A Moça Que Virou Cadela

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um cordel do poeta Antonio Lucena.Texto riquíssimo e que dialoga com inúmeras escrituras de metamorfoses da literatura mundial.

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Os retrocessos da Sorte

Os retrocessos da Sorte!Autor: Antnio LucenaVou ver se no ferro velho Encontro a FELICIDADE

Se no encontrar completa,

Mas nem que seja a metade,

Por todo preo me serve,

Depende da QUALIDADE

J ontem dei umas buscas

Quase em todas as SUCATAS,

Onde encontrei a VENTURA

J roda das baratas,

E comprei at em conta:

Custou-me s cinco pratas.

A SORTE eu ganhei no papo,

Embora em Segunda mo...

A DITA se descuidou

E caiu num alapo

Que tinha dormido armado

L em cima do fogo.

Agora estou preparado

Pra ser menino feliz

Agora, ao cair de costas,

No quebro mais o nariz,

Como se deu outro dia,

Numa AVENTURA QUE FIZ

Dum dia desses pra c,

Eu ando meio azarado...

Meu rancho desmoronou-se

E fiquei desamparado.

Nem servio arranjei mais,

At mesmo no pesado!

Quando eu vou BATER TIJOLOS,

Cai chuva na mesma data;

Se vou plantar algodo,

Milho, feijo ou batata,

Quando a lavourinha cresce,

L vem o vero e mata!

Sempre que volto da feira,

Cai chuva e molha a farinha,

J deu at nas ovelhas

Uma tal duma MURRINHA

Que vi morrer, essa noite,

A derradeira que tinha!

Comprei na feira um feijo,

desses que no cozinha!

Troquei por farinha e FAVA

Com o diacho da vizinha,

Tanto a fava era amargosa,

Como era azeda a farinha!

A feira desta semana

Estava toda num saco,

O litro de querosene

Pendurei num cordo fraco,

Quebrou-se e caiu nas compras,

Perdi a feirinha em taco!

Dos meus porcos FAIXA-BRANCA,

S resta uma bacurinha...

Dessa semana pra c,

Deu um ggo na galinha

Que acabou com a raa

E no deu nas da vizinha!

J ontem de manh cedo,

Quando fui me levantar,

Tombei e ca da cama

E cad poder andar?!

Machuquei o MUCUMBU

Que no posso nem... SENTAR.

No sei por que nesses dias

Eu ando to CAIPORA,

Me deito fora de tempo,

Acordo fora de hora,

Quando vou dar um cochilo

quando o sol est fora.

Todo dia, no servio,

Eu chego sempre atrasado.

A FIRMA corta o Domingo

E perco o REMUNERADO.

Nunca tive o privilgio

De ganhar um feriado!

Se fao a SEMANA CHEIA,

O dinheiro nunca sobra.

Quando eu fao um serozinho,

Aparece ua manobra

Para me tirar de tempo,

a que viro cobra!

Na minha cama de vara

J deu at o CUPIM.

Ganhei um colcho usado,

Era desses de capim,

Rasgado pelas beiradas

E cheio de MUCUIM!

Quando o negcio assim,

Parece at uma praga:

Se devo, o povo me cobra,

Se ganho, o povo no paga.

No dia que fao feira,

Sempre uma coisa se estraga!

A ona veio essa noite,

Levou o PAI-DE CHIQUEIRO.

J deu febre aftosa

Em todo gado leiteiro,

E a raposa essa noite

Acertou com o poleiro.

O gorgulho deu num silo

Onde eu tinha um feijo.

Deu a lagarta-rosada

No resto do algodo,

L na vazante a raposa

No pode ver um melo!

Na rama da melancia

Deu aquele MELA-MELA.

Eu tinha uma horta cheia

Dessa CEBOLA AMARELA,

Veio a formiga essa noite,

No deixou um talo dela!

A coisa est parecendo

Que me botaram mandinga.

A lavoura do baixio

pior que da caatinga.

