no seu final, para que

possamos ser bem objetivos e aproveitar da melhor forma o nosso tempo.

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Concedo a palavra ao Dr. Nilton Leonel Arneck Maria, para que, em nome

da Defensoria Pública, possa fazer um relato do trabalho que o órgão tem realizado

em todo o Estado em relação a esse tema.

O SR. NILTON LEONEL ARNECK MARIA – Boa-tarde, deputado Luciano

Azevedo, na pessoa de quem saúdo os demais representantes da mesa e a todos

os presentes.

É gratificante para a Defensoria Pública comparecer nesta Casa para

discutir um tema tão recorrente e tão importante para a população gaúcha.

Em nome da defensora pública-geral, que foi convidada a participar desta

reunião e não pôde comparecer, agradeço pelo convite e reafirmo que a Defensoria

Pública está de portas abertas a esta Casa para o debate sobre todas as questões

atinentes e relevantes na vida do povo gaúcho, em especial daquela comunidade

carente e hipossuficiente que é atendida pelo órgão.

No que se refere às ações de saúde, a Defensoria Pública tem tido um

trabalho árduo ultimamente – e falo isso me referindo aos últimos anos, não só aos

meses que estão passando –, tendo em vista que é notória, hoje, no Estado, a

insuficiência de recursos e de medicamentos para se atender ao comando

constitucional, que confere a todos aqueles que não possuam condições uma

assistência médica e farmacêutica, em todos os critérios de saúde.

Nesse sentido, a Defensoria Pública tem pautado suas ações no intuito de,

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antes de haver uma demanda judicial – que, conforme todos nós sabemos, é muito

cara, tanto para o cidadão que bate à porta do Judiciário como ao próprio Poder

Judiciário, ao Ministério Público e a todos os que fazem parte dessa demanda –,

primar, num primeiro momento, pela busca da medicação administrativamente, com

o encaminhamento dos pedidos e os protocolos administrativos, para só então

recorrer à via judicial.

Porém – trago aqui a palavra de todos os colegas do interior do Estado –, a

via administrativa não tem surtido tanto efeito como a via judicial, e isso ocorre

porque, conforme sabemos, não existem todos os tipos de medicação constantes

das listas de atribuição do Estado do Rio Grande do Sul à disposição daquelas

pessoas que necessitam de medicamento.

Sabemos também que a Secretaria de Estado da Saúde tem discutido

eventuais questões atinentes ao preenchimento de prontuários médicos, de

atestados médicos, de laudos médicos, com o fito – segundo explicação dessa

secretaria – de melhor atender à população, melhor fornecer auxílio e melhor tratar

da distribuição dessa medicação em todo o Estado.

Essa fase administrativa tem levado muito tempo em termos de resposta

para o cidadão que precisa de medicamento. Não estão sendo cumpridos, digamos

assim, na maioria das vezes, aqueles 30 dias.

A Defensoria Pública, então, ajuíza as ações de medicamentos com a

finalidade de tentar obter do fornecimento da medicação ao leito hospitalar, a

internação compulsória e vários outros tipos de ações que são afetas à área da

saúde.

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Nesse sentido, tem-se considerado necessário fazer todo tipo de pedidos

judiciais, dentre os quais bloqueios de verbas e o pedido de aquisição desses

medicamentos na rede privada.

Sabemos que isso onera muito o Estado; então, aqueles medicamentos que

já não estão sendo comprados sob a forma de licitação ou de concorrência pública

têm um custo maior ao serem adquiridos por força de um comando judicial.

Como a Defensoria Pública entende este lado do Estado também, iniciamos

uma conversação com o secretário de Estado e com os responsáveis técnicos pela

Secretaria com a finalidade de tentar diminuir essas demandas, porque entendemos

que a via administrativa é sempre uma melhor solução do que uma demanda

judicial.

Entretanto, o relato que tenho a fazer é referente aos números de ações

ajuizadas somente em Porto Alegre, sendo o relato mais preciso que pude obter até

hoje. Só na Comarca da Capital, em todo o ano passado, foram ajuizadas 320 ações

de medicamentos. Neste ano, em 2007, até o dia 19 de abril já foram ajuizadas 150

ações somente nessa comarca. Ou seja, em quatro meses houve praticamente a

metade do número de ações referentes a todo o ano passado.

Outro relato que trago e já pude expor, na semana passada, na primeira

reunião da qual participei – salientando que hoje faz uma semana que assumi a

coordenadoria da área cível, de forma que possa não ter todos os dados completos

–, é referente ao fato de que, nos últimos seis meses, a demanda por

medicamentos, a busca pela tutela judicial, duplicou e, em algumas regiões do

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Estado, chegou a triplicar.

Isso é reflexo, é claro, em primeiro lugar, da carência financeira do Estado;

em segundo lugar, não sei se da distribuição ou do repasse do orçamento, talvez em

função de um equívoco na estrutura de repasse de orçamentos. Mas, certamente, se

eu tivesse conseguido compilar dados de todo o Estado, o número de ações, até o

mês de abril, já estaria alcançando quase o número referente ao ano 2006. Esse é o

relato que trago da Defensoria Pública.

Sobre a questão de a Defensoria Pública poder colaborar para a solução do

problema, nós, enquanto agentes que defendem o cidadão carente e que precisa de

medicação, entendemos também que a via judicial não seja a melhor. Temos que

tentar chegar a um consenso para buscar equalizar essa situação. Sabemos que o

sistema jurídico determina um atendimento a todos e que, hoje em dia, é

praticamente impossível, senão totalmente impossível, cumprir isso.

Foi criado um grupo de trabalho com o Ministério Público, aqui presente, o

Judiciário, o Cremers, a Amrigs e a Procuradoria do Estado, com todas as funções

afetas à área da saúde. Já ocorreram alguns encontros, e houve um seminário no

último dia 13, ao qual infelizmente não pude comparecer – parece-me que foi muito

bom, pois a questão evoluiu bastante, e a doutora que estava presente poderá

comentar sobre isso depois.

A Defensoria Pública tinha rompido um pouco o canal de entendimento com

a Secretaria de Estado em função das diversas demandas que se faz necessário

serem ajuizadas pela falta de fornecimento da medicação, por essa demora de

resposta ao cidadão.

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Inclusive, quanto a isso, na primeira reunião de que participei, cobrei muito

do secretário, que estava presente, porque a pessoa que quer medicação às vezes

pode esperar 45 ou 60 dias, mas, às vezes, não pode fazer isso, dispondo apenas

da inércia do Estado, que acaba não respondendo àquele pedido porque sabe que

não irá conseguir fornecer a medicação, embora ela conste da lista.

Uma pessoa que obtém uma resposta sai mais satisfeita do local, pois já

sabe o que deve procurar e a quem recorrer e não fica perdida. Nesse sentido, a

Defensoria Pública trabalha muito com pessoas que não têm a quem recorrer e que

ficam perdidas, às vezes até um ano sem saberem o que fazer e necessitando de

medicamento.

Entendendo a necessidade de um diálogo – porque não é pela força da ação

judicial que vamos consegui-lo –, a Defensoria Pública reabriu esse canal de

conversação com a Secretaria de Estado para ver se consegue, a curto prazo,

resolver um pouco essa demanda, deixando para que recorram às ações judiciais

aqueles casos que são inevitáveis, ou porque a medicação não conste da lista, ou

porque se trate de algo fora do País e que não seja possível ser resolvido de forma

administrativa.

A Defensoria Pública reabriu esse canal e está conversando com o

Ministério Público, com o Poder Judiciário e com os representantes dos médicos

para ver se chega a um consenso e para resolver problemas em relação a

medicamentos da lista, a receituários médicos mais completos, à dosagem da

medicação, ao preenchimento de dados do paciente e do médico, a fatores que

entravam o pedido administrativo de forma que se acaba acionando o Estado

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judicialmente, quando administrativamente poderia ser resolvida a questão.

Creio, infelizmente, que uma solução mais urgente passa pela sanidade

financeira do Estado. Muito obrigado.

O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Agradecemos ao

representante da Defensoria Pública, Dr. Nilton Leonel Arneck Maria, e, em nome da

comissão, gostaria de solicitar, se for possível, que a Defensoria Pública nos envie,

mesmo com uma solicitação informal, o relatório dessa movimentação, das ações

judiciais e daqueles dados que o órgão tiver, para que possa colaborar com o nosso

trabalho, o que seria muito importante.

O SR. NILTON LEONEL ARNECK MARIA – Na medida do possível,

encaminharei o relatório completo de todo o Estado, possivelmente dentro de uma

semana ou dez dias.

O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Muito obrigado.

Registro a presença dos representantes da Associação Gaúcha de

Assistência à Muscoviscidose, do Centro de Apoio ao Portador de Anemia

Falciforme e do Grupo Hospitalar Conceição.

Concedo a palavra à Sra. Maria Auxiliadora Xavier Trindade, representante

dos portadores de Tirosinemia, para que faça um relato aos membros da comissão e

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aos que nos dão a honra de sua presença.

A SRA. MARIA AUXILIADORA XAVIER TRINDADE – Em primeiro lugar,

gostaria de cumprimentar os Srs. Deputados, os representantes do Ministério

Público e da Defensoria Pública, os demais membros da mesa e a todos os

presentes.

Estou representando o meu neto, que tem cinco anos e é portador de

Tirosinemia tipo I. Trata-se de uma doença genética, hereditária, referente à falta de

uma enzima que aumenta a tirosina no organismo. Na ausência dessa enzima,

acumulam-se compostos tóxicos no fígado, nos rins, ou no sistema nervoso. No

caso do meu neto, a enfermidade estava atingindo o fígado; ele inclusive já estava

inscrito na lista para transplantes. O que ele precisa tomar é um leite – o XPT

Maxamaid – e o NTBC.

Todos esses medicamentos são importados, não existindo na lista de

medicamentos da Secretaria da Saúde. Atualmente se consegue o leite na Suporte,

em São Paulo. Já o medicamento vem da Suécia.

Até pouco tempo atrás, essa medicação era doada pelo laboratório

Innovative Medicines, que fica na Suécia. No entanto, eles não querem mais doá-lo

e estão exigindo a compra pelo Estado, uma vez que no Brasil atualmente, há cinco

crianças com essa doença; no mundo todo, parece que o número de pacientes está

em torno de 200.

O Estado está dificultando a situação. Há demora na compra da medicação,

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e recentemente, como ela não constava da lista, tivemos de recorrer à via judicial.

Quanto ao leite, no ano passado ele estava sendo fornecido na farmácia, o que

parou de ser feito. Já no início deste ano, não sei por que motivo, não havia mais o

produto na farmácia.

Em função disso, tivemos novamente de recorrer à Justiça. Pleiteamos que

eles depositassem, via judicial, o dinheiro para a compra do leite. Por outro lado,

quando o Estado demora a fazer o depósito, temos praticamente implorado ao

laboratório para que faça novamente a doação, uma vez que essa é uma doença

muito séria, muito grave. Neste ano, um menino ficou um mês sem o medicamento

no Rio, teve de fazer o transplante e faleceu.

Ele não pode ficar cinco ou 10 dias sem sua medicação. No caso de outras

doenças, a pessoa até pode ficar sem o remédio, pois não acontece nada. No caso

dele, entretanto, essa falta do medicamento não pode ocorrer.

Essa doença é classificada em quatro tipos; o transitório, o I, o II e o III. A

dele é a Tipo I, que é a mais grave. Ele não pode ficar sem a medicação.

A nossa dificuldade, portanto, está na demora do Estado em fazer os

depósitos. Entendemos a situação, mas o nosso problema também é grave; não

temos como comprar os medicamentos, pois ambos são caros.

Gostaríamos que o Estado fizesse a compra, pois isso facilitaria tudo. Como

a medicação é cara, às vezes não depositam os recursos. Temos conseguido

dinheiro emprestado par fazer a compra, mas quando o Estado deposita temos de

repor o que nos foi emprestado. É muito séria a situação.

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O nosso pedido, portanto, é este: que o Estado faça a compra do

medicamento e do leite.

O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Qual é o custo do

medicamento?

A SRA. MARIA AUXILIADORA XAVIER TRINDADE – Para o leite, fizeram

recentemente um depósito baseado em um custo de R$ 1 mil, 946 reais a lata. Ele

necessita de oito latas mensais de leite, mais o medicamento, que em dólares

também é muito caro.

Creio que, numa venda direta para o Estado, o preço dos laboratórios é mais

acessível do que o valor que eles depositam com base no que é cobrado aí por fora,

para depois comprarmos a medicação.

Solicitamos que o Estado regularize a situação e faça a compra. Da última

vez, entramos em contato com a Suporte e conseguimos um preço mais barato,

para poder comprar.

O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Agradecemos à Sra. Maria

Auxiliadora Xavier Trindade por suas informações.

Registro a presença do promotor de Justiça, Mauro Luis Silva de Souza, que

representa o procurador-geral de Justiça e mais uma vez nos dá a honra de estar

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presente nesta subcomissão da Assembléia.

Concedo a palavra à Sra. Representante da Associação Gaúcha de

Assistência à Mucoviscidose e Fibrose Cística, Cleci Terezinha Müller.

A SRA. CLECI TEREZINHA MÜLLER – Peço a gentileza da atenção dos

senhores para a exposição de um vídeo.

O SR. CRISTIANO MACHADO SILVEIRA – Vou falar a respeito de algumas

especificidades da fibrose cística e apresentar dados relativos ao Rio Grande do Sul.

A fibrose cística é uma doença genética, provocada pela mutação de um

único gene no cromossomo 7, que transcreve uma proteína em nível celular. A falta

dessa proteína ou ela não estando corretamente codificada acarreta alguns

problemas na viscosidade dos mucos produzidos por algumas glândulas. Essa

alteração irá provocar repercussões sistêmicas, ou seja, em todo corpo, em alguns

órgãos, principalmente nos pulmões e no pâncreas – na parte digestiva –, mas

também no fígado, nos intestinos, na parte reprodutiva, principalmente no masculino,

em que 98% acaba desenvolvendo esterilidade. Na questão da produção do suor, a

alteração da concentração de cloro no suor dá aquela característica bem particular

da fibrose cística da doença do suor salgado, do beijo salgado.

É uma doença bastante comum no nosso meio. Uma em cada 20 pessoas

no nosso Estado, principalmente as pessoas de pele branca, são portadores do

gene defeituoso para fibrose cística. É uma doença autossômica recessiva, ou seja,

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autossômica porque ocorre em homens e mulheres na mesma proporção e

recessiva porque a chance em um casal portador da doença de ter um filho com

fibrose cística é de um em cada quatro filhos ou 25%.

Essa questão da alteração da densidade do muco, principalmente na

questão dos pulmões, acaba levando ao acúmulo desse muco nas vias respiratórias

inferiores e superiores e à colonização por bactérias muito específicas desse muco.

São essas bactérias que depois vão demandar alguns antibióticos e alguns

tratamentos medicamentosos bem específicos. Estaremos falando disso mais

adiante.

Um dado bem interessante é que a incidência dessa doença no Brasil varia

de 1 para 10 mil a 1 para 2 mil, variando muito de região no Estado. O nosso Estado

é campeão da incidência da fibrose cística: de 1 para 1.585 nascidos vivos.

Trouxe a questão da triagem neonatal, que é uma bandeira sobre a qual a

Cleci irá falar, que também é uma forte atuação das associações.

No Rio Grande do Sul, temos duas associações de fibrose cística. Uma

atuação bem importante é a questão da divulgação do Teste do Pezinho no

diagnóstico precoce dessa doença. Inclusive temos a felicidade de a Assembléia

Legislativa já ter legislado sobre o assunto.

É importante o diagnóstico para o acesso ao tratamento precoce. É preciso

a divulgação da doença, que ainda é pouco conhecida pelos profissionais e para

investigarmos a situação epidemiológica no Estado, porque há muitos pacientes que

não são identificados, e acabamos não sabendo deles.

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Um dado bem preocupante é que temos um diagnóstico cinco vezes mais

tarde do que acontece nos países desenvolvidos. Esse é um dado médio. Há

pacientes sendo diagnosticados com 7, 10, 15, até pacientes próximos à idade

adulta sendo diagnosticados que passaram a vida toda com pneumonias

recorrentes, com problemas digestivos, e que não sabiam o que tinham.

Alguns dados da nossa associação, a Associação Gaúcha de Assistência à

Muscoviscidose: são 228 pacientes atendidos, distribuídos em 93 Municípios, nas 19

coordenadorias regionais. Eles estão distribuídos em todo o Estado, além de

pacientes de outros Estados que vêm procurar tratamento nos nossos três centros

de referência.

No nosso catálogo, consta a idade dos nossos pacientes. A cara da fibrose

cística, no Brasil, mostra o maior número de pacientes sendo crianças e

adolescentes, porque eles não chegam ainda, infelizmente, à idade adulta. Estamos

lutando muito nas associações para que eles cheguem com uma vida plena e

saudável. Os pacientes com menos de 18 anos são 76,8% na nossa associação.

A fibrose cística é uma doença sistêmica complexa. O seu tratamento

necessita de muitos medicamentos. Citarei apenas alguns: antibióticos, enzimas

digestivos, suplementos, entre outros. É por isso que estamos aqui hoje. Aqui estão

os contatos da associação para quem quiser anotar. Muito obrigado.

O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Concedemos a palavra à Sra.

Cleci Terezinha Müller.

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A SRA. CLECI TEREZINHA MÜLLER – Como vimos, a fibrose cística tem

uma incidência muito grande no Rio Grande do Sul, mas é pouco diagnosticada.

Uma das questões do pouco diagnóstico é que a fibrose cística ainda não está

incluída na pesquisa da fibrose cística do Teste do Pezinho SUS, mesmo após a

aprovação da lei nº 11.450, de 2000, por esta Casa Legislativa.

Essa tem sido uma das frentes de batalha da AGAM. O Rio Grande do Sul já

está habilitado para essa fase, de acordo com os critérios da portaria nº 322, de

2001, do Ministério da Saúde. Mas aqui no nosso Estado ainda não está sendo

pesquisada a fibrose cística no Teste do Pezinho SUS, o que é importantíssimo para

fazer um diagnóstico precoce para dar qualidade e anos de vida aos pacientes.

Como puderam ver há uma diferença existente na idade mediana de diagnóstico

daqui para os Estados Unidos.

Pelas pesquisas e novos medicamentos, a fibrose cística deixou de ser uma

doença em que os pacientes morrem na infância. Hoje há pacientes adultos,

formados, trabalhando; as moças estão casando, sendo mães; enfim, eles estão

levando uma vida plena e produtiva.

O atendimento aos pacientes de fibrose cística é feito por uma equipe

multidisciplinar: médico pneumologista, gastroenterologista, psicólogo, nutricionista,

fisioterapeuta, assistente social e enfermeira.

Hoje existem no Rio Grande do Sul três centros de referência para

atendimento da fibrose cística: o Hospital de Clínicas de Porto Alegre – com uma

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equipe que atende a pediatria e uma equipe que atende adolescentes e adultos –, o

Hospital São Lucas da PUC e o Hospital da Criança Santo Antônio, que é do Grupo

Hospitalar da Santa Casa.

A AGAM tem um bom relacionamento com a Secretaria Estadual da Saúde,

principalmente com os técnicos e servidores da Coordenadoria de Política de

Assistência Farmacêutica. Sempre somos atendidos nos contatos que fazemos para

resolver a questão da distribuição dos medicamentos, principalmente no interior do

Estado. Já tivemos discussões acaloradas, mas o relacionamento que vem sendo

construído, ao longo de anos, é baseado no respeito e na seriedade de ambas as

partes.

Com relação aos medicamentos, sabemos que a fibrose cística está numa

situação um pouco melhor do que as outras doenças crônicas, mas não chegamos a

esse ponto sem lutar. Em 1994, a AGAM entrou com uma ação cível pública levando

o Estado a fornecer medicamentos para a fibrose cística: na época, enzimas

digestivas, multivitamínico, medicamento para o fígado, mucolítico inalatório para o

pulmão. Mesmo com a ação, o fornecimento dos medicamentos não era regular, e

houve muitas faltas.

Em 2000, a ação foi retomada, e o Estado foi obrigado a fornecer os

medicamentos que já constavam da ação, mais antibióticos orais, endovenosos,

inalatórios, suplementos nutricionais, kit para gastrotomia e oxigênio domiciliar.

Farei só um comentário sobre o oxigênio domiciliar. Nos Municípios em que

a saúde já está municipalizada, integral, que são poucos, não chegam a 10, o

fornecimento é normal, tranqüilo. Quando o paciente tem de fazer um processo para

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SES fornecer o oxigênio, há uma lista de espera de seis meses. Na AGAM, temos

três concentradores de oxigênio que emprestamos para os pacientes. Tivemos o

caso de uma paciente que, se não fosse pelo concentrador da AGAM, teria ocupado

um leito hospitalar em isolamento por seis meses esperando o oxigênio do Estado.

Essa é uma questão muito importante que tem de ser levantada.

Em 2003, por iniciativa da Promotoria da Infância e Juventude e SES, foi

formada a Câmara Técnica da Fibrose Cística. Participam dessa câmara

representantes da Promotoria, SES, Hospital de Clínicas, Hospital São Lucas da

PUC, Hospital da Criança Santo Antônio, AGAM, Procuradoria-Geral do Estado.

Essa Câmara Técnica da Fibrose Cística normatizou o tratamento da fibrose cística

com dados dos medicamentos da ação cível.

Em novembro de 2004, foi publicada no Diário Oficial pela SES a portaria nº

42, com os protocolos clínicos resultantes dessa câmara técnica. A câmara não foi

encerrada, continua aberta e, quando necessário, reúne-se. No ano passado, a

pedido da AGAM, houve uma reunião para debater sobre enzimas, visto que o

laboratório interrompeu a fabricação de uma marca comercial e tinha de ser incluído

o nome comercial de outra enzima. O protocolo, até o momento, contempla ações e

medicamentos mais específicos para a fibrose cística. A AGAM tem solicitado

reuniões para que seja incluída toda a medicação, por exemplo, medicações para

vias aéreas superiores.

Sempre fomos parceiros para o aperfeiçoamento da lista de medicamentos,

mas não aceitaremos que esse recurso que serve apenas para orientação seja

utilizado para dificultar o acesso dos pacientes ao tratamento adequado.

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É importante destacar que a fibrose cística é uma doença complexa,

multisistêmica. Temos pacientes que desenvolveram diabetes e pacientes

transplantados de pulmão e fígado. O paciente de fibrose cística depende do Estado

para manter o tratamento contínuo, sem interrupções.

Segundo a SES, o custo médio por paciente é de aproximadamente 4 mil

reais mês. A SES tem procurado manter a medicação da portaria, e isso nos alivia

um pouco. Hoje estão em falta os suplementos nutricionais, que são muito

importantes para os pacientes de fibrose cística. Eles têm de manter um bom peso,

porque, se tiverem uma infecção respiratória e com peso baixo, a infecção

respiratória vai comprometer muito o paciente.

A AGAM sabe da importância desse protocolo, porque nos dá mais

respaldo. O Dr. Osmar Terra, em recente entrevista na Rádio Gaúcha – esperamos

que não seja só conversa, que não sejam só palavras –, disse que a portaria da

fibrose cística vai ser cumprida mesmo que a decisão da ministra Ellen Gracie se

torne jurisprudência. O voto da ministra a favor do Estado de Alagoas foi algo que

nos preocupou muito. É muito difícil a população ver um membro do Supremo

Tribunal rasgar a Constituição e ainda culpar pessoas com algum problema de

saúde pela situação do País.

O promotor Mauro Luís de Souza tem referido nas reuniões – e deve ser

uma bandeira de todos nós – a cobrança dos 12% para a saúde no orçamento tanto

estadual como federal e os repasses serem usados corretamente. Não temos hoje

os dados do TCU. No ano passado, até agosto, o Ministério da Saúde tinha

repassado ao Estado do Rio Grande do Sul 56 milhões de reais para compra de

medicamentos. O Dr. Gabbardo, que é o secretário substituto, na reunião que

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tivemos na Promotoria, disse que esse dinheiro estava sendo desviado para

internações hospitalares. O cumprimento exato do repasse, o uso correto é de

grande importância para todos os pacientes com qualquer tipo de doença crônica.

É comum escutarmos a metáfora do cobertor curto para justificar o

contingenciamento de recursos com a compra de medicamentos, mas precisamos

entender que esse tão falado cobertor poderia ser maior se fossem garantidos os

repasses para a área da saúde e se não tivéssemos tantos recursos perdidos pela

ineficiência e pela corrupção presentes nas estruturas do Estado Brasileiro. Muito

obrigada em nome dos pacientes de fibrose cística.

O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Registramos a presença da

Sra. Maria Lúcia Elbern, representante do Conselho Estadual de Saúde.

Concedemos a palavra ao Sr. Jorge Krammer Borges, que falará em nome

da Associação dos Transplantados de Fígado do Rio Grande do Sul.

O SR. JORGE KRAMMER BORGES – Saúdo o deputado Luciano Azevedo,

os demais componentes da mesa e os colegas das ONGs.

A Associação dos Transplantados de Fígado é uma entidade que abriga

pacientes transplantados não só de fígado, mas de todos os órgãos.

Iniciamos para dar um suporte para quem fazia transplante de fígado, mas a

necessidade tem nos obrigado a ajudar outros transplantados de rins, pulmão,

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coração.

A associação vai fazer nove anos. No que diz respeito à falta de

medicamentos, sempre tivemos a postura de manter o diálogo com a Secretaria de

Saúde, deixando a esfera judiciária por último. Infelizmente, nos três últimos anos,

isso está ficando muito difícil. Como dona Cleci Terezinha Muller disse, temos um

contato muito bom, contamos com a boa vontade dos membros da coordenação de

política farmacêutica, mas não vemos essa mesma boa vontade e essa disposição

de manter um diálogo aberto na direção da Secretaria da Saúde, ou seja, do

secretário ou do secretário substituto.

No caso de transplante, há medicamentos que são essenciais para que os

transplantados possam continuar vivos. São os imunossupressores. Esses

medicamentos vêm faltando com freqüência. Sabemos da situação de penúria

financeira por que passa o Estado do Rio Grande do Sul. Sabemos que nós,

transplantados, não somos os únicos que dependem de medicamentos. Há tantos

outros milhares de pacientes. Infelizmente, ninguém pede para ficar doente. Isso é

do destino. Temos que lutar.

Apontamos algumas situações na Secretaria da Saúde com relação à

grande falta de medicamentos que está ocorrendo, principalmente de janeiro para

cá. Já em setembro ou outubro do ano passado, conversamos com o governador

Germano Rigotto. Ele fez uma reunião no Palácio, para a qual convocou os 14

maiores credores do Estado. Na ocasião, foi feito um acordo. Infelizmente, esse

acordo funcionou um mês. Notamos que não há, por parte da Secretaria da Saúde,

uma vontade política de resolver a situação. Na gíria, existe a expressão empurrar

com a barriga. Estamos sendo obrigados a procurar, por meio da Defensoria Pública

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ou do Ministério Público, solução para esses problemas.

Participei de um seminário que considerei muito importante na semana

passada. A Dra. Marinês Assmann estava lá e presidiu um debate. Na oportunidade,

não pude me manifestar. Geralmente o secretário Osmar Terra fala ou secretário

substituto, Dr. Gabardo dizem que os pacientes procuram o Judiciário para receber

medicamentos que não fazem parte do protocolo. Isso é uma inverdade.

Extrapolando, diria que 10% fazem isso. O representante da Anvisa – a Dr. Marinês

Assmann deve lembrar – disse que desconhece isso. Noventa por sento dos

medicamentos que são solicitados via Judiciário fazem parte do protocolo o

Ministério da Saúde, que foi feito por pessoas que hoje compõem a Secretaria da

Saúde e que na época do protocolo, em 2000, 2002, estavam em Brasília.

Não entendo como pode ser questionado um medicamento que há três ou

quatro anos foi aprovado pela pessoa que hoje diz que ele não tem a eficácia

necessária, como o caso do Interferon Peguilado. Há três ou quatro anos o

medicamento era bom para fazer parte de um protocolo. Hoje, como a pessoa está

comprando o medicamento, ele não serve. São dois pesos e duas medidas. Quando

essa pessoa estava em Brasília, o medicamento era bom. Há um protocolo do

Ministério da Saúde que posso conseguir para V. Exa.

Gostaria que fosse registrado o caso de oito pacientes que entraram com

uma ação judicial para receber o medicamento Gamaglubolina Hiperimúnico Anti-

hepatite B, usado por pacientes que fazem transplante devido à hepatite B e que

necessitam tomar essa vacina mensalmente, sob pena de haver recidiva do virus. O

ataque é muito rápido. A hepatite B não é como a C. Ela pode inutilizar o fígado em

30 dias. Já houve óbitos por isso.

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O medicamento estava em falta. Os pacientes todos estavam sendo

internados na Santa Casa para tomar a medicação e para tomar outros que estavam

em falta, como é o caso agora do Sirulimus, tomado por muitas crianças com

problemas de rim. Infelizmente, entrei em contato com a secretaria, não se tem

previsão de quando será comprado o medicamento. O que aconteceu é que o

medicamento chegou em Porto Alegre e ficou 30 dias no setor de abastecimento da

Secretaria da Saúde. Os senhores podem comprovar o que estou dizendo. Estive

três vezes na farmácia, falei com a chefia. Presenciei quando ela mandou dois e-

mails solicitando o medicamento, e ele não vinha. Estava no estoque e não foi

distribuído para a farmácia.

Outra medicação que ficou mais de 20 dias no estoque da Secretaria da

Saúde foi o Micofenolado Sódico. Ligamos para o laboratório, pedindo um apoio,

uma amostra grátis para os pacientes, pois há muitas crianças usando-o.

Informaram-nos que ele havia sido entregue à secretaria há mais de 20 dias. Isso é

uma falta de gerenciamento, na minha opinião. Gostaria que isso ficasse registrado.

Uma outra situação que obriga os pacientes a procurarem a Justiça é a que

já foi citada aqui nesta comissão. Há uma solicitação, o medicamento vai para o

perito e, na maioria das vezes, ele leva mais de 30 dias para dar sua resposta. No

caso de transplante, são medicamentos essenciais que o transplantado é obrigado a

tomar. Começa a bater o desespero, e não há dinheiro para comprá-lo. Para os

senhores terem uma idéia, o HBIg de 40 UI custa 3 mil e 800 reais. Há pacientes

que usam cinco ampolas por mês. Não temos pacientes que tenham condições de

manter esse tratamento. Somente o Estado pode fazer isso.

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Também é necessária uma distribuição para o interior. Nota-se que muitos

Municípios não têm a boa vontade de colaborar com a Secretaria da Saúde. Um

exemplo é a situação do HBIg que chegou em Caxias do Sul, mas que não foi para

Canela, há 50 quilômetros de distância. O juiz deferiu, mandando o Estado dar o

medicamento. O paciente recebeu pouco mais de dois mil reais para comprar uma

ampola. Isso tudo ocorre na Secretaria da Saúde, embora saibamos da boa vontade

das pessoas que trabalham na farmácia aqui em Porto Alegre, da Carmen, que é

chefe da farmácia, uma pessoa incansável para re4solver os problemas dos doentes

em geral. Os remédios estão chegando, mas não está havendo uma boa vontade

por parte do secretário ou do secretário substituto o Dr. João Gabardo dos Reis.

Essas eram as manifestações que queria fazer.

O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Quantos transplantados

temos que recebem medicação, entre os de fígado, rins, no Estado todo?

O SR. JORGE KRAMMER BORGES – O número de transplantados deve

estar em torno de 3.200, talvez até mais.

O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Agradeço a manifestação do

representante da Associação dos Transplantados de Fígado.

Concedo a palavra à Dra. Marinês Assmann, promotora de Justiça do

Ministério Público.

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A SRA. MARINÊS ASSMANN – Boa tarde a todos. Na pessoa do deputado

Luciano Azevedo, cumprimento todas as autoridades aqui presentes, especialmente

meu colega Mauro Souza.

Alguns aqui já me conhecem, pois venho acompanhando há mais de três

anos a questão, na saúde pública, do fornecimento pelo Estado de medicamentos

excepcionais e especiais. Tenho visto que a situação, nos últimos meses, tem

piorado. Na verdade, nesses três anos, ela tem sido cíclica, mas sempre tendente a

piorar. Uma das razões disso é que os gestores – e aí não digo eu são os

secretários de Saúde, mas os últimos governos, todos eles, independentemente de

partidos – têm aplicado cada vez menos em saúde, da tirosinemia e deixará de

comprar dos outros tantos que estão aí, tantas outras hepatites, etc. E aí?

Então, parece-me que não vamos resolver essa situação com uma ação

isolada. Creio que todos nós temos de estar preparados para isso. Sinto muito não

dourar a pílula, mas é a visão que eu tenho. Pode ser equivocada. No Estado, tem

crescido vertiginosamente de 1988 para cá o número de pedidos de medicamento.

Tínhamos 2 ou 3 mil pedidos de medicamentos. Agora são mais de 120 mil pessoas

atendidas. No ano que vem, serão mais, serão 150 e depois 200 mil, porque as

pessoas comentam com outras que estão doentes. Existem pessoas doentes que

ainda não sabem que o Estado fornece medicamentos. O orçamento terá de crescer

para atender essa demanda, porque os laboratórios não diminuem os preços.

Vou encerrar, mas, na verdade, eu poderia ficar compartilhando com os

senhores as minhas angústias. Não sei mais o que fazer, além do que já foi feito e

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do que está sendo feito, que é entrar com a ação, obter a condenação. O Estado do

Rio Grande do Sul tem de valorizar a saúde, destinando verbas para a saúde de

acordo com o que é estabelecido pela Constituição.

Sinto ter de compartilhar com os senhores essas angústias que viveremos

por muitos anos ainda, porque mais pessoas demandarão medicamentos, e a verba

orçamentária não crescerá proporcionalmente.

O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Aproveito para convidar todos

a estarem conosco nas próximas reuniões. Já disse numa outra ocasião que a

presença das entidades, mesmo quando não são elas que serão ouvidas aqui, é

muito importante, porque fortalece a luta, soma esçorços e contribui para o que a

Dra. Marinês Assmann mencionou, ou seja, sensibilizar as autoridades que detêm o

recurso financeiro para que possamos transformar o que hoje é uma questão de

milhares de gaúchos em uma questão de Estado, em algo que seja encampado pelo

Estado. Por isso, a presença de todos sempre é muito importante.

Concedo a palavra ao Sr. Mauro de Souza.

O SR. MAURO DE SOUZA – Deputado Luciano Azevedo, relator desta

subcomissão, na pessoa de quem saúdo todas as autoridades presentes na mesa,

Dra. Marinês Assmann, minha colega, senhoras e senhores presidentes de

associações, prezados presentes, pouco me restou a dizer após a manifestação da

minha colega com a qual concordo em grau, gênero e número.

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Eu apenas gostaria de fazer uma observação a cerca do que dona Cleci

Terezinha Müller disse a respeito da decisão do Supremo Tribunal Federal, que foi

uma decisão monocrática, em liminar. O que quer dizer uma decisão monocrática?

Significa que foi apenas um ministro que tomou a decisão sozinho. Foi a ministra

presidente, a ministra Ellen Gracie.

Dona Cleci Terezinha Müller, eu absolutamente não vou contrariar o que a

senhora disse. Quero apenas fazer um esclarecimento. A decisão da ministra vai ao

encontro do que é defendido por nós e por uma gama de pessoas que defende o

Sistema Único de Saúde há muitos anos, que é que tenhamos padrões, parâmetros

para decidir a respeito das coisas que são do SUS. O que é Sistema Único de

Saúde e o que não é Sistema Único de Saúde. Principalmente quando tratamos de

medicamentos de alta complexidade e de alto custo, temos de ter muito cuidado,

porque todo dia estão surgindo drogas novas, terapias novas que, em sua grande

maioria, de novo têm muito pouco. Em sua grande maioria, de efetivo tem quase

nada.

Defendemos que tenhamos, pelo menos, o que a lei assegura. O que a lei

assegura é que os orçamentos sejam constitucionais e que tenham esses mínimos.

Mas a lei também diz que a obrigação do Estado de assegurar saúde está na

confecção e na execução de políticas públicas. O que isso quer dizer? O Estado se

compromete a garantir alguma coisa em nível de saúde e não tudo, nem tudo para

todos. Essa é uma decisão política que já foi tomada em 1988. Se considerarmos o

conceito da Organização Mundial de Saúde, de que saúde é o estado de mais

completo bem-estar físico, mental e social, perceberemos que fralda descartável

para eu criar meu filho, que não tem qualquer problema físico ou de saúde, pode ser

meu bem-estar social. E aí o Estado terá que me pagar isso.

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Um outro aspecto refere-se às inovações tecnológicas. Ouvi de um médico

que, num futuro próximo, alguém pode dizer que banho de s ol na lua é bom para

curar psoríase. Alguém escreverá um artigo sobre isso, e uma pessoa poderá entrar

com uma ação contra o Estado, que será condenado a pagar por esse banho de sol

na lua. Já pagamos por um banho de sol na lua há bem pouco tempo. Custou 10

milhões de dólares. E aí faltará dinheiro para pagar medicamentos para todos nós.

Então, temos de ter um parâmetro, algo que estabeleça o que é bom, o que

é eficiente, o que é necessário e que, assim sendo, deve ser pago pelo Estado

porque é sua obrigação.

O que a ministra Ellen Gracie disse nessa decisão foi mais ou menos isso:

há que se ter um parâmetro, e o parâmetro é a política nacional de medicamentos. A

política nacional de medicamentos excepcionais está na portaria nº1.318 do

Ministério da Saúde. Essas portarias, como todos os senhores sabem, são

concebidas a partir de um planejamento ascendente, que vai desde as convenções

municipais de saúde até a convenção nacional de saúde. Essas decisões são

tomadas a partir de discussão nos conselhos municipais de saúde, com a

comunidade científica, até que se identifique que uma determinada droga, que um

determinado tratamento é eficiente, é seguro e necessário para uma determinada

terapia. Esses são os parâmetros que nos asseguram que o Estado estará dando

alguma coisa que é boa, que não causará mais prejuízo do que a própria doença.

Temos de nos limitar por esse tipo de parâmetro. A decisão da ministra não

fez nada mais do que isso. Quando surgir um tratamento novo, deveremos ir atrás

da comunidade científica para que ela nos diga se de fato ele é bom. Se isso

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acontecer, ele deverá ser incluído na tabela de procedimentos do SUS. Aí sim,

justificado que esse tratamento é necessário, que ainda não está na tabela do SUS

e que essa tabela não foi revisada com a periodicidade que seria lícito exigir que

fosse, que aí a Justiça condene o Estado a dar um tratamento que não está na

tabela. Do contrário, não é possível fazer isso porque senão comprometeremos todo

o Sistema Único de Saúde, toda a estrutura. Comprometeremos todas aquelas

pessoas que têm uma expectativa de conseguir um tratamento que já está

consagrado e que não o receberão porque a Justiça condenou alguém a ter um

tratamento experimental que não sabemos se é eficaz. Já tivemos n exemplos

desses tipos de tratamentos. Os Estados foram condenados a pagar cirurgias fora

do País, sendo que a comunidade científica era absolutamente contrária àquele tipo

de terapia. As nossas sociedades médicas não as aconselhavam.

Era apenas isso que eu gostaria de acrescentar à manifestação da colega

que me antecedeu. As decisões políticas são tomadas por todos nós, como

sociedade. Nós temos de fazer com que as engrenagens se movimentem a nosso

favor. Temos de fazer com que haja padrões mínimos para que a Justiça também

não comprometa o nosso próprio atendimento, para que ela garanta pelo menos

aquilo que é lícito, aquilo que está na lei e não alguma coisa alternativa, alguma

coisa duvidosa que poderá por a perder tudo que conquistamos até hoje. Esse

cuidado temos que ter. Felizmente, quero crer que o STF está fazendo isso, a partir

da decisão da ministra Ellen Gracie, que não contraria qualquer tipo de

procedimento ou de protocolo vigente no País. Isso é segurança para todos nós.

O SR. PEDRO PEREIRA (PSDB) – Saúdo o relator Luciano Azevedo, os

demais integrantes da mesa e a platéia.

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Além de ser deputado e médico, fui escolhido para integrar a Comissão de

Saúde e Meio Ambiente. Represento esta Casa, a comissão e a subcomissão nesse

embate dos hospitais filantrópicos, que estão falindo. Estive em Brasília. Sexta-feira

que vem virá uma comissão de Brasília, com representantes do Ministério da Saúde,

do Ministério da Justiça, da Casa Civil. A situação realmente é muito grave, como já

foi dito aqui. O Estado destina, hoje, em torno de 10 milhões de reais por mês para

medicamentos, sendo 1 milhão e 500 mil reais para medicamentos especiais. São

12 mil reais por mês, em média.

Este ano, o Ministério da Saúde tirou do orçamento da saúde quase 6

bilhões de reais. É muito dinheiro. A nossa grande peleia com o governo federal é no

sentido de ele reajustar as tabelas do SUS. Para que os senhores tenham uma

idéia, o valor de uma consulta clínica do SUS hoje é 2 reais e 55 centavos brutos.

Para especialista, 7 reais e 50 centavos brutos. Sobre isso, são descontados 20%

do Imposto de Renda, mais o tempo que demora para pagarem. São valores

irrisórios. Claro que a saúde é prioridade. Sabemos disso. Está escrito na lei. É um

dever do Estado e um direito do cidadão. Esta subcomissão destina-se a ajudar a

resolver essa situação.

Como já foi dito aqui, em primeiro lugar, tem-se que respeitar o que a lei

manda. Devem ser destinados à saúde, no orçamento da União e dos Estados, pelo

menos 12%. O Rio Grande do Sul é um dos Estados mais atrasados nesse ponto,

um dos mais endividados. Nem é um dos mais. É o pior. A nossa crise é um terror.

Saímos desanimados de cada secretaria que visitamos. A dívida com fornecedores

passa de 9 milhões de reais. Entre esses fornecedores, incluem-se os laboratórios.

Por isso não estamos conseguindo medicamentos.

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Temos de brigar com o governo federal para que coloque mais verbas no

orçamento e que as destine de fato à saúde. Está aí a CPMF, que destinava-se à

saúde, mas que vai para o bolso de não sei quem. Para o dos senhores não é. Para

o nosso também não. Milhões e milhões de reais por ano são descontados.

Tomara que ao final de quatro meses consigamos ajudar os senhores.

Como médico, conheço a situação dos pacientes e de seus familiares. Só dá valor

real a esses medicamentos quem tem alguém na família doente.

Nossa missão aqui é essa: ajudar os senhores – transplantados,

ostomizados, pessoas com incontinência urinária, com patologias especiais.

Inclusive, quando o deputado Luciano Azevedo entrou com o projeto desta

subcomissão, inicialmente destinava-se à esclerose múltipla. Como médico, sugeri

que ampliar o leque de abrangência aos ostomizados, aos transplantados e

portadores de demais patologias especiais. Esse trabalho está sendo muito bem

coordenado por esta subcomissão. Teremos cinco audiências no interior, em

Pelotas, Canoas, Caxias do Sul, Passo Fundo e Itaqui. As reuniões serão todas às

sextas-feiras, fora do nosso horário normal de trabalho. Hoje, segunda-feira, não

éramos obrigados a estar aqui, mas estamos. Nosso trabalho na Assembléia é terça,

quarta e quinta-feira. As segundas e sextas-feiras são destinadas ao trabalho no

interior. Hoje estamos aqui, com toda a boa vontade para tentar ajudá-los, os

senhores e os demais que sofrem com esses problemas.

Dêem-nos esse voto de confiança. Faremos todo o possível em nível de

Estado e em nível de País para, se não resolvermos totalmente esses problemas,

pelo menos amenizarmos o sofrimento dos senhores. Obrigado.

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O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Com a manifestação do

deputado Pedro Pereira, encerraremos a nossa reunião.

Agradeço muito a presença de todos que prestigiaram esta reunião.

Reforço o convite para que continuem participando das reuniões semanais,

sempre às terças-feiras, às 17 horas.

Na próxima reunião, ouviremos o Secretário do Estado da Saúde.

Queremos sempre poder contar com o apoio do Ministério Público, da

Defensoria Pública e das demais entidades, porque, como disse o deputado Pedro

Pereira, o nosso objetivo é contribuir para que esse problema seja pelo menos

minorado.

Esperamos que um dia o Estado seja plenamente eficiente no atendimento

de todas as demandas, e é para isso que queremos contribuir.

Muito obrigado e boa noite a todos.

DATA 23/04/2007: O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Boa-tarde

a todos. Declaramos aberta mais uma reunião desta subcomissão especial da

Assembléia Legislativa do Estado, que discute a questão do fornecimento de

medicamentos de uso especial e contínuo no Rio Grande do Sul.

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Esta subcomissão, nas últimas semanas, tem procurado nesta Casa, por

intermédio dos deputados que estão designados para tratarem desse tema,

contribuir para que tenhamos a regularização do fornecimento da medicação. Tal

regularização diz respeito não apenas à volta do fornecimento, mas também à

continuidade do medicamento, sem interrupções. Este é o nosso objetivo, e para

isso a subcomissão tem trabalhado.

Temos o prazer da presença do Dr. Nilton Leonel Arneck Maria,

representante da Defensoria Pública; da Dra. Marinês Assmann, representando o

Ministério Público do Estado do Rio Grande do Sul; do Dr. Jorge Krammer Borges,

representante da Associação dos Transplantados de Fígado do Rio Grande do Sul;

da Sra. Cleci Terezinha Muller, representante da Associação Gaúcha de

Mucoviscidose e Fibrose Cística; e da Sra. Maria Auxiliadora Xavier Trindade,

representante dos portadores de Tirosinemia. Sejam todos muito bem-vindos.

O trabalho da subcomissão é muito informal, exatamente com o objetivo de

contribuir para a solução deste problema, que afeta dezenas de milhares de famílias

no Rio Grande do Sul, famílias que, conforme sempre dizemos, merecem todo o

nosso respeito e atenção.

Este é o objetivo da Assembléia Legislativa do Estado: contribuir para que

este seja um tema tão importante para o Rio Grande do Sul como têm sido outros

temas tratados por esta Casa, como os relativos aos pedágios e também à questão

da restruturação administrativa do Estado, que será discutida amanhã.

Queremos que o tema referente ao fornecimento dos medicamentos, que diz

respeito à vida das pessoas, seja prioritário para o governo, para esta Assembléia

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Legislativa e para o Rio Grande do Sul como um todo.

Está conosco o deputado Pedro Pereira, que também é integrante desta

subcomissão e que falará posteriormente. Sempre faço questão de registrar que S.

Exa. é o único médico entre os 55 deputados estaduais com mandato, hoje, no Rio

Grande do Sul. Por isso, a sua presença aqui, além da sua representatividade

política e da sua atividade parlamentar, se reveste de importância ainda maior pela

sua formação profissional.

Estabelecemos o limite máximo de 10 minutos para cada manifestação.

Sempre trabalhamos dessa forma no início da reunião e no seu final, para que

possamos ser bem objetivos e aproveitar da melhor forma o nosso tempo.

Concedo a palavra ao Dr. Nilton Leonel Arneck Maria, para que, em nome

da Defensoria Pública, possa fazer um relato do trabalho que o órgão tem realizado

em todo o Estado em relação a esse tema.

O SR. NILTON LEONEL ARNECK MARIA – Boa-tarde, deputado Luciano

Azevedo, na pessoa de quem saúdo os demais representantes da mesa e a todos

os presentes.

É gratificante para a Defensoria Pública comparecer nesta Casa para

discutir um tema tão recorrente e tão importante para a população gaúcha.

Em nome da defensora pública-geral, que foi convidada a participar desta

reunião e não pôde comparecer, agradeço pelo convite e reafirmo que a Defensoria

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Pública está de portas abertas a esta Casa para o debate sobre todas as questões

atinentes e relevantes na vida do povo gaúcho, em especial daquela comunidade

carente e hipossuficiente que é atendida pelo órgão.

No que se refere às ações de saúde, a Defensoria Pública tem tido um

trabalho árduo ultimamente – e falo isso me referindo aos últimos anos, não só aos

meses que estão passando –, tendo em vista que é notória, hoje, no Estado, a

insuficiência de recursos e de medicamentos para se atender ao comando

constitucional, que confere a todos aqueles que não possuam condições uma

assistência médica e farmacêutica, em todos os critérios de saúde.

Nesse sentido, a Defensoria Pública tem pautado suas ações no intuito de,

antes de haver uma demanda judicial – que, conforme todos nós sabemos, é muito

cara, tanto para o cidadão que bate à porta do Judiciário como ao próprio Poder

Judiciário, ao Ministério Público e a todos os que fazem parte dessa demanda –,

primar, num primeiro momento, pela busca da medicação administrativamente, com

o encaminhamento dos pedidos e os protocolos administrativos, para só então

recorrer à via judicial.

Porém – trago aqui a palavra de todos os colegas do interior do Estado –, a

via administrativa não tem surtido tanto efeito como a via judicial, e isso ocorre

porque, conforme sabemos, não existem todos os tipos de medicação constantes

das listas de atribuição do Estado do Rio Grande do Sul à disposição daquelas

pessoas que necessitam de medicamento.

Sabemos também que a Secretaria de Estado da Saúde tem discutido

eventuais questões atinentes ao preenchimento de prontuários médicos, de

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atestados médicos, de laudos médicos, com o fito – segundo explicação dessa

secretaria – de melhor atender à população, melhor fornecer auxílio e melhor tratar

da distribuição dessa medicação em todo o Estado.

Essa fase administrativa tem levado muito tempo em termos de resposta

para o cidadão que precisa de medicamento. Não estão sendo cumpridos, digamos

assim, na maioria das vezes, aqueles 30 dias.

A Defensoria Pública, então, ajuíza as ações de medicamentos com a

finalidade de tentar obter do fornecimento da medicação ao leito hospitalar, a

internação compulsória e vários outros tipos de ações que são afetas à área da

saúde.

Nesse sentido, tem-se considerado necessário fazer todo tipo de pedidos

judiciais, dentre os quais bloqueios de verbas e o pedido de aquisição desses

medicamentos na rede privada.

Sabemos que isso onera muito o Estado; então, aqueles medicamentos que

já não estão sendo comprados sob a forma de licitação ou de concorrência pública

têm um custo maior ao serem adquiridos por força de um comando judicial.

Como a Defensoria Pública entende este lado do Estado também, iniciamos

uma conversação com o secretário de Estado e com os responsáveis técnicos pela

Secretaria com a finalidade de tentar diminuir essas demandas, porque entendemos

que a via administrativa é sempre uma melhor solução do que uma demanda

judicial.

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Entretanto, o relato que tenho a fazer é referente aos números de ações

ajuizadas somente em Porto Alegre, sendo o relato mais preciso que pude obter até

hoje. Só na Comarca da Capital, em todo o ano passado, foram ajuizadas 320 ações

de medicamentos. Neste ano, em 2007, até o dia 19 de abril já foram ajuizadas 150

ações somente nessa comarca. Ou seja, em quatro meses houve praticamente a

metade do número de ações referentes a todo o ano passado.

Outro relato que trago e já pude expor, na semana passada, na primeira

reunião da qual participei – salientando que hoje faz uma semana que assumi a

coordenadoria da área cível, de forma que possa não ter todos os dados completos

–, é referente ao fato de que, nos últimos seis meses, a demanda por

medicamentos, a busca pela tutela judicial, duplicou e, em algumas regiões do

Estado, chegou a triplicar.

Isso é reflexo, é claro, em primeiro lugar, da carência financeira do Estado;

em segundo lugar, não sei se da distribuição ou do repasse do orçamento, talvez em

função de um equívoco na estrutura de repasse de orçamentos. Mas, certamente, se

eu tivesse conseguido compilar dados de todo o Estado, o número de ações, até o

mês de abril, já estaria alcançando quase o número referente ao ano 2006. Esse é o

relato que trago da Defensoria Pública.

Sobre a questão de a Defensoria Pública poder colaborar para a solução do

problema, nós, enquanto agentes que defendem o cidadão carente e que precisa de

medicação, entendemos também que a via judicial não seja a melhor. Temos que

tentar chegar a um consenso para buscar equalizar essa situação. Sabemos que o

sistema jurídico determina um atendimento a todos e que, hoje em dia, é

praticamente impossível, senão totalmente impossível, cumprir isso.

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Foi criado um grupo de trabalho com o Ministério Público, aqui presente, o

Judiciário, o Cremers, a Amrigs e a Procuradoria do Estado, com todas as funções

afetas à área da saúde. Já ocorreram alguns encontros, e houve um seminário no

último dia 13, ao qual infelizmente não pude comparecer – parece-me que foi muito

bom, pois a questão evoluiu bastante, e a doutora que estava presente poderá

comentar sobre isso depois.

A Defensoria Pública tinha rompido um pouco o canal de entendimento com

a Secretaria de Estado em função das diversas demandas que se faz necessário

serem ajuizadas pela falta de fornecimento da medicação, por essa demora de

resposta ao cidadão.

Inclusive, quanto a isso, na primeira reunião de que participei, cobrei muito

do secretário, que estava presente, porque a pessoa que quer medicação às vezes

pode esperar 45 ou 60 dias, mas, às vezes, não pode fazer isso, dispondo apenas

da inércia do Estado, que acaba não respondendo àquele pedido porque sabe que

não irá conseguir fornecer a medicação, embora ela conste da lista.

Uma pessoa que obtém uma resposta sai mais satisfeita do local, pois já

sabe o que deve procurar e a quem recorrer e não fica perdida. Nesse sentido, a

Defensoria Pública trabalha muito com pessoas que não têm a quem recorrer e que

ficam perdidas, às vezes até um ano sem saberem o que fazer e necessitando de

medicamento.

Entendendo a necessidade de um diálogo – porque não é pela força da ação

judicial que vamos consegui-lo –, a Defensoria Pública reabriu esse canal de

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conversação com a Secretaria de Estado para ver se consegue, a curto prazo,

resolver um pouco essa demanda, deixando para que recorram às ações judiciais

aqueles casos que são inevitáveis, ou porque a medicação não conste da lista, ou

porque se trate de algo fora do País e que não seja possível ser resolvido de forma

administrativa.

A Defensoria Pública reabriu esse canal e está conversando com o

Ministério Público, com o Poder Judiciário e com os representantes dos médicos

para ver se chega a um consenso e para resolver problemas em relação a

medicamentos da lista, a receituários médicos mais completos, à dosagem da

medicação, ao preenchimento de dados do paciente e do médico, a fatores que

entravam o pedido administrativo de forma que se acaba acionando o Estado

judicialmente, quando administrativamente poderia ser resolvida a questão.

Creio, infelizmente, que uma solução mais urgente passa pela sanidade

financeira do Estado. Muito obrigado.

O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Agradecemos ao

representante da Defensoria Pública, Dr. Nilton Leonel Arneck Maria, e, em nome da

comissão, gostaria de solicitar, se for possível, que a Defensoria Pública nos envie,

mesmo com uma solicitação informal, o relatório dessa movimentação, das ações

judiciais e daqueles dados que o órgão tiver, para que possa colaborar com o nosso

trabalho, o que seria muito importante.

O SR. NILTON LEONEL ARNECK MARIA – Na medida do possível,

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encaminharei o relatório completo de todo o Estado, possivelmente dentro de uma

semana ou dez dias.

O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Muito obrigado.

Registro a presença dos representantes da Associação Gaúcha de

Assistência à Muscoviscidose, do Centro de Apoio ao Portador de Anemia

Falciforme e do Grupo Hospitalar Conceição.

Concedo a palavra à Sra. Maria Auxiliadora Xavier Trindade, representante

dos portadores de Tirosinemia, para que faça um relato aos membros da comissão e

aos que nos dão a honra de sua presença.

A SRA. MARIA AUXILIADORA XAVIER TRINDADE – Em primeiro lugar,

gostaria de cumprimentar os Srs. Deputados, os representantes do Ministério

Público e da Defensoria Pública, os demais membros da mesa e a todos os

presentes.

Estou representando o meu neto, que tem cinco anos e é portador de

Tirosinemia tipo I. Trata-se de uma doença genética, hereditária, referente à falta de

uma enzima que aumenta a tirosina no organismo. Na ausência dessa enzima,

acumulam-se compostos tóxicos no fígado, nos rins, ou no sistema nervoso. No

caso do meu neto, a enfermidade estava atingindo o fígado; ele inclusive já estava

inscrito na lista para transplantes. O que ele precisa tomar é um leite – o XPT

Maxamaid – e o NTBC.

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Todos esses medicamentos são importados, não existindo na lista de

medicamentos da Secretaria da Saúde. Atualmente se consegue o leite na Suporte,

em São Paulo. Já o medicamento vem da Suécia.

Até pouco tempo atrás, essa medicação era doada pelo laboratório

Innovative Medicines, que fica na Suécia. No entanto, eles não querem mais doá-lo

e estão exigindo a compra pelo Estado, uma vez que no Brasil atualmente, há cinco

crianças com essa doença; no mundo todo, parece que o número de pacientes está

em torno de 200.

