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AASSEMBLÉIASSEMBLÉIA L LEGISLATIVAEGISLATIVA DODO E ESTADOSTADO DODO R RIOIO G GRANDERANDE DODO S SULUL
SUBCOMISSÃO DE MEDICAMENTOS DE USO ESPECIAL E CONTÍNUOSUBCOMISSÃO DE MEDICAMENTOS DE USO ESPECIAL E CONTÍNUOCOMISSÃO DE SAÚDE E MEIO AMBIENTECOMISSÃO DE SAÚDE E MEIO AMBIENTE
RDI Nº 40/2007
Requerimento de Subcomissão
para tratar sobre a falta de
Medicamentos de Uso Especial e
Contínuo.
Processo nº 20387-01.00
Composição da Subcomissão:
Deputado Luciano Azevedo - Relator
Deputado Pedro Pereira
Deputado Gilberto Capoani
Deputado Paulo Azeredo (em substituição ao Deputado Coffy Rodrigues)
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SUMÁRIO
1. Da criação
2. Cronograma de trabalho e reuniões
3. Dos participantes
4 Transcrições das reuniões (sem revisão)
• 03/04/2007 – 17 horas - Reunião para aprovação do cronograma de
atividades da Subcomissão
• 10/04/2007 – 17 horas - Reunião com a Associação Gaúcha dos Portadores
de Esclerose Múltipla do RS e Associação Gaúcha dos Ostomizados
• 17/04/2007 – 17 horas - Reunião com representante da Secretaria da Saúde
e Associação dos Portadores de Parkinson do RS
• 23/04/2007 – 17 horas – Reunião com Associação dos Transplantados de
Fígado do RS, Associação Gaúcha de Mucoviscidose e Fibrose Cística,
representante da Defensoria Pública do RS e representante dos Portadores
de Tirosinemia
• 08/05/2007 – 17horas – Reunião com Associação dos Portadores de Hepatite
Crônica, Centro de Apoio ao Portador de Anemia Falciforme e Associação
Gaúcha dos Familiares de Pacientes Esquizofrênicos
• 18/05/2007 – 14 horas – Descentralização das atividades no município de
Pelotas/RS
• 22/05/2007 – 17horas – Reunião com Presidente do SIMERS, Diretor do
Conselho Regional de Saúde e Coordenador do Conselho Estadual de Saúde
• 04/06/2007 – 14 horas – Descentralização das atividades no município de
Caxias do Sul/RS
• 22/06/2007 – 14 horas – Descentralização das atividades no município de
Passo Fundo/RS
3
• 27/06/2007 – 14 horas – Reunião com Associação dos Portadores de Lúpus
do Vale dos Sinos, no município de São Leopoldo, em virtude do
cancelamento da reunião do dia 19/06 (reunião informal, sem transcrição)
• 11/07/2007 – 10 horas – Audiência Pública com o Secretário da Saúde, Dr.
Osmar Terra
5. Política Nacional de Medicamentos
6. O SUS e os medicamentos excepcionais
7. Demandas judiciais
8. Da dispensação de medicamentos
9. Centros de referência
10. Lista de medicamentos especiais e excepcionais
11. Gastos em saúde
12. Encaminhamentos
13. Anexos
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1. Da criação
O RDI – Requerimento Diverso, de número 40, com base no Artigo 74 e seus
parágrafos, da Resolução Nº 2.288, de 18 de Janeiro de 2001 – Regimento Interno
da ALRS, com a finalidade de tratar sobre a falta de distribuição, pelo Estado, dos
medicamentos de uso especial e uso contínuo aos portadores de patologias que
deles necessitam, firmado pelos Deputados Estaduais Luciano Azevedo e Pedro
Pereira, datado de 21 de março de 2007, com aprovação, pela Comissão de Saúde
e Meio Ambeinte, no dia 28 de março de 2007.
A criação desta Subcomissão baseou-se, fundamentalmente, na busca de
soluções para que a situação da falta de fornecimento de medicamentos seja
sanada de forma rápida e ágil, tendo em vista que muitas pessoas correm risco de
vida se não os administrarem da forma como foram prescritos.
É fato notório que o Estado do Rio Grande do Sul vive uma das piores crises
financeiras de sua história; há falta de dinheiro para diversos setores mas, quando
se trata de saúde, é quase impossível esperar até o “próximo mês” para que seja
dada uma solução. Muitas vezes esse adiamento custa a vida de pessoas que, sem
dinheiro suficiente para suas necessidades básicas, se vêem desesperadas por não
poderem comprar um remédio que salvaria suas vidas e que o Estado, por
encontrar-se em tal situação calamitosa, não fornece a quem de direito.
Assim, ciente e pautada por esta realidade, a Subcomissão foi criada com os
seguintes objetivos:
• levantar o número de pessoas que necessitam dos medicamentos de uso
especial e contínuo;
• verificar qual o rol de medicamentos considerados como sendo de uso especial e
contínuo, de acordo com a lista fornecida pela Secretaria de Saúde;
5
• propor métodos, medidas e ações que possam ajudar na regularização do
fornecimento de tais medicamentos e que isso seja efetivado de modo ágil;
• tratar a saúde e a distribuição de medicamentos como política de estado e não
de governo.
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2. Proposta de trabalho e cronograma de reuniões:
Na busca de identificar as principais barreiras a serem transpostas para a
concretização dos objetivos propostos, a Subcomissão elaborou um plano de
trabalho baseado, num primeiro momento, em ouvir todos os envolvidos em tal
processo: entidades representativas, Conselhos de Saúde (em âmbito estadual e
municipal), representantes da Secretaria da Saúde, membros do Ministério Público,
membros da Defensoria Pública, Sindicatos, Organizações Não Governamentais,
entre outros, buscando assim identificar a percepção de cada um destes setores
sobre a irregularidade no fornecimento dos medicamentos especiais e de uso
contínuo, para a partir de então, através da documentação juntada, propostas
apresentadas e depoimentos prestados, partir para uma análise objetiva englobando
a Secretaria de Saúde do Estado, sua estrutura física, os recursos humanos
disponíveis, suas atribuições, suas carências, identificando eventuais falhas, para
então, propor sugestões que atendam ao objetivo principal, qual seja, a volta do
fornecimento regular dos medicamentos em questão.
7
3. Dos participantes
Durante a vigência da Subcomissão foram ouvidas diversas entidades
representativas: sindicatos, Conselhos municipais e Estadual, Ministério Público,
Defensoria Pública, representantes da Secretaria da Saúde, entre outros.
O trabalho realizou-se de forma democrática, ouvindo-se todos os setores
envolvidos na questão, de um lado, associações e entidades, e de outro, o gestor
público e órgãos de justiça. Desta maneira foi possível estabelecer um contraponto
ao pleito daqueles que utilizam os serviçoes da Secretaria da Saúde.
Dentre os representantes das entidades, pode-se citar o Sr. Izaac
Fernandes, presidente da Associação Gaúcha dos Ostomizados, referindo que “(...)
Entretanto, esta emenda, que deveria tratar especificamente da saúde, já está
sendo desvirtuada porque também prevê recursos para o programa Fome Zero.
Hoje recebi outro e-mail da assessoria do Ministro Hélio Costa que revela que
recursos financeiros do Coaf estão sendo encaminhados para o PSF de outros
segmentos, quando deveriam ser encaminhados para a Saúde, porque o problema
é não termos os nossos medicamentos (...)”. A Emenda Constitucional a que se
refere o Sr. Izaac é a EC nº 29.
Outra representante de entidade é a Sra. Ângela Garcia, presidente da
Associação Gaúcha dos Portadores de Doença de Parkinson, que assim relata sua
doença: “(...) A associação tem lutado há mais de 4 anos pela regularização da
situação dos medicamentos. Os medicamentos são o nosso combustível; sem eles,
não conseguimos andar, vestir e calçar, tornamo-nos inúteis sobre uma cama. (...)
Quando o organismo rejeita o Prolopa, é preciso ter outras duas ou três alternativas
para prosseguir o tratamento. Precisamos do Prolopa, do Sifrol, que são os
medicamentos básicos, do Mantidan, do Tasmar e de vários outros medicamentos.
Quando não há esses medicamentos na Secretaria, os portadores da doença ficam
8
privados das atividades. (...)”.
O Ministério Público foi, em todas as reuniões, representado pelo Dr. Mauro
Luiz Silva de Souza, que também faz parte do Centro de Apoio aos Direitos
Humanos e assim referiu em um dos seus pronunciamentos: “(...) Então, o Ministério
Público, como encarregado pela Constituição de cobrar dos poderes públicos o
cumprimento dos direitos públicos que estão na Constituição, fez a única coisa que
nos cabia fazer: entrar na Justiça para que dissesse se o Estado tem ou não
obrigação no caso. A partir daí é que vamos ver qual é a decisão. Sabemos que o
cobertor é curto. Sabemos que talvez, mesmo com o adimplemento dessas
questões constitucionais, não haverá dinheiro para tudo, mas pelo menos teremos
um norte, quer dizer, vamos eleger uma política que diga: essas e essas ações e
serviços de saúde serão financiados pelo Estado para estas e aquelas pessoas (...)”.
Já a representante da Secretaria da Saúde, Sra. Simone do Amaral,
menciona que as dívidas estão sendo renegociadas com os laboratórios no seguinte
trecho: “(...) O Estado é devedor de vários laboratórios. Negociamos, e a
governadora, em 90 dias, apresentará o calendário de pagamento. Isso tranqüiliza
muito o laboratório, a distribuidora. A partir daí, as despesas, aquelas compras que
estamos fazendo em 2007, serão pagas em 2007. Estamos conseguindo negociar, a
exemplo do medicamento utilizado para esclerose múltipla. Temos, hoje, em
estoque o Beta Interferon de 22mcg e o Beta Interferon de 30mcg, o de 9,6 milhões,
que é o medicamento mais utilizado pelos usuários, está em falta. O laboratório, no
entanto, concordou com a negociação e o medicamento será entregue. O
laboratório vai aguardar o calendário para regularizarmos a dívida do exercício
anterior. O que estamos comprando neste exercício o pagamento será imediato,
porque o empenho é prévio. A falta de medicamentos, na realidade, como envolve
questão de dívida, dependia de uma negociação e do acerto de cada laboratório
com a Secretaria da Fazenda, para terem a garantia de que iriam receber aquilo que
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estava atrasado. Só depois disso poderiam negociar e entregar os medicamentos.
Se fica em aberto o empenho, eles não entregam, até porque o Estado tem uma
dívida grande com eles. A partir do momento em que aceitaram essa nossa
negociação, a entrega será regularizada (...).”
O Dr. Paulo de Argollo Mendes, representando o SIMERS, refere que algo
está “sendo feito” entre laboratórios e familiares de pacientes, para que sejam
comprados os remédios mais caros, conforme o depoimento a seguir: “(...) Não
preciso dizer a vocês que, com enorme freqüência, se insinua que os movimentos
em defesa dos portadores daquela patologia estão em conluio com laboratórios.
Ouvi muitas vezes que os laboratórios criam associações de familiares de doentes,
financiam advogados e pagam para que as pessoas exijam o consumo desses
medicamentos. Então, é uma lógica extremamente perversa – evito dizer canalha. E
que vai sendo construído de uma maneira ir abarcando e convencendo as pessoas
no entorno (...).”
Seguem os nomes de algumas entidades, autoridades e sindicatos que fizeram
parte das reuniões: Associação Gaúcha dos Ostomizados, representada por seu
presidente, Sr. Izaac Fernandes; Associação Gaúcha dos Portadores de Esclerose
Múltipla, representada por sua presidenta, Sra. Ieda Marta Reis; Ministério Público,
representado pelo Dr. Mauro Luis Silva de Souza, Associação Gaúcha dos
Portadores de Parkinson, representada por sua presidenta, Sra. Ângela Maria
Garcia; Dr. Guilherme Machado, advogado engajado na causa dos portadores de
parkinson; Secretaria da Saúde, representada pela Sra. Simone do Amaral;
Conselho estadual de Saúde do RS, representado pelo Sr. Lothario Schlindwein;
Movimento das Donas de Casa e Consumidoras do RS, Dona Edy Mussói,
Defensoria Pública, representada pelo Dr. Leonel Arneck Maria; Portadores de
Tirosinemia, representados pela Sra. Maria Auxiliadora Xavier Trindade; Associação
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Gaúcha de Assistência à Mucoviscidose e Fibrose Cística, representada pela Sra.
Cleci Furian Muller e pelo Sr. Cristiano Machado Silveira; Associação dos
Transplantados de Fígado do RS, representada pelo Sr. Jorge Krammer Borges,
Dra. Marinês Assmann; representando o Centro de Apoio aos Direitos Humanos;
Centro de Apoio ao Portador de Anemia Falciforme, representado por sua
presidenta, Sra. Caren Fortunato; Associação Gaúcha dos Familiares de Pacientes
Esquizofrênicos, representada por sua presidenta, Sra. Marlene Gazave; Sindicato
Médico do RS, representado por seu presidente, Dr. Paulo Argollo Mendes;
Associação dos Ostomizados Amigos e Familiares, representado pelo Sr. Isaac
Bento e pela Sra. Clair Barbosa; Associação Riograndense dos Transplantados
Portadores de Doenças Crônicas, representado por seu presidente, Sr. Jorge
Silveira; Associação dos Portadores e familiares do Mal de Parkinson, representada
por sua vice-presidente, Sra, Ziloá Silveira Ferreira, pelo Sr. Evaldo Antunes Vieira e
por sua advogada, Dra. Maria Valquíria Silveira; Conselho Regional de Saúde,
representado por seu presidente, Sr. Guilherme Beletti; Conselho Municipal de
Saúde, representado por seu presidente, Sr. Francisco neto de Assis; Ordem dos
Advogados do Brasil, representada pelas Dras. Marlene Souza Bederade e Eliane
Batisti; Sra. Neuza Beatriz, mãe de Ingrid, portadora de alergia alimentar severa; Sr.
Félix Barbosa Filho, profissional liberal; Hospital de Clínicas de Porto Alegre,
representado pelo médico hematologista, Dr. Ricardo Friedrish; Conselho Estadual
de saúde, representado por sua vice-presidente, Sra. Maria Beatriz Kunkel;
Sindicato Médico do RS, representado por sua vice-presidente, Dra. Maria Rita de
Assis Brasil; Conselho Regional de Farmácia, representado pela Sra. Karen Zazulak;
Secretaria da Saúde, representada pela Sra. Simone do Amaral; Secretaria
Municipal de Saúde, representada por sua secretária, Sra. Maria do Rosário;
Associação de Parkinson do RS, representada por sua presidenta, Sra. Ângela
Garcia; Associação do Bairro Madureira (Caxias do Sul), representada pelo Sr. Luiz
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Pizzetti (que também é representante do Conselho Municipal de Saúde); Associação
Rim Viver, representada por sua presidente Sra. Isoldi Chies; Secretaria de Saúde
de Bento Gonçalves, representada por seu secretário, Sr. Roberto Miele; 5ª
Coordenadoria de Saúde (Caxias do Sul), representada pelo Sr. Eduardo Iotti;
Associação do Bairro Século XX, representada pelo Sr. Wilson de Souza; Sr. José
Cavalli, médico; Comissão de Saúde da Câmara Municipal (Caxias do Sul),
representada pelo Vereador Pedro Incerti; Sr. Izidoro Zanetti, cidadão; Sr. Darci
Adelar de Jesus, cidadão; sra. Izabel cristina Corso, atendente de clínica de renais
crônicos; Sra. Denise Ramos, transplantada de rim e pâncreas; Sra. Joelma,
transplantada; Sra. Irdes Rossi, transplantada; Conselho Municipal de Saúde
(Caxias do Sul), representado pelo Sr. Ribeiro; Associação dos Portadores de Lúpus
do Vale dos Sinos, represenatda por sua presidente, Sra. Izabel Oliveira.
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4. Transcrições das reuniões: (face a exigüidade de tempo para
apresentação do relatório, as transcrições abaixo não foram revisadas)
DATA 10/04/2007: O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Damos
início à reunião da nossa subcomissão, que é ligada à Comissão de Saúde, e que
trata do fornecimento de medicamentos de uso especial e contínuo.
Registramos a presença do Deputado Coffy Rodrigues, integrante desta
comissão, assim como do assessor do gabinete do deputado Gilmar Sossella.
Estamos aguardando pelos deputados Pedro Pereira e Gilberto Capoani.
Registramos também a presença do Sr. Izaac Fernandes, presidente da
Associação Gaúcha dos Ostomizados; da Sra. Ieda Marta Reis, representante dos
portadores de esclerose múltipla; do representante da Associação dos Ostomizados
de Esteio, Sr. Sulmar Menezes Duarte; do vive-presidente do SOS – RIM André
Francisco Alves; do Sr. Ilso Menegás, presidente da Associação dos Hospitais e
Serviços de Saúde do Rio Grande do Sul; da Sra. Cleci Miller, da Associação
Gaúcha de Assistência à Mucoviscidose – AGAM; da coordenadora presidente da
ABRAS, Sra. Iara Primo Portugal; do representante do Ministério Público do Rio
Grande do Sul, a quem convidamos para compor a nossa mesa, promotor de Justiça
Mauro Luis Silva de Souza.
Nossa subcomissão foi criada para propor alternativas ao problema da
irregularidade no fornecimento de medicamentos em nosso Estado, e temos um
prazo de 120 dias para concluir os nossos trabalhos.
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Na nossa última reunião, aprovamos um cronograma de atividades que se
compõe de uma audiência pública com as entidades que deveriam estar recebendo
esta medicação; com representantes do Ministério Público, da Secretaria de Estado
de Saúde, do Conselho Estadual de Saúde e dos Conselhos Municipais de Saúde.
Foram aprovadas outras quatro audiências públicas a serem realizadas no interior
do Estado: Canoas, Pelotas, Passo Fundo e Itaqui.
Pretendemos atuar em três etapas. A primeira delas é a do levantamento de
quem são, onde estão, e quantos são os gaúchos que deveriam estar recebendo
estes medicamentos. Usaremos as prerrogativas de que dispõe a nossa
subcomissão para conscientizar os gaúchos, que não estão cadastrados pela rede
pública de saúde, sobre as prerrogativas que a lei lhes confere.
Em um segundo momento, queremos descobrir por que os recursos,
repassado pelo governo federal, não estão sendo devidamente aplicados. E, se ele
está sendo aplicado, porque temos tanta irregularidade no fornecimento da
medicação. Afinal, de contas, de que forma está sendo utilizado este recurso que
deveria ser usado exclusivamente para esta finalidade.
Em terceiro lugar, queremos trabalhar, com todos os senhores, para que o
fornecimento dos remédios às pessoas que deles precisam seja recomposto e que
isto seja feito de forma regular. Pretendemos, portanto, contribuir para a solução
deste problema que é tão importante para o Estado do Rio Grande do Sul.
Nosso objetivo é que esta seja uma pauta prioritária para o Estado. Neste
momento está sendo discutida a questão dos pedágios, das emancipações e da
crise econômica. O fornecimento dos medicamentos também deve ser uma das
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questões prioritárias para o governo.
Esperamos poder contribuir para isso, assim como esperamos poder contar
com o auxílio de todas as pessoas de boa vontade de nosso Estado.
Nossas reuniões realizar-se-ão todas as terças-feiras neste plenário, às
17h30min, após a sessão plenária. Todos os senhores estão permanentemente
convidados.
Passo a palavra ao presidente da Associação Gaúcha dos Ostomizados,
Izaac Fernandes.
O SR. IZAAC FERNANDES – Boa-tarde. Saúdo a todos, em especial ao Dr.
Mauro Luis, a quem tive a honra de acompanhar por ocasião da assinatura do
convênio que fizemos com a Famurs, do qual a associação participa do Conselho
Estadual da Pessoa com Deficiência.
Inicialmente, eu perguntaria ao plenário se alguém tem dúvidas quanto aos
problemas por que passa uma pessoa com problemas de ostomia. Esclareço que a
pessoa ostomizada é aquela que, através de intervenção cirúrgica, fica na
dependência, de forma temporária ou definitiva, da bolsa de colostomia.
O decreto 52/96, que foi resultado de uma luta de mais de 20 anos de nossa
entidade, contemplou o ostomizado no Brasil como sendo um portador de deficiência
física. Os ostomizados não dependem apenas da bolsa mas também de vários
medicamentos.
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O medicamento principal para o ostomizado é, sem dúvida, a bolsa coletora
de fezes. Representamos a Federação das Associação dos Transplantados e
Portadores de Doenças Crônicas do Rio Grande do Sul, entidade que congrega
dezoito federados, que, em parceria com outros órgãos, tem desenvolvido esta luta
pela distribuição das bolsas coletoras.
A pergunta do deputado sobre o porquê da falta de medicamento é de difícil
resposta. Estas pessoas dependem do medicamento para a sua sobrevivência.
Participamos de algumas entidades, em nível federal e estadual, e temos algumas
idéias, como por exemplo: temos que trabalhar pela aprovação da emenda nº 29,
que está há dois anos parada no Congresso Nacional. Esta emenda trará recursos
para a sociedade.
Entretanto, esta emenda, que deveria tratar especificamente da saúde, já
está sendo desvirtuada porque também prevê recursos para o programa Fome Zero.
Hoje recebi outro e-mail da assessoria do Ministro Hélio Costa que revela que
recursos financeiros do Coaf estão sendo encaminhados para o PSF de outros
segmentos, quando deveriam ser encaminhados para a Saúde, porque o problema é
não termos os nossos medicamentos.
Penso, deputado, que as entidades têm que colocar os pés no chão, porque
muitas vezes culpamos os governos e não procuramos ver a nossa realidade.
Várias ações poderiam ser feitas. Vou dirigir-me especificamente às ações
com as pessoas ostomizadas, que é o objetivo desta reunião.
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Fico muito satisfeito, deputado Luciano Azevedo, por receber este convite,
porque nós temos, no Rio Grande do Sul, mais de 2 mil entidades trabalhando em
diversos segmentos e que até então não foram chamadas para esse tipo de debate.
O senhor, deputado, está iniciando, nesta Casa, o debate sobre esse
assunto. Tenho certeza que daqui serão encaminhados muitos projetos importantes,
porque essas entidades estão trabalhando nessa questão no dia-a-dia e sabem que
realmente é possível. Falo isso por mim, pois quando fiz a cirurgia, há 10 anos,
iniciei um trabalho para a entidade que seria por seis meses e estou a frente dessa
questão há seis anos.
Recentemente, encaminhamos à governadora do Estado um ofício,
informando que as pessoas ostomizadas precisam de no mínimo dez bolsas
coletoras para terem qualidade de vida. Mas o Estado, com todas as dificuldades
que vem passando, está distribuindo apenas cinco bolsas.
É importante dizer aos senhores que participamos de uma câmara técnica
de atenção à pessoa com ostomia e incontinência urinária e que temos feito vários
avanços no sentido da capacitação de profissionais, pois às vezes ocorre muito
desperdício de produto caro. Temos conseguido evoluir e essa câmara técnica foi
fundamental nesse sentido, entretanto, a câmara técnica não tem capacidade de
buscar recursos financeiros para comprar a bolsa coletora.
Dentro dessa realidade, encaminhamos mais um ofício, nesta semana, ao
secretário Osmar Terra, no qual propomos que seja adequada essa realidade,
porque não é somente a bolsa, temos a irrigação e vários kits que compõem os
equipamentos para pessoas ostomizadas e com incontinência urinária. Entretanto,
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os incontinentes urinários, no Rio Grande do Sul, segundo a OMC, são 8% da
população brasileira.
Assim sendo, é totalmente inviável, nesse segmento, conseguirmos atender
à totalidade, considerando que é tarefa da nossa entidade lutar por esse
equipamento. Mas, felizmente, aquelas pessoas dentro da câmara técnica com
maior dificuldades estão sendo atendidas, sim.
Ontem, falava com a Secretaria e fiquei sabendo que já está sendo feita a
compra dos equipamentos que por essas razões existia uma certa dúvida, em
função dos fornecedores estarem há muito tempo sem receber seus recursos. Mas
parece que foi feito um acordo e que os fornecedores entregaram os produtos.
Semana que vem a Secretaria vai estar distribuindo no Estado os produtos,
mas continua sendo aquela quantidade inferior às necessidades dos nossos
pacientes.
Por isso essa luta que queremos trazer para esta Casa. Se não tem
medicamento e a bolsa é um medicamento, o ostomizado passa a ter problemas de
saúde.
Também é necessário que seja feita uma forte campanha, como faz a
associação no Rio Grande do Sul, que é a campanha de prevenção do câncer de
intestino. Para isso elaboramos um site que está sendo bastante difundido no
Estado, que passa uma leitura simples de parceria com a Sociedade Brasileira de
Coloproctologia, possibilitando que evitemos milhares de casos e conseqüentemente
a diminuição dos custos.
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Hoje esse custo está em torno de 500 reais por paciente de colostomia no
Rio Grande do Sul. Nós temos essa dependência e precisamos da parceria desta
Casa para evoluirmos, não só nos casos das pessoas com ostomia, mas em vários
segmentos.
Os outros segmentos que foram convidados nesta tarde para se
manifestarem também vão falar sobre esse caso. É necessário trabalharmos no
Estado a prevenção.
Por fim, queremos deixar uma contribuição, que é um debate, sobre a luta
pela melhoria da gestão e pela garantia do financiamento do SUS, bem como pela
implantação do atendimento odontológico básico no Estado. Será uma luta nacional
e nós temos vários pacientes com grandes problemas nesse segmento. É
necessário o fortalecimento e a ampliação da rede de farmácia popular nas cidades
brasileiras e no Rio Grande do Sul, com venda de medicamentos a preço de custo e
controle estatístico para o ICMS.
Temos outras propostas, que talvez sejam feitas numa posterior reunião,
com a finalidade de debatermos e aprofundarmos as questões. Gostaria de contar
com a colaboração deste segmento e colocar nossa entidade, que é uma antiga
lutadora, à disposição desta Comissão. Obrigado.
O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Agradecemos a manifestação
do presidente da Associação Gaúcha dos Ostomizados, que encaminhou
documentos a esta Subcomissão e colocou-se à disposição para colaborar nos
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trabalhos que realizaremos nos próximos 120 dias. Com certeza, voltaremos a ouvi-
lo.
Registro a presença do deputado Pedro Pereira, um dos autores do
requerimento, para que pudéssemos na Comissão de Saúde discutir esse tema, e
concedo a palavra à presidente da Associação Gaúcha dos Portadores de Esclerose
Múltipla, Sra. Ieda Marta Reis.
A SRA. IEDA MARTA REIS – Agradeço pelo espaço concedido nesta Casa.
Nós, ultimamente, temos enfrentado um problema muito sério com relação à falta de
medicamentos e não podemos ficar sem eles, assim como também não podemos
sair às ruas para bater panelas, fazer barulho, reclamar ou fazer grandes
manifestações. Eu não tenho como fazer isso e os outros portadores também não.
Todas essas questões são regulamentadas e tudo está regularizado.
Nós temos o protocolo clínico de diretrizes terapêuticas que regulamenta a
nossa doença, que é uma doença degenerativa do sistema nervoso central. Isso
significa que não tem época nem data para iniciar o problema, assim como não tem
data para terminar. Não tem uma idade limite para acontecer, ele acontece e pronto.
Seus sintomas são muito difíceis de serem percebidos, tanto é que tive meu primeiro
surto – claro que sem saber – aos 16 anos e somente descobri o que tinha aos 31
anos, depois de ganhar meu primeiro e único filho. Isso sempre foi muito difícil. E no
interior do Estado, somos aproximadamente 600 pessoas cadastradas à Agapem,
mas muitos devem ter o mesmo problema e não sabem devido ao difícil diagnóstico.
Para recebermos o medicamento, temos de obedecer a uma lista de
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exames, porque temos de comprovar laudos médicos, endereço, etc. e está tudo
regulamentado na Secretaria da Saúde de acordo com o PCDT – Protocolo Clínico e
Diretrizes Terapêuticas –, composto por inúmeros médicos. O fornecimento não é
regularizado.
Pessoas da Secretaria, em reunião, disseram que o encargo do nosso
medicamento é muito alto e eu precisaria arcar com ele e, inclusive, responsabilizar
os planos de saúde. Mas quem tem planos de saúde, é exceção, e o SUS, que
atende à grande maioria, sabe que precisa responder por isso.
A Portaria nº 2.577, do Ministério da Saúde, regulamenta o fornecimento
desses medicamentos, e a co-participação estado e federação – sendo que quem
participa mais é a federação, mas o dinheiro deve ir para fundo a fundo. Então, a
princípio, o dinheiro não deveria ir para uma vala comum para depois ser distribuído
– e é isso o que acontece aqui no Estado.
Claro que o valor gasto pelo Estado com medicamento é muito alto, mas
também é alto para mim, porque o medicamento é muito caro, se fosse mais em
conta, mais barato, eu compraria, mas não tenho como sustentar, por mês, 4 mil e
800 reais para usá-lo em apenas um mês.
A continuidade do fornecimento do medicamento para a prevenção de
surtos, ou seja, se fico sem o medicamento, fico propensa a surtos. Explico: sem o
medicamento posso ter desde uma cegueira, que já aconteceu comigo; problema
nas pernas, como estou até hoje; problemas nos braços e outros problemas
motores; problemas esfincterianos; problemas com a fala e outros.
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Os senhores podem notar que não tenho uma fluência verbal tão bonita
quanto a do Sr. Izaac Fernandes para discursar, pois a minha fala já está
prejudicada talvez em função das contínuas faltas do medicamento.
Sei porque a Portaria não é obedecida: é porque eles sabem que eu não
posso ir à rua para brigar, pois, se pudesse, talvez a coisa mais barulhenta e seria
diferente.
Em março, entramos com uma liminar exigindo a compra desses
medicamentos, e ela não foi obedecida. Quando o colega chegou à farmácia da
Secretaria, eles não tinham o que fornecer. Disseram: os laboratórios não têm, eles
é que não querem negociar conosco, mas, na verdade, o que aconteceu é que os
laboratórios negociaram a dívida e não houve o pagamento. Quando encerrou o
governo anterior, cancelaram o pagamento das dívidas.
Não tenho muito o que dizer e não sou tão versada como o Sr. Izaac, mas
sinto vergonha do que está acontecendo. Estou há três meses sem receber o
medicamento.
Eles começaram a fornecer dois tipos de medicamentos: Avonex e o
Copaxone, mas ainda não começaram a fornecer o Rebif e o Betaferon. Isso quer
dizer que eles não conseguiram negociar a dívida com os laboratórios e nem
estimaram quando isso vai acontecer, o que significa que as pessoas estão
esperando que isso ocorra e esperando para poderem continuar vivendo – que é o
mínimo a que temos direito. Muito obrigada.
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O SR. PARTICIPANTE – Fizemos um ajustamento de conduta do Ministério
Público, por intermédio da Sra. Maria Inês com a Secretaria da Saúde. Por várias
reclamações de falta de equipamento em todo o Estado, na época, o Ministério
Público entrou com uma ação no mês de abril e, no mês de agosto, já estava sendo
ouvido o autor. Não temos informação se há uma decisão.
Em cima do pedido que fez a colega, que buscou uma liminar na Justiça,
pergunto ao Dr. Mauro se ela obterá sucesso até porque estamos preocupados, pois
já existe uma decisão do STF no caso dos medicamentos especiais – e os senhores
já devem conhecê-la –, que muito está nos preocupando em nível de Federação.
O SR. PRESIDENTE (Luciano Azevedo – PPS) – Está com a palavra o Sr.
Mauro Luis Silva de Souza, que, nos minutos de que dispõe, fará um relato da
movimentação do Ministério Público Estadual em relação a esse tema.
Em seguida, abrirei espaço para que os representantes das entidades que
se fazem presentes possam fazer uso da palavra.
De imediato, concedo a palavra ao Sr. Mauro Luis Silva de Souza.
O SR. MAURO LUIS SILVA DE SOUZA – Exmo. Sr. Relator desta
subcomissão, deputado Luciano Azevedo; Srs. Deputados Pedro Pereira e Coffy
Rodrigues; Sr. Izaac Fernandes; Sra. Ieda Marta Reis; Srs. Representantes de
entidades:
23
O Ministério Público entende que os medicamentos estão plenamente
contemplados na idéia de organização do Sistema Único de Saúde, que foi o
instrumento eleito pela Constituição Federal de 1988 para garantir saúde à
população brasileira como um todo, um direito social fundamental disposto no artigo
6º da Carta Magna.
Tentarei, em breves minutos, dar uma panorâmica de todo esse estado de
coisas. Começarei pelo momento anterior a 1988, que, pelo menos os senhores que
têm um DNA – que quer dizer data de nascimento anterior – parecido com o meu,
devem ter notícia.
Todos lembram que havia a famosa carteirinha do INSS, ou seja, a
carteirinha do INPS. Naquela época, tinha direito ao atendimento médico-hospitalar
– que não é a mesma coisa que atendimento à saúde, por ser este um conceito mais
amplo – apenas aquele que era contribuinte do INSS. Até 1988, funcionava assim.
Quem não era contribuinte do INSS dependia da caridade das instituições
filantrópicas e das pessoas que faziam caridade para conseguir um atendimento
médico-hospitalar, genericamente falando, um atendimento à sua saúde.
A partir de 88, cria-se o Sistema Único de Saúde, e a saúde passa ser um
direito fundamental de cada cidadão. Essa foi uma decisão política que não foi
tomada por mim, mas pelos constituintes e por todos nós. Estou aqui referindo-me
hoje a decisões políticas. Isso que estou fazendo aqui. Estou falando em decisões
políticas.
O legislador, naquela época, tomou essa decisão política, no sentido de que
os cidadãos, em geral, teriam direito à sua saúde, que seria assegurada em
24
determinados parâmetros. Colocou no texto constitucional que a saúde seria
assegurada a partir de políticas econômicas e sociais que visassem à redução do
risco de doença e ao acesso universal e igualitário aos serviços, com sua promoção,
prevenção, assistência e recuperação. Isso tudo consta no artigo 196 da
Constituição Federal, que complementa o artigo 6º do mesmo diploma legal.
A partir daí, o Estado começa a desenvolver essas políticas de atenção à
saúde, e chegamos na questão do medicamento, que é a ponta desse iceberg. O
medicamento é a parte final da atenção à saúde. Chegamos a um diagnóstico, a
uma prevenção, identificamos uma doença, que precisa ser tratada com um
medicamento. Para o fornecimento do medicamento, foram desenvolvidas políticas,
que estão, por exemplo, elencadas na portaria nº 1.318, regulamentadora dos
medicamentos especiais e excepcionais.
Para que se forneçam medicamentos, vejam, migramos de um sistema em
que o cidadão não tinha direito à coisa alguma, se não fosse contribuinte. Não era
nenhuma maravilha, mas era mais fácil lidarmos com o problema da saúde, pois
havia alguém financiando-a. O INPS funcionava como um plano de saúde privado.
Por vezes, as pessoas não me entendem quando afirmo que o INPS era um
plano de saúde privado. Quem contribuísse para ele é que tinha direito ao benefício.
Era assim que funcionava. Hoje, não é mais assim, quer dizer, migramos para um
sistema em que todos têm direitos. Para que esses direitos e prestações sejam
assegurados, precisamos de dinheiro e previsão orçamentária. É disso que estamos
tratando: o que faremos com o dinheiro arrecadado e para quem iremos direcioná-lo.
Houve outras decisões políticas que foram tomadas não só por intermédio
25
dessas portarias, mas que se traduzem em textos e estatutos legais, muito mais
fortes que essas portarias, como, por exemplo, a emenda constitucional nº 29, que
aqui foi referida pelo Sr. Izaac Fernandes, e que não são cumpridos. E fazemos o
quê? Simplesmente não são cumpridas, quer dizer, o orçamento deste ano da União
para a área da saúde deveria ter sido acrescido. O orçamento do Ministério da
Saúde deveria ter sido acrescido em 1 bilhão e 400 milhões de reais, mas foi
contingenciado em 5 bilhões e 800 milhões de reais, ou melhor, 6 bilhões foram
retirados do orçamento da saúde deste ano.
Como referia o Sr. Izaac Fernandes, o Ministério Público, depois de uma
série de negociações com todos os governos que sucederam a emenda
constitucional nº 29, ou seja, todos os governos do Estado que passaram após
2000, de todos os partidos, tentamos negociar para que se cumprisse a emenda
constitucional nº 29, para que se colocassem na saúde os 12% do orçamento que
estão previstos, mas que sempre são gastos não mais do que 6%. Como não
obtivemos negociação, entramos com a ação.
Em agosto do ano passado, obtivemos sentença favorável. O assunto está
em discussão no tribunal, porque o Estado recorreu. Não há previsão orçamentária
para que se resolva não só o problema dos senhores. Temos, por exemplo, o
pessoal da hepatite C, cujos tratamentos orçam em torno de 10 mil reais por mês,
bem como o pessoal que sofre da doença de Gouchet, cujo tratamento custa 860 mil
reais por ano. Além de se falar em tudo isso, há também a questão dos laboratórios.
Portanto, temos um problema de orçamento que não resolvemos, que são
duas decisões políticas que foram tomadas. Colocou-se na Constituição que saúde
e educação teriam cada uma delas x por cento do orçamento. São as duas únicas
26
áreas que têm previsão orçamentária de percentuais fixos mínimos para gastar. Na
educação, se cumprem esses percentuais; na saúde é que esses percentuais não
são gastos. O Ministério Público tem tentado negociar. O que se faz quando não se
consegue negociar?
Vamos para o Judiciário, porque, ao fim e ao cabo, numa democracia, os
legisladores fazem a lei, e os administradores executam-na. O que se faz quando há
conflito entre quem está executando e o que está na lei? Vai-se ao Judiciário para
que diga qual é a lei que devemos cumprir. Enfim, esse é o nosso problema.
Aliás, sexta-feira, estaremos discutindo aqui no Tribunal de Justiça – evento
aberto à comunidade se ainda houver espaço para as inscrições – justamente as
políticas públicas de prestação de medicamentos. Como é que acertamos? A
medida macro é comprometermos os orçamentos. Por que esses orçamentos são
aprovados? Por que o orçamento da União é aprovado pelo Congresso Nacional?
Por que o orçamento do Estado é aprovado pela Assembléia Legislativa se ele não
contempla os mínimos constitucionais? Essas são as perguntas que nós, cidadãos e
dirigentes políticos dos nossos próprios destinos, temos de nos fazer. Por que o
orçamento do Estado é aprovado pela Assembléia Legislativa se não contempla um
dos itens constitucionais?
Então, o Ministério Público, como encarregado pela Constituição de cobrar
dos poderes públicos o cumprimento dos direitos públicos que estão na
Constituição, fez a única coisa que nos cabia fazer: entrar na Justiça para que
dissesse se o Estado tem ou não obrigação no caso. A partir daí é que vamos ver
qual é a decisão. Sabemos que o cobertor é curto. Sabemos que talvez, mesmo com
o adimplemento dessas questões constitucionais, não haverá dinheiro para tudo,
27
mas pelo menos teremos um norte, quer dizer, vamos eleger uma política que diga:
essas e essas ações e serviços de saúde serão financiados pelo Estado para estas
e aquelas pessoas.
São essas as decisões que temos de tomar ao fim e ao cabo. É isso que
estamos tentando fazer há praticamente 18 anos, porque a Constituição Federal de
1988 completa a sua maioridade, ou melhor, completou no ano passado. Já serão
19 anos de Constituição e 17 anos da Lei nº 8.080/90, que é a lei que instituiu o
Sistema Único de Saúde.
A par disso tudo, tentamos negociar e, às vezes, até em favor do próprio
Estado, porque a indústria farmacêutica também é um componente interessante
nesse processo.
Só para dar um exemplo – e com isso encerro a minha fala –, quanto à
doença de Gouchet, o Ministério da Saúde avocou a si a compra do medicamento
para os 450 pacientes que havia no País. Aqui no Rio Grande do Sul, tínhamos 20.
O preço para São Paulo era 100, o preço para o Rio Grande do Sul era 150. O preço
para o Acre, que tinha só três pacientes, era 200.
O SR. IZAAC FERNANDES – Permita-me um aparte?
O SR. MAURO LUIS SILVA DE SOUZA – Um momento só para concluir.
Só com essa economia deu para custear todo o programa de prevenção à
tuberculose, com 450 pacientes. Pois não, Sr. Izaac Fernandes.
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O SR. IZAAC FERNANDES – É claro que a Constituição de 1988 deixou
uma viabilidade para o gestor, no caso da saúde, inclusive de antecipação de
receita. Parece que não está dentro da Lei de Responsabilidade Fiscal. Muitas
vezes, o gestor em fim de governo acaba não comprando por essas razões. O
senhor concorda com isso?
O SR. MAURO LUIS SILVA DE SOUZA – Não poderia me posicionar a
esse respeito neste momento, mas a nossa idéia é fazer com que pelo menos o que
esteja na lei seja cumprido, ou então que se diga que a lei não vale. Essa é a
posição que o Ministério Público tem adotado.
Primeiramente, tenta-se negociar com o gestor os problemas que são de
várias ordens. Há o problema orçamentário, alguns problemas de gestão, alguns
componentes de mercado que também interferem muito nessa questão, mas está lá
na Constituição que o cidadão tem direito, e ao Ministério Público cabe cobrar esses
direitos do administrador público. Então, o que se faz? Quando a negociação se
esgota, a única porta que nos resta é o Judiciário, para que nos diga: a lei vale, vige
e deve ser aplicada, ou então por essa ou por aquela razão essa lei é apenas uma
norma programática, é uma declaração de intenções que vamos deixar para um
momento posterior, quando houver dinheiro, quem sabe, para se cumprir.
Então, o nosso problema é justamente com a legalidade, quer dizer, se está
na lei, que tentemos pelo menos cumprir o que diz a lei. A partir do momento em que
estivermos cumprindo o que diz a lei, então vamos ver se isso é ou não suficiente,
29
mas, ao fim e ao cabo, tudo isso é uma decisão política. Foi uma decisão política
que colocou isso na lei e será uma decisão política que dirá se vamos cumprir ou
não. As decisões políticas têm de ser compartilhadas por todos nós. Todos nós
temos responsabilidade por essas decisões, ou porque as tomamos ou porque
elegemos quem as tomou.
Portanto, temos de pensar muito nisso. Não desconhecemos o problema
dos senhores. Sabemos que têm direitos e estamos fazendo pelo menos o que a lei
nos autoriza na busca desses direitos.
O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Agradeço, em nome da
subcomissão, ao Dr. Mauro Luis Silva de Souza, que falou em nome do Ministério
Público. Provavelmente voltaremos a ouvi-lo durante esses próximos 120 dias. Se
ele tiver disponibilidade, será convidado.
Concedo a palavra ao deputado Coffy Rodrigues.
O SR. COFFY RODRIGUES (PDT) – Em primeiro lugar, cumprimentando o
nosso colega deputado que preside esta subcomissão, cumprimento a todos os
meus colegas deputados e deputadas, a assistência, a imprensa, e a todos os que
participam desta reunião.
Dr. Mauro, que falou pelo Ministério Público, pediria que o senhor
aguardasse um minuto, porque também tenho de me retirar por ter de participar da
reunião na Comissão de Ética, e já estou atrasado porque seu início era para as 18
30
horas.
Gostaria de dizer, em poucas e breves palavras, que é um trabalho muito
importante que a Subcomissão de Saúde vai fazer ao tratar desses assuntos.
Prestei muita atenção em cada palavra que a Ieda Reis falou, bem como na
abordagem do nosso companheiro Izaac Fernandes, que formatou muito bem suas
idéias. O trabalho da subcomissão é tentar auxiliar.
De outra forma, gostaria de concordar com todas as palavras que o Dr.
Mauro apresentou aqui, representando o Ministério Público. O que diz a lei? Diz que
x por cento é para a saúde. As duas únicas áreas que determinam percentuais pela
Constituição são a saúde e a educação. O senhor fala nos orçamentos. O que
acontece hoje?
Falo na condição de deputado líder partidário do PDT e também da base de
sustentação do governo Yeda aqui na Assembléia Legislativa. O que vem
acontecendo é o que o senhor falou, pois ao se votar, no Parlamento, o orçamento
do próximo ano, temos uma estimativa. São dotações orçamentárias em x valores
para cada pasta.
As dificuldades financeiras do Estado vêm aumentando de gestão em
gestão. Como será o nosso orçamento familiar se ganhamos 100 e desejamos
gastar 120? O que acontece com o governo? Ele tira recursos do caixa único, e
faltam verbas para as secretarias. A lei não é cumprida.
Na condição de agente do Ministério Público, o senhor fez a leitura correta.
A decisão política é para que se cumpra a lei elaborada pelo legislador, mas,
31
lamentavelmente, esse problema não será resolvido do dia para a noite.
Esta subcomissão vem ajudar para que se resolvam essas questões
gravíssimas. Ninguém gostaria de estar na situação das pessoas que estão
dependendo desses medicamentos.
Tenho certeza de que a nossa governadora Yeda Crusius tem uma grande
sensibilidade para o fato. Esta subcomissão irá gestionar junto ao governo para que
possamos agilizar o atendimento de todos os senhores. Muito obrigado.
O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – O deputado Coffy Rodrigues
tem um compromisso com a nossa Comissão de Ética Parlamentar.
Com a palavra o deputado Pedro Pereira, que, além de ser membro desta
subcomissão, é autor do requerimento da criação da subcomissão e o único
deputado médico entre os demais deputados estaduais. Por isso mesmo, conhece,
com profundidade, o tema que ora abordamos.
O SR. PEDRO PEREIRA (PSDB) – Saúdo a todos os presentes.
Quando o deputado Luciano Azevedo entrou com um trabalho para criar a
Subcomissão da Esclerose Múltipla, na condição de médico, achei muito importante
também incluirmos as patalogias especiais, os transplantados, os ostomizados.
Em Pelotas, minha região, participamos de uma reunião, e fiquei estarrecido
32
com o grande número de ostomizados e transplantados da Metade Sul.
Se 10 bolsas é um número muito pequeno para a necessidade, imaginem
cinco apenas! Só quem tem um problema desses entende a gravidade do caso. E
quanto à esclerose múltipla, que é um mal progressivo e não pode o doente ficar
sem a medicação?
Sabemos, Sr. Presidente, que o Estado está em uma situação terrível, mas
isso não é justificativa.
Como deputado do governo, do PSDB, mais os deputados Luciano Azevedo
e Coffy Rodrigues, na condição de aliados do governo, temos de encontrar uma
solução. A saúde não espera!
Fui vereador durante oito anos na minha cidade e até agora não me
acostumei com a política. Chega uma pessoa com uma apendicite aguda que, se
não for cirurgiada, morre. Uma pneumonia simples também precisa de cuidados
imediatos. Se não agimos, a pessoa acaba falecendo.
A política, infelizmente, tem muito de enrolar, muitas reuniões e mais
reuniões. Infelizmente, é uma vergonha.
Amanhã bem cedo, estarei indo a Brasília, quando entregarei em mãos ao
ministro da Saúde vários pedidos. Essa audiência demorou para acontecer porque a
indicação do novo ministro demorou a ser resolvida. Vamos cobrá-lo, porque o
governo federal tem de fazer a sua parte! O governo estadual também tem de fazer
o que lhe compete. Está escrito na Lei Maior: Saúde é um dever do Estado e um
33
direito do cidadão. É muito bonito, mas sabemos que não é bem assim.
Vou a Brasília num movimento em prol dos hospitais filantrópicos, que
também estão quebrados. Para que os senhores tenham uma idéia, dos 239 deles,
15 já fecharam, 17 estão fechando. Há 16 já fechados. Na semana passada, fechou
o de Tupanciretã. Lá a situação é terrível também.
A lei não é cumprida. Temos que cobrar e estamos aqui para isso. Teremos
audiências públicas em Pelotas, Caxias do Sul, Passo Fundo e lá na longínqua
Itaqui. Iremos e faremos reuniões fora do nosso horário de trabalho. Serão reuniões
extras, às sextas-feiras. Ninguém vai se furtar. Iremos a todas.
Portanto, guardem a certeza de que somos companheiros dos senhores por
conhecermos as dificuldades que enfrentam. E eu, mais do que ninguém, pelo fato
de ser médico. Só conhece realmente a gravidade do problema quem é médico, ou
é portador de uma patologia dessas, ou tem alguém doente na família.
É muito bonito ouvir as notícias, ver as enrolações, mas para saber a
gravidade, sofrer na carne, tem que conviver com isso. Então, somos parceiros.
Esse foi um trabalho do deputado Luciano Azevedo, deste deputado.
Tenham certeza de que iremos até o final para conseguirmos ajuda junto ao Estado,
à União, ao Ministério Público. Vamos mover céus e terras para darmos a nossa
contribuição. Muito obrigado.
O SR. IZAAC FERNANDES – Aproveitando que o deputado Pedro Pereira
34
está indo a Brasília, tivemos a oportunidade de trabalhar com dois outros ministros.
Um deles foi o ministro José Gomes Temporão, o qual me enviou um e-mail
manifestando-se quanto ao nosso pedido, mas não se manifestava sobre a portaria
ministerial que está lá, há dois anos, sobre a pessoa com colostomia. Se possível,
solicito que V. Exa. seja signatário do nosso pedido para a liberação de uma portaria
que é para o Rio Grande do Sul e vai para todo o Brasil. É uma portaria de atenção
à pessoa com colostomia.
O SR. PEDRO PEREIRA (PSDB) – Qual é a portaria? O senhor tem o
número dela aí?
O SR. IZAAC FERNANDES – Não, ela não cita número. É portaria de
atenção à pessoa ostomizada do Brasil.
O SR. PRESIDENTE (Luciano Azevedo – PPS) – Com a manifestação do
deputado Pedro Pereira, agradeço a todos.
Esta é a primeira reunião em que estamos, aqui na Assembléia Legislativa,
ouvindo as entidades. Ouvimos o Ministério Público, a Associação Gaúcha de
Ostomizados, a Associação Gaúcha dos Portadores de Esclerose Múltipla.
Este é o trabalho da subcomissão: abrir para a sociedade do Rio Grande do
Sul isso que muitos dos senhores conhecem na prática, mas que o Rio Grande do
Sul, em alguns momentos, presta atenção, mas em outros parece que esquece,
35
deixa para lá, faz de conta que não existe. Esse que é um problema real que atinge
dezenas de milhares de gaúchos.
O objetivo da subcomissão é oferecer este espaço para que possamos,
como sociedade, nos organizar. Se a senhora, momentaneamente, não pode fazer
barulho, nós podemos fazer. Estamos aqui para isso. Temos que nos dar as mãos.
Temos que compreender que essa é uma necessidade de irmãos nossos, que pode
estar dentro de qualquer casa, de qualquer família, de qualquer cidade do Estado. E
esse é o espírito desta subcomissão criada na Assembléia, que é amplificar,
aumentar o volume dessa luta que as entidades têm empreendido em busca do
medicamento para os pacientes.
Nas terças-feiras, sempre às 17 horas, durante os próximos quatro meses,
trataremos dessas questões e ouviremos outras entidades. Queremos, aos poucos,
aprofundar essa radiografia, tornando mais clara essa situação que, para nós todos,
é lamentável, colocando a força política da Assembléia Legislativa ao lado dessa
causa, que deve ser uma causa de todos aqueles que amam a vida.
Convidamos a todos para que estejam aqui conosco nas próximas reuniões,
para que possamos trazer outras entidades, trazer mais pessoas e para que
possamos fortalecer esse movimento. Queremos fazer desse movimento da
subcomissão não um movimento político, porque não é essa a intenção, mas fazer
um movimento da sociedade do Rio Grande do Sul para que possamos tornar isso
que hoje é um direito das pessoas na letra fria da lei, como disse aqui o promotor, e
um direito que não é respeitado, uma rotina.
Quem tem necessidade de um medicamento recebe esse medicamento
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porque esse é um direito seu. É muito simples, está na lei, e nós todos aqui
queremos que isso seja cumprido na prática. Esse é o nosso objetivo e a nossa
tarefa nesta subcomissão.
Em meu nome e nos nomes dos deputados Pedro Pereira e Coffy
Rodrigues, agradecemos a presença de todos. Reiteramos o convite para que vocês
estejam conosco aqui, na próxima terça-feira, às 17 horas. Mesmo aqueles que já
foram ouvidos. Sua presença será importante a fim de trazerem novas
manifestações e novos elementos, reforçando este trabalho.
Oferecemos a secretaria da Comissão de Saúde para os que quiserem
trazer novas informações, sugestões, elementos estatísticos, novas entidades que
queiram se inscrever. Tudo isso é muito importante para o nosso trabalho.
Temos certeza de que poderemos no final deste trabalho – e esse é o nosso
sonho, deputado Pedro Pereira – ver regularizado o fornecimento de medicamentos
para pessoas que têm esse direito no Rio Grande do Sul. Conseguiremos isso
juntos, lutando.
Esta subcomissão quer ser uma ferramenta na luta dessas pessoas.
Muito obrigado pela presença de todos.
Está encerrada a audiência.
DATA 17/04/2007: O SR. RELATOR (Pedro Pereira – PSDB) – Declaro
abertos os trabalhos da Subcomissão de Medicamentos de Uso Especial e de Uso
37
Contínuo.
O relator desta subcomissão, deputado Luciano Azevedo, está participando
da Feira de Hannover, na Alemanha, e, na sua ausência, assumo a coordenação
dos trabalhos de hoje.
Inicialmente, o deputado Luciano Azevedo criou esta subcomissão para
tratar da esclerose múltipla. Eu, como médico há 30 anos e agora como
parlamentar, sugeri ao deputado que estendêssemos a abordagem dos trabalhos
para outras patologias especiais, como hepatite C, transplantados e ostomizados, o
que foi aprovado por unanimidade.
Estamos na terceira reunião desta subcomissão. Realizaremos algumas
reuniões no interior do Estado: dia 4 de maio, em Canoas; dia 11, em Pelotas; dia
25, em Passo Fundo; e, dia 8 de junho, em Itaqui. Esperamos contar com grande
número de participantes e de subsídios para que possamos alcançar um resultado
satisfatório e, assim, ajudarmos as milhares de pessoas portadoras dessas
patologias.
Para os senhores terem uma idéia, os portadores do Mal de Parkinson são
em torno de 20 mil, e há milhares de ostomizados – para os quais o governo
inicialmente repassava dez bolsas e, hoje, repassa cinco –, de portadores de
hepatite C, de esclerose múltipla e de transplantados.
Nosso dever como representantes do povo é fazer tudo o que for possível
para amenizar o sofrimento dessas pessoas.
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Com muita satisfação, registro a presença do Dr. Mauro Luís Silva de
Souza, promotor de Justiça do Ministério Público; da Sra. Simone do Amaral,
representante da Secretaria de Estado da Saúde; da Sra. Ângela Maria Garcia,
presidente da Associação Gaúcha dos Portadores da Doença de Parkinson; do Sr.
Guilherme Gomes de Souza Machado, advogado engajado nessa causa; e do Sr.
Lothario Schlindwen, representante do Conselho Estadual de Saúde.
Concedo a palavra inicialmente à Sra. Ângela Maria Garcia, para que nos
informe quais medicamentos estão faltando e como está a situação dos associados.
A SRA. ÂNGELA MARIA GARCIA – Boa-tarde. Vou procurar falar próximo
ao microfone porque a minha voz é baixa devido à doença de Parkinson.
A associação tem lutado há mais de 4 anos pela regularização da situação
dos medicamentos. Os medicamentos são o nosso combustível; sem eles, não
conseguimos andar, vestir e calçar, tornamo-nos inúteis sobre uma cama.
Em função disso, temos lutado muito para reverter esse quadro. É um direito
recebermos os medicamentos gratuitamente.
Gostaríamos que tudo funcionasse bem. Por exemplo, agora só há Sifrol na
farmácia do Estado. Por que reclamamos que estão faltando itens? Porque não
vivemos só de Sifrol ou de Prolopa. Cada indivíduo portador de Parkinson tem
necessidade de medicação diferenciada, nem todos usam a mesma medicação.
Quando o organismo rejeita o Prolopa, é preciso ter outras duas ou três
39
alternativas para prosseguir o tratamento. Precisamos do Prolopa, do Sifrol, que são
os medicamentos básicos, do Mantidan, do Tasmar e de vários outros
medicamentos.
Quando não há esses medicamentos na Secretaria, os portadores da
doença ficam privados das atividades.
Procuramos trazer o portador de Parkinson para fora da sua casa, para sair
do isolamento e realizar atividades na associação. Mas isso não vem acontecendo
porque os pacientes estão sem a medicação. Isso causa transtorno também para a
família, porque a pessoa que cuida desse portador fica sobrecarregada devido à sua
dependência.
É horrível para nós vermos os doentes nessa situação. As pessoas pedem
que, pelo amor de Deus, as ajudemos.
A associação não presta assistência social, apenas procura preencher uma
lacuna existente no dia-a-dia do portador. Temos batalhado bastante e queremos
aproveitar esta oportunidade para solicitar ajuda à Secretaria.
Nos quatro anos de existência da associação, já convidamos o secretário da
Saúde do governo anterior para conhecer as nossas dificuldades. Nunca tivemos
retorno. O secretário sempre está com a agenda cheia ou está viajando. Nunca
fomos recebidos na Secretaria da Saúde. Sempre há uma desculpa. E se alguém
está pagando por isso, somos nós. Não sei se tal atitude é uma falta de
consideração com a associação ou com os portadores.
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Realmente temos encontrado dificuldade de fazer uma reunião com o
secretário ou com alguém da Secretaria.
Não podemos ter uma associação apenas para bonito, o nosso objetivo é
dar uma melhor qualidade de vida aos portadores, de modo que possam caminhar e
ter uma certa independência.
Sou portadora de Parkinson há seis anos e sei o que é sentir na carne a dor
dessa doença. É horrível. Por isso, luto cada vez mais por essa causa nobre. Muito
obrigada.
O SR. RELATOR (Pedro Pereira – PSDB) – Em quantos Municípios há essa
associação?
A SRA. ÂNGELA MARIA GARCIA – Temos a associação em Pelotas,
inclusive os convidei para participar desta reunião – no dia 5 de maio, realizaremos
lá um simpósio com profissionais daqui para dar informações sobre a doença –, e
também em Bento Gonçalves. A nossa abrange todo o Rio Grande do Sul.
Somamos as forças para atingir um único objetivo: qualidade de vida para o
portador de Parkinson. Antigamente, ouvia-se falar que o Mal de Parkinson atingia
pessoas com mais de 60 anos; hoje, ela atinge pessoas com menos idade. O meu
diagnóstico foi aos 45 anos de idade.
Essa doença limita totalmente a pessoa, tornando-a incapaz, inútil. O fator
41
emocional é muito forte, fazendo o portador cair em depressão e ficar dentro de casa
para não mostrar os sintomas que aparecem de maneira progressiva.
O SR. RELATOR (Pedro Pereira – PSDB) – Obrigado. Informo, desde já,
que faremos tudo o que for possível, até pelo fato de ser médico e conhecer o
assunto um pouco mais a fundo, e se tivermos de ir a Brasília mil vezes para
resolver o problema, iremos.
Sabemos das dificuldades do nosso Estado, mas está escrito na Lei Maior
que a saúde é um dever do Estado e um direito do cidadão. Temos de fazer com
que isso seja cumprido.
Espero que no final dos trabalhos, no mês de agosto, tenhamos elaborado
um relatório com sucesso para resolver os problemas não só dos portadores de
Parkinson, mas também dos portadores das demais patologias que esta
subcomissão se dispõe a tratar.
Registro a presença do deputado Gilberto Capoani, que também faz parte
da Comissão de Saúde.
Concedo a palavra ao Sr. Guilherme Machado.
O SR. GUILHERME MACHADO – Como já foi referido pela presidente da
associação, a medicação é fundamental para o portador. Sem a medicação, o
portador fica simplesmente inerte, podendo chegar ao ponto de ficar deitado numa
42
cama sem se mexer nem para as funções mais básicas do dia-a-dia.
Tudo isso tem muito a ver com a condição financeira da família. A grande
maioria dos portadores são pessoas humildes que não têm condições de arcar com
o custo da medicação.
O portador de Parkinson precisa de fisioterapia, de fonoaudiologia, de
acompanhamento psicológico e, acima de tudo, dos medicamentos. Muitas vezes,
todo o ganho da família não cobre o custo de um portador.
Nós, da associação, não temos a mínima pretensão de brigar com o governo
ou criar abalo na situação econômica do Estado. Estamos buscando apenas um
direito, que é a qualidade de vida ou a própria vida de muitos portadores.
Estamos abertos para dialogar com a Secretaria de Estado da Saúde, porém
sempre fomos afastados, nunca tivemos um canal aberto para trocar informações e
apresentar as nossas questões.
A associação já fez vários manifestos públicos relativos ao problema dos
medicamentos; já realizou um congresso nacional – para o qual a Secretaria da
Saúde foi convidada, e não participou – para debater a questão dos medicamentos.
De nossa parte, não há falta de diálogo e muito menos falta de interesse.
É preciso levar em conta o lado humano dos portadores.
Por que a Secretaria da Saúde perde, na maioria das vezes, nas ações
43
judiciais? Porque não consegue apresentar, judicialmente, uma contraposição às
nossas alegações. Obviamente as nossas alegações são fortíssimas, pois estão
embasadas na Constituição Federal e numa lei estadual.
A secretaria não tem subsídios para justificar por que não está fazendo o
fornecimento. Foram apresentados vários motivos e desculpas, mas nenhum foi
aceito.
A alegação de que as ações judiciais prejudicam as finanças do Estado, até
pode ter fundamento, uma vez que é feita a compra imediata de medicamentos e o
bloqueio da conta do Estado, mas tudo isso é em razão de questões importantes, a
doença e a necessidade dos medicamentos.
Estamos buscando o direito do portador de ter qualidade de vida. A
associação muitas vezes não pode contar com a participação dos seus associados
porque eles não podem nem se locomover por falta de condições físicas, de saúde.
Estamos dispostos a discutir e encontrar uma solução para o caso.
Há poucos meses, em uma manifestação que fizemos em frente à farmácia
do Estado, levantamos a possibilidade de entrar com uma ação civil pública contra o
Estado. Não temos a intenção de criar problema para o Estado, mas queremos que
o Estado venha discutir conosco e nos dê pelo menos a esperança de que a
situação será regularizada. Não temos o mínimo interesse de brigar e levar isso
adiante, mas temos de proteger os nossos interesses e os nossos direitos. Muito
obrigado.
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O SR. RELATOR (Pedro Pereira – PSDB) – Obrigado. Concedo a palavra à
Sra. Simone do Amaral, da Secretaria da Saúde.
A SRA. SIMONE DO AMARAL – Boa-tarde a todos. Atualmente respondo
pela área de medicamentos da Secretaria do Estado da Saúde.
Primeiramente, informo à associação que nos colocamos à disposição para
dar uma melhor acolhida a essas questões. Podemos conversar, como fazemos com
outras associações, como a AGAM, o pessoal da Fibrose Cística.
A assistência farmacêutica da Secretaria da Saúde está disposta a discutir e
dar as informações para que sejam repassadas aos associados.
Entendemos que no momento em que é repassada para uma associação
uma determinada situação, ela está sendo transmitida a uma imensidão de usuários
e de familiares. Dessa forma, está-se dando transparência daquela ação para a
sociedade de uma forma geral.
Enfrentamos, no ano passado e no início deste ano, falta de recursos para a
aquisição de medicamentos.
Realmente, temos hoje o Levodopa mais Benzerazida, que é o Prolopa; e o
Pramipexol, que é o Sifrol. Os outros medicamentos – Entacapone, Amantadina,
Selegilina – estão todos em fase ainda de licitação. Mas já tivemos um primeiro
repasse de recurso. Alguns medicamentos estão empenhados, como o Levodopa
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mais Carbidopa, e outros já estão com a liberação e serão entregues antes.
Não terei todo o elenco na última quinzena deste mês, mas vou ter parte
desse elenco disponível para os usuários, inclusive para os do interior, porque,
dependendo da data em que chegam, as regionais ainda conseguem buscar o
medicamento para repassar aos Municípios, sendo que a nossa distribuição de
medicamentos é descentralizada.
Dos outros medicamentos, realmente, estamos em falta. Estamos
aguardando a conclusão do procedimento licitatório. O que está ocorrendo de
diferente nessa falta de medicamento de uma forma geral é que ainda estão sendo
negociadas com os laboratórios dívidas do exercício anterior.
O Estado é devedor de vários laboratórios. Negociamos, e a governadora,
em 90 dias, apresentará o calendário de pagamento. Isso tranqüiliza muito o
laboratório, a distribuidora.
A partir daí, as despesas, aquelas compras que estamos fazendo em 2007,
serão pagas em 2007. Estamos conseguindo negociar, a exemplo do medicamento
utilizado para esclerose múltipla. Temos, hoje, em estoque o Beta Interferon de
22mcg e o Beta Interferon de 30mcg, o de 9,6 milhões, que é o medicamento mais
utilizado pelos usuários, está em falta. O laboratório, no entanto, concordou com a
negociação e o medicamento será entregue. O laboratório vai aguardar o calendário
para regularizarmos a dívida do exercício anterior. O que estamos comprando neste
exercício o pagamento será imediato, porque o empenho é prévio.
A falta de medicamentos, na realidade, como envolve questão de dívida,
46
dependia de uma negociação e do acerto de cada laboratório com a Secretaria da
Fazenda, para terem a garantia de que iriam receber aquilo que estava atrasado. Só
depois disso poderiam negociar e entregar os medicamentos. Se fica em aberto o
empenho, eles não entregam, até porque o Estado tem uma dívida grande com eles.
A partir do momento em que aceitaram essa nossa negociação, a entrega será
regularizada.
Neste mês tivemos a liberação de 10 milhões de reais, que estão sendo
investidos no empenho desses medicamentos que estavam em falta, inclusive os de
Parkinson.
O SR. RELATOR (Pedro Pereira – PSDB) – A senhora sabe qual é a dívida,
hoje, do Estado?
A SRA. SIMONE DO AMARAL – Esse valor hoje não tenho, mas posso
conseguir. Para laboratórios, a soma total desse valor eu não tenho.
O SR. RELATOR (Pedro Pereira – PSDB) – Até o final de abril já teremos a
maioria?
A SRA. SIMONE DO AMARAL – Teremos a maioria e, em 90 dias, vamos
apresentar o calendário de pagamento. Com esse calendário de pagamento, mais
laboratórios vão aderir a essa negociação feita entre a Secretaria da Saúde, a
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Secretaria da Fazenda e os laboratórios, porque o que houve anteriormente foi uma
negociação e uma promessa de pagamento. Agora é diferente. A governadora
apresentará um calendário de pagamento, e os laboratórios, então, ficam mais
tranqüilos porque saberão a data em que o pagamento acontecerá, terão a previsão
do pagamento daquela dívida.
O SR. RELATOR (Pedro Pereira – PSDB) – Até o meio do ano
provavelmente seja solucionado o problema da grande maioria.
A SRA. SIMONE DO AMARAL – Eu não sei de que data começa a contar
esses 90 dias. O calendário é daqui a 90 dias.
A SRA. ÂNGELA MARIA GARCIA – Enquanto isso, quem sofre? Nós, os
portadores. É difícil ficar 90 dias sem remédio.
A SRA. SIMONE DO AMARAL – Na realidade, a adesão dos laboratórios a
essa negociação já está feita. Treze laboratórios já aceitaram. Por exemplo, o
responsável pelo Interferon Beta, de 9,6, que é o laboratório Schering do Brasil, é
um dos laboratórios que aceitou
O SR. RELATOR (Pedro Pereira – PSDB) – É o mais caro deles.
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A SRA. SIMONE DO AMARAL – É um medicamento de alto custo. Temos o
documento que comprova que o laboratório aceitou a negociação, por isso sei que
esse medicamento será entregue. A partir do momento em que ele aceitou a
negociação, ele regulariza a entrega e aceita a retirada do empenho daquele
quantitativo que estou fazendo agora, neste ano.
O SR. RELATOR (Pedro Pereira – PSDB) – Inicialmente nos informaram
que a dívida era de 10 milhões de reais, depois, que era de 30 milhões de reais. A
dívida realmente é grande. Mas nada disso justifica. Temos de fazer a nossa parte
para tentar encontrar a solução.
A SRA. SIMONE DO AMARAL – Quanto à questão da demanda judicial,
obviamente que não é interessante para o Estado, pelo fato de que não há um
planejamento. Quando a demanda chega tudo tem de ser organizado para atendê-
la. Não tenho uma prévia disso e tenho um prazo para fazer o atendimento.
