A Maturidade Afetiva

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  • 7/25/2019 A Maturidade Afetiva

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    A MATURIDADE AFETIVA

    Rafael Llano Cifuentes

    A afetividade no est por assim dizer encerrada no corao, nos sentimentos, maspermeia toda a personalidade.

    Estamos continuamentesentindoaquilo que pensamos e fazemos. Por isso, qualquerdistrbio da vida afetiva acaba por impedir ou pelo menos entravar o amadurecimentoda personalidade como um todo.

    Observamos isto claramente no fenmeno de fi!ao na adolesc"ncia ou naadolesc"ncia retardada. #omo $ anotamos, o adolescente caracteriza%se por umaafetividade egocntrica e instvel& essa caracter'stica, quando no superada na naturalevoluo da personalidade, pode sofrer uma fi!ao, permanecendo no adulto( este) um dos sintomas da imaturidade afetiva.

    * si+nificativo verificar como essa imaturidade parece ser uma caracter'stica da atual+erao. o nosso mundo altamente t)cnico e c-eio de avanos cient'ficos, pouco se

    tem pro+redido no con-ecimento das profundezas do corao, e da' resulta aquilo queAle!is #arrel, pr"mio obel de edicina, apontava no seu c)lebre trabal-o Ohomem, esse desconhecido( vivemos -o$e o drama de um desnvel gritante entre o

    fabuloso progresso tcnico e cientfico e a imaturidade quase infantil no que diz

    respeito aos sentimentos humanos.

    esmo em pessoas de alto n'vel intelectual, ocorre um aut"ntico analfabetismoafetivo( so indiv'duos truncados, incompletos, mal%formados, imaturos& esto

    preparados para trabal-ar de forma eficiente, mas so absolutamente incapazes deamar. Esta desproporo tem conseq/"ncias devastadoras( basta reparar na facilidadecom que as pessoas se casam e se descasam, se $untam e se separam. 0o a

    impresso de reparar apenas na camada epid)rmica do amor e de no aprofundar nosvalores do corao -umano e nas leis do verdadeiro amor.

    1uais so, ento, os valores do verdadeiro amor2 1ue si+nificado tem essa palavra2

    O amor, na realidade, tem um si+nificado polivalente, to dificil de definir que $-ouve quem dissesse que o amor ) aquilo que se sente quando se ama, e, se

    per+untssemos o que se sente quando se ama, s3 seria poss'vel respondersimplesmente( Amor. Este c'rculo vicioso deve%se ao que o insi+ne m)dico e

    pensador 4re+3rio ara5on descrevia com preciso( O amor ) al+o muito comple!oe variado& c-ama%se amor a muitas coisas que so muito diferentes, mesmo que a sua

    raiz se$a a mesma.

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    A imaturidade no amor

    6o$e, considera%se a satisfao se!ual autocentrada como a e!presso mais importantedo amor. o o entendia assim o pensamento clssico, que considerava o amor da

    me pelos fil-os como o paradi+ma de todos os tipos de amor( o amor que prefere obem da pessoa amada ao pr3prio. Este conceito, perpassando os s)culos, permitiu queat) um pensador como 6e+el, que tem pouco de cristo, afirmasse que a verdadeiraess"ncia do amor consiste em esquecer%se no outro.

    7em diferente ) o conceito de amor que se cultua na nossa )poca. Parece que seretrocedeu a uma esp)cie de adolesc"ncia da -umanidade, onde o que mais conta ) o

    prazer. Este fenmeno tem inmeras manifesta8es. 9eferir%nos%emos apenas aal+umas delas(

    - Edifica-se a vida sentimental sobre uma base pouco slida( confunde%se amor comnamoricos, atrao se!ual com enamoramento profundo. :odos con-ecemos al+umdon ;uan( um mestre na arte de conquistar e um fracassado < -ora da abne+ao quetodo o amor e!i+e. =ncapazes de um amor maduro, essas pessoas nunca c-e+am aassimilar aquilo que afirmava ontesquieu( * mais fcil conquistar do que manter aconquista.

