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A LINGUAGEM JURDICA EM DEBATE:
uma questo sociolingstica1
Profa. Dra. Patrcia Fabiane Amaral da Cunha Lacerda
RESUMO Este artigo tem o objetivo de discutir a linguagem jurdica sob uma perspectiva sociolingstica. O que se pretende, portanto, debater como muitos operadores do Direito ainda utilizam uma linguagem extremamente elaborada, que dificilmente compreendida pelo cidado comum. PALAVRAS-CHAVE: Linguagem Jurdica; Sociolingstica; Redao Forense.
INTRODUO
O uso da linguagem na rea jurdica tem sido alvo de debates e controvrsias ao longo do
tempo. Uma questo que tem gerado muita polmica a utilizao de uma linguagem
demasiadamente elaborada. O que se percebe, com muita freqncia, um uso da lngua
extremamente dissociado da realidade. A presena excessiva de latinismos e de um vocabulrio
que escapa compreenso dos leigos tem sido constante.
Opondo-se a essa perspectiva, encontramos, por exemplo, o trabalho que vem sendo
realizado pela AMB Associao dos Magistrados Brasileiros com o objetivo de discutir o papel
que a linguagem forense exerce no contexto social. De acordo com a AMB, a linguagem jurdica
deve atender a uma funo claramente social, permitindo que qualquer cidado seja capaz de
compreend-la. Para a entidade, o uso de uma linguagem mais simples, direta e objetiva, nos
tribunais e nas faculdades de Direito, est entre os grandes desafios para que o Poder Judicirio
se aproxime mais dos cidados (ASSOCIAO DOS MAGISTRADOS BRASILEIROS, 2005).
A questo se que interpe aqui , portanto, a confuso que se tem operado entre o uso de
uma linguagem tcnica e o uso de uma linguagem rebuscada. A presena de uma linguagem
tcnica algo extremamente comum a qualquer cincia ou rea do conhecimento. Assim como,
por exemplo, a medicina ou a informtica possuem um vocabulrio bastante especfico, natural
que a linguagem jurdica apresente tambm um jargo, ou seja, uma linguagem que reflita
eminentemente a prtica forense. Todavia, o que se tem percebido uma exacerbao desse
tecnicismo, visto que o uso de uma linguagem demasiadamente especfica acaba atuando como
fator de distanciamento entre o Direito e o cidado comum. Nesse contexto, observam-se
freqentemente sentenas cujo teor no possvel que as partes conheam sem a interferncia
1 CUNHA LACERDA, P. F. A. da . A linguagem jurdica em debate: uma questo sociolingstica. Revista Estao
Cientfica, v. 1, p. 11-25, 2007.
.
de seu advogado. Essa incompreenso na leitura da pea decorre quase sempre do abuso de
termos jurdicos obsoletos, que acabam refletindo a manifesta exacerbao estilstica realizada
por muitos juristas.
Com a inteno de aprofundar esta questo, discutiremos neste artigo a funo social da
linguagem, demonstrando que a simplificao da linguagem jurdica no deve ser tratada
simplesmente como uma proposta a ser implantada. Na verdade, o que pretendemos evidenciar
que a lngua, sendo um fenmeno de natureza eminentemente social, deve estar sempre
relacionada a seu contexto de uso, adequando-se situao comunicativa e aos interlocutores.
Sob essa perspectiva, analisaremos primeiramente a lngua sob a tica da sociolingstica
variacionista. nosso objetivo apresentar a lngua como uma realidade heterognea e social,
destacando sua adequao constante ao contexto de uso e aos interlocutores.
Posteriormente, discutiremos mais detidamente o uso da linguagem no contexto jurdico.
Nesse sentido, iremos avaliar o que tem sido proposto como simplificao da linguagem jurdica.
Como veremos, a questo que se interpe no simplesmente abolir a tecnicidade intrnseca ao
contexto forense ou transgredir a norma culta da lngua portuguesa. Na realidade, o que se
prope somente a conscincia de que a lngua, sendo uma realidade heterognea e social,
constitui-se de uma dinamicidade que lhe peculiar e deve, pois, se adequar aos interlocutores
com a inteno de garantir o princpio mximo da comunicabilidade.