A Procuradoria do Estado, nessas ações em que existe a falta do
medicamento para um usuário que tenha um processo administrativo deferido – e
sabemos que a grande maioria dos processos é deferida para os usuários de
medicamentos de Parkinson – dispensa a contestação. Não há interesse em
contestar exatamente porque não há argumentação.
Se há um processo administrativo deferido e o medicamento somente não
está sendo entregue pela falta do medicamento, não há o que contestar.
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O SR. GUILHERME MACHADO – Eu discordo, porque tenho várias ações
individuais, inclusive a presidente tem uma ação, e estão sendo discutidas em
Brasília.
A SRA. SIMONE DO AMARAL – É União, Estado e Município?
O SR. GUILHERME MACHADO – Estado.
A SRA. SIMONE DO AMARAL – De quando é essa ação?
O SR. GUILHERME MACHADO – De 1995. Estamos já em Brasília, e há
outras ações que estamos discutindo lá. Então, infelizmente, o Estado contesta e,
muitas vezes, com argumentações descabidas. Já houve contestações em que
trataram Parkinson como Alzheimer. Infelizmente está ocorrendo isso e é bem
complicado.
A SRA. SIMONE DO AMARAL – Essa informação não é a que eu tenho. À
Secretaria da Saúde e à Procuradoria do Estado, que é o nosso advogado, não é
essa a informação que chega. Inclusive temos um grupo de trabalho que se reúne
semanalmente para tratar dessas questões judiciais. Amanhã teremos essa reunião
e levarei essas informações para eles.
O SR. RELATOR (Pedro Pereira – PSDB) – É importante levar a
preocupação desta comissão, dos deputados, da presidente, do advogado, do
promotor, do Sr. Lothario e, principalmente, a dos portadores. Não podemos esperar
mais. Temos de encontrar uma solução. A saúde não pode esperar.
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O SR. GILBERTO CAPOANI (PMDB) – Saúdo o presidente, os integrantes
da mesa e a prezada assistência que nos prestigia neste momento.
Faço parte desta subcomissão. Sou deputado pela região de Passo Fundo,
onde tem ocorrido muitos encontros e manifestações devido a esse problema.
Tomamos conhecimento, então, especialmente do problema do pessoal que tem
carência do medicamento da esclerose múltipla.
Pelo que pude entender da manifestação da representante da Secretaria da
Saúde, houve uma mudança no critério de pagamento do fornecimento de
medicamentos. Isso não pode ser feito – com todo o respeito que tenho pelo nosso
secretário da Saúde e pela governadora – em prejuízo da sociedade, daqueles que
precisam.
A própria licitação, se for o caso, em havendo motivo justificado – e esse é
mais do que justificado –, pode ser dispensada. Essa mudança no critério de
pagamento dos laboratórios até pode acontecer – sei que a governadora está
adotando sistemática de caixa, do dinheiro que arrecada –, mas não pode ser do dia
para a noite, ao ponto de prejudicar a sociedade do Rio Grande.
Parece-me que 90 dias para apresentar um calendário, quando se trata de
um assunto tão sério, é um prazo demasiadamente longo.
Gostaria de deixar um apelo ao nosso secretário, no sentido de que
interceda junto à governadora, mostrando essa dificuldade. Eu não sou médico, mas
pude observar, no debate que houve em Passo Fundo, que a pessoa que sofre de
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esclerose múltipla e deixa de tomar o medicamento durante um determinado tempo
e fica com uma seqüela, ou seja, perde a fala ou a audição, quando voltar a tomar o
medicamento, ela não recupera mais o que perdeu.
Estamos tratando aqui de um assunto de extrema importância, de bastante
gravidade, e deve haver um encurtamento desse prazo de 90 dias e uma maneira do
Estado atender a população.
Sei que a decisão judicial distorce o processo, não resta dúvida de que
acaba colocando na ponta da fila aquele que talvez entre com uma ação no final.
Mas o Judiciário somente intervém quando ocorre a ineficiência, a ineficácia, o não
cumprimento da sua obrigação por parte do Estado.
Quero manifestar minha preocupação no sentido de que o Estado cumpra o
seu papel, atendendo a população e dessa forma evitando decisões judiciais, até
mesmo porque nem todos têm a oportunidade de ingressar com uma ação judicial.
Vou fazer um contato pessoal com o secretário Osmar Terra e na primeira
oportunidade em que estiver com a governadora vou colocar essa questão
pessoalmente. Mas registro minha grande preocupação e o apelo no sentido de que
se reduza esse prazo do calendário e se agilize todo o processo, para que seja
resolvido um problema sério como esse da falta de medicamentos.
A SRA. SIMONE DO AMARAL – Com relação aos medicamentos da
esclerose múltipla nós não podemos atender por dispensa de licitação, porque os
medicamentos são por laboratórios exclusivos. A dívida existia para aqueles
laboratórios, ou seja, o Estado deve para a Schering, a qual produz o medicamento
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Interferon Beta de 9,6. E a Schering não tem interesse de fornecer esse
medicamento, até que haja essa regularização.
Quanto à questão desse calendário de 90 dias, a Schering do Brasil aceitou
a negociação: não serão 90 dias para a entrega do medicamento, ele vai ser
empenhado e entregue. O prazo de 90 dias é para acertar a dívida do exercício
anterior.
A partir do momento em que o laboratório, a Secretaria da Saúde e a
Secretaria da Fazenda acordaram regularizar esse pagamento através do
calendário, o atendimento automaticamente fica acertado. Ficou acertada a dívida
do exercício anterior, mas empenhado medicamento para este exercício e ao
mesmo tempo regularizado o atendimento.
Sendo assim, não são 90 dias para que se comece a atender o paciente,
mas 90 dias para acertar o pagamento da dívida do exercício anterior. E quando
eles aderem, como foi o caso da Schering do Brasil em relação ao medicamento de
9,6 – o Interferon Beta –, que é um dos que estão em falta, esse medicamento vai
ser entregue, ele vai ser empenhado, pois o laboratório aceitou a negociação. O
laboratório vai aguardar o calendário de pagamento do exercício anterior, mas ao
mesmo tempo providencia a retirada do empenho e a entrega do medicamento.
O SR. RELATOR (Pedro Pereira – PSDB) – Concedo a palavra ao Sr.
Lothario Schlindwein, do Conselho Estadual de Saúde do Rio Grande do Sul.
O SR. LOTHARIO SCHLINDWEIN – Saúdo os deputados Pedro Pereira e
Gilberto Capoani; o Dr. Mauro Luís Silva de Souza, a Simone, o Guilherme e a
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Ângela, do Ministério Público e demais presentes.
Na reunião do Conselho Estadual da Saúde, contamos com a presença de
representantes da assistência farmacêutica do Estado, porque nós, como controle
social e conselho, entendemos que a comunidade rio-grandense não pode ficar sem
a assistência farmacêutica. Esse é um dever do Estado e um direito do cidadão.
Preocupou-me a colocação que o defensor fez. A Constituição é bem clara
quando diz que a saúde é um direito de todos, bem como o acesso universal a todos
os serviços para proteção, promoção e recuperação: ele é tripartite. Dentro disso
entra o trabalho do Município, do Estado e da União, garantindo assim, mediante
políticas públicas, que nós, cidadãos, tenhamos atendimento, quando o
necessitarmos.
Na reunião passada, ficou acordado com a Secretaria e a equipe de
assistência farmacêutica continuar essa discussão num próximo encontro, tendo em
vista alguns dados que pedimos não terem sido repassados. Mas o Conselho
Estadual pede – e isso é um compromisso, pois é em defesa de todos os cidadãos –
que o Estado de uma vez por todas adote uma política da assistência farmacêutica.
É o que hoje não existe.
E outra, que priorize a saúde. Alegar que não houve recursos para um
Estado que aplicou somente 4,37%, é questionável. O bem maior de todos é a vida.
Sendo assim, tenho que inverter prioridades. A partir do momento em que valorizo
de fato a vida, devo priorizar a saúde, a saúde como um todo. O Conselho Estadual
tem participado dessa discussão com muita preocupação.
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Estou há três anos representando o Conselho Estadual dentro desta
Comissão da Saúde. Na legislatura passada e, na atual, fui indicado para fazer parte
da Comissão da Saúde, quando fazemos reuniões todas as quartas-feiras.
Se no ano passado o Estado aplicou somente 587 milhões na área da saúde
e o orçamento deveria ter sido os 10% de 1 bilhão e 600 mil reais, esse fato
preocupa-nos, porque o povo está recorrendo à judicialização. E a judicialização
piora ainda mais a situação do Estado, porque o Estado acaba tendo dinheiro
seqüestrado para compra imediata, conforme estão chegando às questões judiciais.
E com isso o Estado não está conseguindo implantar uma política de assistência
farmacêutica continuada.
Está na hora de definirmos com o Estado uma política de assistência
farmacêutica priorizando a saúde de um modo geral.
Era essa a defesa que em nome do Conselho Estadual queria fazer. Quero
dizer à população que o Conselho Estadual está atento e vai continuar participando
dessa discussão.
Parece-me que ficou acertado que daríamos continuidade a essa discussão
na próxima plenária, na semana que vem. É importante salientar que cobramos isso
do Ministério. E o representante do Ministério, na reunião anterior, falou que o
Ministério está passando religiosamente em dia para o Estado essa questão.
Sendo assim, queremos saber o que está acontecendo. Essa é uma
discussão que todos nós, cidadãos e esta Comissão, temos que começar a
acompanhar, até porque depois que a vida se extingue não adianta mais lutarmos
55
na Justiça. Devemos, portanto, evitar que pessoas cheguem ao óbito por falta de
assistência hospitalar ou farmacêutica. Obrigado.
O SR. RELATOR (Pedro Pereira – PSDB) – Obrigado, Sr. Lothario
Schlindwein.
Concedo a palavra ao representante do Ministério Público, Sr. Mauro Luís
Silva de Souza.
O SR. MAURO LUÍS SILVA DE SOUZA – Deputado Pedro Pereira, Sra.
Simone, Sr. Guilherme, Sra. Ângela, Sr. Lothario, senhoras e senhores:
Sem dúvida, questões dessa relevância devem ser tratadas a dimensão que
vem sendo dada por esta Comissão. O Ministério Público foi encarregado, pela
Constituição de 88, de exigir dos poderes públicos o respeito aos direitos postos na
Constituição.
E como dizia o Sr. Lothario, efetivamente nós temos um problema de
orçamento no Estado e temos um problema de orçamento na União, porque – como
foi dito na reunião anterior e se reitera agora – nenhum dos governos do Estado
aplicou a emenda constitucional 29 na saúde. Nenhum governo. Não é esse
governo, o governo anterior, ou seja, nenhum dos governos do Estado de 2000 para
cá aplicou a emenda constitucional 29 na saúde, como também o governo federal
não aplica.
Vejam, 1 bilhão e 600 milhões seria o que o Estado deveria aplicar aqui em
nível de saúde. Um bilhão e 400 milhões a União teria que acrescentar ao seu
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orçamento neste ano de 2007. 1 bilhão e 400 milhões, e o que fez a União? Retirou
5 bilhões e 800 do orçamento da saúde.
É difícil tratarmos de questões que dependem exclusivamente de recursos,
quando tratamos os orçamentos públicos desta maneira. Saúde e educação são as
duas únicas áreas em que há limitação constitucional.
25% para a educação nos três níveis: União, Estados e Municípios. Na
União seria algo em torno de 10%, não é bem isso, é o que foi empenhado no
exercício anterior mais a correção nominal do PIB, que para este ano implicaria mais
um bilhão e 400 milhões. Nos Estados 12%, e nos Municípios 15% para a saúde. E
não temos essas aplicações, sequer os orçamentos são constituídos prevendo
esses recursos.
É difícil trabalharmos com questões desta magnitude, quando sequer
estamos cumprindo a lei. E temos um problema muito sério no País, fazemos as leis
e não as cumprimos e depois dizemos que aquela lei não é boa, que devemos fazer
outra lei. Fazemos outra lei para também não ser cumprida.
Constituímos um grupo de estudo para tratar sobre os medicamentos
chamados pela secretaria de medicamentos judiciais. Chegamos à conclusão de
que em alguns casos o deferimento judicial, em alguns casos, de medicamentos
pode ser um problema. Em outros casos não.
Notadamente, nesses casos em que o Estado já admitiu a procedência do
pedido, não há muito que fazer em nível judicial. Precisamos é fazer aparecer o
recurso. De que lugar sairá é que é a questão. De que maneira se faz isso?
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Alocando os recursos legais, os recursos constitucionais nos orçamentos.
Fizemos um termo de ajustamento com a Secretaria Estadual de Saúde, que
até então vinha sendo cumprido. Sabemos que, em alguns casos, esse termo de
ajustamento não foi cumprido, inclusive, foram solicitadas cópias ao meu centro de
apoio, que detém o original deste termo de compromisso de ajustamento, para que
fosse feita a execução.
Muitas cidades do Estado já estão fazendo essa execução dos
medicamentos que o Estado se comprometeu a entregar e que, por limitações
orçamentárias, por não ter alocado os recursos, pelos motivos os mais variados, não
entregou lá na ponta os cidadãos que faziam jus, segundo os próprios critérios do
Estado.
O Ministério Público está disposto, sim, a trabalhar com todas as
ferramentas que foram postas à disposição do Ministério Público nesta questão.
Solicitamos aos senhores que, em havendo esse tipo de dificuldade no
relacionamento com o Estado, procurem em Porto Alegre a Promotoria de Direitos
Humanos – na Rua Santana, nº 440 – e no interior do Estado qualquer promotoria
de Justiça, para que possamos, em primeiro lugar, negociar com o Estado um
atendimento.
Já buscando esse entendimento, por meio do grupo de estudo de
fornecimento de medicamentos, e malogradas as negociações entraremos com as
negociações necessárias. Ao fim, ao cabo, cabe ao Poder Judiciário, em uma
democracia, como já se disse aqui em outras ocasiões, dizer quem deve fazer o que
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e quando.
Esta é a posição do Ministério Público. O Ministério Público defende um
sistema único de saúde no qual acreditamos. Aliás, não existe similar no mundo
inteiro. O único sistema público de saúde que fornece medicamentos é o Sistema
Único de Saúde do Brasil.
Em nenhum outro lugar há esta integralidade como prevista aqui no nosso
sistema, e queremos que funcione.
Há 17 anos, desde 1990, historicamente é muito anterior a isso, mas, desde
que existe o Sistema Único de Saúde se vem trabalhando para que seja implantado
adequadamente e esta implantação passa, sim, por um controle social eficiente, por
uma participação comunitária efetiva e por uma gestão adequada de todo sistema. É
isso que buscamos. Muito obrigado.
O SR. LOTHARIO SCHLINDWEIN – Quero fazer uma complementação de
minha fala.
Justamente na minha intervenção, quando disse que o Ministério Público
repassava em dia, a nossa posição do conselho é bem clara. Inclusive, estamos
recorrendo. Queremos que o governo federal também aplique tudo. Independente de
quem estiver no poder.
Também gostaria de frisar que quando os chamamos para a reunião,
disseram que estavam repassando em dia. Muito obrigado.
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O SR. MAURO LUÍS SILVA DE SOUZA – Parece que o que foi combinado
dentro dos padrões orçamentários previstos tem sido efetivamente repassado, isso
quem me admitiu foi o subsecretário da Saúde. Ele disse que o que tinha sido
combinado com o governo federal, dentro do que está previsto orçamentariamente,
tem sido efetivamente repassado. Parece que é assim.
O SR. LOTHARIO SCHLINDWEIN – A luta do conselho também é para o
aumento do teto financeiro do Estado. Esta é uma luta histórica, o conselho está do
lado do gestor, entendemos que o teto dos Estados deve ser revisto e precisamos
lutar para isso.
A SRA. ÂNGELA MARIA GARCIA – Dr. Mauro, o senhor estava falando na
tabela do SUS, mas, para nós que temos mal de Parkinson – falo como portadora, o
tempo é muito importante, porque é uma doença progressiva e para conseguir uma
consulta pelo SUS levamos em média seis meses. É uma doença progressiva e
estão surgindo novas medicações, mas em seis meses a pessoa pode até já estar
morta.
Para os portadores de Parkinson o tempo é muito importante, é hoje, não é
daqui a dois, três, quatro meses.
Não sei se vocês sabem o que é conviver com uma pessoa portadora de
Parkinson, não conseguimos realizar as atividades básicas, tais como: caminhar,
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vestir, calçar, ir ao banheiro. Somos totalmente dependentes.
A dignidade pessoal vai por água a baixo, porque a pessoa não consegue
fazer nada. A maior luta é para que o Estado encontre uma solução imediata.
O SR. RELATOR (Pedro Pereira – PSDB) – O representante do Ministério
Público nos comunica que precisa se retirar, devido a outro compromisso.
Lamentamos a ausência da procuradora e do secretário de Saúde.
A Sra. Ângela falou anteriormente que estaria disposta a receber a
presidente, poderíamos já agendar uma reunião, para agilizarmos.
Nosso objetivo é agilizar, pois a doença é progressiva e não pode esperar. É
uma doença que debilita a pessoa e causa transtornos para a família. Além do mais
os medicamentos são de uso contínuo.
A SRA. ÂNGELA MARIA GARCIA – Os medicamentos têm um custo
mensal de seiscentos reais a oitocentos reais.
Fora os custos com fisioterapia, fonoaudiologia. Imaginem como as pessoas
estão se sentindo.
O SR. RELATOR (Pedro Pereira – PSDB) – Para agilizar, vamos agendar
uma reunião com a Sra. Simone de Fátima do Amaral.
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A SRA. SIMONE DO AMARAL – Na semana que vem, com certeza,
podemos trocar telefones e agendar isso.
O SR. RELATOR (Pedro Pereira – PSDB) – Acertem-se entre os senhores.
O importante é que nos agilizemos. A função de todos que estão aqui é o bem
comum das pessoas. O Estado também quer fazer a sua parte e está aí para isso.
Nesta Casa, na Assembléia Legislativa, esta subcomissão foi criada exatamente
para isso. É também o caso dos senhores. É o caso, repito, de transplantados,
ostomizados, portadores de hepatite C e esclerose múltipla.
É isso que se quer com estas audiências públicas que também serão
realizadas no interior e em várias reuniões aqui. Queremos antecipar que, na
próxima semana, a nossa reunião será realizada na segunda-feira. Não será na
terça-feira. Em vez de 24, será dia 23, às 17 horas. Será discutida a legislação dos
transplantados de fígado do Rio Grande do Sul.
A Defensoria Pública hoje não pôde estar presente. Esperamos que, na
próxima reunião, esteja aqui. Então, se alguém da platéia quiser fazer perguntas, a
palavra está à disposição. Por favor, pedimos que se identifiquem.
A SRA. EDY MUSSOI – Meu nome é Edy Mussoi. Represento o Movimento
de Donas de Casa e Consumidoras do Rio Grande do Sul.
Gostaria de falar pelos transplantados. Acabei de chegar da Santa Casa.
Falando com os médicos de lá, pediram que eu retransmitisse ao senhor que a
Santa Casa está numa situação de desespero. Eles não têm medicamento para dar
aos pacientes que fizeram transplante.
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Uma médica ainda dizia: É uma pena porque vai ser um prejuízo para o
Estado. Todo aquele ritual de transplante, que o senhor como médico sabe o quanto
custa, vai ficar perdido porque não há medicamento. Lá na Santa Casa, hoje à tarde,
estavam numa situação de pânico, porque não há medicamento.
Nos postos de saúde, não tem nem insulina, aliás, parece que há esse
problema no Brasil inteiro. Acabo de chegar de São Paulo onde estivemos num
seminário do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor – Idec –, e, conversando
com o povo na rua, enquanto distribuíamos as cartilhas, medicamento, um direito
essencial, a população disse que também não há medicamento em São Paulo. Eles
também não têm insulina. Então, parece que esse não é um problema só do Rio
Grande do Sul. Parece que é uma calamidade pública nacional.
O SR. RELATOR (Pedro Pereira – PSDB) – Posso garantir que o nosso
caso é o pior. Dos 27 Estados da federação, a situação do Rio Grande do Sul é a
pior de todas.
A SRA. EDY MUSSOI – Até acredito, deputado. O momento, já que temos
uma representante do governo, é fazer sentir que a população não está agüentando
mais. Como o senhor mesmo falou no início, a doença não espera.
O SR. RELATOR (Pedro Pereira – PSDB) – Quero convidá-la para
segunda-feira, participar da reunião dos transplantados aqui nesta sala. Quanto mais
gente estiver presente, é melhor.
A SRA. EDY MUSSOI – Vou retransmitir ao pessoal lá da Santa Casa para
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que compareçam. Muito obrigada, deputado.
O SR. RELATOR (Pedro Pereira – PSDB) – Se ninguém mais quiser se
manifestar, encerramos a reunião, agradecendo aos senhores e às senhoras. Esta
subcomissão está de portas abertas: eu e os deputados Coffy Rodrigues e Luciano
Azevedo, que hoje não pôde estar aqui. Independente da subcomissão, temos as
nossas bancadas. Mais do que ninguém, como médico, sou sabedor da situação.
Repito: fui a Brasília na semana passada e voltei de lá muito preocupado,
muito preocupado mesmo. Fomos pedir socorro aos deputados federais.
Inicialmente, tivemos uma reunião com os 31 deputados federais do Estado. Depois
uma reunião com o ministro da Saúde e, na quinta-feira, uma reunião com o ministro
da Justiça. O Estado com maiores problemas é o Estado do Rio Grande do Sul. Dos
27 é o pior.
A SRA. ÂNGELA MARIA GARCIA – Deputado, quero fazer uma colocação.
O Estado do Paraná, só para o senhor ter uma idéia, tem uma farmácia só para as
pessoas com Parkinson. Na própria associação, todos recebem os medicamentos, e
nem precisa ser sócio. Todos que tiverem receita do neurologista responsável vão
direto ao farmacêutico de lá. Então, por exemplo, sou portadora de Parkinson lá no
Paraná e tenho comprovante de que sou portadora, vou à farmácia da associação e
recebo o remédio. Há uma boa diferença e estamos no mesmo País, Brasil.
O SR. RELATOR (Pedro Pereira – PSDB) – Sra. Ângela, vamos torcer e
trabalhar para que um dia cheguemos a esse nível. Temos que encontrar soluções,
gente. Esse é o objetivo dessa subcomissão e de todos que estão aqui para que se
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consiga, num breve espaço de tempo, conhecendo as dificuldades do Estado,
porque o nosso munícipe, o nosso gaúcho, no caso, homens e mulheres, não têm
culpa da situação a que chegamos.
Então, vamos trabalhar e que Deus nos ajude, nos dê forças e nos dê saúde
para que possamos suportar e chegar o mais rápido possível a uma resposta
satisfatória para aliviar o sofrimento e resolver os problemas de todos os pacientes.
Meu muito obrigado e até segunda-feira, às 17 horas.
DATA 23/04/2007: O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Boa-tarde
a todos. Declaramos aberta mais uma reunião desta subcomissão especial da
Assembléia Legislativa do Estado, que discute a questão do fornecimento de
medicamentos de uso especial e contínuo no Rio Grande do Sul.
Esta subcomissão, nas últimas semanas, tem procurado nesta Casa, por
intermédio dos deputados que estão designados para tratarem desse tema,
contribuir para que tenhamos a regularização do fornecimento da medicação. Tal
regularização diz respeito não apenas à volta do fornecimento, mas também à
continuidade do medicamento, sem interrupções. Este é o nosso objetivo, e para
isso a subcomissão tem trabalhado.
Temos o prazer da presença do Dr. Nilton Leonel Arneck Maria,
representante da Defensoria Pública; da Dra. Marinês Assmann, representando o
Ministério Público do Estado do Rio Grande do Sul; do Dr. Jorge Krammer Borges,
representante da Associação dos Transplantados de Fígado do Rio Grande do Sul;
da Sra. Cleci Terezinha Muller, representante da Associação Gaúcha de
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Mucoviscidose e Fibrose Cística; e da Sra. Maria Auxiliadora Xavier Trindade,
representante dos portadores de Tirosinemia. Sejam todos muito bem-vindos.
O trabalho da subcomissão é muito informal, exatamente com o objetivo de
contribuir para a solução deste problema, que afeta dezenas de milhares de famílias
no Rio Grande do Sul, famílias que, conforme sempre dizemos, merecem todo o
nosso respeito e atenção.
Este é o objetivo da Assembléia Legislativa do Estado: contribuir para que
este seja um tema tão importante para o Rio Grande do Sul como têm sido outros
temas tratados por esta Casa, como os relativos aos pedágios e também à questão
da restruturação administrativa do Estado, que será discutida amanhã.
Queremos que o tema referente ao fornecimento dos medicamentos, que diz
respeito à vida das pessoas, seja prioritário para o governo, para esta Assembléia
Legislativa e para o Rio Grande do Sul como um todo.
Está conosco o deputado Pedro Pereira, que também é integrante desta
subcomissão e que falará posteriormente. Sempre faço questão de registrar que S.
Exa. é o único médico entre os 55 deputados estaduais com mandato, hoje, no Rio
Grande do Sul. Por isso, a sua presença aqui, além da sua representatividade
política e da sua atividade parlamentar, se reveste de importância ainda maior pela
sua formação profissional.
Estabelecemos o limite máximo de 10 minutos para cada manifestação.
Sempre trabalhamos dessa forma no início da reunião e no seu final, para que
possamos ser bem objetivos e aproveitar da melhor forma o nosso tempo.
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Concedo a palavra ao Dr. Nilton Leonel Arneck Maria, para que, em nome
da Defensoria Pública, possa fazer um relato do trabalho que o órgão tem realizado
em todo o Estado em relação a esse tema.
O SR. NILTON LEONEL ARNECK MARIA – Boa-tarde, deputado Luciano
Azevedo, na pessoa de quem saúdo os demais representantes da mesa e a todos
os presentes.
É gratificante para a Defensoria Pública comparecer nesta Casa para
discutir um tema tão recorrente e tão importante para a população gaúcha.
Em nome da defensora pública-geral, que foi convidada a participar desta
reunião e não pôde comparecer, agradeço pelo convite e reafirmo que a Defensoria
Pública está de portas abertas a esta Casa para o debate sobre todas as questões
atinentes e relevantes na vida do povo gaúcho, em especial daquela comunidade
carente e hipossuficiente que é atendida pelo órgão.
No que se refere às ações de saúde, a Defensoria Pública tem tido um
trabalho árduo ultimamente – e falo isso me referindo aos últimos anos, não só aos
meses que estão passando –, tendo em vista que é notória, hoje, no Estado, a
insuficiência de recursos e de medicamentos para se atender ao comando
constitucional, que confere a todos aqueles que não possuam condições uma
assistência médica e farmacêutica, em todos os critérios de saúde.
Nesse sentido, a Defensoria Pública tem pautado suas ações no intuito de,
67
antes de haver uma demanda judicial – que, conforme todos nós sabemos, é muito
cara, tanto para o cidadão que bate à porta do Judiciário como ao próprio Poder
Judiciário, ao Ministério Público e a todos os que fazem parte dessa demanda –,
primar, num primeiro momento, pela busca da medicação administrativamente, com
o encaminhamento dos pedidos e os protocolos administrativos, para só então
recorrer à via judicial.
Porém – trago aqui a palavra de todos os colegas do interior do Estado –, a
via administrativa não tem surtido tanto efeito como a via judicial, e isso ocorre
porque, conforme sabemos, não existem todos os tipos de medicação constantes
das listas de atribuição do Estado do Rio Grande do Sul à disposição daquelas
pessoas que necessitam de medicamento.
Sabemos também que a Secretaria de Estado da Saúde tem discutido
eventuais questões atinentes ao preenchimento de prontuários médicos, de
atestados médicos, de laudos médicos, com o fito – segundo explicação dessa
secretaria – de melhor atender à população, melhor fornecer auxílio e melhor tratar
da distribuição dessa medicação em todo o Estado.
Essa fase administrativa tem levado muito tempo em termos de resposta
para o cidadão que precisa de medicamento. Não estão sendo cumpridos, digamos
assim, na maioria das vezes, aqueles 30 dias.
A Defensoria Pública, então, ajuíza as ações de medicamentos com a
finalidade de tentar obter do fornecimento da medicação ao leito hospitalar, a
internação compulsória e vários outros tipos de ações que são afetas à área da
saúde.
68
Nesse sentido, tem-se considerado necessário fazer todo tipo de pedidos
judiciais, dentre os quais bloqueios de verbas e o pedido de aquisição desses
medicamentos na rede privada.
Sabemos que isso onera muito o Estado; então, aqueles medicamentos que
já não estão sendo comprados sob a forma de licitação ou de concorrência pública
têm um custo maior ao serem adquiridos por força de um comando judicial.
Como a Defensoria Pública entende este lado do Estado também, iniciamos
uma conversação com o secretário de Estado e com os responsáveis técnicos pela
Secretaria com a finalidade de tentar diminuir essas demandas, porque entendemos
que a via administrativa é sempre uma melhor solução do que uma demanda
judicial.
Entretanto, o relato que tenho a fazer é referente aos números de ações
ajuizadas somente em Porto Alegre, sendo o relato mais preciso que pude obter até
hoje. Só na Comarca da Capital, em todo o ano passado, foram ajuizadas 320 ações
de medicamentos. Neste ano, em 2007, até o dia 19 de abril já foram ajuizadas 150
ações somente nessa comarca. Ou seja, em quatro meses houve praticamente a
metade do número de ações referentes a todo o ano passado.
Outro relato que trago e já pude expor, na semana passada, na primeira
reunião da qual participei – salientando que hoje faz uma semana que assumi a
coordenadoria da área cível, de forma que possa não ter todos os dados completos
–, é referente ao fato de que, nos últimos seis meses, a demanda por
medicamentos, a busca pela tutela judicial, duplicou e, em algumas regiões do
69
Estado, chegou a triplicar.
Isso é reflexo, é claro, em primeiro lugar, da carência financeira do Estado;
em segundo lugar, não sei se da distribuição ou do repasse do orçamento, talvez em
função de um equívoco na estrutura de repasse de orçamentos. Mas, certamente, se
eu tivesse conseguido compilar dados de todo o Estado, o número de ações, até o
mês de abril, já estaria alcançando quase o número referente ao ano 2006. Esse é o
relato que trago da Defensoria Pública.
Sobre a questão de a Defensoria Pública poder colaborar para a solução do
problema, nós, enquanto agentes que defendem o cidadão carente e que precisa de
medicação, entendemos também que a via judicial não seja a melhor. Temos que
tentar chegar a um consenso para buscar equalizar essa situação. Sabemos que o
sistema jurídico determina um atendimento a todos e que, hoje em dia, é
praticamente impossível, senão totalmente impossível, cumprir isso.
Foi criado um grupo de trabalho com o Ministério Público, aqui presente, o
Judiciário, o Cremers, a Amrigs e a Procuradoria do Estado, com todas as funções
afetas à área da saúde. Já ocorreram alguns encontros, e houve um seminário no
último dia 13, ao qual infelizmente não pude comparecer – parece-me que foi muito
bom, pois a questão evoluiu bastante, e a doutora que estava presente poderá
comentar sobre isso depois.
A Defensoria Pública tinha rompido um pouco o canal de entendimento com
a Secretaria de Estado em função das diversas demandas que se faz necessário
serem ajuizadas pela falta de fornecimento da medicação, por essa demora de
resposta ao cidadão.
70
Inclusive, quanto a isso, na primeira reunião de que participei, cobrei muito
do secretário, que estava presente, porque a pessoa que quer medicação às vezes
pode esperar 45 ou 60 dias, mas, às vezes, não pode fazer isso, dispondo apenas
da inércia do Estado, que acaba não respondendo àquele pedido porque sabe que
não irá conseguir fornecer a medicação, embora ela conste da lista.
Uma pessoa que obtém uma resposta sai mais satisfeita do local, pois já
sabe o que deve procurar e a quem recorrer e não fica perdida. Nesse sentido, a
Defensoria Pública trabalha muito com pessoas que não têm a quem recorrer e que
ficam perdidas, às vezes até um ano sem saberem o que fazer e necessitando de
medicamento.
Entendendo a necessidade de um diálogo – porque não é pela força da ação
judicial que vamos consegui-lo –, a Defensoria Pública reabriu esse canal de
conversação com a Secretaria de Estado para ver se consegue, a curto prazo,
resolver um pouco essa demanda, deixando para que recorram às ações judiciais
aqueles casos que são inevitáveis, ou porque a medicação não conste da lista, ou
porque se trate de algo fora do País e que não seja possível ser resolvido de forma
administrativa.
A Defensoria Pública reabriu esse canal e está conversando com o
Ministério Público, com o Poder Judiciário e com os representantes dos médicos
para ver se chega a um consenso e para resolver problemas em relação a
medicamentos da lista, a receituários médicos mais completos, à dosagem da
medicação, ao preenchimento de dados do paciente e do médico, a fatores que
entravam o pedido administrativo de forma que se acaba acionando o Estado
71
judicialmente, quando administrativamente poderia ser resolvida a questão.
Creio, infelizmente, que uma solução mais urgente passa pela sanidade
financeira do Estado. Muito obrigado.
O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Agradecemos ao
representante da Defensoria Pública, Dr. Nilton Leonel Arneck Maria, e, em nome da
comissão, gostaria de solicitar, se for possível, que a Defensoria Pública nos envie,
mesmo com uma solicitação informal, o relatório dessa movimentação, das ações
judiciais e daqueles dados que o órgão tiver, para que possa colaborar com o nosso
trabalho, o que seria muito importante.
O SR. NILTON LEONEL ARNECK MARIA – Na medida do possível,
encaminharei o relatório completo de todo o Estado, possivelmente dentro de uma
semana ou dez dias.
O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Muito obrigado.
Registro a presença dos representantes da Associação Gaúcha de
Assistência à Muscoviscidose, do Centro de Apoio ao Portador de Anemia
Falciforme e do Grupo Hospitalar Conceição.
Concedo a palavra à Sra. Maria Auxiliadora Xavier Trindade, representante
dos portadores de Tirosinemia, para que faça um relato aos membros da comissão e
72
aos que nos dão a honra de sua presença.
A SRA. MARIA AUXILIADORA XAVIER TRINDADE – Em primeiro lugar,
gostaria de cumprimentar os Srs. Deputados, os representantes do Ministério
Público e da Defensoria Pública, os demais membros da mesa e a todos os
presentes.
Estou representando o meu neto, que tem cinco anos e é portador de
Tirosinemia tipo I. Trata-se de uma doença genética, hereditária, referente à falta de
uma enzima que aumenta a tirosina no organismo. Na ausência dessa enzima,
acumulam-se compostos tóxicos no fígado, nos rins, ou no sistema nervoso. No
caso do meu neto, a enfermidade estava atingindo o fígado; ele inclusive já estava
inscrito na lista para transplantes. O que ele precisa tomar é um leite – o XPT
Maxamaid – e o NTBC.
Todos esses medicamentos são importados, não existindo na lista de
medicamentos da Secretaria da Saúde. Atualmente se consegue o leite na Suporte,
em São Paulo. Já o medicamento vem da Suécia.
Até pouco tempo atrás, essa medicação era doada pelo laboratório
Innovative Medicines, que fica na Suécia. No entanto, eles não querem mais doá-lo
e estão exigindo a compra pelo Estado, uma vez que no Brasil atualmente, há cinco
crianças com essa doença; no mundo todo, parece que o número de pacientes está
em torno de 200.
O Estado está dificultando a situação. Há demora na compra da medicação,
73
e recentemente, como ela não constava da lista, tivemos de recorrer à via judicial.
Quanto ao leite, no ano passado ele estava sendo fornecido na farmácia, o que
parou de ser feito. Já no início deste ano, não sei por que motivo, não havia mais o
produto na farmácia.
Em função disso, tivemos novamente de recorrer à Justiça. Pleiteamos que
eles depositassem, via judicial, o dinheiro para a compra do leite. Por outro lado,
quando o Estado demora a fazer o depósito, temos praticamente implorado ao
laboratório para que faça novamente a doação, uma vez que essa é uma doença
muito séria, muito grave. Neste ano, um menino ficou um mês sem o medicamento
no Rio, teve de fazer o transplante e faleceu.
Ele não pode ficar cinco ou 10 dias sem sua medicação. No caso de outras
doenças, a pessoa até pode ficar sem o remédio, pois não acontece nada. No caso
dele, entretanto, essa falta do medicamento não pode ocorrer.
Essa doença é classificada em quatro tipos; o transitório, o I, o II e o III. A
dele é a Tipo I, que é a mais grave. Ele não pode ficar sem a medicação.
A nossa dificuldade, portanto, está na demora do Estado em fazer os
depósitos. Entendemos a situação, mas o nosso problema também é grave; não
temos como comprar os medicamentos, pois ambos são caros.
Gostaríamos que o Estado fizesse a compra, pois isso facilitaria tudo. Como
a medicação é cara, às vezes não depositam os recursos. Temos conseguido
dinheiro emprestado par fazer a compra, mas quando o Estado deposita temos de
repor o que nos foi emprestado. É muito séria a situação.
74
O nosso pedido, portanto, é este: que o Estado faça a compra do
medicamento e do leite.
O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Qual é o custo do
medicamento?
A SRA. MARIA AUXILIADORA XAVIER TRINDADE – Para o leite, fizeram
recentemente um depósito baseado em um custo de R$ 1 mil, 946 reais a lata. Ele
necessita de oito latas mensais de leite, mais o medicamento, que em dólares
também é muito caro.
Creio que, numa venda direta para o Estado, o preço dos laboratórios é mais
acessível do que o valor que eles depositam com base no que é cobrado aí por fora,
para depois comprarmos a medicação.
Solicitamos que o Estado regularize a situação e faça a compra. Da última
vez, entramos em contato com a Suporte e conseguimos um preço mais barato,
para poder comprar.
O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Agradecemos à Sra. Maria
Auxiliadora Xavier Trindade por suas informações.
Registro a presença do promotor de Justiça, Mauro Luis Silva de Souza, que
representa o procurador-geral de Justiça e mais uma vez nos dá a honra de estar
75
presente nesta subcomissão da Assembléia.
Concedo a palavra à Sra. Representante da Associação Gaúcha de
Assistência à Mucoviscidose e Fibrose Cística, Cleci Terezinha Müller.
A SRA. CLECI TEREZINHA MÜLLER – Peço a gentileza da atenção dos
senhores para a exposição de um vídeo.
O SR. CRISTIANO MACHADO SILVEIRA – Vou falar a respeito de algumas
especificidades da fibrose cística e apresentar dados relativos ao Rio Grande do Sul.
A fibrose cística é uma doença genética, provocada pela mutação de um
único gene no cromossomo 7, que transcreve uma proteína em nível celular. A falta
dessa proteína ou ela não estando corretamente codificada acarreta alguns
problemas na viscosidade dos mucos produzidos por algumas glândulas. Essa
alteração irá provocar repercussões sistêmicas, ou seja, em todo corpo, em alguns
órgãos, principalmente nos pulmões e no pâncreas – na parte digestiva –, mas
também no fígado, nos intestinos, na parte reprodutiva, principalmente no masculino,
em que 98% acaba desenvolvendo esterilidade. Na questão da produção do suor, a
alteração da concentração de cloro no suor dá aquela característica bem particular
da fibrose cística da doença do suor salgado, do beijo salgado.
É uma doença bastante comum no nosso meio. Uma em cada 20 pessoas
no nosso Estado, principalmente as pessoas de pele branca, são portadores do
gene defeituoso para fibrose cística. É uma doença autossômica recessiva, ou seja,
76
autossômica porque ocorre em homens e mulheres na mesma proporção e
recessiva porque a chance em um casal portador da doença de ter um filho com
fibrose cística é de um em cada quatro filhos ou 25%.
Essa questão da alteração da densidade do muco, principalmente na
questão dos pulmões, acaba levando ao acúmulo desse muco nas vias respiratórias
inferiores e superiores e à colonização por bactérias muito específicas desse muco.
São essas bactérias que depois vão demandar alguns antibióticos e alguns
tratamentos medicamentosos bem específicos. Estaremos falando disso mais
adiante.
Um dado bem interessante é que a incidência dessa doença no Brasil varia
de 1 para 10 mil a 1 para 2 mil, variando muito de região no Estado. O nosso Estado
é campeão da incidência da fibrose cística: de 1 para 1.585 nascidos vivos.
Trouxe a questão da triagem neonatal, que é uma bandeira sobre a qual a
Cleci irá falar, que também é uma forte atuação das associações.
No Rio Grande do Sul, temos duas associações de fibrose cística. Uma
atuação bem importante é a questão da divulgação do Teste do Pezinho no
diagnóstico precoce dessa doença. Inclusive temos a felicidade de a Assembléia
Legislativa já ter legislado sobre o assunto.
É importante o diagnóstico para o acesso ao tratamento precoce. É preciso
a divulgação da doença, que ainda é pouco conhecida pelos profissionais e para
investigarmos a situação epidemiológica no Estado, porque há muitos pacientes que
não são identificados, e acabamos não sabendo deles.
77
Um dado bem preocupante é que temos um diagnóstico cinco vezes mais
tarde do que acontece nos países desenvolvidos. Esse é um dado médio. Há
pacientes sendo diagnosticados com 7, 10, 15, até pacientes próximos à idade
adulta sendo diagnosticados que passaram a vida toda com pneumonias
recorrentes, com problemas digestivos, e que não sabiam o que tinham.
Alguns dados da nossa associação, a Associação Gaúcha de Assistência à
Muscoviscidose: são 228 pacientes atendidos, distribuídos em 93 Municípios, nas 19
coordenadorias regionais. Eles estão distribuídos em todo o Estado, além de
pacientes de outros Estados que vêm procurar tratamento nos nossos três centros
de referência.
No nosso catálogo, consta a idade dos nossos pacientes. A cara da fibrose
cística, no Brasil, mostra o maior número de pacientes sendo crianças e
adolescentes, porque eles não chegam ainda, infelizmente, à idade adulta. Estamos
lutando muito nas associações para que eles cheguem com uma vida plena e
saudável. Os pacientes com menos de 18 anos são 76,8% na nossa associação.
A fibrose cística é uma doença sistêmica complexa. O seu tratamento
necessita de muitos medicamentos. Citarei apenas alguns: antibióticos, enzimas
digestivos, suplementos, entre outros. É por isso que estamos aqui hoje. Aqui estão
os contatos da associação para quem quiser anotar. Muito obrigado.
O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Concedemos a palavra à Sra.
Cleci Terezinha Müller.
78
A SRA. CLECI TEREZINHA MÜLLER – Como vimos, a fibrose cística tem
uma incidência muito grande no Rio Grande do Sul, mas é pouco diagnosticada.
Uma das questões do pouco diagnóstico é que a fibrose cística ainda não está
incluída na pesquisa da fibrose cística do Teste do Pezinho SUS, mesmo após a
aprovação da lei nº 11.450, de 2000, por esta Casa Legislativa.
Essa tem sido uma das frentes de batalha da AGAM. O Rio Grande do Sul já
está habilitado para essa fase, de acordo com os critérios da portaria nº 322, de
2001, do Ministério da Saúde. Mas aqui no nosso Estado ainda não está sendo
pesquisada a fibrose cística no Teste do Pezinho SUS, o que é importantíssimo para
fazer um diagnóstico precoce para dar qualidade e anos de vida aos pacientes.
Como puderam ver há uma diferença existente na idade mediana de diagnóstico
daqui para os Estados Unidos.
Pelas pesquisas e novos medicamentos, a fibrose cística deixou de ser uma
doença em que os pacientes morrem na infância. Hoje há pacientes adultos,
formados, trabalhando; as moças estão casando, sendo mães; enfim, eles estão
levando uma vida plena e produtiva.
O atendimento aos pacientes de fibrose cística é feito por uma equipe
multidisciplinar: médico pneumologista, gastroenterologista, psicólogo, nutricionista,
fisioterapeuta, assistente social e enfermeira.
Hoje existem no Rio Grande do Sul três centros de referência para
atendimento da fibrose cística: o Hospital de Clínicas de Porto Alegre – com uma
79
equipe que atende a pediatria e uma equipe que atende adolescentes e adultos –, o
Hospital São Lucas da PUC e o Hospital da Criança Santo Antônio, que é do Grupo
Hospitalar da Santa Casa.
A AGAM tem um bom relacionamento com a Secretaria Estadual da Saúde,
principalmente com os técnicos e servidores da Coordenadoria de Política de
Assistência Farmacêutica. Sempre somos atendidos nos contatos que fazemos para
resolver a questão da distribuição dos medicamentos, principalmente no interior do
Estado. Já tivemos discussões acaloradas, mas o relacionamento que vem sendo
construído, ao longo de anos, é baseado no respeito e na seriedade de ambas as
partes.
Com relação aos medicamentos, sabemos que a fibrose cística está numa
situação um pouco melhor do que as outras doenças crônicas, mas não chegamos a
esse ponto sem lutar. Em 1994, a AGAM entrou com uma ação cível pública levando
o Estado a fornecer medicamentos para a fibrose cística: na época, enzimas
digestivas, multivitamínico, medicamento para o fígado, mucolítico inalatório para o
pulmão. Mesmo com a ação, o fornecimento dos medicamentos não era regular, e
houve muitas faltas.
Em 2000, a ação foi retomada, e o Estado foi obrigado a fornecer os
medicamentos que já constavam da ação, mais antibióticos orais, endovenosos,
inalatórios, suplementos nutricionais, kit para gastrotomia e oxigênio domiciliar.
Farei só um comentário sobre o oxigênio domiciliar. Nos Municípios em que
a saúde já está municipalizada, integral, que são poucos, não chegam a 10, o
fornecimento é normal, tranqüilo. Quando o paciente tem de fazer um processo para
80
SES fornecer o oxigênio, há uma lista de espera de seis meses. Na AGAM, temos
três concentradores de oxigênio que emprestamos para os pacientes. Tivemos o
caso de uma paciente que, se não fosse pelo concentrador da AGAM, teria ocupado
um leito hospitalar em isolamento por seis meses esperando o oxigênio do Estado.
Essa é uma questão muito importante que tem de ser levantada.
Em 2003, por iniciativa da Promotoria da Infância e Juventude e SES, foi
formada a Câmara Técnica da Fibrose Cística. Participam dessa câmara
representantes da Promotoria, SES, Hospital de Clínicas, Hospital São Lucas da
PUC, Hospital da Criança Santo Antônio, AGAM, Procuradoria-Geral do Estado.
Essa Câmara Técnica da Fibrose Cística normatizou o tratamento da fibrose cística
com dados dos medicamentos da ação cível.
Em novembro de 2004, foi publicada no Diário Oficial pela SES a portaria nº
42, com os protocolos clínicos resultantes dessa câmara técnica. A câmara não foi
encerrada, continua aberta e, quando necessário, reúne-se. No ano passado, a
pedido da AGAM, houve uma reunião para debater sobre enzimas, visto que o
laboratório interrompeu a fabricação de uma marca comercial e tinha de ser incluído
o nome comercial de outra enzima. O protocolo, até o momento, contempla ações e
medicamentos mais específicos para a fibrose cística. A AGAM tem solicitado
reuniões para que seja incluída toda a medicação, por exemplo, medicações para
vias aéreas superiores.
Sempre fomos parceiros para o aperfeiçoamento da lista de medicamentos,
mas não aceitaremos que esse recurso que serve apenas para orientação seja
utilizado para dificultar o acesso dos pacientes ao tratamento adequado.
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É importante destacar que a fibrose cística é uma doença complexa,
multisistêmica. Temos pacientes que desenvolveram diabetes e pacientes
transplantados de pulmão e fígado. O paciente de fibrose cística depende do Estado
para manter o tratamento contínuo, sem interrupções.
Segundo a SES, o custo médio por paciente é de aproximadamente 4 mil
reais mês. A SES tem procurado manter a medicação da portaria, e isso nos alivia
um pouco. Hoje estão em falta os suplementos nutricionais, que são muito
importantes para os pacientes de fibrose cística. Eles têm de manter um bom peso,
porque, se tiverem uma infecção respiratória e com peso baixo, a infecção
respiratória vai comprometer muito o paciente.
A AGAM sabe da importância desse protocolo, porque nos dá mais
respaldo. O Dr. Osmar Terra, em recente entrevista na Rádio Gaúcha – esperamos
que não seja só conversa, que não sejam só palavras –, disse que a portaria da
fibrose cística vai ser cumprida mesmo que a decisão da ministra Ellen Gracie se
torne jurisprudência. O voto da ministra a favor do Estado de Alagoas foi algo que
nos preocupou muito. É muito difícil a população ver um membro do Supremo
Tribunal rasgar a Constituição e ainda culpar pessoas com algum problema de
saúde pela situação do País.
O promotor Mauro Luís de Souza tem referido nas reuniões – e deve ser
uma bandeira de todos nós – a cobrança dos 12% para a saúde no orçamento tanto
estadual como federal e os repasses serem usados corretamente. Não temos hoje
os dados do TCU. No ano passado, até agosto, o Ministério da Saúde tinha
repassado ao Estado do Rio Grande do Sul 56 milhões de reais para compra de
medicamentos. O Dr. Gabbardo, que é o secretário substituto, na reunião que
82
tivemos na Promotoria, disse que esse dinheiro estava sendo desviado para
internações hospitalares. O cumprimento exato do repasse, o uso correto é de
grande importância para todos os pacientes com qualquer tipo de doença crônica.
É comum escutarmos a metáfora do cobertor curto para justificar o
contingenciamento de recursos com a compra de medicamentos, mas precisamos
entender que esse tão falado cobertor poderia ser maior se fossem garantidos os
repasses para a área da saúde e se não tivéssemos tantos recursos perdidos pela
ineficiência e pela corrupção presentes nas estruturas do Estado Brasileiro. Muito
obrigada em nome dos pacientes de fibrose cística.
O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Registramos a presença da
Sra. Maria Lúcia Elbern, representante do Conselho Estadual de Saúde.
Concedemos a palavra ao Sr. Jorge Krammer Borges, que falará em nome
da Associação dos Transplantados de Fígado do Rio Grande do Sul.
O SR. JORGE KRAMMER BORGES – Saúdo o deputado Luciano Azevedo,
os demais componentes da mesa e os colegas das ONGs.
A Associação dos Transplantados de Fígado é uma entidade que abriga
pacientes transplantados não só de fígado, mas de todos os órgãos.
Iniciamos para dar um suporte para quem fazia transplante de fígado, mas a
necessidade tem nos obrigado a ajudar outros transplantados de rins, pulmão,
83
coração.
A associação vai fazer nove anos. No que diz respeito à falta de
medicamentos, sempre tivemos a postura de manter o diálogo com a Secretaria de
Saúde, deixando a esfera judiciária por último. Infelizmente, nos três últimos anos,
isso está ficando muito difícil. Como dona Cleci Terezinha Muller disse, temos um
contato muito bom, contamos com a boa vontade dos membros da coordenação de
política farmacêutica, mas não vemos essa mesma boa vontade e essa disposição
de manter um diálogo aberto na direção da Secretaria da Saúde, ou seja, do
secretário ou do secretário substituto.
No caso de transplante, há medicamentos que são essenciais para que os
transplantados possam continuar vivos. São os imunossupressores. Esses
medicamentos vêm faltando com freqüência. Sabemos da situação de penúria
financeira por que passa o Estado do Rio Grande do Sul. Sabemos que nós,
transplantados, não somos os únicos que dependem de medicamentos. Há tantos
outros milhares de pacientes. Infelizmente, ninguém pede para ficar doente. Isso é
do destino. Temos que lutar.
Apontamos algumas situações na Secretaria da Saúde com relação à
grande falta de medicamentos que está ocorrendo, principalmente de janeiro para
cá. Já em setembro ou outubro do ano passado, conversamos com o governador
Germano Rigotto. Ele fez uma reunião no Palácio, para a qual convocou os 14
maiores credores do Estado. Na ocasião, foi feito um acordo. Infelizmente, esse
acordo funcionou um mês. Notamos que não há, por parte da Secretaria da Saúde,
uma vontade política de resolver a situação. Na gíria, existe a expressão empurrar
com a barriga. Estamos sendo obrigados a procurar, por meio da Defensoria Pública
84
ou do Ministério Público, solução para esses problemas.
Participei de um seminário que considerei muito importante na semana
passada. A Dra. Marinês Assmann estava lá e presidiu um debate. Na oportunidade,
não pude me manifestar. Geralmente o secretário Osmar Terra fala ou secretário
substituto, Dr. Gabardo dizem que os pacientes procuram o Judiciário para receber
medicamentos que não fazem parte do protocolo. Isso é uma inverdade.
Extrapolando, diria que 10% fazem isso. O representante da Anvisa – a Dr. Marinês
Assmann deve lembrar – disse que desconhece isso. Noventa por sento dos
medicamentos que são solicitados via Judiciário fazem parte do protocolo o
Ministério da Saúde, que foi feito por pessoas que hoje compõem a Secretaria da
Saúde e que na época do protocolo, em 2000, 2002, estavam em Brasília.
Não entendo como pode ser questionado um medicamento que há três ou
quatro anos foi aprovado pela pessoa que hoje diz que ele não tem a eficácia
necessária, como o caso do Interferon Peguilado. Há três ou quatro anos o
medicamento era bom para fazer parte de um protocolo. Hoje, como a pessoa está
comprando o medicamento, ele não serve. São dois pesos e duas medidas. Quando
essa pessoa estava em Brasília, o medicamento era bom. Há um protocolo do
Ministério da Saúde que posso conseguir para V. Exa.
Gostaria que fosse registrado o caso de oito pacientes que entraram com
uma ação judicial para receber o medicamento Gamaglubolina Hiperimúnico Anti-
hepatite B, usado por pacientes que fazem transplante devido à hepatite B e que
necessitam tomar essa vacina mensalmente, sob pena de haver recidiva do virus. O
ataque é muito rápido. A hepatite B não é como a C. Ela pode inutilizar o fígado em
30 dias. Já houve óbitos por isso.
85
O medicamento estava em falta. Os pacientes todos estavam sendo
internados na Santa Casa para tomar a medicação e para tomar outros que estavam
em falta, como é o caso agora do Sirulimus, tomado por muitas crianças com
problemas de rim. Infelizmente, entrei em contato com a secretaria, não se tem
previsão de quando será comprado o medicamento. O que aconteceu é que o
medicamento chegou em Porto Alegre e ficou 30 dias no setor de abastecimento da
Secretaria da Saúde. Os senhores podem comprovar o que estou dizendo. Estive
três vezes na farmácia, falei com a chefia. Presenciei quando ela mandou dois e-
mails solicitando o medicamento, e ele não vinha. Estava no estoque e não foi
distribuído para a farmácia.
Outra medicação que ficou mais de 20 dias no estoque da Secretaria da
Saúde foi o Micofenolado Sódico. Ligamos para o laboratório, pedindo um apoio,
uma amostra grátis para os pacientes, pois há muitas crianças usando-o.
Informaram-nos que ele havia sido entregue à secretaria há mais de 20 dias. Isso é
uma falta de gerenciamento, na minha opinião. Gostaria que isso ficasse registrado.
Uma outra situação que obriga os pacientes a procurarem a Justiça é a que
já foi citada aqui nesta comissão. Há uma solicitação, o medicamento vai para o
perito e, na maioria das vezes, ele leva mais de 30 dias para dar sua resposta. No
caso de transplante, são medicamentos essenciais que o transplantado é obrigado a
tomar. Começa a bater o desespero, e não há dinheiro para comprá-lo. Para os
senhores terem uma idéia, o HBIg de 40 UI custa 3 mil e 800 reais. Há pacientes
que usam cinco ampolas por mês. Não temos pacientes que tenham condições de
manter esse tratamento. Somente o Estado pode fazer isso.
86
Também é necessária uma distribuição para o interior. Nota-se que muitos
Municípios não têm a boa vontade de colaborar com a Secretaria da Saúde. Um
exemplo é a situação do HBIg que chegou em Caxias do Sul, mas que não foi para
Canela, há 50 quilômetros de distância. O juiz deferiu, mandando o Estado dar o
medicamento. O paciente recebeu pouco mais de dois mil reais para comprar uma
ampola. Isso tudo ocorre na Secretaria da Saúde, embora saibamos da boa vontade
das pessoas que trabalham na farmácia aqui em Porto Alegre, da Carmen, que é
chefe da farmácia, uma pessoa incansável para re4solver os problemas dos doentes
em geral. Os remédios estão chegando, mas não está havendo uma boa vontade
por parte do secretário ou do secretário substituto o Dr. João Gabardo dos Reis.
Essas eram as manifestações que queria fazer.
O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Quantos transplantados
temos que recebem medicação, entre os de fígado, rins, no Estado todo?
O SR. JORGE KRAMMER BORGES – O número de transplantados deve
estar em torno de 3.200, talvez até mais.
O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Agradeço a manifestação do
representante da Associação dos Transplantados de Fígado.
Concedo a palavra à Dra. Marinês Assmann, promotora de Justiça do
Ministério Público.
87
A SRA. MARINÊS ASSMANN – Boa tarde a todos. Na pessoa do deputado
Luciano Azevedo, cumprimento todas as autoridades aqui presentes, especialmente
meu colega Mauro Souza.
Alguns aqui já me conhecem, pois venho acompanhando há mais de três
anos a questão, na saúde pública, do fornecimento pelo Estado de medicamentos
excepcionais e especiais. Tenho visto que a situação, nos últimos meses, tem
piorado. Na verdade, nesses três anos, ela tem sido cíclica, mas sempre tendente a
piorar. Uma das razões disso é que os gestores – e aí não digo eu são os
secretários de Saúde, mas os últimos governos, todos eles, independentemente de
partidos – têm aplicado cada vez menos em saúde, da tirosinemia e deixará de
comprar dos outros tantos que estão aí, tantas outras hepatites, etc. E aí?
Então, parece-me que não vamos resolver essa situação com uma ação
isolada. Creio que todos nós temos de estar preparados para isso. Sinto muito não
dourar a pílula, mas é a visão que eu tenho. Pode ser equivocada. No Estado, tem
crescido vertiginosamente de 1988 para cá o número de pedidos de medicamento.
Tínhamos 2 ou 3 mil pedidos de medicamentos. Agora são mais de 120 mil pessoas
atendidas. No ano que vem, serão mais, serão 150 e depois 200 mil, porque as
pessoas comentam com outras que estão doentes. Existem pessoas doentes que
ainda não sabem que o Estado fornece medicamentos. O orçamento terá de crescer
para atender essa demanda, porque os laboratórios não diminuem os preços.
Vou encerrar, mas, na verdade, eu poderia ficar compartilhando com os
senhores as minhas angústias. Não sei mais o que fazer, além do que já foi feito e
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do que está sendo feito, que é entrar com a ação, obter a condenação. O Estado do
Rio Grande do Sul tem de valorizar a saúde, destinando verbas para a saúde de
acordo com o que é estabelecido pela Constituição.
Sinto ter de compartilhar com os senhores essas angústias que viveremos
por muitos anos ainda, porque mais pessoas demandarão medicamentos, e a verba
orçamentária não crescerá proporcionalmente.
O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Aproveito para convidar todos
a estarem conosco nas próximas reuniões. Já disse numa outra ocasião que a
presença das entidades, mesmo quando não são elas que serão ouvidas aqui, é
muito importante, porque fortalece a luta, soma esçorços e contribui para o que a
Dra. Marinês Assmann mencionou, ou seja, sensibilizar as autoridades que detêm o
recurso financeiro para que possamos transformar o que hoje é uma questão de
milhares de gaúchos em uma questão de Estado, em algo que seja encampado pelo
Estado. Por isso, a presença de todos sempre é muito importante.
Concedo a palavra ao Sr. Mauro de Souza.
O SR. MAURO DE SOUZA – Deputado Luciano Azevedo, relator desta
subcomissão, na pessoa de quem saúdo todas as autoridades presentes na mesa,
Dra. Marinês Assmann, minha colega, senhoras e senhores presidentes de
associações, prezados presentes, pouco me restou a dizer após a manifestação da
minha colega com a qual concordo em grau, gênero e número.
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Eu apenas gostaria de fazer uma observação a cerca do que dona Cleci
Terezinha Müller disse a respeito da decisão do Supremo Tribunal Federal, que foi
uma decisão monocrática, em liminar. O que quer dizer uma decisão monocrática?
Significa que foi apenas um ministro que tomou a decisão sozinho. Foi a ministra
presidente, a ministra Ellen Gracie.
Dona Cleci Terezinha Müller, eu absolutamente não vou contrariar o que a
senhora disse. Quero apenas fazer um esclarecimento. A decisão da ministra vai ao
encontro do que é defendido por nós e por uma gama de pessoas que defende o
Sistema Único de Saúde há muitos anos, que é que tenhamos padrões, parâmetros
para decidir a respeito das coisas que são do SUS. O que é Sistema Único de
Saúde e o que não é Sistema Único de Saúde. Principalmente quando tratamos de
medicamentos de alta complexidade e de alto custo, temos de ter muito cuidado,
porque todo dia estão surgindo drogas novas, terapias novas que, em sua grande
maioria, de novo têm muito pouco. Em sua grande maioria, de efetivo tem quase
nada.
Defendemos que tenhamos, pelo menos, o que a lei assegura. O que a lei
assegura é que os orçamentos sejam constitucionais e que tenham esses mínimos.
Mas a lei também diz que a obrigação do Estado de assegurar saúde está na
confecção e na execução de políticas públicas. O que isso quer dizer? O Estado se
compromete a garantir alguma coisa em nível de saúde e não tudo, nem tudo para
todos. Essa é uma decisão política que já foi tomada em 1988. Se considerarmos o
conceito da Organização Mundial de Saúde, de que saúde é o estado de mais
completo bem-estar físico, mental e social, perceberemos que fralda descartável
para eu criar meu filho, que não tem qualquer problema físico ou de saúde, pode ser
meu bem-estar social. E aí o Estado terá que me pagar isso.
90
Um outro aspecto refere-se às inovações tecnológicas. Ouvi de um médico
que, num futuro próximo, alguém pode dizer que banho de s ol na lua é bom para
curar psoríase. Alguém escreverá um artigo sobre isso, e uma pessoa poderá entrar
com uma ação contra o Estado, que será condenado a pagar por esse banho de sol
na lua. Já pagamos por um banho de sol na lua há bem pouco tempo. Custou 10
milhões de dólares. E aí faltará dinheiro para pagar medicamentos para todos nós.
Então, temos de ter um parâmetro, algo que estabeleça o que é bom, o que
é eficiente, o que é necessário e que, assim sendo, deve ser pago pelo Estado
porque é sua obrigação.
O que a ministra Ellen Gracie disse nessa decisão foi mais ou menos isso:
há que se ter um parâmetro, e o parâmetro é a política nacional de medicamentos. A
política nacional de medicamentos excepcionais está na portaria nº1.318 do
Ministério da Saúde. Essas portarias, como todos os senhores sabem, são
concebidas a partir de um planejamento ascendente, que vai desde as convenções
municipais de saúde até a convenção nacional de saúde. Essas decisões são
tomadas a partir de discussão nos conselhos municipais de saúde, com a
comunidade científica, até que se identifique que uma determinada droga, que um
determinado tratamento é eficiente, é seguro e necessário para uma determinada
terapia. Esses são os parâmetros que nos asseguram que o Estado estará dando
alguma coisa que é boa, que não causará mais prejuízo do que a própria doença.
Temos de nos limitar por esse tipo de parâmetro. A decisão da ministra não
fez nada mais do que isso. Quando surgir um tratamento novo, deveremos ir atrás
da comunidade científica para que ela nos diga se de fato ele é bom. Se isso
91
acontecer, ele deverá ser incluído na tabela de procedimentos do SUS. Aí sim,
justificado que esse tratamento é necessário, que ainda não está na tabela do SUS
e que essa tabela não foi revisada com a periodicidade que seria lícito exigir que
fosse, que aí a Justiça condene o Estado a dar um tratamento que não está na
tabela. Do contrário, não é possível fazer isso porque senão comprometeremos todo
o Sistema Único de Saúde, toda a estrutura. Comprometeremos todas aquelas
pessoas que têm uma expectativa de conseguir um tratamento que já está
consagrado e que não o receberão porque a Justiça condenou alguém a ter um
tratamento experimental que não sabemos se é eficaz. Já tivemos n exemplos
desses tipos de tratamentos. Os Estados foram condenados a pagar cirurgias fora
do País, sendo que a comunidade científica era absolutamente contrária àquele tipo
de terapia. As nossas sociedades médicas não as aconselhavam.
Era apenas isso que eu gostaria de acrescentar à manifestação da colega
que me antecedeu. As decisões políticas são tomadas por todos nós, como
sociedade. Nós temos de fazer com que as engrenagens se movimentem a nosso
favor. Temos de fazer com que haja padrões mínimos para que a Justiça também
não comprometa o nosso próprio atendimento, para que ela garanta pelo menos
aquilo que é lícito, aquilo que está na lei e não alguma coisa alternativa, alguma
coisa duvidosa que poderá por a perder tudo que conquistamos até hoje. Esse
cuidado temos que ter. Felizmente, quero crer que o STF está fazendo isso, a partir
da decisão da ministra Ellen Gracie, que não contraria qualquer tipo de
procedimento ou de protocolo vigente no País. Isso é segurança para todos nós.
O SR. PEDRO PEREIRA (PSDB) – Saúdo o relator Luciano Azevedo, os
demais integrantes da mesa e a platéia.
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Além de ser deputado e médico, fui escolhido para integrar a Comissão de
Saúde e Meio Ambiente. Represento esta Casa, a comissão e a subcomissão nesse
embate dos hospitais filantrópicos, que estão falindo. Estive em Brasília. Sexta-feira
que vem virá uma comissão de Brasília, com representantes do Ministério da Saúde,
do Ministério da Justiça, da Casa Civil. A situação realmente é muito grave, como já
foi dito aqui. O Estado destina, hoje, em torno de 10 milhões de reais por mês para
medicamentos, sendo 1 milhão e 500 mil reais para medicamentos especiais. São
12 mil reais por mês, em média.
Este ano, o Ministério da Saúde tirou do orçamento da saúde quase 6
bilhões de reais. É muito dinheiro. A nossa grande peleia com o governo federal é no
sentido de ele reajustar as tabelas do SUS. Para que os senhores tenham uma
idéia, o valor de uma consulta clínica do SUS hoje é 2 reais e 55 centavos brutos.
Para especialista, 7 reais e 50 centavos brutos. Sobre isso, são descontados 20%
do Imposto de Renda, mais o tempo que demora para pagarem. São valores
irrisórios. Claro que a saúde é prioridade. Sabemos disso. Está escrito na lei. É um
dever do Estado e um direito do cidadão. Esta subcomissão destina-se a ajudar a
resolver essa situação.
Como já foi dito aqui, em primeiro lugar, tem-se que respeitar o que a lei
manda. Devem ser destinados à saúde, no orçamento da União e dos Estados, pelo
menos 12%. O Rio Grande do Sul é um dos Estados mais atrasados nesse ponto,
um dos mais endividados. Nem é um dos mais. É o pior. A nossa crise é um terror.
Saímos desanimados de cada secretaria que visitamos. A dívida com fornecedores
passa de 9 milhões de reais. Entre esses fornecedores, incluem-se os laboratórios.
Por isso não estamos conseguindo medicamentos.
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Temos de brigar com o governo federal para que coloque mais verbas no
orçamento e que as destine de fato à saúde. Está aí a CPMF, que destinava-se à
saúde, mas que vai para o bolso de não sei quem. Para o dos senhores não é. Para
o nosso também não. Milhões e milhões de reais por ano são descontados.
Tomara que ao final de quatro meses consigamos ajudar os senhores.
Como médico, conheço a situação dos pacientes e de seus familiares. Só dá valor
real a esses medicamentos quem tem alguém na família doente.
Nossa missão aqui é essa: ajudar os senhores – transplantados,
ostomizados, pessoas com incontinência urinária, com patologias especiais.
Inclusive, quando o deputado Luciano Azevedo entrou com o projeto desta
subcomissão, inicialmente destinava-se à esclerose múltipla. Como médico, sugeri
que ampliar o leque de abrangência aos ostomizados, aos transplantados e
portadores de demais patologias especiais. Esse trabalho está sendo muito bem
coordenado por esta subcomissão. Teremos cinco audiências no interior, em
Pelotas, Canoas, Caxias do Sul, Passo Fundo e Itaqui. As reuniões serão todas às
sextas-feiras, fora do nosso horário normal de trabalho. Hoje, segunda-feira, não
éramos obrigados a estar aqui, mas estamos. Nosso trabalho na Assembléia é terça,
quarta e quinta-feira. As segundas e sextas-feiras são destinadas ao trabalho no
interior. Hoje estamos aqui, com toda a boa vontade para tentar ajudá-los, os
senhores e os demais que sofrem com esses problemas.
