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1 A LINGUÍSTICA DO SÉCULO XIX Os textos a seguir são um apanhado de materiais resenhados a partir (principalmente) de Koerner (1983) e Morpurgo-Davies (1992). Em boa parte, são “esquemões”, mas em parte estão organizados como texto. 1. Definição de (linguística) comparativa: a. Contrastiva: o mero estabelecimento de diferenças significativas nos sistemas e formas de duas línguas, em geral um exercício feito com objetivos práticos pelo professor ou aprendiz de uma língua estrangeira. b. Comparativa: objetiva um cálculo de similitude linguística entre inventários e funções de categorias em uma variedade de línguas. 2. O objetivo desse cálculo é estabelecer uma ou mais das seguintes congruências: a. a tipológica (ou estirpe-T) permite a distribuição em classes de acordo com os modelos generalizados de como os sistemas fonológicos, morfológicos, sintáticos e semânticos operam; b. a evolucionária (ou estirpe-E) conduz primeiro a demonstrações de mudanças específicas em formas efetivas dentro de uma língua ou entre línguas diferentes, e daí a teoremas universas no desenvolvimento das línguas; c. a genética (ou estirpe-G) conduz a afirmações sobre a “genealogia” das línguas, os movimentos geográficos dos seus falantes no passado e mesmo sobre a natureza de suas sociedades mais antigas. OS AUTORES ADELUNG, Johann-Cristoph (1732-1806). Filho de um pastor luterano, estudou teologia na Universidade de Halle. Foi bibliotecário do ducado de Gotha e do reino da Saxônia (em Leipzig), e redator do Leipzige Zeitung. Publicou a Grammatisch-kritisches Wörterbuch der Hochdeutschen Mundart (1773-1801) e Mithridates, oder allgemeine Sprachenkunde (1806). SCHLEGEL, August. (1808) A sabedoria e a língua dos indianos. (alguns trechos) A antiga língua indiana, Sonscrito [sic], isto é, a moldada 1 ou perfeita, e gronthon, o dialeto empregado na escrita e na literatura, tem a maior afinidade com o grego e o latim bem como com as línguas persas e alemã. Essa semelhança ou afinidade não existe apenas nas numerosas raízes que são comuns a elas [a todas essas línguas], mas se estendem também à gramática e estrutura interna; nem é tal semelhança uma circunstância casual facilmente explicável pela intermiscigenação das línguas; é um elemento essencial claramente indicado uma origem comum. Já está provado há muito tempo que o indiano é o mais antigo e a fonte da quais as outras de origme mais recente se são derivadas. A afinidade da língua indiana com o armênio, o esclavônio e o céltico é, ao contrário, muito desimportante em comparação com a notável uniformidade de outras línguas que se supõe serem derivadas deste tronco[linhagem]. Ainda essa conexão, por mais 1 Schlegel utilizou gebildete, cuja tradução mais imediata seria formada, que eu preferi traduzir por moldada, porque a questão principal é que o sânscrito foi reconfigurado a fim de se conformar a uma forma (ou molde) mais regular.

A LINGUÍSTICA DO SÉCULO XIX - BLOGDOMÁRCIO · Devido ao fato de que o sânscrito era extremamente antigo, ele deveria ser a fonte de todas as línguas indo-europeias (ainda não

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A LINGUÍSTICA DO SÉCULO XIX Os textos a seguir são um apanhado de materiais resenhados a partir (principalmente) de Koerner (1983) e Morpurgo-Davies (1992). Em boa parte, são “esquemões”, mas em parte estão organizados como texto.

1. Definição de (linguística) comparativa:

a. Contrastiva: o mero estabelecimento de diferenças significativas nos

sistemas e formas de duas línguas, em geral um exercício feito com

objetivos práticos pelo professor ou aprendiz de uma língua estrangeira.

b. Comparativa: objetiva um cálculo de similitude linguística entre inventários

e funções de categorias em uma variedade de línguas.

2. O objetivo desse cálculo é estabelecer uma ou mais das seguintes congruências:

a. a tipológica (ou estirpe-T) permite a distribuição em classes de acordo com

os modelos generalizados de como os sistemas fonológicos, morfológicos,

sintáticos e semânticos operam;

b. a evolucionária (ou estirpe-E) conduz primeiro a demonstrações de

mudanças específicas em formas efetivas dentro de uma língua ou entre

línguas diferentes, e daí a teoremas universas no desenvolvimento das

línguas;

c. a genética (ou estirpe-G) conduz a afirmações sobre a “genealogia” das

línguas, os movimentos geográficos dos seus falantes no passado e mesmo

sobre a natureza de suas sociedades mais antigas.

OS AUTORES

ADELUNG, Johann-Cristoph (1732-1806). Filho de um pastor luterano, estudou teologia

na Universidade de Halle. Foi bibliotecário do ducado de Gotha e do reino da Saxônia (em

Leipzig), e redator do Leipzige Zeitung. Publicou a Grammatisch-kritisches Wörterbuch der

Hochdeutschen Mundart (1773-1801) e Mithridates, oder allgemeine Sprachenkunde (1806).

SCHLEGEL, August. (1808) A sabedoria e a língua dos indianos. (alguns trechos)

A antiga língua indiana, Sonscrito [sic], isto é, a moldada1 ou perfeita, e gronthon, o

dialeto empregado na escrita e na literatura, tem a maior afinidade com o grego e o latim

bem como com as línguas persas e alemã. Essa semelhança ou afinidade não existe apenas

nas numerosas raízes que são comuns a elas [a todas essas línguas], mas se estendem

também à gramática e estrutura interna; nem é tal semelhança uma circunstância casual

facilmente explicável pela intermiscigenação das línguas; é um elemento essencial

claramente indicado uma origem comum. Já está provado há muito tempo que o indiano é

o mais antigo e a fonte da quais as outras de origme mais recente se são derivadas.

A afinidade da língua indiana com o armênio, o esclavônio e o céltico é, ao

contrário, muito desimportante em comparação com a notável uniformidade de outras

línguas que se supõe serem derivadas deste tronco[linhagem]. Ainda essa conexão, por mais

1 Schlegel utilizou gebildete, cuja tradução mais imediata seria formada, que eu preferi traduzir por

moldada, porque a questão principal é que o sânscrito foi reconfigurado a fim de se conformar a uma forma (ou molde) mais regular.

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insignificante que seja, não deve ser completamente sobrelevada, uma vez que ao

classificarmos tais línguas descobrimos muitos pontos de semelhança na construção de

algumas das formas gramaticais que não podem ser numeradas entre as casualidades a que

cada língua foi exposta, mas antes pertencem a suas estruturas e organização internas.

Raízes indiana spodem ser encontradas no copta e em muitos dialetos pertencentes à língua

hebraica; ainda essas formas devem ter sido merameente o resultado da intermiscigenação e

não provam qualquer conexão de origem. A gramática dessa língua e do basco são

fundamentalmente diferentes do indiano.

Não existe relação entre o ramo indiano e a grandemente indefinida variedade de

línguas do norte e do sul da Ásia e da América. A construção gramatical desses dialetos

difere essencialmente do indiano; e embora uma similaridade de construção é aparente em

alguns pontos particulares, as raízes são completamente diferentes, que parece impossível

referir-se a elas como provenientes de uma mesma fonte.

A grande importância do estudo comparativo da língua(gem), ao elucidar a origem

histórica e o progresso das nações e suas antigas migrações e suas antigas andanças, acabará

por revelar um assunto de investigação na sequência. Deverá ser nosso cuidado, neste

primeiro livro, o de estabelecer a verdade das opiniões assertadas através dos simples mas

evidentes resultados de investigação escrupulosa.

Schlegel reconheceu dois tipos de línguas:

línguas “orgânicas”, com flexão, como o céltico e o sânscrito

línguas “mecânicas”, com partículas (chinês, “americano”)

Schlegel considerava coisas orgânicas superiores a coisas mecânicas.

