A mineração em MG

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    mais previdentes para as fronteiras agrcolas, ondeviveriam o novo Ciclo Econmico do Caf.

    PROCURA DE RUMO CORRETO

    A transferncia da Corte Portuguesa para o Rio de

    Janeiro, em 1808, permitiu que D. Joo VI, entoPrncipe Regente, tomasse conhecimento da inexorveldecadncia da minerao de ouro e de diamantes eprocurasse recuper-las. Foi, ento, contratado pelacoroa portuguesa o Baro Wilhelm Ludwig vonEschwege, formado na Universidade Gttingen, naAlemanha. O Baro von Eschwege chegou ao Brasilem 1810 com a misso de diagnosticar o estado daminerao brasileira e encaminhar-lhe solues prticase modernas para sua recuperao, assim como avaliaroutros recursos minerais ainda no explorados,sugerindo formas de aproveitamento.

    impressionante observar os inmeros obstculosque o Baro teve de enfrentar para executar as tarefaspara as quais foi contratado. Estes eram de toda ordem,e especialmente burocrticos. Pelo que se podeconcluir, toda estrutura governamental procuravasabotar as iniciativas do Baro, embora deva-se tambmdizer que o Baro apresentava claras falhas de carter,sendo muito vaidoso e prepotente.

    Nos relatos dos naturalistas que visitaram o Brasilaps 1808, atendendo convite da coroa portuguesa,somente uma observao positiva se fazia a respeitodos mineradores brasileiros. Eles eram mestres na artede captar e conduzir gua. Na verdade, espantoso

    como eles conseguiam conduzir gua nas encostaselevadas, de onde a lanavam para desmontarcoberturas que lhes impediam o acesso ao corpomineralizado, num processo fantstico de agressoambiental.

    A ao de Eschwege no se limitou a sugerir,projetar, aconselhar (e ser muito pouco acatado). Elecriou a primeira verdadeira empresa de minerao aofundar a Sociedade Mineralgica de Passagem, comobjetivo de dar continuidade lavra da camada aurferaque mergulhava margem direita do ribeiro do Carmo,em Passagem de Mariana. Na margem esquerda, a

    camada havia sido lavrada, aps ter sido exposta pelaremoo do minrio de ferro a ela sobrejacente.Em Passagem, o minrio era, ento, modo por

    piles e o metal extrado por amalgamao.O Baro von Eschwege foi incansvel nos seus

    esforos de desenvolver a indstria mineral brasileira.Procurou visitar todas as ocorrncias que lhe foramrelatadas e fomentar o aproveitamento das que julgavateis e econmicas. Em memorvel esforo, tentoudesenvolver o aproveitamento das galenas argentferasdos sertes do Abaet, cuja existncia conhecera poramostras que chegaram corte. Finalmente, dedicou-se ao aproveitamento das reservas de minrio de ferro,fazendo construir a Imperial Fbrica de Ferro, nasproximidades de Congonhas do Campo.

    Eschwegwe fez uma estimativa do ouro produzido

    no Brasil no perodo que cobre o Ciclo Econmico doOuro. Os nmeros a que chegou no nosimpressionam,pois correspondem a pouco mais que aproduo anual da frica do Sul, nos seus maisprofcuos momentos. Entretanto, no nos permitidocomparar produes em termos de massa. O importante

    so os valores relativos das cousas. Uma tonelada deouro no sculo XVIII possui um valor econmico muitodiferente do valor de uma tonelada no sculo XX. Oque importa que a minerao foi a motivadora dacolonizao dos sertes do Brasil. Se com ela muitasmazelas vieram, no se pode esquecer que as virtudese os pecados so a essncia da condio humana.

    O SCULO XIX - AS COMPANHIASINGLESAS

    As evolues capitalistas efervescentes na Inglaterra

    foram campos frteis para criao de empreendimentose aventuras especulativas. No incio do sc.XIXfloresceram em Londres organizaes societrias queobjetivavam desenvolver empreendimentos aurferosno Brasil, levantando os necessrios recursos pela vendade participaes no j consolidade mercado de capitais.Como sempre, nessas ocasies, muitas das organizaesrevelaram-se simples falcatruas destinadas a tomardinheiro de incautos investidores. Outras, tendolevantado recursos, enviaram procuradores bizarros edespreparados, por vezes desonestos, que adquiriramaluvies exauridos, sem continuidade de mineralizaoprimria, evidenciando seu despreparo ou sua

    desonestidade, ou ambas.Algumas se revelaram empreendimentos srios que

    aqui se consolidaram, sendo que a Minerao MorroVelho S/A a nica evoluo que ainda permanece,tendo j completado 160 anos de atividades mineiras. interessante, mas lastimvel, notar que a presenadas empresas inglesas de minerao de ouro no Brasil,com todo o drama humano que isto representou, nodespertou um real e vlido interesse entre nossoshistoriadores e socilogos, to numerosos, serecenciados por ttulos e atos de autopromoo. louvvel a recente iniciativa da Minerao Morro Velho

    S/A, que organizou seu Memorial, sinalizando quepretende proteger, resgatar, conservar a sua memria,impedindo que com ela acontea o que destruiu outrosvaliosos acervos. Ns ousamos sugerir MineraoMorro Velho S/A lanar um desafio a quem queira epossa, poder no sentido de ser capaz, de redesenhar odrama da presena dos ingleses em Minas Gerais, bemcomo dos que por eles foram aqui trazidos, italianos eespanhis etc.

    As empresas inglesas que aqui se consolidaramforam introdutoras de novas e revolucionriastecnologias, especialmente processos hidrome-talrgicos para extrao do ouro de minrios com baixograu de liberao para o metal. Pelas mos dos ingleses,as minas de ouro brasileiras conheceram tem-pestivamente os processos de extrao do metal por

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    clorao e, posteriormente, por cianuretao, aquiimplantados no sculo XIX.