Dêem-nos esse voto de confiança. Faremos todo o possível em nível de
Estado e em nível de País para, se não resolvermos totalmente esses problemas,
pelo menos amenizarmos o sofrimento dos senhores. Obrigado.
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O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Com a manifestação do
deputado Pedro Pereira, encerraremos a nossa reunião.
Agradeço muito a presença de todos que prestigiaram esta reunião.
Reforço o convite para que continuem participando das reuniões semanais,
sempre às terças-feiras, às 17 horas.
Na próxima reunião, ouviremos o Secretário do Estado da Saúde.
Queremos sempre poder contar com o apoio do Ministério Público, da
Defensoria Pública e das demais entidades, porque, como disse o deputado Pedro
Pereira, o nosso objetivo é contribuir para que esse problema seja pelo menos
minorado.
Esperamos que um dia o Estado seja plenamente eficiente no atendimento
de todas as demandas, e é para isso que queremos contribuir.
Muito obrigado e boa noite a todos.
DATA 23/04/2007: O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Boa-tarde
a todos. Declaramos aberta mais uma reunião desta subcomissão especial da
Assembléia Legislativa do Estado, que discute a questão do fornecimento de
medicamentos de uso especial e contínuo no Rio Grande do Sul.
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Esta subcomissão, nas últimas semanas, tem procurado nesta Casa, por
intermédio dos deputados que estão designados para tratarem desse tema,
contribuir para que tenhamos a regularização do fornecimento da medicação. Tal
regularização diz respeito não apenas à volta do fornecimento, mas também à
continuidade do medicamento, sem interrupções. Este é o nosso objetivo, e para
isso a subcomissão tem trabalhado.
Temos o prazer da presença do Dr. Nilton Leonel Arneck Maria,
representante da Defensoria Pública; da Dra. Marinês Assmann, representando o
Ministério Público do Estado do Rio Grande do Sul; do Dr. Jorge Krammer Borges,
representante da Associação dos Transplantados de Fígado do Rio Grande do Sul;
da Sra. Cleci Terezinha Muller, representante da Associação Gaúcha de
Mucoviscidose e Fibrose Cística; e da Sra. Maria Auxiliadora Xavier Trindade,
representante dos portadores de Tirosinemia. Sejam todos muito bem-vindos.
O trabalho da subcomissão é muito informal, exatamente com o objetivo de
contribuir para a solução deste problema, que afeta dezenas de milhares de famílias
no Rio Grande do Sul, famílias que, conforme sempre dizemos, merecem todo o
nosso respeito e atenção.
Este é o objetivo da Assembléia Legislativa do Estado: contribuir para que
este seja um tema tão importante para o Rio Grande do Sul como têm sido outros
temas tratados por esta Casa, como os relativos aos pedágios e também à questão
da restruturação administrativa do Estado, que será discutida amanhã.
Queremos que o tema referente ao fornecimento dos medicamentos, que diz
respeito à vida das pessoas, seja prioritário para o governo, para esta Assembléia
96
Legislativa e para o Rio Grande do Sul como um todo.
Está conosco o deputado Pedro Pereira, que também é integrante desta
subcomissão e que falará posteriormente. Sempre faço questão de registrar que S.
Exa. é o único médico entre os 55 deputados estaduais com mandato, hoje, no Rio
Grande do Sul. Por isso, a sua presença aqui, além da sua representatividade
política e da sua atividade parlamentar, se reveste de importância ainda maior pela
sua formação profissional.
Estabelecemos o limite máximo de 10 minutos para cada manifestação.
Sempre trabalhamos dessa forma no início da reunião e no seu final, para que
possamos ser bem objetivos e aproveitar da melhor forma o nosso tempo.
Concedo a palavra ao Dr. Nilton Leonel Arneck Maria, para que, em nome
da Defensoria Pública, possa fazer um relato do trabalho que o órgão tem realizado
em todo o Estado em relação a esse tema.
O SR. NILTON LEONEL ARNECK MARIA – Boa-tarde, deputado Luciano
Azevedo, na pessoa de quem saúdo os demais representantes da mesa e a todos
os presentes.
É gratificante para a Defensoria Pública comparecer nesta Casa para
discutir um tema tão recorrente e tão importante para a população gaúcha.
Em nome da defensora pública-geral, que foi convidada a participar desta
reunião e não pôde comparecer, agradeço pelo convite e reafirmo que a Defensoria
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Pública está de portas abertas a esta Casa para o debate sobre todas as questões
atinentes e relevantes na vida do povo gaúcho, em especial daquela comunidade
carente e hipossuficiente que é atendida pelo órgão.
No que se refere às ações de saúde, a Defensoria Pública tem tido um
trabalho árduo ultimamente – e falo isso me referindo aos últimos anos, não só aos
meses que estão passando –, tendo em vista que é notória, hoje, no Estado, a
insuficiência de recursos e de medicamentos para se atender ao comando
constitucional, que confere a todos aqueles que não possuam condições uma
assistência médica e farmacêutica, em todos os critérios de saúde.
Nesse sentido, a Defensoria Pública tem pautado suas ações no intuito de,
antes de haver uma demanda judicial – que, conforme todos nós sabemos, é muito
cara, tanto para o cidadão que bate à porta do Judiciário como ao próprio Poder
Judiciário, ao Ministério Público e a todos os que fazem parte dessa demanda –,
primar, num primeiro momento, pela busca da medicação administrativamente, com
o encaminhamento dos pedidos e os protocolos administrativos, para só então
recorrer à via judicial.
Porém – trago aqui a palavra de todos os colegas do interior do Estado –, a
via administrativa não tem surtido tanto efeito como a via judicial, e isso ocorre
porque, conforme sabemos, não existem todos os tipos de medicação constantes
das listas de atribuição do Estado do Rio Grande do Sul à disposição daquelas
pessoas que necessitam de medicamento.
Sabemos também que a Secretaria de Estado da Saúde tem discutido
eventuais questões atinentes ao preenchimento de prontuários médicos, de
98
atestados médicos, de laudos médicos, com o fito – segundo explicação dessa
secretaria – de melhor atender à população, melhor fornecer auxílio e melhor tratar
da distribuição dessa medicação em todo o Estado.
Essa fase administrativa tem levado muito tempo em termos de resposta
para o cidadão que precisa de medicamento. Não estão sendo cumpridos, digamos
assim, na maioria das vezes, aqueles 30 dias.
A Defensoria Pública, então, ajuíza as ações de medicamentos com a
finalidade de tentar obter do fornecimento da medicação ao leito hospitalar, a
internação compulsória e vários outros tipos de ações que são afetas à área da
saúde.
Nesse sentido, tem-se considerado necessário fazer todo tipo de pedidos
judiciais, dentre os quais bloqueios de verbas e o pedido de aquisição desses
medicamentos na rede privada.
Sabemos que isso onera muito o Estado; então, aqueles medicamentos que
já não estão sendo comprados sob a forma de licitação ou de concorrência pública
têm um custo maior ao serem adquiridos por força de um comando judicial.
Como a Defensoria Pública entende este lado do Estado também, iniciamos
uma conversação com o secretário de Estado e com os responsáveis técnicos pela
Secretaria com a finalidade de tentar diminuir essas demandas, porque entendemos
que a via administrativa é sempre uma melhor solução do que uma demanda
judicial.
99
Entretanto, o relato que tenho a fazer é referente aos números de ações
ajuizadas somente em Porto Alegre, sendo o relato mais preciso que pude obter até
hoje. Só na Comarca da Capital, em todo o ano passado, foram ajuizadas 320 ações
de medicamentos. Neste ano, em 2007, até o dia 19 de abril já foram ajuizadas 150
ações somente nessa comarca. Ou seja, em quatro meses houve praticamente a
metade do número de ações referentes a todo o ano passado.
Outro relato que trago e já pude expor, na semana passada, na primeira
reunião da qual participei – salientando que hoje faz uma semana que assumi a
coordenadoria da área cível, de forma que possa não ter todos os dados completos
–, é referente ao fato de que, nos últimos seis meses, a demanda por
medicamentos, a busca pela tutela judicial, duplicou e, em algumas regiões do
Estado, chegou a triplicar.
Isso é reflexo, é claro, em primeiro lugar, da carência financeira do Estado;
em segundo lugar, não sei se da distribuição ou do repasse do orçamento, talvez em
função de um equívoco na estrutura de repasse de orçamentos. Mas, certamente, se
eu tivesse conseguido compilar dados de todo o Estado, o número de ações, até o
mês de abril, já estaria alcançando quase o número referente ao ano 2006. Esse é o
relato que trago da Defensoria Pública.
Sobre a questão de a Defensoria Pública poder colaborar para a solução do
problema, nós, enquanto agentes que defendem o cidadão carente e que precisa de
medicação, entendemos também que a via judicial não seja a melhor. Temos que
tentar chegar a um consenso para buscar equalizar essa situação. Sabemos que o
sistema jurídico determina um atendimento a todos e que, hoje em dia, é
praticamente impossível, senão totalmente impossível, cumprir isso.
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Foi criado um grupo de trabalho com o Ministério Público, aqui presente, o
Judiciário, o Cremers, a Amrigs e a Procuradoria do Estado, com todas as funções
afetas à área da saúde. Já ocorreram alguns encontros, e houve um seminário no
último dia 13, ao qual infelizmente não pude comparecer – parece-me que foi muito
bom, pois a questão evoluiu bastante, e a doutora que estava presente poderá
comentar sobre isso depois.
A Defensoria Pública tinha rompido um pouco o canal de entendimento com
a Secretaria de Estado em função das diversas demandas que se faz necessário
serem ajuizadas pela falta de fornecimento da medicação, por essa demora de
resposta ao cidadão.
Inclusive, quanto a isso, na primeira reunião de que participei, cobrei muito
do secretário, que estava presente, porque a pessoa que quer medicação às vezes
pode esperar 45 ou 60 dias, mas, às vezes, não pode fazer isso, dispondo apenas
da inércia do Estado, que acaba não respondendo àquele pedido porque sabe que
não irá conseguir fornecer a medicação, embora ela conste da lista.
Uma pessoa que obtém uma resposta sai mais satisfeita do local, pois já
sabe o que deve procurar e a quem recorrer e não fica perdida. Nesse sentido, a
Defensoria Pública trabalha muito com pessoas que não têm a quem recorrer e que
ficam perdidas, às vezes até um ano sem saberem o que fazer e necessitando de
medicamento.
Entendendo a necessidade de um diálogo – porque não é pela força da ação
judicial que vamos consegui-lo –, a Defensoria Pública reabriu esse canal de
101
conversação com a Secretaria de Estado para ver se consegue, a curto prazo,
resolver um pouco essa demanda, deixando para que recorram às ações judiciais
aqueles casos que são inevitáveis, ou porque a medicação não conste da lista, ou
porque se trate de algo fora do País e que não seja possível ser resolvido de forma
administrativa.
A Defensoria Pública reabriu esse canal e está conversando com o
Ministério Público, com o Poder Judiciário e com os representantes dos médicos
para ver se chega a um consenso e para resolver problemas em relação a
medicamentos da lista, a receituários médicos mais completos, à dosagem da
medicação, ao preenchimento de dados do paciente e do médico, a fatores que
entravam o pedido administrativo de forma que se acaba acionando o Estado
judicialmente, quando administrativamente poderia ser resolvida a questão.
Creio, infelizmente, que uma solução mais urgente passa pela sanidade
financeira do Estado. Muito obrigado.
O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Agradecemos ao
representante da Defensoria Pública, Dr. Nilton Leonel Arneck Maria, e, em nome da
comissão, gostaria de solicitar, se for possível, que a Defensoria Pública nos envie,
mesmo com uma solicitação informal, o relatório dessa movimentação, das ações
judiciais e daqueles dados que o órgão tiver, para que possa colaborar com o nosso
trabalho, o que seria muito importante.
O SR. NILTON LEONEL ARNECK MARIA – Na medida do possível,
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encaminharei o relatório completo de todo o Estado, possivelmente dentro de uma
semana ou dez dias.
O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Muito obrigado.
Registro a presença dos representantes da Associação Gaúcha de
Assistência à Muscoviscidose, do Centro de Apoio ao Portador de Anemia
Falciforme e do Grupo Hospitalar Conceição.
Concedo a palavra à Sra. Maria Auxiliadora Xavier Trindade, representante
dos portadores de Tirosinemia, para que faça um relato aos membros da comissão e
aos que nos dão a honra de sua presença.
A SRA. MARIA AUXILIADORA XAVIER TRINDADE – Em primeiro lugar,
gostaria de cumprimentar os Srs. Deputados, os representantes do Ministério
Público e da Defensoria Pública, os demais membros da mesa e a todos os
presentes.
Estou representando o meu neto, que tem cinco anos e é portador de
Tirosinemia tipo I. Trata-se de uma doença genética, hereditária, referente à falta de
uma enzima que aumenta a tirosina no organismo. Na ausência dessa enzima,
acumulam-se compostos tóxicos no fígado, nos rins, ou no sistema nervoso. No
caso do meu neto, a enfermidade estava atingindo o fígado; ele inclusive já estava
inscrito na lista para transplantes. O que ele precisa tomar é um leite – o XPT
Maxamaid – e o NTBC.
103
Todos esses medicamentos são importados, não existindo na lista de
medicamentos da Secretaria da Saúde. Atualmente se consegue o leite na Suporte,
em São Paulo. Já o medicamento vem da Suécia.
Até pouco tempo atrás, essa medicação era doada pelo laboratório
Innovative Medicines, que fica na Suécia. No entanto, eles não querem mais doá-lo
e estão exigindo a compra pelo Estado, uma vez que no Brasil atualmente, há cinco
crianças com essa doença; no mundo todo, parece que o número de pacientes está
em torno de 200.
O Estado está dificultando a situação. Há demora na compra da medicação,
e recentemente, como ela não constava da lista, tivemos de recorrer à via judicial.
Quanto ao leite, no ano passado ele estava sendo fornecido na farmácia, o que
parou de ser feito. Já no início deste ano, não sei por que motivo, não havia mais o
produto na farmácia.
Em função disso, tivemos novamente de recorrer à Justiça. Pleiteamos que
eles depositassem, via judicial, o dinheiro para a compra do leite. Por outro lado,
quando o Estado demora a fazer o depósito, temos praticamente implorado ao
laboratório para que faça novamente a doação, uma vez que essa é uma doença
muito séria, muito grave. Neste ano, um menino ficou um mês sem o medicamento
no Rio, teve de fazer o transplante e faleceu.
Ele não pode ficar cinco ou 10 dias sem sua medicação. No caso de outras
doenças, a pessoa até pode ficar sem o remédio, pois não acontece nada. No caso
dele, entretanto, essa falta do medicamento não pode ocorrer.
104
Essa doença é classificada em quatro tipos; o transitório, o I, o II e o III. A
dele é a Tipo I, que é a mais grave. Ele não pode ficar sem a medicação.
A nossa dificuldade, portanto, está na demora do Estado em fazer os
depósitos. Entendemos a situação, mas o nosso problema também é grave; não
temos como comprar os medicamentos, pois ambos são caros.
Gostaríamos que o Estado fizesse a compra, pois isso facilitaria tudo. Como
a medicação é cara, às vezes não depositam os recursos. Temos conseguido
dinheiro emprestado par fazer a compra, mas quando o Estado deposita temos de
repor o que nos foi emprestado. É muito séria a situação.
O nosso pedido, portanto, é este: que o Estado faça a compra do
medicamento e do leite.
O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Qual é o custo do
medicamento?
A SRA. MARIA AUXILIADORA XAVIER TRINDADE – Para o leite, fizeram
recentemente um depósito baseado em um custo de R$ 1 mil, 946 reais a lata. Ele
necessita de oito latas mensais de leite, mais o medicamento, que em dólares
também é muito caro.
Creio que, numa venda direta para o Estado, o preço dos laboratórios é mais
105
acessível do que o valor que eles depositam com base no que é cobrado aí por fora,
para depois comprarmos a medicação.
Solicitamos que o Estado regularize a situação e faça a compra. Da última
vez, entramos em contato com a Suporte e conseguimos um preço mais barato,
para poder comprar.
O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Agradecemos à Sra. Maria
Auxiliadora Xavier Trindade por suas informações.
Registro a presença do promotor de Justiça, Mauro Luis Silva de Souza, que
representa o procurador-geral de Justiça e mais uma vez nos dá a honra de estar
presente nesta subcomissão da Assembléia.
Concedo a palavra à Sra. Representante da Associação Gaúcha de
Assistência à Mucoviscidose e Fibrose Cística, Cleci Terezinha Müller.
A SRA. CLECI TEREZINHA MÜLLER – Peço a gentileza da atenção dos
senhores para a exposição de um vídeo.
O SR. CRISTIANO MACHADO SILVEIRA – Vou falar a respeito de algumas
especificidades da fibrose cística e apresentar dados relativos ao Rio Grande do Sul.
A fibrose cística é uma doença genética, provocada pela mutação de um
único gene no cromossomo 7, que transcreve uma proteína em nível celular. A falta
106
dessa proteína ou ela não estando corretamente codificada acarreta alguns
problemas na viscosidade dos mucos produzidos por algumas glândulas. Essa
alteração irá provocar repercussões sistêmicas, ou seja, em todo corpo, em alguns
órgãos, principalmente nos pulmões e no pâncreas – na parte digestiva –, mas
também no fígado, nos intestinos, na parte reprodutiva, principalmente no masculino,
em que 98% acaba desenvolvendo esterilidade. Na questão da produção do suor, a
alteração da concentração de cloro no suor dá aquela característica bem particular
da fibrose cística da doença do suor salgado, do beijo salgado.
É uma doença bastante comum no nosso meio. Uma em cada 20 pessoas
no nosso Estado, principalmente as pessoas de pele branca, são portadores do
gene defeituoso para fibrose cística. É uma doença autossômica recessiva, ou seja,
autossômica porque ocorre em homens e mulheres na mesma proporção e
recessiva porque a chance em um casal portador da doença de ter um filho com
fibrose cística é de um em cada quatro filhos ou 25%.
Essa questão da alteração da densidade do muco, principalmente na
questão dos pulmões, acaba levando ao acúmulo desse muco nas vias respiratórias
inferiores e superiores e à colonização por bactérias muito específicas desse muco.
São essas bactérias que depois vão demandar alguns antibióticos e alguns
tratamentos medicamentosos bem específicos. Estaremos falando disso mais
adiante.
Um dado bem interessante é que a incidência dessa doença no Brasil varia
de 1 para 10 mil a 1 para 2 mil, variando muito de região no Estado. O nosso Estado
é campeão da incidência da fibrose cística: de 1 para 1.585 nascidos vivos.
107
Trouxe a questão da triagem neonatal, que é uma bandeira sobre a qual a
Cleci irá falar, que também é uma forte atuação das associações.
No Rio Grande do Sul, temos duas associações de fibrose cística. Uma
atuação bem importante é a questão da divulgação do Teste do Pezinho no
diagnóstico precoce dessa doença. Inclusive temos a felicidade de a Assembléia
Legislativa já ter legislado sobre o assunto.
É importante o diagnóstico para o acesso ao tratamento precoce. É preciso
a divulgação da doença, que ainda é pouco conhecida pelos profissionais e para
investigarmos a situação epidemiológica no Estado, porque há muitos pacientes que
não são identificados, e acabamos não sabendo deles.
Um dado bem preocupante é que temos um diagnóstico cinco vezes mais
tarde do que acontece nos países desenvolvidos. Esse é um dado médio. Há
pacientes sendo diagnosticados com 7, 10, 15, até pacientes próximos à idade
adulta sendo diagnosticados que passaram a vida toda com pneumonias
recorrentes, com problemas digestivos, e que não sabiam o que tinham.
Alguns dados da nossa associação, a Associação Gaúcha de Assistência à
Muscoviscidose: são 228 pacientes atendidos, distribuídos em 93 Municípios, nas 19
coordenadorias regionais. Eles estão distribuídos em todo o Estado, além de
pacientes de outros Estados que vêm procurar tratamento nos nossos três centros
de referência.
No nosso catálogo, consta a idade dos nossos pacientes. A cara da fibrose
cística, no Brasil, mostra o maior número de pacientes sendo crianças e
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adolescentes, porque eles não chegam ainda, infelizmente, à idade adulta. Estamos
lutando muito nas associações para que eles cheguem com uma vida plena e
saudável. Os pacientes com menos de 18 anos são 76,8% na nossa associação.
A fibrose cística é uma doença sistêmica complexa. O seu tratamento
necessita de muitos medicamentos. Citarei apenas alguns: antibióticos, enzimas
digestivos, suplementos, entre outros. É por isso que estamos aqui hoje. Aqui estão
os contatos da associação para quem quiser anotar. Muito obrigado.
O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Concedemos a palavra à Sra.
Cleci Terezinha Müller.
A SRA. CLECI TEREZINHA MÜLLER – Como vimos, a fibrose cística tem
uma incidência muito grande no Rio Grande do Sul, mas é pouco diagnosticada.
Uma das questões do pouco diagnóstico é que a fibrose cística ainda não está
incluída na pesquisa da fibrose cística do Teste do Pezinho SUS, mesmo após a
aprovação da lei nº 11.450, de 2000, por esta Casa Legislativa.
Essa tem sido uma das frentes de batalha da AGAM. O Rio Grande do Sul já
está habilitado para essa fase, de acordo com os critérios da portaria nº 322, de
2001, do Ministério da Saúde. Mas aqui no nosso Estado ainda não está sendo
pesquisada a fibrose cística no Teste do Pezinho SUS, o que é importantíssimo para
fazer um diagnóstico precoce para dar qualidade e anos de vida aos pacientes.
Como puderam ver há uma diferença existente na idade mediana de diagnóstico
daqui para os Estados Unidos.
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Pelas pesquisas e novos medicamentos, a fibrose cística deixou de ser uma
doença em que os pacientes morrem na infância. Hoje há pacientes adultos,
formados, trabalhando; as moças estão casando, sendo mães; enfim, eles estão
levando uma vida plena e produtiva.
O atendimento aos pacientes de fibrose cística é feito por uma equipe
multidisciplinar: médico pneumologista, gastroenterologista, psicólogo, nutricionista,
fisioterapeuta, assistente social e enfermeira.
Hoje existem no Rio Grande do Sul três centros de referência para
atendimento da fibrose cística: o Hospital de Clínicas de Porto Alegre – com uma
equipe que atende a pediatria e uma equipe que atende adolescentes e adultos –, o
Hospital São Lucas da PUC e o Hospital da Criança Santo Antônio, que é do Grupo
Hospitalar da Santa Casa.
A AGAM tem um bom relacionamento com a Secretaria Estadual da Saúde,
principalmente com os técnicos e servidores da Coordenadoria de Política de
Assistência Farmacêutica. Sempre somos atendidos nos contatos que fazemos para
resolver a questão da distribuição dos medicamentos, principalmente no interior do
Estado. Já tivemos discussões acaloradas, mas o relacionamento que vem sendo
construído, ao longo de anos, é baseado no respeito e na seriedade de ambas as
partes.
Com relação aos medicamentos, sabemos que a fibrose cística está numa
situação um pouco melhor do que as outras doenças crônicas, mas não chegamos a
esse ponto sem lutar. Em 1994, a AGAM entrou com uma ação cível pública levando
110
o Estado a fornecer medicamentos para a fibrose cística: na época, enzimas
digestivas, multivitamínico, medicamento para o fígado, mucolítico inalatório para o
pulmão. Mesmo com a ação, o fornecimento dos medicamentos não era regular, e
houve muitas faltas.
Em 2000, a ação foi retomada, e o Estado foi obrigado a fornecer os
medicamentos que já constavam da ação, mais antibióticos orais, endovenosos,
inalatórios, suplementos nutricionais, kit para gastrotomia e oxigênio domiciliar.
Farei só um comentário sobre o oxigênio domiciliar. Nos Municípios em que
a saúde já está municipalizada, integral, que são poucos, não chegam a 10, o
fornecimento é normal, tranqüilo. Quando o paciente tem de fazer um processo para
SES fornecer o oxigênio, há uma lista de espera de seis meses. Na AGAM, temos
três concentradores de oxigênio que emprestamos para os pacientes. Tivemos o
caso de uma paciente que, se não fosse pelo concentrador da AGAM, teria ocupado
um leito hospitalar em isolamento por seis meses esperando o oxigênio do Estado.
Essa é uma questão muito importante que tem de ser levantada.
Em 2003, por iniciativa da Promotoria da Infância e Juventude e SES, foi
formada a Câmara Técnica da Fibrose Cística. Participam dessa câmara
representantes da Promotoria, SES, Hospital de Clínicas, Hospital São Lucas da
PUC, Hospital da Criança Santo Antônio, AGAM, Procuradoria-Geral do Estado.
Essa Câmara Técnica da Fibrose Cística normatizou o tratamento da fibrose cística
com dados dos medicamentos da ação cível.
Em novembro de 2004, foi publicada no Diário Oficial pela SES a portaria nº
42, com os protocolos clínicos resultantes dessa câmara técnica. A câmara não foi
111
encerrada, continua aberta e, quando necessário, reúne-se. No ano passado, a
pedido da AGAM, houve uma reunião para debater sobre enzimas, visto que o
laboratório interrompeu a fabricação de uma marca comercial e tinha de ser incluído
o nome comercial de outra enzima. O protocolo, até o momento, contempla ações e
medicamentos mais específicos para a fibrose cística. A AGAM tem solicitado
reuniões para que seja incluída toda a medicação, por exemplo, medicações para
vias aéreas superiores.
Sempre fomos parceiros para o aperfeiçoamento da lista de medicamentos,
mas não aceitaremos que esse recurso que serve apenas para orientação seja
utilizado para dificultar o acesso dos pacientes ao tratamento adequado.
É importante destacar que a fibrose cística é uma doença complexa,
multisistêmica. Temos pacientes que desenvolveram diabetes e pacientes
transplantados de pulmão e fígado. O paciente de fibrose cística depende do Estado
para manter o tratamento contínuo, sem interrupções.
Segundo a SES, o custo médio por paciente é de aproximadamente 4 mil
reais mês. A SES tem procurado manter a medicação da portaria, e isso nos alivia
um pouco. Hoje estão em falta os suplementos nutricionais, que são muito
importantes para os pacientes de fibrose cística. Eles têm de manter um bom peso,
porque, se tiverem uma infecção respiratória e com peso baixo, a infecção
respiratória vai comprometer muito o paciente.
A AGAM sabe da importância desse protocolo, porque nos dá mais
respaldo. O Dr. Osmar Terra, em recente entrevista na Rádio Gaúcha – esperamos
que não seja só conversa, que não sejam só palavras –, disse que a portaria da
112
fibrose cística vai ser cumprida mesmo que a decisão da ministra Ellen Gracie se
torne jurisprudência. O voto da ministra a favor do Estado de Alagoas foi algo que
nos preocupou muito. É muito difícil a população ver um membro do Supremo
Tribunal rasgar a Constituição e ainda culpar pessoas com algum problema de
saúde pela situação do País.
O promotor Mauro Luís de Souza tem referido nas reuniões – e deve ser
uma bandeira de todos nós – a cobrança dos 12% para a saúde no orçamento tanto
estadual como federal e os repasses serem usados corretamente. Não temos hoje
os dados do TCU. No ano passado, até agosto, o Ministério da Saúde tinha
repassado ao Estado do Rio Grande do Sul 56 milhões de reais para compra de
medicamentos. O Dr. Gabbardo, que é o secretário substituto, na reunião que
tivemos na Promotoria, disse que esse dinheiro estava sendo desviado para
internações hospitalares. O cumprimento exato do repasse, o uso correto é de
grande importância para todos os pacientes com qualquer tipo de doença crônica.
É comum escutarmos a metáfora do cobertor curto para justificar o
contingenciamento de recursos com a compra de medicamentos, mas precisamos
entender que esse tão falado cobertor poderia ser maior se fossem garantidos os
repasses para a área da saúde e se não tivéssemos tantos recursos perdidos pela
ineficiência e pela corrupção presentes nas estruturas do Estado Brasileiro. Muito
obrigada em nome dos pacientes de fibrose cística.
O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Registramos a presença da
Sra. Maria Lúcia Elbern, representante do Conselho Estadual de Saúde.
113
Concedemos a palavra ao Sr. Jorge Krammer Borges, que falará em nome
da Associação dos Transplantados de Fígado do Rio Grande do Sul.
O SR. JORGE KRAMMER BORGES – Saúdo o deputado Luciano Azevedo,
os demais componentes da mesa e os colegas das ONGs.
A Associação dos Transplantados de Fígado é uma entidade que abriga
pacientes transplantados não só de fígado, mas de todos os órgãos.
Iniciamos para dar um suporte para quem fazia transplante de fígado, mas a
necessidade tem nos obrigado a ajudar outros transplantados de rins, pulmão,
coração.
A associação vai fazer nove anos. No que diz respeito à falta de
medicamentos, sempre tivemos a postura de manter o diálogo com a Secretaria de
Saúde, deixando a esfera judiciária por último. Infelizmente, nos três últimos anos,
isso está ficando muito difícil. Como dona Cleci Terezinha Muller disse, temos um
contato muito bom, contamos com a boa vontade dos membros da coordenação de
política farmacêutica, mas não vemos essa mesma boa vontade e essa disposição
de manter um diálogo aberto na direção da Secretaria da Saúde, ou seja, do
secretário ou do secretário substituto.
No caso de transplante, há medicamentos que são essenciais para que os
transplantados possam continuar vivos. São os imunossupressores. Esses
medicamentos vêm faltando com freqüência. Sabemos da situação de penúria
financeira por que passa o Estado do Rio Grande do Sul. Sabemos que nós,
114
transplantados, não somos os únicos que dependem de medicamentos. Há tantos
outros milhares de pacientes. Infelizmente, ninguém pede para ficar doente. Isso é
do destino. Temos que lutar.
Apontamos algumas situações na Secretaria da Saúde com relação à
grande falta de medicamentos que está ocorrendo, principalmente de janeiro para
cá. Já em setembro ou outubro do ano passado, conversamos com o governador
Germano Rigotto. Ele fez uma reunião no Palácio, para a qual convocou os 14
maiores credores do Estado. Na ocasião, foi feito um acordo. Infelizmente, esse
acordo funcionou um mês. Notamos que não há, por parte da Secretaria da Saúde,
uma vontade política de resolver a situação. Na gíria, existe a expressão empurrar
com a barriga. Estamos sendo obrigados a procurar, por meio da Defensoria Pública
ou do Ministério Público, solução para esses problemas.
Participei de um seminário que considerei muito importante na semana
passada. A Dra. Marinês Assmann estava lá e presidiu um debate. Na oportunidade,
não pude me manifestar. Geralmente o secretário Osmar Terra fala ou secretário
substituto, Dr. Gabardo dizem que os pacientes procuram o Judiciário para receber
medicamentos que não fazem parte do protocolo. Isso é uma inverdade.
Extrapolando, diria que 10% fazem isso. O representante da Anvisa – a Dr. Marinês
Assmann deve lembrar – disse que desconhece isso. Noventa por sento dos
medicamentos que são solicitados via Judiciário fazem parte do protocolo o
Ministério da Saúde, que foi feito por pessoas que hoje compõem a Secretaria da
Saúde e que na época do protocolo, em 2000, 2002, estavam em Brasília.
Não entendo como pode ser questionado um medicamento que há três ou
quatro anos foi aprovado pela pessoa que hoje diz que ele não tem a eficácia
115
necessária, como o caso do Interferon Peguilado. Há três ou quatro anos o
medicamento era bom para fazer parte de um protocolo. Hoje, como a pessoa está
comprando o medicamento, ele não serve. São dois pesos e duas medidas. Quando
essa pessoa estava em Brasília, o medicamento era bom. Há um protocolo do
Ministério da Saúde que posso conseguir para V. Exa.
Gostaria que fosse registrado o caso de oito pacientes que entraram com
uma ação judicial para receber o medicamento Gamaglubolina Hiperimúnico Anti-
hepatite B, usado por pacientes que fazem transplante devido à hepatite B e que
necessitam tomar essa vacina mensalmente, sob pena de haver recidiva do virus. O
ataque é muito rápido. A hepatite B não é como a C. Ela pode inutilizar o fígado em
30 dias. Já houve óbitos por isso.
O medicamento estava em falta. Os pacientes todos estavam sendo
internados na Santa Casa para tomar a medicação e para tomar outros que estavam
em falta, como é o caso agora do Sirulimus, tomado por muitas crianças com
problemas de rim. Infelizmente, entrei em contato com a secretaria, não se tem
previsão de quando será comprado o medicamento. O que aconteceu é que o
medicamento chegou em Porto Alegre e ficou 30 dias no setor de abastecimento da
Secretaria da Saúde. Os senhores podem comprovar o que estou dizendo. Estive
três vezes na farmácia, falei com a chefia. Presenciei quando ela mandou dois e-
mails solicitando o medicamento, e ele não vinha. Estava no estoque e não foi
distribuído para a farmácia.
Outra medicação que ficou mais de 20 dias no estoque da Secretaria da
Saúde foi o Micofenolado Sódico. Ligamos para o laboratório, pedindo um apoio,
uma amostra grátis para os pacientes, pois há muitas crianças usando-o.
116
Informaram-nos que ele havia sido entregue à secretaria há mais de 20 dias. Isso é
uma falta de gerenciamento, na minha opinião. Gostaria que isso ficasse registrado.
Uma outra situação que obriga os pacientes a procurarem a Justiça é a que
já foi citada aqui nesta comissão. Há uma solicitação, o medicamento vai para o
perito e, na maioria das vezes, ele leva mais de 30 dias para dar sua resposta. No
caso de transplante, são medicamentos essenciais que o transplantado é obrigado a
tomar. Começa a bater o desespero, e não há dinheiro para comprá-lo. Para os
senhores terem uma idéia, o HBIg de 40 UI custa 3 mil e 800 reais. Há pacientes
que usam cinco ampolas por mês. Não temos pacientes que tenham condições de
manter esse tratamento. Somente o Estado pode fazer isso.
Também é necessária uma distribuição para o interior. Nota-se que muitos
Municípios não têm a boa vontade de colaborar com a Secretaria da Saúde. Um
exemplo é a situação do HBIg que chegou em Caxias do Sul, mas que não foi para
Canela, há 50 quilômetros de distância. O juiz deferiu, mandando o Estado dar o
medicamento. O paciente recebeu pouco mais de dois mil reais para comprar uma
ampola. Isso tudo ocorre na Secretaria da Saúde, embora saibamos da boa vontade
das pessoas que trabalham na farmácia aqui em Porto Alegre, da Carmen, que é
chefe da farmácia, uma pessoa incansável para re4solver os problemas dos doentes
em geral. Os remédios estão chegando, mas não está havendo uma boa vontade
por parte do secretário ou do secretário substituto o Dr. João Gabardo dos Reis.
Essas eram as manifestações que queria fazer.
O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Quantos transplantados
117
temos que recebem medicação, entre os de fígado, rins, no Estado todo?
O SR. JORGE KRAMMER BORGES – O número de transplantados deve
estar em torno de 3.200, talvez até mais.
O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Agradeço a manifestação do
representante da Associação dos Transplantados de Fígado.
Concedo a palavra à Dra. Marinês Assmann, promotora de Justiça do
Ministério Público.
A SRA. MARINÊS ASSMANN – Boa tarde a todos. Na pessoa do deputado
Luciano Azevedo, cumprimento todas as autoridades aqui presentes, especialmente
meu colega Mauro Souza.
Alguns aqui já me conhecem, pois venho acompanhando há mais de três
anos a questão, na saúde pública, do fornecimento pelo Estado de medicamentos
excepcionais e especiais. Tenho visto que a situação, nos últimos meses, tem
piorado. Na verdade, nesses três anos, ela tem sido cíclica, mas sempre tendente a
piorar. Uma das razões disso é que os gestores – e aí não digo eu são os
secretários de Saúde, mas os últimos governos, todos eles, independentemente de
partidos – têm aplicado cada vez menos em saúde, da tirosinemia e deixará de
comprar dos outros tantos que estão aí, tantas outras hepatites, etc. E aí?
118
Então, parece-me que não vamos resolver essa situação com uma ação
isolada. Creio que todos nós temos de estar preparados para isso. Sinto muito não
dourar a pílula, mas é a visão que eu tenho. Pode ser equivocada. No Estado, tem
crescido vertiginosamente de 1988 para cá o número de pedidos de medicamento.
Tínhamos 2 ou 3 mil pedidos de medicamentos. Agora são mais de 120 mil pessoas
atendidas. No ano que vem, serão mais, serão 150 e depois 200 mil, porque as
pessoas comentam com outras que estão doentes. Existem pessoas doentes que
ainda não sabem que o Estado fornece medicamentos. O orçamento terá de crescer
para atender essa demanda, porque os laboratórios não diminuem os preços.
Vou encerrar, mas, na verdade, eu poderia ficar compartilhando com os
senhores as minhas angústias. Não sei mais o que fazer, além do que já foi feito e
do que está sendo feito, que é entrar com a ação, obter a condenação. O Estado do
Rio Grande do Sul tem de valorizar a saúde, destinando verbas para a saúde de
acordo com o que é estabelecido pela Constituição.
Sinto ter de compartilhar com os senhores essas angústias que viveremos
por muitos anos ainda, porque mais pessoas demandarão medicamentos, e a verba
orçamentária não crescerá proporcionalmente.
O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Aproveito para convidar todos
a estarem conosco nas próximas reuniões. Já disse numa outra ocasião que a
presença das entidades, mesmo quando não são elas que serão ouvidas aqui, é
muito importante, porque fortalece a luta, soma esçorços e contribui para o que a
Dra. Marinês Assmann mencionou, ou seja, sensibilizar as autoridades que detêm o
recurso financeiro para que possamos transformar o que hoje é uma questão de
119
milhares de gaúchos em uma questão de Estado, em algo que seja encampado pelo
Estado. Por isso, a presença de todos sempre é muito importante.
Concedo a palavra ao Sr. Mauro de Souza.
O SR. MAURO DE SOUZA – Deputado Luciano Azevedo, relator desta
subcomissão, na pessoa de quem saúdo todas as autoridades presentes na mesa,
Dra. Marinês Assmann, minha colega, senhoras e senhores presidentes de
associações, prezados presentes, pouco me restou a dizer após a manifestação da
minha colega com a qual concordo em grau, gênero e número.
Eu apenas gostaria de fazer uma observação a cerca do que dona Cleci
Terezinha Müller disse a respeito da decisão do Supremo Tribunal Federal, que foi
uma decisão monocrática, em liminar. O que quer dizer uma decisão monocrática?
Significa que foi apenas um ministro que tomou a decisão sozinho. Foi a ministra
presidente, a ministra Ellen Gracie.
Dona Cleci Terezinha Müller, eu absolutamente não vou contrariar o que a
senhora disse. Quero apenas fazer um esclarecimento. A decisão da ministra vai ao
encontro do que é defendido por nós e por uma gama de pessoas que defende o
Sistema Único de Saúde há muitos anos, que é que tenhamos padrões, parâmetros
para decidir a respeito das coisas que são do SUS. O que é Sistema Único de
Saúde e o que não é Sistema Único de Saúde. Principalmente quando tratamos de
medicamentos de alta complexidade e de alto custo, temos de ter muito cuidado,
porque todo dia estão surgindo drogas novas, terapias novas que, em sua grande
maioria, de novo têm muito pouco. Em sua grande maioria, de efetivo tem quase
120
nada.
Defendemos que tenhamos, pelo menos, o que a lei assegura. O que a lei
assegura é que os orçamentos sejam constitucionais e que tenham esses mínimos.
Mas a lei também diz que a obrigação do Estado de assegurar saúde está na
confecção e na execução de políticas públicas. O que isso quer dizer? O Estado se
compromete a garantir alguma coisa em nível de saúde e não tudo, nem tudo para
todos. Essa é uma decisão política que já foi tomada em 1988. Se considerarmos o
conceito da Organização Mundial de Saúde, de que saúde é o estado de mais
completo bem-estar físico, mental e social, perceberemos que fralda descartável
para eu criar meu filho, que não tem qualquer problema físico ou de saúde, pode ser
meu bem-estar social. E aí o Estado terá que me pagar isso.
Um outro aspecto refere-se às inovações tecnológicas. Ouvi de um médico
que, num futuro próximo, alguém pode dizer que banho de s ol na lua é bom para
curar psoríase. Alguém escreverá um artigo sobre isso, e uma pessoa poderá entrar
com uma ação contra o Estado, que será condenado a pagar por esse banho de sol
na lua. Já pagamos por um banho de sol na lua há bem pouco tempo. Custou 10
milhões de dólares. E aí faltará dinheiro para pagar medicamentos para todos nós.
Então, temos de ter um parâmetro, algo que estabeleça o que é bom, o que
é eficiente, o que é necessário e que, assim sendo, deve ser pago pelo Estado
porque é sua obrigação.
O que a ministra Ellen Gracie disse nessa decisão foi mais ou menos isso:
há que se ter um parâmetro, e o parâmetro é a política nacional de medicamentos. A
política nacional de medicamentos excepcionais está na portaria nº1.318 do
121
Ministério da Saúde. Essas portarias, como todos os senhores sabem, são
concebidas a partir de um planejamento ascendente, que vai desde as convenções
municipais de saúde até a convenção nacional de saúde. Essas decisões são
tomadas a partir de discussão nos conselhos municipais de saúde, com a
comunidade científica, até que se identifique que uma determinada droga, que um
determinado tratamento é eficiente, é seguro e necessário para uma determinada
terapia. Esses são os parâmetros que nos asseguram que o Estado estará dando
alguma coisa que é boa, que não causará mais prejuízo do que a própria doença.
Temos de nos limitar por esse tipo de parâmetro. A decisão da ministra não
fez nada mais do que isso. Quando surgir um tratamento novo, deveremos ir atrás
da comunidade científica para que ela nos diga se de fato ele é bom. Se isso
acontecer, ele deverá ser incluído na tabela de procedimentos do SUS. Aí sim,
justificado que esse tratamento é necessário, que ainda não está na tabela do SUS
e que essa tabela não foi revisada com a periodicidade que seria lícito exigir que
fosse, que aí a Justiça condene o Estado a dar um tratamento que não está na
tabela. Do contrário, não é possível fazer isso porque senão comprometeremos todo
o Sistema Único de Saúde, toda a estrutura. Comprometeremos todas aquelas
pessoas que têm uma expectativa de conseguir um tratamento que já está
consagrado e que não o receberão porque a Justiça condenou alguém a ter um
tratamento experimental que não sabemos se é eficaz. Já tivemos n exemplos
desses tipos de tratamentos. Os Estados foram condenados a pagar cirurgias fora
do País, sendo que a comunidade científica era absolutamente contrária àquele tipo
de terapia. As nossas sociedades médicas não as aconselhavam.
Era apenas isso que eu gostaria de acrescentar à manifestação da colega
que me antecedeu. As decisões políticas são tomadas por todos nós, como
122
sociedade. Nós temos de fazer com que as engrenagens se movimentem a nosso
favor. Temos de fazer com que haja padrões mínimos para que a Justiça também
não comprometa o nosso próprio atendimento, para que ela garanta pelo menos
aquilo que é lícito, aquilo que está na lei e não alguma coisa alternativa, alguma
coisa duvidosa que poderá por a perder tudo que conquistamos até hoje. Esse
cuidado temos que ter. Felizmente, quero crer que o STF está fazendo isso, a partir
da decisão da ministra Ellen Gracie, que não contraria qualquer tipo de
procedimento ou de protocolo vigente no País. Isso é segurança para todos nós.
O SR. PEDRO PEREIRA (PSDB) – Saúdo o relator Luciano Azevedo, os
demais integrantes da mesa e a platéia.
Além de ser deputado e médico, fui escolhido para integrar a Comissão de
Saúde e Meio Ambiente. Represento esta Casa, a comissão e a subcomissão nesse
embate dos hospitais filantrópicos, que estão falindo. Estive em Brasília. Sexta-feira
que vem virá uma comissão de Brasília, com representantes do Ministério da Saúde,
do Ministério da Justiça, da Casa Civil. A situação realmente é muito grave, como já
foi dito aqui. O Estado destina, hoje, em torno de 10 milhões de reais por mês para
medicamentos, sendo 1 milhão e 500 mil reais para medicamentos especiais. São
12 mil reais por mês, em média.
Este ano, o Ministério da Saúde tirou do orçamento da saúde quase 6
bilhões de reais. É muito dinheiro. A nossa grande peleia com o governo federal é no
sentido de ele reajustar as tabelas do SUS. Para que os senhores tenham uma
idéia, o valor de uma consulta clínica do SUS hoje é 2 reais e 55 centavos brutos.
Para especialista, 7 reais e 50 centavos brutos. Sobre isso, são descontados 20%
123
do Imposto de Renda, mais o tempo que demora para pagarem. São valores
irrisórios. Claro que a saúde é prioridade. Sabemos disso. Está escrito na lei. É um
dever do Estado e um direito do cidadão. Esta subcomissão destina-se a ajudar a
resolver essa situação.
Como já foi dito aqui, em primeiro lugar, tem-se que respeitar o que a lei
manda. Devem ser destinados à saúde, no orçamento da União e dos Estados, pelo
menos 12%. O Rio Grande do Sul é um dos Estados mais atrasados nesse ponto,
um dos mais endividados. Nem é um dos mais. É o pior. A nossa crise é um terror.
Saímos desanimados de cada secretaria que visitamos. A dívida com fornecedores
passa de 9 milhões de reais. Entre esses fornecedores, incluem-se os laboratórios.
Por isso não estamos conseguindo medicamentos.
Temos de brigar com o governo federal para que coloque mais verbas no
orçamento e que as destine de fato à saúde. Está aí a CPMF, que destinava-se à
saúde, mas que vai para o bolso de não sei quem. Para o dos senhores não é. Para
o nosso também não. Milhões e milhões de reais por ano são descontados.
Tomara que ao final de quatro meses consigamos ajudar os senhores.
Como médico, conheço a situação dos pacientes e de seus familiares. Só dá valor
real a esses medicamentos quem tem alguém na família doente.
Nossa missão aqui é essa: ajudar os senhores – transplantados,
ostomizados, pessoas com incontinência urinária, com patologias especiais.
Inclusive, quando o deputado Luciano Azevedo entrou com o projeto desta
subcomissão, inicialmente destinava-se à esclerose múltipla. Como médico, sugeri
que ampliar o leque de abrangência aos ostomizados, aos transplantados e
124
portadores de demais patologias especiais. Esse trabalho está sendo muito bem
coordenado por esta subcomissão. Teremos cinco audiências no interior, em
Pelotas, Canoas, Caxias do Sul, Passo Fundo e Itaqui. As reuniões serão todas às
sextas-feiras, fora do nosso horário normal de trabalho. Hoje, segunda-feira, não
éramos obrigados a estar aqui, mas estamos. Nosso trabalho na Assembléia é terça,
quarta e quinta-feira. As segundas e sextas-feiras são destinadas ao trabalho no
interior. Hoje estamos aqui, com toda a boa vontade para tentar ajudá-los, os
senhores e os demais que sofrem com esses problemas.
Dêem-nos esse voto de confiança. Faremos todo o possível em nível de
Estado e em nível de País para, se não resolvermos totalmente esses problemas,
pelo menos amenizarmos o sofrimento dos senhores. Obrigado.
O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Com a manifestação do
deputado Pedro Pereira, encerraremos a nossa reunião.
Agradeço muito a presença de todos que prestigiaram esta reunião.
Reforço o convite para que continuem participando das reuniões semanais,
sempre às terças-feiras, às 17 horas.
Na próxima reunião, ouviremos o Secretário do Estado da Saúde.
Queremos sempre poder contar com o apoio do Ministério Público, da
Defensoria Pública e das demais entidades, porque, como disse o deputado Pedro
Pereira, o nosso objetivo é contribuir para que esse problema seja pelo menos
125
minorado.
Esperamos que um dia o Estado seja plenamente eficiente no atendimento
de todas as demandas, e é para isso que queremos contribuir.
Muito obrigado e boa noite a todos.
DATA 08/05/2007: O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Boa-tarde
a todos. Declaro abertos os trabalhos da Subcomissão de Medicamentos Especiais
e de Uso Continuo, que está tratando sobre a falta de fornecimento desses
medicamentos por parte do Estado do Rio Grande do Sul. Esta subcomissão está
ligada à Comissão Permanente de Saúde e Meio Ambiente da Assembléia
Legislativa.
A Subcomissão de Medicamentos Especiais e de Uso Continuo está
tentando há cerca de 60 dias colaborar para a solução do que consideramos – repito
sempre – um problema grave e que entendemos deva ser uma política não de
governo, mas de Estado. Deve ser prioritário para o Estado do Rio Grande do Sul
assegurar o fornecimento desses medicamentos àquelas pessoas e famílias que
têm essa necessidade. Esse é o espírito primeiro e maior do nosso trabalho nesta
subcomissão.
Registro a presença do deputado Gilberto Capoani. Como de praxe nas
nossas reuniões seremos objetivos e respeitaremos os horários de início e término,
para que possamos aproveitá-la ao máximo.
Registro também a presença da presidente do Centro de Apoio ao Portador
126
de Anemia Falciforme, Sra. Caren Fortunato; e da Associação Gaúcha de Familiares
de Pacientes Esquizofrênicos, Sra. Marlene Gazave.
Esta subcomissão estará realizando uma reunião na Câmara Municipal de
Vereadores de Pelotas, no dia 18 de maio, às 17 horas, e esperamos contar com a
participação da comunidade e das lideranças locais envolvidas com o assunto.
Solicito às entidades aqui representadas que nos acompanhem, por intermédio de
suas lideranças estaduais ou representações municipais, nessa audiência pública na
zona sul.
Concedo a palavra à presidente do Centro de Apoio ao Portador de Anemia
Falciforme, Sra. Caren Fortunato, para que nos faça um relato da situação e das
condições do fornecimento das medicações e sobre o que considerar importante
para contribuir com esta subcomissão.
A SRA. CAREN FORTUNATO – Boa-tarde a todos. Agradeço a luz que os
senhores deputados tiveram ao criar esta subcomissão e parabenizo a todos e a
Casa.
Agradeço ainda a todas as pessoas presentes que se dispuseram a
participar mais uma vez. Sei que a luta não é fácil. Presido o Centro de Apoio ao
Portador de Anemia Falciforme como voluntária.
A anemia falciforme é uma doença incurável, que mata mais do que a AIDS
e o câncer e existe há mais de 1.500 anos. Essa doença, com origem no continente
africano, tem maior incidência em negros e seus descendentes.
127
Há pouco tempo, mais especificamente entre os anos de 1999 e 2000,
conseguiu-se, após muita luta dos movimentos negros, da sociedade e de alguns
hospitais que se mobilizaram, fazer com que se detectasse à predisposição para
essa doença por meio do teste do pezinho.
Essa doença caracteriza-se por um defeito na hemoglobina – pigmento
vermelho que dá cor ao sangue –, que é a responsável pelo transporte do oxigênio
para todo o nosso organismo. Com esse processo ocorrido há 1500 anos, essa
hemoglobina se deforma, fica em forma de foice – por isso também o nome de
falciforme – e não transporta mais com tanta eficiência o oxigênio para todo o nosso
organismo.
A pessoa considerada doente falciforme é aquela que herda do pai e da mãe
uma hemoglobina com defeito. É o doente falciforme.
A pessoa que é considerada traço falciforme é aquele que herda um desses
genes, ou do pai, ou da mãe. Aparentemente não há sintoma. Há todo um estudo
sobre o traço falciforme pelo Ministério da Saúde.
O doente falciforme desenvolverá tudo que vocês imaginarem dessa
doença. Ele tem infecção de repetição, necrose óssea, falência de alguns órgãos,
pode levar a perda da visão, ou seja, é uma doença que degenera os órgãos,
gradativamente. A pessoa está sempre com uma infecção. Cura uma, passa para
outra, passa para outro órgão.
A anemia falciforme é considerada por muitos médicos a doença mais cruel,
128
supera AIDS e o câncer no sintoma que ela faz. A idade mais crítica dessa doença é
dos zero aos cinco anos de idade. Também temos problemas quando chegam na
adolescência e depois, na fase adulta, é amenizado.
O tratamento para essa doença, na rede básica de saúde de Porto Alegre
ainda não está disponibilizado. Boa parte dos medicamentos deveriam estar na
listagens básicas de saúde, principalmente o fenoximetil, conhecido como Pen-ve-
oral, penicilina oral, que é o antibiótico usado de zero a cinco anos para evitar as
infecções, as intercorrências, as intercorrências hospitalares, enfim, é profilaxia.
Agora já tem vacinas à disposição.
Depois dos cinco anos, segue um tratamento um pouquinho mais severo. Aí
entramos na questão dos medicamentos especiais. No nosso Estado, infelizmente
não é como nos outros. Aqui, o tratamento é dividido. Uma parte fica com os
Estados e outra parte fica com o Município. Então, a criatura para salvar a vida, além
da desinformação que tem em cima dessa doença, ele tem que correr, pegar o
medicamento lá no Município, quando tiver e quando for para rede básica – parece
que agora só tem o ácido fólico – e depois ele bate na porta do Estado para obter o
medicamento especial, que seria, principalmente o hidroxiuréia, que é muito usado e
o desferal, que é a desferroxiamina.
A anemia falciforme não é anemia ferropriva. As pessoas estão confundindo
muito. Os profissionais da área da saúde fazem tratamento fantástico para o doente
falciforme dando sulfato ferroso a ele. Vai levar a óbito, mata. Esse paciente tem
excesso de ferro. Ele não tem falta de ferro. O que fez essa hemoglobina ficar
deformada há milhares de anos, foi o excesso de ferro, não foi a falta dele. Jamais
se pode usar ferro para o doente falciforme, e é o que mais se encontra na rede
129
básica de saúde é o sulfato ferroso.
A mãe que leva uma criança para a rede básica de saúde, o médico pede
logo um hemograma, a primeira coisa que vai fazer é dar o sulfato ferroso. Ele não
investiga que tipo de anemia aquela criança tem, até porque ele só conhece a
ferropriva. Ele desconhece as outras anemias que são graves no nosso País, e essa
então é a única que mata mesmo, sem misericórdia, é a falciforme.
Ele usa então o desferal para a retirada desse acúmulo de ferro, porque ele
já tem isso ao nascer e segue com esse ferro, e devido alguns medicamentos que
foram usados sem que profissional soubesse que ele era doente falciforme, ele
acumulou esse ferro, e também pode acumular essa ferro fazendo as transfusões de
sangue, porque o tratamento deles também passa por sessões de transfusões de
sangue.
Esse medicamentos especiais, já estou chamando de medicamentos raros,
e acho até fora da lei, porque não se encontra. Deve ser uma coisa que, não é
possível o alcance das pessoas. Ele é um medicamento que não é nem especial. É
um medicamento raro e fora da lei. Nós e que estamos errados em exigir esse tipo
de medicamento. Daqui a pouco temos que ser internados, porque a coisa é loucura
mesmo.
Esse medicamento está na rede básica da Secretaria Estadual de Saúde.
O problema da anemia falciforme no Rio Grande do Sul ainda é pior do que
o das outras doenças. Como vou ter acesso ao medicamento de uma doença,
enquanto a própria Secretaria Estadual da Saúde desconhece e nem quer trabalhar
130
isso.
O que a Secretaria Estadual da Saúde trabalha muito bem? Teste do
pezinho. Se vier aqui um representante da Secretaria Estadual da Saúde, vai nos
trazer um relato bonito do teste do pezinho e vai nos convencer que o número de
doentes falciformes no Estado é irrelevante. Não vamos nos preocupar com isso. É
um número pequeno, não passa de umas 40, 50 pessoas, se tiver. Já o traço é
preocupante, porque há muitas pessoas, mas também não se tem nenhuma
campanha para informar isso. Daí os nossos gestores não estão se dando por conta
que esse traço vai crescer, vai ficar adolescente, vai ter filhos e aí vem uma nova
geração de doentes falciformes.
O número dessa doença no Estado do Rio Grande do Sul, quando
considerarmos a população em geral, 10% da população. Quando nós
considerarmos só os negros, 6% da população.
Eu não sou muito boa em matemática, mas vamos pegar um livrinho para
ver qual a nossa população. Vamos fazer o cálculo? Tenho certeza de que vamos
encontrar muita mais doentes falciformes do que estamos encontrando de pessoas
que estão sendo picadas pelo mosquito da dengue, que agora é a atração do
momento. O bicho não vai fazer tanta coisa, porque é só botar um pó-de-gafanhoto
quem não tiver mais nada, cortar uma árvore, despejar uma água que esteja parada
e lá se vai esse bicho, porque ele não vai resistir ao frio.
E o doente falciforme? Nós morremos por causa do frio. O frio nos mata. Em
função dessa deformidade nessa hemoglobina o que mais nos leva a óbito é o frio,
ainda mais que moramos num Estado frio.
131
Não temos acesso a nenhum programa social, porque como a Secretaria
Estadual de Saúde nos fez a gentileza e a grandeza de não implantar o programa e
perdeu o programa para o Ministério da Saúde, porque não interessou isso ao
secretário Osmar Terra, o Rio Grande do Sul está fora de todo e qualquer programa.
Para cá não vem mais nada a partir desse mês. Não houve a implantação
do programa. Foi aquele programa que os senhores devem lembrar que teve um
seminário bonito aqui na Casa, que veio o Ministério da Saúde. Foi uma coisa
fantástica. Depois lançaram livro. Ali era lançado o programa Hemovida
Ambulatorial.
O hemocentro de Porto Alegre deveria atender os doentes falciformes, verba
do Ministério da Saúde, medicamento do Ministério da Saúde. Montaram salas
bonitas para sermos atendidos. Vocês tem que ver que coisa fantástica. Aí, sim, de
primeiro mundo, com sala de fisioterapia, odontologia, mas aí se deram por conta
que o público alvo a ser atendido lá naquele centro, majoritariamente seria negro,
então não implantaram o programa. Perdemos o programa, vergonhosamente.
Segue-se a luta dos hospitais que estão batalhando. Um dele é o Hospital
de Clínicas de Porto Alegre que faz um trabalho muito bonito em cima da anemia
falciforme. O outro é o Hospital da Criança Conceição. Outros hospitais também
atendem os doente falciformes, só que não sabemos disso porque a secretaria não
trabalha isso e não quer trabalhar isso.
O nosso problema, além de lutarmos pela questão do medicamento
especial, que eu acho que não virá, no nosso caso, é sensibilizar o secretário Osmar
132
Terra. Temos que dizer para ele que negro é gente. Ele tem certeza que nós não
somos. E eu sei muito bem o que eu estou falando.
Já tivemos em reuniões com todos esses hospitais na Fundação Estadual
de Produção e Pesquisa em Saúde – FEPPS –, Escola Pública de Saúde, Secretaria
Estadual de Saúde, conselhos. Todos os lugares que os senhores possam imaginar,
já houve reunião para a anemia falciforme. Claro, ele nunca foi, porque ele é deus.
Ele é um deus, ela não vai se juntar com a plebe e a negrada. Claro que ele não vai.
Sempre foi um representante. O pessoal esforçou-se, mas não implantaram o
programa, não interessou implantar.
O que mais eu posso dizer? Dentro desse caso, o problema de anemia
falciforme no nosso País ou no nosso Estado não é um problema de formação
acadêmica. Temos médicos trabalhando isso. Temos a famosa Internet, as pessoas
estão online. Lá na vila nós não estamos online, porque lá não temos telecentro.
Como não vamos ter dois reais para pagar de passagem para vir ao centro para nos
informar, nós não estaremos online, mas passamos informações para o outro,
vamos nas casas, vamos no centro de umbanda, vamos nas igrejas evangélicas,
vamos pedir para o padre, nós geramos a informação. Então o problema de
informação não é nosso.
Quando falamos com a maioria das pessoas, como deputados e ninguém
sabe da anemia falciforme. Perguntam o que é? Parece que é uma doença que dá
no estômago. Pior ainda. Quando a mãe recebe o resultado do teste do pezinho e
que ela leva na rede básica de saúde de Porto Alegre, e que o médico depara-se
com a criaturinha doente falciforme ou traço falciforme, e a mãe tem a pele clara, é
branca, sabem o que ela ouve? O pai é negro não é, porque ele tem doença de
133
negro. Tem que ver onde está esse negro lá dentro da tua família. Se ele for traço
falciforme, não terá problema nenhum, não vai desenvolver a doença. Só cuida para
quando ele crescer ele não casar com negro.
O problema da anemia falciforme é racial e teremos que resolver isso. É
sério. É muito mais sério do que todas as outras doenças, porque as outra doenças,
querendo ou não, primeiro as instituições são presididas por uma branca ou por um
branco. Eu sou uma negra, preta do cabelo carapinha e não tenho formação
acadêmica. Começa por aí a questão. Essa é a realidade, mas tudo bem, o pessoal
se une, vai, luta, conseguimos ser recebidos aqui, ali. Quem têm que fazer a sua
parte de bom coração está fazendo, os conselhos de saúde e as outras instituições
que nos ajudam.
Mas o nosso maior problema é o secretário estadual da Saúde. Não
sabemos se ele vai ter que cair numa lata de piche e passear um pouco nas vilas
para ver o que é discriminação. Não sabemos o que está acontecendo com ele, mas
é preocupante. O secretário está no segundo mandato à frente dessa secretaria,
mas na certa não foi com o voto dos negros.
Arrastamos por quatro anos essa corrente e arrastá-la por mais quatro anos
não será fácil. Mas vamos continuar. Espero que a partir de hoje alguma coisa mude
em relação a essa questão, aqui no Estado.
Se os senhores deputados tiveram coragem de criar esta comissão, sabiam
o que viria pela frente. Nós, como negros, entendemos que esse problema é de
discriminação racial, de descaso e desrespeito. Mas na época de eleições não
tiveram nenhum problema para pedir o nosso voto, todos entravam na vila.
134
Por que a anemia falciforme chegou a esse ponto, num estágio total de
descaso e preconceito? Os médicos lutaram e fizeram tudo o que podiam. O
hidroxiuréia até chega na seção dos medicamentos especiais, mas os nossos
doentes não conseguem retirá-lo porque o nosso gestor não trabalha com os
números dos portadores de anemia falciforme.
O profissional encarregado de comprar esse medicamento não sabe da
existência dos portadores de anemia falciforme, então o gestor compra para o
pessoal que é transplantado e para a oncologia.
A cota dos nossos doentes não é computada para a compra do hidroxiuréia.
O vidrinho que tem é para dar para portadores de outras doenças, que não são os
nossos, porque nós não existimos para o Estado.
Não adianta fazer o teste do pezinho se não forem implantados programas
de políticas públicas. Não adianta o teste se não nos conscientizarmos que o Estado
do Rio Grande do Sul não foi colonizado apenas por imigrantes alemães e italianos.
Sei que não plantamos uvas bonitas, nem Kiwi e nem moranguinhos e que
também não vamos à festa do champanhe, mas o nosso sangue caiu nesta terra,
nós apanhamos pelo menos. Se não der para colher boas frutas, colham o nosso
sangue. Ele está aqui.
Encerrando a minha manifestação, pedimos a ajuda dos senhores para
sensibilizar o secretário Osmar Terra. Esperamos que alguém diga a ele que no
nosso Estado há negros porque ele ainda não se deu conta dessa realidade.
135
O secretário administra a Secretaria Estadual da Saúde para Frederico
Westphalen ou para qualquer Município que não tenha negro. Como ele não tem a
menor noção disso, acho que alguém tem que dizer para ele.
Estou achando que o secretário está acompanhado de um espírito obsessor
e precisa ir a um culto de qualquer religião pois está acompanhado de coisa ruim. E
para ficar acompanhado de coisa ruim eu prefiro o mosquito da dengue, pois compro
veneno sem grande verbas e mato o bicho. Agora, ficar acompanhado mais quatro
anos com essa criatura, nem um nego merece.
Agradeço por esta oportunidade. Nada é por acaso. Domingo é Dia das
Mães, 13-05, que também é o Dia da Abolição da Escravatura e nós estamos
morrendo pela Anemia Falciforme. Esperamos que nossa governadora tenha a força
e a coragem que disse que teria, e acho que tem, para enfrentar a questão da
anemia falciforme pois quando ela estava em campanha política disse que essa
seria sua prioridade. O nosso Estado e o País sabe do seu comprometimento.
Não podemos morrer. Repita, senhora governadora, o ato da Princesa
Isabel e nos dê a liberdade a que temos direito. Não estamos pedindo nenhum favor
pois a Constituição nos garante a saúde. E não somos iguais perante a lei, mas
perante Deus.
Esperamos que 13-05 nos liberte desse mal. Se o secretário continuar – e
acho que continuará – que seja com clareza e noção de que negro é gente. Isso ele
vai ter que aceitar porque em época de eleições os deputados batem a nossa porta,
não escapa um. Nas grandes vilas como Restinga, Sarandi e Bom Jesus, em todos
136
os cantos a negrada está em peso. Chega. Está na hora de o Rio Grande do Sul
assumir uma postura e de assumir que há negros em nosso Estado.
Mais uma vez meus parabéns pela coragem dos senhores. Desejo que os
partidos políticos se unam. Quem sabe o deputado do PMDB, que estava presente,
consegue sensibilizar o nosso secretário Osmar Terra. Até o ministro da Saúde é do
PMDB.
Queremos a força do PMDB, que é o maior partido do governo Lula. Quem
tem o poder da caneta não sou eu. Não tenho nem a cor que favorece, que dirá a
caneta. Quem sabe os senhores dos diversos partidos políticos, que em época de
eleições fazem uma coligação bonita e dão um nome lindo, também façam uma
coligação bem bonita em torno da anemia falciforme? Quem sabe vão até o
secretário Osmar Terra pedir uma única coisa: respeito.
Respeito é bom, nos mantêm nos cargos, nos deixam entrar nas vilas, nos
mantêm unidos. E isso ele vai ter que fazer. Não vai ser preciso sentar com a
neguinha horrorosa da anemia falciforme porque sou feia como o diabo da Tanzânia,
mas deve sentar com quem tem que atender o público dos dois hospitais que lutam
e batalham e devem ser respeitados. Era isso que eu queria dizer.
O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Agradecemos a Caren
Fortunato, que falou em nome do Centro de Apoio ao Portador de Anemia
Falciforme, fazendo um importante relato para conhecimento da Assembléia
Legislativa e do Estado do Rio Grande do Sul.
137
Registro a presença do representante do Ministério Público, o promotor de
justiça Mauro Luís Silva de Souza, que sempre está presente nas nossas reuniões.
Concedo a palavra à Sra. Marlene Gazave para falar em nome da
Associação Gaúcha dos Familiares de Pacientes Esquizofrênicos.
A SRA. MARLENE GAZAVE – Boa-tarde a todos os presentes.
A minha vinda a esta comissão tem por finalidade colocar as dificuldades por
que passam os familiares dos pacientes esquizofrênicos.
O primeiro ponto que quero esclarecer é quanto ao fechamento de vagas
nos hospitais no momento da internação. Na reforma psiquiátrica foi dito que os
hospitais psiquiátricos seriam fechados mas seriam abertos o Caps e o NAPs para
atender os nossos pacientes.
O que se viu é que muito pouco desses Caps e NAPs foram abertos. Não
temos onde internar os nossos parentes quando entram em surto. O PAM da Vila
Cruzeiro do Sul está numa situação calamitosa, somente há vagas para 10
pacientes.
O jornal O Correio do Povo, de hoje, informa que já havia 28 pacientes,
sendo que 18 estavam deitados em colchões no chão porque não havia
acomodações. Inclusive o Cremers e o Sindicato Médico já visitaram aquele local
para fazer um levantamento das condições daquele centro de atendimento de
pacientes doentes mentais.
138
O que se seguiu foi uma interdição devido às poucas condições dadas aos
pacientes. O presidente do Simers, Dr. Paulo de Argollo Mendes, que faz parte
desta mesa, fez uma visita ao PAM e poderia esclarecer melhor a situação daquela
unidade.
Também gostaríamos que os hospitais psiquiátricos fechassem e que
ninguém precisasse usar dos seus serviços, mas também queríamos que essa
doença, que não tem cura, não existisse, seria um sofrimento a menos. Além do
paciente esquizofrênico, toda família sofre, padece e adoece junto. É uma doença
que isola e não permite que o paciente trabalhe. Ele é tido como vagabundo, porque
não quer trabalhar, porque a aparência é boa, e não diz nada.
Os sintomas são delírios, visões, ouvem vozes. Sofrem muito. Essas vozes,
muitas vezes, pedem que eles façam coisas ruins, como um filho dizer à mãe que
estão mandando ele matar o seu pai. Então, os senhores imaginem a situação de
uma família com um paciente nesse estado.
