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 Fernanda de Oliveira Botelho A MEMÓRIA COMO RECURSO PARA AS POLÍTICAS PÚBLICAS CULTURAIS: A experiência da Casinha da Memória de Ourinhos-SP  CELACC/ ECA-USP 2012

A MEMÓRIA COMO RECURSO PARA AS POLÍTICAS PÚBLICAS CULTURAIS

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  • Fernanda de Oliveira Botelho

    A MEMRIA COMO RECURSO PARA AS POLTICAS PBLICAS CULTURAIS:

    A experincia da Casinha da Memria de Ourinhos-SP

    CELACC/ ECA-USP

    2012

  • Fernanda de Oliveira Botelho

    A MEMRIA COMO RECURSO PARA AS POLTICAS PBLICAS CULTURAIS:

    A experincia da Casinha da Memria de Ourinhos-SP

    CELACC/ ECA-USP

    2012

    Trabalho de concluso do curso de ps-

    graduao em Gesto de Projetos Culturais

    e Organizao de Eventos produzido sob

    orientao do Prof. Dr. Silas Nogueira.

  • Agradeo primeiramente a minha famlia pela

    compreenso e apoio durante todo o curso.

    Agradeo especialmente a todos os amigos da

    Turma B que me motivaram de alguma forma,

    permitindo que minhas viagens a So Paulo

    fossem menos cansativas e mais prazerosas.

    Agradeo a todos os professores e ao pessoal

    da secretaria por serem, acima de tudo,

    parceiros.

  • Quando ouvimos uma histria, seja ela do nosso

    colega de escritrio, do taxista ou de algum que

    conhecemos em uma festa, ela pode ser

    transformadora. Pode ser surpreendente, apenas

    bela ou pode tornar o nosso olhar para o

    cotidiano, um pouco mais mgico, um pouco mais

    rico, um mais transcendente. E, neste momento,

    que est o seu poder de transformao.

    Karen Worcman Museu da Pessoa

  • Sumrio

    INTRODUO--------------------------------------------------------------------------------------01

    CAPTULO I - MEMRIA INDIVIDUAL E MEMRIA SOCIAL-------------------------03

    CAPTULO II - POLTICAS PBLICAS DE CULTURA E MEMRIA SOCIAL-------07

    CAPTULO III - A ATUAO DA CASINHA DA MEMRIA COMO RECURSO

    SOCIOPOLTICO PARA A CIDADE DE OURINHOS-SP-----------------------------------12

    CAPTULO IV - PROJETO ARQUIVO DE LEMBRANAS MEMRIA DOS FERROVIRIOS------------------------------------------------------------------------------------14

    CONSIDERAES FINAIS-----------------------------------------------------------------------20

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS-----------------------------------------------------------21

    ANEXOS---------------------------------------------------------------------------------------------23

  • A MEMRIA COMO RECURSO PARA AS POLTICAS PBLICAS CULTURAIS:

    A experincia da Casinha da Memria de Ourinhos-SP

    FERNANDA DE OLIVEIRA BOTELHO

    Resumo

    Este artigo visa analisar o uso da memria como recurso nas prticas de polticas pblicas da cidade de Ourinhos, por meio do contexto do projeto Arquivo de Lembranas,

    realizado pela Casinha da Memria, equipamento cultural dirigido pela Associao de

    Amigos da Biblioteca Pblica (AABIP) e Secretaria Municipal de Cultura. A memria

    observada seguindo o pressuposto de como a ao de compartilh-la proporciona

    transformao da conscincia das pessoas nela envolvidas, direta ou indiretamente, no que

    diz respeito prpria documentao histrica, compreendendo seu valor na vida local,

    maneiras de recuper-las e conserv-la. Contudo as aes da Casinha da Memria podem

    ser consideradas como recursos sociopolticos da cidade de Ourinhos por fortalecer a

    cidadania e as identidades sociais.

    Palavras-chave: Memria Social, Poltica Cultural.

  • MEMORY AS A RESOURCE FOR PUBLIC POLICY CULTURAL: The experience of

    Casinha da Memria de Ourinhos-SP

    Abstract

    This article aims to analyze the memory usage as a resource practices in public policy

    Ourinhos through the context of the project Arquivo de Lembranas, conducted by Casinha

    da Memria, facilities managed by the Association of Friends of the Public Library (AABIP)

    and Municipal Secretary of Culture. Memory is observed following the assumption of how

    the action of sharing it gives the transformation of consciousness of the people involved,

    directly or indirectly, with respect to their own historical documents, includingits value in

    local life, ways to get them and save it. But the actions of Cottage Mamorycan be considered

    as resources of sociopolitical Ouirnhos to get them and save it. But the actions of Cottage

    Mamorycan be considered as resources of sociopolitical Ourinhos to strengthen citizenship

    and social identities.

    Keywords: Social Memory, Cultural Policy.

  • MEMORIA COMO RECURSO PARA LA POLITICA PUBLICA CULTURAL: La

    experiencia de la Casinha da Memria de Ourinhos-SP.

    Resumen

    En este artculo se pretende analizar el uso de memoria como recursos en las prcticas de

    polticas pblicas en Ourinhos a travs del contexto de la proyecto Arquivo de Lembranas,

    realizacin de la Casinha da Memria, equipamientos culturales gestionados por la

    Asociacin de Amigos de la Biblioteca Pblica (AABIP) y Secretario Municipal de Cultura.

    La memoria se observo despus de la Asuncin de la forma en que la accin de compartir se

    da la transformacin de la conscincia de las personas involucradas, directa o indirectamente,

    com respecto a sus propios documentos histricos, incluyendo su valor en la vida local, la

    manera de recuperarlos y guardarlos. Concluy que las acciones de la Casinha da Memria se

    pueden considerar como recursos scio-polticas de Ourinhos, para fortalecer la cidadana y

    las identidades sociales.

    Palavras clave: Memoria Social, Poltica Cultural.

  • 1

    INTRODUO

    No incio da modernidade tudo girava em torno do futuro, da tecnologia e do

    progresso, mas na atualidade, em um espao-tempo ocidental impregnado de efeitos da

    modernidade surge o interesse pela memria. Este fato foi apontado por Andreas Huyssen

    (2000) como globalizao da memria. Esse interesse se deu com acontecimentos como a

    queda do Muro de Berlim, o fim das ditaduras latino-americanas, o colapso da Unio

    Sovitica e o fim do apartheid na frica do Sul, e tambm pelo fortalecimento dos

    movimentos sociais que discutiam uma nova forma de registro da histria e polticas de

    identidade.

    Na dcada de 1980 houve maiores preocupaes relativas memria na esfera pblica

    por meio da explorao pela indstria cultural em torno das lembranas traumticas, como por

    exemplo, do Holocausto (HUYSSEN, 2000).

