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A objetividade contábil e a queda da relevância do resultado marginalista: uma análise epistemológica da realidade social O propósito desse estudo é elaborar uma análise epistemológica da realidade social, sob a ótica contábil, partindo-se da premissa historial de que as alterações ocorridas nos dois últimos séculos – Revolução Industrial em Sociedade pós-Industrial – têm provocado mudanças profundas na forma de manusear o capital, gerando, por conseqüência, um estado de confusão nos sistemas de informação contábil e nos seus reais objetivos científicos. Se, por um lado, o establishmentda sociedade pós-industrial encarna a lógica do discurso da a-eticidade (Bernard Mandeville, 1719), reificada pelas teses do neoliberalismo e pela tentativa de legitimação do resultado contábil enquanto algo matematicamente inquestionável, sacrossanto e individual (Von Mises, 1949), por outro lado, surge um movimento crítico entorno dos verdadeiros fundamentos de tais ações ideológicas e quais as suas conseqüências para o comportamento humano global (Tony Tinker, 1985, 1988; Chua, 1986; Hopwood, 1987; Hine, 1988 e outros). Nesse sentido, a tendência comprometedora das práticas contábeis empreendidas pelostop business, aparentemente ideologizadas, pode ser explicada pela história. E dessa explicação é possível derivar os equívocos do discurso de construção de uma nova contabilidade globalizadora, cuja cientificidade se baseia no instrumento da positividade do resultado contábil marginalista, em favor do modelo econômico neoliberal. A derivação desses equívocos permitiu-nos pensar a teoria da objetividade contábil, como um instrumento de reflexão científico-filosófico, com o propósito de recondução da contabilidade ao seu verdadeiro papel no contexto da sociedade pós-industrial. Para tanto, ampliamos foco da análise epistemológico-contábil, geralmente confinado no objeto econômico, para as relações societais desencadeadas entre os indivíduos no seio da realidade social, sejam elas econômicas, políticas, culturais, religiosas, científicas. A partir da análise dessas relações, e baseando-nos nas teses de Tony Tinker e outros ("negação da negação contábil") e de Lopes de Sá (teoria das funções sistemáticas), estabelecemos os três vértices fundamentais da teoria da objetividade, sob os quais deve repousar a epistemologia contábil: a essência (ações inter-ativas); o ambiente (ações construtivas); e a dimensão (ações restritivas). Mutações do capital no curso da história Para os propósitos deste estudo, elegemos o capital como um dos instrumentos determinantes das transformações societais ocorridas

A Objetividade Contábil e a Queda Da Relevância Do Resultado Marginalista

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A objetividade

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A objetividade contbil e a queda da relevncia do resultado marginalista: uma anlise epistemolgica da realidade social

O propsito desse estudo elaborar uma anlise epistemolgica da realidade social, sob a tica contbil, partindo-se da premissa historial de que as alteraes ocorridas nos dois ltimos sculos Revoluo Industrial em Sociedade ps-Industrial tm provocado mudanas profundas na forma de manusear o capital, gerando, por conseqncia, umestado de confusonos sistemas de informao contbil e nos seus reais objetivos cientficos. Se, por um lado, oestablishmentda sociedade ps-industrial encarna a lgica do discurso da a-eticidade (Bernard Mandeville, 1719), reificada pelas teses do neoliberalismo e pela tentativa de legitimao do resultado contbil enquanto algo matematicamente inquestionvel, sacrossanto eindividual(Von Mises, 1949), por outro lado, surge um movimento crtico entorno dos verdadeiros fundamentos de tais aes ideolgicas e quais as suas conseqncias para o comportamento humano global (Tony Tinker, 1985, 1988; Chua, 1986; Hopwood, 1987; Hine, 1988 e outros). Nesse sentido, a tendncia comprometedora das prticas contbeis empreendidas pelostop business, aparentemente ideologizadas, pode ser explicada pela histria. E dessa explicao possvel derivar os equvocos do discurso de construo de uma nova contabilidade globalizadora, cuja cientificidade se baseia no instrumento da positividade do resultado contbil marginalista, em favor do modelo econmico neoliberal. A derivao desses equvocos permitiu-nos pensar ateoria da objetividade contbil, como um instrumento de reflexo cientfico-filosfico, com o propsito de reconduo da contabilidade ao seu verdadeiro papel no contexto da sociedade ps-industrial. Para tanto, ampliamos foco da anlise epistemolgico-contbil, geralmente confinado no objeto econmico, para as relaes societais desencadeadas entre os indivduos no seio da realidade social, sejam elas econmicas, polticas, culturais, religiosas, cientficas. A partir da anlise dessas relaes, e baseando-nos nas teses de Tony Tinker e outros ("negao da negao contbil") e de Lopes de S (teoria das funes sistemticas), estabelecemos os trs vrtices fundamentais dateoria da objetividade, sob os quais deve repousar a epistemologia contbil: aessncia(aes inter-ativas); oambiente(aes construtivas); e adimenso(aes restritivas).Mutaes do capital no curso da histriaPara os propsitos deste estudo, elegemos ocapitalcomo um dos instrumentos determinantes das transformaes societais ocorridas entre a Revoluo Industrial e a Sociedade ps-Industrial, cujas conseqncias foram sentidas fortemente na contabilidade. As diversas formas de utilizao do capital, pelos atores econmicos, podem ser percebidas claramente ao longo da histria humanidade.No Ocidente, o processo de irrupo dos modos de capital e de sua mais-valia, desde o sculo XII, conseqncia das transformaes desencadeadas entre o sujeito econmico e o sujeito social, que determinaram novas relaes jurdicas com o capital, novas maneiras de determinao do clculo do lucro e novas formas de se perceber o conceito de capital. O sujeito econmico, nesse processo, transformou-se de mercador em mega-corporaes multidivisionais; e o sujeito social transformou-se de vassalo em indivduo tecno-estruturado. O capital, que era pessoal e fsico, transformou-se em impessoal (annimo) e invisvel (abstrato), gerando problemas para a linguagem contbil. A partir do final do sculo XX, o caminho defendido pelos organismos contbeis internacionais para correo desses problemas a padronizao da linguagem por meio da normatizao contbil global.Admissibilidade do conceito de ps-Revoluo industrialAdmitimos como premissa deste estudo no os padres contbeis deper si, mas as fontes histricas que propiciaram suas elaboraes. As duas condies apriorsticas, para percepo dessas fontes, so, de um lado, a compreenso histrica da extino do modelo da Revoluo Industrial e, de outro lado, a aceitao da atmosfera da ps-Revoluo