Felizmente, chegou para nós o que chamamos, pelo menos nós, São
Leponex, que é uma medicação, cujo sal chama-se closapina. Esse remédio veio
ajudar muito os nossos pacientes. Só que o doente não pode parar com esse
remédio, porque os sintomas voltam. Tudo que eles conseguiram, volta. É preciso
começar o tratamento: dar meio comprimidinho, um comprimido, um e meio até
chegar na dose necessária.
A nossa angústia é: será que este mês vai ter a medicação? Tu
conseguiste, Fulano? Tem, vai lá. Mas não pode, porque ainda não está na hora de
139
receber. Quando chega a hora, não tem mais o remédio. Daí mandam voltar no
outro dia e voltar depois de amanhã. Então fica-se naquela ansiedade, naquela
angústia para saber se vai receber o medicamento, se o nosso paciente, naquele
mês, vai ter o remédio. Então dois, três conseguem; meia dúzia não consegue e
assim vão indo. Um, quando tem, empresta para o outro, porque não pode parar. Se
diminuir meio comprimido, os sintomas voltam.
A minha filha, infelizmente, toma a quantidade máxima: nove comprimidos
de 100 miligramas cada um. O que fiz? Como estava difícil conseguir o remédio, eu
disse para tirar um só, que não ia fazer diferença. Eu disse a ela para não tomar o
do meio-dia, só tomaria os quatro da manhã e os quatro da noite. Pois, por incrível
que pareça, a minha filha voltou a ter um sintoma muito forte: falar sozinha. São as
alucinações que a levam a falar sozinha. Pergunto com quem ela está falando, e ela
responde que não sabe. Diz que quer parar de falar, mas não consegue, não se
controla. Pensa-se que sejam os delírios, as alucinações que, como ela diz, sua
cabeça tranca, o seu pensamento não vai.
Então, todos os nossos pacientes são, em geral, muito inteligentes. A
maioria são homens. Não sei por quê. Sempre começa nos homens aos 18, 20
anos, quando estão entrando no Exército ou saindo dele.
São médicos, arquitetos, engenheiros, advogados, todos já quase se
formando. Essa vida é ceifada, porque deixam de trabalhar, deixam de estudar, não
conseguem fazer nada. É ainda pichado de vagabundo, não quer fazer as coisas,
nada serve, nada está bom. E o preconceito começa dentro da própria família.
Lutamos também com o preconceito contra o doente mental. Ele é atirado de lado. A
família é escanteada porque, naquela casa, há um louco. Cuidado, não passa lá na
140
frente. Além de tudo, temos de conviver com esse preconceito.
Então, o meu pedido, em nome da Associação Gaúcha de Familiares de
Pacientes Esquizofrênicos, é que, pelo menos, essa medicação que foi a melhor que
existiu até hoje, não falte e que se procure abrir vagas em hospitais gerais para que
atendam aos nossos pacientes quando estiverem em surto. Obrigada.
O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Muito bem. Nós é que
agradecemos, Sra. Marlene Gazave, que fez um relato importante em nome da
Associação Gaúcha de Familiares de Pacientes Esquizofrênicos.
Queremos ainda, encaminhando para o encerramento da nossa reunião,
ouvir a manifestação do promotor de Justiça, Mauro Luís Silva de Souza, que tem
feito um trabalho importante nessa área e tem estado aqui conosco sempre que
possível.
Na seqüência, ouviremos o Dr. Paulo de Argollo Mendes, presidente do
Sindicato Médico do Rio Grande do Sul.
O SR. MAURO LUÍS SILVA DE SOUZA – Cumprimento o deputado Luciano
Azevedo; a Sra. Marlene Gazave; a Sra. Caren Fortunato; o Dr. Paulo de Argollo
Mendes; a Dra. Ana Carolina, representante do Almoxarifado de Medicamentos do
Estado; senhoras e senhores:
Nós, do Ministério Público, de fato, como disse o deputado Luciano
141
Azevedo, há muito tempo vimos acompanhando essa questão não só dos
medicamentos, mas da atenção à saúde como um todo no nosso Estado,
inicialmente aqui na capital e depois no nosso Estado inteiro. A partir da participação
nesses fóruns, nessas reuniões e em outros eventos que o próprio Ministério Público
organiza e leva a efeito, temos procurado orientar a atuação do Ministério Público no
sentido de que tenhamos um Sistema Único de Saúde organizado para essa
atenção integral.
Sabemos que hoje no Estado não reunimos as condições ideais para dar
esse atendimento, mas precisamos caminhar para isso. É o que buscamos a partir
da participação nesses ambientes, quer dizer, queremos identificar os pontos em
que o Ministério Público possa ser útil à atenção da cidadania e à atenção dessa
garantia constitucional, que é o direito à saúde. Queremos caminhar no sentido de
implementar essas ações.
Já é praticamente ponto pacífico que a implementação do Sistema Único de
Saúde, como ele foi concebido lá na Constituição de 1988, é uma história muito
longa que data mais ou menos da década de 60 e passa pela década de 70 até
chegar na VIII Conferência Nacional de Saúde, de 1986, que virou a Constituição de
1988. É uma caminhada muito grande por toda essa reforma, D. Marlene.
Lembro que ainda em 2002 fizemos um evento aqui na Andrade Neves, nº
106, em que tratávamos especificamente de um dos pontos que é a reforma
psiquiátrica para que tivéssemos tal atendimento e ainda hoje buscamos isso. Já
temos uma experiência muito grande na cidade de Caxias do Sul, onde não sei se
resolveu completamente o problema, mas se organizou a assistência à saúde
mental de tal forma que as reclamações diminuíram muito e se tem notícia de que a
142
população assistida, pelo menos aquela que tem acesso ao serviço, tem melhorado
bastante suas condições de satisfação com esse tipo de serviço.
Então, com essas ações buscamos implementar e fazer com que, de uma
forma geral, todos nós conheçamos o Sistema Único de Saúde e o implementemos
de uma forma que proporcione um atendimento melhor a toda população a partir de
ações básicas de saúde e principalmente do fortalecimento da participação social e
comunitária. É isso que, de alguma forma, as senhoras estão fazendo aqui hoje.
Esses fóruns são os ideais para que cobremos os nossos direitos de
cidadania daquelas pessoas que, de uma forma ou de outra, interferem nos
orçamentos que irão regular a atenção dessas ações, porque sem orçamento não se
faz coisa alguma. Temos lá na Constituição que, para a educação, o orçamento da
União, dos Estados e dos Municípios tem de contemplar 25%. E para a saúde a
União tem de comprometer um determinado percentual que não vem sendo
observado. Os Estados têm de comprometer 12% e os Municípios 15%.
Portanto, é justamente nessa busca que o Ministério Público tem caminhado
e principalmente para entender todo o processo de atenção, de diagnóstico, de
protocolo clínico de atenção, de produtos farmacêuticos que devem ou não devem
ser usados nessas ou naquelas circunstâncias para que se possa ter um padrão
mínimo de atenção no Sistema Único de Saúde que contemple o maior número de
pessoas.
Essa é a nossa busca, quer dizer, buscamos um Sistema Único de Saúde
que funcione como foi concebido constitucionalmente e, a partir daí, teremos, sim,
uma boa atenção à saúde da população, porque o SUS é, sem dúvida alguma, o
143
melhor sistema de saúde, e aquele de que todos nós poderemos um dia precisar e
depender dele. Por isso, é necessário que se trabalhe pelo fortalecimento do SUS.
Muito obrigado, deputado.
O SR. RELATOR (Luciano Azeredo – PPS) – Em nome da subcomissão
agradecemos à palavra do promotor de Justiça, Sr. Mauro Luís Silva de Souza.
De imediato passo a palavra ao presidente do Sindicato Médico do Rio
Grande do Sul, que nos honra com a sua presença, Dr. Paulo de Argollo Mendes.
O SR. PAULO DE ARGOLLO MENDES – Boa tarde a todos. Muito obrigado
pelo convite e por esta oportunidade de participar dessa discussão.
Nós, como médicos, temos olhados com muita preocupação o que vem
ocorrendo na área dos medicamentos, que não é de hoje, já é antiga. Talvez tenha
se agravado no governo anterior e no atual governo, mas, está construída através
de uma lógica extremamente perversa.
Não preciso dizer a vocês que, com enorme freqüência, se insinua que os
movimentos em defesa dos portadores daquela patologia estão em conluio com
laboratórios. Ouvi muitas vezes que os laboratórios criam associações de familiares
de doentes, financiam advogados e pagam para que as pessoas exijam o consumo
desses medicamentos. Então, é uma lógica extremamente perversa – evito dizer
canalha. E que vai sendo construído de uma maneira ir abarcando e convencendo
as pessoas no entorno.
144
Há pouco tempo, foi realizada uma reunião sobre o uso de medicamentos
especiais, estava presente Ajuris – não sei se o Ministério Público estava presente.
O sindicato dos Médicos não foi convidado, porque eles sabem o que vamos dizer
lá. Estavam presentes o Conselho Regional de Medicina, a Associação Médica, a
Associação dos Juízes – não sei se a Associação do Ministério Público estava
presente. Mas o sindicato não foi convidado, e isso não é por acaso.
Temos sistematicamente denunciado isso: primeiro, falta remédio porque
este é um País pobre e não tem dinheiro para fornecer remédios para o povo. Isso é
mentira, é uma mentira deslavada. Somos a 10ª economia deste planeta. Tem-se
muito dinheiro. O problema é aonde está sendo colocado esse dinheiro. Não
venham dizer que não há recursos. Falta dinheiro para vitamina e para remédios. Há
dinheiro para vitamina, e remédio de uso de pessoas que têm tratamento contínuo, e
medicamentos que são difíceis de obter de uso para pessoas que têm tratamento
contínuo. Dinheiro tem e está no bolso errado. E mais, desviar o dinheiro não é só
pegar o dinheiro público e colocar no seu bolso. É botar o dinheiro público aonde
não poderia estar. É o que ocorre neste Estado.
Aqui, há desvio de dinheiro público. O dinheiro que deveria estar na saúde –
acabou de falar o nosso promotor – o Estado não põe 6% na saúde dos 12% que
teria a obrigação. Então, os outros 6% são desviados de onde deveriam estar que
era para atender às questões da saúde da população. É um desvio criminoso porque
implica em perda de vidas. É isso que ocorre no nosso Estado. Em função disso,
eles não querem ouvir essa proposta. Por isso, não nos convidam a participar das
reuniões.
145
Existe – quero seguir o raciocínio da D. Carmem – todo um quadro de
discriminação – que é muito claro. É discriminação contra o negro e contra o pobre.
Um ministro da Saúde disse ao representante nosso do Rio Grande do Sul,
que não fui eu, que estava discutindo alta complexidade. Dr. o que o senhor quer? O
senhor quer fazer tomografia em pessoas que não têm emprego, que não têm nada
e nem compra nada. Então, esse é um dos problemas que temos de enfrentar. Se
quisermos fornecer remédios que sejam necessários para qualquer pessoa.
Os médicos têm em torno de 5 mil anos de história, nesses anos, nunca
fizemos diferença por cor, por instrução, religião, por poder aquisitivo e não faremos
agora porque o Estado não quer ganhar.
Na área da psiquiatria existe uma discriminação igualmente perversa. Nessa
área, foi feita uma chamada reforma psiquiátrica na qual foi jogada fora a água, a
bacia, a criança e etc. Isso ocorreu porque havia hospitais chamados manicômios
vergonhosos.
Vejam que não foi o médico que inventou o manicômio. Eu me sinto muito à
vontade para dizer isso aqui.
Temos denunciado diuturnamente a situação das emergências para que não
ocorra amanhã alguém dizer que os médicos faziam parte disso. Não fazíamos parte
disso e nem do manicômio.
Sou do pretexto à razão correta de fechar os manicômios e os hospitais
psiquiátricos. E se criou uma discriminação que impede inclusive o governante que
146
queira de criar leitos psiquiátricos. Não se pode criar novos leitos, hospitais e nem
atender às pessoas.
Foi criada fantasia a partir do momento em que desapareceu o termo doente
psiquiátrico, criou-se uma figura nova, que se chama sofrimento psíquico. Então, o
sofrimento está bom, porque o paciente está sofrendo. E digo ele está sofrendo,
assopro a ferida e está tudo resolvido porque não precisa de médico para isso. Se
cada pessoa que sofrer de algo, vai querer um médico para atendê-lo. Isso é uma
baixeza, inimaginável.
Se faz um movimento para extinguir a doença mental? Não existe doente
mental, mas sofrimento psíquico. Hoje em dia, o paciente não precisa mais ser
internado, que é mentira.
Em qualquer lugar do planeta existe hospital psiquiátrico para proteger o
paciente quando representa risco para si mesmo e para a sociedade. Basicamente,
hoje se interna o paciente nessas condições, porque ele está em perigo. E aí é
incluído o perigo social no sentido de que, às vezes, a pessoa está se expondo em
função da sua doença. E aqui abro um parênteses para contar um caso de uma
senhora idosa que foi minha paciente, tinha 70 poucos anos. Ela tinha distúrbio
bipolar do afeto. Não era psiquiatra e nem sou, era clínico dela. Telefonou-me um
filho desesperado disse que a minha, uma senhora educada, fina, delicada, está
sem roupa no meio da rua.
Então, essas pessoas têm de ser protegidas. Não é justo deixar em função
de uma patologia ou de uma doença, que ela não pediu para ninguém e que não
tem responsabilidade, que em função de uma doença, permita-se que a pessoa seja
147
exposta. E não é uma vizinhança que não está entendendo isso, não sabe o que
ocorre, fica julgando mal essa pessoa ou a sua família. Enfim, acredito que essas
pessoas têm direito a serem internadas pelo menos até que passe o surto. Hoje, só
se faz internação de pacientes agudos. E esta internação de agudos está sendo
negada através de todo um complexo que passa por legais existência da doença,
por fechar hospitais e leitos psiquiátricos e por remunerar cada vez pior a internação
de uma maneira que os hospitais cujos leitos não são fechados pela lei, mas pela
falência.
Há uma política do governo federal que se tenho 100 leitos e disponho-me a
fechar 10, continuam me pagando como se tivesse 100 leitos. Querem empurrar e
forçar os hospitais que têm leitos psiquiátricos para fechá-los.
Dizem em contrapartida que é possível abrir leitos nos hospitais clínicos
gerais. Se for possível, será ótimo isso.
Vejam, uma questão é 10 leitos psiquiátricos no hospital Espírita que tem
esta cultura e que trabalha com isso e possui um pessoal treinado. A outra, é se
quiséssemos hoje obrigar o Instituto de Cardiologia ter uma maternidade com 10
leitos. Isso gera uma despesa, uma mudança de foco e todo um transtorno que
encarece de tal forma. Para o Instituto de Cardiologia ter uma maternidade, não há
como fazer.
Então, dizem: “Eles não querem abrir num hospital clínico, num hospital
geral”
A mesma tentativa de jogar para os outros responsabilidades que agora
148
tentam passar para o médico, dizendo: “Os médicos prescrevem coisas que não
precisam, eles gostam de receitar remédios caros, receitam até medicamentos que
ainda não foram aprovados no País”.
Como se o cuidado que o médico tem em se manter atualizado, procurar o
melhor para os seus pacientes fosse uma safadeza, um crime.
Nesse conjunto de coisas há outras perversidades, porque o paciente vai lá
e não consegue o remédio, não sabe quando vai conseguir, retorna e pensa que
amanhã terá, pensa que por não ter num lugar terá no outro, as pessoas focam
sendo jogadas de um lado para o outro e fazem o mesmo com o médico.
Se eu prescrevo um medicamento caro, o paciente diz: “Faltou o senhor
carimbar o canto da terceira via”. Depois ele retorna e diz: “Mas o senhor não
justificou por que está prescrevendo este remédio caro, era para ter orientado o mais
barato”. Depois disso tudo ainda perguntam se o médico é especialista, porque no
papel não consta se é ou não.
Enfim, ficam inventando motivos para terminar com a paciência do médico,
do paciente e do familiar, é uma tentativa de jogar essas pessoas para fora do
sistema matando-as no cansaço criando dificuldades e etc.
Tudo isso para que? Para se apropriar e dar outro destino, irregular, para um
dinheiro que deveria estar colocado aqui.
Há um movimento perverso nesse Estado, que é o de tentar convencer as
autoridades públicas, o Ministério Público, os Juízes, pessoas que ainda podem
149
interferir nisso, porque a mim eles não ouvem, nem a senhora, nem o senhor, mas à
Justiça ainda obedecem, às vezes.
O Secretário de Saúde de Estado tinha obrigação de abrir 30 leitos
psiquiátricos que havia sido fechados e nós ganhamos isso na Justiça, passaram
dois anos e ele não obedeceu à determinação judicial, foi preciso uma ameaça de
prisão por desobediência judicial para que se abrissem os 30 leitos que agora
existem no Hospital São Pedro.
Portanto, o respeito ao promotor, ao Juiz não é lá essas coisas.
Mas ainda existe uma possibilidade de sermos atendidos, pois existe todo
um movimento, que é aquele que eu disse aqui, o qual não somos convidados para
falar, tentando convencer essas pessoas, promotores e Juízes, de que o médico ao
receitar um medicamento caro para o seu filho, ele o faz porque a senhora e ele
estão em conluio para ganhar dinheiro do laboratório e o advogado é pago pelo
laboratório.
Só nos falta dizer que o seu filho é doente ou que o médico está lá
atendendo para ganhar dinheiro às custas de algo, quando, na verdade, estamos
vendo quem está retirando dinheiro de forma escusa.
Quero dizer a todos que o Sindicato Médico do Rio Grande do Sul enxerga
com muita clareza o que está se passando, não somos de deixar as coisas do jeito
que estão, brincam comigo ao perguntar qual o caso que estou criando agora.
Mas é impossível ficar quieto diante de tais coisas, temos que ir para a briga
150
mesmo, não existe outra maneira.
O sindicato vê com muita simpatia o trabalho que vocês e outras
associações desenvolvem e estamos à disposição no que pudermos colaborar, não
estamos ganhando dinheiro de ninguém para fazer isso e eu imagino que vocês
também não.
Estamos à disposição no que for preciso e contem conosco.
O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Quero agradecer a presença
do Dr. Paulo de Argollo Mendes, presidente do Sindicato Médico do Rio Grande do
Sul.
Estamos encerrando a reunião da subcomissão, faremos a próxima na
Câmara Municipal de Vereadores de Pelotas, na outra sexta-feira, às 17 horas, onde
ouviremos a comunidade local.
Ao final dos trabalhos da subcomissão, vamos propor à Comissão de Saúde
e Meio Ambiente da Assembléia Legislativa, depois de ouvidas todas as entidades,
representantes, conselhos, sindicatos e pacientes, fazer uma grande audiência
pública com a presença do Secretário de Estado da Saúde, que é a autoridade
responsável por nos oferecer a resposta a essas demandas que toda semana se
acumulam e que nós, aqui, modestamente com a nossa limitação, estamos tentando
contribuir para solucionar.
Esperamos que nesta audiência pública possamos receber o secretário e
151
que possamos com ele presente reiterar todas essas manifestações dos pacientes,
dos familiares, das entidades, do Ministério Público, do sindicato médico e de todos
que por aqui têm passado para contribuirmos com uma melhor qualidade de vida
neste Estado.
O senhor não estava no início quando eu registrei que esse é o objetivo
dessa subcomissão, não temos a pretensão de resolver um problema tão complexo
e grave apenas no âmbito da Assembléia Legislativa, mas temos a pretensão de
trabalhar conjuntamente com os outros deputados para que isso não seja uma
política de governo transitória, passageira e ocasional, mas uma política de estado.
A saúde tem que ser uma política de estado e permanente, temos que
trabalhar para que, independente de quem seja o governante ou a facção política
que governa o estado, este seja um tema prioritário, porque envolve a vida das
pessoas, que é o bem maior que temos aqui.
Vamos propor à Comissão de Saúde esse debate e quero convidar a todos
a continuar conosco nas próximas reuniões, sempre às terças-feiras, às 17 horas,
neste plenarinho. Muito obrigado a todos.
DATA 18/05/2007: O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Em nome
da Assembléia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul, cumprimento a todos
que prestigiam esta audiência pública, a primeira interiorização da Subcomissão de
Medicamentos Especiais e de Uso Contínuo, da Comissão da Saúde da Assembléia
Legislativa.
É importante para todos nós começarmos o trabalho de interiorização desse
152
tema tão relevante para a vida dos gaúchos aqui de Pelotas e da Zona Sul. Em
nome da subcomissão que tenho a honra de coordenar, agradeço a presença de
todos. É importante termos aqui o maior número de manifestações, porque
queremos proporcionar, permitir, oferecer à comunidade regional a possibilidade de
discutir abertamente com Assembléia Legislativa esse tema para que possamos, ao
lado da população, ao lado da comunidade, transmitir ao governo essa sensação
que levaremos daqui.
Queremos colaborar para que esse tema, que é tão importante para vida de
tantas pessoas, possa ser tratado definitivamente, aqui no nosso Rio Grande do Sul,
como um tema de Estado, não um tema eventual e que, de vez em quando surge,
aparece. Quando é notícia ou é destaque, é lembrado e depois esquecido.
Nós, deputados estaduais, desejamos que esse seja um tema de Estado.
Que seja como a segurança, como a educação, e que possamos claramente dizer
aqui: medicamento não pode faltar. Em alguns momentos pode-se esperar para
tomar uma medida administrativa, ou para fazer uma obra, ou para construir uma
sala de aula. Entendemos que a medicação deve ser fornecida, entrega, oferecida
às pessoas que precisam, com regularidade, porque esse é um direito. Portanto,
estamos começando o trabalho com esse espírito.
Está aqui o deputado Pedro Pereira, bravo representante dessa região do
Estado na Assembléia Legislativa, autor da proposta que foi aprovada por
unanimidade, para que iniciássemos o nosso trabalho em relação a esse tema aqui
na Zona Sul. É graças ao deputado Pedro Pereira que estamos aqui. Foi dele o
insistente convite, o insistente apelo, o insistente pedido para que pudéssemos,
aqui, ouvir a comunidade e também oferecer a possibilidade de manifestação.
153
Saúdo o deputado Pedro Pereira que, além de tudo, é médico. O único médico entre
os 55 deputados estaduais que exercem mandato no Rio Grande do Sul. Por isso a
sua presença nessa subcomissão é ainda mais importante.
Saudamos o vereador Otávio Soares, presidente da câmara municipal, que
nos cede esse espaço. A presença do vereador nos orgulha e nos alegra.
Agradecemos a presença do presidente da Associação dos Ostomizados,
Amigos e Familiares, Isaac Bento; do presidente da Associação dos Transplantados
de Órgãos – Astradoc –, Sr. Jorge Silveira; da vice-presidente da entidade que
congrega, ou representa os portadores do Mal de Parkinson, Sra. Ziloá Silveira
Ferreira, aquela figura querida e simpática que está ali e, para minha alegria, tem
ligação com Passo Fundo, minha terra; da representação da OAB com seu conselho
de direitos humanos, tão importante para nós; do presidente do Conselho Regional
de Saúde, Luiz Guilherme Belletti; do presidente do Conselho Municipal de Saúde
Francisco Neto de Assis; da representante da Universidade Católica de Pelotas,
diretora da Faculdade de Farmácia, Iraci Pacholski; do professor de Farmácia da
Universidade Católica de Pelotas, Ricardo Ricci Falchi. A presença de todos é muito
importante para nós.
Vamos procurar ser o mais objetivo possível e muito informais. Queremos
conceder a todos a possibilidade de se manifestar.
Sou o deputado Luciano Azevedo, modesto representante de Passo Fundo
na Assembléia Legislativa e tenho a tarefa de coordenar este trabalho da
Assembléia.
154
Trabalharemos de forma muito informal, pedimos que todos se manifestem,
sejam objetivos nos seus relatos. Queremos ouvi-los e registrar o que será dito.
O SR. PEDRO PEREIRA (PSDB) – Colega deputado de Passo Fundo,
presidente desta comissão, Luciano Azevedo; presidente desta Casa, grande
batalhador, Otávio Soares; demais presentes já citados anteriormente; senhores e
senhoras.
É um prazer estar aqui, como médico e deputado, oriundo desta região do
Canguçu. Tenho certeza que a grande maioria de vocês têm raízes ou parentes em
Canguçu. Quando foi feito um levantamento, há anos, mais de 20 mil canguçuenses
haviam se deslocado para cá a procura de emprego, pela proximidade, pela pujança
de Pelotas. Temos um grande carinho por essa terra.
Eu me formei aqui em 1982. Devo muito a Pelotas que me deu uma
faculdade de Medicina, um curso gratuito de 1977 a 1982. Isso jamais vou esquecer.
Na última eleição, sem comitê, sem nada aqui, deu-me mais de 2 mil votos. Tenho
um carinho especial por essa terra e quero retribuir com trabalho.
Hoje de manhã, estive na colônia Maciel, num pleito da comunidade para
instalação de segundo grau, na escola Garibaldi. É um pleito nosso, dos vereadores,
do prefeito, da comunidade. Como deputado, temos essa facilidade de
encaminharmos e estamos colaborando com aquela comunidade, nos somando.
155
Estamos aqui para falarmos de medicamentos de uso contínuo. Eu, como
médico, sei melhor do que ninguém, o sofrimento de quem é portador de patologias
que necessitam deles.
Quando o deputado Luciano Azevedo mandou para Casa o pedido da
criação de uma subcomissão na área de saúde, pediu para esclerose múltipla, uma
patologia grave. Conversando, tivemos a idéia de estender uma pouco mais,
colocando outras patologias. De pronto, o deputado Luciano e os demais deputados
aceitaram. Incluímos, além de esclerose múltipla, fibrose cística, lúpus, anemia
falciforme, hepatites crônicas, Mal de Parkinson, Mal de Alzheimer, ostomizados e
transplantados.
Em Pelotas, há em torno de 500 ostomizados e 8 mil transplantados. Se
pegarmos todas as patologias e analisarmos, a situação é grave. A função dessa
comissão é ajudar, pleitear junto ao governo do Estado, ao governo federal para que
não faltem medicamentos, porque são de uso contínuo, caros – há casos de
despesas de até 8 mil reais mensais – e as pessoas, na sua grande maioria, não
têm poder aquisitivo para isso. Se fosse um mês, fariam sacrifício, venderiam um
carro ou um imóvel. Continuado, como vão manter?
A função da nossa comissão é árdua. Apesar de sabermos da crise do
Estado, que é uma situação terrível.
Em relação à saúde, a lei estabelece é um direito de todos e um dever do
Estado. É preciso que lutemos para isso. Fomos eleitos exatamente para isso.
Faremos de tudo. Já convidamos, no encerramento dos trabalhos no final de
156
junho, secretário de Saúde Dr. Osmar Terra, para uma reunião final, onde
entregaremos o relatório final a ele e cobraremos dele para que tenhamos – se não
totalmente resolvido – pelo menos amenizada essa situação.
Por exemplo, o laboratório Lafergs fechado há mais de dois. Claro que este
laboratório não fabrica medicamentos especiais, mas ajudava nessa situação. Não
entendemos direito isso.
Agora, estamos fazendo um convênio com a Fiocruz para que o Estado
possa fabricar em torno de 51 medicamentos, que dará uma ajudada para nós. Mas,
não é o ideal.
Queremos no futuro próximo que o Estado tenha condições de suprir em
torno de 80% ou 90% de medicamentos de uso contínuo. Se não puderem fabricar
os remédios, que se compre, mas não falte. Claro, sabemos que é difícil, muitos são
importados e os preços são altos. É preciso que haja alguma maneira em relação a
isso.
Saúde é fundamental, sempre digo isso. Não adianta ser jovem, ser bonito,
não adianta casa, não adianta carro, não adianta nada, se não tivermos saúde.
Ninguém está livre disso.
Só se dá valor a doença, quem já passou por pela doença, ou como eu que
sou médico e vivo há 30 anos no hospital. É necessário que cada um de nós
façamos a nossa parte.
Nós, como deputados e como partidários da nossa governadora, o deputado
157
Luciano Azevedo faz parte da nossa coalizão, faremos tudo que for possível para
resolvermos o problema. Caso tenhamos de ir até o impossível, iremos até lá. Se
não for resolvido totalmente o problema, mas, pelo menos, amenizarmos o
sofrimento dos nossos queridos homens e mulheres enfermos e mais
particularmente na nossa pobre Metade Sul, que era tão abandonada e esquecida.
Apesar da crise, já está havendo alguns avanços.
Citaremos dois, por exemplo, conseguimos liberar uma verba de 4.800 reais
para 265 reais para Canguçu e São Lourenço, 12 milhões de reais para 471 reais
para que a obra seja realizada entre Encruzilhada que ligará o Norte do Estado ao
Porto de Rio Grande. Começou a duplicação da estrada entre Rio Grande e Cassino
e há outros projetos.
Estou indo a Brasília, mais uma vez, na quarta-feira, faço parte, como único
médico, da representação da Assembléia Legislativa na comissão para salvar os
hospitais filantrópicos, são 239, e já foram fechados 16 hospitais. Não queremos que
feche mais nenhum. Pelo contrário, queremos reabrir os fechados. Há poucos dias,
foi fechado o hospital do Morro Redondo, foi feita uma peleia, e foi reaberto. Foram
reabertas internações. Queremos que sejam reabertos os blocos cirúrgicos e o Raio
X funcionando. Mas, a luta não terminou.
Quando me formei aqui, Sr. Presidente, havia seis hospitais em 1982 na
cidade. Hoje, quatro.
Vocês se deram conta disto: havia o hospital Santa Tereza e a Olívia Leite.
Dois já fecharam.
158
Quanto aumentou a população de lá para cá? Em vez de aumentar o
número de hospitais, foi reduzido, de seis existem somente quatro. E mal das
pernas, é bom que se diga.
Queremos lá defender a nossa região, a nossa Pelotas, que é aqui onde
desafoga. Quando complica em Canguçu, em Jaguarão, em Santa Vitória e em São
Lourenço, corre-se para os hospitais de Pelotas. Temos de estar alertas e
ajudarmos a nossa Pelotas e a nossa Metade Sul.
É com alegria que estamos aqui.
Esta reunião será muito proveitosa. Vamos aprender com vocês isso.
Queremos contribuir para que possamos amenizar o sofrimento das pessoas
necessitadas. Muito obrigado.
O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Agradecemos a palavra do
deputado Pedro Pereira, que se manifestará novamente no final da reunião.
Gostaríamos de ouvir a mensagem do presidente da Câmara, vereador
Otávio Soares. Em seguida, passaremos a palavra às entidades que estão inscritas.
E também as outras pessoas presentes que desejarem se manifestar sobre o tema
que nos traz à zona sul.
Concedo a palavra ao Sr. Otávio Soares.
159
O SR. OTÁVIO SOARES – Prezado, deputados Luciano Azevedo e Pedro
Pereira.
Quero ser iluminado para externar aqui algo que com certeza a comunidade
sente.
Falei ontem numa reunião, dirijo-me ao deputado Pedro Pereira porque
sabe da situação da Metade Sul. Outrora, esquecida, abandonada, de uma forma
letárgica sem esperança. Ontem, eu dizia numa reunião de uma comissão da
Assembléia Legislativa.
Hoje pela manhã, participei de outra reunião da Assembléia Legislativa;
agora participo de uma subcomissão, desta Casa, na demonstração eloqüente que
os representantes do povo do Rio Grande cruzam o Estado, como é o caso do
deputado Luciano Azevedo, que vem de Passo Fundo, que é deputado gaúcho, para
juntar-se com o deputado Pedro Pereira para nos auxiliar.
Então, para nós que estávamos sofrendo um processo de asfixia – não sei
qual seria o termo certo na linguagem da medicina. Vocês servem como a
oxigenação, devolvendo-nos a esperança que o nosso amanhã não será tão
sombrio. E que no horizonte a expectativa de novos dias para recobrar a esperança
de pessoas como os lutadores – que vejo aqui dos ostomizados, transplantados,
enfim que conseguem fazer caminho caminhando, construindo a estrada com seus
próprios passos e não esmorecendo. Lutando, lutando, lutando, conquistando e
abrindo espaços.
160
Vejo nas pessoas do Dr. Assis e do Beletti, presidente municipal, regional
dos conselhos da saúde e de todos os senhores que aqui estão presentes, como
deputados, pessoas que estão certamente ansiosas para dizer também das suas
vicissitudes, das suas agruras e das suas necessidades. Mas, acima de tudo, para
dizer que nós – falo na condição de presidente deste Parlamento municipal – somos
gratos a esta legislatura pela nova imagem que a Assembléia Legislativa do Estado
do Rio Grande do Sul adquire indo ao encontro das aspirações e das reivindicações
de todo o povo do Rio Grande, inclusive desta nossa Metade Sul tão esquecida e
tão carente. Muito obrigado.
O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Agradecemos a mensagem
do presidente da Câmara de Vereadores, vereador Otávio Soares. Iniciamos o
trabalho propriamente dito da nossa subcomissão.
Se alguém quiser se manifestar sobre esse assunto, teremos muito prazer
em ouvi-los. Ao final da reunião, se alguma pessoa quiser se manifestar, não há
nenhum problema. Estamos exatamente para isso, com toda a paciência e calma. O
importante é que possamos colher os relatos aqui e levá-los para Assembléia
Legislativa.
Concedo a palavra ao Sr. Isac Vitoria Bento. Amigos e familiares, Sr. Isac
Bento, que nos dá a honra da sua presença e fará um relato sobre as condições que
existem no município de Pelotas e da região da Zona Sul
O SR. ISAC VITÓRIA BENTO – Boa tarde meus amigos e companheiros,
161
primeiro eu gostaria de me reportar à mesa e fazer um agradecimento todo especial
ao nobre vereador que conhece a nossa causa há muito tempo, há
aproximadamente um ano ele viu o nosso sofrimento.
Não tínhamos do Estado e do município nem bolsa para ser usada, muito
menos qualquer outro material similar para usarmos como ostomizados.
Depois de uma grande campanha e um fortalecimento desta Casa aqui
estou, fomos a Porto Alegre falar com o Secretário Terra, não fomos muito bem
recebidos, na época, não vou dizer que fomos feitos de palhaços, mas brincaram
conosco naquela oportunidade.
Felizmente, com o nascimento de uma câmara técnica em Porto Alegre, a
qual nos convidaram para fazer parte, a partir disso conseguimos alguma coisa.
Hoje temos algum material, não temos tudo, conforme um relato escrito o
qual passei uma cópia para o deputado e trouxe uma para o Secretário Municipal de
Saúde, que não está presente, mas levarei a ele.
Nesse documento eu me reporto da seguinte maneira: A saúde é um direito
fundamental do ser humano, devendo a União, o Estado e o Município prover as
condições indispensáveis em seu pleno exercício. Sem esses três juntos a nós,
dificilmente conseguiríamos alguma coisa.
Felizmente, hoje temos politicamente um nobre edil pelotense, um nobre edil
de Passo Fundo, onde morei por seis anos e um nobre edil de Canguçu, que muito
bem tem representado a nossa região.
162
Nós, da Assofan, não representamos Pelotas simplesmente, atendemos a
todos os municípios da 3º Coordenadoria, ou seja, 22 municípios da região.
Dentro da coordenadoria, depois de um grande esforço, conseguimos entrar,
somos as pessoas que fazem a distribuição do material a esses municípios com um
serviço totalmente voluntário.
Gostaríamos de colocar o atendimento que, para nós, ostomizados, faz falta,
não só no que se refere às enfermeiras mas outras pessoas, como médico
proctologista, psicóloga, nutricionista, gastroenterologista e um urologista, que não
temos dentro do programa municipal.
Não é só o ostomizado que tem problemas, também os ileostomizados e
urostomizados.
Gostaríamos de obter um apoio melhor dentro do programa, das reuniões
mensais que temos e que não estão sendo realizadas, precisamos que aumentem a
quota e depois deste ano de peleia e conseguimos que o material viesse, porém
veio em pouca quantidade.
Precisaríamos dos protetores de pele, que não têm vindo, não adianta ter a
bolsa para colar junto à pele se a nossa pele na barriga não tem aquela resistência
da outra parte que tínhamos.
Precisamos que aumente novamente a quantidade que está vindo, que são
seis peças para aqueles ostomizados que usam um tipo de material e 20 peças para
163
os outros que usam outro número que seriam as bolsas fechadas, as quais não se
pode usar uma vez por dia.
O ostomizado, muitas vezes, apresenta problema de acidez que causa
diarréia e esta descola a placa deixando a pessoa desprotegida em qualquer lugar,
como já ocorreu comigo.
Fui jantar e tive que disparar do restaurante, porque, infelizmente, em
Pelotas ou em qualquer lugar do Estado não há banheiros em condições para nós,
não seria muito difícil, mas não existe.
Tive que chamar um táxi e este não quis me levar por que eu estava com as
fezes escorrendo pelo lado, tive que caminhar até encontrar um táxi de um
conhecido que me levasse para casa.
É uma estupidez, mas é a nossa necessidade, precisamos desse material,
porque isso acontece e ostomizado de hoje está aí mês a mês.
No mês passado, só em Pelotas, aumentou 5% em um mês, eram 197, hoje
são 205 só no município, o restante dos 21 municípios perfazem mais de 490
ostomizados, isso é crescente e ninguém vai a televisão, ninguém faz um programa.
Estávamos esquecidos, ninguém falava nisso, a não ser nós, quando nos
mobilizamos, a não ser os representantes desta mesa, nenhum programa de
televisão nos procura porque sabe que somos problemáticos, que iremos dizer o que
sentimos, que vamos mostrar a discriminação que existe, além de sermos nós quem
nos discriminamos, os outros também nos discriminam.
164
Muito obrigado, seria isso que eu queria colocar, já passei ao nobre
deputado um pequeno relatório com as minhas solicitações. Obrigado.
O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Agradecemos a manifestação
do presidente da Associação dos Ostomizados.
Quando faltar um minuto para o tempo estabelecido terminar, sinalizaremos.
Repito que todos os que desejarem se manifestar no final, por ter deixado de
falar alguma coisa, não se preocupem, não será por falta de tempo que deixaremos
de ouvir a todos, voltaremos a ouvir, se necessário for.
Registro com muita satisfação a presença da presidente do Conselho
Municipal de Saúde de Capão do Leão, Isabel Chagas, seja bem-vinda.
Saúdo também a presença da imprensa, além da TV / Câmara Municipal,
aqui de Pelotas, contamos também com a presença da TV/Assembléia, da RBS TV
e do Diário Popular, todos são muito bem-vindos, pois nos ajudam a amplificar essa
luta e a fazer aquilo conforme o Sr. Isac disse, que é transmitir, mostrar e relatar
com fidelidade esse problema que é de tantas pessoas.
Ouviremos o presidente da Associação Sul-rio-grandense de Transplantados
e Portadores de Doenças Crônicas – Astradoc, Sr. Jorge Silveira.
165
O SR. JORGE SILVEIRA – Muito boa tarde, obrigado pela oportunidade, Sr.
Presidente e Srs. Deputados.
Eu acho que o meu companheiro Isac já se emocionou falando a respeito
das dificuldades.
Nós representamos os portadores de doenças crônicas da região sul,
independente de qual patologia.
A Astradoc procura fazer um elo de ligação entre o usuário de
medicamentos especiais cedidos pelo Estado e o governo para que essas pessoas
adquiriam sua medicação em dia, porque isso é imprescindível à vida.
Eu digo nós, porque eu sou transplantado renal, uso uma enorme
quantidade de medicamentos e preciso desses medicamentos para manter o meu
órgão funcionando, porque foi um irmão que me doou e não vai me doar outro.
Hoje eu não irei falar das dificuldades que nós, portadores de doenças
crônicas, temos, que são inúmeras, mas como aqui estamos nos detendo no
assunto da falta de medicamentos especiais, eu trouxe uma prova de que não está
faltando tanto medicamento assim, se esses são sobra, então não há tanta falta.
Acho que está havendo uma falta de controle da racionalização na
distribuição desses medicamentos. A Astradoc existe há três anos.
Estamos trabalhando há dois anos. Durante um ano houve dificuldade em
ter acesso à Secretaria Estadual de Saúde porque dependemos do Estado para
166
obter o medicamento.
Quando falo nós, quero dizer todas as pessoas que recebem medicação do
Estado, ou seja, 4.500 pessoas em média em Pelotas e 8 mil pessoas em média na
Região Sul. Levamos, durante um ano, essa dificuldade de ter contato com a
Secretaria Estadual de Saúde para obter respostas e foi muito difícil. Depois de
muita insistência, o nobre vereador aqui sabe bem dessa luta. Então, conseguimos
ter acesso à secretaria e começamos resolver os problemas.
Durante o governo passado, tentamos de várias formas e maneiras levar um
projeto elaborado por nós de apoio ao Estado a fim de fazer a distribuição e controle
da medicação. Infelizmente, não obtivemos atenção adequada. O governo sabe
como fazer e fará sem ajuda de ninguém. Essa foi a impressão que ficou registrada.
Essa medicação aqui são de pessoas que recebem do Estado e acaba
sobrando. Se sobra esse tipo de medicamento, foi devido a má distribuição.
Isso serve para 10 pessoas e não para 4.500. Esse medicamento serve para
10 pessoas. O que sobrou dessas 10 pessoas nesse período de dois anos. Dessa
forma, foram repassando para a associação, se alguém precisasse disso, teriam
onde recorrer.
Temos aqui em mãos um documento carimbado e datilografado por uma
farmácia o valor desses medicamentos que estão aqui, nem todos estão aqui. É,
claro, que este valor é vendido no comércio. Neste valor, temos em torno de 22.400
reais.
167
Se pegarmos 10 pessoas que necessitam de medicamentos e fizermos uma
média em torno de 4.500 pessoas, teremos aqui 10 milhões de reais.
Caso consideremos que o governo pague em torno de 50% do valor de
venda dos remédios, teríamos 5 milhões de reais. Isso será dividido em 2 milhões e
meio por ano de desperdício só em Pelotas – se algum economista precisar me
corrigir tudo bem. A grosso modo é mais ou menos isso.
Precisa ser feito urgentemente – viemos tentando há dois anos – que o
Estado tem que abrir as portas para os parceiros que queiram ajudar a fazer a
questão funcionar corretamente.
Nós, como associação, queremos somente o bem-estar das pessoas que
representamos. Não é por luxo.
Não sou candidato a nada e nem pretendo ser. Só queremos o nosso
remédio. Queremos chegar à farmácia municipal onde é distribuída a medicação e
recebê-la. Este mês está tranqüilo em conseguir a medicação, mas não quero esse
pensamento. Quero estar sempre tranqüilo.
As pessoas quando recebem a medicação, ele saiu feliz. Essa pessoa
recebeu o remédio. Será que no mês que vem esse paciente vai receber
novamente?
Mais uma vez, solicito aos senhores deputados que estão tendo essa
iniciativa – não sei se é em toda a cidade – mas em todas as regiões com certeza é
de procurar nos dar espaço para que o governo nos ouça. Nós queremos colaborar,
168
porque se não tivermos a oportunidade de poder ajudar a receber o que é nosso,
quem é que irá fazer? É só o que a gente quer.
Lá na associação eu evito ao máximo falar para a pessoa procurar a justiça.
Nós evitamos, procuramos fazer o pedido administrativo, só que, infelizmente, às
vezes, não é possível por falta de diálogo, de oportunidade. Muito obrigado. Espero
que tenhamos mais oportunidades como esta para falar. Obrigado.
O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Nosso agradecimento ao
presidente da Associação dos Transplantados, Jorge Silveira. Passamos a palavra à
vice-presidente da entidade que representa os portadores e familiares do Mal de
Parkison, Ziloá Silveira Ferreira.
A SRA. ZILOÁ SILVEIRA FERREIRA – Represento a Associação dos
Portadores de Parkison. Somos uma associação ainda nova e usamos o termo que
o senhor falou, a gente faz o caminho, caminhando. Estamos caminhando atrás do
nosso objetivo que é ajudar a todas as pessoas portadores de Parkison. Nossa
associação, juridicamente, ainda não tem um ano, mas há quase dois anos estamos
nos reunindo e, aos poucos, as pessoas vão chegando, muitas demoraram a chegar
por falta de comunicação. Agora, dia 11 de abril, que foi o Dia Internacional do
Parkison, fizemos um trabalho de divulgação no calçadão divulgando a associação,
dando dicas e apareceu muita gente.
Iniciamos esse grupo com 4 pessoas e fomos indo, hoje estamos já com 50
associados. Não é fácil porque todas as dificuldades que as associações passam
169
nós também estamos passando, principalmente com os medicamentos para as
pessoas mais necessitadas. Já estamos com uma caixinha porque nós fazemos
trocas, quando sobre de alguém esta pessoa traz o medicamento e vamos
distribuindo para quem precisa. Fazemos sempre uma reunião por mês e quem
precisa de remédio, tendo na associação a pessoa leva. Às vezes sobra em casa e
vamos juntando.
O objetivo da associação é ajudar a todos e inserir o doente na sociedade,
porque quem sofre de Parkison geralmente tende a isolar-se, a ficar dentro de casa.
Começamos a motivá-los para que viessem se juntar a nós, porque sozinhos não
fazemos anda, mas se nos juntarmos venceremos a batalha.
Graças e Deus, muita gente tem chegado e se oferecido para auxiliar.
Temos uma advogada que nos auxiliou no registro da associação, temos uma
psicóloga que toda as sextas-feiras fala com os pacientes, temos também
estagiárias de fisioterapia que fazem um trabalho em grupo, por sinal um trabalho
muito bom e todos adoram. Aqueles que vão lá voltam sempre. Iniciamos este
trabalho no ano passado e este ano estamos fazendo outra vez.
Dificuldades vamos sempre ter. Agradecemos muito o convite para vir aqui,
porque assim teremos oportunidade de ter algum auxílio, principalmente quanto a
remédios. Temos pessoas com muita necessidade, inclusive muitos não estão hoje
aqui até por problema de locomoção, mas estão sabendo da reunião e sabem que o
assunto aqui são os medicamentos, eles têm muita dificuldade. Aqueles que podem
vão levando, mas aqueles que não podem, e não podem, muitas vezes, até ir ao
médico. A associação pretende, conforme for aumentando os sócios, quem sabe
amanhã ou depois termos um médico da associação que atenda essas pessoas que
170
têm necessidade.
É um trabalho novo que tem sido muito gratificante porque vemos que as
pessoas até melhoram no convívio, nos reunimos, fazemos até confraternizações,
eles gostam, participam, muitas vezes têm até dificuldades de locomoção, muitas
vezes com dificuldades até para falar, mas vão perdendo aquele medo de se expor.
Hoje mesmo tivemos uma reunião às 2 horas e um paciente foi a primeira vez que
foi e ele não conseguia falar, ficamos uma hora com a psicóloga e, no final, ele já
saiu falando, e saiu feliz. Muito obrigada.
O SR. EVALDO ANTUNES VIEIRA – Autoridades que compõem a mesa e
demais presentes meu cordial boa tarde.
A nossa associação é uma associação nova, foi fundada em outubro de
2006, e uma novidade em Pelotas. Temos trabalhado com afinco divulgando a
doença de Parkison, seus sintomas e as conseqüências que ela causa aos doentes.
Nosso problema maior é a questão dos medicamentos. Tem o tratamento
medicamentoso e o tratamento complementar, o tratamento complementar é a
fisioterapia, a audiofonologia, psiquiatria e terapia ocupacional. Esses trabalhos a
associação pode dar, já está fornecendo, mas o medicamento é o problema maior,
porque temos associados com salário mínimo, aposentado pelo SUS e não têm
condições de comprar os remédios, e o remédio não pode faltar, se faltar o remédio
a pessoa fica entrevada. Esse é o problema.
Estive me informando na farmácia do Estado sobre os procedimentos para
conseguir o remédio e me informaram que tinha que preencher uma ficha, levar para
171
o médico, voltar com a ficha e dentro de 40 dias o remédio estaria à disposição. Mas
notei que muita gente chegava lá procurando o remédio e não tinha, ou tinha uns e
não tinha outros, e a Frolopa é o carro chefe do tratamento. Os remédios mais caros
são os que faltam primeiro pois chegam em menos quantidade. O que se percebe é
que há uma falta de medicamentos para distribuição. Esse é o maior problema.
Quanto à divulgação, a associação foi criada com a finalidade de atender
àqueles com maior necessidade e procurando proporcionar uma melhor qualidade
de vida. Obrigado pela oportunidade.
O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Nós é que agradecemos a
sua manifestação. Quero registrar a presença do 1º vice-presidente da Câmara
Municipal, vereador Ademar Ornel. Passo a palavra ao presidente do Conselho
Regional de Saúde, Luíz Guilherme Beletti.
O SR. LUIZ GUILHERME BELETTI – Boa tarde a mesa, cumprimento os
deputados por esta interiorização, sair de seus gabinetes e vir ouvir o pessoal da
regional. Isto é bastante interessante e espero que continua ao longo desse
mandato. Todos sabem o quanto é difícil nos deslocarmos até a Capital. Enquanto
Conselho Regional, a última reunião fizemos no município de Canguçu, a pedido do
prefeito e do pessoal do hospital, visto que o hospital de Canguçu tem uma clínica
completa, montada e parada há dois anos porque não consegue o credenciamento
por algumas normas exigidas que inviabilizam a abertura dessa clínica de
hemodiálise.
172
Em termos de medicamentos, o que temos sentido como presidente do
Conselho Regional e também no Conselho Municipal é que, infelizmente, várias
pessoas, hoje, deixam de levar o alimento para a sua mesa, deixam de comer para
comprar o medicamento. Este é um quadro bastante crítico no nosso dia a dia.
Esperamos que a governadora e o secretário Osmar Terra manifestou isso na última
reunião do Conselho Estadual de Saúde que, a partir de 2008 cumprirá com os 12%
da emenda constitucional, se cumprir com esse 12%, com certeza teremos mais
recursos para medicamentos e irá abranger também os hospitais, como disse o
deputado Pedro Pereira, estão numa situação caótica e existe a promessa para, no
próximo ano, termos recursos novamente destinados aos hospitais.
O que lamento e esta Comissão precisa levantar, é a questão do LAFERGS.
Não dá mais para o LAFERGS estar fechado. Eu participei e fui o único usuário da
Região Sul da 1ª Conferência Nacional de Medicamentos, lá o então ministro
Humberto Costa, na época colocava que nós, no Brasil temos dezenove laboratórios
que são públicos ou pertencentes à universidades federais. Na oportunidade, desse
dezenove, quatro estavam totalmente fechados, com todo o maquinário para
produzir a medicação, mas totalmente fechados e, dos outros quinze somente
quatro estavam com a capacidade plena de funcionamento. Nos laboratórios
públicos temos capacidade de produzir uma quantidade bem maior de
medicamentos. Para isso é preciso que os deputados, que nós do controle social,
enfim, que a população em geral exija isso. Infelizmente no nosso País temos uma
influência muito grande das multinacionais que acabam dominando o mercado.
Achei interessante esta última medica presidencial cortando a patente do
medicamento da Aids e precisamos ainda cortar a patente de vários outros
medicamentos.
173
Para concluir, precisamos ter um grande controle, precisamos melhorar
muito a regulação, assim como falta medicamentos para muitos pacientes que
deixam de comer para comprar sua medicação, também há medicações que
acabam sendo ociosas dentro do quadro.
Eu acompanho tanto a terceira coordenadoria como a própria farmácia
municipal e sabemos que algumas compras, muitas vezes, são feitas a mais no
quadro.
Hoje, têm vindo três pedidos de fraldas descartáveis para um paciente
apenas, sendo que, muitas vezes, nem todos os pacientes conseguem receber.
A regulação é um fato que a comissão precisa levar em conta, embora
estejamos inseridos em um novo processo de controle, a regulação de distribuição
de medicamentos no nosso Estado precisa ser melhorada. (Palmas)
O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Muito brigado Luiz Guilherme
Beletti, presidente do Conselho Regional de Saúde.
Vamos ouvir o presidente do Conselho Municipal de Saúde, que terá o
privilégio de falar no espaço do vereador Idemar Barz, em seguida ouviremos a
representante da OAB, Marleni Souza Bederode, a quem saudamos junto com a
Dra. Eliane Battisti, que está aqui conosco.
O SR. FRANCISCO NETO DE ASSIS – Como presidente do Conselho
174
Municipal de Saúde estou aqui muito mais para ouvir e levar essas reivindicações
para a plenária do conselho.
Como voluntário de uma instituição quero me manifestar, embora não seja
usuário de medicamentos especiais, mas conheço aqueles usam, represento uma
instituição que atua há 9 anos basicamente promovendo a doação de órgãos, a
parte assistencial dos transplantados fica a cargo de Jorge Silveira, que já se
manifestou.
Estou nessa situação há 9 anos, eu perdi um filho esperando um transplante
e hoje chego a absurda conclusão de que, talvez, tenha sido melhor, ao ver a
situação daqueles que lutam em busca de medicamentos para preservar o enxerto
que receberam.
Fico pensando: Será que o meu filho merecia viver esse tipo de situação?
Talvez seja egoísmo da minha parte, mas às vezes eu chego a essa conclusão,
repito, que parece absurda.
É por conta dessa motivação que estou atuando na área de saúde como
voluntário e atualmente presidindo o Conselho Municipal de Saúde.
Dentro da ADOTE – Aliança Brasileira pela Doação de Órgãos e Tecidos,
temos uma preocupação muito grande com a hepatite C que é a principal causa de
indicação de transplante hepático no mundo.
No Brasil das 6 mil pessoas em lista de espera para transplantes, 70% são
derivadas da hepatite C.
175
Amanhã, 19 de maio, é o Dia Internacional de Combate e Prevenção da
Hepatite C.
O que é preciso ser feito? A questão do medicamento é séria, porque o
tratamento de hepatite C custa na ordem de R$70 mil, se a pessoa tiver a sorte de
se encontrar num estágio tal da doença que o protocolo permita que se utilize o
medicamento.
A portaria 863 do Ministério da Saúde prevê que tem direito ao tratamento
da hepatite C aquelas pessoas cujo dano no fígado esteja avançado, quem está na
fase inicial não tem direito ao tratamento, a não ser entrando na Justiça e nós temos
orientado as pessoas a entrarem na Justiça.
Em Pelotas essa questão do medicamento para a hepatite C já está mais ou
menos resolvida depois da criação do CAMMI – Centro de Aplicação e
Monitoramento de Medicamentos Injetáveis, foi criado junto à universidade federal
graças a uma ação nossa juntamente com ela.
Para se ter uma idéia o nosso trabalho com a hepatite C começou em
agosto de 2005, naquela época havia 350 pessoas cadastradas no ambulatório do
fígado da Universidade Federal de Pelotas. Hoje, são 1.100 pessoas, sendo que 75
estão em tratamento sem nenhuma dificuldade para encontrar o medicamento. E os
que têm dificuldade são os que não atendem à portaria 863.
Em vista disso, a nossa principal reivindicação é para alterar essa portaria,
permitindo que todos, mesmo na fase inicial, tenham direito ao tratamento ou ao
176
retratamento, caso não tenha dado certo a primeira terapia.
A hepatite C é um problema de saúde pública muito mais grave do que a
AIDS. Segundo estatísticas, reconhece-se que há 650 mil pessoas portadoras do
HIV, no Brasil, e 5 milhões de portadores de HCV, o vírus da hepatite C.
Em Pelotas, estima-se que há 5.000 a 6.000 pessoas portadoras do vírus da
hepatite C, mas temos conhecimento de apenas 1.100 doentes, ou seja 20% dessa
estimativa.
Daqueles que entram em contato com o HCV, cerca de 20% dos portadores
poderão cronificar num período de 15 a 20 anos. E, se não fizerem tratamento,
podem ir para a fila do transplante. Com esses dados, é muito provável que nos
próximos 10 anos a fila de transplante, que hoje tem de 5.000 a 6.000 pessoas, se
multiplique por 500. Com essas informações, podemos dimensionar o que
representa o problema da hepatite C, hoje.
A grande questão, a que o Jorge se referiu, talvez seja a distribuição, a falta
de regulação e o controle dos medicamentos porque há muitas perdas, desvios e o
abusivo preço por parte dos laboratórios.
O custo de 70 mil reais do Interferon Peglado, medicamento para o
tratamento da hepatite C, é um absurdo. Em outros países, o mesmo produto custa
dez vezes menos. Há algo de errado no nossa legislação ou na nossa maneira de
agir que propicia esse custo.
Essas eram as questões que eu queria colocar e agradeço a oportunidade
177
que me proporcionaram para passar essas informações.
O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Agradecemos a manifestação
do presidente do Conselho Municipal de Saúde.
Antes de passar a palavra para a representante da OAB, Dra. Marleni Souza
Bederade, coloco a palavra, se quiserem fazer uso, ao presidente do Conselho
Municipal de Saúde, de Capão do Leão, e à Dra. Maria Valquíria Silveira,
representante dos portadores do Mal de Parkinson.
Quero fazer um agradecimento especial aos meus companheiros de partido,
aos filiados do PPS, do Município de Pelotas.
A SRA. MARLENE SOUZA BEDERADE – Cumprimento o Sr. Relator e
demais presentes.
A OAB, está representada pelos direitos humanos, por meio da minha
pessoa e da Dra. Eliane Battisti. Ficamos muito sensibilizadas e felizes por saber
que há pessoas interagindo em benefício dos portadores das doenças mencionadas.
Nos nossos escritórios, sabemos dos problemas que acarretam essas
doenças e tentamos fazer o possível para resolver as dificuldades dos nossos
clientes.
Muitas vezes uma liminar é deferida para concessão de um medicamento.
178
Mas ocorre que não existe o medicamento e o processo pára. Me alegro por ver
essas pessoas reunidas na busca das soluções para o problema da falta de
medicamento.
A nossa comissão é nova e em uma das primeiras reuniões que realizamos,
na OAB, falei para a Dra. Eliane sobre a falta dos medicamentos de que conheço um
pouco até por motivos pessoais. Estou muito feliz por saber que há gente lutando e
nós nos colocamos à disposição na Comissão de Direitos Humanos da OAB de
Pelotas no que for possível, mas sabemos que, às vezes, não adianta intentar uma
ação se não existe o medicamento. A liminar é concedida pelo juiz, o advogado luta,
corre, não cobra nada, mas não adianta porque não há o medicamento.
Meus parabéns aos senhores. Meu respeito a todos que compareceram e às
autoridades presentes. Vamo-nos dar as mãos e lutar sempre. A Dra. Eliane e eu
nos colocamos à disposição e estamos empenhadas em tentar solucionar esse
problema. Obrigada.
O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Nosso agradecimento às
representantes da Ordem dos Advogados do Brasil.
Concedo a palavra à presidente do Conselho Municipal de Saúde de Capão
do Leão, Sra. Isabel Chagas, mas não mais a vejo aqui. Falará em seguida se
retornar. Concedo a palavra à advogada, representante dos portadores do Mal de
Parkinson, Dra. Maria Valquíria Silveira. Em seguida, vamos ouvir a Sra. Neuza
Beatriz.
179
A SRA. MARIA VALQUÍRIA SILVEIRA – Sr. Presidente, muito boa-noite,
porque já está noite. Ao meu amigo Ademar Ornel, boa-noite; Sr. Presidente da
Câmara de Vereadores.
Falo em nome da Associação dos Portadores do Mal de Parkinson, que são
muitos. Inclusive o último papa, que era um papa gremista e brasileiro, era portador
do Mal de Parkinson. Alguém disse aí que o papa é gaúcho, e tinha de ser gremista.
Voltando ao tema dos medicamentos que nos traz aqui, o debate está
lançado. Sabemos, pela nossa vivência, que medicamentos há. Se estão ou não
disponibilizados, é diferente. O que temos que ter em mente é que a doença do Mal
do Parkinson é progressiva. Não há cura, não há volta. Começou, só tende a se
agravar. Se é uma doença progressiva, temos de tratá-la sempre, sempre. O não-
uso da medicação nos horários e nas dosagens estipuladas compromete a vida, ou
seja, o resto de vida que existe.
Então, sabemos que o Estado tem dificuldade, que o Município enfrenta
dificuldades, mas também enfrentamos dificuldades. Estamo-nos organizando e
tentando fazer a nossa parte de modo voluntário, dando a nossa contribuição para
melhorar essa situação e esperamos obter o respaldo necessário do Estado do Rio
Grande do Sul. Muito obrigada.
O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Também está conosco a Sra.
Neuza Beatriz, que é mãe da Ingrid, que possui alergia alimentar severa. A Sra.
Neuza tem tempo à disposição para se manifestar. Pediria às pessoas que depois
180
desejarem se manifestar, façam sua inscrição com a assessoria da subcomissão.
A SRA. NEUZA BEATRIZ – Boa-noite a todos. Agradeço o espaço que os
senhores estão nos dando. Estou representando a Ingrid Arduin, portadora de uma
patologia grave. Alimenta-se por sonda a cada duas horas. Hoje tem uma
gastrostomia de um ano, desde que nasceu. Lutamos contra o Estado a cada mês
para ter o leite da Ingrid.
O valor do leite é 425 reais a lata. São 50 latas ao mês, o que dá em torno
de 21.250 reais. Ela esteve cinco meses internada, saindo do hospital sem ter direito
à dieta. Alimentava-se por água durante cinco dias. Neste mês, novamente lutamos
para não faltar sua dieta. Perante o juiz, a Dra. Neusa Ledesma, sua advogada hoje,
luta por ela desde 2005, e a gente não teve a demora da abertura do cofre para
buscar o dinheiro. No mês passado, tirei o dinheiro, porque muitos amigos a ajudam
com essa conta bancária. São 425 reais, comprei seis latas, e esse dinheiro é para o
seu tratamento, porque ela precisa de mais medicamentos.
Ela foi internada outra vez, ao aparecer uma outra doença intramuscular, a
extra- piramidal, que ataca os nervos. Nessa semana, ela ficou novamente dois dias
alimentando-se com água. É difícil um advogado dizer-me: aguarde, pois se trata de
uma criança que tem oito anos!
Como mãe, venho lutando há oito anos. Hoje, a vi se alimentar com água, é
difícil. E tem outros fatores, isso a impede de ir à escola e ter uma dieta de duas em
duas horas. É impossível chegar ao juiz, porque a burocracia existe. Estou lutando,
porque ela também luta. Tenho amigos que todas as vezes nos acompanham bem
181
de perto.
Ela não está aqui, mas saiu da escola com fome. Nunca sabemos se, ao
chegar o dia marcado, teremos o leite no Estado. Durante 15 dias, procuramos e
começamos a diminuir o leite dela. É uma criança que se alimenta a cada duas
horas, são 24 horas por dia. Eu sou mãe, enfermeira, sou tudo dela. Não desisto.
Espero que vocês nos dêem uma força, que o Estado, no mês seguinte, lute
para ter esse leite, porque não é um medicamento, é um alimento e não tem outro
para ela se alimentar. Há oito anos, ela se alimenta desse leite, que é importado da
Inglaterra. Juntamente com a 3ª Coordenadoria, já tentamos uma empresa para nos
fornecer esse leite, mas nada conseguimos.
Peço a vocês que me consigam dez latas de leite para hoje. Até quando
durará esse alimento, não sei dizer. Não posso dar a ela a dieta prescrita: são 12
dietas ao dia. Com o representante, conseguimos uma liberação, mas ele também
não tem o medicamento de que ela necessita. Nunca sabemos o outro dia nem até
quando teremos esse alimento.
Sei que existe a Justiça, o bloqueio da conta do Estado. Não adianta mais
me mostrarem a Constituinte, a Lei do Adolescente. Onde está o direito da Ingrid,
como criança? Ela é apenas uma criança de oito anos que está cursando a 2ª Série
do Colégio!
Quando ela saiu do hospital, o que mais me pediu foi para ir a escola. O
Estado me proibiu que fizesse isso, porque ela tinha a fome e não poderia freqüentar
as aulas. Quem é mãe e pai sabe disso. Deus não a impediu de se alimentar como
182
nós, e está presente conosco. Muito obrigada a todos pela atenção.
O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Agradecemos a presença da
Sra. Neuza Beatriz.
Ao chegarmos aqui, em Pelotas, vimos uma mobilização da comunidade
juntamente com os órgãos de comunicação para auxiliá-la.
Queremos colocar a Comissão de Saúde e Meio Ambiente, presidida pelo
deputado Alberto Oliveira, à disposição para que trate sobre esse tema. Tenho a
certeza de que o deputado Pedro Pereira, que é completamente vinculado aos
problemas da Metade Sul, levará o problema à discussão, na Comissão de Saúde e
Meio Ambiente, para que possamos oferecer a contribuição da Assembléia
Legislativa a essa questão.
Com a palavra o Sr. Félix Barbosa Filho, que é profissional liberal.
O SR. FÉLIX BARBOSA FILHO – Boa-noite a todos. Cumprimento os
componentes da mesa, na pessoa do presidente, deputados e pessoas presentes.
Na condição de cidadão e profissional liberal, agradeço ao Jorge, com o qual
aprendi, pois estamos na mesma luta, ele no lado dos dependentes de uso contínuo
e eu na criação de uma instituição que acho que nos complementaremos. Como
cidadão, acho muito pontual esta Comissão porque a saúde realmente está na UTI.
Nem tudo está perdido, a política está com sua imagem muito denegrida, mas não
183
podemos generalizar. Esta proposta que vocês trazem é oportuna, agora tem que
ser, de fato, implementada, para não cairmos naquela mesmice que, através dos
tempos, sabemos que o assembleísmo e muito discurso é bonito, agora, temos que
partir para a prática de fato.
Me solidarizo com todos os cidadãos aqui, representantes das instituições
do terceiro setor. Segundo me consta a governadora, dentro das dificuldades que
está, tem olhado com muitos bons olhos o terceiro setor. O Jorge coloca muito bem,
os senhores têm que abrir esta porta de oportunidades para nós. Eu, embora não
seja dependente, me solidarizo porque uma instituição que estou tentando construir
para dar apoio a pessoas carentes de baixa renda, sem visão política, partidária nem
ideológica e sim uma política e uma ação social e assistencial.
A oportunidade é marcante, a crítica é perfeita, perdoem-me a franqueza,
srs. deputados, mas acho que é por aí que vamos começar a mudar este País,
quando houver esta interação e esta franqueza olho no olho e nós cobrarmos de fato
aquilo que é responsabilidade não só dos senhores como das câmaras de
vereadores, a representação que é dita. A gente confia na palavra de vocês e
acredita-se que esse sangue novo, e digo sangue novo porque são novos que estão
chegando lá, comprem esta idéia com a devida magnitude, dignidade e o caráter
que estão voltados, porque sabem que o nosso povo está cansado de ouvir
discursos, e não sou eu, a história conta.
Estou há quarenta anos na luta, dividindo 20 de regime militar, 20 de
redemocratização e 4 de inclusão de um partido que falava na inclusão, e
crescemos a 1%, com todo o respeito ao Haiti, alguma coisa está errada nisso aí, ou
não temos o devido envolvimento e a cidadania, ou quem nos governou até então,
184
pecou ou usou isso simplesmente como discurso de formação de palanque eleitoral.
Cumprimento mais uma vez esta comissão e espero que sejamos ouvidos.
Deixo uma mensagem de solidariedade a todas as instituições, pois acho magnífico
este trabalho, isento de qualquer tipo de pretensão e sim de solidariedade cidadã
com os nossos companheiros. Obrigado.
O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Agradecemos sua
participação. Passamos a palavra para o representante da Associação dos
Ostomizados, Amigos e Familiares Clair Barboza.
O SR. CLAIR BARBOZA – Boa noite a todos, acho que todos aqui estamos
reunidos por uma só causa, tanto faz transplantados, customizados, mal de
parkison, queremos resolver a situação. Também temos que entender o outro lado,
que é uma burocracia, leva-se mais de 15 dias, após uma licitação, após um
processo de licitação, para que o Estado efetue a compra. E depois da compra leva
mais quantos dias? Vem da Inglaterra, tem que passar pela Anvisa, tem que passar
pela Polícia Federal, pela Receita Federal.
Já nem chamo de burocracia e sim de burrocracia. Só para resumir, acredito
que o que todos os presentes falaram e reafirmaram, é que para solucionar é
preciso um aglutinamento de ações. Que os ostomizados, transplantados,
portadores de mal de Parkinson, profissionais, membros dos serviços de saúde,
conselhos e gestores possam agir harmoniosamente embuídos de que só o avançar
será benéfico. Ainda existem situações setoriais que devem ser urgentemente
185
enfrentadas a fim de melhorar o atendimento a todas essas pessoas portadoras de
deficiências ou doenças crônicas.
