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DESENVOLVIMENTO EM QUESTÃO Editora Unijuí • ano 12 • n. 27 • jul./set. • 2014 p. 42-65 A Mitologia da Ineficiência nas Organizações Solidárias: em Busca da Ressignificação de um Conceito Daniel Calbino Pinheiro 1 Ana Paula Paes de Paula 2 Resumo: O ensaio teórico propõe discutir o conceito de eficiência no contexto da economia solidária. Embora a eficiência em geral seja considerada neutra, a-histórica e a-política, na realidade é um construto social, deliberado por grupo e constituído de acordo com os objetivos estabelecidos. No caso das organizações solidárias, há que se considerar não somente as variáveis econômicas, mas elementos que envolvem aspectos políticos, sociais e culturais. Além disso, é preciso desconstruir alguns mitos que cercam as organizações solidárias, colocando-se em questão as ineficiências que, em geral, são apontadas em virtude da opção por uma lógica não mercantil e coletivista. Palavras-chave: Economia solidária. Eficiência social. Mitos. THE MYTHOLOGY OF INEFFICIENCY IN SOLIDARITY ORGANIZATIONS: In search of a reframing concept Abstract: Theoretical work aims to discuss the concept of efficiency in the context of the solidarity economy. Although the overall efficiency is considered as neutral, a-historical and a-political, in reality is a social construct, decided by each group and constituted in accordance with the objectives set. In the case of organizations in solidarity, we must consider not only the economic variables, but elements which involve political, social and cultural. Furthermore, it is necessary to deconstruct some myths surrounding solidarity organizations, putting in question the inefficiencies that often are cited due to their choice of a non-market logic and collectivist. Keywords: Solidarity Economy. Social efficiency. Myths. 1 Graduado em Administração pela UFSJ. Mestre em Administração pela UFMG. Doutor em Administração pela UFMG. Professor-adjunto da Universidade Federal de São João del Rei. [email protected] 2 Graduada em Administração pela Universidade de São Paulo (USP). Mestre em Administração pela Fundação Getúlio Vargas de São Paulo (FGV-SP). Doutora em Sociologia pela Unicamp. Pós-Doutora em Administração pela Fundação Getúlio Vargas de São Paulo (FGV-SP). Professora Titular da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). [email protected]

A Mitologia Da Ineficiência Nas Organizações Solidárias

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  • DESENVOLVIMENTO EM QUESTOEditora Uniju ano 12 n. 27 jul./set. 2014 p. 42-65

    A Mitologia da Ineficincia nas Organizaes Solidrias: em Busca da Ressignificao de um Conceito

    Daniel Calbino Pinheiro1 Ana Paula Paes de Paula2

    Resumo:

    O ensaio terico prope discutir o conceito de eficincia no contexto da economia solidria. Embora a eficincia em geral seja considerada neutra, a-histrica e a-poltica, na realidade um construto social, deliberado por grupo e constitudo de acordo com os objetivos estabelecidos. No caso das organizaes solidrias, h que se considerar no somente as variveis econmicas, mas elementos que envolvem aspectos polticos, sociais e culturais. Alm disso, preciso desconstruir alguns mitos que cercam as organizaes solidrias, colocando-se em questo as ineficincias que, em geral, so apontadas em virtude da opo por uma lgica no mercantil e coletivista.

    Palavras-chave: Economia solidria. Eficincia social. Mitos.

    THE MYTHOLOGY OF INEFFICIENCY IN SOLIDARITY ORGANIZATIONS: In search of a reframing concept

    Abstract:

    Theoretical work aims to discuss the concept of efficiency in the context of the solidarity economy. Although the overall efficiency is considered as neutral, a-historical and a-political, in reality is a social construct, decided by each group and constituted in accordance with the objectives set. In the case of organizations in solidarity, we must consider not only the economic variables, but elements which involve political, social and cultural. Furthermore, it is necessary to deconstruct some myths surrounding solidarity organizations, putting in question the inefficiencies that often are cited due to their choice of a non-market logic and collectivist.

    Keywords: Solidarity Economy. Social efficiency. Myths.

    1 Graduado em Administrao pela UFSJ. Mestre em Administrao pela UFMG. Doutor em Administrao pela UFMG. Professor-adjunto da Universidade Federal de So Joo del Rei. [email protected]

    2 Graduada em Administrao pela Universidade de So Paulo (USP). Mestre em Administrao pela Fundao Getlio Vargas de So Paulo (FGV-SP). Doutora em Sociologia pela Unicamp. Ps-Doutora em Administrao pela Fundao Getlio Vargas de So Paulo (FGV-SP). Professora Titular da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). [email protected]

  • A MITOLOGIA DA INEFICINCIA NAS ORGANIZAES SOLIDRIAS

    43Desenvolvimento em Questo

    Compreender se as organizaes solidrias (sejam elas entendidas por cooperativas, associaes, empresas recuperadas) podem superar em termos de eficincia as organizaes de economia mercantil um debate antigo, mas

    que ainda gera muitas discusses na academia. Singer (2007) defende que uma das possibilidades de transio do capitalismo para uma economia solidria

    deve ocorrer pela superao da sua eficincia em comparao com as empresas

    capitalistas. No passado, autores como Rosa Luxemburgo (1986) e Bernstein

    (1964) abordavam as dificuldades das cooperativas de serem mais eficientes

    do que as organizaes capitalistas, e ainda ressaltavam que, quando isto ocorria, havia uma degenerao dos seus princpios cooperativistas. Observa--se tambm que o tradicional peridico espanhol C.I.R.I.E.C relacionado aos

    temas de cooperativismo e da economia social, destina diversos trabalhos

    que ora buscam apontar as superioridades das organizaes de economia

    social em termos de eficincia ora as suas limitaes em comparao com as

    economias mercantis.

    Apesar do intenso debate, h um ponto pouco discutido na literatura:

    Afinal o que se entende por eficincia? Seria mais eficiente aquela organizao

    que consegue maximizar os recursos que tm disponveis? Trata-se da capaci-dade de vender seus produtos e conquistar mercados? Seriam as organizaes

    que conseguem apresentar balancetes positivos? Ou simplesmente poder-se--ia argumentar que ser eficiente significa ser capaz de permanecer atuante no

    mercado (Parra, 2002)?