Devido ao fato de que o sânscrito era extremamente antigo, ele deveria ser a fonte de

todas as línguas indo-europeias (ainda não conhecidas por esse nome).

HUMBOLDT, Alexander (1767-1835)

Escreveu sobre a língua Kawi, na Indonésia, que é interessante porque apresenta

palavras sânscritas em uma gramática malaia. O seu livro Sobre a diversidade da estrutura

linguística humana e sua influência no desenvolvimento mental da humanidade pretendia ser uma

introdução à gramática do Kawi.

“Na linguagem, tal como ela efetivamente aparece no homem, dois princípios

constitutivos podem ser distintos: a forma linguística interior (pela qual eu entendo não um

poder/força especial, mas a capacidade mental inteira, tal como a envolvida na formação e

uso da língua, e assim meramente uma tendência); e o som, que depende da constituição

dos órgãos e que está baseado no que já está disponível.”

Do ponto de vista de Humboldt, o método comparativo concernia muito à parte

mecânica da língua, ou seja, o som.

Linguagem é uma atividade (energeia) não um produto (ergon):

“é o trabalho mental continuamente repetido de produzir som capaz de expressar

pensamento [...] a língua(gem) propriamente reside no ato de sua real produção.”

Ao mesmo tempo, a forma sonora da língua é baseada no que já está disponível; desta

forma a “atividade mental que, como foi explicada acima, produz a expressão do

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pensamento e é sempre direcionada algo que já está dado; ela não é puramente criativa, mas

é uma atividade remodeladora.”

Todas as línguas foram criadas pelo povo ou nação que as utiliza.

“As palavras subirão livremente do peito, sem necessidade ou um intento forçado, e

não poderá haver nenhuma horda errante em qualquer deserto que não tenha já suas

canções próprias. Porque o homem, como espéice, é uma criatura cantante, ainda que as

notas, no seu caso, estejam acopladas ao pensamento.”

[...]

“Linguagem e o dom intelectual, na sua interação constante, não admitem separação, e

mesmo destinos históricos não podem ser tão independentes da natureza interna dos

povos e indivíduos, pois toda a conexão está longe de ser evidente a nós em todos os seus

aspectos.”

[...]

“A linguagem é o órgão formativo do pensamento. A atividade intelectual,

inteiramente mental, inteiramente interna e que, sem manifestação interna, acontece sem

deixar um traço, se torna som, externalizado na fala e perceptível aos sentidos. Pensamento

e língua são, dessa forma, um e inseparáveis um do outro. Mas o primeiro está

intrisecamente ligado à necessidade de entrar em união com o som verbal, de maneira que

não pode atingir clareza de outra forma, nem a ideia tornar-se um conceito.”

[...]

“Uma vez que a disposição natural a linguagem é universal no homem, e cada um deve

possuir a chave para o entendimento de todas as línguas, disso segue-se automaticamente

que a forma de todas as línguas deve ser essencialmente a mesma e sempre atingir o seu

propósito universal. A diferença deve residir apenas nos meios e apenas dentro dos limites

permitidos para o atingimento do objetivo.”

[...]

“uma forma deve ser descartada, de todas aquelas imagináveis que coincidam com os

objetivos da língua, e nós devemos ser hábeis para julgar os méritos e defeitos das línguas

existentes pelo grau com que elas se aproximam dessa forma.”

RASMUS CHRISTIAN RASK (*Brændekilde (ilha Fünen), 22.11.1787 - †Copenhague,

14.11.1832) De família pobre, estudou na Universidade de Copenhague mas nunca terminou seus

estudos. Passou dois anos na Islândia (então possessão dinamarquesa) e viajou por diversos países,

incluindo Índia e Ceilão, com longas paradas em Estocolmo e São Petersburgo. Sofria de doenças

físicas e mentais e enfrentou sérias dificuldades como professor de história da literatura e

bibliotecário assistente na Universidade de Copenhague, assumindo a cadeira de línguas orientais

bem pouco tempo antes de sua morte. Deixou uma série de concisas gramáticas de várias línguas

clássicas e modernas (1811, nórdico antigo; 1818, anglo-saxão; 1824, espanhol; 1825, frísio; 1827,

italiano; 1830, dinamarquês; 1832, lapão e inglês). Em 1814 escreveu o ensaio Undersøgelse om det

gamle Nordiske eller Islandske Sprogs Oprindelse (Investigação acerca da origem da língua nórdica antiga ou

islandesa), em que expões algumas de suas ideias. Para Rask, o estudo da etimologia não poderia ser

feito baseado em uma única língua, sendo necessária a comparação de línguas aparentadas para a

restauração das formas mais antigas. Línguas são aparentadas quando compartilham um

vocabulário básico e a constante permutação entre as “letras” de uma e de outra pode ser

explicitamente apresentada. Similaridades gramaticais, no entanto, são o melhor indicativo desse

parentesco. Rask reconheceu o parentesco das línguas „góticas‟ com as eslavas, as bálticas, o latim e

o grego, concluindo que todas elas derivariam de um tronco „trácio‟. Neste tronco, ele não situou o

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basco, o céltico (posição que ele reveria até o fim da vida), o fino-úgrico e o esquimó. Não tendo a

conexão com o trabalho de Schlegel, ele desconsiderou totalmente o sânscrito.

A posição de Hjelmslev é a de que Rask não era um comparativista, nem mesmo um

linguista histórico. Estando fora do maistream teórico e cultural do Romantismo, e por seu

minucioso trabalho de pesquisa, seu trabalho é mais uma gramaire générale empirique. Suas

classificações das línguas em famílias são mais tipológicas do que propriamente genealógicas.

Apesar de, para ele, como para Bopp, as línguas fossem organismos e o seu método de estudo fosse

a ciência natural, seu objetivo era mais uma classificação estática como a de Lineu. Similarmente,

Rask não compartilhava a crença romântica de que a língua emerge do Volksgeist (espírito do povo).

FRANZ BOPP (*Mainz, 14.09.1791 – †Berlin, 23.10.1867). Bopp estudou na Karls-Universität,

em Aschaffenburg, cidade onde morava e já em 1815 havia lido o texto seminal de Schlegel e estava

estudando sânscrito em Paris. Aclamado ainda no início da sua longa carreira como o fundador da

linguística histórico-comparativa. Em 1821, tornou-se professor da cadeira de sânscrito da

Universidade de Berlin. O Sistema de Conjugação, de 1816, é considerado o início da linguística

histórico-comparativa como método. Em 1833, ele publicou a primeira edição da sua Vergleichende

Grammatik, da qual sairia ainda mais duas edições antes da sua morte.

Bopp estabeleceu de maneira definitiva o parentesco do armênio (na primeira edição da

Gramática Comparada, em 1833) e das línguas célticas com as línguas indo-europeias (1838), bem

como do albanês (1854), mas erroneamente viu um parentesco entre as línguas malaio-polinésias e

as indo-europeias, muito provavelmente baseado em aportes do vocabulário sânscrito para essas

línguas (1840). A discussão metodológica é rara na obra de Bopp, em geral o método emerge do

trabalho de comparação, sem necessidade de qualquer explicação. O primeiro passo é a

segmentação morfêmica (Zergliederung); as raízes devem ser separadas das inflexões: afixos,

terminações, etc. Isso é feito primeiramente de maneira sincrônica, em que ele expõe, em uma

extensão bastante limitada, alguma de suas assunções mais gerais.