1. LNGUA: UMA REALIDADE HETEROGNEA E SOCIAL
A lngua no utilizada de forma homognea por todos os seus falantes. O uso de uma
lngua varia de poca para poca, de regio para regio, de classe social para classe social e
assim por diante. Nem individualmente podemos afirmar que o uso seja uniforme. Dependendo
da situao, uma mesma pessoa pode usar diferentes variedades de uma s forma da lngua.
Os processos de mudana lingstica indicam que as lnguas se encontram, no decurso
tempo, em um constante fluxo de transformao, isto , as lnguas humanas no constituem
realidades estticas e homogneas. Sendo assim, estruturas e palavras que existiam em uma
determinada poca no ocorrem mais ou, ento, tm sua forma, sua funo ou seu significado
modificados.
Embora esse fenmeno seja uma realidade que caracterize qualquer lngua, os falantes
no conseguem perceber sua dinamicidade, j que toda mudana se apresenta como um
processo lento e gradual, que nunca atinge a lngua, em sua totalidade, de uma s vez. A
configurao histrica de qualquer lngua constri-se, pois, a partir de um complexo jogo de
manuteno e permanncia, reforando a imagem de estabilidade que os falantes, geralmente,
tm a seu respeito (cf. CUNHA, 2007).
Com o advento da Sociolingstica, no final da dcada de sessenta, consolidou-se a
concepo de que existe uma relao intrnseca entre lngua e sociedade. Encontramos em
Labov (1972) a fundamentao dessa relao, juntamente a um modelo analtico que visava
possibilidade de sistematizar a variao existente na lngua falada.
Assumindo a tarefa de estudar a covariao sistemtica da estrutura lingstica e da
estrutura social ou, at mesmo, uma relao de causalidade entre essas dimenses (BRIGHT,
1974:17; BYNON, 1977:199), a sociolingstica pde promover um redirecionamento dos estudos
lingsticos, tratando a lngua como um sistema heterogneo. A posio da sociolingstica em
relao ao tratamento da mudana lingstica vem a ser nitidamente contrria aos modelos tanto
do estruturalismo como do gerativismo, uma vez que ela no exclui os fatores scio-histricos na
compreenso central da mudana lingstica (cf. MATTOS E SILVA, 1999).
Sob essa perspectiva, a variao lingstica pode ser percebida sob quatro diferentes
perspectivas, a saber: a) a variao diacrnica; b) a variao diatpica; c) a variao diastrtica;
c) a variao diafsica.
Entende-se por variao diacrnica (do grego: dia + khronos = "atravs de" + "tempo") as
mudanas pelas quais a lngua passa ao longo do tempo. Como a lngua um fenmeno de
natureza eminentemente social, natural que, assim como a sociedade, ela se modifique como o
tempo. A mudana lingstica est relacionada, assim, ao (des)aparecimento de palavras e s
alteraes fonticas, morfo-sintticas e semnticas.
Por sua vez, a variao diatpica (do grego: dia + topos = "atravs de" + "lugar") est
relacionada variao da lngua de acordo com o espao. Isto quer dizer que a lngua apresenta,
de acordo com a regio, uma grande variabilidade. Essa variao da lngua de acordo com a
regio est diretamente ligada a fatores scio-histricos, tais como fluxos migratrios e contatos
lingsticos. A variao diatpica pode facilmente ser percebida por qualquer falante brasileiro,
visto que o Brasil, um pas de dimenso continental, apresenta uma grande variao no uso da
lngua de acordo com a regio. No caso do Brasil, essa questo fica ainda mais latente, j que o
contato lingstico vivenciado aqui envolveu a lngua portuguesa trazida pelos colonizadores
lusitanos, as lnguas indgenas, as lnguas africanas, alm das lnguas faladas pelos imigrantes
que provieram das mais diversas regies do mundo, tais como franceses, italianos, poloneses,
japoneses, alemes etc.