    Na Amrica Latina acredita-se que este interesse pela cultura e memria tenha se

    destacado devido aos movimentos de memria da violncia poltica nascidos em perodos

    ps- ditatoriais, quando ocorre um processo de releitura sobre o passado ao procurar

    definies para dar sentido s disputas pela memria. Deste modo, se insere a discusso sobre

    a necessidade de aes de reforma e justia. Esse processo articula narrativas e memrias

    anteriormente reprimidas, e que se tornam conflitantes, pois alguns grupos procuram impor

    hegemonicamente suas verses sobre outros, e ainda por meio de programas pblicos de

    aes afirmativas com nfase no multiculturalismo, com destaque a comunidades indgenas e

    negras, incluindo os quilombolas.

    Nessa conjuntura poltica difundiram-se disputas e lutas por redefinies da memria

    em vrios pases. Seus objetivos eram de justia social, reconhecimento pblico de memrias

    de grupos tnicos, de gnero, religiosos e de reparao de danos historicamente causados por

    explorao, guerras e regimes de exceo. Esses grupos buscam um espao na vida pblica

    por meio da propagao de suas histrias, nas quais existiam elementos fundamentais para o

    sentimento de pertencimento a um grupo, com o objetivo de reconhecimento perante os

    demais grupos sociais e rgos oficiais.

    Michael Pollack (1989, 1992) atribui a esses fatos o surgimento de movimentos para

    que suas memrias sejam relativizadas em suas condies marginais, adquirindo espao e

    visibilidade, silenciados por um trabalho de enquadramento da memria com a finalidade

    de consolidar e legitimar Estados e identidades nacionais.

  • 2

    Em relao a essa mobilizao, com o incidente de uma cultura e poltica de memria,

    Andreas Huyssen destaca:

    No cenrio mais favorvel, as culturas de memria esto intimamente

    ligadas em muitas partes do mundo a processos de democratizao e luta por

    direitos humanos e expanso e fortalecimento das esferas pblicas da

    sociedade civil. Desacelerar em vez de acelerar, expandir a natureza do

    debate pblico, tentando curar as feridas provocadas pelo passado, alimentar

    e expandir o espao habitvel em vez de destru-lo em funo de alguma

    promessa futura, garantindo o tempo de qualidade estas parecem ser necessidades culturais ainda no alcanadas num mundo globalizado, e as

    memrias locais esto intimamente ligadas s suas articulaes.

    (HUYSSEN, 2000, p. 34-35)

    Segundo Stuart Hall (2000), os reflexos causados pela globalizao so vistos por

    alguns pesquisadores como uma ameaa, enfraquecendo as chamadas culturas nacionais, mas

    permanecem fortes no que diz respeito a direitos legais e cidadania. Sobretudo, destacam as

    identidades locais, regionais e comunitrias como as mais importantes. Assim as

    identificaes globais passam a desarticular, ou at mesmo extinguir as chamadas culturas

    nacionais.

    A cultura e poltica de memria so alimentadas pela construo das memrias

    relativas s identidades e aos espaos dos grupos sociais. Apresenta elementos importantes ao

    utilizarem a memria como recurso em busca do reconhecimento e direitos perante o Estado

    por meio das prticas de polticas pblicas.

    nessa conjuntura que este trabalho visa analisar a memria como recurso

    sociopoltico na cidade de Ourinhos SP, por meio das aes da Casinha da Memria,

    equipamento cultural dirigido pela Associao de Amigos da Biblioteca Pblica (AABIP) e

    Secretaria Municipal de Cultura. Fortalece a cidadania e as identidades sociais ao realizar seu

    projeto principal, o Arquivo de Lembranas.

    O projeto Arquivo de Lembranas consiste na formao de um acervo audiovisual

    com relatos de histrias de vida. Um dos temas abordados a memria dos ferrovirios,

    proporcionando populao o direito de conhecer parte da memria de sua cidade, e, aos

    antigos ferrovirios, o direito enquanto cidados de terem sua memria registrada, divulgada e

    valorizada.

  • 3

    1. MEMRIA INDIVIDUAL E MEMRIA SOCIAL

    O conceito de memria vem sendo estudado h sculos por filsofos e cientistas,

    modificando-se e adequando-se s funes, s utilizaes sociais e sua importncia em

    diferentes sociedades humanas. A memria era explicada de acordo com os conhecimentos e

    acontecimentos de cada momento da histria.

    Segundo Jacques Le Goff (1996), os gregos concebiam a memria como algo divino,

    um dom a ser praticado. Nesse contexto, o poeta tinha um papel social importante, o de

    transmitir lembranas do passado aos mortais, reveladas pela deusa Mnemosine, me das

    Musas, protetoras das artes e da histria. Possua a condio de memria viva de um grupo.

    De mesma origem, a memria e a imaginao (lembrar e inventar) tm intensas

    ligaes, quando os registros eram transferidos para fora do corpo, era como se houvesse um

    enfraquecimento da memria. Portanto os gregos desenvolveram muitas tcnicas para

    preservar as lembranas sem abrir mo do registro escrito.

    Para os romanos, a memria era transmitida pela arte retrica. O orador seguia a regra

    de no utilizar registros escritos.

    A idade mdia marcada pela memria litrgica. O cristianismo e o judasmo

    organizam o tempo presente com lembranas de acontecimentos de milagres e datas precisas,

    principalmente dos santos, articulando o ensino da memria oral e escrita. Assim surgem os

    tratados de memria (artes memoriae).

    A imprensa revoluciona com seus tipos mveis e proporciona entre os mais cultos

    tratados cientficos e tcnicos que anteciparam e abriram a memorizao do saber.

    A urbanizao, a transformao na organizao e relaes sociais, as atividades,

    papis e percepes do indivduo, trouxeram mudanas importantes para a memria

    individual e coletiva.

    De uma sociedade baseada na tradio oral dos saberes necessrios ao trabalho e

    vida em grupo, novas ocupaes relacionadas ao comrcio e vida nas cidades demandam

    registros e operaes, de listas, de transaes. Deste modo, desenvolvem-se artifcios cada vez

    mais sofisticados para guardar e disseminar a memria em textos e imagens.

    Com a tecnologia da informao foi possvel guardar e organizar grandes quantidades

    de registros e abranger os meios inventados anteriormente.

    Maurice Halbwachs (1990) colaborou com seus estudos na concepo das

    representaes sociais que compem a memria. Para ele as lembranas dos indivduos so

    estabelecidas a partir da relao a um grupo. Portanto a memria individual pode ser

  • 4

    compreendida como um ponto onde convergem diversas influncias sociais e como uma

    forma singular de articulao dessas extenses. A memria social construda por um grupo

    por meio de articulao e localizao de lembranas em quadros sociais comuns. Essas

    lembranas so organizadas em um acervo e compartilhadas resultando na memria social.

