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A obsessão da juventude

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Artigo publicado na editoria de Opinião do jornal A Tarde, sobre a ideia de grandes artistas não serem capazes de repetir na velhice seus grandes momentos na juventude

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Page 1: A obsessão da juventude

| OPINIÃO |3SALVADOR, S E X TA - F E I R A , 15/9/2006

o p i n i a o @ g r u p o a t a rd e . c o m . b r ❛“Minha não-ida (à Bolívia) é uma reação política“Silas Rondeau, ministro de Minas e Energia, ao anunciar a suspensão da visita demissão brasileira prevista para hoje, em protesto contra a decisão do governoboliviano de assumir o controle das refinarias estrangeiras, inclusive a da Petrobras ❚

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E D I TO R I A L

Futuro negado

PAULO ROBERTO LEANDRO

| Cau Gomez |

PAULO ROBERTO LEANDRO ❚ Mestre em comunicação e cultura contemporâneas pela Facom/Ufba, professor universitário, jornalista e editor-coordenador de A TARDE Esporte Clube. E-mail: [email protected]

Panelinhas acadêmicasA meritocracia éo sistema utópicopelo qual o governodo mérito predomi-na. Aquele que temcapacidade reconhe-cida exerce maiorpoder, enquanto os

subalternos vão se aprimorando paraconseguir ampliar sua autonomia e subirna hierarquia.

É um sistema que se baseia no antigopadrão grego de justiça: dar a cada umaquilo que é seu de direito, por seu talento,empenho e qualificação.

Nos países de capitalismo consolida-do, os cargos mais valorizados nas empre-sas são dos melhores profissionais. Óbvio:são os bons profissionais que fazem a em-presa crescer, dar lucro e remunerar emcontrapartida. Na academia brasileira, oque se pode observar, depois de anos deconvivência, como aluno e professor, é a

necessidade de se criarem meios mais efi-cazes de fazer com que a meritocraciatriunfe sobre interesses privados de gru-pos que controlam fatias de poder.

Não são raros os casos em que a opiniãopública é contrariada diante de resultadosde concursos, cujo formato republicanoilude a quem imagina ser aquele método afórmula perfeita de se escolher o melhor,mediante a aplicação de critérios por to-dos conhecidos e divulgados com antece-dência, em um aparente jogo limpo.

No ambiente acadêmico nacional, épossível verificar se a lentidão da passa-gem do Brasil colonial para a Repúblicavem provocando um retardo na tomadado poder pelo mérito, em substituição aosnovos barões do saber, detentores da su-posta verdade dos antigos sábios.

A provável privatização do espaço pú-blico das universidades federais seria umtema de pesquisa de inegável contribui-ção social, não fosse tão perigoso para a

manutenção dos privilégios, às vezes con-fundidos com conquistas coletivas, com osutil objetivo de preservar os interesses dequem deles se serve.

A nobreza acadêmica contradiz a pro-posta básica da universidade, que seriaconstruir, disseminar e lutar para que o co-nhecimento se torne universal, enquantoa seleção dos cavaleiros da corte sem aaplicação do mérito fragiliza a pesquisa, oensino e os princípios da República.

A desconfiança geral cresce à medidaque a súbita indicação de um novo cruza-do acadêmico se sobrepõe às evidênciasdo currículo, desde que se implantou aPlataforma Lattes, onde estão publicadasas ações positivas de cada um dos milharesde pesquisadores.

A crônica contradição da busca pelameritocracia em fricção com o ambientede poder erguido em castelos medievaisdentro das universidades públicas irrom-pe em situações agudas cujo desdobra-

mento seria, talvez, fortalecer os órgãoscapazes de inibir excessos. Uma correge-doria mais atuante, quem sabe, ou umaouvidoria interna, dentro das universida-des, para se levar ao conhecimento públi-co, os (maus) exemplos de difícil assimi-lação pela comunidade acadêmica, talvezservisse como um freio para os reis doc o n h e c i m e n t o.

Os mesmos doutores que criticam sis-temas e propõem opções para reformataro mundo em um prisma supostamentemais justo desandam a igualar-se a dita-dores comezinhos, no momento supremodas quatro paredes, ao deleite dos gabine-tes decisórios.

Seja pela condição humana do encan-tamento pelo poder de decidir, seja por umprojeto pessoal de ambição, ou os dois as-pectos fundidos, o cenário sinaliza a ne-cessidade de se aprimorarem os relacio-namentos, buscando meios de fiscalizarestes governadores.

A RT I G O S

A obsessão da juventude

VITOR PAMPLONA ❚ Repórter de A TARDE Online. E-mail: [email protected]

A imprensa, por sua vez, não construiuo hábito de cobrir o ambiente interno daacademia. Não deixou herdeiros o exem-plo pioneiro da coluna Campus, publica-da na extinta Gazeta da Bahia, suplementoda Gazeta Mercantil, entre 1999 e 2001.