Industrial, inaugurada a partir dos anos 80, provocada pelas transformaes nomodusoperandide produo em escala, que altera profundamente a lgica do capital-trabalho (Domenico de Masi e outros, 2000), com conseqncias visveis para a contabilidade.Essa atmosfera, vivenciada somente pelos pases desenvolvidos e, com elevado grau de intensidade, pelos EUA em particular, conseqncia de uma dinmica diferente de mercado cujo agente catalisador dessa diferena a implementao e vulgarizao datecnologia, a qual cindiu a economia tradicional em duas fatias distintas, denominadas de "velha" e "nova" economias. Essa ciso provocou impacto nos mercados da "velha" economia, que buscou a sua adaptabilidade ao novo cenrio. Pode-se distinguir duas transformaes fundamentais e simultneas nessa ciso: (1) o impacto da tecnologia no seio da "velha" economia; (2) o surgimento da "nova" economia que passa a disputar o mercado de capitais com a "velha" economia. E um dos instrumentos para legitimar tais transformaes a tentativa de globalizao da contabilidade.Globalizao da contabilidadeA contabilidade tradicional tem sido acusada de caduquice, de letargia, e de deformaes informacionais. A gritaria dos organismos contbeis, estimulada pela cobrana contumaz das corporaes, de que algo tem que ser feito, e rpido, para corrigir essas profundas aberraes contbeis. O nico remdio prescrito por esses organismos, tirado do receiturio emprico das convenincias, :globalizartambma contabilidade. Na contra-mo dessa impossibilidade, os organismos argumentam que o compasso lento dos fundamentos arcaicos e pseudo-mantenedores da estabilidade contbil, como, o conservadorismo, o momento do reconhecimento da realizao de receitas e despesas, a base histrica de mensurao, a verificabilidade e tantos outros princpios, so os viles das deformaes informacionais e que, por essa razo, eles devem ser deixados beira do caminho da histria, como entulhos.Os fundamentos lgicos do discurso em torno da normatizao contbil globalO discurso em torno dos padres contbeis, nos EUA, e que tem servido de referncia para todos os outros organismos contbeis, est fundado na concepo deestruturas conceituais contbeis, cuja lgica se apia nos argumentos dos filsofos Thomas Kuhn (1962) e Imre Lakatos (1978). Aestrutura conceitual um instrumento de filosofia da cincia para a construo da realidade, imaginado por Imre Lakatos, com base em sua "metodologia de programas de pesquisa cientfica", conhecida por MRSP. Lakatos se baseia em Thomas Kuhn (1962) para afirmar que o crescimento do conhecimento cientfico est justaposto aos programas de pesquisa que conduzem a uma certa continuidade da estrutura conceitual. Esse tem sido o mtodo cientfico empregado pelo FASB para tentar construir uma nova Estrutura Conceitual Contbil, em que o "cerne monoltico", protegido pela articulao de "hipteses auxiliares", ainda no nos parece claramente definido, desde o incio de sua elaborao. O projeto norte-americano de estrutura conceitual um conjunto de conceitos e regras de procedimentosad hoc, cuja conduta utilitarista, imersa em fortes contedos a-ticos, tem sido criticada pela maioria dos pesquisadores. Gonzalo um dos mais contundentes em suas crticas:"...essa estrutura conceitual nem uma estrutura rgida ["cerne monoltico] nem uma estrutura terica ou conceitual, seno um conjunto de reflexes sobre a informao financeira, mais ou menos bem trabalhada, cujo objeto explicar porque se fazem as coisas assim hoje nas empresas e, sobretudo, aclarar qualquer intento de evoluo futura. Como uma declarao de princpios bem intencionada e sem aplicao prtica imediata, sua incorporao s normas contbeis concretas pode fazer-se de muitas maneiras, nem todas elas previsveis de antemo" (p.229).Toda a fundamentao da estrutura conceitual do FASB, portanto, est baseada em pesquisas empricas, cuja postura exatamente contrria quela vigente nos anos sessenta e setenta em que se tentou a construo de um objeto contbil normativo-dedutivo. Segundo Guiner Inchausti (2000), "um dos principais motivos dessa ecloso da literatura emprica tem sido a incapacidade de as propostas normativo-dedutivas proporcionarem uma base terica suficiente, que permitisse justificar a eleio de matrias de poltica contbil, e, portanto, que pudesse orientar os normatizadores" (p. 375).

Manuteno do capital aberto e a negligncia da abordagem do capital fechadoUm dos motivos de confuso em torno da real compreenso dos objetivos pretendidos pelos USGAAP, marcadamente pelos pases emergentes, que, desde os anos 80, eles tm sido adotados ampla e indiscriminadamente como base terica da contabilidade. Nos pases emergentes no se tem ainda a dimenso exata dos limites das referidas normas. possvel encontrar, por exemplo, obras (livros didticos) onde os padres USGAAP so apresentados como os fundamentos da teoria contbil, o que nos parece um enorme equvoco. Na verdade, essas normas deveriam ser divulgadas como "princpios geralmente aceitos pela contabilidade dascorporaes", a quem elas se destinam. Tal confuso deflue da conveniente desinformao sobre a quem realmente os padres contbeis se destinam e, sobretudo, a sua capacidade de interferncia tanto nomodus operandido resultado contbil quanto na substncia e na forma do balano patrimonial.Globalizao emprica dos conceitos contbeis: uma pretenso autoritriaO enfoque desse estudo admite dimenses amplas para outros ambientes alm daquele puramente contbil. A ampliao desses cenrios possibilita perceber o quanto a contabilidade deflui de ambientes econmicos, polticos, sociais, culturais, e o quanto a compreenso contbil est restrita s necessidades de mensurao em cada espao cultural, por mais que ocorra a "globalizao". possvel afirmar que se houver a globalizao da informao contbil, como pretendida pelos organismos internacionais, ainda assim, os valores das demonstraes contbeis no sero idnticos se os espaos culturais forem heterogneos. necessrio ter em mente que, sob a tica cultural, o tempo diferente, o espao diferente, as causas e os efeitos so diferentes. A lucidez dessa evidncia foi permitida pela tecnologia. Por essa razo, as reflexes em torno de novas estruturas conceituais para a contabilidade, pretendidas pelos norte-americanos, nos parecem to legtimas quanto s posturas dos pesquisadores franceses, alemes e japoneses em no admiti-las em seus espaos culturais (aes reativas). As formulaes contbeis no podem estar dissociadas da pluralidade scio-cultural. E importante que seja assim, ao contrrio, seramos todos a conseqncia da mesma idia autoritria. A padronizao de regras comportamentais universais, como muitos imaginam ser a globalizao, conduz ao emburrecimento social e ao totalitarismo. Por essa razo, entendo que a tentativa de padronizao dos conceitos contbeis uma das aes mais estpidas e inconseqentes que se pode pretender. plenamente factvel umplano