O Estado está dificultando a situação. Há demora na compra da medicação,

e recentemente, como ela não constava da lista, tivemos de recorrer à via judicial.

Quanto ao leite, no ano passado ele estava sendo fornecido na farmácia, o que

parou de ser feito. Já no início deste ano, não sei por que motivo, não havia mais o

produto na farmácia.

Em função disso, tivemos novamente de recorrer à Justiça. Pleiteamos que

eles depositassem, via judicial, o dinheiro para a compra do leite. Por outro lado,

quando o Estado demora a fazer o depósito, temos praticamente implorado ao

laboratório para que faça novamente a doação, uma vez que essa é uma doença

muito séria, muito grave. Neste ano, um menino ficou um mês sem o medicamento

no Rio, teve de fazer o transplante e faleceu.

Ele não pode ficar cinco ou 10 dias sem sua medicação. No caso de outras

doenças, a pessoa até pode ficar sem o remédio, pois não acontece nada. No caso

dele, entretanto, essa falta do medicamento não pode ocorrer.

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Essa doença é classificada em quatro tipos; o transitório, o I, o II e o III. A

dele é a Tipo I, que é a mais grave. Ele não pode ficar sem a medicação.

A nossa dificuldade, portanto, está na demora do Estado em fazer os

depósitos. Entendemos a situação, mas o nosso problema também é grave; não

temos como comprar os medicamentos, pois ambos são caros.

Gostaríamos que o Estado fizesse a compra, pois isso facilitaria tudo. Como

a medicação é cara, às vezes não depositam os recursos. Temos conseguido

dinheiro emprestado par fazer a compra, mas quando o Estado deposita temos de

repor o que nos foi emprestado. É muito séria a situação.

O nosso pedido, portanto, é este: que o Estado faça a compra do

medicamento e do leite.

O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Qual é o custo do

medicamento?

A SRA. MARIA AUXILIADORA XAVIER TRINDADE – Para o leite, fizeram

recentemente um depósito baseado em um custo de R$ 1 mil, 946 reais a lata. Ele

necessita de oito latas mensais de leite, mais o medicamento, que em dólares

também é muito caro.

Creio que, numa venda direta para o Estado, o preço dos laboratórios é mais

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acessível do que o valor que eles depositam com base no que é cobrado aí por fora,

para depois comprarmos a medicação.

Solicitamos que o Estado regularize a situação e faça a compra. Da última

vez, entramos em contato com a Suporte e conseguimos um preço mais barato,

para poder comprar.

O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Agradecemos à Sra. Maria

Auxiliadora Xavier Trindade por suas informações.

Registro a presença do promotor de Justiça, Mauro Luis Silva de Souza, que

representa o procurador-geral de Justiça e mais uma vez nos dá a honra de estar

presente nesta subcomissão da Assembléia.

Concedo a palavra à Sra. Representante da Associação Gaúcha de

Assistência à Mucoviscidose e Fibrose Cística, Cleci Terezinha Müller.

A SRA. CLECI TEREZINHA MÜLLER – Peço a gentileza da atenção dos

senhores para a exposição de um vídeo.

O SR. CRISTIANO MACHADO SILVEIRA – Vou falar a respeito de algumas

especificidades da fibrose cística e apresentar dados relativos ao Rio Grande do Sul.

A fibrose cística é uma doença genética, provocada pela mutação de um

único gene no cromossomo 7, que transcreve uma proteína em nível celular. A falta

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dessa proteína ou ela não estando corretamente codificada acarreta alguns

problemas na viscosidade dos mucos produzidos por algumas glândulas. Essa

alteração irá provocar repercussões sistêmicas, ou seja, em todo corpo, em alguns

órgãos, principalmente nos pulmões e no pâncreas – na parte digestiva –, mas

também no fígado, nos intestinos, na parte reprodutiva, principalmente no masculino,

em que 98% acaba desenvolvendo esterilidade. Na questão da produção do suor, a

alteração da concentração de cloro no suor dá aquela característica bem particular

da fibrose cística da doença do suor salgado, do beijo salgado.

É uma doença bastante comum no nosso meio. Uma em cada 20 pessoas

no nosso Estado, principalmente as pessoas de pele branca, são portadores do

gene defeituoso para fibrose cística. É uma doença autossômica recessiva, ou seja,

autossômica porque ocorre em homens e mulheres na mesma proporção e

recessiva porque a chance em um casal portador da doença de ter um filho com

fibrose cística é de um em cada quatro filhos ou 25%.

Essa questão da alteração da densidade do muco, principalmente na

questão dos pulmões, acaba levando ao acúmulo desse muco nas vias respiratórias

inferiores e superiores e à colonização por bactérias muito específicas desse muco.

São essas bactérias que depois vão demandar alguns antibióticos e alguns

tratamentos medicamentosos bem específicos. Estaremos falando disso mais

adiante.

Um dado bem interessante é que a incidência dessa doença no Brasil varia

de 1 para 10 mil a 1 para 2 mil, variando muito de região no Estado. O nosso Estado

é campeão da incidência da fibrose cística: de 1 para 1.585 nascidos vivos.

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Trouxe a questão da triagem neonatal, que é uma bandeira sobre a qual a

Cleci irá falar, que também é uma forte atuação das associações.

No Rio Grande do Sul, temos duas associações de fibrose cística. Uma

atuação bem importante é a questão da divulgação do Teste do Pezinho no

diagnóstico precoce dessa doença. Inclusive temos a felicidade de a Assembléia

Legislativa já ter legislado sobre o assunto.

É importante o diagnóstico para o acesso ao tratamento precoce. É preciso

a divulgação da doença, que ainda é pouco conhecida pelos profissionais e para

investigarmos a situação epidemiológica no Estado, porque há muitos pacientes que

não são identificados, e acabamos não sabendo deles.

Um dado bem preocupante é que temos um diagnóstico cinco vezes mais

tarde do que acontece nos países desenvolvidos. Esse é um dado médio. Há

pacientes sendo diagnosticados com 7, 10, 15, até pacientes próximos à idade

adulta sendo diagnosticados que passaram a vida toda com pneumonias

recorrentes, com problemas digestivos, e que não sabiam o que tinham.

Alguns dados da nossa associação, a Associação Gaúcha de Assistência à

Muscoviscidose: são 228 pacientes atendidos, distribuídos em 93 Municípios, nas 19

coordenadorias regionais. Eles estão distribuídos em todo o Estado, além de

pacientes de outros Estados que vêm procurar tratamento nos nossos três centros

de referência.

No nosso catálogo, consta a idade dos nossos pacientes. A cara da fibrose

cística, no Brasil, mostra o maior número de pacientes sendo crianças e

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adolescentes, porque eles não chegam ainda, infelizmente, à idade adulta. Estamos

lutando muito nas associações para que eles cheguem com uma vida plena e

saudável. Os pacientes com menos de 18 anos são 76,8% na nossa associação.

A fibrose cística é uma doença sistêmica complexa. O seu tratamento

necessita de muitos medicamentos. Citarei apenas alguns: antibióticos, enzimas

digestivos, suplementos, entre outros. É por isso que estamos aqui hoje. Aqui estão

os contatos da associação para quem quiser anotar. Muito obrigado.

O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Concedemos a palavra à Sra.

Cleci Terezinha Müller.

A SRA. CLECI TEREZINHA MÜLLER – Como vimos, a fibrose cística tem

uma incidência muito grande no Rio Grande do Sul, mas é pouco diagnosticada.

Uma das questões do pouco diagnóstico é que a fibrose cística ainda não está

incluída na pesquisa da fibrose cística do Teste do Pezinho SUS, mesmo após a

aprovação da lei nº 11.450, de 2000, por esta Casa Legislativa.

Essa tem sido uma das frentes de batalha da AGAM. O Rio Grande do Sul já

está habilitado para essa fase, de acordo com os critérios da portaria nº 322, de

2001, do Ministério da Saúde. Mas aqui no nosso Estado ainda não está sendo

pesquisada a fibrose cística no Teste do Pezinho SUS, o que é importantíssimo para

fazer um diagnóstico precoce para dar qualidade e anos de vida aos pacientes.

Como puderam ver há uma diferença existente na idade mediana de diagnóstico

daqui para os Estados Unidos.

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Pelas pesquisas e novos medicamentos, a fibrose cística deixou de ser uma

doença em que os pacientes morrem na infância. Hoje há pacientes adultos,

formados, trabalhando; as moças estão casando, sendo mães; enfim, eles estão

levando uma vida plena e produtiva.

O atendimento aos pacientes de fibrose cística é feito por uma equipe

multidisciplinar: médico pneumologista, gastroenterologista, psicólogo, nutricionista,

fisioterapeuta, assistente social e enfermeira.

Hoje existem no Rio Grande do Sul três centros de referência para

atendimento da fibrose cística: o Hospital de Clínicas de Porto Alegre – com uma

equipe que atende a pediatria e uma equipe que atende adolescentes e adultos –, o

Hospital São Lucas da PUC e o Hospital da Criança Santo Antônio, que é do Grupo

Hospitalar da Santa Casa.

A AGAM tem um bom relacionamento com a Secretaria Estadual da Saúde,

principalmente com os técnicos e servidores da Coordenadoria de Política de

Assistência Farmacêutica. Sempre somos atendidos nos contatos que fazemos para

resolver a questão da distribuição dos medicamentos, principalmente no interior do

Estado. Já tivemos discussões acaloradas, mas o relacionamento que vem sendo

construído, ao longo de anos, é baseado no respeito e na seriedade de ambas as

partes.

Com relação aos medicamentos, sabemos que a fibrose cística está numa

situação um pouco melhor do que as outras doenças crônicas, mas não chegamos a

esse ponto sem lutar. Em 1994, a AGAM entrou com uma ação cível pública levando

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o Estado a fornecer medicamentos para a fibrose cística: na época, enzimas

digestivas, multivitamínico, medicamento para o fígado, mucolítico inalatório para o

pulmão. Mesmo com a ação, o fornecimento dos medicamentos não era regular, e

houve muitas faltas.

Em 2000, a ação foi retomada, e o Estado foi obrigado a fornecer os

medicamentos que já constavam da ação, mais antibióticos orais, endovenosos,

inalatórios, suplementos nutricionais, kit para gastrotomia e oxigênio domiciliar.

Farei só um comentário sobre o oxigênio domiciliar. Nos Municípios em que

a saúde já está municipalizada, integral, que são poucos, não chegam a 10, o

fornecimento é normal, tranqüilo. Quando o paciente tem de fazer um processo para

SES fornecer o oxigênio, há uma lista de espera de seis meses. Na AGAM, temos

três concentradores de oxigênio que emprestamos para os pacientes. Tivemos o

caso de uma paciente que, se não fosse pelo concentrador da AGAM, teria ocupado

um leito hospitalar em isolamento por seis meses esperando o oxigênio do Estado.

Essa é uma questão muito importante que tem de ser levantada.

Em 2003, por iniciativa da Promotoria da Infância e Juventude e SES, foi

formada a Câmara Técnica da Fibrose Cística. Participam dessa câmara

representantes da Promotoria, SES, Hospital de Clínicas, Hospital São Lucas da

PUC, Hospital da Criança Santo Antônio, AGAM, Procuradoria-Geral do Estado.

Essa Câmara Técnica da Fibrose Cística normatizou o tratamento da fibrose cística

com dados dos medicamentos da ação cível.

Em novembro de 2004, foi publicada no Diário Oficial pela SES a portaria nº

42, com os protocolos clínicos resultantes dessa câmara técnica. A câmara não foi

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encerrada, continua aberta e, quando necessário, reúne-se. No ano passado, a

pedido da AGAM, houve uma reunião para debater sobre enzimas, visto que o

laboratório interrompeu a fabricação de uma marca comercial e tinha de ser incluído

o nome comercial de outra enzima. O protocolo, até o momento, contempla ações e

medicamentos mais específicos para a fibrose cística. A AGAM tem solicitado

reuniões para que seja incluída toda a medicação, por exemplo, medicações para

vias aéreas superiores.

Sempre fomos parceiros para o aperfeiçoamento da lista de medicamentos,

mas não aceitaremos que esse recurso que serve apenas para orientação seja

utilizado para dificultar o acesso dos pacientes ao tratamento adequado.

É importante destacar que a fibrose cística é uma doença complexa,

multisistêmica. Temos pacientes que desenvolveram diabetes e pacientes

transplantados de pulmão e fígado. O paciente de fibrose cística depende do Estado

para manter o tratamento contínuo, sem interrupções.

Segundo a SES, o custo médio por paciente é de aproximadamente 4 mil

reais mês. A SES tem procurado manter a medicação da portaria, e isso nos alivia

um pouco. Hoje estão em falta os suplementos nutricionais, que são muito

importantes para os pacientes de fibrose cística. Eles têm de manter um bom peso,

porque, se tiverem uma infecção respiratória e com peso baixo, a infecção

respiratória vai comprometer muito o paciente.

A AGAM sabe da importância desse protocolo, porque nos dá mais

respaldo. O Dr. Osmar Terra, em recente entrevista na Rádio Gaúcha – esperamos

que não seja só conversa, que não sejam só palavras –, disse que a portaria da

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fibrose cística vai ser cumprida mesmo que a decisão da ministra Ellen Gracie se

torne jurisprudência. O voto da ministra a favor do Estado de Alagoas foi algo que

nos preocupou muito. É muito difícil a população ver um membro do Supremo

Tribunal rasgar a Constituição e ainda culpar pessoas com algum problema de

saúde pela situação do País.

O promotor Mauro Luís de Souza tem referido nas reuniões – e deve ser

uma bandeira de todos nós – a cobrança dos 12% para a saúde no orçamento tanto

estadual como federal e os repasses serem usados corretamente. Não temos hoje

os dados do TCU. No ano passado, até agosto, o Ministério da Saúde tinha

repassado ao Estado do Rio Grande do Sul 56 milhões de reais para compra de

medicamentos. O Dr. Gabbardo, que é o secretário substituto, na reunião que

tivemos na Promotoria, disse que esse dinheiro estava sendo desviado para

internações hospitalares. O cumprimento exato do repasse, o uso correto é de

grande importância para todos os pacientes com qualquer tipo de doença crônica.

É comum escutarmos a metáfora do cobertor curto para justificar o

contingenciamento de recursos com a compra de medicamentos, mas precisamos

entender que esse tão falado cobertor poderia ser maior se fossem garantidos os

repasses para a área da saúde e se não tivéssemos tantos recursos perdidos pela

ineficiência e pela corrupção presentes nas estruturas do Estado Brasileiro. Muito

obrigada em nome dos pacientes de fibrose cística.

O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Registramos a presença da

Sra. Maria Lúcia Elbern, representante do Conselho Estadual de Saúde.

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Concedemos a palavra ao Sr. Jorge Krammer Borges, que falará em nome

da Associação dos Transplantados de Fígado do Rio Grande do Sul.

O SR. JORGE KRAMMER BORGES – Saúdo o deputado Luciano Azevedo,

os demais componentes da mesa e os colegas das ONGs.

A Associação dos Transplantados de Fígado é uma entidade que abriga

pacientes transplantados não só de fígado, mas de todos os órgãos.

Iniciamos para dar um suporte para quem fazia transplante de fígado, mas a

necessidade tem nos obrigado a ajudar outros transplantados de rins, pulmão,

coração.

A associação vai fazer nove anos. No que diz respeito à falta de

medicamentos, sempre tivemos a postura de manter o diálogo com a Secretaria de

Saúde, deixando a esfera judiciária por último. Infelizmente, nos três últimos anos,

isso está ficando muito difícil. Como dona Cleci Terezinha Muller disse, temos um

contato muito bom, contamos com a boa vontade dos membros da coordenação de

política farmacêutica, mas não vemos essa mesma boa vontade e essa disposição

de manter um diálogo aberto na direção da Secretaria da Saúde, ou seja, do

secretário ou do secretário substituto.

No caso de transplante, há medicamentos que são essenciais para que os

transplantados possam continuar vivos. São os imunossupressores. Esses

medicamentos vêm faltando com freqüência. Sabemos da situação de penúria

financeira por que passa o Estado do Rio Grande do Sul. Sabemos que nós,

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transplantados, não somos os únicos que dependem de medicamentos. Há tantos

outros milhares de pacientes. Infelizmente, ninguém pede para ficar doente. Isso é

do destino. Temos que lutar.

Apontamos algumas situações na Secretaria da Saúde com relação à

grande falta de medicamentos que está ocorrendo, principalmente de janeiro para

cá. Já em setembro ou outubro do ano passado, conversamos com o governador

Germano Rigotto. Ele fez uma reunião no Palácio, para a qual convocou os 14

maiores credores do Estado. Na ocasião, foi feito um acordo. Infelizmente, esse

acordo funcionou um mês. Notamos que não há, por parte da Secretaria da Saúde,

uma vontade política de resolver a situação. Na gíria, existe a expressão empurrar

com a barriga. Estamos sendo obrigados a procurar, por meio da Defensoria Pública

ou do Ministério Público, solução para esses problemas.

Participei de um seminário que considerei muito importante na semana

passada. A Dra. Marinês Assmann estava lá e presidiu um debate. Na oportunidade,

não pude me manifestar. Geralmente o secretário Osmar Terra fala ou secretário

substituto, Dr. Gabardo dizem que os pacientes procuram o Judiciário para receber

medicamentos que não fazem parte do protocolo. Isso é uma inverdade.

Extrapolando, diria que 10% fazem isso. O representante da Anvisa – a Dr. Marinês

Assmann deve lembrar – disse que desconhece isso. Noventa por sento dos

medicamentos que são solicitados via Judiciário fazem parte do protocolo o

Ministério da Saúde, que foi feito por pessoas que hoje compõem a Secretaria da

Saúde e que na época do protocolo, em 2000, 2002, estavam em Brasília.

Não entendo como pode ser questionado um medicamento que há três ou

quatro anos foi aprovado pela pessoa que hoje diz que ele não tem a eficácia

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necessária, como o caso do Interferon Peguilado. Há três ou quatro anos o

medicamento era bom para fazer parte de um protocolo. Hoje, como a pessoa está

comprando o medicamento, ele não serve. São dois pesos e duas medidas. Quando

essa pessoa estava em Brasília, o medicamento era bom. Há um protocolo do

Ministério da Saúde que posso conseguir para V. Exa.

Gostaria que fosse registrado o caso de oito pacientes que entraram com

uma ação judicial para receber o medicamento Gamaglubolina Hiperimúnico Anti-

hepatite B, usado por pacientes que fazem transplante devido à hepatite B e que

necessitam tomar essa vacina mensalmente, sob pena de haver recidiva do virus. O

ataque é muito rápido. A hepatite B não é como a C. Ela pode inutilizar o fígado em

30 dias. Já houve óbitos por isso.

O medicamento estava em falta. Os pacientes todos estavam sendo

internados na Santa Casa para tomar a medicação e para tomar outros que estavam

em falta, como é o caso agora do Sirulimus, tomado por muitas crianças com

problemas de rim. Infelizmente, entrei em contato com a secretaria, não se tem

previsão de quando será comprado o medicamento. O que aconteceu é que o

medicamento chegou em Porto Alegre e ficou 30 dias no setor de abastecimento da

Secretaria da Saúde. Os senhores podem comprovar o que estou dizendo. Estive

três vezes na farmácia, falei com a chefia. Presenciei quando ela mandou dois e-

mails solicitando o medicamento, e ele não vinha. Estava no estoque e não foi

distribuído para a farmácia.

Outra medicação que ficou mais de 20 dias no estoque da Secretaria da

Saúde foi o Micofenolado Sódico. Ligamos para o laboratório, pedindo um apoio,

uma amostra grátis para os pacientes, pois há muitas crianças usando-o.

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Informaram-nos que ele havia sido entregue à secretaria há mais de 20 dias. Isso é

uma falta de gerenciamento, na minha opinião. Gostaria que isso ficasse registrado.

Uma outra situação que obriga os pacientes a procurarem a Justiça é a que

já foi citada aqui nesta comissão. Há uma solicitação, o medicamento vai para o

perito e, na maioria das vezes, ele leva mais de 30 dias para dar sua resposta. No

caso de transplante, são medicamentos essenciais que o transplantado é obrigado a

tomar. Começa a bater o desespero, e não há dinheiro para comprá-lo. Para os

senhores terem uma idéia, o HBIg de 40 UI custa 3 mil e 800 reais. Há pacientes

que usam cinco ampolas por mês. Não temos pacientes que tenham condições de

manter esse tratamento. Somente o Estado pode fazer isso.

Também é necessária uma distribuição para o interior. Nota-se que muitos

Municípios não têm a boa vontade de colaborar com a Secretaria da Saúde. Um

exemplo é a situação do HBIg que chegou em Caxias do Sul, mas que não foi para

Canela, há 50 quilômetros de distância. O juiz deferiu, mandando o Estado dar o

medicamento. O paciente recebeu pouco mais de dois mil reais para comprar uma

ampola. Isso tudo ocorre na Secretaria da Saúde, embora saibamos da boa vontade

das pessoas que trabalham na farmácia aqui em Porto Alegre, da Carmen, que é

chefe da farmácia, uma pessoa incansável para re4solver os problemas dos doentes

em geral. Os remédios estão chegando, mas não está havendo uma boa vontade

por parte do secretário ou do secretário substituto o Dr. João Gabardo dos Reis.

Essas eram as manifestações que queria fazer.

O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Quantos transplantados

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temos que recebem medicação, entre os de fígado, rins, no Estado todo?

O SR. JORGE KRAMMER BORGES – O número de transplantados deve

estar em torno de 3.200, talvez até mais.

O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Agradeço a manifestação do

representante da Associação dos Transplantados de Fígado.

Concedo a palavra à Dra. Marinês Assmann, promotora de Justiça do

Ministério Público.

A SRA. MARINÊS ASSMANN – Boa tarde a todos. Na pessoa do deputado

Luciano Azevedo, cumprimento todas as autoridades aqui presentes, especialmente

meu colega Mauro Souza.

Alguns aqui já me conhecem, pois venho acompanhando há mais de três

anos a questão, na saúde pública, do fornecimento pelo Estado de medicamentos

excepcionais e especiais. Tenho visto que a situação, nos últimos meses, tem

piorado. Na verdade, nesses três anos, ela tem sido cíclica, mas sempre tendente a

piorar. Uma das razões disso é que os gestores – e aí não digo eu são os

secretários de Saúde, mas os últimos governos, todos eles, independentemente de

partidos – têm aplicado cada vez menos em saúde, da tirosinemia e deixará de

comprar dos outros tantos que estão aí, tantas outras hepatites, etc. E aí?

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Então, parece-me que não vamos resolver essa situação com uma ação

isolada. Creio que todos nós temos de estar preparados para isso. Sinto muito não

dourar a pílula, mas é a visão que eu tenho. Pode ser equivocada. No Estado, tem

crescido vertiginosamente de 1988 para cá o número de pedidos de medicamento.

Tínhamos 2 ou 3 mil pedidos de medicamentos. Agora são mais de 120 mil pessoas

atendidas. No ano que vem, serão mais, serão 150 e depois 200 mil, porque as

pessoas comentam com outras que estão doentes. Existem pessoas doentes que

ainda não sabem que o Estado fornece medicamentos. O orçamento terá de crescer

para atender essa demanda, porque os laboratórios não diminuem os preços.

Vou encerrar, mas, na verdade, eu poderia ficar compartilhando com os

senhores as minhas angústias. Não sei mais o que fazer, além do que já foi feito e

do que está sendo feito, que é entrar com a ação, obter a condenação. O Estado do

Rio Grande do Sul tem de valorizar a saúde, destinando verbas para a saúde de

acordo com o que é estabelecido pela Constituição.

Sinto ter de compartilhar com os senhores essas angústias que viveremos

por muitos anos ainda, porque mais pessoas demandarão medicamentos, e a verba

orçamentária não crescerá proporcionalmente.

O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Aproveito para convidar todos

a estarem conosco nas próximas reuniões. Já disse numa outra ocasião que a

presença das entidades, mesmo quando não são elas que serão ouvidas aqui, é

muito importante, porque fortalece a luta, soma esçorços e contribui para o que a

Dra. Marinês Assmann mencionou, ou seja, sensibilizar as autoridades que detêm o

recurso financeiro para que possamos transformar o que hoje é uma questão de

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milhares de gaúchos em uma questão de Estado, em algo que seja encampado pelo

Estado. Por isso, a presença de todos sempre é muito importante.

Concedo a palavra ao Sr. Mauro de Souza.

O SR. MAURO DE SOUZA – Deputado Luciano Azevedo, relator desta

subcomissão, na pessoa de quem saúdo todas as autoridades presentes na mesa,

Dra. Marinês Assmann, minha colega, senhoras e senhores presidentes de

associações, prezados presentes, pouco me restou a dizer após a manifestação da

minha colega com a qual concordo em grau, gênero e número.

Eu apenas gostaria de fazer uma observação a cerca do que dona Cleci

Terezinha Müller disse a respeito da decisão do Supremo Tribunal Federal, que foi

uma decisão monocrática, em liminar. O que quer dizer uma decisão monocrática?

Significa que foi apenas um ministro que tomou a decisão sozinho. Foi a ministra

presidente, a ministra Ellen Gracie.

Dona Cleci Terezinha Müller, eu absolutamente não vou contrariar o que a

senhora disse. Quero apenas fazer um esclarecimento. A decisão da ministra vai ao

encontro do que é defendido por nós e por uma gama de pessoas que defende o

Sistema Único de Saúde há muitos anos, que é que tenhamos padrões, parâmetros

para decidir a respeito das coisas que são do SUS. O que é Sistema Único de

Saúde e o que não é Sistema Único de Saúde. Principalmente quando tratamos de

medicamentos de alta complexidade e de alto custo, temos de ter muito cuidado,

porque todo dia estão surgindo drogas novas, terapias novas que, em sua grande

maioria, de novo têm muito pouco. Em sua grande maioria, de efetivo tem quase

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nada.

Defendemos que tenhamos, pelo menos, o que a lei assegura. O que a lei

assegura é que os orçamentos sejam constitucionais e que tenham esses mínimos.

Mas a lei também diz que a obrigação do Estado de assegurar saúde está na

confecção e na execução de políticas públicas. O que isso quer dizer? O Estado se

compromete a garantir alguma coisa em nível de saúde e não tudo, nem tudo para

todos. Essa é uma decisão política que já foi tomada em 1988. Se considerarmos o

conceito da Organização Mundial de Saúde, de que saúde é o estado de mais

completo bem-estar físico, mental e social, perceberemos que fralda descartável

para eu criar meu filho, que não tem qualquer problema físico ou de saúde, pode ser

meu bem-estar social. E aí o Estado terá que me pagar isso.

Um outro aspecto refere-se às inovações tecnológicas. Ouvi de um médico

que, num futuro próximo, alguém pode dizer que banho de s ol na lua é bom para

curar psoríase. Alguém escreverá um artigo sobre isso, e uma pessoa poderá entrar

com uma ação contra o Estado, que será condenado a pagar por esse banho de sol

na lua. Já pagamos por um banho de sol na lua há bem pouco tempo. Custou 10

milhões de dólares. E aí faltará dinheiro para pagar medicamentos para todos nós.

Então, temos de ter um parâmetro, algo que estabeleça o que é bom, o que

é eficiente, o que é necessário e que, assim sendo, deve ser pago pelo Estado

porque é sua obrigação.

O que a ministra Ellen Gracie disse nessa decisão foi mais ou menos isso:

há que se ter um parâmetro, e o parâmetro é a política nacional de medicamentos. A

política nacional de medicamentos excepcionais está na portaria nº1.318 do

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Ministério da Saúde. Essas portarias, como todos os senhores sabem, são

concebidas a partir de um planejamento ascendente, que vai desde as convenções

municipais de saúde até a convenção nacional de saúde. Essas decisões são

tomadas a partir de discussão nos conselhos municipais de saúde, com a

comunidade científica, até que se identifique que uma determinada droga, que um

determinado tratamento é eficiente, é seguro e necessário para uma determinada

terapia. Esses são os parâmetros que nos asseguram que o Estado estará dando

alguma coisa que é boa, que não causará mais prejuízo do que a própria doença.

Temos de nos limitar por esse tipo de parâmetro. A decisão da ministra não

fez nada mais do que isso. Quando surgir um tratamento novo, deveremos ir atrás

da comunidade científica para que ela nos diga se de fato ele é bom. Se isso

acontecer, ele deverá ser incluído na tabela de procedimentos do SUS. Aí sim,

justificado que esse tratamento é necessário, que ainda não está na tabela do SUS

e que essa tabela não foi revisada com a periodicidade que seria lícito exigir que

fosse, que aí a Justiça condene o Estado a dar um tratamento que não está na

tabela. Do contrário, não é possível fazer isso porque senão comprometeremos todo

o Sistema Único de Saúde, toda a estrutura. Comprometeremos todas aquelas

pessoas que têm uma expectativa de conseguir um tratamento que já está

consagrado e que não o receberão porque a Justiça condenou alguém a ter um

tratamento experimental que não sabemos se é eficaz. Já tivemos n exemplos

desses tipos de tratamentos. Os Estados foram condenados a pagar cirurgias fora

do País, sendo que a comunidade científica era absolutamente contrária àquele tipo

de terapia. As nossas sociedades médicas não as aconselhavam.

Era apenas isso que eu gostaria de acrescentar à manifestação da colega

que me antecedeu. As decisões políticas são tomadas por todos nós, como

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sociedade. Nós temos de fazer com que as engrenagens se movimentem a nosso

favor. Temos de fazer com que haja padrões mínimos para que a Justiça também

não comprometa o nosso próprio atendimento, para que ela garanta pelo menos

aquilo que é lícito, aquilo que está na lei e não alguma coisa alternativa, alguma

coisa duvidosa que poderá por a perder tudo que conquistamos até hoje. Esse

cuidado temos que ter. Felizmente, quero crer que o STF está fazendo isso, a partir

da decisão da ministra Ellen Gracie, que não contraria qualquer tipo de

procedimento ou de protocolo vigente no País. Isso é segurança para todos nós.

O SR. PEDRO PEREIRA (PSDB) – Saúdo o relator Luciano Azevedo, os

demais integrantes da mesa e a platéia.

Além de ser deputado e médico, fui escolhido para integrar a Comissão de

Saúde e Meio Ambiente. Represento esta Casa, a comissão e a subcomissão nesse

embate dos hospitais filantrópicos, que estão falindo. Estive em Brasília. Sexta-feira

que vem virá uma comissão de Brasília, com representantes do Ministério da Saúde,

do Ministério da Justiça, da Casa Civil. A situação realmente é muito grave, como já

foi dito aqui. O Estado destina, hoje, em torno de 10 milhões de reais por mês para

medicamentos, sendo 1 milhão e 500 mil reais para medicamentos especiais. São

12 mil reais por mês, em média.

Este ano, o Ministério da Saúde tirou do orçamento da saúde quase 6

bilhões de reais. É muito dinheiro. A nossa grande peleia com o governo federal é no

sentido de ele reajustar as tabelas do SUS. Para que os senhores tenham uma

idéia, o valor de uma consulta clínica do SUS hoje é 2 reais e 55 centavos brutos.

Para especialista, 7 reais e 50 centavos brutos. Sobre isso, são descontados 20%

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do Imposto de Renda, mais o tempo que demora para pagarem. São valores

irrisórios. Claro que a saúde é prioridade. Sabemos disso. Está escrito na lei. É um

dever do Estado e um direito do cidadão. Esta subcomissão destina-se a ajudar a

resolver essa situação.

Como já foi dito aqui, em primeiro lugar, tem-se que respeitar o que a lei

manda. Devem ser destinados à saúde, no orçamento da União e dos Estados, pelo

menos 12%. O Rio Grande do Sul é um dos Estados mais atrasados nesse ponto,

um dos mais endividados. Nem é um dos mais. É o pior. A nossa crise é um terror.

Saímos desanimados de cada secretaria que visitamos. A dívida com fornecedores

passa de 9 milhões de reais. Entre esses fornecedores, incluem-se os laboratórios.

Por isso não estamos conseguindo medicamentos.

Temos de brigar com o governo federal para que coloque mais verbas no

orçamento e que as destine de fato à saúde. Está aí a CPMF, que destinava-se à

saúde, mas que vai para o bolso de não sei quem. Para o dos senhores não é. Para

o nosso também não. Milhões e milhões de reais por ano são descontados.

Tomara que ao final de quatro meses consigamos ajudar os senhores.

Como médico, conheço a situação dos pacientes e de seus familiares. Só dá valor

real a esses medicamentos quem tem alguém na família doente.

Nossa missão aqui é essa: ajudar os senhores – transplantados,

ostomizados, pessoas com incontinência urinária, com patologias especiais.

Inclusive, quando o deputado Luciano Azevedo entrou com o projeto desta

subcomissão, inicialmente destinava-se à esclerose múltipla. Como médico, sugeri

que ampliar o leque de abrangência aos ostomizados, aos transplantados e

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portadores de demais patologias especiais. Esse trabalho está sendo muito bem

coordenado por esta subcomissão. Teremos cinco audiências no interior, em

Pelotas, Canoas, Caxias do Sul, Passo Fundo e Itaqui. As reuniões serão todas às

sextas-feiras, fora do nosso horário normal de trabalho. Hoje, segunda-feira, não

éramos obrigados a estar aqui, mas estamos. Nosso trabalho na Assembléia é terça,

quarta e quinta-feira. As segundas e sextas-feiras são destinadas ao trabalho no

interior. Hoje estamos aqui, com toda a boa vontade para tentar ajudá-los, os

senhores e os demais que sofrem com esses problemas.

Dêem-nos esse voto de confiança. Faremos todo o possível em nível de

Estado e em nível de País para, se não resolvermos totalmente esses problemas,

pelo menos amenizarmos o sofrimento dos senhores. Obrigado.

O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Com a manifestação do

deputado Pedro Pereira, encerraremos a nossa reunião.

Agradeço muito a presença de todos que prestigiaram esta reunião.

Reforço o convite para que continuem participando das reuniões semanais,

sempre às terças-feiras, às 17 horas.

Na próxima reunião, ouviremos o Secretário do Estado da Saúde.

Queremos sempre poder contar com o apoio do Ministério Público, da

Defensoria Pública e das demais entidades, porque, como disse o deputado Pedro

Pereira, o nosso objetivo é contribuir para que esse problema seja pelo menos

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minorado.

Esperamos que um dia o Estado seja plenamente eficiente no atendimento

de todas as demandas, e é para isso que queremos contribuir.

Muito obrigado e boa noite a todos.

DATA 08/05/2007: O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Boa-tarde

a todos. Declaro abertos os trabalhos da Subcomissão de Medicamentos Especiais

e de Uso Continuo, que está tratando sobre a falta de fornecimento desses

medicamentos por parte do Estado do Rio Grande do Sul. Esta subcomissão está

ligada à Comissão Permanente de Saúde e Meio Ambiente da Assembléia

Legislativa.

A Subcomissão de Medicamentos Especiais e de Uso Continuo está

tentando há cerca de 60 dias colaborar para a solução do que consideramos – repito

sempre – um problema grave e que entendemos deva ser uma política não de

governo, mas de Estado. Deve ser prioritário para o Estado do Rio Grande do Sul

assegurar o fornecimento desses medicamentos àquelas pessoas e famílias que

têm essa necessidade. Esse é o espírito primeiro e maior do nosso trabalho nesta

subcomissão.

Registro a presença do deputado Gilberto Capoani. Como de praxe nas

nossas reuniões seremos objetivos e respeitaremos os horários de início e término,

para que possamos aproveitá-la ao máximo.

Registro também a presença da presidente do Centro de Apoio ao Portador

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de Anemia Falciforme, Sra. Caren Fortunato; e da Associação Gaúcha de Familiares

de Pacientes Esquizofrênicos, Sra. Marlene Gazave.

Esta subcomissão estará realizando uma reunião na Câmara Municipal de

Vereadores de Pelotas, no dia 18 de maio, às 17 horas, e esperamos contar com a

participação da comunidade e das lideranças locais envolvidas com o assunto.

Solicito às entidades aqui representadas que nos acompanhem, por intermédio de

suas lideranças estaduais ou representações municipais, nessa audiência pública na

zona sul.

Concedo a palavra à presidente do Centro de Apoio ao Portador de Anemia

Falciforme, Sra. Caren Fortunato, para que nos faça um relato da situação e das

condições do fornecimento das medicações e sobre o que considerar importante

para contribuir com esta subcomissão.

A SRA. CAREN FORTUNATO – Boa-tarde a todos. Agradeço a luz que os

senhores deputados tiveram ao criar esta subcomissão e parabenizo a todos e a

Casa.

Agradeço ainda a todas as pessoas presentes que se dispuseram a

participar mais uma vez. Sei que a luta não é fácil. Presido o Centro de Apoio ao

Portador de Anemia Falciforme como voluntária.

A anemia falciforme é uma doença incurável, que mata mais do que a AIDS

e o câncer e existe há mais de 1.500 anos. Essa doença, com origem no continente

africano, tem maior incidência em negros e seus descendentes.

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Há pouco tempo, mais especificamente entre os anos de 1999 e 2000,

conseguiu-se, após muita luta dos movimentos negros, da sociedade e de alguns

hospitais que se mobilizaram, fazer com que se detectasse à predisposição para

essa doença por meio do teste do pezinho.

Essa doença caracteriza-se por um defeito na hemoglobina – pigmento

vermelho que dá cor ao sangue –, que é a responsável pelo transporte do oxigênio

para todo o nosso organismo. Com esse processo ocorrido há 1500 anos, essa

hemoglobina se deforma, fica em forma de foice – por isso também o nome de

falciforme – e não transporta mais com tanta eficiência o oxigênio para todo o nosso

organismo.

A pessoa considerada doente falciforme é aquela que herda do pai e da mãe

uma hemoglobina com defeito. É o doente falciforme.

A pessoa que é considerada traço falciforme é aquele que herda um desses

genes, ou do pai, ou da mãe. Aparentemente não há sintoma. Há todo um estudo

sobre o traço falciforme pelo Ministério da Saúde.

O doente falciforme desenvolverá tudo que vocês imaginarem dessa

doença. Ele tem infecção de repetição, necrose óssea, falência de alguns órgãos,

pode levar a perda da visão, ou seja, é uma doença que degenera os órgãos,

gradativamente. A pessoa está sempre com uma infecção. Cura uma, passa para

outra, passa para outro órgão.

A anemia falciforme é considerada por muitos médicos a doença mais cruel,

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supera AIDS e o câncer no sintoma que ela faz. A idade mais crítica dessa doença é

dos zero aos cinco anos de idade. Também temos problemas quando chegam na

adolescência e depois, na fase adulta, é amenizado.

O tratamento para essa doença, na rede básica de saúde de Porto Alegre

ainda não está disponibilizado. Boa parte dos medicamentos deveriam estar na

listagens básicas de saúde, principalmente o fenoximetil, conhecido como Pen-ve-

oral, penicilina oral, que é o antibiótico usado de zero a cinco anos para evitar as

infecções, as intercorrências, as intercorrências hospitalares, enfim, é profilaxia.

Agora já tem vacinas à disposição.

Depois dos cinco anos, segue um tratamento um pouquinho mais severo. Aí

entramos na questão dos medicamentos especiais. No nosso Estado, infelizmente

não é como nos outros. Aqui, o tratamento é dividido. Uma parte fica com os

Estados e outra parte fica com o Município. Então, a criatura para salvar a vida, além

da desinformação que tem em cima dessa doença, ele tem que correr, pegar o

medicamento lá no Município, quando tiver e quando for para rede básica – parece

que agora só tem o ácido fólico – e depois ele bate na porta do Estado para obter o

medicamento especial, que seria, principalmente o hidroxiuréia, que é muito usado e

o desferal, que é a desferroxiamina.

A anemia falciforme não é anemia ferropriva. As pessoas estão confundindo

muito. Os profissionais da área da saúde fazem tratamento fantástico para o doente

falciforme dando sulfato ferroso a ele. Vai levar a óbito, mata. Esse paciente tem

excesso de ferro. Ele não tem falta de ferro. O que fez essa hemoglobina ficar

deformada há milhares de anos, foi o excesso de ferro, não foi a falta dele. Jamais

se pode usar ferro para o doente falciforme, e é o que mais se encontra na rede

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básica de saúde é o sulfato ferroso.

A mãe que leva uma criança para a rede básica de saúde, o médico pede

logo um hemograma, a primeira coisa que vai fazer é dar o sulfato ferroso. Ele não

investiga que tipo de anemia aquela criança tem, até porque ele só conhece a

ferropriva. Ele desconhece as outras anemias que são graves no nosso País, e essa

então é a única que mata mesmo, sem misericórdia, é a falciforme.

Ele usa então o desferal para a retirada desse acúmulo de ferro, porque ele

já tem isso ao nascer e segue com esse ferro, e devido alguns medicamentos que

foram usados sem que profissional soubesse que ele era doente falciforme, ele

acumulou esse ferro, e também pode acumular essa ferro fazendo as transfusões de

sangue, porque o tratamento deles também passa por sessões de transfusões de

sangue.

Esse medicamentos especiais, já estou chamando de medicamentos raros,

e acho até fora da lei, porque não se encontra. Deve ser uma coisa que, não é

possível o alcance das pessoas. Ele é um medicamento que não é nem especial. É

um medicamento raro e fora da lei. Nós e que estamos errados em exigir esse tipo

de medicamento. Daqui a pouco temos que ser internados, porque a coisa é loucura

mesmo.

Esse medicamento está na rede básica da Secretaria Estadual de Saúde.

O problema da anemia falciforme no Rio Grande do Sul ainda é pior do que

o das outras doenças. Como vou ter acesso ao medicamento de uma doença,

enquanto a própria Secretaria Estadual da Saúde desconhece e nem quer trabalhar

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isso.

O que a Secretaria Estadual da Saúde trabalha muito bem? Teste do

pezinho. Se vier aqui um representante da Secretaria Estadual da Saúde, vai nos

trazer um relato bonito do teste do pezinho e vai nos convencer que o número de

doentes falciformes no Estado é irrelevante. Não vamos nos preocupar com isso. É

um número pequeno, não passa de umas 40, 50 pessoas, se tiver. Já o traço é

preocupante, porque há muitas pessoas, mas também não se tem nenhuma

campanha para informar isso. Daí os nossos gestores não estão se dando por conta

que esse traço vai crescer, vai ficar adolescente, vai ter filhos e aí vem uma nova

geração de doentes falciformes.

O número dessa doença no Estado do Rio Grande do Sul, quando

considerarmos a população em geral, 10% da população. Quando nós

considerarmos só os negros, 6% da população.

Eu não sou muito boa em matemática, mas vamos pegar um livrinho para

ver qual a nossa população. Vamos fazer o cálculo? Tenho certeza de que vamos

encontrar muita mais doentes falciformes do que estamos encontrando de pessoas

que estão sendo picadas pelo mosquito da dengue, que agora é a atração do

momento. O bicho não vai fazer tanta coisa, porque é só botar um pó-de-gafanhoto

quem não tiver mais nada, cortar uma árvore, despejar uma água que esteja parada

e lá se vai esse bicho, porque ele não vai resistir ao frio.

E o doente falciforme? Nós morremos por causa do frio. O frio nos mata. Em

função dessa deformidade nessa hemoglobina o que mais nos leva a óbito é o frio,

ainda mais que moramos num Estado frio.

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Não temos acesso a nenhum programa social, porque como a Secretaria

Estadual de Saúde nos fez a gentileza e a grandeza de não implantar o programa e

perdeu o programa para o Ministério da Saúde, porque não interessou isso ao

secretário Osmar Terra, o Rio Grande do Sul está fora de todo e qualquer programa.

Para cá não vem mais nada a partir desse mês. Não houve a implantação

do programa. Foi aquele programa que os senhores devem lembrar que teve um

seminário bonito aqui na Casa, que veio o Ministério da Saúde. Foi uma coisa

fantástica. Depois lançaram livro. Ali era lançado o programa Hemovida

Ambulatorial.

O hemocentro de Porto Alegre deveria atender os doentes falciformes, verba

do Ministério da Saúde, medicamento do Ministério da Saúde. Montaram salas

bonitas para sermos atendidos. Vocês tem que ver que coisa fantástica. Aí, sim, de

primeiro mundo, com sala de fisioterapia, odontologia, mas aí se deram por conta

que o público alvo a ser atendido lá naquele centro, majoritariamente seria negro,

então não implantaram o programa. Perdemos o programa, vergonhosamente.

Segue-se a luta dos hospitais que estão batalhando. Um dele é o Hospital

de Clínicas de Porto Alegre que faz um trabalho muito bonito em cima da anemia

falciforme. O outro é o Hospital da Criança Conceição. Outros hospitais também

atendem os doente falciformes, só que não sabemos disso porque a secretaria não

trabalha isso e não quer trabalhar isso.

O nosso problema, além de lutarmos pela questão do medicamento

especial, que eu acho que não virá, no nosso caso, é sensibilizar o secretário Osmar

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Terra. Temos que dizer para ele que negro é gente. Ele tem certeza que nós não

somos. E eu sei muito bem o que eu estou falando.

Já tivemos em reuniões com todos esses hospitais na Fundação Estadual

de Produção e Pesquisa em Saúde – FEPPS –, Escola Pública de Saúde, Secretaria

Estadual de Saúde, conselhos. Todos os lugares que os senhores possam imaginar,

já houve reunião para a anemia falciforme. Claro, ele nunca foi, porque ele é deus.

Ele é um deus, ela não vai se juntar com a plebe e a negrada. Claro que ele não vai.

Sempre foi um representante. O pessoal esforçou-se, mas não implantaram o

programa, não interessou implantar.

O que mais eu posso dizer? Dentro desse caso, o problema de anemia

falciforme no nosso País ou no nosso Estado não é um problema de formação

acadêmica. Temos médicos trabalhando isso. Temos a famosa Internet, as pessoas

estão online. Lá na vila nós não estamos online, porque lá não temos telecentro.

Como não vamos ter dois reais para pagar de passagem para vir ao centro para nos

informar, nós não estaremos online, mas passamos informações para o outro,

vamos nas casas, vamos no centro de umbanda, vamos nas igrejas evangélicas,

vamos pedir para o padre, nós geramos a informação. Então o problema de

informação não é nosso.

Quando falamos com a maioria das pessoas, como deputados e ninguém

sabe da anemia falciforme. Perguntam o que é? Parece que é uma doença que dá

no estômago. Pior ainda. Quando a mãe recebe o resultado do teste do pezinho e

que ela leva na rede básica de saúde de Porto Alegre, e que o médico depara-se

com a criaturinha doente falciforme ou traço falciforme, e a mãe tem a pele clara, é

branca, sabem o que ela ouve? O pai é negro não é, porque ele tem doença de

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negro. Tem que ver onde está esse negro lá dentro da tua família. Se ele for traço

falciforme, não terá problema nenhum, não vai desenvolver a doença. Só cuida para

quando ele crescer ele não casar com negro.

O problema da anemia falciforme é racial e teremos que resolver isso. É

sério. É muito mais sério do que todas as outras doenças, porque as outra doenças,

querendo ou não, primeiro as instituições são presididas por uma branca ou por um

branco. Eu sou uma negra, preta do cabelo carapinha e não tenho formação

acadêmica. Começa por aí a questão. Essa é a realidade, mas tudo bem, o pessoal

se une, vai, luta, conseguimos ser recebidos aqui, ali. Quem têm que fazer a sua

parte de bom coração está fazendo, os conselhos de saúde e as outras instituições

que nos ajudam.

Mas o nosso maior problema é o secretário estadual da Saúde. Não

sabemos se ele vai ter que cair numa lata de piche e passear um pouco nas vilas

para ver o que é discriminação. Não sabemos o que está acontecendo com ele, mas

é preocupante. O secretário está no segundo mandato à frente dessa secretaria,

mas na certa não foi com o voto dos negros.

Arrastamos por quatro anos essa corrente e arrastá-la por mais quatro anos

não será fácil. Mas vamos continuar. Espero que a partir de hoje alguma coisa mude

em relação a essa questão, aqui no Estado.

Se os senhores deputados tiveram coragem de criar esta comissão, sabiam

o que viria pela frente. Nós, como negros, entendemos que esse problema é de

discriminação racial, de descaso e desrespeito. Mas na época de eleições não

tiveram nenhum problema para pedir o nosso voto, todos entravam na vila.

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Por que a anemia falciforme chegou a esse ponto, num estágio total de

descaso e preconceito? Os médicos lutaram e fizeram tudo o que podiam. O

hidroxiuréia até chega na seção dos medicamentos especiais, mas os nossos

doentes não conseguem retirá-lo porque o nosso gestor não trabalha com os

números dos portadores de anemia falciforme.

O profissional encarregado de comprar esse medicamento não sabe da

existência dos portadores de anemia falciforme, então o gestor compra para o

pessoal que é transplantado e para a oncologia.

A cota dos nossos doentes não é computada para a compra do hidroxiuréia.

O vidrinho que tem é para dar para portadores de outras doenças, que não são os

nossos, porque nós não existimos para o Estado.

Não adianta fazer o teste do pezinho se não forem implantados programas

de políticas públicas. Não adianta o teste se não nos conscientizarmos que o Estado

do Rio Grande do Sul não foi colonizado apenas por imigrantes alemães e italianos.

Sei que não plantamos uvas bonitas, nem Kiwi e nem moranguinhos e que

também não vamos à festa do champanhe, mas o nosso sangue caiu nesta terra,

nós apanhamos pelo menos. Se não der para colher boas frutas, colham o nosso

sangue. Ele está aqui.

Encerrando a minha manifestação, pedimos a ajuda dos senhores para

sensibilizar o secretário Osmar Terra. Esperamos que alguém diga a ele que no

nosso Estado há negros porque ele ainda não se deu conta dessa realidade.

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O secretário administra a Secretaria Estadual da Saúde para Frederico

Westphalen ou para qualquer Município que não tenha negro. Como ele não tem a

menor noção disso, acho que alguém tem que dizer para ele.

Estou achando que o secretário está acompanhado de um espírito obsessor

e precisa ir a um culto de qualquer religião pois está acompanhado de coisa ruim. E

para ficar acompanhado de coisa ruim eu prefiro o mosquito da dengue, pois compro

veneno sem grande verbas e mato o bicho. Agora, ficar acompanhado mais quatro

anos com essa criatura, nem um nego merece.

Agradeço por esta oportunidade. Nada é por acaso. Domingo é Dia das

Mães, 13-05, que também é o Dia da Abolição da Escravatura e nós estamos

morrendo pela Anemia Falciforme. Esperamos que nossa governadora tenha a força

e a coragem que disse que teria, e acho que tem, para enfrentar a questão da

anemia falciforme pois quando ela estava em campanha política disse que essa

seria sua prioridade. O nosso Estado e o País sabe do seu comprometimento.

Não podemos morrer. Repita, senhora governadora, o ato da Princesa

Isabel e nos dê a liberdade a que temos direito. Não estamos pedindo nenhum favor

pois a Constituição nos garante a saúde. E não somos iguais perante a lei, mas

perante Deus.

Esperamos que 13-05 nos liberte desse mal. Se o secretário continuar – e

acho que continuará – que seja com clareza e noção de que negro é gente. Isso ele

vai ter que aceitar porque em época de eleições os deputados batem a nossa porta,

não escapa um. Nas grandes vilas como Restinga, Sarandi e Bom Jesus, em todos

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os cantos a negrada está em peso. Chega. Está na hora de o Rio Grande do Sul

assumir uma postura e de assumir que há negros em nosso Estado.

Mais uma vez meus parabéns pela coragem dos senhores. Desejo que os

partidos políticos se unam. Quem sabe o deputado do PMDB, que estava presente,

consegue sensibilizar o nosso secretário Osmar Terra. Até o ministro da Saúde é do

PMDB.

Queremos a força do PMDB, que é o maior partido do governo Lula. Quem

tem o poder da caneta não sou eu. Não tenho nem a cor que favorece, que dirá a

caneta. Quem sabe os senhores dos diversos partidos políticos, que em época de

eleições fazem uma coligação bonita e dão um nome lindo, também façam uma

coligação bem bonita em torno da anemia falciforme? Quem sabe vão até o

secretário Osmar Terra pedir uma única coisa: respeito.

Respeito é bom, nos mantêm nos cargos, nos deixam entrar nas vilas, nos

mantêm unidos. E isso ele vai ter que fazer. Não vai ser preciso sentar com a

neguinha horrorosa da anemia falciforme porque sou feia como o diabo da Tanzânia,

mas deve sentar com quem tem que atender o público dos dois hospitais que lutam

e batalham e devem ser respeitados. Era isso que eu queria dizer.

O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Agradecemos a Caren

Fortunato, que falou em nome do Centro de Apoio ao Portador de Anemia

Falciforme, fazendo um importante relato para conhecimento da Assembléia

Legislativa e do Estado do Rio Grande do Sul.

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Registro a presença do representante do Ministério Público, o promotor de

justiça Mauro Luís Silva de Souza, que sempre está presente nas nossas reuniões.

Concedo a palavra à Sra. Marlene Gazave para falar em nome da

Associação Gaúcha dos Familiares de Pacientes Esquizofrênicos.

A SRA. MARLENE GAZAVE – Boa-tarde a todos os presentes.

A minha vinda a esta comissão tem por finalidade colocar as dificuldades por

que passam os familiares dos pacientes esquizofrênicos.

O primeiro ponto que quero esclarecer é quanto ao fechamento de vagas

nos hospitais no momento da internação. Na reforma psiquiátrica foi dito que os

hospitais psiquiátricos seriam fechados mas seriam abertos o Caps e o NAPs para

atender os nossos pacientes.

O que se viu é que muito pouco desses Caps e NAPs foram abertos. Não

temos onde internar os nossos parentes quando entram em surto. O PAM da Vila

Cruzeiro do Sul está numa situação calamitosa, somente há vagas para 10

pacientes.

O jornal O Correio do Povo, de hoje, informa que já havia 28 pacientes,

sendo que 18 estavam deitados em colchões no chão porque não havia

acomodações. Inclusive o Cremers e o Sindicato Médico já visitaram aquele local

para fazer um levantamento das condições daquele centro de atendimento de

pacientes doentes mentais.

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O que se seguiu foi uma interdição devido às poucas condições dadas aos

pacientes. O presidente do Simers, Dr. Paulo de Argollo Mendes, que faz parte

desta mesa, fez uma visita ao PAM e poderia esclarecer melhor a situação daquela

unidade.

Também gostaríamos que os hospitais psiquiátricos fechassem e que

ninguém precisasse usar dos seus serviços, mas também queríamos que essa

doença, que não tem cura, não existisse, seria um sofrimento a menos. Além do

paciente esquizofrênico, toda família sofre, padece e adoece junto. É uma doença

que isola e não permite que o paciente trabalhe. Ele é tido como vagabundo, porque

não quer trabalhar, porque a aparência é boa, e não diz nada.

Os sintomas são delírios, visões, ouvem vozes. Sofrem muito. Essas vozes,

muitas vezes, pedem que eles façam coisas ruins, como um filho dizer à mãe que

estão mandando ele matar o seu pai. Então, os senhores imaginem a situação de

uma família com um paciente nesse estado.

Felizmente, chegou para nós o que chamamos, pelo menos nós, São

Leponex, que é uma medicação, cujo sal chama-se closapina. Esse remédio veio

ajudar muito os nossos pacientes. Só que o doente não pode parar com esse

remédio, porque os sintomas voltam. Tudo que eles conseguiram, volta. É preciso

começar o tratamento: dar meio comprimidinho, um comprimido, um e meio até

chegar na dose necessária.

A nossa angústia é: será que este mês vai ter a medicação? Tu

conseguiste, Fulano? Tem, vai lá. Mas não pode, porque ainda não está na hora de

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receber. Quando chega a hora, não tem mais o remédio. Daí mandam voltar no

outro dia e voltar depois de amanhã. Então fica-se naquela ansiedade, naquela

angústia para saber se vai receber o medicamento, se o nosso paciente, naquele

mês, vai ter o remédio. Então dois, três conseguem; meia dúzia não consegue e

assim vão indo. Um, quando tem, empresta para o outro, porque não pode parar. Se

diminuir meio comprimido, os sintomas voltam.

A minha filha, infelizmente, toma a quantidade máxima: nove comprimidos

de 100 miligramas cada um. O que fiz? Como estava difícil conseguir o remédio, eu

disse para tirar um só, que não ia fazer diferença. Eu disse a ela para não tomar o

do meio-dia, só tomaria os quatro da manhã e os quatro da noite. Pois, por incrível

que pareça, a minha filha voltou a ter um sintoma muito forte: falar sozinha. São as

alucinações que a levam a falar sozinha. Pergunto com quem ela está falando, e ela

responde que não sabe. Diz que quer parar de falar, mas não consegue, não se

controla. Pensa-se que sejam os delírios, as alucinações que, como ela diz, sua

cabeça tranca, o seu pensamento não vai.

