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5/10/2015 A metáfora da sede e o retrato do sol http://www.continenteonline.com.br/index.php/component/content/article/54-artes-visuais/8511-a-metafora-da-sede-e-o-retrato-do-sol-de-gilvan-barreto.html 2/6 Share _ _ _ _ Página Inicial A Revista Seções Música Cinema Artes Visuais Cênicas Literatura Notícias Edições Anteriores Onde Comprar Assine Já Expediente Artes Visuais A metáfora da sede e o retrato do sol Escrito por Clarissa Macau Qui, 05 de Dezembro de 2013 10:00 Reprodução Após contar a história de uma Ilha tropical socialista, tocando nos elementos da terra e do fogo e colocando-lhes imaginariamente no pequeno livro vermelho Moscouzinho, o fotógrafo Gilvan Barreto decidiu ser observador do Sertão Nordestino. Em O Livro do Sol , o artista prestou atenção no monstro solar que castiga as terras secas, na essência dura da pedra e no excesso de sonho pela queda de chuva daquele lugar. Foi de uma viagem solitária pelo Sertão durante o verão de 2013, que nasceu O Livro do Sol (Tempo d’Imagem), lançado na próxima Seja o primeiro de seus amigos a curtir isso. Curtir Compartilhar voltar ao topo

A Metáfora Da Sede e o Retrato Do Sol

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Texto escrito sobre O Livro do Sol, de Gilvan Barreto, para o site www.revistcontinente.com.br

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5/10/2015 A metáfora da sede e o retrato do sol

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A metáfora da sede e o retrato do sol

Escrito por Clarissa Macau

Qui, 05 de Dezembro de 2013 10:00

Reprodução

Após contar a história de uma Ilha tropical socialista, tocando nos elementos da terra e do fogo e colocando-lhes imaginariamente no

pequeno livro vermelho Moscouzinho, o fotógrafo Gilvan Barreto decidiu ser observador do Sertão Nordestino. Em O Livro do Sol, o

artista prestou atenção no monstro solar que castiga as terras secas, na essência dura da pedra e no excesso de sonho pela queda de

chuva daquele lugar.

Foi de uma viagem solitária pelo Sertão durante o verão de 2013, que nasceu O Livro do Sol (Tempo d’Imagem), lançado na próxima

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quinta-feira (21 de novembro), às 19h30, na galeria Capibaribe Centro da Imagem (CCI). Há nele fotografias que nos apresentam uma

história árida por meio de cores frias, as cacimbas e caixas d’água suntuosas “como altares”, as nuvens tratadas, ora como entidades,

ora como rebanhos, e as imagens de banhos de rio, como milagre.

De tão ansiada, a água – o objeto de desejo – torna-se realidade constante em miragem, nesse ambiente desértico do qual todos os

habitantes parecem ter fugido com medo do “azul terrível” do luto pela ausência da chuva. É o que nos aponta Gilvan: “No início pensei

em fazer essa história com cores claras, o branco estourado que dá agonia nos olhos ao retratar essa luz que parece que a cada dia fica

mais forte no Sertão. Planejei muito, mas sabia que iria destruir o plano no momento da ação. Acabei optando pelo anoitecer, evitandoo sol que castiga, que seca, que destrói. Pensei o tempo inteiro no azul do céu e no alaranjado do barro que aparecem no romance

'Vidas Secas' de Graciliano Ramos”. Logo no início do romance de 1938, o alagoano escreve sobre o horror da coloração da

atmosfera sertaneja, “aquele azul que deslumbrava e endoidecia a gente".

Mas foi principalmente inspirado pela obra literária septuagenária Pedra do Sono (1942) – de um João Cabral de Melo Neto pré-

engenheiro, menos formalista e mais surrealista, que só existiu nesse seu livro de estreia –, que o fotógrafo Gilvan imaginou contrastes

entre “a água e seca, abundância e escassez, fotografia e literatura, o concreto e o imaginário” rodando mais de 4 mil quilômetros por

municípios como Caruaru, Brejo, Arcoverde, Floresta, Parnamirim e Vale do Catimbau. Gilvan ouviu história de sertanejos, opiniões

políticas, ensinamentos sobre a água e participou de apostas que previam a vinda da chuva. Viveu a experiência, mas não anotou nadaem canto nenhum, abandonou a caderneta de anotações e a caça pelos instantes decisivos, bressonianos.