contbil global, como o fora a tcnica das partidas dobradas, adotada pelo mundo todo, mas ingnua, seno perniciosa, a idia de concepo emprica de conceitos contbeis universais. o mesmo que tentar padronizar os conceitos sociolgicos de indivduo, sociedade, povo, nao, cultura. Matematizar conceitos contbeis empricos e idiossincrticos to fcil quanto provar a quadratura do crculo. Mas, perceber o contedo ideolgico dessasminutas(exposure draft) algo que requer abertura para o embate, para o conflito cientfico. impressionante o descaso com acinciada contabilidade e o quanto ela tem sido somente um instrumento paliativo para tentar encobrir os graves problemas de incompetncia gerencial de velhas corporaes em decadncia. A contabilidade para esses organismos no um ponto de partida, mas um meio a partir do qual seus instrumentos so teis somente no convencimento matemtico de valores convenientes. Essa a realidade.O caminho da cientificidade contbil contempornea: a objetividade negligenciadaA percepo da medida da objetividade contbil sempre esteve atada idia de mensurao emprica dos valores contbeis, cujo ponto crtico sempre foi a tentativa de uma fidelidade representacional do registro contbil, quando ela deveria ser conseqncia da reflexo terica das condicionantes dessa medida. A contabilidade, assim, transformou-se em algo restrito somente aos interesses dos capitalistas, especialmente a partir da Revoluo Industrial, e com forte inspirao positivista, alm de atada aos instrumentais cientficos das cincias naturais, numa tentativa de estabilizar o seu objeto de estudo. E isso tem criado um enorme obstculo visualizao dos fundamentos tericos da contabilidade no seio da realidade social (sociedade ps-industrial).A objetividade contbil no pode ser atribuda maior ou menor capacidade de mensurao de registros, porque isso limita o seu universo interpretativo-apreensivo, permitindo turbulncias temporais e espaciais. A cincia da contabilidade deve se re-inserir no contexto da sociedade ps-industrial, dotada de capacidade reflexiva acerca do seu entorno social. Nesse sentido, possvel que a abertura do foco de viso, captando outros cenrios em torno do objeto contbil, possibilite o redimensionamento dos seus objetivos, que no podem mais se restringir somente elaborao de informaes financeiras para determinados segmentos econmicos. O corporativismo contbil, capitaneado pelos norte-americanos, tem tentado esterilizar os fundamentos tericos da cincia contbil e sua lgica objetiva. E este estudo apresenta alguns elementos reflexivos no sentido de resgatar a cientificidade contbil, maculada pela empiria de ocasio.Abertura do foco de viso para percepo da objetividade contbil cientficaA condio estabelecida neste estudo para ampliar o foco de viso do objeto terico contbil de que isso permita visualizar a realidade social em suas transitividades temporais e espaciais, e possibilite a sua descrio e interpretao, para os propsitos contbeis. Tal contextualizao deve permitir a construo de uma nova objetividade contbil, estvel o bastante para permitir a cientificidade contbil no campo da prxis. Quanto mais coerentes forem os objetivos e delimitaes cientficas, mais eficaz ser a sua conseqncia emprica; quanto mais consistentes forem os objetivos em relao ao mundo real, mais significativo ser o objeto contbil. Assim, admitimos que: a contabilidade uma cincia pura na medida de seus objetivos, de seus propsitos cientficos, no por princpios cientficos puros; a objetividade contbil, circunscrita somente ao universo da empiria cientfica, no consegue estabilizar o objeto contbil, seno por hiptesesad hoc.A extenso da objetividade cientfica contbil est intrinsecamente vinculada ao grau de estabilidade do objeto contbil; e to importante quanto estabelecer o objeto contbil terico, definir a sua objetividade cientfica.A estabilidade cientfica no possvel sestruturas conceituais contbeispretendidas pelos norte-americanos porque: (1) elas se baseiam no objeto emprico restrito, exposto ao do tempo e do espao (informao contbil como um fim), sem apreender a totalidade do mundo real em seu entorno; (2) por essa razo essas estruturas necessitam, incessantemente, de hiptesesad hoc.Pressupostos filosficos da teoria da objetividade contbilNa concepoterica da objetividade contbil, partimos da premissa de que a sociedade humana dotada de conhecimento historial e dialtico. No seio desse conhecimento est a contabilidade, cujo papel interativo e transformador relevante e indispensvel. Esse conhecimento pode ser compreendido por meio da objetividade da realidade externa. Por essa razo admitimos,a priori, os argumentos de H. Putnam (1981) e de Mckernan & ODonnell (2002), respectivamente, de que:(1) "h um esquema correto para descrever a realidade, a partir da tese epistemolgica" (H. Putnam, p. 49).(2) "no podemos ter objetividade perfeita em contabilidade ou em outros campos; a objetividade sempre uma matria de grau" (Mckernan & ODonnell, p. 22).(3) "as descries e interpretaes contbeis sempre refletem o ponto de vista a partir do qual elas so dadas, e o ponto de vista contbil est, inegavelmente, embebido moralmente; o normativo e o descritivo esto entrelaados na contabilidade" (Mckernan & ODonnell, p. 23).Assim, no pressupomos a viso representacionista como paradigma para a construo dos fundamentos tericos da contabilidade, mas, a objetividade da realidade externa sob o ponto de vista contbil descritivo e interpretativo. E a definio complexa dessa objetividade est fundada sob dois pilares discursivos que se complementam na compreenso da realidade externa: (1) a percepo da tese da "negao da negao contbil", concebida por Tinker e outros; (2) a "teoria das funes sistemticas do patrimnio", do brasileiro Lopes de S (1992).Condiesapriorsticaspara percepo do objeto contbil terico, a partir da objetividadeAdmitimos,a priori, que o objeto contbil terico, objetivamente: no se confunde com qualquer outro ramo das cincias sociais (direito, administrao, etc); no se confunde com o objeto econmico; no , por nenhum meio, um subsistema das cincias econmicas; no definido por conceitos contbeis empricos; no definido por normas ou padres contbeis; no est vinculado a qualquer ambiente particular, como o das corporaes, por exemplo; no est vinculado, necessariamente, informao contbil (fidelidade representacional das demonstraes contbeis), se o objetivo terico apriorstico a concepo real dos ambientes sociais no qual se insere o objeto contbil. no sofre a ao temporal, nem espacial, mas, a ao daautoconscincia contbil.Portanto, a concepo do objeto contbil terico s plenamente possvel se estabelecido por meio deaxiomasque suportem as instabilidades dos estudos empricos atuais sem sofrer perdas ou mutaes na sua integridade lgico-cientfica, e possibilite nova dimenso da objetividade emprica. A admissibilidade