    - Diviniza-se o amor:A pessoa imatura % escreve Enrique 9o$as % idealiza a vidaafetiva e e!alta o amor con$u+al como al+o e!traordinrio e maravil-oso. =stoconstitui um erro, porque no aprofunda na anlise. O amor ) uma tarefa esforada demel-ora pessoal durante a qual se burilam os defeitos pr3prios e os que afetam o outro

    cn$u+e >...?.A pessoa imatura converte o outro num absoluto. =sto costuma pa+ar%secaro. * natural que ao lon+o do namoro e!ista um deslumbramentoque impede dereparar na realidade, fenmeno que Orte+a @ 4asset desi+nou por doena daateno, mas tamb)m ) verdade que o dif'cil conv'vio dirio coloca cada qual no seulu+ar& a verdade aflora sem mscaras, e, < medida que se desenvolve a vida ordinria,vai aparecendo a ima+em real.E. 9o$asB

    % o imaturo, o amor fica cristalizado, como diz Ctend-al, nessa fase dedeslumbramento, e no aprofunda na verso real que o conv'vio con$u+al vaidesvendando. 1uando o amor ) profundo, as diver+"ncias que se descobrem acabam

    por superar%se& quando ) superficial, por ser imaturo, provocam conflitos e

    freq/entemente rupturas.

    % A pessoa afetivamente imatura descon-ece que ossentimentos no so estticos,mas dinmicos. Co suscet'veis de mel-ora e devem ser cultivados no viverquotidiano. Co como plantas delicadas que precisam ser re+adas diariamente. !Oamor inteligente e"ige o cuidado dos detalhes pequenos e uma alta porcentagem de

    artesanato psicol#gico !.$%.&o'as(

    A pessoa consciente, madura, sabe que o amor se constr#i dia ap#s dia, lutando porcorri+ir defeitos, contornar dificuldades, evitar atritos e manifestar sempre afeio ecarin-o.

    ) Os imaturos querem antes receber do que dar. 1uem ) imaturo quer que todos

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    se$am como uma pea inte+rante da mquina da sua felicidade. Ama somente paraque os outros o realizem. Amar para ele ) uma forma de satisfazer uma necessidadeafetiva, se!ual, ou uma forma de auto%afirmao. O amor acaba por tornar%se umaesp)cie de +rude que prende os outros ao pr3prio eu para complet%lo ou

    en+randec"%lo.

    as esse amor, que no dei!a de ser uma forma transferida de e+o'smo, desembocana frustrao. Procura cada vez mais atrair os outros para si e os outros vo

    pro+ressivamente afastando%se dele. Acaba abandonado por todos, porque nin+u)mquer submeter%se ao seu pe+a$oso e+ocentrismo& nin+u)m quer ser apenas uminstrumento da felicidade al-eia.

    Os sentimentos so camin-o de ida e volta& deve -aver reciprocidade. A pessoaimatura acaba sempre quei!ando%se da solido que ela mesma provocou por falta deesp'rito de renncia. A nossa sociedade esqueceu quase tudo sobre o que ) o amor.#omo diz Enrique 9o$as( *o h felicidade se no h amor e no h amor semren+ncia. Dm se+mento essencial da afetividade est tecido de sacrif'cio. Al+o queno est na moda, que no ) popular, mas que acaba por ser fundamental.

    6 pouco, um ami+o, professor de uma aculdade de ;ornalismo, referiu%me umepis3dio relacionado com um seu primo % e!tremamente e+o'sta % que se tin-a casadoe separado tr"s vezes. o carto de atal, ap3s dese$ar%l-e boas festas, esse professor

    per+untava%l-e em que situao afetiva se encontrava. 9ecebeu uma respostac-ocante( Assino eu e a min-a +ata. #omo ela no sabe assinar, o faz estampando asua pata no carto( so as suas marcas di+itais. Este animalzin-o ) o nico que quer

    permanecer ao meu lado. * o nico que me ama.O imaturo pretende introduzir o outro no seu pro$eto pessoal de vida, em vez de tentarcontribuir com o outro num pro$eto constru'do em comum. A felicidade do cn$u+e,da fam'lia e dos fil-os( esse ) o pro$eto comum do verdadeiro amor. As pessoasimaturas no compreendem que a dedicao aos fil-os constitui um fator importante

    para a estabilidade afetiva dos pais. :amb)m no assimilaram a id)ia de que, para serealizarem a si mesmos, t"m de se empen-ar na realizao do cn$u+e. 1uem no )

    solidriotermina solitrio. Ou $untando%se a uma +atin-a, se$a de que esp)cie for.

    onte( Fivro A aturidade, de 9afael Flano #ifuentes, Editora 1uadrante, Co PauloGHHI

    http://www.quadrante.com.br/http://www.quadrante.com.br/