Para isso há a expectativa de que agora, por derradeiro, possamos
conseguir o solicitado. Agradecemos a atenção e a receptividade desta audiência.
Muito obrigado.
O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Agradecemos a presença do
representante da Associação dos Ostomizados, Sr. Clair Barbosa.
Concedo a palavra ao vereador Ademar Ornel, 1º vice-presidente da
câmara, figura importante aqui da comunidade.
O SR. ADEMAR ORNEL – Saúdo os deputados que nos honram com sua
visita em nossa cidade.
Demonstram, acima de tudo, o compromisso político de homens públicos
com as causas que nos são muito próximas, no caso os problemas de saúde aqui
debatidos.
Queremos saudá-los pela atenção, carinho com que ouviram as
dificuldades, angustias e esperanças de nossa gente.
As pessoas presentes têm nos procurado constantemente, trazendo suas
preocupações. Temos ido em verdadeiras caravanas, buscando a atenção da
186
secretaria da Saúde, mas não temos obtido a atenção que o caso merece.
Lamentavelmente o secretário conduzido ao cargo parece pouco sensível
aos problemas das doenças crônicas. Só apresenta números e números e pede
paciência, mas as pessoas estão com a vida em jogo, não podem ter paciência.
Para todas as pessoas que aqui estão é muito importante este debate com o
Parlamento gaúcho. Levem de Pelotas este sentimento que temos e também a
esperança de que poderemos melhorar a situação.
Já falamos isso ao secretário, quando esteve em Pelotas, mas dados
estatísticos não solucionam os problemas. Os números são muito frios, sentimo-nos
tocados quando passamos por uma situação real, quando é com um parente da
gente, isso vale muito mais do que um número.
Quero dizer que, como vereador de Pelotas, sinto-me honrado em ver dois
deputados virem aqui em busca de soluções para o nosso povo. Que Deus abençoe
a cada um de vocês e que em outro momento possamos comemorar a solução
desses problemas. Muito obrigado.
O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Agradecemos a presença
importante do vereador Ademar Ornel nesta audiência pública da subcomissão,
prestigiando a Assembléia Legislativa, com a participação também do presidente da
Câmara de Municipal de Pelotas, Otávio Soares, trazendo o prestígio e a
experiência desses líderes que convivem, há tantos anos, com essas questões
importantes para a comunidade local.
187
O SR. PEDRO PEREIRA (PSDB) – Sr. Presidente, estou feliz por estar aqui
e, ao mesmo tempo, angustiado com os relatos, pois, como médico, já tinha ciência
da situação grave em que nos encontramos neste momento.
Tenho um ditado que costumo usar muito: no momento em que me elegi
deputado, o meu partido passou a ser partido da Metade Sul do Estado, até porque,
se partido fosse bom, já dizia alguém inteligente, não seria partido seria inteiro.
O nosso compromisso é lutar ao lado de vocês. Sabemos da situação do
Estado. A governadora é uma pessoa sensível. Pegou o Estado falido. Não vamos
culpar ninguém, até porque essa situação já vem de 25 a 30 anos. Ela está tentando
fazer sobrar dinheiro, e há duas medidas fundamentais sendo tomadas em
conseqüência disso.
Para os senhores terem uma idéia, hoje, a folha de pagamento absorve 85%
da receita líquida do Estado, 50% com os aposentados e 50% com os ativos. Os
aposentados não têm culpa. Trabalharam, contribuíram e merecem ser tratados com
respeito, e serão. Só que nenhum governo criou um fundo para pagá-los, e o rombo
estourou agora.
Temos uma dívida grande com o governo federal: 17% da receita líquida vai
para a União. Esse dinheiro gira em torno de 200 milhões de reais. O que o Estado
está fazendo? Duas medidas fundamentais estão sendo tomadas para fazer sobrar
dinheiro.
188
Atualmente, sobram 15% da receita líquida para investimentos. Só a área da
saúde, por lei, exige 12% da receita líquida do Estado. Vamos cumprir o resto como,
se temos ainda as áreas dos transportes, obras, educação, agricultura e turismo a
atender? O que a governadora está fazendo? Conseguiu um milhão de reais para
renegociar a dívida federal e reduzir a parcela do governo federal. O governo do
Estado venderá algumas ações do Banrisul, a fim de criar um fundo de
aposentadoria. Só assim sobrará algum dinheiro.
Ela sabe que a saúde é fundamental e tem dito isso claramente. Estamos
cobrando, e a prova disso é que bati de frente com o secretário, há poucos dias,
quando, de forma arbitrária, fechou o Hospital do Morro Redondo. Fizemos reabri-lo
na pressão. Como médico, a gente sabe melhor do que ninguém o que significa o
sofrimento. Por isso, queremos lutar, noite e dia, ao lado de vocês. Vamos fazer,
sim, sobrar dinheiro.
São três áreas fundamentais: saúde, educação e segurança, mas a saúde é
a mais fundamental delas. Já disse isso na minha manifestação anterior. Sem
saúde, não se chega a lugar nenhum. Quando se vê uma mãe fazer um desabafo
desses, há que se ter sensibilidade. Queremos lutar mais do que estamos lutando
para ajudar este Estado, as pessoas doentes.
Nós teremos outra audiência, como já falou o deputado Luciano Azevedo. A
primeira foi na Metade Sul, a próxima será em Itaqui, na divisa com a Argentina, e
mais adiante iremos a Caxias do Sul, Santa Maria e Passo Fundo, para, junto com a
governadora e o governo federal, encontrarmos soluções.
Neste ano, o governo federal retirou do orçamento da Saúde 5 bilhões e 800
189
milhões de reais. Isso é um horror. Nós temos que unir Município, Estado e União
para resolvermos o grave problema desta Nação maravilhosa.
Este País é maravilhoso, conheço quase todo o Brasil, participei de dois
projetos Rondon, morei em São Paulo cinco anos, quando me formei fui até o Acre:
todo o ano nós viajamos. Este é um País onde todos deveriam ter seu emprego, sua
casa, seu carro e seu plano de saúde, para não dependerem do SUS. Infelizmente,
acontecem as roubalheiras, os desvios de verba, e na saúde é onde mais desviam,
mais roubam. E o povo sofre com isso.
Contem conosco, vamos pelear como deputado, como médico, juntamente
com o deputado Luciano Azevedo, nesta Subcomissão. Sou membro titular da
Comissão de Saúde e faço parte da Comissão de Serviços Públicos. Não pude estar
aqui ontem, pois estava numa audiência com o secretário Osmar Terra em defesa
dos hospitais filantrópicos. Estive em Brasília e irei na semana que vem novamente.
Estamos ao lado de vocês.
Queremos agradecer o carinho de todos vocês, desta Casa, que nos recebe
de forma tão carinhosa. Também queremos agradecer os presidentes, os
vereadores, a imprensa, as entidades presentes e os funcionários da Assembléia,
que nos acompanham e são pessoas maravilhosas.
Chegamos lá, como marinheiros de primeira viagem e nos sentimos em
casa. Também quero agradecer, mais uma vez, a Pelotas. E a prova do nosso
carinho por Pelotas é o fato de ter comigo dois pelotenses em Porto Alegre: um lá e
o outro aqui. O Vicente Amaral cuida do meu escritório, na Salvador Mendonça,
entre Osório e Deodoro, e o Paulo Roberto Barbosa está em Porto Alegre conosco.
190
Temos um grande compromisso com esta terra, com esta Metade Sul que
amamos e respeitamos tanto. Como disse o vereador Ornel, que Deus nos dê
saúde, nos proteja, pois com essa chance tenho certeza que faremos tudo para
amenizar e reduzir o que for possível do sofrimento de milhares de gaúchos,
especialmente de milhares de pelotenses, canguçuenses, leonenses, riograndinos,
bem como de milhares de irmãos nossos da Metade Sul, da nossa pobre mas muito
querida e respeitada Metade Sul. Se antes não a respeitavam, agora vão ter de
fazê-lo, pois, lá, tem um deputado que não tem medo nem de cara feia e nem de
tamanho.
Dizia na campanha que tamanho e cara feia não me metiam medo. Do
tamanho sinto falta, quando quero apanhar laranjas, pois sou do interior e tenho que
pegar algo para poder derrubar as laranjas. E cara feia, para mim, significa duas
coisas: ou fome, ou doença. Se for fome, damos comida, se for doença, receitamos
um remédio: eu sou médico.
Muito obrigado. Que Deus nos proteja, que Deus nos dê forças para
continuarmos nessa luta, que iremos vencer, sem dúvida nenhuma. Muito obrigado.
Se Deus quiser, teremos a oportunidade de vir aqui muitas vezes. Nós
estamos à disposição no escritório em Pelotas, no sétimo andar, assim como o
deputado Luciano Azevedo. Hoje, somos uma grande coalizão para ajudar o Estado
a encontrar um novo rumo e ajudar, porque é quem paga o vereador, o prefeito, o
deputado, o presidente. Somos empregados de vocês. Nós, políticos, devemos a
vocês, no mínimo, muito respeito. Devemos vir às bases dizer o que estamos
fazendo. Se for preciso nos xingarem, que nos xinguem. Se por preciso puxarem
191
nossas orelhas, que puxem. Estamos ganhando um bom dinheiro. Quem achar que
é pouco, eu vá fazer outra coisa. Dá para se dizer que é um salário muito bom se
compararmos ao salário mínimo.
Muito obrigado. Se Deus quiser, esta audiência pública será de muito
proveito.
O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Desejo, de público,
cumprimentar o deputado Pedro Pereira que, na verdade, não exagerou. A zona sul
está muito bem representada na Assembléia Legislativa por seus representantes. O
deputado Pedro Pereira está entre eles, sempre valente, sempre brigador, sempre
atuante, sempre com posições firmes e muito claras. Ele tem sido para nós, que o
conhecemos a pouco mais de 90 dias, uma grata companhia e um parceiro muito
leal das boas causas do Rio Grande do Sul, especialmente feliz na sua reivindicação
quase obsessivo por fazer o início dos nossos trabalhos aqui pela zona sul. Eu lhe
dizia que tivesse calma, que iríamos a Pelotas e a outros Municípios da zona sul. Ele
insistia que a zona sul não pode esperar, que Pelotas tinha que ser o primeiro local a
ser visitado, que ele não admitia que fosse diferente disso. Aqui estamos nós,
fazendo o início do trabalho nesta cidade. Tenho certeza de que valeu a pena, de
que recolhemos aqui muitas manifestações importantes que contribuirão para aquilo
que poderemos fazer.
Meu caro presidente da Câmara de Vereadores, meu caro vereador Ademar
Ornel, é importante registrar aqui, com muita franqueza, que o Parlamento, seja ele
municipal ou estadual, como é o nosso caso, tem limitações. Não resolveremos essa
questão dos medicamentos. Que isso fique claro para que ninguém aqui ou em
192
qualquer lugar do Rio Grande do Sul diga, como ouvi hoje, que os deputados fazem
reuniões e, depois, não resolvem o problema. A nossa função, a nossa tarefa é, em
primeiro lugar, oferecer oportunidades para que a população se manifeste, articular,
com as entidades que estão aqui, condições para que os problemas sejam
resolvidos – e queremos fazer isso –, oferecer os nossos mandatos para tornar mais
forte, mais vigorosa, mais vibrante essa voz que os senhores têm tido aqui na zona
sul, que outros têm tido na Região Norte, no centro do Estado, para que possamos,
definitivamente sensibilizar os governos para o fato de que esse é um problema
sério e permanente do Rio Grande do Sul.
No início, eu dizia que a política de medicamentos deve ser uma política
permanente de governo, como segurança e educação. Não é algo que deva ser
eventual, ocasional ou sazonal. Deve estar sempre em primeiro lugar, porque trata
da vida das pessoas. Essa é a contribuição que queremos modestamente dar lá na
Estado do Rio Grande do Sul. Temos já chamado a atenção para esse tema, uma
atenção, como disse aqui o Sr. Isac Vitória Bento, que não havia em outros tempos
com esse trabalho que estamos fazendo, percorrendo o Estado. Esperamos
sinceramente colaborar para que o remédio chegue em dia, para que não haja
angústia do paciente, para que não haja medo, preocupação que sabemos ser do
paciente e da sua família, do pai, da mãe, de todos aqueles que têm uma situação
desse tipo nas suas casas. Queremos estar ao lado dos senhores, sem a promessa
de resolver o problema. Hoje, eu disse aqui, numa rádio de Pelotas, que se fosse
fácil, alguém já tinha resolvido. Não é fácil, não é rápido, não é simples, não é
barato, mas queremos contribuir para que o problema seja solucionado. Temos que
trabalhar para isso em rede, em comunidade, em coletividade, ajudando aquelas
pessoas que têm essa preocupação que também é nossa na Assembléia
Legislativa. Contem conosco.
193
Por fim, quero, como coordenador da subcomissão, convidar todos para
aquilo que esperamos que, no mês de agosto, seja um final feliz dessa novela que
tem se arrastado há tanto tempo. Pretendemos realizar uma audiência pública final
na Assembléia Legislativa. É importante a presença do secretário da Saúde, Osmar
Terra, que compareça à audiência e possa ouvir tudo aquilo que escutamos no
interior e na Capital do Estado, também os conselhos, as entidades, as famílias e os
deputados. Mesmo que tenhamos de passar um dia inteiro lá – e temos disposição
para isso – tomara que possamos solucionar o problema, é que desejamos. É
importante que as pessoas participem desta reunião e mobilizem-se nessa próxima
reunião, que será realizada na Assembléia Legislativa.
Nós comunicaremos à Câmara de Vereadores, ao deputado Pedro Pereira,
ao vereador Ademar Ornel e presidente, para que todos possam estar conosco
participando da mobilização à comunidade regional. E também o secretário da
Saúde – como alguém já citou aqui – tem muito boa vontade, mas não tem a
solução do problema.
Posso ouvir vocês aqui, os representantes de Passo Fundo, de Caxias, de
Santa Maria e de Porto Alegre aquilo que os deputados tenham ouvido a fim de
construirmos juntos uma solução. São todos nossos convidados para que no mês de
agosto realizaremos uma reunião na Assembléia Legislativa.
Digo para a senhora que se manifestou aqui que levaremos a esta
Comissão da Saúde e Meio Ambiente, deputado Pedro Pereira que encaminhará
isso.
194
Agradeço a presença de todos os presentes, especialmente dos meus
companheiros de partido do PPS. Estão presente o presidente Saad Salim, querido
amigo, Brito e os outros companheiros, é muito importante a presença de vocês aqui
nesta reunião.
Fico honrado em poder voltar a Pelotas. Muito agradecido pela recepção
calorosa e sempre muito simpática que tivemos aqui nesta querida Princesa do Sul,
que me encanta, cada vez mais, quando volto aqui. Muito obrigado.
Está encerrada a reunião.
DATA 22/05/2007: O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Boa-tarde
a todos. Saudamos a presença de todos e agradecemos a atenção com o nosso
convite para que realizemos a sétima reunião da Subcomissão Especial da
Assembléia Legislativa que discute a questão do fornecimento dos medicamentos de
uso especial e de uso contínuo no Estado do Rio Grande do Sul.
Está conosco, à minha esquerda, o deputado Pedro Pereira que tem sido
um membro ativo, participativo e atuante da nossa subcomissão. Repito a
informação, porque sempre é importante: ele é o único médico entre os 55
deputados estaduais. Por isso sua presença aqui se reveste de um caráter
especialmente importante. Agradeço a presença do nosso colega, deputado Pedro
Pereira.
Também estão conosco a vice-presidente do Conselho Estadual de Saúde,
lá em Passo Fundo, Dra. Maria Beatriz Kunkel; a vice-presidente do Sindicato
Médico do Rio Grande do Sul, Dra. Maria Rita de Assis Brasil; a representante da
195
Secretaria da Saúde do Estado, Sra. Simone do Amaral; o representante do
Ministério Público, Dr. Mauro Silva de Souza, cuja participação é importante; ele tem
estado conosco quase como um integrante da subcomissão; a representante do
Conselho Regional de Farmácia, a farmacêutica Karen Zazulak, a quem
agradecemos a presença; e o hematologista do Hospital de Clínicas, Dr. João
Ricardo Friedrisch, a quem também agradecemos.
Aguardamos ainda a presença do deputado estadual Gilberto Capoani, do
PMDB, que integra a subcomissão.
Vamos objetivamente dar início aos trabalhos sempre utilizando o mesmo
rito. Como esta é uma reunião da subcomissão, concederemos a palavra por 10
minutos a cada um dos nossos convidados. É importante ouvir e receber as
contribuições e os relatos de todos, a visão de cada um, a contribuição e as
sugestões para a busca que aqui na Assembléia temos feito na tentativa de
contribuir com a solução deste problema real e grave que atinge milhares de famílias
e que vem sendo discutido e debatido já há bastante tempo no âmbito da
Assembléia.
Temos dito que esta subcomissão, obviamente, não tem o condão de
resolver o problema, que é muito grave e real da falta de fornecimento ou da falta de
regularidade no fornecimento dos medicamentos, mas ela é mais um elemento no
sentido da expressão da sociedade gaúcha ao lado das ações do Ministério Público,
dos movimentos dos conselhos, da movimentação dos pacientes e dos seus
familiares para que possamos caminhar nesse sentido.
É por isso que estamos realizando esta atividade que pretendemos seja
196
encerrada ao final dos 120 dias de trabalho com a presença do secretário estadual
de Saúde, Dr. Osmar Terra num grande ato. Ouviremos as entidades, os conselhos,
os pacientes, o Ministério Público. Encaminhar a solução do problema, é o que
esperamos.
Então, passaremos a ouvir as manifestações. Concedo a palavra por 10 min
ao hematologista do nosso Hospital de Clínicas, Dr. João Ricardo Friedrisch.
O SR. JOÃO RICARDO FRIEDRISCH – Boa-tarde, Ilmo Sr. Deputado
Luciano Azevedo. Ao cumprimentá-lo, cumprimento as demais autoridades
presentes e os senhores e senhoras.
Na verdade, o que trago é um problema para reflexão do nosso debate. Sou
presidente da Associação Gaúcha de Doença Falciforme. A doença falciforme é a
doença genética mais freqüente na população humana. Cursa com uma anemia
muito grave, com crises dolorosas muito intensas e muitas infecções. Existe um
medicamento chamado Hidroxiuréia, que previne de uma maneira muito importante,
as manifestações gravíssimas dessa doença. Estamos vendo que a Hidroxiuréia
está faltando na rede de distribuição de medicamentos. Ora, uma vez faltando essa
medicação, o que está acontecendo? Os pacientes estão procurando maciçamente
a emergência do Hospital de Clínicas por crises dolorosas, por complicações
infecciosas e por necessidade de transfusão sangüínea.
Então, a falta dessa medicação vem acarretando um gasto público muito
maior – eu diria até – dezenas de vezes maior do que o custo real dessa medicação.
Esta é a problemática que trago: a falta dessa medicação específica chamada
197
Hidroxiuréia vem fazendo com que os pacientes tenham intercorrências clínicas
graves, corram risco de vida, diminuam sua expectativa de vida, porque essa
medicação tem um impacto na sobrevida do indivíduo, ou seja, os indivíduos que
usam essa medicação regularmente sobrevivem por mais tempo do que os que não
usam.
Estamos vendo um gasto muito maior do Estado em termos de controle das
crises dolorosas, controle das infecções e também gastos com hemoterapia em
função da falta dessa medicação. Basicamente, seria essa a questão que trago
como membro da Associação Gaúcha de Doença Falciforme.
O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Agradeço o Dr. João Ricardo,
que, se desejar, a seguir, poderá novamente se manifestar. Concedo a palavra à
vice-presidente do Conselho Estadual de Saúde, Sra. Maria Beatriz Kunkel.
A SRA. MARIA BEATRIZ KUNKEL – Cumprimento a Mesa e o Sr.
Presidente. Cumprimento todos os usuários de medicamentos de uso contínuo e o
pessoal que está participando deste momento importante.
Eu, como integrante do Conselho Estadual de Saúde, tenho duas missões a
trazer como usuária que sou do SUS. Agradeço a gentileza de quem colocou junto
ao meu nome doutora, mas sou agricultora. Trabalho com os agricultores, trabalho lá
na ponta. Então assistimos ao trauma, à dificuldade que existe em relação ao
acesso ao serviço.
198
Quando falo em usuário, defendo o direito irrestrito e igualitário a todo
cidadão contribuinte deste País. Mas também estou aqui como um colegiado, como
um conselho. Estou representando o conselho, estou representando 52 entidades.
Como representante desse colegiado, temos uma discussão um pouco mais ampla
do que só uma questão. Quando falamos em direito à saúde, também temos de falar
sobre a dificuldade que nós, usuários, temos ao acesso a esse serviço, o acesso à
rede, à porta de entrada do SUS. É lá que as coisas não funcionam. É na rede
básica do SUS que temos dificuldade. Aí começam as dificuldades.
Quando falamos de média e alta complexidade, muitas vezes, o básico
deixou de ser trabalhado com eficiência. Sentimos isso no dia-a-dia como
conselheiro municipal na região. Quando se fala que as pessoas precisam de
medicamento contínuo, pensamos que, como agricultores, quando planto uma
árvore, e ela tem um ano, facilmente a arranco, mas quando ela tem 20 anos, há
mais dificuldade de ser arrancada.
Portanto, o que está faltando em nosso País, em nosso Estado, na nossa
região, é uma política de prevenção, de educação, aliás, as conferências municipais,
estaduais e nacional vêm resgatar um pouco essa discussão. Então, temos de
começar a pensar nas dificuldades que temos. Em primeiro lugar, está o acesso ao
sistema e aos planos privados, pois há muitas dificuldades quanto a isso.
O Conselho Estadual de Saúde não pode defender, única e exclusivamente,
apenas uma parte. Temos que defender o acesso irrestrito ao nosso direito
constitucional.
Nesse ponto vou um pouco mais longe. A Constituição tem uma emenda
199
que diz que o Município deve disponibilizar 15% de verba para essa finalidade.
Muitos Municípios disponibilizam esse valor porque senão o Tribunal de Contas
manda prender os prefeitos, no entanto, o Estado não repassa os 12% previstos em
lei.
Ainda assim, o Estado do Rio Grande do Sul aprovou um orçamento que
não contempla esses 12%. E não foi por falta de alerta do Conselho Estadual de
Saúde. Muitas vezes falta dinheiro, mas, na realidade, não falta, não. Esse dinheiro
está sendo usado para outras situações e não para a saúde. É desviado do SUS
para outros órgãos. E a União também deve aplicar 10% na saúde.
Então, gente, além de brigarmos por medicamentos, também somos
parceiros nisso. Precisamos ter acesso ao sistema com mais facilidade, organizar a
rede básica para não chegarmos a um caos pior do que esse em que nos
encontramos e fazer com que os entes federados cumpram a lei da Constituição, os
12%.
O Conselho Estadual de Saúde é parceiro na briga pela busca ao direito
constitucional adquirido. Mas também temos que brigar para que esse direito seja
usado de forma igualitária, que todos possam ser atendidos, e não apenas um.
Esta é a nossa briga e estou à disposição para perguntas. Muito obrigada.
O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Agradecemos à vice-
presidente do Conselho Estadual de Saúde, Sra. Maria Beatriz Kunkel.
200
Registro que o presidente do Sindicato Médico do Rio Grande do Sul, Dr.
Paulo de Argolo Mendes, está viajando. Por isso, passo a palavra à vice-presidente,
Dra. Maria Rita de Assis Brasil, para ouvirmos a posição do Sindicato.
A SRA. MARIA RITA DE ASSIS BRASIL – Boa-tarde a todos os presentes.
Este assunto sobre os medicamentos, que tem a maior gravidade, vem
sendo discutido cronicamente. A Maria Beatriz historiou o retrato da saúde pública, o
modo de viver na ponta, a dificuldade de acesso e a inacessibilidade à rede básica.
Abordando mais diretamente a questão dos medicamentos, como
conselheira do Conselho Estadual de Saúde, posso dizer que esse tema também já
foi objeto de discussão, em comissão. Não é de hoje que lutamos em relação a esse
problema.
Lembramos que a população tem problemas crônicos de saúde, que precisa
de medicamentos, muitas vezes muitos simples e baratos. Mas há também os de
uso contínuo, conforme a pauta desta reunião.
No entanto, com freqüência esses medicamentos têm o seu fornecimento
suspenso porque os Municípios, o Estado e a União não fornecem. Esses
medicamentos são caros, as pessoas não têm acesso e sequer podem comprar.
Alguns desses medicamentos são de uso contínuo, como para Mal de
Parkinson, para os transplantados, para os portadores da Anemia Falsiforme, para
os doentes mentais cuja suspensão da medicação pode ocasionar problemas
201
gravíssimos, não só para eles mas para toda a comunidade em que estão inseridos,
e assim por diante.
Como se sabe, temos esse gasto público, que é enorme em decorrência da
suspensão dos medicamentos. Lembro, neste momento, dos transplantados.
Quando há falta de medicamento para rejeição do órgão, estamos colocando uma
vida, no amplo sentido do significado, em risco absoluto, assim como a comunidade
e a família. Nesse ponto também há uma perda do Estado, na medida em que
podemos perder esta vida cujo investimento, somente na cirurgia, é em torno de 60
mil reais a 100 mil reais, valor do procedimento de transplantes de modo geral pago
pelo Estado.
O Estado, que tem obrigação de proporcionar os medicamentos, coloca em
risco não apenas uma vida, mas um investimento, que já foi retirado do orçamento
da saúde de muitos outros gaúchos que não tiveram acesso ao tratamento de
caráter terciário.
Também quero lembrar os protocolos do Ministérios da Saúde. São dois
volumes impressos que tratam das doenças mais raras e caras do povo brasileiro.
Defende-se tanto a existência desses protocolos que, na verdade, não apenas
tratam do tratamento efetivo dessas patologias, mas também tratam de obstaculizar
o acesso dos pacientes aos tratamentos das suas doenças.
No Rio Grande do Sul, para dar um exemplo, ocorreu por duas vezes o
encontro da Secretaria Estadual da Saúde com o Poder Judiciário e o Ministério
Público para discutir a questão dos medicamentos no nosso Estado. Se o promotor
lembra, nesses encontros são discutidos os tratamentos, que são muito caros, para
202
pessoas portadoras dessas doenças.
Também gostaria de lembrar que temos inúmeras pessoas, uma
percentagem muito grande da nossa população, com problemas de hipertensão
arterial sistêmica, diabetes mellitus e aqueles, representados pela Beatriz, do
interior, que são os agricultores que cultivam a terra e muitas vezes se tiverem os
seus medicamentos suspensos por falta no posto de saúde, terão a sua saúde
agravada e com risco de morte.
A suspensão ou o não fornecimento de medicamentos para pressão arterial
alta e para diabetes mellitus piora o estado de saúde dos portadores dessas
doenças. E sem a proximidade de um posto próximo para reavaliar a sua saúde, não
conseguem avaliar como está a glicose do seu sangue, o que já é muito complicado
para quem vive na cidade grande.
Se eu desconfiar que comi alguma coisa adocicada aqui na Assembléia
Legislativa, é muito fácil, basta ir ao posto médico onde poderei fazer o exame no
dedo para ver, imediatamente, como está a minha glicose.
São inúmeros os pacientes que nos chegam com diabete descompensado
ou mal compensado que, no decorrer da sua vida, fatalmente levará a uma
insuficiência renal, à necessidade de amputação de membros porque não tiveram –
uma doença que é prevalente no povo brasileiro – o controle adequado e porque o
acesso aos postos é difícil. Se nas cidades grandes é difícil, no interior é mais difícil
ainda.
Esses doentes, sem atendimento e controle adequados, fatalmente perderão
203
a vida ao redor de 40/50 anos, quando muito 60 anos. Esse é um problema que
estamos discutindo nesta comissão, que aborda a questão dos medicamentos de
uso contínuo.
O programa Hiperdia, para portadores de hipertensão e diabetes, funciona
por meio do governo federal, que tem o dever de proporcionar acompanhamento à
população brasileira. Mas não raro há falta de medicamentos nos postos de saúde.
Da mesma maneira abordo a questão da hipertensão arterial que, muitas
vezes, leva a um acidente vascular cerebral prejudicando a qualidade de vida do
paciente e da família, porque elas não conseguem atender de maneira adequada
uma pessoa que se torna dependente, que não se locomove e não se comunica de
maneira adequada.
Temos os medicamentos de uso contínuo daquelas patologias específicas
de pacientes como os já citados, os falciformes, os que têm parkinson e os doentes
mentais, esses também sofrem a falta de medicamentos.
Lembro-me de uma entrevista concedida por Angela Garcia que dizia que o
paciente portador da doença de parkinson é uma pessoa cujo cérebro está
funcionando, mas fica completamente paralisada pela doença, pois a hipertonia é
tão significativa que não consegue executar tarefas simples como colocar um talher
na boca ou um sapato no pé e assim por diante.
Existem pacientes que dependem desses medicamentos e que estão
completamente atirados sem a medicação necessária.
204
Temos claro o seguinte: existe o artigo 196, da Constituição, que garante o
atendimento, temos a emenda constitucional 29, que diz que 10% do orçamento da
União, 12% dos Estados e 15% dos Municípios devem ser destinados à saúde.
O Estado do Rio Grande do Sul, que deve destinar 12% à saúde, acaba
destinando menos de 5% à saúde do seu povo.
Se estamos aqui com representantes de entidades de patologias, falando
em nome do povo do Rio Grande, temos que ter um agente que é o Estado do Rio
Grande do Sul, que a Simone representa, reconhece o problema e sabe das
dificuldades por que passam os portadores dessas doenças, temos que ter um
agente que cumpra a lei a qual não está sendo cumprida.
Temos esses encontros que muitas vezes trazem o Judiciário e o Ministério
Público para conscientizar no sentido de que quando abrem um processo
reivindicando algum procedimento e no caso medicamentos de uso especial, que
são caros, segundo dizem eles, são estimulados por laboratórios para que
reivindiquem os medicamentos e assim por diante.
Em um determinado encontro em Brasília, há um ano e meio, mais ou
menos, lembro-me do representante do Ministério Público Federal, que disse em
nome do Ministério Público Federal naquele momento a seguinte frase: “Enquanto a
União, os Estados e os Municípios não proporcionarem o que devem para a saúde,
ou seja, enquanto não cumprirem a emenda constitucional 29, o Ministério Público
se compromete a conceder parecer favorável às reivindicações dos portadores das
doenças”
205
Na verdade, o que tem acontecido hoje é que muitas vezes o Judiciário é
quem tem proporcionado saúde à população no Estado do Rio Grande do Sul e no
nosso País, porque é ele quem, determinando o fornecimento que o Estado tem
obrigação, proporcionou atendimento a esses necessitados.
Para encerrar, por outro lado também temos a CPMF que foi uma luta do
ministro Adib Jatene no sentido de proporcionar mais uma forma de se conseguir
saúde à população brasileira, no entanto menos de 50% da CPMF é destinada à
saúde.
Então, se esse cobertor curto que é o Sistema Único de Saúde quer
proporcionar saúde à população e for muito curto e pequeno, não tenho a menor
dúvida de que ele poderia se transformar em pelo menos o dobro do que temos hoje
e com melhor gestão, melhor encaminhamento, melhor sistematização e referência
do sistema de saúde, certamente as pessoas não poderiam passar pelas
dificuldades que por hoje passam.
Nesse sentido a posição do Sindicato Médico do Rio Grande do Sul percebe
que é um direito estabelecido e claro de que os pacientes que necessitam de
medicamentos tenham e façam as suas reivindicações inclusive procurando o
Judiciário para que isso ocorra, queremos que saia e certamente sairá daqui a
definição de que o governo deve cumprir com sua missão de prestar atendimento à
população e destinar pelo menos 12% do seu orçamento para a saúde da
população.
O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Muito obrigado, Maria Rita de
206
Assis Brasil, vice-presidente do Sindicato Médico do Rio Grande do Sul.
Queremos ouvir a representante do Conselho Regional de Farmácia, Sra.
Karen Zazulak.
A SRA. KAREN ZAZULAK – Boa tarde aos membros da mesa, aos
presentes, venho representado o Sr. Juliano Sofia da Rocha, presidente do
Conselho Regional de Farmácia que, infelizmente, não pôde estar presente hoje.
Esta é a primeira reunião que eu participo, não trouxe nenhum relato,
nenhum parecer da diretoria do conselho, estou aqui para representar e levar as
idéias propostas para a diretoria.
O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Muito obrigado, agradecemos
a presença do Conselho Regional de Farmácia.
Coloco a palavra à disposição do Dr. Mauro Luiz Silva de Souza, que
representa o Ministério Público, depois ouviremos o deputado Pedro Pereira, para
que, no final, possamos ouvir a representante da Secretaria de Estado da Saúde.
Queremos registrar a presença do querido Sr. Isac Fernandes, que
representa a Associação dos Ostomizados do Rio Grande do Sul e tem sido parceiro
nessa luta, cujo tema é muito importante e também deve ser lembrado
permanentemente por esta subcomissão, o que certamente está sendo feito.
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O SR. MAURO LUIZ SILVA DE SOUZA – Muito obrigado, Exmo. Deputado
Luciano Azevedo, deputado Pedro Pereira, representante da Secretaria de Saúde,
os conselhos, senhoras e senhores.
Quando tratamos da questão da saúde é mais ou menos como chover no
molhado, temos reiterado determinados assuntos que são recorrentes, mas quero
crer que a cada dia que pensamos e falamos a respeito desses mesmos pontos,
acho que evoluímos e quem sabe melhoramos no sentido de se obter uma solução.
Sem dúvida alguma a iniciativa dessa comissão é fundamental para que
avancemos no sentido de termos uma melhor qualidade na área da saúde para a
nossa população como um todo.
Os esforços da Secretaria Estadual da Saúde têm sido grandes, eu bem
conheço o trabalho do secretário estadual da saúde na busca de incremento de
verbas na pasta da saúde neste Estado desde a gestão anterior, que acompanhei e
que o Ministério Público, depois de várias tratativas com o governo do Estado, não
encontrou outra saída senão bater às portas do Judiciário para que houvesse a
implementação das verbas constitucionais, conforme prescreve a emenda
constitucional 29.
Já falei para os senhores que nós obtivemos ganho de causa no primeiro
grau, a sentença de primeiro grau saiu em agosto do ano passado, dizendo que o
Estado tem que complementar, naqueles anos em que nós entramos com a ação, os
12% da emenda constitucional 29, que não o fez.
208
Quem dos senhores leu o jornal Correio do Povo de hoje? Pois neste jornal
o Sr. Secretário Estadual da Saúde se esforça, mais uma vez, para justificar por que
o plano plurianual e a lei de diretrizes orçamentárias foram para a Assembléia
Legislativa sem contemplar os 12% das verbas da saúde.
Quer dizer, vamos enfrentar o mesmo problema novamente, o orçamento
enviado à Assembléia é inconstitucional.
O que temos que fazer para resolver essa inconstitucionalidade? Acho que,
aqui, na comissão já temos, pelo menos, dois votos contra esse orçamento
plurianual, que não contempla os 12%, portanto é um orçamento ilegal e
inconstitucional.
O Sr. Secretário dizia hoje que o governo avançou muito, eu não tenho
dúvidas de que o governo avançou muito, disse que foi até onde pôde, não tenho
dúvida disso, porque as pressões são de vários lados, mas continua sendo ilegal,
não resolvemos a ilegalidade, apesar de todos os esforços do gestor.
Alguma coisa está errada e algo precisa ser feito.
Todos nós temos o hábito de ficarmos conformados com as ilegalidades que
vêm, reiteradamente, sendo cometidas em todos os setores da nossa sociedade.
O nosso conceito de cidadania é tão baixo que se eu parar na faixa de
segurança, aqui na frente da Assembléia para desobstruir, no horário do pico, ficam
buzinando atrás de mim e dizendo: “Por que não foi à frente? ”
209
O nosso conceito de cidadania é mais ou menos esse e estamos cometendo
ilegalidades em todos os setores, é o momento de começarmos a pensar o que
precisamos fazer, como mudar essa realidade.
Quem sabe uma platéia tão seleta quanto essa que está aqui, agora, numa
audiência tão efetiva e tão grande como essa não se multiplica para que possamos
pressionar o plenário da Assembléia Legislativa no sentido de que não se vote o
orçamento da maneira como está?
Não se pode fazer outra coisa? Não sei, não estou querendo tirar os méritos
dos governantes e dos tão bons governantes que tivemos até hoje neste Estado.
Mas a ilegalidade continua e temos que começar a ter o hábito de cumprir as
leis, porque há algum tempo não tínhamos a resposta do sistema público de saúde,
precisávamos entrar na Justiça para obter uma resposta do sistema público de
saúde.
Hoje está tão complicado que o dito sistema privado de saúde também já
não responde mais, se em determinados casos e procedimentos não tivermos um
“pistolão” vai ficar sem o atendimento, isso no sistema privado de saúde.
Por quê? Porque é mais fácil negar atendimento, não pagar, quem sabe o
sujeito morre até precisar do atendimento e a gente não terá que pagar mais nada e
esperar que entre no Judiciário, porque lá a coisa não vai ser bem assim, levará
muito tempo para a coisa acontecer e enquanto esse tempo transcorre acha-se
alguma solução.
210
A questão é essa, temos que começar a desenvolver o hábito de
cumprirmos a lei, até para que façamos leis mais reais.
Diz-se que as leis são irreais, se isso é verdade então por que estamos
fazendo leis irreais? Vamos fazer leis que estejam perto da nossa realidade.
Depois não adianta dizer: “Esses chatos do Ministério Público estão
querendo inviabilizar a nossa gestão, o nosso governo, o nosso partido, o nosso
sindicato”. Enfim, o que quer que seja parece que os chatos do Ministério Público
estão querendo inviabilizar.
Ainda uma das únicas coisas que o Ministério Público tenta fazer é fazer
com que se cumpram as leis, que não foram feitas pelo Ministério Público.
Precisamos ter a consciência dessa realidade e começar a trabalhar na
busca desse cumprimento, até porque se as leis são irreais, vamos fazer leis reais,
que possam ser cumpridas, tudo isso é uma decisão política.
O que é uma lei? A lei nada mais é do que uma decisão política que foi
transformada em um texto jurídico, isso é a lei, não é nada mais do que isso, é uma
decisão política tomada por toda a sociedade, por todos nós, diretamente ou através
dos nossos representantes e que se tornou um estatuto jurídico, uma norma que
precisa ser cumprida.
Se a lei não for cumprida todo o nosso esforço político de buscarmos uma
melhor convivência vai por água abaixo, depois não sabemos por que existem todos
os problemas que estamos enfrentando em termos de violência e de outras coisas.
211
Por que está faltando o básico? Porque todos nós, de alguma forma,
estamos sendo responsáveis por isso que está aí, ou por que não cumprimos a lei
ou por que estamos permitindo que as leis não se cumpram e continuamos na
omissão.
Nós, cidadãos e sociedade é que somos os responsáveis por isso.
É apenas uma proposta de reflexão, é uma angústia minha que eu estou
passando aos senhores, vamos ver se em todos os meios nos quais participamos
estamos cumprindo as leis, fazendo o que deve ser feito ou pensando da seguinte
forma: “ Não, isso é impossível de fazer, não vou cumprir”.
Então vamos dar um jeito de anular essas leis e fazer com que sejam
revogadas, pelo menos não teremos uma coisa para bonito, brincamos de fazer leis
e depois brincamos de cumpri-las. Não é assim que as coisas devem funcionar.
Precisamos um pouco mais de realidade, de responsabilidade para fazer as coisas,
para estabelecê-las e, depois, para cumprir com essas decisões tomadas. Vai faltar
dinheiro para os medicamentos!
Claro que a questão dos medicamentos é muito complexa. Existem
problemas no Estado, que não consegue, muitas vezes, comprar o medicamento. Se
os senhores quiserem, podem pegar a lista – e eu já fiz isso, é minha experiência –
dos medicamentos e vão até a farmácia para comprar a dinheiro, preço de tabela, e
vejam se encontram esses medicamentos. As farmácias não têm esses
medicamentos.
212
Pergunta-se quando iremos recebê-los e a resposta data de mais quinze
dias para o pedido ser feito ao laboratório. Também temos esse tipo de problema, e
o reconhecemos.
Entretanto, há o problema de todos nós, de alguma forma, estarmos a
descumprir ou a nos conformar com o descumprimento da legislação. Precisamos
mudar isso para que a nossa sociedade evolua, caminhe, e para que os nossos
conceitos de cidadania possam melhorar, ao ponto de termos melhores condições
de vida e convivência em sociedade. Desculpem-me e muito obrigado.
O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Agradecemos o Dr. Mauro
Luiz Silva de Souza, uma presença importante e representante do Ministério Público
nesta Comissão.
Com a palavra a representante da Secretaria da Saúde, Simone do Amaral.
A SRA. SIMONE DO AMARAL – Boa-tarde a todos os componentes da
mesa; senhoras e senhores.
Como diz o Dr. Mauro Souza, temos de fazer uma reflexão na questão da
saúde. Maria Beatriz deu ênfase à prevenção da doença, muito importante. O Dr.
João Ricardo fala na falta específica de um medicamento que é vital para aqueles
usuários, a hidroxiuréia, é totalmente pertinente. A Dra. Maria Rita, quando nos diz
que, além do fato de os medicamentos estabelecidos e considerados excepcionais e
especiais, também teríamos aquele déficit de medicamentos de primeira escolha,
213
para cardio, para diabetes.
Sou do setor de medicamentos da Secretaria do Estado da Saúde. Todas
essas demandas nos chegam num momento em que o nosso orçamento é limitado
para a aquisição desses medicamentos, mais do que isso, estamos nos vendo numa
situação de negociação com as dívidas que temos pendentes e que são de
conhecimento da população de um modo geral.
De qualquer forma, não acalenta aquele usuário que tem a patologia ou
daquela pessoa que tem essa patologia na família e precisa utilizar os
medicamentos. A questão do protocolo clínico do Ministério da Saúde – e temos as
duas versões em 2002 e em 2006 – ela vem, na realidade, criar e dar orientações
aos critérios para a inclusão daquele usuário naquele grupo para fazer o tratamento.
Também temos uma demanda muito grande de solicitações que, na
realidade, sequer são deferidas porque, no entendimento e pelos critérios do
protocolo, aquele diagnóstico não estaria completo. É uma deficiência? Sim. Quando
pensamos que aquele usuário, para diagnosticar, encontrará uma dificuldade muito
grande na consulta, nos exames – e se ele for procurar todo esse atendimento via
SUS, terá agendamento em prazos que sabemos ser muito distantes entre a
primeira consulta e depois os exames e o retorno ao especialista.
Somos sabedores de toda essa situação, e do setor em que fazem a
distribuição desses medicamentos, pois enfrentam todo o dia, não só a questão da
hidroxiuréia para a anemia falciforme, mas também para hepatite, para fibrose
cística, para Parkinson, como a gente tem algumas associações aqui representadas.
214
A reflexão se torna necessária, a partir do momento de como se fazer a
divisão daquele valor que eu tenho para fazer a aquisição desses medicamente.
Essa é um dificuldade muito grande que se enfrenta no Estado.
A questão dos medicamentos estabelecidos, até temos um TAC – Termo de
Ajustamento de Conduta – com o Ministério Público, onde o Estado aceitou, acordou
em fazer o atendimento, a aquisição desses medicamentos, a avaliação dos
processos dentro de prazos preestabelecidos, mantendo, inclusive, a regularidade
nesse fornecimento. É um título executivo extra judicial e inclusive já tivemos uma
situação em Caxias do Sul em que ele está sendo executado. Essa situação é ideal
para nós? Não. O ideal seria estarmos atendendo todos os usuários neste momento.
Entretanto, para o laboratório o objetivo é o lucro, não condeno, sabemos
disso, e não se configura grande erro. Mas, a partir do momento em que existem
dívidas de exercícios anteriores, se o laboratório não conta uma negociação
acertada com o governo, ele também fica receoso de fazer essa distribuição. Ele
não retira o empenho ou até retira o empenho do medicamento e não faz a entrega
do produto para a secretaria.
Se temos atraso no pagamento, isso também nos limita nos critérios de
cobrança, a legislação prevê todos os recursos para isso. Mas, se estamos há muito
tempo sem fazer um pagamento – há mais de 90 dias, digamos –, esse tipo de
recurso não poderá ser utilizado. É mais um fator limitante para que possamos fazer
o devido atendimento.
Na última reunião, em Pelotas, estava lendo as matérias que foram editadas
e estavam disponíveis, um representante da Secretaria Municipal da Saúde, que
215
também é presidente de uma associação de transplantados, relata que sacolas de
medicamentos teriam sido entregues – a ele ou à instituição – como não sendo
utilizados por aqueles pacientes. Então, aqueles pacientes receberam o
medicamento, para o qual estavam cadastrados, mas que não utilizavam mais.
Tem toda uma questão de educação desse usuário. De ele entender que
para aquele medicamento que não está recebendo, deve fazer uma atualização
desse cadastro, deve providenciar que aquela correção seja feita. O fato de eu
trazer a sacola ou demonstrar, estarei criando uma polêmica em cima de um
problema. Não estarei resolvendo esse problema.
Também sabemos que muitas vezes dentro daquela situação aquele usuário
retira o medicamento um pouco a maior, principalmente quando enfrenta períodos
de falta, e depois entende que deve guardar o medicamento para uma nova
oportunidade. Isso é compreensível, também. Só que disso tiramos a seguinte
informação, esse usuário não está sendo parceiro para aquele dispensador na
Secretaria Municipal da Saúde, não está sendo parceiro ao manter um cadastro
irregular.
Diz-se que a secretaria faz uma má distribuição. A sua má distribuição na
secretaria é o atendimento de acordo com aquela demanda a qual o paciente fez um
cadastro. Se ele desistiu de parte dos medicamentos, deveria comunicá-la,
formalizá-la, disponibilizando esses medicamentos para outros usuários. Isso
também não acontece.
Recebi recentemente a Dona Ângela e trabalhamos com a questão da
educação do usuário para que saiba exigir os seus direitos quanto aos
216
medicamentos, mas tenha uma parceria com o Estado e com o Município. Dessa
forma, o poder público consegue atender os outros usuários de medicamentos. Ele
estará auxiliando na questão custo e benefício que o Estado enfrenta e é pago por
todos nós.
Temos muitas dificuldades. A prevenção é importante. Essa questão de
restabelecermos a credibilidade junto às associações e aos usuários principalmente,
é importantíssima, porque, sem a dispensação dos medicamentos, isso não irá
acontecer.
Podemos aqui dizer que estamos negociando ou que num primeiro momento
a primeira negociação proposta não teve uma adesão de 100% dos laboratórios e,
portanto, ela restou fracassada. Agora, inicia-se uma nova renegociação com todos
os laboratórios os quais o Estado têm débito. Então, temos que, novamente,
formalizar com cada um deles um acordo para que seja feita esta negociação das
dívidas em atraso. A primeira não teve sucesso e agora entramos numa nova
situação de fazermos um novo contato com cada um dos laboratórios e revermos,
porque se não foram aceitas é porque alguns dos critérios não atendiam às
necessidades desses laboratórios.
Esse momento é um momento em que as propostas tanto do Estado como
dos laboratórios estão sendo revistas para se organizar novamente o acordo e um
calendário de pagamento, para ser restabelecido o pagamento e termos o
medicamento.
No momento não temos em estoque todos os medicamentos para todas as
patologias, em algumas delas como a anemia falciforme, o principal medicamento
217
que é o hidróxido e a uréia estão em falta há mais de 90 dias. São situações
limitantes mas que dependem, sim, de conversar, de acertar, de acordar com esses
laboratórios para que eles tenham a segurança de que essa negociação será
cumprida, essa adesão tem que ser completa, para se organizar, então, um
calendário de pagamentos, porque se u não organizo com 100% de adesão aqueles
laboratórios que não fizeram o acordo também irão querer, de qualquer forma, o
pagamento. Se tenho uma verba limitada, preciso que isso seja totalmente aderido
para que eu faça um calendário e contemple todas as necessidades.
Dessa forma é que a nossa credibilidade e o nosso atendimento aos
usuários vai estar completa. No momento ela não é completa, só posso dizer que ela
está totalmente adequada e regular àqueles medicamento que possuem a compra
centralizada pela União, com exceção de um deles que é a imunoglobulina. A
hepatite C, que é o alfa interferona, o ribavirina, o eritropoitina, são medicamentos
que o Ministério da Saúde compra e envia aos estados. Esse estão com o
fornecimento regular. Outros medicamentos a União também nos manda
regularmente. O medicamento imonoglobulina humana tem a compra centralizada,
mas só veio 30% da necessidade. Todos os pacientes foram atendidos, mas num
percentual menor do que aquele prescrito. Isso é atender totalmente a demanda?
Não, então se distensa um programa da AIDS e para todos os usuários com
diversas patologias que utilizam, no caso, a imunoglobulina.
Cabe, obviamente aqui é uma reflexão, mas cabe mais uma vez, não vou
fazer nenhuma solicitação em especial, só posso adiantar esta questão para a
platéia, dessa negociação que o Estado vai ter que retomar com todos os
laboratórios. Sei que os senhores que vieram aqui querem saber especificamente do
fornecimento do medicamento, porque nós atendemos esta clientela todos os dias,
218
praticamente, e reportamos a situação específica de cada um dos medicamentos.
Era isso. Estou à disposição para responder alguma pergunta.
O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Agradecemos a sua
manifestação. Concedo a palavra mais uma vez à Maria Beatriz Kunkel, do
Conselho Estadual de Saúde.
A SRA. MARIA BEATRIZ KUNKEL – Obrigada. Quando eu ouvi a fala do
Dr. Mauro, começo a me mexer, fico inquieta, me dá uma raiva, me dá uma coisa e
dá vontade de começar a soltar aqueles palavriados que os gringos de vez em
quanto soltam.
No ano passado nós, do Conselho Estadual, não concordamos com este
orçamento que foi enviado para a Assembléia. Fizemos uma discussão, trouxemos
as nossas propostas que eram 380 milhões para o IPE, dinheiro para o restaurante
popular, dinheiro para o Hospital Militar, está tudo dentro do orçamento do Estado.
Fizemos, de gabinete em gabinete, fomos em todas as lideranças, fizemos uma
passeata aqui dentro, fizemos o Deus nos acuda aqui dentro e todo mundo dizia:
não, temos que corrigir esta distorção, estamos de acordo com vocês. Uma semana
depois, uma, todos, 38 votos a favor desse orçamento de 12%, e 17 votos contra
esse orçamento que não contemplava os 12%. O que faltou? Vergonha na cara?
Responsabilidade? Quem é que tem que fazer cumprir a lei? Afinal de contas, nós
usuários, quem é que tem que fazer cumprir a lei?
Temos em Tapejara 8 pessoas com Doença de Fabri, uma pessoa, por mês,
219
gasta em medicamento 32 mil reais, por ano dá 384 mil reais, as 8 pessoas
consomem, num ano, 4 milhões, seiscentos e oito mil reais em medicamentos, de
um laboratório americano. Podemos pensar que é muito dinheiro, e o dinheiro que é
desviado pelas empresas em isenção de impostos? Como não tem dinheiro. Quando
ouvimos estas coisas, isso dá uma raiva na gente, desculpem a expressão, mas é
bem isso mesmo o que sentimos quando chegamos lá e não tem dinheiro, não tem
medicamento, não tem isso, e quando escutamos que o Plano Plurianual foi enviado
de novo sem os 12%, o que temos que fazer? Começar a quebrar? Iremos para a
cadeia. Aí a lei vale, e não falta gente para nos colocar na cadeia, vamos começar a
berrar, a gritar,? Não falta gente para nos colocar na cadeia. E não estou falando
contra a Secretaria da Saúde, porque eles são cumpridores daquilo que fazem,
estou falando de um ente federado que está no outro lado dessa rua. Ele é
responsável perante a lei, e temos setores responsáveis para fazer cumprir a lei.
E aí, quem é que tem que cumprir a lei? Nós, pequenos temos que cumprir.
Eu vou roubar galinha vou para a cadeia, um cara foi roubar milho lá em Tapejara e
foi parar na cadeia de Getúlio Vargas. E o senhor sabe onde é que fica isso.
Agora, pessoas não cumprem a lei, ah bom, o que vamos fazer... não
acontece nada, ninguém é responsabilizado. Eu imagino essa gente que está do
lado de lá, se pudesse falar, o que não diriam. Um monte de palavreado também. Eu
sou conselheira e tenho que ser a voz daqueles que não podem falar. Temos, gente,
que começar a fazer uma reflexão com vergonha na cara e não aquele palavreado,
aquela coisa bonita que eu fiz um tamanho de um esforço aqui para achar um
palavreado bem bonito aqui, porque estou na mesa. Mas, de vez em quanto dá
vontade de abaixar, porque a gente sente tanto problema, sentimos tanta coisa.
Essas 8 pessoas, num sábado vieram lá em casa, parecia um velório lá. E o que vou
220
fazer? Não tem dinheiro, o secretário diz que não tem dinheiro, e não tem. O ente
federado é livre, está numa boa, não tem dinheiro, a gente sabe que as empresas
grandes ganham isenção de impostos, porque senão não dão emprego para meia
dúzia de gente. Estas coisas temos que rever aqui, temos que colocar as coisas no
preto e no branco.
Me desculpem, mas como conselheira e como usuária eu em indigno com
essas coisas, porque já fomos em tantas reuniões, em tanta coisa, tanto discurso e,
na hora do pega para capar, não dá, porque não dá, porque não dá para cumprir,
não sei o que. Com licença. Estamos numa subcomissão que vai estudar e que terá
que apresentar relatório, terá que apresentar uma resposta. E daí? Qual será a
resposta que iremos dar? Tem a lei, mas não dá para cumprir, porque não tem
dinheiro. Pronto, acabou, então, vamos para casa. Ou vamos rasgar a constituição.
Nós, usuários, começamos a ter uma indignação dentro de nós. A gente
chega diante de um desafio, estamos num desafio aqui. Estamos na frente de uma
coisa vital. A vida, a saúde das pessoas, a vida está em jogo, não é uma rua, não é
um carro, é uma vida que está em jogo, e é por esta vida, Dr. Luciano, que temos
responsabilidade. E vamos ser cobrados pela história. Agradeço muito, desculpem o
desabafo, mas eu, como usuária e como conselheira, estou lá na base, ouço tanta
coisa, sei de tanta coisa e fico indignada quando escuto o Dr. Mauro dizer isso, fico
indignada de ouvir as coisas, e daí? As pessoas continuam com reumatismo,
continuam com a pressão alta, e a minha também está, continuam com problemas
de coração, e daí? Não tem dinheiro... As grandes empresas recebem.
Desculpem a minha indignação, mas essa é a realidade a nós, como
conselheira e como usuária, ouvimos diariamente estas coisas. Desculpem e
221
obrigada.
O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Não há o que desculpar.
Agradecemos até, estamos aqui exatamente para isso. Pode ter a certeza de que a
sua indignação também é a nossa. Nós, deputados, também recebemos essas
reclamações. Essas 8 pessoas com Doença de Fabri que a senhora falou, lá em
Tapejara, são todas da mesma família, conheço a situação, pois sou de uma cidade
vizinha.
Estamos todos aqui do mesmo lado, é importante que fique claro. Os
deputados da Assembléia Legislativa estão tentando, com as ferramentas
disponíveis, contribuir para encontrar alternativas a esse problema tão grave.
Não encontrar desculpas, encontrar alternativas.
Na semana passada, estivemos em Pelotas, na primeira audiência pública
da subcomissão que teve uma grande participação da comunidade – este é um
problema de milhares de pessoas em todo o Estado. Lá concedi uma entrevista para
uma emissora de rádio e o radialista me disse: só dão desculpas.
Penso que temos que trabalhar para encontrar soluções, mas também tratar
o problema com responsabilidade. Qualquer um de nós gostaria de levantar daqui
hoje de noite e ter a solução. Creio que o secretário da Saúde também, da mesma
forma os governadores anteriores.
A situação não é confortável nem sequer para os laboratórios que não
222
recebem. Não é boa para ninguém, principalmente é muito angustiante e
extremamente preocupante para os pacientes e suas famílias.
É por isso que estamos aqui, para tentar pressionar o governo para que
encontre alternativas para que, em última análise, sem discurso político, sem debate
ideológico, as pessoas recebam a medicação.
É isso que temos que fazer, é para isso que age o Ministério Público, a
Assembléia Legislativa, para isso deve contribuir a Secretaria da Saúde. É essa
nossa tarefa.
Todas as manifestações são importantes, são bem-vindas e se somam a
esta voz que queremos que saia da Assembléia Legislativa para que possamos
avançar nesta questão.
O SR. PEDRO PEREIRA (PSDB) – Deputado Luciano Azevedo, demais
representantes de entidades e platéia, a situação realmente é muito crítica.
Não podemos tapar o sol com a peneira de maneira nenhuma, o problema
ultrapassa as fronteiras do Estado.
Já estive em Brasília e faremos nova tentativa para um reajuste pelo SUS.
Hoje o valor da consulta é de 2 reais e 55 centavos. O valor de uma consulta com
um especialista é de 7 reais e 50 centavos. Não tem como manter, a situação é
muito ruim.
223
O governo federal retirou 5 bilhões e 800 milhões do orçamento da saúde
neste ano. O Estado, infelizmente, também não cumpre. Isso vem de anos.
Não estamos aqui para defender ninguém. Como médico sei do sofrimento
das pessoas, vivo dentro de um hospital há 30 anos. Já perdi pacientes por não
termos UTI, aliás o hospital tinha uma UTI que não estava aberta.
Por burocracia perdi pacientes. Em Canguçu temos uma UTI há seis anos e
foi inaugurada agora, por problemas burocráticos. A situação é muito difícil.
O governo atual está tentando de todas as formas, é preciso ao menos
amenizar a situação.
Sabemos que de todo o dinheiro que entra no Estado, 85% é destinado para
a folha de pagamento. Sobra 15% para a saúde, educação, segurança, turismo,
obras, transportes.
Outro problema muito grave é que 50% dessa folha é para pagar
aposentados e inativos. E eles têm que receber, pois contribuíram com o Município,
o Estado e o País, mas nem um governo teve a capacidade de criar um fundo para
pagar os aposentados.
Também precisamos destinar 17% para pagar a dívida com o governo
federal. O governo atual está tentando, com duas medidas, renegociar a dívida para
reduzir esses 17% pagos para o governo federal. No mês passado, foram quase 200
milhões. Reduzindo isso e criando-se um fundo para pagar os aposentados, vai
sobrar mais dinheiro para a saúde, para a educação, para a segurança, para obras e
224
transporte.
Devemos buscar verbas na União, no Estado, conseguir de alguma maneira
reduzir o sofrimento dessas mais de 120 mil pessoas no Estado. Não citando os
diabéticos e hipertensos. Se o Lafergs estivesse funcionando, reduziria e muito o
problema, mas está fechado há muito tempo.
Está-se fazendo um convênio com o Fiocruz, mas o processo é lento e a
saúde não espera.
Custo a me acostumar com a política, pois a política demora muito para
resolver os problemas e a saúde não tem como esperar. Um paciente que necessita
de operação, deve ser operado logo. Se um paciente está enfartado e não receber o
diagnóstico, morre.
Isso vale para os transplantados, ostomizados, portador de esclerose
múltipla, portador de mal de Alzheimer, mal de Parkinson que sem medicamentos
têm seus problemas agravados. Além do sofrimento do paciente, a família também
sofre.
Nossa missão é árdua, temos que defender essas pessoas com unhas e
dentes. Estamos fazendo isso, com audiências públicas. Iremos a Santa Maria,
Caxias do Sul, Passo Fundo. Fizemos uma bela audiência em Pelotas e vamos fazer
nos outros Municípios, para tentar encontrar soluções.
Afirmo que o governo está preocupado em encontrar a solução, mas temos
que reduzir a dívida com a União e também fazer um fundo para o pagamento dos
225
aposentados.
Independente disso, amanhã iremos a Brasília, este deputado juntamente
com uma comissão composta por membros do sindicato daqui, do conselho de
medicina, com o secretário Osmar Terra. Estamos trabalhando, mas não vamos
iludir vocês, a situação é muito grave, mas vamos fazer tudo que estiver ao nosso
alcance.
Certamente não resolveremos tudo, mas vamos procurar amenizar o
sofrimento dessas pessoas. Independente de partido, não queremos politicagem.
Nossa função é, se não resolvermos, ao menos amenizar. Muito obrigado.
O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Agradeço ao deputado Pedro
Pereira.
Gostaria de registrar que recebi ontem à tarde uma ligação do secretário de
Saúde, Osmar Terra, que deveria participar hoje de nossa audiência pública, mas
está em Brasília.
É importante que, na seqüência, quando for marcada esta audiência com o
secretário da Saúde, todas as entidades se façam presentes. O Ministério Público,
os profissionais médicos, os conselheiros que puderem, as entidades que
representam os pacientes, os familiares, o conselho de Farmácia.
É muito importante que possamos fazer uma grande mobilização, porque as
pessoas têm nos dito muito, por onde andamos, também quero fazer este registro,
226
que é muito difícil conversar com o secretário da Saúde, que, em última análise é a
autoridade que está incumbida de resolver esse problema.
Então, está será a oportunidade que a Assembléia Legislativa vai oferecer
para que possamos ouvir o secretário e falar ao secretário numa audiência como
estamos fazendo aqui, mas ampliada com as pessoas e as entidades podendo se
manifestar para que possamos realmente, cara a cara, com toda a clareza, ter esse
contato e as explicações do secretário da Saúde e também transmitir a ele as
contribuições que toda a sociedade tem-nos trazido aqui nessas oito reuniões que
realizamos. Reitero a importância da presença de todos nesse ato a que todos serão
convidados.
Agradeço mais uma vez a presença de todos: a presidente da Associação
Gaúcha de Assistência à Mucoviscicose – AGAM, Sra. Cleci Terezinha Furian Müller
que está aqui conosco mais uma vez; a representante da Associação Rio-
Grandense de Apoio ao Diabético – ARAD –, Sra. Carmem Lúcia Salvatori; a
representante da AGAFAPE – Sra. Marlene Gazave; o representante da Associação
Rio-Grandense de Apoio ao Diabético, Sr. Walter Schell; a representante da
Associação Gaúcha da Doença Falciforme – AGAFAL, Sra. Neusa Maria da Rocha
Carvalho; a representante da Associação Gaúcha de Anemia Falciforme, Sra. Nilza
Lessa; a representante da Secretaria Municipal de Saúde da Prefeitura Municipal de
Porto Alegre, Sra. Cristine Moreira Pinz.
Agradecemos muito a presença de todos e convidamos para que continuem
conosco nas próximas reuniões, participando e nos ajudando a encontrar
alternativas para essa questão tão séria para o Estado. Muito obrigado. Boa-noite.
227
DATA 04/06/2007: O SR. ZORAIDO DA SILVA – Boa-tarde senhores e
senhoras.
Cumprimento o deputado Luciano Azevedo e os vereadores presentes.
Em nome da Câmara de Vereadores de Caxias do Sul, saúdo a todos que
nos assistem aqui e pela TV Câmara.
O deputado Luciano Azevedo é o relator desta subcomissão da Assembléia
Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul, que trata dos medicamentos especiais
e de uso contínuo.
Em nome dos vereadores, desejamos um bom trabalho a todos.
Passo a presidência dos trabalhos ao deputado Luciano Azevedo.
O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Boa-tarde a todos.
Em nome da Assembléia Legislativa, cumprimento o presidente da Câmara
de Vereadores de Caxias do Sul, vereador Zoraido da Silva e a vereadora Geni
Petteffi.
Faço uma saudação especial ao meu companheiro de partido, vereador Edio
Elói Frizzo.
Cumprimento a secretária municipal da Saúde, vereadora Maria do Rosário;
228
o presidente da Associação do Bairro Madureira e representante do Conselho
Municipal de Saúde, Sr. Luiz Pizzetti; a presidente do Rim Mulher, Rim Viver, Sra.
Isoldi Chies; a presidente da Associação Parkinson do Rio Grande do Sul, Sra.
Ângela Garcia; o representante da Associação dos Transplantados de Fígado do Rio
Grande do Sul, Sr. Jorge Luiz Kramer Borges.
E em nome deles, cumprimento também todas as entidades, a imprensa que
se faz presente, a comunidade de Caxias do Sul e região que nos honram com suas
presenças nesta audiência pública da Subcomissão de Medicamentos Especiais e
de Uso Contínuo da Assembléia Legislativa do Estado.
Gostaria, em primeiro lugar, de dizer que esta é a segunda interiorização
dos trabalhos da subcomissão. Já estivemos em Pelotas e iremos também a Passo
Fundo, oferecendo às comunidades regionais a oportunidade de se manifestar,
relatar a realidade sobre o fornecimento de medicamentos em cada região.
É importante dizer que esta subcomissão faz parte da Comissão de Saúde e
Meio Ambiente, presidida pelo deputado Alberto Oliveira, que provavelmente estará
conosco dentro de instantes. A subcomissão é composta por este deputado e os
deputados Pedro Pereira, do PSDB; Gilberto Capoani, do PMDB, e Paulo Azeredo,
do PDT.
Ao longo das últimas semanas, dedicamo-nos a ouvir os relatos dos
portadores das patologias, dos familiares, dos médicos, dos conselhos e de pessoas
que individualmente têm procurado a subcomissão para descrever as dificuldades
enfrentadas com o fornecimento irregular dos medicamentos que já tem acontecido
em alguns pontos do Estado há muitos governos.
229
Temos procurado, lá na Assembléia, além de ouvir as pessoas, construir,
com a Secretaria de Estado da Saúde, uma alternativa para que o fornecimento dos
medicamentos seja regularizado.
Existe hoje, é bom dizer, uma dificuldade de caixa do Governo do Estado e,
fundamentalmente, uma dívida da Secretaria da Saúde com os laboratórios que gira
na ordem de 70 milhões de reais. Este tem sido o principal problema para que seja
regularizada esta questão. O dinheiro para os medicamentos é um dinheiro que vem
do Governo Federal e é bom que se registre que a informação que temos é que os
recursos vêm sendo repassados com regularidade ao Estado do Rio Grande do Sul.
O nosso drama, o nosso dilema e o nosso desafio é construir condições para que
esse recurso, que vem sendo repassado para esta finalidade, seja aplicado para
isso.
Que possamos construir condições de solucionar o problema dos hospitais
que precisam receber do Estado e os problemas das outras demandas do Estado
que fazem com que este valor que é repassado pelo governo federal, muitas vezes,
seja desviado para outras finalidades, todas elas nobres, todas elas importantes,
mas diferentes daquela que se previa.
Queremos abrir esta audiência pública para ouvir a realidade da grande
Caxias do Sul, da serra gaúcha. Abrimos os trabalhos desta subcomissão dizendo
que o nosso desafio aqui é construir as condições para que o fornecimento do
remédio seja regularizado. Não estamos aqui contra ninguém, todos estamos do
mesmo lado, ao lado das pessoas que têm necessidade de receber o seu remédio,
que têm o direito de receber a medicação e que não vêm recebendo por uma falha
230
na estrutura estatal que nos trouxe a esta situação.
Nosso desafio é corrigir isto e encontrar condições, buscando forças,
somando vozes, aumentando a nossa representatividade para que o Governo do
Estado também faça a sua parte e passe a fornecer os medicamentos
adequadamente, com regularidade, à população.
Passo a palavra à Secretária Municipal de Saúde, Sra. Maria do Rosário.
A SRA. MARIA DO ROSÁRIO – Boa tarde a todos. Caxias do Sul já tem a
sua organização municipal, com uma farmácia ampla de medicação especial,
municipalizamos há 4 anos a medicação, a solicitação e o recebimento de processos
e a dispensação da medicação.
Todo este cenário que V. Exa. coloca é verdadeiro também em Caxias do
Sul. Temos dificuldade na dispensação da medicação, os processos são feitos, o
setor é muito bem organizado pelo município, na medida do possível ele é
informatizado e temos os recursos humanos suficientes, os processos são
encaminhados, há morosidade na regional, como V. Exa. colocou no início, estamos
todos do mesmo lado, são todas situações que quero trazer do ponto de vista
propositivo e construtivo.
A regional tem dificuldade de pessoal para encaminhar processos e registrar
os processos à capital do Estado. Chegando lá demora às vezes 9 a 10 meses para
recebermos uma resposta, um parecer favorável, ou mesmo uma pendência da
medicação, portanto, a burocracia entrava muito esse processo. Aprovada a
231
medicação, quando o processo é aprovado, a população demora para acessar,
quando o tempo é rápido são 3 meses de espera. É uma situação histórica em
Caxias, desde que o município assumiu o recebimento da medicação, os processos
e a dispensação da medicação, sempre se manteve dessa forma.