No início do Sistema de Conjugação, ele dá como auto-evidente o parentesco entre as línguas

arroladas no título e parte direto para a análise dos dados. Ele define verbo como “a parte da fala

pela qual o sujeito é ligado a seu atributo”, definição que em si não tem nada de novo e remete às

gramáticas arrazoadas da tradição cartesiana. Mas, ao identificar em potest uma raiz pot- “capaz”, es-

“ser” e –t “ele”, Bopp demonstra que essa definição não se sustenta apenas do ponto de vista

lógico, mas também do ponto de vista histórico. O livro pretende demonstrar que, nos estágios

mais antigos da língua, as formas verbais surgiram da junção (nós diríamos hoje aglutinação) de

raízes que carregavam os significados básicos com outros segmentos autônomos. Assim, a

terminação de futuro –so, do grego (paideúo fut. paideúso), reflete-se no latim eso “serei” e no optativo

sânscrito sya-m “oxalá eu seja”. Similarmente, as desinências de primeira pessoa –m e terceira pessoa

–t dos verbos gregos, latinos e sânscritos remetem aos pronomes de primeira pessoa (cf. me, meu,

mim) e terceira pessoa (gr. dem.art. tó, port. is-to).

Atualmente, a noção de que todos os verbos indo-europeus se originam de cópula + atributo não é

sustentada, ao menos não do ponto de vista histórico. Por outro lado, a ideia geral de que as formas

verbais indo-europeias descendem da aglutinação de antigas formas autônomas ainda é uma

hipótese sustentada por grande parte dos indo-europeístas. Adrados (Manual de lingüística indo-europea)

encara as terminações de pessoa das línguas indo-europeias como aglutinação; algumas formas

verbais latinas, como as formas do infectum (amabam “amava”; amabo “amarei”) refletem uma raiz bhe-,

que aparece formando os perfeitos de īre e esse: fui, fuit), e também em formas do verbo cópula nas

línguas germânicas: ing. to be, al. ich bin, du bist).

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Na Vegleichende Grammatik o alcance almejado é ainda mais amplo: o livro pretende a descrição geral

do “organismo” das línguas listadas, mas também tem como objetivo proceder uma investigação

das suas leis “físicas e mecânicas” na direção da origem das formas que indicam relação gramatical.

Por outro lado, nenhuma consideração será feita para entender o mistério das raízes – por que ī-

significa “ir” e sta- significa “ficar” e não sta- “ir” e ī- “ficar”. Segue-se, após umas poucas notas

sobre a fonologia das várias línguas, uma análise estritamente morfológica organizada da maneira

tradicional: casos nominais, comparativos e superlativos, pronomes, verbos, formação de palavras.

Cada morfema é discutido língua por língua, com o objetivo de identificar e, se possível, explicar a

forma original. A vastidão do empreendimento é única; nenhuma análise translinguística viria a ser

tentada desde então nesse nível de detalhe.

A contribuição de Boop foi importante sob dois pontos de vista:

linguística histórico comparativa, em que Bopp é encarado como um dos mais

importantes fundadores da linguística como uma disciplina séria;

linguística geral, em que Bopp é encarado como alguém que desviou a linguística da

sua trilha cartesiana.

Ainda que muitos historiadores nos informem que Bopp foi profundamente

influenciado por Descartes e os pensadores do Iluminismo.

Em contraposição a Humboldt, que via a linguagem como o órgão do pensamento,

Bopp via as línguas como organismos, no sentido de organismos que mudam de forma ao

longo do tempo (como os seres vivos individualmente, ou as espécies).

A linguística era comparável às ciências naturais, do ponto de vista de que não havia

regras sem exceções.

“Suas partes [i.e. da língua] são os membros de um organismo. Reconhecer suas

funções significa estabelecer sua importância original.”

“Natureza interior” um organismo tem alguma coisa que une as partes formando uma

unidade.

O sânscrito não é a língua de onde as demais tiveram a sua origem, apenas é a

descendente mais próxima da fonte.

Nós podemos reconstruir essa língua-fonte através da comparação das línguas de

acordo com as leis naturais que se aplicam às suas estruturas gramaticais.

Bopp não acredita na existência de “línguas orgânicas”, como Schlegel, porque ele não

encontrou nenhuma evidência para tal. Para ele a flexão é sempre resultado de aglutinação:

“Eu apoio totalmente a opinião, caro senhor, de que todas as línguas possuem apenas

um pouco de flexão real. Até o momento, eu apenas reconheço duas flexões em sânsctito,

a saber: a vogal da raiz e a reduplicação; todo o resto eu tomo por composição... a divisão

de F. Schlegel das línguas em orgânicas e mecânicas não tem fundamento e eu trabalhei

duro para provar o oposto. [Bopp a Humboldt]

“O sr. provou completamente que [a divisão entre línguas orgânicas e mecânicas] é um

equiívoco que provém de um entendimento incompleto da língua, como eu sempre

acreditei”. [Humboldt a Bopp]

Muitas raízes em línguas indo-europeias mais antigas eram monossilábicas. Bopp

acreditava que essa era uma indicação de que a língua original tinha uma relação 1:1 entre

sílaba e significado.

A pesquisa linguística terá, então, três tarefas:

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i. a descrição de todas as línguas individuais e o retrato do organismo linguístico que

emerge

ii. a investigação das leis mecânicas e físicas que explicam a mudança linguística

iii. a reconstução do estado original da língua

1816. Über das Conjugationssystem der Sanskritsprache in Vergleichung mit jenem der

griechischen, lateinischen, persischen und germanischen Sprache: Nebst Episoden des Ramajan und Mahabharat und einigen Abschnitten aus den Vedas. Andreae. 1833-52. Vergleichende Grammatik des Sanskrit, Send, [Armenischen], Griechischen,

Lateinischen, Litthauischen, [Altslawischen], Gothischen und Deutschen. 6 Abtheilungen.

Berlin: F. Dümmler, xviii, 1511 pp. (2nd rev. and enl. ed., 3 vols., 1857-61, with an index vol.

comp. by Carl Arend, ibid., 1863; 3rd ed., 1868-71; repr., Bonn: F. Dümmler, 1971.)1838. "Die

celtischen Sprachen in ihrem Verhältnisse zum Sanskrit, Zend, Griechischen, Lateinischen,

Littauischen und Slawischen". Abhandlungen der Koniglich-Preussischen Akademie der

Wissenschaften; Philologische und historische Classe 1839.187-272. (Also separately, Berlin: F.

Dümmler, 1839, 88 pp. in-4 .)

1840. "Über die Verwandtschaft der malayisch-polynesischen Sprachen mit den indisch-

europäischen". Ibid. 1842.171-246. (Separate publication, Berlin: F. Dümmler, 1841, 164pp.;

repr. in Bopp 1972.235-310.)

1854. "Über das Albanesische in seinen verwandtschaftlichen Beziehungen". Abhandlungen der

Koniglichen Akademie der Wissenschaften 1854-55. (Separate publication, Berlin: J. A.

Stargardt, 1855, 92 pp.)

JAKOB GRIMM (*Hanau, 04.01.1785 - †Berlin, 20.09.1863)

Suas influências foram, além do trabalho de Schlegel e do Conjugationssystem, a Grammaire de la langue des troubadours, de François Raynouard (1767-1836), mas ele também conhecia e admirava o trabalho de Rask e é provavelmente de uma descrição do islandês de 1811, de Rask, que ele obteve a parte principal do seu conhecimento da fonética do germânico antigo. Grimm publicou, em 1812, uma resenha desse texto.

Obras de Jacob Grimm*

1812. Review of Rask (1811). Allgemeine Literatur-Zeitung (Halle), Nos.31-34 (5-8 Feb. 1812),

cols. 241-248, 249-254, 257-264, and 265-270. [Repr. in Kleinere Schriften 4 (1869), 65-73 and

7 (1884), 515-530.]

1813. "Nachtrag zu Benecke's Abhandlung über eine vorzüglich der älteren deutschen Sprache

eigenen Gebrauch des Umlautes". Altdeutsche Walder (Kassel) 1.168-173.