    Se no prprio contexto das organizaes mercantis o conceito de efi-cincia aponta para uma pluralidade de dimenses, como pensar a eficincia

    nas organizaes de economia solidria, que, em tese, se movem por lgicas

    distintas? Quando se realiza uma comparao entre estes dois tipos de organi-zaes, devem-se avaliar os retornos econmicos e quantitativos ou tambm

    as dimenses no monetrias, como os aspectos sociais, polticos, culturais e

    formativos?

  • Daniel Calbino Pinheiro Ana Paula Paes de Paula

    44 Ano 12 n. 27 jul./set. 2014

    Com base nestes questionamentos, o presente ensaio terico tem por

    objetivo discutir o que se entende por eficincia no contexto da economia soli-dria, buscando ressignificar este conceito. Para isto, em termos metodolgicos,

    recorreu-se a uma reviso bibliogrfica da literatura sobre o tema, enfatizando

    como a questo da eficincia tratada pelos autores.

    O trabalho encontra-se dividido em trs partes. Na primeira discute-se

    o conceito de eficincia, indicando a impossibilidade de sua neutralidade. Na

    segunda parte, busca-se repensar a eficincia para o contexto das organiza-es solidrias, trazendo dimenses de anlise no monetrias e qualitativas.

    Na terceira abordam-se alguns mitos que cercam as organizaes solidrias,

    colocando-se em questo as ineficincias que, em geral, so apontadas em razo

    da sua opo por uma lgica no mercantil e coletivista.

    Discutindo a neutralidade da eficincia

    De um modo geral, o conceito de eficincia costuma ser tomado como

    consensual e, em geral, descontextualizado do ponto de vista histrico. Para

    definir a eficincia, contudo, faz-se necessrio conceitu-la em relao a algo,

    o que parece indicar o quo relativo o tema. O que significa dizer que uma

    organizao eficiente? Trata-se da organizao que consegue maximizar os

    recursos que tm disponveis? aquela que pode vender seus produtos e con-quistar mercados crescentes? So as organizaes que conseguem apresentar

    balancetes positivos? Ou simplesmente poder-se-ia argumentar que ser eficiente

    significa ser capaz de permanecer atuante no mercado?

    Diante destas questes iniciais parece fcil aceitar a relatividade que permeia o conceito. Parra (2002) aborda, no entanto, que a noo de eficincia

    se instituiu como dominante e neutra (ausente de conflitos e disputas polti-cas), sendo definida como a capacidade de obter a melhor relao entre custos

    e benefcios (reais ou simblicos, presentes ou potenciais) na forma de lucro

    (em termos da taxa de rentabilidade do capital). O autor ressalta que mesmo as

    organizaes capitalistas so permeadas por diferentes racionalidades socioeco-

  • A MITOLOGIA DA INEFICINCIA NAS ORGANIZAES SOLIDRIAS

    45Desenvolvimento em Questo

    nmicas, que no so nem monolticas, nem unidirecionais. Estas racionalidades

    so portadoras de contradies que as tornam multidimensionais (sujeitas a

    vrios critrios) e determinadas historicamente (variam no tempo, no espao e

    de acordo com a configurao do campo econmico).

    Alm disso, aborda que no mbito da significao econmica a palavra

    eficincia, alm de ser relativa, objeto de disputa. Citando Roy (1997), as

    definies de eficincia, por exemplo, dentro de um setor industrial, variam na

    histria e conforme a orientao das diretorias: quando as diretrizes partem dos

    departamentos de produo a eficincia definida como custos de produo e

    crescentes outputs; quando o setor comercial o mais forte, so os ndices de vendas que definiro a eficincia; ou, ainda, quando as decises financeiras

    passam a dominar, sero os valores dos papis da empresa no mercado de aes

    que iro definir o grau de eficincia do empreendimento.

    Referente aos critrios utilizados para avaliar a eficincia, observa-se

    que se orientam apenas em termos da racionalidade do capital. Conforme advoga Parra (2002), os mesmos surgiram para permitir a comparao obje-tiva do ponto de vista da cincia econmica da eficincia entre diferentes

    organizaes, tendo apenas como parmetro as condies tcnicas e materiais

    de produo. Para o autor, tal instrumentalizao j estava presente em Adam

    Smith e percorreu boa parte da histria da cincia econmica. Citando Murphy

    (1993), afirma que era preciso lidar com um problema prtico: Como medir e

    comparar a eficincia? Poder-se-ia imaginar critrios de qualidade e quantida-de, valores de uso e possibilidades de reutilizao dos produtos, satisfao dos

    consumidores, menores preos, maior durabilidade e tempo de trabalho. No

    momento vivido por Smith, entretanto, qualquer ndice associado qualidade

    ou outra referncia de origem moral, social ou cultural, deixaria de ser vlido

    como medida, pois no serviria para o estabelecimento de critrios universais,

    mensurveis e cientificamente legitimados. Assim, a rejeio da qualidade,

    por Smith, ilustra a busca pelo conhecimento verificvel, que no baseado

  • Daniel Calbino Pinheiro Ana Paula Paes de Paula

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    em tradies interpretativas particulares. Ou seja, a virada de Smith para o

    quantitativo motivada pela busca do conhecimento objetivo, que no esteja

    sujeito moral, cultura ou disputa poltica.3

    Poder-se-ia, no entanto, sob uma situao de similar condio institucio-nal, comparar a eficincia produtiva de duas organizaes distintas somente se os

    fins de ambos os processos analisados fossem os mesmos. Afinal, os termos do

    que ser eficiente nunca esto dado a priori dentro de um sistema complexo. fundamental destacar que o que entra na contabilidade enquanto input e output do clculo de eficincia ser sempre o resultado de um permanente conflito poltico. Por exemplo, o valor de uma hora trabalhada sempre determinado

    pelo contexto social do trabalho e pelas lutas intrnsecas dos trabalhadores para

    obter benefcios, ou, ainda, o valor dos insumos. Os custos ambientais, por sua

    vez, variam em funo do que ou no considerado uma externalidade econ-mica. Dessa forma, s se pode medir e comparar a eficincia de um determinado