Os atrasos, as compras, a provisão de compras é difícil. Nós buscamos
sempre e procuramos contatos, até com laboratórios, que nos colocavam que
existem pesquisas de laboratórios que são favoráveis a municipalização do recurso
da medicação especial.
É possível que se faça uma previsão por série histórica, é possível que se
agilize, tendo os peritos nos Municípios, um comitê de peritos médicos avaliando os
processos.
Falo rapidamente, porque todos aqui conhecem o processo. Alguns são
usuários, outros são representantes de Municípios, outros são serviços. Então, se
tivéssemos uma organização mais municipalizada, com o aporte de recursos
necessários, tanto pelo o governo federal, quanto pelo estadual, acredito que
venceríamos muitas dificuldades, além do que verificamos uma exclusão dos planos
privados na questão da medicação. O único sistema que oferece e garante a
medicação é o Sistema Único de Saúde. Sabemos que os planos privados não
oferecem essa garantia que o SUS oferece, e agravos de saúde muito grande, as
patologias mais importantes são as que tem a sustentação do Estado.
O retrato de Caxias do Sul não é diferente do retrato dos outros Municípios
que o senhor vá ouvir aqui. Muito obrigada.
232
O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Agradeço as palavras da
secretária municipal de Saúde de Caxias do Sul. Ouviremos agora a presidente da
Associação Parkinson do Rio Grande do Sul, Ângela Garcia.
A SRA. ÂNGELA GARCIA – Boa-tarde a todos. Sou portadora da doença,
então, além de ser presidente da associação, atravesso todas essas dificuldades
dos doentes de Parkinson.
Realmente é uma calamidade. Já não chamo mais de dificuldade. É uma
calamidade não termos os medicamentos. Vocês conhecem a doença de
Parkinson? A maioria pensa que é a doença que treme. Doença de Parkinson não
só treme, mas tem outras conseqüências. Ela não nos deixa fazer nada. Sem
medicamentos não somos ninguém. Não podemos colocar uma roupa, não
conseguimos tomar um banho, não conseguimos caminhar, não conseguimos fazer
nada. Somos pessoas inúteis. A medicação é como se fosse um combustível para
conseguirmos fazer as coisas.
Devido a essa gravidade, fazemos um apelo grande à subcomissão para
que regularize essa situação. Não adianta dizer para as pessoas que Parkinson não
mata. O que adianta ser vegetativo. É uma maneira de ser vegatativo, porque a
pessoa está em cima de uma cama.
Pedimos que o governo regularize essa situação. Já faz mais de três anos
que está totalmente fora de regularização. Alguns itens têm, outros não têm. E a
resposta é que não há verba. Em nome dessas pessoas que são portadoras,
233
estamos fazendo simpósios regionais em todo Rio Grande do Sul, onde estamos
levando informações sobre a doença e trazendo para a população maiores
conhecimentos sobre o que causa a doença e os tipos de tratamento.
Além disso, sem os remédios, não temos ninguém nem para ouvir esses
simpósios, porque não conseguimos sair de casa, não conseguimos caminhar, não
conseguimos fazer nada, nem a alimentação. É uma situação que nos deixa numa
depressão, porque temos a lucidez normal com um corpo que não corresponde.
Precisamos realmente dos remédios. Todos dizem que daqui há três meses
vai-se resolver. Não dá, isso é para ontem, é para hoje que eu preciso do remédio.
Eu tenho condições de comprar o remédio quando falta, mas há pessoas
que não tem nem para comprar o remédio, pois tem que comprar comida. Só tem
para um ou outro. Muitos deles tomam medicamentos como Sifrol, Prolopa, que são
básicos, Stalevo, Akineton, Selegilina, Mandidan. Não tendo esses remédios, não
adianta fazer atividades numa associação para que as pessoas saiam do isolamento
de casa para dizer que vocês só podem conviver com Parkinson, dentro das suas
limitações. Temos as nossas limitações, não adianta. Às vezes, esses doentes têm
em casa um remédio, tomam meio comprimido pela manhã e a outra metade, à
noite. Isso não resolve nada.
Gostaria de pedir aos senhores, em nome de todas as pessoas que têm
Parkinson, bem como a de seus familiares, porque eles também sofrem, para que
essa situação seja regularizada. Há pouco, conversamos com o secretário da
Saúde, de Bento Gonçalves, e ficamos sabendo que o próprio município está
arcando com o custo de alguns medicamentos, coisa que o Estado, por força de lei,
234
deveria fazê-lo.
Não estamos pedindo esmolas; temos esse direito e a lei está a nosso favor.
Assim como temos de cumprir as nossas obrigações como cidadãos, cabe ao
Estado cumprir a sua parte.
Incluindo o custo de todos os medicamentos, gasta-se em torno de 800 reais
mensais, e tem mais fisioterapia e fonoaudióloga. Se uma pessoa for arcar com o
tratamento particular, esse fica em torno de 1.500 reais mensais. Temos uma base
de 20 mil pessoas precisando de medicação para essa doença.
Outro fator a ser enfocado é a enorme burocracia para saírem os processos
de solicitação dessa medicação. Por exemplo, eu recebi o diagnóstico de que tenho
Parkinson agora, mas só daqui a dois anos será ou não aprovada a minha
solicitação. A situação do doente é lamentável, afetando muito a família, tanto na
sua parte financeira, quanto emotiva. Também existe o caso das pessoas que são
colocadas em asilos, porque a família não tem condições de cuidá-las. Muito
obrigada.
O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Com a palavra o Sr. Jorge
Luiz Kramer Borges, da Associação dos Transplantados de Fígado do Rio Grande
do Sul.
O SR. JORGE LUIZ KRAMER BORGES – Deputado Luciano Azevedo,
agradeço o convite. Depois que realizamos aquela reunião na Assembléia
235
Legislativa, a situação não melhorou; ao contrário, piorou. Diria que vivemos no
caos.
Sou paciente transplantado há nove anos e também dependo de
medicamentos imunosupressores – aqueles que evitam a rejeição –, e estamos com
falta de três deles, que nos são vitais: a Imunoglobulina Humana Anti-Hepatite B, um
medicamento caríssimo que sai em torno de 3.800 reais. Esse medicamento é
usado por pacientes que transplantaram o fígado por vírus B. A não utilização desse
medicamento pode ocasionar a recidiva do vírus, e esse é um processo muito
rápido, diria de 15 dias. Já tivemos casos em que os pacientes precisaram entrar
numa nova lista, mas foram ao óbito, por não conseguiram um novo órgão.
E a situação vem se agravando a cada dia que passa. Temos a falta de um
outro imunosupressor, que é o Micofenolato. E, segundo informações, esse
medicamento já chegou.
Mas como falei, há casos em que entregaram 80 ampolas desse
medicamento, que trata a hepatite, e elas ficaram 30 dias no abastecimento da
Secretaria da Saúde. Enquanto isso, o pessoal do interior todo ligando, nós
continuamos a cobrar do laboratório, que nos informou que já fazia mais de 20 dias
que o medicamento havia sido entregue. Acabamos descobrindo que o
medicamento estava no depósito. Depois de três e-mails da chefe da Farmácia,
esse medicamento começou a ser dispensado para o interior do Estado e para Porto
Alegre.
Isso é uma barbaridade! Esse processo, dentro da Secretaria da Saúde, tem
de ser revisto, desde o seu início, até chegar ao secretário. Nós, como entidade,
236
como associação, temos entrado em contato com todos os laboratórios. Temos
mandado ofício e feito reuniões. Fomos a São Paulo e ao Rio de Janeiro, e em
contato com os laboratórios nos informaram – e pudemos comprovar – que já
fizeram três acordos com a Secretaria da Saúde e nenhum deles foi cumprido. Quer
dizer, acordos são feitos, planilha de pagamento é feita, mas, da última vez, que foi
em fevereiro e março, sequer pagaram a primeira parcela. Então, ficamos sem saber
o que há.
Entendemos a dificuldade do Estado, entendemos que são várias patologias
a que o Estado atende, mas o nosso tempo é limitadíssimo. Não podemos esperar
uma semana para tomar o medicamento. Em três, quatro dias, podemos fazer uma
rejeição. Isso quer dizer que podemos perder o enxerto, voltar para uma lista de
espera ou ir a óbito. Portanto é uma situação séria. O paciente passa por todo o
processo de aguardar um órgão numa fila, de saber se o transplante vai dar certo.
Depois que dá certo e o paciente está bem, agora vivemos a dúvida: vai acontecer
tudo de novo por falta de medicamento?
Parabenizo novamente o deputado e esta subcomissão porque temos
confiança que, na audiência pública que vai acorrer provavelmente neste mês,
deputado, que o secretário esteja presente e não se omita, como sempre vem
fazendo, mandando um representante. Gostaríamos que ele estivesse presente e
falasse sobre a real situação do problema aos pacientes, ao Ministério Público e ao
Tribunal de Justiça, que devem fazer parte desta subcomissão.
Caso fizerem um cronograma de pagamento, e não puderem pagar 100,
então paguem 10, mas é preciso pagar porque os laboratórios se dispõem a
entregar o medicamento desde que esses pagamentos tenham sido realizados.
237
Então, não adianta fazer um cronograma para pagar 1 milhão e chega o dia do
vencimento, e não pagam. É preferível pagar 100 mil todos os meses e haver o
abastecimento na farmácia a acontecer o que está acontecendo.
Preocupa-me muito o que a promotora Dra. Marinês Assmann nos falou que
o Ministério Público já se está esgotando de tantas ações que estão entrando.
Enfim, a nossa esperança está nesta subcomissão e que, na audiência pública,
consigamos resolver esta situação. Muito obrigado.
O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Agradeço o Sr. Jorge Luiz
Kramer Borges, que já esteve conosco numa reunião desta subcomissão na
Assembléia. É importante reforçar ao que ele fez referência que, ao final dos
trabalhos da subcomissão, provavelmente neste mês ou no início do mês de julho,
devamos promover uma grande audiência pública com a presença do secretário da
Saúde, que conhece, obviamente, a questão para que tenha contato com todos os
envolvidos no tema.
O Ministério Público tem nos acompanhado, e a Defensoria Pública do
Estado tem agido muito em relação a isso, inclusive nos informou que, na Grande
Porto Alegre, nos primeiros meses do ano, aumentou 40% o número de ações
judiciais que buscam garantir o acesso aos medicamentos, quer dizer, está sendo
feito um grande esforço de várias entidades e organizações no sentido de assegurar
o fornecimento dos remédios. No encontro com o secretário da Saúde, como o Sr.
Jorge acabou de referir há pouco aqui, queremos convencê-lo e sensibilizá-lo
pessoalmente.
238
Registro a presença do secretário de Saúde de Bento Gonçalves, Sr.
Roberto Mielle, a quem ainda vamos ouvir.
Concedo a palavra ao presidente da Associação do Bairro Madureira, Sr.
Luiz Pizzetti, que é também representante do Conselho Municipal de Saúde.
O SR. LUIZ PIZZETTI – Boa-tarde ao deputado Luciano Azevedo, ao nosso
presidente da Câmara, Sr. Zoraido da Silva e aos vereadores e vereadoras. Boa-
tarde aos companheiros e companheiras da platéia.
É emocionante ver o pronunciamento da nossa companheira sobre a doença
do alzheimer, que também estou aqui levantando. Conheço muitas pessoas
portadoras dessa doença que precisam de um remédio que é caríssimo sem
possibilidade de compra. Em vista disso, apelamos para que os governos federal,
estadual e municipal cumpram com seu dever.
Nós, da Associação dos Moradores do Bairro Madureira, lutamos por
educação, saúde e segurança, plataforma política da maioria dos candidatos que se
elegem. Mas, quando assumem o poder, em vez de investir em educação,
segurança e saúde, as verbas são diminuídas.
O povo tem que se organizar e cobrar a promessa de campanha de cada
candidato. Só assim faremos valer, de fato, as nossas leis e os nossos direitos.
Como representante do Conselho Municipal da Saúde quero dizer que, dos
remédios que o Estado e os Municípios têm obrigação de fornecer, os mais caros
239
não têm para entrega. Na farmácia popular, só tem remédios baratos, os mais caros
não se encontram.
Queremos que o governo cumpra com a obrigação de fornecer o remédio de
uso contínuo para quem não tem poder aquisitivo. Acreditamos que os governos
federal e estadual têm recursos suficientes para enviá-los para o SUS.
Pensamos que saúde, educação e segurança devem ser prioridades do
nosso País e do nosso Estado. Só o povo organizado pode fazer valer as nossas
leis.
Pelo Estatuto do Idoso eu tenho direito de ser priorizado no atendimento,
mas advogados descumpriram essa lei. Queremos, de fato, ser respeitados porque
pagamos os nossos impostos para ter retorno, mas o retorno nunca chega.
O governo deve fiscalizar o dinheiro público. Dinheiro não falta e se fosse
bem aplicado e fiscalizado não faltaria para o remédio, para a educação, segurança
e para todas as coisas importantes de que o povo mais necessita.
Achamos que a metade do dinheiro público, ou mais, é desviada, sonegada
e roubada. Não podemos aceitar essa política do dinheiro público que parece que é
capim. Nós passamos necessidade e os outros rolam com dinheiro no bolso, no
meio das paredes, mas os governos estadual e federal dizem que não tem dinheiro
para investir.
Achamos que tem dinheiro, sim, mas precisamos fazer a nossa parte. Se
cada um de nós fizer a sua parte, achamos que podemos, sim, fazer valer os nossos
240
direitos.
O SR. ZORAIDO DA SILVA – Passamos a palavra à Sra. Isoldi Chies,
presidente do Rio Viver.
A SRA. ISOLDI CHIES – De um lado é uma alegria poder estar aqui hoje,
porque está mobilizando pessoas da nossa cidade para ver o grave problema que é
a falta da medicação. Nós trabalhamos com renais crônicos há 18 anos. Tentamos
muito ressocializar o renal crônico. Procuramos não deixar faltar nada do que é do
sustento do dia a dia, como atendimento psicológico, nutricional, em todos os
sentidos. Mas como é que fica? Hoje somos a cidade do Brasil com o maior índice
de sim à doação de órgãos, quando a família é procurada. Isto nos orgulha muito. É
um trabalho que está sendo feito semanalmente na cidade. Os transplantes estão
saindo, e muitos, que bom.
E chegamos ao ponto em que o medicamento falta. Por poucos dias, como
já disseram os colegas, pode haver uma rejeição. Para o renal crônico, ainda é mais
fácil, porque ele voltaria para uma máquina, o que já é uma luta, mas e os nossos
colegas de fígado ou outras doenças? Não tem volta, é muito difícil.
Existe muita desinformação, até dentro da classe que usa esse
medicamento, porque a doença não escolhe se sou eu ou quem será o próximo
candidato a transplante ou a uma máquina de hemodiálise. As pessoas chegam e
perguntam se veio o remédio. NÃo, não veio. E agora, o que eu faço? Onde eu vou?
241
Temos que conscientizar para que cada um saiba da importância desse
medicamento. A vida deles depende desse medicamento e não podemos mais ficar
calados perante esta triste situação que deixa tanta gente agoniada. Como disse a
colega do parkison, não é só o paciente que é o doente, é a família toda que fica
envolvida. Não tem, mesmo o que está melhor financeiramente, para custear uma
medicação sempre fica difícil.
Está na hora de todos, toda a comunidade se mobilizar para pedir os nossos
direitos, isto é fundamental. Sem isso o que adianta o nosso esforço? Acho que,
juntos, e vejo aqui até bastante gente, poderemos mudar alguma coisa. Caxias tem
em torno de 400 pessoas em hemodiálise, ou transplantados de rins, no Rio Grande
do Sul são cerca de 6 mil. Isto é um número razoável, incluindo as famílias que
sofrem com isso. Temos que tomar consciência de que cada um de nós é
responsável por esta situação e precisamos exigir os nossos direitos para que as
coisas aconteçam de forma melhor.
O SR. ZORAIDO DA SILVA – A Sra. Secretária solicitou a palavra
novamente para complementar alguns dados.
A SRA. MARIA DO ROSÁRIO – Eu estava mostrando ao deputado que o
município de Caxias do Sul investiu, de orçamento próprio, em 2006, 1 milhão e 300
mil reais em ações judiciais. Isso significa dizer que, quando um usuário que não é
atendido pelo Estado ou por dotação de verba federal que deveria vir para a compra
do remédio e não atende o usuário ele entra na justiça para buscar o seu direito
legítimo e constitucional. Aqui em Caxias do Sul o judiciário entende que a
242
responsabilidade é solidária, é do município e do Estado. Acaba que o município é
quem está atendendo.
A gente entende esta luta, sinto-me orgulhosa de estar aqui hoje, trabalhei
como servidora municipal nesta farmácia de medicação especial, algumas das
pessoas transplantadas que estão aqui eu conheço deste balcão, e acompanhei
sempre a angústia de um atraso. Tudo o que foi dito aqui por parte das associações
é verdadeiro e a gente acompanha no balcão quando trabalha lá, e digo mais,
aprendemos muito de solidariedade lá, porque teve momentos em que faltou
medicação e nós, do serviço, ligávamos para as casas dos transplantados e eles
repartiam com os outros a medicação. Isto não é novidade, todos sabem disso.
Só quero frisar que é necessário que se faça um movimento para que se
cumpram as competências das esferas, porque os municípios não irão ter estrutura
financeira para arcar com essas despesas, uma vez que eles investem na atenção
básica, na alta complexidade, nas cirurgias, nas consultas especializadas, há que se
cobrar das esferas competentes esse financiamento, se tem que mudar o processo,
reestruturar, passar para os municípios fazerem a gestão desse dinheiro, porque
esse dinheiro é faturado através de Autorização de Procedimento de Auto Custo,
cada medicamento que se pede ao Estado é gerada uma APAC, esta APAC é um
cheque que o governo federal paga e o governo estadual também. Esse dinheiro fica
nos cofres. O que temos que verificar é a forma de repasse e os sistemas de
compra, e como manter esse sistema atualizado para que não hajam esses atrasos.
Muito obrigada.
O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Obrigado. Queremos ouvir,
243
agora, o secretário da saúde de Bento Gonçalves, Roberto Mielle, para que ele faça
um relato da situação do fornecimento dos medicamentos em Bento Gonçalves.
O SR. ROBERTO MIELLE – Boa tarde a todos. O que nos trouxe aqui foi
que hoje, pela manhã, recebi na Secretaria a Ângela, que é presidente da
Associação dos Portadores de Mal de Parkison e me sensibilizou muito o relato feito
por ela e, por essa razão, num ato de solidariedade aos problemas apresentados por
ela e a todos os transplantados e a todas as pessoas portadoras dessas doenças
crônicas, do drama em que essas pessoas vivem.
Para mim, agora, fica até fácil comentar o lado do gestor público, a
responsabilidade do gestor e do município, após termos ouvido a nossa colega,
Maria do Rosário, Secretária da Saúde de Caxias do Sul, que colocou, de uma
maneira muito objetiva, o que, na realidade, acontece com os municípios. Isso não é
diferente do que está acontecendo com a maioria dos municípios, através de ações
judiciais, temos que responder por responsabilidades que seriam das outras duas
esferas de governo, do estado e federal, em cima de medicamentos especiais e
excepcionais. Existem portarias que definem as responsabilidades. O município tem
um relação de medicamentos que é sua responsabilidade, os especiais e os
excepcionais com o estado e o ministério, que deveriam cumprir com isso. Na
realidade, estoura no lado mais perto que é o município, como a Rosário falou.
Há um consenso, dentro do Poder Judiciário, de que os três entes são
solidários. Como os três entes são solidários, o mais próximo e o mais fácil de se
fazer cumprir uma determinação judicial é o município e com isto todos os
municípios têm arcado com esta responsabilidade. Até já tivemos contato com o
244
Poder Judiciário e com o Ministério Público relatando o drama em os problemas que
os municípios vão começar a enfrentar, digo vão começar a enfrentar, em termos de
medicamentos de uso contínuo que é a responsabilidade do município, sim, mas as
ações judiciais estão fazendo com que o nosso orçamento, que é finito, não é
infinito, temos uma dotação orçamentária, temos que trabalhar dentro desta dotação
orçamentária e todos sabemos o que poderá acontecer.
Eu conversava, há questão de 15 dias, com um juiz federal em Bento
Gonçalves, vai chegar daqui a uns meses e nós não teremos condições de manter o
que é responsabilidade do município. Existe a emenda 29, inclusive na semana
retrasada estivemos falando com o deputado Alberto Oliveira sobre a preocupação,
principalmente da região, do que está acontecendo na área da saúde, a emenda 29
diz que o município tem que dispor de 15% das receitas na área da saúde, e não
existe nenhum município que cumpre o mínimo, pois a maioria investe mais do que
os 15%. Ficamos perplexos quando vemos que o Estado, que deveria aplicar 12%
não aplica nem 5%. O ministério da saúde, que deveria aplicar 10% também não
está cumprindo com isso, no entanto, o gestor municipal, aquele que tem a
obrigação de atender às comunidades, o reflexo cai, normalmente, em cima do
município, e a coisa vai chegar num ponto que irá ficar insustentável. Não estamos
tirando o direito que as pessoas transplantadas e os crônicos têm, isto está na
Constituição, a responsabilidade do estado, e estado subentende-se as três esferas
de governo, só que, na realidade, hoje, quem está cumprindo são apenas os
municípios. Os municípios cumprem e cumprem além do que determina a lei, ao
passo que as outras duas esferas de governo não há maneira de fazer com que seja
cumprido.
Acho engraçado isso, mas numa reunião em Torres, num seminário de
245
saúde com o Tribunal de Contas e o Ministério Público foi levantado por que o
Tribunal de Contas, quando vai ao interior, vai nas prefeituras e aponta se o
município não investe os 15%, foi questionado por que o Estado não comprova os
gastos, no entanto, vemos que foram aprovadas as contas do governador fulano de
tal, somente com uma ressalva: não ter cumprido a emenda 29. Aí contestamos por
que a diferença de tratamento entre as duas esferas de governo, estadual e
municipal? A resposta que tivemos é de que os auditores do Tribunal de Contas
aponta, mas o governador tem um plenário do Tribunal de Contas que julga o
governador e que, no entendimento deles vêem que não cumprem a emenda 29,
mas não têm como penalizá-los. Agora, se forem os prefeitos que não cumprem,
com certeza, todos os repasses de verbas de outros níveis de governo irão ficar
bloqueados porque não investiu aquilo que a lei determina, ao passo que as outras
esferas não cumprem e a coisa fica por isso.
Esse é o desabafo que temos que fazer, a grande preocupação de todos os
secretários de saúde, hoje, com o não cumprimento, tanto no financiamento como
nas responsabilidades das outras duas esferas de governo.
Tenho uma reunião em Bento Gonçalves, às 16 horas. Como me
comprometi, aqui estou para solidarizar-me com o drama pelo qual passam essas
pessoas. Entretanto, daqui a pouco, peço licença para me retirar.
As Associações dos Secretários de Saúde do Rio Grande do Sul podem
contar conosco, pois somos solidários com todos os problemas vivenciados por
essas pessoas que não se limitam a sua doença, mas com o fato de não
conseguirem os medicamentos. Muito obrigado.
246
O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Agradeço a presença do
Secretário da Saúde, de Bento Gonçalves. Esteja à vontade, secretário.
Com a palavra, para complementar, o Sr. Jorge Luiz Kramer Borges.
O SR. JORGE LUIZ KRAMER BORGES – Tudo o que nos foi exposto pelos
secretários muito nos preocupa. A pessoa entra com uma ação na Justiça contra o
Estado, e a Secretaria da Saúde simplesmente não está cumprindo a decisão
judicial. Aqui temos o exemplo da Dona Irdes, que entrou judicialmente, o prazo
dado foi de cinco dias, penso eu, e o Estado, até hoje, não cumpriu a ordem judicial.
As únicas ordens judiciais cumpridas são aquelas em que os advogados
entram com uma nova petição, e o juiz dá um prazo de 24 horas, sob pena de prisão
do secretário da Saúde.
Essas decisões estão sendo repassadas rotineiramente para os Municípios.
Já existem pessoas entrando diretamente contra o Município, pois já sabem que o
Estado não cumpre a decisão judicial.
O secretário Osmar Terra não está cumprindo as decisões judiciais, a
assessoria jurídica faz vistas grossas para o processo. E o dinheiro apenas é
depositado, ou o medicamento é liberado, quando chega uma determinação de
pagamento em 24 horas ou a prisão do secretário. A situação dos Municípios está
ficando muito complicada. Muito obrigado.
247
O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Com a palavra, para
complementar, a Sra. Ângela Garcia.
A SRA. ÂNGELA GARCIA – Já entrei com um pedido judicial três vezes, e
a burocracia é enorme. A Associação Parkinson, solicitou-nos uma defesa individual.
Depois da realização dessa subcomissão, que esperamos resolva alguma
coisa, quero dizer-lhe que já temos uma ação judicial em nome da Associação.
Como ter de passar por um juiz para se aprovar uma doença? Se ele não
conhece alguém com essa patologia, simplesmente não passa o processo, não sabe
o que a pessoa está passando. Para fazer essa análise, deveria ser uma pessoa
com conhecimento sobre a patologia de Parkinson.
Sobre o secretário Osmar Terra, penso que lhe falta sensibilidade. Posso
convidá-lo para conviver apenas dois dias com pessoas com essa patologia na
Associação Parkinson. Poderia auxiliá-los a colocar suas roupas e tudo o mais que
já dependem de outras pessoas. Sentiria, na carne e na alma, o que é ter Parkinson.
Também não somos vítimas, apenas desejamos os remédios.
O secretário Osmar Terra não comparece a nenhuma audiência em que é
solicitada a sua presença, manda um representante, que diz: a situação está sendo
resolvida.
Para mim, não é um juiz que deve determinar se temos ou não de tomar o
248
remédio, mas um neurologista. Muito obrigado.
O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Com a palavra o Sr. Eduardo
Yotti, que representa a 5ª Coordenadoria da Saúde.
O SR. EDUARDO YOTTI – Boa-tarde. Estou na Coordenadoria há um ano e
seis meses, na qualidade de coordenador, e temos uma preocupação enorme com o
setor de medicamentos.
O nosso trabalho é acompanhado pela Dona Izoldi e pela Maria do Rosário,
só que ele foge muito da nossa alçada. As coordenadorias, infelizmente, não têm o
poder de decisão.
Podemos solicitar que o Estado nos forneça o que solicitamos. Recebemos
uma média de 200 a 250 solicitações por semana por medicação. Não temos na
Coordenadoria um processo parado, todos estão em Porto Alegre. Só que,
chegando lá, vai para o médico perito, vai para um lado e para outro, demorando de
60,90,120, 140 dias!
Sexta-feira última, atendi uma senhora que me disse estar há um ano
esperando pelo medicamento. Ao analisar o caso, vi que nem adiantava encaminhar
o processo novamente, pois já havia chegado a hora da sua reavaliação.
Estamos fazendo tudo o que podemos! Chegamos a ir em caravanas a
Porto Alegre, cobramos do CEPAF, cobramos do secretário, mas tudo dentro do
249
nosso limite. Chegamos até à emoção, pois muitas pessoas choram, outras brigam,
querem nos ofender, mas entendemos a situação e o interesse dessas pessoas.
Muitas delas estão deixando de comer para comprar remédios.
Não temos o poder que desejaríamos ter! Estamos brigando por uma
descentralização. Caxias do Sul, Veranópolis já reivindicaram essa descentralização
para não deixar nas mãos do governo do Estado esses medicamentos.
Já aprovamos, pela nossa Comissão Intergestora Bipartide, que consigamos
essa descentralização, repassando esses medicamentos para a cidade de Caxias
do Sul. Veranópolis também está fazendo a mesma reivindicação.
Queremos viabilizar a oferta desses medicamentos de uso contínuo às
pessoas. Não desejamos que essa situação continue. De cada dez ligações que
recebo na Coordenadoria, oito delas são para saber do andamento do processo que
solicita tais medicamentos. Isso nos causa um transtorno muito grande. Não
precisamos disso. Precisamos de uma autonomia para decidirmos.
Sei que o Estado passa por uma situação difícil. No mês passado, foram
gastos quatro milhões em medicamentos. A nossa Coordenadoria faturou em APAC
282 mil reais. Isso não é nada, porque, em janeiro do ano passado, faturamos 980
mil reais. Vejam como baixamos! Isso significa que estamos entregando até 50%
dos medicamentos que deveríamos entregar!
Tenho certeza de que o secretário tem consciência dessa situação.
Fazemos reuniões de coordenadores, mostramos todos os dados, existe um
acompanhamento. Mas o Estado está com dificuldade para pagar os laboratórios. E
250
os próprios laboratórios, como forma de pressionar, não entregam os medicamentos.
Tudo isso prejudica as pessoas que estão do outro lado.
Temos de encontrar um ponto comum para que essa situação mude, porque
ela nos causa um transtorno muito grande. Muito obrigado.
O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Com a palavra o Sr. Wilson
de Souza.
O SR. WILSON DE SOUZA – Boa-tarde. Sou presidente da associação do
Bairro Século XX. Pessoas que ganham um salário mínimo – 350 reais –, como
podem custear os seus remédios? Eles não têm como comprá-los.
Em meu bairro, têm duas pessoas com câncer, precisam de uma
alimentação delicada, mas não têm condições de comprar os remédios. Como eles
ficam?
Dinheiro some de um lado, some do outro. Mas, como ficam os pobres?
Muitas pessoas não têm serviço ou estão sem trabalhar por causa da idade, não
conseguem serviço nenhum, mas estão doentes. Pergunto-lhes: como é possível
conseguir remédios para essas pessoas?
Temos de encontrar uma solução para esses problema. Sempre solicito aos
presidentes das Associações de Bairros que compareçam às reuniões na Câmara
de Vereadores. Se ficarmos apenas esperamos, não conseguiremos nada. Muito
251
obrigado.
O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Com a palavra o vereador Eloi
Frizzo.
O SR. ELOI FRIZZO – Minha saudação ao deputado e amigo, Luciano
Azevedo.
O tema dos remédios é tratado na Câmara de Vereadores de forma
permanente. Temos 17 vereadores, e diariamente esse problema é constatado com
a presença de pacientes ou familiares que nos solicitam providências.
Na cidade, contamos com entidades muito ativas, como a Associação dos
Renais Crônicos, Associações que trabalham na área do Câncer. A luta é constante.
Essa realidade não nos é desconhecida.
O companheiro Cecy, eleito Diretor de Saúde da União de Bairros, e que
nos representa no Conselho Municipal de Saúde, diariamente circula pelas
farmácias. Ele já é uma referência, pois busca os remédios onde ele os encontrar,
busca uma receita do SUS para pegar os remédios numa farmácia pública. Quando
a receita é de um médico particular, tudo se torna mais difícil. Essa é a realidade.
Conversava com a vereadora Geni Peteffe que temos uma colega de
trabalho – a Rejane que está aqui conosco – que se submeteu a um transplante há
cinco meses. Perguntamos a ela quanto gastava para comprar o remédio contra
252
rejeição, são três caixas por mês: 800 reais para cada caixa de medicamento! Isso
representa um gasto de 2.400 reais por mês! Nem que ela tivesse o cargo de
vereadora ao quádruplo poderia custear esse tratamento. Diariamente, ela nos
coloca a sua angústia: mas eu vou eu vou ter o remédio? Ela não pode ficar 72
horas sem tomá-lo.
Então, meu caro deputado, o enfoque também deve-se dar sobre os
laboratórios, porque é um roubo, é um assalto cobrar 800 reais. O problema de
todos esses remédios é estarem nas mãos dos laboratórios multinacionais. O
Estado tem de ter coragem de sair para quebra de patente, priorizando, por
exemplo, o Lafergs, fazendo com que, de fato, o laboratório do Estado passe a
produzir esse tipo de medicamento.
Deveria se utilizar a força política do Estado sobre esses laboratórios para
esse remédio em vez de custar 800, custar 100 reais. Nem estou na tese do Sr.
Wilson de Souza quanto aos 350 do salário mínimo. Estou baixando para 100. Se
custasse 100 reais, talvez para o Estado custasse muito menos. O que se vai fazer
num Estado falido como o Rio Grande do Sul?
É claro que entendo também, como a nossa secretária e o secretário
entendem, que a prioridade é a vida que está, sem dúvida nenhuma, antes de uma
obra, antes do asfalto, antes de tudo. A prioridade é a vida, mas há a pressão
política. Uns se organizam mais; outros se organizam menos. As pessoas vão
morrendo, e a gente nem fica sabendo.
O relato do Sr. Renato Iotti de que, no ano passado, no mesmo mês, se
faturou 800 e, no mesmo mês deste ano, se faturou 200, significa dizer que alguém
253
foi para o beleléu. Alguém bateu às portas de São Pedro, porque estava sem os
remédios. Não há como haver uma constatação diferente.
Então, nesse sentido, talvez, meu caro presidente desta subcomissão, a
quem cumprimento por esta iniciativa, com todo respeito, acho que o secretário de
Saúde do Estado está meio acomodado. Sou da tese da vereadora Geni Petteffi:
não deu no couro, troca. É preciso que a governadora tenha coragem porque é um
figurão do Estado e tal. Não sei o que há, deputado.
Se não deu, põe alguém que está a fim de trabalhar, que, pelo menos, vá à
reunião. É preciso que o paciente veja que o secretário está na sua frente, não
mandou representante. Essa foi uma das queixas que o pessoal trouxe aqui. Enfim,
é de focar também a questão dos laboratórios.
Concluindo, para não me alongar, a questão da aids não é política, mas o
ministro Serra se projetou muito devido à história da quebra de patentes dos
remédios para uso contínuo. Tem de haver coragem para quebrar patentes. Não há
problema nenhum. Ou pelo menos usar a força política do Estado para fazer baixar
preços e, quem sabe, o Estado poder fazer uma intervenção mais clara e salvar
vidas. Muito obrigado.
O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Agradeço a palavra do
vereador Eloi Frizzo. Poderemos ouvi-lo depois novamente se for desejo dele.
Vamos ouvir a vereadora Geni Petteffi e, em seguida, o Sr. José Cavalli e as outras
pessoas que estão inscritas para se manifestar.
254
A SRA. GENI PETTEFFI – Boa-tarde, deputado; boa-tarde à Mesa.
Vou falar até de cadeira, porque minha mãe ficou oito anos com Alzheimer.
Tenho um irmão que precisa de medicação para o fígado. Então, sabemos o que
isso representa para uma família, mas não falo me queixando.
Como o vereador Eloi Frizzo falou, aqui é raro o dia em que não recebemos
uma ou duas pessoas com as receitas sem condições de comprar os remédios. Elas
nos dizem que, se comprarem o remédio, não têm o que comer. Ou se morre de
fome, ou se morre porque não tem o remédio.
Acompanhamos de perto a Rejanes e sempre dizemos que ela foi uma
guerreira porque batalhou muito. Ela nos diz que, ficando 72 horas sem medicação,
tem rejeição dos rins. É essa a preocupação que temos.
O vereador Eloi Frizzo está certo: tem de quebrar esses paradigmas e fazer
alguma coisa. Os laboratórios têm que ser chamados, porque com o que eles
faturam, principalmente as multinacionais, poderiam ser mais amenos com a
população. Eles têm condições de fazer isso.
Ouvi o nosso secretário, se não me engano, sábado à noite, em um desses
canais de televisão, falando sobre esse assunto. Ele disse que todo o problema da
falta de remédios é que o governo federal não repassa recursos. Ele falou que se
teria de cobrar do governo federal. Até comentei esse programa com o vereador
Eloi.
255
Penso que passou a era do nosso secretário. Tenho dito e disse também
para ele que temos de colocar gente que tenha condições de trabalhar. Ele já tem
emprego de deputado federal, que volte a Brasília e ponha aqui pessoas que
tenham condições e vontade de brigar. A população de Caxias do Sul é de 400 mil
habitantes. Então fazíamos a conta: 2.400 reais por mês de cada um são três
caixas, o que dá 96 mil reais.
Alguma coisa tem de ser feita. Os laboratórios têm de ser chamados à
responsabilidade. O secretário da Saúde tem que ir às reuniões, tem que participar
das audiências públicas e tem que mostrar a cara. Quem quer ser alguma coisa no
poder público, tem que mostrar a cara. Não pode se esconder atrás de assessores
ou de outras pessoas. Ele tem de ir para a linha de frente e dizer o que está
acontecendo.
No entanto, tem de haver um pouco mais de sensibilidade daqueles que
atendem às pessoas principalmente em Porto Alegre, na Secretaria de Estado
porque, muitas vezes, elas voltam daqui chorando.
Uma cidadã me contava um dia que tinha um problema de falta de uma
medicação. A Unimed deu um mês, e ela não podia comprar porque custava 3.800
reais. Solicitaram sete ampolas de que ela precisava. Descobriram que das sete,
três tinham sido vendidas. Não sabem por quem, mas foi lá da Secretaria da Saúde
do Estado.
Então tem de ser feita alguma coisa para que se mude toda essa história,
porque já está muito arcaica. Tem que se modernizar um pouco. Muito obrigado.
256
O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Concedo a palavra ao Sr.
José Cavalli.
O SR. JOSÉ CAVALLI – (manifestação longe do microfone)
O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Deixe interrompê-lo para lhe
pedir uma gentileza. Se o senhor puder use o microfone, porque esta é uma
atividade oficial da Assembléia e temos obrigação de registrá-la.
O SR. JOSÉ CAVALLI – Se é obrigatório, vou usar. Nada é obrigatório
neste Rio Grande do Sul.
Outro detalhe: a questão é de laboratório, mas como políticos, às vezes, não
fazem o que têm de fazer. Por que o meu médico ou o médico da minha filha fazem
duas viagens por ano para visitar o exterior, pagos pelo laboratório? Então é fácil
resolver isso. Aquele que assina o passaporte não deve dar passaporte para ele
viajar. Ah, mas é direito particular que ele tem! E daí? Vai ver quem paga o Imposto
de Renda dele. E vamos adiante.
Então, creio que é um problema primeiramente de médico. Pergunto:
quantos médicos há aqui? Quantos? Se eu baixo um hospital e o médico deixa uma
receita, coitada da atendente de plantão, querendo-me aplicar o medicamento. E o
médico?
257
Agora pergunto: se o engenheiro, ao construir um prédio do governo ou cair
uma estrada, quem é o culpado? Não é o engenheiro? Ou é a governadora? Então,
está na hora de virar um pouquinho as coisas. Está na hora de quem está no
comando e de quem nos representa, se mexer.
Uma audiência pública lá em Porto Alegre não vai resolver. Tem de resolver
naquele setor, onde há pilhas de medicamento para mandar, mas que estão
estragando e outras coisas mais e resolver por que no mês tal, dia tal, não foi pago o
laboratório tal que mandou o medicamento.
A próxima viagem, aliás, não posso deixar de falar o que a Ana comentou
sobre o neurologista que tem que fazer as coisas, mas digo que, se eu não tiver o
medicamento, vou conseguir uma viagem de avião para os Estados Unidos para
comprar o medicamento. Venho de volta com ele congeladinho em 12 horas. O que
vai acontecer? Vou pagar a metade do que o Estado paga. O medicamento da
minha filha custa 6.875 por mês.
O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Agradeço a palavra do Sr.
José Cavalli; está feito seu importante registro e manifestação. Concedo a palavra
ao presidente da Comissão de Saúde desta Câmara Municipal, vereador Pedro
Incerti.
O SR. PEDRO INCERTI – Minha saudação ao deputado Luciano Azevedo.
Parabenizo-o por esta iniciativa, por tratar deste tema e do problema de saúde
258
pública, que é sério. Uma saudação a todas as autoridades e demais participantes
desta reunião.
Quero dizer, deputado, que tenho uma idéia, uma sugestão e que teremos
de trabalhar nesse sentido. Ouvi hoje, numa emissora de rádio, a notícia de que até
o final de maio a receita, a arrecadação da CPMF chegou próximo a 15 bilhões de
reais.
Então, penso que o caminho para resolver o problema de saúde pública e
dos medicamentos que está enquadrado na questão de saúde pública é por aí. O
vereador Frizzo comentou que se discute esse assunto aqui com freqüência.
Inclusive aprovamos uma moção a favor da juíza da comarca de Torres, se não me
falha a memória, no primeiro ano da nossa gestão em 2005, quando ela denunciou e
cobrou do Ministério Público o quanto se arrecada de CPMF e onde está sendo
investido esse dinheiro. Essa contribuição foi criada com a finalidade de tratar a
saúde no Brasil. Discutimos a decisão da juíza e aprovamos uma moção em favor
aqui na Câmara.
Então, não vejo outra saída, senão pressionar as autoridades em busca
desses recursos, o que é a solução para o problema. Foi o Dr. Adib Jatene, na
época, que teve a brilhante idéia de criar esse imposto. Por que não exigir que esse
dinheiro realmente seja para a saúde? Foi criado para essa finalidade, mas não está
sendo devidamente usado. Todos nós sabemos isso, pois, se fosse, teríamos a
solução do problema de saúde no Brasil.
Então passa por aí essa cobrança de todos nós no sentido de exigir das
autoridades, do governo central, enfim, o uso desse dinheiro para resolver esses
259
problemas, porque é um absurdo. As pessoas estão mendigando, batendo na porta
do Judiciário como que não fosse um direito. Isso está consagrado na Constituição.
Está na Constituição e o sujeito precisa entrar com uma ação para buscar
um direito que lhe é assegurado. É um absurdo. Gastará mais dinheiro para tentar-
se socorrer.
A minha sugestão, a minha idéia é que haja uma mobilização forte no
Judiciário, mas que haja essa cobrança no sentido de que esses recursos sejam a
solução para a nossa saúde pública.
Mais uma vez, parabenizo-o por essa iniciativa de discutir temas tão
importantes para a nossa comunidade. Muito obrigado.
O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Muito obrigado, vereador
Pedro Incerti, presidente da Comissão de Saúde da Câmara de Vereadores.
Ouviremos o senhor Izidoro Zanette.
O SR. IZIDORO ZANETTE – Há um ano e meio, quero dizer que a coisa
não é de hoje não. É uma estrutura. Nós, como cidadãos, temos que exigir dos
nossos deputados, trabalho. Temos que modificar a estrutura governamental. Não
há governos culpados, não é a Yeda, é uma estrutura que vem de muitos anos. Não
adianta culparmos uma governo hoje.
260
Temos algumas perguntas a fazer. Para onde vai o dinheiro dos nossos
impostos. Quem é que coordena a distribuição do dinheiro? É federal, é estadual, é
municipal?
O fato é que ultimamente os Municípios têm que prestar conta disso, prestar
conta daquilo. São aqueles da ponta que estão empurrando a máquina, mas o
recolhimento do imposto está sendo, principalmente, para o governo central.
Nós, como cidadãos, não adianta espernearmos tanto. É tudo uma estrutura,
gente. Queremos que os nossos deputados exijam uma definição de
responsabilidade do governo federal, estadual e municipal. Porque isso de empurrar
daqui e dali, nós, cidadãos, estamos cansados.
Sou presidente da Associação de Apoio aos Diabéticos de Bento Gonçalves
e liguei para Caxias do Sul para saber daquelas fitinhas que revelam a glicose no
organismo. Diabete é assim: se não é produzida a insulina, então a pessoa morre. A
insulina é o hormônio que leva o alimento para a célula. Bem, fui no SUS, em Bento
Gonçalves, nada feito, não tinha lantos, não tinha insulina, não tinham as fitas
reagentes.
Por que não são fabricadas, aqui no Brasil, essas fitas reagentes? Pode ser
até que são, mas são caríssimas. Então, liguei para Caxias, para Porto Alegre. Porto
Alegre diz que tem que se entender com Caxias. Eu, esperneando, ligando. Por que
todo mundo diz que não tem? O que é que precisa?
Só para resumir para vocês, o representante do laboratório não queria nem
dizer o nome, mas aos poucos fui descobrindo o representando do exterior para cá.
261
Não sei se é por meio de São Paulo ou por aqui. Deve haver um importador só. É
bom lembrar de que medicamentos, depois do petróleo, é o que mais gira dinheiro
no mundo.
Isso que eu queria dizer, pois é um absurdo. Nós, como cidadãos, queremos
que vocês, deputados e deputadas, façam alguma coisa para mudar essa estrutura.
Não adianta nós espernearmos, culpar Yeda, culpar Germano Rigotto. É uma
estrutura. Somos escravos de um poder central, porque o que pagamos de impostos
e não ter retorno. Aquilo que deveríamos merecer é uma vergonha. Muito obrigado,
desculpa.
O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Vai falar o Sr. Darci Adelar de
Jesus.
O SR. DARCI ADELAR DE JESUS – Parabenizo o pessoal da mesa na
pessoa do presidente, vereador Zoraido da Silva, e também o deputado Luciano
Azevedo.
Quando nós paramos para pensar na riqueza que o Rio Grande do Sul tem,
a sua produção. A riqueza em todos os aspectos. Diria até riqueza política, porque o
Rio Grande do Sul deu origem a grandes homens para o nosso Brasil.
Mas quando paramos para pensar na maior riqueza, que é o ser humano,
vemos que alguns estão morrendo por falta de remédio. Talvez, para muitos, a
audiência pública não vai servir. Mas para aqueles que vão sair daqui levando a
262
sério o compromisso de continuar lutando. Vejo o trabalho que a secretária de
Saúde tem feito aqui em Caxias – no meu bairro, por exemplo, as pessoas nos
procuram como presidente do bairro, como líder comunitário, e temos encaminhado
– a luta que tem feito para conseguir, através do Estado.
Quando chegamos na questão do Estado, vemos que não é questão
financeira. Vemos que, às vezes, o remédio está lá. Então é uma questão de
competência, uma questão de gestão. E quando olhamos esta Casa dos vereadores
aqui de Caxias do Sul, vemos que os vereadores cumprem o seu papel em fiscalizar
o Município, em procurar melhoria, qualidade de vida para os bairros, fica aqui,
deputado Luciano Azevedo, o nosso pedido, em nome do movimento comunitário de
Caxias, porque aqui há vários presidentes de bairros, que também a Assembléia
Legislativa cumpra o seu papel de fiscalizar o Estado, e fazer com que o Estado
venha a cobrar do governo federal.
Em ciência, tecnologia e riqueza nós somos bons. O que está nos faltando é
ser mais sensível a vida humana e dar mais retorno para aqueles que acreditaram
em nós e nos fizeram chegar ao poder. Muito obrigado.
O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Agradeço ao Darci Adelar de
Jesus.
Ouviremos agora o vereador Getúlio Demori.
O SR. GETÚLIO DEMORI – Saúdo o deputado Luciano Azevedo, os
263
integrantes da mesa, o vereador presidente desta Casa, Zoraido da Silva, o
secretário da Saúde na pessoa de quem saúdo os demais integrantes da mesa.
É uma alegria tê-los aqui na nossa Casa para discutir uma assunto tão
importante, como é o problema da saúde. Sabemos, os colegas vereadores já
comentaram, o que acontece na nossa Casa no dia-a-dia. São pessoas pedindo
socorro, porque o Município faz, e faz muito bem o trabalho. Mas o Município tem
dificuldades, mas quando vemos que, por parte do governo federal, estadual, não
cumprem a sua parte e o Município tem que assumir além do que é possível, vemos
as dificuldades.
Temos que fazer alguma coisa nesta reunião de hoje, talvez uma carta a
todos os deputados federais do Rio Grande do Sul para fazer que se cumpra aquilo
que quando foi criado o imposto do CPMF, que era para a saúde, que, com certeza
daria para resolver o problema da saúde do País inteiro com o que se arrecada,
fazer com que esses impostos, de fato, voltem para a saúde, para que as pessoas
que mais precisam, tenham no momento. Para que as família não tenha que perder
uma vida porque não tem dinheiro para comprar esse remédio.
E foi criado um imposto, justamente para resolver o problema. Temos que
cobrar dos deputados estaduais, dos secretários, dos deputados federais como as
pessoas cobram dos vereadores.
Sabemos que um vereador, vendo as dificuldades, tira dinheiro do seu bolso
para ajudar a comprar algum remédio, mas isso não resolve o problema. Temos que
fazer com que seja resolvido. Que tenha medicamentos na hora em que as pessoas
precisem. No governo federal, vemos a arrecadação a cada dia maior, só que para a
264
saúde é cada vez menor o investimento.
Muito obrigado pela presença em nossa cidade para tratar de assunto tão
importante.
O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Nós é que agradecemos a
manifestação do vereador Getúlio Demori.
Ouviremos a Izabel Cristina Corso.
A SRA. IZABEL CRISTINA CORSO – Boa-tarde a todos.
Sou figura conhecida no atendimento aos renais crônicos. Atuo nessa área
já há 20 anos. Represento uma clínica que é prestadora de serviço, aqui no
Município de Caxias do Sul. Posso dizer para vocês que essa problemática é
bastante antiga.
O deputado, por estar envolvido nessas questões, pode observar quantas
nuanças estão envolvidas nessa questão de medicação especial.
Quero complementar a informação do vereador, que foi parcial. No ano
passado, foram recolhidos 35 bilhões pela CPMF, neste País. Às vezes, preocupo-
me se na verdade é falta de recurso ou é a forma como se gere esse recurso. Não a
forma como se gere, é se ele é fiscalizado e se quem faz mau uso é punido.
265
O problema deste País pára aqui. Não tem fiscalização e quem faz mau uso
do dinheiro público não é punido, por isso as coisas se repetem, por isso estamos
aqui novamente.
Mas também sinto-me feliz em saber que o Município e o Estado se
mobilizem. Eu estou lá na ponta. Sou uma enfermeira nefrologista que atuo na
gestão e vejo o sofrimento desses pacientes todos os dias. Vejo que o Estado não
consegue medir o custo da descontinuidade de um tratamento. É dar a medicação, o
doente não consegue fazer o tratamento, é adoecer, é custar mais caro para o
Estado e ele voltar a começar.
Já vi descalabros nessa área, como o colega que vai a Porto Alegre, que
chega a um ponto de se mandar um processo para autorizar a medicação ao
Estado, que tem que ser reavaliado daqui a seis meses. O auditor e o médico perito
tem a coragem de mandar, depois de um ano, o processo de volta dizendo que
caducou o tempo do exame. Mas ficou um ano com ele e ele manda de volta porque
o exame está vencido. É um descalabro total.
Considero a mobilização muito importante e que posturas mais sérias e mais
e mais agressivas, com base na fiscalização e punição. Abrir essa caixa preta.
Quem são esses laboratórios? Quem desvia dinheiro? Quem ganha dinheiro?
Talvez uma subcomissão ou uma CPI. Acredito que para salvar vidas, temos
que ter uma postura séria, ética e transparente. Esse é o meu recado aqui nesta
audiência. Muito obrigada.
266
O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Está feito o registro.
Agradecemos a Izabel Cristina Corsso.
Agora ouviremos a Sra. Denise Ramos.
A SRA. DENISE RAMOS – Boa-tarde caro deputado, vereadores de Caxias
do Sul, colegas.
Sou transplantada de rim e pâncreas. Fui a primeira pessoa transplantada
de rim e pâncreas de Caxias do Sul. Fiz o transplante em Porto Alegre.
Depois de quase quatro anos de transplante, passei horrores com diabetes e
com rim, agora que consegui esses dois enxertos, tenho que perder, eu acho,
porque chega a um certo ponto que não se consegue mais medicação. Pelo menos
para mim é um medicamento, chama-se tacrolimus. Esse remédio era importado,
agora quem está fazendo é um laboratório aqui de Alagoas. Chamamos ele de BO,
bom para otário, porque faz três meses que comecei a tomar esse remédio e os
meus exames começaram a dar problemas.
Acho que com o passar do tempo e com uma nova consciência passaremos
a nos acostumar com a idéia de que só devemos tomar esse tipo de remédio porque
o Estado não está conseguindo comprar o Tacrolimos importado, que custa 40% a
mais do que o do Tracolimos produzido pelo Laboratório Industrial Farmacêutico de
Alagoas – Lifal.
Se o Brasil não tem condições de fabricar um remédio que ajude na rejeição
267
dos órgãos transplantados, não entendo porque mudaram o medicamento. Por que
o importado é 40% mais caro? E o outro remédio? Aquele feito no laboratório de
Alagoas, que simplesmente não foi testado em seres humanos, somente em
animais? E ainda fazem a gente engolir isso.
Tudo bem. Então devemos nos acostumar com esse remédio. Mas eu quero
saber por que não existe dinheiro para comprar esse remédio? Não sou a única
pessoa transplantada. A maioria dos transplantados do Rio Grande do Sul, de
Caxias do Sul, Região da Serra, usam esse remédio.
Pelo amor de Deus, vamos tomar consciência. Passamos por máquinas,
perdemos a visão, uns totalmente, outros, assim como eu, ficaram com apenas 30%
de visão num olho por causa do diabetes. Por que os órgãos encarregados dessa
área não se sensibilizam um pouco a respeito desse assunto?
Acho que deve haver pessoas mais integradas nesse trabalho para buscar a
solução para esse problema. Agradeço o delegado Renato Iotti para quem pedi
remédio por dois meses. Cheguei chorando e ele me conseguiu remédio. Muito
obrigada, delegado.
O pessoal das nossas clínicas fazem tudo o que é possível para conseguir
os remédios. Se eles têm dois comprimidos do remédio eles entregam para quem
precisa. Só que não resolve o problema porque nós precisamos de soluções,
simplesmente isso. Muito obrigada deputado, muito obrigada pessoal.
O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Nós é que agradecemos, Sra.
268
Denise Ramos.
A SRA. JOELMA – Também sou transplantada, só que eu não moro aqui
em Caxias do Sul.
Para complementar o que a minha colega falou a respeito do Tracolimos,
quero dizer que chegou ao meu conhecimento de que há Estados onde a Secretaria
de Saúde confiscou esse medicamento. Também há laudos que dizem que a Anvisa
fechou esse laboratório porque esse remédio não foi testado em seres humanos,
principalmente em transplantados.
Se esse medicamento foi feito para os transplantados, nós temos que ser
testados. Também quero dizer que alegam que não dão esse medicamento porque
o órgão transplantado está bem, só que ele causa outros sintomas, inclusive
taquicardia, de que alguns pacientes já se queixaram.
Será que o Estado vai esperar o óbito de algum paciente transplantado para
depois resolver esse caso? Essa é a pergunta que faço. Na Secretaria de Saúde,
alegam que o governo venceu a licitação e vai entregar todo medicamento, mas não
se importam com o paciente. Agradeço pela oportunidade de fazer o meu
pronunciamento.
O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Muito bem, já ouvimos o
relato. Agora, ouviremos a Sra. Irdes Rossi.
269
A SRA. IRDES ROSSI – Boa-tarde a todos os presentes.
Sou transplantada de fígado há dois anos e portadora do vírus da hepatite b.
Como o Jorge falou, uso um medicamento que nós chamamos de HBig, é um tipo de
vacina, que se não for feita, com o tempo a doença pode rescindir.
Fiquei por três meses sem esse medicamento, mesmo com processo
judicial. Para quem não conhece uma lista de espera para transplante, eu costumo
chamá-la de corredor da morte. Quando entramos nessa lista dependemos da
generosidade da sociedade para continuar vivendo. A sociedade dirá se
continuaremos a viver ou não.
Uma pessoa que morre te salva. Antes de morrer ela diz sim à família e te
salva depois de morta. E o Estado te deixa morrer enquanto estás vivo. Eu me sinto
como se tivesse voltado ao corredor da morte, novamente, como estava antes do
transplante.
Quem é o culpado eu não sei. Se é o Estado ou se é o laboratório. Não sei
quem é, mas a minha situação e de muitas pessoas é essa.
Novamente voltei ao corredor da morte. Neste mês eu tenho medicamento,
mas no mês que vem não sei se terei. Essa é a nossa situação.
Trabalho com a equipe do Hospital Pompéia fazendo campanha para
doações de órgãos. Caxias do Sul é a cidade número um, em cem, na doação de
órgãos no País. O Rio Grande do Sul é o primeiro do País em captação de órgãos e
270
agora chegamos ao ponto de não termos medicamentos. Nós somos o número um
no País e agora estamos nessa situação.
Era isso que eu tinha para dizer. Muito obrigada.
O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – A seguir, ouviremos o Sr.
Ribeiro.
O SR. RIBEIRO – Sou representante do Conselho Municipal da Saúde, de
Caxias do Sul, e presidente de uma associação de bairros desse mesmo Município.
Vivo fazendo uma verdadeira romaria nessa cidade, pois as pessoas vivem
em busca de medicamentos especiais e recebem não. Sem poder aquisitivo, elas
não podem comprar seus remédios.
Conheço uma senhora de 86 anos que é portadora de Mal de Alzheimer, e
eu vivo fazendo uma romaria em busca da medicação para ela. Os deputados, que
são os verdadeiros representantes da sociedade, devem pressionar o governo ou a
quem de direito para que as medicações não faltem.
Um outro ponto que quero abordar é que os funcionários responsáveis pela
distribuição dos medicamentos tratam muito mal os que vão em busca dos
remédios. Quem precisa desses medicamentos é mal recebido, o que deve ser visto
de perto pois muitas vezes as pobres criaturas humildes recebem não, e ainda são
humilhadas. Aconteceram casos de pessoas que foram humilhadas pelos
271
responsáveis para entregar esses medicamentos.
Aqui em Caxias do Sul, quando é feita a inscrição para receber os
medicamentos especiais, a secretária disse que leva até 90 dias para que o Estado
envie os remédios para serem distribuídos aos pacientes. Ora, Sr. deputado, se nós
sabemos que essas medicações são repartidas, o cidadão fica sujeito à morte por
falta de recursos.
Os deputados, como legítimos representantes do povo, têm a obrigação de
dar respostas à sociedade nesse sentido. É assim que nós vimos, um verdadeiro
caos. Falo por Caxias do Sul porque é aqui que eu moro e vejo o dia-a-dia. Tenho
umas três receitas de medicações para essas pobres criaturas.
A gente vê tantas coisas. Alguns deputados vivem viajando com o dinheiro
da sociedade e como não há dinheiro para a medicação dessas pessoas? Ficamos
satisfeitos de ser brasileiros, mas nos envergonhamos vendo como algumas
pessoas tocam esse Brasil, que é rico de tudo.
Deputado, faço esse apelo porque esse problema passa por mim todos os
dias. Até milagre eu faço para conseguir esses medicamentos. Também já fiz
vaquinhas com companheiros para conseguir dinheiro para comprar as medicações
e aliviar o sofrimento dessas pobres pessoas, mas é um paliativo e nós precisamos
de soluções.
O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Está feito o registro e
agradecemos o Sr. Ribeiro.
272
Concluindo as manifestações das pessoas, passamos a palavra ao Sr.
Antunes, depois encaminharemos algumas perguntas.
O SR. ANTUNES – Saúdo o presidente da Câmara de Vereadores, Sr.
Zoraido da Silva e o deputado Luciano Azevedo.
Queremos proferir algumas considerações a respeito do que vem
acontecendo nos Municípios. A falta de aparelhamento do Estado para prestar
serviços de atenção à saúde e aos pacientes do Rio Grande do Sul nos traz grandes
preocupações.
Em primeiro lugar acho que a agilização na entrega dos medicamentos na
região deveria ser de competência da 5º Coordenadoria Regional de Saúde, que
deveria ser aparelhada para que os pacientes não precisassem ficar esperando
muito tempo com a demora do processo que vai a Porto Alegre para a
Coordenadoria dos Medicamentos, que é muito morosa na aprovação dos
processos.
Dentro do que observamos das dívidas do Estado com os Municípios, que
chega a quase 170 milhões, é lógico que ficaria um pouco difícil de programar essas
medidas.
Quanto aos laboratórios quero perguntar ao deputado, que está mais perto
do Lafergs, porque até hoje o nosso laboratório não empreendeu toda a sua
capacidade de fabricar medicamentos? O que o impede? Aonde está emperrada
273
essa máquina que não funciona? Sou conselheiro estadual e regional e há muito
tempo batalho por isso, mas não sai dos discursos do Conselho Estadual, inclusive
já levei ao conhecimento da Assembléia Legislativa.
Uma outra questão que quero abordar é a respeito da morosidade ao
atendimento dos pacientes da nossa região, principalmente na área dos
medicamentos e atendimento. Em dezembro, levei o problema do atendimento de
pessoas com câncer ao Conselho Estadual, que levam até sete meses para ser
atendidas. Isso é crime. Isso não é falta de atendimento, é crime.
O Secretário responsável pela área da saúde do Estado tem que ser
responsabilizado. E a União, conforme as informações que tenho, está repassando
as verbas para o Estado, e o Estado nem tanto. Conforme disse o Secretário da
Saúde, não chega a 5%.
Com a nossa participação de reuniões, em Brasília, ficamos sabendo que o
laboratório de Pernambuco fornece medicamentos para mais de 60% da população
daquele Estado. E o nosso laboratório não chega a atingir 5% da população.
Era isso, Sr. deputado.
O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Muito obrigado.
Gostaria de também fazer os questionamentos feitos pelo senhor, pois não
tenho as respostas e justamente por isso estamos fazendo este trabalho.
274
Esperamos obter respostas, pois as respostas são para a sociedade que
pergunta isso em todos os lugares que vamos por todo o Estado.
Antes de encaminhar o encerramento, gostaria de fazer duas perguntas que
recebemos, uma delas é para o representante da coordenadoria, se puder fazer a
gentileza de responder: ao buscar o Ministério Público, para encaminhar uma ação
contra o Estado, devido a falta de medicamentos, um dos documentos requisitados,
pelo Ministério Público, é uma declaração da Secretaria de Saúde do Estado que
esclareça o motivo pelo qual o paciente não está recebendo a medicação. A pessoa
que atende na secretaria diz que não é possível oferecer documento que expresse o
motivo. Resultado, sem o documento não tem como ingressar com a ação. Como
resolver?
O SR. EDUARDO YOTTI – Antes as pessoas estavam fazendo a função
inversa, ao invés de entrar com o processo administrativo, iam direto ao fórum na
tentativa de viabilizar a retirada do medicamento em menos tempo.
Entramos em um acordo com o Ministério Público, estipulando como deve
ser feito. A pessoa tem que abrir o processo administrativo, tem que ir lá no CES ou
na secretaria do Município e abrir o processo administrativo. O Estado tem um
período de 30 a 45 dias para o Estado dar a resposta.
Se passar os 45 dias, ou a pessoa não quiser esperar, não precisa um
documento da coordenadoria ou de algum outro órgão dizendo que não vão entregar
o medicamento. Com o número do processo, que recebe no dia, pode se
encaminhar ao fórum relatar há quantos dias o processo administrativo está parado
275
e o Estado não soluciona. Assim pode recorrer ao Ministério Público, mas conforme
os casos, às vezes, está demorando mais, porque passa pelo departamento jurídico
e pelos trâmites legais.
O governo federal, no ano passado, gastou 26 bilhões em medicamentos. É
uma indústria muito pesada, acredito que deveríamos rever esses valores. Um
medicamento com custo de 6 mil e 800 reais, em Caxias do Sul 15 pessoas utilizam
esse medicamento, todas por via judicial.
Está onerando muito o Estado, há único laboratório no País que entrega, e
acabam colocando o preço que desejam e o Estado que se vire em pagar. Está
muito cômoda a situação para esses laboratórios.
Por exemplo, em relação ao tracolimus, temos feito a briga, mas é difícil,
pois é 30%, 40%, para o Estado é um valor muito grande, pois é mais 30%, mais
40%.
Sabem que brigo por vocês e sempre vou brigar pelo pessoal que está aqui,
mas a briga dever ser também com os laboratórios, para ver se baixam um pouco o
custo. Não é justo só o governo pagar, o custo também é nosso, pois, querendo ou
não, sai do nosso bolso. Pagamos impostos.
Vamos brigar com essas multinacionais para que não venham aqui dizer que
é 6 mil e 800 reais uma ampolinha que dura 15 dias, 20 dias. Isso precisa ser
revisto.
Temos que pensar nisso, o Estado não pode se furtar da situação que está.
276
O governo federal não pode se furtar dessa situação também. Precisamos
acompanhar, tentar melhorar essa situação que é muito precária, é muito ruim, mas
penso que precisamos trabalhar ao longo prazo para poder viabilizar, pois daqui um
pouco vai se tornar inviável.
São 200 processos, 250 processos por semana. Só na nossa
coordenadoria, são 19 no Estado.
Em relação ao Ministério Público, depois de 15 dias, com o número do
processo, as pessoas já podem entrar.
O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Para concluir as
manifestações, o representante da Associação dos Transplantados de Fígado, Sr.
Jorge Luiz Kramer Borges vai fazer mais um registro.
O SR. JORGE LUIZ KRAMER BORGES – Quero fazer uma pergunta: como
o senhor analisa a substituição da medicação imunossupressora destinada aos
transplantados pelo vírus da hepatite C, diria não somente da hepatite C como B
também, por um similar? Quais as garantias que o paciente tem com tais
medicações e que resultados estão sendo evidenciados? Quais os Estados que
estão utilizando similar fornecido pelo laboratório de Alagoas?
Não iria nem tocar neste assunto, mas como foi mencionado. Concordo que
algumas medidas em relação aos laboratórios devam ser tomadas, mas desde que
tenhamos um produto com qualidade, que tenha biodisponibilidade, bioequivalência,
277
seja submetido a todos os testes clínicos.
Ocorre que, em agosto do ano passado, recebemos a informação de um
colega da Bahia que estariam tentando entrar na Bahia com um medicamento
chamado lifaltacrolimus. Entrei em contato, mas negaram que tivesse entrado.
Começou esta pendenga do Estado de faltar, de comprar, não comprar. Para minha
surpresa, o Dr. Gabardo, que estava como secretário estadual da Saúde, em
entrevista no Jornal do Almoço, diz que o Estado estaria comprando, adquirindo o
medicamento lifaltacrolimus.
Isso foi no dia 18 de outubro, imediatamente oficiei ao secretário que esse
medicamento não tinha sequer sido testado em seres humanos. Fizeram um teste
em 33 pacientes saudáveis, nenhum transplantado e fora disso não havia outros
testes.
O Dr. Gabardo convocou uma reunião comigo e mais duas outras entidades,
com médicos transplantadores do Hospital de Clínicas, Hospital Santa Casa,
Hospital da PUC, com os diretores do laboratório. Foi confirmado pelos próprios
diretores que realmente não tinha sido feito teste nenhum com esse medicamento.
Era um medicamento similar e, quando o secretário Gabardo falou que iria adquirir,
já estavam 300 mil comprimidos à disposição no estoque da Secretaria da Saúde.
Não foi feita licitação, o laboratório é uma companhia mista, tem parte do
governo. É uma S.A.
Aí começa o grande erro. Questionamos, fomos à luta e o secretário em
nenhuma entrevista falou no benefício do paciente, sempre falou em uma economia
278
para o Estado. Diria que uma economia burra, porque um paciente que interrompe o
tratamento e tem que ir para o hospital, custa muito mais caro.
Ocorreu que pacientes foram internados na Santa Casa para tomar
tracolimus, ocupando um leito. Ouvimos dizer que faltam leitos nos hospitais, se
formos na Santa Casa vamos verificar que deve ter dois ou três pacientes internados
para tomar Hbig.
Isso gerou uma série de desconforto, nós da associação e eu, como pessoa
física, processamos o secretário Gabardo. Houve essa resolução da Anvisa
suspendendo a fabricação, comercialização, distribuição desse medicamento no
Brasil.
Tivemos que entrar no Ministério Público, levou mais de 30 dias para
adquirir o medicamento, no dia que era para comprar o medicamento, uma pseudo-
associação de transplantados renais, que estamos tomando providencias junto ao
Ministério Público, aqui com a Rim Viver e até com a associação nacional, uma
associação que não representa paciente nenhum. A dona Isoldi é uma pessoa séria
e há muitos anos trabalha na área.
Essa pessoa sequer foi a alguma reunião na Assembléia Legislativa, sequer
recebe algum paciente. Alguns pacientes foram solicitar medicamentos e foram
corridos lá dessa entidade.
Estranhamente entra com uma ação tentando cassar a liminar. Sabemos
mais ou menos atendendo a interesses de quem. Infelizmente, essa liminar foi
cassada em Brasília, o medicamento voltou a ser fornecido. Atualmente, que eu
279
saiba, está sendo distribuído somente no Rio Grande do Sul e em Goiás. Em Santa
Catarina, tão logo saiu a resolução da Anvisa, foi recolhido todo o medicamento e
comprado o Tracolimus. Em outros Estados também.