No bamb de jerimum

Ningum avista uma vinga!

Umas touceiras de cana

Que situei no riacho,

O guaxinim caiu dentro

E botou tudo abaixo,

Chupou a cana madura

O resto deixou no facho!

Deu agora uma FERRUGEM

Na folha do algodo.

No meu paiol de batata

J deu at o pulgo,

E lagarta na lavoura

Que escapou do vero!

Agora, no meu mocambo,

Situou-se um formigueiro.

A traa comeu a roupa,

No tem um mulambo inteiro;

E deu a CAFIFA nas camas,

Que vieram do poleiro!

Cevei uns quatro perus

Para comer pela festa...

O ladro carregou tudo!

Agora, UM S que me resta,

Hoje amanheceu mordido

De cachorro da mulesta!

Uma cabra to mimosa,

Gorda, bonita e raada,

A mulher foi inventar

De tratar dela amarrada,

Foi s o quanto valeu:

Ontem morreu enganchada!

A salamanta anteontem,

Mordeu a burra da sela,

Foi s o quanto perdi...

Que burra lorde era aquela!

Cincoenta contos de ris

Eu tinha dado por ela!

J o CAVALO DE LOTE

Ontem pulou a cancela

Numa carreira que deu

Atrs da besta amarela,

Mas enganchou-se na perna,

Caiu, quebrou a canela!

Um cascavel- de- vereda

Jogou um bote certeiro

Mesmo no meio da venta

Do meu jumento besteiro,

Esse foi mais um banquete

Pro urubu carniceiro.

J vendi tudo que tinha

Pra pagar contas na venda,

A ferramenta melhor

Me carregaram da tenda,

Agora fiquei somente

Com o CASCO DA FAZENDA.

Pobre, cachorro e jumento

Tm a mesmssima sorte,

At jumento hoje em dia,

Virou animal de corte.

Boi gordo caiu da graa

Charque de JEGUE mais forte.

Tudo isso, meus amigos,

brincadeira e mais nada.

Vou me calar, porque mosca

No entra em boca fechada,

Mas pobre s vai pra frente

Quando leva uma topada!

Zefinha & Sebastio um chifrudo coroado

Autor: Antnio Lucena

Pra tudo precisa sorte,

Pra ser CHIFRUDO... tambm:

Ser corno de MULHER FEIA

Somente a ela convm,

Que SE VINGA DO MARIDO,

Mas NO FATURA UM VINTM!

Por isso eu digo: FELIZ

DAQUELE QUE TEM A DITA

De casar muito jovem,

Com oa NOVA E BONITA,

Que se tiver de ser corno

Nem com REZA FORTE evita!

Sebastio, por exemplo,

Vivia muito sozinho.

Tinha terra e muito gado,

Mas lhe faltava o carinho

Duma GAROTA CHARMOSA

No aconchego do ninho.

Sem encontrar uma VIRGEM

Que fosse do seu agrado

Dizia: Mais entes s

Do que MAL ACOMPANHADO:

At que chegou o dia

Em que foi ABENOADO.

Pela SORTE encaminhado,

Casou com ZEFA GALINHA,

Duns quinze ou 16 anos,

Mais do que isso no tinha,

De cara e corpo era o mesmo

Que ver UMA BONEQUINHA!

Casado com a garota

MAIS CHARMOSA da Cidade,

Sebastio parecia

NADAR EM FELICIDADE,

Pilotando UMA GURIA

duns quinze anos de idade!

A sogra de BASTIO

Negociava na feira,

Numa banca, onde vendia

GALINHA DE CAPOEIRA,

Donde surgiu essa alcunha

Que do a MULHER CHIFREIRA.

A jovem, desde menina

Que ajudava me dela.

Nesse RAMO DE NEGCIO

Cresceu e ficou donzela,

Bonita como uma flor,

Risonha atraente e bela.

A me dela, INTERESSEIRA,

FEZ A CABEA DA FILHA

pra convencer o marido

a vender uma novilha.