    processo quando a escolha dos diferentes meios no influencia na definio do

    fim almejado, portanto sem alter-lo no decorrer do processo

    Ao mergulhar na complexidade do processo produtivo moderno, entre-tanto, verifica-se que raramente a escolha dos meios no influencia os fins, e,

    ainda, difcil haver consenso sobre os fins que devem ser alcanados, posto

    que eles normalmente trazem resultados diferentes para cada grupo social. Nessa perspectiva, tanto os fins quanto os meios do processo produtivo sero

    continuamente um campo de conflitos (Parra, 2002; Coraggio, 2003; Gaiger,

    2004; 2009). Por exemplo, a eficincia de determinada forma organizativa e tec-nolgica ser tambm o resultado de um arranjo de foras sociais que combinam

    fatores tcnicos (que conferem vantagens competitivas) com fatores sociais e

    polticos, que criam um ambiente econmico propcio para tais tcnicas. Como

    consequncia, a eficincia surge como o reflexo de uma relao de poder, a

    3 com base na anlise deste mesmo perodo histrico que Karl Polanyi (1944) aponta para uma mudana na lgica do pensamento econmico, emergindo a ideia hegemnica de que os modos de produo se baseiam unicamente em uma economia mercantil, desconsiderando, contudo, outras relaes anteriores, que no se movem por uma lgica de estrita eficincia produtiva.

  • A MITOLOGIA DA INEFICINCIA NAS ORGANIZAES SOLIDRIAS

    47Desenvolvimento em Questo

    qual traduz uma capacidade de mobilizar recursos materiais e simblicos a seu

    favor, considerando-se que a relao entre os direitos, os ttulos de propriedade

    e as responsabilidades dos indivduos para com a produo e a distribuio da

    riqueza socialmente gerada, modificam-se na histria.

    Tornar-se eficiente implica, portanto, aes polticas, econmicas e so-

    ciais, uma vez que o Estado, principalmente, mas no s, o responsvel pela

    criao, fiscalizao e determinao das regras do desenvolvimento, como

    tambm a arena onde se dar o combate pela definio. Isso permite dizer que

    o debate sobre a eficincia no pode estar dissociado das condies sociais e

    polticas que determinam e instituem os critrios que definem a mesma (Parra,

    2002; Coraggio, 2003; Gaiger, 2004; 2009).

    Em busca de outro conceito de eficincia para as organizaes solidrias

    Com uma posio semelhante s abordadas, Tauile e Debaco (2004)

    relatam que a compreenso da eficincia deve ser vista para alm da simples

    questo do lucro e dos retornos a curto prazo. Contextualizando o debate sobre

    a eficincia econmica, ressaltam que uma definio genrica seria que a

    eficincia a capacidade que agentes ou mecanismos tm de atingir seus ob-

    jetivos e produzir os efeitos deles esperados em razo dos recursos utilizados.

    Em economia, o conceito ortodoxo, expresso pelo timo de Paretto, v como

    eficiente uma condio na qual os agentes maximizam suas funes-objetivo.

    Segundo ele, eficiente para a firma maximizar o lucro ou minimizar os custos

    de produo e, para o consumidor, maximizar a satisfao ou minimizar as

    despesas. Esses conceitos, da forma como vm sendo apresentados na teoria

    econmica, dependeriam de funes-objetivo contnuas e bem comportadas.

  • Daniel Calbino Pinheiro Ana Paula Paes de Paula

    48 Ano 12 n. 27 jul./set. 2014

    Os autores, no entanto, contrapem esta perspectiva utilitarista da efici-ncia econmica relatando que a natureza e a atividade econmica nem sempre

    podem ser descritas de forma contnua, e questionam: O que se pode dizer a

    respeito da eficincia econmica e da satisfao dos consumidores quando o

    que est em jogo so recursos naturais no renovveis?

    Afirmam ainda que mesmo as propostas decorrentes das anlises or-todoxas que recomendam acrescentar um custo social para a poluio, sob a

    forma de uma taxa (Baumol; Oates, 1988), so problemticas, pois qual seria a

    alquota tima de um imposto satisfatrio para permitir que grandes empresas

    acabem com as reservas de gua potvel do mundo? Tambm h uma descon-tinuidade no bem-estar social, na perda repentina de empregos decorrentes do

    fechamento de uma fbrica, ou na violncia das grandes cidades, potencializada

    pelo desemprego, instabilidade e salrios aviltantes (Tauile; Debaco, 2004).

    Outro exemplo que utilizam para repensar a lgica da eficincia eco-nmica, se refere s organizaes de recicladores de resduos slidos, que

    apresentam, do ponto de vista da eficincia econmica (ou seja, se interpretado

    como a relao entre insumo e produto), geralmente resultados que indicam

    uma baixa eficincia, pois, na maioria das vezes, o produto resultante do pro-cesso de coleta e triagem do lixo muito inferior aos custos de produo, o que

    geralmente s se torna vivel em virtude dos subsdios pblicos, sob a forma

    de coleta e entrega dos resduos nos galpes. Ressaltam, no entanto, que fazem

    o papel de uma poltica pblica com aprovao praticamente unnime na so-ciedade. Alm do plstico, do papel, do vidro e dos metais, essas organizaes

    produzem emprego, renda, qualidade de vida, diminuio do volume de lixo

    em aterros sanitrios, reduo no desmatamento e reaproveitamento de recursos

    que demorariam sculos para serem biodegradados. Os benefcios sociais da

    resultantes no so remunerados pelo mecanismo de mercado, especialmente

    quando se toma como referncia o curto prazo.

    Se eficincia diz respeito aos efeitos esperados, faz-se necessrio en-contrar uma forma de incluir no apenas mercadorias para a sociedade e lucro

    para os proprietrios, mas postos de trabalho, qualidade de vida, preservao

  • A MITOLOGIA DA INEFICINCIA NAS ORGANIZAES SOLIDRIAS

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    ambiental e valorizao do ser humano (Tauile; Debaco, 2004). Conforme ex-posto anteriormente, se no contexto das organizaes tradicionais a concepo

    de eficincia pautada apenas nos aspectos econmicos j problemtica, no

    caso das organizaes solidrias, na qual tanto os meios quanto os fins em tese

    so diferentes (Costa, 2004), torna-se necessrio repensar (ressignificar) suas

    concepes.