Sem os profissionais escalados pela so-ciedade para aplicar os princípios de ve-racidade, atualidade, interesse, importân-cia, inusitado – mérito, enfim – aos fatos,para deles extrair notícias e reportagens,não circulam as informações sobre omodus operandi de pesquisadores e afins,resultando em treva estratégica na preser-vação dos benefícios, acima do bem e domal.

Sem quem os fiscalize, nem os corrija, esem um padrão ético definido, salvo poruma noção vaga de “quem tem juízo, obe-dece”, degenerando em artimanha subje-tiva e vulnerável à tirania, os controladoresdas universidades vão escalando seus ti-mes e ampliando seus grupos de poder.

A s fotografias dizem tudo: filas ex-tensas de jovens com semblante aba-tido, em busca de emprego numa loja

de departamentos do Itaigara. Parecem der-rotados de véspera. Movidos, no entanto,por uma réstia de esperança, formam pe-lotões disciplinados, esperam o milagre.

Assim está o mercado de trabalho para osjovens na Região Metropolitana de Salvador(RMS), que apresenta, segundo pesquisa doDepartamento Sindical de Estudos Só-cio-Econômicos (Dieese), o mais elevadoíndice de desempregados do País, entre os16 e 24 anos: cerca de 41% da populaçãoj ove m .

Todos os anos, uma parcela da juventude,que deseja conciliar estudo e trabalho, ou seconcentra no emprego, bate às portas domercado – e não lhes permitem entrar.Sequer lhes dão resposta. E note-se que oprimeiro emprego é fundamental para in-suflar ânimo em quem esboça um projeto devida profissional.

Poucas frustrações serão mais pungentesdo que essa desesperança do jovem ansiosopor se afirmar. Encontrar trabalho é questãode honra, de dignidade. A conseqüência dafrustração será a informalidade, no melhordos casos – porque estão abertos, e bem

abertos, os descaminhos rumo às drogas,contravenções e criminalidade.

Os dados do Dieese divulgados esta se-mana referem-se a 2005. Terá mudado emcurto prazo a situação, ou o jovem da Bahiacontinua ávido por emprego? A TARDE es-tampou foto de moças e rapazes apreen-sivos, mas empenhados em arranjar em-prego de 39 horas semanais, ou acima disso,e que paga salário médio de R$ 378, um dosmenores do País. Aliás, o penúltimo, emvalor. Perde somente para o de Recife, emtorno de R$ 318.

Analistas internacionais prevêem para oano vindouro um crescimento baixo do PIBbrasileiro. É uma perspectiva desanimadora.A indústria e o comércio teriam de crescer deforma acelerada para oferecer novas frentesde trabalho. Mas são levados a reduzir in-vestimentos e cortar dispêndios. E o setor deserviços, que terceiriza mão-de-obra e tantocontribui para assegurar vagas aos jovens,será igualmente afetado.

Salvador figura entre os mercados de tra-balho mais atingidos pela informalidade.Dos jovens que trabalham, quase 20% sãoautônomos. Outra matéria de reflexão – epreocupação – para os políticos e gover-nantes responsáveis.

novas para ser boas. Esta não é uma conclusãopós-moderna, retirada de tratados sobre a mul-tiplicidade do olhar na estética da contempora-neidade. Muito antes de teóricos hippies se diver-tirem tentando fundir a cuca incauta de leitoresinebriados, gente menos atormentada preferiu,ainda que sem saber, seguir o conselho de Faulk-ner em Palmeiras Selvagens e ter a coragem parasobreviver na luta.

Ora, se a verdade do escritor veterano corres-pondesse aos resquícios das primeiras linhas,Machado de Assis seria lembrado como críticoteatral. Se o ímpeto da juventude fosse de fato de-cisivo para o dramaturgo consagrado, Nelson Ro-drigues não teria silenciado o coro formado porseus jovens críticos com um simples “envelhe-çam”. Caso a idade estivesse de alguma forma vin-culada à criatividade, Clint Eastwood, para citarum caso evidente dos nossos dias, não teria rea-lizado os seus melhores filmes depois dos 70anos. A conclusão é de uma obviedade de rubo-rizar os detratores das incontestáveis máximasdo futebol: o jogo, não raro fique modorrento oupareça fava contada, só termina quando acaba.

Mas não só de neuroses pessoais se faz um in-consciente coletivo. A obsessão pela reinvençãoda roda é muito mais que uma afinidade eletiva. Écompreensível que seja objeto de distração en-quanto durar o frescor do arrebatamento juvenil.À primeira dobra da espinha dorsal, porém, é re-comendável empregar as energias em busca deum pneu melhor. Vale para o cineasta Coppola emuita gente mais.