E ela entrar no COMRCIO

Que j conhecia a TRILHA.

Pra Zefa ABRIR O NEGCIO

Tio vendeu um garrote,

Mais de 10 cabeas de bode,

Que possua um magote,

J sabendo que ZEFINHA

Para o ramo tinha o dote.

Zefinha, com banca prpria,

Ficou muito mais contente.

Menina NOVA E BONITA,

Tinha UM SORRISO ATRAENTE,

Da, choveu de fregueses,

(Mais HOMENS, naturalmente!)

O marido, FAZENDEIRO,

Vivia muito ocupado,

No stio, fazendo cercas,

Botando rao ao gado,

E Zefinha, no COMRCIO,

FAZENDO UM BOM APURADO.

Garota BELA E CHARMOSA...

Enxurriou de FREGUS:

Homens da SOCIEDADE,

Autoridade e BURGUS,

Toda hora, em sua banca,

Chegavam de cinco, seis!

Assim, TODO SANTO DIA,

Zefinha estava na feira...

noite chegava em casa,

Bem arrumada e faceira,

Da mostrava ao marido

Cheia de nota a carteira!

Um dia um amigo seu

Disse: Tio, abra o olho!

Tem BODE NA SUA HORTA,

Comendo alface e repolho,

E cabras TEM DE MAGOTE,

Aproveitando O RESTOLHO!

Tio lhe disse: Que nada!

Isso faz parte do JOGO.

Eu, que sou UM GALO VELHO,

J sou curado de GOGO,

E por Zefinha eu ainda

Boto a minha mo no fogo!

Embora a mulher na rua,

E ele no stio s,

Achava que sua esposa

No tinha fora um xod,

Porque quase toda noite

Estava em seu mocot.

Mas, da cidade FAZENDA

Tinha uma estrada de barro.

E quase todos os dias

Zefa chegava de carro;

E ganhava dos AMIGOS,

De carteiras de cigarro!

Homens da SOCIEDADE,

Comerciante e BARO,

Todos fregueses de Zefa,

Nenhum fazia questo

De levar Zefinha em casa:

S chegava de CARRO!...

Quando algum dizia: Bastos,

E voc no tem CIUME

Desse amigos de Zefa,

Que lhe do jia e perfume?

Ele dizia: Bom, basta!

Pode arrumar de CARDUME!

Cime pura besteira!

Muita besteira e FRESCURA!

Quem ama, PERDOA TUDO,

Que amor COISA PURA,

De Zefa eu s me separo,

Um dia, na sepultura!

Menina NOVA BONITA,

Carinhosa e asseada,

NO ME FALTA COM RESPEITO,

Nem me deixa FALTAR NADA:

Na mala nunca faltou

Roupa limpa e engomada!

Adora DORMIR COMIGO

e o que quero ela faz.

Nunca negou-me O QUE PEO,

E assim me satisfaz,

Combina comigo EM TUDO,

O que que quero mais?!!

Quando EU NO EST0U FIM...

ela percebe e no quer.

Se DESEJA, no INSISTE,

Isso a que mulher!

Mas toda hora est PRONTA

Para O QUE DER E VIER!

Por isso que gosto dela

E de maneira nenhuma

Deixo Zefinha por outras,

Que por ai tem de ruma,

Mas do tipo de Zefinha,

Dum CENTO SE TIRA UMA!

Ns dois vivemos felizes,

na mais perfeita unio,

cada qual em sua lide,

cada um na sua funo,

pra botar dentro de casa

A nossa alimentao.

noite, Sebastio,

Com Zefa bem satisfeito,

Dizia: Nega, MEU BEM,

Voc pra TUDO TEM JEITO:

Seu NEGOCINHO negcio

Pra ningum botar defeito!

E ela, SE DERRETENDO,

DIZIA: Voc tambm...

Em negcio de FAZENDA

Pouca gente se sai bem,

Mas voc tem UM NEGCIO

Como poucos HOMENS TEM!