    Neste sentido, Kraychete (2000) defende que a eficincia dos empreen-dimentos associativos no pode ser aferida pela capacidade de seus integrantes

    de transformarem-se em pequenos ou em mdios empresrios, uma vez que a

    lgica do trabalho associativo difere da lgica empresarial e privada que, para

    a maximizao do lucro, persegue a competitividade, a produtividade, mesmo

    que custa da destruio de postos de trabalho, dos prejuzos sade e ao meio

    ambiente. No contexto das organizaes solidrias deve-se pensar em alcanar

    uma eficincia pautada em processos democrticos, tendo por critrios no ape-nas o retorno financeiro, mas o aumento de participao nos debates e decises,

    com conhecimento de causa de todos os envolvidos.

    Rutkowski (2008) tambm compartilha desta viso e ressalta que nas

    organizaes solidrias, dado o carter cooperativo, o custo da mo de obra fun-ciona efetivamente como custo fixo e no como custo varivel como ocorre em

    empresas capitalistas, uma vez que os ganhos em eficincia no podem levar ao

    desemprego. Assim, como o objetivo principal no a acumulao, e a varivel

    econmica apenas um meio, os seus propsitos se traduzem multifacetados.

    O cooperado se torna o associado o centro de tudo e a partir dele que as

    solues devem ser buscadas. O trabalho se transforma em elemento central,

    no qual a manuteno de cada posto de trabalho tem prioridade maior do que

    a lucratividade, de modo que a acumulao deve estar subordinada ao atendi-mento das necessidades definidas pelo coletivo de trabalhadores (Rutkowski;

    2008, Kraychete, 2000).

    Com base nestas mesmas concepes, Coraggio (2003) afirma que a

    eficincia na economia solidria pode ser chamada tambm de eficincia social.

    Para ele, os conceitos e valores associados noo de eficincia diferem de

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    acordo com cada contexto. No caso do capital, requer-se a combinao eficiente

    de ativos, fora de trabalho, insumos e produtos que gerem a mxima taxa exa-gerada de lucro, no qual o crescimento quantitativo dos volumes de mercadorias um critrio definitivo da eficincia econmica. J nas organizaes solidrias

    a lgica de eficincia outra, pautada na qualidade de vida e na realizao

    efetiva do potencial das pessoas entrelaadas por relaes de solidariedade e com equidade. As questes econmicas e materiais, apesar de serem dotadas de significado, so um meio e no um fim, e o modo de estabelecer relaes pessoais

    baseia-se em processos mtuos de reconhecimento, negociao e acordo entre os

    pares. Assim, a eficincia social significa a busca pela reproduo das melhores

    condies possveis, tanto materiais quanto simblicas da vida em sociedade.

    Gaiger (2004, 2009) faz uso do termo eficincia sistmica para repens-

    la no contexto das organizaes solidrias. Para ele, o conceito de eficincia diz

    respeito, genericamente, ao grau de efetividade dos meios empregados em um dado processo para se alcanar um objetivo ou gerar-se o resultado visado; em

    suma, concerne relao entre meios e fins. No obstante, quando se trata de

    processos sociais que mobilizam indivduos e causam efeitos de profundidade

    e amplitude variveis na sociedade, a anlise da eficincia no pode se abster de

    considerar a natureza dos fins buscados, o que descarta uma viso meramente

    instrumental do problema. Ademais, necessrio contabilizar tanto o dispndio

    de recursos assumidos pelos indivduos e pela organizao diretamente implica-da, quanto os custos indiretos, revertidos para a sociedade ou transferidos para geraes futuras (Gaiger, 2009).

    Por conseguinte, afirma que nos processos de produo econmica em

    particular, a eficincia deve ser entendida sob uma viso sistmica e integrada

    s dimenses no econmicas. Ela compreende a capacidade de os processos

    e meios utilizados promoverem a qualidade de vida das pessoas que deles se valham, bem como propiciar maior bem-estar e segurana social. A eficincia

    neste contexto passa a compreender a materializao de benefcios sociais e

    no meramente monetrios ou econmicos , a gerao de efeitos benficos ao

  • A MITOLOGIA DA INEFICINCIA NAS ORGANIZAES SOLIDRIAS

    51Desenvolvimento em Questo

    entorno em que se situem as iniciativas em questo, a garantia de longevidade

    para estas e a concretizao de externalidades positivas sobre o ambiente natural,

    em favor de sua sustentabilidade.

    Assim considerada, a eficincia evoca uma racionalidade distinta, orien-tada satisfao das necessidades e realizao das aspiraes humanas, esti-mulando a simbiose com o ambiente natural por meio de um vnculo integrador

    e de modelos de desenvolvimento sustentvel. Ela demanda outros estmulos

    para a ao, bem como um novo conjunto de indicadores para a avaliao e o

    direcionamento da atividade humana. Em sntese, a cadncia de eficincia sis-tmica deve ser tal que permita atingir os benefcios econmicos ou meramente

    monetrios, mas tambm outros tipos de benefcios, como os sociais, a partir de

    uma conotao bem mais ampla, referida igualmente qualidade de vida dos

    trabalhadores e satisfao de objetivos culturais e tico-morais (Gaiger, 2004).

    Alguns mitos sobre a eficincia nas organizaes solidrias

    Conforme visto, a possibilidade de comparao entre as dimenses de

    eficincia algo complexo, pois existe a dificuldade de se conseguir estabele-cer critrios semelhantes de comparao em razo dos objetivos distintos das

    organizaes solidrias e mercantis. Alm disso, de acordo com Parra (2002),

    existem interferncias polticas (como, por exemplo, do Estado) em benefcio de

    algumas organizaes, o que dificulta compreender a eficincia como um meio

    ou um fim. Observa-se na literatura, todavia, algumas tentativas de comparao,

    as quais sero abordadas com o intuito de desfazer alguns mitos referentes

    ineficincia das organizaes solidrias.

