26
Introdução Este artigo fornece um olhar sobre a Nova Sociologia Econômica (NES) alemã, com foco especial nas contribuições do Ins- tituto Max Planck para o Estudo das Socie- dades (Max Planck Institute for the Study of Societies – MPIfG), em Colônia. Iniciamos com uma comparação entre as trajetórias da NES na Alemanha e nos Estados Unidos para, então, destacar o papel importante das tradições preexistentes da sociologia econô- mica na Alemanha. Discutimos as iniciativas de institucionalizar a NES nesse país e vários temas-chave, tais como mercados de quali- dade, incerteza, coordenação, ordem e mu- dança nos mercados, são apresentados. Na seção seguinte, são consideradas duas contes- tações à ideia de que a sociologia econômica ofereça uma abordagem sociológica comple- ta da ação econômica. Debatemos, em segui- da, as limitações nas análises de neolibera- lismo com base em uma economia política institucional de inspiração polanyiana – que aponta para a necessidade de uma economia política mais matizada culturalmente. Nesse contexto, analisamos também a incorpora- ção da teoria das convenções pela NES ale- mã, acrescentando uma breve consideração da influência de Bourdieu nessa abordagem. Destacamos, em seguida, algumas colabo- rações com base no enfoque anglo-francês de performatividade, que assume crescente importância na NES alemã e está se tornan- do um caminho privilegiado para integrar perspectivas analíticas micro e macro. Na seção final, os distintos aspectos de finan- ceirização que embasam muitas das contri- buições na NES alemã são apresentados e, na conclusão, chamamos a atenção sobre a ebulição dos debates dentro da NES alemã e o seu papel cada vez mais importante no contexto internacional. Uma contextualização inicial A partir de meados dos anos 1980, a NES estabeleceu-se com força nos Estados Unidos ao reivindicar o estudo de mercados como objeto legítimo de análise sociológica. O seu conceito de base – o enraizamento das estruturas de mercado em redes sociais – foi subsequentemente estendido a formas institucionais, políticas e culturais de enrai- zamento para oferecer uma análise alternati- A nova sociologia econômica alemã: especificidades, temas e autores John Wilkinson I DOI: 10.17666/bib9101/2020 BIB, São Paulo, n. 91, 2020 (publicada em fevereiro de 2020) pp. 1-26. I Universidade Federal do Rio de Janeiro – Rio de Janeiro (RJ), Brasil. E-mail: [email protected] Recebido em: 11/05/2019. Aprovado em: 19/08/2019. 1

A nova sociologia econômica alemã: especificidades, temas

  • Upload
    others

  • View
    1

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Introdução

Este artigo fornece um olhar sobre a Nova Sociologia Econômica (NES) alemã, com foco especial nas contribuições do Ins-tituto Max Planck para o Estudo das Socie-dades (Max Planck Institute for the Study of Societies – MPIfG), em Colônia. Iniciamos com uma comparação entre as trajetórias da NES na Alemanha e nos Estados Unidos para, então, destacar o papel importante das tradições preexistentes da sociologia econô-mica na Alemanha. Discutimos as iniciativas de institucionalizar a NES nesse país e vários temas-chave, tais como mercados de quali-dade, incerteza, coordenação, ordem e mu-dança nos mercados, são apresentados. Na seção seguinte, são consideradas duas contes-tações à ideia de que a sociologia econômica ofereça uma abordagem sociológica comple-ta da ação econômica. Debatemos, em segui-da, as limitações nas análises de neolibera-lismo com base em uma economia política institucional de inspiração polanyiana – que aponta para a necessidade de uma economia política mais matizada culturalmente. Nesse contexto, analisamos também a incorpora-ção da teoria das convenções pela NES ale-

mã, acrescentando uma breve consideração da influência de Bourdieu nessa abordagem. Destacamos, em seguida, algumas colabo-rações com base no enfoque anglo-francês de performatividade, que assume crescente importância na NES alemã e está se tornan-do um caminho privilegiado para integrar perspectivas analíticas micro e macro. Na seção final, os distintos aspectos de finan-ceirização que embasam muitas das contri-buições na NES alemã são apresentados e, na conclusão, chamamos a atenção sobre a ebulição dos debates dentro da NES alemã e o seu papel cada vez mais importante no contexto internacional.

Uma contextualização inicial

A partir de meados dos anos 1980, a NES estabeleceu-se com força nos Estados Unidos ao reivindicar o estudo de mercados como objeto legítimo de análise sociológica. O seu conceito de base – o enraizamento das estruturas de mercado em redes sociais – foi subsequentemente estendido a formas institucionais, políticas e culturais de enrai-zamento para oferecer uma análise alternati-

A nova sociologia econômica alemã: especificidades, temas e autores

John WilkinsonI

DOI: 10.17666/bib9101/2020

BIB, São Paulo, n. 91, 2020 (publicada em fevereiro de 2020) pp. 1-26.

IUniversidade Federal do Rio de Janeiro – Rio de Janeiro (RJ), Brasil. E-mail: [email protected] em: 11/05/2019. Aprovado em: 19/08/2019.

1

va e abrangente de mercados. A NES alemã pode ser caracterizada, em muitos aspectos, por ter seguido uma trajetória similar uma década mais tarde, com o foco na sociologia de mercados e nos esforços de sistematizar e institucionalizar esse campo ao estabele-cer uma Seção da Sociologia Econômica na Associação Alemã de Sociologia (Deutsche Gesellschaft für Soziologie – DGS) e produzir uma série de livros na forma de handbooks (Beckert; Besedovsky, 2009). Porém, ela foi muito além disso e colaborou também para a consolidação internacional e europeia da NES, por meio da liderança na publicação on-line da European Electronic Newsletter, de sua participação na Sociedade para o Avanço da Socioeconomia (Society for the Advance-ment of Socio-Economics – Sase) e de seus muitos aportes à literatura internacional da NES.

Assim, considerar a NES alemã apenas como uma extensão da NES Estados Unidos (EEUU) no contexto europeu é subestimar a contribuição alemã, bem como perder de vista sua característica mais distintiva. No campo da sociologia dos mercados, a obra de Jens Beckert e um número considerável de pesquisadores internacionais e alemães em torno do MPIfG, em Colônia, e da Seção da Sociologia Econômica da DGS produzi-ram uma síntese original capaz de integrar em um único quadro analítico os principais enfoques estadunidenses, desenvolvidos nos Estados Unidos, em forma independente e até como abordagens competitivas. Redes, instituições e cultura são integradas em uma única visão da dinâmica dos mercados e, com base em Fligstein e Bourdieu, relacio-

1 O trabalho de Kraemer e Brugger (2017) inclui uma discussão das várias correntes da sociologia econômica francesa.

nadas à noção de campo, o que permite uma teorização tanto da estabilidade quanto da dinâmica dos mercados.

A contribuição alemã à sociologia dos mercados difere da ênfase da NES nos EEUU em mercados de produção e de commodities (White, 1981; Fligstein, 2001; Granovetter; Mcguire, 1998) e dirige-se prioritariamente a mercados de qualidades especiais (Beckert; Aspers, 2011). Isso foi o resultado das mu-danças macro nos mercados do Norte, que se deslocaram de commodities para bens e serviços de alta qualidade nesse período, o que trouxe a NES alemã para mais perto das preocupações de uma das correntes da socio-logia econômica francesa, a teoria de con-venções (Diaz-Bones, 2015a).1 A contribui-ção alemã se destaca, também, à medida que no caso da NES estadunidense o foco são os mercados, o que se justifica por serem as ins-tituições centrais do capitalismo, enquanto no caso da NES alemã o foco é a dinâmica do capitalismo e não somente os mercados. Além disso, a NES EEUU situava-se – com exceção de Fligstein, que foi fortemente in-fluenciado pela tradição francesa das ciências sociais e, sobretudo, por Bourdieu – dentro de uma reação micro e meso à teoria de sis-temas de Parsons, com o objetivo de oferecer uma alternativa à economia neoclássica para o estudo dos mercados.

Apesar de algumas similaridades, o con-texto acadêmico e macroeconômico em que a NES alemã surgiu foi, também, muito distinto do contexto norte-americano. Nos Estados Unidos, a teoria parsoniana tinha sido enterrada já nos anos 1970, e o traba-lho de Alvin Gouldner (1970) marcou uma

2

guinada para teorias de conflito e para o ressurgimento do marxismo e da sociologia pós-estruturalista. Parsons e Smelser – este estabelecendo um gancho pessoal com a NES – publicaram Economia e Sociedade, em 1956, um livro notável pela falta de impacto na época da sua publicação e que parece ter tido pouco, ou nenhum, papel no desenvol-vimento subsequente da NES EEUU, apesar da colaboração de Smelser com Swedberg na edição das duas versões do Handbook of Eco-nomic Sociology (1994 e 2005). Ao confir-mar a divisão de trabalho entre a economia e a sociologia, pode ser que o livro tivesse até adiado o desenvolvimento da NES. Em contraste, a sociologia alemã foi fortemen-te influenciada pela teoria de sistemas ou pela “grande” teoria na caracterização de Ganssmann (1988), inspirado em Parsons. Isso, porém, aconteceu bem mais tarde, e as principais publicações de Luhmann foram editadas nos anos 1980. A Teoria do agir comunicativo, de Habermas, que inclui um capítulo dedicado à análise de Parsons, tam-bém apareceu nos anos 1980. Luhmann pu-blicou Die Wirtschaft der Gesellschaft (A eco-nomia da sociedade) em 1988, o que levou, diferentemente do caso do livro de Parsons e Smelser, a uma sociologia econômica es-pecificamente luhmanniana, cujo expoente principal é Dirk Baecker (ver Wirtschaftsso-ziologie, 2006), que forma parte integrante da NES alemã.