1819. Deutsche Grammatik. Vol.I. Göttingen: Dieterich'sche Buchhandlung. [2nded., 1822; 3rd

ed., 1840.]

1822. Deutsche Grammatik. Vol.I, 2nd entirely recast ed. Ibid. [Phonology.]

1825. Review of Rasmus Rask, Frisisk Sproglare (Copenhagen: Beeken, 1825), Gottingische

Gelehrte Anzeigen (1825), Nos.9-12, 81-107. [Repr. in Kleinere Schriften 4 (1869), 361-376.]

1826. Deutsche Grammatik. Vol.II. Göttingen: Dieterich'sche Buchhandlung.

1831. Deutsche Grammatik. Vol.III. Ibid. [Morphology, together with vol.IL]

1837. Deutsche Grammatik. Vol.IV. Ibid. [Syntax of the simple sentence.]

1846a. "Über die wechselseitigen beziehungen und die Verbindung von drei in Versammlung

vertretenen wissenschaften". Verhandlungen der Germanisten zu Frankfurt am Main am 24., 25.

und 26. September 1846 (Frankfurt/Main, 1847), 11-18. [Repr. in KleinereSchriften 7 (1884),

556-563.]

1846b. "Über den wert der ungenauen wissenschaften". Ibid., 58-62. [Repr. in Kleinere

Schriften 7 (1884), 563-566.]

1848. Geschichte der deutschen Sprache. 2 vols. Leipzig: Weidmann. (2nd rev. ed., Leipzig: S.

Hirzel, 1853; 3rd ed., 1868; 4th ed., 1880 [repr., Hildesheim: G. Olms, 1970].)

1851. "Über den Ursprung der Sprache. Gelesen in der Academie am 9. Januar 1851". (=

Abhandlungen der Koniglich [-Preussisch]en Akademie der Wissenschaften zu Berlin;

7

Philologisch-historische Klasse, 1851, 32:2.) Berlin: F. Dümmler, 38 pp. in-40. (2nd ed., 1852,

56 pp. in-8°; 5th ed., 1862.) [Repr. in Kleinere Schriften 1 (1864), 255-98, and in Reden in der

Akademie (1984), 64-100. -- English transl. by Raymond A. Wiley as On the Origin of

Language (Leiden: E. J. Brill, 1984), pp.1-27.]

1864-84. Kleinere Schriften. Ed. by Karl Müllenhoff [vols. 1-5 (1864-71)] and Eduard Ippel

[vols. 6-7 (1882-84)], 7 vols., Berlin: F. Dümmler. [Vol. 8: Vorreden, Zeitgeschichtliches und

Personliches, ed. by E. Ippel (Berlin & Gütersloh: Bertelsmann, 1890). - Repr., Hildesheim:

G. Olms, 1965-1966.]

1870-98. Deutsche Grammatik. Ed. by Wilhelm Scherer, Gustav Roethe & Edward Schröder. 4

vols. Berlin & Gütersloh: C. Bertelsmann. [Repr., Hildesheim: G.Olms, 1967.]

1961. Vorreden zum Deutschen Worterbuch, Bd. I und II [1854 and 1860]. Mit einem Vorwort

von Wilhelm Schoof. Darmstadt: Wissenschaftliche Buchgesellschaft.

1968. Vorreden zur Deutschen Grammatik von 1819 und 1822. Mit einem Vorwort zum

Neudruck von Hugo Steger. Ibid.

A expansão da disciplina (após Bopp, Rask e Grimm):

Exploração do método comparativo para outras famílias de línguas:

o Línguas altaicas, com W. Schott (1850)

o Dravidiano, R. Caldwell (1856)

o Sino-tibetano, R. Lipsius (1861)

o Melanésio, Hans Conon von Gabelentz (1861-73)

o Bantu, com W.H.I Bleek (1862)

No âmbito das línguas indo-europeias:

o Línguas Românicas, com Dietz (1836-44)

o Línguas Eslavas, com Miklosich (1852-74)

o Línguas Célticas, com Zeuss (1853)

Morpurgo-Davies (20??: 158), expressão do eurocentrismo na linguística do século

XIX: Schlegel acreditava que as línguas “orgâncias” eram superiores às línguas

“mecânicas; Humboldt acreditava que a flexão era o ponto máximo da evolução

das línguas; Lepsius acreditava que línguas com gênero eram melhores que línguas

que não tinham nenhuma – e entre elas, argumentava ele, apenas as línguas indo-

europeias têm três gêneros e a elas “pertencem as esperanças futuras do mundo”.

AUGUST FRIEDRICH POTT (1802-87) Publica a partir de 1833 o Etymologische

Forschungen aif dem Gebiete der Indo-Germanischen Sprachen, em que se começa a fixar o

vocabulário reconstruído do Proto-Indo-Europeu. Reagiu violentamente ao ensaio do

conde de Gobineau sobre a inigualdade das raças humanas e contra, principalmente, o

abuso dos dados linguísticos feito por ele. Além dele, Humboldt e Whitney negavam

qualquer tipo de ligação entre língua e raça.

FRIEDRICH MAX MÜLLER (1823-1900). Assumiu a cadeira de linguística em Oxford

(1850), propôs o termo ariano para designar as línguas indo-europeias. Tradutor do Rig

Veda e de outros textos (como o Avesta). Aplicou o método histórico comparativo nas

narrativas religiosas, a fim de remontar a uma história das religiões. Acerca da querela

ariana:

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"A história, também, e particularmente a história mais remota recebeu uma nova luz e nova

vida de um estudo comparativo das línguas. Nações e línguas eram, em tempos antigos,

quase sinônimos, e o que constitui o ideal de unidade de uma nação repousa muito mais em

fatores intelectuais, em religião e língua, do que em uma ascendência comum e um sangue

em comum. Mas por essa mesma razão nós devemos ser muito cuidadosos com tudo isto.

Esquece-se muito que quando falamos de famílias ariana e semítica, a base da classificação

é a linguagem, e apenas a linguagem. Existem as línguas arianas e as semíticas, mas é contra

todas as regras da lógica falar, sem uma qualificação expressa ou implicada, de uma raça

ariana, de um sangue ariano, de crânios arianos, e tentar uma classificação etnológica com

base em fundamentos puramente linguísticos (...) eu devo repetir o que eu disse muito

tempo atrás, é tão errado falar de sangue ariano como seria falar de uma gramática

dolicocéfala." (F. M. Müller, Leitura sobre os resultados da ciência da linguagem, proferida em 27 de maio de 1872 perante

a Universidade de Estrasburgo)

Em 1861 Max Miiller observava: “Na atualidade, a ciência da lingua(gem) tem sido

chamada a se pronunciar em algumas das questões políticas e sociais mais atordoantes...na

América, filólogos compartivos têm sido encorajados a provar a impossibilidade de uma

origem comum para as línguas e raças a fim de justificar, com argumentos científicos, a

ímpia teoria da escravidão. ([1861] 1862, 12).”

AUGUST SCHLEICHER (*19.02.1821, Meiningen – †06.12.1868, Jena) Seu pai, Johann

Gottlieb Schleicher, era médico e se notabilizou por sua atividade política contra a estrutura

feudal dos pequenos estados alemães e a favor de reformas democráticas. Tendo feito o

Gymnasium em Coburg, entrou em 1840 para a Universidade de Leipzig, para cursar

Teologia. Em seguida, foi para Tübingen, onde entrou em contato com a filosofia de Hegel,

abandonou a Teologia e passa a estudar hebraico, sânscrito, árabe e persa. Em 1843, está

em Bonn, onde entra em contato com as ideias de Humboldt e se forma em filologia. Em

1849 vai para Praga, onde estuda tcheco, tornando-se não só fluente como um dos

principais especialistas em língua tcheca do seu tempo. Em 1850 começa a trabalhar como

professor extraordinário na universidade de Praga. Em 1852 viaja à Prússia Oriental para

aprender lituano, só que desta vez diretamente com os falantes (tendo sido o primeiro

linguísta a estudar uma língua indo-europeia diretamente a partir dos dados da fala e não

dos textos escritos). Disso resultou uma descrição do lituano, publicada em 1856 (Handbuch

der Litauische Sprache). Incomodado com a atmosfera autoritária do Império Austro-

Húngaro, abandona Praga para assumir uma cadeira na Universidade de Jena, onde

permanece até a morte.