    O chileno Razeto (1990, 1998), um dos primeiros acadmicos a utilizar

    a etimologia economia solidria, defende que, ao pensar em comparaes da eficincia, deve-se dimensionar no a ideia da eficincia como os resultados da

    maximizao dos rendimentos do capital investido, mas a capacidade de produ-tividade possvel de alcanar resultados com os recursos e fatores disponveis

  • Daniel Calbino Pinheiro Ana Paula Paes de Paula

    52 Ano 12 n. 27 jul./set. 2014

    e tendo em vista a satisfao que estes produzem para a sociedade. Pensando

    por meio desta dimenso, ressalta que as organizaes de economia solidria

    so, em tese, mais eficientes que a economia capitalista, posto que esta causa

    desigualdades, pobreza, degradao ao meio ambiente, amplia o individualismo,

    restringe a convivncia, a integrao das pessoas e as diversidades culturais.

    Alm disso, Razeto (1998) destaca que as organizaes capitalistas s

    conseguem obter eficincia econmica (entendida pela maximizao do retorno

    sobre o capital investido), quando recorrem explorao da mo de obra. J

    no caso das organizaes solidrias, o autor ressalta que, mesmo utilizando recursos escassos ou ineficientes, conseguem gerar o resultado que as econo-mias capitalistas no conseguiriam, como proporcionar trabalho, canalizar as

    energias comunitrias, aproveitar os conhecimentos e capacidades das pessoas. Em sntese, se pensar a eficincia em termos de medio das possibilidades de

    qualidade de vida e satisfao das necessidades sociais, parece fcil aceitar a ideia

    de que as organizaes solidrias tendem a ser ou possuem maior potencial para gerar benefcios para a maior parte da sociedade do que as economias mercantis.

    Mesmo, no entanto, quando se consideram as dimenses econmicas, as

    organizaes solidrias podem apresentar indcios de superioridade em relao s

    economias mercantis. Neste sentido, sero apresentadas pesquisas e teorias que

    visam a confrontar alguns mitos que permeiam as discusses sobre a eficincia

    nas organizaes de economia solidria.

    Mito: Os resultados econmicos das organizaes coletivas so inferiores aos da economia mercantil

    Max Weber (1968), ao estudar as organizaes burocrticas, constatou

    que estas inevitavelmente possuam uma superioridade tcnica, corroborando

    a ideia de que as organizaes que se pautam na centralizao, em hierarquias,

    tendem a ser mais eficientes do que qualquer outra forma de organizao

  • A MITOLOGIA DA INEFICINCIA NAS ORGANIZAES SOLIDRIAS

    53Desenvolvimento em Questo

    (Kliksberg, 1973). Este mito, contudo, implica naturalizao da hierarquia e

    legitimao da ideia de que se uma organizao pretende ser eficiente sobre o

    ponto de vista econmico, tem de se estruturar de maneira centralizada.

    Venosa (1987), todavia, ao analisar os resultados econmicos das

    organizaes autogestionrias da antiga Iugoslvia e comparar com os demais

    Estados capitalistas, ressalta que se colocou em suspenso a crena de que as

    organizaes hierarquizadas so um pr-requisito para a eficincia empresarial.

    Os elevados ndices alcanados para o PIB na Iugoslvia durante os anos 50 e

    60 do sculo 20 evidenciaram que as economias de cunho coletivo conseguiram

    obter retornos econmicos to satisfatrios quanto as economias capitalistas,

    e conclui que se a participao no aumentou a produtividade e eficincia das

    empresas, pelo menos ela no diminuiu.

    Neste mesmo sentido, Guillerm e Bourdet (1976) afirmavam que a

    autogesto parcial da Iugoslvia gerou resultados positivos como o fato de

    verificar que durante o longo perodo de entrega das fbricas aos operrios,

    longe de desfechar uma regresso econmica, foi acompanhada de uma taxa

    de crescimento (7% ao ano, na Iugoslvia contra 8% no Japo no mesmo per-

    odo). Concluem, assim, que a abolio do modo de gesto hierarquizado no

    fez baixar a produtividade.

    Tauile e Debaco (2004) ressaltam tambm que, no caso das empresas

    recuperadas, observaram-se diversas organizaes que, aps o perodo de apro-

    priao por parte dos trabalhadores, conseguiram alcanar ndices de produtivi-

    dade maiores do que no perodo dos patres, inclusive aumentando o tamanho

    da planta. Storch (1987), ao comparar a eficincia de organizaes solidrias,

    aborda que as cooperativas de prestao de servios de coleta e processamento

    de lixo, em So Francisco Estados Unidos, e as cooperativas de motoristas

    de transporte coletivo em Israel, tm sido consideradas bastante superiores s

    outras cidades gerenciadas por empresas tradicionais.

  • Daniel Calbino Pinheiro Ana Paula Paes de Paula

    54 Ano 12 n. 27 jul./set. 2014

    J Kliksberg (1999) e Calcao (1998), ao analisarem os resultados

    econmicos e gerenciais da Central de Cooperativas Sociais de Lara, na Vene-zuela, formada por 60 cooperativas que atuam em diversos ramos de produo

    e prestao de servios, ressaltam a superioridade em termos de faturamento

    (100 milhes de dlares por ano), volume de vendas (a maior produtora e ven-dedora de verduras e legumes do Estado), liderana no mercado (abastece 1/3

    da capital Barquisimeto) e preo (ofertando produtos at 30% mais baratos do

    que a mdia do mercado) em comparao com as empresas tradicionais do pas.

