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A Navalha de Ocam Testar ou avaliar teorias nem sempre é algo trivial. Não falo apenas de teorias científicas complexas, que requeiram uma sofisticada e precisa parafernália eletrônica, mas teorias ou hipóteses de nosso próprio dia- a-dia. Por vezes somos confrontados ou inquiridos a respeito de varias teorias ou hipóteses diferentes, como por exemplo, o que achamos da "possibilidade da existência de vida inteligente fora da terra" ou se "rezas auxiliam ou não na rapidez da cura de um enfermo". Como deveríamos proceder para avaliar uma hipótese ou teoria quando não temos nem um fato refutatório nem uma evidência favorável? Para complicar, existem ainda teorias rivais em que os mesmos fatos são evidências que corroboram ambas as teorias!. Nestes casos como proceder para avaliar entre uma teoria ou outra? Como escolher? Com esta pergunta, você leitor, é induzido a pensar sobre um antigo princípio da lógica filosófica conhecido como a "Navalha de Ocam" , em homenagem a Willian de Ockham seu suposto criador. Willian nasceu na vila de Ocham, na Inglaterra, em 1285 e foi um dos mais influentes filósofos do século XIV e um controverso teólogo devotado a uma vida de pobreza e ao minimalismo. Acredita-se que ele tenha morrido em Munique em 1349, vítima da peste negra, que assolava a Europa naquela época. Escreveu:

A Navalha de Ocam

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A NAVALHA DE OCAM

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Page 1: A Navalha de Ocam

A Navalha de Ocam

Testar ou avaliar teorias nem sempre é algo trivial. Não falo apenas de teorias científicas complexas, que requeiram uma sofisticada e precisa parafernália eletrônica, mas teorias ou hipóteses de nosso próprio dia-a-dia.

Por vezes somos confrontados ou inquiridos a respeito de varias teorias ou hipóteses diferentes, como por exemplo, o que achamos da "possibilidade da existência de vida inteligente fora da terra" ou se "rezas auxiliam ou não na rapidez da cura de um enfermo".

Como deveríamos proceder para avaliar uma hipótese ou teoria quando não temos nem um fato refutatório nem uma evidência favorável?

Para complicar, existem ainda teorias rivais em que os mesmos fatos são evidências que corroboram ambas as teorias!. Nestes casos como proceder para avaliar entre uma teoria ou outra? Como escolher?

Com esta pergunta, você leitor, é induzido a pensar sobre um antigo princípio da lógica filosófica conhecido como a "Navalha de Ocam" , em homenagem a Willian de Ockham seu suposto criador.

Willian nasceu na vila de Ocham, na Inglaterra, em 1285 e foi um dos mais influentes filósofos do século XIV e um controverso teólogo devotado a uma vida de pobreza e ao minimalismo. Acredita-se que ele tenha morrido em Munique em 1349, vítima da peste negra, que assolava a Europa naquela época. Escreveu:

"Pluralitas non est ponenda sine neccesitate" [Pluralidades não devem ser postas sem necessidade]

este é o princípio que geralmente é chamado de 'Navalha de Occam'.

A "navalha de ocam" (Occam's Razor, em Inglês) é um principio filosófico que estabelece que se temos que escolher uma dentre muitas teorias, e não temos evidências que privilegiem alguma em relação a outras, então deveremos ficar com a teoria que requeira menos hipóteses, considerada assim, a mais simples.

É importante notar que é um argumento heurístico e freqüentemente não produz respostas corretas.

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A "navalha de ocam" também é conhecida como "Principio da Parcimônia" ou ainda como "Principio da Economia"

(na gíria científica inglesa, jocosamente, costumam usar para isso a expressão "K.I.S.S." (keep it simple, stupid) .

A "navalha de ocam" pode ser resumida na seguinte versão:

"Para explicar algo, as entidades não devem ser estendidas além do que é necessário."

Devemos ter sempre em mente que a "navalha" não é um método de refutar uma teoria e sim um critério lógico de escolha. A "navalha" deve ser aplicada sempre que não existirem evidências que corroborem uma teoria mais que outra.

Freqüentemente é mal-interpretada através da idéia de que "a simplicidade é a perfeição". Albert Einstein teve isso em mente quando escreveu que as "teorias devem ser tão simples quanto possível, mas não as mais simples".

Acredito que em seu âmago a "navalha" nada mais é do que uma forma de escolher a teoria, ou hipótese, que seja a mais provável já que para cada hipótese extra, que está embutida numa teoria, também deverá haver, em contrapartida, uma probabilidade desta hipótese não se verificar.

Embora tenha um nome pouco conhecido a "navalha" é utilizada freqüentemente e de forma intuitiva pela maioria das pessoas. Por exemplo, suponha que você está andando pela rua e observa, ao longe, uma caixa de sapatos fechada. Qual das seguintes teorias você escolheria sobre o possível conteúdo da caixa:

- A caixa está vazia- Pedras da Lua- A coroa de ouro da Rainha Elizabeth- 20 mil reais em dinheiro

A maioria das pessoas optaria pela primeira teoria : -A caixa está vazia.Qual seria então a razão lógica desta escolha? O que teria levado as pessoas a escolherem a mesma opção sem que nenhuma delas soubessem o que está dentro da caixa?

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A resposta está na utilização intuitiva, inconsciente, da "navalha de ocam".

Como não existem evidências que corroborem nenhuma das teorias, a teoria que requer menos hipóteses, a mais simples, é a que está, neste exemplo, na primeira opção. Todas as outras três requerem, alem de uma caixa vazia um 'algo mais' cuja probabilidade de ser real é bem menor do que simplesmente uma caixa vazia.

Mas é importante ter sempre em mente que não obstante a caixa vazia seja a teoria mais simples e a mais provável isso não constitui uma prova de sua veracidade!. A caixa poderia, em princípio,conter qualquer dos três elementos apontados pelas teorias restantes.Ainda como exemplo, a respeito de diagnósticos, nas escolas médicas costumam também dizer que "quando você ouve barulho de cascos você pensa em cavalos, não em zebras.".

Podemos dizer que o trabalho de um cientista nada mais é do que utilizar a "navalha de ocam" em seu limite de aplicabilidade. Todo cientista tentar reduzir ao mínimo o número de hipóteses requerido por sua teoria de modo a ampliar sua abrangência e aumentar sua utilidade e, portanto, seu grau de importância.

Se houverem duas teorias diferentes explicando um dado fenômeno físico então a comunidade científica sempre dará preferência à teoria mais geral, que abarque um número maior de casos, ao invés de sua concorrente cujo limite de aplicabilidade seja menor.

E esta é a grande dificuldade e a grande luta dos cientistas uma vez que criar teorias de grande aplicabilidade, isto é , com um número reduzido de hipóteses de restrição, é algo não trivial.