Reconstrução do Proto-Indo-Europeu. A reconstrução em si não era novidade em 1861

quando saiu a primeira parte do Compendium der vegleichenden Grammatik der indogermanischen

Sprachen. O compêndio, no entanto, lista todas as formas atribuídas á língua antiga. Pela

primeira vez se parte da proto-língua reconstruída para as línguas derivadas.

A noção de língua como organismo. Schleicher tem sido retratado, e não raro

ridicularizado, pela noção de língua como um organismo. Na verdade, essa noção, tanto do

ponto de vista naturalista quanto filosófico, era compartilhada pela primeira geração de

9

linguístas comparativos e históricos. Nós podemos achar referências a botânica, anatomia

comparada, fisiologia e outras ciências naturais nos trabalhos de Grimm, Rask e Bopp, e

também em Schlegel e Humboldt. O vocabulário terminológico da linguística do século 19,

ainda em uso, claramente sugere a profunda influência das ciências naturais no estudo da

linguagem.

O diagrama de árvore. Também Schleicher não foi o primeiro a utilizar o diagrama de

árvore – seus professores Lachmann e Ritschl também o utilizaram, não para explicitar as

relações e sub-relações de parentescos entre línguas dentro da família indo-europeia, mas

para explicitar relações entre formas derivadas de um étimo comum. Ainda se discute qual

é a fonte dessa noção, mas está descartada a ideia de que esse uso se deva a uma influência

“darwinista” sobre o trabalho de Schleicher. Darwin também utilizou diagramas de árvores,

mas Schleicher só tomou contato com Origem of Species em 1863. O mais provável é que os

diagramas de árvore tenham surgido dos diagramas que os filólogos já faziam para

explicitar a relação entre manuscritos e suas fontes. Inclusive, nesses diagramas, alguns nós

se referiam a manuscritos que não se tinham conservado, mas cuja existência se deduzia de

manuscritos conservados que pareciam ter a mesma fonte. O diagrama de Schleicher se

notabiliza por inverter a forma geral dos diagramas que ocorrem nos trabalhos dos

filólogos e de seus professores (e que em geral se apresentam como os diagramas de árvore

que os sintaticistas utilizam).

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11

12

13

NEOGRAMÁTICOS (segundo Morpurgo-Davies, 1998: 226-)

CONSOLIDAÇÃO DA DISCIPLINA – começam a surgir os primeiros nomes não-alemães (cf.

Whitney)

Michel Jules Alfred BRÉAL (*Landau, 26.03.1832-Paris, 25.11.1915) Estuda sânscrito em Berlin,

com Franz Bopp, de quem traduziria a Vergleichende Grammatik para o francês. Entre 1866 e 1905 é

professor no Collège de France, onde terá como discípulos Ferdinand de Saussurer, Antoine Meillet

e James Darmesteter (especialista em estudos judaicos e avésticos).

É o primeiro linguista a citar os precursores da análise linguística antes de Sir William James.

Assim, ele lembra (1868: 8) que a linguística do século XIX se opõe à grammaire raisonnée de Port

Royal e se pergunta, dado que “a gramática geral [a linguística] se propõe a mostrar a relação que

existe entre as operações de nosso espírito e as formas da linguagem, como poderá ela se encontrar

em oposição com uma ciência cujo objeto é analisar essas formas?” Ele mesmo responde:

Com efeito, ou bem as teorias da gramática geral serão confirmadas pelo exame científico dos diversos idiomas falados sobre a superfície do globo, e nesse caso os trabalhos dos filólogos serão a justificação e a contra-prova desta filosofia da linguagem, ou então, sob certos aspectos, ele estará em desacordo com as operações do nosso espírito, como a psicologia e a lógica as descrevem, e as operações da linguagem constatadas pela análise filológica, e isso será para nós um avisso para remontar à origem dessa divergência e encontrar o princípio. Uma tal pesquisa em duas frentes não pode deixar de ser fecunda e todo o desacordo entre a gramática filosófica e a gramática experimental deve conduzir a dados novos sobre a natureza da linguagem ou sobre o desenvolvimento do espírito humano.

A grande contribuição de Bréal é a reintrodução do estudo do significado no âmbito da

linguística. Ele está interessado, primeiramente, na questão específica de como os significados

diferentes de um mesmo morfema se relacionam entre si, inclusive historicamente. Tome-se o

exemplo do sufixo –ier do francês, derivado do latim –arius; em pommier, amandier, figuier ele denota

“aquele que produz”, enquanto que em encrier (“tinteiro”), huilier (“galheteiro”), herbier, colombier ele

denota o “receptáculo”, já em prisionier, o sufixo denota não o produto ou o objeto que contém,

mas, de uma certa forma, o “conteúdo” do objeto denotado pela raiz. Da mesma forma em chevalier,

bouvier e lévrier o sufixo tem significados diferentes. A conclusão dele é que (1868: 12):

[...] a linguagem ordinária, que deve satisfazer à universalidade dos nossos conhecimentos, é dispensada, com razão, desse rigor científico [ele havia dado o exemplo da química, que tem um – e só um – nome específico para cada substância], e sem visar uma ordem impossível, faz com as ideias novas entrem nas molduras elásticas que ela recebeu das eras precedentes.

OS NEOGRAMÁTICOS, I: A ORIGEM DA CONTROVÉRSIA NO ESPÍRITO DA

LINGUÍSTICA

Morpurgo-Davies (1992: 229): “

com o sucesso vem também a característica divisão em escolas que assombrou disciplinas

com mais tempo de vida, como os estudos clássicos. Na linguística, como em outras áreas

do conhecimento, a divisão está ligada às vistas teóricas ou metodológicas específicas, mas

também, naturalmente a uma rede mais ampla de patronagem, apoio mútuo, fofocas e

intrigas. Esse último conjunto de circunstâncias influencia tanto o desenvolvimento da

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disciplina e, ainda mais consistentemente, a maneira com que esse desenvolvimento é

percebido, i.e. na historiografia contemporânea.”

O nome Junggrammatiker foi aplicado, primeiramente, a um grupo de jovens linguistas

baseados em Leipzig, ou estreitamente conectados com a Universidade de Leipzig. Isso inclui,

principalmente, os indo-europeístas Karl Brugmann (1849-1919), Hermann Osthoff (1847-1909) e

o alguma coisa mais velho Berthold Delbriick (1842-1922), assim como os germanistas Hermann

Paul (1846-1921), Eduard Sievers (1850-1932) e Wilhelm Braune (1850-1926). Outros Indo-

Europeístas menos proximamente ligados ao grupo, mas também ligados a Leipzig, eram o

dinamarquês Karl Vemer (1846-96), e o iranianista e armenista J. H. Iiibschmann (1848-1908).

Ferdinand de Saussure (1857-1913), que veio estudar em Leipzig em 1876, com dezenove anos, era

jovem demais para fazer forma de maneira efetiva do que ele chamava de cénacle des docteurs. O nome

Junggrammatiker foi utilizado primeiro, provavelmente de maneira um tanto jocosa, por Friedrich

Zarncke (1825-91), professor de germanistica em Leipzig, a partir do modelo de expressões com

uma conotação política e literária como Junges Deutschland; a referência deve ser, sem dúvida, à

jovem idade dos protagonista e a seus caráteres supostamente tempestuosos e revolucionários.