Então, todos os nossos pacientes são, em geral, muito inteligentes. A

maioria são homens. Não sei por quê. Sempre começa nos homens aos 18, 20

anos, quando estão entrando no Exército ou saindo dele.

São médicos, arquitetos, engenheiros, advogados, todos já quase se

formando. Essa vida é ceifada, porque deixam de trabalhar, deixam de estudar, não

conseguem fazer nada. É ainda pichado de vagabundo, não quer fazer as coisas,

nada serve, nada está bom. E o preconceito começa dentro da própria família.

Lutamos também com o preconceito contra o doente mental. Ele é atirado de lado. A

família é escanteada porque, naquela casa, há um louco. Cuidado, não passa lá na

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frente. Além de tudo, temos de conviver com esse preconceito.

Então, o meu pedido, em nome da Associação Gaúcha de Familiares de

Pacientes Esquizofrênicos, é que, pelo menos, essa medicação que foi a melhor que

existiu até hoje, não falte e que se procure abrir vagas em hospitais gerais para que

atendam aos nossos pacientes quando estiverem em surto. Obrigada.

O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Muito bem. Nós é que

agradecemos, Sra. Marlene Gazave, que fez um relato importante em nome da

Associação Gaúcha de Familiares de Pacientes Esquizofrênicos.

Queremos ainda, encaminhando para o encerramento da nossa reunião,

ouvir a manifestação do promotor de Justiça, Mauro Luís Silva de Souza, que tem

feito um trabalho importante nessa área e tem estado aqui conosco sempre que

possível.

Na seqüência, ouviremos o Dr. Paulo de Argollo Mendes, presidente do

Sindicato Médico do Rio Grande do Sul.

O SR. MAURO LUÍS SILVA DE SOUZA – Cumprimento o deputado Luciano

Azevedo; a Sra. Marlene Gazave; a Sra. Caren Fortunato; o Dr. Paulo de Argollo

Mendes; a Dra. Ana Carolina, representante do Almoxarifado de Medicamentos do

Estado; senhoras e senhores:

Nós, do Ministério Público, de fato, como disse o deputado Luciano

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Azevedo, há muito tempo vimos acompanhando essa questão não só dos

medicamentos, mas da atenção à saúde como um todo no nosso Estado,

inicialmente aqui na capital e depois no nosso Estado inteiro. A partir da participação

nesses fóruns, nessas reuniões e em outros eventos que o próprio Ministério Público

organiza e leva a efeito, temos procurado orientar a atuação do Ministério Público no

sentido de que tenhamos um Sistema Único de Saúde organizado para essa

atenção integral.

Sabemos que hoje no Estado não reunimos as condições ideais para dar

esse atendimento, mas precisamos caminhar para isso. É o que buscamos a partir

da participação nesses ambientes, quer dizer, queremos identificar os pontos em

que o Ministério Público possa ser útil à atenção da cidadania e à atenção dessa

garantia constitucional, que é o direito à saúde. Queremos caminhar no sentido de

implementar essas ações.

Já é praticamente ponto pacífico que a implementação do Sistema Único de

Saúde, como ele foi concebido lá na Constituição de 1988, é uma história muito

longa que data mais ou menos da década de 60 e passa pela década de 70 até

chegar na VIII Conferência Nacional de Saúde, de 1986, que virou a Constituição de

1988. É uma caminhada muito grande por toda essa reforma, D. Marlene.

Lembro que ainda em 2002 fizemos um evento aqui na Andrade Neves, nº

106, em que tratávamos especificamente de um dos pontos que é a reforma

psiquiátrica para que tivéssemos tal atendimento e ainda hoje buscamos isso. Já

temos uma experiência muito grande na cidade de Caxias do Sul, onde não sei se

resolveu completamente o problema, mas se organizou a assistência à saúde

mental de tal forma que as reclamações diminuíram muito e se tem notícia de que a

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população assistida, pelo menos aquela que tem acesso ao serviço, tem melhorado

bastante suas condições de satisfação com esse tipo de serviço.

Então, com essas ações buscamos implementar e fazer com que, de uma

forma geral, todos nós conheçamos o Sistema Único de Saúde e o implementemos

de uma forma que proporcione um atendimento melhor a toda população a partir de

ações básicas de saúde e principalmente do fortalecimento da participação social e

comunitária. É isso que, de alguma forma, as senhoras estão fazendo aqui hoje.

Esses fóruns são os ideais para que cobremos os nossos direitos de

cidadania daquelas pessoas que, de uma forma ou de outra, interferem nos

orçamentos que irão regular a atenção dessas ações, porque sem orçamento não se

faz coisa alguma. Temos lá na Constituição que, para a educação, o orçamento da

União, dos Estados e dos Municípios tem de contemplar 25%. E para a saúde a

União tem de comprometer um determinado percentual que não vem sendo

observado. Os Estados têm de comprometer 12% e os Municípios 15%.

Portanto, é justamente nessa busca que o Ministério Público tem caminhado

e principalmente para entender todo o processo de atenção, de diagnóstico, de

protocolo clínico de atenção, de produtos farmacêuticos que devem ou não devem

ser usados nessas ou naquelas circunstâncias para que se possa ter um padrão

mínimo de atenção no Sistema Único de Saúde que contemple o maior número de

pessoas.

Essa é a nossa busca, quer dizer, buscamos um Sistema Único de Saúde

que funcione como foi concebido constitucionalmente e, a partir daí, teremos, sim,

uma boa atenção à saúde da população, porque o SUS é, sem dúvida alguma, o

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melhor sistema de saúde, e aquele de que todos nós poderemos um dia precisar e

depender dele. Por isso, é necessário que se trabalhe pelo fortalecimento do SUS.

Muito obrigado, deputado.

O SR. RELATOR (Luciano Azeredo – PPS) – Em nome da subcomissão

agradecemos à palavra do promotor de Justiça, Sr. Mauro Luís Silva de Souza.

De imediato passo a palavra ao presidente do Sindicato Médico do Rio

Grande do Sul, que nos honra com a sua presença, Dr. Paulo de Argollo Mendes.

O SR. PAULO DE ARGOLLO MENDES – Boa tarde a todos. Muito obrigado

pelo convite e por esta oportunidade de participar dessa discussão.

Nós, como médicos, temos olhados com muita preocupação o que vem

ocorrendo na área dos medicamentos, que não é de hoje, já é antiga. Talvez tenha

se agravado no governo anterior e no atual governo, mas, está construída através

de uma lógica extremamente perversa.

Não preciso dizer a vocês que, com enorme freqüência, se insinua que os

movimentos em defesa dos portadores daquela patologia estão em conluio com

laboratórios. Ouvi muitas vezes que os laboratórios criam associações de familiares

de doentes, financiam advogados e pagam para que as pessoas exijam o consumo

desses medicamentos. Então, é uma lógica extremamente perversa – evito dizer

canalha. E que vai sendo construído de uma maneira ir abarcando e convencendo

as pessoas no entorno.

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Há pouco tempo, foi realizada uma reunião sobre o uso de medicamentos

especiais, estava presente Ajuris – não sei se o Ministério Público estava presente.

O sindicato dos Médicos não foi convidado, porque eles sabem o que vamos dizer

lá. Estavam presentes o Conselho Regional de Medicina, a Associação Médica, a

Associação dos Juízes – não sei se a Associação do Ministério Público estava

presente. Mas o sindicato não foi convidado, e isso não é por acaso.

Temos sistematicamente denunciado isso: primeiro, falta remédio porque

este é um País pobre e não tem dinheiro para fornecer remédios para o povo. Isso é

mentira, é uma mentira deslavada. Somos a 10ª economia deste planeta. Tem-se

muito dinheiro. O problema é aonde está sendo colocado esse dinheiro. Não

venham dizer que não há recursos. Falta dinheiro para vitamina e para remédios. Há

dinheiro para vitamina, e remédio de uso de pessoas que têm tratamento contínuo, e

medicamentos que são difíceis de obter de uso para pessoas que têm tratamento

contínuo. Dinheiro tem e está no bolso errado. E mais, desviar o dinheiro não é só

pegar o dinheiro público e colocar no seu bolso. É botar o dinheiro público aonde

não poderia estar. É o que ocorre neste Estado.

Aqui, há desvio de dinheiro público. O dinheiro que deveria estar na saúde –

acabou de falar o nosso promotor – o Estado não põe 6% na saúde dos 12% que

teria a obrigação. Então, os outros 6% são desviados de onde deveriam estar que

era para atender às questões da saúde da população. É um desvio criminoso porque

implica em perda de vidas. É isso que ocorre no nosso Estado. Em função disso,

eles não querem ouvir essa proposta. Por isso, não nos convidam a participar das

reuniões.

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Existe – quero seguir o raciocínio da D. Carmem – todo um quadro de

discriminação – que é muito claro. É discriminação contra o negro e contra o pobre.

Um ministro da Saúde disse ao representante nosso do Rio Grande do Sul,

que não fui eu, que estava discutindo alta complexidade. Dr. o que o senhor quer? O

senhor quer fazer tomografia em pessoas que não têm emprego, que não têm nada

e nem compra nada. Então, esse é um dos problemas que temos de enfrentar. Se

quisermos fornecer remédios que sejam necessários para qualquer pessoa.

Os médicos têm em torno de 5 mil anos de história, nesses anos, nunca

fizemos diferença por cor, por instrução, religião, por poder aquisitivo e não faremos

agora porque o Estado não quer ganhar.

Na área da psiquiatria existe uma discriminação igualmente perversa. Nessa

área, foi feita uma chamada reforma psiquiátrica na qual foi jogada fora a água, a

bacia, a criança e etc. Isso ocorreu porque havia hospitais chamados manicômios

vergonhosos.

Vejam que não foi o médico que inventou o manicômio. Eu me sinto muito à

vontade para dizer isso aqui.

Temos denunciado diuturnamente a situação das emergências para que não

ocorra amanhã alguém dizer que os médicos faziam parte disso. Não fazíamos parte

disso e nem do manicômio.

Sou do pretexto à razão correta de fechar os manicômios e os hospitais

psiquiátricos. E se criou uma discriminação que impede inclusive o governante que

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queira de criar leitos psiquiátricos. Não se pode criar novos leitos, hospitais e nem

atender às pessoas.

Foi criada fantasia a partir do momento em que desapareceu o termo doente

psiquiátrico, criou-se uma figura nova, que se chama sofrimento psíquico. Então, o

sofrimento está bom, porque o paciente está sofrendo. E digo ele está sofrendo,

assopro a ferida e está tudo resolvido porque não precisa de médico para isso. Se

cada pessoa que sofrer de algo, vai querer um médico para atendê-lo. Isso é uma

baixeza, inimaginável.

Se faz um movimento para extinguir a doença mental? Não existe doente

mental, mas sofrimento psíquico. Hoje em dia, o paciente não precisa mais ser

internado, que é mentira.

Em qualquer lugar do planeta existe hospital psiquiátrico para proteger o

paciente quando representa risco para si mesmo e para a sociedade. Basicamente,

hoje se interna o paciente nessas condições, porque ele está em perigo. E aí é

incluído o perigo social no sentido de que, às vezes, a pessoa está se expondo em

função da sua doença. E aqui abro um parênteses para contar um caso de uma

senhora idosa que foi minha paciente, tinha 70 poucos anos. Ela tinha distúrbio

bipolar do afeto. Não era psiquiatra e nem sou, era clínico dela. Telefonou-me um

filho desesperado disse que a minha, uma senhora educada, fina, delicada, está

sem roupa no meio da rua.

Então, essas pessoas têm de ser protegidas. Não é justo deixar em função

de uma patologia ou de uma doença, que ela não pediu para ninguém e que não

tem responsabilidade, que em função de uma doença, permita-se que a pessoa seja

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exposta. E não é uma vizinhança que não está entendendo isso, não sabe o que

ocorre, fica julgando mal essa pessoa ou a sua família. Enfim, acredito que essas

pessoas têm direito a serem internadas pelo menos até que passe o surto. Hoje, só

se faz internação de pacientes agudos. E esta internação de agudos está sendo

negada através de todo um complexo que passa por legais existência da doença,

por fechar hospitais e leitos psiquiátricos e por remunerar cada vez pior a internação

de uma maneira que os hospitais cujos leitos não são fechados pela lei, mas pela

falência.

Há uma política do governo federal que se tenho 100 leitos e disponho-me a

fechar 10, continuam me pagando como se tivesse 100 leitos. Querem empurrar e

forçar os hospitais que têm leitos psiquiátricos para fechá-los.

Dizem em contrapartida que é possível abrir leitos nos hospitais clínicos

gerais. Se for possível, será ótimo isso.

Vejam, uma questão é 10 leitos psiquiátricos no hospital Espírita que tem

esta cultura e que trabalha com isso e possui um pessoal treinado. A outra, é se

quiséssemos hoje obrigar o Instituto de Cardiologia ter uma maternidade com 10

leitos. Isso gera uma despesa, uma mudança de foco e todo um transtorno que

encarece de tal forma. Para o Instituto de Cardiologia ter uma maternidade, não há

como fazer.

Então, dizem: “Eles não querem abrir num hospital clínico, num hospital

geral”

A mesma tentativa de jogar para os outros responsabilidades que agora

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tentam passar para o médico, dizendo: “Os médicos prescrevem coisas que não

precisam, eles gostam de receitar remédios caros, receitam até medicamentos que

ainda não foram aprovados no País”.

Como se o cuidado que o médico tem em se manter atualizado, procurar o

melhor para os seus pacientes fosse uma safadeza, um crime.

Nesse conjunto de coisas há outras perversidades, porque o paciente vai lá

e não consegue o remédio, não sabe quando vai conseguir, retorna e pensa que

amanhã terá, pensa que por não ter num lugar terá no outro, as pessoas focam

sendo jogadas de um lado para o outro e fazem o mesmo com o médico.

Se eu prescrevo um medicamento caro, o paciente diz: “Faltou o senhor

carimbar o canto da terceira via”. Depois ele retorna e diz: “Mas o senhor não

justificou por que está prescrevendo este remédio caro, era para ter orientado o mais

barato”. Depois disso tudo ainda perguntam se o médico é especialista, porque no

papel não consta se é ou não.

Enfim, ficam inventando motivos para terminar com a paciência do médico,

do paciente e do familiar, é uma tentativa de jogar essas pessoas para fora do

sistema matando-as no cansaço criando dificuldades e etc.

Tudo isso para que? Para se apropriar e dar outro destino, irregular, para um

dinheiro que deveria estar colocado aqui.

Há um movimento perverso nesse Estado, que é o de tentar convencer as

autoridades públicas, o Ministério Público, os Juízes, pessoas que ainda podem

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interferir nisso, porque a mim eles não ouvem, nem a senhora, nem o senhor, mas à

Justiça ainda obedecem, às vezes.

O Secretário de Saúde de Estado tinha obrigação de abrir 30 leitos

psiquiátricos que havia sido fechados e nós ganhamos isso na Justiça, passaram

dois anos e ele não obedeceu à determinação judicial, foi preciso uma ameaça de

prisão por desobediência judicial para que se abrissem os 30 leitos que agora

existem no Hospital São Pedro.

Portanto, o respeito ao promotor, ao Juiz não é lá essas coisas.

Mas ainda existe uma possibilidade de sermos atendidos, pois existe todo

um movimento, que é aquele que eu disse aqui, o qual não somos convidados para

falar, tentando convencer essas pessoas, promotores e Juízes, de que o médico ao

receitar um medicamento caro para o seu filho, ele o faz porque a senhora e ele

estão em conluio para ganhar dinheiro do laboratório e o advogado é pago pelo

laboratório.

Só nos falta dizer que o seu filho é doente ou que o médico está lá

atendendo para ganhar dinheiro às custas de algo, quando, na verdade, estamos

vendo quem está retirando dinheiro de forma escusa.

Quero dizer a todos que o Sindicato Médico do Rio Grande do Sul enxerga

com muita clareza o que está se passando, não somos de deixar as coisas do jeito

que estão, brincam comigo ao perguntar qual o caso que estou criando agora.

Mas é impossível ficar quieto diante de tais coisas, temos que ir para a briga

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mesmo, não existe outra maneira.

O sindicato vê com muita simpatia o trabalho que vocês e outras

associações desenvolvem e estamos à disposição no que pudermos colaborar, não

estamos ganhando dinheiro de ninguém para fazer isso e eu imagino que vocês

também não.

Estamos à disposição no que for preciso e contem conosco.

O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Quero agradecer a presença

do Dr. Paulo de Argollo Mendes, presidente do Sindicato Médico do Rio Grande do

Sul.

Estamos encerrando a reunião da subcomissão, faremos a próxima na

Câmara Municipal de Vereadores de Pelotas, na outra sexta-feira, às 17 horas, onde

ouviremos a comunidade local.

Ao final dos trabalhos da subcomissão, vamos propor à Comissão de Saúde

e Meio Ambiente da Assembléia Legislativa, depois de ouvidas todas as entidades,

representantes, conselhos, sindicatos e pacientes, fazer uma grande audiência

pública com a presença do Secretário de Estado da Saúde, que é a autoridade

responsável por nos oferecer a resposta a essas demandas que toda semana se

acumulam e que nós, aqui, modestamente com a nossa limitação, estamos tentando

contribuir para solucionar.

Esperamos que nesta audiência pública possamos receber o secretário e

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que possamos com ele presente reiterar todas essas manifestações dos pacientes,

dos familiares, das entidades, do Ministério Público, do sindicato médico e de todos

que por aqui têm passado para contribuirmos com uma melhor qualidade de vida

neste Estado.

O senhor não estava no início quando eu registrei que esse é o objetivo

dessa subcomissão, não temos a pretensão de resolver um problema tão complexo

e grave apenas no âmbito da Assembléia Legislativa, mas temos a pretensão de

trabalhar conjuntamente com os outros deputados para que isso não seja uma

política de governo transitória, passageira e ocasional, mas uma política de estado.

A saúde tem que ser uma política de estado e permanente, temos que

trabalhar para que, independente de quem seja o governante ou a facção política

que governa o estado, este seja um tema prioritário, porque envolve a vida das

pessoas, que é o bem maior que temos aqui.

Vamos propor à Comissão de Saúde esse debate e quero convidar a todos

a continuar conosco nas próximas reuniões, sempre às terças-feiras, às 17 horas,

neste plenarinho. Muito obrigado a todos.

DATA 18/05/2007: O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Em nome

da Assembléia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul, cumprimento a todos

que prestigiam esta audiência pública, a primeira interiorização da Subcomissão de

Medicamentos Especiais e de Uso Contínuo, da Comissão da Saúde da Assembléia

Legislativa.

É importante para todos nós começarmos o trabalho de interiorização desse

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tema tão relevante para a vida dos gaúchos aqui de Pelotas e da Zona Sul. Em

nome da subcomissão que tenho a honra de coordenar, agradeço a presença de

todos. É importante termos aqui o maior número de manifestações, porque

queremos proporcionar, permitir, oferecer à comunidade regional a possibilidade de

discutir abertamente com Assembléia Legislativa esse tema para que possamos, ao

lado da população, ao lado da comunidade, transmitir ao governo essa sensação

que levaremos daqui.

Queremos colaborar para que esse tema, que é tão importante para vida de

tantas pessoas, possa ser tratado definitivamente, aqui no nosso Rio Grande do Sul,

como um tema de Estado, não um tema eventual e que, de vez em quando surge,

aparece. Quando é notícia ou é destaque, é lembrado e depois esquecido.

Nós, deputados estaduais, desejamos que esse seja um tema de Estado.

Que seja como a segurança, como a educação, e que possamos claramente dizer

aqui: medicamento não pode faltar. Em alguns momentos pode-se esperar para

tomar uma medida administrativa, ou para fazer uma obra, ou para construir uma

sala de aula. Entendemos que a medicação deve ser fornecida, entrega, oferecida

às pessoas que precisam, com regularidade, porque esse é um direito. Portanto,

estamos começando o trabalho com esse espírito.

Está aqui o deputado Pedro Pereira, bravo representante dessa região do

Estado na Assembléia Legislativa, autor da proposta que foi aprovada por

unanimidade, para que iniciássemos o nosso trabalho em relação a esse tema aqui

na Zona Sul. É graças ao deputado Pedro Pereira que estamos aqui. Foi dele o

insistente convite, o insistente apelo, o insistente pedido para que pudéssemos,

aqui, ouvir a comunidade e também oferecer a possibilidade de manifestação.

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Saúdo o deputado Pedro Pereira que, além de tudo, é médico. O único médico entre

os 55 deputados estaduais que exercem mandato no Rio Grande do Sul. Por isso a

sua presença nessa subcomissão é ainda mais importante.

Saudamos o vereador Otávio Soares, presidente da câmara municipal, que

nos cede esse espaço. A presença do vereador nos orgulha e nos alegra.

Agradecemos a presença do presidente da Associação dos Ostomizados,

Amigos e Familiares, Isaac Bento; do presidente da Associação dos Transplantados

de Órgãos – Astradoc –, Sr. Jorge Silveira; da vice-presidente da entidade que

congrega, ou representa os portadores do Mal de Parkinson, Sra. Ziloá Silveira

Ferreira, aquela figura querida e simpática que está ali e, para minha alegria, tem

ligação com Passo Fundo, minha terra; da representação da OAB com seu conselho

de direitos humanos, tão importante para nós; do presidente do Conselho Regional

de Saúde, Luiz Guilherme Belletti; do presidente do Conselho Municipal de Saúde

Francisco Neto de Assis; da representante da Universidade Católica de Pelotas,

diretora da Faculdade de Farmácia, Iraci Pacholski; do professor de Farmácia da

Universidade Católica de Pelotas, Ricardo Ricci Falchi. A presença de todos é muito

importante para nós.

Vamos procurar ser o mais objetivo possível e muito informais. Queremos

conceder a todos a possibilidade de se manifestar.

Sou o deputado Luciano Azevedo, modesto representante de Passo Fundo

na Assembléia Legislativa e tenho a tarefa de coordenar este trabalho da

Assembléia.

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Trabalharemos de forma muito informal, pedimos que todos se manifestem,

sejam objetivos nos seus relatos. Queremos ouvi-los e registrar o que será dito.

O SR. PEDRO PEREIRA (PSDB) – Colega deputado de Passo Fundo,

presidente desta comissão, Luciano Azevedo; presidente desta Casa, grande

batalhador, Otávio Soares; demais presentes já citados anteriormente; senhores e

senhoras.

É um prazer estar aqui, como médico e deputado, oriundo desta região do

Canguçu. Tenho certeza que a grande maioria de vocês têm raízes ou parentes em

Canguçu. Quando foi feito um levantamento, há anos, mais de 20 mil canguçuenses

haviam se deslocado para cá a procura de emprego, pela proximidade, pela pujança

de Pelotas. Temos um grande carinho por essa terra.

Eu me formei aqui em 1982. Devo muito a Pelotas que me deu uma

faculdade de Medicina, um curso gratuito de 1977 a 1982. Isso jamais vou esquecer.

Na última eleição, sem comitê, sem nada aqui, deu-me mais de 2 mil votos. Tenho

um carinho especial por essa terra e quero retribuir com trabalho.

Hoje de manhã, estive na colônia Maciel, num pleito da comunidade para

instalação de segundo grau, na escola Garibaldi. É um pleito nosso, dos vereadores,

do prefeito, da comunidade. Como deputado, temos essa facilidade de

encaminharmos e estamos colaborando com aquela comunidade, nos somando.

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Estamos aqui para falarmos de medicamentos de uso contínuo. Eu, como

médico, sei melhor do que ninguém, o sofrimento de quem é portador de patologias

que necessitam deles.

Quando o deputado Luciano Azevedo mandou para Casa o pedido da

criação de uma subcomissão na área de saúde, pediu para esclerose múltipla, uma

patologia grave. Conversando, tivemos a idéia de estender uma pouco mais,

colocando outras patologias. De pronto, o deputado Luciano e os demais deputados

aceitaram. Incluímos, além de esclerose múltipla, fibrose cística, lúpus, anemia

falciforme, hepatites crônicas, Mal de Parkinson, Mal de Alzheimer, ostomizados e

transplantados.

Em Pelotas, há em torno de 500 ostomizados e 8 mil transplantados. Se

pegarmos todas as patologias e analisarmos, a situação é grave. A função dessa

comissão é ajudar, pleitear junto ao governo do Estado, ao governo federal para que

não faltem medicamentos, porque são de uso contínuo, caros – há casos de

despesas de até 8 mil reais mensais – e as pessoas, na sua grande maioria, não

têm poder aquisitivo para isso. Se fosse um mês, fariam sacrifício, venderiam um

carro ou um imóvel. Continuado, como vão manter?

A função da nossa comissão é árdua. Apesar de sabermos da crise do

Estado, que é uma situação terrível.

Em relação à saúde, a lei estabelece é um direito de todos e um dever do

Estado. É preciso que lutemos para isso. Fomos eleitos exatamente para isso.

Faremos de tudo. Já convidamos, no encerramento dos trabalhos no final de

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junho, secretário de Saúde Dr. Osmar Terra, para uma reunião final, onde

entregaremos o relatório final a ele e cobraremos dele para que tenhamos – se não

totalmente resolvido – pelo menos amenizada essa situação.

Por exemplo, o laboratório Lafergs fechado há mais de dois. Claro que este

laboratório não fabrica medicamentos especiais, mas ajudava nessa situação. Não

entendemos direito isso.

Agora, estamos fazendo um convênio com a Fiocruz para que o Estado

possa fabricar em torno de 51 medicamentos, que dará uma ajudada para nós. Mas,

não é o ideal.

Queremos no futuro próximo que o Estado tenha condições de suprir em

torno de 80% ou 90% de medicamentos de uso contínuo. Se não puderem fabricar

os remédios, que se compre, mas não falte. Claro, sabemos que é difícil, muitos são

importados e os preços são altos. É preciso que haja alguma maneira em relação a

isso.

Saúde é fundamental, sempre digo isso. Não adianta ser jovem, ser bonito,

não adianta casa, não adianta carro, não adianta nada, se não tivermos saúde.

Ninguém está livre disso.

Só se dá valor a doença, quem já passou por pela doença, ou como eu que

sou médico e vivo há 30 anos no hospital. É necessário que cada um de nós

façamos a nossa parte.

Nós, como deputados e como partidários da nossa governadora, o deputado

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Luciano Azevedo faz parte da nossa coalizão, faremos tudo que for possível para

resolvermos o problema. Caso tenhamos de ir até o impossível, iremos até lá. Se

não for resolvido totalmente o problema, mas, pelo menos, amenizarmos o

sofrimento dos nossos queridos homens e mulheres enfermos e mais

particularmente na nossa pobre Metade Sul, que era tão abandonada e esquecida.

Apesar da crise, já está havendo alguns avanços.

Citaremos dois, por exemplo, conseguimos liberar uma verba de 4.800 reais

para 265 reais para Canguçu e São Lourenço, 12 milhões de reais para 471 reais

para que a obra seja realizada entre Encruzilhada que ligará o Norte do Estado ao

Porto de Rio Grande. Começou a duplicação da estrada entre Rio Grande e Cassino

e há outros projetos.

Estou indo a Brasília, mais uma vez, na quarta-feira, faço parte, como único

médico, da representação da Assembléia Legislativa na comissão para salvar os

hospitais filantrópicos, são 239, e já foram fechados 16 hospitais. Não queremos que

feche mais nenhum. Pelo contrário, queremos reabrir os fechados. Há poucos dias,

foi fechado o hospital do Morro Redondo, foi feita uma peleia, e foi reaberto. Foram

reabertas internações. Queremos que sejam reabertos os blocos cirúrgicos e o Raio

X funcionando. Mas, a luta não terminou.

Quando me formei aqui, Sr. Presidente, havia seis hospitais em 1982 na

cidade. Hoje, quatro.

Vocês se deram conta disto: havia o hospital Santa Tereza e a Olívia Leite.

Dois já fecharam.

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Quanto aumentou a população de lá para cá? Em vez de aumentar o

número de hospitais, foi reduzido, de seis existem somente quatro. E mal das

pernas, é bom que se diga.

Queremos lá defender a nossa região, a nossa Pelotas, que é aqui onde

desafoga. Quando complica em Canguçu, em Jaguarão, em Santa Vitória e em São

Lourenço, corre-se para os hospitais de Pelotas. Temos de estar alertas e

ajudarmos a nossa Pelotas e a nossa Metade Sul.

É com alegria que estamos aqui.

Esta reunião será muito proveitosa. Vamos aprender com vocês isso.

Queremos contribuir para que possamos amenizar o sofrimento das pessoas

necessitadas. Muito obrigado.

O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Agradecemos a palavra do

deputado Pedro Pereira, que se manifestará novamente no final da reunião.

Gostaríamos de ouvir a mensagem do presidente da Câmara, vereador

Otávio Soares. Em seguida, passaremos a palavra às entidades que estão inscritas.

E também as outras pessoas presentes que desejarem se manifestar sobre o tema

que nos traz à zona sul.

Concedo a palavra ao Sr. Otávio Soares.

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O SR. OTÁVIO SOARES – Prezado, deputados Luciano Azevedo e Pedro

Pereira.

Quero ser iluminado para externar aqui algo que com certeza a comunidade

sente.

Falei ontem numa reunião, dirijo-me ao deputado Pedro Pereira porque

sabe da situação da Metade Sul. Outrora, esquecida, abandonada, de uma forma

letárgica sem esperança. Ontem, eu dizia numa reunião de uma comissão da

Assembléia Legislativa.

Hoje pela manhã, participei de outra reunião da Assembléia Legislativa;

agora participo de uma subcomissão, desta Casa, na demonstração eloqüente que

os representantes do povo do Rio Grande cruzam o Estado, como é o caso do

deputado Luciano Azevedo, que vem de Passo Fundo, que é deputado gaúcho, para

juntar-se com o deputado Pedro Pereira para nos auxiliar.

Então, para nós que estávamos sofrendo um processo de asfixia – não sei

qual seria o termo certo na linguagem da medicina. Vocês servem como a

oxigenação, devolvendo-nos a esperança que o nosso amanhã não será tão

sombrio. E que no horizonte a expectativa de novos dias para recobrar a esperança

de pessoas como os lutadores – que vejo aqui dos ostomizados, transplantados,

enfim que conseguem fazer caminho caminhando, construindo a estrada com seus

próprios passos e não esmorecendo. Lutando, lutando, lutando, conquistando e

abrindo espaços.

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Vejo nas pessoas do Dr. Assis e do Beletti, presidente municipal, regional

dos conselhos da saúde e de todos os senhores que aqui estão presentes, como

deputados, pessoas que estão certamente ansiosas para dizer também das suas

vicissitudes, das suas agruras e das suas necessidades. Mas, acima de tudo, para

dizer que nós – falo na condição de presidente deste Parlamento municipal – somos

gratos a esta legislatura pela nova imagem que a Assembléia Legislativa do Estado

do Rio Grande do Sul adquire indo ao encontro das aspirações e das reivindicações

de todo o povo do Rio Grande, inclusive desta nossa Metade Sul tão esquecida e

tão carente. Muito obrigado.

O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Agradecemos a mensagem

do presidente da Câmara de Vereadores, vereador Otávio Soares. Iniciamos o

trabalho propriamente dito da nossa subcomissão.

Se alguém quiser se manifestar sobre esse assunto, teremos muito prazer

em ouvi-los. Ao final da reunião, se alguma pessoa quiser se manifestar, não há

nenhum problema. Estamos exatamente para isso, com toda a paciência e calma. O

importante é que possamos colher os relatos aqui e levá-los para Assembléia

Legislativa.

Concedo a palavra ao Sr. Isac Vitoria Bento. Amigos e familiares, Sr. Isac

Bento, que nos dá a honra da sua presença e fará um relato sobre as condições que

existem no município de Pelotas e da região da Zona Sul

O SR. ISAC VITÓRIA BENTO – Boa tarde meus amigos e companheiros,

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primeiro eu gostaria de me reportar à mesa e fazer um agradecimento todo especial

ao nobre vereador que conhece a nossa causa há muito tempo, há

aproximadamente um ano ele viu o nosso sofrimento.

Não tínhamos do Estado e do município nem bolsa para ser usada, muito

menos qualquer outro material similar para usarmos como ostomizados.

Depois de uma grande campanha e um fortalecimento desta Casa aqui

estou, fomos a Porto Alegre falar com o Secretário Terra, não fomos muito bem

recebidos, na época, não vou dizer que fomos feitos de palhaços, mas brincaram

conosco naquela oportunidade.

Felizmente, com o nascimento de uma câmara técnica em Porto Alegre, a

qual nos convidaram para fazer parte, a partir disso conseguimos alguma coisa.

Hoje temos algum material, não temos tudo, conforme um relato escrito o

qual passei uma cópia para o deputado e trouxe uma para o Secretário Municipal de

Saúde, que não está presente, mas levarei a ele.

Nesse documento eu me reporto da seguinte maneira: A saúde é um direito

fundamental do ser humano, devendo a União, o Estado e o Município prover as

condições indispensáveis em seu pleno exercício. Sem esses três juntos a nós,

dificilmente conseguiríamos alguma coisa.

Felizmente, hoje temos politicamente um nobre edil pelotense, um nobre edil

de Passo Fundo, onde morei por seis anos e um nobre edil de Canguçu, que muito

bem tem representado a nossa região.

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Nós, da Assofan, não representamos Pelotas simplesmente, atendemos a

todos os municípios da 3º Coordenadoria, ou seja, 22 municípios da região.

Dentro da coordenadoria, depois de um grande esforço, conseguimos entrar,

somos as pessoas que fazem a distribuição do material a esses municípios com um

serviço totalmente voluntário.

Gostaríamos de colocar o atendimento que, para nós, ostomizados, faz falta,

não só no que se refere às enfermeiras mas outras pessoas, como médico

proctologista, psicóloga, nutricionista, gastroenterologista e um urologista, que não

temos dentro do programa municipal.

Não é só o ostomizado que tem problemas, também os ileostomizados e

urostomizados.

Gostaríamos de obter um apoio melhor dentro do programa, das reuniões

mensais que temos e que não estão sendo realizadas, precisamos que aumentem a

quota e depois deste ano de peleia e conseguimos que o material viesse, porém

veio em pouca quantidade.

Precisaríamos dos protetores de pele, que não têm vindo, não adianta ter a

bolsa para colar junto à pele se a nossa pele na barriga não tem aquela resistência

da outra parte que tínhamos.

Precisamos que aumente novamente a quantidade que está vindo, que são

seis peças para aqueles ostomizados que usam um tipo de material e 20 peças para

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os outros que usam outro número que seriam as bolsas fechadas, as quais não se

pode usar uma vez por dia.

O ostomizado, muitas vezes, apresenta problema de acidez que causa

diarréia e esta descola a placa deixando a pessoa desprotegida em qualquer lugar,

como já ocorreu comigo.

Fui jantar e tive que disparar do restaurante, porque, infelizmente, em

Pelotas ou em qualquer lugar do Estado não há banheiros em condições para nós,

não seria muito difícil, mas não existe.

Tive que chamar um táxi e este não quis me levar por que eu estava com as

fezes escorrendo pelo lado, tive que caminhar até encontrar um táxi de um

conhecido que me levasse para casa.

É uma estupidez, mas é a nossa necessidade, precisamos desse material,

porque isso acontece e ostomizado de hoje está aí mês a mês.

No mês passado, só em Pelotas, aumentou 5% em um mês, eram 197, hoje

são 205 só no município, o restante dos 21 municípios perfazem mais de 490

ostomizados, isso é crescente e ninguém vai a televisão, ninguém faz um programa.

Estávamos esquecidos, ninguém falava nisso, a não ser nós, quando nos

mobilizamos, a não ser os representantes desta mesa, nenhum programa de

televisão nos procura porque sabe que somos problemáticos, que iremos dizer o que

sentimos, que vamos mostrar a discriminação que existe, além de sermos nós quem

nos discriminamos, os outros também nos discriminam.

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Muito obrigado, seria isso que eu queria colocar, já passei ao nobre

deputado um pequeno relatório com as minhas solicitações. Obrigado.

O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Agradecemos a manifestação

do presidente da Associação dos Ostomizados.

Quando faltar um minuto para o tempo estabelecido terminar, sinalizaremos.

Repito que todos os que desejarem se manifestar no final, por ter deixado de

falar alguma coisa, não se preocupem, não será por falta de tempo que deixaremos

de ouvir a todos, voltaremos a ouvir, se necessário for.

Registro com muita satisfação a presença da presidente do Conselho

Municipal de Saúde de Capão do Leão, Isabel Chagas, seja bem-vinda.

Saúdo também a presença da imprensa, além da TV / Câmara Municipal,

aqui de Pelotas, contamos também com a presença da TV/Assembléia, da RBS TV

e do Diário Popular, todos são muito bem-vindos, pois nos ajudam a amplificar essa

luta e a fazer aquilo conforme o Sr. Isac disse, que é transmitir, mostrar e relatar

com fidelidade esse problema que é de tantas pessoas.

Ouviremos o presidente da Associação Sul-rio-grandense de Transplantados

e Portadores de Doenças Crônicas – Astradoc, Sr. Jorge Silveira.

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O SR. JORGE SILVEIRA – Muito boa tarde, obrigado pela oportunidade, Sr.

Presidente e Srs. Deputados.

Eu acho que o meu companheiro Isac já se emocionou falando a respeito

das dificuldades.

Nós representamos os portadores de doenças crônicas da região sul,

independente de qual patologia.

A Astradoc procura fazer um elo de ligação entre o usuário de

medicamentos especiais cedidos pelo Estado e o governo para que essas pessoas

adquiriam sua medicação em dia, porque isso é imprescindível à vida.

Eu digo nós, porque eu sou transplantado renal, uso uma enorme

quantidade de medicamentos e preciso desses medicamentos para manter o meu

órgão funcionando, porque foi um irmão que me doou e não vai me doar outro.

Hoje eu não irei falar das dificuldades que nós, portadores de doenças

crônicas, temos, que são inúmeras, mas como aqui estamos nos detendo no

assunto da falta de medicamentos especiais, eu trouxe uma prova de que não está

faltando tanto medicamento assim, se esses são sobra, então não há tanta falta.

Acho que está havendo uma falta de controle da racionalização na

distribuição desses medicamentos. A Astradoc existe há três anos.

Estamos trabalhando há dois anos. Durante um ano houve dificuldade em

ter acesso à Secretaria Estadual de Saúde porque dependemos do Estado para

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obter o medicamento.

Quando falo nós, quero dizer todas as pessoas que recebem medicação do

Estado, ou seja, 4.500 pessoas em média em Pelotas e 8 mil pessoas em média na

Região Sul. Levamos, durante um ano, essa dificuldade de ter contato com a

Secretaria Estadual de Saúde para obter respostas e foi muito difícil. Depois de

muita insistência, o nobre vereador aqui sabe bem dessa luta. Então, conseguimos

ter acesso à secretaria e começamos resolver os problemas.

Durante o governo passado, tentamos de várias formas e maneiras levar um

projeto elaborado por nós de apoio ao Estado a fim de fazer a distribuição e controle

da medicação. Infelizmente, não obtivemos atenção adequada. O governo sabe

como fazer e fará sem ajuda de ninguém. Essa foi a impressão que ficou registrada.

Essa medicação aqui são de pessoas que recebem do Estado e acaba

sobrando. Se sobra esse tipo de medicamento, foi devido a má distribuição.

Isso serve para 10 pessoas e não para 4.500. Esse medicamento serve para

10 pessoas. O que sobrou dessas 10 pessoas nesse período de dois anos. Dessa

forma, foram repassando para a associação, se alguém precisasse disso, teriam

onde recorrer.

Temos aqui em mãos um documento carimbado e datilografado por uma

farmácia o valor desses medicamentos que estão aqui, nem todos estão aqui. É,

claro, que este valor é vendido no comércio. Neste valor, temos em torno de 22.400

reais.

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Se pegarmos 10 pessoas que necessitam de medicamentos e fizermos uma

média em torno de 4.500 pessoas, teremos aqui 10 milhões de reais.

Caso consideremos que o governo pague em torno de 50% do valor de

venda dos remédios, teríamos 5 milhões de reais. Isso será dividido em 2 milhões e

meio por ano de desperdício só em Pelotas – se algum economista precisar me

corrigir tudo bem. A grosso modo é mais ou menos isso.

Precisa ser feito urgentemente – viemos tentando há dois anos – que o

Estado tem que abrir as portas para os parceiros que queiram ajudar a fazer a

questão funcionar corretamente.

Nós, como associação, queremos somente o bem-estar das pessoas que

representamos. Não é por luxo.

Não sou candidato a nada e nem pretendo ser. Só queremos o nosso

remédio. Queremos chegar à farmácia municipal onde é distribuída a medicação e

recebê-la. Este mês está tranqüilo em conseguir a medicação, mas não quero esse

pensamento. Quero estar sempre tranqüilo.

As pessoas quando recebem a medicação, ele saiu feliz. Essa pessoa

recebeu o remédio. Será que no mês que vem esse paciente vai receber

novamente?

Mais uma vez, solicito aos senhores deputados que estão tendo essa

iniciativa – não sei se é em toda a cidade – mas em todas as regiões com certeza é

de procurar nos dar espaço para que o governo nos ouça. Nós queremos colaborar,

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porque se não tivermos a oportunidade de poder ajudar a receber o que é nosso,

quem é que irá fazer? É só o que a gente quer.

Lá na associação eu evito ao máximo falar para a pessoa procurar a justiça.

Nós evitamos, procuramos fazer o pedido administrativo, só que, infelizmente, às

vezes, não é possível por falta de diálogo, de oportunidade. Muito obrigado. Espero

que tenhamos mais oportunidades como esta para falar. Obrigado.

O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Nosso agradecimento ao

presidente da Associação dos Transplantados, Jorge Silveira. Passamos a palavra à

vice-presidente da entidade que representa os portadores e familiares do Mal de

Parkison, Ziloá Silveira Ferreira.

A SRA. ZILOÁ SILVEIRA FERREIRA – Represento a Associação dos

Portadores de Parkison. Somos uma associação ainda nova e usamos o termo que

o senhor falou, a gente faz o caminho, caminhando. Estamos caminhando atrás do

nosso objetivo que é ajudar a todas as pessoas portadores de Parkison. Nossa

associação, juridicamente, ainda não tem um ano, mas há quase dois anos estamos

nos reunindo e, aos poucos, as pessoas vão chegando, muitas demoraram a chegar

por falta de comunicação. Agora, dia 11 de abril, que foi o Dia Internacional do

Parkison, fizemos um trabalho de divulgação no calçadão divulgando a associação,

dando dicas e apareceu muita gente.

Iniciamos esse grupo com 4 pessoas e fomos indo, hoje estamos já com 50

associados. Não é fácil porque todas as dificuldades que as associações passam

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nós também estamos passando, principalmente com os medicamentos para as

pessoas mais necessitadas. Já estamos com uma caixinha porque nós fazemos

trocas, quando sobre de alguém esta pessoa traz o medicamento e vamos

distribuindo para quem precisa. Fazemos sempre uma reunião por mês e quem

precisa de remédio, tendo na associação a pessoa leva. Às vezes sobra em casa e

vamos juntando.

O objetivo da associação é ajudar a todos e inserir o doente na sociedade,

porque quem sofre de Parkison geralmente tende a isolar-se, a ficar dentro de casa.

Começamos a motivá-los para que viessem se juntar a nós, porque sozinhos não

fazemos anda, mas se nos juntarmos venceremos a batalha.

Graças e Deus, muita gente tem chegado e se oferecido para auxiliar.

Temos uma advogada que nos auxiliou no registro da associação, temos uma

psicóloga que toda as sextas-feiras fala com os pacientes, temos também

estagiárias de fisioterapia que fazem um trabalho em grupo, por sinal um trabalho

muito bom e todos adoram. Aqueles que vão lá voltam sempre. Iniciamos este

trabalho no ano passado e este ano estamos fazendo outra vez.

Dificuldades vamos sempre ter. Agradecemos muito o convite para vir aqui,

porque assim teremos oportunidade de ter algum auxílio, principalmente quanto a

remédios. Temos pessoas com muita necessidade, inclusive muitos não estão hoje

aqui até por problema de locomoção, mas estão sabendo da reunião e sabem que o

assunto aqui são os medicamentos, eles têm muita dificuldade. Aqueles que podem

vão levando, mas aqueles que não podem, e não podem, muitas vezes, até ir ao

médico. A associação pretende, conforme for aumentando os sócios, quem sabe

amanhã ou depois termos um médico da associação que atenda essas pessoas que

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têm necessidade.

É um trabalho novo que tem sido muito gratificante porque vemos que as

pessoas até melhoram no convívio, nos reunimos, fazemos até confraternizações,

eles gostam, participam, muitas vezes têm até dificuldades de locomoção, muitas

vezes com dificuldades até para falar, mas vão perdendo aquele medo de se expor.

Hoje mesmo tivemos uma reunião às 2 horas e um paciente foi a primeira vez que

foi e ele não conseguia falar, ficamos uma hora com a psicóloga e, no final, ele já

saiu falando, e saiu feliz. Muito obrigada.

O SR. EVALDO ANTUNES VIEIRA – Autoridades que compõem a mesa e

demais presentes meu cordial boa tarde.

A nossa associação é uma associação nova, foi fundada em outubro de

2006, e uma novidade em Pelotas. Temos trabalhado com afinco divulgando a

doença de Parkison, seus sintomas e as conseqüências que ela causa aos doentes.

Nosso problema maior é a questão dos medicamentos. Tem o tratamento

medicamentoso e o tratamento complementar, o tratamento complementar é a

fisioterapia, a audiofonologia, psiquiatria e terapia ocupacional. Esses trabalhos a

associação pode dar, já está fornecendo, mas o medicamento é o problema maior,

porque temos associados com salário mínimo, aposentado pelo SUS e não têm

condições de comprar os remédios, e o remédio não pode faltar, se faltar o remédio

a pessoa fica entrevada. Esse é o problema.

Estive me informando na farmácia do Estado sobre os procedimentos para

conseguir o remédio e me informaram que tinha que preencher uma ficha, levar para

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o médico, voltar com a ficha e dentro de 40 dias o remédio estaria à disposição. Mas

notei que muita gente chegava lá procurando o remédio e não tinha, ou tinha uns e

não tinha outros, e a Frolopa é o carro chefe do tratamento. Os remédios mais caros

são os que faltam primeiro pois chegam em menos quantidade. O que se percebe é

que há uma falta de medicamentos para distribuição. Esse é o maior problema.

Quanto à divulgação, a associação foi criada com a finalidade de atender

àqueles com maior necessidade e procurando proporcionar uma melhor qualidade

de vida. Obrigado pela oportunidade.

O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Nós é que agradecemos a

sua manifestação. Quero registrar a presença do 1º vice-presidente da Câmara

Municipal, vereador Ademar Ornel. Passo a palavra ao presidente do Conselho

Regional de Saúde, Luíz Guilherme Beletti.

O SR. LUIZ GUILHERME BELETTI – Boa tarde a mesa, cumprimento os

deputados por esta interiorização, sair de seus gabinetes e vir ouvir o pessoal da

regional. Isto é bastante interessante e espero que continua ao longo desse

mandato. Todos sabem o quanto é difícil nos deslocarmos até a Capital. Enquanto

Conselho Regional, a última reunião fizemos no município de Canguçu, a pedido do

prefeito e do pessoal do hospital, visto que o hospital de Canguçu tem uma clínica

completa, montada e parada há dois anos porque não consegue o credenciamento

por algumas normas exigidas que inviabilizam a abertura dessa clínica de

hemodiálise.

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Em termos de medicamentos, o que temos sentido como presidente do

Conselho Regional e também no Conselho Municipal é que, infelizmente, várias

pessoas, hoje, deixam de levar o alimento para a sua mesa, deixam de comer para

comprar o medicamento. Este é um quadro bastante crítico no nosso dia a dia.

Esperamos que a governadora e o secretário Osmar Terra manifestou isso na última

reunião do Conselho Estadual de Saúde que, a partir de 2008 cumprirá com os 12%

da emenda constitucional, se cumprir com esse 12%, com certeza teremos mais

recursos para medicamentos e irá abranger também os hospitais, como disse o

deputado Pedro Pereira, estão numa situação caótica e existe a promessa para, no

próximo ano, termos recursos novamente destinados aos hospitais.

O que lamento e esta Comissão precisa levantar, é a questão do LAFERGS.

Não dá mais para o LAFERGS estar fechado. Eu participei e fui o único usuário da

Região Sul da 1ª Conferência Nacional de Medicamentos, lá o então ministro

Humberto Costa, na época colocava que nós, no Brasil temos dezenove laboratórios

que são públicos ou pertencentes à universidades federais. Na oportunidade, desse

dezenove, quatro estavam totalmente fechados, com todo o maquinário para

produzir a medicação, mas totalmente fechados e, dos outros quinze somente

quatro estavam com a capacidade plena de funcionamento. Nos laboratórios

públicos temos capacidade de produzir uma quantidade bem maior de

medicamentos. Para isso é preciso que os deputados, que nós do controle social,

enfim, que a população em geral exija isso. Infelizmente no nosso País temos uma

influência muito grande das multinacionais que acabam dominando o mercado.

Achei interessante esta última medica presidencial cortando a patente do

medicamento da Aids e precisamos ainda cortar a patente de vários outros

medicamentos.

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Para concluir, precisamos ter um grande controle, precisamos melhorar

muito a regulação, assim como falta medicamentos para muitos pacientes que

deixam de comer para comprar sua medicação, também há medicações que

acabam sendo ociosas dentro do quadro.

Eu acompanho tanto a terceira coordenadoria como a própria farmácia

municipal e sabemos que algumas compras, muitas vezes, são feitas a mais no

quadro.

Hoje, têm vindo três pedidos de fraldas descartáveis para um paciente

apenas, sendo que, muitas vezes, nem todos os pacientes conseguem receber.

A regulação é um fato que a comissão precisa levar em conta, embora

estejamos inseridos em um novo processo de controle, a regulação de distribuição

de medicamentos no nosso Estado precisa ser melhorada. (Palmas)

O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Muito brigado Luiz Guilherme

Beletti, presidente do Conselho Regional de Saúde.

Vamos ouvir o presidente do Conselho Municipal de Saúde, que terá o

privilégio de falar no espaço do vereador Idemar Barz, em seguida ouviremos a

representante da OAB, Marleni Souza Bederode, a quem saudamos junto com a

Dra. Eliane Battisti, que está aqui conosco.

O SR. FRANCISCO NETO DE ASSIS – Como presidente do Conselho

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Municipal de Saúde estou aqui muito mais para ouvir e levar essas reivindicações

para a plenária do conselho.

Como voluntário de uma instituição quero me manifestar, embora não seja

usuário de medicamentos especiais, mas conheço aqueles usam, represento uma

instituição que atua há 9 anos basicamente promovendo a doação de órgãos, a

parte assistencial dos transplantados fica a cargo de Jorge Silveira, que já se

manifestou.

Estou nessa situação há 9 anos, eu perdi um filho esperando um transplante

e hoje chego a absurda conclusão de que, talvez, tenha sido melhor, ao ver a

situação daqueles que lutam em busca de medicamentos para preservar o enxerto

que receberam.

Fico pensando: Será que o meu filho merecia viver esse tipo de situação?

Talvez seja egoísmo da minha parte, mas às vezes eu chego a essa conclusão,

repito, que parece absurda.

É por conta dessa motivação que estou atuando na área de saúde como

voluntário e atualmente presidindo o Conselho Municipal de Saúde.

Dentro da ADOTE – Aliança Brasileira pela Doação de Órgãos e Tecidos,

temos uma preocupação muito grande com a hepatite C que é a principal causa de

indicação de transplante hepático no mundo.

No Brasil das 6 mil pessoas em lista de espera para transplantes, 70% são

derivadas da hepatite C.

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Amanhã, 19 de maio, é o Dia Internacional de Combate e Prevenção da

Hepatite C.

O que é preciso ser feito? A questão do medicamento é séria, porque o

tratamento de hepatite C custa na ordem de R$70 mil, se a pessoa tiver a sorte de

se encontrar num estágio tal da doença que o protocolo permita que se utilize o

medicamento.

A portaria 863 do Ministério da Saúde prevê que tem direito ao tratamento

da hepatite C aquelas pessoas cujo dano no fígado esteja avançado, quem está na

fase inicial não tem direito ao tratamento, a não ser entrando na Justiça e nós temos

orientado as pessoas a entrarem na Justiça.

Em Pelotas essa questão do medicamento para a hepatite C já está mais ou

menos resolvida depois da criação do CAMMI – Centro de Aplicação e

Monitoramento de Medicamentos Injetáveis, foi criado junto à universidade federal

graças a uma ação nossa juntamente com ela.

Para se ter uma idéia o nosso trabalho com a hepatite C começou em

agosto de 2005, naquela época havia 350 pessoas cadastradas no ambulatório do

fígado da Universidade Federal de Pelotas. Hoje, são 1.100 pessoas, sendo que 75

estão em tratamento sem nenhuma dificuldade para encontrar o medicamento. E os

que têm dificuldade são os que não atendem à portaria 863.

Em vista disso, a nossa principal reivindicação é para alterar essa portaria,

permitindo que todos, mesmo na fase inicial, tenham direito ao tratamento ou ao

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retratamento, caso não tenha dado certo a primeira terapia.

A hepatite C é um problema de saúde pública muito mais grave do que a

AIDS. Segundo estatísticas, reconhece-se que há 650 mil pessoas portadoras do

HIV, no Brasil, e 5 milhões de portadores de HCV, o vírus da hepatite C.

Em Pelotas, estima-se que há 5.000 a 6.000 pessoas portadoras do vírus da

hepatite C, mas temos conhecimento de apenas 1.100 doentes, ou seja 20% dessa

estimativa.

Daqueles que entram em contato com o HCV, cerca de 20% dos portadores

poderão cronificar num período de 15 a 20 anos. E, se não fizerem tratamento,

podem ir para a fila do transplante. Com esses dados, é muito provável que nos

próximos 10 anos a fila de transplante, que hoje tem de 5.000 a 6.000 pessoas, se

multiplique por 500. Com essas informações, podemos dimensionar o que

representa o problema da hepatite C, hoje.

A grande questão, a que o Jorge se referiu, talvez seja a distribuição, a falta

de regulação e o controle dos medicamentos porque há muitas perdas, desvios e o

abusivo preço por parte dos laboratórios.

O custo de 70 mil reais do Interferon Peglado, medicamento para o

tratamento da hepatite C, é um absurdo. Em outros países, o mesmo produto custa

dez vezes menos. Há algo de errado no nossa legislação ou na nossa maneira de

agir que propicia esse custo.

Essas eram as questões que eu queria colocar e agradeço a oportunidade

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que me proporcionaram para passar essas informações.

O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Agradecemos a manifestação

do presidente do Conselho Municipal de Saúde.

Antes de passar a palavra para a representante da OAB, Dra. Marleni Souza

Bederade, coloco a palavra, se quiserem fazer uso, ao presidente do Conselho

Municipal de Saúde, de Capão do Leão, e à Dra. Maria Valquíria Silveira,

representante dos portadores do Mal de Parkinson.

Quero fazer um agradecimento especial aos meus companheiros de partido,

aos filiados do PPS, do Município de Pelotas.

A SRA. MARLENE SOUZA BEDERADE – Cumprimento o Sr. Relator e

demais presentes.

A OAB, está representada pelos direitos humanos, por meio da minha

pessoa e da Dra. Eliane Battisti. Ficamos muito sensibilizadas e felizes por saber

que há pessoas interagindo em benefício dos portadores das doenças mencionadas.

Nos nossos escritórios, sabemos dos problemas que acarretam essas

doenças e tentamos fazer o possível para resolver as dificuldades dos nossos

clientes.

Muitas vezes uma liminar é deferida para concessão de um medicamento.

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Mas ocorre que não existe o medicamento e o processo pára. Me alegro por ver

essas pessoas reunidas na busca das soluções para o problema da falta de

medicamento.

A nossa comissão é nova e em uma das primeiras reuniões que realizamos,

na OAB, falei para a Dra. Eliane sobre a falta dos medicamentos de que conheço um

pouco até por motivos pessoais. Estou muito feliz por saber que há gente lutando e

nós nos colocamos à disposição na Comissão de Direitos Humanos da OAB de

Pelotas no que for possível, mas sabemos que, às vezes, não adianta intentar uma

ação se não existe o medicamento. A liminar é concedida pelo juiz, o advogado luta,

corre, não cobra nada, mas não adianta porque não há o medicamento.

Meus parabéns aos senhores. Meu respeito a todos que compareceram e às

autoridades presentes. Vamo-nos dar as mãos e lutar sempre. A Dra. Eliane e eu

nos colocamos à disposição e estamos empenhadas em tentar solucionar esse

problema. Obrigada.

O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Nosso agradecimento às

representantes da Ordem dos Advogados do Brasil.