    Ao apontar e relacionar memria individual e coletiva, Maurice Halbwachs enfatiza os

    termos usados:

    [...] impossvel conceber o problema da evocao e da localizao das

    lembranas se no tomamos para ponto de aplicao os quadros sociais reais

    que servem de pontos de referncia nessa reconstruo que chamamos

    memria. (DUVIGNAUD Apud HALBWACHS, 1990, p. 9-10)

    Entretanto, a lembrana pessoal deve ser destacada como uma forma de confrontar as

    interferncias coletivas. Franco Cardini (1993) explica:

    [...] a lembrana no se constri sem a memria coletiva, mas, ao mesmo

    tempo, a recordao pessoal uma forma de testemunho que impe limites

    tirania ou ditadura das imagens coletivas. (CARDINI, 1993, p. 326)

    No interior do trabalho com a memria este limite deve ser reconhecido, pois, as

    lembranas so compostas pelas experincias comuns dos indivduos, mas seus contedos no

    so arbitrrios. Em contrapartida, as lembranas pessoais passam pela tirania das imagens

    coletivas enquanto possibilita que um elemento de carter pessoal possa ser ouvido por cima

    da memria coletiva. Para Maurice Halbwachs (apud CARDINI, 1993) a conscincia

    individual um medidor de influncias sociais, porm, ao mesmo tempo, um limite, algo

    que pode salvar da ditadura.

    A memria sublinha momentos histricos significativos, preserva o valor do passado

    fortalecendo os grupos sociais. um objeto de busca pelo poder, pois o que deve ser

    lembrado ou esquecido determinado pelos grupos como uma forma de autoridade sobre os

    outros.

    Michael Pollak (em entrevista concedida ao CPDOC - Centro de Pesquisa e

    Documentao de Histria Contempornea do Brasil, 1987) destaca elementos constitutivos

    da memria, como os acontecimentos, personagens e lugares. Todos podem ser vividos

    pessoalmente ou indiretamente, ou seja, com a participao em um grupo. Essa memria

    tambm pode ser real ou transferida em projees de outros eventos:

  • 5

    O que ocorre nesses casos so, portanto, transferncias, projees. Numa

    srie de entrevistas que fizemos sobre a guerra na Normandia, que foi

    invadida em 1940 pelas tropas alems e foi a primeira a ser libertada,

    encontramos pessoas que, na poca do fato, deviam ter por volta de 5, 16, 17

    anos, e se lembravam dos soldados alemes com capacetes pontudos

    (casques pointe). Ora, os capacetes pontudos so tipicamente prussianos,

    do tempo da Primeira Guerra Mundial, e foram usados at 1916, 1917. Era,

    portanto, uma transferncia caracterstica a partir da memria dos pais, da

    ocupao alem da Alscia e Lorena na Primeira Guerra, quando os soldados

    alemes eram apelidados de "capacetes pontudos" para a Segunda Guerra.

    Uma transferncia por herana, por assim dizer. (Entrevista concedida ao

    CPDOC em dezembro de 1987)

    Michael Pollak (em entrevista concedida ao CPDOC, 1987) ainda apresenta os

    resqucios datados da memria, ou seja, aquilo que fica gravado como data precisa de um

    acontecimento. possvel se deparar com a reconstituio poltica da histria e as datas

    pblicas podem se tornar privadas. Ou, unicamente, a autntica importncia histrica das

    respectivas datas para determinada regio. Deste modo, a memria pode "vencer" a

    cronologia oficial. O que implica saber qual a relao disso com a constituio da

    personagem. Pollak tambm constata:

    [...] se possvel o confronto entre a memria individual e a memria dos

    outros, isso mostra que a memria e a identidade so valores disputados em

    conflitos sociais e intergrupais, e particularmente em conflitos que opem

    grupos polticos diversos. (Entrevista concedida ao CPDOC em dezembro de

    1987)

    Portanto a memria poltica pode ser movedor de diferenas entre diversas

    organizaes. Para caracterizar essa memria conveniente colocar o conceito de trabalho de

    enquadramento da memria, que pode ser ponderado em termos de investimentos. Uma

    histria social da vida seria a anlise desse trabalho de enquadramento da memria e poderia

    ser cometida em organizaes polticas, sindicais, na Igreja, por fim, em tudo aquilo que leva

    os grupos a consolidarem o social.

    Todavia outro trabalho seria necessrio introduzir, da prpria memria, uma

    conservao, de consistncia, de unidade, de continuidade da organizao. Michael Pollak

    exemplifica:

  • 6

    [...] a partir do momento em que o Partido Comunista amarrou bem a sua

    histria e a sua memria, essa mesma memria passou a trabalhar por si s, a

    influir na organizao, nas geraes futuras de quadros; os investimentos do

    passado, por assim dizer, renderam juros. Esse fenmeno torna-se bem claro

    em momentos em que, em funo da percepo por outras organizaes,

    preciso realizar o trabalho de rearrumao da memria do prprio grupo.

    (Entrevista concedida ao CPDOC em dezembro de 1987)

    Portanto, ao reorganizar a histria do partido, sua memria reescrita. Esta memria

    e identidade estando suficientemente constitudas, os questionamentos vindos de outros

    grupos externos da organizao, no chegam a provocar a necessidade de reorganizao, nem

    em nvel da identidade individual, nem em nvel da identidade coletiva. As memrias

    individuais sustentam-se da memria coletiva e histrica, e buscam elementos mais

    abrangentes do que a memria construda pelo individuo e seu grupo.

    Um dos elementos mais importantes na construo e afirmao no carter social da

    memria a linguagem. As trocas entre os membros de grupo se fazem por meio dela. Como

    afirma Eclia Bosi (1994), a linguagem a ferramenta socializadora da memria, pois

    restringe, conecta e aproxima no mesmo espao histrico e cultural experincias to variadas

    como o sonho s lembranas e s experincias atuais.

    Contudo foi por meio dos processos metodolgicos da memria coletiva, como no

    caso de trabalhos sustentados pela histria oral, que foi possvel reconhecer a histria dos

    negros, mulheres e trabalhadores. A histria ao invs de se configurar em uma ampla

    narrativa, mencionando apenas a histria dos povos dominantes, passou a abrigar e dar

    visibilidades a todas as narrativas.

    Memria individual e coletiva (social) se sustenta da memria histrica e so

    socialmente trabalhadas. Possuem registros e informaes importantes a serem transmitidas,

    essencialmente, com a funo de garantir o sentimento de pertinncia entre os membros do

    grupo. Diferente da memria histrica que possui como principal meio de preservao e

    comunicao, a escrita, a memria individual e coletiva tem a oralidade como veculo

    fundamental, porm no especfico. Memrias individuais, coletivas e histricas se adentram

    mutuamente. Memrias individuais e coletivas almejam a coexistncia e a afirmao como

    memria histrica.

  • 7

    2. POLTICAS PBLICAS DE CULTURA E MEMRIA SOCIAL

    Atualmente vem aumentando o interesse por estudos sobre polticas pblicas pelos

    pesquisadores, profissionais e instituies. Alexandre Barbalho (2005. p. 37) aponta que

    embora exista uma extensa bibliografia sobre o tema Poltica Cultural, ainda aparente a

    dificuldade em encontrar trabalhos preocupados em trazer uma discusso mais conceitual.

    Para o autor, necessrio que haja uma definio com a prtica e com a pesquisa, em

    se tratando de polticas culturais nos dias de hoje.