dos axiomas prepara a teoria contbil para os seus princpios, para as suas causas irrefutveis. No se trata de hipteses monolticas, como aquelas formuladas por Khurn e Lakatos, mas, ao contrrio, trata-se da apreenso axiomtica do objeto contbil puro, enquanto fundamentao lgico-objetiva, cujas conseqncias permitem determinar o desenvolvimento das pesquisas empricas num caminho de construo consistente com o mundo real, e no de conformidade com algum segmento isolado, determinante de interesses corporativos.A lgica axiomtica da teoria da objetividade contbilCertamente, a lgica dateoria da objetividade contbil, por estar voltada para a realidade externa e no para a realidade econmica, nos impe uma nova maneira de percebermos as relaes negociais no seio da sociedade ps-industrial. Por essa razo, reinterpretamos os ambientes econmicos, sociais e naturais, baseando-nos nos axiomas de Lopes de S, e na argumentao de Tinker sobre os diversos mundos intercomunicantes e conectivos.A proposta dateoria da objetividade contbilest baseada na convico da existncia de um esquema epistemologicamente correto para a contabilidade, imerso na realidade externa, cujo elo de ligao se d por meio de axiomas que permitem a apreenso dessa realidade, permitindo, assim, a sua transitividade temporal e espacial. Diferentemente dos outros pesquisadores, delineamos os objetos que devem compor essa realidade externa e de que maneira eles perpassam para o universo terico da contabilidade. possvel, com base nos argumentos de Tinker, redimensionar o universo contbil de forma mais concreta e objetiva, partindo-se da amplificao da proposta epistemolgica de Lopes de S. Por esse caminho, possvel inferir as relaes lgicas interagindo em trs planos distintos: Essncia(relaes essenciais, S; posio epistmica, Tinker) Ambiente(relaes ambientais, S; realidade social, Tinker) Dimenso(relaes dimensionais, S; teorias e mtodos contbeis, Tinker)Para efeito da teoria da objetividade contbil, esses planos so desenvolvidos, teoricamente, da seguinte forma: (I) axioma da trade lgica, como fundamento geral; (II) o plano essencial; (III) o plano ambiental; (IV) o plano dimensional; todos compostos de mundos comunicantes e interativos, cujas aes permitem contabilidade novas dimenses.(I) axioma da trade lgica: planos relacionais lgicos do universo contbil intersubjetivoPartimos do pressuposto de que a gnese do objeto contbil no mundo depende da interao de trs planos, denominados de "trade lgica da realidade objetiva" (veja abaixo Figura 01, a adaptada da Figura (2) esboada por Tinker e outros).

Ento, deduzimos que: A inexistncia de qualquer um dos trs planos essencial, ambiental e dimensional, em qualquer tempo e em qualquer espao, torna o objeto contbil impossvel, pois a este compete observar, objetivamente, a transformao da riqueza permutada pelos indivduos, sob a viglia da essncia, da dimenso e do ambiente. Lgica da trade: a relao de troca s ocorre entre os indivduos, numa determinada realidade social e sob determinadas regras. Interao Lgico-dedutiva da trade: a relao de troca somente ocorre por causa da natureza essencial do conhecimento desenvolvida entre os indivduos (essncia), sob a influncia da realidade social (ambiente social) que antecipa as condies sob as quais ela deve se concretizar (dimenso social).As nossas dedues acima no so um exerccio mental em busca deestruturas conceituaispara as demonstraes contbeis, to pouco o raciocnio operativo em busca da fidelidade representacional, ambas mudam ao sabor do tempo e do espao. Elas freqentam uma outra dimenso que a da abstrao do objeto contbil no plano da apreenso objetiva, fundado nas relaes interativas imutveis, e com o propsito de perceber a transformao da riqueza individual, observando-se a transitividade temporal. Esse fundamento o ponto nervoso para a constituio dos limites da contabilidade enquanto cincia pura, cujaobjetividade cientficatoma outro curso que no aquele puramente emprico, mas, dotado de interpretao do mundo real, no qual est inserido o objeto contbil, diferentemente daquele proposto por inmeros pesquisadores, como, David Solomons, Brian Shapiro, R Matessich, R. Chambers, R. Sterling, Watts and Zimmerman, alm de outros, na contabilidade, e Von Hayek, Von Mises, Milton Friedman e muitos outros autores, no caso da economia.Portanto, no plano epistemolgico contbil, no se trata de "representaes da realidade", nem mesmo de "conceitos normativos", ou mesmo de qualquer argumento fundado nascincias econmicas, mas, trata-se da realidade objetiva do mundo negocial, das relaes lgicas que suportam, em qualquer tempo e espao, as vibraes e mutaes das realidades sociais operadas pelos seres humanos no manuseio de sua riqueza ou de outrem. So axiomas sobre os quais deve operar o raciocnio contbil, o qual no se confunde com qualquer outro existente. Nesse sentido, a anlise das relaes lgicas, pensadas por Lopes de S, nos possibilitaram inferir sobre a realidade relacional indissocivel da trade, de maneira transitiva, cujos argumentos podem ser re-elaborados na forma condicional:Se inexistir o plano essencial (volio de troca), os planos ambiental e dimensional no se concretizam sozinhos, caindo no cio; se inexistir o plano ambiental (realidade social) os outros dois (essencial/dimensional) se reduzem ao absurdo; se inexistir o plano dimensional (condies para a troca) no haver acumulao de riqueza, mas, trocas ingnuas.(II) axioma do plano essencial:Noplano essencialo indivduo interao relao interativa em busca da satisfao de suas necessidades.Figura 02: Epistemologia Gentica da Intersubjetividade das Trocas

No existe troca se no houver interao social entre os indivduos A e B, motivados por alguma necessidade objetiva socialmente, e subjetiva individualmente (a realidade da prxis exercida em A em diferente caminho daquela exercida em B), da a necessidade das condies de troca; no existe troca se as condies de A no preencherem as expectativas de satisfao de B (contida na realidade da prxis de B), e a recproca tambm verdadeira; no existe troca se o meio de troca de A no preencher as expectativas de satisfao de B (contida na realidade da prxis de B), e a recproca tambm verdadeira.Todos os elementos genticos, necessrios troca intersubjetiva, esto expressos graficamente no fluxo acima: indivduos (desejo); meio de troca (mercadoria); condies de troca (dimenso); e a realidade da prxis de cada indivduo (cultura). a expresso celular do mercado construda pela sociedade dos indivduos no curso da histria humana. Foi assim na cultura sumria, egpcia, grega, romana, indiana, asitica, no mundo ocidental, e assim permanece ainda hoje, e nada nos indica que ser diferente no futuro. Essa realidade objetiva indissocivel de seus elementos constitutivos e nos parece ser o esquema mais correto e estvel para