Concedo a palavra à presidente do Conselho Municipal de Saúde de Capão

do Leão, Sra. Isabel Chagas, mas não mais a vejo aqui. Falará em seguida se

retornar. Concedo a palavra à advogada, representante dos portadores do Mal de

Parkinson, Dra. Maria Valquíria Silveira. Em seguida, vamos ouvir a Sra. Neuza

Beatriz.

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A SRA. MARIA VALQUÍRIA SILVEIRA – Sr. Presidente, muito boa-noite,

porque já está noite. Ao meu amigo Ademar Ornel, boa-noite; Sr. Presidente da

Câmara de Vereadores.

Falo em nome da Associação dos Portadores do Mal de Parkinson, que são

muitos. Inclusive o último papa, que era um papa gremista e brasileiro, era portador

do Mal de Parkinson. Alguém disse aí que o papa é gaúcho, e tinha de ser gremista.

Voltando ao tema dos medicamentos que nos traz aqui, o debate está

lançado. Sabemos, pela nossa vivência, que medicamentos há. Se estão ou não

disponibilizados, é diferente. O que temos que ter em mente é que a doença do Mal

do Parkinson é progressiva. Não há cura, não há volta. Começou, só tende a se

agravar. Se é uma doença progressiva, temos de tratá-la sempre, sempre. O não-

uso da medicação nos horários e nas dosagens estipuladas compromete a vida, ou

seja, o resto de vida que existe.

Então, sabemos que o Estado tem dificuldade, que o Município enfrenta

dificuldades, mas também enfrentamos dificuldades. Estamo-nos organizando e

tentando fazer a nossa parte de modo voluntário, dando a nossa contribuição para

melhorar essa situação e esperamos obter o respaldo necessário do Estado do Rio

Grande do Sul. Muito obrigada.

O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Também está conosco a Sra.

Neuza Beatriz, que é mãe da Ingrid, que possui alergia alimentar severa. A Sra.

Neuza tem tempo à disposição para se manifestar. Pediria às pessoas que depois

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desejarem se manifestar, façam sua inscrição com a assessoria da subcomissão.

A SRA. NEUZA BEATRIZ – Boa-noite a todos. Agradeço o espaço que os

senhores estão nos dando. Estou representando a Ingrid Arduin, portadora de uma

patologia grave. Alimenta-se por sonda a cada duas horas. Hoje tem uma

gastrostomia de um ano, desde que nasceu. Lutamos contra o Estado a cada mês

para ter o leite da Ingrid.

O valor do leite é 425 reais a lata. São 50 latas ao mês, o que dá em torno

de 21.250 reais. Ela esteve cinco meses internada, saindo do hospital sem ter direito

à dieta. Alimentava-se por água durante cinco dias. Neste mês, novamente lutamos

para não faltar sua dieta. Perante o juiz, a Dra. Neusa Ledesma, sua advogada hoje,

luta por ela desde 2005, e a gente não teve a demora da abertura do cofre para

buscar o dinheiro. No mês passado, tirei o dinheiro, porque muitos amigos a ajudam

com essa conta bancária. São 425 reais, comprei seis latas, e esse dinheiro é para o

seu tratamento, porque ela precisa de mais medicamentos.

Ela foi internada outra vez, ao aparecer uma outra doença intramuscular, a

extra- piramidal, que ataca os nervos. Nessa semana, ela ficou novamente dois dias

alimentando-se com água. É difícil um advogado dizer-me: aguarde, pois se trata de

uma criança que tem oito anos!

Como mãe, venho lutando há oito anos. Hoje, a vi se alimentar com água, é

difícil. E tem outros fatores, isso a impede de ir à escola e ter uma dieta de duas em

duas horas. É impossível chegar ao juiz, porque a burocracia existe. Estou lutando,

porque ela também luta. Tenho amigos que todas as vezes nos acompanham bem

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de perto.

Ela não está aqui, mas saiu da escola com fome. Nunca sabemos se, ao

chegar o dia marcado, teremos o leite no Estado. Durante 15 dias, procuramos e

começamos a diminuir o leite dela. É uma criança que se alimenta a cada duas

horas, são 24 horas por dia. Eu sou mãe, enfermeira, sou tudo dela. Não desisto.

Espero que vocês nos dêem uma força, que o Estado, no mês seguinte, lute

para ter esse leite, porque não é um medicamento, é um alimento e não tem outro

para ela se alimentar. Há oito anos, ela se alimenta desse leite, que é importado da

Inglaterra. Juntamente com a 3ª Coordenadoria, já tentamos uma empresa para nos

fornecer esse leite, mas nada conseguimos.

Peço a vocês que me consigam dez latas de leite para hoje. Até quando

durará esse alimento, não sei dizer. Não posso dar a ela a dieta prescrita: são 12

dietas ao dia. Com o representante, conseguimos uma liberação, mas ele também

não tem o medicamento de que ela necessita. Nunca sabemos o outro dia nem até

quando teremos esse alimento.

Sei que existe a Justiça, o bloqueio da conta do Estado. Não adianta mais

me mostrarem a Constituinte, a Lei do Adolescente. Onde está o direito da Ingrid,

como criança? Ela é apenas uma criança de oito anos que está cursando a 2ª Série

do Colégio!

Quando ela saiu do hospital, o que mais me pediu foi para ir a escola. O

Estado me proibiu que fizesse isso, porque ela tinha a fome e não poderia freqüentar

as aulas. Quem é mãe e pai sabe disso. Deus não a impediu de se alimentar como

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nós, e está presente conosco. Muito obrigada a todos pela atenção.

O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Agradecemos a presença da

Sra. Neuza Beatriz.

Ao chegarmos aqui, em Pelotas, vimos uma mobilização da comunidade

juntamente com os órgãos de comunicação para auxiliá-la.

Queremos colocar a Comissão de Saúde e Meio Ambiente, presidida pelo

deputado Alberto Oliveira, à disposição para que trate sobre esse tema. Tenho a

certeza de que o deputado Pedro Pereira, que é completamente vinculado aos

problemas da Metade Sul, levará o problema à discussão, na Comissão de Saúde e

Meio Ambiente, para que possamos oferecer a contribuição da Assembléia

Legislativa a essa questão.

Com a palavra o Sr. Félix Barbosa Filho, que é profissional liberal.

O SR. FÉLIX BARBOSA FILHO – Boa-noite a todos. Cumprimento os

componentes da mesa, na pessoa do presidente, deputados e pessoas presentes.

Na condição de cidadão e profissional liberal, agradeço ao Jorge, com o qual

aprendi, pois estamos na mesma luta, ele no lado dos dependentes de uso contínuo

e eu na criação de uma instituição que acho que nos complementaremos. Como

cidadão, acho muito pontual esta Comissão porque a saúde realmente está na UTI.

Nem tudo está perdido, a política está com sua imagem muito denegrida, mas não

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podemos generalizar. Esta proposta que vocês trazem é oportuna, agora tem que

ser, de fato, implementada, para não cairmos naquela mesmice que, através dos

tempos, sabemos que o assembleísmo e muito discurso é bonito, agora, temos que

partir para a prática de fato.

Me solidarizo com todos os cidadãos aqui, representantes das instituições

do terceiro setor. Segundo me consta a governadora, dentro das dificuldades que

está, tem olhado com muitos bons olhos o terceiro setor. O Jorge coloca muito bem,

os senhores têm que abrir esta porta de oportunidades para nós. Eu, embora não

seja dependente, me solidarizo porque uma instituição que estou tentando construir

para dar apoio a pessoas carentes de baixa renda, sem visão política, partidária nem

ideológica e sim uma política e uma ação social e assistencial.

A oportunidade é marcante, a crítica é perfeita, perdoem-me a franqueza,

srs. deputados, mas acho que é por aí que vamos começar a mudar este País,

quando houver esta interação e esta franqueza olho no olho e nós cobrarmos de fato

aquilo que é responsabilidade não só dos senhores como das câmaras de

vereadores, a representação que é dita. A gente confia na palavra de vocês e

acredita-se que esse sangue novo, e digo sangue novo porque são novos que estão

chegando lá, comprem esta idéia com a devida magnitude, dignidade e o caráter

que estão voltados, porque sabem que o nosso povo está cansado de ouvir

discursos, e não sou eu, a história conta.

Estou há quarenta anos na luta, dividindo 20 de regime militar, 20 de

redemocratização e 4 de inclusão de um partido que falava na inclusão, e

crescemos a 1%, com todo o respeito ao Haiti, alguma coisa está errada nisso aí, ou

não temos o devido envolvimento e a cidadania, ou quem nos governou até então,

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pecou ou usou isso simplesmente como discurso de formação de palanque eleitoral.

Cumprimento mais uma vez esta comissão e espero que sejamos ouvidos.

Deixo uma mensagem de solidariedade a todas as instituições, pois acho magnífico

este trabalho, isento de qualquer tipo de pretensão e sim de solidariedade cidadã

com os nossos companheiros. Obrigado.

O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Agradecemos sua

participação. Passamos a palavra para o representante da Associação dos

Ostomizados, Amigos e Familiares Clair Barboza.

O SR. CLAIR BARBOZA – Boa noite a todos, acho que todos aqui estamos

reunidos por uma só causa, tanto faz transplantados, customizados, mal de

parkison, queremos resolver a situação. Também temos que entender o outro lado,

que é uma burocracia, leva-se mais de 15 dias, após uma licitação, após um

processo de licitação, para que o Estado efetue a compra. E depois da compra leva

mais quantos dias? Vem da Inglaterra, tem que passar pela Anvisa, tem que passar

pela Polícia Federal, pela Receita Federal.

Já nem chamo de burocracia e sim de burrocracia. Só para resumir, acredito

que o que todos os presentes falaram e reafirmaram, é que para solucionar é

preciso um aglutinamento de ações. Que os ostomizados, transplantados,

portadores de mal de Parkinson, profissionais, membros dos serviços de saúde,

conselhos e gestores possam agir harmoniosamente embuídos de que só o avançar

será benéfico. Ainda existem situações setoriais que devem ser urgentemente

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enfrentadas a fim de melhorar o atendimento a todas essas pessoas portadoras de

deficiências ou doenças crônicas.

Para isso há a expectativa de que agora, por derradeiro, possamos

conseguir o solicitado. Agradecemos a atenção e a receptividade desta audiência.

Muito obrigado.

O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Agradecemos a presença do

representante da Associação dos Ostomizados, Sr. Clair Barbosa.

Concedo a palavra ao vereador Ademar Ornel, 1º vice-presidente da

câmara, figura importante aqui da comunidade.

O SR. ADEMAR ORNEL – Saúdo os deputados que nos honram com sua

visita em nossa cidade.

Demonstram, acima de tudo, o compromisso político de homens públicos

com as causas que nos são muito próximas, no caso os problemas de saúde aqui

debatidos.

Queremos saudá-los pela atenção, carinho com que ouviram as

dificuldades, angustias e esperanças de nossa gente.

As pessoas presentes têm nos procurado constantemente, trazendo suas

preocupações. Temos ido em verdadeiras caravanas, buscando a atenção da

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secretaria da Saúde, mas não temos obtido a atenção que o caso merece.

Lamentavelmente o secretário conduzido ao cargo parece pouco sensível

aos problemas das doenças crônicas. Só apresenta números e números e pede

paciência, mas as pessoas estão com a vida em jogo, não podem ter paciência.

Para todas as pessoas que aqui estão é muito importante este debate com o

Parlamento gaúcho. Levem de Pelotas este sentimento que temos e também a

esperança de que poderemos melhorar a situação.

Já falamos isso ao secretário, quando esteve em Pelotas, mas dados

estatísticos não solucionam os problemas. Os números são muito frios, sentimo-nos

tocados quando passamos por uma situação real, quando é com um parente da

gente, isso vale muito mais do que um número.

Quero dizer que, como vereador de Pelotas, sinto-me honrado em ver dois

deputados virem aqui em busca de soluções para o nosso povo. Que Deus abençoe

a cada um de vocês e que em outro momento possamos comemorar a solução

desses problemas. Muito obrigado.

O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Agradecemos a presença

importante do vereador Ademar Ornel nesta audiência pública da subcomissão,

prestigiando a Assembléia Legislativa, com a participação também do presidente da

Câmara de Municipal de Pelotas, Otávio Soares, trazendo o prestígio e a

experiência desses líderes que convivem, há tantos anos, com essas questões

importantes para a comunidade local.

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O SR. PEDRO PEREIRA (PSDB) – Sr. Presidente, estou feliz por estar aqui

e, ao mesmo tempo, angustiado com os relatos, pois, como médico, já tinha ciência

da situação grave em que nos encontramos neste momento.

Tenho um ditado que costumo usar muito: no momento em que me elegi

deputado, o meu partido passou a ser partido da Metade Sul do Estado, até porque,

se partido fosse bom, já dizia alguém inteligente, não seria partido seria inteiro.

O nosso compromisso é lutar ao lado de vocês. Sabemos da situação do

Estado. A governadora é uma pessoa sensível. Pegou o Estado falido. Não vamos

culpar ninguém, até porque essa situação já vem de 25 a 30 anos. Ela está tentando

fazer sobrar dinheiro, e há duas medidas fundamentais sendo tomadas em

conseqüência disso.

Para os senhores terem uma idéia, hoje, a folha de pagamento absorve 85%

da receita líquida do Estado, 50% com os aposentados e 50% com os ativos. Os

aposentados não têm culpa. Trabalharam, contribuíram e merecem ser tratados com

respeito, e serão. Só que nenhum governo criou um fundo para pagá-los, e o rombo

estourou agora.

Temos uma dívida grande com o governo federal: 17% da receita líquida vai

para a União. Esse dinheiro gira em torno de 200 milhões de reais. O que o Estado

está fazendo? Duas medidas fundamentais estão sendo tomadas para fazer sobrar

dinheiro.

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Atualmente, sobram 15% da receita líquida para investimentos. Só a área da

saúde, por lei, exige 12% da receita líquida do Estado. Vamos cumprir o resto como,

se temos ainda as áreas dos transportes, obras, educação, agricultura e turismo a

atender? O que a governadora está fazendo? Conseguiu um milhão de reais para

renegociar a dívida federal e reduzir a parcela do governo federal. O governo do

Estado venderá algumas ações do Banrisul, a fim de criar um fundo de

aposentadoria. Só assim sobrará algum dinheiro.

Ela sabe que a saúde é fundamental e tem dito isso claramente. Estamos

cobrando, e a prova disso é que bati de frente com o secretário, há poucos dias,

quando, de forma arbitrária, fechou o Hospital do Morro Redondo. Fizemos reabri-lo

na pressão. Como médico, a gente sabe melhor do que ninguém o que significa o

sofrimento. Por isso, queremos lutar, noite e dia, ao lado de vocês. Vamos fazer,

sim, sobrar dinheiro.

São três áreas fundamentais: saúde, educação e segurança, mas a saúde é

a mais fundamental delas. Já disse isso na minha manifestação anterior. Sem

saúde, não se chega a lugar nenhum. Quando se vê uma mãe fazer um desabafo

desses, há que se ter sensibilidade. Queremos lutar mais do que estamos lutando

para ajudar este Estado, as pessoas doentes.

Nós teremos outra audiência, como já falou o deputado Luciano Azevedo. A

primeira foi na Metade Sul, a próxima será em Itaqui, na divisa com a Argentina, e

mais adiante iremos a Caxias do Sul, Santa Maria e Passo Fundo, para, junto com a

governadora e o governo federal, encontrarmos soluções.

Neste ano, o governo federal retirou do orçamento da Saúde 5 bilhões e 800

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milhões de reais. Isso é um horror. Nós temos que unir Município, Estado e União

para resolvermos o grave problema desta Nação maravilhosa.

Este País é maravilhoso, conheço quase todo o Brasil, participei de dois

projetos Rondon, morei em São Paulo cinco anos, quando me formei fui até o Acre:

todo o ano nós viajamos. Este é um País onde todos deveriam ter seu emprego, sua

casa, seu carro e seu plano de saúde, para não dependerem do SUS. Infelizmente,

acontecem as roubalheiras, os desvios de verba, e na saúde é onde mais desviam,

mais roubam. E o povo sofre com isso.

Contem conosco, vamos pelear como deputado, como médico, juntamente

com o deputado Luciano Azevedo, nesta Subcomissão. Sou membro titular da

Comissão de Saúde e faço parte da Comissão de Serviços Públicos. Não pude estar

aqui ontem, pois estava numa audiência com o secretário Osmar Terra em defesa

dos hospitais filantrópicos. Estive em Brasília e irei na semana que vem novamente.

Estamos ao lado de vocês.

Queremos agradecer o carinho de todos vocês, desta Casa, que nos recebe

de forma tão carinhosa. Também queremos agradecer os presidentes, os

vereadores, a imprensa, as entidades presentes e os funcionários da Assembléia,

que nos acompanham e são pessoas maravilhosas.

Chegamos lá, como marinheiros de primeira viagem e nos sentimos em

casa. Também quero agradecer, mais uma vez, a Pelotas. E a prova do nosso

carinho por Pelotas é o fato de ter comigo dois pelotenses em Porto Alegre: um lá e

o outro aqui. O Vicente Amaral cuida do meu escritório, na Salvador Mendonça,

entre Osório e Deodoro, e o Paulo Roberto Barbosa está em Porto Alegre conosco.

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Temos um grande compromisso com esta terra, com esta Metade Sul que

amamos e respeitamos tanto. Como disse o vereador Ornel, que Deus nos dê

saúde, nos proteja, pois com essa chance tenho certeza que faremos tudo para

amenizar e reduzir o que for possível do sofrimento de milhares de gaúchos,

especialmente de milhares de pelotenses, canguçuenses, leonenses, riograndinos,

bem como de milhares de irmãos nossos da Metade Sul, da nossa pobre mas muito

querida e respeitada Metade Sul. Se antes não a respeitavam, agora vão ter de

fazê-lo, pois, lá, tem um deputado que não tem medo nem de cara feia e nem de

tamanho.

Dizia na campanha que tamanho e cara feia não me metiam medo. Do

tamanho sinto falta, quando quero apanhar laranjas, pois sou do interior e tenho que

pegar algo para poder derrubar as laranjas. E cara feia, para mim, significa duas

coisas: ou fome, ou doença. Se for fome, damos comida, se for doença, receitamos

um remédio: eu sou médico.

Muito obrigado. Que Deus nos proteja, que Deus nos dê forças para

continuarmos nessa luta, que iremos vencer, sem dúvida nenhuma. Muito obrigado.

Se Deus quiser, teremos a oportunidade de vir aqui muitas vezes. Nós

estamos à disposição no escritório em Pelotas, no sétimo andar, assim como o

deputado Luciano Azevedo. Hoje, somos uma grande coalizão para ajudar o Estado

a encontrar um novo rumo e ajudar, porque é quem paga o vereador, o prefeito, o

deputado, o presidente. Somos empregados de vocês. Nós, políticos, devemos a

vocês, no mínimo, muito respeito. Devemos vir às bases dizer o que estamos

fazendo. Se for preciso nos xingarem, que nos xinguem. Se por preciso puxarem

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nossas orelhas, que puxem. Estamos ganhando um bom dinheiro. Quem achar que

é pouco, eu vá fazer outra coisa. Dá para se dizer que é um salário muito bom se

compararmos ao salário mínimo.

Muito obrigado. Se Deus quiser, esta audiência pública será de muito

proveito.

O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Desejo, de público,

cumprimentar o deputado Pedro Pereira que, na verdade, não exagerou. A zona sul

está muito bem representada na Assembléia Legislativa por seus representantes. O

deputado Pedro Pereira está entre eles, sempre valente, sempre brigador, sempre

atuante, sempre com posições firmes e muito claras. Ele tem sido para nós, que o

conhecemos a pouco mais de 90 dias, uma grata companhia e um parceiro muito

leal das boas causas do Rio Grande do Sul, especialmente feliz na sua reivindicação

quase obsessivo por fazer o início dos nossos trabalhos aqui pela zona sul. Eu lhe

dizia que tivesse calma, que iríamos a Pelotas e a outros Municípios da zona sul. Ele

insistia que a zona sul não pode esperar, que Pelotas tinha que ser o primeiro local a

ser visitado, que ele não admitia que fosse diferente disso. Aqui estamos nós,

fazendo o início do trabalho nesta cidade. Tenho certeza de que valeu a pena, de

que recolhemos aqui muitas manifestações importantes que contribuirão para aquilo

que poderemos fazer.

Meu caro presidente da Câmara de Vereadores, meu caro vereador Ademar

Ornel, é importante registrar aqui, com muita franqueza, que o Parlamento, seja ele

municipal ou estadual, como é o nosso caso, tem limitações. Não resolveremos essa

questão dos medicamentos. Que isso fique claro para que ninguém aqui ou em

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qualquer lugar do Rio Grande do Sul diga, como ouvi hoje, que os deputados fazem

reuniões e, depois, não resolvem o problema. A nossa função, a nossa tarefa é, em

primeiro lugar, oferecer oportunidades para que a população se manifeste, articular,

com as entidades que estão aqui, condições para que os problemas sejam

resolvidos – e queremos fazer isso –, oferecer os nossos mandatos para tornar mais

forte, mais vigorosa, mais vibrante essa voz que os senhores têm tido aqui na zona

sul, que outros têm tido na Região Norte, no centro do Estado, para que possamos,

definitivamente sensibilizar os governos para o fato de que esse é um problema

sério e permanente do Rio Grande do Sul.

No início, eu dizia que a política de medicamentos deve ser uma política

permanente de governo, como segurança e educação. Não é algo que deva ser

eventual, ocasional ou sazonal. Deve estar sempre em primeiro lugar, porque trata

da vida das pessoas. Essa é a contribuição que queremos modestamente dar lá na

Estado do Rio Grande do Sul. Temos já chamado a atenção para esse tema, uma

atenção, como disse aqui o Sr. Isac Vitória Bento, que não havia em outros tempos

com esse trabalho que estamos fazendo, percorrendo o Estado. Esperamos

sinceramente colaborar para que o remédio chegue em dia, para que não haja

angústia do paciente, para que não haja medo, preocupação que sabemos ser do

paciente e da sua família, do pai, da mãe, de todos aqueles que têm uma situação

desse tipo nas suas casas. Queremos estar ao lado dos senhores, sem a promessa

de resolver o problema. Hoje, eu disse aqui, numa rádio de Pelotas, que se fosse

fácil, alguém já tinha resolvido. Não é fácil, não é rápido, não é simples, não é

barato, mas queremos contribuir para que o problema seja solucionado. Temos que

trabalhar para isso em rede, em comunidade, em coletividade, ajudando aquelas

pessoas que têm essa preocupação que também é nossa na Assembléia

Legislativa. Contem conosco.

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193

Por fim, quero, como coordenador da subcomissão, convidar todos para

aquilo que esperamos que, no mês de agosto, seja um final feliz dessa novela que

tem se arrastado há tanto tempo. Pretendemos realizar uma audiência pública final

na Assembléia Legislativa. É importante a presença do secretário da Saúde, Osmar

Terra, que compareça à audiência e possa ouvir tudo aquilo que escutamos no

interior e na Capital do Estado, também os conselhos, as entidades, as famílias e os

deputados. Mesmo que tenhamos de passar um dia inteiro lá – e temos disposição

para isso – tomara que possamos solucionar o problema, é que desejamos. É

importante que as pessoas participem desta reunião e mobilizem-se nessa próxima

reunião, que será realizada na Assembléia Legislativa.

Nós comunicaremos à Câmara de Vereadores, ao deputado Pedro Pereira,

ao vereador Ademar Ornel e presidente, para que todos possam estar conosco

participando da mobilização à comunidade regional. E também o secretário da

Saúde – como alguém já citou aqui – tem muito boa vontade, mas não tem a

solução do problema.

Posso ouvir vocês aqui, os representantes de Passo Fundo, de Caxias, de

Santa Maria e de Porto Alegre aquilo que os deputados tenham ouvido a fim de

construirmos juntos uma solução. São todos nossos convidados para que no mês de

agosto realizaremos uma reunião na Assembléia Legislativa.

Digo para a senhora que se manifestou aqui que levaremos a esta

Comissão da Saúde e Meio Ambiente, deputado Pedro Pereira que encaminhará

isso.

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Agradeço a presença de todos os presentes, especialmente dos meus

companheiros de partido do PPS. Estão presente o presidente Saad Salim, querido

amigo, Brito e os outros companheiros, é muito importante a presença de vocês aqui

nesta reunião.

Fico honrado em poder voltar a Pelotas. Muito agradecido pela recepção

calorosa e sempre muito simpática que tivemos aqui nesta querida Princesa do Sul,

que me encanta, cada vez mais, quando volto aqui. Muito obrigado.

Está encerrada a reunião.

DATA 22/05/2007: O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Boa-tarde

a todos. Saudamos a presença de todos e agradecemos a atenção com o nosso

convite para que realizemos a sétima reunião da Subcomissão Especial da

Assembléia Legislativa que discute a questão do fornecimento dos medicamentos de

uso especial e de uso contínuo no Estado do Rio Grande do Sul.

Está conosco, à minha esquerda, o deputado Pedro Pereira que tem sido

um membro ativo, participativo e atuante da nossa subcomissão. Repito a

informação, porque sempre é importante: ele é o único médico entre os 55

deputados estaduais. Por isso sua presença aqui se reveste de um caráter

especialmente importante. Agradeço a presença do nosso colega, deputado Pedro

Pereira.

Também estão conosco a vice-presidente do Conselho Estadual de Saúde,

lá em Passo Fundo, Dra. Maria Beatriz Kunkel; a vice-presidente do Sindicato

Médico do Rio Grande do Sul, Dra. Maria Rita de Assis Brasil; a representante da

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Secretaria da Saúde do Estado, Sra. Simone do Amaral; o representante do

Ministério Público, Dr. Mauro Silva de Souza, cuja participação é importante; ele tem

estado conosco quase como um integrante da subcomissão; a representante do

Conselho Regional de Farmácia, a farmacêutica Karen Zazulak, a quem

agradecemos a presença; e o hematologista do Hospital de Clínicas, Dr. João

Ricardo Friedrisch, a quem também agradecemos.

Aguardamos ainda a presença do deputado estadual Gilberto Capoani, do

PMDB, que integra a subcomissão.

Vamos objetivamente dar início aos trabalhos sempre utilizando o mesmo

rito. Como esta é uma reunião da subcomissão, concederemos a palavra por 10

minutos a cada um dos nossos convidados. É importante ouvir e receber as

contribuições e os relatos de todos, a visão de cada um, a contribuição e as

sugestões para a busca que aqui na Assembléia temos feito na tentativa de

contribuir com a solução deste problema real e grave que atinge milhares de famílias

e que vem sendo discutido e debatido já há bastante tempo no âmbito da

Assembléia.

Temos dito que esta subcomissão, obviamente, não tem o condão de

resolver o problema, que é muito grave e real da falta de fornecimento ou da falta de

regularidade no fornecimento dos medicamentos, mas ela é mais um elemento no

sentido da expressão da sociedade gaúcha ao lado das ações do Ministério Público,

dos movimentos dos conselhos, da movimentação dos pacientes e dos seus

familiares para que possamos caminhar nesse sentido.

É por isso que estamos realizando esta atividade que pretendemos seja

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encerrada ao final dos 120 dias de trabalho com a presença do secretário estadual

de Saúde, Dr. Osmar Terra num grande ato. Ouviremos as entidades, os conselhos,

os pacientes, o Ministério Público. Encaminhar a solução do problema, é o que

esperamos.

Então, passaremos a ouvir as manifestações. Concedo a palavra por 10 min

ao hematologista do nosso Hospital de Clínicas, Dr. João Ricardo Friedrisch.

O SR. JOÃO RICARDO FRIEDRISCH – Boa-tarde, Ilmo Sr. Deputado

Luciano Azevedo. Ao cumprimentá-lo, cumprimento as demais autoridades

presentes e os senhores e senhoras.

Na verdade, o que trago é um problema para reflexão do nosso debate. Sou

presidente da Associação Gaúcha de Doença Falciforme. A doença falciforme é a

doença genética mais freqüente na população humana. Cursa com uma anemia

muito grave, com crises dolorosas muito intensas e muitas infecções. Existe um

medicamento chamado Hidroxiuréia, que previne de uma maneira muito importante,

as manifestações gravíssimas dessa doença. Estamos vendo que a Hidroxiuréia

está faltando na rede de distribuição de medicamentos. Ora, uma vez faltando essa

medicação, o que está acontecendo? Os pacientes estão procurando maciçamente

a emergência do Hospital de Clínicas por crises dolorosas, por complicações

infecciosas e por necessidade de transfusão sangüínea.

Então, a falta dessa medicação vem acarretando um gasto público muito

maior – eu diria até – dezenas de vezes maior do que o custo real dessa medicação.

Esta é a problemática que trago: a falta dessa medicação específica chamada

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Hidroxiuréia vem fazendo com que os pacientes tenham intercorrências clínicas

graves, corram risco de vida, diminuam sua expectativa de vida, porque essa

medicação tem um impacto na sobrevida do indivíduo, ou seja, os indivíduos que

usam essa medicação regularmente sobrevivem por mais tempo do que os que não

usam.

Estamos vendo um gasto muito maior do Estado em termos de controle das

crises dolorosas, controle das infecções e também gastos com hemoterapia em

função da falta dessa medicação. Basicamente, seria essa a questão que trago

como membro da Associação Gaúcha de Doença Falciforme.

O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Agradeço o Dr. João Ricardo,

que, se desejar, a seguir, poderá novamente se manifestar. Concedo a palavra à

vice-presidente do Conselho Estadual de Saúde, Sra. Maria Beatriz Kunkel.

A SRA. MARIA BEATRIZ KUNKEL – Cumprimento a Mesa e o Sr.

Presidente. Cumprimento todos os usuários de medicamentos de uso contínuo e o

pessoal que está participando deste momento importante.

Eu, como integrante do Conselho Estadual de Saúde, tenho duas missões a

trazer como usuária que sou do SUS. Agradeço a gentileza de quem colocou junto

ao meu nome doutora, mas sou agricultora. Trabalho com os agricultores, trabalho lá

na ponta. Então assistimos ao trauma, à dificuldade que existe em relação ao

acesso ao serviço.

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Quando falo em usuário, defendo o direito irrestrito e igualitário a todo

cidadão contribuinte deste País. Mas também estou aqui como um colegiado, como

um conselho. Estou representando o conselho, estou representando 52 entidades.

Como representante desse colegiado, temos uma discussão um pouco mais ampla

do que só uma questão. Quando falamos em direito à saúde, também temos de falar

sobre a dificuldade que nós, usuários, temos ao acesso a esse serviço, o acesso à

rede, à porta de entrada do SUS. É lá que as coisas não funcionam. É na rede

básica do SUS que temos dificuldade. Aí começam as dificuldades.

Quando falamos de média e alta complexidade, muitas vezes, o básico

deixou de ser trabalhado com eficiência. Sentimos isso no dia-a-dia como

conselheiro municipal na região. Quando se fala que as pessoas precisam de

medicamento contínuo, pensamos que, como agricultores, quando planto uma

árvore, e ela tem um ano, facilmente a arranco, mas quando ela tem 20 anos, há

mais dificuldade de ser arrancada.

Portanto, o que está faltando em nosso País, em nosso Estado, na nossa

região, é uma política de prevenção, de educação, aliás, as conferências municipais,

estaduais e nacional vêm resgatar um pouco essa discussão. Então, temos de

começar a pensar nas dificuldades que temos. Em primeiro lugar, está o acesso ao

sistema e aos planos privados, pois há muitas dificuldades quanto a isso.

O Conselho Estadual de Saúde não pode defender, única e exclusivamente,

apenas uma parte. Temos que defender o acesso irrestrito ao nosso direito

constitucional.

Nesse ponto vou um pouco mais longe. A Constituição tem uma emenda

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que diz que o Município deve disponibilizar 15% de verba para essa finalidade.

Muitos Municípios disponibilizam esse valor porque senão o Tribunal de Contas

manda prender os prefeitos, no entanto, o Estado não repassa os 12% previstos em

lei.

Ainda assim, o Estado do Rio Grande do Sul aprovou um orçamento que

não contempla esses 12%. E não foi por falta de alerta do Conselho Estadual de

Saúde. Muitas vezes falta dinheiro, mas, na realidade, não falta, não. Esse dinheiro

está sendo usado para outras situações e não para a saúde. É desviado do SUS

para outros órgãos. E a União também deve aplicar 10% na saúde.

Então, gente, além de brigarmos por medicamentos, também somos

parceiros nisso. Precisamos ter acesso ao sistema com mais facilidade, organizar a

rede básica para não chegarmos a um caos pior do que esse em que nos

encontramos e fazer com que os entes federados cumpram a lei da Constituição, os

12%.

O Conselho Estadual de Saúde é parceiro na briga pela busca ao direito

constitucional adquirido. Mas também temos que brigar para que esse direito seja

usado de forma igualitária, que todos possam ser atendidos, e não apenas um.

Esta é a nossa briga e estou à disposição para perguntas. Muito obrigada.

O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Agradecemos à vice-

presidente do Conselho Estadual de Saúde, Sra. Maria Beatriz Kunkel.

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Registro que o presidente do Sindicato Médico do Rio Grande do Sul, Dr.

Paulo de Argolo Mendes, está viajando. Por isso, passo a palavra à vice-presidente,

Dra. Maria Rita de Assis Brasil, para ouvirmos a posição do Sindicato.

A SRA. MARIA RITA DE ASSIS BRASIL – Boa-tarde a todos os presentes.

Este assunto sobre os medicamentos, que tem a maior gravidade, vem

sendo discutido cronicamente. A Maria Beatriz historiou o retrato da saúde pública, o

modo de viver na ponta, a dificuldade de acesso e a inacessibilidade à rede básica.

Abordando mais diretamente a questão dos medicamentos, como

conselheira do Conselho Estadual de Saúde, posso dizer que esse tema também já

foi objeto de discussão, em comissão. Não é de hoje que lutamos em relação a esse

problema.

Lembramos que a população tem problemas crônicos de saúde, que precisa

de medicamentos, muitas vezes muitos simples e baratos. Mas há também os de

uso contínuo, conforme a pauta desta reunião.

No entanto, com freqüência esses medicamentos têm o seu fornecimento

suspenso porque os Municípios, o Estado e a União não fornecem. Esses

medicamentos são caros, as pessoas não têm acesso e sequer podem comprar.

Alguns desses medicamentos são de uso contínuo, como para Mal de

Parkinson, para os transplantados, para os portadores da Anemia Falsiforme, para

os doentes mentais cuja suspensão da medicação pode ocasionar problemas

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gravíssimos, não só para eles mas para toda a comunidade em que estão inseridos,

e assim por diante.

Como se sabe, temos esse gasto público, que é enorme em decorrência da

suspensão dos medicamentos. Lembro, neste momento, dos transplantados.

Quando há falta de medicamento para rejeição do órgão, estamos colocando uma

vida, no amplo sentido do significado, em risco absoluto, assim como a comunidade

e a família. Nesse ponto também há uma perda do Estado, na medida em que

podemos perder esta vida cujo investimento, somente na cirurgia, é em torno de 60

mil reais a 100 mil reais, valor do procedimento de transplantes de modo geral pago

pelo Estado.

O Estado, que tem obrigação de proporcionar os medicamentos, coloca em

risco não apenas uma vida, mas um investimento, que já foi retirado do orçamento

da saúde de muitos outros gaúchos que não tiveram acesso ao tratamento de

caráter terciário.

Também quero lembrar os protocolos do Ministérios da Saúde. São dois

volumes impressos que tratam das doenças mais raras e caras do povo brasileiro.

Defende-se tanto a existência desses protocolos que, na verdade, não apenas

tratam do tratamento efetivo dessas patologias, mas também tratam de obstaculizar

o acesso dos pacientes aos tratamentos das suas doenças.

No Rio Grande do Sul, para dar um exemplo, ocorreu por duas vezes o

encontro da Secretaria Estadual da Saúde com o Poder Judiciário e o Ministério

Público para discutir a questão dos medicamentos no nosso Estado. Se o promotor

lembra, nesses encontros são discutidos os tratamentos, que são muito caros, para

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pessoas portadoras dessas doenças.

Também gostaria de lembrar que temos inúmeras pessoas, uma

percentagem muito grande da nossa população, com problemas de hipertensão

arterial sistêmica, diabetes mellitus e aqueles, representados pela Beatriz, do

interior, que são os agricultores que cultivam a terra e muitas vezes se tiverem os

seus medicamentos suspensos por falta no posto de saúde, terão a sua saúde

agravada e com risco de morte.

A suspensão ou o não fornecimento de medicamentos para pressão arterial

alta e para diabetes mellitus piora o estado de saúde dos portadores dessas

doenças. E sem a proximidade de um posto próximo para reavaliar a sua saúde, não

conseguem avaliar como está a glicose do seu sangue, o que já é muito complicado

para quem vive na cidade grande.

Se eu desconfiar que comi alguma coisa adocicada aqui na Assembléia

Legislativa, é muito fácil, basta ir ao posto médico onde poderei fazer o exame no

dedo para ver, imediatamente, como está a minha glicose.

São inúmeros os pacientes que nos chegam com diabete descompensado

ou mal compensado que, no decorrer da sua vida, fatalmente levará a uma

insuficiência renal, à necessidade de amputação de membros porque não tiveram –

uma doença que é prevalente no povo brasileiro – o controle adequado e porque o

acesso aos postos é difícil. Se nas cidades grandes é difícil, no interior é mais difícil

ainda.

Esses doentes, sem atendimento e controle adequados, fatalmente perderão

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a vida ao redor de 40/50 anos, quando muito 60 anos. Esse é um problema que

estamos discutindo nesta comissão, que aborda a questão dos medicamentos de

uso contínuo.

O programa Hiperdia, para portadores de hipertensão e diabetes, funciona

por meio do governo federal, que tem o dever de proporcionar acompanhamento à

população brasileira. Mas não raro há falta de medicamentos nos postos de saúde.

Da mesma maneira abordo a questão da hipertensão arterial que, muitas

vezes, leva a um acidente vascular cerebral prejudicando a qualidade de vida do

paciente e da família, porque elas não conseguem atender de maneira adequada

uma pessoa que se torna dependente, que não se locomove e não se comunica de

maneira adequada.

Temos os medicamentos de uso contínuo daquelas patologias específicas

de pacientes como os já citados, os falciformes, os que têm parkinson e os doentes

mentais, esses também sofrem a falta de medicamentos.

Lembro-me de uma entrevista concedida por Angela Garcia que dizia que o

paciente portador da doença de parkinson é uma pessoa cujo cérebro está

funcionando, mas fica completamente paralisada pela doença, pois a hipertonia é

tão significativa que não consegue executar tarefas simples como colocar um talher

na boca ou um sapato no pé e assim por diante.

Existem pacientes que dependem desses medicamentos e que estão

completamente atirados sem a medicação necessária.

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Temos claro o seguinte: existe o artigo 196, da Constituição, que garante o

atendimento, temos a emenda constitucional 29, que diz que 10% do orçamento da

União, 12% dos Estados e 15% dos Municípios devem ser destinados à saúde.

O Estado do Rio Grande do Sul, que deve destinar 12% à saúde, acaba

destinando menos de 5% à saúde do seu povo.

Se estamos aqui com representantes de entidades de patologias, falando

em nome do povo do Rio Grande, temos que ter um agente que é o Estado do Rio

Grande do Sul, que a Simone representa, reconhece o problema e sabe das

dificuldades por que passam os portadores dessas doenças, temos que ter um

agente que cumpra a lei a qual não está sendo cumprida.

Temos esses encontros que muitas vezes trazem o Judiciário e o Ministério

Público para conscientizar no sentido de que quando abrem um processo

reivindicando algum procedimento e no caso medicamentos de uso especial, que

são caros, segundo dizem eles, são estimulados por laboratórios para que

reivindiquem os medicamentos e assim por diante.

Em um determinado encontro em Brasília, há um ano e meio, mais ou

menos, lembro-me do representante do Ministério Público Federal, que disse em

nome do Ministério Público Federal naquele momento a seguinte frase: “Enquanto a

União, os Estados e os Municípios não proporcionarem o que devem para a saúde,

ou seja, enquanto não cumprirem a emenda constitucional 29, o Ministério Público

se compromete a conceder parecer favorável às reivindicações dos portadores das

doenças”

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Na verdade, o que tem acontecido hoje é que muitas vezes o Judiciário é

quem tem proporcionado saúde à população no Estado do Rio Grande do Sul e no

nosso País, porque é ele quem, determinando o fornecimento que o Estado tem

obrigação, proporcionou atendimento a esses necessitados.

Para encerrar, por outro lado também temos a CPMF que foi uma luta do

ministro Adib Jatene no sentido de proporcionar mais uma forma de se conseguir

saúde à população brasileira, no entanto menos de 50% da CPMF é destinada à

saúde.

Então, se esse cobertor curto que é o Sistema Único de Saúde quer

proporcionar saúde à população e for muito curto e pequeno, não tenho a menor

dúvida de que ele poderia se transformar em pelo menos o dobro do que temos hoje

e com melhor gestão, melhor encaminhamento, melhor sistematização e referência

do sistema de saúde, certamente as pessoas não poderiam passar pelas

dificuldades que por hoje passam.

Nesse sentido a posição do Sindicato Médico do Rio Grande do Sul percebe

que é um direito estabelecido e claro de que os pacientes que necessitam de

medicamentos tenham e façam as suas reivindicações inclusive procurando o

Judiciário para que isso ocorra, queremos que saia e certamente sairá daqui a

definição de que o governo deve cumprir com sua missão de prestar atendimento à

população e destinar pelo menos 12% do seu orçamento para a saúde da

população.

O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Muito obrigado, Maria Rita de

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206

Assis Brasil, vice-presidente do Sindicato Médico do Rio Grande do Sul.

Queremos ouvir a representante do Conselho Regional de Farmácia, Sra.

Karen Zazulak.

A SRA. KAREN ZAZULAK – Boa tarde aos membros da mesa, aos

presentes, venho representado o Sr. Juliano Sofia da Rocha, presidente do

Conselho Regional de Farmácia que, infelizmente, não pôde estar presente hoje.

Esta é a primeira reunião que eu participo, não trouxe nenhum relato,

nenhum parecer da diretoria do conselho, estou aqui para representar e levar as

idéias propostas para a diretoria.

O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Muito obrigado, agradecemos

a presença do Conselho Regional de Farmácia.

Coloco a palavra à disposição do Dr. Mauro Luiz Silva de Souza, que

representa o Ministério Público, depois ouviremos o deputado Pedro Pereira, para

que, no final, possamos ouvir a representante da Secretaria de Estado da Saúde.

Queremos registrar a presença do querido Sr. Isac Fernandes, que

representa a Associação dos Ostomizados do Rio Grande do Sul e tem sido parceiro

nessa luta, cujo tema é muito importante e também deve ser lembrado

permanentemente por esta subcomissão, o que certamente está sendo feito.

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207

O SR. MAURO LUIZ SILVA DE SOUZA – Muito obrigado, Exmo. Deputado

Luciano Azevedo, deputado Pedro Pereira, representante da Secretaria de Saúde,

os conselhos, senhoras e senhores.

Quando tratamos da questão da saúde é mais ou menos como chover no

molhado, temos reiterado determinados assuntos que são recorrentes, mas quero

crer que a cada dia que pensamos e falamos a respeito desses mesmos pontos,

acho que evoluímos e quem sabe melhoramos no sentido de se obter uma solução.

Sem dúvida alguma a iniciativa dessa comissão é fundamental para que

avancemos no sentido de termos uma melhor qualidade na área da saúde para a

nossa população como um todo.

Os esforços da Secretaria Estadual da Saúde têm sido grandes, eu bem

conheço o trabalho do secretário estadual da saúde na busca de incremento de

verbas na pasta da saúde neste Estado desde a gestão anterior, que acompanhei e

que o Ministério Público, depois de várias tratativas com o governo do Estado, não

encontrou outra saída senão bater às portas do Judiciário para que houvesse a

implementação das verbas constitucionais, conforme prescreve a emenda

constitucional 29.

Já falei para os senhores que nós obtivemos ganho de causa no primeiro

grau, a sentença de primeiro grau saiu em agosto do ano passado, dizendo que o

Estado tem que complementar, naqueles anos em que nós entramos com a ação, os

12% da emenda constitucional 29, que não o fez.

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Quem dos senhores leu o jornal Correio do Povo de hoje? Pois neste jornal

o Sr. Secretário Estadual da Saúde se esforça, mais uma vez, para justificar por que

o plano plurianual e a lei de diretrizes orçamentárias foram para a Assembléia

Legislativa sem contemplar os 12% das verbas da saúde.

Quer dizer, vamos enfrentar o mesmo problema novamente, o orçamento

enviado à Assembléia é inconstitucional.

O que temos que fazer para resolver essa inconstitucionalidade? Acho que,

aqui, na comissão já temos, pelo menos, dois votos contra esse orçamento

plurianual, que não contempla os 12%, portanto é um orçamento ilegal e

inconstitucional.

O Sr. Secretário dizia hoje que o governo avançou muito, eu não tenho

dúvidas de que o governo avançou muito, disse que foi até onde pôde, não tenho

dúvida disso, porque as pressões são de vários lados, mas continua sendo ilegal,

não resolvemos a ilegalidade, apesar de todos os esforços do gestor.

Alguma coisa está errada e algo precisa ser feito.

Todos nós temos o hábito de ficarmos conformados com as ilegalidades que

vêm, reiteradamente, sendo cometidas em todos os setores da nossa sociedade.

O nosso conceito de cidadania é tão baixo que se eu parar na faixa de

segurança, aqui na frente da Assembléia para desobstruir, no horário do pico, ficam

buzinando atrás de mim e dizendo: “Por que não foi à frente? ”

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O nosso conceito de cidadania é mais ou menos esse e estamos cometendo

ilegalidades em todos os setores, é o momento de começarmos a pensar o que

precisamos fazer, como mudar essa realidade.

Quem sabe uma platéia tão seleta quanto essa que está aqui, agora, numa

audiência tão efetiva e tão grande como essa não se multiplica para que possamos

pressionar o plenário da Assembléia Legislativa no sentido de que não se vote o

orçamento da maneira como está?

Não se pode fazer outra coisa? Não sei, não estou querendo tirar os méritos

dos governantes e dos tão bons governantes que tivemos até hoje neste Estado.

Mas a ilegalidade continua e temos que começar a ter o hábito de cumprir as

leis, porque há algum tempo não tínhamos a resposta do sistema público de saúde,

precisávamos entrar na Justiça para obter uma resposta do sistema público de

saúde.

Hoje está tão complicado que o dito sistema privado de saúde também já

não responde mais, se em determinados casos e procedimentos não tivermos um

“pistolão” vai ficar sem o atendimento, isso no sistema privado de saúde.

Por quê? Porque é mais fácil negar atendimento, não pagar, quem sabe o

sujeito morre até precisar do atendimento e a gente não terá que pagar mais nada e

esperar que entre no Judiciário, porque lá a coisa não vai ser bem assim, levará

muito tempo para a coisa acontecer e enquanto esse tempo transcorre acha-se

alguma solução.

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A questão é essa, temos que começar a desenvolver o hábito de

cumprirmos a lei, até para que façamos leis mais reais.

Diz-se que as leis são irreais, se isso é verdade então por que estamos

fazendo leis irreais? Vamos fazer leis que estejam perto da nossa realidade.

Depois não adianta dizer: “Esses chatos do Ministério Público estão

querendo inviabilizar a nossa gestão, o nosso governo, o nosso partido, o nosso

sindicato”. Enfim, o que quer que seja parece que os chatos do Ministério Público

estão querendo inviabilizar.

Ainda uma das únicas coisas que o Ministério Público tenta fazer é fazer

com que se cumpram as leis, que não foram feitas pelo Ministério Público.

Precisamos ter a consciência dessa realidade e começar a trabalhar na

busca desse cumprimento, até porque se as leis são irreais, vamos fazer leis reais,

que possam ser cumpridas, tudo isso é uma decisão política.

O que é uma lei? A lei nada mais é do que uma decisão política que foi

transformada em um texto jurídico, isso é a lei, não é nada mais do que isso, é uma

decisão política tomada por toda a sociedade, por todos nós, diretamente ou através

dos nossos representantes e que se tornou um estatuto jurídico, uma norma que

precisa ser cumprida.

Se a lei não for cumprida todo o nosso esforço político de buscarmos uma

melhor convivência vai por água abaixo, depois não sabemos por que existem todos

os problemas que estamos enfrentando em termos de violência e de outras coisas.

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Por que está faltando o básico? Porque todos nós, de alguma forma,

estamos sendo responsáveis por isso que está aí, ou por que não cumprimos a lei

ou por que estamos permitindo que as leis não se cumpram e continuamos na

omissão.

Nós, cidadãos e sociedade é que somos os responsáveis por isso.

É apenas uma proposta de reflexão, é uma angústia minha que eu estou

passando aos senhores, vamos ver se em todos os meios nos quais participamos

estamos cumprindo as leis, fazendo o que deve ser feito ou pensando da seguinte

forma: “ Não, isso é impossível de fazer, não vou cumprir”.

Então vamos dar um jeito de anular essas leis e fazer com que sejam

revogadas, pelo menos não teremos uma coisa para bonito, brincamos de fazer leis

e depois brincamos de cumpri-las. Não é assim que as coisas devem funcionar.

Precisamos um pouco mais de realidade, de responsabilidade para fazer as coisas,

para estabelecê-las e, depois, para cumprir com essas decisões tomadas. Vai faltar

dinheiro para os medicamentos!

Claro que a questão dos medicamentos é muito complexa. Existem

problemas no Estado, que não consegue, muitas vezes, comprar o medicamento. Se

os senhores quiserem, podem pegar a lista – e eu já fiz isso, é minha experiência –

dos medicamentos e vão até a farmácia para comprar a dinheiro, preço de tabela, e

vejam se encontram esses medicamentos. As farmácias não têm esses

medicamentos.

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Pergunta-se quando iremos recebê-los e a resposta data de mais quinze

dias para o pedido ser feito ao laboratório. Também temos esse tipo de problema, e

o reconhecemos.

Entretanto, há o problema de todos nós, de alguma forma, estarmos a

descumprir ou a nos conformar com o descumprimento da legislação. Precisamos

mudar isso para que a nossa sociedade evolua, caminhe, e para que os nossos

conceitos de cidadania possam melhorar, ao ponto de termos melhores condições

de vida e convivência em sociedade. Desculpem-me e muito obrigado.

O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Agradecemos o Dr. Mauro

Luiz Silva de Souza, uma presença importante e representante do Ministério Público

nesta Comissão.

Com a palavra a representante da Secretaria da Saúde, Simone do Amaral.

A SRA. SIMONE DO AMARAL – Boa-tarde a todos os componentes da

mesa; senhoras e senhores.

Como diz o Dr. Mauro Souza, temos de fazer uma reflexão na questão da

saúde. Maria Beatriz deu ênfase à prevenção da doença, muito importante. O Dr.

João Ricardo fala na falta específica de um medicamento que é vital para aqueles

usuários, a hidroxiuréia, é totalmente pertinente. A Dra. Maria Rita, quando nos diz

que, além do fato de os medicamentos estabelecidos e considerados excepcionais e

especiais, também teríamos aquele déficit de medicamentos de primeira escolha,

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para cardio, para diabetes.

Sou do setor de medicamentos da Secretaria do Estado da Saúde. Todas

essas demandas nos chegam num momento em que o nosso orçamento é limitado

para a aquisição desses medicamentos, mais do que isso, estamos nos vendo numa

situação de negociação com as dívidas que temos pendentes e que são de

conhecimento da população de um modo geral.

De qualquer forma, não acalenta aquele usuário que tem a patologia ou

daquela pessoa que tem essa patologia na família e precisa utilizar os

medicamentos. A questão do protocolo clínico do Ministério da Saúde – e temos as

duas versões em 2002 e em 2006 – ela vem, na realidade, criar e dar orientações

aos critérios para a inclusão daquele usuário naquele grupo para fazer o tratamento.

Também temos uma demanda muito grande de solicitações que, na

realidade, sequer são deferidas porque, no entendimento e pelos critérios do

protocolo, aquele diagnóstico não estaria completo. É uma deficiência? Sim. Quando

pensamos que aquele usuário, para diagnosticar, encontrará uma dificuldade muito

grande na consulta, nos exames – e se ele for procurar todo esse atendimento via

SUS, terá agendamento em prazos que sabemos ser muito distantes entre a

primeira consulta e depois os exames e o retorno ao especialista.

Somos sabedores de toda essa situação, e do setor em que fazem a

distribuição desses medicamentos, pois enfrentam todo o dia, não só a questão da

hidroxiuréia para a anemia falciforme, mas também para hepatite, para fibrose

cística, para Parkinson, como a gente tem algumas associações aqui representadas.

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214

A reflexão se torna necessária, a partir do momento de como se fazer a

divisão daquele valor que eu tenho para fazer a aquisição desses medicamente.

Essa é um dificuldade muito grande que se enfrenta no Estado.

A questão dos medicamentos estabelecidos, até temos um TAC – Termo de

Ajustamento de Conduta – com o Ministério Público, onde o Estado aceitou, acordou

em fazer o atendimento, a aquisição desses medicamentos, a avaliação dos

processos dentro de prazos preestabelecidos, mantendo, inclusive, a regularidade

nesse fornecimento. É um título executivo extra judicial e inclusive já tivemos uma

situação em Caxias do Sul em que ele está sendo executado. Essa situação é ideal

para nós? Não. O ideal seria estarmos atendendo todos os usuários neste momento.

Entretanto, para o laboratório o objetivo é o lucro, não condeno, sabemos

disso, e não se configura grande erro. Mas, a partir do momento em que existem

dívidas de exercícios anteriores, se o laboratório não conta uma negociação

acertada com o governo, ele também fica receoso de fazer essa distribuição. Ele

não retira o empenho ou até retira o empenho do medicamento e não faz a entrega

do produto para a secretaria.

Se temos atraso no pagamento, isso também nos limita nos critérios de

cobrança, a legislação prevê todos os recursos para isso. Mas, se estamos há muito

tempo sem fazer um pagamento – há mais de 90 dias, digamos –, esse tipo de

recurso não poderá ser utilizado. É mais um fator limitante para que possamos fazer

o devido atendimento.

Na última reunião, em Pelotas, estava lendo as matérias que foram editadas

e estavam disponíveis, um representante da Secretaria Municipal da Saúde, que

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também é presidente de uma associação de transplantados, relata que sacolas de

medicamentos teriam sido entregues – a ele ou à instituição – como não sendo

utilizados por aqueles pacientes. Então, aqueles pacientes receberam o

medicamento, para o qual estavam cadastrados, mas que não utilizavam mais.

Tem toda uma questão de educação desse usuário. De ele entender que

para aquele medicamento que não está recebendo, deve fazer uma atualização

desse cadastro, deve providenciar que aquela correção seja feita. O fato de eu

trazer a sacola ou demonstrar, estarei criando uma polêmica em cima de um

problema. Não estarei resolvendo esse problema.

Também sabemos que muitas vezes dentro daquela situação aquele usuário

retira o medicamento um pouco a maior, principalmente quando enfrenta períodos

de falta, e depois entende que deve guardar o medicamento para uma nova

oportunidade. Isso é compreensível, também. Só que disso tiramos a seguinte

informação, esse usuário não está sendo parceiro para aquele dispensador na

Secretaria Municipal da Saúde, não está sendo parceiro ao manter um cadastro

irregular.

Diz-se que a secretaria faz uma má distribuição. A sua má distribuição na

secretaria é o atendimento de acordo com aquela demanda a qual o paciente fez um

cadastro. Se ele desistiu de parte dos medicamentos, deveria comunicá-la,

formalizá-la, disponibilizando esses medicamentos para outros usuários. Isso

também não acontece.

Recebi recentemente a Dona Ângela e trabalhamos com a questão da

educação do usuário para que saiba exigir os seus direitos quanto aos

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medicamentos, mas tenha uma parceria com o Estado e com o Município. Dessa

forma, o poder público consegue atender os outros usuários de medicamentos. Ele

estará auxiliando na questão custo e benefício que o Estado enfrenta e é pago por

todos nós.

Temos muitas dificuldades. A prevenção é importante. Essa questão de

restabelecermos a credibilidade junto às associações e aos usuários principalmente,

é importantíssima, porque, sem a dispensação dos medicamentos, isso não irá

acontecer.

Podemos aqui dizer que estamos negociando ou que num primeiro momento

a primeira negociação proposta não teve uma adesão de 100% dos laboratórios e,

portanto, ela restou fracassada. Agora, inicia-se uma nova renegociação com todos

os laboratórios os quais o Estado têm débito. Então, temos que, novamente,

formalizar com cada um deles um acordo para que seja feita esta negociação das

dívidas em atraso. A primeira não teve sucesso e agora entramos numa nova

situação de fazermos um novo contato com cada um dos laboratórios e revermos,

porque se não foram aceitas é porque alguns dos critérios não atendiam às

necessidades desses laboratórios.