    Entre outras verses que comeam a surgir na dcada de 1960, destaca-se a

    importncia da UNESCO em torno das reflexes e debates sobre assuntos relacionados

    cultura. No ano de 1969, a instituio publicou o documento Cultural policy: A preliminary

    study, que fez parte da coleo Studies and Documents on Cultural Policies, divulgado na

    dcada de 1970, sobre a situao da poltica cultural dos pases membros em todos os

    continentes. Determina:

    Poltica cultural entendida como um conjunto de princpios operacionais,

    prticas administrativas e oramentrias e os procedimentos que fornecem

    uma base para a ao cultural do Estado. (...) Poltica cultural deve ser

    entendida como a soma dos usos conscientes e deliberada, de ao ou falta

    de ao na sociedade, visando atender a determinadas necessidades culturais

    por meio da utilizao ptima de todos os recursos materiais e humanos

    disponveis em uma sociedade em um momento determinado. (UNESCO,

    1969, p. 4 e 10)

    perceptvel que a UNESCO, ao elaborar este conceito, considerou o momento e a

    influncia pelo direcionamento do contedo a agentes governamentais, pois contrariou a

    realidade contempornea, restringindo as polticas pblicas a uma ferramenta de atuao

    estatal ao ignorar a participao de empresas e organizaes comunitrias na conduo do

    campo cultural.

    Para Jurgen Habermas as polticas pblicas envolvem atores pblicos e privados,

    podendo, inclusive, atuar em conjunto em projetos planejados, sistematizados como

    pensamentos e atividades estratgicas que coliguem o antes, o durante e o depois da ao

    proposta. Por ser uma ao interventiva no mbito coletivo, importante refletir sobre

    polticas pblicas de cultura acerca do que o autor apresenta como a noo de esfera pblica:

  • 8

    A esfera pblica pode ser descrita como uma rede adequada para a

    comunicao de contedos, tomadas de posio e opinies; nela os fluxos

    comunicacionais so filtrados e sintetizados, a ponto de se condensarem em

    opinies pblicas enfeixadas em temas especficos. Do mesmo modo que o

    mundo da vida tomado globalmente, a esfera pblica se reproduz atravs do

    agir comunicativo, implicando apenas o domnio de uma linguagem natural;

    ela est em sintonia com a compreensibilidade geral da prtica comunicativa

    cotidiana. (HABERMAS, 1997, p. 92)

    Nesse sentido, a esfera pblica um espao onde agentes e instituies, de domnio

    coletivo, reivindicam qualidade de vida, participao nas polticas pblicas j adotadas e em

    novas polticas que atendam a populao em geral na rea cultural. Deste modo, necessidades

    de grupos locais intensificadas por meio da memria, podero ser articuladas, ouvidas e

    ponderadas.

    Para Antnio Gramsci (1982) cada grupo social concebe um intelectual orgnico,

    acepo dada aos sujeitos que se ocupam em pensar a realidade social, servindo de

    mediadores entre a sociedade civil e a sociedade poltica, no papel de deciso na produo e

    nas prticas de polticas pblicas por meio de processo de articulao de estratgias para criar

    hegemonia da classe trabalhadora.

    Uma das mais marcantes caractersticas de todo grupo social que se

    desenvolve no sentido do domnio sua luta pela assimilao e pela

    conquista "ideolgica" dos intelectuais tradicionais, assimilao e conquista

    que so to mais rpidas e eficazes quanto mais o grupo em questo elaborar

    simultaneamente seus prprios intelectuais orgnicos. (GRAMSCI, 1982, p.

    9)

    Gramsci apoia a ideia de sociedade civil, ou classe poltica para o controle do Estado,

    para tanto, as classes tem que se servir das mesmas oportunidades e condies. Porm,

    historicamente, existem muitas desigualdades entre os detentores do poder e as classes

    trabalhadoras. O Estado est a servio das classes proprietrias, por isso Gramsci sugere o

    fortalecimento das classes sociais organizadas em sociedade civil, ou classe poltica, para

    negociarem a diviso de recursos. Mas, para isso seria fundamental que os intelectuais

    orgnicos assumissem a responsabilidade de organizar o movimento e permitir que os

    trabalhadores assumissem o poder, equilibrando foras e suas aes opressivas.

    A Segunda Guerra Mundial se diferenciou das anteriores por ter maior cobertura da

    mdia, causando comoo e reflexo por parte da sociedade. A sociedade civil internacional

    ficou perplexa perante a destruio promovida pela guerra, assim como pelas suas estatsticas

    escatolgicas. A cincia pr-guerra, os campos de concentrao nazistas, as bombas sobre

  • 9

    Hiroshima e Nagasaki, dentre outros exemplos bizarros de barbrie, serviram de modelo da

    capacidade destrutiva do ser humano, levantando novas discusses sobre o futuro da

    humanidade. De repente, tudo aquilo que remetia guerra tornou-se repugnante. A Europa,

    ento em runas, assim como outros cenrios da guerra, buscaram se reconstruir sobre novos

    valores. Com a ajuda da mdia internacional, causou ressonncia, cuja repercusso culminou

    na criao de rgos para a conservao de tudo aquilo que fora ameaado: as culturas, os

    patrimnios histricos e a dignidade humana.

    Deste modo, surgem movimentos que buscam evitar novos confrontos blicos. Em

    1945, criou-se a Organizao das Naes Unidas (ONU) a favor de estabelecer e manter a paz

    no mundo. Por meio da Carta das Naes Unidas, assinada em 20 de Junho de 1945, os povos

    manifestaram a sua determinao.

    [...] a preservar as geraes vindouras do flagelo da guerra, que por duas

    vezes, no espao da nossa vida, trouxe sofrimentos indizveis humanidade,

    e a reafirmar a f nos direitos fundamentais do homem, na dignidade e no

    valor do ser humano, na igualdade de direito dos homens e das mulheres,

    assim como das naes grandes e pequenas, e a estabelecer condies sob as

    quais a justia e o respeito s obrigaes decorrentes de tratados e de outras

    fontes do direito internacional possam ser mantidos, e a promover o

    progresso social e melhores condies de vida dentro de uma liberdade

    ampla. (Disponvel em <

    http://unicrio.org.br/img/CartadaONU_VersoInternet.pdf>)

    Alexandre Barbalho (2005, p. 35) afirma que no perodo ps - Guerra mundial que a

    cultura passa a receber maior ateno do Estado. Entre 1970 e 1988, a UNESCO promove

    uma srie de reunies e conferncias buscando unir os Estados nacionais. Destaca:

    Conferncia Intergovernamental sobre Aspectos Institucionais, Administrativos e Financeiros da Poltica Cultural (1970); Promoo da Dcada Mundial do Desenvolvimento Cultural (1988-1997);

    Comisso Mundial de Cultura e Desenvolvimento, criada junto com as Naes Unidas, em 1992; e

    Conferncia Mundial de Polticas Culturais (1988).