Use, mas não abuse

JOSELITO DE ABREU ❚ Advogado, procurador federal aposentado e ex-conselheiro federal da OAB

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OPINIÃOEDITOR

Vitor Hugo Soares

tentar ofender nosso Tribunal de Justiça, que lutacontra todas as dificuldades que lhe são impostaspelo Executivo como, aliás, ocorre em outras ca-sas de magistrados brasileiros.

Tratar da vassoura-de-bruxa, uma praga quedizimou as fazendas de cacau do sul da Bahia, in-felicitando uma região há cerca de 20 anos, épocasob total domínio das mesmas forças retrógradasque, até hoje, tutelam o Estado e que nada fizerampara deter a doença responsável pela pobreza emiséria da região, só por ignorância ou má-fé. Atéporque este é um assunto que não diz respeito àOrdem dos Advogados do Brasil.

Há sempre uma lição a extrair-se de episódioslamentáveis como estes. Os advogados brasilei-ros, depois de conduzidos por juristas ilustres ecompetentes, precisam refletir sobre o que lhesreserva o futuro, para não cair na armadilha da úl-tima eleição nacional, que lhes brindou com ume q u í vo c o.

Esta recente viagem à Bahia, coincidindo coma campanha sucessória na OAB baiana, é uma for-ma inaceitável de tentar intervir em nosso pro-cesso sucessório.

É um desrespeito à tradição de nossa queridaentidade, na qual sempre foi um dogma aceitopor todos os presidentes que a conduziram comisenção e respeito às seccionais. Os advogadosbaianos não carecem de tutor para realizar suase l e i ç õ e s.

A classe saberá cumprir seus deveres estatu-tários e, certamente, há de substituir, lá e cá, a me-diocridade que detém, momentaneamente, onosso bastão.

VITOR PAMPLONA

O analista de Francis Ford Coppola, cineasta maisconhecido na minha geração como o pai de Sofia,parece estar se debatendo com um mesmo pro-blema há oito anos. Ao menos, é o que induz textopublicado na Folha de S.Paulo, no qual se trans-creve a apreensão de Coppola com a possibilida-de de nunca mais conseguir fazer um grande fil-me, à altura daqueles que produziu nos anos 70,quando era jovem.

Exceto para o jornalista que proclamou as la-múrias do diretor de Apocalipse Now como se fos-sem notícia de última hora, quando as reflexõescoppolianas invadiram a blogosfera há cerca deum ano, a convivência entre os homens e as as-sombrações do processo criativo não tem nada ded e s t e m p e ra d a .

A tendência de explicar a decadência de um ar-tista reproduz a falta de argumentos para defen-dê-lo. Fala-se muito para não se explicar nada. E,embora haja razões de sobra para crer no exor-cismo dos demônios como tratamento de saúde,a reinvenção da roda é objeto recorrente de esfor-ços desde que a roda foi inventada. Sem quererrecorrer a Paulo Francis – “a humildade é o últimorecurso do fracassado” – por respeito à biografia eaos vinhos do pai de Sofia, cabe ao biógrafo da artecontemporânea reservar um capítulo para o crô-nico tema da busca pela juventude perdida.

É razoável supor que, ao longo dos anos, o valordas idéias varie a depender das circunstâncias.Mas as idéias não precisam ser necessariamente

JOSELITO DE ABREU

A mais recente vilegiatura do presidente do Con-selho Federal da OAB, Roberto Busato, mereceualguns comentários da imprensa. Os diários fo-ram pródigos em noticiários citando as andan-ças do Dr. Busato pelo interior, acolitado pelopresidente de seccional da OAB, que, em matériapaga publicada, ressaltou que “nenhum presi-dente nacional da OAB visitou tanto a Bahia. Eleveio mais de uma dezena de vezes ao nosso Es-tado participar de eventos” (sic).

Nas palestras realizadas, porém, em vez detratar, especificamente, de temas referentes aosinteresses dos advogados, de um melhor desem-penho do Judiciário, preferiu atacar, frontal-mente, o governo e as instituições e tratar dos úl-timos escândalos de corrupção.

Em lugar de exposição didática sobre a refor-ma do Judiciário e de assuntos ligados à cidada-nia e aos profissionais do direito, preferiu utilizaro tom de comício.

Ao usar expressões como “o Judiciário baianoé um exemplo negativo para o País” e, envere-dando para a agricultura cacaueira, exclamarque “ a vassoura-de-bruxa é um crime de le-sa-pátria”, dava a impressão de que estava a ser-viço do grupo político que, por quatro décadas,com pequenos intervalos de tentativas demo-cráticas, degradou a Justiça baiana. Agora, queoutros ventos sopram no Judiciário – que se em-penha por sua total independência –, nos vem opresidente nacional da OAB – assessorado porquem só conhece a Justiça baiana por oitiva –

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