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A morte do garoto Douglas, a reação sintomática. Um jovem morto pela polícia na periferia de São Paulo. A reação: centenas (ou milhares?) de jovens saem as ruas, queimando automóveis, saqueando lojas... Por que esta reação? Para tentar entender a questão, creio que há uma pergunta que antecede aos motivos da reação. Por que e quando a polícia tornou-se o braço estatal mais simbólico nas periferias das grandes cidades? Como educador, tenho algumas hipóteses sobre a atuação estatal que nos leva a presenciar tais situações. Podemos começar falando sobre a inexistência de uma rede de proteção à criança. Muitos órgãos, muita burocracia, e diversas regras que não conseguem tirar milhões de crianças de situações em que sofrem violência de toda a sorte. Agressões físicas, morais e abusos sexuais são sofridas por jovens, na maioria das vezes dentro de sua família, e o Estado não possui nem de longe uma atuação satisfatória. Misturemos no caldo, a falta de investimentos em saúde, medicina preventiva, com palestras que melhorem a qualidade de vida nas periferias. Acrescentemos as dificuldades que as escolas possuem em toca estes jovens que não possuem estrutura e ambiente familiar que propicie condições mínimas de estudos. Os aparelhos e as políticas de esportes na periferia também são deficitárias. Falar da ajuda do Estado às manifestações artísticas e culturais promovidas na periferia seria uma piada. O que resta do estado nas periferias? A polícia. Polícia que rivaliza com o nem sempre odiado traficante da região. Polícia que é vista como o órgão estatal que constrange jovens pobres. Polícia que não pode fazer saúde, educação, transporte e cultura, mas que é o órgão mais presente nas periferias. A polícia representa o estado (pai) que apenas pune, que não te incentiva, que te massacra, que não lhe oferece perspectivas para conquista de sonhos. Quando

A Morte Do Garoto Douglas

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Page 1: A Morte Do Garoto Douglas

A morte do garoto Douglas, a reação sintomática.

Um jovem morto pela polícia na periferia de São Paulo. A reação: centenas (ou milhares?) de jovens saem as ruas, queimando automóveis, saqueando lojas...

Por que esta reação?

Para tentar entender a questão, creio que há uma pergunta que antecede aos motivos da reação. Por que e quando a polícia tornou-se o braço estatal mais simbólico nas periferias das grandes cidades?

Como educador, tenho algumas hipóteses sobre a atuação estatal que nos leva a presenciar tais situações.

Podemos começar falando sobre a inexistência de uma rede de proteção à criança. Muitos órgãos, muita burocracia, e diversas regras que não conseguem tirar milhões de crianças de situações em que sofrem violência de toda a sorte. Agressões físicas, morais e abusos sexuais são sofridas por jovens, na maioria das vezes dentro de sua família, e o Estado não possui nem de longe uma atuação satisfatória.

Misturemos no caldo, a falta de investimentos em saúde, medicina preventiva, com palestras que melhorem a qualidade de vida nas periferias. Acrescentemos as dificuldades que as escolas possuem em toca estes jovens que não possuem estrutura e ambiente familiar que propicie condições mínimas de estudos. Os aparelhos e as políticas de esportes na periferia também são deficitárias. Falar da ajuda do Estado às manifestações artísticas e culturais promovidas na periferia seria uma piada.

O que resta do estado nas periferias? A polícia. Polícia que rivaliza com o nem sempre odiado traficante da região. Polícia que é vista como o órgão estatal que constrange jovens pobres. Polícia que não pode fazer saúde, educação, transporte e cultura, mas que é o órgão mais presente nas periferias. A polícia representa o estado (pai) que apenas pune, que não te incentiva, que te massacra, que não lhe oferece perspectivas para conquista de sonhos. Quando Douglas, um filho é morto pelo Estado, percebemos que não há mais atores estatais na periferia. Só a oposição entre a população e o PM.