No l coisa to grande,

mas vem dando resultado,

E eu, com meu NEGOCINHO,

Me viro por outro lado,

Com ovos, galinha e PINTO,

Ganho um DINHEIRO AMUADA!

Do leite, temos em casa:

coalhada, MANTEIGA E QUEIJOS.

Por isso mesmo EU TE AMO!

E meus ARDENTES desejos,

Mesmo GEMENDO NO PAU,

de Ter matar... DE BEIJOS!

Nesse IDLIO VENTUROSO,

Riam, felizes da vida...

Ele, EMPOLGADO com ela,

Que FICAVA DERRETIDA

Nos braos dele, e findava

Como A BELA ADORMECIDA!

L fora... A coisa era outra,

Por se tratar de negcio.

Se na ausncia de BASTOS

Aparecia algum SCIO...

Era um MARAJ, na certa,

E no qualquer um becio!

Por isso o marido nunca

Se cansava de dizer:

Mulher igual essa minha

EU AINDA ESTOU POR VER:

Abre O NEGCIO BEM CEDO,

E BOTA PRA DERRETER!

De Zefa eu no desconfio,

Que sei COM QUEM SOU CASADO.

Zefinha FATURA BEM,

Mas DINHEIRO SUADO:

De dia. TOCA O NEGCIO,

noite est ao meu lado.

Porque MULHER VIRTUOSA

No viola O JURAMENTO

Que fez de FIDELIDADE

Na hora do casamento:

Pode vir HOMENS DE TROUXA,

Lhe propondo ENXIRIMENTO!

Embora nem todo mundo

Tenha a minha opinio,

S quem nunca levou chifres,

Fora meu pai, foi Ado,

(Porque EVA no sabia

Onde andava O RICARDO!)

Pior, e MAIS VERGONHOSO,

casar com MULHER FEIA,

Que vive de porta em porta,

Falando da vida alheia,

E o cabra, alem de corno,

Dela tambm leva peia!

Um corno igual o TIO,

Eu bem que queria ser,

Mas nunca tive essa SORTE,

Nem esperana de ter,

Um corno assim faz inveja

A QUALQUER UM PODE CRER!

A moa que virou cadela

Autor: Antonio Lucena

Conversa de mentirosoEu nem gosto de contar

Porque MENTIR PECADO

E DEUS pode no gostar

Como O CASO DA CACHORRA

Que pretendo VERSEJAR

Ningum acredita mais

Em santo e milagres seus,

Nem que haja, atualmente,

Algum castigo de DEUS.

Estamos virando hereges,

Ou, pelo menos, ateus!

Por causa dessa descrena,

Certa mocinha donzela,

Das bandas de IPUEIRAS,

Teve que virar cadela

E ver muito vira-lata

Na mira do rabo dela.

Este castigo se deu

Sexta-feira da PAIXO,

Na VILA DAS IPUEIRAS,

Interior do serto,

Quando LAGOA DE PEDRAS

Se chamava CONCEIO.

A me convidou a filha

Para ir, se confessar,

Ao que ela respondeu:

Se fosse para DANAR,

A senhora no me chamava.

Eu hoje vou FARRAR!

Desde os meus catorze anos,

Que dano, namoro e farro,

No passo sem um PAQUERA

Pra viver TIRANDO SARRO,

Nem preciso o GAROTO

Ter MOTO, dinheiro e CARRO.

Quem gosta de confisso

velha na viuvez.

Eu gosto de namorado,

Pra isso j tenho trs,

Quando um falta, o outro vem

E no me falta FREGUS.

A me lhe disse: Cuidado!

Deus pode lhe castigar!

Que NAMORO MUITO BOM,

Mas pra gente SE CASAR,

Tomar conta duma casa,

Fazer de tudo...e AMAR.

Quem se casa quem se lasca!