Independentemente, tanto da NES quanto da teoria de sistemas e afins, uma geração de sociólogos econômicos alemães

2 No caso da NES EEUU, a conexão com esses clássicos, exceto Marx, aconteceu sobretudo com base nas biografias intelectuais de Weber e de Schumpeter, escritas por Swedberg (1991, 1998), enquanto a centralidade do conceito de embeddedness levou a uma visão macro dominada por Karl Polanyi.

pode ser identificada com tendo sido mais diretamente inspirada na tradição clássica das ciências sociais alemãs – Marx, Weber, Sombart, Simmel e Schumpeter.2 Entre eles, podemos citar Klaus Heinemann, Johannes Berger, Peter Wagner, Paul Kellnermann, Heiner Ganssmann e Christoph Deuts-chmann. Embora mais tarde eles tenham en-trado em contato com a NES estilo EEUU, sua referência central não eram os mercados, mas a natureza do capitalismo e, particular-mente, capital, trabalho e dinheiro. Em vez de tentar identificar maneiras em que as re-lações sociais e culturais possam se impor na circulação do dinheiro – nesse sentido, pen-samos na obra da Zelizer na NES EEUU em contraposição à de Simmel –, esses autores, e sobretudo Ganssmann e Deutschmann, analisam o dinheiro como a característica definidora da sociedade capitalista. Para es-ses dois autores, a sociologia econômica trata centralmente das especificidades do capita-lismo, e eles se tornaram referências impor-tantes para pesquisadores mais diretamente identificados com a NES estilo EEUU. No-táveis são os esforços de ambos de integrar o micro e o macro. Para Ganssmann, isso implica incorporar a teoria interpretativa de ação de Weber em uma abordagem marxista mais abrangente, enquanto Deutschmann adota uma perspectiva schumpeteriana de inovação, mas baseada em uma dinâmica de mobilidade social. Pelo critério de citações, fica clara a influência desses dois autores na geração de NES. Assim, trataremos breve-mente, em seguida, das suas contribuições.

3

Contribuições da “velha guarda” da sociologia econômica alemã

Em A economia da sociedade, em home-nagem a Heiner Gannsmann (Die Ökonomie der Gesellschaft: Festschrift für Heiner Gans-smann), editado por Sylke Nissen e Georg Vobruba (2009), a primeira seção, “Dinhei-ro, Mercados e Política”, contém contribui-ções de Beckert, Diaz-Bone e Deutschmann, que refletem muito bem a integração entre essa geração intermediária de sociólogos eco-nômicos, que pode ser chamada de “velha guarda”, e a nova geração da NES. No que seja possivelmente a sua obra mais influen-te, Dinheiro e trabalho (Geld und Arbeit), Ganssmann mostra que uma concepção da divisão de trabalho entre a sociologia e a economia, semelhantemente àquela acertada entre Parsons e Lionel Robbins no mundo anglo-saxônico, prevalecia também na Ale-manha desde os anos 1920, na base de uma distinção estabelecida por Franz Oppenhei-mer entre relações “homem-coisa” (econo-mia) e homem-homem (sociologia); ação instrumental, associal por um lado e com-portamento orientado a normas por outro.3 Para Ganssmann (1996), o capitalismo não deve ser entendido como um sistema econô-mico. Pelo contrário, a sociedade moderna se constitui na relação entre dinheiro, traba-lho e consumo. Acesso à sociedade burguesa passa pelo acesso ao dinheiro, somente pos-sível por meio de trabalho socialmente orga-nizado e lucrativo. Embora toda a vida social

3 Sobre essa divisão de trabalho, ver também Heinemann (1987). Em 1988, Ganssmann publicou, em inglês, Money — a symbolically generated medium of communication? On the Concept of Money in Recent Sociology, que trata desses temas, e foi referenciado na discussão de dinheiro como meio simbólico no trabalho de Geoffrey Ingham, em seu influente livro The Nature of Money (2004). Ganssman faleceu em 2018.

na sociedade moderna dependa de dinheiro, a sociologia tradicionalmente enfocava os aspectos não econômicos da vida moderna. A adoção dessa perspectiva, segundo Ganns-mann, implica a ocupação de uma terra de ninguém entre a sociologia e a economia. Embora o título dessa obra de Ganssmann seja Dinheiro e trabalho, o seu foco analítico estabelece um ciclo que engloba dinheiro--trabalho-consumo e abrange tanto a firma capitalista quanto o lar, a produção e o con-sumo. Em contraste com a teoria neoclássi-ca, em que o dinheiro é tido como neutro, um mero véu cobrindo as trocas mercantis, para o autor o dinheiro representa essencial-mente uma relação de poder que mobiliza tanto o investimento como o consumo. Na sua combinação de Weber e Marx, Ganss-mann posiciona-se teórica e metodologica-mente em contraposição à teoria de sistemas, e a sua conceitualização de dinheiro e traba-lho também envolveu uma crítica explícita a Luhmann e Habermas: ao primeiro, es-pecificamente por sua interpretação apenas simbólica do dinheiro e, ao segundo, por sua categoria associal de trabalho. Ganssmann contribuiu para muitas publicações da NES alemã, inclusive com um livro que ele editou com Beckert e Diaz-Bone sobre mercados como estruturas sociais (Märkte als soziale Strukturen, 2007).

De toda a velha guarda, Deutschmann talvez seja o autor que se tornou mais inte-grado na NES, com base na sua colabora-ção com Beckert e o MPIfG, em Colônia

4

(ver Beckert; Deutschmann, 2009). Vários dos seus textos têm sido traduzidos em in-glês (Deutschmann; 2011a; 2011b; 2012). Da mesma forma que Ganssmann, Deuts-chmann baseia-se fundamentalmente nos clássicos de Marx, Simmel e Schumpeter, e também como ele, no papel do dinheiro na sociedade capitalista. Em um diálogo esten-dido e criativo com esses autores, e com base, sobretudo, em uma reflexão crítica do en-tendimento de Weber sobre a relação entre capitalismo, religião e racionalização, Deuts-chmann (2008) desenvolve uma síntese ori-ginal, que também incorpora elementos de pragmatismo estadunidense por intermédio de Hans Joas (1993), uma grande influência na formação de Beckert. Para Deutschmann (2008), o dinheiro como meio absoluto, tendo em vista Simmel, torna-se o impulsio-nador de crescimento no capitalismo, como garantidor de uma reivindicação cada vez maior sobre a riqueza, e até a promessa de ri-queza absoluta, tanto real como imaginária. Em uma reformulação de Marx, dinheiro como capital não mobiliza o trabalho social abstrato, mas a criatividade humana inesgo-tável, que implica uma dinâmica intrínseca para o crescimento e a produção cada vez maior de capital na forma de crédito e débi-to. Em contraste com a “gaiola de ferro” no processo de racionalização de Weber, Deuts-chmann recorre a Durkheim e vê o capitalis-mo, por meio do dinheiro, como se tivesse sendo impulsionado por uma busca seculari-zada de transcendência. Assim, Schumpeter

4 Deutschmann publicou recentemente, em inglês, pela Routledge, Disembedded markets: economic theology and global capitalism (2019).

5 Ver também Wagner e Hessinger (2008). O clássico de Boltanski e Thévenot, De la Justification, só foi publicado na Alemanha em 2007, Über die Rechtfertigung. Eine Soziologie der kritischen Urteilskraft.

torna-se decisivo para Deutschmann na sua ênfase em inovação, que implica uma pre-ocupação com a dinâmica de ação, dada a incerteza radical sobre o futuro. A solução de Schumpeter reside na psicologia pecu-liar do empreendedor capaz de investir em condições de incerteza. Seguindo Dewey, Deutschmann reconhece o papel-chave da iniciativa individual para a ação criativa, mas focaliza nas condições sociais que viabilizam inovações bem-sucedidas. Tudo isso o leva a uma interpretação sociológica da relação entre inovação, desigualdade e perspectivas para mobilidade social, que se alimenta de mitos. A sociologia econômica avança no terreno de uma teoria geral da dinâmica da sociedade capitalista, e Deutschmann situa a sua análise nos discursos sociológicos mais amplos de modernização e de diferenciação social.4 Em A dinâmica capitalista (Kapita-listische Dynamik, 2008), Deutschmann in-tegra na sua análise temas-chave atualmen-te em debate na NES, inclusive a adoção de uma visão polanyiana de enraizamento/desenraizamento, a discussão crítica de Bol-tanski e Chiapello (Le Nouvel Ésprit du Ca-pitalisme, 1999), que tem sido bastante in-fluente na Alemanha, com uma edição alemã em 2003,5 bem como as contribuições à so-ciologia financeira que se iniciou nesse país com a publicação de “O que é capitalismo financeiro?” (“Was ist Finanzmarkt-Kapita-lismus?”), por Paul Windolf (2005b).

A análise de dinheiro é um tema trans-versal da sociologia econômica da velha guar-

5

da com contribuições importantes de Ganss-mann e Deutschmann – que também editou a publicação O poder social do dinheiro (Die gesellschaftliche Macht des Geldes, 2002) –, além de Paul Kellerman – Dinheiro e socieda-de (Geld und Gesellschaft, 2005) –, e continua nos trabalhos de acadêmicos da NES, tais como Klaus Kraemer e Sebastian Nessel, edi-tores de dois textos, Mercados financeiros de-sencadeados (Entfesselte Finanzmärkte, 2012) e Dinheiro e crise (Geld und Krise, 2015); e também no trabalho de Axel Paulo, A socie-dade de dinheiro (Die Gesellschaft des Geldes, 2012), seguido, em 2017, por A teoria de di-nheiro – uma introdução (Theorie des Geldes zur Einführung). Hanno Pahl continua na mesma tradição com a sua análise compara-tiva de Luhmann e Marx sobre a relação com o dinheiro – Dinheiro na economia moderna: Marx e Luhmann Comparados (Das Geld in der modernen Wirtschaft: Marx und Luhmann im Vergleich, 2008). O dinheiro é relativa-mente ausente como tema na NES EEUU, cujo foco tem sido, sobretudo, o conteúdo so-ciológico das estruturas de mercado.6 Quando dinheiro é discutido, como nas contribuições importantes da Zelizer, a análise centra-se na reapropriação social dele ou na resistência à monetarização. A tradição alemã de analisar dinheiro à luz dos clássicos tem sido incor-porada na NES alemã, tanto na centralidade da análise de dinheiro quanto no desenvol-vimento de uma sociologia financeira, que complementa, mas não pode ser reduzida à corrente performativa da NES que prioriza, sobretudo, a análise micro de mercados finan-ceiros (Mackenzie; Millo, 2003).

6 Markets on Trial (Lounsbury; Hirsch, 2010) pode marcar uma mudança à luz da crise financeira global.7 No Anexo 1, incluo dados sobre a DGS, que identifica as pessoas e os temas que têm animado a sessão desde a sua criação.