    Para Martin Cezar Feij (1983, p. 75), todas as iniciativas da UNESCO para situar

    normas de convivncia entre culturas alheias, durante a dcada de 1970, so mobilizadas pela

  • 10

    contribuio da contracultura1. As mudanas comportamentais trazidas pela contracultura e o

    surgimento dos movimentos sociais, refletiram em transformaes nas reas sociais, culturais

    e tecnolgicas, na dcada de 1980. Tais mudanas, que almejavam reconstruir a estrutura das

    instituies no sentido de flexibilizar hierarquias e ampliar papis, por fim, acabaram por

    discutir projetos de ao cultural e o interesse pblico pela cultura. Levando em considerao

    a relao entre memria, histria e legislao, Luciana Heymann assegura:

    O que se observa, ento, em linhas gerais, a busca de reconhecimento e

    legitimidade por parte de grupos que, destacando-se da comunidade nacional, passam a definir-se a partir de novas categorias, sejam elas tnicas, religiosas, de gnero, etc. Nesse processo esto em jogo novas

    formas de auto-identificao, a valorizao de uma histria particular, a

    demanda por incluso sem homogeneizao, a luta pelo reconhecimento

    pblico de sua existncia e significado para a nao, por representao

    poltica e, finalmente por direitos. No apenas os direitos universais, mas

    tambm novos direitos, associados especificidade histrica ou cultural

    desses grupos, fenmeno que vem provocando a rediscusso de conceitos

    como cidadania e democracia. (HEYMANN, in GOMES 2007, p. 17)

    Para Antnio Rubim (2007), atualmente h uma descentralizao, agentes estatais e

    no-estatais que desenvolvem aes e projetos sistemticos no campo da cultura so inseridos

    nas polticas culturais ao lado dos Estados nacionais. Deste modo as polticas pblicas

    culturais so compostas pelos organismos supranacionais (organizaes entre naes,

    organismos multilaterais, blocos econmicos, etc.), os estados subnacionais (as provncias e

    os municpios), entre outros.

    A descentralizao do Estado-nao em relao s polticas pblicas culturais

    proporciona tambm sociedade civil a oportunidade de reconhecimento pblico de outras

    memrias, e no somente a nacional. Lia Calabre aponta em sua pesquisa sobre polticas

    pblicas de cultura no Brasil:

    1 Surgida nos Estados Unidos na dcada de 1960, a contracultura pode ser entendida como um movimento de

    contestao de carter social e cultural. Nasceu e ganhou fora, principalmente entre os jovens desta dcada,

    seguindo pelas dcadas posteriores at os dias atuais. Ver O que contracultura, Pereira, Carlos A. M., 1984.

  • 11

    Durante muito tempo a ao do Estado ficou restrita a preservao daquilo

    que comporia o conjunto dos smbolos formadores da nacionalidade, tais

    como o patrimnio edificado e as obras artsticas ligadas cultura erudita

    (composies, escritos, pinturas, esculturas, etc.). O papel de guardio da

    memria nacional englobava atribuies de manuteno de um conjunto

    restrito de manifestaes artsticas. As manifestaes culturais deveriam ser

    registradas e resgatadas dentro do que poderia ser classificado como o

    folclore nacional. (CALABRE, 2007, p. 96)

    Diante dessa superao da atuao restrita do Estado, as organizaes no-

    governamentais e as movimentaes da sociedade civil esto desenvolvendo aes

    acrescentando novos caminhos para as polticas pblicas de cultura. Sem deixar de lado os

    fluxos transnacionais do processo de globalizao e as relaes internacionais, decisivos para

    a ampliao da aplicao do Estado rea cultural.

    Lia Calabre (2010) destaca como marco inaugural das polticas de cultura no Brasil, a

    implantao do Departamento de Cultura da prefeitura da cidade de So Paulo, sob o

    comando de Mrio de Andrade, de 1935 a 1938, e a criao dos Ministrios da Educao e

    Sade em 1930, sob direo de Gustavo Capanema.

    Nas reflexes de Cristina De Carvalho (2009) sobre apresentao de lutas e conflitos

    na histria das polticas pblicas de cultura no Brasil, de 1977 at os dias atuais, ou seja,

    desde a poca do Estado Novo, existe um processo de aes e demandas sociais reivindicando

    seus espaos na formulao de polticas pblicas de cultura no Brasil. Segundo a autora, esta

    participao se intensificou a partir de 1980, quando se transfere as aes estratgicas na rea

    por meio das leis de incentivo e renncia fiscal. Cristina De Carvalho avalia que no

    contraponto, est a participao conquistada:

    [...] que fomente um processo de emancipao e de auto-organizao

    expresse-se na formao do Sistema Nacional de Cultura e, em particular, no

    programa Cultura Viva, do Ministrio da Cultura do governo Lula. (DE

    CARVALHO, 2009, p. 19-20)

    Criado em junho de 2004, o Cultura Viva o Programa Nacional de Cultura,

    Educao e Cidadania, formado por Pontos de Cultura, dirigidos com a participao do

    Estado em conjunto com a sociedade.

    Segundo Antnio Rubim (2007b) e Cristina De Carvalho (2009) foi nas polticas

    pblicas de cultura do governo Lula (2003-2010), que o entendimento de incentivos e maior

    informao difundida foi mais presente por acrescentar uma noo de cultura mais

    abrangente.

  • 12

    Gilberto Gil, ex-ministro da Cultura, na I Conferncia Nacional de Cultura aponta

    aes que fortalecem perspectivas cidads e democrticas do desempenho do Estado neste

    campo. Como Antnio Rubim lana:

    Em conseqncia, o pblico privilegiado no sero os criadores, mas a

    sociedade brasileira. A outra nfase dos discursos programticos ser a

    retomada do papel ativo do Estado nas polticas culturais. (RUBIM, 2007b,

    p. 29).

    Contudo, por meio da compreenso de cultura adotada por uma gesto pblica, fica

    perceptvel a intensidade de seu desempenho. Como resumo das observaes apresentadas

    sobre polticas pblicas de cultura e memria social pode-se analisar alguns procedimentos de

    descentralizaes na formulao de polticas que vm sendo realizados a nvel nacional e

    regional: a difuso de informaes sobre cultura admitindo que suas mais variadas

    manifestaes sejam promovidas; a consistncia da sociedade civil, o mercado e as entidades

    internacionais com o Estado na formulao de polticas pblicas; a democratizao das

    polticas pblicas acerca da memria social e enquanto recurso sociopoltico; a distribuio

    descentralizada de equipamentos culturais com a inteno de adequar cidadania cultural.

    3. A ATUAO DA CASINHA DA MEMRIA COMO RECURSO

    SOCIOPOLTICO PARA A CIDADE DE OURINHOS - SP

    A partir do momento em que a memria desperta interesse e apresenta retorno, torna-

    se recurso que transcorrem em diferentes reas. George Ydice ao citar Michael Young e

    Jeremy Riftkin:

    (...) a cultura est sendo crescentemente dirigida como um recurso para a

    melhoria sciopoltica e econmica, ou seja, para aumentar sua participao

    nessa era de envolvimento poltico decadente de conflitos acerca da

    cidadania (YOUNG, 2000, pgs. 81-120), e do surgimento daquilo que

    Jeremy Riftkin (2000) chamou de capitalismo cultural. (YUDICE, 2004, 25)

    Com essa observao, o autor demonstra que os usos da cultura no mundo globalizado

    servem tambm para ponderar as justificativas das manifestaes de mote da memria social

    no momento atual. Deste modo, possvel afirmar que os trabalhos de construo,

    transmisso e divulgao de memrias so cada vez mais de interesse para incentivos, apoio

    polticos e fomentao, pois ofertam retorno sociopoltico e econmico sociedade. A

  • 13

    memria, como recurso, pode ser articulada para resolues de problemas que desde ento

    eram exclusivamente relacionadas a reas como a poltica e economia.

    apropriado deixar claro que nessa presente pesquisa a abordagem para memria-

    recurso e no memria-mercadoria. A inteno no limitar a memria pela memria, como

    afirma Santana (Apud YUDICE, 2004, p.32) em relao cultura, mas sim a conscincia do

    que a memria social capaz de oferecer ao compensar os investimentos que ampliam as

    aes nessa rea.