O cerne da controvérsia aconteceu em 1876, quando Leskien publicou seu livro sobre a

flexão nominal balto-eslava em comparação com a germânica (Die Declination im Slavisch-

Litauischen und Germanischen), em que enuncia o princípio do caráter absoluto [ou inflexível]

das leis sonoras [Ausnahmslosigkeit der Lautgesetze]:

Aller Lautwandel, soweit er mechanisch vor sich geht, vollzieht sich nach ausnahmslosen Gesetzen, d.h. die

Richtung der Lautbewegung ist bei allen Angehörigen einer Sprachgenossenschaft, außer dem Fall, daß

Dialektspaltung eintritt, stets dieselbe, und alle Wörter, in denen der der Lautbewegung unterworfene Laut

unter gleichen Verhältnissen erscheint, werden ohne Ausnahme von der Veränderung ergriffen.

Toda transformação sonora, uma vez que age mecanicamente, consuma-se como uma lei

que não admite exceções, i.e. o controle da mudança pertence a uma coletividade linguística,

exceto no caso em que ocorre uma divisão dialetal, é sempre a mesma, e todas as palavras,

nas quais os sons se apresentam sob as mesmas circunstancias em que age a mudança

sonora, deverão apresentar a mudança prevista sem exceção.

Mas as peças que criaram o escândalo foram dois artigos de Brugmann (1876a, 1876b)

sobre o proto-indo-europeu. No primeiro ele propõe duas nasais silábicas *m e *n para a

protolíngua, no segundo ele apresenta reconstruções com vogais bastante diferentes das aceitas por

Schleicher e Curtius.

Brugmann publicou o artigo na Curtius Studien, que ele estava editando temporariamente, na

ausência de Curtius. Quando este retornou, publicou um Editorial declarando que a revista não

autorizava nem subscrevia as posições de Brugmann. A proposta de Brugmann não apenas

apresentava reconstruções bastante diferentes das de Curtius, levando a uma árvore bastante

diferente para as línguas indo-europeias, como continha uma defesa enfática de que tinha sido feita

respeitando rigorosamente os princípios da ciência comparativa, com a implicação de que o

trabalho anterior tinha sérios problemas metodológicos, o que soou como arrogância. Em 1878,

quando Osthoff já era professor em Heidelberg e Brugmann ainda tinha um cargo um tanto

temporário (na Rússia), eles publicaram uma espécie de revista, ou antes uma coleção de ensaios, as

Morphologische Untersuchungen [investigações morfológicas], em que eles expõem suas ideias.

Os autores reconhecem a influência de W. Scherer e H. Steinthal, mas declaram que eles

desenvolveram os seus princípios básicos ouvindo as leituras de Leskien em Leipzig:

15

1. Uma língua não é um objeto que tem sua própria realidade independente dos seus

falantes (um ataque a Schleicher)

2. As atividades mentais e físicas que os seres humanos. inerferem na língua devem ser

sempre as mesmas (o princípio do uniformitarianismo).

Para a real compreensão dos princípios que regem o desenvolvimento da linguagem e das

linguas, o linguista deve abandonar “as hipóteses construídas artesanalmente em que as raízes indo-

europeias estavam presas” a fim de darem uma passo adiante na direção da “clara luz da verdade

presente e cognoscível” (Osthoff & Brugmann, 1878, ix). Os neogramáticos atribuem a maior

importância a dois de seus princípios metoloógicos (methodischen Grundsätzen):

a. as mudanças sonoras ocorrem de acordo com leis mecânicas e não admitem exceções

(princípio da regularidade);

b. a associação das formas, i.e. a criação de novas formas pela analogia era um importante

fator nas mudanças linguísticas no passado e continua sendo nas línguas modernas.

Segundo Morpurgo-Davies (1992: 233), mais importante do que o que os neogramáticos

dizem é o que eles não dizem. Em primeiro lugar eles não mencionam a teoria ou a técnica

descritiva. Em segundo lugar, não há menção à tipologia ou à classificação das línguas. Por outro

lado, há uma apresentação explícita do método da linguística, o que não acontecia em Curtius e

Schleicher. Mas, fundamentalmente, a expressão dos princípios é a sua contribuição fundamental.

Se a língua depende do falante, então ela não pode ser o organismo autônomo com vida própria e

consequentemente não há necessidade de se distinguir um período de crescimento de um período

de decadência. Prevalece o uniformitarianismo o que inevitavelmente conduz à conclusão de que as

línguas modernas são a melhor fonte de informação sobre o desenvolvimento linguístico – com a

ressalva de que, uma vez que o viés é inteiramente histórico, línguas modernas frequentemente se

refere à línguas cuja história é documentada, mais do que línguas contemporâneas. Ainda não

existem condições, a este ponto, para estudos como os de Labov acerca das mudanças sonoras em

progresso. Mas as línguas modernas, apesar de como o termo é entendido, fornecem evidências

para o estudo do que se costuma chamar de falsche Analogie, i.e. analogia. Sob um ponto de vista

uniformitariano isso não pode mais ser tradado como um sintoma de decadência das fases

linguísticas mais antigas, uma vez que ela é importante tanto para a linguística histórica como para a

comparativa. Nesse cenário, o corpo estranho é o princípio da regularidade: por que a observação

das línguas modernas deveria suportar uma tal visão, tão ruidosamente defendida, de que a mesma

mudança linguística ocorre da mesma maneira em todas as palavras em que se encontra o mesmo

ambiente fonológico? Essa noção permaneceria, posteriormente, sob o ataque tanto dos

dialetologistas (como Gillièron) como dos idealistas (como Vossler).

Georg Curtius [*Lübeck, 16.04.1820-†12.08.1885] Estudou nas universidades de Bonn e Berlin,

começando a carreira como professor do ensino elementar. Em 1845 ele começou como

Privatdozent em Berlin, passando para encarregado do seminário de filologia em Praga, em 1849, e

assumindo a cadeira de filologia clássica em Praga, em 1851. Em 1852 assume a cadeira de filologia

clássica em Kiel e, em 1862, em Leipzig. Sendo o alvo dos primeiros ataques dos neogramáticos,

publica Zur Kritik der neuesten Sprachforschung (Para uma crítica da nova pesquisa linguística,1885).

Graziadio Isaia Ascoli [*Gorizia, 16.07.1829-†Milão, 21.01.1907] Autodidata em linguística,

estudou os dialetos da sua região natal, que foram a base para a publicação de seus Saggi Ladini. Foi

professor na Academia científico-literária de Milão. É o criador do termo glotologia, para designar a

ciência da linguagem (que acabou não se impondo).

16

August Leskien [*Kiel, 08.07.1840-†Leipzig, 20.09.1916] Estudou filologia clássica em Kiel, depois

em Leipzig. Em 1866, começou a estudar linguística comparada com August Schleicher, em Jena.

Em 1870, tornou-se professor de eslavística em Leipzig, onde chegou a diretor do Instituto Indo-

germânico. Posteriormente, trabalhou como professor visitante da Universidade de Kristinania

(atual Noruega). Sua formação foi classicista, mas ele era amplo conhecedor de línguas modernas, a

ponto de poder ser tomado como falante nativo de servo-corata, tendo feito também trabalho de

campo na Lituânia. A gramática do servo-croata que ele começou a escrever permanece incompelta,

já que ele morreu antes de acabar o volume sobre sintaxe. Um pouco mais velho que os demais

integrantes do grupo, funcionou como uma espécie de foco para o grupo dos Neogramáticos

Hermann Osthoff [*Bilmerich bei Unna, 18.04.1847-†Heidelberg, 07.05.1909] Estudou em Berlin,

Tübingen e Bonn. A partir de 1870, trabalhou como professor do ensino básico em Kassel,

entrando como professor visitante na Universidade de Heidelberg em 1877 e efetivando-se em

1878.