A institucionalização de nova sociologia econômica na Alemanha7

O fato de a NES alemã só se deslanchar a partir da segunda metade dos anos 1990 sig-nifica que ela surgiu em um contexto muito diferente da NES estadunidense. O colapso da União Soviética e o neoliberalismo em pleno avanço provocaram uma politização de mercados, situados forçosamente em um quadro maior de dinâmicas macro e globais. A NES, assim, não podia mais se limitar a expor a inadequação das concepções neo-clássicas do mercado. Essa politização tam-bém levou a uma atenção ao Estado como contrapartida ao mercado, que abre para um diálogo com a sociologia política e a econo-mia política, no qual o clássico de Polanyi, A grande transformação, serve crescentemente como referência. A NES alemã, avançando com base nas preocupações da velha guarda com a dinâmica social do capitalismo, tem se posicionado bem para desenvolver uma perspectiva da sociologia dos mercados que não perde de vista os desenvolvimentos ma-cro. Outra vantagem importante foi a inte-gração de Marx no cânone acadêmico dos clássicos da sociologia econômica, no qual a síntese original de Simmel e Marx por Deutschmann (2002) é exemplar.

Os anos 1990 também viram uma reo-rientação nas economias do Norte, e a crise nos mercados de commodities refletia mu-danças estruturais em direção à segmentação dos mercados e à diferenciação dos produtos. O programa de pesquisa do MPIfG captou bem essa mudança e dirigiu a sua atenção

6

para as características específicas dos merca-dos emergentes de qualidades, radicalmente distintas dos mercados de commodities, que tinham sido o mercado de referência para a NES EEUU.8 Tudo isso levou a uma apro-ximação da NES alemã com a sociologia econômica francesa, sobretudo a teoria das convenções e correntes associadas.

Institucionalmente, no entanto, a NES alemã desenvolveu uma estratégia muito similar àquela dos EEUU, em que a NES tinha rapidamente conseguido reconheci-mento para que a subárea da sociologia eco-nômica entrasse na comunidade mais ampla da sociologia. Um instrumento central aqui foi a produção da handbooks, ou livros-tex-tos, para definir, se não um cânone, pelo me-nos uma referência acadêmica comum para a consolidação de cursos e linhas de pesqui-sa. Richard Swedberg foi quem liderou essa iniciativa nos EEUU, e ele tinha laços fortes com a sociologia econômica na Alemanha, tanto por sua origem na Suécia quanto por suas colaborações com membros destacados da NES alemã. Seu livro, Principles of Econo-mic Sociology, foi publicado em alemão em 2009, e Swedberg tem muitos capítulos e artigos em publicações-chave na NES alemã.

A sociologia econômica alemã, que se originou em 1988 como um Grupo de Tra-balho da DGS, transformou-se, dois anos depois, em uma Seção da Associação e, desde então, organiza reuniões anuais.9 Em 2008, o prêmio Karl Polanyi foi criado para tra-balho acadêmico de destaque nos temas da sociologia econômica, e também foi acertada

8 A presença de Patrik Aspers e Rainer Diaz-Bone no MPIfG em momentos diferentes nesse período certamente reforçou essa orientação.

9 Essa informação pode ser encontrada no site da Seção: <http://wirtsoz-dgs.mpifg.de/>. Acesso em: 12 fev. 2018.

uma série de livros sobre sociologia econô-mica com a editora Springer VS, origem de um grande número de publicações. Andrea Maurer publicou um livro-texto de sociolo-gia econômica em 2008, seguido por uma segunda edição em 2017, e Klaus Kraemer e Florian Brugger publicaram um livro de tex-tos-chave com comentários, ainda em 2017. A Seção afiliou-se à Sase e à Associação Eu-ropeia da Sociologia (ESA). Durante mais de duas décadas, a Seção tem organizado reuniões anuais cobrindo um extenso leque de temas, várias vezes em colaboração com outras Seções da Associação.

A partir de 2006, o MPIfG teve papel central na consolidação da Seção da Sociolo-gia Econômica no DGS e da NES de forma mais ampla, tanto na Alemanha como inter-nacionalmente. A NSE alemã tem desenvol-vido uma sociologia abrangente dos merca-dos que sintetiza as distintas abordagens da NES EEUU e avança além da sua análise de mercados de commodities para compre-ender a dinâmica dos novos mercados de qualidade que, cada vez mais, caracterizam o capitalismo contemporâneo nas econo-mias avançadas. Mais ainda, integrou essa síntese em uma visão geral de maneira que a coordenação e a ordem dos mercados fossem alcançadas e que as dinâmicas de mudança pudessem ser analisadas (Beckert, 2009b).

Esse programa ambicioso tem sido de-senvolvido tanto internamente como por meio de colaborações estratégicas de figu-ras-chave, tais como Patrik Aspers (2011) e Aspers e Dodd (2015), cujo trabalho sobre

7

standards e mercados de status já se tornou referência; Rainer Diaz-Bone (2015a), que foi um fator-chave na rápida difusão da teo-ria francesa das convenções; e Philippe Stei-ner (Steiner; Vatin, 2009; Steiner, 2011), um membro do Conselho Científico do MPIfG durante vários anos, uma figura central na consolidação da sociologia econômica na França e pioneiro no estudo de mercados contestados (Steiner; Trespeuch, 2015). O livro The Worth of Goods, organizado por Beckert e Aspers (2011), inclui muitas das mais importantes contribuições ao tema sobre novas formas de estabelecer valor nos mercados.

Essas reflexões teóricas têm sido acom-panhadas por estudos empíricos a respeito de um extenso conjunto de temas – vinho, moda, arte, mercados ilegais e informais –, em colaboração com pesquisadores, douto-randos e pós-doutores. Além dos temas tí-picos da NES EEUU, esses estudos tiveram como foco novas questões fundamentais, tais como a formação de valor e de preços.10 O estudo dos mercados, em um contexto glo-bal de crise e de avanço de comodificação, dificilmente pode se isolar de considerações macro, tanto econômicas como políticas. Durante a Diretoria de Wolgang Streeck, o MPIfG fez contribuições fundamentais aos debates em torno de variedades de capita-lismo, e a economia política foi central ao seu programa de pesquisa desde o início dos anos 1980. Jens Beckert tornou-se diretor em 2005 e, com Streeck, desenvolveu uma

10 O próprio sucesso do programa de pesquisa sobre a sociologia dos mercados tem levado alguns autores a enfatizar que a sociologia econômica não pode ser reduzida a esse tema. Ver Maurer (2017a; 2017b) e Kraemer e Brugger (2017).

11 Os principais autores analisados no seu livro Beyond the Market: the social foundations of economic efficiency (Be-ckert, 2002; 1997, em alemão).

perspectiva programática para integrar a so-ciologia econômica e a economia política, que se encontra publicada na série Working Papers do MPIfG, como Sociologia econômica e economia política, em 2008 (Beckert; Stre-eck, 2008).

Beckert chega à sociologia econômica com base em uma imersão nos clássicos da teoria sociológica moderna – Parsons, Luhmann, Giddens11 – e fortemente in-fluenciado também pela visão de Hans Joas sobre a criatividade da ação elaborada com base no pragmatismo estadunidense (Joas, 1993). Ao centro da teoria de Luhmann se encontram o desafio da incerteza e a neces-sidade para a sua redução como precondi-ção da ordem social. Isso se alcança com base na diferenciação da sociedade moder-na em subsistemas autônomos que se autor-reproduzem e desenvolvem os seus próprios meios de comunicação. Os conceitos rela-cionados de risco e de confiança também têm sido conceitos-chave na sociologia de Luhmann (1988). O conceito da incerteza radical e a sua distinção do risco são centrais na sociologia econômica de Beckert, como pode ser visto no seu artigo clássico “O que é sociológico na sociologia econômica?”, publicado em alemão e inglês em 1996, antes da publicação do seu primeiro livro, Beyond the Market (Beckert, 2002). Nesse artigo, Beckert recorre não a Luhmann, mas às contribuições-chave de economistas como Knight e a sua distinção entre risco e incerteza, à noção de racionalidade limi-

8

tada de Simon, bem como às críticas insti-tucionalistas à ação racional nos trabalhos de Hodgson.12 Para Beckert (1996), em contraste com Luhmann, a capacidade de lidar com a incerteza, que implica com-prometimentos com um futuro em prin-cípio não conhecido, reside nos distintos tipos de enraizamento da ação econômica. Igualmente em contraste com Luhmann, Beckert baseia a sua análise em ação in-tencionalmente racional e não na teoria de sistemas. O foco de Beckert na sociologia de mercados, portanto, tem sido acompa-nhado por um aprofundamento contínuo da sua análise substantiva e metodológica da ação econômica, que culminou em 2016 na publicação de Imagined Futures, com o subtítulo eminentemente macro: “Expecta-tivas fictícias e dinâmicas do capitalismo”.

O que é econômico na Nova Sociologia Econômica?

Em 2015, a tese de Jan Sparsam foi pu-blicada como livro (Economia na nova socio-logia econômica) na série Economia e Socie-dade, da Springer VS. Esse livro analisa as contribuições de quatro destacados teóricos da NES: Mark Granovetter, Harrison Whi-te, Neil Fligstein e Jens Beckert. Enquan-to Beckert, no seu artigo clássico de 1996, escolhido para inclusão no livro de textos--chave (Key Works in Economic Sociology),

12 Em uma maneira similar, agora em relação à inovação, Deutschmann dialoga com a literatura neoschumpeteriana em Kapitalistische Dynamik (2008).

13 Com uma argumentação similar no seu último livro, How will Capitalism End?, Streeck (2016) insiste no seu debate com Fred Block na manutenção do conceito de capitalismo, enquanto Block, um destacado polanyiano, apoiando-se também na abordagem da contingência histórica de Greta Krippner (ver Capitalizing on Crisis, 2012), defende o uso da noção de “sociedade de mercado”. Ver Block (2012a) e a sua resposta a Streeck (Block, 2012b).

mencionado anteriormente, enfoca o conte-údo fundamentalmente sociológico da ação econômica com resultado da incerteza radi-cal em que a ação econômica deve se desen-volver, Sparsam (2015) redireciona a atenção ao conteúdo econômico da NES e conclui que isso está consistentemente ausente em todas as contribuições. Sparsam (2015) faz uma análise detalhada dos quatro autores citados para examinar em que medida eles conseguem tratar fatos econômicos como fatos sociológicos. Nas suas conclusões, ele critica a centralidade atual de sociologia dos mercados, que são vistos, ele argumenta, como “o lugar onde generalizações sobre a economia e os standards metodológicos para um tratamento de fenômenos econômicos são elaborados” (Sparsam, 2015, p. 11). Como resultado, “a interação econômica é identificada como interação de mercados e a economia é confundida com um sistema de mercados interconectados” (Sparsam, 2015, p. 11). Como alternativa, ele apela para a investigação de “fenômenos econômicos ge-rais que atravessam os mercados” (Sparsam, 2015, p. 11) e compara a sua posição àquela de Streeck na sua defesa de uma abordagem das “comunalidades do capitalismo”, no de-bate com os expoentes de “variedades de ca-pitalismo” (Streeck, 2010).13

No livro de Sparsam (2015), a contri-buição de Beckert também é analisada em detalhe e sujeita a uma crítica abrangente, que incluem os seus microfundamentos e

9

a noção de enraizamento, a teoria da ação pragmatista e a teoria do valor, e conclui com uma crítica do que ele caracteriza como “as ambivalências da sociologia de mercado de Beckert” (Sparsam, 2015).Sparsam (2015) discute uma série de textos de Beckert que tem estimulado debates mais abrangentes, os mais importantes dos quais têm envol-vido Deutschmann,14 Kurtulos Gemici15 e Torsten Strulik.16 Ele continua sua crítica ao focalizar as tensões entre a teoria de ação de Beckert e o seu reconhecimento da dinâmi-ca inerente ao capitalismo, que é também o foco dos outros autores discutidos. De novo, e na mesma linha das suas críticas a Grano-vetter, White e Fligstein, Sparsam (2015) argumenta que a ação econômica não está analisada como ação social. Em vez disso, a ação social serve para domesticar a dinâmica anterior da ação econômica capitalista. Essa linha de argumentação é então desenvolvida para analisar o entendimento de Beckert (em colaboração com Patrik Aspers) sobre temas como valor, preço e dinheiro.