Esse momento é um momento em que as propostas tanto do Estado como

dos laboratórios estão sendo revistas para se organizar novamente o acordo e um

calendário de pagamento, para ser restabelecido o pagamento e termos o

medicamento.

No momento não temos em estoque todos os medicamentos para todas as

patologias, em algumas delas como a anemia falciforme, o principal medicamento

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que é o hidróxido e a uréia estão em falta há mais de 90 dias. São situações

limitantes mas que dependem, sim, de conversar, de acertar, de acordar com esses

laboratórios para que eles tenham a segurança de que essa negociação será

cumprida, essa adesão tem que ser completa, para se organizar, então, um

calendário de pagamentos, porque se u não organizo com 100% de adesão aqueles

laboratórios que não fizeram o acordo também irão querer, de qualquer forma, o

pagamento. Se tenho uma verba limitada, preciso que isso seja totalmente aderido

para que eu faça um calendário e contemple todas as necessidades.

Dessa forma é que a nossa credibilidade e o nosso atendimento aos

usuários vai estar completa. No momento ela não é completa, só posso dizer que ela

está totalmente adequada e regular àqueles medicamento que possuem a compra

centralizada pela União, com exceção de um deles que é a imunoglobulina. A

hepatite C, que é o alfa interferona, o ribavirina, o eritropoitina, são medicamentos

que o Ministério da Saúde compra e envia aos estados. Esse estão com o

fornecimento regular. Outros medicamentos a União também nos manda

regularmente. O medicamento imonoglobulina humana tem a compra centralizada,

mas só veio 30% da necessidade. Todos os pacientes foram atendidos, mas num

percentual menor do que aquele prescrito. Isso é atender totalmente a demanda?

Não, então se distensa um programa da AIDS e para todos os usuários com

diversas patologias que utilizam, no caso, a imunoglobulina.

Cabe, obviamente aqui é uma reflexão, mas cabe mais uma vez, não vou

fazer nenhuma solicitação em especial, só posso adiantar esta questão para a

platéia, dessa negociação que o Estado vai ter que retomar com todos os

laboratórios. Sei que os senhores que vieram aqui querem saber especificamente do

fornecimento do medicamento, porque nós atendemos esta clientela todos os dias,

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praticamente, e reportamos a situação específica de cada um dos medicamentos.

Era isso. Estou à disposição para responder alguma pergunta.

O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Agradecemos a sua

manifestação. Concedo a palavra mais uma vez à Maria Beatriz Kunkel, do

Conselho Estadual de Saúde.

A SRA. MARIA BEATRIZ KUNKEL – Obrigada. Quando eu ouvi a fala do

Dr. Mauro, começo a me mexer, fico inquieta, me dá uma raiva, me dá uma coisa e

dá vontade de começar a soltar aqueles palavriados que os gringos de vez em

quanto soltam.

No ano passado nós, do Conselho Estadual, não concordamos com este

orçamento que foi enviado para a Assembléia. Fizemos uma discussão, trouxemos

as nossas propostas que eram 380 milhões para o IPE, dinheiro para o restaurante

popular, dinheiro para o Hospital Militar, está tudo dentro do orçamento do Estado.

Fizemos, de gabinete em gabinete, fomos em todas as lideranças, fizemos uma

passeata aqui dentro, fizemos o Deus nos acuda aqui dentro e todo mundo dizia:

não, temos que corrigir esta distorção, estamos de acordo com vocês. Uma semana

depois, uma, todos, 38 votos a favor desse orçamento de 12%, e 17 votos contra

esse orçamento que não contemplava os 12%. O que faltou? Vergonha na cara?

Responsabilidade? Quem é que tem que fazer cumprir a lei? Afinal de contas, nós

usuários, quem é que tem que fazer cumprir a lei?

Temos em Tapejara 8 pessoas com Doença de Fabri, uma pessoa, por mês,

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gasta em medicamento 32 mil reais, por ano dá 384 mil reais, as 8 pessoas

consomem, num ano, 4 milhões, seiscentos e oito mil reais em medicamentos, de

um laboratório americano. Podemos pensar que é muito dinheiro, e o dinheiro que é

desviado pelas empresas em isenção de impostos? Como não tem dinheiro. Quando

ouvimos estas coisas, isso dá uma raiva na gente, desculpem a expressão, mas é

bem isso mesmo o que sentimos quando chegamos lá e não tem dinheiro, não tem

medicamento, não tem isso, e quando escutamos que o Plano Plurianual foi enviado

de novo sem os 12%, o que temos que fazer? Começar a quebrar? Iremos para a

cadeia. Aí a lei vale, e não falta gente para nos colocar na cadeia, vamos começar a

berrar, a gritar,? Não falta gente para nos colocar na cadeia. E não estou falando

contra a Secretaria da Saúde, porque eles são cumpridores daquilo que fazem,

estou falando de um ente federado que está no outro lado dessa rua. Ele é

responsável perante a lei, e temos setores responsáveis para fazer cumprir a lei.

E aí, quem é que tem que cumprir a lei? Nós, pequenos temos que cumprir.

Eu vou roubar galinha vou para a cadeia, um cara foi roubar milho lá em Tapejara e

foi parar na cadeia de Getúlio Vargas. E o senhor sabe onde é que fica isso.

Agora, pessoas não cumprem a lei, ah bom, o que vamos fazer... não

acontece nada, ninguém é responsabilizado. Eu imagino essa gente que está do

lado de lá, se pudesse falar, o que não diriam. Um monte de palavreado também. Eu

sou conselheira e tenho que ser a voz daqueles que não podem falar. Temos, gente,

que começar a fazer uma reflexão com vergonha na cara e não aquele palavreado,

aquela coisa bonita que eu fiz um tamanho de um esforço aqui para achar um

palavreado bem bonito aqui, porque estou na mesa. Mas, de vez em quanto dá

vontade de abaixar, porque a gente sente tanto problema, sentimos tanta coisa.

Essas 8 pessoas, num sábado vieram lá em casa, parecia um velório lá. E o que vou

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fazer? Não tem dinheiro, o secretário diz que não tem dinheiro, e não tem. O ente

federado é livre, está numa boa, não tem dinheiro, a gente sabe que as empresas

grandes ganham isenção de impostos, porque senão não dão emprego para meia

dúzia de gente. Estas coisas temos que rever aqui, temos que colocar as coisas no

preto e no branco.

Me desculpem, mas como conselheira e como usuária eu em indigno com

essas coisas, porque já fomos em tantas reuniões, em tanta coisa, tanto discurso e,

na hora do pega para capar, não dá, porque não dá, porque não dá para cumprir,

não sei o que. Com licença. Estamos numa subcomissão que vai estudar e que terá

que apresentar relatório, terá que apresentar uma resposta. E daí? Qual será a

resposta que iremos dar? Tem a lei, mas não dá para cumprir, porque não tem

dinheiro. Pronto, acabou, então, vamos para casa. Ou vamos rasgar a constituição.

Nós, usuários, começamos a ter uma indignação dentro de nós. A gente

chega diante de um desafio, estamos num desafio aqui. Estamos na frente de uma

coisa vital. A vida, a saúde das pessoas, a vida está em jogo, não é uma rua, não é

um carro, é uma vida que está em jogo, e é por esta vida, Dr. Luciano, que temos

responsabilidade. E vamos ser cobrados pela história. Agradeço muito, desculpem o

desabafo, mas eu, como usuária e como conselheira, estou lá na base, ouço tanta

coisa, sei de tanta coisa e fico indignada quando escuto o Dr. Mauro dizer isso, fico

indignada de ouvir as coisas, e daí? As pessoas continuam com reumatismo,

continuam com a pressão alta, e a minha também está, continuam com problemas

de coração, e daí? Não tem dinheiro... As grandes empresas recebem.

Desculpem a minha indignação, mas essa é a realidade a nós, como

conselheira e como usuária, ouvimos diariamente estas coisas. Desculpem e

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obrigada.

O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Não há o que desculpar.

Agradecemos até, estamos aqui exatamente para isso. Pode ter a certeza de que a

sua indignação também é a nossa. Nós, deputados, também recebemos essas

reclamações. Essas 8 pessoas com Doença de Fabri que a senhora falou, lá em

Tapejara, são todas da mesma família, conheço a situação, pois sou de uma cidade

vizinha.

Estamos todos aqui do mesmo lado, é importante que fique claro. Os

deputados da Assembléia Legislativa estão tentando, com as ferramentas

disponíveis, contribuir para encontrar alternativas a esse problema tão grave.

Não encontrar desculpas, encontrar alternativas.

Na semana passada, estivemos em Pelotas, na primeira audiência pública

da subcomissão que teve uma grande participação da comunidade – este é um

problema de milhares de pessoas em todo o Estado. Lá concedi uma entrevista para

uma emissora de rádio e o radialista me disse: só dão desculpas.

Penso que temos que trabalhar para encontrar soluções, mas também tratar

o problema com responsabilidade. Qualquer um de nós gostaria de levantar daqui

hoje de noite e ter a solução. Creio que o secretário da Saúde também, da mesma

forma os governadores anteriores.

A situação não é confortável nem sequer para os laboratórios que não

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recebem. Não é boa para ninguém, principalmente é muito angustiante e

extremamente preocupante para os pacientes e suas famílias.

É por isso que estamos aqui, para tentar pressionar o governo para que

encontre alternativas para que, em última análise, sem discurso político, sem debate

ideológico, as pessoas recebam a medicação.

É isso que temos que fazer, é para isso que age o Ministério Público, a

Assembléia Legislativa, para isso deve contribuir a Secretaria da Saúde. É essa

nossa tarefa.

Todas as manifestações são importantes, são bem-vindas e se somam a

esta voz que queremos que saia da Assembléia Legislativa para que possamos

avançar nesta questão.

O SR. PEDRO PEREIRA (PSDB) – Deputado Luciano Azevedo, demais

representantes de entidades e platéia, a situação realmente é muito crítica.

Não podemos tapar o sol com a peneira de maneira nenhuma, o problema

ultrapassa as fronteiras do Estado.

Já estive em Brasília e faremos nova tentativa para um reajuste pelo SUS.

Hoje o valor da consulta é de 2 reais e 55 centavos. O valor de uma consulta com

um especialista é de 7 reais e 50 centavos. Não tem como manter, a situação é

muito ruim.

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O governo federal retirou 5 bilhões e 800 milhões do orçamento da saúde

neste ano. O Estado, infelizmente, também não cumpre. Isso vem de anos.

Não estamos aqui para defender ninguém. Como médico sei do sofrimento

das pessoas, vivo dentro de um hospital há 30 anos. Já perdi pacientes por não

termos UTI, aliás o hospital tinha uma UTI que não estava aberta.

Por burocracia perdi pacientes. Em Canguçu temos uma UTI há seis anos e

foi inaugurada agora, por problemas burocráticos. A situação é muito difícil.

O governo atual está tentando de todas as formas, é preciso ao menos

amenizar a situação.

Sabemos que de todo o dinheiro que entra no Estado, 85% é destinado para

a folha de pagamento. Sobra 15% para a saúde, educação, segurança, turismo,

obras, transportes.

Outro problema muito grave é que 50% dessa folha é para pagar

aposentados e inativos. E eles têm que receber, pois contribuíram com o Município,

o Estado e o País, mas nem um governo teve a capacidade de criar um fundo para

pagar os aposentados.

Também precisamos destinar 17% para pagar a dívida com o governo

federal. O governo atual está tentando, com duas medidas, renegociar a dívida para

reduzir esses 17% pagos para o governo federal. No mês passado, foram quase 200

milhões. Reduzindo isso e criando-se um fundo para pagar os aposentados, vai

sobrar mais dinheiro para a saúde, para a educação, para a segurança, para obras e

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transporte.

Devemos buscar verbas na União, no Estado, conseguir de alguma maneira

reduzir o sofrimento dessas mais de 120 mil pessoas no Estado. Não citando os

diabéticos e hipertensos. Se o Lafergs estivesse funcionando, reduziria e muito o

problema, mas está fechado há muito tempo.

Está-se fazendo um convênio com o Fiocruz, mas o processo é lento e a

saúde não espera.

Custo a me acostumar com a política, pois a política demora muito para

resolver os problemas e a saúde não tem como esperar. Um paciente que necessita

de operação, deve ser operado logo. Se um paciente está enfartado e não receber o

diagnóstico, morre.

Isso vale para os transplantados, ostomizados, portador de esclerose

múltipla, portador de mal de Alzheimer, mal de Parkinson que sem medicamentos

têm seus problemas agravados. Além do sofrimento do paciente, a família também

sofre.

Nossa missão é árdua, temos que defender essas pessoas com unhas e

dentes. Estamos fazendo isso, com audiências públicas. Iremos a Santa Maria,

Caxias do Sul, Passo Fundo. Fizemos uma bela audiência em Pelotas e vamos fazer

nos outros Municípios, para tentar encontrar soluções.

Afirmo que o governo está preocupado em encontrar a solução, mas temos

que reduzir a dívida com a União e também fazer um fundo para o pagamento dos

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aposentados.

Independente disso, amanhã iremos a Brasília, este deputado juntamente

com uma comissão composta por membros do sindicato daqui, do conselho de

medicina, com o secretário Osmar Terra. Estamos trabalhando, mas não vamos

iludir vocês, a situação é muito grave, mas vamos fazer tudo que estiver ao nosso

alcance.

Certamente não resolveremos tudo, mas vamos procurar amenizar o

sofrimento dessas pessoas. Independente de partido, não queremos politicagem.

Nossa função é, se não resolvermos, ao menos amenizar. Muito obrigado.

O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Agradeço ao deputado Pedro

Pereira.

Gostaria de registrar que recebi ontem à tarde uma ligação do secretário de

Saúde, Osmar Terra, que deveria participar hoje de nossa audiência pública, mas

está em Brasília.

É importante que, na seqüência, quando for marcada esta audiência com o

secretário da Saúde, todas as entidades se façam presentes. O Ministério Público,

os profissionais médicos, os conselheiros que puderem, as entidades que

representam os pacientes, os familiares, o conselho de Farmácia.

É muito importante que possamos fazer uma grande mobilização, porque as

pessoas têm nos dito muito, por onde andamos, também quero fazer este registro,

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que é muito difícil conversar com o secretário da Saúde, que, em última análise é a

autoridade que está incumbida de resolver esse problema.

Então, está será a oportunidade que a Assembléia Legislativa vai oferecer

para que possamos ouvir o secretário e falar ao secretário numa audiência como

estamos fazendo aqui, mas ampliada com as pessoas e as entidades podendo se

manifestar para que possamos realmente, cara a cara, com toda a clareza, ter esse

contato e as explicações do secretário da Saúde e também transmitir a ele as

contribuições que toda a sociedade tem-nos trazido aqui nessas oito reuniões que

realizamos. Reitero a importância da presença de todos nesse ato a que todos serão

convidados.

Agradeço mais uma vez a presença de todos: a presidente da Associação

Gaúcha de Assistência à Mucoviscicose – AGAM, Sra. Cleci Terezinha Furian Müller

que está aqui conosco mais uma vez; a representante da Associação Rio-

Grandense de Apoio ao Diabético – ARAD –, Sra. Carmem Lúcia Salvatori; a

representante da AGAFAPE – Sra. Marlene Gazave; o representante da Associação

Rio-Grandense de Apoio ao Diabético, Sr. Walter Schell; a representante da

Associação Gaúcha da Doença Falciforme – AGAFAL, Sra. Neusa Maria da Rocha

Carvalho; a representante da Associação Gaúcha de Anemia Falciforme, Sra. Nilza

Lessa; a representante da Secretaria Municipal de Saúde da Prefeitura Municipal de

Porto Alegre, Sra. Cristine Moreira Pinz.

Agradecemos muito a presença de todos e convidamos para que continuem

conosco nas próximas reuniões, participando e nos ajudando a encontrar

alternativas para essa questão tão séria para o Estado. Muito obrigado. Boa-noite.

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DATA 04/06/2007: O SR. ZORAIDO DA SILVA – Boa-tarde senhores e

senhoras.

Cumprimento o deputado Luciano Azevedo e os vereadores presentes.

Em nome da Câmara de Vereadores de Caxias do Sul, saúdo a todos que

nos assistem aqui e pela TV Câmara.

O deputado Luciano Azevedo é o relator desta subcomissão da Assembléia

Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul, que trata dos medicamentos especiais

e de uso contínuo.

Em nome dos vereadores, desejamos um bom trabalho a todos.

Passo a presidência dos trabalhos ao deputado Luciano Azevedo.

O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Boa-tarde a todos.

Em nome da Assembléia Legislativa, cumprimento o presidente da Câmara

de Vereadores de Caxias do Sul, vereador Zoraido da Silva e a vereadora Geni

Petteffi.

Faço uma saudação especial ao meu companheiro de partido, vereador Edio

Elói Frizzo.

Cumprimento a secretária municipal da Saúde, vereadora Maria do Rosário;

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o presidente da Associação do Bairro Madureira e representante do Conselho

Municipal de Saúde, Sr. Luiz Pizzetti; a presidente do Rim Mulher, Rim Viver, Sra.

Isoldi Chies; a presidente da Associação Parkinson do Rio Grande do Sul, Sra.

Ângela Garcia; o representante da Associação dos Transplantados de Fígado do Rio

Grande do Sul, Sr. Jorge Luiz Kramer Borges.

E em nome deles, cumprimento também todas as entidades, a imprensa que

se faz presente, a comunidade de Caxias do Sul e região que nos honram com suas

presenças nesta audiência pública da Subcomissão de Medicamentos Especiais e

de Uso Contínuo da Assembléia Legislativa do Estado.

Gostaria, em primeiro lugar, de dizer que esta é a segunda interiorização

dos trabalhos da subcomissão. Já estivemos em Pelotas e iremos também a Passo

Fundo, oferecendo às comunidades regionais a oportunidade de se manifestar,

relatar a realidade sobre o fornecimento de medicamentos em cada região.

É importante dizer que esta subcomissão faz parte da Comissão de Saúde e

Meio Ambiente, presidida pelo deputado Alberto Oliveira, que provavelmente estará

conosco dentro de instantes. A subcomissão é composta por este deputado e os

deputados Pedro Pereira, do PSDB; Gilberto Capoani, do PMDB, e Paulo Azeredo,

do PDT.

Ao longo das últimas semanas, dedicamo-nos a ouvir os relatos dos

portadores das patologias, dos familiares, dos médicos, dos conselhos e de pessoas

que individualmente têm procurado a subcomissão para descrever as dificuldades

enfrentadas com o fornecimento irregular dos medicamentos que já tem acontecido

em alguns pontos do Estado há muitos governos.

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Temos procurado, lá na Assembléia, além de ouvir as pessoas, construir,

com a Secretaria de Estado da Saúde, uma alternativa para que o fornecimento dos

medicamentos seja regularizado.

Existe hoje, é bom dizer, uma dificuldade de caixa do Governo do Estado e,

fundamentalmente, uma dívida da Secretaria da Saúde com os laboratórios que gira

na ordem de 70 milhões de reais. Este tem sido o principal problema para que seja

regularizada esta questão. O dinheiro para os medicamentos é um dinheiro que vem

do Governo Federal e é bom que se registre que a informação que temos é que os

recursos vêm sendo repassados com regularidade ao Estado do Rio Grande do Sul.

O nosso drama, o nosso dilema e o nosso desafio é construir condições para que

esse recurso, que vem sendo repassado para esta finalidade, seja aplicado para

isso.

Que possamos construir condições de solucionar o problema dos hospitais

que precisam receber do Estado e os problemas das outras demandas do Estado

que fazem com que este valor que é repassado pelo governo federal, muitas vezes,

seja desviado para outras finalidades, todas elas nobres, todas elas importantes,

mas diferentes daquela que se previa.

Queremos abrir esta audiência pública para ouvir a realidade da grande

Caxias do Sul, da serra gaúcha. Abrimos os trabalhos desta subcomissão dizendo

que o nosso desafio aqui é construir as condições para que o fornecimento do

remédio seja regularizado. Não estamos aqui contra ninguém, todos estamos do

mesmo lado, ao lado das pessoas que têm necessidade de receber o seu remédio,

que têm o direito de receber a medicação e que não vêm recebendo por uma falha

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na estrutura estatal que nos trouxe a esta situação.

Nosso desafio é corrigir isto e encontrar condições, buscando forças,

somando vozes, aumentando a nossa representatividade para que o Governo do

Estado também faça a sua parte e passe a fornecer os medicamentos

adequadamente, com regularidade, à população.

Passo a palavra à Secretária Municipal de Saúde, Sra. Maria do Rosário.

A SRA. MARIA DO ROSÁRIO – Boa tarde a todos. Caxias do Sul já tem a

sua organização municipal, com uma farmácia ampla de medicação especial,

municipalizamos há 4 anos a medicação, a solicitação e o recebimento de processos

e a dispensação da medicação.

Todo este cenário que V. Exa. coloca é verdadeiro também em Caxias do

Sul. Temos dificuldade na dispensação da medicação, os processos são feitos, o

setor é muito bem organizado pelo município, na medida do possível ele é

informatizado e temos os recursos humanos suficientes, os processos são

encaminhados, há morosidade na regional, como V. Exa. colocou no início, estamos

todos do mesmo lado, são todas situações que quero trazer do ponto de vista

propositivo e construtivo.

A regional tem dificuldade de pessoal para encaminhar processos e registrar

os processos à capital do Estado. Chegando lá demora às vezes 9 a 10 meses para

recebermos uma resposta, um parecer favorável, ou mesmo uma pendência da

medicação, portanto, a burocracia entrava muito esse processo. Aprovada a

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medicação, quando o processo é aprovado, a população demora para acessar,

quando o tempo é rápido são 3 meses de espera. É uma situação histórica em

Caxias, desde que o município assumiu o recebimento da medicação, os processos

e a dispensação da medicação, sempre se manteve dessa forma.

Os atrasos, as compras, a provisão de compras é difícil. Nós buscamos

sempre e procuramos contatos, até com laboratórios, que nos colocavam que

existem pesquisas de laboratórios que são favoráveis a municipalização do recurso

da medicação especial.

É possível que se faça uma previsão por série histórica, é possível que se

agilize, tendo os peritos nos Municípios, um comitê de peritos médicos avaliando os

processos.

Falo rapidamente, porque todos aqui conhecem o processo. Alguns são

usuários, outros são representantes de Municípios, outros são serviços. Então, se

tivéssemos uma organização mais municipalizada, com o aporte de recursos

necessários, tanto pelo o governo federal, quanto pelo estadual, acredito que

venceríamos muitas dificuldades, além do que verificamos uma exclusão dos planos

privados na questão da medicação. O único sistema que oferece e garante a

medicação é o Sistema Único de Saúde. Sabemos que os planos privados não

oferecem essa garantia que o SUS oferece, e agravos de saúde muito grande, as

patologias mais importantes são as que tem a sustentação do Estado.

O retrato de Caxias do Sul não é diferente do retrato dos outros Municípios

que o senhor vá ouvir aqui. Muito obrigada.

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O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Agradeço as palavras da

secretária municipal de Saúde de Caxias do Sul. Ouviremos agora a presidente da

Associação Parkinson do Rio Grande do Sul, Ângela Garcia.

A SRA. ÂNGELA GARCIA – Boa-tarde a todos. Sou portadora da doença,

então, além de ser presidente da associação, atravesso todas essas dificuldades

dos doentes de Parkinson.

Realmente é uma calamidade. Já não chamo mais de dificuldade. É uma

calamidade não termos os medicamentos. Vocês conhecem a doença de

Parkinson? A maioria pensa que é a doença que treme. Doença de Parkinson não

só treme, mas tem outras conseqüências. Ela não nos deixa fazer nada. Sem

medicamentos não somos ninguém. Não podemos colocar uma roupa, não

conseguimos tomar um banho, não conseguimos caminhar, não conseguimos fazer

nada. Somos pessoas inúteis. A medicação é como se fosse um combustível para

conseguirmos fazer as coisas.

Devido a essa gravidade, fazemos um apelo grande à subcomissão para

que regularize essa situação. Não adianta dizer para as pessoas que Parkinson não

mata. O que adianta ser vegetativo. É uma maneira de ser vegatativo, porque a

pessoa está em cima de uma cama.

Pedimos que o governo regularize essa situação. Já faz mais de três anos

que está totalmente fora de regularização. Alguns itens têm, outros não têm. E a

resposta é que não há verba. Em nome dessas pessoas que são portadoras,

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estamos fazendo simpósios regionais em todo Rio Grande do Sul, onde estamos

levando informações sobre a doença e trazendo para a população maiores

conhecimentos sobre o que causa a doença e os tipos de tratamento.

Além disso, sem os remédios, não temos ninguém nem para ouvir esses

simpósios, porque não conseguimos sair de casa, não conseguimos caminhar, não

conseguimos fazer nada, nem a alimentação. É uma situação que nos deixa numa

depressão, porque temos a lucidez normal com um corpo que não corresponde.

Precisamos realmente dos remédios. Todos dizem que daqui há três meses

vai-se resolver. Não dá, isso é para ontem, é para hoje que eu preciso do remédio.

Eu tenho condições de comprar o remédio quando falta, mas há pessoas

que não tem nem para comprar o remédio, pois tem que comprar comida. Só tem

para um ou outro. Muitos deles tomam medicamentos como Sifrol, Prolopa, que são

básicos, Stalevo, Akineton, Selegilina, Mandidan. Não tendo esses remédios, não

adianta fazer atividades numa associação para que as pessoas saiam do isolamento

de casa para dizer que vocês só podem conviver com Parkinson, dentro das suas

limitações. Temos as nossas limitações, não adianta. Às vezes, esses doentes têm

em casa um remédio, tomam meio comprimido pela manhã e a outra metade, à

noite. Isso não resolve nada.

Gostaria de pedir aos senhores, em nome de todas as pessoas que têm

Parkinson, bem como a de seus familiares, porque eles também sofrem, para que

essa situação seja regularizada. Há pouco, conversamos com o secretário da

Saúde, de Bento Gonçalves, e ficamos sabendo que o próprio município está

arcando com o custo de alguns medicamentos, coisa que o Estado, por força de lei,

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deveria fazê-lo.

Não estamos pedindo esmolas; temos esse direito e a lei está a nosso favor.

Assim como temos de cumprir as nossas obrigações como cidadãos, cabe ao

Estado cumprir a sua parte.

Incluindo o custo de todos os medicamentos, gasta-se em torno de 800 reais

mensais, e tem mais fisioterapia e fonoaudióloga. Se uma pessoa for arcar com o

tratamento particular, esse fica em torno de 1.500 reais mensais. Temos uma base

de 20 mil pessoas precisando de medicação para essa doença.

Outro fator a ser enfocado é a enorme burocracia para saírem os processos

de solicitação dessa medicação. Por exemplo, eu recebi o diagnóstico de que tenho

Parkinson agora, mas só daqui a dois anos será ou não aprovada a minha

solicitação. A situação do doente é lamentável, afetando muito a família, tanto na

sua parte financeira, quanto emotiva. Também existe o caso das pessoas que são

colocadas em asilos, porque a família não tem condições de cuidá-las. Muito

obrigada.

O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Com a palavra o Sr. Jorge

Luiz Kramer Borges, da Associação dos Transplantados de Fígado do Rio Grande

do Sul.

O SR. JORGE LUIZ KRAMER BORGES – Deputado Luciano Azevedo,

agradeço o convite. Depois que realizamos aquela reunião na Assembléia

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Legislativa, a situação não melhorou; ao contrário, piorou. Diria que vivemos no

caos.

Sou paciente transplantado há nove anos e também dependo de

medicamentos imunosupressores – aqueles que evitam a rejeição –, e estamos com

falta de três deles, que nos são vitais: a Imunoglobulina Humana Anti-Hepatite B, um

medicamento caríssimo que sai em torno de 3.800 reais. Esse medicamento é

usado por pacientes que transplantaram o fígado por vírus B. A não utilização desse

medicamento pode ocasionar a recidiva do vírus, e esse é um processo muito

rápido, diria de 15 dias. Já tivemos casos em que os pacientes precisaram entrar

numa nova lista, mas foram ao óbito, por não conseguiram um novo órgão.

E a situação vem se agravando a cada dia que passa. Temos a falta de um

outro imunosupressor, que é o Micofenolato. E, segundo informações, esse

medicamento já chegou.

Mas como falei, há casos em que entregaram 80 ampolas desse

medicamento, que trata a hepatite, e elas ficaram 30 dias no abastecimento da

Secretaria da Saúde. Enquanto isso, o pessoal do interior todo ligando, nós

continuamos a cobrar do laboratório, que nos informou que já fazia mais de 20 dias

que o medicamento havia sido entregue. Acabamos descobrindo que o

medicamento estava no depósito. Depois de três e-mails da chefe da Farmácia,

esse medicamento começou a ser dispensado para o interior do Estado e para Porto

Alegre.

Isso é uma barbaridade! Esse processo, dentro da Secretaria da Saúde, tem

de ser revisto, desde o seu início, até chegar ao secretário. Nós, como entidade,

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como associação, temos entrado em contato com todos os laboratórios. Temos

mandado ofício e feito reuniões. Fomos a São Paulo e ao Rio de Janeiro, e em

contato com os laboratórios nos informaram – e pudemos comprovar – que já

fizeram três acordos com a Secretaria da Saúde e nenhum deles foi cumprido. Quer

dizer, acordos são feitos, planilha de pagamento é feita, mas, da última vez, que foi

em fevereiro e março, sequer pagaram a primeira parcela. Então, ficamos sem saber

o que há.

Entendemos a dificuldade do Estado, entendemos que são várias patologias

a que o Estado atende, mas o nosso tempo é limitadíssimo. Não podemos esperar

uma semana para tomar o medicamento. Em três, quatro dias, podemos fazer uma

rejeição. Isso quer dizer que podemos perder o enxerto, voltar para uma lista de

espera ou ir a óbito. Portanto é uma situação séria. O paciente passa por todo o

processo de aguardar um órgão numa fila, de saber se o transplante vai dar certo.

Depois que dá certo e o paciente está bem, agora vivemos a dúvida: vai acontecer

tudo de novo por falta de medicamento?

Parabenizo novamente o deputado e esta subcomissão porque temos

confiança que, na audiência pública que vai acorrer provavelmente neste mês,

deputado, que o secretário esteja presente e não se omita, como sempre vem

fazendo, mandando um representante. Gostaríamos que ele estivesse presente e

falasse sobre a real situação do problema aos pacientes, ao Ministério Público e ao

Tribunal de Justiça, que devem fazer parte desta subcomissão.

Caso fizerem um cronograma de pagamento, e não puderem pagar 100,

então paguem 10, mas é preciso pagar porque os laboratórios se dispõem a

entregar o medicamento desde que esses pagamentos tenham sido realizados.

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Então, não adianta fazer um cronograma para pagar 1 milhão e chega o dia do

vencimento, e não pagam. É preferível pagar 100 mil todos os meses e haver o

abastecimento na farmácia a acontecer o que está acontecendo.

Preocupa-me muito o que a promotora Dra. Marinês Assmann nos falou que

o Ministério Público já se está esgotando de tantas ações que estão entrando.

Enfim, a nossa esperança está nesta subcomissão e que, na audiência pública,

consigamos resolver esta situação. Muito obrigado.

O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Agradeço o Sr. Jorge Luiz

Kramer Borges, que já esteve conosco numa reunião desta subcomissão na

Assembléia. É importante reforçar ao que ele fez referência que, ao final dos

trabalhos da subcomissão, provavelmente neste mês ou no início do mês de julho,

devamos promover uma grande audiência pública com a presença do secretário da

Saúde, que conhece, obviamente, a questão para que tenha contato com todos os

envolvidos no tema.

O Ministério Público tem nos acompanhado, e a Defensoria Pública do

Estado tem agido muito em relação a isso, inclusive nos informou que, na Grande

Porto Alegre, nos primeiros meses do ano, aumentou 40% o número de ações

judiciais que buscam garantir o acesso aos medicamentos, quer dizer, está sendo

feito um grande esforço de várias entidades e organizações no sentido de assegurar

o fornecimento dos remédios. No encontro com o secretário da Saúde, como o Sr.

Jorge acabou de referir há pouco aqui, queremos convencê-lo e sensibilizá-lo

pessoalmente.

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Registro a presença do secretário de Saúde de Bento Gonçalves, Sr.

Roberto Mielle, a quem ainda vamos ouvir.

Concedo a palavra ao presidente da Associação do Bairro Madureira, Sr.

Luiz Pizzetti, que é também representante do Conselho Municipal de Saúde.

O SR. LUIZ PIZZETTI – Boa-tarde ao deputado Luciano Azevedo, ao nosso

presidente da Câmara, Sr. Zoraido da Silva e aos vereadores e vereadoras. Boa-

tarde aos companheiros e companheiras da platéia.

É emocionante ver o pronunciamento da nossa companheira sobre a doença

do alzheimer, que também estou aqui levantando. Conheço muitas pessoas

portadoras dessa doença que precisam de um remédio que é caríssimo sem

possibilidade de compra. Em vista disso, apelamos para que os governos federal,

estadual e municipal cumpram com seu dever.

Nós, da Associação dos Moradores do Bairro Madureira, lutamos por

educação, saúde e segurança, plataforma política da maioria dos candidatos que se

elegem. Mas, quando assumem o poder, em vez de investir em educação,

segurança e saúde, as verbas são diminuídas.

O povo tem que se organizar e cobrar a promessa de campanha de cada

candidato. Só assim faremos valer, de fato, as nossas leis e os nossos direitos.

Como representante do Conselho Municipal da Saúde quero dizer que, dos

remédios que o Estado e os Municípios têm obrigação de fornecer, os mais caros

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não têm para entrega. Na farmácia popular, só tem remédios baratos, os mais caros

não se encontram.

Queremos que o governo cumpra com a obrigação de fornecer o remédio de

uso contínuo para quem não tem poder aquisitivo. Acreditamos que os governos

federal e estadual têm recursos suficientes para enviá-los para o SUS.

Pensamos que saúde, educação e segurança devem ser prioridades do

nosso País e do nosso Estado. Só o povo organizado pode fazer valer as nossas

leis.

Pelo Estatuto do Idoso eu tenho direito de ser priorizado no atendimento,

mas advogados descumpriram essa lei. Queremos, de fato, ser respeitados porque

pagamos os nossos impostos para ter retorno, mas o retorno nunca chega.

O governo deve fiscalizar o dinheiro público. Dinheiro não falta e se fosse

bem aplicado e fiscalizado não faltaria para o remédio, para a educação, segurança

e para todas as coisas importantes de que o povo mais necessita.

Achamos que a metade do dinheiro público, ou mais, é desviada, sonegada

e roubada. Não podemos aceitar essa política do dinheiro público que parece que é

capim. Nós passamos necessidade e os outros rolam com dinheiro no bolso, no

meio das paredes, mas os governos estadual e federal dizem que não tem dinheiro

para investir.

Achamos que tem dinheiro, sim, mas precisamos fazer a nossa parte. Se

cada um de nós fizer a sua parte, achamos que podemos, sim, fazer valer os nossos

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direitos.

O SR. ZORAIDO DA SILVA – Passamos a palavra à Sra. Isoldi Chies,

presidente do Rio Viver.

A SRA. ISOLDI CHIES – De um lado é uma alegria poder estar aqui hoje,

porque está mobilizando pessoas da nossa cidade para ver o grave problema que é

a falta da medicação. Nós trabalhamos com renais crônicos há 18 anos. Tentamos

muito ressocializar o renal crônico. Procuramos não deixar faltar nada do que é do

sustento do dia a dia, como atendimento psicológico, nutricional, em todos os

sentidos. Mas como é que fica? Hoje somos a cidade do Brasil com o maior índice

de sim à doação de órgãos, quando a família é procurada. Isto nos orgulha muito. É

um trabalho que está sendo feito semanalmente na cidade. Os transplantes estão

saindo, e muitos, que bom.

E chegamos ao ponto em que o medicamento falta. Por poucos dias, como

já disseram os colegas, pode haver uma rejeição. Para o renal crônico, ainda é mais

fácil, porque ele voltaria para uma máquina, o que já é uma luta, mas e os nossos

colegas de fígado ou outras doenças? Não tem volta, é muito difícil.

Existe muita desinformação, até dentro da classe que usa esse

medicamento, porque a doença não escolhe se sou eu ou quem será o próximo

candidato a transplante ou a uma máquina de hemodiálise. As pessoas chegam e

perguntam se veio o remédio. NÃo, não veio. E agora, o que eu faço? Onde eu vou?

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Temos que conscientizar para que cada um saiba da importância desse

medicamento. A vida deles depende desse medicamento e não podemos mais ficar

calados perante esta triste situação que deixa tanta gente agoniada. Como disse a

colega do parkison, não é só o paciente que é o doente, é a família toda que fica

envolvida. Não tem, mesmo o que está melhor financeiramente, para custear uma

medicação sempre fica difícil.

Está na hora de todos, toda a comunidade se mobilizar para pedir os nossos

direitos, isto é fundamental. Sem isso o que adianta o nosso esforço? Acho que,

juntos, e vejo aqui até bastante gente, poderemos mudar alguma coisa. Caxias tem

em torno de 400 pessoas em hemodiálise, ou transplantados de rins, no Rio Grande

do Sul são cerca de 6 mil. Isto é um número razoável, incluindo as famílias que

sofrem com isso. Temos que tomar consciência de que cada um de nós é

responsável por esta situação e precisamos exigir os nossos direitos para que as

coisas aconteçam de forma melhor.

O SR. ZORAIDO DA SILVA – A Sra. Secretária solicitou a palavra

novamente para complementar alguns dados.

A SRA. MARIA DO ROSÁRIO – Eu estava mostrando ao deputado que o

município de Caxias do Sul investiu, de orçamento próprio, em 2006, 1 milhão e 300

mil reais em ações judiciais. Isso significa dizer que, quando um usuário que não é

atendido pelo Estado ou por dotação de verba federal que deveria vir para a compra

do remédio e não atende o usuário ele entra na justiça para buscar o seu direito

legítimo e constitucional. Aqui em Caxias do Sul o judiciário entende que a

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responsabilidade é solidária, é do município e do Estado. Acaba que o município é

quem está atendendo.

A gente entende esta luta, sinto-me orgulhosa de estar aqui hoje, trabalhei

como servidora municipal nesta farmácia de medicação especial, algumas das

pessoas transplantadas que estão aqui eu conheço deste balcão, e acompanhei

sempre a angústia de um atraso. Tudo o que foi dito aqui por parte das associações

é verdadeiro e a gente acompanha no balcão quando trabalha lá, e digo mais,

aprendemos muito de solidariedade lá, porque teve momentos em que faltou

medicação e nós, do serviço, ligávamos para as casas dos transplantados e eles

repartiam com os outros a medicação. Isto não é novidade, todos sabem disso.

Só quero frisar que é necessário que se faça um movimento para que se

cumpram as competências das esferas, porque os municípios não irão ter estrutura

financeira para arcar com essas despesas, uma vez que eles investem na atenção

básica, na alta complexidade, nas cirurgias, nas consultas especializadas, há que se

cobrar das esferas competentes esse financiamento, se tem que mudar o processo,

reestruturar, passar para os municípios fazerem a gestão desse dinheiro, porque

esse dinheiro é faturado através de Autorização de Procedimento de Auto Custo,

cada medicamento que se pede ao Estado é gerada uma APAC, esta APAC é um

cheque que o governo federal paga e o governo estadual também. Esse dinheiro fica

nos cofres. O que temos que verificar é a forma de repasse e os sistemas de

compra, e como manter esse sistema atualizado para que não hajam esses atrasos.

Muito obrigada.

O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Obrigado. Queremos ouvir,

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agora, o secretário da saúde de Bento Gonçalves, Roberto Mielle, para que ele faça

um relato da situação do fornecimento dos medicamentos em Bento Gonçalves.

O SR. ROBERTO MIELLE – Boa tarde a todos. O que nos trouxe aqui foi

que hoje, pela manhã, recebi na Secretaria a Ângela, que é presidente da

Associação dos Portadores de Mal de Parkison e me sensibilizou muito o relato feito

por ela e, por essa razão, num ato de solidariedade aos problemas apresentados por

ela e a todos os transplantados e a todas as pessoas portadoras dessas doenças

crônicas, do drama em que essas pessoas vivem.

Para mim, agora, fica até fácil comentar o lado do gestor público, a

responsabilidade do gestor e do município, após termos ouvido a nossa colega,

Maria do Rosário, Secretária da Saúde de Caxias do Sul, que colocou, de uma

maneira muito objetiva, o que, na realidade, acontece com os municípios. Isso não é

diferente do que está acontecendo com a maioria dos municípios, através de ações

judiciais, temos que responder por responsabilidades que seriam das outras duas

esferas de governo, do estado e federal, em cima de medicamentos especiais e

excepcionais. Existem portarias que definem as responsabilidades. O município tem

um relação de medicamentos que é sua responsabilidade, os especiais e os

excepcionais com o estado e o ministério, que deveriam cumprir com isso. Na

realidade, estoura no lado mais perto que é o município, como a Rosário falou.

Há um consenso, dentro do Poder Judiciário, de que os três entes são

solidários. Como os três entes são solidários, o mais próximo e o mais fácil de se

fazer cumprir uma determinação judicial é o município e com isto todos os

municípios têm arcado com esta responsabilidade. Até já tivemos contato com o

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Poder Judiciário e com o Ministério Público relatando o drama em os problemas que

os municípios vão começar a enfrentar, digo vão começar a enfrentar, em termos de

medicamentos de uso contínuo que é a responsabilidade do município, sim, mas as

ações judiciais estão fazendo com que o nosso orçamento, que é finito, não é

infinito, temos uma dotação orçamentária, temos que trabalhar dentro desta dotação

orçamentária e todos sabemos o que poderá acontecer.

Eu conversava, há questão de 15 dias, com um juiz federal em Bento

Gonçalves, vai chegar daqui a uns meses e nós não teremos condições de manter o

que é responsabilidade do município. Existe a emenda 29, inclusive na semana

retrasada estivemos falando com o deputado Alberto Oliveira sobre a preocupação,

principalmente da região, do que está acontecendo na área da saúde, a emenda 29

diz que o município tem que dispor de 15% das receitas na área da saúde, e não

existe nenhum município que cumpre o mínimo, pois a maioria investe mais do que

os 15%. Ficamos perplexos quando vemos que o Estado, que deveria aplicar 12%

não aplica nem 5%. O ministério da saúde, que deveria aplicar 10% também não

está cumprindo com isso, no entanto, o gestor municipal, aquele que tem a

obrigação de atender às comunidades, o reflexo cai, normalmente, em cima do

município, e a coisa vai chegar num ponto que irá ficar insustentável. Não estamos

tirando o direito que as pessoas transplantadas e os crônicos têm, isto está na

Constituição, a responsabilidade do estado, e estado subentende-se as três esferas

de governo, só que, na realidade, hoje, quem está cumprindo são apenas os

municípios. Os municípios cumprem e cumprem além do que determina a lei, ao

passo que as outras duas esferas de governo não há maneira de fazer com que seja

cumprido.

Acho engraçado isso, mas numa reunião em Torres, num seminário de

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saúde com o Tribunal de Contas e o Ministério Público foi levantado por que o

Tribunal de Contas, quando vai ao interior, vai nas prefeituras e aponta se o

município não investe os 15%, foi questionado por que o Estado não comprova os

gastos, no entanto, vemos que foram aprovadas as contas do governador fulano de

tal, somente com uma ressalva: não ter cumprido a emenda 29. Aí contestamos por

que a diferença de tratamento entre as duas esferas de governo, estadual e

municipal? A resposta que tivemos é de que os auditores do Tribunal de Contas

aponta, mas o governador tem um plenário do Tribunal de Contas que julga o

governador e que, no entendimento deles vêem que não cumprem a emenda 29,

mas não têm como penalizá-los. Agora, se forem os prefeitos que não cumprem,

com certeza, todos os repasses de verbas de outros níveis de governo irão ficar

bloqueados porque não investiu aquilo que a lei determina, ao passo que as outras

esferas não cumprem e a coisa fica por isso.

Esse é o desabafo que temos que fazer, a grande preocupação de todos os

secretários de saúde, hoje, com o não cumprimento, tanto no financiamento como

nas responsabilidades das outras duas esferas de governo.

Tenho uma reunião em Bento Gonçalves, às 16 horas. Como me

comprometi, aqui estou para solidarizar-me com o drama pelo qual passam essas

pessoas. Entretanto, daqui a pouco, peço licença para me retirar.

As Associações dos Secretários de Saúde do Rio Grande do Sul podem

contar conosco, pois somos solidários com todos os problemas vivenciados por

essas pessoas que não se limitam a sua doença, mas com o fato de não

conseguirem os medicamentos. Muito obrigado.

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O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Agradeço a presença do

Secretário da Saúde, de Bento Gonçalves. Esteja à vontade, secretário.

Com a palavra, para complementar, o Sr. Jorge Luiz Kramer Borges.

O SR. JORGE LUIZ KRAMER BORGES – Tudo o que nos foi exposto pelos

secretários muito nos preocupa. A pessoa entra com uma ação na Justiça contra o

Estado, e a Secretaria da Saúde simplesmente não está cumprindo a decisão

judicial. Aqui temos o exemplo da Dona Irdes, que entrou judicialmente, o prazo

dado foi de cinco dias, penso eu, e o Estado, até hoje, não cumpriu a ordem judicial.

As únicas ordens judiciais cumpridas são aquelas em que os advogados

entram com uma nova petição, e o juiz dá um prazo de 24 horas, sob pena de prisão

do secretário da Saúde.

Essas decisões estão sendo repassadas rotineiramente para os Municípios.

Já existem pessoas entrando diretamente contra o Município, pois já sabem que o

Estado não cumpre a decisão judicial.

O secretário Osmar Terra não está cumprindo as decisões judiciais, a

assessoria jurídica faz vistas grossas para o processo. E o dinheiro apenas é

depositado, ou o medicamento é liberado, quando chega uma determinação de

pagamento em 24 horas ou a prisão do secretário. A situação dos Municípios está

ficando muito complicada. Muito obrigado.

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O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Com a palavra, para

complementar, a Sra. Ângela Garcia.

A SRA. ÂNGELA GARCIA – Já entrei com um pedido judicial três vezes, e

a burocracia é enorme. A Associação Parkinson, solicitou-nos uma defesa individual.

Depois da realização dessa subcomissão, que esperamos resolva alguma

coisa, quero dizer-lhe que já temos uma ação judicial em nome da Associação.

Como ter de passar por um juiz para se aprovar uma doença? Se ele não

conhece alguém com essa patologia, simplesmente não passa o processo, não sabe

o que a pessoa está passando. Para fazer essa análise, deveria ser uma pessoa

com conhecimento sobre a patologia de Parkinson.

Sobre o secretário Osmar Terra, penso que lhe falta sensibilidade. Posso

convidá-lo para conviver apenas dois dias com pessoas com essa patologia na

Associação Parkinson. Poderia auxiliá-los a colocar suas roupas e tudo o mais que

já dependem de outras pessoas. Sentiria, na carne e na alma, o que é ter Parkinson.

Também não somos vítimas, apenas desejamos os remédios.

O secretário Osmar Terra não comparece a nenhuma audiência em que é

solicitada a sua presença, manda um representante, que diz: a situação está sendo

resolvida.

Para mim, não é um juiz que deve determinar se temos ou não de tomar o

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remédio, mas um neurologista. Muito obrigado.

O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Com a palavra o Sr. Eduardo

Yotti, que representa a 5ª Coordenadoria da Saúde.

O SR. EDUARDO YOTTI – Boa-tarde. Estou na Coordenadoria há um ano e

seis meses, na qualidade de coordenador, e temos uma preocupação enorme com o

setor de medicamentos.

O nosso trabalho é acompanhado pela Dona Izoldi e pela Maria do Rosário,

só que ele foge muito da nossa alçada. As coordenadorias, infelizmente, não têm o

poder de decisão.

Podemos solicitar que o Estado nos forneça o que solicitamos. Recebemos

uma média de 200 a 250 solicitações por semana por medicação. Não temos na

Coordenadoria um processo parado, todos estão em Porto Alegre. Só que,

chegando lá, vai para o médico perito, vai para um lado e para outro, demorando de

60,90,120, 140 dias!

Sexta-feira última, atendi uma senhora que me disse estar há um ano

esperando pelo medicamento. Ao analisar o caso, vi que nem adiantava encaminhar

o processo novamente, pois já havia chegado a hora da sua reavaliação.

Estamos fazendo tudo o que podemos! Chegamos a ir em caravanas a

Porto Alegre, cobramos do CEPAF, cobramos do secretário, mas tudo dentro do

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nosso limite. Chegamos até à emoção, pois muitas pessoas choram, outras brigam,

querem nos ofender, mas entendemos a situação e o interesse dessas pessoas.

Muitas delas estão deixando de comer para comprar remédios.

Não temos o poder que desejaríamos ter! Estamos brigando por uma

descentralização. Caxias do Sul, Veranópolis já reivindicaram essa descentralização

para não deixar nas mãos do governo do Estado esses medicamentos.

Já aprovamos, pela nossa Comissão Intergestora Bipartide, que consigamos

essa descentralização, repassando esses medicamentos para a cidade de Caxias

do Sul. Veranópolis também está fazendo a mesma reivindicação.

Queremos viabilizar a oferta desses medicamentos de uso contínuo às

pessoas. Não desejamos que essa situação continue. De cada dez ligações que

recebo na Coordenadoria, oito delas são para saber do andamento do processo que

solicita tais medicamentos. Isso nos causa um transtorno muito grande. Não

precisamos disso. Precisamos de uma autonomia para decidirmos.

Sei que o Estado passa por uma situação difícil. No mês passado, foram

gastos quatro milhões em medicamentos. A nossa Coordenadoria faturou em APAC

282 mil reais. Isso não é nada, porque, em janeiro do ano passado, faturamos 980

mil reais. Vejam como baixamos! Isso significa que estamos entregando até 50%

dos medicamentos que deveríamos entregar!

Tenho certeza de que o secretário tem consciência dessa situação.

Fazemos reuniões de coordenadores, mostramos todos os dados, existe um

acompanhamento. Mas o Estado está com dificuldade para pagar os laboratórios. E

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os próprios laboratórios, como forma de pressionar, não entregam os medicamentos.

Tudo isso prejudica as pessoas que estão do outro lado.

Temos de encontrar um ponto comum para que essa situação mude, porque

ela nos causa um transtorno muito grande. Muito obrigado.

O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Com a palavra o Sr. Wilson

de Souza.

O SR. WILSON DE SOUZA – Boa-tarde. Sou presidente da associação do

Bairro Século XX. Pessoas que ganham um salário mínimo – 350 reais –, como

podem custear os seus remédios? Eles não têm como comprá-los.

Em meu bairro, têm duas pessoas com câncer, precisam de uma

alimentação delicada, mas não têm condições de comprar os remédios. Como eles

ficam?

Dinheiro some de um lado, some do outro. Mas, como ficam os pobres?

Muitas pessoas não têm serviço ou estão sem trabalhar por causa da idade, não

conseguem serviço nenhum, mas estão doentes. Pergunto-lhes: como é possível

conseguir remédios para essas pessoas?

Temos de encontrar uma solução para esses problema. Sempre solicito aos

presidentes das Associações de Bairros que compareçam às reuniões na Câmara

de Vereadores. Se ficarmos apenas esperamos, não conseguiremos nada. Muito

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obrigado.

O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Com a palavra o vereador Eloi

Frizzo.

O SR. ELOI FRIZZO – Minha saudação ao deputado e amigo, Luciano

Azevedo.

O tema dos remédios é tratado na Câmara de Vereadores de forma

permanente. Temos 17 vereadores, e diariamente esse problema é constatado com

a presença de pacientes ou familiares que nos solicitam providências.

Na cidade, contamos com entidades muito ativas, como a Associação dos

Renais Crônicos, Associações que trabalham na área do Câncer. A luta é constante.

Essa realidade não nos é desconhecida.

O companheiro Cecy, eleito Diretor de Saúde da União de Bairros, e que

nos representa no Conselho Municipal de Saúde, diariamente circula pelas

farmácias. Ele já é uma referência, pois busca os remédios onde ele os encontrar,

busca uma receita do SUS para pegar os remédios numa farmácia pública. Quando

a receita é de um médico particular, tudo se torna mais difícil. Essa é a realidade.

Conversava com a vereadora Geni Peteffe que temos uma colega de

trabalho – a Rejane que está aqui conosco – que se submeteu a um transplante há

cinco meses. Perguntamos a ela quanto gastava para comprar o remédio contra

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rejeição, são três caixas por mês: 800 reais para cada caixa de medicamento! Isso

representa um gasto de 2.400 reais por mês! Nem que ela tivesse o cargo de

vereadora ao quádruplo poderia custear esse tratamento. Diariamente, ela nos

coloca a sua angústia: mas eu vou eu vou ter o remédio? Ela não pode ficar 72

horas sem tomá-lo.

Então, meu caro deputado, o enfoque também deve-se dar sobre os

laboratórios, porque é um roubo, é um assalto cobrar 800 reais. O problema de

todos esses remédios é estarem nas mãos dos laboratórios multinacionais. O

Estado tem de ter coragem de sair para quebra de patente, priorizando, por

exemplo, o Lafergs, fazendo com que, de fato, o laboratório do Estado passe a

produzir esse tipo de medicamento.

Deveria se utilizar a força política do Estado sobre esses laboratórios para

esse remédio em vez de custar 800, custar 100 reais. Nem estou na tese do Sr.

Wilson de Souza quanto aos 350 do salário mínimo. Estou baixando para 100. Se

custasse 100 reais, talvez para o Estado custasse muito menos. O que se vai fazer

num Estado falido como o Rio Grande do Sul?

É claro que entendo também, como a nossa secretária e o secretário

entendem, que a prioridade é a vida que está, sem dúvida nenhuma, antes de uma

obra, antes do asfalto, antes de tudo. A prioridade é a vida, mas há a pressão

política. Uns se organizam mais; outros se organizam menos. As pessoas vão

morrendo, e a gente nem fica sabendo.

O relato do Sr. Renato Iotti de que, no ano passado, no mesmo mês, se

faturou 800 e, no mesmo mês deste ano, se faturou 200, significa dizer que alguém

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foi para o beleléu. Alguém bateu às portas de São Pedro, porque estava sem os

remédios. Não há como haver uma constatação diferente.

Então, nesse sentido, talvez, meu caro presidente desta subcomissão, a

quem cumprimento por esta iniciativa, com todo respeito, acho que o secretário de

Saúde do Estado está meio acomodado. Sou da tese da vereadora Geni Petteffi:

não deu no couro, troca. É preciso que a governadora tenha coragem porque é um

figurão do Estado e tal. Não sei o que há, deputado.

Se não deu, põe alguém que está a fim de trabalhar, que, pelo menos, vá à

reunião. É preciso que o paciente veja que o secretário está na sua frente, não

mandou representante. Essa foi uma das queixas que o pessoal trouxe aqui. Enfim,

é de focar também a questão dos laboratórios.

Concluindo, para não me alongar, a questão da aids não é política, mas o

ministro Serra se projetou muito devido à história da quebra de patentes dos

remédios para uso contínuo. Tem de haver coragem para quebrar patentes. Não há

problema nenhum. Ou pelo menos usar a força política do Estado para fazer baixar

preços e, quem sabe, o Estado poder fazer uma intervenção mais clara e salvar

vidas. Muito obrigado.

O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Agradeço a palavra do

vereador Eloi Frizzo. Poderemos ouvi-lo depois novamente se for desejo dele.

Vamos ouvir a vereadora Geni Petteffi e, em seguida, o Sr. José Cavalli e as outras

pessoas que estão inscritas para se manifestar.

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A SRA. GENI PETTEFFI – Boa-tarde, deputado; boa-tarde à Mesa.

Vou falar até de cadeira, porque minha mãe ficou oito anos com Alzheimer.

Tenho um irmão que precisa de medicação para o fígado. Então, sabemos o que

isso representa para uma família, mas não falo me queixando.

Como o vereador Eloi Frizzo falou, aqui é raro o dia em que não recebemos

uma ou duas pessoas com as receitas sem condições de comprar os remédios. Elas

nos dizem que, se comprarem o remédio, não têm o que comer. Ou se morre de

fome, ou se morre porque não tem o remédio.

Acompanhamos de perto a Rejanes e sempre dizemos que ela foi uma

guerreira porque batalhou muito. Ela nos diz que, ficando 72 horas sem medicação,

tem rejeição dos rins. É essa a preocupação que temos.

O vereador Eloi Frizzo está certo: tem de quebrar esses paradigmas e fazer

alguma coisa. Os laboratórios têm que ser chamados, porque com o que eles

faturam, principalmente as multinacionais, poderiam ser mais amenos com a

população. Eles têm condições de fazer isso.