- disse a cabrita assanhada-

Eu vejo a senhora a,

Velha, doente e LASCADA,

Papai no meio do mundo

E a casa abandonada!

Seu pai anda pelo mundo,

Coitado, ganhando o po.

Quando chega, com dinheiro.

E voc?... Nem um tosto!

- disse a me- E fez, ainda,

Um demorado SERMO:

Seu pai no me ABANDONOU

Porque me quer muito bem.

Sou velha, mas meu esposo

No me troca por ningum,

Porque SABE O QUE POSSUI!

Coroa mulher tambm.

Voc tem seus NAMORADOS,

Mas eu tenho um s esposo

Em quem confio e ADORO,

Apesar de ser IDOSO,

Mas continua um GAL,

Sincero, bom e... GOSTOSO!

A filha disse: A senhora

Talvez at PINTE O SETE

Quando meu pai sai de casa,

(A troco at de chiclete!)

E quando fala em AMOR,

Chega a rir e se derrete!

melhor que me respeite!

- disse a me- E v rezar

A Deus pedindo perdo,

Ou ento, se confessar,

Acompanhe a procisso

Que acabou de passar.

Disse a moa: Eu sou assim

Mas ainda sou donzela.

Quando a senhora era moa,

Bonita, FOGOSA e bela,

S vivia suspirando

Debruada na janela.

Dona Aurora disse: Creuza,

Pare com esse ARGUMENTO

E v para a procisso

De nosso senhor So BENTO.

Reza ficou pra cristo

E cangalha pra jumento.

A filha disse: Que nada!

A minha RELIGIO

danar e tirar sarro,

Tomar cerveja e QUENTO,

Gozar minha mocidade,

O mais, tudo ILUSO.

Mais antes sair daqui

Virada numa CACHORRA,

No meio dos vira-latas,

Do que ir pra aquela porra.

Se a senhora quiser,

V logo, dispare, corra!

Dona Aurora ajoelhou-se

E orou muito por ela,

Mas foi perdido: a garota,

To nova, atraente e bela,

Dentro de poucos minutos

Tinha virado cadela!

Com pouco, se levantou

E rasgou logo o vestido

Farejou no p do pote,

Rosnou e deu um latido,

Mijou perto do batente,

Uivou e deu um ganido.

A me chorou quando viu

A filha j transformada:

O rabo grande e flocado,

Olhando-a desconfiada,

Roendo um osso de bode

Que jogaram na calada.

Tinha hora que chorava,

No mesmo instante latia,

Tentava dizer umas coisas

Mas a me no entendia,

Chorando desesperada,

Depois a filha sorria.

A me disse:coitadinha,

Ficou amaldioada!...

Que ser de minha filha

To diferente e mudada?!

A filha disse: BESTEIRA!

Bom vai ser a CACHORRADA.

Ento saiu de choutinho,

J de rabo levantado,

No outro dia foi vista

Com um cachorro rajado,

Acuando uma tacaca,

L nos fundos do cercado.

Volta e meia vem em casa

E conversa como gente

O que se passa com ela

Diz ao povo abertamente,

E LEVA NA CACHORRADA,

Do mesmo jeito e contente.

No h quase diferena

Entre o HOMEM e o cachorro.

- disse a cadela- So quase

Como uma BOINA e um GORRO,

Um MONTE pouco elevado,

Comparado com um MORRO.

Enquanto houver vira-lata

- disse a bela cachorrinha-

eu fico at NUMA BOA,

que ruim viver sozinha.

Paquera que no me falta,

Vida boa mesmo a minha.

Depois disso, a VIRA-LATA

Apareceu j buchuda,

E depois teve um filhote

Da carinha cabeluda,

Meio gente meio bicho

Parecendo at um juda.

Foi vista ltima vez,

Na casa dum caador,

Com quem at COOPERAVA

Caando com seu SENHOR,

Por ser muito bem tratada

Pelo novo protetor.