Em um artigo particularmente inte-ressante de Beckert (2009a), discutido por Sparsam, ele critica a abordagem da teoria de sistemas e defende a sociologia econô-mica como base para desenvolver uma te-oria da sociedade capitalista moderna. Esse artigo, que não foi traduzido em inglês,

14 Deutschmann discute a teoria de ação de Beckert em A promessa de riqueza absoluta (Die Verheissung des absoluten Reichtums, 2001), e também em Incerteza e enraizamento social: problemas conceituais da sociologia econômica (Unsi-cherheit und soziale Einbettung: konzeptionelle Probleme der Wirtschaftssoziologie) (Beckert; Diaz-Bone; Ganssmann, 2007).

15 Para o debate entre Beckert e Gemici, ver: Uncertainty, the Problem of Order and Markets: a critique of Beckert, Theory and Society, May 2009 (Gemici, 2012), bem como a resposta de Beckert (2012): The Social Order of Markets’ Approach: a reply to Kurtulus Gemic.

16 Para a crítica de Strulik, ver: A sociedade da nova sociologia econômica: uma resposta ao artigo de Beckert, Sociologia Econômica como Teoria Social (Die Gesellschaft der neuen Wirtschaftssoziologie: Eine Replik auf Jens Beckerts Artikel Wirtschaftssoziologie als Gesellschaftstheorie, 2012).

posiciona-se contra a perspectiva luhman-niana e recorre a uma crítica desenvolvida por Uwe Schimank (2008). A ideia de fun-do é que a autossuficiência e a reprodução autônoma dos diferentes subsistemas da sociedade têm sido minadas pela maneira como o dinheiro e as práticas de mercado, específicos ao subsistema econômico, têm se tornado a “energia” e a condição de re-produção dos outros subsistemas. O sub-sistema econômico, por outro lado, tem a sua própria dinâmica baseada na maximi-zação do lucro por atores autointeressados, muito similar à noção de Polanyi de mer-cados autorregulados. Em seguida, Beckert (2009a) utiliza a teoria de conflito como alternativa ao modelo de desenvolvimento baseado na diferenciação funcional, e mais especificamente a noção de Polanyi sobre os contramovimentos de proteção social. O surgimento de diversas forças para contes-tar a expansão do mercado capitalista leva ao desenvolvimento de instituições, organi-zações e arranjos societais que são histori-camente contingentes. A sociologia econô-mica, portanto, argumenta Beckert, é mais bem situada para desenvolver uma teoria geral da sociedade, dada a sua capacidade de integrar as dinâmicas econômicas, so-ciais, políticas e institucionais da sociedade moderna capitalista.

10

O novo espírito do capitalismo e a teoria francesa das convenções na Nova Sociologia Econômica alemã

Uma crítica a essa perspectiva polanyia-na desenvolvida por Beckert tem sido elabo-rada por Patrick Sachweh e Sascha Münnich in Capitalism as a Lifeform? (Kapitalismus als Lebensform?, 2017). Na introdução des-se livro, os autores reconhecem que os en-foques de economia política – incluem-se aqui Deutschmann e Streeck – têm sido bem-sucedidos na incorporação de institui-ções, sobretudo ao adotar uma perspectiva polanyiana. Eles defendem, no entanto, que a expansão original do mercado autorregu-lado não está culturalmente apoiada e que em nenhum lugar Polanyi descreve a ideia do mercado autorregulado como um proces-so cultural. A crença liberal nasce, portanto, como uma pura anticultura, uma ideologia de interesses e estruturas políticas.17

Esses autores alegam que houve uma ex-clusão geral de perspectivas culturais na eco-nomia política alemã contemporânea.18 No entanto, o livro O novo espírito do capitalismo (NEC), por Luc Boltanski e Eve Chiapello (1999), cujo título explicitamente evoca o clássico estudo de Weber, tem sido ampla-mente discutido na Alemanha e foi traduzi-do em 2003, antes mesmo da edição alemã do livro de Boltanski e Laurence Thévenot, De la justification, o texto programático da teoria francesa das convenções, que só apa-

17 Münnich (2011) explora as questões teóricas mais amplas sobre a relação entre ideais e interesses no seu artigo “Interesses e ideias: uma crítica sociológica de uma distinção problemática”.

18 Podemos mencionar aqui a obra de Ben Jessop. Desde o seu trabalho inicial sobre o Estado e o desenvolvimento da teoria francesa de regulação, ele, em colaboração com Ngai-Ling Sum, tem elaborado uma versão de economia política cultural. Ver: Towards a Cultural Political Economy (Sun; Jessop, 2013). Jessop tem forte inserção no mun-do alemão de ciências sociais.

receu em 2007. Boltanski já estava bastante conhecido em virtude de seu livro Les cadres: la formation d’un groupe social e também pela sua associação com Bourdieu (Peter, 2005). Foi Peter Wagner, nos anos 1990, quem, em grande medida, introduziu o enfoque das convenções na Alemanha, chamando a aten-ção para o surgimento de uma perspectiva alternativa à de Bourdieu nas ciências sociais (Wagner, 1993).

Em 2008, Gabriel Wagner e Philip Hessinger editaram uma coletânea de en-saios sobre o novo espírito de capitalismo intitulada O novo espírito do capitalismo? Pa-radoxos e ambivalências da economia rede. A importância atribuída à NEC é claramente indicada no título do capítulo introdutório dos editores: “A Tese sobre Protestantismo de Weber e o Novo Espírito de Capitalismo – uma Perspectiva Alemã-Francesa” (Wagner; Hessinger, 2008, p. 3-17). Uma resposta crítica à NEC veio de Deutschmann (2007; 2008), para quem existe uma brecha intrans-ponível entre o núcleo duro do capitalismo e as ideologias que servem de justificação. Na análise de Boltanski e Chiapello (1999), o papel do dinheiro na integração de trabalho assalariado no capitalismo não aparece. A estruturação simbólica do capitalismo não se limita ao gerenciamento da economia em rede, mas estende, também, à tecnologia e ao consumo. Não podemos falar, portanto, de um único “espírito de capitalismo”. Em vez de representar uma revitalização do espí-

11

rito do capitalismo, a filosofia hoje de gestão, conclui Deutschmann (2007), reflete esfor-ços de fragilizar a regulação que protege o trabalho na face do declínio de longo prazo das taxas globais de crescimento.

De forma similar, Lothar Peter (2005a) critica a NEC e argumenta que, apesar de trazer novas questões para o debate, os auto-res reduzem as contradições do capitalismo a certas facetas do processo de trabalho em que existem possibilidades para uma subje-tivização deste. A metáfora idealizada de re-des, que prioriza a cooperação decentralizada com base em confiança, não consegue lidar com o antagonismo entre esta e o imperativo implacável para a concentração e a centrali-zação do capital. Como resultado, segundo Peter (2005a), o poder da crítica é idealizado e os duros fatores por detrás da exploração capitalista, subestimados.

O trabalho agora clássico de Boltanski e Thévenot, De la Justification, foi publicado em uma edição em alemão em 2007. Em-bora Peter Wagner tivesse identificado as contribuições de Boltanski como marcando uma ruptura radical na sociologia francesa, Boltanski tinha sido associado à tradição de Bourdieu, a influência francesa dominan-te na sociologia alemã. Essa identificação pode ter sido refortalecida pela série de pa-lestras que Boltanski proferiu, a convite de Alex Honneth, subsequentemente publicada como livro, De la critique, em 2009, que marcou certa aproximação entre a sociologia crítica e a sociologia da crítica. Boltanski e Honneth publicaram uma entrevista em conjunto sobre esse tema em 2009 e, em 2010, Honneth publicou uma crítica do que

ele chama de “liquifação do social” no traba-lho de Boltanski e Thévenot.

Do ponto de vista da sociologia econô-mica, Diaz-Bone tem tido o papel mais im-portante na promoção da teoria das conven-ções francesa na Alemanha, tanto por meio dos seus inúmeros artigos, capítulos e livros quanto pela maneira como ele promove au-tores-chave dessa corrente em publicações alemãs. Diaz-Bone (2015) enfatiza que essa abordagem não se reduz apenas à figura de Boltanski e que, num quadro teórico larga-mente compartilhado, muitas linhas diferen-tes de análise têm sido desenvolvidas – Ro-bert Salais e Michael Storper, sobre modelos de produção industrial; André Orléan, sobre dinheiro; Alain Desrosières, sobre estatística; François Eymard-Duverney, sobre formas de coordenação; Lauren Thévenot, sobre a pluralidade das formas de engajamento; e Olivier Favereau, sobre convenções na teoria econômica (Diaz-Bone; Thévenot, 2010). Além disso, o próprio Diaz-Bone é respon-sável por contribuições originais no campo do direito e da economia de uma perspectiva convencionalista. A sua apresentação siste-mática das origens, do desenvolvimento e das contribuições teóricas da corrente con-vencionalista foi publicada em alemão, em 2015, com o título A economia das conven-ções: fundamentos e desenvolvimentos da nova sociologia econômica francesa.