    Alm dos casos empricos, autores como Gaiger (2001) e Singer (2007)

    ressaltam, em termos tericos, uma srie de aspectos positivos do trabalho

    autogestionrio em comparao com o trabalho assalariado. O primeiro deles

    a motivao gerada pelo sentimento de serem donos, o que aumenta o com-prometimento e o interesse pela organizao, refletindo no maior cuidado com

    a qualidade da produo, no controle de perdas e nas melhorias da adminis-trao. Ressaltam tambm que, ao desaparecer a confrontao entre patro e

    empregado, isto possibilita maior compromisso pessoal e solidariedade com as

    tarefas produtivas dos companheiros, gerando, por exemplo, maior flexibilidade

    nos horrios e nas condies de trabalho. Neste mesmo sentido, abordam que

    o ambiente tende a ser mais democrtico, aumentando a troca das experincias

    e dos conhecimentos dos trabalhadores e reduzindo a rotatividade na organiza-o. Alm disso, o fato da participao e comunicao serem maiores facilita

    a identificao de problemas e torna as solues mais acertadas, por levar em

    conta as experincias de todos os envolvidos.4

    4 Deve-se ressaltar, no entanto, que existem estudos como os de Vietiz e Dal Ri (2001) que apontam diversos problemas das organizaes solidrias, que, por reproduzirem os mesmos hbitos e modos de gesto das empresas tradicionais, tornaram-se at mais ineficientes economicamente do que as empresas tradicionais. Os prprios dados do Senaes apontavam para os baixssimos resultados gerados pelas organizaes solidrias no Brasil, nas quais apenas um tero dos empreendimentos conseguia atingir a remunerao de um salrio por trabalhador ao ms. Mais do que tentar defender a superioridade da eficincia econmica das organizaes solidrias, no entanto, visto que esta apenas uma das dimenses da eficincia, busca-se apresentar, com os exemplos anteriores, a ideia de que um equvoco imaginar que as organizaes solidrias so, por natureza, ineficientes economicamente.

  • A MITOLOGIA DA INEFICINCIA NAS ORGANIZAES SOLIDRIAS

    55Desenvolvimento em Questo

    Mito: As decises coletivas atrasam o processo de tomadas de deciso, gerando ineficincias econmicas para as organizaes solidrias

    Um segundo mito presente na literatura e sustentado por Albuquerque

    (2003) a ideia de que decises coletivas e eficincia econmica so pontos

    irreconciliveis. Tal afirmao, contudo, sustenta a crena de que as decises

    coletivas so problemticas por tornarem lentas as organizaes, o que pode

    acarretar inclusive na preferncia do uso de decises centralizadas para evitar

    perdas econmicas.

    Parra (2002), todavia, contrape este argumento, ressaltando que se no contexto das organizaes burocrticas as decises coletivas podem indicar perda

    de tempo, no caso da autogesto ela uma necessidade para a prpria viabili-dade econmica e social da empresa autogerida, uma vez que se no ocorrerem

    relaes participativas, transparentes e igualitrias, os conflitos tendem a diluir

    os princpios da organizao coletiva. Alm disso, a qualidade dessas relaes

    democrticas um importante componente de coeso e motivao do grupo, o

    que facilita a transparncia e evita a concentrao de informaes e de poder.

    Outro ponto levantado por Parra (2002) que a constante democracia

    possibilita um aprendizado, indicando que o processo decisrio se torna mais

    gil e de melhor qualidade, uma vez que os envolvidos acumulam e desenvolvem uma prtica de discusso e deliberao. Neste mesmo sentido, Gaiger (2001) e

    Romero Ramirez (1999) ressaltam que, quando as decises so coletivas, estas

    tendem a ser mais acertadas pela pluralidade de vozes e ideias que emergem. Alm disso, as chances de execuo aumentam, porque todos fazem parte do

    processo, tendo mais conhecimento e se identificando com os objetivos.

    J Razeto (1990) afirma que as decises coletivas reduzem os conflitos

    no interior da organizao por fortalecer a coeso do grupo. Alm disso, res-salta que o compartilhamento de conhecimento e informaes nas tomadas de deciso coletivas estimula a iniciativa e potencializa a criatividade e inovao.

  • Daniel Calbino Pinheiro Ana Paula Paes de Paula

    56 Ano 12 n. 27 jul./set. 2014

    Observam-se tambm alguns exemplos empricos que visam a negar

    o mito da ineficincia das decises coletivas, como os estudos de Azevedo

    (20079) sobre as cooperativas vinculadas a Mondragon. A autora ressalta que,

    ao adotarem uma estrutura pautada por gesto de processos, na qual todos fazem

    partes de equipes e participam do planejamento e das tomadas de deciso da

    organizao, obtiveram um aumento de 400% da produtividade da organizao

    em comparao com o contexto anterior.

    Pode-se ainda citar os estudos de Kliksberg (1999) e Calcao (1998) sobre

    o caso da Cecosesola, na qual todas as decises ocorrem de modo coletivo e, em sua maioria, nas reunies. Os autores observaram que grande parte do tempo

    despendido nas reunies se torna o diferencial da organizao, por fortalecer os

    laos solidrios e servir como processo de aprendizado, tornando os membros

    mais qualificados e comprometidos com as tomadas e execuo das decises.

    Mito: O baixo conhecimento formal e tecnolgico presente nas organizaes solidrias incorre em menor eficincia econmica

    Observa-se em diversos trabalhos que visam a analisar a gesto e eficin-cia nas organizaes solidrias, a ideia de que a educao formal e a tecnologia

    so itens cruciais para a sobrevivncia destas organizaes, o que traz como

    consequncia o mito de que a sua ausncia e ou informalidade, implicaro baixa

    eficincia econmica.

    Delgado et al. (2009), todavia, apontam que uma falha neste argumento

    conceber a educao apenas como um sistema formal, pois ela est presente no

    cotidiano das organizaes no como atividades formais, isoladas e desconexas.

    Sendo assim, pensar em educao envolve compreend-la como um processo

    permanente, que se fundamenta no trabalho, com base na reflexo crtica dos

    processos da vida. Assim, a prpria organizao cooperativa se converte em

    uma escola, na qual o conhecimento no produzido por apenas uma pessoa

    que ensina aos demais, mas no prprio coletivo.

  • A MITOLOGIA DA INEFICINCIA NAS ORGANIZAES SOLIDRIAS

    57Desenvolvimento em Questo

    O mesmo ocorre com a concepo dos processos tecnolgicos, conforme

    relata Tauile e Debaco (2004) ao analisarem as empresas recuperadas na Amrica

    Latina. Os autores destacam que, mesmo com equipamentos antigos e setores

    produtivos praticamente obsoletos, estas organizaes apresentavam indicadores

    econmicos superiores as suas concorrentes convencionais com equipamentos melhores, quebrando-se, assim, o mito do fetiche tecnolgico, ou seja, de que

    a tecnologia mais nova e mais moderna sempre melhor (Dagnino, 2008).