J a variao diastrtica (do grego: dia + stratos = "atravs de" + "nvel") compreende
fatores de natureza social, tais como nvel de escolaridade, idade e sexo do falante. A linguagem
, portanto, influenciada diretamente pela estrutura social. De acordo com Le Page (1980), a
linguagem o ndice por excelncia da identidade, e as escolhas lingsticas esto intimamente
associadas s mltiplas dimenses constitutivas da identidade social e aos mltiplos papis
sociais que o usurio assume na comunidade de fala.
Por fim, a variao diafsica (do grego: dia + phasis = "atravs de" + "discurso") refere-se
s diferenas observadas na fala de um mesmo indivduo, de acordo com a situao
comunicativa em que ele se encontra, ou seja, so diferenas lingsticas determinadas pelas
condies extra-verbais que cercam o ato de fala, como, por exemplo, o assunto tratado, o tipo de
ouvinte, a relao entre os interlocutores, o estado emocional do falante, o grau de formalidade
do discurso.
Vemos, pois, que a lngua dinmica e que comporta uma grande multiplicidade de
variedades lingsticas. Nesse contexto, cabe sociolingstica a funo de demonstrar como
cada variedade lingstica desde a mais formal at a menos formal est diretamente
relacionada ao contexto de uso.
2. UMA BREVE NOTA SOBRE O FORMALISMO DA LINGUAGEM FORENSE
Arrudo (2005) aponta, de forma bastante clara, os exageros que tm sido cometidos por
muitos operadores do Direito. Segundo ela, os textos jurdicos contam em demasia com a
presena de palavras e expresses que so acessveis somente queles que integram a rea.
Nesse caso, muito comum a utilizao de vocbulos considerados rebuscados em vez de
palavras que j fazem parte do repertrio lingstico de qualquer falante da lngua. Ou seja,
muitos operadores do Direito optam por utilizar palavras que no so de conhecimento do
cidado comum quando existem, para os mesmos contextos de uso, outros vocbulos de fcil
compreenso por qualquer usurio da lngua em particular.
Com o propsito de ilustrar esse extremo formalismo, a autora aponta exemplos de
expresses que, com bastante freqncia, tm estado presentes na rea jurdica:
Tabela I Termos que caracterizam a linguagem jurdica de acordo com Arrudo (2005)
Glossrio usado correntemente nos tribunais e em peas jurdicas
Significado dos vocbulos
Abroquelar Fundamentar
Apelo extremo Recurso extraordinrio
Arepago Tribunal
Autarquia Ancilar Instituto Nacional de Previdncia Social
Crtula chquica Folha de talo de cheques
Com espeque no artigo Com base no artigo
Com fincas no artigo Com base no artigo
Com supedneo no artigo Com base no artigo
Consorte suprstite Vivo(a)
Digesto obreiro Consolidao das leis do trabalho (CLT)
Diploma provisrio Medida provisria
Ergstulo pblico Cadeia
Estipndio funcional Salrio
Estribado no artigo Com base no artigo
Egrgio Pretrio Supremo Supremo Tribunal Federal
Excelso Sodalcio Supremo Tribunal Federal
Exordial Petio Inicial
Fulcro Fundamento
Indigitado Ru
Pea incoativa Petio Inicial
Pea increpatria Petio Inicial
Pea-ovo Petio Inicial
Pea vestibular Petio Inicial
Proemial delatria Denncia
Remdio herico Mandado de segurana
A partir desses exemplos, percebemos que a linguagem usada por muitos juristas pode ser
considerada um dos fatores responsveis pelo distanciamento entre a justia e o cidado comum.
A esse respeito, vejamos o que afirma MELO (2007):
o desenvolvimento da tcnica jurdica fez com que surgissem termos no-usuais para os leigos. A linguagem jurdica, no entanto, no mais hermtica para o leigo que qualquer outra linguagem cientfica ou tcnica. A esto, apenas para exemplificar, a medicina, a matemtica e a informtica com seus termos to peculiares e to esotricos quanto os do Direito. Ocorre que o desenvolvimento da cincia jurdica se cristalizou em instrumentos e instituies cujo uso reiterado e cuja preciso exigiam termos prprios: servido, novao, sub-rogao, enfiteuse, fideicomisso, retrovenda, evico, distrato, curatela, concusso, litispendncia, aqestros (esta a forma oficial), etc. so termos sintticos que traduzem um amplo contedo jurdico, de emprego forado para um entendimento rpido e uniforme. O que se critica, e com razo, o rebuscamento gratuito, oco, balofo, expediente muitas vezes providencial para disfarar a pobreza das idias e a inconsistncia dos argumentos. O Direito deve sempre ser expresso num idioma bem-feito; conceitualmente preciso, formalmente elegante, discreto e funcional. A arte do jurista declarar cristalinamente o Direito.