    Nas lavras subterrneas, alm de mtodosmodernos, os ingleses foram mestres em implantarinteligentssimos sistemas condicionantes das frentes,pois econmicos e eficientes.

    O que lamentamos, embora no saibamosexatamente explicar, que a presena de tcnicosbrasileiros era rara nestas unidades industriais. A mode obra privilegiava os ingleses, italianos, espanhis eescravos.

    A despeito da viso bastante correta do SegundoImprio ao tratar dos assuntos da indstria mineral, osesforos fomentadores no resultaram em avanonotvel no setor. O sculo XIX recebeu, ento, aminerao brasileira no mais lastimvel estado dedecadncia. Assistiu aos esforos envidados pararecuper-la e chegada de recursos estrangeiros que

    modernizaram-na. Ele assistiu tambm inexorveldecadncia da incipiente siderurgia que se desenvolveraem So Paulo e Minas Gerais, e que no acompanhoua evoluo tecnolgica do processual siderrgico.

    A Primeira Repblica, com seu carter basicamentepositivista, assumiu uma posio reativa poltica doImprio, no reservando minerao nenhum espaoprivilegiado, tratando-a como parte do conjunto deatividades industriais, indistintamente, desconsiderandoos riscos inerentes do setor.

    Porm, foi exatamente neste perodo histrico queo mundo econmico tomou conhecimento das grandesreservas de minrio de ferro existentes no corao do

    estado de Minas Gerais. Como difcil compreenderque essas reservas, anunciadas por todos os grandesnaturalistas que visitaram o Brasil, tenham sido portanto tempo esquecidas, e que os mineradores ingleses,que por tanto tempo aqui estiveram, no tenhamtransmitido o conhecimento do gigantismo e daqualidade das reservas, nem que seja por curiosidadeintelectual, se que foram capazes de avaliar a pobrelogstica que lhes impedia o aproveitamento.Organizaram-se, ento, nos Estados Unidos, asempresas que objetivavam aproveitar as reservasanunciadas em Estocolmo.

    Grandes programas exploratrios foramimplantados pelos americanos, utilizando tcnicasnunca vistas pela minerao brasileira. Infelizmente,estes trabalhos de pesquisa foram executados semqualquer participao de brasileiros que no tiveramoportunidade de tirar proveito tecnolgico do esforoempreendido.

    Acostumamo-nos a ouvir, e muito aplaudir, oposicionamento das autoridades mineiras e brasileirasque inviabilizaram os empreendimentos norte-americanos que objetivavam aproveitar o minrio deferro do Quadriltero Ferrfero na dcade de 1910. Emverdade, o posicionamento xenfobo atrasou de 30 anoso incio da verdadeira minerao de ferro em MinasGerais, somente recomeada timidamente na dcadade 1940.

    Gostaramos que o assunto voltassedesapaixonadamente ao exame crtico da atual geraode tcnicos. , porm, discutvel que os investidoresalcanassem sucesso, se o ambiente poltico lhes foraacolhedor. Em verdade, numa viso j em temposafastados, pode-se colocar em dvida a viabilidade dos

    empreendimentos, pois duvidoso que o transportemartimo da poca garantisse a competitividade dominrio nos centros consumidores de ento. Mesmopara as hematitas compactas, ento largamente usadasnas aciarias americanas, talvez os empreendimentosainda fossem prematuros. O que no podemosconcordar que aqueles que inviabilizaram por razespolticas os empreendimentos, possam ser hojelouvados como heris da nacionalidade. Se a posiode intransigncia se justificava na possibilidade deimpor vantagens para o Brasil, a estimativa de poderde barganha foi exagerada. No se justificam

    barganhas, quando deve haver unicamente regrasracionais pr-estabelecidas.

    A MINERAO E A NOVA REPBLICA DE1930

    A Nova Repblica, a primeira nova de 1930, pois asegunda nova viria em 1986, um novo conceito noarcabouo legal da minerao foi consagrado, peladefinio do bem mineral como propriedade da Nao,cujo aproveitamento seria concedido a pessoas dedireito privado.

    O ano de 1934 representa um marco na histria da

    minerao brasileira, pois foi nele que se criou oDepartamento Nacional de Produo Mineral - DNPM(Decreto nmero 23.979, de 08/03/1934), assinou-se(em 10 de julho de 1934) o Cdigo de Minas epromulgou-se a Carta Constitucional de 1934, de curtadurao mas de grande repercusso no destino daminerao brasileira.

    ORIGEM E EVOLUO DO DNPM

    Voltemos ao perodo do Reino Unido na busca dasorigens do DNPM, pois at ento a minerao somente

    era lembrada pela Coroa Portuguesa para receber seuquinto.O primeiro rgo pblico a ter legalmente de tratar

    da geologia foi o Museu Nacional, criado em 03/02/1818. Sua estrutura sofreu completa reorganizao em03/02/1842, passando a existir uma seo para tratardos assuntos, dentre outros, de Mineralogia, Geologiae Cincias Exatas.

    Em 25/02/1843 foi criado, na Secretaria do Estadodos Negcios do Imprio uma seo ... de Agricultura,Minerao ..., verdadeira semente do atual DNPM.

    Em 28/07/1860, pelo Decreto nm. 1067 foi criadaa Secretaria dos Negcios da Agricultura, Comrcio eObras Pblicas, a que foi atribuda competncia peloDecreto n 2747 de 16/02/1861, para inspecionar ...aminerao, excetuada a dos terrenos diamantinos, cuja

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    administrao e inspeo continuam a cargo doMinistrio da Fazenda.