    Outro exemplo citado por Kliksberg (1999) e Calcao (1998) o caso da

    Cecosesola, mostrando que possui em sua origem a maioria dos membros com

    graus de instruo menores do que o nvel de Ensino Fundamental e fazendo

    uso apenas de tecnologias antigas. Trata-se, no entanto, de organizaes

    bem-sucedidas, inclusive sob o ponto de vista econmico, conforme visto

    anteriormente. Ao questionarem um dos membros desta organizao sobre os

    possveis problemas do baixo nvel de conhecimento formal e tecnolgico, o

    mesmo respondeu que, na verdade, se tratam de caractersticas positivas, pois

    a ausncia de doutores do conhecimento reduz a vaidade da escolha de car-gos e funes menos prestigiosas e o processo tecnolgico simples facilita o

    aprendizado e a rotatividade de funes de todos envolvidos.

    Observa-se, ainda, diversos estudos que apontam para os fatores subjeti-vos como variveis que influenciam mais do que as questes de conhecimento

    formal e tecnolgico. Neste sentido, Razeto (1998) indaga: O que explica as

    organizaes que contam com fatores produtivos muito precrios, com mnimo

    de financiamento, pouca capacidade para produzir, baixa produtividade da fora

    de trabalho, deficientes nveis de escolaridade e idades, mostrar, contudo, altos

    ndices de produtividade?

    O autor recorre teoria do Fator C para tentar compreender definindo

    que se trata de um elemento comunitrio, de ao e gesto conjunta, cooperativa

    e solidria, que no tem a ver com o dinheiro, meios materiais ou tecnologia,

    mas que, ao combinar-se, produz um efeito positivo nas organizaes. O termo

    faz meno s palavras que iniciam com a letra C e que envolvem dimenses

  • Daniel Calbino Pinheiro Ana Paula Paes de Paula

    58 Ano 12 n. 27 jul./set. 2014

    subjetivas como: companheirismo, cooperao, comunidade, compartilhar,

    comunho, coletividade, carisma, colaborao, comprometimento, cogesto,

    confiana.

    Para explicar como ocorre este efeito, o autor cita que o fator C se mani-festa e se multiplica nas diversas dimenses da organizao. Por exemplo, quando

    se relaciona com as foras de trabalho, os trabalhadores cooperam um com o

    outro, e h um aumento do compromisso, da responsabilidade e da dedicao.

    Quando se faz presente nas questes tecnolgicas, ocorre maior integrao entre

    as pessoas, gerando mais inovaes e o aumento da criatividade. Quando se

    relaciona com a gesto, ocorre maior participao, influindo em decises mais

    acertadas, e maior cuidado com os equipamentos e bens materiais. Inclusive o

    dinheiro, quando o uso solidrio, no se desperdia (Razeto, 1998).

    Interessante tambm so as teorias apresentadas por Arroyo (2008) para

    compreender como os fatores subjetivos e de origem solidria interferem na

    eficincia. O autor destaca que a confiana gera transaes mais seguras, elimi-nando, consequentemente, mecanismos de controle e reduzindo, assim,custos; a partilha possibilita um conhecimento acumulado que se multiplica coletivamente,

    permitindo compras em conjunto, treinamentos, formao, gerando, ento, maior

    poder de barganha e reduo de custos; a identidade facilita a criao de objeti-vos em comum, possibilitando maior interao social e gerando enraizamento

    cultural; a solidariedade gera maior aquecimento econmico e qualidade de vida, ensejando a incluso permanente de agentes e instituies, ampliando, assim,

    a base de sustentao, maior produo e consumo; o relacionamento beneficia

    a pluralidade e a complementaridade, facilitando a negociao e articulao

    em redes, gerando maior fidelizao; e a credibilidade gera mais respeito e

    reconhecimento, dando garantia de qualidade e demais termos do contrato, proporcionando estabilidade comercial e sustentabilidade de longo prazo.

    Podem-se constatar ainda os estudos de Romero Ramirez (1999), Souza

    Neto (2009), Vargas de Faria (2003), Christoffoli (2000), Hellwig e Carrion

    (2007), Valentim (2005), Servs e Gil (2008), Freitas e Amodeo (2012), que

    visam a relatar como as dimenses da confiana, comprometimento, identifica-

  • A MITOLOGIA DA INEFICINCIA NAS ORGANIZAES SOLIDRIAS

    59Desenvolvimento em Questo

    o, participao e comunicao esto interligadas e interferem nos resultados

    econmicos. Os autores mostram que existe uma relao mtua entre confiana

    e comunicao, na qual quanto maior a confiana maiores as chances de comu-nicao, bem como constatam que quanto maior a comunicao mais as pessoas

    tendem a confiarem entre si. Ademais, nas organizaes em que existe confiana,

    aumentam as possibilidades de identificao com os objetivos do grupo, bem

    como o comprometimento dos envolvidos. Em termos de eficincia econmica

    isto tende a reduz os custos de transao e informaes, alm dos gastos com

    controle (Valentim, 2005; Freitas, Amodeo, 2012).

    No que se referem s dimenses de identificao, comprometimento

    e participao, os autores apontam tambm para um ciclo virtuoso, no qual a

    identidade tende a aumentar o comprometimento e, consequentemente, o inte-resse na participao. Do mesmo modo, a participao aumenta o sentimento

    de responsabilidade/comprometimento e fortalece a identidade do grupo. Em

    termos de eficincia econmica, quanto mais comprometido o grupo maiores

    as chances de melhoria da qualidade do processo produtivo e da gesto, bem

    como da execuo das atividades (Romero Ramirez; 1999; Souza Neto, 2009;

    Vargas de Faria, 2003; Servs; Gil, 2008).

    Outra relao existente entre comunicao e participao: quando

    h maior participao tende a ocorrer mais comunicao e a comunicao

    fundamental para que as pessoas possam participar ativamente. Neste sentido, os resultados em termos de eficincia podem se apresentar pelo aumento nas

    inovaes e na melhoria nas tomadas de deciso (Christoffoli, 2000; Hellwig;

    Carrion, 2007).