Karl Brugmann [*Wiesbaden, 16.03.1849-†Leipzig, 29.06.1919] Foi educado em Halle e Leipzig.

Começou a carreira como instrutor no Ginásio de Wiesbaden e entre 1872 e 1877 foi instrutor no

Instituto Russo de Filologia Clássica. Em 1877, entra como leitor na Universidade de Leipzig, onde

se torna professor de filologia comparada em 1882, como sucessor de Georg Curtius. Seu artigo de

1876, em que propõe que as nasais podem ocupar núcleos de sílabas (junto com as sonorantes r e l),

na proto-língua, ajudou a afastar a ideia mal concebida de zero grau. Fundou, junto com Osthoff, a

revista Morphologische Untersuchungen, que se tornou o principal veículo de divulgação da escola

neogramática. Sua maior obra é o Grundriss der vergleichenden Grammatick der indogermanschen Sprachen,

que ele publicou em colaboração com Bertold Delbrück, entre 1886 e 1893. A reconstituição

fonética do indo-europeu apresentada nessa obra substituiu a do Compendium de Schleicher, como

padrão paradigmático e ainda é a que basicamente se apresenta até hoje.

REFERÊNCIAS:

ASCOLI, G. 1. (1873b) Saggi Ladini, Archivio Glottologico Italiano, 1, 1-556. BRÉAL, Michel. 1868. Les idées latents du langage. Paris: Hachette. BRUGMANN, Karl. 1876a. Nasalis sonans in der indogermanischen Grundsprache. Curtius

Studien 9, 287-338. BRUGMAN, K. (I876b) Zur Geschichte der stammabstufenden Declinationen. Erste Abhandlung:

Die Nomina auf -ar- und -tar-, Studien zur griechischen und lateinischen Grammatik (Curtius Studien), 9, 361-406.

CURTIUS, G. (188 5) Zur Kritik der neuesten Sprachforschung, Hirzel, Leipzig. CURTIUS, G. (1886) Kleine Schriften. Ed. by E. Windisch, LESKIEN, A. (1876) Die Declination im Slavisch-Litauischen und Germanischen, Hirzel, Leipzig. MORPURGO-DAVIES, Anna. 1992. History of linguistics IV: the Nineteenth Century. New York:

Longman. OSTHOFF, H., BRUGMAN, K. (1878) Vorwort, Morphologische Untersuchungen, I, 111-xx.

As Críticas à Teoria da Linguagem dos Neogramáticos

Brugmann (1876a) ressalta a natureza psicológica da analogia e sua importância

fundamental no desenvolvimento da linguagem. Fomarções analógicas, de acordo com ele,

têm três características em comum:

elas não são o resultado de mudança sonora regular

não são “formações conceituais novas”

17

elas passam a existir porque, durante um ato de fala, os falantes têm em mente uma

outra forma que influencia aquela que eles pretendem proferir

Exemplo 1: cliff faz o plural em clives; a analogia com as palavras que fazem plural com o

simples acréscimo de um /s/ faz com que surja a forma plural cliffs ou a forma singular clive.

Exemplo 2: pôr é um verbo irregular, em português; da forma da primeira pessoa do plural,

ponho, se forma um paradigma regular em ponhar, por analogia com os verbos regulares.

Dificuldades apontadas por oponentes:

Por que a mudança analógica é tão imprevisível? Por que clives é substituída por cliffs,

mas knives não é substituída por kniffs?

Existe algum tipo de restrição nos processos analógicos possíveis?

Qualquer forma pode influenciar qualquer outra forma?

Mudança na perspectiva da reconstrução:

Bopp formas reconstruídas são formas lógicas (mas o Bopp da velhice tem objetivos

diferentes do Bopp jovem)

Delbriick (I880, 56, 100) citou, aprovando, a afirmação de Johannes Schmidt de que “a

tarefa da linguística indo-europeia é estabelecer como eram as formas da língua ancestral e

de que maneira as formas das línguas individuais se originaram a partir delas”.

A influência do onipresente positivismo era mais simpática ao estudo de fatos atestados do

que de reconstruções especulativas. Além disso, com as descobertas da geologia, da

paleontologia e da arqueologia dilatando o período da existência da humanidade para além

dos 6000 anos que a leitura literal da Bíblia pressupunha. Nesse ponto, a ideia de que o

proto-indo-europeu, ou qualquer língua reconstituída para qualquer outra família linguística

pudesse fornecer dados importantes para a origem da linguagem humana deixou de estar

em questão, assim os antropólogos perderam interesse pela questão.

Leonard Bloomfield (I932, 221) forneceu um resumo do método dos neogramáticos:

“[...] o método da história linguística classifica a mudança linguística em três

grandes tipos empíricos. O primeiro tipo é a mudança de fonemas ou combinações

de fonemas, como [Þ] > [d] no germânico mais antigo, ou mais recentemente, [st-] >

[št-] em parte da área germânica. O segundo tipo é a extensão do elemento

significante em combinações novas, o que nós chamamos de mudança analógica

(p.ex.. cow-s ao invés da forma mais antiga kine) ou mudança semânticac change

(p.ex. bread e meat ao invés das formas mais antigas bread e flesh ou bread e flesh-mea).

O terceiro tipo é a adoção de traços e formas de uma língua estrangeira, como em

rouge do francês ou no americano centro-ocidental ['raðr] rather pela Nova

Inglaterra, ao invés do nativo ['reðr]. Esta classificação e toda a técnica que vem

com ela é o equipamento comum, até o presente, o único equipamento

metodológico para todos os linguistasm, desde Eduard Hermann até o estudante

mais verde.”

18

Em muitos pontos, da reconstrução os neogramáticos contribuíram para a revisão de

alguns equívocos do passado, sobretudo aqueles que podem ser esclarecidos a partir da

assunção de mudanças fonéticas mais gerais. Schleicher (1871, 653-5) explicou as

terminações da segunda pessoa do singular do grego, no presente, -eis e –si, no passado –s,

no imperativo –thi e no perfeito –tha como sendo todas derivadas do seu pronome

reconstruído da segunda pessoa do singular *tva „tu‟, postulando mudanças fonéticas não

atestatads em mais nenhum lugar. Similarmente, a segunda pessoa do singular do perfeito

leloipas “tu deixaste”, de acordo com Schleicher (ibid.) derivou de *leloipta, com uma

derivação bastante implausível, ainda que não tão implausível como derivar as terminações

de segunda pessoa do plural de -tva-tva, i.e. „tu-tu‟ = „vós‟. O jovem Brugmann (1878),

neste ponto representante dos neogramáticos, rejeitou todas essas sugestões: (a) a fonologia

não bate (b) o desenvolvimento semântico (especialmente no plural) era implausível, (c)

todas as línguas existentes mostram uma variedade de procedimentos que lhes permite

renovar sua flexão morfológica e não existe razão para supor que o indo-europeu não

pudesse fazer o mesmo. Se fosse assim, por que teríamos que assumir que todas as

terminações pessoas derivam de pronomes pessoais? Seria mais plausível assumir que

algumas podem ter essa origem, mas outras podem ter diferentes origens. Esse exemplo é

representativo da atitude cautelosa adotada pelos neogramáticos.