    Pelo Decreto n 6026 de 06/11/1875 o ImperadorD. Pedro II criava a Escola de Minas de Ouro Pretoque se organizou em 12/10/1876, numa tentativaconcreta de introduzir a modernidade tecnolgica na

    minerao brasileira.Com o advento da Repblica, a minerao nomereceu nenhum tratamento especial e ela foi ligadaao Ministrio da Indstria, Viao e Obras Pblicas,criado pela Lei n 23, de outubro de 1891.

    Mais tarde, em 29/12/1906, pelo DecretoLegislativo n 1906 criou-se uma Secretaria de Estadoque recebeu a denominao de Ministrio dos Negciosde Agricultura, Indstria e Comrcio, quando seobserva uma maior preocupao com a minerao, poisdentre seus encargos destacam-se o estudo e despachode ... minerao e legislao, explorao e servio

    geolgico, estabelecimentos metalrgicos e escolaresde minas.Esta preocupao torna-se mais ntida com a

    criao, am 10/01/1907 (Decreto n 6323), do ServioGeolgico e Mineralgico do Brasil, vinculado aoMinistrio de Estado da Indstria, Viao e ObrasPblicas.

    Posteriormente, o Servio Geolgico eMineralgico voltou ao mbito do Ministrio daAgricultura ali permanecendo, j na forma de DNPM,at a criao do Ministrio de Minas e Energia, criadopela Lei n 3782 de 22/07/1960. Em 08 de maro de1934 foi, ento, criado o Departamento Nacional de

    Produo Mineral, pouco antes da assinatura do Cdigode Minas de 1934.

    A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL E AMINERAO

    O advento da Segunda Grande Guerra Mundialprovocou a necessidade de dirigir-se mineraoespecial ateno. O transporte brasileiro baseava-se,sobretudo, na rede de ferrovias e na navegao, ambasbasicamente movidas a vapor, queimando carvomineral e lenha.

    Com a guerra, tornou-se difcil o abastecimento doPas com combustvel importado, obrigando a que sedesse especial ateno minerao de carvo e, emmenor escala, de turfas.

    O petrleo, todo importado, foi substitudo,parcialmente, por lcool hidratado ou gs de madeira.

    O abastecimento de metais ficou praticamentereduzido reciclagem, e aos recursos da incipientesiderurgia a carvo de madeira, e a modestas fundies.

    As importaes tornaram-se difceis, no s pelaescassez, como tambm pelos ataques que os naviosmercantes sofriam nos oceanos.

    Por outro lado, os pases beligerantes careciam dematrias primas, abrindo oportunidades para certosprodutos minerais brasileiros, como Mangans,Quartzo, Scheelitas, Monazitas.

    A impossibilidade de adquirir enxofre nativoobrigou a que se procurasse a alternativa deaproveitamento das piritas, como j acontecera naprimeira guerra.

    Entretanto, o fato mais importante ocorrido nessapoca foi o acordo de Washington, pelo qual, alm de

    outras atitudes que no dizem respeito minerao, oBrasil reforaria o abastecimento das aciarias aliadascom suas hematitas compactas de alto teor metlico e,para tanto, receberia apoio financeiro para construir umterminal martimo, modernizar uma ferrovia e abrir umamina na bacia do Rio Doce. Alm disto, receberiatambm apoio financeiro para construir uma modernaindstria siderrgica integrada, totalmente verticalizada,das minas aos produtos acabados, em 1942.

    Assim nasciam, em 1942, a Companhia SiderrgicaNacional e a Companhia do Vale do Rio Doce, marcoaimportantes da indstria mineral brasileira.

    Nos primeiros anos que se seguiram ao acordo deWashington, as atividades de minerao da CSN,secundrias em relao ao seu objetivo maior, forammaiores que as da prpria CVRD, pois envolviamoperao de lavra e tratamento de minrio de ferro emescala to grande como a da CVRD, de carvo, calcrio,dolomita e mangans. A CVRD somente atingiudimenses notveis na dcada de 1960. Para se teruma idia das dimenses, em 1952, dez anos aps suafundao, a CVRD exportou 1.541.285 t de minrio deferro; em 1957, 2.966.261 t e, em 1962, j numa faserealmente representativa no contexto dos fornecedoresde minrio de ferro, exportou 6.138.902 t.

    A MINERAO E A GUERRA FRIA

    No ano de 1950, a chamada guerra fria que seiniciara logo aps o trmino da segunda grande guerramundial, j dividia o mundo e colocava o Brasil nocampo das disputas. Este ano marca, tambm, a voltado antigo ditador, Getlio Dorneles Vargas, presidncia da repblica, agora eleito em pleito deincontestvel representabilidade.

    Aps a eleio, o presidente Getlio Vargas abraoua causa nacional-populista, mas a adeso das correntes

    esquerdistas s suas idias s se deram depois de suamorte, em 24 de agosto de 1954. Quem duvidar doque aqui se afirma dever ler os jornais do PCB nosdias anteriores ao dia do suicdio do velho presidente.

    Este posicionamento poltico-social teve grandeinfluncia na evoluo da minerao brasileira. Delevem a idia triunfante de monoplio estatal do Petrleoe dos Minerais Radioativos. O acerto ou erro desteposicionamento vem sendo constantemente discutido.

    H outros fatos que terminaram esquecidos e soesses que gostaramos de reexaminar, pois seusresultados podem ser apreciados.

    A chamada minerao de areias pesadas iniciou-seno Brasil ainda no sculo XIX, objetivando a extraode areias monazticas. Das areias monazticas chegou-se ao rutilo e ao zirco. Da simples exportao de areias

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    monazticas passou-se indstria dos cloretos de terrasraras e certamente chegaria aos xidos, em curto prazo,dado seu dinamismo.