Ouvi o nosso secretário, se não me engano, sábado à noite, em um desses

canais de televisão, falando sobre esse assunto. Ele disse que todo o problema da

falta de remédios é que o governo federal não repassa recursos. Ele falou que se

teria de cobrar do governo federal. Até comentei esse programa com o vereador

Eloi.

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Penso que passou a era do nosso secretário. Tenho dito e disse também

para ele que temos de colocar gente que tenha condições de trabalhar. Ele já tem

emprego de deputado federal, que volte a Brasília e ponha aqui pessoas que

tenham condições e vontade de brigar. A população de Caxias do Sul é de 400 mil

habitantes. Então fazíamos a conta: 2.400 reais por mês de cada um são três

caixas, o que dá 96 mil reais.

Alguma coisa tem de ser feita. Os laboratórios têm de ser chamados à

responsabilidade. O secretário da Saúde tem que ir às reuniões, tem que participar

das audiências públicas e tem que mostrar a cara. Quem quer ser alguma coisa no

poder público, tem que mostrar a cara. Não pode se esconder atrás de assessores

ou de outras pessoas. Ele tem de ir para a linha de frente e dizer o que está

acontecendo.

No entanto, tem de haver um pouco mais de sensibilidade daqueles que

atendem às pessoas principalmente em Porto Alegre, na Secretaria de Estado

porque, muitas vezes, elas voltam daqui chorando.

Uma cidadã me contava um dia que tinha um problema de falta de uma

medicação. A Unimed deu um mês, e ela não podia comprar porque custava 3.800

reais. Solicitaram sete ampolas de que ela precisava. Descobriram que das sete,

três tinham sido vendidas. Não sabem por quem, mas foi lá da Secretaria da Saúde

do Estado.

Então tem de ser feita alguma coisa para que se mude toda essa história,

porque já está muito arcaica. Tem que se modernizar um pouco. Muito obrigado.

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O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Concedo a palavra ao Sr.

José Cavalli.

O SR. JOSÉ CAVALLI – (manifestação longe do microfone)

O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Deixe interrompê-lo para lhe

pedir uma gentileza. Se o senhor puder use o microfone, porque esta é uma

atividade oficial da Assembléia e temos obrigação de registrá-la.

O SR. JOSÉ CAVALLI – Se é obrigatório, vou usar. Nada é obrigatório

neste Rio Grande do Sul.

Outro detalhe: a questão é de laboratório, mas como políticos, às vezes, não

fazem o que têm de fazer. Por que o meu médico ou o médico da minha filha fazem

duas viagens por ano para visitar o exterior, pagos pelo laboratório? Então é fácil

resolver isso. Aquele que assina o passaporte não deve dar passaporte para ele

viajar. Ah, mas é direito particular que ele tem! E daí? Vai ver quem paga o Imposto

de Renda dele. E vamos adiante.

Então, creio que é um problema primeiramente de médico. Pergunto:

quantos médicos há aqui? Quantos? Se eu baixo um hospital e o médico deixa uma

receita, coitada da atendente de plantão, querendo-me aplicar o medicamento. E o

médico?

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Agora pergunto: se o engenheiro, ao construir um prédio do governo ou cair

uma estrada, quem é o culpado? Não é o engenheiro? Ou é a governadora? Então,

está na hora de virar um pouquinho as coisas. Está na hora de quem está no

comando e de quem nos representa, se mexer.

Uma audiência pública lá em Porto Alegre não vai resolver. Tem de resolver

naquele setor, onde há pilhas de medicamento para mandar, mas que estão

estragando e outras coisas mais e resolver por que no mês tal, dia tal, não foi pago o

laboratório tal que mandou o medicamento.

A próxima viagem, aliás, não posso deixar de falar o que a Ana comentou

sobre o neurologista que tem que fazer as coisas, mas digo que, se eu não tiver o

medicamento, vou conseguir uma viagem de avião para os Estados Unidos para

comprar o medicamento. Venho de volta com ele congeladinho em 12 horas. O que

vai acontecer? Vou pagar a metade do que o Estado paga. O medicamento da

minha filha custa 6.875 por mês.

O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Agradeço a palavra do Sr.

José Cavalli; está feito seu importante registro e manifestação. Concedo a palavra

ao presidente da Comissão de Saúde desta Câmara Municipal, vereador Pedro

Incerti.

O SR. PEDRO INCERTI – Minha saudação ao deputado Luciano Azevedo.

Parabenizo-o por esta iniciativa, por tratar deste tema e do problema de saúde

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pública, que é sério. Uma saudação a todas as autoridades e demais participantes

desta reunião.

Quero dizer, deputado, que tenho uma idéia, uma sugestão e que teremos

de trabalhar nesse sentido. Ouvi hoje, numa emissora de rádio, a notícia de que até

o final de maio a receita, a arrecadação da CPMF chegou próximo a 15 bilhões de

reais.

Então, penso que o caminho para resolver o problema de saúde pública e

dos medicamentos que está enquadrado na questão de saúde pública é por aí. O

vereador Frizzo comentou que se discute esse assunto aqui com freqüência.

Inclusive aprovamos uma moção a favor da juíza da comarca de Torres, se não me

falha a memória, no primeiro ano da nossa gestão em 2005, quando ela denunciou e

cobrou do Ministério Público o quanto se arrecada de CPMF e onde está sendo

investido esse dinheiro. Essa contribuição foi criada com a finalidade de tratar a

saúde no Brasil. Discutimos a decisão da juíza e aprovamos uma moção em favor

aqui na Câmara.

Então, não vejo outra saída, senão pressionar as autoridades em busca

desses recursos, o que é a solução para o problema. Foi o Dr. Adib Jatene, na

época, que teve a brilhante idéia de criar esse imposto. Por que não exigir que esse

dinheiro realmente seja para a saúde? Foi criado para essa finalidade, mas não está

sendo devidamente usado. Todos nós sabemos isso, pois, se fosse, teríamos a

solução do problema de saúde no Brasil.

Então passa por aí essa cobrança de todos nós no sentido de exigir das

autoridades, do governo central, enfim, o uso desse dinheiro para resolver esses

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problemas, porque é um absurdo. As pessoas estão mendigando, batendo na porta

do Judiciário como que não fosse um direito. Isso está consagrado na Constituição.

Está na Constituição e o sujeito precisa entrar com uma ação para buscar

um direito que lhe é assegurado. É um absurdo. Gastará mais dinheiro para tentar-

se socorrer.

A minha sugestão, a minha idéia é que haja uma mobilização forte no

Judiciário, mas que haja essa cobrança no sentido de que esses recursos sejam a

solução para a nossa saúde pública.

Mais uma vez, parabenizo-o por essa iniciativa de discutir temas tão

importantes para a nossa comunidade. Muito obrigado.

O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Muito obrigado, vereador

Pedro Incerti, presidente da Comissão de Saúde da Câmara de Vereadores.

Ouviremos o senhor Izidoro Zanette.

O SR. IZIDORO ZANETTE – Há um ano e meio, quero dizer que a coisa

não é de hoje não. É uma estrutura. Nós, como cidadãos, temos que exigir dos

nossos deputados, trabalho. Temos que modificar a estrutura governamental. Não

há governos culpados, não é a Yeda, é uma estrutura que vem de muitos anos. Não

adianta culparmos uma governo hoje.

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Temos algumas perguntas a fazer. Para onde vai o dinheiro dos nossos

impostos. Quem é que coordena a distribuição do dinheiro? É federal, é estadual, é

municipal?

O fato é que ultimamente os Municípios têm que prestar conta disso, prestar

conta daquilo. São aqueles da ponta que estão empurrando a máquina, mas o

recolhimento do imposto está sendo, principalmente, para o governo central.

Nós, como cidadãos, não adianta espernearmos tanto. É tudo uma estrutura,

gente. Queremos que os nossos deputados exijam uma definição de

responsabilidade do governo federal, estadual e municipal. Porque isso de empurrar

daqui e dali, nós, cidadãos, estamos cansados.

Sou presidente da Associação de Apoio aos Diabéticos de Bento Gonçalves

e liguei para Caxias do Sul para saber daquelas fitinhas que revelam a glicose no

organismo. Diabete é assim: se não é produzida a insulina, então a pessoa morre. A

insulina é o hormônio que leva o alimento para a célula. Bem, fui no SUS, em Bento

Gonçalves, nada feito, não tinha lantos, não tinha insulina, não tinham as fitas

reagentes.

Por que não são fabricadas, aqui no Brasil, essas fitas reagentes? Pode ser

até que são, mas são caríssimas. Então, liguei para Caxias, para Porto Alegre. Porto

Alegre diz que tem que se entender com Caxias. Eu, esperneando, ligando. Por que

todo mundo diz que não tem? O que é que precisa?

Só para resumir para vocês, o representante do laboratório não queria nem

dizer o nome, mas aos poucos fui descobrindo o representando do exterior para cá.

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Não sei se é por meio de São Paulo ou por aqui. Deve haver um importador só. É

bom lembrar de que medicamentos, depois do petróleo, é o que mais gira dinheiro

no mundo.

Isso que eu queria dizer, pois é um absurdo. Nós, como cidadãos, queremos

que vocês, deputados e deputadas, façam alguma coisa para mudar essa estrutura.

Não adianta nós espernearmos, culpar Yeda, culpar Germano Rigotto. É uma

estrutura. Somos escravos de um poder central, porque o que pagamos de impostos

e não ter retorno. Aquilo que deveríamos merecer é uma vergonha. Muito obrigado,

desculpa.

O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Vai falar o Sr. Darci Adelar de

Jesus.

O SR. DARCI ADELAR DE JESUS – Parabenizo o pessoal da mesa na

pessoa do presidente, vereador Zoraido da Silva, e também o deputado Luciano

Azevedo.

Quando nós paramos para pensar na riqueza que o Rio Grande do Sul tem,

a sua produção. A riqueza em todos os aspectos. Diria até riqueza política, porque o

Rio Grande do Sul deu origem a grandes homens para o nosso Brasil.

Mas quando paramos para pensar na maior riqueza, que é o ser humano,

vemos que alguns estão morrendo por falta de remédio. Talvez, para muitos, a

audiência pública não vai servir. Mas para aqueles que vão sair daqui levando a

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sério o compromisso de continuar lutando. Vejo o trabalho que a secretária de

Saúde tem feito aqui em Caxias – no meu bairro, por exemplo, as pessoas nos

procuram como presidente do bairro, como líder comunitário, e temos encaminhado

– a luta que tem feito para conseguir, através do Estado.

Quando chegamos na questão do Estado, vemos que não é questão

financeira. Vemos que, às vezes, o remédio está lá. Então é uma questão de

competência, uma questão de gestão. E quando olhamos esta Casa dos vereadores

aqui de Caxias do Sul, vemos que os vereadores cumprem o seu papel em fiscalizar

o Município, em procurar melhoria, qualidade de vida para os bairros, fica aqui,

deputado Luciano Azevedo, o nosso pedido, em nome do movimento comunitário de

Caxias, porque aqui há vários presidentes de bairros, que também a Assembléia

Legislativa cumpra o seu papel de fiscalizar o Estado, e fazer com que o Estado

venha a cobrar do governo federal.

Em ciência, tecnologia e riqueza nós somos bons. O que está nos faltando é

ser mais sensível a vida humana e dar mais retorno para aqueles que acreditaram

em nós e nos fizeram chegar ao poder. Muito obrigado.

O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Agradeço ao Darci Adelar de

Jesus.

Ouviremos agora o vereador Getúlio Demori.

O SR. GETÚLIO DEMORI – Saúdo o deputado Luciano Azevedo, os

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integrantes da mesa, o vereador presidente desta Casa, Zoraido da Silva, o

secretário da Saúde na pessoa de quem saúdo os demais integrantes da mesa.

É uma alegria tê-los aqui na nossa Casa para discutir uma assunto tão

importante, como é o problema da saúde. Sabemos, os colegas vereadores já

comentaram, o que acontece na nossa Casa no dia-a-dia. São pessoas pedindo

socorro, porque o Município faz, e faz muito bem o trabalho. Mas o Município tem

dificuldades, mas quando vemos que, por parte do governo federal, estadual, não

cumprem a sua parte e o Município tem que assumir além do que é possível, vemos

as dificuldades.

Temos que fazer alguma coisa nesta reunião de hoje, talvez uma carta a

todos os deputados federais do Rio Grande do Sul para fazer que se cumpra aquilo

que quando foi criado o imposto do CPMF, que era para a saúde, que, com certeza

daria para resolver o problema da saúde do País inteiro com o que se arrecada,

fazer com que esses impostos, de fato, voltem para a saúde, para que as pessoas

que mais precisam, tenham no momento. Para que as família não tenha que perder

uma vida porque não tem dinheiro para comprar esse remédio.

E foi criado um imposto, justamente para resolver o problema. Temos que

cobrar dos deputados estaduais, dos secretários, dos deputados federais como as

pessoas cobram dos vereadores.

Sabemos que um vereador, vendo as dificuldades, tira dinheiro do seu bolso

para ajudar a comprar algum remédio, mas isso não resolve o problema. Temos que

fazer com que seja resolvido. Que tenha medicamentos na hora em que as pessoas

precisem. No governo federal, vemos a arrecadação a cada dia maior, só que para a

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saúde é cada vez menor o investimento.

Muito obrigado pela presença em nossa cidade para tratar de assunto tão

importante.

O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Nós é que agradecemos a

manifestação do vereador Getúlio Demori.

Ouviremos a Izabel Cristina Corso.

A SRA. IZABEL CRISTINA CORSO – Boa-tarde a todos.

Sou figura conhecida no atendimento aos renais crônicos. Atuo nessa área

já há 20 anos. Represento uma clínica que é prestadora de serviço, aqui no

Município de Caxias do Sul. Posso dizer para vocês que essa problemática é

bastante antiga.

O deputado, por estar envolvido nessas questões, pode observar quantas

nuanças estão envolvidas nessa questão de medicação especial.

Quero complementar a informação do vereador, que foi parcial. No ano

passado, foram recolhidos 35 bilhões pela CPMF, neste País. Às vezes, preocupo-

me se na verdade é falta de recurso ou é a forma como se gere esse recurso. Não a

forma como se gere, é se ele é fiscalizado e se quem faz mau uso é punido.

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O problema deste País pára aqui. Não tem fiscalização e quem faz mau uso

do dinheiro público não é punido, por isso as coisas se repetem, por isso estamos

aqui novamente.

Mas também sinto-me feliz em saber que o Município e o Estado se

mobilizem. Eu estou lá na ponta. Sou uma enfermeira nefrologista que atuo na

gestão e vejo o sofrimento desses pacientes todos os dias. Vejo que o Estado não

consegue medir o custo da descontinuidade de um tratamento. É dar a medicação, o

doente não consegue fazer o tratamento, é adoecer, é custar mais caro para o

Estado e ele voltar a começar.

Já vi descalabros nessa área, como o colega que vai a Porto Alegre, que

chega a um ponto de se mandar um processo para autorizar a medicação ao

Estado, que tem que ser reavaliado daqui a seis meses. O auditor e o médico perito

tem a coragem de mandar, depois de um ano, o processo de volta dizendo que

caducou o tempo do exame. Mas ficou um ano com ele e ele manda de volta porque

o exame está vencido. É um descalabro total.

Considero a mobilização muito importante e que posturas mais sérias e mais

e mais agressivas, com base na fiscalização e punição. Abrir essa caixa preta.

Quem são esses laboratórios? Quem desvia dinheiro? Quem ganha dinheiro?

Talvez uma subcomissão ou uma CPI. Acredito que para salvar vidas, temos

que ter uma postura séria, ética e transparente. Esse é o meu recado aqui nesta

audiência. Muito obrigada.

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O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Está feito o registro.

Agradecemos a Izabel Cristina Corsso.

Agora ouviremos a Sra. Denise Ramos.

A SRA. DENISE RAMOS – Boa-tarde caro deputado, vereadores de Caxias

do Sul, colegas.

Sou transplantada de rim e pâncreas. Fui a primeira pessoa transplantada

de rim e pâncreas de Caxias do Sul. Fiz o transplante em Porto Alegre.

Depois de quase quatro anos de transplante, passei horrores com diabetes e

com rim, agora que consegui esses dois enxertos, tenho que perder, eu acho,

porque chega a um certo ponto que não se consegue mais medicação. Pelo menos

para mim é um medicamento, chama-se tacrolimus. Esse remédio era importado,

agora quem está fazendo é um laboratório aqui de Alagoas. Chamamos ele de BO,

bom para otário, porque faz três meses que comecei a tomar esse remédio e os

meus exames começaram a dar problemas.

Acho que com o passar do tempo e com uma nova consciência passaremos

a nos acostumar com a idéia de que só devemos tomar esse tipo de remédio porque

o Estado não está conseguindo comprar o Tacrolimos importado, que custa 40% a

mais do que o do Tracolimos produzido pelo Laboratório Industrial Farmacêutico de

Alagoas – Lifal.

Se o Brasil não tem condições de fabricar um remédio que ajude na rejeição

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dos órgãos transplantados, não entendo porque mudaram o medicamento. Por que

o importado é 40% mais caro? E o outro remédio? Aquele feito no laboratório de

Alagoas, que simplesmente não foi testado em seres humanos, somente em

animais? E ainda fazem a gente engolir isso.

Tudo bem. Então devemos nos acostumar com esse remédio. Mas eu quero

saber por que não existe dinheiro para comprar esse remédio? Não sou a única

pessoa transplantada. A maioria dos transplantados do Rio Grande do Sul, de

Caxias do Sul, Região da Serra, usam esse remédio.

Pelo amor de Deus, vamos tomar consciência. Passamos por máquinas,

perdemos a visão, uns totalmente, outros, assim como eu, ficaram com apenas 30%

de visão num olho por causa do diabetes. Por que os órgãos encarregados dessa

área não se sensibilizam um pouco a respeito desse assunto?

Acho que deve haver pessoas mais integradas nesse trabalho para buscar a

solução para esse problema. Agradeço o delegado Renato Iotti para quem pedi

remédio por dois meses. Cheguei chorando e ele me conseguiu remédio. Muito

obrigada, delegado.

O pessoal das nossas clínicas fazem tudo o que é possível para conseguir

os remédios. Se eles têm dois comprimidos do remédio eles entregam para quem

precisa. Só que não resolve o problema porque nós precisamos de soluções,

simplesmente isso. Muito obrigada deputado, muito obrigada pessoal.

O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Nós é que agradecemos, Sra.

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Denise Ramos.

A SRA. JOELMA – Também sou transplantada, só que eu não moro aqui

em Caxias do Sul.

Para complementar o que a minha colega falou a respeito do Tracolimos,

quero dizer que chegou ao meu conhecimento de que há Estados onde a Secretaria

de Saúde confiscou esse medicamento. Também há laudos que dizem que a Anvisa

fechou esse laboratório porque esse remédio não foi testado em seres humanos,

principalmente em transplantados.

Se esse medicamento foi feito para os transplantados, nós temos que ser

testados. Também quero dizer que alegam que não dão esse medicamento porque

o órgão transplantado está bem, só que ele causa outros sintomas, inclusive

taquicardia, de que alguns pacientes já se queixaram.

Será que o Estado vai esperar o óbito de algum paciente transplantado para

depois resolver esse caso? Essa é a pergunta que faço. Na Secretaria de Saúde,

alegam que o governo venceu a licitação e vai entregar todo medicamento, mas não

se importam com o paciente. Agradeço pela oportunidade de fazer o meu

pronunciamento.

O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Muito bem, já ouvimos o

relato. Agora, ouviremos a Sra. Irdes Rossi.

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A SRA. IRDES ROSSI – Boa-tarde a todos os presentes.

Sou transplantada de fígado há dois anos e portadora do vírus da hepatite b.

Como o Jorge falou, uso um medicamento que nós chamamos de HBig, é um tipo de

vacina, que se não for feita, com o tempo a doença pode rescindir.

Fiquei por três meses sem esse medicamento, mesmo com processo

judicial. Para quem não conhece uma lista de espera para transplante, eu costumo

chamá-la de corredor da morte. Quando entramos nessa lista dependemos da

generosidade da sociedade para continuar vivendo. A sociedade dirá se

continuaremos a viver ou não.

Uma pessoa que morre te salva. Antes de morrer ela diz sim à família e te

salva depois de morta. E o Estado te deixa morrer enquanto estás vivo. Eu me sinto

como se tivesse voltado ao corredor da morte, novamente, como estava antes do

transplante.

Quem é o culpado eu não sei. Se é o Estado ou se é o laboratório. Não sei

quem é, mas a minha situação e de muitas pessoas é essa.

Novamente voltei ao corredor da morte. Neste mês eu tenho medicamento,

mas no mês que vem não sei se terei. Essa é a nossa situação.

Trabalho com a equipe do Hospital Pompéia fazendo campanha para

doações de órgãos. Caxias do Sul é a cidade número um, em cem, na doação de

órgãos no País. O Rio Grande do Sul é o primeiro do País em captação de órgãos e

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agora chegamos ao ponto de não termos medicamentos. Nós somos o número um

no País e agora estamos nessa situação.

Era isso que eu tinha para dizer. Muito obrigada.

O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – A seguir, ouviremos o Sr.

Ribeiro.

O SR. RIBEIRO – Sou representante do Conselho Municipal da Saúde, de

Caxias do Sul, e presidente de uma associação de bairros desse mesmo Município.

Vivo fazendo uma verdadeira romaria nessa cidade, pois as pessoas vivem

em busca de medicamentos especiais e recebem não. Sem poder aquisitivo, elas

não podem comprar seus remédios.

Conheço uma senhora de 86 anos que é portadora de Mal de Alzheimer, e

eu vivo fazendo uma romaria em busca da medicação para ela. Os deputados, que

são os verdadeiros representantes da sociedade, devem pressionar o governo ou a

quem de direito para que as medicações não faltem.

Um outro ponto que quero abordar é que os funcionários responsáveis pela

distribuição dos medicamentos tratam muito mal os que vão em busca dos

remédios. Quem precisa desses medicamentos é mal recebido, o que deve ser visto

de perto pois muitas vezes as pobres criaturas humildes recebem não, e ainda são

humilhadas. Aconteceram casos de pessoas que foram humilhadas pelos

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responsáveis para entregar esses medicamentos.

Aqui em Caxias do Sul, quando é feita a inscrição para receber os

medicamentos especiais, a secretária disse que leva até 90 dias para que o Estado

envie os remédios para serem distribuídos aos pacientes. Ora, Sr. deputado, se nós

sabemos que essas medicações são repartidas, o cidadão fica sujeito à morte por

falta de recursos.

Os deputados, como legítimos representantes do povo, têm a obrigação de

dar respostas à sociedade nesse sentido. É assim que nós vimos, um verdadeiro

caos. Falo por Caxias do Sul porque é aqui que eu moro e vejo o dia-a-dia. Tenho

umas três receitas de medicações para essas pobres criaturas.

A gente vê tantas coisas. Alguns deputados vivem viajando com o dinheiro

da sociedade e como não há dinheiro para a medicação dessas pessoas? Ficamos

satisfeitos de ser brasileiros, mas nos envergonhamos vendo como algumas

pessoas tocam esse Brasil, que é rico de tudo.

Deputado, faço esse apelo porque esse problema passa por mim todos os

dias. Até milagre eu faço para conseguir esses medicamentos. Também já fiz

vaquinhas com companheiros para conseguir dinheiro para comprar as medicações

e aliviar o sofrimento dessas pobres pessoas, mas é um paliativo e nós precisamos

de soluções.

O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Está feito o registro e

agradecemos o Sr. Ribeiro.

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Concluindo as manifestações das pessoas, passamos a palavra ao Sr.

Antunes, depois encaminharemos algumas perguntas.

O SR. ANTUNES – Saúdo o presidente da Câmara de Vereadores, Sr.

Zoraido da Silva e o deputado Luciano Azevedo.

Queremos proferir algumas considerações a respeito do que vem

acontecendo nos Municípios. A falta de aparelhamento do Estado para prestar

serviços de atenção à saúde e aos pacientes do Rio Grande do Sul nos traz grandes

preocupações.

Em primeiro lugar acho que a agilização na entrega dos medicamentos na

região deveria ser de competência da 5º Coordenadoria Regional de Saúde, que

deveria ser aparelhada para que os pacientes não precisassem ficar esperando

muito tempo com a demora do processo que vai a Porto Alegre para a

Coordenadoria dos Medicamentos, que é muito morosa na aprovação dos

processos.

Dentro do que observamos das dívidas do Estado com os Municípios, que

chega a quase 170 milhões, é lógico que ficaria um pouco difícil de programar essas

medidas.

Quanto aos laboratórios quero perguntar ao deputado, que está mais perto

do Lafergs, porque até hoje o nosso laboratório não empreendeu toda a sua

capacidade de fabricar medicamentos? O que o impede? Aonde está emperrada

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essa máquina que não funciona? Sou conselheiro estadual e regional e há muito

tempo batalho por isso, mas não sai dos discursos do Conselho Estadual, inclusive

já levei ao conhecimento da Assembléia Legislativa.

Uma outra questão que quero abordar é a respeito da morosidade ao

atendimento dos pacientes da nossa região, principalmente na área dos

medicamentos e atendimento. Em dezembro, levei o problema do atendimento de

pessoas com câncer ao Conselho Estadual, que levam até sete meses para ser

atendidas. Isso é crime. Isso não é falta de atendimento, é crime.

O Secretário responsável pela área da saúde do Estado tem que ser

responsabilizado. E a União, conforme as informações que tenho, está repassando

as verbas para o Estado, e o Estado nem tanto. Conforme disse o Secretário da

Saúde, não chega a 5%.

Com a nossa participação de reuniões, em Brasília, ficamos sabendo que o

laboratório de Pernambuco fornece medicamentos para mais de 60% da população

daquele Estado. E o nosso laboratório não chega a atingir 5% da população.

Era isso, Sr. deputado.

O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Muito obrigado.

Gostaria de também fazer os questionamentos feitos pelo senhor, pois não

tenho as respostas e justamente por isso estamos fazendo este trabalho.

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Esperamos obter respostas, pois as respostas são para a sociedade que

pergunta isso em todos os lugares que vamos por todo o Estado.

Antes de encaminhar o encerramento, gostaria de fazer duas perguntas que

recebemos, uma delas é para o representante da coordenadoria, se puder fazer a

gentileza de responder: ao buscar o Ministério Público, para encaminhar uma ação

contra o Estado, devido a falta de medicamentos, um dos documentos requisitados,

pelo Ministério Público, é uma declaração da Secretaria de Saúde do Estado que

esclareça o motivo pelo qual o paciente não está recebendo a medicação. A pessoa

que atende na secretaria diz que não é possível oferecer documento que expresse o

motivo. Resultado, sem o documento não tem como ingressar com a ação. Como

resolver?

O SR. EDUARDO YOTTI – Antes as pessoas estavam fazendo a função

inversa, ao invés de entrar com o processo administrativo, iam direto ao fórum na

tentativa de viabilizar a retirada do medicamento em menos tempo.

Entramos em um acordo com o Ministério Público, estipulando como deve

ser feito. A pessoa tem que abrir o processo administrativo, tem que ir lá no CES ou

na secretaria do Município e abrir o processo administrativo. O Estado tem um

período de 30 a 45 dias para o Estado dar a resposta.

Se passar os 45 dias, ou a pessoa não quiser esperar, não precisa um

documento da coordenadoria ou de algum outro órgão dizendo que não vão entregar

o medicamento. Com o número do processo, que recebe no dia, pode se

encaminhar ao fórum relatar há quantos dias o processo administrativo está parado

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e o Estado não soluciona. Assim pode recorrer ao Ministério Público, mas conforme

os casos, às vezes, está demorando mais, porque passa pelo departamento jurídico

e pelos trâmites legais.

O governo federal, no ano passado, gastou 26 bilhões em medicamentos. É

uma indústria muito pesada, acredito que deveríamos rever esses valores. Um

medicamento com custo de 6 mil e 800 reais, em Caxias do Sul 15 pessoas utilizam

esse medicamento, todas por via judicial.

Está onerando muito o Estado, há único laboratório no País que entrega, e

acabam colocando o preço que desejam e o Estado que se vire em pagar. Está

muito cômoda a situação para esses laboratórios.

Por exemplo, em relação ao tracolimus, temos feito a briga, mas é difícil,

pois é 30%, 40%, para o Estado é um valor muito grande, pois é mais 30%, mais

40%.

Sabem que brigo por vocês e sempre vou brigar pelo pessoal que está aqui,

mas a briga dever ser também com os laboratórios, para ver se baixam um pouco o

custo. Não é justo só o governo pagar, o custo também é nosso, pois, querendo ou

não, sai do nosso bolso. Pagamos impostos.

Vamos brigar com essas multinacionais para que não venham aqui dizer que

é 6 mil e 800 reais uma ampolinha que dura 15 dias, 20 dias. Isso precisa ser

revisto.

Temos que pensar nisso, o Estado não pode se furtar da situação que está.

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O governo federal não pode se furtar dessa situação também. Precisamos

acompanhar, tentar melhorar essa situação que é muito precária, é muito ruim, mas

penso que precisamos trabalhar ao longo prazo para poder viabilizar, pois daqui um

pouco vai se tornar inviável.

São 200 processos, 250 processos por semana. Só na nossa

coordenadoria, são 19 no Estado.

Em relação ao Ministério Público, depois de 15 dias, com o número do

processo, as pessoas já podem entrar.

O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Para concluir as

manifestações, o representante da Associação dos Transplantados de Fígado, Sr.

Jorge Luiz Kramer Borges vai fazer mais um registro.

O SR. JORGE LUIZ KRAMER BORGES – Quero fazer uma pergunta: como

o senhor analisa a substituição da medicação imunossupressora destinada aos

transplantados pelo vírus da hepatite C, diria não somente da hepatite C como B

também, por um similar? Quais as garantias que o paciente tem com tais

medicações e que resultados estão sendo evidenciados? Quais os Estados que

estão utilizando similar fornecido pelo laboratório de Alagoas?

Não iria nem tocar neste assunto, mas como foi mencionado. Concordo que

algumas medidas em relação aos laboratórios devam ser tomadas, mas desde que

tenhamos um produto com qualidade, que tenha biodisponibilidade, bioequivalência,

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seja submetido a todos os testes clínicos.

Ocorre que, em agosto do ano passado, recebemos a informação de um

colega da Bahia que estariam tentando entrar na Bahia com um medicamento

chamado lifaltacrolimus. Entrei em contato, mas negaram que tivesse entrado.

Começou esta pendenga do Estado de faltar, de comprar, não comprar. Para minha

surpresa, o Dr. Gabardo, que estava como secretário estadual da Saúde, em

entrevista no Jornal do Almoço, diz que o Estado estaria comprando, adquirindo o

medicamento lifaltacrolimus.

Isso foi no dia 18 de outubro, imediatamente oficiei ao secretário que esse

medicamento não tinha sequer sido testado em seres humanos. Fizeram um teste

em 33 pacientes saudáveis, nenhum transplantado e fora disso não havia outros

testes.

O Dr. Gabardo convocou uma reunião comigo e mais duas outras entidades,

com médicos transplantadores do Hospital de Clínicas, Hospital Santa Casa,

Hospital da PUC, com os diretores do laboratório. Foi confirmado pelos próprios

diretores que realmente não tinha sido feito teste nenhum com esse medicamento.

Era um medicamento similar e, quando o secretário Gabardo falou que iria adquirir,

já estavam 300 mil comprimidos à disposição no estoque da Secretaria da Saúde.

Não foi feita licitação, o laboratório é uma companhia mista, tem parte do

governo. É uma S.A.

Aí começa o grande erro. Questionamos, fomos à luta e o secretário em

nenhuma entrevista falou no benefício do paciente, sempre falou em uma economia

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para o Estado. Diria que uma economia burra, porque um paciente que interrompe o

tratamento e tem que ir para o hospital, custa muito mais caro.

Ocorreu que pacientes foram internados na Santa Casa para tomar

tracolimus, ocupando um leito. Ouvimos dizer que faltam leitos nos hospitais, se

formos na Santa Casa vamos verificar que deve ter dois ou três pacientes internados

para tomar Hbig.

Isso gerou uma série de desconforto, nós da associação e eu, como pessoa

física, processamos o secretário Gabardo. Houve essa resolução da Anvisa

suspendendo a fabricação, comercialização, distribuição desse medicamento no

Brasil.

Tivemos que entrar no Ministério Público, levou mais de 30 dias para

adquirir o medicamento, no dia que era para comprar o medicamento, uma pseudo-

associação de transplantados renais, que estamos tomando providencias junto ao

Ministério Público, aqui com a Rim Viver e até com a associação nacional, uma

associação que não representa paciente nenhum. A dona Isoldi é uma pessoa séria

e há muitos anos trabalha na área.

Essa pessoa sequer foi a alguma reunião na Assembléia Legislativa, sequer

recebe algum paciente. Alguns pacientes foram solicitar medicamentos e foram

corridos lá dessa entidade.

Estranhamente entra com uma ação tentando cassar a liminar. Sabemos

mais ou menos atendendo a interesses de quem. Infelizmente, essa liminar foi

cassada em Brasília, o medicamento voltou a ser fornecido. Atualmente, que eu

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saiba, está sendo distribuído somente no Rio Grande do Sul e em Goiás. Em Santa

Catarina, tão logo saiu a resolução da Anvisa, foi recolhido todo o medicamento e

comprado o Tracolimus. Em outros Estados também.

Tenho para dizer para vocês que estamos na Justiça, entramos com um

mandado de segurança, a Rim Viver, por intermédio da dona Isoldi, entrou com um

mandado de segurança. Contratamos um escritório de advocacia, estamos pagando

do nosso bolso, nós da Associação dos Transplantados de Fígado, com a

colaboração da Sra. Irdes e de outras pessoas aqui de Caxias do Sul. Ainda não

pagamos o advogado, estamos dando aos poucos e ele está fazendo inclusive um

trabalho social, é de um escritório famoso em Porto Alegre. Esperamos que essa

liminar seja revertida.

Com relação ao transplante de fígado, o Dr. Guido Cantizani, médico chefe

da equipe, manifestou-se por escrito ao Dr. Gabardo dizendo que os pacientes

transplantados de fígado na Santa Casa e no Hospital Mãe de Deus, atendidos por

ele não receberiam essa prescrição. Um ou outro paciente desinformado está

tomando, porque está recebendo do Estado. A maioria dos pacientes passaram para

o imunossupressor para ciclosporina.

Temos conhecimento de alguns resultados bem graves que aconteceram no

Ceará e no Paraná, fatos que já foram relatados a Anvisa e infelizmente aqui no Rio

Grande do Sul alguns médicos estão usando essa medicação, talvez por falta de

coragem ou não sei de que.

Como uma senhora relatou, as dosagens dessa medicação estão sendo

alteradas e eles não se acham com coragem de notificar a Anvisa. É um tipo de

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medicamento que não vai apresentar provocar alteração em 30 dias, 60 dias ou até

em 180 dias. O efeito pode surgir daqui um ano e quando se percebe é tarde.

Queremos manifestar nossa posição aqui, assim como manifestamos

anteriormente na Comissão de Saúde e Meio Ambiente para o deputado Pedro

Westphalen, não somos contra o uso, mas no mundo inteiro ninguém usa

imunossupressor similar, é usado o medicamento de marca ou genérico.

Aqui no Rio Grande do Sul e em outros Estados estão usando pacientes

transplantados como cobaias de um laboratório, com a conivência da secretaria

estadual da Saúde. Isso é muito grave, será que vão esperar ocorrer um óbito para

tomarem providências.

É um medicamento, continua sem nenhum teste, tem um laboratório que

está fazendo um genérico. O laboratório está há dois anos fazendo os testes, o

laboratório Cellfarm, com o tracolimus genérico. Isso é usado em todo o mundo, o

genérico.

Há dois anos, quando as pessoas menos esperam entra um laboratório de

Alagoas, com um medicamento sem teste nenhum e está sendo vendido no Estado

do Rio Grande do Sul. É uma barbaridade e tem que ser investigado.

Como o Dr. Gabardo disse em pleno Jornal do Almoço que a associação

estaria levando algum, que a associação estaria recebendo, por isso estamos o

processando, recebendo dinheiro do laboratório para trabalhar em prol de alguns.

Não temos interesse nenhum nisso; temos interesse na saúde e na vida do paciente.

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Queremos o medicamento. Pode ser feito em Santa Catarina, aqui em Nova

Prata ou em qualquer lugar, mas desde que tenha eficácia, biodisponibilidade,

bioequivalência, e tenha passado pelos testes clínicos. Caso contrário, não iremos

aceitar esse tipo de coisa, pois se trata de uma picaretagem. É mais fácil corromper

um do que corromper a diretoria toda de uma entidade. Obrigado.

O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – De imediato, concedo a

palavra ao Sr. Luiz Pizzetti a fim de proceda às suas considerações finais.

O SR. LUIZ PIZZETTI – Há pessoas presentes que deram depoimentos

muito importantes, por exemplo, sobre a questão da mudança do modelo da

estrutura. Se não mudarmos essa estrutura arcaica que aí está, não haverá

nenhuma alteração.

Tenho um filho que está na fila de espera para o transplante de fígado. Na

família, há uma pessoa que tem Mal de Alzheimer. O médico não quer atestar a

doença, para que eu possa entrar na Justiça para adquirir o remédio necessário. A

nossa família está-se cotizando para comprar o remédio a fim de que essa pessoa

não perca a memória.

Queria dar esse testemunho. A minha aposentadoria, única renda que

possuo, é de 1 mil e 40 reais. Pago 700 reais para o plano de saúde, sobrando-me

apenas 340 reais para viver. Se não fossem os filhos me ajudando, tinha que ir

morar na favela.

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Por isso, que nos organizemos para que o SUS nos atenda plenamente; que

o governo repasse o dinheiro que se faz necessário para sustentar o SUS, porque

esses planos de saúde estão tirando o dinheiro da gente e fazendo campanha

contra o Sistema Único de Saúde, para que este não funcione.

Então, o dia em que implantarmos na íntegra o SUS, que é o melhor plano

de saúde do mundo, acabaremos com a exploração dos planos privados de saúde.

A minha aposentadoria vai toda para o plano de saúde. Quando preciso fazer um

exame mais aprofundado, tenho que pagar a diferença. Quando se vai para o

hospital, também tem que se pagar a diferença. O que adianta esse tipo de plano?

Queremos o SUS funcionando. Com ele, conseguimos entrar no Hospital

Geral, no Pompéia, sem gastar um centavo. Só conseguiremos conquistar isso, se

estivermos organizados para tanto, porque cada um apenas olha para o próprio

umbigo. Na minha opinião, temos que romper com essa estrutura, mas de forma

organizada.

Em 2.007 anos, por acaso, diminuiu a miséria, a doença, a pobreza? Não.

Então, está na hora de mudarmos. Para mudar, só se for a sociedade organizada.

Podem crer. Organizados podemos mudar. Quem está no poder não muda. Vamos

botar isso na cabeça, para podermos mudar essa situação bem depressa, porque

essas pessoas precisam dos remédios e chegam emocionar a gente com seus

depoimentos.

Era esse o testemunho que queria dar. Gostaria de agradecer por essa

iniciativa, e que continue para que o povo possa criar uma consciência de luta. Muito

obrigado.

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O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Nós é que agradecemos.

Imediatamente, passo a palavra ao Sr. Antunes, para que faça suas

considerações.

Após a sua manifestação, iremos encaminhar a finalização desta reunião,

obviamente não saindo daqui apenas com palavras, mas também com algum

indicativo, que sempre é o mais importante.

O SR. ANTUNES – Sr. Relator, falamos em medicamentos, laboratórios e

doenças e também sobre numerário, dinheiro, verbas.

Desde 1994 estamos numa batalha, em nível de governo federal, com

relação à emenda constitucional nº 29. Levamos ao conhecimento do deputado que

a lei foi aprovada, mas, até hoje, não foi regulamentada. Queremos que a União, os

Estados e os Municípios cumpram o seu dever de aplicar as verbas destinadas à

área da saúde.

A emenda está parada no Congresso, de forma que gostaríamos que fosse

formada uma comissão da Assembléia Legislativa do Estado, para que fizesse uma

cobrança junto aos deputados federais e senadores, já que não está sendo

regulamentada essa lei.

Sabemos que somente isso não basta, mas a sociedade organizada tem

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condições de reverter essa situação, até porque todos os pacientes ainda pagam

impostos.

O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Está registrada a sua

sugestão de trabalharmos em prol da aprovação final da emenda. O senhor poderá

dar maiores detalhes à nossa assessora.

Registro a presença do novo presidente da União das Associações de

Bairros, Sr. Daltro da Rosa Maciel, que está voltando ao cargo pela quinta vez.

Parabenizo-o pela vitória.

Agradeço muito a todos pela presença, especialmente ao presidente da

Câmara, aos vereadores que se manifestaram e à secretária municipal de Saúde.

Antes de finalizar esta audiência pública, desejo fazer dois registros, que

creio ser importantes. O primeiro deles diz respeito a algo que já foi falado, mas que

quero repetir: devemos, ao final do trabalho da comissão, realizar uma audiência

pública com a presença do secretário de Estado da Saúde. Estou insistindo muito

nesta tese de que temos que ouvir suas explicações, mas S. Exa. também tem que

nos ouvir.

Temos andado por todo o Estado – já estivemos em Pelotas e Porto Alegre

e iremos a Passo Fundo – e temos ouvido sempre manifestações, todas elas no

mesmo sentido. Mas nenhuma foi tão precisa e resumiu tão bem o que os pacientes

sentem quanto a manifestação feita por aquela senhora que está sentada na

segunda fila. Ela resume tudo aquilo que ouvimos, em todos os cantos do Estado,

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sobre como as pessoas se sentem quando não têm um medicamento.

Estamos tentando trabalhar para reverter isso. Não é tarefa fácil, não é

tarefa rápida e não é tarefa apenas para um deputado, nem para uma subcomissão,

nem mesmo para uma comissão da Assembléia Legislativa do Estado. Temos ao

nosso lado a Defensoria e o Ministério Público e queremos contribuir nesse sentido.

Mas creio que será importante a ajuda dos companheiros vereadores de

Caxias do Sul – já fui vereador por três vezes em Passo Fundo –, para que, no

momento em que pudermos realizar essa audiência pública com o secretário da

Saúde, tenhamos a presença de S. Exas., da comunidade do Município e até dos

presidentes de associações de moradores e dos pacientes, que aqui fizeram um

relato.

Pois, tenham certeza, uma coisa é o deputado Luciano Azevedo contar que

veio a Caxias do Sul, que foi a Pelotas e a Passo Fundo e que ouviu relatos

absolutamente comoventes e sinceros; outra coisa é levar as pessoas a fazerem um

relato em Porto Alegre, olho a olho. Teremos mais força nesta luta na medida em

que possamos mobilizar a sociedade, em que as pessoas possam se manifestar, se

unir e compreender que essa não é uma luta contra alguém, mas a favor da vida. É

exatamente isso o que queremos.

Em segundo lugar, gostaria de fazer um pedido a todos de Caxias do Sul,

Bento Gonçalves e Farroupilha, que são o coração econômico do nosso Estado.

Com exceção da Grande Porto Alegre, a força do Estado está aqui.

Sou de Passo Fundo e olhamos para cá com inveja, admiração, porque

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vemos o quanto se constrói nesta cidade.

Os senhores são representados por deputados lutadores e brilhantes.

Temos lideranças importantes lá na Assembléia Legislativa e seria bom se todas

elas estivessem aliadas a esta luta, participando das reuniões, oferecendo sua

palavra e sua voz. Isso certamente daria mais força ao trabalho desta subcomissão

e a tudo o que ouvimos neste encontro.

Por uma questão de justiça, faço um registro aqui: tenho ouvido, com muita

alegria, as manifestações positivas dos deputados da Região da Serra. Os

deputados Marisa Formolo, Alvaro Boessio, Alberto Oliveira e Kalil Sehbe têm nos

estimulado a empreender esta luta, mas seria ainda mais importante se S. Exas.

pudessem estar fisicamente conosco, especialmente no momento em que formos

ouvir o secretário da Saúde. Fiz o convite a S. Exas., mas penso que os senhores

podem reforçar essa iniciativa, o que dará mais força ao movimento, para que

consigamos avançar.

Deixo esse convite e essa sugestão a todos. Espero que estejam conosco

em data que, assim que for marcada, será comunicada aos senhores.

Em nome da Assembléia Legislativa e dos demais integrantes desta

subcomissão – os colegas Pedro Pereira, Gilberto Capoani, Paulo Azeredo –

agradeço a todos pela presença e pela acolhida na comunidade de Caxias do Sul.

Agradeço aos vereadores, em especial ao caro amigo Edio Eloi Frizzo, que nos

ofereceu apoio para a organização desta audiência pública. Muito obrigado a todos.

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DATA 22/06/2007: O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – (Falha na

gravação) ...em nome dos portadores de esclerose múltipla. Levei este tema, na

condição de deputado, à Secretaria de Saúde, assim como a Assembléia

Legislativa, pedindo que fosse criada uma subcomissão.

Nosso desejo é ajudar no sentido de que estes medicamentos voltem a ser

fornecidos com regularidade para que as pessoas não fiquem inseguras e,

especialmente, para que o direito delas seja cumprido.

Existe uma dívida histórica do Estado do Rio Grande do Sul com os laboratórios que

fornecem estes medicamentos. Deixo aqui registrado que todo este trabalho surgiu

de uma solicitação da professora Marília.

É importante que esta seja uma luta de todos. Não estamos contra ninguém,

estamos a favor de todos aqueles que precisam desta medicação para ter qualidade

de vida. Aproveito para registrar a presença de vários vereadores.

O SR. GILMAR SOSSELLA (PDT) – Saúdo a todos os presentes.

O assunto que estamos tratamos é permanentemente discutido na Comissão de

Saúde e Meio Ambiente.

Sabemos que em função da triste realidade por que passa o nosso Estado o setor

da saúde passa por problemas muito sérios. Estamos aqui em uma cruzada

especialmente pelas pessoas que utilizam medicamentos de uso contínuo.

O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Agradecemos ao deputado

Gilmar Sossella. Passo a palavra ao Sr. Luiz Miguel Scheis, presidente da câmara

municipal.

O SR. LUIZ MIGUEL SCHEIS – Cumprimento os deputados, os vereadores e

as demais autoridades presentes. É uma satisfação recebermos os representantes

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da Assembléia Legislativa que estão viajando ao interior para ouvir, de perto, o

clamor da população.

É triste termos que realizar uma audiência pública para reivindicar um direito que é

nosso. As pessoas estão entrando na justiça para receber os seus medicamentos e,

mesmo assim, não estão conseguindo. É bom vermos o interesse dos

parlamentares em tentar resolver este problema. Seremos parceiros nesta luta.

Espero que os debates que se travarão hoje aqui sejam profícuos. Sejam bem-

vindos a Passo Fundo.

O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Passo a palavra ao Sr. Alberi

Grando, secretário municipal de saúde.

O SR. ALBERI GRANDO – É um prazer recebê-los em Passo Fundo. É

importante ouvirmos a população, principalmente tratando-se de um assunto tão

importante como este dos medicamentos especiais. Na condição de gestor

municipal, sentimos de perto este problema.

Existem dois tipo de medicamentos: aquele que é destinado ao paciente que

tem uma doença aguda, que pode ser uma amigdalite, por exemplo; e outro que é

ministrado ao doente crônico. Cabe ao gestor público colocar estes medicamentos à

disposição da comunidade. Isso foi estabelecido pela constituição em 1988. Não

podemos enganar o paciente dizendo que hora dispomos do medicamento e hora

não. As vezes o Estado não remete para nós o medicamento. Cabe-nos distribuir

aqueles que nos são remetidos.

Tenho uma preocupação em relação aos medicamentos que nos obrigam a

pagar e que não demonstram qualquer efeito. Esse é um problema sério. Na

condição de profissional da área de saúde sabemos quando um medicamento não

funciona. É triste vermos um paciente recorrer à secretaria em busca de um

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medicamento ineficaz. Temos que coibir este tipo de coisa. O paciente, muitas

vezes, recorre à justiça para conseguir esse medicamento ineficaz.

O Viox, por exemplo, era muito usado. Uma vez discuti com um médico recém-

formado que prescrevia esse medicamento. O médico insistia no seu uso, e pouco

tempo depois a Anvisa determinou a retirada do produto do mercado. Há pouco

tempo recebi o pedido de uma vacina, que tem um custo de 5 mil reais, e nem sei se

ela funciona. Mas, basta um pedido assim chegar a um juiz que ele certamente

determina a sua compra e distribuição. Não estou, com esse comentário, criticando

o judiciário apenas estou dizendo que isso deveria ser revisto.

O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Muito obrigado, secretário.

Passo a palavra ao Sr. Augusto Bilicz Camargo.

O SR. AUGUSTO BILICZ CAMARGO – Saúdo todos os presentes.

Hoje todos poderão sentir na pele o que todos nós, do conselho, sentimos

diariamente nesta questão dos medicamentos. Estão aqui pessoas que trabalham

diretamente com essa questão. Vejo também outras que já me procuraram me

cobrando o que deveria ser o dever do Estado. A maioria dos municípios têm

cumprido com a legislação no tocante a alíquota obrigatória que deve ser destinada

à saúde. Infelizmente o nosso Estado não tem cumprido com a sua parte.

Ao Ministério Público cabe a fiscalização do cumprimento da lei. Não me estenderei

porque quero ouvir os questionamentos de todos os presentes. Muito obrigado.

O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Passamos a ouvir a vice-

presidente do conselho estadual de saúde, Sra. Beatriz.

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SRA. BEATRIZ – Cumprimento os deputados presentes, assim como todos os

participantes da mesa.

O conselho tem participado de vários debates, discussões e brigas na Assembléia

Legislativa. Todos têm direito à saúde. Estamos aqui para ouvir as pessoas.

Queremos saber das suas angústias e seus temores.

Estamos falando de um direito conquistado em lei. Não estamos aqui para pedir ou

fazer favor. Temos que lutar pelo cumprimento de um direito. Falamos em defesa da

vida. Quando a vida está em jogo qualquer briga serve. Qualquer pai, mãe ou filho

lutaria numa situação de doença.

Estamos aqui falando de esperança. Todos que precisam de medicamento querem

recebê-lo na esperança de viver mais. Este é o desejo de todos. Estamos falando

sobre os princípios do SUS, sistema de saúde que é financiado por todos nós com

os nossos impostos.

Estamos falando de uma questão de relevância pública. Uma vez perguntei: o que é

relevância pública? Está na constituição que saúde é de relevância pública. Se

faltarem recursos nesta área, cabe ao Estado buscar recursos em outros setores. Ao

invés disso o que vemos é que se tira da saúde para financiar um plano privado,

como o IPE e outros órgãos.

Para garantirmos o fornecimento de medicamentos de uso contínuo precisamos de

dinheiro, e ele existe só que está sendo desviado para financiar grandes empresas e

para outros fins. É bom que todos saibam disso.

Estamos falando aqui de responsabilidades de um ente federado chamado governo

que recolhe os impostos e que tem obrigação de respeitar o nosso direito a receber

o medicamento.

Nós também falamos de racionalidade no uso dos recursos. Já que o dinheiro é

nosso, temos que fazer dele um bom uso. Realmente, temos definido listas básicas

e por ela cada ente federado deverá assumir a sua responsabilidade. Nós, enquanto

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conselhos estamos juntos com a Assembléia Legislativa, carregando nos ombros a

angústia e a preocupação de todos. Por isso falo em esperança. Para prolongar a

vida entramos em guerra.

Muitas vezes entendo a reação do povo. Não aprovamos algumas atitudes mas

quando a vida e o pão estão em jogo, qualquer coisa é motivo para a guerra.

Estamos aqui em frente de uma população que representa a região. Sinto-me

orgulhosa de ser do conselho e de estar aqui. Estamos representando, num

colegiado maior de Estado, a angústia maior de um povo.

Estou aqui para ouvir vocês. Quando vamos até a Assembléia Legislativa é para

discutir com quem faz as leis, que aprova o orçamento, e que deveria aplicar 12%

dos nossos recursos na saúde, mas que aprovou um orçamento que não contempla

este porcentual. Para o ano que vem, esperamos que a Assembléia Legislativa

aprove um orçamento que destine, verdadeiramente, 12% para a saúde do Rio

Grande do Sul.

Temos que zelar para que o nosso Estado cumpra o seu dever constitucional. Mas,

para isso, temos que estar juntos. Temos que brigar juntos. Uma andorinha sozinha

não faz verão. Essa reunião é um exemplo disso. Muito obrigado.

O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Vamos ouvir agora a Dra. Elis

Regina Taffarel, coordenadora da defensoria Pública de Passo Fundo. Informo que

em Porto Alegre aumentou em 40% as ações que a defensoria pública, em nome da

população, ingressou na justiça em busca da garantia das pessoas a receberem

seus medicamentos.

A SRA. ELIS REGINA TAFFAREL – Boa-tarde a todos. Estamos todos do

mesmo lado, do lado da luta pela vida. Com certeza a defensoria pública também

luta, no dia-a-dia, por este direito. Recebemos, todos os dias, dezenas de pessoas

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que procuram efetivar seu direito à saúde, que não se restringe ao fornecimento de

medicamentos mas a todas as políticas públicas que devem ser implementadas e

incentivadas pelo Estado em seu sentido amplo.

A alocação de recursos na área da saúde deve ser efetuada. Nós que trabalhamos

junto ao povo que necessita dos medicamentos estamos sentindo na pele o que e

isso significa. É difícil lidar com pessoas que precisam de um medicamento para

viver e que não o recebem. Muitas dessas pessoas foram contempladas por uma

decisão judicial mas mesmo assim, após meses de intimação, ainda não receberam

o medicamento. Muitas delas só o conseguem após duas ou três reiterações de

intimações. Não estamos tratando de ...(falha na gravação)

...certificados pela Anvisa de eficácia comprovada e que não estão sendo entregues.

É público e notório que o Estado passa por dificuldades financeiras, mas o que é

mais importante do que o Estado garantir para os seus cidadãos o direito à vida? Se

o Estado não garantir isso, quem garantirá? Essa é a indagação que faço. Com

certeza a defensoria pública é parceira na busca da efetivação deste direito.

Estamos abertos ao debate. Temos que sanar eventuais irregularidades na busca

destes medicamentos.

Recentemente recebemos uma normatização do juiz que atuava na Vara da

Fazenda Pública dizendo quais os documentos mínimos exigidos para o ingresso de

uma ação judicial. Na grande maioria dos casos estes documentos já faziam parte

da ação. A defensoria também tem o máximo interesse em evitar fraudes. A fraude é

exceção. O que buscamos é a efetivação do fornecimento dos medicamentos

especiais excepcionais que também não estão sendo, em alguns casos, fornecidos.

Muito obrigado. Estamos sempre à disposição.

O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Convidamos o promotor de

justiça Dr. Edgar Garcia para que faça uso da palavra.

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O SR. EDGAR GARCIA – Boa-tarde. Saúdo os deputados, os integrantes da

mesa e todos os demais presentes:

Passo Fundo hoje recebe inúmeras autoridades nos seus mais variados eventos.

Hoje mesmo o comandante-geral da Brigada Militar está sendo recebido na Câmara

de Vereadores.

Trago aqui o meu otimismo em relação à solução deste problema. Saúdo a todos os

interessados e envolvidos nessa questão dos medicamentos. Enfatizo o papel que a

defensoria pública tem exercido em Passo Fundo. Temos nos empenhado na busca

da solução destas questões envolvendo a garantia à vida e à saúde das pessoas.

Saliento também o papel do município. Nós, em Passo Fundo, temos inúmeros

exemplos de soluções adotados pelo município que deveriam ter sido executadas

pelo Estado.

Muitos medicamentos chamados especiais ou excepcionais, em casos

emergenciais, têm tido a sua compra arcada pelo município. Isso porque existe um

entendimento de que há uma solidariedade passiva e necessária, ou seja, há uma

responsabilidade conjunta do Estado e do município em relação ao fornecimento dos

medicamentos e a garantia à saúde.

Então, aqueles medicamentos chamados da farmácia básica excepcionalmente

faltam e quanto aos especiais muitas vezes os municípios têm coberto as falhas de

fornecimento do Estado.

Quanto à questão orçamentária sabemos que no Brasil se gasta muito pouco em

saúde. O país gasta 140 ou 150 dólares per capta/ano em saúde. A Argentina, que

tem um poder econômico muitas vezes inferior, gasta 450 dólares per capta/ano em

saúde, três vezes mais que nós. Pasmem, o Rio Grande do Sul ainda está abaixo

disso porque gasta menos de 5% dos 12% que deveria. Com isso, chegamos a um

resultado lógico: vai faltar dinheiro. Qualquer um chega a esta conclusão.

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Cito o exemplo de medicamentos usados por transplantados que deveriam ser

distribuídos pelo Estado e que o município está suprindo essa falta com o custo de

um empréstimo feito junto ao Hospital São Vicente e aos laboratórios. Transplantado

não pode ficar, se quer um dia, sem o medicamento.