    O Plano Nacional de Cultura, previsto desde a aprovao da emenda 48, em 2005,

    recentemente est em fase de implementao de suas diretrizes formuladas pelo Estado em

    conjunto com a sociedade, atravs de pesquisas e encontros realizados como as Conferncias

    Nacionais de Cultura, Cmaras Setoriais, Fruns e Seminrios.

    Criada no ano de 2010, a lei 12.343/10, que regulamenta o plano, est contida no

    Artigo 215 da Constituio Federal. O PNC para o Ministrio da Cultura (MinC):

    [...] tem por finalidade o planejamento e implementao de polticas pblicas

    de longo prazo voltadas proteo e promoo da diversidade cultural

    brasileira. Diversidade que se expressa em prticas, servios e bens

    artsticos e culturais determinantes para o exerccio da cidadania, a expresso

    simblica e o desenvolvimento socioeconmico do Pas. (MinC, disponvel

    em www.cultura.gov.br/site/categoria/politicas/plano-nacional-de-cultura/.

    Acesso em 08 de maro de 2012)

    A memria est presente no contedo do PNC. Comeando por seus princpios, cujo

    captulo VI atenta ao direito memria e s tradies. No Captulo II, uma de suas estratgias

    e aes :

    2.3.1. Promover aes de educao para o patrimnio, voltadas para a

    compreenso e o significado do patrimnio e da memria coletiva, em suas

    diversas manifestaes como fundamento da cidadania, da identidade e da

    diversidade cultural. (MinC. Disponvel em

    www.cultura.gov.br/site/categoria/politicas/plano-nacional-de-cultura/

    Acesso em 08 de maro de 2010)

    Seguindo esses preceitos a Secretaria de Cultura de Ourinhos, em parceria com a

    Associao de Amigos da Biblioteca Pblica vem praticando aes de preservao da

    memria da formao da cidade e de educao patrimonial, tais como: Memria Postal

    Apresentando Imagens do Passado; Oficina de Educao Patrimonial; Oficina Aes

    Educativas em Museus; publicaes e a implantao da Casinha da Memria.

  • 14

    A Casinha da Memria um equipamento cultural vinculado ao Museu Municipal de

    Ourinhos, criado em 15 de dezembro de 2010, para abrigar acervos relacionados memria

    ourinhense e disponibiliz-los aos pesquisadores e s pessoas interessadas em conhecer um

    pouco mais a histria da cidade por meio de um acervo formado por livros, colees de fotos

    e de antigas publicaes. Sua sede justamente uma das casas do conjunto ferrovirio

    construdo no incio do sculo passado, que representa uma parte significativa da histria da

    cidade.

    Desde o incio do ano de 2011, a Casinha da Memria vem desenvolvendo seu

    principal projeto, o Arquivo de Lembranas, cuja finalidade criar um acervo audiovisual,

    formado por relatos de histrias de vida, onde qualquer pessoa pode deixar registrada sua

    histria.

    A organizao do acervo se d por temas, como Memria dos Nordestinos, Memria

    do Rdio, Memria da Msica, dentre outros. No momento, o projeto est voltado Memria

    dos Ferrovirios.

    4. PROJETO ARQUIVO DE LEMBRANAS MEMRIA DOS

    FERROVIRIOS

    Ourinhos uma cidade com densidade histrico-cultural. Destaca-se a sua importncia

    com o entroncamento ferrovirio, fundamental na economia cafeeira desde o incio do sculo

    XX, passando por toda a sua ampliao.

    Formado como Municpio em 1918, Ourinhos tornou-se ponto de partida da

    Companhia Ferroviria So Paulo - Paran em 1923, com o incio da construo do trecho

    entre Cambar e Ourinhos. A ferrovia fez parte da colonizao do norte paranaense e do

    desenvolvimento da economia cafeeira, englobando So Paulo e Paran, atravs dela o caf

    chegava ao porto de Santos. Muitas vidas se movimentavam, formando uma cidade cuja

    riqueza humana tem a oportunidade de ser recriada e difundida por meio de aes acerca da

    memria.

    O projeto Arquivo de Lembranas tem a misso de contribuir com o desenvolvimento

    humano e social ao valorizar, organizar e socializar a histria de vida das pessoas.

    Durante o ano de 2011 foram colhidos depoimentos de antigos ferrovirios de

    Ourinhos por uma equipe composta por Neusa Fleury Morais, Secretria de Cultura de

    Ourinhos, Marco Aurlio Gomes, Diretor da Assessoria de Imprensa da Secretaria de Cultura,

    Tatiana de Oliveira, Agente Cultural e fotgrafa, Jos Luiz Martins, Diretor de Audiovisual e

  • 15

    Edio, e Fernanda de Oliveira Botelho, agente cultural responsvel pelas transcries,

    pesquisa e registro dos documentos dos entrevistados.

    A ferrovia foi grande responsvel pela formao e ampliao do espao social2 de

    Ourinhos. Muitas casas foram construdas em um loteamento prximo ao ptio da estao

    ferroviria para abrigar pessoas que vinham de outras regies do pas ou que trocaram o

    campo para trabalhar na ferrovia. Assim formou-se a Vila Margarida, um dos bairros da

    cidade.

    Domingos ngelo Filho morava na Fazenda Lageadinho, rea rural de Ourinhos, e

    mudou-se para a rea urbana, na Vila Margarida, para trabalhar na ferrovia.

    Cheguei a Ourinhos mocinho ainda, em 10 de setembro de 1949. Vim para

    trabalhar na ferrovia. Na Sorocabana trabalhei noventa dias, foi mais na

    Rede de Viao Paran Santa Catarina. Era o fim do tempo dos ingleses.

    Trabalhar na ferrovia era um luxo, porque ningum queria trocar o trabalho

    do campo pela ferrovia, pois na Fazenda Lageadinho, por exemplo, tinha de

    tudo. Tinha campo de futebol iluminado, eu jogava bola a noite inteira,

    campo de aviao, farmcia, mdico, escola, rdio, gua encanada e turbina

    de energia prpria. Quando vim para Ourinhos j era casado e morei na Vila

    Margarida, em frente ao relgio da Rede. As casas da Rede eram oferecidas

    ao pessoal que trabalhava na Via Permanente, na soca. Conforme o trecho

    que cuidavam, tinha as casinhas para morarem. (Entrevista concedida em

    02/02/2011).