descrev-la. necessrio, contudo, compreender-se qual a importncia darealidade da prxise o seu significado, tendo em vista os indivduos societais. Para os nossos propsitos,a realidade da prxis compreendida como sendo o nicho da realidade social onde se encontra o indivduo, cuja influncia interativa determina o seu comportamento social e seu grau de satisfao. Ela , no mundo ps-industrial, muito mais ativa e mais subliminar em suas influncias do que no passado e assimilada diferentemente pelos indivduos. A sedimentao da realidade da prxis, fruto de programas mentais, ao longo do tempo, denominada de cultura.A concepo gentica das trocas, descrita acima, demonstra o quanto as idias de Hayek, Mises, Solomons, Brian Shapiro e muitos outros so equivocadas ao perceberem no instrumento da demonstrao contbil, e no nas relaes societais, arealidade da prxis contbil(realidade objetiva). Arealidade da prxis que determina a realidade contbil e no a realidade dainformaocontbil que determina a realidade da prxis, como imaginaram alguns autores (tese da representao, a partir da teoria da verdade correspondente). Essa realidade est diretamente vinculada ao grau de acumulao de conhecimento pelas sociedades em diferentes pocas. Portanto, a informao objetiva deflue da intersubjetividade dos indivduos no sentido da consolidao de suas satisfaes pessoais. E isso s ocorre de maneira interativa. Nenhuma necessidade de troca individual se realiza por si s, e isso axiomtico. Talvez essa seja a razo pela qual a partida dobrada, por ser a expresso da interatividade entre dois indivduos, tenha atravessado milnios sem se conseguir substitu-la.A interao lgica da trade, no entanto, est sujeita a fatores deexternalidadeenquanto elementos intrusivos e socializadores das relaes sociais construtivas (ambiente das trocas). Assim, a concepo mais atual derealidade da prxisdeve conter instrumentos de regulao econmico-social que no so definidos, ou no podem ser definidos pelos indivduos totalmente, mas pelo estado, por meio de normas. No caso do meio-ambiente, por exemplo, necessria a regulao pelo estado e por outros organismos naquilo em que as exorbitncias so cometidas contra a sociedade humana, ou que leve a sua extino.Essa interao lgica imutvel faz mudar o foco da representao das demonstraes contbeis enquanto centro gravitacional para algo mais amplo e mais complexo, que so as relaes societais percebidas objetivamente e com transitividade temporal. A lgica da objetividade permeia os ambientes sociais enquanto elementos associativos das relaes negociais. Portanto, essa percepo altera profundamente a convivncia da cincia da contabilidade com seu eixo gravitacional emprico (demonstrao contbil) para a percepo das aes humanas negociais no seio das sociedades, consubstanciando-a extensivamente numa cincia social. A ausncia de percepo do mundo real, extensivamente (essncia, ambiente e dimenso), tem prejudicado a visualizao das reais dimenses da informao contbil.(III) axioma do plano ambiental:Noplano ambientalo indivduo ao construtiva social, poltica, econmica, cientfica, cultural, intelectual. Apreender, objetivamente, oplano ambiental(realidade social do ser) significa perceber oplano essencialenquanto inter-ao no sentido da ao construtiva e historial do conhecimento objetivo.Para os propsitos deste estudo denominamos deindivduo invisvelaquele que detm o capital monetrio, ede indivduo visvelquele que detm o capital humano.A ao construtiva se processa, historicamente, sob as bases de uma realidade objetiva cuja estrutura essencial estvel, qualquer que seja o tempo/espao. Essa estabilidade pressupe a ocorrncia inaltervel da estrutura ao longo do tempo, possibilitada pela objetividade da ao construtiva. A atividade de gerao de riqueza possui estruturas comuns que podem ser apreendidas de maneira objetiva, diferentemente de outras cincias sociais. Os componentes indispensveis dessa estrutura, que denominamos de aes societais construtivas, podem ser delimitados em:capital(prprio/terceiro);matria-prima;mo-de-obraeproduto final. Se visualizarmos essa estrutura composta de indivduos, ento, teramos:capitalista;fornecedor;empregado; econsumidor. A ao construtiva depende essencialmente desses indivduos num processo indissocivel e interativo.A acumulao do conhecimento objetivo dos indivduos braais (artesos) ou dos indivduos inteligentes (tecno-estruturado) o ponto determinante do desenvolvimento das relaes capital-trabalho, configurando, assim, o aperfeioamento das sociedades tecnolgicas que determinam o modo de produo em cada poca. Se o plano ambiental, onde esto imersos os indivduos invisveis e visveis, um componente indispensvel para a consecuo das trocas interessadas, ento, o papel exercido pela realidade da prxis sobre esses indivduos, ao efetivarem suas trocas, depende do grau de conhecimento tecnolgico acumulado em cada sociedade e em cada poca. O conhecimento tecnolgico, assim, o determinante da realidade objetiva da prxis negocial e ela jamais prescindiu da contabilidade para o seu controle e verificao. Isso nos conduz a presumir que o conhecimento objetivo contbil deve estar justaposto ao conhecimento tecnolgico o suficiente para poder identific-lo e interpret-lo para os propsitos de mensurao e avaliao, de conformidade com a realidade da prxis de cada sociedade. Ento, podemos afirmar que: a realidade objetiva das relaes econmico-sociais entre o indivduo invisvel e o indivduo visvel conseqncia do conhecimento tecnolgico acumulado em cada sociedade. Conseqentemente, o conhecimento objetivo contbil influenciado pelo conhecimento tecnolgico desenvolvido pelas relaes negociais. as relaes negociais, independentemente de qual seja a sociedade, conduzem sempre construo de estruturas idealmente estveis e objetivas no que se refere s trocas interessadas. Essas relaes so complexas na medida de seu grau de interatividade social: quanto maior o grau de interatividade social maior a complexidade das aes negociais.Por outro lado, os fatores econmicos, polticos, culturais, contbeis, inequivocamente, desencadeiam processos de transformao nos cenrios sociais e tambm na concepo dos objetivos contbeis, com maior ou menor grau de complexidade. Ao processo de transformao nos cenrios sociais denominamos deaes intrusivas. As aes intrusivas desencadeiam processos ativos ou reativos que denominamos de autoconscincia . Quando tais aes ocorrem no seio da contabilidade, denominamos deautoconscincia contbil. Indivduos pertencentes a cenrios distintos (realidade da prxis A e B, da Figura 02), no momento das trocas, interagem entre si, estabelecendo regras objetivas de convivncia (ao construtiva). Em tese, ambos assimilam a influncia dos dois cenrios. Entretanto, essa assimilao depende de dois fatores: (1) do grau relativo de conhecimento objetivo; (2) do grau de flexibilidade (ou rigidez) dos seus