Como ainda destaca Arrudo (2005), a perpetuao do juridiqus no Brasil pode ter uma
explicao de carter sociolgico, uma vez que o texto jurdico praticamente ilegvel uma
caracterstica tipicamente brasileira. Segundo ela, basta comparar textos jurdicos produzidos no
Brasil com textos produzidos na Espanha ou em Portugal, aps a queda do franquismo e do
salazarismo, para se perceber que os textos produzidos nestes pases utilizam a linguagem de
forma mais clara e objetiva, sempre com a inteno de permitir a compreenso do maior
nmero possvel de destinatrios. Na Espanha e em Portugal, teria ocorrido, nesse sentido, uma
democratizao da palavra, coincidente com a prpria redemocratizao poltica.
No caso do Brasil, h, portanto, um grande paradoxo entre a linguagem utilizada e a
funo social que caracteriza a rea jurdica. Como sabemos, o Direito encontra-se inserido na
vida social, tendo como funo primordial regular condutas que podem comprometer os
interesses fundamentais e primrios do homem: sua vida, sua famlia, sua propriedade, sua
integridade fsica. Entretanto, o que percebe constantemente o uso de uma linguagem que
distancia e que, por vezes, at mesmo segrega quem no pertece rea jurdica.
3. DISCUTINDO A LINGUAGEM JURDICA
Quando se discute o excessivo rebuscamento da linguagem jurdica, o que comumente se
percebe so juzos de valor e consideraes pautadas apenas na observao. De um modo
geral, no so comuns trabalhos que tratem sistematicamente essa questo sob uma perspectiva
lingstica, ou seja, h uma carncia de trabalhos que analisem a linguagem jurdica como parte
integrante da relao linguagem/sociedade.
Essa , portanto, a inteno deste trabalho, j que pretendemos confirmar que o
importante para a redao forense no a presena de uma linguagem sofisticada, mas sim a
clareza, a conciso e a consistncia dos argumentos utilizados (cf. SOUZA et al., 2006).
necessrio enfatizar, entretanto, que no se deve confundir a presena de uma linguagem mais
simples e direta com a transgresso norma culta ou com o abandono do jargo tcnico da rea
jurdica. Tanto o padro formal da lngua quanto a linguagem tcnica so imprescindveis aos
textos elaborados na rea jurdica, como em qualquer cincia.
Se, por um lado, a norma culta deve ser respeitada e o jargo jurdico necessrio, por
outro lado, o que se observa um exagero no tecnicismo e nas escolhas lexicais, visto que os
termos jurdicos se tornam, na maior parte das vezes, um desafio para os leigos. A esse respeito,
Souza et al. (2006:3) afirmam o seguinte:
quem no for da rea jurdica ter srias dificuldades em entender termos tcnicos, especficos, inclusive, na maioria das vezes, j ultrapassados, trazidos do Direito Romano, h sculos. Tal estilo rebuscado, apelidado de juridiqus, em vez de permitir o entendimento sobre o assunto, bloqueia qualquer possibilidade de conhecimento.
Esse distanciamento entre o cidado comum e o Direito no inerente
contemporaneidade. H muitos sculos, os juristas tm avaliado e discutido como o uso de uma
linguagem extremamente rebuscada impede que os cidados, de um modo geral, compreendam
efetivamente a norma jurdica. De acordo com Crcova (1998:14), existe, portanto, uma
opacidade na linguagem jurdica, visto que entre o Direito e o seu destinatrio existiria uma
barreira opaca que os distanciaria, impossibilitando que o cidado comum, diante da prtica
jurdica, compreenda seus processos e instrumentos. Sob essa perspectiva, um dos principais
fatores propulsores dessa no-compreenso do cidado comum em relao ao texto legal a
presena macia de arcasmos lingsticos, vocbulos exageradamente hermticos e
preciosismos vazios de significao.