Se voltou a virar gente

Depois de longo castigo,

Ou morreu como cadela

Nas mos do seu novo amigo,

Eu no garanto porque

MENTIRA NO COMIGO!

Verdade, mentira ou no,

O CASO foi bem descrito.

Se, de ato, aconteceu

Este episdio inaudito

Envolvendo ua mulher,

Acredite quem quiser.

Eu mesmo no acredito!

Severino Tira-Fama o Chifrudo Valento

Autor: Antnio Lucena

Quem nasce PRA LEVAR CHIFRE

Traz um CATOMBO NA TESTA

E se CASAR SETE VEZES

S casa com quem no presta,

Dessas que POR UM CIGARRO

Do o CACHIMBO DE FESTA

Severino TIRA-FAMA

Um sujeito VALENTO

Andou por 2 ou 3 meses

No BANDO DE LAMPIO,

Da ficou conhecido

Como O TERROR DO SERTO!

Abandonou O CANGAO

A conselho dum parente,

Voltando sociedade,

Para VIVER COMO GENTE

Mas nunca deixou de ser

METIDO A CABRA VALENTE!

Por quase nada o patife,

-Quando deixou o cangao-

Dava um PONTAP no cara

Depois metia-lhe o brao,

Botava o cabra no cho

E pisava no CACHAO.

Da metia-lhe a peia

Durante quase uma hora!

Pegava no cis da cala

Do cabra e dizia: Agora,

Se no quiser morrer HOJE,

Se levante e v embora!

O pobre se levantava,

Depois batia a poeira,

E Severino dizia:

Agora faa carreira

E no olhe nem pra trs

Nem v CONVERSAR BESTEIRA!

Isso acontecia sempre

Em bailes, feiras e festa,

Nos forrs da vizinhana,

Com gente boa e honesta,

Que o cabra quando ruim,

Morre de velho e no presta!

Mas apesar de perverso,

Nas horas de bom humor,

Dizia que pra mulher

Tinha carinho e amor,

Que EM MULHER NO SE BATE

NEM MESMO COM UMA FLOR!

Quando mudou de conduta

Entendeu de se casar

Com a moa mais bonita

Que havia no lugar,

Dessas que gostam de festas

E de forr, pra danar.

Dasou com Zefa PAGODE

Uma garota AVUADA,

Mas no sabia que Zefa

J era moa FALADA,

Dessas que s tinha AS CUIAS

Naquele canto e mais nada.

Lua-demel de matuto

no mocambo onde mora.

No tem aquela FRESCURA

De passar um ms l fora

Gozando A LUA DE- MEL,

Como o rico faz agora.

Assim, depois de casado,

Severino Tira- Fama

Levou pra casa a menina

E... quando foram pra cama,

No bamb dos cabaceiros

S encontrou mesmo A RAMA!

Da queixou-se da sorte:

J vi que DESTINO FRACO!

Quando eu comprei a farinha

J tinham RASGADO O SACO!

Se vou arrancar um peba...

Chego e s acho o buraco!

Diante a decepo,

Disse: E agora? O que fao?...

Depois do FIL na mesa

Perder O MELHOR PEDAO!

Antes na mo Ter as CUIAS

Que na cabea UM CABAO...

Como j tinha casado,

Ficou vivendo com ela.

Mulher de porte elegante,

Risonha, atraente e bela,

VALIA A PENA SER CORNO,

Mas SER O MARIDO DELA!

Depois da LUA-DE-MEL...

Comeou a levar ponta.

Embora sabendo disso

No levou aquilo em conta,

O IMPORTANTE era em casa

Ter ROUPA E COMIDA PRONTA.

Casar e no levar chifres,

Isso depende da dita...

- dizia, afastando as tranas,

Presas num lao de fita,

Caindo por sobre os ombros

Daquela mulher bonita.

Com ela esquecia O MUNDO,

Quando trancados num quarto,

Que de amor e carinho

Nunca o homem fica farto,

E chorou quando a mulher

Morreu no primeiro parto!