A Questão das Vogais do Proto-Indo-Europeu: Salvação e Superação dos

Horizontes

O trabalho que levou a novas reconstruções do vocalismo indo-europeu e, devido a um

impressionante uso do que nós chamamos agora de reconstruções internas, levou a uma

interpretação sobre os fonemas vocálicos do indo-europeu, conduzindo a uma

interpretação mais integral das alternâncias internas de Ablaut, foi a Mémoire sur le systéme

primitif des voyelles dans les langues indo-européennes, escrita por Ferdinand de Saussure when he

was 21, e oficialmene publicado em Leipzig em 1879, apesar de ter aparecido em 1878. A

conclusão geral era que o proto-indo-europeu tinha as vogais e e o, bem como seis

fonemas ([i, u, r, 1, m, n]) que poderiam aparecer tanto em função vocálica como

consonantal, dependendo do ambiente fonológico em que aparecesse: uma raiz normal

modificada pela metafonia (Ablaut), com o modelo de e. g. *bher-/*bhor-/*bhr- onde cada

grau da raiz corresponderia a um papel funcional diferente. Em adição, Saussure postulou

dois coeficientes sonâticos A and 0, não preservados como tais em qualquer língua atestada,

em diferentes ambientes fonológicos, mas que foram vocalizados (principalmente entre

consoantes) ou caíram (depois de uma vogal), ou caíram após terem alongado uma vogal

precedente e, em alguns casos, mudando sua qualidade. Esses elementos, cuja natureza

fonética exata permaneceu obscura, formam a base da assim chamada teoria laringal do

século XX permite, como Saussure demonstrou, uma explicação mais clara de um grande

número de alternâncias morfofonênicas nas línguas atestadas. Formas verbais tão diferentes

como yunak-ti „ele junta‟ vs. o particípio yuk-ta-; srno-ti „ele ouve‟ vs. o particípio sru-ta, punā-

ti „ele purifica‟ vs. o particípio pū-ta podem todos ser ligados a um antigo presente com um

19

infixo nasal *ne- 2, que está ausente no particípio: *yu-ne-k- vs. *yuk- *kl-ne-u- vs. *klu-;

*pu-neA- (> *punā-) vs. *puA- (> *pū-). Ao mesmo tempo, todos os diferentes tipos de

metafonia (Ablaut) poderiam ser remontados a uma simples alternância entre zero e e/o,

desde que o corpo estranho é o sânscrito, onde devido à vocalização de A e O, e de

algumas das vogais longas devido à contração da vogal breve com A and O. As conclusões

de Saussure‟s não foram aceitas universalmente – nem pelos neogramáticos nem por seus

oponentes – basicamente por que elas eram muito revolucionárias e, em um certo sentido,

muito especulativas para a época, mas também em parte porque o edifício inteiro incluía

algumas partes fracas que seriam reforçadas mais tarde. Apesar disso, além de algumas

diferenças quantitativas e qualitativas que caracterizam um trabalho de gênio, era difícil

argumentar que a obra prima de Saussure‟s pertence a um paradigma diferente do dos

neogramáticos. É claro que é frequentemente, e corretamente, repetido que a na Mémoire

a forte ênfaze na reconstrução de um sistema é contrastada com a prefiguram as visões

posteriores do fundador do estruturalismo, mas esse interesse em observações sistêmicas é

algo que ele compartilha com os neogramáticos. A acusação de atomismo é afastada,

simplesmente, para este período, ao menos para os melhores neogramáticos (Lehmann

1994: 1002)

A tese de Saussure sobre as vogais na forma mais antiga do proto-indo-europeu conta

como uma das mais importantes contribuições da escola neogramática, mesmo após a

afirmação, que já foi feita, de que as reconstruções de Brugmann em seu Gundriss

continuam estavelmente aceitas, em sua essência, até o momento.

Próximo do fim do século XIX, a sugestão de que as línguas semíticas e as indo-europeias

pudessem estar geneticamente relacionadas de alguma forma foi revigorada com uma série

de novos argumentos por um notável estudioso, o dinamarquês Hermann Møller, que não

apenas sugeriu que os coeficientes sonânticos de Saussure pudessem ser identificados com

as laringais semíticas, mas também argumentou que a nova análise de Saussure tornou

possível comparar as raízes indo-europeias (incluindo-se as suas laringais) com as raízes

semíticas. Um outro dinamarquês, Holger Pedersen, um aluno e colega de Møller, foi ainda

mais além e sustentava que era possível postular uma unidade original, a que ele chamava

de „nostrático‟, das línguas indo-europeias, hamito-semíticas, fino-úgricas e altaicas, e talvez

também das línguas caucasianas e basca. O problema ainda está em debate e não pode ser

desenvolvido aqui, mas ele criou uma divisão básica entre a maior parte dos indo-

europeístas que viram essa sugestão como excessivamente especulativa e aqueles que, como

Møller, que queriam reagir ao seu próprio isolamento e também ao sentimento bastante

difundido de que os estudos indoe-europeus estavam entrando em um período de

estagnação: para eles, em meados dos anos de 1890, “ carruagem da linguística indo-

europeia tinha começado a afundar cada vez mais fundo no pântano (Moller 1906, ix) e

estender e ampliar o campo da comparação era o único caminho para a salvação. and

further

2 Esse infixo nasal pode ser observado em algumas formas verbais do presente latino, que contrastam

com uma forma do perfeito que não o possuem: fingo vs. fixī, tango vs. tetigī.

20

Jerzy Kurilowicz, em 1935, observou que a teoria das laringais, ao mesmo tempo que

explicaria certos segmentos do hitita, pode alcançar a atestação dos segmentos laringais em

certas sequências encontradas em hitita. Assim, o hitita apresenta um som, que em

acadiano é descrito como ḫ, que figura em formas como ḫanti, que corresponde ao grego

anti ou ḫart(ag)ga, que corresponde ao grego arctos.

Abordagens posteriores reconheceram a existências de pelo menos uma, mas às vezes mais

(Adrados, por exemplo, postula pelo menos nove) laringais nos estágios mais primitivos do

proto-indo-europeu).

Período 1. "colorização" da vogal básica /e/ pela laríngea

2. Queda da laríngea com alongamento resultante

h1e > h1e eh1 > eh1 He > ě eHC > ē

h2e > h2a eh2 > ah2 Ha > ă aHC > ā

h3e > h3o eh3 > oh3 Ho > ŏ oHC > ō

Hi > ĭ iHC > ī

Hu > ŭ uHC > ū

H: representa as laríngeas indistintamente com relação ao ponto de articulação

C: representa as consoantes indistintamente com relação o modo ou ponto de articulação

Algumas reconstruções, segundo a teoria de Saussure:

*h2rkt- > *arktos, *rktos, “urso”

*h2ent- > *ant-, “face”

*h2ekweh2- > *aquā

*wh2ln-eh2 > *wlnā

*dheh2- > *dhā-

*h3ew- > *ow-is

*seh3w-el- > *sōl-

*deh3-no- > *dō-no-m

*h3érbh-ís > *orbis

REFERÊNCIAS:

ASCOLI, G. 1. (1873b) Saggi Ladini, Archivio Glottologico Italiano, 1, 1-556. BRÉAL, Michel. 1868. Les idées latents du langage. Paris: Hachette. BRUGMANN, Karl. 1876a. Nasalis sonans in der indogermanischen Grundsprache. Curtius

Studien 9, 287-338. BRUGMAN, K. (I876b) Zur Geschichte der stammabstufenden Declinationen. Erste Abhandlung:

Die Nomina auf -ar- und -tar-, Studien zur griechischen und lateinischen Grammatik (Curtius Studien), 9, 361-406.

CURTIUS, G. (188 5) Zur Kritik der neuesten Sprachforschung, Hirzel, Leipzig. CURTIUS, G. (1886) Kleine Schriften. Ed. by E. Windisch,

KOERNER, E. F. Konrad. [1983]. August Schleicher amd linguistic science in the second

half of the 19th Century. In: _________ Practicing linguistic historiography.

Amsterdam/Philadelphia: John Benjamins.

LESKIEN, A. (1876) Die Declination im Slavisch-Litauischen und Germanischen, Hirzel, Leipzig.

21

MORPURGO-DAVIES, Anna. 1992. History of linguistics IV: the Nineteenth Century. New York: Longman.

OSTHOFF, H., BRUGMAN, K. (1878) Vorwort, Morphologische Untersuchungen, I, 111-xx.