construtos sociais (Hofstede, 1984).Assim, os indivduos so agentes transformadores dos cenrios por serem ativos ou reativos, dependendo das condies societais desses cenrios e de suas percepes objetivas em relao aos elementos intrusivos (Harrison e McKinnon, 1986; Ahmed Belkaoui, 1996; Cohen e outros 1993; Josephine Maltby, 2000). Podemos, ento, inferir que:se a regra objetiva intrusiva (interna ou externa) anulada por aes reativas, o status quo comportamental da sociedade tende a permanecer o mesmo, portanto, estvel. Se a regra objetiva intrusiva (interna ou externa) no anulada por aes reativas, o status quo comportamental da sociedade tende a se alterar, gerando, portanto, instabilidade.Por analogia, pode-se enunciar que:se a regra contbil intrusiva (interna ou externa) anulada por aes reativas, o status quo da realidade contbil tende a permanecer o mesmo, portanto, estvel. Se a regra contbil intrusiva (interna ou externa) no anulada por aes reativas, o status quo da realidade contbil tende a se alterar, gerando, portanto, instabilidade.Portanto, a sntese axiomtica das afirmaes (1), (2), (3) e (4) pode ser assim enunciada:O satus quo da realidade contbil depende da objetividade das aes dialticas dos seres humanos no interior de cada sociedade.O axioma acima est construdo sob trs fundamentos que nos parecem indissociveis: a realidade contbil; a objetividade das aes ativas-reativas; e o interior de cada sociedade. Esses fundamentos conectivos tornam impossvel a pretenso de um objeto contbil neutro e externo realidade objetiva (fidelidade representacional), porque a realidade contbil no pode ser dissociada da realidade objetiva das aes dialticas no interior de cada sociedade. Por essa razo impossvel contabilidade "fotografar" a realidade, como defendeu David Solomons e outros, sem que ela prpria no participe dessa fotografia. Isso faz com que a linguagem contbil, como resultado da realidade objetiva, seja um agente de transformao de cada ambiente social.(IV) axioma do plano dimensional: a dinmica da autoconscincia contbilNoplano dimensionalo indivduo ao restritiva. a ao humana que se ocupa dos mtodos e tcnicas contbeis, das normas, das regras tica e moral, e dos padres contbeis, fundados, de maneira indissocivel, nos planos essencial e ambiental, que reformulada e adaptada de tempos em tempos pela autoconscincia.Aao restritiva o ato de dar sentido estrito, dimenso, ou interpretao e delimitao dos espaos de convivncia, que possibilite a inter-ao e a ao construtiva dos seres humanos, num caminhotico autoconsciente.Certamente, a linguagem contbil, no contexto da sociedade ps-industrial, possui funes mais complexas do que estabelecer apenas o resultado contbil. E a complexidade dessas funes depende do grau de conhecimento objetivo que os indivduos adquirem no ambiente social, marcadamente, fundado em aspectos descritivos e normativos. A dimensionalidade contbil, por essa razo, no algo que se define completamente no campo das certezas universais, mas nas interpretaes construtivas acerca da realidade da prxis. A ao restritiva, assim, para os efeitos contbeis, o arcabouo tico-normativo da sociedade dos indivduos cuja dinmica estrutural se refaz de conformidade com cada poca, cada lugar e de acordo com a lgica da autoconscincia.Se admitimos a tese de Norbert Elias de que a sociedade dos indivduos, periodicamente, adquire autoconscincia, e que ela no promovida por um indivduo somente, mas pelas sociedades como um todo, ento, possvel identificar no seio da contabilidade as mesmas influncias transformadoras, que denominamos deautoconscincia contbil, cujos nveis so identificados porA,AeA(vide figura 03 abaixo).

Por esse caminho, podemos deduzir que:Para cada nvel de autoconscincia contbil (A, Ae A) alcanado h uma dimenso contbil (D, De D) estabelecida, cujas caractersticas interpretativas so prprias de cada tempo (T, Te T), e motivadas pelas Inter-aes (I, Ie I), sem, contudo, perder os seus elementos substanciais adquiridos ao longo do tempo (aumento do grau de complexidade do conhecimento contbil objetivo).No entanto, essas caractersticas interpretativas no so totalmente homogneas, dependendo do grau de conhecimento objetivo tanto da contabilidade quanto das aes negociais desenvolvidas em cada sociedade em particular. Assim, podemos enunciar que:Quanto maior for o grau de proximidade entre o conhecimento contbil objetivo e a realidade da prxis, maior ser a capacidade descritiva da contabilidade e mais exata ser a sua dimenso. A desconexo entre a realidade da prxis e a dimenso contbil significa ausncia de autoconscincia contbil. Tal desconexo pode ser percebida pela presena de Inter-aes I, convivendo com o nvel de autoconscincia contbil A, cuja dimenso contbil permanece em D.Quando isso ocorre, o conhecimento contbil objetivo acumulado questionado e considerado insuficiente para interpretar o conhecimento objetivo societal, ampliado por novas aes construtivas transformadoras. A explicao para tal ocorrncia est no conhecimento contbil objetivo fundado em posies societais anteriores, gerandoconfusoentre os conhecimentos societal e contbil. Nas duas ltimas dcadas, incontveis declaraes de inmeros pesquisadores contbeis e de organismos internacionais (como j vimos), tm demonstrado esseestado de confuso. A reao inicial, contudo, de retorno aos elementos substanciais da contabilidade, numa tentativa de estabilizar seus conceitos. Por causa disso, as aes restritivas (dimensionalidade contbil) sofrem, temporariamente, crises conceituais e de aplicao prtica na medida em que os conceitos novos, estruturados pela realidade da prxis, so confrontados com conceitos "antigos". Aes reativas, portanto, so desencadeadas no sentido de retornar estabilidade dimensional anterior. Podemos, ento, teorizar que:A autoconscincia contbil a constatao de um estado de confuso entre a dimenso contbil e a realidade da prxis.3.a. Os conflitos dimensionais da contabilidade decorrem da formao de novos nveis de interpretao da realidade social, ainda incompreensveis contabilmente. exatamente o que est ocorrendo no momento atual, quando a sociedade ps-industrial questiona seus "antigos" valores contbeis e tenta desenvolver um novo modelo dimensional para a contabilidade. E o caminho possvel para superar tais dificuldades no pode ser encontrado na viso representacionista, tampouco na fidelidade representacional, ou mesmo na elaborao de estruturas conceituais idiossincrticas, mas, no reexame profundo das alteraes dos planos essencial e ambiental, no sentido do redimensionamento das interpretaes contbeis por meio da verificao dos elementos intrusivos provocadores de tal estado de confuso; portanto, estimulando aautoconscincia contbil. A viso representacionista da contabilidade, que pretende impossvel neutralidade cientfica, nos parece conduzir edificao de uma