    Acontece que as areias monazticas so radioativase este tem sido o drama da indstria das terras raras.Os rejeitos de trio so perigosos e de aproveitamento

    muito restrito.No Brasil de 1950, a contaminao das areiasmonazticas foi motivo de campanha nacionalista. Osexportadores foram acusados de contrabandistas decombustvel nuclear. A campanha contra oaproveitamento das areias pesadas foi to ampla quefoi necessrio estatizar o setor, acalmando a virulnciaenlameadora dos empresrios que ousavam continuara aproveitar os depsitos costeiros de minerais pesados.

    Uma vez estatizado, o setor estagnou-se e sedegradou at a extino pelo recente fechamento dausina de Santo Amaro. Fim melanclico de uma

    aventura estatizante e nacionalista.A minerao de minerais pesados na Austrlia posterior brasileira, nasceu exatamente quandoestatizvamos a nossa, e hoje uma potncia invejvel,ocupando um espao que o Brasil poderia ter ocupado.

    Na dcada de 1950, a empresa norte-americana TheHanna Mining Company (1994) adquiriu o controleda St. John del Rey Mining Company, dividiu aspropriedades, incorporando-as a duas empresas -Minerao Morro Velho S/A e Minerao NovalimenseS/A, esta ltima recebendo as jazidas de minrio deferro, parte do acervo da St. John del Rey. Iniciou-seferoz campanha nacionalista para impedir que a Hanna

    implantasse um projeto que contemplava a construode uma nova ferrovia de Minas ao litoral (hiptese maisprovvel) e de um terminal ocenico para carregamentode navios com minrio de ferro. A nica forma deconseguir vencer as resistncias foi a organizao deum joint-venture que, comandada pelo empresrioSr. Augusto de Azevedo Antunes, com a denominaode Mineraes Brasileiras Reunidas S/A - MBR, numplano bem menos audacioso, abriu um novo sistemalogstico de exportao de minrio de ferro. Hoje, oHanna no faz parte do quadro de acionistas da MBR,desmentindo as calnias lanadas sobre o empresrio

    brasileiro, acusado de simples testa de ferro dosinteresses dos trusts americanos. Trustera opalavro utilizado pelo coro nacional-populista-comunista, na poca.

    Tambm foi na dcada de 1950 que se iniciou aorquestrao que visava impedir a implantao dajoint-venture organizada pelo Sr. Augusto AzevedoAntunes com o trust siderrgico Bethlohem Steel Co.,de que resultou a ICOMI. O consrcio havia vencidouma licitao que objetivava aproveitar as reservas demangans da Serra do Navio, ento territrio do Amap.

    Nessa poca, para cada tonelada de ao produzida,a siderurgia consumia mais que 50kg de mangans. Ogrande produtor de ao eram os Estados Unidos daAmrica, pas carente de reservas de minrio demangans. Assim, o verdadeiro objetivo da campanha

    era prejudicar a siderurgia norte-americana, proibindoa exportao do minrio do Morro da Mina (Lafaiete-MG), e impedindo a abertura da Serra do Navio.

    Justificava-se a campanha na necessidade deproteger a siderurgia brasileira no futuro. O lema eraminrio no d duas safras.

    Felizmente, os defensores da inrcia mineral noconseguiram vencer a fora de resistncia de algunsempresrios e formadores de opinio. A ICOMI foiimplantada, o Morro da Mina explotado, tudo isso namelhor hora, com timos preos no mercadointernacional.

    Hoje, a evoluo do processo siderrgico reduziu oconsumo de mangans a 5kg por tonelada de aoproduzida e o minrio de mangans passou a ter valorpouco significativo.

    Outro fato a ser relembrado, tpico da dcada de1950, foi o que aconteceu com o Nibio. No princpio,

    o aproveitamento do nibio de Arax restringia-se concentrao do pirocloro. Acontece que o concentradode pirocloro ligeiramente radioativo.

    Logo, a empresa explotadora foi acusada de estarexportando, clandestinamente, urnio. Na verdade,seu concentrado de pirocloro era multado pela presenanociva de elementos radioativos.

    Para vencer a ignorncia, a empresa teve de aceitaruma imposio: repor Comisso Nacional de EnergiaNuclear, em forma de combustvel nuclear, o urnioque exportava em seu concentrado. O exportador era,ento, punido duas vezes. Pelo governo brasileiro epelo comprador, indevida e devidamente.

    A verticalizao de empreendimentos ps fim aberrao. Ao reduzir-se o pirocloro em ferro-liga denibio, a contaminao radioativa escorificada. ACNEN perdeu sua mais confivel fonte de urnio, aqual nunca mereceu.

    O pensamento nacional-populista-comunistacontinuou a manter sua influncia no destino daminerao brasileira e teve seu momento de glria naAssemblia Nacional Constituinte, que promulgou aConstituio de 1988, vencendo o pensamento liberalem todo termo que se refere minerao, obtendo umaconsagradora vitria que alguns dizem ser de pirro

    DUAS DCADAS DE AVANOS

    A minerao entrou na dcada de 1960 com o quesupunha ser uma grande vitria. Foi criado o sonhadoMinistrio das Minas e Energia, em 1961.

    Aps o curto governo Jnio Quadros, j notumultuado governo Joo Goulart, a minerao viu sernomeado Ministro das Minas e Energia o Dr. EliezerBaptista da Silva, o que garantiu a continuidade naimplantao dos planos de expanso da CVRD,colocando-a entre uma das mais confiveis alternativaspara fornecimento de minrio de ferro ao mercadomundial.

    Antes da inaugurao do Terminal Ocenico deTubaro, o governo Joo Goulart j fora deposto e o

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    governo militar autocrtico chefiado pelo MarechalCastelo Branco deu continuidade implantao doplano de expanso da CVRD.