Reprodução

“Não queria fazer um diário fotográfico. Criei regras rígidas, sem instantâneos ou uma coleção de imagens casuais. Evitei passar por

uma ossada de cabeça de boi e simplesmente mostrar que eu a vi. Queria algo com um tom mais misterioso, simbólico, e que

permanecesse no tempo. Fotos que parecessem ser tanto de anos atrás, como de anos à frente”, conta Gilvan, que assim como em

Moscouzinho, em O Livro do Sol se nega a explicar objetivamente qualquer coisa, preferindo fazer sentir. “Mas, a ideia de

'instantâneo' é discutível. Há fotografias como a de um menino mergulhando num lago que podem ser consideradas fotos de momentos

decisivos por alguns, mas eu não considero, porque são imagens banais. Podem ser repetidas. São imagens, 'palavras' que julgo

necessárias para contar uma história”.

A edição do livro que leva na capa preta de couro um único sol desenhado por Ariano Suassuna, teve forte influência da sua amiga e

curadora Georgia Quintas. “Ela foi fundamental nesse processo, me fazendo desapegar de fotos que não somariam ao discurso

colocado. Existem no livro fotos que se sustentam porque estão num contexto, e que fora dele poderiam não fazer sentido”,

fortalecendo o significado de narrativa. Para Georgia Quintas, “O Livro do Sol é a colocação de distintas paisagens regidas pelo

epicentro do personagem: o sol. Neste caso, as estratégias poéticas convergem para o que a imagem induz e emana, em mão oposta ao

registro documental”.

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Numa camada não tão explícita dessas fotografias estampa-se a crítica intrínseca à indústria da Seca. “Vários governos passaram e oproblema continua. A Seca nunca vai mudar, é uma coisa para sempre. Mas os sertanejos estão cientes que se os políticos quiserem,

eles podem fazer chover. Mágicas acontecem nas eleições”. Sem partidarizar, Gilvan transpõe o bucolismo parado no tempo e o torna

belo, mas ao mesmo tempo gritante na necessidade de um povo em tocar as nuvens e a água.

João Cabral de Melo Neto disse uma vez sobre sua poesia: “Eu gostaria de criar como um matemático, sempre a partir de elementos

racionais (...) Eu impeço tanto quanto possível que o inconsciente governe minha mão. Mas, de repente, o inconsciente faz uma má-

criação e a pessoa acaba derrotada". N'O Livro do Sol, Gilvan traz muito desse relacionamento entre a dureza da realidade e o onírico.

Porém, diferente de Cabral, o fotógrafo não parece ter ressalvas quanto a relação de suas imagens com o surreal, criando alma aoracional. Como afirma Quintas sobre o olhar de Barreto sobre o Sertão, "essa sim é a sutileza do Livro do Sol, encontrar a metáfora de

lugares que sobrevivem e ecoam clemência para persistirem".

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Leia o texto de aberturad'O Livro do Sol:

Adivinhando chuva, sonhando água!, por Gilvan Barreto:

O Livro do Sol é resultado de uma viagem pelo semiárido pernambucano, na derrocada do verão de 2013, auge da maior seca

dos últimos 60 anos no Nordeste do Brasil.

Nestas paragens, o Homem é feito de barro e sol. Talvez por isso os sonhos são de água. Palavras e pensamentos discorrem

como rios. A terra aqui é talhada para água, deixa reservados espaço e rastro. Cabral dizia que os rios são como discursos; ao

secar se dividem em poças: palavras soltas, isoladas.

Além de palavras, estas ilhas representam as pessoas que se desgarram em busca de outros rios mais caudalosos. As poças-

palavras são os nomes das pessoas. Mentalmente, desenhei um mapa onde as cidades foram batizadas com esses nomes – de

amigos e de outros sertanejos que admiro, porque suas obras e testemunhos deram alma à paisagem sertaneja que passei aenxergar. Assim, montei meu roteiro-palavra, visitei os lugares e criei imagens em homenagem a essas pessoas.

O sertanejo é um pescador de nuvens. Premune trovões e tange os cardumes de nuvens carregadas que teimam em passar sem

derramar uma gota. “Relampeou pras bandas de Granito, o tempo tá bonito (pra chover) acolá”, dizem vozes sem rosto, em

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desertificação.

Seguindo o sol e buscando vestígios de água, tive uma experiência intuitiva e sensorial. Investindo numa costura improvável

entre o calor intenso, a caatinga e desejos de atlânticos mares de água doce. Entre as moléstias do solo, Depressões Sertanejas

e males da alma. Entre mortes e vidas, entre a pedra e o sono. Entre a Fotografia e a Literatura.

Aos pluviômetros interessa saber quanto desta água é real. Neste livro de rodagem, cultiva-se a água como ideia fixa.

Cacimbas são portais, caixas d’água são altares e a fotografia é a faca que opera nas sombras, rasgando nacos de terra e

carne. Luz insistente entre nuvens pesadas.

Serviço:

Lançamento de “O Livro do Sol”, de Gilvan Barreto

Quando: quinta-feira, 21 de novembro, às 19h30

Onde: Capibaribe Centro da Imagem (Rua da Aurora, 533, Boa Vista, Recife – PE)

Entrada gratuita

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