estrutura que no corresponde realidade objetiva, visto que tal realidade algo percebido segundo um naturalismo cientfico inapropriado para uma cincia social, e de conformidade com as convenincias corporativas do modelo econmico. A viso representacionista incapaz de perceber e interpretar toda a extenso da realidade social. Ao contrrio, o objeto contbil visto como algo estvel, por natureza, e deve ser aprimorado na sua pretenso de fidelidade representacional de forma presumivelmente neutra, sem qualquer ateno ao plano da dimenso contbil, enquanto parte da realidade, e suas conseqncias no seio do ambiente social.Na sociedade ps-industrial, se levarmos em conta o modelo econmico adotado, especialmente o estadunidense, a dimenso contbil doresultadodas trocas, promovidas entre as corporaes, tornou-se mais do que relevante; ela vital para a sua continuidade. Esse comportamento, ainda muito restrito s corporaes, revela a profunda dependncia entre dimenso contbil (resultado) e realidade social da corporao (necessidade de capital). Por essa razo, o fundamento operativo dos mercados de capitais ainda se baseia inteiramente na figura doresultado contbil marginalista(despesa receita). E exatamente esseresultadoque tem viabilizado amplas margens de manobras por parte dotop business(manipulao dos nmeros), conduzindo ao descrdito a sua veracidade. um momento crucial para as corporaes visto que elas so financiadas, em boa parte, pela poupana dos indivduos comuns (aplicadores), que necessitam ser convencidos de resultados sempre positivos.Entretanto, para tentar suprir tais deficincias de exatido das dimenses contbeis, as aes ativas implementadas pelas corporaes (com a colaborao dos auditores e organismos contbeis) so direcionadas para a criao de instrumentos reguladores que permitam maior visibilidade do "going concern" (continuidade da corporao). Essas aes esto centradas, basicamente, em:1. implementao dofluxo de caixa futuro descontado, cuja finalidade tentar demonstrar a continuidade segura da corporao ao longo do tempo.2. atualizao dos valores do balano patrimonial (ativo e passivo) por meio do conceito devalor justo(fair value).3. o desenvolvimento de um novoresultado contbil, denominado pelos ingleses desegundo resultado contbil, baseado nas operaes financeiras decorrentes de derivativos e outros instrumentos financeiros.4. alm disso, a tentativa de estabelecer um discurso coerente em torno dessas medidas a partir de um outro conceito amplo: o dagovernanacorporativa, que pretende suavizar e garantir as relaes negociais com o meio social.Justificativa para tais alteraes: as dimenses contbeis tradicionais no conseguem mais expressar a realidade social das corporaes (estado de confusoentre o conhecimento objetivo da realidade e o conhecimento contbil objetivo).A queda da relevncia do resultado contbil marginalistaSe durante quase todo o sculo XX o resultado contbil marginalista foi a referncia relevante para o clculo dosurplus, neste incio de sculo tal instrumento tem perdido a relevncia devido as significativas transformaes pelas quais tm passado a realidade social, incluindo-se as corporaes, com maior nfase. Os pesquisadores contbeis, h muito, refugiaram seus conceitos contbeis de riqueza e de resultado da riqueza nas idias econmicas preconizadas por economistas, como: Hicks (1939), Von Hayek (1941), Pigou (1941), alm de outros. Se, quando do desenvolvimento cientfico do resultado contbil, o objetivo de Schmalenbach (1919) era identificar e explicar a dinmica econmica das empresas, hoje, esse objetivo tornou-se insuficiente em face dos novos conhecimentos objetivos agregados s aes tecnolgicas e mercadolgicas. Pelo menos, cinco fatores econmico-sociais bsicos podem ser apontados nesse sentido: (1) o surgimento da verdadeira sociedade annima, cuja participao dos indivduos no se limita mais a uns poucos investidores (globalizao do capital social); (2) a formao de extensas redes de mega-corporaes transnacionais que nada se parecem com as empresas tradicionais; (3) o desenvolvimento do indivduo tecno-estruturado (capital intelectual); (4) o alerta para a reformulao do processo de produo por causa das irreparveis agresses ao meio ambiente natural; (5) a criao de novos mecanismos de expanso do crdito, por meio de derivativos e outros instrumentos financeiros (capital ficcional), tudo isso tem criado problemas para a linguagem contbil, alm do vertiginoso aumento na velocidade das trocas.Esses fatores tm desencadeado um distanciamento entre o resultado marginalista e a realidade social, cuja dimenso contbil no consegue interpretar nem descrever essa realidade a partir de seus conhecimentos objetivos estabelecidos no perodo da Revoluo Industrial. A opacidade dos valores expressos pela contabilidade no permite alcanar a diversidade de aes construtivas processadas com enorme velocidade por todos os atores. O exemplo mais consistente e irrefutvel dessa realidade desconexa e confusa pode ser extrado do prprio cenrio norte-americano, onde nem sempre os elevados resultados contbeis marginalistas garantem a solidez dos investimentos ou mesmo a continuidade da corporao, porque eles so facilmente manipulados pelos gerentes. Portanto, possvel afirmar que:4. O resultado contbil marginalista insuficiente para expressar a nova realidade social na qual esto inseridos os indivduos invisveis.A tica da eficcia funcional do resultado: o redimensionamento da prxis contbilAdmitimos como premissa de nossas teses que possvel descrever a realidade contbil a partir de teses epistemolgicas, e todo o nosso estudo, desde o incio, perseguiu essa premissa; admitimos tambm, por conseqncia da primeira premissa, que a objetividade uma matria de grau, e isso produz variaes na capacidade de assimilao do conhecimento contbil de conformidade com cada poca, cada cenrio ou sociedade enfocada (autoconscincia contbil); admitimos tambm que as descries e interpretaes contbeis esto entrelaadas nos objetos normativos, o que faz da cincia contbil um instrumento sujeito a adaptaes em seus tempos, e profundamente vulnervel se trabalhada sob o enfoque puramente pragmtico (tese da neutralidade).O normativo, no caso contbil, no pressupe a regncia do formalismo legal, tampouco a construo de estruturas conceituais, mas, a eticidade estabelecida por meio da conduta humana na percepo dos caminhos do razovel na construo da riqueza individual. A razoabilidade pressupe a convergncia das aes humanas no sentido da ao construtiva eficaz, a partir de um novo contrato entreindivduo invisvel,estadoesociedade, o qual deve ser conseqncia do processo da autoconscincia social. A eticidade contbil pressupe uma lgica cientfica para a interpretao do processo de acumulao da riqueza, sem provocar, contudo, obstculos aos fundamentos da manuteno do capital, pedra angular do capitalismo. Essa, talvez, seja