    Aos primeiros governos militares a minerao deveseu perodo de maior crescimento e esplendor. J em1967, reorganizado o estado, foi publicado o Cdigo

    de Minerao, modernizador dos princpios do antigoCdigo de Minas. O Cdigo de Minerao de 1967retirou do proprietrio do solo a preferncia que lheera anteriormente reservada na concesso de DireitosMinerrios, garantindo-lhe, porm, justa indenizaopor danos e perdas, bem como participao nosresultados da lavra.

    Prestigiada a minerao, foi possvel impedir adepredao das jazidas de cassiterita recm-descobertasem Rondnia, ameaadas que estavam por hordas demarginais anto-intitulados garimpeiros.

    A abertura que se deu com o novo Cdigo de

    Minerao, a modernizao das estruturas burocrticasdo estado, a estabilidade econmica do Pas atrairamtoda sorte de capitais para minerao: do exterior,vieram todas as grandes empresas tradicionais deminerao juntarem-se s que aqui j se encontravam;o empresrio brasileiro tambm passou a considerar aminerao uma alternativa para investimento e o estado,tanto pela administrao federal como por algumasadministraes estaduais, destinava vultosos recursospara minerao, no s em programas de exploraogeolgica bsica, mas tambm como empreendedor deminerao.

    Os resultados fizeram-se sentir imediatamente,

    especialmente pelo desenvolvimento do que passa aser Grupo CVRD e Grupo CAEMI. O minrio de ferroassume o papel de alavanca do desenvolvimentomineral do Pas, e assim permanece at hoje.

    O grande surto de desenvolvimento da mineraono Pas deu-se, sobretudo, pela passagem do Sr. AntnioDias Leite pelo MME que, como Dr. Baptista, provinhada CVRD, e soube, como este, honrar a expectativados mineradores.

    Entretanto, algumas medidas tomadas na pocaforam bastante contestadas, especialmente a criao daCompanhia de Pesquisa de Recursos Minerais.

    Algumas correntes de pensamento no meio mineraljulgavam que ao exploratria (pesquisa, no termo doCM) do estado deveria restringir-se s empresas estataisj organizadas. Outro rgo, alm do DNPM, poderiase encarregar de exploraes geolgicas bsicas, semdireito a requerer reas. Este pensamento, vencido napoca, parece que tende a triunfar no presente. Este ,certamente, um tema honesto e vlido a ser rediscutido,com base nos resultados conseguidos nos melhoresmomentos do passado, excluindo-se perodos de crise.

    AUTORITARISMO, EQUVOCO EPERMISSIVIDADE

    O Cdigo de Minerao de 1967 atenderezoavelmente aos anseios dos mineradores, e crticasque lhe so feitas no superam suas virtudes, podendo-

    se creditar-lhe um saldo favorvel. Entretanto, algunsreparos devem ser feitos poltica que norteou suaaplicao, da qual se espera ter, um dia, os rumoscorrigidos:

    Permissividade na emisso de Alvars de Pesquisa

    O esprito do C.M. no permite a obteno de umnmero indefinido de Alvars de Pesquisa. Os anseiosdos grandes empreendedores seriam atendidos pelafigura do Reconhecimento Geolgico.

    Fugindo das limitaes deste direito, os mineradoresoptaram pela criao de subsidirias cuja nicafinalidade era a obteno de indefinido nmero deAlvars de Pesquisa, e o DNPM aceitou. Ora, no sepode impedir que algum crie indefinido nmero deempresas de minerao, mas pode-se ser rigoroso, comosempre deveria ter sido, no acolhimento de Pedidos dePesquisa. Afinal, empresa de capital insignificante no

    pode ter capacidade financeira para implantar planosde pesquisa que ultrapassem seus recursos que, narealidade, so inexistentes. Se o acionista poderoso,imponha-lhe a integralizao do capital segundo ocronograma financeiro do plano de pesquisa, comobrigao de comprovao.

    O DNPM possui, dentro do CM, mil ferramentaspara impedir a proliferao de Pedidos de Pesquisa,todas elas agindo diretamente no bolso de quem estabusando.

    Permissividade na comercializao de ttulosminerrios

    O princpio de que o direito minerrio somente podeser comercializado aps ter seu relatrio de pesquisaaprovado sempre foi consagrado na legislaominerria. Assim, um Alvar de Pesquisa no umdireito negocivel, at que tenha seu relatrio depesquisa aprovado, quando o corpo pesquisado possaser considerado um bem minerrio (C.M. Art.31).

    Em 29/01/71, por Instruo do Ministro das Minase Energia (nm. 2029,DOU de 08/02/71), alterou-seesse princpio, permitindo que se incorporasse empresa em organizao ou j existente qualquer alvarde pesquisa. Esta instruo claramente ilegal e foi

    elaborada por razes casusticas. Por seu intermdioabriu-se o caminho para a indstria dos alvars depesquisa, ferindo profundamente o esprito do C.M.

    Permissividade na renovao de alvars depesquisa

    compreensvel que, ao preparar um plano depesquisa, o minerador possa subestimar o volume dotrabalho a ser implantado. Da a necessidade de revisodo plano de pesquisa que, em certos casos, poder exigira prorrogao do cronograma de implantao e,consequentemente, ultrapassar os limites do prazoestabelecido pela lei.

    A prorrogao deveria ser, ento, criteriosa esomente concedida ao minerador que houvesseexecutado o plano de pesquisa proposto ou a estesuperado, que se mostrou ainda insuficientemente.

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    Todos os profissionais sabemos que a maior parte dospedidos de prorrogao da pesquisa no se justifica narealidade da insignificncia dos trabalhos j executadose so simples artifcios de permanncia do Direito.