Lisa Knoll é outra figura importante no desenvolvimento e na difusão de abordagens convencionalistas na sociologia econômica alemã. Ela é autora de um capítulo sobre convenções na segunda edição do Handbook de sociologia econômica (Maurer, 2017), um tema especificamente introduzido nessa

12

edição (Knoll, 2017). Knoll é responsável também pela aplicação da teoria das con-venções ao desenvolvimento de novos mer-cados, para emissões de carbono e serviços ambientais financeiros (Knoll, 2012; 2016). Para Knoll (2017), a teoria das convenções oferece uma alternativa à polarização en-tre mercados e organizações encontrada na abordagem Coase/Williamson de custos de transação, ambos sendo tratados como for-mas de lidar com problemas de coordenação. Ela permite ainda a inclusão do Estado e do direito na análise econômica, um tema que, como vimos, tem sido desenvolvido tam-bém por Diaz-Bone (2015), e um enfoque que estabelece uma ponte com o trabalho de Polanyi. Knoll (2017) refere-se ao estudo de Boisard e Letablier (1987) sobre a cons-trução de uma convenção para o reconheci-mento de produtos tradicionais de queijos na França, em forma de uma “indicação de origem”. Nesse país, a teoria das convenções tem sido aplicada especialmente para eluci-dar as questões de coordenação implicadas na construção e na consolidação de merca-dos de qualidades especiais, com alimentos sendo o objeto preferido de estudo. Na Ale-manha, Beckert, em colaboração com Aspers (2011), Christine Musselin (Beckert; Mus-selin, 2013), Jörg Rössel (Beckert; Rösel, 2004) e Rössel; Schenck (Beckert; Rössel; Schenk, 2014) desenvolveu um importante programa de pesquisa sobre o surgimento de mercados de qualidade, bem como sobre os problemas que eles colocam para questões de coordenação da ação econômica. Para Aspers e Beckert (2011), a teoria das convenções contribuiu, com outras abordagens, para a

consolidação de uma alternativa à explicação neoclássica de formação de preferências.

Mesmo que a literatura das convenções seja frequentemente uma referência, Aspers e Beckert (2011) recorrem preferencialmen-te a Karpik e a sua noção da singularidade do produto, bem como das formas de julga-mento que devem ser postas em prática para coordenar e precificar esse tipo de produto. O livro de Karpik, L ‘Économie des Singula-rités (2007), foi publicado em alemão em 2011, e um capítulo da publicação de tex-tos-chave, mencionado anteriormente, é de-dicado a esse livro (Kraemer; Nessel, 2017).

Bourdieu e a Nova Sociologia Econômica alemã

Um simples olhar no número de livros de Bourdieu traduzidos em alemão e no nú-mero de publicações dedicadas à apresenta-ção e à análise dos distintos aspectos do seu trabalho deixa clara a importância de sua obra para as ciências sociais na Alemanha. Na teorização de Beckert (2009) de merca-dos, o conceito de campo tem papel central, como também para Fligstein (2001), cujo trabalho influente, Arquitetura dos merca-dos, foi publicado em alemão em 2011. Lisa Suckert, uma pesquisadora no MPI-fG, também tem a teoria de campos como a sua linha principal de pesquisa (Suckert, 2017). Os dois volumes de Análise do campo como um programa de pesquisa (Feldanalyse als Forschungsprogramm), editado por Stefan Bernhard e Christian Schmidt-Wellenberg, em 2012, em que o enfoque de Bourdieu se encontra incorporado em um programa

13

maior, que inclui as abordagens institucio-nais de Paul Di Maggio e Walter Woodrow Powell, atestam também a importância de análises com base na noção do campo na so-ciologia alemã.

No livro Pierre Bourdieu: novas perspec-tivas para a sociologia da economia (Pierre Bourdieu: Neue Perspektiven für die Soziologie der Wirtschaft) (Florian; Hildebrand, 2006), nove autores – Rainer Diaz-Bone, Micha-el Florian, Sophie Mützel, Andrea Maurer, Frank Hillebrandt, Bettina Fley, Jürgen Mackert, Ute Volkmann e Uwe Schimank – apresentam capítulos sobre os seguintes te-mas: a economia como práxis social; análise estrutural de redes; análise de campos, tro-cas, competição ou distinção; neoliberalismo e o Estado; e a sociedade capitalista no pen-samento de Bourdieu. Na sua introdução, Florian e Hildebrand (2006) defendem a tese de que os escritos de Bourdieu têm sido, em grande medida, até então, desconsidera-dos na Alemanha, e que apenas lentamente o significado de alguns dos seus escritos, mais explicitamente econômicos, estava sendo co-nhecido. O objetivo do livro é explorar o po-tencial da teoria de práxis social de Bourdieu (habitus, campos, razão prática, interesse, a economia de capital simbólico) como alter-nativa ou complemento à nova sociologia econômica entendida como análise estrutu-ral e de redes sociais. As áreas-chave identi-ficadas para a aplicação da teoria de práxis incluíam instituições, mercados, trocas e a crítica do capitalismo.

Na segunda edição do handbook não existe um item específico sobre Bourdieu e a

19 Deve-se mencionar, no entanto, um trabalho recente de Heise (2017), cuja apreciação infelizmente não foi possí-vel neste artigo.

teoria de práxis, mas a sua noção de “campo” é discutida por Sascha Münnich no capítu-lo “Redes, campos e a sociologia econômica ‘neoclássica’”. Bourdieu é discutido também na publicação Textos-chaves (Schlüsselw-serke, 2017), no capítulo “As estruturas so-ciais da economia”. Hillebrandt (2017), que introduz essa discussão, repete as sugestões feitas na publicação de 2006, mas a literatura citada não indica que elas foram acolhidas, afora a discussão mais geral sobre a noção do campo e as suas aplicações.19

A abordagem da performatividade na Nova Sociologia Econômica alemã

Na incorporação da abordagem da performatividade desenvolvida por Michel Callon e colegas (2007), os trabalhos de Benjamin Braun merecem menção especial, particularmente Governing the Future: the European Central Bank’s Expectation Mana-gement (2015) e From Performativity to Po-litical Economy (2016a). No primeiro desses textos, Braun (2015) não apenas adota a tradição de performatividade de Callon, mas ainda inova ao aplicar a noção de Foucault de “aparelho” em preferência ao agencia-mento (agencement) usado por Callon para adaptar a abordagem a uma análise do setor público. Incorpora, também, a tese central de Beckert (2013b) sobre o papel decisivo do gerenciamento de expectativas em um capi-talismo orientado ao futuro, em que é preci-so enfrentar a incerteza radical. Ele aplica a noção de “aparelho” comunicativo para focar

14

os mecanismos empregados para assegurar a eficácia da comunicação do Banco Central Europeu e não apenas o conteúdo dessa co-municação.

O segundo artigo de Braun (2016a) re-presenta um esforço mais ambicioso – quase um manifesto – para integrar as dimensões micro, meso e macro do capitalismo e, so-bretudo, a sua variabilidade, ao adotar o enfoque da performatividade de Callon.20 Segundo ele, em uma visão da economia po-lítica, “de cima para baixo”, a política leva a “policies” para depois impactar nas institui-ções micro. Braun (2016a) defende, ao con-trário, que os mercados não devem ser vistos como epifenômenos, mas como lugares de política onde a implementação bem-sucedi-da de dispositivos de mercado (e não apenas ideias) define a dinâmica das estruturas dos mercados que, por sua vez, moldam as dis-tintas formas de capitalismo. No caso sob es-tudo, Braun (2016a) mostra que a inovação financeira de fundos negociados em bolsa, que permite fundos de investimento indexa-dos de baixo custo, torna-se a chave para o crescimento do “investidor passivo” que, por sua vez, muda a dinâmica desse capitalismo “gestor de ativos”.

Na primeira edição de Handbook da sociologia econômica, publicado em 2008, e

20 Esse artigo inclui uma apresentação sucinta, mas compreensiva, do enfoque de performatividade e dos debates que têm suscitado, situada na tradição da teoria de ator-rede (ANT), associada a Bruno Latour, cujos trabalhos têm sido mais difundidos e discutidos na literatura alemã. A ANT surgiu da rede Social Studies of Science, cujas publicações são majoritariamente em inglês. O desenvolvimento da abordagem da ANT por Callon, para analisar os mercados e o conceito mais amplo de economização, também apareceu fundamentalmente em publicações inglesas, como no caso de Laws of the Market (Callon, 1998), e os dois artigos programáticos sobre economização foram publicados na revista Economy and Society, a Parte 1 em 2009 e a Parte 2 em 2010. Em 2017, Callon pu-blicou um livro, de mais de 500 páginas, sobre o enfoque de agencement, L’Emprise des Marchés: comprendre leur functionnement pour pouvoir les changer, com a promessa de um segundo volume.

21 Mais recentemente, Sparsam publicou um texto eminentemente didático sobre a abordagem de performatividade, Wie ökonomisches Wissen wirksasm wird (2019). Agradeço um parecerista anônimo essa informação.

discutida anteriormente, houve apenas uma menção breve à noção de performatividade, no artigo sobre mercados escrito por Aspers e Beckert (2011). Na segunda edição, de 2017, porém, esse tema já merece um capí-tulo próprio, “A performatividade da teoria econômica”, escrito por Jens Maesse e Jan Sparsam. Esses autores resumem primeiro o estudo agora icônico da Garcia-Parpets sobre a construção social de um mercado perfeito para morangos, estudo utilizado por Callon quando lançou, em oposição às tradições do-minantes da sociologia econômica baseadas na noção de embeddedness, o seu programa afirmando que a economia está enraizada, sim, mas na teoria econômica. Em seguida, eles apresentam a versão forte da performa-tividade, segundo Callon, que implica uma homologia entre a teoria e a prática econô-mica. As críticas a essa posição são discuti-das, bem como a distinção elaborada por Mackenzie e Millo (2003) entre diferentes tipos de performatividade.21

A sociologia econômica e a economia política do dinheiro e das finanças

No início deste trabalho destacamos a maior centralidade do dinheiro na tradi-

15

ção da sociologia econômica alemã, quando comparada com a NES EEUU, tanto em Luhmann (1988), de um lado, como em au-tores como Ganssmann (1996), Peter (2005) e Deutschmann (2008), de outro. O núme-ro de estudos sobre dinheiro nas ciências so-ciais explodiu durante os últimos dez a 15 anos,22 o mesmo acontecendo na Alemanha.