uma das tarefas mais complexas da cincia da contabilidade: estabelecer fundamentos ticos para a conservao do capital dos indivduos invisveis que no se baseie somente no resultado marginalista. A lgica estabelecida pelos neoclssicos provou ser eficaz na apurao do resultado marginal das empresas, mas tem sido altamente ineficaz em relao manuteno permanente de suas estruturas operativas (continuidade do negcio), alm do desvio de suas reais finalidades quando o foco o indivduo comum (aplicador no mercado de capitais).Portanto, necessrio um novo modelo de informao contbil que garanta a estabilidade e a segurana do crescimento, ambas associadas responsabilidade social. Tal modelo deve exigir um comportamento tico e responsvel dos indivduos invisveis e visveis. Por essa razo, buscamos no conceito deeficcia funcional, pensado por Lopes de S, uma alternativa de eticidade contbil, cujo equilbrio deve estar na conjugao de vrios fatores autnomos e interativos, denominados derelaes dimensionais(dimensionalidade contbil). Tal proposta nos parece ser capaz de quebrar a escalada incontrolvel da voracidade dos gerentes das corporaes, permitindo maior visibilidade informacional, e promover o seu crescimento equnime. De acordo com as teses de S, a capacidade gerencial no est nas metas de resultados contbeis marginalistas, mas, no equilbrio das relaes dimensionais, possibilitado pelo controle da informao contbil em diversas dimenses. A empresa, denominada por ele de "clula social", no vista sob o ngulo de um resultado somente, como defenderam os neoclssicos, mas, tambm sob os ngulos da liquidez, do econmico, do vulnervel, da produtividade, da estabilidade, da elasticidade. O equilbrio desses diversos ngulos viabiliza a estabilidade e a prosperidade da empresa. E esse deve ser o desafio gerencial dos indivduos invisveis na sociedade ps-industrial.A eficcia funcional dos diversos resultados, em harmonia, a capacidade de a empresa alcanar objetivos previamente estabelecidos, e de maneira responsvel socialmente. Nesse sentido, a objetividade, como previmos em nossa teoria, centra-se em trs vrtices principais: (a) resultado das aes (econmico); (b) socialidade das aes (social); e (c) ambientalidade das aes (ambiental). A construo e a manuteno desses trs vrtices certamente propiciar um regime harmnico e mais transparente empresa de capital aberto, e maior fiabilidade gerencial empresa de capital fechado.(a) resultado das aes a dimenso funcional contbil das aes empreendidas pelos indivduos invisveis, num determinado contexto social, cujo interesse no se concentra no resultado contbil marginalista somente, mas, em outras dimenses contbeis que permitem maior visibilidade social dos resultados das trocas interessadas.(b) socialidade das aes a dimenso funcional contbil das aes empreendidas pelos indivduos invisveis e visveis, num determinado contexto social, direcionada para explicar a realidade da prxis a partir das relaes sociais desencadeadas pelos diversos atores participantes das trocas interessadas.(c) ambientalidade das aes a dimenso funcional contbil das aes empreendidas pelos indivduos invisveis, num determinado contexto social, cujo interesse explicar a realidade da prxis a partir das relaes negociais que envolvem meio ambiente natural, desencadeadas pelos diversos atores participantes das trocas interessadas, permitindo maior visibilidade social de seus resultados.A eficcia funcional no privilegia o marginalismo enquanto concepo finalista das trocas interessadas, mas, o princpio da responsabilidade social das trocas, baseado na multi-dimensionalidade da informao contbil. A socialidade e a ambientalidade so os novos instrumentos de equilbrio informacional na consecuo dos resultados das trocas interessadas.Na sociedade ps-industrial, lucrar no o nico objetivo. A escassez de capital das corporaes da "velha" economia, o surgimento da "nova" economia e a presena dos indivduos comuns (aplicadores) no seio das sociedades negociais tm determinado novas exigncias informacionais contbeis que devem se traduzir em uma maior visibilidade dos resultados das trocas interessadas.Notas1.O top business uma nova verso tecnologizada do arteso norte-americano do sculo XIX, com grandes poderes de deciso e controle. Em meu livro "Contabilidade do Capital: uma abordagem histrico-cultural do valor fsico ao valor justo (fair value)" trato, em detalhes, desse processo historial econmico-contbil, alm de outros aspectos relacionados ao desenvolvimento da Teoria da Objetividade Contbil.2. Conceito defendido pelo socilogo italiano Domenico de Masi (2000), em sua obra "A sociedade ps-industrial".3. Thomas S. Kuhn (1962), professor de Massachusetts Institute of Technology-MIT e de Imre Lakatos (1978), professor da London School of Economics, ambos matemticos e filsofos das cincias.4. George Kapaya (abr/1999) afirmou que "nenhum dos pases do centro que domina o IASC, e que mantm a exportao de seus padres para outros pases, confia ou usa os IAS-International Accounting Standard [padres internacionais contbeis] como seus principais padres. Portanto, nenhum deles tem implementado ou criado ambiente para suas instituies domsticas seguirem nessa direo. Ao mesmo tempo, entretanto, a maioria dos pases, que tem pouca ou nenhuma penetrao ou influncia no debate da harmonizao, tem sido encorajada ou, de outra maneira, persuadida a adotar tais padres internacionais como seus prprios padres". Acrescentou ainda Kapaya, com muita propriedade: "O argumento comum, em favor da exportao de normas internacionais de contabilidade para pases em desenvolvimento, que o efeito lquido benfico, porque os padres j esto prontos, e portanto, so mais baratos em termos de experincias exigidas de especialistas (Weber, 1992, Wallace, 1990) [...] Entretanto, esse argumento tem uma falha fundamental. Ele assume que a contabilidade tem um papel neutro ou benigno na sociedade. A posio tomada nesse trabalho que contabilidade nunca , quase invariavelmente, neutra" (grifei) (p. 3, paper synopsis; "International Harmonization of Accounting a case of harmonization for us and standardization for you?". Working Paper. Critical Perspective on Accounting Conference, N. Y. 1999).5. Para maiores informaes sobre o problema da estabilidade cientfica do objeto de estudo social, veja nosso trabalho "Qual a massa atmica de uma unidade de custo?", publicado na Revista de Contabilidade e Informao, Editora UNIJUI.6. O desenvolvimento detalhado de nossas idias pode ser visto na obra "Contabilidade do Capital".7. Para maior compreenso acerca do sentido de autoconscincia, vide a obra do filsofo alemo Norbert Elias "A sociedade dos indivduos", editora Jorge Zahar Editor (1996).8. Sugeri a criao de duas novas dimenses contbeis, para maior completude das aes gerenciais: a socialidade e a depletividade.