    Permissividade na suspenso de lavra

    notrio que grande parte das lavras paralizadas justificam-se na incapacidade tcnico-econmica dodetentor da concesso ou no interesse de manter reservapara um futuro irracional, pois que ultrapassa a menosrazovel futurologia. Isto um desrespeito ao princpioconstitucional de propriedade do bem mineral. Mas,de empresrios que falam na mina (querendo dizer jazida) de minha propriedade, no se pode esperaratitudes diferentes.

    Uma ao mais enrgica do DNPM, estritamentena letra e no esprito do Cdigo de Minerao, semqualquer arrogncia autoritria, teria impedido e poder

    impedir as distores e aberraes que muito entravamo desenvolvimento da minerao brasileira, e nos teriapoupado de assistir a espetculo circense ocorrido emplena Assemblia Nacional Constituinte, quandoparlamentares incautos e incultos desfilaramcarnavalescamente com o mapa de controle de reas ecom um livreto da lavra do CNPQ, gentilmentepatrocinado pelo contribuinte.

    O RETROCESSO

    A despeito dos muitos e perturbadores equvocosocorridos na dcada de 1970, ela corresponde ao

    perodo ureo da minerao brasileira. Nunca seinvestiu tanto em trabalhos exploratrios, pesquisastecnolgicas, formao pessoal. Grandes projetosforam implantados, tendo o Pas ocupado uma posioimportante no cenrio das atividades de minerao,atraindo recursos de toda origem para o setor.

    Os grficos das Fig. 1 a 6 ilustram a evoluo do

    investimento na explorao mineral e na indstria deminerao (lavra) no Brasil entre os anos de 1978 e1992 (Fonte: DNPM).

    A dcada de 1980 engloba o perodo de decadncia.Agrava-se a crise econmica mundial, enfraquecendoos investidores internacionais tradicionais. O estado

    brasileiro brutalmente atingido pela crise econmicae paga caro por sua imprevidncia. O regime militarenfraquece, e cede a todo tipo de presso demaggica,admitindo, inclusive, como soluo do problema social,o violento florescimento da marginalidade empresarialque se auto-denominou garimpo. O Ministrio dasMinas e Energia foi sucessivamente ocupado porcidados bizarros. Cada novo ministro conseguiusuperar o anterior em bizarria. O prprio meioprofissional aderiu, em grande parte, s idias maisesdrxulas.

    Todo este ambiente de decadncia e pessimismo

    criou a cultura que prevaleceu para a minerao naelaborao da Carta Constitucional de 1988. O textoda Carta Constitucional reserva minerao otratamento discriminatrio ao declar-la agressora domeio ambiente, como se tambm no o fora toda outraatividade viva sobre o planeta. marginalidademineral, a nova carta dedica longo e incentivoso,reverencioso palavreado, da mais pura lavrademaggica. A vingana do verdadeiro minerador que Marginal se define por opo, ficando margemda Lei. Coloc-lo em destaque na Lei Magna, mesmoque seja para prestigi-lo, pura estultice. Ele noaceitar to honrosa homenagem.

    Entretanto, bom que se esclarea que a violentaqueda de disponibilidade de recursos para minerao,especialmente para explorao geolgica, anterior Nova Repblica (1986). A nova Carta Constitucionalveio somente agravar a tendncia, tornando-ainexorvel. Basta examinar as estatsticas publicadaspelo DNPM para que se comprove a afirmativa.

    Figura 1: Comparao entre investimentos totais na economia vs. investimentos na minerao,no Brasil, 1978-1992.

    Figure 1: Comparison between total industrial investment vs. investment in the mining industry .

    10

    15

    20

    25

    1992

    %

    INVEST.INTERNO BRUTO (% PIB)

    0

    5

    1978 1980 1982 1984 1986 1988 1990ANO

    INV.TOTAL MINERAO/VPM (%)

    SILVA, O. P. 83

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    8/10

    0100.000

    200.000300.000400.000500.000600.000700.000800.000900.000

    1.000.000

    78 79 80 81 82 83 84 85 86 87 88 89 90 91 92

    ANO

    US$

    INV.EM PESQUISA MINERAL INV.EM LAVRA

    Figura 2: Investimentos em minerao, 1978-1992.Figure 2: Investment in the mining industry in Brazil,

    1978-1992 (white: mineral exploration, shaded:mining).

    COBRE

    7%

    ESTANHO

    9%

    OURO

    56%

    ROCHASORNAM.

    4%

    OUTROS

    24%

    (OTHERS) (Cu) (Sn)

    (Au)

    (Ornamentalrocks)

    0

    100.000

    200.000

    300.000

    400.000

    500.000

    600.0001978 1992

    BAUXITA

    BARITA

    CAULIM

    CALCRIO

    CROMO

    FELDSPATO

    FOSFATO

    GIP

    SITA

    MA

    GNESITA

    NI

    BIO

    OU

    RO

    PRATA

    TALCO

    TUNGSTNIO

    ZIN

    CO

    Figura 3: Investimento em pesquisa mineral (1978-1992). Participao relativa das principais

    substncias.Figure 3: Investment in mineral exploration inBrazil, 1978-1992, broken down to principal

    commodities.

    Figura 4: Total investido em pesquisa mineral: 1978 e 1992 (US$ 1.000).Figure 4: Total investment in mineral exploration in Brazil: comparison between

    1978 and 1992 values (US$ 1.000).

    01.000

    2.000

    3.000

    4.000

    5.000

    6.000

    78 79 80 81 82 83 84 85 86 87 88 89 90 91 92

    ANO

    MANGNES FERRO

    US$1.0

    00

    05001.000

    1.5002.0002.5003.0003.500

    78 79 80 81 82 83 84 85 86 87 88 89 90 91 92

    ANO

    CROMO NIBIO NQUEL

    US$1.0

    00

    Figura 5: Investimento em pesquisa mineral: ferro emangans no Brasil, 1978-1992.