Morreu a mulher AMADA,

Mas lhe deixou um RENOVO.

E ele , sem ligar muito

Para a m lngua do povo,

Com outra moa bonita

Resolveu casar de novo.

Casou com RITA FOGUETE

Uma garota estudada,

Morena dos olhos verdes,

Decente e muito educada,

Mas tinha o mesmo problema:

J no era mais de nada!

Na noite do casamento,

Quando levou A PATROA

Para o LEITO CONJUGAL

Que chegou NA HORA BOA...

(Do caf da meia noite)

J tinham COMIDO A BROA!

Da sentou-se na cama

E disse, quase a chorar:

Bem que dizia meu pai:

gua s CORRE PRO MAR!

ponta em cima de ponta,

No sei pra que fui casar!

Um ano, aps, desquitou-se,

Pra se casar, em seguida,

Com uma prima CHARMOSA,

Por nome de MARGARIDA,

Pensando ser essa A FLOR

DO JARDIM DE SUA VIDA.

A prima, criada fora,

E educada em CONVENTO,

Tinha sido deflorada

Pelo Padre Pedro Bento,

E perdido as esperanas

De achar um casamento.

Mas disso nada sabia

Severino, O VALENTO.

S foi descobrir na hora

De pegar A REFEIO:

Comeram tudo, e pra ele,

Deixaram s O FEIJO!

Assim casou, SETE VEZES,

Casando e levando ponta!

Nas setecentas e tantas

Ele a perdeu A CONTA

Das pontas que levou delas,

E foi atrs de outra tonta.

Talvez, por ser VALENTO.

Quase sempre teve a dita

De s casar com mulher

Extremamente bonita

Mas nem sequer, UMA DELAS,

Tinha FIL NA MARMITA.

Pensando nisso, entendeu

D procurar uma feia,

Pra viver AMANCEBADO,

Mas honrar a filha alheia

E no deixar lhe faltar

Almoo, jantar e ceia.

Como de fato arranjou

Uma feia e desleixada,

Fanhosa e da fala rouca,

Intrometida e pirada,

Sebosa de cabo rabo,

(E no era mais de nada!)

Quando foi dormir com ela,

Na hora DAQUILO BOM...

A moa enfeitou-se toda,

Com ROUGE, p e batom,

Mas por debaixo da saia

Trazia um ACORDEOM!

Dessa levou tanto chifre

Que DESGOSTOU-SE DA VIDA

E lhe mandou CAIR FORA,

Para criar em seguida

A filha, j de 6 anos,

Duma pobre desvalida.

Criou aquela menina

Somente POR INTERESSE:

Pensando em CASAR COM ELA,

Um dia quando crescesse,

Antes que O RICARDO

Por ali aparecesse.

Com o leiteiro da vila

Tinha feito freguesia.

O leite, de manh cedo,

Quando o leiteiro trazia,

Entregava garotinha,

Quase todo santo dia...

A guria j grandinha,

Antes que DESSE NO COURO,

Engraou-se do leiteiro

E entregou-se ao namoro,

Parecia UMA CABRITA

Na dianteira dum TOURO!

Depois de MAIS DE 3 ANOS

Severino, O VALENTO,

LEVOU AO LEITO A guria,

Com medo do RICARDO,

Mas o leiteiro, bem antes,

J tinha COMIDO O PO!

Da, SURPRESO, exclamou:

Mas quanto sou CAIPORA!

No h pra onde correr,

Acabei de ver agora!...

Mas dessa que vou fazer

A DEUSA DA NOVA AURORA.

Mesmo sujeito a mais chifres

Decidiu morar com ela,

Que j era bonitinha,

Depois tornou-se mais bela,

E apesar de to nova,

NUNCA LEVOU CHIFRES DELA!

Por incrvel que parea,

Um cabra to valento

Para as mulheres chifreiras

Nunca levantou a mo,

E delas, de TODAS SETE,

APANHOU DE CINTURO!