Tenho para dizer para vocês que estamos na Justiça, entramos com um
mandado de segurança, a Rim Viver, por intermédio da dona Isoldi, entrou com um
mandado de segurança. Contratamos um escritório de advocacia, estamos pagando
do nosso bolso, nós da Associação dos Transplantados de Fígado, com a
colaboração da Sra. Irdes e de outras pessoas aqui de Caxias do Sul. Ainda não
pagamos o advogado, estamos dando aos poucos e ele está fazendo inclusive um
trabalho social, é de um escritório famoso em Porto Alegre. Esperamos que essa
liminar seja revertida.
Com relação ao transplante de fígado, o Dr. Guido Cantizani, médico chefe
da equipe, manifestou-se por escrito ao Dr. Gabardo dizendo que os pacientes
transplantados de fígado na Santa Casa e no Hospital Mãe de Deus, atendidos por
ele não receberiam essa prescrição. Um ou outro paciente desinformado está
tomando, porque está recebendo do Estado. A maioria dos pacientes passaram para
o imunossupressor para ciclosporina.
Temos conhecimento de alguns resultados bem graves que aconteceram no
Ceará e no Paraná, fatos que já foram relatados a Anvisa e infelizmente aqui no Rio
Grande do Sul alguns médicos estão usando essa medicação, talvez por falta de
coragem ou não sei de que.
Como uma senhora relatou, as dosagens dessa medicação estão sendo
alteradas e eles não se acham com coragem de notificar a Anvisa. É um tipo de
280
medicamento que não vai apresentar provocar alteração em 30 dias, 60 dias ou até
em 180 dias. O efeito pode surgir daqui um ano e quando se percebe é tarde.
Queremos manifestar nossa posição aqui, assim como manifestamos
anteriormente na Comissão de Saúde e Meio Ambiente para o deputado Pedro
Westphalen, não somos contra o uso, mas no mundo inteiro ninguém usa
imunossupressor similar, é usado o medicamento de marca ou genérico.
Aqui no Rio Grande do Sul e em outros Estados estão usando pacientes
transplantados como cobaias de um laboratório, com a conivência da secretaria
estadual da Saúde. Isso é muito grave, será que vão esperar ocorrer um óbito para
tomarem providências.
É um medicamento, continua sem nenhum teste, tem um laboratório que
está fazendo um genérico. O laboratório está há dois anos fazendo os testes, o
laboratório Cellfarm, com o tracolimus genérico. Isso é usado em todo o mundo, o
genérico.
Há dois anos, quando as pessoas menos esperam entra um laboratório de
Alagoas, com um medicamento sem teste nenhum e está sendo vendido no Estado
do Rio Grande do Sul. É uma barbaridade e tem que ser investigado.
Como o Dr. Gabardo disse em pleno Jornal do Almoço que a associação
estaria levando algum, que a associação estaria recebendo, por isso estamos o
processando, recebendo dinheiro do laboratório para trabalhar em prol de alguns.
Não temos interesse nenhum nisso; temos interesse na saúde e na vida do paciente.
281
Queremos o medicamento. Pode ser feito em Santa Catarina, aqui em Nova
Prata ou em qualquer lugar, mas desde que tenha eficácia, biodisponibilidade,
bioequivalência, e tenha passado pelos testes clínicos. Caso contrário, não iremos
aceitar esse tipo de coisa, pois se trata de uma picaretagem. É mais fácil corromper
um do que corromper a diretoria toda de uma entidade. Obrigado.
O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – De imediato, concedo a
palavra ao Sr. Luiz Pizzetti a fim de proceda às suas considerações finais.
O SR. LUIZ PIZZETTI – Há pessoas presentes que deram depoimentos
muito importantes, por exemplo, sobre a questão da mudança do modelo da
estrutura. Se não mudarmos essa estrutura arcaica que aí está, não haverá
nenhuma alteração.
Tenho um filho que está na fila de espera para o transplante de fígado. Na
família, há uma pessoa que tem Mal de Alzheimer. O médico não quer atestar a
doença, para que eu possa entrar na Justiça para adquirir o remédio necessário. A
nossa família está-se cotizando para comprar o remédio a fim de que essa pessoa
não perca a memória.
Queria dar esse testemunho. A minha aposentadoria, única renda que
possuo, é de 1 mil e 40 reais. Pago 700 reais para o plano de saúde, sobrando-me
apenas 340 reais para viver. Se não fossem os filhos me ajudando, tinha que ir
morar na favela.
282
Por isso, que nos organizemos para que o SUS nos atenda plenamente; que
o governo repasse o dinheiro que se faz necessário para sustentar o SUS, porque
esses planos de saúde estão tirando o dinheiro da gente e fazendo campanha
contra o Sistema Único de Saúde, para que este não funcione.
Então, o dia em que implantarmos na íntegra o SUS, que é o melhor plano
de saúde do mundo, acabaremos com a exploração dos planos privados de saúde.
A minha aposentadoria vai toda para o plano de saúde. Quando preciso fazer um
exame mais aprofundado, tenho que pagar a diferença. Quando se vai para o
hospital, também tem que se pagar a diferença. O que adianta esse tipo de plano?
Queremos o SUS funcionando. Com ele, conseguimos entrar no Hospital
Geral, no Pompéia, sem gastar um centavo. Só conseguiremos conquistar isso, se
estivermos organizados para tanto, porque cada um apenas olha para o próprio
umbigo. Na minha opinião, temos que romper com essa estrutura, mas de forma
organizada.
Em 2.007 anos, por acaso, diminuiu a miséria, a doença, a pobreza? Não.
Então, está na hora de mudarmos. Para mudar, só se for a sociedade organizada.
Podem crer. Organizados podemos mudar. Quem está no poder não muda. Vamos
botar isso na cabeça, para podermos mudar essa situação bem depressa, porque
essas pessoas precisam dos remédios e chegam emocionar a gente com seus
depoimentos.
Era esse o testemunho que queria dar. Gostaria de agradecer por essa
iniciativa, e que continue para que o povo possa criar uma consciência de luta. Muito
obrigado.
283
O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Nós é que agradecemos.
Imediatamente, passo a palavra ao Sr. Antunes, para que faça suas
considerações.
Após a sua manifestação, iremos encaminhar a finalização desta reunião,
obviamente não saindo daqui apenas com palavras, mas também com algum
indicativo, que sempre é o mais importante.
O SR. ANTUNES – Sr. Relator, falamos em medicamentos, laboratórios e
doenças e também sobre numerário, dinheiro, verbas.
Desde 1994 estamos numa batalha, em nível de governo federal, com
relação à emenda constitucional nº 29. Levamos ao conhecimento do deputado que
a lei foi aprovada, mas, até hoje, não foi regulamentada. Queremos que a União, os
Estados e os Municípios cumpram o seu dever de aplicar as verbas destinadas à
área da saúde.
A emenda está parada no Congresso, de forma que gostaríamos que fosse
formada uma comissão da Assembléia Legislativa do Estado, para que fizesse uma
cobrança junto aos deputados federais e senadores, já que não está sendo
regulamentada essa lei.
Sabemos que somente isso não basta, mas a sociedade organizada tem
284
condições de reverter essa situação, até porque todos os pacientes ainda pagam
impostos.
O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Está registrada a sua
sugestão de trabalharmos em prol da aprovação final da emenda. O senhor poderá
dar maiores detalhes à nossa assessora.
Registro a presença do novo presidente da União das Associações de
Bairros, Sr. Daltro da Rosa Maciel, que está voltando ao cargo pela quinta vez.
Parabenizo-o pela vitória.
Agradeço muito a todos pela presença, especialmente ao presidente da
Câmara, aos vereadores que se manifestaram e à secretária municipal de Saúde.
Antes de finalizar esta audiência pública, desejo fazer dois registros, que
creio ser importantes. O primeiro deles diz respeito a algo que já foi falado, mas que
quero repetir: devemos, ao final do trabalho da comissão, realizar uma audiência
pública com a presença do secretário de Estado da Saúde. Estou insistindo muito
nesta tese de que temos que ouvir suas explicações, mas S. Exa. também tem que
nos ouvir.
Temos andado por todo o Estado – já estivemos em Pelotas e Porto Alegre
e iremos a Passo Fundo – e temos ouvido sempre manifestações, todas elas no
mesmo sentido. Mas nenhuma foi tão precisa e resumiu tão bem o que os pacientes
sentem quanto a manifestação feita por aquela senhora que está sentada na
segunda fila. Ela resume tudo aquilo que ouvimos, em todos os cantos do Estado,
285
sobre como as pessoas se sentem quando não têm um medicamento.
Estamos tentando trabalhar para reverter isso. Não é tarefa fácil, não é
tarefa rápida e não é tarefa apenas para um deputado, nem para uma subcomissão,
nem mesmo para uma comissão da Assembléia Legislativa do Estado. Temos ao
nosso lado a Defensoria e o Ministério Público e queremos contribuir nesse sentido.
Mas creio que será importante a ajuda dos companheiros vereadores de
Caxias do Sul – já fui vereador por três vezes em Passo Fundo –, para que, no
momento em que pudermos realizar essa audiência pública com o secretário da
Saúde, tenhamos a presença de S. Exas., da comunidade do Município e até dos
presidentes de associações de moradores e dos pacientes, que aqui fizeram um
relato.
Pois, tenham certeza, uma coisa é o deputado Luciano Azevedo contar que
veio a Caxias do Sul, que foi a Pelotas e a Passo Fundo e que ouviu relatos
absolutamente comoventes e sinceros; outra coisa é levar as pessoas a fazerem um
relato em Porto Alegre, olho a olho. Teremos mais força nesta luta na medida em
que possamos mobilizar a sociedade, em que as pessoas possam se manifestar, se
unir e compreender que essa não é uma luta contra alguém, mas a favor da vida. É
exatamente isso o que queremos.
Em segundo lugar, gostaria de fazer um pedido a todos de Caxias do Sul,
Bento Gonçalves e Farroupilha, que são o coração econômico do nosso Estado.
Com exceção da Grande Porto Alegre, a força do Estado está aqui.
Sou de Passo Fundo e olhamos para cá com inveja, admiração, porque
286
vemos o quanto se constrói nesta cidade.
Os senhores são representados por deputados lutadores e brilhantes.
Temos lideranças importantes lá na Assembléia Legislativa e seria bom se todas
elas estivessem aliadas a esta luta, participando das reuniões, oferecendo sua
palavra e sua voz. Isso certamente daria mais força ao trabalho desta subcomissão
e a tudo o que ouvimos neste encontro.
Por uma questão de justiça, faço um registro aqui: tenho ouvido, com muita
alegria, as manifestações positivas dos deputados da Região da Serra. Os
deputados Marisa Formolo, Alvaro Boessio, Alberto Oliveira e Kalil Sehbe têm nos
estimulado a empreender esta luta, mas seria ainda mais importante se S. Exas.
pudessem estar fisicamente conosco, especialmente no momento em que formos
ouvir o secretário da Saúde. Fiz o convite a S. Exas., mas penso que os senhores
podem reforçar essa iniciativa, o que dará mais força ao movimento, para que
consigamos avançar.
Deixo esse convite e essa sugestão a todos. Espero que estejam conosco
em data que, assim que for marcada, será comunicada aos senhores.
Em nome da Assembléia Legislativa e dos demais integrantes desta
subcomissão – os colegas Pedro Pereira, Gilberto Capoani, Paulo Azeredo –
agradeço a todos pela presença e pela acolhida na comunidade de Caxias do Sul.
Agradeço aos vereadores, em especial ao caro amigo Edio Eloi Frizzo, que nos
ofereceu apoio para a organização desta audiência pública. Muito obrigado a todos.
287
DATA 22/06/2007: O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – (Falha na
gravação) ...em nome dos portadores de esclerose múltipla. Levei este tema, na
condição de deputado, à Secretaria de Saúde, assim como a Assembléia
Legislativa, pedindo que fosse criada uma subcomissão.
Nosso desejo é ajudar no sentido de que estes medicamentos voltem a ser
fornecidos com regularidade para que as pessoas não fiquem inseguras e,
especialmente, para que o direito delas seja cumprido.
Existe uma dívida histórica do Estado do Rio Grande do Sul com os laboratórios que
fornecem estes medicamentos. Deixo aqui registrado que todo este trabalho surgiu
de uma solicitação da professora Marília.
É importante que esta seja uma luta de todos. Não estamos contra ninguém,
estamos a favor de todos aqueles que precisam desta medicação para ter qualidade
de vida. Aproveito para registrar a presença de vários vereadores.
O SR. GILMAR SOSSELLA (PDT) – Saúdo a todos os presentes.
O assunto que estamos tratamos é permanentemente discutido na Comissão de
Saúde e Meio Ambiente.
Sabemos que em função da triste realidade por que passa o nosso Estado o setor
da saúde passa por problemas muito sérios. Estamos aqui em uma cruzada
especialmente pelas pessoas que utilizam medicamentos de uso contínuo.
O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Agradecemos ao deputado
Gilmar Sossella. Passo a palavra ao Sr. Luiz Miguel Scheis, presidente da câmara
municipal.
O SR. LUIZ MIGUEL SCHEIS – Cumprimento os deputados, os vereadores e
as demais autoridades presentes. É uma satisfação recebermos os representantes
288
da Assembléia Legislativa que estão viajando ao interior para ouvir, de perto, o
clamor da população.
É triste termos que realizar uma audiência pública para reivindicar um direito que é
nosso. As pessoas estão entrando na justiça para receber os seus medicamentos e,
mesmo assim, não estão conseguindo. É bom vermos o interesse dos
parlamentares em tentar resolver este problema. Seremos parceiros nesta luta.
Espero que os debates que se travarão hoje aqui sejam profícuos. Sejam bem-
vindos a Passo Fundo.
O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Passo a palavra ao Sr. Alberi
Grando, secretário municipal de saúde.
O SR. ALBERI GRANDO – É um prazer recebê-los em Passo Fundo. É
importante ouvirmos a população, principalmente tratando-se de um assunto tão
importante como este dos medicamentos especiais. Na condição de gestor
municipal, sentimos de perto este problema.
Existem dois tipo de medicamentos: aquele que é destinado ao paciente que
tem uma doença aguda, que pode ser uma amigdalite, por exemplo; e outro que é
ministrado ao doente crônico. Cabe ao gestor público colocar estes medicamentos à
disposição da comunidade. Isso foi estabelecido pela constituição em 1988. Não
podemos enganar o paciente dizendo que hora dispomos do medicamento e hora
não. As vezes o Estado não remete para nós o medicamento. Cabe-nos distribuir
aqueles que nos são remetidos.
Tenho uma preocupação em relação aos medicamentos que nos obrigam a
pagar e que não demonstram qualquer efeito. Esse é um problema sério. Na
condição de profissional da área de saúde sabemos quando um medicamento não
funciona. É triste vermos um paciente recorrer à secretaria em busca de um
289
medicamento ineficaz. Temos que coibir este tipo de coisa. O paciente, muitas
vezes, recorre à justiça para conseguir esse medicamento ineficaz.
O Viox, por exemplo, era muito usado. Uma vez discuti com um médico recém-
formado que prescrevia esse medicamento. O médico insistia no seu uso, e pouco
tempo depois a Anvisa determinou a retirada do produto do mercado. Há pouco
tempo recebi o pedido de uma vacina, que tem um custo de 5 mil reais, e nem sei se
ela funciona. Mas, basta um pedido assim chegar a um juiz que ele certamente
determina a sua compra e distribuição. Não estou, com esse comentário, criticando
o judiciário apenas estou dizendo que isso deveria ser revisto.
O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Muito obrigado, secretário.
Passo a palavra ao Sr. Augusto Bilicz Camargo.
O SR. AUGUSTO BILICZ CAMARGO – Saúdo todos os presentes.
Hoje todos poderão sentir na pele o que todos nós, do conselho, sentimos
diariamente nesta questão dos medicamentos. Estão aqui pessoas que trabalham
diretamente com essa questão. Vejo também outras que já me procuraram me
cobrando o que deveria ser o dever do Estado. A maioria dos municípios têm
cumprido com a legislação no tocante a alíquota obrigatória que deve ser destinada
à saúde. Infelizmente o nosso Estado não tem cumprido com a sua parte.
Ao Ministério Público cabe a fiscalização do cumprimento da lei. Não me estenderei
porque quero ouvir os questionamentos de todos os presentes. Muito obrigado.
O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Passamos a ouvir a vice-
presidente do conselho estadual de saúde, Sra. Beatriz.
290
SRA. BEATRIZ – Cumprimento os deputados presentes, assim como todos os
participantes da mesa.
O conselho tem participado de vários debates, discussões e brigas na Assembléia
Legislativa. Todos têm direito à saúde. Estamos aqui para ouvir as pessoas.
Queremos saber das suas angústias e seus temores.
Estamos falando de um direito conquistado em lei. Não estamos aqui para pedir ou
fazer favor. Temos que lutar pelo cumprimento de um direito. Falamos em defesa da
vida. Quando a vida está em jogo qualquer briga serve. Qualquer pai, mãe ou filho
lutaria numa situação de doença.
Estamos aqui falando de esperança. Todos que precisam de medicamento querem
recebê-lo na esperança de viver mais. Este é o desejo de todos. Estamos falando
sobre os princípios do SUS, sistema de saúde que é financiado por todos nós com
os nossos impostos.
Estamos falando de uma questão de relevância pública. Uma vez perguntei: o que é
relevância pública? Está na constituição que saúde é de relevância pública. Se
faltarem recursos nesta área, cabe ao Estado buscar recursos em outros setores. Ao
invés disso o que vemos é que se tira da saúde para financiar um plano privado,
como o IPE e outros órgãos.
Para garantirmos o fornecimento de medicamentos de uso contínuo precisamos de
dinheiro, e ele existe só que está sendo desviado para financiar grandes empresas e
para outros fins. É bom que todos saibam disso.
Estamos falando aqui de responsabilidades de um ente federado chamado governo
que recolhe os impostos e que tem obrigação de respeitar o nosso direito a receber
o medicamento.
Nós também falamos de racionalidade no uso dos recursos. Já que o dinheiro é
nosso, temos que fazer dele um bom uso. Realmente, temos definido listas básicas
e por ela cada ente federado deverá assumir a sua responsabilidade. Nós, enquanto
291
conselhos estamos juntos com a Assembléia Legislativa, carregando nos ombros a
angústia e a preocupação de todos. Por isso falo em esperança. Para prolongar a
vida entramos em guerra.
Muitas vezes entendo a reação do povo. Não aprovamos algumas atitudes mas
quando a vida e o pão estão em jogo, qualquer coisa é motivo para a guerra.
Estamos aqui em frente de uma população que representa a região. Sinto-me
orgulhosa de ser do conselho e de estar aqui. Estamos representando, num
colegiado maior de Estado, a angústia maior de um povo.
Estou aqui para ouvir vocês. Quando vamos até a Assembléia Legislativa é para
discutir com quem faz as leis, que aprova o orçamento, e que deveria aplicar 12%
dos nossos recursos na saúde, mas que aprovou um orçamento que não contempla
este porcentual. Para o ano que vem, esperamos que a Assembléia Legislativa
aprove um orçamento que destine, verdadeiramente, 12% para a saúde do Rio
Grande do Sul.
Temos que zelar para que o nosso Estado cumpra o seu dever constitucional. Mas,
para isso, temos que estar juntos. Temos que brigar juntos. Uma andorinha sozinha
não faz verão. Essa reunião é um exemplo disso. Muito obrigado.
O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Vamos ouvir agora a Dra. Elis
Regina Taffarel, coordenadora da defensoria Pública de Passo Fundo. Informo que
em Porto Alegre aumentou em 40% as ações que a defensoria pública, em nome da
população, ingressou na justiça em busca da garantia das pessoas a receberem
seus medicamentos.
A SRA. ELIS REGINA TAFFAREL – Boa-tarde a todos. Estamos todos do
mesmo lado, do lado da luta pela vida. Com certeza a defensoria pública também
luta, no dia-a-dia, por este direito. Recebemos, todos os dias, dezenas de pessoas
292
que procuram efetivar seu direito à saúde, que não se restringe ao fornecimento de
medicamentos mas a todas as políticas públicas que devem ser implementadas e
incentivadas pelo Estado em seu sentido amplo.
A alocação de recursos na área da saúde deve ser efetuada. Nós que trabalhamos
junto ao povo que necessita dos medicamentos estamos sentindo na pele o que e
isso significa. É difícil lidar com pessoas que precisam de um medicamento para
viver e que não o recebem. Muitas dessas pessoas foram contempladas por uma
decisão judicial mas mesmo assim, após meses de intimação, ainda não receberam
o medicamento. Muitas delas só o conseguem após duas ou três reiterações de
intimações. Não estamos tratando de ...(falha na gravação)
...certificados pela Anvisa de eficácia comprovada e que não estão sendo entregues.
É público e notório que o Estado passa por dificuldades financeiras, mas o que é
mais importante do que o Estado garantir para os seus cidadãos o direito à vida? Se
o Estado não garantir isso, quem garantirá? Essa é a indagação que faço. Com
certeza a defensoria pública é parceira na busca da efetivação deste direito.
Estamos abertos ao debate. Temos que sanar eventuais irregularidades na busca
destes medicamentos.
Recentemente recebemos uma normatização do juiz que atuava na Vara da
Fazenda Pública dizendo quais os documentos mínimos exigidos para o ingresso de
uma ação judicial. Na grande maioria dos casos estes documentos já faziam parte
da ação. A defensoria também tem o máximo interesse em evitar fraudes. A fraude é
exceção. O que buscamos é a efetivação do fornecimento dos medicamentos
especiais excepcionais que também não estão sendo, em alguns casos, fornecidos.
Muito obrigado. Estamos sempre à disposição.
O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Convidamos o promotor de
justiça Dr. Edgar Garcia para que faça uso da palavra.
293
O SR. EDGAR GARCIA – Boa-tarde. Saúdo os deputados, os integrantes da
mesa e todos os demais presentes:
Passo Fundo hoje recebe inúmeras autoridades nos seus mais variados eventos.
Hoje mesmo o comandante-geral da Brigada Militar está sendo recebido na Câmara
de Vereadores.
Trago aqui o meu otimismo em relação à solução deste problema. Saúdo a todos os
interessados e envolvidos nessa questão dos medicamentos. Enfatizo o papel que a
defensoria pública tem exercido em Passo Fundo. Temos nos empenhado na busca
da solução destas questões envolvendo a garantia à vida e à saúde das pessoas.
Saliento também o papel do município. Nós, em Passo Fundo, temos inúmeros
exemplos de soluções adotados pelo município que deveriam ter sido executadas
pelo Estado.
Muitos medicamentos chamados especiais ou excepcionais, em casos
emergenciais, têm tido a sua compra arcada pelo município. Isso porque existe um
entendimento de que há uma solidariedade passiva e necessária, ou seja, há uma
responsabilidade conjunta do Estado e do município em relação ao fornecimento dos
medicamentos e a garantia à saúde.
Então, aqueles medicamentos chamados da farmácia básica excepcionalmente
faltam e quanto aos especiais muitas vezes os municípios têm coberto as falhas de
fornecimento do Estado.
Quanto à questão orçamentária sabemos que no Brasil se gasta muito pouco em
saúde. O país gasta 140 ou 150 dólares per capta/ano em saúde. A Argentina, que
tem um poder econômico muitas vezes inferior, gasta 450 dólares per capta/ano em
saúde, três vezes mais que nós. Pasmem, o Rio Grande do Sul ainda está abaixo
disso porque gasta menos de 5% dos 12% que deveria. Com isso, chegamos a um
resultado lógico: vai faltar dinheiro. Qualquer um chega a esta conclusão.
294
Cito o exemplo de medicamentos usados por transplantados que deveriam ser
distribuídos pelo Estado e que o município está suprindo essa falta com o custo de
um empréstimo feito junto ao Hospital São Vicente e aos laboratórios. Transplantado
não pode ficar, se quer um dia, sem o medicamento.
Temos outros aspectos para enfrentar. Se o Ministério da saúde quebrou a patente
de determinado medicamento, como o caso daqueles usados no tratamento da
AIDS, até há pouco tempo, o mesmo deverá ser feito com o Interferon, por exemplo.
Não é possível que o custo deste medicamento seja tão alto. E mais, em alguns
países da América Latina o custo do Interferon é muito mais baixo do que no Brasil.
Por que? estas são questões que devem ser discutidas.
Conclamo aos deputados para que façam com que o Estado administre melhor e
cumpra o orçamento determinado para a saúde. A quebra da patente do Interferon
está caindo de madura, não é possível que paguemos mais do que os países
desenvolvidos ou do que qualquer pais da América Latina. Estas são as propostas
que fazemos.
Aqui está o que chamamos de controle social do Sistema Único de Saúde. O SUS
foi uma conquista da sociedade. Não tivemos um deferimento de cima para baixo,
mas uma conquista de baixo para cima para que tivéssemos um sistema
efetivamente justo. Estamos buscando este sistema justo. Esse controle social, com
a participação efetiva da sociedade é que nos levará a realização plena do sistema
público de saúde.
Devemos também levar em consideração que há, na grande mídia, uma campanha
permanente de difamação do SUS. O melhor sistema de saúde é o Sistema Único
de Saúde. Precisamos é aperfeiçoá-lo, precisamos fazer cumprir aquilo que está
estabelecido. Precisamos trabalhar pela regulamentação da emenda nº 29, que
precisa ser cumprida em nível de município, Estado e União. Não podemos ficar
neste jogo o resto da vida. Um diz que cumpre, o outro diz que precisa
295
regulamentar. Enquanto o município cumpre os seus 15% o Estado diz que tem que
regulamentar para cumprir os 12%. A emenda está aí com estes porcentuais
estabelecidos. Enquanto o município não precisa regulamentar, o mesmo não se
aplica ao Estado e à União.
É extremamente importante a participação de toda a comunidade e de todas as
entidades interessadas, dos representantes dos grupos dos familiares de portadores
de Alzheimer, dos portadores de esclerose múltipla, dos portadores de deficiência,
dos diabéticos e de todas as associações e organizações envolvidas no entorno
destes interesses que são absolutamente indispensáveis para a preservação da
vida.
Faço uma distinção: lei é uma coisa; direito é outra. Lei é papel, é texto; direito é
aquilo que conquistamos através do que está escrito na lei. A lei garante a saúde e a
vida a todos. É preciso que a sociedade brasileira imponha aos seus governantes,
sejam eles de que partido forem, o cumprimento do que está estabelecido na lei e
que recebamos pelos serviços que pagamos.
Alguns dizem que o SUS atende de graça. Não é verdade. Nós, com nossos
tributos, financiamos o SUS. O SUS deveria ser mantido pela CPMF, por esta
contribuição provisória-definitiva. No ano passado menos da metade da CPMF foi
destinada à saúde, contrariando a lei que a criou e que foi, na época, idealizada pelo
Dr. Adib Jatene.
Se fosse cumprida a emenda constitucional 29, e se toda a CPMF fosse destinada à
saúde, como estabelece a lei, nós, efetivamente, não teríamos carência de recursos
nesta área. Sou otimista. Vamos conquistar estes direitos. Nossos movimentos
devem ser permanentes, assim como a nossa cobrança aos governos.
Agradeço ao empenho de todos e elogio a todos aqueles que correm atrás de seus
direitos, assim como a Dona Marília. Tenho uma ação civil pública contra o Estado,
com liminar deferida em agosto do ano passado, que não foi cumprida até hoje. O
296
último pedido feito foi de seqüestro de valores do Estado para que viesse os
medicamentos para os portadores de esclerose múltipla e de Alzheimer.
Estamos nos empenhando nessa luta. Acredito na competência e no empenho dos
deputados na solução destes problemas. Muito obrigado.
O SR. GILMAR SOSSELLA (PDT) – Muito obrigado ao nosso representante
do Ministério Público.
O SR. JOSÉ CARLOS MERLIN – Boa-tarde a todos os presentes. Represento
a Associação de Diabéticos de Passo Fundo.
Farei uma explanação sobre a falta de medicamentos de uso continuo para os
portadores de diabetes. Sabemos que não se trata de uma falta de orçamento. Para
nós, o que precisa ser feita é uma reforma tributária que garanta o nosso direito. O
município conta com 12% ou agora 13% do bolo orçamentário; o Estado fica com
24% e a União 63%. É lógico que a União deve ser a responsável pela maior parte
do bolo. Então, uma das soluções que queremos é que os deputados levem isso aos
deputados federais para que se faça uma reforma tributária e para que se deixe a
maior parte dos recursos nos município porque é onde vivemos.
Gostaríamos que os deputados encaminhassem uma lei de responsabilidade social
aos executores. Hoje, temos a lei de responsabilidade fiscal mas não temos uma lei
sobre a responsabilidade social, essa é uma outra semente que a associação de
passo Fundo quer plantar para que essa discussão cresça e avance.
Sugerimos também a criação de uma loteria estadual que destine parte de seus
recursos para um fundo de saúde para que se contemple a compra dos
medicamentos de uso contínuo para os necessitados. Outra sugestão é que toda a
empresa que participar de licitação no Estado destine um percentual para este fundo
dos medicamentos especiais.
297
O SR. RUI SELVÃO – Faço parte da Associação dos Diabéticos e portador da
doença há 23 anos.
Os portadores de diabete tipo 1 tem necessidade de fitas. Sem elas não podemos
fazer o controle da doença. Com isso, podemos fazer um uso incorreto da dose de
insulina. O diabético do tipo 1 pode sofrer alterações de minuto a minuto. Posso
estar bem agora e, daqui a alguns minutos, cair. Tenho rápida variação entre baixas
e altas. A insulina NPH ajuda, mas o diabético do tipo 1 muitas vezes necessita de
um complemento melhor. No meu caso uso o Alantus, que não me é mais fornecido
pelo Estado. Com isso, tenho que voltar a usar o NPH que me dá muita alteração. O
meu estado de saúde fica prejudicado com esta medicação. A medicação baseada
na fita é que faz o meu controle. O diabético tipo 2 é um pouco melhor controlado,
não precisa tanto desta fita. O diabético do tipo 1 usa, no mínimo, 3 fitas ao dia.
Esta nossa dificuldade existe há mais ou menos 10 anos. O diabetes ou outro
qualquer problema crônico não regride nunca, ele só avança. Isso não tem volta. O
que eu perder hoje é irrecuperável, mesmo que venha a medicação. Se tenho
acesso à medicação posso controlar o problema e melhorar a minha qualidade de
vida. Muito obrigado.
O SR. PARTICIPANTE – Gostaria de registrar que temos uma parceria muito
boa com a secretaria municipal de saúde e com a universidade, onde fazemos
encontros na última quarta-feira do mês, na faculdade de Medicina. Nestes
encontros ouvimos palestrar sobre prevenção de doenças. De 8 a 10% da
população de passo Fundo tem tendência a problemas de diabete, o que é um
número muito expressivo. Queremos reinterar que na nossa opinião não falta
orçamento mas sim uma boa distribuição dos recursos.
298
Está na hora de os deputados lutarem para que, na reforma tributária, mais recursos
sejam destinados aos municípios. Muito obrigado.
O SR. NERI GOMES – Saúdo o deputado Luciano. Por 8 anos tivemos o
prazer de trabalhar juntos nesta casa. Desde aquela época discutimos os problemas
da saúde.
Lembro que, na semana passada, aprovamos o relatório de gestão da secretaria
municipal de Passo Fundo e, na ocasião, o secretário apresentou um gráfico que
demonstra o quanto o Estado não cumpre com suas obrigações.
Para se ter uma idéia, no relatório de gestão do ano passado ficou demonstrado que
foram investidos mais de 30 milhões na área da saúde, destes o município contribuiu
com 52%, o governo federal com 47% e o governo do Estado deu 0.94%. Portanto,
o Estado não entrou sequer com 1% de investimentos na área da saúde em nosso
município.
Tenho acompanhado algumas conferências feitas em vários municípios da nossa
região e, posso assegurar que a realidade de todos é a mesma, em nenhuma deles
o Estado investiu mais de 1%. Isso compromete toda a estrutura dos municípios.
Além das ações judiciais que acabam estourando em cima dos municípios, Dr.
Edgar, a questão dos outros atendimentos também passa a ser de responsabilidade
do município.
Temos uma ação judicial pela qual a justiça determinou que o Estado cumpra com a
emenda nº 29, que determina a aplicação dos 12%. Esta ação já está na segunda
instância, já que ganhamos na primeira, e, mesmo assim, o Estado não cumpre com
esta determinação judicial.
Os deputados devem sair daqui com uma proposta que obrigue o Estado a investir
os 12%. Com isso não estaremos trabalhando com um paliativo mas sim um
resolutivo. Hoje os municípios estão investindo até 30% do seu orçamento na área
299
da saúde. Passo Fundo chega a investir até 17% do seu orçamento, pequenos
município, como Santo Antônio do Palma, chegam a investir 25%; o município de
Gentil aplica 28%. Enquanto isso, o Estado não cumpre com o seu papel.
Parece-me que esta vinda é louvável porque nós vamos conseguir fortalecer o
trabalho dos deputados na Assembléia Legislativa para que se cumpra aquilo que é
constitucional. Esta é uma função muito mais importante que tantas outras. Com
isso, poderíamos resolver esta questão dos medicamentos. Muito obrigado.
A SRA. ADRIANA ESLONGO – Sou de Tapejara e represento a família
Eslongo, que tem vários membros com a doença de Fabry, alguns se retiraram por
não estarem se sentindo bem. Há 16 meses lutamos na justiça para receber um
medicamento que garantiria uma melhora na qualidade de vida destas pessoas. Eles
precisam do remédio com urgência. Três pessoas já morreram, duas com 44 anos e
uma com 46.
Quando a doença foi descoberta conseguimos entrar em um programa do
laboratório que doou o remédio por um ano, e que será suspenso agora no mês de
julho. Se em 16 meses o governo não resolveu este problema, será que até julho ele
resolverá? Não agüentaremos perder mais um membro da família. Cada dia que
nasce pensamos se será hoje que iremos resolver esta situação.
O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Qual é o custo do remédio?
A SRA. ADRIANA ESLONGO – O remédio custa 3.750 dólares cada
frasquinho, o que daria 20 mil por mês mais ou menos. Quem pode pagar por ele?
300
O SR. GILMAR SOSSELLA (PDT) – Adriana, fizemos questão da presença de
vocês aqui para que nos relatassem esse caso. Parece que são 11 casos que
existem em nosso Estado e que 10 deles são da família de vocês.
A SRA. ADRIANA ESLONGO – Na família temos 14 pessoas doentes, 5 delas
estão precisando do medicamento com urgência. No Estado sei que além das
pessoas da nossa família ainda temos um caso, que eu saiba. Existem outros
suspeitos mas que ainda não foram confirmados.
O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Muito obrigado pelo registro.
Passo a palavra a Sr. Luiz Roberto Carvalho.
O SR. LUIZ ROBERTO CARVALHO – Sou médico da família Eslongo. Fiz o
diagnóstico desta família em novembro de 2005 e a história deles é mais difícil do
que foi relatado aqui.
Sabendo da dificuldade do custo da medicação fica difícil fazermos uma prescrição
que irá onerar tanto o Estado. Sou nefrologista, trabalho com tansplantes e com
pacientes com tratamento de diálise, e sei da escassez de medicamentos.
O que esta senhora fala aqui é de uma situação de vida ou morte. Tenho todos os
membros da família bem avaliados e seus casos documentados. Além desta família
tenho mais duas famílias com diagnóstico comprovado, além de mais 7 casos em
Porto Alegre. Acredito que passaremos de 45 casos até o final do ano em nosso
Estado. Portanto, esta é uma situação preocupante. Quantos destes 45 pacientes
precisarão de tratamento? Não sei, certamente não serão todos. Mas fica difícil para
um médico prescrever um medicamento que custa um pouco mais do que foi
mencionado, na verdade o custo chega a 15 mil dólares por mês por paciente.
301
Esta é uma doença difícil de diagnosticar, de manejar, mas que traz esta morbidade
toda. Na condição de médico, tenho convivido com o problema há quase 2 anos.
Não posso onerar o Estado mas não posso deixar de assistir a família. O que
conseguimos até agora foi através de um programa de doação caritativo
internacional, que funciona em 80 países. Existem apenas 2.300 casos desta
doença no mundo, mas certamente este número aumentará. Hoje sofremos com o
desconhecimento da doença. A situação é mais dramática que ele conseguiu
expressar, certamente por seu nervosismo. Espero poder contar com o apoio dos
senhores. Muito obrigado.
O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Nós é que agradecemos o seu
registro.
O SR. ANTONIO ELOY MARTINS – Saúdo a todos os presentes e a todos os
colegas de luta. Sou presidente do grupo Viva Melhor, que atende portadores do
vírus da hepatite tipo C.
Esta doença vem aumentando ano a ano, em um índice desesperador. O próprio
Ministério da Saúde diz que os casos da doença aumentam em 30% ao ano.
Um dos principais remédios para a doença é o Interferon, que poderia ter sua
patente quebrada, o que poderia solucionar muitos problemas. Temos um grande
problema em nível de Brasil. Quem tem dinheiro vai até uma farmácia e compra o
medicamento. E nós, como brasileiros sem condições, como ficamos? Não temos
direitos iguais. Está na hora do setor da saúde tomar jeito. A população vive
momentos de desespero.
Quanto ao remédio prescrito entendo que o senhor, como médico, deveria interferir
junto à entidade médica imediatamente. A Anvisa deveria ser comunicada sobre se
o medicamente faz ou não efeito antes de ele ser aprovado.
302
Nossa conselheira de saúde falou muito bem quando se referiu ao direito à vida.
Todos temos este direito constitucionalmente. Só que ele só está aí e não chega até
nós. O próprio promotor falou sobre uma liminar de agosto que ainda não foi
cumprida. A promotoria, a defensoria, teria que ser mais enérgica e pedir a prisão
dos responsáveis, como aconteceu no Rio de Janeiro. Deve ser dada uma
explicação para esta falta de medicação.
Em todas as áreas temos os bons e maus profissionais. Faço aqui um apelo à
classe política: os bons políticos deveriam se unir para mudar a constituição. Talvez
assim terminássemos com o roubo que anda por aí. O presidente disse que não
defendemos o país lá fora, mas não o estamos defendendo nem aqui dentro. O
político deve ter segurança e imunidade na sua luta política e não para fugir de
responsabilidades econômicas.
Este é o meu apelo. A união de todos deve começar pelos assessores, vereadores,
deputados, presidente. Os honestos devem se unir em torno das mudanças da
constituição. Se o dinheiro roubado fosse usado em benefício da população
teríamos uma saúde, e uma segurança, de primeiro mundo. Dinheiro existe,
acontece que está indo para o lado errado. Muito obrigado.
A SRA. MARÍLIA MATTOS – Sou coordenadora do grupo de portadores de
esclerose múltipla da região de passo Fundo.
Cumprimento a todos. Os portadores de esclerose múltipla têm grande dificuldade
para falar em esperança. Somos portadores de uma doença neurológica
progressiva, mutilante, mas que boazinha porque não mata. Mesmo sem a
medicação, tivemos uma pessoa que nos ajudou, que foi o Dr. Edegar, que em
todas as horas esteve ao nosso lado.
Temos esperança nessa atuação do deputado Luciano, que, sabemos, não está
brincando com um assunto tão sério. Sabemos que vocês vão levar adiante essa
303
nossa grande luta, que levarão à governadora o nosso problema e que ela será
sensível ao problema da saúde no Rio Grande do Sul. Quando a subcomissão foi
criada, recebi ligações de todo o Estado, de Rio Grande; de Pelotas; de Santa Maria;
de Santa Vitória do Palmar cumprimentando pelo fato de termos conseguido esta
vitória. Na verdade, este mérito foi do deputado Luciano.
Algumas pessoas do nosso grupo não puderam vir hoje aqui por estarem sem a
medicação, e que, por isso, não estão passando bem. Tudo é urgente. Precisamos
muito da medicação. Se eu não tiver o Interferon e entrar em surto, posso acabar em
uma cadeira de rodas de forma irreversível. Posso também acabar com seqüelas
nos olhos, nos ouvidos, como este rapaz com 22 anos que vimos aqui. A situação é
muito grave.
Outra questão é a falta de estatística. Não sabemos quantos doentes somos. Agora
apareceu o diagnóstico da família Eslongo mas até bem pouco tempo uma pessoa
dessa família – que faleceu há dois anos – era nossa companheira e era tratada
como paciente de esclerose múltipla.
O diagnóstico destas patologias difíceis é muito complicado. Durante 26 anos fiz
tratamento para labirintite para, em 2003 ser encaminhada a Porto Alegre para
diagnosticar a esclerose múltipla. Quantos casos iguais devem existir por aí?
A cada seis meses teremos que apresentar novos exames. Para o portador de
esclerose múltipla é necessário uma ressonância magnética da medula, de toda a
medula espinhal, um exame que é muito caro. Quem paga por estas ressonâncias?
Quem paga pelo exame do líquido da medula que é enviado para a Bélgica a cada
seis meses? Isso tudo para provar que precisamos do remédio.
Outra coisa que poderia ser facilitada é a documentação a ser encaminhada. Falo
pelo portador de esclerose múltipla mas o mesmo deve acontecer com as pessoas
que sofrem de outras doenças. Temos dificuldades de locomoção. Se falta um
atestado, somos obrigados a voltar ao órgão. Lá vai o processo para Porto Alegre,
304
fica três meses lá para nos dizerem que faltou outro papel. Esse menino que está
aqui ficou um ano sem o Interferon porque o processo dele foi e voltava. Precisamos
de um escritório contábil que encaminhe estes processos. Conheço um caso de uma
senhora de Tapejara que desanimou. Ela disse que vai morrer porque não quer mais
ir atrás de medicação, porque sempre está faltando alguma coisa.
Peço que Deus ilumine toda essa equipe, vocês são a nossa esperança. Muito
obrigado Luciano, teu trabalho será recompensado por Deus.
O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Agradeço a professora Marília.
A SRA. MARIA DE LURDES – Trabalho como agente comunitária de saúde.
Lembro de um caso que me comoveu muito quando eu estava em um consultório
esperando por uma consulta juntamente com outras pessoas portadoras de hepatite
C. Quando uma das pessoas disse que estava desde agosto com um processo para
receber o medicamento, as outras, que estavam na sua primeira consulta, entraram
em desespero.
As pessoas que estavam ali ainda não sabiam qual o seu grau de hepatite e
começaram a imaginar quanto tempo teriam que esperar para receber um
tratamento. São muitos os papéis que vão e vem. Naquele dia este paciente trazia
por volta de 30 folhas para a doutora assinar e que ele deveria levar de volta ao
fórum para tentar receber a medicação pelo Estado.
O SR. MARCELINO – Sou presidente da Associação do Hipertenso, faço parte
do conselho municipal do idoso. Estas dificuldades que foram mencionadas aqui são
uma realidade, as vezes elas são até mais graves que isso.
No nosso município 30% das pessoas sofrem de hipertensão, entre idosos e
pessoas mais jovens. Esta dificuldade na realização de exames e de documentos é
305
comum. Algumas pessoas estão esperando exames como cintilografia ou tomografia
há 12 meses. As vezes procuramos agilizar o atendimento do idoso porque ele já
conta com debilitações em função da própria idade. Esta pessoa corre um grande
risco com a falta do medicamento. É só faltar o medicamento para o hipertenso que
ele pode sofrer um ataque cardiovascular.
Muitos dizem que a terceira é a melhor idade. Melhor idade se eu tivesse uma
remuneração suficiente que me garantisse o medicamento de que preciso.
Infelizmente o aposentado ganha um salário mínimo por mês. Quem é que faz
alguma coisa com isso?
Procuro fazer o possível e o impossível para atender os idosos e os diabéticos junto
a área da saúde. Graças a presença do Dr. Alberi, que me dá toda a cobertura,
temos conseguido atender aos nossos idosos. O idoso, como todos sabem, sofre de
muitas dores. Por mais barato que seja o custo do medicamento, ele não tem poder
aquisitivo para comprá-lo. Quando a rede pública não fornece o medicamento, o
idoso, com seus poucos recursos, é obrigado a recorrer à farmácia popular.
Espero que o Luciano, com seu trabalho, consiga regularizar a entrega desses
medicamentos, principalmente aos idosos. Se alguma coisa foi feita neste país foi
pelos que hoje são idosos. Merecemos uma atenção especial. Os homens públicos
tem a obrigação de nos proporcionar um melhor atendimento. Muito obrigado.
A SRA. DÉBORA TAUFFER – Boa-tarde a todos. Sou a farmacêutica
responsável e coordenadora da Farmácia de Medicamentos Especiais, que fica junto
ao quartel do (ininteligível)
Quando recebi esta incumbência fiquei receosa por se tratar de uma grande
responsabilidade. No dia 24 de outubro, assumi a farmácia de medicamentos
especiais. Até hoje eu já montei 628 processos, sendo que desses, 95 deles tem
deferimento. Se esta medicação está vindo ou não é outro problema.
306
Gostaria de fazer esse desabafo, perante toda a população, porque todos os dias
que passamos na farmácia somos agredidos física e verbalmente. As pessoas não
entendem que não é culpa nossa que a medicação não chegue. Já tive que fazer
boletim de ocorrência em função de agressão física que sofri. As pessoas não
entendem que essa situação não é nem culpa nossa nem da secretaria municipal de
saúde. Pessoas tentaram me morder e jogaram o isopor do Interferon na minha
cabeça, etc. Não é esta a melhor maneira de reivindicar uma medicação. Sei que
quando o assunto atinge a saúde as pessoas se desesperam.
Todos os dias eu entrego Emulsão Scott para um cliente; para outro eu entrego 47
caixinhas de sabonete Dove; para outro, Maracujina, para outro ainda 57 caixas de
Neosaldina. Entendo que estes medicamentos não são de uso contínuo. Essas
entregas foram deferidas por um juiz. Se eu não entregar estas mercadorias posso
ser presa por desacato à autoridade.
Algumas vezes ouço coisas de cliente do tipo: ou eu compro remédio ou como.
Comer eu tenho que comer, mas se eu não tomar o medicamento eu morro. O que
eu faço? Diante disso eu me pergunto o que fazer? Esse tipo de coisa me dói. Estes
pacientes de fato precisam do medicamento, são pacientes transplantados, com
esclerose múltipla, com câncer, etc.
Aviso, de antemão, que segunda-feira os pacientes irão à farmácia atrás de
Ribavirina e não temos um comprimido sequer, não recebemos este medicamente
neste mês. Os portadores de hepatite Comissão, usuários deste medicamento,
poderão ter a recidiva do vírus porque o Estado não nos os enviou.
A SRA. ELIS REGINA TAFFAREL – Débora, é oportuna a tua intervenção.
Não lembro de ter visto ou feito um pedido judicial para o fornecimento de sabonete
Dove. Creio que isso não passou pela defensoria pública. Se há a prescrição de um
medicamento, mesmo que isso não nos parece adequado, isso foi feito por um
307
médico, tendo o juiz deferido tal pedido. O processo judicial é baseado no
contraditório. O Estado e o município foram intimados desta decisão e tiveram a
oportunidade de agravar e de apelar. Portanto, a decisão não é ditatorial e está
sujeita ao contraditório.
Todos estamos do mesmo lado e buscamos fazer o melhor para os que precisam de
medicamentos.
O fornecer o sabonete Dove não onerou o Estado de tal forma que o impedisse de
comprar o Ribavirina para os pacientes. Garanto que nunca fiz nenhum pedido de
sabonete ou qualquer outro produto desta linha. Muito obrigado.
O SR. ALBERI GRANDO – Quero dizer para a Débora que não me arrependi
de ter entregue esta missão a ela. Ela disse que tinha medo, mas posso garantir que
ela correspondeu ao esperado até mesmo acima da nossa expectativa. A Débora
falou sobre alguns produtos, como sabonete, que algumas vezes tem a sua
distribuição deferida pelo juizado.
Minha preocupação é que faltem recursos para os pacientes de esclerose múltipla e
se coloque recursos em coisas que não tenham eficácia comprovada. Hoje não
temos comprovação da eficácia de medicamentos como Emulsão Scott. Mesmo
assim, pedidos de compra deste medicamento são deferidos. Se tivéssemos
dinheiro sobrando, poderíamos dar Biotônico Fontoura ou Emulsão Scott para quem
quiser. Se alguém tiver dúvida sobre a existência de medicamento sem eficácia,
pergunte ao farmacêutico. Existem 30 ou 40 medicamentos que os farmacêuticos
chamam de não-éticos. Quando o medicamento é rotulado assim, vocês podem ter
certeza de que trata-se de um medicamento feito em fundo de quintal.
Quando fui secretário, fizemos uma licitação pública a qual foi ganha por uma
determinada empresa. Fizemos a compra de um medicamento, chamado
Salbutamol, que é um broncodilatador, e que tem sua eficácia comprovada. Em vez
308
disso, a empresa nos entregou um xarope antigripal. Quando eu peguei o
medicamento disse que não era aquilo que eu tinha comprado. O vendedor me disse
que era a mesma coisa. Sendo assim, pedi que ele me trouxesse a fórmula do
produto para que eu pudesse comprovar os princípios ativos. Diante do meu pedido
ele me disse que não poderia fazer isso por se tratar de uma fórmula secreta. É
claro que cancelamos toda a licitação e até hoje estamos brigando com essa
pessoa.
O que quero dizer é que alguns medicamentos não tem eficácia comprovada, outros
estão em processo experimental.
A classe médica não permite que se faça isso. Está no nosso código de ética que
não podemos usar um remédio de forma experimental. Sou conselheiro do CRM, em
Porto Alegre, e seguidamente estamos julgando colegas por fazerem experiências
com pacientes.
Portanto, preocupa-me quando são vendidos medicamentos sem comprovação de
sua eficácia. Depois de um médico dizer ao paciente que ele precisa de um
determinado medicamento ninguém tira da cabeça dele que este medicamento não
serve. A nossa relação médico-paciente é muito boa e calcada na confiança. Sugiro
que exista algum critério para o juiz que for dar esse deferimento. Propus em Passo
Fundo que fosse montada uma equipe de dois médicos e dois farmacêuticos que
pudessem avaliar tudo o que fosse receitado. Recebi duas ou três solicitações desse
tipo. Avaliamos e damos a nossa sugestão, comprovando, através de trabalhos
científicos, se aquele medicamento faz ou não efeito para que não se gaste à toa
tanto o dinheiro do Estado como o da pessoa.
O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Agradeço a sua gentileza. Passo
a palavra ao Sr. Edgar Garcia.
309
O SR. EDGAR GARCIA – Não posso avaliar o benefício do uso de um
sabonete Dove para a saúde de alguém, assim como maracujina, etc. Mas creio que
isso sejam exceções. Aliás, gostaria de pedir que quando surgirem pedidos desta
natureza eu fosse comunicado. Os promotores devem conversar entre si para
esclarecer fatos como esse.
Instaurei um inquérito civil em razão do excesso de consumo de antidepressivos na
rede pública. Não sou médico mas indago se é possível em duas folhas de receita
um médico prescrever quatro ansiolíticos e quatro antidepressivos para a mesma
pessoa. Em consulta a alguns médicos eles me esclareceram que essa prescrição
seria desnecessária. Um ansiolítico associado a um antidepressivo seria o
suficiente. Agora, existe um excesso de compra de antidepressivos na rede pública
de Passo Fundo, e sem contar aqueles que compram particularmente, podemos
dizer que superamos a média estadual e nacional.
Não se trata de economizar mas de racionalizar gastos públicos. Não é possível que
o município gaste 1,5 milhão ao ano em antidepressivos. Com relação aos médicos,
acho extremamente válida a avaliação das receitas feitas por farmacêuticos. Os
médicos, muitas vezes, receitam medicamentos que nem são mais fabricados.
Temos que ter em mente que jamais podemos deixar faltar medicamentos para
pacientes de hepatite C; para pacientes com Alzheimer; esclerose múltipla e para
tantas outras doenças graves. Esses não podem faltar.
Com relação à hepatite C esclareço que esse vírus é mais contagioso do que o vírus
da AIDS, pois ele sobrevive mais tempo fora do seu habitat. A hepatite C começou a
ser diagnosticada a partir de 1993. Há um número muito grande de pessoas que tem
este vírus e não sabem. A descoberta da doença é, muitas vezes, acidental. Temos
que ter prioridades. Vamos examinar se os antidepressivos estão sendo bem
receitados. Os médicos é que podem falar sobre isso.
310
As associações que trabalham com pacientes devem agendar com o Ministério
Público uma reunião para que possamos organizar uma estratégia para reivindicar
estes direitos.
O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Agradeço ao Dr. Edgar.
O SR. GUILHERME – É um prazer estar aqui.
Sobre medicamentos, posso dizer que existem três linhas de fabricação: a linha
ética, que é o remédio de marca; a linha genérica e a linha similar. Comprei um
similar, chamado Captomed, de 50 miligramas. A eficácia deste medicamento não
foi a mesma do Clorana, que é um medicamento de marca que realmente funcionou.
Não acredito que um medicamento como o Dipirona, de um laboratório similar, que
custe 50 centavos faça o mesmo efeito do remédio da marca. Não tem como. Uma
Novalgina custa 5 reais. O similar não pode custar 90% menos. Não tem como um
medicamento assim fazer o mesmo efeito.
Existe um projeto de lei que irá retirar de linha estes medicamentos similares, isso
porque agora o governo exige que todos os medicamentos tenham um genérico de
eficácia comprovada através de teste de bioequivalência. Com isso, o similar irá cair
fora.
Aconteceu comigo de pegar um medicamento, chamado Captopril de um laboratório
que não era o que costumava comprar e ele não fazer o efeito desejado.
Foi dito aqui que a CPMF deveria vir toda para a saúde. Eu também gostaria que o
dinheiro que foi desviado por corrupção voltasse para os cofres públicos para que
tivéssemos condições de investir mais nesta área. Muito obrigado.
O SR. RELATOR (Luciano Azevedo – PPS) – Agradecemos a todos os
presentes.
311
Para finalizar, faço o seguinte registro: segundo o Ministério da Saúde, de 400 a 600
mil portadores de hepatites virais deveriam receber tratamento neste ano mas
somente 11 mil pessoas poderão ser atendidos pela rede pública.
Peço desculpas aos que não puderam se manifestar pela nossa falta de tempo.
Agradeço a todos pelas suas presenças, assim como aos servidores da Câmara
Municipal que deram suporte ao nosso trabalho. Não prometemos a solucionar um
problema que é estrutural do Estado brasileiro e gaúcho. Queremos somar esforços
para que esta luta chegue ao governo do Estado.
Esperamos que a política de fornecimento de medicamentos seja de Estado e não
de governo. Ele não pode começar em um governo e interrompida em outro.
Podemos esperar por uma estrada ou por uma escola mas não podemos esperar
por um medicamento. Agradeço em meu nome e dos colegas a todos vocês.
Convido a todos para que compareçam a nossa reunião com o secretário estadual
da saúde, onde estaremos fazendo a entrega de todo este material que recolhemos
pelo interior do Estado.
Muito obrigado. Está encerrada esta reunião.
DATA 11/06/2007: Audi ência Pública com o Secretário de Saúde, Sr. Osmar
Terra: Deputado Luciano Azevedo pede a permissão da palavra para uma retificação.
Subcomissão não encerrou o seu trabalho e nem poderíamos encerrarmos os
trabalhos e nem produzir um relatório, sem ouvir as razões do secretário de saúde
que está aqui hoje exatamente para fazer este relato que acabou de fazer, então
não é que nos não tivemos tempo de fazer o relatório, não faltou tempo, o prazo da
subcomissão ainda não está esgotado e o relatório está sendo produzido com os
elementos que a subcomissão já dispõe para produzir este relatório. Este
esclarecimento é importante fazer.
312
Passada a palavra ao deputado Paulo Borges faz a seguinte pergunta ao secretário;
O Senhor falou aqui que entre 20% e 30% do que se compra em medicamentos
especiais não servem praticamente para nada. Eu lhe pergunto o seguinte quanto
custa para o estado estado isto hoje? O senhor tem está estimativa?
Passada a palavra para o secretário de saúde:
Estes 20% deputado Paulo certamente custam mais do que nós gastamos com a
saúde, só o desperdício custa mais do que nós gastamos com as equipes de saúde
da família como incentivo.
30 milhões , de 20 a 30 milhões.
Deputado Paulo Borges faz uma outra questão ao secretário de saúde;
Como se pode explicar desses medicamentos, não teria coo o estado medir está
distorção e talvez não comprar tantos medicamentos ou toda está compra resulta de
como o senhor falou de medidas judiciais?
Passada palavra ao secretário responde:
Só para dar uma idéia, também faltou um dado importante na minha manifestação.
O Rio Grande do Sul é o estado que mais oferece medicamentos pelo estado, no
Brasil. Por que no Brasil além de ter, a questão dos medicamentos excepcionais tem
os medicamentos especiais que é um intermediário entre o básico e o excepcional
em custo, são medicamentos que custam 400 reais por mês um tratamento ou
custam 500 reais que uma boa parte da população não tem como pagar mesmo e
tem o direito ter.
Então tem uma lei estadual que é da deputada estadual Jussara Coni que manda
dar estes medicamentos especiais também além dos excepcionais nos damos ainda
313
os especiais. Isto significa o seguinte, estamos falando de 100 mil pessoas no Rio
Grande do Sul, 30 mil com medicamento excepcionais é 0,3% da população e 70 mil
com os especiais.
Só que o custo é inverso, o custo dos 30% é de 70 do valor que nos gastamos. E
do 70% é 30% porque é um medicamento que relativamente custa menos. Quando
tem, tá protocolo, está previsto a Anvisa confirma que aquele medicamento faz
efeito, que está no previsto no protocolo clínico nos não temos como nós negar a
dar. Nos temos que dar.
Agora dessas 100 mil pessoas que são atendidas atendidas no Rio Grande do
Sul. Isto aumentou eram 50 mil a 4 anos atrás. Hoje dobrou o número de pessoas
não é que porque 4 anos atrás que não tinha tanta gente precisando desse remédio,
é que 4 anos atrás as pessoas tavão se dando quanta do direito que elas tinham. E
aumentou o número porque elas recebem. Importante dizer isto também, para não
passar a idéia que o estado não está dando. Para se ter uma idéia deputado dos
100 mil pacientes atendidos, só 8 mil são ações judicial, de 8 a 10mil são ação
judicial, só 8% são ações judiciais o resto é tudo piloto automático, entrou com o
pedido, faz o processo e daí recebe. Só que quem recebe não fala, só fala quem
atrasa e quem não recebe e aí vira notícia mas então aí passa a idéia que ninguém
está sendo atendido.
Não 92% dos gaúchos que precisam dos medicamentos especiais e excepcionais
recebem no piloto automático e esses 8% aí sim são medicamentos que não estão
indicados para determinada patologia em dose exagerada, em dose exagerada são
os mais caros. As ações não são simplesmente mais baratas, então esse é o
projeto. Por exemplo a pessoa está com hepatite C o problema dela se resolve com
Enterferon alfa que o tratamento dela custa 2 mil reais, mas o custo de gestão do
médico ou de alguém aí ela pede o peguilado ela não pede o alfa, com o peguilado
314
vai a 60 mil reais mas a secretária diz que cientificamente o alfa faz efeito. Mas não
eu quero o peguilado. Então vai para ação judicial e o juiz não vai dá.
Então eu falo desta diferença de custo, não é que não faça efeito, possa ter um
custo menor com um medicamentos e outros que não faz efeitos mesmo como
experimentais.
Deputado Paulo Borges pergunta?
O senhor julga que a secretária está preparada, perito desculpa se é está
expressão correta para fazer uma avaliação se o paciente necessita desse
medicamento A ou B, a secretária está pronta para isto hoje?
A secretária faz uma avaliação pelo processo não tem condições de estar
avaliando à todos, examinado um por um. Entre o processo se tem a comprovação
do exame, se tem a comprovação dos sintomas, dos sinais da doença, do
diagnóstico da doença feito a comprovação a secretária manda dá.
O que nos colocamos em discussão é quando aquele remédio não está previsto
em nenhum tratado científico para aquele problema ou nenhuma dose prevista ou é
um remédio que poderia ser mais barato e está se dando mais caro.
Aberta a palavra as entidades:
Passaríamos a Associação Gaúcha de Fibrose Sistíca;
Estão faltando medicamentos como Sarcon, medicamento para o fígado que falta
a três meses e também insinas pancrêanticas essenciais aos pacientes. E com
relação a lei do tieu viana gostaríamos que tivesse nesta lei como ficará a formação
das equipes para os protocolos e não esquecendo dos representantes na sociedade
civil, e a revisão anual, que já constatasse nesta lei.
Passada a palavra a Associação dos Ostomizados
315
Hoje são dados de cinco a seis equipamentos para as pessoas ostomizadas no
Rio Grande do Sul, e é importante pedir ao secretário de saúde para que possa
estar solicitando a liberação da portaria da secretária de saúde do Rio de Janeiro o
valor de 138 milhões para a compra desses equipamentos, que são de dez a quinze
e para que os profissionais estejam participando desses processos de compra, que
possam estar participando na liberação também. O presidente da Associação de
Ostomizados enfatiza gostaríamos de uma solução?
Passada a palavra para o Centro de Anemia Falciforme.
Por que este estado não tem a coragem a dignidade e a decência de trabalhar
Anemia Falciforme. Por que este projeto não foi implantado no estado? Depois da
varias reuniões feitas, este estado vai ou não vai implantar este programa que tem
anemia Folciforme?
Passada a palavra para representante da Via Vida, Fadoqui e representando o
Conselho Estadual de Saúde. Concordamos com o senhor secretário de saúde, mas
nós não estamos aqui para falar dos 8% dos processos judiciais no estado, porque
são associações que estão aqui hoje e não recebem corretamente no piloto
automático e correndo o risco de morrer.
O senhor fala dos medicamentos que não tem efeito então o senhor leve está
questão ao ministério da saúde. Porque nos estamos falando dos medicamentos
autorizados pala anvisa e que estão nos protocolos clínicas.
Passada a palavra a Presidente da Pacson Angela Garcia
Gostaria de colocar a seguinte situação: sem os remédios nos não andamos, não
trocamos de roupas, não temos condições de vida, é como se estivéssemos em
316
estado vegetativo em apelo a esses portadores, tem que ser prioridade, essas
pessoas dependem desses remédios.
Então está tendo um desperdício de medicamentos, está na hora do governo
selecionar um perito para avaliar os portadores para que tipo de remédio tomar.
Um exemplo de um medicamento como o prolopa me da efeitos colaterais, eu tenho
condições de ter um remédio que substitua esse remédio. Eu falo de condições de
vida, ter direito à vida.
Passada a palavra ao secretário de saúde para as respostas as entidades e
finalização:
Quero fazer um esclarecimento de um projeto de lei, ontem tínhamos uma reunião
com o senador Paulo Paim que é o relator do Projeto de Lei e com o senador “Tião”
Viana para discutir o encaminhamento e o senador Flavio Arns que tem um outro
projeto de lei que na minha opinião inviabiliza qualquer controle, que abre para tudo,
para todos, sem nenhum tipo de critério mas está opinião é minha e dos gestores
públicos.
Mas aí eu queria falar para o presidente do grupo dos portadores de nutricidoses,
nos colocamos, o Conas que eu to presidindo agora, conselho nacional da
secretária de saúde, o senador “Tião” Viana colocou como projeto de lei a
necessidade de atualização anual dos processos clínicos , que está em pauta e é
nossa também.
E eu quero dizer mais que no Rio Grande do Sul o ministério público e o Ajuris
Associação dos Juizes do Rio Grande do Sul que está colaborando com sugestões
também, está aqui também o Bruno Nandof que é nosso assessor jurídico nos
temos reuniões toda semana, temos reuniões semanalmente com a Ajuris e o
ministério público.
317
Para avançar nesta questão dos medicamentos e inclusive para garantir este projeto
de lei para que seja mais adequado possível.
Então ontem só não aconteceu a reunião por um motivo o senador Flavio Arns não
podia ir e o senador Paulo Paim está com um problema sério de saúde na família.
Este processo deve andar mais rapido depois de recesso. Também eu quero dar
uma informação sobre o ministério público de saúde repassa esse dinheiro, nos
primeiro pagamos e o dinheiro para os medicamentos é a metade do que nos
gastamos, mas ele repassa. Pirmeiro nos pagamos depois o ministério nos ressarce
da metade, o que acontecia aqui no Rio Garnde do Sul era um caso diferente dos
outros estados esse dinheiro que vale a 5 ou 6 milhões de rais por ano que foi
aumentado com o tempo, nos tinhamos um desti do teto de repasse que o ministério
repassava para o estado tínhamos um destino de 7 milhões depois foi reduzido a 5
milhões, mês passado que o destino foi zerado.
Então já era assim ainda no governo do Olívio, no governo do Rigotto todo inteiro
com este destino.
Isso foi uma enorme sangria de recursos para o estado, vocês imaginam o estado
quebrado com uma dificuldade financeira todo mês ter que tirar 7 milhões pa tapar o
buraco, então o que a gente fazia pegava este dinheiro do ministério que era para
compra de medicamentos usava para dinheiro do estado para comprar
medicamentos então na integra os medicamentos que foram comprados até este
mês pelo Rio Grande do Sul não foram com recurso federal.
O recurso federal foi usado para pagar o buraco do destino, outra informação
importante no projeto de lei do senador “Tião” Viana não foi proibido o médico
receitar qualquer coisa, o que ele define o que vai ser pago com recurso público ou
não?
Teoricamente o médico pode receitar que ele tem que tomar um rémedio que só tem
no Japão e que vai ser bom para ele, o médico pode dizer isto na qual é o momento.
318
Agora nós temos.
319
5. Da política Nacional de Medicamentos
A assistência farmacêutica constitui parte fundamental dos serviços de atenção
à saúde do cidadão. Em muitos casos, a estratégia terapêutica para a recuperação
do paciente ou para a redução dos riscos da doença e agravos somente é possível a
partir da utilização de algum tipo de medicamento. Em tais situações, o
medicamento é elemento essencial para efetividade do processo de atenção à
saúde. Nesse contexto, o direito constitucional à saúde assegurado à população
brasileira só se materializa em sua plenitude mediante o acesso do paciente ao
medicamento.
Em pouco mais de uma década de construção do Sistema Único de Saúde
(SUS), os problemas iniciais de sua implantação, inclusive os de ordem política e
filosófica, foram superados e significativos avanços foram alcançados no tocante à
organização e à descentralização de sua gestão nos âmbitos político-administrativo
e financeiro. Vivemos, hoje, um período de consolidação do SUS em que a
organização da atenção e assistência à saúde e a ampliação do acesso dos
cidadãos aos serviços constituem o principal desafio para seus gestores, nas três
esferas de governo. É na área de assistência farmacêutica, no entanto, que o
sistema de saúde brasileiro ainda se depara com grandes problemas e dificuldades.
É nela que mais se evidenciam as distorções e os problemas gerados pelas grandes
desigualdades sociais e econômicas ainda existentes no país e que determinam
restrições ao pleno acesso a medicamentos. Esta situação é particularmente
dramática em se tratando de medicamentos de uso ambulatorial continuado, quando
o tratamento de doenças crônicas, muitas vezes com duração por toda vida, se torna
inacessível para a maioria da população, quer pelo alto custo do medicamento quer
pelo custo total do tratamento. Neste particular, é fundamental a ação do poder
público no combate à iniqüidade no acesso, na formulação de políticas de
320
assistência farmacêutica de alto custo, na garantia do financiamento, na distribuição
gratuita de medicamentos e na ampliação do acesso da população a estes
tratamentos, onde se insere o Programa de Medicamentos Excepcionais .
As políticas de promoção do acesso a medicamentos são de realização
progressiva. O atendimento de um direito social, como é o caso do acesso a
medicamentos, sempre é confrontado por demandas múltiplas e crescentes, em face
de restrições operacionais e orçamentárias. Assim, o estado deve orientar-se para o
atendimento da demanda daqueles medicamentos considerados essenciais e
prioritários do ponto de vista de saúde pública. Ao mesmo tempo em que o
medicamento é um importante insumo no processo de atenção à saúde, pode
também se constituir em fator de risco quando utilizado de maneira inadequada. Não
se trata, portanto, de promover o acesso a qualquer medicamento ou de qualquer
forma mas, sim, de promover o uso racional e seguro desses produtos.
O escopo da ação estatal abrange medidas que assegurem oferta adequada
de medicamentos em termos de quantidade, qualidade e eficácia. Assim, em plena
conformidade com a Política Nacional de Medicamentos, a necessidade de
gerenciar adequadamente o Programa de Medicamentos Excepcionais e de
promover o uso racional de medicamentos, é que o Ministério da Saúde lançou-se
ao desafio de formular, para os medicamentos de alto custo, Protocolos Clínicos e
Diretrizes Terapêuticas.