Temos outros aspectos para enfrentar. Se o Ministério da saúde quebrou a patente

de determinado medicamento, como o caso daqueles usados no tratamento da

AIDS, até há pouco tempo, o mesmo deverá ser feito com o Interferon, por exemplo.

Não é possível que o custo deste medicamento seja tão alto. E mais, em alguns

países da América Latina o custo do Interferon é muito mais baixo do que no Brasil.

Por que? estas são questões que devem ser discutidas.

Conclamo aos deputados para que façam com que o Estado administre melhor e

cumpra o orçamento determinado para a saúde. A quebra da patente do Interferon

está caindo de madura, não é possível que paguemos mais do que os países

desenvolvidos ou do que qualquer pais da América Latina. Estas são as propostas

que fazemos.

Aqui está o que chamamos de controle social do Sistema Único de Saúde. O SUS

foi uma conquista da sociedade. Não tivemos um deferimento de cima para baixo,

mas uma conquista de baixo para cima para que tivéssemos um sistema

efetivamente justo. Estamos buscando este sistema justo. Esse controle social, com

a participação efetiva da sociedade é que nos levará a realização plena do sistema

público de saúde.

Devemos também levar em consideração que há, na grande mídia, uma campanha

permanente de difamação do SUS. O melhor sistema de saúde é o Sistema Único

de Saúde. Precisamos é aperfeiçoá-lo, precisamos fazer cumprir aquilo que está

estabelecido. Precisamos trabalhar pela regulamentação da emenda nº 29, que

precisa ser cumprida em nível de município, Estado e União. Não podemos ficar

neste jogo o resto da vida. Um diz que cumpre, o outro diz que precisa

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regulamentar. Enquanto o município cumpre os seus 15% o Estado diz que tem que

regulamentar para cumprir os 12%. A emenda está aí com estes porcentuais

estabelecidos. Enquanto o município não precisa regulamentar, o mesmo não se

aplica ao Estado e à União.

É extremamente importante a participação de toda a comunidade e de todas as

entidades interessadas, dos representantes dos grupos dos familiares de portadores

de Alzheimer, dos portadores de esclerose múltipla, dos portadores de deficiência,

dos diabéticos e de todas as associações e organizações envolvidas no entorno

destes interesses que são absolutamente indispensáveis para a preservação da

vida.

Faço uma distinção: lei é uma coisa; direito é outra. Lei é papel, é texto; direito é

aquilo que conquistamos através do que está escrito na lei. A lei garante a saúde e a

vida a todos. É preciso que a sociedade brasileira imponha aos seus governantes,

sejam eles de que partido forem, o cumprimento do que está estabelecido na lei e

que recebamos pelos serviços que pagamos.

Alguns dizem que o SUS atende de graça. Não é verdade. Nós, com nossos

tributos, financiamos o SUS. O SUS deveria ser mantido pela CPMF, por esta

contribuição provisória-definitiva. No ano passado menos da metade da CPMF foi

destinada à saúde, contrariando a lei que a criou e que foi, na época, idealizada pelo

Dr. Adib Jatene.

Se fosse cumprida a emenda constitucional 29, e se toda a CPMF fosse destinada à

saúde, como estabelece a lei, nós, efetivamente, não teríamos carência de recursos

nesta área. Sou otimista. Vamos conquistar estes direitos. Nossos movimentos

devem ser permanentes, assim como a nossa cobrança aos governos.

Agradeço ao empenho de todos e elogio a todos aqueles que correm atrás de seus

direitos, assim como a Dona Marília. Tenho uma ação civil pública contra o Estado,

com liminar deferida em agosto do ano passado, que não foi cumprida até hoje. O

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último pedido feito foi de seqüestro de valores do Estado para que viesse os

medicamentos para os portadores de esclerose múltipla e de Alzheimer.

Estamos nos empenhando nessa luta. Acredito na competência e no empenho dos

deputados na solução destes problemas. Muito obrigado.

O SR. GILMAR SOSSELLA (PDT) – Muito obrigado ao nosso representante

do Ministério Público.

O SR. JOSÉ CARLOS MERLIN – Boa-tarde a todos os presentes. Represento

a Associação de Diabéticos de Passo Fundo.

Farei uma explanação sobre a falta de medicamentos de uso continuo para os

portadores de diabetes. Sabemos que não se trata de uma falta de orçamento. Para

nós, o que precisa ser feita é uma reforma tributária que garanta o nosso direito. O

município conta com 12% ou agora 13% do bolo orçamentário; o Estado fica com

24% e a União 63%. É lógico que a União deve ser a responsável pela maior parte

do bolo. Então, uma das soluções que queremos é que os deputados levem isso aos

deputados federais para que se faça uma reforma tributária e para que se deixe a

maior parte dos recursos nos município porque é onde vivemos.

Gostaríamos que os deputados encaminhassem uma lei de responsabilidade social

aos executores. Hoje, temos a lei de responsabilidade fiscal mas não temos uma lei

sobre a responsabilidade social, essa é uma outra semente que a associação de

passo Fundo quer plantar para que essa discussão cresça e avance.

Sugerimos também a criação de uma loteria estadual que destine parte de seus

recursos para um fundo de saúde para que se contemple a compra dos

medicamentos de uso contínuo para os necessitados. Outra sugestão é que toda a

empresa que participar de licitação no Estado destine um percentual para este fundo

dos medicamentos especiais.

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O SR. RUI SELVÃO – Faço parte da Associação dos Diabéticos e portador da

doença há 23 anos.

Os portadores de diabete tipo 1 tem necessidade de fitas. Sem elas não podemos

fazer o controle da doença. Com isso, podemos fazer um uso incorreto da dose de

insulina. O diabético do tipo 1 pode sofrer alterações de minuto a minuto. Posso

estar bem agora e, daqui a alguns minutos, cair. Tenho rápida variação entre baixas

e altas. A insulina NPH ajuda, mas o diabético do tipo 1 muitas vezes necessita de

um complemento melhor. No meu caso uso o Alantus, que não me é mais fornecido

pelo Estado. Com isso, tenho que voltar a usar o NPH que me dá muita alteração. O

meu estado de saúde fica prejudicado com esta medicação. A medicação baseada

na fita é que faz o meu controle. O diabético tipo 2 é um pouco melhor controlado,

não precisa tanto desta fita. O diabético do tipo 1 usa, no mínimo, 3 fitas ao dia.

Esta nossa dificuldade existe há mais ou menos 10 anos. O diabetes ou outro

qualquer problema crônico não regride nunca, ele só avança. Isso não tem volta. O

que eu perder hoje é irrecuperável, mesmo que venha a medicação. Se tenho

acesso à medicação posso controlar o problema e melhorar a minha qualidade de

vida. Muito obrigado.

O SR. PARTICIPANTE – Gostaria de registrar que temos uma parceria muito

boa com a secretaria municipal de saúde e com a universidade, onde fazemos

encontros na última quarta-feira do mês, na faculdade de Medicina. Nestes

encontros ouvimos palestrar sobre prevenção de doenças. De 8 a 10% da

população de passo Fundo tem tendência a problemas de diabete, o que é um

número muito expressivo. Queremos reinterar que na nossa opinião não falta

orçamento mas sim uma boa distribuição dos recursos.

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Está na hora de os deputados lutarem para que, na reforma tributária, mais recursos

sejam destinados aos municípios. Muito obrigado.

O SR. NERI GOMES – Saúdo o deputado Luciano. Por 8 anos tivemos o

prazer de trabalhar juntos nesta casa. Desde aquela época discutimos os problemas

da saúde.

Lembro que, na semana passada, aprovamos o relatório de gestão da secretaria

municipal de Passo Fundo e, na ocasião, o secretário apresentou um gráfico que

demonstra o quanto o Estado não cumpre com suas obrigações.

Para se ter uma idéia, no relatório de gestão do ano passado ficou demonstrado que

foram investidos mais de 30 milhões na área da saúde, destes o município contribuiu

com 52%, o governo federal com 47% e o governo do Estado deu 0.94%. Portanto,

o Estado não entrou sequer com 1% de investimentos na área da saúde em nosso

município.

Tenho acompanhado algumas conferências feitas em vários municípios da nossa

região e, posso assegurar que a realidade de todos é a mesma, em nenhuma deles

o Estado investiu mais de 1%. Isso compromete toda a estrutura dos municípios.

Além das ações judiciais que acabam estourando em cima dos municípios, Dr.

Edgar, a questão dos outros atendimentos também passa a ser de responsabilidade

do município.

Temos uma ação judicial pela qual a justiça determinou que o Estado cumpra com a

emenda nº 29, que determina a aplicação dos 12%. Esta ação já está na segunda

instância, já que ganhamos na primeira, e, mesmo assim, o Estado não cumpre com

esta determinação judicial.

Os deputados devem sair daqui com uma proposta que obrigue o Estado a investir

os 12%. Com isso não estaremos trabalhando com um paliativo mas sim um

resolutivo. Hoje os municípios estão investindo até 30% do seu orçamento na área

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da saúde. Passo Fundo chega a investir até 17% do seu orçamento, pequenos

município, como Santo Antônio do Palma, chegam a investir 25%; o município de

Gentil aplica 28%. Enquanto isso, o Estado não cumpre com o seu papel.

Parece-me que esta vinda é louvável porque nós vamos conseguir fortalecer o

trabalho dos deputados na Assembléia Legislativa para que se cumpra aquilo que é

constitucional. Esta é uma função muito mais importante que tantas outras. Com

isso, poderíamos resolver esta questão dos medicamentos. Muito obrigado.

A SRA. ADRIANA ESLONGO – Sou de Tapejara e represento a família

Eslongo, que tem vários membros com a doença de Fabry, alguns se retiraram por

não estarem se sentindo bem. Há 16 meses lutamos na justiça para receber um

medicamento que garantiria uma melhora na qualidade de vida destas pessoas. Eles

precisam do remédio com urgência. Três pessoas já morreram, duas com 44 anos e

uma com 46.

Quando a doença foi descoberta conseguimos entrar em um programa do

laboratório que doou o remédio por um ano, e que será suspenso agora no mês de

julho. Se em 16 meses o governo não resolveu este problema, será que até julho ele

resolverá? Não agüentaremos perder mais um membro da família. Cada dia que

nasce pensamos se será hoje que iremos resolver esta situação.

O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Qual é o custo do remédio?

A SRA. ADRIANA ESLONGO – O remédio custa 3.750 dólares cada

frasquinho, o que daria 20 mil por mês mais ou menos. Quem pode pagar por ele?

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O SR. GILMAR SOSSELLA (PDT) – Adriana, fizemos questão da presença de

vocês aqui para que nos relatassem esse caso. Parece que são 11 casos que

existem em nosso Estado e que 10 deles são da família de vocês.

A SRA. ADRIANA ESLONGO – Na família temos 14 pessoas doentes, 5 delas

estão precisando do medicamento com urgência. No Estado sei que além das

pessoas da nossa família ainda temos um caso, que eu saiba. Existem outros

suspeitos mas que ainda não foram confirmados.

O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Muito obrigado pelo registro.

Passo a palavra a Sr. Luiz Roberto Carvalho.

O SR. LUIZ ROBERTO CARVALHO – Sou médico da família Eslongo. Fiz o

diagnóstico desta família em novembro de 2005 e a história deles é mais difícil do

que foi relatado aqui.

Sabendo da dificuldade do custo da medicação fica difícil fazermos uma prescrição

que irá onerar tanto o Estado. Sou nefrologista, trabalho com tansplantes e com

pacientes com tratamento de diálise, e sei da escassez de medicamentos.

O que esta senhora fala aqui é de uma situação de vida ou morte. Tenho todos os

membros da família bem avaliados e seus casos documentados. Além desta família

tenho mais duas famílias com diagnóstico comprovado, além de mais 7 casos em

Porto Alegre. Acredito que passaremos de 45 casos até o final do ano em nosso

Estado. Portanto, esta é uma situação preocupante. Quantos destes 45 pacientes

precisarão de tratamento? Não sei, certamente não serão todos. Mas fica difícil para

um médico prescrever um medicamento que custa um pouco mais do que foi

mencionado, na verdade o custo chega a 15 mil dólares por mês por paciente.

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Esta é uma doença difícil de diagnosticar, de manejar, mas que traz esta morbidade

toda. Na condição de médico, tenho convivido com o problema há quase 2 anos.

Não posso onerar o Estado mas não posso deixar de assistir a família. O que

conseguimos até agora foi através de um programa de doação caritativo

internacional, que funciona em 80 países. Existem apenas 2.300 casos desta

doença no mundo, mas certamente este número aumentará. Hoje sofremos com o

desconhecimento da doença. A situação é mais dramática que ele conseguiu

expressar, certamente por seu nervosismo. Espero poder contar com o apoio dos

senhores. Muito obrigado.

O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Nós é que agradecemos o seu

registro.

O SR. ANTONIO ELOY MARTINS – Saúdo a todos os presentes e a todos os

colegas de luta. Sou presidente do grupo Viva Melhor, que atende portadores do

vírus da hepatite tipo C.

Esta doença vem aumentando ano a ano, em um índice desesperador. O próprio

Ministério da Saúde diz que os casos da doença aumentam em 30% ao ano.

Um dos principais remédios para a doença é o Interferon, que poderia ter sua

patente quebrada, o que poderia solucionar muitos problemas. Temos um grande

problema em nível de Brasil. Quem tem dinheiro vai até uma farmácia e compra o

medicamento. E nós, como brasileiros sem condições, como ficamos? Não temos

direitos iguais. Está na hora do setor da saúde tomar jeito. A população vive

momentos de desespero.

Quanto ao remédio prescrito entendo que o senhor, como médico, deveria interferir

junto à entidade médica imediatamente. A Anvisa deveria ser comunicada sobre se

o medicamente faz ou não efeito antes de ele ser aprovado.

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Nossa conselheira de saúde falou muito bem quando se referiu ao direito à vida.

Todos temos este direito constitucionalmente. Só que ele só está aí e não chega até

nós. O próprio promotor falou sobre uma liminar de agosto que ainda não foi

cumprida. A promotoria, a defensoria, teria que ser mais enérgica e pedir a prisão

dos responsáveis, como aconteceu no Rio de Janeiro. Deve ser dada uma

explicação para esta falta de medicação.

Em todas as áreas temos os bons e maus profissionais. Faço aqui um apelo à

classe política: os bons políticos deveriam se unir para mudar a constituição. Talvez

assim terminássemos com o roubo que anda por aí. O presidente disse que não

defendemos o país lá fora, mas não o estamos defendendo nem aqui dentro. O

político deve ter segurança e imunidade na sua luta política e não para fugir de

responsabilidades econômicas.

Este é o meu apelo. A união de todos deve começar pelos assessores, vereadores,

deputados, presidente. Os honestos devem se unir em torno das mudanças da

constituição. Se o dinheiro roubado fosse usado em benefício da população

teríamos uma saúde, e uma segurança, de primeiro mundo. Dinheiro existe,

acontece que está indo para o lado errado. Muito obrigado.

A SRA. MARÍLIA MATTOS – Sou coordenadora do grupo de portadores de

esclerose múltipla da região de passo Fundo.

Cumprimento a todos. Os portadores de esclerose múltipla têm grande dificuldade

para falar em esperança. Somos portadores de uma doença neurológica

progressiva, mutilante, mas que boazinha porque não mata. Mesmo sem a

medicação, tivemos uma pessoa que nos ajudou, que foi o Dr. Edegar, que em

todas as horas esteve ao nosso lado.

Temos esperança nessa atuação do deputado Luciano, que, sabemos, não está

brincando com um assunto tão sério. Sabemos que vocês vão levar adiante essa

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nossa grande luta, que levarão à governadora o nosso problema e que ela será

sensível ao problema da saúde no Rio Grande do Sul. Quando a subcomissão foi

criada, recebi ligações de todo o Estado, de Rio Grande; de Pelotas; de Santa Maria;

de Santa Vitória do Palmar cumprimentando pelo fato de termos conseguido esta

vitória. Na verdade, este mérito foi do deputado Luciano.

Algumas pessoas do nosso grupo não puderam vir hoje aqui por estarem sem a

medicação, e que, por isso, não estão passando bem. Tudo é urgente. Precisamos

muito da medicação. Se eu não tiver o Interferon e entrar em surto, posso acabar em

uma cadeira de rodas de forma irreversível. Posso também acabar com seqüelas

nos olhos, nos ouvidos, como este rapaz com 22 anos que vimos aqui. A situação é

muito grave.

Outra questão é a falta de estatística. Não sabemos quantos doentes somos. Agora

apareceu o diagnóstico da família Eslongo mas até bem pouco tempo uma pessoa

dessa família – que faleceu há dois anos – era nossa companheira e era tratada

como paciente de esclerose múltipla.

O diagnóstico destas patologias difíceis é muito complicado. Durante 26 anos fiz

tratamento para labirintite para, em 2003 ser encaminhada a Porto Alegre para

diagnosticar a esclerose múltipla. Quantos casos iguais devem existir por aí?

A cada seis meses teremos que apresentar novos exames. Para o portador de

esclerose múltipla é necessário uma ressonância magnética da medula, de toda a

medula espinhal, um exame que é muito caro. Quem paga por estas ressonâncias?

Quem paga pelo exame do líquido da medula que é enviado para a Bélgica a cada

seis meses? Isso tudo para provar que precisamos do remédio.

Outra coisa que poderia ser facilitada é a documentação a ser encaminhada. Falo

pelo portador de esclerose múltipla mas o mesmo deve acontecer com as pessoas

que sofrem de outras doenças. Temos dificuldades de locomoção. Se falta um

atestado, somos obrigados a voltar ao órgão. Lá vai o processo para Porto Alegre,

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fica três meses lá para nos dizerem que faltou outro papel. Esse menino que está

aqui ficou um ano sem o Interferon porque o processo dele foi e voltava. Precisamos

de um escritório contábil que encaminhe estes processos. Conheço um caso de uma

senhora de Tapejara que desanimou. Ela disse que vai morrer porque não quer mais

ir atrás de medicação, porque sempre está faltando alguma coisa.

Peço que Deus ilumine toda essa equipe, vocês são a nossa esperança. Muito

obrigado Luciano, teu trabalho será recompensado por Deus.

O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Agradeço a professora Marília.

A SRA. MARIA DE LURDES – Trabalho como agente comunitária de saúde.

Lembro de um caso que me comoveu muito quando eu estava em um consultório

esperando por uma consulta juntamente com outras pessoas portadoras de hepatite

C. Quando uma das pessoas disse que estava desde agosto com um processo para

receber o medicamento, as outras, que estavam na sua primeira consulta, entraram

em desespero.

As pessoas que estavam ali ainda não sabiam qual o seu grau de hepatite e

começaram a imaginar quanto tempo teriam que esperar para receber um

tratamento. São muitos os papéis que vão e vem. Naquele dia este paciente trazia

por volta de 30 folhas para a doutora assinar e que ele deveria levar de volta ao

fórum para tentar receber a medicação pelo Estado.

O SR. MARCELINO – Sou presidente da Associação do Hipertenso, faço parte

do conselho municipal do idoso. Estas dificuldades que foram mencionadas aqui são

uma realidade, as vezes elas são até mais graves que isso.

No nosso município 30% das pessoas sofrem de hipertensão, entre idosos e

pessoas mais jovens. Esta dificuldade na realização de exames e de documentos é

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comum. Algumas pessoas estão esperando exames como cintilografia ou tomografia

há 12 meses. As vezes procuramos agilizar o atendimento do idoso porque ele já

conta com debilitações em função da própria idade. Esta pessoa corre um grande

risco com a falta do medicamento. É só faltar o medicamento para o hipertenso que

ele pode sofrer um ataque cardiovascular.

Muitos dizem que a terceira é a melhor idade. Melhor idade se eu tivesse uma

remuneração suficiente que me garantisse o medicamento de que preciso.

Infelizmente o aposentado ganha um salário mínimo por mês. Quem é que faz

alguma coisa com isso?

Procuro fazer o possível e o impossível para atender os idosos e os diabéticos junto

a área da saúde. Graças a presença do Dr. Alberi, que me dá toda a cobertura,

temos conseguido atender aos nossos idosos. O idoso, como todos sabem, sofre de

muitas dores. Por mais barato que seja o custo do medicamento, ele não tem poder

aquisitivo para comprá-lo. Quando a rede pública não fornece o medicamento, o

idoso, com seus poucos recursos, é obrigado a recorrer à farmácia popular.

Espero que o Luciano, com seu trabalho, consiga regularizar a entrega desses

medicamentos, principalmente aos idosos. Se alguma coisa foi feita neste país foi

pelos que hoje são idosos. Merecemos uma atenção especial. Os homens públicos

tem a obrigação de nos proporcionar um melhor atendimento. Muito obrigado.

A SRA. DÉBORA TAUFFER – Boa-tarde a todos. Sou a farmacêutica

responsável e coordenadora da Farmácia de Medicamentos Especiais, que fica junto

ao quartel do (ininteligível)

Quando recebi esta incumbência fiquei receosa por se tratar de uma grande

responsabilidade. No dia 24 de outubro, assumi a farmácia de medicamentos

especiais. Até hoje eu já montei 628 processos, sendo que desses, 95 deles tem

deferimento. Se esta medicação está vindo ou não é outro problema.

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Gostaria de fazer esse desabafo, perante toda a população, porque todos os dias

que passamos na farmácia somos agredidos física e verbalmente. As pessoas não

entendem que não é culpa nossa que a medicação não chegue. Já tive que fazer

boletim de ocorrência em função de agressão física que sofri. As pessoas não

entendem que essa situação não é nem culpa nossa nem da secretaria municipal de

saúde. Pessoas tentaram me morder e jogaram o isopor do Interferon na minha

cabeça, etc. Não é esta a melhor maneira de reivindicar uma medicação. Sei que

quando o assunto atinge a saúde as pessoas se desesperam.

Todos os dias eu entrego Emulsão Scott para um cliente; para outro eu entrego 47

caixinhas de sabonete Dove; para outro, Maracujina, para outro ainda 57 caixas de

Neosaldina. Entendo que estes medicamentos não são de uso contínuo. Essas

entregas foram deferidas por um juiz. Se eu não entregar estas mercadorias posso

ser presa por desacato à autoridade.

Algumas vezes ouço coisas de cliente do tipo: ou eu compro remédio ou como.

Comer eu tenho que comer, mas se eu não tomar o medicamento eu morro. O que

eu faço? Diante disso eu me pergunto o que fazer? Esse tipo de coisa me dói. Estes

pacientes de fato precisam do medicamento, são pacientes transplantados, com

esclerose múltipla, com câncer, etc.

Aviso, de antemão, que segunda-feira os pacientes irão à farmácia atrás de

Ribavirina e não temos um comprimido sequer, não recebemos este medicamente

neste mês. Os portadores de hepatite Comissão, usuários deste medicamento,

poderão ter a recidiva do vírus porque o Estado não nos os enviou.

A SRA. ELIS REGINA TAFFAREL – Débora, é oportuna a tua intervenção.

Não lembro de ter visto ou feito um pedido judicial para o fornecimento de sabonete

Dove. Creio que isso não passou pela defensoria pública. Se há a prescrição de um

medicamento, mesmo que isso não nos parece adequado, isso foi feito por um

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médico, tendo o juiz deferido tal pedido. O processo judicial é baseado no

contraditório. O Estado e o município foram intimados desta decisão e tiveram a

oportunidade de agravar e de apelar. Portanto, a decisão não é ditatorial e está

sujeita ao contraditório.

Todos estamos do mesmo lado e buscamos fazer o melhor para os que precisam de

medicamentos.

O fornecer o sabonete Dove não onerou o Estado de tal forma que o impedisse de

comprar o Ribavirina para os pacientes. Garanto que nunca fiz nenhum pedido de

sabonete ou qualquer outro produto desta linha. Muito obrigado.

O SR. ALBERI GRANDO – Quero dizer para a Débora que não me arrependi

de ter entregue esta missão a ela. Ela disse que tinha medo, mas posso garantir que

ela correspondeu ao esperado até mesmo acima da nossa expectativa. A Débora

falou sobre alguns produtos, como sabonete, que algumas vezes tem a sua

distribuição deferida pelo juizado.

Minha preocupação é que faltem recursos para os pacientes de esclerose múltipla e

se coloque recursos em coisas que não tenham eficácia comprovada. Hoje não

temos comprovação da eficácia de medicamentos como Emulsão Scott. Mesmo

assim, pedidos de compra deste medicamento são deferidos. Se tivéssemos

dinheiro sobrando, poderíamos dar Biotônico Fontoura ou Emulsão Scott para quem

quiser. Se alguém tiver dúvida sobre a existência de medicamento sem eficácia,

pergunte ao farmacêutico. Existem 30 ou 40 medicamentos que os farmacêuticos

chamam de não-éticos. Quando o medicamento é rotulado assim, vocês podem ter

certeza de que trata-se de um medicamento feito em fundo de quintal.

Quando fui secretário, fizemos uma licitação pública a qual foi ganha por uma

determinada empresa. Fizemos a compra de um medicamento, chamado

Salbutamol, que é um broncodilatador, e que tem sua eficácia comprovada. Em vez

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disso, a empresa nos entregou um xarope antigripal. Quando eu peguei o

medicamento disse que não era aquilo que eu tinha comprado. O vendedor me disse

que era a mesma coisa. Sendo assim, pedi que ele me trouxesse a fórmula do

produto para que eu pudesse comprovar os princípios ativos. Diante do meu pedido

ele me disse que não poderia fazer isso por se tratar de uma fórmula secreta. É

claro que cancelamos toda a licitação e até hoje estamos brigando com essa

pessoa.

O que quero dizer é que alguns medicamentos não tem eficácia comprovada, outros

estão em processo experimental.

A classe médica não permite que se faça isso. Está no nosso código de ética que

não podemos usar um remédio de forma experimental. Sou conselheiro do CRM, em

Porto Alegre, e seguidamente estamos julgando colegas por fazerem experiências

com pacientes.

Portanto, preocupa-me quando são vendidos medicamentos sem comprovação de

sua eficácia. Depois de um médico dizer ao paciente que ele precisa de um

determinado medicamento ninguém tira da cabeça dele que este medicamento não

serve. A nossa relação médico-paciente é muito boa e calcada na confiança. Sugiro

que exista algum critério para o juiz que for dar esse deferimento. Propus em Passo

Fundo que fosse montada uma equipe de dois médicos e dois farmacêuticos que

pudessem avaliar tudo o que fosse receitado. Recebi duas ou três solicitações desse

tipo. Avaliamos e damos a nossa sugestão, comprovando, através de trabalhos

científicos, se aquele medicamento faz ou não efeito para que não se gaste à toa

tanto o dinheiro do Estado como o da pessoa.

O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Agradeço a sua gentileza. Passo

a palavra ao Sr. Edgar Garcia.

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O SR. EDGAR GARCIA – Não posso avaliar o benefício do uso de um

sabonete Dove para a saúde de alguém, assim como maracujina, etc. Mas creio que

isso sejam exceções. Aliás, gostaria de pedir que quando surgirem pedidos desta

natureza eu fosse comunicado. Os promotores devem conversar entre si para

esclarecer fatos como esse.

Instaurei um inquérito civil em razão do excesso de consumo de antidepressivos na

rede pública. Não sou médico mas indago se é possível em duas folhas de receita

um médico prescrever quatro ansiolíticos e quatro antidepressivos para a mesma

pessoa. Em consulta a alguns médicos eles me esclareceram que essa prescrição

seria desnecessária. Um ansiolítico associado a um antidepressivo seria o

suficiente. Agora, existe um excesso de compra de antidepressivos na rede pública

de Passo Fundo, e sem contar aqueles que compram particularmente, podemos

dizer que superamos a média estadual e nacional.

Não se trata de economizar mas de racionalizar gastos públicos. Não é possível que

o município gaste 1,5 milhão ao ano em antidepressivos. Com relação aos médicos,

acho extremamente válida a avaliação das receitas feitas por farmacêuticos. Os

médicos, muitas vezes, receitam medicamentos que nem são mais fabricados.

Temos que ter em mente que jamais podemos deixar faltar medicamentos para

pacientes de hepatite C; para pacientes com Alzheimer; esclerose múltipla e para

tantas outras doenças graves. Esses não podem faltar.

Com relação à hepatite C esclareço que esse vírus é mais contagioso do que o vírus

da AIDS, pois ele sobrevive mais tempo fora do seu habitat. A hepatite C começou a

ser diagnosticada a partir de 1993. Há um número muito grande de pessoas que tem

este vírus e não sabem. A descoberta da doença é, muitas vezes, acidental. Temos

que ter prioridades. Vamos examinar se os antidepressivos estão sendo bem

receitados. Os médicos é que podem falar sobre isso.

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As associações que trabalham com pacientes devem agendar com o Ministério

Público uma reunião para que possamos organizar uma estratégia para reivindicar

estes direitos.

O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Agradeço ao Dr. Edgar.

O SR. GUILHERME – É um prazer estar aqui.

Sobre medicamentos, posso dizer que existem três linhas de fabricação: a linha

ética, que é o remédio de marca; a linha genérica e a linha similar. Comprei um

similar, chamado Captomed, de 50 miligramas. A eficácia deste medicamento não

foi a mesma do Clorana, que é um medicamento de marca que realmente funcionou.

Não acredito que um medicamento como o Dipirona, de um laboratório similar, que

custe 50 centavos faça o mesmo efeito do remédio da marca. Não tem como. Uma

Novalgina custa 5 reais. O similar não pode custar 90% menos. Não tem como um

medicamento assim fazer o mesmo efeito.

Existe um projeto de lei que irá retirar de linha estes medicamentos similares, isso

porque agora o governo exige que todos os medicamentos tenham um genérico de

eficácia comprovada através de teste de bioequivalência. Com isso, o similar irá cair

fora.

Aconteceu comigo de pegar um medicamento, chamado Captopril de um laboratório

que não era o que costumava comprar e ele não fazer o efeito desejado.

Foi dito aqui que a CPMF deveria vir toda para a saúde. Eu também gostaria que o

dinheiro que foi desviado por corrupção voltasse para os cofres públicos para que

tivéssemos condições de investir mais nesta área. Muito obrigado.

O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Agradecemos a todos os

presentes.

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Para finalizar, faço o seguinte registro: segundo o Ministério da Saúde, de 400 a 600

mil portadores de hepatites virais deveriam receber tratamento neste ano mas

somente 11 mil pessoas poderão ser atendidos pela rede pública.

Peço desculpas aos que não puderam se manifestar pela nossa falta de tempo.

Agradeço a todos pelas suas presenças, assim como aos servidores da Câmara

Municipal que deram suporte ao nosso trabalho. Não prometemos a solucionar um

problema que é estrutural do Estado brasileiro e gaúcho. Queremos somar esforços

para que esta luta chegue ao governo do Estado.

Esperamos que a política de fornecimento de medicamentos seja de Estado e não

de governo. Ele não pode começar em um governo e interrompida em outro.

Podemos esperar por uma estrada ou por uma escola mas não podemos esperar

por um medicamento. Agradeço em meu nome e dos colegas a todos vocês.

Convido a todos para que compareçam a nossa reunião com o secretário estadual

da saúde, onde estaremos fazendo a entrega de todo este material que recolhemos

pelo interior do Estado.

Muito obrigado. Está encerrada esta reunião.

DATA 11/06/2007: Audi ência Pública com o Secretário de Saúde, Sr. Osmar

Terra: Deputado Luciano Azevedo pede a permissão da palavra para uma retificação.

Subcomissão não encerrou o seu trabalho e nem poderíamos encerrarmos os

trabalhos e nem produzir um relatório, sem ouvir as razões do secretário de saúde

que está aqui hoje exatamente para fazer este relato que acabou de fazer, então

não é que nos não tivemos tempo de fazer o relatório, não faltou tempo, o prazo da

subcomissão ainda não está esgotado e o relatório está sendo produzido com os

elementos que a subcomissão já dispõe para produzir este relatório. Este

esclarecimento é importante fazer.

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Passada a palavra ao deputado Paulo Borges faz a seguinte pergunta ao secretário;

O Senhor falou aqui que entre 20% e 30% do que se compra em medicamentos

especiais não servem praticamente para nada. Eu lhe pergunto o seguinte quanto

custa para o estado estado isto hoje? O senhor tem está estimativa?

Passada a palavra para o secretário de saúde:

Estes 20% deputado Paulo certamente custam mais do que nós gastamos com a

saúde, só o desperdício custa mais do que nós gastamos com as equipes de saúde

da família como incentivo.

30 milhões , de 20 a 30 milhões.

Deputado Paulo Borges faz uma outra questão ao secretário de saúde;

Como se pode explicar desses medicamentos, não teria coo o estado medir está

distorção e talvez não comprar tantos medicamentos ou toda está compra resulta de

como o senhor falou de medidas judiciais?

Passada palavra ao secretário responde:

Só para dar uma idéia, também faltou um dado importante na minha manifestação.

O Rio Grande do Sul é o estado que mais oferece medicamentos pelo estado, no

Brasil. Por que no Brasil além de ter, a questão dos medicamentos excepcionais tem

os medicamentos especiais que é um intermediário entre o básico e o excepcional

em custo, são medicamentos que custam 400 reais por mês um tratamento ou

custam 500 reais que uma boa parte da população não tem como pagar mesmo e

tem o direito ter.

Então tem uma lei estadual que é da deputada estadual Jussara Coni que manda

dar estes medicamentos especiais também além dos excepcionais nos damos ainda

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os especiais. Isto significa o seguinte, estamos falando de 100 mil pessoas no Rio

Grande do Sul, 30 mil com medicamento excepcionais é 0,3% da população e 70 mil

com os especiais.

Só que o custo é inverso, o custo dos 30% é de 70 do valor que nos gastamos. E

do 70% é 30% porque é um medicamento que relativamente custa menos. Quando

tem, tá protocolo, está previsto a Anvisa confirma que aquele medicamento faz

efeito, que está no previsto no protocolo clínico nos não temos como nós negar a

dar. Nos temos que dar.

Agora dessas 100 mil pessoas que são atendidas atendidas no Rio Grande do

Sul. Isto aumentou eram 50 mil a 4 anos atrás. Hoje dobrou o número de pessoas

não é que porque 4 anos atrás que não tinha tanta gente precisando desse remédio,

é que 4 anos atrás as pessoas tavão se dando quanta do direito que elas tinham. E

aumentou o número porque elas recebem. Importante dizer isto também, para não

passar a idéia que o estado não está dando. Para se ter uma idéia deputado dos

100 mil pacientes atendidos, só 8 mil são ações judicial, de 8 a 10mil são ação

judicial, só 8% são ações judiciais o resto é tudo piloto automático, entrou com o

pedido, faz o processo e daí recebe. Só que quem recebe não fala, só fala quem

atrasa e quem não recebe e aí vira notícia mas então aí passa a idéia que ninguém

está sendo atendido.

Não 92% dos gaúchos que precisam dos medicamentos especiais e excepcionais

recebem no piloto automático e esses 8% aí sim são medicamentos que não estão

indicados para determinada patologia em dose exagerada, em dose exagerada são

os mais caros. As ações não são simplesmente mais baratas, então esse é o

projeto. Por exemplo a pessoa está com hepatite C o problema dela se resolve com

Enterferon alfa que o tratamento dela custa 2 mil reais, mas o custo de gestão do

médico ou de alguém aí ela pede o peguilado ela não pede o alfa, com o peguilado

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vai a 60 mil reais mas a secretária diz que cientificamente o alfa faz efeito. Mas não

eu quero o peguilado. Então vai para ação judicial e o juiz não vai dá.

Então eu falo desta diferença de custo, não é que não faça efeito, possa ter um

custo menor com um medicamentos e outros que não faz efeitos mesmo como

experimentais.

Deputado Paulo Borges pergunta?

O senhor julga que a secretária está preparada, perito desculpa se é está

expressão correta para fazer uma avaliação se o paciente necessita desse

medicamento A ou B, a secretária está pronta para isto hoje?

A secretária faz uma avaliação pelo processo não tem condições de estar

avaliando à todos, examinado um por um. Entre o processo se tem a comprovação

do exame, se tem a comprovação dos sintomas, dos sinais da doença, do

diagnóstico da doença feito a comprovação a secretária manda dá.

O que nos colocamos em discussão é quando aquele remédio não está previsto

em nenhum tratado científico para aquele problema ou nenhuma dose prevista ou é

um remédio que poderia ser mais barato e está se dando mais caro.

Aberta a palavra as entidades:

Passaríamos a Associação Gaúcha de Fibrose Sistíca;

Estão faltando medicamentos como Sarcon, medicamento para o fígado que falta

a três meses e também insinas pancrêanticas essenciais aos pacientes. E com

relação a lei do tieu viana gostaríamos que tivesse nesta lei como ficará a formação

das equipes para os protocolos e não esquecendo dos representantes na sociedade

civil, e a revisão anual, que já constatasse nesta lei.

Passada a palavra a Associação dos Ostomizados

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315

Hoje são dados de cinco a seis equipamentos para as pessoas ostomizadas no

Rio Grande do Sul, e é importante pedir ao secretário de saúde para que possa

estar solicitando a liberação da portaria da secretária de saúde do Rio de Janeiro o

valor de 138 milhões para a compra desses equipamentos, que são de dez a quinze

e para que os profissionais estejam participando desses processos de compra, que

possam estar participando na liberação também. O presidente da Associação de

Ostomizados enfatiza gostaríamos de uma solução?

Passada a palavra para o Centro de Anemia Falciforme.

Por que este estado não tem a coragem a dignidade e a decência de trabalhar

Anemia Falciforme. Por que este projeto não foi implantado no estado? Depois da

varias reuniões feitas, este estado vai ou não vai implantar este programa que tem

anemia Folciforme?

Passada a palavra para representante da Via Vida, Fadoqui e representando o

Conselho Estadual de Saúde. Concordamos com o senhor secretário de saúde, mas

nós não estamos aqui para falar dos 8% dos processos judiciais no estado, porque

são associações que estão aqui hoje e não recebem corretamente no piloto

automático e correndo o risco de morrer.

O senhor fala dos medicamentos que não tem efeito então o senhor leve está

questão ao ministério da saúde. Porque nos estamos falando dos medicamentos

autorizados pala anvisa e que estão nos protocolos clínicas.

Passada a palavra a Presidente da Pacson Angela Garcia

Gostaria de colocar a seguinte situação: sem os remédios nos não andamos, não

trocamos de roupas, não temos condições de vida, é como se estivéssemos em

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estado vegetativo em apelo a esses portadores, tem que ser prioridade, essas

pessoas dependem desses remédios.

Então está tendo um desperdício de medicamentos, está na hora do governo

selecionar um perito para avaliar os portadores para que tipo de remédio tomar.

Um exemplo de um medicamento como o prolopa me da efeitos colaterais, eu tenho

condições de ter um remédio que substitua esse remédio. Eu falo de condições de

vida, ter direito à vida.

Passada a palavra ao secretário de saúde para as respostas as entidades e

finalização:

Quero fazer um esclarecimento de um projeto de lei, ontem tínhamos uma reunião

com o senador Paulo Paim que é o relator do Projeto de Lei e com o senador “Tião”

Viana para discutir o encaminhamento e o senador Flavio Arns que tem um outro

projeto de lei que na minha opinião inviabiliza qualquer controle, que abre para tudo,

para todos, sem nenhum tipo de critério mas está opinião é minha e dos gestores

públicos.

Mas aí eu queria falar para o presidente do grupo dos portadores de nutricidoses,

nos colocamos, o Conas que eu to presidindo agora, conselho nacional da

secretária de saúde, o senador “Tião” Viana colocou como projeto de lei a

necessidade de atualização anual dos processos clínicos , que está em pauta e é

nossa também.

E eu quero dizer mais que no Rio Grande do Sul o ministério público e o Ajuris

Associação dos Juizes do Rio Grande do Sul que está colaborando com sugestões

também, está aqui também o Bruno Nandof que é nosso assessor jurídico nos

temos reuniões toda semana, temos reuniões semanalmente com a Ajuris e o

ministério público.

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317

Para avançar nesta questão dos medicamentos e inclusive para garantir este projeto

de lei para que seja mais adequado possível.

Então ontem só não aconteceu a reunião por um motivo o senador Flavio Arns não

podia ir e o senador Paulo Paim está com um problema sério de saúde na família.

Este processo deve andar mais rapido depois de recesso. Também eu quero dar

uma informação sobre o ministério público de saúde repassa esse dinheiro, nos

primeiro pagamos e o dinheiro para os medicamentos é a metade do que nos

gastamos, mas ele repassa. Pirmeiro nos pagamos depois o ministério nos ressarce

da metade, o que acontecia aqui no Rio Garnde do Sul era um caso diferente dos

outros estados esse dinheiro que vale a 5 ou 6 milhões de rais por ano que foi

aumentado com o tempo, nos tinhamos um desti do teto de repasse que o ministério

repassava para o estado tínhamos um destino de 7 milhões depois foi reduzido a 5

milhões, mês passado que o destino foi zerado.

Então já era assim ainda no governo do Olívio, no governo do Rigotto todo inteiro

com este destino.

Isso foi uma enorme sangria de recursos para o estado, vocês imaginam o estado

quebrado com uma dificuldade financeira todo mês ter que tirar 7 milhões pa tapar o

buraco, então o que a gente fazia pegava este dinheiro do ministério que era para

compra de medicamentos usava para dinheiro do estado para comprar

medicamentos então na integra os medicamentos que foram comprados até este

mês pelo Rio Grande do Sul não foram com recurso federal.

O recurso federal foi usado para pagar o buraco do destino, outra informação

importante no projeto de lei do senador “Tião” Viana não foi proibido o médico

receitar qualquer coisa, o que ele define o que vai ser pago com recurso público ou

não?

Teoricamente o médico pode receitar que ele tem que tomar um rémedio que só tem

no Japão e que vai ser bom para ele, o médico pode dizer isto na qual é o momento.

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318

Agora nós temos.

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319

5. Da política Nacional de Medicamentos

A assistência farmacêutica constitui parte fundamental dos serviços de atenção

à saúde do cidadão. Em muitos casos, a estratégia terapêutica para a recuperação

do paciente ou para a redução dos riscos da doença e agravos somente é possível a

partir da utilização de algum tipo de medicamento. Em tais situações, o

medicamento é elemento essencial para efetividade do processo de atenção à

saúde. Nesse contexto, o direito constitucional à saúde assegurado à população

brasileira só se materializa em sua plenitude mediante o acesso do paciente ao

medicamento.

Em pouco mais de uma década de construção do Sistema Único de Saúde

(SUS), os problemas iniciais de sua implantação, inclusive os de ordem política e

filosófica, foram superados e significativos avanços foram alcançados no tocante à

organização e à descentralização de sua gestão nos âmbitos político-administrativo

e financeiro. Vivemos, hoje, um período de consolidação do SUS em que a

organização da atenção e assistência à saúde e a ampliação do acesso dos

cidadãos aos serviços constituem o principal desafio para seus gestores, nas três

esferas de governo. É na área de assistência farmacêutica, no entanto, que o

sistema de saúde brasileiro ainda se depara com grandes problemas e dificuldades.

É nela que mais se evidenciam as distorções e os problemas gerados pelas grandes

desigualdades sociais e econômicas ainda existentes no país e que determinam

restrições ao pleno acesso a medicamentos. Esta situação é particularmente

dramática em se tratando de medicamentos de uso ambulatorial continuado, quando

o tratamento de doenças crônicas, muitas vezes com duração por toda vida, se torna

inacessível para a maioria da população, quer pelo alto custo do medicamento quer

pelo custo total do tratamento. Neste particular, é fundamental a ação do poder

público no combate à iniqüidade no acesso, na formulação de políticas de

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assistência farmacêutica de alto custo, na garantia do financiamento, na distribuição

gratuita de medicamentos e na ampliação do acesso da população a estes

tratamentos, onde se insere o Programa de Medicamentos Excepcionais .

As políticas de promoção do acesso a medicamentos são de realização

progressiva. O atendimento de um direito social, como é o caso do acesso a

medicamentos, sempre é confrontado por demandas múltiplas e crescentes, em face

de restrições operacionais e orçamentárias. Assim, o estado deve orientar-se para o

atendimento da demanda daqueles medicamentos considerados essenciais e

prioritários do ponto de vista de saúde pública. Ao mesmo tempo em que o

medicamento é um importante insumo no processo de atenção à saúde, pode

também se constituir em fator de risco quando utilizado de maneira inadequada. Não

se trata, portanto, de promover o acesso a qualquer medicamento ou de qualquer

forma mas, sim, de promover o uso racional e seguro desses produtos.

O escopo da ação estatal abrange medidas que assegurem oferta adequada

de medicamentos em termos de quantidade, qualidade e eficácia. Assim, em plena

conformidade com a Política Nacional de Medicamentos, a necessidade de

gerenciar adequadamente o Programa de Medicamentos Excepcionais e de

promover o uso racional de medicamentos, é que o Ministério da Saúde lançou-se

ao desafio de formular, para os medicamentos de alto custo, Protocolos Clínicos e

Diretrizes Terapêuticas.

Esses Protocolos têm o objetivo de, ao estabelecer claramente os critérios de

diagnóstico de cada doença, o tratamento preconizado com os medicamentos

disponíveis nas respectivas doses corretas, os mecanismos de controle, o

acompanhamento e a verificação de resultados, e a racionalização da prescrição e

do fornecimento dos medicamentos. Observando ética e tecnicamente a prescrição

médica, os Protocolos têm, também, o objetivo de criar mecanismos para a garantia

da prescrição segura e eficaz.

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6. O SUS e os medicamentos excepcionais

A Constituição Federal de 1988 estabeleceu o direito de todos à saúde e o

dever do Estado o seu fiel cumprimento, mediante a adoção de políticas sociais e

econômicas, conforme expõem os artigos 6º e 196º:

“Art. 6º: São direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, a moradia, o lazer, a

segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a

assistência aos desamparados, na forma desta Constituição.

...................................................................................................

Art. 196: A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantida mediante políticas

sociais e econômicas que visem à redução dos riscos de doença e de outros

agravos e acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção,

proteção e recuperação.”

A Lei nº 8.080 de setembro de 1990, junto com a Lei nº 8.142, de dezembro de

1990, constitui a legislação estruturante do SUS. Vejamos os artigos principais da

Lei nº 8.080/90:

“Art. 2º: A Saúde é um direito fundamental do ser humano, devendo o estado prover

as condições indispensáveis ao seu pleno exercício.

Parágrafo 1º: o dever do estado de garantir a saúde consiste na formulação e

execução de políticas econômicas e sociais que visem à redução de risco de

doenças e de outros agravos e no estabelecimento de condições que assegurem o

acesso universal e igualitário às ações e aos serviços para a sua promoção,

proteção e recuperação”.

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O Artigo 6º estabelece que estão incluídas a execução de várias ações, entre

elas o provimento:

“(...) de assistência terapêutica integral, inclusive farmacêutica”.

No Artigo 7º do Capítulo II, que trata dos princípios e diretrizes, são definidos

os princípios do SUS:

“I – Universalidade de acesso aos serviços de saúde em todos os níveis de

assistência.

II- Integralidade de assistência, entendida como o conjunto articulado e contínuo de

ações e serviços preventivos e curativos, individuais e coletivos, exigidos para cada

caso em todos os níveis de complexidade do sistema.

...................................................................................................

VII- Utilização da epidemiologia para o estabelecimento de prioridade, a alocação de

recursos e a orientação programática”

O processo de implantação do SUS, a descentralização promovida na década

de 90, foi impulsionada e regulamentada através das Normas Operacionais Básicas

(NOBs), que são orientações específicas e pactuadas, emanadas do Ministério da

Saúde e aceitas pelas representações nacionais dos secretários municipais e

estaduais de saúde, que visam à repartição orçamentária entre níveis de governo, à

atribuição da titularidade para a gestão e à organização do modelo assistencial.

A NOB –1/91 introduziu o conceito de municípios e estados habilitados ao

SUS, mediante comprometimento com a gestão direta dos serviços. Nesse sentido,

previa a formação de um fundo setorial e o financiamento de conselhos

comunitários. A NOB –1/93 representou um instrumento mais efetivo de indução do

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processo de descentralização política ao criar as Comissões Intergestores Bipartites

(CIBs) nos Estados (por representação paritária entre estados e municípios) e a

Comissão Intergestores Tripartite (CIT), composta por representantes dos governos

Federal , Estaduais ( e Distrito Federal ) e Municipais no plano nacional. A NOB-

1/96 simplificou o processo de responsabilização municipal proposto pela NOB-1/93,

reduzindo as condições de habilitação a 2 modalidades: Gestão plena da atenção

básica e Gestão plena do sistema municipal. Em relação às transferências

intergovernamentais, a NOB- 1/96 criou um conjunto de instrumentos indutores do

modelo assistencial, com destaque no que tange aos medicamentos excepcionais.

A partir da descentralização, após a edição das NOBs 01/93 e 01/96, o Ministério da

Saúde passou a determinar para cada unidade da federação um valor de gasto

anual, que corresponde ao teto financeiro da Assistência, para custear os serviços

de saúde da população de cada estado. Além desses recursos, são destinados a

cada Estado, recursos para custeio de alguns serviços de alta complexidade, custo

que compõe o FAEC (Fundo de Ações Estratégicas e de Compensação), como

medicamentos excepcionais, transplantes, cirurgia de queimados, radioterapia, etc.

Os serviços pagos pelo FAEC não estão incluídos no chamado teto financeiro.

Os medicamentos excepcionais são os que se destinam ao tratamento de

doenças específicas ( como insuficiência renal crônica, doenças genéticas como

fibrose cística e doença de Gaucher, hepatite viral crônica B e C, epilepsia e

esclerose múltipla ) sendo que, muitas vezes, seus usuários os utilizam por períodos

prolongados.

A Constituição Federal e a Lei nº 8.080/90, conhecida como Lei Orgânica da

Saúde, não especificam qual dos entes da federação é responsável pelo

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fornecimento dos medicamentos excepcionais à população, existindo uma

responsabilidade solidária entre todos estes entes.

Originariamente, o financiamento e o gerenciamento dos medicamentos de alto

custo, excepcionais, era de responsabilidade do INAMPS, na época resumindo-se a

poucos itens. Estavam contemplados medicamentos para transplantados, renais

crônicos e o hormônio de crescimento.

Em 1990, com a passagem do INAMPS do Ministério da Previdência Social

para o Ministério da Saúde, as atividades de assistência farmacêutica desenvolvidas

pelo Instituto foram extintas, entre elas o gerenciamento dos medicamentos

excepcionais Inicialmente não havia previsão de ressarcimento destes

medicamentos pelo Ministério da Saúde.

Em outubro de 1993 foram incluídos na tabela de valores dos procedimentos

do SUS ( Sistema de Informações Ambulatoriais do SUS - SIA/SUS) os

medicamentos de dispensação em caráter excepcional “ciclosporina e eritropoetina

humana”, destinados aos pacientes transplantados e renais crônicos. Seus valores

foram estabelecidos na Portaria SAS/MS nº 142. Em 1995, pela Portaria SAS/MS nº

102 é padronizada nova relação de medicamentos “excepcionais “ a serem pagos

através de Guia de Autorização de Procedimento (GAP). Neste momento somados

com os medicamentos com cobertura pelo Sistema SIA/SUS, a relação passa a

contemplar 22 princípios ativos em 33 representações.

Através das Portarias GM/MS nº 2042 e nº 2043, ambas do mês de

outubro de 1996, na área de terapia substitutiva é implantado o Sistema de

Autorização de Procedimentos de Alta Complexidade/Custo (APAC), incluindo os

medicamentos “excepcionais” para este grupo de pacientes. Esta Portaria criou

códigos na tabela SIA/SUS e estabeleceu o formulário para solicitação de

medicamentos excepcionais (SME) e excluiu a cobrança por GAP, passando estes

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medicamentos para cobrança através do Boletim de Procedimento Ambulatorial

(BPA). Além disso atualizou a relação dos medicamentos excepcionais.

Em 1989, para obter informações da realidade da execução e melhorar o

planejamento e gerenciamento do programa, o Ministério da Saúde, por meio da

Portaria GM/MS nº 254, determinou que os gestores do SUS elaborassem a

programação fisicofinanceira anual. A partir de 1999, a produção ambulatorial de

medicamentos “excepcionais” destinados à terapia renal substitutiva passou a ser

financiada com recursos do Fundo de Ações Estratégicas e de Compensação

(FAEC).

A SAS por meio da Portaria SAS/MS nº 409, de 1999, implantou a sistemática

de Autorização de Procedimentos de Alta Complexidade para o fornecimento de

todos os medicamentos excepcionais.

No ano de 2000, a Portaria GM/MS nº 1481 estabeleceu a inclusão no FAEC

de todos os recursos do Ministério da Saúde destinadas ao financiamento de

medicamentos excepcionais.

Atualmente, a tabela de procedimentos vigentes do SIA/SUS para o grupo 36

(medicamentos excepcionais) é a decorrente da Portaria GM/MS nº 1318, de

23/07/2002, complementada pela Portaria SAS/MS nº 921, de 22/11/2002, que

contemplam 105 substâncias ativas em 216 apresentações.

Com objetivo de regulamentar e padronizar procedimentos médicos e também

racionalizar a prescrição dos medicamentos excepcionais pelo SUS e a dispensação

dos mesmos, o Ministério da Saúde elaborou Protocolos Clínicos e Diretrizes

Terapêuticas -PCDTs. Desta forma, os Protocolos são utilizados como referência

pelas Secretarias Estaduais de Saúde, médicos prescritores e farmacêuticos na

dispensação destes medicamentos. Exames médicos que são exigidos nos

Protocolos, fazem parte da documentação obrigatória para que ocorra a

dispensação dos medicamentos excepcionais.

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7. Demandas judiciais

A SES tem sido alvo de um significativo e crescente número de ações judiciais,

sendo parte relevante destas os medicamentos de alto custo. A evolução das novas

demandas judiciais pode ser visualizada abaixo:

Tabela 01 - Evolução das ações Judiciais

ANO QUANTIDADE DE NOVAS AÇÕES

INGRESSADAS 2002 1.1042003 2.7612004 3.7422005 3.259Fonte: Assessoria Jurídica da SES

* Obs: Os dados são até agosto/05.

O elevado número de demandas judiciais, representa também um considerável

gasto financeiro. As ações judiciais podem ser executadas através de solicitação de

medicamentos, bloqueio de contas do Estado e por depósito de valor na respectiva

vara cível de ingresso da ação.

Tabela 02– Gastos com depósitos judiciais

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327

RUBRICA NOME DA RUBRICA 2004 20059102 Pagamentos

determinados por

sentenças judiciais-

medicamentos

5.923.506,06 3.086.322,32

Fonte: Fundo Estadual de Saúde/orçamento/sistema AFE

*atualizado até 19/08/2005-09-2005

Conforme as informações constantes da jornada de debate e capacitação

sobre a Política de assistência farmacêutica, 76% das despesas judiciais com

medicamentos são para atender as demandas por medicamentos excepcionais e

especiais. Aplicando este percentual nos montantes demonstrados na tabela 01,

temos como valores gastos, aproximadamente, a importância de R$ 4.501.865,00 no

exercício de 2004 e R$ 2.345.604,96 em 2005, até a data de 19/08/2005. Estes

valores devem ser acrescidos aos gastos com as ações liminares judiciais com

medicamentos especiais e excepcionais que, segundo o FES foram, em 2004 e

2005, respectivamente R$ 1.832.572,01 e R$ 842.986( até 19/09/2005).

Assim, para o exercício de 2004, temos como valores gastos,

aproximadamente, o montante de R$ 6.334.437,00, equivalente a 6% do valor

liquidado (R$ 100.318.797,24), relativo à Ação “Fornecimento de medicamentos de

alto custo”. Estima-se, portanto, que o valor das despesas judiciais esteja

atualmente situado entre os percentuais de 5% a 10% do gasto da ação, estando

seu incremento, sua evolução, fortemente vinculado a carência no fornecimento de

medicamentos.

As principais causas destas ações são: falta de medicamentos, prescrições

médicas de medicamentos que não constam nas listas dos excepcionais e

especiais, de medicamentos não existentes no país e de medicamentos sem registro

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na ANVISA. Muitas destas ações são ingressadas contra a SES, Municípios e a

União, solidariamente. Isto faz com que o controle seja dificultado, pois, em

determinados casos, o demandante pode retirar o medicamento em uma das esferas

sem que as demais sejam notificadas.

Importante salientar que muitas ações judiciais que ingressam contra a SES

são relativas a medicamentos sem registro na ANVISA e até importados ( exemplos:

Bevacizum ab 25 mg – Avastim – e Polisulfato de pentosano sódico 100 mg –

Elmiron ).