    Segundo BOSI (1994, p. 281) cada classe, cada pessoa vive diferentemente o seu

    tempo. A sociedade industrial racionalizou as horas de vida dos trabalhadores, encurtando o

    tempo da amizade, familiar e religioso. Porm, por ser um trabalho sobre o tempo, conotado

    pela cultura e pelo indivduo, a memria tambm envolve esse tempo perdido nas atividades

    mercantilistas. Deste modo, ao construir sua histria de vida, o indivduo busca subsdios na

    memria de seu grupo e do local onde viveu suas experincias.

    O trabalho na ferrovia era dividido em turnos, porm se ocorresse algum imprevisto

    como acidentes na linha ou problemas na comunicao, no importava o horrio, o ferrovirio

    deveria apresentar-se na funo imediatamente. O ferrovirio aposentado Marcial Fandaruff

    2 O espao social aquele que percebido entre os indivduos que participam de um coletivo. de natureza

    imaterial, refere-se aos vnculos que traam as relaes entre os indivduos e a sociedade, e, que formam o tecido

    social. Que se representam atravs de fios invisveis, de natureza comunicativa que fazem a coeso social, o elo

    que rene os homens em lugar comum. Podem-se ler diferentes esferas do tecido social, onde se realizam

    coletivos especficos, cujo objeto de ao a produo econmica, a organizao poltica e a vida social

    (EGLER, 2003b).

  • 16

    tinha a funo de supervisionar cem quilmetros de linha de telefonia da Rede de Viao

    Paran - Santa Catarina e expe situaes em que trocou momentos de lazer para socorrer

    defeitos na comunicao da estrada de ferro:

    [...] um servio que dava muito trabalho. s vezes para ir matin em

    Jacarezinho eu tinha que deixar o meu nome na portaria, se eles precisassem

    chamar, tinham que me tirar na matin pra socorrer telefonia l na Rede. Era

    apurado o negcio! Era sozinho e tomava conta de cem quilmetros todo dia.

    No era brincadeira! [...] no podia sair. Uma vez, no meu aniversrio,

    aquele pessoal l em casa, os parentes, dava um defeito de linha, eu tinha

    que largar tudo e sair feito doido. , tinha que atender. [...] Era o meu

    servio. (Entrevista concedida em 20/03/2011)

    Ldia Batista ngelo, esposa do ferrovirio aposentado Domingos ngelo Filho, da

    Rede de Viao Paran - Santa Catarina exemplifica com o nascimento de seu segundo filho

    como era ser casada com um ferrovirio.

    [...] O menino nasceu ele no estava em casa. o segundo filho. Ele foi

    prestar socorro e ficou vinte e dois dias l, levantando mquina e vago no

    brejo. A ele voltou pra casa. Mas ele chegou de uma linha e j foi chamado

    pra ir a outro socorro. (Entrevista concedida em 02/02/2011)

    Muitos chegavam a Ourinhos para trabalhar na ferrovia com suas famlias, porm

    outros constituam famlia depois de estabelecidos na cidade, deste modo, mulheres e filhos

    tambm participaram da construo dessa histria. possvel observar essa participao nas

    lembranas de Leda Maria Souza Silva, filha do ferrovirio aposentado Edvaldo Csar Silva

    que trabalhava na guarita do ptio da Rede de Viao Paran - Santa Catarina.

    [...] Eu me lembro de quando ia levar janta pra ele, noite. Porque l fazia

    uma escala. A gente ficava brincando. A ele vinha, sentava, jantava e ns

    ficvamos correndo [...] s vezes ele falava assim: D uma volta com ela. A a gente andava (de trem). Ento, sabe assim? Tem muita recordao. s

    vezes quando ele saa para alguma cidade aqui perto, falava assim pra ela

    (Nomia, esposa do ferrovirio): Olha, na hora que tiver chegando aqui, eu vou mandar dar trs apitos, que voc sabe que estou chegando. A ela j ficava naquela expectativa. Na hora que dessem trs apitos, ele estava

    chegando. Ento logo, logo ele estava em casa. [...] , voc v! Nossa! Era

    muito bom. (Entrevista concedida em 03/09/2011)

    Havia em Ourinhos uma cooperativa que fornecia produtos para os ferrovirios em

    troca de pagamento descontado em folha. O ferrovirio aposentado Domingos ngelo Filho

    conta:

  • 17

    [...] Aqui, ns tnhamos uma cooperativa na Rua Vinte e Seis de Outubro,

    abastecia todos os ferrovirios, vinha tudo de Ponta Grossa. Enquanto no

    entrou espertalho dentro dela, era muito boa para os ferrovirios, no

    faltava nada. A gente mandava uma lista, ainda tem a caderneta guardada.

    Na caderneta estava tudo escrito o que eles tinham, a a gente marcava a

    quantia e mandava pra l. Eles empacotavam tudo e mandavam pela

    carrocinha. Tinha saco de arroz, batatinha, cebola, alho, bacalhau, carne

    seca, carne de sol, carne de porco salgada, linguia, linguia rosa e salame.

    Depois ela fechou, assim meio de repente, e um tal de Augustinho era o

    gerente, ele morava aqui na Vila Margarida. Dizem que ele deu um rombo na Cooperativa e ela fechou assim, de repente. (Entrevista concedida em

    02/02/2011).

    Nivaldo ngelo, filho de Domingos ngelo, acrescenta com suas lembranas de

    criana:

    [...] Vinha tudo do sul. Naquele tempo a molecada no tinha tnis, ns j

    tnhamos Makerliera, uma marca excelente de Ponta Grossa. Alfaiates de

    Ponta Grossa vinham de trem, tiravam medida da gente e faziam os casacos,

    descontava do holerite. Eu tinha um casaco daqueles longos, parecido com

    os da Guerra Mundial, durou uma eternidade, dei para meu sobrinho, est

    por a rodando, no sei pra onde foi. No acaba nunca, de l pura, batida

    mesmo. (Entrevista concedida em 02/02/2011).

    Leda Maria Souza Silva, filha do ferrovirio Edvaldo Cesar Silva, tambm expe suas

    lembranas de menina, em uma casa com onze irmos, como era a chegada da compra mensal

    feita na Cooperativa.

    [...] Vinha uma carroa s aqui pra nossa casa. Era uma delcia! [...] Nossa!