Esses Protocolos têm o objetivo de, ao estabelecer claramente os critérios de
diagnóstico de cada doença, o tratamento preconizado com os medicamentos
disponíveis nas respectivas doses corretas, os mecanismos de controle, o
acompanhamento e a verificação de resultados, e a racionalização da prescrição e
do fornecimento dos medicamentos. Observando ética e tecnicamente a prescrição
médica, os Protocolos têm, também, o objetivo de criar mecanismos para a garantia
da prescrição segura e eficaz.
321
6. O SUS e os medicamentos excepcionais
A Constituição Federal de 1988 estabeleceu o direito de todos à saúde e o
dever do Estado o seu fiel cumprimento, mediante a adoção de políticas sociais e
econômicas, conforme expõem os artigos 6º e 196º:
“Art. 6º: São direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, a moradia, o lazer, a
segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a
assistência aos desamparados, na forma desta Constituição.
...................................................................................................
Art. 196: A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantida mediante políticas
sociais e econômicas que visem à redução dos riscos de doença e de outros
agravos e acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção,
proteção e recuperação.”
A Lei nº 8.080 de setembro de 1990, junto com a Lei nº 8.142, de dezembro de
1990, constitui a legislação estruturante do SUS. Vejamos os artigos principais da
Lei nº 8.080/90:
“Art. 2º: A Saúde é um direito fundamental do ser humano, devendo o estado prover
as condições indispensáveis ao seu pleno exercício.
Parágrafo 1º: o dever do estado de garantir a saúde consiste na formulação e
execução de políticas econômicas e sociais que visem à redução de risco de
doenças e de outros agravos e no estabelecimento de condições que assegurem o
acesso universal e igualitário às ações e aos serviços para a sua promoção,
proteção e recuperação”.
322
O Artigo 6º estabelece que estão incluídas a execução de várias ações, entre
elas o provimento:
“(...) de assistência terapêutica integral, inclusive farmacêutica”.
No Artigo 7º do Capítulo II, que trata dos princípios e diretrizes, são definidos
os princípios do SUS:
“I – Universalidade de acesso aos serviços de saúde em todos os níveis de
assistência.
II- Integralidade de assistência, entendida como o conjunto articulado e contínuo de
ações e serviços preventivos e curativos, individuais e coletivos, exigidos para cada
caso em todos os níveis de complexidade do sistema.
...................................................................................................
VII- Utilização da epidemiologia para o estabelecimento de prioridade, a alocação de
recursos e a orientação programática”
O processo de implantação do SUS, a descentralização promovida na década
de 90, foi impulsionada e regulamentada através das Normas Operacionais Básicas
(NOBs), que são orientações específicas e pactuadas, emanadas do Ministério da
Saúde e aceitas pelas representações nacionais dos secretários municipais e
estaduais de saúde, que visam à repartição orçamentária entre níveis de governo, à
atribuição da titularidade para a gestão e à organização do modelo assistencial.
A NOB –1/91 introduziu o conceito de municípios e estados habilitados ao
SUS, mediante comprometimento com a gestão direta dos serviços. Nesse sentido,
previa a formação de um fundo setorial e o financiamento de conselhos
comunitários. A NOB –1/93 representou um instrumento mais efetivo de indução do
323
processo de descentralização política ao criar as Comissões Intergestores Bipartites
(CIBs) nos Estados (por representação paritária entre estados e municípios) e a
Comissão Intergestores Tripartite (CIT), composta por representantes dos governos
Federal , Estaduais ( e Distrito Federal ) e Municipais no plano nacional. A NOB-
1/96 simplificou o processo de responsabilização municipal proposto pela NOB-1/93,
reduzindo as condições de habilitação a 2 modalidades: Gestão plena da atenção
básica e Gestão plena do sistema municipal. Em relação às transferências
intergovernamentais, a NOB- 1/96 criou um conjunto de instrumentos indutores do
modelo assistencial, com destaque no que tange aos medicamentos excepcionais.
A partir da descentralização, após a edição das NOBs 01/93 e 01/96, o Ministério da
Saúde passou a determinar para cada unidade da federação um valor de gasto
anual, que corresponde ao teto financeiro da Assistência, para custear os serviços
de saúde da população de cada estado. Além desses recursos, são destinados a
cada Estado, recursos para custeio de alguns serviços de alta complexidade, custo
que compõe o FAEC (Fundo de Ações Estratégicas e de Compensação), como
medicamentos excepcionais, transplantes, cirurgia de queimados, radioterapia, etc.
Os serviços pagos pelo FAEC não estão incluídos no chamado teto financeiro.
Os medicamentos excepcionais são os que se destinam ao tratamento de
doenças específicas ( como insuficiência renal crônica, doenças genéticas como
fibrose cística e doença de Gaucher, hepatite viral crônica B e C, epilepsia e
esclerose múltipla ) sendo que, muitas vezes, seus usuários os utilizam por períodos
prolongados.
A Constituição Federal e a Lei nº 8.080/90, conhecida como Lei Orgânica da
Saúde, não especificam qual dos entes da federação é responsável pelo
324
fornecimento dos medicamentos excepcionais à população, existindo uma
responsabilidade solidária entre todos estes entes.
Originariamente, o financiamento e o gerenciamento dos medicamentos de alto
custo, excepcionais, era de responsabilidade do INAMPS, na época resumindo-se a
poucos itens. Estavam contemplados medicamentos para transplantados, renais
crônicos e o hormônio de crescimento.
Em 1990, com a passagem do INAMPS do Ministério da Previdência Social
para o Ministério da Saúde, as atividades de assistência farmacêutica desenvolvidas
pelo Instituto foram extintas, entre elas o gerenciamento dos medicamentos
excepcionais Inicialmente não havia previsão de ressarcimento destes
medicamentos pelo Ministério da Saúde.
Em outubro de 1993 foram incluídos na tabela de valores dos procedimentos
do SUS ( Sistema de Informações Ambulatoriais do SUS - SIA/SUS) os
medicamentos de dispensação em caráter excepcional “ciclosporina e eritropoetina
humana”, destinados aos pacientes transplantados e renais crônicos. Seus valores
foram estabelecidos na Portaria SAS/MS nº 142. Em 1995, pela Portaria SAS/MS nº
102 é padronizada nova relação de medicamentos “excepcionais “ a serem pagos
através de Guia de Autorização de Procedimento (GAP). Neste momento somados
com os medicamentos com cobertura pelo Sistema SIA/SUS, a relação passa a
contemplar 22 princípios ativos em 33 representações.
Através das Portarias GM/MS nº 2042 e nº 2043, ambas do mês de
outubro de 1996, na área de terapia substitutiva é implantado o Sistema de
Autorização de Procedimentos de Alta Complexidade/Custo (APAC), incluindo os
medicamentos “excepcionais” para este grupo de pacientes. Esta Portaria criou
códigos na tabela SIA/SUS e estabeleceu o formulário para solicitação de
medicamentos excepcionais (SME) e excluiu a cobrança por GAP, passando estes
325
medicamentos para cobrança através do Boletim de Procedimento Ambulatorial
(BPA). Além disso atualizou a relação dos medicamentos excepcionais.
Em 1989, para obter informações da realidade da execução e melhorar o
planejamento e gerenciamento do programa, o Ministério da Saúde, por meio da
Portaria GM/MS nº 254, determinou que os gestores do SUS elaborassem a
programação fisicofinanceira anual. A partir de 1999, a produção ambulatorial de
medicamentos “excepcionais” destinados à terapia renal substitutiva passou a ser
financiada com recursos do Fundo de Ações Estratégicas e de Compensação
(FAEC).
A SAS por meio da Portaria SAS/MS nº 409, de 1999, implantou a sistemática
de Autorização de Procedimentos de Alta Complexidade para o fornecimento de
todos os medicamentos excepcionais.
No ano de 2000, a Portaria GM/MS nº 1481 estabeleceu a inclusão no FAEC
de todos os recursos do Ministério da Saúde destinadas ao financiamento de
medicamentos excepcionais.
Atualmente, a tabela de procedimentos vigentes do SIA/SUS para o grupo 36
(medicamentos excepcionais) é a decorrente da Portaria GM/MS nº 1318, de
23/07/2002, complementada pela Portaria SAS/MS nº 921, de 22/11/2002, que
contemplam 105 substâncias ativas em 216 apresentações.
Com objetivo de regulamentar e padronizar procedimentos médicos e também
racionalizar a prescrição dos medicamentos excepcionais pelo SUS e a dispensação
dos mesmos, o Ministério da Saúde elaborou Protocolos Clínicos e Diretrizes
Terapêuticas -PCDTs. Desta forma, os Protocolos são utilizados como referência
pelas Secretarias Estaduais de Saúde, médicos prescritores e farmacêuticos na
dispensação destes medicamentos. Exames médicos que são exigidos nos
Protocolos, fazem parte da documentação obrigatória para que ocorra a
dispensação dos medicamentos excepcionais.
326
7. Demandas judiciais
A SES tem sido alvo de um significativo e crescente número de ações judiciais,
sendo parte relevante destas os medicamentos de alto custo. A evolução das novas
demandas judiciais pode ser visualizada abaixo:
Tabela 01 - Evolução das ações Judiciais
ANO QUANTIDADE DE NOVAS AÇÕES
INGRESSADAS 2002 1.1042003 2.7612004 3.7422005 3.259Fonte: Assessoria Jurídica da SES
* Obs: Os dados são até agosto/05.
O elevado número de demandas judiciais, representa também um considerável
gasto financeiro. As ações judiciais podem ser executadas através de solicitação de
medicamentos, bloqueio de contas do Estado e por depósito de valor na respectiva
vara cível de ingresso da ação.
Tabela 02– Gastos com depósitos judiciais
327
RUBRICA NOME DA RUBRICA 2004 20059102 Pagamentos
determinados por
sentenças judiciais-
medicamentos
5.923.506,06 3.086.322,32
Fonte: Fundo Estadual de Saúde/orçamento/sistema AFE
*atualizado até 19/08/2005-09-2005
Conforme as informações constantes da jornada de debate e capacitação
sobre a Política de assistência farmacêutica, 76% das despesas judiciais com
medicamentos são para atender as demandas por medicamentos excepcionais e
especiais. Aplicando este percentual nos montantes demonstrados na tabela 01,
temos como valores gastos, aproximadamente, a importância de R$ 4.501.865,00 no
exercício de 2004 e R$ 2.345.604,96 em 2005, até a data de 19/08/2005. Estes
valores devem ser acrescidos aos gastos com as ações liminares judiciais com
medicamentos especiais e excepcionais que, segundo o FES foram, em 2004 e
2005, respectivamente R$ 1.832.572,01 e R$ 842.986( até 19/09/2005).
Assim, para o exercício de 2004, temos como valores gastos,
aproximadamente, o montante de R$ 6.334.437,00, equivalente a 6% do valor
liquidado (R$ 100.318.797,24), relativo à Ação “Fornecimento de medicamentos de
alto custo”. Estima-se, portanto, que o valor das despesas judiciais esteja
atualmente situado entre os percentuais de 5% a 10% do gasto da ação, estando
seu incremento, sua evolução, fortemente vinculado a carência no fornecimento de
medicamentos.
As principais causas destas ações são: falta de medicamentos, prescrições
médicas de medicamentos que não constam nas listas dos excepcionais e
especiais, de medicamentos não existentes no país e de medicamentos sem registro
328
na ANVISA. Muitas destas ações são ingressadas contra a SES, Municípios e a
União, solidariamente. Isto faz com que o controle seja dificultado, pois, em
determinados casos, o demandante pode retirar o medicamento em uma das esferas
sem que as demais sejam notificadas.
Importante salientar que muitas ações judiciais que ingressam contra a SES
são relativas a medicamentos sem registro na ANVISA e até importados ( exemplos:
Bevacizum ab 25 mg – Avastim – e Polisulfato de pentosano sódico 100 mg –
Elmiron ).
As ações judiciais acarretam conseqüências, sendo as principais: dificuldades
operacionais no gerenciamento da ação devido à quantidade e prazos para
cumprimento destas, possibilidade de interrupção de tratamentos de pacientes com
processo administrativos em virtude dos medicamentos serem transferidos a
usuários com demandas judiciais, possível vencimento do prazo de validade de
medicamentos que ficam armazenados à espera da retirada e aumento nos gastos,
pois alguns medicamentos acabam por ser comprados no varejo.
O setor de compras realizou uma comparação exemplificativa sobre as
diferenças de preços na compra de alguns medicamentos pela via ad administrativa
e para atender demandas judiciais:
Tabela 03 – Diferença de custos nas compras de medicamentos
Nome do
Medicamento
Nº do Processo
Judicial - data
Valor Unitário
Judicial - R$
Nº do Processo
Administrativo
-Data
Valor Unitário
Administrativo - R$
Atorvastatina 20
mg
103924/04-6 – 26-
01-05
4,27 45855/05-9 – 06-
05-05
3,90
329
Cabergolina 0,5
mg
53275/05-5 – 05-
07-05
24,00 44006/05-0 – 06-
05-05
23,56
Calcitriol 0,25 mcg 04502/05-4 – 31-
03-05
2,35 89516/04-6 – 04-
05-05
0,342
Carvedilol 12,5 mg 37862/05-0 – 31-
05-05
0,64 44004/05-4 – 30-
05-05
0,15
Fonte: Setor de Compras da SES
A falta de medicamentos e as demandas judiciais, somadas às deficiências de
planejamento e programação, podem levar à ineficiência da Ação. Existem fortes
indicativos neste sentido, pois observou-se, em relação aos medicamentos
estocados no almoxarifado dos jurídicos, o que segue:
-Significativo volume de medicamentos jurídicos com prazo vencido;
-Compra e recebimento de medicamentos com dispensa do prazo de validade
mínimo (um ano );
-Recebimento de medicamentos com dispensa de laudo de qualidade;
-Compra de medicamentos em farmácias em menores quantidades, elevando o
custo da compra, já citado anteriormente.
A deficiência de programação, por exemplo, pode levar à ineficiência citada,
visto que parte das demandas judiciais dizem respeito a medicamentos que constam
nas listas dos excepcionais e especiais, sendo, desta forma, possível prever, mesmo
que não na totalidade, os quantitativos para atender estas demandas. Neste caso,
caso a demanda não se confirmasse, esses medicamentos seriam destinados ao
consumo normal da Secretaria sem necessidade de perder prazo.
O preço a ser pago pelos medicamentos deve ser o praticado comercialmente
pela Associação Brasileira do Comércio Farmacêutico com desconto de 18 % sobre
330
este valor, não podendo ultrapassar mensalmente a importância de R$ 1.000.000,00
( um milhão de reais ) (não estão sendo considerados aspectos relativos à
legalidade).
8. Da dispensação de medicamentos
A dispensação é o ato de entrega do medicamento certo ao paciente,
observando a dosagem correta. Na Revista do Conselho Nacional dos Secretários
331
de Saúde, CONASS, consta a seguinte definição sobre dispensação: “ É a atividade
de dispensação que deve assegurar que o medicamento de qualidade seja entregue
ao paciente certo, na dose prescrita, na quantidade adequada. É no ato da
dispensação que ocorre a difusão das normas e cuidados necessários ao uso
correto dos medicamentos, contribuindo para coibir práticas como aquelas que
favorecem a automedicação e o abandono do tratamento” ” (CONASS,2004, p.44)
Marin ( 2003, p.241 ) no mesmo sentido expõe: “É esta uma das últimas
oportunidades de, ainda dentro do sistema de saúde, identificar, corrigir ou reduzir
possíveis riscos associados à terapêutica medicamentosa. (...) Neste ato, o
farmacêutico informa e orienta o paciente sobre o uso adequado do medicamento.
São elementos importantes desta orientação, entre outros, a ênfase no cumprimento
do regime de dosificação, a influência dos alimentos, a interação com outros
medicamentos, o reconhecimento de reações adversas potenciais e as condições
de conservação do produto”.
Como podemos verificar, através dos conceitos anteriormente citados, a
dispensação é uma das atividades mais importantes dentro da assistência
farmacêutica, principalmente, por ser o instante em que os profissionais das
unidades dispensadoras interagem com os pacientes.
A SES editou, em 28-09-04, a Portaria nº 38/2004 a qual disciplina como deve
ser feita a solicitação de medicamentos excepcionais e especiais, quais os dados e
documentos necessários que acompanham a solicitação ( o formulário padronizado
que deve ser preenchido é chamado de “cadastro de usuários” e é fornecido pela
Secretaria ).
332
O instrumento que regula o papel da SES e dos municípios na questão da
solicitação e da dispensação é a Resolução nº 143/2003 da Comissão Intergestores
Bipartite/RS – CIB/RS. A Resolução nº 143/2003 CIB/RS, editada em 15-10-03,
resolveu descentralizar para as CRSs a análise documental dos processos
instruídos, o cadastramento dos pacientes com solicitação deferida e a distribuição
para os municípios dos medicamentos fornecidos.
Também resolveu descentralizar para os municípios, com exceção da capital, a
instrução dos expedientes de solicitação dos medicamentos especiais e
excepcionais, a dispensação aos usuários dos medicamentos distribuídos pelas
CRSs, a obtenção dos respectivos comprovantes de recebimento do medicamento
por parte do usuário e o controle de sua efetiva utilização.
Ficou estabelecido, no art. 8º, o prazo de 30 dias para o trâmite do processo de
solicitação de medicamentos, entre a data do protocolo na CRS e o retorno do
parecer para o usuário.
O fluxo abaixo demonstra as etapas necessárias para que os usuários
solicitem e obtenham os medicamentos de alto custo ( as etapas estão descritas no
anexo I da Resolução nº 143 CIB/RS ):
1) Usuário retira na SMS, Farmácia do Estado ou Centro de Referência, o formulário
“ cadastro de usuários” para preenchimento;
2) O usuário encaminha os documentos necessários para a solicitação do
medicamento ao funcionário responsável pela Assistência Farmacêutica da
Secretaria Municipal de Saúde do município onde reside;
3) O funcionário da SMS verifica se os documentos estão corretos e os encaminha à
CRS a qual o município está adstrito;
4) A CRS protocola os documentos, que serão examinados pelo farmacêutico. O
número do processo é comunicado à SMS de origem da solicitação;
5) A CRS encaminha o processo ao CPAF, para exame do médico consultor;
333
6) O médico consultor examina o processo, respeitando os protocolos clínicos
estabelecidos e dá seu parecer, deferindo-o ou indeferindo-o;
7) A CPAF retorna o processo à CRS de origem para as providências necessárias:
a) indeferido por falta de documentos: a CRS solicita à SMS os documentos que
faltam, anexa-os ao processo e o remete `a CPAF para reexame.
b) indeferido por não cumprimento de protocolos do Ministério da Saúde ou por não
constar nas listas dos medicamentos excepcionais e especiais, a CRS comunica à
SMS para que cientifique o usuário.
c) deferido o processo, a CRS acrescenta o medicamento à lista mensal de pedidos.
As situações acima elencadas constituem causas prováveis de morosidade na
obtenção de medicamentos excepcionais e especiais pelos pacientes.
A dispensação dos medicamentos de alto custo, no Rio Grande do Sul, ocorre
nos Municípios (exceto em Porto Alegre – excluído pela CIB/RS – e Viamão, Esteio,
Gravataí, Passo Fundo e Santa Maria que ainda não aderiram a referida Resolução),
na Farmácia do Estado e nos Centros de Referência.
Os pacientes que residem em Santa Maria e Passo Fundo retiram os
medicamentos nas CRSs, respectivamente 4º e 6º CRSs, que têm sedes nestas
cidades. Já os usuários de medicamentos excepcionais e especiais que moram em
Porto Alegre, Viamão, Esteio e Gravataí dirigem-se à Farmácia do Estado para
receberem seus medicamentos.
No ano de 2005 a SES possuía, conforme Sistema AME (administração de
medicamentos), em 25-08-05, 88.728 pacientes cadastrados e 68.425 pacientes em
tratamento. A diferença decorre das seguintes razões: pacientes falecidos,
tratamentos indeferidos e tratamentos aguardando avaliação médica.
A dispensação, como exposto, é considerada uma das atividades mais
importantes dentro da assistência farmacêutica. constatou-se que freqüentemente
ocorrem faltas de medicamentos excepcionais e especiais, bem como atrasos no
334
fornecimento destes para a população. A falta de medicamentos está ocasionando a
interrupção no tratamento dos pacientes atendidos.
As principais causas da falta de medicamentos, são: falta de planejamento ou
planejamento ineficiente, recursos financeiros insuficientes e demandas judiciais que
fazem com que alguns usuários com processos administrativos deferidos sejam
preteridos.
A falta de medicamentos gera insatisfação do usuário e piora na qualidade da
atenção à saúde, contribuindo para o aumento do número de demandas judiciais.
Cabe referir que a Organização Mundial de Saúde ( WHO, 2004 ) tem como ponto
chave para o sucesso dos tratamentos de saúde e do bom uso dos medicamentos
essenciais a existência de farmacêuticos ( e dos outros profissionais de saúde ) bem
treinados e informados.
335
9. Centros de referência
Centro de Referência é o local onde ocorre a dispensação de determinados
medicamentos, visando oferecer um conjunto de serviços de maior complexidade,
organizados e direcionados a um grupo específico de pacientes.
De acordo com CONASS ( 2004 ):” a avaliação e acompanhamento dos
pacientes, como recomendado em alguns Protocolos, deve ocorrer em Centros de
Referência, cujo objetivo é exatamente a prestação de um atendimento
especializado”.
Com um atendimento mais especializado é possível a avaliação e o
acompanhamento do tratamento dos pacientes, e, em alguns casos, o
compartilhamento dos medicamentos. Verifica-se que com a implantação dos
Centros de Referência gera significativa economia de recursos que pode ser obtida
na dispensação de determinados medicamentos tanto por poderem ser
compartilhados, como a Imiglucerase e o Interferon Peguilado, pois as doses são
aplicadas de acordo com o peso dos pacientes, quanto pelo fato do
acompanhamento da eficácia do tratamento revelar que, em alguns casos, não há
resposta positiva, devendo este ser interrompido. O compartilhamento é possível já
que os frascos muitas vezes possuem uma quantidade de medicamento superior às
necessidades dos usuários, que, aplicando fora dos Centros de Referência, acabam
por não utilizá-lo integralmente ou de forma diversa ao estabelecido nos Protocolos
Clínicos e Diretrizes Terapêuticas.
O Estado do Rio Grande do Sul começou a implementar Centros de Referência
a partir de julho de 2003 ( neste período teve início o Centro para tratamento da
Doença de Gaucher no HCPA ) com objetivo de dispensar determinados
medicamentos que são utilizados no tratamento de doenças de média e alta
complexidade.
336
Foi entregue à equipe cópia do Termo de Cooperação realizado entre a SES e
o Hospital de Clínicas de Porto Alegre, assinado em 21/06/2004, instrumento
utilizado para disciplinar a relação entre as partes que tem como finalidade o
estabelecimento de ações conjuntas, visando a criação de Centros de Referência
Estadual no hospital, para facilitar aos pacientes o acesso aos medicamentos
excepcionais disponibilizados pela SES. As principais obrigações da SES que
constam neste termo são: disponibilizar os medicamentos especiais e excepcionais
que os pacientes atendidos nos Centros venham a necessitar seguindo os
Protocolos Clínicos e critérios definidos pelo MS e/ou pela SES e gerenciar os
projetos específicos relacionados aos medicamentos ou às doenças que venham a
ser atendidas nestes Centros.
As principais obrigações do HCPA são: disponibilizar a estrutura física
necessária à execução dos objetos do termo, compreendendo setor de ambulatório
e outros que se fizerem necessários, garantir os serviços de apoio à realização das
atividades necessárias tais como higienização e limpeza, segurança, etc. e
disponibilizar seu corpo técnico para atendimento da população beneficiária.
Atualmente existem 11 Centros localizados de acordo com a lista abaixo:
HSP: Hepatite C Interferon Peguilado e Ribavirina;
GHC: Hepatite C Interferon Peguilado e Ribavirina;
HCPA: Dor Crônica Morfina e Metadona;
HCPA: Gaucher Imiglucerase;
HCPA: Dislipidemias Estatinas, Fibratos, Genfibrosila, Ácido Nicotinico
HCPA: Espasticidades e Distonias Toxina Botulínica
HCPA: Crohn Infliximab
HCPA: Alzheimer Donepezil, Galantamina e Rivastigmina
HCPA: Alergia Alimentar Suplementos Alimentares
337
HCPA: Desnutrição Suplementos Alimentares
HCPA: Insuficiência Renal Crônica Eritropoetina
Fonte: CPAF
A Hepatite C, doença causada por um vírus, a longo prazo pode ocasionar
complicações graves como cirrose e insuficiência hepática. A SES possui
cadastrados, no Sistema AME em 31-08-05, 1.906 pacientes com esta doença,
sendo destes 752 tratados com Interferon peguilado. Segundo PCDT (Protocolos
Clínicos e Diretrizes Terapêuticas), existe estimativa que a doença atinja
aproximadamente 1 % da população em geral.
A grande demanda de pedidos de Interferon Peguilado para o tratamento de
portadores de Hepatite C, aliado ao alto custo do medicamento, motivou a SES a
criar Centros de aplicação deste medicamento e acompanhamento dos usuários. O
tratamento com este medicamento, em média, chega a custar R$ 41.856,00, já que
o mesmo dura 48 semanas, aplicações semanais, e considerando o preço médio
das apresentações do Interferon Peguilado ( em julho de 2005, R$ 872,00 ).
A Doença de Gaucher, doença genética rara, com 420 pacientes no Brasil e
apenas 23 pacientes conhecidos no RS (até o ano de 2005), é tratada através de
terapia de reposição enzimática com Imiglucerase, que necessita de aplicação a
cada 15 dias. Este medicamento é uma droga órfã, ou seja, só existe um fabricante
no mundo e possui um custo elevado, aproximadamente R$ 1.775,26 por frasco de
40 ml ( valor de julho/2005 ).
Do total de pacientes no RS, um recusa-se a submeter-se às infusões, 12 são
infundidos no Centro e os demais retiram o medicamento no HCPA ou nos CRSs.
338
Embora apenas 12 pacientes realizem suas infusões no Centro, todos os 22
pacientes que recebem os medicamentos são avaliados no mesmo.
Embora, no ano de 2005, a Imiglucerase fosse comprada pelo MS e enviada
ao RS, o Ministério desconta o valor deste medicamento fornecido ao Estado dos
ressarcimentos mensais relativos a dispensação de medicamentos excepcionais.
Antes da implantação do Centro ( julho /2003 ), eram tratados 19 pacientes e
necessários 400 frascos mensais. No ano de 2005 foram tratados 22 pacientes,
sendo utilizados 238 frascos por mês.
339
10. Lista de medicamentos especiais e excepcionais
Medicamentos Excepcionais
PORTARIA Nº 22/2003 DA SECRETARIA DA SAÚDE DO RS
Nº GENÉRICO / APRESENTAÇÃO INDICAÇÕES
1 Acetazolamida - comp. 250 mg Glaucoma
2 Aciclovir comp. 200mg Antiviral- Infecções Herpéticas
3 Ácido folínico comp. 15 mg Anemia Megaloblástica, antíd.antag.do
Ac. Fólico
4 Ácido ursodesoxicólico - comp. 150 mg Fibrose Cística
5 Alopurinol comp. 100mg Hiperuricemia,gota
6 Amoxacilina+ác.clavulânico susp. oral 250 mg Antimicrobiano-Fibrose Cística
7 Amoxacilina+ác.clavulânico comp. 500 Antimicrobiano-Fibrose Cística
8 Azitromicina cápsula 250 mg Antimicrobiano-Fibrose Cística,
DST/AIDS
9 Azitromicina comp. 250 mg Antimicrobiano-Fibrose Cística,
DST/AIDS
10 Azitromicina susp. oral 600 mg Antimicrobiano-Fibrose Cística,
DST/AIDS
11 Baclofeno comp. 10 mg Antiespástico
12 Bimatoprost solução 0,3 m Glaucoma
13 Brimonidina (tartarato) solução 0,2% Glaucoma
14 Brinzolamida solução 0,1% Glaucoma
15 Bromoprida comp. 10mg Anti-emético, Procinético
16 Bromoprida sol. oral 4 mg/ml Anti-emético, Procinético
17 Carvedilol comp. 3,125 mg Insuficiência Cardíaca
340
18 Carvedilol comp. 12,5 mg Insuficiência Cardíaca
19 Carvedilol comp. 25 mg Insuficiência Cardíaca
20 Cetotifeno xarope 0,2 mg/ml Asma
21 Ciprofloxacina comp. 250 mg Antimicrobiano-Fibrose Cística
22 Claritromicina comp. 250 mg Antimicrobiano - DST/AIDS
23 Claritromicina comp. 500 mg Antimicrobiano - DST/AIDS
24 Clindamicina,cloridrato de comp. 300 mg Antimicrobiano - DST/AIDS
25 Clonazepan comp. 0,5 mg Anticonvulsivante
26 Clonazepan comp. 2 mg Anticonvulsivante
27 Clonazepan solução 2,5 mg/ml Anticonvulsivante
28 Clopidogrel comp. 75 mg Antiagr. Plaq. - Infarto do Mioc.e AVC
29 Colchicina comp. 0,5 mg Hiperuricemia- gota.
30 Colimicina sol. injetável 100 mg Antimicrobiano-Fibrose Cística
31 Colimicina sol. injetável 150 mg Antimicrobiano-Fibrose Cística
32 Colimicina sol. injetável 1mui Antimicrobiano-Fibrose Cística
33 Haloperidol (decanoato) sol. injetável 50mg Antipsicótico
34 Digoxina elixir 0,05 mg/ml Cardiotônico,Insuficiência Cardíaca Infantil
35 Dorzolamida solução 2% Glaucoma
36 Doxazosina (mesilato) solução 2% Hiperplasia Protática
37 Espiramicina comp. 250mg (1,5 mui ) Toxoplasmose na gestação
38 Femprocumona comp. 3 mg Anticoagulante oral
39 Finasterida comp. 5 mg Hiperplasia Protática
40 Fluconazol cápsulas 100 mg Antimicótico - DST/AIDS
41 Fluconazol cápsula 150 mg Antimicótico - DST/AIDS
42 Fluoxetina (cloridrato) comp. 20 mg Antidepressivo
43 Ganciclovir sódico cápsulas 250 mg Antiviral-Infecções por CMV, Transplantes,
AIDS
341
44 Ganciclovir sódico sol. injetável 500 mg Antiviral-Infecções por CMV,
Transplantes,
AIDS
45 Gentamicina sol. injetável 40 mg Antimicrobiano-Fibrose Cística
46 Gentamicina sol. injetável 80 mg Antimicrobiano-Fibrose Cística
47 Gestrinona comp. 2,5 mg Endometriose
48 Gliclazida comp. 80 mg Diabete
49 Heparina de baixo peso molecular sol. injetável Anticoagulante
50 Insulina lispro frasco-ampola 10 ml Diabete
51 Insulina regular frasco-ampola 10 ml Diabete
52 Isoconazol creme 1% (nitrato) Antimicótico-Micoses de pele e Vaginites
em DST/AIDS
53 Itraconazol cápsula 100 mg Antimicótico - DST/AIDS
54 Ivermectina comp. 6 mg Escabiose
55 Lactulose xarope frasco 120 ml Encefalopatia Hepática
56 Lactulose sachês 15 ml Encefalopatia Hepática
57 Lanzoprazol+claritromicina+ amoxicilina
comp 30mg+500mg+500mg Úlcera Péptica por Helicobacter pylori
58 Latanoprost solução 50mcg/ml Glaucoma
59 Loperamida (cloridrato) comprimido 2 mg Antidiarreico - Diarréia aguda, AIDS
60 Metilfenidato (cloridrato) comprimido 10 mg Hiperatividade
61 Metimazol comprimido 5 mg Hipertireodismo
62 Metimazol comprimido 10 mg Hipertireodismo
63 Midazolan (maleato) comprimido 15 mg Sedativo, Hipnótico
64 Montelucaste (sódico) comp. mastigável 5 mg Fibrose Cística
65 Omeprazol cápsula 10 mg Úlcera Péptica, Refluxo
66 Omeprazol cápsula 20 mg Úlcera Péptica, Refluxo
342
67 Oxibutinina comp. 5 mg Incontinência Urinária
68 Oxibutinina xarope 1mg/ml- 120ml Incontinência Urinária
69 Pentoxifilina comp. 400 mg Arteriopatia vascular periférica grave
70 Pilocarpina solução 1%,2% ou 4% Glaucoma
71 Piridostigmina comp. 60 mg Miastenia Gravis
72 Propiltiuracil comp. 100 mg Hipertireodismo
73 Psyllium plantago ovata sachês 5,85 g Constipação Intestinal Grave
74 Sertralina comp. 50 mg Antidepressivo
75 Tetrahidrobiopterina comp. 10 mg Fenilcetonúria com Retardo Mental
76 Tetrahidrobiopterina comp. 50 mg Fenilcetonúria com Retardo Mental
77 Ticlopidina comp. 250 mg Antiplaquetário
78 Timolol solução aquosa 0,25% Glaucoma
79 Timolol solução aquosa 0,5% Glaucoma
80 Timolol gel 0,1% Glaucoma
81 Tioridazina (cloridrato) comp.100 mg Antidepressivo,Transtornos Psicóticos
82 Tramadol cápsula 50 mg Dor Crônica
83 Travaprost solução 0,004% Glaucoma
84 Varfarina (sódica) comp. 5 mg - Anticoagulante Oral
Fonte http//www.saude.rs.gov.br- assistência farmacêutica
Medicamentos Especiais
PORTARIAS Nº 1.318 E 921 DO MINISTÉRIO DA SAÚDE
APRESENTAÇÃO E INDICAÇÕES
1 ACETATO DE CIPROTERONA 50 mg, cx c/20 cp - Disfunções Hipofisárias, ovário
policístico
343
2 ACETATO DE DESMOPRESSINA 0,1 mg/ml fr c/2,5 ml - Diabetes Mellitus
3 ACETATO DE GLATIRAMER 20 mg cx. c 1 amp - Esclerose Múltipla
4 Acetato de Lanreotida - 30 mg - por frasco/ampola - Doenças Hematológicas
5 ACETATO DE LEUPROLIDA 3,75 mg 1 amp - Endometriose, Puberdade precoce
6 ACITRETINA 10 mg cx. c/100 cp - Psoríase
7 ACITRETINA 25 mg cx. c/100 cp - Psoríase
8 ALENDRONATO DE SÓDIO(bifosfonatos) 10 mg cx c/30 cp - Osteoporose
9 ALFACALCIDOL 0,25 mcg cx. c/30 Cp - Osteoporose, insuficiência renal
10 Amantadina 100mg - Parkinson
11 Atorvastatina - 10 mg - por comprimido - Redutor Colesterol
12 Atorvastatina - 20 mg - por comprimido - Redutor Colesterol
13 AZATRIOPRINA 50 mg cx. c/200 cp - Transplante, esclerose, artrite
14 Bezafibrato 200mg - por drágea - hiperlipoproteinemias, Hiperlipidemias
15 Bezafibrato 400mg - por drágea retard - hiperlipoproteinemias, Hiperlipidemias
16 Biperideno - 2 mg - por comprimido - Antiparkinsoniano
17 Biperideno - 4 mg - por comprimido - Antiparkinsoniano
18 Bromidrato de Fenoterol - 0,2mg - 200 doses 15ml - c/adapt -Asma Brônquica
19 Bromidrato de Fenoterol - 2 mg/ml - aerosol - 10 ml + bocal - Asma Brônquica
20 BROMOCRIPTINA 2,5 mg cx. c/28 cp - Parkinson, tumores e disfunções da
hipófise
21 Budesonida - 0,050 mg - aerosol bucal - com 5 ml - 100 doses - Rinite, asma,
alergias respiratórias
22 Budesonida - 0,050 mg - aerosol nasal - com 10 ml - Rinite, asma, alergias
respiratórias
23 Budesonida - 0,200 mg - aerosol bucal - com 5 ml - 100 doses - Rinite, asma,
alergias respiratórias
344
24 Budesonida - 100 mcg - pó inalante - 200 doses - Rinite, asma, alergias
respiratórias
25 Budesonida - 100 mcg - suspensão nasal - 200 doses - Rinite, asma, alergias
respiratórias
26 Budesonida - 200 mcg - cápsula - pó inalante - 60 cp, inal. - Rinite, asma, alergias
respiratórias
27 Budesonida - 200 mcg - cápsula - pó inalante - 60 cp, sem inal - Rinite, asma,
alergias respiratórias
28 Budesonida - 200 mcg - pó inalante - 100 doses - Rinite, asma, alergias
respiratórias
29 Budesonida - 32 mcg - suspensão nasal - 120 doses - Rinite, asma, alergias
respiratórias
30 Budesonida - 50 mcg - suspensão nasal - 200 doses - Rinite, asma, alergias
respiratórias
31 Budesonida - 64 mcg - suspensão nasal - 120 doses - Rinite, asma, alergias
respiratórias
32 Cabergolina - 0,5 mg - por comprimido - Adenomas, hiperprolactinemia,
disfunções hipófise
33 CALCITONINA SINT SALMÃO 100 UI c/5 amp - Osteoporose
34 CALCITONINA SINT SALMÃO 100 UI fr spray nasal - Osteoporose
35 CALCITONINA SINT SALMÃO 200 UI fr spray nasal - Osteoporose
36 CALCITONINA SINT SALMÃO 50 UI c/5amp - Osteoporose
37 CALCITRIOL 0,25 mcg cx c/30 cp - Insuficiência Renal/Osteoporose
38 CICLOSPORINA 10 mg cx. c/60 cp - Transplante, Hepatite autoimune, artrite,
uveites
39 CICLOSPORINA 100 mg cx c/50 cp - Transplante, Hepatite autoimune, artrite,
uveites
345
40 CICLOSPORINA 25 mg cx. c/50 cp - Transplantes,Hepatite
autoimune,artrite,uveites
41 CICLOSPORINA 50 mg cx c/50 cp - Transplantes,Hepatite
autoimune,artrite,uveites
42 CICLOSPORINA sol 100 mg/ml fr c/50 ml - Transplantes,Hepatite autoimune,
artrite,uveites.
43 Ciprofibrato 100mg - Hiperlipidemias
44 Ciprofibrato 360mg - Hiperlipidemias
45 Cloridrato de Ciprofloxacina - 250 mg - por comprimido Inflamações, Infeções
ósseas
46 Cloridrato de Ciprofloxacina - 500 mg - por comprimido - Inflamações, Infeções
ósseas
47 Cloridrato de Metadona - 10 mg - por comprimido - Tratamento da dor aguda
48 Cloridrato de Metadona - 10 mg /ml - injetável - amp 1 ml - Tratamento da dor
aguda
49 Cloridrato de Metadona - 5 mg - por comprimido - Tratamento da dor aguda
50 Cloridrato de Raloxifeno - 60 mg - por comprimido - Osteoporose
51 Cloroquina - 150 mg - por comprimido - Artrite, antimalárico
52 Clozapina - 25 mg - por comprimido - Esquizofrenia Refratária
53 CLOZAPINA 100 mg cx c/30 cp - Esquizofrenia Refratária
54 Comp. Al. para Fenilcetonúricos - Isenta Fenilalanina - lata gr - Fenilcetonúria
55 Comp. Al. para Fenilcetonúricos - Isenta Fenilalanina - lata gr - Fenilcetonúria
56..DANAZOL 100 mg cx. c/50 cp- Endometriose, Imunodeficiências
57 DEFEROXAMINA 500 mg cx. c/10 amp Doenças hematológicas, intoxicação
alumínio
58 Dipropionato de Beclometasona - 250mcg - spray - 200 doses - Profilaxia e
tratamento rinites alérgicas, broncodilatador
346
e asma brônquica
59 Dipropionato de Beclometasona - 400mcg- pó inal- 100 doses - Profilaxia e
tratamento rinites alérgicas, broncodilatador e asma brônquica.
60 Dipropionato de Beclometasona - 50mcg - fr nasal - 200 doses - Profilaxia e
tratamento rinites alérgicas, broncodilatador e asma brônquica.
61 Dipropionato de Beclometasona - 50mcg - fr oral - 200doses - Profilaxia e
tratamento rinites alérgicas, broncodilatador e asma brônquica.
62 Dipropionato de Beclometasona -100mcg - pó inal- 100 doses - Profilaxia e
tratamento rinites alérgicas, broncodilatador e asma brônquica.
63 Dipropionato de Beclometasona -200mcg - pó inal- 100 doses - Profilaxia e
tratamento rinites alérgicas, broncodilatador e asma brônquica
64 DONEPEZIL 10mg - Cp Doença de Alzheimer
65 DONEPEZIL 5mg - Cp Doença de Alzheimer
66 DORNASE ALFA 2,5 mg cx. c/6 amp Fibrose Cística
67 Entacapone - 200 mg - por comprimido Mal de Parkinson
68 ENZIMA PANCREÁTICA (Amilase/Lipase) 4000USP c/250cp - Fibrose Cística,
doenças gástricas
69 ENZIMA PANCREÁTICA 12000USP c/100cp -Fibrose Cística
70 ERITROPOETINA HUM REC. 1 MUI cx. c/6 amp - Insuficiência Renal/Mielomas,
Neoplasias, Aids, Transplantes Renais
71 ERITROPOETINA HUM REC. 2 MUI cx c/6 amp - Insuficiência Renal/Mielomas,
Neoplasias, AIDS, Transplantes Renais
72 ERITROPOETINA HUM REC. 3 MUI cx. c/6 amp - Insuficiência Renal/Mielomas,
Neoplasias, AIDS, Transplantes Renais
73 ERITROPOETINA HUM REC. 4 MUI cx. c/6 amp - Insuficiência Renal/Mielomas,
Neoplasias, AIDS, Transplantes Renais
74 ERITROPOETINA HUM REC.10 MUI cx. c/6 amp - Insuficiência Renal/Mielomas,
347
Neoplasias, AIDS, Transplantes Renais.
75 Etofibrato 500mg indicado como hipolipemiante
76 Fenofibrato 200mg hipercolesterolemia
77 Fenofibrato 250mg hipercolesterolemia
78 FILGRASTIMA 300 mcg cx c/5 amp - Aplasia de medula, AIDS, síndromes
mielobásticas, leucemia linfoide
79 Fludrocortisona - 0,1 mg - por comprimido - Síndrome glândulas adrenal
80 Flutamida - 250 mg - por comprimido - Reposição Hormonal
81 Fluvastatina 20mg - Colesterol
82 Fluvastatina 40mg - Colesterol
83 Fosfato de Codeína - 30 mg - por comprimido - Calmante tosse, Laringites,
faringites, bronquites.
84 Fosfato de Codeína - 30 mg /ml - sol oral - por fr com 120 ml - Calmante tosse,
Laringites, faringites, bronquites
85 Fosfato de Codeína - 30 mg/ml - por ampola com 2 ml - Calmante tosse,
Laringites, faringites, bronquites
86 Fosfato de Codeína - 60 mg - por comprimido - Calmante tosse, Laringites,
faringites, bronquites
87 Fumarato de Formoterol - 12 mcg - aerosol - 5 ml - 50 jatos - Asma brônquica,
bronquite crônica, enfisema
88 Fumarato de Formoterol - 12 mcg - cápsula - com 30 cp pó inal - Asma
brônquica, bronquite crônica, enfisema
89 Fumarato de Formoterol - 12 mcg - cápsula - com 60 cp pó inal - Asma
brônquica, bronquite crônica, enfisema
90 Fumarato de Formoterol - 12 mcg - cp - com 30 cáp pó inal - Asma brônquica,
bronquite crônica, enfisema
348
91 Fumarato de Formoterol - 12 mcg - cp - com 60 cp pó inal. - Asma brônquica,
bronquite crônica, enfisema
92 Fumarato de Formoterol - 12 mcg - pó inalante - 60 doses - Asma brônquica,
bronquite crônica, enfisema 3 Fumarato de Formoterol - 6 mcg - pó inalante - 60
doses - Asma brônquica, bronquite crônica, enfisema
94 Fumarato de Formoterol 12 mcg+Budesonida 200mcg pó inalatório 60 doses –
Asma Grave.
95 Fumarato de Formoterol 12 mcg+Budesonida 400mcg pó inalatório - 60 doses –
Asma Grave
96 Fumarato de Formoterol- 6 mcg + Budesonida- 100mcg- pó inal- 60 doses Asma
brônquica, bronquite crônica, enfisema
97 Fumarato de Formoterol- 6 mcg + Budesonida- 200mcg- pó inal- 60 doses Asma
brônquica, bronquite crônica, enfisema
98 Gabapentina - 300 mg - por comprimido - Dor neuropática, crises convulsivantes,
antiepilético
99 Gabapentina - 400 mg - por comprimido - Dor neuropática, crises convulsivantes,
antiepilético
100 Genfibrato (Genfibrozila) 600mg - cápsulas ou comprimidos -
Hipocolesterolemiante
101 Genfibrato (Genfibrozila) 900mg - cápsulas ou comprimidos -
Hipocolesterolemiante.
102 Goserelina - 10,80 mg - injetável - por seringa pronta para administração-
Endometriose, miomas, puberdade precoce.
103 GOSERELINA 3,6 mg cx c/1 amp - Endometriose, miomas, puberdade precoce.
104 Hidrocloreto de Sevelamer - 400 mg - por comprimido - Doenças hematológicas,
intoxicação alumínio, ins. Renal crônica.
349
105 Hidrocloreto de Sevelamer - 800 mg - por comprimido - Doenças hematológicas,
intoxicação alumínio, ins. Renal crônica .
106 HIDRÓXIDO DE FERRO ENDOVENOSO - Insuficiência Renal, anemias
107 Hidroxiuréia - 500 mg - por cápsula - Doença falciforme, AIDS
108 IMIGLUCERASE 200 UI - Doença de Gaucher .
109 Imunoglobulina da Hepatite B - 100 mg - injetável - por frasco - Hepatite B,
Transplantes Fígado
110 Imunoglobulina da Hepatite B - 1000 mg - injetável - por frasco - Hepatite B,
Transplantes Fígado
111 Imunoglobulina da Hepatite B - 200 mg - injetável - por frasco - Hepatite B,
Transplantes Fígado
112 Imunoglobulina da Hepatite B - 500 mg - injetável - por frasco - Hepatite B,
Transplantes Fígado
113 IMUNOGLOBULINA HUM. INTR 5 ou 6 g - amp - Imunodeficiências, púrpura
idiopática, anemias hemolíticas
114 IMUNOGLOBULINA HUM. INTR. 3g - amp - Imunodeficiências, púrpura
idiopática, anemias hemolíticas
115 IMUNOGLOBULINA HUM. INTR. 2,5g - amp - Imunodeficiências, púrpura
idiopática, anemias hemolíticas
116 Infliximab - 10 mg - injetável - por ampola de 1 ml - Artrite reumatóide, doenças
gástricas 117 Interferon Alfa - Peguilado – por trat./paciente/mês - Hepatite C
118 INTERFERON alfa 2a 2b 3 MUI cx. c/1 amp - Hemangiomas, Hepatite B, C,
Sarcoma de Kaposi, Carcinoma Renal, Leucemia mielóide, AIDS
119 INTERFERON alfa 2a 9 MUI/2b 10 MUI cx. c/ 1 amp -Hemangiomas, Hepatite
B, C, Sarcoma de Kaposi, Carcinoma Renal,
Leucemia mielóide, AIDS
350
120 INTERFERON alfa 2a/2b 4,5/5,0 MUI cx. c/ 1 amp - Hemangiomas, Hepatite B,
C, Sarcoma de Kaposi, Carcinoma Renal, Leucemia mielóide, AIDS.
121 Interferon Beta 1a - 12 MUI (44 mcg) - injetável -seringa pré-preenchida –
Esclerose Múltipla
122 Interferon Beta 1a - 6 MUI (22 mcg) - injetável -seringa pré-preenchida –
Esclerose Múltipla.
123 INTERFERON beta 1a 3 MUI cx. c/3amp - Esclerose Múltipla
124 Interferon Beta 1a- 6 MUI (30 mcg)-fr/am inj. intra+diluente+serin/agul-fr/am
Esclerose Múltipla
125 INTERFERON beta 1b 9,6 MUI cx c/15amp - Esclerose Múltipla
126 ISOTRETINOÍNA 20mg - Cp - Acne Severa
127 ISOTRETINOÍNA 10mg - Cp - Acne Severa
128 Lamivudina - 10 mg/ml - solução oral - frasco com 254 ml - AIDS, Hepatites
129 Lamivudina - 100 mg - por comprimido - AIDS, Hepatites
130 LAMOTRIGINA 100 mg - cx. c/30 cp - Espasmos infantil, síndrome epiléticas
131 Leflunomide - 100 mg - por comprimido - Artrite reumatóide.
132 Leflunomide - 20 mg - por comprimido - Artrite reumatóide.
133 Levodopa - 100mg + Benserazida - 25mg - Lib. Lenta Disp. Cp Mal de
Parkinson
134 Levodopa - 200 mg + Benserazida - 50 mg - por Cp - Mal de Parkinson
135 Levodopa - 200mg + Carbidopa - 50mg - Lib. Lenta ou Disp. Cp- Mal de
Parkinson
136 Levodopa - 250 mg + Carbidopa - 25 mg - por comprimido - Mal de Parkinson
137 Levotiroxina Sódica - 100 mcg - por comprimido - Hipotireoidismo
138 Levotiroxina Sódica - 150 mcg - por comprimido - Hipotireoidismo
139 Levotiroxina Sódica - 25 mcg - por comprimido - Hipotireoidismo
140 Levotiroxina Sódica - 50 mcg - por comprimido - Hipotireoidismo
351
141 Lovastatina 10mg - Disfunção focal
142 Lovastatina 20mg - Disfunção focal
143 Lovastatina 40mg - Disfunção focal
144 Mesalazina - 1000 mg - supositório - por supositório - Retocolites, doenças
chron, anti-inflamatório intestinal, úlceras idiopáticas.
145 Mesalazina - 250 mg - supositório - por supositório - Retocolites, doenças chron,
antiinflamatório intestinal, úlceras idiopáticas
146 Mesalazina - 3 g + diluente 100 ml (enema) - por dose - Retocolites, doenças
chron, anti-inflamatório intestinal, úlceras idiopáticas.
147 Mesalazina - 400 mg - por comprimido - Retocolites, doenças chron, anti-
inflamatório intestinal, úlceras idiopáticas.
148 Mesalazina - 500 mg - por comprimido - Retocolites, doenças chron, anti-
inflamatório intestinal, úlceras idiopáticas.
149 Metilprednisolona - 500 mg - injetável - por ampola Distúrbios endocrinológicos,
reumáticos, hematológicos, gástricos.
150 Metotrexato - 25 mg/ml - injetável - por ampola de 2 ml - Artrite reumatóide
151 Metotrexato - 25 mg/ml - injetável - por ampola de 20 ml - Artrite reumatóide
152 MICOFENOLATO MOFETIL 500 mg cx. c/ 50 cp Transplante de órgãos
153 MOLGRAMOSTIMA 300 mcg cx. c/1 amp - Anemia hemolítica, aplasia medula,
síndrome mieloblástica
154 OCTREOTIDA 0,1 mg/ml cx. c/ 5 amp - Acromegalias, tumores hipófise e
gastroenteropancreáticas
155 OCTREOTIDA LAR 10 mg amp -Acromegalias, tumores hipófise e
gastroenteropancreáticas
156 OCTREOTIDA LAR 20 mg amp - Acromegalias, tumores hipófise e
gastroenteropancreáticas
352
157 OCTREOTIDA LAR 30 mg amp - Acromegalias, tumores hipófise e
gastroenteropancreáticas
158 OLANZAPINA 10 mg - Esquizofrenia
159 OLANZAPINA 5 mg - Esquizofrenia
160 PENICILAMINA 250 mg cx. c/50 cp - Esclerose Sistêmica, doença Wilson,
esclerodermia sistêmica
161 Pergolida - 0,25 mg - por comprimido – Antiparkinsoniano.
162 Pergolida - 1 mg - por comprimido - Antiparkinsoniano
163 Pramipexol - 0,125 mg - por comprimido - Antiparkinsoniano
164 Pramipexol - 0,25 mg - por comprimido - Antiparkinsoniano
165 Pramipexol - 1 mg - por comprimido - Antiparkinsoniano
166 Pravastatina - 10 mg - por comprimido - Redutor colesterol/prevenção AVC
167 Pravastatina - 20 mg - por comprimido - Redutor colesterol/prevenção AVC
168 Pravastatina - 40 mg - por comprimido - Redutor colesterol/prevenção AVC
169 Quetiapina - 200 mg - por comprimido - Esquizofrenia
170 QUETIAPINA 100 mg - Cp - Esquizofrenia
171 QUETIAPINA 25 mg – Cp- Esquizofrenia
172 RIBAVIRINA 250 mg cx c/ 60 ou c/ 500 cápsulas- Hepatite B e C
173 Riluzol - 50 mg - por comprimido - Esclerose lateral amiotrófica
174 RISPERIDONA 1 mg - Psicoses esquizofrênicas agudas e crônicas
175 RISPERIDONA 2 mg - Psicoses esquizofrênicas agudas e crônicas
176 RISPERIDONA 3 mg - Psicoses esquizofrênicas agudas e crônicas
177 RIVASTIGMINA 1,5mg – Cp- Mal de Alzheimer
178 RIVASTIGMINA 3mg - Cp - Mal de Alzheimer
179 RIVASTIGMINA 4,5mg - Cp - Mal de Alzheimer
180 RIVASTIGMINA 6mg – Cp- Mal de Alzheimer
181 RIVASTIGMINA SOL. ORAL 2,0mg/ml -Mal de Alzheimer
353
182 Selegilina - 10 mg - por comprimido - Mal de Parkinson
183 Selegilina - 5 mg - por comprimido - Mal de Parkinson
184 Sinvastatina - 10 mg - por comprimido - Redutor colesterol/prevenção AVC
185 Sinvastatina - 20 mg - por comprimido - Redutor colesterol/prevenção AVC
186 Sinvastatina - 40 mg - por comprimido - Redutor colesterol/prevenção AVC
187 Sinvastatina - 5 mg - por comprimido -Redutor colesterol/prevenção AVC
188 Sinvastatina - 80 mg - por comprimido - Redutor colesterol/prevenção AVC
189 SIROLIMUS sol oral 1mg/ml - por ml - Tranplante renal
190 SOMATOTROFINA REC. HUM (horm cresc.) 4 UI/amp - Nanismo hipofisário,
Síndrome de Turner
191 SULFASALAZINA 500 mg - cx. c/60 cp - Artrite, retocolite, doença Crohn
192 Sulfato de Hidroxicloroquina - 400 mg - por comprimido -Artrite, Lúpus
eritomatoso, antimalárico.
193 Sulfato de Morfina 10 mg por comprimido - Indicado para alívio da dor
194 Sulfato de Morfina - 10 mg /ml - por ampola com 1 ml - Indicado para alívio da
dor
195 Sulfato de Morfina - 10 mg/ml - sol. oral - por fr com 60 ml - Indicado para alívio
da dor
196 Sulfato de Morfina - 30 mg - por comprimido - Indicado para alívio da dor
197 Sulfato de Morfina LC - 100 mg - por cápsula - Indicado para alívio da dor
198 Sulfato de Morfina LC - 30 mg - por cápsula - Indicado para alívio da dor
199 Sulfato de Morfina LC - 60 mg - por cápsula - Indicado para alívio da dor.
200 Sulfato de Salbutamol - 100 mcg - dose - aerosol 200 doses - Asma,
broncodilatador
201 TACROLIMUS 1 mg cx. c/ 100 cápsulas -Transplante de órgãos
202 TACROLIMUS 5 mg cx. c/ 50 cápsulas - Transplante de órgãos
203 Tolcapone - 100 mg - por comprimido - Mal de Parkinson
354
204 Tolcapone - 200 mg - por comprimido - Mal de Parkinson
205 Topiramato - 100 mg - por comprimido - Crises Epiléticas
206 Topiramato - 25 mg - por comprimido - Crises Epiléticas
207 Topiramato - 50 mg - por comprimido - Crises Epiléticas
208 TOXINA BOTULINICA 100 UI amp - Distonias blefaroespástica, espasticidades,
AVC
209 TOXINA BOTULINICA 500 UI amp - Distonias blefaroespástica, espasticidades,
AVC
210 Trientina - 250 mg - por comprimido - Disfunções gástricas
211 Triexifenidila - 5 mg - por comprimido - Mal de Parkinson
212 TRIPTORELINA 3,75 mg cx. c/1 amp - Endometriose, puberdade precoce
213 VIGABATRINA 500 mg cx c/60 cp - Espasmos infantil, síndrome epiléticas
214 Xinafoato de Salmeterol - 50 mcg - pó inalante - 60 doses - Bronquite, enfisema,
asma
215 Ziprasidona - 40 mg - por comprimido - Esquizofrenia
216 Ziprasidona - 80 mg - por comprimido - Esquizofrenia
Fonte: http//www.saude.rs.gov.br- assistência farmacêutica
355
11. Gastos em saúde
Objeto da criação da Subcomissão, a falta de medicamentos de uso especial e
contínuo, possui diferentes causas e efeitos. Nesse sentido, não podemos nos
afastar da análise orçamentária da Secretaria da Saúde e os gastos no programa
específico Assistência Farmacêutica nos últimos anos.
Fazendo uma breve análise das previsões orçamentárias dos anos de 2002 a
2006, vimos que a dotação inicial prevista é muito superior ao efetivamente
executado. A diferença é ainda maior quando analisamos os valores empenhados
(compromisso de pagamento para posterior liquidação), os valores liquidados
(obrigação de pagamento) com os valores efetivamente pagos pela Secretaria de
Saúde, acumulando em restos a pagar para os exercícios posteriores, conforme a
tabela:
Órgão: Secretaria da Saúde
Projeto: Assistência Farmacêutica
EXERCÍCIO DOTAÇÃO
INICIAL
EMPENHADO LIQUIDADO PAGO
2002 63.335.253,00 39.061.976,08 26.376.768,67 3.472.361,2
4
Órgão: Secretaria da Saúde
Projeto: Assistência Farmacêutica
EXERCÍCIO DOTAÇÃO
INICIAL
EMPENHADO LIQUIDADO PAGO
2003 81.014.500,00 68.216.205,20 68.216.205,20 25.519.713,9
2
356
Órgão: Secretaria da Saúde
Projeto: Fornecimento de Medicamentos de Alto Custo para os Usuários
EXERCÍCIO DOTAÇÃO
INICIAL
EMPENHADO LIQUIDADO PAGO
2004 129.566.551,00 100.737.355,8
2
100.318.797,2
4
47.436.586,3
4
Órgão: Secretaria da Saúde
Projeto: Fornecimento de Medicamentos de Alto Custo para os Usuários
EXERCÍCIO DOTAÇÃO
INICIAL
EMPENHADO LIQUIDADO PAGO
2005 125.467.522,00 108.045.926,3
7
108.045.926,3
7
55.108.677,2
4
Órgão: Secretaria da Saúde
Projeto: Fornecimento de Medicamentos de Alto Custo para os Usuários
EXERCÍCIO DOTAÇÃO
INICIAL
EMPENHADO LIQUIDADO PAGO
2006 178.759.434,00 99.563.461,74 99.563.461,74 22.205.226,2
0
- Comparativo dotação orçamentária ano a ano:
EXERCÍCIO DOTAÇÃO (R$) DIFERENÇA ANO%2002 63.335.253,00 -2003 81.014.500,00 + 27,9%2004 129.566.551,00 + 59,9%2005 125.467.522,00 - 3,1%2006 178.759.434,00 +42,4%
357
Portanto, verificamos que nos últimos cinco anos houve significativo incremento
de dotações no que concerne ao fornecimento de medicamentos, a exceção do ano
de 2005, onde houve decréscimo de 3,1%. Do ano de 2002 até o ano de 2006 a
dotação orçamentária inicial prevista para atendimento ao projeto de assistência
farmacêutica cresceu 127%.
O aumento das dotações é resultado direto do aumento no fornecimento de
medicamentos e consequentemente do maior número de usuários atendidos pela
Secretaria Estadual de Saúde.
Em que pese a previsão orçamentária de mais de 178 milhões de reais em
2006, para fornecimento de medicamentos de alto custo para os usuários, a
execução do orçamento está muito aquém disso. Só para se ter uma idéia, em
2002, a dotação inicial foi de R$ 63.335.253,00, entretanto foram pagos somente
3.472.361,24, deixando em restos a pagar R$22.904.407,43.
Vejamos a tabela de dotações iniciais em comparação com os valores pagos
nos últimos cinco anos:
EXERCÍCIO DOTAÇÃO
INICIAL
PAGO PORCENTAGEM PAGA
2002 63.335.253,00 3.472.361,24 5,4%2003 81.014.500,00 25.519.713,92 31,5%2004 129.566.551,00 47.436.586,34 36,6%2005 125.467.522,00 55.108.677,24 43,9%2006 178.759.434,00 22.205.226,20 12,4%
Podemos verificar na tabela acima que o Estado reiteradamente não vem
cumprindo a previsão orçamentária, com gastos muito abaixo daquele inicialmente
orçado. No último ano, por exemplo, foram pagos apenas 12,4% do total previsto no
orçamento para o fornecimento de medicamentos de alto custo.
358
- Plano Plurianual 2008-2011
O PPA aprovado recentemente na Assembléia Legislativa destina R$ 8,9
bilhões em recursos para área da Saúde, sendo que, só para o Programa
Assistência Farmacêutica o aporte de recursos seria de R$ 702.123.000,00. O
programa tem como objetivos atualizar meios de avaliação e controle, possibilitando
o planejamento das ações, otimizando o trabalho dos profissionais da assistência
farmacêutica para atender os usuários de medicamentos, conforme critérios
estabelecidos pelos protocolos clínicos e diretrizes terapêuticas.
O programa Assistência Farmacêutica está dividido em seis diferentes
indicadores de desempenho, conforme segue:
INDICADOR DE DESEMPENHO UNIDADE
MEDIDA
ÍNDICE
RECENTE
ÍNDICE
DESEJAD
OAtendimento da demanda de
dispensação de medicamentos
especial/excepcional
% 57 100
Avaliação e orientação dos
municípios para a utilização do
Sistema de Acompanhamento do
Incentivo à assistência Farmacêutica
Básica (SIFAB)
% 11 100
Cumprimento das determinações
judiciais com entrega dos
medicamentos
% 55 100
Distribuição anual de medicamentos Medicamento
(milhar)/ ano
108.000 470.000
Produção anual de medicamentos Un.Farmac êuti 26.400 300.000
359
ca (milhar) /
anoTempo decorrido entre a solicitação
e o atendimento dos processos
administrativos
Dia 50 20
As metas previstas nos índices desejados aos indicadores do PPA possui
números bastante otimistas. Os índices desejados relativos ao atendimento da
demanda de dispensação de medicamentos e o cumprimento de determinações
judiciais praticamente dobram, o que significa o atendimento integral aos usuários.
O índice desejado relativo à produção de medicamentos no PPA é, ainda,
mais otimista. Claro que este índice esta associado a obras de reforma e ampliação
do Laboratório Farmacêutico do Estado (LAFERGS), ação já prevista no plano,
destinando recursos da ordem de R$ 1.600.000,00. Estima-se, com a conclusão
desta ação, a produção de aproximadamente 300 mil medicamentos /ano, muito
acima do índice recente, fixado em 26 mil por ano.
O programa Assistência Farmacêutica possui como sua principal ação o
Gerenciamento de Medicamentos Excepcionais, Especiais e de Ações Judiciais.
Esta ação é responsável por 87% do total de recursos previstos para o programa de
Assistência Farmacêutica. Serão destinados R$ 612.155.000,00, nos próximos
quatro anos para as seguintes ações:
- gerenciar e planejar a aquisição de medicamentos;
- implementar e expandir os Centros de Referência no Estado;
- aprimorar a logística de distribuição de medicamentos;
- aprimorar a execução cadastral dos processos administrativos, observando o
uso racional dos medicamentos e critérios farmacoeconômicos;
360
- coordenar e acompanhar as demandas dos processos judiciais, subsidiando o
Estado nas ações judiciais através das evidências científicas e dos Protocolos
Clínicos e Diretrizes Terapêuticas do Ministério da Saúde.
Pode-se concluir que sendo o PPA uma ferramenta de planejamento e gestão
e analisando o objeto do programa de Assistência Farmacêutica, os indicadores, os
índices desejados, em conjunto com ações, especialmente a de Gerenciamento de
Medicamentos Excepcionais/Especiais e Demandas Judicias podemos verificar
importantes avanços.
A falta de medicamentos de uso especial e contínuo se dá por falta de
recursos? Podemos dizer que sim, mas existem outros fatores determinantes para
que o medicamento não cheguem às mãos dos usuários que necessitam dos
medicamentos.
Não podemos nos privar de abordar o não execução dos orçamentos previstos
para área da saúde nos últimos anos. Sabemos que este tema tem sido amplamente
debatido pela sociedade gaúcha, e não queremos aqui ser o fiel da balança, mas
com os dados de que dispomos, não precisamos fazer nenhum cálculo aritmético
para descobrir que o problema central não está apenas na falta de dotação
orçamentária, mas sim na execução. E é esta execução orçamentária que encontra-
se muito distante do atendimento integral das prerrogativas constitucionais1
1 Vários dados deste relatório foram obtidos junto ao Tribunal de Contas do Estado, no Relatório Final de Auditoria Operacional, sob o nº 010971-0200/05-6 (www.tce.rs.gov.br) e também junto à Secretaria da Fazenda (www.sefaz.rs.gov.br).
361
12. Encaminhamentos
Em face do exposto até o presente momento, a Subcomissão de
Medicamentos de Uso Especial e Contínuo vem apresentar os seguintes
encaminhamentos ao Gestor da Secretária de Estado de Saúde e ao CPAF
(Coordenação da Política de Assistência Farmacêutica):
a) realizar padronização de procedimentos preventivos quanto à perda de
validade dos medicamentos, executando controle rigoroso para que não
haja desperdício;
362
b) atuar no sentido de estimular a adesão e utilização do Sistema de
Administração de Medicamentos (AME), implantando, de forma definitiva o
sistema;
c) retomar a produção de medicamentos e das pesquisas de novas
formulações pelo LAFERGS, que hoje está em reformas, visando a
retomada de suas atividades anteriores incluindo, também, uma nova lista
de medicamentos onde constem medicamentos especiais;
d) realizar avaliação de viabiliadade de implantação de novos Centros de
Referência, considerando a estrutura hospitalar pública e privada, estudos
epidemológicos e demandas por medicamentos;
e) atuar de forma cooperativa no sentido de aperfeiçoar os recursos humanos
dos municípios, tais como, contratação de pessoal especializado, cursos de
atualização e capacitação de servidores, visando melhorias na qualidade de
dispensação de medicamentos,
f) avaliar uma maneira de implementar programa que compatibilize as
informações dos Sistemas de Administração de Medicamentos e o de
Administração de estoques, com as informações financeiras e demais
informações porventura existentes;
g) adotar rotinas padronizadas para todas as Coordenadorias Regionais de
Saúde, para que as informações constantes no Sistema de Administração
de Estoques sejam reproduzidas de forma fiel;
h) atuar para evitar a perda dos recursos advindos do ressarcimento do
Governo Federal (com os medicamentos excepcionais), através do correto
preenchimento e da atualização constante das APAC ( Autorização para
Procedimentos de Alta Complexidade);
i) cumprir fielmente a execução orçamentária, com o consequente aumento
de recursos para a compra de medicamentos;
363
j) cumprir o calendário de pagamento ajustado com os fornecedores, evitando
o acúmulo de dívidas e a possível interrupção no fornecimento dos
medicamentos pelos laboratórios e
k) evitar o desperdício de medicamentos através da correta indicação de
doses aos pacientes, através do uso adequado e abrangente dos
Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas (PCDT).
Encaminhamentos sugeridos pela Associação dos Portadores de Lúpus do
Vale dos Sinos, através do Ofício 03/2007 (em anexo):
a) contratação imediata, por parte do Governo do Estado, de mais médicos
peritos para a avaliação dos processos de solicitação de medicamentos de
uso especial e contínuo;
b) inclusão de bloqueadores solares na lista de medicamentos especiais;
c) maior atenção dos medicos quanto ao preenchimento do formulário de
solicitação dos medicamentos especiais, especialmente o SID e
d) inclusão, na lista de medicamentos de uso especial e contínuo, os
seguintes remédios: CLORABUCIL e CICLOFOSFAMIDA.