Voltamos aqui, ento, questo do tecnicismo da linguagem jurdica. importante deixar
claro que o que se critica no a presena de uma linguagem tcnica na rea do Direito, j que
toda profisso apresenta termos tcnicos que so compreendidos, na maioria das vezes, apenas
por profissionais da rea. A crtica feita ao apego de muitos juristas ao preciosismo e ao
rebuscamento gratuitos na redao forense.
Com base no escopo terico-metodolgico da sociolingstica, outra questo merece
destaque: a mutabilidade da linguagem. Como ressalta Lvy-Bruhl (1988:29), o Direito no pode
desprezar o carter mutvel que acompanha toda a sociedade seja, de maneira geral, nos
indivduos que a compem, seja, de maneira mais especfica, na linguagem que utilizam. Sendo
assim, parece incoerente que no haja, por parte de muitos operadores do Direito, a conscincia
de que a linguagem jurdica deve acompanhar seu tempo. fundamental, nesse sentido, que a
linguagem jurdica no priviligie em demasia um lxico demasiadamente arcaico e construes
sintticas reconhecidamente obsoletas.
Sob essa perspectiva, a AMB Associao dos Magistrados Brasileiros lanou, no ano
de 2005, uma campanha voltada para para simplificar a linguagem jurdica utilizada por
magistrados, advogados, promotores e outros operadores da rea. Para a entidade, a
reeducao lingstica nos tribunais e nas faculdades de Direito, com o uso de uma linguagem
mais simples, direta e objetiva, est entre os grandes desafios para que o Poder Judicirio fique
mais prximo dos cidados (ASSOCIAO DOS MAGISTRADOS BRASILEIROS, 2005). A
campanha teve como foco inicial os estudantes de Direito. Por meio de palestras, a associao
divulgou a iniciativa em quatro Estados brasileiros (Rio de Janeiro, So Paulo, Minas Gerais e
Paran) e no Distrito Federal. Outra iniciativa foi o lanamento de um manual que contivesse
alguns termos e expresses que no so acessveis ao cidado comum e sua respectiva
traduo.
CONCLUSO
Analisando mais detidamente a linguagem jurdica, comprovamos a existncia de um
apego extremo a uma linguagem extremamente formal por parte de muitos operadores do Direito.
Esse formalismo, caracterizado pelo uso de palavras e expresses que no integram o lxico do
cidado comum, acaba atuando, na maioria da vezes, como um entrave ao acesso justia.
Nesse contexto, procuramos demonstrar, a partir do escopo terico da Sociolingstica,
que a lngua deve sempre se adequar ao contexto de uso, tendo como funo primordial atender
aos interlocutores e exercer o princpio bsico da comunicabilidade.
A linguagem jurdica deve primar, portanto, pela clareza e pela coerncia, a partir do uso
da norma culta da lngua e da consistncia dos argumentos utilizados. Dessa forma, sem abdicar
do uso de termos tcnicos, que so fundamentais a qualquer rea do conhecimento, devem os
operadores do Direito, quando possvel, evitar termos e expresses que no so acessveis ao
cidado comum, privilegiando os vocbulos que integram o lxico de qualquer falante da lngua,
pertencente ou no rea jurdica.
Uma forma de alcanar esse objetivo seria, nesse sentido, a existncia de propostas como
a da AMB Associao dos Magistrados Brasileiros , que visem, por exemplo, elaborao de
cartilhas e manuais que promovam uma maior proximidade entre a rea jurdica e os cidados
comuns.
Sob essa perspectiva, fica claro que a iniciativa de utilizar uma linguagem mais acessvel
deve ser realizada, de forma sistmtica, tanto pelos juristas que j exercem a prtica forense h
algum tempo como, principalmente, por todos os novos profissionais que se graduam a cada ano
nas universidades do pas. O objetivo, pois, deve ser garantir que o Direito exera, de forma
efetiva, sua funo social atravs de uma linguagem que no se restrinja ao conhecimento de
poucos.
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