Na NES nos Estados Unidos, o foco em torno do dinheiro se dirige prioritaria-mente à análise do significado de dinheiros especiais e das formas de domesticação social do dinheiro (ver Zelizer, 1994). Na Alema-nha, na sombra de Marx e Simmel, a aná-lise tem se centrado firmemente no papel e nos impactos societais do dinheiro que, em um contexto de crise financeiro-global, tem facilitado a aproximação entre as preocupa-ções da NES e da economia política. Isso fica especialmente evidente na centralidade de questões de confiança no dinheiro, à medida que os Bancos Centrais mudam de políticas de controle sobre inflação para quantitative easing,23 o que coloca em questão décadas de concepções do dinheiro cuidadosamen-te cultivadas e que tem levado a uma drás-tica queda na confiança do público (Braun, 2016b).

Uma coletânea de ensaios escritos no âmbito da Seção da Sociologia Econômica da DGS, na ocasião da reunião anual em Hamburgo, 2013, foi publicada em 2018 como A sociologia dos mercados financeiros, editada por Jürgen Beyer e Konstanz Senge, e trata de temas sobre processos decisórios,

22 Um trabalho seminal nesse sentido foi The Nature of Money, de Ingham (2004).23 A política adotada nos Estados Unidos e na Europa de emissão de dinheiro em grande escala para enfrentar a crise

financeira de 2008 e a subsequente queda na atividade econômica.

incerteza e a ordem monetária. Outra publi-cação, A sociologia dos mercados financeiros? Moralidade, crise e participação na economia moderna, editada por Andreas Langenohl e Dietmar J. Wetzel (2014), enfoca as questões morais associadas às crises financeiras, bem como a questão da participação pública. De-ve-se mencionar também a análise socioló-gica de capitalismo moderna, desenvolvida por Klaus Kraemer e Sebastian Nessel, Mer-cados financeiros desatados (2017).

O trabalho teórico de Beckert sobre a relação entre expectativas ficcionais e a dinâ-mica capitalista tem sido aplicado à análise do capitalismo financeirizado (ver Beckert, 2013a; 2013b; 2016; 2017). O esforço te-órico maior de Beckert tem sido explorar as implicações de incerteza radical para um sis-tema econômico, que é umbilicalmente di-rigido a compromissos feitos na expectativa de realizações futuras. O processo decisório nessas condições depende da capacidade de formar convicções coletivas que são conso-lidadas em torno de imaginários do futuro. Braun demonstra como essa coordenação de expectativas funciona no caso do Banco Central europeu, argumentando que “ela é condicional na disposição dos insiders mo-netários de agir, como se eles acreditassem que o Banco Central soubesse mais do que realmente sabe, ou poderia saber” (Braun, 2015, p. 383).

A publicação de Paul Windolf, O que é capitalismo financeiro? (2005b), é comu-mente vista como o marco inicial de uma

16

sociologia de financeirização na Alemanha.24 Nesse artigo, ele elabora a tese da mudança de um capitalismo do stakeholder para o sha-reholder, com as estratégias de investimento agora baseadas em indicadores de curto pra-zo, diante da ameaça de aquisições hostis por fundos de investimento. Esse trabalho foi incluído na publicação Textos-chaves, men-cionada anteriormente, e recebeu uma crí-tica de Jürgen Kädtler (2011), que embora reconheça a identificação de aspectos-chave de financeirização, argumenta que o foco é demasiadamente restrito à questão do poder do acionista. Kädtler (2011) elabora o seu argumento em maior detalhe no texto “A financeirização das economias capitalistas – barganhando nas racionalidades econômicas convencionais”.

Em um artigo publicado no European Journal of Sociology, “Os limites à financei-rização” (2011b), Christoph Deutschmann (2011b, p. 348) propõe uma “reconceitua-lização teórica das teses de financeirização recorrendo a conceitos e abordagens analí-ticas da sociologia econômica”. Nessa síntese ambiciosa, Deutschmann (2011b) integra níveis de análise micro, meso e macro para explicar a natureza estrutural de financeiriza-ção e de crise. Em vez de apelar para fatores externos (tecnologia) ou historicamente con-tingentes, ele prefere ver a financeirização e a crise como consequências endógenas de de-sequilíbrios produzidos pelo longo período de crescimento no pós-guerra. A crescente incompatibilidade entre o crescimento de ativos privados e a falta de demanda empre-

24 Hilferding, discutido por Windolf (2005a), seria para a financeirização a contrapartida clássica de Marx e Simmel no caso de dinheiro.

sarial para esses ativos é interpretada como a consequência de um declínio na mobilidade social e, com isso, a queda também na ino-vação coletiva. Essa análise de Deutschmann (2011b) oferece um complemento impor-tante aos estudos sobre financeirização na maneira como integra aspectos micro, meso e macro e, ao mesmo tempo, estabelece as conexões entre financeirização e as transfor-mações na dinâmica da estrutura social.

Conclusões

De modo superficial, a NES na Alema-nha tem seguido o modelo da NES EEUU na sua estratégia de institucionalizar essa subdisciplina dentro da DSG e, ao mesmo tempo, sistematizar um corpus de publica-ções na forma de Handbooks, uma série de textos dedicados à sociologia, pela Springer VS, e traduções de textos-chave. De forma simultânea, colocou a sociologia de merca-dos no centro dos seus objetivos. Três fatores principais, no entanto, têm assegurado uma trajetória bastante distinta.

Em primeiro lugar, diferentemente da NES nos EEUU, a análise de mercados foi desenvolvida no contexto da emergência de mercados de qualidade, o que levou a uma aproximação com as correntes da NES francesa. Em segundo lugar, não houve na Alemanha uma ruptura com abordagens macro que têm se mantido uma referên-cia central, seja seguindo Luhmann, que é responsável por uma corrente dentro da

17

Bibliografia

ASPERS, P. Markets. Cambridge: Springer, 2011.

ASPERS, P.; DODD, N. Re-Imagining Economic Sociology. Oxford: Oxford University Press, 2015.

BAECKER, D. Wirtschaftssoziologie. Bielefeld: Verlag, 2006.

BECKERT, J. Beyond the Market: the social foundations of economic efficiency. Princeton: Princeton University Press, 2002.

BECKERT, J. Capitalism as a system of expectations: towards a sociological micro foundation of political economy. Politics & Society, v. 41, n. 3, p. 323-350, 2013a. https://doi.org/10.1177%2F0032329213493750

BECKERT, J. Die Historizität fiktionaler Erwartungen. Köln: Max-Planck-Institut für Gesellschaftsforschung, 2017. (MPIfG Discussion Paper 17/8).

BECKERT, J. Imagined Futures. Harvard: Harvard University Press, 2016.

BECKERT, J. Imagined Futures: Fictional Expectations in the Economy. Theory & Society, v. 42, n. 3, p. 219-240, 2013b. https://doi.org/10.1007/s11186-013-9191-2

BECKERT, J. The Social Order of Markets. Theory and Society, v. 38, n. 3, p. 245-269, 2009a. https://doi.org/10.1007/s11186-008-9082-0

BECKERT, J. The social order of markets’ approach: a reply to Kurtulus Gemici. Theory and Society, v.41, n. 1, p. 119-125, 2012. https://doi.org/10.1007/s11186-011-9160-6

BECKERT, J. What is Sociological about Economic Sociology? Uncertainty and the Embeddedness of Economic Action. Theory and Society, v. 25, n. 6, p. 803-840, 1996. https://doi.org/10.1007/BF00159817

sociologia econômica, ou Habermas, ou, em forma diferente, Honneth. A existência de uma tradição da sociologia econômica anterior à NES, ancorada nos clássicos de Marx, Weber, Simmel, Sombart, Hilferding e Schumepter, e que entrou em diálogo com a NES, assegurou que preocupações micro sempre foram situadas em um qua-dro macro. E em terceiro lugar, a sociologia econômica alemã se consolidou duas déca-das mais tarde que nos Estados Unidos, em um contexto de maior politização do tema

de mercados. Assim, o desenvolvimento de uma sociologia dos mercados não podia prescindir de uma consideração das insti-tuições centrais da sociedade capitalista. O livro de Beckert, Imagined Futures (2016); os livros de Streeck, Buying Time (2014) e How will Capitalism End? (2016), junta-mente com o grande leque de livros e ar-tigos sobre financeirização, apontam para a importância da NES alemã nos esforços de pensar a dinâmica social do capitalismo nesses tempos de crise.

18

BECKERT, J. Wirtschaftssoziologie als Gesellschaftstheorie. Zeitschrift für Soziologie, v. 38, n. 3, p. 182-197, 2009b. https://doi.org/10.1515/zfsoz-2009-0301

BECKERT, J.; ASPERS, P. The Worth of Goods: valuing and pricing in the economy. Oxford: Oxford University Press, 2011.

BECKERT, J.; BESEDOVSKY, N. Die Wirtschaft als Thema der Soziologie – Zur Entwicklung wirtschaftssoziologischer Forschung in Deutschland und der USA. In: BECKERT, J.; DEUTSCHMANN, C. (orgs.). Wirtschaftsoziologie. Berlim: Springer, 2009. p. 22-43.

BECKERT, J.; DEUTSCHMANN, C. (orgs.). Wirtschaftssoziologie. Berlim: Springer, 2009.

BECKERT, J.; MUSSELIN, C. Constructing Quality. Oxford: Oxford University Press, 2013.

BECKERT, J.; RÖSSEL, Kunst und Preis. Reputation als Mechanismus der Reduktion von Ungewissenheit am KunstMarkt. Kolner Zeitschrift für Soziologie und Sozialpsychologie, v. 56, n. 1, p. 32-50, 2004. https://doi.org/10.1007/s11577-004-0002-7

BECKERT, J.; STREECK, W. Economic Sociology and Political Economy. 2008. (MPIfG, Working Paper.) https://dx.doi.org/10.2139/ssrn.2464458

BECKERT, J.; DIAZ-BONE, R.; GANSSMANN, H. (orgs). Märkte als Soziale Strukturen. Frankfurt: Campus, 2007.

BECKERT, J.; RÖSSEL, J.; SCHENK, P. Wine as a Cultural Product: symbolic capital and price formation in the wine field. Köln: Max-Planck-Institut für Gesellschaftsforschung, 2014. (MPIfG, Discussion Paper, 14.2.)

BERNHARD, S.; SCHMIDT-WELLENBERG, C. (orgs.). Feldanalyse als Forschungsprogramm. Berlim: Springer, 2012.

BEYER, J.; SENGE, K. (orgs.). Finanzmark Soziologie. Berlim: Springer, 2018.