    Leite condensado. Tinha umas latas de goiabada enormes. Sabe? Lata de

    banha. s vezes ela (me) trocava com as vizinhas. Vinha saco de arroz,

    meio de feijo. Nossa! Era uma delcia a hora que parava a charrete na frente

    e a gente ia correndo pra descarregar! Nossa! uma lembrana, assim, que

    no tem. Muito emocionante. Eram duas compras por ano. Uma de inverno e

    outra de vero. (Entrevista concedida em 03/09/2011)

    Eclia Bosi (1994) em suas pesquisas observa a memria como um trabalho e no

    como um sonho. Olga Von Simson (2000) acrescenta:

  • 18

    [...] que o ato de relembrar em conjunto, isto , o ato de compartilhar a

    memria, um trabalho que constri slidas pontes de relacionamento entre

    os indivduos - porque aliceradas numa bagagem cultural comum - e, talvez

    por isso, conduza a ao. Portanto, a memria compartilhada tanto forma

    de domar o tempo, vivendo-o plenamente, como empuxo que nos leva a

    ao, constituindo uma estratgia muito valiosa nestes tempos em que tudo

    transformado em mercadoria, tudo possui valor de troca. Essa memria

    compartilhada, enquanto desejo latente do homem ps-moderno, que,

    entretanto se realiza numa relao no inserida na lgica de mercado, nos

    leva a construir redes de relacionamentos nas quais possvel focalizar em

    conjunto aspectos do passado, envolvendo participantes de diferentes

    geraes de um mesmo grupo social. Nesse processo, utiliza os "culos do

    presente" para reconstruir vivncias e experincias pretritas o que nos

    propicia pensar em bases mais slidas e realistas nossas futuras aes (VON

    SIMSON, 2000, p.66).

    Essa ao de compartilhar a memria proporciona maior conscincia quanto aos

    problemas atuais da vida da comunidade ourinhense, e espontaneamente a conduz a aes

    conjuntas e politicamente conscientes apontando resolues. Acredita-se que a memria

    constitui-se um recurso tanto para a gesto da Casinha da Memria, quanto para o pblico e a

    comunidade relacionados. Por ser um espao de construo de narrativas de memria, torna-

    se capaz de atingir a proximidade com o entorno, aumentando o nmero de seus visitantes.

    Para a Secretria de Cultura de Ourinhos Neusa Fleury Moraes:

    O projeto importante por deixar registrada a trajetria dos ferrovirios em

    Ourinhos, e tambm porque essas informaes estaro acessveis para

    pesquisadores sobre o tema ou pessoas que queiram conhecer mais sobre o

    assunto. Alm de preservar a memria dos trabalhadores da ferrovia, meio

    de transporte quase esquecido no pas, o projeto tambm valoriza a histria

    de vida de pessoas comuns, que tiveram suas experincias lembradas e

    valorizadas. Por ltimo, um projeto como esse que visa preservar a histria

    da ferrovia tambm colabora no cuidado com a memria da prpria cidade,

    que teve seu crescimento atrelado poca urea do transporte ferrovirio.

    (Entrevista concedida em 01/08/2012)

    A Casinha da Memria instrumento para reconhecimento da identidade social do

    pblico e da comunidade, de fortalecimento de laos sociais, bem como a evocao

    memria social da cidade por parte de seus moradores.

    Para Marco Aurlio Gomes, um dos responsveis por colher os depoimentos dos

    ferrovirios:

    A importncia do Arquivo de Lembranas est na valorizao das histrias

    pessoais, contribuindo para uma nova compreenso do passado, alm da

    criao de um arquivo audiovisual disponibilizado a toda comunidade e que

    permanece aberto para o registro de novas histrias de vida. (Entrevista

    concedida em 25/07/2012)

  • 19

    Alm de valorizar as histrias pessoais, dando voz a diferentes segmentos da

    sociedade, o projeto Arquivo de Lembranas permite a criao de um novo tipo de acervo que

    servir de fonte de pesquisa, tanto para estudantes das sries iniciais como para pesquisas

    mais avanadas. Proporciona a populao o direito de conhecer parte da memria de sua

    cidade, e aos antigos ferrovirios, o direito enquanto cidados de terem sua memria

    registrada, divulgada e valorizada. Segundo Chau (2006, p. 125) a memria como direito

    do cidado, portanto como ao de todos os sujeitos sociais e no como uma produo oficial

    da Histria.

    Quando questionada sobre a importncia do projeto Arquivo de Lembranas, a

    professora da Rede Pblica Municipal e Estadual, Nilza de Ftima Volpe Nbile,

    frequentadora da Casinha da Memria e moradora da Vila Margarida, disse:

    Achei interessante o projeto por valorizar as pessoas atravs do resgate de

    suas histrias. Simples cidados que revelam a sua importncia para a

    sociedade. A ferrovia um marco social para cidade. Em junho, viajei a

    Perube com um casal de amigos, passeando pela praia, ficamos

    impressionados com a disposio de uma senhora que passou correndo por

    ns. Fizemos comentrios e um casal que estava caminhando atrs de ns

    disse que aquela senhora corria na praia todos os dias. Assim comeamos a

    conversar e a mulher perguntou de onde ramos. Quando respondi que

    morava em Ourinhos ela, surpresa, contou que viveu at os sete anos aqui

    (Ourinhos) e que seu pai era ferrovirio. Lembrou-se da casa que morou

    (uma das casas construdas pela Estrada de Ferro Sorocabana e que foram

    recuperadas). Depois dessa conversa, lembrei-me do projeto da Casinha da

    Memria e de como essa memria est sendo valorizada em nossa cidade. O

    resumo de tudo o valor que esse trabalho proporciona ao cidado

    ourinhense. (Entrevista concedida em 25/07/2012)

    Logo, entende-se que a Casinha da Memria por meio do projeto Arquivo de

    Lembranas contribui como um recurso sociopoltico cidade de Ourinhos por fortalecer a

    cidadania e as identidades sociais. Deste modo, a Secretaria Municipal de Cultura atende s

    diretrizes do Plano Nacional de Cultura no mbito da temtica memria social.

  • 20

    Consideraes Finais

    Ao longo deste trabalho foi possvel notar que a construo da memria vem

    conquistando seu espao como recurso em busca do reconhecimento e direitos perante o

    Estado por meio das prticas de polticas pblicas, pois apresentam elementos importantes no

    fortalecimento das identidades e dos espaos dos grupos sociais.

    As polticas pblicas foram compreendidas em aes e interferncias que no so

    somente do Estado, como algo impositivo, mas que unem o processo de consensos e disputas

    dos diferentes grupos. Ora atendendo demandas de uns, ora negociando diferenas. So

    compostas por conflitos e perspectivas tanto de ao quanto de ausncia, compreendendo

    consenso, harmonia e oposies.

    Constatou-se, a partir da anlise realizada junto a Casinha da Memria, em

    Ourinhos, que o trabalho de suas aes culturais est no fortalecimento da identidade da

    cultura local e da formao de cidadania. De tal modo possvel notar que a memria dos

    antigos ferrovirios e de seus familiares, obtidos por meio do projeto Arquivo de Lembranas,

    no aprisiona o indivduo no passado, mas o incentiva com maior segurana a enfrentar os

    problemas da atualidade.

    Ao reconstruir e compartilhar os aspectos do passado recente, o trabalho com a

    memria permite uma transformao da conscincia das pessoas nele envolvidas direta ou

    indiretamente no que diz respeito prpria documentao histrica compreendendo seu valor

    na vida local, maneiras de recuper-las e conserv-la.

    Contudo, o projeto Arquivo de Lembranas proporciona populao o direito de

    conhecer parte da memria de sua cidade, e aos antigos ferrovirios, o direito enquanto

    cidados de terem sua memria registrada, divulgada e valorizada. As aes da Casinha da

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