    Figure 5: Investment in mineral exploration of iron andmanganese in Brazil, 1978-1992.

    Figura 6: Investimento em pesquisa mineral: metaisferrosos no Brasil.

    Figure 6: Investment in mineral exploration of ferro-alloys in Brazil, 1978-1992.

    A MINERAO EM MINAS GERAIS: PASSADO, PRESENTE E FUTURO84

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    COMO VAI A MINERAO

    No que se refere explorao geolgica, aMinerao cumpre exatamente o destino que lhe foireservado pela sociedade brasileira, muito bemrepresentada na Assemblia Constituinte. Pouco

    recurso dirigido atividade exploratria e nenhumadescoberta notvel se registra, como consequncia dopouco esforo exploratrio que se fez nos ltimos 15anos.

    Para complicar a vida do minerador, a mineraopassou a ser o alvo preferido dos rgos ambientalistas,e at que se consolide uma sistemtica processual eracional de exames e aprovaes, a minerao estar merc dos caprichos dos ambientalistas e, porque nodizer, tambm dos chantagistas que proliferaram nomeio ambiente. sociedade brasileira, a imprensaapresenta o retrato da minerao pelas agresses

    ambientais praticadas pelas mineradoras, colocandoa minerao na vala comum da marginalidade mineral,onde os rgos ambientalistas no ousam aplicar suaspunies. Afinal, a Constituio Cidad prev queesta marginalha seja enquadrada na legislaoambiental.

    Alguma cousa de positivo vem acontecendo com aminerao: a privatizao de empreendimentos estataiscolocou nos devidos eixos algumas minas implantadastemerariamente; o setor do carvo perdeu seu mercadocativo junto siderurgia e agora tratado simplesmentepelo seu valor energtico, como sempre deveria ter sido;as empresas do setor de minrio de ferro, livres do CIP

    (que Deus o tenha no lugar merecido), tratam o mercadonacional como parte do mercado mundial; o minriode ferro disputa o mercado internacional acirradamentee esta disputa reflete no comportamento empresarial,especialmente nas posturas da CVRD e MBR. Quemvive o quotidiano da minerao brasileira no podenegar uma evoluo positiva nos comportamentosempresariais e profissionais.

    O QUE SE PODE ESPERAR

    A partida da minerao brasileira em direo ao

    futuro ainda no foi preparada e a preparaodemandar muito tempo. Muitos pases jprogramaram a minerao do seu futuro, poiscompreenderam seus erros passados e deles j estolivres.

    O Brasil ter muito o que fazer e esta tarefa noser fcil, mesmo se o passado vier a ser razoavelmentecompreendido pelos brasileiros. Um novo arcabouolegal ter que ser construdo, qualquer que sejam ospreceitos constitucionais que venham reger aminerao.

    Os rgos federais, especialmente o DNPM, teroque ser reestruturados, prestigiados e agilizados demodo a impedir que o novo arcabouo legal sejatimidamente cumprido, dando lugar a interpretaescasusticas e cartoriais.

    A sistemtica dos rgos ambientalistas dever serconsolidada, afastando-se, antes de mais nada, apresena das tais organizaes representativas dasociedade civil, que, na verdade, nada representam, ano ser o interesse de um pequeno grupoideologicamente ativo.

    Enfim, o que se necessita so regras que, mesmosendo duras, sejam claras e racionais.Conseguido este milagre, teremos um longo

    caminho de reconstruo, pois os recursos disponveispara to arriscados empreendimentos demoraro aacreditar que o bom senso tenha sido definitivamenterestabelecido nos tristes trpicos.

    Enquanto isto, o Pas ter de contar com a coragemde um seleto grupo de mineradores que, com acapacitao de sua equipe, saiba aproveitar o que debom se construiu no passado, arriscar bastante nofuturo, prestigiar os verdadeiros rgos de apoio

    minerao, os centros de pesquisa, os prestadores deservios e os fornecedores. Felizmente, pode-se notarque num selecionado grupo de Empresas de Mineraoestes princpios singelos vm sendo observados numclaro programa de valorizao profissional.

    NESSE CONTEXTO, MINAS GERAIS

    Quando se falou em minerao, a primeirareferncia define-se no estado de Minas Gerais, ondetudo se passou, na vivncia do drama que se descreveu.Fora de Minas Gerais, mas no mesmo contextohistrico, em escala mais modesta, tramas paralelas

    foram vividas em outras regies. De vida independentee notvel, registram-se as atividades de minerao decarvo, no sul do Pas, e de aproveitamento da schelita,no nordeste. Minas Gerais sempre englobou a grandeparcela da atividade mineira do Brasil, at que, nadcada de 1960, surgem outros polos importantes,notadamente em Rondnia e no Par, reduzindo aparticipao mineira de valor aproximado de 60% paravalores prximos de 40%. Entretanto, esta reduo no absoluta, mantendo Minas Gerais produo crescente,com perdas nos setores de mangans, diamante ecassiterita. Os acrscimos absolutos do-se nos setores

    de ferro, ouro, zinco, bauxita. As perdas relativas do-se nestes mesmos setores, excludo o zinco.Esta tendncia parece que permanecer, com grande

    crescimento da produo do Par. Em pormenores elepode ser, ento, analisado:

    Ferro - As jazidas da Serra dos Carajs,caracterizadas por qualidade excepcional dos minriose, consequentemente, de tratamento simples e poucooneroso, j contando com um sistema logstico de altaconfiabilidade, devero sustentar prioritariamente osprogramas de expanso da Companhia Vale do RioDoce, detentora exclusiva dos direitos minerrios. Asatividades mineiras (de Minas Gerais) desta empresa,no setor de ferro, dar prioridade ao abastecimentointerno e tende a ser claramente complementar nos seusprogramas de exportao. Entretanto, os demais

    SILVA, O. P. 85

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    mineradores, contando unicamente com fontes deMinas Gerais, compensaro, em parte, estas perdasrelativas.