BLOCK, F. There was no baby in this bathwater: a reply to critics. Political Power & Social Theory, v. 23, p. 323-334, 2012a. https://doi.org/10.1108/S0198-8719(2012)0000023017

BLOCK, F. Varieties of what? Should we still be using the concept of capitalism? Political Power & Social Theory, v. 23, p. 269-291, 2012b. https://doi.org/10.1108/S0198-8719(2012)0000023013

BOISARD, P.; LETABLIER, M.-T. Le Camembert: normand ou normé. Deux modèles de production de l’industrie fromagère. In: EYMARD-DUVERNAY, F. (ed.). Entreprises et Produits. Cahiers du Centre d´Études de l´Emploi, v. 30, p. 1-30, 1987.

BOLTANSKI, L. De La Critique. Paris: Gallimard, 2009.

BOLTANSKI, L. Les cadres: la formation d’un groupe social. Paris: Editions Minuit, 1982.

BOLTANSKI, L.; CHIAPELLO, E. Le nouvel ésprit du capitalisme. Gallimard, 1999.

BOLTANSKI, L.; HONNETH, A. Soziologie der Kritik oder Kritische Theorie? Ein Gesprach mit Robin Celikates. In: JAEGGI, R.; WESCHE, T. (orgs.). Was ist Kritik? Frankfurt: Suhrkamp, 2009. p. 81-116.

BOLTANSKI, L.; THÉVENOT, L. De la justification. Paris: Gallimard, 1991.

BRAUN, B. From Performativity to Political Economy. New Political Economy, v. 21, n. 3, p. 257-273, 2016a. https://doi.org/10.1080/13563467.2016.1094045

19

BRAUN, B. Governing the Future: the European Central Bank’s Expectation Management. Economy and Society, v. 44, n. 3, p. 367-391, 2015. https://doi.org/10.1080/03085147.2015.1049447

BRAUN, B. Speaking to the People? Money, Trust, and Central Bank Legitimacy in the Age of Quantitative Easing. Review of International Political Economy, v. 23, n. 6, p. 1064-1092, 2016b. https://doi.org/10.1080/09692290.2016.1252415

CALISKAN, K.; CALLON, M. Economization Part 1: shifting attention from the economy towards processes of economization. Economy and Society, v. 38, n. 3, p. 369-398, 2009. https://doi.org/10.1080/03085140903020580

CALISKAN, K.; CALLON, M. Economization Part 2: a research programme for the study of markets. Economy and Society, v. 39, n. 1. p. 1-32, 2010.

CALLON, M. Laws of the Market. London: Blackwell, 1998.

CALLON, M. L’Emprise des Marchés: comprendre leur functionnement pour pouvoir les changer. Paris: Ed. La Découverte, 2017.

CALLON, M.; MILLO, Y.; MUNIESA, F. (eds.). Market devices. Oxford: Blackwell, 2007.

CURBACH, J. Die Corporate-Social-responsibility – Bewegung. Cidade: Springer, 2009.

DAOUD, A.; KOHL, S. How Much do Sociologists write about Economic Topics? Köln: Max-Planck-Institut für Gesellschaftsforschung, 2016. (MPIfG Discussion Paper 16/7.)

DEUTSCHMANN, C. A Pragmatist Theory of Capitalism. Socio-Economic Review, v. 9, n. 1, p. 83-106, 2011a. https://doi.org/10.1093/ser/mwq014

DEUTSCHMANN, C. Capitalist Dynamics – a sociological analysis. Jena: DFG/HSU Jena, 2012.

DEUTSCHMANN, C. Die gesellschaftliche Macht des Geldes. Berlim: Springer, 2002.

DEUTSCHMANN, C. Die Verheissung des absoluten Reichtums: zur religiösen Natur des Kapitalismus. Frankfurt: Campus, 2001.

DEUTSCHMANN, C. Disembedded markets: economic theology and global capitalism. London: Routledge, 2019.

DEUTSCHMANN, C. Kapitalistische Dynamik. Berlim: Springer, 2008.

DEUTSCHMANN, C. Limits to Financialization. European Journal of Sociology, v. 52, n. 3, p. 347-389, 2011b. https://doi.org/10.1017/S0003975611000154

DEUTSCHMANN, C. Unsicherheit und soziale Einbettung: konzeptionelle Probleme der Wirtschaftssoziologie. In: BECKERT, J.; DIAZ-BONE, R.; GANSSMANN, H. (orgs.). Märkte als soziale Strukturen. Frankfurt: Campus, 2007. p. 70-96.

DIAZ-BONE, R. Die Économie des Conventions. Berlim: Springer, 2015a.

DIAZ-BONE, R. Recht aus Konventionentheoretische Perspektive. In: KNOLL, L. (org.). Organisationen und Konventionen. Cidade: Springer, 2015b. p. 115-133.

DIAZ-BONE, R.; THÉVENOT, L. Die Soziologie der Konventionen. Die Theorie der Konventionen al sein zentraler Bestandteil der neuen französischen Sozialwissenschaften. Trivium, v. 5, 2010. Disponível em: <http://trivium.revues.org/index3557.html>. Acesso em: 28 fev. 2017.

20

FLIGSTEIN, N. The Architecture of Markets. Princeton: Princeton University Press, 2001.

FLORIAN, M.; HILDEBRAND, F. Pierre Bourdieu: Neue Perspektiven für die Soziologie der Wirtschaft. Berlim: Springer, 2006.

GANSSMANN, H. Geld und Arbeit. Frankfurt: Springer, 1996.

GANSSMANN, H. Money – a symbolically generalized medium of communication? On the concept of money in recent sociology. Economy and Society, v. 17, n. 3, p. 285-316, 1988.

GEMICI, K. Uncertainty, the Problem of Order and Markets: a critique of Beckert, Theory and Society, May 2009 (The Social Order of Markets article). Theory and Society, v. 41, n. 1, p. 107-118, 2012.

GOULDNER, A. The Coming Crisis of Western Sociology. Washington: Basic Books, 1970.

GRANOVETTER, M.; MCGUIRE, P. The making of an industry: electricity in the United States. In: CALLON, M. (org.). The Laws of the Market. Oxford: Blackwell Publishers, 1998. p. 147-173.

HABERMAS, J. Teoria do agir comunicativo. Lisboa: Martins Fontes, 2012.

HEINEMANN, K. Probleme der Konstituierung einer Wirtschaftssoziologie Healy. In: HEINEMANN, K. (org.). Soziologie wirtschaftlichen Handelns. Sonderheft 28 der Kölner Zeitschrift für Soziologie und Sozialpsychologie. Opladen: Westdeutscher Verlag, 1987. p. 7-39.

HEISE, A. Die Ökonomie als Wissenschaftliches Mach – und Schlachtfeld. Eine Analyse im Lichts Bourdieus und Lakatos. In: MAESSER, J.; PAHL, H.; SPARSAM, J. (orgs.). Die Innenwelt der Ökonomie. Wissen, Macht und Performativität in der Wirtschaftswissenschaft. Springer, 2017. p. 55-81.

HILLEBRANDT, F. Pierre Bourdieu: The social structure of the economy. In: MAURER, A. Handbuch der Wirtschaftssoziologie. Berlim: Springer, 2017.

HONNETH, A. Verflüssigung des Sozialen. Zur Gesellschaft von Luc Boltanski und L. Thévenot. In: HONNETH, A. Das Ich im Wir, Studien zur Anerkennungstheorie. Frankfurt: Suhrkamp, 2010. p. 131-158.

INGHAM, G. The Nature of Money. Cambridge: Polity Press, 2004.

JOAS, H. The Creativity of Action. Chicago: Chicago University Press, 1993.

KÄDTLER, J. Financialization of Capitalist Economies – bargaining on conventional economic rationalities. Historical Social Research, v. 36, n. 4, p. 169-191, 2011.

KARPIK, L. L´Économie des Singularités. Paris: Gallimard, 2007.

KELLERMAN, Pl. Geld und Gesellschaft. Berlim: Springer, 2005.

KNOLL, L. Konventionen und Kompromisse auf Finanzmarkten. In: BEYER, J.; SENGE, K. (orgs.). Finanzmarkte: Wirtschafts-und Organisationssoziologie Perspektiven. Weisbaden: Springer, 2016. p. 107-124.

KNOLL, L. Ökonomie der Konventionen. In: MAURER, A. (org.). Handbuch der Wirtschaftssoziologie. Berlim: Springer, 2017. p. 151-162.

KNOLL, L. Uber die Rechtfertigung wirtschlichen Handelns. Co2-Handel in der kommunalen Energiewirtschaft. Weisbaden: Springer, 2012.

KRAEMER, K.; BRUGGER, F. Schlüsselwerke der Wirtschaftssoziologie. Berlim: Springer, 2017.

21

KRAEMER, K.; NESSEL, S. (orgs.). Entfesselte Finanzmärkte. Berlim: Springer, 2012.

KRAEMER, K.; NESSEL, S. (orgs.). Geld und Krise. Berlim: Springer, 2015.

KRAEMER, K.; NESSEL, S. (eds.). Schlüsselwerke der Wirtschaftssoziologie. Berlim: Springer, 2017.

KRIPPNER, G. R. Capitalizing on Crisis. Harvard: Harvard University Press, 2012.

LANGENOHL, A.; WETZ, D. J. (orgs.). Finanzmarktpublika. Moralität, Krisen und Teilhabe. Berlim: Springer, 2014.

LOUNSBURY, M.; HIRSCH, P. (eds.) Markets on Trial. Bingley: Emerald, 2010.

LUHMANN, N. Die Wirtschaft der Gesellschaft. Frankfurt: Suhrkamp, 1988.

MACKENZIE, D.; MILLO, Y. Constructing a Market, Performing Theory: The Historical Sociology of a Financial Derivatives Exchange. American Journal of Sociology, v. 109, n. 1, p. 107-145, 2003. http://doi.org/10.1086/374404

MAESSE, J.; SPARSAM, J. Die Performativität der Wirtschaftswissenschaft. In: MAURER, A. Handbuch der Wirtschaftssoziologie. Berlim: Springer, 2017.

MAURER, A. (org.). Handbuch der Wirtschaftssoziologie. Berlim: Springer, 2008.

MAURER, A. (org.). Handbuch der Wirtschaftssoziologie. Berlim: Springer, 2017a.

MAURER, A. Kapitalismus – oder Marktkritik. In: MAURER, A. (ed.). Handbuch der Wirtschaftssoziologie. Berlim: Springer, 2017b. p. 571-91.