    Alguns estudos empricos corroboram estas relaes. Kliksberg (1999)

    apresenta resultados de pesquisas que indicam que nas comunidades onde existe maior confiana e cooperao, os resultados implicavam melhores condies

    de vida e bem-estar social. O autor cita que os estudos de Knack e Keefer

    (1997), que mediram econometricamente as relaes entre confiana e normas

    de cooperativa cvica, constataram que o primeiro apresenta forte impacto so-

  • Daniel Calbino Pinheiro Ana Paula Paes de Paula

    60 Ano 12 n. 27 jul./set. 2014

    bre o segundo. Cita tambm que em contextos de alta pobreza, as famlias que

    apresentavam os mais altos nveis de participao em organizaes coletivas

    eram as que possuam os maiores recebimentos econmicos.

    Outro exemplo so os estudos estatsticos de La Porta et al. (1997), estabe-lecendo relaes entre os graus de confiana existente em uma sociedade e a sua

    eficincia judicial, mostrando que naquelas em que h maior confiana ocorrem

    menos ndices de corrupo, maior cumprimento das normas e do pagamento

    de impostos. Por fim, apresenta estudos que visam a estabelecer correlaes

    entre confiana e mortalidade em 39 Estados dos Estados Unidos, indicando

    que quanto menor o grau de confiana entre os cidados maior a mortalidade.

    Pode-se citar ainda a pesquisa quantitativa de Souza Neto (2009), que, ao

    comparar os resultados econmicos de trs cooperativas, concluiu que quando os

    trabalhadores possuam maior nvel de comprometimento e confiana os retornos

    econmicos eram maiores. Ademais, observou-se que o nvel de escolaridade

    no foi uma varivel determinante nos resultados.

    Consideraes Finais

    O objetivo central do trabalho foi discutir o que se entende por eficincia

    no contexto da economia solidria e buscar uma ressignificao para o conceito.

    Observou-se que, ao contrrio da ideia de conceber a eficincia como um termo

    neutro, a-histrico e a-poltico, a eficincia um construto social, deliberada por

    grupo social e de acordo com os objetivos que se estabelecem. Ainda, no s

    relativa e construda socialmente, mas vai mudando de prioridades de acordo

    com os momentos distintos em que os grupos se encontram (Belucci et al., 2012).

    No caso das organizaes solidrias, h que se considerar, para ressigni-ficar a eficincia, no somente as variveis econmicas e materiais. Deste modo,

    uma possibilidade conceitual de sua ressignificao implica adotar, enquanto

  • A MITOLOGIA DA INEFICINCIA NAS ORGANIZAES SOLIDRIAS

    61Desenvolvimento em Questo

    pressuposto, a sua viso social ou sistmica, rompendo-se, assim, com a viso

    nica de eficincia econmica, para, tambm, adotar dimenses no econmicas

    e monetrias, como os aspectos polticos, sociais, formativos e culturais.

    Por outro lado, buscou-se tambm colocar em questo a mitologia da

    ineficincia que cerca as organizaes solidrias. O primeiro mito que se buscou

    negar a ideia de que as organizaes autogestionrias so, por natureza, inefi-

    cientes economicamente. Foram apresentados diversos estudos de natureza te-

    rica e emprica que, ao compararem as organizaes solidrias com as mercantis,

    indicavam atributos especficos, justificando a superioridade das organizaes

    solidrias. Compartilha-se, contudo, das argumentaes de Terreros e Gorriz

    (2008), que definem que se ainda no h dados suficientes para comprovar a

    superioridade em termos de eficincia econmica das organizaes solidrias,

    tampouco h para indicarem sua ineficincia.

    Outro ponto que se buscou refutar foi o mito da impossibilidade de con-

    ciliar as decises democrticas e a eficincia econmica. Foram apresentados

    argumentos que indicam que a democracia nas decises coletivas potencializa

    os resultados econmicos, pois reduz conflitos, diminui a concentrao de poder

    e aumenta a coeso do grupo. Alm disso, amplia o processo de aprendizado e

    faz com que as decises se tornem mais eficientes, em razo da diversidade de

    possibilidades que gera com novas ideias e valores.

    Por fim, apresentaram-se argumentos que combatem o mito de que as

    dimenses da educao formal e da tecnologia so fundamentais para a eficincia

    econmica das organizaes de economia solidria. Os estudos realizados por

    Souza Neto (2009), Razeto (1998), Kliksberg (1999), Calcao (1998) e Tauile

    e Debaco (2004), apontam exemplos de organizaes solidrias que, mesmo

    com baixo nvel de conhecimento formal e tecnolgico, alcanaram resultados

    econmicos superiores aos das organizaes tradicionais. SA

  • Daniel Calbino Pinheiro Ana Paula Paes de Paula

    62 Ano 12 n. 27 jul./set. 2014

    Ressalta-se tambm que considerar a discusso tecnolgica implica no

    s pensar na sua relevncia, mas na necessidade de incluir no debate que as

    tecnologias tambm no so neutras. Isso envolve compreender que a tecnologia

    no se limita apenas quelas associadas reproduo do capital, mas utilizao

    de tecnologias sociais para contextos organizacionais solidrios.

    Alm disso, algumas explicaes tericas ressaltaram que as dimenses

    subjetivas como a coeso, a confiana, a identidade e o sentimento de pertena,

    podem representar maior influncia nas questes de eficincia econmica do

    que a educao formal e a tecnolgica. No por acaso que os novos modos

    gerenciais presentes na literatura administrativa tm buscado criar organizaes

    que aprendem, estruturas mais flexveis, aumento da participao dos funcio-nrios, recorrendo inclusive busca do controle de mecanismos subjetivos para

    melhorar a eficincia econmica das organizaes capitalistas (Faria, 2009).

    Em concluso, compreende-se que as deficincias de formao geral,

    associadas baixa escolaridade, representam alguns limites ao domnio do pro-cesso de trabalho, embora no excluam possibilidades de vivncias satisfatrias

    em relao atividade. Ademais, no se estaria subestimando a capacidade dos

    indivduos de organizarem-se entre si em virtude da falta de um ensino formal?

    No esqueamos que o prprio sistema educacional est a servio da reprodu-o dos valores capitalistas, fornecendo mo-de-obra tcnica e especializada

    segundo necessidades da reproduo do capital (Ferraz; Dias, 2008, p. 10).

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    Recebido em: 14/10/2013

    Aceito em: 18/3/2014