    Ouro - A produo de ouro em Minas Gerais tendera crescer, como resultado dos intensos programasexploratrios implantados em pocas mais favorveis.

    Sua posio relativa poder sofrer deslocamentoligeiramente negativo, em consequncia dos avanosdos empreendimentos em reas de outros estados,especialmente na Bahia, Gois, Mato Grosso e naAmaznia, em geral. A perda relativa no dever serto violente como o foi na poca urea do garimpoamaznico.

    Bauxita - Destinada unicamente para abastecimento,no exclusivo, das usinas situadas no sudeste, aproduo de bauxita lavrada em Minas Gerais sofrergrande perda relativa e no acompanhar odesenvolvimento reservado produo de bauxita

    amaznica, onde se desenvolve o grande poloexportador de alumnio. A dimenso da perda relativade produo de bauxita de Minas Gerais, ou seja, oaumento da produo, depender da recuperao emodernizao de sua logstica, cujo componenteprincipal o que resta da antiga Estrada de FerroLeopoldina, hoje operada pela RFFSA.

    Caulim - A produo de caulim em Minas Geraiscrescer, mas seu volume ser insignificantecomparativamente ao que se produzir no Par,ocorrendo, ento, brutal perda relativa.

    Mangans - A decadncia da minerao demangans de Minas Gerais ser irreversvel. Ela

    atender parcialmente s necessidades locais sobpresso das novas fontes (Par e Mato Grosso).

    Diamante - H uma queda violenta na produo dediamantes, neste momento de valor insignificante coma paralizao da Minerao Tijucana. O modesto futurodo diamante depender do grau de retomada que sepossa dar extrao no Vale do Jequitinhonha.

    Zinco - A produo de minrio de zinco,basicamente de willemita, no poder expandir-se, poisas reservas conhecidas no o permitiro. Nada indicaque o panorama de fontes sulfetadas de zinco venha ase modificar, mantendo-se na modstia das reservas de

    Morro Agudo. De qualquer forma, nenhuma outraalternativa parece surgir s modestas reservas de MinasGerais.

    Titnio - Embora possuidor de gigantescas reservasde titnio, os esforos para aproveitamento das reservasde anatsio ainda no conduziram a um final de sucesso,este definido como um empreendimento industrialcompetitivo. As reservas aluvionares de ilmenitasrecentemente exploradas no resultaram em dimensesque justificassem a explotao. Essas ilmenitasaluvionares apresentam caractersticas de reatividademuito interessantes e se se localizassem prximas aunidades industriais preexistentes seriam bem recebidaspelos consumidores.

    Nquel - Minas Gerais espera com ansiedade a foraempreendedora que poder viabilizar o aproveitamento

    das reservas de Fortaleza de Minas. Capacidade eaudcia j foram mostradas pelo interessado, em outraoportunidade.

    Minas Gerais poder se tornar o primeira unidadeda federao onde a problemtica de conciliao daconservao do meio ambiente com a atividade de

    minerao venha a consolidar-se em regrasinstitucionais, ntidas e criteriosas, emboranecessariamente rigorosas. No se pode esperar que omeio ambientalista venha a ser, to cedo, forte epredominantemente racional, mesmo porque a falta deoutras novidades ideolgicas continuar sendo supridapor assuntos palpitantes que possam, pelo mau uso,satisfazer rancores e frustraes. Mais que qualqueralterao constitucional na definio da empresabrasileira, a consolidao racional das regras queregero a proteo ambiental condio essencial paradesenvolvimento da verdadeira indstria mineral e para

    asfixia de atividades semi-clandestinas e marginaisdepredadoras de jazidas e ameaadora do equilbrio nomeio ambiente.

    O futuro imediato da minerao em Minas Geraismuito depende do destino que ser dado redeferroviria operada pela RFFSA. Alis, todo futuroeconmico de Minas Gerais uma funo em que arede ferroviria importante varivel. Fazer pelainfraestrutura o maior programa de fomento que sepode reservar minerao mineira.

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

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    1869 - SP/BH: USP/Itatiaia - 1976.

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    Topbooks Editora e Distribuidora de Livros Ltda. -RJ.

    CDIGO DE MINERAO E LEGISLAO CORRELATIVA -

    1982 - DNPM.

    COMPANHIA DE MINERAO NOVALIMENSE, A Tentativa

    de Confisco das Minas de Ferro da, (o Caso Hanna) - 1963 -

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    COMPANHIA VALE DO RIO DOCE, 40 anos - 1982.

    COMPANHIA VALE DO RIO DOCE, 50 anos de Histria - 1992.

    ESCHWEGE, Wilhelm Ludwig von. Pluto Brasiliensis - 1833 - SP/BH: USP/Itatiaia - 1978.

    PLANO PRURIANUAL PARA O DESENVOLVIMENTO DO

    SETOR MINERAL - DNPM - 1994

    POHL, Johann Emanuel. Viagem no Interior do Brasil - 1832 - SP/

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    - 1982 - DNPM.

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    Janeiro e Minas Gerais - 1830 - SP/BH: USP/Itatiaia - 1975.

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    e Litoral do Brasil - 1830 - SP/BH: USP/Itatiaia - 1975.

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    Francisco - 1847 - SP/BH: USP/Itatiaia - 1975.

    SAINT-HILAIRE, Auguste de. Viagem Provncia de Gois - 1830

    - SP/BH: USP/Itatiaia - 1975

    A MINERAO EM MINAS GERAIS: PASSADO, PRESENTE E FUTURO86