MÜNNICH, S. Interessen und Ideen: Soziologische Kritik einer problematischen Unterscheidung (Interests and Ideas: a sociological critique of a problematic distinction). Zeitschrift für Soziologie, v. 40, n. 5, p. 371-387, 2011. https://doi.org/10.1515/zfsoz-2011-0504

MÜNNICH, S. Netzwerke, Felder und die Wirtschaftssoziologie „NeoKlassik“. In: MAURER, Andrea. Handbuch der Wirtschaftssoziologie. Berlim: Springer, 2017.

NISSEN, S.; VOBRUBA, G. (orgs.). Die Ökonomie der Gesellschaft. Berlim: Springer, 2009.

PAHL, H. Das Geld in der modernen Wirtschaft: Marx und Luhmann im Vergleich. Berlim: Springer, 2008.

PARSONS, T.; SMELSER, N. Economy and Society: a study in the integration of economic and social theory. Glencoe: The Free Press, 1956.

PAULO, A. Die Gesellschaft des Geldes. Berlim: Springer, 2012.

PAULO, A. Theorie des Geldes zur Einführung. Berlim: Springer, 2017.

PETER, L. Die neue Geist des Kapitalismus: Starken und Schwachen eines Erklärungsversuchs. Zeitschrift Marxistische Erneuerung, 62, p. 7-24, 2005a.

PETER, L. Soziologie der Kritik oder Sozialkritik? Zum Werk Luc Boltanski und zu dessen deutscher Rezeption. Lendemains – Études comparée sur la France, v. 36, n. 141, p. 73-90, 2005.

POLANYI, K. A grande transformação. Florianópolis: Trama, UFSCar, 2014.

SACHWEH, P.; MÜNNICH, S. (orgs.). Kapitalismus als Lebensform? Berlim: Springer, 2017.

22

SCHIMANK, U. Kapitalistische Gesellschaft – differenzierungstheoretisch konzipiert. Tagung der Sektion Wirtschaftssoziologie der DGS. Berlim: Springer, 2008.

SPARSAM, J. Die zwei Soziologien des Märkts. Konstitutionstheoretische Defizite der neueren Wirtschaftssoziologie. Zeitschrift für kritische Sozialtheorie und Philosophie, v. 2, n. 2, p. 255-284, 2015. https://doi.org/10.1515/zksp-2015-0013

SPARSAM, J. Wie ökonomisches Wissen wirksasm wird. Berlim: Springer, 2019.

STEINER, P. La Transplantation d‘organes: un commerce nouveau entre les êtres humaines. Paris: Gallimard, 2011.

STEINER, P.; TRESPEUCH, M. (orgs.). Marchés Contestés. Toulouse: Press Universitaire du Midi, 2015.

STEINER, P.; VATIN, F. Traité de Sociologie Économique. Paris: Presses Universitaires de France, 2009.

STREECK, W. Buying Time. London: Verso, 2014.

STREECK, W. E Pluribus Unum? Varieties and Commonalities of Capitalism. Köln: Max-Planck-Institut für Gesellschaftsforschung, 2010 (MPIfG Discussion Paper 10/12.)

STREECK, W. How will capitalism end? London: Verso, 2016.

STRULIK, T. Die Gesellschaft der neuen Wirtschaftssoziologie: Eine Replik auf Jens Beckerts Artikel Wirtschaftssoziologie als Gesellschaftstheorie. Zeitschrift für Soziologie, v. 41, n. 1, p. 58-74, 2012. https://doi.org/10.1515/zfsoz-2012-0106

SUCKERT, L. Unravelling Ambivalence: A Field Theoretical Approach to Moralised Markets. Current Sociology, v. 66, n. 5, p. 682-703, 2017. https://doi.org/10.1177%2F0011392117737820

SUM, N.-L.; JESSOP, B. Towards a Cultural Political Economy. Londres: Elgar, 2013.

SWEDBERG, R. Max Weber and the Idea of Economic Sociology. Princeton: Princeton University Press, 1998.

SWEDBERG, R. Principles of Economic Sociology. Princeton: Princeton University Press, 2003.

SWEDBERG, R. Schumpeter: a biography. Princeton: Princeton University Press, 1991.

WAGNER, G.; HESSINGER, P. (orgs.). Ein neuer Geist des Kapitalismus? Berlim: Springer, 2008.

WAGNER, P. Die Soziologie der genese sozialer Institutionen –Theoretische Perspektiven der neuen Sozialwissenschaft in Frankreich. Zeitschrift für Soziologie, v. 22, n. 6, p. 464-476, 1993. https://doi.org/10.1515/zfsoz-1993-0605

WHITE, H. Where do markets come from? American Journal of Sociology, v. 87, n. 3, p. 517-547, 1981. https://doi.org/10.1086/227495

WINDOLF, P. (org.). Finanzmarkt-Kapitalismus. Sonderheft 45/2005 der Kölner Zeitschrift für Soziologie und Sozialpsychologie. Berlim: Springer, 2005a.

WINDOLF, P. Was ist Finanzmarkt-Kapitalismus? In: WINDOLF, Paul (org.). Finanzmarkt-Kapitalismus. Sonderheft 45/2005 der Kölner Zeitschrift für Soziologie und Sozialpsychologie. Berlim: Springer, 2005b. p. 20-57.

ZELIZER, V. The Social Meaning of Money. New York: Basic Books, 1994..

23

Resumo

A nova sociologia econômica alemã: especificidades, temas e autores

A Nova Sociologia Econômica (NSE) na Alemanha exibe muitas similaridades com a sociologia econômica nos Es-tados Unidos no seu esforço consciente de institucionalizar a sua presença na comunidade sociológica mais ampla, na sua promoção de um cânone por meio de livros textos, e por seu foco na sociologia dos mercados. Por outro lado, diferencia-se nas suas conexões mais fortes com os clássicos da sociologia alemã, na vitalidade maior de uma tradição macrossociológica na Alemanha, na presença anterior de uma geração de sociólogos econômicos que serviam como ponte para a NES, e na sua consolidação, mais tarde em um período de globalização neoliberal, o que imprime caracte-rísticas muito distintivas à NES no mundo de língua alemã. Por outro lado, tem sido influenciada por ondas sucessivas de sociologia econômica francesa — Bourdieu, as teorias de convenções e de ator-rede — ao mesmo tempo que a sua tradição acadêmica bilíngue assegure a sua integração nos debates da NES anglo-saxônica.

Palavras-chave: Sociologia econômica alemã; Instituto para o Estudo das Sociedades Max Planck; Nova Sociologia Econômica.

Abstract

The new german economic sociology: specificities, themes and authors

The New Economic Sociology (NES) in Germany has many similarities to economic sociology in the United States in its conscious efforts to institutionalize its presence within the broader sociological community, in its promotion of a canon via handbooks, and its focus on the sociology of markets. At the same time, it differentiates itself in its stronger connections to the classics of German sociology, in the greater vitality of a macro-sociological tradition in Germany, the prior existence of a “bridging” generation of economic sociologists, and its later consolidation in a period of neo-liberal globalization, all of which have given NES in the German-speaking world a distinctive character. On the other hand, it has been influenced by successive waves of French economic sociology – Bourdieu, convention, and actor-network theory – and its bilingual academic tradition has ensured its integration into the English-speaking NES.

Keywords: German economic sociology; Max Planck Institute for the Study of Societies; New Economic Sociology.

Résumé

La nouvelle sociologie economique allemande : specificites, themes et auteurs

La Nouvelle Sociologie Economique (NSE) en Allemagne a beaucoup de similitudes avec la sociologie économique aux Etats-Unis dans ses efforts délibérés pour institutionnaliser sa présence au sein de la communauté sociologique, dans sa promotion d'un canon par le biais de manuels et son orientation vers la sociologie des marchés. D'autre part, elle se distingue par ses liens les plus forts avec les classiques de la sociologie allemande, par la vitalité accrue d'une tradition macro-sociologique en Allemagne, par l'existence d'une génération antérieure de sociologues économiques ayant servi de passarelle à la NSE et par sa consolidation ultérieure pendant une période de mondialisation néolibérale. Ces caractéristiques lui ont donné un caractère particulier. D'autre part, elle a été influencée par des vagues successives de la sociologie économique française – Bourdieu, théorie des conventions et des réseaux d'acteurs – tandis que sa tradition académique bilingue a assuré son intégration dans les débats NSE anglophones.

Mots-clés : Sociologie économique allemande; Institut Max Planck; Nouvelle Sociologie Economique.

24

Anexo 1. Dados institucionais da sociologia econômica alemã.

1 – Coordenação

Coordenador Período Cidade

Karl-Heinz Hillman 1989-1995 Wurzburg

Helmut Voelzkow 1995-1999 Osnabruck

Hajo Weber 1999-2006 Mainz

Jens Beckert 2006-2011 Max Planck, Köln

Andrea Maurer 2012-2014 Trier

Jurgen Beyer 2015 — até o momento Hamburg

2 – Membros do Comitê de Coordenação (2017)

Membros Período Cidade

Jurgen Beyer Desde 2011 Hamburg

Lisa Knoll Desde 2015 Hamburg

Klaus Kraemer Desde 2013 Graz

Sascha Munnich Desde 2013 Göttingen

3 – Reuniões Anuais da Nova Sociologia Econômica Alemã

Ano Cidade Tema Colaborações

2003 Bochum A Economia Alemã em Colapso

2004 Munich Conhecimento/ Economia e Sociedade

Arbeitskreis Politische Okonomie (AKPO/DGS)

2005 Bochum Perspectivas de Desenvolvimento — Saúde e Senioridade Seção de Política Social (DGS)

2006 Kassel Economia da Natureza

2007 Köln Enraizamento Institucional do Mercado Max Planck/Köln

2008 Berlin Abordagens Teóricas na Sociologia Econômica

2009 Berlin A Economia de Consumo e o Consumo da Economia

2010 Frankfurt Pesquisa em Curso na Sociologia Econômica

2011 Munique Riqueza: Contribuições e Análises a partir da Sociologia Econômica

Continua...

25

© 2020 Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais – ANPOCS Este é um artigo publicado em acesso aberto sob uma licença Creative Commons

Ano Cidade Tema Colaborações

2012 Bremen A Marketização da Sociedade Seção da Teoria Sociológica (DGS)

2013 Munique O Ganhador leva Tudo Max Planck/Köln

2014 Trier Capitalismo como Forma de Vida

2015 Mannheim Além da Concorrência

2017 Hamburg O Mercado e o Estado Centro para Globalização e Governança

DGS: Deutsche Gesellschaft für Soziologie.Fonte: disponível em: <http:/wirtsoc-dgs.mpifg.de/>. Acesso em: 20 ago. 2017.

3 – Continuação

26