As ações judiciais acarretam conseqüências, sendo as principais: dificuldades

operacionais no gerenciamento da ação devido à quantidade e prazos para

cumprimento destas, possibilidade de interrupção de tratamentos de pacientes com

processo administrativos em virtude dos medicamentos serem transferidos a

usuários com demandas judiciais, possível vencimento do prazo de validade de

medicamentos que ficam armazenados à espera da retirada e aumento nos gastos,

pois alguns medicamentos acabam por ser comprados no varejo.

O setor de compras realizou uma comparação exemplificativa sobre as

diferenças de preços na compra de alguns medicamentos pela via ad administrativa

e para atender demandas judiciais:

Tabela 03 – Diferença de custos nas compras de medicamentos

Nome do

Medicamento

Nº do Processo

Judicial - data

Valor Unitário

Judicial - R$

Nº do Processo

Administrativo

-Data

Valor Unitário

Administrativo - R$

Atorvastatina 20

mg

103924/04-6 – 26-

01-05

4,27 45855/05-9 – 06-

05-05

3,90

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Cabergolina 0,5

mg

53275/05-5 – 05-

07-05

24,00 44006/05-0 – 06-

05-05

23,56

Calcitriol 0,25 mcg 04502/05-4 – 31-

03-05

2,35 89516/04-6 – 04-

05-05

0,342

Carvedilol 12,5 mg 37862/05-0 – 31-

05-05

0,64 44004/05-4 – 30-

05-05

0,15

Fonte: Setor de Compras da SES

A falta de medicamentos e as demandas judiciais, somadas às deficiências de

planejamento e programação, podem levar à ineficiência da Ação. Existem fortes

indicativos neste sentido, pois observou-se, em relação aos medicamentos

estocados no almoxarifado dos jurídicos, o que segue:

-Significativo volume de medicamentos jurídicos com prazo vencido;

-Compra e recebimento de medicamentos com dispensa do prazo de validade

mínimo (um ano );

-Recebimento de medicamentos com dispensa de laudo de qualidade;

-Compra de medicamentos em farmácias em menores quantidades, elevando o

custo da compra, já citado anteriormente.

A deficiência de programação, por exemplo, pode levar à ineficiência citada,

visto que parte das demandas judiciais dizem respeito a medicamentos que constam

nas listas dos excepcionais e especiais, sendo, desta forma, possível prever, mesmo

que não na totalidade, os quantitativos para atender estas demandas. Neste caso,

caso a demanda não se confirmasse, esses medicamentos seriam destinados ao

consumo normal da Secretaria sem necessidade de perder prazo.

O preço a ser pago pelos medicamentos deve ser o praticado comercialmente

pela Associação Brasileira do Comércio Farmacêutico com desconto de 18 % sobre

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este valor, não podendo ultrapassar mensalmente a importância de R$ 1.000.000,00

( um milhão de reais ) (não estão sendo considerados aspectos relativos à

legalidade).

8. Da dispensação de medicamentos

A dispensação é o ato de entrega do medicamento certo ao paciente,

observando a dosagem correta. Na Revista do Conselho Nacional dos Secretários

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de Saúde, CONASS, consta a seguinte definição sobre dispensação: “ É a atividade

de dispensação que deve assegurar que o medicamento de qualidade seja entregue

ao paciente certo, na dose prescrita, na quantidade adequada. É no ato da

dispensação que ocorre a difusão das normas e cuidados necessários ao uso

correto dos medicamentos, contribuindo para coibir práticas como aquelas que

favorecem a automedicação e o abandono do tratamento” ” (CONASS,2004, p.44)

Marin ( 2003, p.241 ) no mesmo sentido expõe: “É esta uma das últimas

oportunidades de, ainda dentro do sistema de saúde, identificar, corrigir ou reduzir

possíveis riscos associados à terapêutica medicamentosa. (...) Neste ato, o

farmacêutico informa e orienta o paciente sobre o uso adequado do medicamento.

São elementos importantes desta orientação, entre outros, a ênfase no cumprimento

do regime de dosificação, a influência dos alimentos, a interação com outros

medicamentos, o reconhecimento de reações adversas potenciais e as condições

de conservação do produto”.

Como podemos verificar, através dos conceitos anteriormente citados, a

dispensação é uma das atividades mais importantes dentro da assistência

farmacêutica, principalmente, por ser o instante em que os profissionais das

unidades dispensadoras interagem com os pacientes.

A SES editou, em 28-09-04, a Portaria nº 38/2004 a qual disciplina como deve

ser feita a solicitação de medicamentos excepcionais e especiais, quais os dados e

documentos necessários que acompanham a solicitação ( o formulário padronizado

que deve ser preenchido é chamado de “cadastro de usuários” e é fornecido pela

Secretaria ).

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O instrumento que regula o papel da SES e dos municípios na questão da

solicitação e da dispensação é a Resolução nº 143/2003 da Comissão Intergestores

Bipartite/RS – CIB/RS. A Resolução nº 143/2003 CIB/RS, editada em 15-10-03,

resolveu descentralizar para as CRSs a análise documental dos processos

instruídos, o cadastramento dos pacientes com solicitação deferida e a distribuição

para os municípios dos medicamentos fornecidos.

Também resolveu descentralizar para os municípios, com exceção da capital, a

instrução dos expedientes de solicitação dos medicamentos especiais e

excepcionais, a dispensação aos usuários dos medicamentos distribuídos pelas

CRSs, a obtenção dos respectivos comprovantes de recebimento do medicamento

por parte do usuário e o controle de sua efetiva utilização.

Ficou estabelecido, no art. 8º, o prazo de 30 dias para o trâmite do processo de

solicitação de medicamentos, entre a data do protocolo na CRS e o retorno do

parecer para o usuário.

O fluxo abaixo demonstra as etapas necessárias para que os usuários

solicitem e obtenham os medicamentos de alto custo ( as etapas estão descritas no

anexo I da Resolução nº 143 CIB/RS ):

1) Usuário retira na SMS, Farmácia do Estado ou Centro de Referência, o formulário

“ cadastro de usuários” para preenchimento;

2) O usuário encaminha os documentos necessários para a solicitação do

medicamento ao funcionário responsável pela Assistência Farmacêutica da

Secretaria Municipal de Saúde do município onde reside;

3) O funcionário da SMS verifica se os documentos estão corretos e os encaminha à

CRS a qual o município está adstrito;

4) A CRS protocola os documentos, que serão examinados pelo farmacêutico. O

número do processo é comunicado à SMS de origem da solicitação;

5) A CRS encaminha o processo ao CPAF, para exame do médico consultor;

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333

6) O médico consultor examina o processo, respeitando os protocolos clínicos

estabelecidos e dá seu parecer, deferindo-o ou indeferindo-o;

7) A CPAF retorna o processo à CRS de origem para as providências necessárias:

a) indeferido por falta de documentos: a CRS solicita à SMS os documentos que

faltam, anexa-os ao processo e o remete `a CPAF para reexame.

b) indeferido por não cumprimento de protocolos do Ministério da Saúde ou por não

constar nas listas dos medicamentos excepcionais e especiais, a CRS comunica à

SMS para que cientifique o usuário.

c) deferido o processo, a CRS acrescenta o medicamento à lista mensal de pedidos.

As situações acima elencadas constituem causas prováveis de morosidade na

obtenção de medicamentos excepcionais e especiais pelos pacientes.

A dispensação dos medicamentos de alto custo, no Rio Grande do Sul, ocorre

nos Municípios (exceto em Porto Alegre – excluído pela CIB/RS – e Viamão, Esteio,

Gravataí, Passo Fundo e Santa Maria que ainda não aderiram a referida Resolução),

na Farmácia do Estado e nos Centros de Referência.

Os pacientes que residem em Santa Maria e Passo Fundo retiram os

medicamentos nas CRSs, respectivamente 4º e 6º CRSs, que têm sedes nestas

cidades. Já os usuários de medicamentos excepcionais e especiais que moram em

Porto Alegre, Viamão, Esteio e Gravataí dirigem-se à Farmácia do Estado para

receberem seus medicamentos.

No ano de 2005 a SES possuía, conforme Sistema AME (administração de

medicamentos), em 25-08-05, 88.728 pacientes cadastrados e 68.425 pacientes em

tratamento. A diferença decorre das seguintes razões: pacientes falecidos,

tratamentos indeferidos e tratamentos aguardando avaliação médica.

A dispensação, como exposto, é considerada uma das atividades mais

importantes dentro da assistência farmacêutica. constatou-se que freqüentemente

ocorrem faltas de medicamentos excepcionais e especiais, bem como atrasos no

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fornecimento destes para a população. A falta de medicamentos está ocasionando a

interrupção no tratamento dos pacientes atendidos.

As principais causas da falta de medicamentos, são: falta de planejamento ou

planejamento ineficiente, recursos financeiros insuficientes e demandas judiciais que

fazem com que alguns usuários com processos administrativos deferidos sejam

preteridos.

A falta de medicamentos gera insatisfação do usuário e piora na qualidade da

atenção à saúde, contribuindo para o aumento do número de demandas judiciais.

Cabe referir que a Organização Mundial de Saúde ( WHO, 2004 ) tem como ponto

chave para o sucesso dos tratamentos de saúde e do bom uso dos medicamentos

essenciais a existência de farmacêuticos ( e dos outros profissionais de saúde ) bem

treinados e informados.

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9. Centros de referência

Centro de Referência é o local onde ocorre a dispensação de determinados

medicamentos, visando oferecer um conjunto de serviços de maior complexidade,

organizados e direcionados a um grupo específico de pacientes.

De acordo com CONASS ( 2004 ):” a avaliação e acompanhamento dos

pacientes, como recomendado em alguns Protocolos, deve ocorrer em Centros de

Referência, cujo objetivo é exatamente a prestação de um atendimento

especializado”.

Com um atendimento mais especializado é possível a avaliação e o

acompanhamento do tratamento dos pacientes, e, em alguns casos, o

compartilhamento dos medicamentos. Verifica-se que com a implantação dos

Centros de Referência gera significativa economia de recursos que pode ser obtida

na dispensação de determinados medicamentos tanto por poderem ser

compartilhados, como a Imiglucerase e o Interferon Peguilado, pois as doses são

aplicadas de acordo com o peso dos pacientes, quanto pelo fato do

acompanhamento da eficácia do tratamento revelar que, em alguns casos, não há

resposta positiva, devendo este ser interrompido. O compartilhamento é possível já

que os frascos muitas vezes possuem uma quantidade de medicamento superior às

necessidades dos usuários, que, aplicando fora dos Centros de Referência, acabam

por não utilizá-lo integralmente ou de forma diversa ao estabelecido nos Protocolos

Clínicos e Diretrizes Terapêuticas.

O Estado do Rio Grande do Sul começou a implementar Centros de Referência

a partir de julho de 2003 ( neste período teve início o Centro para tratamento da

Doença de Gaucher no HCPA ) com objetivo de dispensar determinados

medicamentos que são utilizados no tratamento de doenças de média e alta

complexidade.

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336

Foi entregue à equipe cópia do Termo de Cooperação realizado entre a SES e

o Hospital de Clínicas de Porto Alegre, assinado em 21/06/2004, instrumento

utilizado para disciplinar a relação entre as partes que tem como finalidade o

estabelecimento de ações conjuntas, visando a criação de Centros de Referência

Estadual no hospital, para facilitar aos pacientes o acesso aos medicamentos

excepcionais disponibilizados pela SES. As principais obrigações da SES que

constam neste termo são: disponibilizar os medicamentos especiais e excepcionais

que os pacientes atendidos nos Centros venham a necessitar seguindo os

Protocolos Clínicos e critérios definidos pelo MS e/ou pela SES e gerenciar os

projetos específicos relacionados aos medicamentos ou às doenças que venham a

ser atendidas nestes Centros.

As principais obrigações do HCPA são: disponibilizar a estrutura física

necessária à execução dos objetos do termo, compreendendo setor de ambulatório

e outros que se fizerem necessários, garantir os serviços de apoio à realização das

atividades necessárias tais como higienização e limpeza, segurança, etc. e

disponibilizar seu corpo técnico para atendimento da população beneficiária.

Atualmente existem 11 Centros localizados de acordo com a lista abaixo:

HSP: Hepatite C Interferon Peguilado e Ribavirina;

GHC: Hepatite C Interferon Peguilado e Ribavirina;

HCPA: Dor Crônica Morfina e Metadona;

HCPA: Gaucher Imiglucerase;

HCPA: Dislipidemias Estatinas, Fibratos, Genfibrosila, Ácido Nicotinico

HCPA: Espasticidades e Distonias Toxina Botulínica

HCPA: Crohn Infliximab

HCPA: Alzheimer Donepezil, Galantamina e Rivastigmina

HCPA: Alergia Alimentar Suplementos Alimentares

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HCPA: Desnutrição Suplementos Alimentares

HCPA: Insuficiência Renal Crônica Eritropoetina

Fonte: CPAF

A Hepatite C, doença causada por um vírus, a longo prazo pode ocasionar

complicações graves como cirrose e insuficiência hepática. A SES possui

cadastrados, no Sistema AME em 31-08-05, 1.906 pacientes com esta doença,

sendo destes 752 tratados com Interferon peguilado. Segundo PCDT (Protocolos

Clínicos e Diretrizes Terapêuticas), existe estimativa que a doença atinja

aproximadamente 1 % da população em geral.

A grande demanda de pedidos de Interferon Peguilado para o tratamento de

portadores de Hepatite C, aliado ao alto custo do medicamento, motivou a SES a

criar Centros de aplicação deste medicamento e acompanhamento dos usuários. O

tratamento com este medicamento, em média, chega a custar R$ 41.856,00, já que

o mesmo dura 48 semanas, aplicações semanais, e considerando o preço médio

das apresentações do Interferon Peguilado ( em julho de 2005, R$ 872,00 ).

A Doença de Gaucher, doença genética rara, com 420 pacientes no Brasil e

apenas 23 pacientes conhecidos no RS (até o ano de 2005), é tratada através de

terapia de reposição enzimática com Imiglucerase, que necessita de aplicação a

cada 15 dias. Este medicamento é uma droga órfã, ou seja, só existe um fabricante

no mundo e possui um custo elevado, aproximadamente R$ 1.775,26 por frasco de

40 ml ( valor de julho/2005 ).

Do total de pacientes no RS, um recusa-se a submeter-se às infusões, 12 são

infundidos no Centro e os demais retiram o medicamento no HCPA ou nos CRSs.

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Embora apenas 12 pacientes realizem suas infusões no Centro, todos os 22

pacientes que recebem os medicamentos são avaliados no mesmo.

Embora, no ano de 2005, a Imiglucerase fosse comprada pelo MS e enviada

ao RS, o Ministério desconta o valor deste medicamento fornecido ao Estado dos

ressarcimentos mensais relativos a dispensação de medicamentos excepcionais.

Antes da implantação do Centro ( julho /2003 ), eram tratados 19 pacientes e

necessários 400 frascos mensais. No ano de 2005 foram tratados 22 pacientes,

sendo utilizados 238 frascos por mês.

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10. Lista de medicamentos especiais e excepcionais

Medicamentos Excepcionais

PORTARIA Nº 22/2003 DA SECRETARIA DA SAÚDE DO RS

Nº GENÉRICO / APRESENTAÇÃO INDICAÇÕES

1 Acetazolamida - comp. 250 mg Glaucoma

2 Aciclovir comp. 200mg Antiviral- Infecções Herpéticas

3 Ácido folínico comp. 15 mg Anemia Megaloblástica, antíd.antag.do

Ac. Fólico

4 Ácido ursodesoxicólico - comp. 150 mg Fibrose Cística

5 Alopurinol comp. 100mg Hiperuricemia,gota

6 Amoxacilina+ác.clavulânico susp. oral 250 mg Antimicrobiano-Fibrose Cística

7 Amoxacilina+ác.clavulânico comp. 500 Antimicrobiano-Fibrose Cística

8 Azitromicina cápsula 250 mg Antimicrobiano-Fibrose Cística,

DST/AIDS

9 Azitromicina comp. 250 mg Antimicrobiano-Fibrose Cística,

DST/AIDS

10 Azitromicina susp. oral 600 mg Antimicrobiano-Fibrose Cística,

DST/AIDS

11 Baclofeno comp. 10 mg Antiespástico

12 Bimatoprost solução 0,3 m Glaucoma

13 Brimonidina (tartarato) solução 0,2% Glaucoma

14 Brinzolamida solução 0,1% Glaucoma

15 Bromoprida comp. 10mg Anti-emético, Procinético

16 Bromoprida sol. oral 4 mg/ml Anti-emético, Procinético

17 Carvedilol comp. 3,125 mg Insuficiência Cardíaca

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18 Carvedilol comp. 12,5 mg Insuficiência Cardíaca

19 Carvedilol comp. 25 mg Insuficiência Cardíaca

20 Cetotifeno xarope 0,2 mg/ml Asma

21 Ciprofloxacina comp. 250 mg Antimicrobiano-Fibrose Cística

22 Claritromicina comp. 250 mg Antimicrobiano - DST/AIDS

23 Claritromicina comp. 500 mg Antimicrobiano - DST/AIDS

24 Clindamicina,cloridrato de comp. 300 mg Antimicrobiano - DST/AIDS

25 Clonazepan comp. 0,5 mg Anticonvulsivante

26 Clonazepan comp. 2 mg Anticonvulsivante

27 Clonazepan solução 2,5 mg/ml Anticonvulsivante

28 Clopidogrel comp. 75 mg Antiagr. Plaq. - Infarto do Mioc.e AVC

29 Colchicina comp. 0,5 mg Hiperuricemia- gota.

30 Colimicina sol. injetável 100 mg Antimicrobiano-Fibrose Cística

31 Colimicina sol. injetável 150 mg Antimicrobiano-Fibrose Cística

32 Colimicina sol. injetável 1mui Antimicrobiano-Fibrose Cística

33 Haloperidol (decanoato) sol. injetável 50mg Antipsicótico

34 Digoxina elixir 0,05 mg/ml Cardiotônico,Insuficiência Cardíaca Infantil

35 Dorzolamida solução 2% Glaucoma

36 Doxazosina (mesilato) solução 2% Hiperplasia Protática

37 Espiramicina comp. 250mg (1,5 mui ) Toxoplasmose na gestação

38 Femprocumona comp. 3 mg Anticoagulante oral

39 Finasterida comp. 5 mg Hiperplasia Protática

40 Fluconazol cápsulas 100 mg Antimicótico - DST/AIDS

41 Fluconazol cápsula 150 mg Antimicótico - DST/AIDS

42 Fluoxetina (cloridrato) comp. 20 mg Antidepressivo

43 Ganciclovir sódico cápsulas 250 mg Antiviral-Infecções por CMV, Transplantes,

AIDS

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44 Ganciclovir sódico sol. injetável 500 mg Antiviral-Infecções por CMV,

Transplantes,

AIDS

45 Gentamicina sol. injetável 40 mg Antimicrobiano-Fibrose Cística

46 Gentamicina sol. injetável 80 mg Antimicrobiano-Fibrose Cística

47 Gestrinona comp. 2,5 mg Endometriose

48 Gliclazida comp. 80 mg Diabete

49 Heparina de baixo peso molecular sol. injetável Anticoagulante

50 Insulina lispro frasco-ampola 10 ml Diabete

51 Insulina regular frasco-ampola 10 ml Diabete

52 Isoconazol creme 1% (nitrato) Antimicótico-Micoses de pele e Vaginites

em DST/AIDS

53 Itraconazol cápsula 100 mg Antimicótico - DST/AIDS

54 Ivermectina comp. 6 mg Escabiose

55 Lactulose xarope frasco 120 ml Encefalopatia Hepática

56 Lactulose sachês 15 ml Encefalopatia Hepática

57 Lanzoprazol+claritromicina+ amoxicilina

comp 30mg+500mg+500mg Úlcera Péptica por Helicobacter pylori

58 Latanoprost solução 50mcg/ml Glaucoma

59 Loperamida (cloridrato) comprimido 2 mg Antidiarreico - Diarréia aguda, AIDS

60 Metilfenidato (cloridrato) comprimido 10 mg Hiperatividade

61 Metimazol comprimido 5 mg Hipertireodismo

62 Metimazol comprimido 10 mg Hipertireodismo

63 Midazolan (maleato) comprimido 15 mg Sedativo, Hipnótico

64 Montelucaste (sódico) comp. mastigável 5 mg Fibrose Cística

65 Omeprazol cápsula 10 mg Úlcera Péptica, Refluxo

66 Omeprazol cápsula 20 mg Úlcera Péptica, Refluxo

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67 Oxibutinina comp. 5 mg Incontinência Urinária

68 Oxibutinina xarope 1mg/ml- 120ml Incontinência Urinária

69 Pentoxifilina comp. 400 mg Arteriopatia vascular periférica grave

70 Pilocarpina solução 1%,2% ou 4% Glaucoma

71 Piridostigmina comp. 60 mg Miastenia Gravis

72 Propiltiuracil comp. 100 mg Hipertireodismo

73 Psyllium plantago ovata sachês 5,85 g Constipação Intestinal Grave

74 Sertralina comp. 50 mg Antidepressivo

75 Tetrahidrobiopterina comp. 10 mg Fenilcetonúria com Retardo Mental

76 Tetrahidrobiopterina comp. 50 mg Fenilcetonúria com Retardo Mental

77 Ticlopidina comp. 250 mg Antiplaquetário

78 Timolol solução aquosa 0,25% Glaucoma

79 Timolol solução aquosa 0,5% Glaucoma

80 Timolol gel 0,1% Glaucoma

81 Tioridazina (cloridrato) comp.100 mg Antidepressivo,Transtornos Psicóticos

82 Tramadol cápsula 50 mg Dor Crônica

83 Travaprost solução 0,004% Glaucoma

84 Varfarina (sódica) comp. 5 mg - Anticoagulante Oral

Fonte http//www.saude.rs.gov.br- assistência farmacêutica

Medicamentos Especiais

PORTARIAS Nº 1.318 E 921 DO MINISTÉRIO DA SAÚDE

APRESENTAÇÃO E INDICAÇÕES

1 ACETATO DE CIPROTERONA 50 mg, cx c/20 cp - Disfunções Hipofisárias, ovário

policístico

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2 ACETATO DE DESMOPRESSINA 0,1 mg/ml fr c/2,5 ml - Diabetes Mellitus

3 ACETATO DE GLATIRAMER 20 mg cx. c 1 amp - Esclerose Múltipla

4 Acetato de Lanreotida - 30 mg - por frasco/ampola - Doenças Hematológicas

5 ACETATO DE LEUPROLIDA 3,75 mg 1 amp - Endometriose, Puberdade precoce

6 ACITRETINA 10 mg cx. c/100 cp - Psoríase

7 ACITRETINA 25 mg cx. c/100 cp - Psoríase

8 ALENDRONATO DE SÓDIO(bifosfonatos) 10 mg cx c/30 cp - Osteoporose

9 ALFACALCIDOL 0,25 mcg cx. c/30 Cp - Osteoporose, insuficiência renal

10 Amantadina 100mg - Parkinson

11 Atorvastatina - 10 mg - por comprimido - Redutor Colesterol

12 Atorvastatina - 20 mg - por comprimido - Redutor Colesterol

13 AZATRIOPRINA 50 mg cx. c/200 cp - Transplante, esclerose, artrite

14 Bezafibrato 200mg - por drágea - hiperlipoproteinemias, Hiperlipidemias

15 Bezafibrato 400mg - por drágea retard - hiperlipoproteinemias, Hiperlipidemias

16 Biperideno - 2 mg - por comprimido - Antiparkinsoniano

17 Biperideno - 4 mg - por comprimido - Antiparkinsoniano

18 Bromidrato de Fenoterol - 0,2mg - 200 doses 15ml - c/adapt -Asma Brônquica

19 Bromidrato de Fenoterol - 2 mg/ml - aerosol - 10 ml + bocal - Asma Brônquica

20 BROMOCRIPTINA 2,5 mg cx. c/28 cp - Parkinson, tumores e disfunções da

hipófise

21 Budesonida - 0,050 mg - aerosol bucal - com 5 ml - 100 doses - Rinite, asma,

alergias respiratórias

22 Budesonida - 0,050 mg - aerosol nasal - com 10 ml - Rinite, asma, alergias

respiratórias

23 Budesonida - 0,200 mg - aerosol bucal - com 5 ml - 100 doses - Rinite, asma,

alergias respiratórias

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24 Budesonida - 100 mcg - pó inalante - 200 doses - Rinite, asma, alergias

respiratórias

25 Budesonida - 100 mcg - suspensão nasal - 200 doses - Rinite, asma, alergias

respiratórias

26 Budesonida - 200 mcg - cápsula - pó inalante - 60 cp, inal. - Rinite, asma, alergias

respiratórias

27 Budesonida - 200 mcg - cápsula - pó inalante - 60 cp, sem inal - Rinite, asma,

alergias respiratórias

28 Budesonida - 200 mcg - pó inalante - 100 doses - Rinite, asma, alergias

respiratórias

29 Budesonida - 32 mcg - suspensão nasal - 120 doses - Rinite, asma, alergias

respiratórias

30 Budesonida - 50 mcg - suspensão nasal - 200 doses - Rinite, asma, alergias

respiratórias

31 Budesonida - 64 mcg - suspensão nasal - 120 doses - Rinite, asma, alergias

respiratórias

32 Cabergolina - 0,5 mg - por comprimido - Adenomas, hiperprolactinemia,

disfunções hipófise

33 CALCITONINA SINT SALMÃO 100 UI c/5 amp - Osteoporose

34 CALCITONINA SINT SALMÃO 100 UI fr spray nasal - Osteoporose

35 CALCITONINA SINT SALMÃO 200 UI fr spray nasal - Osteoporose

36 CALCITONINA SINT SALMÃO 50 UI c/5amp - Osteoporose

37 CALCITRIOL 0,25 mcg cx c/30 cp - Insuficiência Renal/Osteoporose

38 CICLOSPORINA 10 mg cx. c/60 cp - Transplante, Hepatite autoimune, artrite,

uveites

39 CICLOSPORINA 100 mg cx c/50 cp - Transplante, Hepatite autoimune, artrite,

uveites

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40 CICLOSPORINA 25 mg cx. c/50 cp - Transplantes,Hepatite

autoimune,artrite,uveites

41 CICLOSPORINA 50 mg cx c/50 cp - Transplantes,Hepatite

autoimune,artrite,uveites

42 CICLOSPORINA sol 100 mg/ml fr c/50 ml - Transplantes,Hepatite autoimune,

artrite,uveites.

43 Ciprofibrato 100mg - Hiperlipidemias

44 Ciprofibrato 360mg - Hiperlipidemias

45 Cloridrato de Ciprofloxacina - 250 mg - por comprimido Inflamações, Infeções

ósseas

46 Cloridrato de Ciprofloxacina - 500 mg - por comprimido - Inflamações, Infeções

ósseas

47 Cloridrato de Metadona - 10 mg - por comprimido - Tratamento da dor aguda

48 Cloridrato de Metadona - 10 mg /ml - injetável - amp 1 ml - Tratamento da dor

aguda

49 Cloridrato de Metadona - 5 mg - por comprimido - Tratamento da dor aguda

50 Cloridrato de Raloxifeno - 60 mg - por comprimido - Osteoporose

51 Cloroquina - 150 mg - por comprimido - Artrite, antimalárico

52 Clozapina - 25 mg - por comprimido - Esquizofrenia Refratária

53 CLOZAPINA 100 mg cx c/30 cp - Esquizofrenia Refratária

54 Comp. Al. para Fenilcetonúricos - Isenta Fenilalanina - lata gr - Fenilcetonúria

55 Comp. Al. para Fenilcetonúricos - Isenta Fenilalanina - lata gr - Fenilcetonúria

56..DANAZOL 100 mg cx. c/50 cp- Endometriose, Imunodeficiências

57 DEFEROXAMINA 500 mg cx. c/10 amp Doenças hematológicas, intoxicação

alumínio

58 Dipropionato de Beclometasona - 250mcg - spray - 200 doses - Profilaxia e

tratamento rinites alérgicas, broncodilatador

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e asma brônquica

59 Dipropionato de Beclometasona - 400mcg- pó inal- 100 doses - Profilaxia e

tratamento rinites alérgicas, broncodilatador e asma brônquica.

60 Dipropionato de Beclometasona - 50mcg - fr nasal - 200 doses - Profilaxia e

tratamento rinites alérgicas, broncodilatador e asma brônquica.

61 Dipropionato de Beclometasona - 50mcg - fr oral - 200doses - Profilaxia e

tratamento rinites alérgicas, broncodilatador e asma brônquica.

62 Dipropionato de Beclometasona -100mcg - pó inal- 100 doses - Profilaxia e

tratamento rinites alérgicas, broncodilatador e asma brônquica.

63 Dipropionato de Beclometasona -200mcg - pó inal- 100 doses - Profilaxia e

tratamento rinites alérgicas, broncodilatador e asma brônquica

64 DONEPEZIL 10mg - Cp Doença de Alzheimer

65 DONEPEZIL 5mg - Cp Doença de Alzheimer

66 DORNASE ALFA 2,5 mg cx. c/6 amp Fibrose Cística

67 Entacapone - 200 mg - por comprimido Mal de Parkinson

68 ENZIMA PANCREÁTICA (Amilase/Lipase) 4000USP c/250cp - Fibrose Cística,

doenças gástricas

69 ENZIMA PANCREÁTICA 12000USP c/100cp -Fibrose Cística

70 ERITROPOETINA HUM REC. 1 MUI cx. c/6 amp - Insuficiência Renal/Mielomas,

Neoplasias, Aids, Transplantes Renais

71 ERITROPOETINA HUM REC. 2 MUI cx c/6 amp - Insuficiência Renal/Mielomas,

Neoplasias, AIDS, Transplantes Renais

72 ERITROPOETINA HUM REC. 3 MUI cx. c/6 amp - Insuficiência Renal/Mielomas,

Neoplasias, AIDS, Transplantes Renais

73 ERITROPOETINA HUM REC. 4 MUI cx. c/6 amp - Insuficiência Renal/Mielomas,

Neoplasias, AIDS, Transplantes Renais

74 ERITROPOETINA HUM REC.10 MUI cx. c/6 amp - Insuficiência Renal/Mielomas,

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Neoplasias, AIDS, Transplantes Renais.

75 Etofibrato 500mg indicado como hipolipemiante

76 Fenofibrato 200mg hipercolesterolemia

77 Fenofibrato 250mg hipercolesterolemia

78 FILGRASTIMA 300 mcg cx c/5 amp - Aplasia de medula, AIDS, síndromes

mielobásticas, leucemia linfoide

79 Fludrocortisona - 0,1 mg - por comprimido - Síndrome glândulas adrenal

80 Flutamida - 250 mg - por comprimido - Reposição Hormonal

81 Fluvastatina 20mg - Colesterol

82 Fluvastatina 40mg - Colesterol

83 Fosfato de Codeína - 30 mg - por comprimido - Calmante tosse, Laringites,

faringites, bronquites.

84 Fosfato de Codeína - 30 mg /ml - sol oral - por fr com 120 ml - Calmante tosse,

Laringites, faringites, bronquites

85 Fosfato de Codeína - 30 mg/ml - por ampola com 2 ml - Calmante tosse,

Laringites, faringites, bronquites

86 Fosfato de Codeína - 60 mg - por comprimido - Calmante tosse, Laringites,

faringites, bronquites

87 Fumarato de Formoterol - 12 mcg - aerosol - 5 ml - 50 jatos - Asma brônquica,

bronquite crônica, enfisema

88 Fumarato de Formoterol - 12 mcg - cápsula - com 30 cp pó inal - Asma

brônquica, bronquite crônica, enfisema

89 Fumarato de Formoterol - 12 mcg - cápsula - com 60 cp pó inal - Asma

brônquica, bronquite crônica, enfisema

90 Fumarato de Formoterol - 12 mcg - cp - com 30 cáp pó inal - Asma brônquica,

bronquite crônica, enfisema

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348

91 Fumarato de Formoterol - 12 mcg - cp - com 60 cp pó inal. - Asma brônquica,

bronquite crônica, enfisema

92 Fumarato de Formoterol - 12 mcg - pó inalante - 60 doses - Asma brônquica,

bronquite crônica, enfisema 3 Fumarato de Formoterol - 6 mcg - pó inalante - 60

doses - Asma brônquica, bronquite crônica, enfisema

94 Fumarato de Formoterol 12 mcg+Budesonida 200mcg pó inalatório 60 doses –

Asma Grave.

95 Fumarato de Formoterol 12 mcg+Budesonida 400mcg pó inalatório - 60 doses –

Asma Grave

96 Fumarato de Formoterol- 6 mcg + Budesonida- 100mcg- pó inal- 60 doses Asma

brônquica, bronquite crônica, enfisema

97 Fumarato de Formoterol- 6 mcg + Budesonida- 200mcg- pó inal- 60 doses Asma

brônquica, bronquite crônica, enfisema

98 Gabapentina - 300 mg - por comprimido - Dor neuropática, crises convulsivantes,

antiepilético

99 Gabapentina - 400 mg - por comprimido - Dor neuropática, crises convulsivantes,

antiepilético

100 Genfibrato (Genfibrozila) 600mg - cápsulas ou comprimidos -

Hipocolesterolemiante

101 Genfibrato (Genfibrozila) 900mg - cápsulas ou comprimidos -

Hipocolesterolemiante.

102 Goserelina - 10,80 mg - injetável - por seringa pronta para administração-

Endometriose, miomas, puberdade precoce.

103 GOSERELINA 3,6 mg cx c/1 amp - Endometriose, miomas, puberdade precoce.

104 Hidrocloreto de Sevelamer - 400 mg - por comprimido - Doenças hematológicas,

intoxicação alumínio, ins. Renal crônica.

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105 Hidrocloreto de Sevelamer - 800 mg - por comprimido - Doenças hematológicas,

intoxicação alumínio, ins. Renal crônica .

106 HIDRÓXIDO DE FERRO ENDOVENOSO - Insuficiência Renal, anemias

107 Hidroxiuréia - 500 mg - por cápsula - Doença falciforme, AIDS

108 IMIGLUCERASE 200 UI - Doença de Gaucher .

109 Imunoglobulina da Hepatite B - 100 mg - injetável - por frasco - Hepatite B,

Transplantes Fígado

110 Imunoglobulina da Hepatite B - 1000 mg - injetável - por frasco - Hepatite B,

Transplantes Fígado

111 Imunoglobulina da Hepatite B - 200 mg - injetável - por frasco - Hepatite B,

Transplantes Fígado

112 Imunoglobulina da Hepatite B - 500 mg - injetável - por frasco - Hepatite B,

Transplantes Fígado

113 IMUNOGLOBULINA HUM. INTR 5 ou 6 g - amp - Imunodeficiências, púrpura

idiopática, anemias hemolíticas

114 IMUNOGLOBULINA HUM. INTR. 3g - amp - Imunodeficiências, púrpura

idiopática, anemias hemolíticas

115 IMUNOGLOBULINA HUM. INTR. 2,5g - amp - Imunodeficiências, púrpura

idiopática, anemias hemolíticas

116 Infliximab - 10 mg - injetável - por ampola de 1 ml - Artrite reumatóide, doenças

gástricas 117 Interferon Alfa - Peguilado – por trat./paciente/mês - Hepatite C

118 INTERFERON alfa 2a 2b 3 MUI cx. c/1 amp - Hemangiomas, Hepatite B, C,

Sarcoma de Kaposi, Carcinoma Renal, Leucemia mielóide, AIDS

119 INTERFERON alfa 2a 9 MUI/2b 10 MUI cx. c/ 1 amp -Hemangiomas, Hepatite

B, C, Sarcoma de Kaposi, Carcinoma Renal,

Leucemia mielóide, AIDS

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120 INTERFERON alfa 2a/2b 4,5/5,0 MUI cx. c/ 1 amp - Hemangiomas, Hepatite B,

C, Sarcoma de Kaposi, Carcinoma Renal, Leucemia mielóide, AIDS.

121 Interferon Beta 1a - 12 MUI (44 mcg) - injetável -seringa pré-preenchida –

Esclerose Múltipla

122 Interferon Beta 1a - 6 MUI (22 mcg) - injetável -seringa pré-preenchida –

Esclerose Múltipla.

123 INTERFERON beta 1a 3 MUI cx. c/3amp - Esclerose Múltipla

124 Interferon Beta 1a- 6 MUI (30 mcg)-fr/am inj. intra+diluente+serin/agul-fr/am

Esclerose Múltipla

125 INTERFERON beta 1b 9,6 MUI cx c/15amp - Esclerose Múltipla

126 ISOTRETINOÍNA 20mg - Cp - Acne Severa

127 ISOTRETINOÍNA 10mg - Cp - Acne Severa

128 Lamivudina - 10 mg/ml - solução oral - frasco com 254 ml - AIDS, Hepatites

129 Lamivudina - 100 mg - por comprimido - AIDS, Hepatites

130 LAMOTRIGINA 100 mg - cx. c/30 cp - Espasmos infantil, síndrome epiléticas

131 Leflunomide - 100 mg - por comprimido - Artrite reumatóide.

132 Leflunomide - 20 mg - por comprimido - Artrite reumatóide.

133 Levodopa - 100mg + Benserazida - 25mg - Lib. Lenta Disp. Cp Mal de

Parkinson

134 Levodopa - 200 mg + Benserazida - 50 mg - por Cp - Mal de Parkinson

135 Levodopa - 200mg + Carbidopa - 50mg - Lib. Lenta ou Disp. Cp- Mal de

Parkinson

136 Levodopa - 250 mg + Carbidopa - 25 mg - por comprimido - Mal de Parkinson

137 Levotiroxina Sódica - 100 mcg - por comprimido - Hipotireoidismo

138 Levotiroxina Sódica - 150 mcg - por comprimido - Hipotireoidismo

139 Levotiroxina Sódica - 25 mcg - por comprimido - Hipotireoidismo

140 Levotiroxina Sódica - 50 mcg - por comprimido - Hipotireoidismo

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141 Lovastatina 10mg - Disfunção focal

142 Lovastatina 20mg - Disfunção focal

143 Lovastatina 40mg - Disfunção focal

144 Mesalazina - 1000 mg - supositório - por supositório - Retocolites, doenças

chron, anti-inflamatório intestinal, úlceras idiopáticas.

145 Mesalazina - 250 mg - supositório - por supositório - Retocolites, doenças chron,

antiinflamatório intestinal, úlceras idiopáticas

146 Mesalazina - 3 g + diluente 100 ml (enema) - por dose - Retocolites, doenças

chron, anti-inflamatório intestinal, úlceras idiopáticas.

147 Mesalazina - 400 mg - por comprimido - Retocolites, doenças chron, anti-

inflamatório intestinal, úlceras idiopáticas.

148 Mesalazina - 500 mg - por comprimido - Retocolites, doenças chron, anti-

inflamatório intestinal, úlceras idiopáticas.

149 Metilprednisolona - 500 mg - injetável - por ampola Distúrbios endocrinológicos,

reumáticos, hematológicos, gástricos.

150 Metotrexato - 25 mg/ml - injetável - por ampola de 2 ml - Artrite reumatóide

151 Metotrexato - 25 mg/ml - injetável - por ampola de 20 ml - Artrite reumatóide

152 MICOFENOLATO MOFETIL 500 mg cx. c/ 50 cp Transplante de órgãos

153 MOLGRAMOSTIMA 300 mcg cx. c/1 amp - Anemia hemolítica, aplasia medula,

síndrome mieloblástica

154 OCTREOTIDA 0,1 mg/ml cx. c/ 5 amp - Acromegalias, tumores hipófise e

gastroenteropancreáticas

155 OCTREOTIDA LAR 10 mg amp -Acromegalias, tumores hipófise e

gastroenteropancreáticas

156 OCTREOTIDA LAR 20 mg amp - Acromegalias, tumores hipófise e

gastroenteropancreáticas

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157 OCTREOTIDA LAR 30 mg amp - Acromegalias, tumores hipófise e

gastroenteropancreáticas

158 OLANZAPINA 10 mg - Esquizofrenia

159 OLANZAPINA 5 mg - Esquizofrenia

160 PENICILAMINA 250 mg cx. c/50 cp - Esclerose Sistêmica, doença Wilson,

esclerodermia sistêmica

161 Pergolida - 0,25 mg - por comprimido – Antiparkinsoniano.

162 Pergolida - 1 mg - por comprimido - Antiparkinsoniano

163 Pramipexol - 0,125 mg - por comprimido - Antiparkinsoniano

164 Pramipexol - 0,25 mg - por comprimido - Antiparkinsoniano

165 Pramipexol - 1 mg - por comprimido - Antiparkinsoniano

166 Pravastatina - 10 mg - por comprimido - Redutor colesterol/prevenção AVC

167 Pravastatina - 20 mg - por comprimido - Redutor colesterol/prevenção AVC

168 Pravastatina - 40 mg - por comprimido - Redutor colesterol/prevenção AVC

169 Quetiapina - 200 mg - por comprimido - Esquizofrenia

170 QUETIAPINA 100 mg - Cp - Esquizofrenia

171 QUETIAPINA 25 mg – Cp- Esquizofrenia

172 RIBAVIRINA 250 mg cx c/ 60 ou c/ 500 cápsulas- Hepatite B e C

173 Riluzol - 50 mg - por comprimido - Esclerose lateral amiotrófica

174 RISPERIDONA 1 mg - Psicoses esquizofrênicas agudas e crônicas

175 RISPERIDONA 2 mg - Psicoses esquizofrênicas agudas e crônicas

176 RISPERIDONA 3 mg - Psicoses esquizofrênicas agudas e crônicas

177 RIVASTIGMINA 1,5mg – Cp- Mal de Alzheimer

178 RIVASTIGMINA 3mg - Cp - Mal de Alzheimer

179 RIVASTIGMINA 4,5mg - Cp - Mal de Alzheimer

180 RIVASTIGMINA 6mg – Cp- Mal de Alzheimer

181 RIVASTIGMINA SOL. ORAL 2,0mg/ml -Mal de Alzheimer

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182 Selegilina - 10 mg - por comprimido - Mal de Parkinson

183 Selegilina - 5 mg - por comprimido - Mal de Parkinson

184 Sinvastatina - 10 mg - por comprimido - Redutor colesterol/prevenção AVC

185 Sinvastatina - 20 mg - por comprimido - Redutor colesterol/prevenção AVC

186 Sinvastatina - 40 mg - por comprimido - Redutor colesterol/prevenção AVC

187 Sinvastatina - 5 mg - por comprimido -Redutor colesterol/prevenção AVC

188 Sinvastatina - 80 mg - por comprimido - Redutor colesterol/prevenção AVC

189 SIROLIMUS sol oral 1mg/ml - por ml - Tranplante renal

190 SOMATOTROFINA REC. HUM (horm cresc.) 4 UI/amp - Nanismo hipofisário,

Síndrome de Turner

191 SULFASALAZINA 500 mg - cx. c/60 cp - Artrite, retocolite, doença Crohn

192 Sulfato de Hidroxicloroquina - 400 mg - por comprimido -Artrite, Lúpus

eritomatoso, antimalárico.

193 Sulfato de Morfina 10 mg por comprimido - Indicado para alívio da dor

194 Sulfato de Morfina - 10 mg /ml - por ampola com 1 ml - Indicado para alívio da

dor

195 Sulfato de Morfina - 10 mg/ml - sol. oral - por fr com 60 ml - Indicado para alívio

da dor

196 Sulfato de Morfina - 30 mg - por comprimido - Indicado para alívio da dor

197 Sulfato de Morfina LC - 100 mg - por cápsula - Indicado para alívio da dor

198 Sulfato de Morfina LC - 30 mg - por cápsula - Indicado para alívio da dor

199 Sulfato de Morfina LC - 60 mg - por cápsula - Indicado para alívio da dor.

200 Sulfato de Salbutamol - 100 mcg - dose - aerosol 200 doses - Asma,

broncodilatador

201 TACROLIMUS 1 mg cx. c/ 100 cápsulas -Transplante de órgãos

202 TACROLIMUS 5 mg cx. c/ 50 cápsulas - Transplante de órgãos

203 Tolcapone - 100 mg - por comprimido - Mal de Parkinson

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204 Tolcapone - 200 mg - por comprimido - Mal de Parkinson

205 Topiramato - 100 mg - por comprimido - Crises Epiléticas

206 Topiramato - 25 mg - por comprimido - Crises Epiléticas

207 Topiramato - 50 mg - por comprimido - Crises Epiléticas

208 TOXINA BOTULINICA 100 UI amp - Distonias blefaroespástica, espasticidades,

AVC

209 TOXINA BOTULINICA 500 UI amp - Distonias blefaroespástica, espasticidades,

AVC

210 Trientina - 250 mg - por comprimido - Disfunções gástricas

211 Triexifenidila - 5 mg - por comprimido - Mal de Parkinson

212 TRIPTORELINA 3,75 mg cx. c/1 amp - Endometriose, puberdade precoce

213 VIGABATRINA 500 mg cx c/60 cp - Espasmos infantil, síndrome epiléticas

214 Xinafoato de Salmeterol - 50 mcg - pó inalante - 60 doses - Bronquite, enfisema,

asma

215 Ziprasidona - 40 mg - por comprimido - Esquizofrenia

216 Ziprasidona - 80 mg - por comprimido - Esquizofrenia

Fonte: http//www.saude.rs.gov.br- assistência farmacêutica

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11. Gastos em saúde

Objeto da criação da Subcomissão, a falta de medicamentos de uso especial e

contínuo, possui diferentes causas e efeitos. Nesse sentido, não podemos nos

afastar da análise orçamentária da Secretaria da Saúde e os gastos no programa

específico Assistência Farmacêutica nos últimos anos.

Fazendo uma breve análise das previsões orçamentárias dos anos de 2002 a

2006, vimos que a dotação inicial prevista é muito superior ao efetivamente

executado. A diferença é ainda maior quando analisamos os valores empenhados

(compromisso de pagamento para posterior liquidação), os valores liquidados

(obrigação de pagamento) com os valores efetivamente pagos pela Secretaria de

Saúde, acumulando em restos a pagar para os exercícios posteriores, conforme a

tabela:

Órgão: Secretaria da Saúde

Projeto: Assistência Farmacêutica

EXERCÍCIO DOTAÇÃO

INICIAL

EMPENHADO LIQUIDADO PAGO

2002 63.335.253,00 39.061.976,08 26.376.768,67 3.472.361,2

4

Órgão: Secretaria da Saúde

Projeto: Assistência Farmacêutica

EXERCÍCIO DOTAÇÃO

INICIAL

EMPENHADO LIQUIDADO PAGO

2003 81.014.500,00 68.216.205,20 68.216.205,20 25.519.713,9

2

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356

Órgão: Secretaria da Saúde

Projeto: Fornecimento de Medicamentos de Alto Custo para os Usuários

EXERCÍCIO DOTAÇÃO

INICIAL

EMPENHADO LIQUIDADO PAGO

2004 129.566.551,00 100.737.355,8

2

100.318.797,2

4

47.436.586,3

4

Órgão: Secretaria da Saúde

Projeto: Fornecimento de Medicamentos de Alto Custo para os Usuários

EXERCÍCIO DOTAÇÃO

INICIAL

EMPENHADO LIQUIDADO PAGO

2005 125.467.522,00 108.045.926,3

7

108.045.926,3

7

55.108.677,2

4

Órgão: Secretaria da Saúde

Projeto: Fornecimento de Medicamentos de Alto Custo para os Usuários

EXERCÍCIO DOTAÇÃO

INICIAL

EMPENHADO LIQUIDADO PAGO

2006 178.759.434,00 99.563.461,74 99.563.461,74 22.205.226,2

0

- Comparativo dotação orçamentária ano a ano:

EXERCÍCIO DOTAÇÃO (R$) DIFERENÇA ANO%2002 63.335.253,00 -2003 81.014.500,00 + 27,9%2004 129.566.551,00 + 59,9%2005 125.467.522,00 - 3,1%2006 178.759.434,00 +42,4%

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357

Portanto, verificamos que nos últimos cinco anos houve significativo incremento

de dotações no que concerne ao fornecimento de medicamentos, a exceção do ano

de 2005, onde houve decréscimo de 3,1%. Do ano de 2002 até o ano de 2006 a

dotação orçamentária inicial prevista para atendimento ao projeto de assistência

farmacêutica cresceu 127%.

O aumento das dotações é resultado direto do aumento no fornecimento de

medicamentos e consequentemente do maior número de usuários atendidos pela

Secretaria Estadual de Saúde.

Em que pese a previsão orçamentária de mais de 178 milhões de reais em

2006, para fornecimento de medicamentos de alto custo para os usuários, a

execução do orçamento está muito aquém disso. Só para se ter uma idéia, em

2002, a dotação inicial foi de R$ 63.335.253,00, entretanto foram pagos somente

3.472.361,24, deixando em restos a pagar R$22.904.407,43.

Vejamos a tabela de dotações iniciais em comparação com os valores pagos

nos últimos cinco anos:

EXERCÍCIO DOTAÇÃO

INICIAL

PAGO PORCENTAGEM PAGA

2002 63.335.253,00 3.472.361,24 5,4%2003 81.014.500,00 25.519.713,92 31,5%2004 129.566.551,00 47.436.586,34 36,6%2005 125.467.522,00 55.108.677,24 43,9%2006 178.759.434,00 22.205.226,20 12,4%

Podemos verificar na tabela acima que o Estado reiteradamente não vem

cumprindo a previsão orçamentária, com gastos muito abaixo daquele inicialmente

orçado. No último ano, por exemplo, foram pagos apenas 12,4% do total previsto no

orçamento para o fornecimento de medicamentos de alto custo.

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358

- Plano Plurianual 2008-2011

O PPA aprovado recentemente na Assembléia Legislativa destina R$ 8,9

bilhões em recursos para área da Saúde, sendo que, só para o Programa

Assistência Farmacêutica o aporte de recursos seria de R$ 702.123.000,00. O

programa tem como objetivos atualizar meios de avaliação e controle, possibilitando

o planejamento das ações, otimizando o trabalho dos profissionais da assistência

farmacêutica para atender os usuários de medicamentos, conforme critérios

estabelecidos pelos protocolos clínicos e diretrizes terapêuticas.

O programa Assistência Farmacêutica está dividido em seis diferentes

indicadores de desempenho, conforme segue:

INDICADOR DE DESEMPENHO UNIDADE

MEDIDA

ÍNDICE

RECENTE

ÍNDICE

DESEJAD

OAtendimento da demanda de

dispensação de medicamentos

especial/excepcional

% 57 100

Avaliação e orientação dos

municípios para a utilização do

Sistema de Acompanhamento do

Incentivo à assistência Farmacêutica

Básica (SIFAB)

% 11 100

Cumprimento das determinações

judiciais com entrega dos

medicamentos

% 55 100

Distribuição anual de medicamentos Medicamento

(milhar)/ ano

108.000 470.000

Produção anual de medicamentos Un.Farmac êuti 26.400 300.000

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359

ca (milhar) /

anoTempo decorrido entre a solicitação

e o atendimento dos processos

administrativos

Dia 50 20

As metas previstas nos índices desejados aos indicadores do PPA possui

números bastante otimistas. Os índices desejados relativos ao atendimento da

demanda de dispensação de medicamentos e o cumprimento de determinações

judiciais praticamente dobram, o que significa o atendimento integral aos usuários.

O índice desejado relativo à produção de medicamentos no PPA é, ainda,

mais otimista. Claro que este índice esta associado a obras de reforma e ampliação

do Laboratório Farmacêutico do Estado (LAFERGS), ação já prevista no plano,

destinando recursos da ordem de R$ 1.600.000,00. Estima-se, com a conclusão

desta ação, a produção de aproximadamente 300 mil medicamentos /ano, muito

acima do índice recente, fixado em 26 mil por ano.

O programa Assistência Farmacêutica possui como sua principal ação o

Gerenciamento de Medicamentos Excepcionais, Especiais e de Ações Judiciais.

Esta ação é responsável por 87% do total de recursos previstos para o programa de

Assistência Farmacêutica. Serão destinados R$ 612.155.000,00, nos próximos

quatro anos para as seguintes ações:

- gerenciar e planejar a aquisição de medicamentos;

- implementar e expandir os Centros de Referência no Estado;

- aprimorar a logística de distribuição de medicamentos;

- aprimorar a execução cadastral dos processos administrativos, observando o

uso racional dos medicamentos e critérios farmacoeconômicos;

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360

- coordenar e acompanhar as demandas dos processos judiciais, subsidiando o

Estado nas ações judiciais através das evidências científicas e dos Protocolos

Clínicos e Diretrizes Terapêuticas do Ministério da Saúde.

Pode-se concluir que sendo o PPA uma ferramenta de planejamento e gestão

e analisando o objeto do programa de Assistência Farmacêutica, os indicadores, os

índices desejados, em conjunto com ações, especialmente a de Gerenciamento de

Medicamentos Excepcionais/Especiais e Demandas Judicias podemos verificar

importantes avanços.

A falta de medicamentos de uso especial e contínuo se dá por falta de

recursos? Podemos dizer que sim, mas existem outros fatores determinantes para

que o medicamento não cheguem às mãos dos usuários que necessitam dos

medicamentos.

Não podemos nos privar de abordar o não execução dos orçamentos previstos

para área da saúde nos últimos anos. Sabemos que este tema tem sido amplamente

debatido pela sociedade gaúcha, e não queremos aqui ser o fiel da balança, mas

com os dados de que dispomos, não precisamos fazer nenhum cálculo aritmético

para descobrir que o problema central não está apenas na falta de dotação

orçamentária, mas sim na execução. E é esta execução orçamentária que encontra-

se muito distante do atendimento integral das prerrogativas constitucionais1

1 Vários dados deste relatório foram obtidos junto ao Tribunal de Contas do Estado, no Relatório Final de Auditoria Operacional, sob o nº 010971-0200/05-6 (www.tce.rs.gov.br) e também junto à Secretaria da Fazenda (www.sefaz.rs.gov.br).

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12. Encaminhamentos

Em face do exposto até o presente momento, a Subcomissão de

Medicamentos de Uso Especial e Contínuo vem apresentar os seguintes

encaminhamentos ao Gestor da Secretária de Estado de Saúde e ao CPAF

(Coordenação da Política de Assistência Farmacêutica):

a) realizar padronização de procedimentos preventivos quanto à perda de

validade dos medicamentos, executando controle rigoroso para que não

haja desperdício;

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362

b) atuar no sentido de estimular a adesão e utilização do Sistema de

Administração de Medicamentos (AME), implantando, de forma definitiva o

sistema;

c) retomar a produção de medicamentos e das pesquisas de novas

formulações pelo LAFERGS, que hoje está em reformas, visando a

retomada de suas atividades anteriores incluindo, também, uma nova lista

de medicamentos onde constem medicamentos especiais;

d) realizar avaliação de viabiliadade de implantação de novos Centros de

Referência, considerando a estrutura hospitalar pública e privada, estudos

epidemológicos e demandas por medicamentos;

e) atuar de forma cooperativa no sentido de aperfeiçoar os recursos humanos

dos municípios, tais como, contratação de pessoal especializado, cursos de

atualização e capacitação de servidores, visando melhorias na qualidade de

dispensação de medicamentos,

f) avaliar uma maneira de implementar programa que compatibilize as

informações dos Sistemas de Administração de Medicamentos e o de

Administração de estoques, com as informações financeiras e demais

informações porventura existentes;

g) adotar rotinas padronizadas para todas as Coordenadorias Regionais de

Saúde, para que as informações constantes no Sistema de Administração

de Estoques sejam reproduzidas de forma fiel;

h) atuar para evitar a perda dos recursos advindos do ressarcimento do

Governo Federal (com os medicamentos excepcionais), através do correto

preenchimento e da atualização constante das APAC ( Autorização para

Procedimentos de Alta Complexidade);

i) cumprir fielmente a execução orçamentária, com o consequente aumento

de recursos para a compra de medicamentos;

Page 363: A L DO E DO R G DO S SUBCOMISSÃO DE MEDICAMENTOS … · •propor métodos, medidas e ações que possam ajudar na regularização do fornecimento de tais medicamentos e que isso

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j) cumprir o calendário de pagamento ajustado com os fornecedores, evitando

o acúmulo de dívidas e a possível interrupção no fornecimento dos

medicamentos pelos laboratórios e

k) evitar o desperdício de medicamentos através da correta indicação de

doses aos pacientes, através do uso adequado e abrangente dos

Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas (PCDT).

Encaminhamentos sugeridos pela Associação dos Portadores de Lúpus do

Vale dos Sinos, através do Ofício 03/2007 (em anexo):

a) contratação imediata, por parte do Governo do Estado, de mais médicos

peritos para a avaliação dos processos de solicitação de medicamentos de

uso especial e contínuo;

b) inclusão de bloqueadores solares na lista de medicamentos especiais;

c) maior atenção dos medicos quanto ao preenchimento do formulário de

solicitação dos medicamentos especiais, especialmente o SID e

d) inclusão, na lista de medicamentos de uso especial e contínuo, os

seguintes remédios: CLORABUCIL e CICLOFOSFAMIDA.